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Do giro linguístico ao giro ontológico na atividade epistemológica em Educação Física Felipe Quintão Almeida * Alexandre Fernandez Vaz ** Resumo: apresenta a interpretação que parte da tradição marxista na educação física brasileira realiza da virada e/ou do giro linguístico no âmbito de sua atividade epistemológica. Descreve a reação sugerida por aquela tradição (inflexão ontológica) com o objetivo de se contrapor àquela presença. Conclui com algumas implicações da reação proposta para a atividade epistemológica em educação física. Palavras-chave: Conhecimento. Linguagem. Virada Linguística. Ontologia. Educação Física. *Doutor em Educação. Professor Adjunto do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo (CEFD/UFES). Laboratório de Estudos em Educação Física (LESEF/CEFD/UFES). Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contem- porânea (CED/UFSC). Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: [email protected] *Doutor em Ciências Humanas e Sociais. Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Socie- dade Contemporânea, UFSC; Pesquisador CNPq. Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: [email protected] 1 I NTRODUÇÃO O debate que envolve as discussões epistemológicas em edu- cação física é bastante recente. Esse atraso, de alguma maneira, pode ser explicado pelo fato de ela, durante muito tempo, ter sido considerada, conforme já há dez anos apontara Bracht (1999), mui- to mais uma área de aplicação do que de produção de conhecimen- to. Costuma-se atribuir à década de 1980 e a seu movimento reno- vador as possibilidades de a educação física se pensar como com- ponente curricular que produz seus próprios conhecimentos, relativizando, assim, seu colonialismo epistemológico (GAMBOA, 1995) em relação às ciências-mãe, como a fisiologia, a biomecânica, a psicologia, etc. Desde então, é possível identificar iniciativas di- versas com vistas a entender o conhecimento produzido pela área.

ALMEIDA, Felipe Quintão; VAZ, Alexandre Fernandez. Do Giro Linguístico Ao Giro Ontológico Na Atividade Epistemológica Em Ef

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Do giro linguístico ao giro ontológico na atividade epistemológica em educação Física

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  • Do giro lingustico ao giro ontolgico na atividadeepistemolgica em Educao Fsica

    Felipe Quinto Almeida *

    Alexandre Fernandez Vaz **

    Resumo: apresenta a interpretao que parte da tradiomarxista na educao fsica brasileira realiza da virada e/oudo giro lingustico no mbito de sua atividade epistemolgica.Descreve a reao sugerida por aquela tradio (inflexoontolgica) com o objetivo de se contrapor quela presena.Conclui com algumas implicaes da reao proposta para aatividade epistemolgica em educao fsica.Palavras-chave: Conhecimento. Linguagem. ViradaLingustica. Ontologia. Educao Fsica.

    *Doutor em Educao. Professor Adjunto do Centro de Educao Fsica e Desportos daUniversidade Federal do Esprito Santo (CEFD/UFES). Laboratrio de Estudos em EducaoFsica (LESEF/CEFD/UFES). Ncleo de Estudos e Pesquisas Educao e Sociedade Contem-pornea (CED/UFSC). Florianpolis, SC, Brasil. E-mail: [email protected]*Doutor em Cincias Humanas e Sociais. Ncleo de Estudos e Pesquisas Educao e Socie-dade Contempornea, UFSC; Pesquisador CNPq. Florianpolis, SC, Brasil . E-mail:[email protected]

    1 INTRODUO

    O debate que envolve as discusses epistemolgicas em edu-cao fsica bastante recente. Esse atraso, de alguma maneira,pode ser explicado pelo fato de ela, durante muito tempo, ter sidoconsiderada, conforme j h dez anos apontara Bracht (1999), mui-to mais uma rea de aplicao do que de produo de conhecimen-to. Costuma-se atribuir dcada de 1980 e a seu movimento reno-vador as possibilidades de a educao fsica se pensar como com-ponente curricular que produz seus prprios conhecimentos,relativizando, assim, seu colonialismo epistemolgico (GAMBOA,1995) em relao s cincias-me, como a fisiologia, a biomecnica,a psicologia, etc. Desde ento, possvel identificar iniciativas di-versas com vistas a entender o conhecimento produzido pela rea.

