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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do Trypanosoma cruzi com diferentes fenótipos de resistência ao benzonidazol Tiago Ferreira Leal Ouro Preto 2010

Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

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Page 1: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Análise bioquímica inicial do proteassoma em

populações do Trypanosoma cruzi com

diferentes fenótipos de resistência ao

benzonidazol

Tiago Ferreira Leal

Ouro Preto

2010

Page 2: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

Catalogação: [email protected]

L435a Leal, Tiago Ferreira.

Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do Trypanosoma

cruzi com diferentes fenótipos de resistência ao benzonidazol [manuscrito] /

Tiago Ferreira Leal. - 2010.

xiii, 73 f.: il., color.; grafs., tabs.

Orientadora: Profa. Dra. Renata Guerra de Sá.

Co-orientador: Prof. Dr. Milton Hércules Guerra.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto.

Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências

Biológicas.

Área de concentração: Bioquímica Estrutural e Fisiológica.

1. Tripanossomo - Teses. 2. Drogas - Resistência - Teses. I. Universidade

Federal de Ouro Preto. II. Título.

CDU: 616.937

Page 3: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

Tiago Ferreira Leal

Análise bioquímica inicial do proteassoma em

populações do Trypanosoma cruzi com

diferentes fenótipos de resistência ao

benzonidazol

Dissertação submetida ao programa de Pós-

Graduação em Ciências Biológicas do Núcleo de

Pesquisa em Ciências Biológicas da Universidade

Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos

requisitos para obtenção do título de Mestre em

Ciências Biológicas, área de concentração

Biologia Molecular.

Orientação: Dr.ª Renata Guerra de Sá

Co-orientação: Dr. Milton Hércules Guerra

Ouro Preto – MG

Junho de 2010

Page 4: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

iii

Tudo o que somos é resultado do que pensamos.

Se uma pessoa fala ou age com mau pensamento, o sofrimento a segue como as rodas seguem

o pé dos bois que puxam o carro.

Se a pessoa fala ou age com pensamento puro, a felicidade a segue, como a sombra que nunca

a abandona.

(Budha)

Page 5: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

iv

AGRADECIMENTOS

A ``todos nós falhos, que acreditamos que o amor governa. Levantemo-nos e deixemos que

ele brilhe. ``

Aos meus pais, pelo amor;

À minha irmã querida, a primeira;

À Prof.a Dr.

a Renata Guerra de Sá, pela ousadia de nos entusiasmar a estudar bioquímica do T.

cruzi, além claro, de fazer-me apto em todos os aspectos que posso imaginar a seguir esta

carreira que tanto almejo;

Ao Prof. Dr. Elísio Alberto Evangelista, por sempre estar disposto a me ajudar,

principalmente com a tal proteólise endógena;

Ao Prof. Dr. Milton Hércules Guerra pelos ensinamentos (principalmente nos arranjos

técnicos) e ao Prof. Dr. Willian de Castro Borges pela compreensão de meus

questionamentos;

À Prof.a Dr.

a Marilene Demasi e toda sua equipe, que me receberam de portas abertas em seu

laboratório;

À Prof.a Dr.

a Silvane Murta, pelos parasitos, anticorpo e ajuda na confecção do artigo

referente a esta dissertação;

Ao Prof. Dr. Elio Hideo Babá, pela convivência tão agradável;

Aos demais professores do LBBM, Prof.a Dr.

a Maria Lúcia Pedrosa, Prof.

a Dr.

a Daniela

Caldeira Costa, Prof. Dr. Leandro Márcio Moreira, por terem escutado minhas reclamações ao

vento;

Aos demais Professores do Núcleo (NUPEB) que cederam gentilmente espaço e

equipamentos imprescindíveis à conclusão desta dissertação;

Page 6: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

v

À Roberta Versiano e Natália por serem tão especiais, da minha turma, mas que eu só

descobri quando fui trabalhar no LBBM.

À Karina Barbosa (Sandy), por alegrar a todos;

À Ni-chan por me agüentar no lab, na sua casa, na sua república. Grande conselheira;

À equipe do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular da UFOP, que participou da

minha formação científica: Matheus, Eneida, Ezequiel, Roberta D’angelo, Priscila, Cássio,

Helaine, Naiara (baiana), Roenick, Nayara, Leonardo (Pipeta), Leandro (Nerso), Leandro

(Bartira), Victor, Diego e Gustavo.

Aos colegas que fiz pelo corredor durante o mestrado;

A Cida;

À república Maracangalha que me manteve em pé durante estes sete anos que passei em Ouro

Preto e a todos Maracangalhanos com quem tive a oportunidade de conviver. Com certeza

hoje sou um homem muito melhor do que ontem;

Às instituições que colaboraram para a realização deste trabalho: Oswaldo Cruz, Butantã

CNPq, Capes, FAPEMIG e UFOP.

Page 7: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

vi

Dedico essa dissertação a todos.

Page 8: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

vii

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................................... VIII

LISTA DE TABELAS ......................................................................................................................................... IX

LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................................................. X

RESUMO ............................................................................................................................................................. XI

ABSTRACT ....................................................................................................................................................... XII

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 14

1.1 O Trypanosoma cruzi ........................................................................................................................ 15

1.2 Catabolismo proteico no T. cruzi ....................................................................................................... 16

1.3 O proteassoma .................................................................................................................................... 19

1.3.1 O proteassoma 20S ................................................................................................................... 20

1.3.2 O proteassoma e seus reguladores ........................................................................................... 22

1.4 Proteassoma em T. cruzi .................................................................................................................... 25

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................................... 29

2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................................... 30

2.2 Objetivos específicos .......................................................................................................................... 30

3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................................... 31

3.1 Populações de T. cruzi ....................................................................................................................... 32

3.2 Obtenção do extrato bruto ................................................................................................................. 33

3.3 Medida da atividade peptidásica do proteassoma 20S ...................................................................... 33

3.4 SDS-PAGE e ensaios de Western blot ................................................................................................ 34

3.5 Análise das proteínas oxidadas .......................................................................................................... 35

3.6 Eletroforese nativa do proteassoma ................................................................................................... 35

3.7 Determinação da taxa de proteólise intracelular não lisossomal ..................................................... 36

3.8 Análise estatística ............................................................................................................................... 36

4 RESULTADOS ....................................................................................................................................... 38

4.1 A atividade peptidásica do proteassoma ............................................................................................ 39

4.2 As populações apresentam níveis similares do proteassoma 20S e HslV .......................................... 41

4.3 Perfil de expressão dos reguladores Pa700 e PA26........................................................................... 43

4.4 Mobilidade eletroforética dos proteassomas nativos ......................................................................... 45

4.5 Perfil dos conjugados ubiquitinados .................................................................................................. 46

4.6 Perfil das proteínas oxidadas ............................................................................................................. 47

4.7 Degradação protéica intracelular, não lisossomal no T. cruzi .......................................................... 48

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................................................... 52

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................................................ 62

7 PERSPECTIVAS .................................................................................................................................... 64

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 66

Page 9: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ciclo de vida do T. cruzi.

Figura 2: Esquema geral da forma epimastigota do T. cruzi mostrando suas

principais estruturas celulares.

Figura 3: O proteassoma 20S.

Figura 4: Abertura dos poros dos anéis α pela ação dos ativadores do proteassoma

20S.

Figura 5: O proteassoma 26S.

Figura 6: A cascata de ubiquitinação.

Figura 7: Extrato bruto fracionado em SDS-PAGE gel 12%.

Figura 8: Expressão relativa da subunidade α7 do proteassoma 20S.

Figura 9: Expressão relativa do HslV.

Figura 10: Expressão relativa da subunidade RPN7 da partícula ativadora PA700.

Figura 11: Expressão relativa da subunidade PA26 da partícula ativadora PA26.

Figura 13: Perfil das proteínas conjugadas a ubiquitina.

Figura 14: Perfil das proteínas oxidadas.

Figura 15: Perfil das proteínas ubiquitinadas após a incubação na presença de

ubiquitina bovina e ATP.

Figura 16: Proteólise intracelular não lisossomal em T. cruzi.

Figura 17: Proteólise intracelular não lisossomal em Leishmania sp.

Page 10: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Atividade peptidásica do proteassoma 20S do T. cruzi.

Tabela 2: Inibição da atividade peptidásica do proteassoma 20S do T. cruzi.

Page 11: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ATP: Adenosina trifosfato

BCIP: 5-bromo-4-cloro-3 indolil-fosfato

Bz: Benzonidazol

Be-62: Berenice-62

Be-78: Berenice-78

Col: Colombiana

DMSO: Dimetilsulfóxido

DNA: ácido desoxirribonucléico

DNPH: 2,4-Dinitrophenylhydrazine

DTT: Dithiothreitol

DTU: Discrete typing units (Tybayrenc, 1998)

g: aceleração da gravidade

HCl: Ácido clorídrico

HslV: heat shock locus V

HslU: heat shock locus U

Ig: Imunoglobulina

kDa: quilo Dalton

kDNA: DNA mitocondrial dos Kinetoplastidae

LIT: Liver infusion tryptose

Page 12: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

xi

M: Molar

mA: Miliamper

MgCL2: Cloreto de magnésio

mL: Mililitro

mM: Milimolar

NaCl: Cloreto de sódio

NBT: Nitrobluetetrazolium

nm: Nanômetro

nM: Nanomolar

PA: Proteasome ativator

pH: Potencial hidrigeniônico

PM: Padrão de massa molecular

PSI: Proteasome Sintetyc Inhibitor

SDS: sódio dodecil sulfato

SDS-PAGE: sodium dodecyl sulfate polyacrylamide gel electrophoresis

Tris: Tris-hidroximetilaminometano

WHO: World Health Organization

µg: micrograma

µL: microlitro

ºC: Graus Celsius

Page 13: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

xii

Resumo

Diferenças na susceptibilidade ao benzonidazol (Bz) e nifurtimox (NFX) entre as

populações do Trypanosoma cruzi podem explicar, pelo menos em parte, as diferenças

na eficácia do tratamento da Doença de Chagas. O proteassoma tem um papel

importante na degradação de proteínas normais, danificadas, mutadas, ou desnaturadas,

incluindo a degradação de proteínas reguladoras das diversas vias celulares, tais como

ciclo celular e apoptose e proteínas danificadas em resposta ao estresse. Este trabalho

teve como objetivo geral analisar se o perfil de expressão e a taxa de proteólise

intracelular dependente de proteassoma são afetados pelo fenótipo de resistência às

drogas. Para isso, foram utilizadas populações de T. cruzi com o mesmo genótipo e

resistência induzida in vitro (17WTS / 17LER) e in vivo (BZS / BZR), bem como

diferentes genótipos, uma população susceptível (CL) e outra naturalmente resistente

(Colombiana) ao benzonidazol. Inicialmente os níveis do proteassoma 20S, proteassoma

símile HslV, PA700 e a PA26 foram avaliados por Western blot. Os resultados obtidos

mostraram que não há efeito do fenótipo das cepas sobre a quantidade relativa tanto do

proteassoma 20S, HslV, como dos seus reguladores. Posteriormente, as atividades

peptidásicas do proteassoma 20S foram avaliadas utilizando-se substratos

fluorogênicos. Foram observadas variações significativas na atividade semelhante à

quimotripsina, tripsina, e caspase do proteassoma, sendo que somente a atividade

semelhante à tripsina mostrou-se correlacionar com o fenótipo de resistência ao

benzonidazol. Finalmente foi avaliada a taxa de proteólise intracelular nas mesmas

populações, na presença de ATP, ATP e ubiquitina e ATP, ubiquitina e MG132, um

inibidor clássico do proteassoma 20 e 26S. Os resultados obtidos sugerem que a adição

de ubiquitina não induziu um aumento real na taxa de proteólise, além disso, observou-

se um aumento real na proteólise após 90 minutos de indução na presença de ATP,

sugerindo a coexistência de mecanismos de proteólise dependente de proteassoma e

independente de ubiquitina. Para corroborar essa hipótese, foram avaliados os níveis de

proteínas oxidadas e ubiquitinadas. Os resultados sugerem um perfil similar de proteína

ubiquitinadas e diferencial para as oxidadas. Em conjunto, os resultados obtidos nesse

trabalho sugerem que o steady state protéico em epimastigota é influenciado pela

resistência a droga. Futuros experimentos serão realizados para determinar quais

proteínas são os alvos naturais desta via metabólica.

