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159 Rev.Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.43, n.73 p.159-243, jan./jun.2006 ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO TRT-00709-2005-000-03-00-1-ARG Publ. no “MG” de 04.11.2005 AGRAVANTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS, MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO DE JOÃO MONLEVADE AGRAVADA: COMPANHIA SIDERÚRGICA BELGO MINEIRA EMENTA:AGRAVO REGIMENTAL - PROCEDIMENTO CORRECIONAL - INTERESSE E LEGITIMIDADE - LIMITES DA DECISÃO. 1. Se a decisão proferida na reclamação correcional projeta efeitos na esfera jurídica de terceiro, tem este interesse e legitimidade para dela recorrer pelo único meio de que dispõe, que é o agravo regimental, consoante a norma do art. 499, caput, e seu § 1º, do CPC. 2. A reclamação correcional encontra limites intransponíveis na sua natureza mesma, exclusivamente administrativa. Por isso que o terminus ad quem do órgão corregedor não lhe permite afetar, no processo judicial, por inflexão direta ou indireta, a posição jurídica de qualquer das partes, no sentido de atingir o seu universum ius. É dizer: o ato imperante sobre direito ou interesse da parte sempre deve emanar do juiz ou tribunal da causa, atendendo-se, assim, à relevância do princípio do juiz natural, ressalvada situação de incontroversa excepcionalidade, grave nos seus efeitos e insuscetível de reexame no âmbito recursal, derivada de erro de procedimento tumultuário, que, todavia, não se verificou no caso concreto. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de agravo regimental, em que figuram, como agravante, SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS, MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO DE JOÃO MONLEVADE e, como agravada, COMPANHIA SIDERÚRGICA BELGO MINEIRA. RELATÓRIO Contra as decisões de f. 156/157 e 163, ambas proferidas pelo Ex. mo Juiz Corregedor ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃES, que indeferiu o pedido de integração ao feito formulado pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS, MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO DE JOÃO MONLEVADE, nos autos da reclamação correcional apresentada por COMPANHIA SIDERÚRGICA BELGO MINEIRA em face da MM. Juíza VANDA DE FÁTIMA QUINTÃO JACOB, da 2ª Vara do Trabalho de João Monlevade, interpõe o primeiro o presente agravo regimental. Aduz, em síntese, que: é parte legítima para integrar a reclamação correcional, já que a decisão dela emanada afeta diretamente o seu patrimônio jurídico; o pedido de providências apresentado pela Cia. Siderúrgica Belgo Mineira é intempestivo, porquanto já ultrapassado o prazo para a sua interposição; ainda que admissível a medida correcional, ela não poderia interferir no conteúdo dos atos decisórios do juiz, já que estes

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ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

TRT-00709-2005-000-03-00-1-ARGPubl. no “MG” de 04.11.2005

AGRAVANTE: SINDICATO DOSTRABALHADORES DASINDÚSTRIAS METALÚRGICAS,MECÂNICAS E DE MATERIALELÉTRICO DE JOÃO MONLEVADE

AGRAVADA: COMPANHIA SIDERÚRGICABELGO MINEIRA

EMENTA:AGRAVO REGIMENTAL- PROCEDIMENTOCORRECIONAL - INTERESSE ELEGITIMIDADE - LIMITES DADECISÃO. 1. Se a decisãoproferida na reclamaçãocorrecional projeta efeitos naesfera jurídica de terceiro, temeste interesse e legitimidadepara dela recorrer pelo únicomeio de que dispõe, que é oagravo regimental, consoante anorma do art. 499, caput, e seu §1º, do CPC. 2. A reclamaçãocorrecional encontra limitesintransponíveis na sua naturezamesma, exclusivamenteadministrativa. Por isso que oterminus ad quem do órgãocorregedor não lhe permiteafetar, no processo judicial, porinflexão direta ou indireta, aposição jurídica de qualquer daspartes, no sentido de atingir oseu universum ius. É dizer: o atoimperante sobre direito ouinteresse da parte sempre deveemanar do juiz ou tribunal dacausa, atendendo-se, assim, àrelevância do princípio do juiznatural, ressalvada situação deincontroversa excepcionalidade,grave nos seus efeitos einsuscetível de reexame no

âmbito recursal, derivada deerro de procedimentotumultuário, que, todavia, nãose verificou no caso concreto.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de agravo regimental,em que figuram, como agravante,SINDICATO DOS TRABALHADORESDAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS,MECÂNICAS E DE MATERIALELÉTRICO DE JOÃO MONLEVADE e,como agravada, COMPANHIASIDERÚRGICA BELGO MINEIRA.

RELATÓRIO

Contra as decisões de f. 156/157e 163, ambas proferidas pelo Ex.mo JuizCorregedor ANTÔNIO FERNANDOGUIMARÃES, que indeferiu o pedido deintegração ao feito formulado peloSINDICATO DOS TRABALHADORESDAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS,MECÂNICAS E DE MATERIALELÉTRICO DE JOÃO MONLEVADE,nos autos da reclamação correcionalapresentada por COMPANHIASIDERÚRGICA BELGO MINEIRA emface da MM. Juíza VANDA DE FÁTIMAQUINTÃO JACOB, da 2ª Vara doTrabalho de João Monlevade, interpõeo primeiro o presente agravo regimental.

Aduz, em síntese, que: é partelegítima para integrar a reclamaçãocorrecional, já que a decisão delaemanada afeta diretamente o seupatrimônio jurídico; o pedido deprovidências apresentado pela Cia.Siderúrgica Belgo Mineira éintempestivo, porquanto já ultrapassadoo prazo para a sua interposição; aindaque admissível a medida correcional,ela não poderia interferir no conteúdodos atos decisórios do juiz, já que estes

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somente comportam reexame atravésdos recursos previstos na legislaçãovigente.

Diante disso, requer oprovimento do presente agravo, a fimde que seja admitida a sua integraçãoao feito como assistente e terceirointeressado e, ainda, seja rejeitada areclamação correcional.

Contraminuta da agravada às f.210/215, argüindo preliminar de nãoconhecimento em face da ilegitimidadedo agravante.

A d. Procuradoria Regional doTrabalho, em parecer de autoria da i.Procuradora Marilza Geralda doNascimento (f. 218/223), opina peloconhecimento do agravo, com oacolhimento das preliminares de nãoconhecimento e não cabimento dareclamação correcional; casoultrapassadas, sugere o provimentopara julgar improcedente a medidacorrecional.

É, em síntese, o relatório.

VOTO

Da admissibilidade do agravoregimental

Estão presentes os requisitos emordem a permitir o exame de mérito dorecurso.

Dada a peculiaridade do caso,faço uma breve retrospecção dos fatos,em sua conexão causal com areclamação intentada, parafundamentar o meu juízo sobre ointeresse e a legitimação para recorrer.

O agravante, como substitutoprocessual, foi autor de reclamaçãotrabalhista proposta à Belgo Mineira, eréu na ação rescisória por estapromovida e julgada procedente (aoiudicium rescindens seguiu-se oiudicium rescissorium, donde o decreto

de improcedência da ação trabalhista)quando já se achava em trânsito, naaltura dos últimos termos da respectivaliquidação, a execução da sentençaproferida naquela primitiva demanda,cujo objeto era o pagamento dediferenças de anuênios.

Como ainda remanesce, noprocesso de execução, controvérsiaacerca de quem deve responder pelaverba honorária do perito nomeado jána fase de liquidação para elaborar ocálculo, e o juiz da causa atribuíra talônus à Belgo Mineira, ordenando aexpedição do mandado de penhora,esta requereu a instauração dereclamação correcional, que seprocessou segundo as normasregimentais e foi, ao final, provida peloEx.mo Juiz Corregedor para confirmar amedida liminar que S. Exª concederainicialmente. (f. 125/126 e 156/157).

Em suma, a decisão tem oseguinte teor:

Antes de mais, devoesclarecer que acompanho oentendimento da Corregedoria-Geral do Colendo TribunalSuperior do Trabalho no sentidode que, excepcionalmente, comono caso da reclamaçãocorrecional interposta, “quandose evidencia a fumaça do bomdireito e o perigo na demora e ainexistência de qualquer recursoimediato, esta Corregedoria-Geral tem atuado a fim deprevenir eventual prejuízo daparte interessada” (Ministro Riderde Brito, Corregedor-Geral daJustiça do Trabalho, nos autosdo TST-RC-155.725/2005-000-00-00-6, publicada no DJU de08.06.2005). É bem o caso dosautos.

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Quanto à matéria trazidaa exame nesta medidacorrecional, pode ser resumidano seguinte: a execução foimanejada enquanto nãotransitada em julgado a açãorescisória interposta pelarequerente. Uma vez que a açãode cumprimento foi julgadaimprocedente pelo acórdãoproferido na ação rescisória, nãohá que se cominar ao vencedordesta ação qualquer ônus, pois,evidentemente, o título no qualse baseava a execução(sentença proferida na ação decumprimento) deixou de existirno mundo jurídico.

Portanto, julgoPROCEDENTE a reclamaçãocorrecional apenas paraconfirmar os efeitos da decisãoliminar proferida. (f. 156/157)

Desde então, penso eu,bloqueou-se a execução contra aempresa e é, pois, de intrínsecaevidência que, no seguimento domesmo processo, recairá o gravamesobre o sindicato ora recorrente, cujasalegações e razão ou sem razão devemser aferidas no mérito do agravo.

Por ora, basta a percepção deque o prejuízo é uma possibilidadeconcreta e reside numa reduçãobastante provável de um determinadoelemento do patrimônio do agravante.E o prejuízo por si explica o interesse,pois ambas são expressõesconversíveis uma na outra, “são idéiasque se correferem”, como dizia Rui, coma sua lúcida clareza. (Obras completas,v. XLII, tomo III, p. 293)

Reconheço, assim, que oprovimento do ilustre Corregedor, pelosefeitos que projeta, atingirá a esferajurídica do recorrente, sendo mesmo

manifesta a interdependência entre oseu interesse de intervir no âmbito doprocedimento administrativo pelo únicomeio de que dispõe, que é o agravoregimental, e a sua posição jurídica noprocesso judicial, concernente àquestão da responsabilidade pelopagamento dos honorários periciais.

Por isso, tenho o sindicato comoterceiro prejudicado e, assim, cominteresse e legitimação para recorrer,nos precisos termos do art. 499, caput,e seu § 1º do CPC.

Em suma, rejeito a argüição deilegitimidade suscitada na contraminutae, considerando presentes ospressupostos intrínsecos e extrínsecos,conheço do agravo regimental.

Do pedido de integração à lide

De lide, no seu conceito jurídicotal como resumido na Exposição demotivos do código de processo civil (cf.capítulo III, item II número 6), não setrata, porque a reclamação não éprocedimento jurisdicional, masadministrativo. Porém, a requeridaintegração permite compreender overdadeiro enfoque do agravante: o queele pretende é que se observe ocontraditório, desde que o provimentodo Corregedor, no caso, tornou-se umato de imperatividade tal que lhe afetoua sua posição no processo judicial.

O RI do Tribunal, ao dispor sobrea reclamação, não lhe deu o caráter deprocedimento em contraditório, atéporque o seu objetivo, como seráanalisado em outro tópico, é examinarse houve erro de procedimento grave,capaz de gerar tumulto processual, e,em caso afirmativo, colocar termo àsituação com a maior urgência possível.

Não vejo problema em que anorma regimental discipline assim a

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correição, de modo mais sumário eobjetivo, embora a sua aplicação nãoexclua de logo a possibilidade de o JuizCorregedor poder ampliar o debate daquestão e, assim, ouvir todos osinteressados.

O que importa, parasalvaguardar o direito ou interesse dequem se considere prejudicado, é aexistência de um meio específico deimpugnação, no caso, o agravoregimental, em virtude do qual oTribunal, com a amplitude necessária,pode rever a decisão proferida nareclamação correcional. Não há motivo,portanto, para reabrir-se o procedimentose as alegações e provas já se achamdeduzidas e demonstradas, e o órgão aque foram dirigidas é precisamenteaquele que pode rever, em razão de suacompetência interna, as decisões doEx.mo Juiz Corregedor.

Por isso, indefiro o requerimentoformulado, ressalvando, entretanto, queao sindicato se abriu a possibilidade deinterpor o presente agravo, conhecidonos termos do tópico anterior.

Da alegada intempestividadeda medida correcional

O agravante argúi aintempestividade da medida correcionalapresentada, sob o fundamento de queo ato judicial que lhe deu origem datade 30.09.2003, por isso há muitoultrapassado está o prazo para qualquerprovidência.

O Ministério Público do Trabalho,por sua vez, refuta a argüidaintempestividade, mas afirma não haverprova de que a reclamação foraapresentada tempestivamente, o queimpõe o seu não recebimento e, porconseguinte, a cassação da decisão doEx.mo Juiz Corregedor.

Como bem salientou a i.

Procuradora do Trabalho, não érazoável considerar que o prazo dareclamação tivera início na data em quefoi determinada a expedição do primeiromandado de citação e penhora parapagamento dos honorários periciais, ouseja, em 30.09.2003. É que a referidadecisão foi impugnada através demandado de segurança julgadoprocedente pela d. maioria da Seção deDissídios Individuais deste TribunalRegional para “cassar a decisão queresponsabilizou a empresa-impetrantepelo pagamento dos honorários daperícia contábil, proferida nos autos dareclamatória que lhe move o Sindicatodos Trabalhadores nas IndústriasMetalúrgicas, Mecânicas e de MaterialElétrico de João Monlevade” (f. 142),sendo certo que tal provimentojurisdicional prevaleceu até abril docorrente ano, quando então foi cassadopelo TST, que extinguiu o processo semexame do mérito.

Do acima exposto, concluo queapenas a partir da ciência do despachode f. 122 é que teve início a contagemdo prazo para apresentação do pedidode providências, razão pela qual rejeitode plano a argüição de intempestividadesuscitada pelo agravante.

Examino a argüição deintempestividade apresentada pela i.representante do Ministério Público doTrabalho, e antecipo que também nãomerece prosperar.

É certo que a Cia. SiderúrgicaBelgo Mineira não trouxe aos autoselementos que permitissem aferir qualteria sido a data de sua efetiva ciênciaacerca do despacho de f. 122. De suaparte, a agravante nada disse a respeito,mas o MPT foi categórico em suaargüição, daí por que determinei àSecretaria do Tribunal Pleno e ÓrgãoEspecial que diligenciasse junto à 2ªVara do Trabalho de João Monlevade

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para esclarecer o fato (f. 225). E comoas peças de f. 226/231 revelam que areferida empresa foi citada para pagarem 08 de junho de 2005, éinquestionável a tempestividade dapresente reclamação correcional,protocolizada em 14.06.2005.

Dos limites do ato correcional

A reclamação correcional tempor finalidade reconstituir esalvaguardar a ordem no processocontra ato judicial abusivo edesordenador, de que resulte inversãoe tumulto. O seu provimento final, acargo do Corregedor, é ato de disciplinapara dar fim a abuso no poder dedireção processual e não, própria ouimpropriamente, ato processual.

Invectivou-a sempre JoséFrederico Marques, na sua obradoutrinária - as Instituições e o Manualde processo civil (Códigos de 1939 e1973). Dizia ele, com efeito, que acorreição “não tem o menor cabimentoe justificativa, porque, além de ferir aindependência jurídica do magistrado,atenta contra o devido processo legal esubordina o exercício do poderjurisdicional a atos administrativos daautoridade superior” (Manual, 3. ed., v.III, p.197/198, nota 3; cf. Instituições, 1.ed. v. IV, p. 384/393).

O certo é que a correição parcialencontrou ampla normatização nas LeisEstaduais de Organização Judiciária.No plano da legislação federal,reconheceu-a, implicitamente, a Lei doMandado de Segurança (Lei n. 1.533/51, art. 5º, II), enquanto a Lei deOrganização da Justiça Federal (Lei n.5.010/66) institucionalizou-aexpressamente nos arts. 6º, I, e 9º.

O Regimento Interno do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião dispõe a respeito nos seus

artigos 34 a 37. Sendo desnecessáriotranscrevê-los, é o caso de resumir, noque é indispensável, que a medida temcabimento, no prazo de oito dias, contraato do juiz, abusivo e contrário à boaordem processual, de que não caibarecurso, ou em razão de ele omitir-se ecom isso igualmente incorrer no erro deprocedimento.

Não obstante a projeção de seuspossíveis efeitos no procedimentojurisdicional, a reclamação encontralimites intransponíveis na sua naturezamesma, exclusivamente administrativa.Daí resulta que a intervenção doCorregedor, não sendo ato de jurisdição,somente se impõe na medida em que énecessário reordenar o processo, pelaeliminação do erro de ofício grave,insuscetível de ser corrigido por outromeio. Insisto que se trate de erro grave,tumultuário, pois o error in procedendose anula, em regra, no juízo decassação a proferir-se no recursocabível. Por isso que o terminus adquem do órgão corregedor não lhepermite afetar, no processo judicial, porinflexão direta ou indireta, a posiçãojurídica de qualquer das partes, nosentido de atingir o seu universum ius.

Se a falta de jurisdição assoma,trata-se, ainda, de um procedimentoadministrativo que não se realiza naplenitude do contraditório, pelo menosnos termos da norma regimental que oinstituiu no âmbito do Tribunal Regionaldo Trabalho da Terceira Região, comojá referi. A propósito, o r. despacho de f.163, do Ex.mo Juiz Corregedor, aoindeferir, em consonância com oRegimento Interno, o requerimento peloqual o agravante pretendia ser admitidona reclamação, retrata com muitaclareza esse aspecto de sumariedade.

Com balizar os limites dareclamação correcional, ligando oprovimento que lhe é correlato à prática

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de ato contrário à ordem processual,para logo observo que a própria decisãorecorrida não visou coibir qualquer errode procedimento, como se vê do seuteor (cf. no juízo de admissibilidade). Ecomo tal decisão, na sua partedispositiva, declaradamente reporta-seà liminar que antes fora dada (“julgoPROCEDENTE a reclamaçãocorrecional apenas para confirmar osefeitos da decisão liminar proferida”, f.157), é relevante ter em vista que nesseprovimento inicial decidiu-se,expressamente, o seguinte: “a)suspender o despacho que determinoua expedição de novo Mandado dePenhora, b) determinar o imediatorecolhimento do Mandado expedido, c)tornar sem efeito eventuais atos depenhora já realizados em cumprimentodo referido Mandado” (f. 126).

Agora definitivo tal provimento, anão mais suspende, mas revoga (nosentido de que suprime a vox) ao tempoem que bloqueia qualquer entendimentodiscrepante do juiz da causa, para todo equalquer efeito, prospectiva eretrospectivamente, como denotam b e c.

Em face de tanto, já tenhoformado o juízo de que a r. decisãorecorrida, data venia, generalizou areclamação correcional e acabou porconferir-lhe o caráter de um equivalentejurisdicional, a produzir, por assim dizer,efeito injuntivo no processo judicial. Emoutras palavras, trata-se de uma decisãoadministrativa que ordena ao juiz o rumodo processo de execução, inspirada pordecisão de caráter estritíssimo doTribunal Superior do Trabalho, que arigor não me parece aplicável ao caso.

É certo que a primeira e maisdireta repercussão da sentençarescindente é operar a desaparição dasentença rescindida. O efeitoretrooperante vai ao passado e faz “nãoter sido o que era”, como dizia Pontes

de Miranda, na sua linguageminconfundível.

Nem sempre, porém, atos doprocedimento da execução se apagampura e simplesmente como se fossemum mero agregado. Casos há em que épreciso ter cautela com os efeitos dojuízo rescisório, para não projetá-lo alémdos seus limites. Se é consistente acontrovérsia sobre a real amplitude dadecisão rescindenda em relação a umqualquer dado da sentença, quenaquela não se continha nem mesmoimplicitamente, haverá um riscobastante sério em assumir compromissocom soluções radicais de aplicação doiudicium rescindens, que podem nãoatender a imperativo de proporção erazoabilidade. Repele-as, por isso,Barbosa Moreira, embora as consideresedutoras pela sua simplicidade, porque“nenhuma delas se mostra capaz deatender satisfatoriamente, em qualquerhipótese, ao jogo de interessescontrapostos. Daí as atenuações comque os escritores habitualmente sefurtam a uma aplicação muito rígida deprincípios. Parece impossível resolverbem todos os problemas concretos à luzde regras apriorísticas inflexíveis”.(Comentários, 3. ed., p. 241).

Entretanto, a situação concreta,enquanto controvérsia residualimportante, tendo sido objeto até demandado de segurança, já nãoconstituía um problema realmentesensível no momento exato em queinterveio o Ex.mo Juiz Corregedor. De senotar que, iniciada a execução, a juízadeterminou a realização de perícia em05.09.1994 e homologou o cálculo em18.07.1996, fixando os honorários doperito em R$ 235.200,00. Na altura,imputou o pagamento da verba àempresa, até porque de modo algum oimputaria ao credor e exeqüente, comoparece assente na jurisprudência. Mas,

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ao justificar a atribuição do encargo (f.39), disse que a Belgo Mineira deviasuportá-lo porque a perícia se tornounecessária em razão de a empresa nãoter atendido à determinação contidanum outro despacho, o de f. 351, que aevitaria. E mais à frente, a ilustremagistrada ratificou tal posição, aoasseverar que [...] “o prazo para aapresentação de cálculos de liquidaçãopela reclamada decorreu in albis” e ela“permaneceu silente quanto aodespacho de f. 351, conforme f. 352-verso, tendo sido por estes motivosdeterminada a realização da períciacontábil” , etc. (cf. f. 106).

Entre incidentes e açõescautelares, a Belgo Mineira impetroumandado de segurança, ao final providopela 1ª Seção Especializada deDissídios Individuais do Tribunal, que,por maioria, entendeu que os honoráriosnão deviam ser atribuídos à empresa (f.109/112). Entretanto, o TST, reitero,julgou extinto o processo (inciso IV doart. 267 do CPC), e a execução retomouo seu curso, com a expedição domandado de penhora e a intentadacorreição parcial.

Nas informações que prestou, aDrª Vanda de Fátima Quintão Jacobcontextualizou bem os fatos e o direito:

A controvérsia cinge-se àcircunstância sui generis de queos honorários periciais a serempagos referem-se a laudo técnicocontábil elaborado no processode execução a que deu causa arequerente.

E, trata-se decircunstância sui generis, frise-se, porquanto no processo deexecução à requerente no casoem tela, Companhia BelgoMineira, foi determinada aintimação respectiva para que

fornecesse os elementosnecessários para a elaboraçãodos cálculos de liquidação, istoé, juntasse aos autos oscomprovantes de pagamento desalário mensal de todos ossubstituídos (f. 351).

A requerente não semanifestou nem exibiu osdocumentos necessários e, poresta razão, determinou-se arealização de perícia contábil (f.353).

Portanto, a requerentedeu causa à perícia contábil cujolaudo extremamente volumoso ecomplexo encontra-se nos autos.

A ação rescisória,posteriormente ajuizada, julgouimprocedente ação original decumprimento e inverteu os ônusda sucumbência, deferiu opedido de concessão dosbenefícios da justiça gratuita aosassistentes litisconsorciais edeterminou o pagamento decustas pelo sindicato-autor(Certidão de f. 474).

Nada foi decidido noacórdão que rescindiu a ação decumprimento quanto aoshonorários periciais do expertcontábil, cuja perícia havia sidorealizada na fase executória, e àqual a requerente deu causa,conforme se explicitou (f. 131);

- [...] E não houve erro deprocedimento ou tumultoprocessual com tal decisão,tratando-se, reitera-se, decircunstância sui generis:

A uma, porquanto haviacoisa julgada e na fase deexecução, conformesobejamente já explicitado, arequerente, então, executada,deu causa à perícia contábil;

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A duas, porquanto oacórdão que rescindiu a açãooriginal de cumprimento inverteuo ônus da sucumbência, o quedeve ser entendido quanto àscustas fixadas a serem pagaspelo sindicato-autor e àconcessão dos benefícios dajustiça gratuita aos assistenteslitisconsorciais as quais foramexpressas; não houve qualquermenção aos honorários periciaisda fase de execução, e arequerente não interpôsembargos declaratórios para aomissão quanto ao ônus doshonorários periciais da execução(f. 132);

- [...] Ante o Processo doTrabalho a decisão é razoável,tratando-se de honoráriospericiais na execução (a açãorescisória não suspende aexecução) à qual deu causa arequerente, sendo certo que oacórdão que rescindiu a ação decumprimento foi omisso quantoaos honorários periciais daexecução e a requerente sequermanejou embargosdeclaratórios, no particular.

Extinta a decisão demérito por si só, sem mençãoexpressa, não há exclusão dopagamento de honorários a quedeu causa a requerente, na fasede execução.

Frise-se, trata-se decircunstância sui generis, e oprincípio da razoabilidade impõea decisão adotada.

Assim, reitera-se, não háerro de procedimento ou tumultoprocessual capazes de ensejarMS (o que já foi decidido peloTST) tampouco correição. (f.134)

A minha compreensão doproblema coincide em tudo com a dadouta juíza, quanto à inexistência de errode procedimento que ensejasse medidacorrecional. Sem embargo de que aperícia talvez se revelasse necessária,o certo é que, a princípio, podia ter sidoevitada se a executada houvesseapresentado o seu próprio cálculo ouexibido a documentação (requisitadajudicialmente) que permitisse à partecontrária oferecer a sua conta deliquidação. Então determinada,transcorreu sob a eficácia plena dasentença só mais tarde rescindida. Acorrespondente despesa, portanto, nãofoi (nem era o caso de ser) alcançadapelo v. acórdão rescisório, que ao invertero ônus da sucumbência estava a referir-se, sem a menor sombra de dúvida, aoúnico dispêndio que provinha dasentença - as custas do processo. E nãome parece, como quer a agravada, queo caso comporte a aplicação da OJ n.277 do TST, cuja possível incidência estácondicionada a um específicopressuposto - o da modificaçãosuperveniente da sentença normativa -que não se faz presente, sendo certoainda que a aplicação, sem mais, desteverbete pode conduzir o intérprete aincorrer no mesmíssimo risco, repiso, denão tomar em ordem de relevânciasituação peculiar do caso concreto.

Assim, já não havia obstáculo aque se prosseguisse na execução, apartir de cujos termos a Belgo Mineiraestaria legitimada a opor embargos e,eventualmente, agravo de petição. Portal modo, a questão se resolveria emsede recursal e, é claro, jurisdicional,como é próprio do sistema processual,que a tanto reconduz os litigantessempre que qualquer destes reputenecessário coarctar, se os há, o error iniudicando e mesmo o error inprocedendo, como visto.

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Questão igual já foi decidida poreste Tribunal, como se vê do seguintetrecho do acórdão relatado peloeminente Juiz José Roberto FreirePimenta no julgamento do processoTRT-AP-310/96:

RESPONSABILIDADE PELOSHONORÁRIOS PERICIAISFIXADOS NA FASE DELIQUIDAÇÃO.Aqui, no entanto, cumpre manterpor inteiro a r. decisão agravadaque manteve a responsabilidadeda demandada pelo pagamentodos honorários periciais emepígrafe.Se esta despesa processualhouvesse sido fixada nasentença condenatória queacabou por ser rescindida esubstituída pelo r. Aresto de f.500/505, sem dúvida teria inteirarazão a empresa agravante aopretender que a inversão dosônus da sucumbência neledeterminada também aalcançaria.No entanto, a perícia queoriginou tal verba somentetornou-se necessária, na fase deliquidação, pela recusa dareclamada, após ter sidoregularmente intimada paratanto, de trazer aos autos adocumentação imprescindívelpara a apuração dos valoresentão objeto da execução (f. 206e 209). Em conseqüência e emdireta aplicação do disposto noProvimento n. 03/91 da E.Corregedoria Regional, queatribui à parte que tiverdesnecessariamente dado causaà apuração pericial aresponsabilidade por seupagamento, o MM. Juízo de

origem assim o fez de formaexpressa à f. 209/verso, o que foimantido por esta E. TurmaJulgadora em seu anterioracórdão de f. 354/356, datado de20.05.96.Como o r. Acórdão do Col. TSTantes citado não foi expresso eminverter os ônus da sucumbênciaem relação à verba que, repita-se, não constava do título judicialentão rescindido (tendo sidoespecífico em fazê-lo apenas emrelação às custas processuais),deveria a demandada, ali autora,ter na ocasião interpostoembargos de declaração sequisesse obter pronunciamentojurisdicional específico arespeito. Como não o fez, não hácomo interpretar de formaampliativa aquela decisão. Poroutro lado, o disposto no artigo471, I, do CPC não altera aresponsabilidade dademandada, que não decorreude ser ela ou não a partesucumbente na presentedemanda, mas sim de, por suaomissão no momento processualoportuno, ter dado causa aapuração pericial desnecessária.Nego provimento ao agravo depetição da demandada, nesseparticular. (cf. acórdão às f. 201/208)

De tudo, o essencial é que oprocesso é uma estrutura de normaspúblicas para atender a diversasfinalidades da jurisdição,nomeadamente àquela que lhe toma ocentro, que é fazer atuar o direito. Emnome de tal, limites se impõem e, aindaquando vagos e imprecisos, não são demodo algum desprezíveis. O limite doato corretivo é o processo jurisdicional,

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por cujo meio se manifesta a justiçaformal, ou, como prefere John Rawls, ajustiça como regularidade. E, por lentae anacrônica que a jurisdição seja entrenós, o certo é que cumpre garantir-lhea integridade, o que reclama, antes demais nada, que se preserve a soberaniado ato jurisdicional, já que este delaemana como um seu arquétipo.

Em suma, o ato estatalimperante sobre as partes ou qualquerdelas no processo jurisdicional sempredeve emanar do juiz ou tribunal dacausa, atendendo-se assim à relevânciado princípio do juiz natural, ressalvadaa situação de incontroversaexcepcionalidade, grave nos seusefeitos e insuscetível de reexame noâmbito recursal, geralmente derivada deerro de procedimento tumultuário e,pois, indesejável de todo, o que, todavia,não se verifica no caso concreto.

Em face do exposto, douprovimento ao agravo para julgarimprocedente a reclamação correcional.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pelo seu ÓrgãoEspecial, em sessão ordinária, decidiu,por maioria de votos, vencidos os Ex.mos

Juízes Antônio Miranda de Mendonçae Manuel Cândido Rodrigues, rejeitara argüição de ilegitimidade suscitadaem contraminuta e conhecer do agravo;à unanimidade, indeferir o pedido deintegração à l ide formulado peloagravante, ressalvado o seu direito deagravar; no mérito, sem divergência,rejeitar a argüição de intempestividadeda reclamação correcional,apresentada pelo agravante e peloMinistério Público do Trabalho e darprovimento ao agravo regimental parajulgar improcedente a reclamaçãocorrecional.

Belo Horizonte, 21 de outubro de2005.

