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Este trabalho tem o objetivo de analisar as diferentes visões de mundo das crianças através da interpretação de fotografias. Ele traz algumas curiosidades importantes sobre o processo fotográfico e sua História na evolução dos tempos. Inicia-se com a História das descobertas em relação ao processo de fixação de imagens. Conta os progressos e conquistas desta arte que era considerada diferente e reveladora ao mesmo tempo. Ele também revela fatos sobre a Infância, como ela era representada antes e depois da fotografia, fazendo uma ligação entre a História das crianças e a invenção fotográfica. Tanto o sentimento da Infância, quanto o surgimento da câmera fotográfica, foram importantes na História da humanidade. Cada um deixou marcas e lembranças profundas em nossos registros. O sentimento de infância se faz presente em muitas produções artísticas em distintas épocas, onde a infância era vista como algo desnecessário para humanidade.
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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL
ALEXANDRA FERNANDES BITENCOURT
A CRIANÇA E SUAS CONCEPÇÕES DE MUNDO ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA
São Leopoldo 2010
ALEXANDRA FERNANDES BITENCOURT
A CRIANÇA E SUAS CONCEPÇÕES DE MUNDO ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA
Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização apresentado como Requisito parcial para a obtenção do Título de Especialista em Educação Infantil, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Orientadora: Profª Marita Martins Redin
São Leopoldo 2010
Dedico este trabalho a minha família pelos momentos
compartilhados e alicerçados no amor e na amizade.
E às crianças, que foram sujeitos
de minha pesquisa, pelo muito que me ensinaram.
AGRADECIMENTOS...
Gostaria de agradecer as pessoas que se envolveram na
elaboração deste trabalho.
Agradeço de coração...
...à minha família pelo companheirismo e atenção;
...à professora Marita Redin, por aceitar a orientação deste estudo
e pelos momentos companheirismo;
...às crianças, que foram sujeitos de minha pesquisa, pelo muito
que me ensinaram.
“Eu que fabrico o futuro como uma aranha diligente. E o
melhor de mim é quando nada sei e fabrico não sei o quê.
Eis que de repente vejo que não sei nada.
O gume de minha faca está ficando cego? Parece-me que o
mais provável é que não entendo porque o que vejo agora
é difícil: estou entrando sorrateiramente numa realidade
nova para mim e que ainda não tem pensamentos
correspondentes, e muito menos ainda alguma palavra que
a signifique. É mais uma sensação atrás do pensamento.”
Clarice Lispector
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de analisar as diferentes visões de mundo das crianças através da interpretação de fotografias. Ele traz algumas curiosidades importantes sobre o processo fotográfico e sua História na evolução dos tempos. Inicia-se com a História das descobertas em relação ao processo de fixação de imagens. Conta os progressos e conquistas desta arte que era considerada diferente e reveladora ao mesmo tempo. Ele também revela fatos sobre a Infância, como ela era representada antes e depois da fotografia, fazendo uma ligação entre a História das crianças e a invenção fotográfica. Tanto o sentimento da Infância, quanto o surgimento da câmera fotográfica, foram importantes na História da humanidade. Cada um deixou marcas e lembranças profundas em nossos registros. O sentimento de infância se faz presente em muitas produções artísticas em distintas épocas, onde a infância era vista como algo desnecessário para humanidade. Mas com a evolução do ser humano, a criança também foi se destacando dentro da sociedade, e aos poucos começou a conquistar seu território, onde suas especificidades eram compreendidas e respeitadas. Nos tempos modernos, a criança passou a ser importante na vida das pessoas e da sociedade, que passa a lutar e defender os direitos das crianças. A fotografia, como fonte de expressão contemporânea, nos traz esta referência, este sentimento de reconhecimento da infância. Com este meio a criança encontrou uma nova possibilidade de ver e interpretar o mundo em que está inserida. Através deste conteúdo será possível realizar análises e compreensões do mundo infantil partindo de imagens. Imagens que fazem parte da vida das crianças e nos revelam a sua verdadeira visão de mundo pela interpretação das fotografias. Os retratos nos revelam muito sobre os pensamentos e sentimentos mais profundos de uma criança. Palavras-chave: Visões. Interpretações. Infância. Fotografia. Sentimentos.
LISTA DE IMAGENS
Figura 1 – Imagem da primeira fotografia por Nicéphore Niépce........................ 16 Figura 2 – Retrato Louis Daguerre em 1839........................................................18 Figura 3 - Câmera escura portátil usada por Talbot.............................................20 Figura 4 - O Primeiro Negativo por volta de 1835, janela da casa de Talbot........21 Figura 5 - Trabalho fotográfico e a capa do livro criado por Talbot ......................22 Figura 6 - Estúdio de Talbot em Reading, 1844.....................................................23
Figura 7 - Talbot em daguerreótipo de 1844 ........................................................23 Figura 8 - George Eastman, inventor e fundador da Eastman Kodak..................26 Figura 9 - Logotipos criados ela Kodak no decorrer dos tempos..........................27 Figura 10 - Imagem de um filme fotográfico..........................................................28 Figura 11 - Obra de Sebastião Salgado................................................................34 Figura 12 - Obra de Sebastião Salgado ...............................................................34 Figura 13 – Imagem de crianças trabalhando no campo...........................................38
Figura 14 - Fotografia de uma criança morta, prática comum nesta época..........41 Figura 15 - Fotografia da menina Rafaela ............................................................52 Figura 16 – Fotografia tirada pela aluna Carolina ................................................54 Figura 17 – Fotografia tirada pela aluna Carolina................................................ .55 Figura 18 - Fotografia tirada pelo aluno Marcos ...................................................56 Figura 19 - Fotografia tirada pelo aluno Cauê ......................................................58 Figura 20 - Fotografia tirada pelo aluno Cauê ......................................................59 Figura 21 - Fotografia tirada pelo aluno Cauê ......................................................60
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10
2 A FOTOGRAFIA E A CRIANÇA..........................................................................13
2.1 A História da Fotografia....................................................................................13 2.2 A contribuição do trabalho social de Sebastião Salgado..............................32 3 O SENTIMENTO DE INFÂNCIA .........................................................................37
4 ATRAVÉS DAS FOTOGRAFIAS DESVENDAMOS AS VISÕES DE MUNDO DAS
CRIANÇAS ...............................................................................................................44
5 O QUE AS CRIANÇAS VÊEM ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA ............................52
6 CONCLUSÃO ......................................................................................................63
REFERÊNCIAS ........................................................................................................66
10
1 INTRODUÇÂO
Este trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada sobre a fotografia. Um
trabalho que iniciou com o meu Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia no
ano de 2007.
No meu Trabalho de Conclusão o objetivo era estudar e conhecer um pouco
mais sobre a História da Infância na História da Arte, que apresentou variadas
formas artísticas de representação. A fotografia apareceu na História por volta do
século XIX e trouxe grandes mudanças sociais.
No meu trabalho “As diferentes visões de Infância na História da Arte”, foi
possível acompanhar o reconhecimento e a representação da infância desde as
primeiras civilizações até os dias atuais, onde surgiu a fotografia. Nesta retrospectiva
foram revelados muitos dados importantes sobre como surgiu o sentimento de
Infância na humanidade.
Agora neste trabalho de Especialização o objetivo foi dar continuidade a esta
pesquisa que foi de grande importância para meu conhecimento e para minha
realização pessoal.
O trabalho com fotografias sempre aguçou a minha curiosidade, tanto a sua
técnica, quanto a sua utilização em trabalhos sociais. A atividade com imagens, com
fotografias, surgiu no século XIX como um meio de expressão dos ideais humanos.
Meio que se tornou inclassificável na expansão da Arte contemporânea, gerando
certa desordem no pensamento dos estudiosos.
Através dos retratos é possível analisarmos as mudanças qualitativas em
nossa sociedade, podemos acompanhar a evolução do sentimento de infância. As
imagens nos refletem diferentes momentos e distintas culturas, que buscam ao seu
10
modo, representar e respeitar a sua visão de vida, o seu povo, a sua criança, as
suas crenças, o seu mundo.
Acreditamos que esta arte seja uma mágica composta de vários elementos
químicos, onde conseguimos imortalizar pessoas e momentos nas fotos. A fotografia
revitaliza os pontos capturados pela imagem, preservando a fidelidade e a
autenticidade do momento congelado pelo tempo.
Os retratos nos revelam muitos fatos, mas precisamos ter a sensibilidade de
uma criança para interpretá-los. Quem fotografa, não perde nada do que esta ao
alcance da câmera fotográfica, tudo é presenciado e revelado por este aparelho que
congela a alma das pessoas.
As histórias vividas se firmam em nossas vidas através das lembranças, dos
relatos e dos registros significativos. Os registros de imagens, de acontecimentos
que marcam os momentos de nossa vida, fator que explica a importância das fotos
para os seres humanos, pois é através delas que conseguimos reconstituir o
presente e o passado, as muitas páginas de nossas vidas.
O trabalho fotográfico é muito abrangente, amplo e por isso ele apresenta
muitas interpretações. Pode ser considerado como arte ou não. Depende do ponto
de vista de quem analisa os retratos, pois nenhum sai igual ao outro, as fotografias
são sempre diferentes umas das outras.
Nem todas as pessoas gostam de ser fotografadas, mostram-se tímidas,
retraídas e inseguras diante de uma câmera fotográfica. As crianças já são mais
dispostas, adoram participar de sessões fotográficas, principalmente dos acessórios,
onde esbanjam criatividade.
Gostam de ser retratadas e principalmente de retratar. Adoram pegar uma
câmera fotográfica e tirar fotos de tudo que apareçam na sua frente.
As crianças não precisam de técnicas especiais para registrar as imagens, é
só apertar o botão e observar os flashes. Esta é uma experiência muito gratificante e
relativamente significativa para a criança, pois através desta brincadeira ela
consegue nos passar a sua visão do mundo em que esta inserida. Conseguimos
descobrir um pouco mais sobre a sua interpretação da realidade.
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10
A primeira parte deste trabalho aparece como uma pesquisa sobre a História
da fotografia e alguns momentos Históricos da Infância que acabam se misturando
na História da Humanidade. Ela apresenta dados científicos e sociais desta arte.
Também apresenta um pouco do trabalho do fotografo Sebastião Salgado.
Na segunda parte trago um pouco da História da Infância, relembrando fatos
e acontecimentos importantes no reconhecimento das crianças pela humanidade.
A terceira parte trata da visão social da fotografia no reconhecimento da
Infância. Fala da ligação histórica entre a Infância e a fotografia. Mostra como é
possível revelar a visão de mundo, de vida das crianças através dos retratos.
A última parte vem como o relato de uma experiência fotográfica com
crianças. Onde as crianças tiveram a oportunidade de manipularem uma câmera
fotográfica da maneira quisessem. Uma atividade que foi realizada e apresentada
sob diferentes pontos de vista, que traz revelações sobre as diferentes visões de
mundo destas crianças.
Acredito que com estes conteúdos e reflexões será possível reconhecer e
analisar o papel da fotografia na História da Infância. Papel importante no
reconhecimento destes pequenos e nas suas diferentes visões de mundo, de vida.
Através deste meio conseguimos desvendar aos pensamentos mais internos de uma
criança.
12
10
2 A FOTOGRAFIA E A CRIANÇA 2.1 A História da fotografia
As nossas primeiras lembranças de vida são os registros visuais. A fotografia
busca na memória a vivência perdida no tempo, narrando um momento através da
imagem. E através destas fontes iconográficas nós também resgatamos a História
da Infância, demonstrando sua dinâmica ao longo dos tempos.
