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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU-SENSU EM ONCOLOGIA Aline de Almeida Oliveira Alterações das células natural killer (NK) na síndrome mielodisplásica (SMD) Rio de Janeiro 2011

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU-SENSU EM ONCOLOGIA

Aline de Almeida Oliveira

Alterações das células natural killer (NK) na

síndrome mielodisplásica (SMD)

Rio de Janeiro 2011

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ALINE DE ALMEIDA OLIVEIRA

ALTERAÇÕES DAS CÉLULAS NATURAL KILLER (NK) NA SÍNDROME

MIELODISPLÁSICA (SMD)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Oncologia Strictu-Sensu do Instituto Nacional de Câncer, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Oncologia

Orientadora: Profa. Dra. Hilda Rachel Diamond

Rio de Janeiro 2011

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O48a Oliveira, Aline de Almeida.

Alterações das células natural killer (NK) na síndrome

mielodisplásica (SMD). / Aline de Almeida Oliveira. – Rio de Janeiro:

INCA, 2011.

195 f.; il. color.

Tese (Doutorado) - Pós-Graduação em Oncologia Strictu-Sensu

do Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, 2011. Orientadora:

Profa. Dra. Hilda Rachel Diamond.

1. Envelhecimento saudável. 2. Células Matadoras Naturais. 3.

Atividade Citotóxica. 4. Síndrome Mielodisplásica. I. Diamond, Hilda

Rachel. II. Instituto Nacional do Câncer. IV. Título.

CDD 616.994

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ALINE DE ALMEIDA OLIVEIRA

ALTERAÇÕES DAS CÉLULAS NATURAL KILLER (NK) NA SÍNDROME MIELODISPLÁSICA (SMD)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Oncologia Strictu-Sensu do Instituto Nacional de Câncer, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Oncologia

Aprovado em ______/______/______

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. VIVIAN MARY BARRAL DODD RUMJANEK Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Profa. Dra. CLAUDIA ESTHER ALICIA ROCIO HASSAN

Instituto Nacional de Câncer - INCA

Prof. Dr. MARCELO PELAJO MACHADO

Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

Prof. Dr. CLAUDIO GUSTAVO STEFANOFF

Instituto Nacional de Câncer - INCA

Prof. Dr. MARTIN HERNAN BONAMINO Instituto Nacional de Câncer - INCA

Prof. Dr. MORGANA TEIXEIRA LIMA CASTELO BRANCO Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

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Dedicatória

Dedico esta tese aos muitos amigos que fiz neste caminho

árduo e gratificante. Em especial, a minha orientadora Hilda.

Dedico também aos meus amigos e minha família, em especial

ao meu marido e minha mãe. Dedico esta tese principalmente

aos pacientes com câncer e ao INCA, instituição onde iniciei

minha carreira científica.

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Agradecimentos Gostaria de agradecer a todos que participaram desta jornada. Mesmo aqueles cujos nomes não estão citados aqui, mas que foram importantes de alguma forma. São tantos que nem sei por onde começar. Desde aqueles que estenderam a mão para ajudar aos que simplesmente ofereceram um sorriso na estrada. Agradeço também aos que colocaram obstáculos e críticas no caminho, pois me fizeram crescer para ser capaz de ultrapassá-los. Sem vocês eu não seria o que sou hoje. Agradeço a Deus pela força de vontade e coragem que me fez chegar aqui. Agradeço a Ele também pelas inúmeras surpresas no caminho. Agradeço a minha família e amigos que me ajudaram a superar as dificuldades, compreendendo que eu tinha que me dedicar a esta tese. Agradeço em especial à minha mãe, que entrou no doutorado no mesmo ano que eu e irá defender a sua tese na mesma semana, de forma que nos tornaremos doutoras juntas. Entre tantas coisas, ela me ensinou a pensar de forma independente, questionar e a ter um grande senso de crítica, indispensáveis para a formação de um cientista. Agradeço também a meu marido, que é muito mais que isso, meu melhor amigo, meu companheiro. É a rocha em que me apoio para descansar ao mesmo tempo em que é o sol que ilumina os meus dias. Sem o seu carinho, amor e compreensão eu não teria sido capaz de completar esta imensa tarefa.

Gostaria de agradecer ao INCA, instituição que me acolheu quando era apenas uma menina começando a iniciação científica. Foram os mais de oito anos que passei no INCA que me transformaram na profissional que eu sou. Aprendi muito no INCA. Lições que permitiram que eu concretizasse sonhos. Que fosse a inúmeros congressos. Que eu me tornasse uma cientista publicada. Que me deram os conhecimentos necessários para entrar por meio de concurso público em outra instituição maravilhosa, a Fiocruz. Agradeço também a Fiocruz por ter me acolhido e permitido que eu continuasse a crescer e me desenvolver. Que me ofereceu reconhecimento profissional e financeiro. Que é o meu presente e meu futuro. Onde estão os meus futuros desafios e alegrias que impulsionam a minha vida. Mas o que seriam das instituições se não fosse pelas pessoas que as formam?

Sendo assim quero agradecer em primeiro lugar a minha orientadora, Hilda Diamond. Ela me estimulou, me desafiou e me impulsionou por todos estes anos. Quando precisei, sempre esteve ao meu lado. Lutamos muitas batalhas juntas e conquistamos muitas vitórias. Espero que nossos caminhos continuem se cruzando e que possamos enfrentar novas aventuras, não mais como aluna e orientadora, mas como companheiras de conquistas. Agradeço também a Maria Helena Ornellas, uma pessoa única e especial. Aprendi muito com sua sabedoria, conhecimento e simplicidade. Como todas as minhas companheiras do Laboratório de Imunologia do CEMO, sempre estendeu a mão quando eu precisei. Foram muitas companheiras de labuta no Lab. Imuno. Ao longo destes anos. Algumas, não vejo há bastante tempo, como a minha amiga Deborah Senra que agora segue outro rumo, mas que foi muito importante no meu caminho. A Monique Smith, minha aluna de aperfeiçoamento, sem a qual não teria conseguido terminar esta tese. Ela se dedicou de coração a este trabalho, por isso a agradeço e muito. A Barbara Du Rocher, fizemos iniciação científica juntas na UERJ e no INCA. Estávamos juntas no primeiro congresso científico de nossas vidas, onde ganhamos um prêmio de honra ao mérito. Embora não sejamos mais do mesmo laboratório somos amigas. Agradeço a ela pelo apoio, trocas de experiência e conversas de corredor sobre nossos projetos, que sempre renderam bons frutos. Agradeço também a Aline Ribeiro “Sing”, entramos juntas no INCA, ela passou um tempo longe e depois voltou. Mas sempre esteve presente no meu coração. Agradeço a ela também por dar continuidade ao meu trabalho da minha tese de mestrado. Ela aprimorou e tornou o trabalho muito melhor e mais interessante do que eu seria capaz de imaginar. Pela continuidade deste trabalho também agradeço a nossa orientadora e ao Martin Bonamino. Agradeço a Karen Souza, personificação da amizade, sempre tem uma palavra amiga e

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recebe com o mais largo e sincero sorriso que já vi. Agradeço também as minhas companheiras de laboratório, Karen Souza, Mércia Mendes, Cláudia Diniz e Bernadete Gomes, pela paciência de interromper as suas rotinas de trabalho para adquirir e analisar as amostras desta tese no citômetro. Agradeço também a todas as companheiras de laboratório de hoje e de ontem, pelas inúmeras conversas e companheirismo, especialmente a Karen, Carla, Bárbara, Deborah, Aline Sing, Cláudia, Bernadete, Mércia e Monique, aliviaram as dificuldades do caminho e forjaram muitas amizades que espero levar para sempre comigo.

Agradeço também aos meus companheiros de Biomanguinhos, Fiocruz. Primeiro a Gerente do Programa de Biofármacos, Nádia Batoreu, e ao então Vice-diretor de desenvolvimento tecnológico, Ricardo Galler, que foram os primeiros a me dar boas vindas e que souberam valorizar o meu doutorado, permitindo que eu me dedicasse 20h semanais a ele. Sem o apoio deles, não teria conseguido. Por isso também agradeço ao Marco Alberto, gerente do LATER e Maria Luiza, sua substituta. Eles tiveram que ter paciência de mês a mês de isentar quase que diariamente no sistema de ponto os muitos períodos dedicados ao doutorado no INCA. Agradeço também a Maria da Glória, que muito me ajudou com sua calma e paciência. Gerente do projeto de pesquisa do qual faço parte em Biomanguinhos, soube aproveitar o melhor que eu pude oferecer no projeto ao mesmo tempo em que me permitia tempo para dedicar ao doutorado. Agradeço também ao Carlos Otávio, que foi gerente substituto do projeto e herdou a minha dedicação parcial ao trabalho. Sempre me apoiou e me fez rir em muitas horas em que eu precisava. Também agradeço aos meus amigos e companheiros de Biofármacos/LATER. A Eneida, Eliane, Natália, Renata, Procópio, Juliana, Ana Emília e tantos outros. Que sempre tiveram do meu lado contando histórias, consolando, rindo e dando apoio.

Por último e não menos importante, aos inúmeros colaboradores deste trabalho. Ao diretor do CEMO, Luis Bouzas e a chefe dos laboratórios do CEMO, Eliana Abdelhay. Forneceram a infraestrutura necessária para a realização do projeto e todo o apoio que eu precisei. Aos colegas do Laboratório de Imunogenética, que me ajudaram no início da jornada de KIR e HLA, em especial a Matilde Romero. Também a Willian Sacramento, Christina Nogueira, César de Souza. Ao Cristóvão Porto e Juliana Cardoso, que deram continuidade e aprimoraram esta questão. Eles participaram diretamente deste estudo realizando a genotipagem KIR e HLA e também a determinação de ligantes HLA, ferramentas essenciais para este trabalho. Agradeço a Luis Cláudio Thuler, que me guiou nos mistérios da estatística, ajudando a desenhar este trabalho e me ensinando e estimulando fazer análise dos dados sozinha. Agradeço a todo o corpo clínico do CEMO, principalmente à Rita Tavares, Joana Lima e Décio Lerner. Agradeço ao corpo clínico do serviço de hematologia do INCA, em especial a Jane Dobbin. A equipe do INTO, especialmente a Rosângela Falcão. Aos colaboradores do HEMORIO, especialmente a Cláudia Máximo, Viviane e Heloísa Helena. A equipe de hematologia do HUPE, principalmente Stella Beatriz de Lucena. Agradeço também a Maria Helena Ornellas, que me encaminhou amostras e me ajudou no levantamento dos dados clínicos. Ao Flávio Paraguaçu, por me ajudar a desenhar uma parte do projeto que não houve tempo hábil para executar, mas que será completado algum dia. Agradeço também a Vivian Rumjanek, pelo carinho e atenção com que sempre leu de forma crítica o nosso trabalho, acrescentando sugestões importantes, incentivos e idéias. Agradeço a equipe da Pós-Graduação Stricto Sensu do INCA pela oportunidade, em especial ao Dr. Luis Felipe Pinto, sempre lutando pela excelência de qualidade da pós do INCA e nos desafiando a fazer melhor. Agradeço também a todos os membros da banca pelas críticas construtivas que me farão crescer. Agradeço enfim ao apoio financeiro da FAPERJ, CAPES e Ministério da Saúde.

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A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro. Albert Einstein

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Resumo A síndrome mielodisplásica (SMD) compreende um grupo heterogêneo de doenças clonais da

medula óssea (MO), caracterizadas por vários graus de citopenias periféricas, que pode evoluir para

leucemia mielóide aguda (LMA). Tem sido discutida a possibilidade de a SMD ser mediada por

mecanismos autoimunes. As células natural killer (NK) poderiam ter um papel na fisiopatologia e

progressão da SMD, mas até o momento pouco se sabe sobre o assunto. Estas células são

importantes componentes do sistema imune inato e possuem funções realizadas por dois subtipos

distintos: as CD56dim são responsáveis pela atividade citotóxica natural contra células tumorais e

infectadas por vírus e as CD56bright pela produção de citocinas imunoregulatórias. As funções destas

células são controladas por um conjunto de receptores ativadores e inibidores que reconhecem as

células alvo e pertencem a três famílias principais: receptores de citotoxicidade natural (NCR), lectina

tipo C e receptores de células assassinas semelhantes a imunoglobulinas (KIR). O objetivo foi estudar

alterações do comportamento das células NK em pacientes com SMD. Como a SMD é mais frequente

em idosos e relativamente rara na infância, primeiramente foram avaliados os parâmetros de

interesse em crianças, adultos e idosos saudáveis. Foi observada nos idosos saudáveis uma redução

de expressão de receptores ativadores da família NCR em células NK e aumento da expressão de

receptores da família KIR no subtipo CD56bright. As crianças apresentaram alterações semelhantes.

Houve redução da expressão de NKG2D nos linfócitos T de idosos. A análise do genótipo KIR revelou

que KIR2DL5 e KIR2DS3 estavam associados aos idosos. A atividade citotóxica foi preservada ao longo

da vida, sugerindo que o aumento do número de células CD56dim observada em idosos seja um

mecanismo de compensação para a alteração da expressão de receptores. Nos pacientes com SMD,

pela primeira vez foi observado um aumento do subtipo CD56dim e redução de CD56bright. Os

pacientes com SMD apresentaram redução dos principais receptores ativadores de células NK

(NKp46, NKp30 e NKG2D) e consequentemente da atividade citotóxica. Semelhante aos idosos, na

SMD só houve alteração na expressão de receptores da família KIR nas células CD56bright. Houve uma

associação entre o percentual de célula NK, expressão de receptores e genótipo KIR com os dados

clínicos dos pacientes com SMD, inclusive sobrevida e prognóstico. Estes resultados sugerem que

talvez os receptores KIR possam ser utilizados como biomarcadores de progressão da doença. É

tentador especular que estas alterações encontradas nas células NK de pacientes com SMD possam

ter consequências na progressão da doença e na transformação maligna para LMA.

Palavras chave: envelhecimento saudável, SMD, células NK, KIR, NCR, NKG2D e atividade citotóxica.

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Abstract Myelodysplastic syndrome (MDS) comprise a heterogeneous group of clonal disorders of bone

marrow (BM), characterized by varying degrees of peripheral cytopenias that can develop into acute

myeloid leukemia (AML). Recently, has been discussed the possibility that MDS may be mediated by

autoimmune mechanisms. Natural killer cells (NK) cells could play a role in the pathophysiology and

progression of MDS, but so far little is known about the subject. These cells are important

components of the innate immune system and its functions are performed by two distinct subtypes:

the CD56dim cells are responsible for natural cytotoxicity against tumor and cells virally infected while

CD56bright cells are in charge by production of immunoregulatory cytokines. The functions of these

cells are controlled by a set of inhibitory and activating receptors that recognize the target cells.

There are three main families of NK cells receptors: natural cytotoxicity receptors (NCR), C-type lectin

receptors and killer cell immunoglobulin-like receptors (KIR). The objective was to study changes in

the performance of NK cells in MDS patients. As MDS is more common in the elderly and relatively

rare in childhood, firstly the parameters of interest were evaluated in healthy children, adults and

elderly. Healthy elderly presented a decrease of expression of activating receptors of NCR family in

NK cells and increased expression of KIR receptors in CD56bright subset. Children showed similar

results. NKG2D expression was decreased on T cells of elderly. Analysis of KIR genotype revealed that

KIR2DL5 and KIR2DS3 were significantly associated with old age. Cytotoxic activity was preserved

from childhood through old age, suggesting that the increase of the absolute number of CD56dim,

observed in elderly, may represent a compensatory mechanism for the receptor expression

alterations. In MDS patients, for the first time, was observed an increase of CD56dim and reduction of

CD56bright subsets. MDS patients had a decreased expression of the main activating NK receptors

(NKp46, NKp30 and NKG2D) and consequently, also of cytotoxic activity. Similar to the elderly, in

MDS KIR expression was altered only in CD56bright cells. There was an association between the

percentage of NK cells, receptor expression and KIR genotype with clinical data of MDS patients,

including survival and prognosis. These results suggest that perhaps the KIR receptors may be used as

biomarkers of disease progression. It is tempting to speculate that these changes found in NK cells

from MDS patients may have consequences on disease progression and malignant transformation to

AML.

Keywords: healthy aging, MDS, NK cells, KIR, NCR, NKG2D and cytotoxic activity.

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Lista de ilustrações

Figura 1 – Modelo molecular da progressão da SMD ........................................................................... 40

figura 2 – Modelos de autoimunidade de células T na SMD................................................................. 46

Figura 3 – Exocitose de grânulos de células NK. ................................................................................... 49

Figura 4 – Subtipos de células NK.. ....................................................................................................... 51

Figura 5 – Reconhecimento das células alvo......................................................................................... 55

Figura 6 – Sinais ativadores e inibidores de receptores de células NK. ................................................ 56

Figura 7- Impacto da diversidade dos receptores KIR.. ......................................................................... 62

Figura 8 – Estratégia de análise e exemplo representativo de citometria de fluxo de um indivíduo saudável (gênero masculino, 25 anos). ................................................................................................. 80

Figura 9 – Exemplo de atividade citotóxica por citometria de fluxo (gênero feminino, 47 anos).. ...... 82

Figura 10 – Histograma de idade dos indivíduos saudáveis.................................................................. 85

Figura 11 – Atividade citotóxica dos indivíduos saudáveis: distribuição por idade(A) e sexo (B) ........ 86

Figura 12 – Influência da idade nas populações de células dos indivíduos saudáveis.......................... 89

Figura 13 – Influência do gênero nas populações de células dos indivíduos saudáveis. ...................... 90

Figura 14 – Alteração dos subtipos de células NK com a idade nos indivíduos saudáveis. .................. 91

Figura 15 – Alterações relacionadas à idade na expressão de NCR nos indivíduos saudáveis. ............ 95

Figura 16 – Alterações na expressão de receptores da família da lectina tipo C nos indivíduos saudávies com idade e gênero. ............................................................................................................. 97

Figura 17 – Alterações com a idade na expressão de receptores da família KIR em células CD56bright em indivíduos saudáveis. ...................................................................................................................... 99

Figura 18 – Análise da frequência individuais dos genes KIR nos indivíduos saudáveis por idade e sexo.. ................................................................................................................................................... 102

Figura 19- A presença dos genes de ligantes HLA-C do grupo 2 no genoma dos indivíduos saudáveis não influencia na expressão de CD158a.. ........................................................................................... 106

Figura 20 – A presença dos genes para ligantes HLA-C do grupo 1 no genoma dos indivíduos saudáveis não influencia a expressão de CD158b............................................................................... 107

Figura 21 – A presença dos genes de ligantes BW4 no genoma dos indivvíduos saudáveis não influencia na expressão de CD158e. ................................................................................................... 108

Figura 22 – Histograma de frequência de idade dos pacientes com SMD .......................................... 111

Figura 23 – Curvas de sobrevida global ............................................................................................... 113

Figura 24 – Atividade NK dos pacientes com SMD em comparação com os indivíduos saudáveis. ... 117

Figura 25 – Populações de células dos pacientes com SMD em comparação aos indivíduos saudáveis. ............................................................................................................................................................. 120

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Figura 26 – Os percentuais de linfócitos T (A) e células NK (B) em relação ao óbito de pacientes com SMD. .................................................................................................................................................... 120

Figura 27 – Alteração dos subtipos de células NK nos pacientes com SMD ....................................... 122

Figura 28 - Expressão de receptores da família NCR na SMD. ............................................................ 125

Figura 29 – Relação entre os dados clínicos e expressão de NKp46 nos pacientes com SMD. .......... 126

Figura 30 - Relação entre os dados clínicos e expressão de NKp30 nos pacientes com SMD. ........... 127

Figura 31 - Expressão do receptor NKG2D da família da lectina tipo C nos pacientes com SMD. ...... 129

Figura 32 – Relação entre o óbito dos pacientes com SMD e a expressão de CD94 em células NK e no subtipo CD56dim. .................................................................................................................................. 129

Figura 33 – Relação entre a celularidade da medula óssea dos pacientes com SMD e a expressão de NKG2D em linfócitos T (A), células NK (B) e seus subtipos CD56dim (C) e CD56bright. ........................... 130

Figura 34 - Expressão dos receptores da família KIR nas células CD56bright de pacientes com SMD. . 132

Figura 35 – Relação entre os dados clínicos dos pacientes com SMD e expressão de receptores da família KIR.. .......................................................................................................................................... 133

Figura 36 - Analise das frequências individuais dos genes KIR nos pacientes com SMD.. .................. 136

Figura 37 – Curvas de sobrevida dos pacientes com SMD separados pelo genótipo KIR ................... 136

Figura 38 – Sobrevida dos pacientes com SMD agrupados pelos conjuntos de genes reconhecidos pelo anticorpo anti-CD158a. ............................................................................................................... 138

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Lista de tabelas

Tabela 1– Critérios de classificação da SMD pela FAB (1982) ............................................................... 27

Tabela 2 – Classificação dos subtipos de SMD de acordo com os critérios OMS de 2008. .................. 29

Tabela 3 – Fatores de prognóstico de acordo com a classificação IPSS. ............................................... 31

Tabela 4 – Grupos de risco de acordo com a soma dos pontos da classificação IPSS. ......................... 31

Tabela 5 – Fatores de prognóstico de acordo com a classificação WPSS. ............................................ 32

Tabela 6 - Grupos de risco de acordo com a soma dos pontos da classificação WPSS. ....................... 32

Tabela 7 - Receptores KIR e seus ligantes identificados até hoje. ........................................................ 60

Tabela 8 – Painel de anticorpos monoclonais utilizados ...................................................................... 79

Tabela 9 – Influência da idade nas frequência de células T, NKT, NK, CD56dim e CD56bright dos indivíduos saudáveis ............................................................................................................................. 88

Tabela 10 – Influência do sexo nas frequência de células T, NKT, NK, CD56dim e CD56bright dos indivíduos saudáveis ............................................................................................................................. 88

Tabela 11 – Frequência de células T, NKT, NK, CD56dim e CD56bright expressando receptores das famílias NCR, lectina tipo C e KIR em diferentes faixas etárias de indivíduos sadáveis. ....................... 93

Tabela 12 – Distribuição por gênero da frequência de células T, NKT, NK, CD56dim e CD56bright expressando receptores das famílias NCR, lectina tipo C e KIR nos indivíduos saudáveis. .................. 94

Tabela 13 – Diferentes conteúdos gênicos dos genótipos KIR detectados e frequência dos genótipos KIR por idade e sexo nos indivíduos saudáveis. .................................................................................. 101

Tabela 14 – Indivíduos saudáveis agrupados de acordo com a relação entre os anticorpos monoclonais anti-KIR e o genótipo KIR distribuídos por idade. .......................................................... 103

Tabela 15 – Indivíduos saudáveis agrupados de acordo com a relação entre os anticorpos monoclonais anti-KIR e o genótipo KIR distribuídos por sexo. ........................................................... 104

Tabela 16 – Frequência dos ligantes HLA para os receptores KIR de indivíduos saudáveis distribuído por faixa etária. ................................................................................................................................... 105

Tabela 17 – Frequência dos ligantes HLA para os receptores KIR de indivíduos saudáveis distribuído por gênero ........................................................................................................................................... 105

Tabela 18 – Sistema de escore de potencial autoimune baseado no genótipo KIR e HLA. ................ 110

Tabela 19 – Frequências de potencial autoimune encontradas no total de indivíduos saudáveis .... 110

Tabela 20 – Frequência de presença de potencial autoimune nos indivíduos saudáveis divididos por faixa etária e gênero ........................................................................................................................... 110

Tabela 21 – Características clínicas dos pacientes estudados ............................................................ 112

Tabela 22 – Resumo das principais características clínicas dos 23 pacientes com SMD .................... 115

Tabela 23 – Comparação das frequências de células T, NKT, NK, CD56dim e CD56bright entre os indivíduos saudáveis e os pacientes com SMD ................................................................................... 118

Tabela 24 - Frequência de células T, NKT, NK, CD56dim e CD56bright expressando receptores das famílias NCR, lectina tipo C e KIR nos pacientes com SMD em comparação aos indivíduos saudáveis........... 124

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Tabela 25 - Diferentes conteúdos gênicos dos genótipos KIR detectados e frequência dos genótipos KIR nos pacientes com SMD ................................................................................................................ 135

Tabela 26 – Pacientes com SMD agrupados de acordo com a relação entre os anticorpos monoclonais anti-KIR e o genótipo KIR. .................................................................................................................... 137

Tabela 27 - Frequência dos ligantes HLA para os receptores KIR dos pacientes com SMD ................ 139

Tabela 28 - Frequência de presença de potencial autoimune nos pacientes com SMD .................... 140

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Lista de abreviaturas, siglas e símbolos

AA Anemia aplástica

ADCC Resposta celular dependente de anticorpos

AR Anemia refratária

AREB Anemia refratária com excesso de blastos

AREB-t Anemia refratária com excesso de blastos em transformação

ARSA Anemia refratária com sideroblastos em anel

ATG Globulina anti-timócito

CDRM Citopenia refratária com displasia de múltiplas linhagens

CDRU Citopenia refratária com displasia de única linhagem

CEMO Centro de Transplante de Medula Óssea

CFU Unidades formadoras de colônia

CFU-GM Unidades formadoras de colônia de granulócito e macrófago

CRDU Citopenia refratária com displasia de única linhagem

CTH Células tronco hematopoiéticas

DAG diacilglicerol

DECH Doença enxerto versus hospedeiro

EPO Eritropoietina

EUA Estados Unidos da América

FAB Grupo Francês-Americano-Britânico

GCSF Fator de estimulação de colônias de granulócitos

GM-CSF Fator de estimulação de colônia de macrófago e granulócito

GPI-AP Proteínas de ancoramento em glicofosfatidilinositol

Hemorio Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti

HLA Antígeno de histocompatibilidade humano

HPN Hemoglobinúria paroxística noturna

HUPE Hospital Universitário Pedro Ernesto

IL Interleucina

INCA Instituto Nacional de Câncer

INF- Interferon gama

INTO Instituto Nacional de Trautamatologia e Ortopedia

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IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

IPSS Sistema internacional de escore prognóstico

ITAM Motivo ativador de imunoreceptor baseado em tirosina

ITIM Motivo inibidor de imunoreceptor baseado em tirosina

KIR receptores de células assassinas semelhantes às imunoglobulinas

LFA-1 Função linfóide associada ao antígeno 1

LLA Leucemia linfoblástica aguda

LLGG Leucemia de linfócitos grandes e granulares

LMA Leucemia mielóide aguda

LMA rel. SMD LMA com alterações relacionadas à SMD

LMA-t LMA relacionada à terapia

LMC Leucemia mielóide crônica

LMMC Leucemia mielomonocítica crônica

LMMJ Leucemia mielomonocítica juvenil

MHC Complexo maior de histocompatibilidade

MO Medula óssea

NCAM Molécula de adesão de célula neural

NCR Receptores de citotoxicidade natural

NK Natural killer

NR Neutropenia refratária

OMS Organização Mundial de Saúde

PMA Forbol miristato acetato

SMD Síndrome mielodisplásica

SMD-i Síndrome mielodisplásica inclassificável

SMD-t SMD relacionada à terapia

TCR Receptor de linfócitos T

TCTH Transplante de células tronco hematopoiéticas

TGF- Fator beta de transformação do crescimento

TNF- Fator de necrose tumoral alfa

TR Trombocitopenia refratária

TRAIL ligante de apoptose relacionado ao TNF

WPSS Sistema internacional de escore prognóstico da OMS

WT-1 proteína do tumor Wilms

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Sumário

1 . Introdução .......................................................................................................................................... 18

2 . Objetivos .............................................................................................................................................. 21

2.1 Objetivo geral....................................................................................................................... 21

2.2 Objetivos específicos ........................................................................................................... 21

3 . Revisão da literatura ....................................................................................................................... 22

3.1 Síndrome mielodisplásica (SMD) ......................................................................................... 22

3.2 Diagnóstico e classificação da SMD ..................................................................................... 25

3.2.1 Classificação FAB ............................................................................................................. 27

3.2.2 Classificação OMS ............................................................................................................ 28

3.2.3 Classificação de risco ....................................................................................................... 30

3.2.3.1 IPSS.......................................................................................................................... 31

3.2.3.2 WPSS ....................................................................................................................... 32

3.3 Tratamento da SMD ............................................................................................................. 33

3.4 Fisiopatologia da SMD ......................................................................................................... 36

3.5 O papel do sistema imunológico na SMD ............................................................................ 41

3.6 Células Natural Killer (NK) .................................................................................................... 47

3.6.1 Subtipos de células NK .................................................................................................... 51

3.6.2 Reconhecimento das células alvo.................................................................................... 54

3.6.2.1 Receptores de citotoxicidade natural (NCR) ........................................................... 57

3.6.2.2 Receptores da família da lectina tipo C .................................................................. 58

3.6.2.3 Receptores da família KIR ....................................................................................... 59

3.6.3 Repertório de células NK, tolerância e autoimunidade .................................................. 63

3.6.4 Alterações de células NK ao longo da vida: da infância a velhice ................................... 67

3.6.5 As células NK e a SMD ..................................................................................................... 71

4 . Material e métodos .......................................................................................................................... 75

4.1 Seleção de indivíduos e coleta de amostras ........................................................................ 75

4.1.1 Indivíduos saudáveis ........................................................................................................ 75

4.1.2 Pacientes com SMD ......................................................................................................... 76

4.1.3 Coleta de amostras .......................................................................................................... 77

4.2 Análise da expressão dos receptores de células NK por citometria de fluxo ...................... 78

4.3 Atividade citotóxica por citometria de fluxo ....................................................................... 81

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4.4 Genotipagem KIR e HLA ....................................................................................................... 83

4.5 Análise estatística ................................................................................................................ 84

5 . Resultados .......................................................................................................................................... 85

5.1 Indivíduos saudáveis ............................................................................................................ 85

5.1.1 Atividade citotóxica ......................................................................................................... 86

5.1.2 Populações de células T, NKT e NK .................................................................................. 87

5.1.3 Subpopulações de células NK .......................................................................................... 91

5.1.4 Expressão de receptores da família NCR ......................................................................... 92

5.1.5 Expressão de receptores da família da lectina tipo C...................................................... 96

5.1.6 Expressão dos receptores da família KIR ......................................................................... 98

5.1.7 Frequência genotípica de receptores KIR ...................................................................... 100

5.1.8 Relação entre o genótipo e expressão dos receptores KIR ........................................... 103

5.1.9 Ligantes HLA para os receptores KIR ............................................................................. 105

5.1.10 Potencial autoimune de células NK previsto pelo genótipo KIR e HLA ..................... 109

5.2 Pacientes com SMD ........................................................................................................... 111

5.2.1 Características clínicas ................................................................................................... 111

5.2.2 Atividade citotóxica ....................................................................................................... 117

5.2.3 Populações de células T, NKT e NK ................................................................................ 118

5.2.4 Subpopulações de células NK ........................................................................................ 121

5.2.5 Expressão de receptores da família NCR ....................................................................... 123

5.2.6 Expressão de receptores da família da lectina tipo C.................................................... 128

5.2.7 Expressão dos receptores da família KIR ....................................................................... 131

5.2.8 Frequência genotípica de receptores KIR ...................................................................... 134

5.2.9 Relação entre o genótipo e expressão dos receptores KIR ........................................... 137

5.2.10 Ligantes HLA para os receptores KIR ......................................................................... 139

5.2.11 Potencial autoimune de células NK previsto pelo genótipo KIR e HLA ..................... 140

6 . Discussão .......................................................................................................................................... 141

6.1 Envelhecimento saudável .................................................................................................. 141

6.2 Síndrome mielodisplásica (SMD) ....................................................................................... 149

7 . Conclusões ....................................................................................................................................... 159

8 . Referencias bibliográficas ......................................................................................................... 161

Anexos ............................................................................................................................................................ 174

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18

1 . Introdução

A síndrome mielodisplásica (SMD) compreende um grupo heterogêneo de doenças clonais da

medula óssea (MO) caracterizadas por vários graus de citopenias periféricas (Aul et al., 1998). Esta

doença é caracterizada por apresentar displasias em uma ou mais linhagens celulares e insuficiência

medular progressiva que traduzem a existência de hematopoese ineficaz da MO (Cazzola e

Malcovati, 2010). A história natural da doença é altamente variável com relação às características

morfológicas. A sobrevida varia de apenas alguns meses até 5-10 anos após o diagnóstico (Howe,

2004). A heterogeneidade de apresentações hematológicas, biologia das doenças e prognóstico,

tornou a SMD uma das doenças malignas mais desafiantes da hematologia (List, 2010).

Entre as doenças hematopoiéticas malignas, a SMD é uma das mais frequentes em idosos,

porém pode ser adquirida em qualquer idade (Heaney e Golde, 1999). Devido ao envelhecimento

populacional a importância da SMD está aumentando. No Brasil, o número de idosos (≥ 60 anos de

idade) apresentou um aumento de mais de 500% em quarenta anos e estima-se que alcançará 32

milhões em 2020 (Lima-Costa e Veras, 2003).

Várias estratégias têm sido utilizadas para tratar os pacientes com SMD (ex: citocinas,

modificadores da resposta imunológica, imunossupressores, quimioterapia de baixa dose e etc.),

porém o tratamento ainda é insatisfatório. Até hoje, o transplante de células tronco hematopoiéticas

(TCTH) alogenêico é o único tratamento curativo, mas esta estratégia só é bem sucedida em um

número restrito de pacientes (Cheson et al., 2000).

Durante a evolução da doença, ocorre falha progressiva da MO e a transformação para

leucemia é vista em um terço dos casos (Greenberg et al., 2002). A SMD fornece um modelo clínico

para estudar a evolução de uma doença clonal da medula óssea relativamente benigna (ex: anemia

refratária) para uma doença maligna, como a leucemia mielóide aguda (LMA), Aul et al., 1998. A

evolução para leucemia linfoblástica aguda (LLA) é muito rara (Disperati et al., 2006).

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19

Atualmente, está aumentando o número de evidências de que a falha na MO que ocorre na

SMD seja mediada por mecanismos imunológicos, mas o papel exato da desregulação do sistema

imunológico na patogenia desta doença ainda não está claro (Voulgarelis et al., 2004).

Uma variedade de alterações imunológicas foi descrita nas SMD tanto no nível celular quanto

humoral (Baumann et al., 2002). Na década de 80 e 90, alguns estudos mostraram redução da

capacidade citolítica de células natural killer (NK) de pacientes com SMD, mas os mecanismos

envolvidos não ficaram claros (Porzsolt et al., 1982; Anderson et al., 1983; Kerndrup et al., 1984;

Ogata et al., 1994). A partir destes achados foi sugerido que as células NK poderiam ter um papel na

fisiopatologia e progressão da SMD, mas até o momento, o conhecimento da função destas células

em pacientes com SMD é muito restrito (Kiladjian et al., 2006).

