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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MSICA
AMPLIAO DOS
PROCESSOS HARMNICOS
NA MSICA TONAL
PROF. FERNANDO LEWIS DE MATTOS
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MSICA
AMPLIAO DOS
PROCESSOS HARMNICOS
NA MSICA TONAL
PROF. FERNANDO LEWIS DE MATTOS
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SUMRIO
1. SUBSTITUIO DE ACORDES .............................................................. 1
a) Emprstimo Modal.................................................................... 5
b) Mediantes Cromticas ............................................................. 11
c) Dominantes Alteradas ............................................................. 21
d) Quadro geral de substituies .................................................. 25
e) Princpio da nota comum ......................................................... 29
2. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA............................................................ 36
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AMPLIAO HARMNICA
A ampliao harmnica consiste em estender a harmonia original de
determinada cano com a inteno de torn-la mais variada, mais densa oumesmo mais dramtica.
A ampliao da harmonia pode ocorrer de trs maneiras distintas, que
podem ser combinadas entre si: substituio de acordes, ampliao vertical da
harmonia e ampliao horizontal da harmonia.
1. SUBSTITUIO DE ACORDES
A substituio de acordes consiste em enriquecer a sonoridade dedeterminada frase musical ao trocar os acordes originais, ou que j foram
apresentados em frases anteriores, por outros acordes que cumprem a mesma
funo harmnica.
Como a msica tonal se organiza em torno de trs funes bsicas
(tnica, subdominante e dominante), o mtodo mais simples de substituio
harmnica atravs do emprego de outros acordes que cumprem a mesma
funo do original.
Abaixo, esto listados os graus de uma escala maior que cumprem a
mesma funo, com exemplos dos acordes da tonalidade de D Maior:
TNICA SUBDOMINANTE DOMINANTE
Acorde principal I IV V
C F G
Relativas vi ii iii
Am Dm EmAnti-relativas iii vi vii (alterado)
Em Am Bm
Dominante sem vii
fundamental Bm(b5)
Quadro n 1
Com esse quadro, percebe-se que uma seqncia harmnica em que se
tem um encadeamento com os acordes C F G C pode ter alguns de seus
acordes substitudos pelos acordes mencionados acima. As substituies mais
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comuns so aquelas realizadas atravs das relativas das funes principais,
com exceo da dominante, cujo acorde substituto mais caracterstico aquele
formado sobre o stimo grau.
Se tocarmos uma melodia acompanhada pelos acordes mencionados
acima, na repetio, eles podem ser facilmente substitudos da seguinte
maneira
I vi IV ii V vii
C Am F Dm G Bm(b5)
isso que ocorre no exemplo abaixo, em que o refro da modinha
oitocentista Eu estando bem juntinho repetido com substituio de acordes.
Exemplo n 1
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Se o mesmo princpio descrito anteriormente for aplicado ao modo
menor, tm-se as seguintes substituies, em que algumas delas j implicam
acordes alterados comumente utilizados em harmonizaes de melodias em
tonalidade menor (os acordes citados so referentes a L Menor):
TNICA SUBDOMINANTE DOMINANTE
Acorde principal i iv V
Am Dm E
Relativas III VI #iii (alterado)
C F C#m
Anti-relativas VI bII (alterado) #vii (alterado)
F Bb G#m
Dominante sem vii
fundamental G#m(b5)
Quadro n 2
As substituies mais comuns em modo menor so estas:
i III iv VI V vii
Am
C Dm
F E
G#m(b5)
No exemplo a seguir, a cano capixaba Sinh Marreca re-
harmonizada em cada repetio de frase pelo uso de acordes substitutos:
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Exemplo n 2
Um dos usos mais comuns de substituio de acordes tem o sentido de
repetir a mesma melodia com novo colorido harmnico, conforme aparece nos
dois exemplos anteriores.
Ao contrrio das tonalidades maiores (em que os acordes alteradosapresentados no quadro referente s substituies diatnicas no modo maior
so pouco empregados), nas tonalidades menores o uso de acordes alterados
bastante freqente, sendo que alguns deles se tornaram to comuns que
recebem nomes especiais.
O mais caracterstico desses acordes aquele formado sobre o segundo
grau alterado descendentemente (bII), que chamado de acorde Napolitano.
Seu emprego mais usual em primeira inverso, com a subdominante datonalidade reforada no baixo, pois este acorde tem a funo de anti-relativa da
subdominante menor (cifra funcional: sA). Quando aparece em primeira
inverso, chama-se Sexta Napolitana (N6). Dentre as trades, esse o acorde
alterado mais empregado em harmonizaes por substituio. Por cumprir a
funo de subdominante, empregado como substituto do quarto grau.
No exemplo abaixo, o acorde de Gm substitudo por Eb, em nova re-
harmonizao do incio da melodia Sinh Marreca, apresentada no exemploanterior. Note-se que necessrio alterar a nota meldica para evitar falsa
relao entre a note mi natural da melodia e o mib do baixo. Modificaes na
melodia original com o intuito de adapt-la nova estrutura harmnica um
procedimento comum em re-harmonizaes com acordes alterados.
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Exemplo n 3
Alm das substituies diatnicas, em que so empregados somente
acordes pertencentes tonalidade de referncia da melodia, podem ser
empregados outros tipos de substituio.
a) Emprstimo Modal
A mais comum das substituies com acordes alterados so aquelas em
que se tomam acordes originados do homnimo menor para empreg-los na
tonalidade maior, ou vice-versa. Esse processo costuma ser chamado de
Emprstimo Modal. Conforme foi mencionado, pode ser necessrio modificar
alguma nota da melodia para adequ-la nova harmonia.
