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225 Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 31 (61): 225-288, Jan./Jun.2000 ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO TRT/AP-5119/99 Publ. no “MG” de 20.05.2000 AGRAVANTES: GILKA DE MENEZES E OUTROS AGRAVADO: INOCÊNCIO PEREIRA DOS SANTOS EMENTA: AÇÃO ANULATÓRIA. Tendo por fim a desconstituição da arrematação e de outros atos praticados no processo de execução, pode e deve ser tida como incidente da execução, a exemplo do que ocorre com os embargos de terceiro, hoje pacificamente admitidos como tal, conforme se infere do § 2º, do art. 896, da CLT. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decide-se: RELATÓRIO O MM. Juiz Manoel Barbosa da Silva julgou improcedente a ação anulatória de arrematação apresentada por Gilka de Menezes, Ana Paula Menezes Figueiredo, Luiz Carlos de Figueiredo e Maria Sebastiana Dias Figueiredo na reclamatória em que contendem Inocêncio Pereira Santos e Luiz Carlos de Figueiredo. Inconformados, eles interpõem o presente Agravo. Contraminuta às f. 145/169, tendo o ilustrado Ministério Público, através do Dr. Valério Soares Heringer, se manifestado nos termos da Lei Complementar n. 75/93. VOTO Conheço do Apelo, porque próprio, tempestivo e não sujeito a preparo, ressaltando que, por se tratar de ação anulatória visando principalmente à desconstituição da arrematação e de outros atos praticados no processo de execução, a mesma pode e deve ser tida como incidente da execução, a exemplo do que ocorre com os embargos de terceiro, hoje pacificamente admitidos como tal, conforme se infere do § 2º, do art. 896, da CLT. Sendo assim, o recurso cabível da sentença nela proferida é mesmo o Agravo de Petição. Aliás, em que pese ao r. despacho de f. 139, a sentença recorrida classificou-a também como incidente. Entendo, como o fez o juízo de primeiro grau, que as penas de revelia e confissão quanto à matéria de fato nenhuma relevância teriam na espécie dos autos, em face da natureza da matéria neles versada, a demandar interpretação de texto legal e/ou provas documental e pericial, estas diante de aspectos técnicos como o valor das glebas penhoradas e a possibilidade de comportarem cômoda separação do imóvel em condomínio. Mas ainda que assim não fosse, ditas sanções não poderiam ser aplicadas à míngua da advertência aludida no art. 285, do CPC (cf. CPC, art. 232, V, e f. 58/60). A penhora foi realizada no dia 29.03.96, não tendo sido dada ciência ao executado no mesmo dia por não ter ele sido encontrado, consoante certidão do Oficial de Justiça às f. 18v., na qual

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ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

TRT/AP-5119/99Publ. no “MG” de 20.05.2000

AGRAVANTES: GILKA DE MENEZES EOUTROS

AGRAVADO: INOCÊNCIO PEREIRADOS SANTOS

EMENTA: AÇÃO ANULATÓRIA.Tendo por fim a desconstituiçãoda arrematação e de outros atospraticados no processo deexecução, pode e deve sertida como incidente daexecução, a exemplo do queocorre com os embargos deterceiro, hoje pacificamenteadmitidos como tal, conformese infere do § 2º, do art. 896,da CLT.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos, decide-se:

RELATÓRIO

O MM. Juiz Manoel Barbosa daSilva julgou improcedente a açãoanulatória de arrematação apresentadapor Gilka de Menezes, Ana PaulaMenezes Figueiredo, Luiz Carlos deFigueiredo e Maria Sebastiana DiasFigueiredo na reclamatória em quecontendem Inocêncio Pereira Santos eLuiz Carlos de Figueiredo.

Inconformados, eles interpõem opresente Agravo.

Contraminuta às f. 145/169, tendoo ilustrado Ministério Público, através doDr. Valério Soares Heringer, semanifestado nos termos da LeiComplementar n. 75/93.

VOTO

Conheço do Apelo, porquepróprio, tempestivo e não sujeito apreparo, ressaltando que, por se tratarde ação anulatória visandoprincipalmente à desconstituição daarrematação e de outros atos praticadosno processo de execução, a mesmapode e deve ser tida como incidente daexecução, a exemplo do que ocorre comos embargos de terceiro, hojepacificamente admitidos como tal,conforme se infere do § 2º, do art. 896,da CLT. Sendo assim, o recurso cabívelda sentença nela proferida é mesmo oAgravo de Petição. Aliás, em que peseao r. despacho de f. 139, a sentençarecorrida classificou-a também comoincidente.

Entendo, como o fez o juízo deprimeiro grau, que as penas de reveliae confissão quanto à matéria de fatonenhuma relevância teriam na espéciedos autos, em face da natureza damatéria neles versada, a demandarinterpretação de texto legal e/ouprovas documental e pericial, estasdiante de aspectos técnicos como ovalor das glebas penhoradas e apossibilidade de comportarem cômodaseparação do imóvel em condomínio.Mas ainda que assim não fosse, ditassanções não poderiam ser aplicadasà míngua da advertência aludida noart. 285, do CPC (cf. CPC, art. 232, V,e f. 58/60).

A penhora foi realizada no dia29.03.96, não tendo sido dada ciênciaao executado no mesmo dia por não terele sido encontrado, consoante certidãodo Oficial de Justiça às f. 18v., na qual

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fez consignar que, segundo oscondôminos, o executado havia semudado para local ignorado.Posteriormente, em outro endereçoinformado pelo exeqüente (f. 17), deu-se a intimação (f. 19). Observe-se que aconstrição foi averbada no RegistroImobiliário em 13.05.96, como se vê àsf. 13 e 36, tendo, pois, eficácia contraterceiros.

As terras foram à praça no dia17.06.96 e a leilão no dia 05.08.96,tendo havido intimações diretas aoexecutado e também por intermédio deseu procurador (f. 21, 23 e 27/28).Quanto à alegada mudança deendereço, determina o CPC, em seuart. 39, que ao advogado, ou à partequando postular em causa própria,cabe comunicar ao escrivão doprocesso qualquer mudança deendereço, reputando-se válidas asintimações enviadas para o endereçoconstante dos autos. Ora, se oexecutado não se dignou de comunicaras várias mudanças de endereço echegando os seus parentes a informarque ele havia se mudado para localignorado, não se pode, evidentemente,alegar o fato em seu proveito, porexpressa vedação do art. 796, “b”, daCLT.

Quanto aos demais autores dapresente ação, a intimação deles sedeu através dos editais, que é a formade se dar ciência a terceirosinteressados, ressaltando-se, que alémdo devedor, só cabe a intimação diretaao cônjuge (CPC, art. 669, parágrafoúnico), ao credor hipotecário ou aosenhorio direto, que não seja dequalquer modo parte na execução(CPC, art. 698) e ao representante daFazenda Nacional ou da Estadual naexecução de hipoteca de vias férreas

(CPC, art. 699), hipóteses inocorrentesna espécie sob exame, ressaltando-seque as disposições relat ivas noCapítulo II, do Título II, do Livro IV, domesmo Código, são aqui impertinentes,data venia, uma vez que cuidam deprocedimentos especiais de jurisdiçãovoluntária.

Finalmente, em relação àdoação que teria beneficiado uma dasautoras, verifica-se à f. 48 que ali osseus pais, em processo de separaçãojudicial, resolveram promovê-la, masatravés de escritura pública a seroutorgada após quitação de crédito ruraltomado no Banco do Brasil S/A,documento que não se sabe se chegoua ser lavrado, pois aos autos ele nãoveio, sendo certo, contudo, que doregistro imobiliário ele não consta.Mesmo que existisse, embora nãoregistrado, teria de ser oposto no prazodos embargos de terceiro e não a todomomento em ação anulatória ao talantedo interessado.

Isto posto,Conheço do Agravo, mas nego-

lhe provimento.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Quinta Turma,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer do agravo; no mérito, semdivergência, em negar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 25 de abril de2000.

JOSÉ MURILO DE MORAISPresidente ad hoc e Relator

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TRT/AR-364/99Publ. no “MG” de 05.05.2000

AUTOR: JOSÉ VITOR DE PAULARÉU: CELBRÁS INDÚSTRIAS QUÍMICAS

E TEXTEIS S/A

EMENTA: AÇÃO RESCISÓRIA- ART. 485, INCISOS III (DOLOPROCESSUAL OU COLUSÃOEM FRAUDE À LEI) E VI(FALSIDADE DE PROVA) -INVIABILIDADE PALMAR DECARACTERIZAÇÃO DOSSUPOSTOS FÁTICO-JURÍDICOS DERESCINDIBILIDADE DOS VV.ACÓRDÃOS HOSTILIZADOS -IMPROCEDÊNCIA. Havendo,como substrato fático da lideoriginária, a imputação feita aorequerido, nos autos deinquérito judicial paraapuração de falta grave, daautoria de escritos injuriososcontra superiora hierárquica,devidamente comprovada por3 (três) laudos grafotécnicossucessivos, que serviram delastro à inabalável convicçãoda procedência da denúnciajudicial e conseqüente rupturasem ônus do contratoindividual de trabalho, apósresguardado o acesso dorequerido à produção de provaampla, com indiscutívelrespeito ao princípioconstitucional do contraditório,há inviabilidade palmar decaracterização dos supostosfático-jurídicos darescindibilidade dos vv.acórdãos hostilizados, se apretensão vestibular vem

calcada nos incisos III e VI, doart. 485, do CPC. A primeiraparte do inciso III, do dispositivoprocessual invocado, alude aodolo processual, consistenteem empregar meios astuciosose atentatórios aos deveres delealdade e boa-fé que orientamo processo, e, a partir dessasincursões maliciosas, induzir aerro o magistrado para se obterum benefício processual, comouma sentença favorável, porexemplo, que pelas viasnormais não seria alcançada.Ainda que se possa enquadraraqui o dolo pré-processualalegado pelo autor, consistentena suposição de que a ré teriaatuado temerariamente nacoleta de provas periciaisutilizadas no inquérito paraapuração de falta grave,cumpria ao requerente provarcom absoluta propriedade asalegações que expendeu naexordial. E nada há nos autosque dê color a tal argumento,eis que sequer se dignou oautor a comparecer aoprocesso após o ajuizamentoda ação, passividadeprocessual apta a corporificariniludível abandono deinstância. Por outro lado, secolusão entre as partes emfraude à lei é o acordo, ouconcordância recíproca, entreas partes para que, com oprocesso, se consiga o que alei não permite, o que tem porbase a simulação, ou outro atoque fraude a lei, aincompossibilidade jurídica éainda mais patente, em face da

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indiscutível juridicidade dapretensão deduzida pela ré(dissolução judicial do vínculoempregatício de trabalhadorprotegido pela estabilidade),tudo isso sem olvidar que, se asentença rescindenda resultoude colusão das partes, sendoco-partícipe o autor, o que soaa extremada teratogeniajurídica, o legitimado ativo àação rescisória é o MinistérioPúblico, ex vi do disposto noart. 487, III, “b”, do CPC. Açãorescisória que se julgaimprocedente.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de AÇÃO RESCISÓRIA,em que figuram como autor JOSÉVITOR DE PAULA e como ré CELBRÁSINDÚSTRIAS QUÍMICAS E TEXTEISS/A.

RELATÓRIO

Trata-se de ação rescisóriainterposta por JOSÉ VITOR DE PAULAem face de CELBRÁS INDÚSTRIASQUÍMICAS E TEXTEIS S/A, objetivandoa desconstituição dos vv. acórdãos TRT-RO-332/95 e ED-14624/95, proferidosnos autos de inquérito para apuração defalta grave, onde o autor figurou comorequerente, que teve sua tramitaçãooriginária perante a MM. JCJ de Poçosde Caldas-MG, tudo com espeque no art.485, itens III e VI, do CPC.

Alega o autor na exordial, emsíntese, que a ré lhe atribuiu a autoriade palavras de baixo calão inscritas naporta do banheiro feminino da empresa,ofensivas à dignidade pessoal de suasuperiora hierárquica, fato que motivoude roldão o oferecimento de queixa-

crime privada perante a Justiça Penal eo ajuizamento de inquérito paraapuração de falta grave; pondera queas perícias técnicas levadas a produzirpela empresa, bem como aquela feitanos autos da reclamação trabalhista,são duvidosas, frutos de conluio paraprejudicar a imagem do autor epossibilitar a dispensa justificada,esvaziando-se assim a sua ostensivaatuação sindical; que não se conformacom a procedência do inquérito judicial,cuja prova técnica contesta, pois reputa-se inocente; que ajuizou medidacautelar de produção antecipada deprova perante a Justiça Comum, quedeclinou pela competência da Justiçado Trabalho, onde objetiva produzirnova perícia tendente a provar suainocência; que optou por exercer deimediato o seu direito de açãorescisória, sem aguardar o resultado daperícia a ser produzida na medidacautelar, em face da decadência,prestes a se consumar; que tendoindicado assistente técnico nomeadonos autos da cautelar inominada, arequerida desapareceu com o corpus

delicti, vale dizer, destruiu a porta demadeira que continha os escritosinjuriosos; asseverando que nos autosda reclamação trabalhista tudo se fezcom falsa prova, falsa perícia e períciaimprópria, o autor acaba porfundamentar a rescisória em dolo daparte vencedora em detrimento da partevencida, ou mesmo em colusão entreas partes, a fim de fraudar a lei e aindaem prova, cuja falsidade tenha sidoapurada em processo criminal ou sejaprovada nos próprios autos darescisória, conforme permissivosestampados nos itens III e VI, do art.485, do CPC; insinua que a ré sabia sero autor inocente e mesmo assim obrou

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seu propósito de denúncia do contratoindividual do trabalho porque queriadesvencilhar-se de um atuante dirigentesindical; pondera que a prova de suainocência está sendo realizada no bojoda ação cautelar preparatória e seráoportunamente carreada ao bojo desteprocessado, onde igualmente requerseja produzida prova pericial, ficandoprejudicada uma delas; requer, a final,seja processada e julgada a presenteação rescisória para, a final, julgadaprocedente, serem desconstituídos osacórdãos rescindendos, proferindo-senovo julgamento para se considerarimprocedente o inquérito judicialintentado; protesta por provas, pelagratuidade de Justiça, atribuindo àcausa o valor de R$1.000,00.

Com a exordial foram carreadosaos autos os documentos de f. 09/125.

A certidão do trânsito em julgadoencontra-se à f. 10 e o instrumento demandato à f. 09 dos autos.

Regularmente citada, a réapresentou defesa, aduzindo, emsíntese, em preliminar, a impossibilidadejurídica do pedido e no mérito aimprocedência da ação, desatendidosque estão, a seu ver, os supostos fático-jurídicos gizados nos dispositivos tidospor violados, devendo o autor sercondenado nas custas do processo.

Com a defesa foram adunados osdocumentos de f. 139/200 e 201/336.

Desnecessárias outras provas,encerrou-se a instrução do feito, tendoa ré oferecido razões finais às f. 245/29.

O parecer da d. ProcuradoriaRegional do Trabalho às f. 251/253 dosautos, da lavra do eminente Procuradordo Trabalho, Dr. Valério S. Heringer, épela improcedência da ação.

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

A ação rescisória intentada étempestiva, ajuizada que foi dentro dobiênio contado do trânsito em julgado dov. acórdão rescindendo, sendo que oautor possui legitimidade ad causam.

Desacolhe-se o pedidoestampado na defesa prévia dedeclaração da impossibilidade jurídica dopedido, por inadequação à espécie dosincisos III e VI, do art. 485, do CPC, econseqüente extinção do processo semjulgamento do mérito, uma vez que,conforme ressalta a d. ProcuradoriaRegional do Trabalho à f. 252, há, emtese, possibilidade jurídica da pretensãode direito deduzida, cabendo examinar-se os argumentos preliminares que a résupõe serem defesas processuais, porocasião da análise do méritopropriamente dito.

Mérito da ação rescisória

O autor não foi feliz ao tentarsubsumir na moldura dos incisos III e VI,do art. 485, do CPC, a sua pretensão dedesconstituição dos vv. acórdãosrescindendos.

O inciso III, do art. 485, do CPC,enfatiza ser rescindível a sentença demérito, transitada em julgado, quando“resultar de dolo da parte vencedora emdetrimento da parte vencida, ou decolusão entre as partes, a fim de fraudara lei.”

O autor em nenhum momentoprocessual cuidou de demonstrar nosautos o propalado dolo ou a famigeradacolusão, figuras jurídicas, aliás, queentram em chaças com os fatosretratados no processado e que deram

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azo à procedência do inquérito judicialde falta grave aforado pela ré contra oautor.

Evidentemente que de colusãoentre as partes não se pode sequercogitar no presente caso, visto que,conforme bem observado pelareclamada à f. 130, é uma das partes queajuiza a presente ação.

Colusão, conforme se colhe dosubstancioso parecer ministerial à f.252, é o “... conluio secreto das partesque, simulando um litígio, visamenganar o magistrado, com intuito deprejudicar terceiro, fraudando, assim, alei, ao conseguir algo por ela proibido”.(DINIZ, Maria Helena. Dicionário, SãoPaulo, Saraiva, 1998, v. 1, p. 651). Oartigo 129, do CPC, também alude acolusão como um ato doloso perpetradopelas partes (autor e réu) em umprocesso judiciário com o objetivo depraticar ato simulado ou conseguir fimproibido por lei.

Com base em tal idéia, comoenfatiza com argúcia a d. ProcuradoriaRegional do Trabalho, já se percebe queos fatos postos como fundamento dopedido não caracterizam a propaladacolusão.

O que de concreto se apurou nosautos é que, tomando conhecimento deque um de seus empregados havialançado escritos indecorosos na porta dobanheiro feminino, atentatórios àdignidade da pessoa da Srª Ilda DellaTesta, Superintendente de seuDepartamento Pessoal, a empresa, oraré, valeu-se dos serviços de um peritografotécnico da Polícia Civil de MinasGerais, Sr. Heron de Paiva Sobral, parapericiar os escritos, máxime quandoforam encontrados novos escritos emfolha de papel no banheiro interno daempresa, manuscritos e apócrifos.

A perícia grafotécnica não tevecomo alvo apenas o reclamante, tantoassim que envolveu todos osempregados que tinham trabalhado noturno em que presuntivamente se derao escrito injurioso, ou seja, a empresaora ré forneceu ao Sr. Perito do Juízodocumentos relativos a 148 empregadosque trabalhavam no dia suspeito.

A perícia grafotécnica emepígrafe concluiu, feito o confronto entreos escritos, que o reclamante foiefetivamente o autor dos escritosinjuriosos.

Ainda insatisfeita e incrédula,dada a posição de destaque que o autorexercia no seio da empresa, inclusive porser detentor de mandato sindical, aempresa encomendou nova perícia,levada a cabo pelo renomado InstitutoBrina Vidal, cujo laudo técnico pericialigualmente concluiu que os escritoslançados na porta do banheiro femininoeram mesmo da lavra do autor dapresente rescisória.

Ajuizado o inquérito judicial paraapuração de falta grave, com a préviasuspensão do empregado suspeito, aquem foi assegurada ampla defesa, umanova perícia grafotécnica levada a cabopelo Sr. Perito do Juízo, a terceira, diga-se, concluiu novamente que o autor erao responsável pelos escritos injuriosos,o que culminou com a sua procedência,ratificada em Segunda Instância, tal acontundência da prova técnica.

Os fatos são novamente trazidosà colação para evidenciar que inexistiuqualquer colusão ou dolo para prejudicaro autor, sendo que o intuito da reclamadafoi exatamente apurar a autoria dosescritos injuriosos e punir o responsável.

Ora, o dolo retratado nodispositivo invocado na exordial nadamais representa do que o dolo

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processual, que é a artimanhaperpetrada com o fito de dificultar ouimpedir a atitude processual da outraparte.

E que dolo teria praticado a ré?Não se sabe, porque na exordial não serelata nenhum procedimento doloso daré contra o autor e nem dos autos constaqualquer prova, por mínima que seja, deque a ré tenha obrado de molde a impedirou dificultar a atuação processual do ex

adverso ou influenciado o juízo domagistrado, de modo que opronunciamento do órgão judicial teriasido diverso, se inocorressem tais vícios.

Neste sentido se pronunciaigualmente o lúcido parecer ministerial,verbis:

“A pretensão rescisória tambémse fundamenta na primeira parte doinciso III, do artigo 485 do CPC: dolo.Segundo sustenta o autor, teria a réatuado temerariamente na coleta dasprovas periciais utilizadas no inquéritopara apuração de falta grave,especialmente no que concerne aosperitos - de credibilidade duvidosa - quecontratou para realizar os exames. Ora,cumpria ao requerente provar comabsoluta propriedade as alegações queexpendeu na inicial. Nos autos não hánada que dê substância a tal argumento,sequer se dignando o autor acomparecer ao processo após oajuizamento da ação.

Não há a menor possibilidade dese acatar a tese de dolo da ré. Ademais,o dolo a que alude o inciso III do artigo485 do CPC é processual - que nãoexistiu na espécie examinada -,consistente em empregar meiosastuciosos e atentatórios aos deveres delealdade e boa-fé que orientam oprocesso, e, a partir dessas incursõesmaliciosas, induzir a erro o magistrado,

obtendo um benefício processual, comouma sentença favorável, por exemplo,que, pelas vias normais não seriaalcançado. Ressalte-se que o v. acórdãofoi prolatado sem mácula formal ou deconvencimento, devendo ser mantidoincólume.” (sic, parecer ministerial à f.254).

O autor maneja ainda a rescisóriacom fulcro no inciso VI, do art. 485, doCPC, que estatui ser rescindível asentença de mérito, trânsita em julgado,quando “se fundar em prova, cujafalsidade tenha sido apurada emprocesso criminal ou seja provada naprópria ação rescisória.”

Melhor sorte não assiste ao autor,data venia.

A lisura do procedimento dareclamada, ora ré, é incontestável, poislastreou-se em dois laudos grafotécnicospara apontar a autoria dos escritosinjuriosos, sendo que a prova técnica acabo do Sr. Perito do Juízo igualmenteconfirmou que o autor lançou os escritosinjuriosos na porta do banheiro femininoda empresa.

Mostra-se risível a pretensão dese tachar de falsos os laudos técnicosque vieram a lume para levantar a autoriados escritos injuriosos, até porque, nosautos do processo no qual foramemitidos, jamais houve qualqueralegação por parte do reclamante - oraautor - de que fossem falsos.

A insinuação feita na exordial nãoimpressiona, pois nada impede quedeterminado perito que atuou na faseextrajudicial possa figurar comoassistente técnico de uma das partes nafase contenciosa, máxime quando nãodeclinado motivo que possa conspurcar-lhe o gabarito e o renome profissional.

