AdaltonDaMottaMendonca Transformações socio-economica nos eixo niteroi Sao gonçalo

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ADALTON DA MOTTA MENDONA

TRANSFORMAES SCIO-ECONMICAS NO EIXO NITERI - MANILHA EM SO GONALO/RJ.

Tese apresentada ao Curso de doutorado do Programa de Ps-Graduao em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Doutor em Planejamento Urbano e Regional.

Orientador: Prof. Dr. Hermes Magalhes Tavares Doutor em Poltica Econmica/UNICAMP

Rio de Janeiro 2007

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FICHA CATALOGRFICA

M539t

Mendona, Adalton da Motta. Transformaes scio-econmicas no eixo NiteriManilha em So Gonalo/RJ / Adalton da Motta Mendona. 2007. 249 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Hermes Magalhes Tavares. Tese (doutorado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2007. Bibliografia: f. 231-243. 1. Mudana social So Gonalo (RJ). 2. Indstrias So Gonalo (RJ). 3. So Gonalo (RJ) Condies sociais. 4. So Gonalo (RJ) Condies econmicas. I. Tavares, Hermes Magalhes. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. III. Ttulo. CDD: 330.98153

III

ADALTON DA MOTTA MENDONA

TRANSFORMAES SCIO-ECONMICAS NO EIXO NITERI-MANILHA EM SO GONALO/RJ.

Tese submetida ao corpo docente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Doutor em Planejamento Urbano e Regional.

Aprovado em: _29_/_11_/_2007_.

Prof. Dr. Hermes Magalhes Tavares (Orientador) Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ

Prof. Dr. Jorge Alves Natal Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ

Profa. Dra. Wania Amlia B. Mesquita Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. UENF.

Profa. Dra. Maria Helena Matue Ochi Flexor Instituto de Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social.UCSal. Bahia.

Prof. Dr. Mauro Kleiman Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ

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Para a famlia, mestres, alunos e amigos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeo a importante contribuio do professor Hermes Tavares, meu orientador. Agradeo, sobretudo, a sua dedicao e pacincia, nesses anos de estudo, pesquisa, dilogo e amizade. Sou grato pelo seu profissionalismo e compreenso, nos momentos mais difceis no decorrer do desenvolvimento deste trabalho.

Sou grato tambm ao IPPUR, mais que um instituto de pesquisa, um local onde existem amizades, debates, discusses, enfim, como os verdadeiros ambientes acadmicos devem ser. Local onde conheci profissionais de diferentes campos, importantes para o meu amadurecimento intelectual. Em particular, agradeo aos professores Jorge Alves Natal, Fred Arajo, Tmara Egler, Ana Clara T. Ribeiro e Rainer Randolf pelas incontveis crticas e sugestes feitas durante as aulas nos seminrios e Tese. Agradeo as contribuies da

Professora da UENF Wania Amlia B. Mesquita pela avaliao e crtica ao projeto de Tese. Agradeo as valorosas participaes na banca da Professora Dra. Maria Helena Matue Ochi Flexor, que veio especialmente de Salvador, e do Professor Dr. Mauro Kleiman. Sou muito grato tambm equipe de professores e funcionrios do IPPUR. Sobretudo Profa. Dra. Luciana Correa do Lago que, como coordenadora muito afvel e sempre competente, permitiu a extenso do meu prazo de defesa e aos funcionrios da secretaria da instituio, representados por Zuleika Cruz e Josemar do Esprito Santo, Alberico, Jos Carlos e a secretria Mrcia, que sempre foram e so solcitos e prestativos. Agradeo tambm a ateno dos funcionrios da Biblioteca do IPPUR/UFRJ e em especial a Carla Regina pelo apoio na reviso das normas de apresentao do texto final. Aos amigos, que fiz no IPPUR, meu obrigado pela fora e pela amizade. Obrigado aos informantes entrevistados que colaboraram para a produo desse trabalho.

Agradeo o apoio da Universidade Estcio de S que, pelo apoio atravs da capacitao docente no incio dos estudos de doutorado para que eu pudesse comprar livros e fazer cpias para o curso. Um agradecimento especial minha companheira de todas as horas, Vera, que muito colaborou para o fechamento da tese.

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RESUMO

MENDONA, Adalton da Motta Mendona. Transformaes Scio-Econmicas no eixo Niteri-Manilha em So Gonalo/RJ. 2007. 249 f. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e Regional) Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

O objetivo geral deste trabalho foi o de analisar algumas mudanas ocorridas no Municpio de So Gonalo, Regio Metropolitana do Rio de Janeiro - RMRJ. Brasil. Procuramos caracterizar esse fenmeno escassamente estudado, a partir de uma metodologia particular que privilegia a utilizao de dados scio-econmicos. A questo central levantada saber, a partir de um breve quadro histrico sobre o desenvolvimento industrial no Municpio, os principais momentos de sua trajetria industrial, expanso e declnio. Dentre as questes mais relevantes, destaca-se o estudo de novos indicadores para o desenvolvimento econmico do Municpio como um todo. Esperamos que este estudo possa contribuir para uma melhor compreenso do atual estado das artes do desenvolvimento local dos municpios do Estado do Rio de Janeiro. Do ponto de vista terico e conceitual, tal anlise baseia-se, em particular, no conceito de mudana social, bem como nas contribuies da filosofia, economia e estudos recentes sobre a nova economia Fluminense entre outras.

Palavras-chave: Desenvolvimento local; Mudanas no Municpio de So Gonalo; Desenvolvimento scio-econmico.

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ABSTRACT

MENDONA, Adalton da Motta Mendona. Transformaes Scio-Econmicas no eixo Niteri-Manilha em So Gonalo/RJ. 2007. 249 f. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e Regional) Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

The general objective of this work was to analyze some changes in the City of So Gonalo, Metropolitan Region of Rio de Janeiro MRRJ, Brazil. We look for characterizing this barely studied phenomenon from a particular methodology with social and ecomnomics informations. The raised central question is to know by a brief historical seting on the industrial development in the City, the main moments of its industrial path, expansion and decline. Amongst the most importants questions are the searchs of the new numbers for the economic development of the City as a whole. We have the expectation of that this study, it can also contribute for one better understanding of the state of the arts end the new local development. Of the theoretical and conceptual sight, such analysis is based, particularly, on the concept of social chages, as well from contributions of philosofy, ecomnomics end the new Fluminense economy studies, among others in the Rio de Janeiro State.

Key words: Local developement, So Gonalo City chages; Social end economics development.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Exploso demogrfica em SG. Entre as dcadas de 1950 e 1970 em relao a RMRJ. Tabela 2. Populao de So Gonalo. Habitantes por Distrito. Diviso poltica. Tabela 3. Caractersticas Demogrficas em So Gonalo, 2000. Tabela 4. Populao residente em So Gonalo, 2000. Tabela 5. Distritos N. de bairros, de habitantes e percentual, 2000. Tabela 6. Evoluo da populao no Municpio de So Gonalo. 1940 at 2000. Tabela 7. PIB e participao percentual de So Gonalo e de Niteri em 2002. Tabela 8. Oramento Municipal. Segundo a LDO. Tabela 9. As Maiores Receitas de ISSQN Tabela 10. Arrecadao de ISS no Municpio de So Gonalo entre 1998 e 2003. Tabela 11. Arrecadao de ISS em So Gonalo. Perodo entre 1990 a 2003. Tabela 12. Crescimento populacional em So Gonalo de 1940 at 2000. Tabela 13. Desemprego em So Gonalo. IBGE, 1991 e 2000. Tabela 14. ndices de desemprego em So Gonalo. Por faixa etria. IBGE, 2000. Tabela 15. Posio na ocupao - So Gonalo, 2000. Tabela 16. Empresas de enlatamento de pescado em So Gonalo - RJ. Tabela 17. Dados relativos ao So Gonalo Shopping. Dezembro 2006. Tabela 18. Pessoal Ocupado por Ramo de Atividade no Municpio de So Gonalo. 2003.

42 43 46 47 47 48 58 59 66 67 67 70 116 117 118 138 156 157

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LISTA DE SIGLAS

ABIA - Associao Brasileira das Indstrias Alimentcias ACEC - Associao do Conselho Empresarial de Cidadania ACO - rea Comprometida com Ocupao Urbana AGEIA - Associao Gonalense de Engenharia e Arquitetura ALERJ - Assemblia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro AMAGUAVA - Associao dos Moradores e Amigos de Guaxindiba, Vista Alegre e Adjacncias AMPOVEP - Associao dos Moradores e Pescadores do Porto Velho e Praias ANTT - Agncia Nacional de Transportes Terrestres AOP - rea de Ocupao Progressiva AOP II - rea de Ocupao Progressiva II APA - rea de Preservao Ambiental APELGA - Associao de Pescadores Livre do Gradim e Adjacncias APP - rea de Preservao e Proteo APAP - rea de Preservao Ambiental Permanente ARENA - Aliana Renovadora Nacional BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social CBO - Companhia Brasileira de Offshore CBUM - Companhia Brasileira de Usinas Metalrgicas CEDAE - Companhia Estadual de guas e Esgotos CIDE - Centro de Informaes e Dados do Estado do Rio de Janeiro CIEP - Centro Integrado de Educao Pblica CLT - Consolidao das Leis Trabalhistas CODIN - Companhia de Desenvolvimento Industrial COMPERJ - Complexo Petroqumico do Estado do Rio de Janeiro CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente CONERJ - Companhia de Navegao do Estado do Rio de Janeiro CONLESTE - Consrcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Leste Fluminense COSIGUA - Companhia Siderrgica da Guanabara CPI - Comisso Parlamentar de Inqurito CPS - Centro de Polticas Sociais

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CREA/RJ - Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro DEM - Partido Democrata Antigo PFL Partido da Frente Liberal DENIT - Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes DETRAN - Departamento Estadual de Trnsito DP - Delegacia de Polcia DPO - Destacamento de Policiamento Ostensivo EBIN - Empresa Brasileira de Indstria Naval EGEC - Empresa de Gerenciamento de Empreendimentos Comerciais ENAVI - Empresa Naval de Equipamentos Ltda ETE - Estao de Tratamento de Esgoto FAMERJ - Federao das Associaes de Moradores do estado do Rio de Janeiro FEEMA - Fundao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente FEPERJ - Federao dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro FGV - Fundao Getlio Vargas FIOCRUZ - Fundao Oswaldo Cruz FIRJAN - Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro FPM - Fundo de Participao dos Municpios FUNDREM - Fundao para o Desenvolvimento da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro GETEC - Guanabara Qumica Industrial IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil IBAM - Instituto Brasileiro de Administrao Municipal IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBRE - Instituto Brasileiro de Economia ICBEU - Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos ICMS - Imposto sobre circulao de mercadorias e servios IDH - ndice de Desenvolvimento Humano IDH-M - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal IPEA - Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano ISP - Instituto de Segurana Pblica ISS - Imposto sobre Servios ISS/QN - Imposto sobre Servios de qualquer natureza ITBI - Imposto sobre Transmisso de Bens Imveis