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    Em um primeiro momento, como sobejamente conhecido, temos aque-les estudos cuja preocupao recaa na identificao das principaisreas e subreas nas quais a pesquisa era produzida. Aps isso,podemos identificar aqueles estudos cuja inteno era descrever asmatrizes tericas ou as concepes de cincia que embalavam aspesquisas da rea. Uma das investigaes mais citadas, nessa dire-o, "Mestrados em educao fsica no Brasil: pesquisando suaspesquisas", de Rossana Valria de Souza e Silva (1990). Nesse tra-balho, ela popularizou o que se tornaria uma famosa classificaoepistemolgica: emprico-analtica, fenomenolgico-hermenutica ecrtico-dialtica, que ainda hoje orienta muitos esforos na rea. Soessas investigaes que marcam o incio da discusso propriamenteepistemolgica no campo. A pergunta, a partir de ento, no se davaapenas sobre o tipo de cincia presente na educao fsica, masquestionava-se se a prpria educao fsica poderia ser uma cinciaou uma disciplina cientfica. nesse momento, que atravessou adcada de 1990, que o debate epistemolgico em educao fsicaviveu seus "dias de glria". Inmeros autores se destacaram emsuas posies sobre o (no)lugar da educao fsica no quadro geraldas cincias.

    Embora tudo isso esteja muito bem documentado, nunca de-mais lembrar que a celeuma instalada "originou" duas vertentes(BETTI, 1996; LIMA, 1999) para a compreenso do problema: avertente cientfica e a vertente pedaggica. A primeira delas incluanomes como Go Tani, Jefferson Canfield, Adroaldo Gaya, ManoelSrgio e buscava atualizar uma expectativa presente na dcada de1970, ou seja, conferir cientificidade cada vez maior educaofsica. O motor dessa pretenso, como sugeriu Lovisolo (1995), avalorizao da cincia. Nos casos mais extremos, chegou-se mes-mo a defender a transformao da prpria educao fsica em cin-cia (cincia da motricidade humana) ou, ento, a criao de umanova cincia (a cincia do movimento humano, a cinesiologia). Adespeito de todas as diferenas entre os membros dessa matriz,suas proposies estabeleciam uma relao hierrquica de depen-dncia com a educao fsica. Mais uma vez, a especificidade dadisciplina definida na medida em que aplicamos o conhecimento

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    produzido por outros, os cientistas. A vertente pedaggica, compos-ta por nomes como Valter Bracht, Hugo Lovisolo, Elenor Kunz,Mauro Betti, Silvio Gamboa, Kolyniak Filho, reforava a necessida-de de voltar o conhecimento produzido na rea, em suamultidisciplinaridade, para as necessidades oriundas da prtica ouda inteno pedaggica. A despeito de todas as divergncias exis-tentes entre eles, todos pareciam convergir para dois pontos: emprimeiro lugar, tomaram a educao fsica como "ponto de partida ede chegada" de suas reflexes, comprometendo-se com elas. Emsegundo lugar, a cultura a referncia norteadora da educao fsi-ca como prtica pedaggica. No significa, claro, que os autoresdessa vertente no se interessassem pela cincia, mas, com eles, arelao da educao fsica com ela se daria de uma maneira maishorizontal (no vertical, como na vertente cientfica). A educaofsica, portanto, no somente aplicaria conhecimento, mas tambmo produziria.

    Se o debate entre as vertentes cientficas e pedaggicas domi-nou a discusso epistemolgica ao longo da dcada de 90, os anos2000 viram essa discusso perder fora com a presena de novostemas bem como com a entrada de novos interlocutores, dentre osquais podemos destacar os nomes de Terezinha Petrcia da Nbrega,Vidalcir Ortigara, Astrid vila, Paulo E. Fensterseifer, Homero Luisde Alves Lima, Luiz Carlos Rigo, entre outros. No momento atual,em que nossa "atividade epistemolgica" (FENSTERSEIFER, 2006) marcada por um pluralismo terico e poltico, os responsveis pelaconduo do Grupo de Trabalho Temtico (GTT) Epistemologia, doColgio Brasileiro de Cincias do Esporte (CBCE), tm "dado" otom do debate ao propor uma agenda para a discusso. Se levarmosem conta os temas centrais dos dois ltimos "Colquios deepistemologia da educao fsica", organizados por aquele GTT, te-ramos os seguintes eixos norteadores:

    a) giros epistemolgicos na educao fsica/cincias do esporte;

    b) epistemologias e teorias do conhecimento na pesquisa emeducao e educao fsica: as reaes aos ps-modernismos.

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    1Por consequncia, presena dos "ps-modernismos" no campo.2 preciso dizer que essa descrio tributria de uma contraposio aos giros que tem vez nocampo educacional mais amplo. Trata-se de uma reao quilo que a professora Maria CliaMarcondes de Moraes (2004), inspirada na terica marxista Ellen Wood, chamou de agenda ps-moderna, na medida em que se observa que, no cerne dessa agenda, esto, conforme a prpriaWood (1999), a linguagem, a cultura e o discurso (portanto, as viradas ou giros em suasvariadas vertentes: ps-estruturalismo, neopragmatismo, hermenutica, filosofia ps-analti-ca, estudos culturais, etc.).

