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NUPEM Ncleo de Pesquisa Multidisciplinar

COMUNICAOSALAS DE RECURSOS: UM ESTUDO PARA ALUNOS DE 5 a 8 SRIE Aline Pedro Feza, IC-UEM/CNPq, Pedagogia, UEM, [email protected] Prof. Dr. Nerli Nonato Ribeiro Mori (OR), UEM, [email protected] O presente texto apresenta resultados de um projeto de iniciao cientfica que tem como objetivo conhecer as prticas pedaggicas empreendidas em Salas de Recursos (SR) para alunos de 5. a 8. srie, bem como compreender o papel desta modalidade de apoio especializado frente s polticas paranaenses de educao inclusiva. Inicialmente, explicaremos como se caracteriza a SR e seu funcionamento e discutimos os conceitos de linguagem e mediao, os quais nortearam a coleta e anlise dos dados, cuja sntese apresentada na seqncia. O Conselho Nacional de Educao estabelece que as alternativas de atendimento educacional para as pessoas com necessidades educacionais especiais (NEE) devem ser buscadas preferencialmente no sistema regular de ensino, por meio da reorganizao e adaptao dos ambientes educacionais comuns. Assim, esto previstas: eliminao de barreiras arquitetnicas, apoio de profissionais especializados, flexibilizao curricular, adaptaes curriculares de pequeno e grande porte e servios e apoios especializados (BRASIL, 2001). No Paran, a SR tem se constitudo em uma das principais formas de atendimento aos alunos com NEE. Segundo dados da Secretaria Estadual de Educao (PARAN, 2008), os nmeros relativos s SR em fevereiro de 2006 eram de 351 salas para alunos de 5 a 8 srie rea de Deficincia Mental. Nas Diretrizes Nacionais para a Educao Especial, a SR assim definida como, um servio de natureza pedaggica, conduzido por professor especializado, que suplementa (no caso dos superdotados) e complementa (para os demais alunos) o atendimento educacional realizado em classes comuns da rede regular de ensino. (BRASIL, 2001, p. 50). As salas para alunos de 5 a 8 sries so destinadas a alunos matriculados nestas etapas do ensino comum, para aqueles advindos da Educao Especial ou, ainda, para aqueles que apresentam problemas de aprendizagem com atraso acadmico significativo, distrbios de aprendizagem e/ou deficincia mental e que necessitam de apoio especializado complementar para obter sucesso no processo de aprendizagem na classe comum (BRASIL, 2004, p.1). O encaminhamento deve estar acompanhado de avaliao psicoeducacional, com indicao das intervenes adequadas, complementadas por psiclogo. De acordo com suas necessidades, o aluno pode ser atendido de duas a quatro vezes por semana, no ultrapassando duas horas dirias. Apresentadas as caractersticas bsicas das SR, passamos fundamentao terica deste projeto embasada pela concepo histrico-cultural. Segundo Vygotsky (1988), as funes superiores sensao, percepo, ateno, memria, pensamento, linguagem e imaginao so formadas por meio das relaes estabelecidas, compartilhadas, com outras pessoas. Elas tm, portanto, um carter social, cultural. Nas aes compartilhadas com o meio, os homens formam conceitos e significados sobre o mundo que o cerca. O ser humano necessita de estmulos externos e internos para sua aprendizagem. Os instrumentos materiais, dos mais simples aos mais complexos, apresentam valores, finalidades, conceitos, padres e princpios que regulam a vida no grupo social. Ao interagir com esses instrumentos e sob a mediao de adultos, a criana interioriza contedos, habilidades, funes cognitivas e sentimentos neles apresentados. Segundo Vygotysky (1988), a aprendizagem acontece com influncia do meio social e temporal em que o indivduo convive. A relao do homem com o mundo no uma relao direta, mas fundamentalmente, uma relao mediada. A mediao fundamental para que a criana forme conceitos, valores e sentimentos. A linguagem por sua vez, consiste em um processo de formao de conceitos. decisiva, portanto, para o desenvolvimento cognitivo e da conscincia do homem. Com ela, ele adquire e generaliza conceitos, passando do pensamento sensorial ao abstrato, generalizante. Tendo em vista estes conceitos, e ao relacion-los com a prtica pedaggica, cabe ao professor desenvolver estratgias, propor e realizar atividades de modo a proporcionar aos alunos a aquisio dos conhecimentos, conceito, formados pelos homens. Cabe ao professor empreender uma prtica pedaggica organizada e sistematizada de modo a levar os alunos a transformarem os conceitos cotidianos, adquiridos no seu grupo cultural, em conceitos cientficos. Partindo destes pressupostos, desenvolvemos a pesquisa de campo, a qual constituiu na observao e anlise de documentos e materiais relativos a duas SR de cidades jurisdicionadas ao Ncleo Regional de Educao de Maring. Materiais e Mtodos Posteriormente aos estudos tericos foram realizados levantamentos junto ao Ncleo Regional de Educao de Maring que, inclusive no momento de coleta de dados outubro de 2007 - havia 38 SR de 5. a 128

8. srie e 652 alunos nelas matriculados. Na anlise de campo observamos duas SR de duas escolas da regio de abrangncia do Ncleo Regional de Ensino de Maring. A SR 1 funciona no perodo vespertino, nela so atendidos 9 alunos. A professora formada em Letras pela UEM, tem uma especializao em Educao Especial. Segundo a mestre, em virtude de ser final de ano (perodo que a anlise foram realizadas) e da maioria dos alunos que freqentam a SR estarem de recuperao, o horrio estava sendo aproveitado para os alunos realizarem, seus trabalhos. Para a professora, os alunos que compem as SR, em geral no tm nenhuma dificuldade, so muito inteligentes, mas precisam de estmulos (PSR1). A sala utilizada para atendimento pequena, abafada e com vrias atividades dos alunos expostas pelas paredes. A professora responsvel pela SR2, tambm formada em Letras, pela UEM e possui especializao em Educao Especial. A SR2 localiza-se em escola pequena e com poucos recursos pedaggicos, e funciona numa sala de aula comum, sem lugar prprio. Segundo a educadora da SR2, 14 alunos atendidos foram indicados pelos professores por terem dificuldades de aprendizagem. Uma aluna possui diagnstico de Hiperatividade e dois alunos por terem dificuldades de educacionais, e serem egressos de escolas especiais, totalizando assim 17 alunos atendidos. No perodo que foi realizado a observao, havia um aluno com indicao do professor, realizando avaliao para ingressar na SR. A avaliao consistia em pequenos problemas propostos pela professora e, conforme a resposta aluno, ela anotava as dificuldades apresentadas. A SR2 tem seu atendimento condizente com as Diretrizes Nacionais. Mesmo sem um ambiente apropriado funciona como um servio de apoio pedaggico especializado, no qual o professor realiza a complementao ou suplementao curricular. Aps a anlise de campo teceremos os seguintes resultados. Resultados e discusses Com base nos dados colhidos possvel estabelecer algumas consideraes, com cuidado para no generalizar, tendo em vista que foram somente realizadas observaes em duas turmas de diferentes escolas. Assim dois pontos pedem ser ressaltados no que diz respeito aos objetivos da SR. Na primeira observao da primeira SR, a prtica pedaggica realizada a de reforo, pois a professora s trabalhava os contedos trazidos pelos alunos. Quanto SR2, o trabalho realizado no perodo indicativo de que eram seguidos os critrios determinados na Instruo 05/04, referente a SR. Ela no trabalhava com as tarefas da sala regular, mas sim, trazia e realizava atividades voltadas para as dificuldades dos alunos. Deste modo, eram empreendidas atividades como problemas matemticos envolvendo raciocnio lgico e operaes matemtica. Alm disso, a professora recorria sempre ao apoio de figuras, objetos e outros materiais concretos. O trabalho com a Lngua Portuguesa consistia basicamente na produo e interpretao de textos. Uma diferena fundamental em relao a SR1 que enquanto ali as atividades eram desenvolvidas com todo o grupo, independente das necessidades de cada um, na SR2 elas eram planejadas de acordo com as dificuldades especificas de cada um e envolviam uma intensa mediao. A PSR2 buscava o tempo todo, fazer o aluno pensar sobre o contedo e os conceitos em pauta. Em sntese, na SR2 a prtica pedaggica foi organizada por meio de planos individuais, voltados para as necessidades de cada aluno e a constante busca pela ampliao e enriquecimento das produes. A mediaes no sentido de ir alm do concreto imediato da descrio, das figuras, ou palavras envolvidas em cada tarefa. A professora instigava os alunos a pensar nas aes dos personagens envolvidos, nas possibilidades de solues. Enfim, possvel afirmar que na SR2 a prtica pedaggica se norteava pelo enriquecimento, da linguagem e a busca de formao de conceitos cientficos. Consideraes finais Com base nas pesquisas realizadas, verificou-se que a SR corresponde um importante recurso para a concretizao da prtica da educao inclusiva. Assim, a SR consiste em um espao de prtica pedaggico fundamental para trabalho com os alunos que precisam de apoio e recursos especiais para alcanar os contedos propostos no ensino regular. Assim, entendemos que cabe ao poder pblico disponibilizar os recursos necessrios e as aes administrativas, para que as SR funcione como designa suas caractersticas de um servio de apoio especializado. Referncias BRASIL. Ministrio da Educao / Secretaria de Educao Especial. Diretrizes Nacionais para a educao especial na educao bsica. Braslia: MEC; SEESP, 2001. BRASIL, Secretaria de Estado da Educao SEED. Instruo n. 05/04 Salas de Recursos de 5. a 8. sries. Curitiba: SEED, 2004. 129