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KBR - Kellog Brown & Root LBA - Legio Brasileira de Assistncia LDO - Lei de Diretrizes Oramentrias MAC - Museu de Arte Contempornea MEMOR - Instituto Gonalense de Memria, Pesquisas e Eventos Culturais MTE - Ministrio do Trabalho e do Emprego ONG - Organizao No-Governamental ONU - Organizao das Naes Unidas PAC - Plano de Acelerao do Crescimento PC do B - Partido Comunista do Brasil PCB - Partido Comunista Brasileiro PDBG - Programa de Despoluio da Baa de Guanabara PDC - Partido Democrata Cristo PDDU - Plano Diretor Decenal Urbano PDI - Plano Diretor de Investimentos PDS - Partido Democrtico Social PDT - Partido Democrtico Trabalhista PFL - Partido da Frente Liberal PIB - Produto Interno Bruto PME - Pesquisa Mensal de Emprego PMN - Prefeitura Municipal de Niteri PMRJ - Polcia Militar do Rio de Janeiro PMSG - Prefeitura Municipal de So Gonalo PNUD - Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento POZI - Programas de Ocupao de Zonas Industriais PP - Partido Progressista PPB - Partido Progressista Brasileiro PRF - Polcia Rodoviria Federal PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados PSV - Plataform Suply Vessel PT - Partido dos Trabalhadores PTB - Partido Trabalhista Brasileiro PTN - Partido Trabalhista Nacional

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PV - Partido Verde RAIS - Relao Anual de Informaes Sociais RDMZ - Secretaria de Conservao do Governo dos Pases Baixos REDUC - Refinaria de Duque de Caxias RENAVE - Empresa brasileira de reparos navais S.A. RMRJ - Regio Metropolitana do Rio de Janeiro SCCS - Estaleiro Maric Shipboard Command and Control System SEDIVER - Socit Europenne D'isolateurs en Ventre et Composite SEG - Sociedade Expansionista Gonalense SEMEC - Secretaria Municipal de Educao e Cultura de So Gonalo SEMPLAN - Secretaria Municipal de Planejamento de So Gonalo SGP - Secretaria Geral de Planejamento SICPN - Sindicato das Indstrias de Conservas de Pescado de Niteri SLFU - Subsecretaria de Licenciamento e Fiscalizao Urbana SMDS - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social SMF - Secretaria Municipal de Fazenda SMIUMA - Secretaria Municipal de Infra-estrutura, Urbanismo, Habitao e Meio Ambiente STU - Service Technique de lUrbanisme, Servio Tcnico de Urbanismo da Frana TCE/RJ - Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro TGV - Train Grande Vitesse, Trem de alta Velocidade, na Frana UDN - Unio Democrtica Nacional UERJ/SG - Universidade Estadual do Rio de Janeiro em So Gonalo UFF - Universidade Federal Fluminense UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESA - Universidade Estcio de S UNIBAIRROS - Federao das Associaes de Bairros de So Gonalo UNIVERSO - Universidade Salgado de Oliveira UTC - Estaleiro Ultratec Engenharia ZR - Zona Residencial ZUD - Zona de Uso Diversificado ZUPI - Zona de Uso Predominantemente Industrial

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SUMRIO INTRODUO CAPTULO 1: REFERENCIAL TERICO. SO GONALO SUBRBIO INDUSTRIAL, CIDADE DORMITRIO OU PERIFERIA GLOBAL 1.1. Antecedentes histricos e scio-econmicos 1.2. So Gonalo: identificando as transformaes scio-econmicas 1.3. Transformaes recentes no eixo Niteri - So Gonalo 1.4. Mudana social e a nova centralidade perifrica 1.5. Revisitando as friches urbanas e os vazios sociais 14 18

19 40 65 73 91

CAPTULO 2: DA DESINDUSTRIALIZAO REVITALIZAO DO EIXO NITERI - SO GONALO 2.1. So Gonalo: a percepo das mudanas, shopping e supermercados 2.2. A desindustrializao e a revitalizao econmica 2.3. Causas e fatores da desindustrializao 2.4. O declnio do emprego industrial e o crescimento dos empregos nos servios. o So Gonalo Shopping Rio como exemplo 2.5. A percepo das mudanas e a retomada da indstria naval

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110 120 132 145 159

CAPTULO 3: ANLISE DOS PLANOS DIRETORES E A PERCEPO DAS 171 TRANSFORMAES URBANAS 3.1. Delimitando as atuais legislaes sobre o espao urbano municipal 3.2. Planos diretores: transformaes planejadas e no planejadas 3.3. Estudo crtico dos planos diretores de So Gonalo 3.4. A percepo dos processos de mudana social CONSIDERAES FINAIS Relao entre as transformaes econmicas e as mudanas sociais Interrogando as novas centralidades no eixo Niteri Manilha REFERNCIAS ANEXOS 172 183 198 206 220 221 227 233 244

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INTRODUO

A tese sobre as transformaes recentes no eixo virio Niteri-Manilha, localizado entre os Municpios de Niteri e de So Gonalo, tem como objetivos principais: a anlise e a demonstrao de que est em curso um processo de mudana social a partir de um conjunto de estudos e dados scio-econmicos no trecho Norte da Rodovia Federal BR 101. Tambm apontamos que essas transformaes podem gerar uma nova espacializao da pobreza.

Para estudar este fenmeno, a rea objeto foi caracterizada como um lugar que at a dcada de 1980 era predominantemente industrial, mas a partir desta data sofreu um processo de desindustrializao e, conseqentemente, de criao de runas e vazios industriais - chamados de friches industriais - seguido de um momento de desenvolvimento do comrcio e dos servios. Atualmente, h um incremento no setor industrial, com o reaparecimento da industrial naval e de projetos para a construo de uma nova refinaria de petrleo e gs, o COMPERJ,1 entre os Municpios de Itabora e So Gonalo, alm de novas atividades complementares.

A partir do estudo deste processo, traaremos trs objetivos a saber: primeiro, o desenho de um recorte geogrfico, limitando a pesquisa em um Municpio, em seguida um recorte cronolgico que se estende ao perodo mais recente, e, por fim, apresentando uma descrio do fenmeno das transformaes scio-econmicas a partir de dados coletados atravs de entrevistas com o trabalho de campo.

Para desenvolver este trabalho focamos os dois primeiros captulos em algumas percepes de como era a regio escolhida e quais foram as primeiras transformaes scioeconmicas mais perceptveis. Como exemplo citamos o fechamento de industriais e a criao de supermercados e de um shopping center.2 Neste sentido, para percebermos a mudana social, recorremos aos dados scio-econmicos recentes para demonstrar a emergncia de um1 Comperj.Complexo Petroqumico do Estado do Rio de Janeiro. 2 Construdo pela Ecia/Irmos na rodovia Niteri-Manilha com 88 mil m2 de rea construda, inaugurado em abril de 2004. Um investimento de R$ 60 milhes, financiado com o apoio do BNDES. O escritrio responsvel pelo projeto foi Farias & Denton localizado na cidade do Rio de Janeiro. Segundo o jornal O Dia, Aberto em maro (2004), o So Gonalo Shopping Rio atrai 120 mil pessoas por fim de semana e 1 milho por ms. A estimativa de venda para o Natal de 2004 foi de R$ 50 milhes. O empreendimento gerou trs mil empregos. Jornal O Dia, pgina 3, Rio de Janeiro, domingo, 17 de outubro de 2004.

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novo tipo de pobreza, novos perfis de estratificao social, sade e educao, alm de uma nova poltica de uso dos espaos, que poder implicar na construo de novas centralidades.

O trabalho como um todo est estruturado em quatro captulos. No primeiro composto por cinco subcaptulos so apresentadas as transformaes recentes no Municpio de So Gonalo, seus aspectos conceituais e histricos. No segundo captulo composto por cinco subcaptulos apresentamos a reutilizao de antigos espaos industriais e a criao de uma nova centralidade urbana num contexto de novos planos diretores e legislaes na dcada de 1990 at os dias atuais. No terceiro captulo, dividido em quatro subcaptulos so delimitas as transformaes planejadas nos planos diretores decenais municipais e nas atuais legislaes sobre o espao urbano e as transformaes que efetivamente esto em curso. No quarto e ltimo captulo, composto por dois subitens so apresentadas algumas concluses a partir do estudo proposto.

A abordagem terica na sociologia da mudana (LEFEBVRE et alli), bem como seus antecedentes histricos aplicados ao entendimento das mudanas histricas e scioeconmicas no Municpio de So Gonalo so apresentados nos dois primeiros captulos. Identificamos as principais transformaes econmicas e consideramos a importncia do estudo da mudana social para compreender este processo em curso. Essa investigao se deu atravs de dados empricos relativos ao perodo atual e s dcadas anteriores do Municpio de So Gonalo.

Abordamos como foco principal, a desindustrializao e a revitalizao econmica no eixo Niteri Manilha no Municpio de So Gonalo na dcada de 1990 e as possveis causas ou fatores da desindustrializao. Realizamos tambm um levantamento, atravs de trabalho de campo, sobre as novas atividades a serem implementadas no municpio: So Gonalo Shopping Rio, supermercados e o projeto da refinaria de petrleo da Petrobrs, alm dos impactos da retomada da indstria naval e de atividades complementares a esta.

No terceiro captulo, delimitamos as transformaes planejadas nos planos diretores e nas atuais legislaes sobre o espao urbano e as transformaes que efetivamente esto em curso. Realizamos um estudo crtico dos Planos Diretores Decenais PDDs de So Gonalo e apontamos as possveis transformaes nos perfis dos bairros (ANEXOS A e B) a partir de etnografias e, principalmente, de dados coletados na imprensa do Estado do Rio de

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Janeiro. Buscamos dar conta da complexidade da anlise dos indicadores de mudana social, principalmente renda e escolaridade. Tambm caracterizamos o perfil da populao por setor e atividade econmica e ampliamos, quando necessrio, a coleta de dados nos grupos de pesquisa dos jovens e dos trabalhadores locais.

Em resumo, so tratadas, como questes principais, a comprovao ou a refutao da hiptese da relao entre as transformaes econmicas e a mudana social. Como questes secundrias, tratamos de interrogar se h de fato uma nova centralidade no eixo Niteri-Manilha, no Municpio de So Gonalo, bem como novas relaes de poder e expanso urbana. Utilizamos como exemplos trs localidades: a Boa Vista, considerada centro de bairro; o Jardim Catarina, complexo com quatro grandes loteamentos residenciais e por fim o distrito de Neves, antigo distrito industrial.

As principais fontes de pesquisa foram as fontes jornalsticas como os peridicos locais; trabalhos de campo realizados nas comunidades mais prximas que incluram entrevistas e levantamentos fotogrficos e bibliogrficas incluindo dados censitrios secundrios, tais como relatrios de pesquisa, oriundos de institutos de pesquisa nacionais.

No quarto e ltimo captulo, apresentamos as consideraes finais indicando alguns resultados ou concluses, bem como possveis contribuies para a atualizao do debate sobre o municpio. Discutimos, tambm, a natureza das transformaes econmicas e a produo do espao social com a criao de novas centralidades. Neste sentido, a anlise privilegia o espao, no como estrutura fsica, mas como processos econmicos, polticos e culturais articulados dinmica social. Questionamos at que ponto essas transformaes podem ou no gerar uma nova espacializao da pobreza criando, tambm, novas configuraes da classe mdia e da pobreza municipal.

Cabe destacar a preferncia dos perodos maiores para no privilegiar momentos polticos e eleitorais. Neste sentido, ao privilegiar a dcada de 1990 e o perodo mais recente no estamos falando de determinados atores polticos ou polticas urbanas especficas.

Ao tratar das transformaes econmicas, em So Gonalo, consideramos o crescimento ou inflexo econmica positiva recente no Estado do Rio de Janeiro, a partir de meados dos anos 1990, bem como a permanncia de problemas sociais graves.

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Compartilhamos a tese marxista de que a natureza do capitalismo e da sociedade brasileira produz ilhas de riqueza convivendo com pobreza, sobretudo a urbana.

Com relao criao de novas centralidades, recorremos aos diagnsticos dos Planos Diretores de So Gonalo, (1990 e 2006) para explicar a perda de centralidade de Neves, antigo distrito industrial para o distrito de So Gonalo.

