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5/21/2018 AfetoeAdoecimentoDoCorpoLIDO-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/afeto-e-adoecimento-do-corpo-lido 1/18 Ágora (Rio de Janeiro) v. XIV n. 2 jul/dez 2011 165-182 Monah Winograd Psicanalista, doutora em Teoria Psicanalítica (IP/ UFRJ). Professora assistente do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-Rio Leônia Cavalcanti Teixeira Psicóloga e psicanalista, doutora em Saúde Coletiva (IMS/ Uerj). Professora titular do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor ) AFETO E ADOECIMENTO DO CORPO: CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS Monah Winograd e Leônia Cavalcanti Teixeira RESUMO: Tema de interesse para a clínica, a investigação das psico- patologias somáticas exige reelaborações metapsicológicas que con- templem os lugares do corpo e do afeto. Com a ênfase da psicanálise no recalque, a problemática do afeto teria ficado em segundo plano, causando uma lacuna comprometedora dos rumos dos atos clínicos. Resgatar as elaborações freudianas sobre o afeto, especialmente sua supressão, pode abrir espaço para a escuta da dor dos corpos enfermos. Neste ensaio, investigamos inicialmente a metapsicologia freudiana do afeto para, em seguida, propor elaborações a respeito dos destinos do corpo nas formações psicossomáticas. Palavras-chave:  Corpo, afeto, psicanálise, sofrimento psíquico, psicossomática. ABSTRACT: Affect and body illness: psychoanalytical consider- ations. Topic of interest for the clinic, the research of somatic psychopathologies requires metapsychological reelaborations that consider the place of the Body and the Affect. With the emphasis on the repression, the problematic of the Affect would have stayed in the background, causing a compromising gap on the course of the clinical acts. Retrieving Freudian elaborations on the Affect, espe- cially its suppression, can open space for the listening to the pain of sick bodies. In this essay, we have first investigated the Freudian metapsychology of the Affect for, then, propose elaborations about the destinies of the Body in psychosomatic formations Keywords: Body, affect, psychoanalysis, psychic suffering, psy- chosomatic Artigos

Afeto e Adoecimento Do Corpo LIDO

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    gora (Rio de Janeiro) v. XIV n. 2 jul/dez 2011 165-182

    Monah WinogradPsicanalista,doutora em TeoriaPsicanaltica (IP/UFRJ). Professoraassistente doPrograma de

    Ps-graduao emPsicologia Clnica daPUC-Rio

    Lenia CavalcantiTeixeiraPsicloga epsicanalista,doutora em SadeColetiva (IMS/Uerj). Professoratitular do Mestradoem Psicologia daUniversidade deFortaleza (Unifor)

    AFETO E ADOECIMENTO DO CORPO:CONSIDERAES PSICANALTICAS

    Monah Winograd e Lenia Cavalcanti Teixeira

    RESUMO:Tema de interesse para a clnica, a investigao das psico-patologias somticas exige reelaboraes metapsicolgicas que con-templem os lugares do corpo e do afeto. Com a nfase da psicanlise

    no recalque, a problemtica do afeto teria ficado em segundo plano,causando uma lacuna comprometedora dos rumos dos atos clnicos.Resgatar as elaboraes freudianas sobre o afeto, especialmentesua supresso, pode abrir espao para a escuta da dor dos corposenfermos. Neste ensaio, investigamos inicialmente a metapsicologiafreudiana do afeto para, em seguida, propor elaboraes a respeitodos destinos do corpo nas formaes psicossomticas.Palavras-chave:Corpo, afeto, psicanlise, sofrimento psquico,psicossomtica.

    ABSTRACT: Affect and body illness: psychoanalytical consider-ations. Topic of interest for the clinic, the research of somaticpsychopathologies requires metapsychological reelaborations thatconsider the place of the Body and the Affect. With the emphasis onthe repression, the problematic of the Affect would have stayed inthe background, causing a compromising gap on the course of theclinical acts. Retrieving Freudian elaborations on the Affect, espe-cially its suppression, can open space for the listening to the pain

    of sick bodies. In this essay, we have first investigated the Freudianmetapsychology of the Affect for, then, propose elaborations aboutthe destinies of the Body in psychosomatic formationsKeywords:Body, affect, psychoanalysis, psychic suffering, psy-chosomatic

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    INTRODUO

    As formas de mal-estar psquico da atualidade exigem a reviso de pressupostose de conceitos que guiam as diferentes perspectivas no lidar com o psquico e

    seus destinos. Assim, pensamos serem fundamentais a apresentao e a discus-so dos modos como nos situamos frente aos sofrimentos tpicos da atualidade,particularmente quando o corpo se torna a expresso principal das vicissitudesdo pathos (BERLINCK, 2000; FEDIDA, 2001). Os fenmenos psicossomticosconstituem parte significativa da clnica contempornea, demonstrando comoo corpo pode se tornar lugar privilegiado do sofrimento. Considerando concep-es da psicossomtica sobre a doena orgnica e os questionamentos oriundosdeste campo terico (VILA, 2002; DEJOURS, 1994; NASIO, 1997 e 2000),investigamos algumas leituras dos fenmenos psicossomticos. As elaboraes

    tericas e clnicas aqui expostas supem a articulao entre sofrimento, culturae subjetividade (BIRMAN, 1999 e 2006; COSTA, 2004). Tendo em vista o proble-ma dos lugares do corpo na psicanlise e, especialmente, as formas pelas quaisa doena orgnica se faz presente nas construes clnicas e metapsicolgicasde Freud, destacamos a questo do afeto e suas vicissitudes. Assim, a primeiraparte do texto se dedica a investigar a construo da noo de afeto em Freudpara, em seguida, tematizar algumas concepes da manifestao psicossomticaderivadas das ideias de Freud.

