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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO PAULO JÁBALI JUNIOR ANÁLISE COMPARADA DA GRADE CURRICULAR DO CURSO DE FORMAÇÃO DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2013

Análise Comparada Da Grade Curricular Do Curso de Formação Da GCMSP

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  • FUNDAO GETULIO VARGAS

    ESCOLA DE ADMINISTRAO DE EMPRESAS DE SO PAULO

    PAULO JBALI JUNIOR

    ANLISE COMPARADA DA GRADE CURRICULAR DO CURSO DE FORMAO DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE SO PAULO

    SO PAULO

    2013

  • PAULO JBALI JUNIOR

    ANLISE COMPARADA DA GRADE CURRICULAR DO CURSO DE FORMAO DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE SO PAULO

    Trabalho apresentado Escola de Administrao de Empresas de So Paulo da Fundao Getulio Vargas, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Gesto e Polticas Pblicas.

    Campo de Conhecimento: Gesto e Polticas Pblicas.

    Orientadora: Profa. Dra. Carmen Augusta Varela

    SO PAULO

    2013

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    RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo estudar a grade curricular do curso de formao da Guarda Civil Metropolitana de So Paulo, comparativamente aos cursos realizados pelas Polcias Militares dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro e Paran. A comparao destas quatro grades curriculares frente proposta elaborada pela Secretaria Nacional de Segurana Pblica busca identificar se as matrias apresentadas nos cursos esto voltadas formao de agentes segundo os princpios de policiamento comunitrio e preventivo. Este modelo de atuao tem sido estudado e implementado por diferentes foras policiais em todo mundo como resposta ao crescimento da criminalidade, verificado especialmente a partir da dcada de 70.

    Palavras-chave: Grade curricular, curso de formao, policiamento comunitrio, Guarda Civil Metropolitana de So Paulo.

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    1. REFERENCIAL TERICO

    1.1. Criminalidade em alta e o novo modelo de policiamento

    A polcia investida de uma autoridade para prender, investigar, deter e usar a fora que apavorante. Sua atuao pode gerar forte e imediato impacto na vida dos cidados, ao priv-los de liberdade, invadir sua privacidade e mesmo causar danos fsicos. Esta poderosa autoridade delegada a servidores pblicos de baixo nvel da burocracia, que a exercem, com pouca ou nenhuma superviso (GOLDSTEIN, 2003).

    Ainda assim, apesar de sua posio anmala, para manter o grau de ordem que torna possvel uma sociedade livre, a democracia depende de maneira decisiva da fora policial. Cabe polcia prevenir contra a pilhagem de coisas alheias, dar uma sensao de segurana, facilitar o ir e vir, resolver conflitos e proteger os mais importantes processos e direitos como eleies livres, liberdade de expresso e liberdade de associao em cuja continuidade est a base da sociedade livre. O vigo da democracia e a qualidade de vida desejada por seus cidados esto determinados em larga escala pela habilidade da polcia em cumprir suas obrigaes. (GOLDSTEIN, 2003, p. 13)

    A partir da dcada de 60, muitos pases passaram a vivenciar ndices crescentes de criminalidade e o modelo tradicional de policiamento passou a ser questionado. Nos Estados Unidos, neste perodo, a sociedade experimentava um crescente movimento pelos direitos civis, ao passo que a fora policial se comportava de modo impermevel, em total obedincia aos procedimentos (DIAS NETO, 2003).

    Com o passar dos anos, novas teorias e experincias de policiamento surgiram para fazer frente a esta nova realidade e buscar a reduo dos ndices de violncia, como policiamento comunitrio, policiamento orientado ao problema e tolerncia zero. A teoria das janelas quebradas pressupe que a degradao dos espaos pblicos, como pichaes, entulho e prdios abandonados, causa um sentimento de repulsa na populao, que passa a evitar estes locais degradados, o que favorece a incidncia de crimes. O poder pblico deve pautar sua atuao na rea da segurana pblica tambm como zelador da paisagem urbana, garantindo a conservao dos espaos e sua utilizao pela populao (CARNEIRO, TORRIGO, 2006).

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    O policiamento comunitrio busca aproximar a atuao policial da sociedade. O modelo pressupe que a aproximao faa com que a populao transmita informaes que colaborem com a atuao policial e, sobretudo, aumente o sentimento de segurana entre as pessoas, pela proximidade da presena do Estado. O policiamento comunitrio expressa uma filosofia operacional orientada diviso de responsabilidades entre polcia e cidados no planejamento e na implementao das polticas pblicas de segurana (DIAS NETO, 2003, p. 30).

    Segundo TROJANOWICZ, BUCQUEROUX,

    polcia comunitria uma filosofia e uma estratgia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a populao e a polcia. Baseia-se na premissa de que tanto a polcia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporneos tais como crimes, drogas, insegurana, desordens fsicas e morais e em geral a decadncia do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida local (1994, p. 4-5).

    Outra vertente da atuao na rea de segurana o policiamento orientado ao problema. Estudos concluram que a estratgia da maioria das foras policiais enfoca reagir aos problemas, ou seja, a maior parte do efetivo est direcionada a chegar rapidamente aos locais de ocorrncias e lidar com suas consequncias. Esta estratgia ineficaz porque a presena constante da polcia, a p ou motorizada, tem pouca relao com a diminuio da criminalidade (SKOLNICK, BAYLEY, 2002).

    A postura policial deixa de ser atender a incidentes e passa a se orientar para a soluo de problemas. Para tanto, o agente deve estudar os crimes recorrentes, identificar solues de longo prazo e mobilizar recursos pblicos e privados para sua implantao. Em outras palavras,

    as polcias devem desenvolver uma habilidade para analisar os problemas sociais, trabalhar com outras pessoas para encontrar as solues, escolher os enfoques mais viveis e de menor custo, advogar vigorosamente a adoo dos programas desejados, e monitorar os resultados dos esforos de cooperao (SKOLNICK, BAYLEY, 2002, p. 37).

