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Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
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Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa
Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
LEWANDOWSKI, Dairton Ramos68
ZDANOWICZ, José Eduardo69
RESUMO
A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar foi fundada em 2011 por 22 cooperados. Atualmente, a Cooperativa tem em seu quadro social 78 associados. Em 2012, a Cooperativa entregou 21 produtos hortícolas para o PNAE que foram produzidos por 26 cooperados, totalizando 30.142 kg, equivalendo a R$ 86.467,75. Na análise quantitativa observou-se que dos 21 produtos hortícolas entregues, 13 produtos corresponderam a mais de 50% do volume produzido por um associado. Os 7 produtos com maiores volumes foram: batata doce, beterraba, cenoura, feijão, laranja, mandioca e moranga que representaram 74% do volume total entregue às escolas. Quanto à entrega por gênero, 11 produtoras associadas entregaram 7.334 kg de produtos, aproximadamente, 25 % do volume de produtos entregues para o PNAE em relação aos homens. Nas entrevistas constatou-se que todos os produtores possuem veículo próprio para entrega de seus produtos, informando que têm outros mercados para comercializar os produtos. A maioria das entrevistadas citou como positivo a participação no processo, ou seja, a garantia de entrega do plano de venda e recebimento dos valores acima do mercado. Nos aspectos a melhorar foram relacionados o maior comprometimento dos associados, o controle de entrega e pagamento, a ampliação dos mercados e o planejamento de produção. Palavras-Chave: Alimentação escolar. Agricultura familiar. Cooperativismo. Políticas públicas. Horticultura.
ABSTRACT
The Cooperative Santiaguense Family Agriculture was founded in 2011 by 22 members. Currently, the cooperative has in its membership 78 members. In 2012, the Cooperative delivered 21 vegetables for PNAE which were produced by 26 members, totaling 30,142 kg, equivalent to R $ 86,467.75. The quantitative analysis showed that 21 of vegetables delivered product 13 was more than 50% of the volume produced by one member. 7 items with higher volumes were: sweet potatoes, beets, carrots, beans, oranges, cassava and pumpkin which represented 74% of the total volume delivered to the schools. As for delivery by genre, producing 11 associated product delivered 7334 kg, approximately 25% of the volume of products delivered 68 Engenheiro Agrônomo especialista em Ciências Ambientais, Extensionista Rural Nível Superior da
Emater/RS – ASCAR. 69 Doutor em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade de León, na Espanha e
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na Escola de Administração.
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for PNAE in relation to men. In the interviews it was found that all producers have own vehicle for delivery of their products, stating that other markets have to market the products. Most respondents cited as positive participation in the process, ie, ensuring delivery of sales plan and receipt of amounts above the market. Aspects were related to improving the greater involvement of members, control of delivery and payment, the expansion of markets and production planning.
Keywords: School food. Family farming. Cooperatives. Public policy. Horticulture.
1 INTRODUÇÃO
Dentre as políticas públicas de desenvolvimento rural que promovem a
inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da agricultura
familiar, podemos citar o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ambos do Governo Federal.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é gerenciado pelo
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e visa à transferência de
recursos financeiros, em caráter suplementar, a estados, Distrito Federal e
municípios destinados a suprir as necessidades nutricionais dos alunos das escolas
públicas e filantrópicas. É considerado um dos maiores programas na área de
alimentação escolar no mundo, sendo o único com atendimento universalizado.
O Programa tem sua origem no início da década de 40, quando o então
Instituto de Nutrição defendia a proposta do Governo Federal oferecer alimentação
ao escolar. Entretanto, não foi possível concretizá-la, por falta de recursos
financeiros. Na década de 50, foi elaborado um novo Plano Nacional de Alimentação
e Nutrição, denominado Conjuntura Alimentar e o Problema da Nutrição no Brasil. É
nele que, pela primeira vez, se estrutura um programa de merenda escolar em
âmbito nacional, sob a responsabilidade pública.
Do plano original, apenas o Programa de Alimentação Escolar sobreviveu,
contando com o financiamento do Fundo Internacional de Socorro à Infância - FISI,
atualmente, do Fundo das Nações Unidas para a Infância United Nations Children's
Fund (UNICEF), viabilizando a distribuição do excedente de leite em pó destinado à
campanha de nutrição materno-infantil.
Em 31 de março de 1955, foi assinado o Decreto n° 37.106, que instituiu a
Campanha de Merenda Escolar (CME), subordinada ao Ministério da Educação. Na
ocasião, foram celebrados convênios diretamente com o FISI e outros organismos
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internacionais. Em 1956, com a edição do Decreto n° 39.007, de 11 de abril de 1956,
ela passou a se denominar Campanha Nacional de Merenda Escolar (CNME), com a
intenção de promover o atendimento em âmbito nacional.
No ano de 1965, o nome da CNME foi alterado para Campanha Nacional de
Alimentação Escolar (CNAE) pelo Decreto n° 56.886/65 e surgiu um elenco de
programas de ajuda americana, entre os quais se destacavam o Alimentos para a
Paz, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional - United States Agency for International Development (USAID); o
Programa de Alimentos para o Desenvolvimento, voltado ao atendimento das
populações carentes e à alimentação de crianças em idade escolar; e o Programa
Mundial de Alimentos, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura - Food and Agriculture Organization (FAO/ONU).
