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Expediente

Contato

Presidente:Dr. José de Oliveira Messina

Diretor Pedagógico:Prof. Lauro Spaggiari

Comitê Científico:Profa Ms Sandra Rudella TonidandelProfa Ms Valdenice Minatel Melo de Cerqueira

Comitê de Desenvolvimento:Barbara EndoDavid Henrique da cunha pereira Profa Verônica Martins CannatáThiago Xavier Mansilla Maldonado Jornalista responsável:Fernando Lopo Homem de MontesMTb 34598

Revisão:Luiz Eduardo Vicentin

Fotos de Helena Nader:Departamento de Audiovisual do Colégio Dante Alighieri

Foto da Capa:Rodrigo Bianchi A foto mostra um aluno do Colégio Dante Alighieri durante o desenvolvimento de um projeto de iniciação científica.

Departamentos envolvidos:Ciênicas da NaturezaAudiovisualMarketing Tecnologia EducacionalEditoração/gráfica

Envie suas críticas e sugestões para o e-mail:[email protected]

Colégio Dante AlighieriAlameda Jaú, 1061 - CEP 01420-001 - SP

Tel.: (11) 3179-4400 - Fax: (11) 3289-9365www.colegiodante.com.br

e-mail: [email protected]

Foto

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Thut

Créditos finais: Todas as fotos, informações e depoimentos cedidos por terceiros para publicação nesta revista somente foram utilizados após a expressa autorização de seus proprietários. Agradecemos a gentileza de todas as pessoas e empresas que, com sua colaboração, tornaram esta produção possível. Reprodução: Esta revista está licenciada sob uma licença Creative Commons CC - BY - NC, que possibilita a reprodução total ou parcial do conteúdo, desde que citadas as fontes e desde que a obra derivada não seja destinada a fins comerciais.

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Sumário4| Editorial

Ciência.com - Coluna de Roseli de Deus9|

Fotobiorreator para Absorção de Carbono6|

Falando de ciência com Helena Nader10|

Diabéticos podem evitar amputações com o uso de meias especiais14|

Falou e disse!17|

Matemática pode ficar mais fácil se estiver de acordo com o cotidiano de cada aluno

18|

Especial Mostratec 21|

A ciência e seus olhares22|

Resumindo32|

Giro de Notícias27|

Making Of34|

Antibióticos a partir de Teia de Aranha24|

Tratamento de água fica mais barato com o uso de garrafas PET29|

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EditorialNasce uma revista que pretende

ocupar um lugar ainda pouco divulgado, pouco explorado. Portanto, esta revista semestral não pretende ser “mais uma revista”, com notícias e reportagens repetidas, já divulgadas em outros locais.

Nasce uma revista que pretende trazer as novidades construídas e ela-boradas pelos jovens estudantes que se dedicam ao mundo da ciência. Jovens que se envolveram com o lado da descoberta, da pesquisa, do desenvol-vimento e do entusiasmo pelo conheci-mento.

Nasce uma revista a partir da expe-riência de professores, pesquisadores, coordenadores e, principalmente, dos jovens que trabalham na pré-iniciação científica. Todas essas pessoas têm uma proposta comum: organizar um espaço de divulgação de uma experiência que vem se ampliando nas escolas de ensi-no fundamental e médio: a pesquisa de natureza científica na escola básica.

Nessa revista, os jovens terão um espaço para divulgar seus trabalhos de investigação realizados com base em metodologias científicas, com persis-tência e dedicação, e com o apoio de seus professores orientadores.

Muitos desses jovens convidados a apresentar suas pesquisas em nossa revista já foram premiados dentro de nosso país (em feiras de ciências nacionais, como a Febrace, e internacionais, como a Mostratec) e fora dele (nos EUA, na maior feira de ciências do mundo, a Intel-ISEF ).

Assim, esta revista pretende disse-minar a outros estudantes os caminhos da

pesquisa, as dificuldades experimentadas, as perspectivas futuras e os êxitos alcançados, de forma a incentivar esse mesmo movimento para outros jovens, em nossa e em outras escolas, ampliando a pré-iniciação científica entre os alunos.

Mostrar aos jovens, aos pais, aos professores outras tantas possibilidades de desenvolver a criatividade, a inteli-gência e, principalmente, a preocupação em resolver os problemas de sua comunidade e de sua cidade por meio da ciência, é também uma de nossas metas.

Divulgar a novidade de pré-iniciação científica na escola para a juventude brasileira, apresentando uma nova for-ma de aprender a natureza da ciência, desenvolvendo a investigação teórica e experimental, os estudos e leituras, a disciplina, a dedicação e a paciência, isso tudo, aliado a muita diversão, parcerias, amigos, alegria e a outras tantas virtudes, é o desafio com que os próprios jovens deverão contar.

Nasce uma revista patrocinada e concebida por uma instituição que está comemorando seu primeiro centenário na educação. E que mostra assim, coragem, pioneirismo e comprometimento com a educação pela criação deste espaço de divulgação, aberto também a outros jovens, de escolas públicas ou particulares, mostrando que a educação básica deve ser vista não como uma competição entre instituições e pessoas, mas como um instrumento de formação integral do ser humano. Dessa forma, a educação deve ser promovida por ações de cooperação, pelo estímulo à criatividade, pelo apoio e pela discussão de ideias e por diferentes

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Sandra Tonidandel e Valdenice Minatel

Fotos: Acervo do Colégio Dante Alighieri

formas de entender e resolver as questões da qualidade de vida, de meio ambiente, sociais e econômicas.

Na escola em que trabalhamos, o Programa de Pré-Iniciação Científica é uma realidade na matriz curricular há seis anos, trazendo grandes e excelentes resultados para o ensino de ciências.

Os jovens que gostam de ciência e tecnologia possuem um espaço para o desenvolvimento de sua pesquisa, possuem professores que podem ori-entá-los na investigação, e contam com pesquisadores parceiros que abrem seus laboratórios para que a parte metodológica possa ser completada. Eles são motivados e estimulados a fazer perguntas sobre o mundo em que vivem e são orientados a usar as ferramentas da ciência na obtenção das respostas, com respeito às várias formas de ver os problemas e valorizando as diferenças.

A revista pretende ser motivadora para que outros jovens (e seus professores) possam sonhar com um mundo melhor e que vejam que é possível realizar atitudes na sua própria escola, em seu ambiente, com seus amigos e familiares para atingirem seus sonhos por meio de metas concretas.

Os alunos que se interessam pela ciência e tecnologia poderão perceber que podem usar uma ferramenta científica para resolver os problemas de sua comunidade, de sua cidade e de seu país para melhorar o desenvolvimento humano.

Semestralmente, vamos apresentar as pesquisas de nossos jovens. Haverá colunistas fixos da área de ciência e tecnologia e uma entrevista com um pesquisador de importância em sua área de atuação.