O fato de ter sido o reclamanteabsolvido na instância criminal em nada

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altera a gravidade dos fatos que lheforam imputados pela ré no inquéritojudicial e longamente comprovados nainstrução processual, uma vez que odelito apurado no âmbito da queixa-crimeprivada é o de dano patrimonial, ondeassume relevância a imprescindívelprova técnica, evidenciadora do prejuízoexperimentado pela vítima. A ausênciada referida prova técnica, no âmbito daJustiça Penal, em que pese tenhaaproveitado o autor, em nada o beneficiano âmbito da Justiça do Trabalho, ondesua conduta faltosa teve rotulaçãodiversa.

E o que se colhe do acórdão de f.316/318 dos autos é que o autor acaboutendo extinta a sua punibilidade por forçado transcurso do prazo prescricionalinibidor do jus persequendi in iudicio.

O fato não se entrelaça com osmotivos que propiciaram a denúncia docontrato individual de trabalho por práticade falta grave, que se calcaram em atode improbidade, incontinência deconduta ou mau procedimento e atolesivo da honra ou da boa fama ouofensas físicas praticadas contra oempregador e superiores hierárquicos,isso sem falar na peculiar gravidade quetais fatos possuem numa e noutrainstância e na independência com queambas atuam no conhecimento,processamento e julgamento dos litígiosque lhe são afetos.

Neste contexto, vale a penanovamente buscar subsídios no brilhanteparecer ministerial de f. 253 dos autos,onde esclarece a d. Procuradoria que oautor também funda a sua súplicarescisória no inciso VI, do art. 485, doCPC, que autoriza a rescisão porfalsidade da prova, desde que a falsidadetenha sido apurada em processo criminalou na própria ação rescisória.

Data venia, como enfatiza oMinistério Público do Trabalho, “... o queobjetiva o autor é mesmo a realizaçãode nova perícia, contrária à primeira. Mastraveste seu objetivo tentando convencerque as perícias realizadas na faseinstrutória são falsas. Todavia, nãoapresentou nenhum elementoconcludente que respaldasse arealização do exame solicitado. Na inicialo que se vê são alegações de deficiênciatécnica e falta de credibilidade dosperitos, mas falsidade mesmo, aquelatipificada no art. 342 do Código Penal,constitui afirmação carente até deelementos indiciários, quanto mais dedemonstração, nos autos, de suaocorrência”. (sic, parecer de f. 254)

O que se tem de concreto,concessa venia, é a falsa impressão doautor de que a sua absolvição nainstância penal serviria de lastro jurídicopara invalidar a prova técnica firme evaliosa produzida na instânciatrabalhista, onde restou apurada a nãomais poder a autoria dos atos faltososque lhe foram imputados, todos aptos àbrusca resilição do contrato individual detrabalho por decisão judicial, pois quepela sua gravidade impunham eimpuseram sério abalo no substratofiduciário da relação de emprego.

Em suma, os fatos narrados napeça vestibular não se subsumem namoldura dos incisos III e VI, do art. 485,do CPC, o que leva à insubsistência dapretensão de direito deduzida.

Em face do exposto, conheço daação rescisória e, no mérito, julgo-aimprocedente, devendo o autor arcarcom o pagamento das custasprocessuais, no importe de R$20,00(vinte reais), calculadas sobreR$1.000,00(hum mil reais), valoratribuído à causa.

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Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua 2ª Seçãode Dissídios Individuais, por maioria devotos, desacolheu a argüição deimpossibilidade jurídica do pedido,argüida na defesa, e conheceu da açãorescisória, vencidos parcialmente osEx.mos Juízes Antônio FernandoGuimarães e Bolívar Viégas Peixoto quenão conheciam da ação rescisória comsuporte na alegação de colusão; nomérito, sem divergência, julgou-aimprocedente. Custas, pelo autor, noimporte de R$20,00 (vinte reais),calculadas sobre R$1.000,00 (hum milreais), valor atribuído à causa.

Belo Horizonte, 13 de abril de2000.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente

JÚLIO BERNARDO DO CARMORelator

TRT/AR-70/99Publ. no “MG” de 18.02.2000

AUTOR: MUNICÍPIO DE BELOHORIZONTE

RÉUS: LUIZ FERNANDO BRACARENSEDE ALMEIDA E OUTROS

EMENTA: AÇÃO RESCISÓRIA- DECADÊNCIA - INÍCIO DACONTAGEM DO PRAZO -RECURSO INTEMPESTIVO -EFEITOS. A interposição dequalquer recurso fora do prazolegal encontra uma situaçãojurídica já consolidada e

irreversível que é a coisajulgada, não a alterando paraqualquer efeito legal.

Não é a declaração daintempestividade do recursono acórdão que o examina enão conhece que faz a coisajulgada e dá início ao prazo dedecadência para a açãorescisória. Ao contrário, oconteúdo desse acórdão é deque o recurso não pode serconhecido, porque o trânsitoem julgado tornou a sentençarecorrida imutável e infensa aqualquer reexame. A hipótesenão é a do Enunciado 100-TST,inaplicável nesse casoespecífico, mas a dos arts. 183e 467-CPC. O prazo para a açãorescisória conta-se do trânsitoda decisão e não do julgamentodo recurso intempestivo.

ÓRGÃOS PÚBLICOS -PRAZO - MEDIDA PROVISÓRIA1.577/97 - ALCANCE. A MedidaProvisória 1.577/97, em suasdiversas reedições, altera oprazo para propositura da açãorescisória pelos órgãospúblicos. Em interpretaçãosistemática e restritiva,considerando tratar-se deprivilégio, concluo que o prazodiferente e elástico vale apenaspara as ações reguladas nasleis sob modificação. Versa amesma sobre matériaespecífica e limitada a umcampo bem preciso deatuação, pois é norma jurídicaeditada para regular apenasmatéria de desapropriações.Assim, a menção a prazo parapropositura de ação rescisória,

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dentro de uma lei que regulaminuciosamente e só aspectosdas desapropriações, está sereferindo apenas ao prazo paraa ação rescisória de processosde desapropriações, que sãoos únicos que esta normaanômala trata. Não aos prazosgerais para as açõesrescisórias em geral. Somentequando, a partir de umareedição, foi modificado otexto, para incluir alteraçãoespecífica no CPC, na parte dosprazos para esta ação(rescisória), que os entespúblicos deixaram de ter 4anos de prazo para rescindirapenas sentenças dedesapropriações e ganharam aprerrogativa em todas asdemais. O que, por fim, tornou-se lei.

E, mesmo considerandoa interpretação de que seuartigo 4º teria efeito geral, paratodas as ações rescisórias, nãopoderia ser observada no casoconcreto, pois as normasnovas que aumentam prazosnão interferem naqueles que jáse esgotaram e correram porinteiro antes disso.

Ação rescisória extinta,à decadência.

Vistos, relatados e discutidos osautos em destaque, DECIDE-SE:

O Município de Belo Horizontepropõe ação rescisória tendo como réus29 servidores, em litisconsórcio,capitaneada a autuação por LuizFernando Bracarense de Almeida, todosnominados e qualificados na petiçãoinicial.

Ataca a decisão constante do r.acórdão TRT-1ª T. - RO-12.650/94 (f.283).

Expõe que esses moveram açãotrabalhista, alegando que a forma decálculos dos seus vencimentos foraalterada no decorrer dos anos.Mostrando acordo judicial firmado entreo Município e seus empregados,obrigando-se a adotar o valor de nívelXIII da tabela de salários como dividendoe o índice 81 como divisor, alegaram que,com o advento de novas leis salariais,ocorreram mudanças nos cálculos,prejudiciais. A improcedência da açãoem primeiro grau levou-os ao recursoordinário, em cuja sede reverteu-se asituação, com a procedência.

Invoca os incisos IV, V e IX, doart. 485-CPC.

Diz que do acordo judicialconstou apenas que seria observado omaior nível superior da tabela para seencontrar o dividendo. A promulgação denova lei, depois, para os servidoresburocratas, não professores, não poderiaser usada para cálculos, por se tratar decategoria distinta da destes empregados.

Dá por violados os arts. 37-II-CFe 471-I-CPC.

E sustenta que houve erro defato, quando se entendeu piso deremuneração como divisor para salário-aula, enquanto o acordo fala em nívelda tabela.

Em defesa, uma daslitisconsortes alega, singelamente, aimprocedência da ação por estar diantede situação de absoluta legalidade (f.388). Outros, por procurador distinto,acrescem ao mérito preliminares dedecadência (porque a questãofundamental da lide estaria ligada aoacordo homologado em juízo há mais de17 anos) e impossibilidade jurídica do

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pedido (porque se estaria buscandorevisão de provas - f. 396).

A d. PRT opina pela rejeição daspreliminares e improcedência da ação.

É o feito, em síntese.

DECISÃO

1.

Conhecimento. Como coloca compropriedade o eminente procurador JoséDiamir da Costa, “... presentes todas ascondições da ação, qual a possibilidadejurídica do pedido, a legitimidade daspartes e o interesse de agir”. Estando oprocesso regular, sem vícios ounulidades. Conheço.

2.

2.1. Decadência argüida nadefesa. Mal formulada, d.v., uma vez quenão se pretende desconstituir asentença, antiga de quase duasdécadas, que homologou o acordo, maso acórdão que, compondo conflitosurgido na sua esteira, em matéria detrato sucessivo, decidiu sobre questãomais atual.

Rejeito a preliminar dedecadência, pelo fundamento abordadona defesa.

2.2. Decadência que arguo deofício. Pois, embora afastada pelofundamento anterior, cabe sempreverificar se a ação vem ou não no prazolegal.

Para a verificação, colhe-se dosautos, dando cronologia e organicidadeaos fatos inusuais ocorridos neles:

O r. acórdão rescindendo foipublicado em 12.05.95 (f. 290).

Ambas as partes interpuseram

embargos de declaração. Nãoconhecidos os do Município, porintempestivos e parcialmente providos osdos professores, com publicação em06.10.95 (f. 300/1). O prazo de trânsitoda decisão foi interrompido, por força dosembargos dos professores.

O Município embargou de novo,defendendo a tempestividade dos seusembargos anteriores, pedindo que elesfossem julgados (f. 301). Nãoconhecidos, por incabíveis (f. 309),publicação em 12.01.96 (f. 310). Otrânsito permaneceu interrompido.

Novos embargos, discutindo quea hipótese seria de conhecimento enegação de provimento e não de nãoconhecimento, que implicaria - naopinião do Embargante - na nãosuspensão do prazo recursal (f. 311).Não conhecidos, por intempestivos (f.316), com publicação em 22.03.96 (f.317).

Aqui o processo sofreu umincidente, não sanado de pronto, que lhedeu uma guinada, cujo exame énecessário à compreensão da situaçãojurídica gerada, para efeito de trânsitoem julgado.

Pelo documento de f. 321,percebe-se que ocorreu erro técnico napublicação do acórdão no órgão oficial,com visível truncagem quanto a doisacórdãos distintos, que restaramfundidos num só, constando númerodeste processo e nomes dos litigantes,mas também o nome da UFMG, ré nooutro acórdão, com ementa desse, nãosaindo, por exclusão na truncagem, aementa do presente processo.

Os litisconsortes, numa inusitadae incompreensível manifestação,opuseram embargos de declaração,afirmando - não se atina por que - quelitigavam era contra a Universidade

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Federal de Minas Gerais/UFMG e queda publicação constara o Municípiocomo integrante da lide, “quando de fato,isto não ocorre” (f. 318). Pedindosanamento da contradição. Quando, semqualquer dúvida, a ação vinha dirigidacontra o Município desde a petição inicial(nesta, chamado de Prefeitura).

O Município também embargouinformando que, sob o número do seuprocesso e nomes corretos das partes,publicara-se ementa estranha à lide,relativa a processo outro, da UFMG.Pedindo republicação, correta (f. 319).

Apesar da evidência do erro, a d.Turma não conheceu dos embargos doMunicípio, por intempestivos e doslitisconsortes, porque - diz o texto defundamentação - “não se vislumbra oequívoco apontado na ementa” ou - dizo dispositivo - “por intempestivo” (f. 325).Publicação em 17.05.96 (f. 326).

Retornando os litisconsortes,agora corrigindo seu equívoco anteriore explicando detalhadamente atruncagem ocorrida na publicação (f.327). Embargos providos, mandando-serepublicar o acórdão (f. 334). Publicadoem 19.07.96 (f. 335).

A Secretaria da Turma, em vezde republicar o acórdão truncado,republicou o que mandava republicá-lo(f. 336). Após o que, certificou o trânsitoem julgado, à falta de recursos (f. 336v).Baixados os autos e iniciada a execução,o Município peticiona à juíza, mostrandoque não ocorrera a republicaçãoordenada (f. 342). Esta remete os autosà d. Turma. Há certidão de que arepublicação foi feita em 31.10.96 (f.347).

Recurso de revista do Município,não recebido (f. 380). Acórdão publicadoem 13.03.97 (f. 380v). Sem recurso,expirado o prazo em dobro para este em

31.03.97, face aos feriados da SemanaSanta.

A presente ação rescisória é de30.03.99.

2.3. Em resumo, pois, no dia22.03.96 publicou-se acórdão nãoconhecendo dos embargos dedeclaração, por intempestivos. Daí emdiante, tudo o mais teve o objetivo decorrigir esta publicação, truncada. Equando, enfim, corrigida, tentou-se umrecurso de revista, discutindo nulidadepor negativa de prestação jurisdicionalnos embargos e mérito. Não recebida.

Ao ser republicada, corretamente,em 10/96, a decisão que não conheciados embargos de declaração porintempestivos, esta republicaçãoremeteu à situação pretérita e deitouefeitos jurídicos nela.

2.4. Assim, publicada a decisãodos segundos embargos de declaraçãodo Município no dia 12.01.96 e nãoconhecidos os terceiros embargos porintempestivos, situação que perdurou eprevaleceu, a final, apesar de todo o“imbróglio” que se seguiu, temos, comoresultado jurídico, que estes terceirosembargos não suspenderam prazorecursal algum, pois este é o resultadodos embargos intempestivos, o de nãointerromperem prazos.

2.5. O que tem comoconseqüência que a decisão transitouem julgado efetivamente no dia 30.01.96,décimo sexto dia após a publicação doacórdão relativo aos segundosembargos de declaração, prazo que nãofoi suspenso pela interposiçãointempestiva dos terceiros embargos.

2.6. Matéria, de resto, recorrente

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nesta Seção. Sendo da suajurisprudência interna que a interposiçãode recurso intempestivamente nãosuspende, interrompe ou impede oimediato trânsito em julgado da decisão.

Nesse sentido, há o acórdão,igualmente por mim relatado:

“Ato processual havidocomo inexistente não produzqualquer efeito processual,inclusive quanto a prazos etrânsito em julgado. Da mesmaforma, o recurso intempestivo, eassim desde logo declarado, nãogera efeito de interromper o efeitodo trânsito em julgado. O agravode instrumento, que atacouapenas a questão daintempestividade da revista, foijulgado improcedente, ratificandoo retrorealçado: que não foramesmo interposto recurso noprazo legal” (TRT-AR-307/95,pub. no DJMG 16.04.96).

Na fundamentação doacórdão TRT-AR-631/95, quetambém relatei, ficou fixado oentendimento, sobre o art. 183-CPC e o Enunciado 100-TST, deque:

“... consagra ele, afinadocom a definição da coisa julgadaadotada pelo Código nacional,que, em havendo recursos contraas decisões, o prazo para a açãorescisória conta-se da últimadecisão proferida na causa, demérito ou não. Com isso, esgotousabiamente uma linha dediscussão que prolongava aslides rescisórias. Enunciado,porém, que há de ser entendidoe aplicado dentro do seu exatocontexto gramatical e tese

jurídica. E não como panacéiauniversal, o que lhe retiraria todaa integridade, grandeza ecerteza.

Daí que sua inteligênciaestá em sintonia com os arts. 467,471 e 183-CPC, entre outros. Ouseja, conta-se o tempo parapropositura da ação rescisória apartir da última decisão proferidaquanto à questão da lide a serobjeto dessa ação e não da últimadecisão proferida nos autos,quanto a quaisquer das outrasquestões, sobre as quais nãotenha, ainda, se operado apreclusão.

... havendo recurso contraa sentença, mas sendo interpostointempestivamente, nenhumefeito tem ele quanto ao trânsitoem julgado, que, por força de lei,opera-se automaticamente. Nematrai a hipótese do En. 100 emsua hermenêutica mediata,porque o não conhecimento deum recurso, por intempestivo, nãotem o dom de configurarreabertura de prazo para atacara sentença ou de fazer adiar aocorrência do trânsito em julgadopara a data da decisão sobre orecurso intempestivo.

O ato intempestivo figuranos autos porque se honra odireito de petição. Mas nãoproduz nenhum efeito processuale não presta para melhorar asituação do moroso recorrente oubeneficiá-lo em prazos.

Isso porque o manejointempestivo de recurso nãoreabre a discussão sobre questãoda causa não tempestivamenterecorrida; não influi no trânsito em

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julgado desta, que ocorreautomaticamente e independentede declaração judicial e nemprovoca ou tipifica ‘últimadecisão’, para os efeitos da tesesumulada, eis que o nãoconhecer, por intempestivo, nãotem esse efeito, de decisão lato

sensu, seqüencial, daquelaquestão, mas trata-se de umadeclaração de constatação daimpossibilidade de existirjuridicamente e, portanto, deapreciar aquele recurso.

Nenhuma regra jurídica éabsurda ou serve ao absurdo e,portanto, não pode ser interpretadacom essa potencialidade. Assimcomo nenhuma contém comandoque sirva ou se preste amanuseio dialético ou sofismáticopara, através da sua mensagemética e lógica, chegar-se a um fimespúrio ou contrário ao comandonela contido.

É fácil figurar a hipótese:alguém que apenas ‘X’ anosdepois do trânsito em julgado(sendo X qualquer quantidadeacima de 2) desperte sua atençãopara a possibilidade, já extintalegalmente, de ação rescisória.Poderia protocolar um recurso,flagrantemente intempestivo e,com isso, forçar umpronunciamento judicial, de nãorecebimento, para, com aartimanha, reabrir o prazorescisório?

O efeito, fatal eperemptório, da intempestividadeé o mesmo seja de um ou dequantos dias decorrerem.

Não é outra a lição do art.183-CPC:

‘Decorrido o prazo,extingue-se, independentementede declaração judicial, o direito depraticar o ato, ficando salvo,porém, à parte provar que o nãorealizou por justa causa.

§ 1º Reputa-se justacausa o evento imprevisto, alheioà vontade da parte, e que aimpediu de praticar o ato por siou por mandatário.

§ 2º Verificada a justacausa o juiz permitirá à parte aprática do ato no prazo que lheassinar.’

Por isso que, tendo a oraAgravante recorrido fora doprazo, da decisão que pretenderescindir, contei, como manda alei, o prazo de decadência a partirdo trânsito em julgado dessadecisão, automática, pela falta derecurso tempestivo e não dadeclaração judicial vinda mesesdepois, de que o recurso não eraconhecido por intempestivo”(publicada no DJMG de07.02.97).

2.7. Matéria recorrente tambémjunto ao Col. TST:

“O prazo decadencialcomeça a fluir a partir do trânsitoem julgado da última decisãoproferida na causa (Enunciado100/TST). A interposição derecurso intempestivo, quando jáformada a coisa julgada, éincapaz de reabrir qualquerdiscussão acerca da causa,motivo pelo qual não se podedizer que a decisão que declaraa intempestividade seja a ‘últimadecisão proferida na causa’,

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conforme previsto no aludidoverbete sumular.” (TST-RO-AR-24.624/90 - Rel. Min. Hylo Gurgel- DJ 22.05.92 - f. 7280)

“Ação Rescisória.Decadência. Recurso intempestivoda decisão rescindenda. Para seaferir o trânsito em julgado dadecisão rescindenda e, porconseguinte, o biêniodecadencial para a propositura daação, considera-se o último dia doprazo recursal facultado à parteinteressada, se intempestivo orecurso interposto, posto queconsiderado inexistente.” (TST-RO-AR-460.054/98-5 - Rel. Min.Lacerda de Paiva)

2.8. O art. 836-CLT remete aoCPC para o processamento da açãorescisória.

O art. 495 desse fixa em 2 anoso prazo para propositura da ação.

Por ele, o prazo para a presenteação fluiu de 31.01.96 a 30.01.98.

Tendo ocorrido decadência.

2.9. No curso desse prazo, maisexatamente em 11.06.97, foi editada pelaprimeira vez a Medida Provisória n.1.577, mensalmente reeditada, alterandoa redação de artigos da Lei 8.629/93,acrescendo dispositivo à Lei 8.437/92 edando outras providências.

Em seu art. 4º, a MP altera o prazopara propositura da ação rescisória pelosórgãos públicos. O que está assimseqüenciado nas diversas reedições:

MPs 1.577 (1ª) a 1.577-4, de02.10.97: 4 anos para a União, Estados,Distrito Federal, Municípios, autarquias efundações instituídas pelo Poder Público;

1.577-5, de 30.10.97 a 1.577-6 e1.632-7 a 1.632-11, de 09.04.98: 5 anos.

Trata-se, no entanto, de MedidaProvisória específica e limitada a umcampo bem preciso de atuação, pois éuma norma jurídica editada para regularapenas a matéria de desapropriações.Assim, a menção a prazo para propositurade ação rescisória, dentro de uma lei queregula minuciosamente e só aspectos dasdesapropriações, está referindo-seapenas ao prazo para a ação rescisóriade processos de desapropriação, que sãoos únicos que esta norma anômala trata.

Algumas interpretações porémsugeriram que este prazo, emboraconstando no corpo de Medida Provisóriasobre desapropriações, teria efeito geral,para todas as ações rescisórias, sobretodas as matérias, criando, assim, umanova prerrogativa de prazo processualpara os Entes Públicos e não apenaspara aquelas ações rescisóriasvinculadas às desapropriações.

Existindo, então, e tendo forçaautônoma, como forma de um provimentogeral anômalo dentro de uma lei específica.

Não é meu entendimento, d.m.v.,considerando que a medida provisóriatrata tão-só e exclusivamente do temade desapropriações e até com referênciaexpressa às leis que as regulam.

Em interpretação sistemática erestritiva, considerando tratar-se deprivilégio, concluo que o prazo diferentee elástico é apenas para as açõesreguladas nas leis sob modificação.

E tanto mais me convenço disso que,após a 11ª reedição da Medida Provisórianesse sentido, o próprio legislador anômaloalterou-a, na 12ª reedição inovadora - se issofosse juridicamente possível, reeditar deoutra forma - indo agora, em total atecnia,ao art. 188-CPC e ali acrescendo que osseus destinatários teriam, a partir de então,além do prazo em dobro para recurso,também para propor ação rescisória.

