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239 Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.47, n.77, p.239-331, jan./jun.2008 ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO TRT-RO-00083-2007-054-03-00-7 Publ. no “MG” de 01.03.2008 RECORRENTES: SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DE EXTRAÇÃO DO FERRO E METAIS BÁSICOS DE CONGONHAS, BELO VALE E OURO PRETO (1) COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL S.A. (2) RECORRIDOS: OS MESMOS EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CLÁUSULA CONVENCIONAL PROIBITIVA DA ASSINALAÇÃO DO REGISTRO MECÂNICO DE PONTO - INCOMPATIBILIDADE EVIDENTE COM A LEGISLAÇÃO TRABALHISTA - AFRONTA ÀS GARANTIAS MÍNIMAS ESTABELECIDAS NA NORMA CONSOLIDADA. O reconhecimento constitucional das convenções coletivas de trabalho tem limites no inciso III do art. 8º da Magna Carta, cabendo ao respectivo sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos e individuais da categoria que representa. Mas, quando o órgão representativo obreiro subscreve as convenções coletivas que mitigam direitos de sua própria categoria, sem contrapartida evidente nos mesmos instrumentos, razoável concluir pelo descumprimento da própria missão que constitucionalmente lhe foi conferida. Incompatível com a legislação trabalhista a cláusula, reiteradamente vigente, proibitiva da assinalação do registro mecânico de ponto pelos empregados ocupantes de cargos hierarquicamente inferiores aos de gerente, em última análise em detrimento dos interesses da própria classe representada, merece decote o excesso. A liberdade sindical para formalizar convenção ou acordo coletivo em nome da respectiva categoria não se trata de um direito absoluto, visto que deverá ser exercido dentro dos limites dos interesses daquela, motivo primordial da impossível invocação do artigo 7º, inciso XXVI, também da Constituição Federal, como forma de legitimação de toda e qualquer cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho que, sob roupagem da flexibilização, seja lesiva aos interesses sociais e individuais indisponíveis dos empregados. Nesse norte se situa a solução da quaestio, porque induvidosamente o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho não pode ser utilizado como mecanismo prejudicial àqueles que objetiva proteger. Vistos, relatados e discutidos estes autos de recursos ordinários, interpostos de decisão proveniente da 1ª Vara do Trabalho de Congonhas, em que são recorrentes SINDICATO DOS

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.47, n.77, p.239-331, jan./jun.2008

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

TRT-RO-00083-2007-054-03-00-7Publ. no “MG” de 01.03.2008

RECORRENTES: SINDICATO DOSTRABALHADORES NASINDÚSTRIAS DE EXTRAÇÃODO FERRO E METAIS BÁSICOSDE CONGONHAS, BELO VALEE OURO PRETO (1)COMPANHIA SIDERÚRGICANACIONAL S.A. (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: AÇÃO CIVILPÚBLICA - CLÁUSULACONVENCIONAL PROIBITIVADA ASSINALAÇÃO DOREGISTRO MECÂNICO DEPONTO - INCOMPATIBILIDADEEVIDENTE COM ALEGISLAÇÃO TRABALHISTA -AFRONTA ÀS GARANTIASMÍNIMAS ESTABELECIDASNA NORMA CONSOLIDADA.O reconhecimentoconstitucional dasconvenções coletivas detrabalho tem limites no incisoIII do art. 8º da Magna Carta,cabendo ao respectivosindicato a defesa dos direitose interesses coletivos eindividuais da categoria querepresenta. Mas, quando oórgão representativo obreirosubscreve as convençõescoletivas que mitigam direitosde sua própria categoria,sem contrapartida evidentenos mesmos instrumentos,r a z o á v e l c o n c l u i r p e l od e s c u m p r i m e n t o d ap r ó p r i a missão queconstitucionalmente lhe foiconferida. Incompatível com a

legislação trabalhista acláusula, reiteradamentevigente, proibitiva daassinalação do registromecânico de ponto pelosempregados ocupantes decargos hierarquicamenteinferiores aos de gerente, emúltima análise em detrimentodos interesses da própriaclasse representada, merecedecote o excesso. A liberdadesindical para formalizarconvenção ou acordo coletivoem nome da respectivacategoria não se trata de umdireito absoluto, visto quedeverá ser exercido dentro doslimites dos interesses daquela,motivo primordial daimpossível invocação doartigo 7º, inciso XXVI, tambémda Constituição Federal, comoforma de legitimação de todae qualquer cláusula de acordoou convenção coletiva detrabalho que, sob roupagem daflexibilização, seja lesiva aosinteresses sociais eindividuais indisponíveis dosempregados. Nesse norte sesitua a solução da quaestio,porque induvidosamente oreconhecimento dasconvenções e acordoscoletivos de trabalho não podeser utilizado como mecanismoprejudicial àqueles queobjetiva proteger.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recursos ordinários,interpostos de decisão proveniente da1ª Vara do Trabalho de Congonhas, emque são recorrentes SINDICATO DOS

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TRABALHADORES NAS INDÚSTRIASDE EXTRAÇÃO DO FERRO E METAISBÁSICOS DE CONGONHAS, BELOVALE E OURO PRETO (1) eCOMPANHIA SIDERÚRGICANACIONAL S.A. (2) e, como recorridos,OS MESMOS.

I - RELATÓRIO

O Juízo da 1ª Vara do Trabalhode Congonhas, sob a presidência doEx.mo Juiz José Quintella de Carvalho,através da r. decisão de f. 263/276, cujorelatório adoto e a este incorporo, julgouparcialmente procedente a presenteação civil pública, determinando àreclamada a obrigatoriedade, elastecidaa todos os empregados ocupantes decargos hierarquicamente inferiores aosde gerente, independentemente do graude instrução escolar, à anotação doshorários de entrada e saída em registromecânico de ponto. Arbitrou honoráriosadvocatícios em favor do autor no valorde R$15.000,00 e fixou multa no importede R$100.000,00 (cem mil reais),revertida em favor do FAT, a cada vezque o sindicato requerente denuncie,comprovando nos autos, odescumprimento da obrigação de fazerimposta.

O sindicato, inconformado,interpõe recurso ordinário às f. 277/289,postulando o afastamento da extinção,sem resolução meritória, do pedidoinscrito no item “d.1”, objetivando adeclaração de ineficácia das normascoletivas firmadas entre as partes e,quanto à fixação de multa, pretende sejaao sindicato revertida, na hipótese dedescumprimento da obrigação de fazerimposta.

Recorre também a ré, às f. 299/310, renovando a preliminar deincompetência da Justiça do Trabalhopara julgamento do pedido de anulação

de cláusula de acordo coletivo eargüindo nulidade, por negativa daprestação jurisdicional. No méritodefende a improcedência da ação sobo prisma dos incisos VI e XXVI do artigo7º da Carta Magna, artigos 611 e 613da CLT, insurgindo-se, ao final, contra odeferimento de honorários advocatícios.

Recolhimento de custas edepósito recursal comprovados às f.311/312.

Contra-razões, recíprocas, pelareclamada às f. 317/326 e pelo autor àsf. 331/348.

À f. 354, atentando ao pedidoformulado pelo sindicato à f. 353, oentão i. Desembargador Relatordesignado determinou a correção daautuação e conversão do rito,adequando-o de sumaríssimo paraordinário.

É o relatório.

II - VOTO

1 - Admissibilidade

Na sentença, da lavra do Ex.mo

Juiz José Quintella de Carvalho, apretensão declinada em juízo foi julgadaprocedente (f. 263/276), sendopublicada na data aprazada,03.08.2007, sexta-feira, (carimbo dejuntada de f. 262-verso e f. 263), da qualas partes estavam cientes nos termosda Súmula n. 197 do TST (termo deaudiência de 24.07.2007, f. 262).

O recurso ordinário interpostopelo sindicato autor na data de13.08.2007 (f. 277), assinado,considerando o disposto na Súmula n.01 do TST, é próprio, regular etempestivo, mesmo porque antecedeuo julgamento dos embargos dedeclaração apresentados pela empresaCSN, o que se deu no dia 31.08.2007(f. 297).

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O recurso ordinário interpostopela CSN na data de 13.09.2007 (f. 299)é próprio, regular, tempestivo eencontra-se assinado, sabendo-se quea decisão dos aclaratórios foi publicadano diário oficial do dia 05.09.2007(certidão de f. 297-verso).

Os recorrentes estãoregularmente representados em juízo(procuração de f. 14 pelo autor;instrumento de mandato de f. 212 pelaempresa).

Em suma:Satisfeitos os pressupostos de

admissibilidade recursal, conheço deambos os recursos.

Determino à DSCPDF de 2ªInstância e à Secretaria da 4ª Turma queprocedam à reautuação dos autos, naforma do r. despacho adunado à f. 354,incluindo igualmente como recorrente areclamada Companhia SiderúrgicaNacional S.A. (veja-se o recurso de f.299 e seguintes). Friso ainda, porqueimportante, que o sindicato jáapresentou as suas razões decontrariedade ao apelo da empresa (f.331).

Passo à apreciação de formaconjunta, em face da similaridade dostemas tratados nos recursos.

2 - Preliminarmente

2.1 - Preliminar deincompetência funcional da Vara doTrabalho recorrida

Renova a empresa a prefacialem epígrafe no seu apelo (f. 300),enquanto, a seu turno, o sindicatopretende o afastamento da extinção,sem resolução meritória, do pedidoinscrito no item “d.1” (f. 278/279),objetivando a declaração de ineficáciadas normas coletivas firmadas entre aspartes.

Sem-razão, ambos os litigantes.Como exposto em primeiro grau

(f. 264/266, II.1), a preliminar em exametem acolhimento exclusivamente no quese refere ao pedido de declaração deineficácia de cláusula de acordocoletivo, em face da interpretação literaldo inciso XXXII do art. 25 do RITRT, umavez que se trata de matéria emcompetência originária da segundainstância, como bem assinalado nojulgado, impondo-se o respeito àcompetência funcional ou hierárquica noparticular. Equivale dizer, o dispositivoregimental apontado trata da açãoanulatória e não se confunde com aação civil pública, na medida em que apretensão do autor extinta semresolução meritória consistia, emverdade, numa tutela de naturezaconstitutiva negativa, como seria própriode ação anulatória de competênciaoriginária do Tribunal Regional,conforme salientou com acuidade o d.Juízo a quo, mas não dessa formamanejada.

Tal entendimento, todavia, nãoexclui da primeira instância acompetência para apreciar e julgar opedido de natureza condenatóriaformulado na atrial (alínea “d.2”). Issoporque,

[...] este posicionamento não éincompatível com possibilidade de seconsiderar nula determinadacláusula de acordo ou convençãocoletiva, retirando-se sua eficácia nocaso concreto, com efeito interpartes, sem afetar, em princípio, suaexistência no mundo jurídico e suaaptidão para produzir efeitos em facedos seus destinatários em todos osdemais casos.

Aliás, vale acrescer que a açãocivil pública, disciplinada

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originariamente pela Lei n. 7.347/85como espécie do gênero açõescoletivas, tem por finalidade a tutela dosdireitos e interesses metaindividuaisdifusos, coletivos e individuaishomogêneos em face de ameaças oulesões, conforme se depreende doartigo 1º daquele Diploma Legal,definindo o parágrafo único do artigo 81da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesado Consumidor) os direitos e interessesmetaindividuais.

Pode-se dizer, ao enfoque danorma em comento, que os interessese direitos difusos diferem dos interessese direitos coletivos, porquanto ostitulares dos direitos difusos sãoindetermináveis de forma absoluta, ouseja, não atingiram um grau deagregação e organização necessário àsua afetação institucional, estandodispersos pela sociedade civil como umtodo; enquanto os titulares dos direitoscoletivos são indeterminados, masdetermináveis, podendo tratar-se de umgrupo, de uma categoria, ou desegmento caracterizado de indivíduos.

Ademais, nos direitos difusos aforma de ligação de seus titulares coma parte contrária decorre de umasimples questão fática, enquanto nosdireitos coletivos a forma de ligaçãoentre os titulares ou entre estes e a partecontrária decorre de uma relaçãojurídica base.

Entretanto, aquela primitivapretensão do sindicato, expressa noitem “d.1” de f. 12, alusiva à declaraçãode ineficácia das normas coletivas queprivaram os supervisores e ocupantesde cargos de nível universitário aoregistro mecânico de ponto, tem muitomais identidade com o manejo da açãoanulatória que, não é demais registrar,de fato, tem natureza coletiva quantoaos seus efeitos, embora, no presentefeito, desiderato tal não possa se inserir,

porque o postulado pelo sindicato, emlinhas transversas e como já referido, éexpresso de reconhecimento daineficácia de uma norma coletiva, a serrequerida mediante procedimentopróprio diverso do que lançou mão.Nessa esteira, inclusive, vem há muitocompreendendo o Col. TST, a exemplodos julgamentos proferidos nosprocessos TST-ROAA-789.778/2001.5,DJ 19.12.2002, Relator Ministro WagnerPimenta, TST-ROAA 62/2005-000-24-00, DJ 18.08.2006, Relator MinistroAntônio José Barros Levenhagen ouTST-ROAA-3/2004-000-17-00, DJ21.09.2007, Relator Ministro Gelson deAzevedo.

E nem se diga, a propósito, deaplicação do princípio da fungibilidade,restrito à esfera recursal e, sendo assim,somente seria lícito o pleito se deduzidoem sede de ação anulatória, o que nãoocorreu. Evidente, portanto, ainadequação do procedimento eleito, oque impõe a manutenção da sentença.

Mantenho.

2.2 - Preliminar de nulidade dadecisão recorrida por negativa detutela jurisdicional

Ao revés do alinhavado no apelo(f. 305), foram explicitadas, sim, nasentença, e de forma motivada (emobservância ao exigido pelo inciso IX doartigo 93 da CF, artigo 832 da CLT eartigo 130 do CPC), as razões de decidiresposadas pelo magistrado que proferiuaquela decisão, aliás, como jáesclarecido precedentemente em sedede embargos de declaração (f. 297), quenão possuía no seu âmago os vícios daomissão e da contradição, previstos noart. 897-A da CLT.

Rejeito.

3 - Mérito

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3.1 - Registro de ponto -Marcação eletrônica obstada

Todo cerne da controvérsia einconformismo empresário reside naprocedência parcial da presente ação,determinando o Juízo originário àreclamada que obrigue todos osempregados, ainda que exercentes decargos hierarquicamente inferiores aosde gerente e independentemente dograu de instrução, à anotação doshorários de entrada e saída em registromecânico de ponto, afastando, assim,a validade da cláusula convencional quereiteradamente vinha estabelecendo,vide por exemplo f. 80, grifos acrescidos:

CLÁUSULA SÉTIMA - REGISTRODE PONTO. Todos os empregadosde nível inferior a Supervisor e os nãoocupantes de cargos de níveluniversitário permanecem obrigadosao registro mecânico de ponto,ressalvado à CSN o direito de liberardo registro mecânico de ponto osocupantes de cargos cuja liberaçãoseja do interesse do serviço, nostermos de suas normas internas.§ 1º - Os empregados liberados doregistro mecânico de ponto terão suafreqüência controlada através decartão de assinatura, onde constaráo seu horário de trabalho, incluindohora de entrada, intervalo de refeiçãoe hora de saída.§ 2º - Os ocupantes de cargosgerenciais, correlatos e/ouequivalentes estarão isentos dequalquer registro de ponto.

Ora, evidentemente “oprocedimento que exclui,deliberadamente, o direito de o próprioempregado registrar sua entrada e saídado trabalho dá azo à ocorrência defraudes e não merece a tutela

jurisdicional”, com muito maior razãoquando, a exemplo do que já observadona origem, colide frontalmente com adisciplina contida no § 2º do artigo 74da CLT.

A propósito, o reconhecimentoconstitucional das convenções coletivasde trabalho tem limites no inciso III doart. 8º da Magna Carta, cabendo aorespectivo sindicato a defesa dosdireitos e interesses coletivos eindividuais da categoria. Mas, quandoo representante da categoria obreirasubscreve as convenções coletivas quemitigam direitos de sua própriacategoria, sem contrapartida evidentenos mesmos instrumentos, razoávelconcluir pelo descumprimento daprópria missão que constitucionalmentelhe foi conferida. Incompatível com alegislação trabalhista a cláusula,reiteradamente vigente, proibitiva daassinalação do registro mecânico deponto pelos empregados ocupantes decargos hierarquicamente inferiores aosde gerente, em última análise emdetrimento dos interesses da própriaclasse representada, merece decote oexcesso. É que a liberdade sindical paraformalizar convenção ou acordo coletivoem nome da respectiva categoria nãose trata de um direito absoluto, visto quedeverá ser exercido dentro dos limitesdos interesses daquela e, de outra face,também não pode ser invocado o artigo7º, inciso XXVI, também da ConstituiçãoFederal, como forma de legitimar todae qualquer cláusula de acordo ouconvenção coletiva de trabalho que,com a roupagem da flexibilização, sejalesiva aos interesses sociais eindividuais indisponíveis dosempregados, encerrando a lei oconteúdo mínimo do contrato detrabalho (inteligência do art. 444 daCLT).

Nesse norte se situa a solução

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da quaestio, porque induvidosamente,“o reconhecimento das convenções eacordos coletivos de trabalho não éabsoluto; não pode, portanto, serutilizado como mecanismo prejudicialàqueles que objetiva proteger”, comoem brilhante julgamento se pronunciouo Col. TST em caso de oportunatranscrição, de impressionantesimilitude com o feito ora sub judice,atuando como Relator o Ministro CarlosAlberto Reis de Paula:

HORAS EXTRAS. INVALIDADE DOSISTEMA DE REGISTRO DAJORNADA. NORMA COLETIVA EMQUE HOUVE RESSALVA DORESPEITO À HIERARQUIA DASFONTES FORMAIS DE DIREITO.Violação dos arts. 7º, inciso XXVI, e5º, II, da Constituição nãoconfigurada. O direito aoreconhecimento das convenções eacordos coletivos de trabalho não éabsoluto; não pode, portanto, seruti l izado como mecanismoprejudicial àqueles que objetivaproteger. Cláusula de norma coletivacom previsão de sua submissão àhierarquia das fontes de direito.Hipótese em que o TRT verificou aocorrência, na prática, da supressãodo controle de jornada, em vez daalegada simplificação da forma decontrole da jornada, e a supressãodo direito de o próprio empregadoregistrar sua entrada e saída dotrabalho, este último aspecto comoensejador de fraude. Jurisprudênciagenérica. Aplicação da Súmula 296/TST. Recurso de Revista nãoconhecido.(RR-990/2002-731-04-00, DJ30.06.2006)

Em sede meritória, a propósito,não menos pertinente é relembrar os

fundamentos então adotados pelo i.Ministro:

[...] a cláusula 12ª das normascoletivas, embora homologadas peloTRT, afronta o art. 74, § 2º, da CLT,que determina a obrigatoriedade deanotação da hora de entrada e saída(f. 406); deve ser mantida ainvalidade do sistema de registro deponto por exceção, que afrontacomando expresso de lei, já queprocedimentos destinados asimplificar o controle de jornada nãose confundem com procedimentosque eliminem este controle, como éo caso; motivo desse entendimento:o sistema em causa determina quea jornada prescinde de registro. Apartir de sua adoção, foramregistradas, apenas, as horas extrase as faltas, com presunção, pura esimples, de que nos dias lá nãoregistrados o reclamante iniciou efindou sua jornada sem cumprir umminuto a mais, nem mesmo terreduzido o gozo de seu intervalo ou,ainda, ter trabalhado em um sábado,domingo ou feriado (f. 406). Oprocedimento que exclui,deliberadamente, o direito de opróprio empregado registrar suaentrada e saída do trabalho dá azo àocorrência de fraudes e não merecea tutela jurisdicional.

Assim se define a matéria e seinválida a cláusula inserta emconvenção coletiva de trabalhocontemplando afronta evidente ao artigo74, parágrafo segundo consolidado,correta a determinação imposta àempresa recorrente.

3.2 - Multa em caso dedescumprimento da obrigação defazer

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No tópico vertente razão algumapossui o sindicato-autor na irresignaçãomanifestada.

Induvidosamente, cabe ao PoderJudiciário antecipar-se a eventuaisdescumprimentos das obrigações defazer, constrangendo o empregador,desde já, a manter as medidas queassegurem a plena eficácia do comandojudicial, no caso, o de obrigar a todosos empregados, ainda que exercentesde cargos hierarquicamente inferioresaos de gerente e independentemente dograu de instrução, à anotação doshorários de entrada e saída em registromecânico de ponto.

E é no foco do contido no artigo84 do CDC, aplicável à tutela dos direitosdifusos e coletivos, que o juiz, procedenteo pedido, determinará providências queassegurem o resultado prático equivalenteao do adimplemento. Segundo o § 3º c/c§ 4º do referido dispositivo, sendorelevante o fundamento da demanda ehavendo justificado receio de ineficáciado provimento, é lícito ao juiz impor multadiária ao réu, independentemente depedido, fixando prazo razoável para ocumprimento do preceito. Mas, essa,como escorreitamente decidido, reverte-se ao FAT - Fundo de Amparo aoTrabalhador - a fim de tornar a tutelaefetiva, carecendo de absolutofundamento legal o requeridodirecionamento ao próprio sindicato.

3.3 - Honorários advocatícios

Derradeiramente, o último tópicodo apelo empresário merece guarida eo único provimento, parcial, a serconferido, diz respeito aos honoráriosadvocatícios.

Regulada recentemente amatéria no âmbito deste Regional,aplico à hipótese a Súmula n. 26doméstica, in verbis:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL.Não são cabíveis honoráriosadvocatícios em favor do Sindicatovencedor da ação, nos termos da Lein. 5.584/70, quando figurar comosubstituto processual.

III - CONCLUSÃO

Determino à DSCPDF de 2ªInstância e à Secretaria da 4ª Turma queprocedam à reautuação dos autos,incluindo igualmente como recorrente areclamada Companhia SiderúrgicaNacional S.A.

Conheço dos recursos ordináriosinterpostos pelo sindicato-autor e pelareclamada. Rejeito as preliminares deincompetência funcional da Vara doTrabalho e de nulidade da decisãorecorrida por cerceio de defesa e, nomérito, nego provimento ao apelo dosindicato, conferindo parcial provimentoao recurso da CSN para excluir dacondenação o pagamento de honoráriosadvocatícios.

Inalterado, por compatível, ovalor da condenação.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, primeiramente, determinou àDSCPDF de 2ª Instância e à Secretariada 4ª Turma que procedam àreautuação dos autos, incluindoigualmente, como recorrente, areclamada Companhia SiderúrgicaNacional S.A.; unanimemente,conheceu dos recursos do sindicatoautor e da reclamada; sem divergência,rejeitou as preliminares deincompetência funcional da Vara doTrabalho e de nulidade da decisãorecorrida, por cerceio de defesa; no

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mérito, unanimemente, negouprovimento ao recurso do sindicato; pormaioria de votos, conferiu provimentoparcial ao recurso da CSN para excluirda condenação o pagamento dehonorários advocatícios, vencido,parcialmente, o Ex.mo Juiz Revisor,quanto à anotação de entrada e saída.Inalterado, por compatível, o valor dacondenação.

Belo Horizonte, 20 de fevereirode 2008.

MARIA CRISTINA DINIZ CAIXETAJuíza Convocada Relatora

TRT-00881-2005-073-03-00-5-ROPubl. no “MG” de 19.04.2008

RECORRENTES: 1) SINDICATO DASEMPRESAS DE TRANSPORTEDE PASSAGEIROS DE POUSOALEGRE - SETPASS2) VIAÇÃO SANTA CRUZ S/A

RECORRIDOS: 1) OS MESMOS2) SINDICATO DOSTRABALHADORES EMTRANSPORTES RODOVIÁRIOSDE POÇOS DE CALDAS3) SINDICATO DAS EMPRESASDE TRANSPORTE DEPASSAGEIROS NO ESTADODE MINAS GERAIS - SINDPAS

EMENTA: AÇÃO DECUMPRIMENTO - TERCEIROPREJUDICADO -LEGITIMIDADE. O artigo 499do CPC confere ao terceiroprejudicado o direito derecorrer. Conforme lecionaSérgio Sahione Fadel, “oterceiro prejudicado poderárecorrer, desde que demonstre

o nexo de interdependênciaentre o seu interesse deintervir e a relação jurídicasubmetida à apreciaçãojudicial, ou seja, sempre queconsiga demonstrar que asentença prolatada inter aliosexerce uma influência jurídicaqualquer entre seus interessese o de um dos litigantes, ou deambos” (in Código deprocesso civil comentado, Riode Janeiro: Editora Forense, p.143). Contudo, seu interessefica limitado ao resultado deprocedência ou improcedênciada ação originalmenteajuizada, não podendoacrescentar novas questõesou ampliar as pretensõesformuladas pelas partes.Verificando-se, no caso dosautos, que o recurso doterceiro prejudicado versasobre questão já apreciada poresta segunda instância,relativa à legitimidade dosindicato que representa acategoria patronal, que firmoua convenção coletiva objeto daação de cumprimentodebatida, não pode seu apeloser conhecido por falta dedemonstração de interessenesta oportunidade, em que sediscute apenas o mérito daação de cumprimento, e porvedação legal (artigo 836 daCLT).

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos, decide-se:

RELATÓRIO

O MM. Juiz Delane MarcolinoFerreira, titular da 1ª Vara do Trabalho

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de Poços de Caldas, por meio da r.sentença de f. 935/943, cujo relatórioadoto e a este incorporo, declarou quea presente ação de cumprimento seaplica a todos os empregados da rélotados nas cidades compreendidaspela base territorial do autor e queprestaram serviços entre 01.03.2004 e28.02.2005 e julgou procedentes emparte os pedidos intentados paracondenar a reclamada a pagar asparcelas discriminadas à f. 942.

Os embargos de declaraçãointerpostos pela reclamada, ViaçãoSanta Cruz S/A, às f. 944/945 foramjulgados procedentes às f. 951/952,para prestar esclarecimentos. Os novosembargos de declaração interpostospela reclamada às f. 953/954 foramjulgados procedentes às f. 955/956,para sanar erro material apontado.

O Sindicato das Empresas deTransporte de Passageiros de PousoAlegre - SETPASS, não se conformandocom o decidido em primeiro grau,recorreu ordinariamente às f. 957/970(via FAX) e via original às f. 971/984,argüindo a nulidade da decisão por faltade citação e por falta de intimação doMinistério Público do Trabalho,pugnando, ainda, pela improcedênciada ação de cumprimento.

A reclamada Viação Santa CruzS/A, a seu turno, insurgiu-se contra a r.sentença primeva às f. 1011/1026,relativamente ao reconhecimento dalegitimidade do SINDPAS pararepresentar a categoria econômica dasempresas de transporte de passageirosno Estado de Minas Gerais.

Contra-razões oferecidas às f.560/571 pela autora, pelodesprovimento dos apelos interpostos.

Custas parciais recolhidas à f.552 e integrais à f. 538.

Tudo visto e examinado.É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Preliminar de não conhecimentoargüida de ofício

Considero não ser o caso de seconhecer dos presentes recursos, porimpróprios.

Com efeito, o SINDICATO DOSTRABALHADORES EM TRANSPORTERODOVIÁRIO DE POÇOS DECALDAS-MG - STTRPC ajuizou a AÇÃODE CUMPRIMENTO em desfavor deVIAÇÃO SANTA CRUZ S/A (inicial de f.294/297 - processo n. 00366-2005-073-03-00-5), pleiteando o pagamento deparcelas previstas na CCT que celebroucom o SINDICATO DAS EMPRESAS DETRANSPORTE DE PASSAGEIROS NOESTADO DE MINAS GERAIS -SINDPAS.

A VIAÇÃO SANTA CRUZ S/Ainterpôs AÇÃO DECLARATÓRIAINCIDENTAL em face do SINDICATODOS TRABALHADORES EMTRANSPORTE RODOVIÁRIO DEPOÇOS DE CALDAS-MG - STTRPC,requerendo fosse declarada ainaplicabilidade da norma coletiva objetoda ação de cumprimento, por não tersido celebrada pela entidade sindicalque efetivamente a representa.

A decisão de f. 109, ratificadapela de f. 115, reconheceu a existênciade litisconsórcio necessário passivo edeterminou a citação do SINDICATODAS EMPRESAS DE TRANSPORTEDE PASSAGEIROS NO ESTADO DEMINAS GERAIS - SINDPAS, para figurarno pólo passivo da ação declaratória.

Pela decisão de f. 291 foideterminada a reunião da ação decumprimento aos autos da açãodeclaratória Incidental.

Ao decidir a ação de

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cumprimento e a ação declaratóriaincidental, o juízo de primeiro graudeclarou inaplicáveis à VIAÇÃO SANTACRUZ S/A as cláusulas dos acordoscoletivos celebrados entre oSINDICATO DOS TRABALHADORESEM TRANSPORTE RODOVIÁRIO DEPOÇOS DE CALDAS - STTRPC e oSINDICATO DAS EMPRESAS DETRANSPORTE DE PASSAGEIROS NOESTADO DE MINAS GERAIS -SINDPAS e, por conseqüência, acolheua preliminar de carência de ação porfalta de possibilidade jurídica do pedidoda ação de cumprimento, extinguindo aação sem resolução do mérito (f. 520/528).

O r. acórdão de f. 581/586,proferido por esta Egrégia Quinta Turma,reconheceu a legitimidade doSINDICATO DAS EMPRESAS DETRANSPORTE DE PASSAGEIROS NOESTADO DE MINAS GERAIS -SINDPAS para representar a categoriapatronal ligada à suplicante, VIAÇÃOSANTA CRUZ S/A e determinou oretorno dos autos à origem para quefosse analisado o mérito da ação decumprimento proposta pelo SINDICATODOS TRABALHADORES EMTRANSPORTE RODOVIÁRIO DEPOÇOS DE CALDAS - STTRPC.

A VIAÇÃO SANTA CRUZ S/Ainterpôs recurso de revista às f. 598/616,sendo que o mesmo não foi admitido,por ter a d. Desembargadora Vice-Presidente Judicial deste EgrégioRegional à época considerado que, porse tratar de decisão interlocutória, o r.acórdão de f. 581/586 não ensejariarecurso de imediato, nos moldesestabelecidos na Súmula n. 214 do TST,esclarecendo que a recorrente deveriademonstrar seu inconformismo quandoda interposição de recurso contra adecisão definitiva (decisão de f. 617/618).

Pois bem. O juízo de primeirograu, acatando a decisão antesmencionada, proferiu a nova decisão def. 935/943, julgando procedentes emparte os pedidos intentados paracondenar a reclamada ao pagamentodas parcelas discriminadas à f. 942.

Contra tal decisão, a ré da açãode cumprimento, Viação Santa CruzS/A, interpõe o recurso ordinário de f.1011/1026, insurgindo-se contra o v.acórdão de f. 581/586, requerendo amanutenção da sentença primitiva, quereconheceu a representatividade doSETPASS e a sua não participação nanorma coletiva cujo cumprimento sepretende. Não menciona nada,absolutamente nada, quanto ao méritoda ação de cumprimento.

No entanto, a questão relativa àlegitimidade do sindicato que representaa categoria ligada à recorrente (ViaçãoSanta Cruz S/A) foi apreciada por estasegunda instância, no referido acórdãode f. 581/586, que determinou, inclusive,o retorno dos autos à origem paraanálise do mérito da ação decumprimento, não podendo estaEgrégia Turma emitir novopronunciamento a respeito, sob pena deofensa ao disposto no artigo 836 da CLT.

Como se sabe, nestaoportunidade, a recorrente somentepoderia se insurgir contra o julgamentodo mérito da ação de cumprimento,devendo a questão da legitimidade,decidida no r. acórdão de f. 581/586, sersubmetida à apreciação da instânciasuperior, no momento oportuno, comcerteza.

Por outro lado, o SINDICATODAS EMPRESAS DE TRANSPORTE DEPASSAGEIROS DE POUSO ALEGRE -SETPASS, na condição de terceiroprejudicado, recorreu ordinariamente àsf. 957/970 (via FAX) e via original às f.971/984, argüindo a nulidade da decisão

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por falta de citação e por falta deintimação do Ministério Público doTrabalho, sustentando que representa acategoria econômica das empresas detransporte de passageiros integrantes do2º Grupo, sendo que sua base territorialcompreende os Municípios de PousoAlegre, Alfenas, Andradas, Cambuí,Guaxupé, Itajubá, Poços de Caldas, SãoLourenço, Três Corações e Varginha,sendo que o SINDPAS não pode atuarnessas regiões.

O § 1º do artigo 499 do CPCassim dispõe:

Art. 499 - O recurso pode serinterposto pela parte vencida, peloterceiro prejudicado e peloMinistério Público.§ 1º - Cumpre ao terceirodemonstrar o nexo deinterdependência entre o seuinteresse de intervir e a relaçãojurídica submetida à apreciaçãojudicial.§ 2º - omissis.

Conforme leciona SérgioSahione Fadel,

[...] o terceiro prejudicado poderárecorrer, desde que demonstre onexo de interdependência entre oseu interesse de intervir e a relaçãojurídica submetida à apreciaçãojudicial, ou seja, sempre que consigademonstrar que a sentença prolatadainter alios exerce uma influênciajurídica qualquer entre seusinteresses e o de um dos litigantes,ou de ambos.( in Código de processo civilcomentado, Rio de Janeiro: EditoraForense, p. 143)

Nesse mesmo sentido são osensinamentos do Desembargador

Humberto Theodoro Júnior, em sua obraCurso de direito processual civil, 41. ed.,2004, v. I, p. 137:

O recurso de terceiro prejudicado éuma forma de intervenção de terceiroem grau de recurso ou, maispropriamente, uma assistência nafase recursal, porque, no mérito, orecorrente jamais pleiteará decisãoa seu favor, não podendo ir além dopleito em benefício de uma daspartes do processo. É que oassistente nunca intervém paramodificar o objeto do processo esempre para ajudar “uma das partesa ganhar a causa”, pois é “a vitóriado assistido que beneficiaindiretamente o assistente”.

Nesse contexto, não pode oterceiro prejudicado argüir a nulidade dadecisão por não ter sido citado pararesponder a ação. Ora, se ele não figurana relação processual como parte,obviamente não foi citado.