Neste primeiro número, comemorativo,

há uma entrevista muito especial com Helena Nader, presidente atual da SBPC (Sociedade Brasileira para a Pesquisa Científica). Vale a pena refletir sobre o que ela tem a nos dizer sobre a pesquisa científica no nosso país, especialmente no que se refere ao movimento de pesquisa na escola básica.

Duas colunistas especiais realçam o tom da importância deste espaço: a profª. drª. Roseli de Deus Lopes, presidente da Febrace e professora da Poli, que nos brindará com suas reflexões sobre a pré-iniciação científica, bem como a profª. Vanice, presidente da Fundação Liberato/ Mostratec.

Esta revista terá uma versão digital e impressa. Se você, jovem que tra-balha com pré-iniciação científica, quiser ver seu trabalho publicado nesta revista, basta enviar seu artigo para [email protected]

Uma comissão de professores-pes-quisadores fará uma avaliação e dará o parecer sobre sua pesquisa. Se for aprovado, é só aguardar nosso contato!

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FAC

Quantas vezes você já ouviu a frase “ajude o planeta, plante uma árvore”. Sim, plantar uma árvore pode mesmo ajudar o meio ambiente, principalmen-te porque as árvores fazem fotossín-tese e, dessa forma, transformam o gás carbônico em oxigênio. Mas um estudo realizado pelo pesquisador Victor Marelli Thut, do Colégio Dante Alighieri, mostra que as cianobactérias e as microalgas ainda são poten-cialmente mais vantajosas que as ár-vores, já que conseguem se reproduzir rapidamente e, dessa forma, seques-trar uma quantidade maior de gás carbônico do que aquela absorvida pelas árvores, além de ocupar bem menos espaço.

Ainda segundo o estudo, é possível

manter tais micro-organismos dentro de casa, de forma controlada, para que eles se reproduzam e façam fotossíntese, absorvendo, assim, parte das emissões de gás carbônico que produzimos diariamente.

Para comprovar essa hipótese, o pesquisador desenvolveu um foto-biorreator (equipamento utilizado para estimular a reprodução de organismos fotossintetizantes) para a absorção de carbono, adaptando-o para uso doméstico. Assim, cada pessoa que quisesse reduzir os impactos que causa, diariamente, ao meio ambiente, poderia “devolver” certa quantidade de oxigênio ao ar. Com isso, ela também contribuiria para a diminuição de gás carbônico na atmosfera. Segundo o autor do projeto, é o conjunto de pequenas ações de neu-tralização que pode reduzir, de forma

Meio AMbiente

Fotobiorreator para Absorção de Carbono

Foto: Luciana Ferreira

Por Barbara Endo

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No detalhe, um tubo de ensaio que contém amostras da cepa SPC422 (Pseudanabaena galeata), que foi testada durante a metodologia do projeto

O pesquisador Victor Thut trabalha no fluxo laminar durante os testes para a seleção da melhor espécie

Erlenmeyers com cultivo de Synechococcus nidulans

Foto: Victor Thut

Foto: Giovanni Biasi

significativa, a quantidade de gás carbônico no ar.

Para chegar ao protótipo do fotobiorreator, o projeto passou por uma série de processos; em primeiro lugar, era preciso escolher com qual espécie trabalhar. Com a ajuda da pesquisadora Célia Leite Sant’Anna, do Instituto de Botânica de São Paulo, foram selecionadas duas espécies de cianobactérias e uma microalga para testes (aquela que se reproduzisse mais rápido e que absorvesse a maior quantidade de CO2 seria a escolhida). Dessa forma, a Synechococcus nidulans foi eleita a melhor opção para o FAC (Fotobiorreator para Absorção de Carbono). Depois de escolher o microorganismo fotossintetizante, iniciou-se uma procura pelo formato ideal do fotobiorreator a fim de que se ajustasse tanto a ambientes externos

(para aqueles que moram em casas), como para ambientes internos (interior de apartamentos, por exemplo). A partir disso, entendeu-se que o melhor formato seria o tipo tanque. A ideia é que o fotobiorreator possa ficar dentro da casa das pessoas e que possua, em média, o tamanho de um micro-ondas. O abastecimento dele será feito por meio de energia solar, ou seja, o funcionamento desse equipamento usa energia limpa, sem impacto ao meio ambiente. O FAC funciona juntamente com uma calculadora, que, a partir dos valores indicados sobre o consumo de combustíveis e outras formas de energia, calcula a quantidade mensal de emissões de CO2 de uma pessoa. O resultado do cálculo deve ser inserido no fotobiorreator para que ele possa estimular os micro-organismos a se

Essa reportagem foi produzida a partir de um relatório científico feito pelo pesquisador Victor Thut, aluno do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo -SP. O projeto de Victor foi orientado pela professora Sandra Tonidandel.

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reproduzirem mais rápido e, dessa forma, capturarem o valor ideal de dióxido de carbono. A calculadora tem como base o GHG Protocol, projeto que estabelece um padrão sobre a quantidade de gases poluentes emitidos por determinadas fontes de energia.

“O contato precoce com o método científico contribui intensamente na formação dos jovens. Minha curiosidade me faz indagar tudo a todo tempo, e a ciência me leva às respostas.”

Victor Thut

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Desde 2009, Victor Marelli Thut é participante do “Cientista Aprendiz”, um programa de pré-iniciação científica para alunos do 8º ano do Ensino Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri.

Com o projeto “FAC – Fotobior-reator para Absorção de Carbono”, Victor apresentou-se no II Simpósio de Pré-iniciação Científica do Colé-gio Dante Alighieri, em que se classificou em 1º lugar; participou também da Febrace 8 (Feira Bra-sileira de Ciências e Engenharia), em que se classificou em 1º lugar na categoria “Destaque em Inovação”, e em 2º lugar na categoria “Ciências Biológicas”; expôs o trabalho na ESOF (Euro Science Open Forum), na Itália.

Além disso, participou da Intel ISEF 2010 (International Science and Engineering Fair), da Mostratec 2010 (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia), da Febrace 9 e da ESI 2011 (Expo Science International).

Victor também é bolsista de iniciação científica júnior do CNPq, com um projeto que possui duração de doze meses.

SOBRE O AUTOR

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especiAl Ciência.com

Com os recentes avanços das tecnologias da informação e comunicação, fica cada vez mais evidente que a aquisição de informações não é o foco de quem vai à escola.

A escola deve ser um espaço de convivência social capaz de formar indivíduos criativos, flexíveis, com espírito crítico, que saibam viver e conviver em sociedade, que saibam e desejem aprender a aprender sempre, que sejam capazes de reconhecer problemas e de buscar e criar soluções, que saibam colaborar e que sejam cidadãos de fato.

Nesse sentido, a educação básica deve propiciar o desenvolvimento de competências essenciais em todos os estudantes para prepará-los para a vida, para que possam navegar no mundo contemporâneo, o que inclui o desenvolvimento de competências básicas relacionadas a ciências e sistemas tecnológicos.

