5
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9/PR RELATORA : JUÍZA FEDERAL VÂNIA HACK DE ALMEIDA AGRAVANTE : MUNICIPIO DE FOZ DO IGUACU/PR ADVOGADO : ISABELA CHRISTINE DAL BO LIMA E OUTROS AGRAVADO : EMPRESA GESTORA DE ATIVOS - EMGEA ADVOGADO : FLAVIA MAGNONI SEHENEM E OUTROS INTERESSADO : ELGÍDIO JOSÉ GELLER : REGINALDA BITENCOURT GELLER AGRAVADA : DECISÃO DE FOLHAS EMENTA TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ITBI. BASE DE CÁLCULO. VALOR DA ADJUDICAÇÃO. 1. É COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA DOS MUNICÍPIOS INSTITUIR O ITBI, CONFORME O ART. 156, II, DA CF. 2. O ART. 38 DO CTN DISPÕE QUE A BASE DE CÁLCULO DO ITBI CORRESPONDE AO VALOR VENAL DOS BENS OU DIREITOS TRANSMITIDOS. 3. NÃO EXISTE ÓBICE À FIXAÇÃO DO VALOR DA ADJUDICAÇÃO COMO BASE DE CÁLCULO DO ITBI QUANDO NÃO HÁ QUALQUER INDICAÇÃO DE QUE A ADJUDICAÇÃO TENHA SIDO REALIZADA POR PREÇO VIL, CONSOANTE JURISPRUDÊNCIA DO STJ. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento ao agravo, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Porto Alegre, 26 de janeiro de 2010. Juíza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA Relatora AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9/PR RELATORA : Juíza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA AGRAVANTE : MUNICIPIO DE FOZ DO IGUACU/PR ADVOGADO : Isabela Christine Dal Bo Lima e outros AGRAVADO : EMPRESA GESTORA DE ATIVOS - EMGEA ADVOGADO : Flavia Magnoni Sehenem e outros INTERESSADO : ELGÍDIO JOSÉ GELLER : REGINALDA BITENCOURT GELLER AGRAVADA : DECISÃO DE FOLHAS RELATÓRIO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9 · PDF file · 2010-02-10execução fiscal nº 2003.70.02.000179-7, que abriu vista ao Município de Foz do ... 082/2003), determinou

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9 · PDF file · 2010-02-10execução fiscal nº 2003.70.02.000179-7, que abriu vista ao Município de Foz do ... 082/2003), determinou

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9/PR RELATORA : JUÍZA FEDERAL VÂNIA HACK DE ALMEIDA

AGRAVANTE : MUNICIPIO DE FOZ DO IGUACU/PR ADVOGADO : ISABELA CHRISTINE DAL BO LIMA E OUTROS AGRAVADO : EMPRESA GESTORA DE ATIVOS - EMGEA

ADVOGADO : FLAVIA MAGNONI SEHENEM E OUTROS INTERESSADO : ELGÍDIO JOSÉ GELLER

: REGINALDA BITENCOURT GELLER

AGRAVADA : DECISÃO DE FOLHAS

EMENTA

TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ITBI. BASE DE CÁLCULO. VALOR DA ADJUDICAÇÃO. 1. É COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA DOS MUNICÍPIOS INSTITUIR O ITBI, CONFORME O ART. 156, II, DA CF. 2. O ART. 38 DO CTN DISPÕE QUE A BASE DE CÁLCULO DO ITBI CORRESPONDE AO VALOR VENAL DOS BENS OU DIREITOS TRANSMITIDOS. 3. NÃO EXISTE ÓBICE À FIXAÇÃO DO VALOR DA ADJUDICAÇÃO COMO BASE DE CÁLCULO DO ITBI QUANDO NÃO HÁ QUALQUER INDICAÇÃO DE QUE A ADJUDICAÇÃO TENHA SIDO REALIZADA POR PREÇO VIL, CONSOANTE JURISPRUDÊNCIA DO STJ.

ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento ao agravo, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Porto Alegre, 26 de janeiro de 2010.

