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2ª Promotoria de Justiça de Minaçu-Goiás EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE MINAÇU/GO " Art. 156 - A educação, direito de todos, dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, com vistas ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." ( Constituição do Estado de Goiás) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, através de seu Órgão de Execução, Promotor de Justiça infra-assinado, com atribuições na Curadoria da Infância e da Juventude (artigo 201, V, Lei n. 8.069/90), vem, respeitosamente, perante esse douto Juízo, com fundamento nos arts. 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal; art. 25, inciso IV, letra a, da Lei 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), combinado com o art. 1°, inciso II, art. 5°, caput, da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), arts. 4º, 53, 208, I e 212, da Lei Federal n° 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, aforar a presente: AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA PROTEÇÃO DE INTERESSE TRANSINDIVIDUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES, COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA End.: Avenida Pernambuco, nº 60, Edifício do Fórum, Jardim Primavera, Minaçu/GO CEP 76.450-000 Fone/Fax: 62 3379-1741 1

alegações finais · Web viewa cumprir todas as obrigações acima alinhavadas, procedendo este juízo nos termos do art. 2º da Lei n. 8.437/92; b) que a presente ação civil pública

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2ª Promotoria de Justiça de Minaçu-Goiás

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE MINAÇU/GO

" Art. 156 - A educação, direito de todos, dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, com vistas ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." ( Constituição do Estado de Goiás)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, através de seu Órgão de Execução, Promotor de Justiça infra-assinado, com atribuições na Curadoria da Infância e da Juventude (artigo 201, V, Lei n. 8.069/90), vem, respeitosamente, perante esse douto Juízo, com fundamento nos arts. 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal; art. 25, inciso IV, letra a, da Lei 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), combinado com o art. 1°, inciso II, art. 5°, caput, da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), arts. 4º, 53, 208, I e 212, da Lei Federal n° 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, aforar a presente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA PROTEÇÃO DE INTERESSE TRANSINDIVIDUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES, COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

em face do: MUNICÍPIO DE MINAÇU, pessoa jurídica de direito público interno, representado pelo Prefeito Municipal, Sr. CÍCERO ROMÃO RODRIGUES, inscrito no RG n. 249561 SSP/GO, e CPF n. 062.450.481-68, podendo ser citado na Av. Amazonas, n. 295, Centro, Minaçu-GO, SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, representada na pessoa da Profª. Sra. SÔNIA QUINTINO DA ROCHA RIBEIRO, Secretária Municipal de Educação, podendo ser localizada na Av. Amazonas, n. 295, Centro, Minaçu-GO, em razão dos fatos e fundamentos abaixo delineados:

End.: Avenida Pernambuco, nº 60, Edifício do Fórum, Jardim Primavera, Minaçu/GO CEP 76.450-000 Fone/Fax: 62 3379-1741

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1) Dos fatos:

No último dia 03 de março, chegou ao conhecimento desta Curadoria através de denúncia anônima, informações sobre a situação caótica em que se encontram as ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, ambas localizadas no Município de Minaçu, respectivamente, na Rua 3, Centro e Rua 20, Vila União.

De acordo com a denúncia oferecida neste Órgão Ministerial, a preocupação com a estrutura do edifício da ESCOLA MUNICIPAL DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA atingiu seu ápice após ocorrer o desabamento do forro da sala de vídeo da referida escola, não atingindo por pouco as crianças que estavam no local.

Ademais, de acordo com matéria publicada no JORNAL FOLHA DO NORTE, edição 43, ano2, de 28 de fevereiro a 14 de março de 2011, a ESCOLA MUNICIPAL MAURA COELHO está em péssimas condições de conservação, expondo a risco a saúde e a vida dos alunos lá matriculados. Resta salientar, ainda, que além dos riscos à saúde e à vida dos alunos, as deficiências do prédio escolar comprometem, com gravidade, a qualidade do ensino oferecido.

As denúncias narradas pela população minaçuense demonstram o total descaso do Poder Público com a cidadania de Minaçu, revelando que o Município é inerte na execução de medidas tendentes a solucionar os problemas existentes nas unidades escolares e proporcionar aos seus alunos o mínimo necessário para que tenham um ensino de qualidade.

Diante das informações obtidas preliminarmente, o Ministério Público requisitou ao Corpo de Bombeiros a realização de uma INSPEÇÃO nas unidades escolares para averiguar o teor das denúncias, bem como a elaboraração de um laudo completo para conhecer a realidade dessas Escolas Municipais.

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No dia 18 de março do corrente ano, o Corpo de Bombeiros elaborou um relatório circunstanciado, da vistoria realizada nas ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, concluindo que:

“Em ambas unidades de ensino foram observados problemas relativos a infiltrações no telhado o que acarretam problemas nas estruturas de madeiramento, fiação elétrica e forro.

Especificamente observamos o seguinte:I. Escola Municipal Dona Izaura:Goteiras com visível presença de umidade e comprometimento do forro de

gesso nas salas 01, 03, 04 e 06.Queda de parte do forro de gesso da sala de video e sala de informática.Muro de sustentação do portão de entrada da escola apresentando

rachaduras e instabilidade estrutural com risco de queda, não oferecendo segurança a docentes, discentes, pais e funcionários da escola.

Portão de entrada apresentando “pontas” de material perfuro-cortante.II. Escola Municipal Maura Coelho Barros:A escola 04 pavilhões que abrangem salas de aula, informática, cozinha,

dispensa e salas de coordenação, secretaria, direção e sala dos professores.Por se tratar de uma estrutura antiga (os funcionários presentes não

souberam precisar o ano de criação da escola), necessita de uma reforma geral (a última reforma é de meados de 2006 e não abrangeu as estruturas, segundo

informações de funcionários da secretaria).Em todos os pavilhões verificou-se manchas no forro de madeira que

discriminam a presença de intensa umidade provocada pelas infiltrações no telhado, inclusive, observado pelo destelhamento em uma das salas, conforme fotos em anexo.

O madeiramento do telhado está comprometido não só pela forte umidade ao qual está exposto, mas também pela ação de cupins.

A fiação elétrica da escola também necessita de reforma, visto que, a mesma encontra-se sob o risco de contato com a umidade proveniente das infiltrações no telhado e as fiações a mostra não demonstraram estar de acordo com as normas vigentes.