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CAPTULO 1: REFERENCIAL TERICO. SO GONALO SUBRBIO INDUSTRIAL, CIDADE DORMITRIO OU PERIFERIA GLOBAL

A histria dos povos que tm uma histria , diz-se, a histria da luta de classes. A histria dos povos sem histria , dir-se- como ao menos tanta verdade, a histria da sua luta contra o Estado. Pierre Clastres. A Sociedade Contra O Estado.

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1.1. Antecedentes Histricos e Scio-Econmicos

A organizao industrial em torno da Baa de Guanabara iniciou-se a partir da produo aucareira nas primeiras fases da historia da regio devido a fertilidade do solo e pela facilidade de escoar a produo. Nessa fase, com a participao do trabalho escravo, segundo Egler (1979, p. 33), o Estado do Rio de Janeiro possua cerca de 1/4 de engenhos e da produo de acar da Colnia, sendo a principal rea produtora a Bahia. A industrializao chega ao chamado recncavo da Guanabara e faz a separao entre a propriedade da terra da propriedade do capital. Nasce a produo fabril e amplia-se essa separao e a desagregao da produo colonial no Estado do Rio de Janeiro.

O Rio de Janeiro atingiu a fase fabril na passagem do sculo XX, principalmente nos setores de manufatura de bens de consumo, txtil (fiao e tecelagem) alm da indstria alimentar. No Rio de Janeiro a diversificao na produo industrial era superior de So Paulo. Segundo o Censo de 1907, a Guanabara tinha fbricas que produziam 78 desses grupos de produtos, e em 20 deles ela era a nica produtora do pas. O Rio de Janeiro se caracteriza no incio do sculo XX como grande centro urbano e capital da Repblica, local de consumo de bens de luxo para o mercado local. (EGLER, 1979, p. 33-34).

O Estado adotou uma estratgia importante na proteo da nova indstria contra a concorrncia estrangeira. Ele emprega instrumentos da dvida e da receita pblica para a acumulao de capitais, como por exemplo, polticas de protecionismo fiscal, que facilitaram a concentrao e a centralizao de capitais para a expanso da atividade industrial. Em Niteri temos o exemplo emblemtico do estaleiro localizado na Ponta dAreia de propriedade de Irineu Evangelista de Souza, o baro de Mau que foi erguido em 1845 com o apoio de alguns incentivos pblicos.

A cidade do Rio de Janeiro, apenas em 1890, foi palco de um surto industrial sem precedentes. Sendo a Capital da nascente repblica, possua uma populao urbana de 691.565 habitantes, muito maior que o interior do Estado, este rural, ainda dividido em grandes fazendas e seus bares. A metade das empresas que figuram no Censo industrial de 1907 foi implantada entre 1889 e 1907.

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Contriburam para este crescimento industrial a abolio dos escravos, ampliando o mercado de consumo e de fora de trabalho. Outro fator importante foi a ampliao dos sistemas de transporte a partir da dcada de 1870, em funo do caf, que facilitava a ligao com os portos exportadores, principalmente da cidade do Rio de Janeiro. Este fator foi decisivo para a expanso da indstria de bens de consumo individuais, como por exemplo a fiao e tecelagem. Em 1895, a cidade do Rio de Janeiro, Capital Federal, possua 14 industrias de fiao e tecelagem, enquanto dez indstrias de grande porte estavam instaladas no Estado do Rio de Janeiro.

A maioria destas fbricas foi fundada aps 1887, e praticamente todas operavam em escala fabril avanada. Como melhor exemplo, (EGLER, 1979, p. 52) cita a Companhia Progresso Industrial do Brasil, Fbrica Bangu, construda pela firma inglesa Morgan Snell. A fbrica Bangu, bem como outras tecelagens, incluindo as de Niteri, importaram teares, maquinas de alvejar, tinturaria e estamparia da Inglaterra.

No incio do sculo XX, inicia-se de fato a transio da manufatura para a fbrica, mas existiam empecilhos para a industrializao. O Estado do Rio de Janeiro no podia garantir um fornecimento constante de matria-prima compatvel com a expanso industrial, nem ampliar o mercado sobre o Estado de So Paulo. O Estado do Rio de Janeiro importava praticamente todas a matrias-primas e os gneros alimentcios. Em plena fase de crescimento industrial dependia de produtores estrangeiros. Isto mostra que a indstria no podia se desenvolver dissociada da agricultura. Enquanto a indstria paulista apresentava no perodo entre 1909 e 1913, forte expanso, nota-se o declnio da indstria no Estado do Rio de Janeiro.

So Gonalo, inicialmente grande produtor de acar desde o sculo XVIII quando ainda era uma freguesia. Sua importncia nessa produo continua at meados do sculo XIX e, somente no final deste e incio do sculo XX, a atividade alterada pelo surto industrial ocorrido na regio, principalmente no perodo de 1892-1930. A importncia da atividade porturia, em So Gonalo, diferente do Rio de Janeiro, se explica, primeiro, pela necessidade de escoamento da produo agrcola e via de acesso de mercadorias e pessoas para o interior do antigo Estado do Rio de Janeiro (FERNANDES, 2000, p. 15).

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O acesso aos portos, ou mesmo aos rios da regio de So Gonalo, foi um importante fator de atratividade industrial desde o incio do sculo XX. Um bom exemplo foi a Companhia de Cimento Portland, inicialmente com capital canadense. Localizou-se s margens do rio Guaxindiba e construiu um canal de acesso com seus prprios recursos para facilitar o embarque de sua produo para o porto da Capital Federal, na cidade do Rio de Janeiro.

O declnio desses portos inicia-se na segunda metade do sculo XX quando algumas fbricas e indstrias fecham suas portas ou transferem suas atividades para outras cidades ou para outras regies. A atividade agrcola, principalmente a produo de laranja e banana, enfrenta problemas com a concorrncia. Na dcada de 1950 iniciam-se novos loteamentos como o Jardim Catarina, Trindade e Jardim Alcntara, estabelecendo-se na dcada de 1960 o fim da zona rural do municpio.

Apesar desta tese no ter um aprofundamento histrico cabe, aqui, algumas consideraes sobre o sculo XIX. Estas consideraes, mesmo que superficiais, so necessrias para a corroborao da hiptese de que a industrializao no eixo Niteri-So Gonalo se fez por complementaridade e oposio em alguns momentos.

Alm da localizao industrial na orla Oriental da Baa de Guanabara, autores como Oliveira (2003, p. 43) citam que os investimentos industriais mais importantes foram realizados fora do ncleo, ou seja, fora da antiga Capital Federal e ao longo dos eixos virios, principalmente, nas ligaes com os Estados de So Paulo e de Minas Gerais. Segundo ele, Niteri, antiga capital do Estado do Rio de Janeiro, tambm sofreu a influncia direta da proximidade do Governo central, mas no foi objeto de uma poltica que integrasse as aes, instituies e diretrizes pblicas de ocupao e desenvolvimento do territrio. Essa influncia resultou, segundo o autor, em um desempenho menor das atividades industriais fora da cidade do Rio de Janeiro, acarretando na pequena industrializao nos Municpios da atual Regio Metropolitana e do interior do Estado.

A fragmentao da industrializao do atual Estado do Rio de Janeiro tambm pode ser explicada pela antiga diviso em dois Estados, ou seja, em duas unidades da federao sem a devida poltica de integrao. Um outro fator que explica a pequena concentrao de indstrias e fbricas em Niteri e em So Gonalo seria a opo pela

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localizao no lado Oeste da Baa de Guanabara. A Ponte Rio-Niteri foi construda bem mais tarde, na dcada de 1970 e o trecho Niteri-Manilha da rodovia Federal BR-101 somente na dcada de 1980 para completar a ligao da rodovia Federal BR 101 norte, em direo ao Estado do Esprito Santo com o Sul, no trecho Rio-Santos, passando pela Avenida Brasil.

Na dcada de 1940, a orla Oriental foi descrita pioneiramente pelo mdico Luiz Palmier no consagrado livro So Gonalo Cinqentenrio e na dcada de 1950 pelo gegrafo Pedro Geiger na Revista Brasileira de Geografia. Enquanto Palmier tenta enaltecer o Municpio de So Gonalo como a Manchester fluminense, Geiger o descreve como um subrbio da Cidade do Rio de Janeiro:

So Gonalo na prtica, um subrbio do Rio de Janeiro, no qual fazendas e pomares foram e esto sendo loteados em benefcio do crescimento urbano e da industrializao. A produo de cimento, papel, vidro, sardinhas, produtos qumicos e matrias de construo so alguns dos ramos industriais deste importante municpio. Tambm a, as empresas de nibus tm se multiplicado, mantendo longas linhas de comunicao; o bonde e os trens suburbanos nas horas do rush so outros veculos coletivos que servem populao. A rea urbanizada muito extensa, pois grande a disperso do casario pelas antigas fazendas loteadas. Neves conurbada ao bairro de Barretos em Niteri (GEIGER, 1956, p. 47-70). 3

A conurbao a que Geiger se refere, no texto acima na dcada de 1950, no se trata da ligao com a cidade do Rio de Janeiro. A Avenida Brasil e as obras na rodovia BR 101 se constituram em eixo importantssimo para integrao do transporte aps a elaborao desse trabalho do gegrafo para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, IBGE. A ligao completada na dcada de 1970 com a ponte, principalmente porque o acesso cidade do Rio de Janeiro era limitado pela Baa de Guanabara. Em resumo, a limitao da expanso industrial no lado Leste se deve Baa de Guanabara, assim como conurbao entre So Gonalo e Niteri tambm se beneficiou da nova proximidade com a cidade do Rio de Janeiro. As estradas que contornam a Baa no possuam e ainda no possuem uma boa estrutura, alm de aumentar em quase 100 km a ligao da BR 101 Norte com a cidade do Rio de Janeiro.

Alm das falsas oposies que aparecem primeira vista entre So Gonalo e Niteri e entre esses dois Municpios e a cidade do Rio de Janeiro, podemos observar alguns3 GEIGER, Pedro Pinchas. Urbanizao e Industrializao na Orla Oriental da Baa de Guanabara, Revista Brasileira de Geografia, Rio de janeiro, outubro/dezembro, p. 47-70, 1956.

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casos de complementaridade entre os dois Municpios acima citados. Contrariando a tese de Oliveira (2003), acreditamos que a expanso industrial de So Gonalo no ocorreu a partir de Niteri em direo a So Gonalo. A ocupao e a industrializao dos Municpios que formam a orla Oriental da Baa de Guanabara foi diretamente influenciada pelo ncleo metropolitano, mas so processos distintos e em alguns casos complementares. Podemos citar as indstrias de conservas e pescado e a indstria de cimento como exemplos dessa complementaridade. Tanto uma quanto a outra no eram encontradas no antigo Estado da Guanabara e sobretudo na cidade do Rio de Janeiro.

A linha frrea que ligava o Municpio de Niteri a Itabora passando por So Gonalo e a linha auxiliar que ia de Niteri ao Municpio de Maric, tambm foram fatores importantes para a expanso da indstria e a formao do tecido urbano no eixo Niteri - So Gonalo. Tanto o trecho da chamada Estrada de Ferro Maric, quanto o trecho at Porto das Caixas em Itabora, pertenciam Estrada de ferro The Leopoldina Railway, ligando a cidade de Niteri ao interior do Estado do Rio de Janeiro.

Dialeticamente determinada, essa relao entre ncleo e periferia pode nos indicar que, ao mesmo tempo em que a ausncia de transporte em determinada poca limitou a expanso industrial, num outro momento o seu desenvolvimento provocou um dos maiores crescimentos de periferias metropolitanas no Brasil. Podemos citar como exemplo os casos dos vetores de expanso de So Gonalo em meados do sculo XX, atualmente em Itabora, e em menor escala, Maric no final do XX e incio do sculo XXI.

