152
ANA CAROLINA DE PAULA História natural de pacientes com mucopolissacaridoses Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Área de concentração: Pediatria Orientadora: Chong Ae Kim São Paulo 2006

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ANA CAROLINA DE PAULA

História natural de pacientes com mucopolissacaridoses

Dissertação apresentada à

Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Mestre em

Ciências

Área de concentração: Pediatria

Orientadora: Chong Ae Kim

São Paulo

2006

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Dedicatória

Aos meus pais, Manoel e Vera, por terem me ensinado que a honestidade, a

simplicidade, a dedicação e o amor ao próximo correspondem às principais

virtudes de uma pessoa.

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AGRADECIMENTOS

À Dra. Chong Ae Kim, pela orientação, oportunidade e confiança. Ao Dr. Ciro J. Bertoli e à Dra. Sônia Guinsburg, pelo incentivo e apoio. Às Dras. Lílian M. J. Albano e Débora R. Bertola, pelos ensinamentos. Ao Dr. Roberto Giugliani, à Dra. Ida V. D. Schwartz e à Rede MPS Brasil, pela realização dos exames específicos, orientação no manejo dos pacientes e referências bibliográficas. À Dra. Carmem Bonfim, pelas referências bibliográficas sobre a experiência brasileira no transplante de medula óssea, Á equipe multidisciplinar, que muito colaborou nesses quatro anos:

- Dr. Luiz Antonio N. de Oliveira e Dr. Marcelo Valente - Radiologia; - Dra. Gabriela N. Leal - Cardiologia; - Dra. Vera H. Koch e Dra. Erika A. Furusawa - Nefrologia; - Dra. Silvia M. M. Barbosa - Dor e Cuidados Paliativos; - Dra. Gilda Porta - Hepatologia; - Dra. Ana Carolina G. M. dos Santos - Odontologia Hospitalar; - Dr. Gustavo A. Moreira, Dra. Beatriz N. Barbisan e Dra. Márcia Pradella-

Hallinan - Instituto do Sono do Hospital São Paulo; - Dra. Ana Paula F. F. Dualibi - Otorrinolaringologia do Hospital São Paulo; - Aos atuais e antigos estagiários da Genética: Dra. Claudia R. L. Silva, Dr.

Thomaz Delboni e Marilia Borges; - Dra. Vera G. Levyman; - Aos médicos e residentes do SCUT, da UTI e da enfermaria de especialidades; - Às fisioterapeutas; - Às assistentes sociais; - À equipe de enfermagem do Hospital-Dia; - À equipe de telefonistas, marcação de exames e consultas.

Com vocês aprendi que a união faz a força, e que a força resulta em vitórias!

Aos responsáveis legais dos pacientes, pela confiança e credibilidade. Aos pacientes, eu agradeço, pelo constante afeto recebido. À Sra. Mariza U. Yoshikawa e demais funcionários da biblioteca, pela busca de artigos científicos e orientações técnicas. À Profa. Elizabeth Magalhães, pelo apoio técnico. Ao Francisco A. S. Querido, pelo auxílio técnico e co-autoria afetiva. Á Dra. Maria Inês P. Nantes e Dr. Sérgio L. Nascimento, pelo acolhimento e amizade. Aos meus queridos irmãos (Maria Cristina de Paula Bruno e Manoel José de Paula Filho) e minhas amigas (Cíntia Angeli de Lima, Maria Cecília V. Alvarenga e Mércia M. M. Facó), pela ajuda sentimental.

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NORMATIZAÇÃO ADOTADA

Esta tese está de acordo com:

Referências: Adaptado de International Commitee of Medical Journals

Editors (Vancouver).

Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de

Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e

monografias. Elaborado por Annelise Carneiro da Cunha, Maria Júlia de A.

L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva da Souza Aragão, Suely Campos

Cardoso, Valéria Vilhena. São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação;

2004.

Abreviatura e títulos dos periódicos de acordo com o List of Journals Indexed in Index Medicus.

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SUMÁRIO

Lista de abreviaturas

Lista de símbolos

Lista de siglas

Lista de tabelas

Lista de gráficos

Lista de figuras

Resumo

Sumary

1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 1

1.1. Definição.................................................................................. 2 1.2. Breve histórico ........................................................................ 2

1.3. Etiologia................................................................................... 3

1.4. Classificação ........................................................................... 5

1.5. Herança ................................................................................... 6

1.6. Incidência ............................................................................... 6

1.7. Achados clínicos...................................................................... 7

1.8. Diagnóstico ........................................................................... 19

1.9. Tratamento ............................................................................ 24

1.10. Rede MPS Brasil ................................................................. 40

2. OBJETIVOS......................................................................................... 42

3. MÉTODOS........................................................................................... 44 3.1. Casuística.............................................................................. 45

3.2. Métodos................................................................................. 45

4. RESULTADOS..................................................................................... 50 5. DISCUSSÃO........................................................................................ 63 6. CONCLUSÕES.................................................................................... 99

7. ANEXOS............................................................................................ 103

8. REFERÊNCIAS ................................................................................. 119

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LISTA DE ABREVIATURAS a anos AH ácido hialurônico CPAP Continuous Positive Airway Pressure CS condroitin sulfato DS dermatan sulfato DNPM desenvolvimento neuropsicomotor GAGs glicosaminoglicanos HS heparan sulfato IAH índice de apnéia e hipopnéia IOT intubação orotraqueal HAS hipertensão arterial sistêmica HP hipertensão pulmonar MPS I mucopolissacaridose do tipo I MPS I-H forma grave da MPS I (síndrome de Hurler) MPS I-HS forma intermediária da MPS I (síndrome de Hurler-Scheie) MPS I-S forma leve da MPS I (síndrome Scheie) MPS II mucopolissacaridose do tipo II (síndrome de Hunter) MPS III mucopolissacaridose do tipo III (síndrome de Sanfilippo) MPS IV mucopolissacaridose do tipo IV (síndrome de Morquio) MPS VI mucopolissacaridose do tipo VI (síndrome de Maroteaux-Lamy) MPS VII mucopolissacaridose do tipo VII (síndrome de Sly) MPS IX mucopolissacaridose do tipo IX m meses QS queratan sulfato SAOS síndrome de apnéia obstrutiva do sono SatO2 saturação arterial de oxigênio NadirSaO2 saturação de oxigênio da hemoglobina mínima SNC sistema nervoso central TER terapia de reposição enzimática TC tomografia computadorizada TMO transplante de medula óssea UTI Unidade de Tratamento Intensivo VA válvula aórtica VE ventrículo esquerdo VM válvula mitral VP válvula pulmonar VT válvula tricúspide

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LISTA DE SIGLAS

HCFMUSP Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

ICr Instituto da Criança FDA US Food and Drug Administration ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LISTA DE SÍMBOLOS

% porcentagem > maior < menor > maior igual < menor igual

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Classificação das MPSs segundo a deficiência enzimática e a

excreção urinária dos GAGs............................................................5 Tabela 2 Disostose múltipla: achados radiológicos típicos das MPSs............20 Tabela 3 Queixa principal referida pelos familiares dos pacientes com

diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes)...54 Tabela 4 Variação e média da idade da detecção da queixa principal

pelos familiares e do diagnóstico médico nos diferentes tipos de MPS .................................................................................................54

Tabela 5 Achados clínicos nos diferentes tipos de MPS (número de

afetados/total de pacientes) .............................................................56 Tabela 6 Resultados dos exames de triagem urinária nos diferentes tipos

de MPS (número de afetados/total de pacientes) ............................57 Tabela 7 Principais achados radiológicos nos diferentes tipos de MPS

(número de afetados/total de pacientes)..........................................58 Tabela 8 Principais achados no ultra-som abdominal, no ecocardiograma,

na oximetria, na polissonografia e na TC de crânio dos diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes)...59

Tabela 9 Principais complicações clínicas nos diferentes tipos de MPS

(número de afetados/total de pacientes)..........................................60 Tabela 10 Motivos das internações hospitalares em enfermaria e UTI nos

diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes)...61 Tabela 11 Principais procedimentos cirúrgicos realizados nos diferentes

tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes) ...................62

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico1 Incidência brasileira de pacientes portadores de mucopolissacaridoses (1982-2001) ............................................ 6

Gráfico 2 Total de pacientes estudados no presente trabalho, de

acordo com o tipo de MPS.......................................................... 51 Gráfico 3 Encaminhamento dos pacientes com MPS para a Unidade

de Genética, de acordo com as especialistas médicas .............. 55 Gráfico 4 Achados clínicos mais freqüentes nos trinta pacientes com

MPSs, estudados no presente trabalho...................................... 55 Gráfico 5 Deficiência enzimática detectada nos trinta pacientes

estudados no presente trabalho ................................................. 57

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LISTA DE FÍGURAS

Figura 1 Semelhança entre MPS e a imagem do deus Bés: apresenta fácies grotesco, baixa estatura, deformidade torácica, abdome globoso, braços e pernas arqueados...............................................2

Figura 2 Representação esquemática dos proteoglicanos ............................4 Figura 3 Achados clínicos evolutivos nas MPSs............................................8 Figura 4 Fluxograma: investigação laboratorial das MPSs ............................22 Figura 5 Paciente com MPS em uso de CPAP nasal durante o sono............27 Figura 6 Opacidade das córneas na MPS .....................................................31 Figura 7 A: As alterações dentárias em MPS: hipoplasia de esmalte,

diastemas, cúspides irregulares e pontiagudas, hipertrofia gengival, macroglossia e limitação da abertura bucal; B: Tratamento odontológico com melhora das anormalidades ............33

Figura 8 Local de nascimento dos pacientes com diferentes tipos de

MPS, de acordo com as regiões brasileiras.....................................52 Figura 9 Local de nascimento de 383 pacientes com diferentes tipos de MPS, diagnosticados entre 1982 e 2001 .........................................65 Figura 10 Paciente com MPS I-HS, aos 11 meses, aos 2 anos e 6 meses

e aos 7 anos e 11 meses, presença de fácies não-grotesco ...........69 Figura 11 Paciente com MPS I-HS, 8 anos e 5 meses, apresenta fácies

grotesco, pescoço curto, abdome volumoso, hérnia umbilical, rigidez articular, mãos em garra e pápulas subcutâneas em tórax e braço....................................................................................69

Figura 12 Paciente com MPS I-HS, aos 8 anos e 3 meses, presença de

fácies grotesco e mancha mongólica extensa .................................69 Figura 13 Paciente com MPS I-H, aos 8 anos e aos 8 anos e 9 meses,

presença de fácies grotesco, buftalmia e deformidade da calota ....71 Figura 14 Paciente com MPS II (forma grave) aos 9 anos e 7 meses .............74

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Figura 15 Fácies de pacientes com MPS III, A: fácies grotesco sutil, B: Fácies incaracterístico.................................................................75 Figura 16 Pacientes com MPS IVA, presença de fácies normal, pescoço

curto, pectus carinatum, rigidez articular e genu valgo....................78 Figura 17 Paciente com MPS IVA antes da cirurgia aos 6 anos, no pós-

operatório aos 6 anos e 11 meses e após duas cirurgias ortopédicas aos 8 anos e 11 meses ................................................80

Figura 18 Paciente com MPS VI aos 20 anos e 5 meses, apresenta baixa

estatura, fácies grotesco, opacidade de córneas, pescoço curto, abdome volumoso e mãos em garra; a inteligência é normal, sua atividade diária é a confecção de bijuterias..................81

Figura 19 Paciente com MPS VII, nos primeiros dias de vida, apresenta

excesso de pele em região de pescoço, aos 3 meses de idade e aos 8 anos e 10 meses.................................................................83

Figura 20 Raios-X de tórax: costelas em forma de remo.................................88 Figura 21 Raios-X de ossos longos: úmero proximal em forma de

machado ..........................................................................................89 Figura 22 Raios-X de ossos longos: córtex espessado com trabeculado

grosseiro; primeira imagem apresenta convergência distal de ulna e rádio ......................................................................................89

Figura 23 Raios-X das mãos: metacarpos cônicos, espessos e

convergentes ...................................................................................89 Figura 24 Raios-X de crânio: espessamento importante da calota na MPS

III; Raios-X de coluna: platispondilia e vértebras em forma de projétil na MPS IVA; Raios-X de mãos e pés: próximo da normalidade na MPS VII ..................................................................90

Figura 25 Raios-X de coluna e ossos longos de paciente com MPS IVA:

as imagens superiores correspondem aos 4 anos de idade e as inferiores, aos 13 anos.....................................................................91

Figura 26 Raios-X de crânio: imagens superiores apresentam as

impressões digitiformes e as inferiores, as impressões vasculares........................................................................................92

Figura 27 Ecocardiograma: espessamento da válvula mitral em paciente

com MPS VI aos 10 anos de idade..................................................94

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Figura 28 TC de crânio: ventriculomegalia presente num paciente com MPS I-HS aos 8 anos e 5 meses.....................................................97

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RESUMO Paula AC. História natural de pacientes com mucopolissacaridoses. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2006. 138p. INTRODUÇÃO: As mucopolissacaridoses (MPSs), consideradas doenças de depósito lisossomal, são classificadas, de acordo com a deficiência enzimática, em sete tipos de doenças metabólicas hereditárias de caráter crônico, progressivo e sistêmico. OBJETIVOS: Caracterizar os achados clínicos e avaliar a evolução dos pacientes com diferentes tipos de MPS. MÉTODOS: Trata-se de um estudo retro e prospectivo de 30 pacientes com diferentes tipos de MPSs atendidos na Unidade de Genética do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Para a realização do estudo foi elaborado um protocolo de pesquisa, que compreendeu de uma avaliação clínica e laboratorial. RESULTADOS: Foram estudados 30 pacientes, assim distribuídos: seis MPS I, dois MPS II, sete MPS III, sete MPS IV, seis MPS VI e dois MPS VII. Dezesseis pacientes eram femininos e 14 masculinos. A idade variou entre 2 anos e 22 anos e 4 meses, média de 12 anos e 1 mês. As complicações clínicas detectadas foram: cardiopatia (90%), opacidade de córneas (70%), infecções de repetição (63%), síndrome da apnéia noturna do sono (SAOS) (37%), diarréia (33%), convulsão (17%) e hipertensão artéria sistêmica (HAS) (10%). Cinqüenta por cento dos pacientes foram internados em enfermaria e 13% em UTI, sendo que a s infecções respiratórias foram os principais motivos para as internações hospitalares. O uso do CPAP foi necessário em quatro pacientes, a média de idade para iniciar o uso foi 9 anos e 3 meses. Vinte pacientes foram operados e submetidos a 37 procedimentos anestésicos e 46 procedimentos cirúrgicos (média de 2,3 cirurgia/paciente), sendo que quatro pacientes apresentaram intercorrências: dificuldade de intubação (3), HAS (1) e sangramento (1). A obstrução das vias aéreas superiores e a complicação cardíaca resultaram no óbito de dois pacientes: um MPS I, aos 8 anos e 9 meses, e um com MPS II, aos 12 anos. Quanto aos exames laboratoriais, o teste de toluidina apresentou resultados falso-negativos em 44%, a dosagem de glicosaminoglicanos (GAGs) urinários foi aumentada em todos os pacientes, a cromatografia de GAGs foi normal em quatro pacientes com MPS IV e dosagem enzimática definiu o diagnóstico e o tipo de MPS. Em relação aos outros exames, as alterações radiológicas, disostose múltipla, foram detectadas em 100% dos pacientes, 90% apresentaram achados ecocardigráficos, 27% SAOS de grau acentuado na polissonografia e 57% ventriculomegalia na tomografia computadorizada de crânio. CONCLUSÃO: Os pacientes necessitam de um acompanhamento periódico, por meio de uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de se estabelecer um manejo adequado das freqüentes complicações clinicas. Descritores: 1. mucopolissacaridoses 2. história natural das doenças 3. evolução clínica 4. Glicosaminoglicanos

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SUMMARY Paula AC. Natural history of patients with mucopolysaccharidoses. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2006. 138p. INTRODUCTION: mucopolysaccharidoses (MPSs) are a group of lysosomal storage disorders classified, according to specific enzyme deficiency, into seven types of hereditary metabolic diseases of chronic, progressive, and systemic character. OBJECTIVES: to characterize clinical findings and to evaluate the evolution of patients with different types of MPSs seen at the Genetics Division of the Children’s Hospital of the University of Sao Paulo Clinical Hospital. For the present study, we devised a research protocol including clinical evaluation and laboratory tests. RESULTS: we studied 30 patients, including six MPS I, two MPS II, seven MPS III, seven MPS IV, six MPS VI, and two MPS VII. Sixteen patients were female, and 14 male. Age ranged between 2 years and 22 years and 4 months, mean 12 years and 1 month. Clinical complications detected included: cardiopathy (90%), corneal opacity (70%), recurrent infections (63%), sleep apnea syndrome (SAS) (37%), diarrhea (33%), seizures (17%), and systemic arterial hypertension (SAH) (10%). Fifty percent of patients were admitted to regular wards, and 13% to intensive care units, respiratory infections being the most frequent reason for hospital admission. CPAP was required for four patients; mean age for onset of CPAP use was 9 years and 3 months. Twenty patients underwent surgery, leading to a total 37 anesthetic procedures and 46 surgical procedures (mean 2.3 surgeries/patient); four patients had complications during surgery; these included intubation difficulties (3), SAH (1), and bleeding (1). Obstruction of the upper airways and cardiac complications led to the death of two patients, one MPS I (age 8 years and 9 months) and one MPS II (age 12 years). Regarding laboratory tests, toluidine blue staining showed false-negative results in 44% of patients, urine glycosaminoglycan (GAG) levels were increased in all patients, GAG chromatography was normal in four patients with MPS IV, and enzyme quantification defined the diagnosis and type of MPS. Radiological alterations (multiple dysostosis) were detected in all patients; 90% of patients showed echocardiographic alterations; polysomnography showed marked SAS in 27% of patients; and cranial CAT scans showed ventriculomegaly in 57% of patients. CONCLUSION: MPS patients require regular follow-up by a multidisciplinary team in order to achieve adequate management of frequent clinical complications. Key words: 1. mucopolysaccharidoses 2. natural history of diseases 3. clinical evolution 4. glycosaminoglycans

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INTRODUÇÃO

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2

1. INTRODUÇÃO

1.1. DEFINIÇÃO

As mucopolissacaridoses (MPSs), consideradas doenças lisossômicas

de depósito, constituem um grupo heterogêneo de doenças metabólicas

hereditárias de caráter crônico, progressivo e sistêmico (Neufeld e Muenzer,

2001).

