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ANAIS DO 2º CEPEQUINHO - UEL · mim, de você ou de nós, e o ato de não mais escutá-lo, mas sim de impor um projeto político e de mundo, são as marcas mais visíveis desse estágio

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ANAIS DO 2º CEPEQUINHO

PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES O ESPAÇO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE

Londrina

2017

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Realização

Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Humanas (CEPECH-IFPR)

Apoio

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná campus Londrina Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão (LENPES). Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Local, data e carga horária

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná campus Londrina.18 e 19 de maio de 2017.16 horas. Edição e projeto gráfico dos anais

Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski e Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira. Capa

“Na Margem” de Ingrid Volpato. Diagramação: Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira. Fotografias

Beatriz Sella, Guilherme Nascimento Braga, Guilherme Akira, Ingrid Volpato, Sofia Denipoti e Prof. Me. Washington Luiz da Costa.

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Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

* Os textos que se encontram nesses anais são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

C399a CEPEQUINHO (2. : 2017 : Londrina, PR)

Anais do 2º CEPEQUINHO [livro eletrônico]: percepções e representações : o espaço do indivíduo na sociedade / [edição: Lawrence Mayer Malanski e Guilherme Lima Bruno e Silveira ; fotografias: Beatriz Sella...et al.]. – Londrina: CEPECH-IFPR, 2017.

1 Livro digital : il.

Inclui bibliografia. Disponível em: http://www.uel.br/projetos/lenpes/ Disponível em: http://londrina.ifpr.edu.br/ ISBN 978-85-7846-437-0

1. Ciências sociais – Congressos. I. Malanski, Lawrence Mayer. II.

Silveira, Guilherme Lima Bruno e. III. Sella, Beatriz. IV. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Humanas. V. Título.

CDU 3

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COORDENADOR GERAL DO EVENTO

Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski. IFPR campus Londrina

VICE-COORDENADOR DO EVENTO

Prof. Me. Rogério Martins Marlier. IFPR campus Londrina

COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO

Profa. Dra. Alessandra Navarro Fernandes. IFPR campus Londrina

Profa. Dra. Angela Maria de Souza Lima. UEL

Profa. Dra. Angélica Lyra de Araújo. UEL

Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira. IFPR campus Londrina

Prof. Gonçalo José Machado Júnior. IFPR campus Londrina

Profa. Dra. Karen Alves Andrade Moscardini. IFPR campus Londrina

Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski

Profa. Dra. Marlene Aparecida Ferrarini-Bigareli

Prof. Me. Max Alexandre de Paula Gonçalves. IFPR campus Londrina

Prof. Dr. Reinaldo Benedito Nishikawa. IFPR campus Londrina

Prof. Me. Rogério Martins Marlier

Profa. Me. Talita Canônico e Silva. IFPR campus Londrina

Profa. Me. Vizette Priscila Seidel. UNESP/Ibilce

Prof. Me. Washington Luiz da Costa. IFPR campus Londrina

COMISSÃO AVALIADORA DOS RESUMOS E RESUMOS EXPANDIDOS

Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira

Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski

Profa. Me. Vizette Priscila Seidel

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PROGRAMAÇÃO GERAL DO EVENTO

Horário 18 de maio Horário 19 de maio

8h00 – 9h00

ABERTURA

Quadrangular final do 1° Torneio de Bets Credenciamento

8h00 –9h00

APRESENTAÇÕES CULTURAIS

Vídeo-poemas: Karen Moscardini Exposição artística “Como coisas que não existem”: Guilherme Lima Bruno E Silveira

9h00 – 9h15 Café 9h00 – 9h15 Café

9h15 – 10h30

ABERTURA Vídeo-poemas: Karen Moscardini Falas: Prof. Marcelo Poleti Prof. Fernando Accorsi Prof. Max Alexandre

9h15– 12h30

COMUNICAÇÕES ORAIS

10h30 – 12h30

PALESTRA I Maria José de Resende: “As Diretrizes Nacionais de Educação em Direitos Humanos e as Agendas Internacionais: em busca de mudanças nas percepções e nas representações de todos os envolvidos no processo educacional”

12h30 – 13h30 Almoço 12h30 – 13h30 Almoço

13h30 – 14h45

PALESTRA II Prof. Elton Mitio Yoshimoto: “A importância das Ciências Humanas na formação técnica e tecnológica”

13h30 – 15h00

PALESTRA III Prof. Wellington Amarante: “História, Televisão e Sociedade”

14h45 – 16h15

COMUNICAÇÕES ORAIS

15h00 – 15h30

Café

16h00 – 16h30

Café

15h30 – 17h00

MINICURSOS (parte 2) 1) Escrita criativa 2) Representação feminina na literatura e propaganda 3) Minicontos: cotas e ações afirmativas

16h30 – 18h00

MINICURSOS (parte 1)

1) Escrita criativa 2) Representação feminina na literatura e propaganda 3) Minicontos: cotas e ações afirmativas

17h30 – 18h30

ENCERRAMENTO Fala: Prof. Rafael Miquelatto

APRESENTAÇÕES MUSICAIS

Banda Tatudobem (IFPR Londrina) Cabeças Voadoras (IFPR Telêmaco Borba)

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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO DO CEPECH...................................................................................... 9

2 APRESENTAÇÃO DO EVENTO .................................................................................... 11

3 PALESTRAS .................................................................................................................. 14

3.1 AS DIRETRIZES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E AS

AGENDAS INTERNACIONAIS: EM BUSCA DE MUDANÃS NAS PERCEPÇÕES E

NAS REPRESENTAÇÕES DE TODOS OS ENVOLVIDOS NO PROCESSO

EDUCACIONAL ............................................................................................................. 14

3.2 HISTÓRIA, TELEVISÃO E SOCIEDADE ................................................................. 14

3.3 SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS: A FORMAÇÃO TÉCNICA

EM TEMPOS LÍQUIDOS ................................................................................................ 15

4 MINICURSOS ................................................................................................................. 16

4.1 MINI OFICINA DE MINI TEXTOS ............................................................................ 16

4.2 A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA LITERATURA E NAS PROPAGANDAS ...... 16

5 PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES: REFLEXÕES TEÓRICAS E ARTÍSTICAS ... 17

6 RESUMOS E RESUMOS EXPANDIDOS ....................................................................... 29

6.1 RESUMOS ............................................................................................................... 30

6.1.1 A APROPRIAÇÃO DO VOCABULÁRIO TÉCNICO DA INFORMÁTICA EM

ATIVIDADES DIDÁTICAS DAS DISCIPLINAS CURRICULARES DO IFPR .............. 30

6.1.2 ALGUNS INFINITOS SÃO MAIORES QUE OUTROS ...................................... 31

6.1.3 ANÁLISE DE QUESTÕES DA OLIMPÍADA BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA:

ABORDANDO ASPECTOS LINGUÍTICOS ................................................................ 33

6.1.4 AUGUSTO DOS ANJOS E O BARROCO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA .... 34

6.1.5 DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO MOBILE PARA FACILITAR

PROFESSORES A ENCONTRAREM FILMES QUE PODEM SERVIR DE MATERIAL

PEDAGÓGICO POR MEIO DA BUSCA DE TAGS .................................................... 35

6.1.6 INVOÇÕES ARQUITETÔNICAS NAS CATEDRAIS GÓTICAS: GEOMETRIA

SIMBÓLICA EM BUSCA DA ASCENSÃO ESPIRITUAL ............................................ 36

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6.1.7 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E CHATBOT: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS

SOCIAIS ..................................................................................................................... 38

6.1.8 O CINEMA COMO FORMA EDUCATIVA NA EMANCIPAÇÃO FEMININA ...... 39

6.1.9 PRECONCEITO E RACISMO: O USO DO CINEMA COMO FERRAMENTA

EDUCATIVA ............................................................................................................... 41

6.1.10 PROCESSAMENTO DE IMAGEM: ANALISANDO OS IMPACTOS SOCIAIS 43

6.2 RESUMOS EXPANDIDOS ....................................................................................... 44

6.2.1 A IMAGEM DA SOCIEDADE NOS JOGOS DIGITAIS E SUA INTERAÇÃO NO

CONTEXTO DO JOGADOR/ESTUDANTE ................................................................ 44

6.2.2 ANÁLISE DO DISCURSO DO MOVIMENTO ANARQUISTA NAS REDES

SOCIAIS DA INTERNET ............................................................................................ 48

6.2.3 ANÁLISE DO DISCURSO FEMINISTA NA INTERNET: UMA ABORDAGEM

SONBRE A CULTURA DO ESTUPRO ....................................................................... 52

6.2.4 CALÇADÃO DE LONDRINA: EXPLORAÇÃO SONORA DO ESPAÇO E

COTIDIANO ................................................................................................................ 56

6.2.5 DIA E NOITE: OS SONS DO CALÇADÃO DE LONDRINA ............................... 60

6.2.6 METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTES: ESTUDO DO INCIDENTE EM

TUNGUSKA, DE PEDRO FRANZ .............................................................................. 64

6.2.7 O IMAGINÁRIO GROTESCO EM LOURENÇO MUTARELLI ........................... 69

6.2.8 TEATRO ENCANTO .......................................................................................... 75

6.2.9 VANTAGENS E DIFICULDADES DA ELABORAÇÃO DE UM MAPA SONORO

VIRTUAL DO CALÇADÃO DE LONDRINA ................................................................ 78

7 REGISTROS ................................................................................................................... 81

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1 APRESENTAÇÃO DO CEPECH

Prof. Gonçalo José Machado Júnior

O CEPECH (Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Humanas) do

Instituto Federal do Paraná, Campus de Londrina, deve seu surgimento a um processo de

gestação de ideias iniciadas em 2013 em um colóquio entre os Professores Gonçalo José

Machado Júnior e Reinaldo Benedito Nishikawa sobre a necessidade de abordar os

aspectos científicos das Ciências Humanas aos alunos dos Cursos Técnicos Integrados

ao Ensino Médio.

Inicialmente, chegaram ao consenso de apresentar um Projeto de um Laboratório

de Ciências Humanas ao Colegiado do Curso Técnico de Informática Integrado ao Ensino

Médio do IFPR, Campus de Londrina e assim o fizeram.

O Projeto tinha o objetivo de instituir um Laboratório de Ciências Humanas que

possibilitasse o desenvolvimento pedagógico e científico aos alunos, além de oportunizar

o acesso aos métodos e às técnicas de pesquisas científicas nas áreas das Ciências

Humanas como: a História, a Geografia Humana, a Antropologia, a Ciência Política e a

Sociologia, além das pesquisas científicas.

O Projeto teve uma aceitação imediata pelo Colegiado, assim como pela

Coordenação e da Direção da época, além de receber uma série de sugestões

pertinentes dos Professores das áreas afins.

Durante o restante do ano de 2013 e durante o ano de 2014, tanto a

Coordenação como a Direção da época se mostraram entusiasmados com a ideia do

Laboratório de Ciências Humanas e sugeriram várias mudanças, que ao olhar dos

idealizadores, descaracterizariam os objetivos do Laboratório e entenderam que seria

adequado, infelizmente, não levar adiante o Projeto que teve outro destino, mas

mantiveram a chama acesa dos seus objetivos iniciais.

Com a aprovação e integração ao IFPR, Campus de Londrina, dos Professores

Rogério Martins Marlier, Guilherme Lima Bruno e Silveira, Lawrence Mayer Malanski e

posteriormente, do Professor Max Alexandre de Paulo Gonçalves, que enriqueceram

intelectualmente nosso Colegiado, além da conclusão do Doutorado do Professor

Reynaldo e a qualitativa colaboração do Professor Washington Costa, a chama se

fortaleceu e o Projeto do Laboratório das Ciências Humanas transformou-se no Centro de

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Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Humanas (CEPECH) se institucionalizou,

incorporando novos talentos dos Professores das áreas afins.

O CEPEQUINHO representa os primeiros movimentos de uma ideia que se

materializou pela múltipla paternidade de vários Professores e alunos idealistas de uma

educação científica, metodológica, técnica, mas, sobretudo humanizadora e

transformadora, objetivando o desenvolvimento intelectual, erudito e crítico através das

Ciências Humanas e suas especificidades, mas sem perder a sensibilidade e a

subjetividade humana.

Esse evento representa os primeiros movimentos, o “engatinhar” de ideias

gestadas, acalentadas, produzidas e materializadas que carecem de “musculatura”, de

fortalecimento, que serão adquiridos no decorrer de sua caminhada, e que, deve alcançar

seus objetivos de Ensino dos Métodos e das Técnicas de Pesquisas das Ciências

Humanas, a realização de Pesquisas Científicas e dos estudos eruditos e filosóficos de

suas áreas afins.

É com a firmeza, convicção e a serenidade de idealistas que o CEPECH inicia

sua trajetória.

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2 APRESENTAÇÃO DO EVENTO

Prof. Me. Max Alexandre de Paula Gonçalves

Quando o 2º CEPEQUINHO começou a ser feito, o primeiro elemento que

imaginamos é que ele deveria receber um tema coerente com as propostas do CEPECH

– nosso Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Humanas (mas que

contempla as Linguagens também), que expressasse os projetos desenvolvidos ao longo

de 2016 e início de 2017 e que não se apresentasse descolado da realidade na qual

estamos inseridos. Assim, consideramos que “Percepções e Representações: o espaço

do indivíduo na sociedade” faria jus ao que pretendíamos. Por um breve momento,

tentaremos desvendar o que este título significa.

Façamos um caminho inverso: partiremos da segunda parte do tema. De fato,

depois dos inúmeros escândalos envolvendo a nossa classe política nestas duas

primeiras décadas do século XXI, marcantes para a nossa redemocratização, qual seria o

espaço que o indivíduo possui na nossa sociedade para se expressar? Aliás, o que seria

cada um desses elementos?

Se pensarmos apenas no espaço político, podemos observar que a democracia

representativa passa por um momento de transição, no qual o esvaziamento dela é um

dos seus maiores problemas, como observou o cientista político Peter Mair, em seu

ensaio "Rulingthe Void: The Hollowingof Western Democracy" (Verso Books, 2013;

“Governando o vácuo: o esvaziamento da democracia ocidental”). Para esse autor, a era

da democracia de partidos teria acabado, uma vez que “os partidos se tornaram tão

desconectados da sociedade mais ampla e buscam uma forma de competição tão sem

sentido que não parecem mais capazes de sustentar a democracia na sua forma

presente”. Os efeitos disso são os abandonos de quaisquer formas democráticas para a

resolução de problemas: a ausência do debate com o Outro, aquele que é diferente de

mim, de você ou de nós, e o ato de não mais escutá-lo, mas sim de impor um projeto

político e de mundo, são as marcas mais visíveis desse estágio. Isso gera uma

desconfiança na própria política, que é representada pelos políticos e pelos seus partidos,

mas também a imagem que se cria de um e de outro também não auxilia a perspectiva

positiva sobre o nosso sistema político. Assim, parte da população, principalmente os

setores mais populares, tende a se afastar da participação política, pois percebem o seu

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papel de trampolim para a oligarquização de partidos, na qual a estrutura da sigla é

utilizada por alguns para adquirir cargos diferentes dos quais foram eleitos para

exercerem.

Talvez o maior efeito, ou o problema disso, é que ao virarem as costas para a

política e para as instituições oriundas dela, parte da população ao não se sentir

representada, passou a buscar “forasteiros”, de acordo com Sérgio Abranches,

expressando e disseminando um sentimento antipolítica. São exemplos claros desse

fenômeno as eleições do “humorista (o palhaço)”, o “não político”, o “sujeito midiático

(apresentadores de TV ou ex-ídolos do esporte)” e o “gestor”, mas também a busca e a

valorização do “magistrado” nesse fenômeno.

Isso não ocorre por acaso. É a combinação entre a restrição de recursos para a

maior parte da população e o desgosto com as práticas políticas que produz essa crise

democrática, uma vez que parte da sociedade não vê as suas aspirações realizadas, ou

ainda, não as sente no curto prazo de tempo de um governo para o outro.

O ciclo de ora melhora, ora piora, avaliado pelo sociólogo Claus Offe, agrava o

dilema democrático, pois a desigualdade na repartição de recursos sociais, econômicos e

educacionais (cognitivos) reforça as distorções eleitorais: após uma rodada de piora

distributiva, os setores mais prejudicados têm ainda menos vontade de participar das

votações.

Dessa forma, o que sobra de espaço político para o indivíduo se realizar ou se

fazer presente politicamente na nossa sociedade? Cito novamente o analista Sérgio

Abranches para responder a essa questão:

Parte encara esses duros fatos e enfrenta os riscos de se virar por conta própria. É essa fatia da população que termina servindo de base social para as teorias pós-democráticas, que miram um futuro de democracia despolitizada, sem povo, apenas guardiã dos direitos constitucionais e dirigida com eficácia, mimetizando a gestão privada. Outra parte recorre a protestos como os realizados nas periferias pobres de Paris e Londres ou a manifestações com objetivos difusos, que somam demandas díspares de parcelas heterogêneas da sociedade, como se viu nas manifestações de 2013 no Brasil, e não criam apoio sustentado para movimentos políticos mais consistentes.1

Pergunto: e agora? O que fazer diante desses impasses? Retorno agora à

primeira parte do tema do nosso evento.