A partir de 1976, foi financiado pelo Ministério da Educação e gerenciado pela
Campanha Nacional de Alimentação Escolar, o II Programa Nacional de
Alimentação e Nutrição (PRONAN). Em 1979, passou a denominar-se Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, ficou assegurado o
direito à alimentação escolar a todos os alunos do ensino fundamental por meio de
programa suplementar de alimentação escolar pelos governos federal, estaduais e
municipais.
Desde sua criação até 1993, a execução do Programa era de forma
centralizada, ou seja, o órgão gerenciador planejava os cardápios, adquiria os
gêneros por processo licitatório, contratava os laboratórios especializados para
efetuar o controle de qualidade e responsabilizava-se pela distribuição dos alimentos
em todo o território nacional.
Em 1994, ocorreu a descentralização dos recursos na execução do
Programa, sendo instituída pela Lei n° 8.913, de 12/7/94, mediante a celebração de
convênios com os municípios e com o envolvimento das secretarias de Educação
dos estados e do Distrito Federal, às quais se delegou a competência para o
atendimento aos seus alunos e os das redes municipais das prefeituras que não
haviam aderido à descentralização.
Nesse período, o número de municípios que aderiram à descentralização
evoluiu de 1.532, em 1994, para 4.314, em 1998, representando mais de 70% dos
municípios brasileiros.
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A consolidação da descentralização, sob o gerenciamento do FNDE, se deu
com a Medida Provisória n° 1.784, de 14/12/98, em que, além do repasse direto a
municípios e secretarias de Educação, a transferência passou a ser feita
automaticamente, sem a necessidade de celebração de convênios ou quaisquer
outros instrumentos similares, permitindo maior agilidade ao processo. Na época, o
valor diário repassado per capita por aluno era de R$ 0,13, ou US$ 0,13 (o câmbio
real/dólar nesse período era de 1/1).
A Medida Provisória n° 2.178, de 28/6/2001 (uma das reedições da MP nº
1.784/98), propiciou grandes avanços ao PNAE. Dentre eles, destacam-se a
obrigatoriedade de que 70% dos recursos transferidos pelo Governo Federal sejam
aplicados exclusivamente em produtos básicos e o respeito aos hábitos alimentares
regionais e à vocação agrícola do município, fomentando o desenvolvimento da
economia local.
Esse novo modelo de gestão e a transferência dos recursos financeiros do
Programa têm ocorrido de forma sistemática, permitindo o planejamento das
aquisições dos gêneros alimentícios de modo a assegurar a oferta da merenda
escolar durante todo o ano letivo. Além disso, ficou estabelecido que o saldo dos
recursos financeiros existente ao final de cada exercício deve ser reprogramado
para o exercício seguinte e ser aplicado, exclusivamente, na aquisição de gêneros
alimentícios.
Outra grande conquista foi a instituição, em cada município brasileiro, do
Conselho de Alimentação Escolar (CAE) como órgão deliberativo, fiscalizador e de
assessoramento para a execução do Programa. Isso se deu a partir da reedição da
MP nº 1.784/98, em 2 de junho de 2000, sob o número 1979-19. Assim, os CAEs
passaram a ser formados por membros da comunidade, professores, pais de alunos
e representantes dos poderes Executivo e Legislativo.
Em 2009, houve a sanção da Lei nº 11.947, de 16 de junho, que trouxe novos
avanços para o PNAE, como a extensão do Programa para toda a rede pública de
educação básica e de jovens e adultos, garantindo que 30% dos repasses do FNDE
sejam investidos na aquisição de produtos da agricultura familiar.
O orçamento do Programa para 2012 foi de R$ 3,3 bilhões, beneficiando 45
milhões de estudantes da educação básica e de jovens e adultos. Com a Lei nº
11.947, de 16/6/2009, 30% desse valor – ou seja, R$ 990 milhões – foram investidos
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na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimulou o
desenvolvimento econômico das comunidades.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), instituído pela Lei nº
10.696/2003 foi atualizado pela Lei nº 12.512/2011. O PAA é uma das ações do
Programa Fome Zero, criado para garantir às populações em situação de
insegurança alimentar e o acesso a alimentos saudáveis, com alto valor nutritivo.
Também conhecido como Compra Direta, o PAA prevê a compra de alimentos da
agricultura familiar e sua doação às entidades sócio-assistencial que atendem às
pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional. O PAA é implantado
por meio de convênio formalizado entre o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome - MDS e os Estados/Municípios. Cabe ressaltar que o PAA permite
a compra, com dispensa de licitação, de alimentos de agricultores familiares, no
limite de até R$ 3,5 mil por família a cada ano, sendo que o associado de uma
cooperativa com maioria da agricultura familiar, o limite tende a aumentar
proporcionalmente.