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Não foi observada a presença de nenhum extintor de incêndio na escola.CONCLUSÃO:Tendo em vista, a situação apresentada, bem como, a necessidade em se

evitar a evolução gradual do quadro de anormalidade das edificações.Considerando a importância do estabelecimento que garante o direito

constitucional de acesso a educação.Na tentativa de se evitar a interdição das escolas por parte da

Defesa Civil, sugere-se a tomada de medidas emergenciais no sentido de evitar acidentes que possam ferir a integridade e a incolumidade dos alunos, professores e demais funcionários.

No entanto, necessário se faz, a programação imediata de uma reforma ampla que atenda aos itens aqui expostos afim de evitar que medidas emergenciais tomadas não surtam o efeito e continuem

trazendo riscos aos ocupantes das edificações”. (grifo nosso)

No extrato do boletim de ocorrência lavrado pelo Corpo de Bombeiros, está evidenciado o resumo da ocorrência realizada na ESCOLA MUNICIPAL MAURA COELHO:

“A EDIFICAÇÃO VISTORIADA ENCONTRA-SE SERIAMENTE COMPROMETIDA, APRESENTANDO DESTELHAMENTO EM ALGUNS PAVILHÕES, ASSIM COMO GOTEIRAS EM TODO O PRÉDIO. O MADEIRAMENTO TAMBÉM ESTÁ COMPROMETIDO DEVIDO ÁS INFILTRAÇÕES E AÇÃO DE CUPINS. NO PRÉDIO HÁ VIDRAÇAS QUEBRADAS E OBJETOS PERFURANTES NAS JANELAS. NA EDIFICAÇÃO NÃO HÁ EXTINTORES DE INCÊNDIO E A INSTALAÇÃO ELÉTRICA DA ESCOLA ESTÁ TODA COMPROMETIDA. SENDO ASSIM, O SERVIÇO DE MANUTENÇÃO É DE EXTREMA URGÊNCIA A FIM DE EVITAR MAIORES DANOS AOS CORPOS DISCENTE E DOCENTE DA ESCOLA E A POSTERIOR INTERDIÇÃO DO PRÉDIO, JÁ QUE 1046 PESSOAS FREQUENTAM A UNIDADE ESCOLAR TODOS OS DIAS (FUNCIONÁRIOS E ALUNOS)”. (GRIFO NOSSO)

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No mesmo sentido, o resumo da ocorrência lavrado pelo Corpo de Bombeiros sobre a atuação situação da ESCOLA MUNICIPAL DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA:

“ATENDENDO OFÍCIO DO MP FOI REALIZADA NA ESCOLA DONA IZAURA SENDO CONSTATADO O SEGUINTE: SALAS 01, 03, 04, 06, APRESENTAM GOTEIRAS QUE COLOCAM EM RISCO O FORRO DE GESSO, SALA DE INFORMÁTICA E DE VÍDEO HOUVE QUEDA DE PARTE DO GESSO. O MURO DA ENTRADA ONDE DA ACESSO A ESCOLA APRESENTA RACHADURAS E FERRAGENS AMOSTRA CAUSANDO INSTABILIDADE NA ESTRUTURA DO MESMO, EM VIRTUDE DOS RISCOS ASSOCIADOS, (QUEDA DO FORRO E DO MURO), SUGIRO ENCAMINHAMENTO DESTE RELATÓRIO

À PREFEITURA, PARA IMEDIATA SOLUÇÃO, AFIM DE EVITAR A INTERDIÇÃO DA ESCOLA. PRAZO DE 07 DIAS PARA CUMPRIMENTO”. (GRIFO NOSSO)

Após essas graves conclusões do Corpo de Bombeiros, o Ministério Público oficiou a Secretaria de Educação requisitando informações sobre os relatórios apresentados nesta Curadoria revelando a negligência da Administração Pública na conservação dos prédios escolares.

A Secretária Municipal de Educação, Sra. Sônia Quintino da Rocha Ribeiro, informou através do ofício n. 062/2011, que:

“EM RESPOSTA AOS OFÍCIOS DA 2 PJ N. 63/2011 E 147/2011, NOTIFICANDO ESTA PASTA DAS OCORRÊNCIAS REALIZADAS PELA DEFESA CIVIL NAS ESCOLAS MUNICIPAL MAURA COELHO BARROS E

DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA, INFORMAMOS O SEGUINTE.JÁ FORAM TOMADAS AS PROVIDÊNCIAS, OS TÉCNICOS DA ÁREA

FORAM INFORMADOS DO OCORRIDO E ESTÃO FAZENDO O LEVANTAMENTO DAS NECESSIDADES PRIORITÁRIAS.

PLANEJAMOS PARA JULHO A REALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS TENDO EM VISTA NÃO TERMOS LUGAR ADEQUADO PARA ACOMODAR AS CRIANÇAS ENQUANTO SERÃO FEITAS AS ADEQUAÇÕES.

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PARA TANTO, ESTAMOS CERTOS DE QUE EM BREVE AS EDIFICAÇÕES ESTRUTURAIS ESTARÃO DENTRO DOS PADRÕES LEGAIS DE FUNCIONAMENTO”. (GRIFO NOSSO)

Na matéria publicada pelo jornal Folha do Norte, constou os seguintes dizeres:

“DIANTE DA SITUAÇÃO DA ESCOLA MUNICIPAL MAURA COELHO DE BARROS, A SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO, SÔNIA QUINTINO PEDIU UM POUCO DE PACIÊNCIA AOS ESTUDANTES, POIS SEGUNDO ELA, O INVESTIMENTO SÓ PARA REFORMAR É MUITO ALTO, EM TORNO DE R$ 800 MIL E O PREFEITO CÍCERO ROMÃO NÃO QUER QUE FAÇA REMENDOS. A SECRETÁRIA DISSE AINDA QUE ESPERA REALIZAR O SONHO DE REFORMAR A ESCOLA AINDA ESSE ANO. (...)”.

