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Universidade de Brasília Ademilson Galdino da Silva A Competição Esportiva Escolar Precoce São Paulo 2007 1

Ademilson Galdino da Silva - ufrgs.br · Periodização do processo de ensino para os jogos desportivos coletivos na etapa de iniciação esportiva, com um exemplo para o Basquetebol

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Universidade de Brasília

Ademilson Galdino da Silva

A Competição Esportiva Escolar Precoce

São Paulo 2007

1

ADEMILSON GALDINO DA SILVA

A Competição Esportiva Escolar Precoce

Trabalho apresentado ao Curso de Especialista em Esporte Escolar, do Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do Título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador:

Professor Mestre Roberto Toledo Rodrigues Júnior

São Paulo 2007

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ADEMILSON GALDINO DA SILVA

A Competição Esportiva Escolar Precoce

Trabalho apresentado ao Curso de Especialista em Esporte Escolar, do Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela comissão formada pelos professores:

Presidente: Professor Mestre Roberto Toledo Rodrigues Júnior Universidade Paulista / UNIP Membro:

São Paulo 2007

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Dedicatória

Ao meu pai Sebastião (in Memorian) pelo companheirismo, carinho que demonstrou ao longo de nossas vidas.

À minha mãe Venera, pela renúncia, luta e força na incondicional devoção aos filhos.

À minha irmã Silvana (in Memorian) pela pureza e cooperação sempre demonstrada.

À minha esposa Simone e aos meus filhos Lucas, Leonardo e Luidi.

Agradecimentos A Deus, por estar sempre guiando meus passos.

5

Ao professor - Ms Roberto Toledo, meu estimado orientador, amigo, ser humano

radiante de luz, pela confiança e dedicação na construção, desenvolvimento e conclusão

deste estudo, por sua admirável competência abnegação em favor do próximo.

Aos professores tutores do curso de especialização em esporte escolar pelas

sugestões e contribuições relevantes ao desenvolvimento deste estudo.

A Universidade de Brasília e ao Ministério de Esporte por viabilizar o curso.

Aos alunos, professores de educação física, pela boa vontade e colaboração com

este trabalho e convivência com cada um que muito contribuiu para o meu crescimento

pessoal.

A Gestão do Centro Educacional - CEU Alvarenga por viabilizar a realização do

meu trabalho diário.

SUMÁRIO Resumo ..................................................................................................... 08 I. Introdução........................................................................................... 09

1.1. Objetivo................................................................................... 10

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II. Fundamentação Teórica ....................................................................... 11 2.1. Desenvolvimento ....................................................................... 25

2.2. A resistência aeróbica e o trabalho cardiovascular precoce.... 25

2.3. Aspectos motores..................................................................... 27

2.3.1. A velocidade............................................................... 27

2.3.2. A força ........................................................................ 28

2.3.3. A flexibilidade............................................................... 29

2.4. Aspectos socioculturais............................................................ 29

2.4.1. O jogo........................................................................... 35

2.4.2. A participação dos pais................................................. 36

2.5. Os aspectos psicológicos .......................................................... 37

2.5.1. A motivação.................................................................. 38

2.5.2. A frustração.................................................................. 39

3. Método...................................................................................................... 39

V. Conclusão ............................................................................................. 41 VI. Referências........................................................................................... 43

Resumo

Apesar de muito discutido e abordado por vários autores e especialistas no

assunto, o problema da competição esportiva escolar precoce, levantado neste estudo,

aparece freqüentemente em nossa realidade social preocupando pais e todos os

profissionais envolvidos no processo de iniciação esportiva das crianças e adolescentes.

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Este trabalho apresenta os aspectos mais importantes que cercam o presente problema,

como a participação dos pais, as etapas de crescimento e desenvolvimento da criança e

as conseqüências para a prática esportiva, bem como compreender os aspectos físicos

e psicológicos que envolvem a criança na competição precoce.

Seguindo as diretrizes do Programa Segundo Tempo do Ministério do

Esporte, a presente pesquisa foi realizada com base na experiência profissional do autor

que atualmente é Coordenador do Núcleo de Ação de Esportes e Lazer do Centro

Educacional Unificado – CEU Alvarenga relatou sua vivência com os alunos, em várias

fases de sua vida profissional, observando o presente tema, verificando a incidência

destas atividades esportivas competitivas na fase inicial do aprendizado da criança.

Após observações das pesquisas de vários especialistas no assunto, foi

possível elaborar uma seqüência lógica dos principais aspectos citados acima chegando

a conclusões que podem contribuir para o dia-a-dia dos professores de educação física,

técnicos, treinadores, pais, assim como todos os interessados no processo de

crescimento e desenvolvimento da criança e a sua adequada integração social através

do esporte e da atividade física.

Palavras chaves: competição precoce, iniciação esportiva

I. Introdução

Atuando na área de esportes há vários anos e, atualmente, como Coordenador

do Núcleo de Ação de Esportes e Lazer de do Centro Educacional Unificado - CEU

Alvarenga, foi possível perceber que a busca por resultados está atropelando as fases

dos movimentos fundamentais, implicando no desenvolvimento natural das crianças.

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A observação diária do problema vivenciado pelas crianças nos confirma que a

educação física não tem por hábito induzir o aluno a refletir sobre suas ações.

Refletimos apenas o imediato, o prático, que é potencializar o aluno no esporte para

obter performances favoráveis ao sistema e deste imediatismo, ou seja, da competição

esportiva escolar precoce podem influenciar substancialmente no modo de ser da

criança.

Este estudo apresenta uma reflexão sobre a atuação dos protagonistas

envolvidos na condução da aprendizagem das nossas crianças, ressaltando a

importância de respeitar as fases dos movimentos fundamentais, não se deixando levar

por interesses específicos e defendendo o direito da criança de ter uma infância

saudável e prazerosa de forma lúdica e sem cobrança de resultados.

No crescimento e desenvolvimento da criança e na sua integração social,

percebemos a presença de vários elementos responsáveis pelo sucesso ou fracasso

deste processo, que são os pais e familiares, treinadores esportivos, professores e até

os médicos responsáveis pela saúde da mesma.

A partir do momento que a criança procura o esporte como uma forma de

desenvolver o lazer, os elementos citados acima devem compreender a importância

deste relacionamento para que sejam positivos a sua integração social, o processo de

crescimento e o equilíbrio de sua saúde.

Atualmente, dentro do contexto esportivo, podemos notar em diversas

situações uma orientação equivocada por parte de profissionais da educação física com

pequenos atletas, sendo que estes, querem apenas brincar ou se divertir através do

esporte, conflitando com os interesses de pais e treinadores esportivos ansiosos por

performance e resultados positivos precoces destas crianças.

A relação estabelecida entre o esporte e as sociedades carentes, que

geralmente se encontram na periferia das grandes cidades, apresenta hoje um

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distanciamento e falta de oportunidades, sendo que estas comunidades já enfrentam

preconceitos sociais, culturais, carências afetivas, emocionais, além dos conflitos

pessoais e interpessoais.

Dentro deste contexto social caótico de relações humanas e distorções de

valores socioculturais, o esporte tem o papel de assumir a responsabilidade como

mecanismo transformador de comportamento, transmissor de cultura e facilitador da

socialização e da inclusão social, interagindo com o indivíduo para criar relações e

interações com a sociedade, possibilitando assim a mudança da condição/estado de

individuo para uma postura de cidadão, exercendo plenamente seu direito.

Posto o que se apresenta, podemos perceber que o papel do esporte na

sociedade é muito mais amplo do que apenas a busca por rendimento, principalmente

na fase em que a criança pode consolidar valores tão importantes em vez da busca por

performances competitivas.

1.1. OBJETIVO

O objetivo deste estudo é propor soluções para os problemas que cercam a

iniciação esportiva e o treinamento intensivo precoce por meio dos aspectos

psicossociais, fisiológicos do crescimento e do desenvolvimento da criança, tentando

auxiliar os pesquisadores e profissionais da área da saúde envolvidos na busca de um

maior esclarecimento do problema para a sociedade.

Para alcançar os objetivos propostos, além da pesquisa bibliográfica, o autor

relacionou aspectos observados em sua experiência profissional com o tema.