1 ABRANCHES, S. Sociólogo Sérgio Abranches analisa a Lava Jato e a crise da democracia. Folha de São Paulo, 23 de abr. de 2017. Disponível em:<https://goo.gl/o9WD86>. Acesso em: 21 ago. 2017.

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Segundo Walter Benjamin, filósofo alemão de origem judaica, nosso olhar tem

sido alterado desde o fenômeno da reprodutibilidade técnica. Ele fala isso ao ter o cinema

mudo como referência, mas também o cinema-propaganda criado pelo nazismo como

instrumento ideológico. Porém, os filmes da Disney estão surgindo nesse momento

também e ele se impressiona com o camundongo Mickey, que, para ele, “produzem uma

explosão terapêutica do inconsciente”. Com isso, surge o “inconsciente óptico”, conceito

semelhante ao do “inconsciente psicológico”, de Freud, mas com a diferença que é a

partir das imagens da tela do cinema que conseguimos acessar partes do nosso

inconsciente até então desconhecidas.

Com isso, chegamos à representação, já que o que assistimos na tela, por

exemplo, é uma representação, que pode ser alterada pela potência da imaginação, que

pode quebrar o engodo pela verdade, ou ainda, que desconstrói os signos visíveis como

índices seguros de uma realidade que não o é. Assim utilizada, a representação não é

mais uma máquina de fabricar respeito e submissão, mas sim um instrumento de

transformação do próprio espaço. Nesse sentido, o 2º CEPEQUINHO é um ato a favor de

nos percebermos, para, na sequência, nos representarmos, a fim de buscarmos uma

transformação na nossa sociedade e, assim, ressignificarmos o sentido de sua existência.

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3 PALESTRAS

São de grande importância as palestras em eventos científicos, pois é o momento

de troca de informações que vão além da sala de aula. Sabe-se que, na maioria das

vezes, essas informações devem ser buscadas em nosso dia a dia de acordo com a

nossa necessidade. Muitos assuntos são provenientes de estudos científicos ou de

experiências profissionais, o que levam esse conhecimento para o crescimento pessoal e

intelectual do indivíduo e, consequentemente, da sociedade. Dessa forma, apresentamos

aqui as ementas das palestras realizadas durante o 2º CEPEQUINHO.

3.1 AS DIRETRIZES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E AS AGENDAS INTERNACIONAIS: EM BUSCA DE MUDANÃS NAS PERCEPÇÕES E NAS REPRESENTAÇÕES DE TODOS OS ENVOLVIDOS NO PROCESSO EDUCACIONAL

Profa. Dra. Maria José de Rezende2

Palavras-chaves: Educação; Diretrizes nacionais; Direitos Humanos. As Diretrizes Nacionais da Educação em Direitos Humanos (DNEDHs), divulgadas em 2013, pelo governo brasileiro, através da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (BRASIL/CEDH, 2013), sistematizam um conjunto de prescrições para a área educacional. Como o próprio nome já diz, são diretrizes enxutas que devem orientar as práticas e os conteúdos escolares. Ressalte-se que tais diretrizes devem ser vistas como resultado de um longo processo de debates, propostas e discussões sobre a educação no Brasil. Tomando a Carta Constitucional de 1988 como um marco fundamental de uma tentativa de garantir que o país aja no campo dos direitos humanos, em consonância com o que vem sendo acordado nos muitos Atos Internacionais, vê-se que, desde então, há uma legislação interna e uma legislação infraconstitucional que passam a ordenar inúmeras ações no campo da efetivação dos direitos.

3.2 HISTÓRIA, TELEVISÃO E SOCIEDADE

Dr. Wellington Amarante3

Palavras-chaves: História; Televisão; Sociedade. A proposta dessa palestra é apresentar uma história da televisão desde o seu nascimento até o tempo presente, considerando os aspectos sociais e culturais que moldam a transformação dela ao longo dos séculos XX e XXI. O objetivo é compreender que a televisão não deve ser compreendida apenas enquanto o suporte técnico, o aparelho em

2 Universidade Estadual de Londrina. 3 Universidade Estadual Paulista - Assis.

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si mesmo, mas sim um modo de produzir artefatos culturais que possui uma linguagem própria que recebe e transmite influências para outras mídias, tais como o Cinema e a Imprensa. Ademais, será visto como a televisão atua sobre os imaginários sociais, coletivos e individuais, a fim de divulgar ideologias e representações. Assim, ao articular os eixos Informação, Educação e Entretenimento, assim como a própria televisão, nossa exposição analisará as formas de existência dessa mídia e seus códigos internos e externos de funcionamento.

3.3 SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS: A FORMAÇÃO TÉCNICA EM TEMPOS LÍQUIDOS

Prof. Me. Elton Mitio Yoshimoto4 Palavras-chaves: Ciências Humanas; Formação Técnica; Conhecimento; Realidade; Identidade. Pretende-se, nesta apresentação, promover um debate sobre a importância das Ciências Humanas na formação técnica e tecnológica, enfatizando três conceitos fundamentais: conhecimento, realidade e identidade. Para tanto, propõe-se a análise das concepções de diferentes intelectuais, em especial Antonio Candido (1995), Nicolau Sevcenko (2001) e Zygmunt Bauman (2001) que, em sua diversidade de ideias, oferecem alternativas para estabelecer relações entre as problemáticas próprias das Ciências Humanas e o aprendizado em áreas técnicas. O objetivo é compreender o papel das humanidades no que diz respeito à visão de mundo daquele que irá desenvolver recursos a partir da idealização de técnicas e tecnologias. É preciso considerar que o profissional de área técnica, aquele que cria e transforma, que soluciona problemas, que gera progresso, necessita reconhecer-se como agente de transformação social, justificando os debates aqui propostos. Ademais, as diversas dimensões relacionadas ao aprendizado e a valorização de múltiplas interpretações, que permitem o olhar crítico sobre a vivência cotidiana, somente são possíveis a partir de um diálogo multidisciplinar, que envolva não apenas a prática, mas também a reflexão.

4 Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

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4 MINICURSOS

Ao abordar os temas referentes às ciências humanas com alunos dos Ensinos

Médio e Superior, buscou-se ressaltar a importância de educar indivíduos em uma

perspectiva humana coerente com o posicionamento crítico a respeito dos atuais

problemas sociais e das medidas necessárias para sua minimização. Para tal, ofertou-se

minicursos que abordassem os problemas sociais, como a representação do feminino, a

discussão sobre cotas raciais e ações afirmativas e escrita criativa, refletindo

artisticamente sobre tais questões.

4.1 MINI OFICINA DE MINI TEXTOS

Ministrante: Prof. Dr. Flávio Luís Freire Rodrigues5 Esta oficina tem como objetivo desenvolver a prática de textos criativos por meio de estratégias de análise, produção e reescrita de fragmentos textuais. Os alunos farão exercícios como a inversão e a substituição de termos e a identificação de problemas na frase e desenvolverão soluções criativas. Também serão feitas leitura e análise de rascunhos de textos literários visando a compreensão do processo de seleção de informações por parte do autor.

4.2 A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA LITERATURA E NAS PROPAGANDAS

Ministrantes: Profa. Ma. Talita Canônico e Silva Profa. Ma. Vizette Priscila Seidel

Apresentou, discutiu e analisou modos de se pensar a representação do feminino a partir da leitura de contos de fadas, em diversas épocas, e propagandas do início do século XXI aos dias atuais. Para além dos debates teóricos, análise do discurso, o objetivo desse curso foi o de apresentar argumentos substantivos sobre os temas propostos para que, ao final, as/os alunas/alunos sejam capazes não apenas de compreender o que está em questão em relação à emancipação feminina.

5 Universidade Estadual de Londrina.

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5 PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES: REFLEXÕES TEÓRICAS E ARTÍSTICAS

Profa. Dra. Karen Alves Andrade Moscardini Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira

A forma como vemos o mundo e o traduzimos, recorrendo às diversas linguagens,

amplia a significação dos objetos, sentimentos e acontecimentos por meio da subjetivação

e da confluência de signos. Perceber o outro é um processo de reconstrução da

realidade, assim como perceber o mundo é incluir-se nele, de modo autônomo, cidadão e

transformador. Todavia, perceber, por si só, é apenas a primeira ação necessária para

transpor a barreira do “eu” e adentrar no “outro”. É preciso, também, representar a

realidade, com vistas à formação de conceitos, ideias, incômodos, desacertos e debates.

As artes são um caminho privilegiado nesses movimentos de ressignificação, às quais

recorremos para evidenciar, por meio dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos do IFPR

– Campus Londrina, para discutir temas relevantes e impactantes que precisam ser

repensados por cada um de nós. Neste 2º CEPEQUINHO, os estudantes puderam

vivenciar essa experiência de interação social recorrendo à linguagem, por meio da

exposição de vídeo-poemas, elaborados pela turma do 4º ano do curso Técnico em

Informática Integrado ao Ensino Médio (TINFEM), da crônica escrita pela estudante

Rebeca Sampaio Nogueira, aluna do 3º ano do TINFEM, e de poemas e prosas poéticas

produzidos por diversos alunos, também do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao

Ensino Médio.

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Por um sopro

Ouvi falar esses dias de algo que nos mata. Não é muito raro vermos coisas como

bombas, armas e até um simples resfriado que ponham por baixo da terra o mais forte

dos homens. O diferencial? Meu achado é mais que um simples inimigo da vida, é algo

essencial para mantê-la.

Para facilitar, digo que é tão simples quanto a pulsação do coração, que se

mantem a toda hora, a hora toda, e nada mais. E se não bater? A resposta é bem

simples: é porque mudamos de estado; fomos do vivo, para o morto.

Certa vez estava eu, a paisana, a desenvolver esse meu monstro; havia lido na

internet que um homem tinha conseguido segurá-lo por 22 minutos. De idiota, me dispus

a tentar, confiante de que obteria feito igual. Para isso, apostei um chocolate com meu

irmão; aquele que o segurasse por mais tempo, ganharia.

- Um minuto e meio – disse mamãe – você perdeu.

Fiquei bem chateada. Tinha certeza de que conseguiria um bom tempo, mas um

minuto e meio em comparação a 22 foi vergonhoso. Mais humilhante ainda foi ver que

meu irmão, com quase 3 minutos, finalizou lenta e calmamente seu tempo, enquanto a

mim, o bicho escapou de uma só vez, me desequilibrando, deixando-me tonta e a arfar

pelo esforço.

Foi a partir desse episódio que o assunto me interessou; fiz várias pesquisas em

livros, sites e revistas até que, finalmente, descobri o que lhes contei a pouco, no início

desse texto. Deixo então, ao leitor, a dúvida que este processo me gerou: Nós respiramos

para viver, ou respiramos para morrer?

Rebeca Sampaio Nogueira

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Eu me matei Meu corpo não reflete cor Minha vida se esvaziou Culpa ninguém tem Eu me matei Rezei ao Senhor Minha alma se deitou Nada meu corpo contém Eu me matei

Emmanuel Lima

Carta Aberta à Morte Se vens, venha logo, Dispenso todos os preparativos. Me leve, me enterre, me queime, Me possua, me corte ao meio, me asfixie. Mas de qualquer jeito, faça seu trabalho. Se vens na noite, não me acorde; Se vens no dia, não me assuste; Se vieres de repente, seja rápida. Mas de qualquer jeito, me tire essa vida.

Emmanuel Lima

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Essa é uma história antiga. Provavelmente, mais antiga do que qualquer um de nós possa contar. Essa é a história de uma paixão. Entre a vida e a morte. I Literalmente, de mundos diferentes. A morte, tão sincera e realista, prezava a verdade à vista. De perguntas ela se enchia, não se cansava de uma boa questão. As vezes até de forma mórbida, via a beleza onde não havia explicação. Nos seus mais profundos pensamentos, uma pergunta se mantinha em sua mente: existe algo que dura pra sempre? II Ah, e lá vinha a vida, com uma alegria tão exibida! Sempre energética e viril, enche de orgulho o peitoril, uma segurança mais bem firmada que qualquer dura pedra, um carisma que fazia qualquer um se apaixonar por ela. Dizem que ninguém negava, ela realmente era cabeça dura. Era o que ela queria e ponto! Será que teimosia tem cura? III A natureza da vida, era sempre tão vívida. Ela sabia sua importância e o motivo do seu nome... Dava vida a animais, criaturas ou homens. O dom do viver, do sentir e do saber, coisas que a morte valorizava e procurava enaltecer. A morte já não tinha a mesma habilidade, tudo que ela tocava morria, essa era sua maior capacidade... Esse amor que sofria da ausência da presença em fartura, que sofria na solidão da amargura. Por causa do dom da morte, elas não podiam uma da outra chegar perto. Por recados e homenagens, faziam de tudo para o amor não morrer e de seus corações se fazer um deserto. A Morte não podia presentear a vida, tudo que ela tocava virava de natureza morta. Então, lhe honrou com o maior dos ensinamentos: Valorizar aquilo que se têm a volta. Essa parte da história ninguém sabe explicar o porquê. A vida mandava de longe buquês e presentes, que a morte guardava... pra sempre.

Emanuela Gomes

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Parede Branca Para você que olha diretamente na textura dela Saiba que nunca foi uma simples parede branca Tantas coisas acontecerem, e ela é testemunha Testemunha de todas as boas e más lembranças. Pensar que já foi decorada por inúmeros pôsteres Bandas de rock, cantores românticos, muitos hobbys Não sei explicar como tudo aconteceu, somos jovens Talvez não estava na hora, éramos muito snobes. Inocentemente querendo nos aventurar num mundo Num mundo estranho, desconhecido, assustador E essa parede de todas as nossas loucuras foi admiradora Nossas brigas foram incontáveis, vários gritos de horror. Fico pensando em como apagar essas memórias Mas não há como, encher essa parede de tinta Estaria só aumentando o vazio que existe em mim Um vazio esse que me machuca e muito alto grita. E então, o que faço com você parede branca? Única e sólida testemunha da vida minha, a perdição Se esteve aí todo esse tempo, se pudesse falar, Tenho certeza que seu conselho seria uma salvação. Porém, você não pode nem mesmo sussurrar No mundo não existe magia e não devia tanto me iludir Ainda assim posso apostar com essa parede a minha vida Que irei tê-la de volta, nosso amor não deixarei ruir."

Gustavo Odelon

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Mar Muitas pessoas fotografam o mar, mantendo-o imóvel, frio e distante, quando o que realmente importa é sua mobilidade, suas ondas quebrando nas rochas que são desgastadas anos após anos, eras após eras, até que não mais existam. Uma fotografia não abrange todos esses tópicos, não capta o cheiro de sal e água, o som dos ventos se quebrando sob ela, desfazendo-se e refazendo-se a cada respiração. Fotografe com os sentidos, digo. Sinta, guarde na memória. Não deixe a memória se quebrar nas ondas do seu mar.

Heloísa Lima

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Melodia e luz

E da chama que alenta Num turbilhão que consome

Do calor de uma brasa No fulgor terrível que irrompe

E as labaredas que outrora cintilavam Que da escuridão nos livravam

Num faiscar de luz em terror se tornaram A magnífica dança de som e luz

Que a clareira tomava sob o plácido luar Desfaziam-se no sonido caótico do desespero

Da corda vibrante em aprazível melodia No clamor do medo em meio à fumaça E o fogo tomava as copas mais altas

Enquanto em meio às labaredas Do sentimento do gênio

Em frágeis linhas gravado O papel se enegrece

As tão preciosas notas se vão Deixando apenas a memória

E em cinzas com o vento desaparece Tão insigne eterna partitura

Daniel Piva

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Com o intuito de incluir os participantes do evento nas produções artísticas,

promovemos, ainda, instalações colaborativas, com as quais cada participante pode

interagir, contribuindo com novas formas de ver e perceber o mundo. No mural

colaborativo de poemas dadaístas era possível criar poemas sorteando palavras e

colando-as no mural de forma livre. No mural das ideais, os pensamentos puderam tomar

forma de versos e serem expostos de forma divertida e criativa.

MURAL COLABORATIVO DE POEMAS DADAÍSTAS

FONTE: Moscardini (2017).

MURAL DE IDEIAS

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No mural os participantes do evento publicaram versos sobre seus pensamentos. FONTE: Moscardini (2017).

BALÕES DE IDEIAS

FONTE: Moscardini (2017).

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A forma como vemos o mundo e o traduzimos, recorrendo às diversas linguagens,

amplia a significação dos objetos, sentimentos e acontecimentos por meio da subjetivação

e da confluência de signos. Perceber o outro é um processo de reconstrução da

realidade, assim como perceber o mundo é incluir-se nele, de modo autônomo, cidadão e

transformador. Todavia, perceber, por si só, é apenas a primeira ação necessária para

transpor a barreira do “eu” e adentrar no “outro”. É preciso, também, representar a

realidade, com vistas à formação de conceitos, ideias, incômodos, desacertos e debates.

