Amarilys de Toledo Cesar - Homeopatia nos Serviços e Saúde

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O MEDICAMENTO HOMEOPTICO NOS SERVIOS DE SADE

AMARILYS DE TOLEDO CESAR

Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de Prticas de Sade Pblica da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo para obteno do Grau de Doutor. rea de concentrao: Prticas de Sade Pblica.

ORIENTADORA: PROF. DR. EVELIN NAKED DE CASTRO S

So Paulo 1999

II

DEDICATRIA:

Ao Xico, Gabriel, Lauro e Natlia, com amor. A meus pais. Hahnemann, e aos homeopatas que fazem da Homeopatia sua misso.

III

AGRADECIMENTOS:

Ao Xico, pelo apoio, pelas idias, pelas discusses, pelo incentivo, pelo amor. minha me, por todas as vezes em que cuidou de meus filhotes. orientao segura e tranqila da Dra. Evelin. Beth, pelo apoio e idias. A ela e a todos que me substituiram enquanto eu trabalhava neste outro projeto. Ao Marcelo e Mara de Florianpolis; ao Ubiratan da IAKAP; Claudia, de Brumadinho; Claudia, Eli e Julio, de It; Eliana Souza Ribeiro, diretoria e funcionrios da APH, especialmente Adriana; urea e ao Jlio, de Ribeiro Preto; ao Dr. Archiduque e ao Aurlio, de Dourados; ao Dr. Paulo Regis, Eloisa e Cleide, de Campinas; ao Gil e Vera, do CSE-GPS; ao Joo Sollero; ao Rogrio; ao Oscar; s colegas farmacuticas Elsie, Helena e Yone, Mrcia, e ainda Ana Rita, Clara, Estrela, Ilza, Michelly e Valria. A cada um que ajudou um pouco, contribuindo com informaes, com traduo, com hospedagem, caronas, facilitando coletas de dados, com boa vontade, com apoio. Ao meu tio Gnter, pelo incentivo. Ao meu sogro Jos Sollero Filho, pelas correes. Aos membros da banca examinadora, pelas correes e sugestes. HN-Cristiano, pelo apoio financeiro.

"Gracias a la vida, que me ha dado tanto..."

IV

RESUMO:Cesar AT. O medicamento homeoptico nos servios de sade. So Paulo; 1999. [Tese de Doutorado - Faculdade de Sade Pblica da USP].

O presente trabalho teve por objetivo estudar e descrever experincias de fornecimento de medicamento em servios de sade para subsidiar formulaes de polticas, contornando possveis dificuldades que possam prejudicar a implantao ou a manuteno do atendimento mdico homeoptico nestes servios, e fornecer elementos para incrementar a implantao da Homeopatia, por meio de propostas para o medicamento, que tornem mais fcil e possvel o desenvolvimento dos programas. Foi desenvolvido um estudo piloto, que mostrou uma grande diversidade nas prescries. A seguir, foram selecionados outros servios, com

caractersticas diversas, e estudada a frequncia e apresentao dos medicamentos homeopticos, atravs de visitas, entrevistas, cpias de prescries e anlise de fichas clnicas. Discutiu-se o enquadramento da Homeopatia quanto aos requisitos para incluso em lista de medicamentos essenciais, assim como pontos dificultadores de sua implementao. Concluiu-se que: a Homeopatia preenche os critrios necessrios para sua adoo pelo sistema pblico; o fornecimento do medicamento homeoptico deve ocorrer, financiado pelo custeio coletivo, atravs de estoque de medicamentos, farmcia estabelecida no local do atendimento mdico ou ainda conveniada, prxima ao servio; possvel montar uma relao bsica com um nmero limitado de medicamentos, com potncia, escala, forma farmacutica e posologia definidos, para atendimento de diversas patologias, inclusive crnicas; dados disponveis atravs de fichas clnicas bem

elaboradas so ferramenta importante para a pesquisa; a comprovao de eficcia clnica deve ser melhorada. Descritores: Homeopatia. Medicamento homeoptico. Homeopatia nos servios de sade.

V

SUMMARY:Cesar AT. O Medicamento homeoptico nos servios de sade. [The homeopathic medicine in health services]. So Paulo (BR); 1999. [Tese de Doutorado-Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo]. The aim of this study is to investigate and describe experiments of medicine supplying in health care services, as well as to offer elements for the formulation of relevant policies. These should (i) prevent possible difficulties that may harm the setting up or maintenance of homeopathic medical care in health services, and (ii) provide elements to increase the development of Homeopathy, by offering easier and more effective proposals for the use of medicine. A test study was developed, showing a wide diversity of prescriptions. Other services, with distinct characteristics, were selected. The frequency and presentation of homeopathic medicines was studied, through visits, interviews, copies of prescriptions and analysis of clinical files. The suitability of Homeopathy to the requirements of inclusion in an essential remedy list was discussed, as the issues that hinder this development. This study concludes that: (i) Homeopathy meets the necessary standards for its adoption by the public health system, (ii) the supplying of homeopathic remedies should occur, financed by the health care's "collective cost" scheme, through stocks, establishment of local pharmacies, or settled by convention near to the health service concerned, (iii) it is possible to determine a basic relation of a limited number of medicines, with defined potency, scales, pharmaceutical form and posology to address several pathologies, including chronic ones, (iv) available information coming from well elaborated clinical files is an important tool for research, and (v) the verification of clinical efficacy must be improved.

Descriptors: Homeopathy. Homeopathic medicines. Homeopathy in health services.

VI

NDICE:

pg.

Dedicatria II Agradecimentos III Resumo IV Summary V ndice VI ndice de Quadros VII ndice de Tabelas IX 1. INTRODUO 1 1.1 - As origens da Homeopatia e seus fundamentos 3 1.2 - O desenvolvimento da Homeopatia nos diversos pases 8 1.3 - A Homeopatia no Brasil 17 1.4 - O medicamento em Homeopatia 27 2. OBJETIVOS 38 3. METODOLOGIA 39 3.1 Dificuldades metodolgicas 43 4. ANLISE E RESULTADOS 45 4.1 - Caractersticas do Centro de Sade Escola Geraldo Paula Souza: a visita-amostra 45 4.1.1 - Dados obtidos a partir de prescries mdicas 48 4.1.1.1 - Resumo dos medicamentos mais prescritos 54 4.1.2 - Comparao com os resultados de MOREIRA NETO 55 4.1.3 - Comparao com os dados de 1986 56 4.2 - Centro de Terapia Alternativa do Posto de Sade Municipal "Agostinho Neto" em It, SP 58 4.2.1 - Dados das prescries da Farmcia Lrio D'gua 63 4.2.1.1 - Resumo dos medicamentos mais prescritos 69 4.2.1.2 - Surgem novas dvidas 70 4.2.2 - Dados das fichas clnicas 71 4.2.2.1 - Resumo dos medicamentos mais prescritos 75 4.2.3 - Comparao entre resultados da farmcia e fichas clnicas 75 4.3 - O atendimento homeoptico na Policlnica de Brumadinho 77 4.3.1 - Dados obtidos a partir do caderno de Registro de Receiturio 82 4.3.1.1 - Resumo dos medicamentos mais prescritos 88 4.4 - O atendimento homeoptico no Centro de Sade de Santo Amaro da Imperatriz 89 4.4.1 - Relao de estoque de medicamentos 94 4.5 - O ambulatrio Mdico Homeoptico da Instituio Alan Kardec-Alice Pereira (IAKAP), em Guarulhos 95 4.5.1 - Anlise dos medicamentos prescritos 98 4.5.1.1 - Resumo dos medicamentos mais prescritos 99 4.6 - O ambulatrio Municipal de Homeopatia em Campinas 100 4.7 - O Programa de Fitoterapia e Homeopatia da Prefeitura Municipal de Ribeiro Preto 102 4.8 - O Centro Homeoptico de Sade Pblica de Dourados 105

VII

4.9 - Os ambulatrios da Associao Paulista de Homeopatia 4.9.1 - Estudo das fichas clnicas 4.9.1.1 - Resumo dos medicamentos mais prescritos 4.10 - Amostra de prescries obtidas em 9 farmcias homeopticas da cidade de So Paulo 4.10.1 - Resumo dos medicamentos mais prescritos 4.11 - Comparao entre os servios estudados 5 - DISCUSSO E RESULTADOS 5.1 - Medicamentos essenciais populao: histrico e problemtica das aes j implementadas 5.2 - Critrios para definio das Listas de Medicamentos Essenciais 5.3 - O medicamento homeoptico: aspectos positivos 5.4 - Aspectos vulnerveis na questo do medicamento homeoptico 6 - CONCLUSES 7 - RECOMENDAES 8 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 9 - ANEXOS

107 113 118 119 122 124 129 129 131 144 151 157 158 159 168

VIII

NDICE DE QUADROS:QUADRO 1: caracterizao do mtodo utilizado no estudo dos locais de atendimento mdico homeoptico ou de aviamento de receiturio homeoptico. QUADRO 2: resumo dos medicamentos homeopticos mais prescritos nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante os meses de maro e abril de 1996, provenientes do CSE-GPS. QUADRO 3: comparao entre os dados obtidos no estudo piloto no CSE-GPS e os de MOREIRA NETO. QUADRO 4: comparao entre os dados obtidos no estudo piloto e receitas aviadas pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, em 1986. QUADRO 5: resumo dos medicamentos homeopticos mais prescritos nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It. QUADRO 6: resumo dos medicamentos homeopticos mais prescritos em estudo de amostra das fichas clnicas provenientes de pacientes atendidos no CTA do Posto de Sade de It. QUADRO 7: comparao entre os dados dos 10 medicamentos mais prescritos da farmcia homeoptica Lrio D'gua e os do estudo de amostra das fichas clnicas provenientes de pacientes atendidos no CTA do Posto de Sade de It. QUADRO 8: resumo dos medicamentos homeopticos mais prescritos na Policlnica de Brumadinho. QUADRO 9: resumo dos medicamentos homeopticos mais prescritos durante o ano de 1996 aos pacientes atendidos na IAKAP.

42

54 56 58

70

75

76 89 100

QUADRO 10: resumo dos medicamentos homeopticos mais prescritos em estudo de amostra das fichas clnicas provenientes de pacientes atendidos na APH. 119 QUADRO 11: resumo dos medicamentos homeopticos mais prescritos em estudo de amostra de prescries de 9 farmcias homeopticas da cidade de So Paulo. 123 QUADRO 12: comparao entre a situao de fornecimento de medicamentos homeopticos dos diversos locais estudados, na poca do estudo e no final de 1998.

125

QUADRO 13: critrios utilizados para incluso de medicamentos na Relao Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), reviso publicada em 23 de abril de 1999-10-05 133 QUADRO 14: enquadramento da Homeopatia em relao aos requisitos para icnluso de uma nova droga na RENAME. 145

IX

NDICE DE TABELAS:

TABELA 1: distribuio da populao europia que utiliza medicamentos complementares e desta, aqueles que utilizam Homeopatia. 15 TABELA 2: composio das receitas segundo os diferentes tipos e modalidades teraputicas encontradas no aviamento feito pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante os meses de maro e abril de 1996, provenientes do CSE-GPS. 49 TABELA 3: composio das receitas nas quais constam apenas medicamentos homeopticos em aviamento feito pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante os meses de maro e abril de 1996, provenientes do CSE-GPS.