II. Fundamentação Teórica

A iniciação esportiva tem várias fases de desenvolvimento. Por meio delas

podemos perceber os objetivos específicos inerentes a cada idade e tomamos ciência

que cada uma delas tem o seu momento de introdução de atividades lúdicas,

10

modalidades coletivas, assim como o seu momento ideal para aprendizagem de

determinados movimentos.

Quando deixamos de observar tal situação, permitindo que uma criança seja

tolhida do aprendizado em cada uma das etapas em prol da sua escravidão de

movimentos atrelados à modalidade escolhida na infância encontramos o problema da

competição esportiva escolar precoce. Muitas vezes este problema é identificado na

formação de profissionais de educação física, que assim como alguns pais dos alunos

acreditam apenas na possibilidade da criança se tornar um grande atleta, tendo sucesso

profissional, sem se preocupar com os benefícios muito mais amplos que o esporte pode

proporcionar em sua fase de formação.

Nos dias atuais, para atingir resultados desportivos superiores, os atletas

dedicam-se à atividade esportiva durante muitos anos de suas vidas. Por isso, segundo

os estudos de Oliveira e Paes (2001), tornou-se necessária uma subdivisão

metodológica rigorosa em longo prazo, relacionada à preparação dos atletas, na qual as

etapas e fases não têm prazos definidos de início e finalização, pois dependem não só

da idade, mas também do potencial genético do esportista, do ambiente no qual ele está

inserido, das particularidades de seu crescimento, maturação, desenvolvimento, da

qualidade dos técnicos, das características da modalidade escolhida, dentre outros

aspectos.

A etapa de iniciação nos jogos desportivos coletivos é um período que abrange

desde o momento em que as crianças iniciam-se nos esportes até a decisão por

praticarem uma modalidade. Desta maneira, os conteúdos devem ser ensinados

respeitando-se cada fase do desenvolvimento das crianças e dos pré-adolescentes.

11

Oliveira e Paes (2001) dividem a etapa de iniciação esportiva em três fases de

desenvolvimento: a) fase iniciação esportiva I; b) fase de iniciação esportiva II; e c) fase

de iniciação esportiva III, sendo que cada uma possui objetivos específicos para o

ensino formal e está de acordo com a idade biológica, escolar, cronológica e com as

categorias disputadas nos campeonatos municipais e estaduais, diferenciando-se de

modalidade para modalidade. No quadro 1, visualizamos essas características, com um

exemplo para as disputas nos campeonatos de basquetebol no ensino não formal.

Quadro 1. Periodização do processo de ensino para os jogos desportivos

coletivos na etapa de iniciação esportiva, com um exemplo para o Basquetebol

Fase de Iniciação Esportiva I

A fase de iniciação esportiva I corresponde ao período da 1.ª a 4.ª séries do

ensino fundamental, atendendo crianças da primeira e segunda infâncias, com idades

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entre 7 e 10 anos. O envolvimento das crianças nas atividades desportivas deve ter

caráter lúdico, participativo e alegre, a fim de viabilizar o ensino das técnicas

desportivas, estimulando o pensamento tático. Todas as crianças devem ter a

possibilidade de acesso aos princípios educativos dos jogos e brincadeiras,

influenciando positivamente o processo ensino-aprendizagem. Neste contexto devemos

evitar, nos jogos desportivos coletivos, as competições antes dos 12 anos, às quais

exigem a perfeição dos movimentos ou gestos motores e também grandes soluções

táticas.

Participação em atividades variadas com caráter recreativo

Paes (1989) pontua que, no processo evolutivo, essa fase - participação em

atividades variadas com caráter recreativo - visa à educação do movimento, buscando-

se o aprimoramento dos padrões motores e do ritmo geral por meio das atividades

lúdicas ou recreativas. Hahn (1989) propõe, com base nos estudos de Grosser (1981), o

desenvolvimento das capacidades de coordenação, velocidade e flexibilidade, pois esse

é o período propício para o início de desenvolvimento. As crianças encontram-se

favorecidas, aproximadamente entre 7 a 11 anos, em função da plasticidade do sistema

nervoso central, e as atividades devem ser desenvolvidas sob diversos ângulos:

complexidade, variabilidade, diversidade e continuidade durante todo o seu processo de

desenvolvimento.

Weineck (1999) diz que as crianças dessa faixa etária 7 a 11 anos

demonstram grande determinação para as brincadeiras com variação de movimentos e

ocupam-se de um percentual significativo de jogos, que formam de maneira múltipla.

Este fato nos faz acreditar que se deve proporcionar, então, um ambiente agradável

para que o desenvolvimento ocorra sem maiores prejuízos, ou seja, as crianças devem

aprimorar o padrão de movimento cuja execução objetive apenas a estimulação para

que, assim, a criança construa o seu próprio repertório motor sem nenhuma sobrecarga.

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Desta maneira, ao relacionar a participação da criança em atividades motoras

na infância, constatou-se que as mesmas gostavam de brincar, o que pode ser

comprovado nos estudos de Vieira (1999) e Oliveira (2001), os quais, ao entrevistar

talentos da modalidade de atletismo e basquetebol, confirmaram que os atletas, quando

crianças, gostavam de caçar, brincar de super-herói, cabo de guerra, amarelinha,

demonstrando, assim, interesse pelas atividades lúdicas.

Nesse contexto, Greco (1998) e Paes (2001) afirmam que a função primordial é

assegurar a prática no processo ensino-aprendizagem, com valores e princípios voltados

para uma atividade gratificante, motivadora e permanente, reforçada pelos conteúdos

desenvolvidos pedagogicamente, respeitando-se as fases sensíveis do

desenvolvimento, com carga horária suficiente para não prejudicar as demais atividades

como o descanso, a escola, a diversão, dentre outras; caso contrário será muito difícil

atingir os objetivos em cada fase do período de desenvolvimento infantil.

Oliveira (1997) corrobora com essa tese ao afirmar que, nessa fase, as

principais tarefas são os gestos motores, necessários à vida, e deve-se procurar

assegurar o desenvolvimento harmonioso do organismo por meio de atividades como

escalonamento, saltos, corridas, lançamentos, natação etc., não se devendo, nesse

período, apressar a especialização desportiva. Os iniciantes praticam aproximadamente

150 a 300 horas anuais, sendo que o trabalho geral deve predominar em relação às

cargas específicas. Isso significa que a especialização precoce, nesse momento, pode

não ser adequada.

Os conteúdos desenvolvidos nessa fase, em conformidade com Paes (2001),

devem ser o domínio do corpo, a manipulação da bola, o drible, a recepção e os passes,

podendo utilizar-se do jogo como principal método para a aprendizagem. Em

consonância com o autor ainda é possível sugerir o lançamento, o chute, o saque, o

arremesso, quicar e cortar, típicos dos jogos desportivos coletivos. Os espaços, todavia,

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podem ser reduzidos, para adequar as capacidades físicas das crianças com alvos

menores, a exemplo do gol do futsal, do futebol, do handebol e nos casos do

basquetebol e do voleibol, a tabela, o aro e a rede podem ser com alturas menores.

Essas modificações também podem ser feitas em outros jogos e brincadeiras.

Acreditamos que, com isto, as crianças poderão motivar-se para a prática em função do

aumento das possibilidades de êxito.

Em relação aos jogos desportivos coletivos, as atividades lúdicas em forma de

brincadeiras e pequenos jogos podem contribuir para desenvolver, nas crianças, as

capacidades físicas, tais como a coordenação, a velocidade e a flexibilidade - propícias

nesta fase - e também habilidades básicas para futuras especializações, como agilidade,

mobilidade, equilíbrio e ritmo. Deve-se evitar a apreensão com a execução errônea do

gesto técnico, pois cada forma diferente de movimento em relação ao modelo técnico

pode ser aceita, deixando para a fase posterior as cobranças em relação à perfeição dos

gestos motores.

A educação física escolar tem função primordial nesta fase, aumentando a

quantidade e a qualidade das atividades, visando a ampliação da capacidade motora

das crianças, a qual poderá facilitar o processo de ensino-aprendizagem nas demais

fases. De qualquer modo, seja na escola ou no clube, a efetividade da preparação e da

formação geral, que constituirão a educação geral dos atletas no futuro, só poderão ser

maximizadas na interação professor / técnico, escola, aluno / atleta e demais indivíduos

que têm influência no desenvolvimento dos jovens.