Além disso, apesar de orecorrente ter requerido aimprocedência dos pedidos formuladosna ação de cumprimento, não atacou omérito da ação de cumprimento, tendoacrescentado a questão de suarepresentatividade, não tendo selimitado às questões postas na lideprimitiva.

Da mesma forma, verificando-seque o terceiro prejudicado argúi matériajá apreciada por esta segunda instância,relativa à legitimidade do sindicato querepresenta a categoria patronal, quefirmou a convenção coletiva objeto daação de cumprimento debatida, nãopode o seu apelo ser conhecido por faltade demonstração de interesse nestaoportunidade, em que se discute apenaso mérito da ação de cumprimento, e porvedação legal (artigo 836 da CLT).

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Dessa forma, de ofício, deixo deconhecer dos presentes recursos, porimpróprios.

CONCLUSÃO

Não conheço dos recursos, porimpróprios.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua Egrégia 5ªTurma, em sessão de julgamento hojerealizada, julgou o presente processo e,à unanimidade, não conheceu dosrecursos, por impróprios.

Belo Horizonte, 08 de abril de2008.

ADRIANA GOULART DE SENAJuíza (convocada) Relatora

TRT-00109-2006-135-03-00-6-ROPubl. no “MG” de 20.06.2008

RECORRENTES: FLÁVIO CRISTIANODE ABREU VAZ E OUTRA

RECORRIDOS: COMPANHIA VALE DORIO DOCE - CVRD

EMENTA: ACIDENTE DOTRABALHO - DEVER GERALDE CAUTELA - CULPA DOEMPREGADOR. Constatadonos autos, ante a laborosaprova técnica e osdepoimentos de empregadosda empresa, que o reclamante,no dia do acidente, pediu paraser substituído porque não sesentia bem; que o sistema de“liga e desliga” do ATC(Controle Automático deTrens) poderia incorrer,

eventualmente, em falha, tantoque a empresa o modificouapós o acidente, e que ooperador do Centro deControle não teve condição deidentificar o problema,antecipadamente, de modo aevitar o acidente, reconhece-sea culpa do empregador noevento, por violação ao devergeral de cautela.

Vistos etc.

RELATÓRIO

Ao relatório de f. 796/797acrescento que a 3ª Vara do Trabalhode Governador Valadares em sentençade lavra da Drª Maria Raimunda Moraesjulgou improcedentes os pedidosformulados por Flávio Cristiano deAbreu Vaz e Geiza de Souza Vaz Pinto,na reclamatória em face da Cia. Vale doRio Doce, pelos fundamentos aduzidosàs f. 799/803.

Recorrem os autoressustentando a procedência do feito,aludindo-se a ação referente ao mesmoacidente, proposta no juízo cível,quando então foi reconhecida a culpada empresa no acidente.

Contra-razões pela manutençãodo julgado, com renovação do que foiargüido a título de prescrição.

Dispensado o parecer do d.Ministério Público do Trabalho, na formaregimental.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Conheço do recurso,regularmente interposto.

Em sede de preliminar, examino

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a argüição da recorrida quando renovaa alegação no sentido de que estáprescrito o direito dos autores deacionarem o Judiciário para reaverdireitos decorrentes de um acidenteocorrido em 1994.

Na mesma linha do decidido em1º grau, como a ação foi proposta nojuízo cível, em fevereiro de 2005, eutilizando a regra de transição adotadapor esta Eg. Turma, tem-se que o prazoa ser respeitado é do Código Civil de1916, vigente à época do acidente.

Rejeito, portanto, a argüição.

Mérito

Flávio Cristiano de Abreu Vaz eGeiza de Souza Vaz Pinto mostram-seinconformados com a r. decisão de 1ºgrau no que julgou improcedente a açãovia da qual pretendiam receberindenização por danos morais emateriais em razão da morte de Genecide Souza Vaz (pai do primeiro e irmãoda segunda), ex-empregado dareclamada, vítima de acidente dotrabalho, quando dois trens, um delesconduzido por Geneci, chocaram-sebrutalmente, acarretando a morte dosdois maquinistas.

O acidente ocorreu em29.07.1994 e várias ações foramajuizadas sob o mesmo título. Os autosdão notícia, mais especificamente, dasdecisões de f. 91/115 e 116/142, sendoa segunda, acórdão do Tribunal deAlçada de Minas Gerais (o que reformoua r. decisão de 1º grau cível), parareconhecer a existência de culpa, porparte da reclamada, deferindo a aliautora, então mãe da vítima, umapensão vitalícia de dois saláriosmínimos mensais e a importância deR$20.000,00 a título de indenização pordanos morais. Essa ação transitou emjulgado no dia 07.06.2005.

Em março de 2005 foramajuizadas outras ações com autoresdiversos (filhos, irmãos etc. da vítima)perante o juízo cível, tendo os autos sidoremetidos a esta Especializada emnovembro de 2005, conforme decisãoàs f. 541/542.

O d. juízo de origem (3ª VT deGovernador Valadares) determinou arealização de perícia com elaboração dedois laudos, já que duas açõestransitaram separadamente, tendo,porém, sido reunidos para sentença,conforme decidido à f. 795. Esclareço,desde logo, que os laudos foramelaborados pelo mesmo profissionalcom idêntica conclusão. Ainda foicolhida prova oral, e determinou-se oarquivamento das reclamaçõespropostas por Gerson de Souza Vaz eGeiza de Souza Vaz Pinto.

A r. decisão ora recorrida foi pelaimprocedência da ação, tendo concluídoa d. julgadora que o acidente nãoocorreu por culpa da reclamada ou doseu empregado, mas que teve comoresultado uma “sucessão deacontecimentos que, isolados, nãoteriam nenhuma conseqüência, massomados originam uma tragédia” (f.803). E assinala:

Para o acidente fatídico concorreramvárias situações: pedal do homemmorto anulado, chave liga-desliga emposição intermediária, condutor quenão estava alerta (teria passadomal?), que, somadas,comprometeram toda a segurançado sistema e ceifaram de formabrutal e precoce a vida de doistrabalhadores.

Lado outro, o juízo cível deprimeiro grau também concluiu, quantoaos autores cuja vítima é Geneci, pelaimprocedência da ação, não só por

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ausência de culpa da reclamada, massobretudo por culpa de Geneci, comoestá dito à f. 109 (cópia do julgado). Porsua vez, o acórdão do Eg. Tribunal deAlçada/MG, ao reformar essa decisão,foi veemente ao concluir pela culpa daempresa, como se vê às f. 116/143.

Diante de tal quadro jurídico,restou-me conviver com estes autos porvários dias, lendo e relendo laudos e osdepoimentos de testemunhas arroladaspelas partes. Convivi com dúvida antequalquer conclusão a que chegava, poisaté as provas técnicas se controvertem.Aquela produzida no processo, já nestaJustiça, foi conclusiva no sentido de quehouve falha técnica do Centro deControle de Tráfego da reclamada,conclusão a que não se chegou a períciarealizada no juízo cível e que, a meuver, é bem mais completa, e mais atual,pois realizada em novembro/95, quandoo acidente se deu em setembro de 1994e, ainda, o perito ouviu as fitasmagnéticas que gravam diálogos entremaquinista e o Centro de Controle deTráfego, fez inspeções no local,repetindo todo o trajeto dos trens.Aliás, é importante que se esclareçaque o perito que subscreve o laudo def. 300/350, designado pelo d. juízo deorigem, esteve com os autos em seupoder por 12 meses, com prazoprorrogado por várias vezes, e para asua conclusão valeu-se, também,daquele produzido no juízo cível comose vê da transcrição de f. 358.

Pois bem, necessário o resumoora apresentado de todo o ocorrido noJudiciário (cível e trabalhista) pelo quese sabe destes autos, para uma melhorcompreensão dos fatos, quando seexige uma conclusão relativa ao agente(homem ou máquina?) de tão dolorosoevento. E para maior segurança nacompreensão do ocorrido e daspossíveis causas, lanço mão do bem

elaborado laudo assinado peloEngenheiro Dilvar Oliva Salles, perito dojuízo cível, cuja cópia se encontra às f.30/98, transcrevendo a sua conclusão:

Resumo do acidente econclusão das causas do acidente:Após minucioso estudo e análise dascondições de operação e supervisãodo Sistema Integrado de Tráfego eComunicações da Estrada de FerroVitória a Minas, do funcionamento dosistema centralizado de supervisãodos trens, do funcionamento dosequipamentos de bordo daslocomotivas, da operação daslocomotivas, do estudo das demaiscondições, inclusive consulta aregistros, documentações,inspeções, e após um grandenúmero de entrevistas técnicas, operito apurou o seguinte:

1. Em 29 de julho de 1994,às 23 horas e 18 minutos, sobre oViaduto de Timbopeba, próximo aMariana, estando o tempo estável,sem chuva, ocorreu o acidenteenvolvendo dois trens: o trem M-87conduzido pelo maquinista GENECI,composto de duas locomotivas e 80vagões carregados com carvãomineral, percorrendo um trecho comrampa em aclive, sentido Vitória-Santa Bárbara e o trem M-84conduzido pelo maquinista JUDSON,composto de duas locomotivas e 80vagões carregados com minério deferro, percorrendo um trecho comrampa em declive, sentido SantaBárbara-Vitória. Os maquinistasmorreram, sendo que o GENECI tevefraturas generalizadas e o JUDSONteve queimaduras generalizadas,conforme boletins de ocorrência. Oscorpos de ambos os maquinistasforam encontrados próximos um do

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outro, sob o viaduto, e sob asferragens de locomotivas e vagõesque caíram do viaduto. A existênciade eletricidade gerada pelaslocomotivas e o grande volume deóleo diesel (inflamável) existente nostanques dessas locomotivasfavoreceram a ocorrência deexplosão seguida de incêndio.

2. O abalroamento dos trensaconteceu porque o trem M-87,conduzido pelo maquinista GENECI,após entrar no desvio 14 VOLTA,deveria parar antes do aparelho demudança de via, para aguardar apassagem do trem M-84 do JUDSON,que trafegava em sentido contrário.

3. Os trens que seacidentaram circulavam por uma viasingela (linha única), sinalizada /controlada eletronicamente, cujocontrole é feito pelo Centro deControle (CTC), localizado em PortoVelho, Vitória.

4. O sistema funciona demodo a permitir que vários trenscirculem por uma mesma linhasingela, de dia ou de noite, e, paraque isso seja possível, o cruzamentoentre trens é feito em locais ondeexistem desvios. O licenciamento derotas para maquinistas é fornecidoeletronicamente pelo Centro deControle (CTC) em Vitória etransmitido eletronicamente aosmaquinistas que observamcontinuamente o painel eletrônicodenominado ATC que fica localizadoa bordo da locomotiva, na cabine domaquinista. Sendo todo o circuitosupervisionado pelo sistemacentralizado e controlado pelosdespachadores da sala de controle,a função do maquinista limita-se,basicamente, em dar a partida notrem quando autorizado pelo ATC debordo, controlar a velocidade do trem

acelerando ou freando, de modo amanter a velocidade sob controle edentro dos limites permissíveisinformados pelo ATC, parar o tremquando necessário, e comunicar viarádio, ao CTC, qualqueranormalidade por ele detectada notrem ou ao longo da linha.

5. Em relação aos trens M-87 e M-84, as sinalizaçõeseletrônicas de campo e os demaisinstrumentos e dispositivos dos trensestavam funcionando normalmente,com o CTC recebendo e transmitindonormalmente os sinais de campo.Não foram identificadas quaisqueranormalidades em relação aofuncionamento do sistema decontrole de tráfego centralizado detrens. Não foram identif icadasquaisquer anormalidades no sistemade comunicação, via rádio, daslocomotivas com o CTC em Vitória,exceto que o trem M-87, queultrapassou e quebrou a chave demudança de via, estava saindo dedentro do túnel de Timbopeba, nomomento do acidente. O túnelTimbopeba tem 523m decomprimento e, no teste prático, operito comprovou que, nesse local,quando se trafega dentro do túnel,não há condições de o maquinistaouvir qualquer comunicado do CTC,via rádio. Portanto, GENECI nãotinha condições de ouvirdespachador do CTC, enquantoestivesse no interior do túnel.

6. O estudo pericial concluique, nas condições em queaconteceu o acidente, a locomotivado TREM M-87, conduzido pelomaquinista GENECI, só poderiaestar com a CHAVE LIGA-DESLIGAdo ATC de bordo na posição“INTERMEDIÁRIA”, configurandouma condição anormal.

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A inspeção in locodemonstrou que o trecho entre aEstação de Fazendão, onde o Sr.Geneci recebeu o trem M-87 até oViaduto de Timbopeba, ondeaconteceu o acidente, épraticamente uma rampaascendente. Conseqüentemente, operito descarta a possibilidade deque o Sr. GENECI tenha colocado achave LIGA-DESLIGA na POSIÇÂO“INTERMEDIÁRIA”, de modointencional, uma vez que, em funçãoda rampa, essa atitude seriacompletamente inútil, para evitar serpenalizado pelo sistema quanto aoacionamento dos freios, ou seja, nãohaveria qualquer vantagem para o Sr.Geneci manter a chave na posiçãointermediária.

Posicionar a chave manualLIGA-DESLIGA na posição“intermediária” é um procedimentoirregular; PORÉM, O PERITOMANIPULOU ESTA CHAVE EOBSERVOU QUE, MESMOACIDENTALMENTE (NÃOINTENCIONALMENTE), ERAPOSSÍVEL A CHAVEPERMANECER NA POSIÇÃOINTERMEDIÁRIA, POIS O TESTEDEMONSTROU QUE A MESMA FOIPOSICIONADA NESSA POSIÇÃOINTERMEDIÁRIA, VÁRIAS VEZESSEM QUE A ALAVANCAIMPLICASSE QUALQUERDIFICULDADE.

O ATC não dispunha dedispositivos capazes de detectaresse tipo de falha, de modo a garantiro funcionamento do ATC somentenas posições LIGA e DESLIGA enunca na posição “intermediária”.

Configura-se, portanto, queo equipamento de bordo dalocomotiva (ATC) tinha uma falhaconstrutiva.

Obs: no ATC de bordo dalocomotiva (vide foto n. 18) há umalâmpada indicativa de alimentaçãode energia do ATC e outra indicativade ATC Normal, que fica localizadodefronte ao maquinista, na partesuperior da cabine. Somente aatenção do maquinista (inspeçãovisual da lâmpada indicativa do ATCacesa) era capaz de informarLIGADA. Como, com a chavedesligada, o trem não se movimenta,e o trem estando em movimento omaquinista interpreta que a chaveestá LIGADA, estando a chave naposição “intermediária”, configurou-se, então, uma Condição Insegurado Equipamento de bordo (ATC) dalocomotiva do Trem M-87, não sendouma falha voluntária do maquinistaGENECI.

Foi possível obter avelocidade média (estudo fornecidopelo computador do Centro deOperação da CVRD) de 32 km/h notrecho entre ALEGRIA e o desvio da14 VOLTA e de 43 Km/h no trechoda 14 VOLTA para o Trem M-87. Essainformação coincide com a análisedo mesmo trecho percorrido peloperito e demonstra que o trechotrata-se, praticamente, de umarampa ascendente, onde o trem nãoalcançando a velocidade suficientepara a aplicação automática dosfreios, o maquinista GENECI nãotinha a necessidade de se preocuparem ser penalizado pelo sistema coma aplicação automática dos freiosdas locomotivas do TREM M-87,descartando-se a hipótese doacionamento da chave LIGA-DESLIGA do ATC, de modointencional por parte do maquinistaGENECI”.

7. Em relação ao TREM M-84, conduzido pelo maquinista

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JUDSON, não se constatou qualqueranormalidade envolvendo essemaquinista.

Como está no laudo, o ControleAutomático de Trens, aqui chamadoATC, é um dispositivo controlador quefica na cabine da locomotiva e émonitorado pelo Controle de Tráfegocentralizado em Vitória, e supervisionaos limites de velocidade dos trens e, emsendo necessário, promove a aplicaçãodos freios da locomotiva, em frenagemnormal de serviço. Esse ATC pode estardesligado, pois depende de uma chave,que tem duas posições: LIGA eDESLIGA. Vale dizer, se a chave desligao ATC, há outro sistema, o DLS, queaplica a frenagem no trem, e há umalâmpada no painel do ATC quepermanece acesa quando oequipamento está energizado. Porém,por falha construtiva, esclarece o peritoque a chave poderia ir para a posiçãointermediária, isso eventualmente, eisso ocorrendo o sistema de freio nãofunciona. E toda a discussão vem sendotravada com a conclusão do perito deque, no momento do acidente, a chavedo Trem M-87 (conduzido por Geneci)estava na função intermediária, masconclui, também, que não haveriapossibilidade de ter sido feito essemovimento, intencionalmente, pelomaquinista. Teria ocorrido falha docondutor do trem, desatento à lâmpadaindicativa, por exemplo? Poderia estardormindo, ou se sentia mal, já que antesde iniciar a viagem pediu para sersubstituído por não se sentir bem? (dep.f. 168). Concorrendo com essasconsiderações está a informação doperito de que, por ocasião da perícia,veio apurar que:

após o acidente, o circuito internodos aparelhos de ATC foram

modificados de modo que, se achave permanecer na posiçãointermediária, o aparelho ATC serádesligado. Antigamente, até aocorrência do acidente, se a chavepermanecesse nessa posição“intermediária” o sistema do ATCcontinuaria recebendo sinaisnormalmente, mas o SISTEMA DEFREIOS FICARIA INIBIDO, ou seja,os freios da locomotiva nãocorresponderam às sofisticações doCTC (nessa situação o sistemafalharia). f. 41

Tal circunstância cria a chamadaCondição Insegura do Equipamento deBordo da locomotiva, o que se podecogitar ter ocorrido no momento.

Também a prova técnicachama atenção para o fato de que oTrem M-87, ao chegar no local doacidente, acabava de sair de um túnelde 532m de extensão, onde haviadificuldade de comunicação, portanto,não havia condição de recebercomunicação do CTC.

Tais fatos e ocorrências mebastam para excluir qualquer indício deculpa por parte do condutor do TremM-87, pai e irmão dos autores.

Outrossim, de todo o apanhadodas provas produzidas, repita-se,pode-se concluir pela ocorrência deculpa por parte da reclamada. E aquiconcluo com o laudo produzido peloperito designado pelo juízo de origem,quando considera (f. 359):

Se o M-87 iria cruzar naRH14V e não parou, no centro decontrole o alarme sonoro indicaria atransposição da chave em posiçãocontrária e no relatório da impressorado centro de controle apareceriaesse registro.

Nessa situação, o operador

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tentaria contatar com M-87 e tambémordenar a parada do M-84,visto quea situação não estava normal,parando, neste caso, um dos trens.

E mais, se o M-84 circulavacom a rota verde e assim que o M-87 ocupou a sua linha de rota caiude verde para vermelho, corfrenagem automática. Se tal situaçãotivesse ocorrido, o maquinista do M-84 receberia ordem do CTC paraparar. O M-87 teria batido no M-84parado, tendo com certeza tido umimpacto menor.

Não obstante o retroexposto,conclui este signatário pela falhatécnica do centro de controle daReclamada, sendo a mesma a únicaresponsável pela logística demovimentação ao longo da ViaFérrea - Vitória/Minas.

E essa sua conclusão temresposta no laudo do Engenheiro Dilvar,à f. 50, quando responde o quesito 45-a indagando:

Quando o Trem M-87 invadiu a“locação 14 volta”, houveconfiguração no painel do CTCdesta situação? Como? Resp.:“Sim, através da ocupação doscircuitos de pátio da locação 14VOLTA e da indicação de falhade máquina de chave. Ooperador do Centro de Controle,Sr. Márcio Antônio de Almeida,não teve condição de identificaro problema, antecipadamente,de modo a evitar o acidente,tendo sido informado pelo rádioda ocorrência de uma explosãopelo técnico de operaçãoferroviária de Timbopeba, Sr.Antonio Batista Conrado Filho,que, no momento doabalroamento dos trens e da

explosão das locomotivas,estava ao lado da linha, junto àporta da estação, cerca de 80metros de distância total doacidente.”

E esse episódio foi muito bemelucidado pelo acórdão de f. 116/142, àf. 141:

Enfim, é incrível que toda amovimentação dos trens sejaacompanhada pelo despachadoratravés do Sistema Integrado deControle de Tráfego e Comunicações(SI-CTC) e não tenha ele notado -como se afirma nos autos, - queGENECI tinha deixado “a locaçãovolta 14”. Aqui também reside a culpada ré, pois demonstra falha nocontrole de movimento dos trens, oque implica dizer que não estava nasala de controle ou não estavaprestando atenção à movimentaçãodos trens. Não há outra conclusão.

Resta indagar dos efeitos dochamado “pedal do homem morto” que,segundo a recorrida, poderia ter sidoacionado, se o maquinista estivessealerta, já que deveria estar todo o temposob pressão.

Conforme esclarece o laudo, f.36, uma das funções do maquinista era“manter-se em alerta, permanecendo nointerior da cabine da locomotiva, com opé no pedal, ‘homem morto’ sempre quea locomotiva estiver em movimento”.Explica-se: esse pedal está diretamenteligado ao freio do trem e, se retirada apressão, imediatamente a locomotivapára. Todavia, pelo que se apurou naprova oral, com destaque para otestemunho de f. 611/612, esse sistemapoderia ser anulado bastando pôr umpeso comprimindo o pedal e ter-se-á omesmo efeito. Ora, já que poderia

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ocorrer essa prática, torna-se inútilindagar-se a respeito do aludido pedal,se comprimido ou não e por quê. Aliás,esse expediente não foi objeto deindagação em quesitos quando darealização de provas técnicas. A meujuízo, tal circunstância em nada pesa naavaliação dos fatos e conseqüências.

A tudo isso acresço que há provabastante nos autos que o reclamante,no dia do acidente, pediu para sersubstituído, por não se sentir bem; queo sistema da chave LIGA e DESLIGApodia falhar ficando estacionada naposição “intermediária”, tanto que apóso acidente foi modificado; que ooperador do CTC não respondeu atempo a configuração no painel, quandoo M-87 invadiu a “locação 14 volta”. Taiscircunstâncias me autorizam a concluirpela existência de culpa da empresa,pois ao dever geral de cautela não ficouatenta deixando de identificar situaçõesque poderiam acarretar riscos para asegurança do trabalhador, comoaconteceu.

Quanto ao pedido de reparaçãopor danos morais e materiaisrelativamente a Flávio Cristiano deAbreu Vaz, filho da vítima Geneci deSouza Vaz, ao ajuizar a ação (2005)estava com 29 anos de idade. E, emboratenha vindo a juízo no períodoresguardado pela lei, só o fez quase dezanos após o acidente. Também a autoraGeiza só veio a juízo nessa data.

Não há obstáculo à pretensãodos autores por serem,respectivamente, filho e irmã da vítima.Também não se há falar em prova dedano moral, pois o sofrimento moraldecorrente da perda de um ente querido(pai e irmão) é indubitável. O Des.Sebastião Geraldo de Oliveira, em suaobra Indenização por acidente dotrabalho ou doença ocupacional, LTr,2. ed., p. 191, assinala:

Para a condenação compensatóriado dano moral é dispensável aprodução de prova das repercussõesque o acidente do trabalho causou;basta o mero implemento do danoinjusto para criar a presunção dosefeitos negativos na órbita subjetivado acidentado.

O mesmo não acontece quantoao dano material. Este, no caso daqueleque o postula, não basta dizer que àépoca do acidente dependia do pai nocusteamento de seus estudos, já quepara tanto deixou transcorrer quase 10anos. Nenhuma prova veio aos autos.Aliás, o pedido, consubstanciado naletra c do rol de f. 10, leva emconsideração apenas o que foi deferidopara a sua avó, mãe da vítima, hipótesebem diferenciada. Assim, indefiro opedido de reparação pelos danosmateriais.

No que se refere ao dano moral,a reparação postulada pelos autoresdeve ser fixada com vista no princípioda razoabilidade, sopesando oselementos que caracterizam o caso emexame, como gravidade do fato, podereconômico da empresa, grau de culpa,etc. Não se pode perder de vista que areparação não importa em avaliar a dorem dinheiro, mas representa, apenas,uma forma de tutelar um bem nãopatrimonial que foi violado.Considerando, ainda, que o v. acórdãodo Tribunal de Alçada, já mencionado,fixou em R$20.000,00 o valor dareparação a ser pago à mãe do falecido,defiro, também, a mesma importânciapara Flávio Cristiano, filho de Geneci,e, quanto a Geiza de Souza Vaz Pinto(irmã da vítima) fixo em R$15.000,00 areparação aludida.

Assim, provejo parcialmente orecurso para condenar a reclamada aopagamento de indenização por danos

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morais, na importância de R$20.000,00para Flávio Cristiano de Abreu Vaz, ede R$15.000,00 para Geiza de SouzaVaz Pinto. Invertidos os ônus desucumbência, cabe à recorridaresponder pelos honorários de perito.

Arbitro o valor da condenaçãonesta Instância em R$45.000,00 comcustas de R$900,00, pela reclamada.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua PrimeiraTurma, preliminarmente, àunanimidade, conheceu do recurso;sem divergência, rejeitou a preliminar deprescrição argüida em contra-razões; nomérito, sem divergência, deu-lheprovimento parcial para condenar areclamada ao pagamento deindenização por danos morais, naimportância de R$20.000,00 (vinte milreais) para Flávio Cristiano de AbreuVaz, e de R$15.000,00 (quinze mil reais)para Geiza de Souza Vaz Pinto.Invertidos os ônus de sucumbência,cabe à recorrida responder peloshonorários de perito. Arbitrou o valor dacondenação nesta Instância emR$45.000,00 (quarenta e cinco milreais), com custas de R$900,00(novecentos reais), pela reclamada.

Belo Horizonte, 16 de junho de2008.

DEOCLECIA AMORELLI DIASDesembargadora Relatora

TRT- 00783-2007-062-03-00-6-ROPubl. no “MG” de 16.02.2008

RECORRENTE: VIAÇÃO ITAÚNA LTDA.RECORRIDO: WELINTON DA SILVA

EMENTA: INDENIZAÇÃO PORDANOS MORAIS E ESTÉTICOS- RESPONSABILIDADEOBJETIVA - APLICABILIDADEEM CASOS DE ACIDENTE DOTRABALHO - ARTIGO 7º,CAPUT E INCISO XXVIII, DACONSTITUIÇÃO FEDERAL -PARÁGRAFO ÚNICO DOARTIGO 927 DO CÓDIGOCIVIL. Em que pese aresponsabilidade doempregador, por acidente dotrabalho e doençaocupacional, ser apreciada, emregra, com base na teoriasubjetiva da responsabilidadecivil, a Justiça do Trabalho temse inclinado, em hipótesesrestritas, a admitir a incidênciada teoria da responsabilidadeobjetiva. Não se pode olvidarde que o caput do artigo 7º daCF/88 dispõe que o rol dedireitos elencados em seusincisos não exclui outros quevisem à melhoria da condiçãosocial do trabalhador. Issoposto, a jurisprudência edoutrina abalizadas têmatentado para o fato de que,não obstante o inciso XXVIII doartigo em comento se refira adolo ou culpa, tais requisitospodem ser preteridos emdeterminadas circunstânciasespeciais e com base emprevisão legal, ainda queinfraconstitucional. Nessaesteira, não há falar eminconstitucionalidade do

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parágrafo único do artigo 927do Código Civil ou emincompatibilidade do citadodispositivo legal com oregramento constitucional dasrelações de trabalho.

RELATÓRIO

Este é o relatório da lavra doEx.mo Desembargador Relator:

O juiz Orlando Tadeu deAlcântara, da Vara de Itaúna, julgouparcialmente procedente areclamatória.

A reclamada avia recursoinsurgindo-se contra a suacondenação em R$8.000,00 a títulode indenização por danos morais eestéticos.

Contra-razões às f. 120/127.As guias de custas e

depósito recursal encontram-se às f.116/117.

Dispensado o parecer daProcuradoria Regional do Trabalho.

VOTO

Admissibilidade

Estas são as palavras do Ex.mo

Desembargador Relator em relação aoexame da admissibilidade do apelo:

Conheço do recurso porquepróprio, tempestivo e regularmentepreparado.

Mérito

O ilustre Desembargador Relatorassim elencou as razões da recorrentee o posicionamento adotado pelo MM.Juízo de Origem:

Alega a recorrente que nãocontribuiu de forma dolosa ou culposapara a ocorrência do assalto aoreclamante, fruto exclusivo da açãode delinqüentes. Afirma também nãohaver que se falar emresponsabilidade objetiva, consoanteo disposto no art. 7º, XXVIII, da CR,e que os riscos da atividade detransportes decorrem dapossibilidade de acidentes e não deassaltos, não configurando violaçãode direitos a mera exploração deatividade econômica lícita. Argumentaque apenas o Estado detémlegitimidade para utilizar a força emdefesa dos bens jurídicos, sendo delea responsabilidade pela segurançapública, nos termos do § 6º do art.144 da mesma Constituição.

O recorrido exercia a funçãode auxiliar de viagem na linha 1029da recorrente (Belo Horizonte -Itaúna), sendo assaltado e ferido noponto de Juatuba, quando, às 16h,retirava do bagageiro as malas dosassaltantes que haviam tomado oônibus em Betim. Pleiteouindenização por danos morais eestéticos, estes em razão dascicatrizes mostradas à f. 24,provenientes dos ferimentos.

O juízo de 1º grau, comacerto, excluiu a culpa da empresa:

“Realmente, com base noconjunto probatório é possívelconcluir que a reclamada não agiucom culpa e muito menos com dolo.O evento danoso ocorreu em plenaluz do dia - às 16 horas -, em localde parada previamente determinadopelo DER, empresa públicaconcessionária do serviço público. Abem da verdade, a reclamada nãoteria como evitar o assalto, tendo emvista que o próprio reclamante foi

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surpreendido no momento em queretirava as malas do ônibus, o quedificultou a adoção de qualquermedida preventiva ou de defesa.Lamentavelmente, o dia-a-dia dasgrandes cidades e daquelaslocalizadas no entorno é marcadopelos constantes assaltos e pelabanalização da vida! Com oreclamante não foi diferente,entretanto, do ponto de vista daresponsabilidade subjetiva, não sepode atribuir à reclamada aocorrência do evento danoso, já queela não concorreu com culpa oudolo.” (f. 106)

De fato, não se pode atribuirculpa à recorrente por danoscausados por terceiros que,inclusive, afetaram-na também, jáque o dinheiro tomado do recorridolhe pertencia, e este não comprovouas alegações da inicial no sentido deque ônibus de outras linhas já nãoparavam naquele ponto e que amesma medida já tinha sidoreivindicada, sem êxito, à recorrente.

Todavia, consoante entendimentoda maioria desta Eg. Turma, vencido oDouto Relator, o MM. Juiz a quo agiu comacerto ao aplicar à hipótese dos autos ateoria da responsabilidade objetiva,deferindo a indenização questionadacom base no parágrafo único do art. 927do Código Civil brasileiro, por considerarque a atividade econômica desenvolvidapela reclamada “- transporte rodoviáriocoletivo de passageiros - estáclassificada no mais alto grau de riscode acidente do trabalho, consideradograve, segundo a Classificação Nacionalde Atividades Econômicas - CNAE, deconformidade com o item 1/1/4922,Anexo V, do Decreto 6042/2007” (f.107).Destacou-se, ainda, que a própria

reclamada colacionou aos autos odocumento de f. 102, que demonstra a“habitualidade de assaltos e roubosocorridos no itinerário em que trabalhavao reclamante” (f. 107).

Em que pese a responsabilidadedo empregador ser apreciada, em regra,com base na teoria subjetiva daresponsabilidade civil, a Justiça doTrabalho tem se inclinado, em hipótesesainda restritas, a admitir a incidência dateoria da responsabilidade objetiva.

Não se pode olvidar de que ocaput do artigo 7º da CF/88 dispõe queo rol de direitos elencados em seusincisos não exclui outros que visem àmelhoria da condição social dotrabalhador. Isso posto, a jurisprudênciae doutrina abalizadas têm atentado parao fato de que, não obstante o incisoXXVIII do artigo em comento se refira adolo ou culpa, tais requisitos podem serpreteridos em determinadascircunstâncias especiais e com base emprevisão legal, ainda queinfraconstitucional. Nessa esteira, nãohá falar em inconstitucionalidade doparágrafo único do artigo 927 do CódigoCivil ou em incompatibilidade do citadodispositivo legal com o regramentoconstitucional das relações de trabalho.

Também, o parágrafo único doartigo 927 do Código Civil não inclui otransporte coletivo como atividadeinerente à aplicação do risco objetivo,expressamente, s.m.j. Por outro lado, ajurisprudência tem se mostrado propensaa aceitar que sejam indenizados atémesmo os passageiros comuns em casosde assaltos, consideradas aspeculiaridades das situações.

Ora, afigura-se ilógica aconclusão de que, se o passageiro sofreum dano decorrente do transporte, aempresa transportadora responde pelaindenização correspondente, com apoiona teoria da responsabilização objetiva

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do risco criado, mas, o empregado, quecede sua força de trabalho e se colocaem situação de risco - haja vista acrescente ocorrência de roubos nasrodovias brasileiras - em prol doempreendimento econômico de outrem,não tenha assegurada tal reparação.

Tal raciocínio, além de absurdo,fere a ordem constitucional na medidaem que desprivilegia a dignidade dapessoa humana, o valor do trabalho e afunção social da propriedade,consagrados como princípiosfundamentais, nos termos do artigo 1º,incisos III e IV, e do artigo 170 da CF/88.

O parágrafo único do artigo 927do Código Civil limita a indenizaçãoàquelas atividades que, por suanatureza, impliquem riscos para osdireitos de outrem, hipótese em que, emdeterminadas situações, pode serinserido o transporte coletivo depassageiros, dado os tempos atuais deviolência corriqueira. O risco a que merefiro se torna ainda mais evidente,quando se enfoca o cargo de “Auxiliarde Viagem”, vulgo “trocador”, como nocaso do recorrido, que lida com o dinheirorecebido pelas passagens vendidas forado ponto inicial do ônibus e está maisexposto às ações criminosas durante asparadas, circunstâncias ínsitas ao próprioexercício da atividade desempenhadapelo trabalhador em prol doempreendimento econômico, atraindo,por conseqüência, o direito àindenização, sem que seja necessáriocogitar de culpa.

