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Acompanhamento da Rotina Laboratorial no Laboratório de Patologia Clínica (LPC) do Hospital Veterinário da UTAD (LPC-HVUTAD) Cristiana Saraiva Pinto Relatório final de Mestrado 2º Ciclo em Biologia Clínica Laboratorial Orientadoras: Prof.ª Ana Cristina Silvestre Ferreira Prof.ª Felisbina Luísa Pereira Guedes Queiroga Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, 2020

Acompanhamento da Rotina Laboratorial no Laboratório de

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Acompanhamento da Rotina Laboratorial no Laboratório de

Patologia Clínica (LPC) do Hospital Veterinário da UTAD

(LPC-HVUTAD)

Cristiana Saraiva Pinto

Relatório final de Mestrado

2º Ciclo em Biologia Clínica Laboratorial

Orientadoras: Prof.ª Ana Cristina Silvestre Ferreira

Prof.ª Felisbina Luísa Pereira Guedes Queiroga

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Vila Real, 2020

2

As Orientadoras

__________________________________________________________________

Ana Cristina Silvestre Ferreira (Prof.ª Auxiliar Dept. das Ciências Veterinárias)

__________________________________________________________________

Felisbina Luísa Pereira Guedes Queiroga (Prof.ª Associada com Agregação no

Dept. das Ciências Veterinárias)

A aluna

___________________________________________________________

Júri de Apreciação:

Presidente: __________________________________________

1º Vogal: ____________________________________________

Classificação: ____________________________________

Data: ___________________________________________

3

Agradecimentos

Ao Magnífico Reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Professor

Catedrático António Fontainhas Fernandes agradeço o apoio institucional que permitiu a

realização deste estágio.

Às minhas orientadoras, a Professora Doutora Ana Cristina Silvestre Ferreira e a

Professora Doutora Felisbina Luísa Pereira Guedes Queiroga por aceitarem ser minhas

orientadoras de estágio, assumindo o compromisso de me acompanhar nesta etapa, mas

principalmente pela sua disponibilidade e ajuda.

A toda a minha família e amigos, em especial os meus pais por todos os sacrifícios que

fizeram, por me ajudarem a quebrar barreiras, por nunca me deixarem desistir, pelas

palavras de apoio nos momentos mais difíceis, e pela confiança que depositaram em mim

e por acreditarem sempre e fazerem que tudo isto fosse possível.

Um agradecimento especial à Sofia Saraiva por desde sempre, me ter ajudado a ver o lado

positivo de todos os obstáculos que me foram aparecendo, por todo o carinho e paciência

que teve comigo e por ter sido um pilar desde sempre na minha vida, ao Ricardo Rio por

sempre ter acreditado em mim, por todo o suporte, por todos os esforços que fez para me

ajudar e nunca me deixar desistir, não só ao longo deste trabalho mas sempre que era

necessário levantar a cabeça e por último à Susana Gomes por me acompanhar durante

todo o meu percurso académico e por sempre ter sido um grande apoio.

4

5

Resumo

A patologia clínica está presente na prevenção, diagnóstico e monitorização da doença e

por essa razão o LPC-HVUTAD desenvolve as suas atividades nas vertentes de

hematologia, bioquímica sérica e bioquímica urinária através do uso de aparelhos

específicos e técnicas manuais.

A determinação e interpretação dos metabolitos no sangue fornece importantes

informações em relação ao estado clínico, metabólico e produtivo de um animal, assim

como na bioquímica urinária onde se obtém informações valiosas sobre o sistema urinário

auxiliando posteriormente no diagnóstico de muitas enfermidades.

Por outro lado, na hematologia o LPC estuda os elementos figurados do sangue, a sua

produção e doenças a eles associados.

De modo a auxiliar outros médicos veterinários na obtenção de um diagnóstico mais

rápido e contribuir como ferramenta de estudo na hematologia veterinária, durante este

estágio foram recolhidas imagens microscópicas através da observação de esfregaços

sanguíneos. Este reportório serviria para a construção de um atlas online de hematologia

veterinária desenvolvendo assim a hematologia nas suas diversas expressões.

Durante este estágio foram recolhidos dados analíticos de forma a ser possível realizar

uma análise estatística tornando o estudo mais completo, pois os resultados laboratoriais

têm de apresentar qualidade seguindo com rigor as três fases que precedem o resultado

analítico final.

Palavras-chave: Patologia, Hematologia, Bioquímica sérica e urinária, Atlas.

Abstract

Clinical pathology is present in the prevention, diagnosis, and monitoring of the disease

and for that reason the LPC-HVUTAD develops its activities in the areas of

haematology, serum biochemistry and urinary biochemistry through the use of specific

devices and manual techniques.

The determination and interpretation of metabolites in the blood provides important

information regarding the clinical, metabolic and productive status of an animal, as well

as in the urinary biochemistry where valuable information about the urinary system is

obtained, helping in the diagnosis of many diseases.

On the other hand, in haematology the LPC studies the figurative elements of blood, its

production and associated diseases.

In order to assist other veterinarians in obtaining a faster diagnosis and to

contribute as a study tool in veterinary haematology, during this stage

microscopic images were collected through the observation of blood smears.

6

This repertoire would serve to build an online atlas of veterinary haematology, thus

developing haematology in its various expressions.

During this stage, analytical data was collected in order to make it possible to carry out

a statistical analysis, making the study more complete, as the laboratory results must be

of high quality, strictly following the three phases that precede the final analytical

result.

Keywords: Patology, Haemotology, Serum and urinary biochemistry, Atlas.

7

8

Índice Capítulo 1 - Caracterização do LPC-HVUTAD .......................................................................... 16

1.1– Fases do estudo laboratorial ............................................................................................ 16

1.2– Colheita, Conservação e Transporte das amostras .......................................................... 19

Capítulo 2 -Bioquímica Sérica .................................................................................................... 20

2.1. – Introdução ..................................................................................................................... 20

2.2 – Caracterização das amostras para Bioquímica Sérica .................................................... 22

2.3. – Parâmetros bioquímicos analisados no LPC-HVUTAD ............................................... 24

2.4 – Aparelhos utilizados no LPC-HVUTAD ....................................................................... 30

2.4.1 – Rx Daytona .............................................................................................................. 30

2.4.2 - Catalyst One (IDEXX) ............................................................................................. 32

Capítulo 3 – Análise de urina ...................................................................................................... 34

3.1 – Introdução ...................................................................................................................... 34

3.2 – Colheita de amostras ...................................................................................................... 35

3.3 – Acondicionamento da amostra .................................................................................... 36

3.4. – Exame Físico ................................................................................................................. 38

3.5 – Exame Químico .............................................................................................................. 40

3.6 – Análise do sedimento ..................................................................................................... 45

Capítulo 4- Coagulação ............................................................................................................... 48

4.1 - Introdução ....................................................................................................................... 48

4.2 - Avaliação do Sistema hemostático no LPC-HVUTAD .................................................. 49

4.3 – Valores normais para canídeos, felino e equino no LPC-HVUTAD ............................. 50

Capítulo 5- Hematologia ............................................................................................................. 51

5.1- Introdução ........................................................................................................................ 51

5.2 – Hemograma .................................................................................................................... 53

5.1.1- Parâmetros analisados no hemograma do Procyte Dx .............................................. 54

5.2 – Hematócrito .................................................................................................................... 57

5.3 – Esfregaço sanguíneo ....................................................................................................... 58

5.3.1 – Técnica da realização do esfregaço sanguíneo ........................................................ 59

5.3.2 – Coloração do esfregaço sanguíneo .......................................................................... 60

5.4 – Observação das lâminas de esfregaço sanguíneo ........................................................... 62

5.5- Contagem diferencial de leucócitos ................................................................................. 63

Capítulo 6- Análise Estatística .................................................................................................... 64

Capítulo 7- Atlas online de Hematologia Veterinária ................................................................. 69

Conclusão .................................................................................................................................... 74

Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 75

9

Índice de Figuras Figura 1- Esquema representativo das etapas da fase pré-analítica. ......................................... 17

Figura 2 – Esquema representativo das etapas da fase analítica. .............................................. 18

Figura 3– Esquema representativo das etapas da fase pós-analítica. ........................................ 18

Figura 4--Na fotografia A é possível observar um soro hemolisado, na fotografia B um soro

bastante lipémico e na fotografia C um soro ligeiramente ictérico. Fotografias gentilmente

cedidas pelo LPC-HVUTAD. ......................................................................................................... 24

Figura 5-– Fotografia do Aparelho Rx Daytona da Randox, visto exteriormente (à esquerda) e

com a tampa aberta (à direita), gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD. .................................. 31

Figura 6– Fotografia do interior do Rx Daytona mostrando o carrossel dos reagentes à

esquerda e o carrossel das amostras à direita, gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD. .......... 31

Figura 7-- Fotografia do aparelho Catalyst One gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ........... 32

Figura 8– Esquema representativo do funcionamento da tecnologia da placa seca do Catalyst

One da IDEXX. .............................................................................................................................. 33

Figura 9– Esquema representativo das vantagens da realização de uma análise de urina. ....... 35

Figura 10- – Amostra de uma urina colhida por cistocentese que deu entrada no LPC-HVUTAD.

Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ..................................................................... 36

Figura 11-– Diferentes cores de amostras de urina: diferença entre uma urina amarelo-claro

(A) e uma urina amarelo-escuro (B). Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. .......... 38

Figura 12-– Imagens representativas da execução da leitura da densidade urinária através do

refratómetro e da escala do refratómetro ao pormenor, sinalizada com a seta cor de laranja a

escala da medição da densidade urinária. .................................................................................. 40

Figura 13-- Tiras reativas de urina usadas no LPC-HVUTAD e respetiva escala de medição para a

realização da análise. Fotografias gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD................................ 41

Figura 14– Escala do pH nas tiras reativas da Combur. (Adaptado de Fonseca, K., 2007) ......... 41

Figura 15-– Escala de medição de glucose nas tiras reativas da Combur. (Adaptado de Fonseca,

K., 2007) ...................................................................................................................................... 42

Figura 16-– Escala de medição da Combur de presença de corpos cetónicos na urina.

(Adaptado de Fonseca, K., 2007) ................................................................................................ 43

Figura 17– Escala da Combur da medição da presença de proteínas na urina. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007) ....................................................................................................................... 43

Figura 18-– Escala da Combur da medição da excreção de bilirrubina na urina. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007) ....................................................................................................................... 43

Figura 19-– Escala da Combur da medição da excreção do urobilinogénio na urina. (Adaptado

de Fonseca, K., 2007) .................................................................................................................. 44

Figura 20-– Escala da Combur para a deteção da presença de nitritos na urina. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007) ....................................................................................................................... 44

Figura 21– Escala da Combur para a detenção de hemoglobina na urina. (Adaptado de Fonseca,

K., 2007) ...................................................................................................................................... 45

Figura 22-– Imagem microscópica de um cilindro urinário numa amostra de urina um gato,

observado com a objetiva x40. Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ................... 46

Figura 23-– Imagem microscópica (x40) de uma urina com diversos leucócitos (seta azul) e

imensos eritrócitos (seta cor de laranja) na amostra de urina um gato. Fotografia gentilmente

cedida pelo LPC-HVUTAD. ........................................................................................................... 46

Figura 24– Imagem microscópica (x100) de um cristal urinário - fosfato amónio de magnésio,

também chamado de estruvite, numa amostra de urina de cão. Fotografia gentilmente cedida

pelo LPC-HVUTAD. ....................................................................................................................... 47

Figura 25– Imagem microscópica (x40) de urina de um cão, onde é possível ver bactérias

(sinalizadas com a seta azul). Imagem gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ......................... 47

10

Figura 26-– Imagem microscópica (x40) de um sedimento urinário de um cão, com gotículas de

gordura (seta azul) e espermatozoides (seta cor de laranja). Imagem gentilmente cedida pelo

LPC-HVUTAD. ............................................................................................................................... 48

Figura 27– Fotografia do aparelho STAGO® START 4 mostrando com mais pormenor as pipetas

e os reagentes. Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ........................................... 50

Figura 28– Fotografia do Procyte DX, da sua estação de VetLab e o agitador mecânico.

Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ..................................................................... 53

Figura 29-– Exemplos de hemogramas felinos realizados no Procyte Dx (IDEXX): sem alterações

celulares (A) e com alterações da série vermelha indicadores de anemia e alterações na série

branca (B). ................................................................................................................................... 56

Figura 30-- Fotografia de um microhematócrito. Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-

HVUTAD. ...................................................................................................................................... 57

Figura 31– Fotografia de microhematócrito realizados no LPC-HVUTAD, em que é possível

verificar as diferenças na cor do plasma: A- Plasma ligeiramente hemolisado; B- Plasma

hemolisado; C- Plasma normal; D- Plasma ligeiramente ictérico; E- Plasma ictérico. Diferenças

em relação ao volume de eritrócitos: A e C – Volume de eritrócitos normais; B e E- Volume de

eritrócitos baixo; D – Volume de eritrócitos elevado. Fotografias gentilmente cedidas pelo LPC-

HVUTAD. ...................................................................................................................................... 58

Figura 32 - Fotografias de uma boa realização da técnica do esfregaço sanguíneo: A- material

necessário para a realização do esfregaço sanguíneo; B-procedimento da identificação da

lâmina onde se vai realizar o esfregaço; C- colocação de sangue total da amostra na pipeta de

vidro; D- colocação de uma pequena gota de sangue numa das extremidades da lâmina; E-

colocação da lâmina extensora sobre a lâmina do esfregaço; F- do contacto da lâmina

extensora com a gota de sangue a formar um ângulo de aproximadamente 45º; G-

deslizamento suave da lâmina extensora sobre a lâmina do esfregaço sanguíneo; H – parte

final da elaboração do esfregaço sanguíneo; I- esfregaço sanguíneo, devidamente identificado,

antes de ser corado. Todas as fotografias presentes nesta figura foram gentilmente cedidas

pelo LPC-HVUTAD. ....................................................................................................................... 59

Figura 33- Fotografia de esfregaços sanguíneos corados e devidamente identificados.

Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ..................................................................... 60

Figura 34– Fotografia do agente fixador (metanol), da solução I (Eosina) e da solução II (Azul de

metileno). Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ................................................... 61

Figura 35– Fotografia do procedimento da coloração do esfregaço sanguíneo por Diff-Quick,

em que: A – colocação da lâmina em metanol (15x); B – colocação da lâmina na solução I (15x);

C – colocação da lâmina na solução II (15x). Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

..................................................................................................................................................... 61

Figura 36– Fotografia de um esfregaço sanguíneo com as suas diferentes áreas: 1 –cabeça da

lâmina: 2 – corpo da lâmina/ monocamada; 3 – cauda da lâmina. Fotografia gentilmente

cedida pelo LPC-HVUTAD. ........................................................................................................... 63

Figura 37- Contador celular utilizado no LPC-HVUTAD para auxílio da contagem diferencial de

leucócitos. Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD. ................................................... 64

Figura 38– Imagens ilustrativas retiradas do protótipo do Atlas de hematologia veterinária. .. 70

Figura 39- Fotografias microscópicas de ganulócitos na ampliação de 1000. A- Eosinófilo (seta

azul), basófilo (seta verde) e neutrófilo (seta laranja) de um gato; B- neutrófilo (seta laranja) e

um eosinófilo (seta azul) de um cão; C - Eosinófilo de raposa; D-Dois eosinófilos de equino; E-

Basófilo de um equino; F- Heterófilo de um papagaio; G- Basófilo de um ouriço terrestre.

Fotografias gentimente cedidas pelo LPC-HVUTAD. ................................................................... 71

Figura 40– Fotografias microscópicas (x100) de agranulócitos. Legenda: A – linfócito de um

cão; B- linfócito (seta laranja) e um monócito (seta azul) de uma raposa; C- linfócitos de gato;

11

D- monócito de raposa; E – Dois monócitos (seta azul) e um neutrófilo de gato. Fotografias

gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD. ..................................................................................... 72

Figura 41-Fotografias microscópicas (x100) de eritrócitos. Legenda: A – eritrócitos de papagaio,

onde é visível a presença de núcleos; B- eritrócito de equino; C- eritrócitos de gato; D-

eritrócitos de cão; E – eritrócitos de bovino, onde é possível verificar a presença de

anisocitosa; F- eritrócitos de cabra, onde é visível ver o seu tamanho reduzido. Fotografias

gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD. ..................................................................................... 73

Índice de Tabelas

Tabela 1-Média de amostras recebidas, por dia, no LPC-HVUTAD. ............................................ 16

Tabela 2– Tipo de amostra necessária para a execução da análise da concentração sérica dos

metabolitos. ................................................................................................................................ 20

Tabela 3– Valores de referência dos metabolitos analisados no LPC-HVUTAD para cada espécie

animal. ......................................................................................................................................... 21

Tabela 4-– Alterações que ocorrem nas medições das concentrações séricas dos analitos

quando há alteração nas amostras (hemólise, icterícia, lipemia). .............................................. 23

Tabela 5-– Tabela indicativa de cada um dos metabolitos que correspondem a marcadores

para avaliação de diversos danos patológicos em animais. ........................................................ 30

Tabela 6-– Clips existentes no LPC e respetivos analitos analisados em cada um. .................... 34

Tabela 7-– Relação entre as alterações que podem ocorrer na urina e respetivas

consequências. ............................................................................................................................ 37

Tabela 8-– Valores de referência da densidade urinária para diversas espécies animais. ......... 40

Tabela 9-– Valores de referência para a glicemia a partir dos quais aparece a glicosúria, pois foi

ultrapassado o limiar de reabsorção renal que é diferente para cada espécie. ......................... 42

Tabela 10-– Valores de referência usados no LPC-HVUTAD para a avaliação hemostática de

diferentes espécies animais. ....................................................................................................... 51

Índice de Gráficos

Gráfico 1 – Total de entradas registadas, por espécie, no LPC-HVUTAD. ................................... 65

Gráfico 2– Percentagem do total de análises realizadas em cada setor no LPC-HVUTAD. ........ 65

Gráfico 3– Total de exames realizados no setor de hematologia do LPC-HVUTAD .................... 66

Gráfico 4– Total de analitos analisados no setor de bioquímica líquida no LPC-HVUTAD. ........ 67

Gráfico 5- Número total de parâmetros analisados no setor de bioquímica seca no LPC-

HVUTAD. ...................................................................................................................................... 68

Gráfico 6– Total de análises de urina tipo II, por espécie. .......................................................... 68

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Lista de acrónimos

Ác. Bil – Ácidos biliares

ADP – Adenosina Difosfato

ALB – Albumina

ALT -Alanina aminotransferase

AST – Aspartato aminotransferase

ATP – Adenosina Trifosfato

AU – Ácido úrico

BASO- Basófilo

BIL – Bilirrubina

BilT – Bilirrubina Total

BLO – Sangue

BQ líquida – Bioquímica sérica líquida

BQ seca - Bioquímica sérica seca

BQ urinária – Bioquímica sérica urinária

CA- Cálcio

Células NK – Células Natural Killer

CK- Creatinina quinase

Col – Colesterol

Creat – Creatinina

EDTA- Ácido etilenodiamina tetra-acético

EOS -Eosinófilo

FA- Fosfatase Alcalina

Fosf – Fósforo

GB – Glóbulos brancos

GGT – Gama glutamiltransferase

Glu – Glucose

GV – Glóbulos vermelhos

IONO – Ionograma

HCl – Ácido Clorídrico

13

HCM – Hemoglobina corpuscular média

HTC -Hematócrito

HGB – Hemoglobina

KET – Corpos cetónicos

LPC – Laboratório de Patologia Clínica

LPC-HVUTAD – Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da UTAD

LYM – Linfócito

MCHC – Concentração de Hemoglobina Corpuscular média

MONO – Monócito

NEU – Neutrófilo

NIT – Nitritos

PCT – Plaquetócrito

PDW – Índice de anisocitose plaquetária

PPT – Proteínas plasmáticas totais

PRO – Proteínas

RDW – Red Cell Distribution Width

RETIC – Reticulócitos

RET-HE -Hemoglobina nos reticulócitos

SDMA – Dimetilarginina Simétrica

TP – Proteínas totais

Trig – Triglicerídeos

Ucr – Creatinina na urina

Uprot – Proteína na urina

URO – Urobilinogénio

UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

VCM- Volume corpuscular médio

VPM – Volume Plaquetário médio

14

15

Introdução

O presente trabalho representa o culminar de 5 meses de estágio curricular que teve início

no dia 1 de novembro de 2019, onde se pretende apresentar todas as atividades realizadas.

Este relatório constitui o elemento integrante e conclusivo do Mestrado de Biologia

Clínica Laboratorial ministrado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

O estágio curricular foi realizado no Laboratório de Patologia Clínica do Hospital

Veterinário de Trás-os-Montes e Alto Douro e foi orientado pela Professora Doutora Ana

Cristina Silvestre Ferreira em conjunto com a Professora Doutora Felisbina Luísa Pereira

Guedes Queiroga.

Os principais objetivos deste estágio eram: aprender todas as práticas laboratoriais

incorporadas na rotina do Laboratório e a participação na elaboração de um Atlas de

Hematologia Veterinária online.

O relatório será dividido em oito capítulos sendo o primeiro capítulo uma breve

caracterização do LPC - HVUTAD, no segundo capítulo é descrito o serviço de

bioquímica. O terceiro capítulo é referente ao serviço de análise da bioquímica urinária

enquanto que no quarto capítulo será descrito o serviço de coagulação, o capítulo cinco é

dedicado ao setor de hematologia, no capítulo seis serão apresentados os dados

estatísticos recolhidos durante o período de estágio. Por fim, o sétimo capítulo diz respeito

ao projeto da criação do Atlas de Hematologia Veterinária Online.

16

Capítulo 1 - Caracterização do LPC-HVUTAD

O LPC-HVUTAD desenvolve a sua atividade nas vertentes de hematologia, bioquímica

sérica e a bioquímica urinária quer através do uso de aparelhos específicos quer como o

uso de técnicas manuais, assegurando o serviço de patologia do HVUTAD recebendo e

processando todas as amostras recolhidas para esse efeito.

Em média diária, o número de amostras clínicas recebidas é de 15 (Tabela 1), sendo o

pico máximo à segunda-feira e mínimo ao fim-de-semana pois durante esse período o

LPC-HVUTAD funciona somente em regime de urgência.

Ao longo deste capítulo serão apresentadas as fases que compõem o estudo laboratorial e

os materiais utilizados para cada um dos diversos setores do LPC-HVUTAD.

Tabela 1-Média de amostras recebidas, por dia, no LPC-HVUTAD.

Número de amostras recebidas

no LPC-HVUTAD Período Média (amostras por dia)

1250 De 1 de outubro de 2019 a

13 de março de 2020

1250/165 = 8 amostras por

dia

1.1– Fases do estudo laboratorial

a) Fase Pré-analítica

Nesta fase é necessário ter em atenção diversas variáveis que advém de fatores

fisiológicos inerentes ao doente como a prática de exercício físico, o stress, a

idade, o género, a dieta, bem como toda a manipulação da amostra desde o

momento da colheita até ao momento em que a mesma entra no laboratório

(Martelli, 2011).

Na fase pré-analítica está inserida a folha de requisição de exames que

posteriormente será entregue no LPC-HVUTAD de modo a que os técnicos do

laboratório saibam o que é necessário analisar e os cuidados a ter com cada uma

das amostras recebidas (figura 1).

17

b) Fase Analítica

Na segunda fase do estudo laboratorial é realizada a análise das amostras

biológicas que deram entrada no LPC-HVUTAD e que preencheram todos os

requisitos da fase pré-analítica.

Esta fase inclui diversos processos de extrema importância das quais depende o

método analítico empregado como o envolvimento de diversas pessoas e os

métodos de controle para a garantia de resultados mais fidedignos.

Após a colheita do material os laboratórios iniciam o processo de análise das

amostras. Os técnicos de laboratório devem ficar atentos e conhecer

profundamente os sistemas analíticos que empregam, os procedimentos

operacionais padrão dos equipamentos e dos métodos e os controlos internos de

qualidade (Ordem dos farmacêuticos, 2016).

Segundo Almeida, 2011 apesar das análises serem realizadas em sistemas

automatizados há sempre a necessidade de atuação do profissional para garantir a

qualidade dos resultados verificando os aparelhos, os reagentes, os controlos e

monitorizar os processos de análise (figura 2).

Figura 1- Esquema representativo das etapas da fase

pré-analítica.

18

c) Fase Pós- Analítica

Após a colheita e o processamento das análises, o exame laboratorial passa pela

última etapa da fase do estudo laboratorial, a fase pós-analítica.

A fase pós- analítica consiste na interpretação, validação e envio dos resultados para

o médico responsável para este proceder ao diagnóstico e tratamento do animal

(figura 3) (Martelli, 2011).

Figura 3– Esquema representativo das etapas da fase pós-analítica.

Figura 2 – Esquema representativo das etapas da fase analítica.

19

1.2– Colheita, Conservação e Transporte das amostras

O LPC-HVUTAD recebe amostras para os diversos setores e consoante o tipo de análise

requisitada.

No LPC são utilizados os tubos de colheita com os diversos anticoagulantes como o

EDTA (ácido etilenodiamina tetra-acético), Heparina-Lítio, Citrato de Sódio e tubos sem

anticoagulante designados de tubos de Soro.

A colheita está ao encargo dos médicos veterinários do HVUTAD, chegando ao LPC

apenas a amostra já colhida, no tubo apropriado, catalogada e com a respetiva requisição,

através dos médicos veterinários.

De um modo sucinto, as amostras de EDTA são guardadas no final do dia num frigorífico

refrigerado com temperatura entre os 2ºC e os 4ºC, enquanto que as amostras de soro e

de plasma (obtidos através da centrifugação das amostras colhidas em tubos de soro e nos

tubos de heparina lítio e citrato de sódio, respetivamente) são conservados entre os 0ºC e

os -4ºC, podendo permanecer aí, no mínimo, 1 mês (Tabela 2).

Também são recebidas amostras de urina. Este tipo de amostra é utilizado no setor de

bioquímica e pode ser conservada no frigorífico (com temperatura entre os 1ºC e os 4ºC)

até 12h após a sua colheita.

Ao longo deste trabalho serão descritas o tipo de amostras biológicas utilizadas em cada

setor do LPC -HVUTAD.

20

Capítulo 2 -Bioquímica Sérica

2.1. – Introdução

A determinação e interpretação de compostos químicos no sangue é umas das principais

aplicações práticas da bioquímica sérica (González e Silva, 2006).

Quando devidamente interpretado o perfil bioquímico do soro, plasma ou urina fornece

importante informação em relação ao estado clínico, metabólico e produtivo de um

animal.

A interpretação do perfil bioquímico é complexa devido aos mecanismos que controlam

o nível sanguíneo de vários metabolitos e devido, também, à grande variação desses níveis

em função de diversos fatores como: raça, idade, stress, dieta, nível de produção, manejo,

clima e estado fisiológico (Costa, 2011).

Tipo de Amostra Exames Básicos Exames

complementares

Soro / Plasma Albumina; Ureia;

AST; CK; GGT; ALT;

Fosfatase Alcalina;

Fósforo; Magnésio,

Glicose

Bilirrubina;

Creatinina;Cálcio;

Potássio; GGT, CK

Soro/ Plasma Albumina; Ureia;

Creatinina

Cálcio; Fósforo;

Potássio

Urina Análise de urina

Soro / Plasma Proteínas

Plasmáticas Totais;

Ureia; Potássio;

Sódio

Sangue Hematócrito

Soro/ Plasma Albumina; AST;

Fosfatase Alcalina;

GGT

Colesterol; Ácidos

Biliares; Albumina

Soro/ Plasma Fosfatase Alcalina;

Cálcio; Fósforo;

Magnésio

(Adaptado de González e Silva, 2006)

Tabela 2– Tipo de amostra necessária para a execução da análise da concentração sérica

dos metabolitos.

