Agriculturas 2012 Sep Articulacao Metropolitana de Agricultura Urbana

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    Articulao Metropolitanade Agricultura Urbana:

    espaos e saberes da Agroecologiaem Belo Horizonte1

    Daniela Adil Oliveira de Almeida

    Ldia Maria de Oliveira Morais

    Lorena Anahi Fernandes da Paixo

    O incio da caminhada

    A Articulao Metropolitana de Agricultura Urbana deBelo Horizonte (Amau) um coletivo composto por grupos

    comunitrios informais, associaes comunitrias, movimen-tos sociais de luta pela terra, por moradia movimento femi-nista, grupos de permacultura e alimentao saudvel, empre-endimentos de economia solidria, pastorais sociais, redes,

    ONGs e estudantes. A articulao foi formada em 2001, apartir do exerccio de identicao de experincias de agri-cultura urbana e segurana alimentar na regio. Essa iniciativafoi realizada pela Rede de Intercmbio de Tecnologias Alterna-

    1Parte da discusso apresentada neste texto pode ser encontrada, numaverso anterior, em Almeida (2011).

    Hortas integram e embelezam a paisagem urbana

    Fotos:ArquivoAMAU

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    tivas (Rede)2 em um contexto favorvel de reconhecimento institucional das prti-cas de segurana alimentar desenvolvidas pela sociedade civil, por meio de diagns-ticos e encontros promovidos pelo Frum Mineiro de Segurana Alimentar e Nutri-cional Sustentvel (FMSans) e pelo Conselho de Segurana Alimentar e Nutricional

    de Minas Gerais (Consea-MG). Esse contexto revelou a importncia de se apro-fundar a discusso sobre a agricultura na regio metropolitana de Belo Horizonte,resultando, em 2004, na criao da Amau como espao espontneo e permanentede encontro, dilogo e auto-organizao dos grupos envolvidos com as prticas deagricultura urbana.

    So objetivos da Amau: a) apoiar as iniciativas

    populares e fortalecer a organizao das(os)

    agricultoras(es) da regio metropolitana de

    Belo Horizonte; b) dar visibilidade s experin-

    cias de agricultura existentes na regio, mos-trando a diversidade de atividades e espaos,

    bem como suas diferentes funes; c) aprofun-

    dar o debate poltico com diferentes setores da

    sociedade civil, do poder pblico e da academia

    sobre a integrao campo-cidade, o papel da

    agricultura em regies metropolitanas e sua

    relao com a construo de outro projeto de

    desenvolvimento.

    2Organizao no governamental criada em 1986, que atualmente promove a Agroecologia em comuni-dades rurais do Leste de Minas, em comunidades urbanas de Belo Horizonte e de alguns municpios daregio metropolitana.

    A organizao e as aes da

    Amau

    As atividades realizadas pela Amau

    so viabilizadas a partir do engajamentoe da mobilizao de recursos nancei-ros de seus participantes e, eventual-mente, de alguns apoios pontuais. Suadinmica se d por meio de encontrosperidicos itinerantes entre os locaisonde se encontram as experincias daagricultura urbana, conciliando em suaprogramao momentos voltados paraa execuo de prticas, trocas de co-nhecimento e formao poltica. Tam-bm nesses encontros so denidas asaes coletivas, como visitas tcnicas,

    ocinas, intercmbios, mutires e parti-cipao em feiras e eventos. Outra linhade ao a participao em espaosde construo de polticas pblicas deagricultura urbana ou temticas ans.Para tanto, a Amau se faz representarem redes e fruns da sociedade civil,bem como em conselhos e confern-cias dedicadas a temas relacionados aocampo agroecolgico, promoo dasegurana alimentar, organizao dasmulheres e economia solidria.

    Nos primeiros anos de funciona-mento, a Amau realizou trs encontrosque permitiram avanar na identicaode novas iniciativas, consolidando um

    Dinmica de acolhimento realizado durante o Encontro da AMAU Ervanrio So Francisco / Sabar

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    espao de troca de experincias e fundamentando o ambiente sociopoltico paraas reexes sobre as polticas pblicas de promoo da agricultura urbana. Entre2009 e 2010, vrias aes foram realizadas, merecendo destaque a organizao deprocessos de formao voltados para agricultoras(es), lideranas sociais, gestorespblicos e estudantes universitrios que abordaram dimenses polticas, tericas,metodolgicas e tecnolgicas da agricultura urbana. Tais atividades de carter for-mativo chegaram a envolver mais de 200 participantes e contriburam para a imple-

    mentao do Centro de Referncia em Agricultura Urbana e Periurbana da RegioMetropolitana de Belo Horizonte (Caup/RMBH)3.

