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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E SAÚDE Rosane da Conceição Elias ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DAS QUESTÕES SÓCIO- CULTURAIS DA ALIMENTAÇÃO NA PERSPECTIVA DOS ESTUDANTES DE NUTRIÇÃO: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO EM SAÚDE RIO DE JANEIRO 2009

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DAS QUESTÕES SÓCIO- … · mais recorrentes nas discussões das ciências sociais, ... sociologia e antropologia da alimentação fundamentos capazes

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E

SAÚDE

Rosane da Conceição Elias

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DAS QUESTÕES SÓCIO-

CULTURAIS DA ALIMENTAÇÃO NA PERSPECTIVA DOS

ESTUDANTES DE NUTRIÇÃO: IMPLICAÇÕES PARA A

FORMAÇÃO EM SAÚDE

RIO DE JANEIRO

2009

Rosane da Conceição Elias

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DAS QUESTÕES SÓCIO-

CULTURAIS DA ALIMENTAÇÃO NA PERSPECTIVA DOS

ESTUDANTES DE NUTRIÇÃO: IMPLICAÇÕES PARA A

FORMAÇÃO EM SAÚDE

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Educação

em Ciências e Saúde da Universidade

Federal do Rio de Janeiro como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em

Educação em Ciências e Saúde.

Orientador: Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca

RIO DE JANEIRO

2009

Elias, Rosane da Conceição Análise da importância das questões sócio-culturais da alimentação na perspectiva dos estudantes de nutrição: implicações para a formação em saúde / Rosane da Conceição Elias. -- Rio de Janeiro: UFRJ / Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, 2009.

117 f. : il. ; 31 cm.

Orientador: Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca

Dissertação (mestrado) – UFRJ / Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde / Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde, 2009.

Referências bibliográficas: f. 95 -104

1. Educação superior. 2. Nutrição - educação. 3. Nutrição em Saúde Pública 4. Educação em saúde . 5. Questionários 6. Mediações Socioculturais nas Ciências e na Saúde - Tese. I. Fonseca, Alexandre Brasil Carvalho. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde. V. Título.

ROSANE DA CONCEIÇÃO ELIAS

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DAS QUESTÕES SÓCIO-CULTURAIS DA

ALIMENTAÇÃO NA PERSPECTIVA DOS ESTUDANTES DE NUTRIÇ ÃO:

IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO EM SAÚDE

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Educação em Ciências e Saúde da

Universidade Federal do Rio de Janeiro

como requisitos parcial à obtenção do

título de Mestre em Educação em

Ciências e Saúde.

Apovada em

____________________________________________

Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca - Orie ntador Doutor em Sociologia/ LEC / NUTES/ UFRJ

____________________________________________ Rosangela Alves Pereira

Doutora em Saúde Pública DNSA/INJC/UFRJ

____________________________________________ Luciana Maria Cerqueira Castro

Doutora em Saúde Coletiva INU/UERJ

A você Giancarlo, meu pequeno

grande amor, pelo tempo e

atenção que deixei de lhe dedicar.

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca, pela

paciência, atenção e confiança. Por ter me feito seguir adiante, aceitando

minhas limitações e entendendo minhas angústias.

Às amigas nutricionistas Daniela Frozi, Fernanda Portronieri e Rebecca

Greenwood , por terem possibilitado o mergulho de uma Bióloga ao vasto

campo da Nutrição. Por toda a ajuda e palavras carinhosas que tanto

contribuíram para que esse trabalho fosse concluído.

À professora Mírian Baião pelas constantes contribuições a esse

trabalho. Pelas maravilhosas aulas de Alimentação e Cultura, pelas

experiências profissionais e de vida que me permitiram vislumbrar novos

horizontes.

Em especial à minha querida mãe, por todo o estímulo que sempre me

deu ao estudo. Pelo exemplo de amor e dedicação incondicional, com toda a

ajuda que me deu com meu filho.

Ao meu grande amor, Giovanni Gullo, quem mais apóia meus projetos e

sonhos, co-autor de minha vida.

Meu muito obrigada principalmente a Deus por guiar meus passos, me

dando a permissão de viver e conviver com pessoas tão iluminadas...

RESUMO

Elias, Rosane da Conceição. Análise da importância das questões sócio-culturais da alimentação na perspectiva dos estudantes de Nutrição: implicações para a formação em saúde. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009.

A multidimensionalidade da alimentação e do alimento são temas cada vez mais recorrentes nas discussões das ciências sociais, encontrando-se na sociologia e antropologia da alimentação fundamentos capazes de associar às angustias e cobranças do mundo contemporâneo explicações emocionais e racionais. Por outro lado, a complexidade do fato alimentar e sua articulação com diversos campos de interesse é reconhecidamente pouco perceptível pelos estudantes de graduação de Nutrição, devido a uma formação predominantemente técnica e biomédica. O afastamento das discussões de questões culturais e subjetivas durante a formação em Nutrição pode representar um obstáculo no desenvolvimento de uma importante estratégia de ação em Saúde Pública: uma educação nutricional crítica e transformadora. O presente estudo tem como objetivo analisar a importância atribuída às questões sócio-culturais da alimentação pelos estudantes de graduação em Nutrição, buscando-se refletir sobre as implicações da consideração (ou não) das práticas sociais e culturais na formação superior em saúde. Para isso, utilizou-se banco de dados de pesquisa quantitativa realizada entre maio e junho de 2008 com 809 alunos de 12 Instituições de Ensino Superior que oferecem o curso de Nutrição no município do Rio de Janeiro, adotando-se como instrumento de coleta de dados um questionário fechado. A partir da realização de análises estatísticas, verificou-se que tanto as disciplinas sociais quanto seus conteúdos possuem, na maioria dos casos, pouca importância na percepção dos estudantes. Reflete-se sobre a forma desarticulada como as disciplinas sociais e biológicas vêm sendo dadas, condição que dificulta a visão holística do ser humano e a compreensão da totalidade dos problemas de saúde e alimentação.

Palavras-chave: EDUCAÇÃO SUPERIOR; NUTRIÇÃO; EDUCAÇÃO EM

SAÚDE

ABSTRACT

Elias, Rosane da Conceição. Análise da importância das questões sócio-culturais da alimentação na perspectiva dos estudantes de Nutrição: implicações para a formação em saúde. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009.

The multidimensionality of feeding and food are recurrent themes among the social sciences’ discussions, there is basis in food sociology and anthropology capable of associating emotional and rational explications to the anguish and demands of the contemporary world. On the other hand, the complexity of feeding and its articulation with several areas of interest is admittedly not much perceived by the nutrition university students, due to a predominantly technical and biomedical formation. The distance from discussions involving culture and subjective aspects during the Nutrition course can represent an obstacle in the development of an important strategy of action in Public Health: a critical and transforming nutrition education. This study aims at analyzing the importance assigned to social-cultural aspects of feeding by the nutrition university students, seeking a reflection about the implications of considering (or not) the social and cultural practices throughout the university formation in health. Thus, it was used a data base produced by a quantitative research carried out between May and June of 2008 with 809 students from 12 Universities which offer the Nutrition course in Rio de Janeiro city, the instrument to collect data was a closed questionnaire. Through statistical analysis it was possible to verify that the social subjects as well as their contents have, in the majority of cases, little importance in the students’ perception. A reflection is proposed in relation to the disarticulated form in which the social and biological subjects are given, a condition that raises difficulties for a holistic vision of the human being and comprehension of the wholeness of health and feeding problems.

Key words: HIGHER EDUCATION; NUTRITION; HEALTH EDUCATION

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ethos a partir da tipologia de Corbeau 39 Figura 2 - Tipos de “complexados do muito” a partir da tipologia de Corbeau 40

Figura 3 - Tipos de “adeptos de alimentos leves” a partir da tipologia de Corbeau 45

Figura 4 -Tipos de “adeptos dos alimentos consistentes” a partir da tipologia de Corbeau 49

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela I - Renda média familiar dos estudantes de Nutrição do município do Rio de Janeiro, população do Brasil e do Grande Rio 60 Tabela II - Perfil socioeconômico dos estudantes de Nutrição do município do Rio de Janeiro, dos estudantes de IEFS da região sudeste e do Brasil 61 Tabela III - Grau de importância atribuído ao conteúdo Corpo e Sociedade entre alunos de sexo feminino e masculino 64 Tabela IV- Grau de interesse referente à área de trabalho Nutrição em Esporte entre alunos de sexo feminino e masculino 65 Tabela V- Grau de importância atribuído às disciplinas em situações contextualizadas – Situação 71 Tabela VI- Grau de importância atribuído às disciplinas em situações contextualizadas – Situação 2 72 Tabela VII- Importância conferida às disciplinas nos diferentes períodos 74 Tabela VIII- Diferentes percepções de disciplinas entre alunos de IES públicas e privadas 78 Tabela IX- Concepções de alimento de acordo com os estudantes de Nutrição 80

Tabela X- Diferenças atribuídas pelos estudantes de IES públicas e particulares à definição Ao ingerir um alimento, o homem se nutre de símbolos e mitos 81 Tabela XI- Concepções de Nutrição de acordo com os estudantes de Nutrição 82

Tabela XII- Grau de importância atribuido à leitura de trabalhos na Orientação terapêutica 87 Tabela XIII- Ordem de prioridade de condutas 89

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico I – Importância atribuída à área de interesse profissional 63

Gráfico II – Importância atribuída pelos alunos às disciplinas em sua formação profissional 66

Gráfico III – Grau de importância atribuído aos conteúdos das Ciências 84 Sociais

LISTA DE SIGLAS

ABEP Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas

ABRASCO Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CCS Centro de Ciências e Saúde

CETRTSAH Centre d’Études Transdisciplinaires, Sociologie, Anthropologi

Histoire

CEUCEL Centro Universitário Celso Lisboa

CFN Conselho Federal de Nutricionistas

CINAEM Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino

Médico

DCNs Diretrizes Curriculares Nacionias

ENDEF Estudo Nacional de despesa Familiar

ENSP Escola Nacional de Saúde Pública

FABA Faculdade Bezerra de Araújo

FAPERJ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

FONAPRACE Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e

Estudantins

HumanizaSUS Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde

IBMR Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação

IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

IES Instituições de Ensino Superior

IESC Instituto de Estudos em Saúde Coletiva

IFCS Instituto de Filosofia e Ciências Sociais

IFES Instituições Federais de Ensino Superior

INAN Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

INRA Instituto Nacional de Pesquisa Agrônoma (França)

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação e Cultura

NUTES Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde

OGM Organismos Geneticamente Modificados

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais

PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição

PRONAN Programa Nacional de Alimentação e Nutrição

SAPS Serviço de Alimentação da Previdência Social

SUS Sistema Único de Saúde

UAN Unidades de Alimentação e Nutrição

UCB Universidade Castelo Branco

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UGF Universidade Gama Filho

UNESA Universidade Estácio de Sá

UNI-RIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

UNISUAM Centro Universitário Augusto Motta

USU Universidade Santa Úrsula

UVA Universidade Veiga de Almeida

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................15

Questões da pesquisa e objetivos..............................................................15 Alimentação: um fato biológico, social e cultural .......................................16 CAPÍTULO 1 - Considerações sobre o curso de Nutriçã o...........................21 1.1 – Surgimento e expansão do curso.............................................................22 1.2– As ciências sociais na formação em saúde: o caso da Nutrição..............................................................................................................23 1.3 – Alimentação e cultura na prática da Nutrição ..........................................27

CAPÍTULO 2 - As dimensões sociais e culturais da al imentação ............. 30

2.1 – Sociologias e Antropologias da Alimentação............................................30 2.2 – Características do Comportamento Alimentar..........................................33 2.3 – Ethos, cultura e alimentação.....................................................................38 CAPÍTULO 3 – Percurso metodológico da pesquisa ... .............................. 51 3.1 – Fase preparatória................................................................................... 51 3.2 – Definição da amostra.............................................................................. 54 3.3 – Construção do instrumento de coleta de dados......................................54 3.4 – Trabalho de campo..................................................................................55 3.5 – Considerações éticas...............................................................................57 3.6 – Variáveis do estudo e análise de dados .................................................57

CAPÍTULO 4 – Resultados e discussão ............ ........................................ 59 4.1- Perfil dos estudantes..............................................................................59 4.1.1 – Perfil socioeconômico........................................................................59 4.1.2 – Motivações pelo curso.......................................................................61 4.1.3 – Área de interesse profissional...........................................................62 4.1.4 – Diferenças entre os sexos ................................................................64 4.2 – Importância atribuída às disciplinas......................................................65 4.2.1 – em situações contextualizadas..........................................................70 4.2.2 – em diferentes períodos......................................................................73 4.2.3 – em diferentes IES (Públicas versus Privadas) ..................................76 4.3 – Questões sócio-culturais da alimentação na perspectiva dos estudantes de Nutrição.....................................................................................................79 4.3.1 – Concepções de alimento e de Nutrição.............................................79 4.3.2 – Conteúdos sociais .............................................................................83 4.3.3 – Abordagem sócio-cultural na orientação terapêutica.........................86

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ...............................................93

REFERÊNCIAS.................................................................................................95

ANEXOS ........................................................................................................ 105

Anexo I: Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

Nutrição

INTRODUÇÃO

- Questões da pesquisa e objetivos

Este trabalho partiu da hipótese de que a multidimensionalidade da

alimentação e do alimento é pouco perceptível pelos estudantes de graduação

de Nutrição devido sua formação predominantemente técnica, fato que pode

representar um obstáculo no desenvolvimento de uma educação nutricional

crítica e transformadora. Conforme distingue Boog (1997), a educação

nutricional, ao contrário da orientação nutricional, preocupa-se além da

mudança de práticas alimentares, com as representações sobre o comer e a

comida, com o conhecimento, as atitudes e a valoração da alimentação para a

saúde. Parte-se do pressuposto de que a contribuição dos conhecimentos das

ciências sociais à formação do profissional de Nutrição é de fundamental

importância para uma melhor compreensão e consideração de fatores sócio-

culturais nas atuações educativas relacionadas às práticas alimentares.

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, formularam-se as seguintes

questões: Qual é a importância que os estudantes de graduação em Nutrição

atribuem às Ciências Sociais e às questões sócio-culturais? Quais as

implicações que estas atribuições podem resultar para a formação em saúde?

O interesse em analisar como o estudante de Nutrição percebe as

Ciências Sociais em sua formação se justifica na inserção desse profissional na

equipe interdisciplinar atuante no manejo dos distúrbios alimentares, bem como

nas práticas de promoção à saúde. As crises alimentares, a obesidade e a

busca pelo “corpo perfeito” são algumas das situações recorrentes na

sociedade contemporânea. Nesse contexto, não há como desvincular a

atuação profissional de uma prática sócio-cultural.

O objetivo geral deste trabalho é analisar a importância atribuída às

questões sócio-culturais da alimentação pelos estudantes de graduação em

Nutrição, buscando-se refletir sobre as implicações da consideração (ou não)

das práticas sociais e culturais para a formação superior em saúde.

Como objetivos específicos, intenciona-se:

- Analisar o grau de importância atribuído às disciplinas das Ciências

Sociais, comparando-se alunos de períodos distintos;

- Discutir as concepções de alimento e de Nutrição à luz do referencial

da socioantropologia da alimentação.

- Alimentação: Um fato biológico, social e cultural

A complexidade do fato alimentar e sua polivalência possibilitam a

articulação de diversos campos de interesse, envolvendo desde preocupações

médicas, nutricionais e estéticas até interesses políticos e econômicos. Comer

não é apenas um ato biológico e fisiológico, mas determinado por múltiplos

fatores, impregnados de aspectos simbólicos, carregados de contradições e

ambiguidades.

As relações entre o alimento, o comportamento alimentar e a sociedade

têm sido assunto de estudo de diversos autores (MENNELL; MURCOTT; VAN

OTTRLOO, 1992; CONTRERAS, 2002), ressaltando nas produções das

ciências sociais aspectos como o da multidimensionalidade do fato alimentar.

Tomando-se como exemplo a socioantropologia da alimentação francesa,

é possível evidenciar recentes discussões envolvendo a complexidade do fato

alimentar. Fischler (1995) analisa que o sistema alimentar se caracteriza,

sobretudo pelas normas que norteiam a escolha, a preparação e o consumo

alimentar. Além das combinações de ingredientes e técnicas, o sistema

alimentar está associado às representações, crenças e práticas, que

expressam a cultura. Para Poulain (2004), o alimento é construído socialmente,

pois deve ser conhecido e/ou aceito não só pelos comedores1, mas também

pela sociedade ao qual ele pertence.

Corbeau (2002) considera que os comedores possuem um certo espaço

de liberdade para criar ou modificar suas práticas alimentares, ainda que

submetidos à prévia determinação de suas origens sociais.

1 Utilizaremos “comedores” conforme nota de tradução em Poulain e Proença (2003, p.248): “A palavra francesa mangeur representa, para a Sociologia da Alimentação atual, o homem que come, razão da utilização da palavra "comedor" em português. A utilização deste termo surgiu a partir da publicação Le mangeur du 19éme de Jean-Paul Aron (1976). Em seminário realizado em 1998, tendo como um dos temas justamente a discussão de como designar o mangeur humano, definiu-se pela utilização da palavra no plural, a partir da compreensão de que somos todos múltiplos quando comemos e de que múltiplos são também os tipos de ‘comedores’ humanos.”

O espaço de liberdade das escolhas alimentares tem sido um dos focos

de autores ingleses como Mennell (1985) e Warde (1997). Para Mennel (1985)

esse espaço é limitado pela forma com que se estrutura a sociedade de

massas, concluindo que a variedade de alimentos aumenta na medida em que

os contrastes alimentares desaparecem. Apesar da aparente contradição, são

duas faces de um mesmo processo:

Se os interesses comerciais fazem com que os gostos das pessoas sejam mais padronizadas do que era possível no passado, eles impõe limites muito menos rígidos que as restrições físicas às quais as dietas da maioria das pessoas eram sujeitas por grande parte do tempo. (Mennell, 1985: 321 - 2)

Uma possível consequência da interpretação da influência do consumo de

massa na alimentação é a emergência de gostos e preferências

compartilhadas e difusas, discutida por Warde (1997). Em escala global, pode-

se observar essa tendência na produção e na distribuição. Nessa direção, o

autor argumenta que a missão do nutricionista passa a ser a de convencer a

todos que consumam um grupo de nutrientes parecidos a fim de manter um

corpo saudável (WARDE, 1997, p.37). Tende-se, assim, a desconsiderar o

contexto sócio-cultural que fornece significado ao fato alimentar, privilegiando-

se apenas a visão biológica, onde os nutrientes e as calorias assumem grande

importância.

Recorrendo-se a fatos históricos percebe-se que o aspecto biológico e

científico do alimento nem sempre foi preponderante. Durante a idade média o

pensamento holístico de filósofos gregos como Hipócrates, Galeno e Oribase

consideravam corpo e mente como indissociáveis. As diversas mudanças

vivenciadas pela humanidade desde então, tanto no campo das idéias, como

também em decorrência das diversas guerras, das revoluções industrial e

agrícola, foram afastando as pessoas dessa visão global da alimentação,

direcionando-as a uma visão cada vez mais objetiva e estrita.

Outra situação que certamente contribuiu para o afastamento da visão

global da alimentação, deixando para um segundo plano seus aspectos

simbólicos foi a atribuição do termo calorias aos alimentos pelo americano

Atwater (HARGROVE, 2006). Esse sistema, capaz de medir em valores

numéricos carboidratos, lipídios e proteínas, tornou-se uma das bases mais

sólidas da Nutrição, amplamente utilizada na atualidade.

O predomínio da vertente biológica na formação do nutricionista é,

segundo Bosi (1988), o responsável pela difícil articulação dos conhecimentos

biológicos da Nutrição com a dimensão social. A autora conclui que a

consequência desse fato é uma percepção prejudicada da totalidade alimentar:

O discurso científico da Nutrição privilegia categorias que explicitam apenas um tipo de enfoque do fenômeno sobre o qual discorrem. A estrutura desse discurso, nitidamente ligada à biologia, se detém num nível meramente descritivo de processos individuais, onde a nutrição é tratada primordialmente como um ato fisiológico. Dessa forma, oculta-se a dimensão social, ou seja, as origens e determinantes dos problemas nutricionais de nossa população. (BOSI, 1988, p.197)

Apesar da evidente necessidade de um diálogo entre as ciências da

saúde e as ciências sociais, estudos têm constatado que aspectos biológicos e

sociais possuem pouca articulação na formação superior em saúde, além de

defenderem uma maior integração entre essas áreas (NUNES,

2007; CANESQUI, 2000; MARSIGLIA et al., 2003). Situação que encontra

grande ressonância na Nutrição (BOSI, 1988; COSTA, 1999;

VASCONCELOS, 2002; MOTTA; OLIVEIRA; BOOG, 2003; CANESQUI;

GARCIA, 2005).

