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AGÊNCIA REGULADORA E O SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HIDRICOS. EXPERIÊNCIA DA ADASA – AGÊNCIA REGULADORA DE ÁGUAS, ENERGIA E SANEAMENTO BÁSICO DO DISTRITO FEDERAL. Geól. Diógenes Mortari Superintendência de Recursos Hídricos – Superintendente ADASADF dió[email protected] Biol. Rafael Machado Mello Processo de Outorga e Fiscalização Gestor ADASA –DF [email protected] RESUMO O objetivo do presente trabalho é apresentar a experiência da ADASA, criada pela Lei n 3365, de 16 de junho de 2004, reformulada pela lei 4425, de 26 de dezembro de 2008, como agência reguladora do bem água e sua inserção no sistema de gerenciamento de recursos hídricos do Distrito Federal. A partir de 1997, a nível federal, foram criadas várias agências para regular e fiscalizar setores como energia, telecomunicações, dentre outras, destacando como inovador a criação da Agência Nacional de Águas – ANA, dedicada a regular o uso de um dos nossos mais importantes recursos naturais que é a água. A nível estadual foram criadas as agências reguladoras multissetoriais, especializadas mais na área de saneamento e fiscalização dos serviços públicos. A ADASA surgiu no contexto de um programa do Governo do Distrito Federal com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID com o objetivo de desenvolver o programa de Saneamento do DF, por meio da expansão da infra estrutura de saneamento e criação de uma agência de águas. A atuação da ADASA na regulação dos recursos hídricos motivou também a uma reavaliação do sistema de gerenciamento de recursos hídricos, envolvendo novas articulações e procedimentos com os demais participantes do sistema, cujas relações ainda estão em desenvolvimento, as quais procuramos apresentar neste trabalho completado por um breve histórico da regulação de águas no Brasil. PalavrasChave: regulação de água, sistema de gerenciamento de recursos hídricos. REGULATORY AGENCY AND THE SYSTEM OF MANAGEMENT OF WATER RESOURCES. EXPERIENCE OF ADASA REGULATORY AGENCY WATER, ENERGY AND SANITATION OF THE DISTRITO FEDERAL. ABSTRACT The objective of this work is to present the experience of ADAS, created by Law No 3365 of 16 June 2004, reformed by Law 4425 of 26 December 2008 as the regulatory agency and water and into the management system water resources of the Federal District. Since 1997, the federal level, several agencies were created to regulate and supervise sectors as energy, telecommunications, among others, highlighting how innovative the creation of National Water Agency ANA, dedicated to regulate the use of one of our most important natural resources is water. The state level have been established multisector regulatory agencies, most specializing in the supervision of sanitation and public services. The ADAS arose in the context of a program of the Government of the Federal District with the Inter American Development Bank IDB in order to develop the program of Sanitation of the DF through the expansion of infrastructure for sanitation and a water agency. The performance of ADAS in the regulation of water resources also led to a reassessment of the management of water resources, involving joints and new procedures with the other participants of the system, whose relations are still in development, which seek to provide this work completed by a brief history of regulation of water in Brazil. Keywords: regulation of water, management system of water resources. Área Temática: Recursos Hídricos

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AGÊNCIA REGULADORA E O SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HIDRICOS. EXPERIÊNCIA DA ADASA – AGÊNCIA REGULADORA DE ÁGUAS,

ENERGIA E SANEAMENTO BÁSICO DO DISTRITO FEDERAL.

Geól. Diógenes Mortari Superintendência de Recursos Hídricos – Superintendente­ ADASA­DF

dió[email protected]

Biol. Rafael Machado Mello Processo de Outorga e Fiscalização­ Gestor­ ADASA –DF

[email protected]

RESUMO O objetivo do presente trabalho é apresentar a experiência da ADASA, criada pela Lei n 3365, de 16 de junho de 2004, reformulada pela lei 4425, de 26 de dezembro de 2008, como agência reguladora do bem água e sua inserção no sistema de gerenciamento de recursos hídricos do Distrito Federal. A partir de 1997, a nível federal, foram criadas várias agências para regular e fiscalizar setores como energia, telecomunicações, dentre outras, destacando como inovador a criação da Agência Nacional de Águas – ANA, dedicada a regular o uso de um dos nossos mais importantes recursos naturais que é a água. A nível estadual foram criadas as agências reguladoras multissetoriais, especializadas mais na área de saneamento e fiscalização dos serviços públicos. A ADASA surgiu no contexto de um programa do Governo do Distrito Federal com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID com o objetivo de desenvolver o programa de Saneamento do DF, por meio da expansão da infra­ estrutura de saneamento e criação de uma agência de águas. A atuação da ADASA na regulação dos recursos hídricos motivou também a uma reavaliação do sistema de gerenciamento de recursos hídricos, envolvendo novas articulações e procedimentos com os demais participantes do sistema, cujas relações ainda estão em desenvolvimento, as quais procuramos apresentar neste trabalho completado por um breve histórico da regulação de águas no Brasil.

Palavras­Chave: regulação de água, sistema de gerenciamento de recursos hídricos.

REGULATORY AGENCY AND THE SYSTEM OF MANAGEMENT OF WATER RESOURCES. EXPERIENCE OF ADASA ­ REGULATORY AGENCY WATER,

ENERGY AND SANITATION OF THE DISTRITO FEDERAL.

ABSTRACT The objective of this work is to present the experience of ADAS, created by Law No 3365 of 16 June 2004, reformed by Law 4425 of 26 December 2008 as the regulatory agency and water and into the management system water resources of the Federal District. Since 1997, the federal level, several agencies were created to regulate and supervise sectors as energy, telecommunications, among others, highlighting how innovative the creation of National Water Agency ­ ANA, dedicated to regulate the use of one of our most important natural resources is water. The state level have been established multisector regulatory agencies, most specializing in the supervision of sanitation and public services. The ADAS arose in the context of a program of the Government of the Federal District with the Inter­ American Development Bank ­ IDB in order to develop the program of Sanitation of the DF through the expansion of infrastructure for sanitation and a water agency. The performance of ADAS in the regulation of water resources also led to a reassessment of the management of water resources, involving joints and new procedures with the other participants of the system, whose relations are still in development, which seek to provide this work completed by a brief history of regulation of water in Brazil.

Key­words: regulation of water, management system of water resources. Área Temática: Recursos Hídricos

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1 – INTRODUÇÃO

O Brasil, ao longo das décadas passadas, experimentou alguns modelos referentes ao papel de atuação do Estado. No período compreendido entre 1930 a 1970 o Estado apresentou­se como “fazedor” onde surgiram as empresas denominadas de “BRAS”, Eletrobrás, Petrobras, dentre outras, com o grande papel de alavancar o crescimento da nação. Nos anos 80 verificou­se o declínio deste modelo, com o grande numero de obras inacabadas e a falta de investimentos, na grande maioria dos setores de infraestrutura do país. Na década de 90 o modelo altera­se substancialmente para o papel de Estado “regulador”, passando para a iniciativa privada executar os projetos relacionados à infraestrutura, com início dos processos de privatização, e o Estado direcionando seus recursos em educação e saúde, esta era a mensagem. Na década iniciada em 2000, volta­se em parte ao Estado “fazedor”, mas com a participação da iniciativa privada, talvez o nome indicado para este modelo atual seja o “fazedor­regulador”, Modelo das Parcerias Público­Privadas.

No âmbito da regulação de águas pode ser destacado, no Brasil, dois grandes marcos regulatórios: o Código de Águas em 1934 e a Lei Federal nº 9.433, de 2007, sendo que a partir desta Lei é que ocorreu tanto a nível da União como nos Estados a estruturação do sistema de gerenciamento de recursos hídricos. No Distrito Federal, a Lei 2725, de 2001, estabeleceu, em parte nos moldes da lei federal, a política de recursos hídricos e a partir de 2004 a ADASA recebeu a competência exclusiva de regular o uso destes recursos e juntamente com outros integrantes do sistema de gerenciamento a implementação da política traçada para o Distrito Federal.

2­ A REGULAÇÃO DE ÁGUAS NO BRASIL

2.1 A FASE ANTECEDENTE AO CÓDIGO DE ÁGUAS, DE 1934.

Podemos considerar, de maneira bastante simplista, como primeiros atos regulatórios aqueles inseridos nas Ordenações reais, o Alvará de 1804 e de 1819.