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Pelo que, até a 11ª reedição daMedida Provisória, os Entes Públicos sótinham prazo maior para a açãorescisória de sentenças dedesapropriação. Não para as demais.

Isto, sem se discutir ainda aimpossibilidade jurídica de reedições demedidas provisórias e os efeitos de cadaperda de extinção quanto aos atosjurídicos - entre eles, os oriundos dosefeitos de prazos decadenciais - ocorridosnos períodos das medidas provisóriassubstituídas, que perderam seus efeitos,sem que as novas pudessem repristinar.

Nos fundamentos do voto em queconcedeu medida cautelar suspendendoos efeitos dessa norma, em ação diretade inconstitucionalidade n. 1753-2 (jájulgada e dada por prejudicada) o eminenteMinistro Sepúlveda Pertence colocou:

“A igualdade das partes éimanente ao procedural duo

process of law; quando uma daspartes é o Estado, a jurisprudênciatem transigido com alguns favoreslegais que, além de vetustez, temsido reputados não arbitrários porvisarem a compensar dificuldadesda defesa em juízo das entidadespúblicas; se, ao contrário, desafiama medida da razoabilidade ou daproporcionalidade, caracterizamprivilégios inconstitucionais: pareceser esse o caso das inovaçõesdiscutidas, de favorecimentounilateral aparentemente nãoexplicável por diferenças reaisentre as partes e que, somadas aoutras vantagens processuais daFazenda Pública, agravam aconseqüência perversa de retardarsem limites a satisfação do direitodo particular já reconhecida emjuízo.” (DJU 12.06.98)

O julgamento do mérito foi em17.09.98 e, em questão de ordemsuscitada pelo Relator, com votaçãounânime dos presentes, foi indeferido opedido de aditamento e julgadaprejudicada a ação, ficando cassada aliminar. O acórdão foi publicado em23.10.98.

Em 05.05.98, a Medida Provisóriateve sua 12ª reedição, agora cominovação, alterando o art. 188, do CPC,incluindo prazo em dobro, geral, para aação rescisória, o que vem sendomantido nas edições posteriores.

Porém, nessa época, o prazopara o Município, neste caso concreto,já estava esgotado. Sendo certo que asleis novas que aumentam prazos nãointerferem naqueles que já seesgotaram.

Julgo extinto o processo, nomérito, à decadência.

Custas, pela Autora, sobreR$1.000,00, de R$20,00, pagamento afinal.

A SEÇÃO ESPECIALIZADA, porunanimidade: conheceu da ação erejeitou a decadência, argüida na defesa;acolheu a preliminar de decadência,suscitada de ofício pelo Ex.mo JuizRelator e extinguiu o processo. Custas,pela Autora, no importe de R$20,00,calculadas sobre R$1.000,00.

Belo Horizonte, 07 de dezembrode 1999.

ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVAPresidente

PAULO ARAÚJORelator

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TRT/RO-5343/99Publ. no “MG” de 12.05.2000

RECORRENTE: CENTRAL DEMANUTENÇÃO LTDA - CEMAN

RECORRIDO: PAULO TADEU ADÃO

EMENTA: ACIDENTE DOTRABALHO - NÃO EMISSÃO DECAT - COMPROVAÇÃO DE NEXOCAUSAL POR PROVA TÉCNICA.Havendo prova inequívoca daocorrência do acidente dotrabalho - demonstrado,inclusive, por laudo conclusivode prova técnica, o nexo causalexistente entre o fato e a lesãogerada - não tendo a Recorrenteconseguido demonstrar, emmomento algum, prova emcontrário, é indiferente, para odireito, a emissão de CAT para asua configuração. Emboraalegasse não ter tidoconhecimento do fato ocorrido,não trouxe aos autos provaalguma de sua alegação -mantendo, inclusive, programasde prevenção de acidentes.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Recurso Ordinário,interposto de decisão da MM. 2ª JCJ deUberaba/MG, em que figuram, comorecorrente, CENTRAL DEMANUTENÇÃO LTDA - CEMAN e, comorecorrido, PAULO TADEU ADÃO.

RELATÓRIO

A MM. 2ª JCJ de Uberaba/MG,sob a presidência do Ex.mo Juiz MarcoAntônio de Oliveira, através da decisãode f. 212/217 (cujo relatório adoto e aeste incorporo), julgou improcedentes os

pedidos formulados pela Autora, CEMAN- CENTRAL DE MANUTENÇÃO LTDA,e extinguiu o processo sem julgamentodo mérito quanto à reconvençãoapresentada pelo Reclamado-reconvinte, PAULO TADEU ADÃO.

Embargos de Declaração (f. 219),julgados improcedentes pela decisão def. 220/221.

O Reclamante-reconvindo recorre,ordinariamente, às f. 223/225, pretendendoa reforma do julgado, para que seja julgadaa presente Reclamação, de naturezadeclaratória, para, a final, homologar arescisão contratual do Recorrido.

Juntou, às f. 226/227, acomprovação do depósito recursal epagamento das custas processuais.

Contra-razões, às f. 230/231.Manifestação do i. Representante

do Ministério Público do Trabalho (f. 234),exarado pelo d. Procurador do Trabalho,Roberto das Graças Alves, nãovislumbrando interesse público capaz dejustificar a intervenção daquele Órgão,ressaltando a possibilidade demanifestação posterior, conforme artigo 83,da Lei Complementar n. 75/93, opinandopela mantença da r. decisão recorrida.

É, em síntese, o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Próprio e tempestivo,preenchidos os demais pressupostos deadmissibilidade, conheço do recurso.

2. Mérito

2.1. Acidente do trabalho

Irresigna-se o Reclamante com ar. decisão, ao fundamento de que o MM.

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Colegiado a quo fundamentou suadecisão com a conclusão da ocorrênciade acidente do trabalho, motivo pelo qualnão poderia o Recorrido ser dispensado.

Argumenta, pois, que “Apesar daperícia realizada ter demonstrado que orecorrido sofreu acidente em 04.05.97,e que este despertou degenerativapreexistente, o recorrido em momentoalgum trouxe aos autos documentosnecessários à comprovação daocorrência do referido acidente, limitou-se tão-somente a alegar que bateu acabeça em uma viga.”

Afirma que os empregados daempresa têm conhecimento de “que emcaso de qualquer ocorrência, por maissimples que seja, todas elas devem serlevadas ao conhecimento da empresa,o que não ocorreu no caso em tela” eque possui um programa denominadoDDS - Diálogo Diário de Segurança -,onde são discutidas e registradas todasas ocorrências relativas à segurança nodia anterior e as preleções para o dia quese inicia, não constando registro algumdo alegado acidente pelo Recorrido.

Aduz existir ainda na empresa umGrupo de Segurança Industrial - GSI -,que deve ser imediatamente informadosobre a ocorrência de acidentes, nãotendo este, também, nada registrado. Deigual modo, “a CIPA também não foiinformada do ocorrido”.

Alega, ainda, não fazer jus oRecorrido à estabilidade provisóriadecorrente de acidente do trabalho, umavez que o mesmo já havia se aposentado,citando, inclusive, dispositivos legais.

Não lhe assiste razão.Como bem salienta o Recorrente,

a perícia técnica realizada conclui pelaocorrência de acidente do trabalho,tendo a prova oral corroborado asalegações do Reclamante.

Embora afirme que a empresamantenha programas que visam àsegurança no trabalho - DDS, GSI, CIPA- a Recorrente não trouxe aos autos asatas das reuniões de tais grupos, paracomprovar suas alegações de não terhavido registro algum nesses programas.

A prova oral é clara quando duastestemunhas, a uma distância de doismetros, viram o Reclamante bater acabeça em uma viga, sendo o laudopericial e esclarecimentos prestadospelo i. louvado de que fora este acidenteuma das causas de desencadeamentoda doença, demonstrando,tecnicamente, o nexo de causalidadeexistente entre o fato e suaconseqüência no quadro clínico doReclamante.

Havendo prova inequívoca daocorrência do acidente do trabalho -demonstrado, inclusive, por laudoconclusivo de prova técnica, o nexocausal entre o fato e a lesão gerada -não tendo a Recorrente conseguidodemonstrar em momento algum provaem contrário, é indiferente, para o Direito,a emissão de CAT para a suaconfiguração. Embora alegasse não tertido conhecimento do fato ocorrido, nãotrouxe aos autos prova alguma de suaalegação, mantendo, inclusive,programas de prevenção de acidentes.

Nego provimento.Quanto à alegação de que o

Reclamante não faz jus à estabilidadeprovisória, em razão de já ter-seaposentado, constitui-se em inovaçãorecursal, haja vista tal argumentação nãoter havido nos autos em momento algum,pelo que se deixa de apreciar, posto quedefesa em lei a inovação recursal.

Sabe-se que o efeito devolutivoabrange todas as questões relacionadascom os fundamentos do pedido e da

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defesa, que tenham sido efetivamenteresolvidas em sentença, ou, então,àquelas que, embora o Juízo não astenha examinado, elas devam serconhecidas de ofício. Não se tratando dematéria que devesse ser conhecida deofício, e como o recorrente não podeimpugnar senão aquilo que se decidiu,não se pode devolver ao Tribunal oconhecimento de matéria estranha aoâmbito do julgamento do órgão inferior -motivo pelo qual não conheço dorecurso, neste particular.

2.2. Da emissão de CAT

Alega o Recorrente que “Não hápossibilidade da empresa/recorrenteemitir uma Comunicação de Acidente doTrabalho, primeiro quando não temconhecimento do mesmo, e segundoporque, no caso do recorrido, não há quefazer nenhuma comunicação ao INSS,haja vista que o obreiro não seriaamparado por qualquer benefício, umavez que era aposentado.” (f. 225)

Novamente a Recorrente inovano recurso.

Quanto ao fato de não terconhecimento do acidente, a Recorrentedeveria fazer prova, até mesmo porquenega a sua ocorrência, mas nãoconseguiu se desincumbir de provar talalegação, como demonstra todo oconjunto probatório dos autos, inclusivea prova técnica.

Nega-se provimento.

2.3. Discriminação/ Parcelasrescisórias

O Recorrente alega, finalmente,que, tendo o Juízo a quo consideradorelevante o fato de que houve pedido dehomologação de verbas rescisórias não

discriminadas, este fato é irrelevante,uma vez que a mesma juntou o TRCT,devidamente preenchido, onde constamtodas as verbas a que fazia jus oRecorrido.

Embora o artigo 840, da CLT, sejamenos formal, a petição inicial deveráatender, ainda, aos requisitos do artigo282, do CPC.

O fato é que juízo algum poderáhomologar verbas que não sejamdiscriminadas. É na petição inicial e nadefesa que a lide, nos limites do pedido,se firma. É através da peça de ingressoe da defesa que se forma alitiscontestatio, sendo imprescindível,portanto, sejam declinadas quais asverbas para as quais a parte busca umasentença declaratória.

Nego provimento.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes doTribunal Regional do Trabalho daTerceira Região, pela sua PrimeiraTurma, prel iminarmente, àunanimidade, em conhecer do recurso,mas não conhecer das razõesinovadas pelo presente recurso; nomérito, sem divergência, em negar-lheprovimento.

Belo Horizonte, 10 de abril de2000.

EMÍLIA FACCHINIPresidente

MANUEL CÂNDIDO RODRIGUESRelator

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TRT/RO-18217/99Publ. no “MG” de 27.05.2000

RECORRENTE: UNIBANCO - UNIÃODE BANCOS BRASILEIROS S/A

RECORRIDO: ROSANA MARA BARRAMONTEVECHI TAVARES

EMENTA: APOSENTADORIAPOR INVALIDEZ -CONSEQÜÊNCIAS - PLANO DESAÚDE - MANUTENÇÃO. Aatitude do reclamado de mantera reclamante e seusdependentes vinculados aoplano de saúde, custeando asmensalidades a ele inerentespor período superior aoprevisto na cláusulaconvencional, mesmo após aaposentadoria por doençaprofissional, transforma asuposta “liberalidade” emparte integrante do contrato detrabalho.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recurso ordinário,oriundos da MM. JCJ de Varginha, emque figuram, como recorrente,UNIBANCO - UNIÃO DE BANCOSBRASILEIROS S/A e, como recorrida,ROSANA MARA BARRA MONTEVECHITAVARES.

RELATÓRIO

A MM. JCJ de Varginha, sob apresidência do Ex.mo Juiz GIGLICATTABRIGA JÚNIOR, julgouprocedente a reclamação trabalhistapostulada por ROSANA MARA BARRAMONTEVECHI TAVARES em face deUNIBANCO - UNIÃO DE BANCOSBRASILEIROS S/A, condenando-o a

proceder à imediata reinclusão dareclamante junto ao plano de saúde, sobpena de multa diária de um salário mínimoem caso de descumprimento daobrigação, conforme decisão de f. 97/102.

Recorre o reclamado, às f. 103/113, sustentando que a manutenção dareclamante no plano de assistênciamédica se deu por mera liberalidade, nãogerando qualquer direito em caráterdefinitivo à beneficiária.

Preparo às f. 114/115.Contra-razões às f. 116/118.A Procuradoria Regional do

Trabalho, através do i. Procurador,Roberto das Graças Alves, sugere oprosseguimento do feito (f. 119).

É o relatório.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

VOTO

Preenchidos os pressupostos deadmissibilidade, conheço do recurso.

JUÍZO DE MÉRITO

Alega a reclamante, na inicial,que foi aposentada por invalidez em01.10.97, em virtude de doençaprofissional (LER), sendo certo que,inobstante a suspensão contratual,continuou usufruindo, juntamente comseus dependentes, do plano de saúdemantido pela reclamada gratuitamente,o qual foi suprimido por ato unilateral doempregador, em 31.03.99.

O d. Colegiado de origementendeu pela ilegalidade do ato deexclusão da reclamante e de seusbeneficiários do plano de saúdediscriminado na exordial, declarando-onulo, pelo que determinou a sua imediatareinclusão junto à Unimed, fixando,

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ainda, multa diária de um salário mínimoem favor da reclamante em caso dedescumprimento da obrigação imposta,compelindo-o a arcar com todos os ônusdecorrentes do descumprimento daobrigação de fazer, tais como: exames,tratamentos, fisioterapia, consultas edemais procedimentos médicos ouhospitalares previstos no plano desaúde, em face da configuração, naespécie, do salário in natura.

Inconformado, o reclamadoreitera a tese adotada na defesa, nosentido de que a permanência dareclamante no plano de saúde mantidopara os empregados da ativa, mesmodepois da aposentadoria por invalidez,ocorreu por mera liberalidade,concessão esta inspirada na cláusula 41ªdos instrumentos coletivos (f. 58),embora por período mais elastecido,benefício que não tem o condão de gerarqualquer direito em caráter definitivo àbeneficiária, uma vez que pode seralterado e/ou suprimido ao livre arbítriode quem o concede. Traz à baila extensajurisprudência, culminando por requerera improcedência da ação.

Entretanto, incensurável adecisão recorrida.

Infere-se dos autos que oreclamado arcou e custeou o plano desaúde da reclamante e seusbeneficiários, do momento de suaaposentadoria por invalidez, ocorrida em06.12.97, até 30.03.99, ou seja, porperíodo muito superior ao previsto nacláusula convencional retromencionada.

Tal atitude, embora o reclamadoinsista em imprimir-lhe o caráter de meraliberalidade, pela constância ehabitualidade, acabou assumindo o caráterde verdadeiro salário in natura. E, comotal, aderiu-se definitivamente ao orçamentodoméstico da obreira, uma vez que erigida

à categoria de cláusula benéfica,integrante do contrato de trabalho,suspenso em razão de sua aposentadoriapor invalidez, não sendo mais passívelde supressão (art. 458/CLT).

Conforme cediço, as liberalidadesdo empregador podem assumir oscontornos de verdadeiras obrigações parao seu instituidor, desde que, na prática,sejam observados determinados requisitos,sendo o principal deles a habitualidade,aliada ao ânimo de ocasionar umamelhoria para o trabalhador, cumprindoressaltar que, no presente caso, o próprioreclamado confessou que sua iniciativade manter a vinculação da reclamanteao plano de saúde se deu em virtude doseu estado de saúde.

Não é demais lembrar que, tantona suspensão como na interrupção docontrato de trabalho, são asseguradasao empregado afastado, quando de suavolta, todas as vantagens que, em suaausência, tenham sido atribuídas àcategoria a que pertencia na empresa(art. 471/CLT).

Reitere-se que a propaladasuspensão contratual impõe amanutenção de forma íntegra dos direitosda reclamante até que complete 55 anosde idade, consoante o disposto no art.101, da Lei 8.213/91 (art. 475/CLT).

Vale destacar que a formaabrupta com que o Banco reclamadodespojou-se da obrigação acarretousérios prejuízos para a reclamante, aqual não se encontra apta a retornar àssuas atividades laborativas,conseqüência de doença profissionaladquirida na constância do contrato detrabalho, o que se tornará ainda maisinviável caso tenha ela de arcar com asdespesas do tratamento médico.

Os fatos expostos, portanto,fazem ruir por terra toda a argumentação

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tecida com habilidade na defesa,porquanto não basta a intenção ou avontade do instituidor da liberalidadepara conservar-lhe sempre este caráter,na medida em que a habitualidadedesfigura a natureza de meraliberalidade, transformando-a emvantagem salarial, que se incrustradefinitivamente ao contrato de trabalho.

Nego provimento.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Quinta Turma,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer do recurso; no mérito, semdivergência, em negar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 25 de abril de2000.

EDUARDO AUGUSTO LOBATOPresidente ad hoc e Relator

TRT/RO-19499/99Publ. no “MG” de 31.05.2000

RECORRENTE: BANCO DO BRASIL S/ARECORRIDOS: HELOÍSA HELENA

ANTUNES FERREIRA EOUTROS (1)SOLUÇÃO CONSULTORIAADMINISTRAÇÃO ETREINAMENTO LTDA. (2)

EMENTA: ARRESTO -LEGITIMIDADE PASSIVA. Só éparte legítima, para figurar nopólo passivo de uma cautelarde arresto, a reclamada queresponde como devedoraprincipal.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos em destaque, DECIDE-SE:

I. RELATÓRIO

Ao de f. 185/186, que adoto e aeste incorporo, acrescento que a MM. 2ªJCJ de Juiz de Fora, sob a presidênciado Ex.mo Juiz Carlos Roberto Barbosa,julgou procedente “[...] a Medida Cautelarde Arresto interposto [...], convertendo-se também, como se impõe, o arrestoem penhora (Art. 818/CPC)”.

Recurso do Banco, de f. 191/196,versando, preliminarmente, sobre nulidadeda medida acautelatória, por ausência dosrequisitos legais, e, no mérito, pugnandopela limitação da apreensão judicial aosvalores por ele apresentados.

Depósito recursal e custasprocessuais, às f. 196/197.

Não houve contra-razões.Parecer do d. MPT, da lavra do

Dr. Joaquim Rodrigues Nascimento, nãovislumbra interesse público capaz dejustificar a intervenção do Órgão,ressalvando o direito a posterioresconsiderações - f. 206.

É o relatório.

II. VOTO

1. Admissibilidade

Presentes os pressupostos legaisde admissibilidade, conheço do recursointerposto para exame.

2. Preliminar de nulidade damedida

Argumenta o recorrente que “... dostermos da Certidão de f. 152 constata-seque a medida cautelar perdeu a suaeficácia, nos termos do artigo 808, inciso I,

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do CPC, eis que os requerentes nãocomprovaram em tempo hábil oajuizamento da ação principal”.

Sem razão.Embora os autores, de fato, tenham

deixado escoar, in albis, o primeiro prazojudicial fixado para a comprovação doajuizamento pertinente a ação - f. 152 -,houve renovação da determinação judicial- f. 163 e 168 -, o que permitiu, aosarrestantes, o cumprimento daquela ordem.

Assim, a desídia inicial nãomaculou a cautelar intentada, pelo quese pôde apurar o regular acatamento dointerstício legal de 30 dias, fixado para ainterposição da demanda principal, egarantia da eficácia da medida acessória(art. 806/CPC).

É de se ressaltar que, embora osreclamantes só tenham juntado asentença da ação original, onde nãoconsta quando esta fora ajuizada - f. 168/172 -, concluiu-se pela observância dotrintídio legal, eis que esse começa a fluirda data do cumprimento do mandadojudicial que concedeu a cautelar – nocaso, 03.12.97 (f. 96) -, sendo que osautos principais receberam a numeração2.295/97, ou seja, foram intentados aindadentro do ano de 1997.

Ademais, vê-se que a supostairregularidade, aventada pelo recorrente,sequer foi oportunamente argüida,quedando-se silente a parte, por quase1 ano - f. 152 e 185 -, sem se insurgircontra tal fato.

Por esses fundamentos, rejeito aprefacial eriçada.

3. Mérito

Arresto

Rebela-se o recorrente contra adecisão de origem, que proveu a medida

de arresto, apondo gravame numaquantia de R$16.995,89, em seudesfavor, entendendo ser esse valorparte do crédito que a real empregadorados arrestantes, empresa terceirizante,possuía junto a ele.

Narra que “... os valores que eramdevidos ao Banco, 2º Requerido, à 1ªRequerida totalizam apenas a quantia deR$679,29 (seiscentos e setenta e novereais e vinte e nove centavos), quecorrespondia à quantia pendente depagamento referente à prestação deserviços nos períodos 01.11.97 a11.11.97, demonstrativo de f. 139/140,eis que rescindido o contrato deprestação de serviços em 12.11.97,conforme comprovado à f. 120 dos autos.

[...] Destarte, equivocado oentendimento do I. Colegiado, bem comodos requerentes, de que o valor deR$17.675,18 representava importânciadevida pelo Banco à 1ª requerida, pois ovalor efetivamente devido era deR$679,29, que foi objeto do primeirodepósito, às f. 96v e 100 e somente estepoderia ser objeto do arresto, eis queúnico representativo do bem da 1ªRequerida em poder do banco”.

Com toda razão o recorrente.De qualquer ângulo que se

analise o andamento deste feito,apuram-se irregularidades em suacondução.

Começo por retirar, do Banco,legitimidade para compor o pólo passivodesta medida assecuratória.

A uma, porque aresponsabilidade, que lhe foi atribuídanos autos principais (f. 168/172), é decaráter subsidiário.

Equivale dizer, esse só seráchamado, para solver as dívidastrabalhistas lá reconhecidas, caso areclamada principal não o faça.

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Tem-se, assim, que só é partelegítima, para figurar no pólo passivodesta cautelar de arresto, quemresponde como devedora principal, aempresa Solução ConsultoriaAdministração Treinamento Ltda.

A duas, porque, ainda que lheatribuíssemos legitimidade para estarnesta Ação preventiva, seu perfil não seenquadra nas hipóteses ventiladas peloart. 816/CPC. Ou seja, a Instituiçãofinanceira do Banco do Brasil não setrata, decerto, de devedor que planejase esquivar de suas obrigações.