Page 14: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

xiii

Abstract

Differences in susceptibility to benznidazole (Bz) and nifurtimox (NFX) among

populations of Trypanosoma cruzi may explain, at least in part, the differences in

efficacy of treatment of Chagas disease. The proteasome has an important role in the

degradation of normal proteins, damaged, mutated, or denatured, including the

degradation of regulatory proteins of different cellular pathways such as cell cycle,

apoptosis and damaged proteins in response to stress. This study intended to examine

whether the expression profile and the rate of proteasome-dependent intracellular

proteolysis are affected by the phenotype of drug resistance. For this, we used

populations of T. cruzi with the same genotype and resistance induced in vitro (17WTS

/ 17LER) and in vivo (BZS / BZR) and populations with different genotypes, a

susceptible (CL) and naturally resistant (Colombian) to benznidazole. Initially, the

levels of 20S proteasome, proteasome-like HslV, PA700 and PA26 were analyzed by

Western blot. The results showed no effect of the phenotype of the strains on the

relative amount of both the 20S proteasome, HslV, and their regulators. Subsequently,

the 20S proteasome peptidase activities were assessed using fluorogenic substrates. We

observed significant variations in activity chymotrypsin-like, trypsin-like, and caspase-

like of proteasome, and only the trypsin-like activity was shown to correlate with the

phenotype of resistance to benznidazole. Finally we evaluated the rate of intracellular

proteolysis in the same populations in the presence of ATP, ATP and ubiquitin and ATP

ubiquitin and MG-132, a classic proteasome 20 and 26S inhibitor. The results suggest

that the addition of ubiquitin did not induce a real increase in the rate of proteolysis, in

addition, there was an real increase in proteolysis after 90 minutes of induction in the

presence of ATP, suggesting the coexistence mechanisms of proteolysis proteasome-

dependent and independent of ubiquitin. To corroborate this hypothesis, we assessed the

levels of oxidized and ubiquitinated proteins. The results suggest a similar profile of

ubiquitinated protein and differential for the oxidized. Together, the present results

suggest that the steady state in epimastigote is influenced by drug resistance. Future

experiments will be performed to determine which proteins are the natural targets of this

pathway.

Page 15: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

14

1 Introdução

Page 16: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

15

1.1 O Trypanosoma cruzi

O parasito protozoário T. cruzi, agente causador da Doença de Chagas, foi

descoberto pelo médico e pesquisador brasileiro Carlos Chagas há 100 anos, porém a

doença continua endêmica na America Latina.

Este parasito flagelado, alterna seu ciclo de vida entre hospedeiros mamíferos e

insetos da família Reduviidae. Em seu ciclo biológico o T. cruzi apresenta-se nas formas

epimastigota, tripomastigota metacíclico no sistema digestório do inseto e na forma

amastigota e tripomastigota sanguínea nos mamíferos. Neste ciclo heteróxeno, o T.

cruzi passa por mudanças morfológicas complexas em sua jornada pelo hospedeiro

vertebrado e o inseto hematófago. Estes ambientes muito diferentes determinam o

aparecimento de inúmeras características adaptativas (BRENER, 1973).

Além do hospedeiro humano, um grande espectro de mamíferos pode ser infectado

e atuar como reservatório do parasito dificultando sua erradicação. Nos últimos tempos,

foram feitos avanços significativos no controle da transmissão vetorial nos países do Cone

Sul da América com a eliminação do principal vetor domiciliário T. infestans. Este fato

estimulou os países do grupo Andino e da América Central a iniciar campanhas para a

erradicação de outro vetor domiciliar, R. prolixus, obtendo-se um sucesso significativo

(MONCAYO & ORTIZ, 2006; WHO, 2002).

As populações do T. cruzi (também denominadas cepas) mostram um elevado

grau de variabilidade intra-específica detectada por marcadores biológicos, bioquímicos,

Figura 1: Ciclo de vida do T. cruzi. As diferentes formas

do T. cruzi ao longo de seu ciclo evolutivo no hospedeiro

vertebrado e invertebrado. Figura adaptada de Atwood III

et. al., (2005).

Page 17: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

16

imunológicos e genéticos. Dentre as características fenotípicas destacam-se diferenças

morfológicas, de infectividade em modelos experimentais, tropismo tissular e

suscetibilidade a quimioterápicos (MACEDO et. al., 1998).

Estudos que iniciaram a classificação das diferentes cepas foram baseados na

variabilidade isoenzimática de seis loci, e classificaram as populações do T. cruzi em

três zimodemas maiores denominados Z1, Z2 e Z3. Outros estudos analisaram

diferentes aspectos com o intuito de refinar esta classificação, utilizando, por exemplo,

outros 15 loci de isoenzimas, dimorfismo de regiões do gene de mini-éxon e do gene do

RNA ribossômico (rRNA) 24S, análise da estrutura genômica por RAPD (Randomly

Amplified Polymorphic DNA) e a genotipagem multilocus, entre outras (MILES et. al.,

1978; TIBAYRENC et. al., 1986; TIBAYRENC e AYALA, 1988; SOUTO et. al.,

1996; FERNANDES et. al., 1998; TIBAYRENC, 1998).

A necessidade de uma normatização da nomenclatura e classificação das

diversas populações reuniu uma comissão de peritos em Búzios, Brasil, no dia 23 de

agosto de 2009, precedendo o XIII Congresso Internacional de Protologia, a XXV

Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Protozoologia e da XXXVI Reunião Anual

de Pesquisa Básica em Doença de Chagas. Por consenso, esta comissão reconheceu que

a nomenclatura das cepas do T. cruzi deve ser classificada em seis DTUs, T. cruzi I-VI.

As DTUs foram estabelecidas para agrupar as cepas geneticamente relacionadas

identificadas por marcadores genéticos, moleculares e imunológicos (ZINGALES et.

al., 2009).

1.2 Catabolismo protéico no T. cruzi

As proteínas e aminoácidos são uma reserva energética para os parasitos, e a

endocitose é o mecanismo básico pelo qual macromoléculas são internalizadas. As

macromoléculas do meio extracelular e do sistema de ER-Golgi estão concentradas em

estruturas conhecidas como reservosomos nos epimastigotas. Essas organelas são

especialmente interessantes porque são encontradas exclusivamente no subgênero

Schizotrypanum, como os Trypanosoma cruzi, Trypanosoma vespertilionis e

Trypanosoma dionisii (SOARES et. al. 1992).

Page 18: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

17

Os reservosomos têm sido descrito como uma estrutura exclusiva de formas

epimastigotas, e no processo de transformação da forma epimastigota em tripomastigota

modificações na estrutura do reservossomo são observadas, como o desaparecimento

inicial das inclusões lipídicas e posterior desaparecimento da organela, de tal forma que

ela não é mais encontrada na forma tripomastigota (revisto por DE SOUZA, 2008).

Embora a absorção de lipídios e proteínas nunca tenha sido demonstrada em

ambos, tripomastigotas e amastigotas, organelas intracelulares que compartilham

características com o reservossomo foram recentemente descritas nestas formas do T.

cruzi encontradas nos mamíferos.

Como reservosomos, essas organelas estão concentradas na região posterior do

parasita, acumulam cruzipaína e seu inibidor natural chagasina além de uma serino

carboxipetidase. São ácidas e tem uma H+-ATPase do tipo P, indicando que esses

compartimentos estão intimamente relacionados. No entanto, elas diferem das

reservosomos na capacidade de armazenamento de macromoléculas externas. Estas

organelas têm provavelmente funções lisossomais, uma vez que lisossomos clássico

nunca foram identificados no T. cruzi, conjuntamente o proteoma do subfracionamento

dos reservosomos corrobora com esta evidencia (SANT’ANNA et. al. 2008 e 2009).

Figura 2: Esquema geral da forma epimastigota do T. cruzi

mostrando suas principais estruturas celulares. 1-

citóstoma, 2- axonema, 3- estrutura paraflagelar, 4- vacúolo

contrátil, 5- golgi, 6- bolsa flagelar, 7- cinetoplasto, 8- núcleo,

9- glicossoma, 10- nucléolo, 11- mitocôndria, 12-

acidocalcinoma, 13- reservossoma, 14- microtúbulos

bubpeliculares. Do campo, (1975)

Page 19: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

18

A principal protease do T. cruzi, a cruzipaína, uma cisteino protease, é muito

ativa em formas epimastigotas e está concentrada nos reservosomos. A enzima é uma

glicoproteína sintetizada no sistema RE-Golgi como pro enzima e dirigida à via

endocítica através da seqüência de pro - peptídeo, que é necessária e suficiente para

conduzir a cruzipaína reservosomos (SOUTO-PADRON et. al., 1990).

No metabolismo energético, o T. cruzi depende da disponibilidade de fontes de

carbono presente no microambiente em que se encontra nos seus hospedeiros. A

preferência em utilizar glicose como fonte energética ocorre em tripomastigotas, que

nos fluidos de seus hospedeiros vertebrados encontram uma fonte aparentemente

inesgotável. Já a forma intracelular amastigota utiliza aminoácidos, principalmente por

sua abundante disponibilidade no citosol. A forma epimastigota cultivada em meio com

glicose e aminoácidos consome preferencialmente a glicose.

As formas encontradas no inseto vetor, dependem do catabolismo de

aminoácidos com preferência a L-prolina. Os epimastigotas podem obter aminoácidos

por transporte ativo, biossintese a partir de precursores metabólicos ou pela degradação

de proteínas adquiridas por pinocitose. É conhecido que as formas epimastigotas do T.

cruzi são capazes de internalizar e consumir carboidratos e aminoácidos, excretando

principalmente succinato e amônia (CAZZULO, 1992 e 1994).

Desde a década de 70, do século passado, que a hipótese da participação de

enzimas proteolíticas, produzidas pelo parasito, no estabelecimento da Doença de

Chagas vem sendo investigada. As enzimas proteolíticas participam de numerosos

fenômenos fundamentais a vida da célula, como, por exemplo, do turnover protéico,

com a degradação de proteínas intracelulares (NOGUEIRA E COHN, 1976)

O T. cruzi, que apresenta várias formas evolutivas para completar um ciclo

biológico e depende de dois hospedeiros, necessita de constituintes protéicos para o seu

crescimento e diferenciação (PIRAS et. al., 1985), de forma que as enzimas

proteolíticas favoreceriam tanto a penetração como a migração dentro dos tecidos.

Algumas peptidases desempenham papel central em diversos processos além do

catabolismo de proteínas dos hospedeiros, tais como invasão celular, diferenciação,

progressão do ciclo celular, e evasão da resposta imune do hospedeiro (KLEMBA E

GOLDBERG, 2002).

Foram observadas várias atividades proteolíticas no T. cruzi, algumas já

caracterizadas; outras preditas a partir dos dados do projeto genoma. O genoma do T.

Page 20: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

19

cruzi inclui 70 supostos cisteino peptidases, cerca de 40 supostos serino proteases, cerca

de 250 supostos metalopeptidases, a maioria dos quais são homólogos de

leishmanolysina, 25 supostos genes relacionado ao proteassoma 20S, uma treonino

peptidase e 2 supostos aspartil peptidases. O número real de enzimas proteolíticas no T.

cruzi é, provavelmente, cerca de metade, uma vez que os alelos foram descritos como

diferentes genes. É provável que o número total esteja mais próximo aos números

propostos para Trypanosoma brucei e Leishmania major, cerca de 160 em ambos os

casos (CAZZULO, 2002; EL-SAYED et. al., 2005; IVENS et. al., 2005).

As proteases melhor caracterizadas até o momento foram as cisteino proteases,

que apresentam inúmeras funções nos parasitas, muitas destas diferentes das enzimas

homólogas do hospedeiro. Elas exibem diferenças fundamentais na especificidade de

substrato, extensões de domínio e estabilidade sobre uma ampla faixa de pH. Está claro

que, em muitos parasitos, algumas destas proteases têm uma série de funções extra-

lisossomais.

Foram descritas sete famílias dos clãs CA (C1, C2, C12, C19, C65, C51 e C54),

três famílias do clã CD (C13, C14 e C50), um membro da família C48 do clã CE e um

membro da família C15 do clã CF (KOSEC et. al., 2006). A classificação das proteases

em famílias e clãs é baseada na estrutura das proteases em uma classificação

hierárquica, em que, cada protease é atribuída a uma família com base nas semelhanças,

estatisticamente significativas, na seqüência de aminoácidos, e as famílias homólogas

são agrupadas em um clã.

