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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS - DEPARTAMENTO DE QUÍMICA Alex Gibellato Pavanelli Avaliação da fitorremediação em solo impactado com diesel comercial Londrina 2004

Alex Gibellato Pavanelli - uel.br · tipo folhelho. Suas características são inteiramente diferentes quando se Suas características são inteiramente diferentes quando se desenvolve

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UNIVERSIDADE

ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS - DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

Alex Gibellato Pavanelli

Avaliação da fitorremediação em

solo impactado com diesel comercial

Londrina 2004

Avaliação da fitorremediação em solo impactado com diesel comercial

Relatório de conclusão do Estágio Supervisionado em Química A apresentado por Alex Gibellato Pavanelli ao Departamento de Química como parte dos requisitos para a obtenção do grau de bacharel em Química.

Supervisor(a): Dra. Carmen Luisa Barbosa Guedes

Orientador(a): Dr. Osmar Rodrigues Brito

Londrina 2004

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________________________

Dra Carmen Luisa Barbosa Guedes – Departamento de Química – UEL

___________________________________________________________________________________________

Dr. Osmar Rodrigues Brito – Departamento de Agronomia - UEL

___________________________________________________________________________________________

Dra. Sônia Maria Nobre Gimenez – Departamento de Química – UEL

Londrina, 16 de novembro de 2004.

AGRADECIMENTOS

À minha família, que me apoiou, incentivou nos momentos difíceis e criticou

positivamente durante toda esta trajetória acadêmica.

Mestres e doutores aos quais tenho imensa gratidão pelos conhecimentos

transmitidos, amizade e companheirismo.

À Professora Carmen e ao Professor Osmar que me orientaram sempre com

responsabilidade, firmeza e dedicação.

À Lucimara Junko Koga, aluna do mestrado em agronomia e amiga que,

infelizmente, optou por mudar seus planos e se incorporou a outro projeto de

pesquisa, sem a qual este trabalho certamente não seria possível.

À imensa ajuda da querida Aline, estagiária vinculada ao departamento de

agronomia através da fundação Araucária, que, apesar de muito jovem, mostrou

ser uma pessoa madura, sempre interessada, conhecedora de seus ideais e que,

certamente, terá um brilhante futuro profissional.

A todos os meus amigos, principalmente a Milena Andrade, Karina Attisano e o

Guilherme Veiga, pois sem eles, todo o conhecimento e prestígio adquiridos não

teriam a menor importância e a vida acadêmica não teria a mínima graça. Todos

os meus amigos estarão eternamente em minhas lembranças.

À pessoa mais importante que conheci em todo este percurso, Lízia Yassumoto, a

qual amo imensamente. Mesmo que adversidades tivessem ocorrido me

impossibilitando de chegar a este ponto, somente pelo fato da Lízia haver entrado

em minha vida, todos estes anos já teriam valido a pena.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 01 1.1 Contaminação dos Solos ........................................................................ 01

1.2 Propriedades dos solos .......................................................................... 02

1.2.1 Tipos de Solo ....................................................................................... 03

1.3 Interação do Solo com Contaminantes Orgânicos .................................. 04

1.4 Remediação do Solo ............................................................................... 05

1.4.1 Técnicas Gerais de Remediação ......................................................... 05

1.4.2 Fitorremediação ................................................................................... 06

1.4.2.1 Mecanismos da Fitorremediação ...................................................... 07

1.4.2.2 Vantagens da Fitorremediação ......................................................... 09

1.4.2.3 Limitações da Fitorremediação ......................................................... 10

1.5 O Diesel como Contaminante ................................................................. 10

1.5.1 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) ................................. 11

1.6 Outras Pesquisas Envolvendo Fitorremediação ..................................... 16

2 OBJETIVOS ............................................................................................... 18 2.1 Gerais ...................................................................................................... 18

2.2 Específicos .............................................................................................. 18

3 PARTE EXPERIMENTAL ......................................................................... 19 3.1 Materiais e Equipamentos ....................................................................... 19

3.2 Reagentes ............................................................................................... 19

3.3 Solo ......................................................................................................... 21

3.4 Espécies Vegetais ................................................................................... 21

3.5 Procedimentos ........................................................................................ 22

3.5.1 Avaliação da Fertilidade do Solo .......................................................... 22

3.5.1.1 Determinação da Acidez Ativa: pH em H2O e CaCl2 0,01 M ............. 22

3.5.1.2 Determinação da Acidez Trocável: Al3+ em KCl ................................ 23

3.5.1.3 Determinação de Ca2+ com EDTA .................................................... 23

3.5.1.4 Determinação de Ca2+ + Mg2+ com EDTA ......................................... 23

3.5.1.5 Determinação de K+ por Fotometria de Chama ................................ 24

3.5.1.6 Determinação de P por Espectrofotometria ...................................... 24

3.5.1.7 Determinação de Carbono Orgânico: Método de Walkley-Black ...... 25

3.5.2 Teste de Vigor das Sementes .............................................................. 25

3.5.3 Amostragem do Solo e Correção do pH .............................................. 26

3.5.4 Preparação e Aplicação de Solução Nutritiva de Plantas .................... 26

3.5.5 Contaminação do Solo e Plantio .......................................................... 27

3.5.6 Delineamento e Condução do Experimento ......................................... 29

3.5.7 Parâmetros Posteriores e Métodos de Análise .................................... 30

3.5.7.1 Análise dos Compostos Aromáticos do Diesel no Solo .................... 30

3.5.7.2 Massa Vegetal Produzida ................................................................. 31

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 32 4.1 Teste de Vigor das Sementes ................................................................. 32

4.2 Correção e Fertilidade do Solo ................................................................ 33

4.3 Percentual de Emergência ...................................................................... 35

4.4 Massa Vegetal Produzida ....................................................................... 37

4.5 Degradação dos Aromáticos do Diesel no Solo ...................................... 45

5 CONCLUSÕES .......................................................................................... 55 5.1 Proposta de Continuidade ....................................................................... 56

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 57

1 INTRODUÇÃO

O homem depende do solo. E até certo ponto, bons solos

dependem do homem e do uso que deles faz. O solo é o ambiente natural em que

crescem os vegetais. O homem desfruta e utiliza estes vegetais, quer por sua

beleza, quer por sua capacidade de fornecer fibras e alimentos.

Em zonas rurais os solos são utilizados para disposição de rejeitos

domésticos mediante sistemas de esgoto assépticos. Estes sistemas estão sendo

usados cada vez mais como repositórios de outros rejeitos de origem animal,

industrial e municipal, evidenciando a importância social dos solos (Brady, 1979).

1.1 Contaminação dos Solos

Desde o século passado, as atividades humanas, industriais e a

mineração têm contribuído para extensivas contaminações dos solos

(Cunningham et al., 1995).

O petróleo e seus derivados ocupam lugar de destaque dentre os

compostos orgânicos contaminantes do solo, principalmente devido ao grande

volume produzido e usos diversos na vida moderna (Accioly e Siqueira, 2000).

Vazamentos em tanques de armazenamento localizados na

superfície e no subsolo, acidentes com veículos de transporte e disposição

inadequada dos resíduos são os principais caminhos para a contaminação do solo

e das águas subterrâneas com petróleo e seus derivados (Nadim et al., 2000). A

infiltração de derivados de petróleo no solo representa uma ameaça a importantes

recursos, põe em risco sistemas ecológicos locais e regionais. Entretanto, a

extensão da contaminação depende da capacidade deste solo de filtrar, reter ou

liberar hidrocarbonetos, fundamental na determinação do tipo e extensão da

contaminação (Fine et al., 1997).

