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ADUNESP FORMA in Seção Sindical do Andes - Sindicato Nacional Jornal da Associação dos Docentes da Unesp - Seção Sindical do Andes - Nº 48 - Dezembro/2006 EDIÇÃO ESPECIAL Esta edição especial do Adunesp Informa, na reta final de 2006, procura trazer reflexões e apontar propostas frente a um conjunto de medidas que se colocaram no caminho de docentes, servidores e estudantes nos últimos meses. Trata-se da minuta de Código de Ética apresentada pela reitoria e que pode ir à votação no CO ainda neste mês, da tramitação de propostas de avaliação docente no CEPE, da aprovação do ensino à distância e da parceria instituída com o SEBRAE para o oferecimento da disciplina Empreendedorismo em todos os cursos. Ainda que aparentem não ter relação entre si, tais iniciativas fazem parte de uma mesma concepção de educação superior. Em- bora as justificativas apresentadas primem pelo viés progressista – defesa de maior aces- so ao ensino superior, melhoria da qualidade do ensino oferecido à população, estímulo a alternativas diante do desemprego, captação de recursos etc etc. – estamos diante da con- CÓDIGO DE ÉTICA, Ações fragmentadas impulsionadas pela reitoria refletem concepção mercantilista de universidade e apontam o caminho das saídas individuais EMPREENDEDORISMO, AVALIAÇÃO DOCENTE... ENSINO À DISTÂNCIA, Os 30 anos da Adunesp Pág. 8 Por falar em ética... Cruesp rompe acordo salarial e Unesp fere a isonomia Pág. 8 cretização de propostas que compõem o ideário neoliberal para a educação no século 21. Traçan- do um paralelo com o que diz o sociólogo francês Pierre Bordieu: “Quando os liberais falam em so- ciedade, querem dizer, na verdade, o mercado.” Com as matérias que compõem esta pu- blicação, a Adunesp não pretende esgotar quaisquer dos assuntos abordados. Longe dis- so. Também não se trata apenas de dizer SIM ou NÃO a esta ou àquela proposta, mas de ler nas suas entrelinhas. De forma preocupante, mais uma vez a Unesp adere rápida e acriticamente a tudo o que sopra do mercado. Por outro lado, é tam- bém preocupante a falta de contribuição da Universidade no sentido da reflexão teórica so- bre todas estas questões. Além de demarcar sua posição a respei- to destas medidas – como é o seu papel na qualidade de entidade sindical – a Adunesp quer contribuir na discussão.

ADUNESP FORMA in · tas, a partir de um amplo e demo-crático processo. A plenária da Adunesp con-siderou que, nos tempos atuais, ao invés de debater os valores e princí-pios comuns

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ADUNESP FORMAin Seção Sindical do Andes - Sindicato Nacional

Jornal da Associação dos Docentes da Unesp - Seção Sindical do Andes - Nº 48 - Dezembro/2006EDIÇÃO ESPECIAL

Esta edição especial do AdunespInforma, na reta final de 2006, procura trazer

reflexões e apontar propostas frente a umconjunto de medidas que se colocaram no

caminho de docentes, servidores e estudantesnos últimos meses. Trata-se da minuta de

Código de Ética apresentada pela reitoria eque pode ir à votação no CO ainda neste mês,

da tramitação de propostas de avaliaçãodocente no CEPE, da aprovação do ensino à

distância e da parceria instituída com oSEBRAE para o oferecimento da disciplina

Empreendedorismo em todos os cursos.

Ainda que aparentem não ter relaçãoentre si, tais iniciativas fazem parte de uma

mesma concepção de educação superior. Em-bora as justificativas apresentadas primem

pelo viés progressista – defesa de maior aces-so ao ensino superior, melhoria da qualidade

do ensino oferecido à população, estímulo aalternativas diante do desemprego, captação

de recursos etc etc. – estamos diante da con-

CÓDIGO DE ÉTICA,

Ações fragmentadas impulsionadas pelareitoria refletem concepção mercantilista

de universidade e apontam o caminhodas saídas individuais

EMPREENDEDORISMO,AVALIAÇÃO DOCENTE...

ENSINO À DISTÂNCIA,

Os 30 anos da

AdunespPág. 8

Por falar em ética...

Cruesp rompe acordo salarial eUnesp fere a isonomia

Pág. 8

cretização de propostas que compõem o ideárioneoliberal para a educação no século 21. Traçan-do um paralelo com o que diz o sociólogo francêsPierre Bordieu: “Quando os liberais falam em so-ciedade, querem dizer, na verdade, o mercado.”

Com as matérias que compõem esta pu-blicação, a Adunesp não pretende esgotarquaisquer dos assuntos abordados. Longe dis-so. Também não se trata apenas de dizer SIMou NÃO a esta ou àquela proposta, mas de lernas suas entrelinhas.

De forma preocupante, mais uma vez aUnesp adere rápida e acriticamente a tudo oque sopra do mercado. Por outro lado, é tam-bém preocupante a falta de contribuição daUniversidade no sentido da reflexão teórica so-bre todas estas questões.

Além de demarcar sua posição a respei-to destas medidas – como é o seu papel naqualidade de entidade sindical – a Adunespquer contribuir na discussão.

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2 ADUNESP FORMAin Nº 48 - Dez/2006

Jornal da

Associação dos Docentes da

Unesp.

