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A FOTOGRAFIA NA CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DE OUTROS: AUTORIA, RELATOS E APROPRIAÇÃO. A INAUTENTICIDADE DE DIÁLOGOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE INGLÊS: CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DA CONVERSA. A METODOLOGIA DE ENSINO COLETIVO DO VIOLÃO NO PROJETO PRELÚDIO: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA. ARTE CONTEMPORÂNEA- SISTEMA E CRÍTICA. LICENCIATURAS EM MÚSICA E FORMAÇÃO DOCENTE PARA ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. LITERATURA: INSTRUMENTO DE DENÚNCIA DE PROCESSOS DE EXCLUSÃO SOCIAL E DE PROMOÇÃO DE VALORES IDENTITÁRIOS E DE INCLUSÃO. MÁSCARA DA REVOLUÇÃO: A FAMÍLIA E A CIDADE NO CONTO. O DESIGNER COMO NARRADOR: AS MENSAGENS ESTÉTICAS TRANSMITIDAS PELO DESIGN DE CALÇADOS. O DIALOGISMO NA CIDADE LIVRE. O IMAGINÁRIO DE UMA IDENTIDADE NACIONAL JUDAICA DIASPÓRICA NO CONTO DE FRANZ KAFKA A PREOCUPAÇÃO DO PAI DE FAMÍLIA. O PAPEL DAS FRASEOLOGIAS NA RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA: AS UNIDADES FRASEOLÓGICAS DA LINGUAGEM DO DIREITO EM ACÓRDÃOS DO TJRS. ONDE ESTÃO SUAS AMARRAÇÕES? SOBRE ELABORAÇÕES NO PROCESSO DE CRIAÇÃO.

Anais do Inovamundi 2014

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Resumos dos trabalhos apresentados no Seminário de Póss-Graduação da Universidade Feevale, RS.

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  • A FOTOGRAFIA NA CONSTRUO DA MEMRIA DE OUTROS: AUTORIA, RELATOS E APROPRIAO.

    A INAUTENTICIDADE DE DILOGOS EM LIVROS DIDTICOS DE INGLS: CONTRIBUIES DA ANLISE DA CONVERSA.

    A METODOLOGIA DE ENSINO COLETIVO DO VIOLO NO PROJETO PRELDIO: UMA CONSTRUO COLETIVA.

    ARTE CONTEMPORNEA- SISTEMA E CRTICA.

    LICENCIATURAS EM MSICA E FORMAO DOCENTE PARA ATUAO NA EDUCAO INFANTIL.

    LITERATURA: INSTRUMENTO DE DENNCIA DE PROCESSOS DE EXCLUSO SOCIAL E DE PROMOO DE VALORES IDENTITRIOS E DE INCLUSO.

    MSCARA DA REVOLUO: A FAMLIA E A CIDADE NO CONTO.

    O DESIGNER COMO NARRADOR: AS MENSAGENS ESTTICAS TRANSMITIDAS PELO DESIGN DE CALADOS.

    O DIALOGISMO NA CIDADE LIVRE.

    O IMAGINRIO DE UMA IDENTIDADE NACIONAL JUDAICA DIASPRICA NO CONTO DE FRANZ KAFKA A PREOCUPAO DO PAI DE FAMLIA.

    O PAPEL DAS FRASEOLOGIAS NA RECUPERAO DA INFORMAO JURDICA: AS UNIDADES FRASEOLGICAS DA LINGUAGEM DO DIREITO EM ACRDOS DO TJRS.

    ONDE ESTO SUAS AMARRAES? SOBRE ELABORAES NO PROCESSO DE CRIAO.

  • TAMBOR NA PONTA DOS DEDOS: UMA PESQUISA INTERVENO COM JOVENS DJS E MCS DE FUNK OSTENTAO DE UMA ESCOLA PBLICA DE PORTO ALEGRE.

  • [*] Cursando Especializao em Poticas Visuais. Feevale/RS. [**] Doutora em Cincias Humanas (UFSC) e Mestre em Artes Visuais (UFRGS). Leciona na Esp. Em Poticas Visuais e no Mestrado em Indstria Criativa (Feevale/RS).

    A FOTOGRAFIA NA CONSTRUO DA MEMRIA DE OUTROS: AUTORIA, RELATOS E APROPRIAO.

    Walter Karwatzki [*] Rosa Maria Blanca [**]

    PALAVRAS-CHAVE: Fotografia. Contemporaneidade. Apropriada. Artstico. Memria.

    1. INTRODUO

    medida que a popularidade da fotografia se espalhou a funo de suporte ideal para a memria se consolidou. O tema memria recorrente na arte fotogrfica. Muitas abordagens so utilizadas para tal. Ora, a imagem pura, ora a imagem manipulada artisticamente.

    Nesta pesquisa, o que nos interessa a abordagem que trata da memria atravs da fotografia que sofre uma manipulao artstica. Neste estudo abordaremos um trabalho, obra, que se

    constri como tal, a partir do relato de outros para a construo de uma sua prpria memria. Sendo assim, neste contexto, esta memria no a construda, apenas, pelo artista que manipula as fotografias. Pois, nesta potica visual, o sujeito da memria faz parte, com suas indicaes fotogrficas, do processo criativo desta nova memria. O artista e o sujeito da memria, em cumplicidade, constroem uma segunda memria, que contm a primeira memria

    em sua construo.

    2. FUDAMENTAO TERICA Para DUBOIS [1] memria conjunto de pensamentos j ocorridos de lugares e imagens. O

    objetivo desta investigao exercitar o compartilhamento da memria do outro atravs de prticas artsticas fotogrficas, sendo o artista um agente desta construo memorial. Tendo como condio

  • bsica para tal exerccio artstico o conhecimento pessoal entre o sujeito da memria (o que relata a histria) e o artista.

    Vivemos, atualmente, um excepcional perodo para a fotografia. Hoje, a fotografia cortejada pelo mundo da arte e frequenta as grandes galerias e livros de arte. Nunca se produziu tantas fotografias para as galerias como nos ltimos anos. A fotografia a grande linguagem da arte contempornea. Assim, a fotografia, como linguagem contempornea, tem sido usada para se tratar do tema memria.

    Das muitas funes oferecidas pela imagem fotogrfica, sem dvida, a da associao desta com a memria, seja ela individual, ou coletiva. A imagem fotogrfica supera, em muito, outros meios, no que diz respeito a provocar recordaes. A fotografia uma das formas contemporneas que melhor representa, antes mesmo da informtica, certo prolongamento das artes da memria.

    Na atualidade, segundo enfatiza Olga Simson, citado por SOUZA [2] a fotografia possui papel importante na detonao do nosso processo de rememorao, j que possibilita a construo da nossa verso sobre os acontecimentos vivenciados. Dessa forma o suporte imagtico que, na maioria das vezes, vem orientando a reconstruo e veiculao da nossa memria, seja como indivduos ou como participantes de diferentes grupos sociais. isso que faz, por exemplo, com

    que a fotografia esteja quase sempre presente nos eventos importantes de nossas vidas, tais como festas de aniversrios, casamentos, formaturas e viagens a lugares importantes, bonitos e exticos. Os momentos que achamos que merecem ser lembrados se tornam obrigatoriamente motivos da ao de nossas mquinas fotogrficas.

    3. METODOLOGIA

    Condio importante e sine qua non, que o sujeito da memria e o artista sejam conhecidos. Pois, a condio de entrar na memria do outro, requer, no mnimo, que ambos se conheam no

    sendo possvel a realizao do trabalho quando esta condio no existe. Como j dissemos, este

  • trabalho trata a questo da memria, atravs da fotografia, compondo ambientes memoriais a partir da utilizao de duas classes de fotografias:

    - Uma fotografia cedida pelo sujeito da memria; - Duas fotografias feitas pelo artista do sujeito da memria.

    Na primeira classe - fotografia cedida - acontece uma apropriao concedida, pelo sujeito da memria, para que o artista a utilize na construo do novo ambiente memoriais. O sujeito da memria elege uma fotografia que seja representativa; da infncia, ou de qualquer poca da vida, no conjunto de suas memrias, para que esta faa parte da obra.

    Na segunda classe - fotografias autorais - o artista faz duas fotografias que sero utilizadas no trabalho. Uma do prprio sujeito memria e outra de algum ambiente, que no contexto atual, represente o sujeito da memria. Este ambiente pode ser desde uma casa, um rio, ou a cobertura de uma rocha.

    Estas fotografias passaram por um processo de manipulao atravs de programa de edio de imagens para se compor a imagem final. So, aqui, denominadas, imagens-memria. Aqui, vamos descrever trs obras que utilizaram esta abordagem para tratar da questo da memria.

    4. CONSIDERAES FINAIS Das muitas funes oferecidas pela imagem fotogrfica, sem dvida, a da associao desta

    com a memria, seja ela individual, ou coletiva. A imagem fotogrfica supera, em muito, outros meios, no que diz respeito a provocar recordaes. Assim, a temtica memria recebe mais uma interpretao atravs da fotografia. uma abordagem onde o sujeito da memria e o artista, fazem um dilogo indispensvel para que esta narrativa seja possvel de existir. uma memria construda em conjunto, uma memria, em parte cmplice. Formando uma imagem-memria.

    A abordagem dada, aqui, neste trabalho, pode receber a denominao de memria em linha

    de tempo em vista de sua abordagem ser feita em mais de um tempo. Passado e presente se unem

    para lembrar uma memria e contar uma histria. Neste trabalho as imagens-memria criadas a

  • partir de momentos fotogrficos relatam pequenas histrias de vida, onde o sujeito da memria e o artista co-habitam um imaginrio real.

    Vimos que a utilizao de mais de uma imagem fotogrfica, no importando a sua propriedade (autoral, prpria ou apropriada) podendo ser utilizada na reconstruo de uma memria atravs da fotografia. Cabe ressaltar que o lugar/espao (casa, rio, cidade, praa...) o territrio da memria. Territrio onde os limites e as fronteiras so tnues, no se podendo delimit-lo. Pois,

    quando mais nos aproximamos do seu limite mais lugares e memrias aparecem. Segundo MURAD [3]:

    Essa profuso de lugares e ventos multiplicando-se infinitivamente nos aponta o sentido de perpassamento de [i]memrias lumnicas se re-presentando nas coisas ou lugares.

    REFERNCIAS

    [1] DUBOIS. Philippe. O Ato Fotogrfico e Outros Ensaios. Ed. Papirus. Campinas SP. 1993.

    [2] SOUZA, Fbio dAbadia de. Fotografia e Memria em Marcel Proust. Alcar Associao Brasileira de Pesquisadores de Histria da Mdia I Encontro de Histria da Mdia da Regio Norte Universidade Federal do Tocantins. Palmas - TO. 2010.

    [3] MURAD, Carlos Alberto. Fotografia Contempornea e a Imagem do Olhar Cristal. Publicado nos Anais do Ciantec 09. Universidade de Aveiro, out. de 2009, pp. 144 a 148.

  • A INAUTENTICIDADE DE DILOGOS EM LIVROS DIDTICOS DE INGLS: CONTRIBUIES DA ANLISE DA CONVERSA

    Ana Paula Alba Wildt1 - CAPES/UNISINOS

    PALAVRAS-CHAVE: Livros didticos. Dilogos. Autenticidade. Anlise da Conversa. Lngua inglesa.

