93
LOUISE MORAES ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES NEURAIS EM MODELO MURINO DA DOENÇA DE HUNTINGTON Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho Rio de Janeiro 2007

ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

  • Upload
    hatram

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

LOUISE MORAES

ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE

PROGENITORES NEURAIS EM MODELO MURINO DA

DOENÇA DE HUNTINGTON

Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho

Rio de Janeiro 2 0 0 7

Page 2: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

LOUISE MORAES

ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE

PROGENITORES NEURAIS EM MODELO MURINO DA

DOENÇA DE HUNTINGTON

Orientação: Rosalia Mendez-Otero.

Co-orientação: Claudia Maria de Castro Batista.

Rio de Janeiro

2 0 0 7

ii

Page 3: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO VISANDO A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (FISIOLOGIA).

Banca examinadora: João Ricardo Lacerda de Menezes (UFRJ) Gabriel Rodríguez de Freitas (UFRJ) João Guedes da Franca (UFRJ)

iii

Page 4: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

AGRADECIMENTOS

À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados

na elaboração deste trabalho me conduziu de maneira dedicada e competente,

norteando-me em momentos cruciais.

À professora Claudia Maria de Castro Batista, pela participação

fundamental ao definir o ponto de partida da nossa pesquisa e fornecer os

animais transgênicos utilizados como base desta dissertação.

Ao professor Marcelo Felippe Santiago, com quem pude esclarecer muitas

questões práticas, por compartilhar com tão boa vontade seus conhecimentos,

pela obtenção de imagens no microscópio confocal e pela revisão deste

trabalho.

A todos os amigos e colegas que com sua simpatia motivaram-me durante

os últimos dois anos, especialmente: Denise de Freitas Campos, pela infinita

paciência e disposição em auxiliar; Catarine Conti Lima, Arthur Giraldi

Guimarães e Ricardo Azevedo, que em atenção ao estudo disponibilizaram seu

tempo para discutir eventuais questões que surgiam; e Ana Carolina Machado

de Oliveira, pela gentileza, fator indispensável ao convívio diário.

À Marília Kimie Shimabukuro, por estar presente durante meus primeiros

passos na atividade de pesquisa contribuindo para o desenvolvimento deste

trabalho.

A Paulo Emílio Correa Leite, cujo entusiasmo pela ciência me incentiva a

cada dia e cujo humor torna leve qualquer tarefa.

Aos meus pais, por prezarem pela educação tornando possível este passo

da minha vida; e finalmente aos meus avós e minhas irmãs, pela companhia e,

especialmente, pelos ouvidos sempre acessíveis.

iv

Page 5: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

“O conhecimento humano e o poder humano são um só, pois onde a causa

não é conhecida, o efeito não pode ser produzido. A natureza, para ser

comandada, deve ser obedecida... A sutileza da natureza é muitas vezes maior

do que a sutileza dos sentidos e da compreensão.”

Francis Bacon

v

Page 6: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

RESUMO

A doença de Huntington (DH) é uma patologia neurodegenerativa

caracterizada pela perda seletiva de neurônios estriatais. A zona subventricular

(SVZ) de mamíferos adultos contém uma população de precursores neurais

envolvidos na neurogênese pós-natal. Estas células migram a partir da SVZ ao

longo da via migratória rostral (RMS) a se diferenciam em neurônios do bulbo

olfatório no cérebro adulto. Neste trabalho, procuramos verificar os efeitos da

mutação na DH sobre a neurogênese no cérebro adulto utilizando a linhagem

R6/2, um modelo murino da DH. Nosso objetivo foi verificar as possíveis

alterações na proliferação e na migração dos progenitores neurais neste

modelo experimental utilizando a incorporação de bromodeoxiuridina (BrdU)

como metodologia para identificar estes progenitores. A marcação por BrdU

não evidenciou diferenças na proliferação de precursores entre camundongos

R6/2 e camundongos selvagens. A migração de neuroblastos em direção ao

bulbo olfatório era significativamente reduzida em camundongos R6/2

sintomáticos (n=4, p≤ 0,05), entretanto não evidenciamos migração para as

regiões cerebrais afetadas pela DH. A análise de duas moléculas expressas na

migração ao longo da RMS, a molécula de adesão celular polissialilada e o

gangliosídeo 9-O-acetil GD3, não mostrou diferenças entre os animais afetados

e os selvagens assim como o número de células em processo de apoptose na

RMS. Desta forma, o aumento de células na porção caudal da RMS de

camundongos R6/2 sugere uma alteração migratória nesta via.