1.2 Propriedades dos solos

As características do solo variam, horizontal e verticalmente e,

ainda, dependem do material de origem. Quando se origina de arenitos, tem maior

tendência para ser arenoso e menos fértil do que quando formado de rochas do

tipo folhelho. Suas características são inteiramente diferentes quando se

desenvolve sob climas tropicais, se comparado às condições árticas ou

temperadas (Brady, 1979).

Existem diferentes sistemas de organização e classificação dos

solos. No Brasil, o novo sistema adotado é resultado da fusão de metodologias

utilizadas em outros países, resultando na atualização dos sistemas anteriormente

utilizados (Oliveira et al., 1991).

1.2.1 Tipos de Solo

a) Solos minerais

Solos minerais (inorgânicos) são aqueles que, nas camadas

superficiais, o teor de matéria orgânica é comparativamente reduzido, variando

geralmente de 1 a 10 por cento, em contraste com os solos de alagadiços,

pantanosos e de brejos que, comumente, contêm 80 a 95 por cento de matéria

orgânica. Ocupando elevada proporção de área total da terra, os solos minerais

assumem maior importância do que os orgânicos e, assim, merecem maior

atenção.

Os solos minerais contêm quatro componentes principais:

substâncias minerais, matéria orgânica, água e ar. Encontram-se geralmente em

estado adiantado de subdivisão e tão intimamente misturados que se torna

sobremodo difícil uma separação satisfatória. Esta combinação íntima dos

componentes principais dos solos normais favorece tanto as reações simples

quanto as complexas, e possibilita um ambiente ideal para o crescimento vegetal.

O solo mineral típico abriga uma variada população de organismos

vivos. Em campo, o escalonamento completo em tamanhos, desde minhocas e

insetos às bactérias e microorganismos diversificados, ocorre comumente nos

solos normais.

b) Solos orgânicos

São solos com muito maior conteúdo de matéria orgânica, sendo

que, aqueles que são aproveitados na agricultura atingem uma média de 80% de

matéria orgânica. Acham-se também classificados como Histossolos (Brady,

1979).

1.3 Interação do Solo com Contaminantes Orgânicos

Produtos de petróleo podem ser retidos pelos sólidos do solo,

tanto por infiltração e retenção nos poros como por adsorsão à superfície das

partículas. As propriedades químicas e físicas da parte sólida do solo, incluindo o

estado de hidratação, textura e matéria orgânica, controlam o grau de penetração

e adsorsão dos hidrocarbonetos.

Como os derivados de petróleo são constituídos por componentes

que apresentam diferentes pressões de vapor, as taxas de volatilização para cada

componente irão diferir de modo que os mais voláteis irão se difundir pelos poros

do solo. Os componentes não volatilizados permanecerão no solo, havendo

contaminação (Fine et al. 1997).

1.4 Remediação do Solo

As técnicas de remediação, em sua maioria, baseiam-se em

processos de engenharia e são direcionadas para aumentar a capacidade de

extração dos poluentes por meio da aplicação de calor, sulfactantes ou ácidos, ou

pela manipulação física do solo contaminado. Estes processos têm custos elevados

e são realizados com dificuldade, tendo, muitas vezes, eficácia questionável.

Mais recentemente tem-se buscado alternativas tão eficientes

quanto as já existentes, mas com menores custos, sendo a biorremediação (ação

microbiana) e a fitorremediação novas possibilidades, por serem fundamentadas

em processos naturais, relativamente simples e de baixo custo (Accioly e Siqueira,

2000; Cunningham et al., 1995).

1.4.1 Técnicas Gerais de Remediação

Muitos processos físicos, químicos e biológicos estão sendo

usados para remediar solos contaminados. Tais processos atuam removendo ou

estabilizando o contaminante. A estabilização não reduz a quantidade do poluente,

mas, altera-se suas propriedades químicas facilitando o seqüestro ou a adsorção

do contaminante, reduzindo assim os ricos ao ambiente.

A escolha da estratégia de remediação depende principalmente da

natureza do contaminante. Os metálicos, por exemplo, são de difícil remoção.

Solos contaminados com metais são geralmente escavados e o local

repreenchido, embora alguns locais hoje sejam tratados por processos físico-

químicos ou eletroquímicos. Solos contaminados com compostos orgânicos

podem ser tratados por processos térmicos a vapor ou dessorção (para

compostos voláteis ou semivoláteis), lavagem do solo ou repreenchimento.

Certamente contaminantes orgânicos como hidrocarbonetos de petróleo são

susceptíveis a ataques microbiológicos.

Os custos relacionados à remediação do solo são muito variáveis

e dependem do contaminante, das propriedades e do tipo de solo, condições

locais e volume de material depositado (Cunningham et al., 1995).

1.4.2 Fitorremediação

A fitorremediação é um método que pode ser utilizado para

‘limpar’ locais com contaminação moderada e superficial. É baseada na

estimulação dos microorganismos pelas raízes das plantas, pois a rizosfera é um

ambiente ideal para a proliferação microbiana. Além disso, é uma fonte de

alimento que consiste principalmente em aminoácidos, ácidos orgânicos,

açúcares, enzimas e carboidratos complexos.

Até hoje, uma grande variedade de espécies gramíneas,

leguminosas e árvores de crescimento rápido com alta taxa de transpiração, como

a alfafa e o salgueiro, têm sido aplicadas para fitorremediação. Estas plantas

oferecem grande área de contato da raiz com o solo devido ao extenso sistema

radicular. Vários estudos mostraram o efeito estimulante da rizosfera sobre

bactérias capazes de degradar, principalmente, hidrocarbonetos. Isso mostra que

a remediação de solos contaminados com petróleo pode ser alcançada mediante

o cultivo de plantas (Tesar et al., 2002).

1.4.2.1 Mecanismos da Fitorremediação

A fitorremediação é uma estratégia da biorremediação que consiste

basicamente em um sistema biológico “movido” a luz solar, funcionando como

bombas com extensa rede de absorção ou transformação, formada pelo sistema

radicular e a rizosfera, que aumenta a capacidade extrativa ou degradadora,

acelerando a limpeza ou descontaminação do solo (Accioly e Siqueira, 2000).

Segundo Carman et al. (1998), a ação pode ser direta da planta,

com remoção dos contaminantes, degradação, volatilização ou acumulação; ou

indireta, pelo estímulo da presença da vegetação sobre a microbiota rizosférica.

De acordo com diferentes pesquisadores, os efeitos da planta

sobre os contaminantes no solo podem ser resumidos em:

Fitoextração: quando as plantas acumulam o contaminante, podendo haver

tratamento posterior do poluente contido na planta. Os poluentes orgânicos do

solo podem ser translocados para os tecidos da planta e subseqüentemente

volatilizados. Estes também podem ser seqüestrados nos vacúolos ou fixados

nas estruturas celulares insolúveis como a lignina. A fitovolatilização é uma

parte estabelecida no ciclo de vida da planta. As plantas podem oferecer vários

caminhos de intermediação da transferência dos contaminantes, que fluem

através da planta e são convertidos em formas mais voláteis. Assim, o termo

fitovolatilização é geralmente associado à remediação.

Fitodegradação: quando a planta, a partir das enzimas excretadas pelas raízes

(nitroredutases, desalogenases, lacases) ou a microflora associada convertem

o poluente em outras substâncias menos tóxicas. A estimulação da atividade

microbiológica na zona rizosférica das plantas pode ser de forma direta: devido

à transpiração da raiz afetando sua vizinhança imediata; ou indireta: devido à

aeração causada pelo crescimento das raízes da planta e seu consumo da

água do solo.