Além destas cisteino proteases caracterizadas no T. cruzi, podemos citar ainda

duas serino proteases, uma pertencente à família prolyl-oligopeptidase e outra serino

carboxipeptidase, metaloprotease de membrana, da família da leishmanolisina, ancorada

glicosilfosfatidilinositol (GPI), e o proteassoma (BURLEIGH et. al., 1997; BASTOS et.

al., 2005; PARUSSINI et. al., 2003; CUEVAS et. al., 2003; DE DIEGO et. al., 2001;

GONZÁLEZ et. al., 1996).

1.3 O proteassoma

O estudo da proteólise intracelular como um importante regulador dos processos

celulares iniciou em 1946 com a publicação: O estado dinâmico dos constituintes do

corpo por Schoenheimer. As pesquisas com a proteólise celular avançavam e em 1953

duas observações importantes surgiram: a descoberta dos lisossomos e a evidencia de

Page 21: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

20

que a degradação protéica dos mamíferos dependia de energia. Posteriormente, em 1964

aparecem as evidencia da proteólise mediada pelo cálcio.

Uma revolução científica iniciou-se com a exposição à comunidade a um

sistema de degradação protéica, solúvel, não lisossomal dependente de ATP por Hough

e Rechsteiner em 1977. A contínua busca por uma resposta, leva primeiro a descoberta

de uma protease multi-subunitária, seguida pelo anuncio de uma cascata enzimática para

marcar as proteínas com a ubiquitina. Sua implicação na degradação protéica culminou

em 1987, com o uso dos termos proteassoma 20S e 26S e sua clássica função na

degradação de proteínas poli-ubiquitinadas (WILK & ORLOWSKI, 1980; HERSHKO

et. al., 1983; HOUGH et. al., 1987)

1.3.1 O proteassoma 20S

O proteassoma 20S é uma protease constituída de 28 subunidades, com o seus

sítios catalíticos no interior do barril formado por suas subunidades em um arranjo de

quatro anéis superpostos. É uma hidrolase nucleofílica N-terminal, com resíduo treonina

N-terminal essencial para a atividade proteolítico (uma treonino protease). Este

complexo é altamente regulado, cuja função pode requerer energia proveniente da

hidrólise de ATP. São conhecidos duas formas de proteassoma 20S. Um típico de

arquebactérias em que o complexo de 28 subunidades é formado por apenas duas

subunidades: 14 α e 14 β formando 2 anéis de sete subunidades α (externos) e 2 anéis de

sete subunidades β (internos). O outro, presente nos eucariotos, é formado por quatorze

subunidades α1, α2, α3, α4, α5, α6, α7 e β1, β2, β3, β4, β5, β6, β7 formado por dois

anéis α(1 a 7) (externos) e dois anéis β(1 a 7) (internos). Neste complexo, que possuem seus

sítios catalíticos compartimentalizados no interior do barril, formado pelos quatro anéis

superpostos, encontramos os anéis α impedindo a entrada desordenada de proteínas,

evitando assim uma degradação desenfreada.

Page 22: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

21

Como citado em revisão por (JUNG, CATALGOL & GRUNE, 2009), o

proteassoma 20S é uma estrutura celular complexa envolvido na degradação de

proteínas oxidadas, regulação do stead-state protéico, ``controle de qualidade`` protéico,

regulação do ciclo celular, expressão gênica, resposta imune, carcinogênese, reparo do

DNA entre outros.

Estruturalmente, o proteassoma 20S é normalmente encontrado em sua forma de

barril com o poro dos anéis α, fechado, mas pode ser ativado (abertura do poro) pelas

partículas reguladoras, proteínas desenoveladas ou substratos que não necessitam da

prévia ativação do complexo 20S por seus reguladores.

Devemos discriminar entre a atividade peptidásica do proteassoma 20S

(degradação de pequenos peptídeos) da atividade protease (degradação de proteínas):

enquanto a atividade da protease depende do estado de abertura do poro (dependente da

interação dos anéis α com os ativadores do proteassoma 20S), a atividade peptidásica

mostra-se pouco afetada pelo estado de abertura do poro, sugerindo que os anéis alfa

têm pouca interação com pequenos peptídeos e desempenha um papel-chave na

degradação de peptídeos maiores ou proteínas.

Nas proteínas oxidadas, o montante dos prejuízos causados, que seja suficiente

para causar um desdobramento parcial da proteína, fazendo com que as seqüências

hidrofóbicas, geralmente não expostas dentro da estrutura globular, sejam expostas na

superfície. Há evidências, que estas estruturas hidrofóbicas expostas são um sinal de

degradação pelo proteassoma 20S e reconhecido pelos seus anéis α.

Figura 3: O proteassoma 20S. Em A, o proteassoma 20S, composto por quatro anéis superpostos

com sete subunidades α distintas compondo os anéis mais externos, e sete subunidades β distintas,

compondo os anéis internos, sendo que as subunidades β1, β2 e β5 possuem atividades semelhantes à

caspase, tripsina e quimiotripsina respectivamente. Em B, o proteassoma 20 em perspectiva, Jung e

colaboradores (2009). Em C, um corte transversal em um modelo de preenchimento do proteassoma

mostrando em amarelo os sítios catalíticos Rechsteiner & Hill (2005).

A B C

Page 23: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

22

1.3.2 O proteassoma e seus reguladores

Proteassoma 20S isolados, mostram-se pouco ativos, porque os substratos não

podem acessar os sítios proteolíticos. O PA700, PA28 e PA200 são ativadores que se

ligam ao proteassoma 20S e estimulam e regulam a hidrólise protéica.

Dos reguladores do proteassoma, o PA200, é o que foi caracterizado mais

recente, assim, pouco se sabe de suas funções biológicas. Há algumas especulações

devidas a sua homologia com a proteína de levedura Blm3p e estudos de expressão

diferencial em tecidos, como nos testículos, onde danos de quebra da fita dupla do DNA

ocorrem com freqüência elevada durante a recombinação meiótica. Finalmente, o

PA200 está presente no núcleo e como acontece como vários componentes da via de

reparo do DNA, forma focos após a incidência de irradiação γ.

O regulador 19S (também denominado PA700), contrariamente ao PA200, é o

ativador do proteassoma melhor caracterizado até o momento. Ele é constituído de uma

base em forma de anel e uma estrutura em ``tampa``, que quando associado ao

proteassoma 20S regula a entrada de substratos que foram modificados (marcados) com

uma cadeia de poli-ubiquitina (DEMARTINO et. al., 1994; LAM et. al., 1997;

STRICKLAND et. al., 2000; LIU et. al. 2002).

A estrutura base contém subunidades ATPases (Rpt1-Rpt6) e não ATPases

(Rpn1, Rpn2, Rpn10 e Rpn13). A ``tampa`` é formada por nove subunidades: Rpn3,

Rpn5-Rpn9, Rpn11, Rpn12 e Rpn15. A Rpn11 da tampa, contém um sitio proteolítico

dependente de Zn2 +

que catalisa a degradação das cadeias de poli-ubiquitina, liberando-

a cadeia de poli-ubiquitina que é hidrolisada em monômeros de ubiquitina pelas DUBs e

Figura 4: Abertura dos poro do anel α pela ação dos ativadores do proteassoma 20S. Através

do modelo de preenchimento é mostrado em A, o proteassoma 20S com o poro fechado, em B o

proteassoma 20S com o poro aberto pela ação de seus ativadores Rechsteiner & Hill (2005).

Page 24: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

23

que são reutilizadas. As subunidades Rpt2, Rpt3 e Rpt5 estão envolvidos na abertura do

poro do proteassoma 20S. As Rpn10 e Rpn13 são receptores de ubiquitina (TANAKA,

2009).

Um regulador 19S se liga a cada uma das extremidades do proteassoma 20S

formando uma grande partícula, chamado proteassoma 26S, com uma massa total de

mais de 2 MDA. Em um mecanismo semelhante, como mostrado por outras partículas

reguladoras do proteassoma, o regulador 19S permite melhor acesso do substrato ao

interior da câmara proteolítica, alterando a estrutura do poro no centro dos anéis α.

(GLICKMAN & CIECHANOVER, 2002)

Como podemos notar, pela função das subunidades Rpn10 e 13, a ubiquitinação

é um passo importante para o endereçamento à degradação pelo proteassoma 26S, e

como exceção, apenas algumas proteínas podem ser degradadas pelo proteassoma 26S

sem a conjugação da cadeia de poli-ubiquitina.

A Ubiquitina (Ub) é uma pequena proteína que contém 76 aminoácidos,

altamente conservada na maioria das células eucarióticas e conforme mencionado, a

maioria dos substratos endereçados à degradação pelo proteassoma 26S, devem ser poli-

ubiquitinados. Neste processo, um sistema complexo, contendo quatro tipos diferentes

de enzimas (E1-E3) está envolvido. O primeiro passo é a ativação da ubiquitina, em um

processo dependente de ATP realizado pela enzima ativadora de ubiquitina E1.

Figura 5: O proteassoma 26S. O proteassoma 26S e

seus componentes. O proteassoma 20S e a partícula

regulatória PA700 composta pelas subunidades

ATPase formadoras da base e pelas subunidades

formadoras da tampa. KEGG 2009

(www.genome.jp/kegg/)

Page 25: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

24

(WILKINSON et. al., 1980). A enzima E1 transfere a Ub a um resíduo de lisina de uma

enzima carreadora de ubiquitina E2 e ambos, a enzima E2 e o substrato alvo interagem

com a enzima conjugadora de ubiquitina E3, completando a transferência da Ub da E2

para o grupo amino de uma lisina do substrato.

Após a liberação das enzimas E2 e E3, pode ocorrer à transferência cíclica de

mais moléculas de Ub a primeira ligada ao substrato com o apoio de uma quarta enzima

recentemente caracterizada, a enzima E4, que auxilia a formação da cadeia crescente de

ubiquitinas. A especificidade pelo substrato é ditado pela classe de enzimas E3, que

contém milhares de Ub-ligases, cada uma específica para apenas um número limitado

de proteínas substrato.

A partícula ativadora PA28 dos mamíferos (também denominado como 11S ou

REG e PA26 em Trypanosomatidae) é encontrado como um complexo

heterohexamérico, heteroheptamérico ou homoheptamérico. O complexo é capaz de

ligar-se ao anel α do proteassoma e aumentar a taxa de degradação de peptídeos.

Figura 6: A cascata de ubiquitinação. O monômero de ubiquitina é ativado através de

sua ligação à enzima ativadora (E1) com gasto energético, a enzima E1 então transfere

a ubiquitina para enzima carreadora E2 que pode transferi-la pelo auxilio da enzima

conjugadora E3 de duas forma diferentes a proteína alvo.

Page 26: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

25

Em mamíferos, o PA28 é constituído de três isoformas, PA28 α (28589 Da),

PA28 β (27230 Da) e PA28 γ (29365 Da) capazes de associar de diferentes formas para

construir o regulador do proteassoma PA28. A degradação protéica após a ligação do

11S ao 20S é realizada de uma forma independente de ATP e sendo que a degradação

de proteínas já desenovelada é intensificada, mas não a proteólise das proteínas em sua

forma nativa (RECHSTEINER et. al., 2000).

Análises de imunoprecipitação e microscopia eletrônica mostraram que PA28 e

PA700 podem se ligar simultaneamente ao proteassoma 20S formando proteassomas

híbridos, PA28-20S-PA700, sendo surpreendente que ambos os ativadores possam se

ligar ao mesmo 20S em posições opostas. Os proteassomas híbridos contribuem para

uma eficiente proteólise, pois as proteínas podem ser primeiramente reconhecidas pelo

PA700 e então endereçadas para a degradação no 20S, o qual tem suas atividades

peptidásicas fortemente estimuladas pelo PA28α/β. Também é observado o trabalho em

conjunto dos PA700 e PA28α/β na degradação de peptídeos para apresentação de

antígenos, como já descrito anteriormente. Curiosamente, forma-se também o

proteassoma híbrido PA200-20S-PA700. O motivo dessa formação é ainda

desconhecido (CASCIO et. al., 2002; SCHMIDT et. al., 2005).

O correspondente do PA28 em tripanossomatídeos é o PA26. A proteína PA26

foi identificada pela primeira vez em formas procíclicas e sanguíneas de T. brucei, com

um peso molecular de 26kDa sendo estável na ausência de ATP (Yao & Wang, 1997).