2.1.1 ORDENAÇÕES REAIS

Pelas Ordenações do Reino, pertenciam aos direitos reais, os rios navegáveis e os de que se faziam navegáveis, que eram caudais e corriam todo o tempo, cuja utilização de suas águas dependia de concessão régia. Ordenações Filipinas (Livro II, Título XXVI, § 8), “os rios navegaveis, e os de que se fazem os navegaveis, se são caudais que correm todo o tempo ainda que de uso [...] commum a toda a gente [...] sempre a propriedade delles fica no Patrimônio Real. “(1)

2.1.2 ALVARÁ DE 1804

O Alvará de 27 de novembro de 1804, “Dá providencias à bem da Agricultura, a herdade da Província de Alentejo, em Portugal. Em qualquer das Províncias do Reino, aonde alguma povoação em comum, ou algum proprietário em particular pretender tirar de algum rio, ribeira, paul ou nascente de água, um canal ou conduzi­lo para regar as suas terras, ou para se esgotar sendo inundadas, requerera a qualquer dos Ministros de Vara Branca do Termo, ou Comarca, para que lhe demarque e assine o lugar e sitio mais cômodo, por onde ela pode ser construída, ouvindo o parecer de Louvador, ou de pessoas inteligentes: o qual do que acordarem mandara formalizar um processo verbal, e por ele lhe dara, ou negara a

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licença para a construção, citando­se por Editos as partes interessadas: e do que julgar se poderá recorrer a Mesa do Desembargo do paço. Não poderão estas obras ser embaraçadas pelos proprietários dos Terrenos, por onde elas passarem. Mas serão obrigados a deixarem construir o Aqueduto, e passar água, pagando o prejuízo por arbítrio de Louvador.” (2)

Este Alvará, tendo em vista constantes reações contra a prerrogativa da coroa, veio consagrar a situação de fato existente, no sentido da livre derivação das águas dos rios e ribeiros, que podiam ser feitas por particulares, por canais ou levadas, em benefício da agricultura e da indústria. Com fundamento neste ato, podia­se adquirir o direito ao uso das águas pela pré­ocupação, o que ocasionou grandes abusos, que obrigaram as autoridades administrativas a mandar demolir pesqueiros e açudes, construídos às margens dos rios navegáveis, em prejuízo do serviço público.

2.1.3 ALVARÁ DE 1819

Atendendo solicitação de proprietários de engenhos de açúcar da Bahia, em benefício da agricultura e da causa pública um Alvará (04/03/1819) estendeu ao Brasil alguns parágrafos do Alvará de 1804 “Observar inteiramente neste Reino do Brasil e domínios ultramarinos, as disposições dos supracitados parágrafos 11 e 12 e seguintes do Alvará de 27 de novembro de 1804.” que regulamentava a construção e o uso de águas em canais e levadas no Alentejo. A partir de então, independentemente de serem as águas patrimônio Real ou não, uma povoação em comum ou algum proprietário em particular necessitando construir algum canal ou levada para tirar água de algum Rio, Ribeira, Paul ou Nascente seja para regar suas terras ou para esgotá­las sendo inundadas, deveria requerer licença a um Ministro da Vara Branca do Termo ou Comarca, ao qual caberia demarcar o lugar por onde passaria a dita construção. Os proprietários dos terrenos pelos qual a água devesse passar não poderiam embaraçar tais obras, mas deveriam ser ressarcidos dos prejuízos que viessem a sofrer (Alvará de 27/11/1804, § 11).

2.1.4 CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO, DE 1824.

A Constituição do Império, de 25 de março de 1824, adotou a posição segundo o qual o Estado não deveria se intrometer nas atividades econômicas, que se auto­regulavam livremente. Nessas circunstâncias, foi muito natural não ter em seu texto qualquer referência a ordem constitucional econômica e, muito menos, a questão da proteção ao meio ambiente. Mas, de acordo com o direito vigente à época, na propriedade do solo está implícita a do subsolo, ou seja, as águas subterrâneas. Portanto, se nas terras privadas existissem mananciais de água subterrânea, estes pertenciam aos proprietários do solo. Neste sentido, o artigo 179, da citada constituição assegurava "o direito de propriedade em toda sua plenitude". Não obstante, também era previsto constitucionalmente o direito de desapropriação do patrimônio privado, mediante prévia indenização, quando o poder público julgasse necessária sua utilização. Desta forma, os mananciais hídricos existentes nas propriedades privadas poderiam ser desapropriados pelo poder público, quando este julgasse necessário. A citada constituição não fez referência às águas superficiais. (3)

2.1.5 REGISTROS DE 1829 / 1855.

A Lei de 1º de outubro de 1829 que disciplinou sobre as atribuições das Câmaras Municipais, definiu em seu artigo 16, a competência das Câmaras para legislar sobre as águas,

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nos seguintes temas: a) aquedutos, chafarizes, poços e tanques; b) esgotamento de pântanos e qualquer estagnação de águas infectas. (4)

Há registro de que, na cidade do Crato, no Ceará, em 22 de junho de 1855, com base em Resolução Provincial, perante juiz presidente da Câmara Municipal e partidores nomeados, se procedeu à partilha de águas do rio Batateira, entendidas como patrimônio da Câmara, entre todos os foreiros dos sítios, observada a igualdade e regularidade de direitos, com base em telhas de água de vinte polegadas de circunferência e em horas determinadas.

2.1.6 CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA, DE 1891.

A Constituição de 24 de fevereiro de 1891não disciplinou o domínio hídrico, ou seja, a quem pertencia a propriedade dos rios. Mas, definiu as competências para legislar sobre a navegação dos mesmos. Ao Congresso Nacional, foi delegada a competência para legislar sobre "a navegação dos rios que banhassem mais de um estado ou se estendessem a territórios estrangeiros", conforme dispõe o artigo 34, § 6º. À União e aos Estados institui­se a competência para legislar sobre a navegação interior, ao teor do artigo 13. (5)

2.1.7 LEI N. 3.071, DE 1916.

Esta Lei instituiu o Código Civil brasileiro, trazendo em seus artigos 563 a 568 normas de regulamentação da utilização águas no pertinente ao direito de vizinhança. Mesmo com a edição do Código de Águas, em 1934, estas disposições permaneceram vigentes, pois foram recepcionadas quase na totalidade por este diploma. Neste sentido, AFRÂNIO DE CARVALHO (apud ANTUNES, (4)) declara: " O Código de Águas de 1934 cobriu interstícios deixados pelo Código Civil, de sorte que os dois diplomas, embora se repitam em certo tanto, noutro se completam".

Ainda, de acordo com ANTUNES (4), a diferença fundamental entre a normatividade estabelecida pelo Código Civil e pelo Código de Águas está, exatamente, no fato de que o Código de Águas enfoca as águas como recursos dotados de valor econômico para a coletividade e, por isto,merecedores de atenção especial do Estado.

Com a edição da Lei 10.406, de 10.01.2002, que institui o Novo Código Civil brasileiro remanesceram os dispositivos referentes à disciplina da água do Código de 1916 com tênues alterações. A tutela que era prevista no dispositivo 563 do Código revogado, passou a ser tratada no artigo 1.288 do novo Código, com correspondência parcial e do mesmo modo a do artigo 564 no artigo 1.289, a do artigo 565 no artigo 1.290 a do artigo 567 no artigo 1.293.

2.1.8 CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1934.

A Constituição de 16 de julho de 1934 tratou o tema de forma clara e considerando os aspectos econômicos e de desenvolvimento. Disciplinou o domínio dos recursos hídricos, concedendo­os à União e aos Estados. De acordo com o artigo 20, II, pertenciam à União: os lagos e quaisquer correntes em terrenos de seu domínio, ou que banhassem mais de um Estado, servissem de limite com outros países ou se estendessem a território estrangeiro, assim como as ilhas fluviais e lacustres nas zonas fronteiriças. Aos Estados pertenciam "as margens dos rios e lagos navegáveis, destinadas ao uso público, se por algum título não fossem de domínio federal, municipal ou particular" de acordo com o artigo 21, II. À União,

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foi delegada a competência para legislar sobre águas, energia elétrica, pesca, regime de portos e navegação de cabotagem entre outros, conforme estatui o artigo 5º, XIX, do citada constituição.

Esta constituição alterou as regras vigentes sobre a propriedade das riquezas do subsolo, estabelecendo em seu artigo 118 que, a partir de então, "as minas e demais riquezas do subsolo, bem como as quedas d´água, constituem propriedade distinta da do solo para o efeito de exploração ou aproveitamento industrial". Já o artigo 119, disciplina a autorização e concessão federal indispensável à exploração e aproveitamento industrial das águas e energia hidráulica (POMPEU (3); ANTUNES,(4)). Vislumbra­se que, neste diploma legal "a água foi considerada elemento essencial para a geração de riquezas econômicas e desenvolvimento, especialmente como fonte de energia elétrica", conforme ministra ANTUNES (4).

