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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1 1 GRUPO I CLASSE V Plenário TC-008.979/2011-1 Natureza: Relatório de Auditoria Interessado: Tribunal de Contas da União Unidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit Sumário: AUDITORIA PROGRAMA CREMA 2ª ETAPA. DESCONFORMIDADES RELACIONADAS AO PROJETO BÁSICO, À COMPETIVIDADE DA LICITAÇÃO E A CLÁUSULAS CONTRATUAIS. DETERMINAÇÕES. RELATÓRIO Trata-se de auditoria no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit, com o objetivo de avaliar a conformidade de projetos, editais, atos e contratos concernentes ao Programa de Restauração, Manutenção e Conservação de Rodovias CREMA 2ª etapa. 2. O programa prevê a recuperação e conservação de 32.000km de rodovias (extensão que corresponde a mais de 40% da malha federal), realizadas em 43 segmentos, dos quais 13 já contam com projeto aprovado, sendo iminente o início dos respectivos certames licitatórios. 3. A fiscalização foi determinada no Acórdão 707/2011-TCU-Plenário, tendo em vista o volume de recursos envolvidos no CREMA 2ª etapa, da ordem de R$ 16 bilhões, bem como falhas com potencial de dano ao erário encontradas em editais elaborados recentemente pelo Dnit para contratações de obras de restauração que seguem em linhas gerais as diretrizes do programa. 4. A Secob-2, encarregada da auditoria, destaca que as contratações no modelo CREMA (Programa de Contratação, Restauração, e Manutenção por Resultados de Rodovia Federais Pavimentadas), iniciadas sob a denominação "Subprograma Integrado de Recuperação e Manutenção da Rede Remanescente", representam um novo conceito de execução contratual - a gestão de pavimentos por manutenção terceirizada -, na qual as intervenções iniciais de recuperação do pavimento e os pagamentos das etapas de manutenção e conservação da via são baseadas em metas e índices de desempenho. 5. Em resumo, esses contratos prevêem uma intervenção de tapa-buracos logo no início do contrato, com o objetivo de recuperar funcionalmente o pavimento para dar ao usuário condições mínimas de trafegabilidade, segurança e conforto. Seguem-se trabalhos de restauração, com intervenções baseadas em catálogo de soluções pré-definidas, de modo a dotar a rodovia de estrutura capaz de suportar o tráfego por toda a sua vida útil (geralmente dez anos). Os serviços de manutenção da pista e dos acostamentos, bem como a conservação da faixa de domínio, dos elementos de drenagem e de sinalização estendem-se por toda a contratação (cinco anos). 6. O grande diferencial do modelo, segundo a Unidade Técnica, são as medições das obras de restauração baseadas na qualidade, feitas por quilômetro de faixa recuperado. A aceitação das obras e os pagamentos decorrentes só são realizados se o corpo estradal, ao final das intervenções por quilômetro, atender a parâmetros pré-estabelecidos. 7. Quanto aos serviços de manutenção e conservação (roçada, limpeza de bueiros, recuperação de elementos de drenagem, etc), os pagamentos são realizados por meio de um valor fixo mensal, vinculados à condição funcional e à condição estrutural da via. As medições não são baseadas no volume de serviços executados, mas sim na condição do pavimento. 8. No relatório de fiscalização (peça 12), a Secob-2, depois de apresentar o histórico do CREMA 2ª Etapa, bem como os conceitos de avaliação funcional e estrutural considerados relevantes à sua boa compreensão, assim sintetiza os princípios e diretrizes do programa:

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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GRUPO I – CLASSE V – Plenário

TC-008.979/2011-1

Natureza: Relatório de Auditoria

Interessado: Tribunal de Contas da União

Unidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes -

Dnit

Sumário: AUDITORIA PROGRAMA CREMA 2ª ETAPA.

DESCONFORMIDADES RELACIONADAS AO PROJETO

BÁSICO, À COMPETIVIDADE DA LICITAÇÃO E A

CLÁUSULAS CONTRATUAIS. DETERMINAÇÕES.

RELATÓRIO

Trata-se de auditoria no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit, com o

objetivo de avaliar a conformidade de projetos, editais, atos e contratos concernentes ao Programa de

Restauração, Manutenção e Conservação de Rodovias CREMA 2ª etapa.

2. O programa prevê a recuperação e conservação de 32.000km de rodovias (extensão que

corresponde a mais de 40% da malha federal), realizadas em 43 segmentos, dos quais 13 já contam

com projeto aprovado, sendo iminente o início dos respectivos certames licitatórios.

3. A fiscalização foi determinada no Acórdão 707/2011-TCU-Plenário, tendo em vista o volume

de recursos envolvidos no CREMA 2ª etapa, da ordem de R$ 16 bilhões, bem como falhas com

potencial de dano ao erário encontradas em editais elaborados recentemente pelo Dnit para

contratações de obras de restauração que seguem em linhas gerais as diretrizes do programa.

4. A Secob-2, encarregada da auditoria, destaca que as contratações no modelo CREMA

(Programa de Contratação, Restauração, e Manutenção por Resultados de Rodovia Federais

Pavimentadas), iniciadas sob a denominação "Subprograma Integrado de Recuperação e Manutenção

da Rede Remanescente", representam um novo conceito de execução contratual - a gestão de

pavimentos por manutenção terceirizada -, na qual as intervenções iniciais de recuperação do

pavimento e os pagamentos das etapas de manutenção e conservação da via são baseadas em metas e

índices de desempenho.

5. Em resumo, esses contratos prevêem uma intervenção de tapa-buracos logo no início do

contrato, com o objetivo de recuperar funcionalmente o pavimento para dar ao usuário condições

mínimas de trafegabilidade, segurança e conforto. Seguem-se trabalhos de restauração, com

intervenções baseadas em catálogo de soluções pré-definidas, de modo a dotar a rodovia de estrutura

capaz de suportar o tráfego por toda a sua vida útil (geralmente dez anos). Os serviços de manutenção

da pista e dos acostamentos, bem como a conservação da faixa de domínio, dos elementos de

drenagem e de sinalização estendem-se por toda a contratação (cinco anos).

6. O grande diferencial do modelo, segundo a Unidade Técnica, são as medições das obras de

restauração baseadas na qualidade, feitas por quilômetro de faixa recuperado. A aceitação das obras e

os pagamentos decorrentes só são realizados se o corpo estradal, ao final das intervenções por

quilômetro, atender a parâmetros pré-estabelecidos.

7. Quanto aos serviços de manutenção e conservação (roçada, limpeza de bueiros, recuperação de

elementos de drenagem, etc), os pagamentos são realizados por meio de um valor fixo mensal,

vinculados à condição funcional e à condição estrutural da via. As medições não são baseadas no

volume de serviços executados, mas sim na condição do pavimento.

8. No relatório de fiscalização (peça 12), a Secob-2, depois de apresentar o histórico do CREMA

2ª Etapa, bem como os conceitos de avaliação funcional e estrutural considerados relevantes à sua boa

compreensão, assim sintetiza os princípios e diretrizes do programa:

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- a Portaria nº 7, do Gabinete do Ministro dos Transportes, estabelece que os contratos do

programa serão sob o regime de “empreitada global, vedada a realização de termos aditivos para

alteração quantitativa ou qualitativa das soluções de projeto";

- o prazo de contratação é de cinco anos, sendo que os serviços de restauração, a partir da

ordem de início, devem estar conclusos em 36 meses; já os serviços de conservação são executados

durante toda a vigência do contrato;

- as soluções técnicas propostas nos projetos executivos seguem o Catálogo de Soluções

Técnicas contidas na IS DG/DNIT n° 05, de 09 de dezembro de 2005, sendo que eventuais exceções

devem ser justificadas e não ultrapassar 10% da estimativa do custo previsto pelo catálogo;

- outra premissa é que a empresa contratada deve apresentar declaração de que assume todos os

riscos, inclusive os de projeto e aqueles resultantes da deterioração do pavimento, além de qualquer

imprevisto que possa ocorrer durante o período contratado, excetuando-se a ocorrência de situação de

emergência, conforme modelo constante do edital.

9. Quanto aos achados de auditoria, foram apontados os seguintes:

- cláusulas contratuais em desacordo com os preceitos da Lei nº 8.666/93;

- adoção de regime de execução contratual inadequado ou antieconômico;

- restrição à competitividade da licitação decorrente de critérios inadequados de habilitação e

julgamento;

- projeto básico/executivo sub ou superdimensionado; e

- projeto básico deficiente ou desatualizado.

10. Seguem, de forma resumida e com ajustes de forma, a descrição e a análise de cada um desses

achados, feitas no relatório de auditoria:

10.1. Achado de auditoria (item 2.1 do relatório de fiscalização): cláusulas contratuais em desacordo

com os preceitos da Lei nº 8.666/93.

10.1.1. Situação encontrada (subitem 2.1.1 do relatório de fiscalização):

“O Capítulo III - Indicações Particulares - do edital padrão do CREMA 2ª etapa faz referência

à Portaria nº 7/2008 do Ministério dos Transportes, que prevê a vedação de termo aditivo aos

contratos, critério que afronta o art. 65 da Lei nº 8.666/93, bem como o art. 37, inciso XXI, da

Constituição Federal.

Tal portaria, complementada pela Portaria nº 207/2010 do mesmo órgão, dispõe que:

‘§ 5º Os contratos para a execução dos serviços necessários à realização das obras de

restauração/recuperação e conservação rodoviária serão sob o regime de empreitada global,

vedada a realização de termo aditivo para alteração quantitativa ou qualitativa das soluções

do projeto.’

Para melhor entendimento do intuito do dispositivo, atente-se para outra previsão da portaria:

‘§ 8º As soluções técnicas propostas nos projetos executivos [durante a obra] deverão seguir o

Catálogo de Soluções Técnicas contidas na IS DG/DNIT nº 5, de 09 de dezembro de 2005,

devendo, eventuais exceções, serem devidamente justificadas e não ultrapassar 10% da

estimativa do custo previsto pelo Catálogo.

(...)

§ 12º Na execução dos serviços, ocorrendo a necessidade de intervenções não contempladas

no projeto executivo ou impostas por comprovada situação de emergência, reconhecidas e

aprovadas pelo Dnit, os valores dos novos serviços serão calculados pelo SICRO para as

condições da obra, aplicando-se a seguir o desconto da proposta da contratada em relação ao

preço de referência da licitação, de forma a manter as condições iniciais da contratação.’

Os projetos para o programa, assim, basear-se-ão em soluções pré-catalogadas, de acordo

com o estado da rodovia. Inicialmente, não está claro se mesmo que o particular tenha a necessidade

de modificar a solução do pavimento (em face, por exemplo, da evolução natural dos defeitos

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identificada desde a data dos levantamentos de campo até o momento da efetiva intervenção), haverá,

na prática, alteração contratual.

De todo modo, parece claro que modificações típicas de projeto, como redução do consumo de

CAP; a diminuição - ou aumento - das distâncias de transporte para obtenção dos insumos; ou

alteração na forma de aquisições de brita e areia (comercial ou extraída); ou mudanças nas

alterações nas quantidades dos agregados ou cimento das estabilizações granulométricas; e mesmo

soluções de engenharia distintas das projetadas (para o mesmo estado do pavimento), todas elas com

elevadíssimo impacto no preço final do empreendimento, não repercutiriam em revisão contratual.

Na prática, incrementa-se um risco na empreitada não previsto no instituto dos contratos

administrativos. Além do aumento nos custos dos empreendimentos, esses riscos nas contratações

regidas pela Lei nº 8.666/93 não são admitidas na legislação brasileira. São típicos de outros

instrumentos legais, como concessões e Parcerias Público Privadas - PPP.

Modificações quantitativas e qualitativas que envolvam a recuperação ou conservação do

trecho de rodovia já contemplado na licitação, não poderão ser objeto de termo aditivo. Mas o art. 65,

inciso I da Lei nº 8.666/93, norma de hierarquia legal superior às Portarias n°s 7/2008 e 207/2010,

prevê disposição específica contrária, seja em empreitadas por preço globais ou em empreitadas por

preços unitários; não foi feita distinção na Lei de Licitações. Serão alterados os contratos:

‘Art. 65 Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas,

nos seguintes casos:

I - unilateralmente pela Administração:

a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação

técnica aos seus objetivos;

b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou

diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei;

II - por acordo entre as partes:

(...)

d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os encargos do

contratado e a retribuição da Administração para a justa remuneração da obra, serviços ou

fornecimento, objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro inicial do

contrato, na hipótese de sobrevierem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de

consequências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou ainda,

em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica

extraordinária e extracontratual.’

Na realidade, o equilíbrio entre os encargos contratados e a respectiva contrarremuneração

pela Administração é protegido constitucionalmente, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Carta

Magna. Pretende o Dnit que a eventual ocorrência de fatos não emergenciais, supervenientes ao ato

da contratação, não seja objeto de recomposição econômica.

A conclusão se confirma pela seguinte disposição editalícia:

‘A empresa deverá apresentar declaração de que assume todos os riscos, inclusive os de

projeto e aqueles resultantes da deterioração do pavimento, além de qualquer imprevisto que

possa ocorrer durante o período contratado, excetuando-se a ocorrência de situação de

emergência, conforme modelo constante do edital’.

Fato é que a Administração estará sujeita a riscos muito maiores. Como dispõe passagem do

renomado Marçal Justen Filho, in Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos (11ª

ed. pg. 99), [a situação em que o particular tem o dever de realizar o objeto, de modo intergral, arcando

com todas as variações possíveis, envolve sérios riscos, com enorme potencial de ofensa ao princípio

da moralidade].

(...)

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4

Em face do exposto, questionou-se ao Dnit, por meio do Ofício de Requisição nº 3-426/2011,

para melhor detalhamento dos critérios contratuais a serem adotados nas contratações do programa,

mormente para as situações com potencial de repercutir em aditivos contratuais.