    Ainda segundo SKOLNICK, BAYLEY (2002), esta estratgia tem sido implementada com sucesso em diversas localidades norte-americanas. Em Madison, no estado de Wisconsin, um centro comercial estava em franca decadncia, sendo evitado pela populao, devido a

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    pessoas que se comportavam de modo desordeiro. Reportagens da imprensa local chegaram a noticiar que os envolvidos seriam em torno de mil pessoas. Aps estudar o local, os policiais identificaram que a origem do problema eram 13 (treze) indivduos que j haviam recebido tratamento psicolgico e se comportavam inadequadamente quando no seguiam o tratamento. Com a ajuda de pessoal ligado sade mental, os policiais passaram a supervisionar este grupo e o local deixou de ser considerando perigoso pela populao.

    importante destacar a importncia de se aliar estas duas prticas de atuao: policiamento comunitrio e orientado ao problema. O policiamento comunitrio muitas vezes encarado como um mero relaes pblicas dos rgos governamentais, mas quando pauta sua atuao por conhecer a localidade onde atua, o sentimento de insegurana daquela populao e passa a buscar solues para os problemas, h reconhecimento da populao de que o trabalho policial transmite segurana aos cidados.

    1.2. Diferentes estruturas de policiamento no Brasil e no mundo

    A atuao das foras policiais difere ao redor do mundo no que diz respeito centralizao e ao nmero de comandos. Um pas tem uma estrutura policial centralizada quando a direo operacional dada rotineiramente s subunidades a partir de um nico centro de controle (BAYLEY, 2006, p. 68). Pases como Frana, Itlia, Finlndia e Israel possuem foras policias centralizadas: na Frana, por exemplo, a Police Nationale, que atua nas cidades com mais de 10 mil habitantes, e a Gendarmerie, que policia reas rurais e cidades menores, esto vinculadas ao Ministrio do Interior. J o Japo, a Austrlia, o Canad e os Estados Unidos so pases onde h descentralizao da cadeia de comando.

    Quanto ao nmero de comandos, apenas pases com pouca extenso territorial, como Sri Lanka, Irlanda e Singapura, possuem uma nica fora policial, enquanto a maioria dos pases apresenta mltiplos rgos responsveis pelo policiamento, como Holanda, Estados Unidos e Espanha.

    O Canad tem um sistema interessante em que, a cada localidade, h apenas uma nica fora policial majoritria. Quando uma rea, por exemplo, um municpio, opta pelo autopoliciamento, as demais autoridades de segurana so excludas daquela regio. Assim, 450 municpios possuem polcias prprias, enquanto nos demais, atuam as foras provinciais e, em determinadas provncias, a cobertura realizada pela Royal Canadian Mounted

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    Police, federal. O sistema canadense extremamente descentralizado mas, de modo geral, cuidadosamente coordenado (BAYLEY, 2006, p. 71) no h sobreposio de competncias entre as polcias.

    No Brasil, a Constituio Federal de 1988 determinou qual a esfera de atuao de cada fora policial (BRASIL, 1988, p. 59-60):

    Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do patrimnio, atravs dos seguintes rgos:

    I - polcia federal;

    II polcia rodoviria federal;

    III polcia ferroviria federal;

    IV polcias civis;

    V - polcias militares e corpos de bombeiros militares.

    1 A polcia federal, instituda por lei como rgo permanente, organizado e mantido pela Unio e estruturado em carreira, destina-se a:

    (...)

    II - prevenir e reprimir o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuzo da ao fazendria e de outros rgos pblicos nas respectivas reas de competncia;

    (...)

    4 - s polcias civis, dirigidas por delegados de polcia de carreira, incumbem, ressalvada a competncia da Unio, as funes de polcia judiciria e a apurao de infraes penais, exceto as militares.

    5 - s polcias militares cabem a polcia ostensiva e a preservao da ordem pblica; aos corpos de bombeiros militares, alm das atribuies definidas em lei, incumbe a execuo de atividades de defesa civil.

    (...)

    8 - Os Municpios podero constituir guardas municipais destinadas proteo de seus bens, servios e instalaes, conforme dispuser a lei.

    (...).

    Pode-se caracterizar o sistema brasileiro como sendo de mltiplas foras (polcia federal, polcias estaduais civil e militar, guardas municipais facultativas e ainda foras especiais, como polcia rodoviria federal e polcia ferroviria federal) e descentralizado.

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    Sobre este aspecto, segundo PONCIONI (2013), foi com a criao da Secretaria Nacional de Segurana Pblica, vinculada ao Ministrio da Justia, em 1998, e a posterior edio dos Planos Nacional de Segurana Pblica (2000), de Segurana Pblica para o Brasil (2003) e Nacional de Segurana Pblica com Cidadania Pronasci (2007), que se inicia a organizao sistemtica sobre o tema, buscando a coordenao de esforos entre as diferentes unidades policiais. Foi a SENASP que editou, em articulao com organizaes atuantes no setor de segurana, a Matriz Curricular para o ensino policial em 2003, posteriormente reeditada, que, embora no tenha fora vinculativa junto s polcias estaduais e s guardas municiais, busca estimular a adoo de princpios humanitrios, comunitrios e preventivos na formao dos agentes e introduzir uma uniformidade de conceitos e tcnicas.

    Em outra publicao, PONCIONI (2005) destacara que poucas propostas para reformular a formao dos policias no Brasil tiveram xito, persistindo a atuao muitas vezes violenta e arbitrria, e sem a adoo de metodologias de interveno preventiva e orientada ao problema.

    2. METODOLOGIA

    O objetivo deste artigo investigar se a formao inicial dos guardas civis metropolitanos de So Paulo reflete as novas teorias sobre policiamento comunitrio e orientado ao problema. Para tanto, buscou-se comparar a grade curricular do Curso de Formao Especfico de Capacitao para Guarda Civil Metropolitano de 3 Classe com a Matriz Curricular proposta pela Secretaria Nacional de Segurana Pblica e com as grades de outras foras policiais, da PM de Santa Catarina, estado que possui uma das mais baixas taxas de homicdio do pas, e das PMs do Rio de Janeiro e do Paran, estados que tm registrado quedas no ndice de mortes1.