21

Para a correta interpretação de perfis metabólicos é indispensável ter em conta os valores

de referência apropriados para o grupo de animais em questão (Tabela 3).

Tabela 3– Valores de referência dos metabolitos analisados no LPC-HVUTAD para cada

espécie animal.

Considera-se, em geral, que existe variação significativa no valor analisado quando está

fora do intervalo compreendido entre a média mais ou menos dois desvios padrões, dos

valores normais de referência, contudo o verdadeiro significado de um valor alterado deve

ser analisado juntamente com fatores como o historial clínico, o exame clínico, o manejo,

a alimentação e a produção (Costa, 2011).

Metabolito Unidade Cão Gato Ave Equino Indicador

Ácidos

Biliares

mg/dl 0-20 0-15 100-250 260-330 Hepático

Albumina g/dl 2.6-3.3 2.1-3.3 1.9-3.52 26-37 Hepático, Renal,

Pancreático, Nutricional

Cálcio mg/dl 8-12 8-12 8.5-14 11.2-13.6 Renal, Nutricional

Cloro nmol/l 100-120 115-130 119-130 -

Colesterol mg/dl 100-275 90-200 180-305 75-150 Hepático, Pancreático,

Nutricional

Creatinina mg/dl 1-2 1-2 0.1-0.4 1.2-1.9 Renal, Muscular e Ósseo

Fósforo mg/dl 2.6-6.2 2.9-8 3.1-5.5 3.1-5.6 Renal, Muscular, Ósseo,

Nutricional

Glicose mg/dl 60-120 75-140 190-345 75-115 Hepático, Renal,

Nutricional

Magnésio mg/dl 1.8-2.4 1.8-2.2 - 2.2-2.8 Muscular

Potássio nmol/l 3.6-5.8 3.7-4.6 4.6-4.7 2.4-4.7 Renal, Muscular, Ósseo,

Nutricional

Proteínas

Plasmáticas

Totais

g/dl 5.4-7.1 5.4-78 3-5 5.2-7.9 Nutricional

Sódio nmol/l 141-152 147-156 151-161 132-146 Nutricional

Triglicéridos mg/dl 15-380 10-350 49-190 4-44 Pancreático, Nutricional

Ureia mg/dl 15-40 10-60 3.1-5.3 21.4-51.3 Hepático, Renal,

Nutricional

Alanina

amino

Transferase

UI/L 10-88 10-88 5-11 34-113 Hepático

Aspartato

amino

Transferase

UI/L 10-88 10-88 130-350 230-500 Hepático, Muscular

Creatinina

Kinase

UI/L 20-220 35-320 - 120-220 Muscular, Ósseo

Fosfatase

Alcalina

UI/L 10-92 7-80 - 143-395 Hepático, Renal, Ósseo

Gama

Glutamil-

transferase

UI/L 0 0 - <35 Hepático, Renal

Ácido Úrico mg/dl - - 2.4-10 -

(Adaptado de Kaneko et al., 1997, Witwer et al., 1987, LacVet, 2004)

22

A confiabilidade no uso do laboratório como apoio ao diagnóstico depende em grande

medida do material utilizado na análise e do facto de que este tenha sido colhido e

conservado adequadamente.

Devido às mudanças físico-químicas que ocorrem na amostra com o tempo, deve ser

mencionada a hora de colheita da amostra, pois o envio de amostras inadequadas implica

uma perda de tempo, de recursos e, em determinadas ocasiões, complicações na saúde do

animal devido a uma interpretação incompleta ou incorreta de resultados (González e

Scheffer, 2013).

2.2 – Caracterização das amostras para Bioquímica Sérica

Para a realização de uma caracterização adequada das amostras para o setor da bioquímica

sérica são utilizadas amostras biológicas como o soro, o plasma e a urina.

O soro é obtido a partir de uma amostra de sangue extraída para um tubo sem

anticoagulante sendo necessário que este tipo de amostras permaneça em repouso, na

vertical, no mínimo 15 a 20 minutos para haver tempo para a formação do coágulo

(Isidoro, 2018).

Após esse tempo de espera a amostra vai a centrifugar a 3500 rpm durante 7 minutos,

para se transferir o soro para outro recipiente para o separar do coágulo. No LPC-

HVUTAD o soro é transferido para uma alíquota devidamente identificado.

Este tipo de amostra não deve ser centrifugado nem refrigerada antes que o coágulo esteja

bem formado pois prolonga-se o tempo de coagulação e pode provocar hemólise da

amostra interferindo nos resultados finais. Por essa razão o ideal é fazer todo o processo

normal e refrigerar-se só após a separação do soro. A refrigeração deste tipo de líquido

biológico deve ser feita entre os 0ºC e os -4ºC com o objetivo de manter a estabilidade de

todos os metabolitos nele contidos (Vieira, 2015).

O plasma é um produto biológico semelhante ao soro com a diferença de que este possui

os fatores de coagulação (Oliveira, 2016)

O plasma é obtido a partir de uma amostra de sangue extraída para um tubo com

anticoagulante, como os tubos de heparina-lítio, citrato de sódio e EDTA.

23

As amostras colhidas em tubo com anticoagulantes têm a vantagem de não necessitarem

de estar em repouso, para a formação de coágulo, podendo ir logo a centrifugar e o plasma

resultante deve também, à semelhança do soro, ser transferido para um recipiente limpo,

no LPC-HVUTAD utiliza-se, também, uma alíquota corretamente identificado (nome,

número de entrada no LPC e tipo de amostra).

Após a separação de soro ou de plasma, as amostras biológicas obtidas, devem ser logo

analisadas, especialmente se pedirem a análise de certos metabolitos como o ionograma,

por exemplo.

As amostras hemolisadas ou lipémicas podem dar resultados errados podendo aumentar

os valores de certos metabolitos analisados (Tabela 4) (Latimer et al., 2010).

Tabela 4-– Alterações que ocorrem nas medições das concentrações séricas dos analitos

quando há alteração nas amostras (hemólise, icterícia, lipemia).

Analito Efeito da

hemólise

Efeito da

lipemia

Efeito da

icterícia

Concentração de

hemoglobina

Sobe Sobe

Hematócrito Desce

MCHC Sobe Sobe

Potássio Sobe

Glucose Desce Sobe

Creatinina Desce Sobe

Cálcio Sobe Sobe

Ionograma Sobe Sobe

Proteínas Totais Sobe

Albumina Desce

ALT Sobe Sobe

AST Sobe Sobe

Fosfatase Alcalina Sobe Sobe

GGT Desce Variável

Creatinina Kinase Sobe

Ácidos biliares Desce Sobe

Bilirrubina Sobe Sobe

Contagem eritrócitos Desce (Adaptado de Blackwood e Villiers, 2000)

24

Segundo González e Silva (2016) para além da hemólise (figura 4a), o estado do soro ou

do plasma fornecem importantes indicações sobre o estado clínico do animal:

- Soro lipémico: apresenta presença de lípidos o que indica que o animal já

comeu apresentas alterações do metabolismo lipídico (figura 4b);

-Soro ictérico: soro com cor amarelada que nos informa que o animal poderá ter

algum problema a nível do metabolismo da bilirrubina (figura 4c).

2.3. – Parâmetros bioquímicos analisados no LPC-HVUTAD

A) Ácido úrico

O ácido úrico é uma substância nitrogenada não proteica. Os mamíferos têm a

capacidade de produzir uma enzima chamada uricase que, no fígado, converte o

ácido úrico em alantoína que por fim é excretada na urina. A maior parte deste

metabolito sintetizado provém da dieta e da quebra de ácidos nucleicos

endógenos. Valores elevados podem ser observados quando há problemas

hepáticos ou renais pois nos animais no seu estado normal e saudável os níveis

serológicos de ácido úrico não são mensuráveis pois este é eliminado após ser

convertido em alantoína e em ureia pelo fígado, mas nas aves o valor de ácido

úrico é um bom indicador da função renal e nos equinos a concentração plasmática

do ácido úrico também é considerada um bom indicador da intensidade de

exercício (Borges et al., 2008).

A B C

Figura 4--Na fotografia A é possível observar um soro hemolisado, na fotografia B um soro

bastante lipémico e na fotografia C um soro ligeiramente ictérico. Fotografias gentilmente

cedidas pelo LPC-HVUTAD.

25

B) Ácidos Biliares

Os ácidos biliares são os componentes biliares mais abundantes da bílis. São

aniões orgânicos sintetizados exclusivamente no fígado a partir do colesterol

(Pires e Colaço, 2004).

De acordo com Thralll et. al (2015), a mensuração sérica dos ácidos biliares é um

indicador sensível de colestase, obstrução biliar ou disfunção hepática pois o

fígado não consegue metabolizar ou secretar os seus produtos, causando assim a

sua elevação na corrente sanguínea.

C) Albumina

A albumina é uma proteína sintetizada de forma integral no fígado, compondo

cerca de 50% das proteínas plasmáticas totais. Normalmente a hipoalbuminúria

só é constatada quando cerca de 60% a 80% da função hepática já está

comprometida. Deve ser avaliada em conjunto com a ureia para descartar a

influencia da dieta nos seus níveis séricos (Nelson e Couto, 2006).

D) Cálcio

O cálcio é o mineral mais abundante no organismo e possui um papel importante

na manutenção da homeostase tendo funções na contração muscular, coagulação

sanguínea, atividade enzimática, excitabilidade neuronal e secreção hormonal,

além de ser o componente principal estrutural do tecido ósseo, contudo os animais

possuem uma reduzida capacidade de excreção deste metabolito quando este é

absorvido em excesso (Isidoro, 2018).

No organismo a disponibilidade de Cálcio depende de diversos fatores entre eles:

espécie, estado fisiológico, idade e tipo de dieta.

E) Cloro

O Cloro representa dois terços dos aniões plasmáticos e juntamente com o sódio

e é um dos responsáveis pela manutenção do equilíbrio osmótico do plasma.

Este ião é principalmente extracelular e é um componente do suco gástrico e as

suas alterações de concentração no organismo do animal estão reguladas

principalmente pela sua excreção no rim (Stivanin, 2014).

26

Quando a sua concentração séria é medida juntamente com o sódio e o potássio

designa-se ionograma e é usada para determinar o equilíbrio ácido-base do animal.

F) Colesterol

É um dos lípidos essenciais presentes no corpo e está presente em todas as células

e pode ter origem endógena sendo sintetizada no fígado e no intestino, e origem

exógena, provenientes de alimentos e é excretada pela bílis ou pela urina e

medição da sua concentração sérica serve para avaliar lesões hepatocelulares e

medir a quantidade de lípidos presentes no plasma (Guyton e Hall, 2006).

G) Creatinina

A creatinina plasmática deriva do catabolismo da creatinina presente no tecido

muscular pois é utilizada para armazenar a energia no músculo. A sua excreção

ocorre somente por via renal e é livremente filtrada não sendo reabsorvida.

Essencialmente a concentração plasmática de creatinina reflete a excreção e

concentrações séricas elevadas deste metabolito indicam deficiência renal (Borges

et al., 2008).

A concentração de creatinina no sangue é proporcional à massa muscular sendo

que quando há lesão muscular os seus níveis também vão estar alterados

(González, 2011).

H) Fósforo

O fósforo é um dos minerais presentes em maior proporção no organismo e é

responsável pela mineralização da matriz óssea. Cerca de 80% do fósforo está

presente nos ossos e os restantes 20% estão distribuídos pelos tecidos moles,

eritrócitos, músculos e tecidos nervosos e por essa razão o fósforo está envolvido

nas funções de crescimento e diferenciação celular e visa a manutenção do

equilíbrio ácido-base e osmótico (González, 2003).

I) Glicose

A glicose é uma molécula que constitui a principal fonte de energia do organismo

e que está relacionada com muitos aspetos fisiológicos e morfológicos dos

animais tais como idade, estado nutricional, energia e patologias (Ribeiro, 2010).

27

É também um importante carbohidrato utilizado por vários animais no processo

de produção de energia. Níveis elevados de glicose no sangue podem indicar

falhas na homeostase, stress e diabetes (Vieira, 2015).

J) Magnésio

O animal depende do magnésio da dieta para repor as suas concentrações

necessárias deste metabolito. Nos ruminantes o magnésio é absorvido no rúmen.

O excesso de magnésio é excretado pela urina de forma que os níveis urinários e

os níveis sanguíneos de magnésio são bons indicadores do equilíbrio

ingestão/gasto no animal. O magnésio é utilizado como co-fator da enzima

creatinina quinase (CK). Cerca de 70% do magnésio do corpo é armazenado nos

ossos, 29% nos tecidos moles e 1% nos fluídos corporais e desempenha um

importante papel no sistema enzimático e na contração muscular. A concentração

sanguínea de magnésio reflete diretamente o nível da dieta (Laneppele, 2014).

K) Potássio

O potássio é o principal catião intracelular das células dos mamíferos mantendo

com isso o volume intracelular para além de manter o potencial de repouso da

membrana celular, portanto, desordens na concentração de potássio afetam as

membranas excitáveis como as células musculares. Umas das funções mais

importantes de potássio no organismo é a sua participação na geração do potencial

da membrana celular juntamente com o sódio nas células do sistema nervoso

central e musculares. Também desempenha importantes funções no organismo

principalmente na estimulação elétrica e na regulação do equilíbrio osmótico

sendo, por essa razão, muito importante manter os seus níveis estáveis (Barbosa e

Sztanjnbok, 1999).

Qualquer situação patológica que possa interferir com a absorção ou reabsorção

deste eletrólito no rim ou qualquer situação que implique perda de líquidos

corporais ricos em potássio alteram a sua concentração sérica (Blackwood e

Villier, 2000).

L) Proteínas Plasmáticas Totais

As proteínas plasmáticas totais (PPT) refere-se a todas as proteínas no plasma que

são constituídas pela Albumina e pelas Globulinas.

28

As determinações das PPT, em conjunto com o hemograma, são úteis para a

avaliação de líquidos e eletrólitos e ainda auxilia no diagnóstico de uma anemia,

e as alterações nos seus valores pode estra associado a diversos fatores (Nelson e

Couto, 2006).

