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Helena Kistemann Rímoli Maíra Bonafé Sei Sílvia Nogueira Cordeiro (Organizadoras) Anais da II Jornada do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise (LEPPSI): A inserção da Psicanálise nos vários contextos 1ª. Edição Londrina/PR UEL 2015

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Helena Kistemann Rímoli Maíra Bonafé Sei

Sílvia Nogueira Cordeiro (Organizadoras)

Anais da II Jornada do Laboratório de Estudo e Pesquisa

em Psicanálise (LEPPSI): A inserção da Psicanálise nos

vários contextos 1ª. Edição

Londrina/PR UEL 2015

Anais da II Jornada do LEPPSI do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise (LEPPSI): A inserção da Psicanálise nos vários contextos - 2015

ii Universidade Estadual de Londrina

Catalogação Elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca

Central da Universidade Estadual de Londrina

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

J82a Jornada do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise (LEPPSI) (2

: 2015 : Londrina, PR).

Anais da II Jornada do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise

(LEPPSI) [livro eletrônico]: a inserção da psicanálise nos vários

contextos / Helena Kistemann Rímoli, Maíra Bonafé Sei, Sílvia Nogueira

Cordeiro (Organizadoras). – Londrina: UEL, 2015.

1 Livro digital.

Inclui bibliografia.

Disponível em: http://www.uel.br/projetos/leppsi/pages/eventos/ii-

jornada-leppsi---03dez2015/anais.php

ISBN: 978-85-7846-358-8

1. Psicanálise – Congressos. 2. Psicologia – Congressos. I. Rimoli, Helena Kistemann. II. Sei, Maíra Bonafé. III. Cordeiro, Silvia Nogueira. IV. Título:

CDU 159.964.2

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Sumário

Comissões ...................................................................................................................................... 1

COMISSÕES ............................................................................................................................... 2

Programação ................................................................................................................................. 3

PROGRAMAÇÃO ........................................................................................................................ 4

Apresentação ................................................................................................................................ 5

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 6

Conferência ................................................................................................................................... 7

QUEM NOS AGUARDA EM NOSSA CLÍNICA? ............................................................................. 8

Mesa Redonda ............................................................................................................................ 12

A PRÁTICA DA PSICANÁLISE NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA PROPOSTA CLÍNICO-POLÍTICA .. 17

A ESCRITA DE UM CASO CLÍNICO ............................................................................................ 21

Apresentações Orais ................................................................................................................... 24

PERDAS E DANOS: ASPECTOS CLÍNICOS DA DEPRESSÃO ........................................................ 25

DORES DO CRESCIMENTO: QUEM SOU EU? MENINO OU MOCINHO? ................................... 26

A PSICOSSOMÁTICA NO CONTEXTO DE UM PSIQUISMO PARA DOIS: O GRUPO DE PAIS

COMO PROPOSTA ................................................................................................................... 27

QUANDO A DEMANDA PELA TERAPIA PARA UMA CRIANÇA SE MOSTRA DIFUSA: A

IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DAS ENTREVISTAS INICIAIS ..................................................... 28

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA DE CASAL: CARACTERÍSTICAS E OBJETIVOS ........................... 29

EFEITOS BENÉFICOS DAS ENTREVISTAS INICIAIS COM OS PAIS E DO PSICODIAGNÓSTICO

INFANTIL .................................................................................................................................. 30

A PSICANÁLISE NO HOSPITAL: O BRINCAR COMO MEDIADOR EM INTERVENÇÕES NA

ENFERMARIA PEDIÁTRICA ....................................................................................................... 31

A FOTOLINGUAGEM E A ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL NO CAPs ......................................... 33

A CONTRATRANSFERÊNCIA COMO REVELADORA DO NÃO-DITO FAMILIAR NO CONTEXTO

DAS ENTREVISTAS INICIAIS ...................................................................................................... 34

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA PSICOLÓGICA DA UEL: UM CASO CLÍNICO ......... 35

O PSICÓLOGO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO SOBRE A

ESCUTA QUALIFICADA NA ATUAÇÃO COM GRUPOS DE POPULAÇÃO JOVEM ....................... 36

A CONJUGALIDADE HOMOAFETIVA EM UMA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA: UM ESTUDO DE

CASO ........................................................................................................................................ 37

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA DE CASAL E FAMÍLIA: RECORTES DE UM CASO ...................... 38

A QUESTÃO DA ESCOLHA PROFISSIONAL NA ADOLESCÊNCIA ................................................ 39

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O SONHO DO TERAPEUTA ENQUANTO ELEMENTO DE COMPREENSÃO DA DINÂMICA

CONJUGAL E FAMILIAR ............................................................................................................ 40

ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR E A RELAÇÃO MÃE E FILHA: UMA ILUSTRAÇÃO CLÍNICA .... 41

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM GRUPO DE ADULTOS NA CLÍNICA PSICOLÓGICA DA UEL ... 42

ESTUDO DE CASO EM PRONTO-ATENDIMENTO PSICOLÓGICO: SENHORA Y E O TERRITÓRIO

................................................................................................................................................. 44

PSICANÁLISE NO CAMPO JURÍDICO: JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO ALTERNATIVA À PENA 45

IMPORTÂNCIA DA SUPERVISÃO CLÍNICA PARA A MANUTENÇÃO DE UM SETTING

“SUFICIENTEMENTE BOM” NA PSICOTERAPIA INFANTIL ........................................................ 46

A ESCUTA PSICANALÍTICA NO PRONTO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO .................................. 47

VIOLÊNCIA E CUIDADO FAMILIAR, AMALGAMADOS EM TENTATIVAS DE SUICÍDIO E

HOMICÍDIO .............................................................................................................................. 48

REFLEXÕES ACERCA DA INTERSECÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E MASOQUISMO FEMININO: AS

VICISSITUDES DO DESAMPARO ............................................................................................... 50

ESTUDO DE CASO SOBRE O USO DA ESCALA DIAGNÓSTICA ADAPTATIVA OPERACIONALIZADA

– EDAO .................................................................................................................................... 51

UM CASO DE INIBIÇÃO INTELECTUAL ..................................................................................... 52

NO LIMITE: REFLETINDO SOBRE O MANEJO CLÍNICO ............................................................. 53

A REVIVESCÊNCIA DO ABANDONO INFANTIL PELO ENCERRAMENTO DO PROCESO

PSICOTERÁPICO EM UMA CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA .................................................. 56

A ESTRUTURA PERVERSA E O DISCURSO COMO INSTRUMENTO DE SEDUÇÃO: UM ESTUDO

DE CASO DO SERVIÇO DE PRONTO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO ......................................... 57

PRONTO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO NA CLÍNICA PSICOLÓGICA DA UEL E SUA IMPLICAÇÃO

NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL DA CIDADE DE LONDRINA E REGIÃO .................... 59

CONTRATRANSFERÊNCIA COMO INSTRUMENTO EM PSICOTERAPIA .................................... 61

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Comissões

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COMISSÕES

Comissão Organizadora

Professores

Profa. Dra. Maíra Bonafé Sei

Profa. Dra. Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

Profa. Dra. Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida

Profa. Dra. Sandra Aparecida Serra Zanetti

Profa. Dra. Sílvia Nogueira Cordeiro

Discentes

Helena Kistemann Rimoli

Letícia Martins

Comissão Científica

Professores

Profa. Dra. Maíra Bonafé Sei

Profa. Dra. Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

Profa. Dra. Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida

Profa. Dra. Sandra Aparecida Serra Zanetti

Profa. Dra. Sílvia Nogueira Cordeiro

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Programação

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PROGRAMAÇÃO

II JORNADA DO LABORATÓRIO DE ENSINO E PESQUISA E PSICANÁLISE:

A INSERÇÃO DA PSICANÁLISE NOS VÁRIOS CONTEXTOS

03 de Dezembro de 2015

HORÁRIO PROGRAMAÇÃO 08h – 8h30 Credenciamento

8h30 – 9h00

Abertura Psicóloga Sandra Flores – Conselho Regional de Psicologia – Sede

Londrina Profa. Dra. Sílvia Nogueira Cordeiro – Coordenadora do LEPPSI

Profa. Dra. Maíra Bonafé Sei – Diretora da Clínica Psicológica da UEL 09h00 –

10h00 Conferência de Abertura:Formas atuais de intervenções clínicas

LudimilaKloczak (Psicanalista SBPSP – Londrina/PR) 10h00 – 10h30

Coffee break

10h30 – 12h00

Mesa:A psicanálise nas instituições Coordenadora: Profa. Dra. Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

(UEL – Londrina/PR) Palestrantes:

A psicanálise na Saúde Mental –PsicanalistaMaria Beatriz ZambomMontanz (Cornélio Procópio – PR)

A psicanálise na Assistência Social - Profa. Ms. Fernanda Souza Borges (UNIFIL – Londrina/PR)

A psicanálise e sua interface com serviço de acolhimento - Psicanalista Gabriela Finazzi de Carvalho (Além da Rua - Campinas-

SP) 12h00-14h00 Almoço 14h00-16h00 Apresentação de trabalhos: Comunicações Orais

16h00 – 16h30

Coffee break

16h30 – 17h30

Seminário Clínico – O atendimento psicanalítico no serviço-escola de Psicologia

Coordenação: Psicanalista Antônio Mauro Osti (Psicanalista SBPSP – Londrina – PR)

Apresentadora: Psicóloga Júlia Archangelo Guimarães Höfig 17h30 – 18h00

Encerramento e Premiação

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Apresentação

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APRESENTAÇÃO

Sílvia Nogueira Cordeiro (Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e

Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, Coordenadora do Laboratório de

Ensino e Pesquisa em Psicanálise)

Maíra Bonafé Sei (Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise da

Universidade Estadual de Londrina)

contato: [email protected]

É com satisfação que realizamos a “II Jornada do Laboratório de Ensino e

Pesquisa em Psicanálise (LEPPSI): A inserção da psicanálise nos vários contextos”. O

objetivo desse encontro foi propiciar uma interlocução e dar visibilidade ao modo de

trabalhar com a psicanálise fora dos padrões tradicionais de consultório privado.

Sabemos que a psicanálise tem expandido seu campo clínico e teórico para

outros contextos do saber e fazer, com abordagem de questões específicas de outras

áreas como, por exemplo: a saúde, saúde mental, arte, sociedade, cultura, educação,

gênero, violência, entre outros. Tal movimento acaba por trazer novas questões e

impasses clínicos percebidos pelos docentes do Departamento de Psicologia e

Psicanálise em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão e reiterados nas

apresentações realizadas durante a Jornada.

Neste sentido, para dar início a estas discussões a equipe de organização da II

Jornada do LEPPSI selecionou pontos de partida com alguns dos temas possíveis de

desdobramentos e discussões com os participantes presentes. Além da conferência de

abertura sobre: “Formas atuais de intervenções clínicas” e uma mesa redonda com o

tema “A psicanálise nas instituições”, foram apresentados 32 trabalhos oriundos de

produções teórico-clínicas de estudantes de graduação e pós graduação com ênfase na

atuação clínica e conceituais que deram valiosas contribuições ao tema de discussão da

Jornada. Além disto, o evento também contou com a realização de um seminário

clínico, momento no qual se pôde refletir sobre a clínica psicanalítica aplicada a um

caso clínico. Neste sentido, entendemos que foi possível contemplar as variadas facetas

da psicanálise, passando por contextos da saúde, assistência social, ensino e pesquisa

na Universidade, chegando, então, ao consultório privado.

Aproveitamos a oportunidade para agradecer aos professores e psicólogos que

aceitaram nosso convite para o debate, à comissão organizadora e científica pelo

cuidado no delineamento da programação e pela busca de qualidade dos trabalhos

selecionados para apresentação, aos monitores e à Empresa Elo pelo auxílio logístico

para a realização tanto do evento quanto desta publicação.

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Conferência

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QUEM NOS AGUARDA EM NOSSA CLÍNICA?

Ludmila Kloczak (Docente aposentada - UEL; Londrina-PR; Membro Associado da SBPSP; Doutora em Psicologia Clínica-PUCSP)

[email protected]

Palavras-chave: Regime do atentado. Retorno do oprimido. Pensamento refrativo.

Uma jornada cujo foco está nas formas atuais de intervenções clínicas revela a atenção que a formação para a prática profissional deve dar à realidade em que vivemos.

O salto tecnológico proporcionado pela Revolução Industrial no século XIX forneceu ao homem as ferramentas necessárias para alimentar a ilusão de criar um mundo à sua semelhança e sob o seu domínio. É preciso enfatizar a palavra ‘ilusão’, pois dela emanam os equívocos que regem nossa existência. Somos movidos pela ilusão de que o nosso ser é uno. Apagamos nossas contradições, defendemo-nos dos mal-estares. A ilusão de um “Eu” aliada à ilusão de domínio tecnológico do mundo que nos cerca nos aproxima de, pelo menos, duas experiências fundamentais: por um lado, a sensação de que o domínio sobre o mundo é incomensurável e por outro, de que somos apagados por este mesmo poder.

As bases para a constituição de sociedades cada vez mais amplas sob vértices ideológicos tecnologicamente orientados surgiram e se fortaleceram na segunda metade do século XIX. A noção de que seria possível produzir bens que atendessem às necessidades básicas, a compreensão iluminista que acreditava no potencial humano de se desenvolver material e intelectualmente e criar sociedades equilibradas em que cada um receberia de acordo com a sua capacidade e os meios disponíveis foram princípios caros ao homem do final do século XIX e ao longo do século XX.

Entretanto, o progresso humano trafega juntamente com a perversidade e, eis que eclode a Grande Guerra em 1914, para a qual Freud reserva, numa carta escrita para Lou Andreas-Salomé, a seguinte avaliação: Eu sei com certeza que, para mim e para meus contemporâneos, o mundo nunca mais será um lugar feliz. É hediondo demais. [...] parece que a humanidade está realmente morta (cf. Pfeiffer, 1985; citado por Bollas, 2015, p. 49). Este sentimento de que a humanidade à qual ele pertencia se dilacerava o levou a refletir sobre os tempos de guerra e de morte e a destacar que mesmo aquele que não estava no campo de batalha, continuava sua vida em seu lar, família e trabalho, transformara-se em uma peça da engrenagem na gigantesca máquina da Guerra – [que] se sente desorientado e tolhido em seus poderes e atividades (Freud, 1915/1987, p. 311). Freud descrevia de forma vívida o abalo nas representações de um mundo que parecia seguir na direção do progresso da razão, mas que revelava sua face sombria, seu lugar infeliz.

Vamos lembrar que representações estão associadas aos objetos, às imagens, aos atos que compõem, produzem e organizam nosso cotidiano. Vivemos sustentados por uma rede de significações que justificam nossos atos, esclarecem sua finalidade dentro de um conjunto de atividades que nos condicionam, ao longo da vida, a constituir o que chamamos de modos de viver; os quais, na prática, guardam certa semelhança com a vida de outros indivíduos ligados aos mesmos grupos sociais, étnicos, religiosos, políticos, profissionais, etc.

À medida que a rede de relações de uma dada época se transforma, promove um progressivo desmantelamento das organizações sociais vigentes. Na sociedade contemporânea esta reorganização que resulta, necessariamente, de uma crise de representações produz efeitos acentuados de despersonalização, de não reconhecimento do indivíduo nas novas formas sociais que surgem, entre elas, a submissão à automação no trabalho, na economia, na cultura. As noções de eficiência e eficácia que instrumentam o planejamento de atividades de longo prazo e as decisões

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de grupos econômicos, políticos, sociais e midiáticos transformam o indivíduo em engrenagem, tal como Freud anteviu ao examinar os efeitos devastadores da Grande Guerra.

Entretanto, passamos pela II Guerra Mundial e, junto com ela, balizando-a, o engendramento de duas organizações políticas nacionais que se queriam utópicas, mas constituídas, desde o início por um modelo totalitário. Nestes regimes, o nazista alemão e o soviético russo-comunista, eficiência e eficácia serviram à perfeição ao propósito da destruição humana em massa.

Este horror não cessou. Mais ou menos controlado durante um período de 45 anos, aos poucos começa a ressurgir uma força destrutiva e uma grande alteração representacional. É muito difícil acreditar no progresso da racionalidade quando assistimos à fragmentação da comunidade mundial inundados pela força da imagem sem mediação simbólica.

Assistimos e vivenciamos a circunstância segundo a qual nós, indivíduos considerados o fim último da vida em sociedade, somos reduzidos a uma impotência patológica paradoxal: para nos reconhecermos e valorizarmos precisamos marcar nossos atos pela mesma eficiência e eficácia,- efeitos rápidos e espetaculares, (Herrmann, F. 2006).

Conforme a observação de Marion Minerbo, o inconsciente passa a operar a partir de uma lógica que promove um divórcio entre o ato e a finalidade que visava atingir. No mundo em que vivemos somos apanhados numa circularidade: imitamos a sociedade que é criada à nossa imagem e semelhança e, no mesmo ato somos impedidos, porque não nos individualizamos, somos identificados ao todo, confundidos com o mesmo (Minerbo,M, 2000; Ibid, 2007).

Para esta autora, esta nova forma de ser com a perda de substância social resulta de um esgarçamento das representações, relacionado à excessiva visibilidade do processo de fabricação do cotidiano pelos sistemas de produção de imagem. Inconsciente povoado de imagens sem a concomitante e necessária mediação simbólica, insta as representações a se refugiarem no ato (Minerbo, 2000).

A lógica emocional defensiva que se instaura na sociedade contemporânea, pós-moderna, é a lógica do ato puro, como no ensina Fabio Herrmann (1997), a qual opera transformando a representação em ato, uma vez desvinculado de suas finalidades, ganha autonomia e nada o impede de proliferar infinitamente até se voltar contra o sujeito da ação (Minerbo, M. 2007).

A este fenômeno, Fábio Herrmann denominou de regime do atentado constituído pela prevalência do ato puro sobre o pensamento racional. Ao invés de atos orientados a objetivos racionais, meditados e debatidos de antemão, atos impensados, cuja finalidade é produzir efeitos e mais meios, para maiores efeitos, numa tentativa de sobreviver à erosão do pensamento. Por efeito da propaganda, de sua força imagética, cresce a suspeita que o pensamento é tomado por uma disseminação microscópica de idéias que fogem ao controle do sujeito, não identificáveis por ele, e a concomitante reação de execução de atos não pensados que parecem romper com o controle e aparentar autonomia (Herrmann, F. 1997).

Temos falado em falta de mediação simbólica, atos impensados, produção de efeitos espetaculares em que a angústia é substituída pela ação de sobrevivência ao ataque ao pensamento.

E como se dá este ataque ao pensamento? Enquanto Freud concentrou-se na censura que leva ao inconsciente reprimido

revelado por meio de nuances de linguagem que disfarçavam fantasias e lembranças complexas, desvinculadas da consciência censuradora, outra forma de censura ganhou corpo, ou seja, a censura organizada contra o direito de ser do self, a censura opressiva. Trata-se da opressão do outro sobre o self ao invés da repressão resultante da auto-censura. É evidente que formas de opressão em maior ou menor grau são intrínsecas à vida. Nem vamos analisar este conceito tal como visto na filosofia, sociologia ou

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política. Interessa-nos a opressão como categoria psicanalítica. O que quer dizer “opressão” e “retorno do oprimido”?

Nesta análise tomo por base texto de Christopher Bollas: “Psicanálise na era da desorientação: do retorno do oprimido”. É um texto que me esclareceu muitas das questões que me deparo na clínica. Não farei uma longa distinção dos conceitos de ”reprimido” e “oprimido”, mas para início de conversa, direi que reprimido refere-se ao movimento de eliminar da consciência conteúdos mentais específicos, enquanto consideramos que o oprimido refere-se à suspensão ou à distorção do pensamento humano (Bollas, 2015, p.52). O efeito do oprimido está na alteração da capacidade mental de formar pensamentos. Degradam-se, lentamente, as formas de percepção, pensamento e comunicação. No inconsciente, o oprimido encontra-se na forma de vestígios de tentativa fracassada de criar algo no mundo das ideias, que pela opressão não prosperam. Da soma das experiências de fracasso, resulta uma rede mental do esmagado. O self é prejudicado, num estado de luto inconsciente, e num pesar que, se não for reconhecido, pode durar para sempre (opus cit, p 52).