50

TABELA 4: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto potncia, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica HNCristiano, durante os meses de maro e abril de 1996, provenientes do CSE-GPS. 50 TABELA 5: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto forma farmacutica, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante os meses de maro e abril de 1996, provenientes do CSE-GPS.

51

TABELA 6: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto posologia, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante os meses de maro e abril de 1996, provenientes do CSE-GPS. 51 TABELA 7: classificao dos medicamentos homeopticos prescritos nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante os meses de maro e abril de 1996, provenientes do CSE-GPS. 53 TABELA 8: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto forma farmacutica, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante dois meses do ano de 1986, provenientes de diversos mdicos homeopatas.

57

TABELA 9: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto posologia, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica HN-Cristiano, durante dois meses do ano de 1986, provenientes de diversos mdicos homeopatas. 57 TABELA 10: composio das receitas, segundo os diferentes tipos e modalidades teraputicas, nas prescries aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It.

64

X

TABELA 11: classificao das prescries de medicamentos homeopticos, em relao aos outros medicamentos que os acompanham, em receitas aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It. 64 TABELA 12: classificao medicamentos homeopticos, quanto s potncias, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It. 65 TABELA 13: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto forma farmacutica, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It. 66 TABELA 14: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto posologia, encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It. 66 TABELA 15: classificao dos medicamentos homeopticos encontrados nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It. 67 TABELA 16: classificao dos 10 medicamentos homeopticos mais prescritos nas receitas aviadas pela farmcia homeoptica Lrio D'gua, de 25 de maio de 1996 at 14 de novembro de 1997, provenientes do CTA do Posto de Sade de It. 68 TABELA 17: classificao das prescries segundo os procedimentos provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no CTA do Posto de Sade de It. 72 TABELA 18: classificao dos diferentes tipos de procedimentos provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no CTA do Posto de Sade de It. 73 TABELA 19: classificao dos 10 medicamentos homeopticos mais prescritos provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no CTA do Posto de Sade de It.

73

TABELA 20: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto suas potncias, provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no CTA do Posto de Sade de It. 74 TABELA 21: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto escala, provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no CTA do Posto de Sade de It. 74 TABELA 22: classificao dos medicamentos, segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviados na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. 82

XI

TABELA 23: distribuio das tinturas, segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviadas na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 24: distribuio das pomadas, segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviados na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 25: distribuio dos xaropes, segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviados na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 26: distribuio dos gis, segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviados na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 27: distribuio dos cremes, segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviados na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 28: distribuio das substncias mais prescritas (incluindo aquelas em complexos), segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviadas na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 29: distribuio dos 10 medicamentos homeopticos mais prescritos, aviados na Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 30: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto forma farmacutica, segundo cpia do Caderno de Registro de Receiturio, aviados pela Farmcia de Manipulao Homeoptica da Policlnica de Brumadinho. TABELA 31: classificao dos medicamentos homeopticos mais prescritos, durante o ano de 1996, pela IAKAP. TABELA 32: relao dos tipos de ambulatrios e o nmero de horas de atendimento por semana, na APH. TABELA 33: classificao dos diferentes tipos de procedimentos provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no ambulatrio da APH. TABELA 34: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto escala, provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no ambulatrio da APH. TABELA 35: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto posologia, provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no ambulatrio da APH. TABELA 36: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto posologia, provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no ambulatrio da APH.

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XII

TABELA 37: distribuio dos medicamentos homeopticos mais prescritos, quanto potncia, provenientes do estudo das fichas clnicas dos pacientes atendidos no ambulatrio da APH. TABELA 38: classificao dos medicamentos homeopticos provenientes de amostras de prescries de 9 farmcias homeopticas da cidade de So Paulo. TABELA 39: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto forma farmacutica, provenientes de amostra de prescries de 9 farmcias homeopticas da cidade de So Paulo. TABELA 40: classificao dos medicamentos homeopticos, quanto potncia, provenientes de amostras de prescries de 9 farmcias homeopticas da cidade de So Paulo. TABELA 41: comparao entre os resumos dos medicamentos mais prescritos nos diversos servios de atendimento mdico homeoptico estudados. TABELA 42: comparao entre os resumos das potncias mais utilizadas nos diversos servios de atendimento mdico homeoptico estudados TABELA 43: comparao entre as formas farmacuticas mais utilizadas nos diversos servios de atendimento mdico homeoptico estudados TABELA 44: comparao entre a posologia mais utilizada nos diversos servios de atendimento mdico homeoptico estudados.

117

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128 128

TABELA 45: comparao entre as escalaas mais utilizadas nos diversos servios de atendimento mdico homeoptico estudados. 129

1

1 - INTRODUO:

A Homeopatia Clssica, estabelecida por HAHNEMANN, fundamentase em quatro princpios: lei da Semelhana, experimentao no homem so, administrao do medicamento em doses mnimas e indicao de medicamento nico. Na prtica, afastando-nos dos princpios ideais, percebemos que a Homeopatia um fenmeno natural, que pode ocorrer tambm com o uso de substncias no experimentadas, com o uso de doses ponderais de medicamentos e ainda quando mais de uma substncia medicamentosa utilizada. O princpio da Semelhana resta sempre como o preceito essencial da Homeopatia (5, 124).

Idealmente, a Homeopatia trata o indivduo, o doente. Porm, ao longo deste trabalho, perceberemos que diversas vezes o Princpio da Semelhana ser aplicado doena, isto , a parte dos sintomas ou das caractersticas do indivduo. Uma reviso da histria da Homeopatia, de sua vinda para nosso pas e de aspectos do medicamento homeoptico ser apresentada para uma melhor compreenso do contexto desta tese.

A autora tem participado de fatos relacionados com a Homeopatia desde 1984, quando fundou a Farmcia Homeoptica Cristiano, em So Paulo. Foi presidente da Associao Paulista de Farmacuticos Homeopatas (APFH), cargo que exerceu durante os anos de 1989 a 1992. Durante este perodo, participou das reunies da CEME em Braslia, e no ano seguinte, da Comisso de Prticas Alternativas de Sade do Grupo Especial de Desenvolvimento do Programa (GEPRO) de Prticas Alternativas de Sade. A Farmcia Homeoptica Cristiano foi uma das contratadas para Prestao de Servios de Aviamento de Receitas Homeopticas.

2

Frequentou

o

Curso

de

Atualizao

em

Homeopatia

para

Farmacuticos na Associao Paulista de Homeopatia (APH) em 1988, e, no ano seguinte, o primeiro Curso de Homeopatia para Farmacuticos, passando a fazer parte do grupo que, desde ento, tem ministrado cursos anuais para farmacuticos naquela associao. Em seguinda, fez o curso intensivo de Homeopatia da Escuela Medica Homeopatica Argentina, em Buenos Aires.

Em 1990, a unio de sua farmcia com uma concorrente, deu origem s farmcias homeopticas HN-Cristiano e a um pequeno laboratrio industrial, dedicado produo de tinturas-me e matrizes

homeopticas para farmcias. Por este motivo, a autora participou da elaborao de normas de GMP para a indstria homeoptica, junto ao Sindicato da Indstria Farmacutica (SINDUSFARMA).

Desde 1995, ocupa o cargo de Secretria Geral de Farmcia da Liga Mdica Homeoptica Internacional, freqentando os Congresso anuais, e as reunies do Comit Executivo e Internacional, fato responsvel por aumentar seus conhecimentos da Homeopatia internacional.

Passou a participar da Comisso de Medicina e Farmcia da Associao Mdica Homeoptica Brasileira (AMHB) em 1997. Foi membro da Comisso Cientfica que elaborou a 2 edio do Manual de Normas Tcnicas da Associao Brasileira de Farmacuticos Homeopatas. Prestou a prova de ttulo de Especialista em Homeopatia desta associao, e foi aprovada, em 1998. Em 1999 ingressou na diretoria desta associao.

3

Esta grande atividade na rea possibilitou uma rica experincia, que despertaram a vontade de realizar um trabalho com a rea de medicamentos homeopticos.

1.1 - As origens da Homeopatia e seus fundamentos:

HIPCRATES talvez tenha sido o primeiro a afirmar que tambm possvel curar atravs dos semelhantes, apesar de ter formulado igualmente o princpio dos contrrios, que fundamenta a assim chamada Alopatia (128, 124).

No pensamento de HIPCRATES as duas leis parecem no se opor, porm ter indicaes particulares, ambas com a finalidade de curar. Assim, um dos princpios diretivos da teraputica hipocrtica que os semelhantes curamse pelos semelhantes". "A doena produzida pelos semelhantes, e pela administrao do semelhante, o paciente retorna da doena sade". Ou "as substncias naturalmente purgativas podem provocar a obstipao"(57,128).

Em PARACELSUS tambm reencontramos este princpio hipocrtico: "o semelhante pertence ao semelhante". Afirma-se que toda sua prtica mdica tenha sido fundamentada na doutrina dos similares, na idia de que a substncia que causa a doena tambm ir cur-la (51,128, 124).

CROLLIUS, seu seguidor, afirma: .... necessariamente imperioso - se queremos que os remdios sejam contrrios doena - que eles sejam convenientes natureza, que lhe sejam semelhantes... Qualquer que seja a doena, deve ser curada pelo seu prprio correspondente" (57,128).

HAHNEMANN, mdico alemo nascido na cidade de Meissen, em 1755, na Saxnia, retomou as idias de seus antecessores e estabeleceu um mtodo teraputico fundamentado na "Lei dos Semelhantes". Ficou conhecido como o fundador da Homeopatia. Nunca afirmou ter descoberto esta lei, mas sim ter sido o primeiro a ensin-la e aplic-la de forma consistente (51).

4 Em seu trabalho iniciou experimentando vrias drogas, para em seguida publicar o "Ensaio sobre um novo princpio para se averiguar os poderes curativos das drogas", onde afirmava que

(....) devemos imitar a natureza, que s vezes cura uma doena pela superadio de uma outra, e empregar na doena (especialmente crnica) que queremos curar, aquele medicamento capaz de produzir uma outra doena artificial, muito similar, e a primeira ser curada: similia similibus (51,69,87).

Discordando dos agressivos tratamentos mdicos de sua poca, quando eram costumeiras as sangrias, ventosas e utilizao de substncias txicas que debilitavam os doentes, HAHNEMANN buscava, como "o mais alto ideal da cura, o restabelecimento rpido, suave e duradouro da sade, ou a remoo e destruio integral da doena pelo caminho mais curto, mais seguro e menos prejudicial, segundo fundamentos nitidamente compreensveis" (70,87).

HAHNEMANN utilizou o princpio da semelhana, isto , considerava que medicamentos preparados a partir de substncias que podem causar alguns sintomas quando administradas em grandes doses a um indivduo saudvel, poderiam curar os mesmos sintomas quando dados em doses muito pequenas para outro indivduo doente, com os mesmos sintomas. Para diminuir a toxicidade que algumas destas substncias apresentavam, e que dificultava sua utilizao, HAHNEMANN comeou a dilu-las. No muito explicado pela histria, mas, possivelmente de forma intuitiva, conforme ele dilua, passou tambm a agitar suas diluies. Este mtodo, constitudo por diluio e agitao, foi sendo aperfeioado por HAHNEMANN durante o desenvolvimento de seu trabalho, e recebeu o nome de "dinamizao".