M) Sódio

O sódio está presente, principalmente, no líquido extracelular e obtém-se através

da comida e os rins têm a função de manter o nível de Sódio constante através da

excreção pela urina (González e Scheffer, 2013).

N) Triglicerídeos

Os triglicerídeos encontram-se sob a forma de gordura na alimentação e circulam

na corrente sanguínea e armazena-se por todo o organismo (Guyton et al., 2006).

A avaliação da sua concentração sérica ajuda na avaliação da pancreatite ou

doenças cardíacas (Lieberman et al., 2013).

O) Ureia

A ureia é sintetizada no fígado e a maior parte dela deriva da quebra de

aminoácidos derivados das proteínas dos tecidos ou da alimentação. É excretada

pelos rins, portanto altas concentrações de ureia no plasma resultam do aumento

da quebra de proteínas teciduais ou alimentar. Na maioria dos animais, exceto nas

aves, o nível de ureia é um indicador do funcionamento renal (Nunes, 2016).

P) Alanina AminoTransferase (ALT)

A ALT é uma enzima encontrada em grande concentração no citosol dos

hepatócitos. Uns aumentos significativos nos níveis séricos de ALT indicam dano

hepatocelular (Batista, 2016).

Q) Aspartato AminoTransferase (AST)

A AST é uma enzima que se encontra em grandes quantidades nos músculos

esqueléticos, rins, cérebro, eritrócitos e coração. Nos canídeos e felinos há baixa

concentração citoplasmática mas está presente dentro das mitocôndrias e

aumentada em lesões mais acentuadas com necrose celular sendo um bom

indicador para se avaliar processos em resolução nas lesões hepatocelulares pois

29

os níveis da substância voltam ao normal mais rapidamente. Nos bovinos e

equinos existe uma grande quantidade de AST citoplasmático. É uma das enzimas

utilizadas para a avaliação hepática nessas espécies mostrando-se bastante

sensíveis mas pouco específicas pois qualquer lesão no hepatócito ou fibras

musculares é suficiente para permitir a saída de enzimas celulares (Batista, 2016).

R) Creatinina Quinase

A CK é uma enzima músculo-esquelética específica mais amplamente utilizada

para determinação de doenças neuromusculares dos animais domésticos já que

este é um indicador altamente sensível e específico de lesão muscular já que os

principais tecidos fonte dessa enzima são as fibras musculares esqueléticas e

cardíacas e qualquer lesão nas células provocará um aumento nos níveis séricos

de CK (González, 2011).

Esta enzima citoplasmática está sujeita a uma rápida libertação na circulação

como resultado de uma pequena lesão os valores séricos podem estar alterados

(Vieira, 2015).

S) Fosfatase Alcalina

A Fosfatase alcalina é uma enzima útil na avaliação de colestase hepática, todavia

os seus níveis são afetados por corticosteroides, lesões ósseas e atividade

osteoblásticas de animais em crescimento. Existem várias isoenzimas de fosfatase

alcalina em praticamente todos os tecidos estando localizada na membrana celular

tendo uma maior presença no intestino, fígado e rins (Costa, 2011).

T) Gama- Glutamil Transferase (GGT)

A GGT é uma enzima que tem maior sensibilidade a danos hepatobiliares do que

a Fosfatase alcalina. Está associada às membranas embora possa também ser

encontrada nos ductos biliares e renais, no pâncreas e também no intestino, mas

somente a de origem hepática é que é normalmente encontrada no plasma pois a

de origem renal é excretada na urina (Lieberman et al., 2013).

O valor desta enzima, em cães e em gatos é muito baixo (Isidoro, 2018).

30

Tabela 5-– Tabela indicativa de cada um dos metabolitos que correspondem a marcadores para

avaliação de diversos danos patológicos em animais.

Marcadores Hepáticos ALT; AST; FA; GGT; Ureia; Albumina; Glicose;

Colesterol; Ácidos Biliares Marcadores Renais Ureia; Creatinina; Albumina; Cálcio; Fósforo; FA;

GGT; Potássio Marcadores Pancreáticos Cálcio; Colesterol; Triglicerídeos; Glicose;

Albumina Marcadores Musculares CK; AST; Creatinina; Cálcio; Fósforo; Potássio;

Magnésio Marcadores Ósseos FA; CK; AST; Creatinina; Cálcio; Fósforo; Magnésio;

Potássio Marcadores do Estado de

Nutrição Ureia; PPT; Albumina; Triglicerídeos; Colesterol;

Glicose; Sódio; Potássio; Cálcio; Fósforo

2.4 – Aparelhos utilizados no LPC-HVUTAD

2.4.1 – Rx Daytona

O aparelho utilizado no LPC-HVUTAD para a análise química automática é o Rx

Daytona da Randox (figura 5).

O Rx Daytona da Randox é um analisador de química clínica totalmente automatizado

capaz de realizar testes de rotina e testes de especificidade em amostras de soro, plasma

e urina.

O aparelho possui diversas vantagens, sendo elas a estabilidade avançada, os ensaios

precisos, economia de tempo, alto rendimento e ótima eficiência (Randox, 2019)

(Adaptado de Latimer et al., 2010, Nelson e Couto, 2006, González e Silva, 2006)

31

Figura 5-– Fotografias do Aparelho Rx Daytona da Randox, visto exteriormente (à esquerda) e

com a tampa aberta (à direita), gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD.

2.4.1.1 – Caracterização

É capaz de realizar 180 testes fotométricos por hora e um total de 270 testes incluindo o

ISE.

O aparelho é constituído por 40 cuvetes de reação semi-transparentes com volumes de

reação económica (figura 6) entre 100 a 350 µL que possui uma função de verificação

das cuvetes para assegurar que apenas as cuvetes de reação limpos e viáveis são

reutilizados e também é constituído por um carrossel de amostras também com 40

posições (Randox, 2015).

Figura 6– Fotografia do interior do Rx Daytona mostrando o carrossel dos reagentes à esquerda e o

carrossel das amostras à direita, gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD.

De modo a que os resultados obtidos pelo Rx Daytona da Randox sejam fidedignos esta

possui uma estação de lavagem constituída por 12 fases com ácido Clorídrico (HCl), soro

fisiológico e por água bidestilada (Randox, 2015).

32

O Rx Daytona da Randox realiza os seus testes e calcula as concentrações das amostras

através da fotometria e espetrofotometria, onde os filtros fornecem cobertura em diversos

comprimentos de onda: 340, 415, 510, 546, 570, 600, 660 e 700 nm.

Segundo a Randox, L. (2019) a fotometria incorpora dois passos básicos que são a

identificação de substâncias realizando uma curva de absorção e a determinação da

concentração de substâncias através da Lei de Lambert-Beer (A= Ԑʎc) que estabelece uma

relação entre a absorbância de uma solução e a sua concentração quando atravessada por

uma radiação luminosa monocromática colimada (raios luminosos paralelos).

Para o cálculo da curva de absorção (A), o Rx Daytona parte de uma solução padrão com

concentração conhecida e realiza diluições padrão também com concentrações

conhecidas, depois disso ele realiza leituras das diluições no espectrofotómetro dando

origem à curva de absorbância. Construída a curva de absorbância dos compostos o

aparelho localiza o ponto mínimo da transmitância que por sua vez corresponde ao ponto

máximo de absorbância. Depois de identificado o comprimento de onda mais sensível o

Rx Daytona constrói as curvas de calibração dos reagentes e a partir daí ele determina as

concentrações das amostras, ou seja, ele determina as concentrações dos metabolitos na

amostra de soro, plasma ou de urina (Randox, 2015).

2.4.2 - Catalyst One (IDEXX)

O catalyst one da IDEXX é um analisador bioquímica seca automático para uso exclusivo

em medicina veterinária (figura 7).

Este aparelho executa até 30 resultados bioquímicos e eletrolíticos numa única amostra

em apenas 8 minutos.

Com o Catalyst one é possível utilizar amostras de sangue total, soro, plasma e urina.

Figura 7- Fotografia do aparelho Catalyst One

gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

33

2.4.2.1 – Caracterização

O catalyst one da IDEXX utiliza a tecnologia da placa seca da IDEXX (figura 8) em que

em primeiro lugar o aparelho coloca a amostra no topo da camada de espalhamento

(figura 8a) onde a amostra é distribuída uniformemente (IDEXX, 2020)

De seguida a amostra passa para a camada de filtragem (figura 8b) que por sua vez vai

minimizar as substâncias que interferem com os resultados deixando apenas a parte

fulcral da amostra seguir para a camada seguinte que é a camada de reagente (figura 8c)

onde a amostra vai reagir com o reagente que corresponde ao metabolito que queremos

analisar. O resultado obtido nesta camada vai seguir para a camada indicadora (figura 8d)

onde se vai processar a analise espectral. Por fim o que resta da amostra segue para a

última camada que é a camada de suporte (figura 8e) que corresponde à interface ótica

saindo de seguida os resultados pretendidos.

Em suma, a tecnologia da placa seca utilizada por este aparelho utiliza camadas para

minimizar as impurezas que possam vir na amostra de forma a obter resultados mais

precisos em amostras que estejam mais comprometidas (IDEXX,2020).

Pode determinar parâmetros isolados ou combinações bem como realizar “clips” pré-

carregados de um conjunto de parâmetros selecionados.

No LPC-HVUTAD o Catalyste one da IDEXX é usado apenas quando o hospital está em

regime de urgências e por essa razão, em stock, não se possui todo o tipo de clips

existentes tendo apenas os clips 4, 10 e 17 e diversos clips individuais (tabela 6).

a

b

c

d

e Figura 8– Esquema representativo do

funcionamento da tecnologia da placa seca do

Catalyst One da IDEXX.

34

Tabela 6-– Clips existentes no LPC e respetivos analitos analisados em cada um.

Clips Analitos analisados

Clip 4 Ionograma (Sódio, Potássio e Cloro)

Clip 10 Albumina, ureia, creatinina, proteínas totais, relação

albumina-globulina, relação ureia-creatinina, fosfatase

alcalina, globulinas, alanina aminotransferase, glucose

Clip 17 Albumina, amílase, colesterol, glucose, proteínas totais, ureia,

creatinina, relação albumina-globulinas e relação ureia-

creatinina, lípase, fosfatase alcalina, gama-glutamil

transferase, fósforo, alanina aminotransferase, cálcio,

globulinas e bilirrubina total

Como clips individuais, o LPC-HVUTAD possui: albumina, ácidos biliares, cloro,

glucose, magnésio, fosfatase alcalina, ureia, creatinina, potássio, sódio, SDMA1, alanina

aminotransferase, cálcio, bilirrubina total, colesterol, proteínas totais, aspartato

aminotransferase, creatinina quinase, gama-glutamil transferase, fósforo e triglicerídeos.

Capítulo 3 – Análise de urina

3.1 – Introdução

A urina é um líquido formado pelos rins, como resultado da filtração do plasma. As suas

principais funções consistem em: eliminar substâncias produzidas pelo catabolismo e

indesejáveis ao organismo, eliminar medicamentos ingeridos e manter a homeostasia do

plasma, e a sua composição depende basicamente de três fatores: quantidade e

composição do plasma que chega aos rins e funções renais como a filtração, a secreção e

a absorção (Barbosa e Sztaninbok, 1999).

A análise de urina é um teste laboratorial simples (figura 9), não evasivo e de baixo custo

que pode fornecer informações valiosas sobre o funcionamento do sistema urinário sendo,

por essa razão, essencial a sua realização para o auxílio no diagnóstico de muitas

enfermidades.

1 Indicador sensível capaz de detetar perda de apenas 25% da função renal.

35

Este tipo de análise é composto por três exames: físico, químico e a análise do sedimento

urinário, e só com a junção desses três exames é que o clínico pode dar um diagnóstico

clínico apropriado (Machado et al., 2003).

No exame físico são avaliados o volume, cor, aspeto e densidade, enquanto que no exame

químico são detetados e mensurados a concentrações de várias substâncias na urina. Por

fim, a avaliação do sedimento urinário inclui a identificação de células, cilindros,

microrganismos, cristais, sémen, entre outros.

Figura 9– Esquema representativo das vantagens da realização de uma análise de urina.

3.2 – Colheita de amostras

A melhor urina que pode ser colhida para a realização de uma boa análise é a primeira

urina da manhã pois esta encontra-se mais concentrada devido à falta de ingestão hídrica

durante a noite e aos mecanismos de concentração de urina e assim é possível estarem

presentes elementos que expressam a real situação do trato urinário (Nakamae et al.,

1980).

Em animais é mais difícil obter a primeira urina da manhã como amostra, sendo

analisadas amostras de urina de qualquer altura do dia.

O método de colheita de urina pode afetar os resultados da análise podendo essa colheita

ser feita das seguintes formas: micção espontânea ou cistocentese ou por compressão

manual da bexiga.

A micção espontânea é a técnica mais fisiológica pois é a que causa menos agressão ao

animal mas pode ocorrer contaminação ambiental provocando uma proteinúria ou

bacteriúria sem significado clínico (Biassoli, 180).

Por outro lado, na cistocentese é um procedimento muito utilizado na rotina da clínica de

pequenos animais. Entre os métodos de colheita de urina, este é o mais asséptico.

36

Entretanto esta técnica apresenta alguns riscos como hemorragia iatrogénica,

contaminação da amostra e da cavidade abdominal (Weber et al., 2011).

Deve ser obtido um volume padronizado de urina (5 a 10 mL) para possibilitar uma

comparação do sedimento urinário com as amostras subsequentes.

Segundo González et al. (2000) o volume urinário, em animais saudáveis, é inversamente

proporcional à densidade urinária.

3.3 – Acondicionamento da amostra

A urina chega ao LPC-HVUTAD num frasco ou seringa esterilizados (figura 10) e vem

acompanhada da requisição

devidamente preenchida onde vem

identificado o animal, a raça, o sexo, idade e o método de colheita.

