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Em 24/11, a Amcham encerrou o segundo ano de atividades do programa “Competitividade Brasil – Custos de Transação” com um seminário em Brasília. O evento reuniu cerca de 120 representantes das iniciativas privada e pública para debater os desafios brasileiros em termos de infraestrutura e capacitação de mão de obra, cruciais para garantir maior competitividade ao País. Saiba mais sobre o programa aqui. No que toca à mão de obra, participantes do seminário destacaram que avanços dependem de um processo de qualificação generalizado, que deve começar já no ensino fundamental. Sem isso, a baixa capacitação dos profissionais se tornará um entrave ao desenvolvimento do Brasil, comprometendo pontos como o potencial nacional de inovação. Leia mais sobre essa discussão aqui. Quanto à infraestrutura, as atenções se concentraram nos impactos que as deficiências nos mais variados modais de transporte trazem para a agricultura. O setor exemplifica como o empresariado como um todo tem sua eficiência prejudicada “da porta para fora”, ao se deparar com custos logísticos muito superiores aos verificados em outros países. Veja detalhes sobre esse debate aqui. Cristovam Buarque Senador (PDT-DF) defende que o Brasil necessita de uma verdadeira revolução na educação e que é preciso tratar o tema em âmbito nacional. Newton Lima Deputado federal (PT-SP) e ex-reitor da UFSCar avalia que a política educacional no Brasil já vem ganhando novos rumos. Reinhold Stephanes Deputado federal (PSD-PR) e ex-ministro da Agricultura mostra um retrato das dificuldades logísticas vividas pela agricultura: hoje, transportar produtos do Sul ao Nordeste é mais caro do que levá-los à China. Cibele Castro Vice-presidente de Pessoas e Gestão da AES Brasil acredita que investimentos que estão sendo feitos em infraestrutura criam condições para atrair mais estudantes para a área de exatas. Acompanhe também entrevistas com alguns dos palestrantes do seminário: Entrevistas Brasília, 13 de dezembro de 2011.

Amcham Highlights - Competitividade Regional | Custos de Transação - Brasília - 13-12-2011

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Page 1: Amcham Highlights - Competitividade Regional | Custos de Transação - Brasília - 13-12-2011

Em 24/11, a Amcham encerrou o segundo ano de atividades do programa “Competitividade Brasil – Custos de Transação” com um seminário em Brasília. O evento reuniu cerca de 120 representantes das iniciativas privada e pública para debater os desafios brasileiros em termos de infraestrutura e capacitação de mão de obra, cruciais para garantir maior competitividade ao País. Saiba mais sobre o programa aqui.

No que toca à mão de obra, participantes do seminário destacaram que avanços dependem de um processo de qualificação generalizado, que deve começar já no ensino fundamental. Sem isso, a baixa capacitação dos profissionais se tornará um entrave ao desenvolvimento do Brasil, comprometendo pontos como o potencial nacional de inovação. Leia mais sobre essa discussão aqui.

Quanto à infraestrutura, as atenções se concentraram nos impactos que as deficiências nos mais variados modais de transporte trazem para a agricultura. O setor exemplifica como o empresariado como um todo tem sua eficiência prejudicada “da porta para fora”, ao se deparar com custos logísticos muito superiores aos verificados em outros países. Veja detalhes sobre esse debate aqui.

Cristovam BuarqueSenador (PDT-DF) defende que o Brasil necessita de uma verdadeira revolução na educação e que é preciso tratar o tema em âmbito nacional.

Newton LimaDeputado federal (PT-SP) e ex-reitor da UFSCar avalia que a política educacional no Brasil já vem ganhando novos rumos.

Reinhold StephanesDeputado federal (PSD-PR) e ex-ministro da Agricultura mostra um retrato das dificuldades logísticas vividas pela agricultura: hoje, transportar produtos do Sul ao Nordeste é mais caro do que levá-los à China.

Cibele CastroVice-presidente de Pessoas e Gestão da AES Brasil acredita que investimentos que estão sendo feitos em infraestrutura criam condições para atrair mais estudantes para a área de exatas.

Acompanhe também entrevistas com alguns dos palestrantes do seminário:

Entrevistas

Brasília, 13 de dezembro de 2011.