1.2. BREVE HISTÓRICO

As MPSs foram descritas no século XX; entretanto, algumas

observações históricas sugerem sua presença desde a Idade Antiga. Um

exemplo é o deus egípcio Bés (Figura 1), considerado deus da família e

protetor das mulheres grávidas.

Figura 1 - Semelhança entre MPS e a imagem do deus Bés: apresenta fácies grotesco, baixa estatura, deformidade torácica, abdome globoso, braços e pernas arqueados FONTE: http://pt.wikipedia.org

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3

As descrições clínicas iniciaram-se a partir de 1917, e, somente nas

décadas de 50 e 60, os pesquisadores começaram a descobrir as bases

bioquímicas.

Em 1952, os glicosaminoglicanos (GAGs) foram isolados e identificados

em indivíduos com fenótipo grotesco, e o termo mucopolissacaridose foi

proposto para essa doença. O início da elucidação etiológica foi a partir de

1968, pois se demonstrou que o acúmulo de GAGs era resultante da

degradação ineficaz e não de uma síntese excessiva ou de uma redução na

sua excreção. Posteriormente, diversos pesquisadores correlacionaram o

acúmulo de GAGs à deficiência de enzimas lisossômicas (Whitley, 1993).

1.3. ETIOLOGIA

As MPSs resultam da deficiência de uma das onze enzimas lisossomais

responsáveis pela degradação dos GAGs − dermatan sulfato (DS), heparan

sulfato (HS), queratan sulfato (QS), condroitin sulfato (CS) e ácido

hialurônico (AH) (Neufeld e Muenzer, 2001).

Os GAGs são amplamente distribuídos no organismo. Estruturalmente,

são formados por cadeias polissacarídicas geralmente não ramificadas e

compostas por repetição de dissacarídeos. Todos os GAGs, com exceção

do ácido hialurônico, ligam-se a uma proteína central, formando um

monômero proteoglicano. Os monômeros de proteoglicanos associam-se à

molécula de ácido hialurônico através da proteína de ligação, formando

agregados de proteoglicanos (Figura 2) (Champe e Harvey, 1997).

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4

Figura 2 - Representação esquemática dos proteoglicanos FONTE: http://bifi.unizar.es/jsancho/estructuramacromoleculas/ 16polisacaridos/16polisac.htm (Modificado) Os proteoglicanos ligam-se à água, formando géis, que facilitam a

difusão de gases e nutrientes entre as células; ficam incrustados na

membrana celular, controlando a comunicação intercelular, a divisão e a

diferenciação celular. Além disso, são componentes do tecido conjuntivo e

do fluido articular, dando sustentação e lubrificação (Champe e Harvey,

1997).

A síntese dos GAGs é efetuada no complexo de Golgi, e a degradação,

por ação de enzimas específicas, nos lisossomos (Champe e Harvey, 1997).

A deficiência das enzimas lisossomais específicas resulta na falha da

degradação dos GAGs. Os GAGs não degradados são acumulados, de

forma gradativa, no interior das células e, conseqüentemente, acarretam

disfunções celular, tecidual e orgânica (Neufeld e Muenzer, 2001). O

Ácido hialurônico

GAGs

GAGs

Proteína central

Proteína de ligação

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5

excesso de GAGs acumulados é excretado pela urina (Neufeld e Muenzer,

2001).

1.4. CLASSIFICAÇÃO

As MPSs são classificadas em sete tipos (Tabela 1), de acordo com a

deficiência enzimática.

Tabela 1- Classificação das MPSs segundo a deficiência enzimática e a excreção urinária dos GAGs TIPO DE

MPS EPÔNIMO ENZIMA DEFICIENTE

GAGs

URINÁRIOS

I Hurler

Hurler-Scheie

Scheie

α-L-iduronidase DS / HS

II Hunter

Iduronato-L-sulfatase DS / HS

III Sanfilippo A

Sanfilippo B

Sanfilippo C

Sanfilippo D

Heparan-N-sulfatase

α-N-acetilglicosaminidase

Acetil-CoA: α-glicosamina acetiltransferase

N-acetilglicosamina 6-sulfatase

HS

IV Morquio A

Morquio B

Galactose 6-sulfatase

β-Galactosidase

QS

VI Maroteaux-Lamy

N-acetilgalactosamina 4-sulfatase DS

VII Sly

β-Glicuronidase DS / HS

IX Natowicz Hialuronidase AH

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6

1.5. HERANÇA

Em todos os tipos, o padrão de herança é autossômico recessivo,

exceção na MPS II, na qual a herança é ligada ao cromossomo X (Neufeld e

Muenzer, 2001).

1.6. INCIDÊNCIA

A incidência conjunta é estimada em 1:29.000 nascidos vivos (Nelson

et al., 2003), considerando-se a MPS I e a MPS III as mais freqüentes e a

MPS VII, a mais rara (Meikle et al.,1999).

No Brasil, Schwartz et al. (2001) detectaram o predomínio das MPS I,

MPS II e MPS VI (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Incidência brasileira de pacientes portadores de mucopolissacaridoses (1982-2001)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII

No d

e pa

cien

tes

(Tot

al: 3

41 p

acie

ntes

)

FONTE: Schwartz et al. (2001)

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7

Segundo Leistner e Giugliani (1998), as MPSs correspondem, no Brasil,

a 32% dos erros inatos do metabolismo e a 54% das doenças lisossomais

de depósito.

1.7. ACHADOS CLÍNICOS

As MPSs caracterizam-se pelo acometimento sistêmico e progressivo.

A heterogeneidade clínica é significativa; pacientes com deficiência

enzimática idêntica podem apresentar magnitude clínica distinta, variando de

leve, moderada à grave (Muenzer, 2004).

Em geral, a manifestação clínica inicia-se nos primeiros anos de vida,

tornando-se mais evidente com o decorrer dos anos (Figura 3); nos

pacientes com sintomas leves, o início pode ser mais tardio – na idade

adulta (Neufeld e Muenzer, 2001).

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8

Figura 3 - Achados clínicos evolutivos nas MPSs

5a

3a 7a 9a

MPS IIIA

4m 8a 6a

MPS II 2m 4a 8a9m

MPS I-H

15d 8m 2a

MPS VI

5m1m 5a9m 4a3m

MPS VII

9m 1a 6a

MPS IVA

5a

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9

1.7.1. MUCOPOLISSACARIDOSE I

A MPS I é subdividida pela gravidade clínica em três tipos: Hurler (MPS

I-H), Hurler-Scheie (MPS I-HS) e Scheie (MPS I-S).

MPS I – H

A MPS I-H é considerada o paradigma das MPSs.

Os pacientes são normais ao nascimento; porém, hérnias inguinais e/ou

umbilical podem ser detectadas (Neufeld e Muenzer, 2001), além de

macrocefalia e limitação da abdução do quadril (Gorlin et al., 1990).

A mudança do fácies para grotesco inicia-se entre 3 e 6 meses, e,

usualmente, é o primeiro sinal a ser notado (Gorlin et al., 1990). O fácies

grotesco caracteriza-se pela presença de epicanto, ponte nasal deprimida,

narinas alargadas e antivertidas, lábios grossos, macroglossia e protrusão

da língua. A boca mantém-se aberta, em geral, após os 3 anos de idade

(Gorlin et al., 1990).

A opacidade das córneas ocorre no primeiro ano de vida, podendo-se

observar, com freqüência, glaucoma (Neufeld e Muenzer, 2001). A presença

de buftalmia e de megalocórnea foi descrita na MPS I-H (Whitley, 1993).

A cardiopatia é comum a todos os pacientes, podendo ser identificada

precocemente nos primeiros anos de vida; a regurgitação mitral é o

acometimento cardíaco mais freqüente (Neufeld e Muenzer, 2001).

O aumento abdominal inicia-se no segundo ano de vida, como

conseqüência da hepatoesplenomegalia, da deformidade torácica e da

frouxidão da parede abdominal (Gorlin et al., 1990). A hérnia umbilical,

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10

normalmente, presente ao nascimento, tende a aumentar progressivamente

de tamanho, atingindo grandes proporções (Gorlin et al., 1990). Embora haja

aumento do fígado e baço, suas funções, usualmente, estão preservadas

(Whitley, 1993).

A gibosidade (cifoescoliose tóraco-lombar) pode ser um achado clínico

inicial, porém, normalmente, é reconhecida no momento em que a criança

começa a sentar-se (Whitley, 1993).

Próximo aos 2 anos de idade, os dedos das mãos ficam enrijecidos e

fletidos, adquirindo aspecto de garra, típico das MPSs. A rigidez articular, em

membros com limitação dos movimentos, também é notada nesse período;

em geral, os pacientes adquirem a postura de andar nas pontas dos dedos,

principalmente após um período de repouso (Whitley, 1993).

A pele, geralmente, é grossa, os cabelos espessos e secos. O

hirsutismo é encontrado em todos os pacientes (Whitley, 1993).

Quanto ao crescimento, há possibilidade de aceleração no primeiro ano

de vida, porém a desaceleração inicia-se entre os 6 e 8 anos de idade,

podendo o portador atingir estatura de 110 centímetros (Neufeld e Muenzer,

2001).

O desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) pode ser normal durante o

primeiro ano de vida (Cleary e Wraith, 1995); porém, o atraso, geralmente,

ocorre entre 1 ano e 2 meses e 2 anos de idade; a idade funcional máxima é

de 2 a 4 anos, evoluindo com progressiva deterioração neurológica (Neufeld

e Muenzer, 2001).

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11

O óbito ocorre, geralmente, durante a primeira década de vida, por

obstrução da via aérea superior, complicações cardíacas e infecção

respiratória (Gorlin et al., 1990; Neufeld e Muenzer, 2001).

O diagnóstico é realizado entre 6 meses e 2 anos de idade (Neufeld e

Muenzer, 2001).

MPS I – HS

Os pacientes apresentam achados clínicos semelhantes à forma Hurler,

como: baixa estatura, fácies grotesco, opacidade das córneas, cardiopatia,

hepatoesplenomegalia, hérnia inguinal e/ou umbilical e disostoses múltipla.

No entanto, os sintomas são mais leves e iniciam-se mais tardiamente

(Gorlin et al., 1990), em geral entre 3 e 8 anos (Neufeld e Muenzer, 2001).

A função mental é preservada, porém, freqüentemente, há declínio

intelectual com o passar da idade (Whitley, 1993). Segundo Dugas et al.

(1985), sintomas psicóticos podem se manifestar na idade adulta.

O óbito, normalmente, ocorre aos 25 anos (Gorlin et al., 1990), por

complicações cardíacas e obstrução das vias aéreas superiores (Neufeld e

Muenzer, 2001).

MPS I – S

A síndrome de Scheie exibe sinais clínicos mais leves e observados

após os 5 anos de idade (Neufeld e Muenzer, 2001).

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12

O fácies é relativamente normal, com ausência de características

grosseiras; nota-se a presença de ponte nasal deprimida, narinas alargadas,

bochechas proeminentes e prognatismo (Whitley, 1993).

Os pacientes apresentam estatura e inteligência normais, opacidade de

córneas, mãos em garra e acometimento cardíaco (Neufeld e Muenzer,

2001). Segundo estudo de Vijay e Wraith (2005), a opacidade das córneas e

mãos em garra são detectadas, durante a evolução da doença, em 70% e

em 40% dos pacientes, respectivamente.

O diagnóstico é realizado, freqüentemente, entre 10 e 20 anos (Neufeld

e Muenzer, 2001). Segundo Vijay e Wraith (2005), os pacientes sobrevivem

até a meia-idade.

1.7.2 MUCOPOLISSACARIDOSE II

Os pacientes portadores da MPS II, clinicamente, são muito

semelhantes aos da MPS I, exceto em relação às córneas, que são

transparentes (Neufeld e Muenzer, 2001), e à presença de pápulas

subcutâneas hipocrômicas, localizadas nas regiões, a saber: escápula,

tórax, braço e coxa (Thappa et al., 1998).

Na expressão clinica são descritas duas entidades: forma leve e forma

grave.

A forma grave é 3,38 vezes mais freqüente que a leve (Young e Harper,

1982); o início da doença ocorre entre 2 e 4 anos de idade, quando se

observa uma rápida progressão dos sintomas. Caracteriza-se pela presença

do fácies grotesco, baixa estatura, cardiopatia, hepatoesplenomegalia,

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deformidades esqueléticas, rigidez articular e retardo mental. Segundo

Young e Harper (1983), a MPS II, forma grave, apresenta três estágios: no

primeiro estágio, ocorre o início insidioso do retardo mental e atraso do

DNPM; no segundo, há piora do retardo mental e, gradualmente, a doença

assume caráter consuptivo; e no terceiro, há total regressão neurológica,

convulsão e caquexia neurodegenerativa. O óbito normalmente ocorre por

volta dos 15 anos de idade, por comprometimento cardíaco e obstrução de

vias áreas superiores (Neufeld e Muenzer, 2001).

Na forma leve, a inteligência é normal, as características somáticas são

similares às da forma grave, com aparecimento mais tardio. A expectativa de

vida é maior, geralmente até 50 e 60 anos de idade, havendo casos de

sobrevida aos 87 anos (Neufeld e Muenzer, 2001). O óbito ocorre por

obstrução de vias aéreas e falência cardíaca (Neufeld e Muenzer, 2001).

1.7.3. MUCOPOLISSACARIDOSE III

Na dependência da deficiência enzimática, divide-se em quatro

subtipos: A, B, C e D.

Segundo van de Kamp et al. (1981), o tipo A representa a forma mais

grave, com início precoce dos sintomas, progressão rápida e sobrevida

curta; o B é heterogêneo com forma grave ou leve; e o C manifesta a forma

leve. Para Neufeld e Muenzer (2001), o tipo D é muito heterogêneo e raro.

O quadro inicia-se entre 2 e 6 anos, e se observa, como principais

manifestações: hiperatividade, agressividade, atraso no DNPM, cabelos

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secos e espessos, hirsutismo, distúrbios do sono e discreto aumento de

baço e fígado (Neufeld e Muenzer, 2001; Whitley,1993).

O fácies grotesco não é muito evidente, se comparado com outros tipos

de MPS, podendo até não ser observado; o envolvimento esquelético é

mínimo, com rigidez leve de cotovelos e joelhos (Gorlin et al., 1990) e a

estatura pode ser normal (Neufeld e Muenzer, 2001).

A degeneração neurológica manifesta-se entre 6 e 10 anos (Neufeld e

Muenzer, 2001), acompanhada de rápida deterioração social e adaptativa. O

retardo mental é profundo; problemas de comportamento, como agitação e

agressividade, são de difícil tratamento. A convulsão ocorre mais

tardiamente, sendo de fácil controle medicamentoso (Neufeld e Muenzer,

2001).

Os pacientes afetados pela forma grave morrem na segunda década de

vida (Neufeld e Muenzer, 2001), já os afetados pela forma leve possuem

uma sobrevida maior: 40 anos (Van Schrojenstein-de Valk e van de Kamp,

1987).

1.7.4. MUCOPOLISSACARIDOSE IV

Na MPS IV, as anormalidades esqueléticas são as características

essenciais; divide-se, bioquimicamente, em dois subtipos: A e B.

MPS IV A

A MPS IVA, embora considerada a forma grave quando comparado ao

B, apresenta diferentes magnitudes clínicas. Nelson et al. (1988), ao

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15

estudarem a heterogeneidade clínica de doze pacientes do tipo A,

propuseram uma divisão em três tipos: tipo clássico (grave), intermediário e

leve.

Ao nascimento, os pacientes são normais e o DNPM é adequado;

porém no segundo e terceiro ano de vida alguns sinais, como retardo do

crescimento, pectus carinatum, andar desajeitado (em gingado), genu valgo,

alargamento articular e gibosidade, tornam-se evidentes e alertam para a

doença (Whitley, 1993, e Neufeld e Muenzer, 2001).

A aparência facial costuma ser normal, podendo, entretanto, observar-

se nariz pequeno, lábios grossos, maxila proeminente e espaçamento

dentário (Whitley, 1993).

Os sintomas extra-esqueléticos também são detectados: córneas

opacas, hepatomegalia e cardiopatia (Neufeld e Muenzer, 2001). Segundo

Nelson et al. (1990), o comprometimento aórtico é a manifestação cardíaca

mais comum. A opacidade das córneas não é identificada sem auxílio

técnico, antes do 10 anos de vida (Von Noorden et al., 1960).

A hipermobilidade articular, secundária à frouxidão ligamentar, está

presente na MPS IV, porém ausente nas grandes articulações: quadril,

joelhos e cotovelos (Neufeld e Muenzer, 2001).

A inteligência é preservada (Neufeld e Muenzer, 2001).

Na forma grave, o prognóstico para altura é ruim; poucos pacientes

atingem 100 centímetros (Wraith, 1995).

Os pacientes portadores da forma grave podem morrer na primeira

década de vida, porém, em geral, sobrevivem até a segunda e terceira

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16

décadas (Neufeld e Muenzer, 2001). Guiney e Stevenson (1982) relataram

uma paciente que sobreviveu até os 67 anos.

O diagnóstico geralmente é realizado entre 3 e 15 anos (Neufeld e

Muenzer, 2001).

MPS IV B

A evolução, nesta forma da doença, é lenta; as anomalias esqueléticas

são pouco graves; a inteligência e a estatura são normais (Neufeld e

Muenzer, 2001).