O PA26 apresenta cópia única no genoma de T. brucei e está presente no nucleo ou

citosol da célula sob a forma de um anel homoheptamérico. Quando interage com o

proteassoma 20S, induz um estimulo nas atividades peptidásicas semelhante à caspase,

quimotripsina e tripsina.

Nesta rede regulatória, existem também, inibidores endógenos do proteassoma

como HSP90, PI31, PR39, Tat e HBx que representam um apreciável e novo nível de

regulação do proteassoma, contudo necessita-se ainda estabelecer a relevância biológica

dos seus efeitos. A regulação da atividade do proteassoma é de extrema importância

para a função celular, e a compreensão da bioquímica e funções biológicas de proteínas

associadas (do inglês proteasome interaction protein – PIP) será uma prioridade para

futuros esforços das investigações.

1.4 Proteassoma em T. cruzi

Page 27: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

26

Os estudos relativos à função do proteassoma no T. cruzi, iniciaram em 1996 por

Gonzáles et. al., que em uma gama de experimentos evidenciaram a inibição da

transformação in vitro de tripomastigotas a amastigotas, após incubação no meio de

transformação, pelos inibidores do proteassoma lactacistina e MG-132. O mesmo efeito

não foi observado com inibidores de cisteino proteases, Cbz-Phe-Ala-FMK, Cbz-(S-

Bz)Cys-Phe-CHN2 e E64. Os tripomastigotas tratados com os inibidores do

proteassoma, retiveram o epítopo Ssp-3, típico desta forma, e não expressaram o

epítopo Ssp-4, típico de amastigotas, após a incubação no meio de transformação (esta

observação é contrária ao grupo controle, em que, observaram-se a troca do epítopo

Ssp-3 para Ssp-4 após a incubação).

Outra abordagem feita pelo pesquisador foi pré-incubar os tripomastigotas com

os inibidores do proteassoma e realizar ensaios de invasão celular em mioblastos

cultivados. Foi observado que a inibição do proteassoma, não interfere neste processo.

Ainda neste trabalhando, células infectadas foram tratadas com lactacistina 48 horas

após a infecção, e a liberação de tripomastigotas no meio extracelular foi avaliada e

comparada a liberação dos tripomastigotas com células infectadas e não tratadas com o

inibidor. O resultado foi um significante decréscimo na liberação dos tripomastigotas no

grupo de células tratadas com o inibidor do proteassoma, lactacistina. Como observado

para a transformação tripomastigota / amastigota (in vitro), o tratamento com os

inibidores de cisteino proteases não interferiram com a transformação amastigota /

tripomastigota do T. cruzi.

O próximo passo dado, rumo à compreensão do envolvimento do proteassoma

para o remodelamento morfológico do T. cruzi, foi realizado pelo mesmo grupo de

pesquisadores (DE DIEGO et. al.,2001), onde inicialmente, mediram o impacto na

degradação das proteínas de vida curta e de vida longa, durante a transformação

tripomastigota / amastigota. Foi observado para as proteínas de vida curta um

decréscimo de 50% na degradação protéica por inibidores específicos do proteassoma,

enquanto outros inibidores de protease como metilalanina, leupeptina e E-64d não

inibiram ou demonstraram pouco efeito inibitório (< 10%). Já o inibidor de calpainas,

calpeptina, teve um efeito moderado (decréscimo em torno de 20%).

Para as proteínas de vida longa, o efeito dos inibidores foi similar. Os inibidores

do proteassoma causaram um decréscimo de 70% da proteólise, os inibidores de

Page 28: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

27

cisteino proteases lisossomais causaram um decréscimo próximo a 12,5% e os

inibidores das calpainas 30%.

Quando este experimento foi realizado na presença destes inibidores e com a

depleção do ATP, os autores observaram que, a depleção do ATP tem impacto

majoritário ou exclusivo na degradação das proteínas pelo proteassoma.

Como as estruturas flagelares dos tripomastigotas, praticamente desaparecem

durante a transformação para amastigota, os autores também investigaram a relação da

degradação destas estruturas com sua ubiquitinação e posterior degradação, observando

que a marcação pela ubiquitina, aumenta quando os tripomastigotas são incubados no

meio transformador, o que não ocorre, quando o ATP é depletado. Também observaram

o decréscimo destas estruturas com o passar do tempo de incubação e uma inibição

desse decréscimo pelo tratamento com lactasistina, demonstrando assim, a importância

da ubiquitinação e da degradação dependente do proteassoma 26S para o

remodelamento morfológico na transição tripomastigota / amastigota no T. cruzi.

Hangai (2007) sugere que a inibição do proteassoma na fase replicativa

(epimastigota), bloqueia o ciclo celular pois induziu alterações morfológicas marcantes,

enquanto que, a inibição do proteassoma em tripomastigotas sanguíneos, previamente a

infecção experimental, comprometeu a progressão da infecção nestes camundongos.

A contribuição do proteassoma para a diferenciação dos epimastigotas a

tripomastigotas metacíclico foi recentemente publicada. Neste estudo os autores

observaram a inibição da metaciclogênese in vitro após o tratamento com lactacistina

como também um acúmulo de células na fase G2 do ciclo celular (CARDOSO et. al.,

2008).

Estudos recentes do nosso grupo de trabalho, têm demonstrado a expressão do

proteassoma-like, o complexo HslVU. Barbosa (2010) demonstrou a coexistência dos

dois complexos protéicos, o proteassoma 20S e o HslVU, bem como sua expressão em

epimastigotas cultivadas em meio LIT com ou sem o inibidor de treonino proteases,

PSI, em diversas cepas do T. cruzi.

Oliveira (2007) observou, utilizando o anticorpo monoclonal comercial contra

um epítopo conservado na porção N-terminal das subunidades do tipo α do proteassoma

20S que as populações susceptíveis 17WTS, BZS e CL possuem maior quantidade de

proteassoma que os respectivos pares de populações resistentes 17LER, BZR e

Colombiana. Além disso, ele descreve que apesar deste resultado, a medida da atividade

Page 29: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

28

peptidásica utilizando substratos fluorogênicos do proteassoma 20S não diferia entre os

pares susceptível / resistente, lançando a hipótese de que modificações pós traducionais

estariam modulando a atividade do proteassoma em maior magnitude nas populações

resistentes quando comparado ao susceptível.

A descrição da participação do proteassoma 20/26S influenciando processos

celulares essenciais para o estabelecimento desses parasitos em seus hospedeiros

definivos, a presença do homologo HslV/U, em conjunto com os resultados descritos

por Oliveira (2007) nos motivaram a procurar relações entre a atividade e níveis de

proteassoma 20/26S associado no fenótipo de resistência a drogas, atualmente utilizada

para o tratamento da Doença de Chagas.

Page 30: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

29

2 Objetivos

Page 31: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

30

2.1 Objetivo Geral

Analise bioquímica inicial do proteassoma 20S e seus reguladores em epimastigotas de

populações de T. cruzi com fenótipo de resistência ao benzonidazol.

2.2 Objetivos específicos

Avaliar as atividades peptidásicas do proteassoma 20S;

Analisar a expressão do proteassoma 20S e seu homologo HslVU;

Analisar o perfil de expressão dos reguladores do proteassoma 20S: RPN7 e

PA26;

Analisar o perfil de proteínas conjugadas a ubiquitina;

Analisar o perfil de proteínas oxidadas;

Avaliar a proteólise dependente de ubiquitina e proteassoma 26S;

Avaliar a proteólise dependente de ubiquitina e proteassoma 26S em formas

promastigotas de Leishmania sp.

Page 32: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

31

3 Material e Métodos

Page 33: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

32

3.1 Populações de T. cruzi

As populações de T. cruzi com fenótipo de resistência ao benzonidazol (Bz)

utilizados neste trabalho foram gentilmente cedidas pelo Laboratório de Parasitologia

Celular (Centro de Pesquisa René-Rachou, Fiocruz). As quatro populações, 17WTS,

17LER, BZS, BZR e as cepas CL e Colombiana (COL) do T. cruzi foram obtidas no

Instituto Oswaldo Cruz.

A população 17 LER, com resistência induzida in vitro, foi derivado da cepa

susceptível Tehuantepec cl2, 17 WTS (NIRDE et. al., 1995). Os parasitos 17LER foram

crescidos em LIT (Liver Infusion Tryptose, segundo Camargo, 1964) na presença de

220 mM de Bz, que corresponde a uma dose 23 vezes maior do que o IC50 para a

população 17WTS.

A população BZR, com resistência selecionada in vivo foi obtida a partir de uma

população da cepa Y susceptível ao Bz (MURTA & ROMANHA, 1998). A população

BZR foi recuperada de camundongos tratados com uma dose única e elevada de Bz (500

mg / kg de peso corporal), administrada por via oral, no pico da parasitemia. Os

camundongos foram sangrados 6 horas após a administração da droga e após sucessivas

re-infecções com o mesmo tratamento anterior, o sangue foi semeado em meio LIT a

28° C para a obtenção da massa de parasitos. Nós também utilizamos populações do T.

cruzi susceptível (CL) e naturalmente resistente (COL), ao Bz e NFX (FILARDI E

BRENER, 1987).

As formas promastigotas de L. braziliensis, L. chagasi e L. amazonense foram

cultivadas em meio LIT suplementado com 20mg/ml de gentamicina. Todos os estoques

das cepas de Leishmania foram mantidos rotineiramente no Laboratório de

Imunopatologia – NUPEB (UFOP). As culturas foram mantidas em estufa à

temperatura de 23ºC.

Para obtenção da massa de parasitos, as formas epimastigotas do T. cruzi a as

promastigotas da Leishimania sp foram recuperadas por centrifugação a 2000xg,

durante 20 minutos a 4°C. Após suspensão do sedimento em PBS realizou-se nova

centrifugação nas mesmas condições. Tal procedimento de lavagem foi repetido por

outras 2 vezes. Por fim, armazenou-se a massa obtida à -70°C para análises posteriores.

Page 34: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

33

3.2 Obtenção do extrato bruto

Inicialmente, foram adicionados 1x109

parasitos a 1 mL do tampão 20S (Tris-

HCl 5mM pH 8,0, glicerol 10%, EDTA 1mM, DTT 1mM e 10µM dos seguintes

inibidores de proteases: PMSF, TPCK, TLCK e NEM preparados antes de sua adição

ao tampão). A seguir, em banho de gelo, a suspensão celular foi sonicada (Sonifier 250

– BRANSON) adotando 3 pulsos constantes de 60 segundos com mesmo intervalo de

repouso no banho de gelo.

O homogenato foi clareado por duas etapas de centrifugação. Inicialmente as

amostras foram centrifugadas a 20.000 xg durante 30 minutos. O precipitado foi

descartado e o sobrenadante centrifugação a 100.000 xg por 1h. O precipitado foi

descartado e o sobrenadante reservado para análises posteriores.

A determinação da concentração protéica presente no extrato bruto foi realizada

utilizando o método do BCA, segundo as recomendações do fabricante (QuantiPro™

BCA Assay Kit - SIGMA ALDRICH).

3.3 Medida da atividade peptidásica do proteassoma 20S dos parasitos

Nos ensaios da atividade proteolítica exógena (peptidásica) foram utilizados

diferentes substratos fluorogênicos como: Ac-Tyr-Val-Ala-Asp-7-amido-4-

metilcumarina, Cbz-Gly-Gly-Arg-7-amido-4-metilcumarina e Suc-Leu-Leu-Val-Tyr-7-

amido-4-metilcumarina para a determinação das atividades semelhantes à caspase,

tripsina e quimotripsina, respectivamente, do proteassoma na fração citosólica (extrato

bruto – Materiais e Métodos 3.2) das formas epimastigotas do T. cruzi.

Foram utilizados 5µg de proteínas totais e 13µM dos substratos fluorogênicos. O

tampão utilizado foi 50mM Tris-HCl pH 8,0, 10mM MgCl2 e 1mM DTT, na presença

ou ausência de 20µM de MG-132, um inibidor clássico do proteassoma. O ensaio foi

realizado num volume final de 200 µL com incubação de 30 minutos a 37°C. A reação

foi interrompida pela adição de 2 mL de etanol. As leituras fluorimétricas foram

realizadas nos comprimentos de onda 380 nm de excitação e 440 nm de emissão

(Espectrofluorofotômetro RF-5301PC – SHIMADZU) e os resultados, expressos em

Page 35: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

34

unidades arbitrárias de fluorescência por mg de proteína e normalizada em relação à

atividade semelhante à caspase.

