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Relatório do projecto de investigação ADOPT-DTV
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“ADOPT_DTV:Barreirasàadopçãodatelevisãodigitalnocontextoda
transiçãodatelevisãoanalógicaparaodigitalemPortugal”
(PTDC/CCI‐COM/102576/2008)
RelatóriodoEstudo“EntrevistascomStakeholders”
Setembrode2011
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Esterelatórioconstituiumadascomponentesdeinvestigaçãodoprojecto“ADOPT‐DTV:Barreirasà
adopçãodatelevisãodigitalnocontextodatransiçãodatelevisãoanalógicaparaodigital”(PTDC/CCI‐COM/102576/2008),daresponsabilidadedoCentrodeInvestigaçãoemComunicação,ArteseNovas
Tecnologias(CICANT)daUniversidadeLusófonadeHumanidadeseTecnologias,comofinanciamentodaFundaçãoparaaCiênciaeTecnologia,emparceriacomoObercomeAnacom.
EQUIPADEINVESTIGAÇÃOUniversidadeLusófonadeHumanidadeseTecnologias
‐ManuelJoséDamásio(investigadorresponsável)‐CéliaQuico(coordenação‐geral)
‐IolandaVeríssimo‐SaraHenriques
‐RuiHenriques‐InêsMartins
‐ÁgataSequeira
PARCEIROS
‐Obercom–ObservatóriodaComunicação‐Anacom–AutoridadeNacionaldasComunicações
FICHATÉCNICA
Título: “ADOPT‐DTV:RelatórioFinal”Autoria: ÁgataSequeira,comIolandaVeríssimo(recolhaetranscriçãodeentrevistas
deentrevistaseCéliaQuico(coordenaçãoerevisão)DatadePublicação: Outubrode2011
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ÍNDICEIntrodução.................................................................................................................4
1.ArgumentosàadopçãodaTVdigital ......................................................................6
2.IncentivosàadopçãodeTVD .................................................................................8
3.PosiçõesrelativamenteàsubsidiaçãodaTDT.........................................................9
4.BarreirasàadopçãodaTVDigital.........................................................................11
5.Quintocanalemsinalaberto ...............................................................................13
6.Recomendaçõesparaprocessodetransiçãobem‐sucedido..................................15
7.Recomendaçõesdireccionadasàpopulação‐alvo .................................................17
8.Avaliaçãodascampanhasdecomunicação...........................................................17
9.Dividendodigital..................................................................................................19
10.Percepçõesrelativamenteàsestratégiasgovernamentais..................................20
11./12./13.Ospapéisdosprincipaisstakeholders ................................................22
4
Introdução
OprincipalobjectivodasentrevistascomosstakeholdersnocampodaTVdigitalfoio
de obter as diferentes perspectivas das partes interessadas neste processo de transição, ou
seja, canais de televisão em sinal aberto, operadores de TV paga, operador de TDT,
reguladores, representantes de consumidores, representantes de pessoas comnecessidades
especiais,entreoutros.Oinstrumentodaentrevistafoicompostopor13perguntasabertas.
Os participantes foram contactados via e‐mail, telefone e carta durante Outubro e
Novembrode2010.Amaioriadas respostas foi obtidaemNovembroeDezembrode2010.
Um total de 16 entrevistas foram realizadas até final de Janeiro de 2011. A maioria dos
participantespreferiu responderpore‐mail, tendoos representantesdaSIC/ Impresa,ERCe
RTPoptadopelaentrevistapresencial:destemodo,procedeu‐seà transcriçãodaentrevista,
que foi posteriormente validadapelo respectivo entrevistado. Segue‐se a lista completados
participantes neste estudo, encontrando‐se entrevistas integrais publicadas no anexo a este
relatório,bemcomonowebsitedoprojectoADOPT‐DTV‐http://adoptdtv.ulusofona.pt(área
“Entrevistas”):
• Anacom,reguladordetelecomunicaçõesdePortugal(28‐10‐2010);
• ERC‐EntidadeReguladoraparaaComunicaçãoSocial(26‐10‐2010),
• RTP‐grupodemedia,aoqualpertenceoscanaisabertosRTP1eRTP2(13‐01‐2011);
• Impresa‐grupodemedia,aoqualpertenceocanalabertoSIC(15‐11‐2010);
• MediaCapital‐grupodemedia,aoqualpertenceocanalabertoTVI(29‐11‐2010);
• PortugalTelecom,operadordetelecomunicações,quetemalicençadeTDTemsinal
aberto,bemcomoserviçosdeIPTV,internetetelecomunicaçõesmóveis(29‐11‐2010);
• Sonaecom,operadordetelecomunicações–IPTV,internetetelecomunicaçõesmóveis
(11‐11‐2010);
• ZON,operadordetelecomunicações–TVporcaboeDTH,internet,telecomunicações
móveis(10‐12‐2010);
• DECO,AssociaçãoPortuguesadosConsumidores(11‐11‐2010);
• APD‐AssociaçãoPortuguesadeDeficientes(08‐11‐2010);;
• APAP‐AssociaçãoPortuguesadasEmpresasdePublicidadeeComunicação(29‐10‐
2010);
• APED‐AssociaçãoPortuguesadeEmpresasDistribuidoras(04‐12‐2010);
• APIT–AssociaçãoPortuguesadeProdutoresdeVídeoIndependentes(26‐10‐2010);
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• APMP‐AssociaçãoparaaPromoçãodoMultimédiaedaSociedadeDigital(16‐11‐
2010);
• JorgeFerrazAbreu‐investigadorespecializadonaáreadetelevisãodigitalinteractiva
eprofessordaUniversidadedeAveiro(28‐10‐2010);
• SérgioDenicoli‐investigadorespecializadoemtelevisãodigital,daUniversidadedo
Minho(15‐10‐2010).
As16entrevistasrecolhidasnesteâmbitoforamposteriormentecodificadaseanalisadascom
apoiodosoftwareNVIVO8.Aestruturadesterelatóriosegueadaentrevistaquefoirealizadaa
esteconjuntode16stakeholders,nomeadamente:
1. QuaisosprincipaisargumentosquepodemconvencerostelespectadoresPortugueses
avoluntariamenteadoptaremaTVdigital?
2. O que podemotivar ou incentivar os Portuguesesmais reticentes a adquirirem umtelevisorouumacaixadescodificadoradeTVdigital?
3. Acomprade televisoresoudecaixasdescodificadorasdeveser subsidiada?Emcasoderespostapositiva,quemdevebeneficiardasubsidiação?
4. QuaisosprincipaisobstáculosoubarreirasàplenaadopçãodeTVdigitalemPortugal?
5. Ofactodo5ºcanalgratuitonãoser lançado,àpartida,antesdadatadoswitch‐off–
previstopara26Abrilde2012‐éprejudicialaosucessodaadopçãoTVdigital?
6. QuerecomendaçõesfarianosentidodecontribuirparaumprocessobemsucedidodeconversãodosistemaanalógicodeTVparaodigital?
7. Comochegaràspessoasdeidade,combaixaliteraciatecnológicaecomnecessidades
especiais?
8. Comoavaliaacomunicaçãoqueestáaser feitaemrelaçãoàconversãodatelevisãoanalógicaparaodigital?
9. Oquefazercomodividendodigital,ouseja,comoespectroradioeléctricodisponívelapósodesligamentodosinalanalógico?
10. Como caracteriza a estratégia dos governos portugueses no domínio da televisão
digital?
11. Qualdeveseropapeldooperadordeserviçodepúblicodetelevisão–RTP?
12. Qualdeveseropapeldoregulador–ANACOM?
13. QualdeveseropapeldooperadordarededeTDT–PortugalTelecom?
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14. Gostariadeadicionaroutroscomentáriosourecomendaçõesrelativosaoprocessode
switch‐overdaTVdigitalemPortugal?