PARAN. Secretaria de Estado da Educao/Departamento de Educao Especial. Incluso e diversidade: reflexes para a construo do projeto poltico-pedaggico. Disponvel em: . Acesso em: 01 jul. 2008. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. So Paulo: Martins Fontes, 1987. VYGOTSKY, L. A formao social da mente. So Paulo: Martins Fontes, 1988. DITADURA MILITAR E OS RGOS DE REPRESSO: O CASO DE NOVA AURORA/PR Fbio Andr Hahn, TIDE, Cincias Sociais, Fecilcam, [email protected] A ditadura no Brasil tem incio com o golpe militar de 1964, momento em que os presidentes passaram a governar por meio de Atos Institucionais: leis impostas pelos militares que deveriam ser seguidas com rigor. O terror por parte do Estado se efetivou com o Ato Institucional de nmero 5 (AI-5), que concedia plenos poderes ao presidente da repblica como: direito de cassar mandatos polticos, instituio da pena de morte, priso perptua para crimes polticos, censura prvia a imprensa, suspenso do habeas corpus, alm de poder colocar o congresso nacional em recesso. O AI-5 promulgado no Brasil foi o psci da radicalizao que se iniciou no dia 13 de dezembro de 1968. Nesse sentido, rapidamente o Estado se preocupou em criar alguns rgos de represso, como o caso da OBAN (Operao Bandeirante), criada em So Paulo no ano de 1969, sob o comando do II Exrcito. A Operao Bandeirante tinha por objetivo centralizar o combate esquerda, tornando-se um dos mais conhecidos centros de tortura de todo o Pas. Entretanto, a violncia no se ateve apenas a uma esquerda organizada como: estudantes, intelectuais e operrios, mas sobre toda sociedade, provocando um clima de terror sobre a populao, intensificada com o surgimento do esquadro da morte e grupos parapoliciais. O caso de Nova Aurora, no Oeste do Paran, marcado pela priso de um grupo de pessoas em maio de 1970, durante uma operao militar que tinha por objetivo desbaratar uma das bases da Vanguarda Armada Revolucionria (VAR/Palmares), como consta nos documentos do processo da comisso de indenizao aos presos polticos do estado do Paran, de 25 de outubro de 2004, no qual foram presos: Alberto Fvero, os professores Luiz Andra Fvero e sua esposa Clari Isabel, os agricultores Benedito Ozrio Bueno, Jos Aparecido Germano, Gilberto Hlio Silveira, Jos Deodato Mota e Ado Pereira Rosa que residiam em Nova Aurora, como afirma Luiz Andra Fvero em entrevista. Luiz Andra Fvero e sua esposa Clari Isabel Dedavid Fvero foram torturados pelos rgos de represso. Os dois eram professores da Escola Estadual Jorge Nacli, na fazenda So Jorge. Clari Isabel foi acusada, segundo o Jornal das Sucursais, de ter propagado nas aulas canes subversivas e uma doutrina extremista. Luiz foi acusado de atos terroristas e seqestros de diplomatas. No dia 04 de maio de 1970, por volta da meia-noite, na fazenda Roda de Carro em Nova Aurora, a casa em que Luiz morava com seus pais foi invadida pelos rgos de represso do Estado. Luiz, sua esposa Clari Isabel, seu pai Liberato e sua me Maria Mazzochi Fvero foram presos. Em entrevista, Luiz declara que seu pai foi amarrado a uma rvore, enquanto ele e sua esposa eram torturados. A polcia militar e os agentes do DOPS torturavam os suspeitos com choques eltricos, golpes com toalhas molhadas e pau-de-arara. Luiz comenta que foi jogado em um riacho pelos torturadores, onde recebeu choques eltricos que o deixaram paralisado durante horas. Seu irmo Alberto Joo Fvero, que tambm foi preso alguns dias depois em 08 de maio de 1970, comenta em entrevista que seu irmo Luiz foi torturado no riacho, sofrendo choques eltricos com um aparelho alimentado por uma bateria, enquanto sua esposa Clari Isabel depois de ter sido violentamente espancada e torturada com choques eltricos foi obrigada a assistir seu marido Luiz ser torturado, como confirmado nas entrevistas. Alberto Joo Fvero comenta que todos foram levados para o Batalho de Fronteiras de Foz do Iguau, onde j se encontravam seu irmo Luiz, juntamente com sua esposa Clari Isabel. Esta foi insultada com palavres e tortura, procurando fazer com que ela admitisse a participao desse grupo em atentados terroristas. Segundo Alberto, Clari Isabel foi ameaada de ser jogada nas cataratas de Foz do Iguau, seria pendurada a um helicptero e jogada na correnteza, ameaa estendida aos outros presos do grupo. Presos no Batalho de fronteiras de Foz do Iguau, Luiz relata que retiraram sua roupa e colocaram seus ps em uma bacia com gua, onde eram aplicados os choques. E comenta, que em certa altura ouviu os gritos de sua esposa e ao pedir aos policiais que no a maltratassem, uma vez que a mesma encontrava-se grvida, obteve como resposta uma risada (Palmar, 2005, p.104). Isso se confirma em uma carta de um ex-soldado que serviu no ento Primeiro Batalho de Fronteiras de Foz do Iguau, integrante da misso realizado em Nova Aurora em 1970. Na carta publicada na Folha de Londrina em 02 de agosto de 2001, o ex-soldado relata que teria presenciado aquela misso de 1970, declarando que estava de guarda no xadrez onde o casal se encontrava. Segundo ele, Luiz ficou enclausurado em uma sala 130

minscula em baixo de uma escada, onde ficou at chegar exausto. Ele havia levado choques eltricos nos testculos e Clari Isabel havia sofrido choques eltricos nos seios. A priso desse grupo de Nova Aurora foi relatada em nota oficial da quinta regio militar, publicada no jornal Correio da Manh em maio de 1970. A nota procura justificar a priso, acusando os presos de vnculos com atos terroristas de seqestro de autoridades consulares em Porto Alegre e outras capitais brasileiras. O jornal destaca que esse grupo de Nova Aurora, estava somente esperando o momento para a luta armada, com o desejo de transformar nosso estado num autntico Vietn. A nota seria uma forma de argumento para convencer a populao e justificar suas aes, procurando mostrar que haviam apreendido viaturas, mosquetes, carabinas, revlveres, luneta para tiro, muita munio e documentos sobres os planos terroristas. Alberto Joo Fvero declarou, em entrevista, que as injustias aumentavam a todo o momento e seu grupo precisava estar preparado para lutar, o que justificava a posse desse aparato de combate apreendido, pois o armamento que tinham no era suficiente, enquanto o inimigo era militarmente muito mais forte. Na entrevista, Alberto declarou que o fator que sobressaia, no caso deles, era a coragem, mesmo com preparaes especficas de estratgicas e treinamentos de guerrilha, a emoo era o que os mantinha na luta contra a ditadura, mesmo sabendo que isso custaria vida de muitos. A via democrtica eleitoral e o modelo de reformas de Goulart para eles estava esgotada, enquanto as estruturas oligrquicas dominantes se mantinham no poder, portanto o enfrentamento era inevitvel, fator que Alberto ressalta em entrevista, afirmando que nosso grupo j tinha participado de aes no Rio Grande do Sul e So Paulo. Segundo Alberto, as primeiras organizaes surgiram como uma corrente desgarrada do comunismo tradicional. Nesse sentido, Nova Aurora era um dos campos de treinamento para a guerrilha. Os treinamentos eram realizados nos matos prximos a Anta Gorda, distrito de Nova Aurora, comandados por uma pessoa que veio do Sul, em alguns casos os treinamentos eram realizados tambm por especialistas vindos de Cuba. Alm disso, o campo de treinamento serviria como um abrigo para companheiros que na clandestinidade vinham, principalmente do Rio Grande dos Sul, que era o comando do nosso grupo. Clari Isabel depois de setes meses foi transferida de Foz do Iguau para a priso de mulheres de Piraquara, ficando reclusa com presas comuns sem receber tratamento de presa poltica at cumprir sua pena. Luiz Fvero depois de sete meses preso no Batalho de Fronteira em Foz do Iguau, foi transferido para a Priso Provisria do Ha em Curitiba. Condenado pelo Tribunal de Justia Militar de Curitiba, mesmo cumprindo pena de deteno, foi por vrias vezes retirado do presdio para interrogatrios na polcia militar e no DOPS, levado para confronto testemunhal com outros presos em Curitiba e Porto Alegre. Luiz saiu da priso em novembro 1971, fugindo juntamente com sua esposa Clari via Uruguai para chegar ao Chile, onde novamente no puderam ficar aps o golpe militar de Augusto Pinochet, em setembro de 1973, com o fim do governo democrtico de Salvador Allende. Os dois conseguiram acesso ao abrigo de refugiados polticos da ONU e somente em dezembro de 1973, conseguiram asilo poltico na Frana, onde ocuparam importantes cargos polticos, sendo o mais o mais significativo o cargo de assessor do primeiro ministro do governo de Franois Mitterrand. Com a proximidade do trmino do mandato de Geisel (19741979), j se iniciava o trabalho de abertura poltica, diminuindo a intensidade dos conflitos entre o governo militar e o movimento de esquerda. Em 1985, Luiz voltou ao Brasil para ocupar o cargo de professor no estado da Paraba, Clari Isabel voltou logo aps em 1987. Atualmente residem e trabalham na cidade do Recife no estado de Pernambuco. Referncias Correio da Manh em maio de 1970. Entrevista com Luiz Andra Fvero cedida a Luiz Alberto Fvero em 13 de maio de 2006. Entrevista com Alberto Joo Fvero cedida a Marcos A. F. de Campos em setembro de 2006. Folha de Londrina em 02 de agosto de 2001. PALMAR, Alusio. Onde foi que enterraram nossos mortos? Curitiba, 2005. ORDENAO, HIGIENIZAO E TRATAMENTO DOS AUTOS CIVIS DA COMARCA DE CAMPO MOURO (1963-1965) Paula vile Cardoso, IC-Fecilcam/Fecilcam, Pedagogia, [email protected] Fbio Andr Hahn (OR), Fecilcam, [email protected] O historiador Jacques Le Goff declarou certa vez que os documentos so produtos da sociedade, fundamentais para entender a construo do contexto histrico (LE GOFF, 1996, p. 535). Nesse sentido, a necessidade de polticas de preservao fato evidente em nossa sociedade, o que justificou a criao e atuao do grupo de pesquisa Cultura e Relaes de Poder, que vem propondo iniciativas que possam dar conscincia e acesso aos documentos da regio Centro Ocidental. Uma das atividades desenvolvidas a proposta deste 131

projeto de Iniciao Cientfica intitulado Ordenao, Higienizao e Tratamento dos Autos Cveis da Comarca de Campo Mouro (1963-1965), que visa preservar os processos jurdicos como elementos indispensveis da nossa memria regional, procurando com isso, possibilitar os primeiros passos em direo a formao de um centro de documentao e pesquisas regionais. Esse projeto de pesquisa faz parte de uma iniciativa maior, em que j constam trs outros projetos de Iniciao Cientfica Jnior e mais trs projetos de Iniciao Cientfica da graduao, cujos objetivos so a higienizao e catalogao de autos da vara civil. Com isso, possvel vislumbrar um movimento significativo em torno da preservao e tratamento da documentao, integrando acadmicos, alunos do Ensino Mdio e professores da FECILCAM. A primeira etapa na metodologia do manejo adequado da documentao a ordenao primria. Essa etapa permitiu ter uma noo geral dos processos a serem higienizados e tratados, levando em conta, um levantamento prvio j realizado em que se encontrou a seguinte situao: os documentos esto mesclados uns aos outros desordenadamente, em especial no que se refere tipologia e ordem cronolgica. Dessa forma, esto sem a sua ordenao em sees ou grupos. A preocupao ser delimitar as sees ou grupos para na seqncia iniciar a higienizao. A preservao do patrimnio documental precisa ser seguida de uma higienizao adequada. Para tanto, a documentao impressa apresenta uma preocupao: o papel. A fcil deteriorao do papel apaga os vestgios da nossa histria. A poeira a eterna inimiga na conservao dos documentos, assim como precisam ser eliminados as partculas de areia que cortam e arranham; fuligem, mofo e inmeras outras impurezas, atraem umidade e degradam papis (cf. YAMASHIA, 2006). Para resolver esses problemas, os cuidados com a preservao dos documentos e de suas informaes precisam passar pela higienizao. O mtodo de higienizao segue alguns procedimentos prticos que permite o seguimento de algumas etapas. A literatura enfatiza a necessidade da higienizao mecnica a seco com pincel, trincha e brocha. Esta etapa corresponde retirada de grampos, prendedores metlicos, adesivos, etiquetas e clipes, para na seqncia retirar a poeira e outros resduos estranhos, seguindo tcnicas adequadas para cada documento (cf. BELLOTTO, 1996, p. 42). Passada a etapa da higienizao, apresenta-se a necessidade de tratamento primrio dos processos civis. Esse tratamento consta do arquivamento em caixas/arquivos, possibilitando uma organizao inicial para o trabalho das etapas seguintes, que se refere ao trabalho de organizao secundria, catalogao e descrio dos autos. Em suma, esse trabalho se encontra ainda na primeira fase de desenvolvimento, atendo-se a ordenao primria dos processos civis da comarca de Campo Mouro entre os anos de 1963-1965. No foi possvel participar de alguns cursos de formao terica e tcnica, pois h pouco tempo integro o projeto, estando, portanto fazendo algumas leituras de reconhecimento com relao ao patrimnio histrico, memria e tratamento arquivstico. O que foi possvel perceber claramente, que a preservao da memria uma preocupao latente nas sociedades modernas, em que a construo de uma identidade e uma noo de pertencimento so apresentadas como elementos essncias na concretude e organizao das sociedades. Fato esse, que no est distante da preocupao dos pesquisadores e acadmicos da FECILCAM. Referncias BELLOTTO, H. L.; CAMARGO, A. M. A. Dicionrio de terminologia arquivstica. So Paulo: Associao de Arquivistas Brasileiros, 1996. LE GOFF, J. Documento/Monumento. In: Histria e Memria. Campinas: Editora da Unicamp, 1996, pp. 535553. YAMASHIA, M. M. & PALETTA, F. A. C. Preservao do patrimnio documental e bibliogrfico com nfase na higienizao de livros e documentos textuais. In: www.arquivstica.net, Rio de Janeiro, v.2, n.2, p. 172-184, ago.dez. 2006. Acesso em 05 de Maro de 2008. PESQUISA SCIO-EDUCACIONAL REALIZADA NA COMUNIDADE DO JARDIM SANTA CRUZ, NO MUNICPIO DE CAMPO MOURO Elvira Pereira Machado, PG, Pedagogia, [email protected] Prof. MSc. Radames Juliano Halmeman (OR) Introduo O presente trabalho foi realizado mediante pesquisa feita com os pais que, todos os dias, passam pelo centro de educao infantil do Jardim Santa Cruz para levar e buscar os filhos e l perguntam por trabalho. Quando questionados sobre sua profisso dizem que fazem de tudo. O que denota que, na realidade, eles no tm uma profisso definida, por isto tem dificuldades em expor suas qualidades profissionais. Sabe-se de suas 132