Abaixo, esto apresentados os casos mais comuns de emprstimo
modal:Modo Maior
TNICA SUBDOMINANTE DOMINANTE
Acorde principal I IV V
C F G
Homnimos i (alterado) iv (alterado) v (alt., modal)
Cm Fm Gm
Relativas dos bIII (alterado) bVI (alterado) bVII (alt., modal)
homnimos Eb Ab BbAnti-relativas dos bVI (alterado) bII (alterado) bIII (alterado)
homnimos Ab Db Eb
Quadro n 3
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Modo Menor
TNICA SUBDOMINANTE DOMINANTE (?)
Acorde principal i iv V
Am Dm E
Homnimos I (alterado) IV (alterado) v (alt., modal)
A D Em
Relativas dos #vi (alterado) ii (alterado) bVII (alt., modal)
homnimos F#m Bm G
Anti-relativas dos #iii (alterado) #vi (alterado) III
homnimos C#m F#m C
Quadro n 4
Naturalmente, alguns desses acordes alterados por emprstimo modalso mais freqentemente utilizados do que outros.
Quando a inteno produzir um efeito fortemente progressivo, isto ,
tonal, incomum o emprego dos acordes relacionados ao quinto grau menor
(em D Maior: Gm e Bb; que no podem ser considerados como dominantes
por no produzirem o efeito atrativo da sensvel), pois esses geram efeito
modal por serem originrios do antigo modo elio.
Se, ao contrrio, se tem inteno de construir um trecho com cartermodal, esses acordes so plenamente eficazes, como ocorre no exemplo
abaixo, em que a mesma cano Sinh Marreca harmonizada com o
propsito de criar o efeito sonoro caracterstico do antigo modo elio.
Exemplo n 4
O acorde de Eb/G, isto , o acorde de sexta napolitana, produziria um
efeito tpico do modo frgio, isto , com o segundo grau menor.
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Exemplo n 5
No exemplo anterior, apesar do forte carter frgio da melodia e da
harmonia, o senso de progresso harmnica ocorre devido ao movimento forte
de quintas descendentes, no baixo: r-sol, sol-d e l-r.
No modo maior, os acordes mais usados por emprstimo modal so
aqueles com funo de subdominante (em D Maior: Fm, Ab e Db), pois so
neutros no que diz respeito s relaes de tenso-relaxamento devido sua
funo de passagem entre a tnica e a dominante.
No exemplo abaixo, a modinha imperial Eu estando bem juntinho, citada
anteriormente na tonalidade de L Maior, harmonizada com acordes
alterados obtidos por emprstimo modal. Isso significa que esses acordes
pertencem ao tom homnimo, isto , tonalidade de L Menor. Note-se que
foram necessrias alteraes na melodia para adapt-la nova harmonia.
Exemplo n 6
Nesse exemplo, os acordes alterados so:
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Dm7 emprstimo modal a partir do homnimo, iv de L Menor;
produz cromatismo descendente no soprano
A# acorde diminuto de uso cromtico; empregado para fazer a
passagem entre A e E/B; produz cromatismo ascendente no
baixo, que responde ao cromatismo do soprano
F emprstimo modal a partir do homnimo, VI de L Menor;
produz cadncia deceptiva ampliada
C emprstimo modal a partir do homnimo, III de L Menor
B acorde diminuto de uso enarmnico, empregado para fazer
a passagem entre C e E7, pois o vii7 tanto em D maior quanto
em L Maior
Bb/D sexta napolitana, tanto em L Menor quanto em L Maior.
No modo menor, os acordes com funo de subdominante (em L
Menor: D e Bm; menos comum: F#m) j so encontrados em um dos tipos de
escala: a forma meldica, pois contm o sexto grau alterado ascendentemente.
Por essa razo, esses acordes podem ser considerados naturais do modo
menor, dependendo da estrutura escalar em que a melodia est embasada.
A harmonizao natural para os primeiros compassos da melodia
abaixo com os acordes de C e Am, pois a melodia est composta com base
na escala de Sol Menor Meldica.
Exemplo n 7
Ao contrrio, se a melodia gira em torno da escala menor harmnica, o
uso desses acordes pode ser considerado como alterao, podendo inclusive
produzir falsa relao (em L Menor: f natural da escala harmnica/f# doacorde de D ou Bm).
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No seguinte exemplo, est a harmonizao da melodia anterior na
escala de Sol Menor. Os acordes do segundo compasso so Cm e A , ambos
so acordes naturais da escala menor harmnica, na qual a melodia est
construda.
Exemplo n 8
No exemplo abaixo, aparecem falsas relaes devido ao emprego das
notas da escala de Sol Menor harmnica, na melodia, enquanto, ao mesmo
tempo, a harmonia est embasada na escala meldica. Tm-se, assim,
simultaneamente, os acordes de Cm e C, de A e Am, sendo que Cm e A
fazem parte da escala meldica e C e Am fazem parte da escala harmnica.
As falsas relaes presentes no segundo compasso deste exemplo
esto indicadas por setas.
Exemplo n 9
Os acordes alterados por emprstimo modal com funo de tnica so
mais comuns no modo menor do que no modo maior. Desde o incio do uso de
trades, no sculo XV, era comum finalizar peas musicais em modos menores
(drico, frgio e elio) com a tera de picardia, isto , acrescentando a tera
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maior, no acorde de tnica. Isso gerou uma cadncia que pode ser chamada
de cadncia de picardia, na qual uma msica em modo menor finalizada com
um acorde maior.