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Amcham aprofunda programa Competitividade Brasil

A Amcham realizou entre junho e novembro o segundo ciclo de eventos do programa “Competitividade Brasil – Custos de Transação”. Criado em 2010 para promover discussões e a formulação de alternativas para enfrentar gargalos que comprometem a maior competitividade brasileira, o projeto em 2011 foi aprofundado e levado a várias das cidades em que a Amcham está presente.

A agenda de seminários incluiu Belo Horizonte (28/06), Curitiba (13/07), Campinas (26/07), Recife (05/08) e Brasília (24/11), além de São Paulo (23/08 e 15/09), onde o programa teve origem. A ideia, neste ano, foi ampliar o debate sobre esse tema tão premente para o País e focar também necessidades regionais, mantendo o caráter contributivo de busca de soluções.

Ações prévias

O programa “Competitividade Brasil” começou a germinar em 2009, durante a divulgação do relatório de competitividade global do Fórum Econômico Mundial na Amcham-São Paulo. Na ocasião, ficou patente que, apesar de avanços consistentes, algumas das áreas mais fundamentais para a competitividade econômica brasileira ainda carecem de maior atenção, a saber: formação de mão de obra técnica, eficiência do Estado, infraestrutura e quantidade de rotinas burocráticas.

Atenta a essas questões determinantes para o futuro do País, a Amcham estruturou o projeto, por meio do qual, ao longo de 2010, realizou pesquisa junto à sua base de associados para melhor compreender os desafios da competitividade e um conjunto de seminários em São Paulo para dialogar sobre o tema e levantar alternativas de superação.

As sugestões foram priorizadas conforme sua importância e urgência na ótica do setor privado brasileiro e estão sendo incorporadas ao trabalho de advocacy da Amcham. Houve ainda, no final do ano, um quinto encontro para tratar da “Reforma Tributária Possível”, já aprofundando pontos indispensáveis para destravar o sistema tributário nacional e incrementar a competitividade das companhias.

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Processo de qualificação da mão de obra começa no ensino básico

A qualidade da mão de obra brasileira, necessária para sustentar o desenvolvimento econômico dos próximos anos e garantir uma maior competitividade ao Brasil, tem de ser pensada desde os primeiros anos da vida escolar, defenderam especialistas que participaram em 24/11 de seminário do programa “Competitividade Brasil – Custos de Transação” da Amcham em Brasília. O encontro marcou o encerramento do segundo ano de atividades do projeto.

“Não conseguiremos vencer o apagão de mão de obra sem um bom ensino fundamental para os alunos que entrarão no nível técnico. É fundamental ver a necessidade de preencher cerca de oito milhões de vagas técnicas de nível médio como parte de um problema maior, que é um ensino fundamental hoje vergonhoso”, disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Para o senador, a carência de profissionais especializados, sentida em todo o País, precisa ser combatida com a

reestruturação do ensino. “A educação exige uma revolução no sistema educacional como um todo. Ela precisa ser transformada em uma questão nacional, federalizada.”

Além de um ensino fundamental melhor, também é necessário reforçar a carga horária do nível médio. A proposta de Cristovam Buarque é ampliar a duração dessa etapa de formação dos atuais três para quatro anos. “E o aluno já sairia com um ofício. Não é imprescindível ir à universidade, mas ter uma alternativa de curso técnico que permita sofisticação no desempenho das profissões”, destacou.

Inovação comprometida

Sem essas mudanças, continua Buarque, a má qualidade da educação em breve será um entrave para o País.

Uma das principais consequências dessa deficiência na formação de profissionais é o baixo índice de inovação. “Nossa capacidade de inventar é muito pequena. Hoje, o que gera competitividade são produtos novos no mercado”, lembrou o senador.

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O comprometimento da habilidade do País para inovar também foi salientado por Jacques Marcovitch, professor da Universidade de São Paulo (USP) e mediador do debate. “Se não houver mudança profunda na formação, dificilmente daremos resposta ao tema da inovação”, comentou.

Na mesma linha, o deputado federal Newton Lima (PT-SP), ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), destacou que o Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas está mal posicionado em rankings mundiais de inovação e produção científica (respectivamente, 47ª e 13ª colocações no Global Innovation Index 2011 do Insead). “O desafio estratégico é colocar a inovação tecnológica na agenda de políticas prioritárias do Estado, com foco no fortalecimento de pesquisa e desenvolvimento empresarial”, disse o parlamentar.