necessidades imediatas e, infelizmente, mesmo que algumas pessoas consigam uma vaga no mercado de trabalho, acabam no permanecendo nela, pois no desenvolvem as habilidades profissionais que o mercado exige. Para descobrir a realidade de cada indivduo, analisar qual seu ideal de profissionalismo e o que almeja, foi feita uma pesquisa de campo. A pesquisa foi baseada em questionrio composto de questes alternativas e discursivas. Com base nos dados coletados poder se desenvolver um projeto focado nas necessidades especficas dessa comunidade. Considerando que o problema est nesta questo, sendo que uma vez conseguida a colocao numa atividade profissional, o indivduo no consegue permanecer nela por muito tempo, devido sua falta de qualificao e experincia na atividade. O Centro Municipal de Educao Infantil Santa Cruz, localiza-se na Av. Prefeito Dr. Horcio Amaral, 209, Jardim Santa Cruz, atendendo 149 crianas de 04 meses a 05 anos, em perodo integral das 07:30 s 17:30. As crianas ali atendidas provm de vrios jardins: Santa Cruz, Batel, Silvana, Modelo e Conjunto Mrio Figueiredo, que so bairros relativamente carentes da cidade de Campo Mouro. Procedimentos Metodolgicos Pesquisa realizada atravs de entrevista, com os pais dos alunos do Centro Municipal de Educao Infantil Santa Cruz da Cidade de Campo Mouro. Enviamos uma correspondncia, aos pais solicitando que os mesmos comparecessem ao Centro para responderem a um questionrio, informando algumas questes de seu interesse em relao a seus filhos. Esse questionrio foi elaborado para retratar aspectos scio-econmico, formao escolar, cultural bem como verificar o interesse de profissionalizao dos pais. Os pais compareceram, e assim foi possvel ter um contato individual e os mesmos ficaram vontade para responder ao questionrio que era lido e explicado quando no entendido a questo. Sendo esses a quantia de 69% dos pais que tm o filho matriculado no Centro, o que mostrou uma grande participao dos mesmos. A reviso bibliogrfica foi realizada atravs de livros, revistas, sites, entre outros, para a reviso de literatura e embasamento terico. Anlise e Discusses As entrevistas auxiliaram-nos a estabelecer um perfil da comunidade do Centro Municipal de Educao Infantil Santa Cruz, a fim de poder propor a oferta de cursos de formao que fossem de interesse e necessidade da comunidade. Visto que a estrutura j existe e fica ociosa no perodo da noite. Acreditamos, ento, que com investimento de pequeno montante financeiro seria possvel melhorar os nveis de instruo da comunidade e conseqentemente, melhorar a vida das pessoas. A oferta de cursos profissionalizantes para esses jovens e adultos possibilitaria melhoria da renda ou facilitaria a entrada no mercado de trabalho. Os dados demonstraram que as famlias residem em moradias humildes, estando sempre trocando de endereo. A maioria das mes solteira ou separada, conseqentemente, sendo responsveis pelo sustento e educao dos filhos. A renda gira em torno de meio a trs salrios mnimos, sendo que a maioria vive de apenas um salrio mnimo. Alguns pais esto desempregados, recorrendo a servios provisrios. As mes em grande parte trabalham como empregadas domsticas diaristas ou mensalistas. O nvel de escolaridade de grande parte dos pais o ensino fundamental incompleto. Foi percebido tambm que a maioria est satisfeita com a situao atual, pois devido a sua prpria realidade diria e o nvel de escolaridade so pessoas com pouco senso crtico, que no tm conscincia de uma realidade diferente, de uma realidade de luta e crescimento pessoal, intelectual e profissional. Visto ento a necessidade, o trabalho seguir ser de recorrer parcerias com departamento de educao, escola de ensino profissionalizante, escola de trabalho, universidade, faculdades e organizaes no governamentais e outros, apresentando esse projeto e os dados obtidos, para a elaborao de projetos e implantao de cursos profissionalizante. Consideraes Finais Sabe-se que o trabalho base da existncia humana e os homens se caracterizam como tais, na medida que produzem sua prpria existncia, a partir das suas necessidades, trabalhar uma maneira de agir sobre a natureza e sobre a realidade social, construindo-a e transformando-a segundo as necessidades humanas. No entanto, por meio dessa pesquisa constatou-se que a comunidade do Centro Municipal de Educao Infantil Santa Cruz, tem pouca conscincia da importncia do trabalho em suas vidas e tambm como meio de contribuio para a evoluo da sociedade. Os dados obtidos demonstraram uma comunidade acomodada e sem perspectiva de melhorias, fato este que indica a urgncia da realizao de um trabalho de conscientizao que vai muito alm do que se previa no incio da pesquisa e que os cursos profissionalizantes devem oferecer no somente contedos de formao 133

profissional, mas tambm de formao cultural, humanitrio, crtica e poltica, que possibilitem o desenvolvimento de cidados que atuem e modifiquem a sociedade onde vivem, tendo plena conscincia de seu papel da sociedade. Fazendo com que os indivduos percebam que so construtores da histria e de sua prpria histria. Referencias Bibliogrficas ECA; Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo. Disponvel em http://www.eca.usp.br acessado em 29 de setembro 2006. FREIRE, P. Comunicao ou extenso. Paz e Terra, So Paulo, 1970. ________. Pedagogia dos sonhos possveis. So Paulo: UNESP, 2001. FREIRE, P. & SHOR, M. Medo e ousadia. So Paulo: Brasiliense, 1987. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAO (L.D.B). Lei n 9.394 de dezembro 1996. LIMA, V. A de. Conceito de comunicao em Paulo Freire. Em: GADOTTI, M. Paulo Freire: uma bibliografia, IPF, 1996, So Paulo, p. 39. LUCKESI, C. C. Filosofia da educao. 6. ed. So Paulo: Cortez, 1993. PROJETO MEMRIA 2005, disponvel em http://www.paulofreire.org/p_memoria_pf.htm. Acesso em 31 Jul 2006. PROJETO POLTICO PEDAGGICO. Centro Municipal de Educao Infantil Santa Cruz. Campo Mouro, 2005. SAVIANI, D. O n do ensino de 2 grau. Bimestre, So Paulo: MEC/INEP - CENAFOR, n. 1, out. 1986. FONTES ORAIS E TRAJETRIAS BIOGRFICAS POSSIBILIDADES DE COMPREENSO HISTRICA Frank Mezzomo, TIDE, Cincias Sociais, Fecilcam, [email protected] Na famigerada crise dos paradigmas das cincias humanas figuram as disputas acontecidas em torno da pertinncia/viabilidade da utilizao das fontes orais (ou histria oral?) e a explorao das trajetrias biogrficas como janelas possveis para compreender a trama da organizao social. Para alm dos caprichos da academia, a discusso aponta para uma preocupao terica e metodolgica acerca da produo do conhecimento. Esta comunicao, atenta a estas querelas, busca socializar os resultados de uma experincia realizada com trs entrevistas Gernote Kirinus, Adriano van de Ven e Werner Fuchs que permitem apreender sobre a organizao dos movimentos sociais no Oeste do Paran, em finais da dcada de 1970 e incio de 1980. Cenrios, personagens e o enredo esto marcados pelas pulsaes prprias do local tendo, no horizonte, influncias conjunturais. Ademais, a idealizao, organizao e execuo das entrevistas requereram alguns cuidados metodolgicos que, no por isso, eximem o pesquisador de desafios que podem surgir no tempo imediato de sua realizao. As entrevistas apresentam algumas constncias em suas abordagens. Tratam do mesmo perodo e espao histricos num momento em que o sindicalismo e os movimentos sociais vinham a reboque e se inseriam no guarda chuva simblico e estrutural da Igreja Catlica. Assim, os trs personagens ao refletirem sobre as pendengas sociais e econmicas no Oeste do Paran, retratam um processo lento, gradual, embora nem sempre seguro, da formao e atuao da Comisso Pastoral da Terra (CPT) junto aos movimentos sociais emergidos das transformaes radicais pela qual passava a sociedade oestina. Outra constncia o fato de se consolidarem como lderes vindos de espaos sociais legitimados pela Igreja Catlica padre Adriano van de Ven e pela Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil (IECLB) pastores Werner Fuchs e Gernote Kirinus , onde atuam como porta-vozes do sagrado, para usar expresso bourdiana. No toa a constatao de parte da historiografia regional ao apontar para o livre trnsito do padre e pastor entre os movimentos (GERMANI, 2003, p. 72). Com isso, entende-se que a liderana exercida sobre as pessoas/movimentos proveniente tambm do carisma pessoal, mas, sobretudo, do capital simblico acumulado pelas Instituies da qual so representantes. Esta implicao necessariamente leva a compreender as inseres e ponderaes das lideranas dentro de uma conjuntura scio-poltico e religiosa nacional e internacional. Por esta razo, correto afirmar que os entrevistados falam de dentro do campo religioso, embora que, por vezes, firmem resistncias e dissidncias intra-eclesisticas. Entende-se que as entrevistas evocam uma memria individual e coletiva a partir de um entendimento e compreenso determinados. Conforme Henry Rousso, a memria uma reconstruo psquica e intelectual que acarreta de fato uma representao seletiva do passado, um passado que nunca aquele do indivduo somente, mas de um indivduo inserido num contexto familiar, social, nacional. Portanto, e aqui a referncia a Maurice Halbwachs, toda memria por definio coletiva. Seu atributo mais imediato garantir a continuidade do tempo e permitir resistir alteridade, ao tempo que muda, s rupturas que so o destino de toda vida humana. 134