As artes são um caminho privilegiado nesses movimentos de ressignificação, às quais

recorremos para evidenciar, por meio dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos do IFPR

– Campus Londrina, para discutir temas relevantes e impactantes que precisam ser

repensados por cada um de nós. É nesse sentido que o 2º CEPEQUINHO abre espaço

não apenas para as produções acadêmicas, mas também para as culturais em igual

importância. Nessa edição do evento contamos com exposições artísticas, leituras e

intervenções poéticas. A ação criativa é sempre uma ação de coragem, afinal, é um

colocar-se no mundo, um agir tão necessário em um contexto em que somos convocados

unicamente à reprodução alienada de papéis fixos. Em maior ou menor grau, o “eu” e o

“outro” estão sempre problematizados na produção artística – em todas as linguagens –

por colocar o criador em confronto com o que o cerca.

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PAINEIS DO PROJETO “POLÍTICA E DECOMPOSIÇÃO”

TRABALHOS DO PROJETO DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E POESIA

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TRABALHOS DO “PROJETO DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA” E POESIA

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6 RESUMOS E RESUMOS EXPANDIDOS

Os resumos dos trabalhos apresentados do 2º CEPEQUINHO demonstram a

diversidade de temas abordados no evento, destacando, assim, a importância das

ciências humanas e sua inserção nas questões do contemporâneo em diferentes escalas

e a possibilidade de se relacionar com as outras áreas. Estabelecendo um diálogo entre

os indivíduos e suas representações sociais. As atividades de pesquisa realizadas no

IFPR/Londrina, na área de ciências humanas, indicam o potencial reflexivo a ser

desenvolvido na iniciação científica. Em especial, no que se refere ao ensino médio,

percebe-se a importância de se construir uma ponte entre o ensino básico e o superior,

valorizando a capacidade investigativa do adolescente. Esse potencial se sobressaiu

tanto nas apresentações orais quanto nesses resumos aqui apresentados, o que se nota

nos trabalhos destaques do evento, que evidenciam a seriedade analítica com a qual se

propõe uma investigação nas ciências humanas. Assim, os trabalhos que se destacaram

foram (em ordem alfabética):

▪ A apropriação do vocabulário técnico da informática em atividades didáticas

das disciplinas curriculares do IFPR. Autora: Maria Eduarda Teixeira.

▪ Calçadão de Londrina: exploração sonora do espaço cotidiano. Autora: Mariana

Mantovani de Quadros Rapacci;

▪ Dia e noite: os sons do Calçadão de Londrina. Autora: Lorraine Fernanda

Beltrane;

▪ Inovações arquitetônicas nas catedrais góticas: geometria simbólica em busca

da ascensão espiritual. Autores: Daniel Felipe Piva dos Santos, Ester Kimie

Sato, Fernanda Landin da Silva, Laura Ferreira Rocha;

▪ Metodologia de pesquisa em Artes: estudo do incidente em Tunguska, de

Pedro Franz. Autores: Bianca Gomes de Souza, Guilherme Braga e Ingrid

Volpato;

▪ O imaginário grotesco em Lourenço Mutarelli. Autoras: Isabella Maria Píccolo

Estevão.

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6.1 RESUMOS

6.1.1 A APROPRIAÇÃO DO VOCABULÁRIO TÉCNICO DA INFORMÁTICA EM ATIVIDADES DIDÁTICAS DAS DISCIPLINAS CURRICULARES DO IFPR

Maria Eduarda Teixeira6 Palavras-chave: Informática; Terminologia; IFPR. Ao observar a sociedade brasileira atual, é possível perceber que a informática se tornou uma temática muito presente no cotidiano da população, principalmente daquelas que trabalham ou estudam a área, fazendo com que palavras e termos técnicos da informática eclodam durante as situações de uso da linguagem. Sendo a terminologia um conjunto de termos específicos de um determinado ramo, a informática também possui a sua e é composta de palavras técnicas em português e em línguas estrangeiras, que foram e ainda são apropriadas pela língua portuguesa, afinal o Brasil é um importador dessa ciência e, assim como outros países importadores, absorve em sua língua palavras de origens estrangeiras, principalmente de origem inglesa. Essa terminologia técnica é cada vez mais presente em cursos de informática, como os oferecidos pelo Instituto Federal do Paraná – Campus Londrina (IFPR), são eles de Técnico em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e de Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio. Este trabalho tem por objetivo verificar o quão frequente é a utilização desse léxico pelos discentes dentro de disciplinas ligadas às áreas de tecnologia da informação nesses cursos através da análise de atividades que são propostas nessas aulas, sendo assim, é possível verificar qual a recorrência dos termos técnicos apropriados pela língua portuguesa dentro de cada disciplina técnica dos diferentes cursos. Também é possível analisar a influência da informática ao escrever textos em atividades de disciplinas técnicas e verificar se os alunos têm absorvido e compreendido os principais léxicos de informática a ponto de usa-los nessas atividades. Além disso, ao partir do fato de que esses cursos possuem alunos de diferentes níveis de ensino de informática, com diferentes graus de aprendizado, a frequência de uso do campo semântico dessa área também varia, afinal, quanto mais os estudantes se aprofundam no assunto, mais conhecimento da terminologia da área eles possuem. A análise do léxico técnico em informática é essencial para o entendimento do processo de adequação do vocábulo técnico pela língua portuguesa e a partir dos resultados obtidos com a pesquisa é possível compreender essa adequação e o quão presente ela é na vida acadêmica dos alunos do IFPR.

6 Estudante do curso Técnico em Informática integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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6.1.2 ALGUNS INFINITOS SÃO MAIORES QUE OUTROS

Edvaldo Rodrigues de Oliveira Junior7 Giovana Ribeiro Munaro8

Maria Beatriz Acioli Silva9 Renan Felipe Santos José

Orientadores: Profa. Ma. Kátia Socorro Bertolazi10

Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski Prof. Me. Max Alexandre de Paula Gonçalves11

Palavras-chave: Infinito; Tempo; Espaço; Matemática. O infinito é um tema em que diversas ciências procuram estabelecer um conceito, entretanto não há consenso a respeito do assunto. O objetivo deste trabalho consiste em conhecer diferentes compreensões a respeito do entendimento do significado de infinito, buscando explicações em distintas áreas do conhecimento. Tal conceito é visto muitas vezes como algo complexo e por isso, muitas pessoas em seu cotidiano tendem a evitar a discussão a respeito do tema, deixando o mesmo a cargo de comunidades científicas, filosóficas e/ou poéticas. Neste trabalho, apresentamos algumas perspectivas teóricas que permitem a compreensão e a interpretação do conceito de infinito, com base em estudos matemáticos, históricos e geográficos. Para a compreensão da temática do infinito, desenvolvemos pesquisas bibliográficas e documentais, como especial destaque para as obras “Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo até a época de Felipe II” de Braudel (1980), “A Teoria dos Conjuntos” de Pena e Miranda (2006) e “Paisagens Culturais” de Andreotti (2013), além de artigos científicos, dissertações e teses. A partir destas obras identificamos algumas formas de interpretar o infinito. Desse modo, a Teoria do Infinito de Pitágoras afirma que não importa o número que você pense, sempre haverá outro número após esse, por exemplo, 100, 100+1 ..., 1000, 1000+1..., n, n +1. Já a Infinita Divisão de Aristóteles, supõe que dado um segmento de reta pode-se dividi-lo na metade, e a parte subdividida pode ser dividida novamente ao meio, e assim seguindo um ciclo infinito de sucessivas divisões. Uma das teorias utilizadas atualmente na perspectiva da Educação Matemática é a Teoria dos Conjuntos, desenvolvida principalmente por George Cantor. Além disso, usamos também a Teoria das Longas Durações formulada por Braudel (1980), o qual afirma que para que seja estudada a História de uma forma adequada é preciso estudá-la com base em uma longa duração, mas para que se haja uma real compreensão da História é necessário utilizar pequenas e médias durações no meio da longa duração estudada, e essa teoria pode ser utilizada também no estudo do Infinito. Destoando processos de raciocínios lógicos, a geógrafa Giuliana Andreotti (2013) apresenta uma forma diferente de analisarmos paisagens infinitas. Conforme essa pesquisadora, as paisagens não podem ser compreendidas somente pelos elementos físicos que a compõem, e sim por um complexo conjunto de componentes psicológicos, históricos, literários e estéticos. Por meio desse pensamento foi possível identificar alguns elementos relevantes que compõem o infinito como o tempo e espaço. Assim como citado

7 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 8 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 9 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 10 Professora de Matemática do IFPR campus Londrina. 11 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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anteriormente, o infinito pode ser usado para contextualizar e/ou interpretar temas que geralmente não são relacionados diretamente com a Matemática, como, por exemplo, a História que pode abordar questões associadas a intervalos temporais de longa duração; ou então a perspectiva geográfica das paisagens infinitas. Com esses estudos, concluímos que o infinito pode ser interpretado de muitas maneiras dependendo do enfoque analítico e científico que se almeja atribuir; e dessa forma a dualidade de se classificar perspectivas teóricas em “certo” ou “errado” não faz sentido para a compreensão desse conceito, pois cada área do conhecimento dedica-se às investigações com distintos filtros teóricos. Sendo assim, destacamos que para estudar o conceito do Infinito há “infinitas” possibilidades, e essas tendem ao finito à medida que se escolhe a área de conhecimento que se pretende investigar. A ideia para a elaboração deste trabalho foi desenvolvida no Curso Técnico de Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio, Turma 2016, no contexto do componente curricular “Projetos”. O objetivo geral desse componente curricular consiste em fomentar e evidenciar relações interdisciplinares entre as diferentes áreas do conhecimento. No primeiro semestre de 2017, o foco de trabalho é a construção de conexões com as áreas de Matemática, História e Geografia. A inspiração para a escolha do tema Infinito veio da literatura, após a leitura de um trecho do livro “A Culpa é das Estrelas” de John Green (2014). Nesse trecho, o autor relacionou os sentimentos de uma garota com a Matemática, remetendo-os a uma compreensão diferente a respeito do tempo e do espaço. Desse modo, a realização desse trabalho nos proporcionou infinitas possibilidades de conhecimento, dentro das semanas numeradas e finitas do primeiro semestre de 2017. Deixamos aqui o convite da personagem Hazel, protagonista da obra de John Green, “não posso falar de nossa história de amor, então vou falar de Matemática”.

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6.1.3 ANÁLISE DE QUESTÕES DA OLIMPÍADA BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA: ABORDANDO ASPECTOS LINGUÍTICOS

Gustavo Palote da Silva Martins12 Heloisa Lima Martusevicz13

Palavras-chaves: Olimpíada Brasileira de Linguística; Linguística; Competências cognitivas. A Linguística é a ciência que estuda as formas de linguagem, não apenas de uma língua específica, mas os aspectos gerais da língua. Seus estudos se baseiam em seis vertentes principais, sendo elas: morfologia, sintaxe, fonética, fonologia, semântica e pragmática. Mesmo essa ciência não sendo trabalhada explicitamente na grade curricular do Ensino Médio, ela pode ser abordada em olimpíadas do conhecimento. Ao redor do mundo, essas olimpíadas são normalmente aplicadas para alunos do Ensino Médio, e no Brasil temos a Olimpíada Brasileira de Linguística que como muitas outras olimpíadas nacionais tem como objetivo principal fomentar o interesse por esta área e também selecionar alunos para representar seus respectivos países na Olimpíada Internacional de Linguística (IOL). A Olimpíada Brasileira de Linguística (OBL) acontece desde 2011 e é aplicada em duas fases a alunos do Ensino Médio. A prova se baseia na análise de padrões sintáticos, solução de códigos e estruturação de pensamento. Para se realizar a prova não é necessário que se tenha um conhecimento prévio sobre o assunto, mas apenas que tenha um raciocínio lógico e metalinguístico para a resolução das questões, já que nelas aparecem com frequência a interpretação de textos em línguas que muitas vezes não são conhecidas pelo participante. Todo ano, a olimpíada possui um nome diferente. A edição do ano de 2016 (a edição mais recente) teve como nome a palavra "Ñanduti" (ou "Nhanduti"), uma palavra de origem guarani, utilizada para nomear as teias de aranha. Diferente das edições passadas, a primeira fase foi feita online, assim proporcionando uma variedade de questões que utilizavam vídeos, imagens, músicas, entre outros. O objetivo deste trabalho é analisar as questões, o formato de avaliação e as competências cognitivas abordadas no decorrer das fases da Olimpíada Brasileira de Linguística. Para realizar as análises, será utilizado o banco de dados das provas anteriores da Olimpíada Brasileira de Linguística (edições: Kytã, Noke Vana, Paraplü, Vina, Òkun e Ñanduti), selecionando questões de primeira e segunda fase que abordam diferentes competências cognitivas.

12 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 13 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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6.1.4 AUGUSTO DOS ANJOS E O BARROCO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

Sofia Denipoti14

Orientador: Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira Profa. Dra. Karen Alves Andrade Moscardini

Palavras-chave: Grotesco; Barroco; Augusto dos Anjos. O presente trabalho propõe uma análise comparativa de alguns poemas do escritor paraibano Augusto dos Anjos e das produções artísticas barrocas, com o intuito de evidenciar e discutir as semelhanças entre as duas. No período do lançamento do “EU”, o único trabalho publicado em vida pelo autor, a poética de Augusto dos Anjos causou estranhamento devido à sua temática mórbida, voltada à representação do feio e do hediondo, que era considerada pessimista e o caracterizava como “obcecado pela morte”. Para a crítica, a linguagem científica dada por ele aos seus poemas por meio da utilização de palavras esdrúxulas e herméticas era “apoética” e de “mau gosto”. O culto ao grotesco e o repúdio ao belo em sua poesia, no entanto, proporciona uma inversão dos valores cunhados à crença cristã do apocalipse. O feio, portanto, se apresenta com a autêntica face do material e do mundano, é a desmoralização do belo como máscara da podridão humana. A inversão do papel do feio corporaliza ao belo as tentações do mundo material e dos pecados carnais. Essa contraversão enuncia a supremacia cristã do espírito sobre a carne, do Celestial sobre o Terreno, dos últimos sobre os primeiros, da crucificação sobre a gozação, e, principalmente, da morte sobre a vida. A morte, tema muito presente em seus poemas, é a síntese final da dialética entre o belo de um mundo preestabelecido (tese) e o feio (antítese). E não poderia ser outro o caminho da superação do primeiro senão pela morte, já que ela representa a ultrapassagem das derrotas do mundo terrestre ao triunfo do além vida. O evidente cientificismo de Augusto dos Anjos, diferente do que se pode pensar, não é nenhum estorvo à sua concepção existencial cristã, mas, sim, um complemento a ela, equipando-a de expressões, termos e conteúdos, que reforçam o feísmo de um mundo em putrefação. Essa dualidade entre misticismo e cientificismo é notória também nas produções artísticas barrocas, nome que por si só já evidencia o absurdo e o grotesco que o estilo representava para a sua época. A ambiguidade das temáticas, ora do encanto ascético decorrido do ressurgimento de um espírito religioso, fruto da contrarreforma, ora do desencanto ascético provindo da racionalização da vida renascentista, é presentes na representação da morte, que aponta o sentimento de fugacidade e expressa a religiosidade do homem barroco, e do feísmo, ambos comuns à poética de Augusto dos Anjos. Este trabalho, portanto, visa refletir sobre a presença de dualidade como estratégia poética em diferentes períodos e autores. Nos casos estudados, tal estratégia parece representar as angústias e o paradoxo da relação entre o indivíduo, seu mundo e suas crenças.

14 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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6.1.5 DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO MOBILE PARA FACILITAR PROFESSORES A ENCONTRAREM FILMES QUE PODEM SERVIR DE MATERIAL PEDAGÓGICO POR MEIO DA BUSCA DE TAGS

Caio José Fonteque Gaspar15

Orientador: Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira Palavras-chave: Cinema; Aplicativo; Educação. A maneira como se ensina e como se aprende é transformada de acordo com as evoluções e organizações da sociedade. A primeira forma de educação foi mediante a tradição oral, e até os dias de hoje a linguagem falada ainda é o principal meio de transmitir conhecimento dentro de uma sala de aula, e graças aos acelerados avanços tecnológicos é atualmente auxiliado por diversas ferramentas pedagógicas. Recentemente na história foi reconhecido que as pessoas aprendem e possuem habilidades de desenvolvimento de conhecimento de modos diferentes uma das outras. Segundo a teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner, existem sete inteligências e cada pessoa reagirá diferente ao processo de aprendizagem, de acordo com as suas inteligências predominantes. São elas: Lógico-Matemática; Linguística; Espacial; Corporal-Sinestésica; Interpessoal; Intrapessoal e Musical. Posteriormente foram adicionados pelo autor mais duas inteligências: Natural e Existencial. Sendo assim o educador, frente a esses múltiplos perfis potenciais de conhecimento, tem o papel de ajudar e incitar a educação formal de todos, sem exclusão. Para isso é necessário que haja uma dinâmica na didática e um incentivo a diferentes áreas cognitivas, para que se tenha uma melhor fruição do conteúdo pedagógico por parte dos alunos e seus diferentes modos de aprender. Em um tempo em que a rapidez e a agilidade no transmitir das informações são questões prioritárias, a educação não pode se manter estática. Para apoiar o profissional da educação nessa demanda as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e o cinema podem ser aliados significativos, mas para isso é preciso que o professor as conheça e esteja disposto a experimentá-las em suas preleções. Com o intuito de atender e auxiliar o professor a se adequar a esta nova situação educacional este projeto pretende desenvolver um aplicativo de fácil uso e entendimento que, por meio de um serviço especializado, acessará um banco de dados de títulos cinematográficos. Tem-se a intenção de facilitar a procura por filmes relacionados aos conteúdos didáticos por meio de tags, e como resultado da busca, a apresentação de uma lista de filmes e informações básicas sobre esses, que podem ser opções ao usuário e as suas intenções com o material. Entretanto, para que um educador seja capaz de explorar e compartilhar com seus discentes todo o potencial educativo de um filme é necessário que ele tenha um conhecimento básico sobre a linguagem cinematográfica, e saiba como analisá-la e utilizá-la em sala de aula. Por conseguinte, foi levantado como objetivo específico desse projeto estudar e entender o cinema como linguagem, e compreender como fazer uma análise significativa e útil de uma obra fílmica.