As anormalidades dentárias − dentes pequenos e espaçados, cúspides

pontiagudas ou côncavas, esmalte fino, opaco e acinzentado e

suscetibilidade à fratura − permitem diferenciar a MPS IV A e a MPS IV B,

uma vez que não são detectadas na MPS IV B (Rolling et al., 1999).

1.7.5. MUCOPOLISSACARIDOSE VI

As manifestações clínicas na MPS VI são semelhantes às da MPS I-H

(Neufeld e Muenzer, 2001); todavia, a inteligência na MPS VI é preservada

(Whitley, 1993).

Embora apresentem o mesmo perfil bioquímico, três formas clínicas

foram reconhecidas: grave, intermediária e leve.

Na forma grave, os achados clínicos são precoces e evoluem mais

rapidamente, surgindo, em geral, entre o primeiro e o terceiro ano de idade.

Na forma intermediária, eles surgem no final da infância, e, na forma leve,

após a segunda década de vida (Jones, 1998).

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17

A macrocefalia, a fronte proeminente, a deformidade torácica e a hérnia

umbilical e/ou inguinal podem estar presentes, já ao nascimento (Gorlin et

al., 1990; Neufeld e Muenzer, 2001).

O fácies assume características grotescas, tornando-se semelhante ao

da MPS I-H (Gorlin et al., 1990).

A cardiopatia e a opacidade das córneas são freqüentes, podendo ser

identificadas em 100% dos pacientes (Whitley, 1993; Neufeld e Muenzer,

2001; Azevedo et al., 2004). Embora pouco descrito, a fibroelastose

endocárdica é encontrada na MPS VI (Fong et al., 1987).

A hepatomegalia está sempre presente após os 6 anos de idade, e a

esplenomegalia pode ser encontrada em metade dos pacientes (Whitley,

1993).

A rigidez articular desenvolve-se no primeiro ano de vida, e a mão

adota posição “em garra” (Neufeld e Muenzer, 2001). Ambos os achados

podem ser identificados em 100% dos pacientes (Azevedo et al., 2004).

Embora Neufeld e Muenzer (2001) descrevam o crescimento como

normal nos primeiros anos de vida, e a desaceleração após os 6 e 8 anos,

Delphine et al. (2004) notificaram, pela primeira vez, a aceleração do

crescimento no primeiro ano de vida, acompanhada de idade óssea

avançada e disostose múltipla. Em geral, a estatura final varia de 110 a 140

centímetros (Neufeld e Muenzer, 2001).

O desenvolvimento mental é normal, porém as limitações físicas e

visuais podem impedir um adequado desempenho psicomotor (Neufeld e

Muenzer, 2001).

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Na forma grave, o óbito ocorre entre a segunda e a terceira décadas,

em geral por acometimento cardíaco e obstrução das vias aéreas superiores

(Neufeld e Muenzer, 2001).

O diagnóstico pode ser realizado por volta dos 2 anos de idade

(Azevedo, 2004).

1.7.6. MUCOPOLISSACARIDOSE VII

Divide-se clinicamente em três formas: forma neonatal, forma infantil e

forma juvenil (Whitley, 1993).

A forma neonatal caracteriza-se pelo início precoce dos sintomas: em

geral, no período pré-natal, a hidropsia fetal não-imune é o achado mais

comum; o fácies grotesco e a hepatoesplenomegalia podem ser

evidenciados ao nascimento. Trata-se de uma forma grave e o óbito ocorre

nos primeiros meses de vida (Whitley, 1993).

Na forma juvenil, os achados clínicos e o curso da doença são

semelhantes aos da MPS I-H (Whitley, 1993). Os pacientes apresentam

baixa estatura, hepatoespenomegalia, cifoescoliose e retardo mental.

Já, na forma juvenil, os sintomas iniciam-se na adolescência com cifose

ou escoliose leves (Whitley, 1993).

Por tratar-se de doença rara, a sobrevida é desconhecida (Whitley,

1993).

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19

1.7.7. MUCOPOLISSACARIDOSE IX

Em relação à MPS IX, apenas um paciente até o momento foi

identificado. Segundo Natowicz et al. (1996), as características principais

são: inteligência normal, fácies com discreta peculiaridade (ponte nasal

larga), úvula bífida, fenda palatina submucosa, articulações livres, e

ausência da cifoescoliose e da visceromegalia.

1.8. DIAGNÓSTICO

1.8.1. SUSPEITA CLÍNICA E INVESTIGAÇÃO INICIAL

As MPSs são doenças sistêmicas e evolutivas; dessa forma, a suspeita

clínica é estabelecida no momento em que os familiares e os médicos

detectam modificações fenotípicas, regressão do DNPM e acometimento de

órgãos e sistemas, anteriormente normais.

Diante da suspeita de MPS, exames complementares não-específicos

podem auxiliar na investigação clínico-laboratorial inicial: raios-X de

esqueleto, ecocardiograma e avaliação oftalmológica.

O estudo radiológico de esqueleto completo permite detectar as

alterações típicas das MPSs, denominadas disostoses múltiplas (Tabela 2).

Segundo Litjens et al. (1992), Wraith (1995) e Delphine et al. (2004), a

disostose múltipla pode ser detectada precocemente.

O ecocardiograma, no que se refere à MPS, torna-se mais importante

do que o exame clínico. Segundo Dangel (1998), as valvulopatias e/ou as

cardiomiopatias podem não ser evidenciadas durante o exame clínico de

pacientes com MPS; entretanto, o ecocardiograma permite sua detecção em

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72% dos casos. A função do ecocardiograma, no início da investigação, é

notificar o acúmulo de GAGs nas estruturas cardíacas; de acordo com Tan

et al. (1992), as autopsias de pacientes com MPS que faleceram

prematuramente demonstraram um acometimento cardíaco grave e possível

de ser verificado pelo ecocardiograma.

Tabela 2 - Disostose múltipla: achados radiológicos típicos das MPSs

ACHADOS RADIOLÓGICOS

Crânio Macrocefalia Sela túrcica: alargada, em forma de J ou ômega

Calota espessa Fechamento prematuro das suturas

Tórax Costelas em forma de remo

Escápulas pequenas de localização alta

Fossas glenóides hipoplásicas

Clavículas pequenas e espessas

Coluna Platispondilia Cifose dorso-lombar

Hipoplasia da porção ântero-superior das vértebras Vertebrais em forma de projétil, ovóides e retangulares

Pelve Tetos acetabulares hipoplásicos e irregulares

Asas do ilíaco pequenas espessas Ísquio e púbis espessos

Membros Úmero proximal em forma de machado

Ulna e úmero encurvados Epífises distais do radio e ulna convergentes

Ossos do carpo pequenos e irregulares Falanges curtas e espessas

FONTE: McAlister et al. (1995), Taybi (1996), Spranger et al. (2002)

A detecção de depósito nas córneas, por meio da avaliação

oftalmológica, também colabora na investigação clínica inicial, uma vez que

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21

a opacidade nas córneas é comum em pacientes com MPS (Schwartz et al.,

2001).

Os exames citados auxiliam na investigação e comprovação da

suspeita clínica; entretanto, tratando-se de uma doença heterogênea com

possibilidade de início dos sintomas em várias faixas etárias, é prudente, em

caso de dúvida clínica, realizar os exames específicos. Porém, mesmo em

casos de forte suspeita clínica, o diagnóstico somente é confirmado pela

dosagem enzimática, que obrigatoriamente tem que ser solicitada.

1.8.2 INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL ESPECÍFICA

Embora, em alguns tipos, a distinção clínica possa ser evidenciada, o

diagnóstico para definir o tipo de MPS, obrigatoriamente, é laboratorial,

mediante a realização de exames específicos − triagem urinária e dosagem

enzimática (Neufeld e Muenzer, 2001) (Figura 4).

O objetivo dos testes de triagem urinária é detectar a

mucopolissacaridúria em excesso (Schwartz et al., 2001). Para a detecção

dos GAGs urinários, são realizados testes semiquantitativos, quantitativos e

qualitativos.

Os testes semiquantitativos são rápidos e baratos. As técnicas

utilizadas são: teste de agregação com sais pesados e teste de toluidina; na

primeira, é detectada a turvação urinária, e, na segunda, a presença de

manchas metacromáticas em papel de filtro (Schwartz et al., 2001). Embora

possam auxiliar na investigação clínico-laboratorial inicial, estão sujeitos a

resultados falso-negativos e falso-positivos (Leistern e Giugliani, 1998).

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22

Os testes quantitativos correspondem à dosagem de GAGs urinários;

são considerados mais precisos (Leistern e Giugliani, 1998), porém,

isoladamente, não colaboram para o esclarecimento do tipo de MPS.

A cromatografia de GAGs é equivalente aos testes qualitativos; seu

objetivo é identificar o tipo de GAGs aumentados. Trata-se de um exame

muito importante, pois a associação entre o tipo de GAGs urinários e os

achados clínicos direciona o médico no momento da solicitação da dosagem

enzimática (Mahalingam et al., 2004). Segundo Leistern e Giugliani (1998),

nas MPS III e MPS IV, podem ocorrer resultados falso-negativos.

Figura 4 - Fluxograma: investigação laboratorial das MPSs

Suspeita clínica de Mucopolissacaridose

sangue

Dosagem enzimática

Conforme suspeita clínica,

prosseguir na

investigação.Triagem urinária

com possibilidade

de resultados normais.

O padrão da cromatografia de GAGs indica a possível MPS,

fazer dosagem enzimática para

confirmar o diagnóstico

positivo

urina

Cromatografia de GAGs

MPS I, II, VI,

Teste:Toluidina

Dosagem de GAGs

aumentada

DS + HS

MPS III MPS VI

DSHS

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23

Embora todos os exames citados auxiliem na investigação, o

diagnóstico somente é estabelecido após a comprovação da deficiência

enzimática. A dosagem enzimática é o exame fundamental para definir o

diagnóstico e o tipo de MPS (Neufeld e Muenzer, 2001).

1.8.3. DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL

O diagnóstico pré-natal pode ser oferecido nas seguintes situações:

história familiar de MPS e/ou sinais gestacionais que sugiram o diagnóstico.

O diagnóstico pré-natal pode ser estabelecido para todos os tipos de

MPS (Van Dyke et al, 1981; Minelli et al., 1988; Beck et al., 1992; Kagie et

al., 1992; Yong, 1992; Neufeld e Muenzer, 2001), por meio da análise da

deficiência enzimática no líquido amniótico ou biópsia de vilo corial. A

biópsia de vilo corial – rica em enzimas responsáveis pela degradação dos

GAGs –é considerada fácil e de rápido diagnóstico (Yong, 1992; Neufeld e

Muenzer, 2001).

Durante o período gestacional, a presença de hidropsia fetal, até o

momento, é o único indicativo da suspeita diagnóstica. Sabe-se que, diante

da ocorrência de hidropsia fetal, o diagnóstico de MPS VII deve ser

pesquisado (Molyneux et al., 1996); porém, Beck et al. (1992),

acompanhando o pré-natal de uma paciente com história gestacional

anterior de filho com sintomas clássicos de MPS IV, detectaram a presença

de ascite fetal em moderada quantidade e confirmaram o diagnóstico de

MPS IVA.

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24

1.9. TRATAMENTO

1.9.1. TRATAMENTO SINTOMÁTICO

Diante de uma doença crônica, sistêmica e progressiva, os pacientes

necessitam de um acompanhamento cauteloso, por meio de uma equipe

multidisciplinar, com o objetivo de se estabelecer um manejo adequado das

complicações clínicas (Wraith, 1995).

O tratamento sintomático deve oferecer alívio dos sintomas, na

tentativa de melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados e de suas

famílias.

1.9.1.1. COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS

Segundo Semenza e Pyeritz (1988), a macroglossia, a hipertrofia de

adenóide e amígdala, o depósito de GAGs na mucosa traquebrônquica e o

aumento toracoabdominal ampliam o risco de infecções respiratórias,

dispnéia, doença pulmonar obstrutiva, síndrome de apnéia obstrutiva do

sono (SAOS) e cor pulmonale. Dessa forma, é necessário um bom manejo

para reduzir o risco de morbimortalidade.

As infecções respiratórias são comuns em pacientes com MPS e

devem ser precocemente tratadas e acompanhadas (Wraith, 1995; Semenza

e Pyeritz, 1988), pois aumentam o risco de insuficiência respiratória e de

obstrução das vias aéreas (Semenza e Pyeritz, 1988). A secreção espessa

deve ser lubrificada e umedecida (Semenza e Pyeritz, 1988); se necessário,

o antibiótico deve ser empregado.

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SÍNDROME DA APNÉIA DO SONO

A SAOS é caracterizada por episódios repetitivos de obstrução de vias

aéreas superiores associados à dessaturação da hemoglobina (Balbani et al.

2005). A freqüência é estimada de 1 a 3% das crianças em geral, e o ronco

noturno representa a queixa principal dos pais (Ykeda, 2005).

Em condições fisiológicas, as vias aéreas superiores mantêm-se

permeáveis devido a fatores anatômicos e funcionais (Balbani et al., 2005);

dessa forma, distúrbios nesses fatores resultam em SAOS.

Nas MPSs, a SAOS, possivelmente, é resultado de uma combinação de

fatores anatômicos associado ao acometimento do sistema nervoso central

(SNC).

Quanto aos fatores anatômicos, o acúmulo de GAGs nas vias aéreas

de pacientes procede no estreitamento na nasofaringe, orofaringe, laringe,

traquéia e brônquios. Além disso, a macroglossia, a hipertrofia da adenóide

e amígdala e as alterações craniofaciais são fatores colaboradores da

obstrução.

Perkes et al. (1980) pressupõem que tanto a apnéia quanto a

hipopnéia, nos pacientes com MPS, têm origem no SNC. Yoskovitch et al.

(1998) também defendem essa idéia. Para esses autores, o acúmulo de

GAGs, nos neurônios do centro regulador da respiração, são os

responsáveis pelo mau funcionamento respiratório e, conseqüentemente, da

apnéia.

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26

A obstrução das vias aéreas e a hipoventilação alveolar crônica

resultam na alteração da relação ventilação/perfusão nos pulmões; a

hipercapnia provoca a acidose respiratória e, conseqüentemente, a

vasoconstrição da artéria pulmonar, aumentando a carga do ventrículo

direito (Balbani et al., 2005). A hipoxemia crônica, com o tempo, resulta na

hipertrofia do miocárdio, hipertensão pulmonar (HP), insuficiência cardíaca

(IC) e cor pulmomale (Leighton et al., 2001). Segundo Semenza e Pyeritz

(1988), a pior conseqüência de uma SAOS não-tratada para pacientes com

MPS é o efeito da hipoxemia crônica na pressão da artéria pulmonar.

Para Marcus et al. (1998) e Melluso Filho e Reimão (2002), a

hipoxemia, advinda durante o sono, além de acarretar alterações já citadas,

poderia aumentar a pressão arterial. Marcus et al. (1998), estudando 41

crianças com SAOS, porém não portadoras de MPS, observaram 32% de

pressão sistólica e diastólica acima do percentil 95, tanto durante o sono

quanto na vigília.

Além disso, a SAOS pode repercutir nas funções cognitivas, no

aprendizado escolar e no comportamento (Balbani et al., 2005); porém,

crianças com MPS podem não possuir esses problemas (Leighton et al.,

2001).

A traqueostomia e a adenoamigdalectomia podem ser necessárias, no

intuito de melhorar a obstrução das vias aéreas, e, conseqüentemente, a

SAOS e o esforço respiratório (Wraith, 1995). Quanto a SAOS, o uso do

CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) (Figura 5), com suplementação

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27

de oxigênio, tem sido uma excelente proposta aos pacientes com MPS sem

condição cirúrgica (Ginzburg et al., 1990).

Figura 5 - Paciente com MPS em uso de CPAP nasal durante o sono

1.9.1.2. COMPLICAÇÕES VASCULARES

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é pouco referida em estudos de

pacientes com MPS. Acredita-se que o acúmulo de GAGs nas artérias

(Neufeld e Muenzer, 2001) e a SAOS (Marcus et al., 1998; Melluso Filho e

Reimão, 2002) são os responsáveis pela HAS na MPS.

Riganti e Segni (2002) postulam que o estreitamento da aorta

abdominal e visceral ou das artérias renais contribui para o desenvolvimento

da HAS, em alguns pacientes com MPS.

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Taylor et al. (1991), ao estudarem 24 pacientes com MPS I, detectaram

a HAS em oito pacientes. Os pacientes hipertensos foram investigados por

imagens vasculares; o estreitamento aórtico mostrou-se comum, e, segundo

os autores, contribuíram para o desenvolvimento da HAS e claudicação.

Para Taylor et al. (1991), os exames de imagem vascular auxiliam na

investigação da HAS e direcionamento do tratamento; o ultra-som e a

ressonância magnética corresponderiam aos exames iniciais de screening,

pois poderiam identificar a obstrução aórtica; já a angiografia deveria ser

reservada para os pacientes em que o delineamento dos ramos aórticos é

clinicamente necessário.

1.9.1.3. COMPLICAÇÕES CARDIOLÓGICAS

A cardiopatia, secundária ao acúmulo progressivo de GAGs nas

estruturas cardíacas, é detectada em todos os tipos de MPS e

correspondem às principais causas de óbito (Wraith, 1995). Para alguns

autores, como Dangel (1998), o acometimento é considerado mais grave nos

tipos de MPS que acumulam DS: MPS I, MPS II e MPS VI. Segundo Dangel

(1998), a MPS III raramente apresenta comprometimento cardíaco; porém,

quando presente, é leve.

O acompanhamento cardiológico é fundamental, uma vez que os

sintomas costumam ser “silenciosos”, mesmo diante de um acometimento

cardíaco grave (Dangel, 1998; John et al., 1990; Rigante e Segni, 2002).

O estreitamento da artéria coronária, considerado grave na MPS I e na

MPS II, embora extenso, usualmente é assintomático; a queixa de angina do

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peito é pouco referida pelos pacientes. Taylor et al. (1991) acreditam que a

inabilidade de comunicação dos pacientes com MPS possa ser a causa.