A valorização dos conceitos e temas das ciências sociais, numa busca de

aproximação entre as diferentes culturas científicas (SNOW, 1995), tem sido

uma das recentes ênfases na formação superior em saúde. Um importante

momento de articulação dessas vertentes no Brasil teve início nos anos de

1990 com a mobilização de comissões das ciências sociais e humanas em

saúde interessadas em discutir o tema. O I Encontro de Ciências Sociais em

Saúde foi realizado em setembro de 1993, em Belo Horizonte, seguido da

Oficina de Ciências Sociais em Saúde, no Rio de Janeiro em abril de 1995 e da

realização do I Congresso Brasileiro de Ciências Sociais em Saúde, em

novembro de 1995, em Curitiba. Desses encontros, elaborou-se em 1997 o

primeiro Plano Diretor da área (ABRASCO, 2008).

Outro exemplo de promoção de diálogo entre a área da saúde e as

ciências sociais pode ser encontrado no relatório elaborado pela Comissão

Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (CINAEM). Nesse

documento enfatiza-se a importância das Ciências Humanas e Sociais para a

formação médica:

... se anatomia e a fisiologia foram fundamentos da medicina clássica, a física e química foram as disciplinas básicas da medicina do século 19, as disciplinas sociais ou ecológicas serão essenciais para a medicina do terceiro milênio. Antropologia Médica, História da Medicina, Psicologia e Pedagogias Sociais, Sociologia e Epidemiologia, Estatística e Ética Médicas, dentre outras, serão fundamentais para erigirmos uma nova teoria da medicina, preocupada com as tarefas curativa, preventiva e reabilitadora, mas também com a melhoria da natureza humana e o bem-estar social, através do atendimento adequado a necessidade de saúde de indivíduos e populações. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO MÉDICO – 1999/2000)

A preocupação assumida no documento do CINAEM em formar um

médico cidadão detentor de uma postura ética vinculada à realidade brasileira

pode ser perfeitamente aplicada aos demais profissionais da área da saúde e,

em particular, aos profissionais que desenvolvem atividades educativas junto à

população, como no caso do profissional de Nutrição.

No âmbito político, o Sistema Único de Saúde (SUS) traz novos avanços

ao preconizar o diálogo entre a área da saúde e as ciências sociais,

evidenciado na atual Política Nacional de Humanização – HumanizaSUS - que

possui como princípio básico a atenção às dimensões subjetivas e sociais nas

práticas de atenção em saúde, valorizando o respeito às questões sócio-

culturais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Esse modelo fundamenta-se nas

reflexões desenvolvidas em torno do conceito de integralidade (MATTOS,

2001), tema que tem recebido interessantes aportes de diferentes autores

oriundos de distintas áreas do conhecimento (PINHEIRO; MATTOS, 2006).

Considerando que a alimentação tem sido entendida como um fato ao

mesmo tempo biológico e cultural, a prática educativa deveria partir não só do

conhecimento do consumo dos nutrientes. Entende-se que em sua prática

educacional, o profissional de nutrição precisa conhecer a complexidade do

alimento e da alimentação, buscando compreender os significados que os

indivíduos atribuem a sua prática alimentar. Parte-se do pressuposto que a

Sociologia e a Antropologia devem ocupar um importante lugar na formação do

profissional de Nutrição na medida em que permitem uma compreensão mais

ampla e profunda da realidade social e, consequentemente, do universo

alimentar.

CAPÍTULO 1: Considerações sobre o curso de Nutrição

Este capítulo tem por finalidade tecer algumas considerações sobre a

formação e a prática em Nutrição. Inicialmente intenciona-se contextualizar o

surgimento e expansão do curso. A seguir, inicia-se uma reflexão sobre a

presença das disciplinas sociais, buscando-se discutir as influências sociais na

educação nutricional. Finaliza-se esse capítulo com a temática Alimentação e

Cultura na prática da Nutrição.

1.1. Surgimento e expansão do curso

A ciência da Nutrição é uma área recente, que surgiu no inicio do

século XX com uma necessidade evidenciada pela medicina em estudar a

alimentação da população. Vasconcelos (2002) observa que o grande estímulo

para a criação dos primeiros centros de pesquisa e cursos de formação de

profissionais na área de intervenção em Nutrição ocorreu na Europa, com a

primeira guerra mundial.

No Brasil, o curso de Nutrição foi originado pela primeira geração de

médicos nutrólogos, em 1939 na Universidade de São Paulo, inicialmente

como Curso Técnico de Auxiliares de Alimentação. A partir de 1940, com a

criação do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), transformou-

se em curso de formação superior de nutricionistas. Na ocasião foram criados

mais três cursos na cidade do Rio de Janeiro: UNI-RIO, UERJ e UFRJ (BOSI,

1988).

A expansão dos cursos superiores de Nutrição foi impulsionada a partir

dos anos de 1970 com a criação do II Programa de Alimentação e Nutrição

(Pronan II), que tinha como uma das diretrizes estimular a formação e a

capacitação de recursos humanos na área (CANESQUI; GARCIA, 2005). Havia

no Brasil, até 1979, sete cursos de Nutrição, todos públicos. Na década de

1980 mais 33 foram criados. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB) de 2003 que incentivava o ensino privado, o número chegou

a 169. Dados recentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2008) apontam para, pelo menos, 336

cursos em todo o país.

Os nutrólogos, assim como outros especialistas da área médica, sempre

tiveram maior expressão na consolidação da formação em Nutrição e

Alimentação do que os próprios dietistas e nutricionistas (BOSI, 1996). Assim,

fundamentado no modelo biomédico, o curso de Nutrição caracterizou-se por

apresentar forte cunho biologicista, que marca a formação deste profissional

até os tempos atuais.

1.2. As ciências sociais na formação em saúde: o ca so da Nutrição

Inicia-se essa discussão recorrendo-se às questões históricas de nosso

país que buscam explicar as causas entre os diferentes “status” das ciências

consideradas exatas e profissionalizantes e as sociais e humanas. Arroyo

(1988) discute que os currículos sofrem com modificações sociais constantes,

sendo afetados diretamente pelo impacto da tecnologia, exigências do mercado

de trabalho e a própria diversificação cultural da sociedade.

Um grande evento responsável pelas reformas político-educacionais no

Brasil foi a ditadura militar. Para Gadotti (2005), o período pós-64 deve ser

considerado um retrocesso, partindo-se do princípio que uma das principais

características do período ditatorial foi o descaso pela formação popular,

fundamentado no autoritarismo e no elitismo. Gadotti (2005) observa que,

nesse período, a formação do cidadão passou a não ser valorizada,

enfatizando-se a formação técnica considerada essencial para o trabalho e

desenvolvimento econômico do país. Como conseqüência, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação, promulgada no início dos anos de 1970 privilegiou a

formação profissionalizante, repercutindo em significativas mudanças

curriculares.

A separação das disciplinas destinadas à formação do cidadão

daquelas destinadas à formação profissional tornou-se cada vez mais evidente.

O saber tradicional passou a ser visto como improdutivo e o técnico-científico

como útil e prático. As ciências exatas adquiriram uma maior importância,

passando a ser consideradas ciências nobres, uma vez que capacitavam o

aluno profissionalmente. As ciências humanas assumiram uma posição de

desprezo, distanciando-se cada vez mais das exatas, na medida em que

preparavam o jovem ‘apenas’ para o exercício da cidadania (GADOTTI, 2005).

Fazendo um paralelo dessa discussão com a área da saúde, pode-se

citar alguns trabalhos que verificaram na prática essas questões. Amorim et al.

(2001) ao entrevistarem onze profissionais de saúde, incluindo profissionais de

Nutrição, apenas dois mencionam a necessidade de uma formação que

contemple a visão do homem como um todo. Além disso, os autores

constataram que as disciplinas que visam à formação humana são

consideradas de pouca importância até mesmo para os professores. Traverso-

Yépez e Morais (2004) encontraram em seu trabalho 2,8% dos profissionais de

saúde preocupados com as pessoas carentes ou necessitadas, usuárias dos

serviços públicos de saúde. A maioria dos entrevistados considera mais

importante o status profissional, fama e situação financeira. Segundo as

autoras, a formação em saúde tende a negligenciar a complexidade e

multideterminação dos fenômenos humanos e a privilegiar os aspectos teóricos

e técnicos, em detrimento do contexto humano da atuação profissional. Neste

contexto a formação biologicista é apontada como um dos principais motivos

para esse pensamento, uma vez que os estudantes da área biomédica

priorizam a importância da formação teórica e das técnicas curativas ao invés

das preventivas e da ênfase ao aspecto biológico, subestimando os aspectos

psicológicos e sociais.

Dessa forma, acredita-se que a visão isolada da ciência-técnica

dificulta o desenvolvimento de uma compreensão holística do educando,

enquanto ser humano e ser social. Assim, conforme entendido por Krasilchick

(2000), associações entre ciência e a sociedade são de extrema importância

para que o ensino de ciências não se limite à visão dos cientistas, mas que

possa interagir com questões econômicas, políticas e culturais.

Buscando relacionar o engajamento social do profissional de Nutrição

com os fatos históricos do país, Bosi (1988) observa que esse movimento só

passou a ter expressão nos anos de 1970, décadas após a formação do

primeiro curso de Nutrição, em 1939. Segundo a autora, a articulação do

profissional de Nutrição com as questões sociais está atrelada a uma maior

associação da Nutrição ao campo político, tomando-se como exemplo a

mobilização da sociedade em resposta à criação de programas e projetos

nutricionais2.

Bosi (1988) conclui que a partir dos anos de 1970 a Nutrição passou a

ocupar um campo privilegiado do ponto de vista social, buscando sanar a

problemática nutricional na sociedade brasileira. A estrutura curricular do

curso, por sua vez, não dava conta das disciplinas necessárias para o alcance

dos objetivos propostos para esse profissional, pois era constituído pelas

disciplinas básicas e profissionalizantes, sem entrar nas discussões de temas

sócio-econômicos ou de saúde-pública (CANESQUI; GARCIA, 2005). Da

mesma forma, Bosi (1988) observa que existe uma lacuna na compreensão do

social devido ao desequilíbrio entre as disciplinas oferecidas, caracterizando

um hiato entre o biológico e o social. 2 Programa Nacional de Alimentação e Nutrição – PRONAN. Estudo Nacional de despesa Familiar (ENDEF), realizado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição – INAN

A problemática da valorização das disciplinas ligadas ao conteúdo básico

e biológico em detrimento às discussões do modelo sócio-econômico

associadas particularmente às obras de Josué de Castro e Paulo Freire foi

enfatizada em um estudo de caso realizado por Bosi (1988) com estudantes de

Nutrição. Ao comparar o discurso científico da Nutrição às demais ciências da

saúde, Bosi (1988) desenvolve a seguinte reflexão:

Os problemas nutricionais, dentre os quais se destaca, na nossa sociedade, a subnutrição, ou melhor, a Fome, são comumente explicados pela interação de um “agente etiológico” com um “hospedeiro suscetível” num “ambiente favorável”. Desta forma, a ciência “esquece” de considerar que o “agente etiológico” é a falta de alimentos (que deriva de um conjunto de relações); os “hospedeiros” não são quaisquer indivíduos, mas determinadas classes sociais; e o ambiente também é resultado histórico. (BOSI, 1988, p.10-11)

Confirmando a problemática sinalizada por Bosi (1988), Canesqui e

Garcia (2005) identificaram que as disciplinas de cunho social e econômico,

como também a de educação nutricional encontravam-se abaixo das

recomendações de carga-horária da Cepandal3 em análise de cursos de

Nutrição no Brasil. As disciplinas biológicas, por sua vez, apresentavam carga

horária acima do proposto. Conforme pontuado por Canesqui e Garcia (2005),

apesar de não ser suficiente para qualificar o perfil da formação profissional do

nutricionista, a análise quantitativa é capaz de sinalizar prováveis tendências

desse profissional.

Com o objetivo de identificar que perfil de profissional as instituições

que oferecem o curso de graduação em Nutrição valorizam, Motta, Oliveira e

Boog (2003) visitaram sites de diferentes instituições, analisando as

informações que constam na apresentação de seus cursos. Como resultados,

a identificação do nutricionista como profissional de saúde e as referências ao

mercado de trabalho foram as informações mais predominantes. Por outro

lado, raras vezes foi considerado no perfil do profissional o compromisso com

as transformações sociais. Apesar de valorizadas nas Diretrizes Curriculares

Nacionias (Anexo I), as autoras observam que a formação ética e humanista é

praticamente ignorada e não há a preocupação em apresentar o objeto de

estudo da Nutrição, apenas seu objeto de trabalho.

Buscando compreender como se dá a presença dos conteúdos das

3 Comissão de Estudos e Programas Acadêmicos de Nutrição e Dietética na América Latina –

Criada em Bogotá em 1973, tornou-se referência para as discussões curriculares.

ciências humanas e sociais nos currículos dos diferentes cursos de Nutrição da

cidade do Rio de Janeiro, Fonseca et al. (2007) demonstram que os cursos

vêm modificando sua grade curricular para cumprimento das exigências

relacionadas à política nacional do MEC. No entanto, os autores chamam a

atenção para a importância mudanças não ocorrerem de forma instrumental e

pragmática4 em relação à inclusão dos conteúdos das ciências sociais nos

cursos. Existe a necessidade de se refletir sobre o conteúdo das disciplinas

propostas, uma vez que estas devem se aproximar a estudos relacionados à

alimentação, tanto na Sociologia como na Antropologia.

O principal locus capaz de aproximar os conteúdos das ciências sociais

com as disciplinas biológicas e profissionalizantes é a educação nutricional,

disciplina obrigatória nos cursos Nutrição. Além de se constituir como uma

importante estratégia de ação em Saúde Pública, suas discussões estão

associadas às ações do nutricionista em todos os campos de atuação.

Como uma especialidade de interesse acadêmico, a educação

nutricional tem seu surgimento no período pós-guerra, na década de 1940, com

o intuito de melhorar a qualidade da alimentação da população que sofria com

a escassez de recursos, buscando o emprego de alimentos mais baratos e

nutritivos.

Segundo Castro e Peliano (1985), o interesse pela educação nutricional

no Brasil surge também em torno dos anos de 1940, sendo entendido como um

dos pilares dos programas governamentais de proteção ao trabalhador, cujo

objetivo era promover mudanças significativas na alimentação da população.

Nesse período criou-se a função de “Visitadora de Alimentação” , profissional

de saúde responsável em visitar a casa das pessoas, no intuito de realizar a

educação nas cozinhas das famílias. Por ter sido considerada invasiva pela

população, essa ação durou pouco tempo (BOOG , 2004).

Outra “estratégia educativa” pôde ser observada no período pós-guerra,

quando o discurso nutricional para os grupos menos favorecidos estava

direcionado ao consumo de alimentos oriundos da ajuda internacional. Nas

décadas seguintes, questões político-econômicas passaram a fundamentar as

4 Este uso instrumental da Antropologia é salientado por Douglas (1984) ao discutir a

participação de antropólogos somente na implementação e não no desenho de projetos relacionados à alimentação.

campanhas educativas, como o incentivo ao consumo de soja em substituição

ao feijão, por se tratar de um produto de grande interesse para a exportação

(CASTRO; PELIANO, 1985).

Durante o regime militar, as questões sócio-econômicas foram

substituídas pelo modelo técnico-científico, caracterizado pela racionalização.

Esse modelo trouxe repercussões para as atividades alimentares como a

pesquisa de novas tecnologias e novos alimentos que visavam, sobretudo,

atender aos programas de suplementação alimentar. Boog (1997) observa que

a educação nutricional passou a ser vista como uma prática repressora e

domesticadora, na medida em que limitava o direito de liberdade de expressão.

Segundo a autora, foram muitas as críticas por razões de ordem ética e

política, levando a um descrédito e a perda de interesse na educação

nutricional.

Apesar de rejeitada em determinados períodos da história do profissional

de Nutrição, a educação nutricional é entendida como uma área de atuação

essencial do nutricionista, uma vez que se trata de uma prática privativa do

profissional, conforme a Lei Federal 8234/91. Atualmente representa uma

importante estratégia junto aos serviços de saúde, preconizada pela Política

Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN).

1.3. Alimentação e cultura na prática em Nutrição

Conforme vem sendo discutido, o discurso de mudar o comportamento

alimentar do outro não deve ser limitado em corrigir erros alimentares e impor

modelos padronizados de uma alimentação saudável. Ao se pensar o papel do

profissional de Nutrição enquanto detentor do saber técnico, sem uma possível

articulação com aspectos sócio-culturais, assume-se uma orientação uniforme

e vertical, entendida por diversos autores como insuficiente e incapaz de

contribuir para a ocorrência de mudanças (FREITAS, 1997; BOSI, 1988;

MOTTA; OLIVEIRA; BOOG, 2003; CANESQUI; GARCIA, 2005).

A orientação pontual, lógica da prática clínica tradicionalmente

fundamentada em conceitos biomédicos, se limita apenas em corrigir erros

alimentares sem buscar uma relação psicológica e social do paciente. A esse

respeito, Baião (2007) discute o reducionismo sofrido pelo ser humano ao ser

esvaziado de sua condição histórica e sociocultural. Como consequência, a

desconsideração da dimensão subjetiva no cuidado em saúde está destinada à

ineficiência.

A dificuldade que os profissionais de saúde têm em lidar com o problema

alimentar por desconsiderarem os aspectos sociais e culturais do alimento e da

alimentação pode ser evidenciada na falta de aderência ou abandono às

orientações nutricionais. Analisando-se pesquisas epidemiológicas na área da

saúde, observa-se um grande número de pacientes obesos que abandonam a

dieta de reeducação alimentar (KOEHNLEIN et al., 2008). De acordo com Miller

(1999), a adesão à dieta é o principal desafio enfrentado pelos pacientes

diabéticos. Desta condição, surge um sentimento de impotência do profissional

em trabalhar de forma efetiva a educação nutricional.

O papel da educação nutricional, segundo Santos, L.A. (2005), refere-se à

formação de opinião, condição fundamental para a tomada de decisões. As

escolhas alimentares tornam-se mais complexas na medida em que se associa

à comida e ao comer múltiplos discursos: médicos, publicitários, hedonistas e

exóticos. Fischler (1995) denomina “polifonia dietética” a essa

hiperinformação, resultando na “cacofonia alimentar”, ou seja, conjunto de

informações confusas e conflitantes.

A respeito da velocidade dos avanços científicos que se traduz na

ausência de referências para os indivíduos, Santos, L.A (2008) tece o seguinte

comentário:

Os alimentos e as condutas alimentares são diabolizados, perdoados ou santificados de uma forma tão veloz que não há tempo para conformá-los dentro de uma conduta alimentar prudente. (SANTOS, L.A. 2008, p.197)

A importância da interpretação dos diferentes sujeitos sociais e a

compreensão de suas crenças e explicações, resultado de uma realidade

histórica, sócio-econômica, cultural e política são também enfatizadas por

Freitas (1997) como essenciais em qualquer orientação terapêutica. A autora

discute a relevância do simbólico a partir do exemplo da interpretação criada

por uma mãe ao colocar a maçã, prescrita pela nutricionista para o tratamento

de diarréia, ao lado da imagem de um santo, oferecendo à criança doente um

chá tradicional. Nesse exemplo as concepções mágicas do alimento referidas

por Fischler (1995) não são abandonadas, mas passam a conviver com novos

conceitos. Entende-se essa resignificação como uma forma dos sujeitos

buscarem coerência em suas práticas alimentares, evidenciando-se a ausência

de passividade frente aos discursos.

A complicada relação entre o conhecimento científico e o conhecimento

comum foi observada por Caniné e Ribeiro (2007) ao encontrarem uma postura

autoritária e verticalizada na prática de nutricionistas que realizavam atividades

de supervisão técnica nas Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) de

escolas da rede municipal do Rio de Janeiro.