Excelência, veja a discrepância das informações: De um lado, pais e alunos desesperados com a situação caótica das ESCOLAS no município de Minaçu. Denúncias narrando o descaso do Poder Público e o risco à intergridade física dos alunos e professores que convivem diariamente com essa triste realidade. O Ministério Público e o Corpo de Bombeiros alertando a Municipalidade dos graves e evidentes riscos que a falta de estrutura de um prédio escolar pode trazer para qualquer cidadão que encontra-se no interior de uma unidade de ensino como estas.

De outro lado, a Secretária Municipal de Educação, que provavelmente não tem filhos estudando nessas DUAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO, solicitando calma aos alunos e informando ao Ministério Público que em JULHO os serviços de reforma serão realizados. É mais uma demonstração de despreparo de nossos administradores para gerir a coisa pública.

Sem embargo da grave situação em que se encontra as ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, o Município preferiu trilhar de forma dolosa, livre e consciente, a senda da omissão, conduta que, na prática, consiste em anulação ao direito à educação, porquanto

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milhares de alunos (cidadãos) não terão acesso ao sistema público e gratuito de educação, porque as DUAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO não oferecem condições mínimas de segurança aos alunos e professores.

A írrita omissão estatal, patrocinada pela inércia do Excutivo Municipal, que virou as costas para os estudantes de Minaçu, redunda na negativa de prestação do serviço público de educação, contrariando as regras e princípios da Ordem Jurídica, frustrando a força normativa da Constituição.

Diante da gravidade das informações, o Ministério Público, através de seu representante legal, realizou VISITAS nas DUAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO.

A primeira Instituição de Ensino a ser visitada foi a ESCOLA MUNICIPAL DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA, visualizando-se que referida Instituição necessita de medidas URGENTES para se evitar qualquer dano à integridade das pessoas que ali frequentam.

Através de requisição Ministerial, esta Curadoria teve acesso a inúmeros ofícios encaminhados pela direção da escola ao Município pleiteando diversas medidas para solucionar sérias pendências naquele ambiente.

O primeiro OFÍCIO – n. 11/2009 – elaborado em 12 de março de 2009, denota que a edificação não está adequada para receber uma Instituição de Ensino, não parecendo em nada, com uma escola. Informações dão conta de que a edificação servia antigamente como moradia de religiosas católicas, ou seja, o local foi improvisado para receber uma escola.

Tanto é verdade que, nessa mesma data, a direção de ensino ainda solicitou a construção de uma sala de aula, para o desenvolver o ensino dos alunos, denotando que o prédio não está apto para abrigar uma unidade escolar.

Em 21 de maio de 2010, através do OFÍCIO n. 010/2010, a direção da escola relaciona alguns serviços que deveriam ser realizados naquele ambiente:

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“- construção da caixa do hidrômetro; - construção de um balcão para atendimento na Secretaria da

Escola; - calçamento ao redor da Unidade Escolar e - troca do portão central da escola, pois o mesmo é provisório,

está em más condições de uso e oferece risco de acidentes às crianças”.

No dia 22 de fevereiro de 2011, RELATÓRIO da Escola Municipal informa sobre o ocorrido na queda do forro de gesso:

“No dia 22/02/2011, às dez horas, nesta Unidade Escolar, encontrava a turma do 2º Ano “B” matutino, na sala de vídeo, pois havia reunião de pais para esta mesma turma, aconteceu à queda do forro de gesso, onde machucou superficialmente a funcionária Maristela Martins

de Oliveira – auxiliar de coordenação. De imediato pedimos a presença do Engenheiro Virgílio Amorim da Prefeitura Municipal de Minaçu-Goiás.

Onde o mesmo averiguou o forro de gesso em questão, identificando que o forro está colado na parede, ou seja, a placa de gesso está fixa na parede e

qualquer tipo de vibração de maior/menor intensidade refletirá no forro, em forma de trincas ou desplacamento do mesmo. Verificou-se também

a existência de vários pontos de goteiras na maioria das salas, que indiretamente influencia no colapso do forro. É recomendado a utilização de tabicas no forro a ser construído, para evitar as trincas provenientes das vibrações, bem como, fazer as correções das goteiras”.

E as solicitações da Direção de Ensino continuaram durante todo o ano de 2010, conforme demonstra o OFÍCIO n. 002/2010.

Em 2011 a situação continua a mesma. Além das graves conclusões apuradas pelo Corpo de Bombeiros, os OFÍCIOS – n. 001/2011 e 005/2011 –, dão conta de que a escola necessita de reparos URGENTES, não podendo esperar até JULHO para iniciar as obras indispensáveis para o bom andamento escolar e para a segurança dos cidadãos.

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Para corroborar as informações aqui levantadas, o Ministério Público

embasa a presente ação com inúmeras imagens fotográficas que foram tiradas durante a visita do “Parquet” na ESCOLA MUNICIPAL DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA. As imagens confirmam as denúncias apresentadas nesta Curadoria, revelando o total descaso do Poder Público com a educação no Município de Minaçu.

Como se vê, a direção da escola já encaminhara vários ofícios ao Gestor Municipal, sem contar as inúmeras reivindicações verbais, solicitando providências e nada foi feito até agora.

ALÉM DISSO, CONSOANTE RELATO, OS PROBLEMAS ESTRUTURAIS ABRANGEM A REDE DE ESGOTO PROVENIENTE DA FOSSA QUE SE ACUMULA NO PÁTIO DA ESCOLA, CAUSANDO O INCÔMODO PELO ODOR, O TELHADO É INCAPAZ DE CONTER AS ÁGUAS DAS CHUVAS, PROVOCANDO GOTEIRAS DENTRO DAS SALAS DE AULA, O PISO, DE CIMENTO, APRESENTA VÁRIOS BURACOS, A ILUMINAÇÃO É DEFICIENTE ETC.

Em visita à ESCOLA MUNICIPAL MAURA COELHO, o Ministério Público encontrou uma situação ainda mais alarmante. Como se disse anteriormente, na escola estudam e trabalham mais de 1000 cidadãos, um número considerável de pessoas expostas a risco iminente.

As imagens fotográficas registradas pelo Ministério Público demonstram que a escola ESTÁ ABANDONADA, EM PÉSSIMO ESTADO DE CONSERVAÇÃO, COM PROBLEMAS NA PARTE ELÉTRICA, HIDRÁULICA, PISO E TELHADO, NECESSITANDO DE REFORMA URGENTE.