    As aes promovidas pela Amau entre fevereiro de 2010 e junho de 2012,como a realizao de 13 encontros presenciais, contaram com a participao derepresentantes de cerca de 30 iniciativas de agricultura urbana de oito municpiosda regio metropolitana.4 Como resultado dessas atividades, houve avanos na di-nmica de funcionamento e aprofundamento da discusso poltica sobre o tema daagricultura urbana. Foram tambm criadas cinco comisses de trabalho: (1) agro-biodiversidade; (2) produo, comercializao e consumo; (3) auto-organizao dasmulheres; (4) plantas medicinais; (5) e articulao poltica. Para cada comisso, foiescolhido um grupo animador. O conjunto de animadores(as) das comisses formaa coordenao ampliada, que tem por funo organizar os encontros e as demais

    atividades, bem como garantir que os encaminhamentos denidos sejam efetivados.

    Diversidade de espaos e saberes: construindo identidades

    e uma pauta poltica

    As iniciativas articuladas pela Amau do uma mostra explcita de que a agri-cultura uma realidade bastante viva na regio metropolitana de Belo Horizonte,

    3Os Centros de Referncia em Agricultura Urbana e Periurbana (Caups) integram as aes de descen-tralizao nas regies metropolitanas da Poltica de Agricultura Urbana e Periurbana coordenada peloMinistrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS). Na regio metropolitana de BeloHorizonte, o Caup teve sua implantao viabilizada por meio de um convnio do MDS com o Institutode Terras de Minas Gerais (Iter-MG), em 2008.4

    Belo Horizonte, Betim, Contagem, Funilndia, Nova Lima, Nova Unio, Ribeiro das Neves e Sabar.

    dentro e no entorno das cidades. Ela realizada em espaos privados tan-to familiares como institucionais epblicos. Nas zonas rurais dos muni-cpios, a produo encontrada emassentamentos de reforma agrria, empropriedades de agricultores(as) fami-

    liares e em comunidades quilombolas.A agricultura desenvolvida nessas reasabrange, entre outras prticas agrco-las, a produo e o beneciamento dehortalias, verduras e gros; a criaode animais de pequeno, mdio e grandeporte; e a produo, o extrativismo eo beneciamento de plantas medicinais.Essa variedade de espaos e prticascorresponde pluralidade de identi-dades e sujeitos que tm em comumo envolvimento e a dedicao agri-cultura, mas que, em muitas situaes,no a tm como ocupao principale nem mesmo se reconhecem comoagricultoras(es) urbanas(os).

    Pesquisa realizada em 2010 peloCaup-RMBH traou um perl socio-econmico das(os) agricultoras(es)envolvidas(os) em 24 experincias deagricultura urbana na regio. Das 116pessoas entrevistadas, apenas 3% decla-raram exercer uma ocupao principalem tempo integral; 61% informaram ter

    um ou mais trabalhos espordicos ou de

    Planejamento das atividades da Amau

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    tempo parcial; e 36% apresentaram-se como agricultores(as).Identicou-se tambm a preponderncia da baixa escolari-dade entre os participantes da pesquisa, sendo que mais de60% das(os) agricultoras(es) no cursaram o ensino mdio.Das respostas obtidas pelo questionamento relativo rendafamiliar, 87,6% declararam receber abaixo de um salrio mni-mo. Alm disso, 69% das famlias entrevistadas apresentaramalgum grau de insegurana alimentar, sendo que, entre aquelasem que h moradores menores de dezoito anos, o ndice ainda maior (BRASIL, 2011).