Ante o exposto, a tese de que aresponsabilidade pela segurançapública cabe ao Estado não isenta arecorrente, mesmo porque esta devearcar com todos os ônus advindos daatividade econômica, em consonânciacom o disposto no artigo 2º da CLT.

Por fim, cumpre ressaltar que, incasu, o dano de natureza moral, o trauma

e abalo psicológicos sofridos peloreclamante são inequívocos, porquantoo mesmo foi vítima de assalto, ocasiãoem que lhe foram desferidas algumasfacadas, como consta do boletim deocorrência de f. 23. O mesmo se digaem relação ao dano estético, haja vistaque, em sua peça de defesa, areclamada nem sequer suscitou que asfotografias de f. 24/25 não se referiamao reclamante, sendo inovatória talalegação aduzida em razões de recurso.Não obstante a cicatriz visualizada nasmencionadas fotografias não sejagrande, a mesma tem aspecto“queloideano em atividade sendoindicado tratamento medicamentoso”,conforme relatório médico de f. 25, alémde representar a ofensa à integridadefísica suportada pelo empregado.

Por todo o exposto, no caso emapreço, mostrou-se acertada a decisãode primeiro grau em deferir a indenizaçãopelos danos morais e estéticos, noimporte de R$8.000,00 (oito mil reais),o que mantenho, negando provimentoao recurso, data venia.

CONCLUSÃO

Conheço do recurso e, no mérito,nego-lhe provimento.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, por sua QuintaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso; no mérito, por maioria de votos,negou-lhe provimento, vencido o Ex.mo

Desembargador Relator que lhe davaprovimento.

LUCILDE D’AJUDA LYRA DEALMEIDA

Desembargadora Redatora

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TRT-00643-2007-012-03-00-1-ROPubl. no “MG” de 01.05.2008

RECORRENTE: EDMUNDO GERALDODE FREITAS

RECORRIDA: TELEMAR NORTELESTE S/A

EMENTA: ENTREGA DOFORMULÁRIO PPP -APOSENTADORIA ESPECIAL -REGULAMENTO DAPREVIDÊNCIA SOCIAL. A regrado § 6º do art. 66 do Decreto n.3.048/99 que aprovou oRegulamento da PrevidênciaSocial prevê que a empresatem a obrigação de entregar oPerfil ProfissiográficoPrevidenciário (PPP) qualquerque seja o seu conteúdo,incorrendo inclusive na multado artigo 283 do mesmodispositivo em caso dedescumprimento. ORegulamento não prevêexceções, donde se concluique cabe à empresa realizar oLTCAT (Laudo Técnico deCondições Ambientais doTrabalho) e entregar cópia deleao empregado, independentede trabalhar o empregado emcondições insalubres,perigosas ou penosas ou denão lhe caber o direito àaposentadoria especial.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,interposto contra decisão proferida pelaMM. Juíza da 12ª Vara do Trabalho deBelo Horizonte em que figuram, comorecorrente, EDMUNDO GERALDO DEFREITAS e, como recorrida, TELEMARNORTE LESTE S/A, como a seguir seexpõe:

RELATÓRIO

A MM. Juíza da 12ª Vara doTrabalho de Belo Horizonte, pela r.sentença de f. 267/270, cujo relatórioadoto e a este incorporo, julgouimprocedente o pedido inicial.

Inconformado, o reclamanteinterpõe recurso ordinário às f. 273/276,argüindo preliminar de nulidade porcerceio de prova e sustentando que adecisão merece reforma, porque asentença limitou-se às conclusões dolaudo pericial sem se atentar para ocaso concreto.

Pede provimento.Contra-razões às f. 278/284.Dispensável a intervenção do

MPT.É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Conheço do recurso ordinário,eis que aviado a tempo e modo e regulara representação.

2. Mérito

Preliminar de nulidade porcerceamento de prova

Aduz o reclamante que osesclarecimentos que requereu ao peritonão foram prestados, e se faziamnecessários visto que diziam respeito aoseu local de trabalho. Entende ter havidocerceio em seu direito de prova.

Foi determinada a realização dolevantamento técnico cujo laudo seencontra às f. 187/198. À vista dele, oreclamante requereu esclarecimentos,prestados às f. 218/220. Mais uma vezo reclamante requereu esclarecimentos(f. 223/229), ao que determinou a MM.

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Juíza que se manifestasse o expertsobre tratar-se de “questão nova” ou dematéria a ser definida pelo própriojulgador (f. 252). Informou o vistor que“o pedido de esclarecimentos solicitadospelo reclamante implica definição destejuízo no momento processual próprio,até porque, não obstante já relatada avigência do Decreto 93.412/86 do MTE,a rede de telefonia de distribuiçãotrabalha na tensão de 48 volts, sendocerto que a legislação previdenciáriaadmite(ia) para informação deenquadramento de aposentadoriaespecial na tensão acima de 250 volts,que não é o presente caso” (f. 255). Comisso, foram registrados os protestos doreclamante à f. 260.

A matéria dos autos versaexclusivamente sobre as reaiscondições de trabalho do reclamante.E sobre ela há três levantamentostécnicos nos autos: o parecer doassistente técnico do reclamante às f.163/172, do assistente técnico dareclamada às f.173/186 e o laudo oficialàs f. 187/198, complementado pelosesclarecimentos de f. 218/220 e 225.

O recorrente pôde se manifestarlivremente sobre todos oslevantamentos realizados queexaminaram a questão sob todos osângulos pertinentes.

A decisão cabe ao juiz que, paratanto, vale-se das informações técnicasde seu auxiliar de confiança - o peritooficial - para formar seu convencimento.Se o julgador tem a matéria comosuficientemente esclarecida e a ele sedirige a prova, é também dele o poder/dever de indeferir diligências inúteis,onerosas e protelatórias, tal como sedeu na espécie.

Nenhum cerceio de prova, poisapenas houve julgamento contrário aosinteresses do reclamante.

Rejeito.

Periculosidade

Insiste o recorrente que o peritonão respondeu aos quesitosformulados, e que seria necessária aapuração da atividade que desenvolviadesde o início, o que não se deu nocaso. Entende que o fato de nãotrabalhar no sistema elétr ico depotência não signif ica que nãolaborasse em condições periculosas,visto que estava exposto a tensão de220 volts. Requer a reforma dasentença que concluiu pela inexistênciade periculosidade e por isso indeferiua emissão do Formulário PPP.

O documento solicitado peloreclamante, PPP, para fins de instruiraposentadoria especial, foi instituídopela IN/INSS/DC n. 090/2003, sendo aempresa obrigada a fornecer cópiaautêntica ao trabalhador em caso dedispensa.

A reclamada, em sua defesa,afirma que não lhe entregou o PPP“porque o reclamante laborou em tarefasque não são consideradas periculosas”.Afirmou ainda que:

As tarefas relativas ao contrato deemprego do reclamante não sãoconsideradas periculosas porqueestão relacionadas à parteoperacional da empresa, nãohavendo que se falar em contatopermanente com agentespericulosos, como quer fazerentender o obreiro. Dessa forma,improcede o pleito de entrega doformulário PPP e anotação na CTPS.

No entanto, o Decreto n. 3.048,de 06 de maio de 1999, que aprovou oRegulamento da Previdência Social edeu outras providências, dispõe no § 6ºdo artigo 68 da Subseção IV - “DaAposentadoria Especial”, que:

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A empresa deverá elaborar e manteratualizado perfil profissiográficoprevidenciário, abrangendo asatividades desenvolvidas pelotrabalhador e fornecer a este,quando da rescisão do contrato detrabalho ou do desligamento docooperado, cópia autêntica destedocumento, sob pena da multaprevista no art. 283.

A propósito, a alínea “h” do incisoI do referido artigo 283 define asinfrações das Leis n. 8.212 e 8.213,ambas de 1991, e 10.666, de 08 de maiode 2003, assim:

deixar a empresa de elaborar emanter atualizado perfi lprofissiográfico abrangendo asatividades desenvolvidas pelotrabalhador e de fornecer a este,quando da rescisão do contrato detrabalho, cópia autêntica destedocumento;

Essas normas legais nãocondicionam a entrega do PPP àexistência ou não de periculosidade nolocal de trabalho. O que se exige é adescrição das atividades desenvolvidaspelo empregado e/ou as condiçõesambientais no seu local de trabalho.

Se referido documento vai ounão ser usado pelo empregado para finsde aposentadoria especial é questãoque não diz respeito ao empregador,mas ao INSS - Instituto Nacional doSeguro Social - que, mediante adescrição das atividades contidas nodocumento, é quem vai avaliar aexistência ou não dos pressupostosnecessários e suficientes paracaracterizar a concessão deaposentadoria especial.

A recusa da entrega do PPP éinjustificável, daí a procedência parcial

do pedido formulado pelo reclamante nosentido de que

a) sejam declaradas por sentença asreais atividades exercidas [...]durante todo o pacto laboral,conforme apurado pelas provasproduzidas nos autos.

Se o PPP fosse entregue,desnecessária seria essa declaração,pois as reais atividades exercidas neleestariam contidas.

Lembre-se, o caso dos autos nãoé de pagamento do adicional depericulosidade, mas sim de se declarar,para fins de prova dos pressupostos paraaposentadoria especial, as reaisatividades exercidas pelo reclamante.Nesse sentido, tal declaração temsuposto na regra do § 6º do art. 66 do jácitado Regulamento, a significar que aempresa tem a obrigação de entregar oPerfil Profissiográfico Previdenciário(PPP) qualquer que seja o seu conteúdo.O Regulamento não prevê exceções,donde se conclui que cabe à empresarealizar o LTCAT (Laudo Técnico deCondições Ambientais do Trabalho).

Observe-se que a InstruçãoNormativa INSS/PRES n. 20, de 11 deoutubro de 2007, prevê, no § 2º do artigo161, a aceitação de laudos técnico-periciais emitidos por determinação daJustiça do Trabalho em açõestrabalhistas, em substituição ao LTCAT.Portanto, o laudo pericial produzidonesta reclamação presta-se apenaspara substituir o LTCAT - definir as reaiscondições de trabalho do reclamante.Assim, a recusa da reclamada emfornecer o documento, PPP, queobrigatoriamente deveria ter sidoentregue ao empregado, justifica apretensão de ver o documentoobrigatório, LTCAT, ser substituído pelolaudo pericial.

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Assim, irrelevante definir se háou não periculosidade no local detrabalho do reclamante, questão que seresolve no âmbito da Previdência Social.Mas há relevância em se fixar quaiseram as reais condições de trabalhodele, e isso o laudo pericial produzidoem juízo revelou. Nesse sentido, caberáà reclamada arcar com os ônus daperícia realizada, uma vez quedescumpriu sua obrigação de entregarespontaneamente o documento talcomo se lhe exige a legislaçãopertinente.

Saliento que diferente seria, se,entregue o PPP, o reclamante viesse ajuízo discutir a realidade de seuconteúdo, qual seja, as reais condiçõesde trabalho que deveriam ter sidoreveladas no Perfil. Nesse caso, estariaimpugnando o seu conteúdo, que seriaconfrontado com a perícia judicial.Todavia, como se não lhe entregou odocumento, a pretensão posta na letra“a” da inicial não diz respeito a isso, masà recusa pela reclamada em cumprir asua obrigação legal: entregar o PPP noqual havia de descrever “as reaisatividades exercidas pelo reclamantedurante todo o pacto laboral”.

Nesse particular o pedido éprocedente no limite em que o laudopericial produzido em juízo, emsubstituição ao LTCAT, descreve asreais atividades exercidas peloreclamante durante todo o pactolaboral.

No que se refere aos demaispedidos de letra “b”: seja a reclamadaintimada, nos termos do § 1º do artigo11 da CLT, a proceder às devidasanotações na CTPS do reclamante, bemcomo no PPP - Perfil ProfissiográficoPrevidenciário, constando as reaisfunções e atividades desenvolvidas ereconhecidas por este d. Juízo,fornecendo uma cópia ao reclamante de

forma a propiciar-lhe provar junto aoINSS o direito a contagem de tal tempode serviço como tempo especial”, e dedeclaração de prestação de serviços emcondições especiais (este contido naletra “a”), a improcedência se impõe.

Se o PPP - Perfil ProfissiográficoPrevidenciário - veio a ser substituídopelo laudo pericial (Instrução NormativaINSS/PRES n. 20, de 11 de outubro de2007, prevê, no § 2º do artigo 161), olaudo por si se basta.

Já a pretensão de retificação daCTPS, para nela fazer constar as reaisfunções e atividades desenvolvidas peloreclamante, diz respeito à prestação deserviço em condições especiais. Talquestão, pois, vincula-se ao conteúdodo laudo pericial. É dele que deve o juízoextrair a existência de condiçõesespeciais, a exigir anotação específicana CTPS, como comanda o art. 29 daCLT. E, nesse sentido, o laudo revelainexistir prestação de serviços emcondições especiais, não havendo, pois,que se retificar a CTPS.

É que na “descrição sumária daatividade” informou o expert que oreclamante

exercia a função de Técnico deTelecomunicações e, como tal,desenvolvia a atividade demanutenção eletromecânicapreventiva e corretiva de CentraisTelefônicas ARFs (Ericsson e Batik)e Trópico (Promon) analógicos edigitais, que consistia nas seguintesatribuições: efetuar testes do sinaltelefônico nos equipamentos decomutação das centrais telefônicas,para detectar possíveis falhas, antesde alarmadas; efetuar limpeza,ajustes e/ou manutenção geral emseletores e peças mecânicascomponentes dos equipamentos dascentrais de comutação analógicas;

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efetuar programações deregistradores e análises decapacidade de tráfego da central;efetuar ajustes de relés e testes decontinuidade; reparar circuitoseletrônicos de equipamentos decomutação telefônica executandoserviços em componenteseletromecânicos, eletroeletrônicos eeletrônicos; relés eletromecânicos,bobinas, válvulas diodos, placas decircuitos eletrônicos, contadores dechamada, medidor de tráfego,módulos, juntores, etc., além depeças mecânicas de seletores eoutros; efetuar a operação emanutenção dos equipamentos deComutação Telefônica Digital,uti l izando-se de um sistemacomputadorizado de supervisão emanutenção. Esse sistema, atravésde seus terminais, registra osdefeitos da central (alarmes) quenecessitam de intervenção epermitem, na maioria das vezes, asolução através do próprio terminal;na operação e/ou manutenção dasCentrais Telefônicas Digitaisdestacam-se, como principais, asatividades: inspeções visuais atravésde terminal de vídeo e de alarmesluminosos/sonoros, análises da basede dados da Central Telefônica(sistema informatizado),processamento de arquivos ebilhetagem (sistema informatizado),alteração de softwares da Central,substituição de placas eletrônicas/módulos, no caso de algumaampliação da Central; verificação deeventuais variações de tensão dealimentação dos equipamentos daCentral, onde a tensão nominal deoperação é de 48 VCC - Volts emCorrente Contínua, ampliação eremanejamento dos equipamentosdas Centrais. (f.189)

Essas atividades foramdesenvolvidas nas dependências daEstação Regional de Santa Tereza, ecentrais similares nos municípios dePedro Leopoldo, Lagoa Santa,Vespasiano, Santa Luzia, Sabará eCaeté/MG.

Como bem observou oassistente técnico da reclamada, até05.03.1997 a aposentadoria especialera concedida para aqueles exercentesdas atividades enumeradas no Decreton. 53.831/64. Para o agente“eletricidade”, que se aplicava “àsoperações em locais com eletricidadeem condições de perigo de vida”, paraos “trabalhos permanentes eminstalações ou equipamentos elétricoscom riscos de acidentes - eletricistas,cabistas, montadores e outros”, exigia-se um tempo de trabalho de 25 anos,em “jornada normal ou especial fixadaem lei em serviços expostos a tensãosuperior a 250 volts (arts. 187, 195 e 196da CLT, Portaria Ministerial n. 34, de08.04.54)” (sublinhamos, f. 179/180).Esse não era o caso do reclamante,submetido a uma tensão de 48 VCC.

Assim, de 1973 até 1997, isto é,por aproximadamente 24 anos, oreclamante não esteve sujeito a taiscondições.

Depois, observada a definição depericulosidade decorrente deeletricidade posta na Lei n. 7.369, de20.09.85, que “Institui Salário Adicionalpara os Empregados NO SETOR DEENERGIA ELÉTRICA, em condições depericulosidade”, tem-se em seu artigo1º: “O empregado que EXERCEATIVIDADE NO SETOR DE ENERGIAELÉTRICA, em condições depericulosidade, tem direito a umaremuneração adicional de trinta porcento sobre o salário que perceber”,determinando em seu artigo 2º que “oPoder Executivo regulamentará a

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presente Lei, ESPECIFICANDO ASATIVIDADES QUE SE EXERCEM EMCONDIÇÕES DE PERICULOSIDADE.”

A norma geradora do direitodirige-se aos empregados quetrabalham em atividade no setor deenergia elétrica.

As atividades apreendidas noAnexo do Decreto n. 93.412/86 (item 1)são “de construção, operação emanutenção DE REDES E LINHASAÉREAS de alta e baixa tensõesINTEGRANTES DE SISTEMASELÉTRICOS DE POTÊNCIA”, seguindo-se nos subitens o descritivo daquelasdefinidas como prestadas e ouexercidas em condições depericulosidade (art. 1º do Decreto n.93.412/86, que dá cumprimento ao art.2º da Lei n. 7.369/85).

Concluiu o vistor que oreclamante não trabalhou no sistemaelétrico de potência, definido pela NBR5460 da ABNT como “sistema quecompreende instalações para geração,transmissão e/ou distribuição de energiaelétrica”, e pela NR-10 da Portaria n.3.214/MTE como “conjunto dasinstalações e equipamentos destinadosà geração, transmissão e distribuição deenergia elétrica até a medição,inclusive”.

Então, seguramente aí está ainsuperável exigência de labor prestadoem atividades especificadas (peloregulamento) em linhas aéreas deenergia elétrica, o que alcança tambéma verificação, inspeção (inclusiveaérea), fiscalização, levantamento dedados e supervisão de serviços técnicos(pois esses também devem dizerrespeito a redes de linhas aéreas de altae baixa tensões integrantes dossistemas elétricos de potência). O item3 do referido anexo prevendo atividadesde inspeção, testes, ensaios, calibração,medição e reparos em equipamentos e

materiais elétricos, eletrônicos,eletromecânicos e de segurançaindividual e coletiva ainda ordena quetal se dê em SISTEMAS ELÉTRICOSDE POTÊNCIA de alta e baixa tensão.

Certamente o recorrente estáimpressionado pelo teor da OJ n. 324da SDI-I do TST, onde se definiu que oDecreto n. 93.412/86 não pode ter suaaplicação restrita apenas aoseletricitários, eis que a previsão legalestabelece o adicional para osempregados que exerçam suasatividades no setor de energia elétrica,lato sensu. Tal definição transformou ajurisprudência dos tribunais que passoua deferir o pagamento do adicional depericulosidade também para osinstaladores e reparadores de linhastelefônicas que, trabalhando nos postesde energia elétrica, sujeitar-se-iam aosriscos.

Como a atividade desenvolvidapelo reclamante não integrava o sistemaelétrico de potência (que vai desde aestação geradora até o ponto de energiaelétrica na instalação de consumo), masem Sistema Telefônico, não há que seaduzir de prestação de serviços emcondições especiais, pelo que nada háa retificar em sua CTPS.

Assim, dou provimento parcial aorecurso para, declarando que as reaisatividades exercidas pelo reclamantedurante todo o pacto laboral são aquelasconstantes do laudo pericial (e seusesclarecimentos) produzido em juízo emsubstituição ao PPP - Perfi lProfissiográfico Previdenciário, na formado § 2º do artigo 161 da InstruçãoNormativa INSS/PRES n. 20, de 11 deoutubro de 2007, julgar procedente emparte a reclamação, invertidos os ônusda sucumbência, condenada areclamada no pagamento doshonorários periciais arbitrados e dascustas.

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3. Conclusão

Ante o exposto, conheço dorecurso ordinário e, rejeitando apreliminar de nulidade, no mérito, dou-lhe provimento parcial para, declarandoque as reais atividades exercidas peloreclamante durante todo o pacto laboralsão aquelas constantes do laudo pericial(e seus esclarecimentos) produzido emjuízo em substituição ao PPP - PerfilProfissiográfico Previdenciário, na formado § 2º do artigo 161 da InstruçãoNormativa INSS/PRES n. 20, de 11 deoutubro de 2007, julgar procedente emparte a reclamação, invertidos os ônusda sucumbência, condenada areclamada no pagamento doshonorários periciais de R$900,00 e dascustas calculadas sobre R$2.000,00, deR$40,00, valor arbitrado para acondenação.

Motivos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em Sessão da suaSexta Turma, hoje realizada, analisou opresente processo e preliminarmente, àunanimidade, conheceu do recursoordinário; por maioria de votos,rejeitando a preliminar de nulidade, nomérito, deu-lhe provimento parcial para,declarando que as reais atividadesexercidas pelo reclamante durante todoo pacto laboral são aquelas constantesdo laudo pericial (e seusesclarecimentos) produzido em juízo emsubstituição ao PPP - Perfi lProfissiográfico Previdenciário, na formado § 2º do artigo 161 da InstruçãoNormativa INSS/PRES n. 20, de 11 deoutubro de 2007, julgar procedente emparte a reclamação, invertidos os ônusda sucumbência, condenada areclamada no pagamento doshonorários periciais de R$900,00 e das

custas calculadas sobre R$2.000,00, deR$40,00, valor arbitrado para acondenação, vencido o Ex.mo JuizConvocado João Bosco Pinto Lara.

Belo Horizonte, 22 de abril de2008.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESDesembargador Relator

TRT-00515-2007-037-03-00-4 ROPubl. no “MG” de 23.02.2008

RECORRENTES: JOÃO CARLOSLAMIM DE SOUZA (1)BANCO ABN AMRO REAL S.A. (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: ASSÉDIO MORAL -CUMPRIMENTO DE METAS - OPODER, O TER E O SER - DODIREITO OBRIGACIONAL ATÉO DIREITO DE PROPRIEDADECOM PASSAGEMOBRIGATÓRIA PELOSDIREITOS HUMANOS - MARDE EXIGÊNCIAS E OCEANODE DISCRIMINAÇÃO - OLUCRO E O HOMEM - ABUSODE DIREITO E DESRESPEITOAOS DIREITOSFUNDAMENTAIS. O contratode emprego, que tem porobjeto o trabalho do serhumano, do qual não sedesprende nem o prestador deserviços nem a suapersonalidade, é oinstrumento que possui,dentre outras, duasperspectivas principais econvergentes: a) para aempresa; atingir os seusobjetivos econômico-sociaiscom sustentabilidade; b) para

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o empregado; realizaçãomaterial e moral, com ênfasepara a sua dignidade, que, emúltima análise, é a dignidade detoda a espécie humana. Dodireito obrigacional até odireito de propriedade,abismos não podem existir,respeitados que devem ser osdireitos fundamentais, taiscomo a valorização dotrabalho e do trabalhador,assim como a sua dignidade,conforme os incisos III e IV doart. 1º da Carta Magna, bemcomo o art. 11 da ConvençãoAmericana de DireitosHumanos, ratificada peloBrasil em 25.09.1992. O Direito,na sua dimensão teleológica,tem se valido, largamente, deum método - a razoabilidade -que não é estritamentejurídico. Ser razoável é serprudente; é agir, individual ecoletivamente, com a razão,com a eqüidade, com oequilíbrio, com aresponsabilidade ético-moral eo respeito humano, que onosso semelhante merece. Oprincípio da razoabilidadepressupõe certas verificações:1º) adequação; 2º)necessidade; 3º) razoabilidadeem sentido estrito. Noexercício do poderempregatício, a cada dia,menos espaço há para o ter,isto é, para o abuso de direito,cujos braços esbarram e sãocontidos pelos direitosfundamentais, e cujaefetividade deve serperseguida constantemente.De conseguinte, a empresasubmete-se a barreiras e a

controles internos e externos,que se iniciam nainstrumentalidade do contratode emprego, em severocontraste com os valores dasociedade industrial pós-moderna e os valores dadignidade do empregado, quedeve ser visto e tratado, antese acima de qualquer outrovalor jurídico, na sua condiçãohumana. Ultrapassado oâmbito contratual individual,no qual o empregado poucoresiste, existem os sindicatos,o Ministério Público doTrabalho, o Ministério doTrabalho e Emprego, e o PoderJudiciário, atuando como sefossem parte de um sistema defreios e de contrapesos.Determinado nível deexigência é aceitável econtribui, em geral, para aformação profissional doempregado, desde querespeitados certos limites, asdiferenças e a estruturaemocional de cada pessoa.Entretanto, atos visivelmenteirracionais, exageros devemser evitados e coibidos, emnível de exigências e dediscriminação, pois o lucronão pode justificar todo equalquer tipo de cobrança e decomportamento profissional,atrelando o dia a dia doempregado a resultados, ametas difíceis de serematingidas e em desproporçãocom o que seria razoavelmentetolerável. A função social docontrato tem múltiplos arcos,inclusive com envergaduraética - tratamento igual -sustentada pela saúde física e

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mental, assim como peloequilíbrio emocional epsíquico, que se iniciam navida privada, nas relaçõessociais pessoais, mas quetambém passam, estruturam-se, não prescindem doambiente de trabalho, no qualo empregado permanecegrande parte do dia. “Oassédio moral é um abusoemocional no local detrabalho, de forma maliciosa,não-sexual e não-racial, com ofim de afastar o empregadodas relações profissionais,através de boatos,intimidações, humilhações,descrédito e isolamento.MÁRCIA NOVAES GUEDES (inTerror psicológico no trabalho,LTr, São Paulo, 2003) ensinaque ‘mobbing ou assédiomoral significa todos aquelesatos e comportamentosprovindos do patrão, gerenteou superior hierárquico ou doscolegas, que traduzem umaatitude de contínua e ostensivaperseguição que possaacarretar danos relevantes àscondições físicas, psíquicas emorais da vítima’. O assédiodescendente é, em verdade,um abuso do direito diretivo doempregador. Nessa hipótese,as medidas empregadas têmpor único objetivo deteriorar,intencionalmente, ascondições em que ot r a b a l h a d o r d e s e n v o l v es e u trabalho, muitofreqüentemente com afinalidade de levá-lo a pedirdemissão [...]. Por isso, oassédio não pode ser, em tese,considerado ato único e

pressupõe certa continuidadeno tempo, como se observouna hipótese vertente.[...] Écerto que metas fazem parte daatividade empresarial (e não sódela...), como também é certoque devem ser utilizadas comprofissionalismo, integridade erespeito no relacionamento,conforme valorescorporativos, atuando comoestímulo para odesenvolvimento e desafio. Nocaso, comprova-se aimposição de meta nãoalcançada e posterior reduçãoapós a dispensa doreclamante, como também autilização do fato de o autornão alcançar as metas comopretexto para excluí-lo daparticipação nas reuniões dosgerentes, em confronto com ospróprios valores corporativosdo reclamado. Assim, tenhoque a conduta do reclamadoatingiu moralmente oreclamante, causando-lheconstrangimento ilícito. Defato, o reclamante teve afetadoum bem integrante dapersonalidade, um direitofundamental, qual seja, asaúde e a integridadepsicológica, pois sofreu noambiente de trabalhoisolamento, participaçãoreduzida nas atividades eimposição de metas nãoalcançáveis.” (Excertossentenciais da MM. JUÍZAMARTHA HALFELD FURTADODE MENDONÇA SCHMIDT).Outro tanto, também sob aótica da discriminação, aindenização por dano moraltipifica-se, uma vez que o

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empregado recebeu, por partede superior hierárquico, umtratamento desigual semnenhuma justificativa, emafronta à Convenção n. 111 daOIT, também ratificada peloBrasil, em 26.11.1965.Todos os empregados deum mesmo estabelecimentoe , às vezes de toda aempresa, em seus múltiplosestabelecimentos, são iguaisperante a lei e na lei, isto é,igualdade formal e material.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,interposto de decisão proferida peloJuízo da 3ª Vara do Trabalho de Juiz deFora, em que figuram como recorrentesJOÃO CARLOS LAMIM DE SOUZA eBANCO ABN AMRO REAL S.A. e, comorecorridos, OS MESMOS.

RELATÓRIO

O Juízo da 3ª Vara do Trabalhode Juiz de Fora, através da decisãoexarada pela Ex.ma Juíza MARTHAHALFELD FURTADO DE MENDONÇASCHMIDT, às f. 187/195, julgouPROCEDENTES, EM PARTE, ospedidos, condenando o reclamado apagar ao reclamante diferenças salariaisdecorrentes da equiparação com aparadigma apontada e indenização pordanos morais (R$10.000,00),decorrentes de assédio moral.

O reclamante interpôs recursoordinário às f. 199/204, pretendendo areforma do julgado para que sejamajorado o valor da indenização pordano moral.

O reclamado recorre às f. 205/214, aduzindo que não estão presentesos requisitos da equiparação salarial, naforma do artigo 461 da CLT, uma vez

que reclamante e paradigma laboraramem cidades distintas, sendo as damodelo de maior expressividadeeconômica, razão pela qual tinhamatribuições e responsabilidadesdiferentes. Entende que não houve acomprovação do dano moral alegado,uma vez que o ato ilícito caracterizadordo assédio moral não foi demonstrado,assim como não há prova da culpa oudolo do reclamado, não havendojustificativa para o deferimento daindenização, sob pena deenriquecimento sem causa do autor.

Contra-razões às f. 219/232 e234/236, respectivamente, peloreclamante e pelo reclamado.

Dispensada a manifestação da d.Procuradoria Regional do Trabalho,conforme art. 44 da Consolidação dosProvimentos da Corregedoria-Geral daJustiça do Trabalho.

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Conheço dos recursos, eis quepróprios, tempestivos e devidamentepreparado o do reclamado.

Recursos do reclamante e doreclamado

Assédio moral

Insurge-se o reclamado contra ar. decisão de origem, que o condenou apagar indenização por danos morais aoreclamante, decorrentes de assédiomoral, alegando que tal prática nãorestou demonstrada, bem como que nãohá prova da culpa ou do dolo nascondutas narradas pelo autor comoabusivas ou tipificadoras de situaçõesde constrangimento.

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O reclamante, por sua vez,pleiteia a reforma da v. sentença, no quetange ao valor da indenização.

Razão parcial está com oreclamante, data venia, não obstante abrilhante fundamentação, da lavra dailustre e douta juíza titular da Vara, que,com rara sensibilidade, assim como combrilho e acerto, solucionou acontrovérsia.

Quando se fala em assédiomoral, diante se está de um ato perversoe intencional que produz as maisvariadas espécies de sofrimento físicoe moral ao empregado.

Talvez seja um dos grandesmales da sociedade pós-industrial,marcada por grandes fusõesempresariais, busca incansável daprodutividade e do lucro, por fortepressão competitiva.

Nesse turbilhão de valoresmateriais, plasmado por uma filosofianeoliberal, infelizmente, o trabalhador,considerado um ser descartável pelomercado, vem sendo tratado como sefosse uma máquina, sem respeito àindividualidade.

Segundo Marie-FranceHirigoyen, por assédio moral no local detrabalho deve-se entender toda equalquer conduta abusiva, que semanifesta, sobretudo, porcomportamentos, palavras, gestos,escritos, cobranças, exigências e metas,que possam trazer dano àpersonalidade, à dignidade ou àintegridade física, moral ou psíquica deuma pessoa, colocando em risco oemprego da vítima ou degradando oambiente de trabalho.

Para a identificação do assédiomoral nas relações de trabalho torna-se necessário que a dignidade dotrabalhador seja violada por condutasabusivas desenvolvidas dentro ou forado ambiente profissional, normalmente

durante a jornada de trabalho, massempre vinculadas ao exercício dasfunções da vítima.

Conceitualmente, podemos dizerque o assédio moral caracteriza-se, viade regra, quando um empregado sofreperseguição no ambiente de trabalho,o que acaba por provocar uma espéciede psicoterror na vítima,desestruturando-a na sua vidaprofissional e pessoal.

Obviamente que o assédio moralpode se caracterizar de várias formasno ambiente de trabalho, e até mesmoentre colegas.

O universo do assédio moral sãoas relações pessoais travadas por todoe qualquer empregado ou empregadae que tenham como ponto de imputaçãoo contrato de trabalho, de onde parteme para onde retornam as agressõespessoais e as transgressõesobrigacionais.

Todavia, o terrorismo psicológicomais freqüente no ambiente de trabalhoé aquele denominado assédiodescendente ou vertical, que secaracteriza pelo abuso de direito doempregador, diretamente, ou pelosuperior hierárquico, no exercício, pordelegação, dos poderes diretivo edisciplinar.

Na medida em que mais intensose mais fracos se tornam os laços entrea empregadora e o empregado, mais seesgarça o ambiente ao psicoterror.

Explico: mais intensas ascobranças; mais fraco o laço contratualpor falta de garantia de emprego; maisespaço surge para o poder empregatíciose exercitar, inclusive na esferaprodutiva, que é uma exigênciamercadológica, mas que precisa de umcontrole, baseado na razoabilidade.

Por se tratar de um instituto novo,com sua tipificação ainda em aberto,inúmeras variações de comportamento

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do sujeito ativo podem se enquadrar nafigura do assédio.

Assim, a maneira mais segurapara se avaliar a sua caracterização sedá mediante a análise do caso emconcreto, sob criteriosa análise do juízoinstrutor, que vê, que olha, que colhe,que cuida diretamente da prova,coração do processo.

Em se tratando de tema novo,recentemente identificado pelo Direitodo Trabalho, importantíssima se tornaa atuação do juízo de primeiro grau, queconstrói as bases para a formação dajurisprudência.

O Direito vivo está nas mãos dosadvogados e dos juízes, normalmenteos primeiros a terem contato com arealidade social.

De qualquer forma, é preciso seter em mente que o assédio moral violaa dignidade da pessoa humana,princípio em que se fundamenta todo oordenamento jurídico, devendo, porisso, ser reprimido, pois causasofrimento físico e psicológico, moral eafetivo ao empregado.

Por outro lado, o cotidiano de umambiente de trabalho, normalmente, faz-se marcado por conflitos de interesses,de estresse, de gestão por injúria e atémesmo de agressões ocasionais,comportamentos esses que, emboraacarretem conseqüências jurídicas, nãocaracterizam, necessariamente, oassédio moral.