Uma das características do método psicanalítico está em atenuar e levantar opressões através da liberdade de colocar em palavras o que está emudecido. Podemos dizer que, através da psicanálise, pretende-se que, das formas comprometidas de recepção, pensamento e comunicação surjam formas usuais utilizadas em nossas vidas (opus cit.).

Entretanto, de que formas usuais de vida dispomos? A vida tem sido organizada de tal forma que dispomos menos de experiências imediatas, aquelas vividas por nós mesmos, sem intermediários, como correr na rua, andar de bicicleta, ir e vir da escola, encontrar amigos e conversar, superadas por experiências e percepções indiretas geradas pela realidade digital e virtual. Somos preparados para nos conectarmos à Rede Rápida, que prioriza a velocidade à reflexão. Esta modalidade desconsidera o fato incontornável de que os conflitos inconscientes e o pensamento reflexivo são lentos. Nosso mundo interior é lento. Não acompanha a velocidade midiática. Para corresponder ao que nos é solicitado pelos estímulos virtuais, abafamos nossos conteúdos mentais e alteramos nossa capacidade de criar pensamentos. Ao invés de pensamento reflexivo, temos pensamento refrativo ou imperativos operacionais, como, por exemplo, a compulsão em atender ao celular; ou a urgência em receber mensagens e o imperativo de que algo vital nos foi enviado e não pode se perder; ou receber mensagens desabonadoras a respeito de alguém e, imediatamente, reenviar ao seu grupo; ou desesperar-se quando o celular não toca; ou desesperar-se mais ainda quando chamamos alguém e este alguém não atende.

Enfocamos aqui o sujeito como Freud o concebeu, de acordo com o que assinala Bollas, o sujeito do inconsciente como o local onde se assentam a percepção, a organização, a capacidade de escolha e a comunicação (nota 28, p. 64). Ou, em outros termos, “sujeito” é o processo de pensamento e expressão do self (p. 59).

Se tomarmos em sua radicalidade, a morte do “sujeito” eliminaria qualquer necessidade de suicídio efetivo, visto que nos tempos atuais há inúmeros meios para se eliminar a dor de ser um sujeito (p. 59)

Estamos falando de “sujeiticídio” que ocorre quando o self elimina a integridade de pensamento que amparava a ilusão do “Eu”. Ou por outra, o que acontece quando ser, relacionar-se e existir como “primeira pessoa” parece tão problemático, pergunta-se Bollas ( p.59 ). Como exemplo, temos o uso da expressão ‘a gente’ como substituto do sujeito da ação por um ente impreciso e coletivo; ou o uso do gerúndio como substituto de tempos verbais e ação verbal acabada e assim oferecer a experiência de uma ação sempre em movimento, em ‘moto continuum’, sem acabar.

Formas atuais de intervenções clínicas precisam incluir e refinar a internalização, contenção, metabolização ou contextualização dos problemas, ou seja, das experiências, o que implica em atravessar e enfrentar a ação dos meios de comunicação de estimular o “pensamento” refrativo e irradiar espetáculos de perigo em bilhões de objetos bizarros.

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Uma palavra a respeito do significado do título do artigo que serviu de estímulo para esta apresentação. A desorientação resulta da confluência de um mundo laico se ideais e sem significado vertical. Daí desorientar-se é um efeito, mas também, uma defesa à falta de referências significativas necessárias à sustentação de um “Eu”.

Gostaria de encerrar com um verso de Carlos Drumond de Andrade que capta à perfeição a natureza do método psicanalítico: Penetra surdamente no reino das palavras. Referências Bibliográficas

Bollas, C. (2015) Psicanálise na era da desorientação: do retorno do oprimido. In: Revista Brasileira de Psicanálise: São Paulo, 49, n.1.

Freud, S. (1915) Reflexões para os tempos de guerra e morte. In: Ed. Standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. XIV.

Herrmann, F. (1997) O mundo em que vivemos. In: Psicanálise do cotidiano. Porto Alegre: Artes Médicas.

Herrmann, F. (2006) Psicanálise e política: no mundo em que vivemos. In: Percurso: São Paulo, 36. Ano XVIII.

Minerbo, M. (2000) Estratégias de investigação em psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Minerbo, M. (2007) Reality game: violência contemporânea e desnaturação da linguagem. In: IDE: São Paulo 30(44), junho.

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Mesa Redonda

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A PSICANÁLISE NA SAÚDE MENTAL1 Maria Beatriz Zambon Montans (Psicóloga, Psicanalista – Membro Filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, membro do Núcleo de Estudos Psicanalíticos Mãe-Bebê-Família de Londrina, membro do Núcleo de Psicanálise do Norte do Paraná).

Na nossa cultura a utilização do termo “Saúde Mental” refere-se aos cuidados prestados a quem apresenta algum tipo de transtorno mental, necessitando de tratamento, mais especificamente no Serviço Público. No entanto, uma compreensão mais ampla do que se entende por Saúde Mental, nos leva a um importante aspecto da constituição do sujeito, suas possibilidades de elaborar as experiências emocionais com condições de lidar com a realidade externa.

Observamos com frequência, pacientes que buscam tais serviços, frequentemente sem esperança, vindos de famílias desorientadas e exaustas pela peregrinação em busca de quem possa, de fato, oferecer uma compreensão do que está se passando.

Ao mesmo tempo, o profissional de saúde, muitas vezes, se sente sem capacitação, mal tratado, mal remunerado pela saúde pública instalada no Brasil, o que com frequência gera apatia.

No período entre 2004 e 2015, vivi a experiência de organizar e coordenar um Serviço de Saúde Mental na cidade de Cornélio Procópio – PR. Toda minha formação profissional é baseada na psicanálise, e tendo já conhecido pessoas com experiência satisfatória na aplicação dos conceitos psicanalíticos em contextos não clínicos, decidi por fazer deste o meu referencial na criação, organização e funcionamento, junto com outros profissionais, do CAPS II2 de Cornélio Procópio e região. Esse é um serviço de atendimento a pacientes portadores de transtornos mentais e suas famílias. Neste serviço, no período em que estive na coordenação, o paciente passava por triagem, para avaliação do mesmo e indicação terapêutica, podendo frequentar o serviço até cinco vezes por semana, conforme a patologia, as condições da família e também do município para comparecer aos atendimentos, uma vez que, eram atendidos pacientes dos 21 municípios pertencentes à 18ª Regional de Saúde. A triagem poderia ser realizada por todos os técnicos da equipe, pois recebiam treinamento para realizá-la, e a partir daí encaminhados ao atendimento médico, psicológico, de assistente social; assim como, conforme a necessidade, participar de acompanhamento da enfermagem, atividade física com educador físico, horta, oficina de xadrez, artesanato, música, yoga, palestras de vários profissionais conforme interesse dos pacientes, terapia de grupo, atividades culturais e recreativas, além de receber alimentação3 durante o período que participavam das atividades.

Semanalmente, era realizada uma reunião de equipe4 em que eram discutidas situações específicas de alguns pacientes, e ainda situações grupais, dificuldades da equipe, assim como planos terapêuticos e planejamento das atividades a serem realizadas, com divisão de tarefas. Nesses momentos, eram trabalhadas também as angústias que muito frequentemente acometem a equipe, que trabalha o tempo todo

1 Trabalho apresentado na II JORNADA DO LEPPSI: A INSERÇÃO DA PSICANÁLISE NOS VÁRIOS CONTEXTOS, realizada em 03 de dezembro de 2015 na Universidade Estadual de Londrina, promovida pelo Departamento de Psicanálise da UEL. 2 CAPS II – Centro de Atenção Psicossocial – conforme determinação do Ministério da Saúde, é o tipo de CAPS para regiões com população entre 80 e 200 mil habitantes, com funcionamento apenas durante o dia, de segunda a sexta feira. 3 Os pacientes recebiam café da manhã no início da manhã, depois almoço, e ainda um lanche da tarde antes de irem embora para suas residências. 4 Equipe era composta por: Psicólogos, Médico Psiquiatra, Enfermeira, Assistente Social, Professora de Educação Física, Pedagogas, Professor de Música, Professor de Xadrez, estagiários de psicologia.

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com situações muito pesadas. Oportunamente, eram oferecidos textos, de orientação psicanalítica, para discussão em grupo de temas específicos às situações do cotidiano da instituição.

Marisa Mélega (1991)5 , em seu trabalho “Aplicações dos conceitos Psicanalíticos ao Trabalho em Contextos Não-Clínicos. Uma Nova Entidade Profissional?”, afirma que, “delimitar um campo de trabalho de Aplicações da Psicanálise é tarefa difícil. Reina uma certa confusão entre os que não transitam pelos dois campos: o da Psicanálise Clínica e o das Aplicações da Psicanálise. Pensar que fazer Aplicações da Psicanálise é transportar ipsis litteris o trabalho clínico interpretativo que se realiza com um paciente para os participantes de um grupo de trabalho numa instituição é realizar façanha que já tem nome: Psicanálise Selvagem”.

Ainda no trabalho referido acima, Marisa Mélega relata que Martha Harris6 acreditava que a psicanálise pode ser aplicada para aprofundar a compreensão das interações nos mais diversos trabalhos e aplicava essa compreensão durante os seminários que coordenava na Tavistock Clinic em Londres.

O Profissional de Saúde pode tranquilamente usar do referencial teórico da Psicanálise, que considera toda a história do sujeito, a dinâmica familiar, onde vive, as expectativas, enfim todo o contexto no qual nasceu, se desenvolveu e o que se encontra inserido atualmente.

Refletir sobre esses aspectos, não apenas com o paciente, como também com a família, pode contribuir significativamente para uma nova compreensão do que se passa nesse núcleo familiar, e ainda, como isso pode estar repercutindo no paciente em questão.

Há que se considerar que existe uma realidade interna a ser tratada. A Psicanálise pode oferecer a oportunidade de uma compreensão diferenciada, procurando entender o que pode simbolizar, significar cada situação, assim como, oferecer outro tipo de relação humana com esse paciente, não somente nos atendimentos individuais, como também nas atividades em grupo, nas situações de rotina diária que envolvem os Serviços de atendimento em Saúde Mental.

Em minha experiência pessoal, a oportunidade de ter realizado anteriormente o Curso de Observação da Relação Mãe-Bebê – Modelo Esther Bick (1990 – Mélega, Marisa P. – pag. 9), contribuiu significativamente para aprimorar o olhar e a escuta das relações pertinentes a essa relação, bem como da família onde estão inseridas. Este método consiste em observar a relação de um bebê recém-nascido com sua mãe, durante dois anos, no ambiente familiar, uma hora por semana, em horário combinado entre a mãe e o observador. O Observador Psicanalítico registra não só a realidade sensorial, mas também tenta apreender o clima emocional, a realidade psíquica da situação observada – usando para isto, sua percepção. Esta é uma experiência intensa, na qual o Observador Psicanalítico pode “sentir na pele” o impacto da experiência emocional.

A Observação da relação mãe-bebê, tal como foi levada adiante por Bick, e tive a oportunidade de conhecer, contribui de modo expressivo para a formação do analista; propicia ao Observador Psicanalítico, “um exercício de posturas que são desejáveis para o trabalho analítico, a saber: estar com o outro, escutá-lo, conter suas próprias emoções sem atuá-las, observar e observar-se, procurar compreender as ‘razões’ do outro, abstendo-se de críticas, julgamentos e conclusões apressadas”.

Essa postura é extremamente útil também no trabalho em Instituições, agregando uma qualidade impar nos atendimentos, o que pode muitas vezes ser confirmado pelo relato de pacientes que se surpreendiam com o tratamento recebido. Muitas vezes, chegavam desgastados pelos sucessivos ‘encaminhamentos’ a outros serviços; e, ao encontrar um profissional que lhes ofereça um olhar e uma escuta diferenciada, com disponibilidade de acolhimento; estranham! Já ouvi de paciente:

5 Marisa Pelella Mélega é Analista Didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, e fundadora do Centro de Estudos das Relações Mãe-Bebê –Família de São Paulo. 6 Psicanalista Inglesa que coordenou grupos de trabalho na Tavistock Clinic em Londres.

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“Tem alguém pagando pra mim?” “Tem certeza que volto na semana que vem?” “É sério?”.

Em entrevista sobre o “Trabalho em Instituições de Saúde Mental”(1991), Di Loreto7 deixa muito claro que “a ideia fundamental da comunidade terapêutica é a do ‘viver terapêutico’. Levar para a vida comum hospitalar os mesmos compromissos de relacionamento humano que habitualmente levamos à ‘sala psicoterápica’”

A possibilidade de receber uma escuta diferenciada, um olhar compreensivo, sem julgamentos (sem memória e sem desejo – Bion), pode servir de modelo para o paciente, que pode pensar sobre si. Falamos aqui de “atitudes mentais do profissional de saúde para abordar o objeto a ser conhecido”, que Marisa P. Mélega (1991, p. 21) chama de “Nova Entidade Profissional”; este profissional usa a técnica inspirada na Observação da Relação Mãe-Bebê – Modelo Esther Bick, acrescida da possibilidade de fazer um determinado tipo de intervenção. Caracteriza-se por:

1. As atitudes mentais necessárias para a observação como é entendida pela psicanálise são: receptividade, escuta, não usar julgamentos (memória e desejo), conter as próprias emoções sem atuá-las, enfim, colocar-se numa posição de quem não sabe e precisa observar e pensar para conhecer; muito diferente de colocar-se numa posição de autoridade, que sabe, entende e está lá para ensinar. (p.21)

2. Quanto ao modo de intervir, a Nova Entidade Profissional tenta aclarar condutas observadas durante o contato. Assim, se pegarmos como exemplo o trabalho do vínculo mãe-criança, as intervenções seriam dirigidas ao vínculo mãe-criança, focalizando impedimentos visíveis na conduta da mãe que estariam dificultando a comunicação das necessidades da criança. “A intervenção não é comparável à interpretação analítica, que busca tornar consciente o que é inconsciente. Ela será dirigida aos aspectos potencialmente sadios da personalidade” (p.21).

No período em que vivi essa experiência, pude constatar que “o comprometimento integral de afeto e esperança, sem perder a própria identidade e noção de realidade por parte dos profissionais da equipe, mantendo relações estáveis, participando genuinamente do viver dos pacientes; bem como, a oferta de um trabalho que privilegia o SER e o PENSAR podem servir como modelo de integração a ser internalizado pelos pacientes, assim como a relação mãe-bebê é referência ao novo ser em construção”8.

Encerro relatando a fala de uma paciente do CAPS II de Cornélio Procópio – PR; que deixa evidente que, é um trabalho possível e que traz resultados: “Aqui eu sou tratado feito gente!”. Referências Bibliográficas

Di Loreto, O. D. M. (1991). O trabalho em Instituições de Saúde Mental: Depoimento. M.P. Mélega (Ed.). Aplicações dos Conceitos Psicanalíticos ao Trabalho em Contextos Não-Clínicos (pp. 7-17). São Paulo: Centro de Estudos das Relações Mãe-Bebê-Família.

Mélega, M. P. (1990). Observação da Relação Mãe-Bebê na Família. Uma Metodologia para Ensino, Pesquisa e Psicoprofilaxia. In: Publicações – Centro de Estudos das Relações Mãe-Bebê-Família, Ano I – Volume I (Pag. 9–13).

Mélega, M. P. (1990). Metodologia da Observação da Relação Mãe-Bebê na Família. In: Publicações – Centro de Estudos das Relações Mãe-Bebê-Família, Ano I – Volume I (pag. 15-25).

7 Di Loreto, Oswaldo Dante Milton, foi Médico Psiquiatra, especializado em psiquiatria infantil na França, e um dos fundadores da psiquiatria Infantil no Brasil, e um dos fundadores da Comunidade Terapêutica Enfance – SP/SP. 8 MONTANS, M. B. Z. A possibilidade de um modelo de integração como caminho para a reinserção social. Trabalho apresentado no Congresso Internacional de Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial realizado em Porto Alegre/RS de 11 a 13 de junho de 2009.

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Mélega, M. P. (1991). Aplicações dos conceitos psicanalíticos ao trabalho em contextos não-clínicos. Uma Nova Entidade Profissional? M.P. Mélega (Ed.). Aplicações dos Conceitos Psicanalíticos ao Trabalho em Contextos Não-Clínicos (pp. 19-22). São Paulo: Centro de Estudos das Relações Mãe-Bebê-Família.

Mélega, M. P. & Sonzogno, M. C. (Orgs.) (2008). O Olhar e a escuta para compreender a primeira infância. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Montans, M. B. Z.; Montans, M. B. Z. A Possibilidade de um Modelo de Integração como Caminho para a Reinserção Social. Trabalho apresentado no Congresso Internacional de Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial realizado em Porto Alegre/RS de 11 a 13 de junho de 2009.

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A PRÁTICA DA PSICANÁLISE NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA

PROPOSTA CLÍNICO-POLÍTICA

Fernanda de Souza Borges* (Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Prática Clínico-Política. Clínica do Traumático. Assistência Social.

A assistência social constitui Política Pública destinada a promover o acesso a bens e serviços à grande parte da população que se encontra em situação de desproteção social, no que diz respeito ao acesso à alimentação, moradia, saneamento básico, saúde, educação, trabalho e renda. Assim, a Assistência Social constitui estratégia que visa à proteção social diante de situações que violam direitos básicos de cidadania, como o acesso aos elementos citados acima. A recente inserção da psicologia e da psicanálise nesse campo nos põe diante de um desafio de construir uma prática psicanalítica clínico-política, cujo campo teórico articula psicanálise, sociedade e política (Rosa, 2012). Encontramos, nessa prática sujeitos em estado de desamparo não somente de renda e condições básicas de cidadania, mas em intenso desamparo discursivo, caracterizado pela falta de estruturas discursivas que permitam a circulação da palavra, valores, ideais e tradições culturais (Scarparo & Poli, 2008). Quando se trata de pensar a psicanálise no interior de instituições, incorre-se geralmente em duas estratégias distintas e que ferem a prática assim proposta: o praticante de psicanálise ou transporta sua prática e técnica do consultório para a instituição, promovendo a manutenção de uma escuta clínica individual; ou se propõe a abrir mão dos pressupostos metapsicológicos e clínicos em prol de uma prática mais eclética e social. Freud, em 1919 nos aponta algumas direções sobre a prática da psicanálise com populações pobres e nas instituições. Reproduzo-o quase na íntegra, por julgar de interesse geral o modo como o pai da psicanálise põe a questão:

Agora, concluindo, tocarei de relance numa situação que pertence ao futuro - situação que parecerá fantástica a muitos dos senhores, e que, não obstante, julgo merece que estejamos com as mentes preparadas para abordá-la. Os senhores sabem que as nossas atividades terapêuticas não têm um alcance muito vasto (...). Ademais, as nossas necessidades de sobrevivência limitam o nosso trabalho às classes abastadas (...) é possível prever que, mais cedo ou mais tarde, a consciência da sociedade despertará, e lembrar-se-á de que o pobre tem exatamente tanto direito a uma assistência à sua mente, quando o tem, agora, à ajuda oferecida pela cirurgia, e de que as neuroses ameaçam a saúde pública não menos do que a tuberculose (...). Quando isto acontecer, haverá instituições ou clínicas de pacientes externos (...). Tais tratamentos serão gratuitos. Pode ser que passe um longo tempo antes que o Estado chegue a compreender como são urgentes esses deveres. As condições atuais podem retardar ainda mais esse evento. Provavelmente essas instituições iniciar-se-ão graças à caridade privada. Mais cedo ou mais tarde, contudo, chegaremos a isso. Defrontar-nos-emos, então, com a tarefa de adaptar a nossa técnica às novas condições. Não tenho dúvidas de que a validade das nossas hipóteses psicológicas causará boa impressão também sobre as pessoas pouco instruídas, mas precisaremos buscar as formas mais simples e mais facilmente inteligíveis de expressar as nossa doutrinas teóricas. (...) É muito provável, também, que a aplicação em larga escala da nossa terapia nos force a fundir o ouro puro da análise livre com o

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cobre da sugestão direta(...). No entanto, qualquer que seja a forma que essa psicoterapia para o povo possa assumir, quaisquer que sejam os elementos dos quais se componha, os seus ingredientes mais efetivos e mais importantes continuarão a ser, certamente, aqueles tomados à psicanálise estrita e não tendenciosa. (Freud, 1919/1996, p.181 [grifo nosso])

O que Freud nos aponta no trecho acima, é que independente das estratégias

que tenhamos que utilizar para o trabalho com essas populações, e isso implica em nos soltarmos das amarras da ortodoxia tão relacionada à prática da psicanálise, essas estratégias devem levam em conta a psicanálise estrita e não tendenciosa, ou seja, pura.