    INTRODUO

    Ao apresentar dilogos, os livros didticos de ingls pretendem fornecer amostras da lngua em uso em situaes interacionais e possibilitar ao/ aluno/a perceber a relao entre linguagem e prticas sociais, capacitando-o/a a se comunicar e interagir em vrios contextos com diferentes finalidades. Nessa perspectiva, os dilogos em livros didticos desempenham papel importante no processo de aprendizagem de ingls como segunda lngua e lngua estrangeira, uma vez que atuam como insumos orais no desenvolvimento da competncia interacional dos/das alunos/as.

    Contudo, o que temos observado nas obras didticas das principais editoras internacionais que dominam o mercado brasileiro na contemporaneidade a ausncia de insumos orais autnticos. Nesse sentido, nosso estudo tem investigado a inautenticidade dos insumos orais, mais especificamente, dos dilogos nos livros didticos de ingls.

    FUNDAMENTAO TERICA

    A proposta de nossa pesquisa analisar e problematizar a questo da inautenticidade de dilogos apresentados em livros didticos de ingls das editoras internacionais lderes de mercado no Brasil. Para tanto, temos buscado contribuies tericas nos estudos sobre ensino de lnguas baseado em tarefas, insumo oral autntico, competncia interacional e Anlise da Conversa aplicada avaliao de dilogos em materiais didticos.

    Em virtude de que o uso da linguagem adequada e o papel desempenhado pelos/as participantes em determinado evento interacional so enfoques do processo de aprendizagem em uma perpectiva comunicativa de ensino de lnguas (LEFFA, 1988), o Ensino de Lnguas Baseado em Tarefas (ELBT), que compreendido como um desdobramento da Abordagem Comunicativa, pressupe a utilizao de insumos escritos e orais autnticos que demonstrem como a lngua empregada em situaes do mundo social. Assim, no Ensino de Lnguas Baseado em Tarefas ao

    1 Mestra em Educao pela UFPEL e Doutoranda em Lingustica Aplicada pela UNISINOS.

  • qual os livros didticos normalmente esto vinculados na atualidade, h uma preocupao maior com o mundo real e o uso de dados lingusticos autnticos (LEFFA, 2008, p. 26). Esses dados lingusticos so denominados insumos. Nunan (2004, p. 47) define insumo como todo dado escrito, falado e visual com que o/a aprendiz trabalha durante o curso da tarefa at a sua completude2 (traduo nossa). Portanto, dentro do ELBT, o insumo um componente da tarefa (NUNAN, 2004), colaborando na sua execuo e para a sua completude.

    No que se refere inautenticidade dos insumos orais, objeto deste estudo, compreendemos como autntica a fala naturalstica, isto , a fala que acontece espontaneamente em interaes do mundo social, e que aconteceria com ou sem a presena de um/a pesquisador/a, no tendo sido produzida especificamente para fins pedaggicos. Defendemos que relevante utilizar dilogos autnticos na sala de aula de ingls porque se esse insumo 'fabricado', ou seja, artificial, o aluno pode ser levado a produzir uma variante da lngua-alvo que no o possibilite uma comunicao/interao efetiva e natural (SCHUBERT, 2010, p. 27).

    METODOLOGIA

    Como aporte terico e metodolgico, utilizamos a Anlise da Conversa, cujos precursores Harvey Sacks, Gail Jefferson e Emanuel Schegloff (1974) ajudaram a descrever e sistematizar uma srie de observaes e convenes referentes organizao, sequencialidade e s prticas de interao pela fala que hoje so utilizadas pelos/as pesquisadores/as de fala-em-interao nas mais diferentes reas, inclusive nos estudos sobre aquisio e aprendizagem de segunda lngua e lngua estrangeira.

    Se a Anlise da Conversa se ocupa de observar e descrever a organizao, a sequencialidade e as prticas interacionais no mundo social, parece natural vislumbrar a potencialidade das suas contribuies aos estudos sobre aquisio e aprendizagem de ingls como segunda lngua e lngua estrangeira, especialmente no mbito do ensino comunicativo de de lnguas, em que a competncia interacional entendida por Barraja-Rohan (2011, p. 482) como a habilidade de a) se engajar em vrios eventos interacionais para co-construir a fala com vrios/as participantes e demonstrar conhecimento pragmtico atravs do uso da sintaxe conversacional3, e b) gerenciar o sistema de

    2 Input refers to the spoken, written and visual data that learners work with in the course of completing a

    task. 3 Engage in various interactional events to co-construct talk with various participants and display pragmatic

    knowledge through the use of conversational syntax.

  • tomada de turnos de forma conjunta com co-participantes, adotando papeis interacionais apropriados4 (traduo nossa) meio e fim pedaggicos.

    Por isso, neste primeiro momento, temos comparado dilogos em livros didticos de ingls, baseados em tarefas, das principais editoras internacionais com estudos prvios de fala-em-interao, que possuem como objeto a fala de ocorrncia natural no mundo social, isto , a fala autntica, e que descrevem e analisam a organizao e as caractersticas comuns fala naturalstica em diferentes situaes interacionais. Os impactos da inautenticidade de dilogos em livros didticos de ingls no desenvolvimento da competncia interacional do/a aluno/a sero analisados em outro momento, durante um curso de extenso em lngua inglesa, a ser oferecido a um determinado grupo com uso de dilogos autnticos e a outro, com uso de dilogos inautnticos.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Em fase inicial, nossa pesquisa vem apontando disparidades importantes entre os dilogos em livros didticos de ingls baseados em tarefas e aqueles de ocorrncia natural no mundo social, analisados por estudos prvios de fala-em-interao. O fato de que os dilogos so interaes gravadas em estdio a partir de um script elaborado em conformidade com um syllabus previamente estabelecido que, por sua vez, est voltado a atender a uma poltica lingustica de grande alcance que associa os materiais didticos a testes de proficincia internacionais (o Quadro Europeu Comum de Referncia para Lnguas) , evidencia que os livros didticos continuam focando no ensino de aspectos lingusticos, e no na lngua em uso no mundo social, como clamam as editoras e a perspectiva comunicativa qual estas obras se vinculam. Alm disso, a ausncia de fala naturalstica nos dilogos dos livros didticos de ingls avaliados at o momento destaca que, diferentemente do que o Ensino de Lnguas Baseado em Tarefas pressupe, as obras no apresentam insumos orais autnticos.

    Tais resultados, embora parciais, fazem refletir sobre os possveis impactos da inautenticidade dos dilogos em livros didticos no desenvolvimento da competncia interacional dos/as aprendizes de ingls, j que os textos orais pretendem funcionar como amostras de como a linguagem utilizada em diferentes contextos do mundo social para que o/a aprendiz possa se comunicar efetivamente. Esses impactos sero analisados no prximo estgio de nossa pesquisa.

    4 Jointly manage the turn-taking system with co-participants adopting appropriate interactional roles.

  • CONSIDERAES FINAIS

    Ainda raros no Brasil, estudos de Anlise da Conversa aplicada avaliao de dilogos em livros didticos de ingls realizados em outros pases (BERNSTEN, 2002; WONG, 2002; WONG; WARING, 2011) vm demonstrando disparidades significativas entre a fala-em-interao apresentada nos materiais de ensino e a fala de ocorrncia natural, que objeto de estudo dessa rea na interface da Lingustica Aplicada e da Sociologia.

    Nesse sentido, almejamos, com nossa pesquisa, problematizar a inautenticidade de dilogos em livros didticos de ingls de editoras internacionais utilizados no Brasil, tendo como aporte terico e caminho metodolgico a Anlise da Conversa, com vistas a qualificar a produo e a seleo de materiais de ensino de lngua inglesa, uma vez que os dilogos desempenham importante papel no desenvolvimento da competncia interacional do/a aluno/a.

    REFERNCIAS:

    BARRAJA-ROHAN, A. M. Using conversation analysis in the second language classroom to teach interactional competence. Language Teaching Research, v. 15, n. 4, p.479-507, 2011. Disponvel em: . Acesso em: 12 out. 2013.

    BERNSTEN, S. G. Using conversation analysis to evaluate pre-sequences in invitation, offer, and request dialogues in ESL textbooks. 2002. 98 f. Dissertao (Mestrado em Ensino de Ingls como Segunda Lngua)-University of Illinois, Urbana-Champaign, 2002. Disponvel em: . Acesso em: 13 nov. 2013.

    LEFFA, V. J. Metodologia do ensino de lnguas. In: BOHN, H. I.; VANDRESEN, P. Tpicos em lingstica aplicada: o ensino de lnguas estrangeiras. Florianpolis: UFSC, 1988, p.211-236. Disponvel em: . Acesso em: 10 nov. 2013.

    NUNAN, D. Task-based language teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

    SACKS, H.; SCHEGLOFF, E. A.; JEFFERSON, G. Sistemtica elementar para a organizao da tomada de turnos para a conversa. Veredas, v. 7, n. 1-2, p.9-73, 2003. Traduo de SACKS, H.; SCHEGLOFF, E. A.; JEFFERSON, G. A simplest systematics for the organization of turn-taking for conversation. Language, v. 50, p.696-735, 1974. Disponvel em: . Acesso em: 25 abr. 2014.

    SCHUBERT, B. P. B. A autenticidade do material didtico para o ensino de ingls como lngua estrangeira. Linguagens e dilogos, vol. 1, n. 2, p.18-33, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 18 nov. 2013.

  • WONG, J. Applying conversation analysis in applied linguistics: evaluating dialogue in English as a second language textbooks. IRAL, vol. 40, p.37-60, 2002. Disponvel em: . Acesso em: 26 nov. 2013.

    WONG, J.; WARING, H. Z. Conversation analysis and pragmatics in language teaching. ALIS Newsletter, vol. 31, n. 1, 2011. Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2013.

  • A METODOLOGIA DE ENSINO COLETIVO DO VIOLO NO PROJETO PRELDIO: UMA CONSTRUO COLETIVA

    Fernanda Krger Garcia (Universidade Feevale)1

    Palavras chave: Ensino coletivo do violo. Professores de instrumento musical. Projeto Preldio. INTRODUO

    O presente trabalho, uma pesquisa ainda em andamento, trata da prtica docente de

    professores no ensino coletivo do violo dentro do Projeto Preldio, da metodologia para o

    ensino coletivo de instrumentos musicais nesta escola de msica e da formao destes

    professores para tal modalidade de aulas. O Projeto Preldio um programa de extenso em

    msica do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS),

    cmpus Porto Alegre, fundado em 1982 como projeto de extenso da Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul (UFRGS) com o propsito de oferecer aulas de msica a crianas e

    adolescentes, lotado na escola tcnica desta universidade. Com a implantao dos Institutos

    Federais em 2008, a Escola Tcnica da UFRGS passou a fazer parte do Instituto Federal de

    Educao, Cincias e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) cmpus Porto Alegre e os

    professores de msica deste projeto optaram por tambm mudar para esta nova instituio.

    Nos ltimos anos, em minha atuao como docente neste local, tenho ministrado aulas de

    violo dentro do Projeto Preldio. Desde seu incio, este programa trabalha com aulas

    coletivas de instrumento musical, algo que sempre diferenciou esta das outras escolas de

    msica de Porto Alegre. Neste espao, no caso do meu instrumento, os grupos sempre tem at

    trs alunos, o que, se formos considerar, no um nmero to grande. Porm, em minha

    prtica como aluna e professora de violo, sempre estive envolvida com o ensino e a

    aprendizagem individual do instrumento, e no coletivo. Portanto, esta forma de ensinar o

    violo, para mim, era uma novidade quando iniciei meu trabalho junto a esta instituio, e tive

    que comear a encontrar maneiras de me adaptar a ela, buscando uma abordagem

    metodolgica que dialogasse com os diferentes indivduos presentes em aula para que minha

    prtica coletiva de ensino tambm fosse efetiva.