As células NK são importantes componentes do sistema imune inato e têm a capacidade de

lisar células alvo além de fornecer citocinas imunoregulatórias (Cooper et al., 2001a; Cooper et al.,

2001b). Elas têm papel crítico na defesa do organismo contra a transformação maligna e são potentes

efetoras citotóxicas antileucêmicas (Almeida-Oliveira e Diamond, 2008a; Almeida-Oliveira e Diamond,

2008b). As principais citocinas produzidas por estas células são: interleucina 3 (IL-3), fator de

estimulação de colônia de macrófago e granulócito (GM-CSF), fator β de transformação do

crescimento (TGF-β), interferon gama (IFN-) e fator de necrose tumoral alfa, TNF- (Cooper et al.,

2001a; Farag et al., 2002; O’Connor et al., 2006). As duas últimas citocinas citadas estão aumentadas

em pacientes com SMD.

Um grande número de receptores ativadores e inibidores foram descobertos e se acredita

que o equilíbrio de sinais gerados por estes receptores permitem as células NK a matar de forma

eficaz células alvo enquanto mantém a tolerância ao próprio (Cheent e Khakoo, 2009). Estes

receptores pertencem a três famílias principais: a superfamília de receptores de células assassinas

semelhantes às imunoglobulinas (killer immunoglobulin-like receptor - KIR) que reconhecem

moléculas clássicas de antígeno de histocompatibilidade humano (HLA) de classe I, a superfamília de

receptores semelhantes à lectina tipo C que reconhece moléculas de HLA de classe I não clássicas e

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moléculas semelhantes à classe I e os receptores de citotoxicidade natural (NCR) cujos ligantes ainda

estão mal definidos (Farag e Caligiuri, 2006).

Foi sugerido que mecanismos autoimunes fazem parte da fisiopatologia da SMD. Muitas

evidências sugerem que as células NK possam estar envolvidas na imunoregulação e/ou na

patogênese de doenças autoimunes (Grau et al., 2004; French e Yokoyama, 2004). As células NK são

essenciais para o envelhecimento saudável (Mocchegiani e Malavolta, 2004) e a SMD tem maior

incidência em idosos. Uma significante expansão no número de células NK é encontrada no

envelhecimento (Borrego et al., 1999b). Com relação à atividade citotóxica em idosos, há resultados

controversos. Se for utilizado um critério de seleção restrito que inclui apenas idosos realmente

saudáveis (protocolo SENIEUR - Ligthart et al., 1984), a atividade citotóxica das células NK é mantida.

A queda da atividade citotóxica é mais claramente observada em idosos mais velhos, com idade

entre 75 e 85 anos (Mocchegiani & Malavolta, 2004).

Com relação à SMD, conforme dito anteriormente foi encontrada uma redução da atividade

citolítica nestas células. Até o momento, não está clara a causa desta alteração. Uma possível

explicação para a diminuição da atividade citotóxica seria alterações nos receptores de células NK

que reconhecem as células alvo. No entanto, apenas três autores abordaram este tema até o

momento e apresentaram resultados controversos e não foi possível chegar a resultados conclusivos

(Howe et al., 2005; Kiladjan et al., 2006 e Epling-Burnette et al., 2007a). Ressaltando a importância de

estudar a expressão de receptores de células NK em pacientes com SMD.

Por isso, neste trabalho empregamos diferentes metodologias (atividade citotóxica, análise

da expressão de receptores de células NK, genotipagem KIR e HLA, análise dos dados clínicos e

análises estatísticas) para estudar as células NK na SMD, com a possibilidade de fornecer subsídios

importantes para o entendimento da causa da baixa atividade NK e contribuir para o conhecimento

sobre a evolução da SMD para leucemia.

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2 . Objetivos

2.1 Objetivo geral

Estudar alterações do comportamento das células NK em pacientes com SMD.

2.2 Objetivos específicos

- Verificar se há alterações na função citolítica das células NK na SMD.

- Estudar se há alterações na distribuição das células NK e seus subtipos (CD56dim e CD56bright)

na SMD.

- Estudar o genótipo KIR e HLA na SMD.

- Estudar se há alterações na expressão de receptores ativadores e inibidores das células NK na

SMD.

- Estudar todos os parâmetros acima citados na infância e no envelhecimento saudável.

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3 . Revisão da literatura

3.1 Síndrome mielodisplásica (SMD)

SMD é um grupo de doenças das células tronco hematopoiéticas (CTH) caracterizadas por

defeitos na maturação de células progenitoras mielóides, que levam a uma redução da produção das

células sanguíneas periféricas (citopenias) e instabilidade clonal com risco aumentado de

transformação em leucemia (Valent e Horny, 2009; Barzi e Sekeres, 2010). Durante a evolução da

doença, ocorre falha progressiva da MO e a transformação para leucemia é vista em um terço dos

casos (Greenberg et al., 2002). O prognóstico da LMA relacionada à SMD é pior do que dos casos de

LMA de novo (Ogata, 2006). A SMD fornece um modelo clínico para estudar a evolução de uma

doença clonal da medula óssea relativamente benigna (ex: anemia refratária) para uma doença

maligna, como a LMA, Aul et al., 1998. A evolução para LLA é muito rara (Disperati et al., 2006).

As SMD podem ser consideradas doenças pré-leucêmicas caracterizadas por redução da

diferenciação, contrastando com a LMA que é caracterizada por bloquear a diferenciação enquanto

as células leucêmicas mantém a capacidade de sobreviver e proliferar. Provavelmente uma segunda

alteração é necessária para que a SMD evolua para LMA (Tormo et al., 2010).

Na população dos Estados Unidos da América (EUA), ocorrem cerca de 10.000 a 15.000 novos

casos de SMD por ano, e dada à expectativa de vida dos pacientes afetados por esta doença, estima-

se que de 30.000 a 60.000 americanos vivam com a doença atualmente (Barzi e Sekeres, 2010).

Apesar de a SMD ocorrer em qualquer idade, à maioria dos pacientes são idosos. A mediana de idade

ao diagnóstico é entre 65 e 75 anos e a incidência anual excede 20 por 100.000 pessoas com mais de

70 anos de idade (Cazzola e Malcovati, 2010). Cerca de 70% dos pacientes com SMD tem 70 anos ou

mais e a prevalência aumenta para 30 a cada 100.000 entre os indivíduos com 80 anos ou mais.

Mesmo sem o ajuste de idade, o diagnóstico da SMD é duas a três vezes mais frequente do que o da

LMA, acometendo o homem e a mulher numa proporção de 2:1 (Rollison, 2008). Na infância é

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incomum, sendo responsável por menos de 5% de todas as neoplasias hematológicas em pacientes

com menos de 14 anos de idade (Germing et al., 2008).

O número de diagnósticos de SMD explodiu na última década como um resultado do aumento

do reconhecimento e entendimento da doença e envelhecimento da população. Acredita-se que o

número de idosos nos EUA vá dobrar do ano 2000 até 2030 (Barzi e Sekeres, 2010). O crescimento da

população idosa é um fenômeno mundial e, no Brasil, as modificações ocorrem de forma radical e

bastante acelerada. A cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira. As

projeções mais conservadoras indicam que, em 2020, o Brasil será o sexto país do mundo em

número de idosos, com um contingente superior a 30 milhões de pessoas (de Carvalho e Garcia,

2003). O número de idosos no Brasil (indivíduos com 60 anos ou mais) passou de 3 milhões, em 1960,

para 7 milhões, em 1975, e 20 milhões em 2008 – um aumento de quase 700% em menos de 50

anos. Consequentemente, doenças próprias do envelhecimento passaram a ganhar maior expressão

no conjunto da sociedade (Veras, 2009). Como a SMD está associada ao envelhecimento, existe uma

tendência de aumento de importância da SMD no país.

A incidência de SMD também varia de acordo com o grupo étnico. Nos EUA os indivíduos

brancos tem maior incidência da doença (3,5/100.000) do que os africanos (3,0/100.000), índios

(1,03/100.000) e asiáticos (2,6/100.000). Comparada com a idade mediana nos EUA, nos países

asiáticos e africanos a mediana de idade dos pacientes com SMD é mais baixa, respectivamente, 50 e

60 anos de idade (Sugimori et al., 2010).

Em muitos pacientes, a SMD é assintomática e aparece como uma anormalidade num

hemograma de rotina ou é observada a partir de uma anemia. Os sintomas se desenvolvem

conforme a capacidade de produzir células sanguíneas normais vai ficando cada vez mais

comprometida na MO. A variedade de sintomas depende do tipo celular hematopoiético afetado e

normalmente é composta por anemia, trombocitopenia ou infecções recorrentes (Barzi e Sekeres,

2010). A anemia muitas vezes torna os pacientes dependentes de transfusão. Outro problema clínico

relacionado à citopenia é um aumento da susceptibilidade a complicações infecciosas e a

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complicações hemorrágicas. Geralmente há resistência a todas as medidas terapêuticas e a morte

ocorre mais frequentemente como consequência de hemorragias e infecções do que da evolução

para LMA (Tormo et al., 2010).

A etiologia da SMD não é conhecida. Associação desta doença com o envelhecimento sugere

danos genéticos causados por exposições perigosas ou susceptibilidades herdadas. Fatores de risco

incluem exposição a benzeno e outros solventes, combustível disel, tabagismo e imunossupressão.

Quimio e radioterapia estão associadas com SMD relacionada à terapia (Orazi e Czader, 2009). Em

comparação com a primária (de novo), a SMD secundária tem um pior prognóstico (Barzi e Sekeres,

2010).

A SMD está associada com anemia aplástica (AA), uma doença com uma marca autoimune

bem estabelecida. Os pacientes com AA podem desenvolver a SMD e também existem síndromes de

anemia aplástica severa com características de SMD que frequentemente levam a confusão de

diagnóstico (Barret e Sloand, 2009). Outra doença associada à SMD é a hemoglobinúria paroxística

noturna (HPN). Cerca de 20% dos pacientes com SMD de baixo risco apresentam expansão de células

do tipo HPN. A HPN é uma doença adquirida caracterizada por hemólise intravascular que resulta de

expansão clonal de CTH com o gene PIG-A mutante produzindo células sanguíneas deficientes em

proteínas de ancoramento em glicofosfatidilinositol (GPI-AP), como CD55 e CD59. As células com

deficiência de GPI-AP (células tipo HPN) são geralmente detectáveis no sangue periférico de

pacientes com síndromes de falha da MO, como SMD e anemia aplástica. Ainda continua obscuro

como as células do tipo HPN surgem e aumentam em pacientes com doenças de falha de MO

(Sugimori et al., 2010).

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3.2 Diagnóstico e classificação da SMD

O diagnóstico de SMD requer demonstração de displasia de uma ou mais linhagens mielóides

de pacientes com citopenia progressiva ou demonstração de aumento de mieloblastos (5 a 19%) na

MO (Komrokji et al., 2010). As ferramentas utilizadas para o diagnóstico incluem avaliação

morfológica do sangue periférico e aspirado de MO (mielograma) para avaliar anormalidades nas

células sanguíneas e precursores hematopoiéticos; biópsia de MO para analisar a celularidade da

MO, fibrose e topografia; e citogenética de MO para verificar anormalidades cromossômicas não

aleatórias (Cazzola e Malcovati, 2010). Estes achados devem ser interpretados no contexto de

resultados de hemograma e informações clínicas adequadas. É importante enfatizar, no entanto,

que a presença de um cariótipo normal não exclui um diagnóstico de SMD, assim como um cariótipo

anormal só indicará SMD dentro de um contexto clínico adequado (Orazi e Czader, 2009).

A combinação de displasia evidente na MO e anormalidade citogenética permite um

diagnóstico conclusivo de SMD, mas isto é encontrado em apenas uma parte dos pacientes (Cazzola

e Malcovati, 2010). A SMD está entre as neoplasias mielóides mais difíceis de diagnosticar e

classificar. Os problemas de diagnóstico surgem quando os achados clínicos e laboratoriais sugerem

mielodisplasia, mas os resultados morfológicos são inconclusivos (neste caso o diagnóstico pode ser

feito baseado na citogenética); quando existe displasia secundária causada por deficiências

nutricionais, medicamentos, toxinas, terapia de fatores de crescimento, inflamação ou infecção; ou

quando a hipocelularidade da MO ou mielofibrose tornam a doença obscura. Além disso, mesmo

quando o diagnóstico de SMD é feito, pode ser difícil fazer a subclassificação de acordo com os

esquemas propostos atualmente (Vardiman et al., 2009).

Até 2001, a SMD era classificada de acordo com o grupo cooperativo Francês-Americano-

Britânico (FAB). Em 2001 e 2008 a Organização Mundial de Saúde (OMS) adaptou e estendeu a

classificação FAB (Valent e Horny, 2009). Os sistemas de classificação atuais, FAB e OMS, não são

capazes de rotular todos os casos de SMD e os patologistas ainda tem que regularmente utilizar de

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relatos descritivos enquanto lutam para incluir certos casos difíceis em uma categoria. Apesar disso,

estas classificações têm méritos compartilhados. Elas utilizam ferramentas de diagnósticos

vastamente disponíveis, são relativamente simples, e tem ampla aceitação (Steensma, 2009).

A classificação FAB é baseada inteiramente em achados identificáveis pela análise citológica de

esfregaços com coloração de sangue periférico e mielograma. Os principais critérios para

subclassificação da SMD foram o percentual de blastos e a presença de alterações displásicas em

pelo menos uma das três principais linhagens da MO. Um enfoque mais compreensivo é o do sistema

OMS, que aumenta a importância de integrar outras técnicas na luz da informação clínica (Orazi

Czader, 2009).

Subtipos de SMD têm diferentes apresentações clínicas e patológicas e também diferem no

prognóstico. Normalmente são categorizados em riscos mais baixos ou riscos mais altos dependendo

da chance de se transformar em LMA. Pacientes com SMD de baixo risco sobrevivem de 3 a 7 anos.

Já os de risco mais alto tem uma patobiologia semelhante à LMA em idosos, e os pacientes ou

desenvolvem LMA ou morrem de complicações da SMD, em média em torno de um ano e meio.

Comorbidades tornam a doença mais difícil de manejar e pioram o prognóstico (Barzi e Sekeres,

2010).

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3.2.1 Classificação FAB

Em 1982, o grupo FAB propôs uma classificação para a SMD, levando em conta alguns

parâmetros considerados de importância prognóstica como a porcentagem de blastos no sangue

periférico e/ou MO, a presença de sideroblastos em anel, de bastões de Auer e o percentual de

monócitos (Bennett et al., 1982). A classificação FAB foi dominante até o ano 2000, mas continua

sendo usada até hoje para alguns propósitos como elegibilidade para ensaios clínicos, codificação,

apresentação e linguagem de indicação de drogas aprovadas pelas agências regulatórias (Steensma,

2009). A classificação FAB inclui cinco subgrupos descritos na tabela 1.

Tabela 1– Critérios de classificação da SMD pela FAB (1982)

Tipo de SMD

Blastos na MO (%)

Blastos no SP (%)

Outros

Anemia refratária (AR) <5 1 - Anemia refratária com sideroblastos em anel

(ARSA) <5 1

sideroblastos em anel >15%

Anemia refratária com excesso de blastos (AREB)

5 -20 <5 -

Leucemia mielomonocítica crônica (LMMC) 0 -20 <5 monócitos>1000/L Anemia refratária com excesso de blastos em

transformação (AREB-t) 21-29 5 bastões de Auer

Adaptado de Bennet et al., 1982, Bortolheiro 2006 e Sekeres 2006.

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3.2.2 Classificação OMS

Recentemente a OMS em colaboração com a Associação Européia de Hematopatologia e a

Sociedade de Hematopatologia publicaram uma edição revisada e atualizada da classificação OMS. A

tabela 2 explica quais são os critérios de classificação dos subtipos de SMD de acordo com esta 4°

edição da classificação OMS.

Uma minoria dos pacientes com SMD tem MO hipocelular ou com mielofibrose. Estes casos

não possuem classificação específica pela OMS e devem ser classificados de acordo com a tabela 2,

seguidos das palavras: “hipoplásica” ou “com mielofibrose” (Vardiman et al., 2009). A celularidade

deve ser ajustada por idade, de forma que a MO é considerada hipocelular quando a celularidade for

inferior a 30% em pacientes com menos de 70 anos e menor que 20% em pacientes com mais de 70

anos (Epling-Burnette e List, 2009).

A lista na tabela 2 exclui os casos de sobreposição de categorias de SMD/neoplasias

mieloproliferativas. SMD relacionada à terapia (SMD-t), causada por agentes alquilantes, inibidores

de topoisomerase II ou radiação é classificado junto com LMA relacionada à terapia (LMA-t). LMA é

considerado quando há ≥ 20% de blastos na MO (Steensma, 2009). A OMS classifica como “LMA com

alterações relacionadas à mielodisplasia” (LMA rel. SMD) os casos de LMA com história de SMD que

evoluíram para LMA, os casos de LMA que apresentam alterações citogenéticas relacionadas à

mielodisplasia ou casos que tenham pelo menos 50% das células de duas ou mais linhagens

mielóides apresentando características displásicas (Vardiman et al., 2009).

A classificação OMS propôs um grupo de doenças chamado mielodisplásicas-

mieloproliferativas. Este grupo inclui a leucemia mielomonocítica crônica (LMMC), a leucemia

mielomonocítica juvenil (LMMJ) e leucemia mielóide crônica (LMC) atípica (Komrokji et al., 2010).

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Tabela 2 – Classificação dos subtipos de SMD de acordo com os critérios OMS de 2008.

Subtipo de SMD Achados no sangue Achados na MO

Citopenia refratária com displasia de única linhagem (CRDU):

anemia refratária (AR)

neutropenia refratária (NR)

trombocitopenia refratária (TR)

Unicitopenia ou bicitopenia <1% de blastos

Displasia de uma única linhagem < 5% de blastos < 15% dos precursores eritróides são sideroblastos em anel

Anemia refratária com sideroblastos em anel (ARSA)

Anemia Ausência de blastos

Displasia apenas eritróide < 5% de blastos ≥ 15% dos precursores eritróides são sideroblastos em anel

Citopenia refratária com displasia de múltiplas linhagens (CRDM)

Citopenia(s) <1% de blastos Ausência de bastonetes de Auer

Displasia em duas ou mais linhagens < 5% de blastos Ausência de bastonetes de Auer ± 15% dos precursores eritróides são sideroblastos em anel

Anemia refratária com excesso de blastos – 1 (AREB-1)

Citopenia(s) < 5% de blastos Ausência de bastonetes de Auer

Displasia de uma ou mais linhagens 5 a 9% de blastos Ausência de bastonetes de Auer

Anemia refratária com excesso de blastos – 2 (AREB-2)

Citopenia(s) 5 a 19% de blastos Pode haver presença de bastonetes de Auer

Displasia de uma ou mais linhagens 10 a 19% de blastos Pode haver presença de bastonetes de Auer

Síndrome mielodisplásica inclassificável (SMD-i)

Citopenia(s) <1% de blastos

Não entra em outras categorias Displasia < 5% de blastos Se não houver displasia, cariótipo associado à SMD

SMD com a del(5q) isolada

Anemia Contagem de plaquetas geralmente normal ou aumentada <1% de blastos

Normal a aumento de megacariócitos com núcleo hipolobado < 5% de blastos Anormalidade citogenética del(5q) isolada Ausência de bastonetes de Auer

Bicitopenia pode ser observada na CRDU, mas pancitopenia com displasia de uma única linhagem na MO deve ser classificada com SMD-i. Se a MO apresenta < 5% de blastos, mas existem de 2 a 4% de blastos no sangue periférico, deve ser classificado como AREB-1. Casos de CRDM ou CRDU com 1% de bastos no sangue periférico devem ser classificados como SMD-i. Adaptado de Vardiman et al., 2009 e de Steensma, 2009.

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3.2.3 Classificação de risco

A SMD apresenta uma impressionante heterogeneidade clínica, podendo se apresentar

desde uma doença indolente com uma expectativa de vida semelhante à normal até uma doença

maligna agressiva semelhante à LMA (Orazi e Czader 2009). Esta alta variação do resultado clínico

dos pacientes dentro das categorias de diagnóstico enfatiza uma limitação importante dos dois

sistemas de classificação de SMD (FAB e OMS): prognóstico acurado em SMD continua sendo um

desafio (Steensma, 2009). Estratégias de tratamento adaptadas a risco são mandatórias para

condições mostrando um curso clínico muito variável. Até o momento na mielodisplasia o risco

individual tem sido definido baseado no uso de sistemas de escores prognósticos (Cazzola e

Malcovati, 2010).

A partir da publicação do esquema de classificação FAB (1982) ocorreu proliferação de

ferramentas de prognóstico propostas para SMD. Em 1997, Greenberg et al. desenvolveram o

Sistema Internacional de Escore Prognóstico, conhecido como IPSS. Mais recentemente, foi

demonstrado que a dependência de transfusões tem um efeito importante na sobrevida dos

pacientes com SMD. A integração da classificação OMS (2001) junto com a dependência de

transfusões produziu o sistema de prognóstico conhecido como WPSS (Orazi e Czader, 2009).

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3.2.3.1 IPSS

Um grande avanço na classificação e estratificação de risco da SMD ocorreu com a

introdução do IPSS em 1997. Este sistema é baseado na contagem de blastos, grau de citopenia e

alterações citogenéticas, conforme descrito na tabela 3. Baseado na soma dos riscos os pacientes

podem ser divididos em quatro grupos (tabela 4). O sistema de IPSS é o mais usado atualmente para

estratificação de risco, inclusive para guiar estratégias terapêuticas (Komrokji et al., 2010; Greenberg

2010).

Tabela 3 – Fatores de prognóstico de acordo com a classificação IPSS.

Pontuação 0 0,5 1,0 1,5 2,0

Blastos na MO (%) <5 5 a 10 - 11 a 20 21 a 30 Cariótipo* bom intermediário Ruim

Citopenias** 0 a 1 2 a 3

*Cariótipo de baixo risco: normal, deleção do cromossomo Y, deleção do braço longo do cromossomo 5 ou deleção do braço longo do cromossomo 20. Cariótipo de risco intermediário: todas demais alterações citogenéticas. Cariótipo de risco alto: alterações complexas (>3) ou alterações citogenéticas envolvendo o cromossomo 7. ** Citopenias: neutrófilos <1500/mm

3 ou plaquetas < 100.000/mm

3 ou hemoglobina < 10g/dl.

Adaptado de Apa e Gutz 2006 e Komrokji et al., 2010. Tabela 4 – Grupos de risco de acordo com a soma dos pontos da classificação IPSS.

Grupos de risco Pontuação

Baixo 0 Intermediário I 0,5 a 1 Intermediário II 1,5 a 2

Alto ≥2,5

Adaptado de Apa e Gutz 2006 e Komrokji et al., 2010.

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3.2.3.2 WPSS

Na última década, a evolução da classificação da SMD progrediu rapidamente através de

tecnologias melhores para entender a biologia da doença. Novos modelos prognósticos foram

introduzidos, como o sistema de prognóstico da OMS, conhecido como WPSS. O sistema WPSS é um

sistema dinâmico que pode ser usado em qualquer momento no decorrer da doença. No WPSS se

utiliza a classificação OMS no lugar do percentual de blastos, uso de transfusão no lugar do número

de citopenias e manteve a estratificação de risco citogenético igual a do IPSS (Komrokji et al., 2010).

De acordo com este sistema, a tabela 5 descreve os fatores de prognóstico e a tabela 6 apresenta os

grupos de risco.

Tabela 5 – Fatores de prognóstico de acordo com a classificação WPSS.

Pontuação 0 1 2 3

Categoria OMS AR

ARSA 5q

CRMD AREB-1 AREB-2

Cariótipo bom intermediário Ruim Dependência de

transfusões não sim

Cariótipo definido de acordo com o IPSS. Dependência de transfusão definida como tendo pelo menos uma transfusão a cada oito semanas num período de quatro meses. Presença de grau 2 ou 3 de fibrose de MO acrescenta 1 ponto de risco depois de avaliar os outros parâmetros de WPSS. Adaptado de Komrokji et al., 2010 e Cazzola e Malcovati, 2010.

Tabela 6 - Grupos de risco de acordo com a soma dos pontos da classificação WPSS.

Grupos de risco Pontuação

Muito baixo 0 Baixo 1

Intermediário 2 Alto 3 a 4

Muito alto > 4

Adaptado Komrokji et al., 2010.

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3.3 Tratamento da SMD

Várias estratégias têm sido utilizadas para tratar os pacientes com SMD (ex: citocinas,

modificadores da resposta imunológica, imunossupressores, quimioterapia de baixa dose e etc.),

porém o tratamento ainda é insatisfatório. Até hoje, o TCTH alogenêico é o único tratamento

curativo, mas esta estratégia só é bem sucedida em um número restrito de pacientes (Cheson et al.,

2000; Cutler 2010).

É importante observar que cerca da metade das mortes de pacientes com SMD são

relacionadas à citopenia em vez da progressão para leucemia (Sloand e Barret, 2010). Por isso,

geralmente o objetivo do tratamento da SMD é a melhora hematológica dos pacientes com baixo

risco (IPSS baixo e intermediário I), enquanto a tentativa de alterar o curso natural da doença é de

importância fundamental para pacientes de alto risco (intermediário II e alto), que tem maior

potencial de evoluir para LMA (Greenberg 2010).

Atualmente, as estratégias de tratamento são baseadas na classificação de risco. No grupo de

risco muito baixo (WPSS=0), se utiliza uma estratégia de observação cuidadosa, pois a mediana de

expectativa de vida é maior do que 10 anos e os pacientes não precisam de tratamento enquanto a

doença permanecer estável. No grupo de risco baixo (WPSS=1) a estratégia de tratamento varia de

observação cuidadosa com controle frequente (a cada três meses) a tratamento com fatores de

crescimento, transfusões, terapia de quelação de ferro ou imunossupressores, dependendo das

características clínicas. Os pacientes que se incluem nos três últimos grupos de risco (intermediário,

alto e muito alto; WPSS ≥ 2) são candidatos ao TCTH ou recebem tratamento baseado em

quimioterapia (Cazzola e Malcovati, 2010).

Alguns dos fatores que torna a SMD difícil de manejar e que piora o prognóstico são as idades

avançadas ao diagnóstico e comorbidades como doença arterial coronária, doença obstrutiva

pulmonar crônica e doença crônica do rim. Os tratamentos de suporte incluem transfusões assim

como antibióticos para tratar infecções (Barzi e Sekeres, 2010). Cerca de 80% a 90% dos pacientes

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com SMD são dependentes de transfusões; desta forma, a sobrecarga de ferro é inevitável e pode

levar a danos teciduais graves. O tratamento de suporte hemoterápico, para manter níveis de

hemoglobina adequados para a oxigenação tecidual, bem como a quelação de ferro, quando

indicada, são condutas fundamentais no acompanhamento de pacientes com SMD (Souto, 2006).

Terapia combinada de fator de estimulação de colônias de granulócitos (GCFS) e eritropoietina (EPO)

melhora a citopenia de uma substancial proporção de pacientes com SMD. Pacientes de baixo risco

tem melhores taxas de resposta do que com risco mais alto (Greenberg, 2010).

O objetivo do tratamento de suporte é reduzir a morbimortalidade relacionada à

hematopoese ineficaz e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com SMD. É utilizado

principalmente para os pacientes que não respondem aos fatores estimuladores de colônia (EPO

e/ou GCSF) ou a outros tratamentos, e mantêm-se dependentes de transfusões de hemoderivados

(concentrado de hemácias e de plaquetas). A transfusão de concentrados de plaquetas está indicada

em pacientes com contagem de plaquetas inferior a 20.000/mm3 e que apresentem febre e/ou

fenômenos hemorrágicos e/ou que estejam na vigência de tratamento agressivo (Souto, 2006). Além

disso, o tratamento de suporte é constituído também de profilaxia e tratamento de infecções de

repetição, através do uso de fatores estimuladores de colônia e quando necessário antibioticoterapia

(Souto, 2006).

Até pouco tempo, o tratamento para SMD era somente paliativo. Apenas o TCTH tinha

potencial curativo e benefício provável para aumento da sobrevida. No entanto, devido à idade e

comorbidades dos pacientes com SMD, o papel do TCTH tem sido limitado. Avanços recentes nas

pesquisas sobre a doença têm melhorado nosso entendimento da patofisiologia e mudado a

abordagem aos pacientes (Ogata, 2006).

Nos últimos anos, três drogas azacitidina, lenalidomida e decitabina foram aprovadas

especificamente para indicações de SMD, junto com novos fatores de crescimento hematopoiéticos.

Outras terapias ativas para tratar a mielodisplasia incluem uso de agentes citotóxicos (como

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citarabina e clofarabina) e agentes imunossupressores, como globulina anti-timócito (ATG),

ciclosporina e talidomida (Sekeres, 2009).

Primeiramente o tratamento imunossupressor foi aplicado em casos com hipocelularidade na

MO, caraterística clínica que é comumente associada com AA e observada em aproximadamente

15% dos casos de SMD (Sugimori et al., 2010). Posteriormente este tratamento também passou a ser

aplicado em casos de SMD normo e hipercelular. Cerca de um terço dos pacientes com este

tratamento se tornaram independentes de transfusão e apresentaram contagem de células

sanguíneas normais por anos, mas a maioria dos casos apresentou melhora sem chegar a atingir os

valores normais (Sloand e Barret, 2010).

Tem sido demonstrada boa atividade de lenalidomida em pacientes com a anormalidade

citogenética del(5q) e outros pacientes de baixo risco. Em pacientes de risco mais elevado inibidores

de DNA metiltransferase produzem resposta completa ou parcial em 20 a 30% dos pacientes. Além

disso, pela primeira vez a droga anti-SMD azacitidina tem demonstrado vantagem de sobrevida

comparada com as terapias convencionais. Novas terapias estimulam a produção de plaquetas e tem

como alvos novas vias, enquanto um grande número de estudos de combinação de drogas está em

andamento ou foram recentemente completados (Sekeres, 2009). Estas novidades, junto com

avanços nos conhecimentos acerca da patogenia e etiologia da SMD, certamente ampliarão as

fronteiras do tratamento dos pacientes com mielodisplasia.

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3.4 Fisiopatologia da SMD

As mielodisplasias tradicionalmente têm sido agrupadas como uma entidade única baseando-

se em fenômenos clínicos vistos em associação. Apesar destas semelhanças, existe grande

heterogeneidade na SMD. Entretanto, achados recentes tem mostrado que existe um tema biológico

coeso que unifica e, portanto, valida o conceito de que os subtipos de SMD estão conectados (Raza

et al., 2010). A patofisiologia da SMD é complexa e envolve anormalidades na regulação da

proliferação celular, maturação e sobrevivência. Infelizmente, o conhecimento da patogenia

molecular da SMD ainda é restrito (Orazi e Czader, 2009). Além disso, respostas alteradas com

relação às citocinas, sistema imune e estroma da MO também contribuem para o fenótipo da doença

(Tormo et al., 2010).

Apesar das células tronco clonais da MO na SMD manterem a capacidade de se diferenciar nos

estágios maduros, elas fazem isso de maneira ineficaz resultando numa diferença de número, função

e morfologia. Ao longo do tempo estas células gradualmente perdem sua capacidade de

diferenciação e finalmente se transformam em leucemia aguda. Entretanto, muitos pacientes

morrem antes que isto ocorra, devido a complicações secundárias a citopenia (Tormo et al., 2010).

A lesão inicial não é bem compreendida, mas ativa uma CTH inicial que desenvolve uma

vantagem de crescimento sobre suas vizinhas normais e leva a expansão clonal e a eventual

hematopoese clonal. Estudos detalhados da cinética do ciclo celular revelam que a MO dos pacientes

com SMD está com uma atividade proliferativa até maior que o normal. A ocorrência da redução das

populações celulares no sangue periférico (citopenias) em uma MO com proliferação ativa foi difícil

de explicar inicialmente. Apenas nos anos 90, este paradoxo começou a ser resolvido com a

descoberta de que a proliferação excessiva é equiparada com um aumento de apoptose prematura

na MO dos pacientes com SMD. O aumento de apoptose foi observado em todas as categorias FAB,

embora com intensidades diferentes (Raza et al., 2010).

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Foi criada uma hipótese de que a apoptose seria predominante na fase pancitopênica inicial e

que a transformação para leucemia representaria um escape do processo de morte celular

programada. Casos iniciais de SMD (AR) são caracterizados por aumento da apoptose na MO. Em

contraste, na SMD avançada (alto risco), ocorre um aumento nos mieloblastos junto com uma

redução da apoptose e aumento da instabilidade genômica (Greenberg et al., 2002, Pellagatti et al.,

2010). Este padrão sugere que conforme a doença progride, as células clonais podem adquirir a

capacidade de escapar dos sinais pró-apoptóticos. Estes achados sugerem o conceito de que

apoptose é um componente central da fisiopatologia da SMD (Kerbauy e Deeg, 2007; Tormo et al.,

2010). Ainda não está claro se a apoptose está relacionada com alterações no programa genético ou

é um resultado de um ataque imune (Sloand e Barret, 2010).

O excesso de expressão de reguladores da hematopoese como TNF-, Fas ligante e TRAIL

(ligante de apoptose relacionado ao TNF), parece ser um fator principal que contribui na apoptose e

falha da hematopoese na SMD (Kerbauy e Deeg, 2007). A apoptose na SMD é mediada por fatores

parácrinos assim como autócrinos implicando tanto as células tronco hematopoiéticas como o

estroma da MO na doença (Raza et al., 2010). Citocinas pró-inflamatórias no ambiente da MO foram

considerados os principais fatores parácrinos da apoptose, pois foi observado um aumento de TNFα,

TGF-β e IL1β. Mas como as células clonais cometiam suicídio por estímulo autócrino permaneceu um

mistério por muito tempo (Raza et al., 2010).

Apoptose é regulada de forma intrínseca por proteínas ligadas a BCL-2. Pacientes com SMD de

baixo risco tem um aumento na expressão de genes pró-apoptóticos enquanto nos pacientes com

alto IPPS é observado um aumento da expressão de genes anti-apoptóticos (Tormo et a., 2010). A

propensão de entrar em apoptose não é herdada de forma uniforme por todas as células filhas. Na

verdade existe um espectro de sensibilidade a citocinas pró-inflamatórias. As células mais sensíveis a

apoptose são aquelas que têm morte prematura na MO enquanto as mais resistentes são aquelas

que conseguem chegar ao sangue periférico (Raza et al., 2010). Esta hipótese é suportada pela

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descoberta que os granulócitos de pacientes com SMD, embora de natureza clonal, são mais

resistentes a apoptose do que granulócitos obtidos de indivíduos saudáveis (Horikawa et al., 1997).

Aproximadamente 50% dos pacientes com SMD têm células doentes com cariótipo anormal.