vi

Page 7: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

ABSTRACT

Huntington´s disease (HD) is a neurodegenerative disorder characterized

by a selective loss of striatal neurons. The mammalian brain subventricular

zone (SVZ) contains a population of neural precursor involved in postnatal

neurogenesis. The newly generated cells migrate from the SVZ through the

rostral migratory stream (RMS) and differentiate into mature olfactory bulb

neurons throughout adulthood. In the present work we sought to investigate the

effects of the HD mutation in the proliferation and migration of neural

progenitors using bromodeoxyuridine (BrdU) incorporation as a marker of

progenitor cells. BrdU labeling did not show a difference in the proliferation

between WT and R6/2 symptomatic animals. The migration of neuroblasts

towards the olfactory bulb was significantly diminished in symptomatic R6/2

(n=4, p≤ 0,05) but we failed to find neuroblasts migrating to the cerebral regions

affected by HD. The expression of two molecules associated with migration in

the RMS, polysialylated neural cell adhesion molecule and 9-O-acetil GD3, as

well as the number of cells undergoing apoptosis in the RMS was similar in the

control and affected animals. The increased number of cells in the caudal RMS

of R6/2 mice suggests migratory alterations in this pathway.

vii

Page 8: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

LISTA DE FIGURAS _______________________________________________________________

1 Principais regiões acometidas na DH........................................................3

2 Progressão da DH em camundongos R6/2............................................... 7

3 Alteração da resposta motora de um camundongo com DH.....................9

4 Marcação por Fluoro-Jade-C...................................................................11

5 Células ependimárias como células-tronco............................................. 13

6 Astrócitos como células-tronco................................................................15

7 A via migratória rostral.............................................................................19

8 Imagem confocal de neuroblastos em associação com astrócitos......... 20

9 Três diferentes fases da migração na RMS............................................ 21

10 Gangliosídeo 9-O-acetil GD3.................................................................. 23

11 Gangliosídeo 9-O-acetil GD3 na RMS.................................................... 24

12 Expressão de PSA-NCAM.......................................................................25

13 Estrutura da PSA-NCAM......................................................................... 26

14 Interação mediada por NCAMs............................................................... 27

15 Incorporação de BrdU............................................................................. 32

16 Representação das regiões analisadas.................................................. 34 + 17 Células BrdU nas regiões proximais da RMS ....................................... 40 + 18 Células BrdU nas regiões distais da RMS............................................. 41

19 Possível acúmulo de células na porção proximal da RMS......................43

20 Migração de neuroblastos para regiões diferentes dos bulbos............... 44

21 Possível aumento da morte celular ao longo da RMS............................ 44

22 Expressão de PSA-NCAM na porção proximal da RMS......................... 46

23 Expressão de PSA-NCAM em porção distal da RMS............................. 46

24 Células marcadas com PSA-NCAM e SYTOX green..............................47

25 Célula expressando o gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em DH................... 49

26 Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 na RMS em selvagem........ 49

27 Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em DHs.............................. 50

28 Morte celular na RMS.............................................................................. 51

29 Neurônios em degeneração no corpo estriado de camundongo R6/2.... 53

30 Ausência de células marcadas por Fluoro-Jade-C em WTs................... 54

viii

Page 9: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

TABELA E GRÁFICOS _______________________________________________________________

Tabela de anticorpos......................................................................................... 35

+Células BrdU na RMS...................................................................................... 42 +Células PSA-NCAM na RMS............................................................................ 48

Células Fluoro-Jade-C+ na RMS........................................................................ 52

ix

Page 10: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

LISTA DE ABREVIATURAS _______________________________________________________________

BDNF Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (do inglês: Brain-Derived

Neurotrophic Factor)

BrdU Bromodeoxiuridina

BSA Albumina do Soro Bovino (do inglês: Bovine Serum Albumin)

CAG Citosina-Adenina-Guanina

CT Célula-Tronco

DAPI Do inglês: 4′,6-diamidino-2-phenylindole

DH Doença de Huntington

DNA Ácido Desoxirribonucléico (do inglês: DesoxirriboNucleic Acid)

FGF-2 Fator de Crescimento de Fibroblasto 2 (do inglês: Fibroblast

Growth Factor 2)

GFAP Proteína Glial Fibrilar Ácida (do inglês: Glial Fibrillary Acidic

Protein)

Htt Huntingtina

IT – 15 Do inglês: Interesting Transcript-15

OCT Resina Comercial para Criostato (do inglês: Optimal Cutting

Temperature)