Adunesp S. Sindical

Diretoria: Milton Vieira do Prado

Júnior (Presidente, FC/Bauru), Sueli

Guadelupe de Lima Mendonça (Vice-

presidente, FFC/Marília), João da

Costa Chaves Júnior (Secretário-

geral, FCL/Assis), Maria Aparecida

Segatto Muranaka (Vice-secretária,

IB/Rio Claro), Emanuel da Rocha

Woiski (Tesoureiro-geral, FE/Ilha

Solteira) e Carlos Alberto Anaruma

(Vice-tesoureiro, IB/Rio Claro).

Praça da Sé, 108, 3º andar, SP.

Fones (11) 3242-7080.

Home page: www.adunesp.org.br

E-mail: [email protected]

Jorn. resp.: Bahiji Haje

Em outubro de 2005, oConselho Universitário (CO) criouuma comissão para elaborar um Có-digo de Ética para a Unesp. Presidi-da pelo professor William Saad Hos-sne, da FM/Botucatu, a comissãoentregou sua proposta ao reitor Mar-cos Macari no início setembro de2006. Este, por sua vez, levou-a àreunião do CO no mesmo mês e pro-pôs que fosse encaminhada às uni-dades, para análise e manifestaçõesdas congregações, estabelecendocomo prazo o dia 10/11.

Na reunião de novembro,Macari afirmou que o tema fará par-te da próxima reunião do CO, emdezembro, para deliberação. Ouseja, a reitoria propõe o “debate” e aaprovação de uma questão tão im-portante para a Universida-de em exíguos três meses.

CÓDIGO DE ÉTICA CÓDIGO DE ÉTICA

Por que somos contrários àaprovação da minuta

apresentada pela reitoriaAdunesp pede retirada da pauta do CO. Que a comunidade decidaSE quer um Código de Ética e, em caso positivo, QUAL deve ser seu

conteúdo

Adunesp pede inversãodo debate

Em sua plenária de 7/11/06,a Adunesp analisou o problema e, di-ante da declarada intenção da reito-ria, manifesta-se contrária à aprova-ção da minuta e pede que os conse-lheiros do CO retirem-na de pauta.

Desde a sua origem, a Adu-nesp defende, para todas as ques-tões (políticas, didático-pedagógicas,sociais etc) o amplo debate no seioda comunidade. O processo deve serinverso: é da comunidade acadêmi-ca que devem surgir as propostas e,daí, serem formalizadas. Se a comu-nidade considerar que precisa de umCódigo de Ética, deve caber a ela ainiciativa de formular propos-

tas, a partir de um amplo e demo-crático processo.

A plenária da Adunesp con-siderou que, nos tempos atuais, aoinvés de debater os valores e princí-pios comuns de um grupo ou insti-tuição, podemos dar mais um pas-so em direção à retirada de direitose da inibição do contraditório.

A posição da Adunesp – pelaretirada do assunto da pauta do CO– parte dos seguintes pressupostos:- A Universidade já possui um Es-tatuto, com direitos e deveres;- A posição do reitor pode ter in-fluenciado diretamente a tomadade decisão das congregações, o quetambém pode ocorrer em relação

ao CO;- A Adunesp e o Fó-

rum temem queum Código de Éti-ca pode assumirum caráter pura-mente punitivo,principalmentepara os movimen-tos organizados;

Em váriosmomentos, nãoapenas na Unespcomo em outrasuniversidades pú-blicas, tentativascomo esta foramrechaçadas, prin-cipalmente porqueas diferentes pro-postas apresenta-das deixavam emaberto, nas entre-linhas, possibilida-des de interpreta-ção. Dependendodos gestores deplantão, as inter-

Código de Ética efundações

Um dos capítulos da pro-posta de Código de Ética apresen-tada pela reitoria diz respeito àsrelações da Universidade com as cha-madas fundações de “apoio”. Trata-se do capítulo VIII, que traz, entre ou-tras questões, a afirmação de que “a organização e os objeti-vos de fundações de apoio à Unesp e a celebração de convêni-os devem visar ao aumento da sua capacidade em ensino,pesquisa, bem como a extensão à sociedade de serviços delesindissociáveis”.

O trecho, em si, é genérico e permitiria, por exemplo,que a atual relação entre Unesp e fundações permanecesseexatamente como está: muitas oferecem cursos pagos, em fran-ca contradição com a gratuidade do ensino preconizada pelaConstituição Federal; professores são estimulados a comple-mentar seus rendimentos através de ganhos extras nas fun-dações, num apelo às saídas individuais diante de problemasque são coletivos; o nome da Universidade é usado para negó-cios e convênios que não passam pelo crivo da comunidade;entre outros.

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CÓDIGO DE ÉTICA CÓDIGO DE ÉTICApretações podem ser as mais diver-sas, tornando fáceis ações de contro-le à liberdade de expressão.

Um termo abstrato, sedissociado da prática

Se analisada de forma estan-que, a ética torna-se uma abstração.De qual ética estamos falando?