    O AFETO EM FREUD: ENTRE O CORPO E O PSIQUISMO

    Se eu nos sonhos sinto medo de uns ladres, os ladres so por certo imagi-nrios, mas o medo real, e ocorre o mesmo quando me regozijo nos sonhos(FREUD, 1900/1976, p.458). Prestar ateno nos afetos parecia a Freud ser umbom caminho para entender a natureza da alma humana. Para compreender umsonho, por exemplo, ele seguia os afetos nas sries de representaes. O mesmo

    acontecia nos encontros com seus pacientes: as variaes afetivas, das paixesintensas s hostilidades ao psicanalista e ao tratamento em geral, indicavam-lheque direo dar ao tratamento. s vezes, tudo acontecia to rpido que no erapossvel intervir, como no caso de uma senhora (1914/1976) que, ao cabo deuma semana na qual a transferncia aumentou demais, evadiu-se de Freud comofazia repetidamente com seu marido. Outras vezes, era preciso esperar e, semtomar as hostilidades do paciente como pessoais, consentir num decurso queno podia ser evitado nem apurado de imediato. As resistncias precisavam detempo para a sua reelaborao, a qual constitua a pea do trabalho produtora do

    efeito alterador mximo sobre o paciente e que distingue o tratamento analticode toda influncia sugestiva (FREUD, 1914/1976).

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    Apesar da importncia do afeto para a teoria psicanaltica, Freud nunca fezuma definio, nem dedicou mais do que poucos pargrafos de alguns textospara esclarecer como pensava sua natureza e origem. O fato de Freud nunca ter

    sistematizado o que entendia por afeto, como fez, por exemplo, com o conceitode representao, deixou aberto o caminho para uma discusso tcnica sobreseu estatuto terico. Laplanche & Pontalis (1986) e Green (1997), por exemplo,veem dificuldades no estabelecimento do conceito de afeto em Freud, preferindocategoriz-lo como noo. J Reys (1998) acredita que, dentre todos os termosempregados por Freud afetos, emoes ou sentimentos , o afeto o nicoque poderia ser considerado um conceito, seja pela quantidade de vezes em que empregado, pelo nmero de termos correlatos ou derivados, ou em virtudedo contexto em que aparece.

    Logo no comeo de suas reflexes sobre as neuroses, Freud (1894/1976)equacionou os afetos com uma quantidade em operao no psiquismo. A ex-presso quantum ou cota de afeto (Affektbetrag) era utilizada para designaruma intensidade psquica correlata das quantidades de excitao somtica capaz de se descolar da representao qual estaria originalmente ligada, tendodestinos variados. Em 1894, numa clebre passagem de As neuropsicoses de defesa,Freud (1894/1976) sugere que preciso distinguir, nas funes psquicas,

    algo (cota de afeto, soma de excitao) que tem todas as propriedades de umaquantidade ainda que no tenhamos meio algum para medi-la ; algo que

    suscetvel de aumento, diminuio, deslocamento e descarga, e se difunde pelas

    vias mnmicas das representaes como o faria uma carga eltrica pela superf cie

    dos corpos. (p.6)

    A ideia geral era que cada impresso psquica estaria provida de certo valorafetivo, j que em todo indivduo existiria a tendncia a reduzir esta quantidade

    ao nvel mnimo necessrio para seu funcionamento psquico. O psiquismoreagiria por via motora no sentido da descarga da quantidade recebida, depen-dendo disto o quanto restaria da intensidade da impresso psquica recebida.Freud (1894/1976) considerava adequada a reao que descarregasse a mesmaquantidade recebida e descreveu trs modalidades gerais de descarga: o proces-samento motor, o processamento por palavras ou o processamento associativo.Na formao do sintoma neurtico, podem-se encontrar dois mecanismos: 1) adescarga do quantum de afeto teria sido suspensa e este teria se fixado numa re-presentao diferente da qual estaria originalmente ligado, tornando esta novarepresentao patgena devido a uma intensidade excessiva e inadequada; ou2) o quantum de afeto seria escoado para as inervaes somticas, produzindoalteraes no funcionamento corporal usual. De maneira correspondente, na ab-

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    reao, a descarga em palavras do quantum de afeto estrangulado drenava-odo psiquismo ao redirecion-lo para a representao qual estaria originalmenteligado, permitindo seu desgaste (FREUD, 1893/1976).

    Nesta poca, Freud identificava uma quantidade em operao no psiquismo,observando a variao desta quantidade para maior ou menor intensidade, odeslocamento desta quantidade nas representaes ou em direo ao corpo e adescarga. Quantidade, variao, movimento (deslocamento) e descarga: elemen-tos sem os quais no era possvel compreender os afetos, mas que no bastavampara sua compreenso. Era preciso explicar como os afetos se transformavam,como o prazer virava desprazer, por exemplo, nos sintomas e nos sonhos peno-sos. Em 1900, Freud d mais um passo que s ser desenvolvido de modo maisaprofundado quinze anos depois:

    No podemos prosseguir nossa elucidao se no considerarmos o papel dos

    afetos nestes processos, o qual, porm, s possvel aqui de maneira incompleta.

    Formulemos ento este enunciado: A sufocao do Ics se torna necessria, sobre-

    tudo, porque o decurso das representaes no interior do Ics, deixado a si mesmo,

    desenvolveria um afeto que, em sua origem, teve a caracterstica do prazer, mas,

    desde que se produziu o processo de represso, leva a caracterstica do desprazer.