Para Mohan et al. (2002), o comprometimento da válvula mitral (VM),

nos portadores de MPS, não representa fator de risco à mortalidade; o

comprometimento da válvula aórtica (VA), que parece sugerir um significado

limítrofe (“borderline”), e a deterioração da função do ventrículo esquerdo

(VE) com redução da fração de ejeção correspondem aos maiores riscos de

morte.

1.9.1.4. COMPLICAÇÕES OSTEOARTICULARES

As complicações osteoarticulares, provavelmente, são secundárias ao

envolvimento metafisário e ao espessamento e fibrose da cápsula articular

(Muenzer, 1986). Embora o comprometimento da mobilidade seja

progressivo, usualmente é indolor (Wraith, 2005).

Segundo Gabarra (2003), a fisioterapia para pacientes com MPS pode

aprimorar as limitações motoras, aumentar a capacidade respiratória, manter

a limpeza brônquica e contribuir para o DNPM, aumentando a socialização e

a integração nas atividades diárias. A reabilitação aquática também é uma

alternativa de tratamento, uma vez que permite movimentos amplos de baixo

impacto. Durante os exercícios, a hiperextensão do pescoço deve ser

evitada, pois os portadores de MPSs podem apresentar hipoplasia do

processo odontóide (Taybi, 1996). Anastácio e Fraccaro (2002) recomendam

exercícios domiciliares diários e sessões de fisioterapia duas vezes por

semana realizadas por fisioterapeuta.

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30

1.9.1.5. COMPLICAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

A hidrocefalia é secundária ao espessamento das meninges e à

disfunção do vilo aracnóide (Muenzer, 1986). Watts et al. (1981), ao

analisarem tomografias computadorizadas (TC) de crânio de 12 pacientes

com MPS, em várias faixas etárias, observaram o desenvolvimento e as

complicações evolutivas da hidrocefalia. Segundo esses autores, a

derivação do líquido cérebro espinhal é pouco indicada para melhorar a

qualidade de vida desses pacientes. Embora o estudo seja limitado pela falta

de grupo controle não-tratado, Robertson et al. (1998) perceberam melhora

na socialização e redução da agressividade em seis pacientes com MPS III

após a derivação do líquido cérebro-espinhal, mesmo com ausência de

hidrocefalia.

1.9.1.6. COMPLICAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

A síndrome do túnel do carpo resulta da compressão do nervo

mediano, secundária à deposição de GAGs no retináculo dos flexores e a

alterações anatômicas nos ossos do carpo (Neufeld e Muenzer, 2001). Os

sintomas, em geral, são referidos após o estágio grave da doença, e as

indicações cirúrgicas correspondem a formas leves de MPS, evidência

clínica e confirmação diagnóstica pela eletroneuromiografia (Neufeld e

Muenzer, 2001; Schwartz et al., 2001). A descompressão cirúrgica do nervo

mediano pode recuperar totalmente, ou parcialmente, a função motora

(Neufeld e Muenzer, 2001).

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31

1.9.1. 7. COMPLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS

Em relação aos olhos, a opacidade de córneas corresponde à

complicação mais comum (Figura 6), porém há possibilidade de glaucoma,

retinopatia degenerativa (Schwartz et al., 2001), papiledema e atrofia óptica

(Varssamo et al., 1997). O transplante de córnea pode ser necessário,

mesmo diante de uma possível recorrência de depósito de GAGs (Casanova

et al., 2001); alguns estudos demonstram que, após cinco anos do

transplante, 60% dos pacientes persistiram com as córneas transparentes e

boas acuidades visuais (Varssamo et al., 1997). Deve-se excluir a retinopatia

como causa da diminuição da acuidade visual, antes de indicar o transplante

de córnea (Schwartz et al., 2001).

Figura 6 - Opacidade das córneas na MPS

1.9.1.8. COMPLICAÇÃO AUDITIVA

A hipoacusia, geralmente mista, é atribuída a três fatores: otites de

repetição, deformidade dos ossículos auriculares e anormalidade no ouvido

interno (Neufeld e Muenzer, 2001). Os tubos de ventilação podem minimizar

as seqüelas de otites agudas, crônicas e secretoras, freqüentes em

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pacientes com MPS, e o uso de aparelho de ouvido pode ser benéfico

(Neufeld e Muenzer, 2001).

1.9.1.9. COMPLICAÇÕES GASTROINTESTINAIS

A diarréia pode ser detectada em pacientes com MPS; embora não

tenha uma causa definida, para Whitley (1983), a diarréia pode ser

secundária à disfunção neurológica. Young e Harper (1983), estudando

pacientes com MPS II e quadro diarréico, observaram pela microscopia a

presença de mucosa frágil no colón sigmóide, sem sinal de inflamação,

neoplasia ou achados parasitológicos. Mesmo não havendo uma causa

definida, sabe-se que uma dieta controlada pode amenizar os sintomas.

Parfrey e Hutchins (1986) detectaram, na autopsia de pacientes com

MPS I, MPS II e MPS III, a presença de fibrose hepática e postulam que a

possível causa seja o acúmulo de metabólitos hepatotóxicos. Para os

autores, o acometimento hepático nas MPSs deve ser estudado.

1.9.1.10. COMPLICAÇÕES ODONTOLÓGICAS

Os pacientes com MPS apresentam anormalidades nos dentes e no

desenvolvimento crânio-facial (Gorlin et al., 1990).

Embora pouco descrito na literatura, o acompanhamento odontológico é

importante, pois proporciona a devolução da função mastigatória, recupera

os dentes comprometidos por cáries, fraturas ou fenômenos de abrasão e

de erosão, auxilia na correção de problemas ortodônticos e evita

complicações de focos de inflamação e infecção (Figura 7). Gomes (2004)

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descreveu a avaliação e o tratamento odontológico em cinco pacientes com

MPS; os achados mais freqüentes foram: diastema generalizado, cúspides

afiladas, hipoplasia do esmalte, hipertrofia gengival, mordida aberta e

limitação da abertura bucal. Quanto ao tratamento, ressaltou a necessidade

da profilaxia para endocardite bacteriana e detectou as seguintes

dificuldades: rigidez da articulação têmporo-mandibular com limitação da

abertura oral, retardo mental e o risco anestésico pelo acometimento

sistêmico.

Figura 7 - A: As alterações dentárias em MPS: hipoplasia de esmalte, diastemas, cúspides irregulares e pontiagudas, hipertrofia gengival, macroglossia e limitação da abertura bucal; B: Tratamento odontológico com melhora das anormalidades

A

B

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34

1.9.1.11. COMPLICAÇÕES ANESTÉSICAS

Em geral, os pacientes com MPS necessitam de várias cirurgias, porém

devem-se avaliar os fatores de risco e benefício, uma vez que o

procedimento anestésico é complexo e arriscado.

A cirurgia deve ser realizada em hospital que possua uma Unidade de

Tratamento Intensivo (UTI) e a equipe de anestesistas deve possuir

experiência em manutenção de vias aéreas (Wraith, 1995).

Segundo Diaz et al. (1993) e Walker et al. (1994), a investigação pré-

operatória deve incluir gasometria arterial, hemograma, eletrólitos, função

hepática, raios-X de tórax e coluna cervical, eletrocardiograma,

ecocardiograma, polissonografia (para pacientes com história de SAOS) e,

se possível, função pulmonar.

A subluxação atlanto-axial, secundária à hipoplasia do processo

odontóide, resulta na instabilidade da coluna cervical e, obrigatoriamente,

deve ser investigada (Walker et al., 1994), pois a flexão do pescoço pode

causar o colapso da traquéia e a obstrução completa da passagem do ar

(Morgan et al., 2002).

As avaliações cardiológicas e pulmonares são fundamentais, uma vez

que o acometimento cardíaco e a infiltração das artérias coronárias são

fatores agravantes da isquemia e da morte súbita, durante o ato cirúrgico, e

a obstrução das vias aéreas resulta na possibilidade de HP, cor pulmonare e

morte súbita (Morgan et al., 2002).

A dificuldade de intubação orotraqueal (IOT) é a principal intercorrência

anestésica. O estreitamento da luz da traquéia, pelo acúmulo de GAGs

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(principalmente DS e QS) (Shih et al., 2002), juntamente com a

anormalidade no seu formato e no formato das cordas vocais (Shih et al.,

2002), são responsáveis pela dificuldade na IOT. Outros fatores também

contribuem, como: pescoço curto, instabilidade na coluna cervical, rigidez da

articulação temporomandibular, macroglossia, hipertrofia das amígdalas e

presença constante de secreção espessa nas vias aéreas superiores

(Walker et al., 1994).

Em situações de emergência e de insucesso na IOT, o uso da

broncoscopia de fibra óptica e da máscara laríngea tem auxiliado na

intubação e diminuído a necessidade de traqueostomia de urgência (Walker

et al., 1994).

No pós-operatório, o manejo do paciente com MPS deve incluir:

controle e manutenção das vias aéreas, nível de consciência, detecção de

episódios de obstrução e dessaturação; a fisioterapia respiratória é

importante na prevenção de infecções respiratórias (Walker et al., 1994)

1.9.1.12. ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO

É fundamental o suporte psicológico à família e, principalmente, aos

pacientes com inteligência preservada. Muenzer (2004) reforça a idéia de

união entre as famílias de portadores de MPS, no intuito de compartilhar e

enfrentar os problemas diários. No Brasil, essa idéia vem funcionando por

intermédio da Associação de Portadores e Familiares de MPS.

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36

1.9.2. TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

O transplante de medula óssea (TMO) é uma alternativa de tratamento

para as MPSs, desde o início da década de 80; seu objetivo é reconstituir o

sistema hematopoiético do paciente por meio de células tronco de doador

saudável e imunocompatível, estabelecendo, assim, uma duradoura fonte

enzimática (Ortega e Neves, 1996).

A experiência em TMO envolve, na maioria das vezes, pacientes com

MPS I. Os estudos de seguimento na MPS I-H demonstraram que a

prevenção à demência é possível, se o TMO for realizado precocemente

(Shapiro et al., 1995); pacientes com nível de funcionamento intelectual

maior que 70 podem apresentar melhora cognitiva (Peters et al., 1996),

melhora do fácies grotesco, da hepatoesplenomegalia e da obstrução das

vias aéreas superiores (Guffon et al., 1998), melhora cardiológica (Braunlin

et al., 2003) e ausência de benefício ao sistema músculo-esquelético

(Weisstein et al., 2004).

Em relação às demais MPS, o TMO não previne a demência na MPS II

e na MPS III, não melhora a função da retina na MPS III e na MPS VI, e não

beneficia o sistema esquelético na MPS VI (Shapiro et al.;1995; Gulliingsrud

et al.,1998; Herskhovitz et al., 1999). No entanto, normaliza a

hepatoesplenomegalia, diminui o espessamento da pele e melhora a

mobilidade articular na MPS II (Coppa et al., 1995), ameniza o fácies

grotesco, conserva a transparência das córneas, melhora acometimento

cardíaco e a mobilidade articular na MPS VI (Herskhovitz et al., 1999;

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37

Ucakhan et al., 2001), recupera a marcha, melhora as infecções, o ronco e

a vertigem na MPS VII (Yamada et al., 1988).

No Brasil, entre 1988 e 2005, foram realizados treze TMO, no Serviço

de Transplante de Medula Óssea da Universidade Federal do Paraná, em

pacientes com doenças de acúmulo. Quanto à MPS, seis pacientes foram

transplantados, a saber: 4 com MPS I, 1 com MPS III e 2 com MPS VI. O

paciente com MPS III evoluiu com progressão da doença apesar da pega

completa do enxerto; houve estabilização/melhora do quadro neurológico em

dois pacientes com MPS I e em um com MPS VI, e não houve normalização

das alterações oculares e da disostose múltipla (Bonfim et al., 2005).

Embora esses estudos revelem melhorias, os dados relativos à eficácia

devem ser interpretados com cautela, pois derivam de estudos de fase I e II

(Schwartz, 2000). Além disso, a TMO é um procedimento de risco e sempre

poderá ameaçar a vida do paciente (Ohashi et al., 1995).

1.9.3. TERAPIA DE REPOSIÇÃO ENZIMÁTICA

Atualmente é considerada a principal forma de tratamento. Na terapia

de reposição enzimática (TRE), o organismo recebe a enzima fabricada em

laboratório pela corrente sanguínea, continuamente, uma vez por semana.

Esse tratamento não é a cura para a doença, e sim, uma tentativa de reduzir

os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

O FDA (US Food and Drug Administration) aprovou a comercialização

da Laronidase para a MPS I, em 2003, e da Arilsultase B recombinante para

a MPS VI, em 2005.

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No Brasil, em agosto de 2005, a comercialização da Laronidase foi

aprovada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e a

perspectiva é que, em 2006, seja iniciado o processo de aprovação da

Arilsultase B recombinante.

Segundo Wraith et al. (2004), em estudo randomizado, duplo-cego,

placebo-controlado, multinacional, a Laronidase comprovou sua eficácia

(estudo fase III). Nesse estudo, após duas semanas de avaliação clínica, os

pacientes com MPS I foram submetidos a 26 semanas de tratamento com

Laronidase ou placebo, e os resultados mostraram que o uso da Laronidase

melhora a capacidade respiratória, o índice de apnéia e hipopnéia (AIH), o

teste de caminhada de seis minutos, o volume hepatoesplênico e a

mobilidade dos ombros, além de reduzir o nível dos GAGs urinários. Quanto

aos efeitos adversos, não houve diferença entre os dois grupos.

O estudo de fase I/II, randomizado, duplo-cego de Harmatz et al.

(2004), analisou seis pacientes com MPS VI, durante 48 semanas de

tratamento com Arilsultase B recombinante, e observou a redução de GAGs

urinários e melhora motora-articular; não houve sérios efeitos adversos. Em

2005, Harmatz et al. ampliaram o número de pacientes analisados para dez

e confirmaram que a Arilsultase B recombinante promove benefícios na

função articular, além de propiciar melhorias cardiorespiratórias.

Em relação à MPS II, estudo randomizado, duplo-cego, multinacional,

para testar a eficácia da idurosulfatase em humanos, está sendo realizado,

ainda sem resultado.

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A TRE na MPS III, até o momento, não evidenciou resultados; modelos

animais estão sendo estudados, na tentativa de descobrir soluções, pois a

enzima não consegue ultrapassar a barreira sangue-cérebro e atingir o SNC,

visto que, na MPS III, o acometimento é neurológico. Estudos em ratos

demonstraram que a enzima atinge o cérebro nas primeiras semanas de

vida, ou seja, antes da maturação da barreira sangue-cérebro (Gliddon e

Hopwood, 2004). Kakkis et al. (2004), estudando cães, revelam que a

infusão da enzima por via intratecal pode ser a solução para as doenças

lisossomais de acometimento neurológico. Até o momento, não há uma

solução efetiva.

Na MPS IV, ainda são necessários estudos para poder realizar testes

clínicos. Embora Tomatsu et al. (2003) tenham desenvolvido o modelo

animal, este não apresentou alterações esqueléticas, o que impede a

comprovação de terapias para MPS IV.

Em relação à MPS VII, a TRE foi realizada somente em modelo animal.

O’Connor et al. (1998), em um estudo sobre ratos, notaram que a perda da

audição, da memória e do aprendizado pode ser impedida se a TRE for

iniciada precocemente.

1.9.4. TERAPIA GÊNICA

Dentre todas as terapias estudadas para o tratamento das MPSs, a

terapia gênica é a única que busca a correção do defeito genético da célula,

sendo considerada a terapia mais próxima da cura. Na terapia gênica, o

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objetivo é reduzir ou remover o efeito do gene defeituoso, por meio da

inserção de genes funcionais em células com genes defeituosos.

Até o momento, os genes codificadores da enzima normal foram

clonados e modelos-animais com MPSs foram desenvolvidos (Haskins M et

al., 2002), porém trata-se de uma doença heterogênea que acomete vários

órgãos e tecidos, o que requer o desenvolvimento de várias estratégias

(Caillaud e Poenaru, 2000).

Entre os anos de 2000 e 2005, foram publicados vários estudos

envolvendo terapia gênica e MPS, porém ainda há problemas a serem

superados no que diz respeito à técnica, à segurança e à eficácia.

1.10. REDE MPS BRASIL

No Brasil, a partir de abril de 2004, diversos serviços que atendem

pacientes com MPS formaram parceria, tendo como objetivos principais:

facilitar o acesso ao diagnóstico, ao tratamento, à prevenção e apoiar o

desenvolvimento de pesquisas na área. Essa parceria recebeu o nome de

Rede MPS Brasil e tem como centro coordenador o Serviço de Genética

Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

A Rede MPS Brasil conta com recursos para disponibilizar testes

diagnósticos para MPS. Giugliani et al. (2005) apresentaram, no Congreso

Latinoamericano de Errores Innatos del Metabolismo y Pesquisa Neonatal,

na Costa Rica, o resultado da parceria brasileira após catorze meses da

fundação: foram investigados 202 pacientes brasileiros com suspeita de

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MPS; destes, 116 confirmaram o diagnóstico, conforme segue: 37 MPS I, 32

MPS II, 13 MPS III, 10 MPS IVA, 22 MPS VI e 2 MPS VII.

O acesso à Rede MPS Brasil é efetuado pelo site

www.ufrgs.br/redempsbrasil ou pelo telefone 0800-510-2030.

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OBJETIVOS

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2. OBJETIVOS

O presente estudo tem como objetivos:

● Caracterizar os achados clínicos e avaliar a evolução dos pacientes com

diferentes tipos de MPS.

● Analisar os dados laboratoriais dos diferentes tipos de MPS.

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MÉTODOS

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3. MÉTODOS

3.1. CASUÍSTICA

O estudo foi realizado na Unidade de Genética do Instituto da Criança

(ICr) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de

São Paulo (HCFMUSP).

