24
Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012 475 Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012 LEWANDOWSKI, Dairton Ramos 68 ZDANOWICZ, José Eduardo 69 RESUMO A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar foi fundada em 2011 por 22 cooperados. Atualmente, a Cooperativa tem em seu quadro social 78 associados. Em 2012, a Cooperativa entregou 21 produtos hortícolas para o PNAE que foram produzidos por 26 cooperados, totalizando 30.142 kg, equivalendo a R$ 86.467,75. Na análise quantitativa observou-se que dos 21 produtos hortícolas entregues, 13 produtos corresponderam a mais de 50% do volume produzido por um associado. Os 7 produtos com maiores volumes foram: batata doce, beterraba, cenoura, feijão, laranja, mandioca e moranga que representaram 74% do volume total entregue às escolas. Quanto à entrega por gênero, 11 produtoras associadas entregaram 7.334 kg de produtos, aproximadamente, 25 % do volume de produtos entregues para o PNAE em relação aos homens. Nas entrevistas constatou-se que todos os produtores possuem veículo próprio para entrega de seus produtos, informando que têm outros mercados para comercializar os produtos. A maioria das entrevistadas citou como positivo a participação no processo, ou seja, a garantia de entrega do plano de venda e recebimento dos valores acima do mercado. Nos aspectos a melhorar foram relacionados o maior comprometimento dos associados, o controle de entrega e pagamento, a ampliação dos mercados e o planejamento de produção. Palavras-Chave: Alimentação escolar. Agricultura familiar. Cooperativismo. Políticas públicas. Horticultura. ABSTRACT The Cooperative Santiaguense Family Agriculture was founded in 2011 by 22 members. Currently, the cooperative has in its membership 78 members. In 2012, the Cooperative delivered 21 vegetables for PNAE which were produced by 26 members, totaling 30,142 kg, equivalent to R $ 86,467.75. The quantitative analysis showed that 21 of vegetables delivered product 13 was more than 50% of the volume produced by one member. 7 items with higher volumes were: sweet potatoes, beets, carrots, beans, oranges, cassava and pumpkin which represented 74% of the total volume delivered to the schools. As for delivery by genre, producing 11 associated product delivered 7334 kg, approximately 25% of the volume of products delivered 68 Engenheiro Agrônomo especialista em Ciências Ambientais, Extensionista Rural Nível Superior da Emater/RS ASCAR. 69 Doutor em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade de León, na Espanha e Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na Escola de Administração.

Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos ... Lewandowski.pdf · para o atendimento de órgãos públicos com demanda regular de consumo de alimentos para hospitais,

  • Upload
    dangtu

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

475

Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa

Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

LEWANDOWSKI, Dairton Ramos68

ZDANOWICZ, José Eduardo69

RESUMO

A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar foi fundada em 2011 por 22 cooperados. Atualmente, a Cooperativa tem em seu quadro social 78 associados. Em 2012, a Cooperativa entregou 21 produtos hortícolas para o PNAE que foram produzidos por 26 cooperados, totalizando 30.142 kg, equivalendo a R$ 86.467,75. Na análise quantitativa observou-se que dos 21 produtos hortícolas entregues, 13 produtos corresponderam a mais de 50% do volume produzido por um associado. Os 7 produtos com maiores volumes foram: batata doce, beterraba, cenoura, feijão, laranja, mandioca e moranga que representaram 74% do volume total entregue às escolas. Quanto à entrega por gênero, 11 produtoras associadas entregaram 7.334 kg de produtos, aproximadamente, 25 % do volume de produtos entregues para o PNAE em relação aos homens. Nas entrevistas constatou-se que todos os produtores possuem veículo próprio para entrega de seus produtos, informando que têm outros mercados para comercializar os produtos. A maioria das entrevistadas citou como positivo a participação no processo, ou seja, a garantia de entrega do plano de venda e recebimento dos valores acima do mercado. Nos aspectos a melhorar foram relacionados o maior comprometimento dos associados, o controle de entrega e pagamento, a ampliação dos mercados e o planejamento de produção. Palavras-Chave: Alimentação escolar. Agricultura familiar. Cooperativismo. Políticas públicas. Horticultura.

ABSTRACT

The Cooperative Santiaguense Family Agriculture was founded in 2011 by 22 members. Currently, the cooperative has in its membership 78 members. In 2012, the Cooperative delivered 21 vegetables for PNAE which were produced by 26 members, totaling 30,142 kg, equivalent to R $ 86,467.75. The quantitative analysis showed that 21 of vegetables delivered product 13 was more than 50% of the volume produced by one member. 7 items with higher volumes were: sweet potatoes, beets, carrots, beans, oranges, cassava and pumpkin which represented 74% of the total volume delivered to the schools. As for delivery by genre, producing 11 associated product delivered 7334 kg, approximately 25% of the volume of products delivered 68 Engenheiro Agrônomo especialista em Ciências Ambientais, Extensionista Rural Nível Superior da

Emater/RS – ASCAR. 69 Doutor em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade de León, na Espanha e

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na Escola de Administração.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

476

for PNAE in relation to men. In the interviews it was found that all producers have own vehicle for delivery of their products, stating that other markets have to market the products. Most respondents cited as positive participation in the process, ie, ensuring delivery of sales plan and receipt of amounts above the market. Aspects were related to improving the greater involvement of members, control of delivery and payment, the expansion of markets and production planning.

Keywords: School food. Family farming. Cooperatives. Public policy. Horticulture.

1 INTRODUÇÃO

Dentre as políticas públicas de desenvolvimento rural que promovem a

inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da agricultura

familiar, podemos citar o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ambos do Governo Federal.

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é gerenciado pelo

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e visa à transferência de

recursos financeiros, em caráter suplementar, a estados, Distrito Federal e

municípios destinados a suprir as necessidades nutricionais dos alunos das escolas

públicas e filantrópicas. É considerado um dos maiores programas na área de

alimentação escolar no mundo, sendo o único com atendimento universalizado.

