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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE DIREITO / PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CARMEN GODOY VIEIRA DE SOUZA ACORDO DE QUOTISTAS: O CONTRATO PARASSOCIAL NA SOCIEDADE LIMITADA Belo Horizonte 2011

Acordo de Quotistas - Trabalho Acadêmico

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Detalha aspectos doutrinários sobre o Acordo de Quotistas no contexto jurídico nacional, especialmente nas Sociedades Limitadas, apresentando interessante modelo de pacto da espécie ao final do trabalho.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE DIREITO / PROGRAMA DE PS-GRADUAO CARMEN GODOY VIEIRA DE SOUZA ACORDO DE QUOTISTAS: O CONTRATO PARASSOCIAL NA SOCIEDADE LIMITADA Belo Horizonte 2011 CARMEN GODOY VIEIRA DE SOUZA ACORDO DE QUOTISTAS: O CONTRATO PARASSOCIAL NA SOCIEDADE LIMITADA DissertaoapresentadaaoProgramade Ps-GraduaodaFaculdadedeDireitoda UniversidadeFederaldeMinasGeraispara obtenodottulodeMestreemDireitoe Justia,soborientaodaProfessora Doutora Moema Augusta Soares de Castro. Belo Horizonte 2011

Souza, Carmen Godoy Vieira de S729aAcordodequotistas:ocontratoparassocialnasociedadelimitada/CarmenGodoy Vieira de Souza. -Belo Horizonte, 2011. 99 f. Orientadora:Moema Augusta Soares de Castro Dissertao (mestrado) Faculdade de Direito da UFMG. 1.Sociedades por quotas de responsabilidade limitada 2. Sociedades comerciais 3. AcionistasI. Castro,Moema Augusta Soares de II. Ttulo CDU: 347.72.031 347.724 CARMEN GODOY VIEIRA DE SOUZA ACORDO DE QUOTISTAS: O CONTRATO PARASSOCIAL NA SOCIEDADE LIMITADA Dissertaoapresentadaeaprovadajunto aoProgramadePs-GraduaoemDireito daUniversidadeFederaldeMinasGerais, visandoobtenodottulodeMestreem Direito e Justia. Belo Horizonte, 16 de agosto de 2011 Componentes da banca examinadora: _____________________________________________________________ Professora Doutora Moema Augusta Soares de Castro (Orientadora) Universidade Federal de Minas Gerais ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Dedicoestetrabalhoaosmeusqueridos pais,FernandoeMarlene,eaomeufuturo esposo, Joo Eduardo, que me incentivaram e me apoiaram na busca e na concretizao deste sonho. AGRADECIMENTOS AgradeoaDeus,porsempremeabenoar eMeRainha,porouvirminhas incansveis preces. A toda minha famlia, em especial s minhas queridasirms,CaroleCintia,peloapoioe compreenso indispensveis. AgradeoimensamenteProfa.Dra. MoemaAugustaSoaresdeCastro,pela amizadeepelaorientaoprimorosa,sem asquaisarealizaodestetrabalhono seria possvel. AoProf.Dr.HumbertoTheodoroJnior, pelosconstantesefundamentais ensinamentos. AoProf.Dr.MarceloAndradeFres,pela disponibilidadeevaliosasoportunidadesde aprendizado. AoProf.Dr.OsmarBrinaCorra-Lima,pelo exemplo de gentileza e sbias lies. AoscolegasdoHumbertoTheodoroJnior AdvogadosAssociados,emespecials Dras.AdrianaMandimTheodorodeMelloe Juliana Cordeiro de Faria, pela oportunidade nica de convivncia e aprendizado. Aosfuncionrios,professoresecolegasda FaculdadedeDireitodaUFMGeseu ProgramadePs-Graduao,que,mais umavez,contriburamparaminhaformao intelectual. "[...]outraquestoquemereceser examinada a que se refere possibilidade decotistasdeumasociedadeporcotasde responsabilidadelimitadafirmarementresi contrato parassocial, que pudesse configurar modalidadedeacordodecotistas.Seriam elesparteslegtimasparaonegcio?O sistema legal de disciplinada sociedade por cotas permitiria semelhante ajuste?" (BARBI, Celso Filho. Acordo de Acionistas. BeloHorizonte:DelRey,1993,p.55,grifo do autor). RESUMO OAcordodeQuotistasuminstrumentojurdicoconsagradonaprticasocialdas Sociedades Limitadas. Aausnciaderegulamentaodoreferidoinstituto,contudo,provoca questionamentos sobre sua validade. Almdisso,diantedaescassaproduodoutrinriaeinexistenteposio jurisprudencialacercadoreferidoinstituto,prevalecenasrelaesnegociaisa inseguranajurdica,oquedesestimulainvestimentosnosetoreconmico, enfraquecendo a empresa e onerando a sociedade. Dessa forma, o objetivo deste trabalho cientfico proceder a um exame da natureza jurdicadoAcordodeQuotistas,medianteainvestigaodosprincpiosenormas vigentesnoordenamentojurdicoptrio,bemcomodavivnciadasrelaes negociais,buscando-se,apartirdaconstruotericadoinstitutodocontrato parassocial, comprovar a validade desse instituto no mbito da Sociedade Limitada, traando, assim, seus principais elementos e efeitos jurdicos. AprepondernciadaSociedadeLimitadanocontextoeconmicobrasileirodestaca anecessidadedesereconheceravalidadedoAcordodeQuotistas,paraquesua adoosejaprodutivaparaaempresaeparaasociedade,fortalecendoarelao entre scios e possibilitando a reduo dos custos de transao. Palavras-chave:AcordodeQuotistas.SociedadeLimitada.ContratoParassocial. Validade. Cdigo Civil. ABSTRACT TheShareholdersAgreementisalegalinstrumentcommonusedinthesocial practice of the Limited Liability Companies. The absence of regulation of this institute provokes questions about its validity. Thus,themodestlegalliteratureandjudicialdecisions,onthebusinessrelations prevailsthelegaluncertainty,whichdiscourageseconomicinvestmentsinBrazil, weakening the firm and making the society to pay more. Thereby,themainpurposeofthisscientificworkistoproceedonaexaminationof thelegalnatureoftheShareholdersAgreement,throughtheinvestigationsonthe principles and laws inside the Brazilian legal system, and also the investigation of the businesspractices,inordertodemonstratethevalidityoftheShareholders Agreement on the Limited Liability Companies, based on the theoretical construction of the institute of collateral agreements. ThepreponderanceoftheLimitedLiabilityCompaniesintheBrazilianeconomic contextshowsthenecessityofrecognizeitsvalidityandunderstandthe Shareholders Agreement, so its use would be productive to the firm and the society, making the relationship between the partners stronger and enabling the reduction of the transaction costs. Keywords:ShareholdersAgreement.LimitedLiabilityCompany.Collateral Agreements. Validity. Civil Code. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas CCCdigo Civil de 2002 CCJComisso de Constituio e Justia CCom Cdigo Comercial de 1850 CPCCdigo de Processo Civil CRConstituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Dec.Decreto DNRCDepartamento Nacional de Registro de Comrcio GmbHGesellschaft mit beschrnkter Haftung JCJunta Comercial JucemgJunta Comercial do Estado de Minas Gerais JucespJunta Comercial do Estado de So Paulo LRPLei de Registros Pblicos LSALei das Sociedades por Aes LtdaLimitada OABOrdem dos Advogados do Brasil RPEMRegistro Pblico de Empresas Mercantis SASociedade Annima SQRL Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada STFSupremo Tribunal Federal STJSuperior Tribunal de Justia TJTribunal de Justia TJSPTribunal de Justia de So Paulo TJMG Tribunal de Justia de Minas Gerais UFUnidade Federativa UFMGUniversidade Federal de Minas Gerais SUMRIO 1 INTRODUO12 2 SOCIEDADE LIMITADA25 2.1 Origem25 2.2 Decreto no 3.708/191928 2.3 Cdigo Civil de 2002 34 2.4 Conceito38 2.5 Sntese Conclusiva42 3 CONTRATO PARASSOCIAL44 3.1 Natureza Jurdica44 3.2 Caractersticas48 3.3 Sntese Conclusiva51 4 ACORDO DE QUOTISTAS52 4.1 Conceito52 4.2 Natureza Jurdica54 4.3 Partes58 4.4 Objeto60 4.5 Forma e Registro62 4.6 Durao e Resciso64 4.7 Execuo Especfica 66 4.8 Sntese Conclusiva67 5 CONSIDERAES FINAIS70 REFERNCIAS73 APNDICE Proposio legislativa83 ANEXO A Constituio de empresas por tipo jurdico no Brasil85 ANEXO B Modelo de Acordo de Quotistas86 12 1 INTRODUO "Todosnssabemosalgumacoisa.Todos nsignoramosalgumacoisa.Porisso, aprendemos sempre."1 A disciplina do Direito Comercial2 teve origem na prtica dos mercadores, ou seja, partiu da observao dos fatos para a construo do seu contedo jurdico. EssaconstataodoutrinriaapresentadaporFORGIONI3contribuiparaa compreenso e sistematizao do tema em questo. Comefeito,oDireitoComercialserelacionaintrinsecamentecomo mercado,emrazodoseufitodeassegurarodesenvolvimentodasrelaes comerciais. Assim que as regras e os princpios que regulam a atividade mercantil devemsercompreendidossoboprismadaproteodointeressegeraldo comrcio, na expresso de Carvalho de Mendona4. E,porcompreendernormaseprincpiosjurdicosqueregem, particularmente, a organizao das empresas5 e as relaes entre elas no mercado, que o Direito Comercial se sagrou como disciplina jurdica autnoma e especial. 1FREIRE,Paulo.Aimportnciadoatodeler:emtrsartigosquesecompletam.SoPaulo: Cortez, 1989, p. 31. 2 Para os fins do presente trabalho, adota-se a posio de FORGIONI de que o uso das expresses comercial,mercantilouempresarial,indistintamenteconsideradas,correto,postoque semelhantes.ConferirFORGIONI,PaulaAndrea.Aevoluododireitocomercialbrasileiro:da mercancia ao mercado. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 13. 3 FORGIONI, Paula Andrea. A evoluo do direito comercial brasileiro: da mercancia ao mercado. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 13-14. 4CARVALHODEMENDONA,JosXavier.Doslivrosdoscommerciantes.SoPaulo:Gerkee Rothschild, 1906, p. 6. 5 Aduz REALE que, em linhas gerais, pode-se dizer que a empresa , consoante acepo dominante na doutrina, a unidade econmica de produo, ou a atividade econmica unitariamente estruturada para a produo ou a circulao de bens ou servios. A empresa, desse modo conceituada, implica, para a consecuo de seus fins, um ou mais estabelecimentos, que so complexos de bens ou bens coletivos que se caracterizam por sua unidade de destinao, podendo, de per si, ser objeto unitrio de direitos e de negcios jurdicos. (Miguel Reale in SILVA, Almiro do Couto e (Coord.). Anteprojeto 13 NessecontextodinmicoeparticulardoDireitoComercial,olegislador ptrioinstituiunoordenamento,pelapromulgaodoDecretono3.708/1919,as SociedadesporQuotasdeResponsabilidadeLimitada(SQRL). Essetiposocietrio logo se apresentou conforme realidade do empresariado nacional, pois oferecia a limitaodaresponsabilidadedetodososscios,semtornardispendiosaasua constituio. A disciplina prevista no referido decreto era sinttica e possibilitou que a prtica social moldasse a novel estrutura societria que, em pouco tempo, tornou-se a principal forma societria adotada no pas. AsSociedadesAnnimas(SA)possuamumaestruturamaisonerosae burocrtica, o que favoreceu a escolha pelo tipo modesto e abrangente das SQRL.6 Comapossibilidadeampladeconstituiodessetiposocietrio,quecompreendia desde sociedades entre cnjuges a holdings7, a criao das SQRL contribuiu para o crescimento do incipiente mercado brasileiro.