A falsa noo de atraso no desenvolvimento de Niteri, e principalmente de So Gonalo, em comparao ao ncleo, cidade do Rio de Janeiro, comentada por Oliveira (2003), pode ser explicada pela falta de compreenso dos dois tempos, ou seja, dos ritmos de desenvolvimento de cada um desses Municpios. Enquanto a cidade do Rio de Janeiro tem a sua modernizao planejada, Niteri e principalmente So Gonalo, no tiveram e ainda hoje sofrem pela falta de planejamento.

Segundo o mesmo autor os registros da Federao das Indstrias do Rio de Janeiro, a FIRJAN, apontam a Indstria de Gales de ouro e prata como sendo a primeira indstria na cidade do Rio de Janeiro em 1811, influenciada pela chegada da famlia Real ao Brasil. A vinda da famlia Real foi decisiva tambm para o desenvolvimento do primeiro

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estaleiro brasileiro, o Arsenal da Marinha de Guerra. Segundo o engenheiro Pedro Carlos da Silva Telles,4 o Arsenal do Rio de Janeiro, antigo centro de reparos navais, foi modernizado a partir de 1840 com a implantao de novas oficinas e com a vinda dos primeiros brasileiros formados em engenharia naval na Europa (TELLES, 2007). Mau, que possua contatos nos gabinetes ministeriais, sabia da necessidade de ampliao dos servios navais e por isso comprou e ampliou a fbrica de Ponta dAreia em Niteri.5

Observamos um intervalo de cinco anos, que vai da ampliao do Arsenal da Marinha aquisio de um modestssimo telheiro com mquinas primitivas de fundio de ferro e carreiras ao lado, onde se faziam barcos de vela (FARIAS apud VITORINO)6 em Niteri no ano de 1845 pelo baro de Mau. A pequena diferena de tempo pode dar pistas sobre a existncia de uma complementaridade dialtica entre centro e periferia. Mau, sabiamente, cria a fbrica do outro lado da Baa para disputar mercado com as primeiras fbricas no Rio de Janeiro, segundo o mesmo autor.

Quando, no incio do sculo XX, inicia-se um perodo de retrao na indstria do Estado do Rio de Janeiro por causa da I Grande Guerra Mundial e dificuldades no mercado, Niteri e So Gonalo estavam iniciando um momento de expanso das seguintes indstrias: Companhia Brasileira de Usinas Metalrgicas - CBUM em 1925, a Companhia Nacional de Cimento Portland, CNCP7 em 1926 e a txtil Companhia Fluminense de Manufatura, que apesar ter sido fundada em 1893, foi ampliada no Ps-guerra. As duas primeiras se localizavam em So Gonalo e a segunda no Barreto, em Niteri.

4 Membro do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e da Academia Nacional de Engenharia. 5 Pesquisado em novembro de 2007 no site: http://www.transportes.gov.bro/bit/estudos/Eng-naval/historia.htm. O contedo faz referncia ao artigo de TELLES, Pedro Carlos da Silva. Histria da Engenharia Naval. S/d Mmeo. 6 FARIA, Alerto. Mau. Ireno Evangelista de Souza, Baro e Visconde de Mau, 1813-1889., Paulo, Pongetti & Cia, pp. 134 a 135. Rio de Janeiro, 1926, apud. VITORINO, Artur Jos. Operrios livres e cativos nas manufaturas: Rio de Janeiro, segunda metade do sculo XIX. Mmeo, pgs. 6 e 7. Rio de Janeiro, 1926. 7 Segundo a tese de Joo Cardoso de Mello foi implantada em 1924 com auxlio de capital canadense e americano e de incentivos governamentais. CARDOSO DE MELLO, Joo Manoel, IN: Capitalismo Tardio, pgina 183. Tese de Doutorado apresentada UNICAMP, So Paulo, 1975. Contrariando a data citada por Cardoso de Mello, informaes coletadas no site do Sindicato Nacional da Indstria do Cimento: http://www.snic.org.br: apontam que a Companhia Brasileira de Cimento Portland foi inaugurada em 1926 na cidade de Perus, 23 km de So Paulo. A produo brasileira de cimento saltou de 13.000 toneladas em 1926 para 96.000 em 1929. Depois de sete anos de hegemonia da Companhia Perus, a Companhia Nacional de Cimento Portland, subsidiria da empresa norte americana Lone Star, entrou no mercado cimenteiro. Adquiriu uma jazida calcria recm descoberta em Itabora, no Estado do Rio de Janeiro, e em seguida inaugurou sua fbrica no municpio de So Gonalo, lanando o hoje tradicional cimento Mau. O resultado que, j em 1933, a produo nacional comeava a ultrapassar as importaes.

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At a dcada de 1920, o Brasil importava cerca de 90% do seu cimento. Empresas multinacionais se instalam no Brasil como uma forma de expandir o seu capital e suprir essa carncia do nosso pas. Um caso emblemtico a indstria de cimento Portland em Guaxindiba,8 utilizando matrias primas retiradas de Itabora.

Segundo a Tese de Oliveira, (2003, p. 53):

neste novo cenrio de crise econmica, a produo industrial no Estado se concentra mais nas grandes indstrias, capazes de intensificar a concentrao de capitais atravs de maquinrio moderno e de mais trabalhadores, como os setores metalrgico, naval, txtil e de moinhos, dentre outros.

Alm do mais, os salrios na cidade do Rio de Janeiro eram mais altos que do outro lado da Baa de Guanabara, e contriburam para redefinir a localizao das indstrias que surgiram a partir da I Grande Guerra Mundial. De acordo com a tese de Oliveira (2003, p. 55 e 56):

Neste mesmo perodo, tambm ocorre a expanso industrial para o Municpio de So Gonalo, partindo da cidade de Niteri, como demonstrou Geiger (1956), ao avaliar a industrializao nos Municpios do Leste da Baa de Guanabara a partir dos anos 1930. Segundo Geiger, a industrializao no lado Leste da Baa de Guanabara teve incio em 1845, com a instalao dos estaleiros fundados pelo Baro de Mau em Ponta de Areia, gerando um pequeno ncleo industrial no entorno do estaleiro e do porto. Nesta poca, onde hoje se encontra o Municpio de So Gonalo, predominavam as olarias. Em 1893, porm, com a inaugurao da Cia. Fluminense de Manufatura, localizada no bairro do Barreto, em Niteri, em terreno fronteirio ao Municpio de So Gonalo, a industrializao da regio ganha novo impulso, favorecendo a expanso industrial no Leste da Baa, sobretudo dos setores qumicos e farmacuticos, naval, metal-mecnico, conservas e beneficiamento de minerais no-metlicos, particularmente nos ramos de cermicas, cimento e vidros. A expanso das atividades industriais para alm do territrio do Distrito Federal, no entanto, no ocorreu sem uma forte resistncia a esse espraiamento, por parte do Governo carioca.

Como podemos observar, essas duas primeiras atividades industriais, uma em So Gonalo e outra em Niteri, foram determinantes para definir a localizao industrial na orla

8 Segundo o Sr. Slvio de Oliveira, presidente da Associao dos Moradores e Amigos de Guaxindiba, Vista Alegre e Adjacncias - AMAGUAVA. "Esperamos que o Comperj traga alguma coisa boa para a comunidade". Guaxindiba um bairro pobre de So Gonalo. Na comunidade moram oito mil pessoas sem acesso a servios de gua potvel e tratamento de esgoto. Guaxindiba foi considerada, por alguns entrevistados com rea de desova de cadveres.

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Oriental da Baa de Guanabara. Enquanto o Estado da Guanabara investem em sucessivos projetos para a criao de zonas de expanso industrial, alm de distritos e plos, da Via Washington Lus em 1928, atual Via Dutra, da Avenida Brasil, da Rodovia Presidente Dutra, ambas em 1952 e da Companhia Siderrgica Nacional - CSN em 1946 em Volta Redonda, na poca, distrito de Barra Mansa.

Temos uma primeira definio da industrializao da orla Oriental da Baa de Guanabara, no apenas um processo que nasce a partir dos capitais da produo da cana de acar e da cafeicultura, mas de um processo de expanso de capitais nacionais e estrangeiros no territrio fluminense.

Segundo Oliveira (2000, p. 10), para Davidovich a frgil rede de cidades no antigo Estado do Rio de Janeiro foi um dos fatores que induziram a concentrao de populao, de atividades e de recursos na metrpole do Rio de Janeiro. Segundo a autora, esses fatores limitaram o processo de ocupao e desenvolvimento do Estado.

Como j citamos anteriormente, o perodo entre 1920 e 1940 foi positivo para o crescimento industrial de Niteri e, sobretudo, de So Gonalo. Em 1956 tivemos os investimentos do Plano de Metas com o Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), a expanso da industria naval, a modernizao do parque txtil e a construo da refinaria Duque de Caxias. Fatos aparentemente no muito relevantes, mas dignos de nota so a expanso da construo civil na Cidade do Rio de Janeiro e a construo do Estdio Mario Filho, o Maracan, na dcada de 1950.

O crescimento da indstria da construo civil, e mais tarde, a construo da Ponte Rio-Niteri, no incio da dcada de 1970, representaram um aumento acentuado na produo e na venda de cimento e derivados produzidos na fbrica localizada em So Gonalo9. A expanso de um grande nmero de loteamentos na regio na dcada de 1960 e as obras de construo da Rodovia Federal BR-101 e da Ponte Rio-Niteri, contriburam para o aumento da densidade demogrfica na orla Oriental da Baa de Guanabara. Ainda nessa9 Os lucros com a ampliao da produo e da venda de cimentos na Companhia Nacional de Cimento Portland, apresentados para a poca, no permaneceram em So Gonalo. Notadamente foram enviados pela Lone Star Co. para os Estados Unidos da Amrica. S observamos grandes mudanas na unidade de So Gonalo, quando o grupo francs LaFarge assume a Companhia em 1979.

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dcada, temos dois fenmenos bem estudados: a transferncia da Capital Federal para Braslia e a Fuso dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro.

No final da dcada de 1960, mais precisamente em 1968, a indstria qumica se destaca em So Gonalo com a vinda para o Brasil dos laboratrios americanos B-Braun10. Alm desse laboratrio de grande porte, ainda encontramos no Municpio de So Gonalo o laboratrio farmacutico Herald's e o Guanabara Qumica Industrial Ltda GETEC.11

A ttulo ilustrativo, atualmente a empresa B-Braun S.A. lder na Europa e terceira no mundo no segmento de produtos mdico-hospitalares. A empresa produz dezenas de itens de consumo como dispositivos descartveis e acessrios diversos para o uso em medicina crtica12 e terapia intensiva. A unidade de So Gonalo responsvel pela coordenao de todas as atividades do grupo B-Braun na Amrica do Sul.

Na dcada de 1970 temos ainda a retrao da indstria naval e o incio do processo de fechamento e de transferncia de muitas indstrias de Niteri e So Gonalo. Esses fenmenos foram estudados em nossa dissertao de mestrado (MENDONA, 2000) e classificados como sendo o incio do declnio da indstria nos distritos industriais do Barreto e de Neves. (ANEXO D).