Iniciativas importantes

Diante da necessidade de capacitar mão de obra para impulsionar avanços em inovação e competitividade, Newton Lima destacou a importância das seguintes iniciativas em curso no País: Parceria para capacitação

A AES Eletropaulo, empresa de geração e distribuição de energia, é exemplo de como o setor privado sofre com a escassez de profissionais qualificados, especialmente quadros técnicos, e age para fazer face a esse cenário.

Em 2009, a AES Eletropaulo lançou o programa Pool de Eletricistas, em parceria com o

► Expansão da educação profissional e superior;

► Plano Nacional de Educação, que define metas para a educação entre 2011 e 2020;

► Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), voltado a expandir a oferta de cursos técnicos e profissionais de nível médio, e de cursos de formação inicial e continuada para trabalhadores;

► Programa Ciência sem Fronteiras, que prevê a concessão de 100 mil bolsas para estudantes brasileiros fazerem intercâmbio no exterior, com o objetivo de incentivar maior avanço brasileiro em ciência e tecnologia.

Lima também defendeu o uso dos royalties do pré-sal para investimentos em educação e inovação.

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Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Instituto Edison, de ensino técnico e profissionalizante. Além de suprir as necessidades de funcionários da AES, o programa também contribui para capacitar mão de obra para o mercado.

“Já formamos cerca de 2600 profissionais no setor de distribuição e admitimos 170. As empresas parceiras (contratadas pela AES) contrataram 1700, e o excedente foi para o mercado de trabalho”, contou Cibele Castro, vice-presidente de Pessoas e Gestão da AES.

Aumento das exigências profissionais

A dificuldade da AES de encontrar profissionais preparados não é isolada. O dinamismo da economia brasileira e a modernização das empresas nos últimos anos colocaram novas exigências de qualificação que, no geral, não vêm sendo acompanhadas pelas escolas de formação. O pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) Divonzir Arthur Gusso explicou, no evento da Amcham, que isso se reflete diretamente no recrutamento das companhias.

Hoje, são necessárias qualificações específicas que exigem mais formação técnica. Por outro lado, a oferta expandida de ensino médio ainda reproduz conteúdo curricular desatualizado, o que desestimula o interesse dos estudantes, apontou o pesquisador.

Entre 1998 e 2009, verificou-se que as vagas em serviços de infraestrutura de transportes e telecomunicações passaram por um grande nível de sofisticação, devido à maior inserção desses setores na economia e à necessidade de atualizações tecnológicas.

Nesse período, os empregos diminuíram nos setores de agronegócio e indústria – sendo que a indústria voltou a contratar nos anos posteriores. Outro movimento importante foi o processo de formalização e diversificação de vagas no setor terciário (serviços).

Gusso avalia que essas mudanças reforçam a relevância de um conjunto de propostas da Amcham para enfrentar os gargalos de mão de obra no Brasil, com destaque para criação de incentivos fiscais às companhias que investem em capacitação, e desenvolvimento de um programa intensivo de melhoria do ensino médio nas áreas de matemática, ciências, física e química.

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Eficiência do setor agrícola é afetada por infraestrutura antiga e falta de políticas de

escoamento de produção

A tecnologia avançada de plantio e o clima favorável tornam a agricultura brasileira uma das mais competitivas do mundo. No entanto, a eficiência do setor é ofuscada por estradas em más condições e portos sobrecarregados e carentes de modernização, além da falta de políticas claras de produção agrícola.

“A infraestrutura logística é a questão básica e fundamental (para o agronegócio). O Brasil não tem hoje um plano de escoamento de safra. Não existe uma estratégia de governo para isso. Há apenas algumas medidas esparsas”, disse Reinhold Stephanes, deputado federal (PSD-PR) e ex-ministro da Agricultura, em participação no seminário do dia 24/11.

Com isso, o País se vê sem nenhuma estratégia quanto a melhores caminhos e formas de levar a produção aos terminais portuários.

A existência de um plano de escoamento de produção ajudaria a corrigir os gargalos da infraestrutura logística, que está obsoleta. Faltam investimentos em ampliação da capacidade dos portos e da malha de transportes, especialmente o ferroviário, para transportar a produção. “É claro que tudo isso recai nos custos de produção e, consequentemente, na renda do produtor.”