Os produtos adquiridos dos agricultores familiares através do PAA são
utilizados para a minimização dos problemas de insegurança alimentar no país
através da formação de estoques estratégicos. O Programa atende à doação de
alimentos a populações em situação de risco nutricional, programas sociais públicos,
abastecimento de creches, escolas, cozinhas comunitárias, restaurantes populares e
entidades assistenciais e/ou beneficentes, mediante compras públicas de alimentos
para o atendimento de órgãos públicos com demanda regular de consumo de
alimentos para hospitais, presídios, forças armadas e Brigada Militar. Atualmente, o
PAA opera através de cinco modalidades:
a) compra da agricultura familiar com doação simultânea - CPR /;
b) compra direta da agricultura familiar - CDAF;
c) formação de estoque pela agricultura familiar - CPR / estoque;
d) incentivo à produção e ao consumo de leite - PAA leite;
e) compra institucional.
Segundo Triches, Froelich e Schneider (2011), os programas públicos
alimentares como PNAE surgem como potenciais reintegradores dos componentes
alimentares e nutricionais, tendo condições de auxiliar no enfrentamento das
problemáticas referentes ao consumo e à produção de alimentos. Por um lado,
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integrando as políticas relacionadas à saúde da população escolar, e por outro,
criando mercados para produtos locais, fomentando boas práticas ambientais.
No município de Santiago-RS o atendimento ao PNAE, ocorreu a partir da Lei
nº 11.947 de 2009 até 2011, sendo realizado através de grupos informais de
agricultores familiares. Com a finalidade de atender ao PAA, a Associação
Riograndense de Empreendimentos e Assistência Técnica e Extensão Rural e a
Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural - EMATER/RS-ASCAR e o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santiago (STR) organizaram reuniões no
interior do município com produtores, propondo a criação da cooperativa, o que
garantiria a preferência local para entrega de produtos da agricultura familiar,
viabilizando a comercialização formal e ampliando o valor de venda anual por
produtor para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. - COOPERSAF foi
criada em agosto de 2011, sendo a maioria composta por mulheres. Atualmente,
possui 78 cooperados e está se estruturando com auxílio das entidades ligadas ao
setor primário, utilizando um espaço físico no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Santiago e assessoria da EMATER/RS-ASCAR.
Em 2012, a COOPERSAF distribuiu 33 produtos, sendo 21 da horticultura, a
22 escolas e creches municipais e 10 escolas estaduais de Santiago, atendendo a
mais de 9.500 alunos.
Também foram entregues produtos nos municípios de Bossoroca, São Borja,
Itacurubi e Jaguari, localizados no oeste do Rio Grande do Sul. No município de
Santiago, o Programa atingiu 42% dos recursos destinados à alimentação escolar.
Os demais produtos processados: mel, lácticos, pães e farinhas foram entregues por
cooperados que já possuíam agroindústria familiar ou terceirizavam o processo.
A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. (COOPERSAF)
apesar de pouco tempo de existência está se estruturando para atender o município
de Santiago e região, com produtos da horticultura e processados, atendendo as
demandas dos mercados institucionais.
2 JUSTIFICATIVAS
As cooperativas de agricultores familiares foram criadas para atender aos
programas institucionais. No médio prazo, houve a organização de entrega dentro
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dos municípios, priorizando as associações formais locais. No entanto é necessária
a organização regional, obrigando as cooperativas constituídas para esse fim a
praticar o princípio da intercooperação. Ela respeita a entrega de produtos locais de
uma cooperativa para o seu município e organiza a oferta de outras cooperativas de
produtos necessários para a alimentação escolar que não foram ofertados. Isso
possibilita às instituições de educação atingir o maior percentual de produtos
adquiridos da agricultura familiar.
Atualmente, as políticas públicas estaduais ampliam as possibilidades da
agricultura familiar, inserindo-se na distribuição de alimentos para órgão públicos. A
Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), através do
Departamento de Cooperativismo (DCOOP) vem realizando um amplo processo de
articulação e aproximação de todos os atores envolvidos no processo de
comercialização de gêneros alimentícios da agricultura familiar nos mais diversos
espaços públicos.
Destaca-se que o trabalho está colhendo seus primeiros frutos. Aos poucos o
mercado institucional está incluindo cada vez mais agricultores familiares. Os órgãos
públicos federais, estaduais e prefeituras municipais estão iniciando e ampliando a
aquisição de gêneros alimentícios através de legislação específica, conciliando a
melhoria da qualidade da alimentação com o desenvolvimento local sustentável. Um
quadro esquemático dos três programas (PAA, PNAE e Compra Coletiva/RS), com
as suas respectivas fontes de recursos, executores e beneficiários dos programas,
está disposto na Figura 1.
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Figura 1 – Fluxograma dos Programas PAA, PNAE e Compra Coletiva/RS com
as respectivas fontes de recursos, executores e beneficiários.
Fonte: Rio Grande do Sul (2013).
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado em 2003, através da Lei
Federal nº 10.696, e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), criado a
partir da Lei Federal nº 11.947, de 2009, são atualmente os dois programas federais
que possibilitam aos órgãos públicos realizarem a aquisição de gêneros alimentícios
da agricultura familiar dispensando-se o processo licitatório. Além desses dois
programas, foi criado em 2012, no Estado do Rio Grande do Sul, através da Lei nº
13.922, a Política Estadual da Compra Coletiva/RS. Esta política visa utilizar o poder
de compras do estado como elemento propulsor do desenvolvimento sustentável
através da aquisição de bens e serviços da agricultura familiar e economia solidária.