Em OFÍCIO – n. 07/2011 – encaminhado pela Direção da Escola para o Prefeito da Cidade de Minaçu, evidencia-se claramente a situação caótica em que se encontra a unidade de ensino:

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“RECEBEMOS MUITAS RECLAMAÇÕES DOS PAIS E DOS ALUNOS, PRINCIPALMENTE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, INCLUSIVE, A VISITA DE UM REPÓRTER QUE SE DIZ PREOCUPADO COM AS CONDIÇÕES FÍSICAS DA ESCOLA, CONFORME NOTÍCIA VEICULADA EM SEU JORNAL HÁ ALGUNS DIAS ATRÁS. SIRVO-ME DO PRESENTE PARA INFORMÁ-LO OS DIVERSOS PROBLEMAS NO PRÉDIO E NO MOBILIÁRIO, PRINCIPALMENTE DAS SALAS DE AULA, E DAS PRECÁRIAS CONDIÇÕES DO ESPAÇO FÍSICO DESTA ESCOLA.

AS CARTEIRAS ESTÃO SUCATEADAS E NECESSITAM COM URGÊNCIA DE REPOSIÇÃO. O TELHADO PRECISA DE REFORMA COM URGÊNCIA, POIS QUANDO CHOVE AS DIVERSAS GOTEIRAS IMPOSSBILITAM OS PROFESSORES E ALUNOS DE PERMANECEREM EM ALGUMAS SALAS; HÁ GRANDE RISCO DO FORRO DE ALGUMAS SALAS DESABAR, POIS ESTÃO COMIDOS POR CUPINS; OU ENCHARCADAS PELA ÁGUA DA CHUVA; AS PORTAS NÃO FECHAM E NÃO POSSUEM FECHADURAS; NÃO EXISTEM VIDROS EM ALGUMAS JANELAS; AS PAREDES ESTÃO SUJAS, COM BURACOS E HÁ MUITOS ANOS NÃO RECEBEM UMA PINTURA; A CANTINA ESTÁ COM UMA PÉSSIMA APARÊNCIA, O PISO ESTÁ DESGASTADO E OS AZULEJOS DA PAREDE ESTÃO MANCHADOS COMO SE ESTIVESSEM MOFADOS; O DEPÓSITO DOS ALIMENTOS ESTÁ COM A DIVISÓRIA COMIDA POR CUPINS; A QUADRA DA ESCOLA NECESSITA DE REFORMA E ILUMINAÇÃO PARA SER UTILIZADA PELOS ALUNOS DO TURNO DA NOITE; OS BANHEIROS DOS ALUNOS E DOS PROFESSORES NECESSITAM DE REPOSIÇÃO DE PISOS, AZULEJOS, PORTAS E VASOS SANITÁRIOS.

AS MANUTENÇÕES PERIÓDICAS SÃO FEITAS REGULARMENTE PELAS SECRETARIAS RESPONSÁVEIS, NO ENTANTO, SÃO APENAS PALIATIVAS DEVIDO À PRECARIEDADE DAS INSTALAÇÕES.

DIANTE DOS FATOS, SOLICITO EM CARÁTER DE MÁXIMA URGÊNCIA A COMPRA DE 400 JOGOS DE MESINHA E CADEIRA (CARTEIRAS PARA ALUNOS), 16 MESAS E CADEIRAS PARA PROFESSORES. UMA REFORMA GERAL NESTA UNIDADE DE ENSINO E JUNTO DA REFORMA A COBERTURA DE PARTE DO PÁTIO EXTERNO DA ESCOLA, POIS QUANDO CHOVE NÃO PODEMOS DAR RECREIO. (...)”.

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O Laudo do Corpo de Bombeiros e o OFÍCIO acima descrito são auto explicativos, dispensando maiores comentários sobre a calamidade em que se encontra a ESCOLA MUNICIPAL MAURA COELHO. As fotos registradas por este Órgão Ministerial apenas corroboram as informações prestadas.

No tocante ao ofício – n. 62/2011 – da Secretaria Municipal de Educação sobre as providências que serão adotadas para solucionar este grave e evidente problema, visualiza-se que as respostas são evasivas e revelam, senão descaso com o processo educacional, insensibilidade para com os alunos, que são submetidos a condições indignas de estudo.

Ora, nos parece que o Poder Público Municipal se esquece que se tratando do direito à educação de crianças e adolescentes, tem-se a incidência do princípio da prioridade absoluta (art. 227, caput, da Constituição Federal). Então, a destinação de recursos para o atendimento desse direito deve ter prioridade, não compatível com a letargia do Município em providenciar a reforma imediata e completa das unidades escolares.

DESSES RELATÓRIOS, OFÍCIOS, SOLICITAÇÕES E DENÚNCIAS CONCLUI-SE O SEGUINTE: O PROCESSO DE EDUCAÇÃO/APRENDIZAGEM DOS ALUNOS MATRICULADOS NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO ESTÁ SERIAMENTE COMPROMETIDO.

NÃO BASTA ASSEGURAR AO ALUNO O DIREITO À MATRÍCULA EM ESCOLA PÚBLICA E GRATUITA. MISTER QUE AO CORPO DISCENTE SEJA OFERTADO ENSINO DE QUALIDADE. PARA ISSO, IMPRESCINDÍVEL QUE O PRÉDIO ESCOLAR SEJA ADEQUADO AO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES PEDAGÓGICAS. DO CONTRÁRIO, FINGE-SE QUE ENSINA, FINGE-SE QUE APRENDE!

COMO ASSEGURAR A EFETIVIDADE DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE MATERIAL, SE OS ALUNOS ORIUNDOS DA REDE PÚBLICA SÃO SUBMETIDOS A ESTUDAR EM ESCOLA PÚBLICA CUJO PRÉDIO É INSALUBRE? OS GESTORES DO PROCESSO EDUCACIONAL (CHEFE DO

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PODER EXECUTIVO, SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO, ETC.) MATRICULARIAM SEUS FILHOS NESSAS ESCOLAS MUNICIPAIS? EVIDENTEMENTE, NÃO.

In casu, o cerne da questão cinge-se a má estrutura das ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, sob o argumento evasivo de que o Município não possui recursos suficientes para proceder às reformas nas Escolas Municipais na cidade de Minaçu. O discurso é ultrapassado e fantasioso!