O Programa tem sua origem no início da década de 40, quando o então

Instituto de Nutrição defendia a proposta do Governo Federal oferecer alimentação

ao escolar. Entretanto, não foi possível concretizá-la, por falta de recursos

financeiros. Na década de 50, foi elaborado um novo Plano Nacional de Alimentação

e Nutrição, denominado Conjuntura Alimentar e o Problema da Nutrição no Brasil. É

nele que, pela primeira vez, se estrutura um programa de merenda escolar em

âmbito nacional, sob a responsabilidade pública.

Do plano original, apenas o Programa de Alimentação Escolar sobreviveu,

contando com o financiamento do Fundo Internacional de Socorro à Infância - FISI,

atualmente, do Fundo das Nações Unidas para a Infância United Nations Children's

Fund (UNICEF), viabilizando a distribuição do excedente de leite em pó destinado à

campanha de nutrição materno-infantil.

Em 31 de março de 1955, foi assinado o Decreto n° 37.106, que instituiu a

Campanha de Merenda Escolar (CME), subordinada ao Ministério da Educação. Na

ocasião, foram celebrados convênios diretamente com o FISI e outros organismos

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

477

internacionais. Em 1956, com a edição do Decreto n° 39.007, de 11 de abril de 1956,

ela passou a se denominar Campanha Nacional de Merenda Escolar (CNME), com a

intenção de promover o atendimento em âmbito nacional.

No ano de 1965, o nome da CNME foi alterado para Campanha Nacional de

Alimentação Escolar (CNAE) pelo Decreto n° 56.886/65 e surgiu um elenco de

programas de ajuda americana, entre os quais se destacavam o Alimentos para a

Paz, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento

Internacional - United States Agency for International Development (USAID); o

Programa de Alimentos para o Desenvolvimento, voltado ao atendimento das

populações carentes e à alimentação de crianças em idade escolar; e o Programa

Mundial de Alimentos, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e

Agricultura - Food and Agriculture Organization (FAO/ONU).

A partir de 1976, foi financiado pelo Ministério da Educação e gerenciado pela

Campanha Nacional de Alimentação Escolar, o II Programa Nacional de

Alimentação e Nutrição (PRONAN). Em 1979, passou a denominar-se Programa

Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, ficou assegurado o

direito à alimentação escolar a todos os alunos do ensino fundamental por meio de

programa suplementar de alimentação escolar pelos governos federal, estaduais e

municipais.

Desde sua criação até 1993, a execução do Programa era de forma

centralizada, ou seja, o órgão gerenciador planejava os cardápios, adquiria os

gêneros por processo licitatório, contratava os laboratórios especializados para

efetuar o controle de qualidade e responsabilizava-se pela distribuição dos alimentos

em todo o território nacional.

Em 1994, ocorreu a descentralização dos recursos na execução do

Programa, sendo instituída pela Lei n° 8.913, de 12/7/94, mediante a celebração de

convênios com os municípios e com o envolvimento das secretarias de Educação

dos estados e do Distrito Federal, às quais se delegou a competência para o

atendimento aos seus alunos e os das redes municipais das prefeituras que não

haviam aderido à descentralização.

Nesse período, o número de municípios que aderiram à descentralização

evoluiu de 1.532, em 1994, para 4.314, em 1998, representando mais de 70% dos

municípios brasileiros.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

478

A consolidação da descentralização, sob o gerenciamento do FNDE, se deu

com a Medida Provisória n° 1.784, de 14/12/98, em que, além do repasse direto a

municípios e secretarias de Educação, a transferência passou a ser feita

automaticamente, sem a necessidade de celebração de convênios ou quaisquer

outros instrumentos similares, permitindo maior agilidade ao processo. Na época, o

valor diário repassado per capita por aluno era de R$ 0,13, ou US$ 0,13 (o câmbio

real/dólar nesse período era de 1/1).

A Medida Provisória n° 2.178, de 28/6/2001 (uma das reedições da MP nº

1.784/98), propiciou grandes avanços ao PNAE. Dentre eles, destacam-se a

obrigatoriedade de que 70% dos recursos transferidos pelo Governo Federal sejam

aplicados exclusivamente em produtos básicos e o respeito aos hábitos alimentares

regionais e à vocação agrícola do município, fomentando o desenvolvimento da

economia local.

Esse novo modelo de gestão e a transferência dos recursos financeiros do

Programa têm ocorrido de forma sistemática, permitindo o planejamento das

aquisições dos gêneros alimentícios de modo a assegurar a oferta da merenda

escolar durante todo o ano letivo. Além disso, ficou estabelecido que o saldo dos

recursos financeiros existente ao final de cada exercício deve ser reprogramado

para o exercício seguinte e ser aplicado, exclusivamente, na aquisição de gêneros

alimentícios.

Outra grande conquista foi a instituição, em cada município brasileiro, do

Conselho de Alimentação Escolar (CAE) como órgão deliberativo, fiscalizador e de

assessoramento para a execução do Programa. Isso se deu a partir da reedição da

MP nº 1.784/98, em 2 de junho de 2000, sob o número 1979-19. Assim, os CAEs

passaram a ser formados por membros da comunidade, professores, pais de alunos

e representantes dos poderes Executivo e Legislativo.

Em 2009, houve a sanção da Lei nº 11.947, de 16 de junho, que trouxe novos

avanços para o PNAE, como a extensão do Programa para toda a rede pública de

educação básica e de jovens e adultos, garantindo que 30% dos repasses do FNDE

sejam investidos na aquisição de produtos da agricultura familiar.

O orçamento do Programa para 2012 foi de R$ 3,3 bilhões, beneficiando 45

milhões de estudantes da educação básica e de jovens e adultos. Com a Lei nº

11.947, de 16/6/2009, 30% desse valor – ou seja, R$ 990 milhões – foram investidos

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

479

na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimulou o

desenvolvimento econômico das comunidades.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), instituído pela Lei nº

10.696/2003 foi atualizado pela Lei nº 12.512/2011. O PAA é uma das ações do

Programa Fome Zero, criado para garantir às populações em situação de

insegurança alimentar e o acesso a alimentos saudáveis, com alto valor nutritivo.