Em suma, a memria constitui um elemento essencial da identidade, da percepo de si e dos outros. Contudo essa percepo difere segundo a localizao na escala do indivduo ou na escala de um grupo social, ou uma nao (ROUSSO, 2006, p. 94). Uma das implicaes dessa considerao compreender o parecer dos entrevistados como uma leitura interpretativa que deve ser cruzada com vrias fontes histricas, podendo confirmar, invalidar ou substituir a verso do testemunho ocular da histria. A elaborao e preparao das entrevistas observaram um procedimento intermedirio entre o papel de verdadeiro escritor, elaborando, a partir da gravao e transcrio de mensagens enviadas via correio eletrnico, um relato literrio, tentando restabelecer o ritmo da palavra e as impresses recebidas na entrevista; e, por outro lado, publicao em extenso da transcrio, tentando reproduzir as palavras o mais fielmente possvel. Entre as duas posies, optou-se, como destaca Chantal de Tourtier, por Perguntas e respostas devem aparecer claramente, mas pode-se suprimir as repeties ou dar entrevista uma ordem cronolgica. O texto pode perder assim sua originalidade, mas ganha em legibilidade (BONAZZI, 2006, p. 242). Com isso, pretendeu-se manter a fidelidade ao discurso dos entrevistados com a necessidade de torn-lo acessvel e compreensvel ao leitor. Ademais, a elaborao final mereceu uma apresentao geral antes de cada entrevista e utilizao de notas de rodap cuja finalidade adicionar informaes, retificar datas, nmeros e nomes, e indicar leituras complementares. O contedo das entrevistas se refere ao Oeste do Paran que marcado por grandes transformaes scio-econmicas, podendo enumerar o forte xodo rural promovido pela mecanizao do campo e pela construo da hidreltrica de Itaipu quando, com a formao do lago, desaloja mais de quarenta mil pessoas; ocorre processo intenso de migrao endgena ao norte do Brasil e exgena ao pas principalmente para o Paraguai; crescimento acelerado das cidades, sobretudo de Foz do Iguau, sem planejamento infra-estrutural, gerando um processo agressivo de marginalidade social; esgaramento das relaes sociais sentidas sobremaneira nas pequenas comunidades; regio de trplice fronteira transmitindo uma sensao de insegurana poltica e social. No campo poltico, vale lembrar parte dos municpios do Oeste do Paran faziam parte da rea de segurana nacional, sendo seus prefeitos nomeados conforme chancela do presidente da Repblica uma vez que a regio estava enquadrada na Lei de Segurana Nacional. Com isso, a regio, na anlise de alguns historiadores e socilogos, inserida num circuito internacional de produo e de mercado despontencializando as comunidades da sua capacidade de autogesto. Romperam-se os vnculos societrios e as relaes de confiabilidade foram substitudas pelas relaes contratuais, que amarram os indivduos a instituies gestadas e estabelecidas fora do seu domnio de convivncia (SCHALLENBERGER, 1994, p. 25 e 27). A modernizao, a urbanizao e as interferncias sobre a organizao do espao e da produo econmica, social e cultural afetaram profundamente a mentalidade, as representaes e os valores de referncia desta sociedade. Estes cenrios conflitivos so evocados e refletidos pelos personagens que compuseram parte da histria dos movimentos sociais, no Oeste do Paran, num momento de profundas transformaes scioeconmicas. Referncias BONAZZI, Chantal de Tourtier. Arquivos: propostas metodolgicas. In. AMADO, Janaina e FERREIRA, Marieta de Moraes (orgs.). Usos & abusos da histria oral. 8 ed., Rio de Janeiro: FGV, 2006. GERMANI, Guiomar. Expropriados, terra e gua: conflitos de Itaipu. 2 ed., Salvador: Edufba/Ulbra, 2003. ROUSSO, Henry. A memria no mais o que era. In. AMADO, Janaina e FERREIRA, Marieta de Moraes (orgs.). Usos & abusos da histria oral. 8 ed., Rio de Janeiro: FGV, 2006. SCHALLENBERGER, Erneldo e COLOGNESE, Silvio Antnio. Migraes e comunidades crists: o modo-de-ser evanglico-luterano no Oeste do Paran. Toledo: EDT, 1994. A PESQUISA EM CINCIAS SOCIAIS E A INTERLOCUO COM A COMUNICAO SOCIAL: ANLISE DE CONTEDO DAS RELAES ENTRE POLTICA E IMPRENSA Camila Torres de Souza, Cincias Sociais, UEL, [email protected] As relaes entre a comunicao social e as cincias sociais, especificamente entre a imprensa e a poltica, remontam ao momento de consolidao do modo de produo capitalista, com a Revoluo Industrial desencadeada na Inglaterra e, depois, por ocasio do desenvolvimento do capitalismo internacional. No Brasil, a imprensa escrita surge no incio do sculo XIX, sob o financiamento e a censura oficiais, servindo aos interesses da classe dominante e da famlia real. Os jornais e revistas, na imprensa escrita, bem como o rdio e a televiso, se constituem na base de sustentao da mdia1, considerada em pases ocidentais, como o quarto poder 2(SODR, 1999). Podemos afirmar que a chamada grande imprensa3 apresentou os temas polticos como grandes aportes de seus debates. Nesse contexto, o jornal O Estado de S. Paulo era considerado um importante rgo 135

poltico, inclusive com concepo de empresa capitalista, seria o baluarte tradicional da grande imprensa conservadora (SMITH, 2000). A presente pesquisa objetiva estudar a relao entre a atuao da imprensa, na figura do jornal dirio O Estado de S. Paulo, publicado na capital paulista, mas de amplitude nacional, e um momento poltico relevante para estabelecer a interlocuo entre as pesquisas em sociologia poltica e no campo da comunicao: a deflagrao do golpe militar ocorrido no Brasil em 1964. As inquietaes perpassavam os valores ideolgicos, que permeiam os editoriais do jornal O Estado de S. Paulo nas reflexes acerca dos primeiros anos do governo militar instaurado em 1964, bem como seus antecedentes. Nesse sentido, delineamos como problema de pesquisa pensar quais os elementos polticos que orientam o apoio do jornal ao golpe? A partir da pesquisa bibliogrfica defendemos como hiptese o fato de o jornal O Estado de S. Paulo ter sido um dos primeiros a apoiar o golpe militar em 1964, sobretudo ao salientar sua insatisfao em relao ao governo Joo Goulart, alm de intencionar resguardar seus interesses como empresa capitalista. Metodologia Como procedimento de pesquisa adotamos a anlise de contedo da seo Notas e Informaes, onde se encontra o editorial do jornal, o que justificamos com a leitura do estudioso de metodologia e tcnicas de pesquisa Roberto Jarry Richardson (2007), ao afirmar que para compreender melhor o discurso, a linguagem e extrair momentos relevantes, a anlise de contedo proporciona atravs da pr-anlise (leitura superficial e escolha representativa dos documentos), seguida da anlise e tratamento do material (interpretao), aplicar mtodo cientfico a uma dada evidncia documentria, procurando conhecer suas condies, inclusive histricas, de produo, seja para o levantamento ou desmascaramento de um fato. Discusso Terica Apresentamos brevemente o processo poltico brasileiro, de modo cronolgico e de forma histricodescritiva, com uma abordagem que remonta ao fim da Primeira Repblica, na dcada de 1930, passando pela Era Vargas, at 1945, e da at 1964, perodo denominado por alguns autores de democracia populista4, dando nfase ao incio da dcada de 1960, com o colapso do populismo, que culminaria na chamada democracia interrompida5, quando se tem a instaurao dos governos militares a partir de 1964. Alguns autores defendem que este foi mais um perodo em que assistimos a uma relao de alternncia entre continuidades e rupturas. Isso porque no processo poltico brasileiro algumas vezes as conjunturas democrticas foram substitudas por regimes autoritrios, e tambm o inverso. O golpe militar de 1 de abril de 1964 reforou a hegemonia do capital internacional no bloco do poder. O golpe significava a ruptura poltica com o populismo e o aprofundamento das tendncias econmicas preexistentes, forneceu a moldura para algumas transformaes expressivas na sociedade e nos rumos do capitalismo brasileiro. No era apenas um acontecimento poltico-militar, tinha razes econmicas importantes. Entre as alteraes no sistema poltico ps-64 destacamos a ascenso de elementos das Foras Armadas aos postos chaves do governo. Havia a preocupao em se manterem as instituies polticas herdadas do regime anterior, ainda que modificadas suas funes e posio na estrutura do poder. Os governos militares buscavam incessantemente ganhar credibilidade da populao atravs de um discurso infundado de democracia. Todavia, suas prticas ditatoriais eram a negao de qualquer trao democrtico. Ao atrelarmos as temticas mdia e poltica devemos levar em considerao a larga tradio autoritria e persistente resistncia ampliao e consolidao da cidadania democrtica (AGUIAR, 2004). Os meios de comunicao durante momentos de transio poltica revelam seu papel perante a informao pblica, no tocante ao funcionamento da sociedade brasileira. A mdia e a poltica mantm relaes demasiadamente prximas no contexto nacional, afirmam inmeros autores, na perspectiva das relaes de poder, ora pela distoro, ora pela legitimao dos discursos. Tratando propriamente do golpe militar de 1964 a atuao da grande imprensa decisiva, pois as manchetes dos jornais expressam indignao com o presente, alm de entusiasmo e otimismo quanto as possibilidades da chamada Revoluo, que colocaria fim ameaa comunista. Havia um entrelaamento entre imprensa e Estado no Brasil, a experincia mostrava que o Estado interferia diretamente na imprensa, dessa forma, no foi um fato novo, nem sequer surpreendente, que o novo governo militar comeasse a usurpar a liberdade de imprensa. O Estado de S. Paulo o mais antigo dos jornais da cidade de So Paulo ainda em circulao. Publicado pela primeira vez, ainda durante o Imprio, no incio do ano de 1875, com o nome de A Provncia de S. Paulo, fora fundado por um grupo de pessoas, que concretizavam a proposta de criao de um dirio republicano, com o propsito de combater a monarquia e a escravido. Editorialmente o jornal sempre manteve sua linha de apoio democracia representativa e economia de livre-mercado. 136

