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RECRIAR – Espaço de Saúde Mental Psicóloga Márcia Sessegolo ALCOOLISMO É DOENÇA? (Fonte: Imesc) De forma direta, o tema específico do alcoolismo foi incorporado pela OMS à Classificação Internacional das Doenças em 1967 (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No entanto, essa questão não pode ser vista apenas como um fato cronológico. A questão do impacto sobre a saúde provocado pelo abuso do álcool já vinha sendo objeto de discussão pela OMS desde o início dos anos 50, compondo um processo longo de maturação (que até hoje ainda é objeto de contendas médico- científicas). Consta que em 1953 a OMS, através do seu Expert Comittee on Alcohol, já havia decidido que o álcool deveria ser incluído numa categoria própria, intermediária entre as drogas provocadoras de dependência e aquelas apenas formadoras de hábito (sobre isso consulte o documento da OMS denominado: Technical Repport 84,10 (1954) Uma resposta sobre data e fato não comportaria a riqueza dos debates e as sutilezas conceituais que envolveram a questão do alcoolismo no âmbito da OMS. Além disso, é interessante acompanhar como desenvolveram-se tais debates no interior de várias outras instâncias científicas e médico-corporativas (tanto no Brasil como no exterior). Esse tipo de investigação é útil quando se quer entender adequadamente um fenômeno que no fundo remete a uma série de determinantes que tangenciam as mais diversas fronteiras do conhecimento EFEITOS * ( fontes: Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo e médicos). O que é estar alcoolizado? O indivíduo é considerado alcoolizado se estiver com taxa a partir de 0,6 gramas de álcool por litro de sangue. A taxa de álcool no sangue varia de acordo com o peso, altura e condições físicas de cada um. Mas, em média, a pessoa não pode ultrapassar a ingestão de duas latas de cerveja ou duas doses de bebidas destiladas, se não, já está considerado alcoolizado. Av. Flores da Cunha 580 sala 603 – Fone: 4382343 - Cachoerinha 1

ALCOOLISMO É DOENÇA

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Allcolismo com doença

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ALCOOLISMO É DOENÇA? (Fonte: Imesc)

De forma direta, o tema específico do alcoolismo foi incorporado pela OMS à Classificação Internacional das Doenças em 1967 (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No entanto, essa questão não pode ser vista apenas como um fato cronológico. A questão do impacto sobre a saúde provocado pelo abuso do álcool já vinha sendo objeto de discussão pela OMS desde o início dos anos 50, compondo um processo longo de maturação (que até hoje ainda é objeto de contendas médico-científicas). Consta que em 1953 a OMS, através do seu Expert Comittee on Alcohol, já havia decidido que o álcool deveria ser incluído numa categoria própria, intermediária entre as drogas provocadoras de dependência e aquelas apenas formadoras de hábito (sobre isso consulte o documento da OMS denominado: Technical Repport 84,10 (1954)

Uma resposta sobre data e fato não comportaria a riqueza dos debates e as sutilezas conceituais que envolveram a questão do alcoolismo no âmbito da OMS. Além disso, é interessante acompanhar como desenvolveram-se tais debates no interior de várias outras instâncias científicas e médico-corporativas (tanto no Brasil como no exterior). Esse tipo de investigação é útil quando se quer entender adequadamente um fenômeno que no fundo remete a uma série de determinantes que tangenciam as mais diversas fronteiras do conhecimento

EFEITOS * ( fontes: Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo e médicos).

O que é estar alcoolizado?

O indivíduo é considerado alcoolizado se estiver com taxa a partir de 0,6 gramas de álcool por litro de sangue.

A taxa de álcool no sangue varia de acordo com o peso, altura e condições físicas de cada um. Mas, em média, a pessoa não pode ultrapassar a ingestão de duas latas de cerveja ou duas doses de bebidas destiladas, se não, já está considerado alcoolizado.

Com0,6 g/litro

de sangue,o risco deacidente é50% maior

Com0,8 g/litro

de sangue,o risco deacidente é

quatro vezes maior

Com1,5 g/litro

de sangue,o risco deacidente é

25 vezes maior

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Quantidade de álcool por litro de sangue (em gramas)* Efeitos

0,2 a 0,3 g/l - equivalente a um copo de cerveja, um cálice pequeno de vinho, uma dose de uísque ou outra bebida destilada

As funções mentais começam a ficar comprometidas. A percepção da distância e da velocidade são prejudicadas

0,3 a 0,5 g/l - dois copos de cerveja, um cálice grande de vinho, duas doses de bebidas destiladas

O grau de vigilância diminui, assim como o campo visual. O controle cerebral relaxa, dando sensação de calma e satisfação

0,51 a 0,8 g/l - três ou quatro copos de cerveja, três copos de vinho, três doses de uísque

Reflexos retardados, dificuldades de adaptação da visão a diferenças de luminosidade, superestimação das possibilidades e minimização de riscos e tendência à agressividade

0,8 a 1,5 g/l - a partir dessa taxa, as quantidades são muito grandes e variam de acordo com o metabolismo, com o grau de absorção e com as funções hepáticas de cada indivíduo

Dificuldades de controlar automóveis, incapacidade de concentração e falhas na coordenação neuromuscular

1,5 a 2,0 g/l Embriaguez, torpor alcoólico, dupla visão

2,0 a 5,0 g/l Embriaguez profunda

5,0 g/l Coma alcoólica

* Tomando-se por base a ingestão de álcool por um indivíduo que pese 70 kg.

AS FASES DO ALCOOLISMO

O Alcoolismo é uma doença caracterizada por 4 fases:

Fase 1: (Fase social, sem dependência física, apenas dependência Emocional). Inicia-se na primeira vez que se bebe (lembrando-se que dois fatores são fundamentais: Predisposição Orgânica e Benefícios, do contrário a doença não se desenvolve). O primeiro sintoma é a dependência Emocional. O desenvolvimento emocional pára e a pessoa torna-se pouco tolerante. Como geralmente isso acontece na infância ou na adolescência, a mudança emocional geralmente não é percebida, pois confunde-se com malcriação, infantilidade ou temperamento forte. A partir daí, a doença desenvolve-se mais ou menos devagar, dependendo da predisposição orgânica. Bebe-se pouco e socialmente, não há perdas em virtude do uso. Não há problemas físicos.