PBS Salina Tamponada com Fosfato (do inglês: Phosphate Buffered

Saline)

PoliQ Poliglutamina

PPD Para-Fenileno-Diamina (do inglês: p-Phenylene-Diamine)

PSA-NCAM Molécula de Adesão Celular Polissialilada (do inglês:

Polysialylated Neural Cell Adhesion Molecule)

RMS Via Migratória Rostral (do inglês: Rostral Migratory Stream)

SGL Camada Subgranular (do inglês: Subgranular Layer)

SNC Sistema Nervoso Central

SVZ Zona Subventricular (do inglês: Subventricular Zone)

TUNEL Do inglês: Transferase Biotin-dUTP Nick End Labeling

vl Ventrículo Lateral

x

Page 11: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

SUMÁRIO ________________________________________________________________

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1

1 Doença de Huntington............................................................................... 1

1.1 A doença................................................................................................... 1

1.2 Anatomo-patologia.................................................................................... 2

1.3 Manifestações clínicas.............................................................................. 4

1.4 Bases moleculares.................................................................................... 5

1.5 O modelo experimental R6/2..................................................................... 7

1.6 Morte celular na doença de Huntington.................................................... 8

2 Utilização do Floro-Jade-C como marcador de morte celular................. 10

3 Terapias sugeridas para o tratamento da DH......................................... 11

4 Células-tronco no SNC adulto................................................................. 12

5 A zona subventricular e a via migratória rostral...................................... 16

5.1 Migração na RMS.................................................................................... 17

5.2 Moléculas envolvidas.............................................................................. 21

5.2.1 Gangliosídeo 9-O-acetil GD3 e migração celular.................................... 22

5.2.2 PSA-NCAM e migração celular............................................................... 24

6 Alterações migratórias geradas por lesões no SNC................................28

OBJETIVOS....................................................................................................... 30

MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................. 31

1 Animais.................................................................................................... 31

2 Metodologia para o emprego de BrdU como traçador celular................. 32

3 Processamento do material..................................................................... 33

3.1 Perfusão.................................................................................................. 33

3.2 Criocortes................................................................................................ 33

3.3 Imuno-histoquímica................................................................................. 35 +4 Quantificação de células BrdU na RMS................................................. 36

5 Aquisição de imagens............................................................................. 37

6 Análise estatística................................................................................... 37

RESULTADOS................................................................................................... 39

1 Incorporação de BrdU na RMS................................................................39

2 Expressão de moléculas associadas à migração na RMS......................45

xi

Page 12: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

3 Morte celular na RMS.............................................................................. 50

DISCUSSÃO...................................................................................................... 55

CONCLUSÕES.................................................................................................. 64

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................65

ANEXOS............................................................................................................ 78

xii

Page 13: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

INTRODUÇÃO

1 Doença de Huntington

Em 1872, George Huntington forneceu a primeira descrição completa da

doença que hoje recebe seu nome (HUNTINGTON, 1872). Esta patologia foi

inicialmente apresentada como coréia hereditária. Coréia (do grego “dança”) é uma

designação associada às alterações motoras que são observadas nos pacientes.

A Doença ou Mal de Huntington (DH) é uma patologia neurodegenerativa

relativamente rara, acometendo uma a cada dez mil pessoas no mundo todo. Apesar

dos esforços em se desenvolverem terapias para a cura, até o momento não existe

tratamento efetivo para a DH (MELONE et al., 2005; LI et al., 2005).

1.1 A doença

A DH pertence a uma família de doenças causadas pela expansão de um

segmento de poliglutaminas (poliQs) em determinadas proteínas. Na DH, a alteração

é causada por uma mutação no braço curto do quarto cromossomo, no qual o gene

IT – 15 (Interesting Transcript-15) ou huntingtin, é responsável pela codificação de

uma proteína essencial à sobrevivência: a huntingtina (htt) (BATES, 2001).

O gene huntingtin compreende 180kb e contém 67 éxons. No éxon 1, a

seqüência repetitiva de nucleotídeos citosina-adenina-guanina

(CAGCAGCAGCAG...) é responsável por codificar uma cauda de glutamina na

extremidade da htt. Genes huntingtin normais contêm 35 ou menos seqüências

CAG, enquanto o gene causador da doença contém 36 ou mais repetições. Este

1

Page 14: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

aumento de repetições resulta em uma cauda poliQ aumentada e, por mecanismos

ainda desconhecidos, faz com que neurônios de determinadas regiões cerebrais se

tornem particularmente vulneráveis à morte celular (COTRAN et al., 1991; BATES,

2001; SUGARS e RUBINSZTEIN, 2003).