Os questionamentos da auditoria, bem como as respostas do Dnit, constam do tópico

‘Esclarecimentos dos Responsáveis’ ”.

10.1.2 Conclusão da equipe relativamente ao achado (subitem 2.1.7 do relatório de fiscalização):

“Inicialmente, adequado relatar que as respostas do Dnit aos questionamentos de auditoria

foram pouco claras. Se o conjunto normativo do programa CREMA não é preciso o suficiente para

identificar as situações fáticas que ensejarão termos aditivos, as respostas da autarquia pouco

ajudaram a desanuviá-las.

Ao mesmo tempo em que se responde que o entendimento é a readequação do preço do

quilômetro de faixa no caso de modificações de soluções de engenharia, no parágrafo seguinte

reporta-se à Portaria nº 7/2008, onde as alterações qualitativas e quantitativas das soluções de

projeto estão vedadas.

Quando objetivamente se questionaram as modificações nas distâncias médias de transporte

da obra, o Dnit respondeu, novamente, citando os termos da Portaria nº 7/2008, que por si só geram

mais interrogações que propriamente esclarecimentos.

Veja-se que muitas perguntas foram elaboradas com tal objetividade que possibilitavam

respostas simples, fechadas, do tipo ‘sim’ e ‘não’; no entanto, o Dnit preferiu, sempre, o meio termo.

Tal imprecisão de critérios gera imensa insegurança jurídica. Afora os inevitáveis custos de

incertezas a serem computados nas propostas das licitantes, a instabilidade no ordenamento jurídico

(do qual as condições contratuais, em última instância, fazem parte), em nada contribui para a boa

execução do objeto de qualquer contratação. Inevitáveis altercações jurídicas hão de surgir no

decorrer da obra. Nesses casos, os riscos maiores serão sempre os do poder público, seja pela

inexecução do objeto, seja no pagamento forçoso por desenlace judicial.

De concreto e objetivo, apenas, algumas ilações na minuta de edital do programa:

‘O projeto da Mistura do Concreto Asfáltico será de responsabilidade do Contratado. Além

das características Marshall, serão apresentados os parâmetros de resiliência e resistência à

tração, ao menos para teor ótimo. As condições de vazios da mistura na fase de dosagem

devem ser verificadas a partir da determinação da densidade máxima teórica pelo método Rice

(AASHTO T209-99)’.

‘Os estudos das fontes de materiais para os serviços de pavimentação serão de

responsabilidade do Contratado, devendo este estudo ser composto dos seguintes itens

mínimos’.

‘A empresa deverá apresentar declaração de que assume todos os riscos, inclusive os de

projeto e aqueles resultantes da deterioração do pavimento, além de qualquer imprevisto que

possa ocorrer durante o período contratado, excetuando-se a ocorrência de situação de

emergência, conforme modelo constante do edital.’

Depreende-se, portanto, que, em casos de redução de distância para obtenção e entrega de

insumos, modificações dos consumos dos materiais e alterações de jazidas - só para citar exemplos

simples - não serão objeto de aditivo. Mas todas essas situações já estão consolidadas na

jurisprudência do Tribunal como indicadoras comuns de revisão dos contratos, pelo enriquecimento

sem causa que causariam ao particular se as avenças não fossem revistas, [a exemplo dos Acórdãos

1502/2009, 16082010 e 968/2011, todos do Plenário].

(...)

Como uma ideia do impacto da forma de aquisição de insumos no preço de um

empreendimento rodoviário, na BR-135/MA, recentemente fiscalizada por esta Corte no TC

000.752/2011-8, a modificação na maneira de obtenção de brita e areia na obra levaria a redução de

mais de R$ 40 milhões no contrato; valor próximo a 15% de toda a construção. Se somadas as

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potenciais reduções das DMTs, bem como a redução no consumo dos diversos materiais da obra,

mormente os asfálticos, o potencial de prejuízo ao erário é imenso.

Ao defender os critérios do programa, o Dnit citou excerto da obra do doutrinador Marçal

Justen Filho; todavia a obra aponta, justamente, que a empreitada por preços globais não se presta à

imputação de riscos desmedidos ao particular (e à Administração). Apresente-se um trecho mais

completo da tese do autor:

‘Pretende-se que a empreitada global imporia ao particular o dever de realizar o objeto, de

modo integral, arcando com todas as variações possíveis. Vale dizer, seriam atribuídos ao

contratado os riscos por eventuais eventos supervenientes, que pudessem elevar custos ou

importar ônus imprevistos inicialmente. Essa concepção é equivocada, traduz enorme risco

para a Administração e infringe os princípios fundamentais da licitação. Quando promove a

licitação, a Administração necessita cotejar propostas equivalentes, versando sobre a

execução do mesmo objeto. Se a Administração não definir precisamente o objeto que será

executado, cada licitante adotará interpretação própria e assumirá uma configuração distinta

para tanto. Logo, as propostas não serão comparáveis entre si e a Administração não poderá

selecionar uma como a mais vantajosa. Não se contraponha que o dever do particular é

entregar o objeto, perfeito e acabado, correndo por conta dele os riscos com a elaboração.

Não é possível assumir riscos por eventos desconhecidos ou imprevisíveis, não cogitados nem

mesmo pela própria Administração. Uma situação dessa ordem acabaria desaguando em uma

de duas alternativas. Poderia imaginar-se que todos os licitantes incluiriam em suas propostas

verbas destinadas a fazer face a essas eventualidades. Logo, todas as propostas teriam valor

mais elevado. Por resultado, se nenhum inesperado viesse a ocorrer, a Administração teria

pago valor superior ao necessário. Outra alternativa é que todos ou alguns dos licitantes

resolvessem correr o risco e formulassem proposta não comportando imprevistos. Se esses

viessem a ocorrer, a execução do objeto se tomaria inviável ou o particular acabaria por

adotar execução de péssima qualidade.

Mas a situação narrada envolve riscos ainda mais sérios, com enorme potencial de ofensa ao

princípio da moralidade. Suponha-se que um agente administrativo resolva beneficiar certo

licitante. Seria bastante simples obter esse resultado reprovável através do expediente da

‘empreitada por preço global’. Para tanto, é necessário que a Administração conheça todas as

características do objeto e tenha noção de todos os custos. No entanto, formula edital com

objeto geral e mal definido, impondo aos licitantes o dever de arcar com todos os riscos.

Depois, fornece ao apadrinhado todos os dados acerca da execução do objeto. Por

decorrência, todos os demais licitantes serão obrigados a considerar riscos inexistentes ou

situações imponderáveis. Logo, suas propostas serão muito mais elevadas. O licitante

favorecido, ao contrário, formulará proposta contendo apenas os valores necessários a

executar aquilo que a Administração já sabia, de antemão, ser necessário. Daí, o licitante

protegido sairá vencedor, por formular a menor proposta. Frise-se que, se todos os demais

licitantes tivessem tido acesso às mesmas informações, a Administração poderia ter recebido

propostas ainda menores.

Por isso tudo, não se admite que a Administração valha-se do expediente da empreitada

integral para recusar a precisa e perfeita definição do objeto a ser licitado ou para permitir a

todos interessados o conhecimento de informações imprescindíveis. A situação poderia ser

distinta em licitações para concessão, em que o particular irá explorar uma certa atividade

por conta e risco próprios. Excluídas essas hipóteses, não se admite a transformação da

licitação em instrumento de incerteza e insegurança. O contrato administrativo não é um jogo,

no qual as partes entram sem noção acerca do resultado.

Ambas as partes têm de saber, de antemão, os riscos e encargos assumidos. Empreitada por

preço global não se constitui, portanto, em modalidade de contrato aleatório.’

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No Acórdão 2873/2008-P, o voto do relator que subsidiou a decisão do Plenário do Tribunal

corroborou manifestação do eminente Subprocurador-Geral junto a esta Corte, Dr. Paulo Soares

Bugarin, segundo o qual:

‘52.Uma interpretação rígida do regime de empreitada integral [uma modalidade da

empreitada global] poderia até levar à conclusão de que o risco de modificações na obra

deveriam ser assumidos pela contratada, já que esse instituto da Lei de Licitações tem como

essência liberar a Administração de responsabilidades pelas intercorrências durante a

execução do objeto pactuado. Porém, o atual estágio do Estado de Direito e das relações

contratuais impedem que simplesmente se impute à contratada esse ônus.’

A interpretação é decorrente da própria teoria da imprevisão, que rege toda a lógica do

equilíbrio dos contratos regidos pela Lei nº 8.666/93. Alterar essa lógica, em última instância, é

tergiversar o sentido global sob o qual a Lei foi criada. Efeitos colaterais inevitavelmente surgirão.

Veja-se o que ensina Gasparini , in Direito Administrativo (11ª Ed., pg. 679):

‘O reequilíbrio [econômico-financeiro] pode ser feito por reajustamento ou revisão (...) O

fundamento legal do reajustamento encontra-se nos arts. 55, III, e 65, § 8º, enquanto o da

revisão acha-se no art. 65, II, ‘d’, e no § 6º do mesmo dispositivo. Ditas as regras, consignadas

nesses preceptivos da Lei federal das Licitações e Contratos da Administração Pública, são

obrigatórias e de aplicação imediata, isto é, verificado o desequilíbrio, o reajuste ou a revisão,

tomadas as cautelas de estilo, deve ser concedido. Qualquer retardamento no restabelecimento

da referida igualdade ensancha ao particular o direito de pedir em juízo a rescisão da avença

e pleitear perdas e danos ou, ainda, solicitar a rescisão contratual. Com esse imediato acerto o

contratante particular não sofrerá redução indevida nos seus interesses econômicos e

financeiros nem auferirá vantagens sem justa causa, ainda que esta última hipótese não esteja

explicitada em qualquer dispositivo da lei. O princípio no entanto foi expressamente acolhido

no § 5º, também deste artigo. Essa é a doutrina universalmente aceita.’

Obviamente que os encargos efetivamente despendidos e pactuados devem ser pagos. Ou se

quebraria o equilíbrio pré-estabelecido entre a justa remuneração da obra por aquilo que constava no

projeto licitado; por outro lado, tampouco se tolera pagar por encargo não realizado. Em Decisão do

TJDF, aliás, decidiu-se que mesmo sendo ajustada a empreitada por preço global, só pode ser pago o

que foi realizado (TJDF, APC nº 3696195-DF, Registro do Acórdão nº 83421. DJ 17.abr.1996. p.

5588).

A consequência desses preceitos é que, seguindo a vedação de aditivos, a Administração não

tomará providências para reequilibrar o contrato quando situação fática indicar redução dos preços

contratuais; no entanto, o particular legitimamente lutará pelos seus direitos, seja

administrativamente, seja judicialmente. Mais uma vez, o risco maior é sempre da Administração.

(...)

Por todo o exposto, não se encontrou amparo legal para a disposição constante do § 5º da

Portaria nº 207/2010. Além de constituir disposição frontalmente contrária à Lei Geral de Licitações,

também contraria preceito consagrado na Constituição da República. Pelo fato, ainda, de alguns

dispositivos do normativo não indicarem claramente em quais situações são cabidos aditivos

contratuais, existe considerável risco para a Administração, como também se cria uma insegurança

jurídica.

No decorrer das respostas do Dnit a outros achados desta equipe de auditoria, especificamente

com relação à forma de aquisição de insumos (como se verá mais a frente), a própria autarquia

sugeriu a revisão do critério de vedação do termo aditivo ...

(...)

Em face da ilegalidade da referência a normativo do Ministério dos Transportes (Portaria nº

7/2008, complementada pela Portaria nº 207/2010 do mesmo órgão), contida no Capítulo III do edital

padrão do CREMA 2ª etapa, sugere-se que, nos termos do art. 43, I, da Lei nº 8.443/1992, seja

determinado ao Dnit que se abstenha nesse edital padrão, a ser utilizado nas contratações das obras

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de manutenção rodoviária no âmbito do CREMA 2ª etapa, cláusulas que impeçam a formalização de

termos aditivos aos contratos para alteração quantitativa ou qualitativa das soluções de projeto,

critério que afronta os artigos 65 da Lei nº 8.666/93 e 37, inciso XXI, da Constituição Federal, sob o

risco de gerar a nulidade dos instrumentos convocatórios.

Haja vista, também, a dubiedade de sentido de alguns dispositivos normativos, adequado dar

ciência à autarquia de que os aditivos contratuais são obrigatórios nos seguintes casos, em relação

não exaustiva:

- alteração das distâncias médias de transporte para aquisição de insumos ou execução de

serviços, de acordo com a jurisprudência do Tribunal;

- modificação no consumo dos insumos asfálticos;

- mudança da solução para restauração do pavimento;

- diminuição ou aumento do consumo dos insumos nas misturas para estabilização dos

materiais;

- substituição, inclusão ou não utilização de jazidas, areais ou pedreiras;

- alteração da forma de aquisição de brita e areia, de produzidas para comerciais, ou vice-

versa.”

10.1.3 Proposta de encaminhamento (subitem 2.1.8 do relatório de fiscalização):

“Em face da ilegalidade da referência a normativo do Ministério dos Transportes (Portaria nº

7/2008, complementada pela Portaria nº 207/2010 do mesmo órgão), contida no Capítulo III do edital

padrão do CREMA 2ª etapa, sugere-se que, nos termos do art. 43, I da Lei nº 8.443/1992, seja

determinado ao Dnit que se abstenha nesse edital padrão, a ser utilizado nas contratações das obras

de manutenção rodoviária no âmbito do CREMA 2ª etapa, de adotar cláusulas que impeçam a

formalização de termos aditivos aos contratos para alteração quantitativa ou qualitativa das soluções

de projeto, critério que afronta os artigos 65 da Lei nº 8.666/93 e 37, inciso XXI, da Constituição

Federal, sob o risco de gerar a nulidade dos instrumentos convocatórios.