2.2 O CÓDIGO DE ÁGUAS, DE 1934.

Os recursos hídricos no Brasil foram palcos de uma ampla discussão nas primeiras décadas de 1900, tendo sido finalizada pela edição do primeiro grande marco regulatório de águas, o Código de Águas, instituído pelo Decreto 24.643 de 10 de junho de 1934 (6), tendo sido a “legislação brasileira de águas” até a promulgação da Lei 9.433 de 08 de janeiro de 1997, que não o revoga, mas altera alguns de seus princípios.

As considerações iniciais do Decreto expressam que o uso dos recursos hídricos no Brasil não vinha atendendo as necessidades do País e que era necessário dota­lo de uma regulação adequada, assim resolveu decretar o Código de Águas: “ Considerando que o uso das águas no Brasil tem­se regido até hoje por uma legislação absoluta, em desacordo com as necessidades e interesses da coletividade nacional; Considerando que se torna necessário modificar esse estado de coisas, adotando o País de uma legislação adequada que, de acordo com a tendência atual, permita ao poder público controlar e incentivar o aproveitamento industrial das águas; Considerando que, em particular, a energia hidráulica exige medidas que facilitem e garantam seu aproveitamento racional; ...; Resolve decretar o seguinte Código de Águas, cuja execução compete ao Ministério da Agricultura e que vai assinado pelos Ministros de Estado: “

O Código de Águas é constituído por 205 artigos, sendo 138 artigos tratam da água e o restante da energia elétrica. O que aconteceu a posteriori foi que a energia foi sendo regulamentada e os recursos hídricos esperaram até 1997 com a promulgação da Lei n. 9433, portanto tendo esperado sua regulamentação por 63 anos.

É Composto por três “Livros”, o Livro I trata das águas em geral e sua propriedade, o Livro II do aproveitamento das águas e o Livro III das forças hidráulicas – regulamentação da indústria hidrelétrica.

O Livro I estende do art. 1 ao art. 33, define e trata das águas públicas, comuns e particulares, álveo e margens, acréscimos por aluviões e das ilhas. Nos arts. 29 a 31 trata da dominialidade estabelecendo que as águas públicas de uso comum, bem como o seu álveo, pertencem a União, aos Estados e aos Municípios e, também trata da possibilidade de desapropriação por necessidade ou por utilidade pública.

O Livro II estende do art. 34 ao art. 138 e trata do aproveitamento das águas, no caso de Águas Comuns de Todos fica assegurado o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente

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de água, para as primeiras necessidades da vida, no caso de águas públicas fica permitido a todos usar conformando­se com os regulamentos administrativos. Estes regulamentos estão definidos no Capítulo IV do Título II, do Livro II, e estabelecem que as águas públicas não possam ser derivadas para as aplicações da agricultura, da indústria e da higiene, sem a existência de concessão administrativa, no caso de utilidade pública e, não se verificando, de autorização administrativa, que será dispensada, todavia, na hipótese de derivações insignificantes. Define que o uso comum das águas pode ser gratuito ou retribuído, conforme as leis e regulamentos da circunscrição administrativa a que pertencerem. Incluem­se neste livro os itens relacionados à navegação, portos, caça e pesca, da desobstrução dos cursos d’água, dos Direitos da Administração e dos Particulares. Trata da Competência Administrativa em que fica de competência da União a legislação sobre a navegação ou flutuação dos rios, canais e lagos de seu território, não excluindo os Estados para legislarem subsidiariamente. Finaliza o livro com artigos sobre as nascentes, águas subterrâneas, águas pluviais, contaminação das águas e sobre a servidão legal de aqueduto.

O Livro III estende do art. 139 ao art. 205 e trata da regulamentação do setor elétrico, da Energia Hidráulica e seu Aproveitamento, Propriedade das Quedas D’água, das concessões, autorizações, fiscalizações e o ente fiscalizador, das penalidades, da transferência de competência aos Estados para autorizar ou conceder o aproveitamento industrial das quedas d’água e outras fontes de energia hidráulica, e das disposições finais sobre as empresas concessionárias ou contratantes.

O Código de 1934 é bastante abrangente: trata das águas doce e marinha, das águas superficiais e subterrâneas, das águas pluviais, da contaminação e poluição hídrica, das margens e dos álveos, da navegação e hidreletricidade. É considerado mundialmente como das mais completas entre as leis de águas já produzidas. Os princípios nele constantes são invocados em diversos países como modelos a serem seguidos, mesmo por legislações modernas. Veja­se, p. ex., que o princípio­poluidor­pagador, introduzido na Europa como novidade na década de 70, está presente em seus arts. 111 e 112.

Embora avançado para a época em que surgiu, o Código não foi complementado por leis e regulamentos nele previstos, necessários à eficácia de várias de suas disposições, muitas de suas matérias, que deveriam ter sido tratadas por leis especiais ou regulamentos, não o foram e, conseqüentemente, deixaram de ser aplicadas.

2.3 AS FASES POSTERIORES AO CÓDIGO DE ÁGUAS

2.3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1937

A CF/1937 repetiu no tocante ao domínio hídrico, as disposições da constituição anterior, atribuindo a competência privativa à União para legislar sobre os bens de domínio federal, águas e energia.

2.3.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1946

A CF/1946 foi considerada a constituição mais moderna e liberal que o país teve, declarou incluírem­se entre os bens da União os lagos e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio ou que banhassem mais de um Estado, servissem de limite com outro país ou que se estendessem a território estrangeiro e também as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países, e de domínio estadual os lagos e rios em terrenos de seu

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domínio e os que tivessem nascente e foz em seu território. Os corpos d’água que até então pertenciam aos Municípios, Estados e à União passaram ao domínio da União e dos Estados, deixando de existir, os rios municipais. Esta Carta disciplinou em seu artigo 5º, XV, "a" a competência da União para legislar sobre as riquezas do solo, mineração, metalurgia, águas, energia elétrica, florestas, caça e pesca. Não obstante, esta competência nos termos do artigo 6º, não excluía a competência supletiva ou complementar dos estados. Esta constituição estabeleceu como obrigação do Governo Federal executar um plano de aproveitamento total das possibilidades econômicas do rio São Francisco e de seus afluentes. A execução dar­se­ia pelo período de 20 anos. Verifica­se novamente, na esfera constitucional a instituição de uma política pública voltada para o setor hídrico, desta vez, em nível de bacia hidrográfica.(7)

2.3.3 CÓDIGO FLORESTAL DE 1965

Trata da questão das matas ciliares que são muito importantes para a conservação e preservação dos recursos hídricos, tendo em vista que atuam como filtros, prevenindo a erosão do solo e assoreamento dos corpos d’água. Em seu artigo 2º, ainda vigente, o referido Código concedeu status de área de preservação permanente para as mata ciliares, sendo estas de acordo com o citado artigo as florestas e demais formas de vegetação natural, situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água a partir do seu nível mais alto, em faixa marginal, com larguras variáveis, dependendo da largura do rio.

2.3.4 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1967

A CF/1967, não alterou o domínio hídrico pertencente à União e aos Estados, conservou a situação existente, mas, não repetiu a possibilidade da legislação estadual supletiva ou complementar. Ao tratar da defesa contra os efeitos nocivos da água avançou, instituindo como competência da União "organizar a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente a seca e as inundações" além de "estabelecer e executar planos regionais de desenvolvimento".

2.3.5 POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO – LEI 5318/1967

A Política Nacional de Saneamento, instituída através da Lei 5.318, de 26/09/1967, normatizou o saneamento básico, especialmente sobre o sistema de esgoto e de drenagem de águas pluviais, o controle das modificações artificiais das massas de água e o controle das inundações e da erosão. Deste modo, sua edição contribuiu de modo formal para a gestão qualitativa dos recursos hídricos.(8)

2.3.6 POLÍTICA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO LEI 6.662, DE 1979.

A Lei n. 6.662, de 25 de junho de 1979, promulgou a lei sobre a Política Nacional de Irrigação, com o objetivo de aproveitar racionalmente os recursos de água e solos, para implantação e desenvolvimento da agricultura irrigada. Para fins de irrigação, o aproveitamento de águas e solos reger­se­ia por ela e, no que coubesse, pela legislação sobre águas. Apesar de disciplinar a utilização de águas públicas, superficiais ou subterrâneas, para fins de irrigação, seu alcance hoje somente abrange as águas superficiais do domínio da União, pois esta não pode dispor a respeito de águas do domínio estadual, entre as quais, as subterrâneas. Em termos de outorga, declara que o uso das águas públicas para irrigação e atividades decorrentes depende de prévia concessão ou autorização, à época outorgadas pelo Ministério do Interior.(9)

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2.3.7 POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE LEI 6.938, DE 1981.

A Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, foi instituída pela Lei 6.938 que posteriormente foi alterada pela Lei 7.804, de 18/07/1989. Seus princípios, inscritos no artigo 2º, têm profundas implicações na proteção jurídica das águas, quais sejam: I ­ ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico; II ­ o uso racional do solo, subsolo, da água e do ar; III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos naturais; IV – proteção dos ecossistemas; V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI ­ incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e à proteção dos recursos naturais; VII ­ acompanhamento ambiental do estado da qualidade ambiental; VIII – recuperação das áreas degradadas ; IX ­ proteção das áreas ameaçadas de degradação; X ­ educação ambiental.(10)

A PNMA resgatou do Código de Águas os princípios "usuário­pagador" e "poluidor­ pagador". Criou novas áreas ambientalmente protegidas, ou seja, as reservas ecológicas e as áreas de relevante interesse ecológico. Especificamente em relação ao setor hídrico, delegou ao CONAMA "estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos".

2.3.8 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A CF/1988 efetuou profundas modificações no domínio hídrico anterior. Embora haja mantido as disposições relativas às águas da União, em relação aos Estados, ao declarar incluírem­se entre os seus bens as águas superficiais e subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União, praticamente abrangeu todas as demais águas, exceto as atribuídas àquela, pelo mesmo texto constitucional. Com isso, tornaram­se inaplicáveis os preceitos do Código relativos às águas municipais, às comuns e às particulares, extinguindo assim o domínio privado das águas existentes no território brasileiro. (11)

A citada constituição demarcou as competências legislativas, delegando à União, de acordo com o artigo 22, a competência para legislar sobre águas e energia. Não obstante, o parágrafo único deste artigo, estabelece que Lei Complementar poderá autorizar os Estados a legislar a sobre a referida matéria. Mas até o momento, a mencionada Lei Complementar não foi editada. Aos Estados, foi definida a competência para legislar sobre o aproveitamento e utilização dos recursos hídricos de seu domínio, conforme o artigo 26, I e II. Já o artigo 24, VI, define como competência concorrente da União, Estados e do Distrito Federal para legislar sobre "florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição". Assim, esclarece POMPEU (apud GRANZIEIRA(5)): legislar sobre águas significa dizer que cabe à União estabelecer normas gerais, de aplicação nacional, incidente sobre as águas federais e estaduais, com a finalidade de criar, alterar ou extinguir os direitos sobre as águas. Segundo o citado jurista, a criação, alteração e extinção de direitos sobre a água é bem diversa da instituição de normas administrativas referentes à utilização, preservação e recuperação do recurso, na qualidade de bem público. (12)

A partir de 1989, com a promulgação das Constituições dos Estados do Ceará, de São Paulo e de outros Estados, que previram a instituição de sistema de gerenciamento dos

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recursos hídricos congregando órgãos estaduais e municipais e a sociedade civil, as ações de gestão das águas, no País, deixaram de ser unicamente governamentais, para contar com a participação dos cidadãos. Desses preceitos constitucionais decorreram leis disciplinando a matéria nas demais unidades federadas.

2.3.9 LEI 9433, DE 1997

Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal. Estabelece i) fundamentos: a água ser um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; em situações de escassez, o seu uso prioritário é o consumo humano e a dessedentação de animais; sua gestão, deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e da comunidade e proporcionar sempre o uso múltiplo; sendo a bacia hidrográfica a unidade territorial para implementação da Política e atuação do Sistema, ii) objetivos: assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; e a preservação e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais, iii) diretrizes gerais de ação, iv) instrumentos da política nacional de recursos hídricos, pormenorizando ações sobre o plano de recursos hídricos, o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, a outorga de direitos de uso de recursos hídricos, a cobrança do uso de recursos hídricos e o sistema de informações sobre recursos hídricos, alem de estabelecer competências do Poder Executivo Federal, criar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e ainda tratar das infrações e penalidades de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos. (13)

A Lei 9433 foi uma grande propulsora para que os Estados elaborassem sua lei, o que culminou no DF com a promulgação da Lei n. 2725, de 13 de junho de 2001.(14)

2.3.10 – LEI DO DISTRITO FEDERAL 2725, DE 2001

A lei n. 2725, de 13 de junho de 2001, que revoga a Lei n. 512, de 28 de julho de 1993, institui a Política de Recursos Hídricos do Distrito Federal, cria o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Distrito Federal, e praticamente segue na quase totalidade os preceitos da Lei 9.433. Estabelece i) fundamentos: A água é um recurso natural de disponibilidade limitada e dotada de valor econômico que, enquanto bem natural público de domínio do Distrito Federal, terá sua gestão definida mediante uma Política de Recursos Hídricos e tendo a bacia hidrográfica como unidade básica de intervenção, ii) objetivos: assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade e quantidade adequados aos respectivos usos; promover a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, com vistas ao desenvolvimento humano sustentável; implementar a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais e aumentar as disponibilidades em recursos hídricos. iii) diretrizes gerais de ação, iv) instrumentos da política de recursos hídricos, pormenorizando ações sobre o plano de recursos hídricos, o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, a outorga de direitos de

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uso de recursos hídricos, a cobrança do uso de recursos hídricos e o sistema de informações sobre recursos hídricos e o Fundo de Recursos Hídricos do DF, alem de estabelecer competências do Poder Executivo, criar o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos e ainda tratar das infrações e penalidades de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos. (15)

Esta Lei foi regulamentada por três decretos: o Decreto 22356, de agosto de 2001, que trata do sistema de informações sobre recursos hídricos, o Decreto 22358, de agosto de 2001, que dispõe sobre a outorga de direito de uso de água subterrânea e o Decreto 22359, de agosto de 2001, que dispõe sobre a outorga de direito de uso de recursos hídricos no DF.

2.3.11 – REGULAÇÕES DA ADASA

Em maio de 2006, a ADASA emitiu a Resolução Normativa n. 163, estabelecendo procedimentos gerais para a fiscalização, apuração de infrações e aplicação de penalidades pelo uso irregular dos recursos hídricos. Em junho de 2006, foi emitida a Resolução Normativa n. 350, estabelecendo procedimentos gerais para requerimento e obtenção de outorga do direito de uso dos recursos hídricos em corpos de água de domínio do DF e em delegados. A Resolução Normativa n. 420, de novembro de 2006, estabeleceu procedimentos gerais para a obturação e lacração de poços escavados e poços tubulares no DF, e a Instrução Normativa nº 02 de 11 de outubro de 2006 que estabelece valores de referência para outorga de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio do distrito federal. (16)

3­ SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS

O Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos foi instituído a partir da Lei 9.433, no entanto tanto a União como os Estados vinham dispondo de sistemas próprios na tentativa de atender as demandas de vários setores usuários de água.

3.1 O SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS ­ (SINGREH).

3.1.1 Anterior a Lei 9.433 não havia um sistema definido, vários órgãos assumiram o controle do sistema na tentativa de organização e execução das políticas traçadas a época. (17)

Em 1920, foi criada a Comissão de Forças Hidráulicas no Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, órgão do então Ministério da Agricultura, Indústria e Comercio. Em 1933, foi criada a Diretoria de Águas que veio a transformar­se no Serviço de Águas. Em 1934, surgiu o departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, incorporando o Serviço de Águas, que se transformou em Divisão de Águas em 1940. Em 1961 o DNPM passou a integrar o Ministério de Minas e Energia. Em 1965, a Divisão de Águas foi transformada em Divisão de Águas e Energia – DNAE e em 1968 alterou a denominação para Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE. Em 1969 o DNAEE absorveu todas as atribuições do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica – CNAEE, criado em 1939.