De acordo com Stephanes, o rendimento médio de mais da metade dos produtores agrícolas brasileiros é de pouco mais do que um salário mínimo (R$ 545). “Mesmo sendo eficientes, os produtores têm uma renda extremamente baixa, porque ela se perde no meio do caminho em função dos custos.”

Custos logísticos

O custo de logística agrícola no Brasil é o dobro do verificado nos Estados Unidos, comparou Paulo Resende, diretor de Desenvolvimento da Fundação Dom Cabral e mediador do painel. “Enquanto o custo de logística agrícola nos EUA é de 8% sobre o Produto Interno Bruto (PIB) agrícola, no Brasil ele ultrapassa 16%”, revelou.

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Se o Brasil investisse cerca de US$ 35 bilhões por ano em corredores logísticos eficientes (portos, ferrovias e outros) ao longo da próxima década, a agricultura responderia em eficiência competitiva. “Isso reduziria os custos em cerca de US$ 420 bilhões. Em relação aos US$ 350 bilhões investidos, seriam US$ 70 bilhões de superávit. Mas aplicamos menos de US$ 1,5 bilhão, por volta de 5% do necessário.”

O professor salienta que o Brasil vive hoje um descolamento entre o que se verifica na área de infraestrutura e na economia como um todo, o que significa um grande perigo em termos de competitividade. “O Brasil está posição de exceção entre as dez maiores economias do mundo e é a única delas que aparece acima da 20ª posição em termos de infraestrutura no ranking do Fórum Econômico Mundial”, pontuou.

Fretes mais caros no Brasil

No Brasil, a processadora americana de alimentos Cargill costuma pagar três a quatro vezes a mais do que nos Estados Unidos pelo frete decorrente do transporte de produção de soja e milho.

“Aqui, o preço médio do frete chega a ficar em torno de US$ 100, enquanto nos Estados Unidos atinge US$ 25. Na Argentina, nosso concorrente direto, esse custo é de cerca de US$ 35”, disse Paulo Humberto Souza, diretor de Unidade de Negócios da Cargill.

O custo do frete da safra de fevereiro está sendo negociado a valores ainda maiores. “Sem incluir despesas de portos, o frete entre ferrovia e caminhão para movimentar soja produzida em Sorriso (MT) está calculado em torno de R$ 260. Em dólares, equivale a US$ 130 ou US$ 140”, revelou Souza.

“Isso é renda que sai do bolso do produtor e deixa de estar no comércio brasileiro para promover educação. Em resumo, é ineficiência.”

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Cristovam Buarque, senador (PDT-DF) | Precisamos de uma revolução na educação

Amcham: O que é preciso fazer para formar mais profissionais de nível técnico no Brasil em curto prazo?Cristovam Buarque: O apagão da mão de obra especializada é um dos pontos frágeis da economia brasileira. Não conseguiremos formar 8 milhões de trabalhadores técnicos nos próximos anos. Isso porque muita gente não fez um ensino fundamental que desse preparo suficiente para ingressar em um bom curso técnico.

Amcham: Como a educação se insere no contexto econômico? Cristovam Buarque: Há duas maneiras de se olhar a educação. A primeira é como riqueza em si. A outra é como meio para o desenvolvimento da economia. O apagão de mão de obra qualificada, nesse contexto, é um dos pontos frágeis que a economia tem e que não estamos vendo.

Amcham: Em sua opinião, qual a melhor forma de tratar a carência da formação de profissionais?

Cristovam Buarque: Não vejo outra forma senão fazer uma revolução na educação. A educação tem de ser federalizada. Precisa ser uma questão nacional, não municipal.

Amcham: Em se tratando de formação de mão de obra técnica, a educação básica é prioridade?Cristovam Buarque: Temos um problema sério. Se a questão da formação básica não for atacada, os cursos (técnicos) formarão pessoas despreparadas. Poderemos, amanhã, ser surpreendidos com uma solda que não foi bem feita ou uma massa de cimento que não foi misturada na devida proporção.

Amcham: Como o sr. analisa o interesse do poder público por solucionar o problema da carência de mão de obra técnica?Cristovam Buarque: Vejo a urgência empurrando o governo, que, mesmo assim, está chegando atrasado.