    A sufocao tem o fim, mas tambm o resultado, de prevenir esse desenvolvimento

    de desprazer. (...). Na base disto, h uma suposio muito determinada sobre anatureza do desenvolvimento de afeto. Este visto como uma operao motriz ou

    secretria, a chave de cuja inervao se situa nas representaes do Ics. Em virtude

    do governo que exerce o Pr-Cs, estas representaes so, por assim dizer, oclu-

    das, inibidas quanto ao envio dos impulsos que desenvolveriam afeto. (FREUD,

    1900/1976, p.573)

    O modelo de aparato psquico com o qual Freud (1900/1976) trabalhava nesta

    poca, mais conhecido como esquema pente, no permitia uma localizaotpica do afeto. Composto por sistemas mnmicos (Inconsciente, Pr-conscientee Consciente) com fronteiras bem definidas, dizia respeito sobretudo s repre-sentaes, embora fosse possvel supor uma energia psquica transitando pelossistemas e investindo ora um grupo de representaes, ora outro. Os afetospareciam referir-se ao modo como uma representao que tivesse chegado aosistema consciente (vinda do interior do aparato ou tendo se formado a partirda percepo) afetava o indivduo, causando prazer ou desprazer. Ou seja, Freud(1900/1976) identificava um aspecto qualitativo nos afetos e entendia como

    necessria a participao da conscincia.Contudo, seriam necessrios ainda alguns anos para que o metapsiclogo

    (1916-17/1976) pudesse formular que um afeto inclui, primeiramente, a par-

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    ticipao de determinadas inervaes motoras ou de descargas, e, em segundolugar, sensaes de duas classes: as percepes das aes motoras ocorridas eas sensaes diretas de prazer e desprazer que do ao afeto sua tonalidade, seu

    colorido dominante. Ou seja, para Freud (1916-17/1976), o afeto um processoem ato e em movimento que implica: 1) um aumento da tenso psquica; 2) opercurso desta tenso dentro do psiquismo; 3) um modo especfico de descargadirigida para o interior do corpo; 4) a percepo desta descarga; e 5) as sen-saes ligadas a ela segundo a matriz prazer-desprazer. Ou seja, o afeto incluio que acontece ao indivduo e o modo como ele percebe e entende o que lheacontece. A percepo da descarga e as sensaes de prazer ou desprazer so ime-diatamente apreendidas na rede de representaes que compe o pr-conscientee o consciente. O afeto variao corporal e psquica, bem como a apreensodesta variao pela conscincia num movimento reflexivo. Em resumo, paraFreud (1916-17/1976), a quantidade de energia e a descarga so elementos doafeto; os outros so as percepes e as sensaes que afetam o indivduo de ummodo ou de outro, tenha ele conscincia de suas causas ou no. Por exemplo,nos tempos da ab-reao e da catarse, o objetivo do tratamento era justamentefazer o indivduo referir o quantumde afeto lembrana do evento traumtico.Ou seja, referir o incremento da quantidade de excitao s suas causas e, por amesmo, permitir que o indivduo experimentasse o afeto que a lembrana do

    trauma gerava em toda a sua intensidade.Ento, podemos entender que, se o quantumde afeto designa uma quantidade

    de energia que se difunde pelas vias mnmicas, o afeto propriamente dito incluieste quantum sem reduzir-se a ele. Confundindo afeto e quantum de afeto, Assoun(1997) associa o primeiro a um gasto energtico das variaes na vida psqui-ca, a um resto da representao. Assoun (1997), na esteira de Green (1997),prope que o afeto seja pensado como sendo da ordem do acontecimento: hafeto quando se passa alguma coisa na vida psquica (p.392). Vindo da sensibi-

    lidade, o afeto coloca a dinmica psquica em movimento. Por si s a definioj seria vaga, mas Assoun (idem) vai adiante e reduz o acontecimento ao seuelemento quantitativo, mais especificamente descarga: a cota ou o quantumde afeto corresponderia expresso da pulso enquanto destacada da represen-tao. Porm, o autor esclarece que seria mais adequado dizer que o afeto (...)a subjetivao da pulso da qual se retirou a representao (ASSOUN, 1997,p.393): da o afeto ser sempre sentido. Mas, se o afeto sentido por um sujeito,ento h necessariamente representaes envolvidas, ainda que tais representaessejam as de um mal-estar mais ou menos difuso ou as das variaes corporaisenvolvidas, como por exemplo no caso da angstia acompanhada de taquicardiaou sudorese. Com efeito, para Freud, o afeto variao: inclui a quantidade e adescarga desta quantidade, mas inclui tambm necessariamente a conscincia,

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    mesmo confusa, de ambas. Por isso, a referncia aos afetos inconscientes apenas uma maneira de falar a posteriori de uma moo que foi inibida em seudesenvolvimento (FREUD, 1915a e b/1976).

    Quando, em 1915, Freud fala dos modos pelos quais a pulso representadapsiquicamente, ele identifica o quantum de afeto e a representao, mas emmomento algum reduz o afeto a este quantum. O afeto propriamente dito umcomplexo que s se realiza quando h percepo, sensao e ligao do quantuma uma representao consciente. No recalque, produzir-se-ia um divrcio entreo quantum de afeto e a representao, ambos sofrendo destinos diversos. Doponto de vista descritivo, isto indiscutvel. Porm, para Freud (1915b/1976),o processo real seria, em geral, um quantum de afeto no se fazer notar at queuma nova sub-rogao (Vertretung) irrompa no sistema Cs. Da ser um abuso con-ceitual falar que um afeto foi recalcado. Seria mais correto dizer que foi alvo deuma represso (Unterdrckung), de uma inibio em seu desenvolvimento. Aps orecalque, a representao continua existindo no inconsciente como uma forma-o real, mas o afeto corresponde apenas a uma possibilidade de rudimento qual no foi permitido desenrolar-se (FREUD, 1915a/1976, p.174). O objetivodo recalcamento justo o de inibir a transposio de uma moo pulsional numaexteriorizao de afeto necessariamente operada pelo sistema consciente.