Fitoestabilização: quando o poluente fica retido ou inativo no tecido vegetal ou

na matriz do solo. Este 'seqüestro' é realçado pela ação da planta e da

microflora (Davis et al., 2002; Alkorta e Garbisu, 2001; Accioly e Siqueira,

2000).

A fitodegradação é bem sucedida quando as raízes da planta são

capazes de capturar o contaminante e integrá-lo ao metabolismo, bem como

quando o poluente for passível de ataque dos microorganismos associados. Esta

bioavaliação depende, além da natureza da substância poluente, do tipo de solo

(percentual de matéria orgânica, pH, quantidade de argila, etc.) e da idade do

contaminante (Davis et al., 2002).

1.4.2.2 Vantagens da Fitorremediação

Para remediar grandes concentrações de contaminante em

pequenas áreas, outros meios podem ter maior eficiência, mas para grandes

áreas com baixos níveis de contaminação, processos biológicos como a

fitorremediação geralmente são os mais econômicos.

O uso de plantas é uma alternativa a ser considerada devido ao

seu baixo custo, que estão entre US$ 0,02 e 1,00 por m3, quando comparado a

outros processos físico-químicos, nos quais, em média, os custos de remediação

para compostos voláteis ou solúveis em água variam de US$ 10 a 100 por m3 de

solo para remediação in situ, US$ 60 a 300 por m3 para compostos manejados

para repreenchimento ou tratamentos térmicos de baixa temperatura e

aproximadamente US$ 200 por m3 para aqueles que exigem manejo especial ou

altas temperaturas (Cunningham et al., 1995).

Para estimular a biorremediação, pode-se obter os mesmos

efeitos com a adição de substâncias como o melaço e fertilizantes, mas o custo de

suas aplicações pode ser muito alto comparando-se ao uso de plantas (Davis et

al., 2002).

1.4.2.3 Limitações da Fitorremediação

As plantas são organismos vivos e suas raízes precisam de

oxigênio, água e nutrientes. A textura do solo, o pH, a salinidade e a concentração

do poluente deve estar dentro dos limites de tolerância da planta (Cunningham et

al., 1995).

Embora as plantas tenham a capacidade de degradar ou

seqüestrar muitos compostos tóxicos, elas são sensíveis a muitos outros. Os

herbicidas, por exemplo, são, por definição, tóxicos às plantas, geralmente mesmo

em baixas concentrações. Muitos contaminantes apresentam toxicidade

específica, inibindo a ação de enzimas metabólicas (Davis et al., 2002).

A fitorremediação é um processo geralmente mais lento do que os

processos físico-químicos, podendo ser considerado como um tratamento a longo

prazo, que deve ser empregado em grandes áreas (Cunningham et al., 1995).

1.5 O Diesel como Contaminante

O óleo diesel é uma complexa mistura de hidrocarbonetos de

petróleo, contendo tanto compostos voláteis, alcanos de baixo peso molecular os

quais são potencialmente fitotóxicos, e naftalenos que podem interferir no

desenvolvimento normal das plantas. Além disso, os hidrocarbonetos

poliaromáticos (HPAs) encontrados no diesel têm consideração particular, uma

vez que são persistentes no solo e no ambiente. Dos óleos combustíveis de

destilação média, o diesel é o que tem o maior conteúdo de HPAs e aromáticos

totais, o que pode tornar muito mais difícil sua remediação (Adam e Duncan,

1999). Além disso, sua composição química é muito variável, e as proporções

relativas dos hidrocarbonetos parafínicos, olefínicos, naftênicos e aromáticos

dependem da origem do petróleo, do processamento e do tratamento a que foi

submetido (Campos, 1979).

Crafts e Reiber (1948) verificaram que a fitotoxicidade aumenta na

seguinte ordem: gasolina, querosene, diesel e óleos pesados. Isto indica que as

frações leves do combustível causam menos danos às plantas do que as frações

mais pesadas, seja por que são menos tóxicas ou porque são mais voláteis e,

assim, perdidos com mais facilidade. A fração volátil do diesel comercial

corresponde de 5 a 10% do total na maioria dos casos (Adam e Duncan, 2002).

1.5.1 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs)

Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) constituem

uma família de compostos que se caracterizam pela existência de 2 ou mais anéis

aromáticos condensados em sua estrutura. Estas substâncias, bem como seus

derivados nitrados e oxigenados, têm ampla distribuição e são encontrados como

constituintes de misturas complexas em todos os compartimentos ambientais

(Netto et al., 2000).

Tabela 1 – Hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs) classificados como principais poluentes pela “U.S. Environmental Protection Agency” (EPA) (Kumke et al., 1995).

HPAs Nome Peso molecular

Nº de anéis

λ máximo de

absorção (nm)

λ máximo de

emissão (nm)

Naftaleno 128 2 319 302 322

Acenaftileno 152 3 456 324 541

Acenafteno 154 3 320 300 347

Fluoreno 166 3 300 310

Fenantreno 178 3 346 330 364

HPAs Nome Peso molecular

Nº de anéis

λ máximo de

absorção (nm)

λ máximo de

emissão (nm)

Antraceno 178 3 374 356 399

Fluoranteno 202 4 359 462

Pireno 202 4 372 336 383

Benz[a] Antraceno 228 4 385

300 385

Criseno 228 4 362 321 381

Benzo[k] Fluoranteno 252 5 402

308 402

HPAs Nome Peso molecular

Nº de anéis

λ máximo de

absorção (nm)

λ máximo de

emissão (nm)

Benzo[b] Fluoranteno 252 5 369

302 446

Benzo[a] Pireno 252 5 404

385 403

Benzo[g,h,i] Perileno 276 6 406

300 419

Indeno[1,2,3-cd]pireno 276 6 460

302 503

Dibenz[a,h] Antraceno 278 5 394

322 394

Os HPAs estão altamente espalhados por toda a natureza devido

a muitas atividades antropogênicas poluentes. Eles têm sido considerados como

compostos de alto risco à saúde devido à sua conhecida estabilidade química e

alta toxicidade (Andreoni et al., 2004).

Tabela 2 - Níveis de HPAs comumente encontrados nos compartimentos da natureza (Netto et al., 2000).

Tipo de amostra Concentração

Ar 1,3 a 500 ng/m3

Solo 0,8 ng/kg – 100 mg/kg

Água 2,5 a 500 ng/L

Plantas < 150 µg/kg

Alimentos 0,1 a 20 µg/kg

HPAs presentes no solo apresentam atividade tóxica a plantas,

microorganismos e invertebrados. Os microorganismos são os melhores

indicadores da poluição do solo (Andreoni et al., 2004). De maneira geral, os

HPAs e seus derivados estão associados ao aumento da incidência de diversos

tipos de câncer no homem. Vários componentes deste grupo, na forma original ou

decomposta, são capazes de reagir diretamente com o DNA, tornando-se

potenciais agentes carcinógenos e eficientes mutagênicos (Netto et al., 2000).

Muitos pesquisadores vêm desenvolvendo trabalhos com objetivo

de encontrar alternativas apropriadas para remover os contaminantes do ambiente

ou transformá-los em componentes menos tóxicos.

Técnicas de biorremediação têm sido alternativas atraentes para a

recuperação de locais contaminados com HPAs, pois sabe-se que muitos

microorganismos são capazes de mineralizá-los ou reduzi-los a espécies menos

tóxicas (Andreoni et al., 2004).