O que pretendemos desenvolver aqui é o pensamento que propõe uma psicanálise estrita e não exatamente aplicada, como se costuma chamá-la nesses contextos, mas implicada. Essa prática busca propor a escuta de sujeitos pertencentes a comunidades marcadas pela exclusão social e política, através do recurso a táticas clínicas que remetam ao movimento desejante no laço social e promovam modalidades de resistência aos jogos de poder e alienação ao qual esses sujeitos estão submetidos. Vem sendo discutida uma nova modalidade de prática psicanalítica, chamada clínico-política (Rosa, Berta, Carignato & Alencar, 2009), e se desdobra na proposta de uma clínica chamada clínica do traumático. Essa proposta defende a clínica psicanalítica como prática política e se propõe a escutar as vidas secas: pessoas em situação de miséria, em conflito com a lei, migrantes, experiências de violência doméstica, lutos impedidos, racismo, entre outros. Segundo Rosa (2012), a prática psicanalítica de clínico-política implica articulações em pelo menos dois âmbitos: do sujeito e junto às instituições e discursos sociais. Alguns autores têm levantado novas questões para a prática da psicanálise implicada, e que leva em conta os processos de desubjetivação, desidentificação, luto e violência aos quais esses sujeitos são submetidos quando no laço social ocupam um lugar à margem. Não somente à margem da cidade, mas à margem do discurso. Propõe-se que essa clínica não é uma clínica do sintoma, tal qual estamos habituados a praticar na escuta de nossos pacientes, cujo sintoma conta uma história e endereça um desejo, no contexto de exclusão social nos deparamos com sujeitos aquém dessas produções, marcados pela angústia e pelo silenciamento. Vale lembrar que a angústia é um afeto produzido e também tratado pelos discursos (Soler, 2012). O discurso do capitalista propõe uma modalidade de satisfação que exclui a falta como causa de desejo, promovendo modos de satisfação que foracluem o sujeito, desligando-o de suas produções psíquicas, lançando-nos, a todos, cada vez mais no caminho da alienação, seja ela a alienação estrutural da qual participa todo sujeito falante, seja a alienação aos discursos de poder hegemônicos.

A psicanálise pode comparecer com elementos para favorecer modos de resistência à instrumentalização social do gozo e à manipulação da vida e da morte no campo social” (Rosa, 2012, p.31). Isso pode e deve ser feito através de processos de circulação da palavra e historização. Aponta-se ainda que a prática nesse campo, nos coloca diante de “questões metodológicas (individuais e/ou coletivas), armadilhas (intervir em nome do bem do outro) e impasses quanto ao desejo do analista. (Rosa, Berta, Carignato & Alencar, 2009, p.504 ).

Afirma Rosa (2012) que “a prática clínico-política do lado do sujeito depara-se com a questão da angústia e do luto em sua face política, ou seja, a produção sócio-política da angústia e o impedimento dos processos subjetivos do luto” (p. 32). O luto é para Freud um processo gradual de desligamento da libido, que devido à manutenção do investimento no objeto perdido impede que o desejo possa percorrer outras vias que não aquela mesma do que se perdeu. Isso produz efeitos de paralisia do desejo, conforme analisado por mim em meu trabalho de mestrado (Borges, 2014).

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Além da produção da angústia e impedimento de processos de luto uma vez que para o atravessamento do luto é necessário fazer circular a palavra e desligar gradualmente a libido dos objetos ou ideais perdidos, a violência simbólica e material vivenciada por essas pessoas lança-lhes num estado de desamparo e paralisia traumática, uma vez que impede os processos metonímicos do desejo.

A ficção do sujeito, metáfora e nível sincrônico do discurso, alude ao ponto de basta que circunscreve, revela, veda a verdade do sujeito. Ambos são concomitantes e compõem a historicização do sujeito. As situações de violência favorecem dissociações nesse processo. De um lado, um movimento contínuo sem ponto de báscula, que pode resultar no desenraizamento do sujeito e uma errância sem fim; ou, do outro lado, a identidade cristalizada alienante que retira o sujeito de sua condição desejante. (Rosa, Carignato & Berta, 2006)

Do lado dos sujeitos assujeitados à lógica perversa do capital, encontramo-nos com experiências de perplexidade e desamparo extremas, diante daquilo que Rosa chamou “a violência obcena do Outro” (2012, p.33). Na prática vivenciamos o tamanho da obcenidade quando pessoas sem condição de trabalho tem benefícios negados pelo INSS, quando pessoas em degradação da saúde mental vão aos serviços de saúde mental e lá não podem ser ouvidas, apenas medicadas, quando ouvimos a difícil decisão de ter que se escolher entre o creme dental e o sabonete no supermercado. Um beneficiário me diz “eu sou uma res9”, retomando o termo coisa em latim.

A prática com esse público questiona sobremaneira o desejo do analista, diante do horror vivenciado nas inúmeras situações comentadas, o analista deve suportar a escuta. O desejo do analista deve permitir ao praticante “tratar o trauma provocado pela intervenção do Outro totalitário que pretende apagar todas as marcas da subjetividade e reduzir os homens a restos” (Rosa, 2012, p.33). O sujeito expropriado de tudo que lhe confere um lugar simbólico fica sendo res. Impossibilitado de fazer da res, sua causa, como causa de desejo porque o vazio no qual esses sujeitos se encontram, não é o vazio causa de desejo, é o vazio mortificante, o abismo. Encontro com o real sem mediação da palavra. Segundo Soler (2004):

O traumatismo se impõe em uma temporalidade de ruptura: o sujeito não tem nele a mínima parte, isso lhe cai em cima. É uma temporalidade do instante, mas de um instante que não se esquece facilmente, enquanto existem tantos instantes que evaporam no esquecimento a partir do qual se instala uma constância, como uma onda que se propaga rebelde ao apagamento. De alguma forma um instante que engendra algo, uma perpetuidade (p. 55). O trauma perpetua um instante, mas não permite sua articulação, lançando

esses sujeitos numa paralisia discursiva e desejante. Além disso, podemos identificar nos sujeitos que se confrontam com essa

dimensão do Outro uma perda do laço identificatório com o semelhante, um abalo narcísico que o lança à angústia e ao desamparo discursivo que desarticulam sua ficção fantasmática e promovem um sem-lugar no discurso, impossibilitando-os do contorno simbólico do sintoma e de construir uma demanda (Rosa, 2012).

O que está em jogo é a potência enlouquecedora do traumático, pois (...) o encontro com a mesmice sem mais deslocamentos nem metaforização desnuda a incoercível resistência do trauma à sua tramitação. (Rosa, 2012, p. 35).

9 Res em latim refere-se à coisa, com uma variedade de interpretações, mas aqui como resto, dejeto,

expropriado de sua condição de sujeito.

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À especificidade dessa clínica, chamou-se clínica do traumático, à diferença da clínica do sintoma. O trauma para a psicanálise refere-se ao inassimilável da experiência cuja melhor saída é a narrativa, a clínica do traumático deve operar com o inassimilável do instante traumático como primeiro modo de intervenção (Berta, 2012). Lembrando que a clínica do traumático não diz respeito apenas a esse tipo de situações, uma vez que o trauma está no fundamento da estrutura psíquica de todos.

Estratégias e direção do trabalho

A direção do trabalho psicanalítico tem sempre seu ponto de apoio numa aposta pela via da palavra. A Possibilidade de colocar a palavra para circular é a melhor chance de substituir ao gozo mortífero e paralisante uma via desejante no laço social. Segundo Rosa, Berta, Carignato e Alencar (2009) “O fenômeno social traumático deve ser inscrito e elaborado no nível coletivo (p.505), e as modalidades de intervenção nesses contextos são múltiplas e variadas, mas exigem a presença do analista que sustenta a presença da palavra. São intervenções possíveis dentro dessa perspectiva: atividades em grupo com temáticas variadas, oficinas, escutas singulares, articulações em rede, publicização dos conflitos nas instituições e na vida social, enfim, atividades que façam circular a palavra de modo coletivo (Rosa, 2012). A direção do trabalho aponta para a transformação das experiências traumáticas em experiências compartilhadas; romper com o silenciamento provocado pelo discurso ideológico, promovendo a possibilidade de propor um outro lugar discursivo para esses sujeitos; não responsabilizar os sujeitos naquilo que diz respeito aos jogos de poder próprios do discurso capitalista; separar a alienação ideológica da alienação que estrutura todo e qualquer sujeito do inconsciente; promover espaços de fala que possibilitem a elaboração do luto e a articulação do sofrimento em demanda; ações e confraternizações coletivas religiosas e pagãs, dentre outras. Assim, frisando o valor de tratar o fenômeno social traumático ao nível coletivo, ressaltamos o valor da palavra, não aquela palavra cristalizada, mas aquela que circula. Como diz nosso querido Manoel de Barros (1916/2013): “Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou” (p.43). Referências Bibliográficas

Barros, M. (2013). Livro sobre nada. Biblioteca Manoel de Barros [coleção]. São Paulo: Leya (Original publicado em 1916)

Borges, F.S. (2014). Estados depressivos neuróticos e suas relações com o desejo: um estudo psicanalítico. Dissertação de Mestrado não-publicada. Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Estadual de Maringá. Paraná, Maringá.

Freud, S. (1996). Linhas de Progresso na Tarapia Psicanalítica. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 17, Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1919).

Rosa, M.D., Berta, S.L., Carignato, T.T., Alencar, S. (2009). A condição errante do desejo: os imigrantes, migrantes, refugiados e a prática psicanalítica clínico-política. Ver. Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 12 (3), p. 497-511.

Rosa, M. D. (2012). Psicanálise Implicada: vicissitudes das práticas clínico-políticas. Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 42, p.29-40.

Scarparo, M.L.D-E., Poli, M.C. (2008). Psicanálise e Assistência Social – Uma escuta Psicanalítica. Revista Barbarói, 28, p.50-74.

Soler, C. (2004). Trauma e fantasia. Revista de Psicanálise, 9, p. 45-59.

Soler, C. (2012). Declinações da angústia. São Paulo: Escuta.

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A ESCRITA DE UM CASO CLÍNICO

Gabriela Finazzi de Carvalho (Psicanalista, Programa Além da Rua, Instituto Padre Haroldo, Campinas-SP, Brasil).

[email protected] Palavras-chave: Ética. Transferência. Desamparo.

Caso Sofia

A República é um serviço de acolhimento para jovens entre 18 e 21 anos em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados e que não possuam meios para auto sustentação. Tal serviço é particularmente indicado para o acolhimento de jovens em processo de desligamento de serviços de acolhimento para crianças e adolescentes por terem completado a maioridade, porém que ainda não tenham conquistado a autonomia, podendo também ser indicado a outros jovens que necessitem do serviço em caráter de emergência.

Sofia chegou até nós através do encaminhamento de um Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescente (Abrigo) da cidade que assiste jovens até 18 anos incompletos. Trouxe no seu relatório e na sua fala um histórico de negligência, violência física e psicológica por parte da avó materna, que foi quem ficou com sua tutela desde bebê. Foi abandonada pela mãe num porão ao nascer e ao ser encontrada e socorrida pela família materna foi levada a um hospital onde permaneceu internada por um ano pois havia contraído leptospirose, de acordo com seu próprio relato.

A avó materna assumiu os cuidados de Sofia. Quando a menina estava com cerca de 12 anos, não suportando mais morar com a avó devido aos maus tratos recebidos, resolveu procurar por sua mãe e passou a morar com a mesma, o padrasto e mais duas irmãs em outra cidade. Lá ficou por um ano. Sua mãe é uma mulher que fazia programas diariamente deixando as filhas e Sofia com o companheiro todas as noites. Este abusou sexualmente da enteada sistematicamente todos os dias.

Sofia retornou a casa de sua avó materna, que por sua vez continuou sistematicamente a violentar e a negligenciar a mesma por mais alguns anos. Aos 16 anos veio morar com seu pai e companheira em Campinas com quem acabou tendo um relacionamento bastante conflituoso. Sofia recorreu ao Conselho Tutelar e denunciou os maus tratos físicos e psicológicos que vinha sofrendo da parte da companheira do pai. Imediatamente foi encaminhada para um abrigo.

Sofia ficou por um ano acolhida no abrigo Lar Nossos Sonhos. Quando completou 18 anos foi encaminhada para a República sendo a segunda ingressante de um serviço recém inaugurado e co-financiado pela Prefeitura.

Além das marcas psíquicas trazidas, Sofia trazia marcas de cortes pelo corpo, trazia uma vida silenciada pela brutalidade da violência que nesses anos sofreu. Sofia sofria...

Meu contato com ela se deu de forma gradativa. Começou na especulação do quarto que habitava que mantinha sempre sujo, desarrumado, cheio de lixos de comida, um verdadeiro “porão”, passando pelo abandono que tinha com seu corpo, desde a alimentação, até os cuidados básicos como, por exemplo, não tomar banho por mais de um dia. Não cuidava da casa, deixando a outra moradora alterada com ela, ficando frequentemente exposta a suas agressões e também incitando essas agressões.

O estado de Sofia foi piorando dentro da República. Achamos seringas algumas vezes jogadas pela casa e a medida que fui me aproximando ela pode contar-me que as seringas faziam parte das suas tentativas de suicídio injetando ar nas veias. Procurei a Rede de Saúde para a tratarmos em parceria, fazendo contato com a psicóloga e psiquiatra. Ela foi ao atendimento uma vez e não voltou mais, o que nos obrigou a

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desligá-la do serviço e encaminhá-la a um abrigo adulto assistido, pois a República não sendo um serviço assistido 24hs a expunha a novos riscos.

Gostaria de fazer um recorte a propósito de dois encontros que tive com Sofia após seu desligamento: o primeiro fui visita-la após ter combinado com sua dupla, pois havia um pedido de Sofia. Disse que precisava conversar comigo. Cheguei até o Abrigo e fui barrada na porta por não estar avisado da minha ida. O abrigo estava sob a tutela dos monitores e sem ordens para visitas, que somente aconteceria na presença dos técnicos. Protocolos. Disse que já que eu não podia entrar, que então ela que saísse afinal ela era maior de idade e isso não poderiam barrar. Sofia me encontrou e fizemos brincadeiras com eu ter sido “barrada no baile” e sentamos na sarjeta em frente ao abrigo. Sofia contou-me de mais uma tentativa de suicídio que envolveu o SAMU, a UPA a policia militar. Neste caso ficou a procurar pela cidade estilete e ao passar o estilete no braço alguém na rua a viu, chamou a polícia e aquilo se traduziu para ela como “um caso de polícia”. O Policial diz: “Passa o estilete!” Sofia sentiu aquilo como se tivesse cometendo uma transgressão. Rimos! Disse a ela: Que bafo! Rimos novamente!

Enquanto continuamos nossa conversa na sarjeta estacionou ao lado de onde estávamos o Coordenador e os técnicos que acabavam de chegar de um evento. Antes mesmo que o carro parasse, ele colocou a cabeça para fora e perguntou para mim: “O que faz aí?” Respondi: “Tô na sarjeta”! “Não me deixaram entrar”... O coordenador do abrigo se desculpou várias vezes, tentou achar um culpado para tal feito. Não aliviei para ele. Disse que achei estranho ser barrada, mas que agora já estava conversando com a Sofia e em breve iria, pois já tínhamos conversado o que precisávamos.

O segundo encontro se deu perto do tempo de acabar sua estada no abrigo adulto assistido, a dupla social nos convocou para uma última reunião a pedido de Sofia, pois a mesma estava voltando para Santa Catarina para a casa de sua avó materna e queria se despedir da equipe da República.

A conversa começou de forma mais protocolar a propósito dos encaminhamentos feitos pelo Abrigo, o contato com a avó, e o seu PDU (Plano de Desenvolvimento do Usuário) e inclusive na forma que Sofia se apresentava perante as equipes. A equipe da República questionou-a se era isso mesmo que ela queria e se gostaria de falar alguma coisa. Sofia disse que naquele momento teria coisas que nós não entenderíamos. Prosseguimos na “ladainha” superficial da sua despedida. Antes de finalizarmos o encontro, Sofia pediu para ter uma conversa comigo por 20 minutos.

Acolhi de imediato sua proposta e descemos juntas. Assim que pisamos fora da República, ela me disse: “Então mano... preciso te contar uma coisa. Fiz aquilo de novo.” Demorou em eu entender do que afinal estava ela falando, mas assim que pude compreender, tive a mesma reação que tivera da última vez... Respondi: “Ah, você tá de brincadeira... que bafão!” E Sofia ria, e eu apesar de incomodada de mais uma vez rir de sua atuação, não me contive e disse: “Caramba! O que rolou dessa vez?”.

Sofia foi a um encontro de mulheres na igreja Bola de Neve, igreja essa que vinha frequentando desde o tempo que esteve na República, subiu na parte mais alta da igreja e ameaçou se jogar. Sua líder subiu muito rápido em sua direção, começou a conversar com ela tentando demovê-la de tal ação. Contou isso para mim e rimos e mais uma vez disse a ela: “Que bafão! Que mico!” Contou-me que o pior da estória não foi isso após esse dia sonhou quatro noites seguidas que se matava e não morria. Dava tiros certeiros e quando acordava, estava viva. (Falou tudo isso rindo o tempo todo)

Pensei novamente no meu incômodo de parecer não levar a sério o seu relato suicida e disse que ela não prestava nem para morrer. Depois de rirmos bastante, fiquei séria e disse: “Você não quer morrer! Mas precisa enfrentar seu fantasma! Fantasma já está morto! Só precisa ser enfrentado! Vá lá para Santa Catarina, local onde mora sua avó, enfrentar seu fantasma e vamos conversando!” Sofia abriu um sorriso e disse: “Eu precisava vir falar com você!”.

Desses pequenos recortes que fiz ocorreu-me falar de alguns aspectos que estão em jogo nesse caso. Por um lado, aquilo que insiste naquilo que desiste de Sofia. Por outro, a questão que toca o ponto de desistência ou de insistência dentro de um serviço.

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Se, por um lado, tem-se algo em Sofia que não cessa de se inscrever e que a faz insistir naquilo que faz desistência. Por outro, tem algo que precisa da desistência do serviço para poder operar de forma analítica. Desistir do protocolar, desistir muitas vezes de querer insistir em sistematizar o formato de atendimento e ter ali uma prontidão para ouvir, se interessar sem se horrorizar.

Ultrapassar a barreira da visita, ir com Sofia para a sarjeta, tirá-la da sarjeta, acatar o universo do seu linguajar, ousar nas brincadeiras são cenas recolhidas somente após a escrita do caso o que me fez pensar que talvez não fosse possível se eu não tivesse anteparada por uma equipe que faz sua aposta nessa prontidão.