    Variao quantitativa, movimento, descarga, percepes, sensaes e repre-

    sentaes so os elementos que, em conjunto, e somente em conjunto, compemos afetos. Ainda que, por vezes, Freud destaque um ou outro destes elementos,para ele o afeto se d na conjuno de todos. Por isso, como sugere Green (1997),pode-se considerar o afeto em Freud um termo categorial que agrupa todos osaspectos subjetivos qualificativos da vida emocional em sentido amplo, compre-endendo todas as nuanas que a lngua alem (Empfindung, Gefhl) encontra sobeste tpico. Da alguns autores, como Otto Kernberg (1995), preferirem definiro afeto como um padro psicofisiolgico biologicamente determinado e desen-

    volvimentalmente ativado, portador de um julgamento cognitivo especfico, umpadro facial tambm especfico, uma experincia subjetiva de natureza prazerosaou dolorosa, bem como um padro de descarga muscular e neurovegetativa.No fosse a nfase excessiva na determinao biolgica, esta definio seria tocorreta do ponto de vista freudiano quanto a de Green (1997).

    Mas, se era claro para Freud que os afetos so variaes quantitativas e quali-tativas, sua natureza e sua origem no pareciam to evidentes. As indicaes queele tinha sobre o assunto vinham da teoria da evoluo de Darwin, aprendidaainda nos tempos de faculdade. No por acaso, o pai da teoria da evoluo citadonominalmente na parte dos Estudos dedicada ao caso de Elizabeth R. (FREUD,1893-95/1976). Ali, Freud desenvolve um ponto de vista que permanecer o

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    mesmo at o fim de sua obra, ainda que sua articulao com os outros aspectosenvolvidos nos afetos no seja esclarecida:

    Mas eu sustento que o fato de que a histrica crie, mediante simbolizao, umaexpresso somtica para a representao de colorido afetivo menos individual e

    arbitrrio do que se suporia. Ao tomar literalmente a expresso lingust ica, ao sentir

    a punhalada no corao ou a bofetada aps um comentrio depreciativo como

    um episdio real, ela no toma liberdade com as palavras, mas torna a animar as

    sensaes s quais a expresso lingust ica deve sua justificao. (...) Todas estas sen-

    saes e inervaes pertencem expresso das emoes, que, como nos ensinou

    Darwin, consiste em operaes em sua origem providas de sentido e de acordo a

    um fim; por mais que hoje se encontrem, na maioria dos casos, debilitadas a tal

    ponto que sua expresso lingustica nos parea uma transferncia figurada, muito

    provvel que tudo isso fosse compreendido literalmente, e a histeria acerta quando

    restabelece para suas inervaes mais intensas o sentido originrio da palavra.

    (FREUD, 1893-95/1976, p.193)

    Esta passagem encerra uma das discusses de caso feita por Freud (1893-95/1976) e ele no retorna ao assunto para maiores esclarecimentos. Ao mesmotempo em que parece referir-se fisiologia da expresso dos afetos, aparece o

    problema da origem da linguagem misturado ideia de que a ontogenia repetea filogenia. Apenas uma coisa fica mais ou menos clara: a hiptese de que assensaes e inervaes dos afetos, bem como sua expresso lingustica, so menosindividuais e arbitrrias do que se supe. Ou seja, haveria algo que determinaas semelhanas no modo como os indivduos sentem e expressam, corporal elinguisticamente, os afetos.

    Esta ideia foi desenvolvida em tom de brincadeira no rascunho enviado paraFerenczi em 1915, no qual Freud (1915d/1976) relacionou onto e filognese.

    Ali, ele esboou o esquema de um estudo comparativo dos fatores individuais(recalque, contrainvestimento, formao substitutiva e de sintoma, relao funo sexual, regresso, disposio) na histeria de angstia, de converso eneurose obsessiva. Ao apresentar os fatores disposicionais, o metapsiclogo deu filogenia lugar de destaque. A hiptese geral era que a regresso e a fixao dalibido em cada neurose produzem organizaes psquicas que reproduzem, maisou menos, fases da histria da humanidade do ponto de vista de sua organizaoanmica. Freud (1915d/1976) organizou as psiconeuroses (no apenas as neurosesde transferncia) em uma srie de acordo com o ponto no tempo no qual elasaparecem costumeiramente na vida do indivduo: histeria de angstia, histeria

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    de converso, neurose obsessiva, demncia precoce, paranoia, melancolia-mania,bem como as neuroses atuais.1

    As disposies para a fixao da libido nestas afeces produziriam uma srie

    que vai na direo oposta: quanto mais tarde a neurose aparece, mais antiga afase da libido para a qual deve regredir, tanto em termos ontogenticos quantofilogenticos. Neste texto, o metapsiclogo (FREUD,1915d/1976) d ao conceitode regresso segundo o qual, nas neuroses, a libido retrocederia at um pontode fixao em seu desenvolvimento ou no desenvolvimento do eu lugar dedestaque. Para ele, o problema da regresso encobriria os problemas da fixaoe da disposio, revelando-se como o elemento mais influente na deciso sobrea escolha de neurose. Sua hiptese seria a da possibilidade da fixao ser cong-nita, produzida por impresses precoces ou ambas, de acordo com cada caso:Trata-se, portanto, de um pouco mais disso ou daquilo, alm de um encontromais eficaz (FREUD, 1915d/1976, p.10). Mas o autor esclarece que consideraro elemento constitucional de fixao no afasta a considerao do elementoadquirido, apenas envolve o deslocamento da investigao para um passadoainda mais remoto, pois o herdado seria o que resta do que foi adquirido umdia ao longo da histria da humanidade. V-se como, das questes envolvendoa disposio ontogentica, Freud (1915d/1976) chega ao problema complexo dadisposio filogentica. Esta mesma problemtica aparece de passagem tambm

    em outros escritos da mesma poca. Em A pulso e suas vicissitudes(1915c/1976),Freud escreve que (...) nada nos impede esta conjectura: as prprias pulses,ao menos em parte, so precipitados dos efeitos de estmulos externos que, nocurso da filognese, influenciaram a substncia viva, modificando-a (p.116).Ou ainda, em 1918, ao encerrar suas elaboraes sobre o caso do Homem dos Lobos,Freud (1918/1976) sublinha dois problemas que o capturaram particularmente.Um deles era o dos esquemas que a criana traz consigo ao nascer e que elesupe serem filogenticos, ou seja, precipitados da histria da civilizao huma-

    na. Dentre tais esquemas, o metapsiclogo destaca o complexo de dipo comosendo o mais conhecido e adianta a hiptese de que considerar as contradiesentre as vivncias relativamente aos esquemas enriqueceria o entendimento dosconflitos infantis e, portanto, da escolha de neurose.