1.6 Outras Pesquisas Envolvendo Fitorremediação

Vários pesquisadores têm estudado o comportamento das plantas

em solo contaminado com compostos aromáticos. Muitos estudos estão

direcionados à identificação de espécies de plantas e dos microorganismos

degradadores e também ao monitoramento da degradação de moléculas

específicas de alguns HPAs.

Aprill e Sims (1990) mostraram que o desaparecimento de vários

hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs) foi significativamente mais rápido em solos

plantados com uma variedade de espécies de gramas de pradaria do que em solo

sem vegetação.

Ferro et al. (1994) demonstraram que algumas espécies de trigo

promoveram mineralização e remoção do pentaclorofenol do solo. No mesmo

sistema, o fenantreno (HPA simples) foi mineralizado com ou sem a presença de

plantas. Porém, Olson et al. (2001) verificaram concentrações de naftaleno,

fenantreno e pireno cerca de duas a dez mil vezes menores na área superficial

rizosférica do que em solo mais profundo.

Ferro et al. (1997), utilizando-se de um solo do tipo arenoso,

verificaram através do cultivo da espécie gramínea Lolium perenne um grande

aumento na degradação de vários HPAs nos dois primeiros meses de tratamento,

quando comparado a solos sem plantas porém corrigidos quimicamente; e muito

maior quando comparado a solos sem correção, com pH baixo. Contudo, após 8

meses de tratamento houve poucas modificações significativas.

Andreoni et al. (2004) estudaram o decréscimo na concentração

de HPAs, principalmente do fenantreno, em solos da Bélgica. Na cultura de mais

rápida degradação do fenantreno, algumas espécies de bactérias degradadoras

foram identificadas, como: Achromobacter xylosoxidans, Methylobacterium sp.,

Rhizobium galegae, Rhodococcus aetherovorans, Stenotrophomonas

acidaminiphila, Alcaligenes sp. e Aquamicrobium defluvium.

2 OBJETIVOS

2.1 Gerais

Avaliar o potencial de espécies vegetais brasileiras para remediar

solos contaminados com diesel.

2.2 Específicos

• Avaliar alterações dos componentes aromáticos do diesel

comercial em solos cultivados com gramíneas e leguminosas.

• Avaliar o potencial de fitorremediação de diferentes espécies

vegetais, adaptadas às condições climáticas do Brasil, em solo

contaminado com diesel comercial.

• Avaliar a produção de biomassa vegetal de seis espécies (4

gramíneas e 2 leguminosas) cultivadas em amostras de solo

com diferentes níveis de contaminação com diesel.

3 PARTE EXPERIMENTAL

3.1 Materiais e Equipamentos

• 108 vasos plásticos de 15 cm de altura e 14 cm2 de abertura superior

• Sacos plásticos de 40x28 cm

• Balança analítica, Marte A200

• Balança semi-analítica, Gehaka BG 1000

• Balança Filizola, carga máxima 16 kg

• Mesa agitadora, TECNAL

• Mesa agitadora, TE-140 TECNAL

• Fotômetro, FEMTO Colorímetro 430C com Fluxo contínuo EVLAB - EV:013

• Fotômetro de chama, B262; Compressor DIA-PUMP Modelo C FANEM Ltda.

• Espectrofluorofotômetro, SHIMADZU RF-5301PC com Lâmpada de Xe

• pHmetro, Marte digital com termocompensador

3.2 Reagentes

• Ácido ascórbico, grau P.A. Nuclear

• Ácido bórico, grau P.A. Merck

• Ácido clorídrico concentrado, grau P.A. Quimex

• Ácido fosfórico concentrado, grau P.A. Synth

• Ácido sulfúrico concentrado, grau P.A. Quimex

• Carbonato de cálcio, grau P.A. Cinética Química Ltda.

• Cianeto de potássio, grau P.A. Biotec Reagentes Analíticos

• Cloreto de amônio, grau P.A. Nuclear

• Cloreto de cálcio, grau P.A. Reagen; Quimibrás S/A

• Cloreto férrico hexahidratado, grau P.A. Merck

• Cloreto de manganês tetrahidratado, grau P.A. Merck

• Cloreto de potássio, grau P.A. Biotec Reagentes Analíticos; Synth

• Diclorometano, grau P.A. Synth

• Dicromato de potássio, grau P.A. Biotec Reagentes Analíticos

• Difenilamina, grau P.A. Nuclear

• EDTA dissódico dihidratado, grau P.A. Dinâmica Reagentes Analíticos

• Fosfato de amônio dibásico, grau P.A. Reagen

• Fosfato de potássio dibásico, grau P.A. Reagen

• Hidróxido de amônio concentrado, grau P.A. Nuclear

• Hidróxido de sódio, grau P.A. ACS Quimex

• Molibdato de Amônio tetrahidratado, grau P.A. Synth

• Molibdato de sódio dihidratado, grau P.A. Merck

• Óleo Diesel comum retirado na bomba, Auto Posto Universitário, R. Pref. Faria

Lima 1040 Londrina - PR. (Densidade 0,854 g.cm–3).

• Subcarbonato de bismuto, grau P.A. Biotec Reagentes Analíticos

• Sulfato de cobre pentahidratado, grau P.A. Synth

• Sulfato Ferroso heptahidratado, grau P.A. Nuclear

• Sulfato de magnésio heptahidratado, grau P.A. Nuclear

• Sulfato de potássio, grau P.A. Biotec Reagentes Analíticos

• Sulfato de sódio, grau P.A. Merck

• Sulfato de zinco heptahidratado, grau P.A. Nuclear

• Trietanolamina, grau P.A. Nuclear

3.3 Solo

O solo utilizado para contaminação foi um latossolo amarelo

distrófico típico, de textura arenosa, coletado no município de Jaguapitã - PR.

3.4 Espécies Vegetais

Foram selecionadas seis diferentes espécies: 4 gramíneas e 2

leguminosas. Levou-se em consideração a disponibilidade de sementes,

rusticidade e ciclo de crescimento rápido. As plantas escolhidas com seus nomes

usuais, científicos e sua classificação estão dispostas a seguir na Tabela 3.

Tabela 3 - Plantas selecionadas para verificação do potencial de fitorremediação.

Nome usual Nome científico Classificação

Feijão de porco Canavalia ensiformis Leguminosa

Crotalária Crotalaria spectabilis Leguminosa

Capim tanzânia Panicum maximum Gramínea

Braquiária Braquiaria decumbens Gramínea

Capim colchão Digitaria horizontalis Gramínea

Pé-de-galinha gigante Eleunine coracana Gramínea

3.5 Procedimentos

3.5.1 Avaliação da Fertilidade do Solo

Por meio de análises químicas, seguindo os métodos de rotina

para análise de solo utilizados nos laboratórios do IAPAR, descritos em Pavan et

al. (1992), foi avaliada a disponibilidade de elementos essenciais: Ca, Mg, K e P;

matéria orgânica e Al (tóxico). Além disso, foram executadas medidas de pH.

Todas as análises foram executadas sempre em triplicata e conduzindo-se provas

em branco.

3.5.1.1 Determinação da Acidez Ativa: pH em H2O e CaCl2 0,01 M

Foram transferidos 10 cm3 de TFSA (Terra fina seca ao ar) para

Erlenmeyer de 125 mL e adicionados 25 mL de H2O deionizada para medida em

água e, separadamente 25 mL de solução de CaCl2 0,01 M para esta medida.