    1 Aluna da ps-graduao Lato Sensu em Msica: Ensino e Expresso da Universidade Feevale. Professora de msica do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Sul campus Porto Alegre.

  • O ensino do violo dentro do Projeto Preldio pautado pela versatilidade,

    caracterstica do prprio instrumento. O violo pode ser usado para fazer o acompanhamento

    de canes e tambm de msicas para outros instrumentos ou pode ser usado como

    instrumento solo, com repertrio escrito originalmente ou arranjado para ele, tanto na msica

    popular e na msica erudita. Buscamos mostrar aos alunos um pouco de cada aspecto,

    respeitando a trajetria da aprendizagem de cada um. A etapa cognitiva do aluno e de seu

    aprendizado musical sempre foi o maior fator estruturador do cursos do Projeto Preldio

    (KIEFER, 2005). O ensino coletivo tambm tem um papel importante nos processos de

    ensino e aprendizagem dentro do Projeto Preldio. Kiefer, uma das suas fundadoras, afirma

    que a prtica musical em pequenos ou grandes grupos tem sua ideia baseada nos mecanismos

    essenciais da psicologia da criana, j que a experincia e a interao so matria-prima para

    a construo do conhecimento (KIEFER, 2005, p. 94).

    Tendo em vista que a prtica do ensino coletivo de instrumento, apesar de presente em

    contextos como bandas de msica, projetos sociais e outros ambientes de aprendizagem

    informal (NASCIMENTO 2006; VALSECCHI, 2004; QUEIROZ, 2004), no algo comum

    nas escolas de msica e que a maioria dos professores de instrumento da atualidade tiveram

    seu aprendizado instrumental a partir de prticas vindas do ensino individual, pode-se

    imaginar que com os professores do Projeto Preldio no foi diferente. A partir desta temtica

    e deste contexto, surgiu-me a seguinte questo de pesquisa: como se efetivou a metodologia

    de ensino coletivo do violo no Projeto Preldio ao longo de seus 30 anos?

    Minha pesquisa tem como finalidade investigar como a prtica pedaggica dos

    professores que atuaram e que atuam no Projeto Preldio influenciou a metodologia de ensino

    coletivo do violo ao longo dos seus 30 anos. Tambm busca caracterizar a metodologia de

    ensino coletivo do violo presente neste local, investigar a viso dos atuais professores sobre a

    metodologia presente no curso de violo desta escola, conhecer a atuao de seus diferentes

    professores, ao longo de seus 30 anos, e a contribuio de cada um para a construo desta

    metodologia. A abordagem da pesquisa qualitativa, utilizando como mtodo de coleta de

    dados a entrevista semi-estruturada. A pesquisa ser concluda em setembro de 2014. Tal

    pesquisa se torna relevante porque h poucos trabalhos que tratam da metodologia do ensino

    coletivo, ainda mais do violo ou de um nico instrumento musical. Percebo, conversando

    com colegas de profisso, que o ensino coletivo de violo est bastante presente em contextos

  • variados (projetos sociais, contraturno da escola bsica, entre outros), e por isso importante

    entender a metodologia deste processo de ensino em grupo na viso dos professores. Este

    entendimento poder dar mais subsdios aos professores que iniciam neste tipo de abordagem

    ou buscam esclarecimentos sobre essa maneira de ensinar o violo.

    FUNDAMENTAO TERICAPor ensino coletivo de um instrumento musical entende-se, em senso comum, uma

    aula para grupos de indivduos. Nascimento diz que a metodologia de ensino coletivo de

    instrumentos musicais consiste em ministrar aulas ao mesmo tempo para vrios alunos

    (NASCIMENTO, 2006, p. 96). Porm, segundo Montandon, para que o ensino possa ser

    considerado coletivo, necessrio que todos estejam envolvidos e ativos o tempo todo e que

    aulas onde um aluno toca enquanto outros escutam, sem participao ativa de todos, no so

    aulas coletivas, e sim, aulas individuais que acontecem em grupo (MONTANDON, 2004, p.

    47). V-se com estas duas diferentes afirmaes que existem ainda dvidas sobre o que

    efetivamente tal metodologia. Em minha viso, uma aula coletiva deve desenvolver os

    mesmos conhecimentos e habilidades que uma aula individual, afinal, a pessoa que se prope

    a aprender um instrumento, seja individual ou coletivamente, quer poder fazer msica com ele

    e se relacionar da melhor forma possvel com esta arte.

    A maioria dos professores que atua no ensino coletivo teve sua formao como

    instrumentista atravs das aulas individuais. J sabido que a maneira com que um professor

    aprendeu tem influncia direta em sua prtica docente (TARDIF, 2002). Assim, dar aulas de

    instrumento em grupo pode ser um grande desafio e um empreendimento frustante para quem

    nunca teve experincia com este tipo de ensino (MONTANDON, 2004, p. 45). Cada

    indivduo presente na aula coletiva de instrumento tem um ritmo de aprendizado e uma

    cultura musical e saber interagir com o contexto do aluno um fator importante para a

    efetividade do aprendizado por parte deste. Por essa diversidade que emergir em sala de aula,

    o professor no poder simplesmente transpor sua prtica das aulas individuais para um

    ambiente coletivo de ensino. Assim, torna-se visvel a necessidade do professor ser um

    profissional reflexivo, de estar atento realidade que o circunda (PIMENTA; GARRIDO;

    MOURA, 2001).

    A formao do professor para o ensino coletivo, como se pode constatar pelas

    referncias citadas anteriormente, dificilmente acontece de uma maneira formal. Tardif (2002)

  • fala que uma parte importante para a formao docente a prtica da profisso, pois atravs

    da experincia que ele adquire e valida saberes necessrios sua atuao. O autor chama

    esses saberes que brotam da prtica de saberes experienciais. Essa influncia da experincia

    na definio dos processos de ensino presentes nos cursos do Projeto Preldio tambm

    evidenciada por Kiefer em sua tese (KIEFER, 2005, p. 179). Assim, a prpria prtica do

    ensino coletivo pelos diferentes professores possivelmente influenciou a sua construo de

    uma metodologia do ensino do violo, trazendo implicncias para os processos de ensino e

    aprendizagem como um todo neste contexto.

    METODOLOGIAA abordagem utilizada para esta pesquisa a qualitativa, que, de acordo com Flick,

    visa a abordar o mundo 'l fora' (e no em contextos especializados de pesquisa, como os

    laboratrios) e entender, descrever e, s vezes, explicar os fenmenos sociais 'de dentro' de

    diversas maneiras diferentes (FLICK, 2009, p.8). Para a coleta de dados, estou utilizando a

    entrevista semi-estruturada, realizada a partir de um corpo de questes pr-definidas, mas que

    permite tambm que o pesquisador possa partir para uma explorao mais profunda,

    elaborando perguntas a partir das respostas dos sujeitos entrevistados (GRESSLER, 2003, p.

    165).

    Participam desta pesquisa quatro professores do Projeto Preldio, escolhidos pelo

    maior tempo de atuao neste espao, por residirem em Porto Alegre e por terem sido (ou

    ainda so) professores efetivos. No momento atual de minha pesquisa, estou na etapa de

    organizao, categorizao e anlise dos dados.

    RESULTADOS, DISCUSSO E CONSIDERAES FINAIS Com a anlise ainda em andamento, posso destacar um aspecto relevante como

    resultado parcial at o momento. Observa-se que a experincia em sala de aula com o ensino

    coletivo est a favor da formao da prtica docente, contribuindo para a efetivao da

    metodologia do Projeto Preldio.

    Espera-se que atravs desta pesquisa se revelem aspectos da prtica pedaggica e da

    formao dos professores de violo para o ensino coletivo que ajudem a otimizar a atuao

    dos professores no contexto das aulas coletivas.

  • Referncias

    BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigao qualitativa em Educao: uma introduo teoria e aos mtodos. Portugal: Porto Editora, 1994

    FLICK, Uwe. Qualidade na pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

    GRESSLER, Lori Alice. Introduo pesquisa: projetos e relatrios. So Paulo: Loyola, 2003.

    KIEFER, Nidia Beatriz Nunes. Preldio: Uma proposta de educao musical 1982-2002. 2005. Tese (Doutorado em Educao). Faculdade de Educao, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponvel em: . Acesso em: 16 jul. 2013.

    MONTANDON, Maria Isabel. Ensino Coletivo, Ensino em Grupo: mapeando as questes da rea. IN: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL, 1., 2004, Goinia. Anais... Disponvel em: . Acesso em: 8 jun. 2013.

    NASCIMENTO, Marco Antonio Toledo. O ensino coletivo de instrumentos musicais na banda de msica. IN: CONGRESSO DA ASSOCIAO NACIONAL DE PESQUISA E PS-GRADUAO EM MSICA, 16., 2006, Braslia. Anais... Disponvel em: . Acesso em: 13 jun. 2013.

    ORTINS, Fernanda; CRUVINEL, Flavia Maria; LEO, Eliane. O papel do professor no ensino coletivo de cordas: facilitador do processo ensino aprendizagem e das relaes interpessoais. IN: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL, 1., 2004, Goinia. Anais... Disponvel em: . Acesso em: 8 jun. 2013.

    PIMENTA, Selma; GARRIDO, Elsa; MOURA, Manuel. Pesquisa colaborativa na escola facilitando o desenvolvimento profissional de professores. IN: REUNIO ANUAL DA

  • ANPED, 24., 2001, 21p. Disponvel em: . Acesso em: 20 jun. 2013.

    QUEIROZ, Luis Ricardo Silva. Educao musical e cultura: singularidade e pluralidade cultural no ensino e aprendizagem da msica. Revista da Abem, Porto Alegre, n. 10, p. 99-107, 2004.

    TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formao Profissional. Petrpolis: Vozes, 2002.

    TORRES, Patrcia Lupion; IRALA, Esrom Adriano F. Aprendizagem Colaborativa. IN: TORRES, Patrcia Lupion (Org.).Algumas vias para entretecer o pensar e o agir. Curitiba: SENAR-PR, 2007, p. 65-95.

    TOURINHO, Cristina. Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: crenas, mitos, princpios e um pouco de histria. IN: ENCONTRO NACIONAL DA ABEM E NO CONGRESSO REGIONAL DA ISME, 16., 2007, Amrica Latina. Anais eletrnicos... Disponvel em: . Acesso em: 08 jun. 2013.

    VALSECCHI, Nurimar. Projeto Guri.IN: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL, 1., 2004, Goinia. Anais... Disponvel em: . Acesso em: 8 jun. 2013.

  • ARTE CONTEMPORNEA SISTEMA E CRTICA Cristine Rahmeier Marquetto1

    UNIVERSIDADE FEEVALE

    PALAVRAS-CHAVE: Arte Contempornea. Sistema Artstico. Cnone. Crtica. Mercantilizao.