Destemodo,noprimeirocapítuloprocura‐seaveriguar,apartirdasrespostasquese
obtevedasentrevistasaos stakeholders,osargumentosqueconsiderammaisválidosparaa
adopçãodaTDT;nosegundo,queincentivosconsideramquepoderiahaverparaaadopçãoda
TDT pelos portugueses; no terceiro, que posição defendem em relação à questão da
subsidiaçãodascaixasdescodificadoras;noquarto,quaissãoasprincipaisbarreirasàadopção
daTDTemPortugal;noquinto,queperspectivatêmemrelaçãoaosurgimentodeum5ºcanal
no âmbito do processo de transição da TV analógica para a digital; no sexto, que
recomendações fariam para esse processo ser bem sucedido; no sétimo, como chegar à
populaçãoalvodesteestudo(idososcomproblemasdeliteraciatecnológica);nooitavo,como
avaliamascampanhasdeinformaçãoqueacompanhamoprocesso;nonono,queposiçãotêm
emrelaçãoaoque fazerdodividendodigital;nodécimo,comocaracterizamaactuaçãodos
governosnesteprocessodetransição;enodécimoprimeiro,qualdefendemseraposiçãodos
diferentesintervenientes‐chave:RTP,ANACOMePT.
1.ArgumentosàadopçãodaTVdigital
A adopção da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal apresenta algumas
particularidades no que diz respeito aos argumentos específicos que poderão ser
determinantesparaconvencerosespectadoresportuguesesaaderireaparticiparnoprocesso
de substituiçãodeumaestruturadeemissão televisivadecarizanalógicoparaumadecariz
digital.
Um dos aspectos mais recorrentemente mencionados, no contexto das diversas
entrevistasefectuadasaoconjuntodosstakeholdersdesta transição, foio factodoaumento
da qualidade da imagem e do som na TDT ser um aspecto reconhecível e valorizado pela
populaçãoportuguesa.Esteaspectoéparticularmenterelevanteparaosresidentesemzonas
sujeitasaumsinalderecepçãomaisfracodetelevisãoanalógica,dadoqueaTDTpermiteuma
qualidade de imagem e som homogénea, quer ao nível da localização geográfica, quer dos
canaisdeemissão,semnecessidadedeantenaexterior.Dedestacarofactodaqualidadede
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imageme somserequiparável àde serviços comoMEO, ZON,Cabovisão, etc., bemcomoa
interactividade que possibilitará (pausar e reiniciar o visionamento de um programa, por
exemplo).
Associadaàquestãodaqualidadedaimagemesom,umfactoravaliadocomconsiderável
potencialdeatracçãoparaapopulaçãoportuguesaéodapossibilidadede,atravésdaTDT,se
passarparaummodelodeemissãoemformatoHD(720pou1080i,16:9),paratodososcanais
emsinalabertoouparaumeventual5ºcanal,oumesmoapossibilidadedehaveremissãode
algunsprogramasemformato3D.
A questão do aparecimento de um 5º canal em sinal aberto foi apontada pelos
stakeholders como uma potencial vantagem para os utilizadores portugueses da TDT. As
vantagensassociadasao5ºcanalqueforamdestacadasincluíram:a)umeventualincentivoà
produção televisiva nacional; b) amaior oferta de conteúdos no geral; c) a possibilidade de
essecanalserexclusivamenteemitidoemformatoHD.Porémestaéumaquestãoenvoltaem
algumacontrovérsia,dadonenhumadaspropostasapresentadasàEntidadeReguladorapara
aComunicaçãoSocial(ERC)paraacriaçãodeum5ºcanalemsinalabertotersidoaprovada.
Oincrementodaofertadecanaisgeneralistasétambémumamedidaavalorizarpela
população, ainda que em termos práticos seja tida por algumas das entidades consultadas
como uma possibilidade remota (segundo a DECO – Instituto de Defesa do Consumidor, o
facto do Multiplexer A suportar apenas mais um canal, bem como as características deste
mercadoemPortugalsãofactoresinibidoresdemaioroferta).
Por outro lado, uma das consequências da mudança da televisão analógica para o
digital é a libertaçãodeespectro radioeléctrico,oquepode reverteremdiversas vantagens
paraoutilizadorquedeverão,naopiniãodeJorgeFerrazAbreu(UniversidadedeAveiro)ser
comunicadas claramente à população. Nestas contam‐se a possibilidade de inovação
tecnológica, nomeadamente através da futura implementação de novos serviços televisivos.
Estes podem incluir não só a referida melhoria da qualidade de imagem e som como a
integraçãodeserviçosinteractivos,taiscomoGuiaTV(EPG),BarradeProgramação,PausaTV,
gravaçãodeemissõesouseuagendamento,etc.
Importantedereferiraindaseráapossibilidadede inclusãodeconteúdoseserviços
interactivos que contemplem as necessidades particulares das pessoas com deficiência,
tornandoatelevisãomaisacessíveis.
Um outro possível argumento à adopção da TDT será a incontornável questão dos
custos queeste serviço envolveparao utilizador, no sentido emquepermitirá ter acesso a
umaqualidadede imagemedesomequiparávelaosserviçospagosdecabo,satélitee IPTV,
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comocustoúnicodeumaparelhodescodificador(eventualmentesujeitoasubsidiaçãopara
grupospopulacionaisespecíficos).
É evidente que a própria obrigatoriedade do switch‐off é um factor de peso na
adopçãodaTDT,paraosutilizadoresquedesejamcontinuaraacederàsemissõestelevisivas.
Esta necessidade de adopção de um novo sistema de emissão televisivo deverá ser
acompanhadadecampanhasinformativasaosutilizadores.
Háno entanto argumentos contra a adopçãoda TDT, considerandoqueesta não se
reveste necessariamente de um conjunto de vantagens óbvias para o utilizador –
nomeadamente, o facto de o nº de canais acessíveis ser o mesmo do que em relação à
televisão analógica de sinal aberto, face ao facto de ser necessário pagar por uma caixa
descodificadora para assegurar a mudança. Esta questão poderá ser um factor dissuasor à
adopçãodaTDT.
2.IncentivosàadopçãodeTVDparaosmaisreticentes
Em relação aos incentivos que poderão motivar os portugueses mais reticentes à
compra de umaparelhodescodificador e consequente adopçãoda TDT, há um conjunto de
aspectosqueimportasalientar.
Em primeiro lugar destaca‐se a mais‐valia inerente à maior qualidade de som e
imagem disponíveis, mencionada por 6 em 16 dos stakeholders ouvidos, sendo esta mais
perceptívelevalorizadanaszonasemquearecepçãoanalógicaémaisfraca.Apossibilidade
deexistirememissõesemHDtambémseráatractiva(2em16stakeholdersmencionarameste
incentivo),sebemque istosóserávalorizadoparaosutilizadorescujoaparelhodetelevisão
tenhaumaboaresoluçãoquepermitarealmentequeusufruamdasvantagensemtermosde
qualidade do HD. Igualmente de salientar uma vantagem da TDT que será sem dúvida um
incentivoàsuaadopção,mencionadapor1stakeholder–ofactodepermitirrecepçãoportátil
interior, ou seja, aceder a televisão com qualidade de som e imagem consideráveis sem
necessidade de instalação de uma antena exterior, o que é umamais‐valia sobretudo para
zonasurbanasantigasepovoaçõeshistóricas.
Aeventualdisponibilizaçãodeum5ºcanalgratuitofoitambémconsideradaumforte
incentivoàadopçãodaTDT,por3dos16stakeholders,nosentidoquepermitiriatambémuma
vantagem prática para os utilizadores em relação à televisão analógica de sinal aberto.
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Relacionadaaestaestátambémapossibilidadedeofertadenovasfuncionalidadesedemais
conteúdos,nomeadamentedeproximidade(canaislocaisouregionais).
O incentivoapontadocomomaissignificativonaadopçãodaTDTseriaobaixocusto
naaquisiçãodecaixasdescodificadores (mencionadopor4dos16stakeholders), compatível
comos rendimentosdos agregados familiares, quepermitisseumacréscimodequalidade a
preço comportável. Neste sentido é indicada a possibilidade de subsidiação ou mesmo
disponibilização gratuita das caixas descodificadoras às famílias carenciadas pelos seguintes
stakeholders:APDeSIC.