5 Portanto, os medicamentos utilizados com critrio homeoptico so geralmente dinamizados (124).

A palavra dinamizao vem do grego "dynamis" e est relacionada idia de fora. Este conceito de que uma substncia diluda - a dinamizao sempre inclui uma diluio - pode apresentar uma "fora", bastante difcil de ser aceito pela Farmacologia, com suas clssicas curvas de doses e respostas. As diluies homeopticas facilmente ultrapassam o nmero de Avogadro1, e portanto torna-se estatisticamente improvvel encontrar uma nica molcula da substncia inicial nos medicamentos. RESCH & GUTMANN perguntam: "quem pode imaginar que o efeito de um medicamento seja independente da substncia original utilizada para sua preparao?" (111).

Outro aspecto importante a ser notado nos princpios estabelecidos por HAHNEMANN, para melhor utilizar o fenmeno homeoptico, foi o da experimentao das substncias a serem utilizadas como medicamentos2. Administrou substncias a indivduos saudveis, em pequenas quantidades, diariamente, at que estes manifestassem uma srie de sinais e sintomas especficos para aquela substncia. Estes sintomas, obtidos para cada substncia, a partir de uma ordem destinada a facilitar a consulta, foram listados desde a poca de HAHNEMANN em compndios denominados Matrias Mdicas. At sua morte, HAHNEMANN realizou a experimentao de 99 substncias, trabalho continuado por seus seguidores at nossos dias(87,101)

.

Para facilitar a escolha do medicamento indicado para cada paciente, os mesmos sintomas foram agrupados em captulos (por exemplo, sintomas1

O nmero de Avogadro (6,02 x 1023) indica o nmero de molculas contidos em um mol ou uma molcula-grama de substncia. Molcula-grama o peso molecular da substncia, expresso em gramas. Em decorrncia deste nmero, teorias da Qumica Clssica afirmam que as diluies homeopticas alm do limite de 10-24 consistiriam apenas do solvente, e portanto no poderiam exercer um efeito sobre o organismo.2

Embora seja um termo mais genrico, preferiu-se o emprego da palavra substncia em vez de droga, uma vez que droga tradicionalmente significa uma substncia farmacologicamente ativa. Algumas substncias utilizadas no preparo de medicamentos homeopticos so reconhecidamente inertes, como o Lycopodium clavatum, antes do processo da dinamizao. Existe em ingls e francs o termo source e souche, que parecem no ter equivalente em portugus, significando substncia que d origem ao medicamento, homeoptico no caso.

6 relacionados ao quadro mental, iluses, vertigem, cabea, olho, viso, etc.) e em rubricas e sub-rubricas, que modalizam os sintomas classificados nos diversos captulos. Estes livros so chamados de Repertrios. Estas duas obras formam a base da literatura mdica homeoptica (68,112).3

Mesmo a Matria Mdica Pura

elaborada por HAHNEMANN, e todas as

que a seguiram, so utilizadas at hoje, uma vez que os sintomas provocados pelas substncias, em indivduos saudveis, so sempre os mesmos. Embora ocorram trabalhos de revises destes sintomas, isto , reexperimentaes das substncias, a coleo de medicamentos

homeopticos clssicos relativamente esttica, sem o dinamismo peculiar que encontramos na medicina e na indstria farmacutica aloptica de buscar e produzir um novo medicamento para cada patologia (51,68).

Em uma consulta homeoptica o mdico faz a anamnese, interrogando o paciente sobre seus sintomas, sinais, sensaes e caractersticas pessoais, procurando combin-los com os sintomas produzidos por uma substncia que foi anteriormente experimentada em indivduo so, e que est descrita em uma Matria Mdica. A substncia cujos sintomas (produzidos em homem so) forem mais semelhantes aos do paciente, ser escolhida para ser administrada como medicamento.

O tratamento homeoptico , portanto, individualizado. Duas ou mais pessoas com o mesmo diagnstico podem ser tratadas com diferentes medicamentos, dependendo dos sintomas especficos de cada uma delas.

ADLER et al. afirma que Homeopatia hoje um termo amplamente conhecido, mas seu significado ambguo e vago. Ambguo porque usado como sinnimo de outros conceitos, como doses infinitesimais ou medicamentos dinamizados; vago porque a definio no estrita, mas sim mescla-se com a idia de ser uma teraputica, arte mdica ou modo de vida baseado na chamada Lei dos Semelhantes (5).

3

Matria Mdica Pura significa que a informao encontrada naquela referncia baseada apenas em experimentaes e no em outros tipos de dados como sintomatologia clnica ou (123) toxicolgica

7 Para ocorrncia do fenmeno homeoptico, busca-se que uma afeco dinmica (doena natural) seja afastada do organismo, por uma outra afeco dinmica, mais forte (doena medicamentosa, provocada de modo temporrio), quando esta ltima for muito semelhante primeira em suas manifestaes (70).

Utilizando este modelo, na Homeopatia o paciente trocaria a sua doena por uma muito semelhante e mais forte. Sendo assim, "qual a lgica de se tratar homeopaticamente?" pergunta ADLER et al (4). E conclui afirmando:

HAHNEMANN criou e desenvolveu um mtodo de produzir e controlar o fenmeno homeoptico, de modo a causar uma doena artificial muito semelhante, e apenas ligeiramente mais forte do que a doena do paciente. Quando este objetivo teraputico atingido, o medicamento descontinuado4 (5).

A cura vai ocorrer pela reao do organismo - da Fora Vital, segundo HAHNEMANN - em reao ao remdio apropriado (5,70).

Segundo este raciocnio, ADLER et al. prope uma definio para Homeopatia:

Homeopatia o resultado da interao dinmica entre duas afeces vitais, qualitativamente diferentes, mas muito semelhantes em seus efeitos no organismo vivo. Este resultado pode ser a atenuao da afeco mais forte ou a extino da afeco mais fraca (5).

1.2 - O desenvolvimento da Homeopatia nos diversos pases:A teraputica proposta por HAHNEMANN fez sucesso junto aos pacientes, mas tambm recebeu muitas crticas vindas da medicina ortodoxa.

4

Este procedimento clssico, proposto por HAHNEMANN, nem sempre foi seguido por alguns de seus discpulos, fundadores de escolas que medicam os pacientes com diversos medicamentos, administrados diversas vezes ao dia, durante longos perodos de tempo. Embora a posio de HAHNEMANN seja clara, na prtica, verifica-se divergncias entre os clnicos.

8 "O rpido avano inicial da Homeopatia foi devida, provavelmente, ao fato de que a medicina ortodoxa daquela poca era extremamente atrasada e carecia de medicamentos efetivos, e, por outro lado, superioridade da Homeopatia em tratar as vrias epidemias de febre tifide, clera e febre amarela que devastavam a Europa e a Amrica no sculo XIX" contam BELLAVITE e SIGNORINI (27). COULTER e outros autores relatam detalhes interessantes desta fase (51,87).

HAHNEMANN apresentava uma rgida intolerncia para com seus oponentes - aos quais chamou "alopatas", palavra utilizada at hoje - e tambm para com aqueles que se diziam seus seguidores, mas que se recusavam segu-lo com preciso e sem nenhum questionamento. Existiu, inclusive, uma revista dedicada a atac-lo, o Anti-Homoeopathisches Archiv, de Hamburgo (51).

Mesmo assim, a Homeopatia progredia, em parte por seu sucesso teraputico durante epidemias de tifo, escarlatina e clera. HAHNEMANN terminou seus dias na Frana, onde clinicou com sucesso, ainda que sempre cercado de crticas. Por exemplo, TROUSSEAU, apesar de chamar os homeopatas de "homens honrados e amistosos, nos quais podemos confiar", tambm classificou sua prtica como "especulativa e contra princpios cientficos". A Academia de Medicina Francesa, em 1835, chamou aos seguidores da Nova Escola de charlates. Apesar disso, em 1840 havia 50 homeopatas franceses; em 1850, mais de 200. O sucesso gerou contraataques, tal como a expulso dos homeopatas das sociedades mdicas(51,87)

.

Atualmente, a Farmacopia Francesa tem uma seo prpria para medicamentos homeopticos. Em seu prefcio encontramos a seguinte citao:

A Frana oficializa a Homeopatia, introduzindo-a em sua Farmacopia. A comisso permanente da Farmacopia adotou regras precisas para os medicamentos homeopticos, para

9 assegurar a constncia das substncias utilizadas como matria prima (17,52,102).

BAUR

descreve

com

detalhes

a

histria

da

Homeopatia

e

dos

medicamentos homeopticos na Frana (26).

Medicamentos homeopticos industrializados so encontrados em qualquer farmcia francesa, porm so rarssimas as que os preparam. Existem grandes laboratrios farmacuticos para a fabricao de medicamentos homeopticos, como Boiron e Dolisos, com subsidirias em diversos pases europeus, nos Estados Unidos, Canad e ndia, alm de distribuidores ou correspondentes na Amrica do Sul, Israel, pases da frica, Paquisto, Formosa, Japo, Polinsia e Austrlia (33,56).

O laboratrio Boiron faturou em 1996 1,25 bilhes de francos, sendo 312 milhes fora da Frana, com um lucro lquido de 76,6 milhes. Seu

concorrente Dolisos faturou naquele ano 600 milhes de francos. O terceiro faturamento mundial da rea do laboratrio alemo Heel. O mercado mundial estimado em 6 bilhes de francos, sendo 30% dele na Frana e 20% na Amrica do Norte (1,92).

Pesquisa de 1978 de LAPLANTINE et al., citada por MENDICELLI, mostrava que 34% dos franceses j haviam recorrido s medicinas paralelas. Estudo semelhante feito em 1985 revelou que 49% da populao francesa com mais de dezoito anos se utilizava dessas terapias. Entre estas medicinas paralelas, a Homeopatia ocupava o primeiro lugar, com 22% em 1978 e 32% em 1985. Em 1989 48% dos entrevistados responderam afirmativamente pergunta "na sua opinio, existem doenas que melhor tratar sem recorrer medicina?" . Em 1991, BOY perguntou "em caso de doena, voc recorreria, pelo menos em certos casos, s seguinte prticas?", e obteve 81% de respostas positivas ("sim, pelo menos em alguns casos") e 16% de respostas negativas ("no, de jeito nenhum") para a Homeopatia. Em 1990, os leitores da revista de divulgao cientfica La Recherche, declararam ser capazes de recorrer homeopatia (5% em todos os casos e 54% em certos casos) (34,91).