Agitou-se por 15 minutos a 250 rpm. Após 30 minutos de decantação foram

executadas as leituras no potenciômetro.

3.5.1.2 Determinação da Acidez Trocável: Al3+ em KCl

Transferiu-se 10 cm3 de TFSA para Erlenmeyer de 125 mL e

adicionados 100 mL de KCl 1 N. Agitou-se por 15 minutos a 250 rpm e deixado

repousando por uma noite. Em seguida transferiu-se 15 mL do sobrenadante para

Erlenmeyer de 125 mL, adicionando-se 25 mL de água deionizada. A solução foi

então titulada com NaOH 0,015 N com indicador azul de bromotimol.

3.5.1.3 Determinação de Ca2+ com EDTA

Seguido o mesmo método de extração para a determinação de

Al3+, transferiu-se 25 mL do sobrenadante para Erlenmeyer de 125 mL e

adicionou-se 4 mL de solução coquetel para cálcio (Solução contendo 100 g de

NaOH e 25 mL de trietanolamina concentrada por litro). A solução foi titulada com

Na2EDTA 0,01 M utilizando-se 4 gotas de indicador calcon.

3.5.1.4 Determinação de Ca2+ + Mg2+ com EDTA

Do extrato utilizado para determinação de Al3+ e Ca2+, foram

transferidos 25 mL do sobrenadante para Erlenmeyer de 125 mL, adicionando-se

40 mL de água deionizada e 4 mL de solução tampão pH 10 *. Titulou-se a

amostra com Na2EDTA 0,01 M e 4 gotas de indicador negro de eriocromo-T.

* Solução tampão pH 10: 68,0 g de NH4Cl; 570 mL de NH4OH concentrado; 0,61

g de MgSO4.7H2O; 0,93 g de Na2EDTA.2H2O; 50 mL de KCN 10%; 100 mL de

trietanolamina; volume completado com água deionizada para um litro de solução.

3.5.1.5 Determinação de K+ por Fotometria de Chama

O potássio e o fósforo disponíveis do solo são extraídos com

solução de Mehlich-1 (H2SO4 0,025 N + HCl 0,05 N), preparada pela mistura de 25

mL de H2SO4 1 N e 50 mL de HCl 1 N para 1 litro de solução. Foram transferidos 5

cm3 de TFSA para Erlenmeyer de 125 mL e adicionados 50 mL da solução de

Mehlich-1. Agitou-se por 5 minutos a 250 rpm e deixou-se decantar por uma noite.

Para determinação foram pipetados 20 mL do extrato e efetuada a leitura no

fotômetro de chama.

3.5.1.6 Determinação de P por Espectrofotometria

Utilizando a mesma metodologia de extração da determinação de

potássio, foram pipetados 5 mL do sobrenadante e transferidos para tubo de

ensaio. Adicionou-se então 10 mL de solução de Molibdato de amônio * e uma

pitada de ácido ascórbico. Após 30 minutos foi executada a leitura no

espectrofotômetro a 630 nm.

* Solução de Molibdato de amônio: 2g de (BiO2)CO3 dissolvidos em 500 mL de

água deionizada e 150 mL de H2SO4; 20 g de (NH4)6Mo7O24.4H2O dissolvidos em

200 mL de H2O deionizada; volume da mistura completado para 1 litro. Transferir

300 mL desta solução para balão de 1 L e completar o volume com água

deionizada.

3.5.1.7 Determinação de Carbono Orgânico: Método de Walkley-Black

Transferiu-se 1 cm3 de TFSA para Erlenmeyer de 250 mL,

adicionou-se 10 mL de K2Cr2O7 1 N e 10 mL de H2SO4 concentrado. Deixou-se

esfriar a mistura por cerca de 30 minutos e adicionou-se 50 mL de água

deionizada e 3 mL de H3PO4 concentrado. A solução foi titulada com FeSO4 1 N e

0,5 mL de indicador difenilamina (1% em H2SO4), titulando-se, também, uma prova

em branco.

3.5.2 Teste de Vigor das Sementes

O vigor das sementes foi testado semeando-se em vasos

contendo areia limpa, sem nenhum tipo de nutriente, e água desmineralizada.

Após 15 dias foram observadas as emergências das diferentes espécies vegetais.

3.5.3 Amostragem do Solo e Correção do pH

Foram pesadas, armazenadas em sacos plásticos e separadas

140 amostras (32 sobressalentes) de 2 kg de solo seco.

O pH do solo foi corrigido utilizando-se 3,30 g de CaCO3 por saco

de 2 kg de solo seco. O CaCO3 foi adicionado e o saco foi vigorosamente agitado

até não ser mais possível a observação de carbonato acumulado. Posteriormente

adicionou-se a todas as amostras 480 mL de água deionizada (70% da

capacidade máxima de retenção de água do solo) e o solo foi armazenado durante

30 dias para ação do calcário, permitindo a redução da acidez ou neutralização do

solo. Após este período, o solo foi posto a secar, para posterior recepção de

solução de nutrientes.

3.5.4 Preparação e Aplicação de Solução Nutritiva de Plantas

Para evitar limitação do crescimento das plantas por restrição à

disponibilidade de nutrientes, aplicou-se uma solução contendo macro e

micronutrientes, descrita em Oliveira et al. (1991) e utilizada com freqüência em

estudos com solos. Os nutrientes, seu composto fonte e as quantidades por litro

de solução são mostrados na Tabela 4.

Tabela 4 – Fontes de nutrientes e concentrações requeridas para a adubação básica de um solo (Oliveira et al., 1991).

Nutriente Fonte Concentração (g L-1)

N NH4H2PO4 24,64

P KH2PO4 10,39

K K2SO4

Na2SO4

3,370

2,220

B H3BO3 0,139

Cu CuSO4.5H2O 0,185

Fe FeCl3.6H2O 0,225

Mn MnCl2.4H2O 0,395

Mo NaMoO4.2H2O 0,010

Zn ZnSO4.7H2O 0,528

Foram preparados 10 L desta solução. Oliveira et al. (1991) indica

a aplicação de 100 mL de solução para cada 3 kg de solo. Logo, foram aplicados

67 mL em cada recipiente contendo 2 kg de solo.

3.5.5 Contaminação do Solo e Plantio

O solo foi então contaminado com diesel comercial em

concentrações de 1, 2 e 4% (msolo/vdiesel), que correspondem a 17, 34 e 68 g/kg,

além de vasos sem contaminação, a fim de se obter parâmetros de comparação

do desenvolvimento das plantas em solo contaminado. O volume do óleo foi

medido em proveta, adicionado aos poucos e o saco foi agitado vigorosamente

por cerca de 1 a 2 minutos para se promover a homogeneização da mistura.

Depois de selecionadas as sementes, os vasos foram semeados

retirando-se uma camada de solo, colocando-se as sementes com distribuição

uniforme e as recobrindo com a camada de solo retirada. A quantidade de

sementes por vaso está mostrada na Tabela 5.

Tabela 5 - Número de sementes por espécie.

Planta Nº de sementes/vaso

Feijão de porco 10

Crotalária 20

Capim tanzânia 30

Braquiária 30

Capim colchão 30

Pé-de-galinha gigante

30

Estes números foram baseados nos resultados do teste de vigor

das sementes, a fim de se otimizar a produção, considerando-se todos os níveis

de contaminação.

Foram utilizados vasos-controle, isentos de vegetação, nos teores

1, 2 e 4% (msolo/vdiesel) de contaminação. Para cada combinação espécie/teor de

contaminante, e também para os vasos-controle, foram utilizadas 4 repetições,

totalizando 108 vasos, todos identificados por numeração exclusiva.