Freud já deixa entrever uma relação da psicanálise com a ética quando sublinha o modo como o analista responde à demanda de um paciente. Ele diz que “o caminho que o analista deve seguir (...) é um caminho para o qual não existem modelos na vida real” (Freud, 1915/1996c, p. 183). Isso indica que ele não propõe um caminho único e necessário, mas algo que se descobre em cada caso. O analista sustenta sua resposta suspendendo o juízo moral diante da fala do analisando. Desse modo, pode-se entrar em cena o que conta como responsabilidade do próprio sujeito por suas paixões. Miller (1996) sugere que a técnica fundamental da psicanálise comporta essa suspensão. Diz ainda que “na psicanálise, uma interpretação é uma questão de ética” (Miller, 1996, p. 109). Referências Bibliográficas

POLI, M. C. (2005). Clínica da Exclusão e construção do fantasma e o sujeito adolescente. São Paulo: Casa do Psicólogo.

LACAN J. (1988). Livro VII: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor.

BISPO, F. S.; COUTO, L. F. S. (2011). Ética da Psicanálise e Modalidades de Gozo: considerações sobre o Seminário 7 e o Seminário 20 de Jacques Lacan. Estudos de Psicologia, 16(2), 121-129.

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Apresentações Orais

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PERDAS E DANOS: ASPECTOS CLÍNICOS DA DEPRESSÃO

Amanda Lays Monteiro Inácio*, (Graduanda, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis (Docente, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Autoestima. Depressão. Psicanálise.

RESUMO: A depressão em seus diversos quadros clínicos pode ser considerada como um distúrbio psicológico altamente prevalente da população mundial, adquirindo dessa forma uma crescente importância na prática psicanalítica. De acordo com Zimerman, o aumento significativo no número de pacientes deprimidos deve-se em grande parte à mudança no perfil das pessoas que buscam tratamento. Segundo o autor, em detrimento das relações competitivas atuais, surgem com maior frequência os sentimentos de fracasso pessoal e baixa autoestima, o que favorece o aparecimento dos quadros depressivos. Os estados de depressão à luz da psicanálise freudiana podem ser compreendidos a partir da melancolia. Para Freud, os traços mentais que distinguem a melancolia são um desânimo profundo, cessação de interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de atividades e diminuição na autoestima. Para o autor a perturbação da autoestima está ausente no luto, sendo no quadro clínico da melancolia, a insatisfação com o próprio ego a característica mais marcante. O presente estudo buscou demonstrar as implicações da baixa autoestima na perspectiva de vida, percebidas no discurso de um paciente adulto com sintomas característicos de depressão, que haviam já sido mencionados pela psiquiatra que o acompanha. Para tanto foi realizada análise dos relatórios de vinte sessões de psicoterapia realizadas na Clínica Escola do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. O paciente demonstrou sua baixa autoestima em quase todas as sessões ao mencionar emoções vivenciadas em suas relações pessoais diretas e indiretas, como família, amigos e principalmente emprego. Além disso, destaca-se o fato do paciente ter sofrido diversas perdas em um período curto de tempo, as quais parecem ter desencadeado e/ou fomentado a baixa autoestima apresentada atualmente. O desejo de ter a antiga vida de volta e o sofrimento causado por esses pensamentos possibilitou levantar a hipótese de ter havido certa paralização de desenvolvimento em dado momento do passado, motivada por perdas reais bem como fantasiadas, cujo luto ainda precisa ser elaborado. Nesse sentido, pode-se inferir também que a ênfase da psicoterapia seria a promoção de uma gradual e muito difícil renúncia às ilusórias e grandiosas aspirações, bem como auxiliar o paciente a entrar em contato com suas emoções. Acredita-se que o processo psicoterápico possa vir a promover uma melhora em sua autoestima, além de favorecer uma melhor adaptação às condições atuais da sua vida. Ao longo das sessões até o momento realizadas o paciente demonstra estar em processo de maior aproximação e tentativa de compreensão das suas emoções, valorizando de forma significativa o processo psicoterapêutico. Por fim faz-se relevante elucidar a importância da continuidade do acompanhamento psicoterápico e também esclarecer a notável importância de maiores estudos e evidências acerca da depressão e seus diversos quadros clínicos.

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DORES DO CRESCIMENTO: QUEM SOU EU? MENINO OU

MOCINHO?

Adriana Cristina Flausino* (Graduanda, departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis (Docente, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected] Palavras-chave: Adolescência. Infância. Lutos. RESUMO: A adolescência é uma fase de passagem da infância para a vida adulta na qual uma série de modificações biológicas, psicológicas e sociais acontecem. A adolescência se caracteriza por ser uma fase evolutiva na qual o indivíduo estabelece sua identidade adulta partir de internalizações e identificações ocorridas na infância, principalmente na relação com seus pais, mas também levando em conta as influências da sociedade em que vive. Para o estabelecimento da identidade adulta o adolescente tem que elaborar alguns lutos, tais como: luto pelo corpo infantil, devido às transformações corporais que acontecem a partir da puberdade; o luto pelo papel e identidade infantis, começa a acontecer uma confusão de papeis, uma vez que o adolescente não é uma criança e também ainda não é um adulto; luto pelos pais da infância, existe uma relação de dependência/independência dos filhos em relação aos pais e vice-versa. O objetivo deste trabalho é descrever e analisar a ambivalência de emoções e comportamentos vivenciada por um adolescente. Foi realizado o estudo de caso de um adolescente atendido em psicoterapia, na Clínica Psicológica da UEL, que vem apresentando problemas de relacionamento com os irmãos mais jovens. Ao longo das sessões pode-se observar ambivalência vivenciada pelo paciente que se comportava com uma criança, brincando com objetos típicos da infância e logo depois parecia um adolescente criando jogos estruturados e fazendo questionamentos sobre a sexualidade, sempre através das histórias de séries, filmes e novelas, de certa forma utilizando o espaço da psicoterapia como lugar para expressar suas angustias frente às alterações vivenciadas no seu corpo. Porém havia uma certa prevalência de formas infantis de expressar suas emoções. Algumas vezes, quando se expressava de forma mais madura, a terapeuta fazia uma interpretação e o paciente regredia, voltando a se expressar de forma infantilizada. Aparentemente preferia continuar vivendo de forma infantil, buscando manter-se numa condição na qual se sentia mais bem cuidado, não tinha responsabilidades e que era mais dependente dos adultos. Observa-se também uma dificuldade na elaboração do luto pelos pais da infância, que continuam sendo idealizados e supervalorizados. Percebe-se que tem utilizado a situação terapêutica como espaço para a compreensão das alterações físicas e emocionais contribuindo possivelmente para a elaboração do luto pelo corpo infantil. A adolescência, neste caso, tem sido vivenciada com uma fase de transição complexa, cujas angústias e temores tem dificultado a evolução afetivo-emocional denotando a necessidade de acolhimento e busca de compreensão a fim de possibilitar a elaboração dos lutos pela infância perdida e a continuidade do amadurecimento pessoal.

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A PSICOSSOMÁTICA NO CONTEXTO DE UM PSIQUISMO PARA

DOIS: O GRUPO DE PAIS COMO PROPOSTA

Amauri Pereira Cardoso Junior* (Bolsa de Iniciação Extensionista, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Sandra Aparecida Serra Zanetti (Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Entrevistas Iniciais. Psicossomática. Grupo Terapêutico de Mediação.

RESUMO: A psicossomática é um campo onde a clínica busca compreender a relação entre o psíquico e soma, e que diversos autores do âmbito psicanalítico contribuíram para a compreensão deste fenômeno, tais como Winnicot, McDougall e Marty. A fim de dar nossa contribuição neste campo, o presente trabalho busca apresentar um caso clínico de uma criança de quatro anos, portadora de Dermatite Atópica Grave Emocional, cujo pai encontra-se ausente desde os 1 ano e 2 meses de idade - decorrente de medida protetiva causada por tentativa de homicídio – morando a criança, após o ocorrido, com sua mãe, avós e irmãos. Os atendimentos estão inseridos no contexto de um projeto que visa oferecer a pais de crianças, encaminhadas para a Clínica Psicológica da UEL, o “Grupo Terapêutico de Mediação”. Dentre as atividades do projeto estão as entrevistas iniciais com os pais, o diagnóstico infantil e os atendimentos dos grupos de pais. A partir das entrevistas iniciais com a mãe e do processo diagnóstico com a criança foi possível perceber que a doença psicossomática da criança tem provável relação com uma relação simbiótica entre mãe e filho, decorrente de falhas nos processos elaborativos da mente desta mãe. Entendemos que esta mãe parece incapaz de elaborar o trauma decorrente da relação com o pai da criança e, então, é como se precisasse do auxílio deste filho em especial, para que sua mente pudesse dar conta do sofrimento. Trata-se aqui de um uso da criança como depositária de material psíquico do adulto, por meio do processo de identificação projetiva patológica. Podemos ainda pensar que a ausência da função paterna neste contexto foi um potencial agravante deste caso, uma vez que, no tocante ao complexo de Édipo é de fundamental importância que haja a introjeção do pai na díade mãe-filho para que este se diferencie como sujeito. Desta forma, pensa-se na proximidade da organização psicossomática com a problemática da psicose, diante da dificuldade de separação mãe-filho, de uma ausência de interdição paterna e, principalmente diante do que Winnicott sinaliza em relação a patologia psicossomática: aquela que parece procurar tecer um vínculo entre corpo e mente quando houve falhas no processo de integração e personalização, denunciando a fragilidade da estrutura do self e uma ameaça de desintegração. Portanto, com base nos resultados, seria fundamental que esta mãe fosse encaminhada para terapia individual, bem como seu filho. Contudo, no decorrer das entrevistas iniciais fica claro a indisponibilidade da mãe para tal. Assim, ressaltamos a importância deste projeto quanto a possibilidade do encaminhamento desta para o “Grupo Terapêutico de Mediação”, onde assuntos relacionados a parentalidade e a conjugalidade serão discutidos por meio de uma técnica de trabalho com imagens. Técnica esta que visa justamente favorecer os mecanismos elaborativos da mente, pois a imagem é condensadora de informações inconscientes que poderão emergir e serão trabalhadas em suporte no grupo.

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QUANDO A DEMANDA PELA TERAPIA PARA UMA CRIANÇA SE

MOSTRA DIFUSA: A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DAS

ENTREVISTAS INICIAIS

Ana Paula Cavalheiro* (Bolsa de Iniciação Extensionista, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Sandra Aparecida Serra Zanetti (Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Entrevistas Iniciais. Terapia Infantil. Grupo de Pais.

RESUMO: As entrevistas iniciais no contexto de uma demanda para atendimento infantil é um processo muito importante, tendo em vista que, baseando-se na psicanálise de casal e família, sabe-se que em muitos casos a demanda localizada na criança indica apenas que esta foi eleita como depositária das dificuldades parentais e/ou familiares. Assim, o presente trabalho pretende apresentar um caso clínico em que as entrevistas iniciais com os pais foi capaz de detectar que a demanda inicial de atendimento sobre o filho mais novo, no decorrer das entrevistas iniciais, foi se misturando com o histórico do filho mais velho. Os atendimentos estão inseridos no contexto de num projeto que busca oferecer a pais de crianças, encaminhadas para a Clínica Psicológica da UEL, o “Grupo Terapêutico de Mediação”, quando percebe-se que a demanda pela terapia infantil no fundo está relacionada a dificuldades na dinâmica da parentalidade e da conjugalidade. Dentre as atividades do projeto estão as entrevistas iniciais com os pais, o diagnóstico infantil e os atendimentos dos grupos de pais. No caso em questão, os pais chegam à clínica com a queixa voltada para apenas o filho mais novo, afirmando que este estava muito desobediente perante a mãe, pois esta precisava gritar com o filho para que este a obedecesse. Porém, durante as entrevistas com os pais foi notório o fato de que esta era a única queixa sobre o filho mais novo e em seu histórico de desenvolvimento nada se mostrou preocupante. Contudo, a escuta sensível da terapeuta foi capaz de perceber que ao falar do filho mais novo os pais automaticamente iam também falando do mais velho e este sim pareceu ter um histórico do desenvolvimento com complicações. Como exemplos, temos o fato de a mãe relatar ter tido depressão pós-parto, relatos de negligência quando ele tinha dois anos, o fato de ele ter usado mamadeira e fralda até os cinco anos, dentre outros. Disseram que à princípio acharam que era “frescura” dele, mas depois perceberam que realmente era um problema e o levaram à terapia. O processo das entrevistas iniciais mostrou, portanto, que a queixa trazida sobre o filho mais novo era ínfima comparada ao que contaram sobre o histórico do filho mais velho, e ainda foi possível notar uma demanda de atendimento por parte da mãe, que relatou sentir grande e constante sentimento de culpa por tudo, além de uma relação conjugal que não se mostrou satisfatória. Assim, consideramos que o principal resultado deste trabalho relaciona-se à um cuidado quanto ao encaminhamento, pois entendemos que provavelmente a demanda de atendimento para o filho mais novo relaciona-se com o fato de que foi eleito pelo grupo para denunciar uma dinâmica familiar patológica, e não que ele é quem precisa de terapia. Dessa forma, os pais serão encaminhados para o “Grupo Terapêutico de Mediação”, a mãe para terapia individual e, caso a queixa se mantenha, será avaliado se o caso é o encaminhamento para uma terapia familiar ou de casal.

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PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA DE CASAL: CARACTERÍSTICAS E

OBJETIVOS

Bruna Maria Schiavinatto* (Programa de Iniciação Extensionista, Fundação Araucária, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, se for o caso, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Psicanálise de Casal. Psicoterapia psicanalítica. Serviço-escola de Psicologia.

RESUMO: A psicoterapia psicanalítica de casal utiliza como pressupostos teóricos as propostas de psicanalistas de casal acerca da escolha amorosa, da manutenção do vínculo conjugal e da dinâmica do casal. No contexto da técnica, este tipo de intervenção considera fenômenos como a transferência e contratransferência, além de se atentar para manifestações do inconsciente agora não apenas individual, mas o inconsciente do casal no cenário da sessão. Neste sentido, ressalta-se que todas as comunicações são compreendidas como advindas do casal, que é visto como o paciente do processo terapêutico. Almeja-se com a intervenção, aprimorar a comunicação entre o casal, tornar conscientes aspectos inconscientes referentes à dinâmica conjugal e, com isso, minimizar o sofrimento psíquico porventura experienciado a partir desta relação. Ressalta-se que a manutenção do vínculo conjugal nem sempre se configura como um dos objetivos da psicoterapia psicanalítica de casal, reconhecendo que o conhecimento acerca dos motivos que levaram ao estabelecimento do vínculo pode levar, eventualmente, à dissolução da relação. A partir destas considerações, objetiva-se relatar um caso de psicoterapia psicanalítica de casal atendido em um serviço-escola de Psicologia de uma universidade pública por meio de um projeto de extensão. O caso compõe uma pesquisa sobre a pesquisa psicanalítica empreendida no contexto institucional, com os participantes tendo assinado o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. O casal foi atendido ao longo de aproximadamente 20 sessões. Trouxeram queixa inicial relativa ao relacionamento por eles estabelecido, com o atendimento sendo permeado por algumas atividades expressivas aplicadas com o intuito de facilitar a emergência de conteúdos inconscientes e a elaboração de aspectos emocionais. Foram aplicados o genograma, linha da vida e a técnica do Arte-Diagnóstico Familiar. Aspectos da história do casal foram retomados, além de questões relacionadas à forma com que se organizavam atualmente. Percebeu-se um quadro depressivo na esposa, tendo sido feita a indicação para a psicoterapia individual dela. Ao longo das sessões, o casal trabalhou escolhas feitas tal como a mudança para a cidade do marido e saída da esposa de sua cidade de origem. Conflitos foram suscitados e os investimentos individuais foram questionados. Percebeu-se que a psicoterapia realizada pode evidenciar aspectos não elaborados anteriormente, como possíveis traições, culminando na escolha pela separação e saída do processo terapêutico. Compreende-se que, apesar deste desfecho, realizou-se um processo terapêutico satisfatório, que propiciou uma reflexão mais ampla sobre a relação que pode reverberar em uma dissolução do vínculo conjugal mais amena e com menores conflitos, apontando para a pertinência deste tipo de intervenção.

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EFEITOS BENÉFICOS DAS ENTREVISTAS INICIAIS COM OS PAIS E

DO PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL

Carolina Araújo Tavares* (Bolsa de Iniciação Extensionista, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil). Sandra Aparecida Serra Zanetti (Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

Contato: [email protected]

Palavras-chave: Entrevistas Iniciais. Psicodiagnóstico Infantil. Melhora Terapêutica. RESUMO: As entrevistas iniciais com os pais e o processo diagnóstico com a criança no contexto do atendimento infantil são fundamentais para que se possa compreender em profundidade a demanda localizada numa criança. Isto principalmente porque, no contexto de um atendimento de base psicanalítica, pensa-se que muitas vezes o sintoma da criança revela o que há de patológico na dinâmica conjugal e, nestes casos, basta apenas encaminhar os pais. O presente trabalho tem por objetivo apresentar um caso clínico em que se foi possível perceber o quanto apenas o processo detalhado das entrevistas iniciais e do psicodiagnóstico infantil foram capazes de promover uma melhora terapêutica para os pais e para a criança, bem como possibilitar a emergência de conteúdos inconscientes e também a resolução de conflitos pré-existentes. O referido atendimento está inserido num projeto, que tem por intuito oferecer aos pais de crianças, encaminhadas para a Clínica Psicológica da UEL, o “Grupo Terapêutico de Mediação”. Dentre as atividades do projeto estão as entrevistas semidirigidas com os pais, a realização do psicodiagnóstico com a criança e também supervisões semanais, conduzidas pela coordenadora do mesmo. A partir deste processo, a ideia é investigar se os pais se beneficiariam do trabalho em grupo, que tem por objetivo o trabalho com dificuldades em torno da parentalidade e da conjugalidade. Contudo, o que foi possível observar durante o trabalho das entrevistas iniciais e do psicodiagnóstico com a criança é que esse processo detalhado das entrevistas (3 sessões iniciais com os pais, 3 sessões com a criança e a devolutiva aos pais), associado a uma escuta clínica sensível e à disponibilidade da terapeuta em possibilitar um ambiente acolhedor e promotor de mudanças, possibilitaram um clima de trabalho com diversos desdobramentos, referentes tanto ao sintoma da criança quanto ao histórico da família. Dentre estes desdobramentos, pode-se citar um sonho que a terapeuta teve relacionado à história da criança, em que esta foi capaz de captar a essência subjacente ao que estava sendo dito nos encontros com os pais, de forma a auxiliá-los a elaborar os conflitos inconscientes emergentes nas sessões. Outro aspecto decorrente do processo de atendimento está relacionado à própria criança, uma vez que esta passou a estar mais consciente de sua dinâmica inconsciente e parece que passou a se apropriar de seu sintoma de uma maneira benéfica para seu desenvolvimento psíquico. E ainda é importante ressaltar que este processo também desencadeou a resolução de conflitos conjugais já existentes. Sendo assim, como principal resultado deste trabalho temos um discurso modificado dos pais em relação ao modo de se relacionar com o sintoma da criança, tendo em vista que consideramos ser de fundamental importância o estabelecimento de uma relação saudável entre os pais e a criança, já que se compreende que o sintoma infantil neste caso é fruto de dificuldades nas relações familiares.

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A PSICANÁLISE NO HOSPITAL: O BRINCAR COMO MEDIADOR EM

INTERVENÇÕES NA ENFERMARIA PEDIÁTRICA

Carolina de Campos Mesquita* (Bolsista PROEX, graduanda no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Andréa Bianca Gonzalo (graduanda no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Gabriela Patuto Silva (graduanda no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Gisele Gonçalves Melles de Oliveira (Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Henrique Uva do Amaral (graduando no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); João Guilherme Trabuco Pincinato (graduando no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Jorge Luís Ferreira Abrão (Departamento de Psicologia Clínica, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Larissa Angelo Pereira (graduanda no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Letícia Faggian Giovannetti (graduanda no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil); Rafael Troca Nascimento (graduando no curso de psicologia, Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis-SP, Brasil).