Por outro lado, justifica-se a suapresença nesta Cautelar, não comoparte, e sim como terceiro envolvido,reconhecidamente detentor de quantiain pecunia pertencente à arrestada (f. 97/99), esta última sim, insolvente e revel -art. 803/CPC - (f. 164 e 169).

Assim, figurando, por ora, comomero colaborador da Justiça, o Bancocumpriu o seu papel, apresentando,para o cumprimento da medida dearresto, valores que afirmava comporemo crédito da prestadora de serviços - f.97/100.

Nesse contexto, data venia,entendo que pecou o Juiz a quo, aoconsiderar como injusta a retenção,confessada pelo recorrente, dos valoresque lhe eram devidos pela empresaSolução [...], a título de multa contratuale indenização.

Esse “acerto de dívidas” afigura-se como res inter alios, celebrado sobuma égide eminentemente privada, quenão poderia sofrer a interferência destaJustiça Especializada.

E nem se argumente ser a dívidatrabalhista de natureza privilegiada, eisque não se estabeleceu aqui umconcurso de credores, para arrimar talversão.

Aliás, é de se salientar que osvalores arrestados à f. 162,supostamente equivalentes ao créditototal da real empregadora, foramgarimpados, pela JCJ, de um recibo domês anterior ao “desaparecimento” daempresa prestadora, montante que jáhavia sido quitado (f. 142), e que nãopoderia, jamais, servir de sustentação àmedida judicial operada.

Quando muito, admitir-se-ia ademonstração de f. 139/141, no total deR$11.561,01.

Todavia, como já esclarecido,estou em que não se poderia exigir doBanco mais do que por ele foi feito,cabendo aos arrestantes o ônus deprovar a tese de apropriação indevida edolosa.

Por oportuno, e apenas parasatisfazer, integralmente, a tutelajurisdicional requerida, esclareço que adiscussão sobre o cabimento daresponsabilização imputada ao Bancoultrapassa os limites desta AçãoCautelar, e deve ser feita,exclusivamente, nos autos dareclamatória principal.

Isto posto, dou provimento aorecurso para determinar a liberação daquantia de R$16.995,89, arrestada à f.162, mantendo o gravame, tão-somente,em relação ao montante de R$679,29,já depositado à disposição da JCJsentenciante.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Segunda Turma,unanimemente, em conhecer do recurso;sem divergência, em rejeitar a prefacialeriçada; por maioria de votos, vencido oEx.mo Juiz Antônio Fernando Guimarães,

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em dar provimento ao apelo paradeterminar a liberação da quantia deR$16.995,89, arrestada à f. 62,mantendo o gravame tão-somente emrelação ao montante de R$679,29, jádepositado à disposição da MM. Varasentenciante.

Belo Horizonte, 16 de maio de2000.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente

FERNANDO ANTÔNIO DE MENEZESLOPESRelator

TRT/RO-18878/99Publ. no “MG” de 24.05.2000

RECORRENTES: (1) BINGOALTEROSAS DIVERSÕES ECOMÉRCIO LTDA.(2) EDILÊNIA SANTOS VITÓRIA

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: DIREITO ÀINTIMIDADE- VIOLAÇÃO - DANOMORAL. Embora o Direito doTrabalho não faça mençãoexpressa aos direitos deintimidade do trabalhador, elessão oponíveis contra oempregador, porqueassegurados em preceitoconstitucional (artigo 5º, X, daConstituição da República). Nãoé o fato de o empregadoencontrar-se subordinado aoempregador ou de deter esteúltimo o poder diretivo que irájustificar a ineficácia da tutela àintimidade no local de trabalho,

do contrário haveriadegeneração da subordinaçãojurídica em um estado desujeição do trabalhador. Logo,procede a indenização por danomoral, quando comprovado quea reclamante, em estado degravidez, foi proibida de ir aobanheiro pelo gerente doreclamado, durante a realizaçãode jogos de bingo, vindo a urinar,em público, no horário deexpediente. O rigor desmedidoadotado pela empresa expôs aobreira a uma situaçãovexatória, devendo ser reparadoo mal que lhe foi injustamentecausado. Numa época em queos imperativos econômicos domercado questionam osdogmas tradicionais do Direitodo Trabalho, o vigor dosdireitos fundamentais deveráservir de antídoto “paraemancipar o contrato detrabalho de sua excessivasubordinação à economia”,permitindo a auto-realização doempregado como cidadão.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Recurso Ordinário,interposto de decisão da MM. 10ª Juntade Conciliação e Julgamento de BeloHorizonte, em que figuram, comorecorrentes, (1) BINGO ALTEROSASDIVERSÕES E COMÉRCIO LTDA.; (2)EDILÊNIA SANTOS VITÓRIA e, comorecorridos, OS MESMOS.

RELATÓRIO

A MM. 10ª Junta de Conciliaçãoe Julgamento de Belo Horizonte, porintermédio da r. sentença de f. 88/99,

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julgou parcialmente procedentes ospedidos formulados por EDILÊNIASANTOS VITÓRIA, na reclamaçãotrabalhista por ela ajuizada contraBINGO ALTEROSAS DIVERSÕES ECOMÉRCIO LTDA.

Inconformada, recorreordinariamente a reclamada (f. 100/105),insurgindo-se contra o valor fixado paraa remuneração da obreira. Alega que oquantum deferido a título de gorjetas nãoestá de acordo com a prova oralproduzida nos autos. Opõe-se àrestituição do valor de parte das gorjetas,asseverando que o valor recolhido eradistribuído entre os empregados dalimpeza; argumenta, assim, que nãopode ser condenada a restituir valor quenão reteve. Alega que não háembasamento lógico/jurídico para odeferimento da retificação das guias CD/SD, invocando a seu favor a MP 1.609-10/98.

A recorrente requer a reforma dasentença no tocante à restituição do valorde R$20,00, aduzindo que há previsãocontratual dispondo sobre aresponsabilidade do empregado porerros ou negligência ocasionados porsua culpa e que causassem prejuízos àempresa, insurgindo-se, a final, contra acondenação de obrigação de fazer nosentido de retificar a CTPS da obreirafazendo constar sua real remuneração.

Quitadas as custas processuais,foi também efetuado o depósito recursal,conforme documentos de f. 108/107,respectivamente.

A reclamante apresentou contra-razões às f. 110/113 e recurso adesivoàs f. 114/121. Requer seja reconhecidaa unicidade de seu contrato de trabalho,alegando que sempre prestou serviçospara a mesma empresa. Insurge-secontra o indeferimento do seu pedido de

pagamento de 45 minutos extras diários,em decorrência da insuficiência dointervalo intrajornada, alegando querestou provada a prestação de trabalhopor período superior a 6 horas diárias.Opõe-se ao deferimento dacompensação de R$30,00 pelas dobrasde jornada realizadas, asseverando quenunca recebeu esses valores. Renova opedido de pagamento da parcelaintitulada prêmio prevista no instrumentocoletivo da categoria, bem como daindenização por danos morais.

O apelo adesivo não foi contra-arrazoado.

Salienta a d. Procuradoria, à f.123, inexistir, no presente feito, interessepúblico capaz de justificar a intervençãodo Ministério Público, propondo-se afazê-lo, caso necessário.

É o relatório.

VOTO

Conheço de ambos os recursos,porque atendidos os pressupostos desua admissibilidade.

RECURSO ORDINÁRIO DARECLAMADA - GORJETAS

Insurge-se a reclamada contra ovalor arbitrado pelo d. Colegiado deorigem para as gorjetas recebidas pelaobreira, vendedora de cartelas de bingo,no curso do pacto laboral. Alega que aimportância fixada não condiz com aprova oral produzida nos autos,requerendo seja adotado o valor deR$375,00, correspondente à médiaobtida com base nos depoimentos dastestemunhas.

Assiste-lhe razão, em parte.A média das gorjetas deve ser

apurada com base no depoimento da

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testemunha arrolada pela reclamada queinformou a percepção pelas vendedorasde cartela de gorjetas no valor mensalde R$300,00 a R$500,00 (f. 85). O valordas gorjetas deve, portanto, ser reduzidopara R$400,00 mensais.

Esclareça-se que o depoimentoda testemunha Isabel Cristina da Silva,arrolada pela reclamante, deve serdesprezado nesse ponto. Isso, porque atestemunha noticiou a importância porela recebida a título de gorjetas emapenas uma semana, não sendopossível estender esse valor para todosos meses do contrato de trabalho daobreira, principalmente diante dadeclaração da testemunha RomualdoMorais de Sousa, também arrolada pelaautora, no sentido de que “... às vezes ovendedor de cartela ganhava muito coma caixinha, mas às vezes não ganhavanada” (f. 84).

Modifico a r. sentença quanto aesse aspecto.

RESTITUIÇÃO DO VALOR DEPARTE DAS GORJETAS

Melhor sorte não assiste àreclamada, quando se insurge contra acondenação imposta em primeiro grau,obrigando-a a restituir valor de parte dasgorjetas pagas pelos clientes.

As duas primeiras testemunhasarroladas pela obreira afirmaram que areclamada retinha 10% do valor totalarrecadado com as gorjetas. De acordocom a prova, essas gorjetas eram pagaspelos clientes contemplados comprêmios e eram destinadas àsvendedoras das cartelas premiadas.Logo, a empresa não poderia reter essepercentual, ainda que ele fossedestinado a pagar as recepcionistas e/ou faxineiras, como alegado. É que cabe

ao empregador, beneficiário da força detrabalho, remunerar os seusempregados, sendo certo que esseencargo não poderia ter sido transferidoàs vendedoras.

Ademais, não há nos autos provade que tenha havido ajuste entre aspartes no tocante à parcela retida,circunstância que também inviabiliza areforma da sentença nesse particular.

Nada a prover.

RETIFICAÇÃO DAS GUIAS CD/SD

Sustenta a recorrente que não háembasamento lógico/jurídico para odeferimento do pedido de que fossemretificadas as guias CD/SD, fazendoconstar a real remuneração da obreira.Alega que, independentemente daremuneração percebida pelaempregada, o valor máximo do seguro-desemprego é R$300,00. Invoca odisposto na MP 1.609-10/98.

Contudo, não lhe assiste razão.Verifica-se de f. 95 - que o d.

Colegiado, diante da constatação de quea obreira recebia salário “por fora”,determinou que a reclamada lhefornecesse novas guias CD/SD comvistas a viabilizar o recebimento, pelaempregada, de eventual diferençadevida a esse título. O procedimentoadotado está correto. Observe-se que oartigo 5º, da Lei 7.998/90, estabelece ovalor do seguro-desemprego de acordocom três faixas salariais, considerandoo salário médio dos últimos três meses.Esclareça-se que a Medida Provisóriainvocada pelo reclamado nadaacrescenta à previsão legal, dispondoapenas sobre o reajuste do saláriomínimo e dos benefícios da PrevidênciaSocial.

Nada a prover.

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RESTITUIÇÃO DO DESCONTODE R$20,00

Alega a reclamada que osdescontos realizados nos salários dasvendedoras, em virtude de erroscometidos no processo de venda dascartelas, foram objeto de ajuste entre aspartes.

Entretanto, essa assertiva nãorestou provada nos autos. Observe-seque a própria testemunha arrolada pelaempresa afirmou não ter assinadoqualquer regulamento quanto a suaresponsabilidade como vendedoraacerca de possíveis faltas no fundo decaixa, fato também noticiado pelaprimeira testemunha arrolada pelareclamante (f. 83/85). Por outro lado, aprática dos descontos foi confirmadapela testemunha Romualdo Morais deSousa, que declarou “... que se saíssealgum cliente sem pagar, sem que ovendedor percebesse, o ônus dopagamento da cartela era do vendedor;que se recebesse cheque de clienteinidôneo por falta de informação dovendedor ou por descuido, o referidovendedor tinha que pagar o valor...” (f.84).

Por outro lado, releva notar quea reclamada não apresentouquaisquer documentos paracomprovar suas alegações, seja ocontrato de trabalho da obreira, sejao mencionado regulamento.Considerando, portanto, que os riscosdo empreendimento econômicodevem ser suportados peloempregador, mantenho a r. decisãorecorr ida que determinou opagamento da restituição do descontode R$20,00 efetuado no salário daobreira (f. 23).

Nada a prover.

RETIFICAÇÃO DA CTPS DAOBREIRA

Restou fartamente demonstradonos autos que a reclamante recebiasalário “por fora” no valor de R$300,00 egorjetas no importe mensal de R$500,00.Dessa forma, a CTPS da obreira deveser retificada, fazendo-se constar a suareal remuneração, nos termos do artigo29, § 1º, da CLT. Essa obrigação de fazerdecorre logicamente da constatação deque o salário inicialmente anotado nacarteira não condiz com a realidade.

Não procede, portanto, oinconformismo da recorrente, devendoser mantida a condenação.

Pelo exposto, dou provimentoparcial ao recurso da reclamadareduzindo o valor das gorjetas paraR$400,00.

RECURSO ADESIVO DARECLAMANTE - UNICIDADECONTRATUAL

Assiste razão à reclamante ao seinsurgir contra a parte da sentença quedeixou de reconhecer a unicidade do seucontrato de trabalho.

Conforme noticiado na inicial, areclamante foi admitida em 19.03.96para trabalhar no Royal Bingo Savassi,tendo sido dispensada em 31.10.96 ereadmitida no dia seguinte, 01.11.96,pela reclamada - Bingo AlterosasDiversões e Comércio Ltda., continuandoa prestar serviços no mesmoestabelecimento.

Trata-se a hipótese de caso típicode sucessão trabalhista. A própriareclamada afirma, em sua defesa, terinstalado, em 01.11.96, a sua filial nomesmo local anteriormente ocupado pelaRoyal Bingo Savassi. Essa informação

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foi reiterada pela preposta ao esclarecerque vários empregados daquelaempresa foram aproveitados pelareclamada. Informou, inclusive, que areclamante chegou a prestar serviços nafilial, tendo sido, posteriormente,transferida para o Barro Preto. Apreposta declarou que a aquisição doponto do Royal Bingo Savassi ocorreraem outubro de 1996, enfatizando que asatividades desenvolvidas por essaempresa e pela reclamada eram asmesmas (f. 82).

Diante desses fatos, é forçosoreconhecer que houve sucessãotrabalhista, nos termos dos artigos 10 e448, da CLT. Considerando que esseinstituto jurídico opera uma transferênciaplena de direitos e obrigações aosucessor, deverá ele responder pelopagamento das parcelas trabalhistasreferentes ao contrato de trabalhocelebrado com a obreira, no períodocompreendido entre 19.03.96 e 22.09.98.Isso, porque “a não ser em casosexcepcionais, de particular prestação deserviços intuitu personae, de naturezaintelectual, não pode o empregado negar-se a aceitar a transferência doestabelecimento comercial ou industrial.Mas, em compensação, fica o sucessorinteiramente responsável por todos osdireitos adquiridos durante a vigênciaanterior do contrato. Mesmo para oscontratos já rescindidos pelo antigoempregador, inexistentes no momento dotraspasse, fica privativamenteresponsável o sucessor. Dívidas nãopagas pelo sucedido, a antigosempregados ou aos poderes públicos,também por elas torna-se responsável oadquirente do negócio” (MORAES FILHO,Evaristo de. Sucessão nas obrigações e

a teoria da empresa. Rio de Janeiro:Forense, 1960, v. 2, pp. 236 e 254).

Observe-se que, na hipótese dosautos, não houve solução decontinuidade da prestação de serviçosda obreira, a qual, frise-se, foidispensada em um dia e readmitida nodia seguinte, sendo certo que o acertorescisório efetivado não obsta oreconhecimento da unicidade contratual(cf. documentos de f. 17/18). Nessesentido, é o En. 20, do C. TST.

Reconhecida a unicidade docontrato de trabalho, resta-nos analisaros pedidos formulados pela reclamantecom relação ao período compreendidoentre 19.03.96 e 31.10.96. Releva notarque a reclamada não contestou ospedidos relativos a esse períodocontratual. No entanto, no que dizrespeito ao valor da remuneração daobreira, entendo deva ser mantido o valorreconhecido em primeiro grau (com aalteração do valor mensal das gorjetas,conforme recurso ordinário dareclamada), em face do princípio dairredutibilidade salarial. Não se poderiareconhecer como verdadeiro o valor daremuneração indicado na inicial, porquesuperior àquele revelado pela prova oralcolhida. Ademais, a reclamante informoureceber salário menor nos primeiros setemeses do contrato, o que tambémautoriza a manutenção da remuneraçãofixada pelo d. Colegiado de origem, qualseja, R$162,50 (valor registrado nacarteira) + R$300,00 (salário pago “porfora”) + R$400,00 (gorjetas) = R$862,50.

Diante da ausência decontestação específica, procede o pleitode horas extras decorrentes das dobrasde jornada, realizadas, naquele período,3 (três) vezes por semana, no importede 24 horas extras semanais,considerando-se a jornada de trabalhodas 12:30h às 2:45h, com intervalo de15 minutos (pedido de letra A, f. 12). A

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reclamante faz jus, ainda, ao pagamentodo adicional noturno correspondente(pedido de letra A, f. 12), computando-se a redução da hora noturna (pedidode letra C, f. 12), bem como aopagamento de 1 hora extra nos outros 3(três) dias da semana, referente aotempo despendido no acerto (pedido deletra E, f. 12). Frise-se que as parcelasora deferidas deverão ser apuradas noperíodo compreendido entre 19.03.96 e31.10.96, sendo também devidos osreflexos das horas extras sobre férias +1/3 (relativas ao período aquisitivo de 96/97), 13º salário do ano de 1996 e FGTS.Observar-se-á, na apuração, o salárioefetivamente recebido pela obreira(R$462,50), sem as gorjetas (En. 354/TST). O mesmo salário deve ser utilizadopara o cálculo do pagamento do trabalhorealizado nos feriados dos dias 01.05.96,15.08.96 e 07.09.96 (pedido de letra M,f. 13), ora deferido.

São ainda procedentes ospedidos de pagamento de diferenças deférias + 1/3 (período aquisitivo 96/97),13º salário de 1996 e FGTS, tomando-se por base a real remuneração daobreira (R$862,50) - pedidos de letras Fe H, f. 13. Todas as parcelas oradeferidas deverão ser apuradas emliquidação de sentença, compensando-se os valores pagos a idêntico título,inclusive aqueles quitados no acertorescisório de f. 17.

INTERVALO INTRAJORNADA

Restando demonstrado nosautos que a reclamante cumpriu jornadade trabalho superior a 6 horas,usufruindo apenas 15 minutos deintervalo intrajornada, faz ela jus aopagamento, como extras, dos 45 minutosrestantes do intervalo, por todo o pacto

laboral (CLT, artigo 71, caput e § 4º).Ficam deferidos os reflexos dos minutosextras sobre férias + 1/3, 13º salário,aviso prévio e FGTS + 40%.

Modifico a r. sentença tambémquanto a esse aspecto.

COMPENSAÇÃO DO VALORDE R$30,00 REFERENTE ÀS DOBRAS

A MM. Junta de origemdeterminou a compensação dasimportâncias pagas à obreira, por motivode dobra da jornada de trabalho, noimporte de R$30,00. A reclamante nãose conforma com a decisão, aduzindoque jamais recebeu esse valor.

Contudo, não lhe assiste razão.As duas primeiras testemunhasarroladas pela obreira informaram queas vendedoras recebiam R$30,00 nosdias de dobra, informação corroboradapela testemunha arrolada pelareclamada. Como se vê, a prova oralinformou procedimento praticado naempresa, não se podendo admitir quesó a reclamante estivesse excluídadessa praxe.

Nada a prover.

INDENIZAÇÃO POR DANOMORAL

Pretende a reclamante orecebimento de indenização por danomoral, em razão de ter sido proibida deir ao toalete pelo gerente da empresa,quando estava grávida, vindo a urinar nosalão de jogos de bingo, na presença detodos os clientes e demais colegas detrabalho.

Com efeito, a prova testemunhalconfirmou o fato de a reclamante terurinado, em público, no horário deexpediente. Releva notar o depoimento

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da terceira testemunha, Conceição ZéliaDutra, cliente do reclamado, que afirmounão só ter presenciado a obreira “fazendoxixi”, como também declarou que asocorreu, oportunidade em que notouque ela estava muito nervosa (f. 85).

A proibição imposta pelo chefe desala deve ser tida como excessivamenterigorosa, tendo em vista a circunstânciade a empregada se encontrar grávida.Releva notar que, embora o Direito doTrabalho não faça menção expressa aosdireitos de intimidade do trabalhador,eles são oponíveis contra o empregador,porque assegurados em preceitoconstitucional (artigo 5º, X, daConstituição da República). Não é o fatode o empregado encontrar-sesubordinado ao empregador ou de detereste último o poder diretivo que irájustificar a ineficácia da tutela àintimidade no local de trabalho, docontrário haveria degeneração dasubordinação jurídica em um estado desujeição do trabalhador.

Dessa forma, não há dúvida deque o rigor excessivo da empresa expôsa reclamante a uma situação vexatória,o que autoriza o reconhecimento do danomoral. Observe-se que o fato de aprimeira testemunha, arrolada pelaobreira, ter afirmado que desobedecia asordens do chefe, indo ao banheiroquando estava grávida, não muda oenfoque da questão. Ao contrário,verifica-se que, na realidade, areclamante levava a sério as ordens deseus superiores, revelando-se umapessoa responsável e preocupada emmanter a relação de emprego. Éinegável, portanto, a existência do malinjustamente causado à obreira.

Constatado o dano e reconhecidaa responsabilidade da empresa pela suareparação (artigo 1521, III, do Código

Civil), resta, agora, quantificá-lo. Relevanotar que, nesse tipo de reparação,busca-se “uma satisfação consistenteem determinada importância emdinheiro, capaz de compensar asangústias e aflições causadas peloevento lesivo” (REIS, Clayton.Indenização do dano moral. Forense,1999, p. 73). Dessa forma, levando-seem consideração a situação vexatória aque se expôs a reclamante, fixo aindenização no valor equivalente a vintesalários mínimos, lembrando que areparação também possui finalidadeeducativa, de molde a coibir a repetiçãode tais abusos.

Modifico a r. sentença, tambémsob esse aspecto.