As divergências entreempregado e empregador, entresubordinados e superiores hierárquicos,quando travadas dentro de um clima derespeito mútuo, sem perversidade,dentro de um clima estritamenteprofissional, é algo normal e atéconstrutivo.

Porém, o que não pode ocorreré que, por detrás de divergênciasprofissionais, de resultados e de metas

a serem atingidas, aflore a violência e aperseguição.

Na hipótese dos autos, alegou oautor que a partir de 2005, com achegada da nova SuperintendenteRegional, passou a receber uma sériede exigências, consubstanciadas emmetas e cobranças desproporcionais,sempre sob a ameaça velada dadispensa, o que acabou por afetar a suasaúde, seu convívio familiar e atémesmo a sua recolocação no mercadode trabalho, após o seu desligamentodo banco.

O reclamado, em defesa, aduziuque nunca praticou nenhum ato ilícitoou abusivo de direito, que pudessecausar lesões ou prejuízos à integridadefísica ou psíquica do autor, não sepodendo entender a cobrança darealização dos serviços ou cumprimentode metas, através da superiorahierárquica, como pressão psicológicaou assédio moral.

Todavia, o exame do conjuntoprobatório revelou que ao reclamanteforam impostas metas excessivas e queessas, uma vez não alcançadas, serviramcomo pretexto para a discriminação nasreuniões, como noticiado pela provaoral, tendo o baixo desempenho do autorservido, ainda, como justificativa para asua dispensa, conforme demonstra odocumento de f. 86.

Declarou a testemunhaGILBERTO DE CASTRO TIMÓTHEO,às f. 185/186:

[...] que participou de reuniõesmensais e notava que a Srª Vilmadeixava o reclamante de lado, de talforma que dava para notar; que notouque isso acontecia só com oreclamante; que, por exemplo, elafazia perguntas para os outrosgerentes e quando chegava na vezdo reclamante, o pulava; [...].

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Acrescentou, ainda, essamesma testemunha:

[...] que ouviu comentário na diretoriado reclamado, no mês de julho de2006, que o reclamante iria serdispensado pela Vilma; que era aVilma quem estabelecia os objetivosorçados da agência e o desempenhodo gerente-geral era medido em cimado cumprimento da meta;[...].

Também declarou o preposto (f.185) que as metas eram estipuladaspela Srª Vilma, e que o reclamante foidispensado em razão de seu baixodesempenho.

De outro lado, os documentos def. 22/24, retratadores dos objetivos daagência do reclamante para os mesesde dezembro de 2006 e janeiro efevereiro de 2007 (estes dois últimosmeses após a dispensa do autor),demonstram que as metas sofreramredução considerável, após a saída doreclamante, o que possibilitou, inclusive,o atingimento dos objetivos naquelesmeses.

Nesse sentido, reporto-me aoquadro comparativo traçado pela d. juízade origem, à f. 193, e que é revelador nosentido de que, efetivamente, as metasvinham sendo maliciosamente eintencionalmente manipuladas paraatingir moralmente o autor, causando-lheconstrangimento ilícito.

Mais robustecem esseentendimento as declarações prestadaspelo preposto, segundo o qual osobjetivos orçados para a agência deSantos Dumont, onde laborava oreclamante, foram alterados entredezembro/06 e fevereiro/07, emboraacredite que não tenha havido reduçãode clientela na agência (f. 185).

Aqui, merece citação Marie-France Hirigoyen, que ensina que as

causas mais comuns, que levam aofenômeno do assédio moral, podem sero objetivo puro e simples de eliminar-sea vítima para valorizar o próprio poder(do agressor), ou a finalidade de levar avítima a pedir demissão, o queeliminaria custos adicionais e impediriaprocedimentos judiciais.

Destaco, ainda, outra causa doassédio moral, que pode ocorrer dentrodas grandes empresas, onde a estruturaorganizacional é extremamentehierarquizada, e cuja finalidade daperseguição é traçar, ou melhor dizendo,provocar uma justificativa para a dispensade um empregado, sobretudo aquelesmenos produtivos; ou mais antigos; ouque tenham salário muito elevado, ou queexercem cargos de destaque.

Embora a proteção generalizadacontra a dispensa arbitrária, na formado inciso I do artigo 7º da CRFB, aindanão tenha sofrido regulamentação pelolegislador infraconstitucional, bastando,até o momento, o pagamento dasverbas rescisórias e da multa de 40%do FGTS para que se efetive o direitopotestativo da dispensa imotivada peloempregador, quer me parecer que,nesses tipos de assédio, busca-se umajustificativa interna para a dispensa doempregado, a ser apresentada dentroda estrutura hierárquica da empresa, oque mais se justif ica entre osempregados exercentes de cargo deconfiança e altos empregados, alémdaqueles que contam com muitos anosde “casa”, como é o caso do reclamante.

Para a vítima desses tipos deassédio, as conseqüências em suasaúde podem ser desastrosas, porquese torna difícil achar uma solução quenão seja aguardar a dispensa ou pedirdemissão, o que aumenta o estresse ea ansiedade, principalmente em temposde desemprego crescente, comoatualmente.

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Assim, não há dúvidas de que aconduta ilícita do reclamado provocousofrimento moral no reclamante,consubstanciado, sobretudo, naimposição de metas excessivas, noconstante medo de perder o emprego enas condutas discriminatórias ocorridasnas reuniões, o que lhe acarretou ofensaà sua dignidade, à sua integridade físicae psicológica, sendo devida a reparaçãodeferida na origem.

No que tange ao valor daindenização, ela deve, tanto quantopossível, guardar razoávelproporcionalidade entre o danocausado, a sua extensão, o ambientede trabalho, as condições econômicasdas partes e as suas conseqüências,bem como ter por objetivo coibir oculpado a não repetir o ato ou obrigá-loa adotar medidas para que o mesmo tipode dano não vitime a outrem.

O arbitramento, consideradasessas circunstâncias, não deve ter porescopo premiar a vítima nem extorquiro causador do dano, como também nãopode ser consumado de modo a tornarinócua a atuação do Judiciário nasolução do litígio, desmoralizando oinstituto.

Assim, considerando osparâmetros acima transcritos, acondição econômica do reclamado, ahipossuficiência do reclamante e o graude culpa do réu, tenho por razoável queo valor arbitrado a título de indenizaçãopor danos morais seja elevado.

Apenas nesse aspecto, denatureza meramente subjetiva, divirjo dabrilhante sentença, pois elevo o valor dodano moral de R$10.000,00 paraR$50.000,00.

Pelo exposto, dou provimentoparcial ao recurso do reclamante, paraelevar o valor da indenização por danosmorais de R$10.000,00 paraR$50.000,00.

Nego provimento ao recurso doreclamado.

Recurso do reclamado

Equiparação salarial

Insurge-se o recorrente contra ar. sentença, que deferiu o pleito deequiparação salarial, ao argumento deque o autor exerceu a função de GerenteGeral II, enquanto a paradigma, nosúltimos 5 anos, era Gerente Geral III;com responsabilidades e atribuiçõescompletamente distintas; que a modelosempre laborou em cidadeseconomicamente mais expressivas queaquelas em que o recorrido exerceusuas funções; que modelo e obreiroconstruíram suas carreiras emmomentos distintos e em cidadescompletamente diferentes, estandoausentes os requisitos do artigo 461 daCLT, razão pela qual inviável aequiparação deferida na origem.

Sem razão.Para efeito da equiparação

salarial prevista no artigo 461 da CLT,cabe ao autor a prova dos fatosconstitutivos do direito (identidade defunção, de empregador e localidade).Quanto ao réu, incumbe-lhe o ônusde provar os fatos impedi t ivos,modi f icat ivos e ext in t ivos( inexis tência de igualdade deperfe ição técnica e de mesmaprodutividade, diferença de tempo deserviço na função superior a doisanos e existência de quadro decarreira na empresa), tudo conformedispõem os artigos 818 da CLT e 333,I e II, do CPC e Súmula n. 06 do TST.

No que tange ao requisito damesma localidade, convirjo com osbrilhantes fundamentos esposados pelod. juízo de origem, que, imprimindointerpretação extensiva ao item X da

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Súmula n. 06 do TST e, ainda, inspiradonos termos da Convenção n. 111 da OIT,sobre a discriminação em matéria deemprego e profissão, acolheu a teseobreira de que as cidades ondelaboraram autor e paradigmaencontram-se na mesma regiãogeoeconômica, tanto que subordinadasà mesma Superintendência Regional doreclamado, em Juiz de Fora, reputandopreenchido o requisito da mesmalocalidade a que alude o artigo 461 daCLT.

De outro lado, a prova oralconfirmou que o reclamante desenvolviaas mesmas funções que a modelo.

De acordo com o depoimento dopreposto, à f. 185,

as tarefas dos gerentes gerais sãoas mesmas, mas o número declientes e os serviços, assim comoo número de subordinados variam[...].

No mesmo sentido, asdeclarações prestadas por WALKYRIADA CONCEIÇÃO RUFFO CAMPOSFERNANDES, segundo as quais:

[...] dentro do conhecimento dadepoente as atribuições do gerenteda agência de pequeno porte são asmesmas do gerente da agência degrande porte, isto em tipo deatribuição e não em termos dequantidade.

Acrescente-se, ainda, odepoimento de PATRÍCIA TRINDADEDE RESENDE MOREIRA (f. 182/183),que noticiou:

[...] que todo gerente geral deagência, em qualquer agência,desempenha as mesmasatribuições; que reclamante e

paradigma, como gerentes geral (sic)contavam com as mesmasatribuições [...].

Também não restaramcomprovadas as alegações da defesapertinentes às diferenças de atribuiçãoe responsabilidades, decorrentes damaior expressividade econômica dascidades onde laborou a paradigma, deforma a justificar a diferença salarial.

Por certo que as agênciaslocalizadas em cidades distintaspossuíam número de clientes e volumefinanceiro diferenciados, peculiar a cadacidade.

Todavia, de acordo com a provaoral, o conjunto de atribuiçõesdesenvolvidas pelos gerentes gerais,em cada uma dessas cidades, eraexatamente o mesmo, o que é o quantobasta para aferição dos requisitos daequiparação salarial, nos termos doartigo 461 da CLT.

Como bem ressaltado na r.decisão de origem, a testemunhaGilberto de Castro Timótheo noticiou, àsf. 185/186, que fora transferido daagência de Ouro Branco para Juiz deFora, sem aumento salarial, emboraesta última cidade seja expressivamentemaior que a anterior, não havendo nosautos, também, notícia de reduçãosalarial da paradigma quando de suatransferência da cidade de Juiz de Forapara Conselheiro Lafaiete, em processoinverso ao ocorrido com a testemunhaGilberto, ou seja, mesmo tendo ocorridotransferência para cidade de menorporte ou de menor expressividadeeconômica que a primeira.

Assim, é de se rechaçar osargumentos do reclamado de que omaior salário pago à paradigmajustificava-se pelo maior número deatribuições ou responsabilidades dasagências de maior porte, onde a mesma

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laborou, uma vez que, como járessaltado, o critério de diferenciaçãosalarial a partir do tamanho dasagências não restou comprovado.

Não bastasse, de acordo com oconjunto probatório jungido aos autos,o autor também exerceu as funções degerente geral na cidade de ConselheiroLafaiete, onde a paradigma laborou atéo seu desligamento do reclamado, o quemais robustece o quadro até aquidelineado, uma vez que não há falar emmaior responsabilidade da modelo, emrazão do tamanho da agência, já que látambém laborou o autor, embora emmomento distinto.

Por fim, o rodízio entre osgerentes das diversas agências quecompõem a mesma SuperintendênciaRegional em Juiz de Fora, comonoticiado pelas testemunhas PatríciaTrindade (f. 182) e Walkyria daConceição (f. 167), só é possível seadmitido que o feixe de atribuições dosgerentes regionais era o mesmo, deforma que o que motivava astransferências era, na realidade, ointeresse empresário na melhorconsecução dos seus fins sociais eeconômicos.

Nesse diapasão, astransferências de uma agência paraoutra não importavam em promoção, aomenos não da forma como quer fazercrer o recorrente, ou seja, promoçõeslastreadas por tamanho das agências ouimportância econômica das cidades,com os respectivos aumentos salariais,o que está de acordo com o noticiadopela testemunha Gilberto, à f. 186,segundo a qual “não existe ligaçãodireta entre promoção e transferência deagência”.

No que tange ao tempo nafunção, como bem observado na r.decisão a qua, a própria defesa põe umapá de cal na polêmica, ao admitir que,

ao tempo da promoção da paradigmapara o cargo de Gerente de ProduçãoPrincipal SRII, o reclamante já exerciao cargo de Gerente Principal emLeopoldina, sendo que ambos os cargosforam reclassificados, em 01.07.2001,para Gerente Geral.

Acrescente-se, por nãofastidioso, que a denominação doscargos ocupados é irrelevante paraefeito de equiparação, conforme item IIIda Súmula n. 06 do Colendo TST,importando o tempo na função, uma vezque o princípio da primazia da realidadesobre a forma rege as bases do Direitodo Trabalho, impondo a sobreposiçãoda realidade ocorrida na prestação deserviços sobre documentos formais,ante a possibil idade que tem oempregador de fazer constar nessesdocumentos informações inverídicas emdetrimento do empregado.

Demonstrada a identidadefuncional, através da execução dasmesmas atribuições que a paradigma,e não apresentando a empregadoraprova dos fatos que inviabilizam aequiparação salarial, é injustificável adisparidade salarial, razão pela qual sãomesmo devidas as diferenças salariaisdeferidas na origem.

Pelo exposto, nego provimento.

Isso posto, conheço do recursodo reclamante e, no mérito, dou-lheprovimento parcial para elevar o valorda indenização por danos morais deR$10.000,00 para R$50.000,00.

Conheço do recurso doreclamado e, no mérito, nego-lheprovimento.

Elevo o valor da condenaçãopara R$110.000,00, com o conseqüenteaumento das custas para R$2.200,00,a cargo do reclamado, que deverárecolher as custas residuais, no importede R$800,00.

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Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso do reclamante; no mérito, semdivergência, deu-lhe provimento parcialpara elevar o valor da indenização pordanos morais de R$10.000,00 paraR$50.000,00; unanimemente, conheceudo recurso do reclamado; no mérito,sem divergência, negou-lhe provimento.Elevado o valor da condenação paraR$110.000,00, com o conseqüenteaumento das custas para R$2.200,00,a cargo do reclamado, que deverárecolher as custas residuais, no importede R$800,00.

Belo Horizonte, 13 de fevereirode 2008.

LUIZ OTÁVIO LINHARES RENAULTDesembargador Relator

TRT-00888-2007-034-03-00-6-ROPubl. no “MG” de 15.05.2008

RECORRENTE: ENGENHARIA ECONSTRUÇÕES ADG LTDA.

RECORRIDO: WILTON ROQUE LEITE

EMENTA: INDÍCIOS DE AÇÃOFRAUDULENTA - EXPEDIÇÃODE OFÍCIO AO MINISTÉRIOPÚBLICO - ATO DESTITUÍDODE CONTEÚDO DECISÓRIO -SUCUMBÊNCIA INEXISTENTE- AUSÊNCIA DE INTERESSERECURSAL. A expedição deofício determinada pelo juízo,a partir de indícios existentesnos autos, com o objetivo dedeflagrar, se pertinente,procedimento persecutório

para apuração de eventualação fraudulenta perpetradapor empresa e sindicato noâmbito de Comissão deConciliação Prévia, é atomeramente acautelatório, semconteúdo decisório einsuscetível de gerar, per se,gravame - sucumbência - paraos litigantes (CPC, art. 499,caput). Assim, não se conhecede irresignação manifesta noentorno, porquanto ausente obinômio necessidade-utilidadeque informa o manejo dosrecursos.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recurso ordinário,oriundos da 2ª Vara do Trabalho deCoronel Fabriciano, MG, em quefiguram, como recorrente, Engenhariae Construções ADG Ltda. e, comorecorrido, Wilton Roque Leite, como aseguir se expõe:

RELATÓRIO

O MM. Juízo da 2ª Vara doTrabalho de Coronel Fabriciano, pelar. sentença de f. 260-263, extinguiu oprocesso, sem resolução de mérito,nos termos do inciso V do art. 267 doCPC, isentando o trabalhador dopagamento das custas do processo.Considerou a existência de acordocelebrado entre as partes peranteComissão de Conciliação Prévia, comquitação pelo objeto do pedido eeficácia l iberatória geral, semcomprovação de vício como alegado nainicial, até em razão da confissão fictaaplicada ao autor, que não compareceuà audiência em que deveria depor, adespeito de expressamente intimadocom aquela cominação. Tendo emvista, no entanto, a afirmativa, embora

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não comprovada, de lide dissimuladana pactuação prévia, determinou aexpedição de ofício ao MinistérioPúblico do Trabalho para conhecimentodo fato, gerando o presente apelo.

Sustenta a empresa-recorrenteque uma “suposta alegação” de lidedissimulada não pode ser objeto deofício ao Ministério Público, tendo o d.Juízo declarado válido o acordocelebrado perante a CCP, fruto de livremanifestação do recorrido. Assim,requer seja afastada a determinação,em nome da segurança jurídica, sobpena de produzir uma demandadesnecessária, com violação do incisoLXXVIII do art. 5º da Constituição daRepública (f. 265-268).

Não foram apresentadas contra-razões (f. 269 e verso).

Dispensado o pronunciamentoprévio do Ministério Público do Trabalho.

É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Cediço que ao relator, “na funçãode juiz preparador de todo e qualquerrecurso [...], compete o exame do juízode admissibil idade desse mesmorecurso”, pronunciando, de ofício,eventual impedimento, por se tratar dematéria de ordem pública (cf. NERYJÚNIOR, Nelson. Código de processocivil comentado. Editora Revista dosTribunais).

Sabido, mais, que, pararecorrer, não basta a legitimidade dorecorrente, mas, sobretudo, aexistência de um efetivo interesse nairresignação ou, a contrario sensu, tera parte suportado real gravame -sucumbência - com a sentença, a issose referindo, de forma expressa, ocaput do art. 499 do CPC:

O recurso pode ser interposto pelaparte vencida, pelo terceiroprejudicado e pelo Ministério Público.

Assim, detém interesse emrecorrer a parte vencida, ousucumbente, “a quem a sentença nãoatribuiu o efeito prático a que se visava”(SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiraslinhas de direito processual civil. 3ºvolume, Ed. Max Limonad). É asucumbência que abre caminho para alegitimação e traz o interesse recursal,conforme assinala Rodrigues Pinto(Recursos nos dissídios trabalhistas.Forense,1990). E sendo nenhuma alesividade acarretada pela decisãojudicial, não se firma o binômionecessidade-utilidade da insurgência,tornando injustificável o manejo dorecurso.

No caso dado, não se tem, comovisto, provimento jurisdicional de cunhodeclaratório, condenatório ouconstitutivo. Nenhum dos pedidosformulados pelo autor foi objeto dereconhecimento, em nada,absolutamente nada, sendo condenadaa empresa. Limitou-se o d. Togado a quoa pôr fim à relação processual (inciso Vdo art. 267 do CPC), ante os termos doacordo celebrado no âmbito daComissão de Conciliação Prévia,constituindo eficácia liberatória geral emrelação às parcelas reclamadas eobstando o exame da lide (art. 625-Eda CLT).

Nesse passo, difícil conceber aexistência de prejuízo, ainda quemínimo, em face da recorrente, a tantonão alcançando a mera expedição deofício comandada pelo juízo, com oobjetivo de deflagrar eventual inquéritopara apuração da ação fraudulentanoticiada nos autos, envolvendosimulação de demandas peranteComissão de Conciliação Prévia, com

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participação ativa do Sindicato dasIndústrias de Instalações Elétricas, Gás,Hidráulicas e Sanitárias do Estado deMinas Gerais - SINDIMIG (f. 4 e 240-242). O que se tem aí é medida decaráter meramente administrativo,decorrente do poder diretivo do juizsobre o processo (art. 765 da CLT), enão ato de jurisdição propriamente dito,de molde a justificar o conhecimento dairresignação.

Claro que a confissão f ictacominada ao autor da demanda foirelevante para o desate daquelaquestão prejudicial posta na causa -regularidade da quitação operadaperante a Comissão de ConciliaçãoPrévia -, mas não existe, como é certo,coisa julgada a este respeito, comoresulta da precisa letra do inciso III doart. 469 do CPC, verbis:

Não fazem coisa julgada:[...]III - a apreciação da questãoprejudicial, decidida incidentementeno processo.

É dizer que o d. Juízo, em suamotivação, apreciou e resolveu aqueleponto controvertido específico,antecedente lógico do pronunciamentoextintivo que exarou, mas essaresolução, incidenter tantum, não tem osignificado de que não ocorreram osilícitos relatados pelo autor, tal comoparece entender a recorrente. Essamatéria, se for o caso, será objeto deapuração em procedimento próprio e,quiçá, em ação judicial específica,inclusive por exigir ampla dilaçãoprobatória, assegurados aos envolvidoso contraditório e ampla defesa, para quese cumpra o postulado do inciso LV doart. 5º da Constituição Federal.

Assim é que, tendo constatadoo i. Magistrado a quo a existência de

indícios da ocorrência do ilícito relatadopelo trabalhador, determinou,corretamente, a expedição de ofício aoMinistério Público do Trabalho, semqualquer risco de produzir “demandadesnecessária” ou transgressão doinciso LXXVIII do art. 5º da Carta Magna.

Relevante que o reclamante foidispensado sem justa causa, em30.03.2007 (aviso prévio em28.02.2007; cf. f. 144), recebeu asparcelas rescisórias no dia 19.04.2007,perante o sindicato da categoria (f. 145),e no mesmo dia - creia-se - firmou otermo de conciliação de f. 148, junto àComissão de Conciliação Prévia. Mais,alegou o trabalhador que “jamais” haviafeito “qualquer reclamação junto àComissão de Conciliação Prévia” (f. 241- g.n) e a reclamada, ora recorrente,instada a apresentar “cópia do termo dereclamação que originou, em tese, aconciliação retratada” no referidodocumento, “sob as penas dos arts. 355e seguintes do CPC” (ata de audiênciade f. 248), não cumpriu a determinaçãojudicial, sob as evasivas de f. 251.

Lembra-me, pois, da regra do art.40 do CPP, que obriga os juízes outribunais, quando verificarem aexistência de crime de ação pública emautos ou papéis de que conhecerem, aremeter ao Ministério Público as cópiase os documentos necessários aooferecimento da denúncia.

Interessa, de toda forma, que oofício a ser expedido, per se, nãoacarreta qualquer prejuízo para quemquer que seja, até porque quem nãodeve não teme, como é a máximapopular. Trata-se de ato meramenteacautelatório, sem conteúdo decisório,não se assentando, em relação aomesmo, interesse recursal da empresa,que foi, repito, vencedora na demanda,obtendo, com a sentença, tudo quantoesperava no processo.

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Digo isso ciente dajurisprudência do Superior Sodalício, daqual me valho, incorporando-a, comtodas as vênias:

EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOSO Regional determinou a expediçãode ofício ao Ministério PúblicoFederal, a fim de que, nos termosdo § 2º do art. 37 da ConstituiçãoFederal, seja apurada aresponsabil idade dos agentespúblicos responsáveis pelacontratação do recorrido. (f. 73)No recurso de revista, o reclamadoalega que não houve irregularidadea justificar a expedição de ofício.Com efeito, indica violação do artigo5º, II, da Constituição de 1988 ecolaciona um aresto para acomprovação de divergênciajurisprudencial.Sem razão, na medida em que oreclamado sequer detém interesserecursal apto a ensejar a presenteinsurgência. Isso porque adeterminação de expedição de ofícioaos órgãos fiscalizadores decorre delei, a teor do artigo 765 da CLT,dispõe que: Os juízos e Tribunais doTrabalho terão ampla liberdade nadireção do processo e velarão peloandamento rápido das causas,podendo determinar qualquerdil igência necessária aoesclarecimento delas; e nos artigos653, “f”, e 680, “g”, que habilitam osmagistrados a exercer, no interesseda Justiça do Trabalho, outrasatribuições que decorram da suajurisdição, o que consubstancia umamedida de caráter eminentementeadministrativo. Logo, uma vezdespida de qualquer conteúdocondenatório, declarativo,mandamental, executivo ouconstitutivo, carece de interesse

recursal a reclamada.Desse modo, inviável oprosseguimento do apelo no tocanteà virtual violação do artigo 5º, II, daConstituição de 1988. O arestotranscrito às f. 83-85 não viabiliza oconhecimento do recurso de revista,pois é oriundo do mesmo Tribunalprolator da decisão recorrida, sendoinválido para a comprovação dodissenso pretoriano, conforme osditames contidos na letra “a” do artigo896 da CLT, com a redação que lhefoi dada pela Lei n. 9.756/98.Nego provimento ao agravo deinstrumento.(TST- AIRR-1.147/2003-401-02-40.0- Quinta Turma - Ministro RelatorEmmanoel Pereira - Pub. DJ -02.02.2007)

Isso posto, não conheço dorecurso interposto, à míngua deinteresse recursal, prejudicial quesuscito de ofício.

2. Conclusão

Não conheço do recursointerposto, por falta de interesserecursal.

Motivos pelos quais,

ACORDAM osDesembargadores do Tribunal Regionaldo Trabalho da Terceira Região, pelasua Sexta Turma, à unanimidade, emnão conhecer do recurso interposto, porfalta de interesse recursal.

Belo Horizonte, 28 de abril de2008.

EMÍLIA FACCHINIRelatora

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TRT-00881-2007-024-03-00-7-ROPubl. no “MG” de 21.06.2008

RECORRENTE: CPM BRAXIS S.A.RECORRIDO: ROSIMERI DA SILVA

CORREIA

EMENTA: ÁREA DEINFORMÁTICA - FRAUDE ÀLEGISLAÇÃO TRABALHISTA -CONSTITUIÇÃO DE PESSOAJURÍDICA PELOTRABALHADOR COMOFATOR CONDICIONANTE ÀADMISSÃO - PRESTAÇÃODE SERVIÇOS PESSOAIS,SUBORDINADOS EREMUNERADOS EMATIVIDADE-FIM DOCONTRATANTE. “Depois deterceirizado e free-lance, PJ -pessoa jurídica - é o termo davez entre os empregadores”(Folha de São Paulo). Autilização de mão-de-obrasubordinada para a prestaçãopessoal de serviços,mascarada pela pessoajurídica a qual obrigada aconstituir - imposta como fatorcondicionante à própriaadmissão - é fraude que vemsendo descortinada, dia apósdia, notadamente nos setoresligados à área de informáticaem todo território nacional.A configuração escancaradada burla à legislaçãotrabalhista e aos direitossociais dos trabalhadores ficaainda mais evidente quando, adespeito da intermediação dafictícia empresa, através daqual é compelido oempregado, inclusive, àemissão de notas fiscaisfraudulentas, dissociadas da

realidade (sem as quais opagamento de salário éobstado), remanesce o laborsujeito às ordens e diretrizesemanadas dos superioreshierárquicos, com sujeição ahorário e impossibilidade dese fazer substituir, o que nãose coaduna, absolutamente,com a autonomia própriadaquele tipo de vinculação.Demonstrado, quantum satis,realidade tal, emanada dosautos, realizando a empresademandada sucessivascontratações de pessoasjurídicas para o único fim daprestação pessoal de serviçointrinsecamente relacionadocom os seus própriosobjetivos econômicos, impõe-se a declaração de nulidadedos pseudocontratosfirmados, com oreconhecimento do vínculo deemprego entre as partes edeferimento dos coroláriosjurídicos próprios.

Vistos, discutidos e relatadosestes autos de Recurso Ordinário emque figuram como recorrentes CPMBRAXIS S.A. e, como recorrida,ROSIMERI DA SILVA CORREIA.

I - RELATÓRIO

O Juízo da 24ª Vara do Trabalhode Belo Horizonte, em sentença da lavrada Ex.ma Juíza Natália Queiroz CabralRodrigues, proferida às f. 589/602, cujorelatório adoto e a este incorporo, julgouparcialmente procedentes os pedidosdeduzidos na presente reclamação.

Às f. 603/644 recorreordinariamente a reclamada. Suscitapreliminarmente a incompetência da

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Justiça do Trabalho para decidir arespeito da matéria alusiva à devoluçãode tributos (IR, PIS, COFINS, CSLL,ISSQN) e, no mérito, insurge-se contrao reconhecimento do vínculo deemprego no período anterior anovembro de 2005 e determinação deretif icação da CTPS, afirmandoindevidas as parcelas correlatasdeferidas, inclusive as rescisórias pordemissionária a obreira (férias, 13ºsalários, aviso prévio e FGTS acrescidode 40%), além da multa do artigo 477consolidado, bem como as diferençassalariais e reflexos oriundos de supostopagamento não contabilizado a título de“cota benefícios” e por sonegação dosreajustes previstos em instrumentoscoletivos, horas extras e incidências,vale-alimentação, participação noslucros e resultados e indenização pordanos morais. Ao final, questiona adevolução de impostos e honorárioscontábeis, os recolhimentos fiscais eprevidenciários e requer o afastamentoda expedição de ofícios e da concessãodos benefícios da justiça gratuita àautora.

Contra-razões pela reclamanteàs f. 649/655.

É o relatório.

II - VOTO

1 - Juízo de admissibilidade

As partes tiveram ciência da r.sentença vergastada na forma daSúmula n. 197 do TST, no dia11.04.2008, sexta-feira (termo de f. 584/586, presentes os litigantes, c/c f. 602,juntada a decisão na data aprazada, f.588-verso).

Próprio e tempestivo, assim, orecurso interposto pela reclamada em22.04.2008 (f. 603), subscrito,representada conforme procuração de

f. 386 e substabelecimento de f. 389,além de regularmente comprovado orecolhimento das custas e do depósitorecursal (documentos de f. 645/649).

Em 29.04.2008, terça-feira(certidão de f. 647), foi a autoracientificada do apelo empresário.

Igualmente escorreitas, portanto,as contra-razões protocoladas em06.05.2008 (f. 649), assinadas peloprocurador a quem outorgados poderesna esteira do instrumento adunado à f.254.

Satisfeitos os pressupostosobjetivos e subjetivos deadmissibilidade, conheço do recursointerposto pela reclamada, bem comodas contra-razões da reclamante.

2 - Preliminarmente

2.1 - Incompetência da Justiçado Trabalho - Tributos

Renova a reclamada a prefacialem epígrafe (f. 605/611), reiterando a teseantes lançada em defesa (f. 295/296), deque estranha a esta Especializada apostulada devolução dos valoresdescontados a título de impostos ehonorários contábeis, tais como IR, PIS,COFINS, CSLL e ISSQN, sendo o casode requerimento de restituição dopretenso indébito tributário na esferaprópria do Judiciário. Sustenta queprocedeu de forma correta ao realizar aretenção dos impostos, haja vista que alegislação tributária prevê esseprocedimento quando da prestação deserviços por pessoas jurídicas.

Razão alguma lhe assiste,contudo, na argüição.

O pedido inicial de restituiçãodos valores descontados a título deCSLL, PIS, COFINS, IR e ISS é descritoe fundamentado no item 21 da peça deingresso (f. 09). A obreira aduziu que,

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no período de vigência do fraudulentocontrato de prestação de serviçosautônomos firmado com a empresa ré,procedeu ao recolhimento de impostos,taxas e contribuições estranhas àrelação de emprego e asseverou que,uma vez reconhecida a nulidade dessacontratação, impõe-se a restituição dasparcelas.

É imperioso registrar,inicialmente, que, embora a autora serefira à restituição dos impostos e taxaspagos, o pedido deve ser entendidocomo indenizatório, tendo em vista tersido deduzido contra o seu realempregador. Assim, não prospera a teserecursal no sentido de que a Justiça doTrabalho é incompetente para apreciare julgar tal pleito, eis que a pretensãonão se volta contra a AdministraçãoPública.

Vale registrar, ademais, que adeterminação primeva de ressarcimentocorrespondente aos recolhimentosfiscais efetuados indevidamente pelaautora, por culpa empresária diante dafraude perpetrada (v.g. fundamentos def. 599), não se confunde com atransferência de obrigação tributária.Trata-se, ao revés, de conseqüêncianatural da nulidade reconhecida pelojuízo de primeira instância.

Passa ao oblívio da recorrente,portanto, que a competência material daJustiça do Trabalho prevista nos artigos114 da Constituição da República e 652,“a”, IV, da CLT, é fixada de acordo comos fatos narrados (causa de pedir) e apretensão deduzida. No caso em tela,como visto, a recorrida afirmou que, emvirtude de fraude na sua contratação,foi obrigada a constituir pessoa jurídicae pagar os impostos necessários ao seuregular funcionamento, o que lhecausou prejuízos.

O cerne, então, da controvérsiareside na caracterização do vínculo de

emprego no período postulado e suasconseqüências na remuneração daautora, matéria inegavelmente afeta aesta Justiça Especializada. Assim, aocontrário do que alega a recorrente, nãose discute o tributo em si, mas a suapertinência numa possível relação detrabalho, motivo por que não se há falarem incompetência desta seara.

Rejeito.

3 - Juízo de mérito

3.1 - Relação de empregoreconhecida a partir de novembro de2005

Aduziu a reclamante, segundonarrativa do ingresso (f. 03/06), acelebração de contrato com areclamada em 04 de fevereiro de 2002,para o labor como analista de sistemas,sem CTPS assinada, sendo-lhe exigida,no ato de admissão, a constituição defirma individual fictícia. Somente emnovembro de 2005, após intervenção doMinistério Público, foi obrigada aempregadora à regularização dovínculo, sendo dispensada em fevereirode 2007, embora coagida à assinaturado pedido de demissão.

Postulou, ao enfoque, oreconhecimento do vínculo de emprego,dispensa imotivada e deferimento dasparcelas consectárias.

A matéria não é nova, nemdesconhecida a reclamada e, como sóiacontecer nos inúmeros processos quelhe são movidos, insiste na tese deautonomia da relação havida com aempresa pela obreira constituída(defesa, f. 265/266 c/c razões recursaisde f. 611/619). E limitando-se à defesadessa natureza, acaba por admitir aprestação de serviços, ainda que sobroupagem diversa da empregatícia,atraindo para si, conseqüentemente, o

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onus probandi, ao revés, notadamente,da afirmativa recursal de f. 618, últimoparágrafo, supondo que o encargoprobatório seria da autora, no que seequivoca.