10 Em 1995 o Sindicato da Indstria Homeoptica Francesa apresentou dados que afirmavam que cerca de 30% dos europeus utilizariam medicamentos homeopticos, especialmente na Alemanha, Holanda e Blgica. Na Frana seriam cerca de 36% da populao. A porcentagem de franceses que no utilizavam e eram contrrios ao uso da Homeopatia diminuiu de 33% em 1983 para 25% em 1994. A Comisso Europia de Homeopatia publicou, em 1996, um relatrio com resultados de entrevistas com 1577 lderes formadores de opinio na rea de sade, que afirmavam que medicamentos homeopticos seriam utilizados por 42% da populao na Alemanha, 31% no Reino Unido e na Blgica, e 23% na Frana. Sete Faculdades de Farmcia francesas organizaram ciclos de 1 ano, ps universitrio. Em sete Faculdades de Medicina, foram criados cursos de 3 anos (1,127).

VITHOULKAS afirma, em publicao de 1983, que cerca de 6000 mdicos empregavam medicamentos homeopticos na Frana. Relatrio do Comit Europeu de Homeopatia de 1994 afirma que 36% dos mdicos gerais usam mtodos no convencionais: 5% exclusivamente, 21% com freqncia e 73% ocasionalmente (59,130). Desde 1989 as preparaes homeopticas magistrais5 pertencentes a uma relao de 1163 substncias, e aviadas sob formas farmacuticas definidas (grnulos, glbulos, gotas, supositrios, trituraes e pomadas, de 1DH at 30CH6) so reembolsadas pela Seguridade Social (56).

Nos Estados Unidos a Homeopatia foi introduzida no sculo passado, em 1825, e j em 1840, competia com a medicina tradicional. Em poucas dcadas, uma profisso homeoptica independente surgiu, com seu prprio sistema de escolas mdicas, registros profissionais e hospitais: at o final do sculo havia 16 escolas mdicas para ensino de Homeopatia. Durante algum tempo, os dois sistemas mdicos - aloptico e homeoptico - foram considerados iguais sob todos os aspectos legais (51,52).

5 6

So chamadas preparaes "magistrais" aquelas prescritas por mdico.

Os medicamentos homeopticos so diludos e agitados. As diluies so mais comumente realizadas na proporo de 1:10 (decimais) ou de 1:100 (centesimais). De 1DH at 30CH, significa portanto da primeira diluio decimal at a trigsima diluio centesimal.

11 O Instituto Americano de Homeopatia foi fundado em 1844, e HERING, mdico alemo conhecido como o pai da Homeopatia nos Estados Unidos, eleito seu primeiro presidente. Uma das resolues do Instituto - a de no admitir membros sem estudo mdico aloptico regular - mostra o propsito de manter um alto nvel profissional entre seus associados, que deveriam ento seguir a Homeopatia por escolha consciente (51).

COULTER descreve com detalhes os aspectos econmicos do conflito entre alopatia e Homeopatia, como a diviso do mercado de trabalho e o sucesso obtido pelos homeopatas junto clientela, mesmo cobrando honorrios maiores pelas consultas mdicas. O contra-ataque da medicina tradicional no tardou: a reorganizao do ensino mdico, a criao da Associao Mdica Americana, a re-educao dos mdicos homeopatas, a expulso das sociedades mdicas, a excluso dos artigos sobre Homeopatia das revistas mdicas. O Relatrio Flexner, elaborado a pedido da Associao Mdica Americana, imps critrios que enfatizavam a abordagem fsicoqumica e patolgica no ensino, penalizando as escolas que ensinavam a Homeopatia. Essas questes polticas e legais fizeram com que a Homeopatia praticamente desaparecesse nos Estados Unidos. Afirma FONTES que:

"segundo Galhardo, no comeo deste sculo existiam nos Estados Unidos mais de 8000 mdicos homeopatas, 28 hospitais e 8 escolas mdicas homeopticas, farmacuticos alm e de vrios cursos, todos peridicos, a

laboratrios

fundaes,

envolvendo

Homeopatia. Sob o impacto do Relatrio Flexner, a partir de presses legais e financeiras, essas instituies viram-se foradas a encerrar suas atividades. hoje, sob o incentivo do governo, a Homeopatia americana est em um processo de renascimento". (27,51,64).

Esta prtica comeou a ressurgir novamente somente nos ltimos anos, j que a dcada de 60 trouxe entusiasmo por tudo que fosse "natural" ou "holstico"; a ascenso da "contracultura" permitiu renascer a teraputica de quase dois sculos. Hoje, apesar de ainda haver resistncia, diversos cursos garantem a formao de novos mdicos homeopatas, assim como so encontrados milhares de praticantes no-mdicos. Pesquisa aponta que

12 cerca de 50% dos mdicos desejariam receber treinamento em Homeopatia. O Congresso anual da Liga Mdica Homeoptica Internacional de 1997 foi realizado na cidade de Seattle, contribuindo para o novo desenvolvimento da Homeopatia naquele pas (1,19,29,51,77,127).

ULLMAN afirma que, de acordo com o FDA (Food and Drug Administration, agencia nacional de fiscalizao de medicamentos e alimentos norte americana), as vendas de medicamentos homeopticos cresceram cerca de 1.000% do final da dcada de 70 para o incio dos anos 80. Na dcada de 90, os nmeros atingiram 250 milhes de dlares ao ano, com crescimento anual de 20 a 25%. Em 1994, mais que 75% das farmcias vendiam algum tipo de medicamento homeoptico (127).

Um levantamento de EISENBERG et al. mostrou que 34% da populao americana foi atendida atravs de prticas mdicas alternativas em 1990. A estimativa de que cerca de 1% da populao utilizava medicamentos homeopticos nos Estados Unidos nessa poca (58).

ASTIN publicou, em 1998, um estudo com o ttulo de Por que pacientes usam medicina alternativa? Seu levantamento incluiu 1035 pessoas, questionadas sobre o uso de medicina alternativa no ano anterior. O principal motivo encontrado foi por considerarem estas prticas alternativas de sade mais compatveis com seus valores, crenas e orientaes filosficas em relao sade e vida, ou por serem menos autoritrias, oferecendo mais controle sobre suas decises de sade. Estes fatores foram mais importantes do que sua insatisfao com os tratamentos convencionais. Nesse estudo, a porcentagem de usurios variou entre 29 e 71%, dependendo da faixa etria (foi maior entre os 50 e 64 anos), etnia (especialmente entre ndios americanos), educao (valores mximos foram encontrados para grupos com curso superior completo) e renda

(especialmente entre os de maior renda). A Homeopatia foi citada como especialmente indicada para o tratamento de artrite e reumatismo (18).

JACOBS et al. publicaram trabalho sobre o tratamento de diarria aguda infantil com medicamentos homeopticos, em estudo realizado na Nicargua. Embora seus resultados tenham mostrado uma diminuio

13 estatisticamente significante na durao da diarria do grupo tratado com medicamentos homeopticos em relao ao grupo tratado com placebos, o nmero total de casos no era muito elevado. No intuito de aperfeioar os dados j encontrados, foi estabelecido o "Projeto Multi-Centro Homeoptico sobre Diarria". Jennifer JACOBS, sua coordenadora, professora do Departamento de Epidemiologia da Escola de Sade Pblica da Universidade de Washington, enviou cartas-convite para vrios colaboradores interessados nesse projeto (76). pases,

buscando outras regies onde esta patologia fosse importante, e

Na Alemanha, a Lei dos Medicamentos de 1978 estabeleceu um registro separado para medicamentos homeopticos, o que lhes conferiu proteo legal. Cerca de 10% dos mdicos, estudaram homeopatia, e outros 10% prescrevem medicamentos homeopticos ocasionalmente. Existem ainda 11.000 terapeutas registrados, os Heilpraktiker, sendo 3.000 deles especializados em homeopatia. As vendas de medicamentos homeopticos alcanaram 428 milhes de dlares em 1991, com crescimento de 10% ao ano. Destas, 85% foram provenientes de alguma prescrio clnica, e dispensadas por 98% das farmcias (52,127).

O desenvolvimento da Homeopatia na Inglaterra detalhadamente descrito por NICHOLLS e tambm por KAYNE. A Faculdade de Homeopatia ligada ao Royal London Homoeopathic Hospital. O Comit Europeu para Homeopatia afirma que 37% dos mdicos inglses usam Homeopatia. FULDER & MUNRO afirmaram existir 12 terapeutas para cada 100.000 habitantes, o equivalente a 26,8% do nmero de mdicos generalistas. O ponto interessante que os pacientes das medicinas complementares, ao contrrio de serem indivduos crdulos ou que as estejam utilizando como ltimo recurso, mostraram ser pessoas com nvel de educao de terceiro grau, com freqncia maior do que a encontrada no mesmo grupo etrio de pacientes de mdicos generalistas. O estudo mostrou crescimento da Homeopatia, porm como um sistema complementar de sade. Este resultado tambm foi encontrado no estudo de THOMAS et al.59,66,77,101,126) (52,

.

14 O Ministro da Sade britnico, Dr. MAWHINNY, afirmou que a medicina complementar (que naquele pas inclui a homeopatia) bastante popular entre os pacientes, recebendo a aprovao de 81% deles (127).

H venda de medicamentos homeopticos tanto em health stores (lojas de produtos naturais), como em farmcias. Trata-se de um pas onde existem algumas farmcias exclusivamente homeopticas nos mesmos moldes do Brasil. Consta que a prpria Famlia Real usuria desses medicamentos, o que tem significado especial no Reino Unido.

A Comisso de Sistemas Alternativos de Medicina, criado pelo Ministrio da Sade e Proteo do Ambiente dos Pases Baixos, em 1977, considerou que a Homeopatia uma teraputica popular. Pelo estudo, teria havido 320.000 consultas de mdicos homeopatas por ano, alm das de outros clnicos que utilizam remdios homeopticos eventualmente. A populao holandesa que consultou um terapeuta alternativo aumentou de 3,8% para 5,2% entre 1981 e 1987. Dados do Comit Europeu para Homeopatia afirmam que 47% dos mdicos utilizam mtodos teraputicos no convencionais, sobretudo Homeopatia (40% deles) (45,59,91). Na Blgica, 84% da Homeopatia praticada por mdicos (59).

Na Sua entre 11 e 27% dos clnicos prescrevem medicamentos homeopticos. J na Itlia apenas 9% (77).

Dados de 1994 de Peter FISHER e A WARD, publicados no Relatrio de Pesquisa Complementar: uma Perspectiva Internacional7 citados por KAYNE e que podem ser visualizados na TABELA 1, mostram a porcentagem da populao europia e americana, que utiliza medicamentos complementares, e desta a porcentagem que utiliza a homeopatia(77).

interessante notar que, para os Estados Unidos, os autores destacaram uso de homeopatia para apenas 3% entre os 34% que utilizam medicinas complementares.

7

Relatrio de Pesquisa Complementar: uma Perspectiva Internacional. Conferncia COST e RCCM, 1994. Diretoria de Cincias, Pesquisa e Desenvolvimento da Unio Europia. Luxemburgo, p. 29-43.

15TABELA 1: distribuio da populao europia que utiliza medicamentos complementares e desta, aqueles que utilizam Homeopatia.