A amostra de urina tem uma alta sensibilidade à temperatura ambiente, e por essa razão,

a urina deve ser analisada rapidamente após a colheita, de preferência até 30 minutos após

a sua obtenção. Se este requisito não poder ser realizado a urina, deve então, ser

imediatamente refrigerada, de preferência a 4ºC, pois temperaturas inferiores à de

refrigeração pode elevar a densidade específica da amostra e podem degradar os

constituintes celulares enquanto que a refrigeração por demasiado tempo torna suscetível

a cristalização de determinadas substâncias presentes na amostra e por essa razão as

amostras de urina só devem ser armazenadas por um máximo de 12 horas após a hora da

colheita. embora a refrigeração seja rotineiramente usada apenas para evitar a proliferação

bacteriana também pode causar aumento na densidade e a precipitação de cristais amorfos

(Amorim, 2008).

As urinas refrigeradas devem ser levadas à temperatura ambiente e completamente

homogeneizada antes da análise (Nakamae et al., 1980).

Figura 10- – Amostra de uma urina colhida por

cistocentese que deu entrada no LPC-HVUTAD.

Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

37

Este tipo de amostras também não deve ser congelado e devemos ter em atenção que

durante o período de armazenamento os cilindros e as células presentes na amostra

podem-se desintegrar e por consequência alterar o pH urinário (tabela 7).

De modo a garantir que os resultados da análise sejam fidedignos o LPC-HVUTAD

preserva as suas amostras no frigorífico com temperaturas à volta dos 4ºC e sempre que

é possível a sua análise é realizada quando dá entrada no laboratório.

Tabela 7-– Relação entre as alterações que podem ocorrer na urina e respetivas

consequências.

(Adaptado de Rosa et al., 2008)

A análise de urina é utilizada como um dos primeiros exames complementares a serem

solicitados pelo clínico juntamente com o hemograma.

Este tipo de análise é importante porque dá informação sobre o trato urinário e sobre

outros órgãos e sistemas, também servindo como exame de check-up (Rosa et al., 2008).

Este exame, como já foi referido anteriormente, está dividido em três partes: exame físico,

químico e a avaliação do sedimento urinário.

As análises de urina subdividem-se em: tipo I – análise bioquímica por métodos

semiquantitativos através do uso de tiras reativas de urina; e tipo II que avalia desde a

análise bioquímica à análise microscópica do sedimento urinário.

Alteração Consequência

Aumento do pH Degradação da ureia em amónia pelas

bactérias produtoras de urease

Diminuição da Glicose Utilização pelas bactérias

Diminuição dos Corpos Cetónicos Volatilização

Diminuição da Bilirrubina Exposição à luz

Diminuição do Urobilinogénio Oxidação em urobilina

Aumento dos Nitritos Redução do nitrato pelas bactérias

Aumento das bactérias – Infeção Contaminação

Aumento da Turvação Proliferação bacteriana e precipitação de

materiais amorfos

Desintegração dos GV, GB e

Cilindros

Em urinas alcalinas e diluídas (falso positivo

para a proteinúria)

38

3.4. – Exame Físico

Segundo Tavares (2017) o exame físico consiste em analisar o volume, cor, aspeto e

densidade urinário.

a) Cor

A cor fisiológica da urina é amarela. A cor da urina depende da concentração de

urocromos e depende da patologia existente no animal e pode variar com a espécie

(Nunes, 2016). Equinos possuem urinas amarelas carregadas. As cores mais comuns de

urinas que foram observadas durante o estágio no LPC-HVUTAD são as seguintes (figura

11):

- Amarelo-claro – representa uma urina diluída com densidade baixa e pode ter como

causa uma excessiva ingestão de líquidos;

- Amarelo-escuro – representa uma urina muito concentrada e consequentemente uma

elevada densidade;

- Avermelhada – presença de hematúria ou hemoglobinúria que é definida como a

presença anormal de eritrócitos na urina. Pode ser vista macroscopicamente ou

microscopicamente. Após a centrifugação a hematúria apresenta-se com um sobrenadante

límpido pois os eritrócitos presentes na amostra de urina depositam-se e são visíveis na

análise microscópica do sedimento urinário.

- Acastanhada – apresenta esta cor devido à presença de hemoglobina

Figura 11-– Diferentes cores de amostras de urina: diferença entre uma urina amarelo-claro

(A) e uma urina amarelo-escuro (B). Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

A B

39

b) Volume

O volume mínimo necessário para a realização de uma análise completa da urina deveria

ser de 5 mL sendo que o volume ideal é de 10 mL e qualquer volume abaixo ou acima

desses valores é considerado patológico (Kerr, 2003).

O volume produzido é inversamente proporcional à densidade pois nem sempre o volume

recolhido corresponde ao volume total contido dentro da bexiga do animal (Latimer et

al., 2010).

Este fator depende do estudo de hidratação do animal e esse estudo, por sua vez, varia de

acordo com a ingestão de proteínas, sais e água e, também varia de acordo com as suas

perdas por vómito, diarreia, entre outras causas (Ribeiro, 2010).

c) Turbidez

A urina normal é límpida e transparente. A turbidez da urina pode ser influenciada pela

concentração urinária, ou seja, uma amostra concentrada está mais propensa à turbidez

do que uma amostra diluída (Machado et al., 2003).

Preconiza-se a observação da turbidez imediatamente após a colheita, pois os cristais

podem precipitar e influenciar os resultados deste parâmetro.

O aspeto ligeiramente turvo ou turvo ocorre quando há presença de partículas suspensas

na urina, tais como células epiteliais, eritrócitos e leucócitos, cristalúrias, bactúrias, muco,

sémen ou contaminação fecal (Biasoli, 1980).

A urina de equinos é normalmente turva devido à presença de muco e cristais de carbonato

de cálcio e a urina normal de felinos apresenta gotículas de gordura que também podem

deixar a urina turva (Navarro, 1996).

Este parâmetro do exame físico tem como ponto negativo a sua baixa sensibilidade e a

sua baixa especificidade.

d) Densidade

A gravidade específica da urina ou densidade é um indicador muito útil da habilidade da

concentração urinária renal.

A gravidade específica é definida como a relação entre a massa de um volume líquido e

a massa de um mesmo volume de água destilada (Kerr, 2003).

40

Estima-se a densidade através do índice de refratometria (figura 12). Essa variável deve

ser interpretada associando-se o grau de hidratação, ingestão hídrica, dieta, peso,

exercício, idade e condições climáticas (Dalmolin, 2011).

Os valores de referência para este parâmetro são muitos amplos como podemos verificar

na tabela 8.

A densidade é um teste muito útil para a avaliação da capacidade de diluição e

concentração renal, pois a perda da habilidade de concentração costuma ser o primeiro

sinal de doença renal.

Figura 12-– Imagens representativas da execução da leitura da densidade urinária através do

refratómetro e da escala do refratómetro ao pormenor, sinalizada com a seta cor de laranja a

escala da medição da densidade urinária.

Tabela 8-– Valores de referência da densidade urinária para diversas espécies animais.

(Adaptado de Navarro, 1996)

3.5 – Exame Químico

O exame químico da urina consiste na utilização de tiras reativas de urina.

As tiras são pequenas tiras as quais apresentam diversas almofadas impregnados de

reagentes específicos para cada substância supostamente presente na urina (figura 13).

Espécie Valor

mínimo

Valor máximo Valor Normal

Cão 1.015 1.045 1.035

Gato 1.020 1.040 1.030

Equino 1.015 1.060 1.035

41

No LPC-HVUTAD são utilizadas as tiras reativas de urina de química seca da marca

Combur Test da Roche.

Este tipo de exame é um método qualitativo e semiquantitativo de monitorizar vários

aspetos bioquímicos da urina.

Os aspetos bioquímicos da urina analisados na tira reativas são:

a) pH urinário

O pH urinário não reflete necessariamente o pH sanguíneo, pois para manter o pH

sanguíneo constante (entre 7,35 – 7,45) terá de haver alteração do pH da urina o que

corresponde a condições alimentares e metabólicas (figura 14) (Sink e Feldman, 2006).

Os animais que ingerem carne e cereais apresentam o pH urinário entre 5,5 e 7,0 devido

à presença de fosfatos de sódio e cálcio, enquanto que os herbívoros, com dieta mais

alcalina, apresentam o pH urinário fisiológico entre 7,0 e 8,5 devido à presença de

bicarbonato de cálcio solúvel ((Rosa et al., 2008).

Figura 14– Escala do pH nas tiras reativas da Combur. (Adaptado de Fonseca, K., 2007)

Figura 13-- Tiras reativas de urina usadas no LPC-HVUTAD e respetiva escala de medição

para a realização da análise. Fotografias gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD.

42

b) Glicose

Em condições fisiológicas normais não deve haver presença de glicose na urina (figura

15).

A glicosúria é detetada por uma reação enzimática específica para a glicose e ocorre

quando o nível deste parâmetro no sangue é tão elevado que parte dele é excretado pela

urina (Vieira, 2015).

As amostras de urina refrigeradas devem ser aquecidas à temperatura ambiente para evitar

falsos negativos pois as baixas temperaturas atingidas durante o período de refrigeração

inibem a reação (tabela 9) (Tavares, 2017).

Figura 15-– Escala de medição de glucose nas tiras reativas da Combur. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007)

Tabela 9-– Valores de referência para a glicemia a partir dos quais aparece a glicosúria, pois foi

ultrapassado o limiar de reabsorção renal que é diferente para cada espécie.

(Adaptado de Tavares, 2017).

c) Corpos cetónicos

Os corpos cetónicos são produtos resultantes da metabolização das gorduras e são

produzidas quando o corpo está com dificuldade em utilizar a glicose como fonte de

energia (Costa, 2011)

A urina fisiológica é livre de corpos cetónicos e a cetonúria ocorre quando estes

compostos aumentam a sua concentração no plasma em decorrência de distúrbios no

metabolismo de ácidos gordos e carbohidratos (figura 16) (Dalmolin, 2011).

Glicemia(mg/dL)

Caninos >180

Felinos >280

Aves >600

Bovinos >100

43

Figura 16-– Escala de medição da Combur de presença de corpos cetónicos na urina. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007)

d) Proteínas

As tiras reagentes produzem resultados semiquantitativos da proteinúria e detetam

principalmente a albumina, sendo insensíveis para as globulinas (Latimer et al., 2010).

Em condições fisiológicas normais, as proteínas são 100% mantidas na corrente

sanguínea estando presente na urina apenas uma pequena quantidade que as tiras

reagentes acabam por nem detetar, porém o resultado da tira reagente deve ser

interpretado juntamente com a densidade urinária pois está relacionado com a

concentração da urina (figura 17) (Navarro, 1996).

Figura 17– Escala da Combur da medição da presença de proteínas na urina. (Adaptado de Fonseca, K.,

2007).

e) Bilirrubina

A urina fisiologicamente normal não apresenta bilirrubina. O limiar de excreção da

bilirrubina no cão, em condições normais, é baixo e, por isso, normalmente não se observa

(González et al., 2000).

A bilirrubina deve ser sempre interpretada em associação com a densidade específica

(figura 18).

Figura 18-– Escala da Combur da medição da excreção de bilirrubina na urina. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007)

f) Urobilinogénio

O urobilinogénio que é excretado nas fezes e reabsorvido pela circulação portal

retornando ao fígado e é eliminado pela bílis (Sink e Feldman, 2006).

44

Uma pequena quantidade de urobilinogénio atinge os rins através da circulação sendo

excretada pela urina (figura 19).

A urina dos cães e dos gatos, geralmente possui uma reação positiva e a ausência ou

diminuição do urobilinogénio está relacionada a distúrbios intestinais (Amorim, 2008).

Figura 19-– Escala da Combur da medição da excreção do urobilinogénio na urina. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007)

g) Nitritos

A presença de nitritos na urina resulta da conservação de nitratos por bactérias, ou seja, a

reação positiva para a presença de nitritos significa que há presença de bactérias em

quantidade significativa (figura 20). Tem baixa sensibilidade e menor especificidade. É

utilizada para deteção de infeções do trato urinário em medicina veterinária pelo que

muitos clínicos optam pela sua utilização (Amorim, 2008).

Figura 20-– Escala da Combur para a deteção da presença de nitritos na urina. (Adaptado de Fonseca,

K., 2007)

h) Sangue

As tiras reativas de urina detetam a porção heme da hemoglobina e da mioglobina

(Machado et al., 2003).

A urina fisiologicamente normal não deve conter sangue.

A hemoglobinúria pode ocorrer quando os glóbulos vermelhos intactos lisam na urina

extremamente diluída (densidade < 1,008) ou quando há níveis elevados de hemoglobina

no sangue decorrente de hemólise intravascular (Nakamae et al., 1980).

Quando há presença de sangue na urina também pode ocorrer uma hematúria. A

hematúria corresponde à observação de três ou mais glóbulos vermelhos por campo.

Para distinguir a hematúria de hemoglobinúria, o sobrenadante urinário deve ser

observado e este encontra-se límpido na hematúria (figura 21).

45

Este parâmetro da tira reativa de urina tem uma grande sensibilidade e uma baixa

especificidade (Sink e Feldman, 2006).

Figura 21– Escala da Combur para a detenção de hemoglobina na urina. (Adaptado de

Fonseca, K., 2007)

3.6 – Análise do sedimento

A terceira etapa da análise de urina consiste na avaliação microscópica do sedimento

urinário. Os resultados do exame do sedimento urinário devem ser interpretados

juntamente com o conhecimento do método de colheita, exame químico da urina e o

exame físico do animal (Biasolin, 1980).

No LPC-HVUTAD é separada cerca de 1mL da amostra homogeneizada de urina fresca

é transferida para uma alíquota é devidamente identificada e colocada a centrifugar a 3500

rpm durante 5 minutos. O sobrenadante é descartado e o sedimento é ressuspendido

agitando-se o tubo várias vezes. Uma gota do sedimento resultante é colocada numa

lâmina e é coberta por uma lamela.

Por fim, deve-se observar a lâmina com a amostra do sedimento ao microscópio com o

diafragma fechado e na objetiva de 40x.

Durante observação da amostra é possível, finalmente, realizar a análise do sedimento

sendo, por vezes, possível observar cilindros, células, cristais, bactérias, fungos e

artefactos.

a) Cilindros

Os cilindros formam-se nos túbulos renais a partir de mucoproteínas secretadas pelas

células epiteliais tubulares (figura 22). Uma urina normal pode conter poucos cilindros

hialinos e/ou granulosos, mas umas quantidades maiores destas estruturas refletem uma

patologia renal (Biasolin, 1980).