Num passado recente, mui-tos assuntos foram aprovados naUnesp em franca contradição coma ética. Muitos dos exemplos a se-rem citados dizem respeito a admi-nistrações anteriores, como veremosa seguir, mas nem todos:

- Foi ético fazer um convênio com ogoverno alemão para a compra deequipamentos, oferecidos no merca-do nacional com preços menores,criando uma dívida que está sendopaga até hoje?- Foi ético não pagar a parte do tra-balhador no IPESP, que é regular-mente descontada dos salários dedocentes e servidores, bem comofazer uma renegociação sem amplodebate desta dívida?- Foi ético aprovar uma expansãoclaramente por motivos políticos,sem garantia de financiamento?- Foi ético gastar recursos públicospara tentar mudar a reitoria de SP?- É ético ter ensino pago numa uni-versidade pública, na qual a educa-ção é um direito de todos e um de-ver do Estado? (veja box “Código de

Ética e fundações de apoio”)- É ético mudar o foco de ensino tor-nando, em muitos locais, mais im-portante o curso de fim de semana,via fundações, do que o investimen-to na qualidade dos cursos regula-res de graduação e pós-graduação?- É ético aprovar o ensino à distân-cia, ao invés de investir na formaçãopresencial e melhorar os recursos einstrumentos didáticos pedagógicos(inclusive on-line), buscando a forma-ção de um aluno crítico e transfor-mador da realidade social? (veja ma-téria sobre EaD nas págs. 4 e 5)- É ético assumir a falta de recursose a necessidade de professores cap-tarem recursos externos, através deparcerias e convênios, como a prin-cipal saída para o financiamento pú-blico, eximindo-se da luta pelo au-mento de verbas?- É ético não valorizar os servidores?É ético sequer repor a inflação do pe-ríodo em nossa data-base? É ético nãopagar precatórios? É ético atrasar o13º salário? É ético terceirizar servi-ços, tirando emprego de servidores erebaixando a qualidade da instituição?

A questão que fica é: seráque este Código também servirá paraverificar a ética na postura dos ges-tores? A comunidade poderá solici-tar a instalação da referida Comis-são de Ética? O reitor de “plantão” acolocaria em pauta... a autorizaria?Tais dúvidas reforçam a idéia da ne-cessidade de ampliar o debate.

Comissão ou“Tribunal” de

Ética?

A minuta de Código apresen-tada pela reitoria propõe a criaçãode uma Comissão de Ética, com afunção de analisar e julgar os pos-síveis desvios de conduta de docen-tes, servidores técnico-administrati-vos, discentes e dirigentes. O crité-rio de formação de tal Comissão éprofundamente antidemocrático, pordois motivos:1) De seus sete membros, cinco seri-am docentes, um servidor técnico-ad-ministrativo e um discente, em maisuma demonstração de que a Universi-dade descarta a paridade e consideraque servidores e discentes são cida-dãos de segunda classe, com menosdireitos do que os docentes;2) Os cinco docentes e o servidor téc-nico-administrativo seriam indicadospelo CO. Ou seja, sequer se cogita apossibilidade de que sejam eleitosdireta e democraticamente pela co-munidade.

Quanto ao papel da Comis-são, a minuta é clara: “Constatada ainfração de natureza ética, a Comis-são encaminhará os autos ao Mag-nífico Reitor, para as devidas provi-dências”. Ora, é evidente que ficaaberta uma brecha – na verdade,uma verdadeira avenida – para queas administrações de plantão punamdesafetos, persigam militantes etcetc. Além do mais, tal Comissão seinstalaria em paralelo a eventuaisprocessos administrativos... ou à suarevelia?

Se sua administração fossequestionada quanto à ética, será queo reitor permitiria a instalação de talcomissão, a colocaria em pauta noCO?

Embora o tempo destinado à discussão do tema fosse bastanteapertado, o debate ocorreu em várias unidades, principalmente no âmbitodas congregações. Em Ilha Solteira, por exemplo, a proposta da reitoria foianalisada ponto a ponto, sendo feitas propostas de alteração ou exclusãoem vários deles. Os companheiros de Ilha apontam a duplicidade de “legis-lações” e ressaltam a existência de aspectos contraditórios e definiçõesincompatíveis, que nada têm a ver intrinsicamente com ética, como é ocaso da “defesa do ensino público e gratuito” (esta é uma questão de postu-ra política). Também propõem, entre outras, a substituição do termo “não-docente” por “técnico-administrativo”.

Em Bauru, foi realizada uma mesa-redonda, no dia 6/11, intitu-lada “Código de Ética da Unesp: leituras e contribuições”, sob a organiza-ção do Grupo de Estudos de Direitos Humanos, Ética e Comunicação/Núcleo pela Tolerância. A mesa propôs retirar a minuta da reitoria dapróxima reunião do CO e desencadear em 2007 um debate em profundi-dade sobre “princípios éticos”, independente se a Unesp deva ou nãopossuir formalmente um Código de Ética.

Em boa parte das unidades, assim como em Bauru, pede-se aretirada do assunto da pauta da próxima reunião do CO, de forma apermitir que o processo de discussão prossiga e ganhe corpo.

Contribuições da comunidade

Comissão ou“Tribunal” de

Ética?