As alterações citogenéticas mais comuns são a perda do braço longo do cromossomo 5 (-5q), perda

do cromossomo 7 ou seu braço curto (-7/7q-), deleção do braço curto do cromossomo 20 (20q-) e

ganho do cromossomo 8 (+8), Bejar e Elbert, 2010. Entretanto, a maioria dos genes envolvidos nas

alterações cromossômicas não foi identificada, e não se sabe se estas aberrações genéticas são

eventos iniciais levando ao desenvolvimento da SMD ou são secundários a doença (Tormo et al.,

2010).

Recentemente foi observado que desregulação da biogênese de ribossomos poderia iniciar

uma resposta de estresse via sinalização de P53. Desregulações do ribossomo foram identificadas em

todas as variedades de pacientes com SMD (Raza et al., 2010). Foi identificado que o gene RPS14 que

codifica a proteína ribossômica S14 era o gene que causava a síndrome do 5q-. Isso foi descoberto,

testando in vitro na diferenciação de células CD34 em eritrócitos e megacariócitos as conseqüências

do bloqueio de cada um dos 40 genes normalmente perdidos na alteração 5q-. Desta forma, foi

possível reproduzir in vitro o profundo bloqueio da diferenciação eritróide observada em pacientes

com este tipo de SMD através da perda do gene RPS14. Mais ainda, a introdução de um gene RPS14

exógeno tornou as células CD34 de pacientes com SMD do tipo 5q- capazes de fazer normalmente a

diferenciação em células eritróides in vitro (Bejar e Ebert, 2010; Ebert, 2010).

Existem outras anormalidades relacionadas ao DNA que estão associadas à SMD e ocorrem em

todos os subtipos da doença: dissomia uniparental, mutações pontuais em outros genes (como por

exemplo, TET2, Ras e AML1) e fenômenos epigenéticos (Epling-Burnette e List, 2009; Raza et al.,

2010). Muitos estudos têm demonstrado que alteração na metilação de DNA e acetilação de histonas

podem alterar a transcrição gênica. Metilação anormal de sítios promotores é universal em pacientes

com SMD e o número de loci envolvidos está aumentado em pacientes com doenças de alto risco e

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leucemias secundárias (Tormo et al., 2010). O papel das modificações epigenéticas na SMD foi

destacado pela eficiência clínica de agentes hipometilantes (Bejar e Ebert, 2010).

Tem sido demonstrado que nos estágios mais tardios da SMD aquisições de mutações

pontuais somáticas e deleções de genes críticos estão associadas com progressão de SMD para LMA.

Genes controlando fatores celulares chaves como diferenciação, sobrevida e proliferação estão

frequentemente mutados tanto na SMD de novo quanto na secundária ao tratamento (Epling-

Burnette e List, 2009).

Um resumo dos mecanismos de fisiopatogênese de SMD descritos até o momento está na

figura 1. Enquanto novos conhecimentos têm surgido nos últimos anos, os mecanismos precisos

envolvidos na patogênese da SMD, particularmente na progressão da doença, são pouco entendidos

(Kerbauy e Deeg, 2007). Além da questão da apoptose, tem sido demonstrado que o microambiente

do estroma tem capacidade reduzida de suportar a hematopoese (Epling-Burnette e List, 2009).

Existe evidência de supressão de MO mediada por autoimunidade em alguns pacientes e fatores no

microambiente da medula, como neoangiogênese, sinalização de citocinas e outros componentes

(Kerbauy e Deeg, 2007). Considera-se que a falha da MO que ocorre na HPN, AA e SMD possa ser

mediada por mecanismos imunológicos similares. Entretanto como o sistema imunológico poderia

estar atuando na patogênese destas doenças ainda não é bem compreendido (Young, 2000; Hanaoka

et al., 2009).

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Figura 1 – Modelo molecular da progressão da SMD. Na primeira fase, vários eventos anormais ocorrem (aumento da sensibilidade ao TNF-α, resposta anormal a espécies reativas de oxigênio) ligadas a um aumento intrínseco da apoptose e presença de inflamação que converte progenitores mielóides (PM) em progenitores anormais (aPM) na MO. A resposta apoptótica pode ser mediada por muitos fatores do microambiente como alteração de ativação de células T, inflamação e defeitos nas células do estroma. Os clones progenitores mielóides podem apresentar localização alterada, processamento ribossomal anormal e reposição de progenitores incorreta. No segundo estágio, os clones progenitores mielóides como anormalidades nos genes regulatórios iniciais (como mutações em NR e AML1) poderiam levar a um benefício de proliferação e sobrevivência para alguns progenitores mielóides. Esta vantagem e/ou perda de mecanismos efetores de imunovigilância de células NK poderia permitir que estas células anormais escapassem e expandissem. No terceiro estágio, falhas no reparo de DNA (predisposição ao erro no reparo de DNA, perda da estabilidade genômica, expansão proliferativa) poderiam converter a SMD em LMA. Adaptado de Tormo et al. (2010)

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3.5 O papel do sistema imunológico na SMD

Atualmente, está aumentando o número de evidências de que a falha na MO que ocorre na

SMD é mediada por mecanismos imunológicos, mas o papel exato da desregulação do sistema

imunológico na patogenia desta doença ainda não está claro (Voulgarelis et al., 2004). Condições

autoimunes como síndrome de Reynaud, lúpus, artrite reumatóide e polimialgia são mais freqüentes

em pacientes com SMD (Sloand e Barret, 2010). Investigações recentes têm focado na possibilidade

da falha da MO na SMD ser mediada por mecanismos autoimunes, principalmente nos casos de SMD

iniciais, como AR e ARSA. A SMD apresenta muitas características em comum com a anemia

aplástica, doença que conhecidamente apresenta uma patogênese autoimune (Barcellini et al.,

2007).

Apesar das terapias imunossupressoras, como ATG e ciclosporina, aumentarem a contagem

de células mielóides em alguns casos de SMD, acredita-se que este aumento seja em função de

células de origem do clone com SMD. Uma proporção substancial de pacientes com AA tratados com

ATG desenvolve clones SMD. Como ATG causa uma depleção de linfócitos T in vivo, acredita-se que o

seu uso possa bloquear a imunovigilância de linfócitos T aos clones de SMD. A partir destas

observações a competência imunológica foi considerada importante para defender o organismo dos

clones mielodisplásicos. Portanto, a elucidação dos mecanismos imunológicos e a sua correção

podem ter valor clínico (Ogata, 2006).

Outra evidência do papel do sistema imune na fisiopatologia da SMD é a boa resposta do uso

de lenalidomida para tratar pacientes com esta doença. O mecanismo de ação desta droga na SMD

ainda não está bem compreendido, mas foi proposto que entre os efeitos biológicos está a

imunoregulação de células NK, monócitos e células dendríticas, inibição de linfócitos T regulatórios

FOXP3+ e coestimulação de linfócitos T, levando a um aumento da proliferação e produção de IFN-

(Chan et al., 2010).

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Existe ampla evidência de muitas fontes de que o ambiente de MO na SMD mimetiza uma

situação pró-inflamatória com aumento da angiogênese, infiltração por células regulatórias do

sistema imune e, mais importante, uma abundância de citocinas pró-inflamatórias. Estas mudanças

foram descritas em intensidades distintas em diferentes tipos de SMD, de baixo e alto risco, e

constituem um tema uniforme para estas doenças (Raza et al., 2010).

Foi observado o aumento de citocinas do tipo I como IFN- e TNF- na medula óssea e no

sangue periférico de pacientes com SMD. Estas duas citocinas são contribuidoras conhecidas para a

patogênese da AA e podem contribuir para a falha na hematopoese (Sugimori et al., 2010). Tanto

IFN- quanto TNF- aumentam a expressão de Fas nas CTH e ativam a apoptose (Sloand e Barret,

2010). Também foram encontrados efeitos de TNF- na MO de pacientes com SMD como: a

atividade de caspase, indução de óxido nítrico sintase e mudanças redox levando a danos no DNA

(Greenberg et al., 2002).

O papel de citocinas imunoregulatórias nas doenças autoimunes foi extensivamente

investigado. Foi demonstrado que citocinas do tipo Th1 (IL-2, IFN- e IL-12) podem aumentar a

autoimunidade mediada por linfócitos T enquanto citocinas envolvidas na resposta imune humoral

(IL-4, IL-6, IL-10 e IL-13) e citocinas capazes de inibir resposta do tipo Th1 (TGF- e IL-4) podem

proteger da autoimunidade (Barcellini et al., 2007). Recentemente foi identificado um aumento na

produção de TGF- nos pacientes com SMD avançada, sugerindo um papel patogênico para esta

potente citocina inibitória nas citopenias associadas à SMD (Allampallam et al., 2002).

Foi demonstrado recentemente que o TNF- modula a expressão de citocinas pró-

inflamatórias no estroma de MO de pacientes com SMD, incluindo IL-6, IL-8 e IL-32. A IL-32 foi

identificada pouco tempo atrás em células NK e linfócitos T (Eplin-Burnette e List, 2009). Células do

estroma e outros tipos de células têm sido implicados na produção aberrante de citocinas, mas ainda

não foi identificada de forma precisa a origem celular destes fatores (Voulgarelis et al., 2004).

Outro membro da família do TNF, chamado de TRAIL, controla a apoptose por se ligar a

receptores. Apesar de TRAIL se encontrar em quantidades insignificantes na MO normal, é

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constitutivamente expresso na MO da SMD, onde as células são mais sensíveis aos seus efeitos

inibitórios e citotóxicos (Sloand e Barret, 2010).

Outras alterações imunológicas encontradas em pacientes com SMD são: falha na

citotoxicidade dependente de anticorpos (ADCC), resposta mitogênica e diminuição no número de

CD4. Além das alterações celulares são encontradas alterações humorais como: níveis alterados de

imunoglobulinas, gamopatias monoclonais e produção de vários auto-anticorpos (Greenberg et al.,

2002; Voulgarelis et al., 2004; Barcelline et al., 2007).

Apesar dos linfócitos não serem clonais na maioria dos pacientes com SMD, linfopenia,

destacando-se uma redução dos linfócitos T, é um achado comum na SMD. Além disso, uma

variedade de funções linfocitárias está afetada na SMD, especialmente com relação aos linfócitos T e

as células NK. Geralmente as falhas imunológicas são mais proeminentes nos estágios avançados da

SMD em comparação com os estágios iniciais (Ogata et al., 2006). As anormalidades de células T

estão ligadas a vários eventos anormais que incluem a resposta apoptótica e a presença de

inflamação no microambiente de MO (Sugimori et al., 2010). A primeira descrição de que linfócitos T

autólogos inibem o crescimento de colônias eritróides na SMD ocorreu na década de 80 (Tichelli et

al., 1988).

O conceito de que a autoimunidade mediada por linfócitos T contribui para a falha na MO foi

amplamente aceito devido à melhora hematológica causada por terapia imunossupressora em

alguns pacientes com SMD. Nestes casos, a citopenia progressiva pode ocorrer como uma

conseqüência de uma expansão de células TCD8 citotóxicas autoreativas que suprimem os

progenitores hematopoiéticos. A desregulação imune de linfócitos T está definitivamente associada

com a falha na MO que ocorre na anemia aplástica e na Leucemia de Linfócitos Grandes e Granulares

(LLGG) que compartilham várias característica clínicas com a SMD. Além disso, muitos investigadores

confirmaram que a imunoterapia de depleção de células T in vivo é capaz de corrigir as citopenias de

alguns pacientes com SMD (Sugimori et al., 2010).

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A partir de resultados in vitro e in vivo, o consenso atual é que umas poucas células T

autólogas suprimem diretamente a diferenciação celular dos setores eritróides e granulocíticos.

Redução da diversidade do receptor de células T (TCR) e expansão clonal de células T em associação

com supressão da MO sugere que escape da tolerância periférica e reconhecimento de antígenos

próprios possam contribuir para a hematopoese suprimida. A tolerância periférica pode ser driblada

por aberrações cromossômicas ou outras alterações específicas da doença que ocorram no

microambiente (Sugimori et al., 2010).

Foi observado um aumento na expansão clonal de células T na SMD independente da

classificação OMS, IPSS, idade, história de transfusão ou cariótipo (Epling-Burnette et al., 2007b).

Apesar de várias evidências de autoimunidade na SMD, durante muito tempo se perguntou quais

seriam os antígenos nas células de SMD reconhecidos por linfócitos T autoreativos (Barret e Sloand,

2009). Um antígeno que leva a uma expansão clonal e contribui para a falha na hematopoese foi

identificado em pacientes com a anormalidade citogenética trissomia do 8. Os clones expandidos de

linfócitos T citotóxicos apresentaram citotoxicidade direta in vitro contra progenitores

hematopoiéticos autólogos apresentando esta aberração citogenética. A trissomia do 8 é vista tanto

na SMD quanto na AA e está associada com um prognóstico favorável. Os pacientes com trissomia do

8 apresentam melhor resposta a tratamento imunossupressor em comparação com outras

anormalidades citogenéticas, indicando o papel da imunidade na patologia da doença (Sloand et al.,

2005; Sugimori et al., 2010).

Foi criada uma hipótese de que as células T CD8 reconhecem um neoantígeno ou um

antígeno próprio superexpresso apresentado por complexo maior de histocompatibilidade (MHC) de

classe I nas células com a trissomia do 8. Vários candidatos foram examinados. Foi encontrado que a

proteína do tumor Wilms (WT-1) estava marcadamente superexpressa nas células com trissomia do

8. Esta proteína é expressa em níveis baixos em vários tecidos normais como rim, ovário, testículos e

baço, mas não em tecidos hematopoiéticos normais, como a MO ou o sangue periférico. WT1 tem a

expressão aumentada em várias doenças hematológicas como leucemia, SMD e HPN. Na SMD, os

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níveis transcripcionais de WT1 se correlacionam com a progressão da doença e com o estágio de IPSS

(Sloand e Barret, 2010).

Embora tenha sido estabelecida uma relação de mecanismos entre a patogênese

imunológica e a trissomia do 8, esta anormalidade cromossômica só ocorre em 5 a 10% dos

pacientes com SMD e é mais frequente naqueles que apresentaram evolução a partir da anemia

aplástica (Sloand et al., 2005; Sugimori et al., 2010). Estes achados não excluem a possibilidade de

que outros antígenos de células SMD possam ser reconhecidos pelo sistema imunológicos e a sua

identificação vai requerer novas pesquisas sobre o tema (Sloand e Barret, 2010). De acordo com esta

hipótese, recentemente foi encontrado outro antígeno (PR1) de células SMD que levou a expansão

clonal de células T CD8 e resposta contra a linhagem SMD (Rezvani et al., 2008). Além disso, foi

demonstrado que clones de mielodisplasia com outras aberrações citogenéticas, como 20q- e 5q-,

também eram suprimidos por células T CD8 (Zheng et al., 2010). A figura 2 apresenta um modelo de

autoimunidade direto baseado neste mecanismo de expansão de células T CD8 autoreativas causado

por antígenos da SMD.

Outra alteração observada nos linfócitos T de pacientes com SMD é uma inversão na taxa

CD4/CD8. Isto ocorre em pacientes em vários grupos de risco de IPSS e está associada com a resposta

a terapia. Em muitas doenças autoimunes, existe uma correlação entre a perda de células T CD4 e a

expansão de células T CD8 autoreativas. A redução de linfócitos T CD4 pode iniciar uma via

dependente de citocinas conhecida como “proliferação homeostática” em que citocinas como IL-2,

IL-7, IL-15 e/ou IL-21 levam a uma expansão de geral de células T CD8 antígeno-específicas e

autoreativas levando a um aumento no risco de evasão dos mecanismos de tolerância periférica e

causando a autoimunidade (Sugimori et al., 2010). Este outro modelo de explicação da

autoimunidade da SMD está representado na figura 2 e representa uma autoimunidade indireta.

Na década de 80 e 90, alguns estudos mostraram redução da capacidade citolítica de células

NK de pacientes com SMD, mas os mecanismos envolvidos não ficaram claros (Porzsolt et al., 1982;

Anderson et al., 1983; Kerndrup et al., 1984; Ogata et al., 1994). A partir destes achados foi sugerido

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que as células NK poderiam ter um papel na fisiopatologia e progressão da SMD, mas até o

momento, o conhecimento da função destas células em pacientes com SMD é muito restrito

(Kiladjian et al., 2006).

De acordo com Barret e Sloand (2009), existe a possibilidade de que toda a resposta de

células T na SMD seja uma questão a parte, e que a atenção deva ser mais direcionada para a

mielossupressão causada por células NK, que como demonstrado por Chamuleau et al. (2009),

parece ser forte e especificamente citotóxica contra as células SMD e talvez em alguns pacientes (por

exemplo, não respondedores para ATG) responsáveis pela mielossupressão e imunovigilância. Para

entender melhor os mecanismos envolvidos no papel das células NK na SMD, é necessário conhecer

a biologia das células NK e os seus receptores.

figura 2 – Modelos de autoimunidade de células T na SMD. O mecanismo de autoimunidade controlando a expansão de células CD8 autoreativas pode ser descrito em dois modelos: um modelo direto (1) e um modelo indireto (2). No modelo direto (1), as células T CD8 autoreativas sofrem expansão estimuladas por antígenos das células doentes, por exemplo, pela trissomia do 8. No modelo indireto (2), a expansão de células T CD8 é causada por citocinas produzidas de forma inespecífica. Ambos os modelos levam a autoreatividade de células T que pode ser mediado pela citoxicidade direta ou pela

liberação de citocinas como TNF- e INF-. Adaptado de Sugimori et al. (2010) e Sloand e Barret (2010).

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3.6 Células Natural Killer (NK)

As células NK foram descritas inicialmente em 1975 como um subtipo de linfócito capaz de

ter atividade citotóxica contra células leucêmicas in vitro sem sensibilização prévia (Kiessling et al.,

1975). Desta forma, elas conferem uma proteção inicial contra a transformação tumoral e patógenos

intracelulares. Nas duas últimas décadas ocorreram avanços significativos no entendimento da

regulação de células NK. Um grande número de receptores ativadores e inibidores foram

descobertos e se acredita que o equilíbrio de sinais gerados por estes receptores permitem as células

NK a matar de forma eficaz células alvo enquanto mantém a tolerância ao próprio (Cheent e Khakoo,

2009).

As células NK são importantes componentes do sistema imune inato e têm a capacidade de

lisar células alvo além de fornecer citocinas imunoregulatórias (Cooper et al., 2001a; Cooper et al.,

2001b). Esta população de células reside principalmente no sangue periférico e MO, embora possam

ser encontradas em órgãos linfoides secundários (Poggi et al., 2005). Elas têm papel crítico na defesa

do organismo contra a transformação maligna e são potentes efetoras citotóxicas antileucêmicas

(Almeida-Oliveira e Diamond, 2008b). As principais citocinas produzidas por estas células são: IL-3,

GM-CSF, TGF-β, IFN- e TNF- (Cooper et al., 2001a; Farag et al., 2002; O’Connor et al., 2006). As duas

últimas citocinas citadas estão aumentadas em pacientes com SMD.

A determinação das células NK como uma população diferente de outros linfócitos foi feita

através de microscopia e uso de anticorpos monoclonais. Morfologicamente elas são caracterizadas

como linfócitos grandes e granulares. Os principais antígenos utilizados para identificar as células NK

são o CD56 e o CD16. O antígeno CD56 parece ser idêntico à molécula de adesão de célula neural

(NCAM). Até hoje a função da molécula CD56 nas células NK é desconhecida. As células NK não fazem

rearranjo gênico, por isso não expressam o TCR nem a molécula acessória CD3. A maioria das células

NK expressa CD16, receptor para a porção Fc de IgG (Robertson e Ritz, 1990; Farag e Caligiuri, 2006).

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As células NK compreendem cerca de 10% dos linfócitos do sangue periférico. Elas parecem

ter surgido evolutivamente antes dos linfócitos T e B, já que são encontradas em invertebrados que

não possuem sistema imune adaptativo (Robertson e Ritz, 1990).

A maior parte dos pesquisadores concorda que os linfócitos T, B e células NK se originam de

um precursor comum. A MO é considerada o sítio primário de geração das células NK porque possui

todos os substratos celulares e fatores solúveis necessários para a maturação destas células.

Entretanto, ainda não está claro se a MO sozinha é suficiente para garantir a maturação completa

das células NK. Existe a possibilidade de que as células NK sejam geradas na MO e completem sua

maturação em outro sítio. Foram encontrados precursores de células NK no fígado, baço e linfonodos

e timo suportando esta teoria (Blom e Spits, 2006; Di Santo, 2006; Di Santo e Vosshenrich, 2006

Freud e Caligiuri, 2006).

A principal função das células NK maduras é a atividade citotóxica. Esta citotoxicidade é

considerada rápida, muito potente e possui múltiplas facetas. Dessa forma, a morte da célula alvo

pode ocorrer em minutos, dificultando a atuação de mecanismos de resistência. A morte celular

mediada pelas células NK ocorre através da exocitose de grânulos e a indução de apoptose através

da sinalização via membros da família de receptores de morte celular do TNF (Smyth et al., 2005).

O primeiro passo para a citotoxicidade mediada por células NK é a adesão. Integrinas e

outras moléculas de adesão têm um papel crucial na formação de conjugados entre a célula NK e a

célula alvo. Vários ensaios in vitro indicaram um papel essencial para um tipo de integrina chamado

função linfóide associada ao antígeno-1 (LFA-1). Esta molécula tem a função de induzir a

polimerização de actina, rearranjos do citoesqueleto e aglomeração de vesículas lipídicas. Estes sinais

mediados por LFA-1 sozinhos podem ser suficientes para ativar a citotoxicidade mediada por células

NK (Tassi et al., 2006).

O processo de adesão à célula alvo induz alterações dinâmicas na morfologia celular das

células NK: grânulos líticos são movidos em direção ao sítio de interação com a célula alvo. Este

movimento é realizado através de estruturas de citoesqueleto que são orquestradas pelo centro de

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organização de microtúbulos. Em seguida, a membrana externa do grânulo se funde com a

membrana citoplasmática, liberando seu conteúdo no espaço sináptico (figura 3). Os principais

conteúdos destes grânulos são moléculas de perforina e granzima (Uhrberga, 2005).

Figura 3 – Exocitose de grânulos de células NK. Esta figura mostra que as células NK ativadas, por exemplo, por uma célula tumoral, movem os grânulos em direção ao sítio de interação com a célula alvo e ocorre a fusão da membrana do grânulo com a membrana da célula NK liberando seu conteúdo no espaço sináptico. Adaptado a partir de Uhrberg, 2005

a e Almeida-

Oliveira e Diamond, 2008b.

As perforinas são proteínas que formam poros na membrana das células alvo que podem

perturbar a permeabilidade e levar a lise osmótica enquanto as granzimas são uma família de serina-

proteases estruturalmente relacionadas com várias especificidades de substrato. Em humanos há

cinco tipos de granzimas (A, B, H, K e M). A granzima B é considerada o mais importante membro

pró-apoptótico desta família. É importante ressaltar que a perforina ajuda a permitir a apoptose

mediada por granzimas (Liu et al, 1995; Trapani, 2001).

O outro mecanismo de morte celular mediado por células NK é através da ligação de

receptores específicos presentes nas células alvo com ligantes na superfície das células NK. Estes

ligantes pertencem à superfamília do TNF e a sua ligação induz a apoptose da célula alvo. As células

NK expressam dois membros desta família: FasL (também conhecido como CD95L) e o TRAIL. Muitas

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células tumorais não expressam Fas (receptor que se liga a FasL), mas as células NK podem

diretamente induzir a expressão de Fas em células cancerosas através da secreção de TNF. A

atividade citotóxica mediada por TRAIL é relativamente seletiva porque mata linhagens celulares

tumorais humanas e não causa efeito nas células normais (Srivastava, 2001; Cappello et al., 2002;

Smyth et al., 2005).

A atividade citotóxica das células NK é regulada por agentes endógenos, como citocinas e

hormônios. Estes agentes também podem ser utilizados de forma exógena, por exemplo, no

tratamento de doenças. As citocinas como IFN-, IFN-/, IL1, IL2, IL7 e TNF- são capazes de

estimular a atividade NK. Entre os hormônios que regulam a atividade NK de forma positiva,

destacam-se: o hormônio adenocorticotrófico, beta-endorfina e prolactina. A atividade NK é

modulada de forma negativa por glicocorticosteróides (Holbrook et al., 1983; Robertson e Ritz, 1990;

Souza et al., 2001). A regulação da citotoxicidade das células NK por hormônios, como cortisol e

prolactina, ocorre através de alteração na expressão de receptores que ativam a atividade citotóxica,

sendo que o cortisol diminui a expressão destes receptores enquanto a prolactina aumenta

(Mavoungou et al., 2005).

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3.6.1 Subtipos de células NK

A citotoxicidade direta contra células cancerosas ou infectadas por vírus é apenas um

componente da resposta das células NK. Outro componente é a produção de citocinas liberadas por

estas células, como IFN-, que também restringe a angiogênese tumoral e estimula a imunidade

adaptativa (Smyth et al., 2005). Foi observado que dois subtipos distintos de células NK eram

responsáveis por estes dois papéis. Na década de 80, estes subtipos foram identificados através de

diferenças na densidade de expressão de superfície de CD56. O primeiro subtipo tem baixa expressão

de CD56 e alta expressão de CD16, e é conhecido como CD56dim. A outra subpopulação é

caracterizada por alta expressão de CD56 e expressão baixa ou negativa de CD16 e por isso é

chamada de CD56bright (Coopera et al., 2001).

As células CD56bright são predominantes nos tecidos linfoides secundários, enquanto as

células CD56dim são mais frequentes no sangue periférico (Moretta, 2010). Estas duas subpopulações

também têm características funcionais distintas: a CD56dim é a mais citotóxica, enquanto a CD56brigth

é a maior responsável por produção de citocinas (Cooperb et al., 2001). As principais características

que diferenciam estas células estão representadas na figura 4. O significado funcional in vivo destes

subtipos distintos de células NK humanas e como eles podem interagir ainda não estão

completamente definidos (Farag e Caligiuri, 2006).

Figura 4 – Subtipos de células NK. Esta figura representa as duas subpopulações de células NK e as suas principais características fenotípicas e funcionais. Em (a) está representado o CD56

bright e (b) CD56

dim. Adaptado de Cooper et al.,

2001b e Almeida-Oliveira e Diamond, 2008

b.

Funções efetoras: + ADCC +++ LAK

+ citotoxicidade natural Alta produção de

citocinas

Baixa produção de

citocinas

Funções efetoras: +++ ADCC +++ LAK

+++ citotoxicidade natural

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O subtipo CD56dim tem como principal função a citotoxicidade natural contra alvos sensíveis

às células NK e respondem a IL-2 com um aumento da citotoxicidade. Esta diferença no potencial

citotóxico pode ser devido ao fato destes dois subtipos terem padrões distintos de expressão de

receptores de células NK importantes no reconhecimento e morte da célula alvo. Além disso, as

células da subpopulação CD56dim têm maior concentração de grânulos que as CD56bright. Após o

tratamento com IL-2, tanto in vivo quanto in vitro, os dois subtipos de células NK passam a

apresentar níveis semelhantes de citotoxicidade. (Cooper et al., 2001b; Farag e Caligiuri; 2006). Mais

recentemente, evidências apontam para as células CD56dim como importantes efetoras não só para

matar células anormais, mas também para indução rápida da resposta inflamatória envolvendo o

recrutamento de outras células do sistema imune e o início da formação da resposta adaptativa

(Moretta, 2010).

As células NK CD56bright produzem citocinas imunoregulatórias, incluindo TNF-, TNF-, IFN-,

GM-CSF, IL-10 e IL-13. Esta subpopulação expressa constitutivamente o receptor de IL-2 de alta

afinidade e expande in vitro e in vivo em resposta a baixas doses (picomolar) de IL-2, com pouca

atividade citolítica. Em contraste, as CD56dim só expressam o receptor de afinidade intermediária

para IL-2 e proliferam pouco em resposta a altas concentrações (nanomolar) de IL-2. Embora o

subtipo CD56bright seja raro no sangue (10% das células NK), representa o subtipo predominante nos

tecidos e linfonodos. Isto pode ser justificado pelo fato das células CD56bright expressarem moléculas

de adesão e receptores de quimiocinas diferentes das CD56dim. O subtipo CD56bright tem expressão

das moléculas necessárias para trafegarem para os linfonodos periféricos através de vênulas

endoteliais. Nos linfonodos, estas células se localizam na mesma região onde estão os linfócitos T e

as células dendríticas, o que é consistente com o seu potencial papel imunoregulatório da resposta

adaptativa (Cooperb et al., 2001; Fehniger et al., 2003; Farag e Caligiuri, 2006).

Tem sido longamente debatida a relação precisa entre os dois principais subtipos de células

NK: CD56dim e CD56bright. Vários estudos recentes finalmente demonstraram de forma convincente

que as células CD56bright são provavelmente precursoras das células CD56dim (Béziat et al., 2010;

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Moretta, 2010). As células CD56bright derivam de CTH CD34+ através de vários estágios que já foram

identificados fenotipicamente. Além disso, o subtipo CD56bright possui telômeros maiores do que o

subtipo CD56dim, tanto no sangue periférico quanto nos linfonodos, dando a entender que as células

CD56bright seriam mais velhas (Ouyang et al., 2007; Romagnani et al., 2007; Chan et al., 2007). Foi

também demonstrado que o subtipo CD56bright é o primeiro a aparecer após o TCTH (Nguyen et al.,

2005; Cooley et al., 2007; Vago et al., 2008; Dulphy et al., 2008; Beziat et al., 2009). Yu et al. (2009)

reforçou este conceito, propondo que o CD94 seria um marcador de estágio intermediário de

desenvolvimento das células CD56bright em CD56dim. Ainda mais recente (Beziat et al., 2010)

confirmaram esta hipótese utilizando uma combinação de ferramentas complementares capazes de

acessar a cinética de cada subtipo durante o desenvolvimento até os estágios terminais. Além disso,

eles propuseram que a dinâmica do processo de CD56bright se diferenciarem em CD56dim parece estar

relacionada com a aquisição de KIR e perda de NKGA, e que a falha na aquisição de KIR leva a um

fenótipo hiporesponsivo de células NK.

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3.6.2 Reconhecimento das células alvo

Por muitos anos ficou desconhecido o mecanismo de reconhecimento das células alvo pelas

células NK. Na década de 80, foi observado que a susceptibilidade à atividade das células NK era

inversamente proporcional à expressão de MHC na célula alvo. Também foi identificado que

linhagens celulares com expressão de MHC diminuída eram mais sensíveis à lise mediada por células

NK do que suas linhagens parentais. Além disso, a resistência à atividade NK podia ser restaurada

pela introdução de genes normais de MHC. Por último, “mascarar” antígenos de MHC com

anticorpos monoclonais aumentava a susceptibilidade à função efetora das células NK (Robertson e

Ritz, 1990).

A partir destas e outras observações, foi proposto que, apesar de tolerantes com as células

autólogas normais, as células NK conseguem reconhecer e atacar células que tenham baixa

expressão de MHC classe I, como células infectadas por vírus e células transformadas. Essa teoria

ficou conhecida como hipótese do missing-self (Ljunggren e Karre, 1990). Essa imunovigilância da

perda ou alteração da expressão de moléculas de MHC-I mediada por células NK é uma tarefa

essencial do sistema imune inato porque constitui um dos pontos falhos da resposta adaptativa: as

células T só reconhecem antígenos no contexto do MHC, portanto a perda da expressão de MHC

representa um mecanismo de escape ao ataque das células T (Uhrbergb, 2005). Nos últimos anos, a

teoria do missing-self foi confirmada através da identificação de vários receptores inibidores de

células NK humanas que reconhecem especificamente moléculas do antígeno maior de

histocompatibilidade clássicas, como HLA-A, B e C; ou não clássicas, como HLA-E e G (Farag et al.,

2002).

Hoje em dia se sabe que ao contrário dos linfócitos B e T, as células NK não rearranjam genes

codificando receptores para o reconhecimento de antígenos. A complexidade das células NK está

atribuída a grande rede de receptores expressos em sua superfície que permitem o reconhecimento

das células alvo. Usando este repertório próprio, elas têm a capacidade de reconhecer moléculas

específicas expressas nas células alvo, gerando sinais ativadores e/ou inibidores que controlam a

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atividade citotóxica (Lanier, 2003; Raulet, 2004). Desta forma, elas podem reconhecer o próprio

alterado em nível celular, em vez do nível molecular do TCR e das imunoglobulinas (Cheent e Khakoo,

2009).

Os receptores expressos por células NK podem gerar sinais inibidores ou ativadores e têm

um papel crucial na regulação da atividade lítica e produção de citocinas. A atividade das células NK é

regulada por um balanço entre os sinais provocados por estes receptores (Figura 5). Se houver mais

sinais inibidores do que ativadores, ocorrerá a predominância dos sinais inibitórios e a célula alvo

será protegida da lise por células NK. Por outro lado, se houver mais sinais ativadores do que

inibidores, ocorrerá à predominância dos sinais ativadores e a célula alvo será lisada. Acredita-se que

se houver uma equivalência entre sinais inibidores e ativadores, o sinal inibidor prevaleça (Borrego et

al., 2002; Farag et al., 2002; Almeida-Oliveira e Diamond, 2008b).

Figura 5 – Reconhecimento das células alvo. Esta figura representa a regulação da atividade citotóxica das células NK por receptores ativadores e inibidores em diferentes situações: Em (A), o sinal inibidor prevalece por não haver ligação de nenhum receptor ativador. Em (B), há ligação de receptor ativador na ausência de sinais inibidores, de forma que ocorre lise da célula alvo. (C) e (D) representam situações mais complexas, em que ocorrem simultaneamente ligações de receptores ativadores e inibidores. Se houver mais sinais ativadores do que inibidores (C), ocorrerá lise da célula alvo. Por outro lado, se houver mais sinais inibidores do que ativadores (D), a célula alvo será protegida da lise por células NK. Adaptado de Farag et al., 2002 e Almeida-Oliveira e Diamond, 2008

b

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Três famílias principais de receptores ativadores e inibidores são encontradas em células NK:

os receptores de citotoxicidade natural (NCR), a superfamília de receptores semelhantes à lectina

tipo C e a superfamília receptores de células assassinas semelhantes a imunoglobulinas (KIR), sendo

que a última família é considerada mais importante e mais estudada (Farag e Caligiuri, 2006).

A maioria dos receptores inibitórios reconhece moléculas de MHC nas células alvo e o sinal

inibitório é mediado por domínios de motivo inibidor de imunoreceptor baseado em tirosina (ITIM)

que fazem parte da porção intracitoplasmática de receptores inibidores. Os receptores ativadores

reconhecem moléculas de MHC-I e outros tipos de moléculas nas células alvo. Muitos receptores

ativadores não possuem domínios capazes de mediar sinal em sua cauda citoplasmática e por isso

estão associados a moléculas adaptadoras (ex: DAP-12) que possuem domínios de motivo ativador

de imunoreceptor baseado em tirosina (ITAM) e, dessa forma, podem gerar os sinais ativadores,

conforme observado na figura 6 (Blery, et al., 2000; Borrego et al., 2002; Almeida-Oliveira e

Diamond, 2008a).