No período de 20 anos (1985- 2005), foram diagnosticados, na Unidade

de Genética, 41 pacientes portadores de MPS, porém nem todos foram

incluídos neste estudo, pelos motivos, a saber: não concordância dos

responsáveis, ausência de endereço para o contato, óbito, seguimento em

outro serviço e quadro clinico grave sem condição de transporte até o

município de São Paulo.

A casuística foi composta de 30 pacientes com diferentes tipos de MPS,

assim distribuídos: seis com MPS I, dois com MPS II, sete com MPS III, sete

com MPS IV, seis com MPS VI e dois com MPS VII.

3.2. MÉTODOS

Trata-se de um estudo retro e prospectivo de pacientes com

diagnóstico de MPS.

O protocolo de pesquisa (no 012/03) e o Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido foram submetidos e aprovados pela Comissão de Ética para

Análise de Projetos de Pesquisa – CAPPesq da Diretoria Clínica do

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HCFMUSP e pela Comissão do Curso de Pós-Graduação Senso Estrito do

Departamento de Pediatria do HCFMUSP.

O responsável legal pelo paciente recebeu informações sobre o estudo,

e o afetado somente foi incluído, após a assinatura do consentimento livre e

esclarecido (Anexo A).

Os pacientes foram acompanhados por quatro anos, em consultas

freqüentes, geralmente a cada quatro meses. Para a realização do estudo foi

elaborado um protocolo de pesquisa (Anexo B), que compreendia uma

avaliação clínica e laboratorial.

3.2.1. AVALIAÇÃO CLÍNICA

A avaliação clínica foi realizada mediante anamnese e exame físico

completo.

A anamnese incluía as seguintes investigações:

● IDENTIFICAÇÃO: nome, número de registro do ICr HCFMUSP, idade,

sexo e local de nascimento;

● HISTÓRIA GESTACIONAL: consangüinidade e intercorrências no período

pré-natal;

● DADOS DE NASCIMENTO: tipo de parto, peso, comprimento, perímetro

cefálico, período de permanência no berçário e intercorrências no período

neonatal;

● QUEIXA PRINCIPAL;

● IDADE DO INÍCIO DOS SINTOMAS;

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● IDADE POR OCASIÃO DO DIAGNÓSTICO;

● ENCAMINHAMENTO À UNIDADE DE GENÉTICA: especialidade médica

que solicitou a avaliação do paciente;

● HISTÓRIA CLÍNICA EVOLUTIVA: intercorrências clínicas envolvendo os

sistemas: esquelético, cardíaco, respiratório, digestivo, articular e

neurológico;

● CARACTERÍSTICAS DO DNPM;

● SONO: ronco, apnéia noturna e uso de CPAP;

● INTERNAÇÕES HOSPITALARES: local (enfermaria ou UTI) e motivos;

● ÓBITO: idade e causa mortis;

● CIRURGIAS; e

● COMPLICAÇÕES ANESTÉSICAS.

Os achados pesquisados durante o exame físico foram: peso, altura,

perímetro cefálico, fácies grotesco, córneas opacas, macroglossia, alteração

dentária, pescoço curto, pectus carinatum, sopro, hepatomegalia,

esplenomegalia, hérnia umbilical, hérnia inguinal, diástase de musculatura

abdominal, rigidez articular, mãos em garra, genu valgo, gibosidade,

hirsutismo, manchas mongólicas e pápulas subcutâneas.

A adequação de peso e altura seguiu os gráficos de Marques et al.

(1982), e o perímetro cefálico, o gráfico de Neelhaus (1968).

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3.2.1. AVALIAÇÃO LABORATORIAL

Os exames realizados foram:

● EXAMES ESPECÍFICOS: teste de toluidina, dosagem e cromatografia de

GAGs e dosagem enzimática;

● EXAMES COMPLEMENTARES: avaliação oftalmológica, raios-X de

esqueleto completo, ultra-som abdominal, ecocardiograma, oximetria basal

em repouso, tomografia computadorizada de crânio e polissonografia; e

● DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA.

Os pais dos pacientes que necessitaram de sedação para a realização

dos exames foram informados quanto aos riscos anestésicos, e os exames

complementares por sedação somente foram realizados após autorização do

responsável pelo paciente.

Quanto aos exames específicos, amostras de urina e sangue foram

enviadas para o Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo do Hospital de

Clínicas de Porto Alegre, após a suspeita clínica.

A avaliação oftalmológica foi realizada por médico especialista na área.

Os raios-X de esqueleto completo, o ultra-som abdominal, o

ecocardiograma e a TC de crânio foram efetuados no Serviço de Diagnóstico

por Imagem do ICr HCFMUSP e avaliados por profissionais capacitados.

Com o objetivo de aprimorar a avaliação dos achados radiológicos,

elaborou-se um protocolo de pesquisa (Anexo C).

A polissonografia foi realizada no Instituto do Sono do Hospital São

Paulo. Para a classificação da SAOS, utilizou-se o índice de IAH, conforme o

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49

critério de Harvey et al. (1999) – SAOS leve: 1>IAH<5/hora, moderada:

5>IAH<9/hora e acentuado IAH>10/hora, e a saturação de oxigênio da

hemoglobina mínima (NadirSaO2) – SAOS leve: 85>NadirSaO2<92%,

moderada: 85> NadirSaO2<79% e acentuado NadirSaO2<79%.

Após a autorização por escrito dos responsáveis pelos pacientes, a

documentação fotográfica foi efetuada; também foram solicitadas fotografias

dos pacientes em diferentes faixas etárias.

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RESULTADOS

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51

5. RESULTADOS

5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Foram incluídos no estudo 30 pacientes portadores de diferentes tipos

de MPS (Gráfico 2).

Gráfico 2- Total de pacientes estudados no presente trabalho, de acordo com o tipo de MPS

0

1

2

3

4

5

6

7

8

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII

No d

e pa

cien

tes

No total, 25 famílias foram analisadas, pois no presente trabalho havia

dois casos de irmãos com MPS III e MPS IV e um casal de irmãos com MPS

VI.

A história de recorrência familial da MPS foi detectada em 24 % (9/25),

e a consangüinidade, em 36% (9/25) das famílias estudadas.

Dezesseis pacientes eram femininos e 14 masculinos.

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52

A idade atual dos pacientes variou entre 2 anos e 22 anos e 4 meses,

média de 12 anos e 1 mês.

O local de nascimento, de acordo com as regiões do Brasil, encontra-se

demonstrado na Figura 8.

Figura 8- Local de nascimento dos pacientes com diferentes tipos de MPS, de acordo com as regiões brasileiras

5.2. AVALIAÇÃO CLÍNICA

5.2.1. PERÍODO PRÉ-NATAL E NEONATAL

Durante o pré-natal, 10 mães (2 MPS I, 1 MPS II, 2 MPS III, 1 MPS IV,

2 MPS VI e 2 MPS VII) apresentaram intercorrências: sangramento no

primeiro trimestre (2), hipotensão arterial (2), diminuição dos movimentos

fetais (2), oligohidrâmnio (1), polihidrâmnio (1), HAS (1), infecção urinária (1)

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53

e anemia (1). Dentre todas as gestantes, 4 realizaram ultra-som fetal, e

apenas uma (MPS VII) apresentou alteração: ascite fetal.

Quanto ao parto, 14 nasceram de parto normal e 16, de cesariana,

sendo um caso de gemelaridade. Quatro pacientes (1MPS I, 1 MPS III e 2

MPS VII) apresentaram sofrimento fetal e um foi prematuro (MPS VII). O

baixo peso foi detectado em três pacientes (1 MPS I, 1 MPS VI e 1 MPS VII);

os demais, 27 pacientes, estavam dentro da normalidade. Todos

apresentaram comprimento dentro do percentil da normalidade. O perímetro

cefálico foi referido em apenas 33% (10/30) e todos estavam normais.

No período neonatal, seis pacientes (2 MPS I, 2 MPS VI e 2 MPS VII)

apresentaram intercorrências; as complicações foram: icterícia (4),

desconforto respiratório (3), edema (2), colestase hepática (1),

hepatomegalia (1), talipes equivaro (1). O edema neonatal foi detectado

apenas nos pacientes portadores do tipo VII.

5.2.2. QUEIXA PRINCIPAL E IDADE AO DIAGNÓSTICO

A queixa principal referida pelos familiares dos pacientes com MPS

consta na Tabela 3; a idade da sua detecção e do diagnóstico, na Tabela 4.

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54

Tabela 3- Queixa principal referida pelos familiares dos pacientes com diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes) MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII

Macrocefalia - 1/2 - - - - Fácies grotesco 2/6 - 1/7 - 2/6 - Córneas opacas 1/6 - - - - - Gibosidade 1/6 - - 2/7 - - Pectus carinatum - - 1/7 3/7 - - Aumento abdominal 2/6 1/2 - - 1/6 2/2 Genu valgo - - - 2/7 - - Rigidez articular - - - - 1/6 - Edema - - - - - 2/2 Déficit crescimento - - 1/7 1/7 1/6 - Alteração na marcha - - - 1/7 1/6 - Agitação - - 2/7 - - - Convulsão - - 2/7 - - -

Tabela 4- Variação e média da idade da detecção da queixa principal pelos familiares e do diagnóstico médico nos diferentes tipos de MPS

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII

Queixa Principal

variação

média

5m-3a

1a7m

5m-2a

1a2m

nasc-4a

2a

2m-3a

1a5m

1a-4a

2a5m

nasc

nasc

Diagnóstico

variação

média

1a3m-8a3m

4a7m

4a-7a3m

5a6m

3a9m-8a5m

6a

4m-7a1m

3a7m

3a11m-11a2m

7a5m

1m-4a3m

2a1m

a= anos; m= meses; nasc=nascimento

5.2.3. ENCAMINHAMENTO À UNIDADE DE GENÉTICA

O encaminhamento dos pacientes para a Unidade de Genética,

segundo as especialidades médicas, está demonstrado no Gráfico 3.

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55

Gráfico 3- Encaminhamento dos pacientes com MPS para a Unidade de Genética, de acordo com as especialistas médicas

39%

17%

10%

10%

7%

7%

7% 3%

Pediatra

Hepatologista

Psiquiatra

Ortopedista

Neurologista

Endocrinologista

Associção de portadores deMPSOtorrinolaringologista

5.2.4. ACHADOS CLÍNICOS

No Gráfico 4, enconstram-se os achados clínicos mais freqüentes em

todos os tipos de MPSs.

Gráfico 4- Achados clínicos mais freqüentes nos trinta pacientes com MPSs, estudados no presente trabalho

0 5 10 15 20 25 30

Pescoço curtoRigidez articularSopro cardíaco

GibosidadeCórnea opacaBaixa estatura

Alteração dentáriaHepatomegaliaMãos em garra

Pectus carinatumFácies grotesco

MacroglossiaHérnia umbilical

Ach

ados

clín

icos

No pacientes

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56

A relação entre o tipo de MPS e os achados clínicos encontra-se

na Tabela 5.

Tabela 5- Achados clínicos nos diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes)

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII

Déficit ponderal 1/6 - - 5/7 4/6 -

Baixa estatura 3/6 2/2 - 7/7 6/6 2/2

Macrocefalia 2/6 1/2 1/7 - - 1/2

Fácies grotesco 5/6 2/2 3/7 - 6/6 2/2

Córnea opaca 5/6 - 1/7 7/7 6/6 2/2

Glaucoma 3/6 - - - 1/6 -

Macroglossia 3/6 2/2 4/7 - 6/6 1/2

Alteração dentária 4/6 2/2 3/7 4/7 4/6 2/2

Pescoço curto 6/6 2/2 7/7 7/7 6/6 2/2

Pectus carinatum 3/6 1/2 1/7 7/7 4/6 2/2

Sopro cardíaco 5/6 2/2 5/7 6/7 6/6 2/2

Hepatomegalia 6/6 2/2 3/7 - 6/6 2/2

Esplenomegalia 3/6 2/2 - - 1/6 1/2

Hérnia umbilical 5/6 2/2 1/7 1/7 5/6 1/2

Hérnia inguinal 3/6 1/2 1/7 - -

Diástase abdominal 4/6 1/2 - - 3/6 2/2

Rigidez articular 6/6 2/2 6/7 7/7 6/6 1/2

Geno valgo 2/6 2/2 - 7/7 3/6 -

Mãos em garra 5/6 2/2 1/7 4/7 6/6 -

Gibosidade 4/6 2/2 4/7 7/7 6/6 1/2

Hirsutismo 2/6 1/2 5/7 - 1/6 -

Mancha mongólica 2/6 - - - - -

Pápula subcutânea 1/6 - - - - -

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57

5.3. EXAMES LABORATORIAIS

5.3.1. EXAMES ESPECÍFICOS

Os exames de triagem urinária estão apresentados na Tabela 6, e a

dosagem enzimática, no Gráfico 5.

Tabela 6- Resultados dos exames de triagem urinária nos diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes)

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VIITeste Toluidina

positivo negativo duvidoso

6/6 - -

2/2 - -

2/5 1/5 3/5

2/6 1/6 3/6

2/4 1/4 1/4

1/2 1/2 -

Dosagem GAGs aumentado normal

5/5 -

2/2 -

6/6 -

6/6 -

6/6 -

2/2 -

Cromatografia GAGs positivo normal

6/6 -

2/2 -

7/7 -

3/7 4/7

6/6 -

2/2 -

Gráfico 5- Deficiência enzimática detectada nos trinta pacientes estudados no presente trabalho

Enzi

mas

liso

ssom

ais

defic

ient

es

α -N-acetilglicosaminidase

α-L-iduronidase

Iduronato-L-sulfatase

Heparan-N-sulfatase

Acetil-CoA: α -glicosamina acetiltransferase

Galactose 6-sulfatase

N-acetilgalactosamina 4-sulfatase

β-Glicuronidase

No pacientes0 1 2 3 4 5 6 7

MPS IIIC

MPS II

MPS IIIA

MPS IIIB

MPS IVA

MPS VI

MPS VII

MPS I

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58

5.3.1. OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES

Os exames complementares constam na Tabelas 7 e 8.

Tabela 7- Principais achados radiológicos nos diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes)

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VIICrânio

Sela túrcica: alteração de forma Calota espessa Impressão vascular Impressão diplóica

5/6 3/6 5/6 1/6

1/2 2/2 - -

2/7 6/7 1/7 -

2/7 1/7 2/7 -

6/6 4/6 3/2 2/6

-

2/2 1/2 1/2

Tórax Fossa glenóide hipoplásica Costela: forma de remo

5/6 6/6

2/2 2/2

4/7 4/7

5/7 5/7

6/6 6/6

1/2 1/2

Coluna Vértebra: alteração forma Platispondilia

5/6 1/6

2/2 -

6/7 -

7/7 7/7

6/6 5/6

1/2 2/2

Ossos longos Rádio/ulna: epífise convergente Epífise irregular Diáfise espessa Úmero: forma de machado

2/6 2/6 5/6 4/6

2/2 2/2 2/2 2/2

2/7 -

4/7 -

6/7 7/7 3/7 1/7

5/6 4/6 4/6 6/6

-

1/2 - -

Bacia Teto acetábulo hipoplásico Asa ilíaca pequena e larga

4/6 5/6

2/2 2/2

4/7 2/7

7/7 5/7

6/6 5/6

1/2 1/2

Mãos e pés Metacarpo espesso Metatarso espesso

6/6 3/6

2/2 2/2

3/7 2/7

5/7 3/7

6/6 1/6

- -

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59

Tabela 8- Principais achados no ultra-som abdominal, no ecocardiograma, na oximetria, na polissonografia e na TC de crânio dos diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes) MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII

Ultra-som abdome Hepatomegalia Esplenomegalia

6/6 3/6

2/2 2/2

6/7 3/7

1/7 -

3/6 1/6

2/2 1/2

Ecocardiograma V M espessada V A espessada V P espessada V T espessada VM estenose V A estenose Insuficiência M Insuficiência A Insuficiência P Insuficiência T HP Hipertrofia VE Alteração no relaxamento

5/6 4/6 -

1/6 - -

5/6 3/6 -

1/6 3/6 2/6 2/6

1/2 1/2 - - -

1/2 2/2 1/2 - -

1/2 1/2

1/2

4/7 3/7 - - - - - - - - -

1/7 -

4/7 6/7 - - - -

2/7 1/7 -

1/7 -

1/7 1/7

5/6 3/6 1/6 1/6 4/6 -

6/6 3/6 2/6 4/6 4/6 3/6 -

2/2 2/2 - - - -

1/2 1/2 - - - - -

Oximetria Sat O2 < 95%

3/6

1/2

1/7

-

3/6

-

Polissonografia SAOS Grau leve SAOS Grau moderado SAOS Grau acentuado

-

1/5 2/5

- -

1/1

1/4 -

1/4

- - -

-

1/4 2/4

1/1 - -

TC crânio Ventriculomegalia Atrofia cerebral Focos lacunares - depósito?Adenoma hipofisário

5/6 - - -

1/2 - - -

3/7 3/7 -

1/7

1/7 - - -

6/6 -

1/6 -

NR

VP= válvula pulmonar; VT= válvula tricúspide; SatO2= saturação de oxigênio; NR= exame não realizado

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60

5.4. EVOLUÇÃO CLÍNICA

5.4.1. DESENVOLVIMENTO E REGRESSÃO NEUROPSICOMOTORA

Onze pacientes (2 MPS I, 2 MPS II, 2 MPS III, 3 MPS VI e 2 MPS VII)

evoluíram com atraso do DNPM. Quanto à regressão, dez pacientes (1 MPS

I, 1 MPS II, 6 MPS III, 1 MPS IV e 1 MPS VI) deixaram de andar entre 6 e 16

anos (média de 11 anos), e oito (1 MPS I, 1 MPS II e 6 MPS III), de falar

entre 6 e 9 anos (média de 7 anos e 5 meses).

5.4.2. SINTOMAS CLÍNICOS E INTERCORRÊNCIAS

Na Tabela 9, apresentam-se os principais sintomas clínicos.