Discordando dessa postura, a obra de Paulo Freire (1998) destaca a

importância de uma relação horizontal entre o profissional e o cliente

(educador-educando) ao compreender que a condição humana seja ela

cultural, física, histórica ou psico-social deveria ser o objeto essencial de todo o

ensino. Neste contexto ressalta-se o diálogo entre educador e educando na

problematização do comportamento alimentar e na submissão da ciência e da

técnica às necessidades, tais quais sentidas e percebidas pelos indivíduos e

que passam a possuir significados em sua cotidianidade.

De uma forma generalizada, Freitas (1997) identifica duas linhas

antagônicas ao pensar as práticas de educação nutricional no Brasil: a primeira

é verticalizada, uniforme e silenciada, sem articulação com aspectos cognitivos,

independente do sujeito, sua história ou condição social; a segunda ocorre

quando são considerados aspectos sócio-culturais, favorecendo uma discussão

e reflexão capazes de descontruir e reconstruir modelos.

Os aspectos cognitivos das enfermidades precisam ser discutidos com

quem sente, utilizando suas linguagens e a partir de seus conteúdos, quer

sejam baseados no saber técnico-científico ou no saber tradicional. A educação

nutricional deve ser trabalhada a partir de uma compreensão da riqueza de

valores simbólicos da comida, conseqüência da história, da visão de mundo, de

crenças e de mitos dos sujeitos. Apenas quando aspectos sócio-culturais são

considerados nas orientações terapêuticas, buscando-se compreender os

significados que os indivíduos atribuem a sua prática alimentar, é possível

trabalhar a educação nutricional de forma efetiva.

Assim, entende-se que o distanciamento entre nutricionista e cliente,

juntamente com a dificuldade de compreensão por ambas as partes, pode estar

associado à falta de aprofundamento nos estudos das ciências sociais e,

conseqüentemente, na abordagem das questões culturais e subjetivas durante

a formação em Nutrição.

Dessa forma, a sugestão para a superação dos problemas de falta de

aderência ou abandono às orientações nutricionais é a construção de

estratégias conjuntas com o paciente a fim de que sejam alcançados melhores

resultados na reeducação alimentar. Neste sentido, a discussão da temática

Alimentação e Cultura torna-se uma necessidade, sendo preciso para a

compreensão dos aspectos subjetivos das questões alimentares um

referencial das ciências sociais e humanas.

CAPÍTULO 2: As dimensões sociais e culturais da alimentação

Este capítulo tem como intenção fazer uma aproximação do tema

alimentação às ciências sociais e humanas, apresentando-se algumas das

diferentes correntes de pensamento da sócio-antropologia da alimentação, com

o objetivo de aproximar o leitor aos fundamentos teóricos e hipóteses

desenvolvidas pelos principais cientistas sociais que desenvolvem o tema.

2.1. Sociologias e Antropologias da Alimentação

A alimentação se tornou um campo de pesquisas das ciências humanas

a partir da segunda guerra mundial quando, além de aspectos biológicos,

aspectos antropológicos passaram a ser considerados importantes em

campanhas nutricionais. Um exemplo desse movimento, ocorrido a partir de

1942 foi o lançamento de uma campanha direcionada aos combatentes de

guerra, incentivando a alimentação correta. Lançado pela então secretária

geral do Comitê de Hábitos Alimentares da Academia de Ciências dos Estados

Unidos, a antropóloga Margaret Mead, o cartaz tinha como título: “ Eat the right

food – America needs you strong” [Coma de forma correta - América precisa de

você forte] (SCIENCES HUMAINES, 2003, p.30).

Em 1945, Mead publicou o primeiro manual para o estudo de práticas

alimentares que possivelmente abriu as portas para os estudos posteriores.

Atualmente denominado de corrente culturalista, esse movimento socio-

antropológico tem sua origem na crítica ao estruturalismo de Lévi-Strauss

(SCIENCES HUMAINES, 2003).

A antropologia estrutural desenvolvida por Lévi-Strauss ao longo do

século XX na França favoreceu abordagens inovadoras nos diversos campos

do conhecimento, associando o trabalho antropológico a uma série de

pesquisas envolvendo outras ciências como a Crítica Literária, a Psicanálise e

até a Biologia, dominando o cenário intelectual dos anos 60 (BRANCO, 2008).

Lévi-Strauss mostra que, contrariamente à economia, a antropologia dá conta

das formas de mudança que vão além da ordem de valorização econômica e

que participam da construção das relações sociais. Segundo o estruturalismo,

é sensato que a pessoa reproduza os comportamentos do mesmo tipo, seja

qual for a situação e a posição dos atores. A dimensão do sujeito é descartada

e a verdade é buscada no inconsciente, resultando em análises extremamente

ricas do universo simbólico (LÉVI-STRAUSS, 2008, p.ex). O paradigma

estruturalista considera que não são as práticas alimentares e seus processos

sociais o mais importante, mas sim as suas regras e convenções, conforme

descrito por Lévi-Strauss no famoso estudo dos costumes culinários O cru e o

cozido, a partir da análise de fenômenos culturais incluindo a mitologia,

relações familiares e preparação de alimentos.

No Brasil, as reflexões sobre as ciências sociais e a alimentação têm

origem em meados do século XX, com o engajamento de Josué de Castro na

batalha contra a fome. Em um período marcado pela escassez bibliográfica

sobre as carências alimentares especialmente de regiões empobrecidas, o

cientista pernambucano ganhou notoriedade após a publicação do clássico

Geografia da fome, obra que contribuiu para mobilizar a consciência crítica do

país, tendo suas teses reconhecidas por um grande número de seguidores em

todos os continentes (MELO, 2005).

Outros autores também pioneiros e que merecem destaque no diálogo

das Ciências Sociais com a temática alimentação no contexto brasileiro são

Gilberto Freyre ao discutir a cultura alimentar brasileira (FREYRE, 1998) e

Câmara Cascudo, focado no folclore e na história da alimentação (CASCUDO,

1983).

Atualmente verifica-se a intensificação de novos olhares das ciências

sociais sobre as práticas alimentares, tornando essa discussão cada vez mais

fértil pois associam às escolhas alimentares, as angústias, receios e cobranças

da contemporaneidade. Entre os diversos autores que se destacam nesse

campo, optou-se em discutir as sociologias da alimentação5 a partir das teorias

da sociologia francesa, representada particularmente por Poulain (2002),

Fischler (1995) e Corbeau (2002).

Apesar da existência de toda uma discussão traçada por autores

pioneiros nas sociologias e antropologias da alimentação (GARINE, 1978;

GRIGNON, 1980), foi com a publicação da tese de Claude Fischler sobre o

“honívoro”, que esse diálogo passou a ter notoriedade (POULAIN; PROENÇA,

2003).

Fischler é diretor do Centro de Estudos Edgar Morin e tem sua carreira

acadêmica desenvolvida no âmbito da sociologia, em diálogo com o paradigma

da complexidade (MORIN, 2005), perspectiva difundida por Edgar Morin, seu

orientador de doutorado. Fishler e Morin trabalharam juntos no antigo Centre

5 As “sociologias da alimentação” são assim intituladas no plural devido às numerosas possibilidades de se pensar as práticas alimentares, que envolvem uma ampla discussão nos campos da antropologia e da sociologia (POULAIN, 2004).

d’Études Transdisciplinaires, Sociologie, Anthropologie, Histoire (CETRTSAH),

que foi dirigido por Morin e que recebeu seu nome como homenagem.

Outro autor destaque é Poulain, que também teve em Morin uma

importante referência, mas que tem uma carreira profissional iniciada na

gastronomia antes de dedicar-se à pesquisa social. Poulain descreve o espaço

social alimentar ao qual encontram-se submetidos os comedores. Em 2004 a

obra de Jean-Pierre Poulain, Sociologies de l´alimentation: les mangeurs et

l´espace social alimentaire, originalmente de 2002, foi publicada pela

Universidade Federal de Santa Catarina. Entre os diversos cientistas sociais

que se propõem a discutir o tema, o livro de Poulain é o único disponível em

português.

Outra contribuição interessante decorrente das discussões atuais das

sociologias da alimentação francesa é trazida pelo sociólogo Jean-Pierre

Corbeau. Atualmente professor de Sociologia da Universidade Francesa de

Tours, Corbeau vem privilegiando estudos na área dos comportamentos

alimentares decorrentes de pesquisas associadas à representação imaginária

do cotidiano e à dinâmica das sociabilidades e das mutações sociais. A partir

desse enfoque, o autor discute as formas de convivialidade e de rotinas

alimentares nas diferentes cidades da França, associando questões do corpo,

da saúde, da organização, da família e comunicação. Corbeau participa,

juntamente com Jesus Contreras (Universidade de Barcelona), Massimo

Montanari (Universidade de Bolonha) e outros docentes, do Mestrado Europeu

de História e Cultura da Alimentação, oferecido conjuntamente por estas três

universidades.

A seguir, serão pontuadas algumas características do comportamento

alimentar desenvolvido por Fischler (1995) e Poulain (2004) relacionadas ao

espaço social alimentar, ao pensamento classificatório, ao princípio da

incorporação e ao paradoxo do “honívoro”, os quais poderão contribuir para

uma melhor compreensão da abordagem de Corbeau (2002) em que propõe a

decodificação do comportamento alimentar na contemporaneidade a partir de

diferentes ethos, desenvolvidos face às distintas influências sociais, pensadas

a partir do que ele propõe ser o “triângulo do comedor”.

2.2. Características do Comportamento Alimentar

Nos anos de 1980, Claude Fischler promove uma significativa discussão

nas sociologias da alimentação, envolvendo o valor da transdisciplinaridade e

aproximando as imagens afastadas do homem biológico com o homem social

(FISCHLER, 1995). Essa sociologia se propõe a explorar as ligações entre a

Sociologia, a Psicologia, a História e a Fisiologia centradas no comportamento

alimentar.

Após dez anos de pesquisa sobre os comedores humanos, Fischler

(1995) agrupa e sintetiza numerosos estudos criando o neologismo “honívoro”.

Segundo o autor, o “honívoro” é regido por leis invariantes do comportamento

alimentar: o pensamento classificatório, o princípio da incorporação e o

paradoxo do “honívoro”. Esses princípios, no entanto, encontram-se em

constante atualização de forma a se adaptarem aos contextos culturais

contemporâneos. O autor exemplifica que os comedores modernos são

capazes de combinar um pensamento mágico e um pensamento racional,

produzindo um sistema de seleção de seus alimentos.

O pensamento classificatório é a primeira característica comum aos

comedores. Todas as culturas possuem uma norma que classifica os alimentos

em comestíveis e não comestíveis, como pontua Fischler (1995, p.58-59): “Não

existe, atualmente, nenhuma cultura conhecida que seja completamente

desprovida de um aparelho de categorias e de regras alimentares, que não

conheça nenhuma prescrição ou proibição relativa ao que é necessário comer

e como é preciso comer”.

A segunda característica do comportamento alimentar humano é o

princípio da incorporação. A citação em alemão “Man ist, was man isst” cuja

tradução é Somos o que comemos (FISCHLER, 1995, p.66), possui mais de

uma significação. Ao ingerir um alimento, o consumidor absorve suas

qualidades que podem ser, em uma visão objetiva, de origem energéticas e

nutritivas ou, em um enfoque subjetivo, de origem mágica.

O pensamento mágico, segundo Fischler (1994), consiste em atribuir

crenças ao alimento ou ao ato de se alimentar. Fischler argumenta que

consumir um alimento não é somente ingerí-lo fisicamente; é deixá-lo penetrar

em si, incorporá-lo. Para o autor, o alimento é capaz de atuar na construção da

identidade daquele que o ingere. O princípio da incorporação do alimento é

exemplificado por Fischler com a seguinte comparação: A carne sangrenta

fornece vigor; os vegetarianos são tristes, eles têm sangue de nabo.

(FISCHLER, 1994). Em um outro enfoque, sob um plano sociológico, comer um

produto valorizado em um grupo social é capaz de inserir o indivíduo nesse

grupo. O homem, ao comer, se incorpora a ele mesmo, integrando-se em um

espaço cultural. Esse espaço insere o comensal em um universo social, que

envolve o alimento, as maneiras à mesa e a cozinha.

A terceira característica do “honívoro” é seu paradoxo. Biologicamente o

homem é um ser onívoro, ou seja, tem autonomia para escolher e adaptar sua

alimentação baseado em suas necessidades. Porém, as necessidades

biológicas não são determinantes nas escolhas alimentares. Essa liberdade

condicional é regulada pelo sistema culinário, composto de uma série de regras

e cuja finalidade é gerar a diversificação da ingestão alimentar ao mesmo

tempo que satisfaz a necessidade cognitiva de consumir alimentos

identificados.

Outra abordagem do paradoxo do “honívoro” é a da abundância. O temor

da escassez de alimento e a obsessão do abastecimento, preocupações

presentes ao longo da história humana, deram lugar a novas inquietações

contemporâneas: os excessos e venenos da modernidade. Para Fischler

(1994), a grande angústia do comensal moderno resulta na incerteza ligada a

escolha dos alimentos. Segundo o autor, o comensal precisa administrar a

exuberância, realizando seleções, fazendo comparações, estabelecendo

prioridades. O grande desafio da atualidade é saber discernir entre o

indispensável e o supérfluo.

Assim temos, a partir da discussão Fischler, que os princípios que

definem as características do comportamento alimentar são decorrentes de

uma associação entre o imaginário e a racionalidade, questão que se aplica

também na abordagem de Poulain.

Com Poulain (2004), apreende-se que o comportamento alimentar

engloba e se desenvolve em diferentes espaços. Baseado no conceito de

espaço social proposto por Condominas6 (1980), Poulain (2004) aplica a visão

6 “O espaço social é o espaço determinado pelo conjunto dos sistemas de relações, características do grupo considerado. Trata-se de uma acepção (...) que se apoia no sentido amplo da própria palavra “espaço”. Assim, para nós o habitat representa apenas uma parte do

de “espaço social alimentar” como instrumento de estudo dos modelos

alimentares. Trata-se de um conceito abrangente que envolve a articulação do

natural e do cultural, permitindo a identificação de seis dimensões principais do

espaço social: do comestível, do sistema alimentar, do culinário, dos hábitos de

consumo alimentar, da temporalidade e das diferenciações sociais.

Apesar de um grande número de substâncias minerais, vegetais e

animais serem suscetíveis de fornecer nutrientes, apenas uma quantidade

limitada de produtos naturais são selecionados socialmente, recebendo o

“status” de alimento. Desta seleção, surge a primeira dimensão do espaço

social alimentar de Poulain (2002): o espaço do comestível. O processo de

construção social de identidade alimentar é o conjunto de regras de inclusão ou

de exclusão de um produto que dispõe de qualidades nutricionais e carga

simbólica.

Para explicar a segunda dimensão do espaço social alimentar, o sistema

alimentar, remete-se a todas as etapas da produção-transformação, que

permite que o alimento chegue ao consumidor e seja reconhecido como

comestível. Poulain (2002), ressalta que os alimentos não se deslocam

sozinhos pelos canais; o fluxo é controlado por indivíduos que agem em função

de suas próprias lógicas.

O espaço social do culinário ou seja, a cozinha, é definido como o

conjunto de rituais, operações simbólicas e técnicas utilizadas no processo de

transformação de um produto natural em comestível. Além de ser considerado

um espaço geográfico onde são realizadas as preparações culinárias dentro ou

fora da casa, a cozinha permite uma série de discussões referentes à divisão

sexual e social das atividades domésticas.

Ao se pensar nos hábitos de consumo alimentar, percebe-se que critérios

como quantidade, horários e estruturação das refeições ou modalidades de

consumo, como uso de talheres ou palitos, variam de uma cultura para outra,

ou ainda, no interior de uma mesma cultura, seguindo de acordo com os

espaço social (...). Acrescentamos que não esquecemos de modo algum que seu primeiro uso francês, onde, como o latim spatium do qual ele deriva, designa uma extensão do tempo, e deste modo constitui uma noção dinâmica” (CONDOMINAS, 1980 apud POULAIN, 2004, p.243).

grupos sociais.

Outra atribuição da sociedade é determinar o consumo alimentar através

de ciclos, como ciclos de vida, exemplificados por Poulain a partir das

diferenças impostas na alimentações de um bebê, de uma criança ou um idoso;

ciclos do ano, os quais influem diretamente no plantio e colheita agrícola; e os

ciclos do dia, com horários estipulados de trabalho e repouso. Assim como a

definição dos hábitos de consumo, o espaço social da temporalidade possui

particularidades em cada cultura, consequência de alimentos permitidos ou

proibidos a cada etapa, períodos de abundância ou de penúnia alimentares ou

ritmo das refeições.

A última dimensão do espaço social definida por Poulain (2002) é o

espaço da diferenciação social. Particularmente no ocidente, a alimentação

permite a identificação de grupos sociais de uma cultura para outra, ou ainda,

dentro de uma mesma cultura, em termos de posição social ou regiões

geográficas.

Tanto essas diferentes dimensões elaboradas por Poulain, como também

as características presentes no comportamento alimentar desenvolvidas por

Fischler, representam perspectivas complementares em que simultaneamente

são observados aspectos relacionados tanto ao indivíduo como a sociedade. É

nesse sentido que a contribuição de Corbeau se fundamenta ao propor a

discussão sobre a alimentação a partir do conceito de ethos.

Corbeau (2002), em sua abordagem, enfatiza a dimensão criadora do

indivíduo e observa que é a partir das diferenças da socialidade e sociabilidade

que as práticas sociais evoluem e se transformam. Ao fundamentar a

discussão sobre o espaço de liberdade das escolhas alimentares dos

indivíduos, Corbeau (2002) distingue os conceitos de socialidade e

sociabilidade. Segundo o autor, a socialidade consiste em um conjunto de

determinantes culturais e sociais ao qual todo indivíduo que vive em sociedade

encontra-se submetido. Estes determinantes são capazes de modelar o

inconsciente dos membros em função do lugar sócio-econômico que eles

ocupam. Por outro lado, a sociabilidade corresponde à forma como os

indivíduos irão interagir com as regras impostas pela sociedade. Como

resultado, surgem dinâmicas criativas e formas de comunicação e de troca

capazes de ligar os indivíduos uns aos outros. Assim, a discussão trazida por

Corbeau (2002) identifica o conceito de ethos como determinante nas escolhas

alimentares.

O ethos relata ao mesmo tempo o impacto do determinismo ao qual o

indivíduo se encontra confrontado e as respostas, os esforços e as

esperanças que o ator formula para escapar, lhe subverter ou lhe

transgredir. O ethos é uma reconstrução através do qual ele discute não

para cristalizar o impacto dos fatores sociais objetivos, mas para entender

a dinâmica que eles provocam, as mutações em que podem resultar e o

sentido que o ator confere a seu ambiente e as respostas fornecidas.

(CORBEAU, 2002, p.118)

Nesta concepção, Corbeau argumenta que as práticas alimentares são

definidas pelo “trângulo do comedor”, composto pelo comedor socialmente

identificado, por uma situação dentro de um contexto social e de um alimento

específico, possuidor de significados em um universo sócio-cultural. Esse

triângulo possui certa flexibilidade, uma vez que os indivíduos, os contextos

sociais e os produtos alimentares variam no espaço social e no tempo. Como

consequência dessa dinâmica, a sociabilidade pode desaparecer diante da

socialidade ou o peso desta pode declinar, permitindo a ascenção da

sociabilidade. Assim, o comedor é classificado por Corbeau como indivíduo

plural, ou seja, capaz de atualizar comportamentos diferentes em sua lógica e

significação, baseado nos contextos sociais e no tipo de alimento (CORBEAU,

2002).

A partir da discussão das relações entre socialidade e sociabilidade,

Corbeau cria uma tipologia que se propõe a classificar o ethos dos comedores

de forma dinâmica.

2.3. Ethos, cultura e alimentação

O conceito de cultura definido por Geertz (1989) e fundamentado em

Weber considera o homem amarrado a teias de significados que ele mesmo

tece. Em uma visão antropológica, os elementos valorativos de uma dada

cultura, seu ethos, relacionam-se à aspectos cognitivos existenciais, os quais o

autor denomina “visão de mundo”. Nesse contexto, o ethos representa um tipo

de vida implícito no estado de coisas real que a visão de mundo descreve

(GEERTZ, 1989, p.144).