Sendo assim, o sucesso da educação das crianças e adolescentes depende

muito da capacidade do professor/treinador e de cada cenário onde o trabalho é

desenvolvido. A literatura especializada do treinamento infantil demonstra que, nesta

fase, devem-se observar as condições favoráveis para o desenvolvimento de todas as

capacidades e qualidades na aplicação dos conteúdos do ensino, por meio de uma ação

pedagógica sistematizada.

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Fase de Iniciação Esportiva II

A fase de iniciação esportiva II é marcada por viabilizar os jovens à

aprendizagem de várias modalidades esportivas, atendendo crianças e adolescentes da

5ª à 7ª séries do ensino fundamental, com idades aproximadas de 11 e 13 anos,

correspondente à primeira idade puberal. Partindo do princípio de que a fase de

iniciação esportiva I visa à estimulação e à ampliação do vocabulário motor por

intermédio das atividades variadas específicas, mas não especializadas de nenhum

esporte, a fase de iniciação esportiva II dá início à aprendizagem de diversas

modalidades esportivas, dentro de suas particularidades.

Aprendizagem diversificada de modalidades esportivas

Neste ponto é necessário abordar a importância da diversificação, ou seja, a

prática de várias modalidades esportivas que contribuem para futuras especializações.

O autor também é favorável à diversificação dos conteúdos de ensino em uma

modalidade, evitando, todavia, a repetição dos mesmos, que acarretaria na estabilização

da aprendizagem, empobrecendo o repertório motor dos praticantes.

Em relação à diversificação e à aprendizagem de várias modalidades

esportivas, Bayer (1994) entende que, em nível de aprendizagem, o "transfer" é

admitido, ou seja, a transferência encontra-se facilitada logo que um jogador a perceba

na estrutura dos jogos desportivos coletivos. Assim, os praticantes transferem a

aprendizagem de um gesto como o arremessar ao gol no handebol, a cortada do

voleibol ou o arremesso da cesta no basquetebol. Trata-se, então, de isolar estruturas

semelhantes que existem em todos os jogos coletivos desportivos para que o aprendiz

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reproduza, compreenda e delas aproprie-se. Entretanto, o autor adverte: “... ter a

experiência de uma estrutura não é recebê-la passivamente, é vivê-la, retomá-la e

assumi-la, reencontrando seu sentido constantemente”.(Bayer, 1994, p. 629).

De acordo com a literatura, os iniciantes devem participar de jogos e exercícios

advindos dos esportes específicos e de outros, que auxiliem na melhoraria de sua base

multilateral e no preparo com a base diversificada para o esporte escolhido. As

competições devem ter caráter participativo e podem ser estruturadas para reforçar o

desenvolvimento das capacidades coordenativas e das destrezas, melhorando a técnica

do movimento competitivo, vivenciando formações táticas simples. No entanto, não se

deve objetivar o produto final (resultado) nesse momento.

Deve-se buscar, na iniciação esportiva, a aprendizagem diversificada e

motivacional, visando o desenvolvimento geral. Essa fase caracteriza a passagem da

fase da iniciação esportiva I para a fase de iniciação esportiva II, na qual se confere

muita importância à auto-imagem, socialização e valorização, por intermédio dos

princípios educativos na aprendizagem dos jogos coletivos (Kreb's, 1992; Greco, 1998;

Oliveira 1988; e Paes, 2001).

Neste período, consolida-se o sistema de preparação em longo prazo, pois é

importante não se perder tempo para evitar a estabilidade da aprendizagem. Para

Weineck (1991), além da ótima fase para aprender, na qual as diferenças em relação à

fase anterior são graduais e as transições são contínuas, as capacidades coordenativas

dão base para futuros desempenhos. Por outro lado, deve-se evitar a especialização

precoce, como afirma Vieira (1999), haja vista que esta pode levar ao abandono do

esporte, sem contar que o resultado precoce nas fases inferiores pode também

influenciar na formação da personalidade das pessoas, levando-as a atividades

inseguras, tornando-as até inconscientes de seu papel perante a sociedade.

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Em se tratando de evitar a especialização precoce, Paes (1989) assinala esta

fase como generalizada, na qual pretende-se a aquisição das condições básicas de jogo

ao lado de um desenvolvimento psicomotor integral, possibilitando a execução de

tarefas mais complexas. Essa fase, porém, não deverá ser utilizada para a firmação

obrigatória da especialização desportiva dos atletas. Neste sentido, Gallahue (1995)

pondera que esse momento é importante para os aprendizes passarem do estágio de

transição para o de aplicação, ou seja, aprender com relativa instrução do professor a

liberdade dos gestos técnicos. Vieira (1999) corrobora com essa idéia, afirmando que,

nesta fase, a atenção está direcionada para a prática, bem como para as condições de

promover o refinamento da destreza, planejando situações práticas progressivamente

mais complexas, ressaltando que o sistema de ensino é parcialmente aberto, no qual as

atividades são também parcialmente definidas pelo professor / técnico.

De qualquer forma, todas as fases estão em estreita interdependência, pois as

fases posteriores são estruturadas nas anteriores. Essa importância é discutida por

Gomes (2002) quando aponta que o ex-campeão do mundo, M.Gross, praticou,

paralelamente à natação, futebol, tênis, cross-country e as técnicas de natação eram

realizadas por meio de jogos pré-selecionados, melhorando a capacidade coordenativa

antes da especialização e do sucesso na natação.

Segundo Paes (2001), os conteúdos de ensino a serem ministrados nesta fase

são os conceitos técnicos e táticos dos desportos: basquetebol, futebol, futsal, voleibol e

handebol, nos quais devem ser contemplados, além desses conteúdos, finalizações e

fundamentos específicos. Existe também, a necessidade de trabalhar os exercícios

sincronizados e o "jogo", que deve tomar a maior parte do tempo nos treinamentos. Com

isto, o ensino-aprendizagem contempla as regras que devem ser simplificadas, nas

quais a tática, "razão de fazer", contribui para a aprendizagem da técnica, "modo de

fazer", e vice-versa.

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Teodorescu (1984) afirma que os aspectos físicos do desenvolvimento

morfofisiológico e funcional podem ser desenvolvidos com as influências positivas do

jogo no processo de aprendizagem e prática. Deve-se, então, apropriar-se do aumento

da intensidade nas aulas e nos treinamentos em relação aos espaços dos jogos, visando

ao desenvolvimento da capacidade aeróbia, base para outras capacidades. A velocidade

de reação, mudança de direção e parada brusca, já desde a fase anterior, deve ser

aprimorada, melhorando o controle do corpo. A flexibilidade deve ser desenvolvida de

forma agradável, sempre antes das sessões de treinamento, pois se alcançam, nessa

fase, períodos ótimos de sensibilidade de desenvolvimento. O tempo dedicado ao

treinamento, segundo Gomes (1997), gira em torno de 300 a 600 horas anuais, das

quais apenas 25% do tempo é dedicado a conteúdos específicos e 75% aos conteúdos

da preparação geral.

Nos conteúdos de ensino, a ênfase deve ser dada ao desenvolvimento da

destreza e habilidades motoras, sem muita preocupação para as performances de

vitórias, haja vista que, a capacidade de suportar as experiências nos jogos na infância e

início da adolescência é facilitada pela compreensão simplificada das regras e pelo valor

relativo dos resultados das ações e não simplesmente pelos títulos a serem alcançados.

No processo de formação esportiva, além dos dirigentes, pais e árbitros, o

técnico é o responsável pela estruturação do treinamento. Ele deve conhecer os fatores

que envolvem a iniciação esportiva e a especialização dos jovens praticantes,

contribuindo decisivamente na existência de um ambiente formativo-educativo na prática

esportiva (Mesquita, 1997).

Desta forma, o esporte, como conteúdo pedagógico na educação formal e não

formal, deve ter caráter educativo (Paes, 2001). O apoio familiar, o suprimento de parte

19

das necessidades básicas, incentivos, as competições, as possibilidades de novos

amigos e as viagens são motivos pelos quais muitos adolescentes continuam na prática

esportiva após a aprendizagem inicial. Deste modo, a fase de iniciação esportiva II

requer uma instrução com base no modelo referente ao esporte culturalmente

determinado. Neste sentido, torna-se imprescindível, para a prática dos jogos

desportivos coletivos, uma sistematização dos conteúdos periodizados

pedagogicamente, na qual o professor/técnico desempenha papel fundamental no

processo de aprendizagem e na busca do rendimento.