Juíza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA Relatora AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9/PR RELATORA : Juíza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA AGRAVANTE : MUNICIPIO DE FOZ DO IGUACU/PR ADVOGADO : Isabela Christine Dal Bo Lima e outros AGRAVADO : EMPRESA GESTORA DE ATIVOS - EMGEA

ADVOGADO : Flavia Magnoni Sehenem e outros INTERESSADO : ELGÍDIO JOSÉ GELLER

: REGINALDA BITENCOURT GELLER

AGRAVADA : DECISÃO DE FOLHAS

RELATÓRIO

Page 2: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9 · PDF file · 2010-02-10execução fiscal nº 2003.70.02.000179-7, que abriu vista ao Município de Foz do ... 082/2003), determinou

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida nos autos da execução fiscal nº 2003.70.02.000179-7, que abriu vista ao Município de Foz do Iguaçu para, no prazo de 15 dias, recalcular o ITBI referente ao imóvel em questão e apresentar, se entender devido, a atualização do valor venal. Sustenta a parte agravante que a competência para instituir o ITBI é exclusiva do Município consoante preceitua o art. 156, II, da Constituição Federal. Aduz que o Município, por meio de legislação própria (Lei Complementar Municipal nº 082/2003), determinou que a base de cálculo em transferência de bem imóvel por meio de adjudicação será o valor estabelecido pela avaliação ou preço pago, se este for maior. Alega que, como não houve avaliação do imóvel, a base de cálculo do ITBI permanece como sendo o valor do bem imóvel constante do auto de adjudicação. Afirma que o valor venal do imóvel somente poderia prevalecer como base de cálculo do ITBI na hipótese de o valor de transmissão do bem ser inferior ao valor venal, o que não restou caracterizado. Requer seja mantido o lançamento do ITBI no valor de R$ 5.226,39, equivalente a aplicação da alíquota de 2% sobre o valor pelo qual o imóvel foi adjudicado (R$ 261.319,28), nos termos do art. 38 do CTN e arts. 415 e 417 da Lei Complementar nº 082, de 24 de dezembro de 2003, do Município de Foz do Iguaçu. Com contrarrazões da EMGEA às fls. 286/289, subiram os autos. É o relatório. VOTO

A Empresa Gestora de Ativos - EMGEA ajuizou execução de título extrajudicial contra Elgídio José Geller e Reginalda Bitencourt Geller. Nos autos da referida execução, foi penhorado imóvel e levado à hasta pública. Uma vez que não houve arrematação do bem, a exequente requereu a adjudicação do imóvel, a qual foi deferida e o imóvel foi adjudicado pelo valor do saldo devedor. Entretanto, até a presente data não foi expedida carta de adjudicação do bem, pois está pendente a quitação do imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI), condição indispensável para a expedição da referida carta. Outrossim, a exequente refere que o motivo pelo qual deixou de quitar o ITBI é que o Município de Foz do Iguaçu utilizou como base de cálculo o valor de adjudicação do bem, e não o seu valor venal, o que ocasionou a majoração do referido imposto. Esclarecidos os fatos, passo à análise do agravo. A questão que cinge o presente recurso é a discussão acerca da base de cálculo do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis - ITBI, no caso de adjudicação de imóvel. Primeiramente, observa-se que o art. 156, II, da Constituição Federal, expressamente estabelece a competência tributária dos Municípios para instituir o ITBI, com relação à transmissão da propriedade imobiliária, in verbis: "Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: (...) II - transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição".

Page 3: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9 · PDF file · 2010-02-10execução fiscal nº 2003.70.02.000179-7, que abriu vista ao Município de Foz do ... 082/2003), determinou

Resta, pois, absolutamente claro que a incidência do ITBI, pela lei municipal será possível nas hipóteses de transmissão e cessões de direito da propriedade imobiliária, como ocorre no caso concreto, que se trata de adjudicação de imóvel não arrematado em hasta pública. Ademais, dita competência deve ser exercida de acordo com as normas gerais de direito tributário editadas pela União, cuja observância é obrigatória para todos os entes tributantes. Nesse sentido, prevê o art. 146, III, "a", da Constituição Federal: "Art. 146. Cabe à lei complementar: (...) III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes". Dessa forma, o Código Tributário Nacional dispõe que a base de cálculo do ITBI corresponde ao valor venal dos bens ou direitos transmitidos, in verbis: "Art. 38. A base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos." Isto posto, cumpre definir se a legislação municipal em comento atendeu à delimitação expressa no CTN (valor venal). A Lei Complementar nº 082/2003 do Município de Foz do Iguaçu dispõe que a base de cálculo do ITBI é o valor do bem ou direito transmitido constante no instrumento de transmissão ou cessão (art. 415, fl. 49). Na hipótese de adjudicação, o art. 417 estabelece que: "Art. 417. Na arrematação e na adjudicação de bens imóveis, a base de cálculo será o valor estabelecido pela avaliação ou preço pago, se este for maior." Na linha de entendimento do STJ, não existe óbice à fixação do valor da adjudicação como base de cálculo do ITBI, mesmo porque não há qualquer indicação de que a adjudicação tenha sido realizada por preço vil. A propósito, cito o seguinte precedente: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE TRANSMISSÃO INTER VIVOS. BASE DE CÁLCULO. VALOR VENAL DO BEM. VALOR DA AVALIAÇÃO JUDICIAL. VALOR DA ARREMATAÇÃO. I - O fato gerador do ITBI só se aperfeiçoa com o registro da transmissão do bem imóvel. Precedentes: AgRg no Ag nº 448.245/DF, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 09/12/2002, REsp nº 253.364/DF, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ de 16/04/2001 e RMS nº 10.650/DF, Rel. Min. FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, DJ de 04/09/2000. Além disso, já se decidiu no âmbito desta Corte que o cálculo daquele imposto "há de ser feito com base no valor alcançado pelos bens na arrematação, e não pelo valor da avaliação judicial" (REsp. n.º 2.525/PR, Rel. Min. ARMANDO ROLEMBERG, DJ de 25/6/1990, p. 6027). Tendo em vista que a arrematação corresponde à aquisição do bem vendido judicialmente, é de se considerar como valor venal do imóvel aquele atingido em hasta pública. Este, portanto, é o que deve servir de base de cálculo do ITBI. II - Recurso especial provido (REsp 863.893/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/10/2006, DJ 07/11/2006- grifei)