3.4 SDS-PAGE e ensaios de Western Blot

20 µg de proteínas do extrato bruto, preparado como descrito no item 3.2, foram

fracionadas em SDS-PAGE 12% como descrito por Laemmli (1970). Um gel foi corado

com Coomassie Blue R-250 e outros foram posteriormente transferidos para

membranas do tipo PVDF. Foi utilizado como padrão de peso molecular o Prestained

SDS-PAGE Standards Low Range (BIO-RAD).

A transferência das proteínas do gel para a membrana do tipo PVDF

(Invitrogen) ocorreu de acordo com o método descrito por Towbin et. al., 1979, com

modificações no tampão de transferência (Tris-HCl 25 mM pH 8,3, glicina 192 mM,

etanol 18% e SDS 0,02%). A eletrotransferência foi realizada durante 3 horas a 4ºC e

200 mA. Após o término da transferência, a membrana foi corada com Ponceau (0,25%

em ácido acético 1%) por 5 minutos e descorada com água para visualização das

proteínas.

A membrana foi então, incubada overnight a 4°C com TBS-T (Tris-HCl 50 mM

pH 8,3, NaCl 150 mM, Tween-20 0,05% e leite desnatado em pó 5%). Após este

bloqueio, a membrana foi incubada com anticorpo primário, na diluição 1:500,

produzido em camundongos a partir das proteínas recombinantes de T. cruzi: anti-

subunidade α7 do proteassoma 20S, anti-subunidade RPN7 do complexo regulador

19S, anti-PA26 do complexo regulador 11S, e anti-HslV. Esses anticorpos foram

gentilmente cedidos pelo Dr Marco Krieger do Instituto Oswaldo Cruz, Curitiba,

Paraná.

Para a análise do perfil de proteínas ubiquitinadas, foi utilizado anti-ubiquitina

(Sigma e Santa Cruz Biotechnology) na diluição 1:500 em TBS-T por 3 horas à

temperatura ambiente.

A normalização dos blots foi realizada utilizando anti-HSP70 do T. cruzi

(MURTA et. al., 2008), na diluição 1:5000, obtido em coelhos e gentilmente cedido

pela Dra Silvane Murta do Instituto de Pesquisa Reneé Rachou, Belo Horizonte, Minas

Gerais.

Page 36: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

35

O anticorpo em excesso foi removido pela lavagem da membrana três vezes

com TBS-T e, em seguida, a membrana foi incubada por 1 hora, à temperatura

ambiente, com o anticorpo secundário (anti-IgG de rato ou coelho dependendo do

anticorpo primário utilizado, conjugado a fosfatase alcalina) na diluição 1:3000. Após

este período, a membrana foi lavada por três vezes durante 5 minutos em tampão de

revelação (100mM TrisHCl pH=9,5, 100mM NaCl e 5mM MgCl2). Finalmente, foram

adicionados à membrana, 5 mL do tampão de revelação acrescido de 66 µL de NBT e

33 µL de BCIP (Promega) até a visualização do sinal. Posteriormente a reação foi

interrompida pela remoção do tampão de revelação e lavagem da membrana com água.

Os níveis de expressão relativa foram obtidos por análise densitométrica de três

experimentos independentes, utilizando o software Quantity one® 4.4.1 (Bio-Rad).

3.4 Análise das proteínas oxidadas

Em uma primeira etapa, foi realizada uma reação de acoplamento da

difenilhidrazina (DNPH – SIGMA ALDRICH) com os grupos carbonilas das proteínas

solúveis do extrato bruto (Materiais e Métodos 3.2). Esta etapa envolve a reação de

1mg/mL de proteínas em 6% SDS e 10 mM de DNPH previamente preparado em 10%

ácido trifluoroacético em H2O. A reação foi incubada por 30 minutos ao abrigo da luz,

seguido de neutralização da reação pela adição de três volumes do tampão Tris 2M,

30% glicerol e 19% β-mercaptoetanol.

A seguir, 10 µg destas proteínas foram fracionadas em SDS-PAGE 10%,

transferido para membrana do tipo PVDF e realizado o Western Blot como descrito no

item 3.3, utilizando o anti-DNPH (SIGMA ALDRICH) como anticorpo primário, na

diluição 1:3000 e como anticorpo secundário, anti-IgG de coelho conjugado a

peroxidase, na diluição 1:5000. A reação antígeno-anticorpo foi detectada por auto-

radiografia, utilizando o kit ECL Plus (GE Lifescience). Também foi utilizado anticorpo

secundário anti-IgG de coelho conjugado a fosfatase alcalina, e as membranas reveladas

com NBT/BCIP, como descrito no item 3.3.

3.5 Eletroforese nativa do proteassoma

Page 37: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

36

Este experimento foi realizado segundo o protocolo descrito por Hough et. al.,

(1987), e brevemente descrito a seguir. Inicialmente foram confeccionados géis de

poliacrilamida, sendo o gel de separação 4,5% pH 8,5 em tampão Tris 90 mM, ácido

bórico 80mM, EDTA 0.1mM e sacarose 10mM. O gel de concentração foi preparado a

3% pH 6.8 em tampão Tris-HCl 50mM. As proteínas foram separadas durante 5 horas a

4°C e 100 V, utilizando como tampão de corrida Tris 90mM, ácido bórico 80mM e

EDTA 0,1%. O gel foi corado com Coomasie blue R-250.

3.7 Determinação da taxa de proteólise intracelular não lisossomal

Para a determinação da taxa de proteólise intracelular não lisossomal,

inicialmente 100 µg de proteínas solúveis do extrato bruto, preparado como descrito no

item 3.2, foram transferidas para um meio reacional contendo: Tris.HCl 50 mM pH 8,0,

MgCl2 10 mM, DTT 5 mM e ATP 5 mM a 37 ° C por 90 minutos, na presença ou

ausência de 1mg/mL de ubiquitina e 50 µM de MG-132. A reação foi interrompida pela

adição de ácido tricloroacético (7 – 7,5% concentração final) seguida por 1 hora de

incubação em banho de gelo e centrifugação a 6.000 xg por 15 minutos.

Um mL do sobrenadante foi recuperado e a concentração de tirosina,

determinada por método fluorimétrico, segundo Waalkes & Undenfriend (1957) e

brevemente descrito a seguir. Inicialmente, foi preparada uma solução estoque de

tirosina (Sigma Aldrich) a 500 M em TCA 7% e preparada uma curva com

concentrações decrescentes de tirosina. A seguir foi adicionado ácido perclórico (0,14N

- concentração final) e o reagente nitroso-nafitol (0,05% nitroso-naftol, 0.025% nitrito

de sódio e 10% ácido nítrico – concentração final), seguido de incubação a 55°C por 30

minutos e extração do excesso de reagentes com clorofórmio. O produto fluorogênicos

aquoso formado neste protocolo foi medido no espectrofluorofotômetro (RF-5301PC –

SHIMADZU) utilizando comprimento de onda de 490nm de emissão e 570nm de

excitação. Simultaneamente, 1 mL do sobrenadante recuperado dos grupos do ensaio de

proteólise foi tratado de maneira equivalente. A taxa de proteólise foi obtida pela

diferença entre a concentração de tirosina no controle (tempo zero) e 90 minutos.

Análise estatística

Page 38: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

37

A expressão relativa por Western blot e a medida das atividades peptidásica e

dependente de proteassoma foi comparada pela análise da variância (ANOVA) por

Repeated Measures ANOVA (Pós Teste de Tukey). A expressão relativa foi

considerada estatisticamente significante quando o teste de Tukey indicou diferença (p<

0,05) e observada uma diferença entre as médias de 50% entre os dados comparados.

A medida das atividades peptidásicas e a proteólise intracelular não lisossomal

foram consideradas significantes quando, o teste de Tukey indicou diferença (p< 0,05) e

observada uma diferença entre as médias de 15% entre os dados comparados. A análise

estatística foi realizada pelo programa PRISMA (GraphPad Prism 5 - portátil).

As comparações entre as populações foram centradas em populações com o

mesmo genótipo e diferentes fenótipos de resistência ao Bz, comparando a resistência

induzida in vitro (17WTS / 17LER), a resistência selecionada in vivo (BZS / BZR).

Também comparamos as cepas com diferentes genótipos e diferentes fenótipos de

resistência ao Bz, comparando a resistência selvagem (CL / COL).

Page 39: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

38

4 Resultados

Page 40: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

39

4.1 A atividade peptidásica do proteassoma

A atividade peptidásica do proteassoma 20S foi avaliada utilizado substratos

fluorogênicos, conforme descrito em Material e Métodos. A Tabela 1 mostra que a

atividade semelhante à tripsina da população resistente 17LER foi 18% inferior ao seu

par susceptível 17WTS (*). Também foi possível verificar que a atividade semelhante à

quimiotripsina foi similar nestas populações.

Já a população com resistência selecionada in vivo BZR, tanto a atividade

semelhante à tripsina como a atividade semelhante à quimotripsina mostraram uma

queda na hidrólise do substrato de 18,4% e 17,4%, respectivamente quando comparado

a população susceptível BZS.

Foi observado que a cepa, susceptível, CL apresentou a atividade semelhante à

tripsina 214% maior, porém a atividade semelhante à quimotripsina foi similar a cepa

naturalmente resistente Colombiana (*, Tabela 1).

As populações 17WTS, 17LER e a cepa CL (DTU TcVI), possuem a atividade

semelhante à tripsina maior que a atividade semelhante à quimotripsina. Nestas

populações a atividade semelhante à tripsina é 27,8%, 14,7% e 36%, respectivamente

maior que a atividade semelhante à quimotripsina. O contrario é observado nas

populações BZS, BZR (DTU TcII) e cepa Colombiana (DTU TcI), no qual observamos

a atividade semelhante à quimotripsina 39,2%, 40,3% e 71%, respectivamente maior

que a atividade semelhante à tripsina (ψ, Tabela 1).

A atividade semelhante à caspase foi muito baixa para todas as populações

analisadas e também não foi observado diferença entre os pares sensível e resistente ao

Bz (Tabela 1).

A atividade semelhante à quimotripsina é drasticamente inibida pela adição de

20µM de MG-132. Este efeito não é observado para a atividade semelhante à tripsina.

(Tabela 2)

Page 41: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

40

Tabela 1- Atividade peptidásica do proteassoma 20S do T. cruzi.

Populações

Semelhante a Tripsina

Suc-Gly-Gly-Arg-AMC

Semelhante a Quimotripsina

Suc-Leu-Leu-Val-Tir-AMC

Semelhante a Caspase

Ac-Tyr-Val-Ala-Asp-MCA

17WTS

17LER

11,88 ± 0,29

10,07 ± 0,08 *

9,29 ± 0,11 ψ

8,78 ± 0,11 ψ

0,04 ± 0,003

0,15 ± 0,002

BZS

BZR

12,39 ± 0,3

10,46 ± 0,22 *

17,25 ± 0,12 ψ

14,69 ± 0,33 * ψ

1,00 ± 0,02

0,69 ± 0,002

CL

COL

18,35 ± 0,29

8,56 ± 0,06 *

13,49 ± 0,03 ψ

14,64 ± 0,07 ψ

0,73 ± 0,005

0,62 ± 0,01

A tabela I contém a média e o erro médio padrão das atividades peptidásicas dos proteassomas de três

réplicas biológicas para as três atividades proteolíticas encontradas nesta protease; semelhante à tripsina

utilizando o peptídeo Suc-Gly-Gly-Arg-AMC, semelhante à quimotripsina utilizando o peptídeo Suc-Leu-

Leu-Val-Tir-AMC e semelhante à caspase utilizando o peptídeo Ac-Tyr-Val-Ala-Asp-MCA.

Tabela 2- Inibição da atividade peptidásica do proteassoma 20S do T. cruzi.

Populações Semelhante a Tripsina Semelhante a Quimotripsina

20µM MG-132 20µM MG-132

17WTS

17LER

11,88 ± 0,29

10,07 ± 0,08

11,64 ± 0,22

10,12 ± 0,1

9,29 ± 0,11

8,78 ± 0,11

0,6 ± 0,08

0,65 ± 0,04

BZS

BZR

12,39 ± 0,3

10,46 ± 0,22

12,66 ± 0,17

10,35 ± 0,2

17,25 ± 0,12

14,69 ± 0,33

1,02 ± 0,12

0,89 ± 0,09

CL

COL

18,35 ± 0,29

8,56 ± 0,06

17,99 ± 0,29

8,86 ± 0,05

13,49 ± 0,03

14,64 ± 0,07

1 ± 0,04

0,92 ± 0,07

A tabela 2 contém a média e o erro médio padrão das atividades peptidásicas dos proteassomas de três

réplicas biológicas para as duas das três atividades proteolíticas encontradas nesta protease; semelhante à

tripsina utilizando o peptídeo Suc-Gly-Gly-Arg-AMC, semelhante à quimotripsina utilizando o peptídeo

Suc-Leu-Leu-Val-Tir-AMC e o efeito da inibição utilizando 20µM do inibidor MG-132.