Assim como qualquer outro caracter autossômico dominante herdado, a DH

possui algumas particularidades: Praticamente todos os pacientes têm um genitor

afetado, que por sua vez também possui um genitor afetado, e assim por diante

(COTRAN et al., 1991; WILLARD, 1991); Homens e mulheres exibem a

característica em proporções aproximadamente iguais e os dois sexos têm a mesma

probabilidade de transmitir a característica. Indivíduos heterozigotos afetados

transmitem a característica para aproximadamente metade das suas proles (JORDE,

2000). Entretanto, por mecanismos ainda desconhecidos, na DH não há diferença

na expressão fenotípica de homozigotos e heterozigotos (NARAIN et al., 1999).

A manifestação da DH ocorre habitualmente nas terceiras e quartas décadas

da vida e a sobrevida média é de 15 anos após o início dos sintomas, sendo

doenças cardiopulmonares e caquexia as causas mais freqüentes de morte nestes

pacientes. Sabe-se que o número de repetições trinucleotídicas é instável de uma

geração para outra e que quanto maior for este número, mais precoce será o

aparecimento dos sintomas (COTRAN, et al., 1991; ELIAS et al, 2001).

1.2 Anatomo-patologia

A htt contém 3.144 aminoácidos e massa molecular de aproximadamente

330kDa. Apesar desta proteína (tanto a normal quanto a mutante) existir nos mais

2

Page 15: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

variados tecidos, em associação com várias organelas no citoplasma e no núcleo, a

degeneração observada nos pacientes da DH é seletiva. Assim, o sistema nervoso

central (SNC) é primordialmente afetado e nele algumas regiões são mais afetadas

do que outras (LANDWEHRMEYER, 1995; CATTANEO et al., 2005). Existem

evidências de que também o músculo esquelético apresenta inclusões, o que deve

estar relacionado à atrofia muscular que é observada em estágios avançados da

doença (ORTH et al., 2003).

O núcleo caudado e o putâmen, que juntos compõem o corpo estriado, são

severamente afetados. Na fase mais adiantada, esta patologia também atinge o

córtex - principalmente as camadas profundas e os lobos frontais (TURMAINE et al.,

2000; ELIAS et al, 2001). Uma perda substancial também é observada no globo

pálido e no núcleo subtalâmico, e alguns estudos têm relatado perdas no hipotálamo

(KREMER et al., 1991). Assim, nos pacientes com DH há diminuição de até 7% do

volume cerebral total (AYLWARD, 1994). A Figura 1 ilustra as principais regiões

acometidas pela DH.

Figura 1: Principais regiões acometidas na DH (imagem adaptada de BEAR et al., 2001).

Núcleo

Caudado

Putâmen

Globo Pálido Núcleo Subtalâmico

3

Page 16: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

1.3 Manifestações Clínicas

“A doença comumente se inicia por leves abalos dos músculos da face, que

aumentam gradativamente em violência e variedade. As pálpebras são mantidas

piscando, a testa franzida depois elevada, o nariz torcido para um lado e depois para

o outro e a boca se volta em direções variadas, dando ao paciente a aparência mais

ridícula que se possa imaginar. Parece haver alguma força oculta, algo que está de

certa forma brincando com a vontade e de algum modo dificultando e pervertendo

seus desígnios; e depois que a vontade para de exercer sua força numa direção

qualquer, assume o controle e mantém a pobre vítima numa agitação contínua

enquanto ela permanece acordada” (HUNTINGTON, 1872).

As manifestações clínicas na DH abrangem distúrbios de movimentos,

alterações endócrinas e deterioração mental. Com a progressão da doença, os

movimentos tornam-se coreiformes (semelhantes a uma marcha dançante

espasmódica, que se sobrepõe aos movimentos voluntários e que desaparece

durante o sono). Ocorre, ainda, comprometimento da fala (disartria) e da deglutição

(disfagia), além de incontinência urinária. Na fase final da DH, os movimentos

coréicos podem desaparecer dando lugar à rigidez muscular. As alterações

endócrinas incluem distúrbios dos níveis de hormônios de crescimento e do

metabolismo de glicose, havendo inapetência, emagrecimento e conseqüente

aumento no catabolismo, que leva à caquexia (VONSATTEL e DIFIGLIA, 1998;

ELIAS et al, 2001). Os sintomas mentais abrangem a demência progressiva,

distúrbios de personalidade e alterações psiquiátricas.