deCdigoCivil.Braslia:MinistriodaJustia,1973,p.13).Esseconceitoresumeaposio adotada pelo Cdigo Civil de 2002 e, por isso, foi citado. Contudo, a despeito do conceito de empresa noserobjetodopresentetrabalho,destaca-se,ainda,aposiodeASQUINI,queconcebea empresasobosperfissubjetivo,objetivo,institucionalefuncional(ASQUINI,Alberto.Perfisda empresa. Trad. de Fbio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil, n. 104, 1996), bem como a difundida viso de COASE de nexus of contracts ou feixe de contratos (COASE, Ronald. The firm, themarketandtheLaw.Chicago:UniversityofChicago,1990).Destaca-seoentendimentode SZTAJN, de que necessria a harmonizao desses conceitos com o estgio atual de evoluo da empresafrenteaomercado(SZTAJN, Rachel.Teoriajurdicadaempresa:atividadeempresriae mercados.SoPaulo:Atlas,2004).Nessesentido,apropostaconsideradaaudaciosadeALBINO, queconsideraaempresacomosujeitodedireitos(ALBINO,WashingtonPeluso.Conceitode Empresa:umdesafioquepersiste?SinodoSamuel,BeloHorizonte,jan.2004).Apresenta-se,por fim,avisodeMORAESFILHO,segundoaqualofatosocialempresaums,emsuainteireza objetiva,maspodesersurpreendidoatravsdevriospontosdevista,segundoaespecialidadede quemoobserva.Esclarecequecomonumavisodecaleidoscpio,mostra-seaempresa diferentementeSociologia,Histria,aoDireito,Poltica,Economia,eassimpordiante,cada qual tomando-a como objeto precpuo de seus estudos. (MORAES FILHO, Evaristo de. Do Contrato de Trabalho como Elemento de Empresa. So Paulo: LTr, 1993, p. 11). 6FRES,MarceloAndrade.Panoramadaspropostasdereformadoregimejurdicodas sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 52, 1 nov. 2001, p. 2-4. Disponvel em: Acesso em: 6 jun. 2011. 7OvocbuloholdingnadefiniodeDEPLCIDOESILVA:noDireitoComercialrefere-seao poderdecisriocentralizadonaempresaquedetmocontroleacionriodeoutras.(SILVA,De Plcidoe.VocabulrioJurdico.16.ed.rev.atual.porNagibSlaibiFilhoeGeraldoMagelaAlves. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 398). 14 Justamenteessecrescimentoeconmico,quetantoimpulsiona,ou melhor,possibilitaodesenvolvimentosocial,exigeconstantesmudanase adaptaesssociedadeseaoDireitoComercial,comoumtodo.Osagentes econmicosnosequedaminertes,aguardandoaintervenoestatal,mediantea imposio legislativa. Noseiodessasinovaesnecessrias,aprticasocietriadasSQRL passouaadotaroacordodequotistas,umcontratofirmadoentresciospara resoluo dos mais diversos conflitos internos. Tal expediente inspirou-se em acordo semelhante praticado nas SAs, o acordo de acionistas, consagrado pelo art. 118 da Leino6.404/1976LeidasSociedadesporAes(LSA),quecriouinstitutonico, prprio realidade brasileira das sociedades annimas.8 ArealidadepeculiardasSQRLtambmcuidoudemoldaroinstitutodo acordodesciosssuasprpriasdemandasinternas.Nessecontexto,osacordos de quotistas se destacaram como mecanismos eficientes e eficazes9 na consecuo da funo social da empresa.10 Osacordosdesciossofrequentementeutilizadospelassociedades limitadas,segundodenominaodadasSQRLpeloCdigoCivilvigente(Leino 8 BARBI, Celso Filho. Acordo de acionistas. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 43. 9Para acompreensode eficinciae eficcia,adota-seomesmo entendimentoesposado aseguir: eficazquematingeosobjetivospropostos.Aeficinciamedeoesforoaplicadoemfunodos resultadosobtidosquantitativamente.Multiplicar104por36somando104asiprprio36vezes eficaz,pormnoeficiente.ReduziroanalfabetismonoBrasildeportandoosanalfabetos eficiente,pormnoeficaz.(OLIVEIRA,EugnioBarbozade.ProjetoPIM-Conceitosde Microinformtica. So Paulo: Unicrnio Publicaes, 1984, p. 14, In: CORRA-LIMA, Osmar Brina. O Acionista Minoritrio no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1994). 10 o que ressalta BULGARELLI: [...] o que se espera que a ordenao jurdica dos vrios tipos de sociedade seja dotada de funcionalidade, vale dizer, de realizabilidade, ou seja, de que estejam aptas para cumprirseupapelnomundonegocial.(BULGARELLI,Waldrio.Anotaes sobreo acordode cotistas. Revista de Direito Mercantil Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v. 98, p. 44-49,abril-junho/1995,p.45).Comefeito,emcomentriosobreacordodeacionistas,TEIXEIRAe GUERREIRO,quandodapromulgaodaLein6.404/1976(LSA),jenunciavamarecorrente necessidadederegulaoentresciose/ouacionistas,paracomposiodeinteressesdeforma eficienteegil(TEIXEIRA,EgbertoLacerda;GUERREIRO,JosAlexandreTavares.Das sociedades annimas no direito brasileiro. So Paulo: J. Bushatsky, 1979, p. 303). 15 10.406/2002)11.Essetiposocietriorepresentaquase99%(noventaenovepor cento)dassociedadesempresriasconstitudasnopas,conformedadosrecentes do Departamento Nacional de Registro e Comrcio (DNRC).12 Defato,asociedadelimitadaeasociedadeannimacorrespondem, praticamente,snicassociedadesempresriasexistentesnaatualrealidade brasileira. Igualmente,adisputapormelhoresemaioresmercadoseocrescente desenvolvimento da economia no pas ensejaram mudanas nas estruturas internas das sociedades, sujeitando-se a ditames da nova organizao empresarial, como os dapublicidade,datransparncia,daorganizaoedaeficincia(prticasdeboa governana),parasetornaremmaiscompetitivase,porconseguinte,maximizarem seus lucros. Ressalte-seque,comoadventodaLein10.406/2002,queinstituiuo NovoCdigoCivil(CC),aestruturanormativadassociedadeslimitadassofreu alteraes,passandoaserregidanocorpodoCC,juntamentecomasregrasdo DireitodeEmpresa,tendosidorevogadasasdisposiesdoDecretono 3.708/1919,bemcomoaprimeirapartedoCdigoComercial,quevigoravadesde 1850. Ademais,aadoodateoriadaempresanoordenamentojurdicoptrio representouverdadeiramudana,intensificandoanecessidadedereorganizao das sociedades limitadas. 11 Para os fins desse trabalho sero consideradas, apenas, as sociedades empresrias limitadas, ou seja,aquelasque,ateordosarts.982c/c1.052doCdigoCivilvigente,[...]tmporobjetoo exerccio de atividade prpria de empresrio sujeito a registro [...] e [...] a responsabilidade de cada scio restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralizao do capitalsocial.(CdigoCivil.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011). 12DadosobtidosnostioeletrnicodoDNRC,emEstatsticasConstituiodeempresasportipo jurdicoBrasil1985/2005.Disponvelem:.Acessoem:9jun.2011. Conferir ANEXO A. Note-se que no quadro estatstico apresentado pelo DNRC, as firmas individuais compuseramasestatsticas.Contudo,asfirmasindividuaisnosoconsideradassociedades empresrias,ateordoart.981,doCdigoCivil,peloqueforamdesconsideradasparao clculoda porcentagem informada neste trabalho. 16 Asalteraesnasestruturassocietriassopolmicas,poisenvolvem nososinteressesdasociedade,masosdosscios,gerandoconflitosinternos entre estes e entre estes e a sociedade. Almdisso,arealidadeempresarialbrasileirapreponderantemente compostaporsciosfamiliarese,nocasodassociedadeslimitadas,afamlia,na maioriadasvezes,detmagestosocietria.Essefatoumagravante,jquea administraofamiliar,emregra,acompanhadadeconflitosmaiscomplexos,de ordem psicolgica em que o consenso no facilmente alcanado.13 Acrescente-seofatodequenoincomumocontratosocialdispor poucoouquasenadasobreosprincipaisconflitosqueseapresentamnocotidiano davidaempresarial,gerandodesavenasque,nopoucasvezes,desguamem litgios interminveis e insolveis. Emtodosessescasos,comoemvriosoutros,sobressaiafigurado acordo de quotistas, como soluo simples e eficaz na harmonizao dos interesses emjogo,favorecendoofortalecimentodaempresaereduzindoseuscustosde transao.14 13 A presente pesquisa reconhece a realidade citada, ou seja, de que a maior parte das sociedades empresrias no Brasil so constitudas e/ou geridas por familiares. Mas esse trao caracterstico das empresasbrasileirasno ser aprofundadonessetrabalho,por demandaroutroenfoqueespecfico. SobrearealidadedaempresafamiliarnoBrasil,consultarasseguintesobras:FLORIANI,Oldoni Pedro.Empresafamiliarou...infernofamiliar?2.ed.Curitiba:Juru,2007eMELO,Marcelo; MENEZES,PauloLucena.Acontecenasmelhoresfamlias:repensandoaempresafamiliar.So Paulo:Saraiva,2008.E,ainda,apesquisasobreasempresasfamiliaresnoBrasilrealizadapela PricewaterhouseCoopersem2010.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 14 Para melhor explicar o conceito dos custos de transao, transcreve-se trecho da obra de COASE, no que esclarece que [...] para que algum realize uma transao, necessrio descobrir quem a outra parte com a qual essa pessoa deseja negociar, informar s pessoas sobre sua disposio para negociar,bemcomosobreascondiessobasquaisdesejafaz-lo,conduzirasnegociaesem direobarganha,formularocontrato,empreendermeiosdeinspeoparaseassegurarqueos termosdocontratoestosendocumpridos,eassimpordiante.Taisoperaesso,geralmente, extremamentecustosas.Custosasosuficienteparaevitaraocorrnciadetransaesqueseriam levadasacaboemummundoemqueosistemadepreosfuncionassesemcustos.(COASE, Ronald. The problem of social cost. Journal of Law and Economics, Chicago, v. 3, p. 1-44, october-1960,p.15.Paraaprofundamentodotema,conferirCALABRESI,Guido.TransactionCosts, ResourceAllocationandLiabilityRules--AComment.JournalofLawandEconomics,Chicago,v. 11, n. 1, p. 67-73, april-1968. Disponvel em: Acesso em: 9 jun. 2011. 17 Ressalte-sequeadinmicaatualdomercadoimpeumaadministrao conscienteeinseridanocontextomoderno,tecnolgicoeexpansivodasrelaes empresariais.Nessalinha,oexercciodocontroledasociedadeempresria demanda competncias especficas, voltadas especialmente para o desenvolvimento eficiente da atividade. A resoluo harmnica de conflitos, nesse contexto, questo fundamental para os scios. Oacordodequotistassedestacacomoinstrumentoeficientena composio de interesses dos scios perante a sociedade, bem como na pacificao deconflitosentreosscios.Aprevenoearesoluoharmnicadeproblemas correntesnarealidadedassociedadesviabilizamodesenvolvimentoeconmicoe social. As disputas entre scios por demandas individuais, em regra, prejudicam odesempenhodaempresa.Porissoosacordosdequotistasdesempenhampapel fundamentalnareduodoscustosdetransaoenaconsecuodafunoda social da empresa15. Atravsdeacordosdequotistas,ossciospodemdisporsobreseus direitos e deveres, nos limites da lei, de forma a atender as particularidades do caso concreto.Oestabelecimentoderegrasespecficasentreossciosreduzos desentendimentosgeradosporomissesouconflitosdaleiedocontratosocial. Diantederegrasclaras,ossciostmseguranaparaagir,oqueosestimulaa investirnocrescimentoeconmicodaatividade,almdeevitarcustospara salvaguardar seus interesses.