    1 No foi possvel realizar o comparativo com a grade curricular do curso de Tcnico de Polcia

    Ostensiva e Preservao da Ordem Pblica, realizado pela Escola Superior de Soldados Coronel PM Eduardo Assumpo, que o curso inicial de formao dos soldados da Polcia Militar do Estado de So Paulo porque esta grade no consta da Lei Complementar n 1.036/2008, que instituiu o sistema de ensino da Polcia Militar (SO PAULO, 2008) nem do Decreto n 54.911/2009, que regulamenta esta Lei (SO PAULO, 2009). A informao tambm no est disponvel no stio do Governo do Estado de So Paulo na Internet.

  • Foi realizada pesquisa bibliogrfica sobre o tema de segurana pblica, especialmente com enfoque nos novos modelos de policiamento comunitrio e orientado ao problema, em livros, artigos, bases de dados

    Finalmente, foram coleta

    Internet, buscando avaliar a contribuio do treinamento realizado pelo Centro de Formao em Segurana Urbana na formae comunitria. A seleo da amostra foi realizada por conveninciaentre os guardas que cursavam qualificao profissional no CFSU em julho de 2013 e tambm entre blogs mantidos por pessoas com atuao na rea de segurana. A pesquisa teve incio em 9 de julho de 2013 e foi encerrada em 1 de agosto do mesmdo servio SurveyMonkey, que segundo CRESWLL (2010) tem a vantagem de oferecer rapidez para criar os questionrios ao passo em que preserva o sigilo dos pesquisados.

    3. CONTEXTO

    Estudo recente realizado pelo Frum Brasileiro de Segurana Pblica revelou que o tempo de formao dos policiais insuficiente e focado em disciplinas pouco atividades cotidianas.

    Durao dos cursos de formao de policiais

    Fonte: Elaborao prpria com dados de BENITES (2013, p. 1)

    27%

    9%

    2%

    Foi realizada pesquisa bibliogrfica sobre o tema de segurana pblica, especialmente com enfoque nos novos modelos de policiamento comunitrio e orientado ao problema, em

    s online (como Scielo e Google Acadmico) e peridicos.

    Finalmente, foram coletados dados primrios, a partir de uma pesquisa feita pela buscando avaliar a contribuio do treinamento realizado pelo Centro de Formao

    em Segurana Urbana na formao de guardas civis metropolitanas com orientao preventiva A seleo da amostra foi realizada por convenincia: a divulgao ocorreu

    entre os guardas que cursavam qualificao profissional no CFSU em julho de 2013 e tambm tidos por pessoas com atuao na rea de segurana. A pesquisa teve incio

    em 9 de julho de 2013 e foi encerrada em 1 de agosto do mesmo ano e a coleta se deu atravs do servio SurveyMonkey, que segundo CRESWLL (2010) tem a vantagem de oferecer

    para criar os questionrios ao passo em que preserva o sigilo dos pesquisados.

    Estudo recente realizado pelo Frum Brasileiro de Segurana Pblica revelou que o tempo de formao dos policiais insuficiente e focado em disciplinas pouco

    Grfico 1 Durao dos cursos de formao de policiais

    Fonte: Elaborao prpria com dados de BENITES (2013, p. 1)

    46%

    27%

    16% 6 meses

    1 ano a 1,5 ano

    2 anos

    4 anos

    5 anos

    8

    Foi realizada pesquisa bibliogrfica sobre o tema de segurana pblica, especialmente com enfoque nos novos modelos de policiamento comunitrio e orientado ao problema, em

    (como Scielo e Google Acadmico) e peridicos.

    , a partir de uma pesquisa feita pela buscando avaliar a contribuio do treinamento realizado pelo Centro de Formao

    o de guardas civis metropolitanas com orientao preventiva : a divulgao ocorreu

    entre os guardas que cursavam qualificao profissional no CFSU em julho de 2013 e tambm tidos por pessoas com atuao na rea de segurana. A pesquisa teve incio

    o ano e a coleta se deu atravs do servio SurveyMonkey, que segundo CRESWLL (2010) tem a vantagem de oferecer

    para criar os questionrios ao passo em que preserva o sigilo dos pesquisados.

    Estudo recente realizado pelo Frum Brasileiro de Segurana Pblica revelou que o tempo de formao dos policiais insuficiente e focado em disciplinas pouco teis s suas

    Fonte: Elaborao prpria com dados de BENITES (2013, p. 1)

    6 meses

    1 ano a 1,5 ano

    2 anos

    4 anos

    5 anos

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    Sobre o tempo de formao, o estudo revela que em 20 (vinte) das 44 (quarenta e quatro) escolas de formao que responderam pesquisa, a durao dos cursos de seis meses, enquanto em pases europeus os cursos tm durao de dez meses. Como mostra o Grfico 1, em 46% das escolas, a durao do curso de seis meses o caso da formao dos guardas civis metropolitanos, tempo inferior ao recomendvel, segundo os pesquisadores que realizaram o estudo. importante ressaltar que o levantamento abarcou tambm a formao de oficiais da Polcia, cursos que tm titulao de graduao em ensino superior e durao prolongada (BENITES, 2013).

    Outros dois aspectos levantados do conta do contedo dos cursos e do corpo docente. O coordenador da pesquisa Jos Vicente Tavares dos Santos afirma que a formao muito bacharelesca e militarista. (...) A escola, muitas vezes, no leva em conta que o policial vai se envolver em situaes em que tanta teoria no basta (BENITES, 2013, p. 1). A esse respeito GOLDSTEN (2003) afirma que, aps a concluso do curso e se defrontar com situaes crticas, o policial descobre que pouco do que lhe foi ensinado se aplica s suas atividades, especialmente o que diz respeito ao treinamento para tomada de decises. Assim, o agente vai atuar pautado pela postura e modus operandi de seus pares com mais tempo de servio o que pode ser prejudicial, especialmente quando se pretende alterar a forma de atuao de uma corporao, partindo do princpio de que a formao seria o ponto de inflexo de um paradigma.