Também conhecido como Compra Direta, o PAA prevê a compra de alimentos da

agricultura familiar e sua doação às entidades sócio-assistencial que atendem às

pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional. O PAA é implantado

por meio de convênio formalizado entre o Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome - MDS e os Estados/Municípios. Cabe ressaltar que o PAA permite

a compra, com dispensa de licitação, de alimentos de agricultores familiares, no

limite de até R$ 3,5 mil por família a cada ano, sendo que o associado de uma

cooperativa com maioria da agricultura familiar, o limite tende a aumentar

proporcionalmente.

Os produtos adquiridos dos agricultores familiares através do PAA são

utilizados para a minimização dos problemas de insegurança alimentar no país

através da formação de estoques estratégicos. O Programa atende à doação de

alimentos a populações em situação de risco nutricional, programas sociais públicos,

abastecimento de creches, escolas, cozinhas comunitárias, restaurantes populares e

entidades assistenciais e/ou beneficentes, mediante compras públicas de alimentos

para o atendimento de órgãos públicos com demanda regular de consumo de

alimentos para hospitais, presídios, forças armadas e Brigada Militar. Atualmente, o

PAA opera através de cinco modalidades:

a) compra da agricultura familiar com doação simultânea - CPR /;

b) compra direta da agricultura familiar - CDAF;

c) formação de estoque pela agricultura familiar - CPR / estoque;

d) incentivo à produção e ao consumo de leite - PAA leite;

e) compra institucional.

Segundo Triches, Froelich e Schneider (2011), os programas públicos

alimentares como PNAE surgem como potenciais reintegradores dos componentes

alimentares e nutricionais, tendo condições de auxiliar no enfrentamento das

problemáticas referentes ao consumo e à produção de alimentos. Por um lado,

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

480

integrando as políticas relacionadas à saúde da população escolar, e por outro,

criando mercados para produtos locais, fomentando boas práticas ambientais.

No município de Santiago-RS o atendimento ao PNAE, ocorreu a partir da Lei

nº 11.947 de 2009 até 2011, sendo realizado através de grupos informais de

agricultores familiares. Com a finalidade de atender ao PAA, a Associação

Riograndense de Empreendimentos e Assistência Técnica e Extensão Rural e a

Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural - EMATER/RS-ASCAR e o

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santiago (STR) organizaram reuniões no

interior do município com produtores, propondo a criação da cooperativa, o que

garantiria a preferência local para entrega de produtos da agricultura familiar,

viabilizando a comercialização formal e ampliando o valor de venda anual por

produtor para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. - COOPERSAF foi

criada em agosto de 2011, sendo a maioria composta por mulheres. Atualmente,

possui 78 cooperados e está se estruturando com auxílio das entidades ligadas ao

setor primário, utilizando um espaço físico no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Santiago e assessoria da EMATER/RS-ASCAR.

Em 2012, a COOPERSAF distribuiu 33 produtos, sendo 21 da horticultura, a

22 escolas e creches municipais e 10 escolas estaduais de Santiago, atendendo a

mais de 9.500 alunos.

Também foram entregues produtos nos municípios de Bossoroca, São Borja,

Itacurubi e Jaguari, localizados no oeste do Rio Grande do Sul. No município de

Santiago, o Programa atingiu 42% dos recursos destinados à alimentação escolar.

Os demais produtos processados: mel, lácticos, pães e farinhas foram entregues por

cooperados que já possuíam agroindústria familiar ou terceirizavam o processo.

A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. (COOPERSAF)

apesar de pouco tempo de existência está se estruturando para atender o município

de Santiago e região, com produtos da horticultura e processados, atendendo as

demandas dos mercados institucionais.

2 JUSTIFICATIVAS

As cooperativas de agricultores familiares foram criadas para atender aos

programas institucionais. No médio prazo, houve a organização de entrega dentro

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

481

dos municípios, priorizando as associações formais locais. No entanto é necessária

a organização regional, obrigando as cooperativas constituídas para esse fim a

praticar o princípio da intercooperação. Ela respeita a entrega de produtos locais de

uma cooperativa para o seu município e organiza a oferta de outras cooperativas de

produtos necessários para a alimentação escolar que não foram ofertados. Isso

possibilita às instituições de educação atingir o maior percentual de produtos

adquiridos da agricultura familiar.

Atualmente, as políticas públicas estaduais ampliam as possibilidades da

agricultura familiar, inserindo-se na distribuição de alimentos para órgão públicos. A

Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), através do

Departamento de Cooperativismo (DCOOP) vem realizando um amplo processo de

articulação e aproximação de todos os atores envolvidos no processo de

comercialização de gêneros alimentícios da agricultura familiar nos mais diversos

espaços públicos.

Destaca-se que o trabalho está colhendo seus primeiros frutos. Aos poucos o

mercado institucional está incluindo cada vez mais agricultores familiares. Os órgãos

públicos federais, estaduais e prefeituras municipais estão iniciando e ampliando a

aquisição de gêneros alimentícios através de legislação específica, conciliando a

melhoria da qualidade da alimentação com o desenvolvimento local sustentável. Um

quadro esquemático dos três programas (PAA, PNAE e Compra Coletiva/RS), com

as suas respectivas fontes de recursos, executores e beneficiários dos programas,

está disposto na Figura 1.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

482

Figura 1 – Fluxograma dos Programas PAA, PNAE e Compra Coletiva/RS com

as respectivas fontes de recursos, executores e beneficiários.

Fonte: Rio Grande do Sul (2013).

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado em 2003, através da Lei

Federal nº 10.696, e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), criado a

partir da Lei Federal nº 11.947, de 2009, são atualmente os dois programas federais

que possibilitam aos órgãos públicos realizarem a aquisição de gêneros alimentícios

da agricultura familiar dispensando-se o processo licitatório. Além desses dois

programas, foi criado em 2012, no Estado do Rio Grande do Sul, através da Lei nº

13.922, a Política Estadual da Compra Coletiva/RS. Esta política visa utilizar o poder

de compras do estado como elemento propulsor do desenvolvimento sustentável

através da aquisição de bens e serviços da agricultura familiar e economia solidária.

3 OBJETIVOS

O trabalho tem vários objetivos ao analisar a produção hortícola e seus

arranjos de distribuição, no processo desenvolvido no Município de Santiago,

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

483

através da Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. (COOPESAF) em

2012.

