77
Pró-Reitoria de Graduação Curso de Relações Internacionais Trabalho de Conclusão de Curso ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010 Autora: Priscyla Barcelos Teófilo Orientadora: Profª. MSc. Fernanda de Moura Fernandes Brasília - DF 2011

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de BrasíliaANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010Autora: Priscyla Barcelos Teófilo Orientadora: Profª. MSc. Fernanda de Moura FernandesBrasília - DF 2011

Citation preview

Page 1: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Relações Internacionais Trabalho de Conclusão de Curso

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS

NO PERÍODO DE 2006 A 2010

Autora: Priscyla Barcelos TeófiloOrientadora: Profª. MSc. Fernanda de Moura Fernandes

Brasília - DF 2011

Page 2: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

PRISCYLA BARCELOS TEÓFILO

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília como, requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Relações Internacionais. Orientadora: Profª. MSc. Fernanda de Moura Fernandes Co-orientador: Prof. MSc. Fábio Amaro da Silveira Duval

Brasília 2011

Page 3: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

TERMO DE APROVAÇÃO

Monografia defendida e aprovada como requisito parcial para a obtenção do

título de Bacharel em Relações Internacionais, em 09 de novembro de 2011, pela

banca examinadora constituída por

____________________________________

Prof. Msc. Fernanda de Moura Fernandes Orientadora

Relações Internacionais – UCB

_____________________________________ Prof. Msc. José Romero Pereira Júnior

Examinador Relações Internacionais – UCB

____________________________________ Prof. Msc. Fábio Amaro da Silveira Duval

Examinador Relações Internacionais – UCB

Brasília 2011

Page 4: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida e pelas condições que me permitiram chegar até aqui. A minha

família, pelo amor e apoio incondicionais. A minha mãe, Shirley Barcelos da Cunha

Teófilo, por ter despertado em mim o gosto pela leitura e por ter acompanhado atenta e

carinhosamente meus primeiros passos como estudante. Ao meu pai, Adiel Teófilo, por

ser meu grande incentivador e pelas discussões políticas que afinaram minha

percepção para os acontecimentos internacionais.

Ao corpo docente do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica

de Brasília, pela dedicação ao ensino e preciosas lições transmitidas. A professora

MSc. Fernanda de Moura Fernandes, pela prestativa orientação no desenvolvimento

deste trabalho acadêmico.

Aos Secretários Carlos Eduardo da Cunha Oliveira e Fernando Figueira de Mello,

chefes da Divisão de Direitos Humanos do Ministério das Relações Exteriores, pela

oportunidade de aprendizado e crescimento intelectual durante o ano que estagiei na

divisão, e pela solícita co-orientação que tanto enriqueceu esta monografia.

Aos meus colegas de curso, pelo companheirismo, auxílio e cooperação. Em

especial, a Loyanne Larissa Rufino de Lima pela inestimável amizade. A querida amiga

Vanessa dos Santos Leandro, pela valiosa e detida revisão deste trabalho.

Page 5: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

[...] encontramo-nos hoje numa fase em que, com relação à tutela internacional dos direitos do homem, onde essa é possível talvez não seja necessária, e onde é necessária é bem menos possível. (BOBBIO, 2004)

Page 6: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

RESUMO

TEÓFILO, Priscyla Barcelos. Análise da Atuação do Brasil no Conselho de Direitos

Humanos das Nações Unidas no Período de 2006 a 2010. 2011. 77f. Trabalho de

conclusão do curso de Relações Internacionais-Universidade Católica de Brasília,

Brasília, 2011.

Esta monografia analisa a atuação internacional do Brasil no âmbito do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas desde sua criação em 2006, até o final do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010. Apresenta histórico da inclusão do tema dos direitos humanos na agenda da política externa brasileira nos sucessivos governos desde 1985, ano do início da redemocratização do país, até a gestão de Lula da Silva e o ingresso brasileiro no Conselho, em 2006. Explana sobre as circunstâncias de criação do Conselho em face ao órgão que o antecedeu: a Comissão de Direitos Humanos. Identifica e avalia as contribuições brasileiras para o tratamento do tema dos direitos humanos no âmbito do Conselho. Aponta os princípios de direitos humanos apregoados pela diplomacia e examina a coerência destes em relação às ações do país no órgão. Constata que a atuação do país no órgão apresenta tanto posições coerentes com os princípios defendidos quanto posições incoerentes e ameaçadoras à proteção internacional dos direitos humanos. Conclui que a própria estrutura do Conselho de Direitos Humanos inviabiliza seus membros de adotarem posturas legitimamente preocupadas com a proteção e a promoção dos direitos humanos.

Palavras-chave: Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Política externa

brasileira. Governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Page 7: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

ABSTRACT

This paper analyzes the development of brazilian delegation in the Human Rights Council since its creation on 2006 until 2010.Presents a brief historic on the inclusion of the human rights debate on brazilian foreign policy agenda since 1985 – when initiated the process of democratization –, until Brazilian ingress in the membership of Council under President Luiz Inácio Lula da Silva administration. Expound about the main differences between the Council and the past Comission of Human Rights. Identifies and evaluates brazilian contributions for the treatment of the theme on this ambit. Points out the human rights guidelines announced by Brazil and examines the coherence between the declarations and the real acts of the country. Verifies that the brazilian performance in the Council shows both moments of coherence and incoherence. Concludes that the own structure of the Council is an obstacle for its members actuate genuinely compromised with the protection and promotion of human rights, also the Council is used for States persecute self-interests.

Keywords: Human Rights Council. Brazilian foreign policy. President Luiz Inácio Lula da

Silva administration.

Page 8: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Visitas de Procedimentos Especiais ao Brasil

Tabela 2. Votos do Brasil no CDH no período 2006-2007

Tabela 3. Votos do Brasil no CDH no ano de 2008

Tabela 4. Votos do Brasil no CDH no ano de 2009

Tabela 5. Votos do Brasil no CDH no ano de 2010

Page 9: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AGNU – Assembléia Geral das Nações Unidas

AI – Anistia Internacional

CDH – Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas

DUDH – Declaração Universal de Direitos Humanos

ECOSOC – Conselho Econômico e Social das Nações Unidas

EACDH – Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos

Humanos

FHC – Fernando Henrique Cardoso

IBAS – Índia, Brasil e África do Sul

MRE – Ministério das Relações Exteriores do Brasil

OI – Organização Internacional

ONG – Organização Não-Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RPU – Revisão Periódica Universal

TPI – Tribunal Penal Internacional

UNIC – United Nations Information Centre Rio de Janeiro

Page 10: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 7 1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA .................................................................. 7 1.2 HIPÓTESES......................................................................................................... 12 1.3 OBJETIVOS ......................................................................................................... 12 1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 12 1.3.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 13

1.4. METODOLOGIA ................................................................................................. 13 2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 15 2.1 MARCO TEÓRICO .............................................................................................. 15

3. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................... 21 3.1 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL (1985-2010) ............... 21 3.1.1 A Redemocratização e os Direitos Humanos na Agenda da Política Externa Brasileira ................................................................................................................ 21

3.2 A PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010 .................................................. 31 3.2.1 Da Comissão ao Conselho ............................................................................ 31 3.2.2 Balanço da Atuação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos (2006-2010) ............................................................................................................................... 39 3.2.3 Avaliação da Atuação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos (2006-2010) ...................................................................................................................... 54

4. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 61 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 65 5.1 OBRAS IMPRESSAS ........................................................................................... 65 5.1.1. Livros ............................................................................................................ 65 5.1.2. Teses e Dissertações ................................................................................... 66 5.1.3. Periódicos ..................................................................................................... 66 5.1.4 Revistas e Jornais ......................................................................................... 69 5.1.5 Outras ............................................................................................................ 70

5.2 FONTES PRIMÁRIAS .......................................................................................... 71 5.2.1 Documentais .................................................................................................. 71 5.2.2 Outras ............................................................................................................ 73

Page 11: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

7

1. INTRODUÇÃO

1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA

O Brasil ocupou, desde 2006, posição de destaque no Conselho de Direitos

Humanos das Nações Unidas (CDH ou Conselho), tornando-se membro deste órgão no

mesmo ano de sua criação, e reeleito em 2008 para mandato que expirou em junho de

20111. O Conselho foi criado em março de 2006 para substituir a extinta Comissão de

Direitos Humanos da ONU que havia sido originada em 1946. O Brasil também figurava

como membro na Comissão desde 1977, mesmo estando sob um regime militar. A

Comissão era extremamente criticada por ser muito política, sendo os Estados que

faziam parte do órgão justamente os que mais violavam os direitos humanos. Portanto,

o Conselho trouxe algumas mudanças no intuito de reforçar a estrutura dos direitos

humanos da ONU a fim de que fosse fidedigna e adaptada à estrutura mundial do pós

Guerra Fria (KWEITEL, 2008).

No Conselho de Direitos Humanos o Brasil foi um membro destacado. Participou

ativamente das discussões, propôs novos temas e estendeu convite permanente a

todos os procedimentos especiais deste órgão2, entre outras iniciativas. Contudo,

entende-se que a realidade interna brasileira nem sempre foi propícia a tal engajamento

nos assuntos internacionais de direitos humanos; bem como se reconhece a gradual

evolução do país para tal assunto, no qual o processo de redemocratização na década

de 1980 teve papel fundamental ao colocar “o tema dos direitos humanos no centro da

agenda nacional brasileira” (MAGNOLI, 2008, p.1).

O processo de redemocratização do Brasil, caracterizado pelo fim da ditadura

militar (1964-1985), possibilitou a eleição por intermédio de um colégio eleitoral do

presidente Tancredo de Almeida Neves e seu vice, José Sarney. Tancredo faleceu

1 UN Human Rights Council. Membership of the Human Rights Council. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/membership.htm>. Acesso em: 10 abr. 2011. 2 Quando um país estende convite permanente aos procedimentos especiais do Conselho, se compromete a receber em seu território visitas, inspeções e avaliações dos especialistas da ONU em determinados temas de direitos humanos. Mais detalhes sobre o funcionamento deste procedimento na página 35.

Page 12: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

8

antes mesmo de ser empossado e, assim Sarney foi investido oficialmente no cargo

(FAUSTO, 2009).

O Presidente Sarney (1985-1990) precisou atuar em um cenário de intensas

transformações, tanto no plano interno quanto externo. Em termos de política interna,

como o primeiro governo civil após a ditadura militar lidou, de acordo com Luis Felipe de

Seixas Corrêa (2000), com o desafio de realizar transformações das estruturas jurídicas

e institucionais outrora autoritárias e promover a reforma legislativa. Havia ainda a

necessidade de resolver os problemas sociais e as pressões na área dos direitos

humanos.

No plano externo, o novo governo deparou-se com intensas transformações

regionais e internacionais. Na maioria dos países latino-americanos, houve a

consolidação da redemocratização acompanhada de problemas econômicos e sociais

(CORRÊA, 2000). No contexto internacional, “o mundo deixou de ser exclusivamente

organizado em torno dos eixos Leste-Oeste e Norte-Sul para penetrar numa fase de

crescente competição econômica e tecnológica e de acentuada multipolaridade política”

(SARAIVA, 2007, p.260).

O governo brasileiro, a partir da gestão Sarney, buscou abandonar a atuação

tímida ante as discussões sobre direitos humanos assim como remediar a pouca

representatividade do país nos foros internacionais sobre o tema. Com o fim do regime

autoritário, o Brasil pôde retomar uma posição de maior afirmação (CORRÊA, 2000). O

ambiente político interno estava propício à adesão, por exemplo, aos Pactos de Direitos

Humanos das Nações Unidas, e a Convenção contra a Tortura das Nações Unidas,

ambos ainda em 19853 (TRINDADE, 2006).

A Constituição Federal de 1988 consagrou a prevalência dos direitos humanos

nas relações internacionais do Brasil. Merece destaque a prerrogativa do Congresso

brasileiro de buscar adaptar a lei brasileira alinhada aos avanços normativos

internacionais, de sorte que foi concedido tratamento especial aos direitos e garantias

individuais internacionalmente consagrados, equiparando-os aos direitos protegidos em

3 Apenas em 1990 as adesões foram completadas com o depósito dos instrumentos de ratificação de todos os pactos.

Page 13: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

9

nível constitucional4 (TRINDADE, 2006). “A conjugação dos esforços de juristas,

diplomatas e legisladores produziu no Brasil uma percepção e um conceito original de

direitos humanos que serviu de instrumento de ação positiva sobre o cenário

internacional” (CERVO; BUENO, 2002, p. 467).

Ademais, as transformações no cenário internacional provocadas pela

globalização nos anos de 1990 exigiam dos Estados adaptação, e, segundo Cervo e

Bueno “a política exterior do Brasil adaptou-se de modo não simples”, em razão de

haver incoerência e instabilidade nas orientações da política exterior, dada a dificuldade

de moldar o país às estruturas da globalização (CERVO; BUENO, 2002, p. 455).

Os novos temas globais debatidos em órgãos multilaterais (energia nuclear, meio

ambiente, liberalismo econômico e direitos humanos) incitavam uma nova orientação

dos formuladores da política externa brasileira. Nesse sentido, a política externa, nos

governos a partir de 1985, buscou meios para atualizar a agenda brasileira de acordo

com estes grandes debates e para influir nos foros internacionais, especificamente

naqueles afetos ao tema dos direitos humanos, retomando a tradicional presença em

órgãos multilaterais (CERVO, 2002).

Segundo Hirst e Pinheiro (1995), começou-se a pensar na modificação do perfil

internacional do país com maior ênfase nos governos Collor e Itamar Franco (1990-

1995). Nesse período, a atualização da agenda internacional do país de acordo com as

novas questões e o novo momento internacional foi estabelecida como uma prioridade.

Como exemplo deste engajamento destaca-se a atuação brasileira na II

Conferência Mundial sobre direitos humanos da ONU, ocorrida em Viena no ano 1993.

Evento de grande mobilização internacional, a Conferência de Viena representa um

importante avanço no tratamento internacional dos direitos humanos e teve o Brasil

como presidente do Comitê de Redação, encarregado de preparar a redação do

documento final (ALVES, 1994). A esse respeito, destaca o ex-chanceler Celso Amorim

que tal Conferência contribuiu para a consolidação dos princípios básicos do sistema de

proteção internacional dos direitos humanos, que são:

4 O art. 5(2) da Constituição Brasileira de 1988 dispõe que os direitos e garantias nela expressos não excluem outros decorrentes dos tratados internacionais em que o Brasil é Parte. Entretanto, com a EC nº 45, de 2004, foi introduzido o parágrafo 3 que exige quorum e votação bicameral nos moldes das emendas para considerar as normas internacionais de direitos humanos constitucionais, sendo as demais de natureza supralegal.

Page 14: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

10

[...] a universalidade, a indivisibilidade, a inter-relação e a interdependência dos direitos humanos; a legitimidade da preocupação internacional com a situação dos direitos humanos em qualquer parte do mundo; o reconhecimento do direito ao desenvolvimento; a inter-relação indissociável entre democracia, desenvolvimento e direitos humanos. Há, ainda, a inter-relação entre paz e direitos humanos (AMORIM, 2009, p.8).

No governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), o Brasil consolidou-se

como uma sociedade aberta, democrática, desejosa em melhorar sua realidade na área

social, de direitos humanos e meio ambiente. O ex-chanceler Lampreia (1998) revela

que a valorização internacional dos direitos humanos, e as pressões externas que

derivaram dessa valorização, vieram ao encontro do que a sociedade brasileira

desejava ao país. Afirma ainda que não havia mais “espaço, por exemplo, para golpes

de Estado, ditaduras, violações maciças ou reiteradas dos direitos humanos [...]”. Nesse

contexto, Lampreia aponta que:

[...] o compromisso do Presidente com os princípios da democracia, da paz, dos direitos humanos, da justiça social e da preservação do meio ambiente, e o fato de as políticas de seu governo estarem voltadas para a realização desses ideais, ajudaram a aproximar o Brasil dos valores e práticas dominantes neste momento da história mundial, com ganhos inegáveis para a credibilidade e a capacidade de influência do País (LAMPREIA, 1998, p. 16).

Por conseguinte, a política exterior do Brasil nos governos de Luis Inácio Lula da

Silva (2003-2010) encontrou-se numa fase ainda mais intensa da globalização, e o país

imergiu completamente nesta nova tendência. A presença brasileira nos organismos

internacionais de direitos humanos foi ainda mais expressiva. Na concepção de Cervo

(2002), a política exterior brasileira no século XXI operou por meio do multilateralismo e

da reciprocidade, claramente observada nos processos de cooperação regional e

associação aos países emergentes.

O engajamento do Brasil nos fóruns mundiais de direitos humanos permaneceu

expressivo no apoio à criação e desenvolvimento dos trabalhos do Conselho de Direitos

Humanos das Nações Unidas. Órgão cujo objetivo é reforçar a promoção e a proteção

dos direitos humanos em todo o planeta, sem distinção de qualquer tipo e de maneira

justa e igualitária.5

5 UNITED NATIONS. The Human Rights Council. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/>. Acesso em 10 abr. 2011

Page 15: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

11

No âmbito do CDH, a atuação brasileira ganha relevância com a contribuição na

inclusão de temas e esforços para o fortalecimento do órgão. O país tem protagonizado

importantes iniciativas, principalmente no campo dos direitos econômicos e sociais,

como a defesa do direito humano ao desenvolvimento e à alimentação. A contribuição

institucional reside no alegado tratamento equitativo entre países do Norte e do Sul, do

diálogo em detrimento de posições meramente condenatórias a países, entre outros.

Estas diretrizes têm sido declaradas como norteadoras da inserção brasileira nos foros

multilaterais de direitos humanos, destacadamente no Conselho. O Brasil tem

igualmente contribuído para a construção de novos parâmetros e mecanismos de

defesa dos direitos humanos, a exemplo da criação do Mecanismo de Revisão

Periódica Universal (AMORIM, 2009).

Entretanto, apesar das ações positivas supracitadas, por vezes observam-se

disparidades entre o discurso e os fatos na atuação da diplomacia brasileira durante o

governo Lula no âmbito do CDH. O país declara comprometer-se A exemplo da

abstenção à resolução do Conselho que tratava de violações de direitos humanos na

Coréia do Norte, em março de 2009. A posição brasileira no caso foi muito criticada, e

demonstra uma decisão baseada num princípio outro que não a genuína preocupação

com a salvaguarda dos direitos humanos daquela população, nem tampouco a

observância do princípio constitucional de prevalência dos direitos humanos (art. 4º, inc.

II, CF/88) que rege o país em suas relações internacionais.6

Além disso, o governo Lula foi criticado por estreitar relações com países

violadores sistemáticos de direitos humanos como Cuba e Irã. Nessas ações o governo

é omisso quando não se engaja na defesa daqueles que têm seus direitos violados,

mas se alinha aos violadores (MAGNOLI, 2008).