    Trata-se de dois temas interligados, afinal, costuma-se asso-ciar o ps-modernismo aos giros (lingustico e/ou hermenutico epragmtico) e vice-versa. Neste artigo, tratamos de umacontraposio presena dos giros em educao fsica1, aquelaque responde pelo nome de reao ontolgica. Para desenvolvereste objetivo, inicialmente apresentamos a descrio que os advo-gados dessa reao operam dos giros em educao fsica, expondo,inclusive, a soluo sugerida para enfrent-los; aps isso, finaliza-mos discutindo algumas implicaes da reao proposta para nossaatividade epistemolgica, como oportunidade para expressar nossasprprias posies.

    2 OS GIROS OU VIRADAS NA EDUCAO FSICA: UMA ANLISE LUZDA REAO ONTOLGICA

    Iniciemos a descrio sugerida2 tomando como base aquiloque est no centro mesmo das viradas em suas diversas vertentes,ou seja, a relao entre a linguagem e o mundo ou, posto na lingua-gem filosfica, a crtica ao representacionismo que animou a filoso-fia moderna. Talvez a metfora que melhor expresse o que vem aser o representacionismo seja aquela cunhada pelo filsofo norte-americano Richard Rorty, segundo o qual a mente funciona comoum espelho do que acontece na natureza. Em tais circunstncias, apreocupao central da filosofia, para citar o prprio Rorty (1994, p.20), "[...] ser uma teoria geral da representao, uma teoria quedividir a cultura nas reas que representem bem a realidade, aque-las que no representam to bem e aquelas que no a representamde modo algum (apesar da pretenso de faz-lo)". Nesse sentido, oalvo central de sua crtica a concepo "correspondentista" daverdade, segundo a qual o pensamento deve refletir ou representar,

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    fielmente, a realidade como ela de fato , em sua objetividade. Valeressaltar que o representacionismo o ncleo hard do empreendi-mento epistemolgico moderno, cuja tarefa zelar para que nossascrenas representem a realidade com exatido, em sua verdadeobjetiva.

    Alguns autores que participam deste debate na educao fsi-ca, tais como Gamboa, vila e Ortigara, interpretam essa crtica aorepresentacionismo (e ao realismo que ele pressupe) como umdficit na tarefa de se obter um conhecimento objetivo do mundo.Objetivo, preciso ressaltar, no sentido de "chegar ao real" em suamaterialidade, como ele realmente e pode ser desvelado pela filo-sofia, pela cincia, pela arte etc. Como conseqncia do vcuo abertopor este "colapso" da objetividade, solapa-se a possibilidade decapturar a verdadeira essncia da realidade, pois isso agora depen-de, aps os giros, das descries lingusticas que do forma nossacultura.

    No debate filosfico mais amplo, a dependncia da linguagemna definio da realidade muitas vezes caracterizada pela expres-so antirrealismo. No diferente na educao fsica. vila (2008),discutindo a presena desses antirrealismos (leia-se o ps-estrutu-ralismo, o neopragmatismo, o multiculturalismo etc.) na rea, chegamesmo a colocar "lado a lado" o antirrealismo e o idealismo. Segun-do ela e Ortigara (2007b, p. 14), o antigo debate filosfico entre orealismo e o idealismo

    [...] passou a polarizar em torno dos que conside-ram que o real existe independentemente de o co-nhecermos ou no, e justamente por isso, cognoscvel, e os que consideram o real incognoscvele at mesmo inexistente, ou que s ganha existnciacomo produto do conhecimento ou da cultura.

    Contra a "morte do real" (portanto, da Objetividade) e sua dis-soluo nos jogos de linguagem, Gamboa, vila e Ortigara sugerema premncia de se restaurar a realidade como dimenso insuprimvelda relao entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. E ostrs vo encontrar na ontologia a soluo para essa necessidade,

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    pois ela, ao tratar exatamente daquilo que (supostamente) negli-genciado por perspectivas julgadas antirrealistas, interessa-se pelatessitura do real, implicando no reconhecimento do ser por-si (nalinguagem kantiana, do em-si), daquilo que existe independente deser pensado e conhecido. nesse contexto que Gamboa (2007) vaipropor uma re-virada, inflexo ou reao ontolgica aos giroslingsticos em educao fsica. De acordo com ele (2007, p. 1),essa reao

    [...] vem das teorias do conhecimento que superan-do os conceitos originais do 'mentalismo' (a repre-sentao dos objetos ou coisas na mente) reafir-mam a necessidade de considerar a realidade (ontos)independente da conscincia e da linguagem. O dis-curso e a linguagem devero se referir a alguma rea-lidade (objeto) ou referente emprico, construdosocial e historicamente, ou mesmo virtual, mas in-dependente do sujeito, da sua percepo, da cons-cincia e das palavras utilizadas para se referir a ele.