    INTRODUO Muita coisa mudou no campo artstico. No somente a arte como produzida, mas

    tambm o sistema do qual faz parte. O modernismo do final do sculo XIX marca uma ruptura no mundo da arte definitiva. Mas as contestaes de um artista chamado Marcel Duchamp mudaram o sistema artstico de forma ainda no muito bem assimilada. E este o tema deste artigo, o sistema artstico, como se formou, como est, e a crtica que se faz a ele.

    A poca do movimento modernista (fim do sculo XIX e comeo do sculo XX) era de inovaes tecnolgicas, que interferiam na vida cotidiana dos sujeitos, e de superao de uma arte renascentista2, que no era mais condizente com o momento que estava sendo vivenciado. Manet foi um dos percussores do impressionismo e do movimento moderno quando props pinturas3 baseada nas suas impresses acerca do mundo, das paisagens, de forma no exata, sem contornos definidos, bem diferente das obras escuras e perfeccionistas

    que se fazia at ento. Outros artistas o seguiram nessa ideia (Monet, Degas, Renoir, entre outros), no sem antes passar pelo mesmo processo de rejeio que Manet passou em um primeiro momento. Hoje, so considerados gnios da pintura.

    Cansado das imposies da Academia de Belas Artes, o pintor francs, radicado nos Estados Unidos, Marcel Duchamp, decide tomar uma providncia: ele compra um mictrio de porcelana branca, o vira de cabea para baixo, e assina a obra como se assina um quadro, mas com outro nome. Duchamp exps sua obra em 1917 e, depois desse fato, as coisas no foram mais as mesmas. Com a inteno de transgredir o sistema que ditava quem era artista e quem no era, e o que era arte e o que no era, Duchamp queria provar que tudo poderia ser arte, se

    1 Possui graduao em Comunicao Social Habilitao em Relaes Pblicas pela Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul (2010). Atualmente estudante de Mestrado em Processos e Manifestaes Culturais na Universidade FEEVALE. 2 Produzida de forma a exaltar a exatido e a preciso com que se podia pintar o corpo humano, dando

    preferncia para os contornos dos msculos e feies. Tambm priorizavam locais internos e escuros. 3 Principais obras que representam essa ruptura so Almoo na Relva e Olympia, ambos de 1863.

  • assim o artista quisesse, independente de um Academia julgadora, querendo acabar com o sistema ditatorial de arte. H quem diga que este um dos mais importantes momentos da arte. Mas h quem diga que o verdadeiro objetivo no foi alcanado.

    Em seu livro sobre a evoluo artstica, Will Gompertz (2013) conta a histria da arte desde a ruptura do modernismo at os tempos de hoje. Seu leitor modelo justamente os que no so entendidos em arte. Por qu? Ele afirma que as publicaes e os jornais chamam e criam um pblico novo, deslocado e cosmopolita para apreciar arte de artistas novos, deslocados e cosmopolitas. Nunca se visitou tanto os museus ao redor do mundo, afirma o autor, mas por outro lado, se sabe cada vez menos sobre arte.

    . Acredita-se que o grande problema enfrentado no o desinteresse ou a falta de informao sobre arte contempornea, mas a falta de opinies crticas e debates profundos sobre o tema. O objetivo deste artigo , portanto, o de fomentar o debate sobre o sistema artstico e sobre a arte contempornea. Para que isso seja possvel, sero apresentados argumentos, baseados em crticos de arte, de como se desenvolveu o sistema artstico atual e como ele opera, e tambm os argumentos que contestam esse sistema. Ao longo deste artigo, sero propostas algumas questes para se pensar na arte contempornea que vemos expostas

    nos museus e galerias.

    FUNDAMENTAO TERICA Dos autores trabalhados, os conceitos do crtico de arte Arthur Danto (2006) sero utilizado para contextualizar o momento em que est a arte e as implicaes na arte contempornea. Para este autor, arte contempornea um movimento e no um perodo de tempo. O trabalho de Will Gompertz (2013) tambm utilizado para retratar o perodo e retratar tambm como se chegou na construo de uma arte to diferente, que estamos vendo hoje. Esse artigo realiza comparaes entre o sistema de arte e o sistema literrio, trazendo as questes do cnone literrio para dentro da arte e estabelecendo conexes. Os conceitos de Carlos Reis (2003) e Antnio Candido (1995) so utilizados para embasar a discusso sobre o cnone literrio. Pierre Bourdieu (2006) aborda temas que dialogam com os trazidos por Candido, sendo assim, foi dado espao para a fala de Bourdieu (2006) tambm. Especificamente sobre a relao com o publico de arte, foram trazidos os conceitos de Mario Pedrosa (1996), estabelecendo uma ligao com conceitos de outros crticos brasileiros. A principal fonte da crtica ao sistema artstico que foi apresentada neste artigo vem do livro de Luciano Trigo (2014), jornalista, que reuniu textos sobre arte contempornea e seu sistema em um blog na internet. Reunindo, ento, crticos renomados e estrangeiros com crticos

  • brasileiros e jornalistas, acredita-se poder realizar um panorama do que vem sendo abordado sobre o campo artstico.

    METODOLOGIA O trabalho foi elaborado atravs de anlises de textos e comparao de documentos

    sobre a temtica. A pesquisa se deu no campo terico, buscando as informaes necessrias para a realizao do debate visado. Este artigo dividido em trs partes: a primeira realiza uma introduo do que vem sendo polemizado sobre arte contempornea e como surgiu essa nova arte, evidenciando alguns dos principais acontecimentos; a segunda parte busca compreender como o sistema artstico opera, e porqu opera desta forma, baseado em fatos trazidos por alguns pensadores do assunto como Jacinto Lageira (2012), Bourdieu (2006), Mario Pedrosa (1996), entre outros; a terceira parte traz as principais crticas que vem sendo feitas a esse novo sistema artstico, atravs dos textos de Luciano Trigo (2014).

    Com esse formato, acredita-se ser possvel realizar comparaes entre linhas de pensamento diferentes com argumentos que, por vezes, so contestados categoricamente pelos crticos do sistema. Tendo lanado as perguntas e realizado um panorama dos pontos de vista, ser possvel dar incio a um processo de maturao dos valores empregados pelo sistema. A proposta pararmos um pouco de fazer o que estamos fazendo, discutir alguns preceitos bsicos sobre arte e realinhar estruturas que possam estar desestabilizadas pelo momento que estamos vivendo.

    CONSIDERAES FINAIS O que se conclui da crtica atual ao sistema artstico que a arte est voltada para fins

    mercadolgicos, voltada para fazer dinheiro, e no mais no seu sentido puro. O mundo

    empresarial adotou a arte mediante patrocnios que lhe acrescentam em imagem

    corporativa, mas que, ao mesmo tempo, limita a produo para somente aquilo que convm a quem paga pela obra. Os debates sobre as mudanas trazidas pela globalizao e pela implantao do neoliberalismo alertavam sobre o crescente papel que o mercado exerceria na vida social. Com a arte no foi diferente. Todos os aspectos da obra de arte, diz Trigo (2014), foram reduzidos a questes de finanas e marketing, fazendo com que o sucesso e fama subam cabea dos artistas. O momento que vivemos, onde o circunstancial e o provisrio esto enraizados no cotidiano, tem como consequncia obras inacabadas, sem fora suficiente para se apresentarem a um julgamento minimamente crtico.

  • Cada artista tem o direito de fazer o que quiser, o problema o sistema aceitar todo o tipo de arte. Quais so os parmetros para organizar uma produo que favorea a mediao com o pblico? Sem parmetros, o mundo da arte entra em um vale-tudo onde no h narrativas ordenadoras, apenas o mercado e suas redes para regulamentao. Nesse novo contexto, no h como identificar a origem das obras. Antigamente, sabamos quando uma obra vinha de uma cultura japonesa ou russa, por exemplo. Hoje no possvel identificar nem rastrear os traos culturais das obras de arte. Trata-se de um processo global de homogeneizao dos valores e linguagens da arte.

  • REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BAXANDALL, Michael. O olhar renascente: pintura e experincia social na Itlia da Renascena. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

    BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

    CANDIDO, Antnio. Vrios Escritos. So Paulo: Duas Cidades, 1995.

    DANTO, Arthur C. Aps o fim da arte: a arte contempornea e os limites da histria. So Paulo. Odysseus Editora, 2006.

    FAVARETTO, Celso. A imaginao crtica. IN: Interlocues: esttica, produo e crtica de arte. Rio de Janeiro: Apicuri, 2012.

    GOMPERTZ, Will. Isso arte?: 150 anos de arte moderna do impressionismo at hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

    LAGEIRA, Jacinto. O valor esttico do dom. IN: Interlocues: esttica, produo e crtica de arte. Rio de Janeiro: Apicuri, 2012.

    PEDROSA, Mrio. Forma e percepo esttica: textos escolhidos II. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1996.

    REIS, Carlos. O conhecimento da literatura: introduo aos estudos literrios. Porto Alegre; EDIPUCRS, 2003.

    TRIGO, Luciano. A grande feira: uma reao ao vale-tudo na arte contempornea. Rio de Janeiro: Record, 2014.

  • LICENCIATURAS EM MSICA E FORMAO DOCENTE PARA ATUAO NA EDUCAO INFANTIL

    Mariana Hofmeister Mendona1 - FEEVALE

    Palavras-chave: Educao Musical. Formao docente. Educao Infantil.

    INTRODUO

    No decorrer da faculdade, dei incio prtica docente em uma escola de educao infantil. Um tanto receosa por nunca ter atuado como professora de msica, ainda mais para crianas pequenas, fui incentivada por colegas que j estavam inseridas nesse mercado.

    Logo percebi que a realidade da sala de aula abrangia questes e situaes alm das musicais, bem como a insero da msica no currculo escolar. Com as experincias advindas dos anos de atuao na escola regular, minhas concepes sobre educao musical modificaram-se e muitas vezes foram revistas. A nfase na msica cedeu espao a um olhar mais cuidadoso criana.

    Refletindo sobre minha trajetria de formao e atuao profissional, passei a indagar-me sobre como hoje se d a formao universitria nos cursos de licenciatura em Msica. Como pensam a formao para atuao na Educao Infantil? Como est o currculo hoje? Que disciplinas contemplam a criana?

    Motivada, portanto, pela observao da minha trajetria profissional, da relao entre formao, teoria e prtica, pretendi investigar como hoje se d a formao acadmica dos licenciandos em msica para a atuao na escola bsica no segmento da Educao Infantil.

    Considerando que o segmento de Educao Infantil em escola regular um vasto campo de possibilidade de atuao profissional do licenciado em Msica, este estudo pode

    1 Licenciada em Educao Artstica Habilitao Msica (UFRGS). Professora de msica na rede municipal de

    Porto Alegre. Ps-graduanda em Msica: Ensino e Expresso (FEEVALE).

  • proporcionar uma reflexo acerca da formao docente nas Licenciaturas em Msica, contribuindo para a ampliao das discusses sobre a especificidade do trabalho de educao musical no segmento da Educao Infantil.

    Sendo assim, este trabalho tem como objetivo geral investigar como as licenciaturas em Msica esto formando os licenciandos para a atuao na Educao Infantil em escola regular.

    Como objetivos especficos, o estudo pretende: revelar quais seriam as competncias necessrias para a atuao nesse segmento, conforme os participantes da pesquisa; desvelar as concepes das instituies formadoras; descrever e analisar os espaos que a instituio formadora disponibiliza para a formao pedaggica dos licenciandos nesse segmento especfico.