SegundoaopiniãodaAPMD, adisponibilizaçãodemais espaço radioeléctrico,mais‐
valiaquedecorredapassagemdeummodelodetelevisãoanalógicaparadigital,deveráser
explicada através de campanhas informativas à população, para que tambémeste factor se
revertanumincentivoàsuaadopção:«[osutilizadores]deverãoserinformadosdasvantagens
que existem tanto em termos da qualidade de serviço prestado, como na perspectiva do
gestordeespectro».
Aquestãodainevitabilidadedoswitch‐offétambémaquiabordada,podendotambém
estaserconsideradaumincentivoàadopçãodaTDT,paraaspopulaçõesquequiseremmanter
o acesso à televisão de sinal aberto, como referem a ANACOM, APAP, DECO, PT, SIC e
SONAECOM.Nestesentido,énecessárioquecompreendamexactamentequeessaadopçãoé
a única possibilidade demanterem o acesso a esse serviço televisivo. Porém, nos casos de
populaçõescombaixosrendimentoseemqueoaparelhodetelevisãonãoconsigasuportaro
novo formato de emissão, é provável que a adopção de TDT não seja nestas circunstâncias
contemplada,oque implicará,nãohavendoumamedidade subsidiaçãoajustada,queestas
populaçõespossamoptarpelaexclusãodoacessoàemissãotelevisiva.
3.PosiçõesrelativamenteàsubsidiaçãodaTDT
Umaquestãoqueinevitavelmentesurgiufoiadasubsidiaçãodeaparelhostelevisivos
preparadospara receberTDTedecaixasdescodificadoras.Quantoàpopulaçãoquepoderia
usufruirdeumaeventualsubsidiação,asopiniõesdividem‐se.Algumasentidades(APITeRTP)
indicam que esse subsídio deveria ser universal, em particular para as populações que
perderãooacessoàsemissões televisivasnocasodenãoadoptaremonovomodelodigital:
«Devesersubsidiadaparatodos,emespecialparaaquelesquenãopossuamqualqueroutro
acesso aos 4 canais nacionais, ou seja, aqueles que vão ser “obrigados” a mudar, quando
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nenhuma outra oferta já existente os persuadiu. A esses, o incentivo terá de ser o de
“oferecer”onovoserviço»(APIT).Estafoiaindaindicadacomosendoumasoluçãoideal,mas
napráticanãoconcretizávelpeloscustosqueenvolveria.Nestesentido,acomparticipaçãodos
custosseriaasoluçãomaisapontada,porentidadescomoaAPD,APAP,Denicoli,JFA,DECO,
ANACOM,Media Capital, PT. Esta solução contemplaria por exemplo a comparticipação (ou
disponibilização gratuita) por parte do operador de rede na compra do equipamento
necessário a grupos específicos, nomeadamente a população com maiores carências
económicas, beneficiáriosdoRSI, cidadãos comnecessidadesespeciais e graudedeficiência
superior a 60%, instituições de carácter social, etc. Esta solução está aliás contemplada na
licençadeutilizaçãodaPT,naqualidadedeoperadorderede.
Esta foi uma medida tomada noutros países, como Itália ou Estados Unidos da
América. Por outro lado, há um conjuntodapopulação– cerca de 12 a 13% ‐ quepela sua
localização geográfica só poderá continuar a receber nos seus aparelhos televisivos as
emissõesemsinalabertoporviasatélite,sendoqueaDECOconsiderouquedeveseratribuído
o necessário equipamento e instalação gratuitamente: «Nesses locais, a recepção das
emissõessóvaipoderserfeitaporsatélite,sendoqueestáestipulado,namesmalicençade
utilizaçãooseguinte:"…aPTCficaobrigada,nomeadamente,asubsidiar,incluindoamão‐de‐
obra, equipamentos receptores terminais, antena e cablagem, os clientes das zonas não
cobertasporradiodifusãodigitalterrestreparaqueestesnãotenhamqualqueracréscimode
custos,faceaosutilizadoresdaquelas."Ouseja,nomínimo,aaquisiçãodopratoreceptorde
satélite,cablagememão‐de‐obra,deveserasseguradapelaPTC.»(DECO).
Quanto à forma de efectivar essa comparticipação ou subsidiação, as possibilidades
apontadas são o apoio do Estado, da empresa operadora, das instituições financeiras ou
atravésdeparceriaspúblico‐privadas.Noentanto,estaquestãopode levantarproblemasao
níveldosmecanismosdeconcorrênciadaUniãoEuropeia,peloqueassubsidiaçõesdevemser
enquadradasnoâmbitodasregrasestabelecidasnessecampo(segundorespostadaZON):«Os
princípios legais da Concorrência definem claramente que não pode haver qualquer
favorecimento de operadores em detrimento de outros. Cada pessoa deve ser responsável
pelaaquisiçãodosequipamentosnecessários.Astransformaçõesealteraçõestecnológicasvão
ocorrendo e cada pessoa tem de se adaptar. Além de que é possível encontrar
descodificadores a preçosmuito económicos.» (ZON). É precisamente por esta questão que
alguns dos entrevistados – ZON e APED‐ recusam a possibilidade de haver subsidiação no
processo de adopção da televisão digital, dado que seria cada pessoa a responsável pela
escolha de um operador, e portanto dos custos inerentes a essa opção, sendo outra razão
11
apontadaaexistêncianomercadodedescodificadoresapreçosbaixos.
4.BarreirasàadopçãodaTVDigital
Aquestãodoscustosinerentesàcompradeumdescodificadorou,noscasosemqueé
necessária, a substituição do televisor, é de novo apontada como incontornável no que diz
respeito às barreiras ou obstáculos à plena adopção da TDT. Se o preço médio da caixa
descodificadora, situa‐se entre os 40 a 50 euros, de acordo com os dados apurados pela
DECO/Proteste1, haverá certamente famílias que preferirão não aderir à TDT, caso não se
verifiquem apoios à aquisição de equipamentos receptores e respectiva instalação ao seu
processodeadaptação.
Aquestãodoscustoséaindaagravadapeloactualcontextodecriseeconómica,sendo
a instabilidade que implica um factor potencialmente dissuasor do investimento de alguns
agregados familiares em caixas descodificadoras ou televisores que lhes permitam aceder à
TDT.
Opróprio funcionamentodomercadoé indicado (porDenicoli, JFAeMediaCapital)
comoumapotencialbarreiraàadopçãodeTDT.Segundoumdosentrevistados,Denicoli,aPT
tem tambémum forte posicionamento na oferta de serviços de TV por cabo, fibra óptica e
satélite,peloque, aindaque sejaaoperadoradaTDT,não lhe interessaumaTDT forteque
ofereçaumarealcompetiçãoaosserviçosquejádisponibilizaequeserãomaislucrativospara
aempresa.Alémdisso,osimples factodehaverumaofertadeserviços televisivosdeoutro
tipo e com mais vantagens para os consumidores que tenham condições económicas para
deles usufruir é também um factor dissuasor da adopção de TDT por estes segmentos
populacionais.
Paralelamente,ofactodaofertadecanaisdelivreacessoatravésdaTDTnãosónão
ser atractiva como tambémnão ser complementada por uma plataforma paga que permita
umamaioroferta,étambémumabarreiraàsuaadopção,segundoaRTP.