    A dura realidade social e as condies adversas enfren-tadas por essas famlias contrastam com a riqueza de saberesobservada nas experincias agrcolas que desenvolvem em suascasas e comunidades. A memria da origem rural pode tercomo referncia uma experincia camponesa ou de agricultu-ra familiar ou uma vivncia em que j predominava o modeloda Revoluo Verde ou do agronegcio, marcado por coni-tos agrrios, mudanas nas tcnicas de produo e na relaocom os recursos naturais e com a prpria alimentao e sade.Entretanto, essas prticas no devem ser consideradas merasreprodues de hbitos e modos de vida de migrantes rurais

    nas cidades, pois revelam o potencial inventivo e interpretati-vo da realidade das(os) agricultoras(es). tambm importanteconsiderar que, a cada dia, moradoras(es) urbanas(os) de di-ferentes classes sociais que nunca tiveram uma vivncia ante-rior no campo tm interesse e passam a se dedicar s prticas

    agrcolas, a partir do acesso a livros, de informaes da mdia eda insero em processos de formao e capacitao em Agro-ecologia promovidos por organizaes sociais ou instituiesgovernamentais. A maioria das experincias tem em comumo protagonismo de mulheres que, embora desempenhem umpapel importante nos cuidados com a segurana alimentar ea sade da famlia e da comunidade, ainda tm que superarbarreiras para a atuao no espao pblico. Apesar disso, elasvm se destacando como educadoras em suas comunidades ehbeis interlocutoras em fruns polticos, dando visibilidade

    importncia dos trabalhos domsticos realizados pelas mulhe-res e aos desaos para promover sua autonomia nanceira esua insero no mercado de trabalho.

    Nos encontros e atividades realizados pela Amau, ob-serva-se uma disposio para conviver com a diferena, es-clarecer o que une e o que separa cada organizao, a partirde uma compreenso comum da prtica da agricultura ur-bana como forma de autoarmao criativa. Trata-se aindade uma resistncia homogeneizao de modos de vida e imposio de ritmos e padres de consumo nas metrpolescontemporneas. A promoo da agricultura urbana se tornaassim um instrumento possvel para a organizao de uma

    populao historicamente marginalizada nas cidades, para aconstruo de identidades coletivas entre agricultoras(es) epara seu reconhecimento perante o conjunto da sociedade edos formuladores de polticas.

    Encontro da Amau na horta comunitria da Vila Santana do cafezal Serra

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    Dentre os desaos identicados, destacamos o alto valorda terra e dos impostos territoriais, a especulao imobiliria,a crescente incorporao das reas rurais s zonas urbanas,a presso para a construo de novas unidades habitacionaisnos vazios urbanos e a degradao e a contaminao dosrecursos naturais (gua, solo, biodiversidade e ar). Tambm

    constituem fatores desfavorveis a ainda pouca presena deorganizaes de base e outras instituies relacionadas agri-cultura nos centros urbanos, alm das restries para as(os)agricultoras(es) urbanas(os) acessarem as polticas pblicasde apoio agricultura familiar.

    No nal de 2011, fruto do amadu-

    recimento de todo esse processo,

    a Amau elaborou um documento

    em que arma que o movimento

    pela agricultura urbana baseadanos princpios da Agroecologia

    um campo possvel de convergn-

    cia de organizaes do campo e

    da cidade que buscam fortalecer a

    organizao popular, especialmen-

    te a auto-organizao das mulhe-

    res, e ter uma incidncia poltica a

    partir da articulao de aes co-tidianas. Esse documento expressa

    os aspectos comuns das agendas

    de diferentes movimentos como

    o feminista, os de reforma urbana,

    reforma agrria, sade coletiva,

    economia solidria e soberania e

    segurana alimentar , registrando

    as questes prioritrias para uma

    pauta poltica nica voltada para o

    fortalecimento das prticas agroe-

    colgicas na regio metropolitana

    de Belo Horizonte.

    Os pontos de destaque so: 1) acesso terra; 2) acessoaos recursos naturais (gua e biodiversidade); 3) assessoriatcnica com enfoque agroecolgico, popular e de gnero; 4)organizao de base e auto-organizao das mulheres; 5) for-mao poltica e capacitao tcnica; 6) fomento para amplia-

    o da produo agroecolgica; 7) apoio ao escoamento e comercializao da produo; 8) apoio disseminao e consolidao das experincias, considerando as mltiplas fun-es da agricultura urbana; 9) apoio a iniciativas de comunica-

    o popular; e 10) realizao de pesquisas sobre a agriculturaurbana e Agroecologia na regio.