15AfunosocialdaempresanoseencontraexpressamenteprevistanoCdigoCivil,mas compreendidapeladoutrinaptriacomodesmembramentodafunosocialdapropriedadee entendidacomooexercciodaatividadeeconmicacondicionadaaodesenvolvimentosocial (VEROSA,HaroldoMalheirosDuclerc.Cursodedireitocomercial:volume1:TeoriaGeraldo DireitoComercialedasAtividadesEmpresariaisMercantisIntroduoTeoriaGeralda Concorrncia.2.ed.rev.atual.ampl.SoPaulo:Malheiros,2008,p.201-208).Conferir,tambm, CATEB, Alexandre Bueno; OLIVEIRA, Fabrcio de Souza. Breves anotaes sobre a funo social da empresa.LatinAmericanandCaribbeanLawandEconomicsAssociationAnnualPapers, Berkeley,p.1-13,29mai.2007.Disponvelem:Acesso em: 9 jun. 2011. 18 Aresoluodeinteressesdossciospelaviajudicialtmsemostrado ineficiente e danosa. Os processos judiciais tm custo elevado, a sua tramitao se prolongaporanose,comfrequncia,asdecisesquepemfimaoprocessono adentramomritodascontendassocietrias.16Duranteotrmiteprocessual,as atividadeseosativospodemserparalisadosporlongoperodo,osinvestidoresse afastarodaempresadiantedoriscodedemoradasoluojudicialeincerteza quanto ao resultado da demanda. Assim,arealizaodeacordosdequotistasharmonizaaconvivncia entre os scios, evitando a utilizao da via judicial para a consecuo de interesses individuais. No obstante o seu respaldo na prtica social, o acordo de quotistas no encontra, ainda, previso legal especfica e, muito menos, reconhecimento uniforme nadoutrinaptria.Hnotcia,outrossim,dedecisesjudiciaisisoladas,sem consolidao de posio jurisprudencial. Remanesce, portanto, discusso a respeito da validade da realizao do acordo de scios no mbito das sociedades limitadas. Adespeitodaausenteprevisonormativa,algunsdoutrinadores posicionam-se favorveis quanto sua validade, diante da aplicao subsidiria da LSA. Mas tal interpretao nunca foi aceita de forma pacfica pela doutrina, que, na vigncia do regramento anterior do Decreto no 3.708/1919 e do Cdigo Comercial, j demonstrava as falhas na aplicao de tal teoria. 16ConformepesquisaapresentadaporMarceloGuedesNunes,intituladaJurimetria-Tiposmais comuns de desentendimentos entre scios, em que realizou a avaliao estatstica, observou-se que 71,87%dasdecisessebasearamemargumentosformais,oque,naspalavrasdopesquisador, justifica-sepelofatodequeosjuzestendemamanteroqueossciosdeliberaram,almde preferiremargumentosformais,pornosesentiremvontadeparadiscutirejulgaraspectos financeiroseeconmicosdasdecisesdosscios.NUNES,MarceloGuedes.Pesquisarevela posiodoJudiciriosobretiposmaiscomunsdedesentendimentosentrescios.Migalhas,So Paulo,11mai.2011.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 19 Com o advento do CC de 2002, a contenda no se solucionou, sendo, da mesma forma, insuficiente a teoria da aplicao supletiva da LSA para validao do acordo de quotistas na sociedade limitada. Apolmicasobreavalidadedetaisacordospersiste,porquantonoh uniformidade no entendimento doutrinrio ptrio, que, alm disso, escasso sobre o assunto.Opresentetrabalhoapenasencontrouduasobrascujoobjetoespecfico eraoacordodequotistasnasociedadelimitada,masumadelastratoudoassunto navignciadoregramentoanterioraoCCeaoutracuidoudeenfoque particular aplicao da anlise econmica do direito.17 Damesmaforma,ajurisprudncianacionalsobreotemaemquesto, qual seja, a validade do acordo de quotistas na sociedade limitada no ordenamento vigente, diminuta. Como referido, a doutrina ptria faz breve meno ao tema, baseando-se naprevisodaLein6.404,de15.12.1976,LeidasSociedadesporAes,que constouexpressamenteemseutextoapossibilidadedeserealizaracordode acionistas, na forma e para os fins previstos em seu art. 118. Entretanto, a matria merece tratamento inovador e especfico realidade da sociedade limitada, distinta do tipo societrio previsto na LSA. Mesmoquesereconheaapossibilidadedaaplicaodoinstitutodo acordodeacionistasnombitodassociedadeslimitadas,nosepodeolvidarda importncia de tratamento especfico aos acordos de quotistas, evitando discusses incuasenadabenficasaodesenvolvimentodassociedadeseseuavanono competitivo e dinmico mercado global.18 17Arefernciasefaz,respectivamente,a:BORGES,FernandaOppenheimerPitanga.Acordode quotistas.2001.120f.Dissertao(MestradoemDireitoComercial)-FaculdadedeDireito, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001 e CREUZ, Luiz Rodolfo Cruz e. Acordo de quotistas. So Paulo: IOB Thomson, 2007. 18BARBI,CelsoFilho.Acordodeacionistas:panoramaatualdoinstitutonodireitobrasileiroe propostasparaareformadesuadisciplinalegal.RevistadeDireitoMercantil,Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v. 121, p. 30-55, janeiro-maro/2001, p. 38. 20 Note-sequeinegvelaimportnciadoacordodequotistascomo institutojurdicoquerefletealiberdadedasrelaesentreossciosacordantes, tpicadasrelaesobrigacionaisvigentesnodireitoprivadobrasileiro.Masque, diante da inspirao constitucional experimentada pelo Cdigo Civil vigente, merece tratamentoprprioeinovador,queanaliseoacordodequotistassobessanova ordem jurdica, decompondo sua natureza jurdica e seus elementos. Comefeito,aintervenoestatal,soboparadigmadaConstituioda Repblicade1988(CR),alinhaaatuaodoDireitoMercantilimportantefuno deimplementarpolticaspblicase,nomais,consentecomsuaconduopor determinismos individuais dos agentes de mercados.19 Defato,oacordodequotistasnoumamerapossibilidade,masuma realidade,cadavezmaisatuantenaprtica.Precisa,portanto,detratamento especfico para reconhecimento devido e aperfeioamento do instituto. Naesteiradestemovimento,apresentou-se,recentemente,pretenso legislativa de previso do acordo de quotistas.20 Masarealidadedasrelaescomerciaisnosesujeita,estritamente,a previses normativas, como j observado. Por isso, possvel o reconhecimento da validadedoacordodequotistasnasociedadelimitada,pelasuaintegraono ordenamento jurdico ptrio, partindo da sua concepo como contrato parassocial. Apresentadootema,cumpredemonstrarametodologiaadotadapela presente pesquisa cientfica. 19FORGIONI,PaulaAndrea.Aevoluododireitocomercialbrasileiro:damercanciaao mercado. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 21-23. 20 O Projeto de Lei n 1572, apresentado pelo Deputado Vicente Candido, em 14 de junho de 2011 CmaradosDeputados,prev,expressamente,arealizaodeacordosdequotistas,emseuart. 185.Disponvelem: Acessoem: 18 jun. 2011. 21 De acordo com a definio da NBR 14724:2011 da Associao Brasileira deNormasTcnicas(ABNT)21,bemcomodaprevisonoart.71,1,do RegulamentodoProgramadePs-GraduaodaFaculdadedeDireitoda UniversidadeFederaldeMinasGerais(UFMG)22,adissertaodemestradodeve apresentaroresultadodaexposiodeestudocientficoretrospectivo,detema nicoebemdelimitadoemsuaextenso,comobjetivodereunir,analisare interpretarinformaes,devendodemonstrarashabilidadesdocandidatode conhecimentodaliteraturaexistentesobreoassunto,capacidadede sistematizao, domnio do tema e metodologia cientfica adequada. Oobjetodapresentepesquisaademonstraodavalidadedoacordo de quotistas nas sociedades limitadas. O contedo do trabalho em questo delimita-se ao estudo da validade do acordorealizadoentresciosquotistasdesociedadeslimitadasemrelaoao ordenamento jurdico vigente no Brasil, ou seja, considerando-se, essencialmente, o sistema jurdico brasileiro, com algumas citaes a doutrina e legislao estrangeiras apenas como adendo. Afimdeviabilizararealizaodestapesquisa,conferindo-lheresultados satisfatrios do ponto de vista terico e, sobretudo, prtico, fez-se necessrio adotar a vertente de pensamento jurdico-sociolgica, buscando compreender o fenmeno jurdiconoambientesocialmaisamplo23,paraseaproximardarealidadetpicado Direito Comercial. 21 ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 14724: informao e documentao: trabalhos acadmicos: apresentao. Rio de Janeiro, 2011. 22RegulamentodoProgramadePs-GraduaodaFaculdadedeDireitodaUFMGaprovadopelo ColegiadodoProgramaem25out.2006,comasmodificaesde20set.2007,constantenostio eletrnicodoProgramadePs-GraduaoemDireitodaUFMG.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 23GUSTIN,MiracyBarbosadeSousa;DIAS,MariaTerezaFonseca.(Re)pensandoapesquisa jurdica: teoria e prtica. 2. ed. rev. ampl. e atual. pela NBR 14.724 e atual. pela ABNT 30/12/05. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 22. 22 Optou-seporrecorrer,predominantemente,aumainvestigaojurdico-interpretativa,analisandoasnormaseprincpiosvigentesnoordenamentoptrio sobreotema,almdadoutrinajdesenvolvidae,ainda,dastendncias jurisprudenciaisencontradas.Emsegundoplano,foramutilizadososmeiosde investigao jurdico-comparativa e jurdico-propositiva, sendo o primeiro necessrio paraseidentificarassimilitudesediferenasdentrodoordenamentojurdico brasileiro,emrelaoaseuscamposdeconhecimento,quandoexistentes.Com relaoaosegundo,relaciona-secomoobjetivodotrabalhodeproporsolues tericasefetivasaosanseiosdasociedademoderna,emespecial,dosagentes econmicosdiretamenteenvolvidose,ainda,formularproposiolegislativade regulamentao do tema, com intuito de fomentar o seu debate e em razo da fora atribuda lei, considerando que predomina na doutrina ptria a viso positivista do ordenamento jurdico brasileiro.24 Asfontesdotrabalhocompreendero,essencialmente,fontesdiretasde abordagemsecundria.Soelas,especialmente,alegislao,adoutrinajurdica ptria e referncias doutrina e legislao internacionais, sem, contudo, tratar-se deestudodedireitocomparado.H,ainda,ousoreduzidodealgumasfontes primrias,ouseja,deabordagemdiretadopesquisador,semusodeintermedirio, como documentos, notcias de jornais ou peridicos. Enfim, desenvolveu-se um raciocnio dialtico, entre as fontes, atravs de um procedimento metodolgico de coleta e anlise dos referidos dados, a fim de se obter a resposta para o problema objeto de estudo. Opresenteestudobuscaquestionarasconclusesconsagradaspela simples repetio de conhecimentos doutrinrios, sem o devido exame da realidade prticadasrelaesnegociaisnoBrasilesuademandaconstantepor transformaes poltico-sociais. Busca aproximar o direito da prtica, mostrando que 24 REALE, Miguel. Lies preliminares de direito. 27. ed. ajustada ao novo cdigo civil. So Paulo: Saraiva, 2002, p. 192. 23 aconstruodeconhecimentojurdicoapoiadanapesquisametodolgicatil sociedade.25 Apesquisaemquestojustifica-sepelaescolhadetemaqueno apresenta soluo pronta e eficiente na literatura especializada. Ademais, relaciona-sediretamentecomospropsitoscientficosdareadeconcentraoaquese submete o presente trabalho, Direito e Justia, bem como da sua linha de pesquisa, aExpressodaLiberdadeemFacedaPessoaedaEmpresa,eseuprojeto estruturante, Novos Desafios da Organizao Empresarial. Comefeito,oestudodoacordodequotistasestintimamenteligadoao exerccio da liberdade nas relaes empresariais, bem como de seus limites em face dointeressesocial,porquantoinstrumentalizaaautonomiadavontadedosscios, dentro dos liames da funo social da empresa. Noqueconcerneaosdesafiosatuaisdaorganizaoempresarial,o resultadodapesquisatemporescoposedimentarasbasesparaumnovo mecanismo jurdico, com vistas a uma atuao dos agentes econmicos mais clere, eficazecompetitivanomercado,almdeadequadaapolticaspblicasque propiciem o desenvolvimento scio-econmico nacional. Paraexposiodacoletaedaanlisededadosrealizadasnapresente pesquisa, pelo desenvolvimento dos citados procedimentos metodolgicos, houve a diviso do trabalho em sees primrias e secundrias, para melhor sistematizao dotema.Assim,noCaptuloPrimeiro,cuidou-sedapresenteintroduoterico-metodolgica.Aseguir,noCaptuloSegundo,houvebreveapresentaodotipo societrio da sociedade limitada, com a descrio sinttica de sua origem e evoluo no ordenamento jurdico ptrio, seu conceito e suas caractersticas elementares. 25CompletaGUSTIN:Cincia,conscinciaderealidadeeracionalidadecrticasohoje indispensveisparatodosaquelesquedesejamsededicarproduodeconhecimento.Torna-se cadavezmaisnecessriaaconscinciadacomplexidadedenossasrelaesemrelao facticidade da vida e da cultura. O reconhecimento dessa complexidade externa deve ser expressa a partir da construo de novas aptides para a produo, inovao e organizao do conhecimento. GUSTIN,MiracyBarbosadeSousa;DIAS,MariaTerezaFonseca.(Re)pensandoapesquisa jurdica: teoria e prtica. 2. ed. rev. ampl. e atual. pela NBR 14.724 e atual. pela ABNT 30/12/05. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 5. 24 NoCaptuloTerceiro,oinstitutojurdicodocontratoparassocialfoi delineadoporsuanaturezajurdicaesuascaractersticas,comenfoquenos ensinamentosdeOPPO26,paracomporospressupostosdaconstruotericado acordodequotistas.Comisso,noCaptuloQuarto,anaturezadoacordode quotistasexaminadasobasbasesdoutrinriaselegaisjanalisadas,para exposio do seu conceito e dos seus elementos. O Captulo Quinto, por ltimo, apresenta o resumo das concluses obtidas e as consideraes finais sobre o instituto do acordo de quotistas. Ademais, o Anexo AtrazatabeladoDNRCcomasestatsticassobreaconstituiodesociedades empresriasnoBrasil,enquantooAnexoBdivulgaummodelodeacordode quotistaseoApndiceapresentaaproposiolegislativadoreferidoinstitutono ordenamento brasileiro. Outrossim, o presente trabalho foi padronizado de acordo com as normas daABNT,indicadasaofinalnalistadeReferncias,cujavignciafoiaferidaat9 jun. 2011. Ressalva-se que, mesmo apresentando as referncias completas em lista de Referncias, ao final deste trabalho, optou-se por trazer as indicaes completas, tambm,emnotasderodap,tantoquandosereferiremacitaesnotexto, apresentando-seemnotasdereferncia,quantoemnotasexplicativas,coma finalidade de facilitar a compreenso das citaes. Porfim,acentua-sequeestetrabalhonotemoobjetivodeesgotaro assunto do Acordo de Quotistas. Espera-se, assim, que sirva de contribuio para o aprendizado jurdico, que, como postulado, deve ser contnuo.27 26 OPPO, Giorgio. Contratti Parasociali. Milano: D. Francesco Vallardi, 1942. 27FREIRE,Paulo.Aimportnciadoatodeler:emtrsartigosquesecompletam.SoPaulo: Cortez, 1989, p. 31. 25 2 SOCIEDADE LIMITADA A sociedade limitada o tipo societrio objeto da presente pesquisa, que tratadavalidadedoacordodequotistasemseucontextosocial.Talescolhase justifica por ser a sociedade limitada a principal sociedade empresria constituda no Brasil, como atestam as estatsticas apresentadas pelas Juntas Comerciais (JC) nas Unidades Federativas (UF), reunidas pelo DNRC na tabela constante do Anexo A.28 Comefeito,douniversode4.346.602sociedadesempresrias constitudasde1985a200529,foramconstitudas4.300.257sociedadeslimitadas, ouseja,quase99%(noventaenoveporcento).,semdvida,aoladodo empresrioindividual(firmaindividualnanomenclaturadatabeladoDNRC),a principal forma empresarial no Brasil. A origem da sociedade limitada e seu desenvolvimento no Brasil so teis elucidao de razes para a sua predominncia entre os demais tipos societrios previstos na legislao brasileira. Outrossim,asprincipaiscaractersticasdeseutiposocietrio,almde contribuir para sua preponderncia, denotam a necessidade de anlise do acordo de quotistascominstrumentojurdicoprprioconsecuodeinteressessociaisno mbito da sociedade limitada. 2.1 Origem Inspiradopelosanseiosdoscomerciantesalemes,quecorrespondiam aos de vrios pases, inclusive do Brasil, o legislador alemo foi, de fato, o primeiro a 28DadosobtidosnostioeletrnicodoDNRC,emEstatsticasConstituiodeempresasportipo jurdicoBrasil1985/2005.Disponvelem:.Acessoem:9jun.2011. Conferir ANEXO A. 29ConferirANEXOA.Note-sequenoquadroestatsticoapresentadopeloDNRC,asfirmas individuais compuseramasestatsticas.Contudo,as firmasindividuaisnopodem ser consideradas sociedades empresrias, a teor do art. 981, do Cdigo Civil, pelo que foram desconsideradas para o clculo da porcentagem informada neste trabalho. 26 disciplinarasociedadederesponsabilidadelimitadaou,novocbuloalemo,a Gesellschaft mit beschrnkter Haftung, e, na forma abreviada, GmbH. o que revela MARTINS, em sua monografia sobre o tema: De fato, existindo, na Alemanha, o mesmo problema econmico, um grande movimentolegislativoseoperouafimdesercriadoumtipodesociedade capaz de atender aos intersses do comrcio. E nisso se diferencia o modo deintroduodessassociedadesnoDireitoinglsenoDireitocontinental. EnquantonaInglaterraasprivatecompaniesforam,primeiramente, organizadaspeloscomerciantes,comosociedadesdefatoesem personalidadejurdica,naAlemanha,semquehouvesseessaprtica, procurou-se legislar sobre o assunto, traando todas as normas necessrias paraqueanovasociedadepudessecumprirassuasfinalidades econmicas e, ao mesmo tempo, caracterizar-se, juridicamente, como uma sociedade autnoma dentro do quadro das sociedades comerciais.30 Assim,em20deabrilde1862foipromulgadaleiqueinstituiuas sociedadesderesponsabilidadelimitadanodireitoalemo,posteriormentealterada pela Lei de Introduo ao Cdigo Comercial Alemo, de 10 de maio de 1897, tendo seu texto consolidado em 20 de maio de 1898. Em 1961, devido a grande mudana docontextopoltico-social-econmicodaAlemanha,quedesdeainstituiodas sociedadesderesponsabilidadelimitadapassouporduasguerrasmundiais,foram iniciados estudos legislativos para a supresso de lacunas da referida lei, bem como parasuaaproximaodaregulamentaodascompanhias,resultandonareforma promovida por lei em 4 de julho de 1980, atualmente em vigor.31 Por sua vez, o direito ingls, consagrando a experincia social de meados do sculo XIX, regulamentou a figura das private companies pelo Companies Act of 1907.Defato,essetiposocietriosurgiudamesmademandadepequenos comerciantesquebuscavamopoformacomplexaeonerosadassociedades annimas,semqueasuaresponsabilidadefosseilimitada,comoocorrianas sociedades de pessoas. Assim foram criadas as private companies, em oposio s grandes corporaes, denominadas de public companies. 30MARTINS,Fran.SociedadesporQuotasnoDireitoEstrangeiroeBrasileiro.RiodeJaneiro: Forense, 1960, v. 1, p. 18. 31 LUCENA, Jos Waldecy. Das sociedades limitadas. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 4. 27 Emboraosurgimentodasprivatecompaniesinglesassejaanterior previso alem das sociedades de responsabilidade limitada, o tipo societrio ingls no considerado precursor da sociedade limitada adotada no Brasil. Com efeito, a privatecompanyinglesaeasociedadeporquotasderesponsabilidadelimitada possuemcaractersticassemelhantes,masnoapresentamestruturassocietrias equivalentes. Damesmaforma,aFranapossuamodelosimilaraoingls, caractersticodeumasociedadeannimasimplificada.Oscomerciantesfranceses compartilhavamdomesmoanseioderegulaodeumasociedadeadequadaaos empreendimentosdepequenamonta.Todavia,aprevisolegaldasocit responsabilit limite resultou dadevoluo de territrios franceses pela Alemanha, apsofimdaprimeiraguerra,emrazodaexistnciadotiposocietrioalemo nesses territrios. Aps alguns projetos de lei rejeitados e tramitao lenta, a Lei de 7demarode1925instituiuasociedadederesponsabilidadelimitada,quesofreu diversasalteraes,sendo,atualmente,tratadanocorpodoCdigodeComrcio, institudo pela Ordonnance no 2000-912, de 18 de setembro de 2000. Tambmoutrospaseseuropeusregulamentaramasociedadede responsabilidade limitada, como Portugal, em 1901, que a denominou de sociedade porquotasderesponsabilidadelimitada,inspirandonoBrasilaprevisonormativa do tipo societrio originado na Alemanha. o que, em suma, descreve COELHO: Asociedadelimitadaanteriormentechamadasociedadeporquotasde responsabilidade limitada tem uma histria pequena e pobre. Sua criao ,emrelaosdemaissociedades,recente,edecorredainiciativade parlamentares,paraatenderaointeressedepequenosemdios empreendedores,quequeriambeneficiar-se,naexploraodeatividade econmica, da limitao da responsabilidade tpica das annimas, mas sem atenderscomplexasformalidadesdestas,nemsesujeitarprvia autorizaogovernamental.Registra-sequeasprimeirastentativasde albergaresseinteressetraduziram-seemregrasdesimplificaodas sociedadesporaes.NaInglaterra,alimitedbyshares,referidano Companies Act de 1862 e, em Frana, a socit responsabilit limite, de 1863, mais que tipos novos de sociedade, so exemplos de um verdadeiro subtipodaannima,ajustandoaempreendimentosquenoreclamam elevadassomasderecursos.NoBrasil,oprojetodoMinistrodaJustia NabucodeArajo,de1865,tentoucriaressasociedadeporaes simplificada, sob o nome de sociedade de responsabilidade limitada, mas a