1DECO/Proteste(2011).Descodificadoresparatelevisãodigitalterrestre:poupeaté111euros.Acedidoa25‐10‐2011,em:http://www.deco.proteste.pt/dvd‐tv‐som/descodificadores‐para‐televisao‐digital‐terrestre‐poupe‐ate‐111‐euros‐s647831.htm
12
Também a actuação dos governos foi por alguns stakeholders (Denicoli e RTP)
apontadacomoumabarreiraàadopçãodaTDTnosentidoemquelheséapontadoumpapel
insuficiente de regulaçãodestemercado e do espaço radioeléctrico que fica disponível com
estatransição,nosentidodebeneficiaraspopulaçõescommaiscarências.Poroutro lado,o
papel das reguladoras ao terem impedido a criação de um 5º canal generalista também é
apontado como potencial barreira: «Por diferentes condicionantes, omodelo definido para
Portugallevouaqueaofertaemabertofossemuitoreduzidaequeseapostassenumaoferta
alargadanaplataformapaga.Adecisãotomadadeessaplataformapaganãoavançaréhoje
inultrapassável.ÉconhecidaadecisãodaANACOM,inclusiveoconflitoquehouvecomaERC
por causa disso. No caso da plataforma em aberto (Multiplexer A), apostou‐se
fundamentalmenteemalargaraofertacomumserviçodeprogramasemabertogeneralista,
um modelo que não é o mais habitual na Europa, visto que só na República Checa e em
Espanha é quehouvenovos canais generalistas emaberto no início do lançamento de uma
plataformaTDT.Porrazõestambémconhecidas,oconcursoabertopelaERCnãopermitiuque
tivéssemoshojeumaofertamaisalargadanaTDT»(RTP).
O5ºcanalérecorrentementemencionadocomoumincentivopotencialàadopçãode
TDT,peloquea sua inexistência sepodeconstituir comoumabarreira,dadoonovoserviço
televisivo não incluir uma maior oferta de canais, bem como transmissões em HD. Neste
sentido, os reduzidos factores de atracção do novo serviço constituem uma barreira à sua
adopção.
Tambémreferido(por1stakeholder–MediaCapital)éofactodacoberturadoserviço
TDT ser insuficientementeabrangente,necessitandodeuma instalaçãodecaptaçãode sinal
viasatélite,oqueimplicaránecessariamentemaiscustos.
Um outro factor que pode constituir uma barreira à adopção da TDT é a própria
duraçãodoprocessodetransiçãodaTVanalógicaparaadigital.Nocasoportuguês,esegundo
a resposta da RTP, há um receio de que seja demasiado curto comparativamente a outros
países, não permitindo aos utilizadores tempo suficiente para se adaptarem e se
familiarizaremcomoprocessoetudooqueimplica.
As características socioeconómicas dos utilizadores são um factor absolutamente
incontornávelnaadopçãodaTDT,peloqueumníveleconómicoedeescolaridademaisbaixo,
bemcomodeliteraciatecnológica,traduzir‐se‐áprovavelmentenumabarreiraaoprocessode
adopçãodaTDT.Considera‐seigualmentequeapopulaçãomaisidosasejaamaissusceptível
de ser abrangida por estas características, ao passo que a população mais jovem, por
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tendencialmente privilegiar o uso da web para procura de conteúdos audiovisuais, preferir
estaestruturaaorecursoàofertatelevisiva,oque tambémseconstituirásemdúvidacomo
umabarreiraàadopçãodaTDT.
Ascampanhasinformativasconsideradasinsuficientessãoigualmenteapontadaspor7
dos 16 stakeholders entrevistados como uma potencial barreira à adopção da TDT, sendo
sugeridaumaexplicaçãodirectaaosconsumidores,portaaporta,parafacilitaroprocesso:«A
principal barreira que existe, neste momento, é a ausência de informação. Primeiro deve
explicar‐sea(situação)acadaumdosconsumidores,quasecomosefosseumavendadirecta.
TalcomosevendeocaboouoIPTV,devehaverumaexplicaçãodirecta,portaaporta,atodos
os consumidores, sobreas vantagensda televisãodigital.Odigital temque serexplicadoàs
pessoas.Nãoésóacompradacaixadescodificadora,éaadaptaçãodaantena…Oobjectivoda
campanha tem que ser explicar que há um conjunto de procedimentos que melhoram a
qualidadedosinalequeadistribuiçãoégratuita,aspessoasnãotêmnadaquepagar.Porque
nãopodemosdeixar transpareceraoconsumidor–esobretudoàquelesmaisnecessitados–
queparavertelevisão,apartirdeagora,têmdefazerumaassinatura,qualquerqueelaseja.
Temqueseexplicarqueousodatelevisãodigitalégratuito.Asgrandesbarreiraspoderãoser
ultrapassadascomumaboapolíticadecomunicação.Explicaràspessoasque,defacto,háaqui
uma melhoria, há uma evolução tecnológica e que a TDT vai trazer novas potencialidades
como,porexemplo,aspessoasnofuturopoderemteracessoàinternetatravésdatelevisão»
(ERC).
Outrofactordissuasor,referidopelaAPITéanecessidadedeimplicarumaacçãopor
parte do consumidor para poder ter acesso à nova estrutura televisiva digital, sob pena de
perderoacessoaoscanaisdesinalabertodequesempredispôs.Estanecessidadedeacção,
aliadaafracainformação,éumafortebarreiraàadopçãodanovaformadeemissãotelevisiva.
5.Quintocanalemsinalaberto
Quando questionados sobre se a não existência do previsto 5º canal seria ou não
prejudicialàadopçãodaTDTporpartedapopulaçãoportuguesa,asopiniõesdosstakeholders
dividiram‐se.
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EntreosqueadmitemquepoderiaserumforteincentivoàadopçãodaTDT(PT,SICe
Sonaecom),osargumentosgiramemtornodofactodeeventualmenteconsistirumfactorde
atractividade,significandoumamaiorofertadecanaisassociadaàmudançadosistemadeTV
analógica para o digital. A questão do 5º canal aparece frequentemente associada à
possibilidadedeaTDTprovidenciarumpacotedecanaispagos,maisacessíveisqueosserviços
cabo e que consistisse também numa alternativa – ainda que com menor oferta
provavelmente–aosserviçospagosdisponíveis.Porém,ecomorefereumdosentrevistados
(RTP),apesardemodelosqueprivilegiavamaofertapagaemdetrimentodagratuitaemTV
digitalteremfalhadonoutrospaísesedepoisseguidoalógicainversa,emPortugaléaoferta
pagafoiprivilegiada,seguindo‐seportantoummodelopassíveldefalhar:«(…)EmPortugal,a
opçãotomada foinosentidodedarmaiorpesoàofertapagaemanterasbasesdomodelo
que tinha falhadoem2001.Nestemomento,vemosqueessaopção falhoueháumdesafio
que não está a ser suficientemente encarado. Talvez seja o momento ideal para nós
reflectirmos sobre que modelo ou modelos são possíveis dentro da actual conjuntura
económica e das necessidades existentes no desenvolvimento do mercado audiovisual
português.SaberquaissãoasmelhoresalternativasparaodesenvolvimentodaTDTporque,
porvezes,sente‐seumacerta“asfixia”emtermosdoprópriopensamento,noquerespeitaao
mercado e à lógica evolutiva. Isto é, se não se consegue de uma determinada maneira já
prevista,parecequenãohá condiçõesparapensardenovoeencontrarnovasalternativas»
(RTP).
Paraoconjuntodos6entrevistadosqueconsideramqueaexistênciadeum5ºcanal
generalista digital não teria relevância suficiente no processo de transição para a TDT, o
argumentoédequeascondiçõesparaocriarnãoestariamreunidas,sendoessaajustificação
para a ERC suspender o seu desenvolvimento. Por outro lado, outro dos argumentos
apontadosédequea criaçãodeum5º canal implicariaumamaior concorrênciaentreos3
operadores existentes, à qual se associaria eventualmente umdecréscimoda qualidadedos
conteúdos: «Do ponto de vista do consumidor interessa‐lhe ter conteúdos de qualidade, e
qualidade audiovisual dos mesmos, bem como variedade. Todavia, há que ter em conta a
dimensão do mercado português, como aliás demonstra a rentabilidade histórica dos
operadores privados (já para nãomencionar o público – RTP). No actual enquadramento, a
rentabilização dos activos não é fácil e a entrada de um novo operador traria por certo
pressões adicionais em termos de desempenho financeiro e com reflexos negativos na
qualidadedosconteúdos.»(MediaCapital).