Page 42: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

41

Figura 7: Extrato bruto fracionado em SDS-PAGE

gel 12%. 15µg de proteínas do extrato bruto (Materiais

e Métodos 3.2) foram fracionados em SDS-PAGE e

visualizados pela Coomasie R-250. (PM) peso

molecular em kDaltons

4.2 As populações apresentam níveis similares do proteassoma 20S e Hslv

Os níveis do proteassoma 20S foram avaliados utilizando-se extrato bruto

conforme descrito em Materiais e Métodos 3.2. A Figura 7 mostra uma análise por

SDS-PAGE dos extratos utilizados. Observa-se a qualidade dos extratos pela

integridade das bandas reveladas pelo Coomassie Blue R-250. Posteriormente, foram

preparadas membranas para avaliar os níveis protéicos dos constituintes tanto do

proteassoma 20S como de seus reguladores utilizando-se a metodologia de Western

Blot.

A Figura 8 A mostra o padrão de reatividade do anti α7 (próximo a 28,8 kDa) e a

8 B da HSP70 próximo a 80 kDa. A análise densitométrica do sinal (Figura 8 C),

apresentou uma razão entre a proteína α7 e a proteína normalizadora HSP70. Não foram

observadas diferenças nas quantidades da proteína entre as populações estudadas.

Page 43: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

42

A B

C

Figura 8: Expressão relativa da subunidade α7. Em A, o sinal na membrana para a proteína α7 em B o

sinal para a proteína HSP70 após reação com NBT/BCIP. (PM) Peso molecular em kDaltons. Em C a

análise densitométrica realizada no software Quantity One 4.4.1 (Bio-Rad).

Avaliamos também o homologo procariota do proteassoma 20S, o HslVU

(proteassoma-like), pela expressão relativa da subunidade HslV ao HSP70. A Figura 9

mostra uma das três membranas preparadas e visualizadas pelo NBT/BCIP após o

Western blot. Em A, o sinal para a HslV (entre 19,4 e 28,5 kDa) e B para a HSP70

(próximo a 80 kDa). Em C, vemos pela análise densitométrica do sinal, a expressão

semelhante entre as populações estudadas.

Page 44: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

43

A B

C

Figura 9: Expressão relativa do HslV. Em A, a expressão da subunidade HslV do complexo HSLVU:

(entre 19,4 e 28,8 kDa) em B, o sinal para a proteína HSP70 (próximo a 80kDa) O sinal para a proteína

visualização com NBT/BCIP. (PM) Peso molecular em kDaltons. Em C a análise densitométrica

realizada no software Quantity One 4.4.1 (Bio-Rad).

4.3 Perfil de expressão dos reguladores PA700 e PA26

A Figura 10 mostra a expressão relativa da subunidade RPN7 da partícula

regulatória PA700. Observamos a regularidade da expressão indicada em A pela análise

densitométrica dos sinais visualizados após o Western blot. Em B o sinal para a proteína

RPN7 e, em C o sinal para a HSP70.

Page 45: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

44

A

B C

Figura 10: Expressão relativa da subunidade RPN7 da partícula ativadora do proteassoma 20S,

PA700. Em A, a análise densitométrica realizada no software Quantity One 4.4.1 (Bio-Rad). (B) A

expressão da subunidade Rpn7 do PA700 pelo Western blot para a proteína Rpn7 (próximo a 49,5 kDa) e

(C) a HSP70 (próximo a 80kDa) após reação com NBT/BCIP.

A avaliação dos níveis relativos da proteína PA26 (Figura 11), também

analisada por Western blot. Na Figura 11 A, observamos os níveis relativos similares

entre as populações. Em B, o sinal de uma das membranas utilizadas na análise para a

proteína PA26 e, em C o sinal correspondente a HSP70. Nesta membrana não foi

possível visualizar o peso molecular.

Page 46: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

45

A

B C

Figura 11: Expressão relativa da subunidade PA26 da partícula ativadora do proteassoma 20S,

PA26. Em A, a análise densitométrica realizada no software Quantity One 4.4.1 (Bio-Rad). (B) A

expressão da subunidade PA26 pelo Western blot e (C) a HSP70 após reação com NBT/BCIP. Nesta

membrana não é possível visualizar o peso molecular (PM).

4.4. Mobilidade eletroforética dos proteassomas nativos

Avaliamos os proteassomas dos pares fenotípicos por eletroforese nativa e como

mostrado na Figura 12 a cepa Colombiana apresenta uma menor mobilidade

eletroforética, discrepante das demais populações estudadas. Uma análise comparativa

das outras populações, evidencia pequenas diferenças na mobilidade eletroforética entre

elas. Este protocolo foi inicialmente estabelecido para proteassomas de mamíferos, e as

bandas coradas com Comassie Blue R-250, próximos ao peso molecular 640 kDaltons .

Page 47: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

46

Figura 12: Eletroforese nativa do proteassoma. A eletroforese realizada com 50µg de extrato. Os

proteassomas em sua forma nativa, foram submetidos a técnica desenvolvida pelo grupo do pesquisador

Rechsteiner em 1987 para eletroforese nativa de proteassomas 20S e 26S de mamíferos. (PM) Peso

molecular em kDaltons.

4.5 O perfil dos conjugados ubiquitinados

Investigamos as proteínas modificadas pela ubiquitina (ubiquitinadas),

utilizando anticorpo contra a ubiquitina (Sigma) no extrato bruto do T. cruzi (Figura

13). Podemos visualizar proteínas ubiquitinadas de diversos pesos moleculares e

especialmente alguns aglomerados, estes aglomerados variam entre os diferentes DTUs.

O sinal indicado pela seta mostra um aglomerado que está conjugado à ubiquitina no

par fenotípico in vivo (TcII) e não aparece no par fenotípico in vitro (TcVI), a seta

indica um aglomerado de maior intensidade na cepa COL(Tc-I) comparado a cepa

CL(Tc-VI).

Page 48: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

47

4.6 O perfil das proteínas oxidadas

As proteínas oxidadas, foram analisadas pelos grupos carbonila, a reação do

radical COO- com o DNPH e consecutivamente um Western blot utilizando um

anticorpo contra o DNPH. Essa abordagem gerou um rastro de marcação como a

ubiquitina, marcando proteínas dos mais diversos pesos moleculares, contudo podemos

observar alguns aglomerados de maior intensidade do sinal obtido pelo kit ECL-plus,

além de uma maior marcação nas populações susceptíveis 17WTS e BZS quando

comparados as populações resistentes correspondentes 17LER e BZR (Figura 14).

Figura 13: Perfil das proteínas conjugadas a ubiquitina. As proteínas foram visualizadas após

western blot utilizando anticorpo primário anti-ubiquitina. O anticorpo secundário, conjugado a

fosfatase alcalina e reação com NBT/BCIP. (PM) Peso molecular em kDaltons.

Page 49: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

48

A B

Figura 14: Perfil das proteínas oxidadas. Os radicais –COO- das proteínas foram inicialmente

conjugados ao DNPH e visualizadas após western blot utilizando anticorpo primário anti-DNPH. Em A o

anticorpo secundário, conjugado a peroxidase visualizado em filme (10 segundos de exposição) após

tratamento com os reagentes do kit ECL plus e em B o anticorpo secundário, conjugado a fosfatase

alcalina seguido da reação com NBT/BCIP.

4.7 Degradação protéica intracelular, não lisossomal no T. cruzi.

A degradação de proteínas foi determinada pela liberação da tirosina das

proteínas degradadas no meio reacional. Foi observado o aumento da tirosina quando a

incubação ocorreu na presença de ATP e de ATP mais ubiquitina para todas as

populações estudadas, contudo este aumento não foi estatisticamente diferente entre

estes dois grupos.

Como controle da ação do proteassoma 20S e do proteassoma-like, foi

adicionado o MG-132 que bloqueou a liberação da tirosina em torno de 95%. Após a

incubação do extrato, retiramos uma alíquota do meio reacional e realizamos um

Western blot com o anticorpo contra ubiquitina (Santa Cruz Biotchenology). Foi

observado que a adição de ubiquitina levou a um discreto aumento dos conjugados

ubiquitinados e a adição de MG-132 levou a um aumento um pouco mais evidente

destes conjugados ubiquitinados (Figura 15).

Page 50: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

49

Figura 15: Perfil das proteínas ubiquitinadas. 15µg de proteínas após incubação na presença de

ubiquitina bovina e ATP foram visualizadas para avaliar a degradação protéica dependente de

proteassoma: (1) basal, (2) ATP, (3) ATP + Ubiquitina e (4) ATP + Ubiquitina + MG-132. Os

conjugados foram visualizados após Western blot utilizando o anticorpo primário anti-ubiquitina e

reagidos com NBT/BCIP após incubação com o anticorpo secundário conjugado a fosfatase alcalina.

A Figura 16 A mostra, para o par fenotípico de resistência induzida in vitro, o

percentual da variação na concentração da tirosina, em relação à concentração de

tirosina basal (tempo 0) da população susceptível 17WTS. Observou-se que o nível

basal é 40% menor na população resistente ao BZ, 17LER, bem como um aumento após

a incubação de 75% para 17WTS e 135% para 17LER.

A Figura 16 B mostra, para o par fenotípico de resistência selecionada in vivo, o

percentual da variação na concentração da tirosina, em relação à concentração de

tirosina basal (tempo 0) da população susceptível BZS. Observou-se o nível basal 20%

maior na população resistente ao BZ, BZR, bem como um aumento após a incubação de

85% para BZS e 60% para BZS.

Finalmente, a Figura 16 C, mostra para o par das cepas CL (susceptível) e

Colombiana (naturalmente resistênte ao Bz), o percentual da variação na concentração

da tirosina, em relação à concentração de tirosina basal (tempo 0) da cepa CL.

Observou-se que o nível basal de tirosina é 73% maior na população resistente ao BZ,

Colombiana, bem como um aumento após a incubação de 113% para CL e 98% a

Colômbia.

1 2 3 4

Page 51: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

50

Figura 16: Degradação protéica intracelular não lisossomal. Degradação relativa a concentração de

tirosina do grupo controle (tempo 0) da cepa susceptível: a concentração de tirosina foi mensurada no

tempo 0 (basal), e após 90 minutos de incubação com ATP, ATP + Ubiquitina e ATP + Ubiquitina + MG-

132. Os gráficos mostram a média da concentração obtida da triplicata técnica de um experimento. Vale a

pena ressaltar que a atividade sistema variou de preparação para preparação em termos absolutos,

entretanto, foi observado a manutenção na magnitude da taxa de proteólise entre as réplicas biológicas. a

diferença estatística ao controle e * diferença estatística ao mesmo grupo entre o par fenotípico.

Observamos pela Figura 17, o percentual da variação na concentração da

tirosina, em relação a concentração de tirosina basal (tempo 0) da população PP75, da

espécie L. chagasi. Observou-se que o nível basal de tirosina da espécie L. amazonensis

é 320% maior quando comparada as outras Leishmanias estudadas. A proteólise nos

grupos em que foram adicionados, ATP e ATP conjuntamente com ubiquitina, possui

níveis maiores de tirosina quando comparados ao controle, contudo, a comparação entre

estes dois grupos não revela diferença na proteólise.

A adição de 50µM de MG-132 reduziu a proteólise a níveis similares ao

encontrado no controle.

Page 52: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

51

Figura 17: Degradação protéica intracelular não lisossomal em Leishmania sp. Degradação relativa a

concentração de tirosina do grupo controle (tempo 0) da população PP75 da espécie L. chagasi: a

concentração de tirosina foi mensurada no tempo 0 (basal), e após 90 minutos de incubação com ATP,

ATP + Ubiquitina e ATP + Ubiquitina + MG-132. a diferença estatística ao controle e * diferença

estatística do grupo controle entre as cepas de Leishmania sp. estudadas.