Em 1977 o MME aprovou o regimento interno do DNAEE dando nova organização, criando a Coordenadoria de Recursos Hídricos (CRH), Divisão de Controle de Recursos

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Hídricos (DCRH), Seção de Planejamento e Pesquisas Hídricas, Seção de Normas e Fiscalização Hidrológica, e Seção de Dados Hídricos, além da criação de 10 Distritos onde em cada um teria a Seção de Hidrologia e seção de Recursos Hídricos. Em 1978, foi delegada aos Distritos competência para permitir, a titulo precário, as derivações insignificantes das águas de domínio da União. Em 1993, o MME aprovou novas estruturas regimentais, criando no DNAEE a Coordenação Geral de Recursos Hídricos – CGRH composta pela Divisão de Águas, Divisão de Controle de Recursos Hídricos e o Serviço de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Com a criação da ANEEL pela Lei n. 9427, de 26 de dezembro de 1996, e publicação de seu regimento, foi extinto o DNAEE, ficando temporariamente na ANEEL, por meio da Superintendência de Informações Hidrológicas, a rede hidrométrica, o acervo técnico e as atividades de hidrologia relativos aos aproveitamentos de energia hidráulica.

A partir de 1997 a Secretaria de Recursos Hidricos vinculada ao MMA passou a ser o órgão gestor de recursos hídricos de domínio da União. Em 17 de julho de 2000, pela lei 9.984, foi criada a ANA que passou a ser a entidade de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos de domínio da União.

Na década de 1970, apesar dos percalços jurídico­institucionais, foi sendo introduzida uma visão mais coerente e moderna da gestão das águas no país. A preocupação com o uso múltiplo das águas dos rios de domínio da União levou a criação de um comitê especial intitulado CEEIBH – Comitê Especial de Estudos Integrados das Bacias Hidrográficas (Portaria Interministerial 090/78). A partir desta iniciativa, alguns comitês foram criados nos rios Paraíba do Sul, Verde Grande, Paranapanema, São Francisco e Doce entre outros. Vale lembrar que, apesar de pioneiros e integradores, esses comitês não eram deliberativos e, portanto, eram inócuas suas decisões.

Com relação aos Estados, a partir da década de 1970, começaram a legislar sobre as águas, particularmente em relação ao controle de poluição ligada à saúde pública. Em seguida, passaram a tratar da proteção ambiental, iniciando um complexo “sistema” de gestão das águas no país: a qualidade sendo gerida segundo a legislação ambiental e a quantidade pelo Código de Águas. O sistema de gerenciamento seguiu em parte ao da União com a criação de Departamentos, como o caso de São Paulo, DAEE ­ Departamento de Águas e Energia Elétrica, as Secretarias de Meio Ambiente e Recursos Hídricos estas mais comuns na administração estadual, além de Instituo como o caso de Minas Gerais – IGAM. A partir de 2006 os Estados tem discutido reformas administrativas com propostas de áreas unificadas de meio ambiente e recursos hídricos e outras mudanças procurando a melhoria da gestão. Em 2004 o DF inovou com a criação de uma Agência Reguladora cujo modelo tem sido discutido e alcançado excelentes resultados, ficando como um novo modelo a ser visto, entendido e aplicado as demais unidades da federação.

3.1.2 O SINGREH foi criado pela Lei 9.433/1997, previsto na CF/1988, e alterado pela lei orgânica da ANA.

São objetivos do Sistema: i) coordenar a gestão integrada das águas; ii) arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com recursos hídricos; iii) implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; iv) planejar, regular e controlar o uso, a proteção, a

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preservação e a recuperação daqueles recursos; e v) promover a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

Integram o Sistema no âmbito da formulação das políticas de recursos hídricos: i) o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH); ii) Agência Nacional de Águas (ANA) como órgão regulador e gestor; iii) os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; iv) os Comitês de Bacias Hidrográficas; (v) as Agências de Águas; e vi) os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos. A Figura 1 ilustra as relações dos agentes envolvidos.

i) O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)

A competência da União, para criar o direito de águas, está, em parte, atribuída ao CNRH, como, p. ex., estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para cobrança de seu uso. O CNRH é composto por: representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos; representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; representantes dos usuários dos recursos hídricos; e representantes das organizações civis de recursos hídricos. O número de representantes do Poder Executivo Federal não poder exceder à metade mais um do total dos membros do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. (18)

ii) A Agência Nacional de Águas (ANA)

A ANA é autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao MMA, com a finalidade de regular e implementar, em sua esfera de atribuições, a Política Nacional de Recursos Hídricos, integrando o respectivo Sistema. Sua atuação está submetida aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional do setor e deve ser desenvolvida em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do SINGREH. À ANA compete outorgar o direito de uso das águas do domínio da União.

iii) Os Conselhos estaduais e do Distrito Federal

No Brasil, a instituição desses organismos colegiados ocorreu inicialmente no Estado de São Paulo, em decorrência da Lei 7.663/1991, seguindo­se nos demais, cada um com suas respectivas peculiaridades, como segue: 1992, Ceará; 1994, Minas Gerais; Rio Grande do Sul (de Gerenciamento); Santa Catarina (de Gerenciamento); 1995, Bahia; 1996, Paraíba; Rio Grande do Norte; 1997, Alagoas; Goiás; Mato Grosso; Pernambuco; Sergipe; 1998, Espírito Santo; 1999, Paraná; Rio de Janeiro; 2000, Piauí; 2001, Amazonas; Pará; Distrito Federal; 2002, Amapá; Mato Grosso do Sul; Rondônia; Tocantins; 2003, Acre; 2004, Maranhão.

iv) Os comitês federais de bacias hidrográficas

A esses comitês compete: i) promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes; ii) arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos; iii) aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas: iv) acompanhar a execução do Plano da bacia e sugerir providências necessárias ao cumprimento de suas metas; v) propor, ao CNRH e aos Conselhos estaduais as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de isenção da

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obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de acordo com o domínio destes; vi) estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; e vii) estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

v) As agências federais de águas

As agências federais de águas, que não devem ser confundidas com Agências Reguladoras de Água, exercem a função de secretaria executiva do(s) respectivo(s) Comitê(s), competindo­lhes: I ­ manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos; II ­ manter o cadastro de usuários; III ­ efetuar, por delegação, a cobrança pelo uso de recursos hídricos; IV ­ analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras; V ­ acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos; VI ­ gerir o SINGREH; VII ­ celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços; VIII ­ elaborar a sua proposta orçamentária e submetê­la à apreciação do Comitê; IX ­ promover estudos para a gestão dos recursos hídricos; X ­ elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do Comitê; XI ­ propor: a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos; c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos; d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

vi) Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos.

Nos Estados e no Distrito Federal, os órgãos gestores seguem as formas jurídicas entendidas mais convenientes e oportunas às respectivas peculiaridades políticas e administrativas. O mesmo pode ser dito quanto às suas atribuições.

No campo hídrico, devido às peculiaridades do domínio das águas previstas na Constituição Federal, tudo conduz à implantação de organismos intergovernamentais para sua gestão, os quais podem ser colegiados ou não. Aos entes que se costuma chamar de gestores, geralmente encarregados das outorgas, voltados para as águas do domínio de sua esfera de governo, tem sido adotada a forma de instituição (autarquias, fundações, etc.) como a Agência Nacional de Águas ­ ANA, em âmbito federal, e os estaduais (ADASA/DF, DAEE/SP, SRH/BA, Fema/MT, etc.).

vii) A Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU)

À SRHU/MMA, sem prejuízo das suas demais competências, cabe prover os serviços de Secretaria­Executiva do CNRH, à qual incumbe: i) prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos; ii) instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica; e iii) elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê­los à aprovação do Conselho. A elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos cabe ao Núcleo Estratégico, do MMA.

Com a nova estrutura do Ministério do Meio Ambiente, a antiga Secretaria de Recursos Hídricos, criada em 1995, atual Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU), teve ampliadas suas atribuições e passou a integrar os procedimentos de gestão dos recursos hídricos e do ambiente urbano.