Pelo exposto, dou provimento aorecurso adesivo da reclamante para,reconhecendo a unicidade do contrato detrabalho da obreira, condenar areclamada ao pagamento de horas extrasdecorrentes das dobras de jornada,realizadas 3 (três) vezes por semana, noimporte de 24 horas semanais,considerando-se a jornada de trabalhodas 12:30h às 2:45h, com intervalo de 15minutos (pedido de letra A, f. 12); adicionalnoturno correspondente (pedido de letraA, f. 12), computando-se a redução dahora noturna (pedido de letra C, f. 12); 1hora extra nos outros 3 (três) dias dasemana, referente ao tempo despendidono acerto (pedido de letra E, f. 12). Asparcelas ora deferidas deverão serapuradas no período compreendido entre19.03.96 e 31.10.96, sendo tambémdevidos os reflexos das horas extrassobre férias + 1/3 (relativas ao períodoaquisitivo de 96/97), 13º salário de 96 eFGTS. Observar-se-á, na apuração, osalário efetivamente recebido pela obreira(R$462,50), sem as gorjetas (En. 354/TST). O mesmo salário deve ser utilizado

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para o cálculo do pagamento do trabalhorealizado nos feriados dos dias 01.05.96,15.08.96 e 07.09.96 (pedido de letra M, f.13), ora deferido. São ainda procedentesos pedidos de pagamento de diferençasde férias + 1/3 (período aquisitivo 96/97),13º salário de 1996 e FGTS, tomando-se por base a real remuneração daobreira (R$862,50) - pedidos de letras Fe H, f. 13. Todas as parcelas deverãoser apuradas em liquidação de sentença,compensando-se os valores pagos aidêntico título, inclusive aqueles quitadosno acerto rescisório de f. 17. Determino,ainda, o pagamento à reclamante de 45minutos extras diários, por todo o pactolaboral, decorrentes da insuficiência dointervalo intrajornada, com reflexos sobreférias + 1/3, 13º salário, aviso prévio eFGTS + 40%, bem como da indenizaçãopor dano moral no valor equivalente a20 salários mínimos.

Acresço à condenação o valor deR$18.000,00, com custas pelareclamada no importe de R$360,00.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da 3ª Região, pelasua Segunda Turma, unanimemente, emconhecer de ambos os recursos; semdivergência, em dar provimento parcial aoda reclamada para fixar as gorjetas emR$400,00; por maioria de votos, vencidoem parte o Ex.mo Juiz Gilberto GoulartPessoa, em dar provimento parcial aoapelo adesivo da reclamante para,reconhecendo a unicidade do contrato detrabalho, condenar a reclamada aopagamento de horas extras decorrentesdas dobras de jornada, realizadas 3 (três)vezes por semana, no importe de 24horas semanais, considerando-se ajornada de trabalho das 12:30h às 2:45h,

com intervalo de 15 minutos, com oadicional noturno correspondente ecomputando-se a redução da horanoturna, e de 1 hora extra nos outros 3(três) dias da semana, referente ao tempodespendido no acerto, parcelas a seremapuradas no período compreendido entre19.03.96 e 31.10.96, com reflexostambém sobre férias + 1/3, 13º salário de1996 e FGTS, observado o salárioefetivamente recebido pela obreira(R$462,50), sem as gorjetas, utilizando-se o mesmo salário para o cálculo dopagamento do trabalho realizado nosferiados dos dias 01.05.96, 15.08.96 e07.09.96, ora deferido; para determinar opagamento de diferenças de férias + 1/3do período aquisitivo 96/97, 13º saláriode 1996 e FGTS, tomando-se por base areal remuneração da autora (R$862,50);ainda o pagamento de 45 minutos extrasdiários, por todo o pacto laboral,decorrentes da insuficiência do intervalointrajornada, com reflexos sobre férias +1/3, 13º salário, aviso prévio e FGTS +40%, bem como da indenização pordano moral no valor equivalente a 20salários mínimos, apurando-se todas asparcelas em liquidação de sentença,compensando-se os valores pagos aidêntico título, inclusive aqueles quitadosno acerto rescisório de f. 17.

Acrescido à condenação o valorde R$18.000,00, custas, pela reclamada,no importe de R$360,00.

Belo Horizonte, 02 de maio de2000.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente

ALICE MONTEIRO DE BARROSRelatora

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TRT/RO-11606/99Publ. no “MG” de 04.02.2000

RECORRENTE: ÂNGELO GABRIEL DEOLIVEIRA

RECORRIDO: ÁGUAS DO VALENÁUTICO CLUBE HOTEL

EMENTA: DIREITO COLETIVODO TRABALHO - VINCULAÇÃOSINDICAL - NORMAEMERGENTE DE FONTEJURÍGENA AUTÔNOMA -PARTICIPAÇÃO DAQUELESQUE FRUIRÃO OS EFEITOS.Princípios e postuladosirradiados da ConstituiçãoFederal e de Leis que lhe sãoinferiores são cogentes eabeberam a exegese de todasas normas em seus diversosramos ou setores, semprehavendo de se conduzir aintelecção com os pontos decontato que mantém e que ahermenêutica consagra comoobservável para a intelecção doSISTEMA JURÍDICO no seutodo encadeado, do qualresulta a harmonia. JoséAfonso da Silva doutrina aeficácia da norma jurídicacomo a “... qualidade deproduzir, em maior ou menorgrau, efeitos jurídicos, aoregular, desde logo, assituações, relações ecomportamento nelaindicados”. As circunstânciasde o Reclamante, promovidode ajudante geral parasegurança do hotel e terrealizado treinamento, nãoautorizam que as ConvençõesColetivas celebradas entre o

Sindicato das Empresas deSegurança e Vigilância doEstado de Minas Gerais e oSindicato Profissional domesmo ramo a ele se apliquem,desobrigando o Reclamado decumprir o que nelas se contém.O Recorrente não érepresentado e tampouco opólo adverso obrigado porqualquer norma coletiva de quenão participe, mesmo porquenão é a sua quadra sindical,cujo ramo é hotelaria. O vínculosocial básico encampa acategoria econômica comsolidariedade de interessesigualmente econômicos dosque empreendem atividadesidênticas, similares ou conexas(cf. inteligência da primeiraparte do artigo 511, da CLT).

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso Ordinário,oriundos da MM. 1ª Junta de Conciliaçãoe Julgamento de Uberaba, MG, em quefiguram, como Recorrente, ÂngeloGabriel de Oliveira e, como Recorrido,Águas do Vale Náutico Clube Hotel,como a seguir se expõe:

Relatório

A r. sentença de f. 101-03 julgouos pedidos improcedentes, gerando orecurso ordinário de f. 106-111.

A vexata quaestio é a quadrasindical.

Recolhimento das custasprocessuais à f. 112.

Apresentadas contra-razões às f.115-20, a Procuradoria Regional doTrabalho, através do Dr. Dennis BorgesSantana, absteve-se de exarar parecer

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circunstanciado, nos termos da LeiComplementar n. 75/93, artigo 83,incisos II e VII (f. 122).

É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Atendidos os supostos(cabimento, legitimação para recorrer,interesse em recorrer e inexistência defato impeditivo ou extintivo ao poder derecorrer, tempestividade, preparo dascustas processuais e regularidadeformal), conheço do recurso.

2. Mérito

2.1. Norma coletiva -Aplicabilidade - Atividadepreponderante da empresa

Diz o Reclamante que classifica-se como manifesto equívoco a negativado enquadramento sindical conferidopelo Colegiado de origem, porque aatividade exercida está contida nacategoria profissional diferenciada.Exerceu a função de vigilante e hásindicato da categoria profissional, masnão usufruiu dos benefícios dispostosnos respectivos instrumentos normativospor conveniência do Recorrido. Fezcurso de preparação e especialização devigilante. Conseqüência da quadraalmejada é o pagamento das horasextraordinárias, sendo que impugnou adocumentação juntada e foi aplicada aoRecorrido a pena de confissão.

Cabe-me, de início, esclarecerque o engate à norma jurídica passa aolargo da pena aplicada, que reconhecemera presunção de veracidade aos fatosarticulados no exórdio.

Riva Sanseverino lembra-me queo estabelecimento do mínimo decondições sociais em favor do contraentedecorre da intervenção e da atividadesindical, não desgravitando do enfoqueque projeta, entre os convenentes,aquele considerado, em princípio, comoeconomicamente mais débil. Motivos denatureza econômica, aliados aos denatureza social, tornam saliente atendência de o direito coletivo operarcomo se própria lei fora no âmbito dedeterminada categoria. A normaemergente de fonte jurígena autônomaperpassa convenientemente pelaparticipação daqueles que fruirão osseus efeitos.

Para mais explicitar: para aeficácia, os atos jurídicos como a forçaou o poder a eles atribuída para aprodução dos efeitos jurídicosdesejados, em sede coletiva do trabalho,não se seccionam da essencial einequívoca co-autoria de todos atoresenvolvidos nos atos que almejaram econstruíram para suportar seus reflexosno âmbito categorial. Como doutrinaGeraldo Ataliba, haverá a “aptidão paraproduzirem efeitos jurídicos”. E tais nãosão arrancados de mera volição desindicato outro encostada em cláusulaconvencional desvalida da outorga depoderes do ente envolvido. Há uma redesistêmica e harmônica no ordenamentojurídico a exigir pontos de contato paraa observância do operador jurídico,visando à produção desses efeitos.

Não é por acidente, portanto, quea negociação coletiva objetiva acelebração de uma convenção (ouacordo coletivo de trabalho) de caráternormativo, para a estipulação decondições de trabalho, no âmbito dasrespectivas representações às relaçõesindividuais de trabalho. A distinção entre

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ambos fica à conta das partesconvenentes (entidades sindicais ou,conforme o caso, entidade sindical eempresa). Regra geral da celebração éa participação do sindicato, tantopatronal como profissional, pois a elecabe a defesa dos interesses coletivos(cf. artigo 8º, da CF). E o aspecto estáem remansosa jurisprudência com aedição da orientação n. 55, da i. Seçãode Dissídios Individuais.

A Convenção Coletiva se aplica,portanto, às categorias representadaspelos sindicatos convenentes. Essa aprimeira premissa.

O objeto social nuclear daReclamada congraça atuação na área decomércio hoteleiro e similares.

No Brasil, os sindicatosorganizados por profissão (horizontais)correspondem aos das categoriasprofissionais diferenciadas, enquanto osverticais seriam os das demaiscategorias profissionais, tudo de acordocom expressa imposição legal (CLT,artigo 511, §§ 3º e 2º respectivamente).

A nossa lei, perfilhando a doutrinafrancesa, admite sindicatos constituídosmediante critérios de identidade etambém similaridade e conexidade deprofissões, exigindo, quando nada, certacomunhão de interesses ou pontos decontato. O artigo 511, da CLT, nessalinha, refere-se a “vínculo social básico”e “expressão social elementar”, cuidandode apontar a profissão exercida pelosempregadores. É assim que SayãoRomita completa doutrinando: “... aexpressão elementar compreendidacomo categoria profissional é compostapela similaridade de condições de vidaoriunda da profissão ou trabalho emcomum, em situação de emprego: a) namesma atividade econômica; b) ematividades econômicas similares ou

conexas”. Aí cuidam-se dos empregados,dos que vivem do emprego, dos queexercem “profissão ou trabalho emcomum, em situação de emprego”. Esseemprego pode ser exercido na mesmaatividade econômica (atividade idêntica)e bem assim em atividades econômicassimilares ou conexas.

Em nosso País não se definiu,porém, de modo sistemático aespecialização profissional nem sefixaram critérios de formaçãoprofissional. Daí a necessidade de sedefinir categoria profissionaldiferenciada, o que constitui o objeto doartigo 511, § 3º: “... é a que se formados empregados que exerçamprofissões ou funções diferenciadas porforça de estatuto profissional especialou em conseqüência de condições devida singulares”. “Constituem categoriasdiferenciadas os condutores deveículos, os vendedores, os cabineirosde elevadores etc.” (ibidem, pp. 200-201)

Foi precisa a r. sentença a quo

ao excluir o Autor da categoriadiferenciada, eis que a atividadeprofissional é vertida para empresa, cujaatividade preponderante é a hotelaria.

Este Órgão teve ensejo deapreciar matéria análoga, quando dosjulgamentos dos RO-12.210/96 e RO-12.213/96, pelo que me permitotranscrever excertos da consentânea eprevalente fundamentação deste comorazão complementar de decidir aespécie:

“No Brasil vigora, comodogma, a unicidade sindical.Nesta, nenhuma organizaçãosindical representa além da suaprópria categoria. Aliás, é o queestá disposto na Constituição

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Federal (artigo 8º, II), quandoassinala a imperatividade dasentidades sindicais profissionaise econômicas necessariamentecorresponderem às suascategorias, sem poderemextrapolá-las ou alcançarem, notodo ou em parte, outrascategorias.

Como se vê, não se tratade vontade ou interesse.Representação sindical équestão legal, indisponível, porisso mesmo captadora daobservação que fiz no sentido deacerca dela não se poder falar emfaticidade e em confissão.

Na sistemática cogente daunicidade sindical, a únicacategoria que interpenetra emtodos os segmentos deempregadores (que tanto são osexercentes de atividadeeconômica, como os que a estanão professam - artigo 2º, CLT) éa diferenciada.

Mas, daí, aplicar-se aesse empregador que não émembro da categoria econômicados estabelecimentos de ensinoas normas coletivas RESTRITASàs relações das escolasparticulares e seus professoresvai enorme distância. Porque asnormas acostadas nos autos coma inicial dizem respeito estrito aestes seus únicos destinatários,diante do que, d.v., nãocomportam extensão por vontadeou interesse dos Entes Sindicaisque nelas figuram.”

Por isso, o ordenamento nãoconcede voluntarismo aoenquadramento.

Tenho pontificado o prevalenteentendimento jurisprudencial, aliásconsentâneo com o ordenamentoconstitucional (artigo 8º), que impõe aunicidade sindical e apreendeestritamente, no sistema verticalizadoconfederativo, categorias (profissionaise econômicas), no sentido da vinculaçãosindical não ser alvo de vontade ouescolha e, sim, decorrência deenquadramento que é automático: aatividade da empresa/empregadoraretrata sua inserção numa dadacategoria econômica e substantifica suavinculação à Entidade Sindical que arepresenta; no prisma obreiro, oempregado integra a categoriaprofissional correspondente à atividadeda empregadora.

Como precisamente doutrina J.J.Gomes Canotilho (Fundamentos da

Constituição, 1991, p. 71), os princípiosconstitucionais são o cerne daConstituição, onde reside a suaidentidade, a sua alma.

Para tanto afirmar comsegurança, valho-me da autoridade deArnaldo Süssekind e Délio Maranhão,que excepcionam os profissionaisliberais, trabalhadores autônomos eempregados integrantes de categoriasprofissionais diferenciadas, deixandobem claro que “... o vínculo social básicodeterminante do enquadramento sindicaldas empresas e entidadesempregadoras que lhes são equiparadasé sempre ditado pela natureza dorespectivo empreendimento, o qualestabelece a solidariedade e dosinteresses comuns configuradores dacategoria econômica”.

Diante disso, o teor normativo-obrigacional das convenções coletivascelebradas pelo Sindicato às f. 63-90 sãoauto-aplicáveis.

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Desse panorama normativo aoartigo 570, o desdobramento da linhalógica é força que se impõe naturalmente,consagrando a justaposição simétricaentre atividades (do empreendimento) eprofissões (dos empregados).

Inexistindo a vinculação obrigacionalda incidência dos instrumentos coletivos,por si, à ilegitimidade de representaçãodo Ente Sindical patronal firmatário - comolongamente foi exposto -, não há comotutelar o interesse da parte autora,ficando claro que a quadratura normativadesapercebe-se da alegação de critériomais vantajoso. Importa mais a normajurídica perfectibilizada no direito coletivodo trabalho.

O Reclamante foi contratado comoajudante geral, passando, em julho de1996, a segurança (f. 13 e recibos de f. 59e seguintes) e não vigilante, coisa diversa.É que, nos termos da Lei n. 7.102/33 comas alterações perpetradas pela Lei n.8.863/94, o Autor não pode serenquadrado na categoria profissional dosVigilantes, também porque basicamenteobservava a movimentação dosfreqüentadores do hotel, cuidava daportaria da empresa identificando pessoas,podendo reter objetos e pessoas quefreqüentavam o clube, o que nãoeqüivale, d.v., a policiamento ostensivo,sendo simples segurança, derivado dafunção primitiva de ajudante geral.

A prova oral colhida informa queo Recorrente sequer portava arma (f. 99).

Ademais, não há sequer notíciade implantação do sistema privado devigilância.

Apreendo como tese do julgado:Princípios e postulados irradiados

da Constituição Federal e de Leis quelhe são inferiores são cogentes eabeberam a exegese de todas as normasem seus diversos ramos ou setores,

sempre havendo de se conduzir aintelecção com os pontos de contato quemantém e que a hermenêutica consagracomo observável para a intelecção doSISTEMA JURÍDICO no seu todoencadeado, do qual resulta a harmonia.José Afonso da Silva doutrina a eficáciada norma jurídica como a “... qualidadede produzir, em maior ou menor grau,efeitos jurídicos, ao regular, desde logo,as situações, relações e comportamentonela indicados”. As circunstâncias de oReclamante, promovido de ajudantegeral para segurança do hotel e terrealizado treinamento, não autorizamque as Convenções Coletivascelebradas entre o Sindicato dasEmpresas de Segurança e Vigilância doEstado de Minas Gerais e o SindicatoProfissional do mesmo ramo a ele seapliquem, desobrigando o Reclamado decumprir o que nelas se contém. ORecorrente não é representado etampouco o pólo adverso obrigado porqualquer norma coletiva de que nãoparticipe, mesmo porque não é a suaquadra sindical, cujo ramo é hotelaria.O vínculo social básico encampa acategoria econômica com solidariedadede interesses igualmente econômicosdos que empreendem atividadesidênticas, similares ou conexas (cf.inteligência da primeira parte do artigo511, da CLT).

Prosseguindo, o Recorrenteentende devidas as extraordináriasdesbordantes da 44ª hora semanal,afirmando que o Recorrido não observouo regime de compensação de horasdisposto na cláusula 16ª, da CCT,categoria dos vigilantes, anexada com ainicial, mas o Recorrido não se sujeita,como visto, à convenção coletiva em quenão participou, nos termos da orientaçãojurisprudencial n. 55, da SDI.

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O primeiro efeito da pena deconfissão não é acionado se oselementos dos autos enunciam averdade real, objetivo precípuoperseguido pelo Estado jurisdicional, ese se impõe a quadratura normativa.

A impugnação documental genéricanão desafiou a falsidade ideológica, nostermos dos artigos 388 e 389, do CPC.

Como os instrumentos juscoletivos,vindos com a defesa e celebrados comsindicato que representa a categoriaprofissional do Reclamante, prevêemcompensação de horas excedentes nasemana, incluindo domingos e feriadoslaborados, cabia ao Recorrente apontar,ainda que por amostragem e que fosseesse o objeto da lide, possíveis diferenças.

Assim não agindo, o apelo nãotraz elemento a derruir os elementos deconvicção utilizados consentaneamenteno juízo a quo, que, por convergênciade entendimentos, mantenho.

3. Conclusão

Conheço do recurso; no mérito,nego-lhe provimento.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Primeira Turma,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer do recurso; no mérito, semdivergência, em negar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 06 de dezembrode 1999.

EMÍLIA FACCHINIPresidente e Relatora

TRT/AP-106/00Publ. no “MG” de 31.05.2000

AGRAVANTE: HILARINO MAIA DA SILVAAGRAVADOS: JOSÉ DE LIMA GEO

FILHO (1)BG PECUÁRIA E AGRICULTURALTDA. E OUTRA (2)

EMENTA: O artigo 10, doDecreto 3.708/19, estabelece aresponsabilidade dos sóciospelas obrigações contraídas emnome da sociedade, peranteterceiros, em caso de violaçãodo contrato ou de lei. Dado ocaráter alimentar do créditotrabalhista, tem supremacia naexecução trabalhista oprincípio da desconsideraçãoda personalidade jurídica dasociedade, firmado com base noartigo 28, da Lei 8.078/90, c/c oartigo 135, do CTN, e o princípioda imputação exclusiva dorisco do empreendimentoeconômico ao empregador,artigo 449, da CLT. Em razãodos princípios referidos e semêxito todos os esforços para seexecutar os bens da sociedade,é legítima a participação dosócio-gerente da sociedade.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos, DECIDE-SE:

RELATÓRIO

Insurge-se o agravante contra adecisão de f. 128/129, complementadapela de Embargos de Declaração, f. 134/135, que julgou procedentes osembargos à execução interpostos porJosé de Lima Geo Filho.

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Argúi a nulidade da r. decisão,alegando que não foi analisada apreliminar de não conhecimento dosembargos à execução, argüida emcontraminuta, em face de não seencontrar garantida a execução; nomérito, pugna pela legitimidade passivado embargante para responder pelaexecução e pela subsistência dapenhora de f. 64/68.

Pede provimento.Não há contraminuta.A d. Procuradoria Regional do

Trabalho manifesta-se, à f. 152, atravésda sua i. Procuradora Ângela Maria G. E.M. de Magalhães Pinto, dizendo que nãohá interesse público capaz de justificara intervenção do Ministério Público doTrabalho e ressalva sua manifestação emsessão de julgamento ou em qualqueroutra fase do processo, nos termos doartigo 83, e incisos da Lei Complementarn. 75, de 20 de maio de 1993.

É o relatório.

VOTO

Inicialmente, determino àSecretaria da Turma que registre àcontracapa dos autos como primeiroagravado o Sr. José de Lima Geo Filho.

ADMISSIBILIDADE

A decisão é recorrível e o apeloé adequado e tempestivo, subscrito poradvogado habilitado e com poderesconferidos nos autos.

Conheço do agravo.

PRELIMINAR DE NULIDADE DADECISÃO AGRAVADA

Diz o agravante que a r. decisãoatacada é nula porque não considerou a

preliminar de não conhecimento, argüidana contraminuta de embargos àexecução, em face de não se encontrargarantida a execução e também porqueforam recebidos os embargos àexecução, embora o MM. Juízo daexecução tivesse entendido que haveriade ter sido impetrado embargos deterceiro, sendo inaplicável in casu oprincípio da fungibilidade.

Razão não lhe assiste.Em primeiro lugar, é de se notar

que os embargos de declaraçãointerpostos à decisão de embargos àexecução, embora tenham sido julgadosimprocedentes, examinaram a preliminarde não conhecimento dos embargos àexecução, argüida pelo ora agravante,inclusive citando o douto HumbertoTheodoro Júnior, in Processo de

Execução, 7ª Edição, ed. LivrariaUniversitária de Direito, 1983, p. 353, queensina “A circunstância porém, de osbens encontrados não serem suficientespara o resgate integral da dívidaajuizada, não impede nem oprosseguimento da execução nem aoposição de embargos do devedor.”

Portanto, foi sanada a omissãoapontada pelo ora agravante, em sedede embargos de declaração, conformea r. decisão de f. 134, que fundamentouo conhecimento dos embargos àexecução propostos por José de LimaGeo Filho, não merecendo ser anuladaa r. decisão neste particular.