MÁRCIO RIBEIRO DO VALLEPresidente

MARCUS MOURA FERREIRARelator

TRT-01712-2005-019-03-00-7-ROPubl. no “MG” de 20.05.2006

RECORRENTES: 1) TNL CONTAX S.A.2) TELEMAR NORTE LESTE S.A.3) PATRÍCIA OLIVEIRA PAULA

RECORRIDAS: AS MESMAS

EMENTA: ASSÉDIO MORAL -INDENIZAÇÃO. A violênciapsíquica por parte doempregador, impondo períodosexíguos de 5 minutos para ir abanheiro - sob pena dejustificativa por escrito ouverbal se ultrapassado oreferido tempo - importatratamento excessivamenterigoroso e caracteriza assédiomoral no trabalho, sendo devidaa indenização reparadora dodano, nos termos dos arts. 186e 927 do CCb. Admitir taltratamento como normalsignifica compactuar com a“robotização” do ser humano eo desrespeito aos direitos dapersonalidade (privacidade,intimidade e dignidade).

Vistos, relatados e discutidos estesautos de recurso ordinário, originários da19ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte,em que figuram: como recorrentes 1)TNL CONTAX S.A., 2) TELEMAR NORTELESTE S.A, 3) PATRÍCIA OLIVEIRAPAULA e, recorridas, AS MESMAS.

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RELATÓRIO

O Ex.mo Juiz JOÃO DIONISIOVIVEIROS TEIXEIRA, da 19ª Vara doTrabalho de Belo Horizonte, através dar. sentença de f. 307/321, cujo relatórioadoto e a este incorporo, julgouparcialmente procedentes os pedidosformulados na inicial, conformedispositivo de f. 320/321.

Embargos de declaraçãoaviados pelas reclamadas, f. 400/405,julgados improcedentes, conformedecisão de f. 406/408.

Recurso ordinário da 1ªreclamada (TNL CONTAX S.A.), f. 409/416, insurgindo-se contra a r. sentençanos seguintes aspectos: minutos extras;dano moral; feriados.

A 2ª reclamada (TELEMARNORTE LESTE S.A.) tambémapresentou recurso ordinário (f. 419/427), insurgindo-se contra a r. sentençanos seguintes pontos: responsabilidadesolidária/grupo econômico; dano moral/material (exclusão ou redução do valorarbitrado).

A reclamante apresentou recursoordinário adesivo (f. 448/453),pretendendo a aplicação dosinstrumentos coletivos da 2ª reclamada;“indenização pelos intervalos nãogozados” e folgas semanais nãousufruídas.

Contra-razões às f. 429/439, 491/494 e 495/508.

Custas e depósito recursal (f.417/418).

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Conheço de todos os recursosinterpostos, presentes os pressupostosde admissibilidade.

Em relação ao assédio moral/dano moral, os recursos das reclamadasserão analisados em conjunto, tendo emvista a identidade de matéria.

Juízo de mérito

Recurso da 1ª reclamada (TNLCONTAX S.A.)

Horas extras / Minutos residuais

A recorrente insurge-se contra ar. sentença no tocante aos 20 minutosextras diários deferidos.

Sem razão.A reclamante alegou que

chegava na empresa 30 minutos antese saía 15 minutos depois do horárioregistrado em seu cartão de ponto.

A testemunha apresentada pelaautora afirmou que assim que chegavaà empresa tinha que pegar água(existindo fila para tanto), pegar o fonede ouvido e receber orientações dosupervisor, tudo antes de registrar oponto, o que era feito direto nocomputador quando iniciava oatendimento (f. 100/101). Tudo issodemorava mais ou menos 30 minutos.

A testemunha apresentada pelaempresa disse que o tempo entre apassagem na catraca e “a posição deatendimento” girava em torno de 5minutos, sendo possível pegar água,existindo fila raras vezes (f. 101).

Como decidido na r. sentença, asdeclarações da testemunha da autorasão mais convincentes, haja vista aquantidade de procedimentos a seremfeitos antes do registro de ponto, nãosendo crível que tudo fosse realizadoem apenas 5 minutos.

De outro lado, ultrapassado o limiteprevisto no § 1º do art. 58 da CLT (10minutos diários), todo o tempo deve serpago como extra (Súmula n. 366 do TST).

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Irreparável, portanto, a r.sentença, eis que a autora desincumbiu-se de seu ônus probatório, nos termosdo art. 818 da CLT e inciso I do art. 333do CPC, inexistindo violação ao incisoII do art. 5º da CF/88.

Nego provimento.

Assédio moral / Dano moral -Indenização

As reclamadas não seconformam com a r. sentença quedeferiu indenização por danos morais,decorrente de assédio moral sofridopela autora, no valor de R$5.000,00.

Sem razão.Sobre o assédio moral, vale citar

a doutrina esclarecedora da Juíza AliceMonteiro de Barros:

O conceito jurídico deassédio moral é difícil de serelaborado em face dos “difusosperfis do fenômeno”. E assim éque alguns doutrinadoresenfatizam no conceito o danopsíquico acarretado à vítima emface da violência psicológica jádescrita.

Outros destacam mais asituação vexatória e o dano àimagem que o assédio moralprovoca. Saliente-se, entretanto,que há elementos em torno dosquais a doutrina e a jurisprudênciaestão em consonância comocaracterizadores do assédiomoral. São eles:

a) a intensidade daviolência psicológica. Énecessário que ela seja grave naconcepção objetiva de umapessoa normal. Não deve seravaliada sob a percepçãosubjetiva e particular do afetadoque poderá viver com muita

ansiedade situações queobjetivamente não possuem agravidade capaz de justificaresse estado de alma. Nessassituações, a patologia estariamais vinculada com a própriapersonalidade da vítima do quecom a hostilidade no local detrabalho;10

b) o prolongamento notempo, pois episódio esporádiconão o caracteriza, mister ocaráter permanente dos atoscapazes de produzir o objetivo;

c) outro elemento doassédio moral é que tenha porfim ocasionar um dano psíquicoou moral ao empregado paramarginalizá-lo no seu ambientede trabalho;

d) que se produzamefetivamente os danos psíquicos,os quais se revestem de índolepatológica. Constituem, portanto,uma enfermidade que pressupõediagnóstico clínico. Deveráprovar-se. O dano psíquicopoderá ser permanente outransitório. Ele se configuraquando a personalidade davítima é alterada e seu equilíbrioemocional sofre perturbações,que se exteriorizam por meio dedepressão, bloqueio, inibiçõesetc. Esses estados devemguardar um nexo de causalidadecom o fato danoso. Poderáocorrer deste último não gerar odesequilíbrio emocional, masagravá-lo. Nesta última hipótese,aplica-se a concausa e oresponsável responde peloagravamento.11

A doutrina distingue odano psíquico do dano moral. Oprimeiro se expressa por meio deuma alteração psicopatológica

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comprovada e o segundo lesa osdireitos da personalidade egeram conseqüênciase x t r a p a t r i m o n i a i sindependentemente de prova,pois se presume. Estes últimosindependem do dano psíquico.

Quanto ao últimoelemento (dano psíquico), nós oconsideramos dispensável, datavenia de inúmeras posiçõescontrárias. O conceito de assédiomoral deverá ser definido pelocomportamento do assediador enão pelo resultado danoso.Ademais, a Constituição vigenteprotege não apenas aintegridade psíquica, mastambém a moral.(Artigo publicado no JurisSíntese n. 52, mar./abril de 2005)

Pois bem, no presente caso, areclamante alegou assédio moral,relatando que foi vítima de humilhaçãona empresa, eis que, todas as vezes quedemorava mais de 5 minutos para ir aobanheiro, tinha que justif icarverbalmente ao supervisor, inclusive emperíodos de menstruação (depoimentoda autora - f. 100).

As alegações da reclamanterestaram provadas.

O próprio preposto da reclamadareconheceu que “acredita, em certoscasos, pelo excesso na demora, ossupervisores cobram uma justificativa”(f. 100).

A testemunha apresentada pelaautora afirmou que, caso ultrapassassem5 minutos para ir ao banheiro, tinham quejustificar sempre; “que reconhece odocumento de f. 25 dos autos e que omesmo era documento único, quepassava por todos os empregados dosetor, onde eram feitas justificativas pelademora no banheiro; que o documento,

ao passar pelos demais empregados,revelando a justificativa, tornava-seobjeto de brincadeiras de mau gosto”.Informou, ainda, que, embora não tenhavisto o nome da reclamante emdocumento idêntico ao de f. 25, jápresenciou o supervisor solicitarjustificativa da reclamante pelo atraso nobanheiro (f. 101).

A testemunha da empresatambém reconheceu que asjustificativas são obrigatórias e disseque são feitas verbalmente (f. 102).

Ora, seja de forma verbal ou porescrito, a exigência da empresa éabsurda e fere o direito fundamental deintimidade, privacidade (inciso X do art.5º da CF/88) e a dignidade doempregado, direitos da personalidadeamplamente garantidos noordenamento jurídico brasileiro.

Não se pode permitir que as irasdo capitalismo cheguem a ponto detransformar o empregado em simplesrobô, que deve prestar serviços deforma automatizada. Será que amedicina já evoluiu a ponto de o serhumano poder “programar” o tempopara suas necessidades básicas? Cincominutos para “isso”, cinco minutos para“aquilo”... A que ponto estamoschegando? Será que daqui a pouco aempresa também não vai exigir doempregado que também “programe” seuorganismo para ir ao banheiro somentequando estiver em casa, sob pena dediminuição da produtividade?

Como decidido na r. sentença, épatente a violência psíquica (assédiomoral) praticada pela reclamada - queexerceu comprovada pressãopsicológica sobre a autora, além de aexpor a situação constrangedora - o queatrai a indenização pela compensaçãodo dano sofrido, nos termos dos arts.186 e 927 do CCb, uma vez presentesa conduta ilícita e o nexo de causalidade

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entre o dano e a conduta, bem como aculpa da reclamada. Saliente-se que aconduta da empresa também seenquadra no disposto na alínea “b” doart. 483 da CLT (tratamentoexcessivamente rigoroso).

Vale transcrever, com a devidavênia, a decisão do Juiz José Marlon deFreitas, da 34ª Vara do Trabalho de BeloHorizonte, proferida em casopraticamente idêntico ao dos autos(processo n. 01485-2005-113-03-00-0):

Latente é a presença dosrequisitos autorizadores para aindenização decorrente doassédio moral em que foisubmetida a autora. Da análiseda prova restou, sobejamente,configurado:

1 - o erro de conduta doagente. É inequívoco que a résubmeteu a autora a tratamentoaviltante, constrangedor, aolimitar-lhe a util ização dosanitário ao longo da jornada, aoexigir-lhe explicações por escritodessas ocorrências (idas aobanheiro) e ao tornar público omotivo de tais ocorrências;

2 - ofensa a um bemjurídico (dignidade, honra eimagem subjetiva, malferindo opatrimônio moral - eis que aautora experimentou, a todaevidência, sofrimento interior emrazão dos atos da ré);

3 - nexo causal, ou seja,a relação de causalidade entrea conduta empresária e o danoocorrido.

É inequívoco o abuso dedireito e o cometimento de atoilícito pelo réu.

O Código Civil de 2002inova em seu art. 187, aoconsagrar outro tipo de ato ilícito,

diverso daquele descrito noartigo 186 e que prescinde daverificação de culpa ou dolo, qualseja, abuso do exercício de umdireito. Para a configuração doato ilícito, previsto no art. 187, oabuso deverá ser manifesto, ouseja, ao exercer o direito, oagente, sem nenhuma dúvida,excede os limites em afrontadireta ao legal e ao justo. Oabuso de direito constitui atoilícito e, via oblíqua, gera aresponsabilidade civil.

Aqui, sem dúvida, umanova visão legal se faz presente,onde não mais se admite que,supostamente protegido por umdireito ao fundo, sejamcometidas arbitrariedades. Foi-se, felizmente, o tempo em queo “mais forte” na relação, seja decunho trabalhista e/ou civilista,poderia exercitar, por si só e, ipsofacto, este seu “maior poder”com a proteção da Lei.

Uma vez estabelecidopelo art. 160, I, do Código Civilde que não constitui ato ilícito opraticado no exercício regular deum direito reconhecido, acontrario sensu, o ato praticadoem exercício não regular de umdireito é ilícito, configurando-se,com isso, o abuso de direito.

Assim, considero irreparável a r.sentença, inclusive quanto ao valor daindenização arbitrada (R$5.000,00),perfeitamente razoável, em vista dosseguintes critérios: gravidade da ofensa;grau de culpa do ofensor; capacidadefinanceira das partes.

Em vista do exposto, não houveofensa aos dispositivos legaismencionados pela recorrente.

Nego provimento.

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Feriados

Alega a recorrente que todos osferiados foram quitados com exatidão,quando trabalhados, com o percentualde 100%.

Sem razão.Como demonstrado na r.

sentença, o único feriado trabalhado foio do dia 15.11.2003. Contudo, emboraconste, na ficha financeira do mês dedezembro/2003, que houve opagamento do referido feriado com oadicional de 100%, não existe recibosalarial assinado pela autora quecomprove o efetivo pagamento.

Pequeno reparo merece a r.sentença apenas para se excluir dacondenação os reflexos deferidos, jáque não havia habitualidade naprestação de serviços em feriados.

Dou provimento parcial paraexcluir da condenação os reflexos doferiado trabalhado.

Recurso da 2ª reclamada(TELEMAR NORTE LESTE S.A.)

Da terceirização /Responsabilidade da recorrente

A recorrente não se conformacom a r. sentença, que a condenou aresponder solidariamente pelasparcelas deferidas.

Sem razão.A própria recorrente reconhece

que “terceirizou seu serviço de callcenter, onde a empresa Contax passoua fornecer mão-de-obra qualificada paratal área” (f. 422).

Tal serviço insere-se,indiscutivelmente, na atividade-fim darecorrente, o que enseja suaresponsabilidade.

De outro lado, revendoposicionamento anteriormente adotado,

entendo correta a r. sentença, quedeclarou a responsabilidade solidária da2ª reclamada, em virtude da formaçãode grupo econômico.

Como decidido na r. sentença (f.310/311):

A própria reclamadareconhece que as duasreclamadas estão vinculadas àholding. O que é isso senão afigura descrita no art. 2º, § 2º, daCLT. A holding é a empresa quesubordina as demais,caracterizando o grupo econômiconos termos da referida norma.

Para caracterizar o gruponão há necessidade dasubordinação de uma empresaà outra, mas que estejaminterligadas pela presença desócios comuns ou pela direçãode uma empresa sobre asdemais, como é o caso deholding, que dirige as duasreclamadas.

Aliás, a autora juntou cópias devárias decisões judiciais em que restouprovada a existência de grupoeconômico entre as reclamadas,inclusive de forma documental (v.g. f.457, 467 e 484/485).

A propósito, a juntada de cópiasde decisões judiciais em sede recursalnão afronta o disposto na Súmula n. 08do TST, já que não se trata dedocumento no sentido estrito do termo.Nesse passo, não há falar emdesentranhamento dos referidosdocumentos.

Acrescente-se que a 2ªreclamada terceirizou serviços inerentesà sua atividade-fim (call center), o queleva à conclusão de existência deterceirização fraudulenta e é mais ummotivo para sua condenação solidária.

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O que se admite é a meraterceirização de atividade-meio, o que,repita-se, não é o caso dos autos.

Em face do exposto, não houveofensa aos dispositivos legaismencionados pela recorrente.

Nego provimento.

Assédio moral / Dano moral

A matéria já restou analisada norecurso da 1ª reclamada.

Nada a prover.

Recurso adesivo do reclamante

Desentranhamento dedocumentos

A 2ª reclamada, em contra-razões, pede o desentranhamento dosdocumentos juntados pela autora emsede recursal.

A questão já foi analisada acima.Conforme visto, não se trata deaplicação da Súmula n. 08 do TST.

Da aplicação dos acordoscoletivos da 2ª reclamada (TELEMAR)

A reclamante pretende sejam-lheaplicados os instrumentos coletivos da2ª reclamada (TELEMAR).

Com razão.Constatada a existência de

grupo econômico entre as reclamadas,constitui-se o empregador único,devendo ser aplicadas à reclamanteas convenções colet ivas da 2ªreclamada.

A não aplicação de taisinstrumentos caracteriza ofensa aoprincípio da isonomia e não pode seradmitida.

Ademais, como visto, aterceirização levada a efeito pela 2ªreclamada é fraudulenta, o que reforça

o entendimento de que devem seraplicados à autora os instrumentoscoletivos em questão, sob pena de seadmitir que a 2ª reclamada se beneficiede sua própria torpeza.

Dou provimento para determinara aplicação dos instrumentos coletivosfirmados com a 2ª reclamada (f. 42 eseguintes). Em conseqüência, deferem-se à reclamante as seguintes parcelas:ticket-refeição e cesta básica, semreflexos, haja vista a naturezaindenizatória das parcelas fixadas nospróprios instrumentos coletivos;diferenças salariais decorrentes dosreajustes previstos nas CCTs, comreflexos em férias + 1/3, 13º salário,FGTS e horas extras. Não incidemreflexos em RSR, que já se encontraincluído na base de cálculo dasdiferenças. Devem ser observados osrespectivos períodos de vigência e oscritérios fixados nos instrumentosnormativos (cláusulas 2, 10 e 13).

Intervalos intrajornada

Aduz a autora que não usufruiucorretamente os intervalos intrajornada.

Sem razão.O art. 71 da CLT prevê o intervalo

de 15 minutos para uma jornada de 6horas, não computado na duração dajornada (§§ 1º e 2º).

A própria reclamante confessouna inicial (item 4 - f. 4) que a reclamadaconcedia dois intervalos de 15 minutos,sendo que um não era acrescido àjornada. Apesar de a autora dizer queum deles não era usufruído, ela afirmaque trabalhava 6 horas e 15 minutos, oque em nada contraria o disposto noreferido dispositivo legal.

Conforme bem registrou asentença: “A própria lei exclui o intervalopara descanso e refeição da duração dotrabalho, o que significa dizer que, se

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um trabalhador é contratado paratrabalhar 6 horas, deve prestar serviçodurante este tempo independente dointervalo para descanso e refeiçãolegalmente estabelecido.” (f. 314)

Nego provimento.

Folgas semanais

Como fundamentado na r.sentença, a própria autora admite quetrabalhava em dois domingos por mêse que tinha folgas semanais.

E, ainda, a Constituição Federalprevê o descanso preferencialmenteaos domingos.

Assim, se a autora laborava emapenas 2 domingos por mês e tinha asfolgas semanais, não há falar empagamento em dobro dos repousoslaborados.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

Conheço dos recursos da 1ªreclamada (TNL CONTAX S.A.) e da 2ªreclamada (TELEMAR NORTE LESTES.A.); no mérito, nego provimento aorecurso da 2ª reclamada e douprovimento parcial ao recurso da 1ªreclamada para excluir da condenaçãoos reflexos do feriado trabalhado.Conheço do recurso ordinário adesivoda reclamante e, no mérito, dou-lheprovimento parcial para determinar aaplicação dos instrumentos coletivosfirmados com a 2ª reclamada (f. 42 eseguintes) e, em conseqüência, deferir-lhe as seguintes parcelas: t icket-refeição e cesta básica, sem reflexos;diferenças salariais decorrentes dosreajustes previstos nas CCTs, comreflexos em férias + 1/3, 13º salário,FGTS e horas extras. Não incidemreflexos em RSR, que já se encontraincluído na base de cálculo das

diferenças. Devem ser observados osrespectivos períodos de vigência e oscritérios fixados nos instrumentosnormativos (cláusulas 2, 10 e 13). Elevoo valor da condenação de R$6.000,00para R$20.000,00, acrescendo emR$280,00 o valor das custas, pelasreclamadas.

Atendendo ao requerimento dai. Procuradora, Drª Júnia Soares Nader,determino seja o Ministério Públicointimado pessoalmente da presentedecisão quando da publicação doacórdão.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua OitavaTurma, preliminarmente, àunanimidade, conheceu dos recursosda 1ª reclamada (TNL CONTAX S.A.) eda 2ª reclamada (TELEMAR NORTELESTE S.A.); no mérito, semdivergência, negou provimento aorecurso da 2ª reclamada;unanimemente, deu provimento parcialao recurso da 1ª reclamada para excluirda condenação os reflexos do feriadotrabalhado; à unanimidade, conheceudo recurso ordinário adesivo dareclamante; no mérito, sem divergência,deu-lhe provimento parcial paradeterminar a aplicação dosinstrumentos coletivos firmados com a2ª reclamada (f. 42 e seguintes) e, emconseqüência, deferir-lhe as seguintesparcelas: ticket-refeição e cesta básica,sem reflexos; diferenças salariaisdecorrentes dos reajustes previstos nasCCTs, com reflexos em férias + 1/3, 13ºsalário, FGTS e horas extras; nãoincidem reflexos em RSR, que já seencontra incluído na base de cálculo dasdiferenças; devem ser observados osrespectivos períodos de vigência e oscritérios fixados nos instrumentos

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normativos (cláusulas 2, 10 e 13);elevou o valor da condenação deR$6.000,00 (seis mil reais) paraR$20.000,00 (vinte mil reais),acrescendo em R$280,00 (duzentos eoitenta reais) o valor das custas, pelasreclamadas. Atendendo aorequerimento da i. Procuradora, DrªJúnia Soares Nader, determinou-se aintimação pessoal do Ministério Públicoda presente decisão quando dapublicação do acórdão.

Belo Horizonte, 10 de maio de2006.

CLEUBE DE FREITAS PEREIRARelatora

TRT-01486-2005-023-03-00-3-ROPubl. no “MG” de 12.05.2006

RECORRENTES: USINASSIDERÚRGICAS DE MINASGERAIS S.A. - USIMINAS (1)

SINDICATO DOS TÉCNICOS DESEGURANÇA DO TRABALHODO ESTADO DE MINAS GERAIS- SINTEST/MG (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: CONTRIBUIÇÃOSINDICAL - CATEGORIADIFERENCIADA. Não me parecerazoável transferirintegralmente ao empregador atarefa de pesquisar a existênciade sindicato representativo decategoria diferenciada, para finsde repasse da contribuiçãoanual.Até porque o apartamentolegal a uma determinadaprofissão, concedida-lhe ashonras da imparidade, nãoimplica necessariamente suaagremiação separada em

entidade representativa declasse. A reunião da categoriasegue, sempre, o traçado dolivre alvedrio (cf. art. 8º da CF).Neste contexto, o empregado-contribuinte, a entidade que sediz lesada, e até mesmo osindicato genérico -representante dos demaistrabalhadores da empresa-ré ea quem foram remetidos osrecolhimentos -, devem serchamados à colaboração:aquele, alertando o empregadorda sua entidade sindicalespecífica; aquela, tornando-sepública e notória, nos dizeres doart. 605 da CLT; este, declinandoo recebimento indevido, em prolda entidade-irmã, real credora.Não por outra razão foi editadaa Portaria n. 3.397/78, pelo MTE,que se alimenta de teorimperativo nos arts. 583, 589 e610 da CLT e inciso II do art. 87da CF e traça “rotina pararestituição da ContribuiçãoSindical recolhidaindevidamente”, preconizando,em seu item 3 e subitens, ochamamento exclusivo dossindicatos envolvidos,“entidade sindical prejudicada”e “entidade sindical imprópria”.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,DECIDE-SE:

RELATÓRIO

Através da r. sentença de f. 99/105, complementada à f. 109, o MM.Juiz Márcio Roberto Tostes Francojulgou parcialmente procedente a açãode cobrança interposta pelo sindicato-autor, condenando a empresa-

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reclamada ao pagamento dascontribuições sindicais do períodoimprescrito, acrescidas de multamoratória.

Recurso da ré, às f. 110/118,argüindo, em preliminar, negativa deprestação jurisdicional. No mérito, listarazões para o seu inconformismo: “nãohá prova de que o sindicato/recorrridorepresente a categoria dos técnicos emsegurança do trabalho e que tenha baseterritorial que abranja os empregados darecorrente”; “o fato de ser determinadaprofissão regulamentada por lei nãoimplica dizer que os profissionais que aexercem estejam abrangidos porrepresentação sindical específica”; “nãohá disposição legal que obrigue oempregador a conhecer toda e qualquerentidade sindical eventualmente criadapor este ou outro grupo deprofissionais”, “quem, senão a própriaentidade, estará obrigado a comunicara sua representatividade aostrabalhadores e aos empregadores?”; “asimples alegação de que a criação dosindicato é publicada na imprensa oficialnão confere a esse fato a mesmapresunção de conhecimento com queconta a norma legal”; “finda o v. julgadopor atribuir ao empregador obrigaçãonão prevista em lei, em manifestaofensa ao artigo 5º, II, CR/88”, “não écrível, data venia, que o legisladortivesse intenção de impingir talobrigação ao empregador e eximir dequalquer responsabilidade a entidadesindical, sobretudo quando se avaliamtais disposições sob o contexto da novaordem constitucional estabelecida apartir de 1988”; “o sindicato/recorridojamais manifestou qualquer ato derepresentação, seja quanto àtitularidade do direito ao recebimento dacontribuição objeto do presente feito,seja quanto à defesa dos interesses daclasse supostamente representanda”.

Contra-razões às f. 122/128,suscitando, com inovação, “sonegaçãode contribuição sindical” e pugnandopela remessa de ofício ao d. MPT.

Recurso adesivo às f. 129/133,pedindo pelo decreto da prescriçãodecenal e pela verba advocatícia.

Contra-razões pela demandadaàs f. 137/140.

Dispensado parecer escritoministerial, na forma do art. 82 doRegimento Interno deste Regional.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

As peças recursais foramsubscritas por advogados devidamenteconstituídos nos autos (v. procuração dosindicato-autor à f. 14, e da empresa-reclamada à f. 63); há recolhimento decustas processuais e depósito recursal(f. 119/120); e foram observados osoctídios legais (v. f. 109-verso, 110, 120-verso e 129).

Presentes os pressupostoslegais de admissibilidade, conheço dosrecursos, principal e adesivo.

Preliminar de negativa deprestação jurisdicional, argüida pelaempresa-reclamada

Embora de fato não tenha sepronunciado a sentença acerca do teordos arts. 605 e 606 da CLT, tal comorequerido, insistentemente, pelaempresa-apelante, a matéria volta alume em sua integralidade agora emsede recursal, sujeita ao efeitodevolutivo amplo de que trata a Súmulan. 393 do Colendo TST.

Logo, nenhum prejuízo sofrerá asuscitante.

Rejeito.

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Mérito

Recurso da empresa-reclamada

Trata-se de ação de cobrança decontribuição sindical e multasmoratórias, “do período de 1995 a 2005”(rol de pedidos, alínea “a”), ajuizada porSindicato dos Técnicos de Segurançado Trabalho do Estado de Minas Gerais,SINTEST/MG, em face de UsinasSiderúrgicas de Minas Gerais S.A. -USIMINAS. (Importante detalhe, em quese fundam os inarredáveis limites dalide: não se pede por reenquadramentosindical, limitando-se o autor a rogar porcontribuições anuais já vencidas).

Em que pese tenha a empresa-demandada acenado com orecolhimento da parcela ao Sindicatodos Metalúrgicos - entidade de classeque abriga a generalidade de seusempregados - ou a outros que entendeudestinatários das contribuições de seusempregados imbuídos da função detécnico de segurança do trabalho,asseverando, também, odesconhecimento do sindicatoespecífico desta categoria, entendeu ojulgador a quo “que a empresa quepossui empregados abrangidos porcategoria diferenciada é que deveverificar a existência de entidadesindical representativa da categoria” (f.102).

D.v., entendo por demaissimplista o raciocínio sentencial,calcado numa interpretação inflexível doart. 582 da CLT.

Não me parece razoáveltransferir integralmente ao empregadora tarefa de pesquisar a existência desindicato representativo de categoriadiferenciada, para fins de repasse dacontribuição anual.

Até porque o apartamento legala uma determinada profissão,

concedida-lhe as honras da imparidade,não implica necessariamente suaagremiação separada em entidaderepresentativa de classe. A reunião dacategoria segue, sempre, o traçado dolivre alvedrio (cf. art. 8º da CF). Equivaledizer, o empregado pode pertencer auma categoria ordenada em lei comodiferenciada e, nada obstante, ver-sedesorganizado no plano sindical, semrepresentação especial, jungido, pois,ao sindicato profissional genérico, amercê da atividade econômicapreponderante da empresa.

Neste contexto, o empregado-contribuinte, a entidade que se dizlesada, e até mesmo o sindicatogenérico - representante dos demaistrabalhadores da empresa-ré e a quemforam remetidos os recolhimentos -,devem ser chamados à colaboração:aquele, alertando o empregador da suaentidade sindical específica; aquela,tornando-se pública e notória, nosdizeres do art. 605 da CLT; este,declinando o recebimento indevido, emprol da entidade-irmã, real credora.

Do contrário, apena-se pordemais o empregador que, na condiçãode repassador do tributo (cf. art. 582 daCLT), cumpre seu papel, tropeçandoapenas em parte da destinação, tocantea valores descontados de pequenaparcela de seu quadro funcional; invertera direção, imputando ao empregador-equivocado os mesmos pesados ônusque afligem uma empresa-inadimplentee/ou sonegadora, é partir da premissa,a meu sentir falsa (d.v.), de que amatéria “enquadramento sindical” trilhao plácido caminho da incontestabilidade;pensar diferente é lançar sobre osombros do empregador, que nenhuminteresse direto tem na relação sindicatoprofissional/empregado, o dever de nãosó exaurir-se na investigação da históriasindical da região, mas também de

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promover o enquadramento preciso eirretocável de todo seu pessoal (esforçolonge da quietude, frise-se).

Não foi esta intenção dolegislador, por óbvio, que lheestabeleceu a condição de merorepassador, sem lhe cobrar exação.

Não por outra razão foi editadaa Portaria n. 3.397/78, pelo MTE, quese alimenta de teor imperativo nos arts.583, 589 e 610 da CLT e inciso II do art.87 da CF e traça “rotina para restituiçãoda Contribuição Sindical recolhidaindevidamente”, preconizando, em seuitem 3 e subitens, o chamamentoexclusivo dos sindicatos envolvidos,“entidade sindical prejudicada” e“entidade sindical imprópria”:

transferência de quota recolhidaindevidamente em nome [...] deentidade sindical imprópria: aentidade sindical prejudicadaencaminha petição ao DelegadoRegional do Trabalho de suajurisdição, solicitando atransferência da quota-parte dacontribuição que lhe pertencerecolhida indevidamente em favor[...] de entidade sindical imprópria[...]. O requerimento, depois deprotocolizado, será analisado einstruído pelo órgão competenteda Delegacia Regional doTrabalho, que emitirápronunciamento conclusivo sobreo direito da entidade postulante.Após a instrução, o processo serásubmetido a despacho doDelegado Regional do Trabalho,que citará a entidade sindicalindevidamente contempladapara, no prazo máximo de 30(trinta) dias, promover atransferência da quota-parte daContribuição Sindical reclamada,em favor da entidade postulante.

Daí se conclui, vindo à tona osestreitos limites em que foi interposta areclamatória: cabe ao sindicato-postulante cobrar do(s) sindicato(s)-contemplado(s) a quantia já recolhidapela USIMINAS.