28 propositura no recebeu o apoio do Conselho de Estado, e foi rejeitada, em 1867, pelo Imperador D. Pedro II. A sociedade limitada, como um tipo prprio de organizao societria, e no comoumasociedadeannimasimplificada,surgenaAlemanha,em1892. Nascida de iniciativa parlamentar (ao contrrio da generalidade dos demais tiposdesociedade,cujaorganizaodefatoprecedeadisciplina normativa),aGesellschaftmitbeschrnkterHaftungcorrespondedetal formaaosanseiosdomdioempresariadoqueainiciativaalemse propaga,einspiraosdireitosdevriosoutrospases.Entreeles,oBrasil, queaadotaem1919,cujotextoeraacondensaodeumcaptulodo projeto de Cdigo Comercial de Ingls de Souza, de 1912 [...].32 Tambm,noBrasil,oscomerciantesaspiravamporumnovotipo societrio, sendo atendidos pela promulgao do Decreto que criou a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada. 2.2 Decreto no 3.708/1919 OCdigoComercialbrasileiro(CCom),impulsionadopelatransferncia daCortePortuguesaparaoBrasilem1808,foipromulgadoem25dejunhode 1850,pelaLeino556.Seusartigos295,311,315,317e325elencavamcomo companhias ou sociedades comerciais, respectivamente: a companhia ou sociedade annima, a sociedade em comandita, a sociedade em nome coletivo ou com firma, a sociedade de capital e indstria e a sociedade em conta de participao.33 AssociedadescomerciaistipificadasnoCComnoeramconcebidas comosujeitosdedireito,mascomomeroscontratos,sendosomenterevestidasde personalidade jurdica com o advento do Cdigo Civil em 1916.34 Ressalte-seque,entreoscitadostipossocietrios,apenasas companhiasasseguravamalimitaodaresponsabilidadetotalidadedosscios. 32 COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 8. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, v. 2, p. 364, grifo do autor. 33CdigoComercial.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 34oqueesclareceCRISTIANO:Antigamentenosereconhecia,viaderegra,aosgrupamentos comerciaisapersonalidadejurdica.Asociedadeemnomecoletivo,porexemplo,eravistaapenas como conjuno no personificada de vrios comerciantes individuais. Hoje a personificao regra comrelaossociedades,comerciaisenocomerciais[...].(CRISTIANO,Romano.Sociedade limitada no Brasil. So Paulo: Malheiros, 1998, p. 27). 29 Mas o fato de que at 1882 a constituio das companhias dependia de autorizao eseucusteioeraelevadogerouainsatisfaodoscomerciantesbrasileirospelos modelossocietriosentoexistentes,motivandoabuscaporumtipodesociedade quedispusessedeamplaformadeconstituio,cujoscustosoperacionaisfossem baixose,especialmente,coma garantiadelimitaodaresponsabilidadedetodos os scios.35 Como resume LUCENA, ressentiam-se o pequeno e mdio comerciantes dainexistnciadeumaformadesociedadequeconjugassealimitaoda responsabilidadedosscios,prpriadasannimas,comaformanodispendiosa, simplesedesburocratizadadecriaoefuncionamento,caractersticasdas sociedades em nome coletivo e em comandita.36 Assim como a criao da sociedade de responsabilidade limitada alem, a sociedade por quotas de responsabilidade limitada surgiu, no Brasil, mediante a sua previsoemlei,comapromulgaodoDecretono3.708/1919,apsarejeiode doisprojetos,quaissejam,odeNabucodeArajo,de1865,baseadonomodelo ingls,eodeInglezdeSouza,em1912,quecuidavadereformadoCdigo Comercial de 1850, inserindo a SQRL entre as sociedades comerciais. A tramitao do projeto de Inglez de Souza no teve seguimento, mas as disposiessobreassociedadesporquotasderesponsabilidadelimitadaforam contempladasnoprojetoapresentadopeloDeputadoJoaquimOsrioem20de setembrode1918.Esteprojetopassouporrpidatramitao,sendoaprovadona Cmara dos Deputados e no Senado Federal e encaminhado sano presidencial, concedidaem10dejaneirode1919peloVice-Presidenteemexerccio,Delphim MoreiradaCostaRibeiro,culminandocomainstituiodessetiposocietriono ordenamento jurdico ptrio pelo Decreto no 3.708/1919, embora se tratasse de lei.37 35FRES,MarceloAndrade.Panoramadaspropostasdereformadoregimejurdicodas sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 52, 1 nov. 2001, p. 2-3. Disponvel em: Acesso em: 6 jun. 2011. 36 LUCENA, Jos Waldecy. Das sociedades limitadas. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 4. 37MACHADO,SylvioMarcondes.Ensaiosobreasociedadederesponsabilidadelimitada.So Paulo: Revista dos Tribunais, 1940, p. 57. 30 Dispsonovelregulamento,introduzidoem10dejaneirode1919,em seu artigo 2, que o titulo constituivo regular-se-h pelas disposies dos arts. 300 a 302eseusnumerosdoCodigoCommercial,devendoestipularserlimitadaa responsaiblidade dos scios importancia total do capital social.38 Surgia,assim,otiposocietrioqueiriaseconsolidarnocontextoscio-econmicobrasileiro,tantoporsuaconvidativalimitaoderesponsabilidade patrimonial, quanto pela simplicidade de sua estrutura, regida por apenas 19 artigos. A sua instituio no ordenamento ptrio inaugurou a personificao social, como pessoa distinta dos seus scios, conforme previso do Cdigo Civil de 1916. OregulamentosintticodasSQRLincitouvriosquestionamentosda doutrinanacional,motivandoinmerosposicionamentosjurisprudenciais.No obstante,aprticasocialconsolidouomodelorevolucionriodesociedade,que estimulavainvestimentosnosetoreconmico,pelareduodosriscoscoma limitaodaresponsabilidadepatrimonialeafacilidadedesuaconstituio.Sem dvida, era o tipo societrio propcio ao crescimento econmico do pas. Outrossim, j na vigncia do Decreto no 3.708/1919, o acordo de quotistas era utilizado na prtica e sua validade era tema controvertido na doutrina.39 Para TAVARES GUERREIRO40, o Cdigo Comercial coibia sua existncia aoestipularquetodaaclusulaoucondiooculta,contrriasclusulasou condies contidas no instrumento ostensivo do contrato, nula (art. 302, 7).41