Assim como a História da Infância, a trajetória da fotografia também foi longa
e dispersa em alguns momentos. A história desta arte começa com os trabalhos
realizados por químicos, filósofos, alquimistas e físicos desde o inicio da
Antiguidade.
Aproximadamenete, por volta de 350 a.C., na Grécia Antiga, Aristóteles já
conhecia o fenômeno da reprodução de imagens através da passagem da luz por
um pequeno orifício. Este primitivo processo de produzir imagens foi denominado
como câmara escura e foi usada pela primeira vez pelos árabes no século X para
observar os eclipses. Este foi o principio de nossa câmera fotográfica.
A civilização grega realizava seus trabalhos artísticos direcionados para a
vida presente, contemplando a natureza. As suas representações visuais eram
voltadas à racionalidade e à inteligência. Fator que excluía a criança desta
sociedade, não havia a necessidade de registrar este ser.
Alhazen em meados do século X, concluiu suas descobertas químicas sobre
a reprodução de imagens, descrevendo um processo de observação dos eclipses
13
10
solares através da utilização de um instrumento óptico escuro. A câmara escura era
um quarto escuro com um pequeno orifício aberto para o exterior.
Esta câmara era usada por artistas do século XVI, como apoio para esboçar
as pinturas; Leonardo Da Vinci já fazia uso deste meio em suas obras1.
No ano de 1525 já se conhecia o trabalho de escurecimento dos sais de prata
que em 1604 foi aprimorado pelo físico-químico italiano Ângelo Sala, que realizou
experimentos com compostos de prata, que escureciam com a presença da luz
solar. Estudiosos e químicos desta época já conheciam este processo de
escurecimento que gerava a formação de imagens transitórias, passageiras sobre
uma fita de sais minerais. Mas uma grande dúvida pairava sobre este trabalho, o
processo era interrompido rapidamente, sem que a imagem pudesse ser registrada.
No campo das Artes Visuais, este período ficou conhecido como Idade
Moderna. Assim como os químicos e físicos trabalhavam no aprimoramento das
técnicas mais próximas de nossa fotografia atual, os artistas também aperfeiçoaram
suas técnicas artísticas.
Entre os diferenciais desta época, está a representação das crianças, que
passou a ser um dos personagens mais frequentes nas pinturas e nos retratos deste
período. Normalmente a criança aparecia na presença da família.
Os Renascentistas além de retomarem a arte greco-romana, também
alcançaram grandes progressos na Literatura e na Ciência. Buscavam novas
respostas para a técnica de capturação de imagens.
O professor de Medicina da Universidade de Aldorf, na Alemanha, Johann
Henrich Schulze, em 1725, realizou a projeção de uma imagem com uma duração
de tempo maior, porém não o suficiente para que a mesma conseguisse ser
regsitrada. Continuou seus experimentos, colocando à luz do sol um frasco com
nitrato de prata, que algum tempo depois, foi possível perceber que a parte da
emulsão atingida pela luz solar recebeu uma coloração violeta escura, e o restante
1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Historia_da_fotografia
14
10
da solução não tinha alterado sua cor original, continuava com a cor esbranquiçada.
Ao sacudir a garrafa com o material, observou o desaparecimento da cor violeta.
Em busca de uma explicação e de um progresso neste processo, Schulze deu
continuidade ao estudo. Colocou papel carbono no frasco e levou-o ao sol na
esperança de ter um novo resultado. Passado um certo tempo, quando foi remover
os carbonos, percebeu marcas esbranquiçadas projetadas pelas matérias escuras,
que formavam o perfil claro nas tiras opacas do papel. Como não tinha certeza do
resultado, não podia afirmar qual era o determinante exato da alteração. Refez
novamente o experimento dentro de um forno na tentativa de desvendar se o
resultado se dava pelo calor ou pela luz. Nesta tentativa nada aconteceu, não houve
nehuma alteração, confirmando então que a luz provocava a mudança.
Em várias tentativas, acabou constatando que a luz de seu quarto era
suficientemente forte para escurecer as formas na mesma cor dos materiais que as
delineavam. Foram muitos anos de pesquisa procurando o resultado esperado.
Muitos físicos e químicos começaram a demonstrar interesse pelo processo
fotográfico; com o passar dos anos vários estudiosos tiveram progressos neste
processo. Carl Wilhelm Scheele, um químico suíço, em 1777, também conseguiu
comprovações do efeito de escurecimento dos sais minerais sobre o efeito da luz2.
Enquanto os quimicos realizavam suas pesquisas e descobertas no ramo da
fotografia, os artistas desta época dedicavam-se a técnica de retratar as pessoas
através da pintura. Esta prática de retratar despertou o interesse de muitas famílias
do século XVIII, que buscavam conservar a imagem através da arte dos pintores. Os
retratos de crianças tornaram-se numerosos neste período, fato que indicava a sua
existência e o seu reconhecimento; as crianças deixavam seus disfarces do
anonimato e fixavam-se na vida dos adultos.
Já no inicio do século XIX, na busca de novos resultados no processo
fotográfico, Thomas Wedgwood organizou experimentos semelhantes ao de
Scheele , colocando à luz do sol folhas de árvores e asas de insetos sobre papel e
couro branco que foram sensibilizados pela prata. Obteve o contorno em negativo,
2 www.fotoserumos.com
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10
onde tentou de muitas maneiras torná-las permanentes no registro; fato que não foi
possível, pois era impossível interromper o processo e a luz escurecia
demasiadamente as imagens.
Wedgewood, Schulze e Scheele realizaram grandes descobertas no
processo onde os átomos de prata possibilitavam a formação de conjuntos e cristais
que apresentavam reagentes à energia da ondulação de luz.
Dentro da História da fotografia existem muitos nomes e muitas descobertas.
Em 1817, o francês Joseph Nicéphore Niépce , alcançou o registro de imagens com
cloreto de prata no papel. Já em 1822, Niépce obeteve a fixação de uma imagem
pouco definida sobre uma chapa metálica. Neste processo ele usou nas partes
claras betume da judéia, que mostrava-se insolúvel sob a ação da luz, e as formas
escuras na base metálica3.
No ano de 1826, tivemos a primeira fotografia conhecida em nosso mundo,
que foi tirada da janela da casa de Niépce, onde é conservada até hoje. Ele
conseguiu reproduzir, após dez anos de experiências, a vista descortinada da janela
do sótão de sua casa. Foi produzida com uma câmara, sendo exigidas cerca de oito
horas de exposição à luz solar. Isto aconteceu quando o francês realizava pesquisas
de um meio automático para copiar desenhos e traços nas pedras litográficas.
Figura 1: Imagem da primeira fotografia por Nicéphore Niépce, em 1825.
3VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
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10
Muitos foram os progressos no estudo da fotografia. A sociedade, assim como
a química e a física desta época, também evoluiu. Na Idade Média as pessoas
ignoravam a existência de qualquer criança, a sua passagem pela família e pela
sociedade era muito breve e insignificante. E já na Idade Moderna a criança
começou a conquistar o seu lugar junto da família e da sociedade. Os retratos de
crianças sozinhas tornaram-se uma prática comum neste período.
Assim como a fotografia ganhava seu espaço e seu reconhecimento como
técnica para capturar imagens, a criança também assegurava seu espaço neste
tempo.
Niépce, como pesquisador interessado na área fotográfica, acabaou
descobrindo que alguns tipos de asfalto, como o betume da judéia, endureciam
quando expostos à ação da luz. No seu experimento dissolveu no óleo de lavanda o
asfalto, protegendo esta mistura com uma chapa de antimônio, estanho, cobre e
chumbo. Sobre a superficie fez uma ilustração com o traço banhado em óleo, para
que se mostrasse translúcida. De fato quando a experiência foi exposta ao sol, o
asfalto endureceu nas partes transparentes da ilustração, deixando a luz chegar a
placa, mas nas partes cobertas o conteúdo permaneceu solúvel.
Após, limpou a placa com óleo de lavanda retirando todo betume, passando a
chapa no ácido, que acabou corroendo as áreas onde o betume foi removido. Com
esta corrosão uma imagem começou a ser formada, fato que poderia ser usado na
reprodução de cópias.
Entusiasmado com suas descobertas, em 1829 Niépce começa a trabalhar
com Jacques Mandé Daguerre em novas pesquisas.
Niepce e Jacques Mandé Daguerre iniciaram suas pesquisas em 1829. Dez
anos depois, foi lançado o projeto que capturava as imagens. A conhecida “máquina
de tirar retrato” surgiu pela primeira vez em 1839, como um daguerreótipo4. Mande
Daguerre fez uma visita afável em Paris e acabou impressionado com os vultos
4Antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre; imagem produzida por este aparelho; reprodução exata.
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10
imprecisos de um engraxate e seu cliente, que se mostravam paralisados o tempo
suficiente para realizar a impressão da imagem na lenta chapa do daguerreótipo.
Pela demora do processo, não era possível realizar o registro dos objetos em
movimento.
Este projeto de máquina era feito numa placa de ouro e de prata, que quando
exposta a vapores de iodo, acabava formando uma camada de iodeto de prata sobre
o mesmo. Quando colocado numa caixa escura e exposta à luz, a chapa era
revelada no vapor de mercúrio aquecido, registrando as imagens. As imagens eram
fixadas por uma solução de tiossulfato de sódio. Processo dificil e lento de se
entender, mas com um resultado visivel 5.
A imagem produzida no aparelho não era como a nossa fotografia atual, não
existia a possibilidade de fazer cópias, o retrato era único. Apresentava uma imagem
bastante nítida, pequena e de superfície distintamente refletida.
No dia 24 de junho de 1839, meses antes da oficialização da descoberta de
Daguerre, foi realizada a primeira exposição fotográfica de que se tem notícia. O
responsável por este evento foi o francês Hippolyte Bayard, que exibiu a cópia das
imagens sobre papel, revelando uma nova tendência na arte da fotografia.
Figura 2: Louis Daguerre em 1839
5 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
18
10
Este período mostrou-se ameaçador aos trabalhos artísticos, pois esta nova
técnica concorreria com as antigas pinturas. Neste período destacava-se a arte
romântica, que entre as grandes transformações sociais e econômicas, deparava-se
com o nascimento da fotografia, que surgia como uma forte concorrente. Como a
fotografia parecia ser uma técnica de baixo custo, os artistas acabaram perdendo o
seu lugar nas representações das imagens.
Muitas mudanças sociais ocorreram com esta nova técnica, que acabou
despertando o interesse da nobreza em adquirir seus próprios retratos de estúdio.
Assim as pessoas admiravam a sua imagem através de uma técnica barata e real.
Em 1839, Daguerre conseguiu o reconhecimento do projeto pela Academia de
Ciências e Artes, no Instituto Francês. A daguerreotipia se expandiu
extraordinariamente pelo mundo, atravessando o Atlântico, neste ano os norte-
americanos se destacaram na produção deste aparelho6.
Com a extensão desta técnica, este instrumento passou a ser um acessório
luxuoso, revestido de estojos requintados com metal dourado. O daguerreotipo
apareceu para a sociedade emergente como mais uma possibilidade de se igualar à
nobreza que era retratada por grandes pintores da época. Este objeto que congelava
a imagem, tornou-se algo luxuoso, uma oportunidade para as pessoas humildes
fugirem de suas limitações de espaço e tempo, surgindo como um troféu que era
exibido com orgulho pelas famílias.
A invenção de Daguerre e Niépce se difundiu pelo mundo todo. Em 1840,
Friedrich Viogtlander e John F. Goddard alcançaram um resultado satisfatório em
suas pesquisas, criando lentes com abertura maior, tornando mais sensível à placa
com bromo.