    Ou, nas palavras de vila (2008, p. 1):

    [...] preciso compreender que para conhecer necessrio primeiro que os objetos do conhecimen-to existam e, segundo, reconhecer a independncia(ao menos relativa, no caso dos fenmenos sociais)do objeto em relao s formas de conscincia, oque significa dizer, que ele existe independentementedo conhecimento que possumos dele.

    Nesse sentido, como advogou a prpria vila (2008), o que secoloca a urgncia de se defender o realismo (ontolgico) antequalquer perspectiva antirrealista que se faa presente hoje na edu-cao fsica. preciso, como expressou Ortigara (2002), Ortigaraet al. (2009), trazer para a educao fsica o que at ento estariafaltando: a ontologia. So alguns desdobramentos desse imperativona rea:

    A prioridade ontolgica do real significa reconhec-lo como uma existncia independente de como opensamos ou o conhecemos. O ser social tem suagnese em sua ao ativa de intercmbio orgnico

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    com a natureza, assegurando sua produo e repro-duo. Cria sua prpria condio de humanidademediante o trabalho. Esse processo ocorre inde-pendentemente de termos ou no conscincia ouconhecimento a seu respeito (VILA; ORTIGARA,2005, p. 2-3).

    O conhecimento, inclusive o cientfico, precisa serdiscutido e refletido enquanto um elemento queconstitui o ser social e que tem caractersticas mui-to especficas na forma social capital. Desta manei-ra, as questes levantadas neste texto podem con-tribuir na reflexo sobre a pesquisa e a intervenoem Educao Fsica ressaltando a importncia deuma abordagem ontolgica para pensar o ser social,o conhecimento e a cincia. Isso poder permitirque questionemos o conjunto de crenas que socriadas em nossa rea (VILA; MULLER;ORTIGARA, 2007, p. 7-8).

    Reafirmamos, assim, a prioridade ontolgica do real,o fato de que possui uma existncia independentede como o pensamos ou o conhecemos. O ser socialefetiva-se mediante sua ao ativa de intervenosobre a natureza, assegurando sua existncia, crian-do sua prpria condio da humanidade. algo queocorre independentemente de termos conscinciaou conhecimento deste processo (ORTIGARA,2002, p. 50).

    Buscamos desenvolver um contraponto noo deconhecimento neopragmtico [...] apresentando al-guns pressupostos centrais da ontologia que nosserve como referncia, sustentando, assim, a possi-bilidade do espelhamento do real. Medeiros (2004,p. 1) [...] afirma que '[...] toda e qualquer prticahumana (inclusive a cincia) pressupe uma ima-gem de mundo (ontologia) e que a negao daontologia no apenas torna tais prticas incompre-ensveis, como efetivamente bloqueia a crtica e fa-vorece o conservadorismo poltico' (VILA;ORTIGARA, 2007a, p. 301).

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    3Conferir os trabalhos de Gamboa, vila e Ortigara mencionados neste artigo.4Trata-se, certamente, de uma simplificao. Seria preciso mais espao para discutir essasconcluses em toda a sua extenso. Eles do conta, contudo, dos nossos objetivos nesteartigo.5Ver comentrio da nota anterior.

    nesse contexto que o consagrado filsofo hngaro GeorgLukcs e o filsofo da cincia Roy Bhaskar so utilizados em favorda reao ontolgica no debate epistemolgico da rea3. ComLukcs, observa-se, em linhas gerais4, que:

    a) as viradas em curso prolongam uma tendncia j presentenos primeiros irracionalistas, ou seja, a repulsa realidade objetiva,uma negao cognoscibilidade do real, verdade como corres-pondncia etc.;

    b) o mesmo equvoco praticado por idealistas subjetivos e(neo)positivistas, no tempo em que Lukcs escrevia, reproduzir-se-ia nas mesmas condies dos giros: a unilateralidade da orientaoepistemolgica ou gnosiolgica efetividade da coisa em si, o quefaz da ontologia um apndice da epistemologia. Em tais condies,os giros lingusticos so concebidos como a mais nova orientaoidealista da filosofia contempornea, solapando a autoridade daontologia como fundamento efetividade do conhecer;

    c) as tendncias antirrealistas em educao fsica nada mais,nada menos, respondem de modo conservador s reestruturaesdo capitalismo contemporneo, uma concluso semelhante queLukcs (1976) tinha chegado em relao s filosofias idealistas e(neo)positivistas.