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4 ADUNESP FORMAin

Aprovada na reunião do Con-selho Universitário (CO) de 26/10, a in-trodução do ensino à distância naUnesp – envolvendo cursos de gradua-ção, pós-graduação, especialização, te-máticos, atualização e extensão – jáestá em vias de ser colocada em práti-ca. Matéria divulgada pelo jornal Folhade S. Paulo (1º/12/2006) informa que aUFSCar e a Unesp, as primeiras públi-cas a aprovarem a modalidade no esta-do de São Paulo, farão vestibular paragraduação à distância já em 2007. Maisadiantado na UFSCar, que marcou asprovas para fevereiro, com 1.950 vagasem Educação Musical, Engenharia Am-biental, Pedagogia, Sistemas de Infor-mação e Tecnologia Sucroalcooleira, oprocesso na Unesp ainda aguarda apro-vação pelo MEC, embora esteja confir-mado para o próximo ano. SegundoKlaus Schlünzen Júnior, presidente daComissão de Educação à Distância daUnesp, “há demanda em todas as áre-as e até um curso de medicina, porexemplo, poderá ser semipresencial,com as aulas teóricas à distância e aspráticas, nos laboratórios e hospitais.”

Na reunião do CO que apro-vou a EAD, os representantes daAdunesp, Milton Vieira do PradoJúnior, e do Sintunesp, Luiz Car-los de Freitas Melo, ambos comdireito a voz, mas sem direito avoto, criticaram a proposta. Oreitor Marcos Macari, por sua vez,chegou a justificar a aprovação com oargumento de que é preciso “testar”, “fa-zer a experiência”. Tal qual um sabone-te, um carro, um molho de tomate...

A maioria das faculdades priva-das desenvolve seus projetos na buscafrenética pelo dinheiro e para a sobrevi-vência no mercado, transformando o alu-no em “cliente”. É este o caminho que asuniversidades públicas devem seguir?.

Segundo Schlünzen, “oferecereducação à distância não é massificaro ensino, mas facilitar o estudo daque-les que estão distantes dos grandes cen-tros”. Considerando que estamos no es-tado mais desenvolvido e central dopaís, o argumento é, no mínimo, frágil.

EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA EDUCAÇÃO

O uso das novas tecnologias para o

Ao aprovar uma medida de ta-manha envergadura sem qualquer de-bate mais sério a respeito, a Unesp no-vamente submete-se às regras que so-pram do mercado de forma absoluta-mente acrítica.

Quais impactos pedagógicosum curso à distância terá no processoensino-aprendizagem? A Universidadedesenvolveu um arcabouço pedagógicopara tais cursos? Que tipo de profissio-nal será formado? Quanto custará a im-plantação deste programa?Estas e ou-tras questões deveriam ser objeto de re-flexão por parte da intelectualidadeunespiana antes de qualquer coisa. Masnão é o que está acontecendo. Primei-ro, aprova-se. Depois, começa-se a pen-sar em tipos de curso, conteúdos etc.

A Universidade aprova tal mo-dalidade sem antes fazer uma séria ava-liação das experiências que desenvol-veu, como PEC-Formação Universitária,Pedagogia Cidadã e cursos de extensão.Os colegiados centrais estão cientes dasdificuldades, obstáculos, avanços (?)desses programas específicos? Como

vemos, não é nada científico, como pro-cedimento de políticas públicas, insti-tucionalizar tal modalidade sem antesrealizar um balanço do que foi feito.Mostra como a pressa é para se ade-quar às diretrizes do Ministério da Edu-cação e ao mercado, muito aquém dopapel da universidade que deveria serproponente e não submissa às cegas.

É contraditório que as universi-dades públicas, como é o caso da Unesp,proponham o desenvolvimento de cur-sos à distância ao mesmo tempo em quehá um estrondoso corte de verbas paraos setores essenciais destas instituições,

inclusive para as áreas ligadas àinformática. Os especialistas daárea afirmam categoricamente queé uma ilusão achar que educaçãoà distância é mais barata que a pre-sencial; ao contrário, requer tudomais sofisticado, nos diferentes âm-bitos técnicos, teóricos, pedagógi-cos exatamente por ser uma expe-riência recente. Assim, ficam as

perguntas: Qual acúmulo a uni-versidade tem? Em quais áre-as? Que resultados? O quepriorizar? Como fica o EADno projeto institucional? Ha-verá financiamento? Capta-ção de recursos externos? E

se forem cortados, como a ex-pansão já vivenciada recentemen-te? Efetivamente, o EAD demandainvestimentos teóricos, financeirose tecnológicos elevados, caso sequeira realmente pensar numaperspectiva inovadora crítica... ex-ceto quando é uma farsa.

Novas formas dealienação

É inegável que as novastecnologias são produto de um pro-cesso que não pode – e não deve –ser interrompido. Assim como já in-terferem e modificam o processoeducacional no presente, é certo

“Não olhe para trás, ou para cima;olhe para dentro de você mesmo, onde

supostamente residem todas as ferramentasnecessárias ao aperfeiçoamento da vida – sua as-

túcia, vontade e poder”(BAUMAN, Zygmunt. A modernidade

líquida. RJ, Editora Zahar, 2001)

O uso das novas tecnologias parao mercado e não para

a humanidade

Nº 48 - Dez/2006

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DISTÂNCIA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

5ADUNESP FORMAin

que produzirão caminhos novos e mu-danças gigantescas no futuro.