O inglês Willian Henry Fox Talbot sempre trabalhou em pesquisas sobre
imagens, em 1835 construiu seu primeiro invento, uma pequena câmara de madeira,
com somente 6,30 cm2, que era chamada de ratoeira por sua esposa. A câmara era
carregada com papel de cloreto de prata e de acordo com a óptica utilizada, era
6 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
19
10
necessário de meia à uma hora de exposição à luz solar. Com isso a imagem
negativa era projetada em sal de cozinha e submetida a um papel sensível. Desta
maneira a cópia era positiva sem a inversão lateral. A fotografia mais conhecida por
esta técnica, negativo/positivo, é da biblioteca de Locock Abbey7.
Figura 3: Câmera escura portátil usada por Talbot
Já em 1841, Talbot, lançou o calótipo, um processo mais eficiente de fixar as
imagens. O papel era molhado com iodeto de prata e depois exposto a luz numa
câmara escura, onde a imagem era revelada com ácido gálico e fixada com
tiossulfato de sódio. Gerando um negativo que era absorvido de óleo até ficar
transparente.
O positivo se dava pelo contato com um papel apreciável, como acontece nos
dias atuais. Talbot foi o grande inventor do negativo, que possibilitou a multiplicação
do número de cópias de uma mesma imagem. O negativo era constituído de um
papel de alta qualidade, pois na passagem para o positivo eram perdidos muitos
detalhes devido à fibrosidade do papel. Muitos profissionais buscavam melhorar a
qualidade das cópias usando uma base de vidro.
7 http://histfoto.wetpaint.com/page/William+Henry+Fox+Talbot
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10
Figura 4: O Primeiro Negativo por volta de 1835, janela da casa de Talbot
Patenteou a sua idéia reivindicando a paternidade sobre a fotografia. Mas é
importante lembrarmos que a fotografia foi lançada, anunciada publicamente por
Daguerre, só que ela foi inventada por Joseph Nicéphore Niépce8 quase duas
décadas antes do lançamento oficial. Infelizmente o criador não conseguiu
acompanhar o reconhecimento de seu invento que foi terminado por Daguerre, que
deu o nome de Daguerreótipo ao projeto final9.
8 ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: olhares dentro-fora. São Paulo: EDUC, 2002.
9 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
21
10
A invenção do calótipo foi o inicio, a primeira fase no desenvolvimento da
fotografia moderna. O daguerreótipo direcionava a fotogravura, um processo usado
na reprodução de fotografias em revistas e jornais.
Em 1844, Talbot publica o primeiro livro do mundo a ser ilustrado com
fotografias, “The pencil of nature”, “Lápis da natureza”. Este trabalho foi editado em
seis volumes, com o total de 24 fotografias originais do profissional, com explicações
detalhadas dos trabalhos e com um alto padrão de qualidade10.
Figura 5: Trabalho fotográfico e a capa do livro criado por Talbot
Como seu trabalho estava se expandindo, Talbot resolveu comprar uma casa
na cidade de Reading e montar um pequeno estúdio fotográfico, onde passou a
fazer cópias de seus trabalhos que eram comercializados em tendas artísticas de
toda Grã Bretanha. Com este trabalho, a idéia de negativo/positivo se difundiu pelo
mundo todo, cujo fundamento até hoje é usado pelos profissionais.
10 http://histfoto.wetpaint.com/page/William+Henry+Fox+Talbot
22
10
Figura 6: Estúdio de Talbot em Reading, 1844
Em 1845, seu grande invento foi permitir a reprodução de fotos através da
fotografia negativa latente, ou seja, usando os negativos. Anos depois apresentou
uma nova patente que usava a porcelana como um suporte fotográfico11.
Figura 7: W. H. Fox Talbot em daguerreótipo de 1844
11 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
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10
Em 1849 foi criada a câmera de lente dupla, que produzia duas fotografias de
focos diferentes, captadas pela nossa visão. Com isto surgiu um visor especial,
conhecido como “esteroscópio” que juntava e criava uma incrível ilusão de
profundidade tridimensional12.
Com o esteroscópio nasceu a esteriofotografia, que foi uma admirável
descoberta, pois sua visão binocular apresentou uma importante renuncia à
tradicional perspectiva pictórica e demonstrou pela primeira vez o poder da fotografia
em ampliar a visão do homem.
Com o passar do tempo, este estilo de retrato apresentou algumas
desvantagens, pois as pessoas eram acostumadas a apreciarem as pinturas com
um só olho e as fotografias não se reduziam a cópia na página impressa. Algo que
não deu certo e foi superado por novas invenções no ramo da fotografia.
No ano de 1851, o inglês Frederik Scott Archer criou uma operação de colódio
úmido, onde a placa era exposta a uma emulsão úmida. A solução continha
piroxilina em éter e álcool, adicionada a iodeto solúvel, com um pouco de brometo
que cobria a chapa de vidro com o preparo. A placa, ainda úmida, era exposta à luz
na câmara, revelada por uma solução em pirogalol com ácido acético e fixada
novamente com tiossulfato de sódio13.
Esta técnica gerava negativos sobre a chapa de vidro (onde o fundo era
pintado de preto para que a imagem aparecesse positiva), nos mesmos moldes dos
daguerreótipos. A imagem refletida no vidro foi chamada de ambrótipo, que significa
imagem imperecível. O responsável pelo o ambrótipo foi Marcus A. Root, que foi
popularizado com a ajuda de James A. Cutting e Isac A. Rehn, dois fotógrafos
americanos que divulgaram este trabalho14.
12 ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: olhares dentro-fora. São Paulo: EDUC, 2002.
13VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
14 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
24
10
O ambrótipo começou a competir seriamente com o daguerreótipo, por ter um
valor mais acessível, foi o mais procurado pelas famílias mais humildes. Depois este
foi sucedido pelo ferrótipo, outra técnica onde a base da imagem era uma fina folha
de ferro, como diz o próprio nome. Este processo foi patenteado pelo professor
americano Hamilton L. Smith de Ohio em 1856. Foi comercializado por Willian Neff e
Peter Neff Jr.
As chapas usadas pelos ferrótipos eram bem mais finas do que as do
daguerreótipo, tendo a vantagem de ser facilmente recortada e colada sobre a base
de papel. Fato que proporcionou sua expansão, pois desta maneira era possível
enviá-lo até pelo correio.
A passagem de um processo para o outro não foi de maneira linear,
passaram-se longos anos dividindo o mercado entre si, competindo e buscando
inovações para garantir a aceitação pela sociedade. No século passado a fotografia
atingiu seu auge na popularidade, os primeiros retratistas destacaram-se por uma
abordagem que obedecia cegamente os conceitos dos pintores, insuperados Nadar
e Carjat lançaram uma visão fotográfica do retrato.
Os primeiros clientes eram sempre amigos artistas e intelectuais, que
glorificavam este trabalho, achavam admirável esta técnica de registro das imagens.
Adolphe Eugene Disdere procurava aumentar o seu faturamento, com um
grande espírito prático, mostrou-se um novo inventor e pesquisador na área da
fotografia. Construiu uma câmera com diversas objetivas, ampliando as
possibilidades de uso de uma mesma chapa. Em 1854 ele cria um novo formato de
retrato, 6x9cm, que com seu custo baixo, ficou ao alcance de toda a população.
Com esta técnica Disdere acabou enriquecendo e sendo reconhecido
socialmente como um grande fotógrafo. Ainda mais quando foi convidado por
Napoleão III para retratar as suas tropas que estavam de partida para a Itália. Ele vai
além, em 1861 passou a ser o fotografo fixo do Ministério de Guerra Francês, onde
criou o retrato de identificação15.
15 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
25
10
Em 1864 este processo foi aperfeiçoado e começou a produzir uma solução
seca de brometo de prata em colódio. Em 1871, Richard Leach Maddox lançou as
primeiras placas secas com gelatina no lugar de colódio. Em 1874, as soluções
passaram a ser lavadas com água corrente, para retirar os sais residuais e
conservar as placas utilizadas no processo.
Em 1880 surgem os trabalhos do americano George Eastman, o criador da
famosa Kodak, que acabou revolucionando a História da fotografia. Há duas
explicações para o nome Kodak, a primeira é de que é uma onomatopéia do barulho
feito pela câmera ao ser disparada; a segunda é de que Eastman criou este nome
visando uma fácil pronuncia em qualquer língua, usando a letra “K”, que era sua
letra favorita16.
Figura 8: George Eastman, inventor e fundador da Eastman Kodak
Em oito de agosto de 1884, é dado um passo revolucionário na fotografia.
George Eastman e seu amigo Willian Walker registraram a patente do filme
16 www.comunicartedesign.blogspot.com/
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fotográfico de rolo, que até então a foto era gravada numa chapa. Com um
adaptador, o filme era fixado a qualquer câmera que funcionasse à base de chapas.
Grandes foram seus feitos para sociedade, pois usufruímos destas descobertas até
hoje.
Em 1888, a Kodak lança sua primeira câmera compacta, leve e de simples
manipulação. As câmeras lançadas por esta empresa chegaram ao mercado com
valores populares ao alcance de todos, onde o slogan era “aperte o botão e nós
faremos o resto” 17. A partir daí, esta marca não parou de crescer, sempre
acompanhando a evolução dos tempos.
Figura 9: Logotipos criados ela Kodak no decorrer dos tempos Com esta marca surgiram as primeiras câmeras fotográficas descartáveis,
próximas de nossos modelos atuais. Mesmo com esta expansão no mercado da
fotografia, as antigas câmeras com chapas ainda firmavam seu espaço, como ainda
hoje, onde alguns profissionais continuam realizando seus trabalhos com velhas
máquinas fotográficas com chapas. Só que substituíram a chapa de vidro pelo papel
17 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
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10
e depois pelo filme plano. Esta técnica continua sendo insuperável, a exposição e a
nitidez conseguem ser reguladas com maior precisão do que as máquinas de
pequeno porte.
Registros instantâneos não combinam com as antigas câmeras de chapas,
com o filme de rolo tudo ficou mais prático e a fotografia tornou-se uma arte popular.
Com o passar do tempo o retrato perdeu seu valor artístico e tornou-se uma
atividade amadora.
Figura 10: Imagem de um filme fotográfico
Todos que tinham uma câmera Kodak, se achavam fotógrafos, era apenas
apertar o botão e pronto. Mas não é tão simples assim, pois os fotógrafos
profissionais não apenas tiram as fotos, mas eles também às produzem.
A industrialização e a grande produção das fotografias fizeram com que este
meio perdesse a sua aura romântica, o seu encanto de ser o diferente. Antigamente
as pessoas iam ao fotografo para ganhar um status e a eternidade barata que a
fotografia fornecia. Não tinha espaço ou criatividade para retratos descontraídos,
naturais. Os batizados, casamentos e até a morte eram registrados da mesma
maneira, sem emoção, sem transparecer o que estavam sentindo naquele momento,
era algo frio e irreal.
A vulgarização do negativo e das cópias sobre o papel, acabaram
depreciando os famosos álbuns de fotografias, que antes eram exclusivos por suas
ornamentações que deslumbravam as pessoas. Antes os álbuns eram uma espécie
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10
de objeto decorativo nas casas das famílias, algo fabuloso que só a nobreza poderia
ter e apreciar.
Com a vulgarização do negativo e das cópias sobre papel, o álbum, ricamente ornamentado com iluminuras, alguns até dotados de caixas de música acionadas ao abrir da capa, substitui os estojos, passando a enfeitar a sala de visitas das famílias abastadas, que brindavam o visitante com a história visual de toda a dinastia, do vovô imigrante ao caçulinha choramingas, passando pelo tio Juca e a tia Mimi.” (VASQUEZ, 1986, p. 17).