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Newton Lima, deputado federal (PT-SP) e ex-reitor da UFSCar|

Política educacional no Brasil vem ganhando novos rumos

Amcham: Em relação aos países em desenvolvimento, como está o Brasil em termos de inovação?Newton Lima: Veja o caso da Índia. Ela investe muito mais do que o Brasil em inovação. A porcentagem de investimento em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) é maior lá do que aqui. Já evoluímos de 0,9% do PIB para 1,3%, mas certamente precisamos chegar a 2%. A Índia também investe mais em educação, protege mais sua indústria e adiou sua entrada no Acordo Tríplice de Patenteamento da Propriedade Intelectual (da Organização Mundial do Comércio) para dar tempo de sua indústria se desenvolver. Hoje, a Índia tem tecnologia de ponta em várias áreas, em particular nos fármacos, e com uma velocidade de crescimento econômico muito maior do que a nossa. Além disso, sua pauta de exportação não é tão primária quanto a nossa. Esses são os elementos que nos diferenciam dos outros Brics. Temos de aprender com todos eles.

Amcham: E como o governo tem tratado a questão da inovação?Newton Lima: Tanto a inovação, ciência e tecnologia como a educação estão entrando na agenda do governo não mais como discurso, mas como conjunto de ações absolutamente positivas. Temos um programa novo, o Brasil Maior, em que a presidente Dilma Rousseff lançou as bases de uma articulação efetiva entre a política industrial e a de ciência, inovação e tecnologia. Trata-se de um conjunto de ações que abrangem pontos como a desoneração da folha de pagamento para setores estratégicos, começando com calçados, tecnologia da informação e comunicação, móveis e confecções. Também temos uma lei focada em compras governamentais. Esse é um instrumento que nações avançadas como os EUA, o Japão e as da Europa sempre usaram para que as compras públicas pudessem incentivar o desenvolvimento das cadeias produtivas nacionais. É isto que vamos começar a fazer, ainda que de maneira atrasada. Ademais, o Legislativo terá de considerar a revisão da política de patentes. A lei atual tem 15 anos e precisamos saber se ela está protegendo o desenvolvimento do nosso conhecimento. Por exemplo, precisamos descobrir como fazer com que o conhecimento produzido nos institutos e universidades vá para a linha de produção de forma mais rápida.

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Amcham: Em relação à falta de mão de obra especializada, o que o governo tem feito?Newton Lima: A política educacional vem ganhando novos rumos. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e o Ciências Sem Fronteiras (projeto que concede bolsas de estudo no exterior para aprendizado em tecnologia e inovação) suprirão a demanda que o setor produtivo tem em curto e médio prazos, preenchendo os vazios que existem na formação profissional. Também estamos discutindo o Plano Nacional de Educação (PNE), que é um conjunto de metas de formação da creche até a pós-graduação. Os debates passam por mudanças na lei de incentivos fiscais e marcos regulatórios na educação, de maneira a criar um novo ambiente de ensino.

Amcham: Como é possível incentivar o desenvolvimento da produção científica?Newton Lima: Os planos de incentivo à inovação são amplos. É preciso, por exemplo, aumentar a carteira da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), uma das propostas do governo já em andamento. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por sua vez, necessita ter recursos e mecanismos mais flexíveis à inovação. Também tenho certeza de que a desoneração da folha de pagamentos é importante. A reforma tributária seria fundamental, mas parece fora do horizonte político mais imediato no Congresso. A proteção das nossas exportações também é importante, porque a crise na Europa fará com que os chineses fiquem extremamente ávidos por novos mercados, inclusive os que são tradicionalmente operados pelos brasileiros.

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Reinhold Stephanes, deputado federal (PSD-PR) e ex-ministro da Agricultura |

Hoje, transportar produtos do Sul ao Nordeste é mais caro do que levá-los à China

Amcham: Como os gargalos da infraestrutura logística afetam o setor agrícola?Reinhold Stephanes: Os problemas de infraestrutura logística na agricultura são extremamente sérios. Este já é um assunto conhecido e temos grandes especialistas no ramo no Brasil, mas falta o governo incorporar isso como questão estratégica. Além do problema de infraestrutura, não temos oficialmente um plano estratégico de escoamento de safras. Também não há definição sobre como o volume produzido hoje deve ser deslocado, e muito

menos pensando no volume de amanhã, que será muito maior. Isso deverá agravar a questão de deslocamento da produção.