A partir da definição da palavra ethos como o “conjunto de costumes e

hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.)

e da cultura (valores, ideias ou crenças), características de uma determinada

coletividade, época ou região” (HOUAISS, 2001, p.1271), fica evidente a

conexão existente entre ethos e cultura. Em outras palavras, ethos pode ser

entendido como a identidade do indivíduo ou ainda de uma comunidade. A

cultura, por sua vez, baseia-se em um conjunto de crenças, conhecimentos,

leis e costumes de uma comunidade ou sociedade. A compreensão dessas

lógicas representa uma ferramenta fundamental para classificar dos diferentes

tipos de comedores.

Assim, interessado em distinguir os diferentes ethos do comportamento

alimentar, Corbeau (2002) fundamentou-se nos resultados de uma análise

realizada no sul da França por Raymond Ledrut e sua equipe no final dos anos

de 1970, desenvolvendo, nas décadas seguintes, uma pesquisa baseada na

observação e em entrevistas com os comedores (CORBEAU , 2002).

A tipologia de Ledrut et al. separava os comedores em três grandes

grupos: os complexados do muito, os adeptos do alimento consistente e os

adeptos do alimento leve. Além desses três primeiros ethos, definidos por

Corbeau como os ethos dos anos de 1980, Corbeau (2002) identificou a

necessidade de se criar um quarto tipo de comportamento que permitisse

abrigar os novos ethos dinâmicos, os quais variam seus regimes segundo a

situação ou a qualidade do alimento proposto. Esse grupo foi denominado

gastrolastress. A figura 1 ilustra a classificação geral de Corbeau, denominada

pelo autor de “Ethos dos anos 2000”.

Figura 1: Ethos a partir da tipologia de Corbeau

Complexados do muito

Adeptos dos alimentos leves

Adeptos dos alimentos

consistentes

Ethos dos anos 2000

Ao criar a palavra gastrolastress, Corbeau intencionou expressar uma

idéia capaz de envolver as necessidades decorrentes do stress das grandes

metrópoles e à necessidade de racionalizar o tempo produtivo, rompendo com

uma ligação social de comensalidade e convivialidade acentuando-se,

consequentemente, o individualismo. Para Corbeau, todos os indivíduos das

zonas urbanas se tornaram, de certa forma, “gastrolasstress”, ou seja, comem

o que têm vontade e na hora que têm vontade. Por outro lado, Corbeau discute

que apesar da classificação genérica de gastrônomos e estressados, certos

elementos são capazes de diferenciar uns indivíduos dos outros. A seguir,

serão definidos a pluralidade dos três grupos de comportamentos dos

comedores e suas lógicas a partir da tipologia de Corbeau.

2.3.1. Os complexados do muito

O primeiro ethos definido por Corbeau (2002) foi o que o autor mais

encontrou subdivisões possíveis. Ao analisar os complexados do muito,

Corbeau chegou a dez modelos de comportamentos dos comedores, conforme

ilustrado na figura 2. A característica principal desse ethos é a angústia pela

absorção alimentar. Esse sentimento tem origens e lógicas diferentes, podendo

ser resultado de patologias ou decorrente de preocupações com a aparência

ou com a saúde.

Figura 2: Tipos de “complexados do muito” a partir da tipologia de

Corbeau

Para explicar a culpabilização vivenciada por esses comedores, Corbeau

discute a dimensão mágica do alimento, indo ao encontro à segunda

característica do comportamento alimentar de Fischler (1995), o princípio da

incorporação. O alimento incorporado passa a ser considerado como poluente

para o corpo e os comedores bloqueiam seus desejos e impulsos ou tentam de

diversas formas lhes corrigir, podendo chegar a situação patológica de forçar o

vômito.

Uma outra característica desse grupo, segundo Corbeau, é a grande

desconfiança que têm com relação aos alimentos. Imaginam as incorporações

com efeitos imediatos no corpo ou em sua identidade e temem produtos

gordurosos, muito açucarados, carnes e os organismos geneticamente

modificados. Corbeau subdivide os complexados do muito em três ethos: as

anorexias, complexados do muito por razões de estéticas e complexados do

muito por razões de saúde.

As anorexias

O grupo das anorexias foi classificado por Corbeau em três seguimentos:

anorexia mental; pequena anorexia e velhice anorexa. O primeiro trata da

Complexados do muitoAnorexias

Por razões de saúde

Por razões estéticas

Anorexia mental

Pequena anorexia

Velhice anorexa

Adolescentes insatisfeitos com o corpo

Homens e mulheres abandonados

Mulheres e homens com mais de 50 anos

Que recusam:

produtos industrializados

carne produtos ricos em colesterol

Organismos geneticamente modificados

São lipofóbicos

anorexia clássica, patológica, frequentemente discutida nas áreas de Nutrição

e Psicologia. Grupos populacionais que possuem o corpo em evidência como

modelos, bailarinas e atletas, são apontados como o grupo de maior risco de

desenvolverem a doença (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 2001).

Ao contrário das características evidentes da anorexia patológica

clássica, a pequena anorexia pode passar despercebida socialmente devido à

recorrência desses casos nas grandes cidades. Pequena anorexia foi a

denominação dada por Corbeau (2002) a um ethos característico criado a partir

da observação de jovens do sexo feminino, que não participavam das

atividades culinárias e deixavam a casa dos pais para seguir os estudos ou

trabalhar em outra cidade. Isoladas socialmente devido à nova realidade, essas

jovens passam a não ter horários regulares ou ritos coletivos para as refeições.

Substituem facilmente as refeições por iogurtes, biscoitos e bebidas em geral.

Nessa lógica social, passam a beber quando têm fome e tendem a evitar a

casa dos pais, uma vez que não têm mais apetite para acompanhá-los nas

refeições familiares.

Por fim, a velhice anorexa é entendida por Corbeau (2002) não

simplesmente como uma recusa aos alimentos concretos, mas sim como uma

forma de reivindicação, podendo ser uma recusa ao ambiente em que o idoso

se encontra ou à situação de abandono. O autor atribui essa situação a um

momento de crise de identidade que pode ser explicada pelo desaparecimento

da comensalidade em rituais coletivos. Em uma análise realizada a partir de

relatos de idosos em Campo Grande - MS, Giglio (2003) discute a

convivialidade como um momento prazeroso e de satisfação alimentar, ao

observar que a maior parte dos idosos prefere não comer sozinha. Analisando-

se os idosos que declararam apresentarem disfagia, privar-se do convívio

social é, para a maioria desses sujeitos, percebido como mais traumático do

que vivenciar as situações de marginalização e vergonha, resultantes das

dificuldades físicas em se alimentar (GIGLIO, 2003).

Complexados do muito por razões estéticas

Representados por consumidores lipofóbicos, esse ethos é caracterizado

por Corbeau (2002) como comensais que seguem frequentemente uma dieta.

Em sua maioria composto por mulheres que evitam os prazeres gustativos

pelas razões de estética corporal. Por outro lado, observa-se essa prática

cada vez mais comum em homens (FELERICO; HOFF, 2007).

Corbeau discute que as razões estéticas propiciam o surgimento de

comensais complexados particularmente em momentos de crise, descrevendo

três ethos decorrentes desta situação: adolescentes insatisfeitos com o corpo;

homens ou mulheres em um período depressivo, geralmente após uma crise

amorosa; indivíduos que temem o envelhecimento por volta dos cinqüenta

anos e que vêem, na supervisão de sua alimentação, juntamente com

atividades físicas intensas, uma proteção eficiente ao efeito dos anos.

Complexados do muito por razões de saúde

A partir do momento que os comedores consideram as razões de saúde

para justificar suas privações, pode-se construir seus ethos segundo vários

cenários. Corbeau (2002) se retem em quatro categorias de alimentos que

desencadeiam a recusa alimentar nos complexados do muito: aos produtos

agro-industriais; à carne, sobretudo a carne vermelha; aos organismos

geneticamente modificados e aos produtos conhecidos como ricos em

colesterol.

O ethos de recusa dos produtos agro-industriais por razões de saúde é

geralmente representado por pessoas com um poder aquisitivo privilegiado

que buscam comer de forma saudável temerosos aos aditivos alimentares.

São pessoas que gostam de fazer as compras e cozinhar e preferem preparar

suas refeições a comer fora. Supõe-se que dispõem de tempo, em muitos

casos, aposentadas. Valorizam, mais do que a maioria da população, a

importância da alimentação para a saúde.

A recusa por carne, particularmente carne vermelha, representa o

segundo tipo de ethos do grupo dos “complexados do muito por razões de

saúde”, definido por Corbeau (2002). Existe toda uma discussão que relaciona

a questão da incorporação da carne, seus tabus e símbolos. Colette Méchin

(1997) assinala a representação assumida pela cor vermelha da carne, sugere

que ela deva ser evitada ou ainda, eliminada, pois é associada ao sangue. A

carne branca, por outro lado, possuidora de uma conotação mais suave,

remete ao inofensivo (MÉCHIN, 1997). Além da representação imaginária de

grande importância na recusa à carne, relaciona-se a este ethos o receio da

ingestão de carne de gado contaminada, como o medo da “vaca louca”, uma

nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob, assumida na Europa em 1996

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

O terceiro tipo de medo desse grupo é caracterizado por Corbeau (2002)

como o ethos dos indivíduos que recusam os organismos geneticamente

modificados. Nas últimas pesquisas realizadas na França, em todas as classes

sociais sem distinção, ele é mais forte do que o medo da “vaca louca”

(CORBEAU, 2002). Tentando-se traçar um paralelo com a realidade brasileira,

verifica-se também no país uma grande recusa por esses alimentos. Segundo

o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - IBOPE (2002), 71% dos

entrevistados7 declararam que se pudessem escolher entre um alimento

geneticamente modificado e outro não modificado, fariam a opção pelo não-

transgênico. Essa recusa pode ser explicada por multiplas origens: a idéia

que recusa modificar artificialmente a natureza; as questões de ordem ética de

patentes e monopólios que transformam o vivo em mercadoria; o medo do

desconhecido em incorporar algo que não se pode avaliar os riscos:

Há vinte anos nos disseram que não havia problema nenhum em receber transfusões [...]. Os engenheiros do INRA explicaram que as farinhas animais não tinham perigo. Hoje eles a interditaram... Com os OGM pode-se desencadear qualquer coisa que eles não poderão mais controlar . (CORBEAU, 2002, p.129)

O último tipo de temor no que diz respeito à saúde nos complexados do

muito corresponde, segundo Corbeau (2002), aos produtos suscetíveis de

aumentar o colesterol relacionando-se a este contexto as doenças

cardiovasculares. Este ethos é representado particularmente por pessoas de

meia idade e idosas que buscam no enfoque racional a longevidade. A respeito

da adequação de comportamentos para se evitar riscos, a sociedade se

encontra numa situação em que impera o que Castiel e Alvarez-Dardet (2007)

definem como saúde persecutória; uma constante conspiração em que os

7 Um dado que deve ser salientado é que a maioria da população brasileira não tem conhecimento do que são os transgênicos, uma vez que 61% dos entrevistados nunca tinham ouvido falar nesse conceito e necessitaram de uma explicação prévia (INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE, 2002).

indivíduos são obrigados a controlar suas ações, sendo culpabilizados por suas

decisões.

Esse conceito de forte conteúdo moral baseia-se na vigilância e na

prevenção individualista, onde o discurso hegemônico da saúde pública atual,

fundamentado nas evidências científicas, determina as condutas e estilos de

vida dos indivíduos, sem distinções. Lógica que tem encontrado nas práticas e

recomendações relacionadas à nutrição grande adesão, especialmente na

busca cada vez mais rigorosa de parâmetros que auxiliem na prevenção de

doenças por meio do controle da dieta e do estabelecimento de limites

"seguros" em relação ao peso e as medidas corporais que devem ser seguidos

por todos. Aqueles que fogem à esta norma são apontados como em "situação

de risco" e passam a serem vistos como culpados por não adotarem um "estilo

de vida saudável".

Pensar que é exclusivamente responsabilidade do indivíduo as questões

relacionadas à saúde é onde reside a crítica de Castiel e Alvarez-Dardet

(2007). Em relação à alimentação podemos pensar nas formas que a

sociedade contemporânea em seus avanços tecnológicos, exigências em

relação ao tempo para a maximização de lucros e estilo de vida tem

contribuído decisivamente no aumento do peso corporal e mesmo dos níveis

de colesterol da população. Uma questão é que se esse aumento tem grande

parcela de contribuição de nossa "sociedade obesogênica" (FINKELSTEIN et

al., 2005), as soluções propostas não podem repousar exclusivamente no

indivíduo, inclusive culpabilizando-o nas situações em que não há êxito. Nessa

lógica, abordagens focadas em mudanças individuais passam a representar

apenas uma ação paliativa e limitada, pois não consideram as reais causas

desta problemática.

2.3.2. Adeptos dos alimentos leves

Ao contrário dos complexados do muito, Corbeau (2002) define os

adeptos dos alimentos leves como possuidores de um equilíbrio entre o prazer

alimentar e a saúde. Interessam-se por informações relacionadas a

alimentação saudável e passam a adotá-las com facilidade. Atribuem alto valor

à uma dieta rica em peixe e vegetais, porém não são extremistas. Esse grupo

foi distinguido em três ethos. A seguir, a figura 3 apresenta uma representação

gráfica dessa tipologia.

Figura 3: Tipos de “adeptos dos alimentos leves” a partir da tipologia de Corbeau

O primeiro, marcado por uma forma vegetariana que valoriza as saladas

e os legumes verdes, assim como as frutas frescas. É geralmente constituído

por uma população jovem, preferencialmente feminina e de um bom nível

sócio-cultural.

O segundo tipo de ethos cuida de seu corpo baseando-se nos princípios

dietéticos contemporâneos, ou seja, é fortemente gastrolastress. Alimenta-se

durante a jornada de trabalho de forma mais leve possível. Racionaliza seu

tempo para produzir melhor, evitando momentos de convivialidade. Corbeau

(2002) observa que, por outro lado, ao chegar em casa este ethos se permite a

ingerir produtos gordurosos e refeições mais “pesadas”. O mesmo se observa

nos fins de semana, quando eles “se dão o direito de abusar” sem que estes

indivíduos apresentem sentimento de culpa ou remorso.

O último tipo de ethos de se nutrir leve se apropria do regime do

mediterrâneo. Ele consome muito saladas de tomate e de pimentão, come

carne de forma moderada, prefere presuntos secos, conhecidos como mais

leves, utiliza abundantemente o azeite em substituição a outras gorduras. Esse

ethos definido por Corbeau (2002) talvez seja a classificação que menos se

aplica à realidade brasileira. A partir de uma pesquisa realizada em dez

Adeptos dos alimentos leves

Forma vegetariana

princípios dietéticos contemporâneos

regime mediterrâneo

marcados por uma

seguem os

se apropriam do

cidades brasileiras para traçar o hábito alimentar da população, Barbosa

(2007) concluiu que o prato do brasileiro é, para 94% da população, composto

por feijão com arroz. Refletindo sobre a abordagem de Mennell (1985) e Warde

(1997), a autora discute a monotonia alimentar na realidade brasileira de forma

controversa com algumas das teses da alimentação contemporânea, uma vez

que ainda existe no país uma forte valorização da comida caseira: Se temos

pasteurização do gosto, certamente é o da tradição e não o da indústria

alimentícia (BARBOSA, 2007, p.112).

Fundamentada em estudos epidemiológicos, a dieta mediterrânea está

frequentemente associada à diminuição de doenças cardiovasculares. No

entanto, esse conceito tem sofrido diversas críticas de cientistas sociais

(FISCHLER, 1996; HUBERT, 1998) na medida em que normaliza a grande

variedade de alimentos a uma dieta idealizada e generalizada,

desconsiderando outros fatores sociais. Guidonet (2007) discute que se trata

de um reducionismo atribuir a melhora da saúde da população apenas à dieta

do mediterrâneo, uma vez que distintos fatores como o prazer de se alimentar

vinculados à comensalidade e à sociabilidade estão relacionados diretamente

nesse processo.

Assim, entende-se que a dieta mediterrânea é um paradigma de saúde,

uma vez que a utopia da dieta perfeita muito tem a ver com a industrialização e

a mundialização da alimentação. Os benefícios para a saúde dificilmente serão

encontrados em uns poucos alimentos, mas sim provavelmente na adoção de

uma dieta que contemple uma alimentação variada. A afirmação em prol de

“hábitos alimentares saudáveis” não pode estar desassociada do prazer da

alimentação, à sociabilidade e à comensalidade, às tradições de cada

sociedade, de cada indivíduo, nem tampouco dos aspectos econômicos.

A respeito da idéia utópica da dieta universal para uma saúde e corpos

perfeitos, Santos, L.A (2008) discute a busca contemporânea em alimentar

indivíduos de diferentes gerações, culturas e classes sociais. O termo “dieta”,

freqüentemente utilizado, anteriormente entendido como uma prática

direcionada às elites ou ainda para tratar problemas de saúde, atualmente é

indicado cada vez mais para todos os indivíduos, sem exceção.

O conceito construído pelos profissionais de alimentação e Nutrição em

considerar os alimentos como remédios, usados para prevenir ou tratar

doenças, reforça o mito da dieta perfeita. Nesta concepção medicamentosa,

fatores sociais e culturais como preferências e hábitos alimentares perdem

espaço, sendo vistos como obstáculos para implementação de uma “dieta

saudável”.

Os adeptos dos alimentos consistentes

Inseridos em uma marcante cultura popular, os adeptos da alimentação

consistente privilegiam a dimensão energética dos alimentos buscando os

alimentos conhecidos como combustíveis, os quais consideram necessários

para a realização de suas atividades sociais. Possuem como hábito refeições

tradicionais e não concebem uma verdadeira refeição sem carnes e alimentos

farináceos.

Corbeau (2002) observa que, além das questões levantadas por

Boudieu (1979) ao discutir as relações das classes sociais com o alimento,

outras relações devem ser apreendidas para a discussão desse grupo, uma

vez que existem, pelo menos quatro tipos de ethos nesse modelo, sendo

apenas os dois primeiros pertencentes às categorias populares (CORBEAU,

2002).

O primeiro tipo é o da “revanche social” sendo este o grupo menos

privilegiado economicamente e culturalmente. Para estes comedores, o mais

importante da comida é a quantidade, deixando o sabor e outras qualidades

organolépticas para segundo plano. A explicação para o consumo abundante é

a busca por uma aproximação com os grupos dominantes. Assim, caminhando

em direção às discussões de Bourdieu (1979) Corbeau (2002) conclui que este

ato está associado a uma forma de sucesso social, de felicidade.

O trabalhador tradicional caracteriza o segundo tipo de ethos definido

por Corbeau (2002). Alimenta-se de forma consistente na hora do almoço,

pensando seu corpo como um instrumento de produção. À noite, em sua casa,

esse indivíduo come de forma mais leve por uma questão de praticidade. O

mesmo ocorre nos fins de semana, onde ele experimenta pratos leves que

simbolizam uma nova forma de ascensão social.

O grupo que valoriza a cozinha popular tradicional representa o terceiro

ethos dos adeptos dos alimentos consistentes, segundo Corbeau (2002).

Devido a uma melhora sócio-econômica desses indivíduos com relação às

suas origens, possuem uma memória afetiva com relação a certos repertórios

gastronômicos. Raramente consomem essas preparações em seu cotidiano

devido à falta de praticidade para seu preparo. É basicamente nos fins de

semana, em refeições familiares ou em restaurantes tradicionais que estes

indivíduos conseguem retornar às origens e fazer uso da alimentação

consistente.

O último tipo de ethos corresponde às pessoas preferencialmente

privilegiadas que valorizam produtos gastronômicos regionais. Incorporam,

juntamente ou após suas refeições leves de rotina, produtos “consistentes”

como produtos regionais, doces da fazenda, especialidades do campo. Ao

consumirem esses produtos dentro do espaço urbano, esses comensais

incorporam seus significados: a qualidade de vida, o calor da convivialidade,

as raízes esquecidas. Os tipos de adeptos dos alimentos consistentes,

definidos por Corbeau, encontram-se representados na figura 4.