46

b) Células

Baixas quantidades de eritrócitos, leucócitos e células epiteliais transicionais podem ser

encontradas em urinas normais, porém em casos de inflamação da bexiga pode ser

observado um aumento na quantidade destas células (figura 23) (Almeida, 2011).

Figura 23-– Imagem microscópica (objetiva de x40) de uma urina com diversos leucócitos

(seta azul) e imensos eritrócitos (seta cor de laranja) na amostra de urina um gato. Fotografia

gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

c) Cristais

A presença de cristalúria é influenciada pelo pH urinário e pela densidade urinária.

As urinas muito concentradas, com altas concentrações de substâncias cristalogénicas ou

com reduzida taxa de fluxo renal estão predispostos à formação de cristais (figura 24)

(Barbosa e Sztanjnbok, 1999).

Figura 22-– Imagem microscópica de um cilindro urinário numa amostra de urina um gato,

observado com a objetiva x40. Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

47

Figura 24– Imagem microscópica (ampliação de 1000) de um cristal urinário - fosfato amónio

de magnésio, também chamado de estruvite, numa amostra de urina de cão. Fotografia

gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

d) Microrganismos

Os microrganismos mais encontrados na urina são as bactérias. Os fungos e as leveduras

também podem ser encontrados na urina, mas é mais raro, em medicina veterinária.

A urina fisiologicamente normal não deve conter microrganismos, mas pode ser

contaminado pela vagina ou durante a micção (Weber et al., 2011).

A urina colhida por cistocentese, por norma, não contém bactérias, mas estas podem

proliferar na urina quando esta não é conservada adequadamente ou quando a análise ao

sedimento urinário excede o tempo recomendado (Weber et al., 2011).

As bactérias são bastante pequenas e só podem ser identificadas com grandes ampliações

ao microscópio ótico (figura 25) (Isidoro, 2018).

Normalmente, quando as bactérias são encontradas sem a presença de leucócitos é

indicativo de que a amostra foi contaminada (Amorim, 2008).

Figura 25– Imagem microscópica (objetiva de x40) de urina de um cão, onde é possível ver

bactérias (sinalizadas com a seta azul). Imagem gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

48

e) Artefactos

Muitas substâncias podem contaminar a urina durante a colheita, o transporte ou durante

a realização do exame.

A presença de artefactos podem confundir o clínico durante a análise ao sedimento. Estes

artefactos podem ser: bolhas de ar, gotículas de óleo, pêlos, material fecal, pólen, esporos

de fungos, entre outros (figura 26) (Isidoro, 2008).

Figura 26-– Imagem microscópica (x40) de um sedimento urinário de um cão, com gotículas de

gordura (seta azul) e espermatozoides (seta cor de laranja). Imagem gentilmente cedida pelo

LPC-HVUTAD.

Capítulo 4- Coagulação

4.1 - Introdução

O sistema de coagulação é um sistema multifacetado, extremamente balanceado, no qual

participam diversos componentes celulares e moleculares.

Segundo Franco (2001) a hemostasia é um evento biológico possível de ser avaliado e

estudado, assim como os seus distúrbios e é definida como:

- um conjunto de fatores responsáveis pela manutenção do sangue fluído no interior dos

vasos;

- paragem do sangramento ou hemorragia;

49

- realiza o controle da hemorragia e a dissolução do coágulo por meio de eventos

mecânicos e bioquímicos.

A hemostasia resulta então na formação de fibrina que estabiliza o tampão plaquetário

primário, promovendo a formação do coágulo. Este processo é constituído por 3 etapas:

hemostasia primária, hemostasia secundária e fibrinólise (Cagnolati et al., 2004).

A hemostasia primária corresponde à contração vascular local para que ocorra a redução

do fluxo sanguíneo no local da lesão e ocorre a formação do rolhão plaquetário enquanto

que a hemostasia secundária ou coagulação corresponde à fase de adesão de plaquetas

que é mediado pelo recetor de colagénio plaquetário específico e fator Vonwillebrand, os

quais formam ligações entre plaquetas e fibras de colagénio para ativar as plaquetas

(Lopes et al., 2005).

A coagulação sanguínea consiste na conversão da proteína solúvel do plasma (o

fibrinogénio) num polímero insolúvel (a fibrina) por ação de uma enzima denominada

trombina e é constituída por uma série de reações químicas entre várias proteínas que

convertem proenzimas em enzimas são denominados fatores de coagulação (Franco,

2001).

A compreensão das vias hemostáticas, dividindo-as em intrínseca e extrínseca

convergindo na via comum sendo a sua ativação um processo em “cascata”, a qual

termina na formação do complexo denominado ativador de Protrombina hemostática

(Lopes et al., 2005).

A fibrinólise é caracterizada pela produção de complexos tenases e Protrombinases que

são agrupados na superfície das plaquetas ativadas (Dennis et al., 1998).

A fibrinólise é ativada na mesma ocasião da coagulação existindo um equilíbrio

fisiológico entre as mesmas, onde a plasmina atua degradando a fibrina e desfazendo o

coágulo (Lopes, et al., 2005).

Estes três processos descritos, têm em conjunto, a finalidade de manter a fluidez

necessária do sangue sem haver extravasamento pelos vasos ou obstrução do fluxo pela

presença de trombos (Pichler, 2008).

4.2 - Avaliação do Sistema hemostático no LPC-HVUTAD

No LPC-HVUTAD as provas de coagulação são realizadas no STAGO® START4 –

Hemostasis Analyzer. Este aparelho constitui um sistema de bancada semiautomático

50

eficiente integrado como método eletromecânico patenteado de deteção de coágulos da

STAGO e como é ideal para testes de lote de baixo a médio volume, por consequência, é

ideal para o LPC-HVUTAD uma vez que o número e parâmetros da coagulação avaliados

é relativamente baixo.

Este aparelho inclui quatro estações de incubação com temporizador independente,

pipetador múltiplo conectado eletronicamente, um display de cristal líquido (LCD) de 40

caracteres e uma impressora térmica interna (figura 27) (Stago, 2015).

Figura 27– Fotografia do aparelho STAGO® START 4 mostrando com mais pormenor as

pipetas e os reagentes. Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

A STAGO® START 4 possui uma vasta gama de testes sendo que os únicos que são

realizados no LPC-HVUTAD são o Tempo de Protrombina e o Tempo de Tromboplastina

Parcial Ativada.

Neste setor a calibração e os controlos são realizados uma vez por semana ou toda a vez

que se mude um dos reagentes necessários (Stago, 2015).

4.3 – Valores normais para canídeos, felino e equino no LPC-HVUTAD

Após um estudo interno, realizado no LPC-HVUTAD foi possível obter dados e formar

os valores normais para os canídeos que dão entrada no laboratório garantindo uma

melhor e mais fidedigna avaliação hemostática do animal em causa garantindo, por

consequência uma melhor ajuda médica (Barbosa et al., 2018).

Os valores obtidos estão representados na tabela seguinte (Tabela 9).

51

Tabela 10-– Valores de referência usados no LPC-HVUTAD para a avaliação hemostática de

diferentes espécies animais.

Tempo de

Protrombina (PT)

(seg)

Tempo de Tromboplastina

Parcial ativada (aPTT) (seg)

Cão 6,7 – 10,8 9 – 14,5

Gato 7 – 11,5 10 – 15

Equino 9,5 – 11,5 25 - 45

Capítulo 5- Hematologia

5.1- Introdução

Na hematologia, após uma breve introdução ao tema serão abordadas as principais

determinações executadas no LPC-HVUTAD, bem como o fundamento da técnica

utilizada.

A hematologia é o ramo da biologia que estuda os elementos figurados do sangue:

glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas, bem como a produção desses

elementos e os órgãos onde eles são produzidos (órgãos hematopoiéticos) como a medula

óssea, o baço e os linfonodos. Do ponto de vista clínico, a hematologia também está

encarregue de estudar as doenças a eles associados (DeNicola et al., 1998).

A principal função do sangue é o transporte, quer de substâncias essenciais para a vida

das células do corpo, tais como oxigénio, dióxido de carbono, nutrientes e hormonas quer

de produtos oriundos do metabolismo, indesejáveis ao organismo, os quais são levados

aos órgãos de excreção (Vieira, 2015).

O sangue é constituído por uma fração líquida e uma fração celular. A fração líquida

denominada de plasma que constitui cerca de 55% do volume total de sangue e é

constituído por água (91%), proteínas (8%) como a albumina, a globulina e o

fibrinogénio, e por outros solutos (1%). A fração celular é composta por eritrócitos,

leucócitos e plaquetas (Nunes, 2016).

A hematopoiese é o processo referente à produção dos elementos celulares e figurados do

tecido sanguíneo. A atividade hematopoiética gera mais de nove tipos celulares

Espécie

Análise

(Adaptado de Barbosa et al., 2018)

52

diferentes, divididos em: linhagem linfoide (linfócitos T e B, células NK (natural killer)

e células dendríticas linfoides); e linhagem eritro-mielóide (macrófagos, eosinófilos,

neutrófilos, mastócitos, eritrócitos e plaquetas), a partir de uma entidade celular

denominada de célula-tronco hematopoiética ou HSC (hematopoietic stem cell) (Latimer

et al., 2005).

A produção de eritrócitos (eritropoiese) acontece na medula óssea levando em torno sete

a oito dias para se completar. Os eritrócitos caracterizam-se por ser células anucleadas

(nos mamíferos), durante o seu desenvolvimento acabam por perder, por expulsão, o seu

núcleo. Constituem cerca de 45% do volume total do sangue e têm a função de transportar

oxigénio. A sua flexibilidade de forma é importante para poderem desempenhar a sua

função podendo adaptar-se para passarem pelos pequenos capilares (DeNicola et al.,

1998).

Os leucócitos são células nucleadas que desempenham funções de defesa do organismo

contra infeções. São produzidas na medula óssea a partir de uma célula pluripotencial. A

capacidade proliferativa da célula pluripotencial depende dos estímulos apropriados de

hormonas estimuladoras da leucopoiese (Latimer et al., 2005).

Existem duas grandes classes de leucócitos: Granulócitos (originam-se na linhagem

mieloide e são células que possuem núcleos segmentados e grânulos no seu citoplasma e

podem ser de três tipos como neutrófilos, eosinófilos e basófilos); Agranulócitos ou

mononucleares assim chamados por possuírem um núcleo sem constrições e um

citoplasma desprovido de grânulos2: os Linfócitos são originários da linhagem linfoide

da medula óssea e podem ser do tipo T (desenvolvem-se nos tecidos linfoides) e B

(desenvolvem-se na medula óssea), e os Monócitos (representam de 4 a 8% do total de

leucócitos e desenvolvem-se na medula óssea e migram facilmente pela parede dos vasos

para se transformarem em células fagocitárias, passando a chamar-se macrófagos) (Braga,

2014).

As plaquetas ou trombócitos tal como os eritrócitos não têm núcleo e são pequenos

fragmentos citoplasmáticos com origem nos megacariócitos da medula óssea que são

libertados na corrente sanguínea. A sua vida média na circulação é de aproximadamente

10 dias. Possuem um papel fundamental pois são responsáveis pelo início do processo de

coagulação pois, atuam na reparação de vasos sanguíneos, na coagulação do sangue para

evitar perda de sangue e, ainda, libertam enzimas lisossomais que auxiliam na remoção

2 Possuem grânulos azurófilos e por essa razão estes não são visíveis em microscopia de luz.

53

do coágulo sanguíneo. Estas atividades ocorrem devido aos conteúdos dos grânulos alfa,

delta (ou densos) e lambda das plaquetas. Os grânulos alfa contêm fibrinogénio e fator de

crescimento plaquetário. Os grânulos delta contêm serotonina, ADP e ATP e por fim, os

grânulos lambda contêm enzimas lisossomais das plaquetas (González e Silva, 2008).

5.2 – Hemograma

O hemograma é um dos exames complementares de diagnóstico mais frequentemente

requisitado e permite uma avaliação dos elementos celulares do sangue: eritrócitos,

leucócitos e plaquetas. Na realidade, é o exame de primeira linha no estudo da função

hematológica, contudo, uma análise atenta e cuidada dos elementos celulares implica,

para além da quantificação de cada um dos tipos de células sanguíneas, o estudo da sua

morfologia (Costa, 2011).

Os tubos de amostras devidamente identificados, chegam ao LPC-HVUTAD através de

profissionais, sendo registados, separados e triados conforme o grau de urgência e o tipo

de análise. Para a realização deste exame as amostras de sangue total têm de ser colhidas

com anticoagulante EDTA para evitar a sua coagulação. No LPC-HVUTAD o

hemograma é realizado num analisador celular automático concebido para uso em

medicina veterinária o Procyte Dx (IDEXX) (figura 28).

Este aparelho é um analisador automático de hematologia para sangue de animais que

avalia e fornece os resultados de vinte e cinco parâmetros para cada amostra de sangue

em aproximadamente dois minutos que emprega três tecnologias: citrometria de fluxo a

laser, fluorescência ótica e impedância de fluxo laminar (IDEXX, 2014).

Figura 28– Fotografia do Procyte DX, da sua

estação de VetLab e o agitador mecânico.

Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-

HVUTAD.

54

Com a Citrometria de fluxo a laser o sistema realiza duas análises separadas: ótica de

eritrócitos, em que analisa os eritrócitos maduros, os reticulócitos e as plaquetas e a

análise do diferencial de leucócitos em que analisa e classifica o diferencial em cinco

partes (Cápua et al., 2005).

As suspensões celulares são hidrodinamicamente focadas através de um orifício estreito

exposto para focar o laser vermelho. A luz dispersa frontalmente e a luz dispersa

lateralmente é então registada para cada célula e essas assinaturas óticas fornecem

informações sobre o tamanho, complexidade, conteúdo e estrutura dentro de cada célula

(IDEXX, 2014).