E não obstante afirme que areclamante, no período anterior anovembro de 2005, sempre foraprestadora de serviços autônomos,servindo-se para isso de sua própriaempresa (RSC Informática Ltda., v.g. f.264), sem que restassem evidentes osrequisitos do art. 3º da CLT,precipuamente, a subordinação, oselementos nos autos contidosconduzem à conclusão absolutamenteinversa.

Primeiramente, cumpre ressaltarque a reclamada não impugnouexpressamente a unicidade contratualdeclarada em primeiro grau.

Já no que diz respeito àprodução de provas, mister salientar quea reclamante logrou êxito emdemonstrar os requisitos configuradoresda relação de emprego previstos no art.3º da CLT, mesmo que não lhepertencesse o encargo. Aliás, consabidono Direito Processual do Trabalho que,quando se nega a existência dequalquer prestação de trabalho, a provado vínculo de emprego incumbeexclusivamente ao autor, por ser fatoconstitutivo de seu direito. Lado outro,admitida a prestação pessoal deserviços, ainda que por intermédio defirma individual ou qualquer outraintermediária, ao réu incumbe a provada autonomia na relação havida,porquanto constitui fato impeditivo aoreconhecimento do liame empregatício,presumindo-se, caso não se desoneredo encargo processual, tratar-se, defato, de relação de emprego. Assim, nahipótese de alegação de contratação deempregado, mediante pessoa jurídicapor este constituída, por imposição da

reclamada, não se afasta oreconhecimento do vínculo quando nãoficar demonstrado que o trabalhadorexercia sua atividade com organizaçãoprópria, l iberdade de iniciativa eautodisciplina, ônus processualprobatório, repita-se incansavelmente,da reclamada.

Mesmo que assim não fosse,restou evidente, pelo depoimento datestemunha obreira, que a reclamantesempre trabalhou exclusivamente paraa reclamada, subordinada a horário esob a direção de gerentes ecoordenadores da empresa, enquantoa recorrente demonstração algumatrouxe a amparar a tese defendida.

Com efeito, assim declarou odepoente (f. 585):

Trabalhou para a reclamada, de 2002até 2006, como analista de sistemas,tendo atuado junto com areclamante; afirma que “entrou comoPJ”, condição essencial para sercontratado, o que perdurou poraproximadamente 3 anos e,posteriormente, trabalhou como “CLTFlex”, explicando que nesta últimacondição recebia metade do salárioregistrado na CTPS e metade “porfora” [...]; cumpria jornada de 8h até21h30min/22h, com 1 hora e 30minutos de intervalo [...]; não houvequalquer alteração no desempenhode suas tarefas quando o seucontrato foi regulado através da CLT,ou seja, tanto PJ quanto celetista, otrabalho foi feito da mesma forma,nas mesmas condições; na épocaem que foi PJ, não era possível fazer-se substituir [...].

Como se vê, tranqüilo, foramcorroboradas todas as afirmações daatrial.

Outra conclusão não pode

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mesmo haver, senão aquela jáesposada na origem e em inúmerosfeitos idênticos ao presente, no sentidode que a prestação de serviços pelareclamante efetivamente se fez embenefício unicamente da reclamada, nosmoldes do art. 3º da CLT.

Restou evidente a utilização deinterposta empresa, aquela constituídapela própria obreira apenas porimposição patronal, para execução deserviços indispensáveis ao seuempreendimento (projetos relacionadosà área de informática da TELEMAR,vide, também, Estatuto Social à f. 395),e, ademais, seja por meio da pessoajurídica fictícia, seja como empregadacom vinculação empregatícia, asatividades desenvolvidas pela recorridapermaneceram inalteradas desde oinício da relação havida, afastandoqualquer possibilidade de se cogitar emautonomia, revelada, como foi,verdadeira fraude à legislaçãotrabalhista.

Pela prova produzida pelaobreira ficou patente que a terceirizaçãoperpetrada objetivou a precarização dedireitos dos trabalhadores, ou seja, teveo intuito único de reduzir custos, emdetrimento do empregado, do salário eda dignidade daquele que executatarefa indispensável aoempreendimento comercial darecorrente. Outrossim, igualmentedemonstrada a subordinação jurídica dademandante até mesmo diante doexigido cumprimento de horário eimpossibilidade de se fazer substituir,que em nada condizem com aautonomia defendida, o que, por si só,já autorizaria o reconhecimento do liameempregatício, nos precisos termos dosartigos 2º e 3º da CLT. Mas, além disso,da subordinação e da pessoalidade,restou patente, também, aremuneração.

Aliás, já é sabido e consabidoneste Regional, a exemplo inclusive deoutros processos já apreciados tambémpor esta E. 4ª Turma, que, emdecorrência da instauração deprocedimento preparatório de inquéritocivil pelo Ministério Público do Trabalho,formalizou a ora recorrente o termo decompromisso noticiado na peça deingresso, através do qual se obrigou aabster-se de contratar e mantertrabalhadores por intermédio decooperativas de trabalho e/ou pessoasfísicas ou jurídicas que atuem como merointermediador de mão-de-obra, paraexercício de sua atividade-fim, nesseconceito inseridas, a título de exemplo,as atividades de análise de sistemas(confira-se nesse sentido adocumentação coligida às f. 45/147). Foi,a propósito, em decorrência, que passoua reclamante à contratada regida pelaCLT a partir de novembro de 2005.

Por fim, pontue-se que o fato dea legislação específica detelecomunicações autorizar aterceirização das atividades dasempresas desse ramo não tem ocondão de afastar o vínculo de empregoentre a beneficiária dos serviços e osempregados admitidos comoprestadores autônomos por empresainterposta, em especial, quando a prova,no caso concreto, demonstra aexistência dos requisitos configuradoresda relação de emprego nos moldes doart. 3º da CLT. E essa, in casu, não deixadúvidas da existência da fraude àlegislação trabalhista, isto é, que areclamante foi inserida no processoprodutivo da atividade econômica dareclamada, desempenhando atividadesimprescindíveis à consecução doempreendimento empresarial, por meiode interposta empresa. Mais a mais,como inicialmente esclarecido, o ônusde demonstrar a autonomia pertencia à

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recorrente, e não à recorrida de provara relação nos moldes consolidados,encargo probatório do qual a reclamadanão se desincumbiu.

A utilização de mão-de-obrasubordinada para a prestação pessoalde serviços, mascarada pela pessoajurídica a qual obrigada a constituir -imposta como fator condicionante àprópria admissão - é fraude que vemsendo descortinada, dia após dia,notadamente nos setores ligados à áreade informática em todo territórionacional. A configuração escancaradada burla à legislação trabalhista e aosdireitos sociais dos trabalhadores ficaainda mais evidente quando, a despeitoda intermediação da fictícia empresa,através da qual é compelido oempregado, inclusive, à emissão denotas fiscais fraudulentas, dissociadasda realidade (sem as quais o pagamentode salário era obstado), remanesce olabor sujeito às ordens e diretrizesemanadas dos superiores hierárquicos,com sujeição a horário e impossibilidadede se fazer substituir, o que não secoaduna, absolutamente, com aautonomia própria daquele tipo devinculação.

Casos como o vertente,infelizmente, não são apenasverificados no âmbito desta 3ª Região,mas em todo o território nacional,principalmente, como referido, na áreade informática.

Veja-se, a propósito, a seguintenotícia (Fonte: Assessoria deComunicação da Procuradoria Regionaldo Trabalho da 1ª Região - PRT-1/RJ):

Contratos civis para mascararrelações trabalhistas de empregados:A Rota Global Logística eDistribuição Ltda., uma dasempresas contratadas pela EditoraAbril para distribuir revistas, firmou

acordo judicial após o MinistérioPúblico do Trabalho no Rio deJaneiro ajuizar Ação Civil Públicapedindo a condenação da empresaem não mais utilizar contratos civis,como o de prestação de serviços,para mascarar relações trabalhistasde seus empregados. O acordo foifirmado na 57ª Vara do Trabalho doRio de Janeiro. A empresacomprometeu-se também a nãoutilizar mão-de-obra intermediadapor terceiros, exceto nas hipóteseselencadas na Súmula 331 doTribunal Superior do Trabalho (TST).Em substituição ao Procurador doTrabalho Rodrigo Carelli, autor daação, a Procuradora do TrabalhoGuadalupe Louro Turos Coutoexpediu ofício à Delegacia Regionaldo Trabalho solicitando a fiscalizaçãodo cumprimento do acordo noestabelecimento da empresa. O não-cumprimento acarretará multa diáriade R$5 mil em favor do Fundo deAmparo ao Trabalhador (FAT). OMPT recebeu denúncia de que aempresa Rota Global Logística eDistribuição Ltda. burlava alegislação trabalhista e os direitossociais garantidos aostrabalhadores. A empresa utilizavamão-de-obra subordinadamascarada de prestadores deserviços autônomos. O empregadoera obrigado a abrir a própriaempresa (pessoa jurídica), apesar decontinuar a exercer a mesma funçãoe sendo subordinado ao superiorhierárquico. De acordo com asinformações colhidas, não restaramdúvidas de que os trabalhadoresexerciam funções tipicamente deempregados, com elementoscaracterizadores da relação deemprego e não como prestadores deserviços.

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E não é de hoje que essaindisfarçável fraude vem sendopraticada. Em 12 de setembro de 2004o jornal Folha de São Paulo publicou aseguinte matéria (grifos acrescidos aooriginal):

Disfarçar funcionário como prestadorde serviço é fraude:“Temos total interesse no seuserviço, mas, para trabalhar aqui,você precisa ter registro de pessoajurídica.” A frase nunca foi tãoutilizada pelo mercado de trabalhocomo nos dias atuais.Tradicionalmente feita pela área detecnologia, a exigência está sepopularizando por outros setores etem pego muitos profissionais desurpresa. Depois de “terceirizado” e“free-lance”, “PJ” - pessoa jurídica -é o termo da vez entre osempregadores.A edição de julho deste ano da PME(Pesquisa Mensal de Empregos),realizada pelo IBGE (InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística)nas seis principais regiõesmetropolitanas (Belo Horizonte, PortoAlegre, Recife, Rio de Janeiro,Salvador e São Paulo), apontou que,para um universo de 8.315 brasileirostrabalhando com carteira assinada,existem 4.309 atuando sem o registro.Embora não haja dados quanto àporcentagem exata de prestadores deserviço no mercado, eles engordama última fatia. Mas, afinal, o que é serpessoa jurídica e por que asempresas tendem a contratar dessaforma? Existe vantagem para quemopta por trabalhar dessa maneira?“Ser PJ significa, a princípio, trabalharcom autonomia, sem vínculo desubordinação. O profissional vira umaempresa prestadora de serviço epassa a assumir as despesas e os

riscos do seu próprio negócio”,esclarece a advogada Márcia PozelliHernandez, mestra em direitotrabalhista pela PUC-SP (PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo).“É vantajoso para a empresa, masraramente para o profissional”,completa. Isso porque o uso que omercado tem feito do conceito nemsempre é condizente com a definiçãooriginal. Na prática, o que ocorre é asimples substituição do tipo decontrato de trabalho, troca-se a“papelada” baseada na CLT(Consolidação das Leis do Trabalho)por uma de prestação de serviço porpessoa jurídica. Com isso, ocandidato perde todos os benefíciosprevistos por lei, mas suas atribuiçõese seus horários na firma não sãoalterados. “Nesses casos, temosfuncionários ‘disfarçados’ deempresas. A prática constitui fraude.Se, ao ser desligado, o colaboradorprocessar o ex-‘patrão’, ele temgrandes chances de ganhar. Para aempresa, é arriscado”, diz Hernandez.Mais baratoDono de uma microempresa deinformática, J.S., 30, que pediu paranão ser identificado, prefere contratarpessoas jurídicas. “Meu faturamentomensal não passa de R$ 15 mil. Nãotenho como arcar com despesastrabalhistas.” Com apenas doisanalistas na sua equipe, ele contaque o primeiro foi contratado deacordo com a CLT e o último, comopessoa jurídica. Os dois ocupamposições no mesmo nívelhierárquico, cumprem horáriosidênticos e dividem as mesmastarefas. A PJ, entretanto, temremuneração sutilmente superior àdo empregado contratado. “Aos doisdei as duas opções e cada umescolheu a que queria”, explica J.S.

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Sócio da consultoria de negóciosN4web, o administrador FelipeLaragnoit Leite, 27, presta serviçospara uma grande empresa, na qualtrabalha diariamente. “Mas étotalmente diferente de serfuncionário. Aceito e cumprocontratos de projetos”, diz ele [...].

Dessa compreensão, porderradeiro, não destoa a jurisprudênciadesta E. 4ª Turma, segundo, poramostragem, os seguintes Precedentes:00470-2007-111-03-00-3-RO, RelatorDesembargador Caio Luiz de AlmeidaVieira de Mello, DJMG 16.02.2008;00724-2007-114-03-00-2-RO, RelatorJuiz Convocado José Eduardo deResende Chaves Júnior, DJMG20.11.2007; 00714-2006-017-03-00-7-RO, Relator Desembargador JúlioBernardo do Carmo, DJMG 06.11.2007;02521-2006-136-03-00-7-RO, RelatorDesembargador Antônio Álvares daSilva, DJMG 21.04.2007.

Sendo assim, impõe-se aaplicação do preceito contido no citadoartigo 9º da CLT, mantendo-se a r.sentença de origem que declarou ovínculo de emprego diretamente com areclamada desde 04.02.2002,considerando una a relação havida edeterminando a retificação da CTPS.

3.2 - Verbas consectárias -Reajustes salariais previstos nasCCTs da categoria profissional -Participação nos lucros e vale-alimentação

Como analisado anteriormente,a prova testemunhal produzida pelaautora demonstrou que a contrataçãopor interposta empresa se fez com oobjetivo de desvirtuar, impedir ou fraudara aplicação dos preceitos contidos naConsolidação das Leis do Trabalho, a

teor de seu artigo 9º, formando um únicocontrato de emprego com a reclamadaque, por seu turno, não satisfez oencargo que para si atraiu, dedemonstração da autonomia defendida.

Por conseqüência, limitando-seas assertivas recursais referentes àincidência dos direitos previstos nasCCTs da categoria, à inexistência,superada, dos requisitos presentes nosartigos 2º e 3º da CLT, impõe-se amanutenção da condenação aopagamento das verbas contratuaisrelativas ao período reconhecido, asaber, férias com acréscimo de 1/3,salários trezenos e depósitos do FGTS(a respeito do qual, ao revés do aduzidoà f. 623, segundo parágrafo, era ônus dareclamada comprovar o escorreitorecolhimento, o que não demonstrou),bem como o deferimento de direitoscoletivamente negociados peloSINDADOS nas convenções coletivasjuntadas com a inicial, em especial, osreajustes salariais questionados às f.629/630 do apelo (cláusula 1ª, vide porexemplo f. 234), à participação nos lucrose resultados (apelo, f. 631 e cláusula 4ª,v.g. f. 235) e indenização correspondenteaos tíquetes refeição/alimentação(cláusula 6ª da CCT 2002/2005, f. 233),limitada, aliás, somente ao lapso decorrespondente vigência (sentença, f.597), verbas impugnadas ao enfoque,tão apenas, da inexistência de liameempregatício, matéria superada.

Mantenho.

3.3 - Rescisão contratual -Pedido de demissão - Vício deconsentimento - Verbas rescisórias emulta do artigo 477 da CLT

A respeito do tema, sem dúvidao que emerge do processado é que, emrazão do término do contrato havidoentre a reclamada e a TELEMAR, foram

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compelidos todos os trabalhadores -mesmo os que, como a reclamante,ainda que por pequeno lapso temporalforam absorvidos pela sucessora àformulação de pedido de demissãoeivado de vício.

Veja-se o depoimento pessoal darecorrida, à f. 584:

[...] toda a equipe de trabalho teveciência de que a reclamada parariade prestar serviço para a TELEMARe quem assumiria o contrato seria aIBM, motivo pelo qual foramentrevistados para o início docontrato de trabalho pelo novoempregador; houve um acordo decavalheiros entre as duas empresas(CPM e IBM); ocorreu de algunscolegas não aceitarem o convite paratrabalhar na IBM, porque haveriaredução salarial, e, após 3 mesestrabalhando para a ré, semdesempenhar tarefas profissionais,foram dispensados [...].

Relevante e comprobatório dosfatos noticiados no ingresso, odepoimento da testemunha obreira (f.585):

[...] foi obrigado a “pedir para sair”quando de seu distrato com areclamada; alguns colegas foramaproveitados pela IBM e não tiveramaumento de salário; com relação àreclamante, acredita que aremuneração permaneceu inalterada[...]; todos os empregados dareclamada assinaram uma carta,redigida à ré, constando o pedido dedemissão [...]; houve certa pressãoda reclamada para que osempregados assinassem o pedidode demissão, já que este estavavinculado à contratação pela IBM[...].

Extrai-se, assim, que, emboratenha firmado a autora o documento def. 537, onde exprimia sua intenção deromper o pacto laborativo, foi impelidapela reclamada ao procedimento,formulando pedido de demissão,porquanto, dessa forma, garantiria lugarna empresa sucessora da ré.

Logo, patente a prova do vício deconsentimento na vontade manifestadapela reclamante ao firmar aquelepedido, a rescisão do pacto laboral, naforma como à obreira imposta, édestituída de qualquer validade.

Demonstrada a alegada coação,mantenho a nulidade do ato dedemissão, observando, ainda, aincidência do disposto na Súmula n. 276do TST:

AVISO PRÉVIO. RENÚNCIA PELOEMPREGADO. O direito ao avisoprévio é irrenunciável peloempregado. O pedido de dispensade cumprimento não exime oempregador de pagar o respectivovalor, salvo comprovação de havero prestador dos serviços obtido novoemprego.

Correta a decisão de primeirograu que converteu o rompimento docontrato para dispensa sem justa causa,remanescendo, em decorrência, acondenação ao pagamento, in casu, deaviso prévio, décimo terceiro salárioproporcional, férias proporcionais com1/3 e 40% sobre o FGTS (fundamentosde f. 594).

Entrementes, no tocante à multado artigo 477, da CLT, tem razão areclamada, porque a hipótese nãoretrata atraso na quitação dos haveres,mas sim o pagamento, a menor, dasverbas devidas à reclamante.

Nem havia, a propósito - pontue-se pela relevância -, causa de pedir na

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exordial a respeito da quaestio,singelamente vindicada no rol de f. 12,ao final, quando postulou a aplicaçãodo artigo 467 consolidado “sobre asparcelas rescisórias incontroversas do§ 8º do artigo 477 da CLT”. Nem mesmo,a propósito, informa a reclamante a dataem que teria havido o pagamento, aindaque inferior ao devido, constante doTRCT de f. 25.

Provejo, em parte, para excluir dacondenação o pagamento da multa doartigo 477 da CLT.

3.4 - Diferenças salariais -Pagamento extrafolha - Cestabenefícios - Redução remuneratória

Não se conforma a reclamada, àsf. 623/627, com o reconhecimento docaráter salarial da “cesta benefícios”,com reflexos, a partir de 01.11.2005, emférias acrescidas de 1/3, 13º salários,FGTS e participação nos lucros (tópico2.6, f. 594/596 da sentença). Aduz que aparcela retratava reembolso de despesascom transporte, ajuda-educação,reembolso de despesas médicas eassistência hospitalar, entre outras,verbas que, segundo a legislação citada,têm natureza indenizatória, não setratando, assim, de pagamento nãocontabilizado, mas sim de benesses que,por seu caráter, desautorizam asincidências reflexas comandadas.

Argumenta, outrossim, ainexistência de qualquer alteraçãosalarial i lícita, ou reduçãoremuneratória, insistindo na alegaçãoda diferença decorrente da prestaçãoautônoma de serviços, antes daanotação da carteira de trabalho,controvérsia, repita-se, superada.

A despeito do inconformismo,com muita propriedade bem elucidoua r. sentença o tema em debate (f.594/595):

Afirma a autora que, no período emque laborava prestando serviços semanotação da CTPS [...], chegou areceber a remuneração deR$5.293,75, passando a R$1.480,00(oficial) + R$1.934,00 (extra-oficial)a partir de 01.11.2005 quando foicontratada nos moldes da CLT,sendo que este último valor era pagosob a forma de cesta de benefícios;que, por não ser consideradosalarial, não entrava no cálculo dasdemais parcelas. O réu nega que aparcela denominada “cesta debenefícios” tenha caráter salarial eque tenha havido redução salarial.Importa, primeiramente, fixar aremuneração mensal da autora noperíodo contratual inicial, devendo-seconsiderar que a remuneraçãomensal da autora correspondiaàquela indicada nas notas fiscaisemitidas pela “empresa” aberta pelaautora, mês a mês, até 31.10.2005.Quanto às parcelas denominadas“CLT flex” ou “cesta benefícios”, o réualega que possuem naturezaindenizatória a teor do disposto noart. 458 da CLT. Contudo, encontra-sedestituído de qualquer razão, hajavista que as uti l idades alimencionadas correspondem abenefícios efetivos e não a valoresmonetários depositados em prol doempregado. Ademais, não obstantea reclamada tenha afirmado que eranecessária a apresentação derecibos para ressarcimento dosvalores correspondentes à “cesta debenefícios”, a simples análise doscontracheques da autora (f. 22/23)demonstra que as parcelas tinhamcaráter fixo (como a “cota utilidade”no valor de R$1.600,00 e o“adiantamento de competências”, novalor de R$331,70).Ora, se as parcelas da “cesta de

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benefícios” eram pagas a título deressarcimento de despesas contraapresentação de recibos, não sepode admitir que possam ter valoresfixos mensais, o que demonstra,claramente, a fraude perpetrada pelareclamada para o pagamento desalários de forma indireta.Pelo exposto, considere-se comoremuneração, a partir de 01.11.2005,mês a mês, a soma da parcela horasnormais, mais os valores da “cestade benefícios” (e, na falta destanomenclatura, a soma das parcelas“adiantamento competências”,“reembolso de despesas” e “cotautilidade”).Considerada de natureza salarial,deve haver a integração da parcelaacima para análise do argumento daautora de que houve redução salariala partir da anotação da CTPS. Nessepasso, a simples análise das notasfiscais juntadas em f. 20, 520/536 fazconstatar que, na maioria dos meses,a autora auferia mais do que suaremuneração no período deanotação da CTPS. Insta ressaltarque o ordenamento jurídico pátriorejeita a redução salarial, já que estaconstitui alteração contratual lesivaao trabalhador, o que é defeso, nostermos dos arts. 9º, 444 e 468 daCLT.Tendo em vista que houve reduçãosalarial quando da anotação daCTPS da autora e constatando-seque a remuneração desta eravariável, conforme se pode ver dasnotas fiscais citadas, devem serpagas diferenças salariais mês amês entre a média aritmética anualdos valores dispostos nas notasfiscais acima indicadas e aquelapaga mês a mês à autora a partir de01.11.2005, assim como diferençasem “horas normais” pagas na

rescisão, férias + 1/3, 13º salários,PLR, FGTS + 40%, nos termos dopedido.

Perfeita a apreensão dacontrovérsia e a comparação entre oantes percebido, enquanto pessoajurídica camuflada a reclamante e aremuneração posterior à carteiraanotada, mitigada. Inclusive, comotambém já descortinado pela origem, defato os recibos de pagamento coligidosaos autos comprovam que a parcela oraintitulada “cesta benefícios”, ora“reembolso de despesas” ou, ainda,“cota util idade” era quitadamensalmente e possuía valor fixo,situação que não condiz com oreembolso de despesas sujeitas àcomprovação, cujos importesnormalmente oscilam, são variáveis deacordo com o efetivo gasto realizado acada mês.

Demais disso, não é possíveldistinguir, seja pela nomenclatura dasrubricas, seja pelos seus respectivosvalores, quais os montantes pagos, porexemplo, a título de assistência médica,ou de ajuda-educação e, menos ainda,custeio de transporte, para a verificaçãode eventual enquadramento nasexceções invocadas pela reclamada.

Saliente-se, ainda, que o mesmoocorre com a suposta “ajuda-farmácia”,mencionada à f. 624, benefício quesequer é inserido no conceito deassistência médica a que alude o § 2ºdo art. 458 da CLT.

De toda sorte, o fato é que, àmíngua de demonstração hábil quantoà necessidade de comprovação dasdespesas que reputa a demandadasimplesmente reembolsadas, não hámargem para acolhimento doinconformismo, nem tampouco paraincidência da legislação invocada.

Irretocável o decisum.

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3.5 - Jornada de trabalho -Horas extras e adicional incidente

Fixou a r. sentença (f. 596) ajornada laborada como sendo das 9h às19h30min, de segunda a sexta-feira,com uma hora e trinta minutos deintervalo intrajornada e, aos sábados,das 9h às 18h, com o mesmo intervalo,deferindo como extra o excedente da44ª hora semanal acrescida do adicionalconvencional de 100%.

A recorrente, de plano, reiterairresignação superada quanto àausência de vínculo empregatícioanteriormente a novembro de 2005 (f.628) e, relativamente ao lapso posterior,tergiversa atribuindo à autora o ônus daprova que, no entanto, pertencia àprópria reclamada (f. 627).

Com efeito, os poucos registrosde horário trazidos aos autos, a exemplodaqueles adunados às f. 492/519, sãobritânicos, simétricos até mesmo dentrode sua própria variação, sempreconsignando horários exatos, 9h às18h45min ou 8h às 17h30min, poramostragem, f. 493 e 501.

Equivale dizer, não passam pelocrivo da Súmula n. 338 do TST, atraindoa presunção relativa do horário detrabalho declinado na inicial, em nadaservindo à aferição da jornada cumpridano lapso anterior ao registro do contratoem CTPS. Portanto, mesmo que nãotivesse a reclamante comprovado osfatos constitutivos do direito vindicado,o que inocorreu, como se verá a seguir,ainda assim o recurso não ensejaria aimprocedência do pedido.

Com efeito, produzida prova oral,a testemunha obreira noticiou à f. 585 que

[...] a reclamante trabalhava de 9haté 19h30min, com intervalo de 1hora e 30 minutos, de segunda asexta-feira e aos sábados, em média

de 2 a 3 vezes por mês, no horáriode 9h às 19h, com o mesmo intervalo[...].

Revela-se, portanto, afinada coma prova produzida a sobrejornadareconhecida em primeiro grau.

Contudo, um pequeno retoquemerece o julgado que, embora tenha,quanto ao término do horário de laboraos sábados, observado os limites quea própria petição de ingresso impunha(v.g. f. 09, item 23), na quantidadesuperou, data venia, o pedidoformulado: “trabalhou também, emmédia, dois sábados por mês das 09:00/10:00 às 18:00/18:30 horas”.

A r. sentença, como se vê à f.596, antepenúltimo parágrafo do item2.7, adotou a informação colhida dodepoimento pessoal da obreira, que nãolimitava o número de sábadoslaborados, o que desatende aos ditamesdos artigos 128 e 460 do CPC,considerando que, ali, já modificava arecorrida o contido na atrial.

Outrossim, razão assiste àreclamada também no tocante aoadicional de 100% deferido (f. 628/629),bastando, para assim concluir, atençãoà cláusula sétima das CCTs 2003/2005,f. 247 e 2005/2007, f. 236, quandoestabelece a incidência do adicional de50% para as duas primeiras horasextras laboradas e de 100% para asdemais.

Aliás, os instrumentos anteriores,relativos a 2002/2003 (f. 228/233), e,ainda, outro referente também ao lapsode 2004/2005 (f. 241/244) cobrindoigualmente parte do período de vigênciadaquela celebrada em 2003, em vigoraté 2005, suprareferida - nadadisciplinam no tocante a adicionaldiverso do legal, de 50%.

Provejo, em parte, para limitar ossábados deferidos a dois mensais, bem

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como determinar a aplicação doadicional convencional de 100%somente nos períodos de vigência dasconvenções coletivas de 2003/2005 e2005/2007, incidente, apenas, a partirda terceira hora extra praticada.

Os reflexos ficam mantidos,acessórios do direito ao principal, queremanesce.

3.6 - Indenização por danosmorais

Tem razão a recorrente, uma vezmais, no inconformismo expostoconsoante argumentação tecida às f.633/635.

Concessa venia da compreensãode primeiro grau, ao explanar que“incontrastavelmente provado o dano,haja vista que a autora, em visívelconstrangimento, relatou a este juízo osofrimento que lhe tem sido impingido porestar enfrentando grandes dificuldadespessoais para encerrar as atividades daempresa aberta por ela quando daadmissão na reclamada (depoimentopessoal, f. 582)”, não visualizo a prova doprejuízo moral, à honra ou à reputaçãoda reclamante, em decorrência dos fatosalegados, a justificar a condenação(vultuosa para o caso), imposta.

Aliás, na seqüência asseverou,ainda, a sentença que “ocondicionamento da admissão daautora à abertura de empresa, com aconseqüente elisão dos direitosconcedidos pelo ordenamento jurídicoà empregada ilicitamente admitida, e,ainda, a dificuldade em se efetuar oencerramento das atividadesempresariais [...], tudo isto acabou porlhe impingir visível sofrimento, quematerialmente será reparado com opagamento de todas as parcelasdevidas. Os danos morais perpetradospor abuso de direito e atos ilícitos

praticados pelo empregador, entretanto,são irreparáveis em sua essência [...]”para, ao final, deferir “o pagamento deindenização por danos morais, nostermos do art. 186 do CC/2002, noimporte de R$5.293,75 (maiorremuneração auferida pela autora no 1ºperíodo contratual, conforme f. 20), porcada um dos anos em que a autora ficousem registro de seu contrato na CTPS(2002, 2003, 2004 e 2005), alcançandoo montante total de R$21.175,00”(fundamentos de f. 598/599).

Como dito, prova não há, excetoo depoimento pessoal da recorridaquanto à lesão íntima sofrida, na esferapsíquica. E mesmo que presumível seja,em razão do já reconhecido direitosonegado ao registro do contrato detrabalho, certo é que a lesão já contoucom reparação judicial, assim como notocante à coação sofrida por ocasião dadispensa e, também, o ressarcimentomaterial pelos descontos efetuados coma constituição da pessoa jurídica fictícia.

Ora, a reparação do dano moralpressupõe o claro delineamento de queo ato patronal praticado seria o agenteque ocasionou o gravame ou risco àintegridade física do trabalhador,gerando ação reflexa direta na esferaemocional do empregado.

Com efeito, segundo a doutrinade Maria Helena Diniz,

o dano moral consiste na lesão a uminteresse que visa a satisfação ougozo de um bem jurídicoextrapatrimonial contido nos direitosda personalidade (como a vida, aintegridade corporal, a liberdade, ahonra, o decoro, a intimidade, ossentimentos afetivos, a própriaimagem), ou nos atributos da pessoa(como o nome, a capacidade, oestado de família).

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Ainda de acordo com a i. autora,para que o dano seja passível dereparação, é imprescindível aocorrência dos seguintes requisitos:

diminuição ou destruição de um bemjurídico, patrimonial ou moral,efetividade ou certeza do dano,causalidade, subsistência do danono momento da reclamação dolesado, legitimidade e ausência decausas excludentes deresponsabilidade.(in Curso de direito civil brasileiro -Responsabilidade civil, RT, 1998, p.81/82)

Por outro lado, adverte SérgioCavalieri Filho:

Nessa linha de princípio, só deve serreputado como dano moral a dor,vexame, sofrimento ou humilhaçãoque, fugindo à normalidade, interfiraintensamente no comportamentopsicológico do indivíduo, causando-lheaflição, angústia e desequilíbrio emseu bem-estar. Mero dissabor,aborrecimento, mágoa, irritação ousensibilidade exacerbada estão forada órbita do dano moral, porquanto,além de fazerem parte danormalidade do nosso dia-a-dia, notrabalho, no trânsito, entre amigos eaté no ambiente familiar, taissituações não são intensas eduradouras, a ponto de romper oequilíbrio psicológico do indivíduo. Seassim não entende, acabaremos porbanalizar o dano moral, ensejandoações judiciais em busca de indenizá-lospelos mais triviais aborrecimentos.(in Programa de responsabilidadecivil, 1. ed., p. 76/77)

Nesse viés, se para cadatrabalhador não registrado, com ganho

de causa na seara trabalhista para finsde anotação da CTPS e, se para cada,na mesma linha de raciocínio,trabalhador injustamente dispensadoque, com certeza, sofre dissabores eangústia com o ato potestativo patronal,fôssemos conferir indenizações dessejaez e, mais ainda, em importes como ona origem fixado, não restariam maisempresas no país e sim uma falênciageral; não haveria geração de emprego,nem oferta de trabalho, mas o caos.

Nessa exata linha decompreensão vem caminhando ajurisprudência, a fim de que aquelesque, realmente, em sua esfera íntima eem situações bem definidas, tenhamsido violentamente atingidos, compraticamente impossível compensaçãomaterial, sejam reparados pelos danossofridos.

Confira-se, em reforço:

EMENTA: DANO MORAL -BANALIZAÇÃO DO DIREITO. Oreconhecimento do dano moral e suareparação indenizatória têm comoobjetivo ressarcir o íntimo sofrimentohumano, em defesa da privacidadee da honra, instituto que enaltece aconvivência respeitosa e a dignidadeda pessoa. Em contrapartida, oextremo de sua aplicação, sem acomprovação dos elementosensejadores da lesão, ocasiona orisco de banalização dessaconquista, o que deve ser coibido,pena de enriquecimento sem causa.(01000-2006-022-03-00-1 RO,Relator Desembargador Heriberto deCastro, DJMG 26.05.2007)

EMENTA: INDENIZAÇÃO PORDANO MORAL - BANALIZAÇÃO.Não há como atribuirresponsabilidade ao empregador

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pelo pagamento da reparaçãopleiteada, pois, do contrário, estar-se-ia banalizando o instituto do danomoral cuja finalidade é garantir arecomposição do sofrimento humanoprovocado por ato ilícito de terceiroque molesta bens imateriais e magoavalores íntimos da pessoa. Para queseja concedida uma satisfação deordem pecuniária ao lesado, o danomoral deve ser robustamenteprovado, não o configurando merodissabor, aborrecimento oudesconforto emocional.(01447-2005-079-03-00-0 RO,Relator Juiz Convocado AntônioGomes de Vasconcelos, DJMG01.04.2006)

Concluo, nesse norte, que nãose configurando a lesão noticiada, hábila atrair a presença dos pressupostosnecessários ao dever de indenizar,impõe-se o provimento do apelo,também no aspecto, para expungir dacondenação a reparação concedida.

