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ÁFRICA – UMA VISÃO CONJUNTA Aspectos gerais 1- A África, com pouco mais de 30 milhões de km², é um imenso continente onde são visíveis as condições de pobreza. Das 30 nações mais pobres do globo – com maiores problemas de subnutrição, analfabetismo, altas taxas de mortalidade infantil, média de vida baixa para a população, etc. – pelo menos 21 são africanas. É na África, portanto, que encontramos as mais típicas condições de subdesenvolvimento. 1.1- Em 2002, cerca de 800 milhões de pessoas vivem no continente africano, onde existem 53 nações independentes e um território colonizado, que deseja se tornar independente: o Saara Ocidental, que é controlado pelo Marrocos. A Namíbia, sob o domínio da África do Sul até 1990, e a Eritréia, que pertencia à Etiópia até 1993, foram os últimos países africanos a alcançar a independência. 1.2- Próximo ao litoral africano, há um grande número de ilhas que pertencem a países de outros continentes. É o caso, por exemplo, de Açores e Madeira (Portugal); das Canárias (Espanha); e de Santa Helena (Reino Unido). 1.3- Apesar de a áfrica ser conhecida como o Continente Negro, quase um terço de seus habitantes, especialmente os povos que residem na parte norte, é constituído de brancos. Portanto, os outros dois terços aproximados da população africana total são negros, que se concentram em geral no sul do deserto do Saara. Assim, do ponto de vista da cor da pele de sua população, o continente africano em duas partes: A África Branca, ao norte do Saara, e a África Negra (ou Subsaariana), ao sul desse deserto. 1.4- De maneira geral, a África Branca é constituída por povos muçulmanos, isto é, que praticam a religião islâmica e que, em sua maioria, falam o idioma árabe. A África Subsaariana, que abrange a maioria dos países do continente, pelo contrário, possui uma extraordinária diversidade de povos, idiomas e religiões. Contudo, há exceções: existem povos que praticam a religião islâmica e falam o árabe, assim como há grupos brancos, ao norte do continente, que não são muçulmanos e não falam árabe. Aspectos fisiográficos

ÁFRICA – UMA VISÃO CONJUNTA  · Web viewNa África, encontramos diversos ... os conflitos entre os seus povos e as enormes desigualdades sociais internas só podem ser entendidas

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ÁFRICA – UMA VISÃO CONJUNTAAspectos gerais

1- A África, com pouco mais de 30 milhões de km², é um imenso continente onde são visíveis as condições de pobreza. Das 30 nações mais pobres do globo – com maiores problemas de subnutrição, analfabetismo, altas taxas de mortalidade infantil, média de vida baixa para a população, etc. – pelo menos 21 são africanas. É na África, portanto, que encontramos as mais típicas condições de subdesenvolvimento.1.1- Em 2002, cerca de 800 milhões de pessoas vivem no continente africano, onde existem 53 nações independentes e um território colonizado, que deseja se tornar independente: o Saara Ocidental, que é controlado pelo Marrocos. A Namíbia, sob o domínio da África do Sul até 1990, e a Eritréia, que pertencia à Etiópia até 1993, foram os últimos países africanos a alcançar a independência.1.2- Próximo ao litoral africano, há um grande número de ilhas que pertencem a países de outros continentes. É o caso, por exemplo, de Açores e Madeira (Portugal); das Canárias (Espanha); e de Santa Helena (Reino Unido).1.3- Apesar de a áfrica ser conhecida como o Continente Negro, quase um terço de seus habitantes, especialmente os povos que residem na parte norte, é constituído de brancos. Portanto, os outros dois terços aproximados da população africana total são negros, que se concentram em geral no sul do deserto do Saara. Assim, do ponto de vista da cor da pele de sua população, o continente africano em duas partes: A África Branca, ao norte do Saara, e a África Negra (ou Subsaariana), ao sul desse deserto.1.4- De maneira geral, a África Branca é constituída por povos muçulmanos, isto é, que praticam a religião islâmica e que, em sua maioria, falam o idioma árabe. A África Subsaariana, que abrange a maioria dos países do continente, pelo contrário, possui uma extraordinária diversidade de povos, idiomas e religiões. Contudo, há exceções: existem povos que praticam a religião islâmica e falam o árabe, assim como há grupos brancos, ao norte do continente, que não são muçulmanos e não falam árabe.