Fase 2: (Fase social, sem dependência física, apenas dependência emocional). O organismo modifica-se: tem-se a tolerância aumentada (bebe-se mais que na fase 1). Não há problemas em conseqüência da ingestão de álcool. Não há problemas físicos. Não há dependência física, apenas emocional.

Fase 3: (Fase problemática, com dependência física e emocional). Bebe-se muito (altíssima tolerância). O beber torna-se um problema. Muitos problemas emocionais, ressacas constantes, problemas em

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decorrência da bebida , problemas familiares, problemas de relacionamento. Há o inicio da síndrome de abstinência, começam as "PARADAS ESTRATÉGICAS", pode-se haver internações. Há boas expectativas de recuperação física. Há muitas perdas. Perda de controle.

Fase 4: (Fase problemática, com dependência física e emocional). Bebe-se muito pouco, menos que na fase 1. Inicia-se a atrofia do cérebro. Pode-se ter delírios. Pode-se ter as mãos trêmulas por períodos excessivamente longos. Problemas físicos e emocionais extremos. Pode-se ter Esquizofrenia. Muitas vezes confunde-se com PMD (psicose maníaco-depressiva). Há poucas expectativas de recuperação física. Perdas extremas.

SEQUELAS

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ESTATÍSTICAS (Fonte: Jornal o Estado de São Paulo - Repórter Gabriela Scheinberg.)

Alcoolismo afeta 15% da população brasileira

Cerca de 15% da população brasileira é alcoólatra, de acordo com levantamento realizado pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Dados obtidos em outros países giram em torno de 12% a 13%, segundo o coordenador do grupo, Arthur Guerra de Andrade.

O levantamento, que foi divulgado ontem por Andrade durante o Encontro Álcool e suas Repercusões Médico-Sociais, em São Paulo, foi feito com base no cruzamento de dados obtidos no Grea, na Associação Brasileira de Bedidas (Abrabe), na Ambev e no Ministério da Saúde.

De acordo com os pesquisadores, o País gasta 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano para tratar de problemas relacionados ao álcool, que variam desde o tratamento de um dependente até a perda da produtividade por causa da bebida. Já a indústria do álcool no País movimenta 3,5% do PIB. "O País gasta o dobro para tratar problemas provocados pelo álcool do que usa para produzir a bebida", diz Andrade. "Não há nenhum país onde essa avaliação foi feita que ganhe mais do que perde com o álcool, mesmo considerando os grandes exportadores mundiais de bebida."

Produção - Segundo Andrade, o País é o quinto maior produtor de cerveja do mundo, com a terceira maior empresa da área, a Ambev. Da produção da Ambev, que representa 70% do total do Brasil, 90% são destinados ao mercado nacional. "Do total de cervejas produzidas pela empresa, 35 milhões são engarrafadas por dia", afirma Andrade.

"Não sou contra o álcool", explica Andrade. "A bebida não provoca danos desde que seja consumida socialmente, de forma moderada." Para o especialista, as causas do alto número de pessoas dependentes de bebidas alcoólicas no País deve-se, principalmente, à cultura nacional. A cerveja, por exemplo, é aceita como uma bebida tradicional. "Você bebe no frio para esquentar e no calor para esfriar", diz. "Ela está sempre presente."

Sair para beber também faz parte da cultura do brasileiro, outro fator que, para Andrade, aumenta o número de usuários. A bebida alcoólica é facilmente encontrada em vários pontos do País a preços acessíveis. Não há uma regulação efetiva de quem compra. "A idade em que o adolescente começa a tomar álcool está cada vez menor", afirma, ressaltando que a média atual está em torno de 13 anos. Adolescentes - Para esses adolescentes, a melhor forma de evitar o consumo precoce é a informação e a educação. Os pais devem dar o exemplo. Andrade explica que, muitos pais, por beberem, não costumam impedir que seus filhos o façam. "Geralmente, a principal preocupação dos pais é a maconha", diz. "Mas é preciso saber que o álcool é a porta de entrada das drogas."

Um levantamento realizado pelo Grea indica que os filhos de país alcoólatras têm um risco até quatro vezes maior de desenvolver a dependência. "Existem também os fatores genéticos que predispõem ao vício", diz o médico.

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EXISTE CURA?

É o que a medicina afirma, mas a maior dificuldade das pessoas é entender como isso funciona e na verdade, sabemos que não é bem assim.

Alguns acham que é falta de vergonha; outros, que é falta de força de vontade; outros, até, que é coisa do "demônio", outros acham que leva algum tempo para desenvolver tal "vício". A verdade é que algumas pessoas nascem com o organismo predisposto a reagir de determinada maneira quando ingerem o álcool.

Aproximadamente dez em cada cem pessoas nascem com essa predisposição, mas só desenvolverão esta doença se entrarem em contato com o álcool.

Portanto, na prática podemos afirmar: NÃO HÁ CURA, mas temos como estacionar a doença.

O alcoolismo é uma doença incurável, de determinação fatal e progressiva até mesmo em períodos de abstinência, entretanto, existem tratamentos para interromper o crescimento da doença, como veremos a seguir.

Tratamentos psicossociais: As psicoterapias descritas mais adiante têm sido usadas no tratamento dos transtornos causados pelo uso do álcool. Vários autores fizeram revisões da eficácia das várias psicoterapias para tais transtornos. Este tópico faz revisões dos resultados na literatura sobre terapias comportamentais cognitivas, terapias comportamentais, terapias psicodinâmicas/interpessoais, intervenções breves, terapia conjugal e familiar, terapia de grupo, aftercare e grupos de auto-ajuda.