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar quantitativamente a entrega de produtos da COOPERSAF para o

atendimento ao PNAE e a participação dos produtores no processo.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O trabalho tem como objetivos específicos:

a) verificar a distribuição dos produtos da horticultura que atenderam ao

PNAE no ano de 2012;

b) comparar a entrega de produtos hortícola por gênero no período;

c) descrever os relatos dos produtores da agricultura familiar sobre o

processo ocorrido em 2012.

O levantamento quantitativo das entregas de produtos também permitirá que

outras informações sejam extraídas dos dados tabulados, servindo de parâmetro

para realização de outros estudos sobre o processo de entrega de alimentos para

escolares e beneficiários de políticas públicas.

4 METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada para obter as informações referentes à entrega de

produtos alimentares de agricultores familiares, associados à Cooperativa

Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda (COOPESAF) em 2012 e a dinâmica da

distribuição dos produtos. Os dados obtidos foram dispostos em planilhas do Excel,

analisando os projetos de venda do PNAE para as escolas, elaborados pelo

Escritório Municipal da EMATER/RS-ASCAR de Santiago no ano de 2012,

considerando as quantidades e os valores dos 21 produtos entregues, oriundos da

horticultura. Por definição horticultura é a parte da agricultura que trata da

exploração racional das plantas e divide-se nos ramos da olericultura, floricultura,

fruticultura, silvicultura e paisagismo. Os produtos processados não foram alvo da

análise quantitativa devido ao controle de entrega do projeto de venda estar no

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

484

nome da agroindústria fornecedora, sabendo-se que vários cooperados ou

cooperadas participaram da entrega na agroindústria ou processamento dos

alimentos.

Para a análise quantitativa as informações foram obtidas em termos de:

a) número de cooperados que entregaram o produto;

b) número de produtos entregue por cooperado;

c) volume entregue por produto por cooperado;

d) valores recebidos por produto por cooperado;

e) comparativo de gênero dos cooperados em volume e valores.

Os dados foram inseridos na planilha principal, definindo as quantidades e os

valores por cooperado e, posteriormente, realizadas as derivações das informações

para obter as tabelas e gráficos, relacionados aos objetivos do trabalho.

Para preservar os cooperados analisados os nomes foram representados por

duas letras: sendo as mulheres iniciadas por “F” (feminino) e os homens iniciados

por “M” (masculino), quando o código for “CO” os produtos foram adquiridos pela

COOPERSAF de produtores não associados.

Para analisar a percepção dos produtores sobre a experiência da entrega

como cooperado, foi realizada uma entrevista semi estruturada com 40% dos

cooperados que entregaram produtos hortícolas no ano de 2012, questionando

sobre o entendimento do compromisso de produção e entrega as escolas pela

cooperativa, e quais foram os aspectos positivos e a melhor no processo de entrega.

A análise dos valores dos projetos de venda realizados para atender o PNAE

e a relato dos produtores que participaram do processo através das entrevistas

busca relacionar as informações quantitativas com as qualitativas, possibilitando

interpretar resultados convergentes, visto que os produtores entrevistados não

conheciam o volume total de vendas no ano de 2012 da COOPERSAF.

5 REFERENCIAL TEÓRICO

Diante da atual conjuntura nacional estamos diante de um novo cenário para

o fortalecimento e a criação de novas cooperativas agropecuárias, que se

apresentam como importantes instrumentos para o desenvolvimento local, através

das políticas públicas, priorizando a agricultura familiar como fornecedora de

produtos alimentares.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

485

Garcia (2013?) define a cooperativa como o espaço físico ou não onde

pessoas com os mesmos ideais se unem para um objetivo comum, que é o bem

estar de todos no sentido amplo do termo. A Lei nº 5.764, de 16.12.71, alterada pela

Lei nº 7.231/84, define a política nacional de cooperativismo, instituindo o regime

jurídico das sociedades cooperativas no Brasil. O conceito formal de cooperativa é

fixado pela norma jurídica acima, ou seja, uma sociedade de pessoas com forma e

natureza jurídica próprias, não sujeitas à falência, e de característica civil. É uma

forma associativa, que objetiva a comunhão de esforços coordenados para a

realização de determinado fim, contando com respaldo constitucional, haja visto que

a Constituição Federal de 1988, apresenta em alguns de seus dispositivos regras

gerais concernentes às cooperativas. Por exemplo, a alínea “c” do inciso III do art.

146, dispõe que a Lei Complementar irá dar adequado tratamento tributário ao ato

cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. E, o § 2º do art. 174 determina

que a Lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.

Os membros da cooperativa não têm subordinação entre si, mas vivem em

regime de colaboração mútua. As sociedades cooperativas, na atualidade, têm por

finalidade a prestação de serviços aos associados para o exercício de uma atividade

comum, econômica, não objetivando o lucro como razão de ser. É uma estrutura de

prestação de serviços voltada ao atendimento de seus associados sem finalidade

lucrativa (art. 3º da Lei nº 5.764/71).

A organização empresarial cooperativista é, sem dúvida, um dos maiores,

senão o maior, agente transformador da sociedade. Assiste-se a uma mudança de

época e de valores neste limiar do século XXI, com profundas e irreversíveis

influências motivadas pela informatização da sociedade, onde as associações

mercantilistas estão inseridas, mudando os meios de produção, de gerenciamento e

da relação entre as pessoas, da partilha, bem como do espírito fraternal responsável

e motivador deste movimento humano e empreendedor.

Ribeiro (2005), a partir da abordagem de Amartya Sen, economista e filósofo

reconhecido com o Prêmio Nobel pelo seu trabalho, apresenta uma interpretação

diferenciada dos processos de desenvolvimento, enfocando a liberdade e as

capacidades como geradores de desenvolvimento. Os estudos sobre o

desenvolvimento têm seguido os mesmos pressupostos do enfoque econômico em

geral, utilizando-se apenas análises econômicas. O entendimento tem sido de que o

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

486

desenvolvimento é um processo de crescimento econômico que conduz,

automaticamente, à melhoria do nível de vida das populações.