Aspectos fisiográficos2- A África é o mais tropical dos continentes. Essa afirmação é muito importante para entendermos o continente africano. Cortadas em seu meio pelo Equador, ao norte pelo trópico de Câncer e ao sul pelo trópico de Capricórnio, as terras africanas são geralmente quentes,

bastante tropicais. Os índices de chuva, contudo, não são elevados: são maiores nas proximidades do Equador, onde se localiza a floresta do Congo, e diminuem tanto para o norte quanto para o sul.2.1- Há dois imensos desertos nesse continente: o Saara e o Kalahari. O Saara é o maior deserto do mundo, com uma área superior à do Brasil: 9 milhões de km². Localiza-se na porção norte do continente africano, ocupando a terra de inúmeros países. O deserto de Kalahari fica ao sul e sua área é de 600 mil km².2.2- A origem dos desertos é explicada pela presença de montanhas no litoral, que agem como barreiras que dificultam a penetração de nuvens carregadas de umidade

no interior. No caso dos desertos africanos, há um elemento a mais: ao longo do trópico de Câncer, que corta o Saara, existe uma zona de permanente pressão atmosférica. Esse fato dá origem à dispersão de ventos, em vez de atraí-los.

2.3- Apesar de o deserto ser um fenômeno natural, sua área vem crescendo nas últimas décadas devido à ação humana. É o caso, por exemplo, do forte desmatamento em regiões vizinhas, especialmente ao sul do Saara, com o estabelecimento de atividades agrárias inadequadas para conter essa expansão do deserto, como criações extensivas e monoculturas voltadas para exportação.2.4- Um meio de evitar a desertificação seria plantar árvores nas bordas do deserto, o que não é feito por motivos econômicos: isso não dá lucros a curto prazo. A expansão do Saara para o sul e o ouso dos melhores solos para cultivos voltados para o mercado externo vem agravando a insuficiência de alimentos na África negra. Já ocorreram inúmeros casos de seca e fome crônica nessa porção do continente, com milhares de mortos e milhões de subnutridos.2.5- Na África, encontramos diversos tipos de vegetação, adaptados às variações climáticas, como a floresta do Congo (mata equatorial), as raras plantas desérticas, as estepes e a vegetação mediterrânea. Mas são as savanas o tipo de vegetação – e de paisagem natural – o mais característico do continente, e que até chegou a ser divulgado em quadrinhos de conteúdo colonialista, como Tarzan e Fantasma.2.6- As savanas são uma vegetação de clima tropical semelhantes ao cerrado, no Brasil central. Caracterizam-se por apresentar uma mistura de plantas herbáceas com arbóreas, desenvolvendo-se principalmente no sul do Saara. Uma rica fauna, composta por leões, elefantes, zebras, girafas, rinocerontes, etc. vive nas savanas, embora tenha sido em grande parte dizimada nos últimos cem anos. Hoje, o que sobreviveu está restrito as poucas reservas que estão sendo criadas em alguns países africanos.

Colonização e descolonização3- O subdesenvolvimento atual da África, os conflitos entre os seus povos e as enormes desigualdades sociais internas só podem ser entendidas pelas grandes modificações aí introduzidas pelos europeus. Afinal, o grande problema africano é a pesada herança colonial.