Com relação ao segundoargumento do agravante, a r. decisão def. 129 disse en passant que oembargante deveria ter ajuizadoembargos de terceiro, uma vez que argúisua ilegitimidade passiva, contudo, nãovislumbrou a impossibilidade jurídica dese analisar a matéria em sede deembargos à execução.

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Também nesse aspecto nãoexiste a nulidade alegada peloagravante, havendo de se notar que omesmo ao impugnar os embargos àexecução nada alegou sobre talpeculiaridade. Aliás, bate-se pelalegitimidade passiva do agravado, o quede per se já denota a propriedade dosembargos à execução apresentados.

Rejeito.

MÉRITO

Da legitimidade passiva doagravado José de Lima Geo Filho

Os autos deste processo cuidamda ação trabalhista proposta pelo oraagravante contra BG Pecuária eAgricultura Ltda., e Santa Raquel Pecuáriae Empreendimentos Ltda., empresas comas quais manteve vínculo empregatíciono período de 02.07.90 a 07.10.96.

Ambas foram julgadas econdenadas à revelia, conforme a r.sentença de f. 14/16. Iniciado o processode execução, as reclamadas sequerforam localizadas, conforme sedepreende das certidões de f. 47 e 59,até que se chegou ao sócio-gerente daprimeira reclamada, o Sr. José de LimaGeo Filho, através de informações daJunta Comercial do Estado de MinasGerais, documento de f. 68.

Notificado para informar sobre osbens das executadas, o primeiroagravado sequer foi encontrado,conforme certidão de f. 64/v, até que commuita persistência chegou-se àresidência do mesmo para a penhora dosbens discriminados às f. 94/98.

Nos embargos à execução de f.100/101, o ora primeiro agravado diz quea segunda reclamada atualmenteresponde pelos débitos da segunda.

Junta o contrato social de f. 101/104 da segunda reclamada, através doqual se constata que o segundo e o terceirosócio são filhos menores do agravado epor este representados, permanecendona sociedade após as outras alterações,noticiadas pelos contratos de f. 105/106,ocorridas em 1997.

Por outro lado, o contrato socialde f. 108/115, datado de 01.10.93, revelaque não se trata de empresa de pequenoporte e que é sócio-gerente da referidaempresa o Sr. José de Lima Geo Filho,primeiro agravado.

Emerge da referida provadocumental, portanto, que o primeiroagravado é o real representante dasegunda reclamada, quem responde pelosdébitos, inclusive, da primeira reclamada,conforme ele próprio declara em suasrazões de embargos à execução.

É clara a relutância das empresasagravadas em quitar os débitos doexeqüente, o que torna o primeiroagravado, representante legal dasmesmas e portanto responsável por talinadimplência, parte legítima para figurarno pólo passivo desta execução, nostermos do artigo 10, do Decreto 3.708/19,que estabelece a responsabilidade dossócios pelas obrigações contraídas emnome da sociedade, perante terceiros emcaso de violação do contrato ou de lei.

Dado o caráter alimentar do créditotrabalhista, tem supremacia na execuçãotrabalhista o princípio da desconsideraçãoda personalidade jurídica da sociedade,firmado com base no artigo 28, da Lei8.078/90, c/c o artigo 135, do CTN, e oprincípio da imputação exclusiva do riscodo empreendimento econômico aoempregador, artigo 449, da CLT.

Em razão dos princípios referidos esem êxito todos os esforços para seexecutar os bens da sociedade, é legítima

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a participação do agravado José de LimaGeo Filho, na condição de sócio-gerenteda sociedade, devendo ser mantido no pólopassivo da execução, merecendo serreformada a r. decisão atacada nesse ponto.

Conseqüentemente, fica mantida apenhora já realizada nos autos, às f. 94/98.

CONCLUSÃO

Isto posto, conheço do agravo,rejeito a preliminar de nulidade da r.decisão atacada e, no mérito, dou-lhetotal provimento, para declarar o primeiroagravado, José de Lima Geo Filho, partepassiva legítima para figurar nestaexecução e, em conseqüência, declararsubsistente a penhora de f. 94/98.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, em Sessão Ordinária da suaSegunda Turma, unanimemente, emdeterminar seja registrado como primeiroagravado José de Lima Geo Filho; semdivergência, em conhecer do apelo e emrejeitar a preliminar de nulidade; ainda àunanimidade, em dar provimento aoagravo para declarar o primeiro agravadoparte passiva legítima para figurar nestaexecução e, em conseqüência, emdeclarar subsistente a penhora de f. 94/98.

Belo Horizonte, 16 de maio de2000.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente

LUCILDE D’AJUDA LYRA DEALMEIDARelatora

TRT/RO-13297/99Publ. no “MG” de 26.02.2000

ORIGEM: 6ª JCJ DE BELO HORIZONTERECORRENTE: ELCIENE RACHEL

JUNHO PEREIRARECORRIDO: QUARTACOR LTDA

EMENTA: GESTANTE -ESTABILIDADE PROVISÓRIA -AÇÃO JUDICIAL PROPOSTA UMANO APÓS A COMPROVAÇÃODA GRAVIDEZ - IMPROCEDÊNCIA.Comprovado nos autos que areclamante desconhecia seuestado gravídico no momentoda sua dispensa imotivada,vindo a postular a garantia deemprego cerca de um ano apósa extinção do contrato laboral,deixando transcorrer,injustificadamente, o períodorelativo à estabilidade provisória,mostra-se improcedente opedido das vantagenspecuniárias correspondentes àestabilidade provisória e seusconsectários, por importar talcomportamento em exercícioabusivo do direito de ação, umavez que desviado da finalidadedo instituto jurídico, que é amanutenção do emprego.

Vistos, discutidos e relatadosestes autos de Recurso Ordinário, emque figuram como recorrente, ElcieneRachel Junho Pereira e, como recorrido,Quartacor Ltda.

I - RELATÓRIO

Contra a r. sentença de f. 33/34,prolatada pela MM. 6ª JCJ de BeloHorizonte-MG, sob a presidência da

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Juíza do Trabalho, Drª Sueli TeixeiraMascarenhas Diniz, que julgouimprocedentes os pedidos deduzidos napresente reclamação trabalhista, recorreordinariamente a reclamante, às f. 35/38, postulando o pagamento de saláriosrelativos ao período da estabilidadeassegurada no art. 10, II, “b”, do ADCT.

Contra-razões às f. 39/43.Parecer do douto MPT da lavra

do i. Procurador do Trabalho José Diamirda Costa, opinando pelo prosseguimentodo feito, nos termos da LC n. 75/93 (f.44).

É o relatório.

II - VOTO

1. Juízo de admissibilidade

Satisfeitos os pressupostos deadmissibilidade, conheço do recurso.

2. Juízo de mérito

2.1. Estabilidade provisória -Gestante

Insurge-se a reclamante contra av. sentença hostilizada que julgouimprocedentes os pedidos formulados napresente reclamação trabalhista comarrimo no art. 10, II, “b”, do ADCT. Alegaque a estabilidade provisória estáassegurada por preceito constitucional,sendo prescindível o conhecimento dagravidez pelo empregador, a qual poderiater vindo à tona quando do examedemissional não realizado pela reclamada.Finalmente, afirma que ingressou emjuízo dentro do prazo prescricional.

Sem razão a recorrente, pois,segundo análise das provas produzidasnos autos, a reclamante, dispensada em22.04.98, não conhecia seu estado

gravídico, até porque provavelmenteengravidara no início daquele mês, tendoem vista que o atestado médico de f. 22informa que a última menstruaçãoocorrera em 25.03.98. Ademais, o únicodocumento que comprova o estadogravídico da reclamante é o exame deecografia obstétrica de f. 24/25, realizadoem 26/06/98, meses após a rescisão docontrato de trabalho.

Ora, a confirmação da gravidez,circunstância prevista no art.10, II, “b”, doADCT da CR, de fato não faz letra mortada tese jurídica que liga a garantia deemprego da gestante ao fato objetivo daconcepção, contudo, imprescindível quea gravidez seja comunicada aoempregador, seja no curso do contrato, porocasião da notificação da dispensa oumesmo no curso do aviso prévio, ou atémesmo, com maior liberalidade, algunsmeses após a extinção do pacto laborativo.

Com efeito, a empregada nãotutelou com eficácia o direito do qualacreditava ser possuidora, pois segundose observa a mesma somente veio ajuízo ao final do período da garantia deemprego, ou seja, após um ano da suadispensa, com a finalidade única de obteras vantagens pecuniárias da referidaestabilidade provisória e não areintegração no emprego, inclusiveporque, colocado o emprego àdisposição da recorrente, a mesma orecusou injustificadamente.

Assim, ainda que prepondere ocritério objetivista na hipótese da garantiade emprego prevista no art. 10, II, “b”, doADCT, mostra-se razoável a restrição dagarantia de emprego àquelas hipótesesem que a empregada efetivamente vemconhecer de seu estado gravídico, sejano curso ou algum tempo após aextinção do pacto laboral, seja no cursodo aviso prévio, afastando o alegado

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direito postulado, quando a garantia deemprego somente é invocada apósdecorridos vários meses do término docontrato, comportamento obreiro esseque importa em nítido exercício abusivodo direito de ação, porque desviado dafinalidade do instituto jurídico, que é amanutenção do emprego.

Mantém-se a v. sentença de 1ºgrau por seus próprios e jurídicosfundamentos.

III - CONCLUSÃO

Conheço do recurso e, no mérito,nego-lhe provimento.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso; no mérito, sem divergência,negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 09 de fevereiro de2000.

MARCUS MOURA FERREIRAPresidente e Relator

TRT/HC-49/99Publ. no “MG” de 28.01.2000

PACIENTE: ELOÍNA DUARTEPEIXOTO

IMPETRADO: JUIZ DA VARA DOTRABALHO DE TEÓFILO OTONI

EMENTA: HABEAS CORPUS -ATO DO JUIZ DA VARA DOTRABALHO - COMPETÊNCIA.“Embora a atividade dos trêsPoderes se inter-relacione,dado que o desempenho de um

se relaciona com o de outro, aregra constitucional é a daindelegabilidade de atribuições.[...]A independência supreseparação, sendo ilógico suporque, separadas as funções eentregues a órgãos distintospor uma vontade, soberana(Assembléia Constituinte) e,portanto, acima da vontade dosórgãos criados, possam eles, aseu critério, delegar atribuições,uns para os outros”.A intelecção atributiva dacompetência prevista no art.108, I, “d”, da CF-88, é herméticae alcança estritamente o JuizFederal da Justiça Federal deprimeiro grau.Tratando-se de ato praticado emprocesso trabalhista, via do qualo Juiz da Vara do Trabalhodetermina a apresentação dosbens penhorados, pena de prisãodo depositário, o habeas corpusdeve ser impetrado e julgado peloTribunal Regional do Trabalho,diante de a este estar atribuída,com exclusividade, acompetência para a apreciação.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de HABEAS CORPUS

apresentados por Eloína Duarte Peixoto,como Paciente, sendo Impetrado o MM.Juiz da Vara do Trabalho de Teófilo Otoni(EC 24/99), como a seguir se expõe:

RELATÓRIO

Eloína Duarte Peixoto impetra,em seu proveito, ordem de habeas

corpus preventivo, alegando-se naiminência de sofrer coação ilegítima em

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sua locomoção, por ato do Juiz que, naPresidência da então Junta deConciliação e Julgamento de TeófiloOtoni, lhe intimou para apresentar ossemoventes penhorados na execuçãoda ação trabalhista movida por NilsonAlves Ribeiro contra Geraldo SchuffnerRodrigues (processo n. 112/96).

Aduz que Oficial de Justiça doJuízo, na Fazenda Serenata,pertencente ao executado, penhoroualgumas reses, gado que pertenceria aoarrendatário do imóvel, Sr. GeraldoMagela Dupim Leão. Não encontrando,no local, o reclamado, ao deparar-se coma paciente - “que estava a passeio nafazenda daquele Sr.” (dizendo-se amigaíntima do Dr. Geraldo SchuffnerRodrigues - f. 02) -, intimou-a comodepositária, quando se recusou a assinaro termo.

O ato de ofício que lhe arremeteuà posição de depositária, sem que a tantose comprometesse, rendeu-lhe serintimada, tanto quanto o executado, paraapresentação do gado, ou seuequivalente em dinheiro, sob pena deprisão por depósito infiel.

A fim de não sofrerconstrangimento, “sendo atirada apromiscuidade de uma prisão e paraevitar que uma mulher carente,trabalhadora e honesta tenha seu nomemaculado por uma prisão completamenteilegal”, pede a concessão liminar daordem, expedindo-se-lhe salvo-conduto.

Com a inicial, cópia do despachode 15.07.99, em que a Autoridadeapontada como coatora afirma oentendimento da legitimidade do auto depenhora lavrado, com nomeação dedepositário do bem consoante art. 665,IV, do CPC, diante do que desnecessáriaa assinatura do mesmo, bastando aciência.

Considerando a condição deesposa de fato do executado, o queapreende a administração comum dosbens, timbrando a procrastinação dasolução definitiva da decisão transitada emjulgado, dispôs a intimação da depositáriae do executado, por mandado, “... para quecoloquem à disposição deste Juízo osbens penhorados ou o seu equivalenteem dinheiro, em 05 dias, sob pena deimediata prisão da depositária infiel”.

As informações foram prestadasao Relator, pelo mesmo meio em queImpetrado o pedido da ordem, tendo o MM.Juiz Newton Gomes Godinho dado contade anterior impetração de habeas corpus

em face do mesmo ato, pela mesmaPaciente, perante o Eg. Tribunal de Alçadade Minas Gerais, o qual declinou dacompetência para o Eg. Tribunal RegionalFederal, quando acrescentou oencaminhamento do que foi declinado pelosubscritor do despacho, ao ensejo dorelato pertinente àqueles autos.

Enviou cópia de ata da audiênciade 15.07.99, em que a ora Impetrante,presente, reconheceu “... que a mesmaconvive maritalmente com o executadohá oito anos, residindo com o mesmoatualmente, entendendo não ser adepositária do bem”.

Manifestação do MinistérioPúblico do Trabalho, pelo Dr. JoaquimRodrigues Nascimento, opinando peloconhecimento e denegação da ordem.

É o relatório.

VOTO

1. Competência e litispendência

Duas questões se apresentampara imediato deslinde, dizendo respeitoà competência e à impetração de outrohabeas corpus preventivo.

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Percebe-se que essas ficamapreendidas, em vista daqueloutraimpetração perante o Eg. Tribunal deAlçada do Estado de Minas Gerais, edesse ter pronunciado a declinação doexame para o Eg. Tribunal RegionalFederal (TAMG, 1ª Câmara Criminal,proc. HC 289.504-7, acórdão de08.09.99, enviado ao Impetrado peloofício 1325/99, e recebido em 05.10.99- f. 20/23).

A Emenda 16/65 acresceu àConstituição Federal de 1946 a alínea “b”ao inciso I, do art. 104, quando previu acompetência do Tribunal Federal deRecursos para processar e julgaroriginariamente os habeas corpus quandoa autoridade coatora for Juiz Federal.

Lembrada a criação da JustiçaFederal (Lei 5.010/66), vê-se aConstituição de 1967 afirmando talatribuição no art. 117, I, “c”, emborapautando outros agentes além do JuizFederal, o que persistiu com a Emenda07/77 (no art. 122, I, “d”), enquanto aCarta de 1988 dispõe, no art. 108, I, “d”,a competência dos Tribunais RegionaisFederais para processar e julgar,originariamente, “os habeas corpus,quando a autoridade coatora for juizfederal.”

O que se indagaria é se o JuizFederal aí plasmado seria todoMagistrado da União, ao que, d.v.,respondo negativamente.

Antes que tudo, a visãosistemática, adequada ao alcanceconstitucional, até mesmo diante de seusprincípios e de suas disposições.

No Capítulo III, Seção I(disposições gerais), o art. 92, os incisosIII e IV reconhecem órgãos do PoderJudiciário os Tribunais RegionaisFederais e Juízes Federais e osTribunais e Juízes do Trabalho.

Na Seção II, há enunciaçãoconcernente ao Supremo TribunalFederal; na Seção III, cuida do SuperiorTribunal de Justiça.

Na Seção IV, versa “Dos TribunaisRegionais Federais e dos Juízes Federais”,dispondo no art. 106, I e II, serem órgãosda Justiça Federal os TribunaisRegionais Federais e os Juízes Federais.

No art. 108, competência de TRFe, no art. 109, a de Juízes Federais,neste havendo expressa exclusão deações “... sujeitas [...] à Justiça doTrabalho” (inciso I).

Aí segue-se a Seção V, acercados Tribunais e Juízes do Trabalho, paraestabelecer, no art. 114, última parte, acompetência desta Especializada parao decorrente ou com origem “... nocumprimento de suas própriassentenças...”.

Lembra o e. MENDONÇA LIMA:“a possibilidade de exercer a jurisdiçãoem um caso concreto” define acompetência, e esta se dá “segundo aatribuição conferida em lei ao órgãojudiciário, obedecidos os critériosdeterminativos”.

No vértice, conforme o Prof.MICHEL TEMER (Elementos de Direito

Constitucional, Malheiros Editores, 9ªed., 1992), a independência entre osPoderes, com pressuposto na

“[...] circunstância de cada Poderhaurir suas competências noTexto Constitucional. Nenhumanorma infraconstitucional podesubtrair competências que foramentregues pelo constituinte”,

com fundo arremate:

“Embora a atividade dos trêsPoderes se inter-relacione, dado

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que o desempenho de um serelaciona com o de outro, a regraconstitucional é a daindelegabilidade de atribuições.[...]A independência supre separação,sendo ilógico supor que,separadas as funções e entreguesa órgãos distintos por umavontade, soberana (AssembléiaConstituinte) e, portanto, acimada vontade dos órgãos criados,possam eles, a seu critério,delegar atribuições, uns para osoutros”. (ob. cit., p. 113)

Trata-se de ato do Estadolegislando sobre si mesmo (MIRANDA,Pontes de. Comentários à Constituição

de 1967 com a Emenda n. 1 de 1969,Forense, 1987, p. 110).

É dizer, com o pronunciamentoda Suprema Corte (RE 141050-7-SP,Min. Marco Aurélio, DJ 27.06.97,Ementário STF 1875-07):

“A definição da competência, seda Justiça do Trabalho ou daJustiça Comum, consideradosdireitos resultantes da relaçãojurídica, decorre da naturezadesta última.”

Cumpre observar, com CELSOBASTOS (Curso de Direito

Constitucional, Saraiva, 18ª ed., 1997):

“A estrutura da justiça brasileiradeve ser estudada levando-se emconta dois aspectos: de um lado,em decorrência da forma federalde Estado, a justiça se divide emfederal e estadual; de outro, emrazão da competência outorgadapela Constituição, temos a justiça

comum e a justiça especializada.Tanto a justiça federal quanto aestadual se bipartem em comume especializada. A esta incumbea prestação jurisdicional relativaàs matérias: militar, eleitoral etrabalhista. A justiça comum étoda aquela remanescente dajustiça especializada. Não sendoespecializada, é comum. [...]

Justiça federal comum - éexercida em primeiro grau dejurisdição pelos juízes federais.[...] Em segundo grau dejurisdição a justiça federal comumé exercida pelos TribunaisRegionais Federais [...].

Justiça federal especializada:

Justiça Militar - [...]

Justiça Eleitoral - [...]

Justiça do Trabalho - [...]”.

Desse modo, a intelecçãoatributiva da competência prevista no art.108, I, “d” / CF-88, é hermética e alcançaestritamente o Juiz Federal da JustiçaFederal de primeiro grau.

Tratando-se de ato praticado emprocesso trabalhista, via do qual o Juizda Vara do Trabalho determina aapresentação dos bens penhorados,pena de prisão do depositário, o habeas

corpus deve ser impetrado e julgado peloTribunal Regional do Trabalho, diante dea este estar atribuída, com exclusividade,a competência para a apreciação.

No leito da repetição da medidaintentada, colho da jurisprudência daSuprema Corte (v.g., HC-77909-DF, Min.MOREIRA ALVES, DJ 12.03.99; HC-

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69003-SP, Min. CARLOS VELLOSO, DJ07.02.92) situar-se a litispendência no bis

in idem de ações penais em curso,dizendo respeito ao mesmo réu e pelomesmo fato a ele imputado.

Daquele primeiro apontado,ainda extraio o que tem a ver com aprimeira questão resolvida:

“[...] argüida a exceção delitispendência, se resolve,quando ambos os juízes sãocompetentes, pela prevenção emfavor daquele que tiverantecedido ao outro ‘a prática dealgum ato do processo ou demedida a este relativa, ainda queanterior ao oferecimento dadenúncia ou da queixa (artigo 83,do CPP) - ...”.

Habeas corpus é ação - vale alição de PONTES DE MIRANDA:

“O pedido de ‘habeas corpus’ épedido de prestação jurisdicionalem ação, cuja classificaçãomostraremos mais tarde. A ação ép r e p o n d e r a n t e m e n t emandamental. Nasceu assim oinstituto. Os dados históricos no-loprovarão. Não se diga (a economiaseria imperdoável) que se trata derecurso. A pretensão não érecursal. Nem o foi, nem o é. Éação contra quem violou ouameaça violar a liberdade de ir,ficar e vir. Talvez contra aautoridade judiciária. Talvez contratribunal.” (História e prática do

habeas corpus, apud EnciclopédiaSaraiva, v. 40, p. 374)

Esse instituto de direitoprocessual constitucional (MARQUES,

Frederico. Elementos de direito

processual penal, Rio de Janeiro, 1965,v. 4) visa garantia a direito individualfundamental, a liberdade, e a tônicajurisprudencial pauta a admissibilidadede sua repetição, embora com fatos oufundamentos outros.

No caso em exame, o cerne damatéria é um mesmo, como postonaqueloutro e aqui, mas a diferençafulcral encaminha o sinal do exame dopresente em face da competência destaEspecializada, em função do ato irrogadoser originário do cumprimento desentença e em processo do trabalho.

A questão da competência, aliás,vinha posta pelo art. 649, do CPP(Decreto-lei 3.689/41): “O juiz ou otribunal, DENTRO DOS LIMITES DA SUAJURISDIÇÃO, fará passar imediatamentea ordem impetrada, nos casos em quetenha cabimento, seja qual for aautoridade coatora.” Também no § 2º, doart. 654: “Os juízes e os tribunais têmcompetência para expedir de ofício ordemde habeas corpus, quando no curso deprocesso verificarem que alguém sofre ouestá na iminência de sofrer coação ilegal.”O art. 661 pauta: “Em caso decompetência originária do Tribunal deApelação, a petição de habeas corpus

será apresentada ao secretário, que aenviará imediatamente ao presidente dotribunal, ou da câmara criminal, ou daturma, que estiver reunida, ou primeirotiver de reunir-se.” E vem o art. 666: “Osregimentos dos Tribunais de Apelaçãoestabelecerão as normascomplementares para o processo ejulgamento do pedido de habeas corpus

de sua competência originária.”Com isso, destacando a

competência privativa originária desteRegional e desta Turma (previsãoregimental), tenho que é mesmo

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necessário afastar-se aquela que seriaa idéia da litispendência, já que essa frisaa reiteração em juízos com igualcompetência, do que, d.v., não se cuida.