Segundo Sen (2001 apud RIBEIRO, 2005) as capacidades e liberdades

podem ser aumentadas pelas políticas públicas ou as políticas públicas podem ser

influenciadas pelas capacidades da população. Ter mais liberdade melhora o

potencial das pessoas para “cuidar de si mesmo e de influenciar o mundo”, isto é,

melhora o aspecto da “condição de agente” do indivíduo (entendido como alguém

que age e ocasiona mudança de acordo com os seus valores e objetivos).

A abordagem parte da visão de que o processo de desenvolvimento é

centrado nos agentes, ou seja, os indivíduos não precisam ser vistos como

“beneficiários passivos de engenhosos programas de desenvolvimento”, mas podem

efetivamente moldar o seu próprio destino e futuro, desde que tenham liberdade.

(SEN, 2001 apud RIBEIRO, 2005).

De acordo com Navarro (2001), desenvolvimento rural pode ser analisado,

estudando os programas já realizados pelo Estado (em seus diferentes níveis)

visando alterarem facetas do mundo rural a partir de objetivos previamente

definidos. Ele pode referir-se também à elaboração de uma “ação prática” para o

futuro, qual seja, implantar uma estratégia de desenvolvimento rural, para um

período vindouro (e assim existiriam diversas metodologias de construção de tal

estratégia, bem como um amplo debate sobre seus objetivos e prioridades

principais). Considera que desenvolvimento local pode derivar de processos de

descentralização. Essa transferência de responsabilidades de Estados antes tão

centralizados valorizou crescentemente o “local”, no caso brasileiro o município. A

convergência, portanto dos fatores é que tem introduzido o desenvolvimento local

como outra das noções que gradualmente passam a ser orientadoras de diversas

iniciativas governamentais ou não. A recente condensação de demandas sociais

centradas em torno da noção de “agricultura familiar” igualmente tem reforçado a

tendência de reivindicar novos padrões de desenvolvimento rural que incluam

mecanismos de repercussão local. Isso relata a escassa tradição associativista

existente no campo brasileiro, como demonstram as evidências. É um claro limitador

de iniciativas que tenham sua centralidade nos âmbitos exclusivamente locais.

A maneira como estão estruturados os atores do processo de comercialização

tanto para o PNAE e PAA estão demonstrando um estilo de agricultura que pode

gerar renda e perspectivas em longo prazo, colocando em debate os pontos citados

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

487

por Long e Ploeg (1994), em primeiro lugar, como organizar o mercado de forma a

torná-lo num conjunto de oportunidades econômicas; em segundo lugar, como

controlar o desenvolvimento tecnológico, necessariamente envolvendo projetos que

se ajustem melhor a estilos particulares de agricultura; e, em terceiro lugar, como

desenvolver legislação (incluindo distribuições específicas de direitos, benefícios,

sanções e restrições).

Com o propósito de construir alternativas de comercialização direta dos

produtos da agricultura familiar, o poder público e as organizações sociais e

representativas da agricultura familiar, convergem para uma estratégia onde uma

parcela do mercado institucional de alimentos é direcionada exclusivamente para os

agricultores familiares. O processo traz como um de seus objetivos fundamentais o

apoio ao desenvolvimento local através das compras públicas de gêneros

alimentícios diretamente das pequenas unidades agrícolas familiares.

6 CARACTERIZAÇÃO DA COOPERATIVA

A Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. (COOPERSAF) é

composta apenas por produtores rurais do município de Santiago, localizado na

Mesorregião Centro Ocidental Rio-Grandense, com uma população de 50.608

habitantes (Estimativa IBGE 2013), 8,8% no meio rural, distante 441 km da Capital,

possuindo uma área de 2.413 km².

A COOPERSAF foi idealizada em 2011, para organizar a entrega ao PNAE e

viabilizar a venda de produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), de

maneira formal por exigência legal do programa. Com essa finalidade foram

realizadas 20 reuniões em diversas localidades do interior do município de Santiago

através da Associação Riograndense de Empreendimentos e Assistência Técnica e

Extensão Rural e a Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural - EMATER/RS-

ASCAR, para esclarecer os motivos e vantagens da criação da cooperativa, pois

alguns produtores que entregavam produtos em grupos informais, o que é permitido

no PNAE, apresentavam certa resistência a aderir às mudanças.

Para criar a cooperativa foi realizada uma reunião no Sindicato dos

Trabalhadores Rurais (STR) com todos os interessados ou representantes, onde

compareceram 90 produtores, sendo a maioria composta por mulheres.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

488

A principal finalidade da COOOPERSAF é comercializar para os programas

institucionais que garantem a compra e priorizam a agricultura familiar e

regionalização da produção. Os principais produtos são da horticultura (frutas e

olerícolas), mas também possui associados que processam leite e mel em

agroindústrias familiares legalizadas localizadas no interior do município e farináceos

e panificados em fase de regularização.

A estrutura formal da Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda.

está disposta na Figura 2.

Figura 2 - Organograma da Estrutura da COOPERSAF

Fonte: COPERSAF (2011).

No ano de 2012, a COOPERSAF comercializou através do PNAE, envolvendo

46 associados, 59% do total. Desses, 27 participaram da produção e entrega de

produtos hortícolas (legumes, verduras, frutas, raízes e grãos).

A entrega para as escolas municipais é realizada de forma centralizada, os

produtores entregam em local e dia determinado e a Secretaria Municipal de

Educação e Cultura distribui as escolas. Nas dez escolas estaduais a entrega é

realizada individualmente.

A COOPERSAF pretende aumentar a participação de cooperados que não

entregaram produtos em 2012, bem como viabilizar através de políticas públicas a

implantação e legalização de agroindústrias dos cooperados, possibilitando a

entrega de alimentos processados para atender os mercados institucionais e não

institucionais da região.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

489

7 ANÁLISE DOS RESULTADOS

No ano de 2012, a Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar Ltda. -

COOPERSAF entregou 21 produtos hortícolas para o PNAE, produzidos por 26

cooperados, equivalendo a 30.142 kg e R$ 86.467,75.