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Figura 1. SISTEMA NACIONAL E DISTRITAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS (LEIS 9433 e 2725)

CNRH MMA ANA

COMITES

AGENCIAS

DE BACIA

CRH­DF SEDUMA ADASA

COMITES

AGENCIA

DE BACIA

NIVEL FEDERAL

NIVEL DISTRITAL

Secretaria Executiva

Secretaria Executiva

Conselho Governo Gestor “Par lamento Águas”

Escr itór io Técnico

Nível Bacia Hidrográfica

Nível Bacia Hidrográfica

FORMULADOR DA POLÍTICA IMPLEMENTADOR DA POLÍTICA

3.2 O SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS DO DISTRITO FEDERAL.

O Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Distrito Federal foi criado pela Lei 2.725/2001, art. 29. com os seguintes objetivos: I – coordenar a gestão integrada das águas; II – arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; III – implementar a Política de Recursos Hídricos; IV– planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;e V – promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Integram o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos: i) o Conselho de Recursos Hídricos; ii) os Comitês de Bacias Hidrográficas; iii) os órgãos públicos cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; iv) as Agências de bacia. A Fig 1 ilustra as relações dos agentes envolvidos em visão conjunta com o sistema nacional.

i) O Conselho de Recursos Hídricos do DF é composto por: I – representantes das Secretarias do Governo do Distrito Federal e de outros órgãos do Poder Público com atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos, II – representantes dos usuários dos recursos hídricos; III– representantes das organizações civis relacionadas com preservação de recursos hídricos. O número de representantes do Poder Executivo não poderá exceder à metade mais um do total dos membros do Conselho de Recursos Hídricos. Compete ao Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal: I – promover a articulação do

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planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores dos usuários; II – deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Comitês de Bacia Hidrográfica; III – analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política de Recursos Hídricos; IV – estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos; V – aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos; VI – acompanhar a execução dos Planos de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; VII – estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos e cobrança pelo uso de recursos hídricos.

ii) Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação: I – a totalidade de uma bacia hidrográfica; II – sub­bacia hidrográfica; III – grupo de bacias ou sub­bacias hidrográficas contíguas. Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação: I – promover o debate das questões relacionadas ao uso dos recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes; II – arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos; III – aprovar o Plano de Recursos Hídricos e projetos da respectiva bacia; IV – acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; V – propor ao Conselho de Recursos Hídricos as acumulações, derivações, captações e os lançamentos de pouca expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos; VI – estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; VII – estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. Os Comitês de Bacias Hidrográficas são compostos de representantes: I ­ das Secretarias do Governo do Distrito Federal e de outros órgãos do Poder Público com atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos; II – dos usuários das águas de sua área de atuação; III – das organizações civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia; IV ­ da União e de outras unidades da federação em casos definidos na regulamentação desta Lei.

iii) As Agências de bacia exercerão a função de secretaria executiva do respectivo ou dos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica. Compete às Agências de Bacia, no âmbito de sua área de atuação: I – manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área de atuação; II – manter o cadastro de usuários de recursos hídricos; III – efetuar, mediante delegação do poder outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos; IV – analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso de recursos hídricos; V– acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação; VI – implementar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação; VII – celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências; VIII – elaborar sua proposta orçamentária e submetê­la à apreciação do respectivo ou dos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica; IX – promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área de atuação; X – elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica; XI – propor ao respectivo ou aos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica: a) enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao Conselho de Recursos Hídricos; b) valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos; c) planos de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos; d) rateios de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

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iv) A Secretaria Executiva de Recursos Hídricos será exercida pelo órgão gestor do sistema de gerenciamento de recursos hídricos. Compete à Secretaria Executiva do Conselho de Recursos Hídricos: I – prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho de Recursos Hídricos; II – coordenar a elaboração do Plano de Recursos Hídricos e encaminhá­ lo à aprovação do Conselho de Recursos Hídricos; III – instruir os expedientes provenientes dos Comitês de Bacia Hidrográfica; IV – coordenar o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos; V – elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê­la à aprovação do Conselho de Recursos Hídricos.

v) Das Organizações Civis de Recursos Hídricos, constituídas por : I – associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos; II – organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de recursos hídricos; III – organizações não governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade; IV – outras organizações reconhecidas pelo Conselho de Recursos Hídricos.

4 – AGÊNCIAS REGULADORAS

A experiência internacional é rica na matéria. Os Estados Unidos criaram em 1887 a Comissão Interestadual de Comércio, primeira agência reguladora desse país. A primeira agência inglesa foi a Autoridade Independente para a Televisão, de 1954 e, no bojo das reformas da Sra.Thatcher, criaram­se várias agências começando pela OFTEL (Telecomunicações) em 1984. A França, em cumprimento das exigências da União Européia criou a Autoridade de Regulação das Telecomunicações –ART, em 1997 e a Comissão de Regulação da Eletricidade – CRT, em 2000.

O surgimento das Agências entre nós não pode ser considerado apenas “modismo”, mas um processo de profunda mudança na relação do aparelho estatal com a sociedade, particularmente com a ordem econômica. Esta mudança de relacionamento aconteceu ao longo do tempo e não foi uma mudança rápida. A criação de entidades denominadas agências, na segunda metade da década de 90, não significou consagrar inovações absolutamente originais ou desconhecidas no universo legislativo brasileiro. Ao contrário, muitas das características do que hoje se chama de regulação, já era praticada no Direito Brasileiro anterior, ainda que tal se fizesse por entidades não qualificadas formalmente como agências. As primeiras agências reguladoras –autarquias, isto é, entidades descentralizadas dotadas de autonomia gerencial­ nasceram nos anos trinta, criadas por Getulio Vargas como instrumentos de superação da crise provocada, em 1929, pela quebra da Bolsa de Nova York. São dessa época as agências reguladoras da produção e do comércio dos produtos mais relevantes da pauta exportadora brasileira: o Departamento Nacional do Café, depois IBC, e o Instituto do Açúcar e do Álcool, criados em 1933, e os Institutos Nacionais do Mate (1938), do Sal (1940), e do Pinho (1941). Mais tarde, passam a usufruir do mesmo status a Comissão Nacional de Energia Nuclear (1956), o Conselho Administrativo de Defesa Econômica ­ CADE (1962) e o Banco Central (1964).

A nível federal já foram criadas, desde 1997, várias agências reguladoras, dentre elas a agência para normatizar e fiscalizar setores como energia (Agência Nacional de Energia Elétrica ­Aneel, Lei no 9.427, de 26/12/1996), telecomunicações (Agência Nacional de Telecomunicações ­ Anatel, Lei no 9.472, de 16/7/1997), petróleo (Agência Nacional de Petróleo ­ ANP, Lei no 9.478, de 6/8/1997), saúde (Agência Nacional de Vigilância Sanitária

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­ Anvisa, Lei no 9.782, de 26/1/1999; Agência Nacional de Saúde Suplementar ­ ANS, Lei no 9.961, de 28/1/2000), e transportes (Agência Nacional de Transportes Terrestres ­ ANT, Lei no 10.233, de 5/6/2001; Agência Nacional de Transportes Aquaviários ­ Antaq, Lei no 10.233, de 5/6/2001).

Destaca­se como inovação a criação de uma agência dedicada a regular o uso de um dos nossos mais importantes recursos naturais que é a água, Agência Nacional de Águas ­ Ana, Lei no 9.984, de 17/7/2000.

O nível estadual surgiu as agências reguladoras multissetoriais e a nível municipal agências reguladoras unissetoriais, especializadas mais na área de saneamento básico. Em 1999 foi fundada a Associação Brasileira de Agências de Regulação ­ ABAR, que congrega 31 agências: 5 nacionais(Aneel, ANP, Ancine, ANTT, Antaq), 22 estaduais (ADASA, AGEAC, AGENERSA, AGEPAN, AGER, AGERBA, AGERGS, AGESC, AGETRANSP, AGR, ARCE, ARCON, ARPB, ARPE, ARSAL, ARSAM, ARSEP, ARTESP, ASPE, ATR, ARSESP (antiga CSPE) e 5 municipais (AGERSA, AMAE, ARCG, ARSBAN, ARSAE).

O Distrito Federal contava em sua estrutura orgânica, até 2006, com as seguintes agências: Agência de Desenvolvimento Econômico e Comércio Exterior do Distrito Federal, Agência de Desenvolvimento Social do Distrito Federal, Agência de Infra­Estrutura e Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal e Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal – ADASA. Destas, apenas a ADASA se caracteriza como uma agência reguladora. As demais são órgãos da administração direta, e não apresentam qualquer relação com o modelo regulador de Estado.

Em todos os casos se reconhece que a função regulatória é uma atividade essencial e inalienável do Estado. O propósito que está por trás da criação das novas agências é a necessidade de dar especialização e eficiência a essa função. Elas fazem parte da estrutura estatal, mas considera­se mais conveniente estabelecer um órgão especificamente dedicado à atividade, com pessoal especializado na tarefa, com carreiras estruturadas e com estruturas mais ágeis do que as grandes máquinas ministeriais. Em todos os casos acima mencionados, as agências são dotadas de autonomia com o propósito de colocar certas questões fora dos propósitos políticos de curto prazo, para dar continuidade às políticas e ao planejamento de longo prazo e para dotar de isenção às adjudicações, evitando assim as suspeitas de favorecimento. Tudo isso em prol da defesa do interesse público que deve ser o norte permanente da ação reguladora.