Terapias comportamentais cognitivas: Existem muitas evidências de que os tratamentos comportamentais cognitivos que objetivam a melhora do autocontrole e das habilidades sociais levam consistentemente à redução do alcoolismo. Estratégias de autocontrole incluem estabelecimento de metas, automonitorização, análise funcional dos antecedentes do alcoolismo e possibilidades de aprendizagem de alternativas para enfrentamento de situações conflitivas. O treinamento das capacidades sociais concentra-se em desenvolver habilidades para formar e manter relações interpessoais mais estáveis, positividade e recusa para aceitar bebidas. Holder et al. relataram que as intervenções comportamentais para tratamento do estresse foram efetivas em seis dos dez estudos revistos. Monti et al. descobriram que pacientes internados que receberam tratamento de exposição a insinuações pareado a treinamento das habilidades de enfrentamento tiveram melhores resultados que aqueles que receberam somente tratamento padronizado quando internados. Intervenções em terapia cognitiva concentradas em identificar e modificar pensamentos mal-adaptativos e que não incluam um componente comportamental não têm sido tão efetivas quanto os tratamentos comportamentais cognitivos.

O treinamento do autocontrole consiste em estratégias cognitivas e comportamentais, inclusive automonitorização, estabelecimento de metas, recompensas para obtenção de metas, análise funcional de situações propícias para beber e aprendizagem das habilidades alternativas para enfrentamento do

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problema com bebidas. Embora alguns estudos de treinamento de autocontrole comportamental tenham incluído alcoolismo controlado, bem como abstinência, como objetivo do tratamento, as técnicas comportamentais de autocontrole devem ser utilizadas com o objetivo explícito a longo prazo de abstinência.

Em vários estudos, o aumento das respostas de enfrentamento ou "auto-eficácia" ao final do tratamento predisseram melhores resultados com a bebida durante o acompanhamento. Os indivíduos que relatam uso mais freqüente de estratégias cognitivas ou comportamentais com intuito de resolver ou dominar o problema ("enfrentamento por aproximação") tipicamente têm melhores resultados que aqueles que dependem de ficar distantes das situações de alto risco ("enfrentamento por evitar").

Terapias comportamentais A terapia comportamental individual e a conjugal têm demonstrado efetividade para pacientes com transtornos causados pelo uso do álcool. A abordagem mais estudada do tratamento de pacientes com transtornos causados pelo uso do álcool é a abordagem do reforço da comunidade, que utiliza princípios comportamentais e, geralmente, inclui terapia conjunta, treinamento para encontrar trabalho, aconselhamento enfocado em atividades sociais e recreacionais livres de álcool, monitorização do dissulfiram e clube social livre de álcool. Usando designação aleatória para reforço da comunidade ou tratamentos hospitalares padronizados, Azrin observou que os pacientes no grupo de reforço da comunidade bebiam menos, passavam menos dias longe de casa, trabalhavam mais dias e eram menos institucionalizados durante um acompanhamento de 24 meses. Um segundo estudo controlado comparando a) a abordagem de reforço da comunidade, b) dissulfiram mais um programa comportamental de fidelidade ao tratamento e c) tratamento ambulatorial regular mostrou que os pacientes tratados com reforço da comunidade saíram-se substancialmente melhor em todas as medidas de resultados que aqueles nas outras condições de tratamento.

Terapias psicodinâmicas/interpessoais Holder et al. concluíram que houve poucas evidências empíricas de estudos controlados de que a psicoterapia orientada pelo insight ou aconselhamento são tratamentos efetivos para o alcoolismo. A psicoterapia individual produziu melhores resultados que uma condição de controle em dois dos oito estudos revistos, e a terapia de grupo orientada psicodinamicamente produziu melhores resultados em dois de onze estudos. Abordagens genéricas de aconselhamento (caracterizadas como primariamente diretivas e de apoio) produziram melhores resultados que os controles em um de oito estudos revistos. Estudos existentes sobre essa modalidade podem ser limitados por suas abordagens a curto prazo.

Intervenções breves As intervenções breves, em geral, são oferecidas por uma a três sessões e incluem uma avaliação abreviada da gravidade do alcoolismo e de problemas relacionados e fornecimento de feedback motivacional, além de aconselhamento. Em oito das nove experiências de tratamento controladas revistas por Holder et al., as intervenções breves demonstraram ser efetivas, embora Chick et al. relatassem resultados negativos. Revisões de Babor e Bien et al. concluíram que intervenções breves: a) são tipicamente mais efetivas (em termos de uso do álcool, saúde geral ou funcionamento social); b) muitas vezes têm eficácia comparável à de programas tradicionais mais intensos e a mais longo prazo; c) aumentam a efetividade do tratamento posterior. Mesmo as intervenções que sejam muito breves (isto é, de algumas horas) podem ter algum efeito positivo. Intervenções breves são utilizadas tipicamente (e têm mais sucesso) para pacientes afetados menos gravemente e que não tenham recebido tratamento anterior

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para um transtorno com o álcool. São necessárias mais pesquisas para determinar quais pacientes são otimamente servidos pelo recebimento de uma intervenção breve.

Terapia conjugal e familiar O estado do relacionamento do paciente com familiares ou outras pessoas igualmente significativas pode ser fator crítico no ambiente pós-tratamento para pacientes que sejam casados ou que vivam com a família. O’Farrell et al. contrastaram a terapia conjugal comportamental e a terapia conjugal interacional com um grupo-controle sem tratamento. Ambos os grupos de tratamento mostraram melhor evolução no ajuste conjugal, e os grupos de terapia conjugal mostraram maior grau de sobriedade no decorrer de um período de acompanhamento a curto prazo. Dois outros estudos mostraram que os pacientes que receberam terapia conjugal comportamental começaram a ter melhores resultados com relação ao alcoolismo que aqueles que não a tiveram após um ano de acompanhamento. Estudos também indicaram que o envolvimento do cônjuge no tratamento leva à melhora dos resultados conjugais e do uso do álcool precocemente no período pós-tratamento, que os pacientes em terapia conjunta têm menor probabilidade de abandonar o tratamento, e que a terapia com o intuito de melhorar o casamento como um todo parece funcionar melhor que a terapia de casais concentrada rigidamente nos problemas relacionados ao álcool (terapia com envolvimento mínimo do cônjuge ou apenas concentrado no álcool).