Conforme Tabela 1, apresentado a distribuição do volume de produtos

hortícolas entregues por cooperado da COOPERSAF ao PNAE em 2012,

verificamos que dos 21 produtos hortícolas entregues, 13 produtos apresentaram

mais de 50% do volume produzido por um associado. Também se observa uma

amplitude de volume entre 26 produtores, onde os cinco produtores com maior

volume entregue somam 16.096,7 kg e 53,4% do total produzido, e os cinco com

menor volume entregue somam 272 kg, menos de 1% do volume total entregue.

A grande diferença de volume entregue por produtor caracteriza-se pela

especialização de alguns produtores em determinados produtos e por estarem

inseridos no mercado não institucional. A Cooperativa deve evitar essa concentração

em determinados produtos, planejando uma distribuição gradativa de produção entre

os produtores associados.

Os produtos mais valorizados comparando-se o volume total entregue com os

valores totais recebidos pelos cooperados (Tabela 3) foram o moranguinho,

entregue por 3 cooperados e o brócolis, entregue por 2 cooperados, contrastando

com a couve e tempero verde que apresentando mais de cem por cento de

valorização, foram entregues por 12 e 13 produtores respectivamente. A amplitude

do número de produtores deve-se diferença dos processos de transporte e produção

comercial do moranguinho e brócolis que são mais complexos que na produção

comercial de couve e tempero verde.

49

0

Tab

ela

1 -

Dis

trib

uiç

ão d

o v

olu

me

(kg

) d

e p

rod

uto

s h

ort

íco

las

en

tre

gu

es p

or

co

op

era

do

da

CO

OP

ER

SA

F a

o P

NA

E e

m 2

01

2.

PR

OD

UT

OR

alface

batata doce

beterraba

brócolis

cenoura

couve

couve flor

espinafre

feijão

laranja

mandioca

melão

milho verde

moranga

moranguinho

pepino

pêssego

repolho

rúcula

tempero verde

vagem

tota

l (k

g)

MA

283,

0

122,

0

46,4

10

7,0

177,

0

15

4,0

40,2

929,

6

FA

310,

0

40,0

20,0

37

0,0

MB

53

,7

26

99,0

2100

,0

8,8

141,

0

5002

,5

MC

13

3,2

80

,0

40

,0

4,

0

468,

0

115,

0

16

,0

20

,6

87

6,8

MD

36

,6

343,

8

273,

0

653,

4

ME

37

,2

210,

0

85,0

100,

0

34,0

67,0

160,

0

34

,4

72

7,6

CO

19

87,0

19

87,0

MF

6,0

6,

0

FB

38

7,6

258,

0

94,0

73

,2

200,

0

127,

0

24

4,0

75

,0

104,

2

15

63,0

FC

93,0

60

,0

60

,0

182,

0

39

5,0

MG

27

,0

27,0

FD

75

,3

384,

0

93,0

33

,0

561,

0

24

,0

178,

0

14

6,0

47

,0

16,2

1557

,5

FE

13

0,0

36

,0

166,

0

MH

37

,2

230,

0

30

,0

60

,2

685,

0

326,

0

20

,0

15,0

35

,4

14

38,8

FF

37

,2

93

,0

130,

2

FG

94

,0

94,0

MI

54

4,0

50

,0

456,

0

436,

0

14

86,0

MJ

66,0

23

0,0

324,

0

11

5,0

24,4

15

0,0

11

9,0

148,

0

11

6,0

28,8

1321

,2

FH

94,0

27,0

121,

0

MK

41

3,7

60

,0

74

,0

78,8

63

,4

1860

,0

778,

0

12

0,0

185,

0

98,0

22

3,0

70

,0

69,8

4093

,7

FI

19,8

24

6,0

149,

0

40,0

60

,0

58

,0

80,0

238,

0

55

,6

94

6,4

FJ

78,0

78

,0

ML

12,0

27

,0

28,0

67,0

MM

16

4,4

198,

0

256,

0

69

2,0

131,

0

4,0

277,

6

20,0

18

0,0

28

7,0

10

,0

78

9,0

30

,0

61,6

3100

,6

MN

27

0,0

270,

0

MO

14

1,9

20,0

46

,0

34,0

17

0,0

45

,0

224,

0

50

,0

15,0

75

,0

82

0,9

FK

21

5,4

24,0

22,5

10,0

30

0,0

940,

0

268,

0

20,0

30

,0

6,

0 77

,0

19

12,9

Tota

l (kg

) 18

19,2

28

26,0

41

49,0

36

6,3

3167

,0

543,

6

71,4

33

7,8

2944

,0

3160

,0

3498

,0

180,

0

822,

0

2587

,0

411,

0

30,0

50

,0

2156

,0

258,

0

624,

8

141,

0

Fon

te: R

och

a (

201

2) E

labo

rado p

elo

aut

or.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

491

Tabela 2 – Relação entre os percentuais de maior e menor volume de produtos entregues por produtor pela COOPERSAF para o PNAE em 2012.

Produtos Nº de

Produtores

Maior

Produção

(%)

Menor

Produção

(%)

alface 14 22,74% 1,09%

batata doce 14 19,25% 0,42%

beterraba 12 65,05% 1,45%

brócolis 2 93,86% 6,14%

cenoura 7 66,31% 1,26%

couve 12 24,10% 1,62%

couve flor 3 88,80% 5,60%

espinafre 2 82,18% 17,82%

feijão70 8 67,49% 0,68%

laranja 4 58,86% 1,58%

mandioca 12 22,24% 1,03%

melão 1 100,00% 0,00%

milho verde 7 56,93% 2,92%

moranga 15 16,85% 1,04%

moranguinho 3 66,42% 9,73%

pepino 2 66,67% 33,33%

pêssego 2 60,00% 40,00%

repolho 11 36,60% 0,74%

rúcula 7 29,07% 2,33%

tempero verde 13 16,68% 0,96%

vagem 1 100,00% 0,00%

Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor.

Quanto ao número de produtores que cultivam determinado produto hortícola

tem-se uma situação onde um único produtor, fornece todo o volume de um produto

(vagem e melão) e 15 produtores fornecem um mesmo produto (moranga) às

escolas. Essa constatação evidencia um planejamento de distribuição da produção,

evitando problemas de entrega devido a sinistros climáticos ou problemas devido a

diferença de preços dos mercados institucionais com os mercados tradicionais

quando poucos produtores entregam um determinado produto.