    Em referncia a Bhaskar, aufere-se que5:

    a) com o intuito de se contrapor aos giros, assumem a tese deBhaskar segundo a qual os objetos do conhecimento, alm de suadimenso transitiva, ou seja, aquilo que fruto da linguagem pratica-da por uma comunidade de justificao, possui tambm uma dimen-so intransitiva, independente dos jogos de linguagem que a no-meiam. Essa dupla dimenso serve para se contrapor ideia de quea prpria intransitividade dos objetos do conhecer seja transitiva,isto , fruto da linguagem (BHASKAR, 1975);

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    6No surpreende a associao feita entre idealismo e antirrealismo.7 importante dizer que essa descoberta de Lukcs e Bhaskar no exclusividade da educaofsica, mas antes acontece e se desenvolve, inclusive com os autores dessa rea, naEducao e demais campos. Consultar, a ttulo de exemplo, Duayer (2006), Hostins (2006) eDella Fonte (2006).

    b) comete-se falcia epistmica toda vez que se analisa asproposies sobre o ser em termos de proposies sobre o conheci-mento, isto , questes ontolgicas sempre podem ser transpostasem termos epistemolgicos. Assim compreendido, o que se defende a necessidade de o conhecimento vir depois da existncia (o co-nhecer procede ao ser ou a epistemologia procede ontologia). Emoutras palavras, primeiro a realidade, depois o conhecimento sobreela;

    c) essa falcia, por sua vez, encobre a gerao de uma ontologiabaseada na categoria da experincia (uma ontologia das impres-ses). Essa ontologia velada, supostamente atualizada/praticada pelasperspectivas que assumiram os giros, remonta ao realismo emprico,perspectiva que, conforme Bhaskar, estava na base tanto doempirismo clssico, como do idealismo transcendental e dopositivismo lgico;

    d) a interdio da ontologia, vale dizer, da realidade, no passa-ria de um embuste, pois o que acontece que a ontologia negadapara, paradoxalmente, ser afirmada de maneira relativizada,contextualizada ou pulverizada nos mais diversos jogos de lingua-gem. Estaramos, assim, no terreno de um relativismo ontolgico oude um "superidealismo subjetivo" (BHASKAR, 1986) em educaofsica6.

    Recorrendo-se a Lukcs e Bhaskar, portanto7, espera-se res-tituir centralidade a princpios para os quais os praticantes dos giros,tambm em educao fsica, so supostamente negligentes: a ver-dade, a objetividade e a realidade. Como corolrio, esse movimentotem a expectativa de: retomar o fio condutor que leva concordn-cia entre sujeito e objeto, entre a imagem do mundo e o mundo ouentre a cincia e a realidade; retomar a senda que leva s verdadesobjetivas, no sentido de elas corresponderem (ou espelharem) sreais estruturas da realidade; em suma, salvar o paradigma da

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    subjetividade (a relao entre sujeito-objeto) de sua dissoluo nosjogos de linguagem (caracterizada que por uma relao sujeito-sujeito).

    Tendo apresentado, at aqui, as razes e os porqus (ou, pelomenos, parte delas) de alguns autores em educao fsica seremperemptoriamente contrrios aos giros, apontando, inclusive, a res-posta que vo oferecer para se contrapor a eles, gostaramos dedeixar o restante do artigo para apontar algumas implicaes dessainflexo ontolgica pretendida para nossa atividade epistemolgica.

    3 INFLEXO ONTOLGICA NA EDUCAO FSICA: IMPLICAES PARA AATIVIDADE EPISTEMOLGICA

    Temos, inicialmente, uma questo terminolgica, pois o que secoloca, no quadro exposto, no somente o retorno da ontologia,mas a necessidade da reflexo ontolgica como precedente epistemolgica (VILA; ORTIGARA, 2007a). Somente assim seevitaria a falcia epistmica e suas consequncias. Nessas condi-es, ao invs de atividade epistemolgica (FENSTERSEIFER,2006), deveramos talvez falar em atividade ontolgica da educaofsica.

    Em segundo lugar, e caso se aceite a precedncia da ontologia epistemologia, poderamos abrir mo inclusive da ideia de ativida-de e falar mesmo em ontologia da educao fsica. Uma propostadesse tipo solaparia, segundo nossa descrio, os recentes avanosalcanados pelo campo em sua discusso de carter epistemolgico,na medida em que a noo de uma atividade conserva aquilo que anoo de ontologia, tal como defendida pelos autores que descreve-mos, parecer dispensar, ou seja, nosso sendo, o carter sempre pro-visrio e processual, nos dizeres de Fensterseifer (2006), que acom-panha o que est vivo, que se repe sempre que novasdiscursividades se colocam no mbito de nossa rea. Na medida emque alcanamos o verdadeiro modo como o mundo em si, suaontologia, qual o sentido deste sendo?