Em vista disso é que ressalto asuperação daquelas duas questões,diante do que prossigo no exame domerecimento do pedido.

2. Mérito

A primeira verificação necessáriaé a de que a Impetrante, ao contrário doaduzido na inicial, ao invés de amigaíntima do executado naquela açãotrabalhista, com ele vive maritalmente(ata, f. 18), o que atrai, com facilidade, aconcepção da Constituição Federal de1988 quanto ao núcleo entidade familiar(§ 3º, art. 226).

Disso decorre, d.v., a maisabsoluta improcedência da premissa deque era visitante na fazenda quando daconstrição judicial.

A alegação de recusa àassinatura do auto de depósito conduzà nomeação compulsória, veiculada nalei processual civil (art. 665, IV).

Com tal qualitas, erro algum háem tal nomeação compulsória, eilegitimidade alguma se estabelece.

Aliás, conviria ter presente que autilização do CPC se dá supletivamente,sendo bastante a lição de AMAURIMASCARO NASCIMENTO (Curso de

Direito Processual do Trabalho, Saraiva,17ª ed., 1997, p. 582):

“Assim, a adoção deprocedimentos especiais deveser entendida como a admissão,nos processos trabalhistas, depedidos que o Código deProcesso Civil regula medianteritos próprios que nem sempre

podem ser transportados para aJustiça do Trabalho, diante daorganização [...] que a caracterizae da oralidade e concentraçãodos atos [...]”.

Decorre, pois, que a diligênciarealizada por Oficial de Justiça Avaliadordo Órgão prescinde de dupla etestemunhas, notadamente ao se verque não se tratou de arrombamento.

Importante é constatar, com ainformação do Impetrado, que embargosde terceiro foram opostos à penhora, epor decisão definitiva julgadosimprocedentes - o que basta para afastara alegação de se tratar de bens deterceiro.

Com tudo isso, o que se tem é aImpetrante ser depositária e, com isso,ser de máxima legitimidade o Juízo aintimar para apresentar os bens sob suaguarda, ou a elisão do valor da avaliação(R$9.800,00 - f. 24), pena de prisão.

Aqui tem pertinência a prescriçãodo inciso LXVII, do art. 5º/CF, que excluido óbice da prisão civil por dívida a dodepositário infiel, ao que cabe aportar ainterpretação do guardião da Carta,afirmando a legitimidade dela, inclusiveconceituado como depositário o devedorfiduciário (HC-73.469, 1ª Turma; HC-72.131, Plenário).

A garantia inscrita no incisoLXVIII, do mesmo art. 5º, é de conceder-se a ordem vindicada quando houverameaça de violência ou coação dealguém em sua liberdade de locomoçãopor ilegalidade ou abuso de poder.

O ato irrogado é legítimo, e é oque afasta a procedência do pedido.

A Autoridade apontada comocoatora não agiu com abuso e nemcontra legem, sendo seu ato coberto delegitimidade.

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CONCLUSÃO

Conheço do habeas corpus enego a ordem pedida, por ser legítimo oato do Juiz da Vara do Trabalho deTeófilo Otoni, cominando a prisão civil àImpetrante, como depositária dos benspenhorados no processo 112/96, em nãoos colocando à disposição do Juízo, ouo equivalente em dinheiro.

Sem custas.Dê-se ciência imediata.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da 3ª Região, pelasua Segunda Turma, unanimemente, emconhecer do habeas corpus, e em negara ordem pedida, por ser legítimo o atodo Juiz da Vara do Trabalho de TeófiloOtoni, cominando a prisão civil àImpetrante, como depositária dos benspenhorados no processo 112/96, em nãoos colocando à disposição do Juízo, ouo equivalente em dinheiro.

Belo Horizonte, 16 de dezembrode 1999.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente e Relator

TRT/RO-10948/99Publ. no “MG” de 29.01.2000

RECORRENTES: BANCO REAL S/A (1)MARIA IMACULADA DA SILVACARDOSO (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: JORNADA -COMPENSAÇÃO DE HORÁRIOS.Nem sempre a compensação de

jornadas é benéfica aoempregado, que, por presunçãoiuris et de iure (art. 468, da CLT),está permanentemente emestado de sujeição perante oempregador, a parte forte docontrato de trabalho. Pode oempregador, valendo-se de suacondição privilegiada narelação jurídica, impor aoempregado regras com as quaisele não concordaria se pudesseprevalecer sua vontade no atoda celebração do contrato detrabalho. Pode existir, e de fatoexiste, compensação dejornadas prorrogadas benéficaao empregado como, porexemplo, quando ela ocorrepara proporcionar a folga aossábados. Mas, para que haja obenefício, são necessárias aestabilidade e a continuidade dasituação, permitindo aoempregado programar sua vidadiante da nova realidade. Não sepode imprimir validade a acordopara prorrogação ecompensação de jornadarealizada mensalmente emsintonia com as necessidadese interesses do empregador,prorrogando-se a jornada nosdias denominados de pico,fazendo-se a compensaçãonaqueles em que o movimentobancário é menor. A intenção doempregador, nesse caso, éevitar o pagamento de horasextras, acarretando lesão aoempregado. A ConstituiçãoFederal, ao admitir aflexibilização da jornada detrabalho e do salário (art. 7º,incisos XXVI, VI e XIII),

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condicionou a sua validade àcelebração de convençãocoletiva de trabalho ou acordocoletivo de trabalho. Nestescasos, verdadeiramente, só aentidade sindical representativada categoria profissional é quetem condições de conhecer ointeresse e a vontade da classedos trabalhadores e, em seunome, negociar e contratar como empregador em igualdade decondições. Só a negociaçãocoletiva pode evitar casos comoo destes autos, em que, semdúvida, o acordo individual foiimposto pelo empregador.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,interposto de decisão proferida pela MM.4ª JCJ de Juiz de Fora, em que figuram,como recorrentes, BANCO REAL eMARIA IMACULADA DA SILVACARDOSO e, como recorridos, OSMESMOS.

RELATÓRIO

A MM. 4ª JCJ de Juiz de Fora,sob a presidência do Dr. ANSELMOJOSÉ ALVES, pela sentença de f. 231/237, cujo relatório adoto e a esteincorporo, declarou prescrito o direito deação relativo ao período anterior a08.10.93 e julgou procedentes, em parte,os pedidos feitos na inicial para condenaro Reclamado a pagar à Reclamantehoras extras, acrescidas dos adicionaisconvencionais, conforme apurado pelaperícia, obedecendo à compensação dejornadas, como determinado pelosacordos respectivos juntados aos autos;reflexos das horas extras nasgratificações natalinas, repousos

semanais remunerados (inclusivesábados e feriados, quando tiverem sidoprestadas em toda a semana anterior),férias acrescidas de 1/3 e FGTS. Foideterminado o depósito, na contavinculada do Reclamante, dos reflexosdas horas extras no FGTS, porquevigente o contrato de trabalho.Determinou-se a observância daevolução salarial da Reclamante e dosdias efetivamente trabalhados. OReclamado foi condenado, ainda, apagar os honorários do perito, arbitradosem R$700,00 e a multa, em favor daReclamante, no valor de R$4.000,00, porlitigância de má-fé. Atribuiu-se aoReclamado o ônus relativo àscontribuições previdenciárias.

Recorreu o Reclamado (f. 238/243) alegando não se poder considerarlitigância de má-fé o fato de haverinvocado, em sua defesa, o Enunciadon. 113/TST; não poder ser punido porhaver exercido o seu direito de defesa,garantido pela Constituição Federal; nãose poder aplicar a multa por litigância demá-fé quando, como no caso dos autos,não há prejuízo à parte; não haver olaudo pericial deduzido os minutos queantecedem e sucedem à jornada, nostermos do Precedente n. 23, da SDI/TST;aplicarem-se, para a correção monetáriado FGTS, os índices próprios constantesda tabela expedida pela CaixaEconômica Federal; não se aplicar amulta prevista no art. 467, da CLT; edever ser reduzido o valor arbitrado àcausa para adequá-lo ao crédito daReclamante reconhecido pela sentença,com base no laudo pericial.

A Reclamante interpôs o recursoadesivo de f. 248/250, alegando deverser considerada verdadeira a jornada,alegada na inicial, relativamente ao mêsde agosto de 1996, porque o Reclamado

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não juntou o respectivo cartão de ponto,não obstante ter sido notificado paraassim proceder; e serem inválidos osacordos de compensação das jornadastrazidos aos autos, porque só poderiamser objeto de instrumento coletivo.

Só o recurso do Reclamado foicontra-arrazoado (f. 252/254).

O d. Ministério Público doTrabalho, representado pela DrªMARILZA GERALDA DO NASCIMENTO,declarou inexistir interesse público ajustificar sua intervenção no presentefeito e ressalvou a possibilidade de vir amanifestar-se, se necessário, na sessãode julgamento. (f. 256)

É o relatório.

VOTO

Recurso do reclamado

Juízo de admissibilidade

Conheço do recurso porquepresentes os pressupostos de suaadmissibilidade.

Juízo de mérito

Da litigância de má-fé

A sentença entendeu haver oRecorrente deduzido defesa contrária aexpresso texto de lei, ao alegar que oadicional de horas extras não é devidosobre sábados e feriados e,considerando-o incurso nas sançõesprevistas no art. 18, do CPC, condenou-o a pagar à Reclamante multa no valorde R$4.000,00, correspondente a 20%sobre o valor dado à causa.

O Recorrente, em sua defesa,invocando o Enunciado n. 113/TST,sustentou não proceder o pedido de reflexo

das horas extras sobre os sábados, portratar-se de dia útil não trabalhado e nãodia de repouso semanal remunerado. Talalegação foi considerada pela sentençacomo dedução de defesa contrária aexpresso texto de lei, porque osinstrumentos normativos trazidos aosautos determinam que as horas extras,prestadas durante toda a semana anterior,devem refletir nos repousos remunerados,inclusive sábados e feriados.

O exercício do direito de defesa éamplamente garantido pela ConstituiçãoFederal. No caso da contestação podea parte valer-se, inclusive, do princípioda eventualidade, alegando defesas emprincípio contraditórias.

No caso dos autos o Recorrentealegou não ser devido o reflexo das horasextras sobre os sábados, invocando oEnunciado n. 113/TST, que está vigendo.As normas coletivas mencionadas pelasentença, certamente, devem prevalecersobre o mencionado Enunciado. Maselas não o derrogaram totalmente, umavez que dispuseram só existir o reflexodas horas extras sobre os sábadosquando houver prestação de serviçosextraordinários durante toda a semanaanterior. Assim, mesmo existindoaquelas normas, o Enunciado n. 113/TST tem aplicação, ainda que parcial.

O direito de defesa deve seramplamente respeitado, só se aplicandoa penalidade prevista no art. 18, do CPC,quando evidente a má-fé da parte que,com a intenção de enganar o julgador ede prejudicar a parte, deduz defesacontra texto expresso de lei. No caso dosautos as normas coletivas podem edevem ser interpretadas em harmoniacom o mencionado Enunciado n. 113/TST. Aquela penalidade não pode servirpara inibir a parte de exercer o seu direitode defesa.

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Provejo, para excluir dacondenação a multa por litigância de má-fé.

Das horas extras

Alega o Recorrente não haver olaudo pericial observado os critérios daimpugnação que apresentou, uma vezque não foram deduzidos os minutosque antecedem e sucedem à jornada,nos termos do Enunciado n. 23, da SDI/TST.

Na impugnação de f. 212/213,alegou o Recorrente, de forma genérica,não haver o perito observado aquelaorientação jurisprudencial, apurando,como horas extras, frações iguais oumenores que 5 minutos, registradas noscontroles da jornada, antes e após esta.Não apontou qualquer caso específicodo alegado erro, não sendo possível aojulgador, com base em uma alegaçãogenérica, examinar todo o laudo pericialpara verificar quando teria ocorrido ofato. Ademais, o mencionado Enunciadomanda pagar a totalidade do temporegistrado no caso de ser ele superior a5 minutos.

Desprovejo.

Da correção monetária doFGTS

A parcela relativa ao depósito doFGTS, deferida por sentença prolatadaem reclamação trabalhista, é um créditotrabalhista como outro qualquer,sujeitando-se à correção monetáriapelos índices próprios e não por aquelesfixados pela Caixa Econômica Federal,que só se aplicam administrativamentenos casos de recolhimento da parcelanas contas vinculadas com atraso.

Desprovejo.

Do valor da causa

O valor dado à causa, na inicial,não foi impugnado na defesa, não sepodendo examinar a impugnação feita norecurso, em razão da preclusão ocorrida.Ademais, o valor da condenação, sobre oqual foram as custas calculadas, foi fixadopela sentença muito aquém daqueleatribuído à causa, na inicial, inexistindoqualquer prejuízo para o Recorrente.

Desprovejo.

Da multa do art. 467, da CLT

No final de seu recurso, pede oRecorrente seja decotada dacondenação a dobra do art. 467, da CLT,o que só pode ser atribuído a umevidente equívoco, uma vez que inexistiuaquela condenação.

Desprovejo.

Recurso adesivo do reclamante

Juízo de admissibilidade

Conheço do recurso porquepresentes os pressupostos de suaadmissibilidade.

Juízo de mérito

Da aplicação do art. 359, doCPC, e do Enunciado n. 338/TST

Como o Reclamado não trouxepara os autos o cartão de ponto referenteao mês de agosto de 1996, não obstantetenha sido notificado para fazê-lo (f. 212e 213v), pede o Recorrente a aplicaçãodo art. 359, do CPC, e do Enunciado n.338/TST, para considerá-lo confessoquanto ao horário de trabalho alegadona inicial.

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Na inicial (f. 3), foi pedida anotificação do Recorrido para trazer aosautos os controles de ponto assinadospela Recorrente, “... sob pena de serpresumido, como verdadeiro, ter aobreira cumprido jornada de trabalho das9:30h às 19:00h, com intervalo de 15minutos para lanche, de segunda asexta-feira”.

A confissão ficta pode ser elididapelo conjunto da prova produzida. E oscartões de ponto juntados pelo Recorrido(f. 76 e seguintes) demonstram que emnenhum mês aquela jornada de trabalhofoi cumprida pela Recorrente. Não sepode, pois, presumir-se verdadeiro o quese alegou na inicial apenas com relaçãoao mês de agosto de 1996. Oprocedimento do perito, apurando onúmero de horas extras trabalhadasnaquele mês, com base na média dosúltimos meses, está correto.

Desprovejo.

Dos acordos de compensação

A sentença, acolhendo a lição doeminente juiz e professor MauricioGodinho Delgado, transcrita pelaRecorrida em sua defesa (f. 66/68),entendeu válidos os acordos individuaisde prorrogação e compensação dejornadas celebrados entre a Recorrentee o Recorrido (f. 103/105).

Permito-me, data venia, discordardaquele entendimento, principalmentena parte em que afirma ser acompensação de jornadas de trabalhobenéfica para o empregado. Nemsempre isso acontece. O empregado, porpresunção iuris et de iure (art. 468, daCLT), está permanentemente em estadode sujeição perante o empregador, aparte forte do contrato de trabalho,necessitando de proteção legal contra

ele mesmo. Pode o empregador,valendo-se de sua condição privilegiadana relação jurídica, impor ao empregadoregras com as quais ele não concordariase pudesse prevalecer sua vontade noato da celebração do contrato detrabalho. Pode existir, e de fato existe,compensação de jornadas prorrogadasbenéfica ao empregado como, porexemplo, quando ela ocorre paraproporcionar a folga aos sábados. Mas,para que haja o benefício, sãonecessárias a estabilidade e acontinuidade da situação, permitindo aoempregado programar sua vida diante danova realidade.

O trabalho do bancário éreconhecidamente penoso e foi commuita luta que se conseguiu oestabelecimento da sua jornada em 6horas. A prorrogação de sua jornada detrabalho, em qualquer hipótese, deve serevitada, principalmente em se tratando,como no caso dos autos, de empregada,que merece proteção especial.

Verifica-se, pelos documentos def. 104 e seguintes, que o acordo paraprorrogação e compensação de jornadaera feito mensalmente, de acordo,evidentemente, com as necessidades einteresses do Recorrido. Prorrogava-sea jornada nos dias chamados de pico,fazendo-se a compensação naquelesem que o movimento bancário eramenor. A intenção do Recorrido de evitaro pagamento de horas extras é evidente.Aqueles acordos eram lesivos àRecorrente, sem qualquer dúvida.

A Constituição Federalproclamou, em seu artigo 7º, inciso XXVI,o reconhecimento das convenções eacordos coletivos de trabalho,fortalecendo a representação sindical. Equando admitiu a flexibilização de partedo direito protecionista, jornada de

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trabalho e salário (art. 7º, VI e XIII),condicionou a sua validade à celebraçãode convenção ou acordo coletivo.Naqueles casos, verdadeiramente, só aentidade sindical representativa dacategoria profissional é que temcondições de conhecer o interesse e avontade da classe de trabalhadores e,em seu nome, negociar e contratar como empregador em igualdade decondições. Só a negociação coletivapode evitar casos como o destes autosem que, sem dúvida, o acordo individualfoi imposto pelo empregador.

Entendo, pois, não teremvalidade jurídica, para efeito de isentaro Recorrido de pagar o adicional sobrehoras extras, os acordos individuais def. 103 e seguintes.

O Enunciado n. 85/TST continuavigendo e deve ser aplicado, porquefundamentado no superior princípio dedireito que veda o enriquecimento semcausa. Sobre as horas trabalhadas alémda jornada e compensadas, de acordocom os documentos de f. 103/115, sódevem ser calculados os adicionaisconvencionais, que objetivamremunerar a penosidade da prestaçãode serviços.

Provejo, em parte.Pelo exposto, conheço do

recurso do Reclamado e, no mérito, dou-lhe provimento parcial, para excluir dacondenação a multa de R$4.000,00, porlitigância de má-fé.

Conheço do recurso adesivo daReclamante e, no mérito, dou-lheprovimento parcial, para incluir nacondenação os adicionais calculadossobre as horas extras trabalhadas ecompensadas, conforme documentos def. 103/115.

Mantenho o valor da condenaçãofixado pela sentença.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso do reclamado; no mérito, semdivergência, deu-lhe provimento parcial,para excluir da condenação a multa deR$4.000,00, por litigância de má-fé;unanimemente, conheceu do recursoadesivo da reclamante; no mérito, pormaioria de votos, deu-lhe provimentoparcial, para incluir na condenação osadicionais calculados sobre as horasextras trabalhadas e compensadas,conforme documentos de f. 103/115,vencida, parcialmente, a Ex.ma JuízaRevisora. Mantido o valor dacondenação.

Belo Horizonte, 01 de dezembrode 1999.

LUIZ OTÁVIO LINHARES RENAULTPresidente e Relator

TRT/RO-7036/99Publ. no “MG” de 21.06.2000

RECORRENTES: 1º) JCJ DE JOÃOMONLEVADE (ex officio)2º) ANTÔNIO DE SOUZA REIS

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: NULIDADE -CERCEAMENTO DE DEFESA.Pelo disposto no art. 130/CPC,é o juiz quem preside ainstrução processual,competindo-lhe dirigi-la combom senso e eqüidade, velandosempre pela preservação dosdireitos das partes e pelo

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império da lei. O indeferimentoda oitiva de testemunha quenão se encontrava presente àaudiência, com a devidaexplanação dos motivossustentáveis desse ato, nãoconstitui cerceamento dodireito de defesa ou induz ànulidade da sentença,porquanto amparado na lei.

Vistos etc.

RELATÓRIO

Pela sentença de f. 159/166, cujorelatório adoto e a este incorporo, a MM.1ª Junta de Conciliação e Julgamento deJoão Monlevade, sob a presidência daEx.ma Juíza do Trabalho Drª Gisele deCássia Vieira Dias Macedo, julgouprocedente em parte o pedido.Determinada a remessa necessária (f.166).

Pelas razões que expõe às f.167/169, o Reclamante interpõeRecurso Ordinár io, argüindopreliminar de nulidade da sentençarecorrida, por cerceamento de defesae, no méri to, versando sobrediferenças de adicional noturno ehoras extras e seus ref lexos,decorrentes da não concessão dointervalo intrajornada, da redução dahora noturna e dos minutos queantecedem e sucedem à jornada detrabalho.

Contra-razões oferecidas peloreclamante às f. 170/174.

Parecer do Ministério Público doTrabalho, às f. 177/178, opinando peloconhecimento dos recursos voluntário ede ofício. No mérito, sugere o seudesprovimento.

É o relatório.

VOTO

I - Juízo de admissibilidade

Aviado a tempo e modo, conheçodo recurso voluntário do reclamante,bem como da remessa oficial,regularmente processados.

II - Fundamentos

Recurso do reclamante

Preliminar

O reclamante argúi a nulidade dasentença, ao argumento de que tevecerceado o seu lídimo direito de produzirprovas, porquanto, além de indeferida aoitiva de testemunha, devidamentearrolada, “conforme termos constantesda inicial o reclamante requereu aexibição dos cartões de ponto nostermos do art. 355, CPC, o que teve suapretensão indeferida, sob protestos.”(sic)

Sem razão.Ora, é incontestável que o

depoimento das testemunhas é meio deprova, tanto que previsto na CLT, naseção IX, destinada às provas (art. 819/825). Como tal, não pode ser indeferidoinjustificadamente, sob pena de ofensaao princípio constitucional da ampladefesa - artigo 5º, LV, da CF/88.

No caso destes autos, porém, oindeferimento foi plenamente justificado,como ficou consignado na ata daaudiência de instrução (f. 157/158), emque a MM. JCJ de origem registraexpressamente os fundamentos de talato, qual seja, a preclusão.

Verifica-se constar expressamenteda ata de f. 157/158 que “... o reclamantenão tem testemunhas para ouvir”. E,

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posteriormente à oitiva da testemunhaindicada pelo reclamado, foi registradoque “... após o reclamante ter declaradoque não tinha testemunhas para ouvir epassando a Junta a ouvir astestemunhas do reclamado, alegou oreclamante que a sua testemunha teriachegado, requerendo a oitiva da mesmao que foi indeferido diante da preclusãoda prova, sob protestos”.

Portanto, pelo princípio daconcentração (art. 396/CPC) tem-se quefoi corretamente repelida a pretensão doreclamante, no sentido de produzir, a

posteriori, prova testemunhal quedeveria ter sido apresentada nomomento processual oportuno, nosexatos termos do art. 413/CPC.