15 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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6.1.6 INVOÇÕES ARQUITETÔNICAS NAS CATEDRAIS GÓTICAS: GEOMETRIA SIMBÓLICA EM BUSCA DA ASCENSÃO ESPIRITUAL

Daniel Felipe Piva dos Santos16

Ester Kimie Sato17 Fernanda Landin da Silva18

Laura Ferreira Rocha19

Orientadores: Profa. Ma. Kátia Socorro Bertolazi20 Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski

Prof. Me. Max Alexandre de Paula Gonçalves Palavras-chave: Catedrais Góticas; Elementos geométricos; Paisagem geográfica. O período Gótico na Europa compreendeu do século XII ao XV e acompanhou fortes mudanças na organização social, política e econômica da sociedade medieval. Embora tenha se desenvolvido em diversas vertentes artísticas, caracterizou-se essencialmente pelas inovações arquitetônicas que se manifestaram nas catedrais, por meio da verticalidade com imensas torres preenchidas por vitrais que proporcionavam em seu interior a sensação de proximidade com o celestial. Este trabalho tem como objetivo analisar a presença de elementos geométricos fundamentais para a formação dos arcos, arcobotantes e abóbodas por meio da sobreposição/projeção destes nas Catedrais Góticas, além de perceber a influência das mesmas na paisagem geográfica e no processo de urbanização. Para isso foram selecionadas três Catedrais Góticas no dado recorte temporal, sendo as seguintes: Notre-Dame de Paris, Notre-Dame de Amiens e Kölner Dom (Colônia). Os procedimentos metodológicos utilizados consistiram em pesquisas bibliográfica e documental, artigos científicos e obras literárias, sendo estas últimas “A imagem da cidade” de Kevin Lynch, “Great Buildings” de Philip Wulkinson e “História da Idade Média” de Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez. Além disso, pesquisou-se acervos audiovisuais que se referem a documentários a respeito da temática. Os resultados obtidos até o presente momento indicam que os elementos geométricos fundamentais utilizados foram o triângulo equilátero e o quadrado, sendo que a partir desses foi possível desenvolver todas as outras dimensões geométricas das construções. Essa geometrização foi constituída por leis de harmonia e proporção determinadas segundo o traçado regulador associado a métodos matemáticos tais como Adquadratum e Adtriangulum, além da proporção áurea, relação geométrica indispensável para caracterizar a identidade visual das Catedrais Góticas. Os estudos realizados permitiram reflexões analíticas destacando a relevância das construções das Catedrais Góticas no processo de urbanização da sociedade medieval, e as modificações de sua influência social e geográfica ao longo do tempo. Acrescentamos o emprego do conceito de imaginabilidade proposto na obra de Lynch, de modo que percebemos relações de um marco da paisagem geográfica com a mentalização que se faz de uma cidade, e da valorização social que não se dava apenas do âmbito da fé, mas também no encantamento gerado pela grandiosidade e beleza simétrico-geométrica das construções,

16 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 17 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 18 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 19 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 20 Professora de Matemática do IFPR campus Londrina.

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proporcionadas pela aplicabilidade de vários conceitos matemáticos associados à Engenharia Civil da época. Além dos aspectos já citados, concluímos que no decorrer dos anos, as influências das Catedrais Góticas se diversificaram nas diferentes cidades onde foram construídas, em decorrência de fatores como modernização, e acontecimentos históricos, por exemplo, as guerras. Este trabalho foi desenvolvido dentro do componente curricular Projetos do Curso Técnico de Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio - Turma 2016, tendo como um dos objetivos a promoção de ações interdisciplinares as quais auxiliam na popularização da Matemática, ao utilizá-la como linguagem e relacioná-la com diversas áreas do conhecimento. Destacamos que este trabalho está em conformidade com a proposta do Biênio Matemática Brasil 2017-2018, evento que busca fomentar ações educativas que se proponham a construir, produzir e disseminar experiências e práticas pedagógicas que estimulem o estudo, a pesquisa e o aprendizado da Matemática em contextos sociais, culturais e científicos.

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6.1.7 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E CHATBOT: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIAIS

Walacy da Silva Campos21 Palavras-chave: Chatbots; Inteligência Artificial; O Indivíduo e a Tecnologia. A Inteligência Artificial sempre instigou as pessoas a buscarem construir entidades que fossem semelhantes a inteligência humana. A partir desse caminho, linhas de pesquisa foram traçadas, que atualmente vem ganhando mais visibilidade e espaço na sociedade. Carros autônomos, smarthouses e até mesmo robôs domésticos já são uma realidade presente na vida de inúmeras pessoas. Dentre uma das mais interessantes formas de intervenção que a Inteligência Artificial oferece, são os robôs de conversação. Os robôs de conversação, isto é, os chatbots, são programas que buscam simular um diálogo, transmitindo a sensação, ainda que temporariamente, de que um interlocutor está dialogando com uma pessoa. Eles se encaixam na linha de pensamento que os autores Russel e Norvig classificam como “agindo como humanos”, contendo uma das definições de Inteligência Artificial definidas por Elaine Rich e Kevin Knight como “o estudo de como os computadores podem fazer tarefas que hoje são melhor desempenhadas pelas pessoas”. Assim como os seres humanos, os robôs de conversação também podem ser dinâmicos e ter sua própria personalidade, além de estarem presentes na sociedade atendendo a uma gama de funções em diversas áreas, atuando com atendimento, como assistentes pessoais, e-commerce, entretenimento, jogos, mídia e muitos outros. O projeto tem como objetivo construir uma ferramenta que permita que pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em informática, tenham acesso e, principalmente, sejam capazes de construir seus próprios robôs de conversação, fomentando, assim, uma nova cultura de comunicação. Cultura essa que, além de já ser uma realidade, fará parte do espaço do indivíduo na sociedade, esta, que por sua vez, está mergulhada na era da tecnologia da informação. O espaço do indivíduo na sociedade estará cada vez mais entrelaçado com o mundo da tecnologia. Tecnologia essa que não virá para substituí-lo, mas sim para ajudá-lo em suas conquistas.

21 Estudante do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas do IFPR campus Londrina.

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6.1.8 O CINEMA COMO FORMA EDUCATIVA NA EMANCIPAÇÃO FEMININA

Prof. Dr. Omar Arafat Kdudsi Khalil22 Gabriela Lopes Silva23

Prof. Me. Rogério Martins Marlier Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira

Ma. Tania Paula Peralta24 Luiz Gustavo Onisto de Freitas25

Guilherme Akira Demenech Mori26 Gabriel Victor Tiva de Lima27

Palavras-chave: Cinema; Educação; Feminismo. O cinema é um meio de comunicação que pode ser utilizado muito além do entretenimento, podendo-se exemplificar seu poder educativo e como meio de reflexão das ações humanas e de outros seres vivos em toda a cronologia de vida no planeta, seja de forma ficcional ou baseado em realidade. Em ensino, pode ser utilizado em qualquer nível escolar, em todas as áreas do conhecimento e até mesmo nos chamados “temas transversais”, que tratam sobre situações de caráter social e que são incluídos no currículo escolar desde o ensino fundamental não como uma área de conhecimento específica, mas como conhecimentos que devem ser ministrados dentro das várias áreas ou disciplinas estabelecidas. Neste contexto, questões relacionadas à igualdade gênero têm sido amplamente debatidas no país, em especial nos últimos anos. Quanto à questão do papel ou papéis exercidos pela mulher, a sociedade brasileira ainda não evoluiu para resolução deste problema; é fato que mesmo chegando o aniversário de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que asseguram a igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla, o país ainda está longe de garantir condições de igualdade às mulheres. Desta forma, objetivou-se utilizar o cinema no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná, Campus Londrina por meio do projeto de extensão “CineIFPR” para tratar deste assunto. Para tal, foi escolhido o filme “O sorriso de Monalisa” para uma exibição e posterior debate com os espectadores. O filme tratou sobre emancipação feminina num contexto histórico da sociedade americana na década de 1950. Trata-se sobre a contratação da professora Katherine Watson, interpretada por Julia Roberts, que possui formação e atitudes considerados “além” dos limites de uma mulher de seu tempo. O Curso de Artes da instituição de ensino superior americana em que a docente leciona é voltado para educação feminina, na qual as jovens eram instruídas a serem futuras esposas cultas e mães dedicadas ao lar. Ao longo do filme pode-se notar que enquanto a docente procura demonstrar as discentes a importância da igualdade dos gêneros, a administração escolar a reprova em suas ações, o que não impede a mudança provocada por seu trabalho entre as estudantes. Após o filme, seguiu-se um debate entre os espectadores nas quais foram

22 Professor de Biotecnologia do IFPR campus Londrina. 23 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 24 Pedagoga do IFPR campus Londrina. 25 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 26 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 27 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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apontadas semelhanças entre os acontecimentos na faculdade americana e em nossa sociedade.

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6.1.9 PRECONCEITO E RACISMO: O USO DO CINEMA COMO FERRAMENTA EDUCATIVA

Prof. Dr. Omar Arafat Kdudsi Khalil28 Thiago da Silva Almeida29

Prof. Me. Rogério Martins Marlier Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira

Ma. Tania Paula Peralta30 Luiz Gustavo Onisto de Freitas31

Emmanuel Maldonado Lima32 Isadora Aviles Cabrera Nuvoli Correia33

Palavras-chave: Cinema; Preconceito; Racismo. Preconceito é um julgamento na qual se infere sobre o outro ou sobre um coletivo uma diferenciação, um ato discriminatório baseado em superficialidade e injustiça. Já o racismo está relacionado à afirmação e sensação de superioridade sobre o outro ou seu coletivo devido a determinadas características destes. Entre as formas mais comuns de preconceito e racismo estão às relacionadas à cor da pele e neste contexto o negro, não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo, ainda é uma das maiores vítimas deste crime. Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos esteja próxima de completar sete décadas e aponte que todos ser humano pode invocar os direitos e as liberdades universais proclamados neste Documento, é facilmente observável que ainda é forte a ocorrência de discriminações e racismo no país. Dados econômicos e sociais demonstram o quanto à cor da pele “afasta” o negro das posições de maior prestígio ou remuneração. Mais recentemente, organizações da sociedade civil têm obtido muitos avanços em mudanças na legislação que dirimiram ações, comportamentos e atitudes discriminatórios. Exemplifica-se a inserção de quotas em escolas públicas para negros, por exemplo. Muitas outras ações buscam tratar sobre o preconceito e discriminação racial, como ações educativas e campanhas de conscientização. Neste contexto, o cinema é uma ferramenta que também pode ser utilizada, uma vez que possui poder além do entretenimento, podendo ser utilizado para criar, despertar e estimular reflexões sobre ações humanas. Neste sentido, objetivou-se utilizar o cinema no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná, Campus Londrina por meio do projeto de extensão “CineIFPR” para tratar sobre este assunto. Para tal, foi escolhido o filme “Histórias Cruzadas” para uma exibição e posterior debate com os espectadores. O filme tratou sobre a construção de amizade entre mulheres negras e uma branca no Mississipi-EUA durante os anos 1960. Skeeter, interpretada por Emma Stone é uma jovem que está determinada a se tornar escritora. Ela começa a entrevistar as mulheres negras da cidade, que dedicam suas vidas para trabalhar na criação dos filhos da elite branca, da qual a própria Skeeter faz parte. Aibileen Clark interpretada por Viola Davis é a primeira a ser entrevistada, o que desagrada a sociedade como um todo. Apesar das críticas, Skeeter e Aibileen continuam trabalhando e, aos poucos, conseguem novas adesões,

28 Professor de Biotecnologia do IFPR campus Londrina. 29 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 30 Pedagoga do IFPR campus Londrina. 31 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 32 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 33 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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como a de Minny, interpretada por Octavia Spencer, cozinheira que é constantemente despedida das casas onde trabalha por não aceitar atos de discriminação de seus empregadores. Após o filme, seguiu-se um debate entre os espectadores nas quais foram apontadas semelhanças entre os acontecimentos discriminatórios e racistas ocorridos no filme em nossa sociedade. Destaca-se a grande participação do público, o que demonstra o quanto o cinema pode influenciar em nosso comportamento e em mudanças significativas para a sociedade.

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6.1.10 PROCESSAMENTO DE IMAGEM: ANALISANDO OS IMPACTOS SOCIAIS

Thiago Guerra Furuta34 Palavras-chave: Processamento de imagem; Tomografia; Gestos. O processamento de imagens se refere ao ato de processar imagens digitais por meio de um computador. Apesar do processamento de imagens não ser algo inédito continua a ser uma área em crescimento e fortemente incentivada, pois os feitos e as vantagens que podem ser conquistadas são grandes. Há inúmeros lugares que fazem o uso do processamento de imagem e passam despercebidos, como o reconhecimento facial utilizado para desbloquear alguns dispositivos. Algumas vezes a técnica é utilizada em conjunto com outras, por exemplo, a inteligência artificial. Com estas duas técnicas e um banco de dados com várias fotos de pessoas e informações pessoais, é possível tratar uma nova foto, verificar se há alguma pessoa nela e em casos positivos, sugerir quem é a pessoa na foto comparando com as fotos salvas no banco de dados. Este exemplo de aplicação pode ser encontrado em muitas das redes sociais atuais. Uma área interessante do processamento de imagens é o reconhecimento de gestos. Como o próprio nome induz, esta é uma técnica que trabalha em cima de imagens de uma câmera qualquer - sendo elas um vídeo ou não - e é capaz de abstrair os gestos que são representados nelas, a partir destes gestos as possibilidades são infinitas, realizando funções que vão desde operações simples como abrir uma porta, até ações mais complexas como interagir com um sistema. Pode não aparentar de imediato, mas este é um recurso muito útil, principalmente quando o contato físico é limitado e a assepsia é priorizada. Eventualmente durante cirurgias muitos médicos desejam ter acesso à uma tomografia feita do paciente para melhor poder estudar a situação atual e prosseguir da melhor forma com a operação. Porém devido aos protocolos de segurança ao paciente e esterilização da sala cirúrgica, não é possível que o cirurgião presente no sítio cirúrgico acesse a imagem de tomografia por meio de periféricos que exigem o contato físico, por exemplo, teclado, mouse e celulares. Este projeto sugere um meio para que o médico possa consultar e analisar uma imagem de tomografia em tempo real, utilizando-se da técnica do reconhecimento de gestos adquiridos através de uma câmera que, posteriormente serão traduzidos em comandos, e uma tela para exibir a tomografia salva em algum dispositivo de armazenamento. Este recurso supriria a dificuldade de um médico cirurgião ao consultar um exame de tomografia feito do paciente sem comprometer a higiene e principalmente sem expor o paciente a potenciais infecções causadas no sítio cirúrgico, isso acarretaria em menos complicações pós-operatórias e consequentemente em menos gastos hospitalares e possivelmente salvaria mais vidas.

34 Estudante do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas do IFPR campus Londrina.

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6.2 RESUMOS EXPANDIDOS

6.2.1 A IMAGEM DA SOCIEDADE NOS JOGOS DIGITAIS E SUA INTERAÇÃO NO CONTEXTO DO JOGADOR/ESTUDANTE

Guilherme Akira Demenech Mori35

Orientador: Prof. Me. Max Alexandre de Paula Gonçalves

Palavras-chave: Representação; Interação; Jogos digitais.

INTRODUÇÃO

Desde a sua origem, os Jogos Digitais representam a cultura e a sociedade a

partir de uma ampla perspectiva (vinculada ao seu contexto de desenvolvimento, crítica e

circulação), agregando aspectos socioculturais de seu tempo à visão ilustrada.

Assemelham-se aos demais meios de comunicação e cultura, como alguns relativamente

mais antigos (mas também muito jovens) como o Cinema, a Televisão e o Rádio,

denominados todos de Artefatos Culturais (junto à Literatura, às Artes Visuais e Cênicas,

a Música, e tantos outros membros do circuito cultural). Os Jogos Digitais são, em suma,

representações e construções das ideias da coletividade, tais como as demais diversas

mídias e suportes, visto seu caráter cultural.

Ao considerarmos a representatividade dos jogos digitais, e seu potencial de

interação com o jogador, o presente trabalho propõe a análise dessa infante mídia, assim

como os elementos de significação e ressignificação de conhecimentos dela, o diálogo

com o jogador/interator, e as diversas possibilidades de exploração educacional. Para

isso, é estudada a representação e transmissão de ideias e aspectos culturais pelos jogos

digitais, tendo em vista sua influência na Cultura e na Sociedade.