Ante o exposto, considera-se importante esclarecer os seguintes

questionamentos: de que maneira o Brasil contribuiu, no período de 2006 a 2010, para

o tratamento do tema dos direitos humanos no âmbito do Conselho de Direitos

6 “Tradicionalmente, o Brasil apoiava resoluções do sistema ONU de direitos humanos que tratavam das violações e abusos na Coréia do Norte. No entanto, em 2008, mudou de posição na Assembléia Geral, passando a se abster e, em março de 2009, fez o mesmo no Conselho de Direitos Humanos” (VIEIRA; ASANO; NADER, 2009, p. 8).

Page 16: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

12

Humanos das Nações Unidas? E em que medida a atuação brasileira neste órgão tem

sido coerente com os princípios de direitos humanos defendidos pelo País?

O estudo da temática dos direitos humanos na realidade multilateral em que se

insere o Brasil é de suma importância, pois as decisões e posições dos governos sobre

o tema no CDH interferem na condição de vida dos indivíduos dos mais diversos

países. No campo de estudo das Relações Internacionais, a importância deste tema

reside no fato de que tais direitos regulam as ações dos países com vistas a promover,

em última instância, a paz. Além de que, o tratamento do tema no foro privilegiado para

tal discussão corrobora para o monitoramento da situação de direitos humanos no

mundo, bem como propicia o apoio recíproco para a promoção de tais direitos em

âmbito global.

Sendo assim, importa analisar a participação brasileira no principal órgão das

Nações Unidas responsável pela promoção e proteção dos direitos humanos. A fim de

que, ao identificarem-se coerências e/ou incoerências da ação externa brasileira para o

tema, seja então suscitado uma reorientação com vistas a garantir o contínuo respeito

aos direitos humanos na ação externa brasileira.

1.2 HIPÓTESES

O Brasil tem demonstrado capacidade de influenciar o debate sobre direitos

humanos no âmbito do CDH, contribuindo para o arcabouço conceitual do Conselho e

protagonizando importantes iniciativas. Contudo, há situações em que a atuação

brasileira mostra-se incoerente com as diretrizes apregoadas, adotando posições

controversas e deixando sobrepujar interesses egoísticos, seletividade, decisões

desfavoráveis à proteção dos direitos humanos e outras assimetrias.

1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral

Page 17: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

13

Analisar a atuação internacional do Brasil no âmbito do Conselho de

Direitos Humanos das Nações Unidas no período de 2006 a 2010.

1.3.2 Objetivos Específicos

1. Apresentar histórico sobre a inclusão do tema dos direitos humanos na

agenda da política externa brasileira, no contexto pós-redemocratização.

2. Explanar sobre a criação do Conselho de Direitos Humanos e a

contribuição brasileira neste órgão no período em estudo.

3. Examinar a atuação brasileira no referido Conselho, na temporalidade

proposta, a fim de avaliar a coerência e o equilíbrio das ações do país em relação às

diretrizes apregoadas.

1.4. METODOLOGIA

A pesquisa em tela classifica-se como bibliográfica, pois busca reunir

informações e conhecimento científico acumulado sobre o tema (GIL, 1991). Tais

informações, uma vez coletadas, auxiliaram na análise histórica da inclusão do tema

dos direitos humanos na agenda da política externa brasileira, que corresponde ao

primeiro capítulo desta monografia. Bem como ofereceu aporte à análise da

participação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos, no segundo capítulo.

A revisão bibliográfica é a principal técnica de pesquisa deste trabalho, que se

desenvolveu a partir da pesquisa documental, com a utilização de fontes primárias, e

contou também com relevantes fontes secundárias.

As fontes primárias são documentos do Governo obtidos na página eletrônica

oficial do Ministério das Relações Exteriores (MRE), especificamente as Resenhas de

Política Exterior do Brasil; e telegramas ostensivos do MRE, obtidos pela acadêmica,

devidamente autorizada, mediante atuação como estagiária na Divisão de Direitos

Page 18: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

14

Humanos daquele Ministério. Essas fontes permitiram entender a evolução do

pensamento do governo brasileiro para o tratamento multilateral dos direitos humanos,

bem como possibilitaram identificar as diretrizes em direitos humanos apregoadas pela

diplomacia brasileira. O recorte temporal do trabalho (2006-2010) se inicia com a

criação do Conselho, em 2006, e se finda no último ano da gestão do Presidente Luiz

Inácio Lula da Silva, em 2010.

Outra fonte primária documental utilizada foram os arquivos do Conselho de

Direitos Humanos das Nações Unidas, disponíveis na página eletrônica deste órgão. A

partir destas fontes foi possível esclarecer o que o país realizou no âmbito do Conselho,

em seus principais métodos de trabalho, durante o período 2006-2010.

As análises das posições do Brasil diante das propostas consideradas no

Conselho em 2006, 2007, 2008 e 2009 foram extraídas dos Anuários desenvolvidos

pela ONG Conectas Direitos Humanos. Já os dados de 2010 foram levantados a partir

de fontes primárias do CDH, quais sejam os relatórios de sessões regulares e especiais

elaborados pelo próprio órgão. A relação dos votos das sessões do Conselho foi

consultada na página Extranet do Conselho.

As fontes secundárias utilizadas foram livros, artigos de periódicos científicos,

notícias, anuários da ONG Conectas Direitos Humanos e páginas oficiais de internet.

Tais fontes foram utilizadas durante todo o trabalho, a fim de buscar enriquecer a

análise ao se utilizar outras idéias além das declarações governamentais encontradas

nos documentos do MRE. O objetivo em pesquisar em textos de uma ONG em direitos

humanos foi contrabalancear o que é disponibilizado nos documentos do Conselho,

bem como confrontar o que é informado pelo Governo.

Em relação às fontes secundárias, os livros estão disponíveis nas bibliotecas da

Universidade Católica de Brasília e da Universidade de Brasília. A maioria dos artigos

científicos estão disponíveis no site Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e em

publicações da Revista Brasileira de Política Internacional.

No que diz respeito às normas de citação e referência este estudo desenvolve-se

de acordo com o estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

Page 19: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

15

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MARCO TEÓRICO

Por uma definição de Direitos Humanos, se elegeu aquela cunhada pelo

eminente Antônio Augusto Cançado Trindade7, que os entende como:

o corpo júris de salvaguarda do ser humano, conformado, no plano substantivo,

por normas, princípios e conceitos elaborados e definidos em tratados,

convenções e resoluções de organismos internacionais, consagrando direitos e

garantias que têm por propósito comum a proteção do ser humano em todas e

quaisquer circunstâncias, sobretudo em suas relações com o poder público e,

no plano processual, por mecanismos de proteção dotados de base

convencional ou extraconvencional, que operam essencialmente mediante os

sistemas de petições, relatórios, e investigações, nos planos tanto global como

regional (TRINDADE, 2007, p. 210-211).

O Direito Internacional dos Direitos Humanos nasceu com o advento da Carta

das Nações Unidas, e desenvolvendo-se com a Declaração Universal dos Direitos do

Homem, de 10 de dezembro de 1948, assinada pelo Brasil na mesma data. Além desta

somam-se os inúmeros Tratados Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos

surgidos no cenário internacional após esse período, dos quais o Brasil é parte em

maioria. Tais documentos constituem o arcabouço legal em que o país se insere

(PIOVESAN, 2009).

Aliado a isto, há os princípios constitucionais que devem ser a base da atuação

internacional do Brasil. O Artigo 4º da Constituição de 1988 estabelece que as Relações

Internacionais do país se regem pelos seguintes princípios: independência nacional,

prevalência dos direitos humanos, auto determinação dos povos, não-intervenção,

igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao

7 Ph.D. (Cambridge, Prêmio Yorke) em Direito Internacional; Juiz e Ex-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Professor Titular da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco; Ex-Consultor Jurídico do Itamaraty (1985-1990); Membro Titular do Institut de Droit International; Membro do Curatorium da Academia de Direito Internacional da Haia; Membro das Academias Mineira e Brasileira de Letras Jurídicas.

Page 20: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

16

terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade,

e concessão de asilo político (BRASIL, 2003).

O arcabouço legal das Nações Unidas de que o Brasil é parte, e a Constituição

Brasileira de 1988 constituem o marco da coerência em direitos humanos, ou seja, são

os princípios e normas que devem guiar a atuação internacional do Brasil em direitos

humanos. Agrega-se a isto a tradição diplomática brasileira de respeito ao direito

Internacional.

No que se refere aos trabalhos teóricos em Relações Internacionais, o objeto de

estudo desta monografia será analisado com base nas premissas das teorias do

Funcionalismo Racional, de autoria de Keohane (1984), e do Neo-institucionalismo

liberal, cunhado por Keohane e Nye (2001). Ambas teorias atribuem papel relevante às

organizações internacionais (OIs) enquanto atores no Sistema Internacional e analisam

a influência destas no comportamento estatal. Desta forma, essas teorias se aplicam à

análise da atuação do Estado brasileiro no Conselho de Direitos Humanos enquanto

organização internacional intergovernamental.

O debate teórico de Relações Internacionais ao longo do século XX contribuiu,

através de várias perspectivas, para explicar os fenômenos de cooperação e conflito

entre os principais atores do sistema internacional, bem como a produção de

mecanismos de estabilização do mesmo ante a ausência de uma autoridade central

(HERZ; HOFFMANN, 2004). A proliferação de organizações internacionais, o aumento

da quantidade de acordos entre Estados e o aprofundamento do processo de

integração regional são expressões formais de que a política internacional tornou-se

mais institucionalizada (SIMMONS; MARTIN, 2002).

O estudo das OIs se desenvolveu ao longo do século XX, sendo influenciado

pela criação da ONU em 1945 e o novo ativismo das OIs no final da Guerra Fria (1989).

Destarte, nos últimos vinte e cinco anos boa parte das discussões teóricas de Relações

Internacionais argumenta sobre o papel das instituições, suas origens, dinâmicas,

formatos e o impacto destas sobre os Estados. (HERZ; HOFFMANN, 2004). No que se

refere ao papel desempenhado pelas OIs, mais especificamente, destaca-se a

consolidação dos estudos destes entes enquanto mecanismos de estabilização do

Page 21: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

17

sistema internacional, promovendo a cooperação nos mais diversos temas da vida

internacional e de forma permanente.

Nesse sentido, as instituições internacionais desempenham o papel de

institucionalizar a cooperação internacional por meio de regimes internacionais –

definidos como regras, normas, princípios e procedimentos para os quais convergem as

expectativas dos Estados em sua tomada de decisão (KRASNER, 1983 apud

SIMMONS; MARTIN, 2002).

A partir disso, o funcionalismo racional, desenvolvido no início dos anos 1980,

enfatiza as eficientes razões para a realização de acordos entre participantes de um

mesmo regime internacional. O funcionalismo racional demonstra que as instituições

internacionais promoveriam soluções cooperativas por meio de regras que regulam as

relações entre Estados, e assim lhes fornece uma forma de superar problemas de ação

coletiva, altos custos de transações e déficit de informações ou assimetrias (KEOHANE,

1984 apud SIMMONS; MARTIN, 2002).

A preocupação com as causas da guerra tem uma versão orientada para

questões sociais. Os conflitos armados são associados a problemas como os de

direitos humanos: pobreza, fome, doenças e baixo nível educacional. Deste modo,

hábitos de cooperação seriam constituídos mais facilmente nas esferas econômica e

social, nas quais o interesse comum pode emergir mais facilmente. A partir disso, com o

hábito de interação, a construção de valores comuns e instituições permitiriam que a

prática da cooperação transbordasse para a arena política – um processo denominado

como spillover (MITRANY, 1946 apud HERZ; HOFFMANN, 2004).

O funcionalismo racional assume que ações racionais individuais dos Estados

podem impedir benefícios mútuos da cooperação, pois a escolha racional, defendida

por Realistas, levaria a hegemonia ou ao conflito. Deste modo, Keohane procura

demonstrar que os Estados agiriam racionalmente também ao escolherem a

cooperação e o estabelecimento de instituições a fim de alcançarem posições mais

benéficas. Nesse sentido, as instituições internacionais seriam eficazes na medida em

que permitiriam aos Estados evitar tentações de curto-prazo de faltarem à palavra, ao

perceberem os benefícios mútuos disponíveis. Em síntese, instituições poderiam ser

Page 22: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

18

explicadas como uma solução ao problema da ação coletiva internacional (KEOHANE,

1984 apud SIMMONS; MARTIN, 2002).

No desenvolvimento deste trabalho, ao estudar a criação e o funcionamento do

Conselho de Direitos Humanos buscar-se-á identificar, a partir das premissas do

funcionalismo racional, se o órgão é ou não uma instituição eficaz para promover ações

cooperativas entre os Estados com vistas a proteger os direitos humanos no mundo; e

se o Brasil, neste âmbito, adotou posturas cooperativas em torno do tema.

Além desta teoria, o neo-institucionalismo liberal, desenvolvido na década de

1970 confere, igualmente, alta relevância às organizações internacionais. Esta

perspectiva assume, assim como os realistas, que o sistema internacional é anárquico e

carece de uma instância de regulação central, haja vista que os Estados perseguem

meramente os seus interesses de curto prazo. Nesse sentido, a importância das

instituições reside no favorecimento à diminuição da incerteza das ações dos Estados,

garantindo certa previsibilidade e flexibilizando os efeitos da anarquia ao buscar-se

saídas negociadas pela diplomacia (HERZ, 1997).

Ademais, as instituições promovem a cooperação pois possibilitam o

compartilhamento de informações, reduzem os custos transacionais, canalizam os

conflitos e reduzem as desconfianças quanto as ações dos demais Estados. Entende-

se que os Estados têm interesse e necessidade de cooperarem em razão da

interdependência complexa no mundo político – situação caracterizada por efeitos

recíprocos entre países ou atores de diferentes países (KEOHANE; NYE, 2001).

Em superação a algumas premissas da tradicional teoria realista, Keohane e Nye

(2001) apontam as principais características da interdependência complexa. Ela (i)

possui múltiplos canais que conectam as sociedades, como os arranjos entre

organizações transnacionais; (ii) consiste de uma agenda com múltiplas questões, além

da segurança, as quais não possuem uma hierarquia entre si; com a (iii) alternativa da

cooperação, a força militar pode ser irrelevante para resolver desavenças em algumas

questões entre membros de uma aliança. Deste modo, a existência de múltiplas

questões imperfeitamente ligadas no mundo possibilita às instituições internacionais

desempenharem um papel significante na política mundial. Elas possibilitam a solução

pacífica de conflitos e a cooperação em diversos temas.

Page 23: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

19

Por outro lado, o neo-institucionalismo liberal compartilha da premissa neo-

realista de que as instituições refletem a divisão de poderes no sistema internacional e

são por ela condicionadas. Destarte, as instituições servem aos Estados para difundir

suas idéias e persuadir outros atores, como meio de influenciar, barganhar ou até

mesmo impor decisões. Além de ativar o potencial de coalizões na política, agindo

como arena de articulação para Estados fracos. Esta abordagem teórica insere o papel

das instituições internacionais dentro de uma perspectiva de políticas de interesses, em

que os Estados se comportam neste âmbito segundo sua percepção de auto-interesse,

realizando cálculos estratégicos a fim de maximizar seus ganhos (HERZ, 1997).

Esta perspectiva também auxiliará a análise da atuação do Brasil no Conselho

de Direitos Humanos da ONU – uma organização internacional que conjuga interesses

de diversos atores –, a fim de identificar se o órgão é para o Brasil um espaço de

cooperação com vistas ao bem comum, ou se é um espaço de ajuste de preferências

no qual busca-se alcançar e maximizar o interesse nacional.

Sobretudo, assume-se que o Brasil é uma potência média, inserida no sistema

assimétrico de poder internacional8. A imagem internacional do Brasil como potência

média foi projetada pelo governo FHC (1995-2002), e desde então tem sido uma

constante na política externa do país.

Uma potência média pode ser definida como um Estado cujos líderes

consideram que eles não podem agir sozinhos de forma efetiva, mas que talvez

consigam provocar um impacto sistêmico por meio de um pequeno grupo ou instituição

internacional (Keohane, 1969:296).

O papel internacional desempenhado pelo Brasil como potência média no

cenário internacional é o de mediador. Entendido tanto como articulador de consensos

entre as partes em conflito, como elo de contato ou ligação entre nações avançadas e

atrasadas. A imagem internacional do Brasil como potência média está fundamentada,

especialmente, sobre o soft power brasileiro exercido em razão de seu poder de

persuasão. Assumindo tal postura, o governo brasileiro procura aumentar sua

8 Informações obtidas em tese de mestrado, sem nome e data, da biblioteca digital da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0310320_05_cap_03.pdf>. Acesso em 18 de novembro de 2011.

Page 24: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

20

participação nas organizações multilaterais, como no caso da participação no Conselho

de Direitos Humanos.

As posições assumidas pelo Brasil em diversos tópicos da agenda mundial

refletem o modo de aspirar amplo reconhecimento como potência média mundial, o que

leva o país a um aumento significativo do perfil político da inserção internacional

(BERNAL-MEZA, 2002). Em vista do que precede, a dimensão do Brasil como uma

potência média serve de base à análise do papel desempenhado pelo país no CDH.

Page 25: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

21

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL (1985-2010)

Procede-se, neste capítulo, a um exame pormenorizado da inclusão do tema dos

direitos humanos no plano interno pós-regime militar, bem como na agenda da política

externa nos sucessivos governos brasileiros desde 1985. A abordagem histórica a partir

do ano de 1985 se dá pelo fato da ruptura do regime militar e da consequente

redemocratização do Brasil, acontecimentos que ofereceram condições para a

promoção dos direitos humanos no país.

Essa análise histórica se justifica pela necessidade de elucidar quais foram as

principais circunstâncias que instaram o país a observar as normas de direitos humanos

no território nacional, e majoritariamente, o que levou o Brasil a assumir compromissos

em direitos humanos também no plano internacional, a ponto de engajar-se nos

trabalhos do Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2006.

3.1.1 A Redemocratização e os Direitos Humanos na Agenda da Política Externa Brasileira

O desprezo pelos direitos do homem no plano interno e o escasso respeito à autoridade internacional no plano externo marcham juntos. (Norberto Bobbio)

O regime militar vigeu no Brasil de 1964 até 1985, período no qual havia

repressão, tortura, execuções, cerceamento de direitos civis e toda sorte de violações

aos direitos humanos (FAUSTO, 2009). A postura internacional do Brasil à época era de

grande isolamento, e continuamente o país era objeto de pressões internacionais pela

persistência dessas violações, o que constrangia o Estado e abria precedentes para

desconfianças, entre outras consequências negativas para as relações internacionais

do Brasil (CORRÊA, 2000).