As novas tecnologias, no entan-to, não podem ser consideradas apenascomo uma grande evolução científica quediminuem a noção de tempo e de espa-ço para os indivíduos. Não são apenasum conjunto de máquinas e seus pro-gramas. Representam, também, umaforma de pensamento que vai pressio-nando seus usuários diretos e indiretosa perceberem o mundo de um modo par-ticular. Utilizadas acriticamente, levamo pensamento a tornar-se extremamen-te técnico, o que contribuirá decisiva-mente para a formação de crianças e jo-vens com pouca ou nenhuma capacida-de de compreensão política, crítica e éti-ca da sociedade em que vivem. A rela-ção professor-aluno só se concretizaatravés do vínculo, ou seja, da relaçãosocial entre os agentes. Sem a vivênciaem comum, tornam-se estreitos os ca-minhos que levam à internalização dasexperiências e ao avanço da consciên-cia do mundo.

Da mesma forma que não exis-te neutralidade em qualquer ramo daciência, e todo avanço técnico e cientí-fico sempre esteve relacionado aos in-teresses de classe, também não há neu-tralidade na utilização das novas tec-nologias na área da educação.

A quem interessaesta educação

As mudanças ocorridas na socie-dade no final do século XX provocaramprofundas transformações nas relaçõessociais, com reflexos diretos na educação.

Desde a educação fundamentalaté os cursos de pós-graduação, há umaenorme pressão internacional paratransformar todo o processo educativonuma formação aligeirada, individuali-zada, que tem como objetivo principal apreparação do indivíduo para o merca-do consumidor, transformando, assim,o jovem estudante em mais uma engre-nagem da grande máquina consumido-ra mundial.

O principal objetivo da educa-ção à distância, neste contexto atual,além do fabuloso lucro obtido com estetipo de ensino – que, na maioria doscasos, não prevê a contratação de pro-fessores, a construção de prédios e desalas de aula e, muito menos, o desen-volvimento da pesquisa – é o de for-mar indivíduos diplomados, com habi-lidades técnicas e nenhuma vivênciaacadêmica ou experiência coletiva paraa inserção na vida social.

O número de alunos e decursos à distância vem aumen-tando vertiginosamente no Bra-sil ano após ano. Segundo publi-cação feita pelo Anuário Brasilei-ro Estatístico de Educação Aber-ta e à Distância 2006, órgão daAssociação Brasileira de Educa-ção à Distância (ABED), somenteno ano passado, 321 novos cur-sos de nível superior foram aber-tos, número bastante superioraos 56 de 2004, e dos 29 de2003. Um aumento superior a12 vezes em apenas dois anos.

Com o aumento da ofer-ta, aumentou consideravelmentetambém o número de alunosmatriculados, que passou de309.957, em 2004, para504.204, em 2005, o que signifi-ca um crescimento de 62,7%.

Da mesma forma, au-mentou em 30,7% o total de ins-tituições superiores autorizadaspelo MEC a oferecer esses cur-sos, que passou de 166, em2004, para 217, em 2005.

Esses números, longe derepresentarem uma democrati-zação do ensino superior e umalargamento das possibilidadesde aquisição do conhecimentopelas camadas mais exploradasda população brasileira, são oreflexo da pressão exercida pelasgrandes corporações internacio-nais (capitaneadas por organis-mos como o Banco Mundial)para modificar a estrutura doensino superior no Brasil, adap-tando-o cada vez mais às neces-sidades do mercado e da explo-ração da educação como maisuma mercadoria da sociedadecapitalista.

Crescimento vertiginoso

Brechas abertasO grande mercado da edu-

cação privada no Brasil é pródigoem aproveitar as boas oportunida-des de ganhar dinheiro. Quantomais fácil, melhor. Denúncia vei-culada pelo Globo Online (27/11) eJornal Hoje, da TV Globo (29/11)mostrou como o ensino à distân-cia vem sendo usado como cober-tura para a venda de diplomas deensino médio. Por R$ 600,00, o jor-nalista comprou, em São Paulo, umdiploma assinado pelo Colégio Bra-sileiro, que fica no Rio de Janeiro.O certificado vem com a chancelada Secretaria de Educação do RJ.

Rápidos nogatilho

Matéria divulgada no jornalO Estado de S. Paulo (25/11/2006),mostra que as Faculdades JorgeAmado (FJA), uma das mais impor-tantes instituições privadas daBahia, firmou parceria com a Whit-ney International University System– uma espécie de rede universitáriamundial. Pelo acordo, a Whitneyabre as portas do mercado brasilei-ro para suas operações. Em troca,investe R$ 23,5 milhões na institui-ção, dando à faculdade acesso anovas tecnologias, em áreas comoensino à distância, e oferecendo aosalunos a oportunidade de fazer es-tágios e intercâmbios no exterior,por meio de acordos com outras ins-tituições parceiras da organização– hoje presentes na América Lati-na, na África, no Oriente Médio ena Ásia.

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AVALIAÇÃO DOCENTE AVALIAÇÃO

Em sessão realizada nomeio deste ano, o Conselho de En-sino, Pesquisa e Extensão (CEPE) daUnesp teve incluída em sua pautauma proposta sobre avaliação do-cente. O texto foi apresentado pelopresidente da Comissão Permanen-te de Avaliação (CPA), professor Adri-ano Antônio Natale, e trazia pontosbastante preocupantes.