    A institucionalizao e as polticas pblicas

    de agricultura urbana

    A Amau participou da construo de polticas pblicasnas trs esferas federativas e foi reconhecida como um espa-o legtimo de realizao de aes e interveno poltica rela-cionadas agricultura urbana, especialmente pelos resultadosdos processos de formao poltica das(os) agricultoras(es)e pelo envolvimento de diferentes atores da sociedade civil.Nesse cenrio, importante considerar quais as implicaese os desdobramentos dessa recente e crescente institucio-nalizao da agricultura urbana para as prticas populares eo alcance da participao da sociedade civil na formulao eimplementao de polticas pblicas.

    Desde 1996, quando o tema da agricultura urbana co-meou a merecer maior reconhecimento ocial,5 podem sercitados exemplos de iniciativas de institucionalizao de pol-ticas nessa rea nas trs esferas de poder do Estado brasileiro.Como iniciativas de prefeituras de Minas Gerais, destacam-sepolticas como o Centro de Vivncia Agroecolgica (Cevae),em Belo Horizonte (1995), e o Centro Municipal de Agricul-tura Urbana e Familiar (Cmauf), em Contagem (2010). Nombito estadual, ressaltamos a aprovao (2006) e a regula-mentao (2008) da Poltica Estadual de Apoio AgriculturaUrbana (Peau), bem como a criao da Coordenadoria deAgricultura Urbana vinculada Subsecretaria de AgriculturaFamiliar do governo do estado (2011). No plano federal, otema da agricultura urbana vem sendo assumido pelo SistemaNacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Sisan) e estinserido na estrutura do MDS como parte da estratgia dogoverno federal para enfrentar a insegurana alimentar daspopulaes nas periferias das cidades e promover uma alter-nativa para a produo de alimentos e gerao de renda nasregies metropolitanas.

    Apesar dos avanos proporcionados por essas diferen-tes frentes no que se refere visibilidade da temtica daagricultura urbana e criao de marcos institucionais espe-ccos, a implementao de polticas pblicas para esse setor

    vem apresentando marcantes contradies entre as prticasefetivas e a retrica discursiva dos gestores pblicos. Estessempre ressaltam a importncia de princpios como a ges-to descentralizada, o fortalecimento das capacidades, a pro-moo de autonomia, o empoderamento e a participaoefetiva das(os) agricultoras(es), mas na prtica no o quese verica. Em que pesem os esforos empreendidos pelasociedade civil, eles no tm sido sucientes para superar osentraves burocrticos do Estado e a falta de vontade polticapara conquistar oramentos e estruturar equipes capacita-das e permanentes para atuar junto a esse novo campo deao institucional. Outro limite participao da sociedade

    5No mbito internacional, a agricultura urbana ganha maior expresso a par-tir do ano de 1996, com a divulgao do relatrio Urban Agriculture, Food, Jobsand Sustainable Citiesdurante a realizao da II Conferncia Mundial sobreAssentamentos Humanos (Habitat II), em Istambul. (Nota do editor: ver refe-rncia na seo Publicaes desta edio).

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    civil encontra-se na opo feita peloMDS de operacionalizar a poltica pormeio de editais voltados para gover-nos municipais e estaduais e universi-dades, desvalorizando o conhecimen-to sobre a temtica e as experinciasacumuladas h anos pelas organizaes

    da sociedade civil. Essa opo polticaremete ao debate mais amplo sobreo marco legal de repasse de recursospara organizaes da sociedade civil ea transparncia no uso dos recursospblicos. Revela tambm inmerosproblemas, sendo alguns deles j bemconhecidos, como a m vontade polti-ca dos gestores pblicos, as desconti-nuidades ligadas s mudanas nos car-gos polticos, o mau uso dos recursose o descompasso entre o calendrioagrcola e o tempo da burocracia das

    compras e contrataes.