38Decretono3.708/1919.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 39 Conforme se extrai do Parecer deLuiz Gasto Paes de Barros Lees (LEES, Luiz Gasto Paes deBarros.Pactosparassociais.RevistadosTribunais,SoPaulo,n.601,p.40-49, novembro/1985). 40GUERREIRO,JosAlexandreTavares.EvoluoePerspectivasdaSociedadeporQuotasde ResponsabilidadeLimitada.SociedadeporQuotasdeResponsabilidadeLimitada,SoPaulo, Associao dos Advogados de So Paulo, 1987. 31 Para BARBI42 e BULGARELLI43, contudo, a aplicao subsidiria da LSA, previstanoart.18doDecretono3.708/1919,implicavanaadooanlogado acordo de acionistas, ento regulado pelo art. 118 da LSA. Impende lembrar a devida ressalva feita por BARBI de que a ausncia de previsolegalespecficasobreoinstituto,comovisto,ensejadvidassobrea validade efetiva do acordo de quotistas.44 Defato,aaplicaosupletivadaLSAtambmeratemacomplexoe sujeito a divergncias no contexto da vigncia do Decreto no 3.708/1919.45 Dispunhaoart.18doreferidodiplomalegalqueseroobservadas quantossociedadesporquotas,deresponsabilidadelimitada,noquenofor reguladonoestatutosocial,enaparteaplicvel,asdisposiesdaleidas sociedades annimas.46 Durante os mais de oitenta anos de vigncia do Decreto no 3.708/1919, o referidodispositivofoiresponsvelporinmerasdiscussesdoutrinriasacercade

41CdigoComercial.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 42Nessesentido,BARBIfaziaaressalvaqueaplicando-sesubsidiariamenteoart.118daLeidas S/A sociedade limitada, vlido o acordo de quotistas, que, para escapar de eventual carter oculto repudiadopeloart.3027,doCdigoComercial,deveserarquivadonasededasociedadeeno RegistrodeComrcio,jhavendocasosdessetipodearquivamentonaJUCEMG.(BARBI,Celso Filho.Acordodeacionistas:panoramaatualdoinstitutonodireitobrasileiroepropostasparaa reforma de sua disciplina legal. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v. 121, p. 30-55, janeiro-maro/2001, p. 38). 43BULGARELLI,Waldrio.Anotaessobreoacordodecotistas.RevistadeDireitoMercantil Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v. 98, p. 44-49, abril-junho/1995. 44BARBI,CelsoFilho.Acordodeacionistas:panoramaatualdoinstitutonodireitobrasileiroe propostasparaareformadesuadisciplinalegal.RevistadeDireitoMercantil,Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v. 121, p. 30-55, janeiro-maro/2001, p. 38. 45Estetemafoiabordadoapenasparacomporalinhaderaciocniodaevoluodasociedade limitadanodireitobrasileiro,nosendoaprofundadopornoterrelaodiretacomoobjetodo presente trabalho que cuida do acordo de quotistas na vigncia do ordenamento atual. 46Decretono3.708/1919.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 32 seurealsentido.ConformemencionaBULGARELLI,eramtrsasprincipais posies doutrinrias a respeito da interpretao da norma citada: Aestimulantepolmicatravadanodireitobrasileiro,arespeitodoalcance do art. 18 da Lei 3.708/19, teve como base e fundamento duas posies da doutrina: uma, interpretando restritivamente o texto, entendia que a Lei das sociedadesannimaserasomentesupletivadaslacunasdocontrato societrio;aoutraampliavaessainterpretaoparaconsideraraLeidas sociedadesannimascomocomplementardaLeidasSociedadespor Cotas.Aoquesepodeacrescentarumaterceiraposioaqualentende queaoconstituiraLeidassociedadesannimasumafontesupletivadas lacunas do contrato pode tambm alcanar as lacunas da prpria Lei 3.708. Estaterceiraposioimportante,namedidaemqueseobserva,por exemplo,quetendocertocontratofeitomenoadeterminadafiguraou instituto jurdico mas no o tendo disciplinado e no se encontrando na Lei 3.708 tambm essa disciplina, dever-se-ia invocar a Lei das companhias.47 Taiscontrovrsias,trazidaspelainterpretaodoart.18,quecolocaram emladosdiversososmaisbrilhantescomercialistasbrasileiros,acabarampor influenciarasopiniesacercadapossibilidadedousodoacordodesciospelos quotistasdesociedadesporquotasderesponsabilidadelimitada,navignciado Decreto n 3.708/1919, em razo da aplicao do art. 118 da Lei n 6.404/1976. Assim que, diante da previso de aplicao da Lei das Sociedades por AessSociedadesLimitadas,dispostanoart.18doDec.n3.708/1919,era possveloacordoentrequotistas,desdequesuasdisposiesnofossem contrriasaocontratosociale,ainda,aregulamentaodoart.118daLein 6.404/1976 seria aplicvel no que fosse compatvel s sociedades limitadas. Com o intuito de solucionar essa e outras polmicas do referido decreto, o Ministrio da Justia, pela Portaria n 145, de 30 de maro de 1999, alterada pela de n492,de15desetembrode1999,designouumacomissodejuristaspara elaborar um anteprojeto de lei sobre as sociedades por quotas de responsabilidade limitada,tendocomopresidenteoProf.ArnoldWald,comoRelatoroProf.Jorge Lobo, e como membros o Ministro Csar Asfor Rocha e os Profs. Alfredo Lamy Filho, Egberto Lacerda Teixeira e Waldrio Bulgarelli. 47BULGARELLI,Waldrio.Anotaessobreoacordodecotistas.RevistadeDireitoMercantil Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v. 98, p. 44-49, abril-junho/1995, p. 47. 33 Essacomissochegouaelaborarumtextobsico,quefoisubmetido discussoperanteacomunidadejurdicanacional,masoanteprojeto,emsua redaofinal,nochegouaserencaminhadopeloGovernoFederalaoCongresso Nacional em virtude da sano do novo Cdigo Civil.48 O referido anteprojeto previa, em seu art. 39, o acordo de quotistas: Art.39.Ossciospoderocelebraracordodequotistas,que,paravaler contraterceiros,deverseraplicadonoRegistroPblicodeEmpresas Mercantis e Atividades Afins, ensejando a execuo especfica. Pargrafo nico. Aplica-se ao acordo de quotistas o regime legal do acordo de acionistas previsto na Lei das Sociedades por Aes. Esseanteprojetorepresentavaasubmissodosistemalegislativo brasileirotendnciamundialdeadoodosmicrossistemaslegislativos,comoa LSA,asLeisUniformesdeGenebraeaposteriorLeideFalncias,que correspondiam a movimento semelhante no continente europeu. Comacerto,aatualizaodaregulamentaodassociedadeslimitadas seriamaisclereesimplificadasefossepromovidapelaalteraopontualdelei especficadessetiposocietrioouatmesmodeleiquetratassedassociedades comerciais, como o modelo francs. Oreferidoanteprojetobuscavapromoveraatualizaodequeas sociedadesporquotasderesponsabilidadelimitadacareciam,como posicionamento sobre questes polemizadas pelas lacunas do sinttico regulamento das SQRL. Todavia, prevaleceu a vontade poltica de promulgao do anteprojeto de Cdigo Civil, sob a relatoria do Prof. Miguel Reale, com a proposta de unificao do direito obrigacional. 48 TEIXEIRA, Egberto Lacerda. As sociedades limitadas e o projeto de cdigo civil. Revista de Direito Mercantil, v. 99, So Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 69. 34 2.3 Cdigo Civil de 2002 ComavignciadoCdigoCivilde2002,oregulamentodasSQRLfoi tacitamenterevogadopelaregnciadas,oradenominadas,SociedadesLimitadas, no Livro II, intitulado do Direito de Empresa, em seus arts. 1.052 a 1.087. AssociedadescomerciaisprevistasnoCComforamsubstitudaspelas sociedades empresrias, que, a teor do art. 982, so aquelas que tm por objeto o exercciodeatividadeprpriadeempresriosujeitoaregistroalmdas expressamente assim consideradas, como as sociedades annimas. 49 Assimcomoocorrianoregramentoanterior,aaplicaosupletiva sociedadelimitadanoeraexclusivadaLSA.AprevisodoCCde2002 estabeleceunovapolmicapois,almdeestipularaaplicaosubsidiriada sociedade simples, condicionou a regncia supletiva da LSA previso expressa no contrato social: Art.1.053.Asociedadelimitadarege-se,nasomissesdesteCaptulo, pelas normas da sociedade simples. Pargrafonico.Ocontratosocialpoderpreveraregnciasupletivada sociedade limitada pelas normas da sociedade annima.50 Percebe-sequeolegisladorconcedeuaossciosaescolhadaregncia normativa em caso de omisso do contrato social. Assim, caso os scios-fundadores de uma determinada sociedade optem por um modelo supletivo mais simples, basta queocontratosocialsejasilentequantoaoassunto,fazendocomquearegncia supletivasedpelasnormasdasociedadesimples(arts.997a1.038doCdigo Civil). Por outro lado, caso optem por um modelo supletivo mais complexo, torna-se necessriaaprevisoexpressapelaaplicaosupletivadassociedadesannimas no contrato social.