    Evidentemente, como assinala Perron (2005), tais posies freudianas socomplexas e criticveis por vrios motivos, desde certa assimilao do homempr-histrico criana, passando por sua inspirao em um darwinismo socialcujas consequncias so no mnimo discutveis, at a utilizao da hiptese

    1 Em relao s neuroses atuais, Freud (1895a/1976, 1898/1976, 1917/1976) desenvolveuaspectos interessantes que operaram como prembulo para as investigaes psicanalticasde Ferenczi (1926/1993), Groddeck (1992, 2004), McDougall (1991 e 1999), Lacan (1962-63/1985), Marty (1993 e 1997) e Winnicott (1990), dentre outros.

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    da recapitulao de Haeckel (segundo a qual a ontogenia repete a filogenia).Ou ainda, o fato de que Freud utiliza o termo filogenia para designar as etapassucessivas da civilizao humana, supondo uma nica linha de desenvolvi-

    mento, quando o termo mais comumente utilizado para indicar a evoluointerespecfica na sucesso das formas do ser vivo. Contudo, so duas as crticasmais contundentes. A primeira se refere hiptese de que Freud s apelariapara explicaes filogenticas quando sua compreenso atravs da ontogeniase tornasse lacunar, esbarrando no inexplicvel (PERRON, 2005). A segundaaponta para a dificuldade de se perceber em que bases orgnicas a transmissointergeracional poderia se dar.

    Seja como for, especificamente, com relao aos afetos, Freud desenvolvia,no rascunho enviado a Ferenczi (1915d/1976) a mesma ideia tanto de 1893, dosEstudos sobre a histeria, quanto de 1926, do Inibio, sintoma e angstia: os afetos e omodo como so expressos derivam do cruzamento da histria dos indivduoscom a histria da espcie, da organizao psquica individual com a organizaopsquica coletiva, misturando, segundo os termos do prprio metapsiclogo,o que constitucional e o que acidental, ou segundo a velha oposiofilosfica, a natureza e a cultura (FREUD, 1915d/1976):

    Quando o fator constitucional ou a fixao entram em considerao, a aquisio

    no [] assim eliminada; ela s se move para a pr-histria ainda mais antiga,porque pode-se justificadamente assumir que as disposies herdadas so resduos

    das aquisies de nossos ancestrais. Com isso, entra-se [no] problema da dispo-

    sio filogentica por trs da individual ou ontogentica, e no se deve encontrar

    contradio se a individual acrescenta novas disposies de sua prpria experincia

    na sua disposio herdada (adquirida) baseada numa experincia anterior. Porque

    o processo que cria disposies baseadas na experincia cessaria precisamente no

    indivduo cuja neurose se est investigando? Ou (porque deveria) este [indivduo]

    criar [uma] disposio para sua progenitura mas no ser capaz de adquiri-la parasi mesmo? Mais parecem [ser] necessariamente complementares. (p.10)

    Em Inibio, sintoma e angstia(1926b/1976), ele afirma que os afetos so sedi-mentaes de antiqussimas vivncias traumticas que, em situaes semelhan-tes, despertam como uns smbolos mnmicos (p.89). Alguns deles chegandomesmo a ser reprodues de acontecimentos antigos de importncia vital, talvezmesmo pr-individuais (p.126), equiparveis a ataques histricos universais,tpicos, congnitos. Neste texto, Freud (1926b/1976) estava preocupado espe-cificamente com o afeto da angstia e se esfora em demonstrar a pertinnciadesta concepo. A angstia deve, neste momento, ser compreendida como um

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    sinal emitido pelo eu em situaes de perigo psquico ou real, obedecendo necessidade biolgica de autopreservao (p.89).

    Mais uma vez, Freud recorria ao que aprendera ao longo de sua formao

    como mdico e pesquisador de neurofisiologia e neuroanatomia. Acreditavaque as leis que regem o funcionamento corporal encontram correspondentesno funcionamento psquico. Assim, vinculava o entendimento dos afetos e dagnese do psiquismo em geral histria da espcie humana, apesar de todosos problemas tericos que decorriam da. Pois foi justamente nesta histriada espcie que um outro aspecto de igual importncia para a compreenso dopsiquismo humano vinha luz: dentre as inervaes motoras que participamdos afetos e de sua expresso, h aquelas que dizem respeito emisso de sons(a fala, se quisermos). Com isso, alargava sua ideia de hereditariedade: os assimchamados fatores acidentais, ou seja, a histria singular de cada indivduo ede seus encontros (o que inclui o dito e o no dito, o simblico), precisavamser considerados como sendo de algum modo constitucionais. E vice-versa: oque era constitucional teria sido um dia adquirido.2

    Como no rascunho enviado a Ferenczi (FREUD, 1915d/1976), Freud(1926b/1976) suavizava a distino feita pela cincia do comeo do sculo XXentre constituio e acidente, inato e adquirido. O metapsiclogo nunca esqueceuo que alguns estudiosos insistem em classificar como resqucio de biologismo

    decorrente de sua formao positivista: no h alma sem corpo. Entre os dois,ele situou o conceito de afeto: ao mesmo tempo realidade psquica e realidadematerial (WINOGRAD, 2002) o que torna este conceito um instrumento bas-tante frtil para a abordagem dos fenmenos psicossomticos entendidos comosufocamentos do afeto (MCDOUGALL, 1991, p.152) e relativos a um modo desofrimento evidenciado no corpo, comprometendo a relao de continuidadepsquico-corporal (FLEMING, 2003), isto , a unidade psicossomtica.