% Populao Medic. Compl. Blgica 31 Dinamarca 23 Frana 49 Alemanha 46 Holanda 20 Espanha 25 Reino Unido 26 Estados Unidos 34 (77) Dados de FISHER e WARD

Pas

Utilizao da Homeopatia na populao estudada 56 28 32 s/ informao 31 15 16 3

KAYNE compara tambm dados referentes venda de medicamentos homeopticos no mercado europeu, destacando Frana e Alemanha como os pases onde estes valores so mais elevados (77). Segundo MENDICELLI, estudo de BARROS-ST.PASTEUR indica que, nos pases do continente americano, a Homeopatia exercida na Argentina, Brasil, Colmbia, Costa Rica, Chile, Equador, Estados Unidos, Mxico, Uruguai e Venezuela; em relao aos pases europeus, na Alemanha, ustria, Blgica, Frana, Finlndia, Inglaterra, Grcia, Holanda, Itlia, Noruega, Sucia e Sua (91).

A Liga Mdica Homeoptica Internacional (LMHI) tem representantes (VicePresidentes nacionais e contatos) em 47 pases, alm de uma diretoria e um Comit Executivo, do qual fazem parte Secretarias Internacionais de Pesquisa, Educao, Farmcia, Veterinria, Odontologia e outras.

BANERJEA relaciona cursos de Homeopatia em diversos pases e em vrios continentes (19). No Mxico, onde a Homeopatia exercida ativamente, encontram-se vrias escolas mdicas homeopticas, que dedicam-se tanto a cursos de especializao em Homeopatia para mdicos, como graduao de mdico homeopata (52,127).

Na ndia, a Homeopatia disseminou-se largamente, embora se discuta que poderia ser muito mais utilizada no programa nacional de sade. o pas onde mais se consomem medicamentos homeopticos. KISHORE cita 30.000 homeopatas leigos qualificados e 75.000 mdicos que utilizam a

16 Homeopatia, alm da existncia de 80 hospitais e 2000 dispensrios. Em visita quele pas, durante Congresso Internacional de Homeopatia da Liga Mdica Homeoptica Internacional (LMHI) em 1995, foi-me possvel observar a grande quantidade de praticantes, com formao mdica superior e tcnica. H grande aceitao da populao por esta teraputica, praticada ao lado da medicina tradicional - ayurvdica - e da aloptica. Os medicamentos so dispensados nos consultrios, . existindo poucas(19,52,55,77,78)

farmcias e laboratrios farmacuticos

No Paquisto, a Homeopatia foi oficialmente reconhecida em 1965 e h reembolso de medicamentos pelo servio nacional de sade (52). Tambm Austrlia e Nova Zelndia so pases onde este sistema teraputico passou por perodos de sucesso no final do sculo passado, sofreu uma retrao, e novamente so procurados hoje pela populao(77)

.

1.3 - A Homeopatia no Brasil:Apesar de existirem referncias de que Jos Bonifcio de ANDRADE e SILVA tenha se correspondido com HAHNEMANN, o francs Benoit MURE tido como o introdutor da doutrina homeoptica no Brasil. Mdico, Bento MURE chegou ao pas em 1840, acompanhado de outras famlias, para organizar uma colnia comunitria, na provncia de Sahy, em Santa Catarina. Com o fracasso do projeto, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a exercer e a divulgar a Homeopatia. O cirurgio portugus Joo Vicente MARTINS tornou-se seu primeiro assistente. Quando os

homeopatas passaram a sofrer perseguies, em 1847, MARTINS transferiu-se para Salvador, fundando a Sociedade Homeoptica Baiana. MURE estudou e utilizou plantas e animais brasileiros. Incansvel divulgador das idias de HAHNEMANN, enviava gratuitamente pacotes com os principais medicamentos e uma Matria Mdica para todos os mdicos alopatas que se interessassem pela Homeopatia (31,32,84,85,86,87,89,100).

Desde seu incio no Brasil, e da mesma maneira como ocorreu em todos os pases, a Homeopatia tem passado por perodos de crises e perseguies, alternados por outros de maior sucesso e desenvolvimento (31,32,84,85,86,87).

17 O Instituto Hahnemanniano do Brasil, ativo at hoje, foi fundado em 1859. O Regulamento do Servio Sanitrio do Imprio, anexo ao Decreto n 9.554, de 3 de fevereiro de 1886, referendado pelo Baro de Mamor, oficializou as farmcias homeopticas . e os especialistas mdicos homeopatas(31,32,84,85,86,87,89)

Em relao rea farmacutica conta MEIRELLES que, no final do sculo passado, grande parte dos medicamentos homeopticos vinham do exterior, da Europa ou dos Estados Unidos. Tinturas-me7, dinamizaes, e at mesmo parte dos medicamentos eram importados j prontos. Quanto ao preparo, tudo que se fazia nas farmcias naquela poca, era o embebimento dos glbulos8 inertes com solues importadas j dinamizadas (89).

No ano de 1912, foi fundada a Faculdade Hahnemanniana, e em 1916, o Hospital Hahnemanniano. Em 1926 houve o I Congresso Brasileiro de Homeopatia, no Rio de Janeiro. Foi uma poca urea para a Homeopatia no Brasil. Afirma LUZ que apesar dos cerceamentos e punies de parte de instituies do ensino mdico, conseguem legitimar o ensino e a prtica homeoptica, bem como a produo livre de seus medicamentos nas farmcias, que se espalham por todo o Brasil. Encontra-se em LUZ texto de GALHARDO:

Mais de cem farmcias e laboratrios exclusivamente homeopticos, que aviam o receiturio mdico e esprita, existem no Brasil, especialmente na Capital Federal. No h lugar no territrio brasileiro onde a homeopatia no possua convictos adeptos, como rarssimo o lar onde no exista uma caixinha com medicamentos homeopticos e um livro sobre homeopatia. Rarssima , igualmente, a Farmcia Aloptica que no apresente medicamentos homeopticos e Farmcias Homeopticas e outros8

Tinturas so preparaes hidroalcolicas que tm como resultado a extrao dos princpios ativos de vegetais ou animais. Para o preparo de medicamentos homeopticos as tinturas - preparadas de partes especficas de plantas - so diludas e agitadas, gerando as dinamizaes. Por este motivo, na Homeopatia as tinturas recebem o nome de "TinturasMe".9

Glbulos so tradicionalmente utilizados para dispensao de medicamentos homeopticos. Trata-se de uma forma farmacutica preparada a partir de sacarose, por drageamento. As farmcias adquirem estes glbulos na forma inerte, e sobre eles adicionam solues medicamentosas dinamizadas.

18 preparados nas prprias Farmcias Alopticas, mal e erradamente preparados, j se v. No Brasil, portanto, a Homeopatia tem progredido muito: oficializada, ensinada em uma Escola equiparada s Escolas Oficiais, possui um Hospital exclusivamente Homeoptico e enfermarias Homeopticas em vrios Hospitais Alopticos: exercida profissionalmente por uns 200 mdicos, alm do considervel nmero de mdiuns espritas que receitam Homeopatia, e no errarei declarando que mais de sete milhes de habitantes - um quinto da populao da poca no Brasil no se utilizam de outra teraputica (87).

A partir de 1930, tambm no Brasil, provavelemente tambm como reflexo do Relatrio Flexner, iniciou-se o declnio da Homeopatia e indicao disto que o II Congresso Brasileiro de Homeopatia ocorreu apenas em 1950(64,,87,94)

.

A Lei n 1.552, de 8 de julho de 1952 determinou a obrigatoriedade do ensino de noes de Farmacotcnica Homeoptica nas Faculdades de Farmcia de todo o pas (89).

O Dr. David CASTRO afirmou que, em 1954, existiam 200 farmcias especializadas, dezenas de ambulatrios e 10 ou 12 grandes laboratrios produtores de medicamentos homeopticos (87).

Pouco conhecida entre ns foi a sondagem de opinio realizada pelo IBOPE em 1957 que perguntava: Voc acredita em Homeopatia como remdio? E ainda: Voc j teve oportunidade de usar Homeopatia? De 800 entrevistados, 76% respondeu de modo afirmativo primeira pergunta e 73% segunda pergunta, possivelmente confundindo Homeopatia com a Fitoterapia(87)

.

A publicao do Decreto n 78.841 de 25 de novembro de 1976, que aprovou a primeira edio da Farmacopia Homeoptica Brasileira, foi um marco, tanto pela oficializao do medicamento, como pelo fato de to poucos pases possurem obra semelhante. Iniciou-se um novo tempo, que LUZ chama de retomada social da Homeopatia (61,87).

19 A Associao Mdica Brasileira (AMB) reconheceu a Homeopatia como especialidade mdica em 28 de julho de 1979. No ano seguinte o Conselho Federal de Medicina (CFM) tomou a mesma deciso e estabeleceu regras para a obteno do ttulo de mdico homeopata (35,50,89).

Em relao s associaes homeopticas nacionais, em 1980 foi fundada a Associao Mdica Homeoptica Brasileira (AMHB). Pouco ativa em seus primeiros anos, passou a ter uma maior atuao a partir de 1988, contando hoje com quase 1000 scios. O primeiro exame para obteno do ttulo de Especialista em Homeopatia foi realizado atravs de um acordo entre a AMHB, AMB e CFM, em 29 de junho de 1990, com 158 candidatos, dos quais 88 foram aprovados. Os Cursos de Especializao em Homeopatia para Mdicos foram regulamentados, atravs do estabelecimento de currculo, com durao de 1200 horas. Para melhor organizar-se, a AMHB estabeleceu diversas Comisses, entre elas a de Sade Pblica e a de Farmcia e Medicina (10,35).

O Centro de Sade Experimental da Barra Funda, ligado Faculdade de Cincias Mdicas da Santa Casa de So Paulo, iniciou em 1981, em carter informal, o servio mdico homeoptico, oferecido a um nmero restrito de pacientes (119).

Em 1986 a Homeopatia foi implantada no servio pblico de sade do INAMPS. A Resoluo CIPLAN n 4, de 1988, fixou diretrizes sobre o

atendimento mdico homeoptico nos servios pblicos. Nesta poca a Central de Medicamentos (CEME), em convnio com a Fundao Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) decidiu implantar uma linha prpria de produo e distribuio dos principais medicamentos homeopticos. A CEME realizou algumas reunies com representantes de diversas entidades ligadas homeopatia e Farmcia Homeoptica. A produo e distribuio de medicamentos no foi levada frente (31,39,44,93,94,95,114),.

O Dr. Gilberto VIEIRA, assessor da presidncia da CEME e responsvel pelo projeto de Homeopatia naquela instituio, apresentou, durante o XIX Congresso Brasileiro de Homeopatia, o resultado de uma pesquisa, na qual foram enviado 18.000 questionrios, perguntando, entre outras coisas, quais

20 os 50 medicamentos e as 3 dinamizaes homeopticas mais utilizadas. A partir das respostas, VIEIRA props uma relao com 60 medicamentos, em diferentes dinamizaes, que atingiam o total de 100 apresentaes. Em um total de apenas 65 respostas, 94% afirmou que aceitaria prescrever medicamentos homeopticos clssicos10 distribudos pela CEME e

produzidos em laboratrios privados e/ou oficiais, segundo a Farmacopia Homeoptica Brasileira (129).