Por ainda não haver edital de licitação publicado com base no edital padrão do CREMA 2ª

etapa, propõe-se dar ciência ao Dnit quanto à obrigatoriedade, nos termos dos artigos 65 da Lei nº

8.666/1993 e 37, inciso XXI, da Constituição Federal, de se realizarem aditivos contratuais nos

seguintes casos, em relação não exaustiva:

- alteração das distâncias médias de transporte para aquisição de insumos ou execução de

serviços, de acordo com a jurisprudência do Tribunal;

- modificação no consumo dos insumos asfálticos;

- mudança da solução para restauração do pavimento;

- diminuição ou aumento do consumo dos insumos nas misturas para estabilização dos

materiais;

- substituição, inclusão ou não utilização de jazidas, areais ou pedreiras;

- alteração da forma de aquisição de brita e areia, de produzidas para comerciais, ou vice-

versa.”

10.2. Achado de auditoria (item 2.2 do relatório de fiscalização): adoção de regime de execução

contratual inadequado ou antieconômico.

10.2.1. Situação encontrada (subitem 2.2.1 do relatório de fiscalização):

“O edital padrão das licitações a serem realizadas para execução das obras do programa

CREMA impõe o regime de execução por preço global. Não obstante, haja vista se tratarem de

licitações para obras de recuperação do pavimento cujos levantamentos, via de regra, foram

realizados pelo menos dois anos antes do início da ordem de serviços, e considerando a

suscetibilidade das restaurações a eventos supervenientes que demandam a modificação das soluções

inicialmente previstas em projeto, o instrumento convocatório não atende os preceitos do art. 47 da

Lei nº 8.666/93.

Conforme os termos do art. 47 da Lei nº 8.666/93:

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‘Art. 47. Nas licitações para a execução de obras e serviços, quando for adotada a modalidade

de execução de empreitada por preço global, a Administração deverá fornecer

obrigatoriamente, junto com o edital, todos os elementos e informações necessários para que

os licitantes possam elaborar suas propostas de preços com total e completo conhecimento do

objeto da licitação.’

A regra parece redundante; afinal, toda licitação em qualquer tipo de empreitada exigiria um

projeto que dê total e completo conhecimento do objeto da licitação aos concorrentes, nos termos do

art. 6º, inciso IX, da Lei nº 8.666/93. Mas a indicação legal é especialmente útil porque na empreitada

por preço global existe um risco exponencial decorrente de projetos mal elaborados.

Empreitadas globais envolvem uma medição diferenciada, se comparada à empreitada por

preços unitários. Em vez de pagamentos por unidade de serviços, procedem-se medições por parcelas

do objeto; ou fases da obra, definidas no cronograma físico-financeiro do empreendimento. Ela

envolve, por princípio, menor esforço de fiscalização.

Como exemplo, em uma obra de edificação, em vez de medirem quantos metros cúbicos de

concreto, quantos metros quadrados de formas e quantos quilos de aço foram executados na estrutura

do primeiro pavimento, mensura-se, simplesmente, ‘estrutura do 1º pavimento pronta’.

É claro que, nesses casos, imprecisões de projeto são ainda mais impactantes. Erros

quantitativos ou omissões na quantificação dos encargos causam risco tremendo para o particular e

para a Administração. Considerando que o executor da obra (aquele que executa e paga pelos

encargos), pelo menos em teoria, tem mais detalhes do que gastou na empreitada que a fiscalização,

de novo, os maiores riscos são do poder público.

Na engenharia rodoviária, ao contrário de outras obras civis, pela própria extensão do objeto

e em razão de boa parte dos encargos serem executados em movimentos de terra, o que se tem visto é

a maior pré-disposição dos contratos a situações imprevisíveis ou previsíveis de consequências

incalculáveis, nos termos da lei. As próprias jazidas e caixas de empréstimo possuem extratos de

material com características de expansão e compressibilidade distintas, com diferentes fatores de

contração; só isso já influi nas medições da obra. Sem falar que o projeto é realizado antes das

operações de limpeza do terreno. Por norma, as primitivas de terraplenagem das medições são

efetuadas após o desmatamento e limpeza. Novamente, o ‘total e perfeito’ conhecimento da obra não é

absoluto. Para os locais de aquisição de insumos também é comum haver problemas ambientais ou

com o superficiário que inviabilizam a extração do material naquela localidade, alterando

completamente as distâncias médias de transporte (DMT) da obra (e seu preço). Inúmeras situações

poderiam se exemplificadas. É claro que um bom projeto minimiza tais ocorrências; mas elas nunca

podem ser desprezadas.

Em recuperações rodoviárias esta questão é mais aguda. Os projetos são realizados com base

no levantamento de defeitos da pista. Em razão do tempo decorrido entre o dimensionamento da

solução, a aprovação pelo Dnit e a licitação da obra (não raro ultrapassam a dois anos), é premissa

que intervenções de manutenção recebam mais revisões que outras obras de rodovias; afinal, em um

interregno tão grande, os defeitos evoluirão com as intempéries e com o uso da rodovia. Empreitadas

globais, em restaurações rodoviárias, em face de tais peculiaridades, são uma temeridade.

É bom lembrar, ainda, que os projetos de engenharia rodoviária, historicamente, estão longe

de propiciar o total e completo conhecimento da licitação; e isso está fartamente documentado na

jurisprudência do Tribunal.

No caso do CREMA, pretende-se medir por quilômetro de rodovia recuperado (nos serviços de

restauração). Na conservação e manutenção do pavimento, pagar-se-á por mês de prestação do

serviço. Caso houvesse a certeza da perfeição do projeto, de que a peça inicial da obra não sofreria

alterações, não haveria problemas. Mas, como visto, em termos pragmáticos de probabilidade, este

não será o caso.

Em face do exposto, a equipe de auditoria elaborou o Ofício 3-426/2011, onde são realizados

questionamentos sobre o assunto.

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A manifestação do Dnit está descrita no subitem ‘Esclarecimentos dos Responsáveis’,

constante do relatório de fiscalização.’

10.2.2 Conclusão da equipe relativamente ao achado (subitem 2.2.7 do relatório de fiscalização):

“Buscava-se a confirmação dos critérios de medição do programa. De fato, configura-se no

CREMA 2ª etapa uma empreitada por preços globais, com medições de restauração por quilômetro de

faixa recuperado. Veja-se os critérios de medição constantes da minuta de edital:

‘SERVIÇOS CRITÉRIOS DE MEDIÇÃO

a. manutenção e conservação: medição mensal de acordo com o cronograma de atividades

vigente;

b. restauração: medição por quantidade de obras previstas, concluídas e aceitas, por km de

faixa;

c. drenagem superficial: medição mensal por km concluído;

d. drenagem profunda: medição por metro e serviço concluído;

e. drenagem de talvegue: medição por unidade executada;

f. sinalização: medição por km atendido;

g. cercas e defensas: medição por obras previstas, concluídas e aceitas por metro.’

Nos serviços de restauração, os mais suscetíveis a alterações em razão da desatualização dos

levantamentos e da evolução dos defeitos, é que os riscos são maiores. Importante que se diga, seria

possível, mesmo em uma empreitada por preço unitário, que se medisse por quilômetro de faixa

concluída e executada, desde que devidamente detalhados os serviços constituintes desta solução por

quilômetro. Nesse tipo de execução também poderiam ser medidos os serviços de conservação

rodoviária por mês, sem que isso represente afronta a legislação. Não existe prejuízo, acredita-se, à

medição unitária dos dispositivos de drenagem superficial, por metro efetivamente executado.

Ante o exposto, embora o regime de empreitada por preços globais tenha previsão explícita da

Lei de Licitações - e em razão disso não se possa considerá-lo propriamente ilegal - entende-se que se

deva dar ciência ao Dnit de que as obras de restauração e manutenção rodoviária, pelo histórico de

desalinhamento dos projetos ao art. 47 da Lei nº 8666/93, não são as mais indicadas para esse regime

de contratação. Em face disso, eventuais prejuízos decorrentes de riscos advindos da carência do

detalhamento das medições (no que se refere aos serviços que compõem as soluções por quilômetro),

poderão implicar na responsabilização do corpo dirigente da autarquia.”

10.2.3 Proposta de encaminhamento (subitem 2.2.8 do relatório de fiscalização):

“Por ainda não haver edital de licitação publicado, com base no modelo do CREMA 2ª etapa,

propõe-se dar ciência ao Dnit que, embora o regime de empreitada por preços globais tenha previsão

explícita da Lei de Licitações - e em razão disso não se possa considerá-lo propriamente ilegal - as

obras de restauração e manutenção rodoviária, pelo histórico de desalinhamento dos projetos ao art.

47 da Lei nº 8666/93, não são as mais indicadas para esse regime de contratação. Em face disso,

eventuais prejuízos decorrentes de riscos advindos da carência do detalhamento das medições (no que

se refere aos serviços que compõem as soluções por quilômetro), poderão implicar na

responsabilização do corpo dirigente da autarquia.”

10.3. Achado de auditoria (item 2.3 do relatório de fiscalização): restrição à competitividade da

licitação decorrente de critérios inadequados de habilitação e julgamento.

10.3.1. Situação encontrada (subitem 2.3.1 do relatório de fiscalização):

“Identificaram-se cláusulas de habilitação no edital padrão do programa CREMA 2ª etapa,

encaminhado pelo Dnit (Ofício nº 1.659/201 1/DG-DNIT), que representam potencial restrição à

competitividade do certame ou comprometimento do sigilo quanto ao universo de licitantes. São elas:

exigência obrigatória de visita ao local da obra e exigência de apresentação de quantitativos em um

único atestado para lotes muito grandes. Em data posterior ao encaminhamento do edital pelo Dnit,

verificou-se, em consulta ao sítio eletrônico dessa autarquia, que o edital por ela encaminhado foi

alterado.

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O edital padrão encaminhado pelo Dnit (Ofício nº 1.659/201 1/DG-DNIT) não continha o item

10.4, que estabelece, como premissa para participação dos certames, Reunião Técnica ‘para

discussões e esclarecimentos a respeito das indicações do projeto, à luz dos dados e informações

coletadas no local da obra’. Conforme será visto adiante, a participação na reunião do ‘Responsável

Técnico’ de cada licitante é condição obrigatória para a obtenção do ‘Atestado de Visita’ –

documento necessário à participação da licitação. Ou seja, com essa nova exigência, o risco apontado

de se comprometer a lisura peculiar dos processos licitatórios agravou-se sobremaneira.

Assim, o achado será desenvolvido com base na nova versão do edital:

EXIGÊNCIA DE VISITA AO LOCAL DA OBRA E DE REUNIÃO TÉCNICA:

Consta do edital padrão do programa:

‘10. VISITAS E REUNIÃO TÉCNICA

10.1. As empresas interessadas em participar do certame licitatório deverão obrigatoriamente

proceder visita ao local em que se realizarão as obras para tomar conhecimento detalhado das

condições e peculiaridades inerentes à natureza dos trabalhos, avaliando e estudando in loco

o grau de complexidade construtiva, as metodologias e soluções de engenharia indicadas no

projeto, além da identificação das bases de apoio operacional e jazidas, nos termos do inciso

III do Artigo 30 da Lei nº 8.666 de 21/06/1993.

10.2. As visitas serão realizadas por pelo menos um dos Responsáveis Técnicos do quadro

permanente das empresas, nos dias indicados no item 10.3 deste Edital e serão acompanhadas

por engenheiro(s) da Unidade Local e/ou Superintendente Regional e/ou Diretoria Setorial

correspondente, sendo emitido Comprovante de visita, conforme modelo anexo. Quaisquer

informações quanto as visitas poderão ser obtidas junto a Superintendência Regional do Dnit

no Estado xxxxxxxxxxxxx através do telefone (xx) xxxx.xxxx e/ou Diretoria Setorial responsável

pela execução da obra ou pelo site do Dnit.

10.3. Será emitido Atestado de Visita pelo Superintendente do Dnit e/ou pela Diretoria

Setorial responsável pela execução da obra quando da Reunião Técnica definida no item 10.4

e poderá englobar em único documento todos os lotes visitados que estejam sob a mesma

jurisdição. Esse atestado será juntado à documentação de habilitação nos termos do inc. III do

artigo 30 da Lei nº 8.666 de 21/06/93, vide subitem 13.8 deste edital.

Visita 1 (data): xx / xx / xxxx ; Visita 2 (data): xx / xx / xxxx

(Obs: As visitas serão realizadas em dias úteis entre o 20º e 10º dias anteriores à data da

entrega das propostas)

10.4. O Dnit, através da Superintendência Regional no Estado xxxxxxxxxx e/ou da Diretoria

responsável pela execução da obra promoverá, para os licitantes interessados, no dia abaixo

indicado, REUNIÃO TÉCNICA, para discussões e esclarecimentos a respeito das indicações

do projeto, à luz dos dados e informações coletadas no local da obra, sendo lavrada ata com

as indicações claras de possíveis erros ou omissões do projeto que possam comprometer a sua

execução.

Participarão da Reunião obrigatoriamente os representantes técnicos da empresa responsável

pela elaboração do projeto, da Superintendência Regional, e/ou da Diretoria responsável pela

execução da obra bem como o Responsável Técnico do quadro permanente das licitantes.

Ao término da Reunião as licitantes detentoras do Comprovante de Visita (item 10.2) e

presentes na Reunião Técnica estarão credenciadas a obter o Atestado de Visita contendo

Declaração da licitante do pleno conhecimento do objeto em licitação, conforme modelo

anexo.

Reunião Técnica (data): xx / xx / xxxx

(Obs: A Reunião Técnica será realizada em dias úteis entre o 9º e 6º dias anteriores à data da

entrega das propostas)

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10.5. Caberá a Diretoria setorial, juntamente com as demais Diretorias envolvidas no

processo licitatório, analisar e se necessário promover ajustes em função da relevância das

indicações de erros e omissões do projeto, lavrados na ata da Reunião Técnica.’

A obrigatoriedade da visita prévia ao local das obras, em face do possível conhecimento do

universo de concorrentes que participarão da licitação, tem sido compelida por este Tribunal. Vide,

por exemplo, os Acórdãos 2477/2009, 2150/2008, 800/2008, 1733/2010 e 1174/2008, todos do

Plenário.