A escola também deve ser capaz de despertar vocações para as ciências e engenharia. Precisa criar situações que possibilitem a descoberta pelos estudantes de seus potenciais criativos e realizadores, e que permitam escolhas mais conscientes para suas trajetórias acadêmicas e profissionais.

Um caminho fértil para tal é a iniciação científica e tecnológica na escola. Estratégias pedagógicas que induzem a realização de projetos investigativos pelos estudantes permitem que eles possam desmistificar a ciência e a tecnologia e contribuem para formar indivíduos criativos e curiosos, capazes de redescobrir e de abrir as “caixas pretas” para observá-las, entendê-las, reinventá-las, para depois poderem descobrir, inventar e inovar nas mais diversas áreas de conhecimento e aplicação. Inovar passa por provocar desde cedo a criatividade dos indivíduos, dando-lhes oportunidade de escolher e desenvolver temas de seu interesse.

Durante a educação básica, o mais importante para um aprendiz não são os resultados (um protótipo, produto ou validação ou não de uma hipótese), mas sim os processos (as diversas etapas de investigação, reflexão, construção e observação necessárias), aprender o fazer científico, o fazer em engenharia, aprender fazendo. Esses são os primeiros passos para um indivíduo exercitar sua criatividade, buscar caminhos, reforçar sua autoestima e se preparar para participar ativamente do processo de inovação ao longo de toda a sua vida.

Cabe ao educador que atua como orientador de iniciação científica ou tecnológica, estimular principalmente a reflexão e análise crítica e acompanhar o processo de descoberta (ou redescoberta) ou de invenção (ou reinvenção), de forma a garantir que não haja riscos físicos ou emocionais para os envolvidos. O educador deve possibilitar e estimular novos tipos de autoria (produção de textos, imagens, vídeos, representações gráficas, simulação de modelos computacionais e construção de protótipos). Deve também explorar a teia mundial, não como algo que simplesmente permite acessar informações prontas, mas que possibilita ampliar horizontes de autoria colaborativa (produtor/colaborador) e a disseminação de conhecimento.

Iniciação científica e tecnológica na escolaPor Roseli de Deus Lopes

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Falando de Ciênciacom

Helena NaderPor equipe Dante Em Foco

Leia, a seguir, uma pequena entre-vista com a pesquisadora Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

InCiência - Na sua visão, qual a principal importância da SBPC?

Helena Nader - A SBPC é muito importante porque articula políticas não somente para a ciência, mas também para a educação. A SBPC surge logo após a Segunda Guerra, justamente quando o mundo estava sendo repensado em termos de futuro. Aqui no Brasil, o interessante é que a SBPC surgiu três anos antes de duas grandes agências importantes no campo da pesquisa: o CNPq e a Capes. Quem fundou a SBPC também contribuiu para a formação dessas agências. A criação da SBPC foi importante, pois trouxe para o centro de discussão o papel da ciência e a importância que ela tem no cotidiano das pessoas. Dessa forma, a SBPC visa à profissionalização da ciência no país e congrega cientistas das mais diversas áreas.

InCiência - Quais as maiores dificuldades de ser presidente da SBPC?

Helena Nader - A maior dificuldade para mim é o tempo. Isso porque eu continuo sendo professora da Escola Paulista de Medicina, a Unifesp. Sendo

entrevistA

assim, o tempo fica pouco para o número de demandas que eu tenho.

InCiência - No Brasil, quais são as áreas de pesquisa mais exploradas? Quais grandes projetos estão sendo desenvolvidos atualmente?

Helena Nader - Atualmente, o Brasil é o 13º produtor de ciência no mundo. Em algumas áreas relacionadas à saúde, como, por exemplo, a de doenças tropicais, o Brasil está entre os três primeiros, muito bem colocado.

O Brasil também é imbatível em agricultura tropical. A Embrapa, por exemplo, possui tecnologia de ponta nessa área.

Quanto aos projetos, é difícil dizer quais são os maiores, isso porque a gente sempre esquece algum. Eu diria que, especialmente na área de saúde, o Brasil desenvolve grandes projetos.

InCiência - Em que áreas você acha que deveria haver o maior investimento na pesquisa? E para qual área são destinados os maiores investimentos?

Helena Nader - Acredito que todas as áreas de pesquisa necessitam de mais investimento. O investimento que temos atualmente é bem melhor que antes, mas muito aquém do que o Brasil necessita. Como presidente da SBPC, eu luto pelo investimento significativo em pesquisa. Um bom exemplo de país que investe nessa área são os Estados

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“O investimento em pesquisa é uma sinalização de como os países enxergam a ciência. Somente a ciência pode mudar o futuro do país e colocá-lo em destaque no cenário mundial.”

Helena Nader

Unidos, que, mesmo em situação de crise, aumentaram o investimento em ciência e tecnologia.

InCiência - O Brasil ocupa a 13ª posição no ranking mundial de publicação de artigos científicos. O que fazer para melhorar a produção científica e dar maior destaque para a ciência e a tecnologia?

Helena Nader - O que a SBPC pretende fazer é lutar para que mais recursos sejam direcionados, a fim de que mais bolsas para pesquisa possam ser oferecidas. Nós temos um terço dos estudantes de pós-graduação que não possuem bolsa. Nós somos a favor da “ciência sem fronteira”.

InCiência - Os alunos de escola básica que desenvolvem pesquisa científica gostariam de ser afiliados à SBPC. Vocês já pensaram na possibilidade de filiação

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ldesses jovens? Que vantagens poderia haver para a formação dos jovens pesquisadores? Como isso poderia ser feito?

Helena Nader - Já pensamos nessa possibilidade e, inclusive, isso é bem simples. Qualquer pessoa que deseje pode entrar no site e pedir o cadastro na SBPC. Nós temos, por exemplo, grupos que se reúnem semanalmente para discutir ciência, a SBPC Mirim e a SBPC Jovem, além da Sênior, que já é conhecida. É uma honra ter jovens na SBPC.

InCiência - O que a senhora pensa a respeito dos programas de pré-iniciação científica das escolas de educação básica?

Helena Nader - Acho os programas de pré-iniciação científica fantásticos. Inclusive, tenho alguns dentro do meu laboratório de pesquisa. Os jovens pesquisadores contribuem muito com

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“As pessoas não pensam que utilizam a ciência no cotidiano delas. Se pensassem, dariam mais valor a ela.”

Helena Nader

a ciência, porque, de uma forma geral, possuem ideias inovadoras que afetam nosso cotidiano. É importante estimular a pesquisa desde cedo para que os jovens talentos possam se conscientizar da importância da ciência.

InCiência - A SBPC pretende esti-mular, de alguma forma, a ciência e a tecnologia para a educação básica?