Em idêntica direção orienta aNota Técnica Ministerial 52/05, queversa sobre enquadramento sindical ecuja sobrepujança se vê igualmentegarantida nos sobreditos dispositivos delei. Posiciona-se a Coordenação-Geraldas Relações do Trabalho, órgão doMinistério do Trabalho e Emprego, nosentido de que o enquadramentosindical a que se obriga a empresa dá-se, como regra e automaticamente, pelocritério de sua atividade preponderante.Veja-se:

a empresa, por pertencerà determinada categoria, estaráautomaticamente enquadrada nacategoria econômicacorrespondente, e seusempregados, na categoriaprofissional respectiva. De seobservar, como elementofundamental para determinar ossindicatos representativos, adefinição da atividadeeconômica do empreendimento;ou, ocorrendo pluralidade deatividades, a atividadeprevalente, assim descrita porMozart Victor Russomano, emPrincípios gerais de direitosindical (2. ed. Rio de Janeiro:Ed. Forense, 1997, p. 98): “Podeocorrer que a mesma empresaexerça várias atividadeseconômicas. Se essasatividades forem desenvolvidasem conjunto, l igadas porqualquer elo de conexão, comoa empresa é uma unidade, seránatural que se procure

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estabelecer a atividadeprevalente, do ponto de vistaeconômico e objetivo deprodução. Essa atividadeapontará o sindicato do qualpode participar o empresário.”Cabe à própria empresa,respeitados os critérios acima, adefinição da categoria a quepertence, devendo, emdecorrência disso, recolher ascontribuições sindicais e cumpriras convenções e acordoscoletivos firmados pela entidadesindical respectiva. (grifei)

Não subsiste o argumento deque a “ignorância” da ré fora deliberada,interessada “em contracenar comentidade menos combativa” (inicial, f.04). A questão é por demais singela, jápacificada no âmbito destaEspecializada: ainda que os repassesfossem regularmente efetuados à contada entidade-sindical pleiteante, aUSIMINAS jamais estaria obrigada aconquistas eventualmente alcançadaspor este sindicato específico sem achancela de seu próprio sindicato,patronal. É o que dispõe a Súmula n.374 do TST:

NORMA COLETIVA, CATEGORIADIFERENCIADA.ABRANGÊNCIA.Empregado integrante decategoria profissionaldiferenciada não tem o direito dehaver de seu empregadorvantagens previstas eminstrumento coletivo no qual aempresa não foi representadapor órgão de classe de suacategoria.

Mais uma vez sobreleva aabsoluta inculpabilidade da empresa-réno enquadramento errôneo.

Cabe sim aos sindicatosímpares, das categorias diferenciadas,brandir aos quatro ventos sua criação,sair em busca de seus integrantes,fazendo-se conhecer por toda classe, jáque o enquadramento a si foge à regragenérica a que se submetem asempresas. Não por outra razãodetermina o art. 605/CLT que “Asentidades sindicais são obrigadas apromover a publicação de editaisconcernentes ao recolhimento dacontribuição sindical, durante três dias,nos jornais de maior circulação local eaté dez dias da data fixada para depósitobancário”. Esse dispositivo de leiencontra-se em plena vigência,consoante magistério do MM. Juiz doTrabalho Henrique Macedo Hinz, da 15ªRegião (Campinas-SP), que, em suaobra Direito coletivo do trabalho (SãoPaulo: Saraiva, 2005), arrola, à f. 28, ospreceitos celetistas que sobreviveram àedição do art. 8º da CF - dentre os quaisse encontra o citado art. 605.

De toda forma, ter-se-iamanifesta a impertinência da alegaçãode mora, eis que não houve omissão e/ou retenção de valores por parte daempresa-repassadora.

Para findar: considerando-seque os recolhimentos efetuados pelaUSIMINAS verteram aos cofres deoutros sindicatos, fazia-se necessário eimprescindível fossem estes chamadosà lide, já que seus nomes estão aqui emjogo, na qualidade de “entidadessindicais impróprias”. A ação vista sobeste prisma padece de defeitoprocessual insanável - cf. art. 47 doCPC.

Por tudo isso, dou provimento aorecurso, absolvendo a empresa-reclamada da condenação imposta,invertidos os ônus de sucumbência, erestando prejudicado o exame do apeloadesivo da entidade sindical.

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Da “sonegação decontribuição sindical”, suscitada emcontra-razões pelo sindicato-autor -Remessa de ofício ao d. MPT

Não expostas aos devidoscontraditório e ampla defesa, sequermerecem apreciação as sobreditasacusações, versadas apenas em contra-razões (f. 123/124). A título deesclarecimento apenas, registra-se queo recolhimento proporcional,desvinculado da remuneração integraldo empregado, é plenamente possível,conforme se deduz da combinação dosarts. 580, I, 582, 601 e 602, da CLT.Assim preleciona Henrique MacedoHinz, na já citada obra Direito coletivodo trabalho, p. 61: “caso o trabalhadorvenha a ser contratado para exercerfunção representada por sindicatodiverso daquele que recebeu suacontribuição sindical no mês de março,será devido o novo recolhimento, deforma proporcional (ou seja, dos mesesque restam até o término do ano)”. Asdiferenças apontadas pela entidadesindical, à luz dos comprovantesapresentados pela empresa às f. 77 esegs., podem aí se enquadrar.

Indefiro.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua PrimeiraTurma, preliminarmente, àunanimidade, conheceu de ambos osrecursos; quanto ao recurso dareclamada, sem divergência, rejeitou apreliminar de negativa de prestaçãojurisdicional argüida pela empresa-recorrente, e, no mérito, deu-lheprovimento para absolvê-la dacondenação imposta, invertidos os ônusde sucumbência, e prejudicado o examedo apelo adesivo da entidade sindical.

Ficam indeferidos os pedidos veiculadosem contra-razões pelo sindicato-postulante.

Belo Horizonte, 08 de maio de2006.

DEOCLÉCIA AMORELLI DIASRelatora

TRT-00010-2005-143-03-00-8-ROPubl. no “MG” de 13.05.2006

RECORRENTES: ANA TEREZA BAETACAMPOMIZZI (1)TELEMAR NORTE LESTE S/A (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: EMPREGADOPORTADOR DE DEFICIÊNCIA -GARANTIA DE EMPREGO -RESILIÇÃO CONTRATUAL -NULIDADE. O legislador, aocondicionar, no art. 93 da Lei n.8.213/91, a dispensa imotivadado empregado deficiente àcontratação de substituto decondição semelhante, instituiulimitações ao poder potestativodo empregador e evidentegarantia de emprego, uma vezque a extinção do pacto laboraldestes trabalhadores estácondicionada à admissão detrabalhador em condiçõesanálogas, sendo que, sem acontratação de outrotrabalhador em condiçõessemelhantes, o contrato detrabalho do portador dedeficiência não se desfaz.

RELATÓRIO

Ao de f. 69/70, acrescento que asentença oriunda da 5ª Vara do Trabalho

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de Juiz de Fora, proferida pelo Ex.mo JuizAgnaldo Amado Filho, julgou procedenteem parte a reclamatória, condenando areclamada ao pagamento de saláriosvencidos e demais vantagensconcedidas à categoria profissional,férias + 1/3, 13º salários e FGTS, desdea resilição até 07.08.05.

Embargos de declaração pelareclamada às f. 76/79, julgadosimprocedentes às f. 80/81, com acondenação da reclamada ao pagamentode multa de 1% sobre o valor da causa.

A reclamante recorreordinariamente às f. 82/84, insistindo nodireito à percepção de indenização pordano moral.

Contra-razões pela reclamada àsf. 90/95.

A reclamada recorreordinariamente às f. 98/108, insurgindo-se contra a condenação ao pagamentode salários vencidos e condenação aopagamento de multa de 1% sobre ovalor da causa.

Contra-razões pela reclamanteàs f. 115/120.

FUNDAMENTOS

Admissibilidade

Presentes os pressupostos deadmissibilidade, conheço dos recursos.

Por conter matéria que podeprejudicar o exame do recurso ordinárioda reclamante, inverto a ordem dejulgamento e examino prioritariamenteo recurso ordinário da reclamada.

Mérito

Recurso ordinário da reclamada

Multa de 1% sobre o valor dacausa - Embargos de declaraçãoprocrastinatórios

Assiste razão à reclamada, aoinsurgir-se contra a r. decisão queaplicou a multa de 1% sobre o valor dacausa, uma vez que, com a oposiçãodos embargos de declaração, apenasse valeu dos meios legais existentespara a defesa de seus interesses edireitos, não restando caracterizado ocaráter protelatório dos embargos.

Dou provimento para excluir dacondenação o pagamento de multa de1% sobre o valor da condenação.

Indenização por dispensa dedeficiente físico

Aduz a reclamante na inicial serportadora de deficiência física(paraplegia dos membros inferiores, emdecorrência de acidenteautomobilístico), tendo sido admitida,por concurso público, em 14.03.97 edemitida sem justa causa em 03.11.03.

Sustenta que, de acordo com odisposto no § 1º do art. 93 da Lei n.8.213/91, somente poderia ser demitidase fosse admitido outro deficiente - emsemelhantes condições - no seu lugar,o que não ocorreu.

Alega que o setor em quetrabalhava - atendimento pessoal aclientes - foi terceirizado e a equipe todademitida, à exceção de uma funcionáriaque estava grávida, Silvania MatosChagas, e um integrante da CIPA, CelsoRossi Júnior, que foram transferidospara o departamento jurídico daempresa.

Relata ter sido admitida na CaixaEconômica Federal em 07.08.05, razãopela qual é impossível a suareintegração, sendo devido opagamento de indenização desde adispensa injusta até a data em queingressou na CEF, aplicando-se àhipótese, por analogia, o disposto no art.496 da CLT e Súmula n. 28 do TST.

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A r. decisão recorrida,entendendo que a resilição contratual dareclamante “se revestiu de nítidoscontornos de ilegalidade, fazendoemergir o direito da reclamante àreintegração no emprego, compagamento dos salários do período emque esteve afastada por culpa exclusivada ré, haja vista que, à míngua de provanos autos em sentido contrário, aempresa, até a presente data, nãoimplementou as condições legaisnecessárias para tornar válida a dispensalevada a efeito” e que, em face daabsoluta impossibilidade de efetivaçãoda reintegração da autora, a obrigaçãode fazer deve ser convertida emobrigação de pagar, deferiu o pagamentodos salários vencidos, juntamente comas demais vantagens porventuraconcedidas à categoria profissional, bemcomo férias + 1/3, 13º salários e FGTS.

Insurge-se a reclamada contra ar. decisão que deferiu o pagamento deindenização correspondente aossalários vencidos da autora até07.08.05, sustentando que o pedido deindenização é acessório, sendoimpossível a sua apreciação quandonão formulado o pedido principal dereintegração e que não ocorreu violaçãoà Lei n. 8.213/91, tendo ocorrido aextinção do local de trabalho dareclamante e que a lei não determina avinculação do percentual de deficientesfísicos em cada uma das unidades daempresa, bastando que a empresamantenha em seus quadros opercentual mínimo exigido.

Assevera que à reclamanteincumbia o ônus da prova de que aempresa não observa a legislação eque, de todo modo, não há estabilidadea ser declarada, por não estar areclamante enquadrada em nenhumadas possibilidades legais referentes àestabilidade provisória.

Inicialmente cumpre verificar seo art. 93 da Lei n. 8.213/91, aocondicionar a dispensa imotivada deportadores de deficiência e reabilitadoà contratação de substituto nas mesmascondições, estabeleceu limites ao poderpotestativo do empregador.

A norma previdenciária emcomento tem por escopo a integraçãodo trabalhador deficiente ao mercado detrabalho e, por conseguinte, à vida emsociedade. Segundo o magistério do i.Juiz Sebastião Geraldo de Oliveira,citado pelo MM. Juízo a quo,

O primeiro direito fundamental dohomem é indiscutivelmente odireito à vida. Este direito, noentanto, está apoiado em doispilares essenciais: trabalho esaúde. Sem a saúde, a vidaperece; sem trabalho, a saúde ea vida estão comprometidas.A pessoa deficiente luta emposição de desvantagem paragarantir trabalho e saúde e, namaioria das vezes, perde nacompetição acirrada e desigual domundo atual. Para os deficientes,o índice de desemprego é duasou três vezes superior...(“Proteção jurídica ao trabalhodos portadores de deficiência”, inDiscriminação, Coordenadores,Márcio Túlio Viana e Luiz OtávioLinhares Renault, São Paulo: LTr,2000, p. 139)

Considero que, de fato, olegislador, ao condicionar a dispensaimotivada do empregado deficiente àcontratação de substituto de condiçãosemelhante, institui por vias indiretasgarantia de emprego, uma vez que aextinção do pacto laboral dessestrabalhadores está condicionada àadmissão de trabalhador em condições

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análogas, sendo que, sem a contrataçãode outro trabalhador em condiçõessemelhantes, o contrato de trabalho doportador de deficiência não se desfaz.

Nessa linha de raciocínio e, emdecorrência do princípio dacontinuidade, o contrato de trabalho dotrabalhador inserido nas disposições doart. 93 da Lei n. 8.213/91 devepermanecer íntegro até que a empresaadmita outro empregado em condiçõesanálogas, importando a inobservânciade tal requisito na determinação judicialde reintegração do empregado.

Ao condicionar a dispensa àadmissão de outro trabalhador emcondições semelhantes, teve olegislador como escopo a manutençãodas quotas de deficientes a que alude ocaput e incisos do art. 93 da mesma Lei,em estrita observância ao disposto noinciso XXXI do art. 7º da CF que proíbequalquer discriminação no tocante asalário e critérios de admissão dotrabalhador portador de deficiência.

Nesse sentido, o reiteradoposicionamento do Colendo TST:

EMENTA: RECURSO DEREVISTA - PRELIMINAR DEILEGITIMIDADE PASSIVA -SUCESSÃO. Deferido o pedido deexclusão da lide do Banco doEstado do Rio de Janeiro, ficaprejudicada a análise dapreliminar. PEDIDO DEREINTEGRAÇÃO ECONSECTÁRIOS - DEFICIENTEFÍSICO - GARANTIA SOCIAL - §1º DO ARTIGO 93 DA LEI N.8.213/91. A Lei n. 8.213/91regulamenta os Planos deBenefícios da Previdência Social,enquanto o artigo 93 está inseridona Subseção II, relativa àhabilitação e reabilitaçãoprofissional. O caput do artigo 93

prevê a fixação da proporção donúmero de vagas, nas empresas,para empregados reabilitados eportadores de deficiência,estando, portanto, o § 1º vinculadoao caput.A norma está inserida emum contexto jurídico, como umconjunto de atos que visa a mantero percentual de vagas paraportador de deficiência ereabilitados, ao condicionar adispensa de um empregadonessas condições à contrataçãode outro em condiçõessemelhantes. Constata-se que odispositivo procura manter onúmero de vagas ao condicionara contratação de substituto emcondição semelhante, criando,assim, uma garantia nãoindividual, mas social. Oempregador tem limitado seudireito potestativo de dispensar odeficiente físico ou reabilitadoprofissionalmente, poiscondicionado o exercício dessedireito à contratação de outroempregado em condiçõessemelhantes. Conforme registradopelo Regional, o Reclamado,apesar de ter alegado, nãocomprovou o adimplemento dacondição limitadora do exercíciodo direito potestativo de dispensaro empregado deficiente físico.Recurso não conhecido, por nãoconfigurada violação dos artigos5º, incisos II e XXXVI e 7º daConstituição da República, bemcomo do § 1º do artigo 93 da Lein. 8.213/91. [...](Relator Ministro CARLOSALBERTO REIS DE PAULA,PROCESSO: RR NÚMERO:646255, ANO: 2000,PUBLICAÇÃO: DJ - 04.04.2003,PROC. N. TST-RR-646.255/2000.4)

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EMENTA: RECURSO DEREVISTA -INCONSTITUCIONALIDADE DOART. 93 DA LEI N. 8.213/91. Nostermos da Súmula n. 221, item I,do TST, a admissibilidade dorecurso de revista e de embargospor violação tem comopressuposto a indicação expressado dispositivo de lei ou daConstituição tido como violado.(ex-OJ n. 94 - Inserida em30.05.1997). GARANTIA DEEMPREGO - DEFICIENTEFÍSICO. O art. 93, § 1º, da Lei n.8.213/91 estabelece garantiaindireta de emprego, poiscondiciona a dispensa dotrabalhador reabilitado oudeficiente reabilitado à contrataçãode substituto que tenha condiçãosemelhante. Trata-se de limitaçãoao direito potestativo de despedir,motivo pelo qual, uma vez nãocumprida a exigência legal, devidaé a reintegração no emprego.Precedentes desta Corte. Recursode Revista parcialmenteconhecido e desprovido.(Relatora Ministra MARIACRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI,NÚMERO ÚNICO PROC: RR -7 6 0 / 2 0 0 3 - 0 2 6 - 0 4 - 0 0 ,PUBLICAÇÃO: DJ - 10.02.2006,PROC. N. TST-RR-760/2003-026-04-00.9)

EMENTA: REINTEGRAÇÃO -DISPENSA IMOTIVADA -ADMINISTRAÇÃO PÚBLICAINDIRETA - DEFICIENTEAUDITIVO. Embora oentendimento desta Corte seja nosentido de que a empresa públicae a sociedade de economia mistatêm o direito potestativo dedispensar seus empregados, por

não estarem submetidas àsmesmas limitações dirigidas aosentes públicos, em razão de seuestatuto jurídico especial(Orientação Jurisprudencial n. 247da C. SBDI-I), na hipótese,prevalecem as disposições doartigo 93, § 1º, da Lei n. 8.213/91,não observadas pela Recorrente.Ileso o artigo 173, § 1º, daConstituição da República.ANTECIPAÇÃO DE TUTELAPresentes os requisitos do art.273 do CPC, autorizadores daconcessão liminar, ante arazoabilidade do direito subjetivomaterial, e o previsto no artigo 93,§ 1º, da Lei n. 8.213/91, aliadosao perigo de dano irreparável peloretardamento da solução definitivada lide, correta a concessão detutela antecipada. Recurso deRevista não conhecido.(Relatora Ministra MARIACRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI,NÚMERO ÚNICO PROC: RR -1 0 2 7 / 2 0 0 1 - 0 0 3 - 1 4 - 0 0 ,PUBLICAÇÃO: DJ - 01.07.2005,PROC. N. TST-RR-1027/2001-003-14-00.1)

EMENTA: [...] 2. REINTEGRAÇÃO- ART. 93 DA LEI N. 8.213/91 -ÔNUS DA PROVA. Éincontroverso que a reclamanteera trabalhadora reabilitada; logo,compunha a cota social dereabilitados a cargo da empresa,consoante o art. 93 da Lei n. 8.213/91, fato que atrai a limitação dodireito potestativo constante do §1º do mesmo artigo, o qualestabelece que a dispensa de umempregado reabilitado somentepoderá ocorrer após a contrataçãode substituto em condiçãosemelhante. Incumbia, à empresa,

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demonstrar a contratação eexistência de reabilitados, emnúmero legal, nos seus quadrosde pessoal porquanto decorre dopoder diretivo da empresa aadmissão de empregados econstitui seu dever a manutençãode registro de empregados, emrazão do que ocorre suadisponibilidade quanto aosdocumentos e a aptidão para aprova, tanto mais por ser fatoimpeditivo do direito argüido pelareclamante. Correta ainterpretação dada pelo TribunalRegional ao disposto no art. 93 daLei n. 8.213/91, incorre a argüidaviolação da norma, o quedesautoriza o recurso de revista.Recurso não conhecido [...].(Relatora Juíza ConvocadaMARIA DO PERPETUOSOCORRO WANDERLEY DECASTRO, NÚMERO ÚNICOPROC: RR - 809/2002-900-17-00, PUBLICAÇÃO: DJ -22.04.2005, PROC. N. TST-RR-809/2002-900-17-00.2)

Feitas tais considerações, passoao exame do pedido de reforma comfulcro na tese de que à reclamanteincumbia o ônus da prova de que nãohouve observância do disposto no art.93 da Lei n. 8.213/91, não tendoocorrido a contratação de trabalhadorem condições semelhantes às dareclamante.

Muito embora não esteja aempresa obrigada a manter o percentualde empregados portadores de deficiênciaem cada uma de suas unidades, deveesta observar a legislação previdenciária,de modo que, da totalidade de seuquadro de funcionários, o percentualestabelecido na legislação seja portadorde deficiência.

Ao contrário do aduzido nasrazões recursais, o ônus da prova dofato impeditivo do direito postuladoincumbe a ré, nos precisos termos doartigo 818 da CLT e do inciso II do artigo333 do CPC e, deste ônus não sedesincumbiu, não comprovando teradmitido em qualquer de suas unidadesempregado portador de deficiência emsubstituição à reclamante. Tal ônusdecorre, ainda, como salientado naementa acima transcrita, do fato de queà empresa incumbe demonstrar acontratação e existência de reabilitadose portadores de deficiência em númerolegal, nos seus quadros de pessoal,“porquanto decorre do poder diretivo daempresa a admissão de empregados econstitui seu dever a manutenção deregistro de empregados, em razão doque ocorre sua disponibilidade quantoaos documentos e a aptidão para aprova”.

Muito antes pelo contrário, dadocumentação carreada aos autos coma defesa, verifica-se que a reclamadanão vem observando a legislaçãoprevidenciária, uma vez que firmouTermo de Compromisso de Ajustamentode Conduta com o Ministério Público doTrabalho, tendo por objeto a inserçãoda pessoa com deficiência ou areabilitada pela Previdência Social nomercado de trabalho em 25.10.02 (f. 61/63), sendo que os seus termos nãoforam cumpridos, não tendo areclamada até a data do Termo deDepoimento de f. 64/65 cumprido odisposto no art. 93 da Lei n. 8.213/91.

Também sem qualquer respaldoa alegação de que o fato de o setor emque trabalhava a reclamante ter sidoextinto autorizaria a demissão, já queconstitui fato público e notório que areclamada possui inúmeras outrasunidades, inclusive em Juiz de Fora,tanto que tomou o cuidado de transferir

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dois outros colegas da reclamanteportadores de estabilidade provisória(defesa, f. 31).

Por fim, também não vinga a tesede que o fato de não ter postulado areclamante a reintegração inviabilizariaa apreciação do pedido de indenização,já que esta seria de todo impossível.

De fato, desde a inicial, informaa reclamante que, após sua demissão,submeteu-se a concurso público, tendosido aprovada e contratada pela CaixaEconômica Federal.

À hipótese aplica-se, poranalogia, o disposto no art. 496 da CLTe Súmula n. 28 do TST, pois, sendoimpossível a reintegração, estaconverte-se em indenização.

Com a devida vênia, a alegaçãoda reclamada de que a reclamante teriaque ter se mantido à margem domercado de trabalho para que pudesseobter sucesso em sua ação trabalhistabeira às raias do absurdo. Vale a penaressaltar tratar-se a reclamante deportadora de deficiência física que,mesmo em face das notóriasdiscriminações a que estão sujeitostodos os brasileiros sujeitos a qualquerespécie de deficiência, buscou inserir-se no mercado de trabalho,submetendo-se a concurso público paraingresso nos quadros da reclamada,tendo sido admitida e após seis anosde prestação de serviços foi demitida emdecorrência da terceirização da unidadeem que trabalhava, o que a levou maisuma vez buscar espaço no mercado detrabalho, submetendo-se mais uma veza concurso público, desta vez paraingresso nos quadros da CaixaEconômica Federal, sendo mais umavez aprovada e admitida.

Por já estar empregada seriaimpossível a reintegração e, assim, antea impossibilidade de cumprimento daobrigação de fazer (reintegração), esta

converte-se em obrigação de pagar,sendo incensurável a r. decisão, aodeferir o pagamento dos saláriosvencidos desde a data da resilição até07.08.05, com as demais vantagensconcedidas à categoria profissional eférias acrescidas de 1/3, 13º salários eFGTS.

Nego provimento.

Recurso ordinário da reclamante

Indenização por danos morais

Busca a reclamante a reforma dar. decisão que indeferiu o pagamento deindenização por danos morais,sustentando que, “caso não houvessequalquer discriminação, a recorrida teriacontratado outro deficiente para o lugarda recorrente, pois tal obrigação trata-se de norma pública, conforme jáexaustivamente comprovado nestesautos”.

Afirma ter tido “muito dano quemaculou sua honra, pois foi a mesmadiscriminada quando de sua demissão,tanto é verdade que a recorridaaproveitou outros empregados quegozavam de estabilidade provisória, oque foi realizado em outros setores daempresa, e a recorrente foisumariamente demitida, o que éincontestável”.

Data venia, razão não lheassiste.

O pedido de pagamento deindenização por dano moral tem comocausa de pedir a resilição operada, queteria causado prejuízos financeiros àreclamante.

Comungo do entendimento doMM. Juízo a quo no sentido de quedúvidas não há de que a reclamante nãosofreu danos morais que maculassemsua honra a ponto de impor à reclamadaa correlata obrigação de indenizar, não

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vislumbrando no procedimento daempresa a prática de ato ofensivo àhonra e à dignidade da reclamante.

Os prejuízos financeirosconsistiram, como corretamentesentenciado, em danos materiais, “namedida em que a autora teve que passara arcar com gastos sem perceber arespectiva contraprestação salarial, porato voluntário da reclamada, tendo aobreira logrado obter, através destedecisum, a justa reparação pelos danoscausados pela ré, os quais, repito,tiveram natureza material e não moral”.

Registre-se, ainda, que a própriareclamante deixa claro na inicial que aruptura do contrato de trabalho tevecomo motivo a terceirização do setor,tendo quase todos os funcionários quelá trabalhavam, à exceção de dois quegozavam de estabilidade provisória(estabilidade gestacional e membro daCIPA), seus contratos de trabalhorescindidos.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

O TRIBUNAL REGIONAL DOTRABALHO, por sua Terceira Turma, àunanimidade, conheceu dos recursos;no mérito, sem divergência, deuprovimento parcial ao recurso ordinárioda reclamada para excluir dacondenação o pagamento de multa de1% sobre o valor da condenação e,unanimemente, negou provimento aorecurso ordinário da reclamante.

Belo Horizonte, 26 de abril de2006.

MARIA LÚCIA CARDOSO DEMAGALHÃES

Relatora

TRT-00997-2005-030-03-00-6-ROPubl. no “MG” de 13.05.2006

RECORRENTE: FLÁVIA LUIZAMORAIS SANTOS

RECORRIDA: BM COMERCIAL LTDA.

EMENTA: E-MAIL - LIMITES -USO CORPORATIVO EPESSOAL - PODEREMPREGATÍCIO - DISCIPLINA -C O N S E Q Ü Ê N C I A SINTRACONTRATUAIS -PUNIÇÃO. A sociedadeinformacional caracteriza-sepor uma moderna e sofisticadarede de comunicações baseadaem verdadeiras bolhas de fibraótica, que favorecem, por assimdizer, a colocação do mundo,em tempo real, sob as maisvariadas formas de conexão eintercomunicação, na tela docomputador, permitindo aousuário, em alguns casos, sermero expectador, e, em outros,verdadeiro partícipe, on-line,dos fatos mais importantes queacontecem em qualquer partedo globo terrestre, e até foradele, desde que haja tecnologiadisponível no local. A internettornou o mundo virtual esensorialmente menor e, porconseguinte, concretamentemais próximo, em termos deinformação, de comunicação ede um comércio, há muito,denominado de comércioeletrônico, em determinadasáreas, como é o caso daquelasabrangidas pelas empresasvirtuais amazon e submarino,com um volume de negóciossuperior ao comérciotradicional, isto é, o presencial.O e-mail - uma das inúmeras

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facetas deste admirável einesgotável mundo novo dascomunicações e das relaçõesentre os homens - constitui aforma mais moderna, segura,rápida, econômica, eficiente eusual de intercâmbio entre aspessoas, de modo que é oreflexo de uma combinação desistemas utilizados no acesso,no registro, no tratamento e natransmissão de dados e deoutros tipos de informações ede mensagens, que exigem umarede de garantias jurídicasmínimas para os seus usuários.Atualmente, já se fala deinclusão cultural digital, para sereferir a uma nova geração dedireitos fundamentais, nomesmo nível de importância dasaúde, da educação, damoradia, da alimentação, daliberdade, e essa será umaquestão que, em breve, estarána pauta dos governantes dequalquer país, sendo certo que,acaso desdenhada, conduzirámilhões de pessoas aoisolamento das grandesconquistas tecnológicas emtodas as áreas do saber humano.Fraquejará o Estado, diminuir-se-á a cidadania, onde nãohouver inclusão digital. Com ainternet, o mundo que sempre foiredondo ficou plano, embora adesigualdade ainda seja umdesafio a ser vencido. O cidadãocomum, o empregado, odirigente, o empresário, não háquem não possua (ou não queirapossuir) um correio eletrônico edele não faça uso várias vezesao dia, seja em sua residência,na empresa, no colégio, nafaculdade ou em lan-houses. No

ambiente empresarial, ocomputador destina-se àprestação de serviços, que,como qualquer outroinstrumento de trabalho, pornatural e costumeira concessãoda empregadora, via de regra,também pode ser utilizadoracionalmente para finspessoais, sem prejuízo ao bomandamento dos serviços. Issosempre aconteceu e aindaacontece, embora em menorescala devido à disseminação doaparelho celular, por exemplo,com o telefone fixo, e maisrecentemente, com o automóvel,com o palmtop, com o lap top,com o ticket-refeição etc.Todavia, nada impede que aempregadora vede essa prática,deixando de modo claro eexpresso, verbalmente ou porescrito, para os empregados queé proibido o uso do computadorda empresa, dentro ou fora dohorário de expediente, para finspessoais. Nessas condições, seo empregado desobedece eacessa a internet ou o seu e-mailpessoal em computador daempresa, independentementedo conteúdo da mensagem,estará praticando ato deinsubordinação ou deindisciplina, dependendo danatureza do comando, segenérico ou pessoal. Oimportante é que o empregadoesteja ciente dos limites do usodo computador: o que pode e oque não pode fazer a partir doequipamento empresarial.Neste contexto, torna-sedesnecessária a prática dequalquer ato, que deve serrepudiado, cujo objetivo seja a

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violação do e-mail pessoal doempregado, exceto em casosextremos em que isso se torneindispensável para fins de provaem processo judicial, se for ocaso mediante autorizaçãojudicial, uma vez que o simplesuso indevido da ferramenta detrabalho já configura, si por só,a justa causa, como talcapitulada na alínea “h” do art.482 da CLT. No tratamento dequestões tão agudas e sensíveisa direitos fundamentais, éimportante salientar que a lesãoà intimidade está ligada ao poderdo Estado, bem como ao poderde particulares, e ambosdesafiam tratamento severo. Naesfera da relação entre oempregado e o empregador,portanto, no campo restrito doDireito do Trabalho, vigoram,como no Direito Penal, comóbvias reciprocidades einteresses tutelados etonalidades diferentes, as regrasconstitucionais dainviolabilidade da intimidade, davida privada, da honra, daimagem, do sigilo dacorrespondência e dascomunicações telegráficas, dedados e das comunicaçõestelefônicas e, acrescentaria eu,eis que o rol não é taxativo,podendo ser ampliado a outrosatributos da personalidade, dasmensagens armazenadas em e-mails, tudo conforme previstonos incisos X e XII do art. 5º daCarta Magna. Grinover nota queo objeto da tutela relativa aosigilo de correspondência, aoqual penso se deva associar ocorreio eletrônico, é dúplice: “deum lado, a liberdade de

manifestação de pensamento;de outro lado, o segredo, comoexpressão do direito àintimidade” (GRINOVER, AdaPellegrini. Liberdades públicas eprocesso penal, p. 306). Orabem, o rastreamento e a violaçãodo conteúdo das mensagensenviadas e recebidas via e-maildo empregado, ainda que emcomputador de propriedade daempresa, implicam ato quepoderia tentar cunhar,denominando-o de“desterritorialização do poderempregatício”, do qual oempresário definitivamente nãoé detentor, uma vez que, paraexercer o seu direito defiscalizar e eventualmente depunir determinado empregado,por desrespeito a regras deconduta vigentes no ambienteexclusivo de trabalho, quasesempre necessitará invadir aintimidade, a vida privada, aliberdade de pensamento, osigilo de correspondência e decomunicações de dados, tantodo seu empregado quanto deoutrem, isto é, de terceiro aquem foi enviada ou de quem foirecebida a mensagem, mas quenão se encontra sob o manto dasubordinação prevista no art. 3ºda CLT, a não ser que,absurdamente, a mensagemtenha sido enviada para aprópria pessoa ou circuleapenas na rede da empresaentre os empregados. Em setratando de ilícito trabalhista enão penal, o terceiro não podeser alcançado pelos tentáculosorganizacionais da empresa. Éinegável que o avançotecnológico tem sido mais veloz

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do que a evolução do Direito,com forte pressão sobre o serhumano, o que, emdeterminados casos, o temlevado a abdicar de valores quelhe são tão nobres, porque frutode árdua e sofrida conquista degerações passadas, e tambémporque integrantes da categoriados direitos fundamentais.Nesse espaço de tensão entreos homens e o poder, entre oshomens e as máquinas, éindispensável que se encontreum ponto de harmonia em queas garantias constitucionaisnão sejam desprezadas emnome da modernidade, daprodutividade, da qualidadetotal e do lucro. Eis o papel queentendo caber aos operadoresdo Direito para uma efetivatutela da intimidade, na qual seinsere a inviolabilidade decorrespondência, inclusive aeletrônica: preservação daprivacidade do conteúdo dos e-mails, verdadeira extensão davida e dos segredos maisíntimos das pessoas, excetonas hipóteses em que talinvasão se torne realmenteindispensável para a apuraçãoda verdade dos fatos e medianteprévia autorização judicial, já que,por outro lado, a pré-constituiçãoda prova, como salientou o juizCaio Vieira de Mello, quandoproduzida por uma das partesdireta e pessoalmente envolvidana mensagem, desafiacertificação cartorial, poriniciativa do remetente ou dodestinatário, únicas pessoas,que, em princípio, podem teracesso ao conteúdo dedeterminadas mensagens.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recurso ordinário,oriundos da MM. 2ª Vara do Trabalhode Contagem, em que figuram, comorecorrente, FLÁVIA LUIZA MORAISSANTOS e, como recorrida, BMCOMERCIAL LTDA.