49 Cdigo Civil. Disponvel em: Acesso em: 9 jun. 2011. 50 Cdigo Civil. Disponvel em: Acesso em: 9 jun. 2011. 35 OCdigoCivil,comovisto,modificoudeformasignificativaoregime anterioracercadaregnciasupletivadasociedadelimitada.Adoutrinaptria,em suamaioria,mostrou-sevacilantequantoaotratamentodadopelolegisladorde 2002 s sociedades limitadas.51 Emsntese,entendeCOELHOquearegnciasupletivadasnormasda sociedade limitada previstas no Cdigo Civil caber ao regramento das disposies do mesmo diploma legal sobre a sociedade simples. No caso de opo expressa no contrato social pela regncia supletiva pela LSA, este ser o regulamento aplicvel, desdequesetratedematrianegocivelentreosscios.Noobstante,oCdigo Civilseranormaaplicvel,semprequeoassuntosereferirconstituioe dissoluototaldasociedadelimitada,aindaqueocontratosocialelejaaleidas sociedades annimas para a regncia supletiva.52 de se anotar, ainda, que a aplicao de normas da Lei das Sociedades porAes,deformasubsidiriadisciplinadassociedadeslimitadas,nosed, somente, em virtude do disposto no art. 1.053, pargrafo nico, do Cdigo Civil. Conformedispeoart.4daLeideIntroduosnormasdoDireito Brasileiro, quando a lei for omissa, o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito.53 Assim,aindaqueumadeterminadasociedadelimitadasejaregida supletivamente pelas normas da sociedade simples, quando houver uma omisso da legislao(tantodaquedisciplinaassociedadeslimitadasquantoaquedispe 51ParaLUCENA,quedemonstracertapreocupaocomainterpretaodosdispositivosdonovo Cdigo,restasaberseosintrpretesdessasdisposiesdoCdigonoenveredaropelomesmo caminhotrilhadopelosanterioresintrpretesdoart.18,doantigoDecreton3.708,de1919,[...] passando a entender, mormente em relao supletividade da Lei das Sociedades Annimas, que as disposies desta so subsidirias no da lei que instituiu a sociedade por quotas, mas do estatuto ou contrato social destas, e assim instaurando-se idntica perlenga, jamais pacificada durante toda a vigncia do Decreto revogado. (LUCENA, Jos Waldecy. Das sociedades limitadas. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 99). 52 COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de direito comercial. 8. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, v. 2, p. 367. 53BRASIL.Decreto-Leino4.657/1942.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 36 sobreassociedadessimples)acercadedeterminadoassunto,nadaimpedequeo intrprete,pararesolveralgumaquestorelacionadaatalassunto,faausoda analogia, forma de integrao legislativa prevista em nosso ordenamentoe de que se socorrem vrias vezes os aplicadores do Direito face s lacunas legislativas. A respeito do tema, anota COELHO: So,arigor,duasashiptesesdeaplicaodaLeidasSociedades Annimasslimitadas.Almdaincidnciasupletivaaoregimeespecfico doCdigoCivil,quandoomissasasclusulascontratuais,nasmatrias sujeitasanegociao,cabe,tambm,aaplicaoanalgicadalegislao doanonimato.Opressupostodaanalogia,emqualquerramojurdico,a lacuna do direito positivo (LICC, art. 4). Desse modo, em caso de omisso do Cdigo Civil, em matria no passvel de negociao entre os scios, o juiztemaalternativadaaplicaoanalgicadaLeidasSociedadespor Aes para integrar o direito.54 Interessante,aotemaemdebate,aponderaodeCORRA-LIMAde que a Lei no 6.404/76 foi concebida como o Cdigo Societrio brasileiro e como tal deveria ser aplicado.55 Novamente,nohouveprevisoespecficadoacordodequotistas,a despeitodesuainclusonoanteprojetodeleidasSQRL,sendo,destafeita, retomadaacontrovrsiaarespeitodapossibilidadeounodesefirmaracordode quotistas. Em especial porque a aplicao supletiva dos institutos previstos na Lei n 6.404/1976(LSA)ssociedadeslimitadas,antesfixadanoart.18doDec.n 3.708/1919, no foi recepcionada, da mesma forma, pelo Cdigo Civil de 2002. Comefeito,avalidadedoacordodequotistasestava,ainda,atrelada aplicaosupletivadoart.118daLSA,ouseja,dainterpretaoanalgicado acordo de acionistas. Por isso, logo se estabeleceu a convico de que o acordo de quotistas seria vlido, se fosse aplicvel, ao caso, a LSA. 54 COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de direito comercial. 8. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, v. 2, p. 367. 55 CORRA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade annima. 2.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 526. 37 Admitiaadoutrina,dessaforma,apossibilidadedesefirmaracordode quotistassemelhanadoacordodeacionistas,previstonoart.118daLein 6.404/1976, no que fosse compatvel s Sociedades Limitadas, em suas disposies do Cdigo Civil.56 E, como j exposto, o art. 1.053, pargrafo nico, do Cdigo Civil de 2002 prev,naomissodocontratosocialedasdisposiesdosarts.1.052a1.087,a aplicao das disposies da Sociedade Simples (arts. 997 a 1.038 do Cdigo Civil). Apenas no caso de previso expressa nocontrato social, seriaaplicvel, noquecompatvel,aLeidasSociedadesporAes.Destaforma,oacordode quotistasseriapossvel,desdequeocontratosocialcontivesseprevisode aplicao supletiva da Lei n 6.404/1976. Esta a controvrsia instaurada na doutrina, em razo da entrada em vigor da Lei n 10.406/2002 (Cdigo Civil): AentradaemvigordonovoCdigoCivil,porm,trarnovidades.Uma delasque,faltandoestipulaonoinstrumentodecontratosobrea aplicao subsidiria da lei das companhias, as omisses do contrato sero preenchidascomasnormasdeduzidasparaassociedadessimples,em face do que no haver como, fora do instrumento de contrato, dispor sobre voto ou preferncia determinada para a compra e venda de cota.57 EnunciadodoConselhodeJustiaFederalbuscouamenizareventual rigor da doutrina quanto aplicao supletiva da Lei das Sociedades por Aes: Enunciado223:Opargrafonicodoart.1.053nosignificaaaplicao em bloco da Lei n. 6.404/76 ou das disposies sobre a sociedade simples. Ocontratosocialpodeadotar,nasomissesdoCdigosobreas

56aposioqueseextraidasseguintesobras:RIZZARDO,Arnaldo.Direitodeempresa:Lein 10.406,de10.01.2002.RiodeJaneiro:Forense,2007,p.495-496.CORRA-LIMA,OsmarBrina. Sociedadelimitada.RiodeJaneiro:Forense,2006.COMPARATO,FbioKonder;SALOMO FILHO, Calixto. O poder de controle na sociedade annima. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 204. 57SZTAJN,Rachel.Acordodeacionistas.In:SADDI,Jairo.(Org.)Fuseseaquisies:aspectos jurdicos e econmicos. So Paulo: IOB, Parte 2, Cap. 6, p. 273-294, 2002, p. 293. 38 sociedades limitadas, tanto as regras das sociedades simples quanto as das sociedades annimas.58 Paraalmdaquestodadiscussodoutrinriaemtornodopargrafo nico do art. 1.053 do Cdigo Civil, o mesmo Conselho de Justia Federal entendeu ser possvel o acordo de quotistas: Enunciado384:Art.999:Nassociedadespersonificadasprevistasno CdigoCivil,excetoacooperativa,admissveloacordodescios,por aplicaoanalgicadasnormasrelativasssociedadesporaes pertinentes ao acordo de acionistas.59 Comefeito,sentidonohavianarestriodeaplicaodeinstitutodo acordodequotistasque,emconsonnciacomasalteraesdoCdigoCivil, propiciaapreservaodasociedadeempresriaearealizaodesuafuno social. 2.4 Conceito A despeito da dificuldade de fornecer um conceito preciso do instituto da sociedade limitada, a definio de seus contornos, ao menos perante as disposies queoregemnoordenamentojurdicobrasileiro,faz-senecessriadiantedoobjeto propostoparaapresentepesquisa.Considerandoadelimitaoimposta, metodologicamente,aotemadestetrabalho,aconceituaopretendidalevarem considerao a linguagem prpria do direito ptrio, qual seja, o regramento previsto no Cdigo Civil. Ademais, cada sistema jurdico possui a linguagem prpria de seu pas e seucontextopoltico-econmico-social,comojobservadoquantoorigemda sociedadederesponsabilidadelimitada,peloquenopossvel,atualmente, 58IIIJornadadeDireitoCivil.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 59IVJornadadeDireitoCivil.Disponvelem: Acesso em: 9 jun. 2011. 39 assentar,demaneirageral,anaturezajurdicadessaespciedesociedade,pois seus caractersticos divergem de uma legislao para outra.60 Comefeito,nostermosdoCdigoCivil,emdecorrnciadodispostonos arts.982e1.052,asociedadelimitadaasociedadeempresriaemquea responsabilidadedecadasciorestritaaovalordesuasquotas,mastodos respondem solidariamente pela integralizao do capital social. Asociedadelimitada,dessaforma,umapessoajurdicadedireito privado,sujeitodedireitos,queexerceprofissionalmenteatividadeeconmica organizadaparaaproduoecirculaodebenseservios.Elaconstitudapor doisoumaisscios,pessoasnaturaisoujurdicas,cujaresponsabilidaderestrita aovalordesuasquotas,desdequeocapitalsocialestejaintegralizado,que celebramcontratodesociedade,sujeitoaregistronaJuntaComercial,emquese obrigam a contribuir com bens para o exerccio da atividade econmica e a partilha, entre si, dos resultados.61 Asreferidascaractersticasso,destaforma,capazesdedistinguiresse tiposocietriodentreosdemaisexistentesnoordenamentobrasileiro.Atais distintivos, acrescenta, LUCENA, a adoo de firma ou denominao acompanhada, ao final, pelo vocbulo limitada ou sua abreviatura, conforme previsodo art. 1.158 do CC. o que afirma: 60 CUNHA PEIXOTO, Carlos Fulgncio da. A Sociedade Por Quota de Responsabilidade Limitada. Rio de Janeiro: Forense, 1960, v. 1, p. 50. 61 Conforme se infere do disposto nos seguintes artigos do Cdigo Civil: Art. 44. So pessoas jurdicas de direito privado: [...] II - as sociedades; [...]. Art.966.Considera-seempresrioquemexerceprofissionalmenteatividadeeconmicaorganizada para a produo ou a circulao de bens ou de servios. Art.967.obrigatriaainscriodoempresrionoRegistroPblicodeEmpresasMercantisda respectiva sede, antes do incio de sua atividade. Art.981.Celebramcontratodesociedadeaspessoasquereciprocamenteseobrigamacontribuir, com bens ou servios, para o exerccio de atividade econmica e a partilha, entre si, dos resultados. Art.982.Salvoasexceesexpressas,considera-seempresriaasociedadequetemporobjetoo exerccio de atividade prpria de empresrio sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Art.1.052.Nasociedadelimitada,aresponsabilidadedecadasciorestritaaovalordesuas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralizao do capital social. Art. 1.055. [...] 2 vedada contribuio que consista em prestao de servios. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm> Acesso em: 9 jun. 2011. 40 Comosev,ostraosindicados,jqueexclusivos,sobastantespara diferenciar as limitadas de qualquer outra sociedade brasileira, porquanto a limitaodaresponsabilidadedossciosatototaldocapitalsocialeo acrscimofirmaoudenominaoparticulardovocbulolimitada,as tornam inconfundveis com os demais tipos societrios: sociedade annima, sociedadeemcomanditaporaes,sociedadeemcomanditasimples, sociedade em nome coletivo e sociedade em conta de participao.62 Oconceitoapresentadonooriginale,tampouco,omelhorsobreo tema.,comoseobservou,areuniodeelementosobtidosnaleique individualizamotiposocietrioemquesto.Noseprocuroualcanaradefinio exata para a doutrina ptria, porquanto o propsito de tal elaborao conceitual no temfimemsimesmo,masservirdemonstraodavalidadedoacordode quotistas no mbito das sociedades limitadas. No obstante, interessante a exposio de VEROSA que, desviando-se da obviedade do conceito legal, apresenta a sociedade limitada como se verifica na prtica, ou seja, no fenmeno social.63 Assinalaoautorque,devidoaflexibilidadedoinstituto,aprticasocial registraosextremosdesuacapacidadeempresarial,orarepresentadapela constituio de dois scios com faturamento nfimo, enquanto outrora formada pela composio de vrios scios e movimentando quantias elevadas.64 Almdisso,reconhecequeasociedadelimitadapodeservirde subterfgio para o exerccio de comrcio individual situao em que nela um dos sciosestarapenasemprestandoseunomeeasseveraqueestasituao bastante comum, causada pelo desejo do afastamento da responsabilidade ilimitada qualestavasubmetidooantigocomerciante,efoimantidapeloNCCemrelao ao empresrio.65 62 LUCENA, Jos Waldecy. Das sociedades limitadas. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 69. 63VEROSA,HaroldoMalheirosDuclerc.Cursodedireitocomercial:volume2:TeoriaGeraldas Sociedades As Sociedades em Espcie do Cdigo Civil. So Paulo: Malheiros, 2006, p. 363-365. 64VEROSA,HaroldoMalheirosDuclerc.Cursodedireitocomercial:volume2:TeoriaGeraldas Sociedades As Sociedades em Espcie do Cdigo Civil. So Paulo: Malheiros, 2006, p. 364. 65VEROSA,HaroldoMalheirosDuclerc.Cursodedireitocomercial:volume2:TeoriaGeraldas Sociedades As Sociedades em Espcie do Cdigo Civil. So Paulo: Malheiros, 2006, p. 364. Como 41 Apropsito,recentemente,aComissodeConstituioeJustia(CCJ) doSenadoaprovouoProjetodeLeiCompletarno18/11queinstituiaEmpresa Individual de Responsabilidade Limitada, que aguarda sano presidencial.66 Continua,ainda,VEROSAenunciandoque,tambm,comuma sociedade limitada constituda apenas por dois scios, em que um deles exerce, de fato,ocontrole,porsuarepresentaomajoritrianocapitalsocial.E,conclui, reforandoaenormegamadesituaesquedemandamaavaliaodecada sociedadelimitadanocasoconcreto,emespecialdeseucontratosocial,parao enquadramento do regime jurdico aplicvel.67 Emresumo,ascaractersticasfundamentaisdasociedadelimitada correspondem: a) limitao da responsabilidade patrimonial de cada scio ao valor de suas quotas; b) solidariedade dos scios pela integralizao do capital social; c) diviso do capital social da sociedade em quotas iguais ou desiguais. Outrossim, anota-se, por fundamental ao presente estudo, que as quotas atribuemaossciosqueasdetmumdireitodecarterpatrimonialeoutro,de aspectopessoal.Oprimeiroconsistenorecebimentodoslucrossociaisedo patrimnio social remanescente liquidao. J o carter pessoal assegura ao scio