3.7 - Reembolso de gastos -Impostos e honorários contábeis

Pre tende a rec lamada ( f .635 /641) a reforma quanto àdeterminada devolução dos valoresdescontados a título de impostos ehonorários contábeis, tais como IR, PIS,COFINS, CSLL e ISSQN.

Sem razão.Na esteira de tudo quanto

amplamente analisado no primeiro item,3.1 do presente, restou patente atentativa da ré de mascarar a relaçãoempregatícia havida entre as partes,devendo por isso ser ressarcida areclamante de todas as despesasdecorrentes da empresa que constituiu,como impostos federais e municipais,contribuições sociais, taxas e outras.

De mais a mais, em razão dovínculo empregatício declarado, osvalores percebidos pela autoraconstituem salário, o qual não pode serreduzido por essa carga tributária, antea ausência de amparo legal (inteligênciado art. 462 da CLT), sendo que areclamada, como pagadora,providenciava o desconto na fonte.Desse modo, na medida em que foireconhecida a relação de emprego, comdescaracterização da prestação deserviço autônomo, a abertura deempresa pela autora objetivou mascarara existência de relação empregatícia,impondo, ademais, à reclamante o ônusde arcar com os encargos a elaatinentes, o que importou em reduçãodos valores recebidos a título de salário.

Conclui-se que os valoresdescontados, exemplificativamente, atítulo de CSLL, PIS e COFINS, incluem-se nas despesas que são estranhas àrelação de emprego, como impostos,taxas e contribuições, que só forampagos pela reclamante em virtude daconstituição de pessoa jurídicadestinada a mascarar o verdadeirovínculo estabelecido com a recorrente.

Nessa linha de raciocínio nãotem aplicação ao caso as normas legaisinvocadas no recurso, valendo registrarque a determinação primeva derestituição dos valores indevidamentegastos para o pagamento das verbasepigrafadas não se confunde com atransferência de obrigação tributária.Trata-se, ao revés, de conseqüêncianatural da fraude reconhecida pelo juízode primeira instância e aqui mantida,inexistindo, portanto, violação algumaao Código Tributário Nacional. É que,descontados os tributos decorrentes deforjada prestação autônoma deserviços, o ônus de tal pagamento cabeà parte que praticou o ato ilícito, no casoa reclamada e, assim sendo, de

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natureza indenizatória o pleito, ahipótese encontra respaldo na regraestabelecida no art. 186 do Código Civilbrasileiro, que enseja a reparaçãoprevista no art. 927 do mesmo DiplomaLegal.

Esclareço ainda, em atenção àmais plena entrega da prestaçãojurisdicional, que a relação estabelecidanos autos não é entre reclamante eAdministração Pública, não havendofalar, portanto, sequer em repetição deindébito. A relação de empregoreconhecida atrai o entendimento dedesconto indevido, devendo arcar areclamada com a restituição dospagamentos efetuados indevidamente,atualizados e acrescidos de juros demora, conforme se apurar emliquidação.

Mantenho.

3.8 - Justiça gratuita

Confunde-se a reclamada, emmuito, na argumentação de f. 641/643,inclusive ao supor que a falta deassistência pelo sindicato da categoria,patrocinada a causa por advogadoparticular, poderia algum óbicerepresentar à concessão da benesse.

O art. 1º da Lei n. 7.115/83 nãoimpõe qualquer formalidade essencialpara a declaração destinada a fazerprova de pobreza. Ao revés, presume-severdadeiro o teor dessa declaração,quando firmada pelo próprio interessadoou por seu procurador. Por outro lado,a Lei n. 1.060/50, que dispõe acerca daassistência judiciária gratuita, em seuartigo 4º, assegura o benefício, desdeque a parte declare, por simplesafirmação na petição inicial, que nãoestá em condições de pagar as custasdo processo e os honorários, semprejuízo do sustento próprio ou dafamília.

Dessa forma, para a concessãodos benefícios da justiça gratuita, bastaa simples declaração de pobreza firmadapelo interessado ou por procurador.

E também não deixo, outrossim,de questionar a motivação do recurso,porque a justiça gratuita à obreiradeferida, tão-só para fins de eventualisenção de custas processuais, emabsolutamente nada lhe prejudica.

Emerge, assim, induvidosa aquestão: sem prejuízo resistiria ointeresse em recorrer, nesse caso?Tenho para mim que não.

Nada a modificar.

3.9 - Expedição de ofícios

Plenamente cabível, diante dafraude perpetrada e confirmada nestainstância, a expedição dos ofíciosdeterminados no dispositivo de f. 602,para conhecimento da questão eeventuais providências cabíveis, nadahavendo a alterar, principalmente, aliás,em face da sonegação de registro docontrato de trabalho na CTPS dareclamante e o pagamento extrafolha deparcela salarial.

A expedição de ofícios aosórgãos e às pessoas jurídicas de direitopúblico que exercem a função defiscalização, tal como o são a DelegaciaRegional do Trabalho, o INSS e oMinistério Público do Trabalho, constituidever do julgador que se depara comirregularidades como as reveladas novertente caso concreto.

Mantenho.

3.10 - Imposto de renda econtribuições sociais

No tópico supra, f. 643/644, tecea reclamada considerações a respeitodo Provimento n. 01, de 1996, daCorregedoria-Geral da Justiça do

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Trabalho e parágrafo único do artigo 43da Lei n. 8.620/93, acerca dosprocedimentos a serem observados noque diz respeito à retenção erecolhimento do imposto de renda econtribuições sociais referentes aolapso trabalhado.

Despiciendo, contudo, o debate.Com efeito, assim dispõe o artigo

43 da Lei n. 8.212/91, com a redaçãodada pela Lei n. 8.620/93:

Nas ações trabalhistas de queresultar o pagamento de direitossujeitos à incidência de contribuiçãoprevidenciária, o juiz, sob pena deresponsabilidade, determinará oimediato recolhimento dasimportâncias devidas à SeguridadeSocial.

Por sua vez, o artigo 46 da Lei n.8.541/92 estabelece:

O imposto sobre a renda incidentesobre os rendimentos pagos emcumprimento de decisão judicial seráretido na fonte pela pessoa física oujurídica obrigada ao pagamento, nomomento em que, por qualquerforma, o rendimento se tornedisponível para o beneficiário.

Destarte, os artigos 43 e 44 daLei n. 8.212/91 e 46 da Lei n. 8.541/92revestem-se de caráter cogente quandoestabelecem a incidência dacontribuição previdenciária e do impostode renda sobre créditos trabalhistasconstituídos por decisões judiciais. Issoporque o imposto de renda tem comocerto o momento próprio para seucálculo e sua apuração, bem como orespectivo recolhimento, o instante emque o beneficiário aufere a renda. Essaé a dicção do caput do artigo 46 da Lein. 8.541, de 23.12.92.

E eis os termos do Provimenton. 01/96 da Corregedoria-Geral daJustiça do Trabalho:

Art. 1º - Cabe, unicamente, aoempregador calcular, deduzir erecolher ao Tesouro Nacional oImposto de Renda relativo àsimportâncias pagas aos reclamantespor força de liquidação de sentençastrabalhistas.Art. 2º - Na forma do disposto peloart. 46, § 1º, incisos I, II e III da Lein. 8.541, de 1992, o impostoincidente sobre os rendimentospagos (Imposto de Renda), emexecução de decisão judicial, seráretido na fonte pela pessoa física oujurídica obrigada ao pagamento, nomomento em que, por qualquerforma, esses rendimentos setornarem disponíveis para oreclamante.Art. 3º - Compete ao juiz da execuçãodeterminar as medidas necessáriasao cálculo, dedução e recolhimentodas Contribuições devidas peloempregado ao Instituto Nacional deSeguro Social, em razão de parcelasque lhe vierem a ser pagas por forçade decisão proferida em reclamaçãotrabalhista (art. 43 da Lei n. 8.212/1991, com a redação dada pela Lein. 8.620/1993).

Nada, portanto, que não tenhacuidado a r. sentença de definir quantoao cabimento de descontos fiscais eprevidenciários (f. 602), na esteira,inclusive, da argumentação trazida,notadamente ao determinar a

dedução das parcelasprevidenciárias e do imposto derenda, no que couberem, devendo areclamada comprovar nos autos orecolhimento das contribuições

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previdenciárias no prazo legal, sobpena de execução quanto àsparcelas em pecúnia decorrentesdesta decisão e expedição de ofícioquanto àquelas decorrentes docontrato de trabalho ora reconhecido(Súmula 368/TST), observando-seas disposições da EmendaConstitucional 20/98 e das Leis n.8.212/91 e n. 8.620/93, bem comoda Lei n. 8.541/92.

Irretocável, no aspecto, odecisum.

III - CONCLUSÃO

Conheço do recurso interpostopela rec lamada, bem como dascontra-razões da autora. Rejeito apreliminar de incompetência da Justiçado Trabalho e, no mérito, douprovimento parcial ao apelo para excluirda condenação o pagamento da multado artigo 477 da CLT, limitar os sábadosdeferidos a dois mensais na apuraçãoda sobrejornada reconhecida,determinar a aplicação do adicionalconvencional de 100% somente nosperíodos de vigência das convençõescoletivas de 2003/2005 e 2005/2007,incidente, apenas, a partir da terceirahora extra praticada, bem como paraexcluir a indenização por danos moraisdeferida.

Reduzo o valor da condenação,nesta instância, para R$10.000,00, comcustas pela reclamada no importe deR$200,00, calculadas sobre o montantefixado, autorizando-a a reaver, perantea Receita Federal, a restituição pelorecolhimento a maior.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua Quarta

Turma, à unanimidade, conheceu dorecurso da reclamada, bem como dascontra-razões da autora; semdivergência, rejeitou a preliminar deincompetência da Justiça do Trabalho;no mérito, unanimemente, deuprovimento parcial ao apelo para excluirda condenação o pagamento da multado artigo 477 da CLT, limitar os sábadosdeferidos a dois mensais na apuraçãoda sobrejornada reconhecida,determinar a aplicação do adicionalconvencional de 100% somente nosperíodos de vigência das convençõescoletivas de 2003/2005 e 2005/2007,incidente, apenas, a partir da terceirahora extra praticada, bem como paraexcluir a indenização por danos moraisdeferida. Reduzido o valor dacondenação, nesta instância, paraR$10.000,00, com custas pelareclamada no importe de R$200,00,calculadas sobre o montante fixado,autorizando-a a reaver, perante aReceita Federal, a restituição pelorecolhimento a maior.

Belo Horizonte, 11 de junho de2008.

JÚLIO BERNARDO DO CARMODesembargador Relator

TRT-00282-2007-153-03-00-7-RXOF E ROPubl. no “MG” de 08.05.2008

RECORRENTES: (1) UNIÃO FEDERAL(2) JUÍZO DA 2ª VARA DOTRABALHO DE VARGINHA (EXOFFICIO)

RECORRIDO: SINDICATO RURAL DETRÊS CORAÇÕES

EMENTA: MANDADO DESEGURANÇA - INSPEÇÃODAS PROPRIEDADES RURAIS

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- VERIFICAÇÃO DOCUMPRIMENTO DODISPOSTO NO ART. 14 DA LEIN. 5.889/73. Admite-se, para oempregado safrista, acumulação da indenizaçãopor tempo de serviço, previstano art. 14 da Lei n. 5.889/73,com o FGTS, pois aConstituição Federal, aoestender o Fundo de Garantiado Tempo de Serviço a todosos trabalhadores, tornouincompatível com tal regimeapenas a indenização portempo de serviço, prevista noart. 477 da CLT para oscontratos por prazoindeterminado. Tanto é certoque a indenização prevista noart. 479 da CLT, em relaçãoaos contratos a termo,continuou aplicável, sendocumulativa, inclusive, com amulta de 40% do FGTS,conforme disposto no art. 14do Decreto n. 99.684/90. Comefeito, não importa emilegalidade a determinação daautoridade competente deinspeção das propriedadesrurais, com o fim de averiguaro cumprimento do artigo 14 daLei n. 5.889/73 e doPrecedente Administrativo n.65/05 da SIT/MTE. Segurançadenegada.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,oriundos da 2ª Vara do Trabalho deVarginha/MG, em que figuram, comorecorrentes, (1) UNIÃO FEDERAL e (2)JUÍZO DA 2ª VARA DO TRABALHO DEVARGINHA (EX OFFICIO), e, comorecorrido, SINDICATO RURAL DE TRÊSCORAÇÕES.

RELATÓRIO

Ao relatório de f. 147/148, queadoto e a este incorporo, acrescento quea Ex.ma Juíza Laudenicy Moreira deAbreu, Juíza do Trabalho em exercíciona 2ª Vara do Trabalho de Varginha/MG,concedeu o mandado de segurançacoletivo impetrado pelo SINDICATORURAL DE TRÊS CORAÇÕES contrao Subdelegado de Varginha, Dr. PauloAndrade Azevedo,

para conceder a segurançarequerida, determinando a essaautoridade a suspensão darealização de inspeções em todos osestabelecimentos rurais abrangidospor essa entidade sindical paraverificação do cumprimento do art.14 da Lei 5.889/73 e do PrecedenteAdministrativo SIT/MTE/065/05,abstendo, por si e seussubordinados, de proceder aautuações com esse fundamento.

A UNIÃO FEDERAL interpõe orecurso ordinário de f. 158/164. Sustentaque o art. 14 da Lei n. 5.889/73 foirecepcionado pela Constituição Federalde 1988 e que é possível a cumulaçãoda indenização prevista nessa norma eo FGTS, devendo, portanto, serdenegada a segurança pretendida.

O impetrante não apresentoucontra-razões (f. 165).

O Ministério Público do Trabalho,em manifestação da lavra daProcuradora do Trabalho Drª MariaAmélia Bracks Duarte, à f. 168,reportando-se aos pronunciamentosanteriores do parquet (f. 106/115 e 143),considerou desnecessária novaintervenção do Ministério Público naoportunidade e sugeriu o provimento dorecurso aviado pela União Federal.

É o relatório.

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VOTO

Juízo de admissibilidade

Satisfeitos os pressupostos deadmissibilidade, conheço do recursoordinário interposto pela União Federal.

Embora o juízo de primeiro graunão tenha determinado a remessanecessária, dela conheço, haja vista aconcessão do mandado de segurançaem desfavor da União Federal e odisposto no parágrafo único do art. 12da Lei n. 1.533/51.

Determino a retif icação daautuação, para que também constecomo recorrente o JUÍZO DA 2ª VARADO TRABALHO DE VARGINHA (EXOFFICIO).

Juízo de mérito

Cumulação da indenizaçãoprevista no art. 14 da Lei n. 5.889/73e o FGTS

A União Federal insurge-secontra a concessão do mandado desegurança. Alega a possibilidade decumulação da indenização prevista noart. 14 da Lei n. 5.889/73 e o FGTS, sobo fundamento de que o contrato de safraé um contrato a termo e de que

o regime fundiário implicou aextinção do regime indenizatórioprevisto no art. 478 para os contratosde trabalho por prazo indeterminado,de vez que a regra é a pactuaçãosem prazo pré-fixado.

Também aduz que não respaldao deferimento da segurança ofundamento de que a questão écontrovertida.

O Sindicato Rural de TrêsCorações impetrou mandado de

segurança coletivo preventivo contra adeterminação do Subdelegado doTrabalho em Varginha, Sr. PauloAndrade Azevedo, no sentido de que osauditores fiscais do trabalho autuem osempregadores rurais que nãocumprirem o disposto no PrecedenteAdministrativo SIT/MET/065/2005 (f. 55)e no art. 14 da Lei n. 5.889/73. Juntou acertidão de f. 53, que confirma aintenção da Subdelegacia do Trabalhoem exigir o cumprimento dessasnormas.

Argumenta o impetrante que aindenização prevista ao safrista, aotérmino do contrato de trabalho, nostermos do art. 14 da Lei n. 5.889/73, nãofoi recepcionada pela ConstituiçãoFederal, que adotou o regime do FGTSpara os trabalhadores urbanos e rurais,sendo inaplicável a cumulação dessasduas verbas indenizatórias.

A MM. Juíza a qua, apósmanifestação da parte ré, UNIÃOFEDERAL (f. 130/138), e parecer doMinistério Público do Trabalho (f. 106/115e f. 143), pela sentença de f. 147/151,mantendo a decisão liminar de f. 125/126,concedeu a segurança requerida, sob ofundamento de que “pesa sobre amatéria séria, razoável e fundadacontrovérsia”, o que torna evidente o

direito líquido e certo dosempregadores rurais de discutir, emcaráter coletivo ou individual,judicialmente, a ausência daobrigação no pagamento cumuladodas duas verbas aos trabalhadores,a indenização por duodécimos e oFGTS, em vista da interpretação àlei que entendem correta.

Contudo, com a devida vênia,essa decisão não deve prevalecer.

Compete ao Ministério doTrabalho a execução de atos e

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procedimentos atinentes à fiscalização,autuação e imposição da multacorrelata, a teor das disposiçõescontidas no caput do artigo 626 c/cartigo 628 da CLT, respectivamente, asaber:

Art. 626. Incumbe às autoridadescompetentes do Ministério doTrabalho, ou àqueles que exerçamfunções delegadas, a fiscalização dofiel cumprimento das normas deproteção ao trabalho.

Art. 628. Salvo os dispostos nos arts.627 e 627-A, a toda verificação emque o Auditor-Fiscal do Trabalhoconcluir pela existência de violaçãode preceito legal deve corresponder,sob pena de responsabil idadeadministrativa, a lavratura de auto deinfração.

É certo, ainda, que os atosadministrativos têm presunção delegitimidade e que aos empregadoresautuados é assegurada a ampla defesaem processo administrativo, conformeartigos 626 e seguintes da CLT, e emprocesso judicial (inciso LV do art. 5º daCF/88).

Com efeito, a controvérsia arespeito da recepção pela ConstituiçãoFederal de 1988 do art. 14 da Lei n.5.889/73 não autoriza a concessão dasegurança. Pode até justif icar aconcessão da liminar, em razão dofumus boni iuris, mas não ampara oprovimento final de mérito, com aproibição de os auditores fiscaisautuarem os empregadores rurais quenão estiverem cumprindo a norma legalem apreço.

A questão apresentada em juízo,a respeito da possibil idade decumulação da indenização prevista noart. 14 da Lei n. 5.889/73 e o FGTS,

deve ser enfrentada nesta ação, a fimde se concluir pela possibilidade, ounão, de a Delegacia Regional doTrabalho exigir o pagamento daquelaparcela.

Caso se conclua pelapossibil idade de cumulação eempregadores serem autuados, a elesserá assegurada a ampla defesa emprocesso administrativo e judicial, sendocerto que, a teor do art. 15 da Lei n.1.533/51,

A decisão do mandado de segurançanão impedirá que o requerente, poração própria, pleiteie os seus direitose os respectivos efeitos patrimoniais.

Superada essa questão,impende ressalvar que, nos termos doartigo 14 da Lei n. 5.889/73, o contratode safra é a pactuação empregatícia denatureza rural a prazo certo, sendo avigência fixada com base nas variaçõessazonais da atividade agrícola, o que,por certo, não destoa das característicasprincipais dos contratos a termo regidospela égide celetista.

Em razão das particularidadesdesse contrato, cuja duração dependedas variações sazonais da atividadeagrária, prevê o art. 14 da Lei n. 5.889/73o pagamento ao safrista

a título de indenização do tempo deserviço, importância correspondentea 1/12 (um doze avos) do saláriomensal, por mês de serviço ou fraçãosuperior a 14 (quatorze) dias.

Tal norma, ao contrário do quedefende o impetrante, não éincompatível com o regime do FGTS,estendido a todos os trabalhadores,inclusive aos rurais pela ConstituiçãoFederal de 1988 (art. 7º, III), haja vistaas particularidades do contrato de safra.

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A respeito da questão, o i.professor e magistrado deste Regional,Márcio Túlio Viana, in Curso de Direitodo Trabalho (Estudos em Memória deCélio Goyatá - Coordenação da ProfªAlice Monteiro de Barros), vol. I, SãoPaulo, Ed. LTr, 3ª ed, 1997, p. 320,destaca o seguinte:

Em geral, o trabalho na safra éintenso. E se repete de formaintermitente, com os mesmossafristas. Daí a solução de algunspaíses, como o México e a Argentina:entre uma safra e a outra, o contratopermanece, ainda que suspenso. Já,em nosso sistema, o contrato serompe, ao fim de cada safra; e,mesmo não se podendo falar emdispensa, mas em extinçãocontratual, o safrista tem direito a umaindenização equivalente a 1/12 dosalário mensal por mês de serviço,ou fração superior a 14 dias (art. 14).

Tem-se, assim, que aConstituição Federal, ao estender oFundo de Garantia do Tempo de Serviçoa todos os trabalhadores, tornouincompatível com tal regime apenas aindenização por tempo de serviço,prevista no art. 477 da CLT aos contratospor prazo indeterminado.

Tanto é certo que a indenizaçãoprevista no art. 479 da CLT, em relaçãoaos contratos a prazo, continuou aplicável,sendo cumulativa, inclusive, com a multade 40% do FGTS, conforme disposto noart. 14 do Decreto n. 99.684/90, in verbis:

Art. 14. No caso de contrato a termo,a rescisão antecipada, sem justacausa ou com culpa recíproca,equipara-se às hipóteses previstasnos §§ 1º e 2º do art. 9º,respectivamente, sem prejuízo dodisposto no art. 479 da CLT.

Registre-se que os §§ 1º e 2º doart. 9º do Decreto n. 99.684/90 dispõemsobre as multas de 40% e de 20% doFGTS, relativas à dispensa sem justacausa e à despedida por culpa recíprocaou força maior, respectivamente.

Com efeito, tratando-se ocontrato de safra de um contrato atermo, são cumuláveis a indenizaçãoprevista no art. 14 da Lei n. 5.889/73 eo FGTS, estando correto o entendimentoconsignado no PrecedenteAdministrativo n. 65 do Ministério doTrabalho e Emprego, de seguinte teor:

RURÍCOLA. CONTRATO DESAFRA. INDENIZAÇÃO AOTÉRMINO DO CONTRATO. FGTS.COMPATIBILIDADE. O art. 14 da Lein. 5.889, de 8 de junho de 1973, foirecepcionado pela ConstituiçãoFederal de 1988, devendo talindenização ser cumulada com opercentual do FGTS devido nadispensa. No contrato de safra sepermite uma dualidade de regimes,onde o acúmulo de direitoscorresponde a um plus concedido aosafrista. Não há que se falar, portanto,em bis in idem ao empregador rural.

Nesse sentido, o aresto do Col. TST:

CONTRATO DE SAFRA.INDENIZAÇÃO AO TÉRMINO DOCONTRATO (ART. 14 DA LEI N. 5.889/73). FGTS. COMPATIBILIDADE. Nocontrato de safra, a dualidade deregimes corresponde a um plusconcedido ao safrista em face daprópria temporariedade do aludidocontrato, não havendo que se falar embis in idem ao empregador rural.Recurso de revista não conhecido.(RR n. 557977/1999, TST, 2ª Turma,Relator Ministro Convocado AloysioCorrêa da Veiga, DJ 14.12.01)

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Com efeito, não se verificaqualquer ilegalidade na determinaçãode inspeção das propriedades ruraispara verificação do cumprimento doartigo 14 da Lei n. 5.889/73 e doPrecedente Administrativo n. 65/05 daSIT/MTE.

Ante o exposto, dou provimentoao recurso da União Federal e àremessa necessária para denegar asegurança pretendida.

Inverto os ônus da sucumbência.Custas pelo sindicato impetrante.

Indevidos honoráriosadvocatícios, conforme Súmula n. 512do STF e Súmula n. 105 do STJ.

CONCLUSÃO

Conheço do recurso ordináriointerposto pela UNIÃO FEDERAL, bemcomo da remessa necessária, edetermino a retificação da autuação,para que também conste comorecorrente o JUÍZO DA 2ª VARA DOTRABALHO DE VARGINHA (EXOFFICIO); no mérito, dou provimento aambos os apelos, para, cassando aliminar de f. 125/126, denegar asegurança pretendida. Inverto os ônusda sucumbência. Custas pelo sindicatoimpetrante, no importe de 2% do valorda causa (R$10.000,00).

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes doTribunal Regional do Trabalho daTerceira Região, pela sua Oitava Turma,em, preliminarmente, à unanimidade,conhecer do recurso ordinário interpostopela UNIÃO FEDERAL, bem como daremessa necessária, e em determinara retificação da autuação, para quetambém conste como recorrente oJUÍZO DA 2ª VARA DO TRABALHO DEVARGINHA (EX OFFICIO); no mérito,

sem divergência, em dar provimento aambos os apelos, para cassando aliminar de f. 125/126, denegar asegurança pretendida; em inverter osônus da sucumbência; custas pelosindicato impetrante, no importe de 2%do valor da causa (R$10.000,00 - dezmil reais).

Belo Horizonte, 16 de abril de2008.

DENISE ALVES HORTADesembargadora Relatora

TRT-01058-2007-134-03-00-4 ROPubl. no “MG” de 22.02.2008

RECORRENTES: 1) ORGANIZAÇÃODE EVENTOS LTDA.2) ELIAS AUGUSTO SILVA

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: CTPS - ANOTAÇÃORELATIVA AO AJUIZAMENTODE AÇÃO TRABALHISTA -DANO MORAL. Ainda que oajuizamento de demandatrabalhista configure apenas oexercício de um direitoc o n s t i t u c i o n a l m e n t eassegurado, na prática, aanotação na CTPS doempregado, ao arrepio da lei eda determinação judicial,registrando que ele moveu açãotrabalhista, constitui umempecilho a uma futuracolocação no mercado. Otrabalho é um dos fundamentosda República, sendo que aordem social tem como base oprimado do trabalho, nostermos dos arts. 1º, IV, e 193 daConstituição. Por isso, qualquerato que tenha por escopo

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impedir que um cidadão exerçalivremente o seu trabalhoconfigura ato ilícito ensejadorde indenização compensatória.Recurso da reclamada a que senega provimento.

Vistos etc.

RELATÓRIO

O MM. Juiz JOÃO RODRIGUESFILHO, da 5ª Vara do Trabalho deUberlândia, julgou parcialmenteprocedente o pedido formulado porELIAS AUGUSTO SILVA, condenandoa reclamada ORGANIZAÇÃO DEEVENTOS LTDA. a pagar ao reclamanteindenização por danos morais, arbitradaem R$3.500,00, e determinando que areclamada risque a anotação feita naCTPS do autor no prazo de 5 dias, sobpena de multa diária, tudo consoantefundamentos expostos na r. sentença def. 75/79.

Os embargos de declaração dareclamada foram providos para,sanando a omissão, indeferir o pedidode carta de referência (f. 84).

A reclamada recorreu às f. 85/98,argüindo a nulidade da decisão porcerceamento de defesa, em razão doindeferimento do pleito de produção deprova oral, tendo sido consignados emata os protestos de ambas as partes.Insurge-se, ainda, contra o deferimentoda indenização por dano moral,afirmando que o registro na CTPS foifeito em cumprimento à determinaçãojudicial e que a recorrente apenas fezconstar o motivo de tal registro,inexistindo ilicitude nessa conduta.Acrescenta que não houve prova de queo recorrido tenha sofrido vexame ouhumilhação em razão do registro feitona CTPS, daí não haver dano moral aser reparado. Informa que não tornou

público o fato de o reclamante terajuizado reclamação trabalhista, apenasprocedendo ao registro na CTPS.Indaga se caberia o deferimento de igualindenização caso a Secretaria da Varativesse procedido à anotação e afirmaque o valor arbitrado à indenização foiexcessivo, equivalente a 5 meses detrabalho do reclamante. Pugna peloprovimento do recurso.

Custas pagas e efetuado odepósito recursal (f. 99/100).

Contra-razões do reclamante àsf. 102/106.

O reclamante recorreuadesivamente às f. 107/112, pugnandopela elevação do valor arbitrado àindenização.

Contra-razões do reclamado àsf. 114/123.

Dispensada a manifestação da d.Procuradoria Regional do Trabalho, nostermos do art. 82 do Regimento Internodo TRT da 3ª Região.

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Presentes os pressupostos deadmissibilidade, conheço dos recursos.

Juízo de mérito

Recurso da reclamada

Nulidade da sentença -Cerceamento de defesa

A reclamada recorreu às f. 85/98,argüindo a nulidade da decisão porcerceamento de defesa, em razão doindeferimento do pleito de produção deprova oral, tendo sido consignados emata os protestos de ambas as partes.

Sem razão.

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O pedido de indenização pordanos morais foi formulado em razão daanotação aposta pelo ex-empregador naCTPS do reclamante, fazendo constarque retificava a data de saída e o valordo salário por força de determinaçãocontida na sentença do processo00783-134-03-00-3. Ora, esse fatoencontra-se inequivocamentecomprovado nos autos à f. 32, não tendosido negado pela reclamada.

Por tal razão, o MM. Juiz a quoindeferiu a oitiva de testemunhas, nostermos do inciso I do art. 400 do CPC, quedetermina ao juiz que indefira a inquiriçãode testemunhas sobre fatos já provadospor confissão da parte ou documento.

Nas razões recursais, o recorrentealega que teve cerceado o seu direito dedemonstrar, através da oitiva dos trêsatuais empregadores do recorrido, que aanotação feita na CTPS não impediu ainserção dele no mercado de trabalho.Mas também esse fato já se achavacomprovado nos autos. Como se vê damanifestação do reclamante acerca dadefesa, consignada na ata de f. 44, eledeclarou: “com relação ao fato de ter 3empregos, conforme relatado, oreclamante informa que em nenhum dos3 tem sua CTPS assinada, sendoconsiderado pelos proprietários que foramarrolados pela reclamada, que fazemparte do mesmo sindicato patronal,prestador de serviços”. Portanto, o próprioreclamante admitiu prestar serviços àstrês testemunhas que a reclamadapretendia ouvir, tratando-se de fato quetambém dispensava prova oral.

Por tudo isso, não se caracterizao alegado cerceamento de defesa.

Rejeito a argüição.

Indenização por danos morais

A reclamada insurge-se contra odeferimento da indenização por dano

moral, afirmando que o registro na CTPSfoi feito em cumprimento a umadeterminação judicial, e que a recorrenteapenas fez constar o motivo de talregistro, inexistindo ilicitude nessaconduta. Sustenta que não houve provade que o recorrido tenha sofrido vexameou humilhação em razão do registro feitona CTPS, donde não haver dano morala ser reparado. Acrescenta que nãotornou público o fato de o reclamante terajuizado reclamação trabalhista, masapenas fez o registro na CTPS. Além doque, o juiz presumiu a possibilidade deretaliações, inexistindo prova de que oautor tenha se deparado com talsituação. Se a Secretaria da Vara tivesseprocedido à anotação também teria sidorevelada a existência da demanda.

Mas não tem razão.A honra e a imagem de qualquer

pessoa são invioláveis, estandoobrigado a reparar o prejuízo todoaquele que as violar, sendopressupostos do direito à indenizaçãopor dano moral, no âmbito das relaçõestrabalhistas, o dano, o ato ilícito ou oerro de conduta do empregador, oprejuízo e o nexo de causalidade.

Como relatado no item anterior,o pedido de indenização por danosmorais, no caso em exame, foiformulado com fundamento no fato deque a reclamada fez constar da CTPSdo reclamante que retificava a data desaída e o valor do salário por força dedeterminação contida na sentença doprocesso 00783-134-03-00-3 (f. 32).

As anotações a serem apostasna carteira de trabalho estãodeterminadas no art. 29 da CLT que, no§ 4º, expressamente dispõe ser

vedado ao empregador efetuaranotações desabonadoras à condutado empregado em sua Carteira deTrabalho e Previdência Social.

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Como bem ressaltou o MM. Juizde primeiro grau, o fato de o reclamantehaver promovido demanda trabalhistaem face do seu ex-empregador nãoconstitui ato desabonador de suaconduta, mas apenas o exercício de umdireito constitucionalmente assegurado.

Entretanto, é sabido que, naprática, tal fato dificulta a colocação dotrabalhador no mercado de trabalho, porhaver muitas empresas que preteremaquele empregado que já demandou emface de empregador anterior, como seisso representasse, efetivamente, umato desabonador de sua conduta. Épública e notória, para quem atua naesfera trabalhista, a existência dasdenominadas “listas negras”, referentesa empregados que ajuizaram demandatrabalhista, que são sempre recusadosna sua pretensão a um empregoexclusivamente por essa razão. Assim,o MM Juiz a quo não “presumiu” aexistência de danos ao recorrido, maspautou-se pela sua experiência e seuconhecimento acerca do assunto que,refriso, também é sabido por todos osque atuam nesta área.

Por isso, a reclamada não agiude forma ingênua como quer fazer crerem suas razões recursais. Ela retificoua CTPS, mas maliciosamenteacrescentou, por vontade própria, queo fazia por força de determinaçãojudicial.

Ora, a carteira de trabalhocontém todo o histórico profissional dotrabalhador, os períodos em quetrabalhou para cada empregador, a suaexperiência anterior, servindo, naprática, como um verdadeiro atestadode antecedentes. E a expressa alusãoa uma reclamação trabalhistacorresponde a dar publicidade ao fatopara aqueles que serão os responsáveispor oportunidades de emprego emperíodo posterior.

Além de inteiramentedesnecessária, a anotação objeto dapresente controvérsia extrapolou adeterminação contida na sentença,configurando violação à já mencionadanorma celetista e também à ordemjudicial.

O ato do empregador éinjustificável por visar frustrar a futuracontratação do reclamante em outroemprego, traduzindo abuso de direito eerro de conduta, elementos queensejam a reparação vindicada.

Ressalto que o trabalho é um dosfundamentos da República, sendo quea ordem social tem como base oprimado do trabalho, nos termos doinciso IV do art. 1º e art.193 daConstituição.

Por isso, qualquer ato que tenhapor escopo impedir que um cidadãoexerça livremente o seu trabalhoconfigura ato ilícito ensejador deindenização compensatória.

