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No semiárido mineiro, a rádio comunitária tem sido um importante instrumento de comunicação entre as famílias agricultoras na zona rural. Em muitas comunidades, a rádio é o único instrumento em que as famílias podem produzir e divulgar as informações do seu interesse, não sendo apenas receptoras dos conteúdos dos outros meios de comunicação. No município de Varzelândia, Norte de Minas Gerais, a comunidade João Congo tem desenvolvido uma experiência em comunicação popular com a rádio comunitária A Voz do Agricultor, na frequência 96,7FM. A rádio envolve jovens e lideranças, dando oportunidade aos agricultores e agricultoras de produzir informações de interesse comunitário e exercer seu direito à comunicação. A Voz do Agricultor foi instalada na Comunidade João Congo em 2009. Com a proposta de ser uma rádio móvel, ela chegou ao município no fim de 2006, mas passou por outras comunidades antes de ser montada no João Congo. A rádio veio através do Projeto de Segurança Alimentar, Nutricional, Hídrica e Energética (PSANHE), executado pela Cáritas Regional Minas Gerais, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados e Agricultores Familiares de Varzelândia. O projeto PSANHE era desenvolvido em quatro comunidades do município: Assentamentos Betânia e Arapuím, Comunidades Caatinga e João Congo. A rádio tem o objetivo de incentivar a organização comunitária e despertar o interesse das famílias para a importância da comunicação popular. O Assentamento Betânia foi o primeiro a receber A Voz do Agricultor. Ademir Alves era uma das pessoas envolvidas nos trabalhos da rádio. Ele lembra que quando a rádio chegou foi uma alegria danada. O assentamento fica a 36 quilômetros da sede de Varzelândia, por isso na comunidade só chega sinal de rádios de outros municípios, o que traz dificuldades para as famílias receberem informações atuais de sua localidade. A Voz do Agricultor foi para a Betânia com o objetivo de ajudar a organizar a comunidade e integrar os moradores, pois o assentamento é formado por 87 famílias vindas de vários municípios da região. Quando a rádio chegou na Betânia, um grupo de jovens do assentamento foi visitar a experiência de duas rádios comunitárias no Vale do Jequitinhonha, para trocar conhecimentos sobre como desenvolver essa experiência. No assentamento, a rádio comunitária funcionava dia e noite, sua programação começava às 5 horas da manhã. Inicialmente, ela iria atender apenas a comunidade, mas acabou chegando a toda a região e até mesmo em alguns municípios vizinhos dava para ouvir a rádio. Ela tocava músicas, divulgava informações do interesse das famílias agricultoras, as reuniões do sindicato, da associação, eventos da igreja e programas da Pastoral da Criança. Ademir conta que a maior dificuldade era manter os custos da rádio, pois para isso era preciso pagar a energia, renovar os CD's e dar manutenção nos aparelhos. A comunidade teve dificuldade em dar manutenção ao equipamento quando uma peça estragou, por isso teve que pedir o apoio do sindicato e levar a rádio para ser concertada na cidade. Como a rádio era móvel, ela teve que sair do assentamento Betânia. Ademir conta que a comunidade avançou muito na sua organização e com a saída da rádio eles perderam bastante. Ele avalia que a comunidade deveria ter criado um fundo para custear estas despesas, através de uma associação de amigos da rádio. Hoje, o sonho do assentamento é ter uma rádio comunitária fixa e eles pretendem lutar para conseguir realizar este sonho. Após o concerto do equipamento, no início de 2007, a rádio foi instalada no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Varzelândia, onde permaneceu por quase 2 anos. Neste período, A Voz do Agricultor funcionava com a contribuição de funcionários do sindicato e agricultores que passavam por lá. Eles faziam programas de rádio, Minas Gerais Ano 6 | nº 917 | Outubro | 2012 Cônego Marinho - Minas Gerais Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Alô comunidade: Uma experiência d'A Voz do Agricultor 1 Agricultores participavam dos programas da rádio no sindicato

Alô comunidade: Uma experiência d'A Voz do Agricultor

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No semiárido mineiro, a rádio comunitária tem sido um importante instrumento de comunicação entre as famílias agricultoras na zona rural. Em muitas comunidades, a rádio é o único instrumento em que as famílias podem produzir e divulgar as informações do seu interesse, não sendo apenas receptoras dos conteúdos dos outros meios de comunicação.