A FAMÍLIA DO ALCOOLISTA (Fonte: Site da Uniad)

por: Neliana Buzi Figlie

Se você tem um amigo, um familiar, um colega de trabalho que é dependente de álcool, você tem o que fazer!O alcoolismo acaba sendo uma armadilha para o dependente e também para a família, para o trabalho e para a comunidade onde o dependente vive. Mas você pode tentar desarmar esta armadilha!

QUEM É FAMÍLIA ?

A primeira idéia que nos vem a mente quando falamos em família é: casal heterossexual, com dois filhos, um animal de estimação, o homem como chefe da família e a mulher como dona de casa.Quando temos esta estrutura, torna-se fácil definir a família. Mas nem sempre isso é real. Por família, devemos entender várias formas de relacionamento com compromisso. Por exemplo: um alcoólatra solteiro que mantém uma relação amigável com a família do vizinho, casais homossexuais, irmãos de criação, entre outros. A família pode ser aquela que tem acesso ao dependente, sem ser necessariamente a família consangüínea.O alcoolismo não é causa, mas sim efeitoO alcoolismo é um sintoma que ao surgir, se interpõe entre o indivíduo, a família e outros relacionamentos sociais, influenciando todo curso de vida.Todo sintoma tem uma causa.

RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO As causas podem ser as mais variadas possíveis:

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Conflitos emocionais ou pessoais Dificuldade escolares, sociais e/ou profissionais Acréscimo ou perda de um dos membros da família Crises familiares Consumo de bebida para o controle da ansiedade Consumo de bebida para fuga de problemas Separações, divórcios ou término de relacionamento amorosos Ausência de pais Filhos de alcoólatras: aprendizagem de comportamento Pressão Social ("Quem não bebe não é macho!")

Embora o sintoma traga sérios prejuízos e desvantagens para a vida do dependente, o alcoolismo tem uma função na vida deste. Podemos dizer que a pessoa "aprendeu a funcionar com o álcool ", seja qual for a causa. Se o álcool é retirado, como o dependente vai funcionar (psicológica e fisicamente)?

Fica a questão: " Como funcionar sem a bebida ?". Daí a dificuldade de abandonar o hábito de beber, embora a pessoa perceba as conseqüências negativas em sua vida.

Mas existem Fatores Protetores que podem evitar a continuação do hábito ou as recaídas:

Boas oportunidades de trabalho Boas oportunidades educacionais Recursos da Comunidade: serviços sociais, lugares com o número reduzido de traficantes,

tratamento clínico e psicológico, grupos de auto-ajuda (AA,NA) , etc. Família: amor materno e paterno, relacionamento conjugal positivo, moradia definida, bom

relacionamento.

Nem sempre estes fatores existem simultaneamente. Em alguns casos basta um destes itens para motivar o dependente para tornar-se abstinente.ATENÇÃO: Existem famílias em que ocorre a necessidade de uma pessoa alcoólatra para que ela funcione. Exemplo: "Eu bebo porque você me deixa nervoso.""Mas eu só fico nervosa quando você bebe."A família tem um padrão de comunicação que define comportamentos. Em alguns casos, quando o alcoolista "se cura", alguém pode piorar.

TIPOS DE FAMÍLIA

Esconder AssumirO alcoolismo é visto como um desgosto e a família tende a esconder o alcoolista, tentando ajudá-lo.

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A família não tem controle sobre o beber do alcoólatra, mas este beber acaba afetando a vida da família.Como mudar esta situação:

1. Aprender o que é Alcoolismo (conceito de dependência, tolerância, síndrome de abstinência e recaídas).

2. Entender o funcionamento da família: Qual é o real papel de cada membro ?3. Pedir e procurar ajuda: as conseqüências físicas, sociais e emocionais do alcoolismo são difíceis de

serem suportadas, principalmente quando os vizinhos começam a comentar, alguns familiares a recriminar o apoio dado, contas a pagar, demissões... Nestes momentos de crise é bom contar com um amigo para desabafar, um terapeuta para orientar ou mesmo a procura da religião para confortar o sofrimento.

O alcoolismo não é fraqueza ou falta de moral. Trata-se de uma dependência física e psicológica que controla o comportamento do dependente.

MITOS

Existem falsas noções sobre alcoolismo. É importante sabermos quais são elas para modificarmos nossos pensamentos e/ou atitudes:

1. "Para quem bebia pinga, uma cerveja não faz mal"Álcool é álcool! Uma cerveja grande eqüivale a uma dose de whisky, pinga ou um copo de vinho.

2. "Se eu tenho emprego, não sou alcoólatra "O alcoolismo atinge até mesmo grandes executivos, que conseguem desempenhar suas atividades, mas que não excluí o consumo abusivo. O outro lado da moeda são os cargos pequenos , onde o indivíduo necessita tomar pelo menos uma dose antes de trabalhar para evitar as famosas ressacas ou tremedeiras que acabam por prejudicar seu desempenho.

3. "Mas ele(a) uma boa pessoa!"Ser alcoólatra não é sinônimo de que a pessoa seja um mau caráter. Contudo, quando intoxicada, a pessoa perde a consciência de seus atos, mas não quer dizer que possua uma personalidade má.

4. "Mas nós temos um bom lar"Muitos alcoólatras permanecem com suas famílias por longos anos, mantendo muitas vezes uma família de aparência.