Em 1964 O Estado de S. Paulo apoiou o movimento militar que deps o presidente Joo Goulart ao constatar que o mesmo j no tinha autoridade para governar. No entanto, apesar do apoio inicial, o jornal entendia que a interveno militar deveria ser transitria. Quando se evidenciava que os radicais de extrema direita aumentavam sua influncia, almejando a perpetuao dos militares no poder, se afastando do propsito inicial, argumento primordial para a instaurao de tal regime, a saber, preservar as instituies democrticas, o jornal retira seu apoio e passa a fazer oposio. A partir de 1968, O Estado de S. Paulo passa a ser censurados pela sua posio contrria ao regime militar, resistindo bravamente com a denncia da censura atravs da publicao de poemas de Os Lusadas de Lus de Cames em lugar das notcias vetadas. No dia 13 de dezembro de 1968 O Estado de S. Paulo impedido de circular por conta do Ato Institucional n. 5 (AI-5). Destacamos o editorial da seo Notas e Informaes: Instituies em frangalhos, escrito por Jlio de Mesquita Filho, onde procurava descrever a crise poltica e a falta de viso do general Costa e Silva, que pensava poder governar o Pas como se fosse uma caserna6, ou seja, um quartel, o que ser motivo de arbitrariedade, por fim, esta data marcar o encerramento de suas atividades jornalsticas. Consideraes Buscamos perceber como o golpe militar instaurado no Brasil em 1964, que teve como principais protagonistas as chamadas faces duras das Foras Armadas mas sabemos que no somente l estava, por exemplo, o empresariado nacional; contou com o apoio de muitos rgos no diretamente ligados ao corpo poltico, entre eles enumeramos a grande imprensa. As relaes entre a imprensa e a poltica devem ser entendidas no contexto do capitalismo, assim optamos pela formulao atravs do momento histrico, primeiro nas concepes tericas, depois com a pesquisa emprica, mas sem perder de vista o embasamento que norteiam tais discusses. Em relao ao jornal O Estado de S. Paulo e os momentos que antecedem o golpe consideramos que seu papel fora de fundamental importncia, no somente como formador de opinio, mas tambm como aglutinador de uma ideologia que corroborava com os objetivos dos que empreenderam tal golpe contra democracia. Quanto fase que se seguiu ao golpe, at o momento de 1968, tentamos detectar as possveis oscilaes de seus editores, quem sabe intuindo desmistificar o olhar, apresentar os dados concretos da conjuntura nacional, sem tanta louvao ao militares, o que sentido constantemente em relao Costa e Silva. E, assim, contribuir de alguma maneira para a almejada legitimao dos militares. Defendemos que o Estado fica entre o questionamento de alguns procedimentos, quem sabe a no aprovao dos mesmos, e o apoio, recorrente, aos atos repressivos. O que significaria pensar em uma postura do jornal de apoio para uma de no apoio. O jornal parecia desejar um autoritarismo mais equilibrado, se que isso seria possvel; mas sofrer com as imposies do regime, o que se tornar evidente no momento posterior decretao do AI-5, mas isso j no perfaz o objeto deste trabalho. NotasSugerimos pensar a mdia como sendo um conjunto de todos os meios de informao e comunicao, no qual se incluem os diversos tipos de veculos, recursos, tcnicas comunicacionais, tais como jornais, revistas, televiso, rdio, publicidade etc. 2 Juntamente com os poderes institucionalizados: Executivo, Legislativo e Judicirio. 3 A grande imprensa se difere da imprensa alternativa pelas metas que objetiva, pelo estilo, leitores, alm da estrutura organizacional e dos mecanismos de financiamento; todavia, esta se constitui em uma definio informal e inexata. Em linhas gerais a grande imprensa no Brasil abrange diversos dirios tradicionais, nacionais e de maior circulao, tais como Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Correio da Manh (fechado em 1969), alm do prprio O Estado de S. Paulo. 4 Entre os quais citamos Octavio Ianni. 5 Perspectiva apresentada pelo autor Glaucio Ary Dillon Soares (2001). 6 Sugerimos a leitura dos dois captulos iniciais da obra do Prof Joo Roberto Martins Filho, da Universidade Federal de So Carlos (UFSCAR) na qual apresenta o que denomina o palcio e a caserna, em uma relao entre a esfera poltica federal, o espao do presidente da Repblica e os quartis, local de permanncia dos militares!1

Referncias AGUIAR, Carly. Mdia e autoritarismo no Brasil ps-64: a propsito de continuidades e rupturas. Rev. Comunicao Veredas. So Paulo: Ed. Unimar. v.3, n.3, nov. 2004, p. 255-286. CAPELATO, Maria Helena R. Imprensa e Histria do Brasil. So Paulo: Contexto, 1988. DREIFUSS, Ren A. 1964: a conquista do Estado: ao poltica, poder e golpe de classe. Rio de Janeiro: Vozes, 1981. FICO, Carlos. Verses e controvrsias sobre a ditadura militar. Rev. Brasileira de Histria. So Paulo, v. 24, n. 47, p. 29-60, 2004. GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada As iluses armadas. So Paulo: Companhia das Letras, 2002. 137

IANNI, Octavio. O colapso do populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1975. Jornal O Estado de S. Paulo. Capas e editoriais dos anos: 1964, 1965, 1966, 1967 e 1968. LAFER, Celso. JK e o Programa de Metas (1956-1961). Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2002. LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. So Paulo: Alfa-mega, 1986. MARTINS F., Joo Roberto. O palcio e a caserna: a dinmica militar das crises polticas na ditadura (19641969). So Carlos: EdUFSCar, 1996. QUADRAT, Samantha Viz. A ditadura civil-militar em tempos de (in)definies (1964-1968). In: MARTINHO, Francisco C. Palomanes (org.). Democracia e ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Eduerj, 2006. REIS F., Daniel Aaro. Ditadura e democracia: questes e controvrsias. In: ______ (org.). Democracia e ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Eduerj, 2006. RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social: mtodos e tcnicas. So Paulo: Atlas, 2007. SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getlio Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. SMITH, Anne-Marie. Um acordo forado: o consentimento da imprensa censura no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2000. SODR, Nelson Werneck. Histria da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. SOUZA, Maria do Carmo Campello de. Processo Poltico-Partidrio na Primeira Repblica. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Brasil em Perspectiva. So Paulo: DIFEL, 1974. TOLEDO, Caio Navarro. 1964: O golpe contra as reformas e a democracia. Rev. Brasileira de Histria. So Paulo, v. 24, n. 47, p. 13-28, 2004. VALE DO PIQUIRI: O MDIO OESTE E SUA COLONIZAO SOB A PTICA FEMININA (1950/66) Mrcia Cristina Rodrigues da Silva, PG, Histria, UNIMEO-CTESOP, [email protected] Fbio Andr Hahn (OR), Fecilcam, [email protected] Este trabalho visa analisar os diferentes processos de ocupao da regio oeste, especialmente da microregio Mdio Oeste do Estado do Paran, assim como a participao da mulher nesse processo de colonizao que ocorreu entre as dcadas de 1950 e 1960, no atual municpio de Assis Chateaubriand/PR. Para tanto, prope-se dois focos de anlise: o primeiro partindo das historiografias escritas a respeito da regio oeste, focando em suas semelhanas e diferenas em relao regio Mdio Oeste do Paran. O segundo foco parte da histria das mulheres, as ditas pioneiras, no qual, por meio das entrevistas realizadas, tentaremos recuperar aspectos dessas memrias esquecidas durante o processo de colonizao da regio do Mdio Oeste. Analisando algumas das obras de referncia sobre o oeste do Paran1, percebe-se que se tornou comum em alguns trabalhos, analisar a histria de municpios do oeste do Paran como se todos eles tivessem comeado da mesma forma, na mesma poca, ou pertencessem a um nico bloco histrico. Como se a regio Oeste do Paran ou qualquer outra regio fosse, de fato, homogenia. O que no verdade. Sabemos, por exemplo, que no oeste do estado, as ocupaes haviam tido incio efetivo com a criao da Colnia Militar em Foz do Iguau no ano de 1888, sendo que outras cidades s aparecero em meados da dcada de 1950, caso de cidades como Assis Chateaubriand e Jesutas, que tiveram sua colonizao a partir de 1958. Da mesma maneira, ocorre quanto forma de colonizao, enquanto algumas regies receberam migrantes eurobrasileiros, como os descendentes de alemes e italianos, a exemplo de Marechal Cndido Rondon, Pato Bragado e Toledo, outras tiveram maior recepo dos migrantes de outras regies do pas, especialmente mineiros, paulistas e nordestinos, caso de Assis Chateaubriand e Jesutas. Nesse sentido, o objetivo aqui analisar alguns aspectos da histria do Oeste, especialmente do Mdio Oeste do estado do Paran. Visando, tambm, mostrar que as micro-regies diferem entre si, mesmo dentro de uma mesma classificao regional, mantida pela definio territorial, como o caso da regio oeste do Paran. Quanto insero das mulheres nesse processo de colonizao, vlido lembrar que, em geral, elas so silenciadas pela histria oficial, que privilegia os relatos masculinos, mostrando o mundo dos homens e o mito do pioneiro-desbravador, quase como um heri2. No que se refere especificamente a Assis Chateaubriand, a nica participao atribuda s mulheres na histria oficial da colonizao do municpio com relao aos trabalhos domsticos. De acordo com Larcio Souto Maior3, a terra roxa estava sempre infernizando as donas de casas que numa labuta interminvel nunca paravam de lavar roupas, varrer cmodos e limpar os mveis das casas construdas, na maioria, de madeira4. Como isso, Souto Maior relega a segundo plano o papel social dessas mulheres, contrrio ao que retratam muitos dos documentos referentes a esse processo. As prprias mulheres, coagidas pelo discurso oficial, quando perguntadas como ou porque vieram para a regio de Assis Chateaubriand, a primeira resposta obtida era algo do tipo meu pai resolveu abrir uma posse, meu marido ficou sabendo. No houve nenhuma resposta que mostrasse a vontade e as intenes dessas mulheres. Apenas quando perguntado diretamente, e a senhora?, que elas se colocavam dentro da narrativa. 138

sobre essas perspectivas que propomos esse trabalho, visando um diferente foco de anlise sobre as historiografias regionais e, em especial, sobre a histria do Mdio Oeste do Paran, onde se localiza o municpio de Assis Chateaubriand. Notas1 COLOGNESE, GREGORY, SCHALLENBERGER. Tupssi: do mito histria; Pe. Pedro Reginato. Histria de Palotina1954-1979; MAIOR. Histria do municipio de Assis Chateaubriand: o encontro das correntes migratrias na ltima fronteira agrcola do Estado do Paran; WACHOWICZ. Obrageros, mensus e colonos: A histria do oeste paranaense; GREGORY. Os Eurobrasileiros e o espao colonial: migraes no Oeste do Paran; NIEDERAUER. Toledo no Paran; entre outros. 2 TAIT, T.F.C. As excludas da histria: o olhar feminino sobre a formao de Maring. In_ DIAS, R.B.; GONALVES, J.H.R. Maring e o Norte do Paran. Maring. EDUEM, 1999.p. 356. 3 MAIOR, L.S. A histria do municpio de Assis Chateaubriand: o encontro das correntes migratrias na ltima fronteira agrcola do Estado do Paran 4 MAIOR, L.S. Idem. p. 52.