Nesta época já existia a comercialização de fotografias de celebridades
saciando a curiosidade das pessoas, fato que a imprensa tomou como tarefa, ela
tinha que saciar a curiosidade da população. Com isso a imagem perdeu seu valor
perante a sociedade, a sua qualidade diminuiu e o nome do profissional desta área
também recebeu uma conotação depreciativa, de fotografo passou a ser chamado
de retratista. Com a popularidade da fotografia muitos amadores tomaram o lugar
dos fotógrafos que eram especialistas no ramo, esta área transformou-se numa
atividade do “povão” onde bastava ter uma máquina fotográfica na mão para se
tornar um profissional.
Apesar desta vulgarização do retrato e de modificações em suas técnicas e
aparelhos, o seu caráter mágico nunca desapareceu, sempre levou e continua
levando, as pessoas a pensarem que esta atividade retira uma parcela da alma da
pessoa. Ela resgata o ser que se esconde neste corpo que é humano e incapaz de
transparecer a alma que a fotografia captura.
Por volta de 1850 a 1900, o movimento artístico começou a retomar o seu
lugar no meio cultural. Este período ficou conhecido como Realismo, que se
destacava pela tendência estética que retratava a crescente industrialização das
sociedades. Este movimento buscava uma abordagem objetiva da realidade e temas
sociais.
Temas como a infância eram bastante explorados. Agora a criança era vista
como uma pessoa de direitos que deviam ser preservados. Aos pequenos era
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10
reservado o direito a sinceridade, a curiosidade e a espontaneidade, que são fatos
característicos da infância, que antes eram ignorados.
Em 1901, a fotografia foi projetada para o mercado em massa com a
produção da câmera Brownie-Kodak e com a industrialização e revelação de filmes.
O primeiro filme colorido moderno a existir em nossa história foi o Kodachrome, que
foi lançado em 1935, constituído de três soluções coloridas. O filme colorido
instantâneo foi divulgado pela Polaroid em 1963.
Já em 1990 foi lançada a primeira câmera digital pela Kodak, a DCS 100. Em
10 anos esta nova tecnologia tornou-se um produto de consumo próprio, quase
todas as pessoas passaram a ter uma câmera digital.
A grande revolução tecnológica no campo da fotografia se deu com a era
digital, que surgiu no final do século XX. Ela alterou todos os padrões no mundo da
fotografia, diminuindo custos, reduzindo etapas e acelerando os processos e a
produção de imagens pelo mundo atual. Este aprimoramento quebra todas as
barreiras e restrições que cercam o filme tradicional, fato que só amplia seu
prestigio18.
A era digital nos oferece diferentes meios e aparelhos para registrarmos as
imagens. Hoje conseguimos fotografar com câmeras digitais, telefones celulares,
aparelhos de MP4, entre outros que são lançados diariamente. Para nossa facilidade
estas imagens não precisam passar pelo longo processo de revelação, elas podem
ser arquivadas e editadas em um arquivo de computador, que podem ser impressas,
enviadas a outras pessoas por e-mail, ou armazenadas em web sites ou ainda
arquivadas em CD-ROM.
A antiga fotografia tornava-se um grande acervo de imagens que eram difíceis
de transportar de um lugar para outro, isso no caso da imprensa. Se acontecia algo
importante em outro continente e os jornais daqui quisessem publicar a imagem e a
noticia, ficava difícil, tornava-se um processo demorado, o que hoje é jogo rápido
através da imagem digital e da Internet.
18 www.comunicartedesign.blogspot.com/
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A máquina digital possui um sensor digital CCD/CMOS que transforma a luz
em um mapa de impulsos elétricos, que são armazenados como informação em um
cartão de memória, um cartão digital de armazenamento. Como o ser humano está
sempre além, Daguerre não poderia imaginar que hoje nós teríamos uma máquina
que faz cópias de materiais e imagens, como a máquina de fotocópia ou a máquina
xerografia. Estes equipamentos formam imagens permanentes através da
transferência de cargas elétricas estáticas no lugar do filme fotográfico.
A grande invenção do século passado, a fotografia, surgiu como um meio de
expressar a imaginação humana, ampliando a percepção das coisas alheias. A
fotografia como arte, aprimorou o mundo a nossa volta mostrando o valor deste meio
moderno ao realista.
Ao aparecerem às mudanças sociais, transformou-se também a idéia de
infância, que no século XX tornou-se uma necessidade. Uma das principais
diferenças entre a criança e o adulto, mostrou-se no fato de os adultos terem
informações que não eram consideradas adequadas às crianças. Com sua
passagem pela infância, conforme saiam deste período passavam a ter acesso a
outros conhecimentos que eram reservados somente aos adultos.
O pensamento do homem é alimentado de comparações e meditações que
são proporcionadas através das imagens.
A arte de fotografar surgiu através da “fixação de imagem em uma placa
iodada” 19, de custo muito alto. A câmera fotográfica causou espanto às pessoas que
não conheciam esta técnica.
A nossa alma é alimentada por comparações e pensamentos entre os olhos e
a aura, os olhos e o conhecimento, olhos que nos dão a percepção para apreciar a
obra divina. Visão que também se mostra apática e desatenta quando se choca com
a realidade.
A alma também possui os olhos clínicos, estes sim, são capazes de entender
os diferentes indícios ao seu redor. Percepção que espelha a aura do ser humano e
reflete o meio em que ela vive.
19 ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: olhares fora - dentro. São Paulo: EDUC, 2002, p. 34.
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A fotografia antes de qualquer definição é uma linguagem, um conjunto de
códigos verbais e visuais, ela é a comunicação. Toda linguagem tem a função de
significar, afirmar e comunicar. E a fotografia é tudo isso e mais um pouco, uma
parte que faz a diferença, “a emoção”.
2.2 A contribuição do trabalho social de Sebastião Salgado
A nossa História cultural e social se faz através de fatos e acontecimentos
que jamais serão apagados de nossa memória. E nossa lembrança é acionada
através das imagens, que revive cenas em nosso pensamento.
Muitas pessoas possuem esta sensibilidade de reviver as cenas pelas
imagens, e uma destas é o fotografo Sebastião Salgado. Os seus trabalhos são
significativos socialmente, pois são imagens chocantes, gritantes e reveladoras de
nossa realidade.
O economista mineiro, Sebastião Salgado Ribeiro Junior, tornou-se um
grande fotografo humanitário, onde o seu olhar e o seu coração passaram a estar
com os humilhados e ofendidos. Os cursos de pós-graduação em Paris, um cargo
confortável em Londres e trabalhos na Faculdade de Economia da Universidade de
São Paulo, levaram Sebastião a descobrir a existência de um fotógrafo, que estava
escondido na pastinha do executivo que tinha se tornado20.
Ao invés de ignorar esta descoberta e continuar sua vida normalmente com
seus trabalhos, acabou adotando esta idéia e mudando, virando a mesa, trocando a
pastinha e os papéis pelo equipamento fotográfico. Decidido a aprimorar suas
técnicas, retorna a África, que conheceu muito bem como economista, para iniciar
seu trabalho de denuncia contra os abusos sofridos por este povo.
20 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
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Nos primeiros trabalhos fotográficos foram expressadas a revolta e angustia
que ele sentia ao ver tanta miséria, sofrimento e desigualdade social em diferentes
lugares do mundo. A sua primeira reportagem foi sobre a seca no Sahel, ao sul do
Deserto do Saara; a segunda foi sobre a fome da Etiópia, onde morreram mais de
meio milhão de pessoas com fome.
Em quatro anos conseguiu um vasto currículo, com muitas denuncias que
acabaram mexendo com algumas autoridades, que em 1976 acabaram confiscando
seu passaporte, interrompido uma parte de seu trabalho. Nômade por natureza
aproveitou suas férias forçadas para realizar seu primeiro projeto individual,
“L’afrique dês Colères”, enquanto esperava a sua liberação, que aconteceu meses
depois com a ajuda da Embaixada Brasileira em Paris.
Foram meses de reflexão, até sobre sua própria condição de emigrado,
registrando os imigrantes na França, realizando um trabalho dedicado, honesto e
humano. Após seu trabalho sobre a África, passou a ser conhecido por toda
imprensa, que saudava o novo e revolucionário fotógrafo.
Passou por muitos perigos, ameaças de morte por extremistas, contratempos
com as embaixadas, mas nada disso fez com que ele parasse de denunciar, de
mostrar a realidade que muitas vezes fica camuflada aos nossos olhos, seguiu na
sua missão. Continuou seus trabalhos em Portugal, na África, América Latina e inicia
sua trajetória no Brasil, com a greve dos metalúrgicos em abril de 8021.
Seus trabalhos conhecidos mundialmente despertam o interesse da Agência
Magnum, onde teve a oportunidade de fotografar o atentado contra o presidente
norte americano Reagan, quando preparava uma noticia sobre os cem dias de
governa. Esta publicação rodou o mundo todo, estas fotos lhe renderam muitos
dólares, faturamento que lhe ajudou a realizar um antigo sonho, passar oito meses
fotografando profissionalmente e quatro trabalhando com temas de seu interesse.
Sebastião sempre teve em mente o caráter subjetivo que a fotografia possui,
usando-o para discutir ideais e falsas profissões de fé. Ele tem respeito, admiração e
21 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.
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solidariedade com o próximo, por isso seus trabalhos refletem um ar de gravidade,
com um grande sentimento do trágico que transpira em seus trabalhos.
Figura 11: Obra de Sebastião Salgado
Os retratos de Sebastião transformam o sofrimento numa belíssima
declaração visual de esperança. A fome de viver, a dignidade, a fé, são expressas
ali nas imagens duras da luta pela vida e pela sobrevivência. Ele nos mostra que a
condição humana pede socorro, implora por alguns minutos beleza e atenção,
mesmo nas horas mais duras e terríveis. Sebastião nos mostra que o mal não
prevalece contra o bem.
Figura 12: Obra de Sebastião Salgado
As imagens das crianças fotografadas lançam uma maravilhosa incógnita que
pede para ser decifrada corretamente e com generosidade. Com seu olhar humano,
transfere todo o sentimento e angustia que estes pequenos seres sentem, ele é real
e mágico na transparência da imagem.
Em sua exposição Êxodos aparecem imagens de crianças mortas, algo que
para muitos é uma visão pesada e impressionante. Mas o objetivo era outro, mostrar
34
10
o olhar das crianças que foi golpeado pela solidão na hora de sua despedida. Fato
triste, mas real, a solidão na hora da morte é o pior dos modos de morrer. 22
A fotografia de Salgado coloca o espectador diante de uma denuncia sem
espaço de recuo, sem chance de uma leitura crítica da imagem e sua compreensão
e interpretação. Quem observa se vê diante de uma realidade consumada, já pronta
sem chances de alterações. Como diz José de Souza Martins, (2008, p. 108), “a
obra de Salgado não precisa de discurso e, menos ainda, de discursos de Salgado.
Ou ela “fala” por si mesma ou “não fala”. E, pessoalmente, acho que fala, fala muito
e fala bem”.
Este artista ficou reconhecido por diferentes nações pela sensibilidade
exposta em seus trabalhos. Quando trabalhou para a Organização dos Médicos
Sem Fronteiras, retratou por 15 meses os refugiados da seca e o trabalho dos
médicos e enfermeiros voluntários na Índia e na região africana da Etiópia.
Este trabalho resultou numa grande coletânea da luta por sobrevivência dos
diferentes povos de nosso planeta. Luta por comida, por liberdade, por honra, por
água, por um mundo mais humano e mais fraterno, onde cada pessoa tenha seu
espaço e direitos respeitados. Um mundo de crianças felizes, amadas e desejadas.