O professor Odeibler SantoGuidugli, presidente da subseçãoda Adunesp em Rio Claro e represen-tante junto ao CEPE, eleito pelo “Cha-pão”, lembra que a proposta era ge-nérica. Uma das modificações suge-ridas era de que todos os relatóriosdocentes deveriam ser apresentadosna forma de plataforma Lattes. Omais grave, porém, era a exigência deque, ao final de cada ano, os depar-tamentos deveriam avaliar seus do-centes e que os 20% dos relatóriosconsiderados mais “fracos” (mínimode dois) seriam, obrigatoriamente, en-caminhados à CPA para análise. Esta,por sua vez, com base nos relatórios,poderia determinar algumas puni-ções, como o corte do tempo integral.

“De pronto, dissemos que issoera inaceitável”, diz Odeibler. “Comosaber se este não seria um meca-nismo de caça às bruxas na Uni-versidade, uma forma de cortarcustos via retirada do RDIDP?”Ele lembra que qualquer proces-so avaliativo deve ser antecedi-do de algumas perguntas bási-cas: Por que? Para quem? Comqual finalidade?

Depois de muita discus-são, o CEPE deliberou que o tex-to da CPA seria colocado de ladoe que cada uma das quatro pró-reitorias da Unesp deveria apre-sentar uma proposta específica deavaliação. Os textos das pró-rei-torias chegaram em setembro/2006 e o CEPE compôs uma co-missão para sistematizá-los emontar um documento final. Nareunião de novembro, a propostada comissão foi apresentada.

Produtivismo mercantilista oueficácia social e pública?

Adunesp defende avaliação institucional e rejeita processo iniciado pela CPA noCEPE

Critério produtivista éestimulado pela CAPES

Nos últimos anos, a CAPES tem adota-do critérios cada vez mais produtivistas, em sin-tonia com a lógica do mercado. Como conseqü-ência, tem produzido avaliações que não expres-sam o progresso dos programas, as dificulda-des e os distintos perfis. Para o Andes, “a hiper-valorização do número de publicações não as-segura a qualidade acadêmica dos programas eproduz uma intensificação de publicações que,em si mesmas, não são indicadoras de qualida-de. Nesse sentido, a cultura de rankings basea-da em conceitos atrelados à produtividade é umsevero obstáculo para a colaboração entre ins-tituições, pesquisadores e estudantes” (Propos-ta do ANDES-SN para a Universidade Brasileira).

Como os conselheiros a haviam rece-bido na última hora, o professor Odei-bler pediu que nada fosse votado, poisera preciso um tempo de análise. Asugestão foi acatada e o tema deverávoltar à pauta na reunião de dezem-bro.

“Uma análise inicial mostraque a proposta continua confusa,problemática, sem objetivos”, consi-dera o docente. “Até agora, não con-seguimos definir quais resultadospráticos se espera com isso”, diz ele,lembrando que muitos outros proces-sos avaliativos já foram implementa-dos na Universidade. “Alguns cami-nharam até o fim, mas nunca se viuresultado prático algum.”

A Adunesp considera indis-pensável que o CEPE discuta o re-latório final da recém-concluídaavaliação institucional realizadana Unesp. Qualquer novo proce-dimento a ser criado deve estarsintonizado com esta avaliação.

Proposta domovimento

docenteprivilegia avaliação

institucionalA Adunesp entende que a ques-

tão da avaliação também deve ser de-batida à luz da disputa entre o “coleti-vo” e o “individual”. Ou seja, é neces-sário debater, antes, qual é a universi-dade pública que queremos e qual é omodelo defendido e implementado pe-los governos e administrações que lhesdizem amém.

Num cenário em que os recur-sos financeiros são insuficientes e noqual os docentes são estimulados àssaídas individuais para a solução dosseus problemas – buscar variadas for-

mas de completar seus saláriosdentro e fora da Universida-de, por exemplo ministrandocursos pagos via fundações –muito provavelmente os crité-rios de avaliação passarão lon-ge dos interesses da maioriada população.

A Adunesp, a exemplodo que propõe o Andes – sindi-cato nacional dos docentes doensino superior – defende aexistência de um projeto naci-onal de avaliação institucional,de caráter autônomo e demo-crático, baseado em critériosnão-quantitativos e não produ-tivistas, tomando como referên-cia o projeto político-acadêmi-co das instituições de ensinosuperior. Tal avaliação institu-

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DOCENTEcional deve ser desenvolvida internae externamente, de forma democráti-ca e transparente, respeitando as es-pecificidades nacionais e regionais, ali-cerçada num projeto global para aeducação superior brasileira, e estenum projeto político para o país.

Para a Adunesp, é dentro des-ta ótica que se deve realizar a avalia-ção do desempenho de cada docentevinculado à instituição, com o objetivode estimular o seu aperfeiçoamento noexercício do ensino, da pesquisa e daextensão, e fornecer subsídios para asua progressão na carreira docente.Em vez de “produtividade” individual,deve estar em foco a “produtividade”institucional e coletiva.

O que estamos vendo, hoje,são professores trancados em suassalas/laboratórios, acelerando o fecha-mento de um produto e esquecendo desua repercussão social e científica (pro-dução pela produção). Cada vez, sabe-se mais de muito menos. Pior que isto,deixam para segundo plano a forma-ção de novas gerações, o dia-a-dia dasala de aula, as mudanças necessári-as no processo ensino-aprendizagema partir da chegada de uma nova tur-ma com suas diferenças individuais.Observamos, também, aumentar onúmero de adeptos das aulas repetiti-vas, sem planejamento, utilizando osmesmos recursos didático-pedagógicosde décadas atrás. A sala de aula nãopode ser substituída por esta visão pro-dutivista, pois ela é a razão de estar-mos numa instituição de ensino supe-rior de qualidade.