RELATÓRIO

O MM. Juízo da 2ª Vara doTrabalho de Contagem, pela r. sentençade f. 427-431, julgou improcedentes ospedidos formulados na ação propostapor FLÁVIA LUIZA MORAIS SANTOSem face da BM COMERCIAL LTDA.

Inconformada com a decisão, areclamante interpõe recurso ordinário (f.435-445), pretendendo a reforma dojulgado para o deferimento das parcelasrescisórias da dispensa imotivada, dashoras extras e dos honoráriosadvocatícios. Afirma que deve seraplicada a pena de confissão àreclamada, pois o preposto quecompareceu à audiência não eraempregado, cabendo o deferimento dashoras extras, porque deve prevalecer ajornada de trabalho declinada naexordial, eis que se inverteu o ônus daprova, porquanto a recorrida não juntouos controles de ponto. Aduz que nãocometeu falta grave para justificar a justacausa, sendo injusta a rescisãocontratual, praticada sem que houvessenenhuma punição anterior, além do quenão havia vedação para o uso do e-mailda empresa para fins particulares.Acrescenta que, com o advento do novoCódigo Civil, os honorários advocatíciossão devidos mesmo quando não háassistência sindical.

Contra-razões às f. 447-450.Dispensada a manifestação da d.

Procuradoria Regional do Trabalho,conforme Ato Regimental n. 13/2000 eProvimento n. 1/2005 da Corregedoria-

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Geral da Justiça do Trabalho.É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Conheço do recurso interposto,porque satisfeitos os requisitos legais deadmissibilidade.

Juízo de mérito

Da confissão

A recorrente requer a aplicaçãoda pena de confissão à reclamada, aofundamento de que o preposto quecompareceu à audiência não eraempregado.

Tem razão a recorrente, pois aSúmula n. 377 do TST dispõe:

377 - PREPOSTO. EXIGÊNCIADA CONDIÇÃO DEEMPREGADO. (Conversão daOrientação Jurisprudencial n. 99da SDI - Res. 129/2005 - DJ20.04.2005). Exceto quanto àreclamação de empregadodoméstico, o preposto deve sernecessariamente empregado doreclamado. Inteligência do art.843, § 1º, da CLT. (ex-OJ n. 99 -Inserida em 30.05.1997)

Apesar de a pessoa quecompareceu à audiência ter sidoempregado da reclamada, na época emque a reclamante prestou serviço, issonão é o bastante para legitimar arepresentação prevista no § 1º do artigo843 da CLT, pelo que a confissão fictadeve ser aplicada, prevalecendo,obviamente, apenas quanto aos fatossobre os quais não haja prova emsentido contrário.

Horas extras

A autora pretende o deferimentodas horas extras, alegando que deve serinvertido o ônus da prova da jornadatrabalhada, porque a reclamada nãocolacionou aos autos os controles deponto.

Assiste razão à recorrente. Areclamada não conseguiu comprovar aalegação de que a obreira exercia funçãode confiança, prevista no inciso II doartigo 62 da CLT, de modo a justificar aausência de controle de ponto,ocorrendo, assim, a inversão do ônus daprova quanto à jornada de trabalho.

Sem a juntada dos controles deponto e prova cabal da jornadadeclinada na defesa, a jornada detrabalho deve ser fixada de acordo comas declarações da reclamante naaudiência (f. 424).

Ademais, a reclamada éconfessa, o que, aliado aos demaiselementos dos autos, gera a convicçãode que havia realmente extrapolação dajornada legal de trabalho.

Assim, fica estabelecido que aautora trabalhava das 8 às 17h45min,com 01 (uma) hora de intervalointrajornada para alimentação edescanso e, em dois sábados por mês,das 8 às 12 horas, devendo serconsiderado que, a partir de 20.04.04,a saída ocorria às 18 horas, de segundaa sexta-feira, e que, uma vez porsemana, em média, em todo o período,a reclamante parava de trabalhar 01(uma) hora antes dos referidos horários.

Vigorava, ainda, a jornada legale contratual de 44 horas semanais,impondo reconhecer que não haviaacordo de compensação de jornada,fato, aliás, sequer invocado na defesa.

Logo, devem ser consideradas,como extras, as horas que excederemda oitava diária e da quadragésima

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quarta semanal, aplicando-se oadicional de horas extras de 50% sobreo valor da hora normal.

Em razão da habitualidade, sãodevidas as repercussões das horasextras nos RSRs e também asrepercussões deles, das horas extras edos RSRs, no cálculo dos 13º salários,das férias, com 1/3, das parcelasrescisórias e do FGTS.

Portanto, dou provimento parcialpara deferir as horas extras e reflexos aserem apurados conforme critériosacima especificados.

Justa causa

A recorrente sustenta que nãopraticou nenhum ilícito trabalhista, comotal capitulado no art. 482, a justificar arescisão contratual, devendo serconsiderada injusta a dispensa, porquenão havia vedação do uso do e-mail daempresa para fins particulares, nãocabendo a pena máxima, sem quehouvesse punição anterior.

Data venia, entendo que razãolhe assiste, devendo ser desconstituídaa dispensa por justa causa.

Nos termos da defesa, areclamante, contrariando as normas eas orientações empresariais, utilizouseu e-mail para fins particulares, o queprejudicou o andamento do serviço,sobrecarregando o correio eletrônicoindevidamente com assuntosparticulares e fúteis, muitos delesofensivos à honra e ao conceito daempresa e aos gerentes doestabelecimento.

O acervo probatório revela quea reclamante efetivamente utilizou o e-mail da empresa para assuntospessoais, não se podendo, contudo,falar, a rigor, que tenha ocorrido ofensaà honra e ao conceito da empresa e aosgerentes do estabelecimento.

Da mesma forma, não sevislumbra desídia ou mesmo violação desegredo da empresa.

No que tange à utilização de e-mail, a prova oral, produzida pela própriareclamada, revela que outrosempregados também faziam o mesmo,tendo a única testemunha declaradoque:

...a depoente estava tendoproblemas na rede em razão dosfuncionários estarem recebendoe-mails particulares; areclamante passou a utilizar omessenger continuando a ficarpesado o l ink da depoente,cortando messenger de todos osfuncionários; a depoente trocouo link de 64 para 256 k; a partirdaí a depoente passou a fazer aliberação dos sites para cadafuncionário, na medida danecessidade, em julho/05;depois de todas estasprovidências, a depoenteverificou que a reclamantecontinuava recebendo eenviando e-mails, o que pôde serverificado pelo acúmulo noprovedor; alguns empregados dareclamada util izavam omessenger; todo o serviço dareclamante era enviado via e-mail; não há norma escrita naempresa sobre a utilização de e-mail; a reclamante não foi punidapelos fatos ora relatados, apenasorientada; os demaisempregados também podiamreceber e enviar e-mail, sendoque nenhum deles foi punido;não havia problemas com areclamante no trabalho peladepoente;.... (f. 425)

Portanto, a justa causa não se

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sustenta, ainda que a recorrente tenhautilizado o correio eletrônico para finspessoais.

Data venia, é de granderelevância salientar que a prova oralrevelou, na voz da empregadaencarregada do departamento deinformática, que não havia norma escritaa respeito da utilização de e-mail, nãotendo a recorrente sofrido qualquersanção por esse ou outro motivo, alémde os demais empregados não haveremsofrido qualquer tipo de penalidade pelofato de fazerem uso da internet,recebendo e enviando mensagens.

Assim, também sob a ótica daigualdade, a reclamante não poderia serdiscriminada.

De outra face, quer me parecerque, em se tratando de disponibilidadede internet em computador depropriedade da empresa, no local detrabalho, o seu uso necessita serclaramente disciplinado por quem dedireito, ditando expressamente asregras que pretende sejam respeitadaspelos empregados, principalmentequando visam a impor l imites erestrições pessoais.

Não há dúvida que, ao assumiros riscos da atividade econômica, aempregadora tem o direito de protegero seu patrimônio e de buscar aeficiência, a qualidade total, aprodutividade, certificando-se quedeterminado instrumento fornecido aoempregado está sendo utilizado para ofim a que se destina.

Isso pode acontecer com váriosinstrumentos de trabalho: celular, laptop, palm top, automóvel, combustível,cartão de crédito, determinados tipos deroupa, passagens aéreas, e tantosoutros instrumentos e utilidades.

No entanto, o que não podeacontecer é o empregado ser pego desurpresa: sem prévio comando claro e

específico, ter o seu e-mail invadido parasaber se está havendo qualquer tipo dedesvio ou abuso de util ização docomputador.

Sabe-se que o acesso à internet,assim como utilização de e-mail sãofatos que ordinariamente acontecem nomundo pós-moderno, fortementemarcado por uma sociedadeinformacional.

Assim, é importantíssimo que oempregado seja expressamenteinformado que a ferramenta de trabalho,que lhe está sendo fornecida, não podeser utilizada para outros fins que nãosejam os previamente estabelecidos edelimitados pela empresa, sob pena deviolação de norma específica, comsérias conseqüências na boa ordem ena disciplina interna.

Penso, outrossim, que a préviacomunicação ao empregado a respeitoda proibição do uso do computador parafins pessoais constitui verdadeiraconditio sine qua non para que aempregadora possa, em casosexcepcionalíssimos e extremamentenecessários, rastrear, fiscalizar e, emúltimo recurso, invadir o conteúdo dacaixa postal eletrônica do empregado,com o fito de exercer o seu poderdisciplinar.

Determinada conduta só pode terlimites claros à medida que as ordenssejam reais e se legitimem noordenamento jurídico.

A internet, como tal concebidapela sociedade pós-moderna, estácalcada numa revolução dastelecomunicações, abrindo espaço paraum mundo on-line, isto é, para ummundo fortemente digital, a tal ponto quejá se fala em inclusão digital, em culturadigital e tantos outros direitos e valorespróprios do espaço virtual.

O espaço virtual, segundo orenomado Rohrmann, “é o resultado da

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util ização crescente dastelecomunicações em associação aoscomputadores, o que possibilitou odesenvolvimento de redes decomunicação e de computadores”(ROHRMANN, Carlos Alberto. Curso dedireito virtual, Belo Horizonte: Del Rey,2005, p.1).

Lévy alerta que, além dadesterritorialização, um outro caráter éfreqüentemente associado àvirtualização: a passagem do interior aoexterior e do exterior ao interior.

O mesmo autor denomina esseintercâmbio de “efeito Moebius”,acentuando que ele: “declina-se emvários registros: o das relações emprivado e público, próprio e comum,subjetivo e objetivo, mapa e território,autor e leitor, etc.” (LÉVY, Pirre. O queé virtual?; tradução de Paulo Neves. SãoPaulo: Ed. 34, 1996, p. 24).

Por conseguinte, como pano defundo dessa avançadíssima alavancade desenvolvimento, consistente eminovadora técnica de comunicação dedados pelo espaço virtual, nós temos,de um lado, a aparelhagem soft ehardware, e, de outro, o ser humano nassuas relações interiores e exteriores.

Com efeito, o epicentro de todoavanço tecnológico é o homem, do qualnão podemos dissociar todos osmétodos de trabalho, a ponto deprivilegiar a máquina em detrimento doser humano.

Ora bem, se a internet cria umaampla e inexplorada interface entre oprivado e público, maior ainda é o pontode atrito entre o subjetivo e o objetivo, ointerior e o exterior, entre o mapa e oterritório, entre o autor e o leitor, entre oempregado e o empregador, sem quepossamos desprezar o sagrado direitofundamental à intimidade.

Como se sabe todo direitofundamental tem por objetivo imediato

a limitação de poderes - tanto do Estadoquanto do empregador, que porhipóstase detêm o direito de punição.

Nos dias atuais, o e-mail é maisdo que uma espécie de diário da vidadas pessoas: é o coração, é a alma, é oreflexo das aflições, das dúvidas, dasalegrias e das angústias das pessoascomuns, que se comunicam com asmais variadas pessoas (até consigopróprias) sobre os mais variados temase problemas, por um meio ágil,econômico, eficiente e moderno.

Estar conectado, estar no mundovirtual, estar on-line é, ao mesmo tempo,um estar e um não estar, sem que sequeira parodiar a célebre dúvidashakspeareana.

Por mais que queira, nãoconsigo, permissa venia, compreendero comportamento da reclamada, comcujas atitudes procurou caracterizar ajusta causa.

Mais simples e eficaz seria verterregras claras, exercendo os seuspoderes de fiscalização e disciplinadentro dos limites legais.

Longe no tempo, Voltaire diziaque un droit porté trop loin, devient uneinjustice.

O art. 5º, em seus incisos X e XII,da Constituição Federal dispõe que sãoinvioláveis a intimidade, a vida privada,a honra e a imagem das pessoas, assimcomo o sigilo da correspondência e dascomunicações telegráficas, de dados edas comunicações telefônicas, salvo, noúltimo caso, por ordem judicial, nashipóteses e na forma que a leiestabelecer para fins de investigaçãocriminal ou instrução penal.

Trata-se de direitos e garantiasfundamentais dos cidadãos, que nãopodem ser sequer arranhados, sob penade sério comprometimento da ordeminstitucional.

E dúvida não há de que, fazendo

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parte da tecnologia da informação, ainternet é uma combinação de sistemasusados no acesso, no registro, notratamento e na transmissão de todosos tipos de informação.

Recentemente, acompanhamospela mídia a queda de um ministro deEstado - Golias - por um simples caseiro- David -, exatamente por causa de umasuspeita de violação do sigilo bancário.

A intimidade, a vida privada, acorrespondência e a comunicação dedados são bens inalienáveis e devalores incomensuráveis, sem os quaisnão há liberdade, nem segurança oumesmo dignidade da pessoa humana.

Pontes de Miranda ensina que:

Para bem apanharmos o lugarem que nasce a liberdadecorrespondente à inviolabilidadede correspondência, é suficienteatentarmos na gradação:liberdade de pensar, liberdade denão pensar; liberdade de emitiro pensamento, liberdade de nãoemitir o pensamento; liberdadede emitir o pensamento paratodos, liberdade de só o emitirpara alguns ou para alguém, oupara si mesmo.(MIRANDA, Francisco CavalcantiPontes de. Comentários àConstituição de 1967, 3. ed. Riode Janeiro: Ed. Forense, 1967,p. 170)

Como se verifica, a questão nãopode ser analisada única eexclusivamente à luz do princípio daalteridade, assim como do poderorganizacional da empresa.

Seria muito pouco, diante deuma questão jurídica tão atual ecomplexa.

Somente a concepçãoultrapassada de um poder empregatício

ilimitado poderia dar suporte a talcomportamento empresarial.

Se a empresa quer agir de umadeterminada forma, que então deixeclaro para os seus empregados quaissão essas regras.

A esta altura, faria umaindagação: qual seria o resultado, setodos os empregadores, inclusive aadministração pública, assimdenominada por mera metonímia desíntese, resolvessem de uma hora paraoutra abrir, devassar, invadir os e-mailse os sítios visitados por todos os seusempregados e empregadas emcomputadores a eles pertencentes einstalados no local de trabalho? Não mesurpreenderia se ficasse revelado quehouve a utilização para os mais variadosfins pessoais. Mas indaga-se: seria lícitatal atitude?

Acredito, sinceramente, que não.Se a empregadora não deseja a

util ização indiscriminada dedeterminada ferramenta de trabalho, emespecial do computador e do respectivoacesso à internet, então, queespecifique claramente os fins a que sedestina, que estabeleça as proibiçõesexpressamente, mesmo porque, ao agirdessa forma, não precisará sequerinvadir o conteúdo dos e-mails.

Note-se que, em princípio, aempregadora não pode arrombar oescaninho, o armário, a gaveta ouqualquer outro espaço destinado aoempregado para guardar seuspertences pessoais, com o propósito delá tentar encontrar determinada provaem desfavor do obreiro.

No caso vertente, acredito quenão seria sequer necessário invocar oprincípio da proporcionalidade, comavaliações quanto aos meios e aos fins,porque não existem valores em choque.

O valor, aqui, é único. Éconstitucional. Trata-se de direito à

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intimidade como um bem supremo: odireito à personalidade.

O cidadão, o indivíduo, oempregado necessita de proteção emface dos poderes do Estado comoqualquer outro, mas necessita tambémde proteção contra os poderes daempregadora.

Se, de antemão, o empregado jásabe que não pode utilizar o computadore que o acesso à internet está limitadoao que se convencionou denominar deuso corporativo, mas que nada maissignifica do que a sua utilização para otrabalho, haverá desvio de conduta, comensejas à punição, pelo simples usoparticular, sem que, repita-se, oempregador precise invadir o conteúdodas mensagens, que estão tãoprotegidas pela lei quanto qualqueroutra espécie de correspondência.

No caso da reclamante, havia,sim, um vazio de comandos, que areclamada quis preencher,surpreendendo a empregada einvadindo o seu espaço íntimo, aindaque na virtualidade de uma ferramentade trabalho.

Por outras palavras, houveinvasão de privacidade, pelo exercícioexacerbado do poder empregatício e emnome da boa ordem dos serviços,quando a empregadora, que, inclusive,foi confessa, pretendeu fazer provadaquilo que não estava até entãoproibido no ambiente de trabalho.

Mas as minhas dúvidas quantoà legalidade, não apenas da dispensapor justa causa, mas também dainvasão da correspondência eletrônicada reclamante, mais se dissipam,permissa venia, à medida que avançosobre o tema.

Menciono agora outro aspectodo poder hierárquico, no qual seinserem o poder de fiscalização e opoder disciplinar do empregador, que

me parece interferir profundamente nasolução da controvérsia.

Sem desvio de foco, acentuo quea reclamante foi punida com base ematos praticados no ambiente de trabalhoe em ferramenta de trabalhopertencente à empresa.

Ocorre que o computador não ébem uma ferramenta comum, tradicionalde trabalho. Ele abre janelas para omundo virtual, na própria mesa doempregado em que o controle é muitomais difícil, por isso é que há umdeslocamento de responsabilidade parao prestador de serviços.

Daí entender que ele precisasaber claramente quais são as regrasrelativas ao uso, haja vista que é doconhecimento geral que existem meiostécnicos de se fazer o rastreamento,para se saber quais os sites visitadospelo usuário.

Se, sabendo da proibição, oempregado se desvia da finalidade,assume o risco da punição.

Assim, desde que haja prévialimitação expressa de seu uso, o quenão é o caso dos autos, a empresa emtese tem o direito de fiscalização, massem tocar no conteúdo das mensagens.

Vou tentar tornar mais claro meuraciocínio.

Esse poder empresarial, comode resto nenhum outro, não é ilimitado:ele se restringe aos seus empregadosna esfera da relação de emprego e noespaço físico de suas instalações.

Ele não pode desbordar esseespaço real.

Existe uma fronteira entre o reale o virtual, que tem de ser respeitada,pois envolve outras pessoas, que nãomantêm nenhuma relação jurídica coma empresa empregadora.

E um dos grandes problemasrelacionados com o Direito da Rede (aexpressão é de Rohrmann) foi e me

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parece ainda ser o fenômeno da“desterritorialização”.

Eis as palavras do nobreprofessor:

Uma vez que a virtualizaçãopôde acarretar a“desterritorialização” dasrelações humanas e,conseqüentemente, dasrelações jurídicas, um problemainicialmente levantado pelosprofessores e pesquisadoresnorte-americanos, no início dosanos 1990, foi a aplicação dodireito aos fatos e atos jurídicosaperfeiçoados em meio virtual.Tal preocupação decorre dacaracterística do direito de seressencialmente territorial.(Idem, ibidem, p. 11)

Ora bem, o rastreamento e aabertura de mensagens enviadas erecebidas via e-mail implicam um atoque poderia tentar cunhar,denominando-o de “desterritorializaçãodo poder hierárquico da empregadora”,uma vez que, para exercer o seu direitode fiscalizar e aplicar as regras vigentesno ambiente exclusivo de trabalho deseus empregados, quase sempre elanecessita invadir a intimidade, a vidaprivada, o sigilo de correspondência ede comunicações de dados de outrem,isto é, de terceiro a quem foi enviadaou de quem foi recebida a mensagem,a não ser que, absurdamente, amensagem tenha sido enviada para aprópria pessoa ou circule apenas narede da empresa entre empregados.

O nexo causal não podeentrelaçar um terceiro, que não estejano tráfico jurídico entre empregado(s) eempregador.

Nessas condições, data venia,penso que deve haver um limite no

exercício desse poder empregatício, noqual se inserem o fiscalizatório e odisciplinar.

Se existe a proibição dautilização, o conteúdo em si não precisasequer ser desvendado, sob pena deviolação do sagrado direito ao sigilo,notadamente de terceiro, que não éempregado daquela empresa e que nãopode ter a sua correspondência invadidapor pessoa física ou jurídica com quemnão tem nenhuma relação jurídica.

Ainda que assim não fosse, eainda que se admitisse como provadaa autoria de todas as mensagens, o quenão ocorreu, principalmente em face daconfissão da reclamada, o conteúdo dascorrespondências da reclamante nãosugere a prática das condutascatalogadas no artigo 482 da CLT,porque as mensagens foramtransmitidas informalmente, nãoespecificando nomes de representantesda empresa e não foram transmitidasem nome da reclamada.

De mais a mais, a autora negoua transmissão de fotos pornográficas,demonstrando à f. 414 que as mesmasnão fazem parte das cópias dos e-mailsde f. 124 e 127, e a ré é confessa.

Portanto, tenho que a justa causase mostra impertinente, sem suportefático e jurídico, já que a reclamante nãofoi comunicada claramente de todas aslimitações quanto ao uso docomputador, nem recebeu nenhumapunição anterior de naturezapedagógica, sem se falar que outrosempregados da reclamada tambémutilizavam o correio eletrônico para finspessoais e não receberam nenhumapunição.

Tratar os iguais igualmente, eisa primeira regra do princípio daisonomia, que não pode sernegligenciado na hipótese vertente.

Pelo exposto, considero injusta

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a dispensa e dou provimento paracondenar a reclamada a pagar o avisoprévio de 30 dias, 10/12 do 13º saláriode 2005, 05/12 de férias proporcionais,com 1/3, bem como a multa de 40% doFGTS, devendo a reclamada forneceras guias TRCT, cód. 01, e as guias CD/SD, para o gozo do seguro-desemprego.

As multas dos artigos 467 e 477da CLT são indevidas, pois o acertorescisório foi feito no prazo legal (f. 08)e não há parcelas rescisóriasincontroversas.

Honorários advocatícios

Os honorários advocatíciospostulados são indevidos, porque nãoconfigurados os requisitos previstos naSúmula n. 219 do TST.

No caso vertente, a autora,apesar de ser beneficiária da gratuidadeda justiça, não está assistida pelosindicato de sua categoria profissional.

A edição das Leis n. 10.288/01 e10.537/02 que alteraram as disposiçõesdo artigo 789 da CLT não socorre apretensão da recorrente, também nãointerferindo na questão a liberdade defiliação sindical prevista no artigo 8º daCF/88.

O artigo 389 do Código Civil nãose aplica ao caso vertente, porque amatéria é regulada pela legislaçãotrabalhista.

Nego provimento.

Isto posto, conheço do recursoe, no mérito, dou-lhe provimento parcialpara condenar a reclamada a pagar àreclamante, com juros e correçãomonetária, na forma das Súmulas n. 200e 381 do TST, observadas as deduçõeslegais do IR e das contribuiçõesprevidenciárias, o aviso prévio de 30dias, 10/12 do 13º salário de 2005, 05/12 de férias proporcionais, com 1/3, a

multa de 40% do FGTS, as horas extrasque excederem da oitava diária e daquadragésima quarta semanal,observado o adicional de 50%, deacordo com a jornada das 8 às17h45min, com 01 (uma) hora deintervalo intrajornada para alimentaçãoe descanso e, em dois sábados por mês,das 8 às 12 horas, devendo serconsiderado que, a partir de 20.04.04,a saída ocorria às 18 horas, de segundaa sexta-feira, e que, uma vez porsemana, em média, em todo o períodotrabalhado, a autora parava de trabalhar01 (uma) hora antes dos referidoshorários; bem como as repercussõesdas horas extras nos RSRs e tambémas repercussões deles (das horas extrase dos RSRs) no cálculo dos 13º salários,das férias, com 1/3, do aviso prévio, doFGTS + 40%, devendo a reclamadafornecer as guias TRCT, cód. 01, e asguias CD/SD, para o gozo do seguro-desemprego.

Declaro que as parcelasdeferidas têm natureza salarial para finsde incidência das contribuiçõesprevidenciárias, à exceção dos valoresdeferidos a título de férias proporcionais,com 1/3, aviso prévio e FGTS com amulta de 40%.

Invertidos os ônus dasucumbência, custas, pela reclamada,no importe de R$200,00, calculadassobre R$10.000,00, valor arbitrado àcondenação.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso; no mérito, sem divergência,deu-lhe provimento parcial paracondenar a reclamada a pagar àreclamante, com juros e correçãomonetária, na forma das Súmulas n. 200

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e 381 do TST, observadas as deduçõeslegais do IR e das contribuiçõesprevidenciárias, o aviso prévio de 30dias, 10/12 do 13º salário de 2005, 05/12 de férias proporcionais, com 1/3, amulta de 40% do FGTS, as horas extrasque excederem da oitava diária e daquadragésima quarta semanal,observado o adicional de 50%, deacordo com a jornada das 8 às17h45min, com 01 (uma) hora deintervalo intrajornada para alimentaçãoe descanso e, em dois sábados por mês,das 8 às 12 horas, devendo serconsiderado que, a partir de 20.04.04,a saída ocorria às 18 horas, de segundaa sexta-feira, e que, uma vez porsemana, em média, em todo o períodotrabalhado, a autora parava de trabalhar01 (uma) hora antes dos referidoshorários; bem como as repercussõesdas horas extras nos RSRs e tambémas repercussões deles (das horas extrase dos RSRs) no cálculo dos 13º salários,das férias, com 1/3, do aviso prévio, doFGTS + 40%, devendo a reclamadafornecer as guias TRCT, cód. 01, e asguias CD/SD, para o gozo do seguro-desemprego. A Eg. Turma declarou queas parcelas deferidas têm naturezasalarial para fins de incidência dascontribuições previdenciárias, àexceção dos valores deferidos a títulode férias proporcionais, com 1/3, avisoprévio e FGTS com a multa de 40%.Invertidos os ônus da sucumbência,custas, pela reclamada, no importe deR$200,00, calculadas sobreR$10.000,00, valor arbitrado àcondenação.

Belo Horizonte, 26 de abril de2006.

LUIZ OTÁVIO LINHARES RENAULTRelator

TRT-00515-2005-007-03-00-0-ROPubl. no “MG” de 20.06.2006

RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICODO TRABALHO

RECORRIDA: EMPRESA GONTIJO DETRANSPORTES LTDA.

EMENTA: GARANTIA DEEXECUÇÃO - HIPOTECAJUDICIÁRIA. O art. 466 do CPCdetermina que “A sentençaque condenar o réu nopagamento de uma prestação,consistente em dinheiro ou emcoisa, valerá como títuloconstitutivo de hipotecajudiciária, cuja inscrição seráordenada pelo juiz na formaprescrita na Lei de RegistrosPúblicos.Parágrafo único: A sentençacondenatória produz ahipoteca judiciária:I - embora a condenação sejagenérica;II - pendente arresto de bensdo devedor;III - ainda quando o credor possapromover a execução provisóriada sentença. Portanto, havendocondenação em prestação dedinheiro ou coisa,automaticamente se constituio título da hipoteca judiciária,que incidirá sobre os bens dodevedor, correspondentes aovalor da condenação, gerandoo direito real de seqüela, atéseu pagamento.A hipoteca judiciária é deordem pública, independe derequerimento da parte e visagarantir o cumprimento dasdecisões judiciais, impedindoo desbaratamento dos bens doréu, em prejuízo da futura

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execução. Ao juiz cabe envidaresforços para que as decisõessejam cumpridas, pois arealização concreta doscomandos judiciais é uma dasprincipais tarefas do EstadoDemocrático de Direito,cabendo ao juiz de qualquergrau determiná-la, em nome doprincípio da legalidade.Para o cumprimento dadeterminação legal o juizoficiará os cartórios deregistro de imóveis. Onde seencontrarem imóveisregistrados em nome dareclamada, sobre eles incidirá,até o valor da execução, ahipoteca judiciária.