3 OBJETIVOS
O trabalho tem vários objetivos ao analisar a produção hortícola e seus
arranjos de distribuição, no processo desenvolvido no Município de Santiago,
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através da Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. (COOPESAF) em
2012.
3.1 OBJETIVO GERAL
Analisar quantitativamente a entrega de produtos da COOPERSAF para o
atendimento ao PNAE e a participação dos produtores no processo.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
O trabalho tem como objetivos específicos:
a) verificar a distribuição dos produtos da horticultura que atenderam ao
PNAE no ano de 2012;
b) comparar a entrega de produtos hortícola por gênero no período;
c) descrever os relatos dos produtores da agricultura familiar sobre o
processo ocorrido em 2012.
O levantamento quantitativo das entregas de produtos também permitirá que
outras informações sejam extraídas dos dados tabulados, servindo de parâmetro
para realização de outros estudos sobre o processo de entrega de alimentos para
escolares e beneficiários de políticas públicas.
4 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada para obter as informações referentes à entrega de
produtos alimentares de agricultores familiares, associados à Cooperativa
Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda (COOPESAF) em 2012 e a dinâmica da
distribuição dos produtos. Os dados obtidos foram dispostos em planilhas do Excel,
analisando os projetos de venda do PNAE para as escolas, elaborados pelo
Escritório Municipal da EMATER/RS-ASCAR de Santiago no ano de 2012,
considerando as quantidades e os valores dos 21 produtos entregues, oriundos da
horticultura. Por definição horticultura é a parte da agricultura que trata da
exploração racional das plantas e divide-se nos ramos da olericultura, floricultura,
fruticultura, silvicultura e paisagismo. Os produtos processados não foram alvo da
análise quantitativa devido ao controle de entrega do projeto de venda estar no
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nome da agroindústria fornecedora, sabendo-se que vários cooperados ou
cooperadas participaram da entrega na agroindústria ou processamento dos
alimentos.
Para a análise quantitativa as informações foram obtidas em termos de:
a) número de cooperados que entregaram o produto;
b) número de produtos entregue por cooperado;
c) volume entregue por produto por cooperado;
d) valores recebidos por produto por cooperado;
e) comparativo de gênero dos cooperados em volume e valores.
Os dados foram inseridos na planilha principal, definindo as quantidades e os
valores por cooperado e, posteriormente, realizadas as derivações das informações
para obter as tabelas e gráficos, relacionados aos objetivos do trabalho.
Para preservar os cooperados analisados os nomes foram representados por
duas letras: sendo as mulheres iniciadas por “F” (feminino) e os homens iniciados
por “M” (masculino), quando o código for “CO” os produtos foram adquiridos pela
COOPERSAF de produtores não associados.
Para analisar a percepção dos produtores sobre a experiência da entrega
como cooperado, foi realizada uma entrevista semi estruturada com 40% dos
cooperados que entregaram produtos hortícolas no ano de 2012, questionando
sobre o entendimento do compromisso de produção e entrega as escolas pela
cooperativa, e quais foram os aspectos positivos e a melhor no processo de entrega.
A análise dos valores dos projetos de venda realizados para atender o PNAE
e a relato dos produtores que participaram do processo através das entrevistas
busca relacionar as informações quantitativas com as qualitativas, possibilitando
interpretar resultados convergentes, visto que os produtores entrevistados não
conheciam o volume total de vendas no ano de 2012 da COOPERSAF.
5 REFERENCIAL TEÓRICO
Diante da atual conjuntura nacional estamos diante de um novo cenário para
o fortalecimento e a criação de novas cooperativas agropecuárias, que se
apresentam como importantes instrumentos para o desenvolvimento local, através
das políticas públicas, priorizando a agricultura familiar como fornecedora de
produtos alimentares.
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Garcia (2013?) define a cooperativa como o espaço físico ou não onde
pessoas com os mesmos ideais se unem para um objetivo comum, que é o bem
estar de todos no sentido amplo do termo. A Lei nº 5.764, de 16.12.71, alterada pela
Lei nº 7.231/84, define a política nacional de cooperativismo, instituindo o regime
jurídico das sociedades cooperativas no Brasil. O conceito formal de cooperativa é
fixado pela norma jurídica acima, ou seja, uma sociedade de pessoas com forma e
natureza jurídica próprias, não sujeitas à falência, e de característica civil. É uma
forma associativa, que objetiva a comunhão de esforços coordenados para a
realização de determinado fim, contando com respaldo constitucional, haja visto que
a Constituição Federal de 1988, apresenta em alguns de seus dispositivos regras
gerais concernentes às cooperativas. Por exemplo, a alínea “c” do inciso III do art.
146, dispõe que a Lei Complementar irá dar adequado tratamento tributário ao ato
cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. E, o § 2º do art. 174 determina
que a Lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.