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    Em terceiro lugar, a virada ontolgica pretendida substituiria aequao V=R=C (Verdade=Razo=Cincia) que, conformeFensterseifer (2006) embalou a epistemologia moderna, por umanova equao: Verdade=Real=Ontologia (V=R=O), que no me-nos representacionista do que a primeira. Ambas as equaes refle-tem um modelo de investigao chamado desvelamento da realida-de, prprio de toda tradio representacionista. As duas assumem aforma de uma descrio do objeto do conhecimento de modo a "trans-por a brecha" entre o objeto e o sujeito conhecedor. Fica mais fcil"ler" essa pretenso, se levarmos em conta que a inflexo ontolgicaem curso, semelhana de outras tradies representacionistas, trataa linguagem como um meio de expresso, de representao ou deespelhamento do real, vale dizer, de sua objetividade. Nisso, alis, osargumentos ontolgicos em nada diferem da epistemologia em suatarefa de checar acuradamente o real.

    A adoo dessa nova equao implicaria a retomada de ques-tes que, j h algum tempo, temos evitado em nossa atividadeepistemolgica. Por exemplo, qual educao fsica seria "mais ver-dadeira", "mais cientfica" ou, ento, qual proposta poderia resolverde uma vez por todas nossa crise de identidade? Qual das propostaspedaggicas mais crtica ou est mais perto dos reais interesseshumanos? O parmetro para decidir sobre essas questes, claro,seria o afastamento ou a aproximao do real, pois somente nessascondies o conhecimento no se limitaria "[...] a expressar as apa-rncias ou determinar formulaes que abrangem somente o imedi-ato do objeto, o que, a nosso ver, pode redundar numa viso distorcidado real ou apenas lacunar, portanto, retirando qualquer perspectivade generalizao" (VILA; ORTIGARA, 2007a, p. 304).

    De nossa parte, gostaramos deixar de lado o tipo de vocabul-rio dualista que ope aparncia a realidade, pois pressuposto nessetipo de oposio est a ideia de que a qualidade de uma teoria con-siste em sua Objetividade, entendida como correspondncia com arealidade. Alis, essa uma das caractersticas, segundo vila(2008), que qualifica uma teoria como emancipatria, pois, por seter corretamente, ou pelo menos aproximadamente, capturado

  • Felipe Almeida, Alexandre Vaz22 Artigos Originais

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    aspectos do real, permitir escolhas mais efetivas, como tambmauxiliar a mais bem analisar as alternativas postas. Isso porquequanto mais profundo nosso mergulho terico em frente a um recor-te da realidade, na perspectiva de desvendar as relaes que o cons-tituem, maior a possibilidade de tornar essa realidade inteligvel. Emoutras palavras, quanto mais profunda e penetrante nossa compre-enso de algo, mais afastados estamos de sua aparncia e maisperto da realidade. Isso possibilitar, de acordo com Ortigara (2002)e Ortigara et al. (2009), pensar e projetar uma educao mais coe-rente com as verdadeiras condies de existncia dos homens emulheres que cotidianamente convivem nos espaos educativos.Nessas circunstncias, caberia aos argumentos de carter ontolgicodistinguir o verdadeiro do falso, o ideolgico do no ideolgico, oconsciente do no consciente, o crtico do no crtico, todas essasnoes que foram redescritas com o advento das viradas ou giroslingusticos na educao fsica.

    Com a ajuda do filsofo Rorty (1999, 2006), sugerimos ver oaf realista presente na inflexo ontolgica como a verso iluministado mpeto religioso de se curvar perante um poder no humano (dessemodo, como uma herana do monotesmo). Afinal, para aquele fil-sofo, a expresso "a realidade como ela em si mesma" ou, comodisse Lukcs (1978), a realidade do real, apenas outro dos subser-vientes nomes de deus, uma atualizao da reivindicao dos sacer-dotes de que eles esto "mais prximos" ao olho de deus do que alaicidade. Acreditar que a ontologia tem esse poder o mesmo queacreditar na existncia de algo que seja a realidade por trs dasaparncias, a nica descrio verdadeira do que est acontecendo,o segredo final. Assim, apelar ontologia no proporcionaria esseconforto metafsico, ou seja, a possibilidade de comensurabilidadeuniversal em um vocabulrio final? No possibilitaria cumprir umdesejo presente na filosofia de Lukcs (1978, p. 22), ou seja, defen-der uma "[...] concepo que seja historicista sem cair no relativismoe que seja sistemtica sem ser infiel Histria". Parece que esse o caso, pois, sem esse ponto arquimediano, sem uma ontologia compoderes redentores, parece que estaramos sem o Fundamento paraas tomadas de deciso no mundo falibilista em que vivemos. Em