Helena Nader - A SBPC já tem feito muita coisa. Frequentemente distribuímos materiais e cartilhas mostrando que é possível fazer muito, mesmo com poucos recursos. Temos uma série de CDs pedagógicos que distribuímos e, além disso, temos um grupo que leva proposta de incentivo à ciência para o governo. A SBPC trabalha com um conjunto de ações de forma geral; individualmente, cada um dos pesquisadores auxilia projetos paralelos.

InCiência - Na sua visão, como os alunos que são premiados em feiras nacionais e internacionais (como a Febrace, Mostratec e Intel-Isef) podem ser valorizados nas universidades públicas brasileiras?

Helena Nader - Penso que os incentivos poderiam ser semelhantes àqueles que já ocorrem com as olimpíadas de Matemática. No caso, os ganhadores, além de receberem uma bolsa, podem fazer um curso no Instituto de Matemática Pura e Aplicada.

Nesse caso das feiras nacionais e internacionais, o incentivo estaria relacionado à área que o projeto vencedor se referisse.

InCiência - Qual o papel que a pesquisa cumpre e deve cumprir na formação de profissionais e no desenvolvimento do país?

Helena Nader - A pesquisa é fundamental para o desenvolvimento do país. Sem ela, é como se continuássemos comprando espelhos dos portugueses, como foi durante a época do escambo.

Sem investimento em pesquisa, vamos continuar pagando pela tecnologia importada. A indústria brasileira não pode continuar reprodu-zindo o conteúdo estrangeiro. É importantíssimo preparar e qualificar profissionais que possam contribuir para o pleno desenvolvimento do país.

Essa entrevista foi realizada pela equipe da oficina “Dante Em Foco”. A “Dante Em Foco” é uma oficina de produção multimídia que tem a proposta de usar tecnologia e as redes sociais para produzir e divulgar conteúdo, além de promover ações que beneficiem a comunidade escolar.

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De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a frequência de amputações em diabéticos é dez vezes maior do que em indivíduos que não possuem a doença, e acredita-se que 80% dessas cirurgias poderiam ser evitadas.

Com base nesses dados, a pesquisadora Kawoana Trautman Vianna, por meio do projeto “Análise de impregnação de nanopartículas de dióxido de zircônio e de prata com quitosana em um tecido para tratamentos de saúde”, desenvolveu um tecido que, quando colocado sobre o pé do diabético, teria a capacidade de aumentar o fluxo sanguíneo da pele e, dessa forma, reduzir a chance de infecção e evitar amputações.

Já existem meias para diabéticos no mercado. Mas o diferencial é que as meias produzidas com esse tecido inovador, além de inibirem a proliferação de micróbios, como fazem as vendidas atualmente, também ativam o fluxo sanguíneo dos pés, o que aumenta a circulação e diminui o risco de amputações.

Outra vantagem dessas meias espe-ciais é que elas custariam cerca de R$ 8, enquanto as convencionais possuem um valor médio de R$ 26. Além disso, o tecido tem o potencial de aumentar em até 0,5°C a temperatura da pele.

Para chegar a esse resultado, Kawo-ana escolheu um material comum para impregnar de nanopartículas: o algodão. A partir daí, as meias de algodão foram imersas, durante uma hora, em uma mistura de água, nanopartículas de óxido de zircônio e prata, quitosana e alguns outros aditivos. Depois desse processo, as meias foram colocadas em uma câmara climática por 24 horas, ao cabo do que já estavam prontas para utilização.

“Uma vez impregnada, a meia de algodão se parece muito com uma meia comum. Bastaria que o paciente a utilizasse frequentemente para evitar o surgimento de infecções e úlceras, fatores que levam ao processo de amputação”, afirmou Kawoana sobre a aplicação de seu projeto no cotidiano dos diabéticos.

Por Barbara Endo

Diabéticos podem evitar amputações com o uso de meias especiais

Foto: Luís Eduardo Selbach

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Nas fotos, Kawoana trabalha no teste de sensibilidade antimicrobiana e no potencial de irritação das nanopartículas, respectivamente. Já na foto abaixo, é possível ver o teste do efeito isolante das meias especiais

Foto: Luís Eduardo Selbach

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De acordo com a pesquisadora, o óxido de zircônio tem a capacidade de ativar a circulação sanguínea quando em contato com a pele, e a prata tem um efeito antimicrobiano que inibe a proliferação de fungos e bactérias.

Depois de pronto, o tecido passou por diversas análises a fim de verificar sua eficácia. Os primeiros testes foram referentes ao desempenho do produto no combate à proliferação de fungos e bactérias. Além disso, foi analisada a permeação cutânea, teste que verifica se o tecido, quando em contato com a pele, libera nanopartículas capazes de ultrapassar a pele e chegar até a corrente sanguínea. Outro teste averiguou se as meias não irritavam a

“A cada pesquisa, a complexidade dos temas me desafiava mais e mais. A lição que levo disso tudo é uma só: ciência vale a pena!”

Kawoana Vianna

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Kawoana Trautman Vianna é pesquisadora desde o 6º ano, quando trabalhava com a coleta de minhocas.

Com os projetos desenvolvidos na Fundação Escola Técnica Liberato Sauzano Vieira da Cunha, “Análise de impregnação de nanopartículas de dióxido de zircônio e de prata com quitosana em um tecido para tratamentos de saúde I e II”, Kawoana apresentou-se na Febrace 2010 (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), em que foi premiada com o 1º lugar na área de “Ciências da Saúde”, 1º lugar em “Rigor científico” e 1º lugar em “Melhor estande”. Participou ainda da Mostratec 2010 (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia), na qual ficou em 1º lugar na área de “Medicina e Saúde”, e do Prêmio Mercosul 2010, em que ficou em 1º lugar na categoria “Iniciação científica”.

Em 2011, participou da Intel ISEF (International Science and Engineering Fair) e ficou em 4º lugar na área de “Medicina e Ciências da Saúde.”

O que Kawoana mais aprecia são os desafios da pesquisa científica. “Não há limites para nossa capacidade quando há dedicação e persistência. Resultados são apenas as consequências de atitudes”, afirmou a pesquisadora.

Foto: Luís Eduardo Selbach

Foto oficial dos ganhadores da Intel ISEF

pele, o que é fundamental para que a eficácia delas seja completa.

O projeto começou em 2009 e foi realizado com a orientação da professora Sílvia Guterres, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O surpreendente é que, apesar de inovador, não houve nenhum tipo de bolsa ou financiamento. Kawoana simplesmente reinvestiu o dinheiro dos prêmios conquistados na pesquisa.

SOBRE A AUTORA

Essa reportagem foi produzida a partir de um relatório científico feito pela pesquisadora Kawoana Vianna, aluna da Escola Técnica Liberato Sauzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo- RS. O projeto de Kawoana foi orientado pela professora Sílvia Guterres.

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Leia, a seguir, um trecho da entrevista que a equipe da “Dante em Foco” fez com Adalberto Fazzio, assessor de Nanotecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia.