Os membros da cooperativa não têm subordinação entre si, mas vivem em
regime de colaboração mútua. As sociedades cooperativas, na atualidade, têm por
finalidade a prestação de serviços aos associados para o exercício de uma atividade
comum, econômica, não objetivando o lucro como razão de ser. É uma estrutura de
prestação de serviços voltada ao atendimento de seus associados sem finalidade
lucrativa (art. 3º da Lei nº 5.764/71).
A organização empresarial cooperativista é, sem dúvida, um dos maiores,
senão o maior, agente transformador da sociedade. Assiste-se a uma mudança de
época e de valores neste limiar do século XXI, com profundas e irreversíveis
influências motivadas pela informatização da sociedade, onde as associações
mercantilistas estão inseridas, mudando os meios de produção, de gerenciamento e
da relação entre as pessoas, da partilha, bem como do espírito fraternal responsável
e motivador deste movimento humano e empreendedor.
Ribeiro (2005), a partir da abordagem de Amartya Sen, economista e filósofo
reconhecido com o Prêmio Nobel pelo seu trabalho, apresenta uma interpretação
diferenciada dos processos de desenvolvimento, enfocando a liberdade e as
capacidades como geradores de desenvolvimento. Os estudos sobre o
desenvolvimento têm seguido os mesmos pressupostos do enfoque econômico em
geral, utilizando-se apenas análises econômicas. O entendimento tem sido de que o
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desenvolvimento é um processo de crescimento econômico que conduz,
automaticamente, à melhoria do nível de vida das populações.
Segundo Sen (2001 apud RIBEIRO, 2005) as capacidades e liberdades
podem ser aumentadas pelas políticas públicas ou as políticas públicas podem ser
influenciadas pelas capacidades da população. Ter mais liberdade melhora o
potencial das pessoas para “cuidar de si mesmo e de influenciar o mundo”, isto é,
melhora o aspecto da “condição de agente” do indivíduo (entendido como alguém
que age e ocasiona mudança de acordo com os seus valores e objetivos).
A abordagem parte da visão de que o processo de desenvolvimento é
centrado nos agentes, ou seja, os indivíduos não precisam ser vistos como
“beneficiários passivos de engenhosos programas de desenvolvimento”, mas podem
efetivamente moldar o seu próprio destino e futuro, desde que tenham liberdade.
(SEN, 2001 apud RIBEIRO, 2005).
De acordo com Navarro (2001), desenvolvimento rural pode ser analisado,
estudando os programas já realizados pelo Estado (em seus diferentes níveis)
visando alterarem facetas do mundo rural a partir de objetivos previamente
definidos. Ele pode referir-se também à elaboração de uma “ação prática” para o
futuro, qual seja, implantar uma estratégia de desenvolvimento rural, para um
período vindouro (e assim existiriam diversas metodologias de construção de tal
estratégia, bem como um amplo debate sobre seus objetivos e prioridades
principais). Considera que desenvolvimento local pode derivar de processos de
descentralização. Essa transferência de responsabilidades de Estados antes tão
centralizados valorizou crescentemente o “local”, no caso brasileiro o município. A
convergência, portanto dos fatores é que tem introduzido o desenvolvimento local
como outra das noções que gradualmente passam a ser orientadoras de diversas
iniciativas governamentais ou não. A recente condensação de demandas sociais
centradas em torno da noção de “agricultura familiar” igualmente tem reforçado a
tendência de reivindicar novos padrões de desenvolvimento rural que incluam
mecanismos de repercussão local. Isso relata a escassa tradição associativista
existente no campo brasileiro, como demonstram as evidências. É um claro limitador
de iniciativas que tenham sua centralidade nos âmbitos exclusivamente locais.
A maneira como estão estruturados os atores do processo de comercialização
tanto para o PNAE e PAA estão demonstrando um estilo de agricultura que pode
gerar renda e perspectivas em longo prazo, colocando em debate os pontos citados
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por Long e Ploeg (1994), em primeiro lugar, como organizar o mercado de forma a
torná-lo num conjunto de oportunidades econômicas; em segundo lugar, como
controlar o desenvolvimento tecnológico, necessariamente envolvendo projetos que
se ajustem melhor a estilos particulares de agricultura; e, em terceiro lugar, como
desenvolver legislação (incluindo distribuições específicas de direitos, benefícios,
sanções e restrições).
Com o propósito de construir alternativas de comercialização direta dos
produtos da agricultura familiar, o poder público e as organizações sociais e
representativas da agricultura familiar, convergem para uma estratégia onde uma
parcela do mercado institucional de alimentos é direcionada exclusivamente para os
agricultores familiares. O processo traz como um de seus objetivos fundamentais o
apoio ao desenvolvimento local através das compras públicas de gêneros
alimentícios diretamente das pequenas unidades agrícolas familiares.
6 CARACTERIZAÇÃO DA COOPERATIVA
A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. (COOPERSAF) é
composta apenas por produtores rurais do município de Santiago, localizado na
Mesorregião Centro Ocidental Rio-Grandense, com uma população de 50.608
habitantes (Estimativa IBGE 2013), 8,8% no meio rural, distante 441 km da Capital,
possuindo uma área de 2.413 km².