5. "Mas ele(a) não bebe sempre"Beber diariamente não caracteriza o alcoólatra. Uma pessoa que bebe uma dose diária tem um beber social. Se o número de doses for igual ou maior que 21( para homens ) e 14 ( para mulheres ), mesmo que o consumidor beba uma vez por semana, já é um beber abusivo.

6. "Mas ele é tão inteligente que não pode ser um alcoólatra"

Esta é uma fala comum entre os patrões quando começam a desconfiar do consumo de álcool de seu funcionário.Lembre-se: Não há relação entre inteligência e alcoolismo.

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7. "Ele desempenha seu trabalho brilhantemente e raramente falta"Que bom! Este funcionário ainda não deixou que seu consumo afetasse seu trabalho, mas e depois do expediente?

8. "Mas eu nunca o vi beber"Quando pensamos na figura do alcoólatra, a primeira imagem é o estereótipo do consumidor que não sai do bar. Porém, existem muitos alcoólatras que compram sua bebida e a bebem nos lugares mais inesperados.

9. "Todo alcoólatra é um vagabundo ou beberrão"Não pense que o alcoólatra é apenas aquele que fica jogado na sarjeta. Muitos são pessoas respeitáveis, que têm a aparência bem cuidada.

10. "Mas ele(a) veio de uma boa família"Alcoolismo acontece com qualquer pessoa, independente do nível social, econômico ou de status.

11. "Com a internação ele(a) irá se curar"Na maioria das vezes a internação é vista como "Salvadora da Pátria", mas para alguns familiares que já passaram por esta experiência , sabem que a afirmação acima nem sempre é verdadeira.Em alguns casos a internação pode ser eficaz quando o dependente está motivado ou quando ele está muito doente.Pensemos: em um ambiente protegido de problemas , pressão social e bebida, com cuidado 24 horas por dia, tornar-se fácil atingir a abstinência. Quando ocorre o retorno para o seu meio de origem : amigos, problemas, bares, bebidas e cobranças continuam a existir. Por tal o tratamento ambulatorial em alguns casos pode ser mais efetivo.

12. "O alcoolismo só atingem os homens"A realidade é que existe mais homens do que mulheres alcoólatras. Contudo, existem mulheres alcoólatras e por ser considerada uma dependência masculina, é esperado que as mulheres escondam sua dependência por vergonha ou culpa.

COMO A FAMÍLIA ACABA AGINDO

Para amenizar sentimentos ruins ou de pressão social, profissional, escolar e por que não dizer familiar, os parentes acabam atuando de forma a proteger a alcoólatra, isentando-o de seus atos ou diminuindo sua auto-estima. Veja alguns casos:

1. O familiar que presta socorro 24 horas por diaSe o patrão reclama a ausência do funcionário e o familiar dá "desculpas", fica cômodo para o alcoólatra permanecer escondido e protegido. Uma vez assumido um compromisso a responsabilidade é de quem o assumiu, mas vem o pensamento: "Se o patrão o ver desta forma (ressaca), irá demiti-lo".Questão: Com o passar do tempo, havendo a diminuição na qualidade do trabalho e aumentando o número de faltas, o patrão não irá demiti-lo?

2. Policiar intensivamenteO dependente deve ter consciência de que não deve beber e não somente o familiar. Ilusão pensar que você poderá controlar os hábitos do dependente 25 horas por dia, todos os dias.Acontece um desgaste duplo: o ato de fiscalizar gera ansiedade e nervosismo e consequentemente , a ausência de seus próprios compromissos para ter tempo de fiscalizar.Com o familiar preocupando-se pelo dependente, para que o dependente vai se preocupar ?

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3. Perda de controle Os familiares tornam-se tão preocupados em controlar o beber do dependente ou evitar recaídas, que chegam a abandonar suas próprias vidas (lazer, trabalho, estudos...). O beber de forma indireta passa a dominar os pensamentos e ações dos familiares.Lembre-se que esta preocupação tem que ser do dependente e não sua. Por mais que ele esteja despreocupado, você apenas poderá lembrá-lo e ajudá-lo, mas não atuar por ele.

4. Agressão FísicaInfelizmente ocorrem casos de espancamento e atos de violência com alguns familiares, principalmente esposas e filhos. Quando restam os sinais de agressão é comum filhos deixarem de ir à escola ou esposas evitarem sair de casa por vergonha. Indiretamente estas atitudes omitem os atos do alcoólatras.Violência é crime! Não se esconda e procure ajuda! Você sabe que existe a Delegacia da Mulher e o SOS Criança?

5. Os passivosApatia não ajuda!O familiar apático tenta se esconder em seu mundo e não se confronta com o beber e suas conseqüências.

6. Os acusadoresSão aqueles que acreditam que o alcoólatra é o problema da família, tornando responsabilidade do dependente todas as ações dos outros membros da família.Intensifica o rebaixamento da auto-estima- O dependente se sente o pior dos piores, sem saída para mudar seu conceito.

7. Símbolo da perfeiçãoTratam-se de familiares que tentam chamar atenção do alcoólatra através de seu comportamento exemplar, comparando-se a este em todo o momento. Também é comum a comparação entre irmãos ou cônjuges. Tal atitude somente contribui para que o dependente se sinta pequeno, sem valor.

BUSCANDO SOLUÇÕES

A solução ideal seria a "cura do alcoolismo", mas esta solução depende da motivação do dependente e do familiar. Se o dependente não tem esta motivação, a melhor solução para a família seria efetuar algumas modificações nos comportamentos dos familiares, objetivando a interrupção ou pelo menos dificultar, o curso do alcoolismo.

1. Não atuar pelo alcoólatraÉ importante a família quebrar o sistema de proteção, atribuindo a responsabilidade dos problemas e conseqüências do beber ao próprio alcoólatra.