No município de Varzelândia, Norte de Minas Gerais, a comunidade João Congo tem desenvolvido uma experiência em comunicação popular com a rádio comunitária A Voz do Agricultor, na frequência 96,7FM. A rádio envolve jovens e lideranças, dando oportunidade aos agricultores e agricultoras de produzir informações de interesse comunitário e exercer seu direito à comunicação.

A Voz do Agricultor foi instalada na Comunidade João Congo em 2009. Com a proposta de ser uma rádio móvel, ela chegou ao município no fim de 2006, mas passou por outras comunidades antes de ser montada no João Congo. A rádio veio através do Projeto de Segurança Alimentar, Nutricional, Hídrica e Energética (PSANHE), executado pela Cáritas Regional Minas Gerais, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados e Agricultores Familiares de Varzelândia.

O projeto PSANHE era desenvolvido em quatro comunidades do município: Assentamentos Betânia e Arapuím, Comunidades Caatinga e João Congo. A rádio tem o objetivo de incentivar a organização comunitária e despertar o interesse das famílias para a importância da comunicação popular. O Assentamento Betânia foi o primeiro a receber A Voz do Agricultor. Ademir Alves era uma das pessoas envolvidas nos trabalhos da rádio. Ele lembra que quando a rádio chegou foi uma alegria danada. O assentamento fica a 36 quilômetros da sede de Varzelândia, por isso na comunidade só chega sinal de rádios de outros municípios, o que traz dificuldades para as famílias receberem informações atuais de sua localidade.

A Voz do Agricultor foi para a Betânia com o objetivo de ajudar a organizar a comunidade e integrar os moradores, pois o assentamento é formado por 87 famílias vindas de vários municípios da região. Quando a rádio chegou na Betânia, um grupo de jovens do assentamento foi visitar a experiência de duas rádios comunitárias no Vale do Jequitinhonha, para trocar conhecimentos sobre como desenvolver essa experiência.

No assentamento, a rádio comunitária funcionava dia e noite, sua programação começava às 5 horas da manhã. Inicialmente, ela iria atender apenas a comunidade, mas acabou chegando a toda a região e até mesmo em alguns municípios vizinhos dava para ouvir a rádio. Ela tocava músicas, divulgava informações do interesse das famílias agricultoras, as reuniões do sindicato, da associação, eventos da igreja e programas da Pastoral da Criança.

Ademir conta que a maior dificuldade era manter os custos da rádio, pois para isso era preciso pagar a energia, renovar os CD's e dar manutenção nos aparelhos. A comunidade teve dificuldade em dar manutenção ao equipamento quando uma peça estragou, por isso teve que pedir o apoio do sindicato e levar a rádio para ser concertada na cidade.

Como a rádio era móvel, ela teve que sair do assentamento Betânia. Ademir conta que a comunidade avançou muito na sua organização e com a saída da rádio eles perderam bastante. Ele avalia que a comunidade deveria ter criado um fundo para custear estas despesas, através de uma associação de amigos da rádio. Hoje, o sonho do assentamento é ter uma rádio comunitária fixa e eles pretendem lutar para conseguir realizar este sonho.

Após o concerto do equipamento, no início de 2007, a rádio foi instalada no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Varzelândia, onde permaneceu por quase 2 anos. Neste período, A Voz do Agricultor funcionava com a contribuição de funcionários do sindicato e agricultores que passavam por lá. Eles faziam programas de rádio,

Minas Gerais

Ano 6 | nº 917 | Outubro | 2012Cônego Marinho - Minas Gerais

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Alô comunidade: Uma experiência d'A Voz do Agricultor

1

Agricultores participavam dos programas da rádio no sindicato

tocavam músicas, davam r e c a d o s e l e v a v a m in fo rmações pa ra as famílias do campo no município e região. Devido a interferências de outras rádios, a freqüência da Voz do Agricultor foi mudada para deixar o sinal mais limpo e alcançar mais lugares.