1 - RELATÓRIO

Ao de f. 6072, acrescento que oJuízo da MM. 7ª Vara do Trabalho deBelo Horizonte, após rejeitar aspreliminares de inépcia e incompetência- ilegitimidade, no mérito, reconhecendoa perda parcial do objeto da demanda,julgou procedentes, em parte, ospedidos, determinando o nãorestabelecimento da ficha de f. 5997 -Declaração Não Participação ConselhoSindical -, impedindo a implementaçãode outro documento de conteúdo formalsimilar e, com isso, obrigar, ordenar aabolição de qualquer prática de atodiscriminatório quanto à participaçãosindical de empregado ativo ou passívelde contratação, em qualquer nívelhierárquico da escala sindical, sob penade multa de 10 (dez) vezes o maiorsalário da categoria, por empregado.

Embargos de declaraçãointerpostos às f. 6092/6095, julgadosparcialmente procedentes às f. 6116/6118.

Recorre o Ministério Público do

Trabalho às f. 6124/6142, contendo oapelo preliminares de nulidade porausência de prestação jurisdicional epor cerceamento do contraditório eampla defesa; no mérito, versa sobrecondenação em obrigação de não fazer,indenização por dano moral coletivo ecustas processuais.

Contra-razões às f. 6149/6154,argüindo o não conhecimento dorecurso.

É o relatório.

2 - FUNDAMENTOS

2.1 - Admissibilidade

Presentes os requisitos legais,conheço do recurso, ficando rejeitada apreliminar de intempestividade, uma vezque, ao contrário do que entende areclamada, os embargos declaratóriosforam interpostos no prazo legal.

Com efeito, tendo orepresentante do MPT se recusado areceber a intimação da r. decisão, vistoque o mandado não se achavaacompanhado dos autos do processo (v.certidão de f. 6056), foi novamenteintimado em 23.11.05 (v. f. 6096), einterpostos os embargos de declaraçãoem 25.11.05 (v. f. 6092), dentro do prazolegal, o mesmo tendo acontecido comesse recurso.

2.1.1 - Preliminares denulidade por ausência de prestaçãojurisdicional e por cerceamento docontraditório e ampla defesa

Argúi o autor a nulidade da r.decisão por negativa de prestaçãojurisdicional e por cerceamento dedefesa, sob os argumentos de que ojuízo de primeiro grau, mesmo instadoa se pronunciar, via embargos dedeclaração, sobre vários pontos que

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entende relevantes para a solução dademanda, acerca deles não semanifestou, bem como indeferiu, aindaque implicitamente, o requerimento deexibição de cópias das CTPSs, e, deforma explícita, a prova pericial contábil,causando-lhe prejuízo.

No entanto, o juízo de primeirograu deu o tratamento processual queentendeu correto às matérias objeto dosembargos de declaração, conforme sevê na decisão complementar, às f. 6116/6118.

O juiz tem que se restringir aoobjeto da lide e não aos argumentos daspartes. Poderá rebater alguns ou todos,mas poderá também fundamentar asentença com seus própriosargumentos.

Mesmo que assim não fosse,eventual vício remanescente seriaenfrentado e suprido nesta InstânciaRevisora, ante o efeito devolutivo dorecurso, de modo que não haveriaprejuízo a justif icar as nulidadesargüidas.

Rejeito.

2.2 - Mérito

2.2.1 - Cumprimento deobrigação de não fazer

Insurgindo-se veementementecontra a r. decisão que julgou que ademanda perdeu parcialmente o objeto,sustenta o autor que há fartas provasnos autos que demonstram, com clarezasolar, que a reclamada, desde o ano de1997, vem praticando ato discriminatóriocontra dirigentes, conselheiros eassociados de sindicatos da categoriaprofissional a que pertencem seusempregados, uma vez que os obrigavaa assinar declarações negativas departicipação sindical, bem comodaqueles que pretendiam ser

contratados, constituindo, quanto aestes, condição prévia para a admissãoem seus quadros.

Cita doutrina e legislação queentende pertinentes.

Com razão.A prática de política anti-sindical

pela reclamada, na contramão doprincípio da liberdade sindical, está maisdo que provada nos autos.

De plano e contrariamente aodecidido em primeiro grau, não houveperda parcial do objeto da demanda.

Isso porque o fato de areclamada ter admitido que não mais seutiliza do documento discriminatório queobrigava tanto os candidatos a empregoquanto seus empregados a nele aporsuas assinaturas, em absoluto, nãoinduz confissão, mas sim meraafirmação de que não mais o adota, emclaro e inequívoco sinal de tentarconvencer o Juízo de que adiscriminação não é mais por elapraticada.

Se tal afirmação espelhasse areal intenção e conduta da reclamada,não teria se recusado a assinar o acordoproposto pelo autor, pois tudo o que sequer é a certeza de que ela se abstenhadessa odiosa prática.

Se tivesse havido confissão,certamente que o resultado dademanda, em primeiro grau, deveria tersido outro.

Fixado esse aspecto, transcrevo,a seguir, o conteúdo do referidodocumento, verbis:

DECLARO PERANTE AEMPRESA GONTIJO DETRANSPORTES LTDA., PARAOS FINS DE DIREITO, NÃOFAZER PARTE DE QUALQUERDIRETORIA OU CONSELHOSINDICAL, BEM COMO DEASSOCIAÇÃO DE QUALQUER

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NATUREZA, PELO QUEASSUMO INTEGRALRESPONSABILIDADE PELADECLARAÇÃO AQUIPRESTADA, OU SEJA,PRESENTE. (v. f. 5559 - 20.Volume)

Com efeito, os autos de infraçãoconstantes nos autos, emitidos pelaDRT, e a denúncia do Juiz Diretor doForo Trabalhista de Belo Horizonteestão a denunciar a práticadiscriminatória (v. f. 22/23, 46 e 55).

Efetivamente, há prova nosautos de que a reclamada realmentecolhia essa declaração, conformeconstatou a DRT, em RELATÓRIO DEFISCALIZAÇÃO (v. f. 5802/5803),datado de setembro de 2004, eencaminhado ao autor, ocasião em quejuntou, por amostragem, as declaraçõesde f. 5810/5814, assinadas pelosempregados TADEU MIRANDA DEFREITAS, JOÃO NILSON PEREIRA DEJESUS, JOSÉ RAIMUNDO DA SILVA,JOSÉ VITORINO DA SILVA e EDSONSILVA SANTANA.

Mas não é só isso.A Fiscal do Trabalho Margarida

Barreto de Almeida Campos, signatáriadaquele RELATÓRIO DEFISCALIZAÇÃO, ouvida às f. 6069/6070, informou que a discriminaçãocontinua existindo, pois “...sabe que umcolega que fez fiscalizações posterioresainda encontrou tal declaração naempresa, há uns três meses atrás, ...”.(v. f. 6070)

Logicamente que a condutaempresarial não foi abolida, para libertarseus empregados e candidatos aempregado das amarras dopatrulhamento anti-sindical.

A listagem nominal de que possui30 dirigentes sindicais (f. 5914/5916)empregados, e com isso, tentar

descaracterizar sua prática anti-sindical,foi impugnada pelo autor, sob o corretoargumento de que ela não veioacompanhada das cópias das CTPSs,o que motivou seguidos requerimentospara juntá-las aos autos, mas não o fez,o que não passa pelo crivo do art. 29 daCLT.

Tal comportamento processualsó veio reforçar a tese do autor nosentido de que os pouquíssimosdirigentes sindicais que a reclamadapossui em seus quadros não foram porela admitidos nessa qualidade, mas simincorporados, via sucessão trabalhista,a exemplo do que de fato ocorreu como empregado Geraldo Rodrigues Vilaça.

O referido empregado, dirigentesindical, pois é Diretor do SINTTROCEL(v. f. 5783), ouvido como testemunha arogo da reclamada, por carta precatória,informou à f. 6052 que já era dirigentesindical quando de sua admissão, umavez que é egresso da Viação Ipatinga,empresa comprada pela reclamada, fatoincontroverso.

Aliás, importante frisar, nesseaspecto, a sua informação no sentidode que “...a empresa Gontijo o admitiuno primeiro dia posterior ao da dispensafeita pela Viação Ipatinga, acolhendo asua condição de dirigente sindical, tudofruto de um acordo judicial envolvendoo Ministério Público, as empresas e oSINTTROCEL”. (v. f. 6052)

Ora, se o reconhecimento de suacondição de dirigente sindical foi objetode acordo judicial, a assinatura por eleaposta no multicitado documento, comressalva de sua condição desindicalista, logicamente em nada oprejudica.

Ficou a salvo da discriminação.Frise-se que se não fiz menção

aos depoimentos de outrastestemunhas, ou mesmo a outrosaspectos das provas oral e documental,

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foi porque não os reputei relevantespara a solução da demanda.

Esse foi o caso, por exemplo, dosdepoimentos prestados pelastestemunhas Luzia Aparecida da Silvae Juverci Alves de Oliveira, invocadospela reclamada em contra-razões.

Nesse contexto, não há comonegar que o multicitado documento nãotenha produzido efeitos formais emateriais nos contratos de trabalho dosempregados da reclamada, além dadiscriminação pré-contratual.

Violado, assim, o princípio daliberdade sindical, uma vez que aConstituição da República prevê serlivre a associação profissional ousindical.

Provejo para determinar que areclamada se abstenha de questionar,sobretudo por escrito, aos seustrabalhadores candidatos a emprego, seeles são filiados a sindicatos derepresentação profissional, se sãomembros de diretoria ou de conselhofiscal, ou se são filiados a associaçõesde qualquer natureza, preservando-se,assim, o direito constitucional à liberdadesindical, à intimidade e à privacidade.

E, ainda, para que não mais exijacomo condição admissional, sejaverbalmente ou por escrito, ou comocondição de permanência no emprego,que os seus empregados não tenhamparticipação em diretoria ou conselhosindical, bem como de associação dequalquer natureza, preservando-se odireito à l iberdade e o direito deorganização e representação sindical(alíneas 5.1 e 5.2 da peça vestibular, f.16/17).

Tudo sob pena de pagamento damulta já deferida em primeiro grau, de10 (dez) vezes o maior salário dacategoria profissional a que pertencemos empregados da reclamada, porempregado discriminado.

Foi dada interpretação razoávelde lei para o caso concreto (matéria dedireito), sem violar direta e literalmentequaisquer normas do ordenamentojurídico nacional (item II da Súmula n.221 do TST c/c o art. 131 do CPC eSúmula n. 400 do STF).

Adotou-se tese explícita sobre amatéria, de modo que a referência adispositivos legais e constitucionais édesnecessária. Inteligência daOrientação Jurisprudencial n. 118 daSBDI-I do TST.

O juiz não está obrigado arebater especificamente as alegaçõesda parte: a dialética do ato decisório nãoconsiste apenas no revide dosargumentos da parte pelo juiz, mas nocaminho próprio e independente queeste pode tomar, que se restringenaturalmente aos limites da lide, masnunca apenas à alegação da parte.

2.2.2 - Indenização por danomoral coletivo

Sustenta o autor que a condutada ré, direcionada para a política anti-sindical, violou dispositivosconstitucionais e legais, tutelares diretodas liberdades associativa e sindical, oque enseja, dentro do movimento maisrecente do Direito, a indenização pordano moral coletivo, cujo valor pedido éde R$900.000,00, reversível ao FAT -Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Com razão em parte.O pedido em epígrafe foi

indeferido pelo juízo originário (f. 6093e 6117), ao argumento de que a provados autos não demonstrou a existênciade conduta anti-sindical ediscriminatória praticada pelareclamada.

Depois de anos de reflexão ematuração, já se admite noordenamento jurídico nacional a

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indenização por danos morais parareparar lesão extrapatrimonial causadaàs pessoas físicas e jurídicas, bemcomo à coletividade genericamenteconsiderada.

A reclamada, com talcomportamento, violou, sobretudo, oprincípio constitucional da liberdadesindical, como também o da boa-fé, dacidadania, da dignidade da pessoahumana, do valor social do trabalho eda proteção ao emprego.

Por isso, os interessestransindividuais reclamam proteção,entendidos como sendo aquelespertencentes à sociedade, rompendo asamarras dos interesses individuais decada pessoa lesada.

Nesse sentido, pertinente é adoutrina trazida pelo autor, à f. 6138, aseguir transcrita:

Nota-se, pois, que a doutrina e ajurisprudência vêm evoluindo naaplicação da teoria daresponsabilidade civil emmatéria de dano moral,especialmente em açõescoletivas, em que a reparação,com caráter preventivo-pedagógico e punitivo, é devidapelo simples fato da efetivaviolação de interessesmetaindividuais socialmenterelevantes e juridicamenteprotegidos, como é o caso deserviço de transporte coletivo, degrande relevância pública, eisque explorado por empresaprivada, mediante contrato deconcessão, pelo qual estáobrigada a prestar um serviçosatisfatório e com segurança, oque não foi cumprido pelaempresa. Tal atitude negligentecausou transtorno e tumulto parao público usuário, configurando

o dano moral coletivo puro,perceptível pelo senso comum,porque diz respeito à naturezahumana, dispensando-se aprova (damnum in re ipsa).Repara-se o dano moral coletivopuro, independentemente dacaracterização efetiva, em nívelindividual, de dano material oumoral. O conceito do valorcoletivo, da moral coletiva éindependente, autônomo, e,portanto, se desatrela da moralindividual.1

E o dano moral coletivo étutelado desde a Lei n. 4.717/65, daAção Popular, em seus artigos 1º e 11,passando pela Lei n. 6.938/81, daPolítica Nacional do Meio Ambiente, Lein. 8.881/94, do Abuso do PoderEconômico, Lei n. 8.078/90, do Códigode Defesa do Consumidor, e Lei n.7.347/85, da Ação Civil Pública, entreoutras.

Na espécie, como já visto, alesão a tais interesses restou oral edocumentalmente provada.

Com efeito, o mal foi causado àcoletividade. O sentimento dedesapreço aflorou. É difícil reconstituí-lo. E já ocorreu a transgressão aoordenamento jurídico. A reparação édevida, como compensação pelo danosofrido.

A conduta anti-sindical estásujeita à sanção porque viola a liberdadesindical, um bem jurídico que aConstituição Federal assegura comoelemento fundante da organizaçãosindical.

Sem liberdade sindical não sepode falar em negociação coletiva, que

1 TEIXEIRA, João Carlos. Temas polêmicosde direito do trabalho. Ed. LTr, 2000, p. 129.

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é o cerne de todas as demaisinstituições de Direito Coletivo doTrabalho, ou seja, convenção coletiva,dissídio coletivo, greve e co-gestão.

O dano moral de pessoa jurídicajá é questão sumulada pelo STJ(Súmula n. 227) e não oferece maisqualquer obstáculo jurídico a suaaplicação.

Considerando a extensão dodano, e sua repercussão social, acapacidade econômica do ofensor, esopesando a gravidade do ilícitopraticado, entendo razoável fixar o valorda indenização em R$300.000,00,reversível ao Fundo de Amparo aoTrabalhador - FAT.

Provejo nesses termos.

2.2.3 - Hipoteca judiciária

A hipoteca judiciária estáexpressamente prevista no art. 466 doCPC, que diz:

A sentença que condenar o réuno pagamento de umaprestação, consistente emdinheiro ou em coisa, valerácomo título constitutivo dehipoteca judiciária, cuja inscriçãoserá ordenada pelo juiz na formaprescrita na Lei de RegistrosPúblicos.Parágrafo único. A sentençacondenatória produz a hipotecajudiciária:I - embora a condenação sejagenérica;II - pendente arresto de bens dodevedor;III - ainda quando o credor possapromover a execução provisóriada sentença.

A hipoteca “é o direito realconstituído em favor do credor, sobre

coisa imóvel do devedor ou de terceiro,tendo por fim sujeitá-la exclusivamenteao pagamento da dívida.2”

A prelação e a seqüela são seusatributos principais.

Se há sentença a uma prestaçãode dinheiro ou coisa, hipóteses maiscomuns da sentença condenatória, elaautomaticamente vale como títuloconstitutivo para a hipoteca judiciária,ou seja, a hipoteca que provém decondenação judicial e incide sobre bemimóvel do devedor, na amplitude do art.1.473 do Código Civil.

O juiz ordenará a constituição dahipoteca automaticamente,independentemente até mesmo derequerimento do credor, vitorioso naação, pois se trata de interesse públicodo Estado no cumprimento de suasordens judiciais.

Nas sentenças de alto interessesocial como, por exemplo, a trabalhista,a de consumo ou a de reparação pordanos, a execução fica garantidaporque, mesmo que se aliene o bem, avinculação dele à dívida continuará peloprincípio da seqüela.

Entendo que a hipoteca judiciáriadeve ser determinada no dispositivo ouconclusão da própria sentença. Istofacilitaria enormemente sua aplicação.De dispositivo morto, transformar-se-iaem realidade, contribuindodecisivamente para a execução dasentença e para a efetiva prestaçãojurisdicional.

Esta medida, ao lado do depósitoda condenação e da multa, será umverdadeiro freio na recorribilidade estérile protelatória, que hoje tomou conta detodas as jurisdições, impedindo a

2 LOURES, José Costa; GUIMARÃES, TaísMaria Loures Dolabela. Novo código civilcomentado. Belo Horizonte: Del Rey, 2002,p. 628.

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prestação jurisdicional eficiente ebloqueando a força imediata dasentença de primeiro grau.

Pequena nota de DireitoComparado: Nos Estados Unidos vigorao princípio da valorização do primeirograu. O contato com as partes, aaudiência direta, a coleta direta daprova, o trato imediato com as partes,tudo leva a que a decisão de primeirograu seja mantida. Se a decisão se dáatravés do júri3, dificilmente os fatos sãomodificados no segundo grau.

Burham justifica esta posiçãocom o argumento de que o juiz instrutordo primeiro grau, que de fato viu e ouviua testemunha sobre fatos, está numaposição superior para apurar e avaliarestes fatos do que os juízes de segundograu: “...The fact finder on the trial levelwho actually saw and heard thewitnesses is in a superior position to findthe facts accurately.4”

No mesmo sentido opronunciamento de Mary Kay Kane:

The fullest scope of review is forerrors of law: appellate courtsmay decide such questions denovo. Rulings that are committedto the trial judge’s discretion arereviewed under an abuse ofdiscretion standard, however,which allows reversal only if thetrial judge was clearly wrong. (Oescopo da revisão completa (nascortes superiores) faz-se emcaso de erros de direito. A corte

de apelação pode decidir estasquestões em sua totalidade. Asregras que são atribuídas àdiscrição do juiz da instruçãosomente são revistas, quando háabuso dos padrões normais e areforma só será possível se o juizda instrução estiver claramenteem erro.)5

Vê-se, pelas citações, o sensoprático do direito processual norte-americano. É plena a valorização dasentença do primeiro grau quanto aosfatos, que só podem ser reformados,quando o juiz laborou em evidenteequívoco. Se o erro é menor, nem porisso a sentença será reformada, porquese pensa num bem maior que éaplicação da lei aos casos concretos,resolvendo o problema do cidadão, e nointeresse público em aplicar a lei.

Entre nós, infelizmente,proliferam-se recursos. A primeirainstância é apenas uma passagem. Aspartes podem recorrer sem ônus. Olegislador praticamente supõe que oprimeiro grau está errado e permite semoutras exigências o recurso. Tem umavisão meramente liberal do processo epensa apenas no direito de defesa, semconsiderar o direito à prestaçãojurisdicional de quem demanda e pedea reparação de seus direitos.

O resultado aí está: os tribunaissuperiores estão acumulados. OJudiciário tem reputação baixa peranteo povo e as questões não se decidem,nem a lei se aplica.

A hipoteca judiciária é, pois, umavaliosa ferramenta que a lei processualcoloca nas mãos do juiz, para garantira eficácia das decisões judiciais.

3 Recorde-se que há júri, nos EstadosUnidos, tanto para as causas cíveis quantocriminais.

4 Op. cit., p. 179.O juiz instrutor que, naaudiência, viu e ouviu a prova testemunhalestá numa posição superior (privilegiada),para averiguar os fatos acuradamente.

5 Civil procedure. St. Paul: West Publishing,1991, p. 249.

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Conforme está documentado noRelatório Geral da Justiça do Trabalho,publicado pelo TST, há 1.727.000processos em execução na Justiça doTrabalho, somando-se os casos novosaos resíduos anteriores. Um volumeassustador, pois equivale a praticamenteduas vezes o número de processosnovos que entram anualmente.

Destes, não obstante o gasto eo esforço despendidos, poucos têmchance de serem executados.

Na maioria dos casos, a empresadesfez os bens, fechou, faliu, mudou-se para lugar ignorado. O exeqüenteserá prejudicado e o serviço público daJustiça, mais uma vez, teráempreendido um esforço inútil e caroque não produzirá resultado algum.

Uma contradição e um absurdo,principalmente quando se trata decrédito alimentar.

Como o legislador não exige odepósito integral da condenação (e,mesmo quando equivale ao valor totalele se torna insuficiente em razão dademora da execução), é a próprialegislação a responsável por este fatointolerável e surrealista.

Até que haja mudanças maisprofundas, a hipoteca judicial pode sera solução. Incidindo sobre os bens daexecutada, a execução fica garantida eos bens, na quantia devida,indisponíveis.

O caminho é, pois, fácil e lógico.Basta que a jurisprudência trabalhistaadote, para o crédito alimentar, umamedida que é empregada pelolegislador comum.

Temos aqui mais um exemplo deque o CPC passou à frente do Processodo Trabalho, que se atrasou no tempo ehoje é responsável pelas postergação,demora e frustração do recebimento docrédito alimentar pelo trabalhadorbrasileiro.

Agora, com a medida, aexecução será garantida e o crédito serána certa recebido pelo reclamante-exeqüente.

Frise-se, mais uma vez, que ahipoteca judiciária é um efeito dasentença. Tem natureza pública. Émedida do legislador em defesa dajurisdição, para garantir a eficácia dasdecisões judiciais.

Portanto, independe de pedidoou requerimento das partes, pois setrata de um “agregado da sentença”na expressão de Pontes de Miranda,ou seja, um efeito que o legislador, porquestões de política judiciária, a elafaz agregar em razão do interessepúblico, tais como custas, correçãomonetár ia, honorár ios de per i to,descontos previdenciár ios e deimposto de renda.

Mais uma vez, vê-se aquiretratada a situação contraditória emque se debate o Judiciário Trabalhistae, por extensão, o Judiciário em geral.

A hipoteca judiciária é prevista noCPC desde 1974. Qual o juiz cível etrabalhista que a emprega? Todos seomitem. No entanto, fazem parte do coroque pede, a todo instante, ao CongressoNacional mais cargos, mais juízes, maisservidores, mais verbas.Sobrecarregam o orçamento nacional,em vez de usar dos meios que já têmem mãos para garantir a jurisdição etornar eficaz a aplicação da lei.

É de se esperar que a hipotecajudiciária, instituto que dorme no papelà espera de aplicação pelos juízes,torne-se uma ferramenta decisiva nagarantia do cumprimento das decisõesjudiciais.

Não obstante as brilhantesrazões do Juiz Júlio Bernardo do Carmocontra a jurisprudência da Turma emrelação à hipoteca judiciária, não vejorazão para mudar meu ponto de vista.

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Analisando, um a um, osargumentos daquele ilustre juiz em votodivergente, entendo que a orientação daTurma deve manter-se pelos seguintesfundamentos. Os argumentos são osseguintes:

1 - Analogia com o Código Civil

A hipoteca judiciária é uminstituto criado pelo CPC de 73. Já ahipoteca, é instituto de Direito Privado,localizado no Livro III do Código Civil eregulada nos artigos 1.473 a 1.505.

Têm em comum apenas ogênero - o direito real de hipoteca - masdiferem profundamente na espécie: ahipoteca judiciária tem naturezaprocessual, é prevista em legislaçãoformal e tem por finalidade garantir aplena exeqüibilidade das sentençasjudiciais, enquanto a hipoteca de DireitoCivil é direito real de garantia e mira agarantia de qualquer obrigação deordem econômica.6 Supõe a obrigaçãoprincipal e, acessoriamente, assegura-a para certeza do trânsito econômico.

Já a hipoteca judiciária garantea exeqüibil idade das sentençasjudiciais, para que não se decida emvão, como é comum em nosso País, epara que o credor da obrigaçãojudicialmente garantida tenha a certezade seu cumprimento.

Ambas têm em comum agarantia, mas a hipoteca civilista apóiao direito constituído e a judiciária, adecisão dos tribunais. Na espécie, comose vê, distinguem fundamentalmente.

Se se quer fazer analogia, eladeveria ser feita com a hipoteca legal,prevista no art. 1.489 e seguintes do

Código Civil, em que a hipoteca temfinalidade garantidora dos credores alienumerados: dos fi lhos, sobre osimóveis do pai ou mãe que passar aoutras núpcias, antes de fazer oinventário do casal; do ofendido, sobreos imóveis do delinqüente parasatisfação do dano causado pelo delitoe pagamento das despesas judiciais; aoco-herdeiro, para garantia de seuquinhão, etc.

Este tipo de garantia temproximidade total com a hipotecajudiciária. Portanto com ela se podefazer aqui uma analogia com proveito eresultado. Porém continuam diferentesquanto ao objeto, pois a hipoteca legalgarante bens concretos e a judicial, aexeqüibilidade da sentença.

Se o direito privado protegedireitos através da ficção de umahipoteca legal, por que não poderiatambém o Direito Processual protegera sentença da mesma forma? Foi estailação que levou o CPC de 73 a instituira hipoteca judiciária. E o fez em boahora.

Portanto ela tem, sim, vidaprópria, independente da hipoteca civil,porque tem desta finalidade diferente.Já nos casos de hipoteca legal, osconceitos se aproximam por uma naturalcomunicação.

A hipoteca legal se constitui logoapós a sentença de primeiro grau,exatamente para que possa cumprir seuobjetivo, ou seja, garantir o que foidecidido, evitando que o réu desbaratebens e fraude a condenação.

Atribuir-lhe efeitos somente apóso trânsito em julgado é o mesmo quenegar sua finalidade. Que prevençãoseria esta, que só vem depois deacontecido o fato a que visava prevenir?Seria então uma interpretação absurda,pois retiraria do instituto jurídico o fim aque visa resguardar. Deve-se lembrar

6 BEVILAQUA, Clóvis. Código civil dosEstados Unidos do Brasil comentado. SãoPaulo: Francisco Alves, 1958, v. III, p. 306.

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aqui da sabedoria romana: “Interpretatiofacienda est, ut ne sequatur absurdum.”(A interpretação deve praticar-se demodo a evitar o absurdo)

Toda interpretação existe paraconstruir o sentido do texto, nunca paradestruí-lo.

Trata-se, em conclusão, deinstitutos com finalidades diferentes eassim devem ser vistos pela doutrina epela jurisprudência.

2 - Modificação da sentença eminstância superior

Esta possibilidade em nada afetaa hipoteca, que então automaticamentedesfazer-se-á. Porém este fatohipotético não desautoriza seu uso.

A razão está na estatística que,baseando-se em números, não mentenem falseia: as sentenças de primeirograu na Justiça do Trabalho, salvopequenas alterações, são integralmentemantidas. Esta porcentagem beira, emmuitas regiões, a mais de 95%. Bastaque se consultem os julgamentos daprópria Quarta Turma. Portanto será raraa inutilização da hipoteca.

Para uma perda de 5%, há umganho de 95%. Evidentemente, avantagem salta aos olhos.

Mas não é só. Se a sentença forreformada e a hipoteca desfeita, tal fatoestá na previsibilidade natural dosacontecimentos judiciários e nãoprejudicará ninguém. Toda sentençapode ser mantida ou revista.

Se deixássemos de tomarprovidências processuais, porque asentença em tese pode ser reformada,também não exigiríamos custas,depósito recursal, execução provisóriae outras medidas, que se tornariaminócuas. Muitos juízes até desistiriam dedecidir, pois seus julgamentos poderiamser modificados.

Não é isto, entretanto, o queacontece.

Nos processos trabalhistas,estas medidas se tornam ainda maisnecessárias, em razão do alto índice demanutenção do que é decidido emprimeiro grau e dos problemas que aexecução enfrenta na prática: ausênciados bens que sumiram, fraudes eocultamentos, transferênciasfraudulentas de propriedade, etc. Hoje,segundo o TST, há, correndo na Justiçado Trabalho de todo o Brasil, cerca deum milhão e setecentas mil execuções,com escassa possibilidade de êxito.Temos que evitar a todo custo estadeformação.

E isto acontece exatamenteporque não se bloquearam os bens doexecutado que, livre de restrições, osmalbaratou.

Finalmente, temos a lei - legemhabemus. E ela diz, no art. 466, que asentença condenatória (note-sesentença e não somente acórdão) valecomo título constitutivo da hipoteca. Oque a lei determina o intérprete tem queobedecer.

Interpretar é esclarecer, masnunca revogar a lei por raciocínios deconveniência ou opinião pessoal.

3 - Bem de família e hipotecajudiciária

A possibilidade de a hipoteca setornar inútil porque a execução esbarrounum bem de família que, pela Lei n.8.009/90, é impenhorável, também nãotem significado algum.

Se o bem de família for o únicobem que possui, a parte pode alegareste fato até mesmo antes daconstituição da hipoteca judiciária.

Se a penhora não pode realizar-se, perde-se a própria execução e, porvia de conseqüência, todo o crédito. O

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prejuízo é de todo o processo e nãoapenas da hipoteca judiciária. Estacontingência é própria de toda execuçãoe não será por causa de sua supostaocorrência que se vai excluir a garantiada sentença.

Pela exceção não se deduznenhuma regra geral.

Ao contrário, a previsibilidade éque haja bens e a sentença sejaexeqüível. E, de fato, é isto queacontece na prática. Muitos casos dedescumprimento se verificam, de modototal ou parcialmente, exatamenteporque o juiz não tomou providênciaspara resguardar a autoridade de seusmandamentos, ou seja, não usou dahipoteca judiciária e de outros meiospara cumprir o que foi determinado.

Ante a impossibilidade da ação,cessa-se o poder do homem. Porém, sea ação se mostra possível, o Direitodeve criar todos os meios de concretizá-la.

4 - Hipoteca e execuçãoprovisória

Não são institutos que seexcluem. Pelo contrário, somam-se paragarantir o mandamento judicial. O art.466 é expresso no parágrafo único: Asentença condenatória produz ahipoteca judiciária:

III - ainda quando o credor possapromover a execução provisória dasentença.

Portanto a lei, expressamente,quis a independência dos dois institutos,exatamente para garantir de certeza esegurança a execução da sentença. Seassim foi, não cabe ao intérpreteraciocínios de conveniência, que valemmais como opinião pessoal, respeitável,sem dúvida, mas de lege ferenda enunca de lege lata, pois a lei não é obrado intérprete, mas sim do legislador.

5 - Compatibilidade do artigo 466com a execução trabalhista

O art. 769 da CLT não obsta emnada a aplicação da hipoteca judiciáriano Processo do Trabalho. Trata-se deum instituto de processo, que empolgatodas as jurisdições, quando houversentença que condene o réu a umaprestação.