Tabela 9- Principais complicações clínicas nos diferentes tipos de MPS (número de afetados/total de pacientes)

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII Cardiopatia 6/6 2/2 5/7 6/7 6/6 2/2 HAS 2/6 - - - 1/6 - Ronco 5/6 2/2 4/7 2/7 5/6 2/2 Apnéia noturna 3/6 2/2 2/7 - 3/6 1/2 Infecções repetição 3/6 2/2 5/7 2/7 5/6 2/2 Convulsão - - 5/7 - - - Agitação 1/6 1/2 5/7 - - 2/2 Diarréia 1/6 2/2 4/7 1/7 1/6 1/2

O uso do CPAP foi necessário em quatro pacientes: 1 MPS I, 1 MPS II

e 2 MPS VI; todos apresentavam SAOS de grau acentuado na

polissonografia, e a média de idade para iniciar o uso de CPAP foi 9 anos e

3 meses. A adenoamigdalectomia foi realizada em um paciente (MPS VI),

como tratamento da apnéia noturna.

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61

A traqueostomia e gastrostomia foram necessárias em apenas um

paciente (MPS II) aos 10 anos e 4 meses e aos 11 anos e 4 meses,

respectivamente.

A necessidade de internação hospitalar em enfermaria foi detectada

em 15 pacientes (3 MPS I, 1 MPS II, 4 MPS III, 2 MPS IV, 3 MPS VI e 2 MPS

VII); e sete pacientes (1 MPS I, 2 MPS II, 1 MPS III, 2 MPS VI e 1 MPS VII)

precisaram de atendimento em UTI. Os motivos das internações encontram-

se na Tabela 10.

Tabela 10- Motivos das internações hospitalares em enfermaria e UTI nos diferentes tipos de MPS (número de afetados / total de

pacientes)

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPS VI MPS VII

Enfermaria Infecção respiratória Bronquite Convulsão HAS

1/3 1/3 -

1/3

1/1 1/1 - -

4/4 3/4 2/4 -

2/2 - - -

3/3 1/3 - -

1/2 2/2 - -

UTI Infecção respiratória Bronquite Insuficiência cardíaca

-

1/1 -

1/2 1/2 1/2

1/1 1/1 -

- - -

2/2 1/2 1/2

1/1 -

1/1

Quanto ao óbito, dois pacientes faleceram durante o estudo: um com

MPS I, aos 8 anos e 9 meses, e um com MPS II, aos 12 anos. A causa

mortis foi insuficiência respiratória por obstrução das vias aéreas superiores;

o paciente com MPS II também apresentava endocardite bacteriana na VM.

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62

5. PROCEDIMENTO ANESTÉSICO E CIRÚRGICO

Vinte pacientes (67%) foram operados e submetidos a 37

procedimentos anestésicos. Quatro pacientes (1 MPS I, 2 MPS II e 1 MPS

VII) apresentaram complicações: dificuldade na IOT (3), HAS (1) e

sangramento (1).

No total foram realizados 46 procedimentos cirúrgicos (média de 2,3

cirurgias/paciente); os principais procedimentos constam na Tabela 11.

Tabela 11- Principais procedimentos cirúrgicos realizados nos diferentes tipos de MPS (número de afetados / total de pacientes)

MPS I MPS II MPS III MPS IV MPSVI MPSVII

Herniorrafia inguinal 3/6 1/2 1/4 - - -

Herniorrafia umbilical 1/6 1/2 - - 2/2 -

Adenoidectomia 1/6 2/2 2/4 2/5 1/2 1/1

Amigdalectomia - 1/2 2/4 1/5 1/2 -

Ortopédica 1/6 - - 3/5 - -

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DISCUSSÃO

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64

6. DISCUSSÃO

6.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Embora Meikle et al. (1999) considerem a MPS I e a MPS III as mais

freqüentes, e Schwartz et al. (2002) tenham encontrado um predomínio, no

Brasil, da MPS I, MPS II e MPS VI, o presente estudo não detectou esses

achados. A MPS VII, na literatura (Neufeld e Muenzer, 2001), é considerada

rara, porém, neste estudo, expressou freqüência semelhante à MPS II.

Segundo Giugliani et al. (2005), no Brasil, há diferença regional quanto

à distribuição das MPSs: a MPS I e a MPS VI são consideradas comuns nas

regiões sul-sudeste e nordeste-sudeste, respectivamente. No presente

trabalho, foi possível observar um predomínio de pacientes na região

sudeste, e, de acordo com estudos de Schwartz et al. (2001), não houve

pacientes da região norte do Brasil (Figura 9). Embora a região norte ocupe

45,2% do território nacional (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE), nessa região há escassez de serviços de genética, o que pode

colaborar para esse achado.

Em relação ao sexo, não houve diferença significante.

A taxa de consangüinidade (36%) foi maior do que a prevista na

população brasileira (1,6%) (Liascovich et al., 2001), o que se correlaciona

com o padrão de herança autossômica recessiva dos diferentes tipos de

MPS, com exceção do tipo II.

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65

Figura 9- Local de nascimento de 383 pacientes com diferentes tipos de

MPS, diagnosticados entre 1982 e 2001 FONTE: Schwartz et al. 2001 (Modificado)

6.2. CAMINHO PERCORRIDO PELOS PACIENTES COM MPS ATÉ A CHEGADA À UNIDADE DE GENÉTICA Os pediatras foram responsáveis por 39% dos encaminhamentos para a

Unidade de Genética; o motivo para a solicitação da avaliação do médico

geneticista foi a detecção de mudanças fenotípicas.

Cinqüenta e oito por cento dos pacientes foram encaminhados por

outras especialidades médicas. De um modo geral, o próprio pediatra e/ou

familiares das crianças detectaram anormalidades, como: baixa estatura,

hepatoesplenomegalia, gibosidade, genu valgo, obstrução de vias aéreas

superiores, regressão do DNPM, e, por esse motivo, solicitaram opiniões de

outras especialidades médicas. Os especialistas (hepatologistas,

endocrinologistas, ortopedistas, psiquiatra, otorrinolaringologistas e

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66

neurologistas), por sua vez, após avaliação, dirigiam os pacientes à Unidade

de Genética.

Cabe ressaltar que serviços de genética são escassos no Brasil, o que

justifica o longo percurso do paciente até a Unidade de Genética e o

diagnóstico tardio.

6.3. AVALIAÇÃO E EVOLUÇÃO CLÍNICA

6.3.1. MPS I

Foram analisados seis pacientes com MPS I: cinco com MPS I-HS e um

afetado pela MPS I-H.

Quanto aos períodos pré-natal e neonatal, um paciente apresentou

talipes equivaro, ou seja, pé torto congênito caracterizado pela flexão plantar

e rotação interna do pé. Outros autores também relataram a presença desse

achado na MPS I (Cleary e Wraith, 1995: 6/39; Schwartz, 2000: 6/57; e Vijay

e Wraith, 2005: 2/29); no entanto, até o momento não há um trabalho

específico sobre ele.

Embora para Colville e Bax (1996) a mudança do fácies represente o

principal sintoma (45%) observado pelos familiares, no presente trabalho, o

aumento abdominal expressou a mesma importância que a mudança da

fisionomia.

Schwartz (2000), estudando pacientes brasileiros com MPS I, detectou

que as manifestações neurológicas (hipotonia, atraso do DNPM, choro

incontrolável e macrocefalia) correspondem à sintomatologia inicial em

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67

crianças com sobrevida menor que 10 anos, e as contraturas articulares, em

as crianças com sobrevida maior.

Vijay e Wraith (2005) também observaram que a rigidez articular é um

sintoma inicial comum (44%) e inespecífico, o que contribuiu para o

diagnóstico tardio, pois doenças, tais como artrite reumatóide, doença de

Perther’s e osteogênese imperfeita, são inicialmente atribuídas como causa

etiológica.

Semelhantemente aos resultados obtidos por Colville e Bax (1996),

Vijay e Wraith (2005), o início dos sintomas ocorreu antes dos 2 anos de

idade, porém o diagnóstico, no presente trabalho, foi tardiamente realizado

(4 anos e 7 meses); para Colville e Bax (1996), a média de idade para o

diagnóstico é 2 anos e 6 meses. Schwartz (2000) detectou que os pacientes

brasileiros são tardiamente diagnosticados (média de idade por ocasião do

diagnóstico: 5 anos e 5 meses). Esse pesquisador atribui esse fato às

dificuldades encontradas para a confirmação do diagnóstico em países em

desenvolvimento (por exemplo, escassez de laboratórios especializados e

custo na investigação).

Todos os pacientes apresentaram achados clínicos similares à literatura

(Whitley, 1993; Neufeld e Muenzer, 2001).

Em apenas um paciente com MPS I-HS o fácies grotesco não foi

detectado (Figura 10), porém não foi possível classificá-lo como MPS I-S,

uma vez que a hepatomegalia foi detectada precocemente, ou seja, aos 2

anos de idade. Para Neufeld e Muenzer (2001), os sintomas clínicos, nos

pacientes portadores da MPS I-S, iniciam-se após os 5 anos de idade, e o

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diagnóstico é realizado entre 10 e 20 anos. Diante desses casos, Vijay e

Wraith (2005) alertam sobre a importância de uma história clínica detalhada

e exame físico completo, além de exames investigatórios, tendo em vista

que o diagnóstico deve ser realizado o mais breve possível, para que os

pacientes possam desfrutar de um tratamento mais adequado.

As lesões papulares subcutâneas – detectadas em costas, braços e

tórax –, consideradas típicas nos pacientes portadores da MPS II, foram

evidenciadas num paciente com MPS I-HS (Figuras 11). Schiro et al. (1996)

também observaram esse achado na MPS I-HS, sugerindo que talvez essas

lesões não sejam específicas da MPS II, o que reitera o caráter

imprescindível da análise enzimática para determinação do tipo de MPS.

A presença de manchas mongólicas foi detectada apenas na MPS I

(Figura 12). A primeira impressão entre a associação de manchas

mongólicas e a MPS I parece ser fortuita; contudo, possíveis explicações

seriam a hipótese de que a MPS I predispõe a extensão dessas manchas,

ou então, a de que essas alterações não sejam, na realidade, manchas

mongólicas (Schwartz, 2000) – embora estudo anátomo-patológico não

evidenciou alterações distintas entre as manchas mongólicas usuais e as

encontradas em MPS I (Rybojad et al., 1999).

Quanto à evolução clínica, de acordo com Neufeld e Muenzer (2001), o

atraso e a deterioração progressiva do DNPM foram evidenciados no

paciente portador da MPS I-H. Surpreendentemente, o paciente portador do

fácies não-grotesco também apresentou atraso do DNPM, o que demonstra

a heterogeneidade clínica dessa doença.

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Figura 10- Paciente com MPS I-HS, aos 11 meses, aos 2 anos e 6 meses e aos 7 anos e 11 meses, presença de fácies não-grotesco

Figura 11- Paciente com MPS I-HS, 8 anos e 5 meses, apresenta fácies grotesco, pescoço curto, abdome volumoso, hérnia umbilical, rigidez articular, mãos em garra e pápulas subcutâneas em tórax e braço

Figura 12- Paciente com MPS I-HS, aos 8 anos e 3 meses, presença de fácies grotesco e mancha mongólica extensa

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Conforme previsto pelos relatos de Dangel (1998) e Nelson et al.

(1990), o comprometimento cardíaco foi detectado em todos os pacientes

com MPS I. Vijay e Wraith (2005), estudando 29 pacientes com MPS I,

detectaram a cardiopatia em 62%, a saber: 34% com espessamento de VM

e VA, e 7% com cardiopatia hipertrófica. No presente trabalho, o

espessamento da VM e VA foi evidenciado em 83% e 67% dos pacientes,

respectivamente.

A HAS foi verificada em dois pacientes, um aos 2 anos e 5 meses e

outro aos 8 anos de idade. Embora pouco descrito, sabe-se que um dos

fatores é o acúmulo de GAGs nas artérias (Taylor et al. 1991) e a SAOS

(Marcus et al., 1998; Melluso Filho e Reimão, 2002). Em relação ao presente

trabalho, a SAOS sugeriu contribuir para a HAS, pois foram detectados

padrões obstrutivos na polissonografia dos dois pacientes hipertensos: o

paciente mais velho apresentou IAH de 147,1 apnéias/hora, e o outro

paciente, 20,6 apnéias/hora. Ambos pacientes foram submetidos à

investigação renal com ultra-som Doppler renal e exames laboratoriais,

todos com resultados normais.

Tal como nos resultados obtidos por Vijay e Wraith (2005), que

detectaram uma freqüência de 66%, a obstrução de vias aéreas superiores

mostrou-se comum em pacientes com MPS I. Na presente análise, 50% dos

pacientes apresentaram SAOS, sendo que um paciente necessitou do CPAP

e a melhora foi significativa, com redução do IAH de 147,1 para 17,7

apnéias/hora. Os outros dois pacientes estão em avaliação no Instituto do

Sono do Hospital São Paulo. A queixa de ronco, conforme referido por

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Ykeda (2005), representou um sinal de alerta para SAOS no presente

trabalho.

Conforme a literatura, o acometimento do sistema pulmonar

representou o principal motivo para a complicação clínica e necessidade de

internação hospitalar, inclusive em UTI (Semenza e Pyeritz, 1988; Neufeld e

Muenzer, 2001; Vijay e Wraith, 2005). Segundo Schwartz (2000), a presença

de rinorréia mucopurulenta é indicador de mau prognóstico na MPS I.

Embora Whitey (1993) descreva a presença de diarréia, possivelmente

secundária à disfunção neurológica na MPS I, apenas um paciente

apresentou essa manifestação; entretanto, o controle da dieta foi capaz de

amenizar o sintoma.

O paciente que faleceu aos 8 anos e 9 meses, por obstrução de vias

aéreas superiores e insuficiência respiratória, era afetado pela forma grave

(Figura 13). Para Neufeld e Muenzer (2001), o óbito nos pacientes com MPS

I-H ocorre antes dos 10 anos de idade, e a obstrução das vias aéreas é uma

das principais causas mortis.

Figura 13- Paciente com MPS I-H, aos 8 anos e aos 8 anos e 9 meses, presença de fácies grotesco, buftalmia e deformidade da calota craniana

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6.3.2. MPS II

Foram analisados dois pacientes: um portador da forma grave e outro,

da leve.

Quanto aos períodos pré-natal e neonatal, não foram evidenciadas

peculiaridades.

Colville e Bax (1996), na MPS II, detectaram como queixa principal dos

familiares: a mudança do fácies, a dificuldade na linguagem e o atraso do

DNPM, dados discordantes com o presente trabalho.

O início dos sintomas foi detectado precocemente; para Neufeld e

Muenzer (2001) e Colville e Bax (1996), as idades de início são: entre 2 e 4

anos e 1 ano e 9 meses, respectivamente. Já o diagnóstico, no presente

trabalho, foi realizado tardiamente (5 anos e 6 meses); Colville e Bax (1996)

referem 4 anos e 3 meses como média de idade ao diagnóstico.

Todos os pacientes apresentaram achados clínicos similares aos

descritos na literatura (Whitley, 1993; Neufeld e Muenzer, 2001).

Quanto à evolução clínica, foi notado atraso e regressão no DNPM. A

regressão, conforme esperado, ocorreu no paciente portador da forma grave

(Young e Harper, 1983; Whitley, 1993; Neufeld; e Muenzer, 2001).

Ambos os pacientes apresentavam comprometimento cardíaco e

queixa de cianose de leito ungueal (na forma grave, desde os 6 anos, e na

leve, desde 1 ano e 6 meses), que melhoraram após o uso de medicação

cardiológica. Segundo Young e Harper (1983), a cardiopatia é detectada em

metade dos pacientes com MPS II, e os sinais e sintomas aumentam após 6

anos de idade.

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Embora Mohan et al. (2002) postulem que os maiores fatores de riscos

correspondem à deterioração da função do VE e à redução da fração de

ejeção, o paciente afetado pela forma grave, aos 11 anos e 4 meses,

apresentou insuficiência cardíaca com necessidade de internação em UTI.

Os fatores que contribuíram foram: espessamento do VE e à HP. O aumento

da pressão pulmonar configurou-se, no presente estudo, como principal fator

agravante, e, possivelmente, o mesmo resulte da obstrução de vias aéreas

superiores, da deformidade torácica, do comprometimento da VM e do

aumento da resistência vascular pulmonar.

Tal como nos estudos de Young e Harper (1983), que detectaram uma

freqüência de 84%, as infecções respiratórias foram comuns na MPS II e

representaram as principais intercorrências clínicas, inclusive com

internação em UTI.

A diarréia persistente foi detectada em ambos os pacientes; entretanto,

o controle dietético era capaz de amenizar o sintoma. Young e Harper (1983)

detectaram a diarréia em 65% dos pacientes com MPS II e também

observaram melhora da diarréia com o controle da dieta.

Conforme esperado, o uso do CPAP, a agitação, a traqueostomia e a

gastrostomia foram necessários no paciente afetado pela forma grave. As

indicações, respectivamente, para traqueostomia e gastrostomia, foram: a

insuficiência respiratória progressiva com dificuldade na IOT e a

incoordenação na deglutição, que resultaram em freqüentes pneumonias

aspirativas.

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O paciente que faleceu aos 12 anos apresentava a forma grave; Young

e Harper (1983), estudando a história natural da MPS II, forma grave,

detectaram a média de idade ao óbito de 11,7 anos. Embora Young e Harper

(1983) descrevam três estágios evolutivos para a MPS II (forma grave), não

foi detectado o caráter consuptivo da doença; o paciente não adquiriu a

caquexia neurodegenerativa (Figura 14). A causa mortis, conforme referida

por Neufeld e Muenzer (2001), foi obstrução de vias aéreas e complicação

cardiológica (endocardite bacteriana).