2. Pensar mais em vocêSó podemos ajudar alguém quando estamos bem, caso contrário, como oferecer algo que não temos para dar?O dependente causa um abalo na vida do familiar e este tende a abandonar algumas de suas atividades. Retome-as, cumpra suas responsabilidades e cuide mais de si mesmo. Quando o

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alcoólatra passa a perceber que você não está mais seguindo o ritmo dele, ele começa apensar: "o que está acontecendo?".

3. Adquirir conhecimentoInforme-se : é importante saber alguns conceitos básicos para poder entender e ajudar o alcoólatra. Por exemplo: nos primeiros dias em que o dependente fica sem beber, é comum um hálito alcoólico, que dá a impressão de consumo, denominada "Hálito de Vinagre. A família se desespera, fiscaliza ou cobra, fato este que pode levar o alcoólatra a beber. Se os familiares tem este tipo de informação, a atitude muda.

4. ConversarEvite falar com o dependente apenas assuntos relacionados ao álcool. Procure mantê-lo interessado e também interessar-se sobre outros aspectos da vida. E, lembre-se: o alcoolismo é conseqüência e não causa. Porém existem pessoas que chegam a um grau de dependência tão elevado, que mal restam outros aspectos de vida para conversar. Nestes casos procure estimular ou mesmo apontar este "vazio" na vida do alcoólatra, tentando ajuda-lo a enxergar o que ele pode fazer para modificar seu futuro.

5. RecaídasPrepare-se! Por mais estabilizada que esteja a situação de abstinência, as recaídas são previstas no processo.Tenha em mente que o voltar a beber pode ser passageiro, principalmente se forem tomadas as medidas adequadas.

6. LimitesSeja compreensivo e amigo com firmeza, sabendo definir limites e regras, principalmente sobre sua competência e do dependente.No primeiro momento a reação é de raiva, ódio e explosão! Tente se acalmar e refletir sobre a situação. Não gaste suas energias em falar com uma pessoa intoxicada. Espere os efeitos passarem para haver um diálogo consciente. Neste diálogo, procure colocar o que você espera e até onde você agüenta (seus próprios limites).

7. Aspecto SocialCom a abstinência, perde-se ou ocorre uma diminuição no convívio social com os amigos do bar. Daí vem as frustrações: falta de amigos e falta de bebida.Propiciar atividades de lazer ou de convívio familiar para tentar abrandar estas frustrações são importantes. Atividades físicas acabam sendo as mais comuns , mas também pense em passeios, vídeo, cinema, teatro, leitura, visitas a casa de parentes e amigos, buscar filhos na escola, etc.

8. EVITE: Não dar importância ou ignorar os fatosExpulsar de casaJulgar o dependente como o único culpadoPoliciar intensivamente

9. Procurar ajuda profissionalNão se deixe levar pelo sentimento de fracasso. Os profissionais de saúde existem para ajudar tanto o dependente, como o familiar. Em alguns casos é necessário uma atuação técnica e não apenas familiar.Será que não é uma exigência muito grande a família acreditar que deve dar conta de tudo sozinha?

10. Procurar Recursos da ComunidadeExistem grupos de Auto-Ajuda (AA e NA), religião e palestra...enfim, tudo que o dependente possa sentir como eficaz para ajudá-lo.

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ATENÇÃO: Nem sempre o que é melhor para a família, é melhor para o dependente. O principal envolvido precisa estar motivado.Vale ressaltar que estes recursos podem ser utilizados simultaneamente a um tratamento. Não existe um único detentor do saber ou uma forma única de cura.

FAMÍLIA IDEAL

Este quadro pode tornar-se realidade.O alcoolismo não é um caminho sem volta !Acredite! Você pode ajudar muito para modificar a rota deste caminho.BOA SORTE!!!!

EXISTE UM COMPORTAMENTO TÍPICO DE ALCOOLISTAS?

Não, mas com base em dezenas de depoimentos colhidos pelo Site Alcoolismo.com.br podemos algumas manias, atitudes, síndromes ou situações emergiram com maior frequência:

Obsessão com o copo - O alcoolista raramente o larga. Brinca com ele o tempo todo, mantém o contato físico. "No meu caso", explica um veterano, "o barman pode colocar dez daquelas varetinhas de mixar bebida, e eu jamais abriria mão de fazer girar o gelo do copo com o dedo. Provavelmente o tato é mais uma forma de participar da bebida. Além de beber quero tocá-la."

Sofreguidão ao beber- O alcoolista não bebe com prazer, e sim para que o efeito comece logo. Prefere comer um pouco enquanto bebe, para não diminuir o efeito da bebida. Se comer a oxidação do álcool será maior, sua eliminação da corrente sanguínea, mais rápida e o efeito menor.

Sono instável- Dorme pouco e o sono não é reparador. Comportamento autoritário- Passa a querer as coisas à sua maneira, com impaciência Com o tempo alcoolizado ou não, vai se tornando monossilábico, sem vontade de falar, sobretudo em casa.

Percepção obliterada- Torna-se vulnerável a bajulações; facilmente enganado por sócios ou parceiros de trabalho.

Medo de copo vazio- Numa festa logo que surge uma bandeja, o alcoólatra captura logo seu copo. Passa o resto da noite vigiando os garçons. Para se garantir, frequentemente distribui gorjetas desnecessárias.

Isolamento- Só consegue confraternizar bebendo. Passa a não achar graça em amigos que não bebem. Começa a não gostar de gente.

Negação permanente- O uísque, que passa a guardar no escritório, é "para os clientes." Acredita que ninguém percebe sua dependência da bebida.

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Planejamento obsessivo- Vive de olho no relógio e em estratagemas para não lhe faltar bebida. Quanto tempo falta para a próxima dose? E para o almoço? Memoriza horários de fechamento dos bares que frequenta, conhece as empresas aéreas mais liberais com bebidas, investiga se os donos da casa onde vai jantar servem bebida farta. Seu planejamento do dia é obsessivo.