Page 26: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

22

O perfil discreto que o Brasil adotou nas Nações Unidas refletia o zelo com que o

país se protegia atrás do escudo conceitual da soberania e da não ingerência para

circundar temas como os direitos humanos. Ademais, nas instituições prevaleciam

“visões de origem militar, baseadas em concepções ultra-nacionalistas, que impediam a

plena participação do Brasil nos processos já então perceptíveis de transformação da

agenda internacional” (CORRÊA, 2000, p. 363).

A partir das eleições presidenciais indiretas, em 15 de janeiro de 1985, iniciou-se

no Brasil o processo de rompimento do regime autoritário rumo ao Estado Democrático

de Direito. O presidente eleito, Tancredo Neves, não pôde participar da cerimônia de

posse porque estava doente, na ocasião, seu discurso foi lido pelo vice, José Sarney,

que assumia a presidência interinamente. Em 21 de abril Tancredo faleceu, o que

provocou grande comoção nacional, e, por consequência, José Sarney foi

definitivamente levado a assumir a presidência do Brasil (FAUSTO, 2009).

O governo do presidente Sarney (1985-1990) defrontou-se com processos

simultâneos de mudança e transformação nos planos interno e externo. Coube-lhe

orientar a transição política, transformar as estruturas jurídicas e institucionais

remanescentes do período militar, resolver as demandas sociais, enfrentar diversos

problemas sócio-econômicos, conduzir o turbulento período da Assembléia Nacional

Constituinte e assegurar a limpidez democrática das eleições presidenciais de 1989. O

presidente deveria, ao mesmo tempo, viabilizar, num contexto externo em acelerada

transformação, a reincorporação plena do Brasil nos foros internacionais como Estado

de Direito, capaz de diálogo com todos os países do mundo, sem inibições ou

exclusões, assim como resolver os problemas na área dos direitos humanos, para a

qual concentrava-se a atenção internacional (CORRÊA, 2000).

Sarney tinha como principais objetivos a luta pela liberdade e pelo

desenvolvimento. Em seu governo, revogaram-se as leis que ainda estabeleciam limites

às liberdades democráticas e restabeleceram-se as eleições diretas para a Presidência

da República (BONFIM, 2004; FAUSTO, 2009). Neste período emanaram na agenda

internacional os debates sobre meio ambiente e direitos humanos, nos quais a

diplomacia brasileira buscou incluir o Brasil, em um esforço de ajustar o país às

demandas democráticas e da globalização. Entretanto, este ajuste foi lento, pois

Page 27: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

23

enfrentou entraves de inspiração militar, já que era impossível romper drasticamente

com o passado (CORRÊA, 2000).

Constata-se que o tema dos direitos humanos não era prioritário na agenda da

política externa durante os anos de 1980, tendo em vista os muitos outros problemas

que padeciam de solução. Apesar das intenções de colocar o Brasil como participante

ativo nas discussões internacionais acerca dos direitos humanos, a estrutura interna

não estava plenamente propícia a um maior engajamento neste sentido, e a questão do

desenvolvimento econômico contava com maior dedicação por parte das delegações

brasileiras em negociações internacionais.

De acordo com Corrêa (2000), a partir do momento que o governo Sarney logrou

êxito em algumas reformas políticas e econômicas, o Brasil pôde se reinserir no cenário

internacional com maior confiança. O novo posicionamento do Brasil frente aos

problemas anteriormente embaraçosos “permitiu, inclusive, aos agentes diplomáticos no

exterior alterar o perfil discreto com que lidavam com a imprensa internacional, as

organizações não-governamentais, os partidos e organizações políticas”. O referido

autor assevera que “a área dos direitos humanos, na realidade, foi talvez a que primeiro

assinalou um curso novo para a diplomacia brasileira”. Afinal,

Deixou-se de encarar os textos internacionais sobre a matéria como pretextos

para intervenção indevida em assuntos de soberania absoluta do Estado para considerá-los como correta complementação dos esforços que passaram a ser cobrados do governo civil para melhorar o desempenho do país na proteção e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do cidadão (CORRÊA, 2000, p. 371).

Ademais, formava-se a percepção de que, com o fim do autoritarismo, cabia

suprir a grave lacuna em relação aos tratados gerais de proteção dos direitos humanos,

que são os dois Pactos de Direitos Humanos das Nações Unidas, além da Convenção

contra a Tortura da ONU, todos assinados ainda em 1985. Ao retomar suas posições

em prol da proteção internacional dos direitos humanos, “o Brasil se engajou nos

debates das Nações Unidas sobre os ‘novos’ direitos, conducentes ao reconhecimento

da nova e ampla dimensão dessa temática no plano internacional” (TRINDADE, 2006,

p. 220).

A redemocratização só foi completa com a promulgação da nova Constituição

Federal, em 5 de outubro de 1988, e com a eleição presidencial de 1989. Em contraste

Page 28: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

24

à realidade do período militar, a nova Carta buscou assegurar os direitos do cidadão de

uma forma muito ampla. Além de operar positivamente no plano doméstico, a nova

postura constitucional teve impacto positivo para a imagem externa do país no que se

refere à promoção e a defesa dos direitos humanos (ALMEIDA, 2006).

As inovações introduzidas pela Constituição de 1988 – especialmente no que diz

respeito à prevalência dos direitos humanos, como princípio orientador das relações

internacionais – foram fundamentais para a ratificação de outros importantes

instrumentos de proteção dos direitos humanos. Dentre eles, destaque-se a ratificação

da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989;

da Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; da

Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; e da

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,

em 27 de novembro de 1995. (PIOVESAN, 2000).

Deste modo, o processo de democratização possibilitou a reinserção do Brasil na arena internacional de proteção dos direitos humanos. Na experiência brasileira, faz-se clara a relação entre o processo de democratização e a reinserção do Estado Brasileiro no cenário internacional de proteção dos direitos humanos. Percebe-se a dinâmica e a dialética da relação entre Democracia e Direitos Humanos, tendo em vista que, se o processo de democratização permitiu a ratificação de relevantes tratados internacionais de direitos humanos, por sua vez, esta ratificação permitiu o fortalecimento do processo democrático, através da ampliação e do reforço do universo de direitos fundamentais por ele assegurado (PIOVESAN, 2000, p. 102).

A Constituição Brasileira de 1988 constitui o marco jurídico da transição

democrática e da institucionalização dos direitos humanos no Brasil. A nova Carta

confere grande ênfase aos direitos e garantias, além de atribuir legitimidade ao Brasil

para defender o tema dos direitos humanos em âmbito multilateral, pois em um Estado

autoritário não há espaço para promoção dos direitos humanos.

A ascensão de Fernando Collor de Mello (1990-1992) como o primeiro

presidente eleito pelo voto popular, depois de vinte e cinco anos de regime de exceção,

emprestou reforço à democracia no Brasil.9 Sob este governo, contextualizado pelo fim

da Guerra Fria e o aprofundamento do processo de globalização do sistema mundial, a

9 BRASIL. Galeria dos Presidentes. Fernando Collor de Mello. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/infger_07/presidentes/fernando_collor.htm>. Acesso em 19 set. 2011

Page 29: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

25

diplomacia procurou dar continuidade a atualização da agenda diplomática frente às

mudanças ocorridas no cenário internacional (SANTANA, 2006; HIRST; PINHEIRO,

1995).

Tais mudanças ensejavam a construção de uma nova ordem internacional que

se concentrava na interdependência, na busca de cooperação, no multilateralismo das

relações internacionais e na emergência de novos temas globais, dentre eles os direitos

humanos (MOREIRA, 2010). A respeito destes novos temas globais, Bernal-Meza

(2002, p. 37) indica que a adoção da “agenda de valores hegemônicos universalmente

aceitos” determinou uma participação brasileira ativa nos organismos e regimes

internacionais. Entretanto, a adoção dos padrões internacionais de normas de proteção

dos direitos humanos (não exclusivamente os de direitos humanos, mas entre outros

temas), abriram novos contextos de vulnerabilidade para o Brasil, pois corroborou para

o fortalecimento da “nova” hegemonia norte-americana e a implementação, pela aliança

vencedora da Guerra Fria, da referida “Agenda de valores hegemônicos universalmente

aceitos”.

O governo Collor procurou defender, na abertura da XLV Sessão da Assembléia

Geral das Nações Unidas (AGNU), em Nova York, em setembro de 1990, a vontade

brasileira de atuar ativa e unilateralmente nos temas ressurgidos, tais como a garantia

dos direitos humanos, a proteção do meio ambiente, e o combate ao tráfico de drogas

(BRASIL, 1990).

Em síntese, a política exterior brasileira foi se adaptando aos novos

condicionamentos e cedendo a determinadas pressões que implicaram mudanças em

alguns elementos de sua tradição, como é o caso da incorporação de temas da agenda

internacional que haviam sido rejeitados no passado, ficando evidente, nesse contexto,

o tema dos direitos humanos (BERNAL-MEZA, 2002).

Apesar de figurar nos discursos da presidência e ocupar discussões

internacionais, o tema dos direitos humanos, tratado em âmbito multilateral, não evoluiu

em substância durante o curto período do governo Collor. Isto porque outros temas

foram considerados mais urgentes, e também porque o processo de cassação do

Page 30: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

26

mandato do presidente contribuiu para a falta de continuidade e racionalidade do

Itamaraty (CERVO; BUENO, 2002).10

As expectativas lançadas pela política exterior de Collor mudaram

completamente como consequência da crise política interna que levaria à destituição do

presidente e à sua substituição pelo vice-presidente, Itamar Franco (BERNAL-MEZA,

2002).

Dadas as conturbadas circunstâncias da política interna, o governo Itamar

Franco (1992-1995) procurou primordialmente refletir no cenário internacional o

compromisso do Brasil com a democracia. No que concerne à política externa, o maior

objetivo do governo Itamar foi gerar condições internacionais favoráveis à realização do

desenvolvimento econômico e social do Brasil (BRASIL/MRE, 1994).

O governo teve de lidar com a imagem deteriorada do país no plano externo,

pois pairava nas percepções da comunidade internacional a expectativa de que o Brasil

retornaria a uma postura de cunho nacionalista. Buscou-se, portanto, a restauração da

confiança no Brasil como presença positiva e estabilizadora no cenário internacional

(HIRST; PINHEIRO,1995).

Com este intento, a política externa à época revalorizou a presença do Brasil nos

foros multilaterais. A defesa do tratamento multilateral dos grandes temas políticos e

econômicos foi uma das prioridades da diplomacia brasileira, justificada pelo projeto de

inserção internacional do novo governo. Foi nas Nações Unidas “onde melhor

percebeu-se uma atuação internacional do Brasil no sentido de reverter o quadro de

passividade e, principalmente, de imprimir maior visibilidade ao país frente à

comunidade internacional”, garantindo ao país uma participação mais ativa e menos

defensiva (HIRST; PINHEIRO,1995, p. 11). Neste período, o Brasil foi eleito membro do

Conselho de Segurança das Nações Unidas, participou de sete operações de paz da

ONU e propôs a este órgão a convocação de uma Conferência sobre o

Desenvolvimento (SANTANA, 2006; BRASIL/MRE, 1994).

10 Seu curto período de Governo foi marcado por escândalos de corrupção, o que levou a Câmara dos Deputados a autorizar a abertura do processo de Impeachment em 02.10.1992 e Collor foi afastado do poder. Na sessão de julgamento, a 29.12.1992, o Presidente Fernando Collor renunciou ao mandato para o qual fora eleito (BRASIL. Galeria dos Presidentes. Fernando Collor de Mello. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/infger_07/presidentes/fernando_collor.htm>. Acesso em 19 set. 2011).

Page 31: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

27

Segundo o Itamaraty, a relevância que o Brasil emprestava aos direitos humanos

no plano interno se refletia na ação diplomática dispensada ao tema. Admitia-se ainda,

como pilares centrais o compromisso com a democracia, com o desenvolvimento e com

o desarmamento, incluindo seus desdobramentos nas áreas de direitos humanos, meio

ambiente e segurança internacional (BRASIL/MRE, 1994; HIRST; PINHEIRO,1995).

Cabe retomar como exemplo a participação brasileira na Conferência Mundial

sobre os Direitos Humanos, realizada em Viena em 1993. O Brasil contribuiu tanto no

processo preparatório quanto durante o evento, e sua atuação foi decisiva para a

adoção da Declaração e Programa de Ação de Viena (SABÓIA, 1997). Ademais,

o empenho do Brasil naquela Conferência contribuiu, igualmente, para a criação do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, assim como para a aceitação dos conceitos de universalidade dos direitos humanos e da indissociabilidade das dimensões sócio-econômica e individual na caracterização de tais direitos. Com igual espírito construtivo o Governo brasileiro propôs e viu aceita sua iniciativa de gerar apoio das Nações Unidas para a promoção dos direitos humanos, através do fornecimento de recursos materiais, técnicos e financeiros para projetos nacionais de aperfeiçoamento do Estado de Direito” (BRASIL, 1994, p.21).

Desde o final do regime militar, é no governo Itamar Franco que o Brasil

demonstra maior engajamento nos foros internacionais de direitos humanos, coroado

com sua participação na Conferência de Viena. Não somente assegurando um lugar na

discussão do tema, mas também acompanhando reivindicações à comunidade

internacional para o chamado dever de intervenção em situações nas quais os direitos

humanos ou a democracia se vejam ameaçados (HIRST; PINHEIRO,1995).

Assumindo a presidência no período de 1995 a 2002, Fernando Henrique

Cardoso (FHC) tinha como objetivo trazer reformas que conduziriam o país a novo

patamar político, social e econômico. Do intercâmbio externo o Brasil buscou elementos

úteis à realização da meta prioritária do desenvolvimento, tanto em sua dimensão

econômica e social, como em áreas como direitos humanos (SANTANA, 2006;

LAMPREIA, 1998).

Nos anos do governo FHC, “a busca de normas e regimes internacionais visando

a fortalecer um ambiente o mais possível institucionalizado foi uma constante.” O

governo entendia que a perspectiva institucionalista seria favorável aos interesses

brasileiros, porque promovia o respeito às regras do jogo internacional, que deveriam

Page 32: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

28

ser respeitadas por todos, inclusive pelos países mais poderosos. Assim, o país passou

a ter participação ativa na elaboração das normas e das pautas de conduta da ordem

mundial (VIGEVANI, 2003, p. 32).

As diretrizes da política externa brasileira nos dois mandatos de Fernando

Henrique Cardoso perseguiram os valores e ideais da democracia, dos direitos

humanos, da justiça social, e da preservação do meio ambiente – temas que

permaneciam relevantes na agenda internacional até então (BRASIL, 1995).

Segundo o presidente, estes primeiros cinco anos de pós-Guerra Fria assistiram

à notável e merecida valorização de tais temas, refletida numa série de grandes

conferências internacionais. Neste contexto, o governante pondera que, “a democracia

e a defesa dos Direitos Humanos tornam-se referencial necessário do progresso.”

Admite que, ao fim da disputa ideológica, estes temas ‘novos ou renovados’ são

também reconhecidos como temas globais, e que o interesse da humanidade deve

prevalecer independentemente dos diferentes sistemas sociais e políticos (BRASIL,

1995, p.57).

Neste período pós Guerra Fria havia maior influência do meio internacional, das

regras, tratados, regimes multilaterais e regionais no cotidiano dos países e das

pessoas. Destarte, na interpretação do ministro Lampreia (1995), alterações deveriam

ser realizadas por meio da promoção do país e de sua completa adesão aos regimes

internacionais, “possibilitando a convergência da política externa brasileira com

tendências mundiais, evitando, assim, o seu isolamento diante do mainstream

internacional” (LAMPREIA, 1995 apud VIGEVANI, 2003, p. 36). Sendo assim, o

governo FHC buscou uma interação mais proveitosa com o meio internacional, com

vistas a aumentar sua capacidade de participar com influência dos processos decisórios

mundiais.

A presença internacional estava respaldada pela democracia e a estabilidade

econômica no plano doméstico. Em governos anteriores estes problemas restringiam a

ação externa, mas já na segunda metade da década de 1990 o Brasil se tornava um

país mais visível e atuante no cenário internacional (LAMPREIA, 1998).

Page 33: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

29

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) ascendeu ao poder como

símbolo de mudança, conforme ele mesmo declarou em seu discurso de posse.11 O

novo governo tinha como aspiração modificar a postura internacional do Brasil,

adotando o multilateralismo como meio de tomada de decisão e afirmando a soberania

nacional, “com a intenção real de desenvolver uma ‘diplomacia ativa e afirmativa’”

(AMORIM, 2010; VIZENTINI, 2005, p. 388).

Seu discurso também se fazia em prol da democratização das relações

internacionais e da valorização das organizações multilaterais. Declarou apoio aos

“esforços para tornar a ONU e suas agências instrumentos ágeis e eficazes [...] do

combate à pobreza, às desigualdades e a todas as formas de discriminação da defesa

dos direitos humanos e da preservação do meio ambiente” (BRASIL, 2003, p. 19).

A ação diplomática do governo Lula esteve orientada por uma perspectiva

humanista, mantendo-se como um instrumento do desenvolvimento nacional (BONFIM,

2004). Nesse sentido, em diferentes oportunidades o presidente alertava a comunidade

internacional quanto à necessidade de erradicar a fome e a pobreza no mundo, como

requisito ao efetivo cumprimento dos direitos humanos. A luta contra a fome constituiu

objetivo do governo tanto no plano interno como no plano externo, permeando o

discurso da diplomacia nos foros multilaterais. Eram esforços para inserir a agenda

social na globalização (VIZENTINI, 2005).

O objetivo brasileiro de uma atuação incisiva no cenário internacional foi

potencializado na união a outros países em desenvolvimento, com vistas a manter o

protagonismo alcançado e contornar o pouco caso dos países desenvolvidos para com

as suas necessidades. Aliado aos anseios de erradicação da fome, a associação a

países emergentes possibilitou contatos de alto nível com a Índia e a África do Sul, a

exemplo, para constituição do Fundo IBAS de alívio à fome e à pobreza, no âmbito

do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD (VIZENTINI, 2005;

ALMEIDA, 2006; BRASIL, 2004).

11 “’Mudança’; esta é a palavra chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro” [...]. “Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar”. Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no Congresso Nacional, em 1 de janeiro de 2003. Sessão de Posse do Presidente da República in BRASIL. Resenha de Política Exterior do Brasil/ Ministério das Relações Exteriores. n. 92, jan. - jun. de 2003, ano 30, p.13. Brasília: FUNAG.