Figura 14- Paciente com MPS II (forma grave) aos 9 anos e 7 meses

6.3.3. MPS III

Foram analisados sete pacientes (3 MPS A, 1 MPS B e 3 MPS C);

dentre eles, seis em estágio avançado da doença.

Quanto aos períodos pré-natal e neonatal, não foram evidenciadas

peculiaridades.

Embora a mudança de comportamento e a convulsão, no presente

trabalho, representaram as queixas principais mais freqüentes, Colville e Bax

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(1996) reportaram as seguintes: a dificuldade na linguagem (56%), o atraso

no DNPM (53%) e a alteração do comportamento (43%). A idade da

detecção foi a prevista por Colville e Bax (1996), 2 anos e 3 meses, porém o

diagnóstico foi tardiamente realizado (6 anos); para Colville e Bax (1996), a

média de idade ao diagnóstico é 4 anos e 8 meses.

Van de Kamp et al. (1981) e Neufeld e Muenzer (2001) referem

distinção entre os subtipos de MPS III, porém não foi evidenciada diferença

quanto à magnitude clínica, uma vez que todos os pacientes apresentaram

dismorfismos sutis e deterioração neurológica progressiva.

O fácies grotesco foi detectado em apenas três pacientes, porém de

forma sutil, quando comparado aos outros tipos de MPS (Figura 15). De

acordo com Whitley (1993), a macroglossia representou o achado facial mais

freqüente.

Figura 15- Fácies de pacientes com MPS III, A: fácies grotesco sutil, B: Fácies incaracterístico

A

B

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Conforme Whitley (1993), a presença do hirsutismo foi mais freqüente

nos pacientes com MPS III.

Com relação à evolução, embora a literatura mencione uma freqüência

maior de atraso no DNPM, nos pacientes com MPS III (Colville e Bax, 1996),

este dado não foi evidenciado, porém foi possível confirmar uma evolução

rápida na degeneração neurológica, caracterizada pela expressiva regressão

do DNPM nos pacientes do tipo IIII (seis pacientes deixaram de andar e

falar). Tal como nos achados de Neufeld e Muenzer (2001), a deterioração

neurológica progressiva foi evidente entre 6 e 10 anos de idade.

Na literatura, os sinais e sintomas cardiológicos são referidos como

raros na MPS III; entretanto, no presente trabalho, a cardiopatia esteve

presente em cinco dos sete pacientes estudados. Como nos achados de

Dangel (1998), a gravidade encontrada nesta pesquisa foi menor quando

comparada aos tipos de MPS que acumulam DS (MPS I, II e VI).

A SAOS foi confirmada em dois dos quatro pacientes com queixa de

ronco noturno. Segundo Whitley (1993), pacientes com MPS III apresentam

pouca predisposição à obstrução das vias aéreas.

As infecções de repetição foram comuns, e representaram o fator

causal das intercorrências clínicas graves. Para Whitley (1993), o óbito na

MPS III ocorre por complicações das infecções respiratórias.

A diarréia foi detectada em quatro dos sete pacientes estudados, e, tal

como na MPS I e na MPS II, o controle dietético amenizou o quadro

diarréico.

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A agitação e a convulsão, como esperado, foram comuns na MPS III.

Tal como os estudos de Neufeld e Muenzer (2001), o presente trabalho

também verificou dificuldade no tratamento dos problemas comportamentais;

porém, em desacordo com esses autores, não se observou fácil controle

medicamentoso para as crises convulsivas; todos os pacientes possuíam

escapes convulsivos, e dois pacientes necessitaram de internação hospitalar

para controle da convulsão.

6.3.4. MPS IV

Todos os setes pacientes avaliados apresentaram o subtipo A.

Quanto aos períodos pré-natal e neonatal, não foram evidenciadas

peculiaridades.

Em comparação com o trabalho de Colville e Bax (1996), nota-se

similaridade entre os primeiros sintomas (alterações esqueléticas),

detectados pelos familiares dos pacientes com MPS IV, e a idade do início

dos sintomas (1 ano e 7 meses), porém o diagnóstico, no presente trabalho,

foi precocemente realizado (3 anos e 7 meses), diferentemente desses

autores, que referem idade ao diagnóstico de 4 anos e 8 meses.

Os pacientes apresentaram achados clínicos semelhantes à literatura

(Neufeld e Muenzer, 2001), caracterizando-se como o grupo com alterações

esqueléticas mais freqüentes: pectus carinatum, gibosidade toracolombar e

genu valgo (Figura 16).

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Figura 16- Pacientes com MPS IVA, presença de fácies normal, pescoço curto, pectus carinatum, rigidez articular e genu valgo

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A MPS IV caracteriza-se pela integridade do SNC (Neufeld e Muenzer,

2001); em relação ao DNPM, como esperado, não se observou atraso; no

entanto, um paciente apresentou regressão motora cujo motivo foi piora

progressiva do genu valgo, mesmo após cirurgia, com perda do equilíbrio e

parada da deambulação.

O acometimento cardíaco foi detectado em todos os pacientes, exceto

em um paciente de menor idade (4 anos). Da mesma forma que os estudos

de Dangel (1998) revelaram, neste estudo a gravidade foi menor quando

comparada aos tipos de MPS que acumulam DS (MPS I, MPS II e MPS VI).

Na MPS IV, a deformidade torácica e a diminuição do volume pulmonar;

segundo Semenza e Pyeritz (1988), resultam em atelectasia persistente e

predisposição à pneumonia; porém, no presente trabalho, a MPS IV foi

representada pelo grupo com menor índices de intercorrências clínicas, ou

seja, apenas dois pacientes tiveram quadro de infecção de repetição e

necessidade de internação hospitalar.

Três pacientes realizaram cirurgia para correção do genu valgo;

entretanto, em apenas um paciente foi notado melhora (Figura 17); outros

dois evoluíram com piora progressiva: um deixou de andar e outro necessita

de auxílio de muletas para percorrer pequenas distâncias.

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Figura 17- Paciente com MPS IVA antes da cirurgia aos 6 anos, no pós- operatório aos 6 anos e 11 meses e após duas cirurgias ortopédicas aos 8 anos e 11 meses

6.3.5. MPS VI

Todos os seis pacientes avaliados apresentaram a forma moderada.

Quanto aos períodos pré-natal e neonatal, não foram evidenciadas

peculiaridades.

Em relação ao início dos primeiros sintomas e à idade ao diagnóstico,

ambos foram tardios. Azevedo et al. (2004) analisaram 28 crianças

brasileiras portadoras de MPS VI e detectaram que 48% dos familiares

referiram o início dos sinais antes dos 6 meses, e 52%, ao 1 ano e 7 meses;

a média de idade ao diagnóstico foi de 4 anos.

Os pacientes apresentaram achados clínicos semelhantes aos

encontrados na literatura: baixa estatura, fácies grotesco, opacidade de

córneas, rigidez articular e mão em garra em todos os pacientes (Neufeld e

Menzer, 2001; Azevedo, 2004).

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Quanto ao DNPM, o atraso foi notado em 50% dos pacientes; porém,

todos apresentaram inteligência preservada. Apenas um paciente, o mais

velho, atualmente com 22 anos e 4 meses, deixou de andar aos 16 anos

(Figura 18).

Figura 18- Paciente com MPS VI, aos 20 anos e 5 meses, apresenta baixa estatura, fácies grotesco, opacidade de córneas, pescoço curto, abdome volumoso e mãos em garra; a inteligência é normal, sua atividade diária é a confecção de bijuterias

Comparando-se os resultados do presente trabalho aos de Azevedo

(2004), verificou-se: cardiopatia em todos os pacientes, e SAOS e infecção

respiratória como achados clínicos freqüentes. Segundo Azevedo (2004),

82,1% dos pacientes apresentavam SAOS, e 57,1%, pneumonias.

Como nas MPS I, MPS II e MPS III, as infecções respiratórias foram as

principais responsáveis pelas intercorrências clínicas e internação hospitalar.

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Apenas um paciente, aos 8 anos e 5 meses, apresentou HAS; o ultra-

som de Doppler renal e os exames laboratoriais foram normais, porém o

estudo do sono apresentou IAH de 26,3 apnéias/hora. Tal como nos dois

pacientes com MPS I, a SAOS sugeriu contribuir para a HAS na MPS VI.

Um paciente necessitou de internação hospitalar por insuficiência

cardíaca, semelhante a MPS II, a HP representou o fator agravante, dado

que também discorda de Mohan et al. (2002).

Em relação à SAOS, não se notou melhora após a

adenoamigdalectomia, e o uso do CPAP foi posteriormente indicado. Para

Avelino et al. (2002), a melhora da SAOS após adenoamigdalectomia é

significativamente importante; porém, em casos de persistência dos

sintomas, a hipótese seria uma apnéia de origem central, hipótese essa

defendida por Perkes et al. (1980) e Yoskovitch et al. (1998). Tal como nos

achados de Ginzburg et al. (1990), o uso do CPAP melhorou a apnéia

noturna nos dois pacientes e demonstrou superioridade em relação à

amigdalectomia.

6.3.6. MPS VII

Os dois pacientes apresentaram a forma neonatal.

Quanto ao período pré-natal e neonatal, a MPS VII apresentou

peculiaridades: polihidrâmnio, ascite fetal, edema neonatal (Figura 19) e

colestase neonatal com hepatoesplenomegalia.

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Figura 19- Paciente com MPS VII nos primeiros dias de vida, apresenta excesso de pele em região de pescoço, aos 3 meses de idade e aos 8 anos e 10 meses

Ainda que considerada a forma mais rara das MPSs, é imperativa a

pesquisa da MPS VII, em casos de ascite fetal não-imune. Molyneux et al.

(1996), ao realizarem a necropsia de um natimorto hidrópico, referem que a

microscopia eletrônica é capaz de detectar a presença de vacúolos nas

células de vários órgãos – baço, pulmão, miocárdio, mucosa intestinal,

medula óssea, hepatócitos e córtex cerebral –, inclusive nas células vilo-

coriônicas de Hofbauer, sendo este o alerta ao patologista para possível

doença metabólica de depósito.

Segundo Saxonhouse et al. (2003), a ascite fetal, na MPS VII, pode ser

considerada espectro da hidropsia fetal não-imune, podendo, ainda, ser

detectada como um achado isolado. Esses autores relataram, pela primeira

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vez, a presença de ascite isolada na MPS VII; enfatizam que a causa mais

comum corresponde a anormalidades do trato urinário, porém 6% das

necropsias de recém-nascidos com ascite isolada são consideradas

decorrência de causa idiopática e o diagnóstico de MPS VII, possivelmente,

não foi investigado. De acordo com o artigo, o recém-nascido apresentava

apenas ascite escrotal volumosa e hérnias inguinais; as características

típicas da doença foram detectadas a partir de 29 meses de vida.

Em relação à colestase neonatal, Gillett et al. (2001) referem que a

patogênese é desconhecida; contudo, há duas possibilidades: o acúmulo de

GAGs nos lisossomos acarretaria o aumento de hepatócitos e de células de

Kupffer, e, conseqüentemente, os sinusóides seriam comprimidos e o trajeto

do metabolismo da bilirrubina seria danificado, ou as enzimas e as proteínas

envolvidas no transporte da bilirrubina poderiam ser inibidas pela β-

Glicuronidase. Esse último mecanismo parece ser mais plausível, pois

justificaria a ausência de colestase em outras MPSs.

O presente estudo verificou o diagnóstico precoce apenas em um dos

pacientes, sendo o outro tardiamente realizado, aos 4 anos e 3 meses.

Schwartz et al. (2003) também detectaram diagnósticos tardios em três

irmãos brasileiros com MPS VII e com antecedentes neonatais de edema em

extremidade, hepatoesplenomegalia e icterícia prolongada; o diagnóstico foi

estabelecido na família após 8 anos de evolução da doença.

Uma vez que o diagnóstico no pré e no pós-natal é possível, a inclusão

da MPS VII como diagnóstico diferencial, nos casos de hidropsia fetal,

ascite, edema neonatal e hepatomegalia, é imprescindível (Saxonhouse et

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al., 2003), pois permite ao médico fornecer um adequado aconselhamento

genético e orientar quanto às implicações em futuras gestações (Molyneux

et al., 1996).

Os dois pacientes apresentaram achados clínicos semelhantes aos

encontrados na literatura, acompanhados de atraso do DNPM e retardo

mental (Neufeld e Muenzer, 2001; Gillett et al., 2001; Schwartz et al. 2003).

O acometimento cardíaco e infecção de repetição foram verificados em

ambos os pacientes e apenas um tinha SAOS. Diferentemente dos achados

nas MPS II e MPS VI, a insuficiência cardíaca foi secundária ao processo

infeccioso (pneumonia de base esquerda e sinusite).

Para Whitley (1993), a hepatomegalia, a ascite neonatal e a

hiperbilirrubinemia são indicativos de hepatite fulminante e óbito no período

neonatal, porém esse fato não foi detectado, o que demonstra a

heterogeneidade clínica na doença.

6.4. PROCEDIMENTO CIRÚRGICO E ANESTÉSICO

Embora a mortalidade, no pré-operatório e pós-operatório, seja

estimada em 20% nos pacientes portadores de MPS (King et al., 1984), não

foi detectado óbito no presente estudo.

Conforme esperado, a dificuldade de IOT representou a principal

intercorrência (Diaz e Belani, 1993; Walker et al. 1994; Morgan et al. 2002).

Walker et al. (1994) avaliaram 60 procedimentos de IOT, em 29 pacientes

com diferentes tipos de MPS, e detectaram que 25% dos anestesistas

tiveram dificuldade durante a intubação e 8% não conseguiram intubar.

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Numa análise comparativa entre o tipo de MPS e a dificuldade de IOT, os

autores evidenciaram que, na MPS I, na MPS II, na MPS IV e na MPS VI, a

dificuldade esteve presente em cerca de 50% dos casos; já o insucesso

ocorreu apenas na MPS I (23%).

Em relação aos procedimentos cirúrgicos, o presente trabalho verificou

que pacientes com MPS necessitam freqüentemente de cirurgias (2,3

cirurgias/paciente), observando-se a adenoamigdalectomia como a mais

comum. Resultado semelhante foi obtido por Walker et al. (1994), que

acompanharam 110 procedimentos cirúrgicos e identificaram a média de 3,2

cirurgias por paciente, sendo que 43% correspondiam a cirurgias

otorrinolaringológicas.

6.5. EXAMES LABORATORIAIS

6.5.1. EXAMES ESPECÍFICOS

Embora o teste de toluidina seja rápido e barato, ele demonstrou alto

índice de resultados falso-negativos (44%, incluindo negativos e duvidosos);

Carter et al. (1968) Leistern e Giugliani (1998) detectaram freqüência menor:

20% e 32%, respectivamente.

Como nos resultados dos estudos de Leistern e Giugliani (1998), os

testes quantitativos (dosagem de GAGs) foram considerados mais precisos.

A cromatografia de GAGs foi normal em quatro pacientes portadores de

MPS IV e nos demais pacientes foi alterada, o que reforça a necessidade de

continuar a investigação, mesmo diante de exames normais. Segundo

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Leistern e Giugliani et al. (1998), o resultado falso-negativo na IV é

justificado pela complexidade técnica em detectar o QS.

A dosagem enzimática correspondeu ao padrão-ouro para definição do

diagnóstico e do tipo de MPS.

6.5.2. OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES

6.5.2.1. AVALIAÇÃO OFTALMOLÓGICA

A opacidade de córneas foi detectada em 21 pacientes (5 MPS I, 1

MPS III, 7 MPS IV, 6 MPS VI e 2 MPS VII). De acordo com Neufeld e

Muenzer (2001), a opacidade de córneas não foi detectada na MPS II. Já o

glaucoma foi diagnosticado em quatro pacientes (3 MPS I e 1 MPS VI),

embora alguns autores revelem uma freqüência maior de glaucoma em

pacientes com MPS VI (Cantor et al., 1989); no presente trabalho, o

glaucoma representou maior importância na MPS I.

6.5.2.2. ESTUDO RADIOLÓGICO

As alterações radiológicas típicas das MPS, ou seja, disostose múltipla,

foram detectadas em todos os pacientes, independentemente da faixa etária.

Os raios-X de esqueleto contribuíram sobremaneira), no início da

investigação clínica. Alguns achados foram freqüentes e de fácil observação,

tais como: costelas em forma de remo (Figura 20), úmero proximal em forma

de machado (Figura 21); alteração no formato do corpo vertebral,

trabeculado grosseiro com diáfises espessas (Figura 22), metacarpos

espessos, cônicos e convergentes (Figura 23). O presente trabalho verificou

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88

que a associação do estudo radiológico a uma história clínica e a um exame

físico detalhado permite ao médico firmar a suspeita clínica e iniciar a

investigação laboratorial específica. Além disso, trata-se de um exame

simples e de fácil acesso.

Embora não contribua para diagnosticar o típico específico de MPS, foi

possível identificar as seguintes peculiaridades: espessamento importante

da calota na MPS III; platispondilia e alteração no formato das vértebras

(principalmente, em forma de projétil) na MPS IV; e ausência de alterações

em ossos longos, mãos e pés na MPS VII (Figura 24).

O estudo radiológico também contribui para a comprovação do caráter

evolutivo da MPS, ou seja, pacientes de faixa etária maior apresentaram

achados esqueléticos mais exuberantes (Figura 25).

Até o momento, as impressões vasculares diplóicas e as impressões

digitiformes, presentes nos raios-X de crânio, não foram descritas na

literatura (Figura 26) (Anexo D).