3.5.6 Delineamento e Condução do Experimento

O experimento foi conduzido em uma estufa do Departamento de

Agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Os vasos foram distribuídos sobre duas mesas de 1x3m com

delineamento inteiramente casualizado, sendo os vasos trocados de posição a

cada 4 dias.

A irrigação se deu a cada 2 dias e, após cerca de 35 dias de

tratamento, foi irrigado quando necessário, uma vez que a planta ao atingir maior

porte há um maior consumo de água. A perda de umidade do solo foi averiguada e

controlada por pesagem dos vasos no local.

Após 15 dias do plantio, foi verificado o percentual de emergência

das plantas e promoveu-se o desbaste, deixando um mesmo número de plantas

por vaso nas diferentes repetições da mesma espécie (Tabela 6). Após este

ponto, nenhuma outra planta foi removida, ocorrendo crescimento natural até o

final do tratamento, delimitado em 45 dias.

Tabela 6 – Quantidade máxima fixada, em 15 dias, de plantas por vaso.

Espécie Nº máximo de plantas/vaso

Feijão de porco 2

Crotalária 8

Capim tanzânia 8

Braquiária 8

Capim colchão 8

Pé-de-galinha gigante 8

O número reduzido de plantas por vaso na espécie feijão de porco

se deve ao maior porte da planta em relação às demais, com extensa área

radicular.

3.5.7 Parâmetros Posteriores e Métodos de Análise

3.5.7.1 Análise dos Compostos Aromáticos do Diesel no Solo

Foram coletadas amostras de solo no tempo zero e 45 dias após o

plantio para análise dos aromáticos presentes. A amostragem foi executada de

forma multipontual, ou seja, para cada 4 vasos em repetição, foram retiradas

alíquotas equivalentes de solo que, misturadas, formam uma amostra composta

para cada combinação espécie/concentração ou controle.

O solo, após ter sido coletado, foi submetido primeiramente a

procedimento de secagem a vácuo, no qual o solo foi espalhado sobre papel filtro

em funil de Büchner e submetido a sucção por 90 minutos.

O diesel do solo foi extraído utilizando-se 20 g de solo e 100 mL

de diclorometano, transferidos para Erlenmeyer de 500 mL que foi vedado com

várias camadas de filme plástico para evitar a perda do solvente por volatilização.

Agitou-se por 60 minutos e, em seguida, filtrou-se o material em funil comum,

armazenando-se o extrato em frasco âmbar, lacrando-se a tampa com filme

plástico e armazenado-se em geladeira a 3ºC. Foram, então, posteriormente,

realizadas as leituras no Espectrofluorofotômetro, dos extratos com volumes

normalizados a 100 mL, obtendo-se espectros de fluorescência com faixa de

excitação iniciando em 230 nm e faixa de emissão de 250 a 800 nm.

3.5.7.2 Massa Vegetal Produzida

Na avaliação de 45 dias, coletou-se a parte aérea de cada planta

mediante corte na região do coleto. Estas foram, primeiramente, submetidas a

processo de lavagem, passando-se em água de torneira, água destilada e água

deionizada, a fim de retirar o solo e poeira adsorvidos. Posteriormente, o material

vegetal foi embalado em sacos de papel devidamente identificados e

encaminhado para secagem em estufa com circulação forçada de ar, mantida a

temperatura constante de 65ºC por aproximadamente 90 horas. A produção de

biomassa de cada espécie foi então obtida mediante pesagem dos materiais

secos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Teste de Vigor das Sementes

Foram observadas as emergências em 7, 10 e 15 dias após o

plantio em areia, os resultados estão dispostos na Tabela 7.

Tabela 7 – Resultados do Teste de vigor com as diferentes espécies vegetais utilizadas no experimento.*

Espécies Nº sementes Contagem de plântulas % de germinação

7 dias 10 dias 15 dias

Feijão de porco 15 0 13 14 93%

Crotalária 20 18 18 18 90%

Capim tanzânia 20 0 1 7 35%

Braquiária 20 5 11 11 55%

Capim colchão 20 7 7 9 45%

Pé-de-galinha gigante 20 0 17 18 90%

* Teste realizado no laboratório de sementes do departamento de Agronomia

As sementes das espécies feijão de porco, crotalária e pé-de-

galinha gigante mostraram bons resultados. As demais gramíneas mostraram

resultados intermediários de vigor. Este teste serviu de base para a definição do

número de sementes que seriam utilizadas no experimento, uma vez que o

objetivo era o de se obter um balanço na distribuição das espécies.

4.2 Correção e Fertilidade do Solo

O termo fertilidade se refere à capacidade intrínseca de um solo

para fornecer nutrientes aos vegetais em quantidades adequadas e em

proporções convenientes. A fertilidade é apenas um entre vários fatores que

determinam a magnitude dos rendimentos nas culturas.

A aplicação de corretivos de acidez e de fertilizantes é

necessidade freqüente em quase todos os experimentos a serem conduzidos

nesta área, mesmo que o objetivo não seja o estudo da fertilidade. O pH ideal do

solo depende da cultura a ser estudada e do objetivo do trabalho, mas, de modo

geral, um valor em torno de 6,0 é satisfatório para a maioria das culturas (Brady,

1979; Oliveira et al., 1991).

As medidas de pH do solo, antes e após a correção com CaCO3,

mostram que o solo apresentava-se moderadamente ácido e após ser corrigido,

atingiu-se um pH considerado ideal.

Tabela 8 - Teores de Ca, Mg, K, Al, P e Matéria orgânica (%); e pH (CaCl2 e H2O) do solo antes e após a correção e fertilização.

Elemento Antes Após

Ca2+ (cmolc/dm3) 2,1 3,9

Mg2+ (cmolc/dm3) 1,5 1,4

K+ (cmolc/dm3) 0,13 0,53

Al3+ (cmolc/dm3) 0,04 0,09

P (ppm) 0,182 19,5

MO (%) 1,46 1,23

pH CaCl2 4,4 6,1

pH H2O 5,2 6,4

Os metais Ca e K tinham valores considerados de médio a baixo e

o Al (tóxico) encontrava-se em baixo teor; o Mg tinha valor considerado alto. O

teor de matéria orgânica era baixo, como já era previsto, uma vez que trata-se de

solo mineral e o teor de fósforo encontrava-se muito baixo. Após a fertilização, os

níveis de todos os minerais aumentaram consideravelmente, embora o teor de Al

tenha tido apenas uma pequena variação, o que é bom. O Mg manteve-se

praticamente estável, pois este metal não estava incluído na formulação do

fertilizante. O aumento no teor de P foi de mais de 100 vezes e a matéria orgânica

sofreu um pequeno decréscimo. Estas variações nos teores de Al e matéria

orgânica podem ser devidas principalmente pela alteração do pH.

Esta avaliação nos permite dizer que o desenvolvimento dos

vegetais não poderia ser prejudicado pela acidez ou pela falta de nutrientes no

solo. Sendo assim, as complicações na germinação e crescimento das espécies

durante o experimento devem ser atribuídas a outros fatores críticos, sendo a

dose de contaminante o principal deles.