Figura 4: Tipos de “adeptos dos alimentos consisten tes” a partir da tipologia de Corbeau

É importante considerar que a divisão de Corbeau, por ser tão

detalhada e minunciosa, na prática acaba se tornando de difícil distinção, uma

vez que os tênues limites desses conceitos tornam a tipologia difusa. Verifica-

se essa situação ao se comparar os complexados do muito com os adeptos de

alimentos leves, por exemplo. Nesses casos Corbeau busca explicar, a partir

de lógicas isoladas, significados que estão interrelacionados. Apesar dessas

limitações, as lógicas envolvendo o “triangulo do comedor” em que o autor se

fundamenta para discutir as práticas alimentares são um importante

Adeptos aos alimentos consistentes

Forma de “revanche social”

trabalhadores tradicionais

Pessoas que valorizam a cozinha popular tradicional

observada como observada em

observada em

Pessoas que valorizam produtos gastronômicos regionais

observada em

fundamento para a compreensão entre o universo sócio-cultural e a

alimentação.

Ainda que a discussão sócio-antropológica seja capaz de ampliar a

percepção do comportamento alimentar, a falta de aprofundamento em

questões sócio-culturais foi evidenciada por Elias e Fonseca (2009), em um

estudo que buscava perceber como a produção científica se desenvolve na

área do conhecimento em Nutrição no Brasil. Os autores concluíram que a

presença de diálogo entre as ciências da saúde e as ciências sociais ainda é

pequena, articulação essa observada apenas em temáticas raras e pontuais.

A discussões que emergem a partir dos conceitos trazidos pelas

sociologias da alimentação permitem uma ampliação da simbologia do

alimento, onde a comida é entendida como uma necessidade muita além de

orgânica. Dessa forma, considera-se que com o olhar diferenciado das

ciências sociais sobre o ato de se alimentar torna-se possível a interpretação

dos diferentes sujeitos sociais e a compreensão de suas crenças e

explicações.

CAPÍTULO 3: Percurso metodológico da pesquisa

Para a realização do presente trabalho optou-se em uma abordagem

quantitativa, desenvolvida por meio de questionário auto-aplicáveis de coleta e

análise de dados (BABBIE, 1999), cujos resultados foram usados para

descrever ou explicar as percepções de estudantes de graduação em Nutrição

referentes à importância das questões sócio-culturais da alimentação.

Segundo Hill e Hill (2008), uma estatística descritiva descreve, de forma

sumária, alguma característica de uma ou mais variáveis fornecidas por uma

amostra de dados. Como parâmetro estatístico utilizou-se o teste do Qui-

quadrado, coeficiente de correlação de Pearson, que indica a natureza da

relação entre os valores de duas variáveis.

3.1. Fase preparatória

O presente estudo está inserido no projeto Alimentação, Saúde e

Sociedade: um estudo sobre as contribuíções da sociologia e da antropologia

nos cursos de nutrição do Rio de Janeiro, desenvolvido no Laboratório de

Estudos da Ciência, NUTES/UFRJ, sob o financiamento da FAPERJ na

temática ‘Mediações socioculturais nas ciências e na Saúde’, em parceria com

o Instituto de Nutrição da UERJ e Instituto de Nutrição Josué de Castro da

UFRJ.

Durante o mês de abril de 2007 foi realizado levantamento pela Internet

com o objetivo de se identificar quais eram as Instituições de Ensino Superior

(IES) do Rio de Janeiro que ofereciam o curso de Nutrição no município. Para

tanto, buscou-se primeiramente no sítio do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (http://www.inep.gov.br) a listagem dos

cursos ali presentes no cadastro das instituições de educação superior. Esta

relação foi comparada com a listagem disponibilizada no sítio do Conselho

Federal de Nutricionistas (http://www.cfn.org.br).

Os sítios das IES foram visitados com o objetivo de se confirmar o

oferecimento dos cursos no município do Rio de Janeiro e para se buscar as

grades curriculares e períodos das disciplinas relacionadas às ciências sociais.

Optou-se pela seleção das disciplinas diretamente relacionadas à Sociologia ou

à Antropologia, sendo desconsideradas disciplinas que tinham outros campos

das ciências humanas como referência (Psicologia, Geografia, Economia e

Filosofia). Buscou-se também o ano em que o curso passou a ser oferecido e

os respectivos números de vagas oferecidos. De posse destes dados

elaborou-se um quadro sinóptico onde encontram-se as informações dos

cursos em funcionamento na cidade8.

8 Um novo curso passou a ser oferecido em julho de 2007 pelo Centro Universitário Uni IBMR, o

qual – por ter sido criado após o período de levantamento da pesquisa – não foi incluído em nossa amostra.

Instituições

Ano de

criação Tipo

Vagas

oferecidas/

ano

Período –

créditos

Disciplinas

Centro Universitário Augusto Motta-UNISUAM

2000

Privada

288

2° P - 3 C

Estudos sócio-

antropológicos

Centro Universitário Celso Lisboa – CEUCEL

2004 Privada

160

1° P - 4 C

Alimentação,

saúde e cultura

Centro Universitário Metodista Bennett - Metodista do

Rio

1999 Privada 240

2° P - 2 C

Introdução à

Sociologia

Faculdade Bezerra de Araújo – FABA

2001 Privada

**

1° P - 2 C

2° P - 2 C

Antropologia

Sociologia

Universidade Castelo Branco – UCB

2006 Privada 70

3° P - 2 C

Antropologia e

Nutrição Humana

Universidade Estácio de Sá – UNESA*

1997 Privada 80

2° P - _ C

Cultura e

sociedade

Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ

1944 Publica

88

1° P - 6 C

Introdução à

Sociologia II

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro –

UNIRIO

1943 Publica

114

4° P - 2 C

Sociologia e

desenvolvimento

da comunidade

Quadro 1 – Cursos de graduação de nutrição da cidad e do Rio de Janeiro

abril de 2007

* 2 unidades: Taquara (R9) e Rebouças

** Na ausência dessa informação pela Internet, obteu-se pelo telefone a informação de que

"não há limite de vagas estipulado para o curso".

3.2. Definição da Amostra

Para o levantamento de concepções dos estudantes de Nutrição

relacionadas à alimentação, definiu-se como recorte da pesquisa os 12

cursos de graduação oferecidos pelas instituições d e ensino superior

localizadas no município do Rio de Janeiro, sendo 3 públicas e 9

privadas.

Definiu-se como sujeitos da pesquisa os alunos do 1º, 3º e 6° Períodos.

Essa escolha baseou-se na possibilidade de se conhecer as concepções dos

alunos antes, durante e após um contato com as disciplinas fundamentadas em

conteúdos das ciências sociais, uma vez que no 6º período essas disciplinas já

foram cursadas em todas as IES.

3.3. Construção do instrumento de coleta de dados

Foram realizadas três reuniões durante o ano de 2007 e duas no início

de 2008, cada uma com cerca de três horas de duração e com a participação

de toda equipe, a qual é composta por sete pesquisadores com formação nas

seguintes áreas: Ciências Sociais, Nutrição e Biologia.

Como ponto de partida para a primeira reunião de concepção do

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

1948 Publica 72

3° P - 4 C

Sociologia geral

Universidade Gama Filho – UGF

1984

Privada

70

1° P - _ C

1° P - _ C

Sociologia

Antropologia

Cultural

Universidade Santa Úrsula – USU

1975

Privada 120 2° P - _ C

Introdução às

Ciências sociais

Universidade Veiga de Almeida – UVA

2001

Privada

240

2° P - _ C

Sociologia e

Antropologia da

Nutrição

questionário adotou-se para a reflexão e exposição: a formação do nutricionista

é capaz de capacitá-lo para enfrentar as desigualdades sociais ligadas ao

cenário nacional de saúde? Qual deve ser o lugar das ciências sociais,

especialmente Sociologia e Antropologia, na formação do estudante de

graduação em Nutrição? Diante das discussões da equipe iniciou-se pesquisa

bibliográfica em que se discute a formação em Nutrição, tanto no Brasil como

no exterior.

Questões referentes à motivação para a realização de um curso

universitário foram pesquisadas. Também foi realizada busca de questionários

elaborados tendo em vista estudantes universitários. Após a leitura e discussão

desses materiais e textos foram estabelecidos temas a serem tratados no

questionário: dados pessoais; informações de família; vida acadêmica;

informações do curso e expectativa profissional; informações culturais;

informações sobre alimentação. Estabelecidos os temas, as questões foram

elaboradas e re-elaboradas em conjunto e, após doze elaborações, chegou-se

a uma versão com 53 questões.

Realizou-se um pré-teste com estudantes do curso de Nutrição da UFRJ

do 2º período. O tempo médio de resposta foi de 40 minutos e os

respondedores não sinalizaram dificuldades no preenchimento, demonstrando

que os procedimentos adotados na elaboração foram adequados para a coleta

dos dados da referida população alvo da pesquisa. O modelo de questionário

utilizado nas entrevistas encontra-se no Anexo II

3.4. Trabalho de campo

Após o agendamento de horários com os coordenadores de curso, os

questionários auto-realizáveis foram aplicados durante o meses de maio e

junho de 2008, nos diferentes turnos em que o curso de Nutrição é oferecido,

totalizando 809 questionários, conforme discriminado no Quadro 2. Buscou-se

realizar entrevistas com todos os alunos desses três períodos. Estima-se que

nessas 12 IES estudam Nutrição aproximadamente 3 mil alunos. Assim, a

amostra analisada representa cerca de 1/3 do total de alunos de Nutrição do

município do Rio de Janeiro.

Quadro 2 – Total de questionários aplicados nos dif erentes períodos das

Instituições de Ensino Superior

1º Período

3º Período 6º Período Total Instituições

n % n % n % n %

Centro Universitário Augusto Motta-UNISUAM

50 6,2 23 2,8 22 2,7 95 11,7

Centro Universitário Celso Lisboa – CEUCEL

12 1,5 19 2,3 6 0,7 37 4,6

Centro Universitário Metodista Bennett - Metodista do

Rio

7 0,9 15 1,8 35 4,3 57 7,0

Faculdade Bezerra de Araújo – FABA

34 4,2 47 5,8 14 1,7 95 11,8

Universidade Castelo Branco – UCB

2 0,2 4 0,5 0 0 6 0,8

Universidade Estácio de Sá – UNESA

21 2,6 26 3,2 22 2,7 69 8,5

Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ

32 4,0 27 3,3 22 2,7 81 10,0

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro –

UNIRIO

28 3,5 13 1,6 17 2,1 58 7,2

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

28 3,5 23 2,8 20 2,5 71 8,8

Universidade Gama Filho – UGF

34 4,2 16 2,0 9 1,1 59 7,3

Universidade Santa Úrsula – USU

1 0,1 7 ,9 10 1,2 18 2,2

Universidade Veiga de Almeida – UVA

52 6,4 82 10,1 29 3,6 163 20,1

37,3 302 37,1 206 25,3 TOTAL

301

809 100

3.5. Considerações éticas

A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa

do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva – IESC/UFRJ em maio de 2008,

(processo nº 171.047/2006). Quanto a contemplação das exigências do comitê

de ética, só participaram do estudo os estudantes que concordaram em

participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo III), constando os objetivos da pesquisa e os contatos do

pesquisador responsável. O sigilo e o anonimato dos participantes foi garantido

durante toda a pesquisa.

3.6. Variáveis do estudo e análise de dados

Nem todas as informações obtidas do instrumento de coleta de dados

foram utilizadas nesta pesquisa. A partir de uma análise do questionário,

selecionaram-se algumas questões consideradas importantes para o

cumprimento dos objetivos propostos. Após essa escolha, definiram-se as

variáveis dependentes e independentes. Segundo Pereira (2004), variáveis

dependentes são entendidas como capazes de medir o fenômeno que se

estuda e que se quer explicar. As variáveis independentes são aquelas

capazes de explicar as variáveis dependentes.

As variáveis do bloco sócio-econômico (Bloco I) e perfil do curso foram

definidas como variáveis independentes. Por outro lado, a tipologia a ser dada

pelo conjunto das características específicas ao perfil do curso e da formação

profissional (Bloco II), foram definidas por variáveis dependentes.

Bloco I: Características pessoais e específicas ao perfil do curso – Variáveis

independentes

1) Idade

2) Gênero

3) Indicador sócio-econômico – Critério Brasil

4) Tipo de IES: Pública / Particular

5) Períodos

6) Turno de estudo

Bloco II: Características da formação profissional – Variáveis

dependentes

1) Motivações de escolha do curso

2) Grau de importância atribuído às disciplinas

3) Grau de importância dos conteúdos das Ciências Sociais para o

exercício profissional

4) Grau de importância atribuído à abordagem sócio-cultural na

orientação terapêutica

5) Área de preferência de inserção profissional

6) Concepção de alimento

7) Concepção de Nutrição

Para a análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva a partir das

frequências absolutas e percentual, efetuando-se testes estatísticos de

hipóteses para as variáveis categóricas, utilizando-se o teste do qui-quadrado

com significância p≤0,01 com auxilio do software SPSS 17.0. Os resultados

foram apresentados em tabelas e gráficos, os quais serão discutidos no

próximo capítulo.

CAPÍTULO 4: Resultados e Discussão

4.1. Perfil dos estudantes

A análise dos questionários respondidos mostrou a seguinte distribuição

etária: 148 estudantes (18,7%) com menos de 19 anos, 285 (35,9%) entre 20 e

22 anos, 145 (18,3%) entre 23 e 25 anos, 79 (10,0%) entre 26 e 28 anos e 136

(17,2%) com 29 anos ou mais. A média das idades foi de 24 anos, com

mediana em 22 e moda 20 anos.

A grande maioria dos respondedores 744 (92%) é do sexo feminino.

Com relação ao estado civil, 683 (84,4%) declararam-se solteiros, dentre os

quais 61 (7,7%) relataram morar com companheiro (a).

No que diz respeito ao local de origem, 631 (68%) do total de

respondedores nasceram no Rio de Janeiro, 105 (13%) em outra cidade do Rio

de Janeiro, 62 (7,7%) em outro estado e 10 (1,2%) declararam-se originários

de outros países.

Quanto à situação de moradia, 567 (70,7%) moram com os pais, 129

(16,1%) com companheiro (a), 42 (5,2%) com outros familiares, 26 (3,2%)

moram em casa ou apartamento mantidos pela família, 7 (0,9%) moram em

repúblicas particulares e 31 (3,9%) relataram outras opções.

Quando questionados sobre o turno de estudo em que a maior parte das

disciplinas são frequentadas, 528 (65,8%) declararam estudar durante o dia,

257 (32%) no período noturno e 17 (2,1%) metade diurno e metade noturno.

4.1.1 Perfil socioeconômico

No que se refere ao perfil socioeconômico, adotou-se o Critério de

Classificação Econômica Brasil da Associação Brasileira de Empresas e

Pesquisas (ABEP, 2008), que estima o poder de compra das pessoas e

famílias urbanas a partir de critérios estatisticamente representativos da renda9,

com base nas informações obtidas sobre a posse de bens, características do

domicílio e escolaridade do chefe da família. Os resultados da análise dos

questionários referentes a esse quesito encontram-se expressos na Tabela I.

Tabela I

Renda média familiar dos estudantes de Nutrição do município do Rio de

Janeiro, população do Brasil e do Grande Rio (2008)

Classe Estudantes de

Nutrição

Brasil

Grande Rio

Renda média

familiar (R$)

A 18,8% (n=129) 2,5% 2,0% 8148,50

B 57,6% (n=396) 12,3% 11,2% 2746,00

C 23,1% (n=159) 21,2% 23,9% 960,50

D 0,6% (n=4) 25,4% 24,8% 485,00

E 0% (n=0) 2,0% 1,2% 277,00

Fonte: ABEP (2008)

Buscando-se comparar o perfil socioeconômico do estudante de

Nutrição do Rio de Janeiro com dos outros estudantes da região sudeste,

compararam-se os resultados do levantamento amostral das Instituições

9 A partir de 2008 a ABEP passou a especificar definir sete níveis de renda. Nesse estudo optou-se por aglutinar nos mesmos níveis essas subdivisões recentemente estabelecidas (A1 e A2 como A; B1 e B2 como B; C1 e C2 como C; e as respectivas D e E).

Federais de Ensino Superior (IFES) realizado em 1994 (FONAPRACE,1998). A

significativa diferença entre as datas destes levantamentos impede conclusões,

mas considera-se que este olhar pode ser útil no sentido de estabelecer um

primeiro parâmetro em relação aos dados coletados, sendo o único dado

disponível localizado.

A partir dessa comparação, verificou-se que os estudantes mais ricos da

região sudeste representam apenas 12,5% na categoria A e 47,6% na

categoria B. Constatou-se, no entanto, que quase 70% dos estudantes de

Nutrição faz parte das classes A e B. Apesar dos dados utilizados para esta

comparação não considerarem o perfil sócio-econômico dos alunos das IES

privadas, o curso de Nutrição parece atingir uma parcela significativa de

estudantes de estratos sócio-econômicos mais altos, conforme mostrado na

tabela II.

Essas diferenças são também importantes quando se comparam as

classificações C, D e E dos alunos do curso de Nutrição do Rio de Janeiro com

os dados das IFES. Chama atenção a baixa porcentagem de alunos do curso

de Nutrição pertencentes à classe D (0,6%) e à ausência de representantes da

classe E.

Tabela II

Perfil socioeconômico dos estudantes de Nutrição do município do Rio de

Janeiro, dos estudantes de IEFS da região sudeste e do Brasil (2008;

1994)

Classe Estudantes de

Nutrição (RJ) 2008

Estudantes de IEFS

(Sudeste) 1994

Estudantes de

IEFS (Brasil) 1994

A 18,8% 12,5% 12,6%

B 57,6% 47,6% 43,1%

C 23,1% 29,6% 30,5%

D 0,6% 8,2% 10,5%

E 0% 2,1% 3,3%

Fonte: Fonaprace (1998)

4.1.2. Motivações pelo curso

O presente trabalho demonstrou que diferentes motivações levam os

estudantes a escolherem o curso de Nutrição. Ao serem indagados sobre a

razão para essa escolha, a análise dos questionários constatou diferenças

significativas entre alunos de faculdades públicas e privadas. Se, por um lado,

os motivos que levam os estudantes de faculdades particulares a optarem pelo

curso estão associadas à complementação profissional que já exercem; à

preocupação com o mercado de trabalho e às possibilidades salariais, os

alunos de faculdades públicas declaram que a baixa concorrência no vestibular

e a escolha do curso por exclusão foram seus principais motivos.

4.1.3. Área de interesse profissional

No que se refere à área de interesse profissional, a Nutrição Clínca foi a

opção que apresentou maior grau de interesse segundo relato dos estudantes

entrevistados. A respeito do interesse do profissional na área médica, Bosi

(1996) observa que um grande número de alunos que buscam o curso de

Nutrição o fazem a partir da desistência de outros cursos considerados

“nobres”, como Medicina e Odontologia.

Discutindo-se os resultados dessa pesquisa referentes a área de

Nutrição em Saúde Coletiva 10, observa-se que existe um certo interesse dos

estudantes por essa área de atuação, tendo sido considerado de baixo

interesse por apenas 16% dos respondedores, conforme ilustrado no gráfico I.

Apesar desse interesse, vários estudos têm evidenciado o afastamento do

Nutricionista da área de Saúde Coletiva (BOSI, 1996; BOOG et al., 1988;

PRADO; ABREU, 1991; GAMBARDELLA et al., 2000).

Em uma recente pesquisa objetivando traçar o perfil do profissional de

Nutrição, Rodrigues (2004) mostra que a área de Saúde Coletiva classificou-se

no último lugar na distribuição por campo de atuação profissional,

diferentemente de outras áreas que têm ampliado o mercado de trabalho para

o nutricionista, como a docência em nutrição, a nutrição e esporte e nutrição e

marketing ou mesmo da Nutrição Clínica e Alimentação Coletiva.

10 Também identificada como “Saúde Pública” ou ainda “Nutrição social” (BOSI, 1996)

Surge então uma questão: se o aluno tem interesse pela saúde coletiva,

por quê o profissional está pouco presente neste campo de atuação? Essa

questão foge ao escopo dessa pesquisa, uma vez que os dados obtidos não

são capazes de respondê-la. Contudo, é possível imaginar que apesar do

interesse existir, as oportunidades em Saúde Coletiva na prática são poucas.