Sendo assim, o indeferimento daoitiva de testemunha que se nãoencontrava presente à audiência, com adevida explanação dos motivossustentáveis desse ato, não constituicerceamento do direito de defesa e/ouinduz à nulidade da sentença, porquantoamparado na lei.

Quanto ao indeferimento dajuntada de documentos, requerida nostermos do art. 355/CPC, destaca-se queo próprio autor, expressamente, admiteque “... não batia cartões de ponto noreclamado, assinando apenas o livro deponto” (f. 157). Dessa forma, não poderiaa MM. JCJ de origem acatar a pretensãodo autor, no sentido de intimar-se ademandada a juntar aos autosdocumentos inexistentes (cartões deponto).

Frise-se que, apesar de ter sidoprontamente expressado oinconformismo do reclamante, através deprotestos constantes da ata de f. 157/158, pelo disposto no art. 130/CPC, é ojuiz quem preside a instrução processual,competindo-lhe dirigi-la com bom senso

e eqüidade, velando sempre pelapreservação dos direitos das partes etambém pelo império da lei.

Por conseguinte, não há que sefalar em cerceio de defesa.

Rejeito a argüição de nulidade.

Diferenças de adicionalnoturno e horas extras

Insurge-se o autor contra oindeferimento das horas extras e seusreflexos, decorrentes da não concessãodo intervalo intrajornada, da redução dahora noturna e dos minutos queantecedem e sucedem à jornada detrabalho, bem como das diferenças deadicional noturno, ao fundamento de que“... mediante a ausência de cartões deponto e ou até mesmo negligência doMunicípio não juntá-los aos autos,restou-se confessa a jornada declinadana peça de ingresso”. (sic)

Aduz que “... a afirmação de queo reclamante não apresentou supostasdiferenças é meramente tetralógica (sic),porque não existem cartões de ponto nomundo dos autos, portanto como apontá-las?”

Sem razão.Pelo exposto no art. 818/CLT,

incumbia ao reclamante o ônus decomprovar, inequivocamente, o efetivolabor em sobrejornada, sem o respectivopagamento, assim como eventuaisdiferenças de adicional noturno aindadevidas, visto que as fichas financeirastrazidas com a defesa (f. 19/46) acusamo seu pagamento.

Todavia, desse múnus não sedesincumbiu, eis que não trouxe aosautos qualquer prova de suas alegações.Logo, a sentença deverá ser mantida, porseus próprios e jurídicos fundamentos.

Nego provimento.

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Recurso ex officio

Versa a condenação sobre opagamento da multa prevista no art. 477,§ 8º, da CLT, correspondente a umsalário do autor.

O documento de f. 55, juntadopelo próprio reclamado, informa que,apesar de ter sido dispensado, sem justacausa, com aviso prévio indenizado em03.11.97, o acerto rescisório somente foiprocedido em 14.11.97. Verifica-seassim que não cuidou o reclamado deobservar o prazo previsto na alínea “b”,do § 6º, do artigo 477, da CLT.

Portanto, há que ser mantida asentença, que analisou com proficiênciaa matéria debatida nos autos.

Nego provimento.

III - SÚMULA DO VOTO

Em face do exposto, conheço dosrecursos. Nego-lhes provimento.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Segunda Turma,unanimemente, em conhecer dosrecursos oficial e voluntário; semdivergência, em rejeitar a preliminarsuscitada; ainda à unanimidade, emnegar provimento aos apelos.

Belo Horizonte, 30 de maio de2000.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente

GILBERTO GOULART PESSOARelator

TRT/RO-14224/99Publ. no “MG” de 20.05.2000

RECORRENTE: GERALDO EUSTÁQUIOTEIXEIRA

RECORRIDOS: BANCO DE CRÉDITOREAL DE MINAS GERAIS S/A EOUTROS

EMENTA: PRINCÍPIO DAISONOMIA - DISCRIMINAÇÃO.Não caracteriza discriminaçãoodiosa o fato de o empregadorconceder reajustes a algunsgerentes ou promover novoenquadramento de suasfunções, mormente quando aempresa não dispõe de quadrode pessoal organizado emcarreira, devidamentehomologado pelo Ministério doTrabalho. Nessa hipótese, aseventuais violações aoprincípio da isonomia poderãoser corrigidas com pedido deequiparação salarial, quando épossível verificarconcretamente o eventualtratamento discriminatórioentre o reclamante e oparadigma apontado.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,sendo recorrente GERALDOEUSTÁQUIO TEXEIRA, e recorridosBANCO DE CRÉDITO REAL DE MINASGERAIS S/A e OUTROS.

RELATÓRIO

A d. 3ª JCJ de Belo Horizonte, soba presidência do eminente JuizAlexandre Wagner de MoraisAlbuquerque, julgou improcedentes os

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pedidos formulados. Foram interpostos,pelo reclamante, embargos dedeclaração, dirimidos às f. 1291/1292,improcedentes.

O reclamante, às f. 1294/1305,juntando o comprovante do recolhimentodas custas processuais (f. 1307),considera inconsistente a rejeição do seupleito de diferenças salariais, porincorreta observância do PCS,invocando julgados e legislação em favordos seus argumentos; diz que não foramcumpridos os critérios da normaregulamentar, e que o PCS do reclamadoé válido; considera a alteração contratuallesiva, invocando em seu prol os arts.444 e 468, da CLT, e os Enunciados 51,127, 231 e 288, do Colendo TST;assegura que a prova pericial confirmoua tese vestibular, em especial pelo queestá estampado às f. 1224 e 1237.

Foram produzidas as contra-razões de f. 1309/1315, com argüição dedeserção.

O parecer da d. PRT, à f. 1316,pelo Dr. Roberto das Graças Alves, nãovê interesse público que justifiqueintervenção.

Este o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

O recurso é próprio etempestivo, regularmente preparado eprocessado, pelo que dele conheço,f icando rejeitada a argüição dedeserção deduzida em contra-razões,porquanto o reclamante recolheu ascustas processuais a tempo e modo,sendo que não há exigência para queo reclamante sucumbente recolha oshonorários periciais para a viabilizaçãodo seu recurso.

Juízo de mérito

O reclamante não se conformacom a sentença recorrida que indeferiuo seu pleito de diferenças salariais. Paramelhor compreender a controvérsia e oslimites da lide, é importante focalizar acausa de pedir, conforme estampada napetição inicial:

“... foram concedidos reajustesespontâneos, diferenciados ealeatórios, ao arrepio dos critérioscontratualmente estabelecidos, acentenas de empregados daativa, com a sua média sendo de50,84% sobre o ordenado fixo,enquanto o resíduo daconvenção paga foi de 29,89%,índice este obtido pelo autor”.

“Em janeiro e fevereiro de 1995,o réu concedeu outros reajustesespontâneos, diferenciados ealeatórios, novamente semobservância dos critériosestabelecidos, a centenas deempregados, em detrimento deoutros e de todos osaposentados, atingindo o índicemédio de 17,84%, sobre o saláriofixo (verba 001) de dezembro/94,enquanto o autor nada recebeu,sendo, pois, outra vezdiscriminado.”

O reclamado contesta a alegaçãodo autor, dizendo que não havia planode cargos e salários homologado emesmo a “sistemática de cargos esalários”, que estabeleceu as diretrizesbásicas da política salarial, contemploude modo expresso alterações dastabelas em decorrência de diversosfatores.

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Cabe investigar primeiramente anatureza jurídica do pedido doreclamante: equiparação salarial?Preterição no cumprimento da políticasalarial prevista em norma interna doreclamado? Desvio funcional? Reajustesdiscriminatórios?

Pedido de equiparação não éporque nem foi indicado qualquerparadigma; preterição tampouco é já quenão foi indicado eventual beneficiário emprejuízo do autor; também não seenquadra o pedido na hipótese de desviofuncional, pelo fatos narrados.Analisando detidamente a petição inicial,conclui-se que a causa de pedir estácentrada na alegada discriminação doreclamante por ocasião dos doisreajustes, o primeiro em outubro de 1993e o segundo em fevereiro de 1995.Cumpre investigar, portanto, se ocomportamento do reclamado feriu oprincípio constitucional de isonomia, oumesmo se foi descumprida algumanorma regulamentar do reclamado.

Quanto à alegação de ofensa àsdiretrizes da empresa com relação aoscargos e salários, não há comprovaçãoclara de violação de qualquer cláusulaou previsão da referida política salarial.O que a lei veda é alteração contratualque traga prejuízo, mas isso o autornão demonstrou, l imitando-se aalegações genéricas, mais voltadaspara o espírito da norma anterior. Se oPlano de Cargos e Salários não eraregistrado é porque não preenchiatodos os requisitos para afastar aequiparação salarial, valendo apenascomo mero regulamento de empresa.Vale enfatizar que não se pode isolaruma previsão da política salarial doreclamado fora de todo o contexto, ouseja, a análise deve ser feitaenglobadamente.

Por outro enfoque, o reclamadodentro do seu poder diretivo tem aprerrogativa de alterar e aprimorarseus regulamentos internos,preservando o direito adquirido e asnormas legais e contratuais. Ora, seo plano não era homologado eindicava as diretr izes da polít icasalarial, não há dispositivo que amarreou impeça o empregador de adequara gestão administrat iva aosimperat ivos de cada época,especialmente dos cargos diretivos ede confiança. O próprio reclamante,habilidoso, profundo conhecedor doreferido plano salarial, foge de indicara violação concreta e até deixaescapar: “... sem entrar nas minúciastécnicas das diretrizes...”.

Vale enfatizar, ainda, que a PeritaOficial, depois de indicar reajustesconcedidos a alguns gerentes, esclarece(f. 1236):

“Ademais é salutar esclarecerque não existe qualquer normainterna que estabeleça repassaraos empregados reajustesconcedidos a outrosempregados. De acordo com aCertidão de f. 547, anexada aosautos, o 1º reclamado (Banco deCrédito Real de Minas Gerais)não possui Plano de Cargos eSalários homologado peloMinistério do Trabalho. OCredireal possuía apenasDiretrizes para Administração deCargos e Salários que explicita,de modo expresso, a alteraçãodas tabelas em virtude deregionalização das ConvençõesColetivas ou necessidade deagrupamento de família decargos diferenciados.”

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Resta verificar a hipótese dereajuste discriminatório, principalargumento da petição inicial. Não háqualquer dúvida que a reclamadaconcedeu reajustes para algunsempregados nas épocas indicadas napetição inicial. A indagação necessáriaé se houve discriminação do autor, deforma deliberada, ferindo o princípio daisonomia.

A própria causa de pedir indicadarelata reajustes aleatórios ediferenciados, mas isso é próprio dopoder diretivo do empregador queassume os riscos da atividadeeconômica e pode valorizar seusdirigentes ou alguns deles de forma amelhor obter os resultados que espera.

Haveria ofensa ao princípio daigualdade ou a discriminação alegada seo reajuste fosse conferido a todos osgerentes excluindo apenas o reclamanteou alguns poucos empregados namesma situação; se todo um setortivesse recebido o reajuste excluindoodiosamente alguns. Nada disso, porém,restou apurado nos autos. Na realidadeocorreu o contrário: num grandeuniverso, alguns foram contempladoscom reajuste, e nisso não se vislumbraqualquer irregularidade.

Poder-se-ia inverter o ângulo daapreciação: em vez de partir do reajustemédio concedido a alguns empregadosaleatoriamente, a análise poderia ser feitatomando-se como referência oreclamante. Algum outro empregadoexercendo as mesmas funções doreclamante obteve o benefício? Para estalesão, caberia invocar a equiparaçãosalarial, conforme previsto no art. 461, daCLT. No entanto, o pedido do reclamantenão foi deduzido nesses termos, nemmesmo foi indicado o paradigma paraaferir eventual tratamento discriminatório.

Em síntese, por mais que seexamine o recurso, quanto mais seaprofunda nos sete volumes destesautos, por mais que se leia as longas ecombativas alegações do autor, não sevislumbram razões para alterar a bemlançada sentença recorrida.

Conheço do recurso e nego-lheprovimento.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Quinta Turma, àunanimidade, em rejeitar a argüição dedeserção deduzida em contra-razões eem conhecer do recurso; no mérito, semdivergência, em negar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 02 de maio de2000.

SEBASTIÃO GERALDO DE OLIVEIRAPresidente ad hoc e Relator

TRT/RO-21379/99Publ. no “MG” de 24.06.2000

RECORRENTES: WALDEMAR JORGEE OUTROS

RECORRIDA: MARIA DE FÁTIMAALVES FERNANDES ROSA

EMENTA: TESTEMUNHAS -TOMADA DE DEPOIMENTO -SIMULTANEIDADE - NULIDADEDA INSTRUÇÃO. O artigo 413, doDiploma Processual Civil, étaxativo, preceituando que “... ojuiz inquirirá as testemunhasseparada e sucessivamente;primeiro as do autor e depois asdo réu, providenciando de modo

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que uma não ouça o depoimentodas outras”. Ora, neste sentido,quis o legislador resguardar aliberdade das testemunhas eevitar o induzimento adepoimento que possa serdistorcido por interferênciasexternas às suas observaçõessobre os fatos dos quais tomouparte por meio dos seus órgãosdo sentido. O contato físico,visual, auditivo - esses,especialmente - e o tato, o olfatoe a pressão térmica ouatmosférica podemperfeitamente mascarar o quadroobservado pelas pessoas quederam as informações ao juízo,não refletindo a realidade fáticaposta pelas partes em conflito,comprometendo a base em quese apoiou a v. sentença. Aliás, emtal circunstância, a pressãopsicológica é ainda maior, dianteda presença de outras tantastestemunhas e, notadamente, doJuiz Presidente da Junta, mesmoque esse se coloque - e sabemosque sempre o faz - de maneiraequilibrada e com a máximaurbanidade, diante dainsegurança de trabalhadoresperante qualquer autoridade -especialmente, a judicial -portadores de fraquezas culturaise sociais, o que avulta o temorreverencial. Nesse caso, sequalquer das testemunhas fazalguma afirmativa, a tendêncianatural é que as outrasprocurarão adequar os seussentimentos acerca dos fatos aoque aquela outra informou, sejapor comodidade, por inércia ou,mesmo, pelo espírito de corpo

que move o ser humano diantede situações em que se pretendeassegurar algum direito, seja deempregado, seja de empregador.O princípio da informalidade, quenorteia o processo do trabalho,não dispensa medidas mínimasde procedimento, sem as quaisnão haverá regras. E, semessas, as partes nãoencontrarão segurança nasdecisões judiciais, sem overdadeiro pálio da Justiça,aumentando, ainda mais, ainsegurança e paz social. Adesconfiança na Justiça devedesaparecer e as partes têm odireito a uma segura prestaçãojurisdicional e, perdedores ouvencedores, a um sonotranqüilo.

Vistos os autos, relatado ediscutido o presente Recurso Ordinário,interposto da decisão da MM. Vara dePatrocínio/MG, em que são recorrentesWALDEMAR JORGE E OUTROS erecorrida MARIA DE FÁTIMA ALVESFERNANDES ROSA.

RELATÓRIO

A MM. Vara de Patrocínio/MG,pela r. sentença de f. 275/286, cujorelatório adoto e a este incorporo, julgoua ação parcialmente procedente,condenando os reclamados aopagamento das parcelas enumeradas nodispositivo de f. 285/286.

Embargos de Declaraçãoopostos pelos reclamados, às f. 287/289,julgados procedentes, para sanar aomissão apontada, especificamente noque tange ao pedido de conexão,restando indeferido (f. 290/292).

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Recorrem os reclamados, às f.283/318, argüindo as preliminares denulidade da decisão por cerceamento dedefesa e por ofensa ao artigo 452/CPCe, no mérito, aduzindo que não podeprevalecer a forma de pactuaçãoreconhecida na decisão, que nãoprocede a condenação relativa às fériase 13º salário, que são indevidas as horasextras, inclusive os RSR e feriados e amulta do artigo 477/CLT.

Custas e depósito recursal, às f.319/320.

Contra-razões, às f. 322/327.A d. Procuradoria manifesta-se

pelo prosseguimento do feito, porParecer da Drª Elaine Noronha Nassif (f.329).

É o relatório da juíza Relatora,que adoto.

VOTO

Juízo de conhecimento

Conheço do recurso, regularmenteprocessado, mas não das argüiçõesrelativas ao cômputo dos dias de faltapara cálculo das férias e prescrição dosperíodos anteriores a 1997, por inovaçãorecursal (f. 314/315). Contra-razões,tempestivas.

Juízo de mérito

Nulidade por cerceamento dedefesa - Ofensa ao inciso III, do artigo452, do CPC

Alegam os recorrentes que, nãoobstante haverem concordado com aoitiva das testemunhas de formaconjunta, percebe-se que as suas vieramsobrecarregadas de pressão e temor dosantigos colegas de serviço, que mentiam

descaradamente, ou seja, a produçãoconjunta da prova oral, além dedesrespeitar o disposto no inciso II, doartigo 452/CPC, prejudicou-os.Acrescenta que ficou evidenciado otratamento desigual, na medida em queforam ouvidas apenas duas de suastestemunhas, cujas informações nãotiveram a credibilidade desejada.

Têm razão.Verifico que, conquanto tenha

havido intenção do ilustre magistrado deresolver a questão posta pelas partescom a maior presteza e efetividade, comtoda a lisura, subverteu-se a ordemprocessual, o que macula todo oprocesso, a partir da colheita da provatestemunhal.

Com efeito, ao reunir astestemunhas na sala de audiência e, aum só tempo, tomar o depoimento detodas elas, em conjunto, feriu o doutocondutor do processo o indigitado artigo452, do CPC, no sentido de que “serãoinquiridas as testemunhas arroladas peloautor e pelo réu”.

Com essa redação do inciso III,do artigo 452, poder-se-ia entender quenão há impedimento, pelo textoinvocado, de reunião das testemunhas,com os seus depoimentos simultâneos,porque o legislador assim nãodiscriminou, o que, aliás, está contido noartigo 848, da CLT, quando preceitua,no seu § 2º, que “Serão, a seguir,ouvidas as testemunhas...”, semqualquer menção à impossibilidade deque isso se faça ao mesmo tempo.

Por outro lado, não se pode darinterpretação a texto da lei processualsem se atentar para outros pontos queregulam a mesma matéria, ainda que noCPC, que é fonte subsidiária de leiprocessual trabalhista, a teor do artigo769, da CLT.

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Veja-se que o artigo 413, doDiploma Processual Civil, é taxativo,preceituando que “... o juiz inquirirá astestemunhas separada e sucessivamente;primeiro as do autor e depois as do réu,providenciando de modo que uma nãoouça o depoimento das outras”.

Ora, nesse sentido, quis olegislador resguardar a liberdade dastestemunhas e evitar o induzimento adepoimento que possa ser distorcido porinterferências externas às suasobservações sobre os fatos dos quaistomou parte por meio dos seus órgãosdo sentido.

O contato físico, visual, auditivo -esses, especialmente - e o tato, o olfatoe a pressão térmica ou atmosféricapodem perfeitamente mascarar o quadroobservado pelas pessoas que deram asinformações ao juízo, não refletindo arealidade fática posta pelas partes emconflito, comprometendo a base em quese apoiou a v. sentença.

Aliás, em tal circunstância, apressão psicológica é ainda maior, dianteda presença de outras tantastestemunhas e, notadamente, do JuizPresidente da Junta, mesmo que esse secoloque - e sabemos que sempre o faz -de maneira equilibrada e com a máximaurbanidade, diante da insegurança detrabalhadores perante qualquerautoridade - especialmente, a judicial -portadores de fraquezas culturais esociais, o que avulta o temor reverencial.

Nesse caso, se qualquer dastestemunhas faz alguma afirmativa, atendência natural é que as outrasprocurarão adequar os seus sentimentosacerca dos fatos ao que aquela outrainformou, seja por comodidade, porinércia, ou mesmo, pelo espírito de corpoque move o ser humano diante desituações em que se pretende assegurar

algum direito, seja de empregado, sejade empregador.

Torna-se fácil ao julgador, nadireção do processo, nos moldes doartigo 446, do CPC, que representa oprincípio da imediatidade, se for movidopor qualquer sentimento estranho àsquestões processuais - e sabemos queessa não é a hipótese presente -, aceitara condução da colheita das provas comobem entender, retirando das partes asegurança da prestação jurisdicionalplena, porque as testemunhas poderãoter conduzidos os seus depoimentos,até, mesmo, pelos procuradores daspartes, com ardis, ou pelos próprioslitigantes, com sinais de aprovação oureprovação pelas atitudes que tomaremdiante do juízo.

Poder-se-á argumentar, ainda,que o artigo 418, do CPC, preceitua que“O juiz pode ordenar, de ofício ou arequerimento da parte: [...] II - aacareação de duas ou mais testemunhasou de alguma delas com a parte, quando,sobre fato determinado, que possa influirna decisão da causa, divergirem as suasdeclarações” e que essa medidarepresenta exatamente a acareaçãomencionada nesse artigo.

Data venia, esse argumento nãopoderá ter sucesso, porque deacareação não se trata, pois, colhendoos depoimentos conjuntamente, nemsequer se deu oportunidade àstestemunhas de divergirem entre si. Amedida só é cabível nesta oportunidade,em que o juízo poderá, registrando naata os depoimentos, medir o valor decada um, podendo colocar frente a frenteas testemunhas, a fim de buscar averdade também de cada uma, quepode, inclusive, ser conflitante, sendoperfeitamente admissível, e até salutar,que tal ocorra.

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Entendo que o princípio dainformalidade, que norteia o processo dotrabalho, não dispensa medidas mínimasde procedimento, sem as quais nãohaverá regras. E, sem essas, as partesnão encontrarão segurança nasdecisões judiciais, sem o verdadeiropálio da Justiça, aumentando, aindamais, a insegurança e paz social.

A desconfiança na Justiça devedesaparecer e as partes têm o direito auma segura prestação jurisdicional e,perdedores ou vencedores, a um sonotranqüilo.

Em conclusão, acolho a preliminarde nulidade argüida pelos recorrentes,determinando o retorno dos autos àorigem, com a reabertura da instrução, afim de que sejam ouvidas separadamentetodas as testemunhas arroladas,devendo o juízo assegurar que as queainda não prestaram depoimento nãomantenham qualquer contato com as jáouvidas pelo juízo no mesmo processo.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, por sua QUINTA TURMA,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer do recurso; sem divergência,em acolher a preliminar de nulidade porcerceamento de defesa a partir da datada audiência, determinando o retornodos autos à origem, para a oitiva dastestemunhas, separadamente, conformedetermina a Lei.

Belo Horizonte, 30 de maio de2000.

BOLÍVAR VIÉGAS PEIXOTOPresidente ad hoc e Redator