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Palavras-chave: Psicanálise. Hospital. Brinquedoteca.

RESUMO: O brincar é uma expressão simbólica de conteúdos inconscientes que possibilita a criança elaborar experiências de angústia, medo, ansiedade e desejo. Nesse sentido, por meio do lúdico, pode-se compreender as fantasias e defesas vivenciadas por ela. Através de uma escuta qualificada, é possível realizar intervenções que atuem terapeuticamente, de modo a tentar minimizar seu sofrimento. O contexto hospitalar, via de regra, mobiliza sentimentos na criança, seja pelo adoecimento ou hospitalização, fazendo com que a intervenção psicológica torne-se oportuna para amenizar algum conflito interno decorrente da experiência e favorecer em sua recuperação. Com essa concepção, esse trabalho tem por objetivo apresentar o projeto de extensão universitário “O desenvolvimento de atividades interativas no brincar de crianças hospitalizadas: a brinquedoteca hospitalar”, desenvolvido, justamente, para tentar minimizar possíveis sofrimentos e fantasias da criança - por meio de atividades lúdicas interativas - consequentes do processo de internação. A proposta é realizada na Santa Casa de Misericórdia de Assis de segunda à sexta-feira, durante os períodos da manhã e da tarde, onde alunos do curso de psicologia do 4° e 5° ano, coordenados por dois docentes do mesmo curso, atuam em uma brinquedoteca instalada na enfermaria pediátrica do referido hospital. As intervenções psicológicas regulares, promovidas por intermédio desse espaço lúdico, trazem como resultados a compreensão de que um olhar qualificado sobre o brincar pode auxiliar na elaboração da experiência vivida pela

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criança no contexto hospitalar. A simbolização, possível por meio do lúdico, permite a organização e compreensão da realidade, estimula potencialidades, além de contribuir para a autonomia e adaptação à condição hospitalizada. Afinal, a brincadeira estimula o enfrentamento com o inesperado, e as frustrações, como a perda de controle e autonomia, ausência de rotina, e distanciamento escolar e familiar, mobilizados durante a internação. Ao amenizar suas angústias, possibilita-se, secundariamente, melhor adesão ao tratamento, na medida em que os procedimentos realizados com a criança são vivenciados de forma menos persecutória, o que propicia uma melhor apropriação dessa experiência, contribuindo para sua recuperação, de forma a promover um atendimento integral à saúde que vise harmonizar as condições físicas e emocionais da criança. Destaca-se como elemento inovador a adoção de um setting psicanalítico ampliado por meio de intervenções breves que contribuem para elaboração de angústias momentâneas oriundas desse contexto.

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A FOTOLINGUAGEM E A ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL NO CAPs

Débora Cristina Lotti*; graduanda de Psicologia nas Faculdades Adamantinenses Integradas – Adamantina/SP Brasil; Brenda Letícia Ferreira*; graduanda de Psicologia nas Faculdades Adamantinenses Integradas – Adamantina/SP Brasil; Cassiano Ricardo Rumin; Psicólogo (UNESP/Assis) – Supervisor de Estágio nas Faculdades Adamantinenses Integradas – Adamantina/SP Brasil.

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Palavras-chave: CAPS. Grupos. Fotolinguagem. RESUMO: A produção científica relativa aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) indica que a ação da equipe técnica é desarticulada dos princípios da Reforma Psiquiátrica; ocorre a descontinuidade dos serviços; há centralidade da atenção farmacológica e desarticulação da família dos cuidados. Frente à congruência destas questões e do contexto do CAPS de Adamantina (SP) foi realizado este estágio supervisionado em Psicologia Institucional. Este estágio teve o objetivo de oferecer atenção em saúde mental aos usuários do CAPS por meio da técnica denominadagrupo de fotolinguagem. O grupo de fotolinguagem proporciona estímulos a figuralidade e, além disso, envolve o indivíduo no que é denominado ‘o trabalho do grupo’ pela teoria kaesiana. O grupo foi composto por duas ‘moderadoras’ discentes de Psicologia e por alguns clientes do serviço do CAPS. Iniciou-se o grupo com apenas dois clientes em Abril de 2015. Por se tratar de um grupo aberto outros clientes passaram o compor o grupo. Este grupo tem início com a apresentação de uma pergunta. Em seguida os participantes devem respondê-la a partir de uma imagem escolhida. Esta imagem propicia uma ambiência que é facilitadora do processo de comunicação e pode ser ampliada pelos comentários dos participantes. Este efeito da técnica de fotolinguagem ocasiona a interdiscursividade. Assim, amplia-se a associação de ideias e contribui para a redução do achatamento subjetivo. Outro efeito é o desenvolvimento da figuralidade e a consequente ampliação da capacidade expressiva. Destaca-se que os afetos que não podem ser expressos em palavras podem ocasionar fenômenos psicossomáticos e postarem-se como mobilizadores ansiogênico. A continência afetiva também é observada e possibilitou que o grupo se estabelecesse como referência em momentos de crise. É possível que isto ocorra por conta do desenvolvimento de alianças inconscientes entre os membros do grupo. Estando exposto às comunicações do grupo, o indivíduo pode se envolver com afetos alheios ao seu próprio sofrimento mas que tenham articulação. As alianças inconscientes vinculariam os indivíduos e sustentaria a intersubjetividade. Concluiu-se que o grupo de fotolinguagemampliou a contratualidade dos participantes. A continência do grupo permitiu a elaboração dos afetos cindidos. Afiguralidade ampliada pode conter a passagem do afeto ao ato eos integrantes do grupo se estabelecem como uma referência comunitária.

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A CONTRATRANSFERÊNCIA COMO REVELADORA DO NÃO-DITO

FAMILIAR NO CONTEXTO DAS ENTREVISTAS INICIAIS

Felipe de Souza Barbeiro* (Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Sandra Aparecida Serra Zanetti (Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Entrevistas Iniciais. Contratransferência. Relação pais-filho.

RESUMO: A contratransferência, numa terapia de base psicanalítica, é um fenômeno que pode ser entendido como sentimentos que o terapeuta experiencia em relação ao paciente através da comunicação de seus inconscientes. Com o avanço da psicanálise, passou a ser compreendido como importante ferramenta para a compreensão da dinâmica psíquica do paciente, em função da comunicação inconsciente que ocorre, e pode ser decodificada quando a mente do terapeuta está disposta a realizar a elaboração psíquica deste material. Este trabalho objetiva apresentar um caso clínico que exemplifica como a contratransferência pode ser um recurso para a compreensão do caso a partir da ressonância da dinâmica inconsciente de uma família no terapeuta, num processo de entrevistas iniciais. A demanda pelo atendimento em questão era para uma criança com 7 anos e estava inserida no contexto dos atendimentos previstos em um projeto que busca oferecer a pais de crianças encaminhadas para a Clínica Psicológica da UEL, o “Grupo Terapêutico de Mediação”. Dentre as atividades do projeto estão previstas as entrevistas iniciais com os pais, o diagnóstico infantil e os atendimentos dos grupos de pais. Esses pais encaminharam seu filho ao atendimento com a queixa deste ser agressivo em casa e estar apresentando problemas escolares. A partir das entrevistas com os pais, pôde-se notar a dificuldade dos pais em se aprofundar no que era questionado, uma fala técnica, aparentemente decorada e a dificuldade deles terem se constituído como uma família em separado das famílias de origem, morando sempre na casa de um dos avós na presença de tios e sobrinhos. Além disso, observou-se uma dificuldade de exercício da função parental, com indicativos de relação incestuosa entre mãe e filho. Contudo, o interessante de perceber neste caso foi que esses dados soaram como meramente objetivos e o modo como foi possível captar a essência do que estava sendo, ou melhor, não sendo dito em sessões foi por meio da contratransferência na supervisora do caso e no terapeuta-estagiário: algo em torno do esquecimento e do vazio, ou do “branco”, os ultrapassou. Num primeiro momento a supervisora esqueceu-se completamente do caso diante do relato de uma nova sessão e, num segundo momento, o terapeuta esqueceu-se dos nomes dos pais e do filho quando estava prestes a telefonar para agendar novo atendimento. Tal fato pode indicar, por parte da família, questões secretas, esquecidas, não-ditos que inclusive transbordam num prenúncio de relação incestuosa entre mãe e filho. Assim compreendemos que a técnica parental que organiza essas relações denuncia uma dinâmica familiar inconsciente patológica. Diante de tudo, consideramos importante ressaltar a relevância deste detalhado processo das entrevistas iniciais, juntamente com decorrente análise deste caso por meio da contratransferência, que indicam a necessidade de encaminhamento para uma terapia familiar e não ao atendimento individual da criança, conforme demanda inicial.

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35 Universidade Estadual de Londrina

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA PSICOLÓGICA DA

UEL: UM CASO CLÍNICO

Felipe de Souza Barbeiro* (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected], [email protected]

Palavras-chave: Psicoterapia psicanalítica. Serviço-escola de Psicologia. Extensão

universitária.

RESUMO: A psicoterapia psicanalítica apresenta-se como uma modalidade de intervenção terapêutica advinda dos pressupostos teóricos da Psicanálise. Com isso, considera em sua prática os fenômenos da transferência e contratransferência, atentando-se para os aspectos inconscientes que se fazem presentes do atendimento clínico realizado. Alguns autores apontam que seus objetivos diferem daqueles de uma psicanálise propriamente dita, já que a última almejaria uma mudança mais estrutural de personalidade. Nem sempre o objetivo mais amplo proposto pela Psicanálise é alcançável, como nos casos dos atendimentos empreendidos em contextos institucionais, tais como os serviços-escola de Psicologia. São necessárias algumas adaptações no setting, especialmente quanto ao fato do atendimento não contar com a frequência semanal de sessões proposta pela Psicanálise ortodoxa e pelo terapeuta ser um estudante ainda em formação. A despeito disso, considera-se que a psicoterapia psicanalítica apresenta-se neste cenário como um recurso importante para o público em sofrimento psíquico que busca uma atenção psicológica. Objetiva-se, então, apresentar e discutir, a partir de uma visão psicanalítica, um caso clínico em atendimento na Clínica Psicológica da UEL. O paciente em questão chegou ao serviço com queixa de descontrole emocional e dificuldade em se relacionar. O caso ainda está em andamento, mas já apresenta características de uma psicoterapia com base psicanalítica, na qual conteúdos inconscientes se manifestam pela fala ou pelo não dito, como por meio de atos-falhos, com atenção para a relação transferencial estabelecida entre paciente e terapeuta. Observa-se uma vinculação do paciente à psicoterapia proposta e chama a atenção a necessidade da fala em psicoterapia como ferramenta para elaboração e, então, alívio psíquico. Ao longo das sessões são trabalhados, além de uma perspectiva inconsciente, não apenas sintomas, mas uma avaliação global de um sujeito inserido em um contexto social, com história e com desejos. Tal questão pode ser corroborada pelo fato de os assuntos demandados nas sessões serem diferentes da queixa apresentada na triagem. Suas falas concentram-se na relação parental e com o parceiro sexual, desde a infância até atualmente. No que se refere ao caso de modo geral, compreende-se que este contribui para a saúde mental do paciente, levando-o ao autoconhecimento como tranquilizante em relação à estrutura de sua personalidade, bem como beneficia a formação clínica do psicólogo por meio da psicoterapia.

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O PSICÓLOGO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM

ESTUDO BIBLIOGRÁFICO SOBRE A ESCUTA QUALIFICADA NA

ATUAÇÃO COM GRUPOS DE POPULAÇÃO JOVEM

Guilherme Vicente da Silva* (Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, Araraquara – São Paulo, Brasil; Psicólogo na Prefeitura Municipal de Registro-SP e psicólogo clínico).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Assistência Social. Psicanálise de Grupo. Psicologia Social. RESUMO: O presente trabalho é o resultado de um estudo teórico baseado em relatos de revisões bibliográficas e de experiências profissionais publicados em revistas brasileiras e de língua portuguesa, no período de 2008 a 2014, os quais tratam da questão da inserção do psicólogo na política de Assistência Social, do uso do dispositivo de grupos, da escuta qualificada e das contribuições da psicanálise à atuação profissional. O uso do dispositivo de grupo na política de Assistência Social se diferencia das intervenções realizadas em outros campos de atuação. Porém, ele também está estruturado a partir de elementos que são inconscientes e que se organizam enquanto fenômenos grupais. Objetivos: espera-se, com isso, averiguar o uso do dispositivo de grupo com população jovem na política de Assistência Social e o uso da escuta qualificada como condição indispensável a este tipo de atuação profissional. Metodologia: através da análise qualitativa do material pesquisado, buscará entender os significados por meio da interpretação das informações coletados, apontando um sentido para os conteúdos analisados e construídos socialmente. Resultados e discussões: a observância dos fenômenos inconscientes, deste modo, está atrelada às contribuições da psicanálise de grupo e à importância da escuta qualificada neste ambiente de atuação profissional. Entende-se que a atuação deva se pautar na construção de espaços abertos à expressão das dificuldades e na constituição de novos significados ao cotidiano de vida na comunidade. Neste sentido, a compreensão do grupo a partir da análise das relações transferenciais contribui para o esclarecimento das demandas subjetivas (não pronunciadas) e para a atribuição de novos sentidos aos anseios inicialmente constatados. Considerações finais: acredita-se que é relevante o psicólogo ter uma presença implicada através de uma atuação comprometida com a questão social, criando assim condições para que, através das discussões, o grupo possa fazer uma reflexão crítica e se posicionar de forma autônoma diante das buscas por resoluções dos problemas junto à comunidade. Para isso, torna-se necessário o acolhimento das demandas subjetivas a partir da indispensabilidade da escuta dos fenômenos inconscientes no grupo. Diante das considerações sobre a atuação profissional e da subjetividade produzida na realidade social, considera-se importante a produção de novos estudos que apontem caminhos e apresentem respostas à questão da atuação profissional junto às situações de vulnerabilidade social e do sofrimento em decorrência da pobreza.

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37 Universidade Estadual de Londrina

A CONJUGALIDADE HOMOAFETIVA EM UMA PERSPECTIVA

PSICANALÍTICA: UM ESTUDO DE CASO

Gustavo Chagas Oliveira (Programa de Iniciação Científica, Fundação Araucária, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected] Palavras-chave: Psicanálise de casal. Vínculo. Transmissão Psíquica. RESUMO: Transformações sociais e políticas, como o reconhecimento da união estável e do casamento civil de casais homoafetivos, tem permitido uma constituição conjugal mais flexível e igualitária. Surge, com isso, a necessidade de investigar as relações amorosas homoafetivas e propõe-se que esta investigação seja aqui empreendida a partir de um referencial teórico psicanalítico. Os aportes teóricos que embasaram a presente pesquisa foram as contribuições de autores como Janine Puget, Isidoro Berenstein e René Kaës para a Psicanálise de Casal e Família, com especial foco nos estudos acerca dos vínculos, bem como os tipos vinculares, os pactos e alianças psíquicas. Foram verificados também aspectos relativos às transmissões psíquicas implicadas nessas relações vinculares. Dessa maneira, o presente trabalho visa compreender o vínculo amoroso estabelecido há oito anos em um casal homoafetivo masculino (Bernardo, 27 e Ícaro, 29), por meio de uma abordagem qualitativa norteada pelo estudo de caso. Foi utilizada, para a coleta de dados, uma entrevista semi-estruturada, aplicada em conjunto com o casal. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Estadual de Londrina por meio do parecer de número 1.031.479, e os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Através da análise dos dados foi possível observar que o relacionamento vincular de Bernardo e Ícaro se inicia de maneira parecida ao dos pais de Bernardo, ambos desistiram dos relacionamentos anteriores para se inserir em outro de longa duração. Esse aspecto indica para a influência da transmissão psíquica geracional presente no vínculo amoroso desse casal, lembrando que ambos ainda se referem de maneira carinhosa aos vínculos conjugais dos pais que permanecem até os dias atuais. Adiante, é possível perceber que conflitos permearam os vínculos conjugais das famílias de origem, entretanto, a dinâmica conjugal de Bernardo e Ícaro não está permeada por conflitos intensos, pois o casal percebe que a presença do diálogo é fundamental na manutenção da conjugalidade. São observados os efeitos da transmissão psíquica transgeracional, que nesse caso permitiu que o casal elaborasse a história de conflitos na família e, por meio dos pactos e das alianças psíquicas inconscientes, criassem um modelo conjugal próprio. A respeito da estrutura vincular, percebe-se no início do relacionamento uma

estrutura vincular do tipo dual, como proposto por Puget e Berenstein, primando pela

idealização mútua do relacionamento. Entretanto, com o passar dos anos, hoje

conseguem pensar sobre a entrada de um terceiro elemento, caminhando para uma

estrutura de terceiridade, ainda muito precoce para ser diferenciada entre limitada ou

ampla. Espera-se que este tipo de pesquisa contribua para um maior entendimento

acerca dos relacionamentos homoafetivos, bem como favorecer a promoção de

procedimentos terapêuticos junto a essa população que vem ganhando mais notoriedade

devido ao reconhecimento de direitos.

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38 Universidade Estadual de Londrina

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA DE CASAL E FAMÍLIA: RECORTES

DE UM CASO

Isabella Conte Chiappetto Nunes* (Bolsista do Programa de Iniciação Extensionista – PROEX-UEL, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Psicanálise de Casal e Família. Recursos expressivos. Serviço-escola de Psicologia.

RESUMO: A psicoterapia psicanalítica de casal e família apresenta-se como uma prática em expansão na atualidade, com ampliação no número de publicações e eventos na área. Contudo, ainda se insere de forma incipiente no contexto da graduação em Psicologia, com poucas instituições de ensino superior (IES) que ofertam este tipo de intervenção na formação do futuro psicólogo e ao público que procura o serviço de atendimento destas IES. A Universidade Estadual de Londrina tem disponibilizado este tipo de atendimento na Clínica Psicológica desde o ano de 2012 e, ao longo deste tempo, observou-se um interesse tanto do público alvo, quanto dos estudantes. Apesar disso, trata-se de uma prática complexa e para ilustrar tal compreensão, escolhe-se apresentar dados de um caso cuja psicoterapia está em andamento na Clínica Psicológica da UEL. O caso é sobre uma família que recebe atendimento desde maio desse ano. A mãe foi quem procurou pela psicoterapia, vindo com os três filhos, sendo uma delas portadora de necessidades especiais. A princípio, a queixa trazida foi em relação à filha mais velha, que apresentava problemas típicos do período da adolescência. A partir de então, é interessante pensar sobre como se desenvolveu o enquadre terapêutico, já que os sintomas dessa família se mostraram maiores do que o que foi trazido inicialmente. Primeiramente a mãe vinha com os filhos, o que permitiu o entendimento da configuração familiar, até aparecer por parte deles o desejo de que o ex-marido/pai também viesse. Esse pai, quando convidado, aceitou participar do atendimento e, em sua presença, foram trabalhadas certas questões referentes à conjugalidade, às funções parentais e conteúdos particulares que influenciam na dinâmica familiar. Posteriormente, o pai decidiu deixar a terapia, o que configura uma nova perspectiva sobre a mesma. Nesse momento, surgiu a proposta de um trabalho focado na relação entre a mãe e a filha, além da necessidade dessa mãe ser encaminhada para a terapia individual. Sob essa perspectiva, as sessões passaram a acontecer com muito conteúdo a ser tratado, mas sempre sofrendo um impasse por parte da comunicação entre elas, que dificultava a reflexão sobre o que era discutido. Ao longo do processo terapêutico, surgiu uma nova reconfiguração do setting, pois pediram para que o filho do meio voltasse a participar. Entende-se que, em se tratando de psicoterapia familiar, é permitido que certos reajustes como esses sejam feitos. No entanto, o que se percebe nesse caso é como a família tem dificuldade de lidar com suas questões quando essas se aprofundam, o que faz com que eles se organizem de uma forma diferente e façam, assim, com que a terapia retroceda. Portanto, tem que ser analisado o papel dessas reconfigurações e, assim, refletir sobre de que forma elas interferem no andamento da psicoterapia. Esse movimento na estrutura familiar é simbólico e exige certo manejo do terapeuta, para que saiba conduzir adequadamente essas mudanças que acontecem, a fim de que isso não prejudique o trabalho das demandas dessa família. Nesse caso, percebe-se como a psicoterapia tem o papel de trabalhar as resistências presentes nas relações familiares, para que os membros possam ser despertados para participarem de fato da terapia.