Um exemplo de mercado de trabalho que poderia ampliar significativamente a

atuação do profissional de Nutrição nessa área seria garantir a inserção do

Nutricionista no Programa de Saúde da Família. Porém, o modelo proposto

pelo governo brasileiro em conformidade com os princípios do SUS para

promover, prevenir e recuperar a saúde da população não regulamenta o

profissional de Nutrição no programa, apesar das constantes lutas do CFN pela

inclusão da classe. Um outro fato que pode ajudar na compreensão da pouca

atuação do profissional de Nutrição na área da Saúde Coletiva refere-se a

remuneração. Estudando-se a inserção de nutricionistas no mercado de

trabalho, Gambardella et al. (2000) observaram que a área de saúde pública foi

a que mostrou a pior relação entre salário e jornada de trabalho.

Gráfico I – Importância atribuída à área de interes se profissional

139 113

388

16290

194 183114

58

261 295

235

288

193

253222

201

60

167 178

71

174

192

149154

197

105

179 17173

125

266

157 191230

438

34 22 15 23 33 21 27 44122

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Qualqu

er op

ortu

nidad

e

Muito Alto Alto Indiferente Baixo Não sabe

4.1.4. Diferenças entre os sexos

Conforme descrito no item 4.1 Perfil dos estudantes, 92% dos alunos

que responderam ao questionário pertencem ao sexo feminino. Dados recentes

do Conselho Federal de Nutricionistas (2006) mostram que 96,5% dos

profissionais de Nutrição do país são mulheres.

Buscando explicações históricas para o fato, Bosi (1996) discute o perfil

socialmente desvalorizado da profissão, exercido inicialmente por mulheres

provenientes de camadas sociais inferiores, sem uma sólida formação. Nesse

sentido, Santos (1988) enfatiza a desvantagem de um curso exclusivamente

feminino, repercutindo em prejuízos como baixo prestígio e remuneração.

Partindo-se dessa realidade, imaginava-se que não seriam encontradas

diferenças significativas ao se considerar a variável Sexo nessa pesquisa.

Porém, apesar do número de estudantes do sexo masculino ser bastante

reduzido, foi possível evidenciar-se relevância estatística significativa em duas

variáveis dependentes, conforme discutido a seguir.

Uma crescente preocupação com a estética corporal e com os discursos

relacionados à redução calórica é, segundo Proença (2001), um

comportamento predominantemente observado em jovens do sexo feminino.

Como consequência, verificam-se taxas crescentes de distúrbios como

anorexia nervosa e bulimia neste grupo. Corroborando esse resultado, a

presente pesquisa evidenciou que estudantes do sexo feminino consideram

conteúdos de corpo e sociedade mais importantes que os do sexo masculino

(p≤0,01), conforme apresentado na Tabela III.

Tabela III - Grau de importância atribuído ao cont eúdo Corpo e

Sociedade entre alunos de sexo feminino e masculino

Sexo feminino Sexo masculino

Muito importante 399 (53,6%) 25 (39,7%)

Importante 259 (34,8%) 27 (42,9%)

Pouco importante 47 (6,3%) 5 (7,9%)

Nada importante 12 (1,6%) 2 (3,2%)

Não sabe 5 (0,7%) 3 (4,8%)

Uma outra situação onde se observou uma diferença significativa quanto

ao gênero, está relacionada à área de interesse de trabalho. Nesse caso

verificou-se que o interesse dos estudantes do sexo masculino na área de

Nutrição e Esporte é bem maior do que o das estudantes (p≤0,01). Os

resultados dessa análise encontram-se na Tabela IV.

Tabela IV - Grau de interesse referente à área de trabalho Nutrição

em Esporte entre alunos de sexo feminino e masculino

Sexo feminino Sexo masculino

Muito alto 154 (20,7%) 29 (46,0%)

Alto 200 (26,9%) 22 (34,9%)

Indiferente 147 (19,8%) 6 (9,5%)

Baixo 187 (25,1%) 4 (6,3%)

Muito baixo 27 (3,6%) 0 (0%)

4.2. Importância atribuída às disciplinas

Fundamentada em diversos trabalhos que discutem a maior valorização

das disciplinas biológicas e profissionalizantes em detrimento das disciplinas

sociais e humanas na formação do profissional de saúde (AMORIM et al, 2001;

CANESQUI; GARCIA, 2005; FRANCO; BOOG, 2007; MOTTA; OLIVEIRA;

BOOG, 2003), a presente pesquisa objetivou analisar a importância atribuída

às Ciências Sociais pelos estudantes de graduação em Nutrição a partir de

algumas questões, conforme discute-se a seguir.

Ao serem questionados sobre o grau de importância que consideram

possuir as disciplinas para a formação profissional, mais da metade dos

entrevistados consideraram as disciplinas Biologia, Anatomia e Química Muito

importante, conforme ilustrado no Gráfico II. A Sociologia, por outro lado, foi a

disciplina que recebeu o menor grau de importância, tendo sido considerada

Muito importante por apenas 15% dos respondentes.

Chama atenção o resultado referente ao somatório das respostas

Pouco Importante e Nada Importante da disciplina Sociologia , igual a 42% ,

um valor bem superior ao encontrado para o caso da Biologia, que nessas

mesmas respostas apresentou como resultado o valor de 8,8%.

Não se pretende, com essa discussão, desconsiderar a importância

inquestionável das disciplinas biomédicas e profissionalizantes para a formação

em Nutrição. Intenciona-se buscar compreender o porquê das disciplinas

sociais serem tão pouco percebidas, uma vez que, isoladamente todas as

disciplinas são inespecíficas e insuficientes.

Gráfico II.

Importância atribuída pelos alunos às disciplinas e m sua formação

profissional

Analisando-se o grau de importância atribuido as disciplinas11 pelos

alunos, foi possível organizá-las em três blocos. O primeiro bloco designou-se

de Biológicas, comportando as disciplinas Anatomia, Química, Biologia e

Genética. Com exceção de Genética, as três primeiras são consideradas as

mais importantes para a formação em Nutrição, de acordo com os alunos.

O segundo bloco convencionou-se chamar de Sociais Aplicadas

(Psicologia e Comunicação). O terceiro bloco contém disciplinas Básicas, que

assim como as biológicas do primeiro bloco têm um caráter básico na formação

de várias áreas do conhecimento, sendo que neste caso as duas são oriundas

de áreas distintas: Sociologia da área de Ciências Humanas e Sociais e

Estatística da área de Matemática e Ciências Exatas. Há uma baixa

designação desse último grupo de disciplinas como muito importantes ou

importantes.

Pode-se concluir que as disciplinas que estão mais claramente

relacionadas ao curso são mais importantes na visão dos alunos do que

aquelas que abrangem outras áreas do conhecimento.

Uma possível explicação para a posição de desprezo ocupada pela

disciplina Sociologia baseia-se na falta de integração do instrumental teórico

básico com discussões de autores da sócio-antropologia da Alimentação.

Recorrendo-se à análise das disciplinas sócio-antropológicas presentes

nas grades curriculares das IES pesquisadas (conforme listado no Quadro 1),

verifica-se que em grande parte das Instituições as disciplinas Sociais,

denominadas como Introdução à Sociologia ou Sociologia e Antropologia

Geral, são disciplinas introdutórias do pensamento sociológico clássico.

A partir da análise de algumas ementas12, observa-se a falta de

contextualização dos fundamentos das Ciências Sociais aos temas

relacionados à Nutrição:

11 Apesar de ter sido contemplada no questionário, a disciplina Saneamento não foi considerada

na análise uma vez que se verificou que a mesma não faz parte da grade curricular de várias IES. 12 Apesar de algumas grades estarem passando por reformulações, foram consideradas para essa análise as disciplinas e ementas vigentes na fase exploratória da pesquisa, ou seja, abril de 2007.

A Sociologia em questão. A “produção” da sociologia como ciência – E. Durkheim. Um outro caminho para a ciência – M. Weber. Um novo e radical caminho para a ciência – K. Marx.

(Ementa da disciplina Introdução à Sociologia II/ UERJ, disponível em http://www.nutricao.uerj.br/)

A problemática das ciências sociais: a questão do método, objetividade e subjetividade na sociologia; a noção de totalidade; a interdisciplinaridade. A emergência do pensamento sociológico. Introdução aos clássicos da sociologia: Marx, Weber e Durkheim. Alguns conceitos básicos da sociologia.

(Ementa da disciplina Sociologia / UFRJ, disponível em http://acd.ufrj.br/nutricao/grade_cv.htm)

Nesse contexto, as disciplinas denominadas de “introduções”, possuem a

mesma ementa para cursos muito diferentes, tanto as Engenharias, como para

Artes ou Nutrição. Ressalta-se, no caso da UFRJ, que além da distância teórica

dos conteúdos às reflexões pertinentes aos temas da alimentação, existe ainda

uma distância física envolvida, uma vez que a disciplina é oferecida em outro

campus, no centro da cidade (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais - IFCS)

local bem distante do campus da área de saúde (Centro de Ciências da Saúde

- CCS).

Nota-se, ao ler as ementas das disciplinas biológicas básicas de algumas

IES, que elas também não guardam relação com as disciplinas

profissionalizantes e com o conteúdo de Nutrição propriamente dito. São, da

mesma forma que as sociais básicas e as exatas básicas, desarticuladas com

a atuação futura do nutricionista. No entanto, isso parece não influenciar na

apreciação das disciplinas biológicas básicas como muito importantes pelos

alunos de graduação, conforme apontam os resultados.

Percebe-se assim, que não se pode atribuir o desinteresse dos alunos

pelas disciplinas sociais apenas à falta de articulação dessas disciplinas com a

formação específica do profissional. Conforme já discutido no Capítulo 1, item

1.2, existe uma explicação histórica e política que justifica o baixo status das

ciências humanas e sociais em detrimento às exatas. Dessa forma entende-se

que não se trata de uma problemática do curso de Nutrição apenas, estando

essa falta de diálogo presente em todas as áreas da Saúde.

Torna-se importante salientar que disciplinas das Ciências Sociais que

buscam um diálogo com os temas alimentação, saúde e Nutrição estão

presentes na grade curricular de três cursos de Instituições particulares, sendo

denominadas Alimentação, saúde e cultura (Centro Universitário Celso Lisboa

– CEUCEL), Antropologia e Nutrição Humana (Universidade Castelo Branco –

UCB) e Sociologia e Antropologia da Nutrição (Universidade Veiga de Almeida

– UVA). Nota-se a evidente diferença entre o conteúdo programático da

disciplina “Sociologia e Antropologia da Nutrição” quando comparado às

“introduções”:

-Importância da Sociologia e Antropologia para Nutrição. A ética e bioética envolvendo as três áreas. Pesquisa aplicada envolvendo os três temas. - (Des) nutrição: a questão da super e da subalimentação (aspectos sócio culturais) e estudos de casos; - Influências sócio-culturais na nutrição; Mortalidade infantil e desnutrição; - Nutrição, educação e aprendizagem: interfaces e aplicações na esfera pública e privada; - Heranças da culinária: “pratos típicos” (estudos de casos); Alimentação e diversidade cultural; Simbologia dos alimentos; - Ideologias dos meios de comunicação de massa; Representações simbólicas da saúde e da nutrição veiculadas: o real e o ideal; “As novas maneiras de se lidar com o corpo” as inter-relações beleza-alimentação, atividades físicas, sedução e competitividade; (Fonte:

http://uvaonline.uva.br/mkt/site/curso.asp?idcurso=12&idconteudo=19)

Chama atenção o fato desses terem sido cursos criados a partir do ano

de 2001, momento em que iniciou-se a reestruturação dos cursos com o

objetivo de adequação as Diretrizes Curriculares Nacionais de Graduação em

Nutrição (Resolução CNE/CES nº. 5, de 7 de novembro de 2001, disponível

em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES05.pdf).

A partir da constatação de ementas tão diferentes, formulou-se como

hipótese que alunos que tiveram disciplinas que buscam um diálogo com os

temas alimentação, saúde e Nutrição poderiam atribuir maior valorização às

disciplinas sociais e humanas do que os alunos que cursavam as disciplinas

sociais não adaptadas ao curso. Para isso, os alunos foram separados em dois

grupos: aqueles que tiveram disciplinas de ciencias sociais "aplicadas" (cerca

de 25% da amostra) e os que tiveram disciplinas gerais ou introdutorias.

Todavia, a hipótese, nesse caso, não foi validada, uma vez que o desempenho

desses dois grupos foi similar em relação a valorização das disciplinas.

Assim como tem ocorrido com outros cursos de graduação, o curso de

Nutrição passa atualmente pelas mudanças preconizadas pelas novas

Diretrizes Curriculares para o Curso de Nutrição (CANESQUI; GARCIA, 2005).

No entanto, conforme apontado por Santos, L.A. et al. (2005) ao analisarem

recentemente o projeto pedagógico da Escola de Nutrição da Universidade

Federal da Bahia, a maioria dos cursos ainda mantém um ensino tradicional,

fragmentado e conteudista.

Acredita-se que a estruturação das disciplinas sociais parece indicar

mais um cumprimento à legislação do que uma opção curricular propriamente

dita, uma vez que a carga horária é baixa e a presença das disciplinas sociais e

humanas nos currículos parece ocorrer de forma superficial e inespecífica.

Cabe ressaltar que a comparação do nome das disciplinas ou a

observação das ementas dos cursos representam critérios superficiais de

análise, uma vez que existe uma grande flexibilidade da ementa de curso, que

pode ser trabalhada de diferentes formas dependendo do professor e das

discussões decorrentes das aulas, questão que não foi aprofundada por não

fazer parte do escopo deste trabalho.

4.2.1. em situações contextualizadas

Como hipótese inicial imaginou-se que as disciplinas sociais poderiam

assumir maior importância quando vinculadas a situações concretas e factíveis.

Assim, foram oferecidas aos alunos duas situações, solicitando-os a

avaliar a aplicação dos conteúdos de um conjunto de disciplinas para o

exercício profissional. As situações e os respectivos resultados das respostas

encontram-se descritos a seguir:

• Situação 1

Caso, após formada (o), você seja convidada (o) para integrar uma equipe para

implementar o Programa de Alimentação Escolar em um município da zona rural do Rio

Grande do Norte, assinale o quanto você avalia que os conteúdos das disciplinas abaixo serão

importantes para você :

(Enunciado da questão 31 – Anexo II)

Tabela V

Grau de importância atribuido às disciplinas em sit uações

contextualizadas – Situação 1

Disciplinas Muito

importante

Importante Pouco

importante

Nada

importante

Não sabe

Adm. dos Serviços de Alimentação 507 (64,2%) 234 (29,2%) 32 (4,1%) 5 (0,6%) 15 (1,9%)

Antropologia 22,7% (178) 307 (39,1%) 222 (28,3%) 40 (5,1%) 38 (4,8%)

Bromatologia

Dietoterapia

Educação Nutricional

Nutrição Normal

215 (27,6%)

505 (65,1%)

680 (86,3%)

484 (61,7%)

322 (41,4%)

199 (26,6%)

96 (12,2%)

257 (32,8%)

129 (15,9%)

34 (4,4%)

3 (0,4%)

14 (1,8%)

19 (2,4%)

5 (0,6%)

0 (0%)

2 (0,3%)

98 (12,6%)

33 (4,3%)

9 (1,1%)

27 (3,4%)

Nutrição em Saúde Pública 616 (79,2%) 134 (17,2%) 15 (1,9%) 2 (0,3%) 11 (1,4%)

Psicologia 343 (44%) 337 (43,3%) 80 (10,3%) 8 (1%) 11 (1,4%)

Sociologia 206 (26,5%) 365 (47%) 155 (19,9%) 32 (4,1%) 19 (2,4%)

Técnica e Dietética 559 (70,9%) 173 (22,0%) 25 (3,2%) 5 (0,6%) 26 (3,3%)

• Situação 2

E no caso de você passar a atuar como profissional com o atendimento clínico

individualizado no município de Niterói e ali se deparar com o caso de um paciente idoso,

obeso, de baixa renda e apresentando sinais de depressão. Assinale o quanto você avalia que

os conteúdos das disciplinas abaixo serão importantes para você:

(Enunciado da questão 32 – Anexo II)

Tabela VI

Grau de importância atribuido às disciplinas em sit uações

contextualizadas – Situação 2

Disciplinas Muito

importante

Importante Pouco

importante

Nada

importante

Não sabe

Adm. dos Serviços de Alimentação 252 (32,1%) 232 (29,7%) 211 (27,0%) 63 (8,1%) 25 (3,2%)

Antropologia 175 (22,4%) 307 (39,3%) 208 (26,6%) 59 (7.6%) 32 (4,1%)

Bromatologia

Dietoterapia

Educação Nutricional

Nutrição Normal

196 (25,2%)

667 (85,3%)

649 (82,7%)

475 (61,3%)

271 (34,9%)

86 (11,0%)

112 (14,3%)

229 (29,5%)

153 (19,7%)

6 (0,8%)

13 (1,7%)

32 (4,1%)

55 (7,1%)

0 (0%)

1 (0,1%)

6 (0,8%)

102 (13,1%)

23 (2,9%)

10 (1,3%)

33 (4,3%)

Nutrição em Saúde Pública 422 (54,2%) 222 (28,5%) 103 (13,2%) 19 (2,4%) 13 (1,7%)

Psicologia 608 (78,0%) 135 (17,3%) 24 (3,1%) 5 (0,6%) 7 (0,9%)

Sociologia 293 (37,8%) 288 (37,1%) 141 (18,2%) 35 (4,5%) 19 (2,4%)

Técnica e Dietética 576 (73,6%) 156 (19,9%) 26 (3,3%) 7 (0,9%) 18 (2,3%)

A partir dos resultados mostrados nas tabelas V e VI, evidencia-se

novamente uma baixa importância atribuida pelos alunos para as Ciências

Sociais, Sociologia e Antropologia, cerca de 33% para Antropologia e 23% para

Sociologia (resultados referentes ao somatório das respostas pouco importante

e nada importante).

Por outro lado, em ambas as situações propostas, a disciplina Educação

Nutricional foi considerada muito importante ou importante por quase a

totalidade dos alunos. A partir de ementas dos cursos, observa-se que a

reflexão crítica necessária à prática do profissional de Nutrição encontra-se

preconizada na disciplina Educação Nutricional.

A disciplina integra conhecimentos teóricos e práticos dos campos de educação, saúde e nutrição, subsidiando a reflexão crítica sobre o papel de educador do profissional nutricionista. Além disso, instrumentaliza o aluno para o desenvolvimento de práticas educativas nas diferentes áreas de atuação.

(Fonte: http://www.nutricao.uerj.br)

Conceito, importância, princípios e objetivos da educação nutricional. Papel que desempenha a educação nutricional no desempenho dos hábitos alimentares. Aplicação de meios e técnicas do processo educativo. A educação

nutricional para diferentes níveis socio-econômicos e culturais da comunidade, visando a mudança de conduta alimentar.

Fonte: http://www.nutricao.ufrj.br/ementa.php#37)

Conforme discutido por Fonseca et al. (2007), é na disciplina de

Educação Nutricional que os conteúdos das ciências sociais são efetivamente

pensados, discutidos e relacionados com a prática profissional dos

nutricionistas. No entanto, os autores destacam que essa discussão,

geralmente ocorrida por volta do 6º período, não leva em consideração os

conteúdos específicos das disciplinas “básicas” de ciências sociais, ministradas

nos primeiros períodos.

Não se pode deixar de notar que, apesar de promover um diálogo das

Ciências Sociais com a Nutrição, a Educação Nutricional apresenta uma carga

horária praticamente igual às disciplinas Sociais. Conforme problematizado por

Canesqui e Garcia (2005), as disciplinas profissionalizantes com interface com

as ciências sociais e humanas, como a Educação Nutricional e a Saúde

Pública, representam, em média, apenas 3,6% da carga horária total do curso.

Uma outra disciplina que mereceu destaque na Situação 1 foi a Nutrição

em Saúde Pública, tendo obtido 96% das respostas Muito importante e

importante. Já na Situação 2, foi a Dietoterapia que obteve esse mesmo

resultado.

Diferente do que ocorre com as as disciplinas das ciências sociais

básicas, conclui-se que as disciplinas que relacionam e aplicam os conteúdos

das Ciências sociais à atuação profissional, como é o caso da Educação

Nutricional e a Nutrição em Saúde Pública, são tão reconhecidas pelos alunos

quanto as disciplinas profissionalizantes de base biológica.