MÉTODO

A pesquisa foi realizada por meio do levantamento de revisão bibliográfica

referente ao tema “Jogos Digitais” no campo Educacional, Histórico e Cultural, mas

também no das Mídias pela ótica sociocultural. Como fontes primárias, foram utilizadas as

ferramentas de pesquisa do SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e do Google

Acadêmico, e, complementa-se com a análise dos Jogos Digitais presentes em

35 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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plataformas como Steam, em portais individuais e, excepcionalmente, no portal de jogos

autorais Newsgaming. Por fim, foi utilizado o livro “Cultura da Convergência”, de Henry

Jenkins (2006).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Foram utilizados os conceitos de Artefato Cultural (MORAIS e ASSIS, 2008), em

que consistem os meios de comunicação, as mídias digitais, as obras artísticas, e tantos

outros objetos sujeitos ao estudo desse conceito devido a seu caráter de representação e

ressignificação de ideias no coletivo.

Ademais, utilizamos também a definição de Iconosfera fornecida por Ulpiano T. B.

Meneses: “o conjunto de imagens que, em um dado contexto, está socialmente acessível”

(MENESES, 2003, p. 15) e de Imagem: artefato cultural que se relaciona, pelo menos em

parte, com o visível. Tendo em vista o estudo de Meneses, os jogos digitais integram à

Iconosfera do mundo globalizado contemporâneo, se relacionam com as outras Imagens

e influenciam na construção de sentido.

A Cultura da Convergência de Henry Jenkins (2006) colabora com o

entendimento da participação dos jogos digitais (e das outras mídias e artefatos culturais)

na Sociedade e na Cultura. Jenkins estuda as relações de interdependência entre as

mídias e sua recente, e também histórica, aproximação, marcada neste período em que

os jogos digitais surgem com o cerne de transcendência de mídias: a formação de

artefatos culturais com faces de diversas mídias (televisiva, jogada, online e outras).

Assim, os jogos digitais, uma mídia híbrida de comunicação e narração, possui como

peculiaridade a interação, um dos principais objetos de análise de Jenkins, que salientou

a influência desse aspecto nas outras mídias, como a produção de filmes relacionados

aos videogames, ou mesmo aos livros e às histórias em quadrinhos, mas também à

divulgação nas mais diversas plataformas e tantos outros momentos em que a Narrativa

Transmídia e a Cultura da Convergência, termos conceituados pelo autor, se expressam

na Sociedade e fazem seu papel na Cultura e na Comunicação: são Artefatos Culturais

inter-relacionados.

QUESTÃO EDUCACIONAL

Ao considerarmos a característica comum entre os Artefatos Culturais, tais como

a representação e a proximidade com o público jovem (GEE, 2003 apud MAGNANI,

2007), consideramos que eles podem ser ferramentas no processo de ensino-

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aprendizagem, tendo em vista sua semelhança midiática com os livros e os

documentários tradicionalmente utilizados em sala de aula. Os estudantes, atuais jovens,

denominados Nativos Digitais por Frosi e Schlemmer (2010), poderiam usufruir da

imersão e, consequentemente, do possível entretenimento de jogos digitais para

complementar seu estudo acadêmico, com os devidos tratamentos metodológicos e

críticos, como foi proposto por Magnani em trabalho de 2007. A imersão do jogo,

estudada por Fragoso (2014), propiciada pela interatividade digital, é o elemento chave

dessa mídia: a transmissão de ideias está intrinsecamente ligada à imersão, e a

Educação pode se apropriar disso para despertar o interesse e incitar o debate entre os

jogadores/estudantes.

CONCLUSÃO

Este trabalho, ainda em execução, visa analisar os Jogos Digitais enquanto mídia

híbrida e instrumento da cultura, com enfoque na questão educacional. Observa-se que a

multiplicidade midiática dos Jogos Digitais, aliada ao seu potencial de imersão pela

interação, participa ativamente da construção individual e social da Cultura, e, portanto,

possui amplo campo de estudo histórico e educacional. Há de se ressaltar a interação

entre os muitos artifícios do jogo, não somente o visual isolado, e sim todas as suas

facetas, que se relacionam, também, com as outras mídias, e que propiciam a bagagem

cultural abundante desses jovens, e já bastante desenvolvida, daqueles artefatos

culturais.

REFERÊNCIAS FRAGOSO, S. Imersão em games narrativos. Galaxia (São Paulo, Online), n. 28, p. 58-69, dez. 2014. FROSI, F. O.; SCHLEMMER, E. Jogos Digitais no Contexto Escolar: desafios e possibilidades para a Prática Docente. In: Simpósio Brasileiro de Jogos e Entretenimento Digital, 9, 2010. Anais..., Florianópolis, p. 115-122. JENKINS, H. Cultura da Convergência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009. MAGNANI, L. H. Por dentro do jogo: videogames e formação de sujeitos críticos. Trab. Ling. Aplic., Campinas, 46(1), 2007, 113-125. MENESES, U. T. B. Fontes visuais, cultura visual, História visual:balanço provisório, propostas cautelares. Revista Brasileira de História (São Paulo), v. 23, nº 45, pp. 11-36, 2003.

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MORAIS, W. R.; ASSIS, R. L. A. Os jogos eletrônicos: artefatos culturais, tecnológicos e virtuais na sociedade da era digital. Centro Federal de Educação tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Grupo de pesquisa AMTEC/CNPq, 2007. Disponível em: <https://goo.gl/w5YbFW>. Acesso em: 21 ago. 2017.

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6.2.2 ANÁLISE DO DISCURSO DO MOVIMENTO ANARQUISTA NAS REDES SOCIAIS DA INTERNET

Leandro Martin Veiga36

Orientador: Prof. Me. Rogério Martins Marlier

Palavras Chave: Anarquismo; Análise do Discurso; Redes Sociais.

O objetivo deste trabalho é analisar discursivamente os movimentos anarquistas nas

redes sociais da internet. Não há uma homogeneidade sobre como eles se formam.

Anarquismo provém do grego anarcia, que significa sem Governo, ou seja, uma

sociedade livre de todo o domínio político autoritário na qual o sujeito é livre num contexto

sociopolítico (BOBBIO, 2010). Anarquia não é caos, no entanto, não é ordem, mas

provém do sentido literal da palavra anarchos. Partindo do exposto, o anarquismo e as

suas expressões na internet, será entendido enquanto movimento social. Estes, segundo

Gohn (2000), se caracterizam pela identidade comum, o que os diferenciam de grupos de

interesse. Protestos, manifestações, rebeliões, ocupações, invasões, entre outros,

isoladamente não são considerados movimentos sociais, são modos de estruturação de

ações coletivas. Outra característica importante classificada por Gohn é o espaço não-

institucionalizado no qual atuam os movimentos. Eles não são ligados a empresas e nem

ao Estado. Segundo Giddens (2012) existem diversas teorias sobre movimentos sociais e

uma que pode ajudar na construção do entendimento do movimento anarquista é a de

Novos Movimentos Sociais. Estes movimentos se diferenciam dos movimentos

tradicionais, uma diferença aparente é a nova maneira de se lidar com o ambiente

industrial, eles prezam por uma cultura mais pós-materialista, criando assim o pós-

industrial, ou seja, prezam por uma agenda como, a geração de energia limpa ou o bem-

estar da natureza. Bem-estar é o âmbito principal da característica desses movimentos,

assim esquecendo um pouco o aspecto trabalhista, dando menos importância ao material.

Os novos movimentos sociais se organizam de uma maneira distinta, de maneira mais

horizontalizada, diferente da organização fixa que os movimentos tradicionais tinham. Os

novos movimentos sociais têm um repertório maior de ações que vão, desde o lobby

político até as manifestações de rua, priorizando as manifestações não violentas. Os

36 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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movimentos sociais usam massivamente as redes sociais, assim, podendo articular o

movimento em qualquer lugar do mundo. (GIDDENS, 2012). Para Giddens, A Escola de

Chicago de Sociologia é considerada uma das primeiras a estudar sistematicamente às

formas de comportamento coletivo, os sociólogos que estudaram essas formas de

comportamento consideraram os movimentos como agentes de mudança social e não

apenas produtos delas. Para Giddens, Blumer propôs uma teoria denominada

“inquietação social “que dizia que toda movimentação social é causada por alguma

insatisfação. Blumer mostra que os movimentos têm um “ciclo de vida”: fermento social,

animação popular e institucionalização, que seria o último passo do movimento social.

Dessa forma, para estudar o movimento anarquista é necessário entendê-lo, enquanto

movimento social, pois, além de ter uma estrutura organizacional, o processo de

constituição deste movimento é histórico e remonta aos séculos XVIII e XIX. O primeiro

autoproclamado anarquista foi Proudhon em sua obra “O que é a Propriedade”, seguido

por vários teóricos, Thoreau, Bakunin, Kropotkin, dentre outros (COSTA, 1980). Dessa

forma, “todo anarquista nega a autoridade, muitos a combatem” (WOODCOCK apud

COSTA, 1980, p.13). Dessa forma, para Costa o anarquismo só pode ser entendido pela

pluralidade de movimentos, tendo em vista o norte da luta contra as formas de opressão:

“do anarquismo cristão de Leon Tolstoi — passando pelas bombas de Ravachol em Paris

do fim do século, as comunidades libertárias espanholas, os Kibutz israelitas de antes de

1948 — aos índios Metropolitanos na Itália, que surgiram das ruas armados de arco e

flexa aos gritos de ‘estais atentos, nós somos os verdadeiros delinquentes’, estão

presentes os princípios que os anarquistas plantaram no século passado. E como tudo

que vive, não existe somente um anarquismo, abstrato e definido, conceituai mente

manejável e concretamente perceptível. Existem vários anarquismos. A tentativa é

detectá-los historicamente para compreendê-los um pouco antes que nos obriguem a

esquecê-los.” (COSTA, 1980, p. 12). O Estado figura para a maioria das correntes

anarquistas, como a entidade a ser combatida, dessa forma, para Costa, “O ódio visceral

de todos os anarquistas é contra este leviatã da sociedade moderna, este organismo

imenso e todo-poderoso, a síntese da autoridade e da centralização, a espada de

Dâmocles que, pendida sobre a cabeça de cada cidadão, foi paulatinamente

conquistando o poder político, econômico e social: o Estado.” (id.ibid., p. 16-17). Segundo

Bobbio (2010), o anarquismo está relacionado às reivindicações, lutas e movimentos

contra todo o tipo de autoridade, dessa forma, “Anarquismo significou, portanto, a

libertação de todo o poder superior, fosse ele de ordem ideológica (religião, doutrinas,

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políticas, etc.), fosse de ordem política (estrutura administrativa hierarquizada), de ordem

econômica (propriedade dos meios de produção), de ordem social (integração numa

classe ou num grupo determinado), ou até de ordem jurídica (a lei). A estes motivos se

junta o impulso geral para a liberdade. Daí provém o rótulo de libertarismo, atribuído ao

movimento, e de libertário, empregado para designar o que adere ao libertarismo.”

(BOBBIO, 2010, p. 23). O anarquismo moderno, segundo Bobbio, começa a se

desenvolver a partir da Revolução Francesa, gerando um fluxo histórico que permanece

no debate político até os dias atuais. Para Bobbio, a partir dos anos 1960, o anarquismo

refloresceu e se renovou, se tornando mais moderado nas formas de ação. Diante da

efervescência deste movimento nas redes sociais, é necessário entender os sentidos dos

discursos compartilhados. Sendo assim, para compreender estes discursos, a

metodologia utilizada será a da análise do discurso de linha francesa, Orlandi (2002). Esta

metodologia propõe que a Análise do Discurso (AD) interprete a língua como um

intermediário entre o homem e a realidade, dizendo que todo conhecimento é transmitido

em forma de comportamento verbal, isto é, pela linguagem. Dessa forma, o conhecimento

é armazenado no inconsciente. A AD é influenciada por algumas teorias na sua

constituição, a linguística de Saussure, a psicanálise de Lacan, e o materialismo histórico

de Althusser. Orlandi, observa que a linguagem não é transparente, as palavras chegam

carregadas de significados e signos que foram preestabelecidos por pessoas através da

cultura, ou seja, não existe linguagem sem transpassar a ideologia do processo cultural

(ORLANDI, 2002). “O sentido não existe em si, mas é determinado pelas posições

ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que as palavras são

produzidas. As palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as

empregam. Elas “tiram” seu sentido dessas posições, isto é, em relação às formações

ideológicas nas quais essas posições se inscrevem.” (ORLANDI, 2002, p. 42-43). A AD

distingue dois tipos de esquecimento, o da ordem da enunciação, na qual entende que o

que é dito foi dito de um jeito e não de outro. Caso as palavras tenham sua ordem

alterada, o sentido mudará e os sujeitos não têm acesso a todo o processo enunciativo,

pois isso é esquecido no inconsciente. Por outro lado, ocorre outro esquecimento que é

denominado esquecimento ideológico, isto é, o momento ao qual temos a ideia de que

somos a origem do que dizemos (ORLANDI, 2002). Esse conceito é essencial para

entendermos a interdiscursividade, e a intradiscursividade. Para Orlandi, o interdiscurso

vem a ser o enunciado, é o produto final nele contido com todos os seus esquecimentos e

palavras não ditas, e o intradiscurso é a elaboração, contendo sua ideologia e influencias.

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Neste primeiro momento, irei estudar o movimento social anarquista e seus discursos em

redes sociais da internet como VK, Riseup e Facebook. Esta pesquisa está em na fase de

coleta de dados, ou seja, na observação de grupos e páginas nas redes sociais da

internet. Para empreender a análise é necessário a elaboração de um dispositivo

analítico, que aborde as especificidades do objeto de pesquisa, ou seja um embasamento

teórico para analisar o objeto de pesquisa. No período contemporâneo o movimento

anarquista está ramificado entre diversas vertentes mas irei me concentrar no Anarco-

Sindicalismo e Anarco-Comunismo e também aos grupos associados ao anarquismo

como black-blocks e punks.

REFERÊNCIAS BOBBIO, Norberto. (Org.). Dicionário de política. Brasília: Editora UnB, 2010. COSTA, Caio Túlio. O que é anarquismo? (Coleção primeiros passos, nº 5). São Paulo, Brasiliense, 1980. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012. 600p. GOHN, Maria da Glória. 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. In: Mediações: publicação do Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR, v. 5, n. 1, p. 11-40, jan./jun. 2000. ORLANDI, Eni. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 3. ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.

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6.2.3 ANÁLISE DO DISCURSO FEMINISTA NA INTERNET: UMA ABORDAGEM SONBRE A CULTURA DO ESTUPRO

Edwards Ilhe Petrassi Silva37

Orientadores: Profa. Dra. Karen Alves Andrade Moscardini

Prof. Me. Rogério Martins Marlier

Palavras-chave: Feminismo; Análise do Discurso; Redes Sociais.

Este Projeto tem por objetivo geral compreender como o termo “cultura do estupro”,

tornou-se fortemente disseminado e debatido nas redes sociais da internet, logo após a

divulgação pública pelos autores de imagens e crime do estupro coletivo contra uma

jovem de 16 anos, na madrugada dos dias 21 e 22 de maio de 2016 na zona leste da

cidade do Rio de Janeiro. Sabendo que grande parte do ativismo feminista é realizado na

internet através das redes sociais, torna-se necessário, para obter um entendimento sobre

o conceito de “cultura do estupro” e o porquê de sua grande disseminação após o

episódio criminoso de estupro coletivo, uma análise sobre o discurso promovido pelo

movimento dentro das manifestações presentes na internet e nas redes sociais. Para que

possamos compreender o fenômeno de disseminação e significação desse enunciado nas

redes sociais é necessário entender o papel que as redes sociais na internet têm para os

movimentos sociais “É no desenrolar de sua vida real que as pessoas sofrem as

necessidades e dificuldades que podem determinar sua conscientização e politização,

vindo a estimulá-las ao engajamento na luta por demandas sociais. Com a internet, abre-

se também a possibilidade da criação de uma certa simpatia às causas que afetam a

todos em escala mundial, como ocorre em relação às questões de ordem ambiental, e

que também pode desembocar em um posterior engajamento político” (RIOS, 2017, p. 4,

2017). O Feminismo é um movimento social, porquanto condiz com as particularidades

que são obrigatórias para entender movimentos sociais, quais sejam: organização, forma,

corpo de costumes, tradições, lideranças, divisão de trabalho duradoura, valores e regras

sociais. As mesmas são, segundo o autor, geradas por uma situação de inquietação

social, “Eles surgem de uma situação de inquietação social, derivando suas ações dos

seguintes pontos: insatisfação com a vida atual, desejo e esperança de novos sistemas e

programas de vida” (GOHN, 1997, p. 31). Para analisarmos os discursos em circulação,

37 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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faz-se necessário, também, apresentar algumas questões referentes aos movimentos

sociais. Estes, segundo Gohn (2000), se caracterizam pela identidade comum, o que os

diferenciam, num primeiro momento, de grupos de interesse. Ter interesses comuns ou

semelhantes dentro de um grupo social, são dados insuficientes para caracterizá-lo como

movimento social, é necessário que exista uma identidade em comum, formando assim,

um coletivo social. Protestos, manifestações, rebeliões, ocupações, invasões, entre

outros, isoladamente não são considerados movimentos sociais, são modos de

estruturação de ações coletivas. Para Gohn (2000), os movimentos frequentemente

utilizam estas formas de ação, mas por si só, um chamamento para uma manifestação,

não pode ser considerado um movimento social. Outra característica importante

classificada por Gohn é o espaço não-institucionalizado no qual atuam os movimentos.