4.3 Percentual de Emergência

O percentual de emergência das sementes foi avaliado 12 dias

após o plantio, obtendo-se os seguintes resultados:

Tabela 9 - Percentual de emergência das espécies após 12 dias

Espécie Teor de

contaminação (msolo/vdiesel)

Nº de sementes Nº médio de

plântulas emergidas

Percentual de Emergência

Feijão de

porco

0%

1%

2%

4%

10

10

10

10

5,5

8,5

8,0

0,75

55%

85%

80%

7,5%

Crotalária

0%

1%

2%

4%

20

20

20

20

13

9,8

3,75

0

65%

49%

19%

0,0%

Capim

tanzânia

0%

1%

2%

4%

30

30

30

30

12

3,3

1,5

0

40%

11%

5,0%

0,0%

Espécie Teor de

contaminação (msolo/vdiesel)

Nº de sementes Nº médio de

plântulas emergidas

Percentual de Emergência

Braquiária

0%

1%

2%

4%

30

30

30

30

10

9,8

7,5

0,25

33%

33%

25%

0,8%

Capim

colchão

0%

1%

2%

4%

30

30

30

30

1,3

1,8

1,0

0

4,3%

6,0%

3,3%

0,0%

Pé-de-galinha

gigante

0%

1%

2%

4%

30

30

30

30

15

11

9,8

3,8

50%

37%

33%

13%

Neste ponto, algumas espécies como o crotalária, a braquiária e o

pé-de-galinha gigante mostravam resultados inesperados quando comparam os

níveis 0 e 1%. As outras espécies apresentaram resultados normais, com

decréscimo ou atraso na germinação da semente. Apesar de ter havido bom

percentual de emergência, pelo menos para os 3 primeiros níveis de

contaminação, algumas espécies morreram com o decorrer do experimento, não

apresentando produção significativa de massa no final de 45 dias.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 1 2 3 4

% Diesel

% E

mer

gênc

ia

Feijão de Porco

Crotalária

Capim Tanzânia

Braquiária

Capim Colchão

Pé-de-Galinha

Figura 1 – Percentual de emergências das diferentes espécies em função da concentração de diesel.

Adam e Duncan (2002) explicam que o diesel pode formar uma

espécie de filme na superfície da semente, que age como uma barreira, reduzindo

a transferência de água e oxigênio. Existem ainda no solo com diesel outros

fatores inibidores da germinação, causando atraso ou inibição total da

germinação, dependendo da espécie.

4.4 Massa Vegetal Produzida

As biomassas secas médias produzidas pelas 6 espécies estão

dispostas na Tabela 10.

Tabela 10 – Valores médios para produção de matéria seca da parte aérea das diferentes espécies em função dos níveis de contaminação do solo com diesel.

NÍVEIS DE CONTAMINAÇÃO (%) ESPÉCIES (n)

0 1 2 4

Feijão de porco (2) 18,63 Aa* 7,60 Ba 3,14 Ca 0,00 Da

Crotalária (8) 6,85 Ac 5,95 Bc 0,00 Bb 0,00 Ba

Capim Tanzânia (8) 13,01 Ab 3,60 Bb 0,00 Cb 0,00 Ca

Braquiária (8) 11,87 Ab 4,60 Bb 0,12 Cb 0.00 Ca

Capim colchão (8) 12,31 Ab 2,30 Bbc 0,06 Bb 0,00 Ca

Pé-de-galinha (8) 12,52 Ab 4,31 Bb 0,22 Cb 0,00 Ca

* Médias seguidas da mesma letra maiúscula nas linhas e minúsculas nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 1%. (n) = número máximo de plantas por vaso.

A produção de matéria seca da parte aérea das plantas, variou

significativamente com as espécies e níveis de contaminação do solo com diesel.

As variações entre espécies estão ligadas às caraterísticas genéticas e

morfológicas de cada espécie.

Quanto ao efeito dos níveis de contaminação do solo com

diesel, pode-se observar comportamento diferente entre grupos e espécies. As

espécies leguminosas (crotalária e crotalária), apresentaram maior variação

interespecíficas com o Feijão produzindo maior quantidade de biomassa seca na

parte aérea que a crotalária, mesmo com número menor de plantas por vaso (2

para 8) (Tabela 10).

A variação entre as espécies de gramíneas foi menor, porém

independentemente do nível de contaminação considerado foi sempre menor que

a produção de biomassa seca do crotalária (Figura 1). A braquiária e o capim pé-

de-galinha gigante, foram as gramíneas que apresentaram os maiores acúmulos

de matéria seca na parte aérea da plantas, nos solos contaminados com diesel.

Quando o nível de contaminação foi de 4%, nenhuma espécie

apresentou emergência e crescimento da parte aérea, podendo ser considerado,

neste estudo, como um ponto de inibição da emergência e do crescimento desses

vegetais (Figuras 2 e 3).

Como as observações apresentadas referem-se apenas a um

curto período de exposição e crescimento das diferentes espécies testadas, em

ambiente contaminado com diesel, não se pode concluir ainda sobre as mais ou

menos tolerantes, entretanto pode-se observar que o crotalária entre as

leguminosas e a braquiária e o capim pé-de-galinha gigante entre as gramíneas,

foram as espécies que apresentaram o melhor desempenho quanto à produção de

biomassa vegetal da parte aérea em solo arenoso contaminado com até 2% em

volume de diesel.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

0 1 2 3 4

% Diesel

Mas

sa s

eca

Feijão de Porco

Crotalária

Capim Tanzânia

Braquiária

Capim Colchão

Pé-de-Galinha

Figura 1 – Decréscimo na produção de biomassa em função da concentração de diesel para as 6 diferentes espécies utilizadas.

Figura 2 – Inibição de germinação e crescimento das 2 espécies leguminosas a 4% de contaminação: feijão de porco e crotalária, respectivamente.

Figura 3 – Inibição do desenvolvimento das 4 espécies gramíneas a 4% de contaminação: capim tanzânia, braquiária, capim colchão e capim pé-de-galinha gigante, respectivamente.

As figuras 4, 5, 6, 7, 8 e 9 mostram as diversas espécies com

comparação do desenvolvimento em 45 dias, nos 4 níveis de contaminação 4, 2, 1

e 0% respectivamente.

Figura 4 – Feijão de porco.

Figura 5 – Crotalária.

Figura 6 – Capim tanzânia.

Figura 7 – Braquiária.

Figura 8 – Capim colchão.

Figura 9 – Capim pé-de-galinha gigante.

4.5 Degradação dos Compostos Aromáticos do Diesel no Solo

A seguir, serão exibidos os espectros de fluorescência obtidos,

verificando-se o perfil do início (tempo zero), onde a concentração de diesel tem

valor máximo, e o perfil do vaso controle sem vegetação, comparado ao dos vasos

vegetados das 6 espécies em 1 e 2% de contaminação após 45 dias de

tratamento. Os tratamentos a 4% de contaminação, como não apresentaram

crescimento vegetal, foram descartados desta verificação, uma vez que não seria

possível avaliar a Fitorremediação nestes casos.