É fato público e notório o abandono por que passam as escolas deste Município, principalmente as ESCOLAS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO. Os Gestores Públicos se esquecem que o ensino fundamental é direito subjetivo de todos e obrigação do poder público, não encontrando limite de aplicação de receitas.

O sistema de custeio da educação pública básica, introduzido pela Lei 11.494/2007, que criou o FUNDEB, tem como objetivo promover a redução de desigualdades educacionais entre Estados, Municípios de diferentes regiões do país, através da transferência eqüitativa de recursos, tomando-se por base um valor nacional por aluno matriculado, fixado em censo realizado no ano anterior. O que nem de longe desobriga Estados e Municípios a investirem outros recursos, provenientes de outras fontes de custeio, para cumprirem a sua tarefa constitucional de oferecer ensino fundamental de qualidade a seus alunos. Afinal de contas, a Constituição da República fixou limite MÍNIMO de investimento no ensino fundamental, deixando aberta a possibilidade de aplicação de outros recursos, diversos daqueles já legalmente comprometidos.

A Constituição Federal e as leis apregoam a doutrina da proteção integral, contudo, o Município de Minaçu, com sua conduta omissiva, viola o direito social à educação, o que caracteriza lesão a interesses difusos, autorizando, por conseguinte, a defesa coletiva pelo Ministério Público, em benefício da cidadania de Minaçu.

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2) Do direito:

2.1) Da legitimidade do Ministério Público:

Estabelece a Constituição Federal de 1988, competir ao Ministério Público a defesa de diversos direitos e interesses, dentre os quais os sociais e individuais indisponíveis.

Art. 127 - O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

A legitimidade do Ministério Público para promover ação civil pública em defesa de interesses coletivos é indeclinável, nos exatos termos dos dispositivos localizados nos artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal.

Dentre esses interesses coletivos, é fácil se localizar o direito à saúde e à educação, para aqueles que trabalham e estudam naquelas escolas, por força do preceito contido no art. 196 e ss e art. 205 e ss, da Magna Carta Política de 1988.

O Código de Defesa do Consumidor, Lei n° 8.078/90, atribui ao Ministério Público a defesa coletiva de interesses ou direitos coletivos transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas com a parte contrária por uma relação jurídica base (art. 82, inciso I, c/c o art. 81, parágrafo único, inciso II, CDC).

Aqui se vê com facilidade que o bem tutelado, no presente caso, é de natureza transindividual e indivisível inerente a uma classe de pessoas, posto que se trata de direito coletivo pertencente aos estudantes e trabalhadores das ESCOLAS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, por conseguinte, ligados ao Município por uma relação jurídica base, existente a partir do ato da matrícula ou vínculo laboral, já existindo daí o direito de terem um local de trabalho seguro, limpo e sadio, devendo a educação dispensada ser de qualidade.

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Para corroborar esse entendimento trazemos as palavras da doutrina sobre o assunto, como segue expressis verbis:

“[5] INTERESSES OU DIREITOS “COLETIVOS” – Os interesses ou direitos “coletivos” foram conceituados como “os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica - base (art. 81, parágrafo único, n° II). Essa relação jurídica-base é a preexistente à lesão ou ameaça do interesse do grupo, categoria ou classe de pessoas. Não a relação jurídica nascida própria lesão ou da ameaça de lesão. Os interesses ou direitos dos contribuintes, por exemplo, do imposto de renda, constituem um bom exemplo. Entre o fisco e os contribuintes já existe uma relação jurídica-base, de modo, à adoção de alguma medida ilegal ou abusiva, será perfeitamente factível a determinação das pessoas atingidas pela medida. Não se pode confundir essa relação jurídica-base preexistente com a originária da lesão ou ameaça de lesão. (...)” (In Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado / Ada Pellegrini Grinover ... [eT al] – 4ª ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitaria; 1995, págs. 503/504 – grifos nossos).

Verifica-se, portanto, que os interesses transindividuais se conhecem não pela visualização da pretensão de cada um dos estudantes ao seu correspondente direito, mas sim pela comunhão desses interesses, que passam a pertencer ao ente coletivo conhecido na identificação jurídica qualificada pela unidade subjetiva, denominada estudantes e trabalhadores do estabelecimento de ensino.

A natureza indivisível do bem jurídico a ser tutelado – a prestação de educação de qualidade – é caracterizada pela forma unitária e unilateral concebida na contraprestação relativa a esse serviço de ensino.

Este aspecto é de fundamental importância para se identificar a natureza jurídica do bem tutelado, haja vista que se fosse observar somente o universo daqueles estudantes e trabalhadores que já sofreram e vêm sofrendo a lesão ou se encontram ameaçados de sofrê-la, ou seja, certamente estar-se-ia diante de direitos individuais homogêneos, mas ainda assim de cunho indisponível, por se estar diante da exigência do cumprimento de normas de ordem pública.

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A educação é direito de cada um e de toda sociedade, já que, o investimento em educação não esta voltado tão somente para o engrandecimento intelectual da pessoa, mas também o desenvolvimento da nação.

O pleno desenvolvimento da pessoa consiste em formar indivíduos capazes de autonomia intelectual e moral e respeitadores dessa autonomia em outrem, em decorrência precisamente da regra de reciprocidade que a torna legítima para eles mesmos.

Deste modo, revela-se inquestionável a legitimidade do MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, para figurar no pólo ativo da presente Ação Civil Pública.

2.2) Do direito à educação

Busca-se, com a ação em trato, dar efetividade ao direito público subjetivo à educação pública, gratuita e de qualidade. Para a consecução desse último, impõe-se que o processo educacional se desenvolva em local adequado, que ofereça aos corpos docente e discente condições mínimas de salubridade e segurança.

O art. 6º da Constituição Federal elenca a educação como direito social fundamental, inalienável e indisponível.

Conforme asseverou Ulysses Guimarães, a Constituição da República de 1988,

diferentemente das sete Constituições anteriores, começa com o homem. Graficamente testemunha a primazia do homem, que o homem é seu fim e sua esperança. É a Constituição cidadã [...] o homem é problema da sociedade brasileira: sem salário, analfabeto, sem saúde, sem casa, portanto sem cidadania. (grifei) (in Anais da Assembléia Nacional constituinte, Centro Gráfico do Senado Federal, Brasília- DF,1988).