“Hoje existe uma interação muito grande nas áreas da ciência. Não separamos mais Biologia de Química ou Física, como antes. A pré-iniciação científica é importante neste sentido, mostrar que podemos integrar o conteúdo que vemos em sala de aula com a vivência prática da realidade.

Sou a favor de que os colégios incentivem a pré-iniciação científica, uma vez que é uma oportunidade para que o jovem, desde cedo, tenha uma interação com o laboratório de pesquisas e possa vivenciar su-as próprias descobertas. A pré-iniciação científica é fundamental para a formação dos nossos futuros cientistas.”

Fotos: Equipe Dante em Foco

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Foto: Equipe Dante Em Foco

Foto: Equipe Dante Em Foco

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“A ciência e seus olhares”Um ensaio fotográfico-científico

Estas fotos são resultado do concurso “Quando a arte encontra a ciência”, realizado pelo MILSET (Movimento Internacional para Atividades de Lazer em Ciência e Tecnologia). Desde 2007, o concurso de fotografia escolhe as melhores fotos relacionadas às áreas de ciência e tecnologia. As fotos são enviadas ao site do MILSET por alunos tanto da educação básica, como do ensino superior, que desejem participar do concurso. Todas elas possuem o tema “fenômeno científico”. As fotos que estão na revista são algumas das premiadas pe-lo concurso no ano de 2010.

Rossella Marrano, 21, Itália

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19InCiência | Novembro 2011 |

“A ciência e seus olhares”Um ensaio fotográfico-científico

William Lopes, 20, Brasil

Francesco Lodato, 16, Itália

López Rivera Gustavo, 17, México

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Certamente, a maioria dos estu-dantes já fez cara feia quando ouviu a palavra “matemática”. Isso ocorre pela dificuldade que muitas pessoas apresentam quando realizam cálculos.

Outra possível razão, porém, para essa aversão à disciplina é a falta de contextualização na forma do ensino da matéria. Isso porque a Matemática foi formatada nos séculos XV e XVI e é baseada nos métodos de ensino europeus, o que torna o ensino dessa disciplina bem distante da realidade do mundo moderno e globalizado.

De acordo com a estudante Tamara

Gedankien, que realizou, entre 2008 e 2009, o projeto “Em busca da ciência perdida: as perdas epistêmicas e o caminho para o paradigma único”, e, entre 2009 e 2010, conduziu a pesquisa “Guemará e Guemátria: um estudo de caso sobre os efeitos da contextualização sociocultural da matemática”, o impacto da contextualização sociocultural influencia muito no aprendizado da Matemática.

Os estudos mostram que, além de ajudar no ensino, a contextualização pode aprimorar também a habilidade de raciocínio dos alunos.

“A forma de raciocínio matemático ensinada no Brasil é a mesma que em uma escola no Japão, nos Estados Unidos ou em qualquer outra escola formal. Considerando que muito do processo educacional está relacionado com as estruturas de recepção subjetivas de cada indivíduo, o atual sistema não é favorável para todos os alunos”, afirmou a jovem pesquisadora sobre os atuais sistemas de ensino.

Para chegar a tais descobertas, a estudante realizou, durante dois anos, um projeto no Colégio Bialik, localizado na zona oeste de São Paulo. Tamara trabalhou com um grupo de 87 estudantes em uma escola judaica, usando elementos também da cultura judaica, para

Matemática pode ficar mais fácil se estiver de acordo com o cotidiano de cada aluno

MAteMÁticA

Por Barbara Endo

Foto: Departamento de Audiovisual

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Muitos alunos possuem dificuldades com a Matemática e, para resolver esse problema, a pesquisadora Tamara Gedankien sugere que a disciplina esteja relacionada à “contextualização do processo educacional”

Foto: Departamento de Audiovisual

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provar que ensinar alunos por meio da perspectiva da cultura, ou do contexto no qual eles se inserem, pode ativar as habilidades matemáticas dos estudantes.

Primeiramente, foram selecio-nados 25 alunos do 5º ano e 19 alunos do 9º ano, que trabalhariam com a Guemátria e com a Guemará, respectivamente. A Guemátria consiste em um sistema de nume-ração do alfabeto hebraico, e a Guemará, em um conjunto de comentários geométricos feitos por rabinos a respeito das tradições judaicas orais. Além disso, foram estabelecidos grupos de controle com 24 estudantes do 5º ano e 19 do 9º ano.

Cada um dos grupos passou por uma sequência didática de quatro aulas com uma hora de duração, incluindo a apresentação de slides, dois formulários contendo exercícios e uma lição de casa. Enquanto isso, os grupos de controle permaneceram

“Observei, li, imaginei, escrevi e experimentei. E acabei desco-brindo muito mais do que apenas a assertividade ou não da minha hipótese.”

Tamara Gedankien

Essa reportagem foi produzida a partir de um relatório científico feito pela pesquisadora Tamara Gedankien, ex-aluna do colégio Bialik, em São Paulo-SP. O projeto de Tamara foi orientado pelo professor Rogério Giorgion.

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com aulas regulares de Matemática. Após a finalização do projeto, aplicou-se um teste que foi formulado com base no SARESP 2008 (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).

Com base nesse teste, a conclusão foi que aqueles que utilizaram a contextualização obtiveram me-lhor desempenho do que os que permaneceram em aulas regulares. Além disso, Tamara verificou que as habilidades em que havia maior disparidade eram exatamente aque-las impregnadas de elementos judai-cos.

Sendo assim, concluiu-se que a contextualização melhora o enten-dimento da disciplina e também aumenta as habilidades de raciocínio lógico dos alunos.

Tamara Gedankien é ex-aluna do Colégio Bialik, na zona oeste de São Paulo.

Com os projetos “Em busca da ciência perdida: as perdas epistêmicas e o caminho para o paradigma único” e “Guemará e Guemátria: um estudo de caso sobre os efeitos da contextualização sociocultural da matemática”, Tamara apresentou-se na Mostratec 2008 (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia) e ficou em 1º lugar na área de Ciências Sociais e Comportamentais e, em 2009, em 2º lugar na mesma categoria.

Tamara também foi finalista na Intel ISEF em 2009 e, em 2010, recebeu o prêmio de 1º lugar na categoria Ciências Sociais e Comportamentais. Além disso, a jovem pesquisadora recebeu uma bolsa de estudos do Illinois Institute of Technology, onde estuda atualmente.

O que ela mais aprecia na pesquisa é a oportunidade de observar e questionar a origem e o propósito real por trás dos objetos, sistemas, comportamentos e demais fenômenos que a rodeiam.

Foto oficial dos ganhadores da Intel ISEF

Foto oficial dos ganhadores da Intel ISEF

SOBRE A AUTORA

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23InCiência | Novembro 2011 |

A Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, situada no município de Novo Hamburgo, RS, está envolvida com os preparativos finais para a 26ª edição da Mostratec.