A única exceção reside nahipótese de sentença proferida emquestão de Direito Público, pois não fazsentido constituir hipoteca sobre bemalienável do Estado, já que este só podevender ou transacionar bens em virtudede lei. Além do mais, seus bens sãoimpenhoráveis e a execução se faz porprecatório, conforme determina o art.100 da CF.

Seria ilógico raciocinar que uminstituto de processo que garante aexecução em geral fosse excluído doProcesso do Trabalho porincompatibilidade.

Pelo contrário, o trabalho é bemjurídico fundamental, que a Constituiçãoespecialmente valorizou e prezou,colocando como fundamento daRepública “os valores sociais dotrabalho e da livre iniciativa”, inciso IVdo art. 1º da CF, bem como da ordemeconômica “fundada na valorização dotrabalho humano e na livre iniciativa” -art. 170 - e na ordem social que “temcomo base o primado do trabalho e,como objetivo o bem-estar e a justiçasociais” - art. 193.

Se este valor “trabalho” setransforma em relação jurídica que secontroverte em juízo, nem por isso perdeo significado axiológico que aConstituição lhe empresta.

O raciocínio há de serexatamente em sentido contrário.Devem-se acolher todos os institutosjurídicos que possam dar efetividade

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aos direitos constitucionalmentegarantidos, exatamente para que aConstituição não seja palavras, mas simfato e realidade.

6 - Pagamento de taxascartorárias e tumulto na execução

Não gera a hipoteca judiciáriaqualquer tumulto ou dificuldade naexecução.

O art. 466 diz expressamenteque “a inscrição será ordenada pelo juizna forma prescrita na Lei de RegistrosPúblicos”. Ora, qual o tumulto que estaordem pode trazer?

O serventuário terá que obedecê-la de pronto. Se houver taxas, serãocobradas na execução a exemplo dasdemais, que o executado terá de pagar.

7 - Penhora on-line e outrosmodos mais rápidos de execução

A hipoteca judicial se dá após asentença de primeiro grau. Ainda nãohá penhora e muito menos penhora on-line. Por isso é que ela exerce, desdelogo, seu salutar efeito para garantir-lhea execução da sentença, impedindo quea empresa malbarate seus bens.

Se, na execução, houverpenhora on-line, tal medida reforçará aexecução e não será redundante comoutras providências já tomadas, aexemplo do inciso III do parágrafo únicodo art. 466, que não incompatibilizou ahipoteca judiciária com a execuçãoprovisória.

Além do mais, cabendo ao juizzelar pela execução, nada o impediráde desconstituir garantias, quando nãohouver risco de frustração da execução.Se a parte, por exemplo, deposita o valortotal da execução, não faz mais sentidoqualquer outra medida, tais comoexecução provisória, etc.

Estes fatos hipotéticos sãoincidentes da execução, que o juizsabiamente decidirá sem prejuízo anenhuma das partes. Não se podeperder de vista o disposto no art. 620do CPC: “Quando por vários meios ocredor puder promover a execução, ojuiz mandará que se faça pelo modomenos gravoso para o devedor.” Porém,ao aplicá-lo, não se pode perder de vistaos objetos principais da execução, queé satisfazer o exeqüente.

Basta, pois, que o juiz dotrabalho escolha o modo menos gravosopara o executado e mais seguro para oexeqüente, para que a lei seja cumpridaintegralmente.

8 - Vitória de Pirro

O reconhecimento dapossibilidade de hipoteca judiciária peloTST, através de voto do Ministro LélioBentes, não é Vitória de Pirro, como sesalientou. Mas vitória concreta do bomsenso em que a instância máximatrabalhista aceitou medida certa ecorreta para garantir a execução docrédito alimentar trabalhista.

Nem histórica nem juridicamentese pode comparar a decisão do TSTcom a Vitória de Pirro.

Sabe-se que Pirro, rei de Epiro,depois de tremendo esforço na guerracontra os romanos, ganhou a batalhade Heracléia, mas perdeu tantossoldados que teria dito: minha vitória foiminha derrota.

Não é este o caso da hipotecajudiciária. Não prejudicou a ninguém.Pelo contrário, foi mais uma garantia daexecução trabalhista. Não houve, denossa parte, nenhum esforço. Nãoprecisamos sequer de travar batalhasjurídicas, para que ela fosse aceita. Naprimeira vez que foi ao TST, já saiuvitoriosa.

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Só pode ser comparada com aVitória de Pirro, se vista pelo contrário:uma vitória sem perdas e com grandesignificado para a execução trabalhistae para o Processo do Trabalho em geral.

9 - Gradação legal do art. 655 doCPC

Também aqui a analogia éimprópria e a nada serve. Hipotecajudiciária nada tem a ver com a gradaçãolegal da penhora. Esta é a apreensão debens do executado para satisfazer aexecução. Já a hipoteca judiciária é ummeio de garanti-la, quando o processoainda está na fase de conhecimento,impedindo que o condenado a umaprestação não desbarate seus bens nemfrustre a sentença condenatória.

Não se trata de penhora. Logo,inaplicável o art. 655 do CPC.

Por todos estes argumentos,mantenho meu ponto de vista.

3- CONCLUSÃO

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, por sua QuartaTurma, à unanimidade, rejeitou apreliminar de intempestividade econheceu do recurso; sem divergência,rejeitou as preliminares de nulidade pornegativa de prestação jurisdicional e porcerceamento de defesa; no mérito, pormaioria de votos, vencido, parcialmente,o Ex.mo Juiz Júlio Bernardo do Carmo,deu-lhe provimento parcial paradeterminar à reclamada, com suporte noart. 461, caput e § 4º do CPC, que seabstenha de questionar, sobretudo porescrito, aos seus trabalhadorescandidatos a emprego se eles sãofiliados a sindicatos de representaçãoprofissional, se são membros de diretoriaou de conselho fiscal, ou se são filiadosa associações de qualquer natureza,

preservando-se, assim, o direitoconstitucional à liberdade sindical, àintimidade e à privacidade. E que seabstenha, ainda, de exigir como condiçãoadmissional, seja verbalmente ou porescrito, ou como condição depermanência no emprego, que os seusempregados não tenham participaçãoem diretoria ou conselho sindical, bemcomo de associação de qualquernatureza, preservando-se o direito àliberdade e o direito de organização erepresentação sindical. Tudo sob penade pagamento da multa já deferida emprimeiro grau, de 10 (dez) vezes o maiorsalário da categoria profissional a quepertencem os empregados dareclamada, por empregado discriminado.Para condenar a reclamada aopagamento de indenização por danomoral coletivo, fixado em R$300.000,00(trezentos mil reais), reversível ao Fundode Amparo ao Trabalhador - FAT, eacrescido de juros e correção monetária,a partir da publicação deste acórdão.Sobre a indenização por dano moralcoletivo não incide nenhum descontoprevidenciário ou tributário. Arbitrado àcondenação o valor de R$300.000,00,com custas de R$6.000,00, pelareclamada. Determinou-se a expediçãode ofício ao Ministério Público Federal,nos termos do art. 40 do CPP, a fim deque tome as providências que julgarcabíveis. A Eg. Turma declarou, de ofício,a hipoteca judiciária sobre todos os bensda reclamada, na quantia suficiente paraa garantia da execução, devendo o juizde primeiro grau oficiar o cartóriocompetente para inscrevê-la.

Belo Horizonte, 10 de maio de2006.

ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVARelator

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TRT-00676-2005-030-03-00-1-APPubl. no “MG” de 29.04.2006

AGRAVANTES: (1) 2ª VARA DOTRABALHO DE CONTAGEM-MG (REMESSA NECESSÁRIA)(2) UNIÃO FEDERAL

AGRAVADA: AÇOBRÁS PRODUTOSSIDERÚRGICOS S/A (MASSAFALIDA DE)

EMENTA: MULTAADMINISTRATIVA -IMPOSIÇÃO À MASSA FALIDA- DESCABIMENTO. As penaspecuniárias por infração dasleis penais e administrativasnão podem ser reclamadas nafalência, segundo aexpressividade do inciso III doartigo 23 da antiga Lei deFalências, reguladora dasituação do processo. Ahipótese enseja a aplicação deentendimento sumulado noExcelso Pretório, segundo oqual “a multa fiscal moratóriaconstitui pena administrativa,não se incluindo no créditohabilitado em falência”(Súmula n. 565).

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos, decide-se:

RELATÓRIO

A MM. Juíza do Trabalho ÉricaMartins Júdice, em exercício na 2ª Varado Trabalho de Contagem/MG, pela r.decisão de f. 97/100, cujo relatório adotoe a este incorporo, julgou procedentesos embargos à execução apresentadospor MASSA FALIDA DE AÇOBRÁSPRODUTOS SIDERÚRGICOS S/A nosautos da execução fiscal da dívida ativaque lhe move a UNIÃO FEDERAL,

dando pela insubsistência da penhorarealizada nos autos. Foi determinada aremessa oficial, para reexameobrigatório, nos moldes do Decreto-lein. 779/69, § 2º do artigo 475 do CPC eda Súmula n. 303 do Col. TST.

Inconformada, a exeqüenteinterpôs o agravo de petição de f. 101/106, sustentando, em síntese, que élegítima a cobrança de multaadministrativa em face da executada,nada obstante a decretação de suafalência, porque o que dispõe o incisoIII do artigo 23 da Lei de Falênciasvigente à época da autuação visava aimpedir que a imposição de penalidadesadministrativas alcançasse os credoresda massa falida, não se aplicando àsinfrações cometidas pela própria massafalida, como ocorreu in casu. Asseveraque, nesse sentido, estaria oentendimento consubstanciado nasSúmulas n. 192 e 565 do Ex. STF,propugnando por que a penalidade sejaaplicada em face da infração cometidaapós a quebra da executada, mantendo-se a penhora. Na eventualidade, pugnapela fixação de honorários advocatíciosem valor módico, em razão do quedispõe o § 4º do artigo 20 do CPC.

Contraminuta da executada foijuntada às f. 113/116.

O Ministério Público do Trabalhoatuou no feito, emitindo parecer às f.125/128, da lavra do i. Procurador doTrabalho Elson Vilela Nogueira, queopinou pelo conhecimento edesprovimento do apelo.

É o relatório.

VOTO

Questão de ordem

Considerando a remessa oficial,para exame obrigatório, determino quese inclua nos registros dos autos o

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recurso ex officio da Vara do Trabalhode origem.

Admissibilidade

Próprio e tempestivo,preenchidos os demais pressupostos deadmissibilidade, conheço do agravo depetição da exeqüente.

Mérito

Multa administrativa - Imposiçãoà massa falida - Descabimento

A exeqüente não se resigna como acolhimento dos embargos àexecução apresentados pela massafalida executada, propugnando pelareforma da r. sentença recorrida, aoargumento de que a interpretação doinciso III do artigo 23 da Lei de Falênciasvigente à época da autuação daexecutada induz que se visava a impedirque as conseqüências econômicas daaplicação de penalidadesadministrativas à massa falida fossemtransferidas para os credores da massa,defendendo tese de que a normaexceptiva não teria aplicação àsinfrações cometidas pela própria massafalida, como ocorreu in casu.

Não lhe assiste razão, contudo.O crédito da exeqüente inscrito

em dívida ativa conforme a certidão def. 5 demonstra que a executada foiautuada pela fiscalização do trabalhoem decorrência do descumprimento doinciso I do § 1º do artigo 23 da Lei n.8.036/90, ou seja, da falta derecolhimento do FGTS dos seusempregados. O crédito decorre,portanto, da aplicação de multaadministrativa.

E, a esse propósito, aexpressividade do texto legal aplicávelà hipótese dos autos:

Art. 23. Ao juízo da falênciadevem concorrer todos oscredores do devedor comum,comerciais ou civis, alegando eprovando os seus direitos.Parágrafo único - Não podem serreclamadas na falência:I - [...]II - [...]III - as penas pecuniárias porinfração das leis penais eadministrativas.

A lei não excepcionou a situaçãoalegada pela exeqüente de modo apermitir a interpretação de que asinfrações cometidas pela massa podemser incluídas na falência. E quando olegislador não distingue, não cabe aointérprete fazê-lo, conforme éconsabido.

Nesse sentido, a doutrina deRUBENS REQUIÃO:

As penas pecuniárias porinfração das leis penais eadministrativas também sãoexcluídas da falência. As penaspecuniárias, segundo MirandaValverde, são sanções penais deações ou omissões, pelas quaisrespondem pessoalmente osinfratores [...]. E sendopenalidade que o infratorpessoalmente deve sofrer, nãoseria justo que se transmitisse,ferindo o direito de outrem, como conseqüente enfraquecimentodo patrimônio do devedor. Assim,por exemplo, não sãoreclamáveis na falência -pronunciou-se a Terceira Turmado Tribunal Federal de Recursos- as multas administrativasaplicadas por infração às leis dotrabalho (Bol. de Jurisp.ADCOAS, n. 14.063/72)

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(Curso de direito falimentar,Saraiva, 13. ed., v. 1, p. 128/129)

A hipótese enseja a aplicação deentendimento sumulado, sob o n. 565,no Excelso Pretório, segundo o qual “Amulta fiscal moratória constitui penaadministrativa, não se incluindo nocrédito habilitado em falência”.

Os honorários de sucumbênciaficam mantidos no percentual de 20%arbitrados em primeiro grau,razoavelmente observados em face doque dispõe o artigo 20, §§ 3º, alíneas“a”, “b” e “c” e 4º do CPC.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

Determino, de início, que seinclua nos registros dos autos o recursoex officio da Vara do Trabalho de origem.

Conheço do agravo de petiçãoda exeqüente, negando-lhe provimentoquanto ao mérito.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuintaTurma, preliminarmente, àunanimidade, determinou, de início, quese inclua nos registros dos autos orecurso ex officio da Vara do Trabalhode origem e conheceu do agravo depetição da exeqüente; no mérito, semdivergência, negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 18 de abril de2006.

EMERSON JOSÉ ALVES LAGERelator

TRT-00405-2005-036-03-00-4-ROPubl. no “MG” de 21.01.2006

RECORRENTES: 1) UNIÃO FEDERAL2) REDE FERROVIÁRIAFEDERAL S/A (EM LIQUIDAÇÃOEXTRAJUDICIAL)

RECORRIDOS: 1) AS MESMAS E2) MAURI DE MELO SOUZA

EMENTA: PRESCRIÇÃO -INCIDÊNCIA EM FACE DOMEEIRO E DO MENORSUCESSOR DO TRABALHADORFALECIDO. Não correprescrição contra o menor,ainda que na condição desucessor do trabalhadorfalecido. O mesmo, porém, nãoocorre em face do meeiro,parte na ação trabalhista etambém representante de suafilha menor, absolutamenteincapaz, pois a ele não secomunica o benefício emapreço.

Vistos, relatados e discutidosos presentes autos de recursosordinários, oriundos da 2ª Vara doTrabalho de Juiz de Fora/MG, em quefiguram, como recorrentes, 1) UNIÃOFEDERAL e 2) REDE FERROVIÁRIAFEDERAL S/A (EM LIQUIDAÇÃOEXTRAJUDICIAL) e, como recorridos,1) AS MESMAS e 2) MAURI DE MELOSOUZA.

RELATÓRIO

Ao de f. 122, que adoto e a esteincorporo, acrescento que o Ex.mo JuizVander Zambeli Vale, em exercício na2ª Vara do Trabalho de Juiz de Fora/MG,pela sentença de f. 122/128, julgouprocedente, em parte, a reclamaçãotrabalhista para condenar as rés

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REALMAR CONSTRUÇÕES ESERVIÇOS, REDE FERROVIÁRIAFEDERAL S/A e UNIÃO FEDERAL, asegunda e terceira subsidiariamente,sendo responsáveis solidariamenteentre si, a pagarem a TATIANE DEMORAIS SOUZA as parcelas descritasno dispositivo de f. 128.

Embargos de declaraçãoaviados pela REDE FERROVIÁRIAFEDERAL S/A (f. 131/133), julgadosimprocedentes à f. 147.

Recurso ordinário interposto pelaUNIÃO FEDERAL (f. 137/140). Pede asua exclusão da lide, bem como arevisão da sentença no que tange àprescrição extintiva.

Às f. 148/168 a REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A tambémapresenta recurso ordinário. Pretendea revisão do julgado quanto à prescriçãodo direito de ação da menor,responsabilidade subsidiária, multa doartigo 467 da CLT, parcelas referentesao período de licença-maternidade dafalecida empregada, juros de mora.

Comprova recolhimento decustas e depósito recursal às f. 169/170.

Decorrido in albis o prazo paracontra-razões, conforme certidão de f.172.

A d. Procuradoria Regional doTrabalho, através de parecer da Drª MariaChristina Dutra Fernandez, opinou peloconhecimento e provimento do apelo daUnião Federal e provimento parcial dorecurso da RFFSA (f. 175/176).

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Satisfeitos os pressupostosobjetivos e subjetivos de admissibilidade,conheço dos recursos ordináriosinterpostos.

Juízo de mérito

Recurso da União Federal

Da exclusão da lide

Pede a UNIÃO FEDERAL a suaexclusão do pólo passivo da lide, emrazão do encerramento do prazo devigência da MP 246/05.

À f. 29, considerando a extinçãoda Rede Ferroviária Federal,estabelecida pela MP 246, de 06.04.2005, foi determinada a retificaçãodo pólo passivo da presentereclamação, para constar a UNIÃOFEDERAL como segunda reclamada, naqualidade de sucessora da extinta RedeFerroviária Federal S/A.

Contudo, em sessão realizadano dia 21 de junho de 2005, o Plenárioda Câmara dos Deputados, através doAto 21 (DOU 22.06.2005), rejeitou areferida Medida Provisória, tornando,portanto, insubsistente a sucessãoassumida pela União Federal, razãopela qual não poderá serresponsabilizada pelos créditostrabalhistas porventura deferidos nessaação, movida em face da RedeFerroviária Federal S/A.

Provejo, para declarar ailegitimidade passiva ad causam daUnião Federal, no presente feito,restando prejudicada a análise dasdemais questões suscitadas em suasrazões recursais.

Recurso da 2ª reclamada -Rede Ferroviária Federal S/A - (Emliquidação extrajudicial) - Daprescrição - Menor - Herdeiro

Pretende a 2ª reclamada arevisão do julgado quanto à prescriçãodo direito de ação da menor, na condiçãode herdeira da empregada falecida.

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Ao exame da inicial, verifica-seque a reclamação trabalhista foiajuizada pelo Sr. MAURI DE MELOSOUZA, “...por si e representando suafilha menor, absolutamente incapaz,TATIANE DE MORAIS SOUZA...”, tendosido esclarecido (f. 04 - item 01) que aação “está sendo proposta pelosreclamantes na condição de, o primeiro,MAURI MELO DE SOUZA, viúvo-meeiro/dependente habilitado perante oINSS, e, a segunda, filha/herdeiratambém dependente de Maria Marlenede Moraes Souza”, falecida no dia01.06.1995 e ex-empregada da primeirareclamada, REALMARCONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA.

Destarte, nos termos em que aação foi proposta, data venia doentendimento a quo (f. 147), o Sr. Mauride Melo Souza qualificou-se como partena presente ação e não apenas comorepresentante de sua filha menor,nascida em 21.11.1994 (atualmentecom 11 anos).

Nesse aspecto, cumpre observarque a presença desta menor,absolutamente incapaz, no presentefeito, e, na qualidade de herdeira, nostermos do inciso I do artigo 198 do nCCb(inciso I do artigo 169 do CC de 1916),impede a ocorrência da prescriçãosomente quanto a ela.

Como leciona José Luiz FerreiraPrunes, no caso de falecimento doempregado, três situações podemocorrer:

1) se todos os herdeiros sãocapazes, segue-se a regra geralde prescrição; 2) se um oualguns herdeiros são menores,contra estes nem mesmo seinicia a prescrição; 3)derradeiramente, se algum dosherdeiros tem incapacidadepermanente, como é o caso dos

absolutamente incapazes porinsanidade mental,simplesmente não correqualquer prazo prescricional.(In A prescrição no direito dotrabalho: jurisprudência edoutrina de acordo com aConstituição de 1988. São Paulo:LTr, 1990, p. 208)

Outrossim, não prosperam osargumentos da recorrente de que aprescrição, na hipótese em exame, nãobeneficiaria a menor-herdeira, em faceda disposição contida no artigo 440 daCLT. Como apontado pela doutrina:

...a melhor interpretação da lei éno sentido de que contra omenor, ainda que compareça emJuízo na condição de sucessordo trabalhador falecido, não devecorrer nenhum prazo deprescrição. Isso porque o art. 440da CLT não afirma que contra otrabalhador menor não flui oprazo prescricional. Afirma, sim,que contra os menores de 18anos não corre nenhum prazo deprescrição, a alcançar, portanto,o menor na condição desucessor.(LORA, Ilse M. Bernardi. Aprescrição no direito do trabalho:teoria geral e questõespolêmicas. São Paulo: LTr, 2001,p.118)

Entretanto, o mesmo não ocorrecom relação ao Sr. Mauri de MeloSouza, a ele não se comunicando oreferido benefício, porquanto, em setratando de crédito de naturezatrabalhista, a situação não se refere aocumprimento de obrigação indivisível.

Nesse diapasão, assinala, ainda,José Luiz Ferreira Prunes, na obra

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acima citada, que “não se trata desituação em que tais herdeiros sejamcredores solidários e nem a obrigaçãoseja indivisível [...] trata-se apenas deum benefício personalíssimo que, poresta qualidade, não vai além dobeneficiário”.

Em conseqüência, declaro aprescrição total do direito de ação domeeiro. Esclareça-se que o vínculoempregatício da falecida empregadaocorreu no período de 01.02.94 a31.01.95, vindo a falecer nesse mesmoano (01.06.1995 - f. 21), quando a suafilha tinha apenas 07 meses (f. 20), nãohavendo que se falar, portanto, emqualquer prescrição, inclusive aqüinqüenal, com relação à menor,TATIANE DE MORAIS SOUZA.

Por fim, registre-se que, em facedo decidido, a condenação deverá serreduzida a 50% do que se apurar.

Provejo, em parte.

Responsabilidade subsidiária

Pede a 2ª reclamada, REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A, sejaabsolvida da condenação subsidiária aopagamento das parcelas trabalhistasdeferidas na presente ação, aofundamento de que a primeirareclamada, REALMARCONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA.,“não vinha satisfazendo corretamentesuas obrigações contratuais, razão pelaqual lhe foi aplicada a suspensão dodireito de contratar com a AdministraçãoPública e rescindido o contrato em31.01.1995”.

Sem razão, contudo.Às f. 56/62 foi juntado aos autos

contrato de prestação de serviçoscelebrado entre a REDE FERROVIÁRIAFEDERAL S/A, e a primeira reclamada,REALMAR CONSTRUÇÕES ESERVIÇOS LTDA., na data de 01.02.94,

tendo como objeto a execução dosserviços “de limpeza e conservação deimóveis e instalações e mobiliários daSR.3”.

Destarte, sendo a recorrentebeneficiária direta da prestação deserviços da empregada falecida,durante todo o pacto laboral, ou seja,de 01.02.94 a 31.01.95, a matériaresolve-se com a aplicação do item IVda Súmula n. 331 do TST, a saber:

O inadimplemento dasobrigações trabalhistas, porparte do empregador, implica aresponsabilidade subsidiária dotomador dos serviços, quantoàquelas obrigações, inclusivequanto aos órgãos daadministração direta, dasautarquias, das fundaçõespúblicas, das empresas públicase das sociedades de economiamista, desde que hajamparticipado da relaçãoprocessual e constem tambémdo título executivo judicial (artigo71 da Lei n. 8.666/93).

Restou claramente delineada, nopresente caso, a culpa in vigilando darecorrente, que não fiscalizou ocumprimento, por sua contratada, dasobrigações trabalhistas para com aempregada falecida, de quem foibeneficiária dos serviços prestados,evidenciando a negligência com quetratou o desenvolvimento da execuçãodo contrato.

Pontue-se que a rescisãodaquele contrato de prestação deserviços, em 31.01.95, não elide aresponsabilidade da recorrente comrelação ao período de vigência daavença, tendo em vista a sua condiçãode beneficiária da prestação dosserviços pela empregada falecida.

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Cumpre salientar que aterceirização de mão-de-obra não tempor escopo a elisão da responsabilidadeda tomadora pelas obrigaçõestrabalhistas contraídas e inadimplidaspor seu contratado (item IV da Súmulan. 331 do TST), mas, tão-somente, adescentralização de serviços,objetivando, desse modo, a suaotimização.

Nego provimento.

Da aplicação da teoria dadesconsideração da personalidadejurídica

Na sentença (f. 125),determinou-se que “primeiramentedeverá exaurir-se a execução em faceda primeira ré, para, somente depois defrustradas as tentativas, dirigir-se àsegunda e terceira rés, comresponsabilidade subsidiária, sendosolidariamente responsáveis entre si...”Contudo, argumenta a REDEFERROVIÁRIA FEDERAL que os meiosexecutivos devem também seresgotados não só com relação àprimeira reclamada, mas também contraos seus sócios.

Veja-se que a pretensão darecorrente refere-se à responsabilidadeem terceiro grau, que não pode ser aquiacolhida, sob pena de se comprometera celeridade do processo de execuçãoe satisfação do crédito alimentar,cabendo à responsável subsidiária odevido ressarcimento através de açãoregressiva no juízo próprio.

Nada a prover.

Da inocorrência da confissãoficta - Do acréscimo do artigo 467 daCLT

Aponta a recorrente que as résimpugnaram os pedidos, de forma

expressa, não havendo que se falar emaplicação da confissão ficta, sobretudocom relação ao deferimento dos valoresdos tickets-refeição. Pede a revisão dasentença também com relação à multado artigo 467 da CLT.

In casu, em face da ausênciainjustificada da primeira reclamada e,considerando os termos das defesasapresentadas pelas demaisreclamadas, de forma genérica,irreparável o decisum ao adotar a teseda presunção de veracidade dos fatosalegados pela parte contrária.

Nesse sentido, necessário aquisalientar que a ficta confessio consistenuma ficção jurídica, acarretandoapenas a presunção relativa e nãoabsoluta de veracidade dos fatosalegados pela parte contrária, desdeque verossímeis e coerentes com asdemais provas dos autos.

E a prova constituída, nopresente caso, não elide a confissãoaplicada, inclusive no que respeita aonão recebimento dos tickets-refeição,não recebidos nos meses de dezembrode 1994 e janeiro de 1995, devendoprevalecer o valor da indenizaçãosubstitutiva, arbitrado em R$330,00.

Quanto à multa do artigo 467 daCLT é certo que essa recaiu sobreparcelas de natureza salarial, nãoimpugnadas especificamente, devendoser mantida, porquanto não configuradaa controvérsia tratada no referidodispositivo legal.

Nego provimento.

Das parcelas relativas aoperíodo da licença-maternidade dafalecida empregada

Na inicial, argumentou-se que afalecida ex-empregada não recebeu osalário-maternidade, a ela devido emrazão da sua gravidez e nascimento da

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filha menor, o que foi deferido nasentença (f. 127).

Contudo, data venia doentendimento a quo, a responsabilidaderelativa ao pagamento da referidaparcela é da previdência social e nãodo empregador, conforme dispõe a Lein. 8.213/91, mesmo com a recentealteração concedida pela Lei n. 10.710/2003 que, no seu artigo 72, dispõeapenas sobre a respectivacompensação.

Contudo, pequeno reparomerece a sentença, no que tange àshoras extras e tickets-alimentação,devendo ser excluídos da condenaçãoos respectivos pagamentos, no períodocorrespondente à sua licença-maternidade, a contar da data denascimento da sua filha menor, ou seja,a partir de 21.11.1994.

Juros de mora

Sustenta a RFFSA que devemser aplicados os juros de mora somenteaté a data da publicação do seu decretode liquidação extrajudicial, ou seja, até07.12.99. Invoca a Súmula n. 304 do C.TST.

A teor do disposto no texto daSúmula n. 304 do TST, os débitostrabalhistas das entidades submetidasao regime de liquidação extrajudicialestão sujeitos apenas à incidência decorreção monetária desde o respectivovencimento até o seu efetivopagamento, sem interrupção oususpensão, não incidindo, pois, juros demora.

No entanto, a condenação daRFFSA é subsidiária e, portanto, devepagar o valor devido aos reclamantessomente se a empresa principal nãoadimplir sua obrigação, sendo certo quearcará com o valor principal da dívidareconhecida, sem qualquer limitação.

Assim, inaplicável, no caso em comento,a Súmula n. 304 do C. TST.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

Conheço dos recursos ordináriosinterpostos. No mérito, dou provimentoao apelo da UNIÃO FEDERAL paradeclarar a sua ilegitimidade passiva adcausam, no presente feito, restandoprejudicada a análise das demaisquestões suscitadas em suas razõesrecursais. Quanto ao recurso ordinárioda RFFSA, dou-lhe provimento parcialpara declarar a prescrição total do direitode ação do Sr. Mauri de Melo Souza epara reduzir a condenação a 50% doque se apurar; absolver as reclamadasda condenação ao pagamento dashoras extras e tickets-alimentação, noperíodo correspondente à licença-maternidade da empregada-falecida, acontar da data de nascimento da suafilha menor, ou seja, a partir de21.11.1994. Reduzo o valor dacondenação para R$800,00 e o dascustas para R$16,00.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Oitava Turma, em,preliminarmente, à unanimidade,conhecer dos recursos ordináriosinterpostos; no mérito, sem divergência,em dar provimento ao apelo da UNIÃOFEDERAL para declarar a suailegitimidade passiva ad causam, nopresente feito, restando prejudicada aanálise das demais questões suscitadasem suas razões recursais; quanto aorecurso ordinário da RFFSA,unanimemente, em dar-lhe provimentoparcial para declarar a prescrição totaldo direito de ação do Sr. Mauri de Melo

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Souza e para reduzir a condenação a50% do que se apurar; absolver asreclamadas da condenação aopagamento das horas extras e tickets-alimentação, no período correspondenteà licença-maternidade da empregada-falecida, a contar da data de nascimentoda sua filha menor, ou seja, a partir de21.11.1994; reduzir o valor dacondenação para R$800,00 (oitocentosreais) e o das custas para R$16,00(dezesseis reais).

Belo Horizonte, 14 de dezembrode 2005.

DENISE ALVES HORTARelatora

TRT- 01200-2005-038-03-00-9-ROPubl. no “MG” de 07.04.2006

RECORRENTE: SINDICATO DOSTRABALHADORES NASINDÚSTRIAS DA CONSTRUÇÃOE DO MOBILIÁRIO DE JUIZ DEFORA/MG

RECORRIDO: SINDICATO DOSTRABALHADORES NASINDÚSTRIAS DA CONSTRUÇÃOPESADA DE MINAS GERAIS

EMENTA: SINDICATO -REPRESENTAÇÃO - CRITÉRIODE AFERIÇÃO - PARÂMETROSCONSTITUCIONAIS. A CartaMagna assegura os princípiosda liberdade associativa e daautonomia sindical (art. 8º,caput e inciso I, CF/88),harmonizando-os, porém, aocritério da unicidade desindicatos (inciso II do art. 8ºda CF/88), a ser aferida peloregistro no órgão competente(inciso I do art. 8º da CF/88;

Súmula n. 677 do STF). Emcumprimento à Constituição, aanterioridade do registrosindical firma a representaçãoúnica na base estabelecidapelo estatuto correspondentedo sindicato. Apenas porexceção, a ser fortementecomprovada, além daobservância inequívoca deamplo processo democráticode deliberação das basessindicais atingidas, é que sepode falar em repartição daantiga representação, sobpena de agredir-se o conjuntode princípios e regrasconstitucionais explicitamenteaplicáveis, a par do própriosentido da existência dasentidades sindicais.