    Com relao ao corpo docente, em 34 (trinta e quatro) das 39 (trinta e nove) escolas que responderam ao questionamento, ou seja, em 87% dos cursos, o corpo docente formado majoritariamente por policiais (BENITES, 2013). No Rio de Janeiro, por exemplo,

    tanto a Polcia Militar quanto a Polcia Civil no possuem um corpo de docentes inteiramente dedicado ao ensino. Os professores dos cursos de formao profissional bsica, oferecidos por ambas organizaes policiais so, majoritariamente, policiais advindos da prpria Corporao, os quais, alm de acumularem a atividade docente com outras atividades prprias ao cargo prioritariamente exercido na corporao, no possuem necessariamente uma formao pedaggica adaptada funo. Alm disso, para os professores advindos da Corporao no h remunerao pelo desenvolvimento da atividade de ensino. Para esses policiais h, de fato, um acrscimo na sua carga horria de trabalho (PONCIONI, 2005, p. 596).

    O fato de o corpo docente ser formado em larga escala por profissionais das prprias polcias no representa necessariamente um ponto negativo: muitos policiais possuem a

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    formao em academias das corporaes com cursos de durao equivalente graduao e at mesmo mestrados e doutorados na rea de segurana. Portanto, seriam capazes de aliar a experincia profissional com o conhecimento acadmico. O ponto crtico que a escolha dos instrutores deve ser realizada a partir de concurso pblico, que avalie a formao e a didtica dos profissionais.

    Em So Paulo a Secretaria Municipal de Segurana Urbana o rgo responsvel pela formulao das polticas de segurana pblica no muncipio, enquanto que a Guarda Civil Metropolitana o principal rgo executor destas polticas e o Centro de Formao em Segurana Urbana encarregado da formao e capacitao do efetivo da Guarda. Hoje, a GCM conta com um efetivo de 6.149 (seis mil, cento e quarenta e nove) componentes entre homens e mulheres (ELIAS, JBALI JUNIOR, 2013, p. 33).

    A pesquisa realizada entre os Guardas Civis Metropolitanos revelou que, para 29,6% dos respondentes, os treinamentos realizados pela CFSU esto sempre ou frequentemente adaptados realidade da comunidade; para 11,1% nunca ou raramente esto adequados s caractersticas da regio; e para a maioria, 59,3%, eles s vezes so e s vezes no so adaptados realidade da comunidade.

    Grfico 2 Os treinamentos do CFSU esto adaptados realidade da comunidade/regio?

    Fonte: Elaborao prpria

    7,4%

    22,2%

    59,3%

    3,7%7,4%

    0,0%0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

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    Com relao atuao preventiva, que uma diretriz dos modelos avanados de policiamento, onde o trabalho enfoca a preveno em detrimento reao, os 44 (quarenta e quatro) entrevistados opinaram que os treinamentos do CFSU auxiliam a atuar preventivamente sempre ou frequentemente para 59,1%. Para 29,5%, os treinamentos do Centro de Formao em Segurana Urbana raramente ou nunca ajudam na atuao preventiva, enquanto que 9,1% entendem que s vezes auxiliam e s vezes no amparam a atuao preventiva.

    Grfico 3 Os treinamentos do CFSU o ajudam a atuar preventivamente?

    Fonte: Elaborao prpria

    Com base nestes dados, identifica-se que os treinamentos esto focados na atuao preventiva, ao menos para a maioria do contingente de entrevistados, mas esto pouco focados na atuao comunitria o aprendizado no est adaptado realidade das comunidades em que os Guardas Civis Metropolitanos atuam. Assim, buscou-se comparar a grade curricular do curso de formao da GCM com a matriz curricular proposta pela Secretaria Nacional de Segurana Pblica e com as grades curriculares de outros cursos de formao de policias no Brasil.

    13,6%

    45,5%

    9,1%

    22,7%

    6,8%

    2,3%

    0,0%

    5,0%

    10,0%

    15,0%

    20,0%

    25,0%

    30,0%

    35,0%

    40,0%

    45,0%

    50,0%

  • 12

    4. RESULTADOS

    De um modo geral as foras policiais no Brasil tem intensificado a formulao de diretrizes voltadas ao policiamento comunitrio e tambm investindo em equipamentos voltados para este fim, como, por exemplo, a instalao de bases comunitrias. Segundo Pesquisa sobre o perfil das instituies de segurana pblica, a Polcia Militar de So Paulo possui 252 (duzentas e cinquenta e duas) bases fixas de polcia comunitria e outras 216 (duzentas e dezesseis) bases mveis totalizando 468 (quatrocentas e sessenta e oito) unidades (BRASIL, 2013, p. 23). Depois da PMSP, o segundo estado com mais bases comunitrias o Esprito Santo, com 152 (cento e cinquenta e duas), seguido do Distrito Federal com 130 (cento e trinta) unidades.

    Todavia, no basta que haja investimentos apenas na construo e aquisio de bases fixas e mveis, prximas aos bairros, para que se possa caracterizar a atuao da polcia como comunitria. Para tanto, investir na formao e na qualificao dos agentes policiais para este novo modelo de policiamento essencial e um dos aspectos a ser considerado o currculo dos cursos. Segundo SACRISTN (2000):

    o currculo, com tudo o que implica quanto a seus contedos e formas de desenvolv-los, um ponto central de referncia na melhora da qualidade do ensino, na mudana das condies da prtica, no aperfeioamento dos professores, na renovao da instituio escolar em geral e nos projetos de inovao dos centros escolares (p. 32).