Page 53: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

52

5 Discussão

Page 54: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

53

A proteólise intracelular dependente de proteassoma é a principal via de

degradação não lisossomal em células eucarióticas e, responsável pela degradação de

proteínas anormais e de meia via curta tanto no citosol como no núcleo. Usualmente, o

proteassoma 20S é associado a reguladores, entretanto, os mecanismos envolvidos na

interação PA700-20S-PA700, PA28-20S-PA28 e híbridos ainda são pouco

compreendidos (revisado por RECHSTEINER & HILL 2005).

Nos parasitos protozoários o entendimento da função do proteassoma 20S foi

realizado utilizando inibidores específicos para esta protease, tanto de natureza aldeídica

como -lactamica. Especialmente, no T. cruzi, foi observada a interferência no

remodelamento morfológico, e ainda, o impacto na proteólise durante o remodelamento

morfológico pela depleção de ATP, concomitante ao uso de inibidores do proteassoma e

outras proteases, avaliando a contribuição de cada via da degradação protéica.

(GONZÁLES et. al., 1996; DE DIEGO et. al., 2001).

O papel do proteassoma 20S no desenvolvimento do T. cruzi, foi investigado

Cardoso et. al., (2008) que demonstraram que a adição de lactacistina, um inibidor do

proteassoma 20S bloqueia a replicação das formas epimastigotas de T. cruzi. Além

disso, a adição desse inibidor no meio TAU bloqueou a metaciclogênese in vitro.

Também foi observado um arraste na fase G2 do ciclo celular. Esses resultados em

conjunto sugerem que o proteassoma é essencial no processo de metaciclogênese.

O uso de inibidores para avaliar a contribuição da proteólise dependente do

proteassoma no desenvolvimento de parasitas é uma linha de investigação que vem

sendo desenvolvida nos últimos cinco anos em nosso laboratório. Nesses estudos foi

observado que inibidores aldeídicos como, por exemplo, PSI e MG-132 bloqueiam a

replicação de epimastigotas das cepas Be-62, Be-78 e Y do T. cruzi. Além disso, o uso

de tripomastigotas sanguíneos das populações Be-62, Be-78 e Y do T. cruzi, pré-

incubados com PSI, promoveu uma inibição na parasitemia de 68, 42 e 73%

respectivamente quando comparado ao grupo controle (HANGAI, 2007).

Além disso, foi verificado que o tratamento prévio de tripomastigotas

sanguíneos da população Y do T. cruzi com PSI alterou o tropismo tecidual uma vez

que, foi detectado um aumento do parasitismo nos músculos cardíaco e esquelético

acompanhado de uma diminuição no baço e fígado. Considerando que a população Y é

descrita na literatura com reticulotrópica, este resultado abre questões interessantes

Page 55: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

54

sobre a contribuição de um proteassoma funcional para o estabelecimento da DC

(BRENER, 1973).

Trabalho prévio deste laboratório (OLIVEIRA, 2007), utilizando as populações

17WTS, 17LER, BZS, BZR, Cl e Colombiana demonstraram um perfil de hidrólise

diferencial dos peptídeos GGR-MCA e LLVY-MCA, específicos para as atividades

semelhantes à tripsina e quimotripsina em frações enriquecidas de proteassoma. Além

disso, utilizando anticorpo contra as subunidades do tipo alfa, foi detectada uma

quantidade significantemente maior do proteassoma 20S nas cepas sensíveis em relação

às cepas resistentes ao benzonidazol, entretanto, como foi utilizado um anticorpo

comercial (clone MCP231- PW8195 – Biomol Biotechnology) que reconhece 5 das 7

subunidades alfa do proteassoma 20S, esse resultado foi questionado quanto a

especificidade uma vez que foi utilizado anticorpo contra subunidades de proteassoma

de mamíferos.

Neste mesmo trabalho foi demonstrado que o perfil de conjugados ubiquitinados

era equivalente entre as diferentes populações analisadas, não sendo detectados acúmulo

de substratos poli-ubiquitinados, os substratos naturais do proteassoma 26S, sugerindo

que esta via deveria estar funcionando de forma regulada nas populações de T. cruzi

estudadas.

Esses resultados abriram diversas questões sobre a contribuição do proteassoma

para o stead-stade protéico no T. cruzi, das quais destaca a influência das modificações

pós traducionais e da dinâmica de interações do proteassoma com seus reguladores e

PIPs (do inglês: Proteasome interaction proteins) na atividade peptidásica do

proteassoma 20S.

Dando continuidade a esta investigação, o objetivo geral desse trabalho foi a

analise bioquímica inicial do proteassoma 20S e seus reguladores em extratos protéicos

solúveis de epimastigotas de populações de T. cruzi com fenótipo de resistência ao

benzonidazol.

O uso de extratos protéicos solúveis justifica-se, pois nele encontra-se o

proteassoma 20S, o proteassoma símile HslV/U, os reguladores PA700 e PA26, PIPs e

os alvos naturais destas proteases. Análises anteriores de purificação do proteassoma,

utilizando métodos clássicos como precipitação com sulfato de amônio seguido de

cromatografia de troca iônica em Q-sepharose evidenciou sub-populações de

proteassomas sendo possível separar uma sub-população cuja capacidade de hidrolise

Page 56: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

55

era maior para o peptídeo Gly-Gly-Arg-AMC (atividade semelhante à tripsina) e uma

outra para Suc-Leu-Leu-Val-Tir-AMC (atividade semelhante a quimotripsina-

resultados não apresentados).

Considerando a complexidade destas sub-populações e resultados de Barbosa

(2010) demonstrando a coexistência do proteassoma símile HslVU e a necessidade de

grande quantidade de parasitos nas etapas de purificação, optamos por avançar no

entendimento do funcionamento do sistema ubiquitina-proteassoma para posterior

retomada da purificação das sub-populações de proteassomas identificados (dados não

mostrados).

A Tabela 1 mostra a atividade do proteassoma 20S utilizando peptídeos para as

atividades semelhantes à tripsina, quimotripsina e caspase. Foi observado que somente a

atividade tripsina está associada ao fenótipo de resistência ao benzonidazol. A medida

da atividade peptidásica do proteassoma contra substratos fluorogênicos também revela

uma preferência à degradação do peptídeo CBZ-Gly-Gly-Arg-MCA, nas populações

17WTS e 17LER e na cepa CL. Este resultado é corroborado pelo descrito para o

proteassoma 20S purificado do T. cruzi e para o T. brucei (GONZÁLEZ et. al., 1996;

HUA et. al.,1996). É interessante notar que no proteassoma 20S e 26S purificado de

mamíferos a atividade peptidásica mais intensa é a semelhante à quimotripsina. O

motivo e função desta mudança na cinética dos sítios ativos não foram estabelecidos até

o momento. Vale a pena ressaltar que apesar dos estudos cinéticos demonstrarem que a

atividade semelhante à quimotripsina é secundária, a inibição desta atividade pela

adição de MG-132 ou PSI bloqueia o ciclo celular do T. cruzi (CARDOSO, 2008;

HANGAI, 2007).

Já a intensidade da degradação do peptídeo Suc-Leu-Leu-Val-Tyr-AMC

(atividade semelhante à quimotripsina), não variou no par fenotípico de resistência

induzida in vitro, foi maior na população susceptível no par fenotípico de resistência

selecionada in vivo e menor na população susceptível no par fenotípico de resistência

natural, assim não correlacionando com o fenótipo de resistência.

Esses resultados também evidenciaram que os proteassoma das populações BZS

e BZR e a cepa Colombiana, tem preferência para hidrolisar o peptídeo Suc-Leu-Leu-

Val-Tyr-AMC. Um resultado semelhante foi encontrado em tripanosomatideos, em um

único estudo, para o proteassoma 20S purificado em L. mexicana (ROBERTSON,

1999).

Page 57: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

56

Também foi observado uma baixa atividade semelhante à caspase, que pode ser

atribuída ao peptídeo utilizado como substrato. Sabe-se que o peptídeo utilizado (Leu-

Leu-Asp-AMC) também pode ser construído com um grupo 2-naftilamina como

fluoroforo, apresentando uma taxa de degradação 600 vezes maior pelo proteassoma de

mamíferos quando comparado ao peptídeo contendo o fluoróforo 7-metilcumarina

(KISSELEV e GOLDBERG, 2005). Contudo a opção por utilizar o fluoróforo 7-

metilcumarina foi por ser o mesmo fluoróforo dos demais substratos e, evitou-se

trabalhar com o carcinógeno 2-naftilamina. Por outro lado, González et.al., (1996)

demonstrou que a atividade semelhante à caspase é aproximadamente 10 vezes menor

que a atividade semelhante à quimotripsina e 17 vezes menor que a atividade

semelhante à tripsina. Esses resultados corroboram os dados obtidos neste estudo.

O proteassoma do T. cruzi de forma semelhante ao de eucariotos, possui três

diferentes tipos de sítios ativos: dois semelhantes à quimotripsina, dois semelhantes à

tripsina, e dois semelhantes à caspase que diferem em sua especificidade em relação

peptídeo fluorogênico (substratos modelo). Para mamíferos, o sítio semelhante à

quimotripsina é freqüentemente considerado o mais importante na degradação de

proteínas, e é o único cuja atividade deve ser mensurada com o propósito de avaliar a

capacidade de degradar proteínas pelo proteassoma (KISSELEV e GOLDBERG, 2005).

Estes peptídeos são amplamente utilizados, bem conhecidos e específicos como visto

para o peptídeo Suc-Leu-Leu-Val-Tir-AMC em que apenas 5% da degradação não é

catalisado pelo proteassoma em células HeLa. Também ressaltamos que a hidrólise dos

peptídeos na Tabela 1 podem ser relacionadas ao proteassoma uma vez que a adição de

MG-132 bloqueia a atividade semelhante à quimotripsina sem afetar a atividade

semelhante a tripsina (Tabela 2).

González et, al., (1996) trabalhando com a cepa Y do T. cruzi demonstrou que,

em proteassomas purificados, a atividade semelhante à tripsina é aproximadamente 7

vezes maior que a atividade semelhante a quimotripsina. Não descartamos que o

substrato utilizado para a atividade semelhante à quimotripsina, também pode ser

degrado pelo proteassoma-like, HslVU, contudo a degradação de peptídeos por este

complexo mostra-se dependente de ATP, no tripanosomatideo T. brucei (LI et. al.,

2008), o que não é relatado para o proteassoma 20S. Já para o substrato utilizado para

mensurar a atividade semelhante à tripsina, não encontramos relatos de sua degradação

por este complexo. Ainda, não podemos descartar que as diferentes montagens do

Page 58: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

57

proteassoma estejam influenciando a atividade semelhante a quimotripsina, uma vez

que González et. al., (1996) relata que a atividade quimotripsina sofre uma considerável

queda durante o processo de purificação do proteassoma.

Nosso próximo passo foi investigar se as diferenças da atividade peptidásica

eram resposta a diferenças na expressão protéica do proteassoma 20S. Uma outra

hipótese levantada foi que o complexo treonino protease HslVU, estaria contribuindo

para o resultado encontrado, uma vez que o T. cruzi é um dos raros organismos que co-

expressa os dois complexos.

Para avaliar os níveis do proteassoma 20S e da HslVU foram utilizados

anticorpos específicos produzidos em camundongos contra a proteína recombinante do

T. cruzi. Não foi observado variação na expressão da subunidade α7 entre as populações

estudadas (Figura 8). Vale apena ressaltar que foi considerado significativo, diferenças

quando a razão α7/HSP70 entre as populações foi maior ou igual 1,5.

Andrade et. al. (2008), utilizando abordagem proteômica, relataram que os

níveis protéicos da subunidade β5 do proteassoma 20S estão aumentados no clone

resistente 27R (derivado da população BZR) comparado ao clone 9S (derivado da

população BZS), contudo esta mesma correlação não foi encontrada quando foram

analisados os pares BZS / BZR e 17WTS / 17LER, sugerindo que a super expressão de

um dos constituintes do proteassoma 20S pode estar relacionada a um clone e que esta

up-regulation é perdida quando se analisa uma população policlonal.

Por outro lado, quando comparamos este resultado com os descritos por Oliveira

(2007), notamos uma diferença no padrão de reatividade do anticorpo entre as

populações. Essas diferenças estão relacionadas ao anticorpo utilizado, desenvolvido

para reconhecer um epítopo comum a todas as subunidades α do proteassoma de

mamíferos e como em um fracionamento por PAGE as subunidades do proteassoma

formam um agrupamento de bandas entre 25 a 32 kDa aproximadamente, forma-se um

sinal duplo dificultando a análise.