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39 Universidade Estadual de Londrina

A QUESTÃO DA ESCOLHA PROFISSIONAL NA ADOLESCÊNCIA

Isabella Conte Chiappetto Nunes* (Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Londrina-PR, Brasil); Prof. Dra . Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida (autora e coordenadora do projeto -Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Flávia Gabriela Meserlian (Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Orientação Vocacional e Profissional. Adolescência. Acolhimento.

RESUMO: Entende-se que o período da adolescência é uma fase onde o indivíduo passa por mudanças significativas em diversos aspectos de sua vida, pois busca sua identidade e seu posicionamento no mundo que está inserido. A Universidade Estadual de Londrina disponibiliza atendimento na Clínica Psicológica para esses jovens através do projeto de extensão “Adolescência e a questão da escolha profissional: atendimentos em grupo e individual”. O objetivo é auxiliar quem está passando por esse processo de escolha profissional com a utilização da orientação vocacional. O público atendido é de estudantes de escolas públicas de Londrina e região. Através da modalidade clínica as sessões são conduzidas pelo método do grupo operativo, com encontros semanais que duram cerca de dois meses, com uma hora de duração por sessão. Nessas sessões são utilizadas entrevistas clínicas, aplicação de teste de aptidões, técnicas de dinâmicas de grupo, entre outros recursos que criam um espaço de apoio e acolhimento para os jovens ao estabelecer com eles um espaço temporal transicional. A importância do processo de orientação vocacional e profissional está na atenção que esse oferece ao período da adolescência, considerado uma fase vulnerável da vida, na qual o adolescente está exposto a situações de risco. Ele se encontra num sofrimento devido aos percalços da moratória psicossocial e a falta de elementos de holding sociocultural. No final do processo, o adolescente recebe uma devolutiva individual que trata sobre o seu desenvolvimento ao longo das sessões. Esse feedback permite um melhor esclarecimento sobre si mesmo e uma orientação adequada a respeito dos seus interesses profissionais. Para ilustrar essa experiência, duas alunas do 4º ano de Psicologia vinculadas ao projeto atenderam um grupo de cinco adolescentes que buscaram pela orientação vocacional e profissional. Com esse grupo foram feitas cinco

sessões, nas quais foram aplicadas técnicas de Bohoslavsky (1977/ 1996), assistiram vídeos sobre profissões seguidos de discussão e foi aplicado o teste de Avaliação de Interesses Profissionais (AIP). Junto com a devolutiva final, os adolescentes responderam a um questionário de avaliação do projeto, o que permitiu verificar que a avaliação tornou-se positiva. O grupo correspondeu as atividades realizadas aos resultados pensados, ao manejo das técnicas, bem como a teoria orientada psicanaliticamente , que permitiram uma análise integrada sobre os adolescentes, que os deixaram menos ansiosos e inseguros a respeito de suas futuras escolhas, pois receberam um suporte técnico e emocional , por meio do holding promovido pelo setting, que lhes serviram para orientar uma visão a respeito de si mesmo e suas definições profissionais, ressaltadas as suas idisossincrasias, a partir do seu próprio tempo.

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O SONHO DO TERAPEUTA ENQUANTO ELEMENTO DE

COMPREENSÃO DA DINÂMICA CONJUGAL E FAMILIAR

Isadora Nicastro Salvador* (Programa de Iniciação Extensionista - PROEX, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Sandra Aparecida Serra Zanetti (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Sonho do terapeuta. Psicanálise de Casal e Família. Clínica Psicológica da UEL.

RESUMO: O presente trabalho visa demonstrar como o sonho de um terapeuta é capaz de comportar elementos contratransferenciais importantes para se aprofundar na compreensão de uma dinâmica inconsciente de casal e família. Opta-se por ilustrar tal argumentação a partir de um caso clínico em atendimento em psicoterapia psicanalítica de casal e família, em um serviço-escola de Psicologia. Trata-se de um caso em que uma família reconstituída procura por atendimento diante de dificuldades e conflitos frequentes com os filhos. A mãe vem de outro casamento e já possuía dois filhos; o pai tinha tido um filho em um relacionamento casual e requisitou a guarda da criança ao perceber que a mãe estava negligenciando os cuidados com a criança. Este casal se forma e juntos tem mais uma menina, totalizando quatro filhos. No início da terapia vinham todos para as sessões, mas aos poucos foi-se percebendo que a maior demanda estava no relacionamento do casal e foi oferecido este novo enquadre. Contudo, o casal não conseguiu se organizar para vir às sessões sem a filha mais nova. As relações transferenciais e contratransferenciais sempre foram muito intensas entre a terapeuta e o casal neste caso. Em relação a isso, a terapeuta sonhou algumas vezes com a família. Entendemos o sonho neste contexto como fruto de elementos inconscientes que são comunicados durante as sessões e captados pela mente do terapeuta por meio da contratransferência. Neste trabalho, serão apresentados três sonhos que, quando analisados na sequência, produzem um significado sobre a dinâmica inconsciente do casal. Como resultado dessas análises foi possível perceber, por exemplo, que os pais biológicos desses filhos não foram capazes de tomá-los como filhos “legítimos”. Estas crianças sentem-se abandonadas e a aparente proteção que os pais biológicos fazem de seus filhos não implica em cuidados porque tem um forte cunho narcísico, pois os filhos apenas representam partes de si nas brigas, já que os pais estão mais preocupados em serem aceitos de forma incondicional pelo parceiro do que em de fato construir uma família. Assim, os filhos não são vistos como sujeitos e mesmo o fato de a filha menor ter que participar das sessões indica o quanto ela é tomada apenas enquanto elo de ligação entre os dois, porque este é muito frágil. Os sonhos também revelam que há um desejo da terapeuta de que a menina deixe de participar das sessões. Dessa maneira, mediante os sonhos, tal desejo se transforma em morte da mesma, no sentido de que a ausência dela em sessão indicaria o mesmo que a separação dos pais, já que este elo de ligação é premissa básica para que este casamento se mantenha. Desta forma, entendemos que os sonhos do terapeuta são elementos importantes que devem compor enquanto elemento de supervisão já que contemplam material precioso para se compreender a dinâmica do casal/família.

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ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR E A RELAÇÃO MÃE E FILHA:

UMA ILUSTRAÇÃO CLÍNICA

Isadora Nicastro Salvador* (Programa de Iniciação Extensionista - PROEX, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Sandra Aparecida Serra Zanetti (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Abuso sexual intrafamiliar. Psicanálise de casal e família. Serviço-escola de Psicologia.

RESUMO: A literatura sobre abuso sexual aponta que diversas são as consequências de ordem psíquica que este acontecimento traz para suas vítimas, especialmente no caso do abuso sexual intrafamiliar. Nas situações nas quais o abuso sexual é realizado pelo pai, padrasto ou figura similar, tem-se um deslocamento do papel de cuidador que deveria ser desempenhado pelo abusador, podendo intensificar ainda mais as sequelas emocionais. Nestes casos, o abuso sexual é habitualmente marcado por um pacto de silêncio e, quando este é rompido, a vítima pode se ver como culpada por possíveis sanções sofridas pelo abusador. Diante deste cenário, nota-se a importância da psicoterapia como forma de lidar com os agravos advindos desta vivência. Compreende-se, ademais, que a psicoterapia familiar pode se mostrar como uma importante opção, haja vista que a própria família se mostrou como o cenário no qual a violência ocorreu, não se configurando antes como um espaço de proteção de seus familiares. Por isto tudo, pode-se ponderar que a psicoterapia familiar, nos casos de abuso sexual intrafamiliar, apresenta-se como um processo necessário, mas complexo e permeado por resistências. Tendo em vista estas considerações, busca-se discutir um caso clínico de abuso sexual intrafamiliar no qual mãe e filha foram atendidas em psicoterapia psicanalítica familiar, com foco na influência do abuso para a relação mãe e filha. Primeiramente, a configuração do setting terapêutico se dava entre a mãe e os dois filhos, um do sexo masculino e outro do sexo feminino. Diante do andamento das sessões, entendeu-se que a demanda terapêutica era específica para a relação entre mãe e filha, e foi adotado este novo enquadre. Desta forma, na terceira sessão, a criança de onze anos relata que sofreu um abuso pelo pai há uns três anos atrás, e que este agora está preso por este motivo. Os sentimentos gerados na criança são de culpa por ter relatado o que aconteceu para a mãe e esta ter feito a denúncia, sendo que, por meio dela, resultou-se uma pena de dezesseis anos de regime fechado ao pai. Esta mãe, entretanto, parece não acreditar no caso relatado pela filha, e continua mantendo a relação conjugal com seu marido, mesmo este estando dentro do sistema prisional. Assim, os vínculos estabelecidos entre mãe e filha são prejudicados. A criança busca o tempo todo exaltar esta mãe, enchendo-a de elogios em suas ilustrações lúdicas, enquanto que a mãe coloca a filha como fonte do fracasso familiar. A filha busca uma fonte de apoio e firmeza na relação instável que é estabelecida com a mãe, o que gera ansiedade e confusão emocional nesta criança. Entendendo este infante como depositário de segredos transgeracionais de uma família baseada na violência doméstica e no conflito, a esta criança é designado o lugar de paciente identificado. Desta forma, o andamento das sessões clínicas visa o trabalho em relação à desconfiança entre os vínculos de mãe e filha, possibilitando as duas pensar sobre os efeitos do incesto.

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ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM GRUPO DE ADULTOS NA

CLÍNICA PSICOLÓGICA DA UEL

Jéssica Cardoso Roque* (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil). Prof. Dr. Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida (coordenadora e supervisora do projeto; Departamento de Psicologia e Psicanálise; Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR; Brasil); Yuriko Siu Takeda (discente de Graduação; Departamento de Psicologia e Psicanálise; Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR; Brasil).

contato: [email protected] Palavras-chave: Temporalidade. Escolha profissional. Atendimento em grupo.

RESUMO: O projeto de extensão e pesquisa “Adolescência e a questão da escolha profissional: atendimentos em grupo e individual na Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina”, cujo trabalho é realizado há mais de 20 anos na área de orientação vocacional e profissional na Clínica Psicológica na Universidade Estadual de Londrina, estuda a questão da temporalidade na escolha profissional em que muitos adolescentes se deparam, juntamente às pressões familiares e socioculturais que permeiam as suas vidas. As atividades que medeiam as intervenções no projeto,, visam atender e melhorar a qualidade de vida destes sujeitos, através da prevenção dos inúmeros problemas relacionados à sua identidade, resultando numa maior saúde mental. Na questão da identidade, é considerado que ao longo dos anos, indivíduos vão construindo novos caminhos, posto que a identidade profissional se consolida na faixa etária até os 40 anos. Sendo assim, as questões abordadas pelos adolescentes ainda influenciam a vida de adultos em busca de esclarecimentos e reflexões sobre o futuro e o devir. Percebe-se que, quando as questões da adolescência não são bem resolvidas, no período do processo maturacional, ligado à transição da dependência absoluta para a dependência relativa, estas ressurgem na vida adulta, pois em relação a temporalidade, há um descompasso com o tempo real. Este trabalho tem como objetivo mostrar as questões que os adultos também enfrentam e os conflitos relacionados a escolha profissional, frente aos desafios e papéis que desempenham no atual campo de trabalho, assim como suas inseguranças frente a mudança de carreira, por ainda considerarem inapropriadas a vivência dessas questões. Foram realizadas 6 sessões, com os adultos, na clínica psicológica, com a presença de dois participantes em diferentes fases da vida, um do gênero masculino com 25 anos e, outro do feminino com 36 anos. Ambos, frente as suas vicissitudes, apresentaram as mesmas dúvidas em relação à sua insatisfação frente à carreira e seus medos na re-escolha errada. O que os angustiava e, portanto, os faziam sofrer era diferenciar o que gostavam e que poderia ser um “hobby”, das suas aptidões, e como transformar isso em trabalho. Ao longo das sessões, foram utilizados algumas ferramentas de coaching, como a “Roda da Vida”, testes de personalidade como a “Baterias de Provas de Raciocínio” (BPR-5) e a Avaliação de Interesse Profissional (AIP), além de fazer uso das técnicas de dinâmica de grupo. Foi possível perceber o avanço dos integrantes em relação às incertezas e medos do começo das sessões, ao passo que aumentava também o vínculo do grupo, abrindo espaço para uma temporalidade espacial reflexiva, através do espaço temporal transicional proporcionado pelo setting. Nos finais das últimas duas sessões, os participantes, já com ideias prévias sobre futura carreira, foram reunidos com profissionais da área de interesse deles, para tirarem possíveis dúvidas e na última sessão, receberam uma devolutiva de todo o processo. Conclui-se que o objetivo inicial, que visava equacionar e encaminhar tal qual fossem as possibilidades de cada um, foi atingido, onde ambos os participantes decidiram focar em uma área de carreira, e investir tempo, aprendizado e desenvolvimento nesta, onde antes não havia uma opção

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de escolha, ou direcionamento. Ao final do processo, pode-se perceber as mudanças ocorridas nos participantes, em frente à subjetividade da decisão, e em suas vidas.

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ESTUDO DE CASO EM PRONTO-ATENDIMENTO PSICOLÓGICO:

SENHORA Y E O TERRITÓRIO

João Vitor de Freitas Gimenes* (Projeto de Extensão: Pronto-Atendimento na Clínica Psicológica da UEL. Departamento de Psicanálise, UEL, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Acolhimento. Psicologia Clínica. Pronto-Atendimento Psicológico. Serviço-Escola de Psicologia.

RESUMO: O projeto de Pronto Atendimento Psicológico desenvolve atendimentos psicológicos destinados à comunidade sem a necessidade de agendamento prévio junto à Clínica Psicológica da UEL. O objetivo desta intervenção é oferecer um espaço de acolhimento o mais próximo possível da demanda do indivíduo. Acontece diariamente no horário do almoço, entre às 12h00 e às 14h00, e na quarta-feira, o dia inteiro. Com isso, o presente trabalho tem por objetivo ilustrar este tipo de intervenção por meio da apresentação de um caso clínico, da Senhora Y, atendido no referido serviço. Busca-se pensar sobre o potencial interventivo do Plantão Psicológico no contexto da universidade e nos serviços públicos de saúde mental. Trata-se de uma prática nova que se constrói nos limites da clínica clássica, com diferenças e aproximações da triagem e do atendimento clínico. No caso em questão, de Senhora Y, trabalhamos com o conceito de Território, de Deleuze e Guatarri, propiciando um estimulante diálogo entre a filosofia e a clínica. O movimento do texto vai acompanhar a própria prática do pronto-atendimento. Primeiro, iremos apresentar a história, os conceitos e o modo do pronto-atendimento acontece. Segundo, haverá a apresentação do relato que consiste na descrição do atendimento em si, sobre a forma como foi conduzido e encaminhado. Em terceiro, como ocorre depois com a supervisão em grupo, houve o debate e as discussões sobre o caso, possibilitando uma ampliação da visão e de informações sobre outros encaminhamentos possíveis. Por meio da experiência realizada, pode-se refletir que, na dinâmica incessante e calculista dos espaços privados e na intensidade da demanda dos serviços públicos brasileiros, a escuta quase nunca é realizada com atenção. Uma escuta de acolhimento e encaminhamento é algo raro e exige treinamento, o que, por sua vez, só se estabelece pela prática. Por meio de conceitos, e principalmente do potencial da escuta, o plantonista oferece seu corpo como forma de problematizar conjuntamente as dificuldades e os possíveis encaminhamentos frente à determinada questão que se aponta como sintomática e insustentável. O Pronto Atendimento Psicológico é praticado, basicamente, como um modo de acolher e responder a demandas por ajuda psicológica da comunidade. Tornar-se plantonista é um exercício, uma vez que pensar junto e refletir as questões apresentadas pela própria pessoa exige cuidado e atenção. Assim, utilizamos o conceito de território em uma filosofia praticada para pensar na vida da senhora Y, como também pensar o território de ação do Pronto Atendimento. Por fim, indica-se que esta é uma potente prática que deveria ser mais amplamente ofertada nos serviços de saúde em geral.

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PSICANÁLISE NO CAMPO JURÍDICO: JUSTIÇA RESTAURATIVA

COMO ALTERNATIVA À PENA

Joselene Gerolamo (Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho/UNESP, Assis- SP, Brasil);* Deivis Perez (Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho/UNESP; Assis- SP, Brasil).

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Palavras-chave: Justiça Restaurativa. Psicanálise. Penitenciarismo.

RESUMO: Este trabalho apresenta o projeto Vidas Presas: exame de estratégias alternativas à pena de prisão, executado pelos discentes e docente do Programa de Educação Tutorial/PET Psicologia da UNESP-Assis. O projeto consistiu na realização de ações de ensino e extensão universitária e teve como objetivo primário aparelhar a comunidade discente da UNESP para a análise, em nível introdutório, dos fundamentos teórico-metodológicos da Justiça Restaurativa. Foi examinado o caso de psicólogos que atuam como mediadores comunitários de conflitos visando à construção de estratégias de reparação de danos e repactuação sociocomunitária. Os psicólogos-mediadores adotavam os referenciais teóricos da Psicanálise, notadamente aqueles acerca das temáticas sociedade, atividade linguageira como meio para a superação da paralisia da ação, enfrentamento da dor e, ainda, sobre a relação com o outro. Como objetivos secundários se buscou que os participantes fossem capazes de: a) identificar as tradicionais estratégias punitivas adotadas nas sociedades ocidentais, com ênfase para o exame da pena de prisão e do penitenciarismo; b) reconhecer o aparato conceitual e técnico-instrumental usado por psicólogos no trabalho em penitenciárias brasileiras, com destaque para a compreensão da laboralidade no sistema prisional paulista; c) estabelecer relações e apontar as diferenças entre o trabalho de psicólogos no sistema penitenciário e dos mediadores da Justiça Restaurativa. As estratégias educativas utilizadas foram: exame de textos acadêmicos; grupos de estudos e realização de palestras com pesquisadores especializados em história das prisões e do penitenciarismo, justiça restaurativa e direitos humanos, escolas de perdão e formação de mediadores. Este projeto teve como resultado quantitativo o atendimento de cento e dez graduandos e pós-graduandos da UNESP e de outras universidades. No tocante aos resultados qualitativos, é possível indicar que os participantes puderam construir saberes sobre as normas jurídicas e práticas punitivas empregadas em sociedades capitalistas, em especial sobre o encarceramento prioritário de segmentos empobrecidos da população. Ao final, o projeto ensejou a apropriação de conhecimentos sobre os fundamentos da Justiça Restaurativa, bem como dos métodos e mecanismos básicos de mediação de conflito, que incluem reconhecimento da vítima e ofensor, estabelecimento do ciclo restaurativo, as etapas da reparação da pessoa que experienciou um ato agressivo e a construção do pacto social envolvendo o binômio vítima-ofensor e comunidade.