Page 34: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

30

Em continuidade à consolidação da democracia, as instituições nacionais de

proteção aos direitos humanos foram reforçadas, e o governo entende que o regime

democrático é essencial para o respeito aos direitos humanos. A proteção a esses

direitos é largamente difundida, como se constata nas palavras do chanceler Amorim:

“O reconhecimento da primazia dos direitos humanos está acima de dúvida”; e do

Presidente Lula: “Colocamos o respeito aos Direitos Humanos no centro de nossas

preocupações” (BRASIL, 2005, p. 131; 2007, p.35). Certamente a diplomacia brasileira

alcançou níveis mais elevados de engajamento nos foros multilaterais de direitos

humanos, destacadamente no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

A diplomacia no governo Lula chega a afirmar que “a promoção dos direitos

humanos está no cerne da política externa brasileira”, e que tanto interna quanto

globalmente, “o compromisso do Brasil com a promoção dos direitos humanos é

inabalável” (AMORIM, 2010, p. 238, tradução nossa). Contudo, o governo expressa que

“o tratamento dos direitos humanos é um dos principais desafios do sistema multilateral”

(BRASIL, 2009, p. 129). Inclusive, inicia-se a discursar sobre a maneira como o Brasil

trata o tema nos foros multilaterais, e é neste ponto que se insere o debate sobre a

contribuição brasileira no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Por fim, se admite que na gestão Lula o Brasil conquistou maior espaço e

responsabilidades no cenário internacional, e que sua política externa em direitos

humanos ganhou visibilidade, especificamente no âmbito do Conselho de Direitos

Humanos, criado à época deste governo. Percebe-se, contudo, que o atual

engajamento brasileiro nos foros internacionais de direitos humanos e sua destacada

participação no CDH são frutos de conquistas ao longo da história da redemocratização

do país. Destarte, a realidade atual foi lograda por uma longa evolução em que vários

governos tiveram participação.

Page 35: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

31

3.2 A PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

Brazil wishes to give a real contribution to those suffering from human rights violations.

(Celso Amorim, 2010)

Os objetivos deste capítulo são explanar sobre as contribuições do Brasil para o

tratamento das questões de direitos humanos, bem como contrapor seus discursos e

ações no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU – criado em 2006. Antes,

porém, faz-se necessário tecer breves comentários sobre a extinta Comissão de

Direitos Humanos, que deu lugar ao atual Conselho, versando também sobre o

funcionamento do novo órgão e suas diferenças quanto ao antigo.

3.2.1 Da Comissão ao Conselho

A Comissão de Direitos Humanos, criada em 1946 foi, durante 60 anos, o

principal corpo legislativo das Nações Unidas orientado para a proteção e promoção

dos direitos humanos. A Comissão era integrada por 53 Estados que se reuniam em

Genebra uma vez por ano. Seus trabalhos abrangiam o desenvolvimento de normas

internacionais, o monitoramento e observância dos direitos humanos, bem como

investigações de alegadas violações a esses direitos ao redor do mundo12.

Seu principal legado foi o surgimento de um vasto domínio de normas de direitos

humanos em vários tratados internacionais e no direito internacional consuetudinário. A

redação da Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH), adotada pela

Assembléia Geral no dia 10 de dezembro de 1948, permanecerá como uma das

maiores conquistas da Comissão (SHORT, 2008).

No entanto, a atuação da Comissão sempre foi alvo de críticas em razão da

abordagem seletiva e politizada que caracterizava sua atuação. Por muito tempo a

12 UNITED NATIONS. Brief historic overview of the Commission on Human Rights. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/chr/further-information.htm>. Acesso em: 28 de setembro de 2011.

Page 36: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

32

questão dos direitos humanos ficou ao sabor do interesse de países poderosos, que

direcionavam a atuação do órgão para temas que fossem convenientes aos seus

objetivos (GUERRA; OLIVEIRA, 2009).

As críticas sofridas pela Comissão, – vindas de grande parte da comunidade

internacional, incluindo Estados, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e

acadêmicos – “apontavam para um amplo espectro de falhas sentidas desde a

politização indesejada e a tomada de decisões ineficazes até a ausência da assunção

de posições apropriadas dentro da ONU.” Deste modo, a Comissão teve sua

legitimidade minada em razão da crescente descrença no comprometimento de seus

membros com a proteção internacional dos direitos humanos (SHORT, 2008, p. 173).

Amorim (2009, p. 2) revela que “as resoluções sobre países adotadas pelo órgão

eram frequentemente inspiradas antes na singularização do país violador por

motivações políticas do que na necessidade de monitoramento efetivo da situação dos

direitos humanos.” A falta de instrumentos para atuar de forma isenta e equilibrada em

casos de graves violações aos direitos humanos também corroborou para o descrédito

da Comissão.

Principalmente após o onze de setembro de 2001 e a guerra contra o terrorismo

liderada pelos Estados Unidos, em que a Comissão descartou de seus trabalhos as

situações de violações aos direitos humanos no Iraque e no Afeganistão – países que

foram invadidos pela potência norte-americana, na referida guerra, sem o respaldo do

Conselho de Segurança e ante a reprovação da comunidade internacional. O órgão

estava inegavelmente sofrendo de um grave problema de déficit de credibilidade, o que

ameaçava desabonar todo o sistema de direitos humanos da ONU.

Inserindo o Brasil neste contexto, observa-se que o país ingressou no rol de

membros da Comissão quando ainda estava sob um regime militar, no ano de 1977.

Causa estranhamento o fato de o Brasil participar de um órgão para a promoção

internacional dos direitos humanos quando ainda prevalecia no território nacional um

regime autoritário, no qual o general Ernesto Geisel (1974-1979) era responsabilizado

por violentas repressões e supressão de liberdades civis, em afronta a todo e qualquer

direito humano internacionalmente consagrado (FAUSTO, 2009).

Page 37: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

33

Contudo, Brandão e Perez13 esclarecem que a iniciativa de participar da

Comissão correspondia ao projeto interno de abertura “lenta, segura e gradual” do

governo em direção à redemocratização, bem como das aspirações de setores da

sociedade brasileira pela melhoria da situação dos direitos humanos no país.

Com vistas a solucionar os problemas da Comissão de Direitos Humanos e

reforçar os mecanismos de direitos humanos da ONU, a Assembléia Geral adotou, em

15 de março de 2006, a resolução A/RES/60/251 que substitui a Comissão pelo

Conselho de Direitos Humanos (UNITED NATIONS, 2006b).

A resolução ressalta que a paz, o desenvolvimento e os direitos humanos

constituem os três pilares fundamentais da Organização das Nações Unidas. Alerta

para a necessidade do novo Conselho guiar seus trabalhos pelos princípios de

universalidade, imparcialidade, objetividade e não-seletividade – em clara referência às

críticas tecidas à Comissão.

O principal objetivo do Conselho continua o mesmo do antigo órgão: proteger e

promover o respeito aos direitos humanos universalmente, bem como abordar e

condenar infrações de direitos humanos. Mas o novo órgão foi constituído com

diferenças estruturais e procedimentais que visam superar os problemas de outrora.

Nesse sentido,

Ao contrário da Comissão, o Conselho de Direitos Humanos é órgão subsidiário da Assembléia Geral da ONU, em patamar semelhante ao do Conselho de Segurança e do Conselho Econômico e Social (Ecosoc). O CDH conta com número inferior de membros em relação à Comissão: 47 contra 53. Seus membros se reúnem com maior regularidade: no mínimo 10 semanas por ano (AMORIM, 2009, p. 3).

Ademais, a referida resolução traz três mudanças que tentam impedir os

problemas de politização excessiva. Em primeiro lugar, ao escolher os membros do

Conselho de Direitos Humanos “‘os Estados-membros deverão levar em conta a

contribuição dos candidatos à promoção e proteção dos direitos humanos e às

promessas e compromissos voluntários que tenham feito a respeito’”. Em segundo

lugar, a Assembléia Geral poderá suspender por maioria de dois terços todo membro do

13 BRANDÃO, Marco Antônio Diniz; PEREZ, Ana Cândida. A política externa de direitos humanos. Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/imagens-e-textos/revista6-mat4.pdf>. Acesso em: 4 de abril de 2011.

Page 38: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

34

Conselho que cometer graves e sistemáticas violações de direitos humanos. Em

terceiro lugar, os membros do Conselho “deverão defender as mais altas exigências na

promoção e proteção dos direitos humanos, cooperar plenamente com o Conselho” e

durante seu período como membro devem ser examinados pelo mecanismo de revisão

periódica universal – uma inovação trazida pelo Conselho que será abordada adiante

(VILLAN DURAN, 2006, p. 8).

Estas mudanças contribuiriam, entre outros fatores, para que os Estados não

buscassem mais “a condição de membro como um escudo contra críticas, ou então

como permissão para criticar outros por razões politicamente motivadas” (SHORT,

2008, p.178).

Os 47 Estados-membros do Conselho são eleitos por maioria de dois terços dos

membros Assembléia Geral por períodos de três anos, em votação secreta,

respeitando-se a seguinte distribuição geográfica: 13 países africanos (eram 15 na

Comissão), 13 asiáticos (antes eram 12), 8 da América Latina e Caribe (11 na

Comissão), 6 da Europa do Leste (enquanto eram 5 na Comissão) e 7 da Europa

Ocidental (10 na Comissão) (GUERRA; OLIVEIRA, 2009).

Com sede em Genebra, na Suíça, o CDH realiza ao menos três sessões

regulares por ano, tendo a possibilidade de convocar seus membros para sessões

especiais sempre que necessário. Em cinco anos de existência, o Conselho realizou 18

sessões regulares e 17 sessões especiais (DIREITOS HUMANOS, 2008).

O documento que dispõe as regras de procedimentos e os métodos de trabalho

do Conselho é a Resolução 5/1, de 18 de junho de 2007 (UNITED NATIONS, 2007).

Essa resolução estabelece, dentre outras atribuições, que o Conselho deve promover a

plena implementação das obrigações de direitos humanos assumidas pelos Estados e

acompanhar as metas e compromissos assumidos. Deve também tratar as situações de

violações aos direitos humanos e sobre estas fazer recomendações. Os principais

métodos de trabalho são: a) mecanismo de revisão periódica universal, b)

procedimentos especiais, c) comitê consultivo e d) procedimento de denúncia. Estes

funcionam da seguinte maneira:

Page 39: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

35

a) Revisão Periódica Universal – a principal inovação introduzida pelo Conselho.

É um mecanismo cooperativo que envolve uma revisão dos registros de direitos

humanos de todos os 193 Estados-membros da ONU, uma vez a cada quatro anos,

com o propósito de melhorar a situação de direitos humanos em todos os países e

tratar de violações em qualquer lugar do mundo, buscando garantir igualdade de

tratamento a todos os países, diferentemente do tratamento privilegiado que tinham os

países mais poderosos no âmbito da Comissão.

É um processo dirigido pelo Estado, sob os auspícios do CDH, que concede a

cada Estado a oportunidade de declarar as ações que vem adotando para melhorar a

situação de direitos humanos em seus países e para cumprir suas obrigações em

direitos humanos. Portanto, carece da cooperação do país avaliado bem como seu

empenho na prestação de informações fidedignas, pois a revisão é baseada em

documentos preparados pelo próprio Estado, e também pelo Escritório do Alto

Comissariado das Nações Unidas Para os Direitos Humanos (EACDH)14.

Após o recolhimento dos documentos, a revisão é realizada por um grupo de

trabalho – composto pelos 47 membros e liderado pelo Presidente do Conselho – que

procede a um diálogo interativo com a delegação do Estado sob revisão. O diálogo da

revisão tem duração de três horas e então um relatório é adotado acerca daquele país.

O resultado final é aprovado pelo plenário do Conselho e tem forma de relatório,

consistindo de um resumo do processo de revisão, conclusões e/ou recomendações, e

os compromissos voluntários do Estado.

b) Procedimentos Especiais – são mecanismos estabelecidos pelo Conselho

para tratar de situações específicas em um país ou de questões temáticas em todas as

partes do mundo. Os titulares de mandatos têm como objetivo analisar, monitorar,

aconselhar e publicar relatório sobre a situação de direitos humanos em países ou

territórios específicos, conhecidos como os mandatos por país; ou em fenômenos de

violações dos direitos humanos pelo mundo, conhecido como mandatos temáticos.

14 O EACDH é o órgão da ONU responsável por proteger e promover os direitos humanos. É chefiado pelo Alto Comissário de Diretos Humanos, a principal autoridade em direitos humanos da ONU, que, entre outras atribuições supervisiona o CDH.

Page 40: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

36

Os titulares de mandatos são independentes e selecionados entre os

especialistas destacados de diferentes origens. Eles não são remunerados, nem

tampouco figuram no quadro de funcionários da ONU, todavia o EACDH supre o

mecanismo com pessoal, políticas, pesquisa e apoio logístico para o desempenho de

seus mandatos.

Várias atividades são realizadas no escopo dos procedimentos especiais,

inclusive respostas a denúncias individuais, realização de estudos, conselhos sobre

cooperação técnica em países, e engajamento em atividades de promoção em geral.

Os procedimentos especiais podem ser tanto um indivíduo (chamado de "Relator

Especial", "Representante Especial do Secretário-Geral" ou "Perito Independente"),

como um grupo de trabalho geralmente composto de cinco membros (um de cada

região). Os mandatos de procedimentos especiais são estabelecidos e definidos por

uma resolução. A maioria dos procedimentos especiais recebe informações sobre

alegações específicas de violações de direitos humanos e envia apelos urgentes ou

cartas de denúncia aos governos pedindo esclarecimentos.

O trabalho realizado é de suma importância para identificar, avaliar e suprir as

lacunas dos países em matéria de aplicação dos direitos humanos bem como para

assegurar um melhor cumprimento das normas de direitos humanos. Após a realização

de um procedimento especial, um relatório é publicado sobre a situação específica do

país verificado. Muitas vezes os relatórios são contundentes, o que acaba sendo visto

pelo país avaliado como uma ingerência em assuntos internos.

c) Comitê Consultivo – composto por 18 especialistas, eleitos pelo CDH para um

mandato de três anos, foi criado para funcionar como um think-tank para o Conselho. O

Comitê Consultivo substituiu a antiga Sub-Comissão para a Promoção e Proteção dos

Direitos Humanos. Sua função é fornecer conhecimentos da maneira e forma

solicitadas pelo Conselho, com ênfase em estudos e aconselhamentos baseados em

pesquisas. Esses conhecimentos são prestados somente mediante solicitação do

Conselho, em conformidade com suas resoluções e sob sua orientação. O escopo das

orientações e recomendações do Comitê deve ser limitado a questões temáticas

Page 41: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

37

relativas ao mandato do CDH, nomeadamente a promoção e proteção dos direitos

humanos.

O Comitê não adota resoluções ou decisões, mas pode propor ao

Conselho, no âmbito do seu trabalho, sugestões para melhorar ainda mais sua

eficiência processual, bem como propor novas pesquisas. No desempenho do seu

mandato, o Comitê Consultivo é instado a estabelecer interação com os Estados, as

instituições nacionais de direitos humanos e organizações não-governamentais. Os

Estados-Membros e observadores, incluindo os Estados que não são membros do

Conselho, as agências especializadas, outras organizações intergovernamentais e

instituições nacionais de direitos humanos, bem como organizações não-

governamentais têm direito a participar dos trabalhos do Comitê. Esta ampla

participação da sociedade civil permite a elaboração de opiniões consultivas mais

fidedignas, além de que propiciar uma aproximação do Comitê com a realidade dos

países nos quais as ONGs atuam.

Estabeleceu-se que o Comitê Consultivo convocará até duas sessões para um

máximo de 10 dias úteis por ano. Mas sessões adicionais podem ser programadas em

base ad hoc com aprovação prévia do Conselho. Sua sessão inaugural foi realizada

durante os dias 4 a 15 de agosto de 2008, no Palais des Nations, Escritório das Nações

Unidas em Genebra. O Comitê tem se reunido por 5 dias durante a primeira semana de

agosto e por 5 dias durante a última semana de janeiro.

d) Procedimento de Denúncia – criado para tratar padrões consistentes de brutas

e atestadas violações dos direitos humanos e liberdades fundamentais que ocorram em

qualquer parte do mundo e em qualquer circunstância. Buscou-se estabelecer um novo

procedimento de denúncia para garantir que o procedimento de queixa fosse imparcial,

objetivo, eficiente, orientado para as vítimas e conduzido de maneira hábil. De grande

importância para a credibilidade e sucesso do Conselho, o procedimento de denúncia

tornou-se mais rigoroso. Não são aceitas denúncias anônimas e com pouca

fundamentação.

Page 42: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

38

Nesse sentido, dois grupos de trabalho – o Grupo de Trabalho em

Comunicações e o Grupo de Trabalho em Situações – foram criados com o mandato de

examinar as denúncias e levar à atenção do Conselho violações de direitos humanos.

O Grupo de Trabalho em Comunicações é formado por cinco especialistas

independentes, designados pelo Comitê Consultivo dentre os seus membros por um

período de três anos (mandato renovável uma vez). O referido grupo examina os

méritos das comunicações (ou denúncias) recebidas e encaminha aquelas que

consideram verídicas e relevantes para estudo do Grupo de Trabalho em Situações.

Este Grupo investiga estas denúncias, assim como as respostas dos Estados

envolvidos e as apresenta ao Conselho de Direitos Humanos, com as devidas

recomendações. Subsequentemente é a vez do Conselho tomar uma decisão em

relação a cada uma das situações levadas à sua atenção.

Naturalmente, as mudanças introduzidas no novo Conselho não foram

suficientes para superar todos os problemas que o tratamento multilateral de um tema

tão delicado necessita. Em cada um desses métodos de trabalho há ajustes a serem

feitos e entraves a serem superados. Na RPU, por exemplo, os próprios Estados fazem

parte da análise de seus semelhantes, “o que abre margem para uma combatível

politização, a implicar na perda de credibilidade do Conselho”. A RPU depende da

cooperação dos Estados e só poderá funcionar se estes estiverem de fato

comprometidos com o seu bom desempenho. (SHORT, 2008, p.181).

Villan Duran (2006) recorda que o Conselho de Direitos Humanos já nasceu com

um caráter provisório. O órgão está em constante aprimoramento e atualmente passa

por um processo de revisão. Katherine Short (2008) destaca que, apesar do Conselho

ter feito esforços no sentido de reparar os diversos problemas que culminaram na perda

de credibilidade da Comissão, ele pode, todavia, ainda ser acusado de possuir

predisposições políticas. Segundo a autora,

Muitas causas têm sido atribuídas a essas falhas. Em primeiro lugar, o Conselho é mau visto por seu fracasso em implementar mecanismos eficazes que impeçam ações de seus próprios membros - consistentes em transgressores de direitos humanos mundialmente reconhecidos. Segundo, o Conselho é amplamente visto como órgão pautado por seletividade política, exemplificada pela evidente obsessão com as violações de direitos humanos nos Territórios Ocupados da Palestina. Terceiro, foi acusado de ser tão ineficaz

Page 43: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

39

quanto a Comissão em responder com prontidão a violações, por suposta falta de motivação política. (SHORT, 2008, p. 174)

Para que seja uma organização internacional confiável, o Conselho deve ser

imparcial, consistente, universal e capaz de responder efetiva e apropriadamente a

crises de direitos humanos onde quer que ocorram e enquanto ainda ocorrem.