(...)

EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE QUANTITATIVOS EM UM ÚNICO ATESTADO

PARA LOTES MUITO GRANDES:

Consta da minuta do edital padrão do CREMA 2ª etapa, quanto aos critérios para qualificação

técnico-operacional dos licitantes:

‘13.4. Qualificação Técnica

(...)

c) Relação, mediante o preenchimento do Quadro 04 (anexo), de comprovação de a licitante

ter executado, através de certidão e/ou atestado, fornecido(s) por pessoa(s) jurídica(s) de

direito público ou privado, devidamente certificado pelo CREA ou Conselho Profissional

competente:

1) A qualquer tempo pelo menos UMA obra de Restauração/Recuperação e Conservação

Rodoviária, contendo, no mínimo a seguinte extensão:

Lote(s) EXTENSÃO (KM)

XXXX XXXXXX

2) Comprovação de a licitante ter executado, a qualquer tempo, obras rodoviárias de

complexidade equivalente ou superior ao do objeto desta licitação, contendo os seguintes

quantitativos.

Lote(s) SERVIÇO(S) REQUERIDO(S) UNID. QUANT.

XXXX XXXXXXXXXXX XXX XXXX

2.1) Não será admitido o somatório de atestados para comprovar cada item. Os atestados

poderão ser apresentados da seguinte maneira:

i) um atestado para cada item exigido; ou

ii) atestado que contenha um ou mais itens exigidos.’

A restrição nas cláusulas propostas está na relação entre as exigências com vedação do

número de atestados e o tamanho de cada lote no programa CREMA. É comum segmentos de mais de

300 km, verificando-se, inclusive, trechos a serem licitados com mais de 400 km. Assim, nos termos da

Instrução de Serviço DNIT nº 7/2007 (onde se tolera um máximo de 50% de exigência de quantitativos

de serviços a serem comprovados pelos licitantes, em relação aos quantitativos do projeto a licitar),

cada licitante terá que comprovar que realizou obras de conservação, restauração ou semelhante em

trechos de mais de 200 km.

Ora, por conceito, os trechos do programa CREMA 2ª etapa são maiores que os lotes de

conservação rodoviária comum. Normalmente, em licitações fora do programa são licitados

segmentos de 30 a 100 km, no máximo. Existe um potencial imenso de restrição indevida da

concorrência nesta cláusula. Ainda mais porque a complexidade da obra não muda de um trecho de

50 km para outro de 400 km. Capacidade técnico-operacional muito semelhante seria necessária.

Nesses casos não há justificativa para se vedar o somatório citado no subitem 2.1 acima descrito.”

10.3.2 Conclusão da equipe relativamente ao achado (subitem 2.3.7 do relatório de fiscalização):

“As cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa, que condicionam o fornecimento do

‘Atestado de Visita’ à visita ao local da obra e à participação de reunião técnica pelos licitantes, não

encontram respaldo legal e comprometem a concorrência buscada no processo licitatório.

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No que concerne à exigência de visita ao local da obra, veja-se que no edital padrão do Dnit

para outros tipos de obra, em razão de sucessivas intervenções do TCU, o Dnit já havia retirado a

obrigatoriedade das visitas em seus editais.

A exigência de vistoria com certificado emitido pelo órgão licitante, apesar de não expressa na

lei, é baseada no art. 30, inciso III, da Lei nº 8.666/93, que prevê que a documentação relativa à

qualificação técnica limita-se à ‘comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de que recebeu os

documentos, e, quando exigido, de que tomou conhecimento de todas as informações e das condições

locais para o cumprimento das obrigações objeto da licitação’.

A simples declaração de ciência das condições das informações e local da licitação satisfaria o

comando legal. Logo, no texto da lei, cláusula impondo vistoria em hora e data marcada não seria

obrigatória.

No entanto, se a administração detém meios de certificar que os licitantes tomaram ciência das

condições locais, conforme determina o comando legal, por meio de visita, ela deve fazê-lo. Como é o

exemplo de um edifício a ser construído em local alagadiço ou em terreno pedregoso, em área urbana

e excessivamente irregular. A certificação da Administração quanto à visita do licitante no terreno

possibilita a garantia de que o futuro vencedor da licitação tomou plena ciência (materializada pelo

termo de visita) de um empecilho técnico importante para a execução do objeto. Não se trata de

responsabilizar o construtor caso exista algum percalço, posto que a simples declaração do licitante

serviria a esse fim. Trata-se do interesse da Administração, independentemente da possibilidade de

responsabilizar a contratada, em evitar riscos de atrasos ou inexecução do objeto, fruto do

desconhecimento das exatas condições, pelo licitante, para a consecução do objeto.

Mas a argumentação só possui lógica se a visita técnica, em face da extensão e da

complexidade do objeto, for suficiente e indispensável para perfeito conhecimento da obra ou serviço.

Não se espera que para a construção de um túnel uma vistoria contribua a ponto de evitar qualquer

percalço no futuro. Os laudos geológicos e sondagens são muito mais representativos. Também não se

presume que uma inspeção técnica de vários quilômetros de rodovia, em menos de um dia, possa

acrescentar muita coisa.

Nesses casos, a visita técnica de apenas poucas horas não é de tal importância que possa

justificar o risco da perda da competitividade do certame. Se pela natureza e extensão do objeto

(como é o caso dos trechos de mais de 200 km do CREMA 2ª etapa) a vistoria pouco acrescentar

sobre o conhecimento que os licitantes tem de suas obrigações, a preservação de outros valores

legais, como a competitividade, moralidade e isonomia, sobrepõem-se à necessidade da visita. A

preservação dos ideais do art. 3º, caput, § 1º, incisos I e II, da Lei nº 8.666/93, neste caso, torna-se

obrigatória.

Não é que se deva proibir a visita. A ilegalidade está em se impedir que empresa alguma

cumpra a exigência legal por meio de simples declaração e tenha sua participação no certame

desconhecida até o momento da abertura das propostas, dificultando sobremaneira conluios prévios.

Consoante se mencionou no Relatório do Ministro Relator, Acórdão 1.174/2008-P, citando o Exmº

Senador Eduardo Suplicy ao relatar o Projeto de Lei da Câmara nº 32/2007, que altera dispositivos

da Lei nº 8.666/93:

‘Evitamos exigir que só empresas cadastradas previamente participassem do certame, para

dificultar a formação de cartéis e a combinação de preços por licitantes. Como ressaltou o

representante do TCU na audiência pública nesta Comissão, saber exata e previamente quem

serão os participantes da licitação é o primeiro e decisivo passo para permitir a fraude na

licitação. O fator surpresa é o principal aliado da Administração no caminho de garantir

certames nos quais haja efetiva disputa.’

Ainda mais temerária é a Reunião Técnica, exigida no item 10.4 do edital padrão. Nesse caso,

se mantida tal exigência, a possibilidade do conhecimento prévio do universo de concorrentes que

participarão da licitação, combatida reiteradas vezes por esta Corte de Contas, se concretizará. A

realização da Reunião Técnica, prevista nesse item, com a presença obrigatória dos potenciais

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licitantes, quebra, de vez, o sigilo quanto aos potenciais licitantes interessados no certame, abre a

possibilidade de fraudes e compromete veementemente a concorrência pretendida.

Portanto, as cláusulas prevendo a necessidade de visita e reunião técnicas, com data e hora

marcadas, são ilegais, posto que não resguarda os termos do art. 3º, caput, § 1º, inciso I e II da Lei nº

8.666/93. Em face de não haver, ainda, edital do programa a ser impugnado, deve-se, nos termos do

art. 43, I, da Lei nº 8.443/1992, determinar ao Dnit que se abstenha de incluir no edital padrão do

CREMA 2ª etapa cláusulas impondo tais exigências, sob o risco de poderem levar à anulação dos

certames licitatórios.

Sobre a vedação do somatório de atestados para a comprovação de capacidade técnico-

operacional em lotes tão grandes, veja-se o entendimento do Tribunal no Acórdão 2150/2008-P,

determinando à unidade jurisdicionada que nas licitações com recursos federais destinadas a obras

rodoviárias limitasse as exigências de habilitação dos licitantes aos termos preconizados nas normas

federais pertinentes ao assunto, observando, em específico, o seguinte:

‘9.7.1. para obras de construção, manutenção, conservação ou restauração de rodovias, atente

para os ditames da Portaria 108/2008-DNIT, especialmente quanto a classificação, número

máximo e percentual de exigência dos serviços mais relevantes do contrato quanto a

experiência técnica profissional ou operacional;

9.7.2. somente limite o somatório de quantidades de atestados para a comprovação de

capacidade técnico-operacional dos editais nos casos em que o aumento de quantitativos do

serviço acarretarem, incontestavelmente, o aumento da complexidade técnica do objeto ou

uma desproporção entre as quantidades e prazos para a sua execução, capazes de ensejar

maior capacidade operativa e gerencial da licitante e de potencial comprometimento acerca da

qualidade ou da finalidade almejada na contratação da obra ou serviços;’

Isso porque o TCU tem admitido a limitação do número de atestados, a título de qualificação

técnica nas licitações, nos casos em que seja necessária, para garantir a execução do contrato, a

segurança e perfeição da obra ou do serviço, a regularidade do fornecimento de bens ou serviços ou o

atendimento de qualquer outro interesse público, devendo tal restrição ser justificada no processo

administrativo relativo à licitação (Acórdão 1636/2007-P). O problema é como, objetivamente,

comprovar a necessidade da limitação.

Para a construção de uma rodovia, existe uma série de procedimentos e serviços que,

comumente, não diferem muito entre si. A terraplenagem, de uma obra para outra, normalmente se

modifica apenas nas distâncias de transporte e volume de escavações e compactações. As diferenças

são basicamente nas quantidades e cotas. O mesmo vale para drenagem, obras de arte corrente e

obras complementares. Para a pavimentação, podem ser utilizados diferentes tipos de pavimento e

camadas de rolamento, mas, no cerne, as operações de escavação, carga, transporte e compactação

não são tão distintas. Os tipos de equipamentos também não costumam variar muito. São

escavadeiras, pás carregadeiras, motoniveladoras, caminhões basculantes, rolos compactadores,

recicladoras etc. Idênticas observações podem ser empreendidas para os serviços de restauração e

manutenção rodoviária.

Vejam-se outros exemplos: se um licitante executa certa quantidade de meio-fio a cada hora,

poderá executar mil vezes essa quantidade em mil horas. Quem consegue escavar 400 m³ de terra por

hora (duas patrulhas) poderá escavar 1.000.000 m³ em 2.500 horas. Quem faz uma ponte de 50 m em

um mês, em tese, pode executar três pontes de 50 m em três meses. Em todos os casos, a quantidade de

mão de obra, equipamentos e capacidade gerencial, em razão da proporcionalidade entre as

quantidades e prazos, não traz qualquer complicação operacional aos licitantes.

Na realidade, nestes últimos exemplos, é perfeitamente admissível a comprovação de

experiência pelo somatório de atestados, afinal, como o aumento de quantidade a ser executada foi

proporcional ao prazo de execução, a quantidade de mão de obra e equipamentos para a execução

dos serviços foi a mesma, assim como a capacidade para gerenciá-los. Portanto, capacidade técnica-

operacional muito semelhante seria exigida. Não haveria o porquê da limitação do somatório.

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Retorne-se ao exemplo anterior: o licitante que execute 1.000.000 m³ de escavação em 2.500

horas pode não conseguir o mesmo feito em 1.000 horas. Assim como três pontes em três meses é um

caso distinto de três pontes em um mês e meio. A capacidade operacional, fora de qualquer dúvida, foi

alterada. Houve uma desproporção entre as quantidades, prazos e a capacidade gerencial necessária

para a perfeita execução dos serviços.

Como definição, a capacidade técnico-operacional diz respeito à capacidade operativa do

licitante. Envolve a comprovação de que a empresa, como unidade jurídica e econômica, participara

anteriormente de contrato cujo objeto era similar ao previsto para a contratação almejada pela

Administração pública. É a capacidade que a licitante pessoa jurídica tem de reunir mão de obra,

equipamentos e materiais, devidamente coordenados, para a perfeita execução do objeto, na

quantidade, qualidade e prazos exigidos.

Logo, para os itens onde se exigiu a apresentação de atestados para comprovação de

experiência técnico-operacional, uma das condições possíveis para a limitação do número de

atestados é a comprovação, devidamente fundamentada, de que o aumento de quantitativos do serviço

acarreta, necessariamente e desproporcionalmente, uma dificuldade no cumprimento do prazo do

contrato ou no gerenciamento do empreendimento, capazes de comprometer a qualidade ou a

finalidade almejada na contratação.

Deve ser incontestável que a execução de quantidades superiores, para cada item da

exigência, demande maior capacidade operativa dos concorrentes, seja em função do aumento da

complexidade técnica do objeto em face ao acréscimo de quantidades, seja pela desproporção entre

este incremento de quantitativos e o respectivo prazo para concluí-lo, bem como a capacidade

gerencial para administrá-lo.

Como conclusão, da ilegalidade da vedação do somatório de atestados, consoante art. 30, § 5º,

da Lei nº 8.666/93, novamente, deve-se, nos termos do art. 43, I da Lei nº 8.443/1992, determinar ao

Dnit que, no que concerne as cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa relativas à qualificação

técnica dos licitantes, observe o disposto nos itens 9.7.1 e 9.7.2 do Acórdão 2.150/2008-P.”

10.3.3 Proposta de encaminhamento (subitem 2.3.8 do relatório de fiscalização):

“Com fundamento no art. 43, I, da Lei nº 8.443/1992, determinar ao Dnit que, em face da:

a) da ilegalidade das cláusulas previstas no edital padrão do CREMA 2ª etapa com previsão

de visita e de reunião técnicas obrigatórias aos licitantes, com data e hora marcada, abstenha-se de

incluir no edital padrão do CREMA 2ª etapa tais cláusulas, posto que não resguarda os termos do art.