Figura 6 – Sinais ativadores e inibidores de receptores de células NK. Na figura à esquerda é mostrado um exemplo de um receptor inibidor (KIR2DL) que apresenta os domínios de ITIM como parte de sua cauda intracitoplasmática e iniciam a sinalização inibitória. À direita é mostrado um exemplo de um receptor ativador (KIR2DS) que utiliza uma molécula adaptadora (DAP-12) com domínios de ITAM para gerar sinal ativador. Adaptado de Farag et al., 2002 e Almeida-Oliveira e Diamond, 2008

a.

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3.6.2.1 Receptores de citotoxicidade natural (NCR)

Esta família de receptores de células NK é composta exclusivamente de receptores

ativadores, sendo representada por NKp46, NKp44 e NKp30 (Farag et al., 2002; Moretta et al., 2004).

Os NCR pertencem à superfamília de imunoglobulinas e contém um aminoácido com carga na sua

porção intracitoplasmática que se associa com moléculas adaptadoras portadoras de ITAM (Arnon et

al., 2006).

Como a expressão de NCR é restrita as células NK, estes são os marcadores mais confiáveis

para identificação destas células. NKp46 e NKp30 são expressos de forma constitutiva nas células NK

do sangue periférico, enquanto NKp44 é expresso apenas em células NK ativadas (Farag et al., 2002;

Moretta et al., 2004). Foi sugerido que existe uma interação entre os três NCR, pois a ligação de um

único receptor desta família leva a ativação de uma cascata de sinalização associada com os outros

NCR (Augugliaro et al., 2003).

Os receptores NCR têm um papel fundamental na atividade citolítica mediada por células NK

contra células tumorais, como ficou evidenciado pela capacidade dos anticorpos monoclonais anti-

NCR bloquearem a lise de várias linhagens tumorais por células NK e pela correlação estreita que

existe entre a densidade de expressão de NCR nas células NK e sua capacidade de matar alvos

tumorais (Pessino et al., 1998; Vitale et al., 1998; Sivori et al., 1999; Arnon et al., 2006). No entanto,

os ligantes destes receptores nas células tumorais ainda não foram identificados (Farag et al., 2002;

Moretta et al., 2004).

Os únicos ligantes identificados até o momento são proteínas de origem viral. Entretanto,

existem evidências substanciais que indicam que os ligantes de NCR existem e que a sua expressão é

crítica para a capacidade das células NK destruírem tumores (Arnon et al., 2006). Estes achados são

suportados por estudos clínicos mostrando que em vários casos de LMA existe uma correlação entre

baixos níveis de ligantes de NCR e mau prognóstico (Costello et al., 2002). Além disso, foi

demonstrado que a deleção de um único gene de NCR, reduz significantemente a imunovigilância das

células NK in vivo em modelos animais (Gazit et al., 2006).

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3.6.2.2 Receptores da família da lectina tipo C.

Esta família de receptores de células NK é estruturalmente caracterizada pelos domínios

extracelulares semelhantes à lectina do tipo C e seus receptores são expressos como heterodímeros

compostos de uma subunidade comum (CD94). Os principais membros desta família são:

CD94/NKG2A/B, que reconhece HLA-E e fornece sinal inibidor; CD94/NKG2C, que também reconhece

HLA-E, mas fornece sinal ativador; e CD94/NKG2E/H cujo ligante é desconhecido (Farag et al., 2002).

Estes receptores estão relacionados à teoria do “missing-self”, pois a expressão de HLA-E só ocorre

se houver a expressão total das moléculas de HLA classe I (A, B e C) nas células (Moretta et al.,

2006a).

Outro receptor pertencente a esta família é o receptor ativador NKG2D, que tem relação

distante com os outros receptores da família NKG2, apresentando apenas uma pequena sequência

similar e não interagindo com o CD94 (Gilfillan et al., 2002; Moretta et al., 2006a). O NKG2D humano

reconhece MICA e MICB, que são proteínas de transmembrana codificadas por genes que fazem

parte do complexo do HLA. Diferente dos HLA convencionais, MICA e MICB são minimamente

expressos nos tecidos normais, mas tem expressão aumentada em células submetidas a estresse e

células tumorais. Outras proteínas que se ligam a NKG2D são ULBP1, ULBP2 e ULBP3, inicialmente

identificadas por sua capacidade de se ligar a uma proteína codificada pelo citomegaluvírus humano

(proteína UL16). Estes achados sugerem que NKG2D possa ter uma participação importante na

imunovigilância das células NK contra células tumorais e células infectadas por vírus (Lanier, 2001).

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3.6.2.3 Receptores da família KIR

Os receptores de células NK melhor caracterizados e estudados pertencem à família KIR.

Estas moléculas se apresentam como conjuntos de receptores ativadores e inibidores pareados que

primariamente reconhecem as moléculas de HLA-A, -B e –C. Estes receptores, portanto, estariam

relacionados com a imunovigilância das células NK contra células com expressão alterada de HLA

(Moretta e Moretta, 2004; Farag e Caligiuri, 2006).

Esta família tem uma importante aplicação na imunoterapia de câncer, principalmente no

TCTH haploidêntico (Ruggeri et al., 2002; Velardi et al., 2002; Almeida-Oliveira e Diamond, 2008a). Os

KIR são designados pelo número de domínios (D) de imunoglobulinas (KIR2D e KIR3D). Sua função

ativadora ou inibidora é determinada pelo tamanho de sua cauda citoplasmática, curta (recebem a

letra S – ex: KIR2DS) ou longa (recebem a letra L – ex: KIR2DL) respectivamente, pois enquanto os

inibidores já possuem em sua própria cadeia domínios sinalizadores, os ativadores precisam de uma

molécula adaptadora para gerar sinal (Uhrberg et al., 1997; Farag et al., 2002; Almeida-Oliveira e

Diamond, 2008a).

Até o momento, foram descritos 14 genes da família KIR e dois pseudogenes. Estes genes

estão localizados no cromossoma 19 na região q13.4. Dez destes genes codificam receptores com

dois domínios de imunoglobulina, genes KIR2D, e quatro possuem três domínios de imunoglobulina,

genes KIR3D (Moretta e Moretta, 2004; Uhrbergb, 2005).

Os ligantes para o receptor KIR considerados mais importantes são alelos de HLA-C. Os

receptores KIR reconhecem dois grupos distintos de HLA-C, cuja diferença está no dimorfismo de

aminoácidos na posição 77. O grupo 1 de epítopos de HLA-C apresenta serina na posição 77 e são

reconhecidos por KIR2DL2 e KIR2DL3. As moléculas do grupo 2 de HLA-C possuem asparagina na

posição 77 e são reconhecidos por KIR2DL1. Outro receptor KIR cujo ligante está bem definido é o

KIR3DL1, que reconhece o epítopo de HLA-B Bw4. Os outros KIR inibidores têm especificidades

menos definidas, como KIR3DL2, que reconhece algumas variantes de HLA-A (-A3, -A11), ou não têm

nenhum ligante conhecido até o momento. O KIR2DL4 apresenta cauda intracitoplasmática longa,

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porém evidências recentes mostram que a ligação deste receptor a HLA-G em células NK em repouso

resultam numa ativação que leva à produção de IFN- sem atividade citotóxica (Farag et al., 2002;

Carrington e Norman, 2003; Moretta e Moretta, 2004).

Apesar de alguns receptores KIR ativadores apresentarem uma estrutura de reconhecimento

do ligante muito semelhante a receptores inibidores, como no par 2DL1/2DS1 e no trio de

2DL2/2DL3/2DS2, a afinidade de ligação das variantes ativadoras é fortemente reduzida em

comparação às variantes inibidoras. Por isso, quando há ligação de receptores inibidores e ativadores

ao mesmo tempo, acredita-se que o sinal inibidor prevaleça. Ainda não foram definidos os ligantes

dos outros KIR ativadores (Farag et al., 2002; Uhrbergb, 2005). A tabela 7 apresenta todos os

receptores KIR e seus ligantes identificados até o momento.

Tabela 7 - Receptores KIR e seus ligantes identificados até hoje.

Receptor Especificidade de ligante

inib

ido

res

KIR2DL1 Grupo 2 de HLA-C KIR2DL2 Grupo 1 de HLA-C KIR2DL3 Grupo 1 de HLA-C KIR2DL5 Não definido KIR3DL1 HLA-Bw4 KIR3DL2 A3, A11 e outros não definidos KIR3DL3 Não definido

ativ

ado

res

KIR2DS1 Grupo 2 de HLA-C KIR2DS2 Grupo 1 de HLA-C KIR2DS3 Não definido KIR2DL4 HLA-G KIR2DS4 Não definido KIR2DS5 Não definido

KIR3DS1 Não definido

Adaptado de Farag et al., 2002, Moretta e Moretta, 2004; Uhrbergb, 2005; Almeida-Oliveira e Diamond, 2008

a.

Apesar das funções biológicas dos KIR ativadores não estarem bem claras, reconhecimento

de HLA-C do grupo 2 por KIR2DS1 está envolvido na atividade antileucêmica de células NK aloreativas

(Chewning et al., 2007; Morvan et al., 2008; Pende et al., 2009). Além disso, KIR2DS1 está envolvido

no desenvolvimento de diferentes tipos de psoríase (Luszczek et al., 2004; Holm et al., 2005). O

estudo da função de KIR2DS1 é complicado, pois é difícil distinguir KIR2DS1 de KIR2DL1, pois estas

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moléculas compartilham mais de 90% de homologia de aminoácidos. Portanto, a maioria dos estudos

baseiam no genótipo KIR, uso de clones ou linhagens celulares, ou no uso da combinação de

anticorpos monoclonais anti-KIR com reatividade contra vários KIR (Cognet et al., 2010).

Foi observado que o número e a composição de genes KIR podem variar entre diferentes

indivíduos. Isso levou à descrição de dois grupos de haplótipos KIR: designados A e B. Os haplótipos

do grupo A não possuem outros genes KIR ativadores além do KIR2DS4 e apresentam os genes

inibidores KIR2DL1, KIR2DL3 e KIR3DL1. Outros quatro genes KIR estão presentes em todos os

haplótipos, tanto do grupo A quanto do B, com raras exceções. São os genes KIR3DL3, KIR3DL2,

KIR2DL4 e KIR3DP1 (DP – pseudogene). Os haplótipos do grupo A não variam em conteúdo de genes,

mas têm extensiva variação no nível alélico, enquanto os do grupo B têm alta variação no conteúdo

de genes, mas possuem polimorfismo alélico apenas moderado. Os haplótipos B apresentam mais

genes que o do grupo A, incluindo o KIR2DL5, assim como várias possíveis combinações de genes

ativadores (Vilches e Parham, 2002; Uhrbergb, 2005).

Análises imunogenéticas demonstraram que diferentes populações étnicas apresentam

distribuição distinta dos genes KIR. Como o haplótipo A predomina na população caucasiana, o

KIR2DS4 é mais frequente do que qualquer outro gene KIR ativador nesta população (Niokou et al.,

2003). A população de ameríndios venezuelanos apresenta uma distribuição equivalente de

haplótipos do grupo A e B (Gendzekhadze et al., 2006). Um estudo em uma população negra africana

mostrou uma maior frequência de 2DL1, 2DL3, 3DL1 e 2DS4 e menor frequência de 2DL5, 2DS1-3,

2DS5 e 3DS1 (Norman et al., 2002). Um estudo realizado por Middleton et al. (2007) analisou cerca

de 5000 indivíduos de continentes diferentes Ásia, África, Europa e América Latina, inclusive

brasileiros caucasianos da região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. De um modo geral,

os resultados encontrados para os indivíduos brasileiros foram semelhantes aos caucasianos de

outras localidades. No entanto, a relevância da presença ou ausência da maior parte dos genes KIR e

da variação de frequências alélicas entre as diferentes populações é desconhecida (Middleton et al.,

2007).

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A diversidade dos receptores KIR pode causar impacto nas células NK em diferentes níveis

representados no diagrama esquemático da figura 7. Isto ocorre por diferenças no conteúdo gênico

e na diversidade alélica do lócus KIR, que permite que indivíduos distintos tenham diferentes

números de receptores ativadores e inibidores (Cheent e Khakoo, 2009). Além do polimorfismo e da

variação do conteúdo de genes KIR de indivíduo para indivíduo, a expressão dos genes KIR também

varia de célula para célula dentro do mesmo indivíduo, ou seja, os KIR têm uma distribuição clonal

nas células NK. Com poucas exceções, todos os genes KIR presentes no genoma de um indivíduo são

expressos em sua população de células policlonal (Vilches e Parham, 2002). Além disso, existe uma

grande diversidade entre os ligantes dos receptores KIR. Existem cerca de 700 alelos de HLA-A, 1500

alelos de HLA-B e 400 alelos de HLA-C (Cheent e Khakoo, 2009).

Figura 7- Impacto da diversidade dos receptores KIR. Isto pode ocorrer como resultado das diferenças no conteúdo gênico e diversidade alélica no locus KIR. Isto pode resultar em indivíduos tendo diferentes números de KIR ativadores e inibidores. Os receptores KIR são expressos de forma aleatória gerando um repertório KIR, que também se diferencia entre os indivíduos. A presença ou ausência de ligantes HLA para estes KIR aumenta o impacto deste repertório e na funcionalidade dos diferentes clones de células NK em diferentes indivíduos. Adaptado de Cheent e Khakoo, 2009.

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3.6.3 Repertório de células NK, tolerância e autoimunidade

As famílias de receptores de células NK específicos para MHC são expressas de forma variada

e sobreposta, com um grau de independência substancial. As observações feitas tanto em humanos

quanto em camundongos sugerem que o repertório de células NK contém células expressando

virtualmente todas as possíveis combinações de receptores. Tem sido estimado que cada célula NK

expressa de 3 a 7 receptores específicos para MCH-I. A partir desta estimativa, um indivíduo com

genes de aproximadamente 10 receptores para MHC-I possui aproximadamente 1000 clones

distintos de células NK expressando combinações diferentes destes receptores. Esses padrões de

expressão de receptores são estabelecidos durante o desenvolvimento das células NK e permanecem

estáveis, mesmo após múltiplos ciclos de proliferação (Raulet et al., 2001; Parham, 2004).

Análises de alta resolução de expressão de receptores KIR em populações primárias de

células NK demonstram que todas as combinações possíveis de receptores estão presentes e que não

existe deleção de nenhum subtipo de célula NK. Além disso, foi demonstrado que uma proporção

substancial de células NK coexpressam múltiplos receptores, resultando em duas consequências:

aumento a resposta ao “missing-self” e uma maior especificidade de ligantes para a inibição (Yawata

et al., 2008).

Estudos da hematopoese de células NK sugerem que células do estroma da medula óssea

estão envolvidas na expressão de KIR (Miller e McCullar, 2001). O repertório das células NK depende

tanto do polimorfismo KIR quanto HLA. Isso pôde ser observado através de estudos com irmãos:

quando os irmãos são KIR e HLA idênticos, possuem um repertório semelhante de células NK,

enquanto irmãos com diferenças em KIR ou HLA exibem variações nos repertórios (Yawata et al.,

2006).

Enquanto os genes KIR estão localizados no cromossoma 19, os genes de seus ligantes, HLA,

estão localizados no cromossoma 6, fazendo com que a herança de KIR e HLA não seja pareada.

Dessa forma, muitos indivíduos apresentam genes KIR inibidores para os quais não há ligantes HLA, e

vice versa. Como a expressão dos receptores de células NK se faz de maneira randômica,

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teoricamente, podem surgir clones de células NK sem receptores inibidores específicos para MHC-I

próprio e/ou clones expressando receptores estimuladores para MHC-I próprio. Estes tipos de clones

poderiam mediar autoimunidade, mas uma variedade de estudos demonstrou que ocorre tolerância

ao próprio. Os processos envolvidos neste evento ainda não são bem entendidos (Raulet et al., 2001;

Witt e Christiansen, 2006).

Recentemente foi demonstrado, tanto em modelo murino quanto em humanos, que estas

células NK com potencial autoimune estão presentes no sangue periférico e a tolerância ao próprio

em indivíduos saudáveis ocorre pela aquisição de um fenótipo funcional hiporesponsivo, similar ao

conceito de anergia aceito para as células B e T (Fernandez et al., 2005; Anfossi et al., 2006; Cooley et

al., 2007).

Conforme citado anteriormente, foi sugerido que mecanismos autoimunes fazem parte da

fisiopatologia da SMD. As células NK poderiam estar diretamente envolvidas em doenças autoimunes

através de seu potencial autoreativo ou através de interações com células dendríticas, macrófagos e

linfócitos T, dessa forma induzindo inflamação excessiva ou favorecendo a resposta imune

adaptativa. Portanto, as células NK podem ser implicadas no início, manutenção ou progressão de

doenças autoimunes. Alguns estudos também sugeriram o uso de células NK para tratar doenças

autoimunes (Schleinitz et al., 2010).

O papel direto das células NK na patogênese de doenças autoimunes foi mais bem estudado

em modelos animais (French e Yokoyama, 2004; Schleinitz et al., 2010). A maior parte do

conhecimento sobre as células NK em doenças autoimunes humanas vem de análises das células NK

em estágios clínicos da doença e são meramente correlativos (Schleinitz et al., 2010). Foi observada a

diminuição no número, queda na função citotóxica e alterações de expressão de receptores nas

células NK do sangue periférico de pacientes com várias doenças autoimunes, como psoríase, lúpus,

artrite reumatoide e diabete tipo I (Yabuhara et al., 1996; Erkeller-Yuksel et al., 1997; Grau et al.,

2004; French e Yokoyama, 2004; Lunemann et al., 2009; Aramaki et al., 2009; Park et al., 2009).

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Uma questão intrigante é que a doença linfoproliferativa de linfócitos grandes e granulares

(LLGG), uma condição rara que apresenta um excesso crônico de células NK circulante, também está

associada com manifestações autoimunes (Schleinitz et al., 2010). Nesta doença hematológica

crônica a citologia de células NK é normal, mas elas apresentam mudanças profundas nos seus

receptores ativadores e inibidores (Zambello et al., 2003; Epling-Burnette et al., 2004; Pascal et al.,

2004; Scquizzato et al., 2007; Gattazzo et al., 2010). Nesta doença, também foi demonstrada uma

falha na interação entre células NK e células dendríticas, que pode ser explicada, pelo menos em

parte, por uma redução na expressão de NKp30 (Balsamo et al., 2009).

Martínez-Rodríguez et al. (2010) demonstraram que existem diferentes padrões de

expressão de receptores de células NK de acordo com o curso clínico da esclerose múltipla,

relacionado a um acúmulo progressivo de linfócitos T com diferenciação terminal e células NK

experientes, que podem ser modulados pela terapia de IFN-β. Eles também reportaram uma

expansão de células CD56bright associada à terapia. Outro grupo (Akesson et al., 2010) estudando

pacientes com diabete autoimune latente em adultos encontrou uma redução na frequência de

células NK, aumento da expressão de NKG2D e redução da expressão de KIR3DL1.

Existem também alguns achados com relação ao genótipo KIR/HLA e doenças autoimunes.

Em diabete mellitus tipo I, existe uma associação com o genótipo 2DS2/HLA-C do grupo 1 e uma

redução na proporção de combinações de genótipos KIR/HLA inibitórios (van der Slik et al., 2007). Na

artrite psoríatica, o genótipo 2DS1/2DS2 e homozigose de HLA-Cw estão associados com o

desenvolvimento da doença (Martin et al., 2002; Nelson et al., 2004). Similarmente, esclerose

sistêmica foi associada com o genótipo 2DS2+/2DL2- e com também com 2DS1+/2DS2- (Momot et al.,

2004 e Pellett et al., 2007). Além disso, pacientes KIR2DS1+ com esclerose sistêmica progressiva

apresentaram uma redução significante da quantidade de KIR inibidores correspondentes aos

ligantes de HLA apropriados (Pellett et al., 2007).

Os dados genéticos obtidos destes estudos de associação KIR/HLA identificaram genótipos

associados com o aumento da susceptibilidade ao desenvolvimento de doenças autoimunes ou

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formas severas. A maioria destas situações parece estar associada com uma potencial perda de

inibição de células NK ou excesso de ativação através da sinalização de receptores que reconhecem

HLA de classe I. Estes resultados interessantes devem ser confirmados em estudos de ganho ou

perda de função. Além disso, os estudos genéticos de KIR deveriam focar não apenas nas células NK,

mas também nos subtipos de linfócitos T que expressam estes receptores. Este modelo também

deveria levar em consideração variações de alelos KIR e variação na expressão de KIR com um dado

genótipo (Schleinitz et al., 2010).

A incidência de doenças autoimunes, como artrite reumatoide, aumenta com o

envelhecimento (Dorshkind et al., 2009; Lindstrom e Robinson, 2010). Os idosos também são mais

susceptíveis a infecções virais e bacterianas, infecções oportunistas, reativação de vírus latentes e

neoplasias (Gomez et al., 2008). Conforme dito anteriormente, a incidência de SMD também é maior

nos idosos. Portanto é importante estudar alterações do sistema imune no envelhecimento.

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3.6.4 Alterações de células NK ao longo da vida: da infância a velhice

O sistema imune não permanece estático ao logo da vida. Alterações relacionadas à idade

ocorrem na infância e adolescência (Timmons, 2005). Apesar de ser reconhecido que a infância

representa um período crítico em que ocorre o desenvolvimento imunológico, existe uma escassez

de dados sobre a distribuição dos parâmetros imunológicos em crianças saudáveis. Uma das

possíveis causas do pouco conhecimento do assunto são as questões éticas envolvendo a coleta de

amostras de sangue de populações pediátricas saudáveis, por ser um procedimento invasivo,

fazendo com que seja necessário um planejamento cuidadoso para maximizar o uso das amostras

(Duramad et al., 2007).

O sistema imune é funcionalmente imaturo no momento do nascimento e sofre um

desenvolvimento sequencial estimulado não só pelo desenvolvimento biológico da criança como

também pela exposição a antígenos (Huenecke et al., 2008). Foi proposto que o sistema imune inato,

incluindo as células NK, é especialmente importante no início da vida, quando a resposta adaptativa

ainda está imatura, portanto as células NK devem ser mais ativadas durante a infância (Sundstrom et

al., 2007). As células NK se originam na MO onde elas se desenvolvem e proliferam. Entretanto, os

últimos processos de maturação e homeostase das células NK no sangue periférico não são bem

compreendidos. Para entender melhor este processo, é importante o estudo de células NK na

infância.

Nos idosos ocorre a chamada imunosenescência, que é o estado de desregulação do sistema

imunológico que contribui para o aumento a susceptibilidade a infecção, câncer e doenças

autoimunes nesta faixa etária (Pawelec e Solana, 1997). Apesar da resposta de células T ser mais

dramaticamente afetada pela idade, alterações imunológicas associadas ao envelhecimento também

ocorrem no fenótipo e função das células NK (Mocchegiani e Malavolta, 2004).

Existem resultados controversos sobre a atividade citotóxica das células NK no

envelhecimento, alguns grupos encontraram aumento e outros diminuição. Estas discrepâncias

podem ser devido aos diferentes critérios de seleção de idosos utilizados. Se for utilizado um critério

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de seleção que inclui apenas idosos saudáveis, excluindo pacientes com certas doenças ou em uso de

medicamentos que afetam o sistema imune (protocolo SENIEUR - Ligthart et al., 1984), a atividade

citotóxica das células NK é mantida. A queda da atividade citotóxica é mais claramente observada em

idosos mais velhos, com idade entre 75 e 85 anos (Mocchegiani & Malavolta, 2004).

As células NK são essenciais para o envelhecimento saudável (Mocchegiani e Malavolta,

2004). Alterações nos subtipos de células NK e na expressão de receptores de células NK parecem ser

importantes na patogênese de diversas doenças como infecções virais (Mavilio et al., 2003; Guma et

al., 2004; Ballan et al., 2007) e câncer (Verheyden et al., 2004; Kiladjan et al., 2006; Epling-Burnette

et al., 2007a; Garcia-Iglesias et al., 2009). A preservação da atividade citotóxica pode ser considerada

crucial para a resistência a doenças associadas a idades avançadas e para que ocorra o

envelhecimento saudável (Bruunsgaard et al., 2001; Mocchegiani e Malavolta, 2004; Mocchegiani et

al., 2009). Portanto, a preservação da atividade citotóxica deveria ser considerada um biomarcador

para o envelhecimento saudável e longevidade, enquanto a baixa atividade citotóxica é preditora de

morbidade e mortalidade devido a infecções (Listi et al., 2010).

Tal preservação no idoso saudável pode ocorrer devido ao aumento no número de células NK

para compensar uma possível queda da capacidade citotóxica das células NK (Mocchegiani et al.,

2009). De fato, uma significante expansão no número de células NK é encontrada no envelhecimento

devido a um aumento do subtipo CD56dim, responsável pela atividade citotóxica. O envelhecimento

saudável também causa uma redução do subtipo CD56bright (Borrego et al., 1999b; Chidrawar et al.,

2006; Garff-Tavernier et al., 2010). A redução deste subtipo de células NK pode contribuir para o

desenvolvimento da imunosenescência, uma vez que as células CD56bright são críticas para a resposta

de citocinas do sistema imune inato (Caligiuri, 2008). Além disso, este subtipo de células NK tem um

papel importante na ativação de células dendríticas (Vitale et al., 2004; Moretta et al., 2006b) e

também interagem de forma recíproca com os monócitos, promovendo a inflamação (Dalbeth et al.,

2004).

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A maior parte dos estudos sobre células NK e idade foca no número de células e atividade

citotóxica global. A redução da função da atividade NK observada nos ensaios citotóxicos pode ser

devido a alterações na expressão dos receptores ativadores e inibidores de células NK. Até o

momento, pouco se sabe sobre mudanças na expressão dos receptores de células NK que

reconhecem as células alvo durante o envelhecimento. Existem apenas três estudos principais

publicados sobre esta questão até o momento (Lutz et al., 2005; Sundstrom et al., 2007; Garff-

tavenier et al., 2010).

Primeiro Lutz et al. (2005) comparou idosos (idades acima de 65) e adultos jovens (de 21 a 30

anos) e observou uma redução nos idosos da expressão de CD94 e NKG2A e um aumento recíproco

na expressão de KIR. Entretanto, não foi analisada a expressão de outros receptores, como o NKG2D

e os da família NCR. O segundo autor (Sundstrom et al., 2007) estudou a expressão de receptores de

células NK em três pontos da infância: cordão umbilical, 2 anos e 5 anos. Eles encontraram que a

proporção de células NK CD94+NKG2C- (NKG2A+), assim como o nível de expressão de NKG2D, NKp30

e NKp46, estavam aumentados no cordão umbilical. Em 2010, Garff-Tavenier et al., comparando

células NK de cordão umbilical, pessoas de meia idade (18 a 59 anos), idosos (60 a 79 anos) e

indivíduos muito idosos (80 a 100 anos), observaram que as células NK de cordão umbilical

apresentavam característica associadas com a imaturidade, incluindo redução da expressão de KIR e

alta expressão de NKG2A. Com relação aos idosos, entretanto, não houve grandes alterações

fenotípicas ou funcionais neste estudo. Nenhum destes três grupos avaliou separadamente a

expressão dos receptores de células NK nos subtipos CD56dim ou CD56bright ou estudou o genótipo KIR

e HLA.

Poucas relações foram encontradas até o momento entre o envelhecimento bem sucedido e

a diversidade genética do loci KIR. Na população Irlandesa, foi descoberto que dois genes KIR (2DS3 e

2DL5) apresentaram uma frequência inicial maior nos idosos, entretanto, a significância desta

associação foi perdida quando uma segunda coorte foi analisada (Maxwell et al., 2004). Outro estudo

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sobre o assunto, desta vez em centenários italianos, mostrou uma redução do gene KIR2DP1 nos

idosos. No entanto esta redução não foi mantida significante após a correção de Bonferroni.

Este levantamento bibliográfico nos leva a concluir que as células NK podem sofrer

alterações da infância a velhice, que provavelmente se relacionam com a incidência de doenças mais

frequentes em determinadas fases da vida. Este é o caso das doenças autoimunes e também da

SMD, que são mais frequentes em idosos. No entanto, novos estudos são necessários para

compreender o papel das células NK no envelhecimento saudável, na SMD e em outras doenças.

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3.6.5 As células NK e a SMD

Ainda não está claro se as alterações imunológicas dos pacientes com SMD refletem

predominantemente reações autoimunes não desejadas contra os precursores hematopoiéticos

normais (como ocorre na AA) ou uma imunovigilância contra os clones displásicos (Chamuleau et al.,

2009). As células NK poderiam estar atuando na SMD participando em qualquer uma destas duas

hipóteses.

A primeira alteração de células NK observada na SMD foi uma redução da atividade citotóxica

(Porzsolt et al., 1982; Anderson et al., 1983; Kerndrup et al., 1984; Ogata et al., 1994). A redução da

atividade citotóxica foi observada principalmente em pacientes com SMD de alto risco, sugerindo

que a progressão da doença pode estar associada com a evasão da imunovigilância mediada pelas

células NK (Epling-Burnette et al., 2007a). No entanto, até o momento, não está clara a causa desta

alteração. Uma possível explicação para a diminuição da atividade citotóxica seria alterações nos

receptores de células NK que reconhecem as células alvo.

Os primeiros autores a abordarem este tema foram Howe et al. (2005). Eles estudaram o

genótipo KIR e HLA em pacientes com síndromes de falha da medula óssea. Embora tenham

encontrado redução na frequência dos genes KIR2DS1 e KIR2DS5 na AA e HPN, não encontraram

diferença na frequência individual dos genes KIR entre pacientes com SMD e doadores saudáveis.

Porém não foi estudada a expressão destes genes ao longo do desenvolvimento da doença.

No ano seguinte, Kiladjan et al. (2006) estudando amostras de sangue periférico de pacientes

com SMD, tentaram relacionar a expressão de receptores ativadores da família NCR (NKp46 e NKp30)

e de um receptor ativador pertencente à outra família (NKG2D) com a redução da proliferação e

atividade citolítica, porém encontraram uma expressão normal destes receptores. Estes autores

atribuíram à falha nas funções das células NK, pelo menos em parte, ao fato de que uma proporção

das células NK carregarem a mesma alteração genética que as células blásticas CD34+. Eles também

encontraram uma redução na secreção de IFN-α e TNF-β nas células NK dos pacientes com SMD.

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Outro grupo de pesquisadores encontrou resultados diferentes com relação à expressão dos

receptores de células NK. Epling-Burnette et al. (2007a), embora também relatassem uma expressão

normal de NKp46, encontraram uma redução da expressão de NKp30 nos pacientes com SMD. Além

disso, foi observada uma baixa expressão de NKG2D somente nos pacientes que apresentavam baixa

atividade NK. Eles também verificaram um aumento de MICA e MICB (ligantes de NKG2D) em células

tronco hematopoiéticas destes pacientes. Os resultados controversos entre estes estudos ressaltam

a importância de estudar a expressão de receptores de células NK em pacientes com SMD.

Nenhum destes estudos examinou as células NK de MO. Carlsten et al. (2010), estudando

cerca de 40 pacientes com diferentes subtipos de SMD, demonstraram que as células NK de MO

apresentaram redução na expressão de NKG2D e DNAM-1 (molécula de adesão celular que se liga a

CD155 e CD112 na superfície das células alvo). Além disso, a redução da expressão destes receptores

ativadores se correlacionou com aumento da contagem de blastos na MO e com a redução da

atividade citotóxica das células NK. No entanto, ao investigar amostras de sangue periférico, estes

autores não encontraram alteração na expressão de receptores de células NK.

A alteração na expressão dos receptores de células NK é apenas uma das hipóteses que

podem explicar a diminuição da atividade citotóxica. Outra hipótese é que haja alterações em

mecanismos intrínsecos da célula NK, como por exemplo, alterações no conteúdo, quantidade ou

mecanismos de liberação dos grânulos citotóxicos. Até o momento, isto não foi investigado na SMD.

Outra possibilidade é alteração nos mecanismos de transdução de sinais, impedindo a ativação das

células NK.

Esta última hipótese é suportada pelo fato das células NK de pacientes com SMD

apresentarem falha em exibir uma resposta efetora apropriada e incapacidade de responder a IL-2.

Estes resultados também sugerem que os precursores mielóides anormais podem, pelo menos em

parte, evadir a imunovigilância de células NK (Kiladjan et al., 2006; Marcondes et al., 2008). Entre as

citocinas aumentadas na SMD, está a IL-32. Como a IL-32 foi descoberta primeiramente nas células

NK, Marcondes et al. (2008) explorou a relação entre a função de células NK e a expressão de IL-32

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na SMD. Baseado nos níveis baixos de IL-32 na LMMC e altos níveis na SMD, mas citotoxicidade baixa

nas duas doenças, Marcondes et al. (2008), concluíram que os níveis de IL-32 não estavam

correlacionados com a função citotóxica das células NK, sugerindo que outros fatores estavam

envolvidos.

Outra questão importante é que foi demonstrado na SMD a citotoxicidade direta de células

efetoras autólogas contra precursores hematopoiéticos in vitro. Estas reações efetoras não

apresentaram restrição por MHC e foram dependentes das células NK, apontando para um papel da

destas células na imunovigilância contra os precursores hematopoiéticos (pré-) malignos (Chamuleau

et al., 2009). Outro grupo descreveu um papel importante do NKG2D em diminuir a hematopoese

em doenças de falha da MO, como AA, HPN e SMD. Primeiro eles demonstraram que ligantes de

NKG2D são expressos tanto em granulócitos quanto na MO de pacientes com HPN, AA e SMD. Depois

foi observado que o uso de anticorpo anti-NKG2D levou a um aumento no número de colônias

hematopoiéticas em culturas de MO de amostras de AA e HPN. Estes resultados sugerem que o uso

do anticorpo interferiu na ligação entre NKG2D de células NK e/ou linfócitos T e os seus ligantes nas

células progenitoras hematopoiéticas, recuperando estas células do dano imunológico e permitindo

a formação de colônias (Hanaoka et al. 2009).

As células NK autólogas são capazes de matar células de MO in vitro de indivíduos saudáveis,

conforme relatado por Grau et al. (2004) e Poggi et al. (2005). Primeiro foi observado que clones de

células NK autólogos com receptores KIR com ausência de ligantes HLA são capazes de inibir

formação de colônias hematopoiéticas em cultura de MO (Grau et al., 2004). Além disso, Poogi et al.

(2005) demonstraram que as células NK passaram a exibir fenótipo ativado (expressão de CD69) e a

secretar IFNγ e TNFα durante a interação com as células de estroma de MO em cultura, de forma

dependente de NKp30. Também foi demonstrado que células NK ativadas com IL-2, mas não TCD8,

eram capazes de matar células autólogas de estroma. Mais ainda, estes autores observaram que a

expressão de moléculas de HLA-I não protegia as células de estroma da injúria causada por células

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NK e que o receptor ativador NKG2D estava envolvido. Em conjunto, estes resultados sugerem que

as células NK podem ter um papel na regulação da sobrevida do estroma e CTH na MO.