Roteiro próprio- Os anos de bebida levam o alcoólatra a se afastar de quem pode atrapalhá-lo: o chefe, a mulher, os filhos. A vida passa a ser uma sucessão de "dane-se". Meteu-se em briga de rua? Dane-se. A mulher saiu de casa? Dane-se. Bateu o carro? Dane-se. Soltando as amarras- Enquanto os filhos são pequenos e estão acordados, ainda procura dissimular. Quando adormecem, costuma soltar tudo, pois passa o dia controlando-se no trabalho. É o início da briga conjugal.

Lapsos de memória- Os "apagamentos" em relação ao que fez ou aconteceu, enquanto esteve alcoolizado. É capaz de viajar, seduzir estranhos, discutir temas complexos e não lembrar-se de nada após a bebedeira. Pode acordar no quarto de um hotel de outra cidade, ao lado de quem não conhece, sem saber como e nem como está ali. Fica aterrorizado e tenta recaptular - checa se seu carro está na garagem, se está batido. "É como acordar de uma anestesia e ver um pedaço de seu corpo faltando", define um dos entrevistados.

Impotência- Como já adverti Shakespeare em Macbeth, "o álcool provoca o desejo mas rouba a performance". O homem alcoolizado tem dificuldades em alcançar a ereção ou ejacular. Em alguns casos, a impotência persiste nos períudos de sobriedade, levando o alcoólatra à paranóia conjugal: por toda parte vê indícios de infidelidade da esposa. Começa a chamá-la corriqueiramente de "Vagabunda" e "P...". A taxa de divórcio entre os que bebem é duas vezes maior que a verificada entre os que não bebem.

CAMINHO PARA OUTRAS DROGAS. (fonte: Jornal o Estado de São Paulo - Repórter Ligia Formenti).

O álcool é a porta de entrada, dizem especialistas.

A bebida é geralmente a primeira substância com que o jovem trava contato e seu consumo é estimulado pela sociedade.

Durante muitos anos, o consumo de maconha foi considerado como o primeiro estágio da dependência química. Depois de fumar cigarros preparados com a erva, a pessoa passaria a usar drogas cada vez mais pesadas e em maior quantidade. As recentes pesquisas, porém, descartam essa tese, batizada de Teoria da Escalada. O resultado dos estudos e a própria experiência dos médicos demonstram que o problema começa de outra forma: no consumo exagerado de bebidas alcoólicas.

“Não há dúvida de que a porta de entrada da dependência é o álcool”, garante o chefe do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, professor Arthur Guerra de Andrade. Como a bebida é socialmente aceita, as doses a mais

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raramente são consideradas um problema, mas apenas um deslize passageiro. Esse desprezo é incorreto e perigoso, garantem especialistas. Principalmente quando o exagero ocorre na adolescência.

Pesquisa da professora Sandra Schivoletto, em São Paulo, demonstra que o álcool “é a primeira droga usada por adolescentes”. Pelo levantamento, o contato com a bebida ocorre, em média, aos 11 anos. O cigarro vem depois, aos 12 anos. A média de idade para o primeiro uso de maconha é de 13 anos e o da cocaína, 14 anos. Além de o contato com a bebida ser mais precoce, a relação que o adolescente estabelece com ela também causa preocupação. Grande número de jovens vincula o consumo de bebidas ao lazer. “Associar o álcool ao amadurecimento e ao prazer são atitudes que acabam levando ao abuso”, afirma Sandra.

Outro aspecto fundamental é a facilidade de acesso à bebida. Embora a sua venda seja proibida para menores de 18 anos, em todos os pontos do País existem locais onde jovens compram e ingerem álcool livremente. “A cultura de que os encontros têm de ser regados com bebidas alcoólicas aumentou de forma considerável nos últimos anos e os jovens, para se sentir integrados, acabam adotando esse mesmo hábito”, diz Andrade.

Os especialistas advertem que os perigos são muitos, principalmente quando se leva em conta também o metabolismo de pessoas mais jovens. “Os efeitos são potencializados”, garante Sandra. Para os médicos, nem todas as pessoas que durante um período abusaram da bebida terão problemas ao longo da vida. Mas o risco é alto.

“Os estudos revelam que, por ser a adolescência uma fase de experimentação, fica mais fácil o contato com outras drogas”, garante Sandra. Andrade concorda: “Pessoas que desenvolvem dependência apresentam algumas características comuns, que vão de fatores biológicos a problemas emocionais.” E conclui: “E é por essa razão que os cuidados com o álcool têm de ser redobrados na adolescência.”

Do álcool ao pó – A história de Aloísio, de 20 anos, comprova o alerta feito por especialistas. O processo de dependência química começou aos 13 anos, quando ele passou a beber de forma indiscriminada. Pouco tempo depois, o garoto experimentou maconha. “Não gostei da experiência e continuei apenas bebendo demais”, relata. Aos 14 anos, começou a usar cocaína.

A mãe de Aloísio somente percebeu o problema um ano depois. “Eu me envolvi em uma briga e levei um tiro que me perfurou o pulmão”, conta o jovem. “Minha mãe soube apenas quando chegou ao hospital e conversou com os médicos.” Depois da recuperação no hospital, Aloísio foi internado em uma clínica para dependentes, na primeira primeira de uma série de tentativas para livrá-lo da dependência.

Entre o período “limpo” e os de recaída, uma série de problemas apareceu. Aloísio foi expulso de várias escolas e parou de estudar e de conversar com amigos e familiares. Internado novamente em uma clínica, espera agora escapar de uma vez das drogas. “Até pouco tempo atrás, não botava fé nos tratamentos, mas desta vez acho que vai dar certo”, diz.

Marketing para jovens – A professora do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP Beatriz Carlini Cotrim lembra que o consumo de álcool aumentou de forma significativa. “O marketing hoje é voltado para conquistar um público mais jovem”, afirma. Para Beatriz, o ideal seria que limites mais

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rígidos fossem fixados para impedir o acesso dos adolescentes ao álcool. “É claro que a medida sozinha não basta, mas é preciso começar de algum ponto”, explica.