    A Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP), vinculada ao Ministrio da Justia, elaborou uma matriz curricular nacional que tem por objetivo ser um referencial terico-metodolgico que orienta as aes formativas dos profissionais da rea de segurana pblica (...) independentemente da instituio, nvel ou modalidade de ensino que se espera atender (BRASIL, 2008, p. 6). O documento conceitua que matriz remete s ideias de criao e gerao, que norteiam um concepo mais abrangente e dinmica de currculo (BRASIL, 2008, p. 6). Utiliza, ainda, a palavra malha curricular, ao invs de grade curricular, porque a primeira se apresenta como algo flexvel, que permita articular as disciplinas de diferentes alternativas. A malha curricular proposta pela SENASP (Quadro 1) foi elaborada em 2005 e revisada em 2008 por um grupo de trabalho e constitui uma orientao importante

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    para as foras policias regionais construrem os prprios contedos de seus cursos de formao2.

    Quadro 1 Malha Curricular SENASP

    reas Temticas da Matriz

    Disciplina Dimenso Percentual da Carga horria

    I

    Sistemas, Instituies e

    Gesto Integrada em

    Segurana Pblica

    Sistemas de Segurana Pblica no Brasil Conceitual 5%

    Fundamentos da Gesto Pblica Conceitual 5%

    Fundamentos de Gesto Integrada e Comunitria

    Conceitual 5%

    Mobilizao Comunitria Procedimental 4%

    II Violncia, Crimes e

    Controle Social

    Abordagem sociopsicolgica da violncia e do crime

    Conceitual 5%

    Criminologia aplicada Segurana Pblica Conceitual 5%

    Anlise de Cenrios e Riscos Procedimental 5%

    III Cultura e

    Conhecimento Jurdico

    Direitos Humanos Atitudinal 6%

    Fundamentos dos Conhecimentos Jurdicos

    Conceitual 5%

    IV

    Modalidades de Gesto de

    Conflitos e Eventos Crticos

    Preveno, Mediao e Resoluo de Conflitos

    Procedimental 4%

    Gerenciamento Integrado de Crises e Desastres

    Procedimental 4%

    V

    Valorizao Profissional e

    Sade do Trabalhador

    Relaes Humanas Atitudinal 6%

    Sade e Segurana aplicada ao trabalho Atitudinal 6%

    VI

    Comunicao, Informao e Tecnologias

    em Segurana Pblica

    Lngua e Comunicao Procedimental 4%

    Telecomunicaes Procedimental 4%

    Sistemas Informatizados Procedimental 4%

    Gesto da Informao Conceitual 5%

    VII Cotidiano e

    Prtica Reflexiva

    tica e Cidadania Atitudinal 6%

    2 A malha curricular traz uma somatria de 101% da carga horria sugerida. Ademais, a disciplina Abordagem

    sociopsicolgica da violncia e do crime est apresentada em duplicidade nas reas Temticas I e II. Contudo, esta falha pde ser corrigida no Quadro 1, verificando-se a as ementas das disciplinas, no Anexo II do documento, onde consta, na rea I, a disciplina Mobilizao Comunitria.

  • 14

    VIII

    Funes, Tcnicas e

    Procedimentos em Segurana

    Pblica

    Preservao e Valorizao da Prova Procedimental 4%

    Primeiros Socorros Procedimental 4%

    Uso da Fora Procedimental 5%

    Fonte: Elaborao prpria com dados de BRASIL (2008, p. 35-37)

    O Curso de Formao Especfico de Capacitao para Guarda Civil Metropolitano 3 Classe o treinamento inicial que os agentes participam aps a aprovao em concurso pblico. O curso ministrado pelo Centro de Formao em Segurana Urbana, rgo vinculado Secretaria Municipal de Segurana Urbana de So Paulo e tem carga horria total de 600 (seiscentas) horas (Quadro 2).

    Quadro 2 Grade Curricular do Curso de Formao da Guarda Civil Metropolitana

    Matria Carga

    Horria Percentual da Carga

    Conhecimento Institucional I 52 9%

    Conhecimento Institucional II 26 4%

    Noes de Direito 50 8%

    Noes de Legislao Especial 18 3%

    Direitos Humanos 30 5%

    Programas de Proteo Cidad I 32 5%

    Programas de Proteo Cidad II 46 8%

    Trnsito e Conduo de Veculos Oficiais 28 5%

    Instruo Operacional I 76 13%

    Instruo Operacional II 24 4%

    Atendimentos Emergenciais 26 4%

    Conhecimento Especfico 32 5%

    Tiro Defensivo de Preservao Vida 70 12%

    Condicionamento Fsico 79 13%

    Atividades Complementares 11 2%

    Total 600

    Fonte: Elaborao prpria com dados de SO PAULO (2013, p. 1-3)

  • 15

    Analisando as disciplinas do curso de formao, comparativamente Malha Curricular proposta pela SENASP, alguns pontos merecem destaque. Primeiramente, o estudo de Noes de tica e Normas de Conduta est inserido na disciplina de Conhecimento Institucional I com carga de 6 (seis) horas, o que representa apenas 1% do total do curso, enquanto que a SENASP indica que esta matria deveria representar 6% - a respeitar este ndice, o curso de formao da Guarda Civil Metropolitana (GCM) deveria dedicar 36 (trinta e seis) horas ao estudo de tica.

    As duas disciplinas de Conhecimento Institucional representam 78 (setenta e oito) horas no total, e 72 (setenta e duas) horas se excluirmos o tpico sobre tica, o equivalente a 12% da carga horria, e buscam informar os alunos sobre a histria da Guarda, hierarquia, disciplina plano de carreira e smbolos nacionais. Este contedo no est contemplado na matriz da SENASP e, sobretudo, consome significativa parcela do treinamento para informar conhecimentos nada relacionados teoria de policiamento comunitrio.

    O contedo proposto pela Secretaria Nacional de Segurana Pblica contempla o estudo do Sistema de Segurana Pblica no Brasil, com 5% do total de horas dos cursos de formao. A grade curricular do Centro de Formao em Segurana Urbana (CFSU) apresenta tal estudo dentro da matria sobre Noes de Direito, com 4 (quatro) horas de aula, o que representa 0,67% do curso, muito inferior ao indicado. Ainda sobre a disciplina de Noes de Direito, ela totaliza 46 (quarenta e seis) horas, excluindo-se o Sistema de Segurana Pblica no Brasil, o equivalente a 7,6% do total um pouco superior ao percentual sugerido de 5% na malha curricular da SENASP.