Em 1979, a empresa Lafarge se une ao grupo Lone Star, constri uma fbrica em Cantagalo e compra a Companhia Nacional de Cimento Portland - CNCP em Guaxindiba, So Gonalo. Atualmente no local encontramos, junto Lafarge, as empresas: Chryso Brasil Ltda., Lafarge Aluminoso do Brasil Ltda e Qualimat Distribuidora de Materiais de

10 Segundo o site oficial do laboratrio www.bbraun.com.br, a empresa iniciou fabricando solues ainda em frascos de vidro e pouco tempo depois trouxe da Alemanha novos conceitos e inovaes tecnolgicas para o desenvolvimento de novos produtos como: soros intravenosos e os aparelhos eletro-mdicos para terapia intensiva. Fonte: Jornal O Fluminense, Niteri, 23/09/2006. http://www.ofluminense.com.br/noticias/70007. asp?pStrLink=5,344,0,70007&IndSeguro=0 11 Segundo dados da Revista brasileira de qumica, a GETEC atualmente fabricante de sorbitol, manitol e xarope de maltitol. A GETEC, de So Gonalo, RJ, atua desde 1967 na converso de acares nesses poliis. A empresa no divulga capacidade produtiva, mas segmenta o mercado em higiene oral, como detentora de 60% do volume consumido, sobretudo, pela indstria de creme dental; e em alimentcio, em farmacutico, com 20% do total, cada um. Fonte: http://www.quimica.com.br/revista/qd419/edulcorantes4.htm. 12 Termo empregado pela empresa para a medicina em Centros de Terapia Intensiva.

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Construo. Estas pertencem ao grupo francs Lafarge, associada Materis Holding Luxemburg S/A.13

A institucionalizao da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro s ocorre com a Lei Complementar n 20 de 1 de janeiro de 1975, que cria tambm o novo Estado do Rio de Janeiro, atravs da Fuso. Desta poca dcada de 1980 temos a elaborao de Planos Diretores pela Fundao para o Desenvolvimento da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro - FUNDREM14 em So Gonalo, no ano de 1978, e do projeto do Metr, que j contemplava a linha trs que ligaria os Municpios de Niteri, So Gonalo e Itabora.

A crise econmica, a partir de fins dos anos 1970 e incio dos 1980, comprometeu o processo industrial do Estado, principalmente nos setores naval e txtil, configurando nos anos 1980 uma crise maior no Estado do Rio de Janeiro do que em outros Estados para esses setores.

Em So Gonalo, houve crescimento das indstrias de alimentos e qumica. A empresa americana Quaker Oats, atravs Quaker do Brasil Ltda, adquire a Fbrica Conservas Coqueiro em 1973, proporcionando um aumento na produo de conservas no Pas. Mais tarde, na dcada de 1990, ela adquire outras indstrias de conserva no Municpio de So Gonalo e Niteri15. Para liquidar a concorrncia, a Quaker do Brasil adquire quase todas as empresas de sardinhas e alimentos de Niteri, So Gonalo e at de Itabora16.

13 Sociedade holding integrante do Grupo Materis. Empresa de origem luxemburguesa que atua nos segmentos: indstria qumica, petroqumica e indstria de produtos de minerais no metlicos. Segundo dados do Conselho Administrativo de Defesa Econmica - CADE, o grupo participou de duas operaes nos ltimos trs anos e registrou faturamento inferior a R$ 400 milhes no Brasil em 2005. Fonte. http:www.cade.gov.br. 14 FUNDREM. Plano Diretor do Municpio de So Gonalo: Relatrio Consolidado. RJ, 1978. 15 A Quaker do Brasil Ltda representa a indstria americana Quaker Oats pertencente ao grupo Pepsico. (Pepsico do Brasil Ltda). No ano de 1973 adquire a Indstria de Conservas Coqueiro que operava em So Gonalo desde 1937. Esta fbrica de So Gonalo hoje a maior unidade isolada de enlatamento de peixes do mundo. Atualmente a empresa lder no mercado de sardinhas e de atum em lata com uma fatia de 40% do mercado desses produtos. O faturamento anual da Quaker do Brasil est alcanando 500 milhes de dlares, segundo dados da Associao Brasileira das Indstrias Alimentcias, ABIA, para o ano de 2006. 16 Como exemplo podemos citar as empresas gonalenses: Conservas Piracema S/A; Conservas Rubi S/A; Sul Atlntico de Alimentos S/A Ind. e Com e a recente Pepsico do Brasil Ltda. Niteroienses: Atlantic Industrial de Conservas S/A, Cia. Industrial de Conservas Santa Iria; Frisa - Frigorfico Rio Doce S/A; Good Fish Produtos Alimentcios Ltda; Pimentel Fisching do Brasil Ltda (barcos de pesca). E em Itabora: Cooperativa Agropecuria dos Ranicultores do Estado do Rio.

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Na produo de artefatos isolantes de vidro e tijolos refratrios destacamos o grupo francs Seves, produtor da marca Vidromatone. Em 1979, o grupo francs Ceraver instalou em So Gonalo a Eletro Vidro, empresa que atualmente pertence ao grupo francs Socit Europenne d'Isolateurs en Ventre et Composite - SEDIVER S.A. Hoje a SevesElectrovidro S.A. a nica fbrica de isoladores de corrente de toda a Amrica Latina.17

Segundo a tese de Canosa (1998), ao se referir aos empresrios do antigo Distrito Federal, a decadncia econmica, nas dcadas de 1970 e 1980 do Estado do Rio de Janeiro, poderia ser evitada se houvesse investimentos, por parte do Governo Federal, e se fossem evitados o crescimento e a concentrao industrial em So Paulo.

So Gonalo, diferentemente de Niteri, apresentou uma industrializao diversificada, com vrios setores industriais participando igualmente no crescimento municipal at a dcada de 1970. O Municpio foi diretamente afetado com o desemprego na indstria naval de Niteri, setor que chegou a empregar em 1975 vinte e trs mil trabalhadores segundo os dados do Sindicato Nacional da Construo Naval. Em 1980, porm, os subsdios dados ao setor foram sendo cortados e, como conseqncia direta, muitas indstrias pertencentes cadeia produtiva do setor naval foram fechadas, aumentando ainda mais os efeitos negativos na economia fluminense. (OLIVEIRA, 2003, p. 80).

Em resumo, entre os anos 1975 e 1980 os setores que se sobressaram na economia fluminense foram os setores de qumica, material de transportes, siderrgicos e metalrgicos, que se beneficiaram diretamente dos investimentos governamentais. Destacaram-se, tambm, o setor txtil, no bairro do Barreto em Niteri e na Regio Serrana, a indstria alimentar com o acar e a indstria qumica com o lcool, no Municpio de Campos dos Goytacazes.

Niteri, diferentemente de So Gonalo, com quarenta e oito bairros, limita-se geograficamente com a Baa de Guanabara a Oeste e com o Municpio de So Gonalo ao norte. A construo da Avenida do Contorno na dcada de 1960 ampliou a ligao de Niteri com So Gonalo e transformou a Avenida do Contorno em via de passagem para outros17 Atualmente a empresa Seves Electrovidro S/A. de So Gonalo produz blocos de vidro e isoladores para rede eltrica para toda a Amrica Latina e ainda exporta para a Europa. A Electrovidro associada a Vetroarredo da Itlia, a Seves e a Sediver, empresas com sede mundial em Nanterre, na Frana. Fontes: http://www.sediver.fr e http://www.seves.com.

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locais ligando inclusive a Ponte Rio-Niteri BR-101 em So Gonalo e Niteri ao Norte Fluminense.

O bairro do Barreto em Niteri, por exemplo, foi o principal plo industrial do Municpio e nele encontravam-se instalados vrios estabelecimentos txteis alm de muitas fbricas menores. Uma importante indstria txtil que permanece em funcionamento at os dias de hoje a Companhia Fluminense de Tecidos, antiga Companhia Manufatura Fluminense, cuja instalao data do incio do sculo XX e que conserva a arquitetura e o modelo industrial daquela poca, ou seja, mantm uma vila operria com aproximadamente 70 casas para trabalhadores. Constatamos, prximo a esta Companhia, que existe atualmente um processo de valorizao de imveis e a construo de novos empreendimentos imobilirios no Barreto. Podemos citar como exemplo o condomnio de edifcios Dr. March, na rua de mesmo nome, onde outrora havia uma fbrica de tecidos.

Sendo de fcil acesso ao Centro da cidade e a outros Municpios, devido proximidade da Ponte Rio-Niteri e da Rodovia Niteri-Manilha, o Barreto est passando por um processo de revitalizao urbana e por recentes impactos com o retorno da indstria naval na rea. A antiga fbrica de tecidos fluminense ainda existe no local, mas agora sobre o controle do grupo Bangu, proprietrio da antiga fbrica no subrbio carioca, transformada tambm em Shopping, inaugurado no final do ano de 2007.

Segundo a tese de Oliveira, o Governo Federal recusou na dcada de 1980 a instalao de um quarto plo petroqumico brasileiro no Estado do Rio de Janeiro, optando por distribuir os recursos destinados a esta instalao entre os plos da Bahia, So Paulo e Rio Grande do Sul devido ao descrdito poltico do Estado do Rio de Janeiro. (OLIVEIRA, 2003, p. 82). Aps a redemocratizao poltica do pas, mas com Governo oposicionista de Brizola, em 1983 a economia industrial do Estado sofreu um pouco mais do que os demais Estados. Este quadro de estagnao no Estado do Rio de Janeiro, considerado como de crise ou de esvaziamento econmico foi, de certo modo, o impulsionador de novas propostas para polticos e empresrios pensarem em novas aes para recuperar a economia do Estado do Rio de Janeiro.

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Logo no incio da dcada de 1980 o Governo do Estado, representado pela Companhia de Desenvolvimento Industrial - CODIN e o empresariado, representado pela FIRJAN, elaboraram um zoneamento industrial prevendo a criao de um novo condomnio industrial em Guaxindiba, So Gonalo. Esta proposta no foi implementada, mesmo sendo repetida no Plano Diretor Municipal de 1989.

A FIRJAN, tendo como presidente um representante do setor naval, Arthur Joo Donato, prope a interiorizao da estrutura do rgo com a instalao de sedes regionais e a unificao de aes. Alm das novas descobertas de poos de petrleo no Norte Fluminense, suas aes foram estratgicas para o crescimento desse setor, sobretudo na retomada da construo naval no Municpio de Niteri na dcada de 1990.

So Gonalo, alm de no possuir apoio da FIRJAN como Niteri, ainda contava com uma forma bizarra de alternncia de poder poltico municipal que se dava entre dois grupos. (ANEXO A). No ano de 1954 at o final da dcada de 1980 alternavam no poder o grupo Lavoura e a oposio.18 De 1989 at 2002 revezavam os grupos populistas ligados ao partido de Brizola, PDT, e o grupo de oposio. Essa dualidade na poltica local s foi, aparentemente extinta, com a eleio de Aparecida Panisset no antigo Partido da Frente Liberal, PFL e atual Democratas em 2005.

De modo especial, A crise carioca tem sua origem prxima na dcada de 1920. O perodo entre a dcada de 1960 e a dcada de 1980, pode representar uma contribuio poltica negativa devido ausncia de planejamento ou pelo esvaziamento industrial. A partir do quadro poltico local, notamos que a poltica visivelmente uma borra19, dificilmente decifrvel de governos acusados de corrupo, omisso, descaso com o municpio, governos interinos para substituir prefeitos investigados, governos populistas, como por exemplo, a administrao Lavoura, eleito nos anos de 1954, 1962 e 1972. Segundo um jornalista da poca, Hamilton Monteiro:

Embora haja esforos para renovao das direes partidrias, para que haja maior penetrao e dinamismo aos partidos, poucos diretrios o fazem, normalmente os nomes mais antigos, gastos pelo tempo, eternos feudatrios das executivas dos diretrios, que no podem se eleger; o fazem por18 Joaquim de Almeida Lavoura foi eleito trs vezes para a prefeitura e obteve sucesso oferecendo o seu apoio para eleger sucessor, Jeremias de Mattos Fontes, para assumir o Governo do Estado do Rio de Janeiro. 19 Expresso utilizada em entrevista por um funcionrio da Prefeitura Municipal de So Gonalo em 2005.