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6.Recomendaçõesparaprocessodetransiçãobem‐sucedido
Quando questionados sobre que recomendações fariam para que o processo de
transiçãodatelevisãoanalógicaparaaTDTfossebem‐sucedido,denovoaquestãodo5ºcanal
foireferidapor5dos16stakeholderscomoumamais‐valia,eventualmenteemHD,bemcomo
apossibilidadedoscanaispúblicosqueagoraapenasestãodisponíveisnaredepaga(RTPNe
RTPMemória)seremdisponibilizadosnaredeabertadigital,oudesepermitirqueaSICeTVI
pudessem ter direito a usufruir demais espectro radioeléctrico para que os seus canais de
notíciaspudessemtambémserdisponibilizadosgratuitamenteatravésdaTDT.Igualmente,foi
sugerida por Denicoli a criação de canais regionais ou de universidades que estivessem
disponíveis na nova plataforma sem serem pagos. No fundo, o que se recomenda é que a
passagemdeTVanalógicaparaadigitalimpliqueumaumentodaofertadecanaisdisponíveis
gratuitamente,deformaaquelheestejaassociadaumamais‐valiaóbvia.
Para a disponibilização de mais canais públicos em sinal aberto, surge da RTP a
recomendaçãodeque seja encontradoummecanismode financiamentoquepermita a sua
criação:«ClaroquenãoháummodeloautónomodaRTP,nemhácondiçõesnestemomento
paraqueavancemoscomumapropostaautónoma.Poroutrolado,comoserviçopúblicoe,ao
contrário do que acontece com os operadores comerciais privados, precisamos de
financiamento para o lançamento destes novos serviços de programas. Esse financiamento
pode advir do pagamento de taxas, do pagamento de indemnizações compensatórias, ou
ainda de receitas comerciais. Isso também tem a ver com a actual situação do mercado.»
(RTP).
Por outro lado, igualmente se recomenda que a TDT implique uma melhoria da
qualidadetécnicadoscanais,nomeadamentenorecursoaoHD,ounapossibilidadedeincluir
conteúdos interactivose TVmóvel. Paralelamente, aqualidadeda coberturade redeéuma
recomendaçãoaassinalar,pelaPTeZON.
Umaoutra recomendaçãoqueasentrevistasaos stakeholders permitiramextrapolar
foiadaAPITdeincluirumpacotedeTDTpagaqueatornasseatractivafaceaospacotesdeTV
porcabooufibraóptica.
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Omaiorprotagonismodeentidadespúblicasede solidariedadesocialnapromoção,
subsidiaçãoesubscriçãodaTDT,éumadassugestõesfeitaspelaPT,nosentidoemqueasua
posiçãodedestaqueanívelsocialpermitiriaqueseconstituíssemenquantoplataformaválida
para a adopção deste novo sistema televisivo: «deverá haver um envolvimento geral da
sociedade, com um protagonismo claro de diversas entidades públicas, nomeadamente, os
municípios, que deverão promover, quer por comunicação, quer por influência, quer por
subsidiação,aadesãoàTVDigital.Tambémasentidadesdesolidariedadesocialterãoquese
envolver de forma mais determinada na divulgação e criação de mecanismos de apoio à
migração para a TV Digital. Trata‐se de um projecto irreversível, transversal e de decisão,
interesseeimpactenacionais.»(PT).NestesentidofoitambémapontadopelaMediaCapitalo
exemplo de Espanha, em que a criação e um organismo responsável pela comunicação,
estabelecimentodemetaseacompanhamentodeprojectos‐pilotopermitiuqueoprocessode
adopção da TDT fosse agilizado, eficaz e consolidado. Em relação ao exemplo espanhol é
também de apontar o sucesso da opção integrada relativamente à oferta considerável de
serviçosgratuitosedeserviçospagos.
Incontornável é a questão dos custos que a transição da TV analógica para a digital
implicaráparaoconsumidor,tendosidofrequentementefeitasrecomendaçõesnessesentido,
emparticularnumcontextode criseedas suas consequênciasna vidadaspopulaçõesmais
carenciadas:oudonãoaumentodoscustosparaosconsumidores,oudadisponibilizaçãode
aparelhosdescodificadoresapreçoscompetitivos,ouaindadasubsidiaçãodestesaparelhos,
deformaaimpedirquesegmentosdapopulaçãosevejamexcluídosdoacessoàtelevisãode
sinalaberto.
De parte dos utilizadores, é também recomendada pela ANACOM que se dotem
atempadamentedosmeiosnecessáriosaoswitch‐off,deformaapoderemevitarouresolver
adequadamentesituaçõesderupturadestockoudificuldadenacapacidadederespostados
descodificadores ou outras intervenções necessárias no sistema de recepção. Igualmente, é
recomendadoqueseprocureminformarporsuaprópriainiciativa,nomeadamentedirigindo‐
seàANACOM.Aestaúltimaquestãoéindissociávelaexistênciadeumplanodecomunicação
eficazqueefectivamenteinformeaspopulaçõessobreosprocedimentosateremcontaeas
vantagens associadas àmudança de TV analógica para a TDT, bem como apoio técnico, em
particularàspessoascomproblemasdeliteraciatecnológicaeaspessoascomdeficiência.
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7.Recomendaçõesdireccionadasàpopulação‐alvo
Especificamenteem relaçãoàpopulação‐alvodoestudo, istoé,pessoas idosas, com
baixa literacia tecnológica ou com necessidades especiais, os stakeholders entrevistados
forneceramumconjuntodiversoderecomendaçõesparafacilitaroseuprocessodeadopção
daTDT.
Destaca‐se a necessidade que apontam em informar este segmento, através de
campanhas de informação públicas devidamente estruturadas que mostrem a estas
populaçõesquais são as vantagens eprocedimentosnecessários referentes ao switch‐off da
televisãoanalógicaparaadigital.Noquediz respeitoàs formasde levaressascampanhasa
cabo, os entrevistados sugerem entre outras outdoors, folhetos informativos –
nomeadamentedisponibilizadosjuntamentecomacorrespondênciadaSegurançaSocial,por
exemplo, entidades de solidariedade social, bem como associações locais de relevo e
entidadesmunicipais, colaboração compersonalidades televisivas, explicações«cara a cara»
porumagenteespecializado,disponibilizaçãodeinformaçãojuntodosagentesvendedoresde
electrodomésticos ou CTT ou através dos canais de televisão oumesmo do núcleo familiar,
centrosdeatendimentoquedisponibilizassemapoioremotoconstanteeeficaz,etc.
Poroutrolado,aoníveldosinterfaceseconteúdostelevisivosparaestapopulaçãoem
particular, os entrevistados destacaram a necessidade de apresentar conteúdos dobrados e
áudio‐descrição,einterfacesadequadosàssuasnecessidades.Osconteúdosdeverãoaindaser
acessíveisea informaçãonecessáriafacultadadeformafluidaàspessoascomdeficiênciaou
necessidades especiais, de forma a que o serviço de televisão digital seja efectivamente
inclusivo.CitandoarespostadaERC:«NoquerespeitaàTDT,essasbarreirastêmquecomeçar
aserultrapassadasjánaprópriaproduçãodosconteúdosdoquepropriamentenaexibiçãoe
na distribuição. A própria produção dos conteúdos tem que começar a ter isso em conta.
Atendendoàquestãododigital,éprecisoestudarsobretudocomoéqueaTDTpoderesolver
o problema da áudio‐descrição. Esse é um problema que tem que ser estudado porque
actualmente a áudio‐descrição aplica‐se pelas estações que têm uma banda de rádio e que
possam,atravésdarádio,fazeraáudio‐descrição.»(ERC).
8.Avaliaçãodascampanhasdecomunicação
Ainda no campoda comunicação sobre o processo de switch‐off, parte considerável
dosentrevistados(5nototalde16,nomeadamenteaAPD,DECO,SIC,JFAeZon)avaliam‐na
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como residual ou insuficiente, considerando que com a aproximação da data da mudança
definitiva de televisão analógica para digital ainda poucos portugueses estão a par dessa
mudança e dos procedimentos que lhe são inerentes (compra de descodificador, eventual
necessidade de troca de aparelho televisivo, etc.). É ainda apontada a confusão quemuitos
utilizadoresfazemaindaentreTDTeoutrosserviçoscomoTVporcabo,fibraóptica,etc.:«Tal
comoreferimosnonossoartigo,naProTestedeSetembroultimo,acomunicaçãoqueestáa
ser efectuada, até ao momento, é manifestamente insuficiente. A grande maioria da
população, nunca sequerouviu falar de TDT, ou faz ainda confusão comoutras plataformas
existentes(cabo,IPTV,fibraóptica,etc).Estamosamenosde1anoemeiodoswitch‐off,pelo
queapopulaçãotêmdeserinformadadoprocessoomaisrapidamentepossível.»(DECO).