A frottola abaixo, de Marco Cara (1470-1525), chamada Io non compro
pi speranza, finaliza em modo drico, cuja tera natural menor. Para concluir
a msica com a trade maior, foi empregada a tera de picardia, isto , a tera
do acorde final foi alterada (f#).
Exemplo n 10
J o uso de acordes relativos e anti-relativos do homnimo mais
freqente em peas escritas em tonalidades maiores. Uma espcie ampliada
de cadncia deceptiva (ou cadncia de engano) realizada com o sexto grau
do modo menor.
Pode-se encontrar a seguinte seqncia de acordes, em D maior:
|| C F Db/F G7 Ab ||Se essa seqncia for analisada, tem-se:
|| I IV bII6 V7 bVI ||
No encadeamento acima, o acorde de bII6 a Sexta Napolitana (que
tem sua origem no antigo modo frgio) e bVI a anti-relativa do tom homnimo
(trata-se do acorde utilizado para a cadncia deceptiva, em D Menor). Esses
acordes aparecem na harmonizao da cano Eu estando bem juntinho [ex.
n 6], apresentada com acordes alterados. Notes-se como, no quinto compasso
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desse exemplo, h uma cadncia que se completa sobre o sexto grau de L
Menor (acorde de F), e no de L Maior (acorde de F#m), como seria
esperado. Trata-se, portanto, de uma cadncia deceptiva ampliada pelo
emprego de emprstimo modal.
O acorde formado sobre o bIII, apesar de menos empregado do que
aqueles discutidos anteriormente, tambm encontrado nas harmonizao
com emprstimo modal. No mesmo exemplo discutido acima, o acorde de C
utilizado no primeiro compasso da segunda frase, que se encontra no sexto
compasso do ex. n 6.
Por ser uma mediante obtida por alterao (acorde formado sobre o
terceiro grau bemolizado), este acorde tambm pode ser classificado como
sendo uma Mediante Cromtica.
b) Mediantes Cromticas
Os acordes obtidos como mediantes cromticas so aqueles que se
relacionam com a fundamental da funo principal distncia de tera superior
ou inferior e no pertencem escala de origem. Desta forma, as mediantes
cromticas so acordes alterados cuja fundamental se encontra distncia de
tera do acorde principal. Geralmente, as mediantes cromticas de um acordemaior so maiores; as mediantes cromticas de um acorde menor so
menores.
Em D Maior, tm-se as seguintes mediantes cromticas:
Mediantes cromticas da TNICA:
3M E
3m Eb C
3m A
3M Ab
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Mediantes cromticas da SUBDOMINANTE:
3M A
3m Ab
F
3m D
3M Db
Mediantes cromticas da DOMINANTE:
3M B
3m Bb
G
3m E
3M Eb
Em L Menor, tm-se as seguintes mediantes cromticas:
Mediantes cromticas da TNICA:
3M C#m
3m Cm
Am
3m F#m
3M Fm
Mediantes cromticas da SUBDOMINANTE:
3M F#m
3m Fm
Dm
3m Bm
3M Bbm
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Mediantes cromticas da DOMINANTE:
3M G#
3m G
E
3m C#
3M C
As mediantes cromticas podem ser classificadas conforme o nvel de
alterao existente, na sua relao com a tonalidade de origem. H aquelas
mediantes que tm apenas uma nota alterada, portanto so as mais prximasdo acorde bsico. Com relao ao acorde de C, as mediantes com apenas uma
nota alterada so E (nota alterada: sol#) e A (nota alterada: d#). As mediantes
com duas notas alteradas so Eb (notas alteradas: mib e sib) e Ab (notas
alteradas: lb e mib).
Existe, ainda, um terceiro nvel de mediantes cromticas que tm todas
as notas alteradas e, portanto, no guardam nenhuma relao harmnica com
o acorde natural da escala. Por essa razo, alguns autores desconsideram
esse nvel de mediante. Essas mediantes so aquelas em que a relao se
inverte com relao ao modo do acorde de origem, isto , se o acorde de base
para a mediante maior, a mediante ser menor, e vice-versa. As mediantes
menores cromticas de C so Ebm (trs notas alteradas: mib, solb e sib) e
Abm (trs notas alteradas: lb, db e mib).
O quadro de mediantes abaixo demonstra os nveis de relaes de
mediantes:
1. mediantes diatnicas so os acordes que se relacionam por
tera, sem alterao; portanto, no so mediantes cromticas,
mas relativas e anti-relativas. Estes acordes tm duas notas
comuns com relao funo principal.
Mediantes diatnicas de C:
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Mediantes diatnicas de Am:
2. mediantes cromticas com uma nota alterada so aquelas
obtidas sobre as fundamentais naturais da escala. So acordes
com uma nota comum em relao ao acorde principal.
Mediantes cromticas de C com uma alterao:
Mediantes diatnicas de Am com uma alterao:
3. mediantes cromticas com duas notas alteradas so obtidas
sobre fundamentais alteradas. Estes acordes tm uma nota
comum com relao ao acorde principal.
Mediantes cromticas de C com duas alteraes:
Mediantes cromticas de Am com duas alteraes:
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4. mediantes cromticas com trs notas alteradas so as relaes
de teras mais distantes entre dois acordes; so consideradas
como mediantes cromticas obtidas por emprstimo modal, pois
tm o modo invertido com relao tonalidade: se o acorde de
base maior, as mediantes sero menores; se o acorde de base
menor, as mediantes sero maiores. No tm nota comum em
relao ao acorde principal.