3º, caput, § 1º, incisos I e II, da Lei nº 8.666/93 e que podem levar à anulação dos certames

licitatórios;

b) da ilegalidade da vedação do somatório de atestados, consoante art. 30, § 5º, da Lei nº

8.666/93, altere as cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa relativas à qualificação técnica dos

licitantes, conforme o disposto nos itens 9.7.1 e 9.7.2 do Acórdão 2.150/2008-P.”

10.4. Achado de auditoria (item 2.4 do relatório de fiscalização): projeto básico/executivo sub ou

superdimensionado.

10.4.1. Situação encontrada (subitem 2.4.1 do relatório de fiscalização):

“Identificou-se que alguns critérios usualmente utilizados pelo Dnit para aprovação dos

projetos para o CREMA 2ª etapa levam ao superdimensionamento do orçamento esperado para a

licitação. Em outros casos, a ausência de parâmetros objetivos para avaliação de cada solução

apresentada pelos projetistas também carrega potencial de sobreavaliação dos orçamentos.

Podem-se citar as seguintes situações:

a) sobrepreço nos serviços de manutenção e conservação rodoviária nos cinco anos do

programa, uma vez que não foram seguidos os critérios gerais de projeto constantes do Manual de

Conservação Rodoviária da autarquia;

b) consideração de 100% das fresagens previstas no projeto como se fossem descontínuas,

mais onerosas que as fresagens contínuas, muito embora os levantamentos dos projetos indiquem a

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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existência de grandes trechos trincados, os quais possibilitariam que os equipamentos fossem

utilizados com maior produtividade e, portanto, permitindo que os serviços fossem classificados como

‘contínuos’;

c) sobreavaliação dos percentuais de fresagem em cada sub-trecho homogêneo de projeto, o

que ocasiona aumento do custo da solução de engenharia;

d) desconsideração das jazidas indicadas no site do Departamento Nacional de Pesquisa

Mineral - DNPM, que tanto poderiam reduzir a distância de transporte dos insumos para a obra,

como poderiam indicar a exploração direta dos materiais, de forma não comercial, com significativa

redução do preço referencial;

e) consideração de apenas uma usina de CBUQ, mesmo para lotes com comprimento superior

a 300 km;

f) ausência de critérios para dimensionamento e orçamento dos canteiros de obra.

Em conjunto, esses problemas também foram identificados em auditoria já empreendida pelo

Tribunal nas obras da BR-364/RO, também inserida no programa CREMA. O potencial prejuízo, para

a obra da BR-364/RO, superou os R$ 180 milhões (vide Acórdão 1351/2011-P).

Em face do exposto, no Ofício 1-462/2011, questionou-se ao Dnit acerca dos indícios de

irregularidade encontrados, [cujas respostas encontram-se no item 2.4.6 do relatório de fiscalização].”

10.4.2 Conclusão da equipe relativamente ao achado (subitem 2.4.7 do relatório de fiscalização):

“Inicialmente, importa reconhecer o comportamento proativo apresentado pelos técnicos da

Coordenação de Projetos do Dnit durante a realização desta fiscalização. Em face dos diversos

indícios de irregularidades identificados pela Equipe de Auditoria, houve, por parte dos técnicos

daquela coordenação, o reconhecimento de todos os problemas apontados no presente achado e

rapidamente propuseram-se soluções viáveis, de modo a propiciar o lançamento dos editas do

programa CREMA de maneira responsável. Afinal, trata-se de critérios para o orçamento de todos os

32.000 km de rodovia contemplados pelo programa. O impacto destas discussões tem a cifra de

bilhões de reais.

Com referência aos critérios de avaliação das obras de conservação e manutenção, o Dnit

elaborou a Nota Técnica nº 34/2011. Nesse documento, foi reconhecido que o procedimento então

utilizado não realizava avaliações detalhadas, por ano de investimento, baseando-se nos níveis de

esforços esperados para cada etapa da obra.

Sugeriram-se novas tabelas referenciais de manutenção e conservação, alinhadas com os

critérios utilizados no Manual de Conservação do Dnit. Seguiram-se planilhas diferenciadas para

cada ano de intervenção, como demonstrado abaixo:

a) Reparos localizados (incluídos somente do 1º ao 3º ano). Para o primeiro ano, sugeriu-se a

utilização de uma área de reparos para eliminação de passivo de manutenção, mais 0,5% da área

para pista de rolamento. Para o 2º ano, apenas 0,5% de reparos em 2/3 da pista. Para o 3º ano, 0,5%

de intervenção em 1/3 da pista;

b) Remendos profundos (também incluídos somente do 1º ao 3º ano). A proposta também

envolveu uma área inicial, no primeiro ano, de acordo com o estado da rodovia; no 2º ano, previu-se

0,3 m³/km em 2/3 da extensão da pista em lotes menores que 200 km, ou em 1/2 da extensão da pista

em lotes maiores que 200 km; no 3º ano, 0,3 m³/km em 1/3 da pista em lotes menores que 200 km e

nenhum reparo nos lotes maiores de 200 km;

c) Capina Manual. Estimaram-se duas capinas anuais por todos os cinco anos de programa;

d) Roçadas / Corte e limpeza de áreas gramadas / Limpeza dos dispositivos de drenagem /

Limpeza de ponte. Dividiram-se o número de intervenções anuais dependendo da região do país: 6

vezes para o Norte, 5 vezes para o Sul, 4 vezes para o Centro-Oeste e Sudeste, e 3 vezes para o

Nordeste;

e) Recomposição de defensa metálica: 10% das defensas existentes;

f) Caiação: previu-se a caiação dos meios-fios, dispositivos de drenagem superficial, guarda

corpos e barreiras duas vezes ao ano;

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g) Limpeza de bueiros: 1 vez ao ano;

e) Recomposição de meio-fio / sarjetas / barreiras / guarda corpo: previu-se 1% da extensão

existente.

Esta Equipe de Auditoria examinou, assim, um a um os quantitativos propostos pelos técnicos

do Dnit.

Quanto aos serviços de remendos profundos (item b), recomposição de defensa metálica (item

e), caiação (item f), limpeza de bueiro (item g), recomposição manual de terraplenos, bem como a

recomposição dos elementos de drenagem, barreiras e guarda-corpos (item e), os quantitativos

propostos estão adequados às proposições constantes do Manual de Conservação Rodoviária do

Dnit.

No que se refere à proposição da adoção de 0,5% de reparos localizados por extensão de

rodovia não restaurada (item a), a sugestão dos técnicos do Dnit é coerente com o que sugerem

critérios da American Association of State Highway and Transportation Officials - AASHTO para

rodovias que necessitam ser restauradas.

(...)

Nesse sentido, a proposta apresentada pelos técnicos do Dnit de se estimar a demanda de

reparos abrangendo no máximo 0,50% da área total do pavimento da pista quando ela atingisse um

Índice de Serventia Atual (PSI) de 3.0, que segundo A. M. Pereira (in ‘Considerações sobre o

procedimento de avaliação objetiva da superfície de pavimentos flexíveis e semi-rígidos normalizado

pelo DNER. Fundamentos metodológicos. Algumas modificações possíveis’; Simpósio Internacional

de Avaliação de Pavimentos e Projeto de Reforço, Anexos, Rio de Janeiro, 9 a 14 de setembro,

ABPv.1979), equivale a um Índice de Gravidade Global (IGG) entre 30 e 50, merece acolhimento por

esta Casa, pois a partir do instante em que os defeitos apresentados no pavimento ultrapassam essa

faixa de gravidade, sua restauração passa a ser indicada.

Outra modificação oportuna refere-se à diferenciação entre as roçadas manuais e as roçadas

mecanizadas (item d). Adotou-se a relação de 70% de roçada mecanizada e de 30% de roçada

manual, o que melhor se amolda à realidade dos empreendimentos.

Quanto à diferenciação dos esforços de roçada e limpeza dos dispositivos de drenagem de

acordo com a região do país, entende-se que a distinção realmente existe (item d). Entretanto, poderia

haver a separação não por região, mas por iso-curvas de precipitação (isoietas), associadas à

temperatura e evapotranspiração, que melhor refletiriam o crescimento das gramíneas e leguminosas

nesse período. Por serem necessários estudos mais acurados, sugere-se acolher a proposição ora

apresentada pelo Dnit, sem prejuízo de determinar o aprofundamento das pesquisas.

Sobre a fresagem, entende-se que os critérios oferecidos pela autarquia para estimar o

quantitativo desses serviços podem ser aceitos: a estimativa das áreas de fresagem iguais aos

quantitativos de trincas FC-2 e FC-3; quando forem superiores a 50%, a fresagem será considerada

contínua; quando for menor que 25%, descontínua; entre um parâmetro e outro, será verificado caso

a caso.

Relativamente à questão do canteiro de obras, apontou-se que não existe metodologia objetiva

para quantificá-los. O Dnit sugere a elaboração de canteiros padrão para serem utilizados como

referência. Contudo, uma vez que, como informado pelo Dnit, as licitações do CREMA se avizinham,

eventual imposição de imediata adoção dos canteiros padrão nos projetos executivos já aprovados ou

fase de análise pela Coordenação de Projetos no âmbito CREMA 2ª Etapa poderia atrasar

excessivamente o lançamento do programa. Propõe-se, assim, que em 180 dias o Dnit realize o

estudo. Para os projetos já aprovados, todavia, deve-se alertar a autarquia de que os custos

referenciais dos serviços relacionados ao canteiro de obras devem respeitar aqueles indicados no

SINAPI, bem como corresponder ao estritamente necessário para a execução de cada obra.

Finalmente, no que tange às pesquisas de jazidas minimamente necessárias para garantir a

economicidade no processo de obtenção dos insumos, o Dnit entende que poderia lançar os editais

para licitação das obras considerando as fontes de materiais já estudadas; no entanto, adicionaria

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cláusula no edital de concorrência e nos contratos de obras prevendo a possibilidade de revisão nos

preços dos serviços, caso seja identificada durante a execução das obras a possibilidade de utilização

de jazidas de materiais mais próximas ou de materiais produzidos. Assim, contratada a Supervisão

das Obras, a empresa supervisora teria o prazo de 90 dias para estudar aquelas jazidas indicadas no

sítio do DNPM, de modo a verificar a viabilidade técnica e econômica de utilização, a qual, se

comprovada, tornaria obrigatória a repactuação dos preços firmados nos contratos de obras. Essa

proposta poderia ser acolhida neste caso concreto para os projetos já aprovados e em fase de análise

na Coordenação de Projetos, sem prejuízo de a autarquia promover alterações nos termos de

referência das futuras contratações de projetos de modo a exigir a elaboração de ensaios, cálculos e

laudos conclusivos acerca da viabilidade técnico/econômica da utilização de pedreiras, areais e

cascalheiras circunvizinhas aos trechos de realização das obras e que não possuam licenciamento ou

lavra concedida, identificados no site do Departamento Nacional de Produção Mineral, mas possam

ser objeto de prévio bloqueio das jazidas junto ao DNPM, ou que possuam menor distância de

transporte.

No caso do CREMA da BR-364/RO, essa foi a solução dada pelo Acórdão 1351/2011-P.

(...)

Outros problemas identificados neste achado já foram alvo de manifestação do Tribunal no

dito acórdão. Naquela oportunidade, igualmente, o Dnit reconheceu a necessidade de alterar o

projeto.

(...)

Assim, uma vez que todos os assuntos também foram tratados neste trabalho, pode-se repetir

as determinações, desta vez para todos os projetos CREMA.

Por fim, o próprio Dnit sugere o posicionamento da Diretoria de Planejamento e Pesquisa e

da Diretoria Geral quanto à criação de grupos de trabalho envolvendo as coordenações setoriais da

autarquia e o Instituto de Pesquisa Rodoviária – IPR, com a finalidade de se elaborar normativo

técnico que contemple algumas questões, tais como: critérios para definição e quantificação de

fresagem contínua e descontínua, ajustes em composições de custo unitário, critérios para

dimensionamento de canteiros, entre outros itens. Propõe-se, assim, ratificar a proposição por meio

de determinação desta Corte.”

10.4.3 Proposta de encaminhamento (subitem 2.4.8 do relatório de fiscalização):

“Com fundamento no art. 43, I, da Lei nº 8.443/1992, determinar ao Dnit que:

a) realize ensaios, cálculos e laudos conclusivos acerca da viabilidade técnico/econômica da

utilização de pedreiras, areais e cascalheiras circunvizinhas aos trechos de realização das obras e

que não possuam licenciamento ou lavra concedida, identificados no site do Departamento Nacional

de Produção Mineral, mas possam ser objeto de prévio bloqueio das jazidas junto ao DNPM, ou que

possuam menor distância de transporte;

b) caso existam segmentos rodoviários cujos projetos de restauração e manutenção para o

CREMA 2ª Etapa já estejam aprovados e não seja viável a adoção das medidas indicadas no subitem

anterior previamente ao lançamento dos editais de licitação, consigne nos respectivos editais e

minutas de contrato que tais medidas serão adotadas no prazo de até 90 (noventa) dias após a

emissão das ordens de serviço e, se for a hipótese, serão adotadas as providências necessárias para

reestabelecer o equilíbrio econômico/financeiro dos contratos eventualmente assinados, modificando-

se as fontes de aquisição dos insumos previstas originalmente no projeto, bem como alterando-se os

respectivos preços dos serviços envolvidos;

c) revise a distribuição das instalações industriais, considerando a possibilidade de adoção de

duas ou mais unidades de produção para cada lote, mediante a confirmação da viabilidade técnica

das ocorrências de materiais para pavimentação (pedreiras e areais) disponíveis nos segmentos

projetados;

d) caso não utilize base e/ou sub-base estabilizada granulometricamente com insumos

provenientes das jazidas identificadas na região, demonstre a inviabilidade técnica e/ou econômica

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dessa alternativa;

e) revise os quantitativos de fresagem contínua e descontínua nos projetos eventualmente já

aprovados, tomando por base a metodologia proposta pela Coordenação de Projetos de

Infraestrutura, consubstanciada na sua Nota Técnica nº 34/2011;

f) promova, em 180 dias, estudos e pesquisas com a participação do IPR com o objetivo de:

f.1) estabelecer normatização acerca da diferenciação dos esforços de roçada e de limpeza dos

dispositivos de drenagem de acordo com a as respectivas iso-curvas de precipitação (isoietas),

associadas à temperatura e evapotranspiração, ou qualquer outro elemento que melhor reflita o

crescimento das gramíneas e leguminosas;

f.2) estabelecer normatização referente ao dimensionamento dos canteiros de obras e dos

respectivos custos para sua instalação e manutenção, observando que tais custos devem, quando

aplicável, referenciar-se pelo SINAPI, bem como as instalações devem corresponder ao estritamente

necessário para a execução de cada obra, podendo para este fim desenvolver canteiros-tipo, em

função dos diversos portes de obras, em que as edificações e seus respectivos custos de manutenção

estejam pré-dimensionados;

f.3) avaliar a adequação dos critérios para a previsão de evolução de trincas e para a

respectiva quantificação de fresagem contínua e descontínua em contratos de obras de restauração e

manutenção (CREMA 2ª Etapa) normatizados por intermédio da Nota Técnica n° 34/2011,

considerando a possibilidade de adaptação de modelos matemáticos existentes ou a concepção de

novos modelos que melhor representem a evolução de trincas entre a data da inspeção em campo e a

data prevista para o início das obras.”