    Nesse contexto, o MDS tem esti-mulado, desde 2007, intervenes emagricultura urbana a partir de editaisanuais para conveniar projetos comprefeituras, rgos do estado e insti-tuies de pesquisa. A partir de 2008,a maior nfase desses editais temsido para a implantao de CentrosMetropolitanos de Agricultura Urba-na e Periurbana (Caups), com vistasa organizar um sistema operacionaldescentralizado de apoio prtica daagricultura urbana nas regies metro-politanas e implementar aes de fo-mento, assistncia tcnica, formaoe monitoramento dos resultados. Se,por um lado, a proposta dos Caupsrepresenta um avano signicativo porestimular o desenvolvimento de redesterritorializadas para a implementaodas aes da Peau, por outro, encon-tra enorme bloqueio operacional porconta das descontinuidades das aes

    geradas pela lgica de convnios queno preveem oramentos permanen-tes. Alm disso, os critrios adotadospara o repasse de recursos impemexigncias incompatveis com a reali-dade das(os) agriculturas(es). Comoexemplo, documentos formais de posseou uso dos espaos de produo tmsido cobrados como condio para oacesso poltica, quando, pelo contr-rio, a legalizao das posses deveria serconsiderada um dos objetos da prpria

    Peau, j que a insegurana legal quan-to ao acesso terra exatamente umdos principais obstculos enfrentadospelas(os) agricultoras(es) urbanas(os).

    Outro desao reside no fato de que, embora a multifuncionalidade da agri-cultura urbana seja um dos aspectos mais valorizados em encontros, seminrios emesmo na literatura acadmica disponvel sobre o tema, essa caracterstica positivaainda pouco explorada no desenho das polticas pblicas para a rea. Tomandocomo referncia os editais anuais publicados e os projetos aprovados pelo MDSdesde 2007, observa-se uma tendncia a privilegiar certas dimenses (combate fome, incluso social,gerao de renda) e a padronizar os tipos de ao passveis

    de serem executadas com os recursos pblicos. Ficam assim comprometidas asiniciativas voltadas para o fortalecimento da organizao e da autonomia das(os)agricultoras(es) e para a promoo de melhorias nas reas de sade, educao emeio ambiente. Torna-se claro, portanto, o carter intersetorial que deve ser assu-mido pelas polticas de agricultura urbana e periurbana. preciso tambm denirmelhor os papis e as atribuies entre as organizaes sociais e os diferentessetores e instncias federativas do Estado.

    Para seguir a caminhada...

    Com o processo de institucionalizao, pode-se dizer que a agricultura urbanatem ganhado visibilidade. Mas esse avano traz tambm o risco de homogeneizaoe cooptao pelos governos locais, por meio da imposio de condies para o

    acesso aos recursos pblicos e pela submisso a mecanismos formais e institucio-nais que no respeitam as especicidades, as prioridades e os objetivos denidospelas organizaes e redes da sociedade civil.

    O conceito da agricultura urbana encontra-se em construo e em disputapelos diversos atores interessados na temtica. A apropriao conceitual da agri-cultura urbana pela Amau est imbuda do sentido da transformao social e temsido construda a partir da interao e da insero poltica de cada organizaoparticipante. Nessa perspectiva, a agricultura urbana apresenta-se como uma pos-sibilidade de reinveno crtica do ser e do estar no espao urbano. , portanto, acelebrao da diferena e a armao da diversidade em meio a tentativas massivasde padronizao de modos de vida, desejos, relacionamentos e pensamentos. Atrajetria da Amau demonstra a importncia da atuao da sociedade civil para dar

    visibilidade e para formular propostas que respeitem as particularidades e identi-quem as necessidades reais e subjetivas dos protagonistas das experincias e prti-cas populares. uma caminhada que convida para mais esforos polticos e tericospara avanar na organizao das(os) agricultoras(es) urbanas(es) e na compreensodas potencialidades da Agroecologia para transformar o espao e as relaes sociaisnos contextos urbanos.

    Daniela Adil Oliveira de Almeida

    colaboradora da Rede de Intercmbio de Tecnologias Alternativasdoutoranda em Geograa (IGC/UFMG)

    [email protected]

    Ldia Maria de Oliveira Morais

    Grupo Aroeira - Ambiente, Sociedade e Cultura/[email protected]

    Lorena Anahi Fernandes da Paixo

    Rede de Intercmbio de Tecnologias [email protected]

    Referncias bibliogrcas:

    ALMEIDA, D. A. O. 2011. Agricultura urbana e agroecologia na Regio Metropolitanade Belo Horizonte. In: XII Simpsio Nacional de Geograa Urbana (SIMPURB),2011, Belo Horizonte. Anais do XII Simpsio Nacional de Geograa Urbana.

    BRASIL. 2011. Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome. Centrode Referncia em Agricultura Urbana e Periurbana. Relatrio Final de Pesquisa.Minas Gerais, Belo Horizonte.