Embora o mecanismo ainda precise ser determinado, o estroma anormal da SMD pode ter

um papel inibidor na diferenciação e desenvolvimento das células NK, já que o contato estreito entre

estas duas populações é um requisito para completar a diferenciação das células NK. Perda da

imunovigilância pode levar ao acúmulo de células com dado de DNA e intermediar os estágios de

progressão da SMD (Epling-Burnette e List, 2009).

Além de todas estas evidências, o efeito imunomodulatório da lenalidomida, que induz remissão

citogenética em uma grande parte dos pacientes com síndrome do 5q-, pode pelo menos em parte,

estar relacionada à atividade citotóxica das células NK (List et al., 2005). Juntos, estes dados sugerem

que as células NK podem participar na imunovigilância contra clones de SMD e podem proteger

contra a progressão da doença e transformação em LMA. No entanto, ainda não está claro qual seria

o papel das células NK na fisiopatologia da SMD, demonstrando a importância de novos estudos

sobre o tema.

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4 . Material e métodos

4.1 Seleção de indivíduos e coleta de amostras

4.1.1 Indivíduos saudáveis

Como controle, todos os ensaios realizados nos pacientes também foram realizados em 73

amostras de indivíduos saudáveis, com idades variando de 5 a 77 anos (mediana de 33 anos). Os

indivíduos foram divididos em 3 faixas estarias de acordo com a idade: crianças (idade ≤ 18 anos),

adultos (19-59 anos) e idosos (≥ 60 anos). As amostras do grupo de crianças foram obtidas com

doadores de medula óssea aparentados para o TCTH no CEMO, INCA. As amostras de adultos foram

obtidas no CEMO e no Banco de Sangue do INCA. Os indivíduos idosos foram recrutados no Instituto

Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO).

Os indivíduos que apresentavam condições que poderiam afetar o sistema imune foram

excluídos de acordo com os critérios propostos pelo protocolo SENIEUR (Ligthart et al., 1984).

Primeiro os sujeitos foram pré-selecionados por um questionário (anexo) e a amostra de sangue era

coletada quando não havia relato de infecções nos últimos 6 meses, diabetes, câncer, doenças do

sistema imune ou uso corrente de medicamentos imunomoduladores. Uma segunda seleção foi

realizada baseada nos resultados de exames laboratoriais e no prontuário dos pacientes. Amostras

de 33 idosos foram coletadas, mas 12 tiveram que ser excluídas porque os indivíduos apresentavam

aumento de glicose ou fosfatase alcalina, artrite reumatoide, gonartrose ou doença de Paget.

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4.1.2 Pacientes com SMD

Os pacientes estudados foram oriundos de hospitais públicos do Rio de Janeiro: Centro de

Transplante de Medula Óssea (CEMO) e do serviço de Hematologia do Instituto Nacional de Câncer

(INCA), Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) e Instituto Estadual de Hematologia Arthur de

Siqueira Cavalcanti (Hemorio). O INCA foi o Centro Coordenador do Estudo, onde foram realizados os

ensaios com as amostras de todos os centros envolvidos.

As amostras foram coletadas de forma prospectiva em 30 pacientes com suspeita de SMD.

Após o levantamento dos dados clínicos e resultados laboratoriais, foi observado que apenas 23

deles apresentavam SMD. O restante apresentava doenças relacionadas com LMMC, AA, HPN, LMA

de novo e LMA relacionada à SMD. Estes casos de doenças relacionadas foram excluídos da análise.

Entre os 23 casos com diagnóstico confirmado de SMD, 10 eram pacientes do CEMO/INCA, 2

do serviço de Hematologia do INCA, 9 do Hemorio e 2 do HUPE. A coleta foi realizada no momento

do diagnóstico de SMD para 12 pacientes e o restante estava em acompanhamento após alguns

meses com diagnóstico. A coleta de dados clínicos e laboratoriais foi feita a partir da análise dos

prontuários médicos, intranet e de fichas dos serviços participantes. A partir desta análise foi feita a

classificação FAB e OMS da SMD, assim como as classificações de risco IPSS e WPSS.

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4.1.3 Coleta de amostras

Foram coletados 25ml de sangue periférico em 2 tubos de 10 ml contendo anticoagulante

heparina e 5ml em um tubo com anticoagulante EDTA, tanto de pacientes quanto de indivíduos

saudáveis. As amostras foram coletadas junto com a rotina de exames de pacientes e doadores,

visando aproveitar a infraestrutura dos hospitais envolvidos e evitar o transtorno de uma coleta

exclusiva para o projeto de pesquisa.

Todas as amostras foram obtidas com termo de consentimento livre e informado e este

projeto foi aprovado no Comitê de Ética de todas as instituições envolvidas: INCA (090/07), HUPE

(1923), Hemorio (112/07) e INTO (0074-08). As aprovações de cada Comitê de Ética constam nos

anexos, assim como exemplos de termos de consentimento livre e informado para pacientes e

indivíduos saudáveis aplicados em cada instituição e o questionário para a seleção de indivíduos

saudáveis (anexos).

No máximo 24h após a coleta, as amostras de sangue periférico foram processadas para a

realização dos ensaios de análise da expressão dos receptores de células NK por citometria de fluxo a

partir do tubo com EDTA. O restante do tubo de EDTA foi guardado para posteriormente ser

processado para a análise genotípica. Os tubos de heparina também foram processados em no

máximo 24h, sendo congelados para a realização posterior dos ensaios de atividade citotóxica.

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4.2 Análise da expressão dos receptores de células NK por citometria de

fluxo

Marcação com anticorpos monoclonais – As amostras de sangue periférico foram processadas a

fresco. Primeiro elas foram diluídas em solução salina fosfatada tamponada/soroalbumina bovina

(PBS/BSA-Sigma) a uma concentração de 1 x 106 células/ ml e incubadas a 4°C no escuro com

anticorpos monoclonais (Beckman Coulter). Em seguida foram hemolisadas com solução comercial

(FACS lising – Beckman & Dickson - BD), incubadas à temperatura ambiente e no escuro,

centrifugadas (5 minutos, 500g) e o sobrenadande desprezado. As amostras foram ressuspensas em

PBS/BSA e submetidas à nova centrifugação e adição de solução salina fosfatada tamponada /

formaldeído (PBS/FORMOL) a 1%.

Marcadores utilizados – Foi utilizado um painel de anticorpos para identificar as populações de

interesse e estudar a expressão de receptores das três famílias principais de células NK, conforme

observado na tabela 8. Os receptores da família KIR podem ser ativadores e inibidores e são

expressos de forma aleatória nas células NK. Cada anticorpo monoclonal utilizado reconhece mais de

uma molécula KIR porque os receptores KIR ativadores e inibidores para a mesma molécula de HLA

tem os mesmos domínios extracelulares. Para aproximar a expressão total de receptores KIR nas

células NK, foi utilizada uma mistura de três anticorpos anti-KIR marcados com o mesmo

fluorocromo. Esta mistura reconhece 6 diferentes receptores KIR ao mesmo tempo e é referida no

texto como KIR mix.

Aquisição e análise no citômetro de fluxo - As amostras fixadas foram analisadas num citômetro de

fluxo, modelo FACScan (BD), sendo adquiridos todos os eventos, havendo pelo menos 50.000

eventos na população de linfócitos. As aquisições e análises foram respectivamente realizadas nos

programas CellQuest (BD) e PaintAGate (BD). Controles isotípicos foram utilizados para minimizar o

ruído eletrônico. A população de linfócitos foi delimitada usando os parâmetros de tamanho (side

scatter- SSC) e complexidade (foward scatter- FSC). A marcação por anti-CD3 e anti-CD56 (anticorpos

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presentes em todos os tubos) foram usados para definir três populações de células: linfócitos T

clássicos (CD3+CD56-), células NK convencionais (CD3-CD56+) e células NKT (CD3+CD56+). As células NK

foram subdividas em seus dois subtipos (CD56dim e CD56bright) baseados na intensidade de expressão

de CD56. A expressão dos receptores das três famílias de interesse foi acessada separadamente em

cada uma destas cinco populações de células. As estratégias de análise estão exemplificadas na

figura 8 e foram baseadas no descrito por Lutz et al. (2005) e Hayhoe et al. (2010).

Tabela 8 – Painel de anticorpos monoclonais utilizados

ANTICORPO FLUOROCROMO CLONE

Controle isotípico (IgG1 mouse) FITC -----------

Controle isotípico (IgG1 mouse) PE -----------

CD158a/h (2DL1/2DS1) PE EB6B

CD158b1/b2,j (2DL2/2DL3/2DS2) PE GL184

CD158e1/e2 (3DL1/3DS1) PE Z27.3.7

CD158i (KIR2DS4) PE FES172

CD3 (marcador de linfócitos T) FITC UCHT1

NKG2D (CD314) PE ON72

NKp46 (CD335) PE BAB281

NKp44 (CD336) PE Z231

NKp30 (CD337) PE Z25

CD56 (marcador de células NK) PC5 N901

CD94 (associado a NKG2A/B/C/E/H) PE HP3B1

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Figura 8 – Estratégia de análise e exemplo representativo de citometria de fluxo de um indivíduo saudável (gênero masculino, 25 anos). A estratégia de análise (A-C) consistiu na seleção de linfócitos baseada nos parâmetros FCS e SSC (A) e identificação das populações de células de interesse de acordo com a expressão de CD3 e CD56 (B): células NK em vermelho, linfócitos T clássicos em verde e células NKT em amarelo. Identificação dos subtipos de células NK baseada na expressão de CD56 (C): baixa densidade de expressão caracteriza o subtipo CD56

dim (azul), enquanto alta expressão desta

molécula identifica o subtipo CD56bright

(rosa). A frequência de cada subtipo de célula está representada ao lado de cada população. A expressão de receptores foi avaliada em cada uma das cinco populações (D-H) conforme exemplificado pela expressão de NKG2D nas células NK (D), nos subtipos CD56

dim (E) e CD56

bright (F), linfócitos T (G) e células NKT (H). A

frequência de células NKG2D+ está representada dentro de cada gráfico.

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4.3 Atividade citotóxica por citometria de fluxo

Células efetoras - O ensaio de atividade citotóxica foi adaptado do descrito por Cholujová et al

(2008). As células mononucleares foram isoladas através de um gradiente de densidade (Histopaque

– 1077, Sigma) e lavadas com solução salina livre de cálcio e magnésio a 0,9%. Em seguida as células

mononucleares foram congeladas em soro fetal bovino (SFB, Gibco) com 10% de DMSO e mantidas

no freezer -80°C até o momento do ensaio. As células foram descongeladas em meio de cultura RPMI

(Gibco) complementado com 10% SFB a 37°C. Em seguida foram centrifugadas suavemente (200g)

por 10 minutos. O sobrenadante foi descartado e as células foram ressuspensas em RPMI com 10%

SFB. As células foram contadas por microscopia óptica e ajustadas para 5x106 células/ml.

Células alvo – As células K652 foram mantidas em garrafas de cultura com meio RPMI suplementado

com 10% de SFB através de 2 repiques semanais. No dia do ensaio, 1 x106 células K562 foram

marcadas com ester carboxiflureceina diacetato succinimidil (CFSE, Molecular Probes), que é um

corante que emite fluorescência verde e não atrapalha a viabilidade das células, em 1 ml de meio

RPMI sem SFB. As células foram incubadas por 15min a 37°C no escuro. A marcação com CFSE foi

parada pela adição de um volume igual volume de RPMI com 10% de SFB. As células alvo foram

lavadas uma vez e ressuspensas em RPMI 10% SFB na concentração de 2x105 células/ml.

Incubação de efetoras com alvo – Proporções diferentes de células efetoras/células alvo (25/1,

12,5/1 e 6,25/1) foram incubadas em um volume final de 200l por 4h a 37°C e 5% de CO2 em

microplacas de 96 poços com fundo em V. Após as 4h, as amostras foram transferidas para tubos de

citometria e foi feita a adição de 7-amino-actinomicina D (7AAD, Becton & Dickinson - BD) para

marcação das células mortas. As células foram incubadas com 7AAD por 10 minutos no gelo e

adquiridas sem lavagem ou fixação imediatamente após a incubação.

Aquisição, análise e cálculos - As amostras foram adquiridas e analisadas em um citômetro de fluxo

do modelo FACScan (BD) utilizando o programa Cell Quest (BD). A figura 9 mostra a estratégia de

análise utilizada. Foram adquiridos 5000 eventos de K562 (identificada pelo FSC, SSC e marcação por

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CFSE) em cada tubo. O percentual de lise foi calculado em cada razão de células efetoras/alvos

utilizando-se a fórmula abaixo, onde CT é o percentual de células alvo marcadas com CFSE viáveis no

tubo controle negativo e TE é o percentual de células alvo marcadas com CFSE viáveis em cada uma

das diluições utilizadas.

Figura 9 – Exemplo de atividade citotóxica por citometria de fluxo (gênero feminino, 47 anos). A estratégia de análise consistiu na seleção das células alvo (K562) através da marcação com CFSE e SSC (A). Em seguida as marcas estatísticas (M1- células viáveis, M2- células inviáveis) foram definidas no tubo não marcado com 7AAD (B). O controle negativo consistia de células K562 marcadas com CFSE e 7AAD que não foram incubadas com as células efetoras (C) e foi usado no cálculo para descontar eventos inespecíficos e morte espontânea. Em seguida foi analisado o percentual de viabilidade nos tubos experimentais em que as células efetoras foram incubadas junto com as células alvo nas seguintes proporções: 25/1 (D), 12,5/1 (E) e 6,25/1 (F).

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4.4 Genotipagem KIR e HLA

Extração do DNA – Amostras de sangue com anticoagulante EDTA foram centrifugadas para

obtenção da camada de leucócitos, da qual foi extraído o DNA com auxílio do kit comercial

PureLink™ Genomic DNA Kit (Life Technologies) de acordo com as instruções do fabricante. Após a

digestão das membranas celulares pela proteinase K, o material nucléico foi transferido para uma lã

de sílica onde sofreu várias lavagens com solução alcoólica. A eluição se deu pela adição de água

ultra-pura. A concentração de DNA foi determinada utilizando-se o fluorocromo Qubit (Life

Technologies).

Genotipagem KIR e HLA – O DNA purificado foi submetido ao processo de Reação em Cadeia da

Polimerase e em seguida passou para a etapa de hibridização com sondas de oligonucleotídeo

sequência-específicas através da tecnologia Luminex xMAP (Luminex Corp, Austin, Tx). O kit

comercial utilizado para genotipagem HLA classe I (HLA-A, HLA-B, HLA-C) e para a genotipagem KIR

onde foram testados 14 genes e 2 pseudogenes (KIR2DL1, KIR2DL2, KIR2DL3, KIR2DL4, KIR2DL5,

KIR2DS1, KIR2DS2, KIR2DS3, KIR2DS4, KIR2DS5, KIR3DL1, KIR3DL2, KIR3DL3, KIR3DS1, KIR2DP1 e

KIR3DP1) foi o LABType® SSO Typing Test (One Lambda Inc., Canoga Park, CA) de acordo com as

instruções do fabricante. Testes adicionais foram realizados para genotipagem KIR usando o kit

comercial KIR Genotyping SSP Kit (Life Technologies, Carlsbad, CA). Antes da realização de cada teste

as amostras de DNA tiveram a sua concentração avaliada pelo fluorímetro Quibit (Life Technologies,

Carlsbad, CA), de acordo com as instruções do fabricante. Para os testes de genotipagem KIR a

concentração utilizada para a realização dos testes foi ajustada para 15 nanogramas/microlitro. Para

a genotipagem HLA Classe I, a concentração não foi ajustada. A frequência individual dos genes KIR

foi estimada de acordo com a fórmula: 1-√(1-f).

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4.5 Análise estatística

Os dados obtidos no presente estudo foram analisados utilizando-se tabelas, gráficos,

estatísticas descritivas e aplicação de testes estatísticos não paramétricos. As análises estatísticas

foram realizadas através dos seguintes softwares: Microsoft Excel e SPSS versão 18,0. Para todos os

testes estatísticos aplicados, os valores eram considerados significantes se apresentassem um

p≤0,05. Foram utilizados gráficos de boxplot para representar os valores dos parâmetros analisados

quando havia significância estatística e/ou quando foi considerado de relevância biológica. As linhas

horizontais deste tipo de gráfico representam de baixo para cima as seguintes medidas estatísticas:

mínimo, primeiro quartil, mediana, terceiro quartil e máximo. Foram também utilizados gráficos de

barras em alguns casos.

O teste não paramétrico de Mann-Whitney foi realizado para comparar duas variáveis

independentes. Os testes de probabilidade de qui-quadrado ou teste exato de Fisher foram aplicados

para avaliar a significância estatística das diferenças de frequência de genótipo KIR e HLA entre os

grupos do estudo.

As análises de sobrevida global foram realizadas através da metodologia de Kaplan-Meier. O

óbito foi considerado como desfecho independente da causa. A comparação entre os grupos foi

realizada pelos testes de Mantel-Cox, Breslow ou Tarone-Ware de acordo com o comportamento das

curvas de sobrevida. Mantel-Cox foi aplicado quando as curvas não se cruzavam em nenhum

momento, Breslow quando a diferença entre as curvas foi maior no início do que no final e Tarone-

Ware quando havia interseções nas curvas ou as diferenças não fossem constantes ao longo do

tempo.

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85

5 . Resultados

5.1 Indivíduos saudáveis

Os principais resultados do envelhecimento saudável foram publicados: Almeida-Oliveira A,

Smith-Carvalho M, Porto LC, Cardoso-Oliveira J, Ribeiro AD, Falcão RR, Abdelhay E, Bouzas LF, Thuler

LC, Ornellas MH, Diamond HR. Age-related changes in natural killer cell receptors from childhood

through old age. Hum Immunol. 2011 Jan 21. [Epub ahead of print] PubMed PMID: 21262312

(anexo). Os 73 doadores estudados (37 do gênero feminino e 36 do masculino) apresentavam idades

variando de 5 a 77 anos com mediana de 33 anos. O grupo de crianças consistia de sete meninos e

sete meninas (mediana de 10 anos de idade). O grupo de adultos consistia de 17 mulheres e 20

homens (mediana de 31 anos de idade) enquanto o de idosos de 12 indivíduos do gênero feminino e

9 do gênero masculino (mediana de idade de 65 anos). A figura 10 apresenta o histograma de idade

dos indivíduos saudáveis.

Figura 10 – Histograma de idade dos indivíduos saudáveis.

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86

5.1.1 Atividade citotóxica

A atividade citotóxica por citometria de fluxo foi realizada em 53 indivíduos saudáveis como

uma tentativa de medir a capacidade funcional das células NK no envelhecimento saudável (figura

11). Não houve diferença estatisticamente significante no percentual de lise entre crianças (mediana

de 75,07% em 25/1), adultos (mediana de 70,51% em 25/1) e idosos (mediana de 65,35% em 25/1),

conforme observado na figura 11A. A atividade citotóxica também foi semelhante entre os gêneros

masculino (mediana de 70,76% em 25/1) e feminino (mediana de 70,50% em 25/1), ilustrado na

figura 11B.

Figura 11 – Atividade citotóxica dos indivíduos saudáveis: distribuição por idade (A) e sexo (B)

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87

5.1.2 Populações de células T, NKT e NK

Usando citometria de fluxo, as populações de interesse foram determinadas de acordo com a

expressão de CD3 e CD56 (figura 8). A influência da idade e sexo foi analisada nas populações de

células T, NKT e NK (tabelas 9 e 10). O percentual de células T estava reduzido nos idosos (p=0,035,

figura 12A), mas o percentual de CD4 e CD8 não foi afetado pela idade (tabela 9). Não houve

diferença no percentual de células NKT entre as diferentes faixas etárias estudadas (tabela 9). Com

relação às células NK, houve um aumento no percentual desta população nos idosos (figura 12E,

p<0.001), mas o percentual foi semelhante entre as crianças e adultos (tabela 9). A redução na

frequência de células T e aumento de NK nos idosos confirma achados prévios e serve para validar a

população do atual estudo (Tarazona et al., 2000).

A leucometria estava aumentada em crianças (p=0,009) e idosos (p=0.009) conforme

observado na tabela 9. Este aumento na leucometria levou a um aumento na infância nos valores

absolutos de linfócitos T (p=0,001, figura 12B), T CD4 (p=0.007, figura 12C), T CD8 (p=0,001, figura

12D) e células NK (p=0,028, figura 12F), apesar de não haver diferença estatística nos valores

percentuais destas populações em crianças (tabela 9). Com relação aos idosos, o valor absoluto de

células NK estava aumentado (P<0.001, figura 12F), conforme observado na tabela 9.

Com relação à influência do gênero, foram encontradas alterações nos percentuais de T CD4

e T CD8 (Figura 13 e tabela 10). O sexo feminino apresentou maior percentual de T CD4 (p=0,007,

figura 13A) e menor percentual de CD8 (p=0,013, figura 13C). Não houve diferença entre os gêneros

nos percentuais das outras populações estudadas (tabela 10). A leucometria estava um pouco mais

alta no sexo feminino (6590) em comparação ao masculino (6300), mas não houve significância

estatística (p=0,390), conforme observado na tabela 10. Com relação aos valores absolutos, o único

afetado pelo gênero foi de linfócitos T CD4 (tabela 10 e figura 13B), que foi maior no sexo feminino

(p=0,019).

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88

Tabela 9 – Influência da idade nas frequências de células T, NKT, NK, CD56dim

e CD56bright

dos indivíduos saudáveis

Mediana da população de células Valor de p (teste de

Mann-Whitney)

Todos os

indivíduos Crianças Adultos Idosos

Crianças vs. Adultos

Adultos vs.

Idosos

Pe

rce

ntu

al (

%)

Linfócitos T 66,79 70,75 66,81 64,54 0,100 0,035 Linfócitos T CD4 43,33 41,80 44,71 45,80 0,262 0,865 Linfócitos T CD8 31,05 31,94 31,05 29,45 0,592 0,815

Células NKT 5,88 5,93 5,90 5,67 0,425 0,533 Células NK 9,58 7,52 8,93 14,85 0,294 <0,001

Subtipo CD56dim

95,34 94,36 94,52 97,45 0,579 0,001 Subtipo CD56

bright 4,66 5,64 5,48 2,59 0,579 0,001

Val

ore

s ab

solu

tos

(cé

lula

s/m

m3 )

leucometria 6400 7620 5500 7545 0,009 0,009 Linfócitos T 1152 1561 1048 1163 0,001 0,622

Linfócitos T CD4 815 979 702 879 0,007 0,296 Linfócitos T CD8 584 779 466 657 0,001 0,139

Células NKT 106 119 94 113 0,333 0,921 Células NK 192 218 141 293 0,028 <0,001

Subtipo CD56dim

184 209 136 279 0,049 <0,001 Subtipo CD56

bright 8 9 7 9 0,579 0,375

Os valores percentuais representam a frequência de células T, T CD4, T CD8, NKT, NK dentro da população de linfócitos, enquanto os percentuais dos subtipos CD56

dim e CD56

bright representam a frequência dentro das células NK. Os valores

estatisticamente significantes de p estão destacados em negrito.

Tabela 10 – Influência do sexo nas frequências de células T, NKT, NK, CD56dim

e CD56bright

dos indivíduos saudáveis

Mediana da população

de células

Valor de p (teste de Mann-Whitney)

Feminino Masculino Feminino vs.

masculino

Pe

rce

ntu

al (

%)

Linfócitos T 68,42 65,99 0,221 Linfócitos T CD4 46,09 42,04 0,007 Linfócitos T CD8 28,45 32,88 0,013

Células NKT 5,67 6,31 0,398 Células NK 8,87 10,02 0,150

Subtipo CD56dim

95,08 95,48 0,548 Subtipo CD56

bright 4,92 4,52 0,548

Val

ore

s ab

solu

tos

(cé

lula

s/m

m3 )

leucometria 6590 6300 0,390 Linfócitos T 1307 1112 0,207

Linfócitos T CD4 930 749 0,019 Linfócitos T CD8 645 553 0,944

Células NKT 112 90 0,734 Células NK 194 190 0,893

Subtipo CD56dim

188 180 0,812 Subtipo CD56

bright 8 8 0,873

Os valores percentuais representam a frequência de células T, T CD4, T CD8, NKT, NK dentro da população de linfócitos, enquanto os percentuais dos subtipos CD56

dim e CD56

bright representam a frequência dentro das células NK. Os valores

estatisticamente significantes de p estão destacados em negrito.

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Figura 12 – Influência da idade nas populações de células dos indivíduos saudáveis. Houve uma redução de % de linfócitos T nos idosos (A) e aumento de valor absoluto de linfócitos T nas crianças (B). Com relação aos subtipos de células T, houve um aumento de valor absoluto de CD4 (C) e CD8 (D) nas crianças. Os idosos apresentaram aumento de células NK tanto percentual (E) quanto absoluto (F). As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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Figura 13 – Influência do gênero nas populações de células dos indivíduos saudáveis. Houve um aumento no sexo feminino tanto no percentual (A) quanto no valor absoluto de (B) de T CD4. Com relação ao T CD8 o valor absoluto estava aumentado no sexo masculino (C), mas não o valor absoluto (D). As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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91

5.1.3 Subpopulações de células NK

Os subtipos de células NK foram identificados de acordo com a intensidade de expressão de

CD56 como observado na figura 8C. Ao examinar o efeito da senescência humana nos subtipos de

células NK (tabela 9), foi observado um aumento significativo no percentual das células citotóxicas

CD56dim (p=0,001, figura 14A) e uma redução no percentual das células produtoras de citocinas

CD56bright com o envelhecimento (p=0,001, figura 14B). A frequência dos dois subtipos de células NK

foi semelhante entre as crianças e adultos (tabela 9 e figura 14). Com relação aos valores absolutos,

houve um aumento de CD56dim nos idosos (p<0.001, figura 14C) e nas crianças (p=0,049, figura 14C).

Não houve influência do gênero nos subtipos de células NK, conforme observado na tabela 10.

Figura 14 – Alteração dos subtipos de células NK com a idade nos indivíduos saudáveis. Ocorreu um aumento do percentual das células citotóxicas CD56

dim (A) e recíproca redução do percentual das células produtoras de citocinas

CD56bright

(B) nos idosos. Com relação aos valores absolutos, houve um aumento do subtipo CD56dim tanto nas crianças quanto nos idosos (C) e não houve alteração no subtipo CD56

bright. As diferenças estatisticamente significantes estão

marcadas com * seguidas do p.

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92

5.1.4 Expressão de receptores da família NCR

Foi investigada a expressão dos três receptores da família NCR: NKp30, NKp44 e NKp46.

Nenhum destes receptores apresentou expressão considerável em células T ou NKT (tabela 11). A

expressão dos receptores NKp30 e Nkp46 ocorreu tanto nas células NK quanto em seus dois

subtipos, porém a frequência de células CD56bright expressando este receptor foi maior do que das

células CD56dim (tabela 11). O receptor NKp44 é um marcador de ativação e não estava

consideravelmente presente em nenhuma população de células em nenhum indivíduo saudável

estudado (tabela 11).

Foi observada uma redução significativa na frequência de células NK expressando NKp30

(p<0,001, figura 15A) e NKp46 (p=0,003, figura 15B) nos idosos (tabela 11). Os idosos também

apresentaram redução da expressão destes dois receptores no subtipo citotóxico CD56dim (p<0,001

para NKp30, figura 15C; p=0,003 para NKp46, figura 15D) e no subtipo produtor de citocinas

CD56bright (p<0,001 para NKp30, figura 15E; p=0,034 para NKp46, figura 15F). Semelhante aos idosos,

as crianças também apresentaram redução de NKp30 tanto nas células NK (p=0,005, figura 15A)

quanto nos subtipos CD56dim (p=0,006, figura 15C) e CD56bright (p=0,003, figura 15E). Entretanto, a

expressão de NKp46 (figuras 15B, D e F) não foi estatisticamente diferente entre as crianças e os

adultos (tabela 11). Não houve influenciada do gênero na expressão de receptores da família NCR

(tabela 12).

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Tabela 11 – Frequência de células T, NKT, NK, CD56dim

e CD56bright

expressando receptores das famílias NCR, lectina tipo C e KIR em diferentes faixas etárias de indivíduos saudáveis.

Mediana (%) população de células expressando cada

receptor Valor do p

(teste de Mann-Whitney)

Família Receptor Todos os

indivíduos Crianças Adultos Idosos

Crianças VS. Adultos

Adultos VS. Idosos

Lin

fóci

tos

T

NCR NKp46 0,05 NA NA NA NA NA NKp44 0,01 NA NA NA NA NA NKp30 0,07 NA NA NA NA NA

Lectina tipo C

CD94 2,65 NA NA NA NA NA NKG2D 35,65 37,58 36,18 28,77 0,108 0,034

KIR

CD158a 0,21 NA NA NA NA NA CD158b 1,00 NA NA NA NA NA CD158e 0,17 NA NA NA NA NA KIRmix 1,12 NA NA NA NA NA CD158i 0,48 NA NA NA NA NA

lula

s N

KT

NCR NKp46 0,95 NA NA NA NA NA Nkp44 0,48 NA NA NA NA NA NKp30 0,94 NA NA NA NA NA

Lectina tipo C

CD94 28,13 28,13 31,48 15,90 0,538 0,009 NKG2D 86,47 88,28 85,06 91,10 0,327 0,533

KIR

CD158a 3,41 5,10 2,73 3,69 0,473 0,528 CD158b 12,03 9,78 12,18 12,62 0,621 1,000 CD158e 3,12 3,54 3,44 2,37 0,592 0,304 KIRmix 18,67 18,35 16,08 22,38 0,633 0,386 CD158i 5,24 3,86 7,55 5,18 0,117 0,865

lula

s N

K

NCR NKp46 77,34 78,79 82,37 67,57 0,499 0,003 NKp44 0,59 NA NA NA NA NA NKp30 46,44 36,85 60,96 33,24 0,005 <0,001

Lectina tipo C

CD94 56,47 49,30 61,09 49,08 0,028 0,014 NKG2D 96,56 94,11 96,74 97,01 0,271 0,961

KIR

CD158a 19,63 19,76 19,63 17,48 0,694 0,929 CD158b 26,42 25,55 26,42 31,46 0,880 0,698 CD158e 11,86 14,18 11,37 6,78 0,193 0,901 KIRmix 50,35 48,77 46,62 53,96 0,588 0,119 CD158i 7,73 4,08 14,54 5,79 0,107 0,704

Sub

tip

o C

D5

6d

im

NCR NKp46 74,97 77,31 81,45 64,75 0,551 0,003 NKp44 0,50 NA NA NA NA NA NKp30 44,47 33,70 59,24 31,67 0,006 <0,001

Lectina tipo C

CD94 55,16 44,38 59,27 45,15 0,012 0,016 NKG2D 95,84 93,61 96,01 96,36 0,327 0,929

KIR

CD158a 20,61 21,75 20,61 17,92 0,635 0,929 CD158b 28,30 25,74 28,30 32,64 0,912 0,777 CD158e 12,27 14,70 11,71 6,91 0,207 0,895 KIRmix 52,87 48,39 49,74 54,98 0,879 0,225 CD158i 7,27 3,60 14,56 4,88 0,106 0,633

Sub

tip

o C

D5

6b

righ

t NCR NKp46 98,09 98,85 98,80 96,15 0,943 0,034 NKp44 1,98 NA NA NA NA NA NKp30 65,30 45,00 91,94 48,73 0,003 <0,001

Lectina tipo C

CD94 95,67 94,42 98,13 93,75 0,126 0,009 NKG2D 98,82 96,62 99,10 98,51 0,092 0,583

KIR

CD158a 4,00 7,20 2,70 6,67 0,007 0,011 CD158b 5,71 9,12 4,38 9,78 0,004 0,003 CD158e 2,81 3,64 1,79 3,73 0,474 0,042 KIRmix 10,76 14,29 7,49 14,39 0,018 0,001 CD158i 5,33 5,00 4,76 10,16 0,391 0,059

Os valores apresentados representam a mediana de percentual de células em cada população que expressa um dado receptor de células NK. Os valores significantes de p estão destacados em negrito. NA – não aplicado, pois a expressão do receptor era muito baixa nesta população de células

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94

Tabela 12 – Distribuição por gênero da frequência de células T, NKT, NK, CD56dim

e CD56bright

expressando receptores das famílias NCR, lectina tipo C e KIR nos indivíduos saudáveis.

Mediana (%) de população

de células expressando cada receptor

Valor do p (teste de Mann-

Whitney)

Família Receptor Feminino Masculino Feminino VS.

masculino Li

nfó

cito

s T

NCR NKp46 NA NA NA NKp44 NA NA NA NKp30 NA NA NA

Lectina tipo C

CD94 NA NA NA NKG2D 29,87 36,95 0,012

KIR

CD158a NA NA NA CD158b NA NA NA CD158e NA NA NA KIRmix NA NA NA CD158i NA NA NA

lula

s N

KT

NCR NKp46 NA NA NA NKp44 NA NA NA NKp30 NA NA NA

Lectina tipo C

CD94 21,09 32,37 0,008 NKG2D 85,35 87,57 0,078

KIR

CD158a 3,61 3,25 0,890 CD158b 8,93 11,99 0,050 CD158e 3,31 2,87 0,627 KIRmix 18,76 17,76 0,707 CD158i 6,08 5,15 0,886

lula

s N

K

NCR NKp46 72,86 79,70 0,171 NKp44 NA NA NA NKp30 35,27 52,35 0,055

Lectina tipo C

CD94 49,30 58,85 0,551 NKG2D 95,65 96,95 0,077

KIR

CD158a 17,01 23,97 0,102 CD158b 28,82 28,08 0,195 CD158e 11,69 12,19 0,973 KIRmix 45,67 53,83 0,254 CD158i 11,70 6,53 0,960

Sub

tip

o C

D5

6d

im

NCR NKp46 69,72 77,82 0,175 NKp44 NA NA NA NKp30 33,58 47,64 0,052

Lectina tipo C

CD94 44,38 56,29 0,321 NKG2D 95,36 96,75 0,077

KIR

CD158a 18,00 24,85 0,133 CD158b 26,09 29,74 0,256 CD158e 12,19 12,67 0,982 KIRmix 48,28 55,21 0,139 CD158i 11,97 5,40 0,982

Sub

tip

o C

D5

6b

righ

t NCR NKp46 98,09 98,22 1,00 NKp44 NA NA NA NKp30 60,24 84,77 0,085

Lectina tipo C

CD94 97,44 94,85 0,982 NKG2D 98,51 98,94 0,465

KIR

CD158a 3,74 4,34 0,864 CD158b 5,64 5,77 0,570 CD158e 3,37 1,22 0,066 KIRmix 11,69 8,78 0,569 CD158i 6,08 4,99 0,884

Os valores apresentados representam a mediana de percentual de células em cada população que expressa um dado receptor de células NK. Os valores significantes de p estão destacados em negrito. NA – não aplicado, pois a expressão do receptor era muito baixa nesta população de células

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95

Figura 15 – Alterações relacionadas à idade na expressão de NCR nos indivíduos saudáveis. Os box plots mostram as frequências de células expressando NCR em células NK (A, B), CD56

dim (C, D) e CD56

bright (E, F). As diferenças

estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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96

5.1.5 Expressão de receptores da família da lectina tipo C

A molécula CD94 se associa com vários membros da família NKG2, portanto, a análise por

citometria de fluxo da expressão de CD94 se aproxima da expressão total destes membros da família

da lectina tipo C. A expressão de CD94 foi muito baixa em células T (<3%, tabela 11), por isso o efeito

da idade e gênero não foi avaliado neste caso. Cerca de 30% dos linfócitos NKT e 55% das células NK

apresentaram expressão de CD94 (tabela 11). Houve uma redução nos idosos da frequência de

células NKT (p=0,009, figura 16A) e NK (P=0,014, figura 16B) expressando CD94 (tabela 11). Com

relação às crianças, houve redução da expressão de CD94 nas células NK (p=0.028, figura 16B), mas

não de linfócitos NKT (tabela 11). A expressão de CD94 também foi analisada nos subtipos de células

NK (tabela 11). Com relação ao envelhecimento, ocorreu uma redução da marcação com anti-CD94

tanto no subtipo citotóxico (p=0,016, figura 16C) quanto no produtor de citocinas (p=0,009, figura

16D). Na infância foi observada uma redução do subtipo CD56dim expressando CD94 (p=0,012, figura

16C), mas o mesmo não ocorreu com as células CD56bright (tabela 11). De um modo geral, o gênero

não afetou a expressão de CD94 (tabela 12). A única exceção ocorreu nos linfócitos NKT, pois houve

maior expressão de CD94 no sexo masculino (p=0,008, figura 16E) em relação ao feminino (tabela

12).