3.1- A dominação européia na África teve inicio no séc. XV, com a expansão marítimo-comercial empreendida pelos países europeus.3.2- É lógico que esse continente já era conhecido na Europa. Afinal, a Europa, a África e a Ásia formam um único e imenso bloco de terras – o Velho Mundo. Portanto, desde a antiguidade existiam contatos entre os povos desses três continentes. Basta lembrar, por exemplo, a civilização egípcia, nas margens do Nilo, que era conhecida pelos europeus, ou as famosas guerras ocorridas nos séc. III e II a.C. entre Roma e Cartago, cidade localizada no norte da África, onde hoje esta a Tunísia.3.3- Mas foi no séc. XV que os europeus começaram a dominar a África e a apropriar-se de seus territórios. No início, eles estabeleceram postos comerciais ao longo do litoral africano, nos oceanos Atlântico e Índico, pois a África é ponto de passagem para os navios que vão da Europa para a Ásia. Depois, com a colonização do continente americano, traziam africanos para o Novo Mundo para trabalhar como escravos nas plantações e nas minas de ouro e prata.3.4- Até o séc. XIX, os europeus realizaram trocas comercias com os povos africanos. As trocas eram vantajosas para os europeus, que forneciam bens manufaturados e especiarias vindas da Índia, como, pimenta-do-reino, noz-moscada, canela, cravo, etc. e recebiam em troca escravos e produtos como marfim, peles, madeiras nobres, etc. Esse tipo de comércio, denominado escambo, era realizado com diversos grupos

sociais africanos.3.5- Com a independência das colônias

americanas e com o grande desenvolvimento econômico europeu provocado pela Revolução Industrial, a Europa começou a colonizar a África no séc. XIX. Assim, nações européias importantes na época dividiram entre si o continente africano. Essa divisão ou partilha não foi tranqüila nem definitiva: houve guerras e conflitos, terras de uma metrópole foram tomadas por outras, etc.3.6- Tudo isso ocorreu, porém, sem que fossem levados em conta os interesses dos africanos. A única coisa que pesava nesse processo de dominação era o poderio militar das potencias européias. Assim, por exemplo, uma área pertencente à Bélgica poderia passar a integrar-se ao Reino Unido ou à Alemanha simplesmente porque os belgas haviam se enfraquecido militarmente, enquanto os ingleses ou alemães haviam se fortalecido.3.7- Nisso tudo, os africanos tinham apenas que se adaptar aos novos colonizadores. Viraram “belgas”, “alemães”, “ingleses”

praticamente sem nenhum dos direitos que os cidadãos desses países possuíam, mas com todos os deveres, inclusive o de lutar nas guerras deflagradas pelos colonizadores.3.8- Com as duas guerras mundiais – 1914-1918 e 1939-1945 – ocorreram o enfraquecimento das potencias européias e o fortalecimento das novas potencias mundiais: Estados Unidos e União Soviética. Com isso, a partir do fim da Segunda Guerra, a África e a Ásia passaram por um processo de descolonização.3.9- Assim, em duas ou três décadas, a maioria das colônias adquiriu a sua independência. Em alguns lugares, como na Argélia, houve guerras para a conquista da independência; em outros, esse processo foi pacífico e, no Saara Ocidental, ainda não se completou. E

houve até mesmo casos em que africanos foram enganados ao obter a independência. Isso se deu, por exemplo, na África do Sul, onde os ex-colonizadores brancos ficaram com o poder no novo país independente, deixando a maioria africana sem direitos políticos.