A Mostratec, uma das feiras mais antigas do país, foi protagonista de um movimento que hoje se alastra em todos os estados da federação e que tem mobilizado milhares de jovens dos 14 aos 21 anos e professores das diferentes áreas do conhecimento. Trata-se de um evento que estimula a iniciação científica no ensino médio e profissional, atividade corrente e restrita, tradicionalmente, aos cursos de graduação e, especialmente, de pós-graduação.

Com base nessa experiência de duas décadas e meia, identificamos, nesse trabalho, uma possibilidade real de melhorarmos a qualidade da educação em nosso país. Desconstruir o mito de que a pesquisa é coisa de “nerd” ou de gênio, buscando despertar nos jovens o gosto pela ciência, faz parte de um esforço pedagógico para criar um outro ambiente de aprendizagem. Os alunos são desa-fiados a assumir uma atitude de pró-atividade na relação com o conhecimento, a ter mais iniciativa, organização, disciplina, persistência, responsabilidade, criatividade e a integrar os conhecimentos das diversas disciplinas curriculares.

Eventos como a Mostratec constituem-se em uma fonte inesgotável de aprendizagens e criam um efeito retroalimentador, inspirando outros tantos a participar, e desacomodando os alunos e os professores, as instituições de ensino que participam. Há uma diversidade de idiomas, sotaques, experiências, culturas, etnias, premiações para outras feiras, bolsas de estudo, vagas para estágio, notebooks, enfim, abrem-se imensas perspectivas de enriquecimento pessoal e profissional. Por isso, queremos juntos fortalecer os caminhos da investigação científica e tecnológica, aproveitando o enorme potencial dos jovens e a capacidade dos professores para construir um país cada vez melhor.

É absolutamente necessário para o Brasil que as instituições de ensino contribuam para formar uma geração de pesquisadores e profissionais com capacidade de inovar e propor soluções para os inúmeros problemas relevantes de nossa sociedade. Estamos juntos com muitos outros espalhados pelo país afora, fazendo a nossa parte.

Neste momento, estamos na expectativa de receber os jovens pesquisadores e seus orientadores para exporem os seus projetos de pesquisa na Mostratec, vindos de todos os estados do Brasil e de 21 países. A qualidade desses projetos revigora a crença entusiasmada e confiante de que estamos no caminho certo.

MOSTRATEC

Por Maria Inês Utzig Zulke e Marlene Christel Grams Teixeira

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24 InCiência | Novembro 2011 |

estudo, o pesquisador Leonardo Bodo, coletou primeiramente, amostras de ooteca da aranha Phoneutria nigriventer, e depois purificou as amostras por meio de um processo conhecido como CLAE (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência), que separa os diferentes tipos de material. Depois de purificadas, era preciso saber quais amostras apresentavam atividade antibacteriana, e foi assim que Leonardo descobriu um peptídeo (cadeia de pequenos aminoácidos) que apresentava uma substância antibacteriana e totalmente nova.

Depois da descoberta dessa subs-tância, Leonardo começou a testá-la em colônias de fungos de sete espécies, geralmente encontrados

Já imaginou se aquela simples teia de aranha pudesse fornecer um potente antibiótico? Pois é, o estudo “Tecendo saúde: a tecitura de substâncias antimicrobianas a partir da ooteca da aranha Phoneutria nigriventer”, realizado por Leonardo de Oliveira Bodo, aluno do Colégio Dante Alighieri, mostra que a ooteca (uma estrutura feita de teia que envolve os ovos da aranha) pode ter substâncias antibióticas, isto é, que matam fungos e bactérias causadores de doenças.

Segundo o estudo, na ooteca da aranha Phoneutria nigriventer, mais conhecida como aranha-armadeira ou aranha-da-banana, existem substâncias que podem inibir o desenvolvimento tanto de fungos como de bactérias.

Além disso, os conteúdos presentes nesse tipo de teia podem ser consi-derados fora do comum. Isso porque, ao contrário dos antibióticos convencionais, o antibiótico derivado desse material pode auxiliar na questão da crescente resistência das bactérias aos antibióticos comuns.

A hipótese que deu origem ao estudo foi baseada no fato de que essas substâncias são produzidas pela aranha a fim de proteger seus ovos das presas e também de possíveis infecções. Dessa forma, o autor começou a pesquisar tais substâncias e a realizar seus experimentos.

Para chegar às conclusões desse

Teia de Aranhapode fornecer novos antibióticos

biologiA

Por Barbara Endo

Leonardo Bodo

“Pesquisar é interessante porque te faz buscar respostas, te estimula a pensar de maneiras diferentes.”

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Premiação recebida na Intel-Isef 2010 - San Jose, EUA, com Pedro Ismael (orientador) e Sandra M. R. Tonidandel (coordenadora)

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Foto: Dr. Rogério Bertani

Nas fotos, a espécie de aranha mais conhecida como aranha-armadeira, utilizada no projeto de ciências do aluno Leonardo

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A Phoneutria nigriventer é mais conhecida como aranha-armadeira porque, quando ataca, suas patas dianteiras estão erguidas. Quando adultas, podem chegar até 17 cm, incluindo as patas.

A espécie é típica da região sul-americana e pode ser encontrada nas residências e seus arredores, além das bananeiras e folhagens de jardins.

Seu veneno é tão potente que pode matar um rato com apenas 0,006 mg.

SOBRE A ARANHA

Essa reportagem foi produzida a partir de um relatório científico feito pelo pesquisador Leonardo Bodo, aluno do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo -SP. O projeto de Leonardo foi orientado pelo prof. Dr. Pedro Ismael, do Instituto Butantan.

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Leonardo Bodo é aluno da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri, e participante, desde 2009, do “Cientista Aprendiz”, um projeto de pré-iniciação científica para alunos do 8º ano do Ensino Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri.

Com o projeto “Tecendo saúde: a tecitura de substâncias antimicro-bianas a partir da ooteca da aranha Phoneutria nigriventer”, apresentou-se na Mostratec (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia), em que se classificou em 2º lugar na categoria “Microbiologia”, na Intel ISEF (International Science and Engineering Fair), em que foi agraciado com o 3º lugar na categoria “Bioquímica”, e na American Society of Pharmacognosy, em que ficou com o 1º lugar na categoria “Bioquímica”.

Para Leonardo, a experiência da pré-iniciação científica é muito mais do que estudar, é instigante.

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Foto: arquivo pessoal de Leonardo Bodo

em ambientes hospitalares. Os testes deram certo. Nenhum dos tipos de fungo resistiu nem adquiriu resistência a essa nova substância.

O próximo passo foi testar quais seriam as reações obtidas caso o novo tipo de antibiótico entrasse em contato com as hemácias, células componentes do sangue humano. De acordo com os testes, não foram encontradas reações aparentes nas hemácias, o que significa que o antibiótico poderia ser usado pela indústria farmacêutica.

O mais interessante de tudo isso é que, pelo fato de a nova substância poder ser encontrada em pequenas moléculas, os antibióticos originados a partir delas sairiam bem mais baratos. O estudo revela uma descoberta promissora não apenas do ponto de vista farmacêutico, mas também econômico.