Page 4: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9 · PDF file · 2010-02-10execução fiscal nº 2003.70.02.000179-7, que abriu vista ao Município de Foz do ... 082/2003), determinou

Na mesma senda, é o seguinte precedente deste Egrégio Tribunal: TRIBUTÁRIO. ITBI. BASE DE CÁLCULO. VALOR ARREMATAÇÃO. LEGITIMIDADE. 1- Correta, no caso, a impetração contra o Sr. Prefeito Municipal de Maringá. Tratando-se de ato originário de uma decisão do Prefeito, é ele parte legítima passiva. 2 - O ITBI tem como fato gerador a transmissão de bens imóveis, e a arrematação importa transmissão ao arrematante dos direitos do executado na coisa penhorada, equiparando-se à compra e venda. À semelhança do que ocorre neste tipo de negócio, a base de cálculo do Imposto devido ao município, quando se tratar de arrematação, deve ser o valor pelo qual o bem imóvel for arrematado. (TRF4, REO 94.04.47865-2, Segunda Turma, Relator Hermes Siedler da Conceição Júnior, DJ 01/09/1999 - grifei) Outrossim, importante ressaltar que não se aplica o valor de avaliação do imóvel, uma vez que esta não foi procedida no presente caso, assim como tal valor somente se aplicaria caso houvesse irregularidades na arrematação e/ou a venda fosse por preço aviltante, o que não ocorreu. Desse modo, merece provimento o recurso interposto, a fim de se fixar como base de cálculo do ITBI o valor da adjudicação do imóvel, devendo ser reformada a decisão de primeiro grau. Diante do exposto, voto por dar provimento ao presente agravo.

Juíza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA Relatora EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 26/01/2010 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9/PR ORIGEM: PR 200370020001797

RELATOR : Juiza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA PRESIDENTE : LUCIANE AMARAL CORREA MÜNCH PROCURADOR : Dr(a) LUIZ FELIPE SANZI

AGRAVANTE : MUNICIPIO DE FOZ DO IGUACU/PR ADVOGADO : Isabela Christine Dal Bo Lima e outros AGRAVADO : EMPRESA GESTORA DE ATIVOS - EMGEA

ADVOGADO : Flavia Magnoni Sehenem e outros INTERESSADO : ELGÍDIO JOSÉ GELLER

: REGINALDA BITENCOURT GELLER

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 26/01/2010, na seqüência 262, disponibilizada no DE de 18/01/2010, da qual foi intimado(a) o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a DEFENSORIA PÚBLICA e as demais PROCURADORIAS FEDERAIS.

Certifico que o(a) 2ª TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Page 5: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2009.04.00.034510-9 · PDF file · 2010-02-10execução fiscal nº 2003.70.02.000179-7, que abriu vista ao Município de Foz do ... 082/2003), determinou

A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU DAR PROVIMENTO AO PRESENTE AGRAVO.

RELATOR ACÓRDÃO

: Juiza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA

VOTANTE(S) : Juiza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA

: Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES

: Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH

MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA Diretora de Secretaria

Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por: Signatário (a): MARIA CECILIA DRESCH DA SILVEIRA:10657 Nº de Série do Certificado: 44363483

Data e Hora: 27/01/2010 17:25:00