Vistos os autos, relatado ediscutido o presente recurso ordináriointerposto contra decisão proferida peloMM. Juízo da 4ª Vara do Trabalho deJuiz de Fora, em que figuram, comorecorrente, SINDICATO DOSTRABALHADORES NAS INDÚSTRIASDA CONSTRUÇÃO E DO MOBILIÁRIODE JUIZ DE FORA/MG e, comorecorrido, SINDICATO DOSTRABALHADORES NAS INDÚSTRIASDA CONSTRUÇÃO PESADA DE MINASGERAIS.

1 - RELATÓRIO

O MM. Juízo de 1º grau, pela r.sentença de f. 527/535, rejeitou aspreliminares argüidas e julgouimprocedentes os pedidos formuladosna petição inicial.

Recurso ordinário às f. 537/548,insurgindo-se o sindicato autor contra adecisão de origem, que reconheceucomo válidos os atos constitutivos do

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Sindicato dos Trabalhadores nasIndústrias da Construção Pesada deMinas Gerais e declarou ser este olegítimo representante dostrabalhadores nas indústrias daconstrução pesada do Estado de MinasGerais, cuja base territorial abarca todoo Estado, inclusive o Município de Juizde Fora, indeferindo, por conseqüência,o pedido de anulação dos atosconstitutivos do réu, bem como adevolução dos valores percebidos atítulo de contribuições sindicais enegociais. Requer ainda o recorrente areforma da decisão no tocante àconcessão dos benefícios da justiçagratuita.

Contra-razões às f. 551/556.Novos documentos colacionados,

com vista às contrapartes (f. 557 eseguintes).

Não houve manifestação doMinistério Público do Trabalho, já que,neste processo, não se vislumbrainteresse público a proteger, ou mesmoquaisquer das hipóteses previstas noartigo 82 do Regimento Interno desteTribunal.

É o relatório.

2 - ADMISSIBILIDADE

Presentes os pressupostos deadmissibilidade, conhece-se do recursointerposto, regularmente processado.

3 - FUNDAMENTOS

Esclareça-se, em primeiro lugar,que os vários documentos juntados apartir de f. 557 foram objeto donecessário contraditório, sendo, porém,desnecessária a vista sobre o últimodocumento (f. 572), por ser comum àspartes.

No tocante à substância destacausa, o MM. Juízo a quo reconheceu

como válidos os atos constitutivos doSindicato dos Trabalhadores nasIndústrias da Construção Pesada deMinas Gerais e declarou ser este olegítimo representante dos trabalhadoresnas indústrias da construção pesada doEstado de Minas Gerais, cuja baseterritorial abarca todo o Estado, inclusiveo Município de Juiz de Fora, indeferindo,por conseqüência, o pedido de anulaçãodos atos constitutivos do réu, bem comoa devolução dos valores percebidos atítulo de contribuições sindicais enegociais.

Insurge-se o sindicato autorcontra tal decisão, sustentando, emsuma, que “a criação do sindicatorecorrido contrariou frontalmente oinciso II do art. 8º da ConstituiçãoFederal ao estabelecer como baseterritorial todo o Estado de Minas Gerais,estando aí incluído o Município de Juizde Fora”. Alega que sua existência éanterior à do sindicato recorrido,“representando a categoria daconstrução, incluindo a pesada, desde1974, na base territorial de Juiz de Fora”,acrescentando que “qualquerd i s s o c i a ç ã o / d e s m e m b r a m e n t oimplicaria consulta dos interessados ecientificação do Sindicato primevo, oque inocorreu” (f. 540/541). Alega aindaque, na criação do sindicato recorrido,“o Edital de Convocação de AssembléiaGeral não se revestiu de qualquerpublicidade” (f. 543), não havendoparticipação de integrantes da categoriada cidade de Juiz de Fora, bem comode outros municípios do Estado deMinas Gerais.

Requer a reforma da r. decisãode origem, para que seja declarada anulidade dos atos constitutivos dosindicato recorrido, com a cassação deseu registro como pessoa jurídica dedireito privado, condenando-o, porconseqüência, a devolver os valores

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recebidos a título de contribuiçãosindical e negocial ao sindicatorecorrente.

Com razão o recorrente, aindaque em parte.

Está bastante clara, quanto àrepresentatividade dos trabalhadoresnas indústrias da construção pesada, aanterioridade do registro do Sindicatodos Trabalhadores nas Indústrias daConstrução e Mobiliário de Juiz de Fora(ora recorrente), conforme se verifica dodocumento de f. 15 (“apostila” doMinistro do Trabalho, datada de 1974,concedendo ao referido sindicatoextensão de representação dostrabalhadores nas indústrias daconstrução e do mobiliário do plano daconfederação nacional dostrabalhadores na indústria). Aliás, estefato é incontroverso nos autos.

Está também bastante claro queos dois sindicatos têm certacoincidência de representação - o queé vedado explicitamente pelo inciso IIdo art. 8º da Carta Magna (unicidadesindical). É que o Sindicato dosTrabalhadores nas Indústrias daConstrução Pesada de Minas Gerais(SITICOP/MG), mais novo, representatrabalhadores cujas atividades estãoligadas à “construção de estradas,pavimentação, obras de terraplenagem,construção de pontes, portos, canais,barragens, aeroportos, hidrelétrica eengenharia consultiva, manejo detratores em construções de estradas esimilares e outros serviços pertinentesàs estradas federais e estaduais” (f.553), consoante se depreende do art.1º do Estatuto do referido Sindicato (f.128).

Já o sindicato autor (Sindicatodos Trabalhadores nas Indústrias daConstrução e do Mobiliário de Juiz deFora) representa o mesmo tipo detrabalhador (além de vários outros

afins), só que em base territorial maisrestrita, essencialmente relativa àcidade de Juiz de Fora (Estatuto de f.21 e seguintes).

O sindicato autor, de Juiz deFora, com mais de 60 anos deexistência, teve seu registro concedidoem 1974, considerando suas basesobreiras e territoriais respectivas. Já osindicato réu, do conjunto do Estado,com pouco mais de dez anos deexistência, teve seu registro concedidoem 1991.

A desconstituição judicial doregistro do SITICOP/MG, já transitadaem julgado (fato também incontroverso),foi, porém, sustada por medida liminarinformada nestes autos (f. 564).

Não obstante esta oscilação dedecisões judiciais, a presente causaresolve-se pela simples aplicação daConstituição à situação de fatoincontroversa nestes autos.

É que a Carta Magna asseguraos princípios da liberdade associativa eda autonomia sindical (art. 8º, caput einciso I, CF/88), harmonizando-os,porém, ao critério da unicidade desindicatos (inciso II do art. 8º da CF/88),a ser aferida pelo registro no órgãocompetente (inciso I do art. 8º da CF/88;Súmula n. 677 do STF). Em cumprimentoà Constituição, a anterioridade doregistro sindical firma a representaçãoúnica na base estabelecida pelo estatutocorrespondente do sindicato. Apenas porexceção, a ser fortemente comprovada,além da observância inequívoca deamplo processo democrático dedeliberação das bases sindicaisatingidas, é que se pode falar emrepartição da antiga representação, sobpena de agredir-se o conjunto deprincípios e regras constitucionaisexplicitamente aplicáveis, a par dopróprio sentido da existência dasentidades sindicais.

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A anterioridade, neste caso, éóbvia, favorecendo o sindicato autor.Por outro lado, também é clara aausência de amplo processodemocrático de deliberação das basessindicais atingidas pelo sindicato réu (afundação resultou da deliberação detrabalhadores de um único canteiro deobras em toda Minas Gerais - fatoincontroverso). Também é incontroversoque esta deliberação não teve aparticipação das bases da região de Juizde Fora, representadas pelo sindicatoautor.

À luz destes fatos e dosprincípios e regras constitucionaisincidentes, torna-se inquestionável quea representação do sindicato réu nãoabrange as bases obreiras e territoriaisdo sindicato autor, data venia.

O provimento é, desse modo,parcial, para que os efeitos pleiteadosna petição inicial restrinjam-se às basesobreiras e territoriais do sindicato autor.

Os ônus sucumbenciais ficam,destarte, invertidos.

Provimento parcial conferido.Em síntese, conhece-se do

recurso ordinário interposto. No mérito,confere-se provimento parcial ao apelopara fixar como inválidos os atosconstitutivos do sindicato réu e seurespectivo registro no que tange àsbases obreiras e territoriais do sindicatoautor, não produzindo, nesta dimensão,qualquer efeito, condenando, porconseqüência, o sindicato réu a devolverao sindicato autor os valores percebidosa título de contribuição sindical enegocial, consideradas as bases supra-especificadas, deferindo-se, ainda, nopertinente e conforme tais limites,também os pleitos de itens V e VI dapetição inicial de f. 12.

Invertidos os ônussucumbencia is, podendo, a inda,o sindicato autor pleitear,

administrativamente, a devolução dodepósito recursal comprovadamenterecolhido à f. 549, por incabível emações como a presente (§ 1º do art. 899da CLT).

4 - CONCLUSÃO

Conhece-se do recurso ordináriointerposto. No mérito, confere-seprovimento parcial ao apelo para fixarcomo inválidos os atos constitutivos dosindicato réu e seu respectivo registrono que tange às bases obreiras eterritoriais do sindicato autor, nãoproduzindo, nesta dimensão, qualquerefeito, condenando, por conseqüência,o sindicato réu a devolver ao sindicatoautor os valores percebidos a título decontribuição sindical e negocial,consideradas as bases supra-especificadas, deferindo-se, ainda, nopertinente e conforme tais limites,também os pleitos de itens V e VI dapetição inicial de f. 12.

Invertidos os ônussucumbenciais, podendo, ainda, osindicato autor pleitear,administrativamente, a devolução dodepósito recursal comprovadamenterecolhido à f. 549, por incabível emações como a presente (§ 1º do art. 899da CLT).

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da 3ª Região, pelasua 1ª Turma, preliminarmente, àunanimidade, em conhecer do recurso;no mérito, sem divergência, em dar-lheprovimento parcial para fixar comoinválidos os atos constitutivos dosindicato réu e seu respectivo registrono que tange às bases obreiras eterritoriais do sindicato autor, nãoproduzindo, nesta dimensão, qualquer

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efeito, condenando, por conseqüência,o sindicato réu a devolver ao sindicatoautor os valores percebidos a título decontribuição sindical e negocial,consideradas as bases supra-especificadas, deferindo-se, ainda, nopertinente e conforme tais limites,também o pleito de item V e VI dapetição inicial de f. 12. Invertidos osônus sucumbenciais, podendo, ainda,o sindicato autor pleitear,administrativamente, a devolução dodepósito recursal comprovadamenterecolhido à f. 549, por incabível emações como a presente (§ 1º do art. 899da CLT).

Belo Horizonte, 03 de abril de2006.

MAURICIO GODINHO DELGADORelator

TRT-00743-2005-060-03-00-0-ROPubl. no “MG” de 01.04.2006

RECORRENTE: SINDICATO DOSTRABALHADORES NASINDÚSTRIAS METALÚRGICAS,MECÂNICAS, MATERIAISELÉTRICOS, SIDERURGIAS,FUNDIÇÃO E REPARAÇÃO DEVEÍCULOS E ACESSÓRIOS DEITABIRA

RECORRIDO: POLIKINI INDÚSTRIA ECOMÉRCIO LTDA.

EMENTA: SINDICATO -SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL -ART. 6º DO CPC - ILEGITIMIDADEATIVA AD CAUSAM - DIREITOSINDIVIDUAIS DOS SUBSTITUÍDOS- IMPOSSIBILIDADE -EXTINÇÃO DO PROCESSOSEM JULGAMENTO DOMÉRITO - INCISO VI DO ART.

267 DO CPC - INCISO III DOART. 8º DA CR/1988. A entidadesindical não tem legitimidadepara atuar na qualidade desubstituto processual dedeterminados associados paraa defesa de direitos denatureza individual, nãodecorrentes de origemcomum, tendo em vista que oinciso III do art. 8º da CR/1988refere-se a direitos einteresses metaindividuais. Ossindicatos não detêmlegitimação extraordináriapara postularem direitos quedemandam a análise dasituação de cada substituídode forma isolada e particular,impondo-se a extinção doprocesso sem julgamento domérito, com base no inciso VIdo art. 267 do CPC.

Vistos, relatados e discutidos osautos de recurso ordinário, em quefiguram, como recorrente, SINDICATODOS TRABALHADORES NASINDÚSTRIAS METALÚRGICAS,MECÂNICAS, MATERIAIS ELÉTRICOS,SIDERURGIAS, FUNDIÇÃO EREPARAÇÃO DE VEÍCULOS EACESSÓRIOS DE ITABIRA e, comorecorrido, POLIKINI INDÚSTRIA ECOMÉRCIO LTDA.

RELATÓRIO

O MM. Juiz do Trabalho da Varado Trabalho de Itabira/MG, pela sentençade f. 2.109/2.114, extinguiu a reclamaçãotrabalhista sem julgamento do méritoformulada pelo SINDICATO DOSTRABALHADORES NAS INDÚSTRIASMETALÚRGICAS, MECÂNICAS,MATERIAIS ELÉTRICOS, SIDERURGIAS,FUNDIÇÃO E REPARAÇÃO DE

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VEÍCULOS E ACESSÓRIOS DEITABIRA em face da POLIKINIINDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA.

Custas pelo reclamante fixadasem R$300,00.

Embargos de declaraçãoopostos pelo sindicato às f. 2.115/2.116,julgados procedentes em parte às f.2.119/2.120 para suprir omissão.

O reclamante apresenta recursoordinário às f. 2.123/2.138, pugnandopela reforma da r. sentença no tocanteà ilegitimidade ativa argüida de ofíciopelo Juízo a quo e à impossibilidadejurídica do pedido quanto ao pleito deimplantação de jornada de 6 horas parao turno ininterrupto de revezamento.Pugna pelo retorno dos autos à Vara deorigem para prosseguimento do feito.

Custas recolhidas à f. 2.139.Contra-razões às f. 2.142/2.152,

pela manutenção da sentença.É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Presentes os pressupostosobjetivos e subjetivos deadmissibilidade, conheço do recurso.

Juízo de mérito

Ilegitimidade ativa do sindicato- Art. 6º do CPC - Ofensa ao inciso IIIdo art. 8º da CR/1988 - Extinção doprocesso sem julgamento do mérito- Inciso VI do art. 267 do CPC

Insurge-se o recorrente contra aextinção do feito sem julgamento domérito, fundamentada no inciso VI doart. 267 do CPC. Alega que é partelegítima para postular o direito às horasextras dos substituídos, tendo em vistaque o cancelamento do Enunciado n.

310 do TST sinalizou nesse sentido.Pugna pela reforma da r. sentença, como conseqüente retorno dos autos à Varade origem para prosseguimento do feito.

Sem razão.O sindicato ora recorrente

ajuizou reclamação trabalhista, naqualidade de substituto processual,postulando em favor de determinadosempregados da rec lamada,associados à entidade sindical (listada contribuição sindical/2005 - f. 34/40) , as seguintes parcelastrabalhistas constantes da peça deingresso às f. 03/10: horas extras ereflexos no RSR, FGTS + 40%, férias+ 1/3 e 13º; devolução de descontosindevidos a título de vale-transportee implantação de turno ininterrupto derevezamento com jornada de seishoras. As horas extras pleiteadas,segundo as alegações da autora,decorrem de labor em sobrejornada,supressão de intervalos interjornadase desrespeito à redução da horanoturna.

Conforme interpretação do art. 6ºdo CPC, o direito deve ser postulado emjuízo pelo seu titular, só permitindo asubstituição processual ou legitimaçãoextraordinária nos casos previstos emlei. A figura da substituição processualcaracteriza-se pela situação em quealguém, que não titulariza a relaçãojurídica litigiosa, atua em juízo para adefesa de outrem, tratando-se deexceção em nosso sistema processual.

Na hipótese dos sindicatos, aCarta Magna confere a estas entidadeslegitimação extraordinária relativamentea certos tipos de demanda, conformeprevê o inciso III do art. 8º da CR/1988,nos seguintes termos:

III - ao sindicato cabe a defesados direitos e interessescoletivos ou individuais da

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categoria, inclusive em questõesjudiciais ou administrativas.

Como se vê, o transcritodispositivo constitucional confere aossindicatos a tutela jurisdicional dosdireitos metaindividuais, os quais seclassificam em difusos, coletivos eindividuais homogêneos. São direitosdifusos (inciso I do parágrafo único doart. 81 do CDC) os transindividuais denatureza indivisível (só podem serconsiderados como um todo) e cujostitulares sejam pessoas indeterminadasligadas por circunstâncias de fato, nãoexistindo um vínculo comum denatureza jurídica. Já os coletivos strictosensu (inciso II do parágrafo único doart. 81 do CDC) são direitosmetaindividuais, de natureza indivisível,de que seja titular grupo, categoria ouclasse de pessoas (indeterminadas,mas determináveis, enquanto grupo,categoria ou classe) ligadas entre si, oucom a parte contrária, por uma relaçãojurídica base. Direitos individuaishomogêneos, por sua vez, são osdecorrentes de origem comum, ou seja,os direitos nascidos em conseqüênciada própria lesão ou ameaça de lesão,em que a relação jurídica entre as partessurgiu por conta do ato lesivo.

No caso sob exame, o sindicatopostulou direitos que demandam aanálise da situação de cada substituídode forma isolada e particular, nãodecorrendo de origem comum.Conforme ressaltado pela r. sentença,“para deferir horas extras é necessárioestabelecer a jornada de trabalho decada um dos substituídos. Para deferira devolução dos descontos indevidos étambém necessário verificar quaissubstituídos receberam vale-transportee qual foi o valor descontado de cadaum deles por conta do fornecimento dovale” (f. 1.112/1.113).

A alegação do recorrente, nosentido de que o cancelamento doEnunciado n. 310 do TST teria ampliadode forma implícita as hipóteses desubstituição processual dos sindicatos,não merece prosperar, tendo em vistaque esse precedente jurisprudencial nãofoi substituído por outro, mas apenascancelado e esse “silêncio” não permiteconcluir que daquele ato em diante asubstituição processual será desmedidae ilimitada.

Neste passo, não se tratando ademanda de direitos difusos, coletivosou individuais homogêneos, carece orecorrente de legitimidade ativa adcausam.

Desprovejo.

Impossibilidade jurídica dopedido - Jornada de seis horas -Turnos ininterruptos de revezamento

Em face da manutenção dasentença quanto à ilegitimidade ativa dorecorrente, resta prejudicada a análisedeste tópico.

Em face do exposto, conheço dorecurso e, no mérito, nego-lheprovimento.

Motivos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em SessãoOrdinária da Egrégia 5ª Turma,preliminarmente, à unanimidade,conheceu do recurso; no mérito, semdivergência, negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 28 de março de2006.

EDUARDO AUGUSTO LOBATORelator

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TRT-01173-2005-012-03-00-1-ROPubl. no “MG” de 18.01.2006

RECORRENTES: 1. SINDICATO DOSEMPREGADOS NO COMÉRCIODE BARBACENA E OUTROS2. UNIÃO FEDERAL

RECORRIDOS: OS MESMOS E AMIS -ASSOCIAÇÃO MINEIRA DESUPERMERCADOS

EMENTA: DIAS DE REPOUSO -FERIADOS - FUNCIONAMENTODE SUPERMERCADO. À luz dosartigos 6º e 7º do Decreto n.27.048, de 12 de agosto de 1949- que regulamentou a Lei n. 605,de 05 de janeiro de 1949 -, osupermercado está autorizadoa funcionar em feriados, desdeque observadas as normas deregência.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordináriointerposto contra a r. sentença proferidapelo MM. Juiz Federal da 8ª Vara deBelo Horizonte, em que figuram, comorecorrentes, SINDICATO DOSEMPREGADOS NO COMÉRCIO DEBARBACENA e OUTROS e UNIÃOFEDERAL e, como recorridos, OSMESMOS e AMIS - ASSOCIAÇÃOMINEIRA DE SUPERMERCADOS.

RELATÓRIO

O MM. Juiz Federal da 8ª Varade Belo Horizonte, pela r. sentença def. 1390/1398 (cujo relatório se adota e aeste se incorpora), concedeu asegurança impetrada.

Os assistentes (Sindicato dosEmpregados no Comércio deBarbacena e Outros) opuseramembargos de declaração (f. 1403/1406),que foram julgados improcedentes (f.

1413/1415).Recorreram estes (f. 1418/1449),

insurgindo-se contra o deferimento dopedido de que a autoridade coatora(Delegado Regional do Trabalho emMinas Gerais) “...se abstenha de autuare multar os supermercados agregadosà Associação Mineira deSupermercados - AMIS por exerceremsuas atividades em dias de feriado”.

Igualmente, recorreu a UniãoFederal (f. 1454/1459), argüindo apreliminar de carência de ação, porimpossibilidade jurídica do pedido. Nomérito, não se conforma com odeferimento do pedido de que aautoridade coatora (Delegado Regionaldo Trabalho em Minas Gerais) “...seabstenha de autuar e multar ossupermercados agregados àAssociação Mineira de Supermercados- AMIS por exercerem suas atividadesem dias de feriado”.

Contra-razões oferecidas (f.1463/1474 e 1475/1484).

Parecer do d. Ministério PúblicoFederal (f. 1494/1498), que opinou pelodesprovimento do recurso interpostopelo Sindicato dos Empregados noComércio de Barbacena e Outros.

O Sindicato dos Empregados noComércio de Belo Horizonte e RegiãoMetropolitana, na condição deassistente da autoridade indicada comocoatora, Delegado Regional do Trabalhoem Minas Gerais, rebela-se, às f. 1501/1529, contra a r. sentença que concedeua segurança.

À vista da vigência da EmendaConstitucional n. 45/04, que deu novaredação ao artigo 114 da Carta Magnade 1988, a MM. Juíza Federal Relatora,convocada para compor o TribunalRegional Federal da 1ª Região, declinouda competência e determinou aremessa dos autos à Justiça doTrabalho (f. 1612).

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Parecer do d. MPT (f. 1619/1622), que opinou pelo desprovimentodo recurso da União Federal.

Concedeu-se vista da peçaprocessual de f. 1501/1529 à AMIS -Associação Mineira de Supermercados,ao Sindicato dos Empregados noComércio de Barbacena e Outros e àUnião Federal.

Sobre ela, manifestou-se,apenas, esta última (f. 1627/1628).

É o relatório, em resumo.

VOTO

Determina-se que se retifiquem aautuação e os registros pertinentes aeste Egrégio Tribunal, com a inclusão:a) das expressões “e OUTROS”, após onome SINDICATO DOS EMPREGADOSNO COMÉRCIO DE BARBACENA; b)dos nomes dos ilustres procuradores doSindicato dos Empregados no Comérciode Belo Horizonte e RegiãoMetropolitana, na capa dos autos.

Recursos dos sindicatosassistentes e da União Federal

1. Do juízo de admissibilidade

Próprios e tempestivos,preenchidos os demais pressupostos deadmissibil idade, conhece-se dosrecursos.

O Sindicato dos Empregados noComércio de Belo Horizonte e RegiãoMetropolitana requer sua admissão,como assistente litisconsorcial - ou,sucessivamente, como litisconsortepassivo necessário.

Deu-se vista, à f. 1623, da peçaprocessual de f. 1501/1529 à AMIS -Associação Mineira de Supermercados,ao Sindicato dos Empregados noComércio de Barbacena e Outros e àUnião Federal.

Somente esta se pronunciou arespeito (f. 1627/1628), concordandocom a admissão do Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana,porém, como assistente simples (artigo50 do CPC).

Acata-se o posicionamento daUnião Federal.

É que o aludido sindicatodefende, em nome próprio, direito deterceiros.

Somente poderia ser admitido,como assistente litisconsorcial, sedefendesse direito próprio.

Conhecido o pedido anterior, nãose conhece, obviamente, do pedidoposterior, ou seja, de integração, no pólopassivo da demanda, como litisconsortenecessário (artigo 47 do CPC).

Esclarece-se que não podefigurar como litisconsorte necessário,porque o trabalho aos domingos - contrao qual não se rebelou a União Federal,parte principal - já é autorizado pela Lein. 10.101, de 19 de dezembro de 2000,desde que observadas as prescriçõeslegais. Para tanto, verifique-se o teor dasinformações da autoridade tida comocoatora (f. 120/122) e das contra-razões(f. 1454/1459).

O indigitado sindicato, noentanto, discorda do trabalho nestesdias e nos feriados, como se infere daleitura da petição de f. 1501/1529.Portanto, como bem salientou a UniãoFederal, há “...dicotomia entre as tesesjurídicas das partes aqui mencionadas”.Daí a impossibilidade do necessáriosurgimento de decisão uniforme paratodas as partes.

A despeito disso, a impetrante,ora recorrida, ajuizou a ação demandado de segurança, tão-somente,para impedir que a autoridade tida comocoatora continuasse a autuar seusfiliados, por abrirem os supermercados

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em feriados. A propósito, como bemsalientou a r. sentença, seriaincompatível com a tramitação domandado de segurança coletivo -verdadeiramente impraticável - ochamamento à lide, individualmente, decada uma das pessoas que tivesse seusinteresses envolvidos na causa.

Frente ao expendido, conhece-se da peça processual de f. 1501/1529,do Sindicato dos Empregados noComércio de Belo Horizonte e RegiãoMetropolitana, que é admitido comoassistente simples, e não se anula, emconseqüência, o processo por ausênciade citação, já que desacolhido pleito desua inserção, no pólo passivo da lide,na qualidade de lit isconsortenecessário.

2. Preliminar de incompetência,em razão da matéria, da JustiçaFederal (suscitada pelo Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana)

Perdeu o objeto a análise dapreliminar de incompetência, em razãoda matéria, da Justiça Federal, uma vezque a MM. Juíza Relatora, convocadapara compor o Egrégio TribunalRegional Federal da Primeira Região,declinou da competência e ordenou aremessa dos autos à Justiça doTrabalho, à vista da vigência da EmendaConstitucional n. 45, publicada no DiárioOficial da União de 31 de dezembro de2004, que deu nova redação ao artigo114 da Carta Magna de 1988 (f. 1612).

É importante salientar, nessepasso, por oportuno, que a r. sentençade f. 1390/1398 foi proferida e publicada,em 22 de setembro de 2003.

3. Preliminar de carência deação, por ausência de justa ameaçade lesão ao direito (eriçada pelo

Sindicato dos Empregados noComércio de Barbacena e Outros)

Argúem o Sindicato dosEmpregados no Comércio deBarbacena e Outros a prefacial decarência de ação, dado que a recorridanão fez prova de que seu direito foiameaçado ou violado. Relatam que, nainicial, esta disse que seus associadosforam diversas vezes autuados. Juntou,todavia, ao processo, apenas, doisautos de infração.

Requerem a extinção doprocesso, sem julgamento do mérito.

Desacolhe-se a prefacial.Não se leva em conta o número

de autuação.De qualquer maneira, a recorrida

coligiu aos autos, além dos autos deinfração, que vieram com a inicial (f. 42/43), mais dois (f. 1473/1474), lavradosapós a prolação da r. sentença.

Importa, isto sim, que, porfuncionarem em feriados, os associadosda recorrida foram autuados.

Portanto, ela tem interesse enecessidade de agir, porquanto entendeque se violou direito dos fil iados,albergado pelo disposto nos artigos 6ºe 7º do Decreto n. 27.048, de 12 deagosto de 1949, que regulamentou a Lein. 605, de 05 de janeiro de 1949, deabrirem seus estabelecimentos emferiados.

4. Preliminar de carência deação, por impossibilidade jurídica dopedido (argüida pela União Federal)

Pleiteia a União Federal aextinção do processo, sem apreciaçãodo mérito (inciso IV do artigo 267 doCPC), ao argumento de que: a) a Lei n.10.101/2000 somente autoriza ofuncionamento do comércio aosdomingos, permanecendo, segundo ela,

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a proibição de sua abertura, emferiados; b) o Judiciário não pode“...obstar o legítimo exercício dafiscalização do trabalho pelo órgãocompetente sob pena de vulnerar odisposto no art. 2º da CF e legislaçãofederal que disciplina o assunto...”.

Rejeita-se.Para conceder a segurança, a r.

sentença fundou-se no conteúdo dosartigos 6º e 7º do Decreto n. 27.048, de12 de agosto de 1949.

Se, a seu juízo, a norma citada nãoproíbe o funcionamento dossupermercados nos feriados, determinou,logicamente, que a autoridade coatora seabstivesse de autuar os associados daimpetrante, ora recorrida.

Por fim, a carência de ação, porimpossibilidade jurídica do pedido, dá-se quando este não encontra amparono direito material positivo pátrio - o quenão ocorreu, no caso vertente, como sedemonstrou acima.

5. Do juízo de mérito

5.1. Violação do disposto nosartigos 7º, inciso XXVI, e 30, inciso I,da Constituição da República, delegislação municipal c/c a Lei Federaln. 10.101/2000 (recursos do Sindicatodos Empregados no Comércio deBarbacena e Outros e da UniãoFederal e peça processual doSindicato dos Empregados noComércio de Belo Horizonte e RegiãoMetropolitana)

O Sindicato dos Empregados noComércio de Barbacena e Outros, aUnião Federal e o Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitanainsurgem-se contra a r. sentença queconcedeu a segurança impetrada,determinando “...que a autoridade...

coatora se abstenha de autuar e multaros supermercados agregados àAssociação Mineira de Supermercados- AMIS por exercerem suas atividadesem dias de feriado”.

Pugnam pela sua reforma, já quecontraria dispositivos da Constituição doBrasil, de lei federal e de leis municipais.

Falece-lhes razão, data venia.A r. sentença encastelou-se no

previsto nos artigos 6º e 7º do Decreton. 27.048, de 12 de agosto de 1949, queregulamentou a Lei n. 605, de 05 dejaneiro de 1949, para conceder asegurança vindicada. Têm eles oseguinte teor:

Art. 6º Excetuados oscasos em que a execução dosserviços for imposta pelasexigências técnicas dasempresas, é vedado o trabalhonos dias de repouso a que serefere o art. 1º, garantida,entretanto, a remuneraçãorespectiva.

Art. 7º É concedida, emcaráter permanente e de acordocom o disposto no § 1º do art.6º, permissão para o trabalhonos dias de repouso a que serefere o art. 1º, nas atividadesconstantes da relação anexa aopresente regulamento.(grifos adesivos)

Na aludida relação, encontram-se elencadas, entre outras atividades:varejistas de peixe, varejistas de carnesfrescas e caça, venda de pão ebiscoitos, varejistas de frutas e verduras,varejistas de aves e ovos, feiras livres emercados.