Em se tratando de dano moral,que diz respeito aos sentimentos e àsemoções íntimas da pessoa humana, édispensável a prova de sua ocorrência,bastando que reste demonstrada nosautos a situação capaz de gerar osofrimento e a angústia, como no caso,em que o reclamante evidentementesofreu com a possibilidade de haverdificuldades para encontrar futuracolocação no mercado de trabalho.Irrelevante o fato de atualmente estartrabalhando, porquanto a anotação naCTPS perdura no tempo, podendoprejudicá-lo a qualquer momento.

Por tudo isso, considero que oato da reclamada acarreta prejuízos deordem moral ao reclamante e configuraato ilícito de ordem moral ao reclamante,donde não merecer reforma a r.sentença que condenou a recorrente aopagamento de indenização por danosmorais.

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Análise conjunta dos recursosda reclamada e do reclamante(adesivo)

Valor arbitrado à indenização

Ambas as partes apresentam oseu inconformismo com o valor arbitradoà indenização. A reclamada o consideraexcessivo, pugnando pela sua reduçãopara, no máximo, R$1.500,00. Oreclamante, salientando a extensão dodano e aduzindo que o valor arbitradonão traduz caráter punitivo, pugna pelasua elevação para R$23.400,00.

Mas não lhes assiste razão.A lei deixou a cargo do juiz

arbitrar o valor das indenizações,exatamente em razão da especificidadede cada caso, em face de cada um dosaspectos do caso concreto submetidoa julgamento.

Na hipótese, a indenização foiarbitrada em valor razoável, nãoensejando o enriquecimento indevido doempregado, de forma coerente com agravidade da lesão e extensão do dano,tomando também em consideração acondição econômica das partes. Assim,o quantum fixado - de R$3.500,00 -cumpre a sua finalidade de reparar erecompor a lesão sofrida, tambématuando como uma punição aoempregador, com o aspecto pedagógicode evitar a repetição da condutaculposa.

Ante o exposto, nego provimentoa ambos os recursos, ficando mantidoo valor arbitrado à indenização pordanos morais.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua PrimeiraTurma, preliminarmente, àunanimidade, conheceu de ambos os

recursos; no mérito, sem divergência,negou-lhes provimento.

Belo Horizonte, 18 de fevereirode 2008.

MARCUS MOURA FERREIRARelator

TRT-00088-2008-002-03-00-1-ROPubl. no “MG” de 26.06.2008

RECORRENTES: INSTITUTOHERMES PARDINI LTDA. (1)ADRIANA PEREIRA CASSEMIROCARDOSO E OUTRO (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: DANO MORAL -DIREITO À IMAGEM. Adivulgação de fotografiaobstétrica tridimensional dofilho não autorizada pela mãe emmaterial publicitário da empresa,para a qual trabalha, configuraato ilícito e atrai a obrigação deindenizar o dano resultante daexposição indevida. Acircunstância de as imagensdivulgadas pela empresa nãoapresentarem um conteúdovexatório e não causaremmaior constrangimento aosreclamantes é irrelevante, poisa simples divulgação dasfotografias, sem oconsentimento dos titulares,configura, por si só, ofensa aodireito à imagem, asseguradono inciso V do artigo 5º daConstituição.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,em que figuram, como recorrentes,INSTITUTO HERMES PARDINI LTDA.

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(1); ADRIANA PEREIRA CASSEMIROCARDOSO e GUILHERMECASSEMIRO CARDOSO (2) e, comorecorridos, OS MESMOS.

RELATÓRIO

O Ex.mo Juiz da 2ª Vara doTrabalho de Belo Horizonte, porintermédio da r. sentença de f. 55/60,complementada pela decisão deembargos de declaração de f. 65/65,julgou procedentes, em parte, os pedidosformulados na reclamação trabalhistaajuizada por ADRIANA PEREIRACASSEMIRO CARDOSO e GUILHERMECASSEMIRO CARDOSO em face doINSTITUTO HERMES PARDINI LTDA.

Ambas as partes recorrem dessadecisão.

O reclamado, às f. 66/73,insurge-se contra a condenação aopagamento da importância deR$2.000,00, a título de reparação pordano moral. Alega que a reclamanterealizou o exame de ultra-sonografia porsua livre vontade e que, na época dadivulgação do resultado (por meio defolders, banners e site na internet), elanão manifestou qualquer contrariedade,o que, segundo o recorrente, configuraautorização tácita. Acrescenta que adivulgação do material ocorreu no anode 2003, ficando caracterizada a faltade imediatidade e ausência de nexocausal entre o fato e os supostos danosnarrados na inicial, considerado oajuizamento da ação no ano de 2007.Pede a improcedência do pleito.

Quitadas as custas processuais,foi também efetuado o depósito recursal,conforme documentos de f. 67 e 74.

Os reclamantes, por sua vez,argúem a nulidade da sentença, porcerceio do direito de produção de prova,diante do indeferimento do pedido derealização de perícia.

Os recorrentes requerem acondenação do reclamado por danospatrimoniais e morais pelo uso indevidodo nome da primeira reclamante;condenação por danos patrimoniaispela exploração da imagem de ambosos recorrentes, mãe e fi lho, e amajoração do valor fixado em primeirograu a título de compensação por danosmorais.

Contra-razões recíprocas às f.88/92 e 95/98.

Dispensado o parecer escrito dadouta Procuradoria Regional doTrabalho, porque ausente interessepúblico no deslinde da controvérsia.

É o relatório.

VOTO

De início, determino sejaretificada a autuação, fazendo-seconstar como recorrentes: INSTITUTOHERMES PARDINI LTDA. (1); ADRIANAPEREIRA CASSEMIRO CARDOSO EOUTRO (2).

Conheço dos recursosordinários, porque atendidos aospressupostos de sua admissibilidade.

Ao contrário do que sustentam osreclamantes, em contra-razões, acircunstância de o reclamado reiterar osargumentos da defesa não constituióbice ao conhecimento de seu recursoordinário.

Os dois apelos serão analisadosconjuntamente, dada a interligação dasmatérias neles discutidas.

Nulidade da sentença argüidapelos reclamantes - Cerceio do direitode produção de prova

Os reclamantes argúem anulidade da sentença por cerceio dodireito de produção de prova, diante doindeferimento do pedido de realização

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.47, n.77, p.239-331, jan./jun.2008

de perícia técnica. Alegam que a provapericial viria confirmar a declaração dopreposto de que as fotos são do ventreda primeira recorrente, demonstrando,ainda, “todos os meios e volumes depublicidade empregados na utilizaçãodesautorizada e ilegal da imagem e donome”.

Verifica-se da ata de f. 32 que areclamante requereu a produção deprova pericial “para apuração daidentidade da imagem correspondenteno folder, banner e internet, bem comodo nome presente no folder”, o que foiindeferido pelo juiz, sob protestos.

Entendo, todavia, que oindeferimento da prova nesse caso estácorreto. Isso porque o prepostoconfessou expressamente que

as fotos usadas pela reclamada nofolder de f. 21, banner de f. 22 einternet referem-se ao fi lho dareclamante, quando esta fez oultra-som; o reclamado não possuimais os folders de f. 21 e por issonão os distribui mais; ainda existe noreclamado o banner de f. 22,conforme foto de f. 29 e ainda estáno site da empresa na internet amesma foto do ultra-som. (f. 32)

Como se vê, o preposto não sóreconheceu que as fotos se referiam aofilho da ex-empregada, como tambémconfirmou a sua divulgação por meio defolders, banner e internet.

Logo, nada mais havia a serapurado por meio de perícia técnica.Note-se que, nos termos do art. 145 doCPC, o juiz deve ser assistido por perito,quando a prova do fato depender deconhecimento técnico ou científico. Oart. 420 do CPC estabelece, por sua vez,que a prova pericial consiste em exame,vistoria ou avaliação. E o parágrafoúnico desse dispositivo legal prevê que

o juiz indeferirá a perícia quando: I - aprova do fato não depender doconhecimento especial de técnico; II -for desnecessária em vista de outrasprovas produzidas e III - a verificaçãofor impraticável.

O procedimento adotado pelojulgador de origem, ao indeferir o pedidode realização da perícia, está emperfeita consonância com o art. 420,parágrafo único, inciso II, do CPC, nãoconfigurando, portanto, cerceio dodireito de produção de prova.

Nada a prover.

Divulgação de imagem obtidapor meio de ultra-sonografia - Danomoral

A presente ação foi ajuizada pelaex-empregada do reclamado, ADRIANAPEREIRA CASSEMIRO CARDOSO(período trabalhado: 08.09.1992 a11.09.2007), e seu filho, GUILHERMECASSEMIRO CARDOSO. Consta dainicial a informação de que o reclamadodivulgara a fotografia do segundoreclamante, quando feto, no ventre daprimeira reclamante, obtida através deultra-sonografia tridimensional, por meiode folders, banner e internet, com o fimde promover o seu Núcleo de MedicinaFetal. Diante desses fatos, osreclamantes requereram fosse oreclamado impedido de prosseguir nautilização da imagem dos reclamantes,nome e corpo da primeira reclamante,a partir da citação, sob pena de multadiária, bem como fosse condenado aindenizá-los pela utilização ilícita daimagem, pela utilização desautorizadado nome da primeira reclamante queconstara dos folders e pela violação doseu direito ao uso do corpo; tudo isso

em valor a ser devidamente arbitradopelo juízo, que deverá considerar a

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.47, n.77, p.239-331, jan./jun.2008

amplitude da divulgação, a extensãodo dano e a capacidade econômicada reclamada. (cf. f. 08/09)

O juízo de origem condenou oreclamado ao pagamento deindenização por danos morais no valorde R$2.000,00 e proibiu a utilização dafotografia obstétrica 3D dos reclamantespelo Laboratório, seja nos banners, sejano site da internet, sob pena depagamento de multa diária de R$100,00,em caso de descumprimento.

Ambas as partes recorrem dessadecisão.

Alega o reclamado que areclamante realizou o exame de ultra-sonografia por sua livre vontade e que,na época da divulgação do resultado (pormeio de folders, banners e site nainternet), ela não manifestou qualquercontrariedade, o que, segundo ele,configura autorização tácita. Acrescentaque a divulgação do material ocorreu noano de 2003 e a presente ação foiajuizada somente em fevereiro de 2008,ficando caracterizada a falta deimediatidade e ausência de nexo causalentre o fato e os supostos danos narradosna inicial. Pede a improcedência do pleito.

Os reclamantes requerem acondenação do reclamado por danospatrimoniais e morais pelo uso indevidodo nome da primeira reclamante;condenação por danos patrimoniaispela exploração da imagem de ambosos recorrentes, mãe e fi lho, e amajoração do valor fixado a título decompensação por danos morais.

O dano moral pode ser conceituadocomo o menoscabo sofrido por alguém oupor um grupo como conseqüência de atoilícito ou atividade de risco desenvolvidapor outrem capaz de atingir direitos dapersonalidade e princípios axiológicosdo direito, independentemente derepercussão econômica.

O direito à reparação decorrentede dano moral e dano material éassegurado pelo artigo 186 do CódigoCivil, segundo o qual

Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência ou imprudência,violar direito e causar dano a outrem,ainda que exclusivamente moral,comete ato ilícito.

No caso, é incontroversa adivulgação da imagem do feto comomaterial de propaganda.

Conforme salientado, o prepostoconfessou que

as fotos usadas pelo reclamado nofolder de f. 21, banner de f. 22 e internetreferem-se ao filho da reclamante,quando esta fez o ultra-som; oreclamado não possui mais os foldersde f. 21 e por isso não os distribui mais;ainda existe no reclamado o bannerde f. 22, conforme foto de f. 29 e aindaestá no site da empresa na internet amesma foto do ultra-som. (f. 32)

Além disso, ficou demonstradopelo documento de f. 21 que o nome daprimeira reclamante constou dos foldersdistribuídos pelo Laboratório, o quepossibilitou a identificação do feto.

Por outro lado, embora a primeirareclamante tenha afirmado que realizarao exame de ultra-sonografiatridimensional por livre e espontâneavontade (cf. depoimento pessoal - f.332), não há prova de que ela tivesseautorizado a divulgação do material parafins publicitários. A autorização, nessecaso, deve ser expressa, não havendoque se cogitar de concordância tácita.

A utilização da imagem, sem oconsentimento expresso de seus titulares,configura ato ilícito, porque viola opatrimônio jurídico personalíssimo do

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indivíduo (inciso X do art. 5º da ConstituiçãoFederal), alcançando o nascituro, por forçado art. 2º do Código Civil (“A personalidadecivil da pessoa começa do nascimento comvida; mas a lei põe a salvo, desde aconcepção, os direitos do nascituro.”).

Como já foi mencionado, nasituação em exame, o feto pode seridentificado, porque o nome dareclamante constou dos foldersconfeccionados pela empresa.

Ademais, revela-se irrelevante ofato de as imagens divulgadas pelaempresa não apresentarem umconteúdo vexatório capaz de causarconstrangimento aos reclamantes,basta o mero implemento do ato ilícitopara criar a presunção dos efeitosnegativos em sua órbita subjetiva.

Estão presentes, portanto, ospressupostos da reparação civil: o dano,o ato ilícito e o nexo de causalidade.

A circunstância de a reclamanteter tido ciência da divulgação dasfotografias em agosto de 2003,deixando para ajuizar ação em fevereirode 2008, não afasta o direito à reparaçãodo dano moral sofrido, pois éassegurado ao trabalhador o prazoprescricional de cinco anos até o limitede dois anos após a extinção do contrato(inciso XXIX do art. 7º da ConstituiçãoFederal). Nesse contexto, não há quese falar em falta de imediatidade.

Confiram-se, a propósito, asseguintes ementas:

DANO MORAL. DIREITO ÀIMAGEM. PROPAGANDA DAEMPRESA. PUBLICAÇÃO DEFOTO DO EMPREGADO.1. A lesão causada a direito dapersonalidade, intimidade, vidaprivada, honra e imagem daspessoas assegura ao titular do direitoa indenização pelo dano material oumoral decorrente de sua violação, a

teor do artigo 5º, inciso X, daConstituição Federal.2. A utilização da imagem, bemextrapatrimonial, integrante dapersonalidade, sem o consentimentode seu titular configura ato ilícito,independentemente do fim a que sedestina, porquanto viola o patrimôniojurídico personalíssimo do indivíduo.3. O poder de direção patronal estásujeito a limites inderrogáveis, comoo respeito à integridade moral doempregado que lhe é reconhecida noplano constitucional.4. Caracteriza dano moral, porquantoviola o direito à imagem, campanhapublicitária, em jornal local, realizadapela empresa, em que utiliza foto doempregado sem prévia autorização.5. Agravo de instrumento a que senega provimento.(NÚMERO ÚNICO PROC: AIRR -0 0 0 9 7 / 2 0 0 2 - 9 2 0 - 2 0 - 4 0 . 4 ;PUBLICAÇÃO: DJ - 26.05.2006;ACÓRDÃO 1ª Turma - MinistroRelator: JOÃO ORESTE DALAZEN).

DANO MORAL - DIREITOPERSONALÍSSIMO - USO INDEVIDODA IMAGEM - DESNECESSIDADE DECOMPROVAÇÃO DO DANOMATERIAL - VIOLAÇÃO DO ARTIGO5º, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL- CONFIGURAÇÃO. O direito deindenizar, pela utilização indevida de umdireito personalíssimo, como no casoo da imagem, não necessita decomprovação do dano material,bastando, para sua configuração, tão-somente, a sua veiculação de formaindevida. O Regional é expresso aoconsignar que: A ausência de recusaexpressa do empregado àdeterminação da ré para fotografiaspromocionais, na ambiência da relaçãoempregatícia, não pode ser interpretadacomo concordância tácita e sequer tem

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o condão de afastar o ônus doempregador de indenizar, porque aempregadora visa a obter vantagensmediante o uso da imagem de seusempregados (não se pode considerarque o trabalho de propaganda é distintoda atividade-fim da empresa e que ocontrato de trabalho não inclui o usode imagem do trabalhador). E, concluique: o dano moral prescinde de ofensaà reputação ou à constatação deprejuízo ao empregado, porque vincula-se a um sentimento do homem, sendoa imagem um dos direitos dapersonalidade (CF, art. 5º, X). Nessesentido já se manifestou o SupremoTribunal Federal, em acórdão de lavrado eminente Ministro Carlos Vellosoque: “de regra, a publicação defotografia de alguém, com intuitocomercial ou não, causa desconforto,aborrecimento ou constrangimentoao fotografado, não importando otamanho desse desconforto, desseaborrecimento ou desseconstrangimento, desde que eleexista, há o dano moral, que deveser reparado, como manda aConstituição (art. 5º, X) (RE-215.984-RJ - Informativo STF n. 273)”.Recurso de revista não conhecido.(NÚMERO ÚNICO PROC: RR-19976/1998-010-09-00.7; PUBLICAÇÃO: DJ- 20.08.2004; ACÓRDÃO 4ª Turma;Ministro Relator: MILTON DE MOURAFRANÇA).

O juízo de origem fixou a reparaçãono importe de R$2.000,00, valor que osreclamantes consideram irrisório.Pretendem também a condenação doreclamado por danos patrimoniais e moraispelo uso indevido do nome da primeirareclamante; condenação por danospatrimoniais pela exploração da imagemde ambos os recorrentes, mãe e filho.

A meu ver, a importância fixada

mostra-se suficiente para reparar o danosofrido por ambos os autores (mãe efilho), seja em decorrência dadivulgação da imagem, seja pelo uso donome da primeira reclamante nosfolders distribuídos, e atende ao caráterpedagógico desse tipo de punição, quetem a finalidade de coibir a repetição deconduta culposa. Além do mais, entendoque o dano não tem a extensão quealegam os recorrentes, pois só houve aidentificação do feto nos folders, quetiveram circulação limitada no tempo.

Por outro lado, infere-se da inicialque os reclamantes não postularamreparação por danos patrimoniais, mastão-somente por danos morais. Tantoassim, que o douto julgador de origemnão analisou essa matéria e osreclamantes não requereram fossesuprida qualquer omissão nesseparticular por meio dos embargos dedeclaração de f. 61/62. Ainda que assimnão fosse, o dano material teria de serprovado, o que não se verificou no caso.

Nada a prover.

CONCLUSÃO

Pelo exposto, conheço dosrecursos ordinários e, no mérito,nego-lhes provimento.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda 3ª Região, por sua 7ª Turma,unanimemente, conheceu de ambos osrecursos e, no mérito, sem divergência,negou-lhes provimento.

Belo Horizonte, 19 de junho de2008.

ALICE MONTEIRO DE BARROSDesembargadora Relatora

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TRT-00558-2007-030-03-00-5-RXOFPubl. no “MG” de 09.05.2008

RECORRENTES: JUÍZO DA 2ª VARADO TRABALHO DE CONTAGEM(ex officio) E OUTRO

RECORRIDO: ROBERTO CARLOSMONTEIRO (ESPÓLIO DE)

EMENTA: CONTRATO NULO -INDENIZAÇÃO POR DANOSMORAIS E MATERIAIS. Anulidade do contrato de trabalhonão exclui a possibilidade dese condenar a AdministraçãoPública ao pagamento dereparação por danos morais emateriais. Com efeito, semesmo quando reconhecida anulidade do contratoassegura-se ao trabalhador orecebimento dos salários e doFGTS, com maior razão haveráque se garantir a este, ou aosseus dependentes em caso demorte do trabalhador, o direitoà indenização em virtude deilícito praticado peloempregador. O ente públiconão pode se locupletar de suaprópria torpeza, pretendendoque os contratos por elerealizados fora da formaestabelecida o isentem dodever de zelar pela segurançado trabalhador que seencontra a seu serviço. Assim,se o ato ilícito foi praticado navigência do contrato detrabalho declarado nulo, e deledecorreu o dano sofrido peloempregado, impõe o princípioda moralidade administrativaque o primeiro tenha aobrigação de repará-lo, ante asua condição de beneficiáriodos serviços prestados.

Vistos etc.

RELATÓRIO

A MM. Juíza da 2ª Vara doTrabalho de Contagem, KÁTIA FLEURYCOSTA CARVALHO, através da r.sentença de f. 69/78, cujo relatório adotoe a este incorporo, julgou parcialmenteprocedente o pedido formulado porROBERTO CARLOS MONTEIRO(espólio de) em face do MUNICÍPIO DEIBIRITÉ e de ANTÔNIO PINHEIROJÚNIOR, condenando o primeiro e,subsidiariamente, o segundo aopagamento de indenização substitutivado FGTS por todo o período de vigênciado contrato de trabalho e saldo desalário de outubro de 2006, bem comopagamento de indenização por danosmorais, arbitrada em R$20.000,00 paracada um dos reclamantes ANA LÚCIADE CARVALHO, FELIPE DEIVISON DECARVALHO e FERNANDA CARVALHOMONTEIRO.

Embargos de declaração doMunicípio reclamado, conhecidos ejulgados improcedentes (f. 85/86).

Determinada a remessanecessária a este Eg. TRT, nos termosdo art. 475 do CPC e da Súmula n. 303do TST.

O Ministério Público do Trabalhomanifestou-se às f. 91/94, através doparecer do i. Procurador Bruno GomesBorges da Fonseca, opinando peloconhecimento da remessa necessária,impossibilidade de revisão da decisãoquanto ao prefeito do Município e pelamanutenção da r. sentença.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

O i. Procurador do Trabalho, no

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seu parecer de f. 91/94, ao tratar doslimites da remessa necessária,manifesta-se no sentido daimpossibil idade da revisão da r.sentença no que toca à condenaçãoimposta ao prefeito do Municípiorecorrente.

Com efeito, o art. 1º do Decreto-lei n. 779/69 institui, como privilégio daUnião, dos Estados, do Distrito Federal,dos Municípios e das respectivasautarquias e fundações de direitopúblico, o recurso ordinário ex officiodas decisões que lhes sejam contrárias,total ou parcialmente. No mesmosentido, o art. 475 do CPC impõe onecessário duplo grau de jurisdição àssentenças proferidas contra a União, osEstados, o Distrito Federal, osMunicípios e as respectivas autarquiase fundações de direito público.

Ora, o prefeito do Município nãose encontra abrangido pela exceçãoacima, sendo certo que aquelesdispositivos hão de ser interpretados demaneira restrit iva, por atribuíremprerrogativas que não podem serestendidas aos litigantes em geral.

Também nos termos da Súmulan. 303 do TST, o duplo grau de jurisdiçãoé necessário nos casos de condenaçãoimposta à Fazenda Pública, o que nãoabrange a pessoa física do prefeito.

Por isso, conheço da remessanecessária unicamente quanto àcondenação imposta na r. sentença aoMunicípio de Ibirité.

Juízo de mérito

Confissão ficta

Corretamente imposta na r.sentença a pena de confissão aosreclamados, ante o desconhecimentodo preposto sobre os fatos da lide.Como se vê da ata de f. 67, o preposto

demonstrou total desconhecimentosobre os acontecimentos relativos àmorte do reclamante, nem mesmosabendo informar se ele foi assassinadono local de trabalho ou sobre a adoçãode medidas de segurança peloreclamado.

Fica mantida a sentença, noaspecto, presumindo-se verdadeiros osfatos alegados na inicial.

Contrato nulo - Verbasdecorrentes

A aprovação em concursopúblico é requisito indispensável devalidade do contrato do servidor ouempregado público admitido após avigência da Constituição de 1988. Talexigência encontra-se expressa no art.37, II, impondo a moralidade e aeficiência no serviço público, ao mesmotempo em que assegura a igualdade deoportunidade a todos os cidadãos. Ainobservância daquele dispositivoconstitucional atrai a incidência do § 2ºdo mesmo artigo 37, sendo nulo ocontrato de trabalho. No caso, tampoucose pode atribuir validade ao “contratoadministrativo de prestação de serviçostemporários de interesse público”coligido às f. 44/46, por não configuradaa necessidade excepcional e tampoucoo caráter transitório dos serviços de vigiaprestados pelo empregado falecido.

Nesse passo, confirmada anulidade do contrato declarada emprimeiro grau, por não observados ospressupostos legais de investidura oujustificadores da contratação temporária(incisos II e IX do art. 37 daConstituição), ele não produz efeitosjurídicos, salvo com relação aopagamento das horas efetivamentetrabalhadas, como ressarcimento daforça de trabalho despendida, e dosvalores referentes ao FGTS.

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Por isso, correta a condenaçãorelativa à indenização do FGTS doperíodo laborado e ao salário de outubrode 2006, ante a ausência decomprovação dos depósitos ou dopagamento correspondente.

Nego provimento.

Indenização por danos morais

O Município reclamado foicondenado ao pagamento deR$20.000,00 a título de indenização pordanos morais a cada um dos reclamantes- mulher e 2 filhos do empregado falecido.

Nada há a retificar na r. sentençarecorrida, no tocante.

Já expus anteriormente o meuentendimento no sentido de que anulidade do contrato de trabalho nãoexclui a possibilidade de se condenar oMunicípio reclamado, ou outrointegrante da Administração Pública aopagamento de reparação por danosmorais e materiais.

A condenação ao pagamento deindenização por danos morais emateriais, no caso de comprovada aculpa do Município reclamado, nãocontraria a Súmula n. 363 do TST; antes,deflui do princípio ali reconhecido odever do empregador de indenizar oempregado pelo dano que lhe causou,em razão da prática de ato ilícito nocurso da relação fática mantida.

Assegura-se ao trabalhador,mesmo reconhecendo-se a nulidade docontrato de trabalho, o direito àcontraprestação salarial pelos seusserviços, bem assim aos depósitoscorrespondentes ao FGTS. Assim, commaior razão há que se assegurar aoempregado o direito à indenização emcaso de ilícito praticado. A súmulamencionada visa resguardar a moralidadeadministrativa em sua inteireza. Oadministrador, é claro, não pode se

locupletar de sua própria torpeza,pretendendo que os contratos por elerealizados fora da forma estabelecida oisentem do dever de proceder aopagamento correspondente ao tempotrabalhado e da obrigação de zelar pelasegurança do trabalhador que se encontraa seu serviço. O princípio da moralidadeadministrativa requer que o administrador,ainda que não tenha observado osprocedimentos devidos à contrataçãoválida, não seja incentivado a abusar daprática constitucionalmente vedada,buscando ver-se livre de suas obrigaçõessalariais ou de garantir a segurançamínima àquele que lhe presta serviços.

Nessa esteira, não há razão parase negar ao trabalhador o direito a serindenizado pelo ato ilícito praticado pelobeneficiário dos serviços no curso docontrato.

Dispõe o art. 186 do Código Civilque comete ato ilícito aquele que, poração ou omissão voluntária, negligênciaou imprudência, violar direito e causardano a outrem. E o art. 927 do mesmoCódigo estabelece a obrigação dereparar àquele que, por ato ilícito,causar dano a outrem.

Se o ato ilícito foi cometido peloadministrador, na vigência do contrato detrabalho declarado nulo, e dele decorreuo dano sofrido pelo empregado, impõe oprincípio da moralidade administrativaque o primeiro tenha a obrigação derepará-lo, ante a sua condição debeneficiário dos serviços prestados. Areparação civil é instrumento demanutenção e reposição da harmoniasocial, socorrendo aquele que foi lesadoatravés do patrimônio daquele quecausou o dano, como um meio de serestabelecer o equilíbrio rompido edesestimular a prática ilícita.

No caso em exame, oempregado falecido foi contratado paraexercer a função de vigia, tendo sido

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assassinado quando tentava impediruma pichação no campo de futebol daPrefeitura, onde trabalhava.

O boletim de ocorrência de f. 17e o depoimento da testemunha GeraldoPereira Duarte confirmam o fato,cumprindo ressaltar que este últimoinformou que o falecido trabalhavasozinho e que no local não existesistema de segurança e nem telefone,aduzindo que as luzes do campo defutebol somente podiam ser acesas nosdias de jogo.

Ora, cumpre ao empregadoradotar todas as medidas necessárias aproporcionar a todos os seusempregados um meio ambiente dotrabalho adequado à prestação dosserviços, saudável e seguro.Descurando-se de sua obrigação,incorre em culpa. No caso, restoudemonstrado que o empregado falecidotrabalhava sozinho, sequer dispondo deum telefone para solicitar ajuda em casode necessidade. Ele nem mesmo podiasolicitar ajuda policial.

Por isso, entendo que o Municípioreclamado foi omisso ao deixar de adotaras medidas aptas a prevenir acidentes egarantir a segurança do trabalhador,incorrendo em culpa.

Por certo que é do Estado aobrigação primária de garantir asegurança pública mas, como bemressaltado na r. sentença recorrida, “istonão isenta o empregador de proteger avida e integridade física daqueles quelhe prestam serviços, ainda mais ematividade considerada de risco como ade vigia” (f. 75).

Caracterizada a culpa darecorrente, constatado o dano e o nexocausal, a conseqüência inarredável é odever de indenizar. E, no caso, aindenização imposta na r. sentença a títulode danos morais - R$20.000,00 para cadaum dos 3 dependentes do empregado

falecido - foi arbitrada em valor razoávele adequado, levando em consideração acapacidade econômica das partes e aintensidade do dano, não se podendoolvidar de que os reclamantes foramprematuramente privados da figura do pai,aspecto que há de ser considerado noarbitrar-se a indenização. Por isso, nãoconsidero excessivo o valor arbitrado àindenização.

Por tudo isso, nego provimento.

Juros de mora

Pequeno reparo merece a r.sentença no que toca aos juros de mora.Com efeito, nos termos do art. 1º-F daLei n. 9.494/97, nas condenaçõesimpostas à Fazenda Pública os juros demora não poderão ultrapassar opercentual de 6% ao ano.

Ante o exposto, provejo o recursopara limitar a incidência dos juros demora a 0,5% ao mês.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalho daTerceira Região, pela sua Primeira Turma,preliminarmente, à unanimidade,conheceu do recurso ex officio unicamentequanto à condenação imposta aoMunicípio de Ibirité; no mérito, semdivergência, deu-lhe provimento parcialpara limitar a incidência dos juros de moraa 0,5% ao mês. Determinou a aposição,na capa dos autos, do selo “TEMARELEVANTE”, do Centro de Memóriadeste Tribunal (Ato Regulamentar n. 04,de 04 de maio de 2007).

Belo Horizonte, 05 de maio de2008.

JOSÉ MARLON DE FREITASRelator

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TRT-01525-2007-000-03-00-0-HCPubl. no “MG” de 16.02.2008

IMPETRANTE: ALEXANDRERODRIGUES DE PAIVA

PACIENTE: RENATO JOSÉ DA SILVASERRA JÚNIOR

IMPETRADO: JUIZ DA 3ª VARA DOTRABALHO DE BELOHORIZONTE

EMENTA: DEPOSITÁRIOJUDICIAL INFIEL - PRISÃO -CONSTITUCIONALIDADE -COLISÃO DE PRINCÍPIOSFUNDAMENTAIS -PREVALÊNCIA DAEFETIVIDADE DA TUTELAJURISDICIONAL DE CRÉDITOALIMENTAR. Sem embargos dealgumas recentes decisões doSupremo Tribunal Federalacerca da impossibilidade deprisão do depositário infiel emdecorrência do Pacto de SãoJosé da Costa Rica, certo é queo plenário daquela excelsaCorte (art. 97 da CR/88) aindanão se manifestou sobre oassunto, presumindo-seconstitucional a previsão doparágrafo único do artigo 904 doCPC. Também em controledifuso, não se vislumbraqualquer inconstitucionalidade,eis que o referido tratadointernacional, embora trate dedireitos humanos, nãoingressou no ordenamentopátrio com a força de emendaconstitucional a que alude o §3º do art. 5º da CR/88. Ademais,não se pode olvidar de que,assim como o direito àliberdade, também a efetividadeda tutela jurisdicional, inerenteao direito de ação sobre crédito

de natureza alimentar (incisoXXXV do art. 5º da CR), foierigida à categoria de direitofundamental na Carta Magnabrasileira. Razão pela qual, nacolisão de direitos verificada nopresente caso concreto, devemprevalecer os meios executivoscapazes de efetivar o direitosubstancial reconhecido emjuízo, cuja natureza alimentar,em última análise, interfere nopróprio direito à vida e àdignidade da pessoa humanado exeqüente, pois, há longosanos, espera pela satisfação deseu crédito trabalhista.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de habeas corpus,decide-se:

RELATÓRIO

Alexandre Rodrigues de Paiva,qualificado na inicial, impetra o presentehabeas corpus com pedido liminar emfavor de Renato José da Silva SerraJúnior, preso em 06.11.2007, alegando,em síntese, que “nosso Excelso Pretóriotem decidido pela inconstitucionalidadeda prisão civil por depósito infiel”, comespeque no Pacto de São José da CostaRica, recepcionado, a seu ver, comonorma constitucional, nos termos dos“§§ 1º e 2º do art. 5º” da Magna Carta.Acrescenta que a ilegalidade da prisãodecorre também do arquivamento dosautos em 2003.

Com a inicial, vieram osdocumentos de f. 06/08.

Às f. 09/10, o excelentíssimoDesembargador Tarcísio AlbertoGiboski, presidente em exercício desteRegional, concedeu a ordem em caráterliminar, expedindo o competente alvaráde soltura de f. 11/12.

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.47, n.77, p.239-331, jan./jun.2008

A i. autoridade impetrada prestouas informações de f. 17/19,acompanhadas das peças alusivas aofeito originário (f. 20/42).

Parecer do Ministério Público doTrabalho, pelo conhecimento eindeferimento da ordem.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Conheço do habeas corpus, porsatisfeitos os pressupostos deadmissibilidade, ressaltando que aausência de procuração outorgada aoimpetrante não obsta o regularprocessamento e julgamento dopresente remédio constitucional, eis queassegurado a qualquer do povo,independentemente de capacidadepostulatória.

Mérito

Como já mencionado norelatório, sustenta o impetrante ainconstitucionalidade da prisão dodepositário infiel em virtude do Pacto deSão José da Costa Rica, recepcionado,a seu ver, com força de normaconstitucional, por tratar de direitoshumanos (§§ 1º e 2º do art. 5º da CR/88). Alega ainda que a ordem de prisãofora expedida em 2000, não obstante oprocesso originário ter sido baixado aoarquivo em 2003, sendo, pois, ilegal orecolhimento efetuado no corrente ano.