Na fluorescência ótica a coloração de leucócitos ProCyte Dx e os reticulócitos ligam-se

a ácidos nucleicos nas células e são excitados pela luz vermelha. As assinaturas são

capturadas exclusivamente com o comprimento de onda maior da luz dispersa

lateralmente. Este método é o padrão de ouro para determinar reticulócitos e fornece

sensibilidade adicional para identificação da contagem diferencial de leucócitos em cinco

partes. Por outro lado, a impedância de fluxo laminar é o método mais rápido dos três

para análise do tamanho e número dos eritrócitos e das plaquetas. Com este método, uma

amostra diluída é focada no centro de uma abertura de deteção e um sinal elétrico é

interrompido por presença de cada célula. A resistência medida pode determinar o

tamanho e o tipo de cada célula (Braga, 2014).

O ProCyte Dx envia a amostra através da abertura numa corrente de núcleo coaxial de

amostra e reagente. Simultaneamente, o fluxo principal é cercado por um reagente de

revestimento mais rápido, o que garante que apenas uma célula esteja à vez na abertura,

impedindo qualquer recirculação.

5.1.1- Parâmetros analisados no hemograma do Procyte Dx

O hemograma analisa três componentes celulares: os glóbulos vermelhos que são

analisados no eritograma, os glóbulos brancos que são analisados no leucograma e as

plaquetas analisados no plaquetograma. O Procyte Dx avalia vinte e quatro parâmetros

(figura 29) que são:

Eritrócito (M/µL) – refere-se ao número total de glóbulos vermelhos presentes no sangue

(Cápua et al., 2005);

55

Hematócrito (% HTC) – é a proporção do volume da amostra de sangue que é ocupado

pelos glóbulos vermelhos (Vieira, 2015);

Hemoglobina (HGB) (g/dL) – é um componente dos glóbulos vermelhos responsável

pelo transporte de oxigénio; este parâmetro mede a concentração desse componente no

sangue (Latimer et al. 2005);

Volume Corpuscular Médio (VCM) (fL) – mede o tamanho dos glóbulos vermelhos,

ou seja, este parâmetro dá-nos o valor do volume médio de glóbulos vermelhos na amostra

(Dennis et al., 1998);

Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) (pg) – indica a concentração total de

hemoglobina através da análise do tamanho e da coloração dos glóbulos vermelhos, ou

seja, é o volume médio de hemoglobina por contagem de glóbulos vermelhos (Braga,

2014);

Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (MCHC) (g/dL) – demonstra a

concentração de hemoglobina por eritrócito. Dá-nos a concentração média de

hemoglobina (Blackwood e Villiers, 2000);

Red Cell Distribution Width (%RDW) – é o índice que indica a percentagem de

variação de tamanho entre os glóbulos vermelhos (González e Silva, 2008);

Percentagem de Reticulócitos (%RETIC) – refere-se à contagem de eritrócitos

imaturos presentes no sangue periférico (Costa, 2011);

Hemoglobina nos Reticulócitos (RET-HE) (K/µL) – é o teor de hemoglobina nos

reticulócitos é uma avaliação em tempo real que informa se a disponibilidade vigente de

Ferro é ou não suficiente para a eritropoiese (Nunes, 2016);

Leucócitos (K/µL) – indica o número total de Glóbulos brancos presentes na amostra

(Naoum, 2001);

Percentagem de leucócitos (% NEU; %LYM; %MONO; %EOS; %BASO) – é a

percentagem de cada tipo de leucócito presentes no sangue periférico da amostra

(González e Scheffer, 2013);

NEU; LYM; MONO; EOS; BASO (K/µL) - é o número total de glóbulos brancos

presentes no sangue periférico da amostra (González e Scheffer, 2013);

56

Plaquetas (K/µL) – número total de plaquetas no sangue periférico da amostra (Naoum,

2001);

Volume Plaquetário médio (VPM) (fL) – indica o volume médio das plaquetas

presentes na amostra (Braga, 2014);

Índice de anisocitose plaquetária (%PDW) – avalia a distribuição do tamanho das

plaquetas e permite avaliar a presença de anisocitose plaquetária (Latimer et al., 2005).

Plaquetócrito (%PCT) – percentagem do volume das plaquetas sobre o volume total de

sangue (Latimer et al., 2005).

Por último o ProCyte Dx está conectado a um computador, designado Estação VetLab

IDEXX. Esta estação VetLab funciona como um elo de comunicação para todos os

analisadores da marca IDEXX, como por exemplo para o Catalyst que é o aparelho da

bioquímica seca usado em regime de urgência no LPC-HVUTAD (IDEXX, 2014).

A B

Figura 29-– Exemplos de hemogramas felinos realizados no Procyte Dx (IDEXX): sem

alterações celulares (A) e com alterações da série vermelha indicadores de anemia e alterações

na série branca (B).

57

5.2 – Hematócrito

O hematócrito é um parâmetro que também pode ser calculado manualmente. É um

exame rápido de boa reprodutibilidade e preciso, que exige uma pequena quantidade de

sangue para o seu processamento. Atualmente a técnica do microhematócrito,

desenvolvida em tubos capilares é a mais difundida. Esta técnica veio substituir a técnica

em tubos de Wintrobe e por ser igualmente precisa e utilizar quantidades muito menores

de sangue é hoje em dia a técnica mais difundida (Almeida, 2011).

O microhematócrito tem como princípio a sedimentação dos elementos figurados do

sangue através da centrifugação e o seu método de realização é simples e começa por

homogeneizar o tubo de sangue com anticoagulante, de seguida pega-se no tubo capilar

e por capilaridade deixar-se o sangue subir até preencher cerca de 2/3 do tubo. Depois de

preenchido fecha-se uma extremidade com plasticina e leva-se a centrifugar a 1200 rpm

por 5 minutos.

Os eritrócitos como possuem um peso maior depositam-se no fundo do tubo capilar, os

leucócitos e as plaquetas por sua vez, formam uma fina camada a que chamamos camada

flogística, que se situa entre os eritrócitos e o plasma e este último acomodou-se no topo

do capilar (figura 30) (Cruz et al., 1945).

Quando a centrifugação termina, procede-se à leitura do microhematócrito. A leitura

consiste no coeficiente entre a medição (com uma régua) da parte precipitada das células

e a área total preenchida (células e plasma) do tubo capilar. O resultado vem expresso em

percentagem.

No LPC-HVUTAD o microhematócrito é utilizado com regularidade como forma de

controlo de qualidade do Procyte Dx. Se a diferença entre o valor obtido no

microhematócrito e o resultado obtido no Procyte Dx for inferior a 6% aceita-se o

Plasma

Camada flogística

Eritrócitos

Figura 30- Fotografia de um microhematócrito. Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-

HVUTAD.

58

resultado se der superior a 6% deve-se repetir, primeiramente o microhematócrito, e só

se o valor for o mesmo e a diferença continuar superior a 6% repete-se, então, o

hemograma. Se a diferença de 6% persistir deve-se aceitar pois os resultados foram todos

confirmados.

A realização do microhematócrito permite ainda a avaliação da concentração das

Proteínas Plasmáticas Totais. Para tal o plasma resultante do tubo capilar depois da

centrifugação e leitura do microhematócrito é colocado, após a rotura do tubo capilar num

refratómetro manual e é então feita a correspondente leitura.

5.3 – Esfregaço sanguíneo

O esfregaço sanguíneo é uma prova realizado em hematologia para a contagem e a

identificação de anormalidades morfológicas nas células do sangue. O teste consiste na

extensão de uma fina camada de sangue sobre uma lâmina de microscopia que, após

corada, é analisada em microscópio.

O seu objetivo principal é analisar a morfologia das células pertencentes às três linhagens

celulares, fornecer informações sobre a estimativa do número de leucócitos e plaquetas,

realização da contagem diferencial de leucócitos e investigar problemas hematológicos,

distúrbios encontrados no sangue e eventualmente identificar parasitas sanguíneos e por

último serve também como meio de controlo das contagens celulares automáticos

(González e Silva, 2008).

A C D E

B

Figura 31– Fotografia de microhematócrito realizados no LPC-HVUTAD, em que é possível verificar

as diferenças na cor do plasma: A- Plasma ligeiramente hemolisado; B- Plasma hemolisado; C- Plasma

normal; D- Plasma ligeiramente ictérico; E- Plasma ictérico. Diferenças em relação ao volume de

eritrócitos: A e C – Volume de eritrócitos normais; B e E- Volume de eritrócitos baixo; D – Volume de

eritrócitos elevado. Fotografias gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD.

59

5.3.1 – Técnica da realização do esfregaço sanguíneo

A técnica consiste em (figura 32): apoiar uma lâmina de microscopia, já com a

identificação do animal, sobre uma superfície limpa. A lâmina deve estar limpa e sem

vestígios de gordura que poderão prejudicar o teste. De seguida coloca-se uma pequena

gota de sangue próxima a uma das extremidades da lâmina e com o auxílio de outra

lâmina, colocar a gota de sangue em contacto com a sua borda (para isso a lâmina

extensora deve fazer um movimento para trás tocando a gota com o dorso num ângulo de

45º).

O sangue da gota vai-se espalhar pela borda da lâmina extensora por capilaridade, nesse

momento, a lâmina deve então deslizar suave e uniformemente sobre a outra em direção

oposta à extremidade em que a gota de sangue foi colocada.

Figura 32 –

Figura 32 - Fotografias de uma boa realização da técnica do esfregaço sanguíneo: A- material

necessário para a realização do esfregaço sanguíneo; B-procedimento da identificação da lâmina onde

se vai realizar o esfregaço; C- colocação de sangue total da amostra na pipeta de vidro; D- colocação de

uma pequena gota de sangue numa das extremidades da lâmina; E- colocação da lâmina extensora sobre

a lâmina do esfregaço; F- do contacto da lâmina extensora com a gota de sangue a formar um ângulo de

aproximadamente 45º; G- deslizamento suave da lâmina extensora sobre a lâmina do esfregaço

sanguíneo; H – parte final da elaboração do esfregaço sanguíneo; I- esfregaço sanguíneo, devidamente

identificado, antes de ser corado. Todas as fotografias presentes nesta figura foram gentilmente cedidas

pelo LPC-HVUTAD.

A B C

D E F

G H I

60

Depois de completamente estendido o sangue forma uma espécie de película sobre a

lâmina que se deve deixar que seque sem nenhuma interferência, para de seguida se

proceder à coloração (figura 33).

Para a obtenção de um esfregaço de qualidade é necessário fazer deslizar uma lâmina

sobre a outra rápida e uniformemente antes que a gota de sangue seque ou coagule. Uma

pressão excessiva ou qualquer movimento de paragem durante esse processo pode

comprometer o esfregaço.

A espessura da película, também é importante esta é determinada, em grande parte, pelo

ângulo formado entre as lâminas no momento da extensão da gota de sangue, pois ângulos

maiores do que 45º, por exemplo, produzem extensões espessas e curtas, dificultando

posteriormente a visualização das células (Nunes, 2016).

5.3.2 – Coloração do esfregaço sanguíneo

As colorações de rotina em hematologia são aquelas derivadas do método de

Romanovsky, entre elas podemos encontrar muitas variações como a coloração de

Leishman, Giemsa, Wright ou May-GrünWald/Giemsa.

No LPC-HVUTAD são usadas as colorações de Diff-Quick e o May-GrünWald/Giemsa.

Figura 33- Fotografia de esfregaços sanguíneos corados e devidamente identificados. Fotografia

gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

61

a) Coloração Diff-Quick

A coloração Diff-Quik consiste num agente fixador (metanol), solução I (eosinofílica) e

solução II (basofílica) (figura 34).

Geralmente e de acordo com as instruções do fabricante, as lâminas são mergulhadas

sequencialmente em cada solução 15 vezes em cada uma das soluções, drenando o excesso antes

de mudar de solução e de seguida passar a lâmina corada por uma lavagem em água corrente e

posteriormente deixar secar (figura 35). As soluções Diff-Quik devem ser armazenadas em

recipientes herméticos para evitar a evaporação ou derramamento.

A B C

Figura 34– Fotografia do agente fixador (metanol), da solução I (Eosina) e da solução II (Azul

de metileno). Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

Figura 35– Fotografia do procedimento da coloração do esfregaço sanguíneo por Diff-Quick,

em que: A – colocação da lâmina em metanol (15x); B – colocação da lâmina na solução I

(15x); C – colocação da lâmina na solução II (15x). Fotografia gentilmente cedida pelo LPC-

HVUTAD.

62

b) Coloração May-GrünWald/Giemsa

A coloração de May-GrünWald/Giemsa é baseada no uso de um corante azul neutro

constituído por um corante ácido designado eosina e um corante básico que é o azul de

metileno.

O protocolo utilizado no LPC-HVUTAD consiste em proceder à diluição de 1:20 do

corante Giemsa com água tamponada (tampão fosfato) com pH 7. De seguida colocamos

as lâminas em corante de May-GrünWald durante 5 minutos. Passado esse tempo

voltamos a colocar as lâminas em tampão fosfato durante 5 minutos. Por último

colocamos as lâminas em solução tampão numa diluição de 1:7 com a solução Giemsa e

deixamos repousar 15 minutos. Passado esse tempo passamos as lâminas brevemente por

água corrente.

Decorrido este tempo escoa-se o excedente e após secar está pronta para a observação ao

microscópio.

5.4 – Observação das lâminas de esfregaço sanguíneo

O esfregaço pode ser dividido em três partes (figura 36) (Lisboa, 2016):

- Cabeça da lâmina – região imediatamente após o local em que estava a gota sanguínea.

Nessa região, normalmente, há um aumento do número de leucócitos;

- Corpo da lâmina – região intermediária entre a cabeça e a cauda. É nessa região que

os leucócitos, os eritrócitos e as plaquetas estão distribuídas de uma forma mais

homogénea e em monocamada. É esta a área de escolha para a análise quantitativa e

qualitativa do esfregaço.

- Cauda da lâmina – região final da distensão sanguínea. Nessa região é possível

encontrar um elevado número de monócitos e granulócitos, que por sua vez podem

apresentar uma maior distorção morfológica.