SOBRE O AUTOR

Foto oficial da premiação de Leonardo na Intel-Isef 2011, Los Angeles

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27InCiência | Novembro 2011 |

NotíciasdeGiro

Reportagem da versão online da revista Nature destaca a luta da comunidade científica, encabeçada pela SBPC e Academia Brasileira de Ciências (ABC), para conseguir que parte dos recursos dos royalties do petróleo seja destinada para educação, ciência, tecnologia e educação. A revista diz que o Congresso Nacional e a mídia têm sido destraídos pela disputa entre os estados produtores e não-produtores – o que estaria ofuscando o debate promovido pela comunidade científica. E que se o projeto de lei virar lei o maior perdedor seria CT-Petro, fundo setorial que foi criado para estimular a inovação nos campos de petróleo e gás natural por meio do financiamento de projetos de pesquisa e desenvolvimento na área. A perda, diz a revista, seria de cerca de R$ 12,2 bilhões em 2020, o que implicaria queda de 72% na receita. Para mais informações, acesse: http://www.sbpcnet.org.br/site/home/home.php?id=1574

Reivindicação da comunidade científica é destaque na NatureFonte: Site SBPC

Os presidentes do CNPq, Glaucius Oliva, e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães oficializaram com a secretária-geral do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Daad), Dorothea Rüland, a cooperação Brasil-Alemanha dentro do programa Ciência sem Fronteiras (CsF). Mais informações podem ser obtidas no site www.cnpq.br

Alemanha oficializa participação no programa “Ciência sem Fronteiras”Fonte: Site CNPq

Até 2015, o Ministério da Saúde prevê investir R$ 1,5 bilhão em pesquisas de novos remédios, tratamentos, vacinas e equipamentos. O valor é quase quatro vezes maior do que o investimento da pasta acumulado nos últimos quatro anos, cerca de R$ 400 milhões. Para mais informações, acesse: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-09-08/governo-promete-quadruplicar-investimento-em-pesquisa-de-remedios-e-vacinas

Governo promete quadruplicar investimento em pesquisa de remédios e vacinasFonte: Agência Brasil

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InCiência | Novembro 2011 |28

A FAPESP e o laboratório Glaxo SmithKline Brasil (GSK) assinaram uma carta de intenção que prevê aporte compartilhado de recursos para apoio a pesquisas sobre doenças tropicais no Estado de São Paulo. O documento foi assinado pelo presidente da FAPESP, Celso Lafer, e pelo diretor da GSK para a América Latina e o Caribe, Rogério Rocha Ribeiro. A cerimônia teve ainda a participação do ministro da Saúde do Reino Unido, Simon Burns, do diretor-presidente da FAPESP, Ricardo Renzo Brentani, e do cônsul-geral britânico, John Dodrell. Para mais informações, acesse: http://www.fapesp.br/6642

Foi divulgada a abertura de uma linha de crédito especial da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) no valor de até R$ 30 milhões para companhias ibero-americanas sediadas no país que desejarem cooperar com empresas brasileiras. Para mais informações, acesse: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/334632.html

O zoólogo Gilson Volpato, que é professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), lançou um site que tem o objetivo de oferecer ao público acesso a artigos, dicas e reflexões sobre temas como redação científica, educação e ética na ciência.O site se divide nas seções “Ciência”, “Redação Científica”, “Publicação Científica”, “Ética e Moral na Ciência”, “Sociedade”, “Administração” e “Educação”. Em cada uma das seções temáticas, há uma lista de livros relacionados ao assunto, artigos, uma série de links para textos externos – com comentários do autor – e uma lista de dicas.Para conferir o site do professor Gilson Volpato, basta acessar o endereço eletrônico www.gilsonvolpato.com.br

Parceria contra doenças tropicais

Finep lança linha de até R$ 30 milhões para cooperação internacional

Redação científica ganha site especializado

Fonte: Agência FAPESP

Foi divulgada a abertura de uma linha de crédito especial da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) no valor de até R$ 30 milhões para companhias ibero-americanas sediadas no país que desejarem cooperar com empresas brasileiras. Para mais informações, acesse: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/334632.html

CNPq lança Chamada de apoio à Cooperação Internacional

Fonte: Site Ministério da Ciência e Tecnologia

Fonte: Site Ministério da Ciência e Tecnologia

Fonte: Agência Fapesp

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InCiência | Novembro 2011 | 29

Muitas regiões brasileiras sofrem com doenças causadas pela contaminação da água, problema em geral decorrente da falta de saneamento e higienização. Além disso, o tratamento de água encontra, no Brasil, diversas finalidades, como o uso de efluentes tratados na agricultura, nas áreas urbanas, particularmente para fins não potáveis, no atendimento da demanda industrial e até mesmo na recarga artificial de aquíferos. Buscando um mecanismo barato para que populações carentes pudessem desinfetar a água, a pesquisadora Karoline Elis Lopes Martins desenvolveu uma estação de tratamento de água de baixo custo, usando garrafas pet.

O objetivo da pesquisadora foi construir com garrafas PET um canal que, conectado a um concentrador solar (uma espécie de aquecedor movido a energia solar) pudesse manter um fluxo de água acima de 50°C por mais de duas horas para que ocorresse a desinfecção microbiológica da água.

Por Barbara Endo

Tratamento de água fica mais barato

com o uso de garrafas PET

Foto: freephotobank.com

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O interessante desse projeto é que, além de oferecer água microbiologicamente melhorada para a população, também trata as chamadas “águas cinza” (todos os efluentes, com exceção do sanitário), devolvendo a água tratada para o curso d’água natural. Além do baixo custo, o projeto utiliza métodos alternativos e sustentáveis (ener-gia solar, reutilização de materiais, utilização de plantas aquáticas), e tudo isso é feito sem a adição de produtos químicos.

Para dar início ao projeto,

Foto: sxc.hu

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Na foto acima, é possível ver um dos testes realizados pela pesquisadora Karoline Martins e, abaixo, o concentrador montado para medições

Foto: arquivo pessoal de Karoline Martins

Foto: arquivo pessoal de Karoline Martins

“A verdadeira felicidade não reside na ciência, mas sim na aquisição dela. Não é à toa que todo conhecimento começa com intuições, passa aos conceitos e termina com ideias.”

efetuou-se, primeiramente, uma simulação matemática para o cálculo do fluxo e da vazão. Depois disso, foi testado o aquecimento da água em um sistema fechado e com fluxo contínuo.

A partir daí, foi desenvolvido um concentrador solar composto por duas garrafas PET de 2 litros, distribuídas ao longo do concen-trador, que, por sua vez, é formado por uma estrutura de madeira e chapas refletoras que absorvem a luz solar.

Dessa forma, foi possível concluir que o tempo de solari-zação (exposição da água ao sol) é de 6 horas/dia.