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intermdio de pessoas por eles indicadas, seus fiis seguidores. [...] H 16 anos que o Municpio dominado por um feudo poltico altamente nefasto ao desenvolvimento. O resultado disso que chegamos aos dias atuais sem as mnimas possibilidades de enfrentar as crises infra-estruturais [...] Nesse perodo a populao, viu crescer as praas pblicas [...] h que surgir planos e no improvisaes que atendam interesses oligrquicos. [...] No com caneta ou picareta na mo, conforme dizia uma msica cantada na campanha eleitoral de 1958 que se governa e, sim, colocando a mente, para funcionar.20

No necessrio elaborar uma complexa retrospectiva poltica para observar que So Gonalo durante muitas dcadas padeceu por falta de planejamento urbano, e essa ausncia, dolosa ou no, associada s disputas nacionais e regionais pela hegemonia no crescimento econmico corroborou para a atual conjuntura industrial. As empresas bem sucedidas atualmente fazem parte de um grupo hegemnico externo que planejou essa expanso com prescries homeopticas.

Com a ascenso no cenrio poltico do grupo ligado ao governador Leonel Brizola, So Gonalo tambm passa a fazer parte dessa nova coalizo poltica. A primeira eleio de Edson Ezequiel de Mattos pelo Partido Democrtico Trabalhista, o PDT21, colocou em xeque a hegemonia do grupo Lavoura na dominao poltica e econmica da cidade. O que parecia, a princpio, uma mudana na poltica local com o fim de um grupo conservador, tornou-se uma nova hegemonia. O populismo do grupo de Ezequiel foi responsvel pela renovao da Cmara Municipal, com mais de 70% dos vereadores. Enquanto isso, o grupo Lavoura elegeu apenas trs das vinte e uma cadeiras na Cmara dos Vereadores.

A partir da Constituio de 1988, So Gonalo, como muitos Municpios, obrigado a produzir o seu Plano Diretor Decenal PDD. O prefeito Edson Ezequiel contratou o escritrio Mayerhofer & Toledo para elaborar o primeiro Plano Diretor do Municpio aps regime militar, (MENDONA, 2000).

Ezequiel Neves e o seu grupo poltico permaneceram no controle da Prefeitura Municipal de So Gonalo de janeiro de 1989 at 1999. Nesse perodo foi prefeito duas vezes,

20 MONTEIRO, Hamilton de Mattos. Artigos: Sucesso municipal I e II. Jornal O So Gonalo, 19 e 20 de fevereiro de 1972. Apud BARRETO, Edila Gomes: Joaquim de Almeida Lavoura, o nome que virou lenda e as suas eleies. Pginas: 42 e 43. Mimeo, 53p. Ffp/Uerj, Rio de Janeiro, 2004. 21 Com a entrada em cena do Governador Anthony Garotinho no Governo Estadual, o grupo de Ezequiel Neves e sua esposa Graa Mattos migrou para o PMDB, onde permanece at o presente momento.

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intercalando com seu ex-secretrio Joo Bravo (1993-1996). As alteraes mais significativas na poltica urbana do Municpio s retornaram cena poltica a partir da eleio em 2000 do prefeito Henry Charles, (2001-2004). Poltico remanescente do grupo Lavoura, o Dr. Charles como conhecido, tem seu reduto poltico nos bairros prximos a Alcntara. A sua administrao, com apoio do Governo Estadual de Anthony Garotinho, criou o programa So Gonalo 2000, que tinha como eixo central a reurbanizao da cidade principalmente o bairro de Jardim Catarina.

Dr. Henry Charles convidou o arquiteto Luiz Paulo Conde, ex-Prefeito do Rio de Janeiro, para propor melhorias na cidade. Conde utiliza a organizao no-governamental viver cidades para realizar estudos de diagnsticos preliminares para So Gonalo, como tambm para vrios Municpios brasileiros. Durante a administrao do Dr. Charles, ultrapassa o prazo para a realizao da reviso decenal do PDD, mas mesmo com muitas presses de parte da sociedade organizada e da mdia, no foi feita. A reviso do PDD foi protelada, e quase deixada de lado at 2006, quando a atual legislao da prefeita Aparecida Panisset, contratou o escritrio brasiliense Technum Consultoria S.S.22 para elaborar a reviso.

A poltica gonalense, bem como a de muitas cidades brasileiras marcada por diferentes tipos de relacionamento entre o pblico e o privado.23 Atualmente, a poltica local marcada pelo governismo24 e pelo assistencialismo religioso, inaugurado no Estado do Rio de Janeiro pelo casal Garotinho, obtendo sucesso em So Gonalo. A cidade tem, no momento, segundo dados do IGBE, 50% de adeptos de religies evanglicas.25 Essa adeso influenciou no processo decisrio local e est sendo utilizado, segundo depoimentos, para determinar a localizao de obras e interferncias na poltica urbana local. Segundo entrevistados, a

22 Ver por exemplo o site www.technum.com.br pesquisado em 27 de maio de 2006. 23 Ver por exemplo conservadorismo, populismo, clientelismo, personalismo e fisiologismo. 24 O governismo em So Gonalo , segundo (ANDRADE, 1998), uma estratgia poltica onde membros do Legislativo Municipal apiam o Executivo na produo de polticas pblicas em troca da transferncia de recursos do Executivo para suas bases eleitorais. Os parlamentares abrem mo do poder de veto, obstruo e controle e o Executivo distribui cargos, vantagens e apoio do governo. H muito tempo no relatado a oposio sistemtica na Cmara dos Vereadores de So Gonalo. Observa-se, que a partir da administrao do Dr. Charles, quando esse pacto quebrado surgem denncias de relacionamentos imprprios com empresas como a Mafran na compra de merendas escolares e mais recentemente, na administrao de Aparecida Panisset, com a empresa Gualtama, na construo de praas. 25 OLIVEIRA, Italmar Santos. A territorialidade evanglica pentecostal: um estudo de caso em So Gonalo, RJ. Dissertao de mestrado para o Ibge/Ence. Rio de Janeiro, 2005.

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Prefeitura estaria favorecendo determinados redutos, vereadores e grupos religiosos que apiam a sua reeleio.

Denncias de governismo, ou de relaes de fisiologismo entre Executivo e o Legistativo Municipal, e de corrupo no so recentes. Durante a administrao do prefeito Henri Charles, a poltica urbana foi sendo paulatinamente associada aos escndalos, na mdia, envolvendo denncias de corrupo na compra de merenda para as escolas do Municpio em Rede Nacional.26 A empresa Marval, na poca sediada em Vila Velha, Estado do Esprito Santo, foi denunciada na televiso pelo irmo do prefeito Henry Charles, ento secretrio de Governo da PMSG responsvel pelas compras do municpio. O irmo do prefeito, sofrendo com ameaas do legislativo, convidou um jornalista da televiso para instalar cmeras em seu gabinete e flagrar as denncias que apontaram vereadores, advogados, empresrios e um exvereador, oferecendo vantagens ou cobrando pelo silncio e apoio poltico.27

Alm do governismo citado, comum encontrar, ainda, a prtica do clientelismo, segundo entrevistas28, este tipo de relao poltica existe desde os primeiros governos

26 O reprter Eduardo Faustini da Rede Globo, durante 30 dias se fez passar por um substituto do secretrio de gabinete da Prefeitura de So Gonalo, George Calvert, irmo do prefeito e gravou cenas de tentativa de suborno e corrupo. Segundo a gravao, exibida em rede nacional no programa Fantstico da Rede Globo (21/04/2002). Aparem na gravao: o Vereador Ricardo Castor pede R$ 30 mil por ms para parar com as crticas Prefeitura; o Sr. Miguel Nogueira, advogado do vereador Ricardo Castor intermediando a chantagem; o Sr. Geraldo Cunha, ex-presidente da Cmara oferecendo comisso, caso conseguisse a concesso de um estacionamento e assumindo que aumentou o salrio dos assessores parlamentares para "sobrar mais dinheiro para ele e os colegas vereadores"; o Sr. Miguel Macedo, empresrio que ofereceu comisses sobre contratos e tambm o Sr. Giovani Genta, representante da empresa Adter, administradora de terminais rodovirios ofereceu uma "porcentagem" para a administrao dos estacionamentos da cidade. Fontes: Fantstico - Rede Globo - 21/04/2002; fonte: site da rede globo de televiso: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA923505-4005-0-0-26092002,00.html. 26.09.2002. Os bastidores da denncia que escandalizou o Brasil. 27 A notcia de corrupo tambm foi comentada na mdia mundial pela organizao mundial de direitos humanos, The Human Rights. Segundo seu dossier: A television reporter from the Globo networked mentioned in the preceding text is Eduardo Faustini. During a project on which he was working for the Sunday evening program Fantstico, he spent a month undercover as the Secretary of the So Gonalo Town Council Planning Unit (Rio de Janeiro State). Faustini stated that during this time he was offered a bribe to contract the services of a company called Marval Comrcio and Services (based in Esprito Santo) as well as other companies. Faustini taped a number of conversations, which were subsequently aired on the Fantstico national television program. In these conversations, Miguel Macedo, a Marval lobbyist, offered a bribe of 20% in return for a contract with the Town Council. Macedo told Faustini that the same type of scheme was being run between Marval and public administrations in Belford Roxo (Rio de Janeiro State) and in Vila Velha (Esprito Santo State). He explained that, in Vila Velha for example, a 20% commission was paid by Marval to the Transport Secretary, Miguel Fernandes. Fernandes then passed on a further commission to the Mayor, Max Filho. Fontes: The Human Rights Crisis in Esprito Santo: threats and violence against human rights defenders. Julho de 2002; www.fidh.org/IMG/pdf/br2507a. pdf; www.seculodiario.com.br, July 7, 2002. 28 As principais entrevistas sobre a poltica local foram realizadas no ano de 2007 com funcionrios da Prefeitura Municipal e prestadores de Servios ligados Administrao. Para tentar preservar as suas identidades optamos por no cit-los ou mesmo usar pseudnimos.

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democrticos em So Gonalo. Hoje o clientelismo produz uma diviso do territrio da cidade por vereadores e candidatos. Em entrevistas ouvimos at a designao, absurda, de divises em feudos, onde verdadeiros senhores feudais teriam poder poltico, econmico e em alguns casos de fora, como por exemplo no controle dos transportes alternativos.

Em muitos bairros so encontrados centros sociais ou centros comunitrios controlados direta ou indiretamente por candidatos ou por seus aliados visando diversos cargos legislativos e executivos. At mesmo a prefeita tem a sua associao. Alm da ilegalidade, prevista por Lei, essas associaes recebem recursos pblicos para sua manuteno. A tese de (SENNA, 2004), por exemplo, est repleta de casos desse tipo de assistencialismo na sade pblica no territrio municipal. Segundo ela, h um verdadeiro loteamento da cidade no atendimento de demandas da sade, saneamento bsico entre outras obras pblicas.

Desde o incio do mandato de Henry Charles pesquisas vm comprovando a permanncia desse tipo de clientelismo. A ttulo ilustrativo, estudos de Senna (2004, p. 136) citam entrevistas realizadas em 1998, nas quais dos vinte e um vereadores gonalenses, dezessete prestam algum tipo de assistncia social para a populao local, (Santos Jnior, 2001).