Figura 10 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com feijão de porco e solo sem vegetação (controle) com 1% de diesel em 45 dias.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 1% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Feijão) - 45 dias

Figura 11 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com feijão de porco e solo sem vegetação (controle) com 2% de diesel em 45 dias. Figura 12 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com crotalária e solo sem vegetação (controle) com 1% de diesel em 45 dias.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 2% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Feijão) - 45 dias

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inta

nsid

ade

solo/óleo - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Crotalária) - 45 dias

Figura 13 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com crotalária e solo sem vegetação (controle) com 2% de diesel em 45 dias. Figura 14 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com capim tanzânia e solo sem vegetação (controle) com 1% de diesel em 45 dias.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 2% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Crotalária) - 45 dias

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 1% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Capim Tanzânia) - 45 dias

Figura 15 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com capim tanzânia e solo sem vegetação (controle) com 2% de diesel em 45 dias. Figura 16 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com braquiária e solo sem vegetação (controle) com 1% de diesel em 45 dias.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 2% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Capim Tanzânia) - 45 dias

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 1% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Braquiária) - 45 dias

Figura 17 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com braquiária e solo sem vegetação (controle) com 2% de diesel em 45 dias. Figura 18 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com capim colchão e solo sem vegetação (controle) com 1% de diesel em 45 dias.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 2% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Braquiária) - 45 dias

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 1% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Capim Colchão) - 45 dias

Figura 19 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com capim colchão e solo sem vegetação (controle) com 2% de diesel em 45 dias. Figura 20 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com capim pé-de-galinha gigante e solo sem vegetação (controle) com 1% de diesel em 45 dias.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 2% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

solo/óleo (Capim Colchão) - 45 dias

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 1% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

Pé-de-Galinha 45 dias

Figura 21 – Espectro de fluorescência do extrato de solo cultivado com capim pé-de-galinha gigante e solo sem vegetação (controle) com 2% de diesel em 45 dias.

A análise por fluorescência dos extratos de solo contaminado com

diesel permitiu monitoramento dos componentes aromáticos do óleo. As regiões

do espectro no UV e Visível correspondem a compostos com diferentes

conjugações de anéis benzênicos. O pico exibido entre 330 e 340 nm corresponde

a compostos com 1 anel aromático ou derivados, como o benzeno, tolueno,

etilbenzeno, xileno, etc. A região com pico entre 350 e 370 nm corresponde a

compostos com 2 anéis aromáticos. A região entre 390 e 420 nm é

correspondente à emissão de compostos com 3 ou mais anéis aromáticos e da

fração polar do diesel. A fluorescência entre 630 e 750 nm é devido a traços de

compostos aromáticos com elevada massa molecular (asfalteno).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

solo/óleo 2% - Tempo zero

solo/óleo (controle) - 45 dias

Pé-de-Galinha 45 dias

Em todos os casos, em solo cultivado ou não, houve diminuição

na intensidade relativa de fluorescência dos derivados aromáticos do óleo, devido

principalmente à ação térmica e degradação fotoquímica do óleo sob

intemperismo. A degradação ocasionada exclusivamente pela presença da planta

foi verificada através da diminuição de fluorescência nos picos a 330 e 350 nm.

Na faixa entre 390 e 420 nm houve um pequeno aumento na

intensidade de fluorescência em conseqüência da volatilização das parafinas e

outros compostos de baixa massa molecular, na maioria não fluorescentes,

promovendo aumento na concentração de aromáticos fluorescentes. Neste caso,

no solo vegetado pode ter também ocorrido degradação dos componentes de

baixa massa molecular, o que também leva ao aumento na intensidade de

fluorescência.

O comportamento das espécies crotalária (Figuras 10 e 11) e

capim tanzânia (Figuras 14 e 15) foi semelhante, havendo diminuição na

intensidade dos picos a 330 e 350 nm em relação ao controle.

No espectro do extrato de solo com a espécie braquiária em solo

com 1% de diesel (Figura 16) verifica-se pequena diminuição na fluorescência dos

2 primeiros picos (330 e 350 nm) em relação ao solo-controle, tornando-se difícil a

afirmação de que esta espécie teve alguma ação sobre a fração aromática do

contaminante. Em 2% de contaminação do solo (Figura 17) não houve diminuição

na intensidade de fluorescência.

No solo cultivado com a espécie pé-de-galinha gigante a 1% de

diesel, mostrado na Figura 20, houve redução significativa na fluorescência em

330 e 350 nm, principalmente no pico correspondente a monoaromáticos. A 2% de

diesel no solo houve crescimento da planta mas não ocorreu diminuição na

fluorescência.

As Figuras 18 e 19 mostram o comportamento da espécie capim

colchão, onde não houve redução na fluorescência em relação ao controle em

nenhum dos níveis de contaminação. Esta espécie, e também o capim tanzânia a

1% de diesel no solo, provocaram um aumento significativo na fluorescência na

faixa entre 650 e 700 nm, que pode ser devido à incorporação dos produtos de

degradação do diesel no ácido húmico e matéria orgânica do solo, provavelmente

facilitado por ação microbiológica.

O espectro mostrado na Figura 12, referente ao solo cultivado com

crotalária a 1% de contaminação, onde houve bom crescimento da planta (Figura

5) mostra que o comportamento do solo vegetado foi praticamente idêntico ao solo

sem vegetação, mostrando que esta espécie não teve nenhuma ação sobre o

contaminante. No solo com plantio de crotalária e contaminado com diesel a 2%

não houve crescimento do vegetal, porém houve pequeno aumento na intensidade

relativa de fluorescência, em todos os comprimentos de onda do espectro (Figuras

5 e 13). Este mesmo aumento na fluorescência foi verificado em todas as

amostras de solo contaminado com 4% de diesel, onde também não ocorreu

crescimento vegetal. Nestes casos, pode ter ocorrido maior dessorção do diesel a

partir do solo.

A Figura 22 mostra uma comparação do percentual referente à

ação das espécies sobre a fração de compostos monoaromáticos do diesel (pico

em 330 nm) em solos com 1% de contaminação. Estes valores foram obtidos pela

diferença entre a intensidade de fluorescência em 330 nm do solo vegetado e do

solo-controle (sem vegetação).

26.50%

0.06%

18.80%

13.34%

0%

54.80%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Feijão de Porco Crotalária Capim Tanzânia Braquiária Capim Colchão Pé-de-Galinhagigante

% D

E D

GER

AD

ÃO

PEL

A P

LAN

TA

Figura 22 – Percentual de ação das espécies vegetais sobre monoaromáticos (pico em 330 nm), obtido pela diferença da intensidade de fluorescência do solo vegetado e do solo-controle (sem vegetação) a 1% de contaminação com diesel.

5 CONCLUSÕES

Todas as espécies utilizadas, com exceção da crotalária e do

capim colchão, apresentaram efeito sobre o contaminante a 1% de contaminação

do solo, em especial àquela fração correspondente a compostos aromáticos de 1

e 2 anéis. No solo a 2% de contaminação com diesel, as espécies que

conseguiram se desenvolver apresentaram resultados semelhantes.

Sobre a fração de compostos com maior número de anéis

aromáticos não houve efeito significativo de nenhuma das espécies testadas.

O teor de 4% de diesel no solo foi inibidor da emergência de todas

as espécies vegetais utilizadas nesta pesquisa.

Quanto à produção de biomassa vegetal seca, o crotalária, a

braquiária e o capim pé-de-galinha gigante, foram as espécies que apresentaram

melhor desempenho.

A fitorremediação pode ser uma alternativa viável para solos com

baixos níveis de contaminação com diesel e merece atenção por ser uma

estratégia de baixo custo, baixo impacto e que, ao contrário de muitas técnicas,

causa melhoramento visual do local contaminado.

5.1 Proposta de Continuidade

As espécies devem ser cultivadas por período suficiente para

completar o ciclo vital, uma vez que nestes casos, além da sobrevivência é

interessante considerar também a capacidade reprodutiva das plantas

selecionadas.

Como há na literatura referências sobre a tolerância da alfafa a

níveis de contaminação superiores aos testados, sugere-se a inclusão da mesma

nos próximos estudos.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ACCIOLY, A. M. A.; SIQUEIRA, J. O. Contaminação Química e

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