Sendo assim, para obter 140,69 litros de água solarizada por dia, são necessárias 144 garrafas e 72 concentradores solares.

De acordo com os testes realizados, a estação de trata-mento proposta por Karoline foi composta, basicamente, por dois estágios principais: o primeiro compreende um filtro lento

Karoline Martins

Essa reportagem foi produzida a partir de um relatório científico feito pela pesquisadora Karoline Martins, ex-aluna do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). O projeto de Karoline foi orientado pelo professor Guilherme Fernandes Marques.

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Karoline Elis Lopes Martins é, atualmente, aluna de Engenharia Civil na UFMG e Engenharia Mecânica na PUC-MG.

Desde criança, Karoline se interessava por ciências e tinha, segundo ela, “um complicado gosto de duvidar de tudo aquilo que se considera estabelecido”.

Foi desse “gosto” que surgiu a vontade de estudar no curso técnico de edificações científicas no Cefet-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais).

Com o projeto “Construção de um canal com garrafas PET acoplado ao concentrador solar: sistema de fluxo contínuo de água solarizada com alter-nativa para desinfecção microbiológica em estação de tratamento de água”, desenvolvido no Cefet-MG, participou não só da Intel ISEF (International Science and Engineering Fair) 2010, em que recebeu o 3º lugar na categoria “Gestão ambiental”, como também da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia) 2010, em que conseguiu o 1º lugar em “Engenharia”.

Foto: arquivo pessoal de Karoline Martins

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SOBRE A AUTORAe a solarização no sistema de garrafas PET , e o segundo, um tratamento primário com lagoas de estabilização e uma wetland (pequena lagoa utilizada para regularizar os fluxos de água) construída artificialmente.

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O Colégio Dante Alighieri, neste ano de 2011, ao completar o primeiro século de sua existência, programou diversas solenidades cívicas, bem como uma série de eventos científicos e culturais, para a celebração da data. Essa ampla programação demonstra o ativo papel que o distingue no campo das valiosas iniciativas pedagógicas, confirmando sua identidade no cenário nacional.

Diante desse quadro, a presidência foi procurada pelas professoras Sandra Maria Rudella Tonidandel e Valdenice Minatel para examinar as condições e ponderar sobre a publicação de uma revista semestral que, registrando os

trabalhos produzidos na área científica do Colégio, os divulgasse para avaliação dos centros de estudo especializados. Não pensamos muito para avaliar o alcance do projeto e autorizar sua execução.

Aprovada a revista – com o objetivo, no entanto, de divulgar não apenas as atividades que se desenvolvem no Colégio, produzidas por seus alunos, mas também as que são realizadas por estudantes de outras instituições educacionais – será doravante incentivada, com ela, a interação entre os novéis cientistas aprendizes, cuja produção literária e experimental já ultrapassou até mesmo os limites da nossa pátria.

A publicação estará, também, à disposição de todos os centros de pesquisa nacionais e internacionais, com os quais se poderão formalizar encontros, simpósios e parcerias.

Quando se afirma que o nosso Dante, desde os primeiros passos no longínquo 1911, esteve sempre adiante do seu tempo, dou o meu testemunho positivo. As datas não serão precisas, mas, no período de 1939 a 1943, quando cursava o ginásio, tínhamos no Colégio os primeiros contatos com a ciência.

Nosso professor de Física, Luigi Borelo, era de estatura baixa e franzina, destacando-se no rosto os olhos azuis, protegidos por fartas sobrancelhas, e abaixo do queixo um robusto pomo de Adão. Sua composição corpórea já se aproximava à do homem do futuro: tronco pequeno sustentando crânio avantajado, iluminado por grandes faróis oculares. Nos laboratórios de Física e Química, a princípio acoplados em um mesmo espaço, já estavam instalados todos os aparelhamentos das respectivas áreas científicas. Desde logo, nos familiarizávamos com os tubos de ensaio, provetas, bastões de vidro,

Foto: Acervo do Colégio Dante Alighieri

ResumindoDesponta no centenário do Colégio a revista “InCiência”

Por José de Oliveira Messina, presidente do Colégio Dante Alighieri

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33InCiência | Novembro 2011 |

bicos de Bunsen, cadinhos, ácidos, bases, líquidos corrosivos que, misturados com minerais, produziam essências de perfumes agressivos, nos odores e nos gases. Lembro-me de que, comprovando a experiência de Arquimedes, ao colocar um corpo sólido numa tina cheia de água, verificava-se o deslocamento de volume.

Composições explosivas de cloreto de potássio, mais pó de enxofre, igual a estouro iminente, se pressionados de raspão pelo sapato, que sofria as avarias para desgosto das mães. Até o permanganato de potássio, milagroso, que, espargido nas roupas, não produzia manchas, mas que preocupava as bondosas e pacientes mães.

Arco voltaico, prismas refratários, que identificavam a direção dos raios da luz, telescópios que levavam ao estudo dos astros, conduzindo à história da figura de Galileu Galilei. A máquina pneumática provando que, no vácuo, os corpos de idêntico volume, pela força da gravidade, caem juntos.

Dirigiam, à época, a matéria de Química os professores Camilo Trippa e Aristodemo Melaragno. O primeiro, filho de jornalista italiano e irmão de Antonio, que foi diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, todos ex-alunos do Istituto Medio Dante Alighieri. O primeiro, mais jovem, participava mais da vida escolar, possuindo uma motocicleta vermelhinha, de potência reduzida, pois, quando me dava carona, nas subidas, exigia minha colaboração, empurrando-a.

Reações químicas, o ácido que amarelava metais e moedas de mil-réis, transformando-as em ouro brilhante, infelizmente por pouco tempo. A mistura de pós que se transformavam em tinta para escrever, em cores até então pouco usadas: o vermelho, o verde, o roxo...

Por fim, nesse cenário surgiu o grande cientista Cesare Mansueto Giulio Lattes, que tive o prazer de conhecer – fomos contemporâneos no Istituto Medio Dante Alighieri. Como ele residia na Alameda Franca, quase na esquina com a Rua Peixoto Gomide, enquanto jogávamos na rua bola de meia, ele passava, dava uma paradinha e dizia: já fizeram as lições para amanhã? Ficávamos mudos, olhando para seu rosto sério, onde dominava uma pinta marrom na bochecha esquerda ao lado do nariz bem desenhado, que atraía os olhares femininos. Ademais, ele era alto, olhos castanho-claros, com um sorriso científico enigmático. Foi ele candidato ao Prêmio Nobel de Ciências em 1950. Não o recebeu porque, à época, era norma do Comitê agraciar somente o líder do grupo.

Querida mestras: eis o veículo para desenvolverem seus objetivos. O Colégio sempre dará apoio aos projetos que contribuem para o preparo dos nossos alunos, os quais, na atual sociedade exigente de saberes, devem continuamente atuar na condição de pioneiros.

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Na foto o ex-aluno do Colégio, Cesar Lattes

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