A COOPERSAF foi idealizada em 2011, para organizar a entrega ao PNAE e
viabilizar a venda de produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), de
maneira formal por exigência legal do programa. Com essa finalidade foram
realizadas 20 reuniões em diversas localidades do interior do município de Santiago
através da Associação Riograndense de Empreendimentos e Assistência Técnica e
Extensão Rural e a Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural - EMATER/RS-
ASCAR, para esclarecer os motivos e vantagens da criação da cooperativa, pois
alguns produtores que entregavam produtos em grupos informais, o que é permitido
no PNAE, apresentavam certa resistência a aderir às mudanças.
Para criar a cooperativa foi realizada uma reunião no Sindicato dos
Trabalhadores Rurais (STR) com todos os interessados ou representantes, onde
compareceram 90 produtores, sendo a maioria composta por mulheres.
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A principal finalidade da COOOPERSAF é comercializar para os programas
institucionais que garantem a compra e priorizam a agricultura familiar e
regionalização da produção. Os principais produtos são da horticultura (frutas e
olerícolas), mas também possui associados que processam leite e mel em
agroindústrias familiares legalizadas localizadas no interior do município e farináceos
e panificados em fase de regularização.
A estrutura formal da Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda.
está disposta na Figura 2.
Figura 2 - Organograma da Estrutura da COOPERSAF
Fonte: COPERSAF (2011).
No ano de 2012, a COOPERSAF comercializou através do PNAE, envolvendo
46 associados, 59% do total. Desses, 27 participaram da produção e entrega de
produtos hortícolas (legumes, verduras, frutas, raízes e grãos).
A entrega para as escolas municipais é realizada de forma centralizada, os
produtores entregam em local e dia determinado e a Secretaria Municipal de
Educação e Cultura distribui as escolas. Nas dez escolas estaduais a entrega é
realizada individualmente.
A COOPERSAF pretende aumentar a participação de cooperados que não
entregaram produtos em 2012, bem como viabilizar através de políticas públicas a
implantação e legalização de agroindústrias dos cooperados, possibilitando a
entrega de alimentos processados para atender os mercados institucionais e não
institucionais da região.
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
489
7 ANÁLISE DOS RESULTADOS
No ano de 2012, a Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. -
COOPERSAF entregou 21 produtos hortícolas para o PNAE, produzidos por 26
cooperados, equivalendo a 30.142 kg e R$ 86.467,75.
Conforme Tabela 1, apresentado a distribuição do volume de produtos
hortícolas entregues por cooperado da COOPERSAF ao PNAE em 2012,
verificamos que dos 21 produtos hortícolas entregues, 13 produtos apresentaram
mais de 50% do volume produzido por um associado. Também se observa uma
amplitude de volume entre 26 produtores, onde os cinco produtores com maior
volume entregue somam 16.096,7 kg e 53,4% do total produzido, e os cinco com
menor volume entregue somam 272 kg, menos de 1% do volume total entregue.
A grande diferença de volume entregue por produtor caracteriza-se pela
especialização de alguns produtores em determinados produtos e por estarem
inseridos no mercado não institucional. A Cooperativa deve evitar essa concentração
em determinados produtos, planejando uma distribuição gradativa de produção entre
os produtores associados.
Os produtos mais valorizados comparando-se o volume total entregue com os
valores totais recebidos pelos cooperados (Tabela 3) foram o moranguinho,
entregue por 3 cooperados e o brócolis, entregue por 2 cooperados, contrastando
com a couve e tempero verde que apresentando mais de cem por cento de
valorização, foram entregues por 12 e 13 produtores respectivamente. A amplitude
do número de produtores deve-se diferença dos processos de transporte e produção
comercial do moranguinho e brócolis que são mais complexos que na produção
comercial de couve e tempero verde.
49
0
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1 -
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alface
batata doce
beterraba
brócolis
cenoura
couve
couve flor
espinafre
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laranja
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melão
milho verde
moranga
moranguinho
pepino
pêssego
repolho
rúcula
tempero verde
vagem
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0
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0
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0
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0,0
11
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0
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0
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78,0
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0
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27
0,0
270,
0
MO
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,0
34,0
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45
,0
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0
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,0
15,0
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,0
82
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21
5,4
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0,0
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0
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0
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,0
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0 77
,0
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) 18
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,0
543,
6
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33
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,0
3160
,0
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180,
0
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0
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0
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,0
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Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
491
Tabela 2 – Relação entre os percentuais de maior e menor volume de produtos entregues por produtor pela COOPERSAF para o PNAE em 2012.
Produtos Nº de
Produtores
Maior
Produção
(%)
Menor
Produção
(%)
alface 14 22,74% 1,09%
batata doce 14 19,25% 0,42%
beterraba 12 65,05% 1,45%
brócolis 2 93,86% 6,14%
cenoura 7 66,31% 1,26%
couve 12 24,10% 1,62%
couve flor 3 88,80% 5,60%
espinafre 2 82,18% 17,82%
feijão70 8 67,49% 0,68%
laranja 4 58,86% 1,58%
mandioca 12 22,24% 1,03%
melão 1 100,00% 0,00%
milho verde 7 56,93% 2,92%
moranga 15 16,85% 1,04%
moranguinho 3 66,42% 9,73%
pepino 2 66,67% 33,33%
pêssego 2 60,00% 40,00%
repolho 11 36,60% 0,74%
rúcula 7 29,07% 2,33%
tempero verde 13 16,68% 0,96%
vagem 1 100,00% 0,00%
Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor.