A fotografia dramática de Sebastião é presa às particularidades e
singularidades, sem fatores imagéticos que levem a desconstrução da interpretação
e da política expressa na imagem. As cenas trazem uma bagagem histórica que não
esta contida na imagem refletida, mas sinuosamente indicadas na verdadeira
fotografia, que infelizmente a maioria das pessoas ainda não conseguem fazer esta
leitura.
Ele nos traz as crianças refugiadas das guerras de gente grande, filhas de
sem-terra; órfãos de família e dignidade, de respeito e compreensão. Pessoas
nascidas em prisões, que desde o primeiro dia de vida já são privados de sua
liberdade de direito, que lhe é roubada, sem desfrutarem, sem viverem a sua
infância. Uma fase da vida do ser humano que passa a ser negada e roubada sem
que eles saibam o porquê. Sebastião nos mostra através de suas imagens, que o
22 MARTINS, José de Souza. Sociologia da fotografia e da Imagem. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
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nosso mundo está recusando a vida e anunciando a loucura humana em busca de
riqueza, sacrificando e explorando as nossas crianças.
O nosso mundo atual está violento e ambicioso, fazendo de vitimas as nossas
crianças. Crianças que são exploradas pela insensatez dos adultos. Mas mesmo
assim ainda esperamos mudá-lo, transformá-lo em um lugar seguro e fraterno para
as nossas crianças.
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10
3 O SENTIMENTO DE INFÂNCIA
Assim como a fotografia, o sentimento de infância evoluiu através de
diferentes visões e pensamentos. A criança sempre se fez presente nos distintos
períodos de nosso progresso, sendo registrada em diferentes áreas do
conhecimento humano. Estas áreas nos apresentam valiosos estudos iconográficos
da evolução e do reconhecimento da infância na transformação dos tempos.
A infância sempre se fez presente na humanidade, manifestou-se de
diferentes formas, mas sempre de acordo com a hierarquia de cada época. A tão
conhecida sociedade tradicional, que era comandada pelo clero da época, não
reconhecia a criança, muito menos o adolescente, como um ser em
desenvolvimento.
Na Idade média o período da infância reduzia-se ao período mais frágil do
ser humano, ou seja, aos dois primeiros anos de vida. Quando a criança começava
a adquirir uma maturação física, a locomover-se, passava a ser misturada aos
adultos, onde partilhava jogos e trabalhos que eram direcionados às pessoas mais
velhas.
Ela deixava de ser aquela frágil criança e passava a agir como um jovem, que
tinha sua maturidade apressada pela sociedade e por sua família, que lhe roubavam
as etapas de sua juventude. A passagem da criança na família era muito rápida e
insignificante para ser lembrada e registrada, era um ser invisível e incapaz de tocar
a sensibilidade das pessoas desta época.
A construção dos valores éticos e morais não eram um dever da família. A
criança afastava-se cedo de seu lar e sua educação, por muitos séculos, foi
realizada através de sua convivência com outros adultos, onde aprendia o que
deveria e lhe era permitido saber. As crianças que eram capazes de superar os
37
10
desafios dos primeiros anos de vida eram obrigadas a viver na casa de outra família
que ficava responsável por sua educação e aprendizagem.
Figura 13: Imagem de crianças trabalhando no campo
O sentimento superficial da criança aparecia somente nos primeiros anos de
vida, quando era considerada “uma coisinha engraçadinha”. As crianças eram
consideradas como animais de estimação, que tinham o dever de divertir seus
donos.
Era comum a morte de crianças pequenas, algumas pessoas mais emotivas
mostravam-se desoladas com a perda, mas no geral as pessoas não se abalavam,
pois logo outra criança substituiria esta perda. Os pequenos viviam em outro mundo,
um lugar obscuro sem lugar para estes pequenos seres, eles viviam no anonimato.
As famílias pensavam somente na conservação de seus bens e na prática de
um oficio, valorizando a honra de sua casta. A afetividade não era o foco principal
das famílias, mas o amor se fazia presente entre os cônjuges e pais e filhos; não era
necessária a existência da criança, mas se ela existisse era melhor.
38
10
Os laços de afetividade eram construídos fora do seio da família, eram
realizados com os vizinhos, amigos, criados e amos. Era fora de casa que as
crianças encontravam o conforto e o carinho que precisavam.
A partir do século XVII este pensamento medieval sobre a criança foi
substituído por uma nova visão de infância. Uma das principais mudanças foi na
educação dos pequenos, onde a escola oficial substituiu a aprendizagem como
forma de educação, a criança não era mais misturada aos adultos.
O surgimento da escola trouxe muitos benefícios para as crianças, que
passaram a ter um lugar especifico para a sua aprendizagem. Mas toda mudança
tem seu lado negativo também, antes as crianças eram separadas de suas famílias
para a aprendizagem que ocorria em outras casas, e agora com o nascimento deste
lugar chamado escola, surgiu novamente uma quarentena para as crianças. Esta
instituição gerou um longo processo, onde as crianças ficavam por muitos anos
enclausuradas, presas num chamado processo de escolarização, que as detinham,
assim como os loucos da época eram isolados da sociedade.
Na verdade a escola deveria ser a luz no fim do túnel para as crianças desta
época, pois ela foi criada para ensinar e respeitar estes pequenos que antes não
tinham um reconhecimento perante a sociedade. Mas na verdade foi ao contrário o
que aconteceu, criaram um lugar para jogar e isolar as crianças de suas famílias e
da sociedade, não teriam mais problemas com estes pequenos.
Mas com surgimento da educação formalmente reconhecida, os olhares
começaram a mudar os pais, as famílias despertaram para um novo sentimento em
relação aos seus filhos, começaram a se preocupar e acompanhar seus estudos.
Nascia uma nova forma de afetividade entre os pais e filhos, pois as famílias
passaram a reconhecer e a entender a existência das crianças.
Começaram a organizar suas vidas em torno de seus filhos, que passaram a
ter um papel fundamental na organização familiar. Sua perda que antes era
indiferente aos olhos da família, agora passa a ser impossível perde-la ou substituí-
la sem uma enorme dor, pois cada criança era única e insubstituível. Com isto as
famílias diminuíram, pois se dedicavam mais aos filhos atuais, controlando o número
de crianças, para que pudessem dar o melhor aos seus herdeiros. Este
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sentimentalismo gerou uma redução considerável na taxa de natalidade no século
XVIII.
Outro fato importante com o surgimento deste sentimentalismo em relação às
crianças foi a diminuição da mortalidade infantil no século XVIII. Pois as famílias
começaram a se preocupar e valorizar seus filhos, dando assistência e atenção,
conservando estas vidas. Fato que antes não acontecia, até por volta do século XVII
eram muito comum os infanticídios, um crime que era severamente punido, mas nem
por isso deixava de ser praticado. As crianças morriam asfixiadas naturalmente na
cama dos pais, onde dormiam, ninguém fazia nada para conservá-las ou salva-las,
os pais as deixavam morrer. Não existia nenhuma afeição por estas crianças, não
eram nada para estas famílias.
A igreja que era a controladora das famílias desta época, não aceitava a
prática dos infanticídios, mas mostrava-se moralmente neutra quando estes
aconteciam. Era uma situação de conflito entre os interesses das famílias com os do
clero, que se pronunciava como defensor do direito à vida.
Os infanticídios se equivalem aos abortos de nossa época, só que eles eram
praticados em silêncio e sem alarme, de maneira natural. Ao contrário dos abortos
que são denunciados em voz alta pela nossa sociedade.
A História da infância teve muitas direções na História da Humanidade. Dos
infanticídios que eram considerados naturais no século XVII, passou-se a ter um
respeito cada vez mais exigente pelo reconhecimento da vida da criança.
A vida física da criança não recebia tanta atenção quanto sua vida futura, sua
passagem após a morte. Desde as primeiras civilizações já existia a prática do
batismo, onde as idades apropriadas variavam conforme o ritual de cada época. O
Batismo era a prova escrita, o documento que comprovava a existência das crianças
em diferentes épocas da humanidade, além de “tratar a alma” destes inocentes.
No século XIV houve um grande aumento nos batismos, que passaram a ser
realizado logo após o nascimento das crianças, diferente dos séculos XI, XII, XIII,
onde o Batismo acontecia quando os pais quisessem, com atrasos de vários anos.
Nesta época as crianças eram batizadas grandes, os batistérios eram grandes
cubas semelhantes às banheiras, e este ritual acontecia em grupos, num longo
espaço de tempo. Por isso no século XIV os religiosos tornaram-se mais rigorosos,
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10
exigindo que os pequenos fossem batizados logo após o nascimento, evitando que
esta pobre alma ficasse perdida se a criança morresse.
Figura 14: Fotografia de uma criança morta, prática comum nesta época
Ao falar em infanticídios e morte é importante ressaltar a representação das
crianças nos túmulos. Nos quatro primeiros séculos de nossa História, a imagem das
crianças é representada na companhia de seus pais, em seguida nos séculos V e VI
as crianças e suas famílias somem das representações funerárias. Nos séculos XI e
XII os túmulos passaram a ser separados, esculpidos individualmente e começaram
a usar as fotografias na identificação dos mesmos. Neste período não existiam
túmulos esculpidos de crianças.
No século XV os túmulos de crianças sozinhas ou na companhia de seus pais
tornou-se mais freqüente, tornando-se comuns no século XVI. Fato que
demonstrava a saudade que a família sentia pela perda da criança.
Aos poucos a criança foi conquistando seu lugar na família e na sociedade, foi
despertando diferentes sentimentos nas pessoas e em si mesma. Conhecendo suas
potencialidades e limitações perante o mundo de “gente grande”.
Mesmo vendo a criança com descaso e sem importância, as pessoas ainda a
reconheciam como um ser de alma, algo com vida. A representação da alma infantil
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10
na maioria das vezes foi através da imagem de uma criança nua ou enrolada nos
cueiros. No século XVI a alma deixou de ser representada na forma de uma criança,
pois a criança começou a ser representada por ela mesma e com isso os retratos de
crianças tornaram-se comuns.
Distintamente ao que se pensa, ou ao que as fontes nos levam a pensar e
acreditar, o sentimento de infância como um momento próprio em nossas vidas, não
é natural ou inseparável a categoria humana do ser vivo. Esta idéia sobre a criança
teve seu inicio com o término da Idade Média, já que neste período era inconcebível
o reconhecimento de qualquer criança.
A infância foi descoberta no decorrer da História da Humanidade. Esta idéia
foi a grande descoberta do Renascimento e a mais humanitária na evolução do ser
humano. Esta consciência desenvolveu-se através do contato social e abstrato que
o homem concretizou com o mundo. Na sociedade de hoje existem várias infâncias,
o conceito de criança ainda é único, mas o conceito de infância é diversificado e
atemporal.
As crianças são mensagens que enviamos a um tempo que não veremos. Do ponto de Vista biológico é inconcebível que uma cultura esqueça a sua necessidade de se reproduzir. Mas uma cultura pode existir sem uma idéia social de infância. (POSTMAN, 1999, p. 11)
Na sociedade de hoje existem várias infâncias, o conceito de criança ainda é
único, mas o conceito de infância é diversificado e atemporal. Fica claro que o
conceito social de infância e de criança está relacionado à idéia de inocência, pureza
e fragilidade.
As civilizações de diferentes épocas conheceram a existência da criança, mas
não a reconheceram como um ser desenvolvimento, não lembravam de sua
existência. A criança era sufocada pelo mundo adulto, era obrigada agir como “gente
grande”, se não seria expulsa do mesmo e não teria um lugar próprio. Um lugar
onde fosse respeitada e valorizada por seus gestos simples de criança.