10.5. Achado de auditoria (item 2.5 do relatório de fiscalização): projeto básico deficiente ou

desatualizado.

10.5.1. Situação encontrada (subitem 2.5.1 do relatório de fiscalização):

“Em face de recentes correções de preços relevantes do SICRO 2, feitas a partir de setembro

de 2010, identificou-se que a desatualização dos orçamentos realizados no âmbito do Programa

CREMA 2ª etapa poderá causar prejuízo ao erário da ordem de centenas de milhões de reais. O

espaço de tempo compreendido entre os levantamentos dos defeitos e o início das obras (estimado em

aproximadamente dois anos), também poderá ser danoso, pela total ausência de critérios objetivos

para se estimar a evolução dos defeitos. Também observou-se que não foram consideradas, nesses

levantamentos, intervenções recentes em cada trecho de rodovia, como por exemplo nas hipóteses de

contratos anteriores do CREMA 1ª etapa.

A desatualização dos projetos, portanto, em contratos de restauração rodoviária, mormente

nos do tipo CREMA, apresenta potencial de dano amplificado em relação aos demais.

Em face disso, indagou-se o Dnit acerca do assunto, conforme consta no item 2.5.6. do

relatório de fiscalização.”

10.5.2 Conclusão da equipe relativamente ao achado (subitem 2.5.7 do relatório de fiscalização):

“Segundo argumentos apresentados pela Coordenação de Projetos de Infraestrutura, em

função da necessidade de tempo para o desenvolvimento dos projetos, orçamentos e demais

procedimentos inerentes à fase interna das licitações dos contratos de restauração e manutenção, bem

como em função de a experiência empírica dos técnicos da autarquia apontar que os levantamentos

deflectométricos realizados em campo não apresentam variação significativa em período inferior a

dois anos, a validade dos levantamentos de campo poderia ser fixada em dois anos da data em que

estes forem realizados.

Ao contrário dos levantamentos deflectométricos, as trincas no pavimento, por sua vez, podem

experimentar significativa evolução nesse intervalo de tempo (dois anos), razão pela qual se torna

imperioso reavaliar por intermédio de inspeção, antes da publicação dos editais de licitação, a

ocorrência de eventual evolução das trincas (FC1, FC2, FC3 e panelas) a partir do levantamento de

campo original, de modo que tanto o projeto quanto o respectivo orçamento-base reflitam de modo

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fidedigno as atuais condições funcionais do pavimento a ser restaurado, como bem observaram os

próprios técnicos da Coordenação de Projetos de Infraestrutura.

Em relação aos preços unitários dos serviços nos quais o Tribunal já havia, em fiscalizações

anteriores, apontado alguma falha, o Dnit manifestou sua concordância quanto à necessidade de

promover as devidas atualizações dos orçamentos, razão pela qual cabe ratificar essa intenção por

intermédio de determinação oriunda desta Corte no sentido de que o Dnit:

a) adote nos orçamentos das obras do programa CREMA 2ª etapa os preços referenciais do

SICRO 2 com data-base a partir de janeiro/2011, inclusive;

b) corrija as composições de preços unitários (CPU) relativas aos serviços de reciclagem de

pavimentos, utilizando 82m³/h de produtividade da recicladora e 0,1000 un/m³ de consumo de bits de

corte, até que sejam realizados novos e conclusivos estudos sobre o assunto;

c) adote os custos de transporte de materiais betuminosos decorrentes da aplicação das novas

equações tarifárias definidas conforme Acórdão 3402/2010-TCU.”

10.5.3 Proposta de encaminhamento (subitem 2.5.8 do relatório de fiscalização):

“Com fundamento no art. 43, I, da Lei nº 8.443/1992, determinar ao Dnit que:

a) se abstenha de licitar obras no âmbito do CREMA (contratos de restauração e manutenção)

com projetos fundamentados em levantamentos de campo das condições estruturais do pavimento

realizados há mais de dois anos ou que não tenham levado em consideração contribuições relativas a

intervenções no pavimento realizadas após a conclusão dos levantamentos de campo que

originalmente alicerçaram o desenvolvimento dos projetos;

b) reavalie, após inspeção em campo, antes da publicação dos editais de licitação, a

ocorrência de eventual evolução das trincas (FC1, FC2, FC3 e panelas), de modo que tanto o projeto

quanto o respectivo orçamento base reflitam de modo fidedigno as condições funcionais do pavimento

a ser restaurado;

c) adote nos orçamentos das obras do programa CREMA 2ª etapa os preços referenciais do

SICRO 2 com data-base a partir de janeiro/2011, inclusive;

d) corrija as composições de custos unitários (CCU) relativas aos serviços de reciclagem de

pavimentos, utilizando 82 m³/h de produtividade da recicladora e 0,1000 un/m³ de consumo de bits de

corte, até que sejam realizados novos e conclusivos estudos sobre o assunto;

e) adote os custos de transporte de materiais betuminosos decorrentes da aplicação das novas

equações tarifárias definidas conforme Acórdão 3402/2010-TCU.”

11. Ante tais elementos, a equipe conclui o seu relatório e propõe encaminhamento nos seguintes

termos:

“3 – CONCLUSÃO

(...)

Sob a égide da legislação vigente e da jurisprudência desta Corte de Contas, foram analisadas

as respostas apresentadas pelo Dnit às questões de auditoria.

Após análise, constataram-se cinco principais irregularidades no edital padrão e nos critérios

técnicos adotados na elaboração dos projetos básicos que contemplarão todas as contratações das

obras, no âmbito do programa de restauração, manutenção e conservação de rodovias CREMA 2ª

etapa:

1. cláusulas contratuais em desacordo com os preceitos da Lei nº 8.666/1993 (item 2.1)

O edital padrão do CREMA 2ª etapa, no Capítulo III - Indicações Particulares, faz referência

a normativo do Ministério dos Transportes (Portaria nº 7/2008, complementada pela Portaria nº

207/2010 do mesmo órgão) que prevê a vedação de termo aditivo aos contratos, critério que afronta o

art. 65 da Lei nº 8.666/93, bem como o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal.

De acordo com o art. 2º, § 5º, da Portaria nº 207/2008 do Ministério dos Transportes, os

contratos para a execução dos serviços necessários à realização das obras de

restauração/recuperação e conservação rodoviária serão sob o regime de empreitada global, vedada

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a realização de termo aditivo para alteração quantitativa ou qualitativa das soluções de projeto.

Essa disposição se faz ilegal. Além de constituir disposição frontalmente contrária à Lei de

Licitações (Lei nº 8.666/93), também contraria preceito consagrado na Constituição da República.

Pelo fato, ainda, de alguns dispositivos do normativo não indicarem claramente em quais situações

são cabidos aditivos contratuais, existe considerável risco para a Administração, como também se

cria uma insegurança jurídica.

Em face da ilegalidade de cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa, baseadas nas

portarias do Ministério dos Transportes citadas, que impedem formalização de termos aditivos aos

contratos de obras de manutenção rodoviária para alteração quantitativa ou qualitativa das soluções

de projeto, entende-se que o Dnit deve abster-se de incluir nesse edital padrão tal óbice, sob o risco de

afrontar os artigos 65 da Lei nº 8.666/93 e 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e de poder gerar a

nulidade dos instrumentos convocatórios que vierem a ser publicados.

Haja vista, também, a dubiedade de sentido de alguns dispositivos normativos, adequado dar

ciência à autarquia que os aditivos contratuais são obrigatórios nos seguintes casos, em relação não

exaustiva:

- alteração das distâncias médias de transporte para aquisição de insumos ou execução de

serviços, de acordo com a jurisprudência do Tribunal;

- modificação no consumo dos insumos asfálticos;

- mudança da solução para restauração do pavimento;

- diminuição ou aumento do consumo dos insumos nas misturas para estabilização dos

materiais;

- substituição, inclusão ou não utilização de jazidas, areais ou pedreiras;

- alteração da forma de aquisição de brita e areia, de produzidas para comerciais, ou vice-

versa.

2. adoção de regime de execução contratual inadequado ou antieconômico (item 2.2)

O edital padrão das licitações a serem realizadas para execução das obras do programa

CREMA impõe o regime de execução por preço global. Não obstante, haja vista se tratarem de

licitações para obras de recuperação do pavimento cujos levantamentos, via de regra, foram

realizados pelo menos dois anos antes do início da ordem de serviços, e considerando a

suscetibilidade das restaurações a eventos supervenientes que demandam a modificação das soluções

inicialmente previstas em projeto, o instrumento convocatório não atende os preceitos do art. 47 da

Lei nº 8.666/93.

Ante o exposto, embora o regime de empreitada por preços globais tenha previsão explícita da

Lei de Licitações - e em razão disso não se possa considerá-lo propriamente ilegal - entende-se que se

deva alertar ao Dnit que as obras de restauração e manutenção rodoviária, pelo histórico de

desalinhamento dos projetos ao art. 47 da Lei nº 8666/93, não são as mais indicadas para esse regime

de contratação. Em face disso, eventuais prejuízos decorrentes de riscos advindos da carência do

detalhamento das medições (no que se refere aos serviços que compõem as soluções por quilômetro)

poderão implicar na responsabilização do corpo dirigente da autarquia.

3. restrição à competitividade da licitação decorrente de critérios inadequados de habilitação

e julgamento (item 2.3)

As cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa, que condicionam o fornecimento de

‘atestado de visita’ à visita ao local da obra e à participação de reunião técnica pelos licitantes, bem

como exigem a apresentação de quantitativos em um único atestado para lotes muito grandes, não

encontram respaldo legal e comprometem a concorrência buscada no processo licitatório.

A exigência de visita ao local e de participação em reunião com certificado emitido pelo órgão

licitante, apesar de não expressa na lei, é baseada no art. 30, inciso III, da Lei nº 8.666/93. Assim, em

princípio não existiria impedimento para visita ao local da obra exigida pelo edital. No entanto a

ilegalidade verificada está em se impedir que empresa alguma o faça por meio de simples declaração

e tenha sua participação no certame desconhecida até o momento da abertura das propostas,

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dificultando sobremaneira conluios prévios.

No caso da exigência da reunião técnica, além de não encontrar respaldo legal, concretiza a

possibilidade do conhecimento prévio do universo de concorrentes que participarão da licitação,

combatida reiteradas vezes por esta Corte de Contas. A realização dessa reunião técnica quebra, de

vez, o sigilo quanto aos potenciais licitantes interessados no certame, abre a possibilidade de fraudes

e compromete veementemente a concorrência pretendida.

Portanto, conclui-se que as cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa prevendo a

obrigatoriedade de visita e de reunião técnicas dos licitantes, com data e hora marcadas, são ilegais,

posto que não resguarda os termos do art. 3º, caput, § 1º, incisos I e II, da Lei nº 8.666/93.

Quanto à exigência editalícia de apresentação de quantitativos em um único atestado para

lotes muito grandes, não se verificou, para o caso dos serviços previstos nas obras do CREMA 2ª

etapa, a necessidade de tal limitação. Situação semelhante foi discutida por esta Corte de Contas

quando do Acórdão 2.150/2008-P.

Em obras de construção e de manutenção rodoviária existem vários procedimentos e serviços

que, comumente, não diferem muito entre si. A terraplenagem, de uma obra para outra, normalmente

se modifica apenas nas distâncias de transporte e volume de escavações e compactações. As

diferenças são basicamente nas quantidades e cotas. O mesmo vale para drenagem, obras de arte

corrente e obras complementares. Para a pavimentação, podem ser utilizados diferentes tipos de

pavimento e camadas de rolamento, mas, no cerne, as operações de escavação, carga, transporte e

compactação não são tão distintas. Os tipos de equipamentos também não costumam variar muito.

São escavadeiras, pás carregadeiras, motoniveladoras, caminhões basculantes, rolos compactadores,

recicladoras etc.

A ausência de cláusula que possibilite a qualificação técnica de licitante, para determinado

lote, com a apresentação de vários atestados, restringe o número de participantes nos certames e,

consequentemente, impacta na competitividade buscada no processo licitatório, em desacordo com o

art. 30, § 5º, da Lei nº 8.666/93.

Assim, diante da ilegalidade da vedação do somatório de atestados, consoante art. 30, § 5º, da

Lei nº 8.666/93, novamente, conclui-se pela necessidade de se determinar ao Dnit que, no que

concerne às cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa relativas à qualificação técnica dos

licitantes, observe o disposto nos itens 9.7.1 e 9.7.2 do Acórdão 2.150/2008-P.