Neste sentido, 8 stakeholders (APAP, APED, APIT, Denicoli, ERC, Media Capital,
Sonaecom,RTP)consideramacomunicaçãopreocupantementeinexistente,havendooperigo
real demuitas pessoas se verem sem acesso televisivo por pura falta de informação a esse
respeito: «A comunicação é praticamente inexistente. O cidadão não recebe informações e
nem sabe ao certo o que é a TV digital. É preciso fazer algo urgentemente. Se não forem
tomadas providências, quando os sinais analógicos forem desligadosmuitas pessoas ficarão
sempoderassistirTV,simplesmenteporquenãotiveramasinformaçõesnecessáriasparaque
sepreparassemparaatransiçãodefinitivadoanalógicoparaodigital.»(Denicoli).
Outroaspectoapontadoequeérelevanteéofactodeosentrevistadosconsiderarem
desadequada a informação disponibilizada através dos websites da ANACOM e TDT, pelo
simplesfactodequeapopulaçãocommaioresnecessidadesinformativas(precisamenteaque
apresentaproblemasdeliteraciatecnológica)nãoutilizaráprovavelmenteessescanaisparase
informar.
Um dos stakeholders, a ERC, sugere como necessidade a implementação de uma
campanhainformativadeproximidade,porta‐a‐portaeemarticulaçãocomasentidadeslocais
(Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, associações), que explique efectivamente às
pessoasoquedevemfazerparaseprepararemparaoswitch‐off.
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9.Dividendodigital
UmaquestãopertinentenoâmbitodoprocessodemudançadaTVanalógicaparaa
TDT é a forma como poderá ser utilizado o dividendo digital (espectro radioeléctrico
disponível)quesobrarácomestatransição.
Naspossibilidadesenumeradaspelosentrevistados inclui‐seoaumentodaofertade
serviços, nomeadamente ao nível da qualidade de som, acessibilidade, o aparecimento de
novoscanaisaoníveldeserviçopúblico(comoo5ºcanalgeneralistaoucanaisregionais),oua
transmissãoemHDou3D.
As questões relacionadas com a interoperabilidade e interconexão são igualmente
referidaspor2stakeholders(JFAePT),comoaspectosaseremmelhoradosemconformidade
comosstandardseuropeus,aquandodalibertaçãodeespectroradioeléctrico.
Outra possibilidade destacada por 3 fontes (Denicoli, PT e Zon) é a de que esse
espectro seja utilizado para internet a alta velocidade em banda larga, tornando‐a
consequentementemaisacessível,eparaserviçosdemobileTV.Háaindaaopinião (SIC)de
que esse espectro deve ficar reservado à radiodifusão de televisão e rádio: «Achamos que
temosumdireitomoraldepartedesseespectropoderviraserutilizadoparaaplicaçõesquer
de radiodifusão de televisão, quer de radiodifusão de rádio, como o DVB‐H, esse tipo de
tecnologias um pouco incipientes. Mas também temos consciência de que, em relação ao
regulador – neste caso a ANACOM – os stakeholders ou os “accionistas” da ANACOM são
sobretudooperadoresmóveiseissopesabastante,atéporqueéessetipodeserviçosquedá
dinheiro.Sendooespectroumbempúblicoetendonósessedireitomoraldurantedezanos,
acho que a actividade de radiodifusão televisiva e de rádio não devia estar completamente
postadeparte.Deviahaveraliumquinhão‐quedepoispodemosdiscutirseé30%,40%,etc.‐
reservadoparanós»(SIC).
Por parte da ERC, a opinião é de que esta é uma questão delicada que exige
planeamentoequeporessarazãodeveráficarporagoraemaberto:«Éprecisopensaralongo
prazo.HojefalamostodosdoIPTV,falamostodosnobroadbandecomoéqueserádaquia20
anos? Como é que será daqui a 25 anos? Será que vamos pensar outra vez noutro tipo de
distribuição? É preciso ter em linha de conta um conjunto de factores e sobretudo não
comprometerjáofuturo»(ERC).
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10.Percepçõesrelativamenteàsestratégiasgovernamentais
Uma das questões que importou aferir centrou‐se na forma como os entrevistados
caracterizavamaactuaçãodosgovernosemrelaçãoaoprocessodemudançadaTVanalógica
para a digital. De entre os que a consideraram adequada (ANACOM), os argumentos
revolveramemtornodostemposemqueapreparaçãoparaatransiçãofoifeita,todoscomo
adequados,ounofactodasestratégiasadoptadasestarememconsonânciacomasadoptadas
noutrospaísesdaUniãoEuropeia.Noentanto,mesmodentrodosquetêmopiniãofavorável
das medidas que têm vindo a ser tomadas pelos governos, ressalva‐se a necessidade de
consolidar esforços para a implementação da TDT em Portugal, através de parcerias para a
subsidiaçãodecaixasdescodificadorasàspopulaçõesnecessitadasouatravésdecampanhas
deinformaçãoesensibilizaçãoparaosaspectosinerentesàmudança.
Outrasopiniões(APED,JFA,SICeSonaecom)recolhidasapontamparaumaactuação
governamentalcomavanços,recuoselongasparagens,devidoàdificuldadeinerenteàgestão
devários factoresnumtodomuitocomplexoeemcontextodecrise.Poroutro lado,alguns
dosstakeholdersentrevistadosconsiderarammesmoaestratégiagovernamentalnoprocesso
deswitch‐offdifusa, indecisaoumesmo inexistente,emconsequêncianãosódasmudanças
dentrodosgovernoscomodadificuldadeemgeriraactuaçãodasdiversasentidadesemjogo:
«Porisso,porumlado,atecnologianãoteramadurecidoe,poroutro,terhavidomudançasde
governoedepastas,etc.eaindaterhavidoalgunsrecuosnaquestãodaTDTpagafezcomque
istonão fosse fácil.Masestesprocessosnuncasão fáceis. Sabe‐sequeaextensãodedanos
que se pode causar é muito grande.» (SIC); «O processo não tem sido linear. A licença
atribuída em2001 foi revogadaem2003.A licençadepay TV atribuídana sequência do2º
concurso que aconteceu em 2008 foi também revogada recentemente. Sendo que esta
revogação não recolheu unanimidade nem da parte do operadores, nem mesmo das
autoridadesenvolvidasnoprocessodasuaatribuição.AERCmostrou‐secontráriaàrevogação
dareferida licença,aocontráriodoICP–ANACOM.Acrescequeopróprioconcursode2008
nãofoipacíficocomaAirPlus,umdosconcorrentes,aalegarváriasilegalidadesàformacomo
decorreuoconcurso»(Sonaecom).
Em relação a opções concretas, uma das opiniões recolhidas (Zon) afirma que a
estratégia governamental deveria ter recaído sobre a DTH (disponibilização de televisão via
satélite), por haver fornecedores disponíveis e ser eventualmente uma solução mais
económica: «Contudo, talvez tivesse sido útil a adopção de uma solução via satélite, já que
existiriampelomenos2fornecedorescapazesdedisponibilizaroserviçoemtodooterritório
nacional, provavelmente commenores custos para o país (em termos de investimento em
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tecnologiaimportada)eatécommenorescustosdetransporteparaoscanaisTVactualmente
emtransmissãohertziana.».