Destes, quatro declararam possuir ao menos um centro de atendimento comunitrio [...], (alm de) encaminhamento para servios especializados, corte de cabelos, cursos profissionalizantes, emisso de documentos e assistncia jurdica [...] Tem todo um esquema que no custa nada para o poltico. O poltico no investe sequer um real, ele no gasta nada. Ele s recebe as vantagens. Ele tem as fundaes que divulgam o seu prprio nome [...] So fundaes onde se coloca o esquema da ambulncia, que s para levar uma pessoa dali que est passando mal at o pronto socorro; onde se consegue remdios na prpria farmcia do municpio. E a populao fica satisfeita, porque ela conseguiu resolver logo o seu problema; foi atendida de imediato (SENNA, 2004, p. 136 e 137).

A administrao do Dr. Charles (2001-2004) no PMDB pode ser um exemplo do poder que o assistencialismo tem na cidade. Foi eleito vereador duas vezes consecutivas, Deputado Estadual e prefeito do municpio. Sua campanha eleitoral para prefeito foi pautada na ordem urbana da cidade e na melhoria da sade com o slogan: chame o doutor!. Recebeu apoio do ento Senador Srgio Cabral Filho e do ex-governador Welington Moreira

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Franco nas carreatas e nos comcios que presenciei na Brasilndia. Foi notvel a oposio do PDT de Ezequiel Neves e seus candidatos a vereador, uma clara resistncia ao retorno de representantes do grupo Lavoura ao poder, no qual um desses representantes era o ex-prefeito Hairson Monteiro, candidato a vice-prefeito na chapa de Henry Charles.

A dinmica poltica local no diferente de muitos Municpios da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro, RMRJ, mas podemos identificar algumas especificidades para entender a poltica urbana. Percebemos que, apesar dos discursos, o aperfeioamento da poltica urbana no prioritrio. Mesmo com o atual Plano Diretor Decenal, PDD de So Gonalo e diversas Leis que regulam a organizao poltico-administrativa do Municpio, ainda continuam utilizando a diviso territorial elaborada na dcada de 1940 e reafirmada nas dcadas de 1960, 1990 e no atual PDD. Um dado constante nas entrevistas, segundo alguns entrevistados, o conformismo representado por frases como: So Gonalo assim porque sempre administrada por pessoas de fora, por polticos que moram no Rio de Janeiro e em Niteri e usam o eleitorado para se eleger, mas depois no retornam cidade.29 As campanhas de Alice Tamborideguy para a Prefeitura e para a Assemblia Legislativa so dados citados como referncia.

Esse comportamento de culpabilidade dos polticos de fora foi utilizado para comentar a influncia do Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, Csar Maia na administrao local. O prefeito do Rio de Janeiro enviou alguns secretrios para trabalharem em So Gonalo, mudou a cor da Prefeitura para laranja como no Rio de Janeiro e os uniformes das escolas municipais e da Guarda Municipal.

Tambm comum, segundo entrevistas, ouvirmos comentrios polticopartidrios afirmando que alguns prefeitos de So Gonalo acabam comprando manses em Camboinhas e Itaquatiara, bairros nobres de Niteri, mas mantm a sua residncia poltica em So Gonalo. Dificilmente a populao local, analisada atravs dos entrevistados, admitiu que a poltica urbana realizada com a participao de gonalenses, alguns na poltica h mais de trinta anos, e no por pessoas que tm a cabea no Rio de Janeiro e em Niteri e os ps no cho de So Gonalo.

29 Entrevista realizada com um funcionrio da Prefeitura Municipal de So Gonalo em 2006.

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Parece uma contradio, mas os polticos gonalenses so considerados conservadores, como os polticos do grupo Lavoura, mas se inspiram nos contemporneos como os de Niteri e do Rio de Janeiro. Um clssico exemplo a atual administrao, no qual a prefeita Aparecida Panisset tentou, de vrias formas, a aliana poltica com o prefeito Godofredo Pinto do PT de Niteri, e faz referncias poltica urbana participativa, mas no consegue se dissociar da prtica administrativa de Csar Maia, Partido Democrata, do Rio de Janeiro.

Algumas pesquisas na imprensa apontam pelo menos duas tentativas frustradas da prefeita Aparecida Panisset em migrar para o partido dos trabalhadores30. Em ambas as ocasies o Diretrio Municipal repeliu a sua entrada no PT31. Apenas o PDT aceitou a sua entrada na legenda. Aparecida Panisset, filiou-se ao PDT, acompanhada pelo pr-candidato da legenda Prefeitura de Niteri, Jorge Roberto Silveira. Durante a assinatura da ficha de filiao a prefeita comentou:

Estou muito feliz por retornar ao PDT, onde me iniciei na poltica. Este partido sempre esteve em meu corao [...]. O mais importante no o meu retorno. preciso escutar o povo, que no compreendido nem ouvido. Ele precisa de ns.32

Enfim o que parecia, primeira vista, como sugere (SENNA, 2004) o fim do domnio poltico do grupo Lavoura com a vitria do grupo brizolista de Edson Ezequiel em 1988 e depois com a substituio deste pelo grupo do antigo PFL, parece mais um intervalo populista, prontamente preenchido pela velha poltica conservadora representada antes pelo grupo Lavoura, e agora pelo velho conservadorismo modernizado com o retorno da prefeita Panisset ao PDT. Eleita vereadora em 1996 pelo PDT, Panisset novamente no partido se prepara para concorrer reeleio em 2008 com o apoio do brizolismo modernizado por Jorge Roberto da Silveira, que a ttulo ilustrativo, filho do antigo governador do Estado, Roberto Silveira, ligado ao grupo Lavoura em So Gonalo.

30 Jornal O Fluminense, sexta-feira, 18 de maio de 2006. Caderno Poltica. 31 Na ltima tentativa, o diretrio municipal do Partido dos Trabalhadores de So Gonalo, reunido em sua sede no Boau, decidiu no aceitar o pedido de filiao da Prefeita Panisset. Parte do PT local vem mantendo conversao com o deputado estadual Altineu Crtes. Nosso Jornal de Notcias. PT decide domingo se Panisset ingressar na legenda. Edio 2525. So Gonalo, 07 a 09 de julho de 2007. 32 CARVALHO, Anderson. Prefeita Aparecida Panisset assina filiao ao PDT em So Gonalo. Jornal O Fluminense. Caderno poltica. 20/08/2007. http://www.ofluminense.com.br/noticias/119061. asp?pStrLink=2,5,0,119061&indSeguro=0.

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A expectativa de mudanas positivas, seja na poltica urbana, no desenvolvimento scio-econmico, sade ou na educao similar maioria das cidades brasileiras, mas um dado que nos parece especfico de So Gonalo que essa esperana quase sempre se faz com alternncia do poder. O grupo Lavoura permanece no poder da dcada de 1950 at a dcada de 1970. O grupo brizolista permanece do final da dcada de 1980 at o ano 2000, quando retorna a poltica lavourista com Henry Charles, de certa forma, presente at os nossos dias nos discursos da Prefeita Aparecida Panisset.33

Enfim, buscar mudanas recentes e significativas no eixo, Niteri Itabora, que corta o Municpio de So Gonalo conduz a um contexto contraditrio e difuso, caracterizado pela convivncia de pobreza e carncia de servios urbanos bsicos, lado a lado da riqueza e expanso de indstrias de ponta como os laboratrios, a indstria de alimentos e de artefatos isolantes de vidro. Podem ser encontradas tambm contradies no predomnio de relaes polticas conservadoras e nos discursos modernizadores.

As mudanas recentes, sobretudo econmicas, so reflexos dessa expanso de indstrias e dos investimentos de agentes externos, grupo Ecia/Irmos Arajo na construo do So Gonalo Shopping, por exemplo. Alm de sobejos de polticas mais amplas como a deciso dos governos Federal e Estadual de retomar a poltica de construo naval em Niteri ou o complexo petroqumico do Estado do Rio de Janeiro, o COMPERJ. Esses exemplos, direta ou indiretamente, podem gerar mudanas e empregos em So Gonalo. Enfim, a cidade possui pelo menos duas fases distintas de mudana. Uma ligada expanso fordista das indstrias que entra em declnio na dcada de 1970 em So Gonalo e outra que se inicia com a implantao de mercados e shoppings com a ampliao dos setores de comrcio e de servio a partir da dcada de 1990. O atual momento parece ser de confirmao da posio hegemnica das principais indstrias e ao mesmo tempo de expanso da oferta de servios e comrcio. Mesmo com sucessivas ampliaes, ainda h a carncia nos setores de lazer, sade e educao.

33 Segundo a imprensa local: Aparecida ofereceu ao PT, as Secretarias de Governo e de Trabalho - esta j ocupada pelo petista Luiz Paiva - e as subsecretarias de Habitao e Educao. Porm, os petistas almejam muito mais: querem a Secretaria de Educao, por entenderem que ali podero ser incrementas as polticas pblicas adotadas pelo Governo Lula em todas as prefeituras ad-ministradas pelo PT no pas. O outro ponto de difcil acordo a convivncia no escalo municipal com membros do partido Democratas, ex PFL, que so liderados pelo Prefeito Csar Maia, adversrio contumaz do presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores. Jornal O So Gonalo, edio 2525, caderno poltica, 7, 8 e 9 de julho de 2007.

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No importa se a conjuntura poltica local tende para uma linguagem que lembra progressismo poltico, fazendo um mimetismo de lulismo petista ou se tende para o velho conservadorismo dos bares da poltica gonalense, a dinmica da poltica urbana local descrita pelos entrevistados tem sempre variaes muito tnues. A ausncia de grandes mudanas, de novos grupos no cenrio poltico local pode explicar a atual conformao da cidade.

A conduo poltica da questo urbana carece de gerenciamento, o que impede o desenvolvimento de novas prticas de administrao pblica e da ampliao democrtica na participao do processo de mudana social. Um crculo vicioso no qual a cidade no se desenvolve porque no h vontade poltica suficiente, e quando no existe essa vontade, no so criadas novas idias e possibilidades de mudana.

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1.2. So Gonalo: Identificando as Transformaes Scio-Econmicas

Esse item apresenta algumas transformaes mais significativas nesse espao urbano atravs de anlises de dados scio-econmicos e do levantamento das principais atividades. A delimitao emprica abrange o eixo virio ou conurbao que liga o Municpio de Niteri, extremidade Sul do eixo, com o Municpio de So Gonalo, na extremidade Norte. As principais referncias geogrficas para melhor compreenso deste trabalho so a rodovia BR101, a antiga ligao frrea da Leopoldina no trecho Niteri Itabora e a chamada orla Oriental da Baa de Guanabara.

Como exemplos de transformaes recentes, so observadas: a construo de novos locais de comrcio e de servio como o So Gonalo Shopping Rio, as novas reas de lazer em torno da Baa de Guanabara como o Parque da Praia das Pedrinhas e o Piscino de So Gonalo. Enquanto objetivo secundrio discutimos tambm, alguns projetos como a Estao Hidroviria de So Gonalo e os planos para o aumento do nmero de empregos na indstria naval niteroiense e gonalenses.34

Para investigar e compreender algumas transformaes ocorridas na rea, consideramos alguns investimentos do capital internacional onde existiam apenas fbricas e indstrias de mdio e pequeno porte descritas anteriormente. Hoje encontramos tambm empresas como a Quaker Oats, Akzo Nobel (International tintas), a Gerdau (departamento comercial), a Vidromatone e grandes hipermercados como o Carrefour em So Gonalo e o Sams Club do grupo Wal Mart em Niteri. Alm da entrada de grandes cadeias de lanchonetes, Bobs e McDonalds, bem como lojas chamadas de ncora no novo shopping. O lazer representado pela escola de samba Porto da Pedra no bairro Vila Lage em So Gonalo e pela Viradouro no Barreto em Niteri. Representam um novo perfil para essas localidades antes ocupadas por fbricas, vilas operrias e habitaes da classe mdia.