Eles não são ligados a empresas e nem ao Estado, mas não se pode generalizar esta

característica a todos os grupos não-institucionais. Segundo Gohn (2000), o conceito de

movimentos sociais se caracteriza assim: “Movimentos sociais são ações coletivas de

caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e

camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social

na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e

problemas em situações de conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um

processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir

de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e

é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados

pelo grupo”. (GOHN, 2000, p. 13). Para Timóteo (2013), o feminismo, é um movimento

social moderno que surge no esteio da Revolução Francesa, a partir dos ideais

humanistas apregoados pelo Iluminismo. Num primeiro momento, o movimento feminista

se organiza em torno da demanda por direitos sociais e políticos, principalmente em torno

da luta pelo sufrágio universal. Sendo assim, para Timóteo: “O movimento feminista,

apesar de inserir-se no movimento mais amplo de mulheres, distingue-se por defender os

interesses de gênero das mulheres, por questionar os sistemas culturais e políticos

construídos a partir dos papéis de gênero historicamente atribuídos às mulheres, pela

definição da sua autonomia em relação a outros movimentos, organizações e ao Estado,

e pelo princípio organizativo da horizontalidade, isto é, da não existência de esferas de

decisões hierarquizadas”. (TIMÓTEO, 2013, p.93). Dessa forma, esse projeto tenta

identificar e analisar discursivamente as publicações e manifestações promovidas na

Internet a respeito do conceito de “cultura do estupro” a partir do episódio criminoso citado

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acima, como também os dados gerados pela ferramenta “Google Trends” que classifica

as informações compartilhadas na internet e fornece um gráfico da evolução do número

de pesquisas por palavra-chave ao longo do tempo, possibilitando quantificar a

disseminação do discurso e comparar com as datas próximas ao acontecimento. A

metodologia a ser aplicada para a realização desse projeto é a Análise de Discurso (AD),

que surgiu em meados de 1960 na França, tendo como principal precursor Michel

Pêcheux. A AD não é simplesmente um estudo linguístico, pois não se estuda a língua

fechada nela mesma, mas sim o discurso, que é um objeto que provém de uma realidade

histórica determinada. A AD tem um princípio norteador que é definido por Orlandi, dessa

forma: “Em uma proposta em que o político e o simbólico se confrontam, essa nova forma

de conhecimento coloca questões para a Linguística, interpelando-a pela historicidade

que ela apaga, do mesmo modo que coloca questões para as Ciências Sociais,

interrogando a transparência da linguagem sobre a qual elas se assentam. Dessa

maneira, os estudos discursivos visam pensar o sentido dimensionado no tempo e no

espaço das práticas do homem, descentrando a noção de sujeito e relativizando a

autonomia do objeto da Linguística” (ORLANDI, 2002, p.16). A análise de discurso

necessita de um método e critérios, devido à complexidade e diversidade de

interpretações de um único texto. A AD visa a compreensão de como um objeto simbólico

significa e produz sentidos. O método da AD se organiza em Dispositivo Teórico e

Dispositivo Analítico. O Dispositivo Teórico se refere aos critérios já predefinidos,

sustenta-se nos princípios gerais da AD e objetiva mediar o movimento entre a descrição

e a interpretação. Já o Dispositivo Analítico é a parte pessoal do trabalho, formada e

definida pelo analista, portanto, a prática de leitura e o trabalho com a interpretação

determina a forma do dispositivo analítico (ORLANDI, 2002). Com a coleta de dados dos

discursos, das imagens e das manifestações nas redes sociais concluída, juntamente com

os gráficos gerados pelo Google Trends a respeito do conceito de “Cultura do Estupro”,

será possível interpretar através da Análise de Discurso, como esse fenômeno e sua

disseminação podem ocorrer.

REFERÊNCIAS GOHN, Maria da Glória. 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. In: Mediações: publicação do Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR, v. 5, n. 1, p. 11-40, jan./jun. 2000. __________. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo, Edições Loyola, 1997.

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RIOS, A. O. Movimentos Sociais na Internet: Possibilidades e Desafios. Disponível em: <https://goo.gl/kyq2MS>. Acesso em: 20 jun. 2017. ORLANDI, E. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 3. ed. Campinas, SP: Pontes, 2002. TIMOTEO, C. Q. As transformações do movimento feminista no Brasil e sua relação com a América Latina. Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina “Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro”. Londrina, Universidade Estadual de Londrina, 2013.

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6.2.4 CALÇADÃO DE LONDRINA: EXPLORAÇÃO SONORA DO ESPAÇO E COTIDIANO

Mariana Mantovani de Quadros Rapacci38

Orientador: Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski

Palavras-chave: Paisagem sonora; Diversidade cultural; Calçadão.

INTRODUÇÃO

Os sons das cidades, muitas vezes tidos pelos sujeitos apenas como ruídos ou

problemas ambientais, se analisados de outro modo, podem representar aspectos do

cotidiano e traços culturais, neles presentes. Isso se deve, aos valores e significados

inseridos nas paisagens sonoras, por meio de sons produzidos por ações cotidianas de

indivíduos e grupos. Nesse sentido, o desenvolvimento desta pesquisa teve por objetivo

identificar elementos das paisagens sonoras do Calçadão de Londrina que expressassem

aspectos do cotidiano da cidade e traços culturais diversos.

O Calçadão de Londrina, construído em 1977 em um trecho da Avenida Paraná,

concentra diversos estabelecimentos comerciais populares e de serviços e atrai

diariamente grande número de pessoas que nela manifestam suas experiências. Muitas

dessas experiências resultam em ações diárias, que são marcadas por sons.

Nesse contexto, esse trabalho foi elaborado a partir da perspectiva cultural da

Geografia com base em revisão bibliográfica e trabalhos de campo. O trabalho se

encontra organizado em materiais e métodos utilizados em campo, revisão bibliográfica,

resultados obtidos e considerações finais.

MATERIAL E MÉTODO

Os trabalhos de campo foram desenvolvidos entre os anos de 2016 e 2017, a

partir de caminhadas sonoras com apoio do recurso de gravação de campo.

Posteriormente, as informações coletadas foram analisadas a partir do referencial teórico

elaborado.

As caminhadas sonoras se caracterizam como métodos exploratórios que

possuem a finalidade de ouvir com atenção detalhes das paisagens sonoras, a realização

38 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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dessas caminhadas pode acontecer por motivos diversos, dentre os quais o cultural

(SCHAFER, 2011; MCCARTNEY; PAQUETTE, 2012).

Os registros de sons percebido com as caminhadas foram feitos com o uso de um

aparelho gravador digital. As gravações ocorreram de modo estacionário, originando

panoramas sonoros com cerca de um a três minutos de duração. Esses panoramas

correspondem a recortes temporais e espaciais de determinados contextos histórico,

cultural e social (FELD, 2014). Em seguida, os arquivos de áudio foram editados através

do software Audacity e publicados em perfis existentes na plataforma on-line SoundCloud.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O espaço geográfico, caracterizado por ser o espaço da existência e das

experiencias humanas, é percebido através de todos os sentidos simultaneamente. Para

Maurice Merleau-Ponty (2011), os sentidos da percepção são formas de ter acesso a um

mesmo mundo, tornando-o um lugar familiar da existência. Nesse sentido, a percepção é

responsável por apresentar intencionalmente à consciência objetos sensíveis

espacialmente situados, pois os sujeitos não são capazes de não dar um sentido àquilo

que os cerca (MERLEAU-PONTY, 2011; CLAVAL, 2014).

Na perspectiva de Werther Holzer (2013), os espaços vividos são constituídos e

delimitados por lugares. Entende-se o lugar como o espaço para o qual confluem e são

compartilhadas as experiências cotidianas (HOLZER, 2013; RELPH, 2014). O cotidiano,

por sua vez, implica em uma multiplicidade de saberes, tradições, hábitos, habilidades e

costumes, sendo perpassada de automatismos e gestos que se repetem indefinidamente

sem serem questionados (SEABRA, 2004; CLAVAL, 2014). De modo que, todos os

sujeitos e sociedades têm uma vida cotidiana (CERTEAU, 2014).

Da experiência vivida nos lugares resultam as paisagens. Da experiência dos

sons dos lugares resulta a paisagem sonora (FORTUNA, 1998). Logo, esse tipo de

paisagem é entendido como uma formação mental intencional construída a partir da

relação corporal do sujeito com o espaço acústico e com outros sujeitos. Ao perceber os

sons, a mente os converte naturalmente em signos, sinais, símbolos, ruídos e sons de

fundo (SCHAFER, 2011). A paisagem não é somente algo a se construir, mas do ponto

de vista geográfico, é algo para se perceber, escutar e descrever.

Nas cidades, os sons atravessam os espaços e seus aspectos simbólicos

marcam ritmos cotidianos e revelam traços culturais (ARKETTE, 2004). Isso pois, a

cultura se carrega de uma dimensão simbólica, uma vez que é constituída de realidades,

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signos e símbolos criados para descrevê-la e transmiti-la (CLAVAL, 2014). Portanto, a

diversidade cultural, enquanto realidade simbólica em movimento, manifesta-se em

diferentes aspectos da vida cotidiana, como nas paisagens sonoras.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para o Calçadão confluem e são compartilhadas experiências cotidianas de

grupos e sujeitos, envolvendo ações que resultam em sons. Essas ações variam em

relação às horas do dia e dias da semana, fazendo com que as paisagens sonoras

percebidas durante os trabalhos de campo alteraram-se significativamente em função do

cotidiano da cidade.

As atividades desenvolvidas nos estabelecimentos comerciais do Calçadão,

sobretudo, resultaram em sons que se destacaram nos dias de semana em horário

comercial e sábados pela manhã. Esses sons, geralmente são emitidos por potentes

aparelhos eletrônicos instalados nas entradas das lojas e voltados para o Calçadão,

procuravam atrair atenção dos transeuntes. Ainda nesses dias, por vezes, religiosos,

vendedores de CDs e músicos de rua instalados no Calçadão procuravam se destacar em

meio aos outros sons advindos das lojas e do trânsito de veículos. Esporadicamente,

observaram-se manifestações que, com apitos, baterias e brados, anunciavam posições

políticas e reivindicações.

Também, principalmente nos sábados, identificou-se sons emitidos por

representantes de grupos culturais distintos e seus instrumentos musicais, como de

capoeiristas e de descendentes de japoneses. Por vezes, devido à proximidade entre

esses grupos, percebeu-se a sobreposição de sons com diferentes aspectos simbólicos.

Nesse sentido, os sons foram relacionados a símbolos capazes de revelar traços e

transmitir aspectos de culturas distintas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Além de um conjunto de ruídos, os sons das cidades são capazes de formar

paisagens ricas em valores e significados. Isso se deve ao fenômeno em que ao serem

percebidos, os sons formam paisagens carregadas de dimensões simbólicas capazes de

revelar, descrever e transmitir aspectos culturais de uma sociedade. Ainda, essas

paisagens podem representar ritmos do cotidiano, uma vez que os sons que as formam

são emitidos por ações que ocorrem rotineiramente.

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Nesse sentido, o Calçadão, entendido como um lugar, é onde se desenvolve a

vida cotidiana. Logo, as diferentes ações cotidianas realizadas nesse espaço resultaram

em sons que, ao serem percebidos nos trabalhos de campo desenvolvidos, formaram

paisagens que marcaram ritmos e nas quais se manifestaram signos e símbolos que

compõem culturas diversas.

REFERÊNCIAS ARKETTE, S. Sound like city. Theory, Culture & Society, Londres, v. 21, n. 1, p.159-168, 2004. Disponível em: <https://goo.gl/F31scs>. Acesso em: 29 jul. 2017. CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2014. CLAVAL, P. A geografia cultural. Florianópolis: UFSC, 2014.

FELD, S. Pensando na gravação de paisagens sonoras. Música e Cultura, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, 2014. Disponível em: <http://goo.gl/oHtzAu>. Acesso em: 29 jul. 2017. FORTUNA, C. Imagens da cidade: sonoridades e ambientes sociais urbanos. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 51, p. 21-41, 1998. Disponível em: <https://goo.gl/BWxYX2>. Acesso em: 27 jul. 2017. HOLZER, W. Sobre territórios e lugaridades. Cidades, São Paulo, v. 10, n. 17, p.18-29, 2013. Disponível em: <https://goo.gl/zR0HLj>. Acesso em: 27 jul. 2017. MCCARTNEY, A.; PAQUETTE, D. Walking, listening, speaking: the soundwalking interactions project. In: Thibaud, J.; Siret, D. Ambiances in action / Ambiances enacte(s) - International Congress on Ambiances, Montreal, Canadá, 2012.International Ambiances Network, p.189-194. Disponível em: <https://goo.gl/LELG8b>. Acesso em: 27 jul. 2017. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. RELPH, E. Reflexões sobre a emergência, aspectos e essência de lugar. In: MARANDOLA JR, E.; OLIVEIRA, L. (orgs.). Qual o espaço do lugar? São Paulo: Perspectiva, p. 17-32, 2014. SCHAFER, M. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. São Paulo: Editora Unesp, 2011. SEABRA, O. C. L. Territórios do uso: cotidiano e modo de vida. Cidades, São Paulo, v. 1, n. 2, p.181-206, 2004. Disponível em: <https://goo.gl/2VQ6IQ>. Acesso em: 27 jul. 2017. TUAN, Y. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiencia. Londrina: EDUEL, 2013. ________. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina: Eduel, 2012.

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6.2.5 DIA E NOITE: OS SONS DO CALÇADÃO DE LONDRINA

Lorraine Fernanda Beltrane39

Orientador: Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski

Palavras-chave: Calçadão de Londrina; Sons; Cotidiano.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da Geografia Humanista a partir da década de 1970 favoreceu

estudos dos lugares e paisagens a partir de abordagens fenomenológicas. Também,

alguns geógrafos passaram a se interessar pelo conceito de paisagem sonora,

desenvolvido pelo músico e compositor Raymond Murray Schafer (2011).

Pelo Calçadão de Londrina e edificações ao entorno, transitam, trabalham e

permanecem milhares de pessoas diariamente. As diferentes ações cotidianas dessas

pessoas no lugar resultam em sons com origens e intensidades variadas que compõe e

caracterizam a paisagem sonora local. Nesse contexto, esta pesquisa tem por objetivo

identificar elementos do cotidiano urbano responsáveis que compõem a paisagem sonora

do Calçadão nos períodos diurnos e noturnos.

MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa foi desenvolvida a partir de revisão bibliográfica e análise de

gravações de panoramas sonoros gravados no Calçadão de Londrina em períodos

diurnos e noturnos em dias variados ao longo dos anos de 2016 e 2017.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Yi-Fu Tuan (2013) caracteriza a categoria de análise geográfica de lugar como o

espaço onde as pessoas realizam suas atividades diárias e desenvolvem relações

sociais. Assim, os lugares possuem ritmos diferenciados em relação ao cotidiano e à

cultural local. Esses ritmos influenciam, também, na experiência dos lugares, como afirma

Tuan (2012, p.241): “As horas do dia em que usamos as ruas da cidade afetam a nossa

percepção e avaliação destas.”.

Paul Claval (2014), por sua vez, define a cultura como um conjunto de

comportamentos, saberes, técnicas, conhecimentos, valores e práticas implicitamente

39 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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acumulados e recomendados pelos grupos nos quais se vivem e pela sociedade em geral

que media a vida mental e social dos sujeitos.

Já a paisagem sonora, conforme Schafer (2011), pode ser compreendida como

um conjunto de sons sobrepostos percebidos a partir da experiência nos lugares. Aos

serem percebidos, os sons tornam-se signos e símbolos, identificando acontecimentos,

transmitindo mensagens e marcando paisagens ou, mesmo, ruídos incomodativos.

Sobretudo nas cidades, as paisagens sonoras expressam sonoridades provenientes de

ações e atividades humanas, dentre as quais se destacam as dos motores dos

automóveis, que formam o fundo contra o qual outros sons são percebidos. A

sobreposição constante de diversos sons nas paisagens das cidades dificulta a

identificação de sons, tornando-as, em geral, de baixa fidelidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os sons urbanos, por vezes considerados simplesmente ruídos sem significados,

compõem paisagens sonoras e podem expressar ritmos do cotidiano dos lugares se

entendidos a partir de experiências de sujeitos que os percebem. Isso, pois, os sons

relacionam-se às diferentes atividades diárias que se desenvolvem nos lugares.

Nesse contexto, os sons que compõem a paisagem sonora do Calçadão de

Londrina variam em quantidade e intensidade em relação aos períodos do dia e dias da

semana. Principalmente no período diurno dos dias úteis, a paisagem sonora do

Calçadão é composta por sons provenientes do comércio formal e informal, de

apresentações de músicos e outros artistas de rua e da pregação de evangelizadores,

além dos sons do trânsito de automóveis pelas ruas próximas e o burburinho da

concentração de pessoas.