Relatrio da reunio da CEME de 31 de janeiro de 1989 mostra que efetivamente 60 medicamentos na forma lquida foram escolhidos. Eles seriam distribudos em caixas com 20 frascos de 20ml. Os medicamentos seriam classificados em 3 diferentes faixas: de grande, de mdio e de pequeno consumo. As dinamizaes indicadas no questionrios como as mais receitadas foram a 30, 6, 200 e 12 centesimais, nesta ordem. Decidiuse fornecer todos os medicamentos apenas na CH30. O projeto inicialmente destinaria medicamentos gratuitos aos seguintes locais que possussem servio mdico homeoptico:

entidades e rgos oficiais; entidades filantrpicas; rgos de classe (20,21,95).

J no estado de So Paulo, na Secretaria de Estado da Sade, foi constitudo o Grupo Especial de Desenvolvimento do Programa (GEPRO) de Prticas Alternativas de Sade em fevereiro de 1988. Em maio de 1989 uma Resoluo do Secretrio da Sade instituiu a Comisso de Prticas Alternativas de Sade com a finalidade de preparar subsdios legais para obteno de produtos de garantida qualidade necessrios implantao das prticas alternativas na rede, uma vez que, naquela poca, medicamentos homeopticos no eram produzidos pelo SUDS-SP. Foram consideradas ainda as dificuldades apontadas nos treinamentos para superviso em Farmcias e Laboratrios Homeopticos, Laboratrios Fitoterpicos e Ervanarias. O texto final produzido no foi aproveitado como material legal (115,116).10

Medicamentos homeopticos clssicos so aqui definidos como constitudos por apenas um componente, e no de diversas substncias associadas, denominadas de Complexos.

21

O Presidente da Comisso Interinstitucional de Sade do Estado de So Paulo (CIS/SP) aprovou, em 1989, as Diretrizes Gerais para o Atendimento em Homeopatia e o Contrato de Prestao de Servios de Aviamento de Receitas afirmao: Homeopticas. Encontra-se nesta Deliberao a seguinte

"Dada a importncia do medicamento homeoptico no atendimento clnico homeoptico, torna-se necessrio que este seja manipulado com rigor em sua farmacotcnica prpria e por profissionais de comprovada especialidade".

Este texto decidia ainda sobre os critrios de contratao de farmcia homeoptica a fim de possibilitar a assinatura de um contrato, que deveria ser precedido de licitao na forma da lei (43,117).

Cita MENDICELLI que

"at

julho

de

1993,

estavam cadastrados

nesse

grupo

de

Atendimento em Homeopatia cerca de 100 mdicos homeopatas, efetuando atendimento em 60 postos de sade, gerenciados pelo Estado, na Capital e no interior; esse nmero no inclua os postos de sade da Prefeitura de So Paulo, onde a municipalizao ainda no havia ocorrido, e que tambm ofereciam atendimento

homeoptico. Desde a implantao oficial da Homeopatia nos postos de sade do Estado de So Paulo, tem sido observado o aumento da clientela desse atendimento e o aumento de profissionais da rede pblica interessados em atuar nessa especialidade. Entretanto, a crise existente na rea da sade, e demisses voluntrias, tm reduzido o nmero de mdicos na rede estadual. provvel que tenha havido reduo no quantitativo de mdicos homeopatas, mas no se dispe de dados atualizados" (91).

MOREIRA NETO afirma que no ano de 1992, 140 mdicos homeopatas atendiam nos servios pblicos de sade do Estado de So Paulo (99).

22 Segundo informaes verbais de vrios ex-participantes das coordenadorias anteriormente existentes, os diversos servios, como o de centralizao de dados especficos para Homeopatia, o de fornecimento de medicamentos e locais de concentrao de atendimento de profissionais das ditas reas alternativas, j no existem mais. Alguns locais de atendimento mdico homeoptico efetivamente foram desativados, porm no existem mais as informaes anteriores que centralizavam estes dados.

Em 1991 foi criado o Departamento de Homeopatia na Associao Paulista de Medicina (APM), em sesso bastante polmica que contou com palestra do pesquisador francs Jacques BENVENISTE11.

A primeira associao estadual de farmacuticos homeopatas foi a Associao Paulista de Farmacuticos Homeopatas (APFH), fundada em 9 de julho de 1986. Em 1988 foi criada a Associao Brasileira de Farmacuticos Homeopatas (ABFH), entidade que congrega hoje cerca de 600 associados farmacuticos. Alm da elaborao de 2 edies do Manual de Normas Tcnicas (MNT) para Farmcia Homeoptica, esta associao criou tambm, em 1997, o exame de Ttulo de Especialista em Farmcia Homeoptica (8,9) .

Podemos afirmar com segurana que pas algum do mundo conta com nmero to grande de farmacuticos com cursos de especializao em Homeopatia (82).

O Conselho Federal de Farmcia (CFF), atravs da Resoluo 232 de 6 de maio de 1992, e posteriormente das Resolues 267 (de 9 de fevereiro de 1995) e 335 (de 17 de novembro de 1998), estabeleceu as qualificaes para considerar o farmacutico habilitado para exercer a Responsabilidade Tcnica de Farmcia Homeoptica (47,48,49).

11

Pesquisador francs, diretor de uma unidade de Farmacologia e Imunologia do INSERM, Instituto Nacional de Pesquisas Mdicas da Frana e coordenador de polmico trabalho publicado na revista Nature. Seu laboratrio foi local de estgio curricular durante elaborao desta tese.

23 A AMHB, atravs de sua Comisso de Sade Pblica, elaborou uma Proposta para Implantao de Atendimento Homeoptico na Rede Pblica. O objetivo deste documento orientar os executores das polticas de sade locais, que desejem implementar um programa de atendimento homeoptico no servio de sade de sua regio, sobre as condies mnimas necessrias para que a prtica homeoptica possa ser implantada, consolidada e avaliada no SUS, Servio nico de Sade. Aponta os recursos humanos e materiais para estabelecimento de uma farmcia de manipulao

homeoptica prpria, embora considere que o medicamento tambm possa ser fornecido atravs de credenciamento ou estabelecimento de convnio com farmcias homeopticas privadas, ou ainda montagem de caixa bsica de medicamentos, a critrio do mdico homeopata local (11).

Dados do V Forum Nacional de Homeopatia na Rede Pblica, realizado pela Comisso de Sade Pblica da AMHB, em final de 1998, relataram a existncia de 166 homeopatas nos servios pblicos de sade, sendo 80 no estado do Rio de Janeiro. No houve informaes sobre o estado de So Paulo. Em relao aos 12 mais significativos problemas da Homeopatia na rede pblica, a dificuldade de acesso medicao homeoptica aparece em 6 lugar, citada por apenas 6,7% dos informantes. Ainda que a "Proposta para Implantao de uma Unidade-piloto na Rede Pblica do SUS" considere que o paciente deva ter garantia de acesso ao medicamento, 70% dos servios enumerados no incluem seu fornecimento. Anexa a esta

Proposta, existe uma Relao de 132 medicamentos, assim como um Questionrio de Satisfao do Usurio, onde aparecem perguntas sobre a facilidade de encontrar o medicamento e se sua distribuio gratuita (42).

Apesar das conhecidas dificuldades financeiras e administrativas que enfrentam os servios de sade, tanto no Brasil, como em outros pases, a Homeopatia tem-se tornado mais popular. A existncia de diversos cursos, com nmero crescente de alunos mdicos, farmacuticos, dentistas e veterinrios, assim como a quantidade de farmcias exclusivamente homeopticas (mais de 100, apenas na cidade de So Paulo, e seguramente mais de 500 no Brasil), atestam o maior interesse da populao, que busca este tipo de atendimento mdico, tanto nos consultrios privados, como na rede pblica.

24

MENDICELLI, em pesquisa realizada junto a servios de atendimento mdico do Municpio de So Paulo, demostrou que a Homeopatia tem boa aceitao pela populao. O atendimento homeoptico em posto de sade foi considerado uma necessidade, sendo a possibilidade de escolha desse tratamento pela populao o motivo mais alegado (91).

O Centro de Sade Escola Geraldo de Paula Souza (CSE-GPS) da Faculdade de Sade Pblica da USP oferece tratamento mdico homeoptico a sua clientela desde fevereiro de 1995, alm de estgio para mdico em treinamento, descrito no Informativo da Associao Paulista de Homeopatia como "residncia em Homeopatia" e confirmado por MOREIRA NETO (12,14,15,99). Em publicao destinada anlise de planos e seguros-sade privados, o atendimento homeoptico est includo em 9 planos dos 24 considerados, e em um tero dos seguros, sendo que em metade deles encontra-se a observao de ser um atendimento apenas ambulatorial, que no inclui os medicamentos (75).

1.4 - O medicamento em Homeopatia:

Uma

vez

que

os

medicamentos

homeopticos

so

preparados

principalmente a partir de substncias vegetais, animais e minerais, infinitesimalmente diludos em solues hidroalcolicas, esperado que haja muita controvrsia sobre sua eficcia e mecanismo de ao. Existem hipteses para explicar o fenmeno homeoptico e modelos para o mecanismo de ao do medicamento dinamizado (103,104,107,111).

Um dos artigos mais conhecidos, que tornou-se um importante marco na histria da Homeopatia, foi o de DAVENAS et al. Seu objetivo era demonstrar a ao de solues extremamente diludas de anticorpos sobre basfilos humanos. Aps publicar o artigo com reserva editorial, a revista Nature enviou investigadores ao laboratrio de BENVENISTE, para examinar repeties dos experimentos. Apesar dos resultados terem sido confirmados por quatro laboratrios estrangeiros e um outro francs, sua reprodutibilidade era baixa, e repercusses seguiram-se no mundo todo,

25 tanto em publicaes leigas como da parte da comunidade cientfica internacional, classificando o artigo como uma heresia, e acusando seus autores de insistirem sobre uma fraude (53).

Esse episdio - conhecido como "o caso BENVENISTE" - gerou muita polmica. Como conseqncia, alguns de seus co-autores acabaram por abandonar pesquisas nesta rea, enquanto outros persistem, perseguindo arduamente a comprovao de suas idias, enfrentando crticas e cortes de verbas. Segundo BENVENISTE "os resultados da pesquisa impem a todos, e sobretudo comunidade cientfica, um considervel esforo de adaptao. Trata-se de penetrar em outro mundo conceitual". E ainda:

(....) a obrigao primeira de um cientista a de constatar experimentalmente a existncia de um fenmeno reproduzvel e somente depois perguntar-se sobre sua significao e seu mecanismo. Rejeitar resultados estranhos, mesmo que sejam verificveis experimentalmente (evidentemente apenas ensaios efetuados sob condies experimentais rigorosas por pesquisadores experientes), sob o pretexto de que "no se aceita o que no se compreende", seria uma atitude retrgrada, anticientfica... (28,81).

Todo este caso gerou um interessante livro sobre a liberdade de pensamento na rea acadmica, cujo ttulo em portugus literalmente "Um caso de censura na cincia. O caso da memria da gua" (113).