4.2.2. em diferentes períodos

Com o objetivo de aprofundar a análise do grau de importância conferido

às disciplinas listadas no gráfico II, realizou-se o cruzamento de dados das

referidas disciplinas com as variáveis Alunos de diferentes períodos (alunos de

1º, 3º e 6º períodos) e Grau de importância atribuído às disciplinas. Com

relevância estatística (p ≤ 0,01), foram observadas diferenças quanto à

importância conferida às disciplinas de um período para o outro conforme

mostra a Tabela VII.

Como hipótese inicial, acreditava-se que um maior número de alunos do

primeiro período consideraria as disciplinas biológicas importantes e, em um

movimento decrescente, estariam os de terceiro e por último os do sexto

período. Esse movimento ocorreria em decorrência do desenvolvimento dos

estudos e da compreensão da multidimensionalidade do alimento e da

alimentação. Observando-se a Tabela VII, foi exatamente esse o movimento

encontrado a partir das respostas dos alunos.

Por outro lado, o movimento oposto era esperado para as disciplinas

sociais. Imaginava-se que no primeiro período os alunos não considerariam as

disciplinas sociais relevantes em sua formação e atuação profissional, uma vez

que o curso de Nutrição é classificado para vestibulares como um curso da

área Biológica, o que poderia causar nos alunos a idéia de que as disciplinas

relacionadas à área de Humanas ou Exatas fossem menos necessárias na

formação.

No terceiro período, após a maioria das disciplinas sociais já ter sido

ministrada, esperava-se que os alunos tivessem maior consciência da

importância das mesmas. No sexto período, além de terem concluído as

disciplinas sociais, os alunos têm contato com as disciplinas

profissionalizantes, tais como Nutrição em Saúde Pública, Educação

Nutricional, Ética Profissional, Administração dos Serviços de Saúde, as quais

propiciam diálogo com as disciplinas sociais.

Além disso, em algumas IES os alunos de sexto período também já

fazem estágio curricular e, portanto têm contato com o público. Devido a esses

fatores, acreditava-se que haveria uma associação entre os últimos anos do

curso e a valorização das disciplinas sociais. No entanto, a presença de

associação foi observada no sentido contrário. A maioria dos alunos que

consideram as disciplinas sociais importantes é do primeiro período,

observando-se o mesmo movimento decrescente encontrado na disciplina

Biologia quanto aos alunos de terceiro e sexto períodos.

Esperava-se um aumento gradativo na importância atribuída à disciplina

social no decorrer do curso, sendo ampliada a partir do momento que

(teoricamente) houvesse a contextualização dos referenciais teóricos da

sociologia da alimentação com as demais disciplinas.

Pode-se observar também que, de uma forma geral, os alunos de

primeiro período tendem a achar de forma mais significativa todas as

disciplinas como Muito importantes ou Importantes quando comparados aos

alunos de terceiro e sexto períodos. Conforme as disciplinas são ministradas

ocorre uma menor atribuição ao grau de importância das mesmas, no entanto,

sempre sobressaindo as disciplinas biológicas.

Conforme já observado, o presente estudo permitiu concluir que as

disciplinas sociais são consideradas de menor importância pelos alunos e o

inverso ocorre com as disciplinas biológicas. Porém, o fato de alunos de

primeiro período a considerarem mais importante que alunos de terceiro e

sexto períodos pode ser visto de maneira otimista e como um forte motivo de

discussão para mudanças na forma como essas disciplinas vêm sendo

conduzidas. Isso porque, acredita-se que os alunos de primeiro período entram

na graduação em Nutrição com expectativas em relação a todas disciplinas.

Preocupa o fato da importância das mesmas diminuir a partir do momento em

que elas são ministradas.

Não se pode deixar de considerar, nesse caso, que os indivíduos

estudados não foram acompanhados ao longo do tempo, não se tratando

portanto de um estudo coorte. O ideal seria que os mesmos alunos fossem

observados por todo o período de seguimento, iniciando-se o estudo no

primeiro período e acompanhando-os até o sexto. No entanto, o tempo

destinado a esse estudo não possibilitou essa análise.

4.2.3. em diferentes IES (Públicas versus Privadas)

O ensino superior vem se tornando progressivamente acessível às

classes populares no Brasil. A expansão numérica e regional dos cursos

superiores, sobretudo privados, entre as décadas de 1960 e 1980 possibilitou a

entrada de um “novo” estudante do ensino superior, não mais necessariamente

oriundo das classes dominantes, portanto nem sempre munido dos

instrumentos fornecidos por famílias com maior grau de escolaridade

(SAMPAIO, 2000).

Uma problemática que se configura como consequência da expansão

dos cursos superiores é o despreparo do aluno proveniente do ensino médio,

particularmente em faculdades privadas, onde a seleção pelo vestibular

geralmente não ocorre de forma tão rigorosa. A respeito da formação do futuro

nutricionista, Banduk et al. (2009) apontam o perfil do aluno como um fator

importante para a compreensão e aproveitamento de conteúdos, uma vez que

a falta de amadurecimento seria decisivo nesse sentido. A participação dos

alunos como sujeitos protagonistas de seus processos de formação é

considerada pelos autores como fundamental na formação de profissionais

mais conscientes, críticos e envolvidos com problemas sociais.

Uma das questões que surgiram com o decorrer dessa pesquisa

baseava-se em verificar se os estudantes de IES públicas percebiam as

disciplinas sociais de forma diferente dos estudantes de IES privadas. A partir

de testes de hipótese a análise de dados verificou relevância para essas

variáveis, conforme discute-se a seguir.

Ao realizar o cruzamento estatístico entre as variáveis Tipos de IES

(Públicas e Privadas) com as diferentes disciplinas observou-se diferenças

significativas para alguns casos (p ≤ 0,01), conforme mostrado na Tabela VIII.

Tabela VIII

Diferentes percepções de disciplinas entre alunos de IES públicas e

Privadas

Disciplinas

Muito Importante

Pub. Priv.

Importante

Pub. Priv.

Pouco Importante

Pub. Priv.

Nada Importante

Pub. Priv.

Não Sabe

Pub. Priv.

Anatomia ∗ 103

(49,3%)

376

(63,7%)

94

(45,0%)

192

(32,5%)

11

(5,3%)

14

(2,4%)

1

(0,5%)

3

(0,5%)

0

(0%)

5

(0,8%)

Genética ∗ 48

(22,9%)

227

(39,1%)

97

(46,2%)

239

(41,1%)

60

(28,6%)

86

(14,8%)

4

(1,9%)

16

(2,8%)

1

(0,5%)

13

(2,2%)

Bromatologia ** 47

(22,4%)

149

(26,3%)

63

(30,0%)

208

(36,7%)

40

(19,0%)

113

(19,9%)

26

(12,4%)

29

(5,1%)

34

(12,2%)

68

(12,0%)

ASA ** 39

(18,6%)

212

(37,1%)

52

(24,8%)

180

(31,5%)

76

(36,2%)

135

(23,6%)

31

(14,8%)

32

(5,6%)

12

(5,7%)

13

(2,3%)

Nutrição Normal ** 119

(56,7%)

356

(63,0%)

64

(30,5%)

165

(29,2%)

5

(2,4%)

27

(4,8%)

0

(0%)

6

(1,1%)

22

(10,5%)

11

(1,9%)

Nutrição Saúde

Publica**

88

(42,3%)

334

(58,5%)

63

(30,3%)

159

(27,8%)

46

(22,1%)

57

(10%)

6

(2,9%)

13

(2,3%)

5

(2,4%)

8

(1,4%)

A partir dos dados apresentados é possível perceber que alunos de IES

privadas consideram, de uma forma geral, todas as disciplinas listadas na

Tabela VIII mais importantes do que os alunos de IES públicas. Chama

atenção o fato de, dentre as seis disciplinas citadas, cinco delas (Anatomia,

Genética, Bromatologia, Administração dos serviços hospitalares e Nutrição

Normal) estarem mais voltadas para as discussões biológicas e técnicas da

área profissional. Nesse caso, acredita-se que a única disciplina que promove

um diálogo com as questões sócio-culturais é a Nutrição em Saúde Pública.

Assim, imagina-se que os estudantes de IES privadas tendem a valorizar mais

o enfoque biológico do que os de IES públicas.

Para as outras disciplinas, onde não houve relevância significativa ao se

realizar o teste estatístico, em particular a Sociologia e Antropologia, pôde-se

concluir que não são percebidas de forma diferente pelos estudantes de IES

públicas e particulares.

4.3. Questões sócio-culturais da alimentação na per spectiva dos

estudantes de Nutrição

∗ Disciplinas referentes à questão 24 do questionário (Anexo II) ∗∗ Disciplinas referentes à questão 32 do questionário (Anexo II)

Retomando-se a motivação inicial dessa pesquisa que considera a

contribuição dos conhecimentos das Ciências Sociais de fundamental

importância à formação do profissional de Nutrição, acredita-se que o

descrédito que as Ciências Sociais apresentam seja um fator importante para

explicar a falta de interesse e dificuldade de se aprofundar as discussões de

questões da compreensão do comportamento alimentar. Por outro lado, atribuir

a responsabilidade da falta dessas discussões apenas ao descrédito dado às

disciplinas sociais baseia-se em uma visão limitada e restrita da complexidade

de questões envolvidas com o tema.

Assim, optou-se em aprofundar essa discussão analisando-se as

concepções de Alimento e de Nutrição, a importância atribuída aos conteúdos

das Ciências Sociais e a abordagem sócio-cultural na orientação terapêutica.

4.3.1. Concepções de alimento e de Nutrição

Apesar da multidimensionalidade do alimento ser um tema cada vez

mais recorrente no campo das Ciências Sociais, esse trabalho partiu da

hipótese de que a complexidade da alimentação e do alimento é pouco

perceptível pelos estudantes de graduação de Nutrição. A partir da pergunta:

“O que você pensa a respeito das frases abaixo relacionadas ao alimento?”

foram oferecidas distintas definições para alimento, com o objetivo de discutir

a procedência da hipótese formulada. As frases propostas com as respectivas

respostas foram organizados na Tabela IX.

Tabela IX

Concepções de alimento de acordo com os estudantes de Nutrição

Definições Concordo

totalmente

Tendo a

concordar

Nem

concordo

nem discordo

Tendo a

discordar

Discordo

totalmente

1. Alimento é toda substância, ou mistura de substâncias, sólida, líquida, pastosa ou sob qualquer outra forma adequada, natural ou transformada, que servem, quando ingeridos pelo organismo humano, para a nutrição.

485

(61,8%)

220

(28%)

47

(6%)

26

(3,3%)

7

(0,9%)

2. Alimento é vida, é energia, é a força motora do nosso corpo, é fator de geração de saúde física, mental e emocional.

540

(69,2%)

192

(24,6%)

39

(5,0%)

9

(1,2%)

0

(0%)

3. Ao ingerir um alimento, o homem se nutre de símbolos e mitos.

117

(15,5%)

217

(28,7%)

237

(31,4%)

121

(16,0%)

63

(8,3%)

4. Para ser considerado alimento, um produto natural deve possuir um significado em um sistema complexo de comunicação, de situações, de imagens e de condutas.

88

(11,3%)

197

(25,3%)

285

(36,6%)

127

(16,3%)

81

(10,4%)

5. Alimento é toda a substância utilizada pelo homem como fonte de matéria e energia para realização das funções vitais.

425

(54,4%)

262

(33,5%)

63

(8,1%)

26

(3,3%)

5

(0,6%)

6. Alimento é todo material que o organismo recebe para satisfazer suas necessidades de manutenção, crescimento, trabalho e restauração dos tecidos.

430

(55,1%)

256

(32,8%)

59

(7,6%)

29

(3,7%)

7

(0,9%)

As afirmativas foram escolhidas baseadas em diferentes enfoques, sendo

a primeira uma definição técnica da ANVISA, a segunda possuidora de uma

visão holística de vida e energia, a terceira e quarta fundamentadas em

discussões da socioatropologia da alimentação e as duas últimas criadas a

partir de adaptações de definições de Biologia voltadas ao ensino médio.

Conforme observado na Tabela IX, as frases que apresentaram maiores

índices de concordância foram em primeiro lugar a definição holística Alimento

é vida, é energia, é a força motora do nosso corpo, é fator de geração de saúde

física, mental e emocional, seguida pela definição técnica da ANVISA, Alimento

é toda substância, ou mistura de substâncias, sólida, líquida, pastosa ou sob

qualquer outra forma adequada, natural ou transformada, que servem, quando

ingeridos pelo organismo humano, para a nutrição. As outras duas definições

biológicas de alimento cujos princípios estão associados às funções vitais

também obtiveram um alto índice de concordância, tendo sido marcado, neste

caso, concordo totalmente por mais de 50% dos alunos.

Por outro lado, as frases que obtiveram um maior número de discordância

foram aquelas relacionadas aos conceitos das Ciências Sociais, capazes de

associar aos alimentos os aspectos simbólicos e culturais. Nesses casos,

chama atenção que mais de 30% dos alunos nem concordam nem discordam

com as afirmativas, sugerindo que cerca de 1/3 dos alunos não têm uma

opinião formada a respeito da multidimensionalidade do alimento.

Acrescenta-se a essa discussão uma observação relevante no que se

refere aos conceitos de estudantes de IES públicas e particulares. Ao realizar-

se o cruzamento estatístico das variáveis concepções de alimento e Tipos de

IES, observou-se relevância significativa (p ≤ 0,01) referente a definição “Ao

ingerir um alimento, o homem se nutre de símbolos e mitos”. Conforme

mostrado na Tabela X, os alunos de IES públicas foram os que atribuíram

maior importância a esse conceito, essencialmente voltado para as discussões

das ciências sociais.

Tabela X

Diferenças atribuídas pelos estudantes de IES públi cas e

particulares à definição Ao ingerir um alimento, o homem se nutre de

símbolos e mitos

IES Públicas IES Privadas

Concordo totalmente 57 (27,5%) 60 (10,9%)

Tendo a concordar 59 (28,5%) 158 (28,8%)

Nem concordo nem discordo 55 (26,6%) 182 (33,2%)

Tendo a discordar 24 (11,6%) 97 (17,7%)

Discordo totalmente 12 (5,8%) 51 (9,3%)

Além de questionados com relação às concepções de alimento,

considerou-se pertinente analisar as concepções dos estudantes referentes à

Nutrição. Para isso, à exemplo da questão anterior, foram selecionadas sete

definições com diferentes enfoques, solicitando aos alunos que expressassem

uma opinião quanto a concordância em cada uma delas. As definições

acompanhadas dos respectivos resultados podem ser observadas na tabela

XI.

Tabela XI

Concepções de Nutrição de acordo com os estudantes de Nutrição

Definições13 Concordo

totalmente

Tendo a

concordar

Nem

concordo

nem discordo

Tendo a

discordar

Discordo

totalmente

1. A nutrição é o estudo dos alimentos, dos nutrientes e outras substâncias que eles contêm, sua ação, interação e balanço em relação à saúde e enfermidade (Conselho de Alimentos e Nutrição da Associação Médica Norte-Americana)

560

(70,4%)

200

(25,2%)

24

(3,0%)

8

(1,0%)

3

(0,4%)

2. A nutrição é o estudo dos processos por meio dos quais o organismo ingere, absorve, transporta, utiliza e excreta as substâncias alimentícias (Conselho de Alimentos e Nutrição da Associação Médica Norte-Americana)

347

(44%)

291

(36,9%)

96

(12,2%)

41

(5,2%)

13

(1,6%)

3. A nutrição é o estudo da relação entre o homem e o alimento (Frederik Stare)

384

(49,5%)

257

(33,2%)

95

(12,3%)

27

(3,5%)

12

(1,5%)

4. A nutrição é o estudo das maneiras segundo as quais se conduz a existência; arte de viver. (Hipocrates e Platão)

108

(13,8%)

197

(25,3%)

269

(34,5%)

125

(16,0%)

81 (10,4%)

5. A nutrição é o estudo das especificidades biológicas dos alimentos e em sua relação com a saúde dos indivíduos (Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica)

434

(55,5%)

278

(35,5%)

53

(6,8%)

14

(1,8%)

3

(0,4%)

6. A nutrição é o estudo e o controle da relação homem-alimento para preservar a saúde humana (Dicionário das Profissões, Guia do estudante – Abril)

457

(58,1%)

252

(32,0%)

56

(7,1%)

19

(2,4%)

3

(0,4%)

7. A nutrição é o estudo dos processos de contaminação e prevenção dessa contaminação, pelo cultivo dos alimentos, pelos processos de preparação, condicionamento, distribuição, consumo e política de preços dos alimentos (Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica)

277

(35,0%)

276

(34,9%)

128

(16,2%)

72

(9,1%)

38

(4,8%)

Um resultado bastante similar ao que foi observado nas concepções de

alimento foi também evidenciado ao se analisar as concepções de Nutrição.

Quase a totalidade dos alunos relaciona a Nutrição com a saúde e nutrientes.

Conceitos mais amplos, que fogem a discussão biológica, relacionados à

produção e distribuição, como também os que enfatizam a existência e “arte de

viver” possuem maior discordância.

Assim, percebe-se que as concepções dos estudantes a respeito do

alimento e da ciência Nutrição estão muito mais associadas aos conceitos de

13 Apesar de constarem na Tabela XI, as referências não foram informadas no questionário, uma

vez que poderiam influenciar as respostas.

matéria e energia do que a outros significados sócio-culturais. Esse fato

representa uma barreira para a prática educativa do nutricionista na medida em

que o profissional precisa conhecer a complexidade do alimento e da

alimentação, com o objetivo de compreender os significados que os indivíduos

atribuem à prática alimentar.

Esse conhecimento pode tanto se dar a partir das exigências que o

trabalho cotidiano impõe aos profissionais ou ser algo que desde o princípio –

com o auxílio das reflexões e discussões desenvolvidas em diversas áreas do

conhecimento, porém especialmente nas ciências sociais – é posto em

perspectiva por aqueles que trataram de questões relacionadas ao fenômeno

alimentar. Assim, entende-se que, ao considerar o caráter multidimensional da

alimentação, é razoável estabelecer uma aproximação entre as ciências sociais

e as ciências da saúde.

4.3.2. Conteúdos sociais

Com a intenção de entender como os conteúdos das Ciências Sociais são

percebidos pelos estudantes para o exercício profissional de um Nutricionista,

adotou-se a organização de Giddens (2002) que estrutura os conteúdos da

Sociologia em onze temáticas, com o objetivo de abranger a amplitude de

discussões desta Ciência. A partir da análise das porcentagens de respostas

(Gráfico III), observa-se que o tema Corpo e sociedade foi o conteúdo que

obteve o maior grau de importância, atingindo 90% ao se somar as respostas

Muito importante e Importante.

Gráfico III– Grau de importância atribuído aos cont eúdos das Ciências Sociais

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Estra

tific

ação

soc

ial e

est

rutu

ra d

e cl

asse

s

Iden

tidad

e e

dive

rsid

ades

cul

tura

lId

eolo

gia,

vis

ão d

e m

undo

Org

aniz

ação

pol

ítico

-par

tidár

ia

Div

isão

do

traba

lho

e de

pend

ênci

a ec

onôm

ica

Tipo

s de

org

aniz

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s re

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sas

Car

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gani

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tidad

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e se

xual

idad

e

Glo

baliz

ação

dos

mei

os d

e co

mun

icaç

ão

Filo

sofia

e é

tica

Muito importante Importante Pouco importante Nada importante Não sabe

Refletindo sobre as questões do corpo na contemporaneidade, Santos,

L.A. (2008) discute que apesar das preocupações com o corpo não serem um

fenômeno recente, a importância que este tema assume no século XXI é

incontestável, descrevendo-o como um objeto privilegiado da reflexão sobre a

vida social e a condição humana (SANTOS,L.A. 2008, p.26).

Cabe ressaltar que o conjunto de comportamentos que define o que é ser

saudável atualmente envolve um corpo magro, jovem e bonito, esteriótipo de

perfeição frequentemente difundido pela mídia. O culto a um corpo idealizado

confunde-se com a busca incessante à saúde perfeita e aos discursos

hedonistas. Assim, tem-se um indivíduo cada vez mais submetido às

cobranças e culpas originados de discursos estéticos, preocupações com a

saúde e bem estar, condição caracterizada por Santos, L.A. (2008) como

trilogia juventude-saúde-beleza.