3.2.2 Balanço da Atuação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos (2006-2010)

O Brasil foi eleito para a primeira composição do Conselho com a maior votação

entre os países da América Latina e Caribe (AMORIM, 2009). Na ocasião desta eleição

a diplomacia anunciou suas intenções:

O Brasil espera contribuir para que o Conselho desenvolva adequadamente as novas funções de promoção da cooperação em direitos humanos, bem como trabalhar para a implementação apropriada do novo mecanismo de revisão periódica universal da situação dos direitos humanos em todos os países do mundo, com base no diálogo autêntico e transparente, o que deverá contribuir para reduzir a politização e a seletividade que desgastaram a credibilidade da antiga Comissão (BRASIL, 2006, p. 358).

Disposto a cooperar com o CDH, o Brasil mostrou-se engajado no órgão desde

seu processo de desenvolvimento, e seguiu participando em seus métodos de trabalho.

Tanto que, em maio de 2008, o Brasil foi reeleito para o Conselho com 175 votos, em

eleições realizadas pela Assembléia Geral da ONU, em Nova York15.

Em nota à imprensa o Itamaraty reforçou que o Brasil procurou conferir ao órgão

“capacidade de resposta aos anseios da comunidade internacional no tocante à

elaboração, ao monitoramento e à cooperação para a implementação de normas e

obrigações em direitos humanos” (BRASIL, 2008, p. 193). A diplomacia declarou ainda

que

A recente reeleição do Brasil para o CDH permitirá ao país consolidar sua atuação no Conselho e continuar a contribuir para o seu fortalecimento institucional. Dará impulso, ademais, às iniciativas atualmente desenvolvidas

15 “Os membros do Conselho são eleitos por um período de três anos e não serão elegíveis para reeleição imediata após dois mandatos consecutivos” (UNITED NATIONS, 2007, p 3, tradução nossa).

Page 44: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

40

pelo Brasil no Conselho, como o processo de elaboração de metas voluntárias em direitos humanos, em reforço a obrigações internacionalmente assumidas na matéria (BRASIL, 2008, p. 194).

Estas declarações seriam a expressão pública das boas intenções que poderiam

guiar a atuação do país no Conselho. É interessante perceber o comprometimento e

otimismo das declarações brasileiras sobre sua participação no órgão. A prática dessas

ações, no entanto, esbarra em muitas dificuldades internas e externas, e nem sempre

os objetivos externados são passíveis de execução.

Internamente, o Itamaraty precisa conjugar esforços de diferentes ministérios,

secretarias, governos estaduais e outras instituições nacionais para cumprirem

demandas de trabalhos do Conselho, seja na prestação de informações ou

implementações de medidas, o que na maioria das vezes não é realizado a contento ou

dentro do prazo estabelecido. Além dos entraves no procedimento interno, no plano

externo, e especificamente no âmbito multilateral do CDH, os Estados de maior peso

político e poder de barganha fazem prevalecer suas vontades, em face disso o Brasil

procura equilibrar poder e acaba adotando posições contrárias ao discurso pró-direitos

humanos.

Segue-se explanação acerca da participação do Brasil nos principais métodos de

trabalho do CDH anteriormente abordados: a) mecanismo de revisão periódica

universal, b) procedimentos especiais, c) comitê consultivo, d) sessões regulares e

especiais. Ademais, avaliar-se-á a participação do Brasil no processo de e) revisão do

Conselho.

a) Mecanismo de Revisão Periódica Universal:

O Brasil figurou no primeiro grupo de países a ser submetido ao mecanismo de

revisão periódica universal, em abril de 2008. Amorim (2009) revela que a própria

criação do Mecanismo de Revisão Periódica Universal foi inspirada em proposta

brasileira. Segundo o ex-chanceler:

Ainda no âmbito da antiga Comissão, o Brasil defendia que relatório global sobre a situação dos direitos humanos no mundo proporcionaria revisão transparente e não-seletiva dos desafios enfrentados pelos Estados membros da ONU e abriria possibilidades de maior cooperação na matéria. Estava claro

Page 45: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

41

que era preciso modificar o sistema então vigente, em que somente alguns países eram selecionados para exame, segundo critérios sujeitos à conveniência e à oportunidade política de outros poucos. A ideia permeou os trabalhos da Comissão de Direitos Humanos, até que, em 2005, o então Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, lançou, em discurso à Comissão, a proposta de realização de revisão por pares da proteção dos direitos humanos em todos os países membros da ONU. O Mecanismo de Revisão Periódica Universal, hoje institucionalizado, consiste em um instrumento por meio do qual todos os 192 Estados membros da Organização são objeto de análise pelo CDH (AMORIM, 2009, p. 5).

Quando foi avaliado pelo Mecanismo, o Brasil foi elogiado pelos demais Estados

por sua disposição para o diálogo e pelo reconhecimento dos desafios que ainda

enfrenta. Todos os quarenta e cinco países participantes das sessões do grupo de

trabalho do RPU dirigiram questões ao Brasil, as quais versaram sobre temas como o

combate à fome e à pobreza, a luta contra a discriminação racial e outras formas de

discriminação, a promoção e a proteção dos direitos da mulher, das crianças e dos

povos indígenas, a questão agrária, a segurança pública e o sistema carcerário, entre

outros.

Quinze recomendações foram aceitas pelo Brasil como resultado de sua

avaliação. Entre elas, figuraram os compromissos voluntários de concluir a elaboração

de um sistema nacional de indicadores em direitos humanos e de elaborar relatórios

anuais sobre a situação dos direitos humanos no país (AMORIM, 2009; VIEIRA;

ASANO; NADER, 2009). Além disso, o país firmou Memorando de Intenções com o

EACDH com o fim de fornecer a outros países cooperação técnica e financeira para a

implantação de recomendações emanadas dos mecanismos de direitos humanos das

Nações Unidas (BRASIL, 2009).

Nestas ações o Brasil demonstrou engajamento e cooperação no âmbito do

mecanismo de RPU. Pois se submeteu de forma colaborativa e ainda trocou

experiências com outros países acerca da aplicação das recomendações, a exemplo da

participação em seminários com líderes da Angola e Haiti (AMORIM, 2009). Apesar dos

problemas que o mecanismo de RPU possa enfrentar, como o risco de cair na

superficialidade em razão de não contar com a participação de especialistas

independentes, o RPU é capaz de monitorar as atividades de cada membro – rico ou

pobre, desenvolvido ou em desenvolvimento – no tocante as iniciativas adotadas em

Page 46: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

42

direitos humanos, consistindo esforço válido para tentar eliminar a seletividade e os

padrões duplos (GUERRA; OLIVEIRA, 2009).

b) Procedimentos Especiais:

Celso Amorim (2009, p. 6) aponta que o Brasil teve papel destacado na

negociação do projeto de diretrizes sobre a atuação de relatores especiais do CDH,

“com o objetivo de conferir maior responsabilidade e transparência à missão desses

relatores, sem comprometer sua independência”, pois é importante que tais

profissionais não sejam pressionados pelos Estados, mas gozem de liberdade em suas

inspeções.

Em 2001 o Brasil estendeu convite permanente a todos os procedimentos

especiais do Conselho, ou seja, permitiu a visita destes procedimentos a qualquer

momento em seu território.

No período em estudo, o Brasil recebeu visita dos seguintes procedimentos

especiais da ONU (ver Tabela 1):

DATA RELATOR ESPECIAL E MANDATO TEMÁTICO

Janeiro/2006 Jean Ziegler, Relator Especial para o Direito à Alimentação.

Novembro/2007 Philip Alston, Relator Especial sobre Execuções extrajudiciais, sumárias e arbitrárias.

Agosto/2008 James Anaya, Relator Especial para os Direitos e Liberdades Fundamentais dos Povos Indígenas.

Outubro/2009 Olivier de Schutter, Relator Especial para o Direito à Alimentação.

maio/2010 Gulnara Shahinian, Relatora Especial da ONU para Formas Contemporâneas de Escravidão.

Novembro/2010 Farida Shaheed, Perita Independente no campo dos Direitos Culturais.

Tabela 1 – Visitas de Procedimentos Especiais ao Brasil Fonte: Human Rights Council A receptividade brasileira aos relatores demonstra cooperação do país para com

os procedimentos especiais do CDH, contribui para a avaliação da situação interna de

direitos humanos bem como para o fortalecimento do mandato destes especialistas.

Tradicionalmente o Brasil adota postura de valorização aos procedimentos especiais da

ONU. Contudo, causou descontentamento a reação que o governo Lula teve com os

Page 47: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

43

relatores especiais para o direito à alimentação e para execuções extrajudiciais,

sumárias e arbitrárias. Quando vieram ao país o governo tratou de “forma depreciativa,

com uso de linguagem agressiva e ofensiva” as avaliações destes especialistas,

afastando-se de sua tradicional cordialidade16 (ASANO; NADER, 2011, p. 129).

Ora, desde que o Brasil convidou permanentemente estes especialistas a

examinarem o país, deve respeitar o trabalho destes. Ainda que discorde das

avaliações feitas, a retórica deve ser polida e bem fundamentada. De outro modo, o

país será visto como obstáculo à plena implementação dos direitos humanos em

território nacional.

Cada tema de relatoria especial reflete aspectos sob suspeita ou denúncias de

violações aos direitos humanos em um país. Em todos os documentos produzidos

pelos Relatores Especiais sobre suas avaliações do Brasil foram feitos elogios e

recomendações. Cabe citar, como exemplo negativo, a prática abusiva de mortes

causadas pela polícia, principalmente nas grandes capitais brasileiras, que são depois

relatadas como tendo ocorrido em autodefesa. Este assunto foi motivo da visita do

Relator Especial para Execuções Extrajudiciais, Sumárias e Arbitrárias. Quando

divulgou Relatório de Acompanhamento sobre o progresso que o Brasil teria feito para

reduzir mortes pela polícia, desde a sua visita em 2007, o relator constatou que o país

continua a cometer execuções extrajudiciais em taxas alarmantes (UNIC-Rio, 2010).

Isso mostra que, apesar se ser receptivo aos procedimentos, o Brasil nem

sempre aceitou as conclusões dos relatores, nem tampouco conseguiu levar a cabo

todas as recomendações por eles consideradas necessárias.

c) Comitê Consultivo:

O Brasil participou na primeira, segunda, terceira e quinta sessões do Comitê

Consultivo como país observador (durante o período de 2008 a 2010) colaborando nas

discussões sobre educação em direitos humanos, promoção de uma ordem

16 Em 16 de abril de 2008, O presidente Lula rebateu as críticas do relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, que afirmou que a produção de biocombustíveis no Brasil “é um crime contra a humanidade”. Lula disse que “é muito fácil alguém ficar sentado num banco da Suíça dando palpite no Brasil ou na África” (CARNEIRO, 2008).

Page 48: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

44

internacional democrática e equitativa, e principalmente sobre o direito humano à

alimentação.17 Neste último assunto, as ações do Brasil são consideradas exemplares,

pois é característica do governo Lula a criação de políticas sociais no combate à fome e

à pobreza – a exemplo do programa “Fome Zero” criado pelo Governo Federal

Brasileiro –, e seus reflexos no plano externo com os esforços para inserir a agenda

social na globalização.

d) Sessões Regulares e Especiais:

Durante o período 2006-2007, o Conselho concentrou-se no processo de

construção institucional do órgão. Apesar disso o CDH realizou 6 sessões regulares e 5

sessões especiais. As sessões especiais contaram com o apoio brasileiro e trataram da

situação dos direitos humanos nos Territórios Palestinos Ocupados (2 sessões),

Líbano, Darfur (Sudão) e Mianmar (ver Tabela 2).

O BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS EM 2006 - 2007

Resoluções Propostas e

Co-patrocinadas pelo Brasil

Aderiu ao Consenso18

Votou a

Favor

Votou Contra

Absteve-se

SESSÕES REGULARES (95 resoluções/emendas

consideradas) 5 72 20 0 3

SESSÕES ESPECIAIS (5 resoluções consideradas) 0 2 3 0 0

Tabela 2 – Votos do Brasil no CDH no período 2006-2007 Fonte: DIREITOS HUMANOS (2008)

Os temas das propostas introduzidas pelo Brasil nas sessões regulares tratavam

da defesa do direito à saúde, da incompatibilidade entre democracia e direitos

humanos, do acesso a medicamentos, do direito à implementação do mais elevado

17 UNITED NATIONS. General Assembly, Reports of the Advisory Committee, Previous sessions. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/advisorycommittee.htm>. Acesso em: 04 out. 2011. 18 OBS.: Nos casos em que uma proposta é aprovada sem votação, indica-se nas tabelas que se seguem que o Brasil aderiu ao consenso.

Page 49: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

45

padrão de saúde física e mental, e sobre a elaboração dos objetivos voluntários de

direitos humanos (DIREITOS HUMANOS, 2008).

As resoluções em que o país se absteve foram: (i) Combate à Difamação de

Religiões; (ii) Da retórica à realidade: um chamado global para ação concreta contra o

racismo, a discriminação racial, a xenofobia e intolerâncias correlatas; e (iii) A emenda à

resolução de Darfur. Esta última merece destaque por ter repercutido negativamente

para o Brasil.

Darfur é uma província do Sudão onde há sérios conflitos entre grupos armados

e o governo central. O conflito gerou milhões de refugiados, e, segundo a ONU, pelo

menos 300.000 pessoas morreram desde o início das hostilidades em 2003 vítimas da

guerra, da fome ou da doença. O Tribunal Penal Internacional (TPI) declarou a

existência de práticas de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, além de

indícios de genocídio. Em maio de 2006, foi firmado um Acordo de Paz entre o governo

e a principal facção rebelde de Darfur, entretanto, a província não conheceu melhorias

desde então (Q&A, 2011).

Durante a segunda sessão regular do Conselho, ocorrida entre setembro e

novembro de 2006, foi adotada a resolução A/HRC/2/L.44 (UNITED NATIONS, 2006a).

A resolução mostra preocupação com a seriedade da situação em Darfur e pede que

todas as partes envolvidas no conflito garantam aos representantes da ONU livre

acesso para entrega da ajuda humanitária. Ademais, pede que toda a comunidade

internacional forneça assistência técnica e financeira ao governo sudanês para a

promoção e proteção dos direitos humanos. Esse texto, que contou com voto favorável

do Brasil, solicita o fim da crise, mas não inclui recomendações enérgicas para a

suspensão das violações de direitos humanos contra os civis sudaneses.

Destarte, nesta mesma sessão o Brasil se absteve a uma emenda à resolução

sobre Darfur (UNITED NATIONS, 2006c), que ao final da votação foi rejeitada. A

emenda à resolução L.44 tornaria a linguagem mais contundente ao enfatizar a

obrigação primária do governo do Sudão em proteger todos os indivíduos contra as

violações de direitos humanos e adicionaria o compromisso em se levar à justiça os

responsáveis pelas violações de direitos humanos ocorridas em Darfur (DIREITOS

HUMANOS, 2008).

Page 50: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

46

A rejeição a esta emenda não ofereceu prejuízo à substância do texto da

resolução, porém de modo algum contribuiu para o fortalecimento das medidas de

enfrentamento das violações de direitos humanos. A recusa de frases no texto da

emenda que requereriam ações mais efetivas do governo do Sudão, no sentido de

cumprir com suas obrigações e punir os responsáveis, em nada avança o trabalho de

proteção dos direitos humanos das vítimas. A gravidade das sucessivas e reiteradas

violações de direitos humanos no Darfur, – conflito que à época já se entendia há três

anos – demandariam do Brasil uma posição mais assertiva.

O Brasil justificou a decisão apoiando-se no princípio de primazia do diálogo e de

negociações, alegando levar em conta a soberania dos países envolvidos nas decisões.

Tal foi o choque causado pela neutralidade brasileira que a Comissão de Direitos

Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados promoveu audiência pública com o

então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para esclarecer o motivo da

abstenção do Brasil. Para atenuar os efeitos negativos da decisão, o Ministro Amorim

comunicou que o presidente sudanês seria preso caso entrasse no Brasil, conforme

ordem de prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional (RESENDE, 2006).

A ONG Human Rights Watch19 também externou decepção quanto à omissão

brasileira em apoiar o apelo da ONU para processar os responsáveis pelas atrocidades

no Darfur, apontando a decisão como um retrocesso do declarado empenho por justiça

do Brasil. O diretor-executivo da Divisão das Américas da Human Rights Watch, José

Miguel Vivanco, esclarecendo que o Brasil foi o único país das Américas a se abster,

afirmou que este foi um ato de insensibilidade e indiferença do governo brasileiro, que

deveria demonstrar solidariedade para com as vítimas e não para com os opressores20.

Vale ressaltar que a escolha pela abstenção é direito de voto como qualquer

outro. A preocupação reside, entretanto, nas ocasiões em que a abstenção é motivada

por interesses prejudiciais aos direitos humanos. Nesses casos, um simples voto

condena milhares de vidas a situações degradantes. Como um país de tradição

democrática, de defesa dos direitos humanos e de alegado comprometimento com o

19 A ONG Human Rights Watch é uma organização independente dedicada a defender e promover os direitos humanos. 20 ONU: Brasil abandona a população civil de Darfur. Human Rights Watch News, em 6 de dezembro de 2006. Disponível em: <http://www.hrw.org/news/2006/12/06/onu-brasil-abandona-popula-o-civil-de-darfur>. Acesso em 14 de out 2011.

Page 51: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

47

mandato do Conselho o Brasil deveria ter se posicionado a favor da resolução de Darfur

a fim de assegurar uma melhora na situação da região. Sua neutralidade incita

desconfianças se tal postura refletiu os interesses individuais do Estado em detrimento

de posição favorável aos direitos humanos.