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A visão encantadora da infância foi oprimida e ignorada pela sociedade por
muitos séculos. Por muito tempo os pequenos agiram, falaram e se vestiram como
os adultos, não tiveram a chance de vivenciarem este momento único na vida do ser
humano. Não brincaram como crianças, mas sim como os adultos. Não conseguiram
transparecer as suas especificidades infantis e a sua ingenuidade, pois infelizmente
as pessoas viam o seu físico como de uma criança, mas com um interior adulto, um
pequeno ser com responsabilidades de gente grande.
É importante ressaltar que a infância não foi e nem é um conceito rígido, que
se manteve igual por todos os séculos, ao contrário disso, é uma idéia, um
sentimento que continua em construção e que varia com as transformações de seu
tempo. A infância é a primeira etapa da vida e a mais importante no
desenvolvimento do ser humano.
Hoje conseguimos captar estas informações e emoções referentes à infância.
Um sentimento de querer ir além, de vencer os obstáculos em busca de novas
experiências e conhecimentos. Captamos os aspectos físicos, afetivos e
principalmente cognitivos de uma criança, reconhecemos a verdadeira alma de uma
criança.
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4 ATRAVÉS DAS FOTOGRAFIAS DESVENDAMOS AS VISÕES DE MUNDO DAS CRIANÇAS
Das diferentes representações de expressões visuais que revelam a
realidade social, a fotografia mostra-se como uma forma que ainda procura o seu
lugar na sociedade contemporânea. Isso porque talvez seja a mais popular, a que
está ao alcance de todos os usuários, é o instrumento que possui um amplo leque
de variedades significativas de imaginários. Nossa imaginação voa com este
instrumento.
E isto não é diferente com as nossas crianças, se um adulto viaja com uma
câmera fotográfica, imagina uma criança que com sua inocência cria e recria o
nosso mundo. A tecnologia sempre se fez presente no progresso da imagem, em
diferentes momentos da História, as imagens concebidas pela imaginação que eram
modeladas pelas representações estéticas sofriam alterações ao serem
materializadas. Francastel estudou como o conhecimento cientifico influenciava a
representação das imagens no período do Renascimento.
A geometria veio fornecer meios, não para a compreensão abstrata de uma realidade teórica, mas para o arranjo de um novo material imaginário. O espaço do Renascimento é feito de todos os acessórios imaginados pelos artistas para concretizarem um julgamento prático – importante para sua conduta – e simbólico do mundo. O novo espaço plástico do Renascimento não é apenas uma forma, ele possui uma matéria que correspondia a certa soma de representações e sensações retiradas pelos artistas das condições positivas de sua existência, ela própria transformada simultaneamente pelo progresso das técnicas. Os pioneiros do Renascimento não descobriram e utilizaram uma lei permanente da natureza e do espírito humano. Eles adaptaram sua arte a determinado estágio do saber matemático de sua época. (FRANCASTEL, 1990, p. 42 apud PILLAR, 1999).
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Ao considerarmos os recursos, técnicas e instrumentos disponíveis em cada
época de nossa História, observamos paradigmas que são caracterizados por
mudanças fundamentais na produção da imagem. As imagens eram produzidas
através de sistemas artesanais e mecânicos que dependiam da habilidade manual
de alguém para congelar o visível em alguma forma bi ou tridimensional.
A História da produção da imagem, desde o seu inicio, a sua manipulação da
matéria até a construção dos objetos, é um processo de superação das tecnologias.
A era digital das imagens, supera e engloba todas as descobertas anteriores de
captação de imagens pelas câmeras, dos métodos de recorte, de colagens, de
repetições, apesar dos materiais serem de outra natureza.
Cada linguagem tem uma expressividade própria, que mostra os propósitos
de cada artista. Nestes processos de representação, não pode se falar mais do que
a linguagem permite, o que pode ser dito por um meio, não pode ser dito por outro.
Desde o surgimento da fotografia que os artistas vem considerando estas
descobertas cientificas.
A intervenção de tecnologias pesadas afeta substancialmente a natureza da mesma imagem, um campo de fenômenos em que a intervenção das máquinas ópticas faz inserir a produção de imagens dentro de paradigmas que nos parecem novos e inéditos, embora nem sempre o sejam necessariamente. (MACHADO, 1994, p. 10 apud PILLAR, 1999).
A fotografia, o cinema, o vídeo e imagens que são construídas por
computadores, são atividades que mexem totalmente com o imaginário de qualquer
pessoa. A fotografia captura o real, memoriza a imagem registrada, ela congela o
tempo.
O trabalho fotográfico é um dos componentes da sociedade visual e
dependente da imagem. O retrato tem uma origem difusa e variadas funções, ele se
define no mundo contemporâneo, aparecendo como um suporte da necessidade de
vínculos entre momentos desencontrados, como documentos de tensão entre
ocultação e revelação, característica de nosso cotidiano.
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No decorrer de nossa História as imagens sempre estiveram presentes como
uma forma de expressão. Com o estudo das imagens podemos descobrir
características econômicas, sociais e culturais de determinados grupos e pessoas.
As fotografias nos contam histórias, revelando costumes e histórias de vidas, que
acabam confundindo a própria memória.
As imagens nos levam a um mundo visível que nos faz buscar um sentido.
Quando folheamos um álbum de família, somos levados a reconstituição que levou à
seleção daquelas fotos, realizando um questionamento interno sobre as imagens
observadas.
As fotografias surgem como instrumentos importantes para recordar e
reconstituir uma história e conhecer um pouco mais sobre o objeto escolhido. O
registro da imagem é a marca do real, mas não apresenta o presente em sua
totalidade, pois o agora passa a ser uma reconstituição do passado. Esta marca é
um recorte, um fragmento do tempo e do espaço.
As imagens abrangem meios tradicionais de reconstituição, como os álbuns
de família, as imagens de hoje digitalizadas que circulam na Internet, que são fontes
de informação para quem assume o papel de leitor. As fotografias não são apenas
as imagens congeladas, elas condizem um texto implícito, onde o leitor terá que ter
a competência para a leitura, revelando a mensagem escondida na imagem.
A fotografia como fonte histórica é composta de uma série extensa e
homogênea de semelhanças e diferenças próprias do conjunto da imagem. Sua
analise pode ser organizada conforme seu tema: nascimento, infância, festas...
Partindo de uma analise temporal, a imagem fotográfica nos traz a presentificação
do passado, congela um momento que nunca mais retornará, que é único.
Faz parte de nossa vida, fotografar nossos filhos, nossos momentos
importantes e até os que não são tão significativos. Muitos temas e momentos são
registrados, como o dia-a-dia no crescimento das crianças, batizados, o primeiro dia
de aula, um passeio ao Jardim Zoológico, entre tantos outros. Admiramos e
colecionamos várias fotografias, organizamos em álbuns fotográficos onde também
são armazenadas muitas histórias vividas. Normalmente estes registros são a marca
da existência das pessoas e dos fatos ocorridos, onde conseguimos fazer
comparações, como: “olha como ele cresceu”.
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Através da fotografia a memória ganha uma poderosa aliada, ela surge como
um reforço as nossas lembranças. A memória visual é pensada e sentida,
historicamente construída, ela é gerada pela visualização de fatos passados. Ela é
vista como uma mensagem de signos não- verbais, que são compreendidos através
de códigos onde sua leitura e análise geram certas reações ao leitor.
As mensagens visuais geram diferentes ações no humano, a ação cognitiva,
onde a pessoa reflete e pensa sobre o sentido da imagem; e a emotiva que produz
diferentes sentimentos nas pessoas. Como Barthes afirma: “na foto a imagem
transforma-se numa escrita”, uma linguagem gráfica que é traduzida para a
linguagem verbal.
A fotografia como técnica de registro utiliza-se da imagem como um ponto de
investigação e análise. É percebida como um instrumento de representação fiel da
realidade, onde a concretização desta imagem visual é realizada por um observador
atento e sensível a realidade, ao seu redor.
A leitura do registro visual mostra-se como uma maneira de aproximação da
realidade, de uma parte do todo, que é enfocada por vários ângulos e pontos de
vista que possibilitam e revelação da totalidade. A revelação das imagens
proporciona lembranças e a reconstituição das histórias vividas através das imagens
e na própria imagem.
Quando falamos em fotografia, pensamos num leque de possibilidades de
leitura na imagem revelada com uma bagagem histórica a ser interpretada, com
objetos, corpos, gestos que expressam um conteúdo ideológico. Revela emoções,
sensações, atitudes e denotações de uma época.
Precisamos ter um olhar curioso que desvende a narrativa do objeto
expresso, que procure a quem pertence, quando, onde e por quem foi realizado,
com que fundamento foi registrado e se faz parte de algum trabalho de pesquisa,
entre tantos outros questionamentos que podem ser realizados a partir do registro
de um objeto.
Entre outros recursos de investigação na área de Ciências Sociais, a
fotografia se destaca por seu caráter realista e natural, mostra-se como um recorte
do presente vivido no passado.
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A fotografia é utilizada em várias áreas do conhecimento, na Psicologia, na
Sociologia, na História, na Arte entre muitas outras. Dentro do processo de ensino-
aprendizagem este meio é bastante explorado, tanto como atividade, quanto forma
de registro.
Na aprendizagem as imagens auxiliam na rememoração, ajudando a repensar
distintos aspectos no processo de ensino-aprendizagem, como a criatividade e o
próprio processo de criação, estratégias e formas para atender as necessidades dos
alunos, o processo de aprendizagem individual e em grupo, entre outros aspectos
importantes. A construção do estudo e da reflexão da imagem se faz através do
diálogo que narra o olhar nas fotografias.
Este trabalho com imagens não deve ser a confirmação de algo, mas sim o
ponto de partida para uma meditação, para um ato reflexivo de experiências
anteriores. Resgatando a experiência vivida através de observações e registros
desta realidade que já passou. Ao rever as imagens redescobrimos a realidade, a
escrita e a imagem, as diferentes linguagens e possibilidades de um tempo passado.
Ler uma fotografia é perceber, compreender, interpretar os elementos e a
própria imagem. Sendo que a imagem foi produzida por alguém num determinado
contexto, numa determinada época com sua visão de mundo, que é própria e
individual.
Muitos acontecimentos mundiais produziram efeito na fotografia, que passou
a representar muitas informações sobre o mundo. Com o passar dos anos o retrato
passou a ser visto como a representação da realidade, ele comprovava a existência
daquilo que era visto. A fotografia sempre transmitiu informações, visões e
pensamentos, mas nem sempre todos os leitores estão preparados para percebê-la
em sua totalidade.
A fotografia é uma atividade de expressão pessoal e também uma forma de
representação das diferenças do mundo. Muitos acontecimentos ficaram conhecidos
mundialmente através do retrato, este meio artificial que diz muito sobre a realidade.
Fotos históricas nos revelam guerras, conflitos, doenças, mortes, vidas entre
vários acontecimentos que tocam o ser humano. As imagens nos revelam a visão de
mundo, de vida do fotografado e do fotografo. É uma imagem carregada de anseios
e esperança.
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Na fotografia imortalizamos pessoas e retomamos o tempo perdido. A
identidade individual do ser humano depende da memória, e através da fotografia
auto-afirmamos a nossa pessoa. Nada foge do alcance das câmeras fotográficas,
tudo que esta ao seu alcance é captado e revelado por este possuidor de almas.
O processo fotográfico surgiu como um meio artístico, ligado à criatividade e a
imaginação. A História da Arte e da fotografia tem grande contribuição social na
história da infância, pois estas trajetórias acabaram se cruzando no decorrer da
história da humanidade.