anota o autor, a sociedade brasileira reclama, h muito tempo, pela criao de instituto semelhante ao verificado em ordenamentos dos pases europeus e reconhecido pela prpria Comunidade Europia, denominadasociedadelimitadaunipessoal.oquevriosautoresassinalamtambm,como LUCENA, Jos Waldecy. Das sociedades limitadas. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005,p.13;FRES,MarceloAndrade.Breveregistrodaexperinciafrancesarelativasociedade por aes simplificada, Revista de Direito Mercantil, industrial, econmico e financeiro, v. 145, p. 107-109,jan/mar2007,p.2;eCOELHO,FbioUlhoa.Ofuturododireitocomercial.SoPaulo: Saraiva, 2011, p. 12-13, que a incluiu em seu anteprojeto de cdigo comercial. A propsito, CORRA-LIMA (Osmar Brina Corra-Lima. Sociedade annima. 3.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 2) e CASTRO (Moema Augusta Soares de Castro. Manual de direito empresarial: incluindo comentrios sobreaLeicomplementarn.123/2006,leidosimplesnacional,teoriageraldodireitosocietrio, propriedadeindustrial,direitodeempresa.RiodeJaneiro:Forense,2007)assinalamqueoelevado nmero de empresrios individuais registrado no Brasil (conferir ANEXO A) deve-se, provavelmente, ao seu desconhecimento de sua responsabilidade patrimonial ilimitada. 66ProjetodeLeiComplementarno18/2011.Disponvelem: Acessoem:16jun. 2011. 67VEROSA,HaroldoMalheirosDuclerc.Cursodedireitocomercial:volume2:TeoriaGeraldas Sociedades As Sociedades em Espcie do Cdigo Civil. So Paulo: Malheiros, 2006, p. 365. 42 quotistaogozodedireitosessenciaisdosscios,entreeles,destacam-seodireito de voto, de retirada da sociedade e de fiscalizao da gesto. Emespecial,observa-se,quantoaodireitodevoto,queessencialna sociedade limitada68, que no se trata de um dever, pelo que o scio pode deixar de comparecer assemblia e, caso comparea, pode se abster de dar seu voto. Damesmaforma,imprescindvellembrarqueafinalidadeda constituio da sociedade limitada a obteno de lucro pelos seus scios, pelo que noseadmitedisposionosentidodevedarorecebimentodedividendospor algum scio, pois, como visto, trata-se de direito essencial. 2.5 Sntese conclusiva Associedadeslimitadassurgiramporcriaolegislativa,masemfuno doclamordoscomerciantes,emtodoomundo,porumtiposocietrioque oferecesseumaestruturasimplificada,poucoonerosaequelimitassea responsabilidadepatrimonialdossciosaoinvestimentorealizado,possibilitandoa execuo de empreendimentos de pequena e mdia monta. O modelo original alemo inspirou a criao da Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada no Brasil, pela edio do Decreto no 3.708/1919, que, por sersinttico,foialvodeinmeraspolmicasdoutrinrias,apesardeasociedade limitada ter se consolidado como a principal forma de constituio de empresas, no Brasil, durante sua vigncia. ApromulgaodoCdigoCivilde2002nosolucionouosconflitos relacionados s sociedades limitadas decorrentes da regulamentao anterior, como qualoregimejurdicoaplicvel.Mas,assimcomonoregimelegalanterior,a regncia supletiva da Lei das Sociedades por Aes foi permitida.

68Ressalva-seentendimentodoutrinrioqueadmiteapossibilidadedasociedadelimitadaemitir quotaspreferenciais,semdireitoavoto,conformenoticiaVEROSA,HaroldoMalheirosDuclerc. Cursodedireitocomercial:volume2:TeoriaGeraldasSociedadesAsSociedadesemEspcie do Cdigo Civil. So Paulo: Malheiros, 2006, p. 142. 43 A sociedade limitada consagrou-se no ordenamento jurdico brasileiro por suas caractersticas favorveis variada realidade empresarial brasileira, que abriga desdesociedadesentrecnjugesagrandesgruposeconmicos.Nessecontexto, destaca-se o acordo de quotistas como instrumento vivel consecuo da funo social da empresa. Contudo, semelhana do Decreto no 3.708/1919, o Cdigo Civil de 2002 nofezmenoaoacordodequotistas,mantendoainseguranasobreavalidade do referido instituto que, a rigor, foi compreendido, pela doutrina, a partir da regncia supletiva da LSA e aplicao analgica do acordo de acionistas. Aimportnciadasociedadelimitadanocontextoeconmicobrasileiroe, aolado,arelevnciadoacordodequotistasnaconjunodosinteressessociais refora a necessidade de demonstrar a validade desses contratos parassociais.

44 3 CONTRATO PARASSOCIAL Ocontratoparassocial,oucontrattiparasocialinooriginalitaliano,foi consagrado na doutrina italiana pela obra de OPPO69 que, observando na realidade societria um fenmeno peculiar que cuidava de regular os interesses dos scios em forma distinta do contrato social e da lei societria, desenvolveu seus estudos sobre esses pactos firmados entre scios. Destaca-seque,daobservaodofenmenodescrito,ouseja,da percepodeque,naprticasocietria,ossciosrealizavamacordos,distintosdo contrato social, para dispor sobre assuntos diversos, sobre a relao entre scios e asociedade,bemcomosobreaorganizaosocietria,originou-seaconstruo tericadosacordosdescios,aexemplodosacordosdeacionistaseacordosde quotistas. 3.1 Natureza Jurdica A teoria do contrato parassocial foi calcada na relao de dependncia ou acessoriedadedosacordosdesciosemrelaoaocontratodesociedade. Identifica-se,assim,ocontratosocialcomocontratoprincipaleocontrato parassocialcomocontratoacessrio,nanomenclaturamaiscomum,emborase reconhea que o mais adequado fosse nome-lo dependente. Por conseguinte, a doutrina ptria reconhece os contratos principais como aquelesqueindependemdaexistnciadequalqueroutro,enquantoqueos acessriosapenasexistemvinculadosaoutros,dosquaisdependem.Defato, notrio o preceito geral de que o acessrio segue o principal.70 69 OPPO, Giorgio. Contratti Parasociali. Milano: D. Francesco Vallardi, 1942. 70RODRIGUES,Silvio.Direitocivil,volume3:doscontratosedasdeclaraesunilateraisda vontade. 30. ed. atual. de acordo com o novo Cdigo Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). So Paulo: Saraiva,2004,p.37-38.GOMES,Orlando.Contratos.2.ed.RiodeJaneiro:Forense,1966,n.57. BESSONE, Darcy. Do Contrato. Rio de Janeiro: Saraiva, 1960, n. 39, p. 118. 45 Daanoousualdequeocontratoacessrioasseguraaexecuodo contrato principal, sendo que, na extino deste, aquele perderia a razo de ser, ou seja, deixaria de existir. Masofatodeservirdegarantiaaocontratoprincipalnorestringeo contratoacessrioaessacategoria.Comefeito,mereceserfeitaadistinoentre obrigao acessria do contrato acessrio, como ensina GOMES.71 Ocontratoacessrio,emboradependentedocontratoprincipal,abrigaa suaprpriafuno,prpriadoseucontedoautnomo,querelacionasuas obrigaesprincipaiseacessrias.Asuacausa,portanto,distintadacausado contratoprincipalque,damesmaforma,possuiseuncleoprpriodeobrigaes principais e acessrias. o que esclarece LEES com relao relao de dependncia entre o contrato social e o contrato parassocial: Emborahajaumacoligaoindefectvelentreasnormassocietriaseos acordos parassociais, cumpre sublinhar que os mesmos se distinguem pela causaeficiente.Osacordosdesciossoconvenesparalelas collateralagreements,noDireitoanglo-saxoqueseposicionam margemdocontratosocial,emboraexistamemrazodomesmo,isto, comocontratosdependentes.Poisopactoparassocialdependeda existncia da pessoa jurdica gerada pelo contrato social, que logicamente o precede, como contrato principal. Mas, conforme lembra Oppo, com apoio emVivante,hdistinguiradeclaraodevontadeeaobrigaodoscio como membro da sociedade e a declarao e a obrigao pessoal do scio como titular de seu patrimnio.72 Para OPPO, qualifica-se o contrato parassocial como verdadeiro negcio jurdicoautnomoetpico,porquantosedistinguedonegciojurdicodocontrato social, embora seja a ele vinculado.73 71 GOMES, Orlando. Contratos. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1966, n. 57. 72 LEES, Luiz Gasto Paes de Barros. Pactos parassociais.Revista dos Tribunais, So Paulo, n. 601, p. 40-49, novembro/1985, p. 43, grifo do autor. 73OPPO,Giorgio.ContrattiParasociali.Milano:D.FrancescoVallardi,1942,p.88.Nooriginal: Quanto alla qualificazione giuridica il pi delle volte si tratter di negozi innominati ma tutt`altro che daescluderecheessiintegrinoglielementidiunautonomonegoziotipico:autonomo,perchva ricordatoinpropositochelavalutazionedellanaturagiuricadellafattispeciedevepartiredalla distinzionedelnegozioparasocialedaquellosocialeenonposboccareallaconfigurazionediun 46 Assinala,igualmente,queosacordosparassociaispodemounoinfluir nocontratosocial,conformeasuacausa,ouseja,nocasodetratarsobre disposies do ato constitutivo. Nessalinha,CARVALHOSAreafirmaadistinodeOPPOentreos contratosacessriosstrictosensueoscontratosacessrioslatosensu.Enquanto estescompreendemobrigaesapenasentreseusestipulantes,podendorefletir indiretamente sobre os demais scios e a sociedade, aqueles geram uma relao de dependnciarecproca,ouseja,ocontratoparassocialinfluencia,diretamente,o contrato social.74 Assim,noprimeirocaso,enquadrariam-se,segundoOPPO,disposies sobre repartio de lucros de forma distinta do contrato social, ou, ainda, a atribuio da administrao social a um dosscios pactuantes. Nesse caso, estaria claro que tais estipulaes no tm repercusso sobre o pacto social, pelo que nem deveriam ser consideradas acessrias. Mas a dependncia justifica-se pelo fato de que sem o contrato social, tais convenes no teriam razo de ser.75 J na segunda hiptese, estariam duas espcies de relaes acessrias. Primeiro, identifica-se a celebrao de pactos parassociais para a implementao de clusulas do ato constitutivo. Seriam firmados acordos com o propsito de conceder aossciosacordantesbenefciosindividuaisquenoforamdispostosnocontrato social,porquestesdesigiloe/ouflexibilidadedopactosocial.Nessecaso,a relaoqueseestabelecenoapenasanecessidadedequeasociedadeexista paraqueocontratoparassocialserealize,mashvinculaodiretaentretais negcios jurdicos.