    FUNDAMENTAO TERICA

    As ltimas dcadas foram marcadas pela construo de um novo olhar infncia e considerveis avanos podem ser observados, especialmente nos aspectos legais dos direitos da criana, bem como sobre a necessidade de formao docente para este segmento. As mudanas na sociedade, nas polticas pblicas, discusses de estudiosos da infncia, refletiram na ampliao no nmero de pesquisas referentes especificidade da Educao Infantil.

    Para compreender as especificidades desse segmento, utilizei as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil (DCNEI, 2010).

    Pensar a formao docente levou-me, inevitavelmente, a pensar os cursos superiores. Para Silva (2003), fundamental a reflexo sobre os aspectos formativos na universidade para a atuao docente na Educao Infantil:

    Investigar e refletir sobre os objetivos, contedos, prticas, enfim sobre as possibilidades da formao em educao infantil nas universidades, um dos elementos necessrios para concretizar uma educao infantil que garanta o direito das crianas pequenas viver a infncia de modo pleno nas creches e pr-escolas. (SILVA, 2003, p.168).

    O campo da Educao Musical, Mateiro (2003; 2009) aponta a necessidade de se verificar se as universidades esto atendendo a demanda da sociedade na formao dos

  • professores de msica, levando em conta as especificidades dos diferentes contextos e segmentos.

    Para Esperidio (2012), faz-se necessrio verificar as vrias possibilidades de formao profissional, juntamente com o dilogo com outras reas, a fim de delinear-se suas competncias afinadas com as demandas escolares.

    A pesquisa, portanto, utilizou como referencial, autores de diferentes campos a fim de melhor compreender a Educao Infantil, suas especificidades e a formao dos profissionais para esse segmento.

    METODOLOGIA

    O critrio de escolha das instituies pesquisadas partiu da premissa de investigar a formao em cursos oferecidos em instituies de esferas diferentes: pblica e privada. A proximidade de localizao dos cursos tambm foi observada a fim de viabilizar o deslocamento para a coleta de dados. Sendo assim, optou-se por investigar os cursos de Licenciatura em Msica oferecidos na regio metropolitana de Porto Alegre e proximidades. Foram convidados os cinco cursos que compem o cenrio de formao superior do professor de msica da regio, de modo a mapear e compreender como pensam e formam profissionais para atuar na Educao Infantil. Dessas, duas so da esfera pblica e trs da privada.

    A pesquisa utilizar o mtodo de abordagem qualitativa. Os dados coletados na pesquisa qualitativa so descritivos e procuram retratar o maior nmero possvel de elementos existentes na realidade estudada, tendo como focos principais os processos e seus significados (PRODANOV, FREITAS, 2013).

    Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com coordenadores dos cursos de licenciatura em msica das instituies participantes, anlise documental dos currculos e ementas das disciplinas oferecidas, bem como dos espaos disponibilizados para formao pedaggica.

    RESULTADOS

    A pesquisa ainda encontra-se em andamento. Os resultados preliminares demonstram que no h uma uniformidade no espao destinado Educao Infantil nos currculos dos

  • cursos pesquisados. Embora todos os cursos considerem importante a Msica na Educao Infantil, alguns no oferecem uma preparao especfica para atuao nesse segmento.

    DISCUSSO Diante da heterogeneidade de concepes sobre formao do licenciado em Msica, bem como da multiplicidade de reas de atuao do egresso, ainda carecemos de mais pesquisas acerca da formao, identidade, perfil e saberes do professor de msica para atuao nesses diferentes segmentos.

    CONSIDERAES FINAIS Alm de contribuir para a rea de Educao Musical, esta pesquisa possibilitou um

    aprimoramento do meu fazer pedaggico, uma vez que o campo de pesquisa relaciona-se

    diretamente com minhas prticas e processos de ensino aprendizagem.

    Ao trmino da pesquisa, espera-se que a mesma possa contribuir para

    compreendermos as especificidades do segmento da Educao Infantil e as implicaes na

    formao do professor de msica para esse segmento da Educao Bsica.

    REFERNCIAS BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Bsica, Diretrizes curriculares nacionais para a educao infantil/ Secretaria da Educao Bsica Braslia: MEC, SEB, 2010.

    ESPERIDIO, Neide. Educao Musical e Formao de Professores- sute e variaes sobre o tema. 1 ed. So Paulo: Globus, 2012.

    MATEIRO, Teresa. Uma anlise de projetos pedaggicos de licenciatura em msica. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 22, 57-66, set. 2009. MATEIRO, Teresa. A formao universitria do professor de msica e as polticas educacionais nas reformas curriculares. Revista do Centro de Educao.UFSM. V.28, n.2, jul./dez. 2003. Disponvel em http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/reveducacao/article/view/4151/2468 Acesso em: 6 jun. 2013.

  • PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho cientfico: mtodos e tcnicas da pesquisa e do trabalho acadmico. 2. ed. Novo Hamburgo, RS: Feevale, 2013. 276 p. ISBN 9788577171583 Disponvel em : . Acesso em : 15 mar. 2013.

    SILVA, Anamaria Santana da. A professora de educao infantil e sua formao universitria. Tese de Doutorado.2003. UNICAMP

  • LITERATURA: INSTRUMENTO DE DENNCIA DE PROCESSOS DE EXCLUSO SOCIAL E DE PROMOO DE VALORES IDENTITRIOS E DE INCLUSO

    Simone Maria dos Santos Cunha - FEEVALE1 Juracy Assmann Saraiva - FEEVALE2

    Palavras-chave: Textos literrios. Diversidade cultural. Incluso social. Valores identitrios.

    1.Introduo

    A arte literria, como manifestao cultural e representao da diversidade, contribui para denunciar processos de excluso e de incluso, presentes nas relaes sociais, em pocas e locais

    diversos. Ela possibilita a compreenso da vida em sua essncia por meio do dilogo que o sujeito faz consigo, ao se deparar com a riqueza de significados e a enormidade de temas e situaes

    pertinentes vida humana que a obra literria expe. Alm disso, permite que o homem desenvolva sua capacidade de abstrao e sua imaginao criadora, levando-o a distinguir realidade e fico e a

    perceber aquela por meio dessa. Com a finalidade de contribuir com essa reflexo, o tema desse estudo a possibilidade de a

    literatura se constituir em um instrumento de incluso social. Parte-se da hiptese de que textos literrios, sendo representativos da diversidade cultural de uma sociedade, podem ser instrumentos

    para reafirmar valores identitrios e para denunciar processos de excluso social. O corpus delimitado para essa pesquisa compreende os seguintes textos literrios: Corda Bamba, de Lygia

    Bojunga; Memrias Pstumas de Brs Cubas e Pai contra me, ambos de Machado de Assis; O Cortio, de Alusio Azevedo; Vidas secas, de Graciliano Ramos; A terceira margem do rio, de

    Guimares Rosa; Capites da Areia, de Jorge Amado; A hora da estrela, de Clarice Lispector; Os meninos da Rua da Praia, de Srgio Caparelli; A moa tecel, de Marina Colassanti, Um time muito

    especial, de Jane Tutikian, dentre outros. A anlise desses textos literrios poder elucidar o problema de pesquisa: a literatura pode suscitar reflexes sobre diversidade cultural e processos de

    incluso e excluso, e ser tratada como instrumento de promoo de valores identitrios e de incluso de indivduos, etnias e grupos? O objetivo geral dessa pesquisa consiste em analisar textos literrios e propor estratgias de leitura que estimulem a reflexo dos leitores sobre identidade, diversidade cultural e incluso social. Com vistas ao alcance do objetivo geral, os objetivos especficos so: discutir conceitos de cultura, diversidade, incluso e excluso; elencar textos de

    1 Doutoranda em Diversidade Cultural e Incluso Social na Feevale; Mestre em Processos e Manifestaes Culturais

    pela Feevale; Graduada em Letras pela Unisinos. 2 Ps-Doutora em Teoria Literria, pela UNICAMP; Doutora em Teoria Literria pela PUC-RS; Professora

    pesquisadora do CNPq; Coordenadora do Mestrado em Processos e Manifestaes Culturais da Universidade Feevale.

  • tericos e crticos literrios relacionados identidade, diversidade e importncia da literatura como manifestao cultural; analisar textos literrios que denunciem processos de excluso social;

    propor atividades interdisciplinares de explorao de textos literrios e aplicar roteiros de leitura em sala de aula; entrevistar professores e alunos que participaram do processo de aplicao.

    A bibliografia bsica para chegar compreenso e interpretao dos resultados abranger tericos como Homi Bahbha e Eduardo Portella, no que se refere aos aspectos culturais e artsticos;

    Jean-Paul Sartre, Hans Robert Jauss, Wolfgang Iser, Alfredo Bosi, Roland Barthes, Leyla Perrone-Moiss e Antnio Cndido, no estabelecimento de relaes entre literatura e sociedade; Marisa

    Lajolo, Regina Zilbermann, Juracy Assmann Saraiva, Ana Maria Machado, Michle Petit nos estudos sobre procedimentos de leitura; dentre outros. Quanto metodologia, a primeira parte da pesquisa ser bibliogrfica e a segunda, uma pesquisa de campo com professores e alunos. Ambas, em seu mtodo crtico-interpretativo, perseguiro a concretizao dos objetivos propostos, com a finalidade de elucidar o problema de pesquisa.

    A partir dessa perspectiva, este trabalho justifica-se por contribuir para o desenvolvimento do conhecimento cientfico acerca da importncia da literatura como manifestao da diversidade cultural brasileira e como possvel instrumento de incluso social de indivduos ou grupos.

    2. Diversidade e identidade/Excluso e incluso reveladas pela literatura

    Atualmente muito se discutem as questes identitrias, a incluso de hbitos culturais e a

    excluso do outro, uma vez que o homem se encontra em um momento de trnsito em que espao

    e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferena e identidade, passado e presente,

    interior e exterior, incluso e excluso (BHABA, 1998, p.15).

    O tema da diversidade e da identidade cultural permeia discusses e, segundo Eduardo

    Portella, a identidade se deixou aprisionar no seu palcio de espelho, e apenas sobrevive isolada e confinada, destituda de alteridade (1995, p.88). Aps o perodo clssico, a proposta era libertar -se

    de um centro dominador, de um ncleo identitrio que, em nome da tradio universalista, a todos

    subjugava. Depois, a descoberta do outro provocou, como contrapartida, o bloqueio das vias de acesso (PORTELLA, 1995, p.88). Dessa forma, o movimento de abertura, a globalizao, fechou

    as portas ao reconhecimento da diversidade, visto que a miscigenao cultural conduz

    desvalorizao das culturas locais e regionais. Para atingir o ponto de equilbrio que permita afirmar a existncia de mltiplas identidades,

    necessria a emancipao do isolamento, de distores tnicas ou religiosas e tambm do esprito revanchista, inseguro e parasitrio, uma vez que todo trabalho emancipador decorre de um

    esforo partilhado (PORTELLA, 1995, p.88). Assim, o importante construir a identidade

  • possvel (PORTELLA, 1995, P.89), pois os indivduos vivem em um desenvolvimento

    desculturizado, cuja cultura parece esmaecer-se nesses dias de baixa modernidade (PORTELLA,

    1995, P.90). Portanto, imprescindvel reconstruir, no jogo crispado da vida no mundo, a

    liberdade identitria, esse lugar confluente onde se entrecruzam mltiplos olhares, razes impuras,

    percepes advindas das mais longnquas regies (1995, p.90). E, para tanto, as marcas identitrias

    das culturas nacionais, em sua diversidade, devem ser preservadas, e isso tambm significa abrir-se

    e respeitar outras culturas.