Através das imagens o homem primitivo entendeu e representou seu mundo,
revelando características de sua cultura. O sentimento de infância não nasceu com a
humanidade, ele se fez através d percepções e interpretações dos fenômenos
externos e internos das pessoas. Este sentimento tornou-se real a partir do convívio
social que a humanidade criou com o mundo.
A história da fotografia foi a enunciação do reconhecimento das crianças,
através do retrato elas deixavam o anonimato e faziam-se presentes na vida dos
adultos. Assim como a fotografia, a infância não nasceu do nada, elas levaram
quase duzentos anos para serem reconhecidas.
As imagens são as grandes aliadas no estudo da história da criança, no
estudo da infância, através delas conseguimos acompanhar as mudanças
qualitativas e significativas na visão dos pequenos. Observamos a visão dos adultos
em relação à criança e da própria criança em relação ao mundo em que está
inserida.
Imagens históricas nos remetem conteúdos e vivências de grande valor para
a nossa história e para que possamos compreender a mágica da fotografia e a
descoberta da infância.
Na História Social da Criança e da Família conseguimos identificar o
sentimento de infância em diferentes épocas de nossa história e principalmente
como as crianças eram vistas pelos adultos. Na maioria das fontes de estudo
encontramos a visão dos adultos em relação às crianças, dificilmente nos
deparamos com o contrário, com a opinião, a visão das crianças em relação ao
mundo em que estão inseridas.
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Assim como as imagens conseguiram e ainda transmitem a visão que os
adultos tem das crianças, também é possível representar a visão infantil, a
compreensão dos pequenos neste mundo diverso.
As imagens de crianças e feitas por crianças nos trazem a tona um acervo
riquíssimo com distintas compreensões e leituras de mundo. A imagem leva o leitor
a desvendar o todo e as partes do universo particular da criança e o contexto social
que a cerca.
A criança viaja com sua imaginação e criatividade, ela é capaz de ver e captar
coisas que os adultos jamais imaginariam. A sua maneira de ver o mundo e o seu
contexto é particular e única de sua inocência. Seu olhar é ingênuo e verdadeiro
como nenhuma outra visão. Ela busca uma imagem que traduza suas emoções, seu
jeito de ser, de estar e de compreender o mundo.
Crianças pensam muito diferente dos adultos, elas percebem o mundo visual
de maneira especifica única, enquanto os adultos são incapazes de separar peças
individuais das fontes de informação para a percepção do todo. Os adultos não
conseguem captar a mensagem que esta além da imagem.
A criança olha o mundo com um olhar mais aguçado, é um olhar olhando
mesmo. Por isso devemos desestruturar a percepção, desacomodá-la, estranhar o
que é conhecido, precisamos propor um exercício de estranhamento que olhe o
velho de nova forma, percebendo o que está mais próximo. Quanto mais
trabalhamos este olhar, passamos a prestar à atenção a visibilidade do contexto
explicito. É preciso agir para conseguir ver.
A educação é um processo dinâmico e ininterrupto para se apegar a temas
consagrados e tradicionais, é preciso recorrer a estratégias próprias de comunicação
que assegurem a autoria e a criatividade das crianças. O trabalho educativo com
imagens precisa atender as expectativas e respeitar os pontos de vista das crianças.
Os pequenos são sinceros e verdadeiros em suas visões e crenças, na
maioria das vezes tudo é perfeito e mágico, mas quando as imagens refletem uma
energia negativa, são fielmente captadas pelas crianças. Elas são sensíveis e
receptíveis na análise das imagens.
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O sentido real da imagem subsiste e tenta resistir, o possível esta escondido,
mas insiste, o modelo virtual existe, mas o atual é que acontece. O trabalho social e
educativo com imagens e processos de criação artística mobilizam saberes e formas
complexas de manuseio da fantasia e de repertórios conceituais.
Através da fotografia é possível desvendar o mundo de uma criança,
conhecer a sua maneira de entender e viver o mundo em que esta inserida. Este
meio serve de aliada nos trabalhos de pesquisas que buscam conhecer a vida e a
historia das crianças na história da humanidade.
A fotografia revela uma aura, uma narrativa que é registrada no retrato. Ela
não é apenas uma reprodução química que revela a realidade, não é apenas um
registro documental e cientifico, ela é a própria realidade revelada, resgatada e
atingida. Assim como a história da infância, que não é apenas um registro histórico,
é uma condição, uma fase, um período que foi revelado e reconhecido através de
suas imagens.
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5 O QUE AS CRIANÇAS VÊEM ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA
Quem nunca fez a experiência de dar uma câmera fotográfica a uma criança?
Quem ainda não fez não sabe o que esta perdendo. Esta simples brincadeira diz
muito sobre uma criança. Através de uma imagem e principalmente pelo processo
de capturação, conseguimos chegar aos sentimentos mais internos de uma criança.
Os pequenos não precisam de técnicas e posições para capturarem suas imagens,
o interessante são os flashes. As crianças registram suas mensagens brincando.
Dando continuidade ao meu primeiro trabalho sobre fotografia na conclusão
do meu curso de Pedagogia, aqui retomo a experiência com crianças fotografas.
Desta vez o meu trabalho de pesquisa foi realizado com quatro crianças de
diferentes idades, Rafaela de um ano e oito meses, Carolina de três anos e seis
meses, Marcos de quatro anos e cinco meses e Cauê de seis anos, todos
freqüentam a mesma Escola de Educação Infantil na cidade de Portão, onde resido.
Fiz várias propostas às crianças e todas foram bem sucedidas nos resultados.
Com a pequena Rafaela realizei um trabalho diferente, envolvendo a sua própria
imagem. Primeiramente capturei a imagem da “Rafinha”, como é conhecida pelos
colegas.
Figura 15: Fotografia da menina Rafaela
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Não foi nada fácil, pois não parava um minuto, corria de um lado para o outro
fazendo rápidas poses que a câmera fotográfica não conseguia acompanhar.
Consegui congelar uma imagem de rosto da pequena, após imprimi esta e outras
imagens e levei-as para sala desta turma, para que pudéssemos observá-las.
É incrível a reação destes pequenos perante a imagem congelada no papel,
eles ficam impressionados, sem como isto acontece.
Ao mostrar a fotografia onde a Rafaela aparecia bem, foi instantânea a
resposta.
Perguntei: Quem aparece nesta foto? Quem esta aqui?
- “A Aufa” (a Rafa), respondeu os colegas.
Quando ela escutou o seu nome, veio correndo em minha direção para ver a
fotografia. Ao observar o retrato questionei: Quem é esta menina?
- “O nenê”, respondeu a Rafaela.
Pegou a fotografia e saiu correndo em direção aos amigos. Mostrava feliz
aquela imagem e não deixava ninguém tocar, era do nenê.
A pequena Rafaela se deparou com a mágica da fotografia, ficava
impressionada com aquele pedaço de papel que refletia a sua imagem. È uma
experiência muito gratificante, pois muitas vezes julgamos as nossas crianças pelo
seu tamanho e não por sua capacidade, nós profissionais da Educação ainda nos
pegamos admirados com algumas reações das crianças, às vezes duvidamos de
seu potencial.
Senti-me assim, pois a reação desta pequena, que ainda esta pronunciando
as suas primeiras palavras, me surpreendeu, esta simples brincadeira com imagens,
foi algo importante para a Rafaela.
Com as outras crianças a atividade foi diferente. Dei a câmera fotográfica
para que cada um tirasse as fotografias que quisesse. Tiram fotos da rua, da escola,
de casas, de flores, de tudo que eles acharam interessante.
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Os resultados foram distintos. Cada um a sua maneira registrou alguma coisa
que achou importante. Começarei com a Carolina.
Entre as fotografias que ela tirou, eu pedi que ela escolhesse duas para
analisarmos em conjunto. A primeira foi da parede da Escola, onde tem a imagem
de crianças brincando de esconde- esconde.
Figura 16: Fotografia tirada pela aluna Carolina
Comecei a questioná-la sobre a fotografia.
- O que aparece na imagem?
- “Três criancinhas brincando” (Carolina).
- Esta imagem não poderia ser diferente?
- “Sim”.
- O que poderia ser?
-“As princesas dançando”.
- Por quê?
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- “Eu gosto de princesas e elas são bonitas, elas não tem nariz grande”.
- Mas não poderia ser outra imagem além das princesas?
-“Podia se um monte de crianças brincando de não atirei o pau no gato”.
- o nome da brincadeira não é “atirei o pau no gato”?
-“Não pra mim é não atirei o pau no gato, o meu gatinho é querido e não é pra
bate nele”.
A segundo fotografia da Carolina foi a porta de uma sala que tem saída para
frente da escola.
Figura 17: Fotografia tirada pela aluna Carolina
- Por que tu escolheste a porta da frente?
- “Porque ela é grande e eu gosto dela”.
- E se fosse uma porta menor, tu irias gostar mesmo assim?
- “Eu gosto dela porque é grande, eu queria uma assim no meu quarto. Ia
entra muito vento”.
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O questionamento seguiu conforme o interesse da aluna. A Carolina tem
problemas na fala, principalmente com a letra R, então quando começamos a
conversar e pedimos que ela repita alguma palavra que não entendemos ela se
irrita, por isso dei uma parada, ela já estava se cansando.
A Carolina é uma criança sensível que vive no mundo da sua fantasia.
Acredita fielmente nos contos de fadas, sonha em ser uma princesa. Fato que foi
mencionado no questionamento sobre a fotografia que ela registrou. Como não falar
nas princesas se elas fazem parte de sua vida, de sua imaginação. Doce encanto de
inocência, que perdure na infância da pequena Carolina.
Outro ponto importante foi o “não atirei o pau no gato”, onde trouxe para a
nossa conversa o seu pequeno gatinho, a quem ela tem um carinho enorme. Ela
imaginou o repertorio da brincadeira com o seu pobre gatinho, causando rejeição a
tradicional brincadeira do “atirei o pau no gato”. Como atirar o pau no gato? Ele é um
bichinho que não faz mal a ninguém, ele é amigo. Ela imaginou a cena com o seu
bichinho, onde não concordou com a brincadeira, pois machucaria o gatinho.
Muitas reflexões podem ser realizadas a partir do questionamento das
fotografias. Agora descreverei o trabalho realizado com o menino Marcos.
O colega escolheu apenas uma fotografia das cinco que ele registrou.
Escolheu a foto onde aparece à casa do vizinho da frente da Escola, a casa do
prefeito de nossa cidade.
Figura 18: Fotografia tirada pelo aluno Marcos
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- Marcos por que tu escolheste somente uma foto?
-“Por que eu quis” (Marcos).
- O que tu vê nesta imagem?
- “Uma casa cheia de mato”.
-Ao invés da casa o que poderia existir ali?
- “A fábrica de colchão do meu pai e da minha mãe, ai ia se na frente da
Escola, era só atravessar a rua que eu tava na Escola.”
- Tu gostarias de morar na frente da Escola?
- “Sim, porque eu podia durmi até tarde e não tinha sinaleira pra espera”.
- Tu não gostas de esperar na sinaleira?
-“Não demora muito.”
- Como tu gostarias que fosse esta casa?
- “Eu sempre quis tê uma casa redonda e vermelha”.
- Por que uma casa redonda e vermelha?
- “Porque ela seria como uma bola e seria vermelha na cor do Inter”.
- Então tu és colorado?
-“Sim meu pai também é”.