Nesta fase, a escola é o melhor local para a aprendizagem, pois além dos

motivos já citados, no ambiente escolar, o professor terá controle da freqüência e da

idade dos alunos, facilitando as intervenções pedagógicas. No âmbito informal, como no

clube desportivo, isso pode não ocorrer, mas a função do professor/técnico do clube

deve propiciar à criança o mesmo tratamento pedagógico que esta recebe na escola,

para facilitar o desenvolvimento dos alunos/atletas.

Fase de Iniciação Esportiva III

As habilidades técnicas, como exposto anteriormente, os jogos e as

brincadeiras, nas fases de iniciação esportiva I e II, objetivam a aprendizagem da

manipulação de bola, passe-recepção, entre outras, e no domínio corporal, a agilidade,

mobilidade, ritmo e equilíbrio; dando início à formação tática e ao aperfeiçoamento das

capacidades físicas - coordenação, flexibilidade e velocidade - que constituem as bases

para a fase de iniciação esportiva III, a qual possui, como conteúdos, a automatização e

o refinamento da aprendizagem, preparando os alunos/atletas para a especialização.

Neste momento do processo, a iniciação esportiva III é a fase que corresponde

à faixa etária aproximada de 13 a 14 anos, que abrange as 7ª e 8ª séries do ensino

20

fundamental, passando os atletas pela pubescência. Enfatizamos o desenvolvimento

nesta fase, da automatização e do refinamento dos conteúdos aprendidos

anteriormente, nas fases de iniciação esportiva I e II, e a aprendizagem de novos

conteúdos, fundamentais neste momento de desenvolvimento esportivo.

Automatização e refinamento da aprendizagem anterior

Nesta fase do processo, o jovem procura, por si só, a prática de uma ou mais

modalidades esportivas por gosto, prazer, aplicação voluntária e pelo sucesso obtido

nas fases anteriores. Neste sentido, os atributos pessoais parecem ser fundamentais

para o aperfeiçoamento das capacidades individuais. A idade e o biótipo, além da

motivação, são elementos determinantes para a opção por uma ou outra modalidade na

busca da automatização e do refinamento da aprendizagem dos conteúdos das fases

anteriores, buscando a fixação em uma só modalidade.

Weineck (1991) reconhece que a seleção dos atletas adolescentes é feita com

base nas dimensões corporais e na qualificação técnica, além dos parâmetros

fisiológicos e morfológicos. As condições antropométricas, além dos fatores afetivos e

sociais, exercem uma influência significativa na detecção de futuros talentos. Desta

forma, a preparação das capacidades técnico-táticas recebe uma parte relevante do

treinamento, contudo, consideramos o desenvolvimento dos atletas aliado a outros

fatores, como o desenvolvimento das capacidades físicas. O objetivo é desenvolver, de

forma harmônica, todas as capacidades, preparando os adolescentes para a vida e para

posteriores práticas especializadas.

Gallahue (1995) pontua que, nesta fase, acontece a passagem do estágio de

aplicação para o de estabilização, na qual fica para o resto da vida. Neste contexto,

Vieira (1999) afirma que ocorre, nessa fase da aprendizagem, um ensino por sistema

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parcialmente fechado (prática). Assim, o plano motor que caracteriza o movimento a ser

executado, bem como as demais condições da tarefa, já estão prioritariamente definidos,

e almeja-se o aperfeiçoamento. Isso significa que, a partir da aprendizagem de múltiplas

modalidades, a prática motora é uma atividade específica. Quer dizer, cada modalidade

desportiva coletiva, requer dos indivíduos alguns requisitos relacionados a demandas

específicas das tarefas solicitadas. O próprio jogo coletivo, por meio de seus conteúdos,

tem a finalidade de aperfeiçoar a velocidade de reação, a coordenação, a flexibilidade e

a capacidade aeróbica dos pré-adolescentes.

O fenômeno, aqui, é a automatização do movimento, isto é, todas as

aquisições que aconteceram de forma consciente e com muito gasto de energia podem,

agora, ser executadas no subconsciente, com menor gasto energético, ou seja, de forma

automatizada.

Em relação aos conteúdos de ensino, Paes (2001), em sua abordagem escolar,

propõe que, além das experiências anteriores, outras sejam apreendidas pelos atletas,

tais como as situações de jogo, os sistemas ofensivos e também os exercícios

sincronizados, cujo principal objetivo é proporcionar aos alunos a execução e a

automatização de todos os fundamentos aprendidos, isolando algumas situações de

jogo. Com base neste pensamento, deve-se iniciar a organizações tática, ofensiva e

defensiva sem muitos detalhes. As "situações de jogo" devem ser trabalhadas em 2x1,

2x2, 3x3 e 4x3, possibilitando aos alunos/atletas a oportunidade de praticar os

fundamentos aprendidos em situações reais de jogo, com vantagem e desvantagem

numérica.

Outro conteúdo específico nesta fase é a "transição", entendida como contra-

ataque nos jogos desportivos coletivos. Paes (2001) define essa fase "como a passagem

da ação defensiva para a ação ofensiva" (Paes, 2001, p. 113). Constatamos que a

evolução técnica, tática e as mudanças nas regras do jogo transformaram a transição ou

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contra-ataque em objeto de estudo de várias escolas esportivas em todo o mundo.

Assim, deve-se dar atenção especial aos aspectos fundamentais que envolvem o

treinamento da transição ao ensinar esportes para adolescentes, pois estes aspectos,

desenvolvidos com vantagem e desvantagem numérica, podem aperfeiçoar em reais

situações de jogo a técnica, a tática, o físico e o psicológico dos alunos/atletas na busca

da maestria, ou seja, da autonomia e do conhecimento teórico e prático sobre o contexto

dos jogos.

Em relação às habilidades motoras, a fase de automatização e refinamento

enfatiza a prática do que foi aprendido e acrescenta as situações de jogo, transição

(contra-ataque) e sistemas táticos de defesa e ataque, os quais, aliados à técnica, visam

ao aperfeiçoamento das condições gerais da formação do atleta, na qual os conteúdos

de ensino equilibram-se entre exercícios e jogos com o objetivo de ensinar habilidades

"técnicas específicas", que são o modo de fazer aliado à "tática específica", a razão de

fazer.

Na fase de automatização e refinamento dos fundamentos - exercícios

sincronizados e sistemas aprendidos - o desenvolvimento das capacidades físicas volta-

se para o aperfeiçoamento do que já foi conseguido anteriormente, fortalecendo a

estrutura física, destacando as capacidades físicas específicas de um determinado

esporte, como exemplo, a resistência de velocidade, muito utilizada no basquetebol,

futsal, futebol entre outros.

Neste período do processo de desenvolvimento, os técnicos de cada

modalidade utilizam suas experiências e competência profissional como instrumento de

seleção esportiva. Outras possibilidades são necessárias para auxiliar os técnicos, como

o apoio dos pais, das prefeituras, dos estados, das instituições, federações e

confederações, a fim de promover os talentos (Oliveira, 1997).

23

Após a descrição das fases de iniciação esportiva segmentada por suas idades

correlacionadas é necessário ficar atento para identificar procedimentos que contrariem

essa metodologia em prol do rendimento esportivo precoce.

Atuando como profissional de esportes e adepto da metodologia proposta por

Oliveira e Paes (2001), ainda hoje encontramos em todas as fases algum exemplo que

mostre que o professor de educação física tem, em sua formação, uma visão focada no

rendimento. Atitudes que podem ilustrar este caso podem ser percebidas em equipes de

base que são classificadas como o momento de iniciação esportiva dos jovens. Neste

contexto, às vezes, verificamos a existência de profissionais que ministram suas aulas e

até mesmo atuam de forma motivadora para acelerar a performance do aluno não

observando as fases desenvolvimento e muitas vezes treinam velocidade de forma

inadequada e também “tiros” de 10 metros em crianças de faixa etária de 10 anos,

procedimento contrário à proposta de motivar a criança através de brincadeiras lúdicas.

Desta forma percebemos que é necessária uma vigilância constante para que a criança

não tenha nenhum prejuízo físico ou psicológico devido às expectativas que nela são

depositadas em prol do rendimento precoce.

Após a explanação das fases de iniciação esportiva torna-se necessário

dissertar sobre as principais conseqüências que incidem sobre a criança.