    AFETO E FENMENO PSICOSSOMTICO: PELA INCLUSO

    DO CORPO NA ESCUTA ANALTICA

    Na clnica, preciso considerar que entre o corpo e o psiquismo h zonas deindiscernibilidade (WINOGRAD, 2002), sobretudo ao se lidar com as assim

    2Como destaca Winograd (2007), esta posio freudiana foi alvo de discusses acaloradas.De um lado, estudiosos como Lucille B. Ritvo (1992) defenderam o darwinismo de Freud,afirmando que sup-lo lamarckista um equvoco, se no um exagero tanto histrico,quanto bibliogrfico. Prova disso a ausncia de referncias nominais a Lamarck em seus

    textos publicados em vida. As nicas excees so um trabalho de 1884 sobre a cocana ealgumas correspondncias com Ferenczi, Abraham e Groddeck. Menes suficientementeimportantes para levarem autores como Frank J. Sulloway (1979) a considerarem Freud umpsico-lamarckista convicto.

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    chamadas afeces psicossomticas. Trata-se, nestes casos, de acolher um sofri-mento que demanda tanto o reconhecimento dos afetos quanto a consideraoda imagem inconsciente do corpo (DOLTO, 1984). Berlinck (2000), no texto

    Insuficincia imunolgica psquica, chama a ateno, por meio de interessantes metforasblicas, para os riscos do desconhecimento do corpo:

    Esse desconhecimento (do corpo) campo frtil para fantasias melanclicas que

    enfraquecem sobremaneira as defesas a ataques virulentos externos. Fantasias que

    produzem representaes frgeis e pobres do prprio corpo so equivalentes a

    fantasias manacas que contm uma concepo onipotente do corpo. Essas fantasias

    inconscientes que revelam um desconhecimento, uma falta de intimidade com o

    corpo e, at mesmo, uma recusa do reconhecimento da existncia do corpo so,

    muitas vezes, responsveis pela insuficincia imunolgica a ataques virulentos

    externos. (p.189-190)

    Por sua vez, Debray (2001) afirma que separar nos indivduos humanos oque atua na cena psquica do que se vive ao nvel do corpo injustificado. Defato, a antiga dicotomia psique/soma no resiste a esta evidncia: somos todosseres psicossomticos (p.9).

    Contudo, os destinos dos representantes pulsionais (FREUD, 1915c/1976)

    parecem operar de modo diferenciado na organizao psquica dos sujeitos cujapercepo dos afetos mostra-se precria ou embotada, talvez por resistncia sameaas fantasmticas do jogo libidinal (FREUD, 1920/1976). Nestes casos, oadoecimento orgnico poderia ser entendido como expresso corporal de afetosno elaborados psiquicamente, ou seja, como somatizao regressiva que, atravsde leses orgnicas, instauraria uma fronteira tnue entre a vida e a morte. Taissujeitos se apresentam quase sempre referidos ao registro do corpo orgnicoobservado e tratado pela abordagem da medicina. Nas sesses de anlise, tal

    corpo se apresenta transferencialmente por meio das queixas, lamentaes enarrativas dos priplos mdicos percorridos pelo enfermo. Embora tais sujeitosrecorram cincia mdica para tentar entender o que acontece ao seu corpo, asqueixas apontam para algo que resta e que escapa da apreenso do corpo comoorganismo, abrindo espaos a outros entendimentos. este deslocamento dahistria da doena para a histria do doente que a psicanlise deve buscar.

    Em seu texto Potncias e limites da racionalidade em medicina, Canguilhem (1984)constatou, confrontado ao paradoxo da objetivao do sujeito na medicina psicos-somtica: Vejamo-nos aqui tendo chegado ao ponto onde a racionalidade mdicase realiza no reconhecimento de seu limite, entendido, no como o fracasso deuma ambio que deu tantas provas de sua legitimidade, mas como a obrigaode mudar de registro (p.124-125). O filsofo da medicina acreditava que tudo

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    o que toca a vida qualitativo, portanto, da ordem de uma experincia que acincia mdica no pode anular ao tentar explicar. Mas, se a doena psicosso-mtica interpela os saberes mdicos, ela tambm interroga a psicanlise a partir

    dos afetos expressos em um corpo que exige escuta e representao.Dada a primazia do corpo orgnico lesionado, a implicao do sujeito emseu adoecimento mostra-se frgil e, por vezes, inexistente. A acolhida destessujeitos exige que o analista se posicione tal como props Freud em Sobre oincio do tratamento: novas recomendaes sobre a tcnica da psicanlise I(1913/1976): o motor mais direto da terapia o padecer do paciente e o desejo,que se engendra a, de ser curado (p.143). Dito de outro modo, de interessedo psicanalista interpretar a doena, suas erupes eventuais ou suas recidivasdevido a crises, apresentando para o paciente o problema das causas de seuadoecimento, distintas das consideradas pela medicina. Com isso, pretende-sefazer intervir a ideia de uma possvel causalidade psquica e entrelaar o encon-tro de duas histrias de alteraes de ordem diversa (orgnica e psquica), cujasrelaes no so aleatrias.

    O sofrimento pe o sujeito face s impotncias, limites e decadncia org-nicos, expondo-o perspectiva da morte e precipitando defesas e estratgiasde enfrentamento que excedem a dimenso orgnica. A doena, as prescriese os medicamentos todo este aparato mdico deve adquirir sentido na

    dinmica subjetiva, no dizendo respeito apenas enfermidade como objetode investigao biomdica, mas, sobretudo, sua experincia subjetiva e aosdestinos dos afetos em jogo. De modo que entender opathos(BERLINCK, 2000;FEDIDA, 2001) a partir do que ele apresenta de originrio pode ser uma estratgiaterico-clnica interessante para o enfrentamento de pontos de vista que ignoramser o mal-estar (orgnico) uma manifestao autntica do sofrimento subjetivoe de suas vicissitudes. Nesse contexto, o conceito de afeto parece constituir umdos pontos centrais da articulao terica entre psicanlise e medicina quando

    o sofrimento reside na materialidade do corpo, ou seja, em seu funcionamentoorgnico. Porque as manifestaes psicossomticas acometem os sujeitos emsua economia afetiva, exigem alternativas de apreenso terica e de intervenoclnica que no se limitem leitura do corpo como organismo.