Figura 20- Raios-X de tórax: costelas em forma de remo

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89

Figura 21- Raios-X de ossos longos: úmero proximal em forma de machado

Figura 22- Raios-X de ossos longos: córtex espessado com trabeculado grosseiro; primeira imagem apresenta convergência distal de ulna e rádio

Figura 23- Raios-X das mãos: metacarpos cônicos, espessos e convergentes

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90

Figura 24- Raios-X de crânio: espessamento importante da calota na MPS III; Raios-X de coluna: platispondilia e vértebras em forma de projétil na MPS IVA; Raios-X de mãos e pés: próximo da normalidade na MPS VII

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91

Figura 25- Raios-X de coluna e ossos longos de paciente com MPS IVA: as imagens superiores correspondem aos 4 anos de idade e as inferiores, aos 13 anos

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92

Figura 26- Raios-X de crânio: imagens superiores apresentam as impressões digitiformes e as inferiores, as impressões vasculares

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93

6.5.2.3. ULTRA-SOM DE ABDOME

Quanto ao ultra-som de abdome, algumas considerações são

pertinentes, uma vez que não foi possível detectar concordância entre os

achados de hepato e/ou esplenomegalia no exame físico e na análise ultra-

sonográfica de alguns pacientes:

- pacientes com MPS podem apresentar agitação e retardo mental, o

que poderia dificultar a investigação;

- a anormalidade toracoabominal poderia prejudicar a relação entre

estruturas vizinhas durante a inspeção ultra-sonográfica;

Para Rocha et al. (2005), o fígado possui forma bizarra, grosseiramente

semelhante a uma cunha, com ampla superfície superior, arredondada, que

dificulta a determinação de pontos de referência precisos, quando se

pretende padronizar uma técnica com boa reprodutibilidade; além disso, as

limitações decorrentes da variação da forma, eixo e posição do fígado, a

relação com estruturas vizinhas e a técnica empregada (operador-

dependente) também comprometem a biometria hepática.

6.5.2.4. ECOCARDIOGRAMA

Ainda que alguns autores demonstrem a existência de alterações

ecocardiográficas específicas para cada tipo de MPS (Neufeld e Muenzer,

2001), ainda é controverso.

Conforme a literatura, a VM foi a estrutura cardíaca mais comprometida

nos pacientes estudados (Figura 27), seguida pela VA (Dangel 1998; Mohan

et al. 2002; Riganti e Segni, 2002). As freqüências de espessamento e

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94

insuficiência da VM foram similares às evidenciadas por Dangel (1998), que

estudou 64 pacientes com MPS. O presente trabalho detectou o

espessamento em 70% e a insuficiência em 53%, enquanto o de Dangel

(1998) detectou-o, respectivamente, em 66% e em 44%. No entanto, o

acometimento da VA foi diferente: no presente trabalho 63%, e no de Dangel

(1998), 27%.

Riganti e Segni (2002) estudaram o comprometimento cardíaco em 39

pacientes italianos com MPS, e tal como o presente trabalho, eles

observaram maior comprometimento VM (59%) e VA (28%), e raro

comprometimento das VT e VP.

Figura 27- Ecocardiograma: espessamento da válvula mitral em paciente com MPS VI aos 10 anos de idade

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95

Embora Nelson et al. (1990) considerem como característico o

comprometimento da VA nos pacientes com MPS IV, neste trabalho, o

espessamento da VA foi comum (6/7) na MPS IV, porém a insuficiência da

VA foi mais freqüente na MPS I e na MPS VI. Para Dangel (1998), o

comprometimento de VA não pode ser considerado específico da MPS IV.

Jhon et al. (1990), estudando 10 pacientes com MPS IVA, detectaram uma

piora cardiológica “silenciosa” envolvendo o lado esquerdo do coração (VM).

O ecocardiograma foi extremamente importante para o seguimento das

crianças com MPS, visto que a cardiopatia foi detectada em todos os

pacientes, inclusive com insuficiência cardíaca grave. Segundo Dangel

(1998), dois estudos ecocardiográficos, no mínimo, demonstram piora

progressiva com deterioração cardíaca grave, embora sintomas clínicos

possam não ser evidenciados.

6.5.2.5. OXIMETRIA E POLISSONOGRAFIA

A oximetria basal em ar ambiente contribuiu, no presente trabalho,

como exame de triagem para pacientes hipóxicos por obstrução alta, uma

vez que todos os pacientes que apresentaram saturação de oxigênio (SatO2)

abaixo de 95% possuíam SAOS de grau moderado ou acentuado.

A polissonografia realizada durante a noite toda, em laboratório do

sono, é o padrão-ouro para o diagnóstico da SAOS (Balbani et al., 2005).

Todas as crianças estudadas, no presente trabalho, realizaram a

polissonografia de acordo com esse padrão. A polissonografia foi obtida em

vinte e dois pacientes; oito pacientes não a realizaram, pelos seguintes

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96

motivos: óbito, infecção respiratória freqüente, agitação/retardo mental grave

e paciente grave sem condição clínica de se deslocar até São Paulo.

No presente trabalho, a queixa de ronco foi um alerta para a SAOS; dos

vinte e dois pacientes estudados, 27% apresentavam a forma acentuada, e

9%, a moderada e a leve. Leighton et al. (2001) estudaram a respiração

durante o sono de 26 pacientes com MPS e detectaram 27% de SAOS

acentuada, 31% de moderada e leve. Segundo os autores, embora os

familiares reportavam sintomas leves ou ausentes, a polissonografia

detectou graves anormalidades.

6.5.2.6. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE CRÂNIO

Os achados nas TC de crânio foram os previstos pela literatura (Taybi,

1996) e não demonstraram peculiaridades.

Tal como nos estudos de Watts et al. (1981), a ventriculomegalia

revelou-se freqüente nos pacientes estudados neste trabalho (Figura 28).

Ainda que Neufeld e Muenzer (2001) atribuam o aumento do sistema

ventricular como secundário ao processo de atrofia cerebral ou ao defeito de

reabsorção do liquido cérebro espinhal, a atrofia cerebral foi notada em três

pacientes com MPS III, já em estágio muito avançado da doença. Não foi

detectado, pelo estudo tomográfico, sinal de hipertensão intracraniana.

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97

Figura 28- TC de crânio: ventriculomegalia presente num paciente com MPS I-HS aos 8 anos e 5 meses

Embora as alterações tomográficas sejam esperadas em portadores de

MPS com comprometimento cerebral – principalmente o retardo mental –, há

descrições em pacientes com MPS IV. Após analisarem os achados

tomográficos em onze pacientes com MPS IVA, Nelson e Grebbell (1987)

sugerem que a atrofia cerebral e a baixa densidade da substância branca

não estão relacionadas ao retardo mental, e, possivelmente, a idade

avançada seja a responsável por esses achados na MPS IV. No presente

trabalho, em apenas um paciente com MPS IV, a anormalidade na TC de

crânio foi detectada (ventriculomegalia), porém não correspondeu ao de

maior faixa etária. Outros autores sugerem uma associação entre retardo

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98

mental e redução do contraste entre a substância branca e a cinzenta

(Murata et al., 1989). Esses autores atribuem essa redução do contraste ao

acúmulo de GAGs nos lisossomos dos neurônios e dos astrócitos.

O adenoma de hipófise foi detectado num paciente com MPS IIIC, aos

14 anos de idade. Até o momento, não há outro caso de adenoma de

hipófise em pacientes com MPS. Na literatura há apenas um caso de

adenoma hepático num paciente com MPS I-H (Resnick et al., 1995).

Quanto à MPS III, após analisarem ressonância magnética cerebral,

Zafeiriou et al. (2001) detectaram anormalidades na substância branca,

atrofia cortical e ventrivulomegalia em todos os pacientes; outros achados

esporádicos foram: atrofia calosal, alteração cerebelar e dilatação do seio

venoso. Já Petitti (1997) observou maior freqüência de cistos aracnóides em

pacientes com MPS III, porém esse achado não é característico de doenças

metabólicas; com relação às MPSs, sua etiologia ainda é desconhecida. No

presente trabalho, os cistos não foram detectados em nenhum tipo de MPS.

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CONCLUSÕES

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6. CONCLUSÕES

6.1. AVALIAÇÃO CLÍNICA

• Em todos os tipos de MPSs o diagnóstico foi tardiamente realizado.

• A heterogeneidade clínica foi evidente na MPS I (síndrome de Hurler e

síndrome de Hurler-Scheie) e na MPS II (formas leve e grave).

• O fácies grotesco foi importante para o diagnóstico nas MPS I, MPS II,

MPS VI e MPS VII, porém a sua ausência não excluiu o diagnóstico de MPS

I-HS.

• Os achados clínicos das MPS I, MPS II e MPS VI foram similares; na

MPS III, os pacientes apresentaram dismorfismos sutis e deterioração

neurológica progressiva; na MPS IV, as alterações esqueléticas

representaram as principais manifestações clínicas.

• A ascite fetal, o edema neonatal, a colestase neonatal e a

hepatoesplenomegalia foram indicativos para a MPS VII.

• O atendimento dos pacientes portadores de MPS requer uma equipe

multidisciplinar em virtude do grande número e da diversidade de

complicações que esses pacientes apresentam.

• As alterações cardíacas estiveram presentes em todos os tipos de

MPSs, porém, nas MPSs III e MPS IV, a gravidade foi menor. A HP

correspondeu ao principal fator agravante para a insuficiência cardíaca.

• A HAS foi detectada em três pacientes (2 MPS I e 1 MPS VI), e a

SAOS pode ter sido um fator contribuinte.

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101

• A SAOS foi comum nas MPSs, constituindo um sinal de alerta a SatO2

abaixo de 95%; o uso do CPAP nasal foi o tratamento mais utilizado no

tratamento da SAOS e se mostrou eficaz.

• As intercorrências respiratórias foram freqüentes nas MPSs, com

várias internações hospitalares, inclusive em UTI.

• O óbito ocorreu nos pacientes portadores da forma grave: um MPS I-

H aos 8 anos e 9 meses e outro MPS II aos 12 anos de idade.

• O procedimento cirúrgico foi freqüente, com média de 2,3

cirurgias/paciente, principalmente para procedimentos de

adenoamigdalectomia e herniorrafia.

• A dificuldade na IOT representou a principal intercorrência na

anestesia.

6.2. AVALIAÇÃO LABORATORIAL

• A dosagem e a cromatografia de GAGs foram importantes para o

diagnóstico das MPSs, porém houve resultados falso-negativos; a dosagem

enzimática foi fundamental para definir o tipo e subtipo das MPSs.

• O estudo radiológico de esqueleto completo foi importante para a

investigação das MPSs, contribuindo, inclusive, para a distinção entre as

MPS III, MPS IV e MPS VII. Por outro lado, o ultra-som abdominal não

demonstrou limitações na biometria hepatoesplênica. A ventriculomegalia foi

detectada pela TC de crânio em 53% (16/30) dos pacientes, sem sinal de

hipertensão intracraniana.

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102

• A cardiopatia foi observada em 90% dos casos, sendo a alteração da

VM a mais freqüente. Por essa razão, o ecocardiograma é um exame

imprescindível para as MPSs.

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ANEXOS

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104

7.1. ANEXO A

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105

7.2. ANEXO B

PROTOCOLO - MUCOPOLISSACARIDOSES

I. IDENTIFICAÇÃO

Nome: RG HC:

Data Nascimento: Data 1o Atendimento:

Sexo: Masculinoڤ Femininoڤ

Cor: Brancoڤ Negroڤ Pardoڤ

Encaminhamento:

Endereço:

Telefone:

Mãe:

Pai:

II. DADOS DO PRÉ-NATAL

Consangüinidade: Simٱ Nãoٱ

Pré-natal: Simٱ Nãoٱ

Intercorrências: III. DADOS DO NASCIMENTO

Parto: normalڤ cesareanaڤ

Sofrimento fetal: Simڤ Não ٱ

Apgar

Idade Gestacional: Termoڤ Prematuroڤ

Peso: Comprimento: Perímetro Cefálico:

Tempo de permanência no berçário:

Intercorrências:

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106

IV. QUEIXA PRINCIPAL V. IDADE DO INÍCIO DA SINTOMATOLOGIA VI. DEFINIR SINTOMAS INICIAIS VII. DNPM

Firmou pescoço: Sentou sem apoio:

Andou: Falou: Desempenho na escola: VIII. EVOLUÇÃO CLÍNICA

Sistema esquelético Alteração na conformação crânio, tórax, membros, coluna, mãos e pés? Inicio?

Sistema cardíaco Queixa de palpitação, cansaço, cianose, desmaio ou outras? Faz uso de medicação?

Sistema respiratório Infecções de repetição? Inicio, freqüência, faz uso de medicações?

Sistema digestivo Queixa de diarréia, constipação, refluxo gastro-esofágico, vômitos ou outros? Faz uso de medicações?

Sistema articular Queixa de rigidez ou dor articular, quedas freqüentes, dificuldade e parada da deambulação?

Sistema neurológico Queixa de convulsão, desmaios, infecções, hidrocefalia, hiperatividade, nervosismo, agressividade, involução do DNPM ou outras? Faz uso de medicações?

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107

IX. SONO

Roncoٱ apnéia noturnaٱ uso de CPAPٱ X. INTERNAÇÕES nãoٱ simٱ (data e motivo)

XI. CIRURGIA nãoٱ simٱ (data e motivo)

XII. COMPLICAÇÕES ANESTÉSICAS nãoٱ simٱ (data e motivo)

X. EXAME FÍSICO Peso: Altura: PC: Fácies grotescoٱ Cabeça: macrocefaliaٱ bossa frontalٱ Olhos: córneas opacasٱ epicanto internoٱ sinofreٱ Nariz: ponte nasal baixaٱ narinas antevertidasٱ Cavidade oral: lábios grossosٱ macroglossiaٱ hipertrofia gengivalٱ dentes pontiagudosٱ dentes espaçadosٱ prognatismoٱ micrognatiaٱ Pescoço curtoٱ Tórax: soproٱ pectus carinatumٱ pectus excavatumٱ Abdome: hepatomegaliaٱ esplenomegaliaٱ hérnia umbilicalٱ hérnia inguinalٱ diástase de músculo reto abdominalٱ Membros: rigidez articularٱ mãos em garraٱ genu valgoٱ Coluna: gibosidadeٱ cifoseٱ lordoseٱ Pele: manchas mongólicasٱ pápulas subcutâneasٱ Fâneros: hirsutismoٱ cabelos espessosٱ

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108

XI. EXAMES

Triagem urinária:

Dosagem enzimática:

Raios-X esqueleto:

Ultra-som abdominal:

Ecocardiograma:

Oximetria:

Polissonografia:

IX. DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA

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109

7.3. ANEXO C

TERMO DE CONSENTIMENTO

Eu, abaixo assinado, RG_____________, responsável pelo paciente, _________________________________________, residente e domiciliado à ___________________________________________________________, concordo em participar do projeto “História natural de pacientes com Mucopolissacaridoses”, sob a responsabilidade da Dra. Ana Carolina de Paula (CRM 98977), sob a orientação da Dra. Chong Ae Kim (CRM 40054), a ser realizado na Unidade de Genética do ICr HCFM-USP, com a finalidade de identificar precocemente os portadores desse grupo de doenças. Trata-se de um grupo de doenças metabólicas hereditárias de evolução progressiva, onde a falta/ausência de determinadas substâncias lesa vários órgãos. Até o presente, não há um tratamento efetivo, contudo, há perspectivas para um futuro próximo, de uma reposição enzimática eficaz, melhorando substancialmente a qualidade de vida desses pacientes a partir de um manejo mais adequado. Fui esclarecido/a de que esse estudo consistirá de uma entrevista, em que será avaliado o paciente e/ou seus familiares, incluindo-se exames complementares e avaliações de outras especialidades pertinentes a cada caso. Estou ciente que a qualquer momento posso desistir de participar deste projeto, sem nenhum prejuízo de atendimento para mim e/ou para meus familiares nessa instituição. Ao final, estou ciente de que receberei as informações resultantes do estudo serão fornecidos ao representante legal ou a quem de direito, atendendo ás regras de sigilo profissional, no sentido de resguardar o teor das informações recebidas a que tenho direito.

São Paulo, de de . Nome do/a responsável: Assinatura do responsável legal pelo (a) paciente: Assinatura do pesquisador:

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110

7.4. ANEXO D

PROTOCOLO – ACHADOS RADIOLÓGICOS NAS MPSs

CRÂNIO

Macrocefalia

Calota espessa

Fechamento prematuro das suturas

Sela túrcica alargada

Sela túrcica em forma de “J”

Sela túrcica em forma de ômega

VERTEBRAL

Platispondilia

Cifose dorso-lombar

Escoliose

Corpos vertebrais ovóide

Corpos vertebrais retangular

Corpos vertebrais em forma de projétil

Corpos vertebrais – lábio anterior

TÓRAX

Costelas em forma de remo

Clavículas curtas e espessas

Fossas glenóides hipoplásicas

Escápulas pequenas e de localização alta

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OSSOS LONGOS

Córtices espessos com trabeculado grosseiro

Epífises irregulares

Metáfises irregulares

Diáfises espessas

Úmeros proximais em forma de machado

Radio e ulna - epífises convergentes

Ulnas encurvadas PELVE

Asa dos ilíacos pequenas e largas

Tetos acetabulares hipoplásicos e irregulares

Ísquio espesso

Púbis espesso

Cabeças femorais pequenas

Colos femorais afilados

Coxa valga

Epífises femorais fragmentadas MÃOS E PÉS

Falanges curtas e espessas

Ossos do carpo pequenos e irregulares

Metacarpos espessos

Epífises convergentes do 2°ao 5° metacarpos

Metatarso espessoss

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112

7.5. ANEXO E

E-mail recebido em 16/02/2006:

Prezada Dra. Ana Carolina de Paula,

Com prazer, informamos que o trabalho intitulado ACHADOS

RADIOLÓGICOS EM PACIENTES COM MUCOPOLISSACARIDOSE TIPO

VI (SÍNDROME DE MAROTEAUX-LAMY) foi aprovado pelo Conselho

Editorial e encaminhado para publicação na Revista da Imagem.

Agradecemos sua colaboração.

Atenciosamente,

Paulo Vieira Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR) Revista da Imagem. Av. Paulista, 491 - 4º andar - cj. 41 / 4201311-909 São Paulo, SP. Telefone: (11) 3284-3988. E-mail: [email protected]

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REFERÊNCIAS

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