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IMPORTÂNCIA DA SUPERVISÃO CLÍNICA PARA A MANUTENÇÃO

DE UM SETTING “SUFICIENTEMENTE BOM” NA PSICOTERAPIA

INFANTIL

Julia Archangelo Guimarães Hofïg* (Graduada pela Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Sandra Aparecida Serra Zanetti (Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

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Palavras-chave: Supervisão. Serviço-Escola. Relação Pais-Filho. RESUMO: A supervisão clínica compõe a grade de atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes de Psicologia em formação. Esta atividade se caracteriza pela possibilidade de integração da teoria e prática psicanalítica, dando espaço para um profissional qualificado guiar um profissional em potencial, a partir de uma experiência clínica supervisionada. O objetivo principal da supervisão seria o de construir e refinar competências do terapeuta em formação, capacitando-o, em primeira instância, a conduzir uma sessão psicanalítica sozinho. Desta forma, a supervisão permite que o supervisionando adquira as habilidades necessárias para compreender e conduzir um processo analítico. No entanto, a literatura aponta que este tema ainda é pouco estudado no que diz respeito a sistematização das condutas do supervisor frente aos anseios e dificuldades de seus supervisionandos. Assim, o presente trabalho pretende apresentar uma pesquisa que teve por objetivo investigar de que forma a supervisão de um caso clínico pode influenciar na manutenção da capacidade de continência psíquica do terapeuta. Partimos da ideia de que a conduta do supervisor pode contribuir para que o psicoterapeuta-estudante possa realizar uma função continente, tornando este promotor de um “ambiente suficientemente bom” no setting terapêutico e capaz de contribuir para o desenvolvimento do processo de psicoterapia. Para tanto, foram analisados os relatos de 20 sessões de uma criança de 5 anos em atendimento em um serviço de clínica-escola e os relatos das supervisões subsequentes destes atendimentos. Semanalmente, estes relatos foram construídos na sequência da ocorrência dos atendimentos e das supervisões, de forma a retratar, da maneira mais fidedigna possível, o que transcorreu na mesma. Nestes escritos foram relatados, além das atividades e intervenções realizadas, sensações, sentimentos, pensamento, e emoções evocados nos dois âmbitos, ou seja, afetos e representações. Como resultado, o que se pôde perceber ao longo das análises dos relatos e de suas subsequentes supervisões foi que o espaço de supervisão possibilitou à terapeuta compreender diversos movimentos e atitudes da criança, e principalmente acolher os momentos de desesperança e angústia da terapeuta diante do caso, o que a liberava para retornar à sua posição de acolhimento incondicional, propiciando a sustentação de um “ambiente suficientemente bom” na terapia. Assim, consideramos que a compreensão dos fenômenos intersubjetivos entre paciente e terapeuta promovidos pela supervisão facilitaram e sustentaram o manejo e a continência psíquica adequada e necessária ao caso e, conjecturamos, que todo o resultado obtido no processo terapêutico se deveu a isso.

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A ESCUTA PSICANALÍTICA NO PRONTO ATENDIMENTO

PSICOLÓGICO

Kawane Chudis Victrio*; Caroline Moreno Pirani; Gabriela Iamara Lupianhe Pereira; João Vitor de Freitas Gimenes; Maisa Mie Murata; Maria Antônia di Palma X. Aguiar; Michele Munhoz Guarnieri; Patrícia Sayuri Simoni Nakano; Rafaela Grumadas Machado. (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maíra Bonafé Sei (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil);

contato: [email protected]

Palavras-chave: Plantão Psicológico. Vertente Psicanalítica. Escuta Analítica. RESUMO: O serviço de Plantão Psicológico foi inaugurado no Brasil no início dos anos 60 por Rachel Rosemberg que implantou este tipo de atendimento no Serviço de Aconselhamento Psicológico (SAP) do Instituto de Psicologia da USP (Ipusp), tendo a Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers como referencial. Foi implantado na Clínica Psicológica da UEL no ano de 2015, por meio de um projeto de extensão, com intervenções realizadas por estudantes de 4° e 5° ano de Psicologia. Apresenta-se como uma modalidade de atendimento de tipo emergencial, que almeja acolher a pessoa no momento mais próximo de sua necessidade, auxiliando-a a manejar seus recursos e limites. Tal serviço não necessita de agendamento e é destinado àqueles que a ele recorrem de maneira espontânea, em busca de auxílio para questões de caráter emocional. Nota-se a partir de consulta à literatura científica brasileira que o Plantão Psicológico é abordado mais intensamente pela perspectiva humanista e, assim, o objetivo deste trabalho é discutir qual seria o olhar para este tipo de serviço a partir de uma vertente psicanalítica. A Psicanálise é um método de investigação dos processos mentais inconscientes, proposto por Freud. Na clínica, tal investigação se dá por meio da combinação entre as associações livres do paciente e da atenção flutuante do analista. Em um encontro analítico a escuta destaca-se como uma questão fundamental. Tal escuta é uma técnica que pressupõe a atenção daquele que escuta as manifestações do inconsciente, que se apresentam no decorrer da fala do sujeito. O escutar implica na abstinência do analista e está associado ao desejo de compreender o outro, de onde e como ele fala. Geralmente, o que se escuta são coisas cujo significado só é discernido posteriormente. Ao escutar, o analista deve voltar o seu inconsciente em direção ao inconsciente do paciente, deve se atentar as palavras ditas e silenciadas, tendo em vista que há algo além do que foi dito para ser escutado. Freud, ao discorrer acerca do conceito de inconsciente, aponta que o sujeito, quando fala, diz algo além de sua finalidade consciente de comunicar algo. Aponta ainda que, o inconsciente se comunica por meio de sonhos, sintomas, atos falhos, chistes e lapsos, que no processo da fala a lógica do inconsciente é contida em favor de uma outra lógica e que para compreender as produções do inconsciente a palavra tem que ser concedida ao paciente. Num serviço de Plantão Psicológico, visto a partir de uma vertente psicanalítica, acredita-se que o analista se depare com a escuta do inesperado, com a escuta do inconsciente que, no centro da repetição, insiste para que seja escutado. Espera-se que ao mesmo tempo em que é escutado pelo analista o próprio sujeito que fala se escute e que esta escuta possa, de alguma forma, contribuir para que o sujeito se reposicione ou ressignifique o motivo que o fez procurar o Plantão Psicológico.

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VIOLÊNCIA E CUIDADO FAMILIAR, AMALGAMADOS EM

TENTATIVAS DE SUICÍDIO E HOMICÍDIO

Letícia Scholl da Silva* (Graduanda do curso de Psicologia das Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI, Adamantina-SP), estagiária curricular de Psicologia Institucional/Social no Núcleo de Psicologia da FAI-SP). Ana Vitória Salimon Carlos dos Santos (Mestre em Psicologia (UNESP/ASSIS), psicóloga (UEL). Professora, supervisora de estágio e coordenadora do Núcleo de Psicologia da FAI-SP, especialista em Psicologia Clínica e Psicologia Jurídica pelo Conselho Federal de Psicologia –CFP e em Psicopedagogia pela AEPREV).

contato: [email protected] Palavras-chave: Suicídio. Violência. Winnicott. RESUMO: Este trabalho apresenta a análise parcial de um caso atendido em uma Clínica-Escola de Psicologia através de estágio supervisionado em Psicologia Institucional/Social. A proposição é a de realização de atendimentos na vertente clínico-social, com foco tanto no paciente identificado quanto sua família, integrados a uma rede de proteção social. O projeto da Clínica-escola encontra-se vinculado à rede “Promover Vida: ações de prevenção ao suicídio e outras violências” que articula vários órgãos, profissionais e comunidade em prol da prevenção do suicídio e/outras violências e suporte em situações de luto. A demanda para os atendimentos ocorre de modo espontâneo ou por encaminhamentos diversos, especialmente de outros órgãos da saúde. O objetivo deste trabalho é analisar parcialmente a situação de um adolescente que apresenta comportamentos violentos, colocando vidas em risco, e que também apresenta comportamentos para-suicidas, com ameaças suicidas. A metodologia utilizada foi o estudo de caso, a luz da Psicanálise winnicottiana. Foram realizados dez encontros semanais com o adolescente e cinco com mãe para orientações e reflexões, bem como são feitos contatos com a rede de proteção social. Jorge (nome fictício), 15 anos, foi encaminhado à Clínica-escola de Psicologia pelo Conselho Tutelar por agressões sérias a um irmão, com risco de morte, além de outras questões mais crônicas como evasão escolar, há dois anos, e dificuldade para estabelecer convívio social e educacional. Através das entrevistas identificou-se a presença maciça de violências na história do mesmo e da família, com ocorrências de abortos, estupro, tentativas de suicídio e agressões físicas. Nos atendimentos Jorge apresenta dificuldades na relação terapêutica e esta se estabelece, ainda que fragilmente, especialmente através de desenhos. Jorge percebe sua impulsividade, sua oscilação entre desejos de destruir ou de se autodestruir, e propõe sua autodestruição como solução. Rejeita-se a si mesmo, entende-se como mau. Oscila pelo desejo de viver, aceitando voltar a praticar esportes, voltar a se alimentar, e ir a atendimentos médicos e psiquiátricos. Sua mãe informa ter sofrido depressão pós-parto e adoecimento psíquico consequente às agressões sofridas do marido, do qual se separou em sua gestação. Apresenta histórico de tentativas de suicídio como forma de interrupção do ciclo de violências. Oscila entre identificar paciente com o pai, pela agressividade e impulsividade, e cuidá-lo como objeto de amor, tendo predominado a segunda representação, quando supera dificuldades próprias para cuidar do filho, o qual começa a apresentar quadro de anorexia. Avalia-se que mãe e filho ainda são dois em um, como uma relação inicial do bebê com sua mãe; banhados de intenso sofrimento e ambivalência afetiva. Denotam-se falhas graves no estabelecimento de um ambiente facilitador e acolhedor, ou seja, estabelece-se um ambiente insuficiente a prover-lhe sustentação para seu amadurecimento, sendo frequente a presença de ideações suicidas e adoecimentos crônicos. A cada tentativa de estabelecimento de vínculo com a terapeuta, o adolescente está tentando ligar-se a vida. Compreende-se que o atendimento psicoterápico deve auxiliar em sua integração psíquica, rumo a possível

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independência. Dada à complexidade do caso, o trabalho em rede é fundamental, trabalhando inclusive a possibilidade de promover a continência da mãe e da família para sustentar-se e sustentá-lo, promovendo novas formas de acolhimento.

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REFLEXÕES ACERCA DA INTERSECÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E

MASOQUISMO FEMININO: AS VICISSITUDES DO DESAMPARO

Letícia Scholl da Silva* (Estagiária, Núcleo de Psicologia das Faculdades Adamantinenses Integradas, Adamantina-SP, Brasil); Magda Arlete Vieira Cardozo (Supervisora, Núcleo de Psicologia das Faculdades Adamantinenses Integradas, Adamantina-SP, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Masoquismo. Violência. Família. RESUMO: Este trabalho aborda a experiência do Estágio Supervisionado em Psicologia Clínica, realizada em uma Clínica-Escola de Psicologia, discutida por meio de fragmentos do caso clínico em andamento, de uma paciente atendida pela estagiária supracitada desde março deste ano, que apresenta uma formação de sintomas predominantemente masoquista. Nestes termos, objetiva-se refletir acerca das contribuições das teorias psicanalíticas na compreensão do caso clínico. Trata-se de uma mulher de 46 anos, casada há 25 anos, tendo um filho de 19 anos, cuja queixa são maus tratos e traições do marido. Relata história de agressões sofridas desde a infância pela mãe e irmãos. Seus pais se separaram quando era pequena, mencionando a rejeição destes e o aliciamento de namorados da mãe. Ao se casar, menciona que continuou sua história de agressões, agora com o marido, sendo estas físicas e psicológicas, bem como agressões verbais praticadas pelo filho. Observa-se na dinâmica familiar um discurso de desqualificação feminina, sendo a paciente sempre colocada na posição de desmerecimento e inutilidade, configurando uma trama de agressividade, desrespeito e virulência desmedida. Seu discurso se pauta na vontade de desligar-se desta família, mas, na sua impossibilidade de concretizar esta ação, sendo mais possível pensar em sua morte, com idealizações suicidas, do que em uma separação. Em se tratando da manifestação sintomática masoquista, considera-se que os maus tratos na infância contribuíram para este modo de subjetivação psicopatológica na vida adulta, desencadeando um sofrimento psíquico, onde vivencia a necessidade de punição. No arcabouço psicanalítico recorreu-se à noção de desamparo para pensar o masoquismo feminino. No caso, a figura materna relaciona-se diretamente à vivência do desamparo, em especial quando apresenta relações amorosas destrutivas com parceiros que, por vezes, tornam-se agressores, pondo em destaque ao que Freud denominou de masoquismo feminino. Diante da possibilidade do abandono do objeto amoroso é produzido intenso sofrimento psíquico que remete a mulher à revivescência do sentimento primitivo do desamparo, do mesmo modo que a impede de romper com os agressores. Assim, compreende-se que a paciente foi tão negligenciada na infância, sendo a única coisa que recebera “agressões”, que isto é o que instiga o outro a lhe dar, delineando assim, o papel familiar, satisfazendo um sentimento inconsciente de culpa, que se repete na relação com o marido, idealizando que no casamento vai encontrar a solução de sua vida, como se, submetendo-se ao outro, buscasse uma forma de não sentir a dor do desamparo. Além disso, esta submissão vem acompanhada do prazer na dor física e/ou psíquica, representada pelos socos, humilhações e negligências. Por fim, os atendimentos tem possibilitado à paciente a conscientização de suas ações e a amenização da culpa devastadora que sentia e promovia ainda mais dor do que a própria dinâmica familiar.

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ESTUDO DE CASO SOBRE O USO DA ESCALA DIAGNÓSTICA

ADAPTATIVA OPERACIONALIZADA – EDAO

Silvia Nogueira Cordeiro (Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil). Flávia Angelo Verceze* (Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Lorrayne Caroline Garcia Silva* (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]; [email protected]

Palavras-chave: Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher. Escala de Diagnóstico Adaptativa Operacionalizada. Estudo de caso. RESUMO: A Unidade Básica de Saúde (UBS) do Novo Bandeirantes do município de Cambé – PR está integrado ao programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher – RMSM/ UEL, que visa formar profissionais aptos a realizar ações de caráter multi e interdisciplinar para a promoção, prevenção e recuperação da saúde da mulher. Considerando atender à solicitação de um instrumento que vise conhecer os aspectos psicológicos de pacientes atendidas pela Residência Multiprofissional da Saúde da Mulher e com o objetivo de fornecer subsídios, foi utilizada a Escala de Diagnóstico Adaptativa Operacionalizada (EDAO) para facilitar o diagnóstico e planejamento de intervenções psicológicas tanto na prevenção como na promoção e reabilitação da saúde desta população. A EDAO apresenta um diagnóstico quantitativo, classificando segundo a adaptação eficaz e adaptação ineficaz leve, moderada, severa e grave, podendo ser com ou sem crise. E um diagnóstico qualitativo, abordando os setores orgânico, produtivo, sociocultural e afetivo-relacional. Este trabalho visa apresentar um estudo de caso sobre uma mulher que procurou atendimento psicológico na UBS Novo Bandeirantes, em que a EDAO foi aplicada antes e após a intervenção. A paciente possuí 46 anos, é casada e tem duas filhas. Ela veio com o diagnóstico de transtorno do pânico, fazia atendimento psiquiátrico particular, e também se queixava de problemas conjugais. Na primeira aplicação da EDAO, o diagnóstico quantitativo foi Adaptação Ineficaz Severa (grupo 4). Ela foi encaminhada para atendimento individual com a psicóloga residente, na UBS, e continuou fazendo acompanhamento psiquiátrico. Entre a primeira e a segunda aplicação da EDAO, foram realizadas 27 sessões de psicoterapia individual de abordagem psicanalítica. No início dos atendimentos, a queixa da paciente restringia-se as crises de pânicos e o mal estar associados a elas. A paciente tinha de 3 à 7 crises por dia, não conseguia sair de casa sem estar acompanhada e sua produção no trabalho era baixa. Com o decorrer dos atendimentos percebeu-se que a paciente era vítima de violência doméstica de natureza psicológica, tinha um grande sentimento de inferioridade e uma autoestima extremamente prejudicada. Quando essa situação apareceu nas falas da paciente e a situação de violência tornou-se consciente para esta, as crises de pânico foram diminuindo até cessar. Na segunda aplicação da EDAO, o diagnóstico quantitativo foi Adaptação Ineficaz Leve. E no diagnóstico qualitativo foi percebido que a paciente não apresenta mais um quadro de transtorno de pânico, retomou algumas atividades diárias, sua produção e satisfação no trabalho aumentou e sua demanda de análise hoje circula a relação conjugal e sua sexualidade. Desta maneira, foi possível perceber que a paciente teve uma grande evolução e que a EDAO serve não apenas como um instrumento de diagnóstico inicial, mas também de validação das intervenções realizadas no contexto de atenção à saúde.

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UM CASO DE INIBIÇÃO INTELECTUAL

Luciana Parisi Martins Yamaura* (Graduanda do curso de Psicologia da FAI – Faculdades Adamantinenses Integradas; Adamantina-SP; Brasil). Andréa Fernandes de Araújo Gasques (Professora Mestre do curso de Psicologia da – Faculdades Adamantinenses Integradas; Adamantina-SP; Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Estudo de caso. Criança. Inibição Intelectual. RESUMO: O presente trabalho refere-se a um estudo de caso realizado em clínica escola, a partir de uma intervenção com enfoque psicanalítico, fundamentada na concepção de Souza (1995) sobre inibição intelectual, definida como uma incapacidade da criança se utilizar dos recursos que possui, em virtude de conteúdos emocionais fortemente reprimidos, que podem levar à inibição da curiosidade e uma limitação da liberdade para pensar. O caso trata-se de uma criança de 10 anos, do sexo masculino, que foi encaminhada pela escola com queixas de dificuldades de aprendizagem (problemas na segmentação das palavras, dificuldade nas sílabas complexas e omissão de letras), prejuízo na concentração, comportamento infantilizado e baixa autoestima. Além disso, foi apontado pela mãe, enurese e ecoprese noturnas e gagueira. Foram realizados, até o momento, 13 encontros semanais, com duração de 50 minutos cada, tendo sido utilizados 2 (dois) deles para a aplicação do teste HTP - House, Tree, Person, 2(dois) para a aplicação da Escala Wechsler Abreviada de Inteligência - WASI e, o restante para serem trabalhados os pontos destacados nas queixas, surgidos na análise dos testes mencionados (ego não estruturado e imaturo, sentimentos de solidão, rejeição, retraimento, baixa capacidade de raciocínio verbal e conhecimento adquirido) e no decorrer dos atendimentos.Pôde-se verificar, através das técnicas aplicadas, que a criança não apresenta prejuízos cognitivos significativos. Percebeu-se, também, um avanço considerável no vínculo estabelecido com o paciente e na superação gradual da criança, no que se refere ao seu retraimento, relacionado à sua dificuldade em falar sobre os seus sentimentos. Constatou-se, ainda, a possibilidade da inibição intelectual da mesma estar relacionada, dentre outras coisas, às condições de instabilidade emocionais às quais a criança está exposta em seu ambiente familiar, ressaltando, que ainda existe necessidade de continuidade do tratamento terapêutico, com vistas a alcançar uma evolução ainda maior no quadro do paciente.