Mediantes cromticas de C com todas as notas alteradas:
Mediantes cromticas de Am com todas as notas alteradas:
Na anlise da Harmonia Funcional, as cifras das mediantes cromticas
so indicadas da seguinte maneira:
m = acorde menor com funo de mediante, ou, simplesmente,
mediante menor
M = acorde maior com funo de mediante, ou, simplesmente,
mediante maior
s = vizinho de tera menor superior
S = vizinho de tera maior superior
i = vizinho de tera menor inferior
I = vizinho de tera maior inferior
/T = da tnica maior
/t = da tnica menor
/S = da subdominante maior
/s = da subdominante menor
/D = da dominante
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As cifras da Harmonia Tradicional, isto , a anlise harmnica por graus,
so mais simples, pois basta colocar o tipo do acorde de mediante (maisculo
para acorde maior; minsculo para acorde menor) e a alterao caracterstica
antes do numeral romano (se o acorde alterado ascendentemente, coloca-se
um sustenido; se alterado descendentemente, indica-se com um bemol).
Assim, tem-se, por exemplo, que
em D Maior, o acorde de Eb tem a seguinte relao com C:
Ms/T l-se: mediante maior, vizinha de tera menor superior datnica;
bIII l-se: acorde maior sobre o terceiro grau bemolizado;
em F Maior, o acorde de Ab tem esta relao com C:
MI/D l-se: mediante maior, vizinha de tera maior inferior dadominante;
bIII l-se: acorde maior sobre o terceiro grau bemolizado;
em Sol Maior, o acorde de Abm tem esta relao com C:
mI/S l-se: mediante menor, vizinha de tera maior inferior dasubdominante;
bii l-se: acorde menor sobre o segundo grau bemolizado;
em L Menor, o acorde de Cm tem esta relao com Am:
ms/t l-se: mediante menor, vizinha de tera menor superior datnica;
iii l-se: acorde menor sobre o terceiro grau natural;
em Mi Menor, o acorde de Fm tem esta relao com Am:
mI/s l-se: mediante menor, vizinha de tera maior inferior dasubdominante;
bii l-se: acorde menor sobre o segundo grau bemolizado;
em R Menor, o acorde de F# tem esta relao com Am:
Mi/s l-se: mediante maior, vizinha de tera menor inferior dadominante menor;
#III l-se: acorde menor sobre o terceiro grau sustenizado;
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Se forem empregadas mediantes cromticas harmonizao da
modinha Eu estando bem juntinho, podem-se obter os seguintes acordes:
Exemplo n 11
No exemplo acima, so estas as mediantes cromticas:
Bb mediante maior, vizinha de 3M inferior da subdominante:
MI/S ou bII;
C# mediante maior, vizinha de 3M superior da tnica:
MS/T ou III;
G mediante maior, vizinha de 3m superior da dominante:
Ms/D ou bVII;
F mediante maior, vizinha de 3M inferior da tnica:
MI/T ou bVI;
C mediante maior, vizinha de 3m superior da tnica:
Ms/T ou bIII;
Note-se que alguns dos acordes acima poderiam ser interpretados de
outras maneiras.
Por exemplo,
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Bb pode ser interpretado como:
1. MI/S mediante cromtica de D
2. sA anti-relativa de Dm, obtido por emprstimo modal
3. N acorde napolitano, pois o segundo grau bemolizado
G pode ser interpretado como:
1. Ms/D mediante cromtica de E
2. SS subdominante de D
F pode ser interpretado como:
1. MI/T mediante cromtica de A
2. tA anti-relativa de Am, obtido por emprstimo modal
3. sR relativa de Dm, obtido por emprstimo modal
C poderia ser analisado como:
1. Ms/T mediante cromtica de A
2. tR relativa de Am, obtido por emprstimo modal
Quanto maior a ampliao da harmonia por meio de acordes alterados,
mais subjetiva se torna a estrutura, isto , maior a possibilidade de
interpretaes diferenciadas.
Isso explica a quantidade de anlises e as inmeras controvrsias em
torno do acorde de Tristo, que o primeiro acorde do Preldio da pera
Tristo e Isolda, de Richard Wagner. Cada msico, musiclogo ou analista
interpreta a estrutura desse acorde de maneira distinta, considera diferentes
notas como sendo as notas reais do acorde e contextualiza esse acorde em
diferentes tonalidades.
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A seguir est o to discutido acorde de Tristo:
Exemplo n 12
Abaixo, esto algumas das dezenas de interpretaes do acorde de
Tristo:
Autor Tipo do acorde Grau Funo Tonalidade
Kistler (1879) stima diminuta VII dominante L Menor
DIndy (1898) sexta alterada IV subdominante L Menor
Jadassohn (1899) acorde alterado V dominante F# menor
Schreyer (1905) quinta diminuta V dominante Mi Maior
Hindemith (1937) sexta adicionada VII sem funcionalidade L MenorPiston (1941) sexta francesa II dominante da dominante L Menor
Schoenberg (1911) acorde errante _ sem funcionalidade L Menor
Schoenberg (1948) acorde de stima II dominante da dominante L Menor
Chailley (1962) acorde apojatura _ sem funcionalidade L Menor
Searle (1966) stima diminuta II dominante Mib Maior
Quadro n 5
A anlise do quadro acima revela as diferenas de interpretao, em setratando apenas do primeiro acorde de uma obra com mais de duas horas de
durao. interessante notar que se tm duas anlises do mesmo autor
(Schoenberg), publicadas em pocas diferentes, que so completamente
contrastantes entre si.
Isso demonstra que, quanto mais ampliada a estrutura harmnica, com
emprego de acordes alterados, mais difcil de realizar anlise compartilhada
entre diferentes autores, pois se ultrapassa o campo da objetividade emdireo ao terreno das opinies individuais. Esse subjetivismo est plenamente
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conforme os valores do Romantismo e, portanto, deve ser levado em conta
quando se analisa esse tipo de msica com forte movimentao cromtica.