2.1. DESENVOLVIMENTO

Em se tratando do tema especialização em esporte escolar relacionado com

competição, surgem imediatamente muitas dúvidas para aqueles que estão envolvidos

com a iniciação e as competições envolvendo crianças e adolescentes.

24

Em primeiro lugar, é importante e necessário esclarecer que os aspectos

abordados na presente pesquisa aplicam-se, somente, ao treinamento intensivo e à

competição precoce e não à atividade física como um todo. Ao contrário, a atividade

física, quando realizada adequadamente, isto é de forma compatível com as

necessidades fisiológicas exigidas por cada estágio de crescimento e desenvolvimento

físico da criança, é extremamente importante (NEGRÃO, 1980).

A competição esportiva é muitas vezes entendida e manipulada de forma

irracional, sendo que primeiramente devemos conscientizar que todas as crianças e

adolescentes encontram-se na fase de formação e, portanto, não devem ser submetidas

a um treinamento abusivo, visando apenas melhores resultados em competições.

Competir está relacionado com a busca de formação e não devemos ser

submetidos a um treinamento objetivo, com ênfase no desempenho, em que as pessoas

tentam atingir suas metas.

Atualmente estima-se que milhões de atletas estejam envolvidos em

competições no mundo todo. Conforme Barbanti, apud De Rose Jr. (1994), o

envolvimento nessas atividades não obedece a um critério lógico, e vem ocorrendo em

idades cada vez mais precoces.

2.2. A RESISTÊNCIA AERÓBICA E O TRABALHO CÁRDIOVASCULAR NO

TREINAMENTO PRECOCE

A resistência aeróbica, para Tubino (1984), é a qualidade física que permite a

um atleta sustentar por um período longo de tempo uma atividade física relativamente

generalizada em condições aeróbicas, ou seja, em equilíbrio de consumo de oxigênio.

Negrão (1980) e Personne (1991) são unânimes ao afirmarem a importância do

treinamento aeróbico para crianças. Esses autores, quando analisaram a influência do

treinamento no mecanismo da circulação sanguínea e no metabolismo demonstraram

que a carga de treinamento no organismo jovem não depende da qualidade, mas sim,

25

da quantidade adequada de atividade física.

Quanto mais cedo for aplicado na criança o trabalho de resistência aeróbica,

melhor será o desempenho do seu sistema cardiovascular para o resto de sua vida. Em

outras palavras, o treinamento aeróbico, quando aplicado em faixa etária precoce,

provoca acentuado aumento da capacidade aeróbica máxima, o que não é conseguido

em igual proporção em outras fases da vida humana. Esse treinamento prepara a

criança também para futuras sobrecargas de treinamento esportivo, atuando,

invariavelmente, como agente preventivo contra futuros distúrbios cardiovasculares.

Personne (1991) confirma que para expansão do volume cardíaco e

conseqüente melhora do sistema cardiovascular é reconhecido um trabalho com base

na resistência aeróbica, que consiste em prolongar o maior tempo possível um esforço

moderado com perfeita facilidade cardíaca e respiratória, sem ofegar.

O trabalho da resistência aeróbica com as crianças deve acontecer de forma

natural, lúdica e bem dosada. Podem-se utilizar as modalidades esportivas, como

futebol, basquete, handebol, vôlei entre outras, envolvendo bola. Evidentemente não se

pode fugir do objetivo do aluno que é de participar de uma atividade coletiva que possui

regras definidas, desta forma o professor não deve ficar preso aos ensinamentos do

gesto durante uma aula inteira, que para o nível de compreensão mental da criança não

existe nenhuma relação com o jogo em si, passando a ser apenas uma atividade

cansativa e sem sentido. Por outro lado, se a aprendizagem do fundamento pode facilitar

o desempenho no jogo, pode ser aplicada de maneira cooperativa, relacionada com o

esporte e com uma adequada solicitação de treinamento aeróbico geral, trabalhadas de

forma recreativa sem a cobrança de desempenho ou de resultados, sem especializar a

criança em determinada modalidade, desenvolvendo a sua resistência aeróbica

deixando-a preparada para praticar todas as modalidades.

2.3. ASPECTOS MOTORES

É necessário ressaltar a influência e a importância do trabalho de resistência

26

aeróbica para as crianças relacionando os aspectos motores como a força, a velocidade

e a flexibilidade.

2.3.1. A VELOCIDADE

A velocidade como uma qualidade física particular do músculo e das

coordenações neuro-musculares permite a execução de uma só e mesma ação, de uma

intensidade máxima e de duração breve ou muito breve, (FAUCONNIER apud TUBINO

1984).

O trabalho de velocidade só deve ser estimulado por volta dos 12 anos. Na

faixa etária de 8 à 11 anos a formação da velocidade deve ser procedida, sobretudo

através da qualidade da educação corporal, que deve levar a um aumento da freqüência

de movimentos (FIORESE 1989).

Na maioria das vezes o esporte competitivo exige treinamento específico e

técnicas próprias de cada modalidade, o que poucas vezes vem de encontro às

necessidades fisiológicas da criança. A velocidade é mais bem estimulada através do

trabalho anaeróbico alático, isto é, atividade em débito de oxigênio com esforços entre

80% e 100% da freqüência máxima levando, conseqüentemente, seu praticante a atingir

níveis elevados de freqüência cardíaca e débitos de oxigênio nos músculos e na

circulação sanguínea. Esforços com curta duração (até 10 segundos) entre 80% e 100%

da condição física máxima, para os quais a criança não está devidamente preparada

pode ocasionar uma lactose.

A atividade anaeróbica lática provoca a vasoconstrição no sistema vascular,

essa vasoconstrição requer um aumento na força de contração da musculatura cardíaca,

contudo a criança não está suficientemente madura e esta situação, muito

provavelmente, é um dos motivos que leva a criança a uma hipertrofia precoce da

musculatura cardíaca limitando o seu potencial físico máximo, além de predispô-la a

uma futura hipertensão arterial (NEGRÂO, 1980).

27

A velocidade deve ser estimulada ludicamente em jogos e brincadeiras onde a

criança acuse o seu próprio limite sem preocupar-se com a performance na atividade

envolvida, o que muitas vezes não é possível na competição intensiva e na busca de

resultados.

2.3.2. A FORÇA

Força é a qualidade que permite ao músculo vencer uma resistência do qual

ele é o agente motor (ROCHA, apud FIORESE 1989).

A força é uma das mais importantes qualidades de que dispõe o organismo

humano, porém o seu inadequado desenvolvimento tornará impossível a formação dos

hábitos motores (FIORESE, 1989). O simples fato de um idoso ou uma criança se

levantar já faz com que esteja automaticamente trabalhando a força.

O trabalho de força é importante para a constituição física e melhoria da

capacidade dos órgãos e sistemas do organismo jovem. Tubino (1984) comenta que não

importa saber apenas em que idade começar o treinamento com pesos, é muito mais

importante conhecer a correspondência das cargas utilizadas com as possibilidades da

idade.

No caso da criança, deve-se trabalhar a força, utilizando-se do peso do seu

corpo adequadamente, ou seja, jogos e brincadeiras onde ela use a força para agachar,

levantar ou até saltar, respeitando os seus limites.

Aproximadamente a partir do décimo ano de vida é que o menino passa por um

crescimento rápido da força muscular. O máximo da força muscular é alcançado pelo

homem, por volta dos vinte anos de idade durando aproximadamente uma década

havendo um decréscimo gradual.

2.3.3. A FLEXIBILIDADE

28

A flexibilidade é uma qualidade física que pode ser evidenciada pela amplitude

dos movimentos das diferentes partes do corpo em um determinado sentido. Essa

amplitude é dependente da mobilidade articular e da elasticidade muscular. A mobilidade

articular é expressa pelas propriedades anatômicas das articulações e a elasticidade

muscular é projetada pelo grau de estiramento dos músculos envolvidos (TUBINO,

1984).

É importantíssimo trabalhar a flexibilidade das crianças desde o início da sua

formação, crescimento e desenvolvimento. É aconselhada a inclusão de exercícios de

flexibilidade durante o período de crescimento das crianças. Esta indicação de

treinamento de flexibilidade visa, fundamentalmente aumentar, o grau de amplitude do

corpo que está relacionado com o crescimento ósseo e muscular dos indivíduos

(TUBINO, 1984).