    Dois aspectos positivos da grade curricular foram observados: h uma disciplina de Noes de Legislao Especial que contempla, ao longo de 18 (dezoito) horas, o estudo do Estatuto da Criana e Adolescente, violncia domstica, Estatuto do Idoso e as pessoas com mobilidade reduzida e portadoras de necessidades especiais. Esta matria essencial para a formao de uma Guarda voltada atuao comunitria e com base nos princpios humanistas, considerando que estes grupos possuem necessidades especficas e devem contar com um atendimento diferenciado, em sintonia com o policiamento orientado ao problema. Somente se conhecer as diferentes classes populacionais, e consequentemente suas demandas, que se poder avanar para uma atuao comunitria.

    O segundo ponto diz respeito s matrias de Programas de Proteo Cidad I e II, com um total de 78 (setenta e oito) horas os programas de proteo escolar e pessoas em

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    situao de risco, por exemplo, so o objeto de estudo dessas matrias. Alm disso, h a disciplina de Proteo Comunitria, com 6 (seis) horas, dentro da matria de Instruo Operacional I. Este conjunto de matrias representam 14% do total da carga horria do curso de formao e esto em sintonia com uma fora policial prxima da populao e atuando de modo preventivo.

    O Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos divulga regularmente o Mapa da Violncia com os ndices de homicdios causados por arma de fogo por unidade da federao. De acordo com o ltimo levantamento divulgado, o estado de Santa Catarina apresentou a 3 menor taxa do Brasil: foram 8,5 homicdios por grupo de 100 mil habitantes; enquanto que o estado do Rio de Janeiro registrou a terceira maior reduo da taxa no perodo entre 2000 e 2010: de 47 homicdios por grupo de 100 mil habitantes para 26,4 homicdios reduo de 44% (WAISELFISZ, 2013). O estado do Paran vem apresentando reduo na taxa de homicdios nos ltimos anos: foram 27% menos homicdios dolosos no primeiro semestre de 2013 em comparao com o mesmo perodo de 2010 (WALTRICK, 2013). Sero analisadas as grades curriculares de formao das polcias destas trs unidades da Federao.

    Em Santa Catarina a Lei n 6.217/1983 organizou a estrutura dos rgos da Polcia Militar e instituiu o Centro de Ensino da Polcia Militar (CEPM), cuja subdiviso Centro de Formao e Aperfeioamento de Praas (CFAP) responsvel pela formao dos ingressantes na carreira (SANTA CATARINA, 1983).

    A grade curricular do curso de formao dividida em 3 mdulos e tem durao total de 1.445 (um mil, quatrocentas e quarenta e cinco) horas (vide Quadro 3). Cada mdulo subdividido em disciplinas.

    Observa-se um predomnio das reas temticas de Conhecimentos Jurdicos (27%) e Tcnicas e Procedimentos em Segurana Pblica (30%), que somam 57% da carga horria do curso. Pormenorizando a anlise destas reas temticas, em Conhecimentos Jurdicos a grande maioria das matrias estuda os ramos do Direito (Penal, Constitucional, Processual Penal, Ambiental, Penal Militar e Processual Penal Militar), Legislao de Trnsito e Documentos Operacionais. Somente no mdulo III, existem as disciplinas de Direito da Criana e do Adolescente (com 15 horas de carga, o equivalente a 1% do total) e Direitos Humanos (com carga de 30 horas, o que representa 2% do total do curso). Assim, quase um quarto do curso (24%) dispendido com Conhecimentos Jurdicos que pouco contribuem para a formao

  • 17

    comunitria dos agentes, em contraposio indicao da SENASP de utilizar 5% da carga horria total dos cursos com Fundamentos dos Conhecimentos Jurdicos.

    Quadro 3 Grade Curricular do Curso de Formao da Polcia Militar de Santa Catarina

    rea Temtica Carga

    horria Mdulo I

    Carga horria

    Mdulo II

    Carga horria

    Mdulo III

    Carga Horria

    Total

    Percentual da Carga

    Cultura Policial e Prtica Reflexiva na PMSC

    65 60 80 205 14%

    Conhecimentos Jurdicos 180 105 105 390 27%

    Gesto em Segurana Pblica 55

    20 75 5%

    Tcnicas e Procedimentos em Segurana Pblica

    115 105 210 430 30%

    Gesto de Conflitos e Eventos Crticos

    40

    40 3%

    Valorizao Profissional e Sade do Trabalhador

    75 105 60 240 17%

    Estgio Supervisionado e ADD 10 20 35 65 4%

    Total

    1445

    Fonte: Elaborao prpria com dados de BRAND, TOLFO (2012, p. 17-20)

    A rea temtica de Tcnicas e Procedimentos em Segurana Pblica, por sua vez, tem um enfoque fortemente voltado atuao armada dos policiais: as disciplinas que compem este eixo so: Criminalstica e Investigao Criminal, Teoria do Tiro, Tiro Policial (3 matrias), Tcnicas de Polcia Ostensiva (2 matrias), Operaes de Trnsito, Combate a Incndios e Atendimento Pr-hospitalar. So, sem dvida, matrias relevantes para o aprendizado de uma corporao que atuar em situaes de risco e, por vezes, de enfrentamento do crime.

    Contudo, so poucas as disciplinas que abordam as diretrizes preventiva e comunitria. Na rea de Cultura Policial e Prtica Reflexiva na Polcia Militar de Santa Catarina, dentro do mdulo II so elencadas as disciplinas de tica e Cidadania (com 15 horas de carga, ou 1% do total) e Atuao Policial Frente a Grupos Vulnerveis e Minorias (30 horas de estudo, o equivalente a 2% do curso) e, no mdulo III, Polcia Comunitria (com carga de 45 horas, o que representa 3% do total do curso). So estas 3 matrias, que somadas

  • 18

    representam 6% da carga horria total da formao, que possuem carter humanista e comunitrio.