    Diferentemente de um sintoma conversivo, um fenmeno dito psicossom-tico quando os sintomas no se inscrevem no corpo histrico (simblico), masno corpo mdico (orgnico), demandando intervenes, respostas e explicaes fisiopatologia. Contudo, sabemos que a expresso subjetiva tambm acontecepelo registro orgnico, revelando a necessidade de releitura das expressesafetivas e das marcas deixadas no corpo: o corpo, afetado pelo fenmeno psi-cossomtico, deve ser abordado a partir da dinmica criadora da sintomatologiaque desafia tanto o saber mdico quanto o psicanaltico (VILA, 2002). H um

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    sentido neste sintoma? Porque o sujeito adoeceu neste momento e deste jeito?Qual a relao do adoecimento com a sua histria? Por outro lado, tambm oscuidados com a constituio orgnica e com a erogeneidade do corpo signifi-

    cam articulaes diversas entre corpo e psiquismo. O corpo orgnico, atingidona sua materialidade tecidual e humoral, corresponde a um modo de relaocorpo-psiquismo que pode levar morte. que, de maneira diversa do corpo doneurtico, no fenmeno psicossomtico o corpo afetado no seria apenas, porexemplo, o representado na anatomia fantasmtica da histeria de converso. Ossintomas psicossomticos no corresponderiam nem comunicao neurticanem restituio psictica, mas, sim expresso dos afetos por meio de, porexemplo, simbolizaes viscerais (VALABREGA, 1954).

    Embora no tenha se preocupado mais detidamente com as questes psicos-somticas, Freud escreveu em 1923: E segundo o indicam alguns analistas, otratamento analtico de graves enfermidades orgnicas tampouco deixa de serpromissor, pois, no raro, um fator psquico participa da gnese e da duraodestas afeces (1923/1976, p.246). Mesmo tendo enfatizado sua descrena naaplicabilidade da terapia psicanaltica a todos os casos, Freud (1895a/1976) des-tacou que pacientes sob tratamento mdico em hospitais poderiam se beneficiarda ajuda de mtodos complementares, tais como a psicoterapia psicanaltica,a qual vinha se mostrando eficaz no tratamento de casos severos de histeria e

    neurose obsessiva.Nos anos finais do sculo XIX, Freud (1893/1976, 1894/1976 e 1895a/1976)

    dedicou diversos escritos discusso da etiologia das neuroses, destacandodidaticamente aspectos especficos s psiconeuroses e neurastenia, neurosede angstia e hipocondria. No entanto, ele sempre demonstrou preocupaoem ressaltar os pontos em comum nas sintomatologias dessas doenas, enfati-zando as possveis organizaes mistas, as misturas de neuroses. O diagnsticoconstitua um momento que exigia cautela para Freud (1895a/1976). Como

    ilustrao, citamos um fragmento de Sobre os critrios para destacar da neurastenia umasndrome particular intitulada neurose de angstia, no qual Freud (1895a/1976) expe quea neurose de angstia seria

    (...) o correspondente somtico da histeria. Aqui como l, acmulo de excitao

    (no qual tenha, talvez, fundamento a semelhana j descrita entre os sintomas);

    aqui como l, uma insuficincia psquica que produz, como consequncia, processos somticos anor-

    mais. Aqui como l, ao invs de um processamento psquico, intervm um desvio

    da excitao at o somtico; a diferena reside meramente em que a excitao, cujo

    deslocamento (descentramento) se exterioriza na neurose, puramente somtica

    na neurose de angstia (excitao sexual somtica), enquanto que, na histeria,

    psquica (provocada por um conflito). (p.114)

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    O fundador da psicanlise, desde cedo, assumiu as dificuldades em tratardoenas orgnicas, admirando Ferenczi quando esse se atirava nas guas turvasdo adoecimento somtico desafiador das elaboraes sobre as converses e a

    hipocondria. Ferenczi (1926/1993) escreve que foi necessrio esperar o adventodo mtodo psicanaltico introduzido por Freud para se poder explicar, at umaprofundidade antes insuspeitada, a vida pulsional onde o corpo e o psiquismono param de influenciar-se mutuamente (p.381). De fato, histeria e hipocon-dria aproximaram a psicanlise do fenmeno psicossomtico, defrontando-acom desafios que no eram facilmente convocados palavra, expresso da vidaonrica e fantasmtica, elaborao dos trabalhos de luto, enfim, montagem deuma histria nos moldes de um romance familiar (FREUD, 1909/1976). que ofenmeno psicossomtico exige a considerao do sujeito em seu adoecimentopara que tenha lugar a construo de ressignificaes do adoecer orgnico.

    Influenciado por estas ideias, Franz Alexander (1962) discute com Dunbar(1910-1953/1976) a respeito das hipteses de que a patologia orgnica teriarelao com perfis de personalidade pr-mrbidos especficos para certos qua-dros clnicos: a estrutura da personalidade tornaria uma parte determinada doorganismo frgil e vulnervel agresso externa, o que preparia o solo parasomatizaes. Para Alexander (1962), a hiptese de um perfil de personalida-de como causa seria insuficiente. Ao invs, seria necessrio considerar o que

    ele chama de constelao psicodinmica especfica, ou seja, reaes de basederivadas de um estado de tenso do aparelho psquico, englobando o sistemaneurovegetativo, o eixo subcortical e os dados humorais. Embora sujeito acrticas, Alexander (idem) deu lugar de destaque aos conflitos psquicos e aosafetos culminando em modificaes corporais. Suas ideias fizeram-no retomara noo ferencziana de neurose de rgo, relativa hiptese da estagnaoanormal de uma quantidade de energia em um rgo ou um aparelho. Taisligaes entre estados afetivos e comportamentos somticos produziriam padres