Acrescenta que

o paciente é pessoa íntegra, de bonsantecedentes e que jamaisrespondeu a qualquer processo porcrime. [...] que o requerente nãopretende isentar-se de sua prestaçãode contas à Justiça. Pelo contrário,

tem interesse na elucidação dosfatos, pois deseja que sejamapuradas as responsabilidades noprocesso trabalhista [...]. As razõesde fato em si serão analisadasoportunamente, e provar-se-á que opaciente não cometeu o delito emtela, não cabendo, aqui, tecercomentários sobre os motivos doacontecimento tido como criminoso,mas tecer, isto sim, comentáriosacerca dos direitos do paciente queestão sendo postergados, injusta eilegalmente [...]. - f. 03/04

Para melhor compreensão docaso sub judice, vale transcrever asseguintes informações prestadas pelaautoridade impetrada:

Conforme os termos da atade audiência juntada à f. 09 (cópiaanexa), as partes em litígio(REINALDO DIAS DE OLIVEIRA XLETTER SERGIGRAFIA LTDA.)celebraram acordo nos autos doprocesso em referência, pelo qual areclamada, pelo sócio presente, Sr.RENATO JOSÉ DA SILVA SERRAJÚNIOR, se comprometeu a pagarao reclamante, mediante depósito naAgência 620, da CEF, a quantialíquida de R$1.500,00, em trêsparcelas iguais de R$500,00,vencíveis em 28.04.99, 28.05.99 e28.06.99, sob pena de multa de3,33% ao dia, até o limite de 100%,com juros e correção monetária apartir de seu vencimento.

Descumprido o ajuste,iniciou-se, a pedido do exeqüente, aexecução forçada do créditoexeqüendo, no importe deR$3.543,78, conforme cálculos de f.12 (cópia anexa), atualizado até31.05.1999.

Decorrido em branco o prazo

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legal para o pagamento do débito ounomeação de bens à penhora, foipenhorado o bem descrito no auto def. 16 (cópia anexa), nomeando-sedepositário o mesmo sócio presenteà audiência, Sr. RENATO JOSÉ DASILVA SERRA JÚNIOR (f. 16v).

Designada praça, estarestou negativa, pela ausência delicitantes (certidão de f. 24 - cópiaanexa).

Determinada, na seqüência,a realização de leilão, o bem foiarrematado pelo autor, REINALDODIAS DE OLIVEIRA (f. 47 - cópiaanexa), tendo sido expedido o autode arrematação e o mandado deentrega dos bens (f. 49/50 e 53/54 -cópias anexas).

Tendo resultado infrutífera adil igência empreendida para aentrega dos bens arrematados,expediu-se mandado de intimaçãodo depositário para informar oparadeiro dos bens em 24 horas, sobpena de prisão. Tal dil igênciatambém restou negativa, em vista damudança do endereço do réu, sema devida comunicação nos autos (f.66 - cópia anexa).

Determinou-se, desta forma,a intimação do depositário por edital,para informar, no prazo de 05 dias,sob a mesma cominação legal, olocal onde os bens poderiam serencontrados (f. 71/75).

Decorrido in albis o prazoconcedido, expediu-se, por fim,mandado de prisão, em 16.10.2000(f. 76 - cópia anexa), com amanutenção da ordem pelo juízo atéo seu efetivo cumprimento.

Ressalto, neste ponto, queordem de prisão anterior, datada de12.06.2000, restou revogada, à faltada regular intimação do depositário(f. 69/71).

Informo, ainda, que,expedido o mandado de prisão, aexecução prosseguiu em relação aoscálculos atualizados de f. 83 (cópiaanexa) para a penhora de outrosbens, tendo a diligência resultadonovamente negativa, em razão damudança de endereço da empresaexecutada (certidão de f. 90 - cópiaanexa), fato que motivou oarquivamento dos autos, em20.03.2001, à falta de meios aoprosseguimento da execução.

Finalmente, cumpre esclarecerque em 17.11.2003 foi solicitada ajuntada de substabelecimento, peloautor, com retorno dos autos ao arquivoem 15.12.2003.

Contextualizada a demanda,rechaço, de plano, a supostainconstitucionalidade da prisão dodepositário judicial infiel.

Primeiramente porque, emboraalgumas recentes decisões do SupremoTribunal Federal tenham acolhido a tesesustentada pelo impetrante, certo é quea questão da prisão do depositáriojudicial infiel (inciso LXVII do art. 5º daCR c/c parágrafo único do art. 904 doCPC) ainda não foi apreciada pelo Plenodaquela Corte, tal como exige a cláusulada reserva de plenário, insculpida no art.97 da Constituição da República.

Outrossim, em controle difuso,também não vislumbro latenteinconstitucionalidade da previsão emcomento, uma vez que a ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos,mais conhecida como Pacto de SãoJosé da Costa Rica, ingressou noordenamento pátrio por meio do Decreton. 678/1992, o qual, sabidamente, nãoobservou o procedimento legislativoapto a conferir-lhe força de emendaconstitucional a que alude o § 3º do art.5º da CR/88.

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Não bastasse, como bemressalvado pela i. representante doParquet, o próprio STF deixa entreverque a prisão potencialmente ilegal, emvirtude do referido tratado internacional,restringir-se-ia ao depositário infieldecorrente de obrigação contratual (v.g.alienação fiduciária) e não de depósitojudicial. Vale trazer à baila, nessesentido, o seguinte trecho de votoproferido pelo Ex.mo Ministro RicardoLewandowski, nos autos do RHC 90/759/MG, julgado em 15.05.2007 (grifosnossos):

[...]O entendimento expresso no

RE 466.343/SP, apesar deparadigmático e indicativo demudança no entendimento dodisposto no art. 5º, LXVII, daConstituição Federal, não tem ocondão de superar a correntejurisprudencial outrora sumulada daviabilidade do decreto de prisão dodepositário judicial infiel.

O depósito judicial, enquantoobrigação legal e que, nessestermos, estabelece relação típica dedireito público e de caráterprocessual entre o juízo da execuçãoe o depositário judicial dos benspenhorados, permite a prisão civil.

Isso porque ainstrumentalidade do depósito aquiversado não se faz em função deobrigação jurídica decorrente decontrato [...]. Ademais, encontra-seem perfeita consonância com oespírito das recentes alteraçõesprocessuais de se conferir maioragilidade e efetividade à execução.[...]

Coaduno inteiramente com talentendimento, acrescentando aindaque, assim como o direito à liberdade,

também o direito à efetividade da tutelajurisdicional, sobretudo daquela querecai sobre crédito de naturezaalimentar, está consagrada como direitofundamental na Carta Magna brasileira.

A propósito, a moderna doutrinaprocessualista não mais concebe oinciso XXXV do art. 5º da CR comodireito do jurisdicionado a uma mera (e,não raramente, inócua) solução demérito. Com efeito, o chamado “direitode ação” pressupõe o manejo de meiosexecutivos capazes de efetivar o direitosubstancial reconhecido em juízo,porquanto o cidadão, quando aciona oPoder Judiciário, não busca a sentença,mas o bem da vida (in casu, a satisfaçãodo crédito trabalhista) disputado com oex adverso.

Nesse diapasão, entendo que,na colisão entre os direitosfundamentais em jogo, liberdade versusefetividade da tutela jurisdicional sobrecrédito de natureza alimentar, deveprevalecer este que, em última análise,interfere no próprio direito à vida e àdignidade da pessoa humana doexeqüente e de seus dependentes.

Superada a questão dailegalidade, em tese, da ordem de prisãoemanada do juízo da 3ª Vara doTrabalho desta Capital, verifico que oimpetrante em momento algum, nemmesmo singelamente, justif ica asonegação, pelo paciente, do bemadjudicado no feito originário. Aocontrário, limita-se a afirmar que teminteresse em apurar asresponsabilidades e esclarecer osmotivos do acontecimento em momentooportuno!

Ora, qual será o momentooportuno para que o executado cumprao acordo por ele próprio celebrado em1999?

Difícil vislumbrar a boa intenção dopaciente que vem se furtando da

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satisfação do crédito, bem como doadimplemento das obrigações assumidascomo auxiliar da Justiça (art. 148 do CPC),há quase oito anos, desde a arremataçãodo bem em 30.03.2000, f. 27.

Com efeito, seu desaparecimentosem qualquer comunicação ao juízo daexecução e a propositura do presentewrit desamparado de qualquer motivoplausível para a apresentação do bemarrematado que lhe fora confiado deixampatente o intuito procrastinatório dopaciente, afastando qualquer óbiceconcreto à medida extrema efetuada(prisão - parágrafo único do art. 904 doCPC).

Por derradeiro, o arquivamentodo feito por ausência de meios aoprosseguimento da execução nãoextingue a responsabilidade patrimonialdo devedor reticente, sobretudo quandoo arquivamento se deu com relaçãoapenas ao restante do créditoexeqüendo, juros e atualizaçõesmonetárias, não contemplado pelaarrematação anterior (conformeinformações da autoridade impetrada,supratranscritas).

Parece, na verdade, olvidaremimpetrante e paciente que, à míngua deprescrição intercorrente no Direito doTrabalho, os autos poderão ser, aqualquer tempo, desarquivados paraprosseguimento da execução, conformetextualmente preceitua o § 3º do art. 40da LEF.

Por todo o exposto,reconhecendo o descumprimento domunus público que competia aopaciente na qualidade de auxiliar dojuízo (art. 148 do CPC) e, portanto, alegalidade da prisão decretada, denegoa ordem, revogando a liminaranteriormente proferida.

Dê-se imediata ciência ao d. juizda 3ª Vara do Trabalho de BeloHorizonte/MG.

CONCLUSÃO

Conheço do habeas corpus e, nomérito, denego a ordem requerida,revogando a liminar anteriormenteproferida.

Dê-se imediata ciência ao d. juizda 3ª Vara do Trabalho de BeloHorizonte/MG.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua OitavaTurma, preliminarmente, àunanimidade, conheceu do habeascorpus; no mérito, sem divergência,denegou a ordem requerida, revogandoa liminar anteriormente proferida. Dê-seimediata ciência ao d. juiz da 3ª Vara doTrabalho de Belo Horizonte/MG.

Belo Horizonte, 17 de dezembrode 2007.

HERIBERTO DE CASTRODesembargador Relator

TRT-00872-2007-097-03-00-6-ROPubl. no “MG” de 07.05.2008

RECORRENTE: PENNA MOTOS LTDA.RECORRIDO: LUCAS DOS SANTOS

VASCONCELOS

EMENTA: INTERVALOINTRAJORNADA - PREVISÃONO CONTRATO DE TRABALHO- TEMPO SUPERIOR AOPREVISTO LEGALMENTE.Comprovado que o autorusufruía 1 hora e 30 minutos deintervalo para descanso erefeição, quando o contrato detrabalho prevê o tempo de 2

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horas, deve ser mantida acondenação em 30 minutosextras. Cabe esclarecer que, nahipótese, não se trata dedescumprimento do intervalolegal mínimo previsto no art. 71da CLT, não se aplicando oentendimento jurisprudencialconstruído em torno damatéria, mas sim de intervalointrajornada contratualsuperior ao legal que não eracumprido em sua integralidade.

Vistos, relatados e discutidos,

DECIDE-SE

RELATÓRIO

O MM. Juiz da 4ª Vara doTrabalho de Coronel Fabriciano, pelasentença de f. 99/103, cujo relatórioadoto e a este incorporo, julgouprocedentes em parte os pedidoscontidos na inicial.

Recorre a reclamada, às f. 105/110, insurgindo-se contra a fixação dadata de admissão do autor (20.08.2005)e do horário de término da jornada detrabalho, de 2ª a 6ª feira, às 18h15mine, aos sábados, às 12h15min, bemcomo contra a condenação aopagamento de 30 minutos extras a títulode intervalo intrajornada. Caso mantidaalguma das condenações em horasextras, requer seja considerado apenaso adicional sobre o valor da comissão.

Pugna, ainda, pela determinaçãoda compensação ou dedução dosvalores pagos a título de comissão (f.12 e 13).

Contra-razões às f. 118/124,suscitando o autor a preliminar dedeserção.

Dispensada a remessa dosautos ao Ministério Público do Trabalho,

por força do art. 82 do RegimentoInterno deste Regional.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Preliminar de não conhecimentodo recurso argüida em contra-razões

O reclamante suscita a deserçãodo recurso, alegando a ausência decomprovação do recolhimento dodepósito recursal em guia própria (GRE)e de autenticação mecânica da CEF,com base no Provimento n. 26 desteRegional e nas Instruções Normativasn. 15 e 18 do TST. Acrescenta que odocumento de f. 112 informaexpressamente que aquele relatório nãoé válido para quitação e que o protocolode f. 113 não garante a legitimidade doconteúdo daquelas informações.

Em face dos avançostecnológicos, da possibilidade deutilização da Guia de Recolhimento doFGTS e Informações à Previdência Social- GFIP para fins de recolhimento dodepósito recursal e a emissão da guiaeletronicamente, o Excelso TST resolveuexpedir a Instrução Normativa n. 26/2004.

Consta dos incisos II e III daquelanorma que a GFIP, emitidaeletronicamente para fins de depósitorecursal, ostentará no seu cabeçalho otítulo “Guia de Recolhimento para Finsde Recurso Junto à Justiça do Trabalho”e que o depósito poderá ser feito viaInternet Banking. A comprovação dorecolhimento é feita mediante aapresentação do “Comprovante deRecolhimento/FGTS” e da “Guia deRecolhimento para Fins de Recursojunto à Justiça do Trabalho” paraconfrontação dos respectivos códigosde barras, os quais deverão coincidir.

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O comprovante de pagamento/FGTS foi apresentado à f. 111 e a GFIPà f. 112, sendo seus códigos de barrascoincidentes. Assim, tornam-seabsolutamente irrelevantes, para fins decomprovação do recolhimento dodepósito recursal, o relatório de f. 113 eo protocolo de f. 114.

Cabe salientar que o Provimenton. 26 deste Regional é de 05.10.1988,época em que não se cogitava dapossibilidade de realização de depósitosbancários por meio eletrônico.

Nos termos do § 1º do art. 2º daLei n. 4.657/42, aqui aplicadoanalogicamente, norma posterior revogaa anterior quando seja com elaincompatível, de modo que nãoprevalecem, no caso dos autos, asexigências contidas nas INs n. 15 e 18do TST, concernentes à necessidade deo recolhimento ser feito em guia GRE ede o documento ser autenticado pelobanco recebedor.

Rejeito.

Data de admissão

A reclamada insurge-se contra oreconhecimento de que o reclamante foiadmitido em 20.08.2005. Alega quetanto os documentos juntados quanto aprova oral produzida evidenciaram queo reclamante foi contratado emdezembro de 2005.

Acrescenta que o depoimento datestemunha obreira não se presta paraconvencer o juízo, porquanto, além decontraditório, é destoante daqueleprestado pelas demais testemunhas.

O recorrente equivoca-se emsustentar que o depoimento datestemunha Gustavo Araújo Ferreiranão autoriza a conclusão de que oreclamante teria sido realmenteadmitido em agosto de 2005. Asinformações prestadas pela

testemunha, no sentido de que inicioua prestação de serviços em julho de2005 e o autor cerca de dois mesesdepois, encontram-se em consonânciacom a data informada na exordial comode início do contrato, 20.08.2005 (grifosmeus).

O juízo de origem deu valor àinformação prestada pela 1ª testemunhaarrolada pelo autor no que se refere àdata de admissão. E não poderia serdiferente, uma vez que não há comoatribuir valor probante ao depoimentoprestado pela testemunhaarregimentada pelo reclamado, naforma pretendida no recurso.

No referido depoimento, atestemunha limitou a sua informação aoperíodo em que laborou na mesma lojaque o reclamante, não sabendo informarse anteriormente a dezembro de 2005o obreiro havia prestado serviços emoutra loja ao informar

que trabalha na reclamada desdejulho/05, como vendedor de peças,na loja de Ipatinga; que já trabalhoucom o reclamante na outra loja deIpatinga, sendo que esta loja nãoexiste mais; que o depoentetrabalhava nesta loja desde julho de2005 e se recorda que o reclamantecomeçou a trabalhar ali emdezembro/05; que não sabe dizer seo recte. já havia trabalhado em outraloja da reclamada” (f. 98, grifosmeus)

Correta, portanto, a decisão emse basear nas informações prestadaspela 1ª testemunha obreira.

Nego provimento.

Jornada de trabalho

Discorda a ré da fixação dohorário de término da jornada de

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trabalho do autor, de 2ª a 6ª feira, às18h15min e, aos sábados, às 12h15min,bem como da condenação aopagamento de 30 minutos extras a títulode intervalo intrajornada.

Aduz que, caso mantida algumadessas condenações, requer que sejaconsiderado apenas o adicional da horaextra nos termos da Súmula n. 340 doTST.

Os cartões de ponto,colacionados às f. 69/77, devidamenteimpugnados pelo autor (f. 92), contêmhorários invariáveis, o que atrai aincidência do item III da Súmula n. 38do TST.

O reclamante foi contratado paracumprir jornada das 8h às 18h, comduas horas de intervalo para descansoe refeição (f. 64). Comprovado que oautor usufruía 1 hora e 30 minutos deintervalo para descanso e refeição, deveser mantida a condenação em 30minutos extras.

Cabe esclarecer que na hipótesenão se trata de descumprimento dointervalo legal mínimo previsto no art.71 da CLT, não se aplicando ajurisprudência construída em torno damatéria, mas sim da previsão deintervalo intrajornada contratual maisdilatado que não era cumprido em suaintegralidade.

Quanto ao horário de término najornada de trabalho, melhor sorte nãoassiste à ré.

Emerge dos depoimentosprestados por ambas as testemunhasobreiras que a jornada por elascumprida era, em média, das 8h às18h30min, de segunda a sexta-feira (f.97/98). A testemunha patronal informouque tanto ela quanto o reclamantelaboravam até às 18h/18h10min/18h15min, afastando, de plano, a teserecursal de que o término da jornadanão extrapolava as 18h (f.98).

Conclui-se que os depoimentosprestados não encontram qualquerdiscrepância, encontrando-se emperfeita harmonia, ainda mais se forconsiderada a informação de que oreclamante saía 15 minutos antes dotérmino da jornada em virtude de seucurso noturno (f. 98).

Quanto aos sábados, o términoda jornada foi fixado às 12h15min,horário que entendo condizente com amédia informada nos depoimentosprestados (12h30min/13h, GustavoAraújo Ferreira, f. 97; 12h/12h30min,Leon Fialho Vieira, f. 98 e 12h/12h15min,José Domingos Bernardino, testemunhada reclamada, f. 98).

A argumentação recursalpertinente à tolerância de 15 minutos noinício ou final do expediente, constantedos instrumentos coletivos da categoria,é inovação recursal, não tendo sidoobjeto da defesa (f.61/63).

Como a parte não alegou acompensação e requereu a aplicaçãoda Súmula n. 340 do TST no momentooportuno (f. 61/63), tem-se que essaspretensões também consistem eminovação recursal, não merecendoqualquer pronunciamento, pena desupressão de instância e julgamentoextra petita.

Por fim, a teor da OJ n. 233 daSDI-I do TST, a prova oral oudocumental não fica limitada ao tempopor ela abrangido quando o julgadorestiver convencido de que oprocedimento questionado superouaquele período.

Nego provimento.

Compensação

A reclamada insiste na alegaçãode que os valores pagos a título decomissão, R$1.219,01 e R$1.543,27 (f.12 e 13), devem ser compensados ou

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deduzidos do cálculo de liquidaçãocomo forma de evitar o repudiadoenriquecimento ilícito do autor.

Conquanto se verifique, às f. 61/63, que na defesa a reclamada nãopugnou pela compensação ou deduçãode qualquer parcela, a matéria foiapreciada pelo juízo de origem.

O pedido não procede porquenão houve condenação em parcelaspagas ao mesmo título. Em relação àscomissões constantes nos documentosde f.12/13, citados pela reclamada, acondenação cingiu-se em deferir osreflexos, o que não permite oacolhimento da pretensão da recorrente.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

Em face do exposto, rejeito apreliminar de deserção eriçada nascontra-razões e conheço do recurso e,no mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, por sua SegundaTurma, unanimemente, rejeitou apreliminar de deserção eriçada nascontra-razões e conheceu do recurso;sem divergência, negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 22 de abril de2008.

LUIZ RONAN NEVES KOURYDesembargador Relator

TRT-00627-2007-101-03-00-3-ROPubl. no “MG” de 16.02.2008

RECORRENTES: 1)FURNAS CENTRAISELÉTRICAS S/A2)ILTON ANTÔNIO DE LIMA

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: “DIFERENÇASSALARIAIS DECORRENTES DOINCORRETO ENQUADRAMENTOOBREIRO - PLANO DE CARGOSE SALÁRIOS - CRITÉRIOS DEPROMOÇÃO ESTABELECIDOSSEGUNDO ANÁLISE DOSPONTOS DE MATURIDADE -AFASTAMENTO DAPRESCRIÇÃO TOTAL - NÃO-CONHECIMENTO. Não havendodúvida que a postulação doreclamante, no tocante ao pedidode pagamento de diferençassalariais, decorre do equívocoque teria sido cometido em suanova colocação funcional, umavez que não observada acorreta aplicação dos termosdo plano de cargos e saláriospara fins de promoção obreira,segundo a análise dos pontosde maturidade, rejeita-se a teserecursal de incidência daprescrição total. Revista nãoconhecida.” (AI-RR-17730/2002-900-03-00-7 - DJ15.09.2006 - 4ª Turma - RelatoraJuíza Convocada Maria deAssis Calsing)

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordináriointerposto perante a 2ª Vara do Trabalhode Passos/MG, em que figuram, comorecorrentes, 1) FURNAS CENTRAISELÉTRICAS S/A, 2) ILTON ANTÔNIODE LIMA e, como recorridos, OSMESMOS.

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RELATÓRIO

O Juízo da 2ª Vara do Trabalhode Passos, pela sentença de f. 237/243,rejeitou a prescrição e julgouprocedentes em parte os pedidos,condenando a reclamada àclassificação e reenquadramento doautor no nível 61, com data retroativa a14.08.2003 e à classificação ereenquadramento no nível 64, com dataretroativa a 01.10.2003; ao pagamentode diferenças salariais resultantes docorreto enquadramento e reflexos.

Embargos de declaraçãojulgados às f. 251/252.

Recurso ordinário da reclamadaàs f. 253/290, renovando a preliminarde prescrição total do direito; dizendoque o PCS não pode ser modificado, porconstituir poder diretivo do empregador;que a expressão pontos de maturidadenão é forma de enquadramento porantiguidade; que o ATS é também umaforma de enquadramento porantiguidade.

Custas pagas e depósito recursalrecolhido, f. 291/292.

Contra-razões do reclamante àsf. 294/304.

Dispensada a manifestação da d.Procuradoria do Trabalho, por força daResolução Administrativa n. 143/2000,deste Tribunal.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Conheço do recurso dareclamada, regularmente processado,determinando a retificação da autuação,uma vez que não houve, de parte doreclamante, interposição de recurso.

Por sua vez, não conheço dopedido formulado no fecho das contra-

razões do reclamante, por impróprio.Primeiro, porque não é a peçaadequada para buscar reforma dojulgado. Segundo, porque o art. 895 dizque o recurso deve ser formulado porpetição, na forma do art. 514 do CPC,aplicável de forma subsidiária aoProcesso do Trabalho.

Mérito

Prescrição

Renova a reclamada a argüiçãode prescrição total do direito de ação,invocando a aplicação da Súmula n. 294do TST e Precedente n. 144 do TST,pelo fato de o Plano de Cargos eSalários ter sido implantado em01.05.1992. Afirma que a hipótese dosautos implica ato positivo e único, queatingiu elemento de formação docontrato, e que não existe fundamentoou pedido inicial referente a possívelenquadramento no PCS pela utilizaçãodo critério de antiguidade, pretendendoapenas a revisão das progressõesconcedidas. Traz à colação doutrina earestos sobre a matéria.

Ensina a doutrina que, só em setratando de direito oriundo de ato únicodo empregador, é que se opera aprescrição total; caso contrário o direitose renova no vencimento de cadaobrigação sucessiva.

Nesse sentido preleciona DÉLIOMARANHÃO:

Uma coisa é alterar o empregadoruma condição de trabalho ajustadacom o empregado; outra, deixar,apenas, de, periodicamente, cumpriraquilo a que se obrigara.(PRESCRIÇÃO, DIREITO DOTRABALHO E A SÚMULA N. 198 DOTRIBUNAL SUPERIOR DOTRABALHO. Revista LTr n. 49-6/650)

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A narrativa inicial é no sentido deque o reclamante vem sendo“injustiçado”, uma vez que não recebeprogressões, sequer por antiguidade,encontrando-se no nível salarial 51quando da implantação do novo PCS,em 31.12.04, que, segundo os pontosde maturidade, ou seja, pontosespecíficos definidos nas faixas salariaisde cada cargo, pressupõem experiênciamínima para serem atingidos, sendoque o nível 51 é destinado aosfuncionários com mais de seis anos emenos de doze anos de experiência,contando, à época, com mais de 25anos de experiência na empresa.

Relatou, ainda, que em 14.08.03completou 24 anos de experiência eantiguidade, devendo ser enquadradono nível 61, nível salarial mínimo, e queem 01.10.03 recebeu uma progressãosalarial, sendo alçado do nível 48 parao nível 51, pretendendo seuenquadramento para o nível 64, nívelsalarial subseqüente.

Cabe a constatação, portanto,que a pretensão deduzida na inicial ésedimentada em situação jurídicaconsolidada em 2003, época em queentende o reclamante fazer jus aoenquadramento em nível superior aoconcedido, e não com a implantação doPCS de 1992, uma vez que nãopretende a correção do enquadramento,mas a correção da inobservância doscritérios ali estabelecidos. É quesomente em 14.08.03, quandocompletou 24 anos de experiência,entendeu fazer jus a nível salarialsuperior.

Por essa razão, as alegaçõesrecursais no sentido de que os reflexossentidos nas progressões salariaisposteriores são atingidos em cadeia, porser o enquadramento ato único doempregador, não prevalece, nãohavendo, ainda, a propalada ofensa à

Súmula n. 294 do TST, uma vez que nãose observa, na hipótese dos autos,“alteração do pactuado”, e sim lesõespor omissão do empregador nocumprimento das normas estabelecidas,que se renovam mês a mês, incidindo aprescrição parcial. Inaplicável, ainda, aOJ n. 144 do TST, incorporada pelaSúmula n. 275 do TST.

Assim também vem entendendoo E. TST:

DIFERENÇAS SALARIAISDECORRENTES DO INCORRETOENQUADRAMENTO OBREIRO.PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS.CRITÉRIOS DE PROMOÇÃOESTABELECIDOS SEGUNDOANÁLISE DOS PONTOS DEMATURIDADE. AFASTAMENTO DAPRESCRIÇÃO TOTAL. NÃO-CONHECIMENTO. Não havendodúvida que a postulação doreclamante, no tocante ao pedido depagamento de diferenças salariais,decorre do equívoco que teria sidocometido em sua nova colocaçãofuncional, uma vez que nãoobservada a correta aplicação dostermos do plano de cargos e saláriospara fins de promoção obreira,segundo a análise dos pontos dematuridade, rejeita-se a tese recursalde incidência da prescrição total.Revista não conhecida.Vistos, relatados e discutidos estesautos de Agravo Regimental emRecurso de Revista n. TST-A-RR-17730/2002-900-03-00.7, em que éagravante FURNAS CENTRAISELÉTRICAS S.A. e agravadoLINDEMAR VIEIRA BÓIA.(A-RR-17730/2002-900-03-00-7 - DJ15.09.2006, 4ª Turma - Relatora JuízaConvocada Maria de Assis Calsing)

Rejeito.

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Diferenças salariais peloenquadramento no PCS

Entende o recorrente que a r.sentença de 1º grau pretendeu amodificação do PCS, uma vez que nãoproduz efeitos irregulares, e que “pontosde maturidade” não podem serinterpretados como forma deenquadramento por antiguidade. Afirmaque, para implantação do PCS, em 1992,

utilizou, como metodologia para atransposição, o salário dosempregados, e, a partir destemomento (ou seja, vigendo para ofuturo), passaria a utilizar os critériosMÉRITO que é a conjugação dosPONTOS DE MATURIDADE,AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO EEXISTÊNCIA DE CAPITAL, inclusive,não podendo ser utilizados de formaisolada, e o critério ANTIGUIDADE,que se dava em caso de inexistir aconcessão da Progressão por Mérito,teria o empregado a ProgressãoAutomática.

Prossegue, afirmando que otempo de experiência se refere aotempo de serviço no cargo ocupado peloreclamante, e não ao tempo de casa.Transcreve arestos sobre a matéria.

Sem razão.Funda-se a controvérsia na

definição dos pontos de maturidade; seconstituem critério de progressãosalarial por antiguidade ou não, a fimde caracterizar o reenquadramentofuncional do reclamante.

Na definição do plano, pontos dematuridade “São os pontos específicosdefinidos nas Faixas Salariais de cadaCargo, que pressupõem experiênciamínima para serem atingidos pelosocupantes dos mesmos.” (f. 29, item2.3).

Data venia, a recorrente nãopode criar pontos de maturidade parafins de enquadramento, e prescindir domesmo sob a alegação de que a basede posicionamento dos empregados éfixada pela faixa salarial.

E que, de acordo com o item 4.1do PCS, f. 30/31, a ascensão pormerecimento se divide em promoção eprogressão, decorrendo de seleçãoefetuada pelas respectivas gerênciasentre os empregados, observando-se osinstrumentos de avaliação e os pontosde maturidade.

Ora, sendo a antiguidade emerecimento os critérios legais declassificação e enquadramento,previstos nos §§ 2º e 3º do art. 461 daCLT, de forma alternada, o critérioadotado pela recorrente, que estipulapontos de maturidade e faixa salarial,assim como mérito automático, queacaba por confundir mérito comantiguidade, estabelecendo os doiscritérios conjugados e de formasimultânea, misturando critério subjetivo(avaliação de desempenho) com critérioobjetivo (antiguidade), afigura-se ilegal,uma vez que gera dificuldades para oenquadramento do empregado e nãoatende aos princípios da isonomia eigualdade de tratamento,constitucionalmente garantidos.

A alegação da reclamada nosentido de que o tempo de experiênciase refere ao tempo de serviço no cargoocupado, e não ao tempo de casa,implica interpretação inconcebível, jáque, ao assim proceder, o empregadojamais teria a oportunidade de atingir onível máximo da carreira.

Como bem consignado na r.sentença recorrida, que peço “vênia”para transcrever:

Sobretudo, nem poderia areclamada criar os pontos de

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maturidade para efeitos deenquadramento para depois negareste critério, uti l izando-se desubjetivismos, regra geral,prejudiciais aos empregados, umavez que funcionários mais antigosacabam sendo preteridos pormotivos de apadrinhamentos.

Não é preciso nenhumesforço para constatar que areclamada não vinha cumprindo oplano de cargos e salários, comrelação ao reclamante. Aliás, elamesma confessa que adotava outroscritérios subjetivos para promoção deseus empregados.

Da mesma forma vementendendo o TST, em decisão recente,verbis:

[...]Dessa forma, não há como prosperara alegação da reclamada de que osPontos de Maturidade são merosparâmetros referenciais ou que nãorepresentam níveis mínimos oumáximos para o enquadramento portempo de experiência do empregadona função.Ora, instituído o Plano de Cargos eSalários, não pode a empresa, aoseu alvedrio, desrespeitá-lo,passando a observar critérios outrospara o enquadramento, mesclandocritérios de antigüidade emerecimento de forma aleatória enão alternada, como orienta o art.461, da CLT.Assim, entendo que os Pontos deMaturidade não constituem meroparâmetro referencial, mas sãorequisitos de antigüidade a serobservado pela empresa, comoforma de se aplicar corretamente oPCS implantado e reparar injustosenquadramentos em que apenas o

critério subjetivo do mérito éalcançado.Importante ressaltar que oreclamante em momento algumalegou ser inválido o Plano deCargos e Salários, tampouco seinsurgiu quanto ao enquadramentoefetuado pela reclamada quando datransposição do antigo para o novoplano, ocorrida em 01.05.92. Assimsendo, torna-se inócua a alegaçãoda reclamada quando datransposição do antigo para o novoplano, ocorrida em 01.05.92. Assimsendo, torna-se inócua a alegaçãoda reclamada de que não houveredução salarial quando datransposição do antigo para o novoplano, já que não houve alegaçãonesse sentido por parte doreclamante.O seu inconformismo prende-setão-somente às progressõessalariais que se seguiram após oenquadramento no novo PCS,especificamente em 23.12.95 e01.12.96, argumentando que nãoforam observados os critérios fixadosno PCS, uma vez que a reclamadateria deixado de observar o tempo deserviço. O reclamante foi admitidoem 23.09.71, contando, portanto,com 24 anos e 3 meses de serviçoem 23.12.95, pelo que faria jus, nestadata por ele referida, aoenquadramento no nível 54 (mais de24 anos).Contudo, estava enquadrado no nível52 (demonstrativo de pagamento f.23).(A-RR-17730/2002-900-03-00-7 - DJ15.09.2006 - 4ª Turma - RelatoraJuíza Convocada Maria de AssisCalsing)

Incontroverso que o reclamantesofreu prejuízos decorrentes do

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enquadramento incorreto, uma vez que,em 14.08.2003, quando completou 24anos de serviço, deveria ocupar o nível61, em face do cargo de Técnico deNível Médio, e que, progredindo trêsníveis em 01.10.2003, deveria ocupar onível 64, mantenho a r. sentença deorigem.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

Isso posto, conheço do recursoda reclamada, determinando aretificação da autuação, uma vez quenão houve a interposição de recursopor parte do reclamante; no mérito,nego-lhe provimento.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os ExcelentíssimosDesembargadores do Tribunal Regionaldo Trabalho da Terceira Região, pelasua Quarta Turma, à unanimidade, emconhecer do recurso da reclamada,determinando a retificação da autuação,uma vez que não houve a interposiçãode recurso por parte do reclamante; nomérito, sem divergência, em negar-lheprovimento.

Belo Horizonte, 19 de dezembrode 2007.

CAIO LUIZ DE ALMEIDA VIEIRA DEMELLO

Desembargador Relator