Quanto ao número de produtores que cultivam determinado produto hortícola
tem-se uma situação onde um único produtor, fornece todo o volume de um produto
(vagem e melão) e 15 produtores fornecem um mesmo produto (moranga) às
escolas. Essa constatação evidencia um planejamento de distribuição da produção,
evitando problemas de entrega devido a sinistros climáticos ou problemas devido a
diferença de preços dos mercados institucionais com os mercados tradicionais
quando poucos produtores entregam um determinado produto.
70 A produção de feijão no Município de Santiago foi afetada pela estiagem de 2011/2012, fazendo
com que a COOPERSAF adquirisse o produto de produtores não associados.
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
492
Tabela 3 – Relação entre o volume (kg) de produtos entregues, valores recebidos (R$) e nº de cooperados que entregaram o produto para o PNAE em
2012.
Produtos
Volume
entregue
(kg)
% Valor
(R$) %
nº
coop. %
alface 1.819,20 6,04% 8.361,64 9,67% 14 66,67%
batata doce 2.826,00 9,38% 5.335,59 6,17% 14 66,67%
beterraba 4.149,00 13,76% 10.148,30 11,74% 12 57,14%
brócolis 366,25 1,22% 5.087,01 5,88% 2 9,52%
cenoura 3.167,00 10,51% 7.774,80 8,99% 7 33,33%
couve 543,60 1,80% 3.554,68 4,11% 12 57,14%
couve flor 71,40 0,24% 1.178,70 1,36% 3 14,29%
espinafre 337,80 1,12% 3.072,90 3,55% 2 9,52%
feijão** 2.944,00 9,77% 10.364,91 11,99% 8 38,10%
laranja 3.160,00 10,48% 4.062,00 4,70% 4 19,05%
mandioca 3.498,00 11,61% 5.817,60 6,73% 12 57,14%
melão 180,00 0,60% 758,00 0,88% 1 4,76%
milho verde 822,00 2,73% 1.702,50 1,97% 7 33,33%
moranga 2.587,00 8,58% 4.225,57 4,89% 15 71,43%
moranguinho 411,00 1,36% 4.662,00 5,39% 3 14,29%
pepino 30,00 0,10% 117,00 0,14% 2 9,52%
pêssego 50,00 0,17% 207,00 0,24% 2 9,52%
repolho 2.156,00 7,15% 3.530,70 4,08% 11 52,38%
rúcula 258,00 0,86% 1.465,80 1,70% 7 33,33%
tempero verde 624,80 2,07% 4.195,05 4,85% 13 61,90%
vagem 141,00 0,47% 846,00 0,98% 1 4,76%
Totais 30.142,05 100,00% 86.467,75 100,00% 27
Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor.
Verifica-se que os produtos hortícolas entregues com os maiores volumes
são: beterraba, mandioca e cenoura, enquanto os de menores volumes foram:
pepino, pêssego e couve-flor. Os produtos entregues com os maiores valores totais,
na ordem são: feijão, beterraba e alface e os menores: pepino, pêssego e vagem.
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
493
Figura 3 – Percentual do volume de hortícolas entregue pela COOPERSAF ao PNAE, no Município de Santiago em 2012.
Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor.
Os 7 produtos com maiores volumes (batata doce, beterraba, cenoura, feijão,
laranja, mandioca e moranga) representaram 74% do volume total entregue para as
escolas. Esses produtos têm a característica de serem menos perecíveis que as
hortaliças folhosas e sofrerem menos injúrias no transporte. Também possibilitam
maior tempo de armazenamento e produção durante quase todo o ano. Devido ao
ano letivo não apresentar demanda de produtos alimentares nos meses de
dezembro, janeiro e fevereiro, alguns produtos como pepino, pêssego e melão são
menos ofertados devido ao período de produção coincidir com o fim do ano letivo.
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
494
Tabela 4 – Distribuição dos volumes de acordo com o gênero dos cooperados que entregaram os produtos hortícolas para o PNAE em 2012.