70 A produção de feijão no Município de Santiago foi afetada pela estiagem de 2011/2012, fazendo

com que a COOPERSAF adquirisse o produto de produtores não associados.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

492

Tabela 3 – Relação entre o volume (kg) de produtos entregues, valores recebidos (R$) e nº de cooperados que entregaram o produto para o PNAE em

2012.

Produtos

Volume

entregue

(kg)

% Valor

(R$) %

coop. %

alface 1.819,20 6,04% 8.361,64 9,67% 14 66,67%

batata doce 2.826,00 9,38% 5.335,59 6,17% 14 66,67%

beterraba 4.149,00 13,76% 10.148,30 11,74% 12 57,14%

brócolis 366,25 1,22% 5.087,01 5,88% 2 9,52%

cenoura 3.167,00 10,51% 7.774,80 8,99% 7 33,33%

couve 543,60 1,80% 3.554,68 4,11% 12 57,14%

couve flor 71,40 0,24% 1.178,70 1,36% 3 14,29%

espinafre 337,80 1,12% 3.072,90 3,55% 2 9,52%

feijão** 2.944,00 9,77% 10.364,91 11,99% 8 38,10%

laranja 3.160,00 10,48% 4.062,00 4,70% 4 19,05%

mandioca 3.498,00 11,61% 5.817,60 6,73% 12 57,14%

melão 180,00 0,60% 758,00 0,88% 1 4,76%

milho verde 822,00 2,73% 1.702,50 1,97% 7 33,33%

moranga 2.587,00 8,58% 4.225,57 4,89% 15 71,43%

moranguinho 411,00 1,36% 4.662,00 5,39% 3 14,29%

pepino 30,00 0,10% 117,00 0,14% 2 9,52%

pêssego 50,00 0,17% 207,00 0,24% 2 9,52%

repolho 2.156,00 7,15% 3.530,70 4,08% 11 52,38%

rúcula 258,00 0,86% 1.465,80 1,70% 7 33,33%

tempero verde 624,80 2,07% 4.195,05 4,85% 13 61,90%

vagem 141,00 0,47% 846,00 0,98% 1 4,76%

Totais 30.142,05 100,00% 86.467,75 100,00% 27

Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor.

Verifica-se que os produtos hortícolas entregues com os maiores volumes

são: beterraba, mandioca e cenoura, enquanto os de menores volumes foram:

pepino, pêssego e couve-flor. Os produtos entregues com os maiores valores totais,

na ordem são: feijão, beterraba e alface e os menores: pepino, pêssego e vagem.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

493

Figura 3 – Percentual do volume de hortícolas entregue pela COOPERSAF ao PNAE, no Município de Santiago em 2012.

Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor.

Os 7 produtos com maiores volumes (batata doce, beterraba, cenoura, feijão,

laranja, mandioca e moranga) representaram 74% do volume total entregue para as

escolas. Esses produtos têm a característica de serem menos perecíveis que as

hortaliças folhosas e sofrerem menos injúrias no transporte. Também possibilitam

maior tempo de armazenamento e produção durante quase todo o ano. Devido ao

ano letivo não apresentar demanda de produtos alimentares nos meses de

dezembro, janeiro e fevereiro, alguns produtos como pepino, pêssego e melão são

menos ofertados devido ao período de produção coincidir com o fim do ano letivo.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

494

Tabela 4 – Distribuição dos volumes de acordo com o gênero dos cooperados que entregaram os produtos hortícolas para o PNAE em 2012.

Produtos

Gênero Feminino Gênero Masculino

nº produtoras

Volume entregue (kg)

%

nº produtores

Volume entregue (kg)

%

alface

5 735,30 2,61%

9 1.083,90 3,85%

batata doce

6 1.099,00 3,90%

8 1.727,00 6,13%

beterraba

5 523,00 1,86%

7 3.626,00 12,88%

brocolis

1 22,50 0,08%

1 343,75 1,22%

cenoura

0 - 0,00%

7 3.167,00 11,25%

couve

4 156,20 0,55%

8 387,40 1,38%

couve flor

0 - 0,00%

3 71,40 0,25%

espinhafre

0 - 0,00%

2 337,80 1,20%

feijão

3 490,00 1,74%

4 467,00 1,66%

laranja

2 1.250,00 4,44%

2 1.910,00 6,78%

mandioca

6 1.183,00 4,20%

6 2.315,00 8,22%

melão

0 - 0,00%

1 180,00 0,64%

milho verde

3 162,00 0,58%

4 660,00 2,34%

moranga

5 594,00 2,11%

10 1.993,00 7,08%

moranguinho

1 40,00 0,14%

2 371,00 1,32%

pepino

1 20,00 0,07%

1 10,00 0,04%

pêssego

2 50,00 0,18%

0 - 0,00%

repolho

3 628,00 2,23%

8 1.528,00 5,43%

rúcula

3 128,00 0,45%

4 130,00 0,46%

tempero verde

4 253,00 0,90%

9 371,80 1,32%

vagem

0 - 0,00%

1 141,00 0,50%

Totais

7.334,00 26,05%

20.821,05 73,95%

Fonte: Rocha (2012) Elaborado pelo autor

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

495

Constata-se que 11 produtoras associadas entregaram 7.334 kg de produtos,

aproximadamente 25 % do volume de produtos entregues em 2012 para o PNAE em

relação aos homens. Com exceção do feijão, o volume entregue pelas mulheres dos

demais produtos foi menor que a dos homens.

A produção das mulheres representou, aproximadamente, 25% no volume

entregue e nos valores recebidos, cabe ressaltar que na produção de farináceos,

pães e bolachas elas representam 100% desta produção que não foi alvo do estudo.

O resultado das entrevistas verificou que todos os produtores entrevistados

possuem veículo para entrega de seus produtos, sendo que a entrega para as

escolas municipais é centralizado, em um local e num só dia da semana, enquanto

que as entregas às escolas estaduais são feitas de forma individualizada.