63

5.5- Contagem diferencial de leucócitos

A contagem diferencial de leucócitos, também chamada de fórmula leucocitária, dá-nos

informação sobre as quantidades relativas dos diferentes tipos de leucócitos no sangue

periférico. Num primeiro momento, a avaliação da lâmina é feita com uma objetiva de

menor ampliação (10x e de 40x) para saber da qualidade do esfregaço e para identificação

da monocamada e posteriormente com uma objetiva de imersão (100x) para contagem. A

contagem diferencial de células é realizada desde o corpo da lâmina (região da

monocamada) para a cauda da lâmina totalizando um total de 100 células (figura 37)

(Thall et al., 2015).

2 3 1

Figura 36– Fotografia de um esfregaço sanguíneo com as suas diferentes áreas: 1 –cabeça da

lâmina: 2 – corpo da lâmina/ monocamada; 3 – cauda da lâmina. Fotografia gentilmente

cedida pelo LPC-HVUTAD.

64

Capítulo 6- Análise Estatística

Os dados aqui apresentados correspondem ao período de estágio compreendido entre 1

de outubro de 2019 e o dia 13 de março de 2020. Com a apresentação desta casuística e

sua análise estatística pretendemos reportar toda a dinâmica laboratorial por nós

acompanhada no nosso estágio, onde nos foi permitido acompanhar a rotina diária do

LPC.

O LPC-HVUTAD tem uma casuística muito variada entre animais de companhia (cão e

gato) animais de produção e desporto (ruminantes, suínos e equinos) e animais silvestres

e exóticos, onde por exemplo são realizadas análises a aves silvestres e exóticas, répteis.

Neste período ocorreram 1250 entradas pertencentes a animais de variadas espécies às

quais corresponderam 1996 análises no setor de hematologia, 3545 parâmetros analisados

no sector de bioquímica sérica líquida, 729 análises realizadas no setor de Bioquímica

sérica seca, 184 urinas no setor de bioquímica urinária, 94 entradas para o setor de

coagulação.

Como foi descrito anteriormente, durante o meu período de estágio no LPC-HVUTAD

deram entrada 1250 animais e no gráfico 1 podemos comparar o número total de entradas

por espécie animal onde é possível concluir que o cão obtém a maior percentagem de

entradas.

Figura 37- Contador celular utilizado no LPC-

HVUTAD para auxílio da contagem

diferencial de leucócitos. Fotografia

gentilmente cedida pelo LPC-HVUTAD.

65

Gráfico 1 – Total de entradas registadas, por espécie, no LPC-HVUTAD.

Podemos dividir a atividade por mim acompanhada no LPC-HVUTAD em seis setores:

hematologia, bioquímica sérica líquida, bioquímica sérica seca, bioquímica urinária,

coagulação e separação de soros.

Comparando o número total de análises realizadas em cada setor e observando o gráfico

2 podemos ver que o setor que possui a maior fatia corresponde ao setor de bioquímica

sérica líquida com 52,10% seguida pelo setor de hematologia com 29,34%.

Gráfico 2– Percentagem do total de análises realizadas em cada setor no LPC-HVUTAD.

38,24%

49,52%

3,68%

1,84%

6,72%

0 100 200 300 400 500 600 700

Valor

Outros Equino Ave Cão Gato

31,85%

54,02%

11,11%

3,02%

Hematologia BQ liquída BQ seca BQ urinária

66

No gráfico 3 é possível observar a distribuição de análises no setor de hematologia. Em

cada amostra que dá entrada neste setor, para além dos exames requisitados, realizamos

sempre o microhematócrito que para além das suas vantagens também é usado como

controlo de qualidade para o Procyte Dx e por essa razão é o parâmetro mais solicitado

1042 microhematócritos realizados ao contrário dos esfregaços sanguíneos com 197 que,

por sua vez, só são realizados quando o hemograma resultante do Procyte Dx tem

indicações para a visualização do esfregaço sanguíneo ou quando a médica veterinária ou

a patologista clínica responsável solicita no intuito de verificar as contagens celulares

automáticas ou para deteção de anomalias na morfologia celular.

Gráfico 3– Total de exames realizados no setor de hematologia do LPC-HVUTAD

O gráfico 4 relativo aos parâmetros analisados no setor de bioquímica sérica líquida. Nele

podemos verificar as determinações mais requisitados foram a creatinina logo seguida

pelo Ionograma (Iono) que corresponde à mensuração dos três iões Na, Cl e K.

É importante salientar que há análises mais específicas que são mais requisitadas em

espécies animais não tão comuns como o cão e o gato e obviamente este facto influencia

o número de determinações desse parâmetro realizadas. Um bom exemplo é o Ácido úrico

(AU) que normalmente só é pedido para as aves e como estas representam uma pequena

fatia do total de entradas no laboratório, este parâmetro não é tão pedido. O mesmo

acontece com a AST que apesar de ajudar a avaliar a integridade celular hepática nas

36,22%

49,58%

9,43%

4,50%

0 200 400 600 800 1000 1200

Total

Coagulação Esfregaço sanguíneo Microhematócrito Hemograma

67

diferentes espécies é mais pedida como enzima de integridade muscular quando animais,

por exemplo, caem ou são atropelados, por também não serem casos frequentes, este

também não é um parâmetro muito requisitado.

Gráfico 4– Total de analitos analisados no setor de bioquímica líquida no LPC-HVUTAD.

Iono – Ionograma; ALT – Alanina amino Transferase; FA – Fosfatase Alcalina; ALB –

Albumina; TP – Proteínas Totais; GGT – Gama Glutamil Transferase; AST – Aspartato Amino

Transferase; Creat – Creatinina; CK – Creatinina Quinase; Fosf – Fósforo; CA- Cálcio; BilT –

Bilirrubina Total; Ac. Bil – Ácidos Biliares; Uprot – Proteína na urina; Ucr – Creatinina na urina;

Trig – Triglicerídeos; Gluc – Glicose; AU – Ácido Úrico; Col – Colesterol.

O gráfico 5 exprime os parâmetros analisados no setor de Bioquímica Sérica Seca, que

como dito anteriormente, só é usado em regime de urgência. Por esse motivo, os médicos

veterinários optavam por escolher os clips, que analisavam vários parâmetros ao mesmo

tempo do que utilizar os slides individuais.

11,62%

10,32%

8,63%

10,63%

7,39%

3,58%

1,75%

11,97%

0,34%

6,83%

7,73%

8,58%

3,75%

0%0,14%

2,12%1,44%

0,56%

1,80%

0,28%0,28%

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

Iono ALT FA ALB TP GGT AST Cr CK Ur Ph Ca BilT BilD Ac.Bil

Trig Gluc AU Col Upr Ucr

68

Gráfico 5- Número total de parâmetros analisados no setor de bioquímica seca no LPC-

HVUTAD.

CP4 – Clip 4; CP10 – Clip 10; CP17 -Clip 17; ALB- Albumina; ALT – alanina amino

transferase; Ca- Cálcio; TP – Proteínas Totais; AST – Aspartato amino trasnferase; Cr-

Creatinina; Ph – Fósforo; GGT- Gama glutamil transferase; BilT – Bilirrubina total; FA-

Fosfatase alcalina; Col- Colesterol; CK- Creatinina Quinase; Ur- Ureia; Gluc – Glucose; Lact –

Lactato.

Por darem uma resposta mais completa ao clínico praticamente a totalidade das análises

de urina realizadas são do tipo II. No gráfico 6 estão representadas por espécie as análises

de urina realizadas durante o período de estágio.

Gráfico 6– Total de análises de urina tipo II, por espécie.

17,56%19,20%

13,85%

8,78%

0,41%

3,02%

0,96%0,82%

8,23%

2,61%

0,56%0,14%

0,27%0%

0,27%

22,91%

0,41%0%

0%

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

CP4 CP10 CP17 ALB ALT Ca TP AST Cr Ph GGT BilT FA Col CK Ur Racio Gluc Lact

46,97% 45,96%

1,01%

6,06%

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Gato Cão Ave Equino

69

No gráfico 6 podemos ver todo o total de análises de urina tipo II realizadas, durante o

período de estágio, no setor de bioquímica urinária, sendo que a maior fatia corresponde

aos animais domésticos pois também são eles que ocupam a maior percentagem de

animais que deram entrada no LPC-HVUTAD.

Capítulo 7- Atlas online de Hematologia Veterinária

O segundo objetivo do nosso plano de estágio foi a criação de um atlas online de

hematologia veterinária.

O atlas de hematologia veterinária é uma plataforma digital online que tem como

objetivos: contribuir como ferramenta de estudo da hematologia para alunos de diferentes

graus e cursos da UTAD; auxiliar o médico veterinário na obtenção de um diagnóstico

mais rápido, e contribuir para o desenvolvimento da hematologia veterinária nas suas

diversas expressões – morfologia celular normal, alterações morfológicas, e presença de

inclusões e parasitas – dos diversos tipos celulares em diversas espécies de animais.

Pretende-se, com este atlas, abarcar não só as espécies domésticas como também

representar a morfologia sanguínea normal e respetivas alterações morfológicas em

espécies exóticas e silvestres.

Este atlas encontra-se em processo de construção no qual gradualmente serão

incorporadas imagens com o objetivo de o tornar mais completo.

Por razões que se prendem com a pandemia SARS-COV-2 que levaram ao encerramento

do HVUTAD e com a reestruturação de alguns serviços, a realização deste atlas encontra-

se de momento suspensa, motivo pelo qual não foi possível a sua finalização antes do

término desta monografia.

70

Nas imagens seguintes (figura 38) apresentam-se um protótipo do atlas que ficará alojado

na página da UTAD

As imagens contidas no atlas pertencem ao repositório do LPC-HVUTAD e foram

recolhidas durante a observação de esfregaços sanguíneos decorrente da rotina do

laboratório.

A morfologia das células sanguíneas, como foi referido anteriormente, em animais de

companhia (cães e gatos), ruminantes, cavalos, animais exóticos e silvestres pode variar.

O conhecimento das características morfológicas de cada espécie é fundamental para

reconhecer as alterações morfológicas associadas aos estados de doença e é nesse

contexto que pretendemos que o atlas auxilie as pessoas. Assim sendo, seguem um

reportório de imagens que iriam fazer parte do referido atlas (González e Silva, 2008).

Os leucócitos, devido às suas características morfológicas, são divididos em dois grandes

grupos de acordo com as suas características nucleares e a presença ou ausência de

grânulos citoplasmáticos. Os granulócitos possuem núcleos e grânulos segmentados no

seu citoplasma: neutrófilos (sem grânulos visíveis), eosinófilos (grânulos eosinofílicos) e

basófilos (grânulos basofílicos) como se apresentam na figura 39 (Saraiva, 2020).

Figura 38– Imagens ilustrativas retiradas do protótipo do Atlas de hematologia veterinária.

71

Figura 39- Fotografias microscópicas de ganulócitos ( ampliação de x1000). A- Eosinófilo (seta

azul), basófilo (seta verde) e neutrófilo (seta laranja) de um gato; B- neutrófilo (seta laranja) e

um eosinófilo (seta azul) de um cão; C - Eosinófilo de raposa; D-Dois eosinófilos de equino; E-

Basófilo de um equino; F- Heterófilo de um papagaio; G- Basófilo de um ouriço terrestre.

Fotografias gentimente cedidas pelo LPC-HVUTAD.

Os agranulócitos (linfócitos e monócitos) apresentam núcleos sem constrição e são

desprovidos de grânulos citoplasmáticos. Nas espécies domésticas mais comuns, a

morfologia celular normal é bastante semelhante para todos os tipos de células, exceto

para eosinófilos e basófilos que variam por espécie. Nas espécies exóticas e silvestres, a

variabilidade pode ser estendida a outros tipos de células (figura 40) (Saraiva, 2020).

A B C

D E F G

72

Figura 40– Fotografias microscópicas (ampliação x1000) de agranulócitos. Legenda: A –

linfócito de um cão; B- linfócito (seta laranja) e um monócito (seta azul) de uma raposa; C-

linfócitos de gato; D- monócito de raposa; E – Dois monócitos (seta azul) e um neutrófilo de

gato. Fotografias gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD.

Os eritrócitos em mamíferos são geralmente muito semelhantes e podem variar em

tamanho e na presença de uma área maior ou menor de palidez central. Aparecem como

células redondas, anucleadas com intensa coloração eosinofílica (figura 41). Em espécies

como pássaros e répteis, os eritrócitos aparecem como células ovais e com a presença de

núcleo (DeNicola et al., 1998).

A B C

D E

73

Figura 41-Fotografias microscópicas (ampliação x1000) de eritrócitos. Legenda: A – eritrócitos

de papagaio, onde é visível a presença de núcleos; B- eritrócito de equino; C- eritrócitos de gato;

D- eritrócitos de cão; E – eritrócitos de bovino, onde é possível verificar a presença de

anisocitosa; F- eritrócitos de cabra, onde é visível ver o seu tamanho reduzido. Fotografias

gentilmente cedidas pelo LPC-HVUTAD.

A B C

D E F

74

Conclusão

Após cinco meses de estágio classifico a minha passagem pelo LPC-HVUTAD como

uma experiência muito gratificante e enriquecedora do ponto de vista da formação dos

estagiários, uma vez que possibilita o contacto com a dinâmica da atividade laboratorial

em contexto hospitalar e com realidades clínicas diversas.

Relativamente ao local de estágio, trata-se de um local de excelência por abranger uma

vasta gama de áreas de conhecimento e de técnicas laboratoriais.

De modo a garantir um trabalho de excelência, a equipa técnica deste laboratório

consolida e atualiza conhecimentos teóricos e práticos de forma a entender a

complexidade de um sistema integrante.

Em termos estatísticos podemos concluir que no LPC-HVUTAD dão entrada bastantes

amostras para analisar nos diversos setores e que todos eles requerem concentração e

profissionalismo porque por um lado, para que os resultados laboratoriais apresentem

qualidade, o laboratório tem de garantir rigor nas três fases que precedem o resultado

analítico final: Fase Pré-analítica, Fase analítica e Fase pós-analítica.

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