Lucimara Borges trabalhava no sindicato e contribuía na programação da Voz do Agricultor. Ela lembra que a polícia federal estava perseguindo as rádios comunitárias que não tinham a documentação regulamentada, chegando a fechar 3 rádios do município. Como forma de se proteger, durante os programas da Voz do Agricultor não era falado que a rádio estava instalada no sindicato. Por medo de também ser fechada, A Voz do Agricultor ficou desligada por 2 meses.

Com a proximidade do IV Encontro da Agrobiodiversidade do Norte de Minas em 2008, a rádio retomou sua programação. Naquele ano o encontro seria realizado no município de Varzelândia, reunindo agricultores de toda a região. Lucimara lembra que a rádio foi uma ferramenta de comunicação importante para a mobilização e preparação do evento. Durante o IV Encontro da Agrobio, a rádio teve programação o dia inteiro divulgando as informações do evento. O pessoal da zona rural, que não teve oportunidade de participar, ficou sabendo de tudo que acontecia. A rádio serviu como instrumento para a troca de conhecimentos das experiências visitadas pelos participantes do encontro.

Após esse período no sindicato, as comunidades envolvidas no projeto perceberam que era o momento da Voz do Agricultor prosseguir em sua caminhada pelo município. Em 2009, foi decido que ela iria para a Comunidade João Congo, que fica em uma região plana e por isso facilitaria o alcance das ondas da rádio. Iranete Martins era presidente da associação comunitária de João Congo na época. Ela convocou uma reunião para discutir a chegada da rádio, que teve a participação de todos os sócios e foi bastante organizada. A comunidade ficou muito curiosa e animada e decidiu envolver o grupo de jovens nos trabalhos da rádio. A Voz do Agricultor funcionou por um curto período com o envolvimento da comunidade, mas em pouco tempo quebrou uma peça, o que impediu seu funcionamento. Após muitas tentativas para resolver o problema, a comunidade conseguiu articular uma parceria entre a Cáritas Regional Minas Gerais e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados e Agricultores Familiares de Varzelândia para garantir o concerto do equipamento.

Hoje em dia, A Voz do Agricultor está em pleno funcionamento no João Congo, apesar dos desafios em envolver um número maior de pessoas da comunidade na organização e funcionamento da rádio. A programação varia entre programas informativos e divertidos, conduzidos por adolescentes da comunidade. Eles ainda têm dificuldades em buscar maior quantidade de informações da região e enriquecer o conteúdo, mas utilizam-se de materiais de parceiros importantes, como o programa “Riquezas da Caatinga” da ASA Brasil, que é executado para que os agricultores conheçam e se identifiquem mais com a sua região, que é semiárida.

A Voz do Agricultor é escutada nas comunidades rurais do Brejo, Olhos D'Água e João Congo e na sede dos municípios de Ibiracatu e Varzelândia. Edilene faz parte da Pastoral da Criança e mora na Comunidade João Congo. Ela é responsável pelo programas da rádio e conta que fica muito orgulhosa quando algum ouvinte pede um alô ou comenta que ouve seu programa.

Com a perseguição da polícia federal na região, atualmente apenas a rádio comunitária A Voz do Agricultor e uma rádio voltada para o público evangélico conseguiram resistir no município. Por onde A Voz do Agricultor passou, despertou nas pessoas a importância de um instrumento de comunicação popular que esteja a serviço da comunidade, contribuindo para a organização, integração e informação das famílias agricultoras.

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Antiga e nova geração de comunicadores da rádio móvel A Voz do Agricultor

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

largura tarja superior 2ª página 4cm

largura tarja inferior2ª página 2,8cm

Minas Gerais

Apoio:

MARCAUGT Programa

Cisternas

largura 11,5mm