Segundo informações dos cooperados entrevistados, todos afirmaram que

possuem outros mercados para comercializar os produtos, quer seja em feiras ou

mercados da cidade. Citam como positivo a participação no processo: a garantia de

entrega do plano de venda e o recebimento dos valores acima do mercado.

Destaca-se que a burocracia é menor em relação à entrega através de grupos

informais e o limite por produtor favorece a distribuição de recursos.

Na percepção dos produtores associados, quanto aos aspectos a melhorar,

foram registrados as seguintes declarações:

a) existem produtores que se comprometem com a produção de um ou mais

produtos e não conseguindo a produção adquirem de mercados ou de

outros produtores, em vez de repassar o compromisso para outro

cooperado;

b) o custo de transporte onde as propriedades localizam-se a mais de 30 km

da cidade, tem dificultado a entrega de pouco volume de produto;

c) o produtor se comprometeu em produzir o volume determinado em reunião

da cooperativa, mas a sua parte a ser entregue foi menor;

d) as escolas deveriam inspecionar a quantidade e qualidade dos produtos na

hora da entrega;

e) poderia existir o transporte das propriedades para as escolas;

f) alguns cooperados entregam mais produtos que outros, que possuem a

mesma capacidade de produção;

g) em algumas escolas ocorreu demora no pagamento depois que os

produtos foram entregues;

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

496

h) algumas escolas estaduais precisam organizar a rotina de entrega;

i) a cooperativa deveria valorizar os produtores que entregam em épocas não

preferenciais de plantio e aumentar a oferta de produtos para outros

municípios e mercados não institucionais.

8 CONCLUSÕES

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de

Aquisição de Alimentos (PAA) são importantes ao cooperativismo na agricultura

familiar, pois permitem uma consolidação, um fluxo de renda, um aprendizado sobre

regularidade de entrega, sobre a parte documental, registros e tributos.

Muitas vezes a liberdade de produção dentro do processo de comercialização

institucional, não é plena. O produtor tem que entender que a cooperativa criada

para atender aos programas institucionais, não vai absorver toda a sua produção,

pois tem compromissos definidos quanto à quantidade, qualidade e preço em

períodos definidos e sujeitos as alterações que não estão num controle local.

Nas primeiras entregas da Cooperativa para o PNAE, ocorreram problemas

de controle tanto das instituições que receberam, como dos produtores, quanto às

quantidades e padrão de qualidade.

A COOPERSAF em 2012 abasteceu também, escolas de outros municípios

da região e está organizando-se para abastecer o PAA no município de Santiago. O

desafio, no médio prazo, é organizar a comercialização do excedente para mercados

não institucionais.

No município de Santiago, o Programa teve o apoio de entidades de atuam no

setor primário, e também a sensibilidade das nutricionistas da Secretaria Municipal

de Educação e Cultura que adaptaram, na medida do possível, o cardápio com a

oferta de produtos da agricultura familiar. Estuda-se a comercialização dos

excedentes em mercados não institucionais, passando para uma produção

planejada e a possibilidade de intercooperação com cooperativas que participam do

PNAE e estruturadas com supermercados.

Diante da atual situação, em que o Governo prioriza a compra de produtos

oriundos da agricultura familiar, através dos mercados institucionais, o fortalecimento

da COOPERSAF e o surgimento de novas cooperativas de agricultores familiares

representam novos desafios aos cooperados e instituições que integram o processo.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

497

É necessário realizar um planejamento local e regional para produção,

transformação e logística de distribuição, para atender à demanda das escolas e

instituições públicas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. Diretoria de Política Agrícola e Informações. Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, legislação básica. Brasília, DF: Conab, 2010. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/agriculturaFamiliar/arquivos/ livretoDigem%20-%20PUBLICO%20EXTERNO%20-%20V10JUL.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2013.

BRASIL. Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisória no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/_ato2007-2010/2009/lei/l11947.htm>. Acesso em: 19 jun. 2012.

GARCIA, A. C. M. Fraternidade e cooperativismo: breves reflexões. [S.l., 2013?]. Disponível em: <http://www.ruef.net.br/uploads/biblioteca/ 4f085f3a8bdace7feecb98158d22ede9.pdfAcesso em: 9 agosto. 2013

BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. Programas/PNAE. Brasília, DF, [2013?]. Disponível em: <http://www. fnde.gov.br/programas/alimentacao-escolar>. Acesso em: 9 agosto. 2013.

COOPERATIVA SANTIAGUENSE DA AGRICULTURA FAMILIAR – COOPERSAF. Estatuto Social. Santiago, 2011.

LONG, N.; PLOEG J. D. Heterogeneity, actor and structure: towards a reconstitution of the concept of structure. In: BOOTH, D. Rethinking social development: theory, research and practice. England: Longman, 1994. p. 62-90.

NAVARRO, Z. Desenvolvimento rural no Brasil: os limites do passado e os caminhos do futuro. Estudos Avançados, São Paulo, v.16, n. 44. p. 67-73, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v15n43/v15n43a09.pdf>. Acesso em: 23 set. 2013.

RIBEIRO, M. C. Desenvolvimento: uma discussão a partir da abordagem de Amartya Sem. Porto Alegre: [s.n.], 2005.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo. Departamento de Cooperativismo. O mercado institucional para agricultura familiar. Porto Alegre, 2013. Disponível em: <http://www.sdr.rs.gov.br /upload/20130814144521cartilha_dcoop___digital.pdf>. Acesso em: 6 set. 2013.

Capítulo XXIII - Análise da Entrega de Produtos da Horticultura Produzidos pela Cooperativa Santiaguense da Agricultura Familiar para Atender ao PNAE no Ano de 2012

498

ROCHA, V. L. G. Projetos de venda da COOPERSAF para o PNAE dos municípios de Santiago e Bossoroca, em 2012. [S.l.: [s.n.], 2012.

TRICHES, M. R.; FROELICH, E.; SCHNEIDER, S. Relações de produção e consumo: a aquisição de produtos da agricultura familiar para o programa de alimentação escolar no município de Dois Irmãos, RS. In: SCHNEIDER, S.o; GAZOLLA, M. (Org.). Os atores do desenvolvimento rural: perspectivas teóricas e práticas locais. Porto Alegre, UFRGS, 2011. p. 253-267.