As crianças são mais flexíveis que os adultos e para não perder esta

importante característica é necessário trabalhar a flexibilidade na baixa idade da criança.

Deve-se utilizar estratégias por meio de jogos e brincadeiras, pois será esta flexibilidade

que ajudará a criança na futura prevenção de lesões esportivas e na formação e

elasticidade dos ligamentos que compõe as articulações do aparelho músculo-

esquelético.

2.4. ASPECTOS SOCIOCULTURAIS

Dentro dos aspectos socioculturais, a presença adequada dos pais, treinadores

e diretores de escola, além de políticas públicas no processo da iniciação esportiva

precoce e a importante idéia de que o jogo tem uma função vital no papel de

socialização da criança e merece ser diferenciado da competição, conseqüentemente,

evitando a cobrança de resultados. Diversas ações podem ser possíveis ou desejáveis

desde que façam interagir a educação física escolar, as ações de esporte e recreação

de clubes e entidades locais, os órgãos de saúde pública e as instâncias formadoras de

profissionais da área, como as universidades.

29

O setor público caracteriza-se, via de regra, por uma absorção quase que

completa da sociedade civil e suas organizações. Nos Centros Educacionais Unificados

- CEU´s - da Prefeitura Municipal de São Paulo, o objetivo inicial era atender a

comunidade do entorno para fomentar as práticas esportivas e culturais e inovar as

propostas pedagógicas educacionais, contando com o Conselho Gestor, do qual fazem

parte, além dos funcionários do equipamento, de escolas da região, representantes dos

usuários, pais de alunos e a sociedade civil organizada. Existe também uma equipe

interdisciplinar – Educação, Cultura e Esporte - para elaboração de projetos locais,

respeitando o contexto e a bagagem sócio cultural que cada cidadão carrega.

A proposta principal sofreu alterações, priorizando o atendimento ao Projeto

Período Integral que visa o atendimento das crianças que estudam no CEU e no seu

contra turno, onde participam de oficinas esportivas e culturais, permanecendo por um

tempo maior na escola, porém existem várias atividades que contemplam os alunos de

outras escolas e a comunidade adulta. É uma proposta parecida com a do Programa

Segundo Tempo com condições e formato um pouco diferentes.

Durante o período de 20/05/2004 a 10/01/2005 o Programa Segundo Tempo foi

realizado no CEU Alvarenga, quando se pode observar uma participação mais efetiva

dos alunos, pois os profissionais envolvidos já conheciam o contexto e as crianças que

dele faziam parte, facilitando assim o trabalho de integração professor/aluno, criando um

ambiente favorável para seu desenvolvimento e aplicação.

Entender o tipo de relação existente entre o estado e a sociedade civil de

maneira geral pode ser bastante elucidativo para entender a relação entre Estado e o

setor esportivo. Os interesses e os motivos que levam o estado a interagir e intervir com

a organização esportiva pode ser a “integração nacional”, “preservação da saúde”,

“melhoria na qualidade de vida”, “oferecimento de oportunidade de lazer”, a lista pode

ser grande, mas importante é esclarecer a relação com a função do Estado no processo

societal como um todo.

Para o entendimento da intervenção estatal no Brasil precisa-se levar em

30

consideração que a política social precisa ser compreendida não em termos

nacionalistas, mas sim em termos econômicos e políticos como um instrumento usado

pelo estado para manter as bases de funcionamento. (FREITAG, 1987)

A função básica do Estado nas sociedades capitalistas, portanto é garantir a

reprodução do capital por isso o esporte será objeto de atenção do Estado em função de

sua maior ou menor reprodução da força de trabalho. (VASCONCELOS 1988). O

esporte não pode por meio de uma construção de um mundo próprio ser revolucionário.

Mesmo uma nova estratégia no jogo de futebol, que poderia suscitar tal interpretação,

somente será aceita como uma nova forma de ação se ela oferecer melhores chances

de vitória. Ou seja, ela não terá reconhecimento em função de sua composição especial

e inovadora de movimentos e de ação no jogo e sim em relação ao objetivo da

competição no sentido da melhoria do rendimento (FRANKE, 1978).

Neste ponto verificamos o confronto do esporte como ferramenta para obter

resultados com o esporte em seu papel de formação social.

Estando a comunidade inserida neste contexto, constata-se a dificuldade e a

necessidade, de se realizar uma leitura de escola e de sociedade contemplando um

universo de idéias não alienadas e conscientes da dominação econômico-cultural. A

partir desta visão crítica, retornar ao universo da sala de aula. Para BOURDIEU (1998) a

escola não é uma ilha na sociedade. Não está totalmente determinada por ela, mas não

está totalmente livre dela. Entender os limites existentes para a organização do trabalho

pedagógico, nos ajuda a lutar contra eles; desconsiderá-los conduz à ingenuidade e ao

romantismo. Formar um indivíduo com autonomia do seu pensamento é o desafio da

escola. Essa autonomia deve ser entendida como até que ponto o sujeito tem

consciência das determinações na sua existência como pessoa.

“As principais teorias sociológicas da educação e do ensino

repousam sobre o princípio da reprodução, da contribuição para a manutenção

da dominação de classes ou do equilíbrio social” (PETITAT, 1994, p. 11).

31

Seguindo o pensamento de Petitat, o que Bourdieu e Althusser propõem, é que

a escola só reproduz o sistema dominante. No entanto, Petitat reconhece esta

reprodução, acreditando que existe algo além, ou seja, que a escola não só reproduz,

mas existem brechas no espaço das produções sociais, onde podem ser feitas

pequenas mudanças.

Pierre BOURDIEU (1983, p. 140) diz que “a constituição de um campo das

práticas esportivas se acompanha da elaboração de uma filosofia política do esporte”.

Esta filosofia permeia o cotidiano das atividades esportivas no interior da

escola, estabelecendo determinadas regras que se pressupõem imutáveis, acomodando

e moldando o aluno para uma atitude sem senso crítico. Assim, o indivíduo atua como

defensor de uma cultura burguesa, já que está despreparado para questionar e se

posicionar, sem opções de decisão, pois não construiu base sólida de fundamentação

para facilitar as intervenções e tomada de decisões que possam surgir no decorrer de

sua vida.

Segundo PETITAT, (1994, p. 34), “a violência simbólica” da escola parece

duplamente importante: no reforço do poder estabelecido e na seleção das elites.”O

poder simbólico é exercido por existência e ocultação. A escola exclui mais pela

ocultação do que pela imposição: um exemplo é o quadro de honra, ou a medalha para

o campeão. Os professores acreditam que com essa homenagem estão valorizando,

mas, ao contrário, estão acentuando a exclusão. No momento em que a escola certifica

o brilhante, ela trabalha o brilhante privilegiando o mais forte. Citado por OLIVEIRA

(2001, p. 141), sugere a problematização do esporte como” fenômeno sociocultural, a

partir do confronto dos valores e códigos que o fazem excludente e seletivo, não sendo

possível à escola isolar-se da sociedade, já que a escola é, ela mesma, uma instituição

da sociedade, uma de suas tarefas, então, é a de debater o esporte, de criticá-lo, de

produzi-lo [...] e de praticá-lo.”O que está em jogo, é reconhecer o poder das atividades,

dos jogos, realizando uma leitura e análise crítica, não ingênua e contínua do conteúdo

que realmente está sendo ministrado”.

32

“A escola destaca a sua função de instruir, enquanto que a principal delas é

selecionar; afirma difundir a cultura de todos, quando privilegia a da minoria dominante;

[...] disfarça as desigualdades de resultados apresentando-as como diferenças

biológicas [...] tudo contribui para inscrever no espírito dos alunos o sentimento de sua

inferioridade social e os ideais da pequena burguesia” (PETITAT,1994, p. 24). Tudo

permite supor que, no caso do esporte, a competência puramente passiva é um fator

que não permite a emancipação do sujeito social, ou constitui este seu papel, como

sujeito social passivo. Nossa porção inconsciente, sem ser aparente, move as

instituições sociais.