    Leyla Perrone Moiss transita pela cultura brasileira e pelas demais culturas que a

    influenciaram, quando estuda os paradoxos do nacionalismo literrio, afirmando que os textos

    literrios so excelentes fontes de conhecimento sobre identidade, alteridade, nao, cu ltura

    (MOISS, 2007, p.13). J Ana Maria Machado, em seu livro Como e por que ler os clssicos universais desde cedo, retoma experincias de leitura que marcaram a vida de autores famosos

    como Ernest Hemingway, Jorge Lus Borges, Umberto Eco, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e outros, com o objetivo de destacar que esses diferentes livros foram lidos cedo, na

    infncia ou adolescncia, e passaram a fazer parte indissocivel da bagagem cultural e afetiva que seu leitor incorporou pela vida afora, ajudando-o a ser quem foi (MACHADO, 2002, p.11). Assim, funo do professor valorizar o texto literrio enquanto obra de arte e permitir a interao entre texto-leitor, e, alm disso, observar que

    h no estudo da obra literria um momento analtico, se quiserem de cunho cientfico, que precisa deixar em suspenso problemas relativos ao autor, ao valor, atuao psquica e social, a fim de reforar uma concentrao necessria na obra como objeto de conhecimento; e h um momento crtico, que indaga sobre a validade da obra e sua funo como sntese e projeo da experincia humana (CNDIDO, 2002, p.80).

    3. Metodologia A primeira parte da pesquisa ser bibliogrfica e a segunda consistir em uma pesquisa de campo. A metodologia deste trabalho seguir o marco referencial metodolgico descrito por John

    B. Thompson (2000, p.355) como hermenutica da profundidade. O autor explica que nesse referencial levado em conta o fato do objeto de anlise ser uma construo simblica significativa, exigindo, devido ao seu carter distintivo como campo-objeto, uma interpretao. Alm disso, o autor postula que as formas simblicas esto tambm inseridas em contextos sociais e histricos de

    diferentes tipos; e sendo construes simblicas significativas, elas esto estruturadas de vrias maneiras (THOMPSON 2000, p.355-356). O autor enfatiza trs fases focalizadas pela HP: a anlise scio-histrica, a anlise formal ou discursiva e a interpretao/reinterpretao. A primeira tem por objetivo a reconstruo das condies sociais e histricas do momento em que as manifestaes foram produzidas, circularam e

  • no qual houve a recepo. A segunda, formal ou discursiva, contempla vrias possibilidades e, dentre elas, a anlise semitica. Nesta, est previsto

    o estudo das relaes entre os elementos que compem a forma simblica, ou o signo, e das relaes entre esses elementos e os do sistema mais amplo, do qual a forma simblica, ou o signo, implica geralmente numa abstrao metodolgica das condies scio-histricas de produo e recepo das formas simblicas. Ela se centra nas prprias formas simblicas, e procura analisar suas caractersticas estruturais internas, seus elementos constitutivos e inter-relaes, interligando-os aos sistemas e cdigos dos quais eles fazem parte. (THOMPSON, 2000, p.370)

    4. Consideraes finais: Este trabalho, apesar de estar em sua fase inicial, sinaliza alguns resultados a partir da

    anlise da narrativa Corda Bamba, de Lygia Bojunga, luz das referncias espaciais. O leitor acompanha a personagem Maria pela corda bamba que conduz s lembranas e que resgata um passado cuja ferida ainda latente mantm escondido. Maria uma menina de doze anos que perde os pais em um show circense. Eles morrem por aceitar a proposta do dono do circo de fazer um nmero de equilibrismo na parte mais alta do circo, sem rede de proteo, com a finalidade de

    conseguir dinheiro para quitar as dvidas. Nesse tnue fio que separa o passado do presente se instaura uma crtica social a partir da recuperao da histria de Marcelo e de Mrcia, cujo amor no consegue se sustentar na corda bamba do capitalismo. Em Corda Bamba, tanto os objetos quanto as cores e os lugares so repletos de significaes, mostrando a importncia do tratamento

    dado espacialidade na construo de uma narrativa ficcional. Porm, o mais contundente a busca de Maria pela identidade perdida e a caracterizao da vida pela metfora da corda bamba. Ela

    possui dupla significao: o tnue fio que separa a vida da morte e, ao mesmo tempo, separa o bom senso do desejo de sobrevivncia no mundo capitalista. Essa corda bamba que faz com que artistas circenses, marcados pelo preconceito e pela excluso social, tentem se equilibrar no mundo capitalista ao se submeterem explorao do trabalho imposta pelo dono do circo e que acaba

    levando-os morte, provoca a catarse no leitor. possvel reconstruir a trajetria dos artistas junto com Maria, por meio das revelaes presentes nos sonhos coloridos de Quico, que conduzem tambm a uma reflexo sobre a sociedade de consumo. Logo, embora ainda incipiente para a complexidade da pesquisa, a anlise desse texto demonstra a importncia da literatura como

    manifestao da diversidade cultural brasileira e como possvel instrumento de promoo de valores identitrios e de incluso social, abrindo caminho para outras anlises que buscaro a soluo do

    problema de pesquisa.

  • 5. Referncias bibliogrficas

    BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998, p.15.

    NUNES, Lygia Bojunga. Corda bamba . 12.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1990.

    CNDIDO, Antnio. Textos de interveno. So Paulo: Duas cidades: Ed.34, 2002. Coleo esprito crtico.

    ____________. O direito literatura. In: Vrios escritos. 4. ed. reorg. pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul; So Paulo: Duas Cidades, 2004.

    MACHADO, Ana Maria. Clssicos, crianas e jovens. In: Como e por que ler os clssicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

    MOISS, Leyla Perrone. Por amor arte. Scielo Brazil. Estudos Avanados. So Paulo, v. 19, n. 55, set./dez. 2005. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sciarttext& pid= S0103-40142005000300025. Acesso em 17 outubro 2013.

    ____________. Vira e mexe nacionalismo: paradoxos do nacionalismo literrio. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.

    PORTELLA, Eduardo. Pistas e autopistas da cultura. In Prospectivas: Beira do novo milnio. Editorado por Carlos Alberto Gianotti. So Leopoldo. Ed. UNISINOS, 1995.

    THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: Teoria social crtica na era dos meios de comunicao de massa. Petrpolis: Vozes, 2000. 4. ed.

  • MSCARA DA REVOLUO: A FAMLIA E A CIDADE NO CONTO PAI CONTRA ME, DE MACHADO DE ASSIS

    Daniel Fernando Gruber1 Juracy Ignez Assmann Saraiva2

    Universidade Feevale

    PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira. Cultura brasileira. Machado de Assis.

    INTRODUO Este artigo analisa o conto Pai contra me, de Machado de Assis, buscando encontrar uma relao com a formao social do Brasil no incio do sculo XX, em que a transio de uma sociedade agrria e familiar para um sistema industrial e urbano desestruturou o sujeito e a forma de pensar do brasileiro. Com base na ideia do homem cordial, de Srgio Buarque de Holanda, objetiva-se encontrar os dilemas das personagens deste conto na crise do sujeito social da poca. Por ser um dos contos mais importantes da literatura brasileira a mostrar os dilemas ticos da escravido, esta obra se configuraria como uma forte crtica ao tratamento do negro perpetrada no passado histrico do pas, bem como uma representao irnica da cultura brasileira da poca.

    FUNDAMENTAO TERICA Este trabalho ampara-se na teoria de um dos principais pensadores da formao social do Brasil, Srgio Buarque de Holanda, em especial sobre sua tese a respeito da cordialidade como principal marca do carter nacional, influenciado pelo passado agrrio, familiar e patriarcal da sociedade brasileira. O trabalho tambm se vale das teorias do antroplogo Roberto DaMatta sobre a formao da cultura brasileira e seu dilema entre a vida pblica e privada. Holanda (1995), em estudo sobre as razes do Brasil, elege a data da abolio como marca de uma revoluo lenta na vida nacional, como fim do predomnio agrrio e surgimento de um quadro poltico de nova configurao social. Por ser revoluo lenta, no se registra numa simples

    1 Graduado em Comunicao e mestrando em Processos e Manifestaes Culturais pela Universidade Feevale

    (Novo Hamburgo/RS). Bolsista Prosup/Capes. E-mail: [email protected].

    2 Orientadora. Tem ps-doutorado em Teoria Literria pela Unicamp (SP) e professora, pesquisadora e

    coordenadora do Mestrado em Processos e Manifestaes Culturais na Feevale. E-mail: [email protected].

  • data. Neste sentido, a abolio representa o marco visvel entre duas pocas distintas em nosso pas, uma agrria e outra urbana. A distino entre o pblico e o privado a mesma distino que faz Roberto DaMatta (1997) sobre a casa e a rua que, para ele, vai muito alm do espao geogrfico. A categoria rua indicaria basicamente o mundo, regido por leis gerais, mas com seus imprevistos, acidentes e paixes, ao passo que a casa remeteria a um universo controlado por regras domsticas, onde as coisas esto devidamente em seus lugares.

    METODOLOGIA A realizao deste trabalho se deu por meio de uma pesquisa bibliogrfica, na qual se buscou marcos tericos para embasar a anlise. A metodologia utilizada a anlise de contedo, que permitiu se estabelecer categorias de anlise para a obra.

    RESULTADOS E DISCUSSO Com base na anlise realizada no conto de Machado, concluiu-se que esto nele representados diversos aspectos do pensamento social e da cultura do brasileiro do incio do sculo XX, muitos deles presentes at os dias de hoje. Entre eles a preponderncia da famlia acima dos deveres pblicos, da pobreza como resultado de uma transio entre a sociedade agrria e urbana, e da dissociao do sujeito perante as exigncias da vida urbana.

    CONSIDERAES FINAIS Contudo, a revoluo lenta que se iniciou com a abolio dos escravos estava longe de findar. Nela se amarrou uma mscara que faz tapar a boca e os ouvidos da populao. A literatura que se seguiu tem se empenhado fortemente em buscar aquela identidade nacional, mas deixando para trs a representao do ndio e do negro. Fato que continuaram falando das cidades e dos costumes da civilizao, que tanto dizem sobre os brasileiros.

  • REFERNCIAS

    ASSIS, Machado. Instinto de nacionalidade. In: _____. Crtica, notcia da atual literatura brasileira. So Paulo: Agir, 1959.

    BASTIDE, Roger. Machado de Assis, paisagista. REVISTA USP, So Paulo, n.56, p. 192-202, dezembro/fevereiro 2002-2003.

    DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heris: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

    HOLANDA, Srgio Buarque. Razes do Brasil. So Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.172.

  • O DESIGNER COMO NARRADOR: as mensagens estticas transmitidas pelo design de calados

    Martina Viegas1 - Universidade Feevale Lurdi Blauth2 - Universidade Feevale

    Palavras-chave: Design. Esttica. Cultura. Linguagem Visual.