A especialista acha que a geração atual de pais reluta muito em impor proibições e limites aos filhos: “A sociedade ficou traumatizada com a ditadura e hoje tem dificuldades para estabelecer certas normas.” Beatriz, contudo, entende que os pais deveriam ser mais severos com relação à bebida e mais rigorosos na fiscalização do consumo de álcool. “Álcool não é iogurte de morango, pois sua ingestão traz vários riscos e, por essa razão, ele não pode ser usado de forma irresponsável.”

As críticas da professora têm uma justificativa: em pesquisa que fez com Alice Chasin, sobre as mortes violentas ocorridas na região metropolitana de São Paulo em 1994, constatou que 50% dos atropelados, 60% dos afogados e 50% das vítimas de homicídio haviam ingerido altas doses de álcool.

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TESTE

01. Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?Muitos de nós "largamos a bebida" muitas vezes antes de procurar ajuda. Fizemos sérias promessas aos nossos familiares e empregadores. Fizemos juramentos solenes. Nada funcionou. Agora não lutamos mais. Não prometemos nada a ninguém, nem a nós mesmos. Simplesmente esforçamo-nos para não tomar o primeiro gole hoje. Mantemo-nos sóbrios um dia de cada vez.Sim( ) Não( ) 02. Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?Muitas pessoas tentam ajudar bebedores - problema. Porém, a maioria dos alcoólicos ressente-se com os "bons conselhos" que lhes dão. (não impomos esse tipo de conselho a ninguém. Mas, se solicitados, contaríamos nossa experiência e daríamos algumas sugestões práticas sobre como viver sem o álcool.)Sim( ) Não( ) 03. Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcoólica por outra?Sempre procurávamos uma fórmula "salvadora" de beber. Passamos das bebidas destiladas para o vinho e a cerveja. Ou confiamos na água para "diluir" a bebida. Ou, então, tomamos nossos goles sem misturá-los. Tentamos ainda beber somente em determinadas horas. Porém, seja qual for a fórmula adotada, invariavelmente acabamos embriagados.Sim( ) Não( ) 04. Tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?A maioria de nós está convencida (por experiência própria) de que a resposta a esta pergunta fornece uma chave quase infalível sobre se uma pessoa está ou não a caminho do alcoolismo, ou já se encontra no limite da "normalidade" no beber.Sim( ) Não( )05. Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?É óbvio que milhões de pessoas podem beber (às vezes muito) em seus contatos sociais sem causar danos sérios a si mesmos, ou a outros. Você parou alguma vez para perguntar-se por que, no seu caso, o álcool é, tão freqüentemente, um convite ao desastre?Sim( ) Não( ) 06. Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?Todos os fatos médicos conhecidos indicam que o alcoolismo é uma doença progressiva. Uma vez que a pessoa perde o controle da bebida, o problema torna-se pior, nunca desaparece. O alcoólico só tem, no fim, duas alternativas: (1) beber até morrer ou ser internado num manicômio, ou (2) afastar-se do álcool em todas as suas formas. A escolha é simples.Sim( ) Não( ) 07. A bebida já criou problemas no seu lar?Muitos de nós dizíamos que bebíamos por causa das situações desagradáveis no lar. Raramente nos ocorria que problemas deste tipo são agravados, em vez de resolvidos, pelo nosso descontrole no beber.Sim( ) Não( ) 08. Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?Quando tínhamos de participar de reuniões deste tipo, ou nos "fortificávamos" antes de chegar, ou conseguíamos geralmente ir além da parte que nos cabia. E, freqüentemente, continuávamos a beber depois.

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Sim( ) Não( )09. Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e pára quando quer?Iludir a si mesmo parece ser próprio do bebedor problema. A maioria de nós que hoje nos encontramos., tentou parar de beber repetidas vezes sem ajuda de fora. Mas não conseguimos.Sim( ) Não( ) 10. Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?Quando bebíamos e perdíamos dias de trabalho na fábrica ou no escritório, freqüentemente procurávamos justificar nossa "doença". Apelamos para vários males para desculpar nossas ausências. Na verdade, enganávamos somente a nós mesmos.Sim( ) Não( ) 11. Já experimentou alguma vez ‘apagamento’ durante uma bebedeira?Os chamados "apagamentos" (em que continuamos funcionando sem contudo poder lembrar mais tarde do que aconteceu) parecem ser um denominador comum nos casos de muitos de nós que hoje admitimos ser alcoólicos. Agora sabemos muito bem quais os problemas que tivemos nesse estado "apagado" e irresponsável.Sim( ) Não( ) 12. Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?em si, não podemos resolver todos os seus problemas. No que se refere, porém, ao alcoolismo, podemos mostrar-lhe como viver sem os "apagamentos", as ressacas, o remorso ou o desconsolo que acompanham as bebedeiras desenfreadas. Uma vez alcoólico, sempre alcoólico. Portanto, evitamos o "primeiro gole". Quando se faz isto, a vida se torna mais simples, mais promissora e muitíssimo mais feliz.Sim( ) Não( ) Qual foi a contagem?Respondeu SIM quatro vezes ou mais? Em caso positivo, é provável que você tenha um problema sério de bebida, ou poderá tê-lo no futuro.Por que dizemos isto? Somente porque a experiência de milhares de alcoólicos recuperados nos ensinou algumas verdades básicas a respeito dos sintomas do alcoolismo - e de nós mesmos.Você é a única pessoa que poderá dizer, com certeza, se deve ou não procurar um grupo de ajuda ou um médico. Se a resposta for SIM, teremos satisfação em mostrar-lhe como conseguimos parar de beber. Se ainda não puder admitir que você tem um problema de bebida, não faz mal. Apenas sugerimos que você encare sempre a questão com mentalidade aberta. Se necessitar de mais informações consulte nosso site. www.alcoolismo.com.br

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