Na lição de Hely Lopes Meirelles (19), "A autarquia não age por delegação, age por direito próprio e com autoridade pública, na medida do jus imperii que lhe foi outorgado pela lei que a criou. Como pessoa jurídica de direito público interno, autarquia traz íncita, para a consecução de seus fins, uma parcela do poder estatal que ele deu vida. Sendo um ente autônomo, não há subordinação hierárquica da autarquia para com a entidade estatal a que pertence, porque, se isto ocorresse, anularia seu caráter autárquico. Há mera vinculação à entidade matriz de que, por isso, passa a exercer, um controle legal, expresso no poder de correção finalístico do serviço autárquico".

Na mesma esteira de raciocínio entende Diógenes Gasparini (20), "A Administração Pública, sempre que desejar descentralizar uma dada atividade cuja cura lhe foi atribuída pelo ordenamento jurídico, observado, naturalmente, o interesse público, cria, por lei, uma pessoa pública de natureza administrativa e para ela transfere a titularidade da atividade ou serviço e,

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obviamente, sua execução. A entidade criada para esse fim é a autarquia. A ela se outorga, como própria, a atividade, ou serviço, que se pretende ver descentralizada e, como não podia deixar de ser, a correspondente execução. O trespasse da atividade à autarquia significa a transferência da titularidade e, por conseguinte, da execução que lhe corresponda. Essa, como vimos, a desempenhará em seu próprio nome, prestando­a por sua conta e risco, embora sob controle da administração pública que a criou."

Arnold Wald (21) identifica a independência que caracteriza uma agência reguladora em quatro dimensões:

1º) independência decisória ­ consiste na capacidade da agência de resistir a pressões de grupos de interesses no curto prazo. Procedimentos como o de nomeação e demissão de dirigente, associados com a fixação de mandatos longos, escalonados e não coincidentes com ciclo eleitoral, são arranjos que procuram isolar a direção da agência de interferências indesejáveis, tanto por parte do Governo, quanto da indústria regulada.

2º) independência de objetivos ­ compreende a escolha de objetivos que não conflitem com a busca prioritária do bem­estar do consumidor. Uma agência com um número pequeno de objetivos bem definidos e não conflitantes tende a ser bem mais eficiente que uma outra com objetivos numerosos, imprecisos e conflitantes.

3º) independência de instrumentos ­ é a capacidade da agência de escolher os instrumentos e de regulação de modo a alcançar os objetivos da forma mais eficiente possível.

4º) independência financeira – refere­se a disponibilidade de recursos materiais e humanos suficiente para execução das atividades de regulação.

O festejado autor Diogo de Figueiredo Moreira Neto, elenca o que chama de quatro importantes aspectos de atuação das agências reguladoras:

1º) independência política dos gestores, investidos de mandatos e com estabilidade nos cargos durante um termo fixo;

2º) independência técnica decisional, predominando as motivações apolíticas para seus atos, preferentemente sem recursos hierárquicos impróprios;

3º) independência normativa, necessária para o exercício de competência reguladora dos setores de atividade de interesse público a seu cargo; e

4º) independência gerencial orçamentária e financeira ampliada, inclusive com a atribuição legal de fonte de recursos próprios, como, por exemplo, as impropriamente denominadas taxas de fiscalização das entidades privadas executoras de serviços públicos sob contrato.

Esta é a nova visão da atuação do Estado na economia, que ao mesmo tempo em que diminui sua participação direta na prestação de serviços, impõe o fortalecimento de sua função reguladora e fiscalizadora.

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5­ EXPERIÊNCIA DA ADASA

A ADASA surgiu no contexto de um programa GDF com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID que teve como objetivo desenvolver o Programa de Saneamento do Distrito Federal, por meio da expansão da infra­estrutura de saneamento e fortalecimento das instituições relacionadas com prestação destes serviços. Foram previstas a criação de duas agências reguladoras para o DF: uma agência reguladora dos serviços de abastecimento de água e saneamento e uma agência reguladora de águas. Ao longo do contrato o Governo do Distrito Federal propôs ao banco a criação de uma única agência reguladora de águas e dos serviços de saneamento. Assim, a ADASA/DF foi criada pela Lei nº 3.365, de 16 de junho de 2004, como uma autarquia em regime especial com personalidade jurídica de Direito Público, dotada de autonomia patrimonial, administrativa e financeira, com prazo de duração indeterminado, com sede e foro em Brasília e vinculada à antiga Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, atual Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente.

Em 26 de dezembro de 2008, foi promulgada a Lei n. 4285, a qual revoga a lei 3365 e reestrutura a ADASA/DF que passa a chamar Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal – ADASA, vinculada a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente – SEDUMA, autarquia com autonomia administrativa, patrimonial e financeira, mantendo como missão institucional a regulação dos usos da água e ampliando a regulação dos serviços públicos, sendo passíveis de regulação os seguintes setores: Saneamento Básico entendido o abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas, além da Energia Elétrica, Gás Canalizado, Petróleo e seus derivados, biocombustíveis, álcool combustível, gás veicular e distribuição de lubrificantes, bem como outras áreas que poderão ser delegadas na forma da lei.

São áreas de competência da ADASA, dentre outras, a regulação dos usos da água, compreendendo especialmente as atividades de outorga, regulação, fiscalização, ouvidoria, dirimição de conflitos e sanção administrativa, com objetivo fundamental de preservar os objetivos da Política de Recursos Hídricos do DF instituído pela Lei 2725 de 2001.

As competências exclusivas sobre recursos hídricos encontram­se no art.8, sendo que nos arts de 38 a 41 é feito detalhamento sobre a outorga e cobrança pelo uso de recursos hídricos. As competências exclusivas constituem de: “I – disciplinar, em caráter normativo, a implementação, operacionalização, controle e avaliação dos instrumentos da política de recursos hídricos; II – outorgar o direito de uso de recursos hídricos, observado o disposto na legislação e nos planos distritais de recursos hídricos; III – regulamentar, fiscalizar e controlar com poder de polícia o uso qualitativo e quantitativo dos recursos hídricos; IV – declarar previamente a reserva de disponibilidade hídrica nos processos de concessão e autorização federais de uso do potencial de energia hidráulica; V – acompanhar e prestar apoio à elaboração dos planos de recursos hídricos de suas bacias hidrográficas; VI – elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal, das faixas de valores a serem cobrados pelo uso qualitativo e quantitativo dos recursos hídricos, com base nos mecanismos e quantidades sugeridos pelo respectivo comitê de bacia hidrográfica, se houver, e estabelecer os valores específicos nos momentos das respectivas outorgas; VII – planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos das secas e inundações, em articulação com os órgãos de defesa civil e com a Agência Nacional de Águas – ANA; VIII – declarar corpos de água do Distrito Federal em regime de

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racionamento preventivo e aplicar as medidas necessárias para assegurar seus usos prioritários, em articulação com a ANA, ouvidos os comitês de bacias hidrográficas distritais; IX – realizar e promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros do Distrito Federal em obras e serviços de regularização de cursos de água e de controle de poluição hídrica, em consonância com o estabelecido nos planos distritais de recursos hídricos e naqueles das respectivas bacias hidrográficas; X – arrecadar e despender no que for próprio os recursos advindos da cobrança pelo uso de recursos hídricos, na forma prevista nos arts. 19 a 21 da Lei nº 2.725, de 13 de junho de 2001; XI – distribuir às agências de bacia hidrográfica ou, na ausência ou impedimentos delas, a outras entidades pertencentes ao Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Distrito Federal os recursos advindos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, para aplicação em conformidade com o disposto nos arts. 19 a 21 da Lei nº 2.725, de 13 de junho de 2001; XII – definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios no Distrito Federal, visando garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, em articulação com os órgãos ou entidades competentes; XIII – fiscalizar o uso de recursos hídricos nos aproveitamentos de potenciais hidrelétricos localizados no Distrito Federal, nos termos dos convênios celebrados, respectivamente, com a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL e a ANA; XIV – instalar, operar e manter a rede hidrometeorológica do Distrito Federal, promover e coordenar suas atividades, em harmonia e cooperação com os órgãos e entidades públicas e privadas que a compõem ou a utilizem, e integrá­la à rede hidrometeorológica nacional; XV – organizar, implantar e gerir o Sistema de Informação de Recursos Hídricos do Distrito Federal – SIR, integrando­o ao Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos; XVI – propor ao Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal o estabelecimento de incentivos, inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa dos corpos de água do Distrito Federal, conforme definido em lei; XVII – aplicar aos usuários de recursos hídricos do Distrito Federal as penalidades cominadas pelo art. 47 da Lei nº 2.725, de 13 de junho de 2001, em consonância com as infrações definidas pela legislação específica, independentemente das cominações civis e penais pertinentes, bem como disciplinar os procedimentos necessários à imputação das penalidades inibidoras de práticas lesivas a esses recursos hídricos, por meio de resoluções da Diretoria Colegiada”.