Como afirma COULTER, o incio dos "testes clnicos controlados", na dcada de 50, trouxe a idia de que as barreiras para aceitao da Homeopatia s cairiam caso seu valor teraputico pudesse ser

demonstrado. Uma srie de pesquisas clnicas comearam a ser desenvolvidas, podendo ser utilizadas como prova indireta da atividade dos medicamentos, quando comparados a placebos. Algumas mostraram associao positiva no tratamento de diversas patologias, como rinite alrgica, fibrosite e gripe, e outras no mostraram efeito aparente, como o caso de estudos realizados com pacientes de artrite reumatide e insnia(37,51,62,65,104,113)

.

26 KLEIJNEN, KNIPSCHILD e RIET, em publicao elaborada com o apoio do Ministrio do Bem Estar Social, Sade Pblica e Assuntos Culturais da Holanda, compararam uma srie de artigos publicados sobre a clnica homeoptica, concluindo que, ainda que a evidncia da eficcia da Homeopatia a partir das pesquisas clnicas tenha sido positiva, necessrio maior rigor metodolgico na maior parte destas pesquisas, para chegar-se a concluses definitivas (79).

A tcnica de preparo de medicamentos homeopticos foi estabelecida por HAHNEMANN h 200 anos. Tendo vivido at os 88 anos, HAHNEMANN foi experimentando novas propostas clnicas, conjugadas com modificaes no preparo dos medicamentos. Vrios discpulos difundiram a Homeopatia pelo mundo, sem conhecer a 6 edio do Organon, publicada mais de 100 anos aps sua morte(70)

.

Tambm nas Farmacopias encontramos alteraes nos mtodos e nas substncias estabelecidas por HAHNEMANN. Poucos pases possuem Farmacopias Homeopticas Oficiais: Frana, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Chile, ndia, Mxico e Brasil. O fato de estarmos entre os pases que possuem Farmacopia, mostra o desenvolvimento desta teraputica entre ns e torna o medicamento oficial no pas, porm isto no significa que o medicamento seja padronizado. Percebe-se muitas diferenas, e at mesmo contradies, entre as vrias tcnicas de preparo, ainda que todas sejam legais, isto , amparadas por Farmacopias Oficiais. BARTHEL e tambm DELLMOUR, dedicam-se a salientar modificaes das prticas encontradas nos textos originais, que vo, por exemplo, desde o uso de espcie vegetal diferente, como o caso da substituio da Bryonia alba pela Bryonia dioica, passando pelo uso da abelha inteira e no mais apenas seu veneno, a no-triturao de vegetais e substncias solveis (como HAHNEMANN props no final de sua vida), at o uso de grandes quantidades na triturao - o que leva a uma menor eficcia da tcnica e perda do potncia do medicamento. Medicamentos obtidos atravs de diferentes mtodos de preparo so comparados, indicados ou contraindicados, sem que estes mtodos sejam plenamente conhecidos e criticados. A padronizao e normatizao do prprio atendimento mdico homeoptico passa pelo conhecimento e normatizao do medicamento,

27 importante instrumento desta teraputica. Um dos comentrios de ADLER et al. que a pesquisa clnica poderia obter benefcios substanciais, possibilitando a comparao dos resultados clnicos, caso ocorresse a padronizao farmacutica (4,22,23,24,54,61,67,72,73,98,102,105,125).

COULTER afirmou que cada substncia usada na prtica homeoptica tem sua caracterstica individual, similiar a nenhuma outra, no podendo portanto ser substituda. Esta idia conduz possibilidade de uso de um nmero ilimitado de substncias, sendo a limitao o conhecimento do homeopata, que, quando unicista12, procura chegar exata substncia medicamentosa necessria ao quadro individualizado dos sintomas de cada paciente. Uma relao de 2000 medicamentos definem ainda mais de 2000 estados patolgicos (conjunto de sintomas) diferentes, uma vez que um paciente manifesta apenas uma parte dos sintomas de cada medicamento. Percebe-se claramente a importncia do conhecimento claro e detalhado dos sintomas provocados pelas substncias no homem so, isto , sua patogenesia, conhecida atravs de sua "experimentao13"(51,52,77)

.

Afirma-se que os unicistas buscam o tratamento individualizado da totalidade do doente. Atravs de uma nica substncia, comparando os sintomas que ela provoca em indivduos saudveis e aqueles do doente a ser tratado, procuram curar a patologia do seu paciente. J os homeopatas pluralistas utilizam diversas substncias, administradas juntas em uma formulao (complexo), ou de forma alternada, geralmente em potncias14 mais baixas. Seu objetivo encontrar medicamentos para quadros de

12

Classificam-se tradicionalmente as escolas mdicas homeopticas em Unicistas, quando seus seguidores prescrevem apenas um medicamento, em dose nica ou repetida; Pluralista, quando prescrevem vrios medicamentos; Complexistas, quando prescrevem vrios medicamentos preparados em uma s formulao ou ainda Alternistas, quando alternam estes diversos medicamentos. Podemos considerar ainda a diviso entre os mdicos que prescrevem baixas potncias e altas potncias, estes ltimos influenciados principalmente por KENT. Alm da fundamentao terica das diferentes escolas variar em relao idia bsica de Hahnemann, temos uma consequncia direta na prescrio do medicamento, que pode ser nico (nica substncia, em dose nica ou repetida), diversos (17,52) alternados, ou diversas substncias preparadas em conjunto .13

Experimentao o processo sistemtico de testar substncias em indivduos saudveis para elucidar sintomas, que permite obter a descrio de sintomas de novos medicamentos, assim como a confirmar sintomas j descritos nas Matrias Mdicas homeopticas.

28 sintomas, isto , para doenas, ainda que individualizem a forma como determinada doena se manifesta em diferentes indivduos. Uma vez que existe um nmero relativamente restrito de categorias de doenas, os pluralistas prescrevem, em geral, um nmero menor de substncias. Este o fundamento para os complexos, ou tambm chamados "especficos homeopticos" (52,101).

As divergncias entre unicistas e pluralistas/alternistas/complexistas tm levado a separaes entre os homeopatas. HERING, introdutor da Homeopatia nos Estados Unidos, afirmou: "Se nossa escola abrir mo do estrito mtodo indutivo de HAHNEMANN, estaremos perdidos, e

mereceremos ser mencionados apenas como uma caricatura na histria da medicina" (52).

A Homeopatia permanece sendo aplicada de maneira individualizada, o que embora seja de grande valor no atendimento mdico sob a tica da Sade Pblica, tem alcance populacional restrito. Em oposio, a Alopatia testa substncias at encontrar a relao tima entre dose e freqncia de administrao, que sejam aplicveis, na mdia, maior parcela da populao.

Lidando com pequenos nmeros, a Homeopatia no conseguiu manter o mesmo desenvolvimento do conhecimento especfico da substncia de origem para o preparo dos medicamentos obtido pela Alopatia. Assim, por exemplo, no utilizar a planta originalmente descrita mas sim uma similar, deve muito mais ser creditado s dificuldades para localizar a primeira, do que s vantagens auferidas com a segunda.

O processo de evoluo tecnolgica passa pelas dificuldades de se fazer ou utilizar o tradicional. esta dificuldade que impulsiona a busca de uma nova alternativa. Quando lidamos com grandezas mensurveis, podemos avaliar se a experincia conduziu a um ganho ou a uma perda na eficincia do processo. Entretanto, apenas clinicamente podemos ensaiar se o

14

A potncia do medicamento homeoptico indica quantas vezes ele foi dinamizado, isto , diludo e agitado.

29 medicamento homeoptico obtido com uma planta similar, por exemplo, conduz aos mesmos resultados daquele obtido a partir de uma original.

Se a Matria Mdica relaciona substncias a sintomas por elas desenvolvidos em indivduos saudveis, certamente variaes nessas substncias s deveriam ser validadas aps a insero de modificaes nestas obras, importante fonte de consulta dos clnicos homeopatas.

Ainda so poucos os que atentam para estes detalhes, mas a continuar o crescimento que a Homeopatia tem experimentado como alternativa de tratamento, maior ser a exigncia de um medicamento mais homogneo, mais padronizado e de melhor qualidade, nos prximos anos. Um produto de qualidade aquele que atende perfeitamente, de forma confivel, acessvel, segura e no tempo certo, s necessidades do paciente. Hoje o consumidor, final ou intermedirio, est mais atento e exigente (36).

A unificao do Mercado Comum Europeu exigiu reviso nas legislaes de cada pas-membro participante, com a elaborao, em 1992, da Diretiva 92/73/EEC, destinada a harmonizar as regulamentaes dos produtos medicinais homeopticos para uso humano. Descreve o escopo,

manufatura, controle e inspeo, normas para colocao no mercado e provises finais. Os pases membros da Unio Europia que no tiverem uma proposta nacional para registro dos medicamentos, devem aceitar em seu mercado medicamentos registrados em outros estados membros(46,77,80)

.

A Diretiva reconhece a natureza especial do medicamento homeoptico e permite um sistema simplificado de registro, baseado apenas na qualidade e na segurana, desde que os medicamentos sejam:

apenas para uso oral ou externo suficientemente diludos para garantir segurana, geralmente a 1:10.000 ou seja, a partir de D4 ou 2CH; comercializados sem declarao de eficcia ou teraputica (46).

30 Produtos mais concentrados, ou injetveis, devem responder aos mesmos critrios dos medicamentos convencionais alopticos, como procedimentos de Controle de Qualidade, testes de estabilidade e dados sobre a segurana(46,77)

.

Existe no Reino Unido outro sistema de licena ("Special Manufacturing Licence" ou seja, Licena Especial de Fabricao), que permite que farmcias forneam medicamentos tanto para o pblico, quanto para hospitais, clnicos e outras farmcias que no possam faz-los. No proposto para a produo de medicamentos em grande escala, com formao de estoques. Estes estabelecimentos so inspecionados

regularmente e devem ter registro de seu fornecimento e de seus procedimentos de Controle de Qualidade (77).

Em relao a questes de registro, na Unio Europia, de modo geral, o medicamento homeoptico clssico tem uma situao semelhante dos outros, tambm submetidos Autorizao para Venda, embora no necessite provar sua eficcia. Na Frana, 1163 medicamentos

homeopticos tem 65% do seu valor reembolsvel pela Previdncia Social, taxa em princpio reservada aos produtos que tiveram sua eficcia provada para afeces de uma certa gravidade. No requerem prescrio para venda, assim como nos Estados Unidos so de venda livre desde 1938, embora estejam submetidos ao controle do rgo controlador de medicamentos e alimentos, o FDA (1).

Steven KAYNE, em palestra proferida em janeiro de 1999, durante o Seminrio Internacional sobre Assistncia Farmacutica, promovido pelo Conselho Regional de Farmcia (CRF) do Estado de So Paulo, em janeiro deste ano, afirmou que cerca de 80% do total dos medicamentos, inclusive os homeopticos, prescritos por clnicos no Reino Unido, so gratuitos. Medicamentos prescritos pelo Servio Nacional de Sade ("National Health Service" ou NHS) totalmente reembolsado, porm o paciente deve arcar com uma taxa fixa de imposto, que pode exceder o valor do medicamento, especialmente do homeoptico, que barato. Neste caso, menos oneroso que o cliente adquira o medicamento homeoptico como de venda livre, tambm conhecido como OTC ("over the counter") (77).