“Avaliação constitui-se emuma investigação crítica de umadada situação que permite, deforma contextualizada, compreen-der e interpretar os confrontosteóricos/práticos, as diferentesrepresentações dos envolvidos eas implicações na reconstruçãodo objeto em questão. Esse pro-cesso desencadeia uma interven-ção intencional de estudos, refle-xões, re-leituras, gerando nasações/decisões um movimento deproblematização e ressignificaçãona direção de transformaçõesqualitativas de relevância teóricae social.”

(CAPPELLETTI, IsabelFranchi / org. Avaliação dePolíticas e Práticas Educa-cionais. São Paulo, Articu-lação Universidade/Escola,2002.)

A s pressõesideológicas e mercantisque levaram à adesãoacrítica da Unesp ao en-sino à distância tam-bém estão na base doconvênio recém-firmadocom o SEBRAE, visan-do a implantação dadisciplina Empreende-dorismo em todos oscursos de graduação dainstituição. A parceriafoi assinada no dia 25/10 e, como é peculiar àUnesp, a toque de caixa. Profes-sores já estão sendo treinados paraque as primeiras experiências se-jam feitas em 2007. A disciplinaserá optativa, sempre nos dois úl-timos anos do curso, e poderá seroferecida em qualquer área.

A iniciativa partiu da reito-ria da Unesp. A justificativa do rei-tor Marcos Macari foi a seguinte:“Há quatro milhões de jovens nosbancos das universidades. Como éque vai ter emprego para todo mun-do? Não podemos deixar esses jo-vens irem para o mercado de traba-lho com essa mentalidade” (PortalUniversia, 25/10/2006). Para Ma-cari, cabe à Universidade orientá-los sobre a realidade do mercado eincentivá-los a ser empreendedores.“O objetivo é que os alunos adqui-ram conhecimento e sejam capazesde identificar oportunidades, avali-ar possibilidades mercadológicas,econômicas e financeiras e a elabo-rar um plano de negócios”, comple-tou Maria Cristina, gerente do SE-BRAE-SP (Portal Universia, idem).

Aqui, como no caso do en-sino à distância, cabem ponto econtraponto.

Um primeiro aspecto é quea iniciativa beira a uma interven-ção didático-pedagógica nos cur-sos. É a máxima do capitalismo empleno vigor no interior da Unesp,passando por cima de concepçõesde cursos, de Universidade, de pro-jetos pedagógicos etc.

EMPREENDEDORISMONão há emprego? Ora,

desenvolva suas habilidades ecompetências e... vire-se!

Negócios paratodos?

Como o capitalis-mo continua sendoincapaz de atender atodos e, ao mesmotempo, quer que to-dos estejam incluí-dos no grande mer-cado mundial, o in-divíduo deve “apren-der a aprender” a vi-ver nesta sociedade.Cabe a ele ser autô-nomo, buscar seu

próprio caminho, desenvolver ha-bilidades e competências que lheapontem a alternativa ao desem-prego. E se não der certo? Bem,todas as condições lhe foram da-das, mas ele foi incapaz de apro-veitá-las. Será dele o peso do fra-casso... e não do capitalismo emcrise. Teremos uma geração de de-primidos? Ou será que o reitor Ma-cari acredita que, destes quatromilhões, algumas centenas de mi-lhares encontrarão na via do ne-gócio próprio a solução para o de-semprego?

AgilidadeMais uma vez, a Unesp é

ágil em aceitar o que sopra com osventos do mercado. Este debate,assim como tantos outros, deveriaser feito em profundidade no inte-rior da Universidade.

É necessário que se deba-tam as razões do desemprego e asperspectivas diante do problema. Opapel da universidade em um pro-jeto de nação não pode fundar-seno capitalismo – atualmente, no ca-pitalismo em crise – mas em umaconcepção de nova sociedade. Nes-ta perspectiva, caberia discutir emsala de aula atitudes de liderança,de trabalho em grupo, de respeitosocial e humano, relação do homemcom a natureza, ou seja, dar ao em-preendedorismo um conteúdo co-letivo, que sirva às necessidades doconjunto da sociedade.

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Quebra de compromisso com a categoriae golpe na isonomia

E POR FALAR EM ÉTICA...

No Comunicado Cruesp 04/2006, de 22/11, os reitores confirmama realização, a partir de outubro, daprevisão anual de arrecadação de ICMScontida no Orçamento estadual (R$40,219 bilhões). No entanto, rompen-do o compromisso assumido na data-base 2006, eles informam que o rea-juste complementar de 1,79% não in-cidirá sobre os salários de setembro,como havia sido acordado, mas sim so-bre novembro. O Comunicado 04/2006também diz que a data de pagamentofica “a critério de cada Universidade”.

Em seguida, por meio do Comu-nicado Runesp 02/2006, a reitoria da Unespdiz que e “o reajuste será implementado nafolha de jan/07, para pagamento no quartodia útil do mês de fev/07, data em que serãocreditadas também as diferenças sobre ossalários de novembro, dezembro e 13º salá-rio de 2006.”

Já descontente com o baixo índi-ce de 2006, a categoria esperava que, nomínimo, o 1,79% retroagisse a setembroe, obviamente, fosse pago imediatamente.O golpe na isonomia é flagrante. E se se-guirmos a moda e lançarmos uma cam-panha assim: “Fica a critério de cada pro-fessor e servidor trabalhar conforme o pa-gamento recebido”?