Referncias BRAGNOLLO, R.; FERNANDES C.; SILVA, O. Toledo e sua histria. Projeto Histria. Prefeitura do municpio de Toledo, 1988. COLOGNESE, S; GREGORY, V; SCHALENBERGER, E. Tupssi do mito a histria. Cascavel: Edunioeste, 1999. GREGORY, V. Os eurobrasileiros e o espao colonial: migraes no oeste do Paran (1940 70). Cascavel: Edunioeste, 2002. MAIOR, Larcio Souto. Histria do Municpio de Assis Chateaubriand: o encontro das correntes migratrias na ltima fronteira agrcola do Estado do Paran. Maring: Clichetec Grfica e Editora, 1996. TAIT, Tnia Ftima Calvi. As excludas da histria: O olhar feminino sobre a formao de Maring. In: Dias, Reginaldo Benedito e Gonalves, Jos Henrique Rollo (org). Maring e o Norte do Paran: Estudos de Histria Regional. Maring: EDUEM, 1999. WACHOWICZ. Rui C. Obrageros, Mensus e colonos. Histria do Oeste Paranaense. Curitiba: Vicentina, 1987. HIGIENIZAO: UMA AO DE PRESERVAO DA MEMRIA E DO PATRIMNIO HISTRICO DE CAMPO MOURO Cinthian Aparecida Baia, IC-Fecilcam/Fundao Araucria, Geografia, Fecilcam, [email protected] Fbio Andr Hahn (OR), Fecilcam, [email protected] Frank Antonio Mezzomo (CO-OR), Fecilcam, [email protected] A conservao dos Processos Cveis da comarca de Campo Mouro entre os anos de 1961-1963, que se encontra junto ao grupo de pesquisa Cultura e Relaes de Poder, preocupa pela precariedade do estado do papel, que de fcil deteriorao. Embora com toda a tecnologia atual, o papel ainda representa a maior parte das informaes contidas em bibliotecas e arquivos. Dessa forma, preciso ressaltar a importncia da preservao desses processos, pois o papel em si necessita de cuidados especiais para assegurar a integridade das informaes nele contidas, a fim de permitir escrever e reescrever a nossa histria local e regional. A preservao da memria e do patrimnio histrico passou a ser uma preocupao no Brasil a partir da dcada de 1930. Nos anos de 1970 surgiu um grande nmero de centros de documentao, externando a preocupao com a preservao das fontes da histria local e regional. Seguindo esse caminho, foi criada na Fecilcam uma linha de pesquisa intitulada Estudos e Organizao de Acervos Documentais, no qual foram vinculados alguns projetos de Iniciao Cientfica Jnior e Iniciao Cientfica, entre os quais faz parte esse projeto intitulado Preservao Documental: Tratamento dos processos Cveis da Comarca de Campo Mouro (1961-1963). Com essa iniciativa, procurou-se dar destino adequado aos processos cveis doados no ano de 2004, para a Faculdade Estadual de Cincias e Letras de Campo Mouro, na ocasio do convnio estabelecido entre a Comarca de Campo Mouro e a FECILCAM. Nesse sentido, teve incio o trabalho de definio de um local adequado para o tratamento dos processos, entendendo que na prtica ainda no existe a consolidao de um centro de documentao e um espao pblico para preservao da memria e do patrimnio histrico em nossa regio. A partir do momento que se definiu um local adequado para o tratamento dos documentos, deu-se inicio ao primeiro passo deste trabalho, que foi uma formao tcnica e terica para o manejo adequado desses processos no Ncleo de Documentao, Informao e Pesquisa (NDP) da Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), no ms de abril de 2008. 139

Tendo um local adequado para a elaborao deste projeto e a realizao da capacitao para o manejo, foi possvel seguir para a etapa de ordenao primaria, fase j concluda. Essa primeira etapa permitiu ter uma noo geral dos processos, alm de proporcionar uma organizao cronolgica e temtica, a fim de higienizar os processos. A terceira etapa a higienizao da documentao, que corresponde retirada da poeira e outros resduos estranhos aos documentos, por meio de tcnicas apropriadas, com vista sua preservao. Sendo assim, defini-se higienizao como a arte de limpar os documentos de agentes agressores. Com isso, para a higienizao desses documentos o mtodo adotado segue os passos indicados por Marina Mayumi Yamashia e Ftima Aparecida Colombo Paletta, que prev os seguintes procedimentos: passar pincel no documento de modo que possa remover o p e outras sujidades superficiais; retirada de adesivos, etiquetas e outros corpos estranhos do papel; usar bisturi para remoo, nos casos em que tiver insetos, alimentos e outras sujidades mais difceis de serem removidas; retirada do clips quando o documento tiver apoio sobre a mesa, de modo que no danifique o papel em casos de estar oxidado; passar pincel ou trincha sobre o documento, de modo que remova sujidades da oxidao; retirar o grampo com auxlio da esptula; ao retirar o grampo, passar a trincha ou pincel no documento, procurando remover a oxidao; passar saquinho com p de borracha para retirar as manchas no documento. Essa etapa que est em andamento, tendo aproximadamente 60% dos processos cveis entre os anos de 1961-1963 j higienizados. Esse um processo indispensvel para a conservao documental, tendo em vista que a higiene dos processos permitir uma maior vida ao documento, matria-prima para entender a nossa histria. Passada a etapa da higienizao, apresenta-se necessidade de tratamento primrio dos processos. Esse tratamento consta do arquivamento em caixas especficas de arquivo, possibilitando uma organizao inicial para o trabalho das etapas seguintes, que no constam entre os objetivos desse projeto, que a organizao secundria, catalogao e descrio dos autos. Essas seqncias citadas permitem um melhor planejamento de uma boa restaurao e preservao dos processos jurdicos, parte essencial do patrimnio histrico de Campo Mouro. Com isso, mantendo viva parte da nossa histria e de nossa cultura. Referncias BELLOTTO, H. L.; CAMARGO, A. M. A. A Ordenao Interna dos Fundos. In: Arquivos permanentes: tratamento documental. So Paulo: T. A. Queiroz, 1991, p. 92-102. CASSARES, N. C.; MOI, C. Como fazer conservao preventiva em arquivos e bibliotecas. So Paulo: Arquivo do Estado: Imprensa Oficial, 2000. SILVA, Z. L. O Centro de Documentao e Apoio a Pesquisa, um Centro de Memria Local?. In: Arquivos, Patrimnio e Memria. Trajetrias e perspectivas. So Paulo: Editora Unesp, 1999. TESSITORI, V. Como implantar centros de documentao manual. So Paulo: Associao de Arquivistas de So Paulo (ARQ-SP), mimeo, 2001. YAMASHIA, M. M. & PALETTA, F. A. C. Preservao do patrimnio documental e bibliogrfico com nfase na higienizao de livros e documentos textuais. In: www.arquivstica.net, Rio de Janeiro, v.2, n.2, p. 172-184, ago.dez. 2006. Acesso em 05 de Julho de 2008. PODER, TICA, CIDADANIA E O INFERNO DE DANTE Walmir Ruis Salinas, TIDE, Cincias Sociais, Fecilcam, [email protected] Historicamente poder e tica no tm tido uma relao harmoniosa, o que acaba obstruindo, necessariamente, a construo da cidadania. Pretende-se com esse texto demonstrar a verdade da afirmao supra citada, atravs do confronto de conceitos e a constatao de fatos ao longo da histria em diversas instncias de poder. Quando se deseja debater poder, tica e cidadania de uma s vez, h um campo que congrega esses trs itens, a poltica. Palavra de origem grega, que significa cidade, podendo estender seu significado para a arte de governar a cidade ou a Res Pblica. Na organizao da cidade, os gregos tiveram uma preocupao de mold-la a partir de elementos ticos. Esse fato no mero acaso, uma vez que tica vem do termo Ethos (grego) que significa ambiente, moradia. Aristteles usa esse termo para designar a arte de cultivar e desenvolver um ideal de Bem e Justia, pontos essenciais para o alcance da virtude. Tendo indivduos virtuosos, a base para uma sociedade slida e sadia estaria garantida, uma vez que pela justia e pelo bem, estaria garantida a possibilidade de desenvolvimento das potencialidades do individuo (Bem), com potencialidade para todos (justia). O que, a princpio parece uma sociedade perfeita, mascara o erro de base que d garantias apenas uma parcela da populao, o cidado, ou seja, homens acima de 35 anos. O que deveria ser o bero de uma democracia plena, na verdade o alicerce de uma sociedade que plenifica uma minoria e discrimina a maior 140

parte de sua populao. Como saber no se equivale necessariamente sabedoria, talvez nas palavras de trabalhadoras do campo, haja mais esprito de justia na sua concepo de que poltica, do que um grande filsofo: poltica o jeito de organizar a sociedade, a luta pelo bem de todos, a luta daqueles que, sem dio e sem desejo de mando e de poder, mas no esprito de justia e fraternidade, buscam as mudanas necessrias para a igual participao de todos. (CADERNO DE EDUCAO POLTICA, p.25, 1981) No mesmo contexto do termo poltica, nasce o termo cidadania, isto , prestigiando o morador da cidade, que para ter uma vida organizada, deve ser guiado por normas regulamentadoras dos direitos e deveres. Sendo assim, a cidadania ser o conjunto de direitos e deveres estabelecidos na lei e nos sistemas polticos institudos no pas. Princpio este, reforado nos moldes da democracia moderna defendida pelos iluministas, portanto refm da ideologia burguesa. A essa concepo, Dom Cndido Padin (QUEIROZ, 1985) apresenta uma crtica, oferecendo um segundo enfoque para cidadania, onde o cidado visto a partir de valores ticos. uma concepo que estabelece a subordinao do poltico e do jurdico ordem tica, onde o cidado encarna uma determinada forma de sociedade historicamente condicionada. Sob essa tica, no podemos ser minimalistas e inocentes e acreditar que a declarao universal dos Direitos do Homem estabelecidos pela ONU, bem como as leis estabelecidas nas constituies nacionais, sero suficientes para dar garantias de cidadania plena. Cidadania no presente, conquista, assim retratada por Leonardo Boff: Cidadania o processo histrico-social que capacita a massa humana a forjar condies de conscincia, de organizao e de elaborao de um projeto e de prticas no sentido de deixar de ser massa a passar a ser povo, como sujeito histrico plasmador de seu prprio destino. (p 51, 2000) Na relao Estado/cidado, a abordagem sobre poder torna-se inevitvel. O poder por si s no necessariamente um problema. De certa forma todos temos alguma forma de poder, principalmente quando se entende o poder como capacidade para realizar algo, usando algum tipo de fora. O problema que nem sempre o uso dessa fora feito de forma positiva. Nota-se que em muitos casos as pessoas usam o poder para a auto promoo e no buscam o bem comum. A poltica brasileira recheada de casos assim. Pode-se tomar por exemplo recente a manobra que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez para aprovar a reeleio. Ficou claro, ali, que no era uma questo de principio, mas sim de interesse pessoal, porm foi uma ao legal, uma vez que o congresso a aprovou. H tambm o caso do mensalo, e outros mais para todos os gostos. No uso do poder comum confrontar, o que a principio no ruim, o problema quando causa desproporo e dominao: ...at mesmo nas foras psquicas e morais se convertem em imposio perversa quando, por meio da ideologia, grupos so levados a pensar, sentir e querer da maneira que interessa a uma elite. (ARANHA e MARTINS, p 258, 2005). Onde entra o Inferno de Dante nisso tudo? Dante Aligheri, poeta da primeira fase do renascimento escreveu o clssico A Divina Comdia, dividida em trs temas: Inferno, Purgatrio e Paraso. Com a desculpa de homenagear a sua amada Beatriz, faz uma crtica mordaz sociedade italiana de ento. Guiado pelo poeta Virgilio, ele percorre o inferno, que dividido em vrios nveis, compatveis com cada conjunto de pecados cometidos pelo individuo. O que chama a ateno o fato dele, apesar de toda represso, colocar membros da Igreja e da poltica numa parte profunda do inferno (quanto mais fundo, pior o tipo de inferno). O argumento usado por Dante claro e direto: essas pessoas deveriam, pela funo que ocupam promover o outro, isto , Estado e Igreja deveriam oferecer e oportunizar uma condio melhor material e espiritual, respectivamente. Em vez disso, conscientemente, buscavam a auto-promoo em detrimento de seus seguidores. Poder, tica e cidadania deveriam formar um conjunto que gerasse garantias mnimas para todo ser humano. Os dirigentes institucionais deveriam ter conscincia que ocupam um papel importante nesse processo. Fico imaginando se Dante fosse escrever a sua obra hoje, em que lugar ele colocaria nossos dirigentes. Formamos um grupo, hoje na FECILCAM, com a finalidade de se chegar a uma ao, a partir de uma reflexo exaustiva, visando a promoo do homem, resgatando e, coletivamente, construindo o que este tem de melhor, a humanidade. Essa ao apenas uma semente, o tempo dir se dar frutos ou morrer no caminho, uma vez que o processo no impositivo, mas sim escolhido e coletivamente construdo. Tenho conscincia que as reflexes aqui feitas so precrias, porm, espero que sirvam para debates maiores e mais profundos. Refrncias Bibliogrficas ARANHA, M.L. de Arruda e MARTINS, M.H.Pires. Temas de Filosofia.3. ed., So Paulo: Moderna, 2005. BOFF, Leonardo. Que Brasil Queremos? Petrpolis: Vozes, 2001. CADERNO DE EDUCAO POLTICA 1. Curitiba: Grfica Vicentina, 1981. MANZINI-COVRE. Maria de Lourdes. O Que Cidadania. 3. ed., So Paulo: Brasiliense, 1994. QUEIROZ, Jos J.(org). tica no mundo de Hoje. So Paulo: Paulinas, 1985.