    somticos que poderiam se manifestar como distrbios funcionais redundandoem sintomas orgnicos.Por volta dos anos 1960, na Frana, outra abordagem das doenas psicos-

    somticas ganhou destaque, modificando ou ampliando algumas hipteses etransformando a abordagem clnica. Valabrega abordava o sintoma somticoentendendo-o como um fenmeno de converso generalizada cuja fonte fantas-mtica, ao ser reencontrada, lhe daria um sentido. Desnecessrio apontar o lugarcentral do conceito de afeto nesta formulao: divorciado da representao (fan-tasia, fantasma), o afeto se desloca para o corpo em um movimento conversivo,alimentando simbolizaes manifestamente viscerais (VALABREGA, 1954). Nestecontexto terico da converso psicossomtica, o sintoma constituiria uma espciede barreira corporal a ser transposta pela reconduo dos afetos s representaes

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    fantasmticas latentes e, como consequncia, da desconstruo de tais elementos.Assim, a converso psicossomtica confundir-se-ia com a converso histrica teorizao passvel de crticas sobre as quais no nos deteremos aqui.

    Neste mesmo perodo (1960), outra abordagem das doenas psicossomticasera formalizada na Frana, e ficou conhecida como Escola Psicossomtica de Paris,tendo em Marty (1993) um de seus representantes mais clebres. Correndo orisco de uma simplificao excessiva, podemos afirmar que as formulaes destaescola operam com as ideias bsicas de dficit, carncia psquica (fantasmtica,onrica, associativa, de defesas etc.). Deste ponto de vista, o sintoma psicos-somtico seria assimblico. Marty avana a noo de pensamento operatrio,identificando figuras clnicas como a depresso essencial e a desorganizaocrnica e insistindo na ideia de que o dispositivo de regresso e de fixao te-riam valor reorganizador. Nos processos de somatizao, o trauma faria avanara desorganizao, mas no chegaria a suspender o que ele chama de sistema deregresso/fixao (MARTY, 1993).

    Ao mesmo tempo prxima e distante de Marty, McDougall (1992) propeser o corpo a maneira mais ecnomica de reviver os traumatismos, insistindona economia do afeto e nas possibilidades de acomod-la como for possvel.Dentre tais possibilidades, a autora sublinha que, na ausncia de toda atividademetafrica, o corpo seria a nica expresso possvel dos afetos assim separados

    de seu papel psquico. Ao comentar o trabalho de McDougall (1992), Can (2000)sublinha o agir corporal enquanto sistema de defesa atual, como nico modode expresso anterior palavra.

    A clnica psicanaltica das doenas orgnicas seria, ento e antes de tudo,uma clnica dos afetos, lugar de reinveno de um sujeito atado s amarras deseu corpo afetado. Afinal, onde mais os afetos poderiam ser sentidos e experi-mentados, se no no corpo? A construo do setting teraputico se daria, ento,a partir do reconhecimento de que afetos so expressos no e pelo corpo, rom-

    pendo seu equilbrio: trata-se de um saber inscrito no corpo e que resiste a serconfrontado com a dvida, com o contraditrio e com o afetivo no discurso. Ditode outro modo, a clnica dos fenmenos psicossomticos mostraria os efeitos doque extrapola os objetivos vitais, evidenciando a clivagem do sujeito, os destinosdos afetos, a angstia e as possibilidades de construo de sentido. Vale apontarque, na atual clnica psicanaltica das doenas psicossomticas, diferentementedo quadro nosolgico em que Freud situou as neuroses atuais (precursoras daspsicopatologias somticas), as relaes precoces e os momentos primitivos deconstituio do eu tm merecido destaque (DOUCET, 2000, FADDEN, 2000,VOLICH, 2000). Seja como for, de modo geral, no arriscado afirmar que otrabalho clnico visa permitir que o sujeito se posicione frente doena semexperimentar a autocensura melanclica de aspecto regressivo, expressa na

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    dor relativa iminncia de sua destruio como sujeito, e reconstrua sua redesimblica pela incluso do corpo biolgico, elaborando os afetos na construode uma histria.

    CONSIDERAES FINAIS

    A investigao das psicopatologias somticas impe-se como tema de interessepara a clnica, exigindo reelaboraes metapsicolgicas que contemplem os luga-res do corpo e dos afetos. Com a nfase da psicanlise no recalque, a problem-tica do afeto parece ter ficado em um plano pouco iluminado pelas teorizaes,causando uma lacuna muitas vezes comprometedora dos rumos dos atos clnicos(BIRMAN, 2006). Resgatar as elaboraes freudianas acerca do conceito e dosdestinos do afeto, especialmente a supresso (FREUD, 1915a/1976), pode abrirespao para a escuta da dor dos corpos enfermos. No se pode esquecer que aruptura epistemolgica que inaugura a clnica freudiana herdeira da linhagemfilosfica na qual corpo e psiquismo no so substncias distintas, mas compemuma unidade que pode ser denominada de psicossomtica.

    esse corte com a cultura da anatomopatologia que instaura a possibilidadede uma clnica da escuta, segundo Berlinck (2000), predominantemente visual,j que ocorre no mbito das transferncias que produzem, de incio, afetos e

    imagens. Tratamos, neste breve ensaio, da metapsicologia do afeto e dos desti-nos do corpo nas formaes psicossomticas, tema de relevncia, em especialquando os processos de subjetividade hegemnicos na atualidade interrogam oestatuto do corpo na sua singularidade, extravagncia e desmesura, sendo estesubmetido s eficientes tecnologias de medicalizao da dor e das variaes dehumor enfim, do sofrimento psquico.

    Recebido em 8/3/2009. Aprovado em 24/10/2009.

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    Monah [email protected]