negoziocomplessivocheassorbal`interafattispecie,comepureabbiamovistoesseresostenutoda taluno.. 74 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de acionistas. So Paulo: Saraiva, 1984, p. 38-41. 75 OPPO, Giorgio. Contratti Parasociali. Milano: D. Francesco Vallardi, 1942, p. 7-8. 47 Verifica-se, ainda, a ocorrncia de uma relao mais precisa entre o pacto social e o parassocial, quando este regularia atividades sociais, como a gesto, por exemplo. Naesteiraderaciocniodarelaoobrigacionalecontratualexistente entre o contrato social eos acordos parassociais, cumpre esclarecer quea relao acessriadocontratoparassocialserefere,especificamente,aclusulasdopacto social,postoque,emsentidocontrrio,regulamentariamoprprioestatutosocial. Assevera, outrossim, CARVALHOSA que: E, com efeito, a funo do pacto parassocial a de implementar, no mbito dacompanhia,interessesindividuais,utilizando-sedosinstrumentos jurdicosdesta.Nessaimplementao,nopodemosinteressesdos acionistas sobrepor-se aos da prpria companhia.76 DiantedasconsideraesdeCARVALHOSAsobreaconstruo doutrinria de OPPO, LEES faz interessante observao sobre a classificao dos pactosparassociaisemrazodesuainflunciasobreocontratosocial,como cumpre transcrever: Socontratosavenadosilhargadasociedade,daporqueso denominadosparassociais:querdizer,contratosparalelosquenunca tangenciam,masquecaminhamparipassu.Nospactosparassociaisque visamaalcanarvantagensindividuaisparaosconvenentesnoseioda prpriasociedade,influindonavidasocialeadentrandoaesferaprivada dos direitos dos scios uti socii, talvez caiba indagar se esses pactos extra-sociaisnorevestiriamamesmanaturezajurdicadoatoconstitutivoda sociedade. Quer dizer, e no so, no fundo, aditivos ou prolongamentos do contrato social. J a mesma indagao, porm, desprovida de sentido nos acordosdebloqueio,quedispemdecausa-funodistintadadocontrato social. Com efeito, longe de ter por objeto a implementao, sistemtica ou orgnica,doprprioestatutosocial,essescontratosparassociaisregulam interesses pessoais dos scios, encarados uti singuli.77 Apropsitodoquestionamentodanaturezajurdicadepactos parassociaisquedispusessemsobreoregramentodasociedade,oprprioOPPO 76 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de acionistas. So Paulo: Saraiva, 1984, p. 41. 77 LEES, Luiz Gasto Paes de Barros. Pactos parassociais. Revista dos Tribunais, So Paulo, n. 601, p. 40-49, novembro/1985, p. 43, grifo do autor. 48 ressaltaseusefeitosnegativos,bemcomoBARBI78.Contudo,deve-seobservarno casoconcretopois,seopactoparassocialdispuserdeformacontrriaaocontrato social, ele perder sua validade. 3.2 Caractersticas Oscontratosparassociaisso,porconseguinte,aquelescontratos firmados entre dois ou mais scios para convencionar questes alheias ao contrato social, mas que com ele guardam relao de dependncia. Porm, como visto, no taldependnciacondicionadadoutrinatradicionaldoscontratosprincipaise acessrios,jquepossuemcausasdiversas,emfunodadistinofeitaentreas declaraesdevontadeeobrigaesdosscioscomotitulardeseupatrimnioe como titular dos direitos de scio. Noobstanteseucarterparassocial,diantedesuaevidentevinculao ao contrato social, o contrato parassocial um negcio jurdico, e, por sua vez, deve obedecer aos requisitos imperativos do ordenamento ptrio, dispostos no art. 104 do Cdigo Civil. Assim, para ser vlido deve ser realizado por agentes capazes, possuir objeto lcito e adotar a forma prescrita ou no defesa em lei.79 Embora autnomo, por possuir causa prpria e distinta do contrato social, opactoparassocialdeverespeitar,almdosprincpiosedisposiescontratuais previstasnoordenamentojurdicoptrio,comoaboa-feafunosocial,as disposies do contrato social, ao qual est relacionado. Comefeito,comocontratoparaleloaocontratosocial,noprecisa obedecer s formalidades impostas pela lei societriapara a constituio e registro 78OPPO,Giorgio.ContrattiParasociali.Milano:D.FrancescoVallardi,1942,p.9.BARBI,Celso Filho.Acordodeacionistas:panoramaatualdoinstitutonodireitobrasileiroepropostasparaa reforma de sua disciplina legal. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v. 121, p. 30-55, janeiro-maro/2001, p. 38. 79 Cdigo Civil: Art. 104. A validade do negcio jurdico requer: I - agente capaz; II - objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel; III - forma prescrita ou no defesa em lei. Disponvel em: Acesso em 9 jun. 2011. 49 docontratosocialeseusatosconstitutivos,amenosqueassimdefinamaspartes contratantes.80 A liberdade contratual e a autonomia da vontade dos scios contratantes regemospactosparassociais.Nosedeveesquecer,todavia,queessaliberdade encontralimitenasnormaseprincpiosimperativos,tantododireitocontratual, quanto das previses cogentes da legislao societria e do contrato social. NaconcepotericadeOPPO,ocontratoparassocialpodeser compreendidocomocontratoplurilateral,bilateralou,atmesmo,unilateral, conformeasobrigaesquerelaciona.81Esse,tambm,oentendimentode CARVALHOSA,quereconheceteremosacordosdevotonaturezaplurilateral, enquanto que aos acordos de bloqueio caberia, apenas, a natureza bilateral.82 Adoutrinaptriaconsidera,quantoaosefeitosproduzidos,ocontrato unilateralse,nomomentoemqueseforma,originaobrigao,tosomente,para uma das partes ex uno latere83, bilateral, se so geradas obrigaes concorrentes eopostasparaaspartescontratantese,porfim,seriamplurilateraisoscontratos compostos por vrias partes com finalidade comum.84 80Defato,resumeCOMPARATOque:Essespactosparassociais,comodenominouadoutrina, caracterizam-se justamente pelo fato de sua autonomia formal, em relao aos atos constitutivos ou estatutosdasociedade,e,aomesmotempo,pelasuacoligaofuncionalcomestesltimos.So concludos para produzir efeitos no mbito social, mas sua eficcia limitada, em princpio, s partes queoscelebraram.PeranteaSociedade,eles soresinteraliosacta,salvo normalegal especfica emcontrrio.(COMPARATO,FbioKonder.Opoderdecontrolenasociedadeannima.3.ed. rev. atual. e corr. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 161). 81 OPPO, Giorgio. Contratti Parasociali. Milano: D. Francesco Vallardi, 1942, p. 87. No original: Per quanto riguarda la struttura i negozi accessori possono assumere quella di contratti plurilaterali (tipici i contratti di sindacato azionario) o di contratti bilaterali (questi conclusi) vuoi tra due soli soci, vuoi tra pi soci raggruppati in due parti colletive: ad es. fra maggioraza e minoranza) o anche unilaterali (un sciosiobbligaagarantiregliinteressidelconferimentoadunaltro;lamaggioranzasiobbligaa nominare alcuni membi di organi collegiali secondo la designazione della minoranza; i soci tutti od alcunisiobbliganoaratificarel`operatodell`amministratore,socioononsocio,eccedenteil mandato.. 82CARVALHOSA,Modesto.Comentriosleidassociedadesannimas.2volume:arts.75a 137. 4. ed. rev. atual. So Paulo: Saraiva, 2008, p. 516-577. 83 GOMES, Orlando. Contratos. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1966, p. 77. 84 BARBI, Celso Filho. Acordo de acionistas. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 70-78. 50 Impende constatar, mais uma vez, que contrato social e pacto parassocial possuemcausasdistintase,damesmaforma,decorremobrigaesdistintasde suas disposies. Por conseguinte, a natureza plurilateral atribuda pela doutrina ao contratosocialnoimporta,comopremissalgica,emnaturezasemelhanteao contrato parassocial. Emsuma,entende-sequeospactosparassociaisnotm, exclusivamente,anaturezaplurilateral,peloqueosefeitosdecorrentesdas disposiesdetaisacordosdevemseraferidosnocasoconcreto,dianteda verificao da natureza das obrigaes previstas. Almdisso,anotaWALDquetaisacordosparassociaisapresentam carter intuitu personae.85 Outrossim,soconsideradossujeitosdesseacordoosscios contratantes,independentedomontantedesuaparticipaosocietria,desdeque emplenogozodesuacapacidade86,que,apartirdarealizaodopacto parassocial,obriga-seperanteosdemaisanuentes,nostermosdalegislaocivil brasileira. Ademais,frise-seque,porseucarterparassocial,emprincpio,no seriamadmitidosacordosfirmadosentrescioseasociedadeeentresciose terceiros.87

85WALD,Arnoldo.SociedadeLimitada:necessidadedeaprovaodequotistanatransfernciade quotas.RevistadeDireitoBancrioedoMercadodeCapitais,SoPaulo,n.27,p.144-145, janeiro-maro/2005, p. 145. 86Note-seque,almdepreencherosrequisitosdecapacidadecivil,previstosnosarts.3a5do CdigoCivil,ocontratantedeveatenderaoscritrioslegaisparaserscio,noser,portanto, impedido de firmar o contrato social, o que, nesse contexto, inviabilizaria sua condio de scio e, por conseguinte, de contratante de pacto parassocial. 87Adespeitodetalpossibilidadeserreconhecidanodireitoeuropeu,conformeBARBI,CelsoFilho. Acordo de acionistas: panorama atual do instituto no direito brasileiro e propostas para a reforma de sua disciplina legal. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econmico e Financeiro, So Paulo, v.121,p.30-55,janeiro-maro/2001,p.39.Noobstante,opresentetrabalhonoutilizaodireito comparado como construo terica, mas apenas como nota histrica. 51 Com efeito, traadas, em linhas gerais, as caractersticas dos acordos de scios,consagradospeladoutrinaitalianaeadotados,deformageral,nospases europeus e, tambm, no Brasil. 3.3 Sntese Conclusiva A instrumentalizao dos interesses de scios como fenmeno percebido narealidadesocialfoiconcebidapeladoutrinaitalianarelativaaoscontratos parassociais. Essesnegciosjurdicospossuemnaturezajurdicadecontratos acessriosaocontratosocial,porquantodestedependemparaasuaexistncia, massoautnomosquantosobrigaesquecompreendem,podendoser caracterizados como unilaterais, bilaterais ou plurilaterais, de acordo com os efeitos que produzirem. Oscontratosparassociaisrepresentam,assim,acordosfirmadosentre sciosdeumasociedade,paraaconvenodeinteressesindividuais,oumesmo coletivos, dos prprios scios, que podem ter influncia ou no sobre a sociedade e outras partes no contratantes. Oreconhecimentopeladoutrinajurdicabrasileiradamodalidadedesses acordos viabiliza a realizao de acordos de quotistas. 52 4 ACORDO DE QUOTISTAS O acordo de quotistas, assim como o acordo de acionistas, um contrato parassocial. Asuaprtica,narealidadesocietriabrasileira,damesmaforma,est consagrada.Noobstante,oacordodequotistasnofoi,ainda,objetode regulamentao especfica no ordenamento jurdico ptrio. Apequenapartedadoutrinacomercialistaquetratadotemaatribuisua validade aplicao supletiva da Lei das Sociedades por Aes. Mas a importncia econmica que as sociedades limitadas tmno Brasil e,igualmente,arelevnciaqueosacordosdequotistasrepresentamna instrumentalizao dos interesses dos scios e da prpria sociedade, impulsionando seudesenvolvimentonomercado,demandamumtratamentotericoespecficodo instituto, na ausncia de seu tratamento legal. 4.1 Conceito O acordo de quotistas, no entendimento vulgar, o acordo celebrado por scios quotistas para a conveno de interesses entre eles a respeito de sua relao com a sociedade. Arealidadesocietriadassociedadeslimitadasacadadiaatribuimais importncia a esse instituto que, assim como ocorreu com o tipo societrio a que se refere,cuidoudeaprimoraroinstrumentoeadequ-lomaisvariadagamade situaes. Nessecontexto,asuapercepopeladoutrinacomercialistaptriadeve servirdereferencial,mesmoqueotratamentodetalinstitutocareadeumaviso singular,diantedarealidadeabrangentequeincorporaasociedadelimitadano Brasil, ajustando-se a pequenas empresas e a grandes grupos econmicos. 53 Como visto, a concepo da doutrina baseia-se na submisso ao modelo doacordodeacionistas,especialmenteemrazodeseronicoinstituto expressamente previsto na legislao societria brasileira: vlidanodireitobrasileiroacelebraodeacordosdecotistasparaa disciplinadedireitosdecorrentesdascotassociais,tendoemvistaa possibilidade de aplicao subsidiria s sociedades por cotas de institutos das sociedades por aes que no lhes sejam incompatveis.88 Outrossim,interessantealiodeALMEIDAsobreaaplicaodo institutodoacordodesciosnodireitoportugus,reconhecendo,assimcomoem grandepartedodireitoestrangeiro,apossibilidadedesefirmarcontratos parassociais, como o acordo de quotistas: Os acordos parassociais so convenes celebradas entre todos ou alguns sciosrelativosaofuncionamentodasociedade,aoexercciodosdireitos sociais ou transmisso das quotas ou aces. Curiosamente,assiste-sepresentementeaumapredominnciadoaspecto institucionaldasociedadesimultaneamentecomorelanamentodas relaes contratuais atravs da prtica de acordos parassociais. Aexplicaodestefenmenoest,porvezes,nanecessidadede confidencialidadedosacordosestabelecidos,noutras,naformaode gruposorganizadosdentrodasociedadeou,ainda,namaiorflexibilidade que estes acordos permitem. Dequalquerforma,osacordosparassociaissoconvenesinfra-estatutrias,quenobeneficiamdamesmaprotecojurdicadomicro-ordenamento dos estatutos: as deliberaes contrrias a estes so invlidas e os actos praticados em contraveno com os estatutos so, em princpio, inoponveis sociedade; as violaes dos acordos parassociais apenas tm efeitosobrigacionais,nomeadamenteresponsabilidadecivil,ou,porvezes, execuo especfica.89 Assim,osacordosdequotistasso,verdadeiramente,contratos parassociais,ouseja,contratosfirmadospordoisoumaissciosquotistasde sociedade limitada, para a