Também foi avaliada a expressão de NKG2D, membro da família da lectina tipo C que não

forma dímeros com CD94. Este receptor foi o único consideravelmente expresso em todas as

populações de células estudas. Aproximadamente 35% dos linfócitos T convencionais, 85% das NKT e

95% das células NK apresentaram expressão de NKG2D (tabela 11). O envelhecimento afetou a

expressão desta molécula apenas em linfócitos T (p=0,034, figura 16F), mas não em linfócitos NKT,

células NK ou seus subtipos (Tabela 11). Não foi observada nenhuma alteração na expressão de

NKG2D na infância (tabela 11). Com relação ao gênero (tabela 12), a única alteração ocorreu em

linfócitos T, onde os indivíduos do sexo masculino apresentavam uma frequência maior de NKG2D

(p=0,012, figura 16G).

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Figura 16 – Alterações na expressão de receptores da família da lectina tipo C nos indivíduos saudáveis com idade e gênero. Os box plots mostram a frequência de células expressando CD94 entre células NKT (A), NK (B), CD56

dim (C) e

CD56bright

(D) em relação à idade. Alteração da expressão de CD94 pelo gênero em células NKT é observada em (E). A frequência de linfócitos T expressando NKG2D é representada por idade em (F) e por gênero em (G). As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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5.1.6 Expressão dos receptores da família KIR

A expressão dos receptores da família KIR foi investigada nos linfócitos T, NKT, células NK e

seus subtipos. Muito poucos linfócitos T convencionais apresentaram expressão de KIR (<1,5%),

portanto os efeitos do envelhecimento e sexo não foram avaliados nesta população (tabela 11). Uma

proporção considerável de células NKT apresentou expressão de KIR, mais em frequência menor do

que as células NK (tabela 11). Não foi observada nenhuma alteração relacionada ao envelhecimento

na expressão de receptores KIR em células NKT ou NK (tabela 11). A expressão destes receptores

também foi avaliada nas subpopulações de células NK. Houve uma maior frequência de positividade

para KIR nas células do subtipo citotóxico (CD56dim) do que do subtipo produtor de citocinas

(CD56bright). Como nas outras populações estudadas, a expressão de receptores KIR não foi afetada

pela faixa etária nas células CD56dim (tabela 11). A frequência de células CD56bright apresentando

marcação por CD158a (figura 17A), CD158b (figura 17B) e KIRmix (figura 17C) estava aumentada

tanto nas crianças quanto nos idosos (tabela 11). A frequencia de células CD56bright expressando

CD158e (p=0,042) também estava aumentada nos idosos, mas não nas crianças (figura 17D e tabela

11). Não houve alteração na expressão de KIR pelo gênero em nenhuma das populações de células

estudadas, com uma única exceção. Houve um aumento na expressão de CD158b no sexo masculino

em células NKT (p=0,050, tabela 12).

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Figura 17 – Alterações com a idade na expressão de receptores da família KIR em células CD56bright

em indivíduos saudáveis. Os box plots representam a frequência de células expressando os receptores KIR individuais (A-C) e KIRmix (D). As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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100

5.1.7 Frequência genotípica de receptores KIR

Foi avaliada a diversidade de conteúdo de genes KIR em 52 indivíduos saudáveis para analisar

seu efeito no envelhecimento. Foi observado um alto grau de variação e foram detectados 17

genótipos distintos (tabela 13). O genótipo 1 foi o mais frequente nas crianças (21,43%) e adultos

(30,43%), mas não estava presente no grupo de idosos (tabela 13). Já o genótipo 7 foi o mais comum

em idosos (20,00%), mas não foi encontrado em nenhum outro grupo de faixa etária (tabela 13).

Com relação ao gênero, o sexo feminino apresentou o perfil genotípico 2 como mais frequente

(16%), seguido dos genótipos 1 e 3, ambos com frequência de 12% (tabela 13). No gênero masculino,

o perfil genotípico 1 foi o mais frequente (25,92%), seguido pelos perfis 2 (18,52%) e 4 (14,81%),

conforme observado na tabela 13.

De acordo com estudos prévios (Maxuel et al., 2004), os genes de receptores KIR ativadores

estavam presentes em uma frequência muito menor que os que codificam receptores KIR inibidores

(figura 18). Análise da frequência individual de cada gene KIR revelou valores comparáveis entre as

três faixas etárias (figura 18A), com exceção do KIR2DL5 e KIR2DS3. A frequência destes dois genes

foi maior nos idosos (KIR2DL5 48% e KIR2DS3 32%) em comparação com os adultos (KIR2DL5 22% e

KIR2DS3 12%, p=0,05), conforme observado na figura 18B. Não foi encontrada nenhuma diferença

estatisticamente significante na frequência dos genes KIR individuais entre os gêneros (figura 18C).

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Tabela 13 – Diferentes conteúdos gênicos dos genótipos KIR detectados e frequência dos genótipos KIR por idade e sexo nos indivíduos saudáveis.

N° do genótipo 2

DL1

2D

L2

2D

L3

2D

L4

2D

L5

2D

P1

2D

S1

2D

S2

2D

S3

2D

S4

2D

S5

3D

L1

3D

L2

3D

L3

3D

P1

3D

S1 Frequência (%)

Todos os indivíduos

Crianças Adultos Idosos Feminino Masculino

1 + + + + - + - - - + - + + + + - 10/52(19,2) 3/14 (21,4) 7/23 (30,4) --------- 3/25 (12,0) 7/27 (25,9)

2 + + + + - + - + - + - + + + + - 9/52 (17,3) 2/14 (14,3) 5/23 (21,7) 2/15 (13,3) 4/25 (16,0) 5/27 (18,5)

3 + + + + + + + + + + - + + + + + 5/52 (9,6) 2/14 (14,3) 2/23 (8,7) 1/15 (6,7) 3/25(12,0) 2/27 (7,4)

4 + - + + - + - - - + - + + + + - 5/52 (9,6) 2/14 (14,3) 1/23 (4,4) 2/15 (13,3) 1/25 (4,0) 4/27 (14,8)

5 + + + + + + + - - + + + + + + + 4/52 (7,7) 2/14 (14,3) 1/23 (4,4) 1/15 (6,7) 2/25 (8,0) 2/27 (7,4)

6 + + + + + + - + + + - + + + + - 3/52 (5,8) --------- 1/23 (4,4) 2/15 (13,3) 2/25(8,0) 1/27 (3,7)

7 + + + + + + + + + + + + + + + + 3/52 (5,8) --------- --------- 3/15 (20,0) 1/25 (4,0) 2/27 (7,4)

8 + - + + + + + - - + + + + + + + 2/52 (3,9) --------- 1/23 (4,4) 1/15 (6,7) 1/25 (4,0) 1/27 (3,7)

9 + - + + + + - + + + - + + + + - 2/52 (3,9) --------- 1/23 (4,4) 1/15 (6,7) 1/25 (4,0) 1/27 (3,7)

10 + + + + + + + + - + + + + + + + 2/52 (3,9) --------- 2/23 (8,7) --------- 1/25 (4,0) 1/27 (3,7)

11 + + + + + + - + + + - + + + + + 1/52 (1,9) 1/14 (7,1) --------- --------- 1/25 (4,0) ---------

12 + + + + + + + + + - + - + + + + 1/52 (1,9) --------- --------- 1/15 (6,7) 1/25 (4,0) ---------

13 + - + + - + - + - + - + + + + + 1/52 (1,9) 1/14 (7,1) --------- --------- 1/25 (4,0) ---------

14 + + + + - + - - - + - + + + + + 1/52 (1,9) 1/14 (7,1) --------- --------- 1/25 (4,0) ---------

15 + + - + + + + + + + - + + + + - 1/52 (1,9) --------- 1/23 (4,4) --------- 1/25 (4,0) ---------

16 - + - + - - - + - + - + + + + - 1/52 (1,9) --------- 1/23 (4,4) --------- --------- 1/27 (3,7)

17 + + + + + + - + - + + + + + + - 1/52 (1,9) --------- --------- 1/15 (6,7) 1/25 (4,0) ---------

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0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

2DL5 2DS3adultos idosos

AA

BB

CC

*p =0,04*p =0,04

*p =0,05*p =0,05

Figura 18 – Análise da frequência individuais dos genes KIR nos indivíduos saudáveis por idade e sexo. Em (A) estão representados os resultados de frequência dos genes KIR individuais do total de doadores saudáveis e a distribuição por faixa etária. Em (B) estão destacados os únicos genes que apresentaram diferença significativa entre as faixas etárias. Em (C) estão apresentados os resultados de frequência de genes KIR individuais por sexo. As freqüências apresentadas foram calculadas com a fórmula: geneF=1-√(1-f).

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5.1.8 Relação entre o genótipo e expressão dos receptores KIR

Os anticorpos utilizados para analisar a expressão de KIR não são capazes de distinguir os

receptores ativadores e inibidores que reconheçam o mesmo ligante HLA. Foi realizada a análise do

genótipo KIR como uma tentativa de fazer esta distinção agrupando as amostras conforme descrito

na tabela 14. A maioria dos casos apresentou apenas receptores KIR inibidores (63,5% dos indivíduos

saudáveis para CD158a, 42,3% para CD158b e 61,5% para CD158e) ou tanto ativador quanto inibidor

(34,6% para CD158a, 57,7% para CD158b e 36,5% para CD158e). Apenas um indivíduo (uma mulher

idosa) entre os 52 analisados apresentou presença do KIR ativador na ausência de seu par inibidor.

Não houve diferença significativa nos grupos de genótipo KIR entre as diferentes faixas etárias

(tabela 14) ou entre os gêneros (tabela 15).

Tabela 14 – Indivíduos saudáveis agrupados de acordo com a relação entre os anticorpos monoclonais anti-KIR e o genótipo KIR distribuídos por idade.

Frequência (%) Valor do p (qui-quadrado/Fisher)

Grupos Todos os indivíduos

crianças adultos idosos Crianças x adultos

Adultos x idosos

CD

15

8a

(2D

L2/2

DS1

) 1 2DL2-/2DS1

- 1/52 (1,9) 0/14 (0,0) 1/23 (4,3) 0/15 (0,0)

0,716 0,469

2 2DL2+/2DS1

- 33/52 (63,5) 10/14 (71,4) 15/23 (65,2) 8/15 (53,3)

3 2DL2-/2DS1

+ 0/52 (0,0) 0/14 (0,0) 0/23 (0,0) 0/15 (0,0)

4 2DL2+/2DS1

+ 18/52 (34,6) 4/14 (28,6) 7/23 (30,4) 7/15 (46,7)

CD

15

8b

(2D

L2/2

DL3

/2D

S2)

1 2DL2-/2DL3

-/2DS2

- 0/52 (0,0) 0/14 (0,0) 0/23 (0,0) 0/15 (0,0)

0,420 0,294

2 2DL2+/2DL3

-/2DS2

-,

2DL2-/2DL3

+/2DS2

- ou

2DL2+/2DL3

+/2DS2

-

22/52 (42,3) 8/14 (57,1) 10/23 (43,5) 4/15 (26,7)

3 2DL2-/2DL3

-/2DS2

+ 0/52 (0,0) 0/14(0,0) 0/23 (0,0) 0/15 (0,0)

4 2DL2+/2DL3

-/2DS2

+,

2DL2-/2DL3

+/2DS2

+ ou

2DL2+/2DL3

+/2DS2

+

30/52 (57,7) 6/14 (42,9) 13/23 (56,5) 11/15 (73,3)

CD

15

8e

(3D

L1/3

DS1

) 1 3DL1-/3DS1

- 0/52 (0,0) 0/14 (0,0) 0/23 (0,0) 0/15 (0,0)

0,171 0,263

2 3DL1+/3DS1

- 32/52 (61,5) 7/14 (50,0) 17/23 (73,9) 8/15 (53,3)

3 3DL1-/3DS1

+ 1/52 (1,9) 0/14 (0,0) 0/23 (0,0) 1/15 (6,7)

4 3DL1+/3DS1

+ 19/52 (36,5) 7/14 (50,0) 6/23 (26,1) 6/15 (40,0)

Grupo 1- Anticorpo não pode reconhecer nenhum receptor KIR do conjunto. Grupo 2 – anticorpo pode reconhecer apenas o(s) receptor (es) KIR inibidor (es) do conjunto. Grupo 3 – anticorpo pode reconhecer apenas o KIR ativador do conjunto. Grupo 4 – o anticorpo pode reconhecer tanto o receptor KIR ativador quanto o inibidor do conjunto.

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Tabela 15 – Indivíduos saudáveis agrupados de acordo com a relação entre os anticorpos monoclonais anti-KIR e o genótipo KIR distribuídos por sexo.

Frequência (%) Valor do p (qui-quadrado/Fisher)

Grupos feminino masculino Feminino x masculino C

D1

58

a

(2D

L2/2

DS1

) 1 2DL2-/2DS1

- 0/25 (0,0) 1/27 (3,7)

0,492

2 2DL2+/2DS1

- 15/25 (60,0) 18/27 (66,7)

3 2DL2-/2DS1

+ 0/25 (0,0) 0/27 (0,0)

4 2DL2+/2DS1

+ 10/25 (40,0) 8/27 (29,6)

CD

15

8b

(2D

L2/2

DL3

/2D

S2)

1 2DL2-/2DL3

-/2DS2

- 0/25 (0,0) 0/27 (0,0)

0,148

2 2DL2+/2DL3

-/2DS2

-,

2DL2-/2DL3

+/2DS2

- ou

2DL2+/2DL3

+/2DS2

-

8/25 (32,0) 14/27 (51,9)

3 2DL2-/2DL3

-/2DS2

+ 0/25 (0,0) 0/27 (0,0)

4 2DL2+/2DL3

-/2DS2

+,

2DL2-/2DL3

+/2DS2

+ ou

2DL2+/2DL3

+/2DS2

+

17/25 (68,0) 13/27 (48,1)

CD

15

8e

(3D

L1/3

DS1

) 1 3DL1-/3DS1

- 0/25 (0,0) 0/27 (0,0)

0,283

2 3DL1+/3DS1

- 13/25 (52,0) 19/27 (70,4)

3 3DL1-/3DS1

+ 1/25 (4,0) 0/27 (0,0)

4 3DL1+/3DS1

+ 11/25 (44,0) 8/27 (29,6)

Grupo 1- Anticorpo não pode reconhecer nenhum receptor KIR do conjunto. Grupo 2 – anticorpo pode reconhecer apenas o(s) receptor (es) KIR inibidor (es) do conjunto. Grupo 3 – anticorpo pode reconhecer apenas o KIR ativador do conjunto. Grupo 4 – o anticorpo pode reconhecer tanto o receptor KIR ativador quanto o inibidor do conjunto.

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5.1.9 Ligantes HLA para os receptores KIR

Foi feita a análise da frequência de genes de HLA que conhecidamente são ligantes para

receptores KIR (HLA-C do grupo 1, HLA-C do grupo 2 e BW4), conforme observado na tabela 16. Em

algumas amostras, por motivos técnicos, não foi possível determinar se havia presença ou ausência

de determinados ligantes HLA, por isso, o número de indivíduos avaliados varia de acordo com o

ligante. Não houve diferença na frequência de ligantes de HLA reconhecidos pelos receptores KIR por

idade (tabela 16) ou gênero (tabela 17).

Tabela 16 – Frequência dos ligantes HLA para os receptores KIR de indivíduos saudáveis distribuído por faixa etária.

Frequência (%) Valor do p

(qui-quadrado/Fisher)

Receptores KIR Ligantes Todos os

indivíduos crianças adultos idosos

crianças x adultos

adultos x idosos

CD158a (2DL2/2DS1)

HLA-C do grupo 1

- 11/43 (25,6) 4/10 (40,0) 4/23 (17,4) 3/10 (30,0) 0,205 0,646

+ 32/43 (74,4) 6/10 (60,0) 19/23 (82,6) 7/10 (70,0)

CD158b (2DL2/2DL3/2DS2)

HLA-C do grupo 2

- 9/47 (19,1) 1/13 (7,7) 6/22 (27,3) 2/12 (16,7) 0,220 0,681

+ 38/47 (80,9) 12/13 (92,3) 16/22 (72,7) 10/12 (83,3)

CD158e (3DL1/3DS1) BW4

- 13/51 (25,5) 2/12 (20,0) 7/24 (29,2) 4/15 (26,7) 0,685 0,582

+ 38/51 (74,5) 10/12 (80,0) 17/24 (64,9) 11/15 (73,3)

Tabela 17 – Frequência dos ligantes HLA para os receptores KIR de indivíduos saudáveis distribuído por gênero

Frequência (%) Valor do p (qui-quadrado/Fisher)

Receptores KIR Ligantes feminino masculino feminino x masculino CD158a

(2DL2/2DS1) HLA-C do grupo 1

- 7/21 (33,3) 4/22 (18,2) 0,255

+ 14/21 (66,7) 18/22 (81,8)

CD158b (2DL2/2DL3/2DS2)

HLA-C do grupo 2

- 5/21 (23,8) 4/26 (15,4) 0,486

+ 16/21 (76,2) 22/26 (84,6)

CD158e (3DL1/3DS1)

BW4 - 6/22 (27,3) 7/29 (24,1) 0,799

+ 16/22 (72,7) 22/29 (75,9)

Foi verificado se a expressão de receptores KIR era influenciada pelo genótipo HLA. O

anticorpo anti-CD158a marca os receptores KIR que reconhecem HLA-C do grupo 2. Houve expressão

deste receptor mesmo nos indivíduos que não apresentavam HLA-C do grupo 2 em seu genótipo

(figura 19). Nas células NKT (figura 19A), a expressão de CD158a foi até maior nos indivíduos que não

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tinham HLA-C do grupo 2. O mesmo ocorreu para o CD158b, cujos receptores KIR reconhecem HLA-C

do grupo 1 (figura 20). A expressão de CD158b ocorreu tanto nos indivíduos que tinham, quanto nos

que não tinham HLA-C do grupo1 em seu genótipo. Isso também foi observado para CD158e, cujos

receptores KIR reconhecem BW4 (figura 21). Houve expressão de CD158e mesmo nos indivíduos que

não tinham BW4 em seu genótipo. Estes resultados mostram que expressão de receptores KIR não

foi induzida pela presença ou ausência de ligantes HLA específicos.

Figura 19- A presença dos genes de ligantes HLA-C do grupo 2 no genoma dos indivíduos saudáveis não influencia na expressão de CD158a. Os indivíduos foram agrupados pela presença (representada nos gráficos pelo sinal +) ou ausência (representado nos gráficos pelo sinal -) dos ligantes HLA do grupo 2 em seu genótipo. Foi comparada a expressão de CD158a (marca os receptores KIR que reconhecem HLA-C do grupo 2) entre estes dois grupos. O teste de Mann-Whitney não mostrou diferença significante em células NKT (p=0,549, figura A), NK (p=0,249, figura B), CD56

dim (p=0,357, figura C)

ou CD56bright

(p=0,416, figura D).

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Figura 20 – A presença dos genes para ligantes HLA-C do grupo 1 no genoma dos indivíduos saudáveis não influencia a expressão de CD158b. Os indivíduos foram agrupados pela presença (representada nos gráficos pelo sinal +) ou ausência (representado nos gráficos pelo sinal -) dos ligantes HLA do grupo 1 em seu genótipo. Foi comparada a expressão de CD158b (marca os receptores KIR que reconhecem HLA-C do grupo 1) entre estes dois grupos. O teste de Mann-Whitney não mostrou diferença significante em células NKT (p=0,752, figura A), NK (p=0,219, figura B), CD56

dim (p=0,209, figura C)

ou CD56bright

(p=1,000, figura D).

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Figura 21 – A presença dos genes de ligantes BW4 no genoma dos indivíduos saudáveis não influencia na expressão de CD158e. Os indivíduos foram agrupados pela presença (representada nos gráficos pelo sinal +) ou ausência (representado nos gráficos pelo sinal -) dos ligantes BW4 em seu genótipo. Foi comparada a expressão de CD158e (marca os receptores KIR que reconhecem BW4) entre estes dois grupos. O teste de Mann-Whitney não mostrou diferença significante em células NKT (p=0,697, figura A), NK (p=0,280, figura B), CD56

dim (p=0,310, figura C) ou CD56

bright (p=0,530, figura D).

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5.1.10 Potencial autoimune de células NK previsto pelo genótipo KIR e HLA

Foi demonstrado que a expressão de receptores KIR não é influenciada pelo genótipo de HLA.

Portanto, é possível que haja células NK com potencial autoimune, ou seja, apresentando receptores

KIR inibidores para os quais não possui ligante HLA ou apresentando receptores KIR ativadores para

os quais apresenta ligante HLA. Baseando-se neste princípio, foi criado um sistema de score de

potencial autoimune (tabela 18). A análise de potencial de autoimunidade foi realizada

primeiramente nos receptores inibidores e ativadores de forma separada, depois os dois foram

estudados juntos. Foi considerado ausência de potencial autoimune quando o indivíduo apresentava

zero como resultado da soma dos pontos do score de autoimunidade. Presença de potencial

autoimune foi considerada quando os indivíduos apresentavam o resultado da soma ≥ 1.

A grande maioria dos indivíduos estudados (78,4%) apresentou pelo menos um potencial

autoimune, sendo que o potencial autoimune para receptores ativadores (58,8%) foi um pouco mais

frequente do que para receptores inibidores (54,9%), conforme observado na tabela 19. A presença

de mais de um grau de autoimunidade, tanto para receptores ativadores (cerca de 20%) quanto para

inibidores (cerca de 8%), foi relativamente rara em comparação com a presença de apenas um

potencial autoimune (tabela 19).

Em seguida foi analisado se os grupos de faixa etária e sexo apresentavam frequência distinta

de potencial autoimune (tabela 20). Não houve diferença considerável de frequência de potencial

autoimune entre crianças, adultos e idosos (tabela 20). Não foi encontrada alteração por gênero

quando o potencial autoimune de receptores ativadores e inibidores foram avaliados em separado

(tabela 20). No entanto, com relação ao potencial autoimune total, que inclui receptores KIR

ativadores e inibidores, houve uma discrepância por sexo: 91,7% das mulheres apresentavam algum

potencial autoimune em comparação com apenas 66,7% dos homens. Esta diferença apresentou

significância estatística (p=0,030), conforme observado na tabela 20.

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Tabela 18 – Sistema de escore de potencial autoimune baseado no genótipo KIR e HLA.

Gene KIR ligantes Potencial

autoimune Pontuação

Re

cep

tore

s

inib

ido

res

KIR2DL1 Presença de HLA-C do grupo 2 não 0 Ausência de HLA-C do grupo 2 sim 1

KIR2DL2 e/ou KIR2DL3

Presença de HLA-C do grupo 1 não 0 Ausência de HLA-C do grupo 1 sim 1

KIR3DL1 Presença de BW4 não 0 Ausência de BW4 sim 1

Re

cep

tore

s

ativ

ado

res

KIR2DS1 Presença de HLA-C do grupo 2 sim 1 Ausência de HLA-C do grupo 2 não 0

KIR2DS2 Presença de HLA-C do grupo 1 sim 1 Ausência de HLA-C do grupo 1 não 0

KIR3DS1 Presença de BW4 sim 1 Ausência de BW4 não 0

Para fazer a análise do potencial autoimune de cada gene KIR foram selecionados apenas os indivíduos que apresentavam o receptor em questão em seu genótipo.

Tabela 19 – Frequências de potencial autoimune encontradas no total de indivíduos saudáveis

Tipo de autoimunidade

Potencial autoimune (frequência %)

Pontuação (frequência %)

Receptores inibidores

Não (45,1%) 0 (45,1%)

Sim (54,9%) 1 (47,1%) 2 (7,8%)

Receptores ativadores

Não (41,2%) 0 (41,2%)

Sim (58,8%) 1 (37,3%) 2 (21,6%)

Receptores inibidores e

ativadores juntos

Não (21,6%) 0 (21,6%)

Sim (78,4%) 1 (35,3%) 2 (21,6%) 3 (21,6%)

Tabela 20 – Frequência de presença de potencial autoimune nos indivíduos saudáveis divididos por faixa etária e gênero

Frequência de presença de potencial autoimune (%) Valor do p (qui-quadrado/Fisher)

Tipo de autoimunidade

crianças adultos idosos feminino masculino crianças x

adultos adultos x

idosos feminino x masculino

Receptores inibidores

53,8 52,2 60,0 62,5 48,1 0,923 0,635 0,304

Receptores ativadores

46,2 60,9 66,7 66,7 51,9 0,393 0,717 0,283

Receptores inibidores e

ativadores juntos 76,9 78,3 80,0 91,7 66,7 1,000 1,000 0,030

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111

5.2 Pacientes com SMD

5.2.1 Características clínicas

A maioria dos pacientes com SMD estudados eram adultos, apenas 6 indivíduos eram idosos.

As idades variaram de 26 a 75 anos e a mediana foi de 48 anos (figura 22). Com relação ao gênero,

foram 16 do feminino e 7 do masculino. A tabela 21 apresenta as características clínicas dos

pacientes estudados. Pela classificação FAB, a grande maioria dos pacientes era AR (82,6%) e apenas

4 casos eram AREB (tabela 22). Pela classificação OMS (tabela 22) o subtipo CDRM o mais frequente

(43,4% dos casos), seguido do CDRU (26,1%). Apenas 4 casos apresentavam SMD com excesso de

blastos (tabela 22). Houve dois casos de SMDi (398/09 e 1080/09), pois os pacientes apresentavam

três citopenias e apenas uma displasia detectada na MO. A OMS (tabela 2) preconiza que a

pancitopenia não pode ocorrer em casos de CDRU, portanto estes pacientes devem ser classificados

como SMD-i. Houve um caso de SMD-t (150/08) em que a paciente desenvolveu SMD cerca de oito

anos após tratamento (TCTH autólogo) para linfoma de Hodgkin.

Figura 22 – Histograma de frequência de idade dos pacientes com SMD

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Tabela 21 – Características clínicas dos pacientes estudados

N° Sexo idade FAB OMS Risco citogenético IPSS WPSS Comportamento clínico

730/09 F 60 AR CDRU hipoplásica Sem mitose 0,5a 0

a Não apresentou evolução da doença

1005/09 M 56 AR CRDM Sem mitose 0,5a 1

a Não apresentou evolução da doença

1662/08 F 70 AR CRDM Sem mitose 0,5a 1

a Abandono do tratamento

348/08 F 31 AR CRDM Alto 1,5 3 Evolução para LMA; óbito 373/09 M 70 AR CRDM Intermediário 1 2 Óbito por infecção pulmonar 388/09 F 72 AR CRDM Baixo 0 2 Evolução para LMA; óbito por sepse 402/08 F 57 AR CRDM Intermediário 0,5 3 História de HPN 450/09 M 58 AR CRDM Baixo 1 1 Não apresentou evolução da doença 950/09 F 47 AR CRDM Intermediário 0,5 2 Passou a apresentar esplenomegalia refratária ao tratamento 207/08 M 36 AR CRDM hipoplásica Baixo 0,5 2 Óbito por sepse 338/08 F 29 AR CRDM mielofibrose Sem mitose 0 3 Não apresentou evolução da doença 1002/08 F 30 AR CRDU Baixo 0,5 1 Não apresentou evolução da doença 1076/09 M 53 AR CRDU Alto 1 3 Óbito por infecção 759/09 F 72 AR CRDU Alto 1,5 3 Óbito por edema pulmonar 1061/09 F 37 AR CRDU hipoplásica Baixo 0,5 0 História de AA 1810/08 F 39 AR CRDU mielofibrose Sem mitose 0,5

a 1

a Paciente tratada em Maceió, só fez exames no Hemorio

398/09 M 75 AR SMD-i Intermediário 1 2b Evolução para LMA; óbito por sepse

1080/09 F 50 AR SMD-i hipoplásica Alto 1,5 3b História de AA

150/08 F 48 AR SMD-t (CRDM) Sem mitose 0,5a 2

a Evolução para LMA; óbito

1007/09 F 27 AREB AREB-2 Baixo 2 3 Evolução para LMA, óbito por AVE hemorrágico 1039/08 F 33 AREB AREB-2 Baixo 1,5 3 Óbito por infecção 1495/09 F 48 AREB AREB-2 Alto 2 5 Abandonou o tratamento; óbito por hérnia 1682/08 M 26 AREB AREB-2 Alto 2 6 História de AA; óbito por infecção/DECH

NA – não se aplica. aIPSS ou WPSS mínimo devido à falta de dados citogenéticos e

bdiagnóstico morfológico não incluído nos critérios WPSS, ambos de acordo com o sugerido por Chamuleau et al.,

2009.\ DECH – doença enxerto contra hospedeiro, AVE – acidente vascular encefálico.

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IPSS intermediário II

IPSS baixo/ intermediário I

IPSS intermediário II

IPSS baixo/ intermediário I

AA

Pacientes tratados com imunossupressão/imunomodulação

Pacientes não tratados com imunossupressão/ imunomodulação

Pacientes tratados com imunossupressão/imunomodulação

Pacientes não tratados com imunossupressão/ imunomodulação

BB

CC

WPSS muito baixo/baixo

WPSS intermediário/alto/muito alto

P=0,196 P=0,026

P=0,001

Figura 23 – Curvas de sobrevida global. Pacientes com SMD separados pelas classificações de risco IPSS (A), WPSS (B) e pelo tratamento com imunossupressão/imunomodulação (C).

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Houve 6 casos em que não foi possível avaliar o risco citogenético por falta de metáfases na

MO. O risco citogenético foi considerado baixo em 30,4%, intermediário em 17,4% e apenas 26,1%

apresentaram aberrações citogenéticas consideradas de mau prognóstico (tabela 22). A análise de

IPSS mostrou que 8,7% dos pacientes apresentaram risco baixo e 60,9% de risco intermediário I

(tabela 22). Foi observado na análise de Kaplan-meier (figura 23A) que os pacientes destes dois

grupos de IPSS apresentavam sobrevida melhor do que os de IPSS intermediário II (30,4% dos casos,

tabela 22), mas esta diferença não foi estatisticamente significante (teste de Tarone-ware, p=0,196).

Com relação ao WPSS, a maioria dos pacientes (69,6%) estava com classificação de risco

intermediário ou superior (tabela 22). A análise de Kaplan-meier (figura 23B) mostrou que os

pacientes destes grupos de risco (intermediário, alto e muito alto) apresentavam uma pior sobrevida

em comparação com os casos de risco muito baixo/baixo, com um p de 0,026 pelo teste de Mantel-

Cox. Poucos pacientes com SMD apresentavam valores baixos de WPSS e foram classificados como

risco muito baixo (8,7%) ou baixo (21,7%) pelo WPSS (tabela 22).

Conforme recomendado pela OMS, a celularidade da MO foi acessada preferencialmente

pelo resultado da biópsia de MO. Só foi avaliada pelo mielograma nos poucos casos em que a biópsia

não foi realizada. A maioria dos casos foi hipercelular (56,5%), seguidos de hipocelular (26,1%) e

normocelular (17,4%), conforme observado na tabela 22. Com relação ao número de citopenias, a

grande maioria apresentava três (39,1%) ou duas (34,8%), sendo que os tipos mais frequentes foram

anemia (78,3%) e plaquetopenia (73,9%), tabela 22. A maioria dos casos de SMD não apresentava

associação com AA ou HPN e apenas 5 casos evoluíram para leucemia (tabela 22).

As estratégias de tratamento utilizadas nos casos de SMD foram bem variadas (tabela 22).

Grande parte dos pacientes foi tratada com transfusões (47,8%). O uso de fatores de crescimento,

como EPO e GCSF, também foi muito frequente (39,1% dos casos), seguido pelo uso de vitaminas,

ácido fólico e/ou compostos com ferro (30,4%). A quimioterapia (principalmente hydrea) foi aplicada

em apenas 4 casos. Como a maioria dos pacientes era jovem e estava com classificação de risco

elevada, o TCTH foi frequente, sendo utilizado em 30,4% dos casos (tabela 22).