Amcham: O sr. poderia dar mais detalhes?Reinhold Stephanes: É na infraestrutura deficiente que se perde grande parte da renda de produção porque nas fazendas podemos produzir com muita eficiência e a custos baixos, mas, para o produto chegar até os mercados, há custos embutidos elevados que diminuem a renda de quem produz. Para se ter uma ideia, o custo para deslocar e armazenar a produção brasileira é o dobro do registrado nos Estados Unidos e na Argentina. Isso, evidentemente, é perda de renda para o produtor e de competitividade para o Brasil.

Amcham: O que falta para melhorar o sistema nacional de transportes?Reinhold Stephanes: No Brasil, o custo de transporte dos produtos que vão do Sul para o Nordeste, como é o caso do milho e do trigo, é maior do que o de levar produtos até a China. Temos problemas de escoamento de safra no País que vão desde o armazenamento em regiões de expansão agrícola, principalmente no Centro-Oeste, até a manutenção das estradas. Por exemplo, transportar grãos do Centro-Oeste até os portos de Paranaguá e Santos acarreta um custo enorme por via rodoviária.

Amcham: Como estão as condições dos outros modais de transporte?Reinhold Stephanes: Temos muito poucas ferrovias operando. No caso do Paraná, maior estado produtor do Brasil, há uma ferrovia com mais de 130 anos. Ela não possui as melhores condições

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para o transporte de carga. Além disso, a empresa que administra essa ferrovia definiu um custo de transporte praticamente idêntico ao do transporte rodoviário. Isso porque não há concorrência de outra ferrovia nem livre passagem. É dessa forma que a produção chega aos portos, onde também há problemas muito sérios.

Amcham: Quais são esses problemas?Reinhold Stephanes: No porto de Paranaguá, que é o maior importador de fertilizantes do Brasil, o navio chega a ficar uma média de 25 a 30 dias ao largo da costa, esperando para descarregar. Em época da exportação da soja, as filas também são enormes e gastam-se muitos dias para embarcar os grãos, aumentando os custos.

Amcham: Qual deveria ser a prioridade do Brasil em termos de infraestrutura logística?Reinhold Stephanes: É preciso mexer em toda a infraestrutura, desde os portos, que evidentemente não têm condições de carregar e descarregar mercadorias, e que muitas vezes têm problemas seríssimos de dragagem. Há portos em que é preciso esperar a maré subir para o navio poder encostar.

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Cibele Castro, vice-presidente de Pessoas e Gestão da AES Brasil|

Investimentos em infraestrutura criam condições para atrair mais estudantes para a área de exatas

Amcham: A oferta de treinamentos de capacitação profissional já é uma prática comum nas empresas. Isso é suficiente para suprir a escassez de mão de obra técnica?Cibele Castro: Não. Embora as empresas estejam se mobilizando para fazer esses investimentos, eles não são suficientes. São ações complementares que ajudam a suprir a falta de profissionais em curto prazo, mas, para que sejam sustentáveis em médio e longo prazos, é necessária a participação do governo.

Amcham: Qual o papel do governo na formação de mão de obra especializada?Cibele Castro: A iniciativa privada precisa de investimentos públicos em melhoria da educação de nível fundamental e também em mais cursos técnicos. Os jovens que estão chegando ao mercado de trabalho necessitam ter alternativas que não existem hoje.

Amcham: Como empresa de energia, a AES Brasil demanda quadros técnicos que hoje são escassos. Como atrair os jovens para essas carreiras?Cibele Castro: Primeiro, é preciso deixar claro aos jovens que existem investimentos no Brasil que sustentam essa demanda. Não foi à toa que o pessoal de exatas migrou para outras áreas no passado.

Amcham: A sra. poderia dar mais detalhes?Cibele Castro: Hoje, muitos engenheiros que se formaram em anos anteriores se tornaram administradores, economistas e contadores. Essas foram as colocações mais procuradas, mas posso falar de muitas outras atividades para as quais os engenheiros se direcionaram. O que fez com que eles migrassem para outras áreas foi a falta de investimentos em infraestrutura na época. Porém, acredito que, com todos os investimentos que estão sendo feitos agora no Brasil, há mais condições para atrair os jovens para a carreira de exatas.

ExpedienteEditora: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: André InoharaCrédito das fotos: Robson Rattis (Estúdio Rodrigo Meireles)Diagramação: Maria de Fátima G. Frazão

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