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ORGANIZAO, CATALOGAO E DESCRIO DOS AUTOS DA VARA CIVIL DA COMARCA DE CAMPO MOURO (1961 1963) Lara de Ftima Grigoletto Bonini, IC-Fecilcam/Fundao Araucria, Geografia, Fecilcam, [email protected] Frank Antonio Mezzomo (OR), [email protected] O projeto em desenvolvimento vem ao encontro falta de prticas e aes voltadas preservao da memria. perceptvel o pouco zelo em alguns rgos pblicos e privados que, em nome da agilidade e da falta de espao, passam a nortear prticas como da eliminao, descarte e incinerao de documentos histricos. Tendo conhecimento destes procedimentos alheios histria busca-se, por meio desta pesquisa, fomentar estudos, debates e conscientizao social, em torno de questes como preservao, memria e patrimnio. Inicialmente, necessrio esclarecer sobre o convnio firmado entre a Faculdade Estadual de Cincias e Letras de Campo Mouro FECILCAM e o frum da Comarca desta mesma cidade, cujo compromisso da instituio educacional implicou na guarda e conservao dos autos da vara civil. O que representou a liberao de espao fsico para o frum, significou a possibilidade de manusear e tratar a valiosa fonte de pesquisa por acadmicos, pesquisadores e toda comunidade. O projeto est ligado ao grupo de pesquisa Cultura e Relaes de Poder, cuja linha Estudos e organizao de acervos documentais, pretende abrir espao para discusso de questes tericas e metodolgicas voltadas organizao de arquivos e sua conseqente anlise. Assim, como conseqncia, busca-se fornecer aporte tcnico no tratamento arquivstico, seguindo procedimentos de higienizao, tratamento, arranjo, descrio e publicao de guias de pesquisa como catlogos, listagem de documentos e digitalizao do acervo documental. Destarte, o objetivo primordial do projeto de pesquisa, consiste na conservao do acervo documental atravs da organizao, catalogao e descrio dos autos da vara civil da Comarca de Campo Mouro. Aps esta etapa, busca-se elaborar listagens e catlogos descritivos contendo informaes sobre os autos a fim de viabilizar e agilizar o acesso s informaes contidas nos processos civis. O tratamento dessa documentao permite, a mdio prazo, desenvolver uma prtica de reflexo histrica sobre a histria regional e as implicaes da construo da memria coletiva na regio Centro Ocidental do Paran, afinal a histria do municpio muito recente e as fontes para estud-la ainda so pouco conservadas e conhecidas. Ao percorrer esses objetivos, a descrio documental revelar jogos discursivos de saberes e poderes, o conhecimento da multiplicidade de sujeitos sociais e experincias, e das relaes que moldaram vidas e levaram tais sujeitos, em determinados momentos, a ocuparem um lugar na trama jurdica e na trama histrica (CHALHOUB, 1986, p. 22 23). Vale destacar que a concepo de histria presente trs baila a preocupao com a democratizao dos sujeitos histricos e, para tanto, a explorao dos autos judiciais, uma entre outras expresses do patrimnio cultural, oferecem possibilidade de entendimento das relaes de poder presente na sociedade (MEZZOMO, 2008, p. 4). Dessa forma, mesmo os sujeitos que no deixaram registros especficos sobre determinados fatos, podero contribuir com o entendimento histrico do municpio e da sociedade que o compe. Como procedimento metodolgico para a catalogao e descrio dos autos, sero utilizadas fichas descritivas, para extrao de dados do processo como natureza jurdica, envolvidos, data de execuo e um resumo do auto contendo as principais informaes do mesmo. Segundo Belloto (1991, p. 9), as autorias, a caracterizao das tipologias de documento, a funo implcita, os assuntos, as datas, so fornecidas pela operao denominada, em arquivstica, descrio de documentos. Atravs da elaborao e utilizao de fichas descritivas, contendo as principais informaes do processo, tornar-se- possvel a elaborao de listagem e digitalizao do acervo documental. Esta exigncia arquivstica e legal busca garantir a preservao do auto, pois seu incorreto manuseio pode prejudicar crucialmente a massa documental histrica. Entre os resultados parciais consta visita ao Ncleo de Documentao, Informao e Pesquisa (NDP) da Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), campus de Toledo. O objetivo foi familiarizar os pesquisadores no manuseio de documentos escritos (identificando fontes de valor histrico, sries documentais, contextualizando texto, etc.) e com o uso adequado das tcnicas de pesquisa de campo e arquivamento (noes de arquivstica, biblioteconomia e microfilmagem). A visita tcnica ao Ncleo ocorreu em abril de 2008, promovendo a oficina de orientao tcnica na organizao e conservao dos autos. A fundamentao terica da pesquisa pautada sobre algumas concepes importantes norteadoras do desenvolvimento do trabalho, como a noo de documento e da crtica histrica. Conforme Le Goff (1995, p. 28) a histria nova nasce de uma revolta contra a histria positivista do sculo XIX e amplia o campo e concepo acerca do documento histrico: escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de escavaes arqueolgicas, documentos orais, etc. Uma estatstica, uma curva de preos, uma fotografia, um filme, um plen fssil, uma ferramenta, um ex-voto so, para a histria nova, documentos de primeira ordem. Porm, alm da ampliao da concepo de documento necessrio tambm analis-lo atravs da crtica interna, que se ocupa do valor objetivo do depoimento, dado pelo documento. Geralmente utilizada sob 142

o nome de Hermenutica ou a arte de interpretar (BESSELAAR, 1972, p. 186), afinal, todo documento produzido por sociedades histricas que pretenderam repassar uma determinada imagem de si prprias no podendo ser compreendido o documento como ontologicamente verdadeiro. Cabe ressaltar que o projeto est em plena fase de desenvolvimento, no possuindo resultados e concluses finais. A primeira etapa constitui-se de discusses e levantamentos de textos terico-metodolgicos estando, neste momento, dedicando-se a pesquisa de levantamento do acervo, ou seja, na localizao, identificao, seleo e registro das fontes sendo composta pela organizao, catalogao e descrio dos autos. Mesmo em termos iniciais, a pesquisa se destaca pela importncia que ressalta quanto memria, histria e, conseqentemente, ao direito de todos os cidados ao passado. Sendo o desafio fazer com que experincias silenciadas, suprimidas ou privatizadas da populao se reencontrem com a dimenso histrica (PAOLI, 1992 p. 25). Assim, a tarefa do acadmico/pesquisador adquire a feio cientfica e social, em prol da pesquisa histrica e da prpria comunidade. Referncias BELLOTTO, Helosa (et al). A ordenao interna dos fundos. In: Arquivos permanentes: tratamento documental. So Paulo: T. A. Queiroz, 1991. BESSELAAR, Jos Van Den. Introduo aos Estudos Histricos. 3 ed., So Paulo: Herder, 1972. CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim. So Paulo: Brasiliense, 1986. LE GOFF, Jacques. A Histria Nova. 3 ed., So Paulo: Martins Fontes, 1995. MEZZOMO, Frank Antonio; HAHN, Fbio Andr. Tratamento, catalogao e descrio dos autos da vara civil da comarca de Campo Mouro. Anais do IX Encontro Regional da Associao Nacional de Histria ANPUH/PR Patrimnio Histrico no Sculo XXI. Jacarezinho, 2008. PAOLI, Maria Clia. Memria, historia e cidadania: o direito ao passado. In: CUNHA, Maria (org). O Direito Memria: Patrimnio Histrico e Cidadania. So Paulo: DPH, 1992. LOCALIZAO E ANLISE DOS FIXOS RELIGIOSOS PRESENTES NO CENTRO DA CIDADE DE CAMPO MOURO PR Lara de Ftima Grigoletto Bonini, IC-Fecilcam/Fundao Araucria,Geografia, Fecilcam, [email protected] Frank Antonio Mezzomo (OR), [email protected] Maristela Moresco (CO-OR), [email protected] O presente estudo pretendeu analisar a presena de elementos religiosos e suas influncias na vida citadina. Segundo ROSENDAHL (2003, p. 194) a experincia religiosa ao mesmo tempo individual e coletiva, possui um significado original para cada devoto e se torna coletiva quando as crenas, as atitudes e as interpretaes simblicas so partilhadas. Essa forma comunitria da religio organizada pelas igrejas, templos, sinagogas e mesquitas, isto , boa parte da vida religiosa ocorre nos fixos religiosos. Para avaliar e compreender essa relao entre o fixo e a cidade utilizou-se a dialtica religio-espao, tema ainda pouco abordado na cincia geogrfica. Para tanto, a pesquisa pautou-se sobre a premissa da ao religiosa na caracterizao da paisagem. De acordo com Santos (1998, p. 61) a paisagem pode ser apreendida pela visibilidade porque tudo aquilo que se v, o que nossa viso alcana a paisagem. J o espao o resultado da ao dos sujeitos que configuram a paisagem, ele a sntese, sempre provisria, entre o contedo social e as formas espaciais, assim como, a ao da sociedade no momento atual, como a reunio dialtica de fixos e fluxos. Para Santos (1999, p. 45) os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem aes que modificam o prprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condies sociais, redefinem cada lugar. Dentro deste contexto, foi adotado um recorte espacial para identificar a presena e a quantidade de elementos religiosos e entender como estes fixos esto sendo vistos ou utilizados no momento atual da sociedade. Foi escolhido o centro da cidade de Campo Mouro, que possui 4,30 Km2 e est delimitado ao Norte pela Avenida Jorge Walter, ao Sul pela Avenida Jos Custdio de Oliveira e Rua Miguel Luis Pereira, a Leste pela Avenida Afonso Botelho e Rua Vila Rica, e a Oeste pela Avenida Joo Xavier1. Na rea central circula diariamente, um nmero grande de pessoas, inclusive das cidades circunvizinhas, que se deslocam para trabalhar ou que esto em busca dos servios oferecidos, pois ali se concentram as principais atividades comerciais, servios de gesto pblica e privada, terminais de transporte intra-urbanos, entre outros. Neste espao foi averiguado a existncia de inmeros fixos religiosos de diversas religies como a catlica, protestantes histricos, pentecostais, neopentescotais, religiosidades difusas e lojas que vendem artigos religiosos 2. Uma caracterizao prvia do municpio possibilitou compreender os condicionantes histricos, polticos, econmicos e sociais, bem como foi possvel verificar que a religio sempre esteve presente na constituio e formao da cidade. Porm, de acordo com um levantamento bibliogrfico realizado nas 143