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NO LIMITE: REFLETINDO SOBRE O MANEJO CLÍNICO

Lucielly Conceição dos Santos* (Graduanda, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina – Paraná, Brasil); Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis (Docente, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

Contato: [email protected]

Palavras–chave: Borderline. Fantasia. Manejo. RESUMO: O presente estudo aborda a temática dos pacientes borderline. Na visão psicanalítica esses pacientes têm sido caracterizados como um quadro clínico específico, que tem uma estrutura própria, ficando na fronteira entre neurose e a psicose, o que justifica uma modalidade singular de tratamento. “O estado limite implica na importância da problemática, considerada sob diferentes ângulos: dentro/fora, interior/exterior, eu/fora-do-eu, imaginário e real”. O termo paciente limite é particularmente interessante, tendo em vista que esses pacientes colocam os psicoterapeutas psicanalíticos, nos limites da técnica, implicando em dificuldades o atendimento psicoterápico com esses pacientes. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância do manejo como uma possibilidade de intervenção no atendimento aos pacientes borderline. Realizou-se um estudo de caso, no qual foram destacadas vinhetas onde foram detectados sintomas de “estranheza” em relação ao meio exterior e a si próprio, bem como desarticulação com a realidade. O paciente apresentava problema de adaptação tanto na vida acadêmica quanto profissional, além disso, apresentava grande dificuldade em se relacionar emocionalmente com as pessoas mais próximas. Em alguns momentos demonstrava afastamento da realidade, relatando fatos da sua história de vida, bem como questões cotidianas de maneira confusa e com pouca motivação. Por outro lado, apresentava vigor ao relatar suas participações em jogos de dramatização e a preparação desses eventos. Pontuava que os jogos são os lugares onde recarrega suas energias para enfrentar a realidade. Percebeu-se durante o atendimento psicoterápico a necessidade de acolhimento das suas fantasias, tendo em vista que nelas o paciente se reconhecia. A terapeuta tem funcionado como continente das angústias e sofrimentos, favorecendo a reflexão do paciente sobre os conteúdos apresentados, os quais inicialmente apareciam somente em forma de narração (papel que o mesmo desempenha nos jogos). Verificou-se que no decorrer das sessões o paciente conseguiu perceber que em determinadas áreas não corresponde às exigências externas necessárias, bem como começou a compreender que suas dificuldades emocionais têm comprometido tanto seu relacionamento conjugal quanto familiar. Acredita-se que o manejo utilizado pela psicoterapeuta priorizando mais a escuta cuidadosa, atenta e delicada do que a interpretação propriamente dita esteja contribuindo para que o próprio paciente reconheça suas emoções, reflita sobre as mesmas, reorganize-as para continuar seu desenvolvimento afetivo-emocional.

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DO SILÊNCIO DO TRAUMA AO IMPEDIMENTO DO GESTO

ESPONTÂNEO: ESTUDO DE CASO DE INIBIÇÃO INTELECTUAL EM

UMA CLÍNICA-ESCOLA

Laís Fernanda do Nascimento* (Graduanda do curso de Psicologia das Faculdades Adamantinenses Integradas - FAI, Adamantina-SP, estagiária curricular de Psicologia Educacional no Núcleo de Psicologia da FAI-SP). Letícia Scholl da Silva* (Graduanda do curso de Psicologia das Faculdades Adamantinenses Integradas - FAI, Adamantina-SP). Ana Vitória Salimon Carlos dos Santos (Mestre em Psicologia - UNESP/ASSIS, psicóloga (UEL). Professora, supervisora de estágio e coordenadora do Núcleo de Psicologia da FAI-SP, especialista em Psicologia Clínica e Psicologia Jurídica pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP e em Psicopedagogia pela AEPREV).

contato: [email protected] [email protected]

Palavras-chave: Clínica-escola. Inibição intelectual. Winnicott. RESUMO: O presente trabalho apresenta a análise parcial de um caso atendido em uma Clínica-Escola de Psicologia, em estágio supervisionado em Psicologia Educacional. O objetivo deste trabalho é analisar a queixa de dificuldade escolar apresentada por um menino, a luz da Psicanálise winnicottiana. Além das entrevistas com a criança e familiar, para a avaliação foram aplicados instrumentos de avaliação psicológica e psicopedagógica. Para discutir fragmentos do caso clínico trazemos a compreensão da inibição intelectual, considerando a dimensão relacional de sua construção e tomando em conta o processo dinâmico no qual convergem aspectos intra e inter-psíquicos. José (nome fictício), 8 anos, cursava o 2° ano do E.F. e foi encaminhado à clínica-escola por professora. Apresentava dificuldades na alfabetização, bem como dificuldades de relacionamento social no ambiente escolar, déficit de atenção, dificuldades na fala, e inatividade. Na entrevista de anamnese, realizada com seu avô materno, seu guardião, essas queixas não se apresentaram, apesar de reconhecer sua vergonha em comunicar-se com pessoas que não fossem do círculo familiar. A infância do paciente é marcada por mudanças bruscas em sua estruturação familiar, uma vez que seus pais foram presos quando ele tinha 4 anos de idade, acusados de serem omissos diante do abuso sexual praticado por um tio com um de seus irmãos. A partir disso ele e seus quatro irmãos – sendo ele o menor – convivem com avós. Não soube referir dados de desenvolvimento. Nos primeiros atendimentos a dificuldade do paciente comunicar-se foi evidente, mostrando-se acanhado e envergonhado, e a maioria das vezes sua comunicação foi por gestos e quando pronunciava algo levava a mão à boca e sua fala era baixa e rouca. As investigações no primeiro semestre, indicaram dificuldades relacionadas a alfabetização, leitura, compreensão, reconhecimento ou leitura de símbolos numéricos e letras e agrupamento de objetos em conjuntos; indicações de um individuo inseguro, que há um desajuste ao ambiente, necessidade de segurança e ansiedade, defesa contra o mundo, descontentamento, retraimento, uma barreira quanto a suas relações. Com a perseverança e conforme a continuidade dos encontros com paciente o vínculo foi se solidificando, apresentou-se menos introvertido, apesar da sua resistência frente a situações diretivas de avaliação escolar. Apresentou também avanços em seu processo de alfabetização, apesar de sua dicção ainda estar prejudicada e não ter sido possível iniciar atendimento fonoaudiológico. De acordo com a avaliação psicopedagógico pode-se perceber que José está em um processo de alfabetização aquém do esperado para sua faixa etária, visto que encontra dificuldades na leitura e escrita, principalmente de frases, bem como na formulação de equações matemáticas. Contudo houve avanço em

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sua aprendizagem, bem como na sua relação interpessoal. As contribuições de Winnicott traz a importância do desenvolvimento emocional infantil e as possíveis consequências da falha ambiental precoce como uma quebra na continuidade natural do curso da vida mental. Porém, algumas crianças tentam superar tal carência mantendo a estrutura de vida apoiadas em um falso self que encobre um temor de voltar a experiências frustrantes iniciais e angústias. Compreendemos que a intervenção psicopedagógica, fornecendo lhe um espaço seguro de desenvolvimento e de apresentação espontânea de seu modo de ser, em conjunto com a continência das questões familiares trazidas pelo avô, permitiu-lhe resgatar o gesto espontâneo e o retorno a seus processos desenvolvimentais, necessitando ainda de apoio e sustentação, e um trabalho conjunto entre Clínica-escola de Psicologia, staff escolar, família e outros profissionais tais como o fonoaudiólogo.

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A REVIVESCÊNCIA DO ABANDONO INFANTIL PELO

ENCERRAMENTO DO PROCESO PSICOTERÁPICO EM UMA

CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA

Magda Arlete Vieira Cardozo* (Supervisora, Núcleo de Psicologia das Faculdades Adamantinenses Integradas, Adamantina-SP, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Abandono. Vínculo. Supervisão. RESUMO: Este trabalho aborda a experiência como supervisora de Estágio em Psicologia Clínica, realizado em uma Clínica-Escola de Psicologia, visto que, ao longo de dez anos de atividades em supervisões de vários casos clínicos, nos quais o desamparo e as perdas desencadearam diferentes psicopatologias que retratam gravemente o medo do abandono ou rejeição, sempre que haverá o encerramento de um processo terapêutico pela troca de estagiários, oriunda da conclusão de curso do aluno, percebe-se uma grande mobilização interna por parte dos pacientes e alunos. Assim, objetiva-se refletir acerca das contribuições das teorias psicanalíticas na compreensão e no manejo deste processo, tão comum às Clínicas-Escolas, já que as interrupções do tratamento acontecem com datas marcadas e não conforme a dinâmica interna de cada paciente, como ocorreria em uma clínica particular. O encerramento das atividades de estágio se dá em dezembro de cada ano, mas, já em outubro, podem ser percebidos os reflexos da espera pela interrupção, que fora avisada no contrato terapêutico: há um aumento significativo das faltas às sessões por parte dos pacientes, justificadas ou não, uma regressão nos benefícios antes apresentados no tratamento, bem como, verbalizações diretas sobre a angústia com a proximidade do fim do ano e, consequentemente, dos atendimentos; alguns pacientes faltam, inclusive, à última sessão, impossibilitando um desfecho concreto. Paralelamente, os estagiários tendem a ter esquecimentos para relatar as sessões em supervisão, bem como apresentar uma hostilidade em relação aos pacientes, mostrando-se buliçosos pela morosa mudança psicodinâmica destes e pelas faltas e atrasos, que sentem como descaso. No entanto, conscientemente, os alunos ficam extremamente angustiados e preocupados com o encerramento das atividades. São necessárias discussões sistemáticas para que haja a compreensão destes mecanismos psíquicos envolvidos. Considerando-se que o abandono é o dilema psíquico central dos pacientes mencionados, entende-se que a angústia narcísica gerada diante da interrupção é tão insuportável, pois, revivem o abandono e desamparo infantis, que os mesmos já começam a antecipá-lo, desligando-se gradativamente do processo por meio das faltas. Além disso, não comparecer à sessão de encerramento caracterizaria um triunfo sobre o medo: eu estou abandonando e não sendo abandonado, dinâmica primitiva habitual. Por outro lado, pela contratransferência, o terapeuta identifica-se e evoca sua própria angústia de separação, a tal ponto de não poder dela lembrar, ou ainda, racionaliza sua dor rechaçando o paciente. Conclui-se ressaltando a necessidade em se considerar cuidadosamente as interpretações que possam acolher o medo do abandono, tão avassalador e aniquilador, que pode inviabilizar a continuidade efetiva e eficaz do processo psicoterápico, ou mesmo configurar um conluio terapêutico, no qual tais temores são tão somente negligenciados.

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A ESTRUTURA PERVERSA E O DISCURSO COMO INSTRUMENTO

DE SEDUÇÃO: UM ESTUDO DE CASO DO SERVIÇO DE PRONTO

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

Maria Antonia Di Palma Xavier Aguiar* (Bolsista UEL de Extensão e graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina–PR, Brasil); Gabriela Iamara Lupianhe Pereira (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Ana Claudia Broza Daher (Psicóloga assessora da Clínica Psicológica da UEL, graduada do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maria Lúcia Mantovaneli Ortolan (Bolsista UEL de Extensão e graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Kawane Chudis Victrio (Bolsista UEL de Extensão e graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Caroline Moreno Pirani (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); João Vitor de Freitas Gimenes (Graduando do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maisa Mie Murata (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Michele Munhoz Guarnieri (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Patricia Sayuri Simoni Nakano (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Rafaela Grumadas Machado (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil). Maíra Bonafé Sei (Diretora da Clínica Psicológica da UEL, Doutora em Psicologia Clínica, Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise – Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil)

contato: [email protected]

Palavras-chave: Pronto atendimento. Perversão. Sedução na clínica. RESUMO: O Pronto Atendimento Psicológico (PAP) oferecido pela Clínica Escola da UEL é um serviço de atenção psicológica que visa o acolhimento do usuário do serviço diante de sua demanda emergencial. Tem por objetivo ser imediato e breve, para tanto o atendimento é único e o plantonista e usuário tentam elaborar juntos as questões pontuais que foram trazidas. O PAP oportuniza aos alunos de Psicologia uma experiência de aprimoramento do seu raciocínio e manejo clínico, já que são convocados a lidar com o inesperado a cada atendimento oferecido. Neste trabalho será discutido em específico um caso de estrutura de perversão identificada por meio do discurso sedutor em um dos atendimentos. Trata-se de um rapaz, na faixa dos 25 anos de idade, estudante universitário que procurou a Clínica Psicológica com a seguinte queixa: “sou viciado em sexo” (sic). Ao longo do atendimento, o usuário traz a demanda de que não quer diminuir a frequência dos atos sexuais, mas sim de que seu vício está o atrapalhando na faculdade e em seu trabalho, devido o tempo que investe pra que no fim do dia consiga se realizar. Ao final, o rapaz foi encaminhado à psicoterapia. No que concerne o campo teórico da perversão, percebe-se que a âncora para formação de estrutura é quando a criança começa a vivenciar a respeito da identificação fálica. No caso da perversão, essa sua vivência primordial é radicalmente identificada como o único objeto de desejo da mãe, o objeto do desejo do Outro, o seu falo. A criança é confrontada a renunciar seu objeto de desejo, geralmente pela figura paterna representado como lei, mas não o faz. Portanto, não percorre completamente o processo de elaboração psíquica que a castração exige, caracterizando uma possível formação de estrutura perversa. Ao longo do desenvolvimento da vida desses indivíduos, desenvolve-se também algumas características, como o discurso perverso.

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Este tendo função de ser uma busca incessante de subordinar o outro, de modo imperativo e/ou sedutor. Para o perverso, as formas de sedução e controle são um esforço completamente defensivo contra o próprio desejar. Assim sendo, como ferramentas de interpretação para compreender as especificidades dos processos inconscientes que vêm à tona através da fala, tem-se a observação e principalmente a escuta atenta. Entende-se que tais aspectos se aplicam ao caso atendido, sendo pertinente ressaltar que, a despeito do material clínico trazido, o Pronto Atendimento Psicológico figura como uma intervenção pontual, cujo objetivo é o caminhar conjunto para uma elaboração da demanda trazida para o atendimento. No caso relatado, o rapaz e a aluna colaboradora se puseram a pensar na função que as relações sexuais têm, já que não ocupa mais o lugar do prazer, mas sim o da necessidade.

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PRONTO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO NA CLÍNICA

PSICOLÓGICA DA UEL E SUA IMPLICAÇÃO NA REDE DE ATENÇÃO

À SAÚDE MENTAL DA CIDADE DE LONDRINA E REGIÃO

Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan* (Bolsista UEL de Extensão e graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina–PR, Brasil); Kawane Chudis Victrio (Bolsista UEL de Extensão e graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maria Antonia Di Palma X. Aguiar (Bolsista UEL de Extensão e graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Caroline Moreno Pirani (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Gabriela Iamara Lupianhe Pereira (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); João Vitor de Freitas Gimenes (Graduando do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maisa Mie Murata (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Michele Munhoz Guarnieri (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Patricia Sayuri Simoni Nakano (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Rafaela Grumadas Machado (Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil). Maíra Bonafé Sei (Diretora da Clínica Psicológica da UEL, Doutora em Psicologia Clínica, Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise – Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil)

contato: [email protected]

Palavras-chave: Pronto Atendimento. Clínica-escola. Saúde Mental.

RESUMO: O Pronto Atendimento Psicológico configura-se como uma prática inicialmente implantada na USP, nos anos 1960. Este é um serviço que deve ser ofertado com constância e estabilidade, sendo um lugar para a acolhida da experiência do sujeito, deslocando-se do padrão de psicoterapia, que se foca no sintoma, por exemplo. Tendo em vista a grande procura pela psicoterapia e a espera necessária para uma primeira escuta psicológica, implantou-se o Pronto Atendimento Psicológico na Clínica Psicológica da UEL, em 2015. Os atendimentos ofertados são realizados, em sua maioria, por estudantes do quarto ano da graduação em Psicologia UEL, proporcionando-lhes uma experiência de aprimoramento do seu raciocínio e manejo clínico. Os atendimentos acontecem diariamente, do meio dia às duas horas da tarde, e de quarta-feira durante todo o dia. O objetivo é atender, por ordem de chegada, pessoas em emergência psicológica (desconsiderando emergências psiquiátricas, por exemplo, surto psicótico), que chegaram ao serviço por busca espontânea ou encaminhados de outros serviços, sem a necessidade de agendamento. Em decorrência da natureza do serviço prestado, visa, também, estreitar laços entre a Clínica Psicológica da UEL e outros pontos da Rede de Saúde Mental e de Assistência Social, além de ofertar aos colaboradores um aparato teórico-metodológico para a condução deste tipo de atendimento. Os resultados prévios demonstram uma possível deficiência nos dispositivos de referência para acolhida psiquiátrica e de saúde mental de Londrina, no caso o CAPS III, responsável por uma margem considerável de encaminhamentos feitos ao Pronto Atendimento de casos que fogem da alçada de um serviço-escola de Psicologia, como, por exemplo, casos psiquiátricos. Entende-se que a complexidade destes casos e o risco de crise acompanhada de surto ou comportamentos agressivos impossibilitam o atendimento no serviço-escola de Psicologia, em decorrência do espaço físico não adequado e por ser, exatamente, uma prática clínica feita por estudantes ainda do quarto ano. Aporta-se que a Clínica Psicológica da UEL, com o

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serviço de Pronto Atendimento, apresenta-se como um ponto da Rede, todavia, não deve se configurar como um centro de referência em saúde mental, movimento este que se configura a partir do momento em que o CAPS III encaminha suas demandas à UEL. Refletindo, então, sobre o bem estar dos usuários e dos profissionais envolvidos, tem-se a urgência de um fortalecimento dos laços de comunicação da Rede de Saúde Mental da cidade de Londrina. Devem ser discutidas as possibilidades para ofertar, todos os pontos juntos, um atendimento de melhor qualidade à população, que não sobrecarregue nenhum ponto da rede, pensando no bem estar físico e mental dos responsáveis pelos atendimentos e tendo uma atenção maior ao usuário do serviço de saúde.

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CONTRATRANSFERÊNCIA COMO INSTRUMENTO EM

PSICOTERAPIA

Nayra Luise Romário da Silva* (Graduanda, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis (Docente, Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil).

contato: [email protected]

Palavras-chave: Contratransferência, Psicanálise, Psicoterapia.

RESUMO: A análise é uma construção a dois. Segundo Firenczi, o psicanalista deve utilizar seu inconsciente como uma maneira de perceber os conteúdos inconscientes do paciente, a partir da sensibilidade, da empatia e do tato do psicoterapeuta. De acordo com o mesmo autor, para fazer uso da contratransferência o psicanalista deve ser autêntico com relação aos seus afetos, não escondendo e nem negando seus sentimentos contratransferênciais, também deve estar livre de um apego excessivo a uma técnica rígida e impessoal. Uma das motivações para falar a respeito desse tema foi a intensidade dos sentimentos que a terapeuta vivenciou em relação à paciente, levando-a a buscar entender o que se passava clinicamente e como se dava a contratransferência dentro desse cenário. No presente trabalho, o objetivo principal é compreender como a contratransferência se manifesta na clínica psicanalítica e os desafios enfrentados pelo psicoterapeuta para utilizar-se da contratransferência para fins terapêuticos. Foram analisados os sentimentos vivenciados pela psicoterapeuta durante os atendimentos de uma paciente adulta. A paciente relatava suas dificuldades expressando grande sofrimento emocional, ao término de cada sessão a psicoterapeuta sentia-se cansada e confusa, ao contrário da paciente que saia relatando se sentir leve. O caso vinha demonstrando poucas melhoras e gerando mal estar e angustia na terapeuta. A qual, muitas vezes, vivenciou sentimentos de confusão, cansaço e irritabilidade. A história contada parecia ser sempre a mesma, apenas com mudança de personagens, a terapeuta sentia-se amarrada à aquela história. A partir do momento em que as emoções da psicoterapeuta começaram a ser apontadas e analisadas durante as supervisões do caso, foi possível refletir sobre o que poderia estar sendo projetado em si mesma, a ponto de desencadear tanto o cansaço, a irritação quanto o mal estar. A partir de então, a psicoterapeuta pode observar e perceber melhor a maneira como a paciente estabelecia seus relacionamentos afetivos tanto reais quanto imaginários. Também se pode notar também o quanto a paciente temia rejeição e o abandono, ao relatar muitos momentos de solidão durante sua vida, motivados pelas perdas sofridas, e lamentar por estar sozinha em todas elas. A compreensão da contratransferência vivenciada pelo psicoterapeuta pode contribuir para melhor analisar e interpretar o que se passa com o paciente. Porém, há necessidade de discernir quais são os aspectos projetados pelo paciente e quais são as emoções do próprio terapeuta.