Considerando-se que a busca pelo corpo perfeito envolve um conjunto

de práticas de autocuidado, entende-se que a promoção da alimentação

saudável juntamente com a prática de atividades físicas, são os pilares mais

importantes para o alcance desse ideal. Neste contexto, o profissional de

Nutrição tem o controle do que se deve ou não comer, construindo um conceito

de alimento-medicamento usado tanto para tratar quanto para prevenir

doenças. Dessa forma, a partir da compreensão da evidência que o corpo tem

assumido na contemporaneidade, entende-se o porquê do tema Corpo e

Sociedade ser percebido pelos estudantes de Nutrição como o mais importante

assunto das Ciencias Sociais.

Outro tema que mereceu destaque quanto a importância no exercício

profissional do nutricionista foi Identidade e diversidade cultural, seguido por

Filosofia e ética e Estratificação social e estrutura de classes.

Um dos assuntos menos importantes, segundo os estudantes

questionados, foram Tipos de organizações religiosas, assumindo a décima

colocação dentre os onze temas em questão. Esse é um resultado que merece

uma reflexão na medida em que o campo das religiões tem um papel

fundamental no cotidiano de seus adeptos sendo, consequentemente, um

importante componente para a compreensão do comportamento alimentar.

Flandrin e Montanari (1998), ao apresentarem um panorama da alimentação

mundial através da história das sociedades, observam e discutem as normas

islâmicas, judias, católicas romanas e cristãs ortodoxas, assim como suas

preferências, permissões, proibições e jejuns alimentares. Contextualizadas no

simbolismo das religiões, Carneiro (2003) discute que essas são regras

disciplinares que buscam o autocontrole permanente de seus seguidores,

influenciando os modos de agir, sentir e pensar desses indivíduos:

As regras disciplinares sobre alimentação podem ser anti-hedonistas, evitando o prazer produzido pelo alimento tornando-o o mais insípido possível, ou podem ser pragmáticas, ao evitar alimentos que sejam demasiadamente ‘quentes’ ou ‘passionais’. Os herbários medievais identificavam em diversos alimentos, tais como as cenouras ou alcachofras, fontes de excitação sexual. As regras budistas eliminam até mesmo a cebola, a cebolinha e o alho, por considerarem que essas inflamam as paixões. (CARNEIRO, 2003, p.119)

Da mesma forma, Corrêa (2005) entende que a comida tem um papel

fundamental na religião a partir da descrição da culinária ritual no batuque do

Rio Grande do Sul. Considerando-se que o que se come é tão importante

quanto quando se come, onde se come e com quem se come, entende-se que

o contexto religioso não segue a lógica da formação bioquímica objetiva que

entende e classifica os alimentos baseados em valores energéticos,

vitamínicos ou proteicos.

Contudo, apesar de toda essa discussão, os resultados dessa pesquisa

mostram que o estudante de Nutrição não percebe a temática religião como um

conteúdo importante para seu exercício profissional.

No que se refere à organização sócio-política, assunto considerado

pelos estudantes o menos importante, apesar de um tema de grande interesse

em discussões da Sociologia, entende-se que essa temática se relaciona

incidentalmente com o tema de alimentação, no que se refere, por exemplo, às

discussões sobre políticas públicas ou processos relacionados ao

estabelecimento de políticas sociais e econômicas relacionadas à produção,

distribuição e consumo de alimentos.

4.3.3. Abordagem sócio-cultural na orientação terap êutica

Um outro tipo de questão visando analisar como as condições sócio-

culturais da alimentação são percebidas pelos estudantes de Nutrição foi

proposta aos entrevistados. Para tal, foram escolhidos diferentes títulos de

trabalhos científicos associados a um caso clínico, sendo eles basicamente

técnicos e biológicos ou apresentando uma interface da temática com as

ciências sociais e humanas. A seguir encontra-se descrito o caso clínico,

acompanhado pela tabela XII, onde são mostrados os resultados:

• Situação 3

José, 32 anos, IMC 36, nascido na zona rural do Ceará, trabalhador da

construção civil na Barra da Tijuca relata que vem ganhando peso desde que deixou sua

cidade, há 8 anos, onde, segundo ele, não havia trabalho nem alimento devido à seca. Para

tratar esse paciente, você considera que a leitura dos trabalhos abaixo pode ser:

(Enunciado da questão 34 – Questionário Anexo II)

Tabela XII

Grau de importância atribuido à leitura de trabalho s na

orientação terapêutica

Trabalhos Muito

importante

Importante Pouco

importante

Nada

importante

Não sabe

1) O papel dos hormônios leptina e grelina na

gênese da obesidade

204 (26,7%) 314 (41,1%) 110 (14,4%) 14 (1,8%) 120 (15,7%)

2) Transtornos alimentares: classificação e

diagnóstico

286 (37,8%) 313 (41,4%) 105 (13,9%) 23 (3,0%) 29 (3,8%)

3) Renda e pobreza em famílias no meio rural do

nordeste

4) Hábitos e padrões alimentares de um grupo

operário no Rio de Janeiro

5) Doenças cardiovasculares: perfil de

trabalhadores do sexo masculino na construção

civil

6)Comida de rico, comida de pobre: um estudo

sobre alimentação num bairro popular

354 (46,3%)

492 (63,8%)

400 (51,9%)

281 (36,4%)

302 (39,5%)

232 (30,1%)

275 (35,7%)

309 (40,0%)

80 (10,5%)

26 (3,4%)

57 (7,4%)

129 (16,7%)

4 (0,5%)

2 (0,3%)

7 (0,9%)

28 (3,6%)

24 (3,1%)

19 (2,5%)

32 (4,2%)

26 (3,4%)

Em uma análise inicial, apenas pelos títulos, dois dos trabalhos ‘O

papel dos hormônios leptina e grelina na gênese da obesidade’ e ‘Transtornos

alimentares: classificação e diagnóstico’ aparentam aprofundar a questão

biomédica, sem a pretensão de ampliar a discussão técnica com temáticas

sociais. Outros três trabalhos, todavia, têm como característica uma forte

tendência a dialogar e aprofundar nas discussões sócio-culturais uma vez que

possuem como objeto de estudo condições relacionadas a pobreza e hábitos

alimentares. Considera-se ‘Doenças cardiovasculares: perfil de trabalhadores

do sexo masculino na construção civil’ o trabalho mais duvidoso quanto ao

enfoque assumido, acreditando-se que o referido trabalho encontra-se em uma

posição intermediária no que se refere ao enfoque técnico biológico ou sócio-

cultural.

Contrariando os resultados das discussões anteriores, nesse caso

não se observou preferências para as respostas com uma visão mais biológica

do que social. Para quase todos os trabalhos propostos14, evidenciou-se um

índice de respostas muito importante e importante superior a 70%, conforme

14 A excessão nesse caso foi o trabalho ‘O papel dos hormônios leptina e grelina na gênese da

obesidade’ atribuindo-se esse fato ao alto índice de respostas não sabe.

mostrado na tabela XII.

A hipótese que se levanta para discutir a similaridade de importância

atribuída aos diferentes enfoques dos trabalhos baseia-se na discussão do

triângulo do comedor, apresentada por Corbeau (2002). Conforme

anteriormente definido, trata-se de uma discussão da socio-antropologia da

alimentação, onde o comportamento alimentar é resultado de uma trilogia que

associa: 1. o comedor socialmente identificado; 2. a situação dentro de um

contexto social ; 3. o alimento específico.

Assim, o fato de se considerar o contexto socio-cultural tão

importante quanto o enfoque técnico e biológico, o caso acima sugere que, ao

se perceber o indivíduo José, obeso, nascido na zona rural do Ceará,

trabalhador da construção civil tem-se o comedor socialmente identificado,

e que vem ganhando peso desde que deixou sua cidade a 8 a nos, onde

não havia trabalho nem alimento devido à seca considera-se a situação

dentro de um contexto social. Dessa forma, entende-se que os conteúdos das

ciências sociais passam a fazer maior sentido para os estudantes.

Chegou-se a mesma constatação a partir de outra questão, onde

uma situação foi proposta solicitando-se aos alunos que realizassem uma

ordenação numérica das respostas, estabelecendo uma relação de ordem

entre elas. Segue a referida situação acompanhada pelas condutas a serem

enumeradas:

• Situação 4

Ana, jovem de 17 anos, nascida e criada em uma pequena cidade do interior,

deixou a casa de seus pais para iniciar a faculdade e trabalhar em um escritório no Rio de

Janeiro. Depois de alguns meses morando sozinha, começou a perder peso. Ao ser consultada

ela alegou que não tem tempo para se alimentar. Enumere por ordem de preferência, de 1 a 6,

as condutas abaixo (1 para a conduta que você faria em um primeiro momento e 6 para a que

considera menos indicada):

a) Conhecer melhor a história de vida da paciente

b) Encaminhar Ana à psiquiatria

c) Discutir a qualidade da alimentação da paciente

d) Aplicar questionários de auto-respostas sobre imagem corporal

e) Induzir a paciente a se alimentar melhor.

f) Prescrever uma dieta normocalórica

(Questão 33 – Questionário

Anexo II)

A partir da análise das médias das respostas, as diferentes condutas

foram ordenadas por prioridade, conforme mostrado na Tabela XIII.

Tabela XIII - Ordem de prioridade de condutas

Conforme observado por Hill e Hill (2008), as escalas ordinais

possibilitam a avaliação de uns itens em relação aos outros, porém essa

alternativa não permite medir a magnitude das diferenças entre as categorias.

Assim, não se pretende discutir o quanto “Conhecer melhor a história de vida

da paciente” é considerada mais prioritária do que as outras condutas. O

interesse nesse tipo de questão justifica-se em analisar se existem importantes

diferenças atribuídas às variadas condutas.

Com esse objetivo, realizou-se a análise de variância de Friedman,

teste capaz de mostrar a relação entre variáveis em uma escala ordinal (HILL;

HILL, 2008). A partir do resultado do teste de hipótese (p≤0,01), verificou-se

que as cinco condutas apresentadas tem avaliações diferentes para a amostra

global.

Nota-se que as duas condutas que se apresentaram em primeiro

lugar de prioridade seriam desempenhadas de forma mais qualificada se

acionadas a partir de embasamentos de disciplinas humanas e sociais, como a

Condutas Médias

1) Conhecer melhor a história de vida da paciente 1,55

2)Discutir a qualidade da alimentação da paciente 2,41

3) Induzir a paciente a se alimentar melhor. 3,31

4)Aplicar questionários de auto-respostas sobre

imagem corporal 3,49

5)Prescrever uma dieta normocalórica 4,40

6)Encaminhar Ana à psiquiatria 5,17

antropologia e a sociologia. Nesse caso, assim como ocorrido na situação 3, a

contextualização do triângulo do comedor preconizada por Corbeau (2002)

permite a percepção da jovem Ana que, socialmente identificada saiu da casa

dos pais e passou a não ter mais tempo para se alim entar , ilustra um

indivíduo com características gastrolastress do Ethos complexados do muito,

condição que Corbeau (2002) denominou pequena anorexia.

Por outro lado, conforme discutido nas questões anteriores, as

disciplinas de base para a compreensão desse contexto não são reconhecidas

como importantes pelos estudantes para a prática do profissional de Nutrição.

Assim, têm-se novamente a percepção de que os conhecimento encontram-se

desassociados e fragmentados.

Essa discussão passa inevitavelmente pelo campo de análises de

currículos que, enquanto instrumento de compartimentalização de saberes, é

responsável em seu modelo tradicional em organizar o conhecimento em

dimensões temporais e espaciais, não considerando o conjunto de relações

dos conteúdos de cada área com os de outros campos do saber.

Uma das questões que têm sido discutidas na reformulação de

cursos na área de saúde é a chamada “inserção precoce” dos estudantes

(SAYEG, 1992; RIBEIRO et al., 2006). Tem-se a compreensão de o quanto

mais cedo o aluno tenha contato com a realidade dos serviços, melhor ele será

capaz de operacionalizar e aplicar os conhecimentos discutidos no curso,

sendo esta uma estratégia que visa tanto contextualizar os conteúdos, como

também combater a fragmentação do conhecimento.

Um interessante aspecto nessa discussão é a sua própria

denominação que abriga o termo “precoce”, dando um tom pejorativo à

proposta. Como salientam Martins et al. (2001), no momento em que esta

inserção ocorra de forma planejada, com a definição das competências e dos

limites de atuação dos estudantes, esta não pode ser chamada precoce, pois

ocorre de forma adaptada à capacidade dos alunos e às necessidades e

possibilidades dos serviços e da comunidade atendida. Na área da Nutrição

não identificamos estudos que discutam essa questão.Ainda em relação a

fragmentação de conteúdos na formação acadêmica na área da saúde, Maia

(2004) chama atenção para a origem do termo “disciplina”, proveniente da

expressão latina discere pueris – definido como aquilo que se ensina às

crianças, indicação clara de uma visão limitada e prescritora. Em uma crítica ao

processo de formação tradicional, o autor observa que a realidade profissional

é integral e complexa, não sendo portanto coerente o princípio da

fragmentação e da simplificação, característicos da abordagem exclusivamente

disciplinar.

A superação da transmissão de conteúdos considerados tão diversos

pode ser encontrada nas abordagens que Libâneo (2005) denomina holísticas.

Nesse contexto, Santos, A. (2008) assume a complexidade e a

transdisciplinaridade como princípios que contribuem para a superação tanto

da fragmentação como da hierarquização do conhecimento, cuja proposta é

religar os saberes compartimentalizados.

Essa mudança conceitual surge como um desafio da atualidade em

reconhecer, conforme assumido por Morin (2005), que o todo é maior do que a

soma de suas partes. A supervalorização da objetividade e da racionalidade

da atual estrutura educacional simplica e reduz os fenômenos complexos,

resultando em um excesso de conhecimentos justapostos, descontextualizados

e incapazes de integrar diferentes visões de uma mesma realidade (SANTOS,

A., 2008).

Entendendo-se que a forma hierarquizada como vem sendo

apresentado os conhecimentos é insuficiente para compreender a realidade,

em suas dimensões subjetivas e articuladas, torna-se evidente a necessidade

de uma maior presença transversal de conteúdos sociais em constante diálogo

com as outras disciplinas.

A respeito da transdisciplinaridade, Santos A. (2008) observa que os

próprios conceitos são criados pelos alunos a partir de relações horizontais e

verticais do conhecimento, promovendo um diálogo entre as diferentes áreas.

Da mesma forma, Maia (2004) percebe a estrutura de redes e conexões como

proposta curricular capaz de trazer o mundo real para o interior da instituição

de ensino, integrando os conteúdos em torno da situação, não em uma

sequência pré determinada, mas a medida que se tornam significativos.

Essa proposta que o autor denomina “currículo nuclear” possibilita ao

estudante o direcionamento de sua formação, estimulando o desenvolvimento

pessoal e profissional. A utilização de rede de artigos e textos complementares

substitui o tradicional ensino conteudista, referido por Paulo Freire (2006) como

“educação bancária” onde o professor, possuidor do saber, “deposita” a

informação no aluno, esperando vê-la repetida nas provas.

O perfil desejado para os profissionais de distintas profissões da área da

saúde é muito semelhante em seu núcleo comum, conforme evidenciado nas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Enfermagem,

Medicina e Nutrição (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2001). Para esses cursos

o conceito de competências profissionais é uma das premissas expressas na

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que fundamentam o

processo de formação através do aperfeiçoamento cultural, técnico e científico

do cidadão, da flexibilização dos currículos, da implementação de Projetos

Pedagógicos inovadores, numa perspectiva de mudança para a formação

profissional.

As mudanças curriculares, segundo Maia (2004) vão muito além da

reformulação de ementas de disciplinas ou de suas cargas horárias. Uma nova

proposta pedagógica baseada na aproximação dos estudantes aos problemas

da comunidade desde os primeiros períodos representa uma importante

estratégia capaz de formar recursos humanos voltados para as necessidades

sociais do país.

Nesse sentido, a formação no contexto do SUS exige que a escola

esteja efetivamente integrada com os serviços de atendimento em uma

proposta de aprendizagem a partir de experiências. Por outro lado, conforme

observado por Santos, A. (2008), a estrutura fragmentada nos institutos

isolados em suas especificidades representa um grande desafio em romper a

reprodução do sistema atual. Outra barreira que precisa ser transpassada é a

do preconceito introduzido pela hierarquização dos saberes, onde torna-se

necessário uma mudança conceitual, uma vez que não cabe uma

hierarquização entre as diferentes áreas do conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou analisar a importância das questões sócio-

culturais da alimentação, na perspectiva dos estudantes de Nutrição do

Município do Rio de Janeiro, com o intuito de refletir sobre as implicações da

consideração das práticas sociais e culturais para a formação superior em

saúde. Para isso, buscou-se entender o contexto histórico e social da criação

do curso de Nutrição e, posteriormente, utilizou-se o aporte teórico-conceitual

das sociologias e antropologias da alimentação, entendendo que essas

abordagens são capazes de aproximar diversas áreas do conhecimento.

Apesar dos limites que uma abordagem quantitativa apresenta para a

compreensão de significados, sentidos e valores de questões que emergem da

discussão alimentação e cultura, foi possível perceber com os resultados dessa

pesquisa que a forma desarticulada como as disciplinas sociais e biológicas

vêm sendo dadas não favorece a visão holística do ser humano e a

compreensão da totalidade dos problemas de saúde e alimentação. Isso

impossibilita que os alunos façam pontes entre as disciplinas biológicas e

profissionalizantes com as humanas e sociais, causando o não reconhecimento

da função de cada disciplina dentro do cronograma e do seu fundamento na

atuação profissional, resultando na subestimação por parte dos alunos das

referidas disciplinas e consequentemente, de seus conteúdos.

As disciplinas sociais não têm, na maioria das IES a proposta de refletir

sobre um específico campo das ciências sociais, o qual cada vez mais tem se

mostrado amplo. Estudos relacionados à alimentação, tanto na sociologia

(MENNELL et al., 1992, p.ex) como na antropologia (CONTRERAS; ARNAIZ,

2005, p.ex), têm sido recorrentes em várias partes do mundo e é exatamente

este tipo de discussão que poderia contribuir de forma significativa na formação

dos novos profissionais de Nutrição.

Nesse sentido, o distanciamento entre nutricionista e cliente, juntamente

com a dificuldade de compreensão por ambas as partes, é associada à falta de

aprofundamento nos estudos das ciências sociais e, consequentemente, na

abordagem das questões culturais e subjetivas durante a formação. Dessa

forma, acredita-se que a adoção de práticas na área da saúde mais

humanizadas que visam a melhoria das condições de vida da população,

considerando os diversos contextos a que os indivíduos encontram-se

submetidos necessitam da inclusão do olhar subjetivo, que trabalhe a

educação nutricional relacionada ao histórico social e cultural de cada sujeito,

em todas as grandes áreas da Nutrição, seja na nutrição clínica, produção de

alimentos ou saúde pública, em um modelo de ensino transversal.

A falta de uma visão de totalidade proveniente de disciplinas autônomas

e isoladas precisa ser superada a partir da organização de currículos que

contextualizem e integrem esses conteúdos, situação em que se adota uma

abordagem temática numa perspectiva transdisciplinar do trabalho pedagógico

e onde se repensa o papel do educador no processo de ensino e

aprendizagem e na formação de alunos-cidadãos.

Os resultados dessa pesquisa sugerem que uma perspectiva que

invista na transdisciplinaridade tem maiores condições para responder aos

desafios da educação superior em saúde na contemporaneidade. Verificou-se

que os estudantes quando questionados em situações contextualizadas que

reproduzem a realidade, expressaram perceber uma maior importância de

conteúdos relacionados às disciplinas oriundas das ciências sociais.

Nesse sentido, além da adoção de estratégias inspiradas na

transdisciplinaridade, merecem atenção as discussões relacionadas à

integralidade ou mesmo iniciativas que se fundamentam no paradigma na

complexidade, além de práticas que promovam um inserção o mais cedo

possível de alunos nos serviços em regular e constante contato com a

comunidade.

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ANEXOS

I: Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de G raduação em

Nutrição

II : Questionário da pesquisa

III : Termo de Consentimento Livre e Esclarecido