Como, em 1949, quando foipublicada a norma em comento, nãoexistia supermercado, foram

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relacionadas, de per si, atividades quehoje são exploradas, sem dúvida, porele. Di-lo a jurisprudência, depois deexegese histórica e sistemática dopreceito citado:

ADMINISTRATIVO - EMBARGOSÀ EXECUÇÃO FISCAL -SUPERMERCADO -FUNCIONAMENTO EM DIAS DEREPOUSO - DECRETO N.27.048/49 - LEI N. 605/49. I. ODecreto n. 27.048/49, queregulamentou a Lei 605/49,relaciona os estabelecimentoscomerciais aos quais é concedida,devido à atividade desenvolvida,autorização de funcionamento emdias de repouso. II. Ossupermercados, modalidaderazoavelmente recente demercado, não se encontram entreas atividades elencadas nomencionado Decreto. No entanto,considera-se, por interpretação,estendida aos mesmos aautorização para funcionamentoaos domingos e feriados, tendoem vista concentrarem diversasdas atividades para as quais há,isoladamente, o permissivo legalpara funcionamento. III.Apelação a que se negaprovimento. IV. Remessa a quese nega provimento.(AC. do TRF da 1ª Região, 3ªTurma, 96.01.06058-8-BA, Rel.Juiz Cândido Ribeiro, publ. noDJU de 01.07.98)

Nota-se, pelo teor da norma emdebate, que, mesmo antes da vigênciada Constituição do Brasil de 1988 (artigo7º, inciso XV), o legislador já entendiaque, para algumas atividades, por elenominadas, não era obrigatória aconcessão do repouso semanal no

domingo. Deveria recair, contudo,preferencialmente, em domingos.

Também, o disposto no parágrafoúnico do artigo 6º da Lei n. 10.101, de19 de dezembro de 2000, vai aoencontro - como não poderia deixar deser - da norma constitucional citada.Preconiza que

O repouso semanalremunerado deverá coincidir,pelo menos uma vez no períodomáximo de quatro semanas, como domingo...

Por outro lado, assinale-se quea autorização contida nos artigos 6º e7º do Decreto n. 27.048, de 12 de agostode 1949, não foi revogada pelo artigo6º da Lei n. 10.101, de 19 de dezembrode 2000. Ela continua eficaz, uma vezque os dispositivos citados não seatritam. Via de conseqüência, a aberturados supermercados, em domingos eferiados, está autorizada por eles, desdeque observadas as normas de regência.

Outrossim, à luz do inciso I doartigo 22 da Constituição da República,compete, privativamente, à Uniãolegislar sobre Direito do Trabalho.

Em decorrência disso, não podeo Município - sob pena de violação danorma constitucional mencionada, dodisposto nos artigos 6º e 7º do Decreton. 27.048, de 12 de agosto de 1949, eno artigo 6º da Lei n. 10.101, de 19 dedezembro de 2000 - proibir o trabalhoem domingos e feriados.

Frise-se que o legisladorordinário, ao fazer referência ao inciso Ido artigo 30 da Carta Magna no artigo6º da Lei n. 10.101/2000, não quis - nemtinha poder para isso - dar competênciaao Município, para legislar sobre Direitodo Trabalho. Contrariamente, estariavulnerando, frontalmente, o disposto noinciso I do artigo 22 da mesma Carta.

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A propósito, o entendimentodominante é o de que o Municípiolegisla, supletivamente, acerca dohorário de funcionamento do comércio,em geral.

À baila, a orientaçãojurisprudencial:

CONSTITUCIONAL EADMINISTRATIVO -SUPERMERCADOS - HORÁRIODE FUNCIONAMENTO -DOMINGOS E FERIADOS -AUTONOMIA MUNICIPAL - ART.30, I, DA CARTA MAGNA - LEI N.605/49 - DECRETO N. 27.048/49- SÚMULA N. 419/STF. 1. AConstituição Federal, em seu art.30, inciso I, autoriza, dentro doprincípio da autonomia municipale em observância a esseprincípio, competência exclusivaao legislativo municipal paralegislar sobre assuntos deinteresse local. 2. O Decreto n.27.048/1949, que regulamentoua Lei n. 605/1949, permite que ocomércio de gêneros de primeiranecessidade funcione nos diasde repouso. Os atuaissupermercados, gênero maismoderno dos mercados deoutrora, beneficiam-se de talorientação. 3. Predomina acompetência da União Federal,decorrente das exigências sociaise econômicas contemporâneas,para legislar sobre as atividadescomerciais varejistas no territórionacional. O interesse coletivocom alcance nacional prevalecesobre o “peculiar interesse” doMunicípio, cuja competênciapara legislar sobre o assunto ésupletiva. 4. O ato vergastado -que proíbe o funcionamento dos

supermercados nos domingos eferiados - viola o princípio da livreconcorrência, tendo em vista queimpõe limitações a situaçõesidênticas de outrosestabelecimentos comerciais eisso não se constata da lei. 5.Pacificado na jurisprudência doSuperior Tribunal de Justiça oentendimento de que nãocomete qualquer infraçãosupermercado que abra as suasportas ao público em dias nãoúteis (domingos e feriados). 6. ASúmula n. 419/STF (“Osmunicípios têm competênciapara regular o horário decomércio local, desde que nãoinfrinjam leis estatuais oufederais válidas”) é clara eprecisa ao estabelecer até ondevai a competência dosmunicípios sobre a matéria deregular horário de funcionamentodo comércio local. In casu, nãose aplica o presente verbete aossupermercados.(AC. do STJ, RESP 297358-PR,1ª T., Rel. Min. José Delgado, DJde 30.04.2001, p. 127)

Destarte, se ao Município évedado legislar sobre Direito doTrabalho, muito menos os sindicatosdas categorias profissional e econômicapodem, através de instrumentonormativo - que se situa, em grau inferiorà lei, na hierarquia das normas -, impediro funcionamento dos supermercadosem domingos e feriados. Contrariosensu, vai de encontro ao Decreto n.27.048, de 12 de agosto de 1949(artigos 6º e 7º) e à Lei n. 10.101, de 19de dezembro de 2000 (artigo 6º). Emface disso, inexiste violação ao previstono inciso XXVI do artigo 7º daConstituição da República.

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Por derradeiro, não é competenteo Ministério do Trabalho para autuar ossupermercados que funcionam emferiados. Sua competência restringe-sea fiscalizá-los e puni-los, se nãoconcederem aos empregados quetrabalham, em feriados, folgascompensatórias noutros dias da semana.

Assim sendo, mantém-se a r.sentença, por seus próprios e jurídicosfundamentos.

Em decorrência, nega-seprovimento aos apelos do Sindicato dosEmpregados no Comércio deBarbacena e Outros, da União Federale do Sindicato dos Empregados noComércio de Belo Horizonte e RegiãoMetropolitana.

5.2. Expressões jurisprudenciais(recurso do Sindicato dos Empregadosno Comércio de Barbacena e Outros epeça processual do Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana)

Foram lidas, com atenção einteresse, as ementas e acórdãostrazidos à colação.

Respeita-se, mas não seendossa seu conteúdo, data venia.

Nega-se provimento.

Isto posto, determina-se que seretifiquem a autuação e os registrospertinentes a este Egrégio Tribunal coma inclusão: a) das expressões “eOUTROS”, após o nome SINDICATODOS EMPREGADOS NO COMÉRCIODE BARBACENA; b) dos nomes dosilustres procuradores do Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana, nacapa dos autos. Conhece-se dosrecursos do Sindicato dos Empregadosno Comércio de Barbacena e Outros eda União Federal e da peça processual

de f. 1501/1529, do Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana - queé admitido como assistente simples.Rejeitam-se as preliminares de carênciade ação, por ausência de justa ameaçade lesão ao direito, suscitada peloSindicato dos Empregados no Comérciode Barbacena e Outros, de carência deação, por impossibilidade jurídica dopedido, eriçada pela União Federal, ede nulidade do processo, por ausênciade citação, argüida pelo Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana. Nomérito, nega-se provimento aosrecursos do Sindicato dos Empregadosno Comércio de Barbacena e Outros eda União Federal e à peça processualde f. 1501/1529, do Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da Terceira Região,pela sua Primeira Turma,preliminarmente, em determinar que seretifiquem a autuação e os registrospertinentes a este Egrégio Tribunal coma inclusão: a) das expressões “eOUTROS”, após o nome SINDICATODOS EMPREGADOS NO COMÉRCIODE BARBACENA; b) dos nomes dosilustres procuradores do Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana, nacapa dos autos; à unanimidade, emconhecer dos recursos do Sindicato dosEmpregados no Comércio de Barbacenae Outros e da União Federal e da peçaprocessual de f. 1501/1529, do Sindicatodos Empregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana, que éadmitido como assistente simples; semdivergência, em rejeitar as preliminares

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de carência de ação, por ausência dejusta ameaça de lesão ao direito,suscitada pelo Sindicato dosEmpregados no Comércio de Barbacenae Outros, de carência de ação, porimpossibilidade jurídica do pedido,eriçada pela União Federal, e de nulidadedo processo, por ausência de citação,argüida pelo Sindicato dos Empregadosno Comércio de Belo Horizonte e RegiãoMetropolitana; e, no mérito, por maioriade votos, em negar provimento aosrecursos do Sindicato dos Empregadosno Comércio de Barbacena e Outros eda União Federal e à peça processualde f. 1501/1529, do Sindicato dosEmpregados no Comércio de BeloHorizonte e Região Metropolitana,vencido parcialmente o Ex.mo JuizMauricio José Godinho Delgado.

Belo Horizonte, 19 de dezembrode 2005.

MANUEL CÂNDIDO RODRIGUESRelator

TRT-00641-2005-012-03-00-0-ROPubl. no “MG” de 12.04.2006

RECORRENTES: A.S.C. E TELEMARNORTE LESTE S.A.

RECORRIDOS: OS MESMOS EFUNDAÇÃO SISTEL DESEGURIDADE SOCIAL

EMENTA: UNIÃOHOMOSSEXUAL - BENEFÍCIOPREVIDENCIÁRIO. A existênciade relação homossexual entreo segurado e o beneficiário daprevidência social não é fatordeterminante para oreconhecimento da condiçãode dependente nos termos daLei n. 6.858/80, segundo a qual

a condição de dependente seestabelece em razão davinculação econômica entreaquele e o segurado. Por outrolado, ainda que inexista,atualmente, a possibilidade docasamento entrehomossexuais, a InstruçãoNormativa INSS/DC n. 25, de 07de junho de 2000, não padecede inconstitucionalidadequando prevê a “concessão debenefícios previdenciários aocompanheiro ou companheirahomossexual”. Os critérios dadependência econômica ou dacoabitação adotados pelagestora de sistema dePrevidência Complementar -cujas normas prevêemexplicitamente: “quaisquerpessoas que vivam,comprovada ejustificadamente, sob adependência econômica docontribuinte” (art. 7º do PBS)ou o companheiro ou acompanheira de contribuinte“desde que comprovada acoabitação em regime marital,por lapso de tempo superior a05 anos consecutivos” (art. 9ºdo PBS) - não encontra,portanto, óbice jurídico. Assim,quer seja pelo critério dadependência econômica quese presume ante o seureconhecimento pelo INSS,quer seja pelo critério daexistência de coabitaçãohomossexual entre orecorrente e o de cujus (ex-empregador), por períodomuito superior a 05 (cinco)anos, o primeiro faz jus aoscréditos de aposentadoria porinvalidez não recebidos em

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vida, por se tratar de direitosdecorrentes da relação deemprego (art. 1º da Lei n.6.858/80).

Vistos os autos, relatado ediscutido o presente recurso ordináriointerposto contra decisão proferida peloMM. Juízo da Vara do Trabalho de BeloHorizonte/MG, em que figuram, comorecorrentes,A.S.C. e TELEMAR NORTELESTE S.A. e, como recorridos, OSMESMOS E FUNDAÇÃO SISTEL DESEGURIDADE SOCIAL.

RELATÓRIO

Ao de f. 305, que adoto,acrescento que a MM. Juíza da 12ª Varado Trabalho de Belo Horizonte/MGjulgou improcedente a pretensão doreclamante de ver reconhecido o seudireito aos créditos da aposentadoria porinvalidez não recebidos em vida por seucompanheiro, ex-empregado dasegunda recorrida, e de receberindenização por danos morais,postulados sob o fundamento de que asreclamadas deixaram de reconhecer asua condição de beneficiário do decujus, tendo em vista tratar-se de uniãohomossexual. Foram julgadosembargos de declaração à f. 316.

Interpuseram recurso ordinário oreclamante (f. 214/218), pretendendo areforma total do julgado, e a segundareclamada (f. 342/343), insurgindo-secontra a sua manutenção no pólopassivo da demanda.

Contra-razões às f. 332/333, 339/340 e 347/348.

Dispensável a intervenção doMinistério Público do Trabalho (AtoRegimental n. 143/2000 do EgrégioTribunal Regional do Trabalho da 3ªRegião).

É o relatório.

VOTO

Juízo de conhecimento

Presentes os pressupostos deadmissibilidade, conheço do recurso.

MÉRITO

Recurso da 2ª reclamada

Em atendimento à ordem lógicadas questões sobre as quais versam osrecursos interpostos pelas partes,cumpre ao juízo apreciar inicialmente asrazões do apelo da 2ª reclamada.

Alega a recorrente que asentença originária merece reforma, notocante à sua manutenção no pólopassivo da demanda, porque não exerceinterferência no pagamento do benefícioque o reclamante julga ter sidoincorretamente negado, deresponsabilidade da SISTEL.

Como nada disso foi alegado nadefesa apresentada às f. 246/255, trata-se de matéria não inserida nos limitesda lide, traçados pela inicial econtestação. Não sendo lícito às partesinovar na lide, rejeito o apeloempresário.

Nada a prover.

Recurso do reclamante doscréditos de aposentadoria porinvalidez não recebidos em vida pelosegurado - Reconhecimento doreclamante como beneficiário

Não se conforma o recorrentecom a decisão da MM. Juíza de origem,julgando improcedente a sua pretensãode recebimento das parcelas relativasa créditos de aposentadoria porinvalidez não recebidos em vida por seucompanheiro falecido. Pretende areforma da sentença, ainda, para que

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lhe seja reconhecido o direito àindenização por danos morais,postulada sob o fundamento de que asreclamadas, movidas pelo preconceitoem relação à união homossexual,efetuaram o pagamento dos valores emquestão à progenitora do de cujus.

Na petição inicial o reclamantealega que manteve, por mais de 20anos, uma relação com o Sr. G.N., ex-empregado da TELEMAR, falecido em05.05.04, configurando-se uma uniãoestável entre homossexuais. Diantedisso, foi considerado companheiro dode cujus pelo INSS, e beneficiário domesmo para efeito de recebimento dapensão por morte e dos demaisbenefícios descritos no documento def. 32.

Conforme se constata nosdocumentos de f. 87/95 e 183/245, aprimeira reclamada é uma entidadeinstituída pela segunda com o objetivode assegurar aos seus empregadosbenefícios de seguridade, previdênciae assistência social. Por meio daSISTEL, os empregados da TELEMARtêm garantida a percepção de um plusnos proventos pagos pelo INSS, ou deoutros benefícios assemelhados aosprevistos no regime geral de previdênciasocial. Verifica-se, assim, que oscréditos vindicados pelo recorrente têmorigem no plano de previdência privadainserido no contrato de trabalho queexistiu entre seu companheiro falecidoe a segunda reclamada, maisprecisamente, créditos deaposentadoria por invalidez nãorecebidos em vida. Afirma o recorrenteque ele e seu companheirocompartilharam da expectativa derecebimento de tais valores atrasados,em vão, e que após o falecimento doSr. G. identificou-se junto à empresademandada como companheiro do decujus, por meio de ligações telefônicas

(atendimento 0800) e e-mails,pretendendo recebê-los, também semêxito (o documento de f. 45 comprova oalegado). Finalmente, apresentou suasreivindicações junto à SISTEL comoqualquer outro companheiro defuncionário falecido, encaminhandotoda a documentação exigida, inclusivea prova de concessão de benefício peloINSS (vide doc. de f. 52, verso). Emresposta, a reclamada indeferiu o seurequerimento, alegando tratar-se desituação não contemplada noregulamento, e, em seqüência,considerou beneficiária a progenitora dode cujus, disponibilizando os créditosem questão em favor da mesma (doc.de f. 80).

Como constou na sentençaatacada, a SISTEL alegou que talprocedimento observou a declaração doempregado falecido indicando a SrªA.V.N. como sua beneficiária, conformedocumento de f. 82, ao passo que oreclamante foi indicado por ele apenascomo “designado”, ou seja, a pessoa aser beneficiada em caso de inexistênciada beneficiária. Analisando o feito, aMM. Juíza de origem entendeu que osargumentos lançados, assim como osdocumentos apontados pelas partesnão dizem respeito às parcelaspostuladas na presente ação, conformese verifica nos fundamentos a seguirtranscritos: “Pois bem. O que se postula,nesta ação, não é o pagamento depensão, abono anual ou pecúlio pormorte, mas os créditos deaposentadoria por invalidez nãorecebidos em vida pelo falecido G.N. Aaposentadoria se deu em 02 de julhode 2003, quase um ano antes dofalecimento (f. 18). Somente em 08 dejaneiro de 2004 (documento de f. 82)G.N. solicitou à SISTEL o pagamento dobenefício do art. 30, I, “a”, do PBS. Aomesmo tempo, e através do mesmo

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formulário (que a tal se presta), solicitoua sua inscrição no PAMA, que é o Planode Assistência Médica ao Aposentado(f. 56/61). A indicação de beneficiários,naquele formulário, cinge-se à inscriçãodo beneficiário no PAMA, nos termos doart. 5º, § 1º do plano (f. 60), porque obenefício denominado ‘aposentadoriapor invalidez’ é devido apenas aocontribuinte (e não a um beneficiário).Naquele formulário de solicitação debenefícios (que não é o mesmo modelode f. 52), o reclamante não estáindicando sua mãe como beneficiária depecúlio.” Se o autor formulou junto àSISTEL a solicitação de benefíciosatravés do formulário de f. 52, nãorequereu, naquele ato, à entidade deprevidência privada o que aqui pleiteia,e sim pensão ou pecúlio. E foram essesbenefícios que lhe foram negados (f.80), ao argumento de se tratar desituação “não contemplada noregulamento” e não os créditos deaposentadoria não recebidos em vida.Não se trata, como se vê, de definirquem é o legítimo beneficiário peranteo PBS, mas a quem cabe receber obenefício de aposentadoria porinvalidez, de natureza complementar eprivada, que o aposentado deveria terrecebido em vida.” (f. 307). A indicaçãode beneficiário no formulário de f. 82 nãoé para fim restrito de inscrição dobeneficiário no PAMA, diversamente doque consta na sentença a quo. Existemquadros próprios para “Identificação dosBenefícios”, “Inscrição no PAMA”,“Inscrição de Beneficiários” e “Inscriçãode Designados”. No campo destinadoaos beneficiários há uma coluna a serassinalada para identificar cadabeneficiário como inscrito ou não noPAMA. Aliás, a mãe do contribuinte nãose inclui entre os beneficiários quepodem ser inscritos como beneficiáriosdo PAMA, como se verifica no artigo 4º

do plano (f. 59). Entretanto, o citadoformulário não é mesmo prova bastanteà comprovação de que o Sr. G. nomeoucomo sua beneficiária a Srª A.V.N. Comefeito, em relação ao beneficiário doempregado contribuinte, dispõe o PBSo seguinte (f. 67):

Art. 14 - O pedido de inscriçãode beneficiário é feito medianteo preenchimento da ficha dedesignação de beneficiários peloempregado.§ 1º - A ficha de designação debeneficiários é preenchida peloempregado no ato do pedido deinscrição como participante e porele devidamente atualizado,sempre que for o caso.§ 2º - Juntamente com o pedidode inscrição de beneficiário oempregado deve apresentar adocumentação que comprove adependência econômica,conforme disposto nesteRegulamento.§ 3º - Ocorrendo o falecimento,detenção ou reclusão docontribuinte, sem que tenha sidofeita a inscrição do beneficiárioque dele dependia, a este é lícitopromovê-la, não lhe assistindo,no entanto, o direito apagamentos vencidos em datasanteriores à da inscrição.

Considerando-se asdisposições acima, não há comoreconhecer a Srª A.V.N. comobeneficiária regularmente constituídado empregado falecido. A simplescolocação do nome no campo intitulado“Inscrição de Beneficiários”, nodocumento de f. 82, não supre osrequisitos específicos do pedido deinscrição de beneficiário estabelecidosno art igo acima transcrito

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(preenchimento e atualização de fichade designação, acompanhada dedocumentação que comprove anecessária dependência econômica,conforme o Regulamento).

Note-se que, nas instruções depreenchimento do documento de f. 82(idênticas ao doc. de f. 52, comoinformado pelo reclamante no verso,sem impugnação por parte dasreclamadas), pede-se sejam informadosos dados dos beneficiários inscritos noPBS. Como as reclamadas nãotrouxeram aos autos nenhum outrodocumento apto a comprovar aexistência da inscrição, nos moldesestabelecidos no PBS, o documento def. 82, por si só, não é apto àcomprovação da inscrição da Srª A.V.N.como beneficiária do Sr. G.N. Emcontrapartida, verificam-se plausíveis asalegações do reclamante, na inicial, nosentido de que a indicação da Srª A.V.no multicitado documento somente adefine como beneficiária para orecebimento de pecúlio, circunstânciaexpressamente prevista no § 1º do artigo55 do PBS, f. 74. Quanto aoentendimento de que o autor nãorequereu à entidade de previdênciaprivada aquilo que aqui pleiteia, porqueo formulário de f. 52 diz respeito apensão ou pecúlio, mostram-sedespiciendas as considerações da MM.Juíza, porquanto expressamenteadmitido pelas reclamadas que entre osbenefícios negados ao mesmo à f. 80,ao argumento de se tratar de situação“não contemplada no regulamento”,encontram-se os créditos decorrentesda suplementação de aposentadoria porinvalidez não recebidos em vida pelo Sr.G. (vide documento de f. 162). Entendeua MM. Juíza de origem, ainda, que acertidão do INSS anexada à f. 32 nãoautoriza o pagamento das parcelaspleiteadas ao recorrente, que não são

meras quantias devidas peloempregador ao seu empregado emdecorrência da relação de emprego,mas sim valores contratados entre ofalecido e a entidade de previdênciaprivada. E, como tal, constituem direitosque se transmitem causa mortis,integrando, pois, o espólio doempregado falecido, com sujeição àsregras do Direito das Sucessões, peloque o reclamante deve discutir noprocesso de inventário a parte dessescréditos que entende lhe ser devida.Divirjo do posicionamento do MM. Juízoa quo.

Não se trata aqui de sucessãocivil, e sim de sucessão previdenciária.A certidão do INSS (f. 32), expedida combase na Lei n. 6.858/80, reconhece oautor como dependente do Sr. G.N., emdecorrência do vínculo mantido por elecom o segurado na condição decompanheiro. A citada lei dispõe sobreo pagamento, aos dependentes ousucessores, de valores não recebidosem vida pelos respectivos titulares,estabelecendo em seu artigo 1º oseguinte:

Os valores devidos pelosempregadores aos empregadose os montantes das contasindividuais do Fundo de Garantiado Tempo de Serviço e do Fundode Participação PIS-PASEP, nãorecebidos em vida pelosrespectivos titulares, serãopagos, em quotas iguais, aosdependentes habilitados perantea Previdência Social ou na formada legislação específica dosservidores civis e militares, e, nasua falta, aos sucessoresprevistos na lei civil, indicadosem alvará judicial,independentemente deinventário ou arrolamento.

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Tratando-se a SISTEL deentidade de previdência privadafechada, acessível exclusivamente aosempregados da TELEMAR, empresadenominada instituidora (LC 109/2001,art. 31), não se pode falar em relaçãoprevidenciária autônoma entre oempregado e tal entidade, comoentendeu a MM. Juíza de origem. Comojá referido alhures, os créditosvindicados pelo recorrente têm origemno plano de previdência privada que seafigura como cláusula do contrato detrabalho que existiu entre seucompanheiro e a TELEMAR, e, como tal,correspondem, sem sombra de dúvida,a quantias devidas pelo empregador aoempregado. Assim, na qualidade dedependente do segurado empregado, oreclamante encontra-se amparado pelanorma inserta no artigo 1º da Lei n.6.858/80. Além disso, o artigo 60 doPlano de Benefício da SISTEL tambémdispõe que as importâncias nãorecebidas em vida pelo contribuinteserão pagas aos beneficiários inscritosou habilitados ao benefício de pensão,na proporção das respectivas cotas (f.75).

Como visto acima, asreclamadas não lograram comprovarsatisfatoriamente a inscrição daprogenitora do empregado seguradocomo sua beneficiária, muito menos aexistência de dependência econômicada Srª A.V.N. em relação ao filhofalecido.

Por outro lado, restoucomprovado nos autos que oreclamante enquadra-se nas diretrizesdo PBS para a definição das pessoasque devem ser consideradasbeneficiárias, verbis:

Art. 7º- Compõem a classe dosbeneficiários quaisquer pessoasque vivam, comprovada e

justif icadamente, sob adependência econômica docontribuinte, nos termos dosartigos 8º, 9º e 10 desteRegulamento.[...]Art. 9º - Considera-se, ainda,justif icada a dependênciaeconômica do companheiro ouda companheira de contribuinte,desde que comprovada acoabitação em regime marital,por lapso de tempo superior a 5(cinco) anos consecutivos.

Como se vê, a SISTEL orientou-se pelos mesmos fundamentos daprevidência de direito público, definindoos sucessores específicos a quem sedestina o sistema protetivo de que cuidanos mesmos moldes da seguridadesocial. É de norte econômico o critériotomado para delimitação da condição dedependência. Ou seja, os dependentes,por estarem vinculadoseconomicamente ao segurado, sãobeneficiários do sistema em decorrênciade seu elo com o segurado, seja nacondição de cônjuge, filho ou pessoaque a lei presume dependente,mediante processo regular decomprovação da necessidade einterligação econômica. A existência daalegada união estável entre oreclamante e o Sr. G. nos termos docitado artigo 9º restou inequivocamentecomprovada nos autos, pela certidão def. 32, expedida pelo ÓrgãoPrevidenciário Oficial, justificando-se adependência econômica (dependentepresumido). Desta forma, impõe-se oreconhecimento das conseqüênciasjurídicas advindas desta união, aautorizar o reconhecimento dorecorrente como beneficiário dosegurado perante o PBS, a exemplo doque já ocorre na legislação

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previdenciária, que reconhece oparceiro ou parceira homossexual parafins de pensão (Instrução Normativa n.25, de 07 de junho de 2000, baixadapelo INSS, que estabeleceprocedimentos a serem adotados paraa concessão de benefíciosprevidenciários ao companheiro oucompanheira do mesmo sexo). O DireitoCivil somente confere reconhecimentojurídico às uniões de sexos opostos. NoDireito Previdenciário, entretanto,privilegia-se a proteção do dependentecom a concessão do benefícioalimentar, em detrimento de quaisquerimpedimentos de ordem puramente civil.Este tem sido o fundamento dasdecisões proferidas para incluir oshomossexuais no rol de pessoashabilitadas ao recebimento de pensãoprevidenciária em situação similar àsuniões estáveis entre homem e mulher.A existência de relação homossexualentre o segurado e o beneficiário daprevidência social não é fatordeterminante para o reconhecimento dacondição de dependente, nos termos daLei n. 6.858/80. A condição dedependente se estabelece em razão davinculação econômica entre aquele e osegurado. Assim é que, não obstante ainexistência, no direito brasileiro, dapossibilidade do casamento entrehomossexuais, a Instrução NormativaINSS/DC n. 25, de 07 de junho de 2000,não padece de inconstitucionalidadequando prevê a “concessão debenefícios previdenciários aocompanheiro ou companheirahomossexual”. O mesmo critério foiadotado pela SISTEL que consideradependentes “quaisquer pessoas quevivam comprovada e justificadamente,sob a dependência econômica docontribuinte” (art. 7º do PBS), dentreesses incluindo-se, ainda, ocompanheiro ou companheira de

contribuinte “desde que comprovada acoabitação em regime marital, por lapsode tempo superior a 05 anosconsecutivos” (art. 9º do PBS). Aocritério da dependência econômicaacresceu-se o da coabitação, inclusivehomossexual, para o reconhecimentoda condição de beneficiário. Assim, querseja pelo fundamento da dependênciaeconômica - que se presume emdecorrência do seu reconhecimentopela previdência pública, quer seja pelaexistência de coabitação por períodosuperior a 05 (cinco) anos - conformecomprovado nos autos, o recorrente fazjus aos créditos de aposentadoria porinvalidez, não recebidos em vida pelocontribuinte de cujus, uma vez que setrata de quantia devida pelo empregadordevida a seu empregado falecido emdecorrência da relação de emprego (art.1º da Lei n. 6.858/80). Diante de tudoacima exposto, reformo a sentença deorigem para declarar o reclamantebeneficiário do Sr. G.N. para fim derecebimento dos valorescorrespondentes à aposentadoria porinvalidez não recebidos em vida pelosegurado, no valor declinado na inicial.

Danos morais

Alega o reclamante que asreclamadas deixaram de reconhecer asua condição de beneficiário do de cujussomente por se tratar de uniãohomossexual, e que, em virtude dessetratamento diferenciado, foi submetidoa constrangimento, humilhação, tristezae dor moral passível de indenização, nostermos do artigo 186 do Código Civil.Muito embora o documento de f. 82 nãojustifique as alegações das reclamadasde que foram seguidos osprocedimentos previstos noRegulamento do PBS, não seevidenciou o tratamento discriminatório

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alegado pelo recorrente a ensejar areparação indenizatória pretendida.Indefiro, portanto, o pedido deindenização por danos morais.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, conheço deambos os recursos e, no mérito, negoprovimento ao da segunda reclamadae dou parcial provimento ao recurso doreclamante para declarar a suacondição de beneficiário do Sr. G.N. parafim de recebimento dos valorescorrespondentes à aposentadoria porinvalidez não recebidos em vida pelosegurado, no valor declinado na inicial.

Custas, pelas reclamadas, noimporte de R$864,33, calculadas sobreR$43.216,56, valor arbitrado àcondenação.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Segunda Turma,unanimemente, em determinar sejamalterados os registros cadastrais, paraque constem apenas as iniciais do nomedo autor e de seu companheiro em todasas publicações referentes ao feito,atendendo a pedido explícito feito nainicial e ratificado da tribuna; semdivergência, em conhecer de ambos osrecursos, em negar provimento ao dasegunda reclamada e, por maioria devotos, vencido, em parte, o Ex.mo JuizJales Valadão Cardoso, em dar parcialprovimento ao apelo do reclamante paradeclarar a sua condição de beneficiáriodo Sr. G.N. para fim de recebimento dosvalores correspondentes àaposentadoria por invalidez nãorecebidos em vida pelo segurado, novalor declinado na inicial. Custas, pelasreclamadas, no importe de R$864,33,

calculadas sobre R$43.216,56, valorarbitrado à condenação.

Belo Horizonte, 28 de março de2006.

ANTÔNIO GOMES DEVASCONCELOS

Relator