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Reza o artigo 205 da Constituição Federal que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Dentre os princípios que regem o processo educacional, destacam-se: igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e garantia de padrão de qualidade (art. 206, incisos I e VII, da Constituição Federal).

Dentre os princípios que norteiam o direito à educação – e revelando, mais uma vez, a especial preocupação do legislador para com o tema educação – destacam-se, ainda, o disposto no artigo 208, §§ 1º (que assevera ser a educação direito público subjetivo) e 2º (que trata da oferta regular do ensino), todos da Constituição da Federal.

À evidência que a oferta regular de ensino não implica apenas no dever de ministrar a educação de forma gratuita, mas de fazê-lo dentro de padrões mínimos de qualidade e de modo contínuo, vedada, de conseqüência, a utilização de instalações impróprias e que submetem os alunos (e também professores e funcionários administrativos) a riscos variados (p. ex.: choques elétricos), que trazem efetivos e por vezes irreparáveis prejuízos ao processo de aprendizagem.

De fato, a Constituição Federal de 1988, elaborou, dentre os seus princípios fundamentais e como alicerce do Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana e cidadania (art. 1º, incisos II e III), determinando, ainda, como um de seus objetivos fundamentais, a construção de uma sociedade justa, livre e solidária.

E, com vistas ao pleno exercício da cidadania, a instituição educativa, a serviço do bem estar social, complementa, ao lado da família, o desenvolvimento pessoal e social das crianças e dos adolescentes e contribui decisivamente para a melhoria de vida de cada cidadão.

É efetivamente o que dispõe seu artigo 227, no que atinge em especial à educação da criança e do adolescente, enquanto direito público subjetivo a ser garantido com absoluta prioridade:

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É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (grifei).

 Na mesma esteira, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece, em

seu artigo 4º, in verbis:  

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,

ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (grifei)

 A garantia de prioridade absoluta, então referida, compreende-se nas

diretrizes a serem observadas pela Administração, sintetizadas no mesmo dispositivo, verbis:

Preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas

relacionadas com a proteção à infância e juventude, PRINCIPALMENTE NA ÁREA DA EDUCAÇÃO.

Como se observa, a Constituição Federal e a legislação infraconstitucional não tratam a educação como um fim em si mesmo, ou mero aparato de enriquecimento cultural, mas um verdadeiro caminho ou instrumento para construção de uma sociedade que se pretende justa, livre e solidária, a ser garantido à criança e ao adolescente com prioridade absoluta. E não deixa de prever também que o dever do Poder Público com a educação será efetivado mediante a garantia de CONDIÇÕES DIGNAS, SALUBRES E SEM QUALQUER PERICULOSIDADE.

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Como se vê, a Magna Carta deu um valor especial ao capítulo da educação, pois mesmo vedando a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvou, no artigo 212, a destinação de recursos para a manutenção do ensino, determinando que os Municípios aplicarão, anualmente, nunca menos de vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

RESTA IRREFUTÁVEL, POIS, QUE PARA OS JOVENS, PERMANECER EM UMA ESCOLA COM RISCO DE DESABAR, ALÉM DE PREJUDICAR O RENDIMENTO DOS MESMOS, COLOCA TODOS OS QUE ALI PERMANECEM EM SITUAÇÃO DE RISCO, IMINENTE E CONCRETO. NESTE DIAPASÃO, PARA O PODER PÚBLICO O ATENDIMENTO IMEDIATO DE INTERDIÇÃO DA ÁREA APONTADA NO PARECER TÉCNICO DO CORPO DE BOMBEIROS E REFORMA DA ESCOLA CONSTITUI-SE EM UM PODER-DEVER INDECLINÁVEL, NÃO SE TRATADO DE MERA DISCRICIONARIEDADE DO PODER LOCAL.

Outrossim, como bem leciona Américo Bedê Freire Junior, em sua obra, O Controle Constitucional de Políticas Públicas, editora Revista dos Tribunais, pág. 71:

“Não existe discricionariedade na omissão do cumprimento da Constituição. Na verdade, trata-se de arbitrariedade que pode e precisa ser corrigida.

Ademais, a Constituição prevê em seu art. 5º, XXXV, peremptoriamente que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” Uma interpretação adequada do dispositivo leva à conclusão de que não somente a lei, mas também atos, inclusive omissivos, do Poer Legislativo e Executivo não podem ficar sem controle. Disso se constata que a omissão total pode (deve) ser apreciada pelo Poder Judiciário.”

Mais adiante, às fls. 84, menciona o referido autor:

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“O STF já fixava na ementa do julgamento liminar que “se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e exeqüíveis, abstendo-se, em conseqüência, de cumprir o dever de prestação que a constituição impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional.””

Neste contexto, não restam dúvidas que, diante de uma omissão do MUNICÍPIO DE MINAÇU, faz-se necessário a intervenção do Ministério Público para a REFORMA DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO.

Caso, seja necessário, deve o MUNICÍPIO DE MINAÇU deslocar os adolescentes para outras escolas próximas ao local de suas respectivas residências, até que se conclua a referida reforma e adequação da escola.

O PODER JUDICIÁRIO não pode assistir de forma passiva e condescendente as violações à carta de direitos fundamentais. O Judiciário está constitucionalmente autorizado a corrigir e suplantar as omissões estatais, para preservar a força normativa da Constituição e máxima efetividade das normas fundamentais, principalmente as definidoras de direitos da Cidadania.

A cláusula de separação de Poderes não pode ser invocada para legitimar o desrespeito aos direitos fundamentais, sob pena de se frustrar o desiderato constitucional, colocando em xeque a força normativa da Constituição.

De nada adiantaria a Constituição abraçar diversos direitos sociais se a eleição de como e quando tais direitos devessem ser observados ficassem à cargo do chefe do Executivo. Como vige o sistema de cheks and counthercheks, toda e qualquer lesão ou ameaça a direito autoriza a tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV, CF).

Diante desse esquadro, é lícito afirmar que todo aparato estatal, toda a máquina administrativa existe apenas com a finalidade de assegurar à cidadania brasileira os direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça.