A ADASA passa assim a constituir­se de uma agência “híbrida” regulando o bem água e os serviços públicos. Com atuação nos recursos hídricos tem também duas vertentes: a regulação do uso da água como missão exclusiva e na gestão destes recursos agindo juntamente com outros integrantes do sistema de gerenciamento na implementação da política traçada para o Distrito federal.

6­ RELAÇÕES E ARTICULAÇÕES ENTRE OS PARTICIPANTES DO SIGREH E ADASA

As instituições governamentais envolvidas no DF são das mais diversas e dos mais diferentes níveis hierárquicos na estrutura governamental do Brasil. Estas trazem áreas de sombreamento tanto em competência quanto em jurisprudência, hora funcionando como força principal, hora como força complementar. A figura 2 demonstra a relação da ADASA com instituições Federais e Distritais.

A identificação destas instituições trouxe enorme ganho nas ações de gerenciamento de recursos hídricos, resultando inclusive em acordos operativos, dirimindo as áreas de sombreamento e tendo melhorias na agilidade e transparência das atividades dos entes envolvidos, com enorme benefício à sociedade.

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Figura 2. Figura demonstrativa das relações ADASA com as outras instituições Federais e Distritais.

As ações da ADASA como Agência Reguladora, detendo maior agilidade em ações, decisões, aplicações financeiras em projetos definidos em seu plano anual, têm demonstrado que o Modelo de Agência Reguladora de Recurso Hídrico, é perfeitamente viável como a nova e definitiva estrutura de estado para o gerenciamento deste recurso precioso, a água, e que pode ser aplicado em todos os estados da federação como o órgão gestor integrante do sistema e de papel exclusivo de regulador.

As decisões administrativas da Agência, decidindo com força terminativa, trouxeram ganhos ao Conselho de Recursos Hídricos, que passa a analisar as questões voltadas a formulação da política distrital e a avaliar as questões da interpretação das leis e aquelas voltadas a promover a articulação e diretrizes para o planejamento de recursos hídricos. Destaca­se ainda a implantação, operação e manutenção da rede de monitoramento, envolvendo a rede superficial com 42 estações, a rede subterrânea com 128 poços piezométricos, 64 rasos e 64 profundos, além dos estudos para implantar uma rede de monitoramento do lançamento de águas pluviais (inicialmente 6 pontos), com recursos alavancados pela própria Agência.

7­ CONCLUSÕES

Do exposto acima podemos concluir:

1. Na busca de uma nova dinâmica econômica, social e do próprio gerenciamento de recursos hídricos no país, faz todo sentido se introduzir uma nova entidade, reguladora, como um impulso modernizante das instituições de governo.

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2. A regulação relativa aos recursos hídricos no Brasil é da época do império e se fazia no âmbito dos conflitos à medida que eles eram trazidos a corte. Inicialmente relacionava as questões de navegabilidade e depois aos aqueodutos, derivações por canais que foram a época e permanecem até o presente causa de grandes conflitos.

3. O Código de Águas foi o primeiro grande marco regulatório federal, avançado para a época, e que trouxe diretrizes sobre quase todos os aspectos de direito de uso dos recursos hídricos. Nos 63 anos após sua edição deveria e poderia ter sido atualizado, o que não ocorreu. Neste período vários estados editaram suas leis e regularam conforme suas necessidades.

4. A Lei federal 9.433/1997 pode ser considerada como o segundo e grande marco regulatório federal, tratando as águas na condição de recurso hídrico, no sistema de sua gestão, nos princípios, nos institutos, nas ações do poder público e na estrutura do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos.

5. O Distrito Federal, em 2001, editou a Lei 2725, que foi o seu primeiro marco regulatório de recursos hídricos, estabelecendo que devesse haver todo comprometimento das instituições, sociedade e governo na gestão deste bem valioso.

6. A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal – ADASA, criada em 2004 pela Lei nº 3.365, foi uma arrojada e positiva decisão de governo, sendo reestruturada em 2008 pela Lei n 4285 , com ampliação de suas competências, regulando tanto o bem água com os serviços, experiência esta, mesmo neste pouco tempo de existência, já detentora de sucesso e com a presença das demais instituições ligadas ao gerenciamento dos recursos hídricos, continuar a oferecer sua colaboração, preparando as regulações a serem discutidas nos mais diversos fóruns, locais, regionais e nacionais.

8­ BIBLIOGRAFIA

(1)­ Ordenações Filipinas: Livro 2, Tomo 26, § 8. Disponível em: ­ius lusitaniae – Fontes históricas do direito Portugues. HTTP://iuslusitaniae.fcsh.unl.pt.

(2) Alvará de 27 de novembro de 1804 . Disponível em: ius lusitaniae – Fontes históricas do direito Portugues. HTTP://iuslusitaniae.fcsh.unl.pt

(3) POMPEU, Cid Tomanik. Águas Doces no Direito Brasileiro. In: REBOUÇAS, Aldo da Cunha; BRAGA, Benedito; TUNDISI, José Galizia (Org.). Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 2. ed. São Paulo: Escrituras, 2002.

(4) ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 6ª. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. 902p.

(5) GRANZIEIRA, M.L.M. Direito de Águas e Meio Ambiente. São Paulo: Ícone, 1993. 136p.­ Direito das Águas: Disciplina Jurídica das Águas Doces. São Paulo: Atlas, 2001.245p.

(6) Decreto nº 24.643, de 10.jul. 1934. Decreta o Código de Águas.MME – DNAEE ­ 1980

(7) Constituições do Brasil. Organização, revisão e índices por Fernando Mendes de Almeida, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1958. 701 p.

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(8) Lei 5.318, de 26. set. 1967. Institui a Política Nacional de Saneamento e Cria o Conselho Nacional de Saneamento. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27.set.1967. Disponível em: < http:// www.mma.gov.br/>.

(9) Lei 6.662, de 25.jul. 1979. Dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26.. jul.1979. Disponível em: < http:// www.mma.gov.br/>.

(10) Lei 6.938, de 31.ago.1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 02. set.1981 Disponível em: < http:// www.mma.gov.br/>.

(11) Constituição Federal – Coletânea de legislação de direito ambiental. Organizadora Odete Medauar, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. 766 p.

(12) POMPEU, C.T., I CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DE ÁGUAS, O DIREITO DE ÁGUAS NO BRASIL, Fortaleza, 20 de novembro de 2008.

(13) Lei 9.433, de 08. jan. 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e Cria o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos.Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 09. jan.1997. Disponível em: < http:// www.mma.gov.br/>.

(14) LANNA, A. E. Gerenciamento de Bacia Hidrográfica: Aspectos Conceituais e metodológicos. Brasília: IBAMA, 1995.

(15) Lei 2.725, de 13 de junho de 2001, Institui a Política de Recursos Hídricos e cria o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Distrito Federal.www.adasa.df.gov.br.

(16) ADASA – LEGISLAÇÃO. Disponível em: < http:// www.adasa.df.gov.br/recursoshidricos

(17) SILVEIRA, C. A. C. et all. Água e energia elétrica. In: FREITAS, Marcos Aurélio Vasconcelos (Org.) O estado das águas no Brasil. Brasília: ANEEL, SIH; MMA, SRH; MME, 1999.

(18) Decreto do Conselho Nacional de Recursos Hídricos nº 2612, de 03.jul 1998. Regulamenta o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, e dá outras providências. Disponível em: < http:// www.cnrh­srh.gov.br/>.

(19) MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 23. Ed.São Paulo, Malheiros, 1998. P. 298.

(20) GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo, 5ª Edição. São Paulo, Saraiva, 2000. Pág. 342

(21) WALD, Warnold e MORAES, Luiza Rangel de. Agências Reguladoras. Brasília, Revista de Informações Legislativas jan. / mar. 1999.

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