De qualquer forma, possvel estabelecer critrios analticos objetivos a
serem observados ao longo da anlise, sendo importante levar em
considerao o contexto harmnico em que determinado acorde ou progresso
harmnica aparece.
Na harmonizao da cano Eu estando bem juntinho, apresentada
acima, no ex. n 11, percebe-se a inteno que produzir relaes de teras
cromticas entre os acordes, pois, em apenas duas frases, tem-se seis
encadeamentos de acordes alterados inter-relacionados por tera, o que gera a
mdia de quase uma mediante cromtica por compasso, se a cadncia final for
desconsiderada.
Os encadeamentos de acordes alterados distncia de tera entre as
fundamentais, nessa harmonizao, so estes:
D Bb; A C#; E G; F A; A C; C E
Isso significa que, nessa estrutura harmnica, as interaes
preponderantes entre os acordes alterados por relao de teras, o que
significa que se trata do emprego abundante de mediantes cromticas. Sendo
assim, a maneira mais eficaz de interpretar esses acordes alterados como
mediantes cromticas.
Em uma seqncia harmnica tpica do sculo XVIII, em que alguns
desses acordes poderiam ser utilizados, certamente as relaes entre as
fundamentais seriam predominantemente por quintas (TS; DT), o que faria
com que o emprego de acordes alterados fosse interpretado de outra maneira.
No exemplo abaixo, uma seqncia harmnica possvel na msica tonal
mais estrita do sculo XVII ou XVIII, os mesmos acordes anteriormenteempregados como mediantes cromticas, devido s inter-relaes
predominantes de teras entre as fundamentais, so empregados com outras
funes.
Neste exemplo, o acorde de G uma subdominante da subdominante,
pois est posicionado entre a tnica e a subdominante, cumprindo a funo de
afastar da tnica em direo dominante (este mesmo acorde, na
harmonizao anterior da modinha imperial, foi empregado como mediantecromtica diretamente relacionada dominante). O acorde de Bb/D est em
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uma posio tpica do uso do acorde de sexta napolitana, inclusive com o
movimento de tera diminuta no soprano.
Neste caso, esses dois acordes no podem ser interpretados como
mediantes cromticas, mas como SS
e N6.
Exemplo n 13
Pode-se perceber, a partir da anlise comparativa dos exemplos citados
acima, que a cifra gradual no permite classificar os acordes alterados com a
mesma preciso que a cifra funcional.
Por exemplo, o acorde de Db, que sempre cifrado como bII de D
Maior, independentemente de seu emprego, poderia ser usado com diferentesfunes.
Db pode ser utilizado, em D Maior, como:
1. MI/S acorde maior, vizinho de 3M inferior da
subdominante, ou seja, mediante cromtica de F
2. sA anti-relativa da subdominante menor, ou seja, um
acorde obtido por emprstimo modal, relacionado a Fm
3. N acorde napolitano, isto , segundo grau bemolizado
Essas diferenas no so expressas pela cifragem gradual da harmonia.
c) Dominantes Alteradas
Outra famlia de acordes substitutos formada por vrias espcies de
acordes com funo de dominante (acorde meio diminuto, acorde de stima
diminuta, acorde com quinta aumentada, acorde com stima e quintaaumentada, sub-V) ou dominante da dominante (acordes de sexta aumentada:
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sexta italiana, sexta alem e sexta francesa; esses acordes fazem parte da
categoria de sub-V da dominante).
Outras dominantes secundrias tambm podem ser empregadas com as
mesmas caractersticas que a dominante da dominante, por isso, o estudo
deste tipo de acorde pode ser aplicado a qualquer outra dominante alterada.
J que os acordes com funo de dominante geralmente aparecem com
stima (ttrades), nos exemplos abaixo sero incorporadas stimas aos
acordes1.
Acordes da famlia das dominantes
DOMINANTE DOMINANTE DADOMINANTE
Acorde principal V7 V7/VG7 D7
Acorde meio- vii vii/Vdiminuto B F#Acorde diminuto vii vii/V
B F#Acordes de quinta bIII+7 bIII+7/Vaumentada Eb7(#5) Bb7(#5)
V+7 V+7/V
G7(#5) D7(#5)Sub-V e suas bII7 ouIt6/I bII7/V ouIt6alteraes Db7 Ab7
bII7 ouAl6/I bII7/V ouAl6Db7 Ab7bII#
75
ouFr6/I bII#75/V ou
Fr6
Db7(b5) Ab7(b5)
Quadro n 6
Os acordes pertencentes famlia das dominantes so os mesmos nos
modos maior e menor, pois o acorde principal de dominante o mesmo. EmD Maior e em D Menor, a dominante principal o acorde de G7.
Devido ao fato de que os acordes de dominante da dominante tm a
funo de afastar da tnica e conduzir para a dominante, esses acordes so
incorporados como substitutos da subdominante, pois a subdominante que
cumpre essa funo de transio entre a tnica e a dominante no contexto
tonal.
1 De resto, o estudo de acordes expandidos ser realizado na prxima seo.
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No exemplo abaixo, extrado da cano Urso, do populrio de Santa
Catarina, foram empregadas dominantes secundrias comumente usadas na
msica tonal. A funo desses acordes acrescentar colorido harmnico por
meio de alteraes estrutura diatnica predominante.
Os acordes com funo de dominante secundria esto indicados
atravs de cifra funcional e gradual.