“Não é suficiente enunciar o fato de desigualdade diante da escola, é

necessário descrever os mecanismos objetivos que determinam a eliminação contínua

das crianças desfavorecidas” (BOURDIEU, 1998, p. 41). A escola deve questionar-se a

respeito de sua ação na reprodução das desigualdades sociais. Em seu cotidiano

transmite uma cultura de classe onde são privilegiados os dominantes e renegados os

dominados. No momento em que a instituição educacional trata os desiguais de forma

igual, ela determina e reproduz as desigualdades existentes no contexto social. As

famílias inseridas nas classes média e superior incentivam a curiosidade, a felicidade e o

autocontrole em seus filhos, já as famílias de níveis sociais inferiores podem levar seus

filhos à síndrome de privação cultural, que é um termo usado por FEUERSTEIN (1994,

p. 8), que designa a carência de experiências da aprendizagem através de fatores

etiológicos. Assim, as dificuldades econômicas podem implicar em dificuldades

educacionais e, do mesmo modo, as dificuldades educacionais podem produzir

desigualdades econômicas. Vale ressaltar que a escola se constrói em realidades

diferentes, não sendo a mesma em todo mundo capitalista, e que, embora determinada

socialmente, ela pode transformar-se e gerar transformações.

A escola, “embora não seja eficaz da forma que ela espera ser, é um local

extremamente importante, e a causa próxima do renascimento de uma cultura

oposicionista de classe” (WILLIS, 1991, p. 217). Um olhar crítico para os processos e as

33

atividades desenvolvidas no âmbito escolar pode favorecer a construção de novas redes

sociais, contribuindo para transformações sócio-histórico-culturais.

“A escola é um lugar que, fazendo o esporte de forma diferente, pode motivar

diferenças em outros âmbitos, numa relação em mão dupla com a sociedade”

(OLIVEIRA, 2001, p. 142). Nesse sentido o Programa Segundo Tempo contribui

mostrando a necessidade de atenção para as políticas públicas, em quebrar paradigmas

e romper os entraves educacionais, levando as atividades esportivas educacionais além

dos muros das escolas, acreditando assim que a educação não pode estar fora do

contexto da comunidade onde está inserida construindo assim uma nova forma de

educar através do esporte.

O esporte deve ser um instrumento efetivo na aproximação entre pessoas, não

somente para um ganhar do outro uma partida de futebol, mas sim, na mobilização de

uma sociedade cooperativa, onde os problemas sejam levantados por esta sociedade e,

neste sentido, a comunidade teria realmente um adversário a ser superado. “Buscamos

novas categorias, ou seja, um novo conhecimento que permita interações mais reais

com os processos que se dão em seu interior. Estas são inquietações que nos levam a

participar da própria construção social da realidade escolar.” (EZPELETA, 1989, p. 30) O

caminho a perseguir é de uma modificação no contexto e nas instâncias do esporte, uma

reorientação no seu sentido e significado, uma alteração no seu papel social. O que

prejudica a construção de um indivíduo social e saudável é o que pode beneficiar esta

formação. FROMM, citado por (ORLICK, 1989, p.18) classifica trinta culturas primitivas e

as sub-classifica com base na agressividade e no pacifismo. “As oito sociedades mais

orientadas para a vida centralizavam suas sociedades em torno da preservação e do

crescimento da vida em todas as suas formas. Há pouca competição, cobiça, inveja,

individualismo ou exploração e muita cooperação”.

Prevalecem, nestas sociedades uma atmosfera geral de confiança, a auto-

estima e o bom humor. Entretanto, na escola contemporânea os jogos utilizados nas

diferentes disciplinas são conhecidos pelos professores quando há ganhadores e

perdedores.

34

O tempo histórico nos traz dados de inconformismo e reação a este relato,

onde segmentos desta área começaram a se manifestar e apontar novos caminhos

vislumbrando, portanto, um esporte menos competitivo, mas, no entanto, mais

cooperativo, buscando dar-lhe um sentido mais coerente com valores de decência

humana como a solidariedade, o respeito mútuo e a amizade.

Seguindo esta filosofia, destacamos a intervenção do Estado como sendo

fundamental para assegurar o direito constitucional de acesso às atividades esportivas e

de lazer a toda população independente da condição socioeconômica. Além do mais,

para que o esporte e o lazer sejam valorizados é preciso identificar e integrar os agentes

nas esferas Federal, Estadual e Municipal, que seus papéis e suas responsabilidades

sejam definidos, como também integrar, neste processo, as escolas, empresas,

entidades de classe, ONG´s e em especial as entidades gestoras do esporte, proposta

esta contemplada pelo Programa Segundo Tempo.

2.4.1. O JOGO

Além de ter um papel estimulante, o jogo constitui-se um veículo educacional

importantíssimo. É um fenômeno cultural e não somente biológico. O jogo possui um

grande valor espiritual e social, oferecendo inúmeras possibilidades educacionais, ele

favorece o desenvolvimento corporal, estimula a inteligência, enriquece a vida psíquica,

contribui para a adaptação ao grupo e prepara a criança para viver em sociedade, pois

aprendendo a respeitar as regras do jogo, ela irá respeitar a regras sociais. O jogo

possibilita, a quem está ensinando, conhecer a personalidade do educando e orientá-lo

no sentido de que as más qualidades sejam eliminadas e as boas cultivadas.

Já a competição possui, uma pessoa ou um grupo, buscando um objetivo, um

melhor resultado em relação a si e a outra pessoa ou grupo, gerando oposição. Esta

poderá resultar em competição ou conflito para a criança (NEGRÃO, 1980).

Sendo exercido predominantemente na esfera da subjetividade, ele (o jogo)

35

orienta o sujeito na direção de si mesmo, para reconhecer-se como autor da própria

ação. O que equivale a dizer que o sujeito se puder dispor entre uma miríade de

possíveis entre as quais escolher fará por fim a única escolha de fato, interessa a sua

formação a escolha por ser ela mesma condição indispensável para que de posse da

autonomia que tal condição confere possa estar com o outro (FREIRE, 2002).

Considerando como parte da cultura popular o jogo tradicional guarda a produção

espiritual de um povo em certo período histórico. Essa cultura não-oficial desenvolvida

sobre tudo pela oralidade, não fica cristalizada e está sempre em transformação,

incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo (KISHIMOTO,

1993). O jogo é uma categoria maior, uma metáfora da vida simulação lúdica da

realidade que se manifesta se concretiza quando as pessoas praticam esporte quando

lutam, quando fazem ginástica, ou quando as crianças brincam (FREIRE & SCAGLIA,

2003).

2.4.2. A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS

Cabe destacar a importância dos pais no processo iniciação precoce, pois

dentro desse tópico incluiremos algumas observações pessoais baseadas na própria

experiência e num longo convívio no contexto da competição e da iniciação esportiva

precoce.

Muitos pais se esquecem de que seus filhos são pessoas com vontades

próprias que merecem ser respeitadas, ou que ainda são crianças e não super atletas.

Não é difícil observar imposições feitas por pais junto ao técnico, ou a própria criança,

exigindo a participação de seu filho em competições esportivas (NEGRÃO, 1980).

É evidente também que os pais cultivam em volta das crianças um clima de

competição. A criança não sofre apenas o peso da sua própria ansiedade de ganhar,

mas também a pressão dos pais que a cercam e que desejam, também participar da

vitória através da performance dos filhos, transformando assim as crianças em

personagens que agem pelos os outros (PERSONNE, 1991).

Além do pai que busca formar um filho atleta, temos também o perfil do pai

36

omisso, que por não ter sido um bom atleta, ou por não gostar de esportes, desestimula

o filho à prática de qualquer atividade esportiva, sendo que isto pode ocasionar a perda

de interesse por parte da criança em desenvolver o seu talento para a prática esportiva.

Os pais devem respeitar os limites dos seus filhos, apoiar e estimular a

atividade física e esportiva orientada por profissionais especializados, sem a cobrança

de performance ou resultados, mas por sim preocupados em fazer prosperar a saúde e

a interação social da criança, respeitando o seu estágio de crescimento, suas vontades

e os seus outros afazeres, como os estudos, por exemplo.

2.5. OS ASPECTOS PSICOLÓGICOS

As crianças, ao tomarem contato com o esporte, começam a sentir motivação

ao vencer, tendo impulso de jogar, sentir o prazer, o alívio e a alegria no seu

desempenho, mas também sentem a frustração ao perder. Quando a criança possui as

percepções necessárias, estabilidade emocional, motivação, inteligência e educação

para o desempenho da atividade, pode-se concluir que ela está psicologicamente apta

para realizá-lo, pois já tem a maturidade para fazê-lo.