Com o menino Marcos tivemos outra situação. Observamos a sua preferência
pelo futebol, onde gostaria que até a sua casa fosse redonda e vermelha, pois esta
cor é do time do pai, que conseqüentemente também é o time para que torce. Ele
citou um fato importante em sua história de vida, o seu trajeto diário até a Escola e a
indústria de sua família. Declarou que o acordar cedo lhe incomodava e que se a
fábrica de seus pais fosse perto da Escola, poderia ter mais contato com sua família.
Com a ajuda de algumas imagens, vamos conhecendo aos poucos as nossas
crianças e suas vidas, suas histórias, seus desejos e anseios. A fotografia diz muito
sobre uma pessoa.
Agora analisarei as fotografias do aluno Cauê. Ele registrou várias fotografias,
as escolhidas são todas da rua, do seu trajeto até a outra Escola de Ensino
Fundamental onde estudo no outro turno. Este menino não poupou a câmera
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fotográfica, tirou várias fotos de diferentes objetos encontrados na rua. A primeira foi
o registro do lixeiro na rua.
Figura 19: Fotografia tirada pelo aluno Cauê
- Por que escolheu o lixeiro?
- “Ué, porque sim” (Câue).
-Qual o significado deste objeto?Para que ele é utilizado?
- “Ai prof. tu não sabe, é pra botar o lixo. Agente bota pros cachorros não fura
os sacos. E eu escolhi esse lixeiro porque lá atrás tem um monte de lixo no chão,
isso é feio, o lugar de lixo é no lixeiro”.
- Se pudesses faria alguma mudança neste objeto?
- “Botaria todo lixo que ta no chão ali dentro, minha mãe disse que tem muita
gente relaxada, que se continua assim as ruas vão fica tudo suja”.
Outra fotografia escolhida pelo aluno Câue foi à de um Condomínio que está
sendo construído nesta rua. Antigamente era um grande campo onde as crianças
jogavam bola e hoje um arsenal de máquinas e homens trabalhando.
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Figura 20: Fotografia tirada pelo aluno Cauê
-O que tu vê nesta imagem?
-“Uma grande bagunça, muita casa e pouca árvore”.
- O que tu achas desta construção?
-“Acho ruim, agora não tem o campinho e tem muita bagunça na rua, muito
caminhão e sujeira na rua, não dá nem pra caminhar”.
- Mas daqui um tempo terão novas pessoas morando aqui. Não é bom?
-“Não sei prof., depende de quem vai mora ai, pode se bom ou ruim. Quando
fica pronto e as pessoas tiverem morando nas casas, agente tira outra foto pra
compara e dize se ta melhor ou pior”.
- Tu tens saudade do campinho?
-“Sim era um lugar que agente tinha pra brinca”.
Outra foto escolhida pelo menino Câue foi de uma flor.
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Figura 21: Fotografia tirada pelo aluno Cauê
-Quem registrou esta imagem?
-“Quem registrou foi a máquina e eu bati, apertei o botão”.
- Por que tu escolheste esta flor?
-“Eu achei bonita, na rua tem tanta coisa feia e essa flor é uma coisa bonita”.
-O que tu mudarias nesta flor?
-“Nada eu gosto dela assim, só tirava os espinhos, é que dói”.
- Pra quem tu darias esta rosa?
-“Pra minha mãe e pra minha irmã”.
- Gostaria de apanhá-la?
- “Não, se não ela morre, ai ela ta bem”.
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Este último menino mostra-se uma criança mais madura e critica comparado
aos outros que participaram da pesquisa. É visível a sua preocupação com o meio,
com seu ambiente que esta sendo destruído. Ele se deteve a questões ambientais,
como a questão do lixo na rua, o desmatamento no local da construção e a
preocupação com a vida da flor, que se fosse apanhada, acabaria morrendo.
Através destas experiências é possível identificar e analisar as diferentes
visões em distintos ambientes. Cada criança pensa conforme sua maturação,
conforme sua idade e sua realidade. Todos têm anseios e desejos que são expostos
pelas imagens. Cada criança tem sua maneira particular de ver e viver o seu mundo.
Foi muito gratificante realizar esta atividade com estes pequenos. As crianças
adoraram manipularem a câmera fotográfica e me ajudarem neste trabalho de
pesquisa. Fotos como estas mostram a capacidade de percepção das crianças em
diferentes idades, cada uma com suas potencialidades.
Os comentários são muito interessantes, revelando um pouco da vida de cada
um, seus desejos e preocupações. Através destes “clicks” percebemos o valor de
imagem, de algo que é captado por uma criança e imaginado pela mesma. A sua
visão de vida, de mundo e principalmente de futuro.
Graças a esta máquina que rouba imagens, conseguimos captar os traços do
que está mais próximo do pensamento infantil. É algo além da simples imagem,
percebemos o verdadeiro olhar, a imaturidade e a sensibilidade da criança ao lançar
o seu olhar e a sua interpretação sobre o mundo.
Ao interpretar o mundo, a criança passa a explorar a sua vivência no mesmo,
despertando percepções e diferentes estados afetivos, que sucedem a construção
do pensamento infantil. Suas visões e interpretações se dão através da emoção, ou
seja, a apreensão da situação, dos objetos visualizados que revelam significados as
imagens interpretadas. Como afirma João Francisco Duarte Júnior (1988, p.16), “o
sentir é anterior ao pensar, e compreende aspectos perceptivos (internos e externos)
e aspectos emocionais. Por isso pode-se afirmar que, antes de ser razão, o homem
é emoção”.
Ao interpretar a imagem, a criança manifesta seus desejos, expressa seus
sentimentos, expõe enfim sua personalidade. Livre de julgamentos seu
subconsciente encontra um espaço para se conhecer, relacionar, crescer dentro de
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um contexto que o concede e norteia sua conduta. È nesse sentido que podemos
vislumbrar a importância do trabalho de imagens com as crianças.
Além do desenvolvimento da imaginação criadora e da percepção, destaca-se como questão de importante reflexão a possibilidade de o professor contribuir afetiva e cognitivamente para o desenvolvimento da expressão da criança. (BUORO, 1996, p. 33).
O trabalho com imagens busca ampliar o conhecimento de mundo que as
crianças possuem, explorando suas características, propriedades e possibilidades
de manuseio e entrando em contato com diferentes imagens e percepções. Ele
amplia o contato da criança com próprio imaginário, onde há a possibilidade de
expor suas imagens mais internas.
Precisamos ser profissionais investigadores, não apenas do contexto no qual
o aluno vive, mas também devemos aprender a buscar informações e estudar a
respeito da percepção, da visão das crianças. Devemos fazer uma conexão entre
cultura popular e o conhecimento de nossos alunos. Devemos buscar mudanças
qualitativas no processo de ensino, assumindo uma postura investigadora,
realizando leituras da realidade e interagindo com o meio.
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6 CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho foi possível analisar de maneira crítica o papel social
e educativo da fotografia em nossas histórias de vidas. O trabalho fotográfico levou
anos para conquistar seu espaço na sociedade, assim como a criança, que precisou
de muitos séculos para firmar seu território.
A criança sempre esteve presente nas civilizações, mas o sentimento adulto
não permitia que aquele pequeno ser se fizesse presente no mundo de gente
grande. O sentimento de infância levou muitos anos para se firmar tanto nas
famílias, quanto nas sociedades de diferentes épocas.
As pessoas sabiam da existência das crianças, mas não as viam com amor e
ternura. Era um descaso continuo que passava de família para família, levando as
crianças a lutar por sua sobrevivência no mundo dos adultos.
Mas com a ajuda das representações artísticas e com o passar dos tempos,
da fotografia, um certo sentimentalismo em relação à Infância foi nascendo entre as
pessoas, que começaram a se preocupar com os pequenos. Mas precisamente, foi
no Renascimento que as pessoas começaram a aceitar e respeitar as crianças,
reconhecendo-as como um ser de alma imortal.
A fotografia também teve suas dificuldades perante a sociedade. Demorou
muitos anos para conseguir alcançar seu objetivo. Muitos experimentos e estudos
foram realizados para alcançar a sua forma atual.
O interesse pelo retrato foi um fator importante na descoberta das crianças,
estes pequenos deixavam o anonimato para se fazerem presentes na vida dos
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adultos. As crianças eram transferidas da sociedade adulta para um mundo especial
pra elas.
Através das fotografias é possível observar as mudanças profundas no
sentimento de infância, na visão do adulto em relação às crianças, que por muito
tempo tentaram mostrarem-se vivas e presentes num mundo que ignorava sua
existência. Buscava um território que se mostrava distante, um lugar onde suas
especificidades fossem respeitadas. Mas a família e a escola juntas retiraram a
criança da sociedade dos adultos.
Era necessário criar um espaço para que as manifestações infantis pudessem
exteriorizar-se, revelando atitudes, visões e comportamentos que antes eram
reprimidos e ignorados. A criança precisava viver a sua infância, o seu momento de
criança.
Com isso surgiu a Escola, um lugar especial para a aprendizagem e
educação das crianças. Esta Instituição favoreceu e revelou o verdadeiro sentimento
de Infância.
O interesse pela História da Criança é algo novo, recente, é uma curiosidade
dos povos contemporâneos. A criança começou a ser reconhecida na Idade
Contemporânea, despertando o interesse e a curiosidade de muitos pesquisadores,
que realizaram um estudo detalhado sobre o seu desenvolvimento.
A História nos mostra idéias contrastantes sobre a duração da infância.
Revela-nos diferenças que hoje, graças a nossa consciência evoluída, são
perceptíveis através das imagens que remontam a História da Infância, o despertar
de um novo sentimento de valorização e admiração pelas crianças.
As imagens nos dizem muito sobre uma história, uma época, sobre um
tempo. Elas trazem a tona os sentimentos mais internos e profanos que o ser
humano guarda consigo. É algo revelador que surpreende muitas pessoas.
A criança reconstrói sua visão, seu mundo a partir do seu olhar infantil. Ela
pede que se conte uma nova história, baseada nela, a partir de expressões e
sentidos que lhe permitam compreender o mundo.
A infância não se esgota com o passar do tempo, nas experiências vividas,
ela torna-se fonte de significados na vida adulta. E esta ressignificação se faz
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através das lembranças, das imagens que remontam o passado, que relembram a
vida de criança.
A linguagem fotográfica reconstrói o tempo perdido. Um álbum de fotografias
remonta a história de uma vida, que nos instiga a converter em palavras a história
revelada através das imagens. Percebendo além, o visível e o invisível da narrativa
apresentada.
A fotografia nos reprime através da memória. Ela controla o arquivo de
nossas lembranças. Ela desencadeia um processo de rememoração e reconstituição
de fatos vividos através das imagens.
O trabalho com imagens nos induz a refletir sobre as muitas possibilidades de
leitura do visível revelado e de sua carga histórica que é expressa. Transfere-nos a
um contexto cheio de emoções, sensações e costumes referente há um tempo
passado. Transmite uma ideologia a partir das imagens.
O trabalho com fotografias difundi o conhecimento de mundo das crianças.
Ele amplia suas perspectivas de leitura e compreensão da realidade em que esta
inserida. A fotografia desenvolve o imaginário das crianças.
Através das imagens os pequenos fazem uma releitura de seu mundo, onde
são destacados seus anseios, angustias e alegrias. Indiretamente nos revelam seus
pensamentos e sentimentos mais secretos.
Ao ler uma imagem, a criança libera seus desejos e revela sua personalidade.
Sem ser julgada, ou analisada diretamente, encontra no visível, um espaço para se
conhecer, aprender e crescer dentro de um mundo que norteia sua personalidade.
Com a fotografia é possível ver os traços do pensamento infantil. Não é a
simples imagem, é algo a mais, além deste visual, é o verdadeiro olhar cheio de
sensibilidade que a criança lança ao interpretar o mundo. A sua visão é única e
sincera.
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