4. projeto básico/executivo sub ou superdimensionado (item 2.4)

Os técnicos da Coordenação de Projetos do Dnit reconheceram todos os problemas apontados

pela equipe de auditoria do TCU no presente achado e rapidamente propuseram soluções viáveis, que

merecem ser acolhidas por esta Corte de modo a propiciar o lançamento dos editais do programa

CREMA de maneira responsável, porquanto reduzem sobremaneira os riscos de dano ao erário e

aumentam a eficiência do programa. Por essa razão propõe-se a ratificação das soluções propostas

pela equipe técnica do Dnit mediante determinações à autarquia emanadas por este Tribunal.

5. projeto básico deficiente ou desatualizado (item 2.5)

Segundo argumentos apresentados pela Coordenação de Projetos de Infraestrutura, em função

da necessidade de tempo para o desenvolvimento dos projetos, orçamentos e demais procedimentos

inerentes à fase interna das licitações dos contratos de restauração e manutenção, bem como em

função de a experiência empírica dos técnicos da autarquia apontar que os levantamentos

deflectométricos realizados em campo não apresentam variação significativa em período inferior a

dois anos, a validade dos levantamentos de campo pode ser fixada em dois anos da data em que estes

forem realizados.

As trincas no pavimento, por sua vez, experimentam significativa evolução em função do

tempo, razão pela qual se torna imperioso reavaliar, após inspeção em campo, antes da publicação

dos editais de licitação, a ocorrência de eventual evolução das trincas (FC1, FC2, FC3 e panelas), de

modo que tanto o projeto quanto o respectivo orçamento base reflitam de modo fidedigno as atuais

condições funcionais do pavimento a ser restaurado, como bem observaram os próprios técnicos da

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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Coordenação de Projetos de Infraestrutura.

Em relação aos preços unitários dos serviços nos quais o Tribunal já havia, em fiscalizações

anteriores, apontado alguma falha, o Dnit manifestou sua concordância quanto à necessidade de

promover as devidas atualizações dos orçamentos, razão pela qual cabe ratificar essa intenção por

intermédio de determinação oriunda desta Corte no sentido de que o Dnit:

a) adote nos orçamentos das obras do programa CREMA 2ª etapa os preços referenciais do

SICRO 2 com data-base a partir de janeiro/2011, inclusive;

b) corrija as composições de preços unitários (CPU) relativas aos serviços de reciclagem de

pavimentos, utilizando 82 m³/h de produtividade da recicladora e 0,1000 un/m³ de consumo de bits de

corte, até que sejam realizados novos e conclusivos estudos sobre o assunto;

c) adote os custos de transporte de materiais betuminosos decorrentes da aplicação das novas

equações tarifárias definidas conforme Acórdão 3402/2010-TCU e a Instrução de Serviço nº 02, de 18

de janeiro de 2011.

4 – ENCAMINHAMENTO

Ante todo o exposto, encaminhem-se os autos ao Gabinete do Exmo. Sr. Ministro-Relator José

Múcio Monteiro, propondo:

a) determinar ao Dnit, com fundamento no art. 251, caput, do Regimento Interno do Tribunal,

que:

a.1) se abstenha de incluir nos editais das licitações para obras de manutenção rodoviária

objeto do programa CREMA 2ª etapa, sob pena da nulidade do certame licitatório:

a.1.1) cláusulas que impeçam a formalização de termos aditivos aos contratos para alteração

quantitativa ou qualitativa das soluções de projeto, critério que afronta os artigos 65 da Lei nº

8.666/93 e 37, inciso XXI, da Constituição Federal; (item 2.1)

a.1.2) cláusulas com previsão de visita e de reunião técnicas obrigatórias aos licitantes, com

data e hora marcada, posto que não resguardam os termos do art. 3º, caput, § 1º, incisos I e II, da Lei

nº 8.666/93; (item 2.3)

a.1.3) cláusulas que vedem o somatório de atestados para qualificação técnica dos licitantes,

em razão do que prescreve o art. 30, § 5º, da Lei nº 8.666/93 e o disposto nos itens 9.7.1 e 9.7.2 do

Acórdão 2.150/2008-P; (item 2.3)

a.2) realize ensaios, cálculos e laudos conclusivos acerca da viabilidade técnico/econômica da

utilização de pedreiras, areais e cascalheiras circunvizinhas aos trechos de realização das obras e

que não possuam licenciamento ou lavra concedida, identificados no site do Departamento Nacional

de Produção Mineral, mas possam ser objeto de prévio bloqueio das jazidas junto ao DNPM, ou que

possuam menor distância de transporte; (item 2.4)

a.3) caso existam segmentos rodoviários cujos projetos de restauração e manutenção para o

CREMA 2ª Etapa já estejam aprovados e não seja viável a adoção das medidas indicadas no subitem

anterior (a.2), previamente ao lançamento dos editais de licitação, consigne nos respectivos editais e

minutas de contrato que tais medidas serão adotadas no prazo de até 90 (noventa) dias após a

emissão das ordens de serviço e, se for a hipótese, serão adotadas as providências necessárias para

reestabelecer o equilíbrio econômico/financeiro dos contratos eventualmente celebrados,

modificando-se as fontes de aquisição dos insumos previstas originalmente no projeto, bem como

alterando-se os respectivos preços dos serviços envolvidos; (item 2.4)

a.4) revise a distribuição das instalações industriais, considerando a possibilidade de adoção

de duas ou mais unidades de produção para cada lote, mediante a confirmação da viabilidade técnica

das ocorrências de materiais para pavimentação (pedreiras e areais) disponíveis nos segmentos

projetados; (item 2.4)

a.5) caso não utilize base e/ou sub-base estabilizada granulometricamente com insumos

provenientes das jazidas identificadas na região, demonstre a inviabilidade técnica e/ou econômica da

adoção dessa alternativa; (item 2.4)

a.6) revise os quantitativos de fresagem contínua e descontínua nos projetos eventualmente já

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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aprovados, tomando por base a metodologia proposta pela Coordenação de Projetos de

Infraestrutura, consubstanciada na sua Nota Técnica nº 34/2011; (item 2.4)

a.7) se abstenha de licitar obras no âmbito do CREMA 2ª Etapa (contratos de restauração e

manutenção) com base em projetos fundamentados em levantamentos de campo das condições

estruturais do pavimento realizados há mais de dois anos ou que não tenham considerado as

contribuições relativas às eventuais intervenções realizadas no pavimento após a conclusão dos

levantamentos de campo efetuados originalmente para alicerçar o desenvolvimento dos projetos;

(item 2.5)

a.8) reavalie, após inspeção em campo, antes da publicação dos editais de licitação, a

ocorrência de eventual evolução das trincas (FC1, FC2, FC3 e panelas), de modo que tanto o projeto

quanto o respectivo orçamento base reflitam de modo fidedigno as atuais condições funcionais do

pavimento a ser restaurado; (item 2.5)

a.9) adote como data base dos orçamentos das obras do programa CREMA 2ª Etapa o Sicro 2

a partir de janeiro/2011, inclusive; (item 2.5)

a.10) corrija as composições de custos unitários relativas aos serviços de reciclagem de

pavimentos, utilizando 82 m³/h de produtividade da recicladora e 0,1000 un/m³ de consumo de bits de

corte, até que sejam realizados novos e conclusivos estudos sobre o assunto; (item 2.5)

a.11) adote os custos de transporte de materiais betuminosos decorrentes da aplicação das

novas equações tarifárias definidas conforme Acórdão 3402/2010-TCU. (item 2.5)

a.12) promova, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contados da ciência, estudos e

pesquisas com a participação do seu Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR), com o objetivo de:

a.12.1) estabelecer normatização acerca da diferenciação dos esforços de roçada e de limpeza

dos dispositivos de drenagem de acordo com a as respectivas isocurvas de precipitação (isoietas),

associadas à temperatura e evapotranspiração, ou qualquer outro elemento que melhor reflita o

crescimento das gramíneas e leguminosas; (item 2.4)

a.12.2) estabelecer normatização referente ao dimensionamento dos canteiros de obras e dos

respectivos custos para sua instalação e manutenção, observando que tais custos devem, quando

aplicável, referenciar-se pelo Sinapi, e que as instalações devem corresponder ao estritamente

necessário para a execução de cada obra, podendo para este fim desenvolver canteiros-tipo, em

função dos diversos portes de obras, em que as edificações e seus respectivos custos de manutenção

estejam pré-dimensionados; (item 2.4)

a.12.3) avaliar a adequação dos critérios para a previsão de evolução de trincas e para a

respectiva quantificação de fresagem contínua e descontínua em contratos de obras de restauração e

manutenção (CREMA 2ª Etapa) normatizados por intermédio da Nota Técnica n° 34/2011,

considerando a possibilidade de adaptação de modelos matemáticos existentes ou a concepção de

novos modelos que melhor representem a evolução de trincas entre a data da inspeção em campo e a

data prevista para o início das obras. (item 2.4)

b) dar ciência ao Dnit de que:

b.1) embora o regime de empreitada por preços globais tenha previsão explícita da Lei de

Licitações - e em razão disso não se possa considerá-lo propriamente ilegal - as obras de restauração

e manutenção rodoviária, por suas características, não são as mais indicadas para esse regime de

contratação e que eventuais prejuízos decorrentes de riscos advindos da carência do detalhamento

das medições (no que se refere aos serviços que compõem as soluções por quilômetro), poderão

implicar na responsabilização do corpo dirigente da autarquia; (item 2.2)

b.2) é ilegal a disposição contida no art. 2º da Portaria nº 7/2008 do Ministério dos

Transportes, complementada pela Portaria nº 207/2010 do mesmo órgão), objeto do Capítulo III do

edital padrão do CREMA 2ª etapa, com disposição que veda a realização de aditivos para alteração

qualitativa ou quantitativa das soluções de projeto, em face da contrariedade do dispositivo aos

termos do art. 65 da Lei de Licitações; (item 2.1)

b.3) é ilegal a disposição contida em cláusulas do edital padrão do CREMA 2ª etapa com

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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previsão de visita e de reunião técnicas obrigatórias aos licitantes, com data e hora marcada, em face

dos ideais abrigados no art. 3º, caput, e § 1º, inciso I da Lei nº 8.666/93; (item 2.3)

b.4) é obrigatória a realização de aditivos contratuais nos seguintes casos, em relação não

exaustiva, nos termos dos artigos 65 da Lei nº 8.666/1993 e 37, inciso XXI, da Constituição Federal:

b.4.1) alteração das distâncias médias de transporte para aquisição de insumos ou execução

de serviços, de acordo com a jurisprudência do Tribunal;

b.4.2) modificação no consumo dos insumos asfálticos;

b.4.3) mudança da solução para restauração do pavimento;

b.4.4) diminuição ou aumento do consumo dos insumos nas misturas para estabilização dos

materiais;

b.4.5) substituição, inclusão ou não utilização de jazidas, areais ou pedreiras;

b.4.6) alteração da forma de aquisição de brita e areia, de produzidas para comerciais, ou

vice-versa; (item 2.1)

c) determinar à Secob-2 que:

c.1) monitore o cumprimento do item ‘a’ da presente proposta;

c.2) encaminhe cópia da decisão que vier a ser tomada, acompanhada do relatório e do voto

que a fundamentarem ao Dnit, ao Ministério dos Transportes e à Comissão Mista de Planos,

Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional.”

12. O Titular da Unidade Técnica concorda com o encaminhamento acima (peça 13). Ressalta que

o Dnit, ao tomar conhecimento das impropriedades/irregularidades relativas a projeto básico/executivo

sub ou superdimensionado e projeto básico deficiente ou desatualizado, acolheu as análises

empreendidas e reconheceu a necessidade de promover a alteração dos projetos e a atualização de

preços. Mesmo assim, com o fim de elidir tais ocorrências, o Secretário da Secob-2 concorda com que

as soluções oferecidas pelo Dnit sejam ratificadas mediante a expedição de determinações à autarquia,

conforme proposto pela equipe de fiscalização.

13. Quanto ao achado concernente à restrição à competitividade da licitação decorrente de critérios

inadequados de habilitação e julgamento, o dirigente assinala que as determinações sugeridas

encontram amparo em farta jurisprudência do Tribunal.

14. Por fim, no que se refere à existência de cláusulas contratuais em desacordo com preceitos

legais e à adoção de regime execução contratual inadequado ou antieconômico, embora também

concorde com as análises empreendidas, propõe que, preliminarmente à determinação de mérito,

considerando que o encaminhamento proposto visa ao afastamento de preceitos contidos na Portaria n°

7/2010, do Ministério dos Transportes, sejam ouvidos o Dnit e o Ministério dos Transportes sobre tais

matérias.

É o relatório.

VOTO

Trata-se de auditoria no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit, com o

objetivo de avaliar a conformidade de projetos, editais, atos e contratos concernentes ao Programa de

Restauração, Manutenção e Conservação de Rodovias CREMA (Programa de Contratação,

Restauração, e Manutenção por Resultados de Rodovia Federais Pavimentadas) 2ª etapa.

2. A realização da fiscalização foi determinada no Acórdão 707/2011-TCU-Plenário, levando-se

em conta o volume de recursos envolvidos no programa, da ordem de R$ 16 bilhões, bem como

inconsistências encontradas no edital das obras de restauração da BR-364/RO, que seguiu o modelo a

ser adotado no CREMA 2ª Etapa.