31

Na Amrica Latina, com a criao do MERCOSUL, os pases associados vem-se obrigados igualmente a unificar suas normas, entre elas as relacionados fabricao de medicamentos. Um dos primeiros reflexos dessas novas exigncias a presso que passou a exercer o Ministrio da Sade, atravs da Secretaria de Vigilncia Sanitria, para que as indstrias farmacuticas em geral, e as homeopticas em particular, adaptassem-se s normas internacionais de GMP15.

Em So Paulo, um grupo de farmacuticos de laboratrios industriais farmacuticos elaborou e encaminhou ao Ministrio da Sade normas de GMP especficas para esta rea, que tem caractersticas diferentes daquelas da indstria farmacutica aloptica. importante que tcnicos tenham a iniciativa de propor sugestes e medidas especficas relativas a pontos onde existam diferenas nas condutas industriais farmacuticas, visando uma adequao realidade atual, e um preparo para o futuro desenvolvimento da industrializao de medicamentos homeopticos. A normatizao ainda incompleta na rea homeoptica permite que a produo industrial coloque no mercado medicamentos sem especificaes, de baixa padronizao e conseqente baixa qualidade. Apesar de suas particularidades, o produto homeoptico deve ser tratado igualmente como medicamento. Isto significa buscar inibir a atuao de laboratrios no habilitados, ou a prtica comum de agregar o termo "produto homeoptico" a medicamentos de baixa qualidade, freqentemente veiculados pela mdia, adquiridos atravs de correio, que, com esta qualificao, buscam acobertar-se em exigncias menores (120).

A Secretaria de Vigilncia Sanitria do Ministrio da Sade, atravs da Portaria n 2.543 de 14 de dezembro de 1995, instituiu o Grupo Assessor Tcnico-Cientfico em Medicinas No-Convencionais (GATC-MnC), com a finalidade de contribuir para normatizao dos servios, bem como para o estabelecimento de padres de qualidade de substncias e produtos nas medicinas no convencionais, com vistas ao seu controle. Alm de prestar assessoria, este Grupo deveria cooperar tecnicamente para adoo e15

GMP, Good Manufacture Practices, ou seja, Boas Prticas de Fabricao (BPF): conjunto de normas internacionais a serem seguidas para obteno de medicamentos de qualidade.

32 implementao de medidas que garantissem a qualidade e possibilitassem o acesso seguro aos servios das medicinas no convencionais no SUS. Outra funo era colaborar na divulgao de informaes e na formao e capacitao de recursos humanos para a Vigilncia Sanitria e outros setores da rede de servios do SUS, na rea das medicinas no convencionais. Na reunio inicial, em maro de 1996, foram organizadas 4 subcomisses a saber: Acupuntura, Fitoterapia/Ayurvdica, Antroposofia e Homeopatia. Estas reunies no seguiram adiante. Hoje, a estrutura desta Secretaria sofreu profundas alteraes, com a criao da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVS) (97,106).

O desenvolvimento da Homeopatia em nosso pas coincidiu com o retorno do farmacutico farmcia pblica. No incio dos anos 80, comearam a surgir novas farmcias de manipulao voltadas para o preparo de medicamentos homeopticos. Neste novo espao, abria-se um dos mbitos de atuao para o farmacutico, profissional que havia deixado o comrcio de medicamentos, mais recentemente realizado principalmente em

drogarias, estabelecimentos que apenas os comercializam.

O crescimento rpido do nmero de farmcias homeopticas, se por um lado trouxe vantagens para a populao, que passou a ser atendida por farmacuticos, por outro instalou um grande nmero de estabelecimentos que atuam como pequenas unidades de fabricao, que lidam com mais de 2000 substncias, cada uma com uma infinidade de potncias, combinaes de substncias e formas farmacuticas diversas, reforando e realando a pouca padronizao em seus procedimentos.

As associaes de farmacuticos homeopatas comearam a ser formadas no final da dcada passada, inicialmente no Estado de So Paulo (APFH), e depois em outros estados, chegando at a fundao da Associao Brasileira de Farmacuticos Homeopatas, que elaborou o Manual de Normas Tcnicas (MNT), j em sua 2a. edio. Estes Manuais foram escritos a partir de Encontros Nacionais de Farmacuticos Homeopatas. Existia, na poca, uma 1 edio da Farmacopia Homeoptica Brasileira que continha pontos diferentes de todas as outras Farmacopias de outros pases, e era pouco seguida pelos farmacuticos em suas farmcias. O

33 Manual foi elaborado segundo discusses que ocorreram entre as centenas de farmacuticos presentes durante os diversos Encontros Nacionais de Farmacuticos Homeopatas. Mesmo contando com a democrtica

participao dos interessados, suas recomendaes no foram prontamente seguidas. Em continuidade deste trabalho, em novembro de 1997, foi publicada a 2a. edio da Farmacopia Homeoptica Brasileira. Diferente da dinmica do Manual, esta foi elaborada por uma pequena comisso composta de 5 farmacuticos e suscitou diversas manifestaes (7,8,9,16,60)

At que regulamentaes amplamente acatadas pela totalidade dos farmacuticos sejam efetivamente implantadas em todo o pas,

permanecer entre ns uma realidade de medicamentos nem sempre padronizados, que permite at que produtos diferentes, obtidos a partir de diversos mtodos, sejam dispensados com o mesmo nome. Mesmo que tal fato seja parcialmente conhecido pelo mdico, , via de regra, considerado irrelevante, ainda que o medicamento seja instrumento valioso para o tratamento que este profissional prescreve (123).

Em outros pases, como na Frana e Alemanha, este preparo ocorre em grandes indstrias, sob uma rgida padronizao determinada por Farmacopias bem estruturadas. Por exemplo, a parte homeoptica da Farmacopia Francesa foi introduzida em 1965, e hoje contm tambm normas de controle, fabricao e registro de medicamentos homeopticos. A Farmacopia Homeoptica Alem prima pelos mtodos de Controle de Qualidade que inclui nas monografias das substncias que do origem ao medicamento homeoptico. As grandes indstrias francesas procuram estender este modelo para outros pases, como os do Leste Europeu e Estados Unidos. Por diversas razes, inclusive provavelmente devido instabilidade econmica comum nas ltimas dcadas em nosso pas, o modelo de preparo de medicamentos homeopticos produzidos pelas indstrias farmacuticas homeopticas multinacionais no foi implantado aqui, desenvolvendo-se, pelo contrrio, as muitas farmcias homeopticas, cada uma atuando como uma "pequena indstria farmacutica" (72,73,102).

A Argentina, de onde vieram ao Brasil diversos professores mdicos, alm do farmacutico Arturo MENDEZ, que ensinou durante muitos anos em

34 Curitiba e So Paulo, tambm enfrenta hoje a necessidade de padronizar as tcnicas de preparo dos medicamentos homeopticos. Durante a II Jornada Farmacutica da Associao Mdica Homeoptica Argentina, em 1997, houve o questionamento sobre quais os melhores caminhos a serem seguidos, uma vez que o pas no contava com Farmacopia Homeoptica: seria melhor adotar uma Farmacopia j existente? Ou seguir a experincia que ocorreu no Brasil, com a elaborao de um Manual dinmico que incentivou o trabalho de um grande nmero de participantes, mobilizando profissionais para agir em resposta s suas necessidades? Evidenciou-se a necessidade de iniciarem-se discusses para a elaborao de textos preliminares, para serem aprimorados no futuro (90).

Outro ponto a ser notado que no se pode analisar o medicamento homeoptico da mesma forma que os alopticos. Este fato introduz outra dificuldade, j que apenas as baixas potncias podem ser rotineiramente testadas. Assim sendo, a qualidade do medicamento diludo depende de um rgido controle sobre as matrias primas iniciais, bem como dos solventes e veculos. Depende ainda de um seguimento rigoroso dos procedimentos tcnicos utilizados durante o preparo. Testes para medicamentos

dinamizados (e geralmente bastante diludos), so ainda tentativas sofisticadas e caras, incompatveis com o Controle de Qualidade cotidiano. Isto pode inserir um fator altamente subjetivo na escolha da farmcia ou indstria que os fornece, ou ainda favorecer critrios como o de menor custo, com prejuzo de qualidade adequada (77).

Considerando que o medicamento deva ter carter universal, especialmente para o atendimento no servio pblico, quando focamos a Homeopatia, podemos acrescentar diversidade de medicamentos, a orientao teraputica das diversas escolas homeopticas, que privilegiam potncias, escalas e at grupos de medicamentos, o que torna difcil a adequao de quais necessidades suprir para atendimento da populao.

Alm disso, deve-se levar em conta que:

a Homeopatia um recurso importante para questes de Sade Pblica, j ocupando um lugar no sistema de sade;

35 o medicamento importante no tratamento homeoptico, tendo caractersticas diferentes e dificuldades para ser padronizado. o insumo crtico para o atendimento mdico homeoptico da

populao.

Algumas questes impem-se: como pode ser tratada a questo "medicamento" nos programas onde h atendimento homeoptico em servios pblicos de sade? Em que medida pode-se fornecer subsdios para polticas relativas ao medicamento, que torne a Homeopatia mais instrumentalizada, mais slida e consistente?

O medicamento, ainda que seja um insumo varivel, tem que dar consistncia ao modelo de assistncia mdica homeoptica sade, sendo importante preservar a implantao da Homeopatia, devido a problemas com seu fornecimento. O abastecimento no deve depender de doaes ou solues alternativas a serem encontradas em cada local que deseje implantar o servio de atendimento homeoptico.

O estudo visa, em resumo, analisar este insumo crtico - o medicamento em todas suas caractersticas-problemas, para diminuir as dificuldades, oferecendo subsdios para normatizar e para implementar polticas de medicamentos que possam beneficiar o atendimento mdico homeoptico no servio pblico de sade.

36

2 OBJETIVOS:

Foram estabelecidos os seguintes objetivos para esta tese:

estudar e descrever experincias de fornecimento de medicamento em servios de sade;

oferecer subsdios para formulao de polticas de medicamentos homeopticos para os servios pblicos de sade, contornando possveis dificuldades que possam prejudicar a implantao ou a manuteno do atendimento mdico homeoptico nestes servios;

fornecer elementos para incrementar a implantao da Homeopatia, por meio de propostas para o medicamento, que tornem mais fcil e possvel o desenvolvimento dos programas.

37

3 - METODOLOGIA:

Com o objetivo de conhecer como ocorre o fornecimento do medicamento homeoptico em servios mdicos, foi iniciada uma busca de informaes dos locais que ofereciam esta alternativa teraputica.

Em um primeiro momento, com a finalidade de ampliar os conhecimentos, visando tambm o desenvolvimento dos instrumentos metodolgicos, foi realizada, em 1996, uma visita ao Centro de Sade Escola - Geraldo de Paula Souza (CSE-GPS), da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo. As informaes obtidas nessa entrevista com o diretor do servio serviram como uma amostra intencional para indicao de como estava ocorrendo o atendimento na rea de Homeopatia, tanto do ponto de vista mdico, quanto em relao ao fornecimento dos medicamentos. Como instrumento bsico foi utilizado um roteiro de perguntas, que pode ser observado no Anexo 1.

Este roteiro posteriormente foi utilizado no estudo dos outros servios, na parte da