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    outros termos, a pretendida reao ontolgica em educao fsicapode ser lida como expresso de uma inexorvel busca por Critri-os, Fundamentos para nossas prticas, um Vocabulrio que nos livrede qualquer dvida, incerteza e que, ao invs disso, aponte na dire-o certa (no sentido de Verdadeira) em meio a tantas sendas aescolher. Isso equivale a dizer que os defensores do giro ontolgicoso muito intolerantes contingncia e ambivalncia da linguagem,procurando algum porto seguro, algum argumento final e definitivoque solape de uma vez por todas a dissonncia cognitiva de ummundo que recusa um vocabulrio ontolgico geral que se mostreindiferente a cada comunidade de justificao (vale dizer, a cadalinguagem em particular).

    Em quarto lugar, a virada ontolgica tem como consequncia a(re)instaurao de uma razo monolgica (FENSTERSEIFER, 2001)no mbito das atividades epistemolgicas em educao fsica, namedida em que, ao refutar a linguagem e a intersubjetividade (razocomunicativa) dos processos de validao do conhecimento,reinstaura a relao entre um sujeito do conhecimento que refleteum objeto colocado na natureza, humana ou social. Concordamoscom Fensterseifer (2009), quando este diz que o conhecimento (e aatividade epistemolgica) no revela ou descobre uma realidade jposta, mas constitui aquilo que tomamos como real. Logo, nossatarefa no se encerra na concordncia entre verdade e realidade,tal como pressuposta pela reao ontolgica em curso, mas comeajustamente pela interrogao das verdades que se apresentam comoo real para ns. Tarefa que s pode ser reconhecida como digna seaceitarmos que no temos acesso coisa em si, e mais que isso, notemos nenhum instrumento que o possa produzir. Para citarFensterseifer (2009) mais uma vez, um democrata no precisa la-mentar essa situao, dado ser essa a condio da prpria experin-cia pluralista da democracia. Se no, pensemos que tipo de relaocom o outro ter algum que d por pressuposto j estar de posse danica verdade realmente verdadeira?

    Em quinto lugar, e levando em conta a presena de Lukcs eBhaskar no embate epistemolgico atual, os usos que deles foram

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    8vila (2008), na renovao proposta, mantm uma tese implcita/explcita na classificaoanterior: a de que somente no realismo cientfico, ou seja, na matriz crtico-dialtica, queencontraramos os Fundamentos mais adequados (leia-se, mais Verdadeiros) para o teorizarem educao fsica.

    feitos acabaram originando uma nova classificao epistemolgica,que se junta j classicamente conhecida entre ns, ou seja, a queope s pesquisas emprico-analticas, as pesquisas fenomenolgico-hermenuticas e crtico-dialticas. Essa , ao menos, a proposiode vila (2008) que, ao anunciar a insuficincia desse tipo de clas-sificao, prope outra em seu lugar, mais coerente, segundo ela,com o esprito do tempo que infesta a intelectualidade de nossosdias na educao fsica. A nova classificao ficaria assim:

    a) empiristas;

    b) idealistas;

    c) paradigmas emergentes e antirrealistas (ambas, segundo aautora, irracionalistas);

    d) realistas cientficos8.

    As trs primeiras tendncias, segundo a tese da autora, com-partilham a mesma ontologia velada, ou seja, o realismo emprico(uma evidente influncia de Bhaskar). Seria preciso, assim, contra-por a ele um realismo cientfico, "[...] a teoria que os objetos dainvestigao cientfica existem e atuam, na maior parte das vezes,de forma totalmente independente dos cientistas e de suas ativida-des" (BHASKAR, 1986, p. 3). Alm disso, o idealismo e oantirrealismo supostamente praticariam um relativismo ontolgicona educao fsica, pois ambos produzem uma interdio da Verda-deira ontologia: pelo pensamento, no primeiro caso, e pela lingua-gem, no segundo.

    Por fim, se apelar ao vocabulrio mestre da ontologia resolves-se supostos problemas que marcam o esprito do tempo da rea, taiscomo os irracionalismos e os antirrealismos presentes na educaofsica, a contrapartida dessa soluo significa um passo contrrio nadireo do pluralismo terico e poltico que tem caracterizado nossaatividade epistemolgica nesses ltimos anos. Isso se explica por-