Exemplo n 14
Note-se que, no exemplo acima, a cifragem gradual se torna maisprecisa que a funcional, pois indica a dominante secundria e sua resoluo.
Como, na maioria das vezes, a dominante conduz para sua resoluo
caracterstica, na harmonia funcional, considera-se desnecessrio indic-la.
No exemplo a seguir, a melodia anterior harmonizada com predomnio
de dominantes secundrias. Devido maior dificuldade de compreenso deste
tipo de harmonizao, foi realizada a anlise gradual detalhada para indicar a
origem e a resoluo prpria de cada um dos acordes.
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Exemplo n 15
Nessa harmonizao, o primeiro acorde j alterado, pois se trata de
uma stima diminuta no modo maior, que , portanto, obtida por emprstimo
modal. Outro acorde obtido por emprstimo modal o C do terceiro compasso
do segundo sistema. Esse acorde construdo a partir do segundo grau do tomhomnimo, ou seja, substituto da subdominante, em Sib Menor. Outro acorde
com funo de subdominante, nessa harmonizao, o acorde napolitano, que
aparece em estado fundamental, no compasso 13.
A maior parte dos acordes alterados, na harmonizao do ex. n 15, tem
funo de dominante. A anlise demonstra que foram empregados acordes de
dominante como Al6 e Fr6; esta indicada pela cifra: Vb75 visto que Fr
6 e Vb75
so enarmnicos, com a diferena da nota posicionada no baixo, ou seja, um inverso do outro.
Alm dos mencionados, foram utilizados acordes diminutos e meio-
diminutos, como tambm um acorde de quinta aumentada com funo de
dominante principal, no incio da segunda parte da cano.
A grande quantidade de acordes alterados, nessa harmonizao, levou
realizao da cadncia final por meio de um movimento cromtico descendente
em teras paralelas, no penltimo compasso da parte superior.O acorde sub-V da dominante aparece como parte do cromatismo do
penltimo compasso e conduzido de forma caracterstica, isto , por
movimento paralelo de todas as vozes e com a presena de quintas paralelas
entre as vozes externas da textura.
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d) Quadro geral de substituies
Com o que foi exposto acima, pode-se completar o quadro geral de
acordes substitutos das trs funes principais (tnica, subdominante e
dominante) conforme demonstrado no quadro abaixo.Neste quadro, tem-se como referncia as tonalidades de D Maior e D
Menor.
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TNICA SUBDOMINANTE DOMINANTE
Acordes com Funo Principal
Modo Maior I IV V
C F G
Modo Menor i iv v
Cm Fm Gm
Relativas e Anti-relativas
Relativas em iii #iii vi vi vii
Maior Am Em Bm
Relativas em bIII III bVI VI vii vii
Menor Eb Ab Bm
Anti-relativas em iii #iii vi #vi vii vii
Maior Em Am Bm
Anti-relativas em bVI VI bII bIII III
Menor Ab Db Eb
Mediantes Cromticas
Vizinhos de 3m bIII III bVI VI bVII
Superior em Maior Eb Ab Bb
Vizinhos de 3m biii iii bvi vi bvii
Superior em Menor Ebm Abm Bbm
Vizinhos de 3M III #III VI #VI VII
Superior em Maior E A B
Vizinhos de 3M iii #iii vi #vi vii
Superior em Menor Em Am BmVizinhos de 3m VI #VI II III #III
Inferior em Maior A D E
Vizinhos de 3m vi #vi ii iii #iii
Inferior em Menor Am Dm Em
Vizinhos de 3M bVI VI bII bIII III
Inferior em Maior Ab Db Eb
Vizinhos de 3M bvi vi bii biii iii
Inferior em Menor Abm Dbm Ebm
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Dominantes Alteradas
Dominante daDominante
Dominante
Acorde principal V7/V V7
D7 G7
Acorde meio- vii/V vii
diminuto F# B
Acorde diminuto vii/V vii
F# B
Acordes de quinta bIII+7/V bIII+7
aumentada Bb7(#5) Eb7(#5)
V+7/V V+7
D7(#5) G7(#5)
Sub-V e suas bII7/V ouIt6 bII7 ouIt6/I
alteraes Ab7 Db7
bII7/V ouAl6 bII7 ouAl6/I
Ab7 Db7
bII#75/V ou
Fr6 bII#75
ouFr6/I
Ab7(b5) Db7(b5)
O quadro acima apresenta os acordes com funo de tnica,
subdominante, dominante da dominante e dominante, independentemente do
modo original ser maior ou menor, pois a tabela completa de substitutos serve
para ambos os modos.
As cifras de graus posicionadas esquerda dizem respeito tonalidade
de D Maior; as cifras direita dizem respeito a D Menor; quando h somenteuma cifra de grau, ela serve para ambos os modos.
Assim, na coluna da funo de tnica, tm-se os acordes que podem ser
empregados como substitutos do primeiro grau: C; na coluna da funo de
subdominante, tm-se os acordes que podem ser usados como substitutos do
quarto grau: F; na coluna da funo de dominante esto os acordes que podem
ser empregados como substitutos do quinto grau: G.
Alguns acordes podem ser interpretados por mais de um caminho, isto ,
podem ser entendidos como participando diferentes funcionalidades. Por
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exemplo, o acorde de Am pode ser interpretado, em D Maior, como relativa de
C ou como anti-relativa de F; em D Menor, pode ser relativa do homnimo ou
mediante cromtica de Cm, entre outras possibilidades.
Algumas interpretaes, apesar de possveis, podem ser um tanto
foradas. Isso significa que, geralmente, a melhor forma de analisar a funo
de determinado acorde atravs da relao mais direta possvel com o acorde
principal que lhe deu origem.