Conseqüências da colonização4- Apesar de as nações africanas terem se tornado independentes, são inúmeras as marcas da dominação colonial européia que permanecem até hoje nesse continente. Os colonizadores impuseram aos africanos um modelo de economia e de sociedade típico dos povos europeus e, com isso, destruíram a organização social desses povos.4.1- Uma das conseqüências da dominação colonial é a economia dependente, subordinada ao mercado internacional capitalista. Antes da colonização, a economia desses povos era auto-suficiente, ou seja, eles produziam praticamente tudo aquilo que necessitavam e quase não recorriam a trocas comerciais. Eram basicamente economias agrícolas e de subsistência. Os colonizadores destruíram essas economias e, no seu lugar, implantaram uma economia comercial, seja agrícola ou mineral, voltada para o comércio externo, isto é, para atender as necessidades dos países desenvolvidos.Plantations4.2- Para estabelecer essa economia comercial, os colonizadores organizaram grandes plantações, onde se cultivava apenas um gênero agrícola. Essas plantações baseavam-se também no uso intenso de mão-de-obra mal remunerada e eram voltadas para o fornecimento de produtos tropicais (amendoim, cacau, algodão, café, cana-de-açúcar, chá, etc.) ao mercado internacional. Esse tipo de exploração de terra é denominado plantation.4.3- Os melhores solos foram utilizados para essas grandes plantações coloniais, ficando os piores para o cultivo de alimentos para a população local. Essa prática acabou perpetuando mesmo depois da independência dos países africanos, pois suas economias já estavam voltadas para a exportação de produtos agrícolas, o que era vantajoso para a minoria privilegiada que assumiu o governo substituindo os colonizadores.4.4- Embora a África produza alimentos para exportação, um dos grandes problemas que os povos africanos enfrentam é o da alimentação da população em geral. Com exceção de alguns poucos países, os problemas de fome e subnutrição são notórios nesse continente.Fronteiras artificiais4.5- Com a colonização e, posteriormente, com a descolonização, um dos grandes problemas vividos pelos africanos foi o da formação dos países independentes.4.6- Antes da colonização, não existiam países ou Estados-nações na África, mas sim povos diversificados, cada um vivendo num território sem fronteiras definidas, ou migrando de uma terra para outra, de acordo com as necessidades de caça, de novos solos, etc. Eram povos com idiomas e costumes muito diferentes um dos outros, mas nenhum deles constituía um país, o que supõe um povo unificado pela língua, ocupando um território definido por fronteiras e sob a organização de um Estado, com governo, forças armadas, polícia, tribunais, sistemas de impostos, etc.4.7- A colonização européia não respeitou as diferenças e particularidades desses povos. Pelo contrário, os europeus dividiram o continente entre si com base em mapas, de acordo com rios, montanhas ou coordenadas geográficas (paralelos e meridianos), sem consultar os povos que lá viviam.4.8- Nessa partilha, uniram pela força povos diferenciados e desuniram outros que viviam juntos. Assim, famílias que pertenciam a um mesmo grupo acabaram separadas pelas fronteiras coloniais. Pais foram morar numa colônia inglesa, filhos casados, numa francesa, primos numa belga e assim por diante. Os parentes não podiam mais se visitar, pois estavam separados por fronteiras definidas, controladas, vigiadas. Evidentemente, isso representou um enorme drama para essas pessoas e esses povos, pois antes da colonização eles nem imaginavam que uma situação dessas pudesse ocorrer. 4.9- Além disso, povos que tradicionalmente eram inimigos, com idiomas e costumes diferentes, forma obrigados a viver dentro das mesmas fronteiras e a ficar subordinadas a um único governo, que, por sinal, não tinha sido escolhido por eles. Como vimos, as fronteiras dessas colônias eram artificiais, nada representando os povos africanos, e a administração era imposta pelos colonizadores visando aos interesses europeus.4.10- O único elemento que unificava as colônias da África era a cultura européia: a língua do colonizador, principalmente, e as instituições estatais (governo, escolas, tribunais, forças armadas, etc.) criadas pela metrópole colonizadora. Quando essas colônias se tornaram independentes, quase nada mudou, pois, em geral, os países africanos – com exceção dos localizados ao norte do continente, de religião muçulmana e língua árabe – são constituídos por inúmeros povos, com diversos idiomas e dialetos, embora o idioma oficial desses países seja de origem européia.

ATIVIDADES

I- Explique por que a África é considerada o mais tropical de todos os continentes.II- Quais foram as conseqüências da colonização da África?III- Por que se afirma que as fronteiras na África são artificiais?