Outraopinião,adeDenicoli,reflectenegativamenteofactodaPTtersidoaempresa
escolhida como operadora dos serviços TDT, denotando nesse aspecto uma situação de
favorecimento: «Governo privatizou a implementação da TV digital e entregou à PT, onde
mantém as golden share, condenadas pela Comissão Europeia, e que permitem um forte
poder político sobre o grupo. Houve um claro favorecimento à Portugal Telecom, desde o
lançamentodosconcursospúblicosdaTDT.ASonaecomchegouadenunciarissooficialmente.
Sóqueessefavorecimentosemprefoimuitosubtil»(Denicoli).
Otempodeactuaçãogovernamentalrelativamenteàsdiversasetapasdestamudança
foi também um factor apontado pelos entrevistados (DECO, ERC e RTP), valorizado
negativamente:algunsconsideramqueaactuaçãodogovernodeveriatersidomaiscéleree
eficazmente faseada, tantonoprocesso tecnológicodemigraçãocomonode informaçãoàs
populações:«Atarefademigraçãoparaatelevisãodigital terrestrenonossopais, tornou‐se
mais complicada, comoarranque tão tardiodaplataformadigital.Outrospaíses fizeram‐no
bastante mais cedo (ex: Alemanha em 2002, Holanda em 2003, Reino Unido em 1998),
permitindoassim,umperíodode simultaneidade (doanalógicocomodigital)bastantemais
alargado.» (DECO); «A esta “longa paragem” à qual a evolução da Portugal Telecom não é
alheia,seguiu‐seumaconjunturaeconómicadifícil.Portanto,oprocessotemsidocomplexo,
envolvendo um conjunto de componentes de natureza técnica, económica e social que não
sãofáceisdegerir.Semeperguntarseoprocessoatéhojefoiumgrandesucesso,eudigoque
não.Seperguntarseeusaberiafazermelhor,digo‐lheque,secalhar,aposteriori,éfácildizer
quesim»(RTP).
Saliente‐se algumas recomendações que foram recolhidas dos stakeholders (em
particularaMediaCapital)emrelaçãoàformadeactuardosgovernosnoâmbitodamigração
da TV analógica para a TDT: a) privilegiar a atribuição do espectro radioeléctrico
disponibilizado para o reforço das aplicações técnicas disponíveis; b) tomar medidas de
acessibilidade concretas para os cidadãos com necessidades especiais; c) reservar espectro
para a produção de programas e eventos especiais; d) garantir que o Estado assuma, pelo
menos parcialmente, os custos inerentes à transição; e) garantir a possibilidade de que os
actuaisprogramaspossamseremitidosemHDenãoexcluirapossibilidadefuturadeserem
transmitidos em 3D; f) assegurar a regulação das entidades competentes; g) assegurar as
recomendaçõesenormasdoquadrodaUniãoEuropeia.
22
11./12./13.Ospapéisdosprincipaisstakeholders
Num processo de passagem de uma estrutura de televisão analógica para televisão
digital, em um dos desafios é conjugar a actuação e objectivos das diversas entidades
envolvidas,procurou‐seaferirjuntodosentrevistadosdequeformapercepcionamquepapel
deve cada uma das entidades principais ter, nomeadamente a RTP enquanto serviço de
televisão público, a ANACOMenquanto entidade reguladora e a PT enquanto operadora da
rededeTDT.
11.RTP
ARTP,enquantooperadorpúblico,étidaporváriosdosentrevistados (APED,APITe
Denicoli)comodevendoteropapelprincipalnestatransição.Umdosargumentosutilizadosé
de que o operador público pode ter um papel de agregação dos diversos intervenientes,
estandonumaposiçãoprivilegiadapara lançaroserviçodetelevisãodigital, inclusivenoque
dizrespeitoà informaçãosobreessamudança:«Osoperadorespúblicosestãoateremtoda
Europaumpapel crucialnaadesãodaspessoasàTVdigital terrestre.NoReinoUnidoeem
Espanha–paísespioneirosnaimplementaçãodaTVdigitalterrestrenaEuropa–inicialmente
aTDTfracassoueelesrelançaramosserviçosdeformareestruturadadandoumpesogrande
aos canais públicos, respectivamente a BBC e a TVE.Muitos outros países europeus, como
Itália e França, seguiram o mesmo caminho e fortaleceram essas empresas públicas, que
possuemumaaudiênciaforteeimpulsionaramaTVdigital.Portugaldeveriaseguiromesmo
caminho já que ele, comprovadamente, tem dado certo. Mas não há movimentos neste
sentido.»(Denicoli).
Também é de destacar aliás o conjunto de 8 opiniões recolhidas que apontam no
sentidodeseropapelinformativooprincipalparaaRTPparaatransiçãodeTVanalógicapara
digital (APAP, APIT, DECO, ERC, Media Capital, PT, Sonaecom, ZON), ou seja, divulgar os
mecanismosnecessáriosàtransição,sobretudoparaaspopulaçõescommaioresproblemasde
literacia, bem como informar acerca das vantagens e vicissitudes do processo, através da
disponibilizaçãodetempodeantena,pequenosprogramas,blocosinformativos,etc.:«ARTP,
anossover,deveráparticipar,emconjunçãocomosrestantescanaisdetelevisãogeneralistas,
emcampanhasdesensibilizaçãoconsertadas.Alémdisso, visto se tratarde serviçopúblico,
deve ser analisada, a possibilidade de disponibilizar tempo de antena para sessões de
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esclarecimento, que podem passar por blocos publicitários, programas específicos sobre o
tema(mesmoquenumavertentemais lata,ousejaemprogramassobrenovastecnologias),
oumesmo,atravésdemensagensquepassamemprogramasdegrandeaudiência (comem
novelas,porex).»(DECO).
ApromoçãodatransiçãofoitambémindicadacomoumdospapéisqueaRTPdeverá
assumir (por 5 stakeholders: ANACOM, APAP, APIT, DECO e RTP), contribuindo com um
enquadramento positivo a mudança de sistemas televisivos em curso e munindo os
telespectadores – em particular os que apresentam índices de literacia mais baixos – da
informaçãonecessáriaparaestarempreparadosparaoswitch‐offdeAbrilde2012eparaque
nãoocorramsituaçõesemqueaspessoasdeixemdeteracessoàtelevisãoemsinalabertopor
nãoteremsidoadequadamenteinformadas:«Eapreocupaçãocomesseswitch‐offsocialnão
deve ser, na nossa perspectiva, esquecida nos próximos tempos.Ou seja, é impensável que
haja o apagão analógico emAbril do próximo ano, conforme as normas dopaís, e que, por
exemplo, 10 ou 20 por cento da população deixe de ter acesso a qualquer forma de
transmissãotelevisiva.Essapreocupaçãocomainterligaçãoentreacomponentetécnica‐essa
sim,fácildedesenvolver‐eaadaptabilidadeeaevoluçãodopróprioconsumodaspopulações
éparanósmuitorelevante.»(RTP).
OutropapelfrequentementeatribuídoàRTPaquandodasentrevistas(APD,Sonaecom
e JFA) foi o de assegurar a qualidade dos conteúdos televisivos, garantindo um serviço
efectivamentepúblicodetelevisão,inclusivenumpossível5ºcanal,queseconstituacomoum
factor de atractividade extra para a TDT. Igualmente mencionado foi o tornar os seus
conteúdosplenamenteacessíveisapessoascomnecessidadesespeciais.
A questão dos conteúdos foi aliás destacada pela própria RTP, no sentido em que
assume como seu papel assegurar a oferta de serviços não lineares, como a promoção da
língua portuguesa em produtos culturais desenvolvidos não só através da televisão e da
internet, como também no desenvolvimento de novos produtos (inclusive 3D) aquando do
switch‐off, numa lógica de complementaridade e integração com outras formas de difusão
televisivasquenãoaTDToucomainternet.Tambémdedestacarapossibilidadedepassagem
de conteúdos prévios do suporte em fita magnética para a sua gravação em servidores,
havendoumprojectodaRTPnesse sentido: «OdesafiodaRTP, é enormeedeverá assumir
comoprioridadeodesafiogigantescodeprocessaratransiçãodagravaçãodosconteúdosem
fita magnética para um método que procede à gravação em servidores. A RTP está a
24
desenvolver um projecto pioneiro, na organização da aplicação de novas tecnologias nesta
áreaeassimdeverácontinuar»(RTP).