Durante o ano de 2008, o Conselho realizou 3 sessões regulares e 3 sessões

especiais. Seguem-se os votos do Brasil nestas (ver Tabela 3):

O BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS EM 2008

Resoluções Propostas e

Co-patrocinadas pelo Brasil

Aderiu ao Consenso

Votou a

Favor

Votou Contra

Absteve-se

SESSÕES REGULARES (139 resoluções/emendas

consideradas) 28 91 17 2 1

SESSÕES ESPECIAIS (5 resoluções consideradas) 2 2 1 0 0

Tabela 3 – Votos do Brasil no CDH no ano de 2008 Fonte: DIREITOS HUMANOS (2009)

Nas sessões regulares o Brasil co-patrocinou 26 propostas e introduziu as

seguintes: (i) Metas voluntárias de direitos humanos e (ii) Projeto de Diretrizes da ONU

sobre Cuidados Alternativos para Crianças Privadas de Cuidados Parentais. O Brasil

co-patrocinou o pedido para a realização de duas das três sessões especiais realizadas

em 2008. São elas as sessões sobre os territórios palestinos ocupados e sobre a crise

dos alimentos. Destaca-se, ainda, que esta foi a primeira vez que o Conselho convocou

uma sessão especial temática (DIREITOS HUMANOS, 2009). A única abstenção se

deu novamente a resolução sobre combate a difamação de religiões, comentada

adiante.

Durante o ano de 2009 o Conselho realizou 3 sessões regulares e 4 sessões

especiais. Ao todo, 178 resoluções e emendas foram consideradas pelo órgão nessas

sessões. A tabela a seguir demonstra os votos da diplomacia brasileira no referido ano

(ver Tabela 4):

Page 52: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

48

O BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS EM 2009

Resoluções Propostas e

Co-patrocinadas pelo Brasil

Aderiu ao Consenso

Votou a Favor

Votou Contra Absteve-se

SESSÕES REGULARES (170 resoluções/emendas

consideradas) 40 105 20 1 4

SESSÕES ESPECIAIS (8 resoluções consideradas)

2 (resoluções)

1 (decisão)

4 (resoluções) 0

1 (moção de não-ação)

Tabela 4 - Votos do Brasil no CDH no ano de 2009 Fonte: DIREITOS HUMANOS (2010)

O Brasil co-patrocinou o pedido para a realização de duas das quatro sessões

especiais realizadas em 2009. Foram co-patrocinadas pelo Brasil as sessões sobre a

situação de direitos humanos no Sri Lanka e sobre o impacto da crise financeira

mundial na realização dos direitos humanos. O país aderiu ao consenso na decisão

sobre resolução que tratava da situação dos direitos humanos nos Territórios Ocupados

da Palestina.

Nas sessões regulares do mesmo período o país introduziu propostas na defesa

dos direitos das crianças privadas de cuidados parentais, do acesso a medicamentos,

entre outras. Além de co-patrocinar projetos na defesa da igualdade de gênero, da

redução da pobreza, da liberdade de expressão, da eliminação de todas as formas de

discriminação e da independência de juízes e advogados. Promoveu ainda o direito ao

desenvolvimento e o combate à tortura (DIREITOS HUMANOS, 2010, p. 75).

Destaca-se que, em 2009 o presidente Lula esteve na 11ª sessão do CDH. Na

ocasião, discursou acerca da importância do órgão, dos desafios para promoção dos

direitos humanos, especialmente em um contexto de crise econômica, e do esforço

brasileiro no sentido de reforçar a importância do Conselho (BRASIL, 2009).

As abstenções brasileiras no CDH foram: (i) moção de não-ação sobre emenda à

resolução sobre a situação dos direitos humanos no Sri Lanka (na sessão especial); (ii)

Situação de Direitos Humanos na República Popular Democrática da Coréia (Coréia do

Norte); (iii) Combate à difamação de religiões; (iv) Emenda à resolução sobre a situação

de direitos humanos na República Democrática do Congo; e (v) Promoção dos direitos

humanos e liberdades fundamentais por meio de uma melhor compreensão dos valores

Page 53: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

49

tradicionais da humanidade. Dentre os casos mencionados acima, a abstenção

brasileira no caso da Coréia do Norte merece destaque por ter sido controversa.

A Coréia do Norte é um país identificado por realizar uma série de práticas de

graves violações aos direitos humanos, que incluem trabalhos forçados, torturas,

detenções, desaparições não explicadas e graves restrições à liberdade de expressão e

circulação. O governo norte-coreano não autorizou a entrada no país do relator

especial, o que evidencia a não-cooperação da Coréia do Norte com o sistema de

direitos humanos da ONU (NEBEHAY, 2009).

O Brasil costumava apoiar resoluções do sistema ONU de direitos humanos que

tratavam das violações e abusos na Coréia do Norte. “No entanto, em 2008, mudou de

posição na Assembléia Geral, passando a se abster e, em março de 2009, fez o mesmo

no Conselho de Direitos Humanos“ (VIEIRA; ASANO; NADER, 2009, p. 8). Ainda assim,

a resolução, que objetivava manter e prorrogar o mandato do relator especial para o

país foi aprovada. Seu texto expressa preocupação com os graves e sistemáticos

abusos aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais na Coréia. Em

particular o uso de tortura e campos de trabalho forçado contra prisioneiros políticos e

cidadãos norte-coreanos repatriados (UNITED NATIONS, 2009b).

O Brasil justificou sua postura, à época, recorrendo ao argumento de que o

diálogo e a cooperação seriam mais eficazes do que o constrangimento internacional

provocado pela mera condenação. Alegando ainda que “a abstenção do Brasil

ofereceria à Coréia do Norte uma ‘janela de oportunidade’ para cooperar com os

mecanismos da ONU”. No entanto, tal justificativa poderia ser desabonada tendo em

vista a resistência oferecida pelo governo norte-coreano à visita do relator especial, pois

“a cooperação pressupõe uma via de mão dupla.” Se o Brasil tem genuína preocupação

com as violações e na ocasião reconheceu que não havia cooperação, deveria

prontamente garantir a manutenção do posto de relatoria especial, apoiando a

resolução (VIEIRA; ASANO; NADER, 2009, p. 9).

Entretanto, o Brasil pôde demonstrar ação mais assertiva em dezembro do

mesmo ano quando a Coréia do Norte foi avaliada pelo mecanismo de Revisão

Periódica Universal. Na ocasião, o Brasil tomou decisão equilibrada ao engajar

esforços no diálogo interativo seguido à revisão da Coréia no Mecanismo (UNITED

Page 54: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

50

NATIONS, 2010a). Aproveitou para questionar sobre desafios internos no sentido da

promoção e proteção dos direitos humanos, expressou preocupação com as alegações

de execuções em campos de detenção e com as disparidades na distribuição pública

de alimentos, e conclamou o país a investigar as abduções de nacionais japoneses em

seu território.

Embora tenha participado da avaliação da RPU, o governo norte-coreano não

aceitou nenhuma das mais de 160 recomendações feitas por diversos países, incluindo

as recomendações feitas pelo Brasil. A situação de direitos humanos na Coréia do

Norte é uma das mais preocupantes, por isso foi objeto de diversas resoluções

aprovadas pela AGNU e pelo CDH, ainda mais porque o país continua a não cooperar

com a comunidade internacional na matéria. Em vista disso, o Itamaraty deve estar

sempre atento para não basear sua ação num princípio outro que não aqueles em favor

da genuína preocupação com a salvaguarda dos direitos humanos.

Vale frisar que a resolução sobre a Coréia do Norte foi adotada pelo CDH

mesmo com a abstenção brasileira. O consenso em torno desta deixa evidente a

importância do documento, que conseguiu o apoio da maioria dos membros do

Conselho para sua aprovação.

A diplomacia brasileira precisa tomar posturas mais afirmativas e demonstrar

segurança nas posições que adota, deixando claro o envolvimento que anuncia e o

compromisso com os direitos humanos, a fim de continuar a desempenhar papel de

importância no Conselho de Direitos Humanos e no cenário internacional.

Os dois casos ressaltados, do Sudão e da Coréia do Norte, esbarram em

interesses da China, que até meados de 2010 era o principal parceiro comercial do

Brasil. A China se opõe a sanções ao Sudão, pois lhe importa continuar explorando o

rico petróleo sudanês. Já a Coréia do Norte é país aliado da China, dificilmente os dois

países usam medidas mais duras um contra o outro. A posição chinesa de principal

comprador dos produtos brasileiros lhe confere certo poder de barganha, que pode ter

sido utilizado contra o Brasil, na forma de exercer pressão para que este último país

não condenasse o Sudão nem a Coréia do Norte nos casos supracitados, atuando

assim de forma prejudicial aos direitos humanos.

Page 55: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

51

As gestões que os países fazem no CDH a fim de conciliar interesses diversos

acabam muitas vezes, prejudicando a plena aplicação dos direitos humanos. Ao evitar

condenações a países acusados de cometer abusos como o Sudão e a Coréia do

Norte, o Brasil colabora para a ineficácia do Conselho em defender as vítimas. O

mandato do Conselho de Direitos Humanos da ONU refere-se à promoção e proteção

dos direitos humanos, e os sujeitos desses direitos são os indivíduos, em especial as

vítimas, que não podem ser negligenciadas em nome de outros interesses.

Até o ano de 2009 o Brasil teve um comportamento reiterado de abstenções

quando o CDH tratou de condenação direta a países específicos, mas apoiou a

aprovação de diversas resoluções quando se tratou de temas genéricos.

Durante o ano de 2010 o Conselho realizou 3 sessões regulares e 2 sessões

especiais. Os votos proferidos pela diplomacia brasileira nestas sessões são os

seguintes (ver Tabela 5):

O BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS EM 2010

Resoluções Propostas e

Co-patrocinadas pelo Brasil

Aderiu ao Consenso

Votou a Favor

Votou Contra Absteve-se

SESSÕES REGULARES

(71 resoluções/emendas consideradas) 4 50 16 0 1

SESSÕES ESPECIAIS

(2 resoluções consideradas) 1 0 1 0 0

Tabela 5 - Votos do Brasil no CDH no ano de 2010 Fonte: Human Rights Council

As propostas introduzidas ou co-patrocinadas pelo Brasil nas sessões regulares

de 2010 tratavam do tráfico de pessoas, especialmente mulheres e crianças; da defesa

dos desportos livres do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata;

e, por duas vezes, na defesa do direito à implementação do mais elevado padrão de

saúde física e mental. Além de apoiar iniciativas que tratavam da defesa do direito à

nacionalidade e do direito à verdade.

O Brasil apoiou a realização de sessão especial sobre a situação de direitos

humanos na Costa do Marfim. Em coordenação com a Missão Permanente do Haiti,

Page 56: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

52

colaborou para a realização da sessão especial em apoio ao processo de recuperação

do Haiti, após o terremoto de 12 de janeiro de 2010 (BRASIL/MRE, 2010abc).

A abstenção se deu, mais uma vez, à resolução sobre o combate à difamação de

religiões. O texto, apresentado pelo Paquistão em nome da Organização da

Conferência Islâmica, pede que se considere a difamação de religião como um abuso

de direitos humanos, condenando os ataques contra o Islã e a estigmatização dos

muçulmanos. Esta resolução é vista pelos países ocidentais como tentativa de por

limitações a liberdade de expressão.

O Brasil demonstra preocupação em se proteger o direito à liberdade religiosa,

sem discriminar qualquer religião. Mas defende que o debate seja movido do conceito

sociológico de “difamação de religiões” para a figura jurídica da não-incitação ao ódio

nacional, racial ou religioso. Pois prefere tratar da questão referindo-se à violação dos

direitos dos indivíduos e não à religião como sujeito. Esta temática não conta com

aprovação brasileira principalmente porque a difamação não é contemplada na

legislação brasileira. Ademais, o país protege, nos termos da lei, o direito à liberdade

religiosa, bem como outorga importância, no plano político, ao diálogo intercultural e

inter-religioso (BRASIL/MRE, 2009).

Todavia, quarenta e sete organizações de direitos humanos enviaram uma carta

ao governo para cobrar uma mudança de posição quanto ao assunto, enquanto a

Alemanha indicou que o Brasil teria tomado a polêmica posição por causa da

aproximação entre o governo Lula e os países árabes, principalmente o estreitamento

dos laços deste com o governo do Irã (AGÊNCIA ESTADO, 2010).

Vale ressaltar o voto brasileiro favorável à resolução sobre a situação de direitos

humanos na Coréia do Norte, diferentemente da abstenção ao mesmo tema em 2009.

Convencida de que o diálogo e a cooperação são os melhores caminhos rumo a uma

melhora da situação de direitos humanos, a delegação brasileira demonstrou, ainda que

tardiamente, posição mais assertiva nesta oportunidade. Comentando, com pesar, que

a Coréia do Norte não soube aproveitar a oportunidade que lhe fora concedida no RPU,

o Brasil decidiu votar a favor tendo em vista a falta de compromisso da Coréia do Norte

com as recomendações daquele mecanismo (UNITED NATIONS, 2010b). Ora, a

resistência oferecida pela Coréia aos procedimentos da ONU sempre esteve patente,

Page 57: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

53

como anteriormente demonstrado. Por isso, vale reiterar que desde 2009 o Brasil já

poderia ter se atentado a isso e adotado posição afirmativa em prol da proteção dos

direitos humanos.

É expressiva a quantidade e a variedade de direitos discutidos e negociados no

CDH, a dificuldade reside, contudo, na correta implementação dessas resoluções. Pois

“sabemos que a proteção internacional é mais difícil do que a proteção no interior de

um Estado, particularmente no interior de um Estado de Direito – grandiosidades de

promessas e miséria das realizações” (BOBBIO, 2004, p. 50).

e) A Revisão do Conselho:

Conforme anteriormente comentado, grande parte do primeiro ano do CDH foi

dedicada à sua construção institucional, pois, segundo a resolução que o criou, o

Conselho deveria rever e aprimorar os mecanismos de funcionamento da extinta

Comissão nos 12 meses posteriores à sua primeira sessão, realizada em junho de

2006. A contribuição brasileira também é identificada nos trabalhos para a revisão.

O Brasil foi escolhido para atuar como facilitador de um dos temas mais

importantes do processo de revisão: Métodos de Trabalho e Regras de Procedimento.

O tema engloba a revisão dos mecanismos existentes para o tratamento de situações

urgentes e de países específicos e, por isso, é considerado central para o êxito da

revisão (DIREITOS HUMANOS, 2007). É uma tarefa de grande responsabilidade, e

pode ser decisiva para o sucesso ou o fracasso do Conselho.

No processo de revisão do Conselho o Brasil tem defendido posições em matéria

de cooperação, tem proposto a criação de meios complementares ao RPU e aos

procedimentos especiais, bem como tem defendido maior clareza sobre o cronograma

do processo de revisão. O Itamaraty considera que as posições brasileiras têm recebido

apoio crescente, tendo sido, inclusive, objeto de referências em declarações de

diversos países (BRASIL/MRE, 2010d).

O Brasil concentra esforços nos trabalhos de revisão do Conselho, entendendo

que este é processo decisivo para o futuro do órgão. Neste aspecto as ações brasileiras

são positivas, e a delegação é flexível nas negociações, o que facilita a revisão.

Page 58: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

54

3.2.3 Avaliação da Atuação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos (2006-2010) É inegável que o Brasil desempenhou papel importante no Conselho, seja pelo

reconhecimento dos avanços internos relacionados à consolidação da democracia e

dos direitos humanos; por sua capacidade de diálogo tanto com os países

desenvolvidos quanto com os países em desenvolvimento; ou ainda, pela relevância

das iniciativas das quais vem sendo protagonista. Todavia, há considerações de que o

país adotou posturas questionáveis, que se distanciaram dos princípios defendidos no

órgão, apartando-se dos princípios constitucionais que regem suas relações

internacionais, especialmente do princípio da prevalência dos direitos humanos

(VIEIRA; ASANO; NADER, 2009).

Conforme abordado, o Brasil esteve como membro do CDH até meados de 2011,

e, segundo o Itamaraty, durante os dois mandatos brasileiros no órgão buscou-se

promover todos os direitos e trabalhar com países de todas as regiões, procurando

sempre assegurar o diálogo e a cooperação de modo construtivo e não-seletivo

(AMORIM, 2009). A diplomacia afirma, ainda, que “o Brasil trabalha para que este

Conselho se afirme como uma instância universal, objetiva e cooperativa, à qual todos

– governos, sociedade civil, indivíduos – possam recorrer para garantir que os direitos

humanos sejam plenamente respeitados em todos os países” (BRASIL, 2009, p. 130).

Contudo, há de se fazer ressalva à incoerência de tão nobre eloquência. Apesar

de todas as contribuições temáticas e institucionais, dos discursos em prol do

fortalecimento do CDH e do protagonismo internacional desempenhado pelo governo

Lula, em algumas situações suas posições foram questionáveis e contrárias ao discurso

apregoado. Por vezes os direitos humanos foram deixados em segundo plano, ou

mesmo violados, ofuscados por uma busca de maior visibilidade internacional ou

trocados por dividendos políticos não declarados.

Nesse sentido, a atuação do Brasil no CDH é um meio utilizado pelo governo

para a construção de uma imagem do país no mundo, para a legitimação de ações e

políticas no plano internacional e, também, doméstico. Sob as políticas do governo Lula

o Brasil adquiriu uma imagem internacional de solucionador dos problemas sociais

básicos como a fome e a pobreza, mas que não revela a ganância em auferir ganhos

Page 59: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

55

de acordos econômicos que ignoram problemas de direitos humanos, realizados com

países violadores desses direitos.

Tanto a diplomacia brasileira como o Conselho são alvos de críticas,

principalmente quando tratam de graves violações de direitos humanos em países

específicos. As contribuições brasileiras podem perder valor na medida em que o

próprio Conselho é visto com descrédito por alguns atores no cenário internacional.

Destarte, é importante que o Brasil não só declare, mas adote posturas coerentes aos

princípios e diretrizes que apregoa em direitos humanos, tanto domestica quando

internacionalmente.

A diplomacia brasileira compartilha dos princípios que deveriam guiar a atuação

dos países no Conselho. São princípios amplamente aceitos, considerados, portanto,

corretos e elogiáveis. Nesse sentido, o Brasil declara trabalhar para a universalidade,

objetividade, não-seletividade e cooperação no Conselho. Alega buscar sempre

trabalhar de forma construtiva na consideração de violações de direitos humanos em

países específicos, defendendo o diálogo com os países envolvidos, bem como o

envolvimento da região. Pauta-se, ainda, pelos esforços no combate à fome e à

pobreza (AMORIM, 2009).

Em análise da atuação do Brasil no Conselho, a ONG Conectas - Direitos

Humanos – que tem status consultivo junto à ONU e participa de trabalhos no CDH –,

ressalta que a não seletividade anunciada pelo governo brasileiro tem ressalvas, pois

não deve se apoiar em argumentos de “‘culpa colonialista’ dos países do norte”. Alerta

que os países do sul não podem ser vistos apenas como vítimas de iniciativas de

países desenvolvidos, e baseados nesse argumento se isentarem do dever de assumir

e de serem responsabilizados pelas violações de direitos humanos que acontecem em

seus territórios (VIEIRA; ASANO; NADER, 2009, p. 5).