Neste trabalho, foi utilizada uma subunidade para quantificar os níveis de

proteassoma existentes em epimastigotas. A hipótese de que os resultados da Figura 8

estão superestimados foi descartada uma vês que não é relatado a transcrição e tradução

esterioquimicamente excessiva de subunidades do tipo α do proteassoma, de forma que

todas estão incorporadas nos proteassomas 20S e 26S (DAHMANN, 2005).

Page 59: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

58

A quantificação da subunidade HslV (Figura 9), do complexo proteolítico

HslVU, mostrou-se semelhante nas populações estudadas. Barbosa (2010) estudando as

cepas Berenice 62, Berenice 78 e Y do T. cruzi observou que tanto o proteassoma

quanto o HslV possuem uma expressão própria em cada uma destas cepas, e que seus

perfis de expressão foi modulado na presença do inibidor de treonino protease MG-132.

Considerando que os níveis protéicos tanto do proteassoma 20S como do

proteassoma-like HslVU são equivalentes, as diferenças nas atividades peptidásicas

observadas na Tabela 1, poderiam ser explicadas pela dinâmica de montagem do

proteassoma com seus ativadores: PA700 e PA26. Para essa avaliação, foi utilizada a

proteína RPN7 da partícula ativadora PA700 na intenção de reduzir interferentes no

Western blot, uma vez que outros componentes da partícula PA700 possuem domínios

conservados a outras proteínas não associadas ao reconhecimento do substrato e

endereçamento ao proteassoma como por exemplo as subunidades RPT 1-6 ATPases

que possuem o domínio AAA (cd00009) comum a outras ATPases envolvidas em

diversos processos celulares, a RPN10 que possui o domínio UIM também presente em

membros da família E3 de ligação a ubiquitina (LE BLOAS, 2007).

A Figura 9A mostra que os níveis da proteína RPN7 não variaram entre as

populações estudadas, assim como os níveis da proteína PA26 (figura 10A).

A Figura 10 também mostra que o anticorpo contra a proteína PA26 reconheceu

outras proteínas. Novos experimentos estão sendo realizados para identificar quais

proteínas estão reagindo com o anticorpo, contudo, como as proteínas de interação ao

proteassoma utilizam motivos similares, não excluímos a possibilidade dos anticorpos

estarem reagindo com outras proteínas que possuem estes mesmos motivos.

Resultados similares foram descritos por Cardoso (2010) que demonstra níveis

equivalentes do PA700 e PA26 durante a metaciclogênese in vitro do T. cruzi,

sugerindo que as diferentes montagens do proteassoma estão co-existindo na célula ao

longo da metaciclogênese, sendo ativados em locais específicos conforme a necessidade

celular.

Em conjunto estes resultados evidenciam pela primeira vez níveis semelhantes

dos ativadores PA700 e PA26 em epimastigotas tanto de populações com o mesmo

genótipo como em populações com diferentes DTUs.

A fim de verificar possíveis diferenças no proteassoma nativo, neste trabalho

também foi avaliada a mobilidade eletroforética do proteassoma, com o propósito de

Page 60: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

59

avaliar a dinâmica das interações do proteassoma 20S com seus ativadores. Foi

observada uma mobilidade eletroforética diferencial para os proteassomas das

populações analisadas (Figura 12) sugerindo que essas diferenças na migração podem

estar relacionadas à cinética de interação do proteassoma 20S com seus reguladores.

Entretanto, como esta metodologia alia a carga elétrica e o peso molecular, uma

hipótese bastante atrativa é que a migração diferencial do proteassoma 20S quando

comparamos a população Colombiana e as demais seria conseqüência direta da

interação do proteassoma 20S com seus ativadores e proteínas acessórias (PIPs). No pH

8,3, a mobilidade é afetada pela carga, assim proteassomas com número maior de cargas

negativas teriam uma maior mobilidade, por exemplo, sendo afetada pelo ``status`` de

fosforilação o que também justificaria o resultado encontrado (Figura 12). Diversos

grupos independentes vêem demonstrando que a fosforilação das subunidades do tipo α

é uma forma de regulação da atividade do proteassoma 20S (LÓPEZ-OTÍN et. al.,

2010; RAABEN et. al., 2010).

Resultados preliminares sugerem um efeito da fosforilação na atividade

peptidásica do proteassoma de T. cruzi (dados não mostrados). Futuros experimentos

irão investigar a dinâmica de interação do proteassoma 20S com seus ativadores e a

fosforilação regulando a atividade. Os resultados das Figuras 8, 9 e 10, analisados em

conjunto sugerem que nas formas epimastigotas do T. cruzi co-existem proteassomas

livres e associados aos seus reguladores.

Já está bem documentado que em células de mamíferos 40% dos proteassomas

estão em sua forma livre de ativadores (proteassoma 20S), 25% formam proteassoma

híbrido PA700-20S-PA28, 20% proteassoma ligado a duas partículas PA26 e 15%

proteassoma 26S (Cascio et. al., 2002), o que corrobora os resultados encontrados neste

trabalho.

O próximo objetivo foi determinar a taxa de proteólise intracelular não

lisossomal e dependente de proteassoma. Para isso, foi determinada a concentração de

tirosina livre, após a adição de ATP, ATP e ubiquitina, na presença ou ausência de MG-

132.

Foi observado que a concentração de tirosina basal variou significativamente

quando foram comparados as populações com o mesmo genótipo e diferentes fenótipos

de resistência, sugerindo uma variação do stead-state protéico e/ou a diferente captação

deste aminoácido nas populações resistentes (Figura 16). Resultado similar também foi

Page 61: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

60

observado quando foram comparadas as cepas CL e Colombiana, que possuem

diferentes classificações DTUs.

Também foi observado um aumento na taxa de proteólise não lisossomal após a

adição de ATP e que a adição de ubiquitina não induziu um aumento nesta taxa, sendo

bloqueado pela adição de MG-132.

Esse resultado levantou algumas questões sobre a contribuição do proteassoma

para a taxa de proteólise intracelular não lisossomal, das quais se destaca: (a) a

manutenção dos níveis de tirosina livre após a adição de ubiquitina estaria relacionada a

baixa concentração dos alvos naturais desta protease, uma vez que trabalhamos com o

extrato solúvel; (b) a concentração de ubiquitina livre no extrato solúvel está elevada de

forma que a adição de uma quantidade extra não desloca o equilíbrio para a conjugação;

(c) o aumento na taxa após a adição de ATP foi devido à degradação preferencial de

proteínas oxidadas pelo proteassoma 20S livre e (d) como co-existem concentrações

equivalentes de PA700 e PA26, haveria predominância no extrato solúvel de

proteassomas híbridos (PA700-20S-PA26).

Cardoso et. al. (2010) demonstrou para a cepa DM28 (DTU Tc-III) que a taxa de

proteólise não lisossomal se mantém após a adição de ubiquitina, contudo se reduz a

medida que a metaciclogenese ocorre atingindo um mínino na tripomastigota

metacíclica, corroborando com os resultados encontrados neste estudo.

Para analisar estas questões foram determinados tanto os perfis de proteínas

ubiquitinadas, que são reconhecidas pelo proteassoma 26S como das oxidadas que

podem ser reconhecidas pelo proteassoma 20S.

A Figura 13 mostra um perfil semelhante de proteínas conjugadas a ubiquitina.

Além disso, na presença de MG-132 foi verificado um acúmulo discreto das proteínas

ubiquitinadas, sugerindo que estas proteínas são degradadas pelo proteassoma 26S. De

Diego, (2001) observou acúmulo de conjugados durante a transição tripomastigota para

amastigota da cepa Y do T. cruzi, entretanto, considerando que a técnica não distingue

modificações envolvendo K29, K48 e K63, não é possível correlacionar este resultado

com um aumento da taxa de proteólise. Além disso, o anticorpo não detectou ubiquitina

livre nos blottings, sugerindo que não há excesso de ubiquitina livre nos extratos

utilizados para a medida de proteólise. Esses resultados são corroborados pelos

apresentados na Figura 15, onde se pode observar um aumento na quantidade de

proteínas ubiquitinadas após a adição de ATP e ubiquitina ao extrato, sugerindo que a

Page 62: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

61

ubiquitina adicionada ao meio foi conjugada aos alvos protéicos existentes no extrato

solúvel.

Foi utilizado o ensaio com DNPH para detectar e monitorar os níveis de

proteínas carboniladas em epimastigotas das populações de T. cruzi utilizadas neste

estudo. A carbonilação de proteínas é um indicador clássico de estresse oxidativo dentro

das células. É uma alteração irreversível, que desestabiliza as proteínas pela

modificação na conformação, e que geralmente são degradadas pelo proteassoma 20S

(GRUNE et. al., 1995; LEVINE, 2002 e BERLETT E STADTMAN, 1997). A Figura

14 sugere diferenças na quantidade de proteínas oxidadas nos extratos utilizados para a

determinação da taxa de proteólise intracelular, sendo mais abundantes nas populações

17WTS e BZS quando comparado com as populações 17LER e BZR.

Na literatura não encontramos correlações sobre a oxidação protéica no

tratamento da Doença de Chagas com benzonidazol, mas como este composto é um

agente redutor e, sabidamente, age desregulando o equilíbrio redox ligando-se

covalentemente para formar intermediários nitrorreduzidos com os componentes do

parasita, DNA, lipídios e proteínas (WERNER et. al., 2008), o benzonidazol pode estar

ligando-se aos grupos carbonila ou prevenindo seu surgimento devido ao stress

oxidativo que parece ser importante na manutenção da viabilidade celular. Futuros

experimentos serão realizados para confirmar essa hipótese.

Em conjunto esses resultados sugerem que a taxa de proteólise não lisossomal

dependente de proteassoma é regulada por mecanismos dependentes e independentes de

ubiquitina. Essa hipótese é corroborada pela existência de proteassomas híbridos em T.

cruzi e pelos resultados que demonstram que a degradação de substratos como a ornitina

descarboxilase acontece de forma dependente de ATP e independente de ubiquitina

(MURAKAMI et. al., 1992; JARIEL-ENCONTRE et. al.,2008), sendo reconhecida por

proteassomas híbridos (PA700-20S-PA26). Além disso, deve-se considerar a co-

existência dos complexos HslVU e proteassoma 20S e que o HslVU, pode contribuir de

forma significativa para a taxa de proteólise não lisossomal.

Page 63: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

62

6 Conclusão

Page 64: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

63

Os principais resultados obtidos neste trabalho foram:

A correlação entre a atividade semelhante à tripsina do proteassoma e o fenótipo

de resistência a drogas em T. cruzi;

Não foram detectadas diferenças significativas nos níveis protéicos de

proteassoma 20S, do proteassoma- símile HSLV/U, PA700 e PA26;

A taxa de proteólise intracelular foi estimulada pela adição de ATP;

A adição de ubiquitina não induziu um aumento real na taxa de proteólise

intracelular não lisossomal;

Não há diferenças entre o perfil de proteínas ubiquitinadas quando comparamos

populações sensíveis e resistentes ao benzonidazol;

O perfil de proteínas oxidadas mostrou-se diferente entre as populações

analisadas.

A analise em conjunto desses resultados permite concluir que o turnover

protéico em epimastigotas de populações com o mesmo genótipo e fenótipo distinto de

resistência ao benzonidazol e DTU´S exibe um elevado grau de complexidade sendo

extremamente bem regulado por fatores internos e externos ao T. cruzi.

Page 65: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

64

7 Perspectivas

Page 66: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

65

Diante dos resultados já obtidos, abrem-se as seguintes perspectivas:

Realização de géis 2D seguido de imunoblotting para confirmar a ausência de

acúmulo de conjugados poli-ubiquitinados no padrão de cepas estudado;

Determinação dos níveis do proteassoma 20S a partir das formas tripomastigota

e amastigota, bem como da atividade proteolítica e peptidásica;

Determinação de modificações pós-traducionais e do efeito da fosforilação e

glicosilação de subunidades do proteassoma sobre a atividade enzimática;

Purificação do complexo HslVU, bem como sua caracterização bioquímica;

Obtenção de anticorpos em ratos e coelho para localizar o complexo HslV/U e o

proteassoma 20S em diferentes populações e formas evolutivas de T. cruzi.

Page 67: Análise bioquímica inicial do proteassoma em populações do

66

8 Referencias

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