34 A partir da construo de novas plataformas, a Petrobrs, est gerando milhares de vagas, diretas e indiretas nos projetos de expanso no setor de petrleo at o ano de 2010. O projeto do Comperj ser devidamente analisado nos captulos da segunda parte desse trabalho. Desde a inaugurao, no dia 23/11/2005 da plataforma P-50 houve um aumento na produo nacional de petrleo de 1,9 milho de barris por dia at 2010. Segundo a Petrobrs o Pas dever estar produzindo 2,3 milhes de barris diariamente. Jornal O Dia, quinta-feira, 24 de novembro de 2005, pg. 19. Atualmente O Rio de Janeiro constri e repara cerca de cinco plataformas, sendo quatro delas (P-43, P-54, P-52 e P-51) em Niteri. Os estaleiros Mau-Jurong, associado ao Maric SCCS, da China; Enave-Renave; McLaren; Ebin-Ultratec; CBO; o grupo, Roy Reiter e o Promar; entre outros menores. Em So Gonalo apenas o estaleiro Cassinu produz peas navais e est ligado a CBO. Companhia Brasileira de Offshore.

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A dinmica demogrfica no eixo Niteri-Manilha tambm provoca um considervel interesse sociolgico. So Gonalo em outubro de 2004 j se apresentava como segundo maior colgio eleitoral do Estado do Rio de Janeiro com 592 mil eleitores. Esta potncia poltica no foi atraente para o Partido dos Trabalhadores que rejeitou a entrada da atual prefeita como j foi descrito35 e contribuiu para a escolha do Municpio de Itabora para receber investimentos do COMPERJ. O partido dos Trabalhadores administra o Municpio de Niteri36 com menor nmero de habitantes que So Gonalo, passou por mudanas substanciais em diversos setores tais como: transportes virio e martimo, setor de turismo com o caminho Niemayer e o Museu de Arte Contempornea e setor industrial, primeiro com a parceria da FIRJAN37 e depois com investimentos dos Governos Estadual e Federal . Um conjunto de recursos do Governo do Estado como o programa Rio Oil & Gas e do Governo Federal como o apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social - BNDES se traduziu em investimentos e projetos para a indstria naval e para o desenvolvimento local38.

O Municpio de Niteri aparece na imprensa como exemplo de lugar onde houve o aumento na qualidade de vida e de possibilidades de emprego, enquanto So Gonalo aparece nas pginas policiais e, no mximo, em alguns discursos que comentam o aumento da auto-estima dos moradores com os novos espaos de consumo, trabalho e lazer. Segundo um jornal de grande circulao metropolitana temos agora:

35 Nos meses de junho e julho, de 2007, os jornais locais de So Gonalo e de Niteri noticiaram a tentativa da prefeita de So Gonalo em ingressar no PT, mas o diretrio municipal no aceitou o seu ingresso no Partido. Esta estratgia poltica foi a ltima cartada para a busca de recursos para os empreendimentos do COMPERJ na cidade e para receber apoio poltico nas eleies de 2008. 36 Em 2004 o prefeito eleito em Niteri foi Godofredo Pinto do PT com 65,09% ou 151.592 votos. Enquanto que Joo Sampaio, do PDT, recebeu 34,91% ou 81.290 votos. Como foi feriado prolongado, foram 11% ou 34 mil abstenes. O PFL venceu nos dois maiores colgios eleitorais - Rio e So Gonalo, que juntos representam 50% da populao do Estado. Foi Eleita no primeiro turno com 51,95% a deputada estadual e futura prefeita de So Gonalo Aparecida Panisset, PFL. No perodo anterior foi prefeito o mdico e ex Deputado Estadual Henry Charles. A prefeita de So Gonalo se comprometeu a participar da campanha do petista Godofredo Pinto em Niteri. Jornal O Fluminense, Publicada na internet em: 11 de outubro de 2004. 37 O ltimo documento pesquisado, elaborado pelo FIRJAN em 2006, s cita So Gonalo em uma explicao sobre os municpios que compem a regio metropolitana do Rio de Janeiro. Ver pgina 23. Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro: 2006-2015. Rio de Janeiro: Sistema FIRJAN/DCO, 112 p. 2006. 38 Segundo o presidente da Petrobrs, Jos Srgio Gabrielli, o Estado do Rio de Janeiro o principal alvo dos investimentos. Um investimento total de US$ 32 bilhes (R$ 71,6 bilhes) nos prximos cinco anos. Jornal O Dia, pgina 19. Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2005.

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Shopping center, quatro hipermercados, redes de fast-food, academia com piscina e aparelhos de ltima gerao, praia bombando com gua limpa. Voc est pensando na Barra da Tijuca? Enganou-se. Estamos falando da Barra de So Gonalo, como j est sendo conhecido trecho de aproximadamente 10 quilmetros na Rodovia Niteri-Manilha, que rene todos os atrativos do paraso do consumo carioca e virou de vez point do Municpio com a inaugurao do Piscino de So Gonalo h 10 dias.39

Fenmeno semelhante de euforia somente foi observado em 1940 pelo mdico e pesquisador Luiz Palmier quando denominou o distrito industrial de Neves de Manchester Fluminense.40 Esse entusiasmo pode ter contribudo para atrair de novos moradores e conseqente exploso demogrfica que aconteceu em So Gonalo entre as dcadas de 1950 e 1970 quando as indstrias locais, e tambm de Niteri, atraram um considervel contingente populacional aumentando o nmero de loteamentos regulares e clandestinos no municpio. Fato semelhante est acontecendo novamente em So Gonalo e mais expressivamente em Itabora por conta da instalao do COMPERJ.

Tabela 1. Exploso demogrfica em So Gonalo entre as dcadas de 1950 e 1970 em relao a RMRJ. Nmero de lotes em 1000 unidades at 1949 1950 / 59 1960 / 69 16,5 33,3 127,4 186,3 774,6 267,9

Municpio de So Gonalo Percentual de crescimento Total da Regio Metropolitana RJ

1970 / 78 20,9 196,3

TOTAL 198 1425,1

Fonte: Cadastros da Prefeitura Municipal para 1978 e dados da FUNDREM para 1979, apud (SANTOS, 1982, p. 84).

Hoje o crescimento populacional no acompanha o crescimento de ofertas de postos de trabalho na regio. O mercado de trabalho local, como em muitos Municpios do Brasil, ainda vive o efeito retardado desse crescimento demogrfico de duas ltimas dcadas41 e acumula um contingente populacional de baixa escolaridade e renda, principalmente em So Gonalo.

A ttulo de ilustrao, fenmeno semelhante ao de So Gonalo pode ser constatado atualmente nos Municpios de Maca, Campos dos Goytacazes e mais recentemente Rio das Ostras no Norte fluminense. Segundo (NATAL, 2003, p. 37), alguns Municpios situados fora da regio metropolitana apresentaram taxas de crescimento populacional bem maiores do que a taxa mdia em funo das ofertas de trabalho em torno39 Jornal O Dia, Rio de Janeiro, domingo, 17 de outubro de 2004. 40 Alguns outros municpios do Rio de Janeiro e mesmo do Brasil j receberam esse tipo de eufemismo. No Estado do Rio de Janeiro, podemos citar o Municpio de Volta Redonda nas dcadas de 1940 e 1950. 41 TCE, Estudo Socioeconmico sobre o Municpio de Niteri, pg. 58. Rio de Janeiro, 2004.

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da extrao de petrleo na Bacia de Campos.42 A migrao para a regio vem crescendo sensivelmente e contribuindo por um lado para o aumento do valor da terra e, por outro para a gerao de, problemas sociais, econmicos e de infra-estrutura.

So Gonalo, diferente no Norte Fluminense, apresentava no censo de 2000 uma populao de 891.119 habitantes, correspondentes a 8,3% do contingente da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro - RMRJ. Dados sobre o Municpio indicaram uma taxa mdia geomtrica de crescimento no perodo de 1991 a 2000 de 1,49% ao ano contra 1,17% na regio e 1,30% no Estado. O contingente de eleitores de So Gonalo representa aproximadamente 64% da sua populao. O Municpio tem um nmero total de 302.905 domiclios, com uma taxa de ocupao de 87%. A faixa etria predominante encontra-se entre os 20 e 39 anos. Os idosos representam 9% da populao do Municpio contra 16% de crianas entre zero e nove anos. A populao local distribui-se no territrio municipal conforme o quadro a seguir:

Tabela 2. Populao de So Gonalo. Habitantes por Distrito. Diviso poltica. So Gonalo Monjolos Ipiba Neves Sete Pontes TOTAL Fonte: Censo do IBGE. 2000 320.754 176.716 159.812 156.751 77.086 891.119

Segundo esse ltimo censo do IBGE a populao dos dois principais distritos, Neves e So Gonalo, cortados pela rodovia BR-101 de 477.505 habitantes. O Municpio de So Gonalo ocupava a 23 posio no Estado em 2000 no ndice de Desenvolvimento Humano Mdio - IDH-M de 0,782. Com relao aos componentes do ndice, So Gonalo apresentou o IDH-M educao de 0,896 equivalente a 12a. posio no Estado e pontuou 0,742 no IDH-M esperana de vida na 40a. posio dentre os noventa e um Municpios. Seu IDH-M renda foi de 0,706 ficando na 31a. posio no Estado do Rio de Janeiro.

42 O autor comenta sobre municpios de Cabo Frio (66,2%), Maca (41,4%), Angra dos Reis (39,4%), Terespolis (14,4%), Petrpolis (12,2%), Volta Redonda (9,9%) e Campos (8,2%). NATAL, Jorge. Rede Urbana e Desenvolvimento Econmico Fluminense: um estudo de caso. Mimeo. 37p. IPPUR/UFRJ. 2003.

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Para uma breve comparao podemos afirmar que Niteri tinha em 2000 uma populao de 459.451 habitantes, correspondente a 4,3% do contingente da Regio Metropolitana. O Municpio apresentou uma taxa mdia geomtrica de crescimento no perodo de 1991 a 2000 de 0,58% ao ano, contra 1,17% na regio e 1,30% no Estado. Niteri tem cerca de 299.065 eleitores e ao contrrio de So Gonalo, sua diviso poltica no se faz por distritos, mas por reas de planejamento e existem secretarias responsveis pelo urbanismo, pelo planejamento urbano e pela cincia e tecnologia voltada para a pesquisa e para o estudo dos problemas urbanos locais visando desenvolvimento. Recentemente o Municpio de So Gonalo passou a contar com secretarias responsveis pelo urbanismo e pelo planejamento urbano como a SMDS, SMIUMA e a SLFU. Esta ltima foi responsvel pela reviso do ltimo PDD em 2006.

Com relao ao planejamento So Gonalo apresenta desde a dcada de 1960 cinco distritos. Sendo um caso tpico de rea ainda degradada com runas e espaos vazios ou sub utilizados anteriormente ocupados por indstrias ou atividades complementares, mas ainda freqentemente classificado como subrbio industrial ou cidade dormitrio.

Alm do trecho Niteri-Manilha da BR-101, ironicamente chamado de barra de So Gonalo,43 os dois principais bairros estudados foram Neves e Boa Vista, respectivamente quarto e primeiro distritos. Neves aparece primeira vista como um cemitrio de indstrias com esqueletos de fbricas e o aspecto de declnio e degradao, mas diferente da nossa ltima pesquisa, realizada em 2000 agora tem mais igrejas e supermercados. Runas industriais ainda podem ser vistas em vrios pontos, sendo as principais a planta fabril da Gerdau com uma placa de vende-se desde 2000 e algumas indstrias de conservas