Já no período noturno, domingos e feriados, com o encerramento das atividades

comerciais e a redução do trânsito de automóveis e pessoas, a paisagem sonora do

Calçadão é significativamente alterada e sons até então encobertos ou novos sons

provenientes de atividades de lazer e esportivas se tornam evidentes, como sons de aves,

do vento, da água do chafariz da Praça Jorge Denielidades, de crianças brincando, da

passagem de ciclistas e de latidos de cães passeando com seus donos, por exemplo. As

figuras a seguir (FIGURA 1 e 2) demonstram diferenças entre os períodos diurno e

noturno em um dia útil no Calçadão, relacionadas, principalmente, à circulação de

pedestres e ao desenvolvimento de atividades comerciais e de serviços.

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FIGURA 1 – CALÇADÃO DE LONDRINA: DIA

Calçadão de Londrina durante o dia em um dia útil. Disponível em: <https://goo.gl/p9U4z1>. Acesso em: 16 maio 2017.

FIGURA 2 – CALÇADÃO DE LONDRINA: NOITE

Calçadão de Londrina durante a noite em um dia útil. Disponível em: <https://goo.gl/5pf9PY>. Acesso em: 16 maio 2017.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A paisagem sonora do Calçadão de Londrina é composta por sons resultantes de

ações cotidianas e, portanto, altera-se em relação aos períodos do dia e dias da semana.

Sobretudo as atividades comerciais, formais e informais, de músicos e outros artistas de

rua, bem como de evangelizadores e do trânsito de automóveis caracterizam a ritmo do

lugar no período diurno dos dias úteis. Com o cessar dessas atividades à noite e nos

domingos e feriados, outras sonoridades ganham destaque na paisagem do Calçadão.

REFERÊNCIAS CLAVAL, P. A geografia cultural. Florianopolis: UFSC, 2014. SCHAFER, M. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. São Paulo: Editora Unesp, 2011. TUAN, Y. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiencia. Londrina: EDUEL, 2013. __________. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina: Eduel, 2012.

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6.2.6 METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTES: ESTUDO DO INCIDENTE EM TUNGUSKA, DE PEDRO FRANZ

Bianca Gomes Souza40

Guilherme Nascimento Braga41 Ingrid Volpato42

Orientador: Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira

Palavras-chave: Arte contemporânea; metodologia de pesquisa; Pedro Franz

INTRODUÇÃO

Este trabalho busca a compreensão e esclarecimento do método de pesquisa em

artes. Este, diferente de uma metodologia de pesquisa sobre artes – que tem como objeto

a obra já finalizada –, busca contemplar o lado teórico e prático da criação artística,

analisando discussões que se dão antes, durante e após o processo de criação do artista.

Tal método se faz necessário nas artes contemporâneas por estas terem cada vez mais o

processo de criação entrelaçado à obra final, não sendo possível analisar apenas uma

das dimensões; elas se completam e são essenciais para a existência da outra. O

trabalho se propõe a fazer isso identificando, por meio de uma revisão bibliográfica, os

métodos descritos pela professora Sandra Rey para metodologia de pesquisa em artes na

dissertação ”Incidente em Tunguska”, de Pedro Franz, elaborada junto ao Programa de

Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Santa Catarina - UDESC, em 2015.

A obra, apresentada em forma de dissertação, instalação e história em quadrinhos, tanto

relata o processo de criação e a importância da experimentação nos meios de se

apresentar uma obra, quanto possibilita uma discussão teórica rica a respeito do

dispositivo das histórias em quadrinhos e da arte contemporânea como um todo. O autor

fala das reflexões durante o processo de criação, levando-o a considerar sua posição

como artista-quadrinista-pesquisador, e a importância de tal diferenciação, ou da não-

separação no processo artístico. E em todo esse processo de análise e pesquisa – pré,

durante e pós – assim como o proposto por Sandra Rey em seu texto sobre abordagem

metodológica, que a experiência de Franz mostra justamente os aspectos de

experimentação, reflexão e mudança em um objeto artístico e a importância destes para

um produto em arte que nunca é final, sempre é ressignificado.

40 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 41 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 42 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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MATERIAL E MÉTODO

Durante o trabalho, foram utilizados conceitos de metodologia de pesquisa em

artes e arte contemporânea presentes no artigo “Por uma abordagem metodológica da

pesquisa em artes”, 2002. Além disso, na dissertação de Pedro Franz foram identificadas

concepções de campo ampliado, conceito que se faz muito presente em histórias em

quadrinhos contemporâneas.

A partir de uma pesquisa bibliográfica do artigo de Sandra Rey e da dissertação

de Pedro Franz, foi feito um estudo com o intuito de compreender e identificar a

metodologia da autora na obra de Franz, para que as etapas deste método de pesquisa

em artes definida pela Sandra Rey estejam claras e possam ser identificadas na

dissertação “Incidente em Tunguska”, com o propósito de facilitar a aplicação desta

metodologia em futuros projetos pessoais ou coletivos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

No texto “Por uma abordagem metodológica da pesquisa em artes” de 2002,

Sandra Rey parte do pressuposto fundamental de que “toda obra contém em si mesma a

sua dimensão teórica” e é lidando com esse processo dialético de superfície e

profundidade, produto e processo que se entende como a arte contemporânea se dá em

seu todo. A metodologia de pesquisa em artes resulta um seguimento ininterrupto entre

prática e teoria, não seguindo procedimentos pré-estabelecidos, mas analisando o

processo durante sua construção, uma vez que o objeto de estudo está em constante

processo de significação. “E se a obra é, ao mesmo tempo, um processo de formação e

um processo no sentido de processamento; de formação de significado, é porque, de

alguma forma, a obra interpela os sentidos, ela é um elemento ativo na elaboração ou no

deslocamento de significados já estabelecidos” (2002, p.01), segundo Rey. A autora faz

uma analogia direta com a Fita de Moëbius (Figura 1), conceito matemático utilizado para

demonstrar uma figura com apenas um lado em sua superfície em um espaço

tridimensional. A fita, cujo lado de fora é, ao mesmo tempo, o lado de dentro, demonstra o

que seria essa relação entre o processo de criação e a obra finalizada: de completude,

unidade.

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FIGURA 1 – FITA DE MOÊBIUS REPRESENTADA NO QUADRINHO PROMETHEA

Fonte: Alan Moore (2012)

Disponível em: <https://goo.gl/3dtspQ>. Acesso em: 29 jun. 2017.

Cabe ao pesquisador-artista produzir seu objeto de estudo e investigá-lo por um

viés teórico, fazendo com que ele repense sobre si mesmo e suas práticas, numa relação

continua entre teoria e prática. Dessa forma, a metodologia de pesquisa em artes não

define um método fechado de análise, uma vez que cada processo de criação será

diferente de outro e se modificará durante o próprio andamento. Ainda assim, Rey fornece

algumas indicações de como começar a pensar essa análise, que neste trabalho

tentaremos identificar na obra de Pedro Franz. Tais instruções incluem verbalizar sobre o

trabalho durante a pesquisa; criar estratégias, como um diário de anotações durante a

pesquisa; estar atento as ambiguidades, estando atento ao que parece contraditório na

sua obra ou na de artistas estudados; fazer uso de instrumentos para a pesquisa teórica,

como depoimentos ou entrevistas; conceitualizar, fazendo uso de suas ferramentas

teóricas; realizar análises comparativas, aproximando o que parece muito diferente e

diferenciando o que parece muito semelhante; redigir pequenos ensaios, preparando-se

para uma possível redação final; apresentar claramente suas ideias, organizando-as bem

em sua redação final; expressar-se com propriedade, sabendo o uso do eu, do nós e do

impessoal em sua redação; e apresentar os resultados de forma criativa.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta dissertação, o artista dialoga com o próprio processo de criação, tendo como

origem relatos de um incidente na cidade de Tunguska, na Sibéria. Em junho de 1908,

uma bola de fogo rasgou o céu, causando uma explosão de intensidade muito forte, e

durante os dias seguintes foi possível enxergar a noite sem necessidade de iluminação.

Até hoje as razões do incidente são desconhecidas, levando à criação de várias teorias a

respeito. Em sua dissertação, Franz descreve como o incidente o leva a reflexões que

motivam a realização da obra, uma vez que a falta de uma verdade concreta faz com que

nenhuma teoria seja irrelevante ou de maior valor que outra.

O autor logo faz ligação entre a falta de uma verdade concreta e o campo ampliado

nos quadrinhos. A ideia de campo ampliado parte do princípio de que toda HQ está

permeada de um grande sistema de relações destinadas a chegar ao leitor. Há

instituições, publicações e histórias em quadrinhos que se relacionam com o dispositivo

para chegar ao leitor. O dispositivo dos quadrinhos seria justamente o que os faz

quadrinhos fundamentalmente: histórias quadro a quadro numa revista ou jornal, com

sentido corrido página a página, com ou sem falas representadas por balões. O campo

ampliado das HQs é justamente a modificação desse dispositivo. Em sua obra, Franz cria

quadros que não necessariamente têm relação com o quadro ou página seguinte,

trabalhando diferentes percepções dos quadrinhos. No processo de quebra com o

dispositivo, a experimentação faz-se de enorme importância.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível identificar na obra Incidente em Tunguska os métodos descritos por

Sandra Rey de maneira intuitiva. Franz expressa-se com propriedade ao fazer uso

adequado da primeira pessoa na dissertação, assumindo a pessoalidade que está

presente em alguns aspectos. O processo de experimentação está evidente nas

diferentes maneiras que o autor utiliza para apresentar a obra: por instalação, quadrinho

ou dissertação, ele explora diferentes significações e experiências tanto do apreciador

quanto do artista. A própria dissertação é a forma de o artista verbalizar sua obra, mas

além disso, ele o faz em outros momentos, como quando descreve suas interações e

conversas com pessoas que modificaram sua percepção do seu próprio trabalho. Franz

ainda faz um levantamento teórico que fornece base às ideias defendidas em sua obra,

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mesmo quando esse levantamento não necessariamente fala sobre HQs, por exemplo,

mas pode ser trazido para esse campo.

O trabalho cumpriu seu objetivo didático de compreensão e identificação da

metodologia na obra, tornando evidentes todas as etapas possíveis da metodologia de

pesquisa sobre artes definida pela Sandra Rey dentro da dissertação Incidente em

Tunguska, e tornando-a mais simples de ser utilizada em projetos futuros tanto pessoais

quanto coletivos.

REFERÊNCIAS BROERING, Pedro Franz. Incidente em Tunguska. 2015. 53 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Artes Visuais, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2015. REY, Sandra. Por uma abordagem metodológica da pesquisa em artes visuais. Porto Alegre: E. Universidade/UFRGS, 2002. p. 123-140.

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6.2.7 O IMAGINÁRIO GROTESCO EM LOURENÇO MUTARELLI

Isabella Maria Píccolo Estevão43 Sofia Denipoti de Oliveira44

Orientador: Prof. Me. Guilherme Lima Bruno E Silveira

Palavras-chave: Imaginário grotesco; Lourenço Mutarelli; História em quadrinhos.

INTRODUÇÃO

Em nosso cotidiano é possível traçarmos algumas ações que seguimos durante

nossa rotina diária, repetições que se tornam automáticas e opressoras da nossa

percepção, ócio e liberdade de pensamento. Nessa constante castração buscamos,

também, alguns momentos de fuga da realidade, muitas vezes de uma forma que pode

ser chamada de “grotesca”. Esse conceito é tratado por Bakhtin (1987) que aponta para o

carnaval medieval como exemplo, evento que suspende o tempo, opondo-se a todo

aperfeiçoamento e regulamentação. É no carnaval que se permite a transfiguração por

meios de fantasias, permite-se a ligação com elementos baixos, ligados ao corporal e ao

sexual, atitudes naturalizadas apenas neste período de tempo determinado. Tempo este

que precede um período de tensão: a quaresma, no qual os cristãos devem fazer

penitência e se abster de desejos carnais e mundanos. Júnior (2014) trata do carnaval

como um momento de abolição das “barreiras de hierarquia social, bem como a liberação

do corpo do indivíduo em toda a sua totalidade”, permitindo o baixo e desagradável do

lado selvagem do homem.

Assim, vemos que o grotesco interage com o mundo da experiência diária. Quando

tratamos do imaginário grotesco nas artes, vemo-lo também como crítica à sociedade.

Atrelado a representações que ligam o corpo à natureza e ao baixo, são corpos famintos,

retorcidos, denotativos de uma estranheza e aberração monstruosa. Tais características

permeiam os quadrinhos de Lourenço Mutarelli, quadrinista paulistano, que traz histórias

curtas atreladas a crítica social, corpos retorcidos e aberrantes e, também, em paralelo,

corpos individualizados, sozinhos na solidão do mundo, evidenciando que o imaginário

grotesco, encontrado nas artes visuais desde meados da Idade Média e muito difundidas

em obras de autores como Hieronymus Bosch, mantêm-se como forma de expressão

atual, conectada com a nossa ainda incômoda relação com o corpo, a terra e os fluídos. O

43 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina. 44 Estudante do curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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presente trabalho almeja analisar e compreender, a partir de leituras, o conceito de

imaginário grotesco e sua presença nos trabalhos do quadrinista Lourenço Mutarelli.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho aqui apresentado baseia-se em pesquisa bibliográfica sobre o conceito

de grotesco a partir de livros dos principais estudiosos do tema: Bakhtin (1987), Sodré

(2002) e Kayser (2012). Além destes já citados, utilizou-se, ainda, artigos nas bases de

dados para compreender recortes mais específicos, como o grotesco e o corpo

(GONÇALVES, 2002) relações estéticas do belo, feio e o grotesco (RHADE, 2012) e o

grotesco em Mutarelli (MACEDO, 2016). A partir dos estudos teóricos acerca do tema,

fez-se análise da HQ “Destrudo”, de Lourenço Mutarelli, buscando, nas narrativas verbais

e visuais, compreender como o conceito de grotesco pode ser encontrado em sua obra.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O processo de criação de imagens grotescas data-se de uma época muito antiga,

porém o termo grotesco surge por volta do século XV com a descoberta de pinturas

ornamentais em subterrâneos dos Termas de Tito, em Roma, que chamaram a atenção

pela forma livre e fantástica das pinturas, despreocupados com as fronteiras que dividem

os reinos animais, vegetais e humanos nas figuras, “metamorfoseia-se em movimento

interno da própria existência e exprime-se na transmutação de certas formas em outras,

no eterno inacabamento das formas” (BAKHTIN, 1987: 27-28).

Quando pensamos no imaginário grotesco fazemos referência a algo que

assombra e anima, nos tira da realidade cotidiana, soltando as rédeas à desordem e à

contestação, varrendo, por um tempo, a arquitetura social. É o momento em que o

homem se vê diante de iguais, pois entra-se num estado utópico de igualdade e liberdade

onde há a fuga para outros nichos do tecido social criando relações não hierárquicas

entre os indivíduos (BAKHTIN, 1987: 8). Gonçalves (2002) dirá que o espaço e o tempo

grotescos revelam-se da esfera do passageiro, pois são acontecimentos pontuais; do

marginal, pois são momentos onde é permitido o que antes não era aceito - o sexo, o

escatológico e do extraordinário, que extrapola o real.

(...) o grotesco assombra, e anima, as cavernas, as margens, os interstícios e os interregnos da generalidade das sociedades humanas. (...) desencadeia turbulências de desordens que se apoderam da ribalta da cena colectiva para varrer, por um tempo, a arquitetura social, mais o correspondente rosário de normas e de interditos arbitrários. O extraordinário grotesco coabita, e interage, de

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um modo esquizoide, trágico ou dialético, com o mundo da experiência ordinária do dia a dia (GONÇALVES, 2002, p.117).

Outro importante conceito para que se entenda o imaginário grotesco é o

rebaixamento. O realismo grotesco opõe-se a toda divisão entre o material e o corporal.

Bakhtin (1987) diz que o princípio da vida material e corporal é percebido como universal

e popular, e como tal opõe-se a toda separação das raízes materiais e corporais do

mundo, a todo isolamento e confinamento em si mesmo, a todo caráter ideal abstrato, a

toda pretensão de significação destacada e independente da terra e do corpo. Volta-se

para um corpo em indissolúvel união. É comum vermos em obras grotescas o corpo e a

terra partilhando do mesmo estatuto, sendo, assim, “indissociáveis, estão em constante

comunicação, confundindo-se por vezes” (GONÇALVES, 2002, 123). Assim, o que

configura o rebaixamento é a transferência de tudo o que é elevado e espiritual para o

plano material e corporal, é entrar em comunhão com a terra concebida como princípio de

absorção; degradar-se para dar lugar a um novo nascimento; entrar em comunhão com a

vida inferior do corpo, dos órgãos genitais.

Os procedimentos, os gestos, as imagens e os jogos de linguagem grotescos tendem a mergulhar tudo o que é alienação e poder, civil ou eclesiástico, desta e de outras esferas, na orgânica da terra e do corpo. Trata-se, porém, de enterrar e de engolir para religar e regenerar (GONÇALVES, 2002, p.123).