Na seqncia abaixo, mais adequado interpretar o acorde de Am como
relativa de C do que como mediante cromtica de Cm:
|| C Am Dm7 Db7 C ||
I vi ii7 sub-V7 I
T Tr Sr7 (Al6) T
O emprego de determinado acorde to mais freqente quanto mais
prximo se encontra da funo principal que lhe deu origem. Isso significa que,
em D Maior, mais comum encontrar um acorde de Am do que Abm como
substituto de C, pois o primeiro a relativa, ao passo que o segundo a
mediante cromtica mais afastada da tnica.
As relaes funcionais podem ser classificadas desde as relaes mais
prximas at as mais afastadas.
Em D maior, tem-se, com relao tnica:
acordes diatnicos
funo principal: C;
relativa: Am;
anti-relativa: Em;
emprstimo modal
homnimo: Cm;
anti-relativa do homnimo: Ab;
relativa do homnimo: Eb;
mediantes cromticas
acorde maior, vizinho de tera maior superior: E;
acorde maior, vizinho de tera menor inferior: A;
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acorde maior, vizinho de tera menor superior: Eb;
acorde maior, vizinho de tera maior inferior: Ab; 2
mediantes cromticas por emprstimo modal3
acorde menor, vizinho de tera menor superior: Ebm;
acorde menor, vizinho de tera maior inferior: Abm. 4
Qualquer um dos acordes citados acima pode ser substituto de C, na
tonalidade de D Maior.
e) Princpio da nota comum
Segundo um processo limtrofe de substituio de acordes, postula-se
que determinado acorde pode ser substitudo por qualquer outro acorde que
possui pelo menos uma de suas notas. Nesse sentido, existe uma relao mais
aproximada (ou menos afastada) entre acordes que tm a fundamental de um
deles como nota comum, especialmente quando se trata da fundamental do
acorde com funo principal da tonalidade de origem.
Assim, a substituio de um acorde de C (tnica, em D Maior) pode
ultrapassar o limite das relaes funcionais atravs doprincpio da nota comume ser substitudo por qualquer acorde que tem uma de suas notas.
Segundo esse princpio da nota comum, as relaes de substituio se
ampliam ainda mais, pois ultrapassam as relaes funcionais, possibilitando a
substituio de um acorde de C (tnica, em D Maior) por acordes como F
(subdominante), Dm7 (relativa da subdominante), Fm (homnimo da
subdominante), D7 (dominante da dominante), F# (vii7 da dominante), Bb7(9)
(dominante de Mib Maior ou Mib Menor), B7(b9) (dominante de Mi Menor ou Mi
2 Os dois acordes ltimos acordes obtidos como mediantes cromticas de C Eb, vizinho detera menor superior, e Ab, vizinho de tera maior inferior , tm relaes mais diretas com afuno principal (tnica) pelo princpio de emprstimo modal, pois so, respectivamente,relativa e anti-relativa do homnimo. Por isso, na maior parte dos casos, prefervel interpret-los pelo processo de emprstimo modal.3 As mediantes cromticas obtidas por emprstimo modal so aquelas que no tm nenhumanota pertencente tonalidade (pois tm as trs notas alteradas) e, portanto, podem serinterpretadas como derivadas de relaes de tera com o homnimo.4 Estes dois acordes Ebm e Abm no tm nota comum com a funo principal (acorde deC), sendo, portanto, o maior grau de afastamento do ponto de vista funcional.
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Maior), entre outros todos os acordes citados tm a nota d, que a
fundamental de C.
A tcnica do encadeamento de acordes afastados por meio de nota
comum permite modulaes diretas, sem preparao, para tonalidades
afastadas.
No trecho abaixo, extrado do finale da Sonata Op. 2, n 2 (1853), de
Johannes Brahms, h duas modulaes para tonalidades afastadas: a primeira
ocorre no segundo compasso do terceiro sistema deste exemplo, que modula
de Sol# Menor para D Maior; a segunda ocorre no ultimo sistema do exemplo,
com a modulao de D Maior para Lb Maior.
Exemplo n 16
O primeiro fato relevante demonstrado pela anlise desse trecho que
modulaes afastadas fazem parte de contextos harmnicos ampliados, com
grande quantidade de acordes alterados e expandidos.
a
b
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No exemplo acima, no trecho indicado com (a), a modulao feita
atravs da nota comum si, que a mediante de Sol# Menor e a sensvel de D
Maior; a nota si utilizada para construir o acorde de B que prepara o acorde
de C, como nova tnica, no compasso seguinte. No segmento marcado com
(b), a nota comum sol, que a dominante de D Maior e a sensvel de Lb
Maior; essa nota faz parte do encadeamento das mediantes cromticas CEb,
sendo que este acorde j a dominante da nova tonalidade.
Quando esses processos expandidos de encadeamento ou substituio
de acordes so empregados sistematicamente podem ocasionar poliacordes
(em que a melodia est composta com base em determinado acorde e a
harmonia em outro) ou, mesmo, relaes de politonalidade (em que a melodia
se encontra em uma tonalidade e a harmonia em outra).
No exemplo abaixo, a harmonia e a melodia da cano Juliana e Dom
Jorge, do cancioneiro popular mato-grossense, esto embasadas em acordes
distintos, dentro da mesma tonalidade.
Para explicitar o processo de substituio deste exemplo, os acordes
cifrados na linha superior pertencem harmonia original; os acordes colocados
abaixo desses so os acordes obtidos atravs do processo de substituio.