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A atuação do administrador público na promoção do ensino e na defesa da saúde das crianças e adolescentes é vinculada ao texto constitucional. Não é uma faculdade de o administrador promover ações de educação e saúde, é uma obrigação institucional do Poder Executivo, sendo que omissão do Poder Público em tais casos é inconstitucional, o que autoriza o Judiciário a intervir para restaurar a força normativa da Constituição e a máxima efetividade das normas constitucionais, sobretudo as definidoras de direitos fundamentais (art. 5º, § 1º, CF).

A SITUAÇÃO RETRATADA NA INICIAL REVELA O DESCASO DO PODER PÚBLICO COM A CIDADANIA E COM OS JOVENS DE MINAÇU, NA MEDIDA EM QUE A VEXATÓRIA REALIDADE EXPÕE OS ALUNOS A DOENÇAS E RISCOS DE ACIDENTES, O QUE VIOLA O DIREITO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, VALOR SUPREMO DA ORDEM JURÍDICA.

ESTÁ DEVIDAMENTE COMPROVADA A OMISSÃO DO ESTADO NO ADIMPLEMENTO DE SUAS OBRIGAÇÕES CONSTITUCIONAIS.

Presente, portanto, a omissão inconstitucional do Município de Minaçu, que, na prática, neutraliza, anula, o direito à educação, deve o Poder Judiciário, provocado por meio desta ação civil pública, preservar a intangibilidade do núcleo de direitos da Cidadania desrespeitados, garantindo aos cidadãos de Minaçu, em especial às crianças e adolescentes, o efetivo acesso ao ensino público e gratuito, com observâncias das normas de segurança e a saúde imprescindíveis.

3) Da medida liminar:

Da análise do arcabouço probatório trazido com esta vestibular, isto é, em sede de cognição não exauriente, sumária vertical, vislumbra-se presentes os pressupostos que rendem azo ao deferimento da medida liminar, nos termos do art. 12 da Lei n. 7.347/85.

A antecipação dos efeitos da tutela, no bojo de uma ação civil pública, é possível desde que a tese jurídica exposta seja plausível e que haja fundada

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necessidade de se assegurar a fruição da tutela de mérito pretendida antes da estabilização subjetiva do processo e da efetivação do contraditório.

Temos hoje, como regra processual, a Fungibilidade das Tutelas de Urgência, sem necessidade de aforamento de demandas dúplices – preparatória e principal - a partir de um Processo Sincrético, em respeito aos Princípios da Economia, da Celeridade e da Efetividade.

A prestação exigida ao final é de uma obrigação de fazer.

O Código de Defesa do Consumidor elegeu a Tutela Específica como regra, a despeito do que contém o Art. 84. O Art. 461 do CPC copiou literalmente aquele versículo, transmudando a antiga e estéril Sentença Condenatória de Obrigação de Fazer em autêntica Sentença Executiva, passando o Poder Judiciário a ser responsável pelo cumprimento da decisão de mérito, municiando o Juiz com poderes no sentido de fazer cumprir a Tutela Definitiva deferida, sem que isto importe em arbítrio.

Dentro do invocado Art. 461 do CPC encontramos a estipulação de ofício pelo Magistrado de preceito cominatório, e a plena consagração do Poder Geral de Cautela, com medidas protetivas enumeradas enunciativamente.

A respeito do requerimento formulado na inicial, dispõe o artigo 4º, da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 (com a redação conferida pela Lei nº 10.257/01):

“Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística ou aos bens e direitos e valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.

E, o artigo 11, dispõe: “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento daprestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.”

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Conforme dispõe o artigo 273 do Código de Processo Civil, o juiz, a requerimento da parte, poderá antecipar os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial desde que, existindo prova inequívoca(sic), se convença da verossimilhança da alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou fique caracterizado oabuso de direito de defesa, ou o manifesto propósito protelatório do réu.

Muito embora conste no artigo o vocábulo “poderá”, parecendo indicar faculdade e discricionariedade do Juiz, na verdade constitui obrigação, sendo seu dever conceder a tutela antecipatória, desde que preenchidos os pressupostos legais para tanto, não sendo lícito concedê-la ou negá-la pura e simplesmente.

O saudoso doutrinador Humberto Theodoro Jr., no seu livro Curso de Direito Processual Civil, ed II, pág. 558, nos ensina: “Para qualquer hipótese de tutela antecipada, o art. 273, caput do CPC, impõe a observância de dois pressupostos genéricos: prova inequívoca e verossimilhança da alegação, por se tratar de medida satisfativa tomada antes de completar-se o debate e instrução da causa, a lei condicionada a certas precauções de ordem probatória. Mais do que a simples aparência do direito (fumus boni jus) reclamada para as medidas cautelares exige a lei que a antecipação de tutela esteja sempre fundada em prova inequívoca. E além dos pressupostos genéricos de natureza probatória, que o art. 273 do CPC condiciona o deferimento da tutela antecipada há dois outros requisitos, o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação ou então o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu”.

Em face da urgência da medida, evidentemente não é possível ao Julgador o exame pleno do direito material invocado pelo interessado, até porque tal questão será analisada quando do julgamento do mérito, restando a este, apenas, uma rápida avaliação quanto a uma provável existência de um direito. No entanto, há de se presenciar a efetiva existência do bom direito invocado pelo Requerente, posto que a decisão do Juiz não pode e não deve ser baseada em frágeis argumentações.

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In casu, o cerne da questão cinge-se a má estrutura das ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, a caótica desorganização do Poder local, não havendo como ministrar a educação aos milhares de alunos que estudam nas unidades escolares.

Quanto ao requisito específico de ''fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação'', ou seja, o periculum in mora, vislumbra-se a necessidade de se tomar uma medida imediata, como forma de coibir danos que possam advir, caso a situação persista.

A prova perfunctória é sobeja ao retratar a situação por que passam as Escolas, afrontando a Constituição e a Sociedade em todos os seu aspectos. Primeiro, porque, não preserva a Dignidade da Pessoa Humana, ao expor crianças e adolescentes a situação de risco à saúde e de morte, mantendo condições insalubres - teto por desabar, esgoto a céu aberto... Segundo, porque, é impossível conferir proteção integral à criança e adolescente; construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação sem que haja educação. Não é o bolsa família, - forma legítima de esmolar - que consertará este país, é a EDUCAÇÃO, que proporcionará melhor condição de vida aos cidadãos...

O fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação é óbvio. Um: segundo relatório do Corpo de Bombeiros Militar: “sugiro o encaminhamento deste relatório à Prefeitura, para imediata solução, a fim de evitar a interdição da escola”; “o serviço de manutenção é de extrema urgência a fim de evitar maiores danos aos corpos discente e doscente da escola e a posterior interdição do prédio, já que 1046 alunos pessoas frequentam a unidade escolar todos os dias (funcionários e alunos)”. Portanto, corre-se o risco de alunos sofrerem danos à saúde ou à vida. Dois: ninguém, em sã consciência, terá condições de afirmar que, a despeito das condições de conservação dos prédios escolares, a qualidade do ensino oferecido nessas escolas não restará prejudicada pelas péssimas condições dos prédios.

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É preciso esclarecer que o Gestor Público não está administrando sua vida privada, onde pode praticar atos aleatoriamente, como se a prestação do serviço ao público fosse fruto de generosidade. O MPE e o Poder Judiciário não podem e não devem ser complacentes com procedimentos ao arrepio da lei, ainda que destituídos de “dolo”.

Parece que vivemos ainda sob os reflexos da Constituição de 1821, onde Dom Pedro somente "aceitou" o seu texto em razão da reserva do chamado Poder Moderador. Através dele, a função executiva do Império poderia se sobrepor às demais funções do Estado e até mesmo revogar os seus atos quando com os mesmos não houvesse concordância. Criou-se, em razão disso, a cultura do SUPER PODER EXECUTIVO, que se arvora e se intitula soberano e hierarquicamente superior às funções legislativa, judiciária e até mesmo dos princípios e garantias constitucionais do cidadão.

Toda esta exposição é para situar casos dos atos administrativos, onde as principais garantias fundamentais conquistadas pelo povo brasileiro notadamente quando da promulgação da Carta de 1988, são violentadas de forma vergonhosa e despudorada por autoridades públicas que se julgam acima "do bem e do mal" e da própria lei.

Destarte, demonstrada a plausibilidade jurídica da tese e o perigo da demora, mister se faz a concessão da medida liminar, com fulcro nos artigos 84 do CDC e 12 da Lei n. 7.347/85, deferindo os pedidos consistentes nas seguintes obrigações de fazer contra o Município de Minaçu:

A) Tomar, IMEDIATAMENTE, todas as providências indispensáveis para a imediata reforma ou reconstrução das ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, de forma a viabilizar a adequada prestação do serviço público indisponível, com obediências às normas de saúde e segurança, devendo o Município de Minaçu efetuar, nas DUAS

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UNIDADES, especialmente, a reforma do telhado, a correta disposição dos fios de energia elétrica, a reforma de estruturação de sustentação da cobertura de madeiramento, a substituição completa do sistema elétrico, a pintura externa e interna dos prédios, a reforma dos banheiros, a reforma do sistema de esgoto, bem como toda e qualquer obra necessária para garantir o rápido e seguro funcionamento das ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO.

B) Especificamente no tocante às obras da escola Municipal Dona Izaura Maria da Silva Oliveira, se faz necessário ainda, o calçamento ao redor da unidade escolar, a troca do portão central da escola e a construção de um balcão para atendimento na Secretaria da Escola; chapisco e alguns reparos no muro (lado esquerdo interno), onde se localiza uma residência vizinha; assentar cerâmicas no bebedouro; desobstruir canaletas localizadas no pátio da escola; reposição de 03 (três) duchas que são usadas para o banho de ducha das crianças; trocar areia do parquinho; substituição dos canteiros por grama ou concreto, devido a presença de inúmeros insetos (aranhas, cobras etc).

C) Com relação à escola municipal MAURA COELHO, se faz imprescindível a colocação de portas nas salas

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de aula, bem como vidros em algumas janelas, a reforma da cantina, com a troca do piso e azulejos; a reforma e iluminação da quadra da escola; a cobertura de parte da área externa do pátio; a aquisição de 400 jogos de mesa e cadeira (carteiras), 16 mesas e cadeiras para professores;

D) Adotar, IMEDIATAMENTE, atos materiais necessários e indispensáveis para que todos os alunos matriculados nas ESCOLAS MUNICIPAIS DONA IZAURA MARIA DA SILVA OLIVEIRA E MAURA COELHO, no período da reforma, tenham acesso ao direito à educação, em locais dignos e seguros;

E) Em caso de descumprimento das obrigações acima descritas, requer que os requeridos sejam condenados a pagar uma multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por cada dia em que o Município não cumprir as medidas de urgência deferidas na alínea “A” e por aluno em situação irregular, no caso do pedido liminar da alínea “D”, multa esta que será revertida em favor do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

4) Dos pedidos:

Diante de todo o exposto e comprovados de forma inequívoca, pela prova documental que instrui a presente, os fatos articulados, requer-se:

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a) a concessão LIMINAR, "inaudita altera parte" (artigo 213 do ECA) compelindo-se o Município de Minaçu, via sua Secretaria do Município de Educação e demais Órgãos pertinentes,a cumprir todas as obrigações acima alinhavadas, procedendo este juízo nos termos do art. 2º da Lei n. 8.437/92;

b) que a presente ação civil pública seja recebida, autuada e processada, eis que presentes os requisitos dos artigos 282 e 283 do CPC e da Lei n. 7.347/85;

c) a citação dos réus, na pessoa de seus Ilustres Representantes acima já nominados, para querendo, acompanharem os termos da presente, sob pena de revelia;

d) a total procedência de todos os pedidos deduzidos, após regular tramitação processual, transformando-se em definitiva a decisão antecipada liminarmente;

e) cominação de astreistes, nos mesmos valores da multa diária supra, para assegurar o cumprimento da decisão final;

f) a produção de TODOS os meios de prova em direito admitidos, ou sejam, depoimento pessoal das partes, prova testemunhal, documental e pericial;

Dá-se a presente o valor da R$ 1.000,00 (mil reais).

Nestes termos, com a documentação em anexo;

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Pede Deferimento.

Minaçu, 04 de maio de 2.011

Rafael Simonetti Bueno da SilvaPromotor de Justiça

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