Outro fator que aponta para o enfraquecimento do argumento do governo

brasileiro é que a seletividade criticada pelos países do sul também é praticada por

esses. Como exemplo das resoluções acerca das violações ocorridas nos Territórios

Palestinos Ocupados: o caso é considerado em todas as sessões regulares do CDH, e

corresponderam a mais de um terço das 50 resoluções que trataram de países ou

territórios no CDH entre 2006-2009. Enquanto outras situações, igualmente

Page 60: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

56

importantes, são negligenciadas. Propostas acerca desse assunto contaram com o

apoio do Brasil. Destarte, a diplomacia brasileira precisa ponderar suas ações para que

faça cumprir os princípios que anuncia, pois “é saudável que o Brasil denuncie a

seletividade sempre que cabível, mas não a pratique” (VIEIRA; ASANO; NADER, 2009,

p. 5).

Encontra limites também a defesa brasileira do debate e envolvimento do país

apontado como violador, bem como a cooperação de outros países da região, em vez

de posições prontamente condenatórias. O estudo da ONG Conectas destaca, sem

menosprezar a importância do engajamento do país envolvido, que é necessário haver

comprovada abertura e vontade política por parte deste. Indica também que é

importante ter clareza sobre quais objetivos buscam-se alcançar com determinada

resolução, e até que ponto estes são negociáveis, pois “a falta de reação firme da

comunidade internacional, se necessário em forma de condenação, pode ser

perigosamente entendida como carta branca aos perpetradores de violações aos

direitos humanos”. “Sem isso, corre-se o risco de, em prol do engajamento do país

considerado, deixar as vítimas e violações de direitos humanos em segundo plano”

(VIEIRA; ASANO; NADER, 2009, p. 6).

O tratamento de questões sensíveis com base em diálogos pode ser positivo

desde que não se torne uma desculpa para o Brasil se eximir de tomar posições

enérgicas, e para realizar interesses alheios aos direitos humanos. Se o diálogo for

realmente efetivo e construtivo, não entrará em choque com a responsabilidade dos

Estados de garantir pleno gozo dos direitos humanos.

As vítimas devem ser o foco para o qual convergem a atenção e as gestões dos

Estados, o debate e a cooperação entre os países não podem ser privilegiados em

detrimento destas. Mas há de se ponderar que o diálogo com os países envolvidos

pode ser decisivo para o grau de envolvimento destes nas causas em que são

apontados como violadores dos direitos humanos, inclusive para a implementação das

recomendações. Cabe ao Brasil buscar o equilíbrio e estudar especificamente cada

situação, a fim de eleger a postura mais favorável às vítimas.

Como anteriormente exposto, as duas únicas abstenções do Brasil em textos

condenatórios no CDH ocorreram no caso de Darfur, em 2006, e da Coréia do Norte,

Page 61: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

57

em 2009. Deve-se ponderar, no entanto, que os dois episódios supracitados

representam a minoria das posturas adotadas pelo Brasil no Conselho, considerando

que, no período em estudo (2006 - 2010), o apoio do Brasil a resoluções que condenam

países por violações graves de direitos humanos superou as abstenções. Na maior

parte do tempo em seu mandato como membro do CDH o Brasil demonstrou atitudes

coerentes em relação às intenções de contribuir para o fortalecimento do CDH.

O desempenho do Brasil no Conselho durante o ano de 2010 foi visto de modo

positivo pela ONG Human Rights Watch (2011). O documento da ONG faz referência

ao Brasil comentando que de fato o país é um “ator influente em todas as negociações

de importância no Conselho21.” Aponta que em 2010 o país apoiou esforços do

Conselho para responder pronta e efetivamente a situações em países específicos, pois

nos dois anos anteriores o Brasil transmitiu certo ceticismo em responder firmemente a

tais situações, sobretudo quando chamado a votar em textos sobre a Coréia do Norte.

Indica, ainda, que nos últimos anos o Brasil teve um histórico de votação forte e

coerente, consistente com uma abordagem não-seletiva, votando a favor de todas as

resoluções concernentes a situações em países específicos.

A participação de organizações não-governamentais nos trabalhos do CDH foi

uma inovação benéfica para garantir maior participação da sociedade civil, e nesse

sentido, o Brasil favorece a participação dessas organizações e defende o envolvimento

delas nos trabalhos do Conselho (BRASIL/MRE, 2006). Isto é visto de modo positivo.

Inclusive ONGs brasileiras participam oficialmente de trabalhos do Conselho e

interagem com o Ministério das Relações Exteriores.

Um fator negativo da atuação brasileira no CDH é a troca de votos em eleições,

sejam elas para comitês de tratados ou para composição do próprio Conselho. Muitas

vezes os votos são trocados com base em situações de vulnerabilidade política interna,

na busca de prestígio ou para alcançar qualquer outro objetivo que não se inscreva no

mandato do cargo para o qual se candidata representante brasileiro. A esse respeito,

Magnoli (2008, p.6) denuncia que o recorde de votos conseguidos pelo Brasil na eleição

para a primeira composição do CDH não foi espontâneo, mas ardilosamente negociado:

“Os votos recebidos pelo Brasil foram negociados num bazar de apoios mútuos com

21 No original: “Brazil is a key player in all important negotiations at the Council.”

Page 62: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

58

Arábia Saudita, China, Rússia, Argélia e Cuba, países que constam em todos os

relatórios imparciais como inclementes violadores dos direitos humanos básicos.”

A diplomacia brasileira defende que no CDH o Brasil é um interlocutor coerente e

equilibrado, com capacidade de influenciar o debate sobre direitos humanos e colaborar

para melhorias efetivas no respeito a esses direitos em outros países. Declara, ainda,

que a atuação brasileira é construtiva e isenta de alinhamentos automáticos (AMORIM,

2009). No entanto, há duras críticas denunciando que o governo brasileiro (2006-2010)

colaborou ativamente para uma regressão dos direitos humanos, silenciando diante das

violações ou mesmo protegendo e elogiando os piores violadores. Emprestou prestígio

e autoridade para ditaduras, e ignorou o compromisso nacional de adotar uma posição

política contrária aos Estados em que os direitos humanos sejam gravemente

desrespeitados (MAGNOLI, 2008).

Essa postura, incoerente em relação aos princípios que anuncia o governo,

coloca em questão o verdadeiro papel que os direitos humanos ocupam no

estreitamento da relação do Brasil com países violadores. Constata-se que a proteção

dos direitos humanos nem sempre prevaleceu em algumas dessas relações. Em vista

disso, “o governo Lula não contribuiu para aumentar o ônus político internacional de

governos que violam sistematicamente os direitos humanos” (ASANO; NADER, 2011, p.

119).

A atuação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos sob o governo Lula

demonstrou ações tanto de coerência quanto incoerência em relação aos princípios

apregoados em direitos humanos. No tratamento de violações de direitos humanos em

países específicos o país majoritariamente se absteve até 2009, se refutando a agir

assertivamente e condenando as violações. No entanto, retomou uma postura de

acordo com o que declara ao aprovar as resoluções sobre países específicos no ano de

2010.

Os esforços na inclusão de temas relevantes se coadunam com a intenção do

Brasil de contribuir para a proteção internacional dos direitos humanos. Quando

coopera com os mecanismos de trabalho e se empenha para a revisão do órgão, o país

auxilia no fortalecimento institucional do Conselho. Já as alianças feitas entre o Brasil e

países reconhecidamente violadores de direitos humanos (como Cuba, China e Irã) são

Page 63: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

59

totalmente incoerentes com o princípio constitucional de prevalência dos direitos

humanos, e afronta as declarações da própria diplomacia de não alinhamento

automático.

As contribuições brasileiras foram significativas, e por vezes o país buscou ser

imparcial e equilibrado em suas decisões. No entanto, a atuação do Brasil não poderá

ser unicamente coerente em vista da própria estrutura do Conselho não ter avançado

nas falhas e críticas feitas à antiga Comissão.

Para que as contribuições brasileiras sejam eficazes neste âmbito, e favoreçam

efetivamente a proteção dos direitos humanos, o país deve atuar de modo a resguardar

a legitimidade do órgão, atuando, na medida de possível, de forma equilibrada e não

seletiva. Se o Brasil encarar o CDH numa perspectiva funcionalista renunciará posições

egoísticas em prol de benefícios mútuos. Mas se buscar nesta instituição a realização

exclusiva de interesses nacionais, e baseado nisso ajustar suas preferências, esvaziará

os esforços cooperativos em prol da proteção universal dos direitos humanos.

Ademais, debates acerca do direito e dos valores são facilmente afetados por

objetivos relativos ao campo da política e do interesse. Tal tendência poderá ser

mitigada, mas não eliminada. Isso porque o Conselho não pode deixar de considerar a

situação de direitos humanos em países e tampouco deixar de chamar a atenção da

comunidade internacional para casos de graves e sistemáticas violações de direitos

humanos.

Norberto Bobbio (2004) explica que uma discussão sobre os direitos humanos

deve levar em conta todas as dificuldades procedimentais e substantivas. Em face

disso, entende-se que impedir a seletividade e a politização em um órgão de

composição intergovernamental como CDH não é tarefa fácil. Por mais que o Brasil

estivesse bem intencionado, um país unilateralmente não seria capaz de promover

profundas mudanças num órgão como CDH.

O próprio Itamaraty reconhece a dificuldade de evitar a seletividade e a

politização no CDH. Em vista disso, a diplomacia brasileira busca se orientar no sentido

de elevar o custo político da seletividade e politização; de ampliar os espaços de

diálogo e de concertação para o tratamento de matérias; e de orientar suas atividades

para que tenham efeitos concretos sobre as vítimas (BRASIL/MRE, 2011).

Page 64: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

60

Em vista disso, as falhas devem ser superadas e o comprometimento

internacional do Brasil com a promoção e proteção dos direitos humanos, fortalecido.

Pois a prevalência dos direitos humanos na política externa “não é meramente uma

escolha, mas sim uma obrigação constitucional – decorrente do artigo 4º, II – bem como

responsabilidade adquirida pelo país ao ser parte de diversos tratados internacionais de

direitos humanos” (ASANO; NADER, 2011, p. 119).

É factível que Estados, na condição de atores na busca por poder e de

interesses, reajam egoisticamente em organizações internacionais. A grande

preocupação dessa postura numa instituição internacional como o CDH é que ao

priorizar interesses próprios o país adota posições baseadas em sua conveniência

política que vão em confronto direto com as reais necessidades das pessoas que

sofrem com as violações. Quando a atuação do país é desprovida de seus interesses

egoísticos, precisa também levar em conta as peculiaridades de cada situação e as

verdadeiras necessidades das vítimas das violações.

Ainda que os Estados tenham legitimidade para atuar de forma a privilegiar seus

interesses, Rossana Reis (2006) contrapõe as idéias de que os direitos humanos não

passam de retórica para encobrir interesses particulares, pois acredita no potencial

transformador dos direitos humanos na ordem internacional, afirmando que no sistema

internacional assimétrico há a necessidade de se distinguir os interesses estatais

particulares das ações moralmente comprometidas com a promoção dos direitos

humanos.

Ao projetar o futuro dos direitos humanos protegidos por instituições

internacionais, Trindade (2000) declara que a busca pela efetiva proteção e promoção

dos direitos humanos é um trabalho que não tem fim, pois sempre passa por avanços e

retrocessos ao longo da história. Não é diferente com a atuação do Brasil no Conselho.

Page 65: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

61

4. CONCLUSÃO

Esta monografia teve por objetivo analisar a atuação do Brasil no Conselho de

Direitos Humanos das Nações Unidas. Nesse sentido, a primeira seção procurou

demonstrar a relevância que o tema dos direitos humanos veio a adquirir no cenário

interno brasileiro desde a redemocratização, influenciando decisivamente na inserção

internacional do Brasil para o tema. Inclusive, em 2006, a importância atribuída aos

direitos humanos levou o país a engajar-se no processo de criação e desenvolvimento

do Conselho de Direitos Humanos, mostrando avanço na orientação da diplomacia

brasileira para a salvaguarda de tais direitos.

Constatou-se que a redemocratização do Brasil não só favoreceu o gozo dos

direitos humanos em âmbito interno, como propiciou a participação do país nos foros

internacionais de direitos humanos. Atualmente o Brasil é uma democracia que baseia

suas ações no multilateralismo e desempenha papel relevante no Conselho de Direitos

Humanos. Contudo, entende-se que o Brasil não teria legitimidade nas discussões

multilaterais de direitos humanos se este não fosse uma democracia, nem tampouco

desfrutaria do prestígio internacional que hoje lhe é atribuído. Tais posições foram

alcançadas gradualmente graças a diferentes iniciativas durante os sucessivos

governos desde 1985.

Na segunda seção deste trabalho viu-se que o Conselho surgiu para substituir a

Comissão de Direitos Humanos. O órgão passou por transformações positivas, mas

ainda sofre críticas e por isso carece de ajustes em seus procedimentos de trabalho.

Buscou-se fazer um balanço dos principais métodos de trabalho do CDH e da

participação do Brasil neles. A partir disso, identificou-se que o engajamento da

diplomacia brasileira mostra-se ainda mesmo nos trabalhos de construção institucional

do Conselho, visando superar as falhas do órgão que o antecedeu.

O Brasil foi membro do Conselho por dois mandatos (que foram de 2006 até

2011). É reconhecidamente um ator relevante no CDH, tanto por organizações não-

governamentais quanto por outros países membros do órgão. Neste âmbito, o Brasil

Page 66: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

62

contribuiu para a criação do Mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU).

Inspirado em proposta da delegação brasileira, o mecanismo avalia a situação de

direitos humanos em todos os países membros da ONU. Além disso, o Brasil cooperou

com os trabalhos do Conselho recebendo seus Relatores Especiais e compartilhando

conhecimentos acerca da RPU. Ademais, trabalhou no processo de revisão do órgão,

introduziu propostas e aprovou resoluções.

Os principais temas defendidos pelo Brasil no período em estudo (2006-2010)

foram o combate á discriminação racial, o direito à alimentação, a redução da pobreza,

os direitos da criança, o direito ao desenvolvimento, o direito à saúde, o acesso a

medicamentos entre outros. Observou-se que a maioria das propostas introduzidas pelo

país obedeceu às diretrizes do governo Lula de combate à fome e a pobreza, bem

como da inserção da agenda social na globalização.

Apesar de participar ativamente de vários trabalhos do Conselho, cooperar com

seus procedimentos e introduzir propostas, o Brasil é criticado e por vezes adota

posturas questionáveis como as abstenções aos casos de Darfur em 2006, e da Coréia

do Norte em 2009. No primeiro caso, o Brasil se recusou a adotar postura condenatória,

favorecendo a cooperação e o diálogo com o país violador em detrimento das vítimas

das violações. No segundo caso, ofereceu oportunidade de cooperação com um país

que se negou a contribuir para os trabalhos do CDH.

A abstenção brasileira às resoluções sobre países reconhecidamente violadores

de direitos humanos, como o Sudão e a Coréia do Norte, causou grande preocupação

quanto à real preocupação do Brasil com a proteção das vítimas das violações, bem

como colocou em questão o cumprimento de norma constitucional que determina a

prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil.

No entanto, o Brasil voltou a adotar posições mais assertivas ao aprovar, em

2010, as resoluções que tratavam da situação de direitos humanos em países

específicos – situações em que mais era criticado por atuar de modo seletivo e

politizado. O país também se absteve, mas agora positivamente, em diversas vezes a

resolução sobre difamação de religiões que pretende impor limites à liberdade de

expressão.

Page 67: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

63

Na última seção buscou-se avaliar criticamente os discursos e ações do Brasil no

que concerne ao tema dos direitos humanos. Em face disso, observou-se que muitos

princípios defendidos pela diplomacia brasileira encontram limitações em sua

aplicabilidade. A defesa brasileira do debate e envolvimento do país apontado como

violador só deve ocorrer se este se dispuser a cooperar, e desde que as vítimas não

fiquem prejudicadas. E ainda, o Brasil é acusado de cometer a seletividade que tanto

condena, como os casos de recorrente apoio às resoluções sobre territórios palestinos

ocupados.

Além desses casos, o Brasil negocia votos no Conselho de modo não

transparente, o que também é visto negativamente. Ademais, o governo Lula foi pouco

cordial com alguns Relatores Especiais da ONU, distanciando-se dos discursos que

apregoa acerca da boa receptividade a tais procedimentos.

Viu-se, a partir desta pesquisa, que o Brasil adotou posições coerentes e

acertadas, como também cometeu erros e dissociou-se de seu discurso. Contudo, ao

se balancear as ações coerentes e incoerentes do Brasil no órgão no período em

análise, observa-se que as ações coerentes sobrepujaram as posturas reprováveis do

país. Apesar de que isso não pode ser usado como justificativa para os erros cometidos

pela diplomacia brasileira.

Não obstante, a própria estrutura do Conselho impede o desenvolvimento de

trabalhos constante e genuinamente orientados para a promoção dos direitos humanos

e proteção das pessoas que sofrem violações. Por se tratar de órgão

intergovernamental, que trata de temas sensíveis, o CDH é muito suscetível a

ocorrência de posições baseadas nos interesses exclusivos dos Estados. Além de que

o próprio órgão é utilizado pelos Estados para perseguir interesses, servindo como um

espaço privilegiado a estes para que alcancem objetivos outros além da defesa dos

direitos humanos.

Ante o exposto, comprovam-se as hipóteses levantadas no início desta pesquisa

de que o Brasil tem demonstrado capacidade de influenciar o debate sobre direitos

humanos no âmbito do CDH, contribuindo para o arcabouço conceitual do Conselho e

protagonizando importantes iniciativas. Contudo, há situações em que a atuação

brasileira mostra-se incoerente com as diretrizes apregoadas, adotando posições

Page 68: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

64

controversas e deixando sobrepujar interesses egoísticos, seletividade, decisões

desfavoráveis à proteção dos direitos humanos e outras assimetrias.

Conclui-se, então, que a atuação do Brasil no Conselho não pode ser vista de

modo exclusivamente positivo por suas contribuições. Mas também não deve ser vista

de modo essencialmente negativo por suas posturas incoerentes aos discursos feitos

no órgão. Isto porque o próprio Conselho está imerso em politização e seletividade,

defeitos não superados da Comissão. E ainda porque o órgão é um instrumento aos

Estados para ajustar suas preferências e perseguir interesses. Sendo assim, o Brasil

também busca a consecução de seus interesses e se contradiz em algumas ocasiões.

Entretanto, o país ainda se empenha no processo de revisão do Conselho a fim de

torná-lo mais confiável, visando superar a politização e a seletividade.

O que advém disto é a real preocupação com a salvaguarda dos direitos

humanos internacionalmente protegidos. Ainda que persistam no CDH as mesmas

críticas e dificuldades de outrora, os Estados precisam buscar minimizar os efeitos

negativos de suas ações egoísticas, visando garantir a proteção dos direitos humanos e

cooperar para ações coletivas mutuamente favoráveis.