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    que, na medida em que se defende que apenas a ontologia d oacesso verdadeira realidade entre ns, desqualifica-se a presenade uma srie de outras perspectivas de anlise (as representadas,por exemplo, por Deleuze, Foucault, Rorty, Lyotard, Habermas) que,na em direo distinta dos argumentos ontolgicos aqui apresenta-dos, trabalham com a ideia segundo a qual, para citar Gadamer (2007,p. 612), "[...] ser que pode ser compreendido linguagem". Novale a pena pagar o preo to alto ao desqualificar essas perspecti-vas. Mais profcuo seria realizar estudos bem pontuais da obra dosautores responsveis pela presena dos giros e analisar se as crti-cas a eles direcionadas (cticos, irracionalistas, relativistas, conser-vadores etc.) se sustentam quando cotejadas com outras descri-es9. Tais estudos nos permitiriam analisar se, de fato, as perspec-tivas que assumiram os giros impossibilitam alcanar algum grau deobjetividade do real ou, ao contrrio, se elas pensam a objetividadeem outros marcos (ficamos com esta hiptese). Possibilitariam, tam-bm, discutir se elas seriam irracionalistas, se pressuporiam uma"ontologia velada" (realismo emprico), se expressariam umconservadorismo poltico ou se praticariam um relativismo ontolgico.

    Em sntese, preciso refletir sobre os usos feitos de Lukcs eBhaskar na pretendida virada ontolgica na educao fsica, pois,do contrrio, podemos acabar assumindo teses anacrnicas ou semsentido quando dirigidas a autores contemporneos. Um exemplo: difcil aceitar, como Lukcs (1976) anunciou e alguns entre ns aca-bam reproduzindo, que aquelas perspectivas que abrem mo de al-canar a objetividade nos termos de uma correspondncia com oreal ou que no operam com um conceito correspondentista de ver-dade so irracionalistas. Na medida em que esse tipo de associaofor aceito sem contestao, adjetivaremos de irracionalistas todosaqueles autores que assumiram, no campo da filosofia, os giros ou

    9O estudo minucioso desses autores coloca em dvida, inclusive, a tese de que a viradalingstica provocou uma retrao da interpretao ontolgica. Se tomarmos o exemplo daperspectiva gadameriana, veremos que sua abordagem da hermenutica est firmementeancorada na ontologia compreendida como linguagem (a linguagem revela o ser). Semelhantesituao aplicar-se-ia a Foucault, com sua ontologia do presente. Tanto um como outro evitamum tratamento da ontologia que pressupe, eis a diferena deles em relao crtica marxistaaqui em pauta, um ponto arquimediano de objetividade.

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    From the linguistic turn to the ontological turnon the epistemological activity in PhysicalEducationAbstract: This paper reflexes on the interpretation ofsome Marxist tradition on the linguistic turn within theepistemological activity in Physical Education. Itdescribes the suggested reaction by that point of view(ontological inflection) toward a opposing positionagainst that turning point. It concludes analyzing someimplications of the proposed reaction for theepistemological activity in physical education.Keywords: Knowledge. Language. Philosophy.Linguistic Turn. Ontology. Physical Education.

    Del giro lingustico al giro ontolgico en laactividad epistemolgica en Educacin FsicaResumen: El artculo presenta la interpretacin departe de la tradicin marxista en Educacin Fsicabrasilea respecto el cambio o giro lingstico en elmbito de su actividad epistemolgica. Hace ladescripcin de la reaccin que se sugiere (inflexinontolgica) dicha tradicc in con el objetivo decontraponerse aquella presencia. Concluye conalgunas implicaciones de la reaccin propuesta parala actividad epistemolgica en Educacin Fsica.Palabras-clave: Conocimiento. Lenguaje. ViradaLingutica. Ontologa. Educacin Fsica.

    viradas. Isso equivale a dizer que boa parte do trabalho filosficofeito na Frana, na Alemanha e nos EUA, nesses 30 trinta anos,seria facilmente identificada como irracionalista e, como tal, dignade ser descartada. Por consequncia, isso que dizer que aquelesque, em educao fsica, trabalham a partir da hermenutica filos-fica, com a perspectiva habermasiana ou com a filosofia foucaultiana,so todos eles irracionalistas.

    Permanece, portanto, o desafio de se realizar outros estudosmais pontuais das obras de autores como Foucault, Deleuze, Gadamer,Habermas, Lyotard, Nietzsche, entre outros, todos eles respons-veis, de diferentes maneiras, pelos giros que hoje so cada vez maispresentes na educao fsica. Essa seria, em nossa opinio, umamaneira mais adequada para se compreender a corrente pluralizaoterica e poltica que hoje tem caracterizado a produo do conheci-mento e a atividade epistemolgica em educao fsica do Pas.

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    Recebido em: 18.03.2010

    Aprovado em: 16.04. 2010

    A pesquisa contou com apoio do CNPq (Auxlio pesquisa, bolsas de produtividadeem pesquisa, doutorado, mestrado, apoio tcnico pesquisa, iniciao cientfica).

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