Outraopinião(SIC)aindareferequeopapeldaRTPnãodeveráserdedestaque,mas
paraleloaodosoutrosoperadoresdetelevisãoexistentes.
12.ANACOM
EmrelaçãoaopapeldaANACOMnoprocessodetransiçãodatelevisãoanalógicapara
a televisãodigital,é referidopelosentrevistados (APAPeRTP)odeverasseguraroacessoà
televisão em sinal aberto para todos os telespectadores, no sentido em que ninguém fique
excluído. Neste sentido, é sugerido que caiba à ANACOM a informação à população, em
simultâneo com outras entidades, promovendo a transição, através de sessões de debate,
esclarecimentoereflexãoentreosinteressados.Outroaspectoquefoisalientadoemrelação
ao papel da ANACOM, pela própria entidade, é a criação de condições de cobertura ‐
assegurando a sua qualidade ‐ que permita a toda a população aceder à televisão em sinal
aberto.
Por outro lado, é referido que lhe compete a articulação entre os diversos
intervenientes (12em16 stakeholders), coordenandoas actividadesque são transversais ao
processodetransição.ÉaopapelreguladordaANACOM,entidadeindependentedeeventuais
pressões políticas, que é conferido maior destaque entre os entrevistados, bem como de
fiscalizaçãodosmercadosedasactividadesinerentesaoprocesso,deformaaassegurarasua
transparência. Também é referida a função de fazer recomendações aos governos nesse
sentido, tendoumpapel de assessoria entreestee asdiversas entidadesenvolvidas: «Deve
promoveraregulaçãodeformaisentaeimparcial,garantindoaoscidadãosumajustaeeficaz
gestãodoespectroradioeléctrico,queéumbempertencenteatodososportugueses.Opapel
da Anacom é eminentemente técnico e é importante que o regulador não se submeta às
pressõespolíticas.»(Denicoli).
Um dos aspectos em que foi sublinhado por um dos entrevistados (DECO) que a
ANACOMdeveriaintervirfoinocasoconcretodasubsidiaçãodascaixasdescodificadoraspara
aspopulaçõescommaioresnecessidadesnessesentido:«Aquestãodasubsidiaçãodascaixas
descodificadoras, estipulada na licença de utilização, continua no "segredo dos deuses". A
ANACOMtêmresponsabilidadesaestenível,aonãotomarmedidasqueforcemaPTCdivulgar
estasem tempoútil.» (DECO).Poroutro lado, foi também levantadaaquestãodoprocesso
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segundo o qual a PT se estabeleceu comooperadora de rede TDT, e que levantou algumas
dúvidas a um dos entrevistados (Denicoli) sobre se a ANACOM teria tido a actuação mais
adequada a essa circunstância: ««No actual processo, a Anacom tem deixado a desejar e
permitidoaexistênciadelacunasinexplicáveis,comoadecisãodaAnacomdedevolveràPTa
caução relativa ao concurso para a TDT paga, sem dar muitas explicações que
fundamentassem a sua posição.» (Denicoli)» Uma terceira questão apresentada (SIC) foi a
relativa ao lançamento da TDT paga, que segundo dois dos entrevistados deveria ser da
responsabilidadedaANACOM.
Aindadereferiréoaspectorelacionadocomagestãodoespectroradioeléctrico,que
será, segundo alguns dos entrevistados (ANACOM, JFA, RTP, SIC, Sonaecom e Zon), da
competênciadaANACOM,permitindoquesepensenodesenvolvimentomercadoaudiovisual
do futuro, através da gestão cuidada dos interesses dos operadores audiovisuais e dos de
comunicações:«Comoentidaderesponsávelpelagestãoeatribuiçãodeespectrocompete‐lhe
garantir a utilização efectiva e eficiente do espectro e supervisionar o cumprimento das
condições de atribuição de frequências e, no caso de incumprimento, garantir o seu
sancionamento adequado.» (Sonaecom). Também a questão da qualidade dos serviços dos
operadorestelevisivosfoiabordada(RTPeAPD),cabendosegundoalgunsdosstakeholdersà
ANACOMessaregulação.
13.PT
Oterceirointervenientenoprocessodetransiçãodatelevisãoanalógicaparaadigital
foi aPT,enquantooperadorada rededeTDT.Das respostas recolhidas, algunsstakeholders
(ERC, Media Capital, RTP, Sonaecom e Zon) referem que o papel da PT é o de cumprir as
obrigações do concurso através do qual se tornou a operadora da rede de TDT,
nomeadamente assegurando a cobertura da rede, tornando‐a acessível à totalidade da
populaçãoesalvaguardandoosinteressesdoscidadãosnestaquestão,aspectoperanteoqual
asentidadesreguladoraseogovernoterãoumpapelactivo:«OpapeldaPT,nomeupontode
vista, tem que ser aquele que está descrito, que levou ao concurso em que se apresentou
comocandidataequeganhou.Éesseopapel,queestámuitobemdescritonassuaspróprias
obrigações.Quantoao factodaPT ter IPTVeoutro tipodedistribuição,oGoverno temque
estarmuitíssimoatentoeosreguladorestambémtêmqueestarbastanteatentosparaqueo
cidadão – não digo o consumidor –mas o cidadãonão sejaminimamente prejudicadonem
sejaempurradoparaestaouparaaquelatecnologia.Temquehaverneutralidade.Nóstemos
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que dar um serviço gratuito, universal e é fundamental garantir esse serviço universal e
gratuito. Eu acho que a PT conseguirá, com certeza, separarmuito bem cada umadas suas
funções.» (ERC). Há portanto uma recomendação que advém desta questão, que é a da PT
separaraquestãodeseroperadoradarededeTDTdesertambémadetentoradeserviçosde
televisãodeIPTVeDTH,oquepoderiasuscitarsituaçõesdeconcorrênciadesleal,peloquea
suaactuaçãodeveráserregularizadadepertopelasentidadescompetentes,nomeadamentea
ANACOM.
Outro aspecto referido (SIC, PT, DECO, APIT, APAP e ANACOM) como da
responsabilidade (ainda que não exclusiva) da PT é o de divulgar informaçãoque prepare a
populaçãoparaoswitch‐off,elaborandoplanosdecomunicação,paraosquaisdisponibilizará
deumaverba,segundoostermosdoconcurso. Igualmentereferidocomoimportante(pelos
stakeholders APD, Denicoli, JFA e PT) é a PT dever assegurar a boa qualidade do serviço
televisivo que disponibiliza, com capacidade de rede assegurada a nível de cobertura e de
sinal,deformaapermitirqueapercentagemdepopulaçãoprevistaquenãopodeteracessoà
TDTporviahertziana(12,8%)nãosejaultrapassada,equeestapopulaçãotenhaigualacessoà
TDTsemaumentodecustos.
OutropapelatribuídoàPT(pelaRTP)éodepermitiraevoluçãotecnológicafuturada
rede,permitindoeventualmentenovas formasdedifusãoenovaspotencialidades–comoo
HD, por exemplo: «E deve ser também um papel de evolução tecnológica e de possível
evoluçãoda rede, no sentidodeessamesma redepoder, no futuro, evoluir paraoDVB‐T2,
paraoutrasformasdedifusão,paraoHD,etc.»(RTP).
Finalmente, um outro aspecto referido (pela ANACOM, APIT, DECO, RTP e SIC)
enquantoresponsabilidadedaPTéodefacultarasubsidiaçãodeaparelhosdescodificadores
àspopulaçõesmaiscarenciadas,assegurandoa transversalidadedoacessodaspopulaçõesà
televisão de sinal aberto: «Qual deve ser o papel da PT? Deve ser cumprir aquilo que está
previsto no concurso, ou seja, o nível de cobertura da população portuguesa, o pagamento
complementardoscustosacrescidosàspessoasquesótêmacessoporsatélite,opagamento
àspessoascomnecessidadesespeciaisecombaixosníveisderendimentos,dasubsidiaçãodas
boxes…»(RTP).