A maturidade é o maior competidor da aprendizagem, no que se refere às

mudanças de comportamento. Uma seqüência de comportamento se desenvolve

através de estágios regulares, independendo da intervenção da prática, diz-se, do

comportamento, que ela se desenvolveu por maturação (FIORESE, 1989).

Nas áreas motriz, intelectual e emocional a criança pode iniciar seus primeiros

avanços, respeitando as regras, as restrições (aonde vai o seu limite e começa o limite

alheio) e na socialização, sempre presente no contexto da iniciação esportiva, ou seja,

ajudar a sua integração social através do esporte. HAHN (1988).

2.5.1. A MOTIVAÇÃO

Um dos aspectos mais importantes para qualquer indivíduo prosperar em sua

37

área ou atividade é a motivação. Porém deve-se ter cuidados especiais para a

motivação com as crianças dentro do esporte e fora dele.

A motivação competitiva faz com que a criança supere o mecanismo de auto-

regulação, através da liberação intensa de adrenalina, o que pode ser exatamente

prejudicial (DEACON apud FIORESE, 1989).

Deve-se motivar a prática esportiva e a atividade física que melhor agradar a

criança. É muito importante trocar informações, sempre que possível, sobre o seu

desempenho com os profissionais envolvidos no seu aprendizado para auxiliar no

processo.

A interferência dos pais, que continuamente tentam orientá-la e motivá-la

quando ela está atuando sob orientação do treinador/professor, pode ser prejudicial, pois

naturalmente a criança desviará sua atenção para os mesmos, não assimilando as

informações do seu treinador/professor, capacitado e responsável pelo processo de

ensino e aprendizagem motora da criança.

Muitas vezes, na tentativa de motivar, pais e treinadores acabam inibindo a

criança no seu desempenho, pois ela não está acostumada a receber orientações e

repreensões na frente de outras crianças ou pessoas estranhas, minimizando o seu

desenvolvimento pretendido em determinada atividade, motivação merece bom senso

por parte daqueles que participam do processo de iniciação esportiva da criança.

2.5.2. A FRUSTAÇÃO

No processo competitivo, os erros e as derrotas são importantes na

aprendizagem das crianças e são partes do desafio total da disputa. Quando não são

muito freqüentes, eles podem melhorar a situação do aprendizado e tornar os sucessos

posteriores ainda mais satisfatórios (LAWTER apud FIORESE, 1989).

38

Porém as derrotas e os resultados negativos constantes no processo

competitivo precoce levam a criança a desanimar, não só daquilo que mais gostava de

fazer, como também, afastar-se de tudo e de todos que a faça relacionar com a

frustração que a tomava, mediante os constantes resultados negativos.

Ela passa a não se identificar com qualquer atividade que envolva disputa ou

resultados, o que, em partes, é prejudicial para o seu convívio e relacionamento social,

pois parte de nossas vidas é composta por desempenhos e resultados, desde as notas

na escola até a disputa por uma vaga no mercado de trabalho.

A frustração de resultados pode, também, levar a criança a um exagero na

prática de sua atividade na tentativa de superar os resultados negativos, o que pode

causar uma saturação precoce ou ter problemas com a sua saúde devido a este

excesso de treinamento.

III. Método

A análise do presente trabalho foi interpretativa, baseada nos aspectos

fisiológicos, psicológicos e socioculturais que envolvem a criança na competição

precoce.

O autor foi professor do Clube da União Geral Armênia de Beneficência

(1994/2002), regendo aulas de tênis. Na Universidade Paulista - UNIP, atuou no

Departamento de Esporte como Diretor de Modalidade de 1998 a 2003 e desligou-se do

cargo para exercer mandato de Presidente da Associação de Moradores de Bairro.

Atualmente o autor trabalha na Prefeitura Municipal de São Paulo, no CEU

Alvarenga, equipamento público de inclusão social, localizado na zona sul da cidade,

subprefeitura de Cidade Ademar, local que serviu de base para a implementação do

Programa Segundo Tempo e também para a observação das situações que envolviam a

competição escolar precoce.

39

Atuando como Coordenador do Núcleo de Ação de Esportes e Lazer com uma

equipe composta por 16 voluntários, 08 estagiários de educação física, 04 salva–vidas,

02 tratadores de piscinas, 10 técnicos de educação física e 02 coordenadores de

projetos foi possível identificar inúmeras situações que contribuíram para a elaboração o

presente trabalho. Com o acúmulo desta vasta experiência e com a continuidade de uma

linha de trabalho voltada para o desenvolvimento do esporte e do aprendizado, fica clara

a necessidade de pesquisar e comparar a teoria com a prática, já que estas devem

caminhar juntas.

V. Conclusão

Após estudar os conceitos dos especialistas envolvidos na presente pesquisa

foi possível chegar a diversas considerações sobre o problema abordado e os aspectos

que os cercam.

40

O trabalho aeróbico é de suma importância para o desenvolvimento físico da

criança desde que trabalhado adequadamente, com moderação e adaptado a cada faixa

etária. Pode ser trabalhado através das modalidades esportivas em geral, deixando a

criança acusar o seu próprio limite ou de forma lúdica através de jogos e brincadeiras. O

trabalho aeróbico auxilia o sistema cardiorespiratório da criança beneficiando sua

posterior fase adulta e uma melhor terceira idade.

A flexibilidade deve fazer parte do programa de iniciação esportiva da criança

desde o seu início a mais tardia idade, pois será possível condicionar articulações,

ligamentos e músculos a um melhor funcionamento para o resto da vida. Pode ser

trabalhada de forma lúdica colocando desafios nos exercícios, para a criança aumentar

a sua flexibilidade gradativamente e de maneira recreativa.

A participação dos pais deve ser limitada. Eles devem respeitar o trabalho dos

profissionais envolvidos no processo de iniciação esportiva dos seus filhos e auxiliarem

somente quando instruídos e solicitados. Os pais também devem acompanhar o

comportamento dos filhos fora do horário das atividades esportivas e saber respeitar

suas limitações, sem cobrar resultados ou performances, mas devem estar preocupados

em fazer prosperar a saúde e a integração social da criança, notificando o profissional

de esportes sempre que necessário.

Os aspectos psicológicos são extremamente influenciadores no desempenho

da criança em sua iniciação esportiva. A competição precoce oferece a frustração dos

resultados negativos, que pode levar a criança a se desestimular não só dentro do

esporte como fora dele. O excesso de motivação na competição, por sua vez, faz com

que a criança supere o mecanismo de auto-regulação através da liberação intensa da

adrenalina, o que pode ser extremamente prejudicial dentro dos aspectos de

crescimento e do desenvolvimento.

Um professor bem formado poderá levar às escolas novos conceitos de

relações humanas, resgatar valores por meio de instrumentos que proporcionem a

convivência pacífica, princípio importante na busca do equilíbrio pessoal, cognitivo e

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afetivo, necessário para o aprendizado através da não violência.

Com sua atuação profissional, o autor pode perceber as dificuldades de alguns

professores no que se refere à qualidade das aulas e relacionamento com as crianças e

jovens. Foi possível verificar que, quanto mais as escolas ficavam longe do centro da

cidade, maior era essa dificuldade. Esse fato era decorrente das condições

socioeconômicas não possibilitarem um trabalho de qualidade, fazendo com que nossa

obrigação fosse despertar nos alunos, a disposição para criarem oportunidades,

aprenderem a vencer os desafios e responsabilidades que a profissão e a vida lhes

oferece e sensibilizá-los para que se encantem ao aprender os movimentos, para que

sejam envolvidos a superar os obstáculos (físicos ou psicológicos) e que promovam o

respeito às diferenças individuais de cada uma delas, visando a inclusão, num trabalho

profissional sério e comprometido com a educação em valores humanos e a cultura da

paz.

Com a atuação no CEU Alvarenga o autor pode relatar sua experiência no que

tange à colaboração do Programa Segundo Tempo, que facilitou a compreensão, pois

mostrou que é possível ter uma gestão em conjunto com a comunidade, onde todos

buscam um sentido único, uma melhor qualidade de vida e ter acesso aos programas

existentes. Tudo isso contribui para o crescimento profissional do autor como professor e

como gestor esportivo deste equipamento.

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