bibliotecas municipais, no existem referncias completas sobre os fixos religiosos, da que o pioneirismo do presente de grande valia na anlise da caracterizao da paisagem do municpio. Feita esta caracterizao, a seqncia da pesquisa debruou-se em realizar um intensivo levantamento de todos os fixos religiosos (igrejas, estabelecimentos comerciais e instituies de ensino) sendo possvel compreender a dimenso que a religio ocupa no centro da cidade de Campo Mouro, totalizando 55 fixos pontuados. Desses, 42 so instituies religiosas, 7 so estabelecimentos comerciais, 3 so instituies de ensino e os outros 3 so estabelecimentos desativados. Aps o levantamento emprico de cada um destes fixos foi confeccionado um mapa de localizao (croqui) elaborado no software Auto Cad para demonstrar a localizao de cada fixo no centro do municpio3. A prxima etapa dos trabalhos compreendeu na visitao in loco para a realizao de entrevistas com os responsveis pelos fixos: padres, pastores (as), lderes, proprietrios (as) dos estabelecimentos comerciais, diretores (as) das instituies de ensino, enfim, queles que poderiam responder de maneira completa s questes pertinentes ao histrico do fixo, como data de fundao, responsveis pelo seu funcionamento, referenciais econmicos, assistenciais, atividades desenvolvidas, dentre outras. Com a anlise das informaes concedidas e todo o levantamento bibliogrfico, foi possvel tecer consideraes importantes para averiguar como esses elementos caracterizam e demarcam a paisagem do centro da cidade. O municpio, dentre os que compem a Mesorregio Centro-Ocidental Paranaense, o que apresenta o melhor desenvolvimento scio-econmico, nesse aspecto possvel verificar a transformao do espao, colocando as religies dentro de uma nova dinmica espacial, marcadamente secularizada, fazendo conviver o novo com o velho, o pblico com o privado, fixos e fluxos, bem como objetos e aes de mltiplas naturezas (PASSOS, 2006, p. 11). Assim, a localizao de um fixo religioso instiga uma esfera mgica de devoo e respeito em meio urbanizao e a vida agitada da cidade com suas formaes sociais contraditrias. Contendo os traados de instituies de temporalidades passadas, convivendo com a construo e reconstruo de novas paisagens e espaos religiosos. Segundo ROSENDAHL (1996, p. 33), Inicialmente, por seu aspecto exterior, ela (a igreja) se distingue dos outros locais de reunio e dos outros centros da vida coletiva. A partir de discusses, foi constatado que o campo religioso sofre transformaes constantes, e que essas podem levar fragmentao institucional e intensa circulao de pessoas pelas novas alternativas religiosas. Em Campo Mouro a Igreja Catlica e outras evanglicas tradicionais so as que apresentam uma temporalidade de longa durao, entretanto, foi sentida uma maior mobilidade entre as igrejas pentecostais e neopentecostais e de pequenos comrcios de bens religiosos que, dependendo da fora do mercado, encerram as atividades ou ressurgem no meio citadino. Portanto, relevante ressaltar que um mesmo fixo pode caracterizar locais divergentes, pois h casos em que mesmo quando a instituio religiosa fecha ou reabre em outra localidade ficam vestgios de sua passagem no local original, tanto em aspecto fsico, como arquitetura conservada, quanto espiritual, pois alguns fiis continuam tendo aquela paisagem como um referencial. Foram averiguadas, tambm, instituies que possuem sedes institucionais em outras localidades. Nessas, alguns ritos, narrativas religiosas e objetos permanecem como os da instituio de origem, porm em outros aspectos h uma maior flexibilidade e adaptao nova realidade, como novos pastores e dirigentes e sobre o contexto cultural, social e econmico dos freqentadores daquela regio especfica. So utilizados smbolos com o intuito de se destacar perante as demais e convidar novos membros, esses smbolos geralmente esto vinculados resoluo de algum problema crucial como doena ou desemprego, h rosas consagradas, cartas com leo ungido, etc. Quando se trata em chamar ateno de jovens, feito apresentaes-show com bandas e cantores, congressos e acampamentos com seminaristas. H missas carismticas com muitos louvores e cultos com a presena de algum dolo gospel. Essa simbologia solucionadora de grande parte dos problemas tambm pode ser encontrada em alguns comrcios. Os estabelecimentos de venda de bens simblicos so especializados em cada denominao religiosa, que vendem desde livros, velas, imagens, cds, etc. at produtos denominados msticos/esotricos como cristais, baralhos de tar, imagens de duendes, incensos, etc. Aps toda a discusso em torno dos elementos religiosos na composio do municpio, mostrou-se ntido a reapropriao e a ressignificao do espao perante essa simbologia fixada no centro de Campo Mouro, tornando-se um componente ativo que se sobressai diante da vida cotidiana e que influencia constantemente a entrada e sada de fluxos renovados. A pluralidade religiosa existente uma motivao para se refletir sobre a representatividade que a religio ocupa nos indivduos. A distino entre os fixos religiosos permitiu tecer consideraes sobre o fenmeno religioso e sua insero social. Toda essa reflexo perante a caracterizao que os fixos religiosos atribuem a localidade de extrema importncia. Alm de a descrio realizada registrar historicamente os fixos existentes, ainda oferece material emprico de valor inestimvel para futuras pesquisas. Assim, o objetivo primordial da pesquisa foi alcanado, pois os elementos religiosos no s caracterizam a paisagem, mas tambm influem de forma direta na vivncia citadina, demarcando o territrio e instigando uma nova viso sobre a regio central de Campo Mouro. uma provocao para o pesquisador a 144

adquirir um olhar analtico sobre esses pontos referenciais e suas interferncias nos agentes sociais que ali percorrem e na paisagem como um todo. NotasDados obtidos na Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura Municipal de Campo Mouro. vrias dimenses da religio no so percebidas apenas em termos de devoo e busca de significados para a vida, mas tambm como formas pragmticas de se ganhar a vida atravs de verdadeiras redes de comrcio e atividades econmicas. (GUERRIERO, 2006, p.38). 3 A confeco do mapa de localizao (croqui) elaborado no software Auto Cad s foi possvel devido o auxlio imprescindvel do professor Mrcio Carvalho do departamento de Engenharia de Produo Agroindustrial da FECILCAM e do estudante do 4 ano de geografia Helton Rogrio Menezes da FECILCAM.2As 1

Referncias GUERRIERO, S. Em busca das vivncias religiosas na metrpole: um olhar sobre o centro antigo de So Paulo. REVISTA RELIGIO E CULTURA, So Paulo, vol. V, n. 9, jan/jun de 2006. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos da Metodologia Cientfica. 6 ed. So Paulo: Atlas, 2006. PASSOS, Joo Dcio. O centro antigo de So Paulo entre o sagrado e o profano: consideraes sobre a religio como espao e paisagem. REVISTA RELIGIO E CULTURA, So Paulo, vol. V, n. 9, p.09-36, jan/jun. 2006. ROSENDAHL, Z. Espao e religio: uma abordagem geogrfica. Rio de Janeiro: UERJ, NEPEC, 1996. -----. Espao, cultura e religio: dimenses de anlise. In. CORRA, R. L., ROSENDAHL, Z. (orgs.). Introduo Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. SANTOS, M. A Natureza do Espao: Tcnica e Tempo Razo e Emoo. 3. ed. So Paulo: Hucitec, 1999. -----. Metamorfose do espao habitado. 2. ed. So Paulo: Hucitec, 1998. O USO DAS LEIS NA VENEZUELA EM FAVOR DO FORTALECIMENTO DO ESTADO. Joyce Berti Publio, PIBIC-UEM/Fundao Araucria, Histria, UEM, [email protected] Prof. Dr. Jos Flvio Pereira (OR), UEM, [email protected] Prof. Me. Itamar Flvio da Silveira (CO-OR), UEM, [email protected] Num momento em que boa parte dos pases vivem a consolidao da democracia a Venezuela vai gradativamente destruindo os valores democrticos e os princpios da economia de mercado. A chegada de Hugo Chvez presidncia deu inicio a uma sucesso de medidas polticas e econmicas que vem cerceando a liberdade da populao. O atual quadro poltico daquele pas demonstra que as aes do governo buscam a centralizao das decises nas mos da presidncia da repblica. Podemos dizer que, ao longo das ltimas dcadas, a busca maior dos povos civilizados foi procurar formas sociais mais livres, enquanto isso, naquele pas, est em processo de consolidao um regime que forja a formao de uma ideologia nacional-socialista. Na esteira de um governo autoritrio, com tendncia a tornar-se totalitrio, h uma supresso gradativa das liberdades individuais. As restries no se detm somente ao aspecto poltico, mas se estende por todos os segmentos afetando da sociedade. Com o objetivo de construir o socialismo do sculo XXI, como o prprio Chvez chama seu programa de governo, ele modifica as leis a seu favor ao mesmo tempo em que consegue apoio dos venezuelanos pobres com medidas populistas. As divergncias entre a poltica liberal e a totalitria se baseiam na dade liberdade e poder. Os liberais buscam manter a liberdade individual e conseqentemente restringem a interveno do Estado na economia e na vida privada das pessoas, enquanto um governo totalitrio faz o contrrio, buscando de todas as formas acumular poder e restringir as liberdades individuais. Podemos entender que liberdade dentro da sociedade democrtica regida por leis, a ausncia de coero. A coero seria obrigar qualquer pessoa a fazer ou deixar de fazer algo espontneo dentro dos seus interesses. Para os defensores do mercado quanto menos o Estado intervir nas decises dos indivduos mais a sociedade alcanar a prosperidade. Essa sociedade livre e democrtica, defendida pelos autores liberais, tem como pilastra o livre intercmbio de mercadorias entre as pessoas e as naes. O escritor Og Francisco Leme, em conformidade com Adam Smith, afirma que natural a necessidade da troca para o ser humano onde cada um deve fazer a sua maneira e como lhe convier, pois cada um visa seu benefcio prprio sendo intil a espera da benevolncia alheia. Dentro de uma sociedade livre, a lei deve garantir a liberdade para o homem. Essa garantia de liberdade a chance que o homem tem para buscar a si mesmo e concretizar seus desejos, ou seja, buscar a diferena e individualidade entre seus pares para que haja um desenvolvimento pessoal. 145

A liberdade a primeira pea do quebra-cabea que compe a sociedade humana e por conseqncia move o mundo. Leme nos resume bem essa importncia: A liberdade o ambiente que a condio humana exige. E o exige no apenas para que cada um se encontre a si mesmo (se identifique), mas tambm para que processe a sua humanizao e desenvolva seu potencial. (Leme, 1988, p.33). Para que cada homem contribua para o desenvolvimento da sociedade necessrio que ele possa desenvolver seu projeto de vida, e a realizao deste projeto depende da liberdade a ele concedida. A liberdade na economia gera o aumento de bens e servios que satisfaz as necessidades humanas graas ao incremento da diviso do trabalho que, segundo Smith, cada trabalhador pode se especializar aumentando assim a produtividade. Com a ateno voltada para um nico trabalho o homem busca aperfeioar seus instrumentos. Se o agravante da vida do homem a escassez de bens necessrios para a sobrevivncia, a soluo est na acentuao da diviso do trabalho, aumenta-se a produtividade do trabalhador e conseqentemente a quantidade de produtos ofertados. A diviso do trabalho expressa a especializao do processo produtivo que gera trocas a nveis internacionais. O sistema econmico que mais trouxe progresso para a humanidade foi o capitalismo. A diviso do trabalho e a produo em larga escala proporcionaram, a populao em geral, acesso a bens e servios que elevaram o consumo e o padro de vida. Para que isso acontea de forma contnua no pode haver restries. Os fatos evidenciam que a doutrina liberal a que mais se adqua realidade humana, pois alm de permitir um maior crescimento da riqueza, proporciona liberdade poltica e econmica, igualdade perante a lei, competio, etc. Para que haja a livre circulao de mercadorias preciso um Estado mnimo. Em outras palavras necessrio um governo que no t