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Tabela 22 – Resumo das principais características clínicas dos 23 pacientes com SMD

Frequência (%)

Subtipos FAB AR 19 (82,6%) AREB 4 (17,4%)

Subtipos OMS CRDU 6 (26,1%) CRDM 10 (43,4%) AREB-1 0 (0%) AREB-2 4 (17,4%) SMD-i 2 (8,7%) SMD-t 1 (4,3%)

Risco citogenético Sem citogenética 6 (26,1%) Baixo 7 (30,4%) intermediário 4 (17,4%) alto 6 (26,1%)

IPSS Baixo 2 (8,7%) Intermediário I 14 (60,9%) Intermediário II 7 (30,4%) Alto 0 (0%)

WPSS Muito baixo 2 (8,7%) Baixo 5 (21,7%) Intermediário 6 (26,1%) Alto 8 (34,8%) Muito Alto 2 (8,7%)

Celularidade da MO Hipocelular 6 (26,1%) Normocelular 4 (17,4%) hipercelular 13 (56,5%)

Tratamento Imunossupressão/imunomodulação 11 (47,8%) Vitaminas, ferro e/ou ácido fólico 7 (30,4%) Fatores de crescimento (EPO e/ou GCSF)

9 (39,1%)

transfusões 11 (47,8%) Quimioterapia 4 (17,4%) TCTH 7 (30,4%)

Doenças relacionadas

Evolução para LMA 5 (21,7%) História de AA 5 (21,7%) História de HPN 1 (4,3%)

N° de citopenias 1 4 (17,4%) 2 8 (34,8%) 3 9 (39,1%)

Tipos de citopenias Anemia 18 (78,3%) Neutropenia 12 (52,2%) plaquetopenia 17 (73,9%)

O tratamento com drogas imunossupressoras ou imunomoduladoras, como ATG,

ciclosporina, predisona e talidomida, ocorreu em quase a metade dos casos analisados (47,8%),

conforme observado na tabela 22. A maioria destes pacientes (7 dos 11) estava em grupos de risco

elevados pelo WPSS (intermediário ou superior). Os pacientes tratados com

imunossupressão/imunomodulação apresentaram sobrevida consideravelmente maior do que os

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que não receberam este tratamento (figura 23C). Esta diferença foi confirmada pelo teste de Mantel-

Cox, que apresentou significância de 0,001.

Também foi avaliado se outras características clínicas afetaram a sobrevida dos pacientes

com SMD. No entanto não houve significância estatística para os outros tipos de tratamento (TCTH,

quimioterapia, transfusão e etc.), celularidade da medula óssea (hiper, normo e hipocelular), número

de citopenias, número de displasias ou risco citogenético.

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5.2.2 Atividade citotóxica

Foi avaliada a atividade citotóxica de 12 pacientes em comparação com 53 indivíduos

saudáveis (figura 24). Não foi possível realizar este ensaio para todos os pacientes, pois devido às

citopenias, muitas vezes o número de células mononucleares obtidas não chegava a 5x106 células/ml,

necessária para a realização desta metodologia.

Os pacientes com SMD apresentaram atividade NK diminuída, mediana de 25/1 de 48,48%

em comparação com 70,50% para os indivíduos saudáveis, com significância estatística (p=0,025,

figura 24). Foi avaliado se as características clínicas apresentavam relação com a atividade NK, mas

não foi significativo a celularidade (p=0,800), número de citopenias (p=0,500), risco citogenético

(p=0,500), IPSS (p=0,368), WPSS (p=0,530) ou óbito (p=0,485).

Figura 24 – Atividade NK dos pacientes com SMD em comparação com os indivíduos saudáveis. As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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118

5.2.3 Populações de células T, NKT e NK

Foi analisado se os grupos de pacientes apresentavam alterações nas populações de células

T, NKT e NK (tabela 23). O percentual de linfócitos T dos pacientes com SMD foi semelhante ao dos

indivíduos saudáveis, assim como os de linfócitos TCD4, TCD8 e NKT (tabela 23). Com relação ao

percentual de células NK, os pacientes com SMD também apresentaram valores semelhantes aos

controles (tabela 23).

Os pacientes com SMD não foram divididos por faixa etária, pois a grande maioria era de

adultos, havendo poucos idosos. No entanto, como a frequência de células NK aumenta com o

envelhecimento saudável, também foi realizada a comparação do total de casos de SMD com os

indivíduos saudáveis divididos por faixa etária. Foi observado que o percentual de células NK dos

pacientes com SMD (mediana de 7,87%) estava reduzido em comparação aos idosos saudáveis

(mediana de 14,85%, p=0,001), mas não em comparação aos adultos saudáveis (mediana de 8,93%).

Tabela 23 – Comparação das frequências de células T, NKT, NK, CD56dim

e CD56bright

entre os indivíduos saudáveis e os pacientes com SMD

Mediana da população

de células Valor de p (teste de Mann-Whitney)

Indivíduos saudáveis

SMD SMD vs.

Indivíduos saudáveis

Pe

rce

ntu

al (

%)

Linfócitos T 66,79 65,65 0,479 Linfócitos T CD4 43,33 39,53 0,146 Linfócitos T CD8 31,05 35,15 0,356

Células NKT 5,88 6,01 0,075 Células NK 9,58 7,87 0,188

Subtipo CD56dim

95,34 98,08 0,004 Subtipo CD56

bright 4,66 1,92 0,004

Val

ore

s ab

solu

tos

(cé

lula

s/m

m3 )

leucometria 6400 3800 0,002 Linfócitos T 1152 734 0,006

Linfócitos T CD4 815 450 0,005 Linfócitos T CD8 584 427 0,127

Células NKT 106 108 0,933 Células NK 192 95 0,016

Subtipo CD56dim

184 91 0,022 Subtipo CD56

bright 8 3 0,001

Os valores percentuais representam a frequência de células T, T CD4, T CD8, NKT, NK dentro da população de linfócitos, enquanto os percentuais dos subtipos CD56

dim e CD56

bright representam a frequência dentro das células NK. Os valores

estatisticamente significantes de p estão destacados em negrito.

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A leucometria dos pacientes com SMD (mediana de 3800 células/mm3) estava reduzida em

comparação com os indivíduos saudáveis (mediana de 6400 células/mm3), com uma significância

estatística de 0,002 (tabela 23 e figura 25A). Isso também ocorreu ao comparar os pacientes apenas

com os adultos saudáveis (mediana de 5500) ou com os idosos saudáveis (mediana de 7545), com p

respectivamente de 0,030 e 0,005. Com relação aos valores absolutos, os pacientes com SMD

apresentaram uma redução nos linfócitos T (figura 25B), TCD4 (figura 25C) e células NK (figura 25D),

mas não no subtipo TCD8 ou linfócitos NKT (tabela 23). Ao separar os controles por faixa etária, foi

observado que a redução dos valores absolutos de células NK na SMD (95 células/mm3) é

estatisticamente significativa ao comparar com os idosos saudáveis (293 células/mm3, p<0,001) e

não com os controles adultos (141 células/mm3).

Foi avaliado se as características clínicas apresentavam alguma relação com os valores

percentuais ou absolutos das populações de células de interesse. Entretanto, não houve diferença

com relação à celularidade, número de citopenias, risco citogenético, IPSS ou WPSS. A única

associação estatisticamente significante foi com relação ao óbito e o percentual de células T

(p=0,037) e percentual de células NK (p=0,037), conforme observado na figura 26. Os pacientes com

SMD que permaneceram vivos apresentaram um maior percentual de células T (mediana de 69,80%)

e menor de células NK (mediana de 5,88%) do que os que foram a óbito (respectivamente, mediana

de 57,60% e 11,02%).

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Figura 25 – Populações de células dos pacientes com SMD em comparação aos indivíduos saudáveis. Houve uma redução na leucometria (A) e nos valores absolutos de linfócitos T (B), linfócitos TCD4 (C) e células NK (D) dos pacientes SMD em comparação aos controles. As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

Figura 26 – Os percentuais de linfócitos T (A) e células NK (B) em relação ao óbito de pacientes com SMD. As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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5.2.4 Subpopulações de células NK

Apesar do percentual de células NK não estar afetado na SMD, houve alteração nos seus dois

subtipos. Houve um aumento no subtipo CD56dim e redução do subtipo CD56bright na SMD, em relação

aos controles, p=0,004 para os dois subtipos (tabela 23 e figura 27). Estas alterações ficam mais

acentuadas (ambas apresentando p=0,001) ao compararmos os pacientes com SMD (medianas de

98,08% para CD56dim e 1,92% para CD56brigth) apenas aos controles adultos (94,52% de CD56dim e

5,48% de CD56bright). Não houve diferença estaticamente significante entre controles idosos (97,45%

de CD56dim e 2,59% de CD56bright) e os pacientes com SMD, pois o envelhecimento saudável leva um

aumento do subtipo citotóxico e uma redução do produtor de citocinas.

Com relação aos valores absolutos, provavelmente devido à baixa leucometria, houve na

SMD uma redução tanto de CD56dim quanto CD56bright em comparação aos indivíduos saudáveis,

respectivamente p=0,022 e 0,001 (tabela 23 e na figura 27). Esta redução ocorreu principalmente

comparação aos controles idosos (p<0,001 para os dois subtipos), pois o envelhecimento saudável

leva a um aumento no número de células NK.

Por último, foi avaliado se as características clínicas apresentavam influência nos subtipos de

células NK, mas não foi significativo com relação à celularidade, número de citopenias, risco

citogenético, IPSS, WPSS ou óbito.

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Figura 27 – Alteração dos subtipos de células NK nos pacientes com SMD. Ocorreu um aumento do percentual das células citotóxicas CD56

dim na SMD (A), mas o valor absoluto deste subtipo estava reduzido (B). Com relação ao subtipo CD56

bright,

houve uma redução tanto no valor percentual (C) quanto no valor absoluto (D). As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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5.2.5 Expressão de receptores da família NCR

Assim como os controles, os linfócitos T e células NKT dos pacientes não apresentaram

expressão de receptores da família NCR (tabelas 24). O receptor NKp44 é marcador de células NK

ativadas e não foi consideravelmente expresso nas células NK e seus subtipos de pacientes (tabela

24). Com relação ao receptor NKp46, os pacientes com SMD apresentaram redução tanto nas células

NK (p=0,004) quanto nos subtipos citotóxico (p=0,004) e produtor de citocinas (p=0,004), tabela 24 e

figura 28. O receptor NKp30 também estava reduzido na SMD tanto nas células NK (p<0,001) quanto

no subtipo CD56dim (p<0,001), mas não no subtipo CD56bright (tabela 24 e figura 28). Como a

expressão dos receptores da família NCR é reduzida no envelhecimento saudável, ao compararmos

os pacientes com SMD apenas com os adultos saudáveis, a diferença fica acentuada tanto para

células NK (p<0,001 para NKp46 e NKp30) quanto para o subtipo citotóxico (p=0,001 para NKp46 e

p<0,001 para NKp30) e produtor de citocinas (p=0,004 para NKp46 e p=0,002 para NKp30). Em

relação apenas aos controles idosos, os pacientes com SMD apresentam redução de NKp30 nas

células NK (p=0,035) e no subtipo CD56dim (p=0,030), mas não no subtipo CD56bright. A expressão de

NKp46 foi semelhante entre os casos com SMD e os idosos saudáveis.

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Tabela 24 - Frequência de células T, NKT, NK, CD56dim

e CD56bright

expressando receptores das famílias NCR, lectina tipo C e KIR nos pacientes com SMD em comparação aos indivíduos saudáveis.

Mediana de população de células expressando cada

receptor

Valor do p (teste de Mann-Whitney)

Família Receptor Indivíduos saudáveis

SMD Indivíduos saudáveis VS. SMD

Lin

fóci

tos

T

NCR NKp46 0,05 0,07 NA NKp44 0,01 0,02 NA NKp30 0,07 0,05 NA

Lectina tipo C

CD94 2,65 2,19 NA NKG2D 35,65 37,29 0,427

KIR CD158a 0,21 0,15 NA CD158b 1,00 0,77 NA CD158e 0,17 0,20 NA KIRmix 1,12 1,38 NA CD158i 0,48 0,23 NA

lula

s N

KT

NCR NKp46 0,95 0,81 NA Nkp44 0,48 0,41 NA NKp30 0,94 0,51 NA

Lectina tipo C

CD94 28,13 27,67 0,846 NKG2D 86,47 83,57 0,248

KIR CD158a 3,41 2,25 0,715 CD158b 12,03 13,98 0,993 CD158e 3,12 3,59 0,548 KIRmix 18,67 23,16 0,598 CD158i 5,24 4,00 0304

lula

s N

K

NCR NKp46 77,34 47,43 0,004 NKp44 0,59 0,69 NA NKp30 46,44 16,93 <0,001

Lectina tipo C

CD94 56,47 59,30 0,566 NKG2D 96,56 89,10 <0,001

KIR CD158a 19,63 14,72 0,134 CD158b 26,42 30,54 0,825 CD158e 11,86 10,56 0,584 KIRmix 50,35 57,66 0,223 CD158i 7,73 10,90 0,939

Sub

tip

o C

D5

6d

im

NCR NKp46 74,97 45,43 0,004 NKp44 0,50 0,41 NA NKp30 44,47 14,45 <0,001

Lectina tipo C

CD94 55,16 57,93 0,572 NKG2D 95,84 88,26 <0,001

KIR CD158a 20,61 14,84 0,135 CD158b 28,30 31,19 0,751 CD158e 12,27 10,05 0,664 KIRmix 52,87 57,81 0,320 CD158i 7,27 10,86 0,993

Sub

tip

o C

D5

6b

righ

t

NCR NKp46 98,09 90,00 0,004 NKp44 1,98 3,14 NA NKp30 65,30 51,97 0,112

Lectina tipo C

CD94 95,67 93,17 0,089 NKG2D 98,82 97,20 0,039

KIR CD158a 4,00 10,00 0,037 CD158b 5,71 6,43 0,472 CD158e 2,81 8,00 0,004 KIRmix 10,76 16,47 0,015 CD158i 5,33 7,48 0,341

Os valores apresentados representam a mediana de percentual de células em cada população que expressa um dado receptor de células NK. Os valores significantes de p estão destacados em negrito. NA – não aplicado, pois a expressão do receptor era muito baixa nesta população de células.

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125

Figura 28 - Expressão de receptores da família NCR na SMD. Os box plots mostram as frequências de células expressando NCR em células NK (A, B), CD56

dim (C, D) e CD56

bright (E, F). As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com

* seguidas do p.

Foi avaliado se os dados clínicos apresentavam alguma relação com a expressão de

receptores da família NCR. Não foi encontrada alteração com relação ao IPSS ou óbito. Foi observado

que o receptor NKp46 nas células NK e no subtipo citotóxico apresentou alteração com o número de

citopenias e o risco citogenético (figura 29). A expressão de NKp30 foi afetada nas células NK e no

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126

subtipo CD56dim pelo risco citogenético, e nas células CD56bright pela celularidade da MO e risco WPSS

(figura 30).

Figura 29 – Relação entre os dados clínicos e expressão de NKp46 nos pacientes com SMD. O número de citopenias afetou a expressão de NKp46 (A) em células NK e no subtipo CD56

dim (B). O risco citogenético também apresentou uma relação

com a frequência de NKp46 nas células NK (C) e no subtipo citotóxico (D). As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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Figura 30 - Relação entre os dados clínicos e expressão de NKp30 nos pacientes com SMD. O risco citogenético apresentou uma relação com a frequência de NKp46 nas células NK (A) e no subtipo citotóxico (B). A expressão de NKp30 nas células CD56

bright apresentou relação com a celularidade da medula óssea (C) e com o risco WPSS (D). As diferenças

estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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128

5.2.6 Expressão de receptores da família da lectina tipo C

A expressão de CD94 na SMD foi semelhante aos controles (tabela 24). Os pacientes com

SMD apresentaram expressão normal de NKG2D nos linfócitos T e NKT, mas redução deste receptor

ativador nas células NK e seus dois subtipos (tabela 24 e figura 31). Com relação aos dados clínicos

dos pacientes com SMD, não houve efeito do número de citopenias, risco citogenético, IPSS ou WPSS

na expressão de receptores da família da lectina tipo C. O CD94 apresentou a expressão reduzida nas

células NK e no subtipo citotóxico nos pacientes com SMD que sofreram óbito (figura 32). Já a

expressão de NKG2D foi afetada, tanto nos linfócitos T, quanto nas células NK e seus dois subtipos

pela celularidade da medula óssea (figura 33).

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Figura 31 - Expressão do receptor NKG2D da família da lectina tipo C nos pacientes com SMD. Os box plots mostram a frequência de células expressando NKG2D entre células NK (A) e seus subtipos CD56

dim (B) e CD56

bright (C). As diferenças

estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

Figura 32 – Relação entre o óbito dos pacientes com SMD e a expressão de CD94 em células NK e no subtipo CD56dim

. As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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Figura 33 – Relação entre a celularidade da medula óssea dos pacientes com SMD e a expressão de NKG2D em linfócitos T (A), células NK (B) e seus subtipos CD56

dim (C) e CD56

bright. As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas

com * seguidas do p.

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131

5.2.7 Expressão dos receptores da família KIR

O grupo de SMD apresentou expressão de receptores KIR semelhante aos controles tanto

para as células NKT quanto para as células NK e seus subtipo CD56dim (tabela 24). Foi observado um

aumento da maioria dos receptores KIR das células CD56bright dos pacientes com mielodisplasia:

p=0,037 para CD158a, 0,004 para CD158e e 0,015 para KIRmix (tabela 24 e figura 34). Como o

envelhecimento saudável levou a um aumento da expressão de KIR nas células produtoras de

citocinas, os casos de SMD foram comparados de forma separada com os controles adultos e idosos.

Houve um aumento na expressão de CD158a (p=0,002), CD158e (p=0,001) e KIR mix (p<0,001) em

comparação aos adultos saudáveis. A expressão destes receptores foi semelhante entre pacientes

com SMD e os controles idosos.

Foi avaliada a relação entre os dados clínicos dos pacientes com SMD e a expressão de

receptores da família KIR. Não foi observada nenhuma diferença significativa em função do número

de citopenias ou risco citogenético. Com relação à celularidade de medula óssea, a única alteração

encontrada foi a redução na expressão de CD158a nos casos hipoplásicos (figura 35A). Os pacientes

com classificação de risco IPSS elevado apresentaram redução na expressão de CD158e nos linfócitos

NKT (figura 35B). O WPSS afetou a expressão de CD158i nas células NKT (figura 35C) e CD158a nas

células NK (figura 35D). Houve uma relação entre óbito e expressão de CD158a (figura 35E) e CD158i

nas células CD56bright (figura 35F) dos pacientes com SMD.

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Figura 34 - Expressão dos receptores da família KIR nas células CD56bright

de pacientes com SMD. Os box plots mostram a frequência de células CD56

bright expressando (A) CD158a, (B) CD158b, (C) CD158e, (D) KIRmix e (E) CD158i. As diferenças

estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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133

Figura 35 – Relação entre os dados clínicos dos pacientes com SMD e expressão de receptores da família KIR. O CD158a estava reduzido nas células CD56

bright dos pacientes que apresentavam hipocelularidade medular (A). O CD158e estava

reduzido nas células NKT dos pacientes que apresentavam risco IPSS elevado (B). O grupo de risco de WPSS elevado apresentou menor expressão de CD158i nos linfócitos NKT (C) e maior expressão de CD158a nas células NK (D). Os pacientes que permaneceram vivos apresentaram menor expressão de CD158a (E) e maior expressão de CD158i (F) nas células CD56

bright. As diferenças estatisticamente significantes estão marcadas com * seguidas do p.

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134

5.2.8 Frequência genotípica de receptores KIR

Foi analisado o genótipo KIR em 17 pacientes com SMD e foram encontrados 11 perfis

distintos (tabela 25). O genótipo KIR mais frequente (29,4%) foi o perfil 4, pouco presente nos

indivíduos saudáveis (9,6%). Houve 5 perfis genotípicos identificados nos pacientes com SMD (18 ao

22) que não estava presente nos controles (tabela 25). A frequência dos genes KIR individuais dos

pacientes com SMD está representada na figura 36. O teste de qui-quadrado/Fisher mostrou que não

há diferença estatisticamente significante na distribuição dos genes KIR individuais entre os

pacientes com SMD e os indivíduos saudáveis.

Foi avaliado se havia relação entre a frequência dos genes KIR e os dados clínicos. Não foi

encontrado resultado estatisticamente significante para celularidade, número de citopenias, risco

citogenético, IPSS ou WPSS. No entanto, houve uma relação entre a frequência de genes KIR

individuais e a sobrevida. Os pacientes com ausência de KIR2DL2 (p=0,032), KIR2DS1 (p=0,019) e

KIR2DS5 (p=0,019) apresentaram melhor sobrevida do que os pacientes que portavam estes genes

(figura 37).

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135

Tabela 25 - Diferentes conteúdos gênicos dos genótipos KIR detectados e frequência dos genótipos KIR nos pacientes com SMD

N° do genótipo

2D

L1

2D

L2

2D

L3

2D

L4

2D

L5

2D

P1

2D

S1

2D

S2

2D

S3

2D

S4

2D

S5

3D

L1

3D

L2

3D

L3

3D

P1

3D

S1 Frequência (%)

Indivíduos saudáveis SMD

1 + + + + - + - - - + - + + + + - 10/52(19,2) 1/17 (5,9)

2 + + + + - + - + - + - + + + + - 9/52 (17,3) 2/17 (11,8)

3 + + + + + + + + + + - + + + + + 5/52 (9,6) ---------

4 + - + + - + - - - + - + + + + - 5/52 (9,6) 5/17 (29,4)

5 + + + + + + + - - + + + + + + + 4/52 (7,7) 1/17 (5,9)

6 + + + + + + - + + + - + + + + - 3/52 (5,8) ---------

7 + + + + + + + + + + + + + + + + 3/52 (5,8) ---------

8 + - + + + + + - - + + + + + + + 2/52 (3,9) ---------

9 + - + + + + - + + + - + + + + - 2/52 (3,9) 1/17 (5,9)

10 + + + + + + + + - + + + + + + + 2/52 (3,9) 2/17 (11,8)

11 + + + + + + - + + + - + + + + + 1/52 (1,9) ---------

12 + + + + + + + + + - + - + + + + 1/52 (1,9) ---------

13 + - + + - + - + - + - + + + + + 1/52 (1,9) ---------

14 + + + + - + - - - + - + + + + + 1/52 (1,9) ---------

15 + + - + + + + + + + - + + + + - 1/52 (1,9) ---------

16 - + - + - - - + - + - + + + + - 1/52 (1,9) ---------

17 + + + + + + - + - + + + + + + - 1/52 (1,9) ---------

18 + + - + + + + + + + + + + + + - --------- 1/17 (5,9)

19 + + - + + + + + - + + + + + + + --------- 1/17 (5,9)

20 + + - + + + + + + + + + + + + + --------- 1/17 (5,9)

21 + + + + + + - - + + - + + + + - --------- 1/17 (5,9)

22 + + + + + + + + + - + + + + + + --------- 1/17 (5,9)

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136

Figura 36 - Analise das frequências individuais dos genes KIR nos pacientes com SMD. As frequências apresentadas foram calculadas com a fórmula: gene F=1-√(1-f).

Figura 37 – Curvas de sobrevida dos pacientes com SMD separados pelo genótipo KIR. Sobrevida em relação à presença de KIR2DL2 (A), KIR2DS1 (B) e KIR2DS5 (C).

P= 0,032 p=0,019

p=0,019

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137

5.2.9 Relação entre o genótipo e expressão dos receptores KIR

Os pacientes com SMD foram agrupados de acordo com os grupos de genótipo KIR

reconhecidos pelos anticorpos monoclonais utilizados (tabela 26). Assim como nos controles, a

maioria dos pacientes apresentou em seu genótipo apenas o receptor inibidor do conjunto ou ambos

ativadores e inibidores. Entre os casos de SMD, nenhum apresentou apenas o ativador do par.

Tabela 26 – Pacientes com SMD agrupados de acordo com a relação entre os anticorpos monoclonais anti-KIR e o genótipo KIR.

Frequência (%) Valor do p

(qui-quadrado/Fisher)

Grupos Indivíduos saudáveis

SMD Indivíduos saudáveis x

SMD

CD

15

8a

(2D

L2/2

DS1

) 1 2DL2-/2DS1

- 1/52 (1,9) 0/17 (0,0)

0,770

2 2DL2+/2DS1

- 33/52 (63,5) 10/17 (58,8)

3 2DL2-/2DS1

+ 0/52 (0,0) 0/17 (0,0)

4 2DL2+/2DS1

+ 18/52 (34,6) 7/17 (41,2)

CD

15

8b

(2D

L2/2

DL3

/2D

S2)

1 2DL2-/2DL3

-/2DS2

- 0/52 (0,0) 0/17 (0,0)

0,732

2 2DL2+/2DL3

-/2DS2

-,

2DL2-/2DL3

+/2DS2

- ou

2DL2+/2DL3

+/2DS2

-

22/52 (42,3) 8/17 (47,1)

3 2DL2-/2DL3

-/2DS2

+ 0/52 (0,0) 0/17 (0,0)

4 2DL2+/2DL3

-/2DS2

+,

2DL2-/2DL3

+/2DS2

+ ou

2DL2+/2DL3

+/2DS2

+

30/52 (57,7) 9/17 (52,9)

CD

15

8e

(3D

L1/3

DS1

) 1 3DL1-/3DS1

- 0/52 (0,0) 0/17 (0,0)

0,838

2 3DL1+/3DS1

- 32/52 (61,5) 11/17 (64,7)

3 3DL1-/3DS1

+ 1/52 (1,9) 0/17 (0,0)

4 3DL1+/3DS1

+ 19/52 (36,5) 6/17 (35,3)

Foi avaliado se a presença destes conjuntos de genótipo KIR apresentava alguma influência

nos dados clínicos, mas não foi encontrada significância estatística com relação à celularidade,

número de citopenias, risco citogenético, IPSS ou WPSS. A única alteração observada foi ligada a

sobrevida. Os pacientes que apresentaram em seu genótipo apenas o receptor inibidor do conjunto

de CD158a apresentaram melhor sobrevida em comparação aos que tinham tanto o inibidor quanto

o ativador (p=0,019, figura 38). Com relação aos conjuntos de CD158b e CD158e não houve

influência na sobrevida.

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Figura 38 – Sobrevida dos pacientes com SMD agrupados pelos conjuntos de genes reconhecidos pelo anticorpo anti-CD158a.

p=0,019

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139

5.2.10 Ligantes HLA para os receptores KIR

A presença de ligantes HLA para os receptores KIR foi estudada no genótipo dos pacientes

com SMD (tabela 27). Os casos de SMD apresentaram frequência de HLA-C do grupo 1, HLA-C do

grupo 2 e BW4 semelhante aos controles (tabela 27). Conforme para os indivíduos saudáveis, através

do teste de Mann-Whitney foi observado nos pacientes com SMD que a expressão de receptores

CD158a, CD158b e CD158e não foi influenciada, respectivamente, pela presença ou ausência de

ligantes HLA-C do grupo 2, HLA-C do grupo 1 ou BW4, nem em linfócitos NKT, células NK ou seus

subtipos.

Por último, foi estudado se os dados clínicos dos pacientes com SMD apresentavam alguma

relação com a frequência de ligantes HLA para os receptores KIR. No entanto, não foi encontrada

significância estatística para celularidade da medula óssea, número de citopenias, risco citogenético,

IPSS, WPSS ou óbito.

Tabela 27 - Frequência dos ligantes HLA para os receptores KIR dos pacientes com SMD

Frequência (%) Valor do p

(qui-quadrado/Fisher)

Indivíduos saudáveis

SMD Indivíduos saudáveis x SMD

HLA-C do grupo 1

- 11/43 (25,6) 2/16 (12,5) 0,240

+ 32/43 (74,4) 14/16 (87,5)

HLA-C do grupo 2

- 9/47 (19,1) 7/17 (41,2) 0,073

+ 38/47 (80,9) 10/17 (58,8)

BW4 - 13/51 (25,5) 4/18 (22,2) 0,527

+ 38/51 (74,5) 14/18 (77,8)

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140

5.2.11 Potencial autoimune de células NK previsto pelo genótipo KIR e HLA

O mesmo escore de potencial de autoimunidade aplicado nos indivíduos saudáveis foi

utilizado nos pacientes com SMD (tabela 28). Os pacientes com SMD apresentaram uma alta

frequência de potencial autoimune, sem diferença estatisticamente significante para os controles

(tabela 28).

Foi avaliado se a presença de potencial autoimune apresentava alguma influência nos dados

clínicos, mas não foi encontrado nada estatisticamente significante para celularidade da medula

óssea, número de citopenias, risco citogenético, IPSS, WPSS ou óbito.

Tabela 28 - Frequência de presença de potencial autoimune nos pacientes com SMD

Frequência de presença de potencial autoimune (%)

Valor do p (qui-quadrado/Fisher)

Tipo de autoimunidade

Indivíduos saudáveis

SMD Indivíduos saudáveis x SMD

Receptores inibidores

54,9 58,8 0,502

Receptores ativadores

58,8 47,1 0,285

Receptores inibidores e ativadores

juntos

78,4 76,5 0,554

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141

6 . Discussão

6.1 Envelhecimento saudável

O estudo da imunosenescência é crucial para entender os mecanismos envolvidos no

desenvolvimento de doenças associadas ao envelhecimento. Durante a infância, o sistema imune

adaptativo ainda não está maduro e consequentemente a imunidade inata nesta fase é mais

importante. Como existem doenças específicas de cada fase da vida é importante estudar a

influência da idade na imunidade.

Como a SMD é mais frequente em idosos, o estudo da imunosenescência é importante para

compreender a etiologia e patogenia da SMD (Heaney e Golde, 1999) e parece haver um papel do

sistema imunológico na patogenia desta doença (Voulgarelis et al., 2004). Além disso, embora a SMD

ocorra principalmente em idosos, também existem casos em crianças, sendo importante ter os

valores normais destes parâmetros na infância para comparação com os pacientes com SMD. Neste

estudo, nós analisamos o efeito do envelhecimento nas células T, NKT, NK e seus subtipos, com um

foco nos padrões de expressão de receptores de células NK responsáveis pelo reconhecimento das

células alvo.

O percentual de linfócitos T diminuiu com o envelhecimento no nosso trabalho conforme

havia sido relatado previamente (Borrego et al., 1999b; Bisset et al., 2004; Jentsch-Ullrich et al.,

2005). Mas não houve alteração nos idosos no percentual de CD4 ou CD8, o que está de acordo com

os resultados encontrados por Bisset et al. (2004). Os linfócitos T se desenvolvem no timo, que

atrofia com a idade devido a alterações tanto no microambiente do timo quanto nos progenitores de

linfócitos T (Dorshkind et al., 2009). Esta pode ser a justificativa da redução do percentual de

linfócitos T no envelhecimento observada em nosso estudo. No entanto, não houve alteração nos

valores absolutos de células T e seus subtipos CD4 e CD8 nesta faixa etária, provavelmente isto

ocorreu devido ao aumento da leucometria observada nos idosos.

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Na infância também foi encontrado um aumento na leucometria, que sugerimos que levou a

um acréscimo na infância nos valores absolutos de linfócitos T, T CD4, T CD8 e células NK apesar de

não haver diferença estatística nos valores percentuais destas populações em crianças. A expressão

de receptores na população de linfócitos T na infância foi semelhante aos adultos.

Tem sido descrito nos idosos um aumento na expressão de receptores relacionados às

células NK, como CD16, CD56, CD57 e CD94 (Borrego et al., 1999b; Tarazona et al., 2000; Lemster et

al., 2008). Abedin et al. (2005) propõe que isto seria uma adaptação compensatória para permitir a

manutenção da competência imunológica apesar da queda da diversidade de TCR durante o

envelhecimento. Pela primeira vez na literatura, foi relatada uma redução com o envelhecimento na

expressão de NKG2D em células T convencionais. Tem sido sugerido que NKG2D age como um

receptor co-estimulatório de células T, aumentando a resposta dependente de TCR (Groh et al.,

2001). Portanto, a redução de NKG2D observada nas células T dos idosos pode contribuir para

alteração na função destas células que ocorre com o envelhecimento.

Foi observado no presente estudo que percentual de linfócitos T não variou com o gênero,

mas o percentual de CD8 foi maior no masculino e o de CD4 maior no feminino. Com relação ao valor

absoluto, apenas os linfócitos T CD4 sofreram influência do gênero e estavam mais presentes no sexo

feminino. Estes resultados são semelhantes aos achados de Bisset et al. (2004) e Jentsch-Ullrich et al.

(2005). Outra alteração encontrada no presente estudo nas células T com o gênero foi um aumento

da expressão de NKG2D no gênero masculino. Como também foi observado um aumento no

percentual de CD8 nos indivíduos do gênero masculino, estes achados podem estar relacionados com

uma possível maior citotoxicidade de linfócitos T neste gênero, mas estudos funcionais são

necessários para confirmar esta hipótese.

As células NKT representam um grupo heterogêneo de linfócitos que quase sempre tem um

rearranjo de V14-J18 e reatividade a glicoesfingolipídio -galactosilceramida (GalCer) quando

apresentada via a molécula semelhante à classe I CD1d. As células NKT podem expressar marcadores

de células T como CD3, CD4, CD8 e TCR assim como marcadores típicos de células NK como CD56,

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CD16, CD94 e KIR (Norris et al., 1999; Kronenberg e Gapin, 2002; Kenna et al., 2003; Emoto e

Kaufmann, 2003; Kronenberg 2005). Similar ao descrito previamente (van der Vliet et al., 2001; Zeng

et al., 2002), no presente estudo foi observado que nem o sexo nem a idade afetaram

significantemente os números de células NKT. Apesar de o timo ser o sítio principal de maturação de

NKT, estas células podem migrar direto da MO para sítios extratímicos (fígado) para completar seu

desenvolvimento. Portanto o desenvolvimento extratímico de NKT fica mais proeminente para

compensar a falha do timo durante o envelhecimento (Mocchegiani e Malavolta, 2004).

Com relação à expressão de receptores nos linfócitos NKT com a idade, de acordo com Lutz

et al (2005) e em contraste com Borrego et al (1999b) e Hayhoe et al (2010), nós encontramos uma

redução significante de células NKT CD94+ com o envelhecimento e um desvio relacionado ao gênero

(o sexo masculino apresentou maior expressão de CD94 que o feminino). Com relação à expressão de

receptores da família KIR, não foram identificadas alterações com o envelhecimento ou gênero nos

linfócitos NKT. Houve uma única exceção, o CD158b que foi maior no gênero masculino, mas o

significado biológico desta pequena alteração é obscuro. Lutz et al. (2005) encontraram os mesmos

patamares de expressão de KIR em TNK, cerca de 20% de mistura KIR mix e não encontraram

influência do envelhecimento ou gênero.

De acordo com o descrito previamente (Facchini et al., 1987; Vitale et al., 1992; Borrego et

al., 1999b; Lutz et al., 2005) foi observado no presente estudo um aumento nas células NK com o

envelhecimento saudável. Além disso, o aumento da frequência de células NK observado nos idosos

foi principalmente devido à expansão do subtipo CD56dim e redução do subtipo CD56bright, de acordo

com o descrito por outros autores (Krishnaraj, 1997; Borrego et al., 1999b; Chidrawar et al., 2006;

Garff-Tavernier et al., 2010). As células CD56bright humanas tem um papel funcional único na resposta

imune inata como fonte primária de citocinas imunoregulatóiras derivadas de células NK como IFN-,

TNF-, GM-CSF, IL10 e IL-13 (Cooper et al., 2001a e Cooper et al., 2001b). Alteração no total de

produção de citocinas tem sido reportada nos idosos. A produção de citocinas como IL-2, IFN- e

IFN- está reduzida nesta faixa etária, enquanto IL-4 e IL-10 são produzidas em maior quantidade.