3. O programa prevê a recuperação e conservação de 32.000km de rodovias (extensão que

corresponde a mais de 40% da malha federal), divididos em 43 segmentos, dos quais 13 já contam com

projeto aprovado, sendo iminente o início dos respectivos certames licitatórios.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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4. As contratações no modelo CREMA preveem uma intervenção de tapa-buracos logo no início

do contrato, com vistas à recuperação funcional do pavimento que dê ao usuário condições mínimas de

trafegabilidade, segurança e conforto. Seguem-se à intervenção inicial, trabalhos de restauração, com

operações baseadas em catálogo de soluções pré-definidas, de modo a dotar a rodovia de estrutura

capaz de suportar o tráfego por toda a sua vida útil (geralmente dez anos). Os serviços de manutenção

da pista e dos acostamentos, bem como a conservação da faixa de domínio, dos elementos de

drenagem e de sinalização estendem-se por todo o contrato (cinco anos).

5. As medições e os pagamentos das obras de restauração são feitos por quilômetro de faixa

recuperado, somente sendo aceito o corpo estradal que atenda a parâmetros pré-estabelecidos.

6. Quanto aos serviços de manutenção e conservação (roçada, limpeza de bueiros, recuperação de

elementos de drenagem, etc), os pagamentos são realizados por meio de um valor fixo mensal,

vinculados à condição funcional e estrutural da via.

7. Foram apontados os seguintes achados no relatório de auditoria:

7.1. cláusulas contratuais em desacordo com os preceitos da Lei nº 8.666/93;

7.2. adoção de regime de execução contratual inadequado ou antieconômico;

7.3. restrição à competitividade da licitação decorrente de critérios inadequados de habilitação e

julgamento;

7.4. projeto básico/executivo sub ou superdimensionado; e

7.5. projeto básico deficiente ou desatualizado.

8. No curso da fiscalização, o Dnit, ao tomar conhecimento dos achados discriminados nos itens

7.4 e 7.5 acima, acolheu as análises empreendidas e reconheceu a necessidade de promover a alteração

dos projetos e a atualização de preços, na forma proposta pela Secob-2. Não obstante, é recomendável

a formalização de determinações sobre os temas, até para ratificar as soluções oferecidas pela

autarquia para os problemas encontrados.

9. Com relação aos achados dos itens 7.1 e 7.2, o Secretário da Secob-2 manifestou-se no sentido

de ouvir, preliminarmente à determinação de mérito, o Dnit e o Ministério dos Transportes,

considerando que o encaminhamento proposto visa ao afastamento de preceitos contidos na Portaria nº

7/2010, do referido Ministério. No entanto, posteriormente ao seu despacho foi realizada reunião

técnica, que contou com a participação de dirigentes da Secob-2 e do Dnit, na qual os representantes

da autarquia manifestaram a intenção de promover alterações do edital padrão do programa, com vistas

à retirada de cláusula vedando a formalização de termos aditivos aos contratos (item 7.1) e à maior

clareza do regime de execução contratual (item 7.2). Tendo isso em vista, parece-me oportuno o

encaminhamento, desde logo, das determinações propostas relativamente a esses achados.

10 A propósito do regime de execução contratual, na mencionada reunião houve concordância

quanto à inadequação da caracterização do regime como de preço global feita no edital, já que,

segundo os técnicos do Dnit, embora o modelo do programa preveja medição das obras de restauração

por quilômetro de faixa concluída e executada, os serviços constituintes da solução por quilômetro

serão devidamente detalhados no edital, viabilizando a identificação das unidades de serviços

realizadas e, consequentemente, a formalização de aditivos contratuais que reflitam adequadamente

alterações quantitativas e qualitativas das soluções de projeto, nos moldes do regime de empreitada por

preço unitário. Desse modo, e uma vez que, nas palavras da Unidade Técnica, “seria possível, mesmo

em uma empreitada por preço unitário, que [nas obras de restauração] se medisse os serviços por

quilômetro de faixa concluída e executada, desde que devidamente detalhados os serviços

constituintes desta solução por quilômetro”, convém ratificar, por meio de determinação, a

providência proposta pelo Dnit sobre a matéria.

11. Por fim, verifico a necessidade de se adequar o encaminhamento do relatório de fiscalização à

forma da Portaria Segecex nº 13/2011, já que ocorrências que ensejaram o endereçamento de

determinação à unidade jurisdicionada acabaram sendo também objeto de proposta de ciência, em

desacordo com o art. 4º da mencionada portaria.

Ante o exposto, acolhendo no essencial a proposta da Unidade Técnica, voto por que o

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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Tribunal adote o acórdão que ora submeto a este Plenário.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 7 de dezembro de

2011.

JOSÉ MÚCIO MONTEIRO

Relator

TC-008.979/2011-1

DECLARAÇÃO DE VOTO

Gostaria de me congratular com o Relator e a com a equipe técnica da Secob-2 pelo

relevante trabalho ora trazido à consideração do Plenário, que se configura em uma atuação preventiva

na área de restauração, manutenção e conservação das rodovias federais.

O gigantismo do programa governamental ora analisado prevê a melhoria de 60% da

malha rodoviária brasileira, estimado em R$ 16 bilhões. Com certeza, o impacto da ação de controle

relatada por Sua Excelência redundará na redução significativa dos custos, com benefícios reais na

ordem de bilhões de reais, durante os cinco anos previstos de consecução do CREMA 2ª Etapa.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 7 de dezembro de 2011.

VALMIR CAMPELO

Ministro

ACÓRDÃO Nº 3260/2011 – TCU – Plenário

1. Processo nº TC-008.979/2011-1

2. Grupo I – Classe V – Relatório de Auditoria

3. Interessado: Tribunal de Contas da União

4. Unidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit

5. Relator: Ministro José Múcio Monteiro

6. Representante do Ministério Público: não atuou

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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7. Unidade Técnica: Secob-2

8. Advogados constituídos nos autos: não há

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de relatório de auditoria no Departamento Nacional

de Infraestrutura de Transportes - Dnit, com o objetivo de avaliar a conformidade de projetos, editais,

atos e contratos concernentes ao programa de restauração, manutenção e conservação de rodovias

CREMA (Programa de Contratação, Restauração, e Manutenção por Resultados de Rodovia Federais

Pavimentadas) 2ª etapa.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante

as razões expostas pelo Relator, com fundamento no art. 251, caput, do Regimento Interno do

Tribunal, em:

9.1. determinar ao Dnit que:

9.1.1. se abstenha de incluir nos editais das licitações para obras de manutenção rodoviária

objeto do programa CREMA 2ª etapa, sob pena da nulidade do certame licitatório:

a) cláusulas que impeçam a formalização de termos aditivos aos contratos para alteração

quantitativa ou qualitativa das soluções de projeto;

b) cláusulas com previsão de visita e de reunião técnicas obrigatórias aos licitantes, com data e

hora marcada, que não resguardam os termos do art. 3º, caput, § 1º, incisos I e II, da Lei nº 8.666/93;

c) cláusulas que vedem o somatório de atestados para qualificação técnica dos licitantes, em

razão do que prescreve o art. 30, § 5º, da Lei nº 8.666/93 e o disposto nos itens 9.7.1 e 9.7.2 do

Acórdão 2.150/2008-P;

9.1.2. realize ensaios, cálculos e laudos conclusivos acerca da viabilidade técnico/econômica da

utilização de pedreiras, areais e cascalheiras circunvizinhas aos trechos de realização das obras e que

não possuam licenciamento ou lavra concedida, identificados no site do Departamento Nacional de

Produção Mineral, mas possam ser objeto de prévio bloqueio das jazidas junto ao DNPM, ou que

possuam menor distância de transporte;

9.1.3. caso existam segmentos rodoviários cujos projetos de restauração e manutenção para o

CREMA 2ª Etapa já estejam aprovados e não seja viável a adoção das medidas indicadas no subitem

anterior (9.1.2), previamente ao lançamento dos editais de licitação, consigne nos respectivos editais e

minutas de contrato que tais medidas serão adotadas no prazo de até 90 (noventa) dias após a emissão

das ordens de serviço e, se for a hipótese, serão adotadas as providências necessárias para reestabelecer

o equilíbrio econômico/financeiro dos contratos eventualmente celebrados, modificando-se as fontes

de aquisição dos insumos previstas originalmente no projeto, bem como alterando-se os respectivos

preços dos serviços envolvidos;

9.1.4. revise a distribuição das instalações industriais, considerando a possibilidade de adoção

de duas ou mais unidades de produção para cada lote, mediante a confirmação da viabilidade técnica

das ocorrências de materiais para pavimentação (pedreiras e areais) disponíveis nos segmentos

projetados;

9.1.5. caso não utilize base e/ou sub-base estabilizada granulometricamente com insumos

provenientes das jazidas identificadas na região, demonstre a inviabilidade técnica e/ou econômica da

adoção dessa alternativa;

9.1.6. revise os quantitativos de fresagem contínua e descontínua nos projetos eventualmente já

aprovados, tomando por base a metodologia proposta pela Coordenação de Projetos de Infraestrutura,

consubstanciada na sua Nota Técnica nº 34/2011;

9.1.7. se abstenha de licitar obras no âmbito do CREMA 2ª Etapa (contratos de restauração e

manutenção) com base em projetos fundamentados em levantamentos de campo das condições

estruturais do pavimento realizados há mais de dois anos ou que não tenham considerado as

contribuições relativas às eventuais intervenções realizadas no pavimento após a conclusão dos

levantamentos de campo efetuados originalmente para alicerçar o desenvolvimento dos projetos;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

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9.1.8. reavalie, após inspeção em campo, antes da publicação dos editais de licitação, a

ocorrência de eventual evolução das trincas (FC1, FC2, FC3 e panelas), de modo que tanto o projeto

quanto o respectivo orçamento base reflitam de modo fidedigno as atuais condições funcionais do

pavimento a ser restaurado;

9.1.9. adote como data base dos orçamentos das obras do programa CREMA 2ª Etapa o Sicro 2

a partir de janeiro/2011, inclusive;

9.1.10. corrija as composições de custos unitários relativas aos serviços de reciclagem de

pavimentos, utilizando 82 m³/h de produtividade da recicladora e 0,1000 un/m³ de consumo de bits de

corte, até que sejam realizados novos e conclusivos estudos sobre o assunto;

9.1.11. adote os custos de transporte de materiais betuminosos decorrentes da aplicação das

novas equações tarifárias definidas conforme Acórdão 3402/2010-TCU;

9.1.12. promova, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contados da ciência, estudos e

pesquisas com a participação do seu Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR), com o objetivo de:

a) estabelecer normatização acerca da diferenciação dos esforços de roçada e de limpeza dos

dispositivos de drenagem de acordo com a as respectivas isocurvas de precipitação (isoietas),

associadas à temperatura e evapotranspiração, ou qualquer outro elemento que melhor reflita o

crescimento das gramíneas e leguminosas;

b) estabelecer normatização referente ao dimensionamento dos canteiros de obras e dos

respectivos custos para sua instalação e manutenção, observando que tais custos devem, quando

aplicável, referenciar-se pelo Sinapi, e que as instalações devem corresponder ao estritamente

necessário para a execução de cada obra, podendo para este fim desenvolver canteiros-tipo, em função

dos diversos portes de obras, em que as edificações e seus respectivos custos de manutenção estejam

pré-dimensionados;

c) avaliar a adequação dos critérios para a previsão de evolução de trincas e para a respectiva

quantificação de fresagem contínua e descontínua em contratos de obras de restauração e manutenção

(CREMA 2ª Etapa) normatizados por intermédio da Nota Técnica n° 34/2011, considerando a

possibilidade de adaptação de modelos matemáticos existentes ou a concepção de novos modelos que

melhor representem a evolução de trincas entre a data da inspeção em campo e a data prevista para o

início das obras;

9.1.13. nos editais das licitações para obras de manutenção rodoviária objeto do programa

CREMA 2ª etapa, detalhe os serviços constituintes da solução por quilômetro das obras de restauração,

viabilizando a identificação das unidades de serviços realizadas e a formalização de aditivos

contratuais que reflitam adequadamente alterações quantitativas e qualitativas das soluções de projeto;

9.2. dar ciência ao Dnit de que:

9.2.1. embora o regime de empreitada por preços globais tenha previsão explícita da Lei de

Licitações e, em razão disso, não se possa considerá-lo propriamente ilegal, as obras de restauração e

manutenção rodoviária, por suas características, e considerando o histórico de desalinhamento dos

projetos ao art. 47 da Lei nº 8.666/93, não são indicadas para esse regime de contratação;

9.2.2. nos seguintes casos, em relação não exaustiva, pode-se fazer necessária a realização de

aditivos contratuais, nos termos dos artigos 65 da Lei nº 8.666/1993 e 37, inciso XXI, da Constituição

Federal:

a) alteração das distâncias médias de transporte para aquisição de insumos ou execução de

serviços, de acordo com a jurisprudência do Tribunal;

b) modificação no consumo dos insumos asfálticos;

c) mudança da solução para restauração do pavimento;

d) diminuição ou aumento do consumo dos insumos nas misturas para estabilização dos

materiais;

e) substituição, inclusão ou não utilização de jazidas, areais ou pedreiras;

f) alteração da forma de aquisição de brita e areia, de produzidas para comerciais, ou vice-

versa;

Page 29: Acordão TCU_3260_54_11_P

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 008.979/2011-1

29

9.3. determinar à Secob-2 que:

9.3.1. monitore o cumprimento do item 9.1. deste acórdão;

9.3.2. encaminhe cópia deste acórdão, acompanhado do relatório e do voto que o fundamentam,

ao Dnit, ao Ministério dos Transportes e à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e

Fiscalização do Congresso Nacional.

10. Ata n° 54/2011 – Plenário.

11. Data da Sessão: 7/12/2011 – Ordinária.

12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-3260-54/11-P.

13. Especificação do quorum:

13.1. Ministros presentes: Benjamin Zymler (Presidente), Valmir Campelo, Walton Alencar

Rodrigues, Augusto Nardes, Raimundo Carreiro, José Jorge e José Múcio Monteiro (Relator).

13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho e Weder de

Oliveira.

(Assinado Eletronicamente)

BENJAMIN ZYMLER

(Assinado Eletronicamente)

JOSÉ MÚCIO MONTEIRO

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)

CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA

Procuradora-Geral, em exercício