    1 INTRODUO A presente pesquisa versa sobre o designer que atua no desenvolvimento de calados femininos no Rio Grande do Sul, apresentando-o como pea-chave nos processos criativos que norteiam as mensagens estticas transmitidas atravs do conceito visual da indstria de calados. Como objetivo geral, pretende apresentar o designer enquanto narrador de histrias capaz de elaborar os conceitos estticos verificados nas colees. Como objetivos especficos, o estudo visa compreender como se estabelecem as relaes entre o projeto de produto, a indstria e o mercado de moda no Rio Grande do Sul; identificar os sinais socioculturais que salientam os caminhos percorridos pelos profissionais criativos; trazer tona a discusso acerca do fenmeno de mimetismo visual observado na indstria de moda caladista. Entende-se, desta forma, que o design desponta como linguagem intimamente relacionada aos objetos, contribuindo para a confeco das mensagens por eles emitidas. Os designers manipulam estas mensagens, com maior ou menor domnio, tomando para si a tarefa de contar histrias, articulando os conceitos visuais de forma a criar desejo de consumo. O consumidor, por sua vez, no adquire apenas o produto, mas tambm a mensagem simblica inserida atravs do design (DEYAN SUDJIC, 2010). A fim de compreender o cenrio do design de calados gacho, a pesquisa realiza anlises imagticas, propondo a discusso acerca dos conceitos de esttica e de estetizao propostos por Wolfgang Welsh (1995, 1997). Tais conceitos, segundo o autor, so

    1 Mestranda em Processos e Manifestaes Culturais da Universidade Feevale. Especialista em Design de

    Superfcie pela Universidade Feevale. Graduada em Design pela Universidade Feevale. 2 Doutora em Artes Visuais, UFRGS; Artista visual, professora e pesquisadora; Lidera o projeto de pesquisa

    Imagem e Texto: inscries e grafias em produes poticas, Universidade Feevale, Novo Hamburgo-RS.

  • vivenciados culturalmente na contemporaneidade, fato que destaca o consumo enquanto smbolo de ascenso do parecer, sobre o ser.

    Conforme Francesco Morace (2012), o design apresenta-se inserido no mundo das mercadorias e dos produtos, confrontando-se com a atuao do consumidor-autor. Nesta

    narrativa, a moda transfere ao consumidor o papel de autoria visual, pois os objetos adquiridos passam a fazer parte da vida de quem os adquiriu, transformando-os em espcie de medida da passagem dos anos da vida humana. O objeto, ao datar um perodo da existncia humana, e tambm possuir a sua existncia datada (obsolescncia programada3), passa a ser parte da definio da identidade de quem o adquiriu (SUDJIC, 2010). Morace (2012, p.9), ainda sobre a linguagem visual e as mensagens emitidas pelos produtos desenvolvidos, afirma que:

    O mundo das mdias e da comunicao dever governar as expectativas sempre mais exigentes de um novo sujeito: o espectador-autor aquele que possui a inovao no sangue e no crebro. Falar hoje de inovao significa dar ao design e criatividade um papel que at pouco tempo pertencia quase exclusivamente tecnologia e que assume uma importncia central nas diferentes geraes.

    A situao relatada por Morace trata do design thinking4, expresso dada pelos americanos ao que os italianos denominam como experincia esttica (Jacques Rancire,

    2012), relacionada diretamente ao sentir e ao intuir, fazendo com que os gostos e sentimentos permeiem o mundo do consumo sob a esfera das emoes que os produtos oferecem enquanto transmissores de satisfao e pertencimento a grupos sociais distintos. Neste sentido, acredita-se que o fenmeno de mimetismo esttico verificado no design de calados gacho possa estar relacionado com a nova dimenso social e cultural vivenciada na contemporaneidade lquida proposta por Zigmunt Bauman (2013). Conforme indica a figura 01, pode-se perceber o exemplo de oito modelos de calados comercializados em 2013, desenvolvidos por empresas gachas diferentes. Observa-se que todos os modelos apresentam semelhanas visuais, diferindo apenas nos materiais (couro ou alternativos sintticos), alm das cores utilizadas pelas empresas. Neste caso, o fenmeno de mimetismo esttico pode estar relacionado com as chamadas colees comerciais,

    desenvolvidas a partir das tendncias internacionais consideradas mais interessantes pelos

    3 Obsolescncia programada o termo utilizado para designar o tempo de vida til dos objetos, programados

    para funcionar em prazos especficos. Aplica-se este termo principalmente aos eletrnicos. 4 Design thinking o termo utilizado para designar o conjunto de mtodos e processos utilizados para abordar

    problemas, adquirir informaes e analisar possveis solues.

  • coolhunters5: quando muitas empresas voltam-se a uma mesma fonte de referncia, o resultado em design passa a uniformizar atravs da esttica, ao invs de diferir pela inovao (Jornal Exclusivo, 2013).

    Figura 01 Modelos de 8 empresas diferentes Coleo Outono/Inverno 2013

    Fonte Montagem realizada pela autora (2013)

    Outro exemplo o modelo Turban Sandal, desenvolvido por Andr Perugia em 1928. Este modelo serve como referncia de inspirao a Manolo Blahnik quase um sculo aps a sua criao: em sua coleo inverno 2014, Blahnik trouxe elementos visuais de composio esttica que ilustram que o fenmeno de mimetismo visual no exclusivo do cenrio brasileiro.

    Figura 02 Criao de Perugia, a esquerda. Calado desenvolvido por Blahnik, a direita.

    Fonte Montagem realizada pela autora (2014)

    Desta forma, o mercado de moda atual deve ser pensado e projetado atravs do design estratgico, sendo que cabe ao designer o desafio de conduzir as mensagens visuais aos novos consumidores, atualizados e vidos por pertencer a um grupo social que os represente dentro das chamadas neotribos propostas por Zigmunt Bauman (1999). Acredita-se que a simples

    5 Coolhunters: termo em ingls utilizado para designar os caadores de tendncias profissionais especializados

    em pesquisa de moda e comportamento.

  • ideia de possuir um objeto rplica de original de marca conceituada j confira o status de parecer, sugerido por Wolfgang Welsh (1995, 1997): o indivduo no cala um Louboutin6 original, mas adquire uma cpia que ostenta um solado vermelho semelhante, aludindo ao Louboutin.

    2 FUNDAMENTAO TERICA Analisa-se o cenrio esttico e hiperesttico proposto por Wolfgang Welsh (1995, 1997), trazendo o conceito de experincia esttica da partilha do sensvel, proposta por Jacques Rancire (2012). O autor Zygmunt Bauman (1999) abarca o conceito de neotribalismo e cultura lquida ps-moderna, que alicera o contedo terico que contextualiza o designer narrador proposto por Deyan Sudjic (2010) e Rafael Cardoso

    (2013). Desta forma, o cenrio do design autoral no mundo dos produtos, indicado por

    Francesco Morace (2012, 2013) possui sua relevncia enfatizada; Walter Benjamin (2012), conceitua a obra de arte e sua reprodutibilidade tcnica, corroborando o parecer atual de Dijon de Moraes (2006) em relao ao design brasileiro e seus processos mimticos. Para que seja conhecido o processo criativo dos designers de calados, Aki Chocklat (2012) traz as etapas de construo deste produto de moda; Gilles Lipovetsky (2013) conduz a discusso acerca do curso da moda nas sociedades complexas e Patrcia Dalpra (2009) realiza o mapeamento das tendncias de design no Brasil. Para finalizar, o autor Stuart Hall (2001) conceitua as questes de cultura e identidade na ps-modernidade.

    3 METODOLOGIA A inteno principal desta pesquisa a de lanar discusso o design enquanto rea interdisciplinar contextualizada nos estudos culturais. Para tanto, realiza-se pesquisas bibliogrficas, entrevistas com profissionais que atuam no desenvolvimento de design de calados e coletas de depoimentos dos processos criativos individuais de designers inseridos na indstria. A anlise de imagens de calados produzidos e comercializados por empresas gachas auxilia a relacionar o design do sul do pas com o design internacional, pois estabelece pontos de encontro que sustentam a compreenso do cenrio industrial gacho em meio a realidade de globalizao e fcil acesso s informaes que sustentam as pesquisas de moda. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de carter qualitativo e quantitativo, sendo que tais informaes ainda esto em processo de construo e anlise. 6 Marca de calados encabeada pelo estilista francs Christian Louboutin. A principal caracterstica desta marca

    a presena do solado vermelho, copiado por diversas empresas ao redor do globo.

  • 4 DISCUSSO E RESULTADOS PARCIAIS O estudo destaca o fenmeno de mimetismo visual, verificado em calados desenvolvidos no sul do pas. Ao enfatizar o crescente design autoral que a indstria gacha vem adotando atravs de parcerias com estilistas brasileiros e centros de pesquisa de moda, tendncias e design, a pesquisa procura mostrar a pluralidade cultural brasileira.

    5 CONSIDERAES O estudo, em andamento, aponta para a importncia do reconhecimento do trabalho criativo do designer de calados. Tal profissional capaz de conduzir as mensagens estticas e promover o desejo de consumo atravs de projetos focados no indivduo contemporneo. O estudo articula, de forma reflexiva, as reas de design, moda e arte, sendo que o design brasileiro projeta-se como sinalizador de influncia moda internacional. Ainda bastante associado ao exotismo, o design brasileiro (incluindo o gacho) ainda visto em terras estrangeiras como expresso do artesanato, do ufanismo e do exagero. Os resultados indicam, at o momento, que o papel social do designer narrador , tambm, de cunho cultural, pois este profissional possibilita que a experincia esttica seja vivenciada atravs da partilha do sensvel. Tal partilha capaz de transformar o simples objeto, em produto com design: tal produto passa a servir de fio condutor mensagem cultural que norteia o pertencimento identitrio dos sujeitos frente aos grupos sociais vigentes.

    REFERNCIAS

    BAUMAN, Zigmunt. Modernidade e Ambivalncia. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. BAUMAN, Zigmunt. A cultura no mundo lquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na poca de reprodutibilidade tcnica. Porto Alegre: Zouk, 2012. CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. So Paulo: CosacNaify, 2013.

    CHOCKLAT, AKI. Design de sapatos. So Paulo: Editora Senac, 2012. DALPRA, Patrcia. DNA Brasil Tendncias e conceitos para as cinco regies brasileiras. So Paulo: Estao das Letras e Cores, 2009. EXCLUSIVO. Moda brasileira: rumo maturidade. Jornal. Edio N 2.732. Novo Hamburgo: Grupo Sinos, 2013.

  • HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Ps-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2001.

    LIPOVETSKY, Gilles. O Imprio do Efmero: A moda e seu destino nas sociedades modernas. So Paulo: Companhia de Bolso, 2013. MORACE, Francesco. Consumo Autoral. So Paulo: Estao das Letras e Cores, 2012. MORACE, Francesco. O que o futuro? So Paulo: Estao das Letras e Cores, 2013. MORAES, Dijon de. Anlise do design brasileiro. So Paulo: Editora Blucher, 2006. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho cientfico: mtodos e tcnicas da pesquisa e do trabalho acadmico. Novo Hamburgo: Feevale, 2012.

    RANCIRE, Jacques. A partilha do sensvel. Esttica e poltica. So Paulo: Editora 34, 2012.

    SUDJIC, Deyan. A linguagem das coisas. Rio de Janeiro: Intrnseca, 2010. WELSH, Wolfgang. Estetizao e estetizao profunda ou: a respeito da atualidade do

    esttico nos dias de hoje. Rio Grande do Sul: UFRGS, 1995. WELSH, Wolfgang. Undoing Aesthetics. Londres: Sage Publications, 1997.