    No estado do Rio de Janeiro, o Centro de Formao e Aperfeioamento de Praas, CFAP 31 de Voluntrios, a instituio responsvel pela formao tcnico-profissionalizante e continuada da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), que oferece a formao para Soldados, Cabos e Sargentos, bem como cursos de aperfeioamento (RIO DE JANEIRO, 2012, p. 6).

    Sobre a grade curricular utilizada em 2006, BASLIO (2007) aponta que

    comparada com outras corporaes, a Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro valoriza as disciplinas de cunho prtico, como educao fsica, armamento e tiro policial. Disciplinas de cunho intelectual apresentaram defasagem em relao ao contedo proposto pela Matriz Curricular Nacional, bem como carga horria inferior s praticadas em outras Polcias Militares (p. 82).

    Em 2012, aps estudos realizados, foi implementada uma nova grade curricular, cuja elaborao buscou acompanhar as diretrizes da Matriz Curricular SENASP, inclusive dividindo as matrias nas dimenses conceitual, procedimental e atitudinal e buscando equilbrio entre cada uma destas. O curso tem carga total de 1.182 (um mil, cento e oitenta e duas) horas e est dividido em quatro mdulos: (1) Comum; (2) Profissional (3) Jurdico e; (4) Complementar. Dentro do mdulo complementar, que totaliza 440 (quatrocentas e quarenta) horas, esto presentes 380 (trezentas e oitenta) horas distribudas para avaliao, estgio tcnico operacional, coordenao pedaggica e atividades extracurriculares, como palestras. Existe, ainda neste mdulo, o Curso de Aprimoramento da Prtica Policial Cidad, realizado pela Fundao Viva Rio, que demanda 60 (sessenta) horas (RIO DE JANEIRO, 2012).

    Uma vez que o mdulo complementar representa 37% da carga horria total do curso, contra 2% da grade curricular da Guarda Civil Metropolitana e 4% da grade da Polcia Militar de Santa Catarina utilizada para estas atividades, o Quadro 4 apresenta o percentual da carga que cada disciplina representa em duas anlises: sobre a carga total, incluindo o mdulo complementar, e sobre a carga do curso excluindo-se este mdulo complementar, exceo da disciplina de Prtica Policial Cidad.

  • 19

    Quadro 4 Grade Curricular do Curso de Formao da Polcia Militar do Rio de Janeiro

    Matria Carga

    Horria Percentual da Carga

    Percentual da Carga (excluindo

    Mdulo Complementar)

    Direitos Humanos 16 1% 2%

    Educao Fsica 120 10% 15%

    tica 8 1% 1%

    Histria e Organizao Policial 8 1% 1%

    Imagem Institucional 8 1% 1%

    Lngua e Comunicao 24 2% 3%

    Armamento 50 4% 6%

    Biossegurana 20 2% 2%

    Criminalstica 12 1% 1%

    Instrues Prticas de Aes Tticas 80 7% 10%

    Legislao Aplicada PMERJ 38 3% 5%

    Mtodo de Defesa Policial Militar 30 3% 4%

    Noes de Telecomunicaes 12 1% 1%

    Ordem Unida 16 1% 2%

    Polcia Comunitria 20 2% 2%

    Psicologia e Estresse Policial 12 1% 1%

    Policiamento Ostensivo 50 4% 6%

    Sociologia Criminal 20 2% 2%

    Tiro Policial 70 6% 9%

    Legislao de Trnsito 20 2% 2%

    Legislao Penal e Processual Penal 80 7% 10%

    Noes de Direito Administrativo 12 1% 1%

    Noes de Direito Constitucional 16 1% 2%

    Prtica Policial Cidad 60 5% 7%

    Mdulo Complementar 380 32%

    Total 1182

    Fonte: Elaborao prpria com dados de RIO DE JANEIRO (2012, p. 38-39)

  • 20

    A grade curricular atualizada da PM do Rio de Janeiro ainda dedica percentual significativo da carga horria para disciplinas de cunho prtico, como Tiro (9% da carga total, excluindo o mdulo complementar) e Educao Fsica (com 15% pelo mesmo critrio). H tambm uma forte presena de disciplinas jurdicas: Legislao Aplicada PMERJ, Legislao de Trnsito, Legislao Penal, Legislao Processual Penal, Leis Penais Especiais e Noes de Direito Administrativo e de Direito Constitucional somam 21% da carga total do curso, sem considerar o mdulo complementar.

    Das disciplinas que preparam o policial para uma atuao humanista e comunitria, tica (1%), Direitos Humanos (2%) e Polcia Comunitria (2%) somam 5% da carga horria prevista na grade. H, contudo, o curso de Prtica Policial Cidad, com 60 horas, que representa 7% da carga horria, que busca preparar a atitude do profissional para o policiamento comunitrio e em respeito aos direitos humanos, necessidade premente dada a implantao das Unidades de Polcia Pacificadora (UPP), que buscam pacificar reas anteriormente dominadas pelo trfico de drogas, aproximando a polcia das comunidades.

    No Estado do Paran, a Polcia Militar conta com uma Diretoria de Ensino e Pesquisa para planejar, coordenar, fiscalizar e controlar as atividades de ensino e de pesquisa. Subordinada a esta Diretoria est a Academia Policial Militar do Guatup, responsvel pela formao dos soldados da PM (PARAN, 2010). O curso tem durao de 2 (dois) anos e carga horria total de 1.985 (um mil, novecentas e oitenta e cinco), incluindo 800 (oitocentas) horas de Estgio Operacional. Para a anlise das disciplinas em relao carga horria, exclui-se o Estgio Operacional, que representa 40% do total do curso (Quadro 5).