Exemplo n 17
Note-se que o princpio da nota comum permite realizar substituies
com mudana de funo harmnica. No primeiro compasso, a substituiomantm a funo, pois se trata de substituir o acorde de tnica por sua anti-
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relativa, j que ambos tm as notas d e mib em comum. Nos trs compassos
seguintes, a substituio realizada com acordes de funes diferentes,
sempre mantendo alguma nota comum, e no penltimo compasso h
substituio da dominante pelo sub-V, isto , se mantm a funo original.
Na primeira frase do ex. n 17, ocorrem as seguintes substituies:
c. 1: substituio da tnica pela tnica anti-relativa (notas comuns: d e
mib);
c. 2: a nota comum d permite substituir o acorde de tnica pela
subdominante;
c. 3: o acorde de subdominante substitudo pela sua prpria dominante(nota comum: d);
c. 4: o acorde de stima da dominante substitudo por um acorde com
funo de subdominante: ii (notas comuns: r e f);
c. 5: substituio da dominante pelo sub-V (notas comuns: si, r e f;
sendo que o si obtido por enarmonia si~db)
c. 6: expanso do acorde de tnica pelo emprego da stima (no
substituio).
Na segunda frase, que inicia e termina de forma idntica primeira, as
substituies diferenciadas ocorrem somente no compasso 8, pois no
compasso 9 no h substituio. Assim, tem-se:
c. 8: substituio da dominante da subdominante pelo movimento
cadencial completo no campo harmnico da subdominante, com uso do
sub-V; o que pode ser interpretado, em F Maior, como: iibII7I (notascomuns entre C7 e Gm: sol e sib; entre C7 e Gb7(#5): sib e fb~mi).
Com o que foi exposto acima, percebe-se que as substituies
presentes no ex. n 17 produzem poliacordes, em que a linha meldica expe
um acorde especfico, enquanto a harmonia apresenta outro acorde
pertencente mesma tonalidade.
Por exemplo, no primeiro compasso, h um arpejo sobre o acorde de
Cm, na melodia, ao passo que a harmonia realiza um acorde de Ab (VI grau de
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D Menor); nos compassos 45, o acorde de G7(b9) arpejado na melodia,
que harmonizada pelos acordes DDb7(9), que so, respectivamente, ii e
sub-V de D Menor.
No exemplo a seguir, os processos de substituio vo mais longe,fazendo com que a harmonia esteja em uma tonalidade, enquanto a melodia
anterior est em outra. O que mantm a relao entre harmonia e melodia o
princpio da nota comum.
Neste exemplo, a anlise da harmonia implcita na melodia est sobre o
pentagrama superior e a anlise da harmonia realizada por substituio bitonal
est abaixo do pentagrama inferior.
Exemplo n 18
No exemplo acima, aparecem algumas dissonncias extremas, na
interao entre melodia e harmonia, devido s notas diferenciais, que so si
(D Menor)/sib (Lb Maior) e r (D Menor)/rb (Lb Maior).
A relao de politonalidade pode gerar grande quantidade de
dissonncias se a relao entre as tonalidades for afastada, pois haver maior
nmero de falsas relaes devido ao pequeno nmero de notas comuns. No
ex. n 18, as falsas relaes foram evitadas para que a harmonia se apresente
como reforo da melodia.
No exemplo abaixo, ao contrrio, o interesse gerar grande nmero de
falsas relaes para produzir estranhamento entre as duas partes. Para isso,
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so escolhidas duas tonalidades distantes entre si: D Menor, na melodia, e L
Maior, na harmonia. Note-se que a parte de acompanhamento bastante
similar anterior, porm tocada meio-tom acima.
Exemplo n 19
Essa escolha de tonalidades possibilita o emprego de grande quantidade
de falsas relaes entre as partes. J no primeiro compasso, h duas falsas
relaes, entre as notas d/d# e mib/mi.
Outra maneira de grafar duas ou mais partes em diferentes tonalidades
escrever separadamente a armadura de clave de cada parte, no pentagrama
correspondente. Com isso, se evita a grande quantidade de notas alteradas e
se esclarece a relao de politonalidade.
No exemplo abaixo, a mesma msica do exemplo anterior est escrita
de forma e evidenciar a tonalidade de cada uma das partes, sendo que a
melodia est com armadura de D Menor (trs bemis) e o acompanhamento
est escrito com armadura de L Maior (trs sustenidos).
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Exemplo n 20
Quanto mais a harmonia se estende atravs do emprego de acordes
afastados, maior a necessidade de fazer com que cada um dos acordes
utilizados se torne mais elaborado do ponto de vista de sua constituio
interna, ou seja, o msico sente-se levado a empregar acordes de stima,
nona, sexta e nona, etc. em grande parte dos acordes. Isso significa que o usoabundante de acordes alterados est ligado ao uso dos processos de
ampliao vertical da harmonia.
No exemplo abaixo, os graus harmnicos do exemplo anterior so
mantidos, porm a harmonia ampliada por meio de notas adicionadas e
acordes expandidos. Este tipo de harmonia mais condizente com as
dissonncias e as falsas relaes existentes entre a melodia e o
acompanhamento.Neste exemplo, a cifra dos acordes se refere somente mo esquerda e
est colocada abaixo do pentagrama inferior para indicar as ampliaes
harmnicas realizadas a partir da harmonizao do ex. n 20.
Exemplo n 21
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2. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CHEDIAK, Almir. Dicionrio de acordes cifrados. Rio de Janeiro: Lumiar, 1984.
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PERSICHETTI, Vincent. Twentieth-century harmony. New York: Norton, 1961.
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composio musical. So Paulo:EDUSP, 1991.
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