Produtos
Gênero Feminino Gênero Masculino
nº produtoras
Volume entregue (kg)
%
nº produtores
Volume entregue (kg)
%
alface
5 735,30 2,61%
9 1.083,90 3,85%
batata doce
6 1.099,00 3,90%
8 1.727,00 6,13%
beterraba
5 523,00 1,86%
7 3.626,00 12,88%
brocolis
1 22,50 0,08%
1 343,75 1,22%
cenoura
0 - 0,00%
7 3.167,00 11,25%
couve
4 156,20 0,55%
8 387,40 1,38%
couve flor
0 - 0,00%
3 71,40 0,25%
espinhafre
0 - 0,00%
2 337,80 1,20%
feijão
3 490,00 1,74%
4 467,00 1,66%
laranja
2 1.250,00 4,44%
2 1.910,00 6,78%
mandioca
6 1.183,00 4,20%
6 2.315,00 8,22%
melão
0 - 0,00%
1 180,00 0,64%
milho verde
3 162,00 0,58%
4 660,00 2,34%
moranga
5 594,00 2,11%
10 1.993,00 7,08%
moranguinho
1 40,00 0,14%
2 371,00 1,32%
pepino
1 20,00 0,07%
1 10,00 0,04%
pêssego
2 50,00 0,18%
0 - 0,00%
repolho
3 628,00 2,23%
8 1.528,00 5,43%
rúcula
3 128,00 0,45%
4 130,00 0,46%
tempero verde
4 253,00 0,90%
9 371,80 1,32%
vagem
0 - 0,00%
1 141,00 0,50%
Totais
7.334,00 26,05%
20.821,05 73,95%
Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
495
Constata-se que 11 produtoras associadas entregaram 7.334 kg de produtos,
aproximadamente 25 % do volume de produtos entregues em 2012 para o PNAE em
relação aos homens. Com exceção do feijão, o volume entregue pelas mulheres dos
demais produtos foi menor que a dos homens.
A produção das mulheres representou, aproximadamente, 25% no volume
entregue e nos valores recebidos, cabe ressaltar que na produção de farináceos,
pães e bolachas elas representam 100% desta produção que não foi alvo do estudo.
O resultado das entrevistas verificou que todos os produtores entrevistados
possuem veículo para entrega de seus produtos, sendo que a entrega para as
escolas municipais é centralizado, em um local e num só dia da semana, enquanto
que as entregas às escolas estaduais são feitas de forma individualizada.
Segundo informações dos cooperados entrevistados, todos afirmaram que
possuem outros mercados para comercializar os produtos, quer seja em feiras ou
mercados da cidade. Citam como positivo a participação no processo: a garantia de
entrega do plano de venda e o recebimento dos valores acima do mercado.
Destaca-se que a burocracia é menor em relação à entrega através de grupos
informais e o limite por produtor favorece a distribuição de recursos.
Na percepção dos produtores associados, quanto aos aspectos a melhorar,
foram registrados as seguintes declarações:
a) existem produtores que se comprometem com a produção de um ou mais
produtos e não conseguindo a produção adquirem de mercados ou de
outros produtores, em vez de repassar o compromisso para outro
cooperado;
b) o custo de transporte onde as propriedades localizam-se a mais de 30 km
da cidade, tem dificultado a entrega de pouco volume de produto;
c) o produtor se comprometeu em produzir o volume determinado em reunião
da cooperativa, mas a sua parte a ser entregue foi menor;
d) as escolas deveriam inspecionar a quantidade e qualidade dos produtos na
hora da entrega;
e) poderia existir o transporte das propriedades para as escolas;
f) alguns cooperados entregam mais produtos que outros, que possuem a
mesma capacidade de produção;
g) em algumas escolas ocorreu demora no pagamento depois que os
produtos foram entregues;
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
496
h) algumas escolas estaduais precisam organizar a rotina de entrega;
i) a cooperativa deveria valorizar os produtores que entregam em épocas não
preferenciais de plantio e aumentar a oferta de produtos para outros
municípios e mercados não institucionais.
8 CONCLUSÕES
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA) são importantes ao cooperativismo na agricultura
familiar, pois permitem uma consolidação, um fluxo de renda, um aprendizado sobre
regularidade de entrega, sobre a parte documental, registros e tributos.
Muitas vezes a liberdade de produção dentro do processo de comercialização
institucional, não é plena. O produtor tem que entender que a cooperativa criada
para atender aos programas institucionais, não vai absorver toda a sua produção,
pois tem compromissos definidos quanto à quantidade, qualidade e preço em
períodos definidos e sujeitos as alterações que não estão num controle local.
Nas primeiras entregas da Cooperativa para o PNAE, ocorreram problemas
de controle tanto das instituições que receberam, como dos produtores, quanto às
quantidades e padrão de qualidade.
A COOPERSAF em 2012 abasteceu também, escolas de outros municípios
da região e está organizando-se para abastecer o PAA no município de Santiago. O
desafio, no médio prazo, é organizar a comercialização do excedente para mercados
não institucionais.
No município de Santiago, o Programa teve o apoio de entidades de atuam no
setor primário, e também a sensibilidade das nutricionistas da Secretaria Municipal
de Educação e Cultura que adaptaram, na medida do possível, o cardápio com a
oferta de produtos da agricultura familiar. Estuda-se a comercialização dos
excedentes em mercados não institucionais, passando para uma produção
planejada e a possibilidade de intercooperação com cooperativas que participam do
PNAE e estruturadas com supermercados.
Diante da atual situação, em que o Governo prioriza a compra de produtos
oriundos da agricultura familiar, através dos mercados institucionais, o fortalecimento
da COOPERSAF e o surgimento de novas cooperativas de agricultores familiares
representam novos desafios aos cooperados e instituições que integram o processo.
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012
497
É necessário realizar um planejamento local e regional para produção,
transformação e logística de distribuição, para atender à demanda das escolas e
instituições públicas.
REFERÊNCIAS
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