  • O DIALOGISMO NA CIDADE LIVRE

    Jamile Cezar de Moraes1 (Feevale)

    Palavras-chave: Dialogismo. Cidade Livre. Literatura Ps-Moderna.

    1 INTRODUO Deseja-se tratar do uso do dialogismo no romance Cidade Livre, obra de Joo Almino, para

    tanto, pretende-se delimitar a temtica a partir da anlise de alguns discursos externos ao texto, por meio do dialogismo. Acredita-se que a narrativa de Almino tem posicionamentos que possibilitam o leitor identificar mudanas socioculturais da ps-modernidade, com base no rompimento com modelos antigos de produo literria e utilizando outros na tentativa de desestabilizar o pblico leitor. A narrativa aponta ao escritor comprometido com seu ofcio, mas que respeita o papel do leitor e o processo que a leitura tem. Para o problema de pesquisa tem-se de que forma Joo Almino utiliza o dialogismo em Cidade Livre a partir do uso de textos externos narrativa?. Objetiva-se discutir sobre dialogismo, tendo como meta identificar o uso do dialogismo por meio de textos externos narrativa.

    2 FUNDAMENTAO TERICA Para Faraco (2009), fazemos parte de um espao rodeado de formas de expresso, smbolos

    e seus sentidos, no qual no nos relacionamos com o mundo em si, mas com o sentido que ele adquire aps receber significado. O processo de significao no ocorre livre de juzo de valor, ou seja, a relao que estabelecemos com o mundo perpassa os valores que damos a ele.

    A ideia de dilogo no estabelecimento de uma relao entre eu e outro em posies sociais distintas pode ser manifestada no texto (de qualquer natureza), prope-se uma conversa entre espaos distintos que se constituem e partilham aes comuns. Segundo Faraco (2009):

    As relaes dialgicas so relaes entre ndices sociais de valor, os quais constituem parte inerente de todo enunciado, entendido no mais como unidade da lngua, mas como unidade da interao social; no como um complexo de relaes entre palavras, mas como um complexo de relaes entre pessoas socialmente organizadas (FARACO, 2009, p. 66).

    1 Especialista em Reviso de Texto e Assessoria Lingustica (Uniritter), Bacharel em Turismo (Feevale), Licenciada em

    Letras Portugus (Ufrgs), Mestranda em Processos e Manifestaes Culturais (Feevale) e bolsista Fapergs.

  • Nas relaes dialgicas, o uso de citaes um ponto que merece destaque, compreendido como discurso citado, possui completude e est fora do contexto narrativo, no entanto, pode ser incorporado, quando estabelece uma relao com o discurso principal, para Bakhtin (1981):

    O discurso citado visto pelo falante como a enunciao de uma outra pessoa, completamente independente na origem, dotada de uma construo completa, e situada fora do contexto narrativo. a partir dessa existncia autnoma que o discurso de outrem passa para o contexto narrativo, conservando o seu contedo e ao menos rudimentos da sua integridade lingstica e da sua autonomia estrutural primitiva (BAKHTIN, 1981, p. 109).

    Alm da independncia que o texto citado tem em relao ao contexto em que foi usado, h tambm a questo do tempo e da capacidade de os discursos receberem novos valores, dependendo da necessidade e intencionalidade.

    Com a proposta de apontar conceitos sobre dialogismo, Faraco (2009, p. 58) o descreve como todo dizer no pode deixar de se orientar para o j dito, pensando na existncia de uma memria discursiva; todo dizer orientado para a resposta, todo dizer espera uma rplica ou deve estar preparado para obter um retorno; e todo dizer internamente dialogizado, ou seja, todo o discurso fruto de um ou mais discursos anteriores e permite que complemente discursos posteriormente, sendo resultado de mltiplas vozes sociais. O autor tambm sinaliza a relao entre discurso e temporalidade, o fato de o discurso ter um passado e provocar outro discurso no futuro, retomando a prtica do dilogo em si entre vozes distintas.

    Fiorin (2006) destaca que o dialogismo se resume ao modo de funcionamento real da linguagem, portanto, seu princpio constitutivo; e uma forma particular de composio dos discursos (p. 167). O autor explica dialogismo como prtica da linguagem real, concreta, efetiva e uma forma de compor os discursos, um recurso intencional do locutor.

    3 METODOLOGIA Optou-se por analisar dialogismo, tendo como objeto alguns discursos externos fico, que

    reforam determinadas aes e pontos de vista ao longo da narrativa, a partir dos estudos realizados por Bakhtin (1981 e 2010), Faraco (2009) e Fiorin (2006).

    4 DISCUSSO E RESULTADOS H uma srie de vozes que falam pela boca de Joo, j que a narrativa um recorte de

    lembranas da infncia, textos do pai e histrias de tia Francisca, formando um conjunto de pontos de vista, que ora se afastam ora se aproximam, dependendo da situao e convices poltico-sociais e culturais. No prefcio, se observa essa problemtica (ALMINO, 2010, p. 9):

  • Vale-se de um narrador que mescla sua viso imatura de menino com o amadurecimento do adulto, que escreve dcadas depois, em 2010, recorrendo inclusive a participantes de um blog. So fragmentos literrios, que oscilam entre passado e presente, [...] ainda antiga tcnica da narrativa folhetinesca [...]. Um narrador que constri sua memria, [...] atravs da sobreposio de imagens acumuladas pela observao.

    O discurso do Papa Joo XXIII foi proferido pela Rdio Vaticano. Como ele no compareceu na inaugurao de Braslia, foi representado pelo Cardeal de Lisboa, dom Manuel Gonalves Cerejeira:

    Da Bahia de Todos os Santos, a Piratininga e ao Rio de Janeiro, sob o impulso sempre vivo de Nbrega e Anchieta, e encorajado pelas proezas heroicas das Bandeiras do Sul e das jornadas do Norte, o Brasil, pelo arrojo do seu presidente, assenta os arraiais da sua nova capital no Planalto Central do seu imenso e rico territrio [...]2 (ALMINO, 2010, p. 78).

    A veracidade do discurso do Papa e a presena do cardeal portugus se confirmam pela reportagem da Revista Veja3, e do discurso do Papa pelo site da Santa S, validando a situao apresentada no romance. Outros elementos da histria contriburam com o ideal de elevao da construo de Braslia, a cruz de ferro da primeira missa e o sino de Ouro Preto, que soou aps a morte de Tiradentes, os quais auxiliaram a enaltecer a inaugurao de Braslia. Joo tambm cita o final do discurso de JK4, destacando 21 de abril, dia de significado mpar histria do pas:

    Nos emocionamos com a emoo do presidente quando ele, quase chorando, pronunciou as palavras finais de seu discurso: Neste dia 21 de abril, consagro ao alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, o Tiradentes, ao centsimo trigsimo oitavo ano da Independncia e septuagsimo primeiro da Repblica, declaro, sob proteo de Deus, inaugurada a cidade de Braslia, capital dos Estados Unidos do Brasil (ALMINO, 2010, p. 81).

    interessante perceber a capacidade atemporal do texto, dependendo de como o interlocutor adequa a sua realidade e uso da lngua para se apropriar do texto de outrem, de modo que faa sentido com a verdade representada. Joo aborda o ponto de vista de um blogueiro:

    O leitor do blog que conheceu Lucrcia iniciou uma discusso sobre sua idade, dizendo que tinha trinta e cinco anos. [...] Aquela discusso demonstra ao mesmo tempo a utilidade e a

    2 SANTA S. Disponvel em:

    . Acessado em jan. 2014.

    3 REVISTA VEJA. Edio Especial. A Lolita do Planalto: primeiro dia da capital recm-nascida. Abril/2010. Disponvel

    em: . Acessado em jan. 2014.

    4 PINTO, Luza Helena Nunes (org.). Discursos Selecionados do Presidente Juscelino Kubitschek. Fundao Alexandre

    de Gusmo, Braslia, 2010, p. 51-53. Disponvel em: . Acessado em jan. de 2014.

  • inutilidade do blog, que permitiu uma louvvel troca de ideias, mas desviou a ateno de meus leitores para detalhe de menor importncia e nos afastou a todos do Bar da Carmen. [...] (ALMINO, 2010, p. 121).

    Esse excerto um grande parntese na fico, pois Joo discute se aceita ou no a voz do blogueiro, j que o mesmo conhecia Lucrcia e poderia fornecer uma informao diferente da que ele tinha. O discurso de Joo marcado pela atemporalidade tratada em Faraco (2009), utilizando textos antigos e de outros contextos. Da mesma forma que Joo seleciona uma verdade, negando o ponto de vista do blogueiro, assim, ele pode manipular as informaes que achar pertinentes. A partir de Fiorin (2006), dialogismo um mecanismo que explora a intencionalidade do locutor e desafia os interlocutores a compreend-lo e a se apropriarem dessa voz.

    6 CONSIDERAES FINAIS Dada a amplitude dos conceitos abordados e capacidade de outras leituras do texto, a

    possibilidade de outras discusses equivalente a no finitude dos discursos, conforme Bakhtin aponta. Tentou-se discutir, com o olhar para alm das estruturas frasais, pensando no contedo e nos mecanismos utilizados pelo autor para dar vida e liberdade de expresso a Joo menino e sua famlia, na proposta de validar as memrias do pai. O dialogismo estimula a leitura, de modo que exige do leitor o rompimento com antigas formalidades da lngua, compreende a realidade humana fragmentada e plural e provoca o leitor a ampliar seu horizonte de expectativas na busca por outras leituras para um mesmo texto, demonstrando a articulao de vrias vozes sociais.

    REFERNCIAS ALMINO, Joo. Cidade Livre. Rio de Janeiro: Record, 2010.

    BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Problemas fundamentais do Mtodo Sociolgico na Cincia da Linguagem. 2. Ed. So Paulo: Editora Hucitec, 1981.

    _____. Problemas da Potica de Dostoivski. 5. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2010.

    FARACO, Carlos Alberto. Criao Ideolgica. In: _____. Linguagem e dilogo: as ideias lingusticas do Crculo de Bakhtin. So Paulo: Parbola, 2009, p. 45-97.

    FIORIN, Jos Luiz. Interdiscursividade e intertextualidade. In: BRAIT, Beth. Bakhtin Outros Conceitos-chave. So Paulo: Contexto, 2006, p. 161-194.

  • O IMAGINRIO DE UMA IDENTIDADE NACIONAL JUDAICA DIASPRICA NO CONTO DE FRANZ KAFKA A PREOCUPAO DO PAI

    DE FAMLIA

    Edson de Jesus Melo Cunha - Feevale1 PALAVRAS-CHAVE: Imaginrio cultural judaico. Identidade nacional judaica diasprica. A Preocupao do Pai de Famlia.

    INTRODUO: Este resumo expandido visa analisar o tema O Imaginrio de uma Identidade Nacional

    Judaica Diasprica no Conto de Franz Kafka A Preocupao do Pai de Famlia, no contexto do desenvolvimento histrico e cultural dos conceitos do imaginrio, da fenomenologia da imaginao,

    da psicanlise e das vanguardas artstico-literrias europeias, no decorrer do pensamento cristo ocidental. A relevncia de nosso trabalho reside no fato de que ele apresenta a escritura kafkiana,

    pautada nas representaes do imaginrio cultural judaico, enquanto uma forma de escrever que revolucionou a arte e a literatura do incio do sculo XX, ao inaugurar um estilo sinestsico e

    subliminar de escrita totalizante que narra os dramas do ima