Page 69: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

65

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

5.1 OBRAS IMPRESSAS 5.1.1. Livros ALMEIDA, Paulo Roberto. O estudo das relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia. Brasília: LGE Editora, 2006. ALVES, J. A. Lindgren. Os direitos humanos como tema global. Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1994. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2004. BONFIM, João Bosco Bezerra. Palavra de Presidente - discursos de posse de Deodoro a Lula. Brasília: LGE Editora, 2004. CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: Ed. UnB, 2002. CORRÊA, Luis F. S. A política exterior de José Sarney. In. ALBUQUERQUE, J. A. G. (org.). Sessenta anos de política externa brasileira (1930-1990). São Paulo: Cultura Editores Associados/Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP, 2000, v1, p. 361 – 385. DOLHNIKOFF, Miriam; CAMPOS, Flávio. Manual do Candidato: história do Brasil. Brasília: FUNAG, 1995. FAUSTO, Boris. Historia do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2009. HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Organizações Internacionais: História e Práticas. Rio de Janeiro, Elsevier, 2004, p. 41-81 GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991. KEOHANE, Robert O. After hegemony: Cooperation and discord in the world political economy. Princeton: Princeton University Press, 1984. KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Power and interdependence. 3rd ed. New York, NY: Longman, 2001. LAFER, Celso; FONSECA Júnior, Gelson. “Questões para a Diplomacia no Contexto Internacional das Polaridades Indefinidas”, in: Fonseca Jr. G. & Castro, H. N. de (org.)

Page 70: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

66

Temas de política externa brasileira II, v. I, Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão/São Paulo: Paz e Terra, 1997. RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica: para alunos dos cursos de graduação e pós-graduação. São Paulo: Edições Loyola, 2005. SABÓIA, Gilberto Vergne. “Direitos Humanos, Evolução Institucional Brasileira e Política Externa – Perspectivas e Desafios”, in: Fonseca Jr. G. & Castro, H. N. de (org.). Temas de política externa brasileira II, v. I, Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão/São Paulo: Paz e Terra, 1997 SARAIVA, José Flávio Sombra (org.). História das Relações Internacionais Contemporâneas: da sociedade internacional do Século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2007. SIMMONS, Beth A.; MARTIN, Lisa L. International Organizations and Institutions. In. CARLSNAES, Walter; RISSE, Thomas; SIMMONS, Beth A. (editors). Handbook of International Relations. London: Sage, 2002, p. 192–211 TRINDADE, A. A. Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos e o Brasil (1948-1997): As primeiras cinco décadas. Brasília: Editora UnB, 2000. ______. O Brasil e o direito internacional dos direitos humanos: as duas últimas décadas (1985-2005). In: OLIVEIRA, Henrique Altemani de; LESSA, Antônio Carlos (org.). Relações Internacionais do Brasil: temas e agendas. São Paulo: Saraiva, 2006, vol. II, p. 219-250. 5.1.2. Teses e Dissertações SANTANA, Carlos Ribeiro. Política Externa em Perspectiva: um balanço sobre a diplomacia dos presidentes Collor, Itamar, Cardoso e Lula. Universitas: Relações Internacionais, Brasília, v. 4, nº 1, 2006. Disponível em http://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/index.php/relacoesinternacionais/article/download/271/233. Acesso em 20 set. 2011. 5.1.3. Periódicos AMORIM, Celso. Brazilian foreign policy under President Lula (2003-2010): an overview. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 53, n. spe, Dec. 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292010000300013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 24 Set. 2011. AMORIM, Celso. O Brasil e os Direitos Humanos: em busca de uma agenda positiva. Política Externa, vol. 18, nº 2, set-out-nov. 2009. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas/direitos-humanos-e-temas-sociais/o-brasil-e-os-direitos-humanos-em-busca-de-uma-agenda-positiva/view>. Acesso em: 29 mar. 2011.

Page 71: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

67

BERNAL-MEZA, Raúl. A política exterior do Brasil: 1990-2002. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 45, n. 1, jun., 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292002000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 19 set. 2011. CERVO, Amado Luiz. Relações internacionais do Brasil: um balanço da era Cardoso. Rev. bras. polít. int. 2002, vol.45, n.1, pp. 5-35. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-73292002000100001&script=sci_arttext>. Acesso em: 29 mar. 2011.

DIREITOS HUMANOS: O Brasil na ONU. São Paulo: Conectas Direitos Humanos, n. 2007, fev. 2008. Anual. Disponível em: <http://www.conectas.org/anuario2007/>. Acesso em: 06 out. 2011.

______. ______. n. 2008/09, ago. 2009. Anual. Disponível em: <http://www.conectas.org/anuario2008_2009/versao_digital.pdf>. Acesso em: 12 out. 2011.

______. ______. n. 2009/10, ago. 2010. Anual. Disponível em: <http://www.conectas.org/anuario2009_2010/versao_digital.pdf>. Acesso em: 10 out. 2011.

FLORÊNCIO, Sergio Abreu e Lima. Direitos Humanos: O Debate Internacional e o Brasil. Interesse Nacional, ano I, n. 2, p. 36-45, julho/setembro 2008. Disponível em: <http://interessenacional.com/artigos-integra.asp?cd_artigo=4>. Acesso em: 20 mar. 2011.

GUERRA, Sidney. OLIVEIRA, Camila Lourenço de. Da Comissão ao Conselho de Direitos Humanos: Uma mudança mais que institucional? Revista de Direito da UNIGRANRIO, vol. 2, n. 1, 2009. Disponível em: <http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/rdugr/article/view/546>. Acesso em: 13 de nov. 2011. HERZ, Mônica. Teoria das Relações Internacionais no Pós-Guerra Fria. Dados, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 out. 2011. HIRST, Mônica; PINHEIRO, Letícia. A política externa do Brasil em dois tempos. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 38, n. 1, 1995. <Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/7259261/Hirst-e-Pinheiro-A-Politica-Externa-Do-Brasil-Em-Dois-Tempos>. Acesso em: 22 mar. 2011

Page 72: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

68

JARDIM, Tarciso Dal Maso. Pensar Justiça Internacional no Debate sobre a Reforma da ONU. In. MRE, Desafios do Direito Internacional Contemporâneo, Brasília, MRE (FUNAG/IRBr), 2007. KEOHANE, Robert. Review: Lilliputians’ Dilemmas: Small States in International Politics. International Organization, vol. 23, n. 2 (1969), p 291-310. LAFER, Celso. Brasil: dilemas e desafios da política externa. Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 38, Abr. 2000. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000100014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 set. 2011. LAMPREIA, Luiz Felipe. A política externa do governo FHC: continuidade e renovação. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 41, n. 2, Dec. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73291998000200001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 mar. 2011 MAGNOLI, Demétrio. O Brasil contra os Direitos Humanos. Interesse Nacional, ano I, n. 2, p. 27-35, julho/setembro 2008. Disponível em: <http://interessenacional.com/artigos-integra.asp?cd_artigo=3>. Acesso em: 20 mar. 2011. MOREIRA, Julia Bertino. Redemocratização e direitos humanos: a política para refugiados no Brasil. Rev. bras. polít. int, Brasília, v. 53, nº 1, p. 111-129, 2010. NADER, Lucia. O papel das ONGs no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Sur, Rev. int. direitos human., São Paulo, v. 4, n. 7, 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-64452007000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 01 Out. 2011. PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos Globais, Justiça internacional e o Brasil. Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 8, V. 15, p. 93 – 110, jan./jun. 2000. Disponível em: <http://www.internationaljusticeproject.org/pdfs/Piovesan-writing-2.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2011. PINHEIRO, Paulo Sérgio; MESQUITA NETO, Paulo de. Programa Nacional de Direitos Humanos: avaliação do primeiro ano e perspectivas. Estudos Avançados, São Paulo, v. 11, n. 30, Ago. 1997. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141997000200009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 set. 2011. REIS, Rossana Rocha. Os direitos humanos e a política internacional. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 27, Nov. 2006. Disponível em: <http://www.cedin.com.br/revistaeletronica/volume4/arquivos_pdf/sumario/art_v4_X.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2011.

Page 73: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

69

SHORT, Katherine. Da Comissão ao Conselho: a Organização das Nações Unidas conseguiu ou não criar um organismo de direitos humanos confiável? Sur, Revista internacional de direitos humanos, São Paulo, v. 5, n. 9, Dez. 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806- 64452008000200008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 26 set. 2011.

VALLADÃO FILHO, Haroldo Teixeira. Direito Internacional dos Direitos Humanos. In. MRE, Desafios do Direito Internacional Contemporâneo. Brasília, MRE (FUNAG/IRBr), 2007. p. 433. VIEIRA, Oscar Vilhena; ASANO, Camila Lissa; NADER, Lucia. O Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU: A necessária superação de ambiguidades. Política Externa (USP), v. 18, n. 2, p. 77-87, 2009. Disponível em: <http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/31/Documentos/OBrasilnoCDHONU_AsanoNaderVilhena.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2011. VIGEVANI, Tullo; OLIVEIRA, Marcelo F. de; CINTRA, Rodrigo. Política externa no período FHC: a busca de autonomia pela integração. Tempo soc., São Paulo, v. 15, n. 2, Nov. 2003. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702003000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 set. 2011. VILLAN DURAN, Carlos. Luzes e sombras do novo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Sur, Rev. int. direitos human., São Paulo, v. 3, n. 5, Dec. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-64452006000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 out. 2011. VIZENTINI, Paulo Fagundes. De FHC a Lula: Uma década de política externa (1995-2005). Civitas – Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 5. n. 2, jul.- dez. 2005. 5.1.4 Revistas e Jornais AGÊNCIA ESTADO. Abstenção do Brasil na ONU é vista como censura. O Estadão, 26 de março de 2010. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,abstencao-do-brasil-na-onu-e-vista-como-censura,529529,0.htm>. Acesso em: 25 out 2011. CARNEIRO, Fausto. ‘É fácil ficar sentado num banco da Suíça dando palpite no Brasil’, diz Lula. G1, 16 de abril de 2008. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL403856-9356,00.html>. Acesso em 20 de nov. 2011 NEBEHAY, Stephanie. ONU condena violações aos direitos humanos na Coreia do Norte. O Estadão. 26 de março de 2009. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,onu-condena-violacoes-aos-direitos-humanos-na-coreia-do-norte,345446,0.htm>. Acesso em 12 de out. 2011

Page 74: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

70

ONU: Brasil abandona a população civil de Darfur. Human Rights Watch News, em 6 de dezembro de 2006. Disponível em: <http://www.hrw.org/news/2006/12/06/onu-brasil-abandona-popula-o-civil-de-darfur>. Acesso em 14 de out 2011. Q&A: Sudan’s Darfur Conflict. BBC NEWS, de 23 de fevereiro de 2011. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/3496731.stm>. Acesso em 14 de out. 2011 RESENDE, Adriana. Comissão discutirá posição do Brasil em conflito no Sudão. Agência Câmara, Brasília, 27 de dezembro de 2006. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITOS-HUMANOS/97096-COMISSAO-DISCUTIRA-POSICAO-DO-BRASIL-EM-CONFLITO-NO-SUDAO.html>. Acesso em 14 de out 2011. UNITED NATIONS. Human Rights Council Press Release. “Contemporary forms of slavery in Brazil are crimes that must be punished”, says UN expert on slavery, 28 May 2010. Disponível em: <http://www.ohchr.org/en/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=10073&LangID=E>. Acesso em 05 de out de 2010. UNIC-Rio. Comunicados à imprensa. Relator Especial da ONU considera que as mortes causadas pela polícia brasileira continuam tendo taxas alarmantes, 01 de jun de 2010. Disponível em: <http://unicrio.org.br/relator-especial-da-onu-considera-que-as-mortes-causadas-pela-policia-brasileira-continuam-tendo-taxas-alarmantes-o-governo-tem-falhado-em-tomar-todas-as-medidas-necessarias/>. Acesso em: 19 de out 2011. 5.1.5 Outras ASANO, Camila Lissa; NADER, Lucia. Reflexões sobre a política externa em direitos humanos do governo Lula. In: “Nunca antes na história desse país”...? : um balanço das políticas do governo Lula. Organizadora Marilene de Paula. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Heinrich Böll, 2011 BRANDÃO, Marco Antônio Diniz; PEREZ, Ana Cândida. A política externa de direitos humanos. Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/imagens-e-textos/revista6-mat4.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2011. HUMAN RIGHTS WATCH. Keeping the Momentum: One Year in the Life of the UN Human Rights Council. New York, setembro de 2011. Disponível em: <http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/hrc0911ForWeb.pdf>. Acesso em 14 out. 2011. KWEITEL, Juana. “O Multiculturalismo, globalização e direitos humanos”. Direitos humanos no século XXI: cenários de tensão/organizador Eduardo C. B. Bittar. Rio de

Page 75: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

71

Janeiro: Forense Universitária; São Paulo: ANDHEP; Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2008. PIOVESAN, Flávia. Tratados internacionais de proteção dos direitos humanos: Jurisprudência do STF, 2009?. Disponível em: <http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/31/Documentos/Artigos/Tratados%20Internacionais%20de%20Prote%c3%a7%c3%a3o%20dos%20Direitos%20Humanos%20Fl%c3%a1via%20Piovesan.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2011. SOUZA, Emerson Maione de. "Boa cidadania internacional? Avaliando a política externa do governo Lula para os direitos humanos". IV Encontro Nacional da Associação Nacional de Direitos Humanos (ANDHEP), 2008. TRINDADE, Antônio A. Cançado. Desafios e Conquistas do Direito Internacional dos Direitos Humanos no Início do Século XXI. In. MRE, Desafios do Direito Internacional Contemporâneo. Brasília, MRE (FUNAG/IRBr), 2007.

5.2 FONTES PRIMÁRIAS 5.2.1 Documentais BRASIL. A política externa do governo Itamar Franco. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, Fundação Alexandre de Gusmão, 1994. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2003. BRASIL/MRE. Despacho Telegráfico n. 58, de Exteriores para Delbrasgen, de 02/02/2010a. ______. Despacho Telegráfico n. 112, de Exteriores para Delbrasgen, de 01/03/2010b. ______. Despacho Telegráfico n. 137, de Exteriores para Delbrasgen, de 05/03/2010c. ______. Despacho Telegráfico n. 156, de Exteriores para Delbrasgen, de 01/04/2011. ______. Despacho Telegráfico n. 482, de Exteriores para Delbrasgen, de 04/09/2009. ______. Despacho Telegráfico n. 715 de Exteriores para Delbrasgen, de 02/06/2006, p. 2 ______. Telegrama n. 623, de Delbrasgen para Exteriores, de 21/04/2010d. ______. Resenha de Política Exterior do Brasil/ Ministério das Relações Exteriores. Brasília: FUNAG, ano 16, n. 66, jul., ago. e set. de 1990.

Page 76: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

72

______. ______. ano 22, n. 77, 2º sem. de 1995. ______. ______. ano 29, n. 104, 1º sem. de 2009. ______. ______. ano 30, n. 92, jan. - jun. de 2003. ______. ______. ano 31, n. 94, jan. - jul. de 2004. ______. ______. ano 32, n. 96, 1º sem. de 2005. ______. ______. ano 33, n. 98, 1º sem. de 2006. ______. ______. ano 34, n. 100, 1º sem. de 2007. ______. ______. ano 35, n. 102, 1º sem. de 2008. UNITED NATIONS. Brief historic overview of the Commission on Human Rights. Disponível em <http://www2.ohchr.org/english/bodies/chr/further-information.htm> Acesso em 28 de setembro de 2011. ______. Membership of the Human Rights Council. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/membership.htm>. Acesso em: 10 abr. 2011. ______. The Human Rights Council. Disponivel em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/>. Acesso em 10 abr. 2011 UNITED NATIONS. Human Rights Council. Compilation of special procedures’ recommendations by country, 2007. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/chr/special/docs/SPrecommendations2007.doc>. Acesso em: 04 out. 2011. ______. ______. 2008. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/chr/special/docs/SP_recommendations_2008_rev1.doc>. Acesso em: 04 out. 2011. ______. ______. 2009a. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/chr/special/docs/2009Compilation.pdf>. Acesso em: 04 out. 2011. ______. ______. Resolution A/HRC/2/L.44, Implementation of General Assembly Resolution 60/251, de 3 out. 2006a. Disponível em: <http://www.un.org/Docs/journal/asp/ws.asp?m=A/HRC/2/L.44>. Acesso em: 14 out. 2011.

Page 77: ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO BRASIL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS NO PERÍODO DE 2006 A 2010

73

______. General Assembly, Human Rights Council. Resolution A/HRC/5/1, Institutional building of the United Nations Human Rights Council, 18 de Junho de 2007. Disponível em <http://ap.ohchr.org/documents/E/HRC/resolutions/A_HRC_RES_5_1.doc>. Acesso em: 01 out. 2011. ______. ______. Resolution A/RES/60/251, 15 de março de 2006b. Disponível em <http://www2.ohchr.org/english/ bodies/hrcouncil/docs/A.RES.60.251_En.pdf>. Acesso em 1 out. 2011. ______. ______. Resolution A/HRC/2/L.48, Implementation of General Assembly Resolution 60/251, de 27 nov. 2006c. Disponível em: <http://www.un.org/Docs/journal/asp/ws.asp?m=A/HRC/2/L.48>. Acesso em: 14 out. 2011. ______. ______. Resolution A/HRC/5/1, 18 de Junho de 2007. Disponível em <http://ap.ohchr.org/documents/E/HRC/resolutions/A_HRC_RES_5_1.doc>. Acesso em 01 out. 2011. ______. ______. Resolution 10/16, Situation of human rights in the Democratic People’s Republic of Korea, 26 de mar. 2009b. Disponível em: <http://ap.ohchr.org/documents/E/HRC/resolutions/A_HRC_RES_10_16.pdf>. Acesso em: 13 de out 2011 ______. ______. Resolution 13/13, Report of the Working Group on the Universal Periodic Review, 4 de jan. 2010a. Disponível em: <http://lib.ohchr.org/HRBodies/UPR/Documents/Session6/KP/A_HRC_13_13_PRK_E.pdf>. Acesso em 13 out. 2011. ______. ______. Resolution 13/L.13, Situation of human rights in the Democratic People’s Republic of Korea, 18 mar. 2010b. Disponível em: <http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/LTD/G10/122/35/PDF/G1012235.pdf?OpenElement>. Acesso em 25 out. 2011 5.2.2 Outras BRASIL. Galeria dos Presidentes. Fernando Collor de Mello. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/infger_07/presidentes/fernando_collor.htm>. Acesso em 19 set. 2011