    Quadro 5 Grade Curricular do Curso de Formao da Polcia Militar do Paran

    rea Matria Carga

    Horria Percentual da Carga

    Percentual da Carga

    (excluindo Estgio

    Operacional)

    Fun

    dam

    enta

    l

    Abordagem Scio-psicolgica da Violncia 15 1% 1%

    Deontologia Policial Militar 30 2% 3%

    Direitos Humanos e Cidadania 20 1% 2%

    Direito Administrativo e Disciplinar 20 1% 2%

    Direito Penal e Penal Militar 30 2% 3%

    Direito Processual Penal e Processual Penal Militar

    20 1% 2%

  • 21

    Doutrina de Emprego 20 1% 2%

    Educao Fsica 90 5% 8%

    Histria da Polcia Militar 15 1% 1%

    Instruo Militar Bsica 20 1% 2%

    Legislao Especial 20 1% 2%

    Legislao Institucional 30 2% 3%

    Metodologia da Pesquisa 20 1% 2%

    Noes de Direito Constitucional e Civil 30 2% 3%

    Polcia Comunitria 30 2% 3%

    Lngua e Comunicao 15 1% 1%

    Pro

    fiss

    ion

    al/O

    per

    acio

    nal

    Defesa Civil 10 1% 1%

    Defesa Pessoal 40 2% 3%

    Direo Defensiva e Evasiva 15 1% 1%

    Estgio Operacional 800 40%

    Estudo do Armamento e da Munio 50 3% 4%

    Inteligncia Policial 20 1% 2%

    Operaes Policiais Especiais 20 1% 2%

    Ordem Unida 40 2% 3%

    Legislao e Policiamento 130 7% 11%

    Ocorrncias com Encaminhamentos Especiais 20 1% 2%

    Policiamento Comunitrio 20 1% 2%

    Preservao do Local do Crime 10 1% 1%

    Preveno e Combate a Incndios 20 1% 2%

    Preveno de Crimes e Acidentes 10 1% 1%

    Primeira Interveno em Crise 20 1% 2%

    Primeiros Socorros 30 2% 3%

    Sistemas Informatizados 25 1% 2%

    Tticas para Confrontos Armados 57 3% 5%

    Tcnicas de Abordagem 50 3% 4%

    Telecomunicaes 15 1% 1%

    Tiro Policial 85 4% 7%

    Co

    mp

    lem

    enta

    r Atividades Acadmicas, Cientficas e Culturais 20 1% 2%

    Comunicao e Marketing Institucional 15 1% 1%

    Marketing Pessoal e Profissional 15 1% 1%

    Qualidade de Vida 15 1% 1%

    Trabalho Social Comunitrio 8 0% 1%

    Total 1985

    Fonte: Elaborao prpria com dados de ANJOS (2013, p. 28-29)

  • 22

    Da grade curricular aplicada formao da Polcia Militar do Paran, observa-se a ausncia da disciplina de tica. H, ainda, como nas outras grades observadas do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, uma parcela significativa da carga horria dedicada ao estudo de disciplinas jurdicas: no Paran estas matrias compem 24% do total so elas: Direito Penal e Penal Militar, Direito Processual Penal e Processual Penal Militar, Legislao

    Especial, Legislao Institucional, Noes de Direito Constitucional e Civil, e Legislao e Policiamento, que abrange aspectos para atuao ambiental, em eventos especiais, guardas e escoltas, policiamento ostensivo e de trnsito.

    Existem trs disciplinas na grade paranaense que visam formao dos guardas segundo diretrizes humanistas e de aproximao com a sociedade: Direitos Humanos e Cidadania (que representa 2% da carga horria total), Polcia Comunitria (com 3% do total de horas do curso) e Policiamento Comunitrio (com carga igual a 2% do curso, excluindo-se em todos os casos o Estgio Operacional de 800 horas). Faz parte, ainda, do currculo a disciplina de Trabalho Social Comunitrio (equivalente a 1% da carga horria total). Esta matria est inserida no mdulo Complementar, que traz ainda estudos sobre Comunicao e Marketing, Qualidade de Vida e Atividades Acadmicas, Cientficas e Culturais, que totalizam 6% das horas do curso.

    5. CONCLUSO

    Os ndices de criminalidade em alta em diversas cidades e estados da federao levaram ampliao do debate sobre a segurana pblica. Teorias e experincias realizadas em outros pases indicam como modelo de atuao para as diferentes foras policiais uma atuao pautada pela proximidade comunidade e pela preveno. Assim, a polcia deve buscar compreender a realidade de cada regio em que atua, e quais os problemas que os cidados identificam e que so geradores de insegurana, e agir orientada para a soluo destes problemas.

    No municpio de So Paulo, a prefeitura, atravs da Secretaria de Segurana Urbana, formula diretrizes para sua atuao nesta rea, que so implementadas pela Guarda Civil Metropolitana, cujos treinamentos so realizados pelo Centro de Formao em Segurana Urbana, rgo vinculado Secretaria como a GCM.

  • 23

    Conforme pesquisa realizada, o contingente da Guarda aponta que os treinamentos possuem um carter preventivo com frequncia, mas esto pouco adaptados realidade das comunidades e regies em que atuam. Da anlise do curso de formao inicial dos guardas, observa-se que a grade curricular apresenta muitas disciplinas de conhecimentos jurdicos e histria e hierarquia da instituio, dedica outra parcela significativa da carga horria a atividades de cunho prtico, como Tiro e Educao Fsica, e reserva uma parcela menor para o aprendizado de policiamento comunitrio.

    Esta mesma diviso observada nas grades curriculares que formam os policiais militares dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro e Paran: os curso focam conhecimentos jurdicos e institucionais e treinamentos fsico e armado, mas ainda so incipientes na formao de agentes para uma atuao pautada pelo respeito aos direitos humanos, prxima comunidade e com vistas soluo das fontes geradoras de insegurana.

    A matriz curricular proposta pela Secretaria Nacional de Segurana Urbana aponta para uma formao mais voltada prtica comunitria, preventiva e humanista, com menos carga horria dedicada a conhecimentos jurdicos constitui, portanto, importante guia na formulao de polticas pblicas na rea de segurana. Embora tanto o treinamento da Guarda Civil Metropolitana quanto os treinamentos das trs Polcias Militares analisados tenham incorporado parte destes princpios, preciso construir grades curriculares ainda mais concisas nesta orientao preventiva e comunitria de forma a gradativamente formar contingente policial com esta postura comunitria, preventiva e humanista.

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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