Voltando o olhar para a configuração do corpo grotesco, temos ele como um puzzle

fantástico (GONÇALVES, 2002, 126) passível a recombinações, desmontes, corpos

maleáveis e deformáveis. É possível convocar componentes não humanas para compor

esse corpo recombinável, assim como também há a transmutação do corpo aproximando

entidades de outros planos para compor o puzzle fantástico. Assim, “o corpo isolado e

abstrato é exceção no imaginário grotesco. Predomina a incorporalidade” (GONÇALVES,

2002: 126).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Lourenço Mutarelli é fortemente inspirado pelo grotesco, seus quadrinhos

encontram no grotesco a representação jocosa do mundo de forma e escancarar a

impudicícia deste. Analisando o quadrinho “Destrudo”, parte de seu trabalho “Mundo Pet”

(2006), onde nos deparamos com um personagem que sonhava ir a lua, mas acabou

preso ao mar – sendo essa metáfora da embriaguez humana, a fuga –, este acaba se

conformando com a comodidade do mar, assim como o próprio mar se acomoda ao

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refletir e acreditar ser lua, numa projeção equivocada de si. A estética do mar aparece

como alienante, escondendo ao fundo a sujeira e imoralidade daquele lugar, que se torna

mais clara à medida que os pés do personagem se aproximam cada vez mais ao chão

firmando-se ao mar, e este toma consciência da ilusão do mar, a qual ele passa zelar

temendo a realidade medonha da qual este o protege.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grotesco é visualmente evidente na última página (FIGURA 1), onde revela-se a

verdadeira face humana como corpos disformes e retorcidos, verdadeiras aberrações.

Esta representação hiperbólica do que ele chama de “nossa cara medonha” é uma

representação grotesca que pode causar o desconforto e a repulsa no leitor.

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FIGURA 1 – PÁGINA FINAL DO QUADRINHO “DESTRUDO” DE LOURENÇO MUTARELLI

FONTE: Mutarelli (2006).

A estranheza não surge somente da representação escancarada do feio no retrato

monstruoso do que é mundano, mas também em sua narrativa paradoxalmente realista e

fantástica, que subverte a moral expondo o obsceno e o libidinoso ao riso mórbido e

escarnecedor. Mutarelli utiliza do delírio e do grotesco, do rebaixamento corporal e do que

foi denominado puzzle fantástico, para criar uma ficção disforme que se aproxima do real

de forma a causar angústia e desespero em quem a lê, e provocar a reflexão.

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REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. A Cultural Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987. GONÇALVES, Albertino. O Delírio da Disformidade- O Corpo no Imaginário Grotesco. COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE: Comunicação e Imaginário. São Paulo: Universidade Metodista, 2002. Disponível em: <https://goo.gl/CssZMo>. Acesso em: 18 maio 2017 KAYSER, Wolfgang. O Grotesco. São Paulo: Perspectiva, 2013. MACEDO JUNIOR, Jairo. O grotesco nas histórias em quadrinhos brasileiras: Bestiários do humor e do medo em Francisco Marcatti e Lourenço Mutarelli. 2016. 179 f. Tese (Doutorado) - Curso de Faculdade de Comunicação Programa de Pós-graduação, Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: <https://goo.gl/KyKyLR>. Acesso em: 15 ago. 2017. MUTARELLI, Lourenço. Mundo Pet. São Paulo: Devir, 2004. REY, Sandra. Da prática à teoria: três instâncias metodológicas sobre a pesquisa em Poéticas Visuais. Porto Arte, Porto Alegre, v. 7, n. 13, p.82-95, nov. 1996. RAHDE, Maria Beatriz Furtado. Reflexões Visuais Estéticas: da beleza e do grotesco. REVISTA CIENTÍFICA-FAP. Curitiba: Faculdade de Artes do Paraná, 2012. Semestral. Disponível em: <https://goo.gl/MS2Y2Y>. Acesso em: 18 maio 2017. SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeira: MAUAD, 2002.

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6.2.8 TEATRO ENCANTO

Caroline Panicio45 Profa. Dra. Marlene Aparecida Ferrarini-Bigareli

Profa. Dra. Karen Alves Andrade Moscardini

Palavras-chave: Linguagem; Integração; Desenvolvimento.

INTRODUÇÃO

Este trabalho visa apresentar um projeto, desenvolvido no IFPR campus londrina,

denominado Teatro Encanto. O projeto tem por objetivo desenvolver as diversas formas

de linguagem nos estudantes e o trabalho em equipe com ênfase na transformação social

e cultural do indivíduo. Desenvolvendo peças com relevância para o ambiente escolar e

envolvendo diferentes perfis de estudantes com o intuito de fornecer um ambiente coletivo

diverso.

O trabalho teatral permite uma reflexão sobre si mesmo e o mundo que nos cerca.

Tem o poder de trazer críticas políticas, sociais, religiosas, reviver fatalidades ou

acontecimentos (MIRANDA et al, 2009). É uma atividade artística que privilegia a

interação social e a ação dos sujeitos, promovendo o desenvolvimento da imaginação e

da linguagem (STOLTZ; OLIVEIRA, 2010).

Segundo Stoltz e Oliveira (2010), a interação social no teatro acontece de

diversos modos, com a preparação do texto, a preparação do palco, a montagem do

figurino e a interação entre plateia e ator. E uma das características importantes, que o

grupo tem como objetivo desenvolver é o uso da linguagem. A palavra tem o poder de

suscitar várias situações na mente.

A imaginação possibilita a criação artística, técnica e científica. É, também, o que

possibilita a um indivíduo a capacidade de solucionar problemas ou planejar. As

experiências vividas proporcionam ao sujeito material para fantasia, sem a necessidade

de que estas tenham sido vividas diretamente por ele (STOLTZ; OLIVEIRA, 2010).

Para Miranda et al (2009), a escola não tem apenas a função de ensinar o

conteúdo disciplinar, mas de integrar os alunos na sociedade. Nesse sentido, o teatro

aplicado à vida dos estudantes tem o papel de auxiliar no desenvolvimento do indivíduo

de forma crítica, fazendo-o pensar sobre o mundo que o cerca e colocando-o no lugar do

outro.

45 Estudante do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFPR campus Londrina.

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O teatro na escola, conforme Miranda et al (2009), deve ser um instrumento de

aprendizagem, sendo trabalhado como amostra prévia da sociedade que o estudante

encontrará fora da escola, sem a obrigatoriedade de formar artistas ou promover

espetáculos.

RELATO

O projeto está acontecendo na quadra poliesportiva do instituto, através de

oficinas. Essas oficinas contam com encontros semanais com estudos teóricos e práticos

sobre teatro, visando a iniciação dos participantes a técnicas de palco, atuação, leitura

dramática, expressão corporal e vocal, sonoplastia, iluminação, figurino, maquiagem e

cenografia. A turma conta com participantes da comunidade escolar e prevê a

participação da comunidade externa. Com o objetivo principal de engajar os participantes

em ações culturais com temas contemporâneos importantes, como: consciência

ambiental, direito de minorias, diversidade étnica, entre outros.

O grupo montará um cronograma de apresentações das peças desenvolvidas e

ensaiadas, inserindo a atividade em eventos artísticos e culturais previstos em nosso

calendário acadêmico. Além das apresentações internas, serão realizadas apresentações

em outras instituições públicas de ensino da região.

Este trabalho encontra-se em fase inicial de realização de atividades e um dos

principais desafios para o projeto, é a dificuldade encontrada com a flexibilização dos

horários de passe livre para os estudantes, o que influencia diretamente a participação

deles nas oficinas que ocorrem após as aulas.

O instituto não possui espaço adequado para trabalhar atividades artísticas,

portanto o projeto está acontecendo em locais disponíveis no horário da oficina, como a

quadra poliesportiva, por exemplo.

Outro desafio encontrado foi o atraso na liberação de início das atividades, visto

que o projeto de extensão previa a participação de um bolsista de um dos cursos de

ensino superior oferecidos pelo IFPR campus Londrina, e o início das atividades só foram

autorizados na metade do ano letivo, o que causa certa dificuldade de participação dos

estudantes, por já estarem no processo de outras tarefas, sendo mais difícil atrair a

atenção e garantir assiduidade nas oficinas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto já acontecia antes de receber a liberação oficial das atividades, mas

como não contava com auxílio, ainda não era possível de ser realizado em horários

diversos, para alcançar maior número de estudantes. Com o início da participação do

bolsista, é possível promover as oficinas em diferentes horários, atingindo uma

quantidade maior de pessoas da comunidade escolar. Para isso, os alunos serão

consultados sobre os melhores dias para a realização e participação do projeto.

Apesar do pouco tempo de atuação, já é possível observar como os projetos

contribuem para a formação crítica do aluno e a interação entre eles. Os estudantes estão

sob mediação, mas é a partir deles que surgem ideias para estudar peças ou apresentá-

las. Conforme Stoltz e Oliveira (2010), até o momento, foi possível notar que o teatro é

realmente uma ferramenta útil para trabalhar a linguagem, dentro e fora dos palcos.

REFERÊNCIAS

MIRANDA, J. L. et al. TEATRO E A ESCOLA: funções, importâncias e práticas. Revista Ceppg, Catalão, n.20, p.172-181, 2009. Disponível em: <https://goo.gl/xh39Dp>. Acesso em: 07 jun. 2017.

OLIVEIRA, M. E.; STOLTZ, T. Teatro na escola: considerações a partir de Vygotsky. Educar, Curitiba, v.07, n.36, p.77-93, 2010. Disponível em: <https://goo.gl/4Gsju9>. Acesso em: 09 jun. 2017.

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6.2.9 VANTAGENS E DIFICULDADES DA ELABORAÇÃO DE UM MAPA SONORO VIRTUAL DO CALÇADÃO DE LONDRINA

Caio Felipe da Silva Evangelista46

Orientador: Prof. Me. Lawrence Mayer Malanski

Palavras-chave: Sons; Cartofonia; Lugar.

INTRODUÇÃO

Os mapas são uma das principais formas de representar as informações acerca

do espaço geográfico, enquanto os sons identificam lugares e territórios em determinados

períodos de tempo (TRUAX, 2012). No entanto existe certa dificuldade em relacionar

mapas e sons devido as suas características distintas. Dentre as formas possíveis de

mapeamento sonoro, destaca-se, atualmente, a cartofonia virtual, uma forma de

representação simbólica de sons (THULIN, 2016), que utiliza gravações de campo e

bases cartográficas digitais, como o Google Maps.

Nesse contexto, a presente pesquisa abordará as vantagens e dificuldades na

elaboração de um mapa sonoro virtual do Calçadão da cidade Londrina, Paraná. O

Calçadão, enquanto uma “avenida principal”, é um lugar onde se desenvolve ações e

atividades do cotidiano que resultam em sons que expressam culturas e identidades

distintas (HOLZER, 2013). Logo, esses sons são importantes para a identidade da cidade

de um modo geral.

Assim, quais são as principais vantagens e dificuldades envolvidas na elaboração

de um mapa desse tipo? A princípio, pode-se estimar que as vantagens se relacionam,

sobretudo, à possibilidade de relacionar sons e cartografia de modo que os sons

caracterizem o lugar destacado no mapa. Já as dificuldades, supõem-se que estão

relacionadas com os sons, pois eles são difíceis de juntar com as imagens, sendo que

eles têm uma menor objetividade.

A princípio, pode-se afirmar que as vantagens é a relação entre o som e o mapa.

Já as desvantagens é a mudança do som.

A justificativa desse trabalho surge na necessidade de entendem o som e sua

característica. Aprimorar o conhecimento na criação de um mapa sonoro e compreender a

importância do registro dos sons e as dificuldades em fazê-lo.

46 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do IFPR campus Londrina.

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MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização desse trabalho, a metodologia adotada foi revisão de literatura

pautada em autores que estudam, de algum modo, esse tema. Para essa pesquisa, foi

consultado sites de pesquisa como o Google Acadêmico e Microsoft Academic, além de

alguns livros. Também, são utilizados e avaliados mapas sonoros já existentes na

Internet, como exemplo a Radio Aporee (2017), um ambiente virtual e colaborativo, criado

em 2006, onde:

Contém gravações de inúmeros ambientes urbanos, rurais e naturais, mostrando sua complexidade audível, bem como as diferentes percepções, práticas e perspectivas artísticas de seus muitos contribuintes, relacionados a espaços sãos, públicos e privados, a escuta e o senso de lugar (APOREE, 2017, s/n, tradução nossa)

DESVANTAGENS NA CRIAÇÃO DE UM MAPA SONORO

A principal dificuldade identificada foi a alteração dos sons a cada momento, pois,

dependendo do lugar, do ano, do dia, da hora, ou mesmo do segundo eles podem mudar.

Logo, o caráter efêmero dos sons dificulta a gravação de um único som que identifique e

caracterize um lugar determinado. Mapas sonoros, como o Favourite Sounds (2017) não

ocorre esse problema, pois, utiliza os sons favoritos de uma determinada região.

Isso revela, também, a dificuldade em recuperar e registrar sons do passado que

já eles deixam de existir e valoriza a importância do registro desse tipo de sons ainda

existentes.

Outra dificuldade corresponde a relação entre a parte visual do mapa e as

gravações nele inseridas, uma vez que as imagens possuem caráter mais objetivo em

relação às sonoridades. Isso pois, os sons permitem aos ouvintes imaginarem paisagens

e lugares a partir de suas experiências vividas.

VANTAGENS NA CRIAÇÃO DE UM MAPA SONORO

No que se refere às vantagens da cartofonia virtual, destaca-se a possibilidade de

registros sonoros dos lugares e a disponibilidade das informações pela Internet, o que

poderá contribuir com pesquisas futuras a respeito das sonoridades do passado ou

mesmo a comparação entre épocas e lugares distintos. Ainda, os mapas sonoros virtuais

podem contribuir na imersão dos usuários nos lugares, pois terão suas imaginações

ampliadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hipótese não estava totalmente errada, pois na elaboração de um mapa sonoro

virtual do calçadão de Londrina envolve vantagens e dificuldades relacionadas, sobretudo,

ao caráter efêmero dos sons e a relação entre imagens visuais e as gravações.

REFERÊNCIAS FAVOURITE SOUNDS. Favourite Sounds. Disponível em: <https://goo.gl/CXPAaC>. Acesso em: 28 jun. 2017. HOLZER, W. Sobre territórios e lugaridades. Cidades, São Paulo, v. 10, n. 17, p. 18-29, 2013. Disponível em: <https://goo.gl/zR0HLj>. Acessado em: 02 jan. 2017. RADIO APOREE. Radio Aporee: Maps. Disponível em: <https://goo.gl/gGswvE>. Acesso em: 28 jun. 2017. THULIN, S. Sound maps matter: expanding cartophony. Social and Cultural Geography, Londres, p.1-19, 2016. Disponível em: <https://goo.gl/Zx0uhC>. Acesso em: 09 fev. 2017. TRUAX, B. Sound, listening and place: the aesthetic dilemma. Organised Sound, Cambridge, v. 3, n. 17, p.191-201, 2012. Disponível em: <https://goo.gl/MXSfuO>. Acesso em: 16 fev. 2017.

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7 REGISTROS

O 2° CEPEQUINHO teve, na sua abertura, a disputa entre os alunos do Ensino

Médio no quadrangular final do Torneio de Bets.

O Bete ou Bets, como é conhecido nos estados do sul do País, é um jogo cuja

origem ainda é um mistério. Uns dizem que foi criado por jangadeiros brasileiros no

século XIX, outros sugerem que “bete” derivou da palavra inglesa “bet”, cujo significado é

“aposta”, termo muito utilizado nas partidas de críquete, na Inglaterra. Há ainda uma

terceira hipótese que diz que o taco deriva do beisebol, embora os adeptos do jogo

afirmem o contrário, que foi o beisebol que derivou do bete. O fato é que o jogo

extremamente popular no Brasil. É, inclusive, objeto de uma expressão muito comum no

Paraná, “largar os betes”, que significa desistir de algo.

Nesse ano, durante as aulas de Educação Física ministradas pelo Professor

Washington L. Costa nas turmas do Ensino Médio, foram realizadas partidas envolvendo

todos os estudantes, até chegar à uma dupla vencedora por turma, classificando a

mesma para a fase final a ser realizada durante o evento.

Os jogos aconteceram no ginásio coberto do IFPR campus Londrina, envolvendo

as 4 duplas finalistas formadas por estudantes dos cursos Técnico em Informática

Integrado ao Ensino Médio e Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio e teve

o seguinte resultado:

1º lugar – Gabriella Kothe e Felipe Augusto

2º lugar – Edvaldo Jr. e Renan Felipe

3º lugar – João Pedro e Bruno Ito

4º lugar - Gabriel Paduan e Murilo Soares

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TORNEIO DE BETS

Concluímos, então, com as imagens das capturas do evento pelo olhar dos

alunos-fotógrafos. Os registros incluem apresentações dos trabalhos dos alunos,

palestras, minicursos e a finalização com os shows das bandas “Cabeças voadoras”, do

IFPR-Telêmaco Borba e “tatudobem”, do IFPR-Londrina.

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MESA DE ABERTURA E PALESTRANTES

MINICURSOS, APRESENTAÇÕES DE TRABALHOS E BANDAS