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Além disso, leucócitos de idosos produzem maior quantidade de IL-1, IL-6, IL-8 e TNF- depois de

indução com lipopolissacarídeo, LPS, (Rink et al., 1998). Estudos prévios demonstraram alterações

com envelhecimento na produção de citocinas por células NK, por exemplo, as células NK de idosos

apresentam uma redução no nível de secreção de IFN- (Krishnaraj e Bhooma, 1996).

A maioria dos estudos sobre células NK e envelhecimento focam no número total de células

NK e atividade citotóxica. Poucos estudos discutem as possíveis causas destas alterações. As funções

de células NK, como produção de citocinas e citotoxicidade natural, são controladas por receptores

de superfície que são responsáveis pelo reconhecimento das células alvo. Portanto, alterações nas

funções de células NK com a idade podem ocorrer devido a mudanças nos receptores de células NK.

Até agora poucos estudos abordaram o assunto (Lutz et al., 2005; Sundstrom et al., 2007; Garff-

Tavernier et al., 2010), e nenhum deles estudou a influência da idade na expressão de receptores nos

subtipos CD56dim e CD56bright.

A expressão de receptores da família NCR foi analisada nas células NK no presente estudo. Os

receptores desta família podem ser considerados verdadeiramente envolvidos com a citotoxicidade

natural, pois podem mediar à ativação de células NK de forma independente de outras moléculas de

superfície. Além disso, a expressão destes receptores é restrita a células NK (Moretta et al., 2001).

Eles são importantes para o estímulo da atividade antitumoral destas células (Arnon et al., 2006). O

receptor NKp46 ativa a citotoxicidade de células NK, mobilização de Ca++ e produção de citocinas. O

receptor NKp30, segundo membro da família, compartilha várias características em comum com o

NKp46 (Moretta et al., 2001).

Garff-Tavernier et al. (2010), foi o primeiro autor a estudar a influência da idade na expressão

de NKp46 e NKp30, mas não encontrou nenhuma correlação. Nossos achados são a primeira

evidência de ocorre uma redução na expressão de NKp46 e NKp30 com o envelhecimento.

Interessante é que também foi observada uma redução de NKp30 nas crianças, mas não de NKp46.

O receptor NKp30 parece ter um papel central na interação das células NK com as células

dendríticas. Esta influência mútua entre células NK e dendríticas contribui para a coordenação das

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respostas inata e adaptativa (Walzer et al., 2005; Moretta et al., 2006b). Portanto a redução de

NKp30 com a idade pode estar relacionada com outras células da imunidade. O envelhecimento

também afeta muitos aspectos das funções dos linfócitos (Dorshkind et al., 2009) e células

dendríticas (Agrawal et al., 2008).

De acordo com o descrito na literatura, foi encontrada baixa expressão de NKp44 (menos de

2%) nas células NK e suas subpopulações de doadores saudáveis. Devido a este pequeno percentual,

não fizemos análise da influência do gênero ou idade. Segundo Vitale et al. (1998), primeiro autor a

descrever o NKp44, esta molécula se encontra ausente em células isoladas a fresco do sangue

periférico, mas sua expressão ocorre progressivamente em células NK cultivadas in vitro com IL-2.

Este parece ser o primeiro marcador específico para células NK ativadas. O fato de este receptor ter

expressão aumentada após estímulo com IL-2 pode explicar o aumento da citotoxicidade de células

NK ativadas por esta citocina contra células alvos (Arnon et al., 2006).

Com relação aos receptores da família da lectina tipo C, conforme descrito previamente (Lutz

et al., 2005; Hayhoe et al., 2010), foi encontrada uma redução na frequência de células NK

expressando CD94 nos idosos. Sobre os subtipos de células NK, Borrego et al. (1999b) não encontrou

nenhuma alteração relacionada à idade em CD94, enquanto o presente estudo e Hayhoe et al. (2010)

encontraram uma redução com o envelhecimento da frequência de células expressando CD94 tanto

no subtipo CD56dim quanto no subtipo CD56bright. Na infância foi observada uma redução da

frequência de células CD94+ no subtipo citotóxico CD56dim, mas não no subtipo produtor de citocinas

CD56bright.

No presente trabalho, também foi estudado NKG2D, um membro ativador da família da

lectina tipo C que reconhece MICA/B. De acordo com o relatado anteriormente (Garff-Tavernier et

al., 2010), os resultados mostraram que a expressão de NKG2D é preservada no envelhecimento

saudável. Uma questão mais importante, é que como NKG2D sinaliza através de uma via que é

diferente dos outros receptores ativadores de células NK, tanto da família KIR quanto da lectina tipo

C, a ativação celular mediada por NKG2D é menos susceptível a sinais inibitórios gerados por outros

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receptores (Farag et al., 2002). Portanto, nós sugerimos que manter o nível de expressão de NKG2D é

importante para manter a função das células NK. De fato foi observado no presente estudo que a

atividade citotóxica das células NK foi preservada da infância a velhice.

A preservação desta função de células NK contribui para a prevenção de doenças

relacionadas a idades avançadas e para o envelhecimento saudável (Bruunsgaard et al., 2001 e

Mocchegiani e Malavolta, 2004). A citotoxicidade das células NK pode ser preservada nos idosos

saudáveis através do aumento do número de células, que pode funcionar como um mecanismo

compensatório para a redução potencial na citotoxicidade por célula (Mocchegiani e Malavolta,

2004). Os resultados de aumento da frequência do subtipo CD56dim com o envelhecimento do

presente estudo suportam esta hipótese.

A principal família de receptores de células NK que participa do “missing-self” é conhecida

como KIR. Estas moléculas se apresentam como conjuntos de receptores ativadores e inibidores

pareados que, primariamente, reconhecem moléculas de HLA-A, B e C nas células alvo. A análise da

expressão individual de receptores da família KIR é complexa. Existe polimorfismo genético, variação

do conteúdo de genes KIR de indivíduo para indivíduo, além disso, a expressão dos genes KIR

também varia de célula NK para célula NK dentro do mesmo indivíduo, ou seja, os KIR têm uma

distribuição clonal nas células NK (Almeida-Oliveira e Diamond, 2008a). Para tornar a análise ainda

mais complexa, os anticorpos monoclonais reconhecem mais de um receptor KIR, pois a porção

extracitoplasmática de receptores ativadores e inibidores é a mesma para receptores KIR que

reconhecem o mesmo ligante. Numa tentativa de diminuir estas diferenças individuais, foi feita uma

mistura de anticorpos anti-KIR marcados com o mesmo fluorocromo, conforme sugerido por Lutz et

al. (2005). Esta mistura, que chamamos de KIR mix é capaz de detectar 6 tipos diferentes de KIR,

incluindo ativadores e inibidores, simultaneamente.

Em contraste com Lutz et al. (2005), mas de acordo com Garff-Tavernier et al. (2010), no

presente estudo não foram encontradas mudanças relacionadas ao envelhecimento na expressão

geral de KIR nas células NK. No entanto, foi observado um aumento na expressão de KIR no subtipo

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CD56bright de idosos. Surpreendentemente, foram encontradas alterações semelhantes na infância.

Alguns estudos têm sugerido que as células CD56bright possam representar células CD56dim ativadas

(Loza e Perussia, 2004; Mailliard et al., 2005). Mais recentemente foi demonstrado que as células

CD56bright são células NK imaturas (elas apresentam telômeros mais curtos) e podem ser

diferenciadas em CD56dim in vitro e in vivo. Este processo pode ocorrer em sítios de infamação

através do contato direto com fibroblastos ou por ativação por citocinas (Chan et al., 2007;

Romagnani et al., 2007). Ainda mais importante, foi demonstrado que a expressão de receptores KIR

pode ser induzida em células CD56bright através da ativação por citocinas (Romagnani et al., 2007) e o

ambiente de citocinas de idosos está alterado. Isto poderia explicar o aumento da expressão de KIR

em células CD56bright observadas no presente estudo.

Tem sido sugerido que a análise de fenótipo KIR deve ser feita em paralelo com

caracterização genética para que sejam possíveis interpretações significativas dos dados (Gardiner,

2008). No presente estudo, agrupando o genótipo KIR de acordo com o reconhecimento por

anticorpos monoclonais anti-KIR foi observado que a maioria dos indivíduos apresentava apenas o

KIR inibidor ou tanto o KIR inibidor quanto ativador do par. Foi muito rara a presença de ativador na

ausência de inibidor do par (isso ocorreu apenas uma vez para um único indivíduo). Portanto, o

aumento na expressão de KIR nas células CD56bright de crianças e idosos provavelmente está

relacionado com receptores KIR inibidores, com alguma contribuição menor de receptores KIR

ativadores. Até onde nós sabemos, esta é a primeira vez que análise de genótipo e expressão de

receptores KIR são avaliadas juntas no envelhecimento saudável. Estudos mais específicos são

necessários para entender melhor este tema.

Uma questão interessante é que no presente estudo foi observado um aumento significante

na frequência dos genes KIR2DS3 e KIR2DL5 nos idosos. Maxwell et al. (2004) também observou uma

associação de KIR2DS3 e KIR2DL5 nos idosos em sua primeira coorte. Entretanto, quando eles

analisaram uma segunda coorte a significância foi perdida. A especificidade de ligantes de KIR2DS3

continua misteriosa até o momento. Apesar dos ligantes de KIR2DL5 ainda não terem sido

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determinados, KIR2DL5 é considerado ser um dos receptores inibidores funcionais (Kimoto et al.,

2010; Parham et al., 2010). Até hoje a expressão destes dois receptores não foi examinada no

envelhecimento.

O presente trabalho demonstrou que a expressão de receptores KIR não é influenciada pelo

genótipo de HLA. Portanto, é possível que haja células NK com potencial autoimune, ou seja,

apresentando receptores KIR inibidores para os quais não possui ligante HLA ou apresentando

receptores KIR ativadores para os quais apresenta ligante HLA. Foi criado um sistema de score para

tentar prever o potencial autoimune das células NK através da análise do genótipo KIR e HLA.

Surpreendentemente, foi encontrado que a grande maioria dos indivíduos saudáveis (quase 80%)

apresenta algum potencial autoimune no genótipo KIR/HLA. Nos indivíduos do sexo feminino, esta

frequência foi ainda maior, cerca de 90%.

Estes resultados sugerem que deve haver mecanismos de tolerância ao próprio nas células

NK para que os indivíduos saudáveis sejam protegidos do desenvolvimento de doenças autoimunes.

A discussão de como as células NK fazem tolerância ao próprio tem sido intensa na literatura (Cooley

et al., 2007; Flodstrom-Tullberg et al., 2009; Andersson et al., 2010; Clark et al., 2010; Orr e Lanier,

2010). Apesar das células NK serem estudadas a mais de 30 anos e muitos dos seus receptores e vias

de sinalização tenham sido identificados, a base molecular da tolerância das células NK ainda não foi

determinada. Muitas questões sobre o tema ainda precisam ser respondidas (Orr e Lanier, 2010).

Em resumo, o estudo dos indivíduos saudáveis mostrou várias alterações relacionadas à

idade na expressão de receptores de células NK em diferentes populações de células. Estes

resultados trazem uma base para estudos mais enfocados nestes temas que são necessários para

saber se as alterações na expressão de receptores de células NK estão relacionadas à

susceptibilidade a doenças infecciosas, inflamatórias e neoplásicas. Portanto, foram descritos os

valores de referência desses parâmetros ao longo da vida, permitindo estudá-los na SMD.

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6.2 Síndrome mielodisplásica (SMD)

A etapa seguinte foi o estudo na SMD dos mesmos parâmetros imunológicos caracterizados

em indivíduos saudáveis. Tem sido discutida na literatura a possibilidade da SMD ser uma doença

autoimune (Voulgareliz et al., 2004) justificando a importância de avaliar o perfil imunológico de

pacientes com SMD.

A SMD está entre as neoplasias mielóides mais difíceis de diagnosticar e classificar (Vardiman

et al., 2010). O diagnóstico de SMD continua sendo de exclusão (Komrokji et al., 2010). Tem sido

preconizado que seja baseado em critérios robustos que requerem investigações detalhadas e

algumas vezes extensivas. Existe um número crescente de pacientes em que é difícil diferenciar a

mielodisplasia de outras doenças que causem citopenias periféricas (Valent e Horny, 2009). De

acordo com estes conceitos, no presente estudo, ao fazer levantamento dos dados clínicos e

resultados laboratoriais foi observado que alguns casos não apresentavam SMD no momento do

estudo, mas sim outras doenças, como LMMC, AA, HPN e LMA. Estes casos foram excluídos da

análise.

Cerca de metade dos pacientes com SMD estudados sofreram óbito. A SMD é considerada

uma doença com heterogeneidade clínica, podendo ir desde condições indolentes com expectativa

de vida próxima ao normal até formas mais agressivas, com sobrevida semelhante à leucemia aguda.

Por isso o uso de sistemas de prognóstico tem sido extremamente importante para definição das

estratégias terapêuticas dos pacientes com SMD (Cazzola e Malcovati, 2010). No presente estudo foi

realizada uma análise da sobrevida de acordo com os principais sistemas de prognósticos utilizados

atualmente, IPSS e WPSS. A sobrevida foi melhor nos casos de SMD que apresentaram valores baixos

de IPSS, mas a diferença não foi estatisticamente significante. O WPSS foi uma ferramenta mais

adequada para prognóstico, pois os casos de baixo valor de WPSS tiveram uma sobrevida melhor de

forma estatisticamente significante.

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A partir do sucesso de terapia imunossupressora na AA, este tipo de tratamento começou a

ser aplicado na SMD com sucesso. Cerca de um terço dos pacientes se tornaram independentes de

transfusão e passaram a apresentar uma melhora nas citopenias (Sloand e Barrett, 2010). No

presente estudo, os pacientes tratados com drogas imunossupressoras/imunomoduladoras tiveram

uma melhor sobrevida do que os que utilizaram outras estratégias de tratamento. A maioria destes

pacientes foi classificada em altos grupos de risco de WPSS. Estes resultados corroboram a hipótese

de que mecanismos imunológicos tenham um papel importante na fisiopatologia da SMD e justificam

a relevância de estudar a imunidade na SMD.

Primeiro foi verificado que os percentuais de linfócitos T, CD4, CD8, TNK e NK são semelhantes

entre pacientes com SMD e doadores. Chamuleau et al. (2009) também encontraram valores

normais de células NK, linfócitos CD4 e CD8, mas encontraram um percentual maior de linfócitos T

nos pacientes com SMD, assim como aumento da expressão de granzima B. Outros dois estudos

demonstraram frequências normais de células NK na SMD, embora a sua função estivesse reduzida

(Kiladijian et al., 2006; Epling-Burnette et al., 2007a). Também foi encontrada uma redução da

atividade citotóxica das células NK no presente trabalho.

No presente estudo, os valores absolutos de linfócitos T, TCD4 e células NK estavam reduzidos

nos pacientes com SMD. Provavelmente isto é uma consequência da baixa leucometria encontrada

nos pacientes estudados. Meers et al., 2007 também observaram redução dos valores absolutos de

células NK na SMD, mas não de linfócitos T e TCD4.

Uma questão interessante deste estudo é que embora o percentual de células NK não esteja

alterado nos pacientes com SMD, há alterações nos percentuais de subtipos de células NK. Foi

encontrado um aumento do subtipo CD56dim e redução do CD56bright nestes pacientes. Curiosamente

a alteração encontrada nos subtipos de células NK em pacientes com SMD foi a mesma encontrada

no envelhecimento saudável, embora a maioria dos nossos pacientes não se trate de idosos.

Esta é a primeira vez que os subtipos de células NK são estudados na SMD, mas alterações das

subpopulações de células NK são encontradas em outras doenças. Por exemplo, existe uma depleção

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do subtipo CD56dim em pacientes com AIDS (Tarazona et al., 2002; Hong et al., 2010) e aumento das

células CD56bright no lúpus eritematoso (Schepis et al., 2009). O tratamento com IFN-α (para hepatite)

C e IFN-β (para esclerose múltipla) pode levar a um aumento na frequência de células CD56bright,

conforme demonstrado por Saraste et al. (2007) e Lee et al. (2010).

Similar aos nossos achados na SMD, outros autores demonstraram redução do subtipo

CD56bright em outras doenças como rinite alérgica (Scordamaglia et al. 2008), artrite reumatoide

juvenil (Villanueva et al., 2005) e doença cardíaca coronária (Hak et al., 2007). Estes resultados foram

associados a infecções ou a migração das células CD56bright para sítios inflamatórios (Poli et al., 2009).

Na SMD, nós sugerimos que esta redução poderia ser uma consequência do ambiente pró-

inflamatório associado à doença (Kordasti et al., 2009), que poderia fazer com que as células

CD56bright estivessem amadurecendo e se transformando em células CD56dim. Este processo pode

ocorrer em sítios de infamação através do contato direto com fibroblastos ou por ativação por

citocinas (Chan et al., 2007; Romagnani et al., 2007). Provavelmente devido à baixa leucometria, foi

encontrada uma redução nos valores absolutos tanto de células NK quanto de seus dois subtipos.

Ao investigar a relação entre os dados clínicos e as populações de células estudadas, foi

verificado que uma redução do percentual de linfócitos T está associada ao óbito em pacientes com

SMD. A maior parte dos óbitos foi causada por infecções neste estudo. Geralmente, isto está

associado às neutropenias encontradas no sangue periférico dos pacientes com SMD. A redução do

percentual de células T pode sugerir um comprometimento também da resposta imune adquirida, o

que pode ter contribuído para a piora das infecções. Também foi encontrada uma associação entre o

aumento do percentual de células NK e o óbito. Estes dados apontam para a importância da

mielossupressão causada por células NK, que conforme demonstrado por Chamuleau et al. (2009),

parece ser forte e especificamente citotóxica contra as células da SMD.

Se for verdadeira a hipótese de que células NK atuam na SMD causando autoimunidade, a

baixa atividade citotóxica observada nesta doença poderia ser considerada um mecanismo protetor.

Como as funções de células NK são controladas por receptores ativadores e inibidores que

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reconhecem as células alvo, é importante estudar se há alterações nestes receptores nesta doença.

No presente estudo, foi estudada a expressão das três principais famílias de receptores de células NK

(NCR, lectina tipo C e KIR) nos pacientes com SMD.

A expressão de NCR em células NK de pacientes com SMD já havia sido estudada

anteriormente (Kiladijian et al., 2006; Epling-Burnette et al., 2007a), mas com resultados

controversos. Enquanto Kiladijian et al. (2006) não encontraram diferenças na expressão de

receptores da família NCR entre pacientes e doadores, Epling-Burnette et al. (2007a) observaram

expressão normal de NKp46, mas redução da expressão de NKp30. O presente trabalho mostrou

redução dos dois receptores nas células NK.

Estes resultados controversos podem refletir diferenças nas metodologias empregadas ou

nas características clínicas dos pacientes estudados. Nós estudamos 73 doadores (5 a 77 anos) e 23

pacientes (26 a 75 anos). Kiladjian et al. (2006) estudaram apenas 9 doadores (não se referem a faixa

etária no artigo) e 17 pacientes (40 a 93 anos). Epling-Burnette et al. (2007a) estudaram 36 doadores

(de 55 a 85 anos) e 48 pacientes (>18 anos). Conforme demonstrado recentemente pelo nosso grupo

(Almeida-Oliveira et al., 2011) o envelhecimento saudável causa redução na expressão de NKp46 e

NKp30 nas células NK. Portanto, as faixas etárias de controles e pacientes são importantes. Ao fazer a

comparação dos pacientes com SMD apenas com indivíduos saudáveis adultos, a diferença na

expressão destes receptores da família NCR foi enfatizada. Por outro lado, quando a comparação dos

pacientes com SMD foi feita apenas com controles idosos, a significância estatística foi perdida para

NKp30 e reduzida para NKp46.

Nenhum destes autores (Kiladijian et al., 2006; Epling-Burnette et al., 2007a) estudou a

expressão de NCR nos subtipos de células NK na SMD. No presente estudo, pela primeira vez foi

observada uma redução de NKp46 tanto nas células CD56dim (citotóxicas) quanto nas células

CD56bright (produtoras de citocinas). Com relação ao NKp30, houve redução no subtipo citotóxico,

mas não no produtor de citocinas. Foi descrito na literatura que a expressão de NCR nas células NK

está correlacionada com sua capacidade de lisar células tumorais (Sivori et al., 1999), portanto a

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redução destes receptores nas células CD56dim pode estar relacionada com a redução da atividade

citotóxica contra uma linhagem de células tumorais (K562) observada no presente estudo.

O receptor NKp30 parece ter um papel importante na interação entre as células NK e o

estroma de medula óssea, sendo importante para a ativação e secreção de citocinas como IFNγ e

TNFα (Poggi et al., 2005). Estas duas citocinas estão aumentadas na MO de pacientes com SMD

(Sugimore et al., 2010). Portanto a preservação da expressão deste receptor nas células CD56bright

pode estar relacionada com a secreção destas duas citocinas na MO de pacientes com SMD. Estudos

mais específicos são necessários para confirmar esta hipótese.

No presente estudo foi investigado se havia alguma relação entre a expressão de receptores

da família NCR e os dados clínicos dos pacientes com SMD. Nos pacientes com duas citopenias havia

uma menor frequência de células NK e do subtipo CD56dim positivas para NKp46. Este resultado pode

estar relacionado com uma mielossupressão causada por células NK na SMD. Houve também uma

relação entre o risco citogenético e a expressão de NCR. Pacientes com cariótipo considerado de

risco intermediário pela classificação FAB apresentaram maior frequência, tanto de células NK

quanto do subtipo citotóxico, positivos para NKp46 e para NKp30. Vários autores têm demonstrado

que parte das células NK de pacientes com SMD podem ter a mesma aberração citogenética que o

clone de SMD (Nakazawa et al., 1998; Miura et al., 2000; Ling et al., 2004; Kiladjian et al., 2006). A

partir destes achados, nós sugerimos que talvez a alteração de receptores de células NK ocorra

dependendo do tipo de aberração citogenética presente no paciente com SMD.

Os pacientes com SMD apresentando MO normocelular apresentaram menor frequência de

células CD56bright com positividade para NKp30. Mais importante, em pacientes com valores de WPSS

mais alto a expressão de NKp30 foi maior neste subtipo de células NK responsável pela produção de

citocinas. Estes resultados sugerem que este subtipo de células NK pode ter algum papel no controle

da celularidade da MO e na progressão da doença.

Em seguida foi estudada a expressão de receptores da família da lectina tipo C nos pacientes

com SMD. A expressão de CD94 não foi alterada em nenhuma população de células estudada nos

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pacientes com esta doença. No entanto, houve uma redução de NKG2D nas células NK. Kiladjan et al.

(2006) não encontraram diferença na expressão desta molécula entre doadores e pacientes,

enquanto Epling-Burnette et al. (2007a) encontraram uma redução na expressão de NKG2D apenas

nos pacientes que apresentavam atividade citotóxica reduzida. Estes autores não estudaram a

expressão de NKG2D nos subtipos de células NK. No presente estudo foi demonstrada pela primeira

vez a redução de NKG2D tanto no subtipo citotóxico quanto no produtor de citocinas nos pacientes

com SMD.

É possível que a redução de NKG2D observada esteja relacionada à citocinas como TGF-β.

Esta citocina é detectada em altos níveis nos pacientes com SMD (Allampallam et al., 2002) e

conhecidamente diminui a expressão de NKG2D na superfície (Castriconi et al., 2003). O

reconhecimento de LMA pelas células NK parece depender principalmente de NKG2D (Carlsten et al.,

2009). De forma similar, tem sido sugerido um papel de NKG2D para mediar à morte do clone de

SMD (Epling-Burnette et al., 2007a; Hanaoka et al., 2009; Carlsten et al., 2010). Mais ainda, foi

observado que as células NK de indivíduos saudáveis podiam lisar as células de estroma de MO de

forma dependente de NKG2D (Poggi et al., 2005). Em conjunto, estes resultados sugerem que as

células NK podem ter um papel na regulação da sobrevida do estroma e CTH na MO. Além disso,

redução na expressão de NKG2D foi recentemente observada e associada com diminuição da

atividade citotóxica das células NK em pacientes com câncer em estágio avançado (Garcia-Iglesias et

al., 2009; Konjevic et al., 2007; Carlsten et al., 2009).

Os receptores da família NCR e NKG2D têm papéis complementares e muitas vezes sinérgicos

em ativar as células NK levando a lise de células tumorais (Moretta et al., 2001; Costello et al., 2002;

Augugliaro et al., 2003). Nosso grupo demonstrou que embora no envelhecimento saudável haja

redução da expressão de receptores da família NCR, a expressão de NKG2D é preservada e há um

aumento no número de células NK nesta fase da vida, que provavelmente funciona como um

mecanismo compensatório para manutenção da atividade citotóxica (Almeida-Oliveira et al., 2011).

Nós sugerimos que na SMD não houve este mecanismo compensatório (foi observada redução de

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NKG2D e não houve aumento no número de células NK) e provavelmente por isso a atividade

citotóxica foi reduzida nos pacientes com esta doença.

No presente estudo foi investigado se havia uma relação entre a expressão de receptores da

família da lectina tipo C e parâmetros clínicos da SMD. Foi observado que a redução do percentual,

tanto de células NK e quanto do subtipo citotóxico, positivos para CD94 estava associada ao óbito

dos pacientes com SMD. Borrego et al. (1999a) demonstraram que a atividade citotóxica das células

NK pode ser bloqueada pelo uso de anticorpo anti-CD94 de forma similar ao efeito inibitório da

interação de CD94/NKG2A com HLA-E. Alta expressão de CD94/NKG2A diminui a atividade citotóxica

das células NK (Wang et al., 2007). De acordo com esta noção inibitória de CD94/NKG2A, foi

demonstrado que a ligação deste receptor virtualmente bloqueia a fosforilação de moléculas de

sinalização associadas à NCR, ou seja, age bem no início da cascata de sinalização (Augugliaro et al.,

2003). A partir destas evidências do papel inibitório de CD94, nós sugerimos que a redução da

expressão deste receptor talvez possa permitir a recuperação da atividade citotóxica das células NK

que poderia estar mediando autoimunidade nos pacientes com SMD, por isso teria sido encontrada

esta relação com a sobrevida. Para confirmar esta hipótese, são necessários estudos específicos

sobre o papel de CD94/NKG2A nesta doença.

Também foram observadas associações entre a celularidade da medula óssea dos pacientes

com SMD e expressão de NKG2D no presente estudo. O percentual de linfócitos T positivos para

NKG2D diminuiu com o aumento da celularidade da MO. Nas células NK e seus dois subtipos, a

presença de NKG2D foi menor nos casos de MO normocelular. De acordo com estes resultados,

Hanaoka et al. (2009) descreveram um papel importante do NKG2D em diminuir a hematopoese em

doenças de falha da MO, como AA, HPN e SMD.

Foi descrito alterações da expressão de receptores da família KIR em doenças hematológicas

malignas, como na doença linfoproliferativa de linfócitos grandes e granulares (Zambello et al., 2003;

Epling-Burnette et al., 2004); infecção por vírus, como citomegalovírus (Gumá et al., 2004) e HIV

(Mavilio et al., 2003); e também em doenças autoimunes como doença de Behcet, diabete tipo 1 e

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psoríase (Martin et al., 2002; van der Slik et al., 2003; French e Yokoyama, 2004; Takeno et al., 2004).

No presente trabalho, a expressão de receptores da família KIR foi estudada em pacientes com SMD,

mas não houve nenhuma alteração na expressão destas moléculas em linfócitos T, TNK, células NK

ou no subtipo CD56dim. Pela primeira vez foi encontrado um aumento na expressão de vários

receptores da família KIR nas células CD56bright de pacientes com SMD. Esta alteração também foi

encontrada no envelhecimento saudável e pode estar relacionada à ativação do subtipo CD56bright

por um ambiente de citocinas pró-inflamatórias (Almeida-Oliveira et al., 2011).

Foi feita uma análise se havia alguma relação entre a expressão de receptores da família KIR

e dados clínicos dos pacientes com SMD. Foi observado que o aumento do percentual de células

CD56bright CD158a+ estava associado com um aumento na celularidade da MO. Estes resultados

fornecem mais subsídios à hipótese de que haja um papel regulatório na MO de pacientes com SMD

pelo subtipo de células NK responsável pela produção de citocinas.

Também foram encontradas associações entre a expressão de receptores da família KIR e os

grupos de risco dos sistemas de prognóstico IPSS e WPSS, além da associação direta com óbito dos

pacientes com mielodisplasia. Estes resultados sugerem que os receptores KIR talvez possam ser

utilizados como biomarcadores de progressão da SMD. Um biomarcador é definido como uma

característica que pode ser mensurada de forma objetiva e avaliada como um indicador de processos

biológicos normais, patogênicos ou resposta farmacológica a intervenção terapêutica (NIH

Biomarkers Definitions Working group, 2001). Novos estudos, em grupos maiores de pacientes com

SMD, devem ser realizados para que se comprove se os receptores KIR podem ser utilizados como

biomarcadores na prática clínica.

A análise do significado da expressão de receptores KIR por citometria de fluxo é difícil

porque os anticorpos comerciais reconhecem mais de um receptor KIR, além disso, os receptores KIR

são expressos de forma clonal e há diferenças no genótipo KIR entre os indivíduos. Por isso, nós

avaliamos o genótipo KIR e HLA nos pacientes com SMD.

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Ao avaliar se havia alguma relação entre o genótipo KIR e os dados clínicos,

supreendentemente foi encontrado que os pacientes com ausência de KIR2DL2, KIR2DS1 e KIR2DS5

em seu genótipo apresentavam melhor sobrevida. Quando os pacientes foram agrupados pelos

grupos de genótipo que reconhecem o mesmo ligante de HLA foi observado que os pacientes que

tinham apenas o receptor inibidor que reconhece HLA-C do grupo 2 (KIR2DL2) tinham uma melhor

sobrevida do que os pacientes que apresentavam tanto o inibidor (KIR2DL2) quanto o ativador

(KIR2DS1). Estes resultados sugerem que os receptores KIR podem ter um papel importante de

proteger os pacientes com SMD de autoimunidade mediada por células NK. Uma questão mais

importante é que estes achados podem fornecer mais subsídios para o uso de receptores KIR como

biomarcadores na SMD.

Ao ser aplicado o score de autoimunidade nos pacientes com esta doença encontramos

resultados semelhantes aos indivíduos saudáveis, uma grande frequência de potencial autoimune.

Juntos estes resultados nos levam a supor que não é o componente genético que determina a

autoimunidade de células NK. Deve haver mecanismos de quebra de tolerância ao próprio para que

as células NK possam mediar autoimunidade. Provavelmente, para que isto ocorresse, seria

necessária alteração na expressão de receptores de células NK que reconhecem HLA. No entanto,

não foi observada alteração da expressão de KIR ou CD94 nas células NK ou no subtipo citotóxico no

presente estudo. Na literatura, foi demonstrada lise de precursores hematopoéticos autólogos

dependente de células NK (Chamuleau et al., 2009) e inibição de hematopoese dependente de

NKG2D (Hanaoka et al. 2009) nos pacientes com SMD. No entanto, parece que isto não é exclusivo

de pacientes com esta doença, pois em indivíduos saudáveis, também foi demonstrado que as

células NK autólogas são capazes de lisar precursores hematopoiéticos (Grau et al., 2004).

Foi demonstrado na literatura que a atividade citotóxica na SMD estava diminuída contra

três linhagens tumorais distintas, que requerem diferentes receptores de ativação, sugerindo um

defeito global na função das células NK (Epling-Burnette et al., 2007a). De acordo com esta sugestão,

no presente estudo, foi encontrada uma redução da expressão dos principais receptores ativadores e

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diminuição da atividade citotóxica contra uma linhagem de célula tumoral nos pacientes com SMD.

Também foram encontradas alterações na distribuição dos subtipos citotóxico e produtor de

citocinas de células NK. Além disso, as alterações na expressão de receptores da família NCR, lectina

tipo C e KIR, assim como o genótipo KIR, tiveram relacionadas aos dados clínicos dos pacientes com

SMD. A partir destes resultados, é tentador especular que estas alterações encontradas nas células

NK de pacientes com SMD possam ter consequências na progressão da doença e na transformação

maligna de SMD para LMA.

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159

7 . Conclusões

Foram mostradas várias alterações relacionadas à idade na expressão de receptores de

células NK em diferentes populações de células.

O aumento do número de células NK, e mais especificamente do subtipo citotóxico, junto

com a preservação da expressão de NKG2D nos idosos, pode ter servido como mecanismo

compensatório para preservar a atividade citotóxica no envelhecimento saudável.

Estes resultados trazem uma base para estudos mais enfocados nestes temas que são

necessários para saber se as alterações na expressão de receptores de células NK estão

relacionadas à susceptibilidade a doenças infecciosas, inflamatórias e neoplásicas.

Foram descritos os valores de referência desses parâmetros ao longo da vida, permitindo

estudá-los na SMD.

Os pacientes com SMD apresentaram redução da expressão dos principais receptores

ativadores estudados (NKp30, NKp46 e NKG2D) além da redução do valor absoluto de células

NK e seus dois subtipos, estas alterações poderiam justificar a redução da atividade

citotóxica observada nesta doença.

A análise do genótipo KIR e HLA mostrou uma alta frequência de potencial autoimune tanto

nos indivíduos saudáveis quanto nos pacientes com SMD, sugerindo que o desenvolvimento

de doenças autoimunes mediado por células NK não seja determinado pelo genótipo do

indivíduo e sim por mecanismos de quebra de tolerância ao próprio.

Houve uma relação entre o genótipo e a expressão de receptores KIR e dados clínicos, como

celularidade de MO, SPSS e WPSS, além da relação direta com a sobrevida, sugerindo que

talvez estes receptores possam ser utilizados como biomarcadores na SMD.

Este trabalho encontrou várias alterações nas células NK na SMD, fornecendo mais

evidências de que as células NK possuem um papel importante na fisiopatologia da SMD.

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A partir destes resultados, é tentador especular que estas alterações encontradas nas células

NK de pacientes com SMD possam ter consequências na progressão da doença e na

transformação maligna de SMD para LMA.

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Anexos

Aprovação no comitê de ética do INCA

Termo de consentimento livre e informado para doador de sangue do INCA

Termo de consentimento livre e informado para doador de medula óssea do

INCA

Termo de consentimento livre e informado para pacie ntes do INCA

Aprovação no comitê de ética do INTO

Termo de consentimento livre e informado para doadores do INTO

Aprovação no comitê de ética do HUPE

Termo de consentimento livre e informado para pacientes do HUPE

Aprovação no comitê de ética do HEMORIO

Termo de consentimento livre e informado para doadores do Hemorio

Trabalho apresentado em congresso

Artigo publicado