O desprezo dos reitores conti-nua

No dia 30/11, a pedido da Adu-nesp, o Fórum das Seis reuniu-se paradiscutir o problema. Em boletim divul-gado na seqüência (“O desprezo dos rei-tores continua”), a Adunesp frisa que,como sempre ocorreu quando se vêem sobo risco de que suas contradições sejamquestionadas, os reitores ficam refratári-

Participe da revista dos 30anos da Adunesp

Em 2006,a Adunesp comple-tou 30 anos. Em1996, uma ediçãoespecial da RevistaAdunesp (ao lado)resgatou as lutas dosprimeiros 20 anos, ocrescimento e a con-solidação da entida-de como legítima re-presentante dos do-centes da Unesp.

Uma nova edição da Revista Adunesppretende resgatar os últimos 10 anos. Com cir-culação prevista para julho do próximo ano, elatrará matérias com os principais fatos que mar-caram o período e que apontam o caminho doque vem por aí. A revista também terá espaçodedicado a artigos que explorem a história daentidade e da própria Universidade, os rumosdo movimento docente, perspectivas da educa-ção superior e assuntos correlatos. Se você de-seja publicar seu artigo, atenção ao calendário.O prazo para envio é 30/3/2007, [email protected]. Os artigos devemconter, no máximo, 20 mil caracteres (com es-paço).

os a receber as representações sindicais.“O reitor da Unesp tem, ao contrário deoutros momentos menos críticos, estadoindisponível para receber o Sintunesp ea Adunesp.”

É ético, neste momento, solici-tar que a administração Macari/Hermandesconsidere o comunicado Runesp 02/2006 e pague o 1,79%, conforme com-promisso assumido, em folha suplemen-tar ainda em dezembro/2006. Reconhe-cer o erro de avaliação e mudar de posi-ção é necessário, visto que a Unesp seráa única a não cumprir o acordo durantea campanha salarial.

A mudança de posição do Cru-esp, defendida apenas pela Unesp, de-monstra que os reitores não cumpremnem o que escrevem.

Fica evidente que, para a atualgestão da Unesp, os recursos humanosnão são prioridade. As justificativas apre-sentadas são frágeis pois: a) a Lei de Res-ponsabilidade Fiscal é para o gasto doEstado e não da Unesp isoladamente; b) aarrecadação do ICMS irá superar a previ-são do estado e, portanto, com certezahaverá complementação orçamentária; c)ter precaução neste momento significa fa-zer caixa com o não pagamento da reposi-ção de perdas nos salários dos servidorese isto não é razoável; d) existe a possibili-dade da arrecadação do ICMS superar os40,6 bilhões e, assim, o reajuste irá retro-agir a maio/2005... ou será que está par-te do comunicado 02/2006 do Cruesptambém não será cumprida?

2007: Cheiro de greve no arAinda que os ganhos salariais na

data-base deste ano tenham sido muitobaixos, a categoria não conseguiu se or-ganizar e mobilizar de forma a encostaros reitores na parede. Neste final de ano,eles se sentiram à vontade para desferirnovos ataques.

Mas, a dinâmica da vida vale parao nosso movimento: tudo muda a todomomento. A indignação é crescente e 2007promete ser um ano de muita luta!

Arrocho nos salários,omissão na LDOEnquanto vão exercitando a cri-

atividade para encontrar novas fórmulasde arrochar os salários, os nossos reito-res ficam sem tempo de lutar por maisrecursos para as universidades. Na ines-gotável tramitação da Lei de Diretrizes Or-çamentárias (LDO/2007), na AssembléiaLegislativa, são totalmente ausentes. Ostímidos documentos encaminhados poreles aos deputados mais atrapalham quecontribuem, pois vivem pedindo menos doque o necessário para as universidades.

O aumento de recursos aprova-do na Comissão de Finanças e Orçamen-to, no dia 29/8 (10,43% do ICMS paraUSP, Unesp e Unicamp) é fruto da açãoorganizada do Fórum das Seis e da mobi-lização da comunidade acadêmica. Valelembrar: Enquanto o Fórum apresentoua reivindicação histórica da comunidadeacadêmica na LDO 2007 (33% das recei-tas globais do Estado para o conjunto daeducação pública paulista, 11,6% doICMS para as universidades e 2,1% doICMS para o Centro Paula Souza), os rei-tores disseram que o índice “ideal” paraas universidades é de 10,0339% do ICMS.

A ética e o 13º salárioNão é só no reajuste que a

Unesp consegue ser “diferenciada”. O13º salário deste ano não será pago emduas parcelas (novembro e dezembro),como vinha ocorrendo até 2004. Nesteano, será pago em parcela única, emdezembro. E, enquanto a reitoria fazcaixa com o dinheiro dos trabalhado-res, estes têm que se virar para cobriros rombos no orçamento, fazendo em-préstimos em banco, “antecipando” o13º e a restituição do imposto de rendanos bancos etc etc. No momento emque a reitoria pressiona pela aprova-ção de um Código de Ética no CO, valeafirmar: essa é a “ética” do capital, é a“ética” do patrão, é a “ética” do Cruesp.

Eles fazem caixa com o dinheiro dostrabalhadores