4

Page 17: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

1.4 Bases moleculares

Desde a descoberta da mutação causadora da DH, há cerca de 14 anos

(GOLDBERG, 1993), muitos mecanismos têm sido propostos para se explicar a sua

patogênese. A htt é normalmente encontrada no citoplasma, enquanto a htt mutada,

capaz de formar agregados, é freqüentemente encontrada no núcleo dos neurônios.

Estas inclusões têm sido apontadas como fator crucial na patogênese da doença

(CATTANEO et al., 2005).

Muitas proteínas poliQ estão sujeitas a clivagem, e estudos têm atribuído um

papel tóxico aos produtos resultantes deste processo (CHAN et al., 2002). Também

a htt mutada é suscetível à clivagem efetuada por proteases, e sua porção N-

terminal possui a capacidade de unir-se a diversas proteínas (ELIAS et al, 2001).

Parece que o recrutamento de proteínas ativadoras e/ou regulatórias envolvidas na

transcrição, como CBPs (CREB-binding proteins), acaba por interferir em vias

transcripcionais. Esta hipótese é consistente com a regulação negativa de genes

específicos em modelos transgênicos da DH, como a redução da expressão de

genes que codificam fatores de crescimento, principalmente o BDNF (Brain-derived

neurotrophic factor) (SUGARS e RUBINSZTEIN, 2003).

Investigações são necessárias para que se compreenda por que os neurônios

estriatais são os alvos preferenciais e o mecanismo pelo qual a htt mutante conduz à

morte neuronal, mas já foi sugerido que o processo de clivagem possa variar de

acordo com a região cerebral, o que explicaria a característica seletiva da

degeneração na doença (SUGARS e RUBINSZTEIN, 2003).

O papel das inclusões observadas na DH é bastante controverso. Embora

alguns estudos tenham sugerido uma associação causal entre inclusões

5

Page 18: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

intranucleares e toxicidade, outros defendem que a formação de agregados poderia

não estar relacionada com a patogênese da doença mas, ao contrário, representaria

um mecanismo neuroprotetor. Quando os cérebros de pacientes com DH são

analisados após a morte, apenas 3-6% dos neurônios corticais apresentam

agregados. Alguns pesquisadores sugerem que esta população não estaria sofrendo

um processo de morte celular, mas teria “escapado” da morte ao seqüestrar a

proteína mutante (LI et al., 2005).

Recentemente tem sido sugerido ainda que a perda da função normal da htt

também deve contribuir para a patogênese da DH. Isso porque a htt selvagem é

requerida para a sobrevivência celular, e o impedimento da sua função correlaciona-

se à neurodegeneração tanto em animais selvagens quanto nos doentes. Da mesma

maneira, o aumento da sua expressão favorece a sobrevivência neuronal em

ambos. A visão de que pelo menos algumas das disfunções moleculares observadas

na DH sejam conseqüências da redução da atividade da htt selvagem é baseada

nos inúmeros papéis que ela possui, dentre eles a ligação com fatores de

crescimento (TOBIN e SIGNER, 2000; CATTANEO et al., 2005).

O desenvolvimento de modelos transgênicos de camundongos com a DH tem

contribuído para o entendimento da doença. Neste trabalho, enfatizaremos um dos

modelos experimentais para a DH: a linhagem de camundongos transgênicos R6/2,

que reproduzem muitas das características da DH humana (MANGIARINI et al.,

1996).

6

Page 19: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

1.5 O modelo experimental R6/2

Em 1996 foram desenvolvidos os primeiros modelos transgênicos para a DH:

camundongos R6/1 e R6/2. A linhagem R6/2 expressa o éxon 1 do gene huntingtin

humano contendo 150 repetições CAG e atualmente é a mais utilizada para o teste

de terapias nesta doença. Evidências apontam que os cérebros destes

camundongos apresentam características que já foram observadas nos encéfalos de

pacientes com DH (inclusões, alterações motoras e cognitivas) e que vários, se não

todos os aspectos da doença humana, são reproduzidos nos R6 (CARTER et al.,

1999).

Como podemos acompanhar na Figura 2, nos animais doentes os sintomas

motores começam com cerca de 3 semanas de idade, quando estes se tornam

hiperativos. Nesta idade, inclusões encefálicas já podem ser observadas.

Gradualmente, eles reduzem sua atividade motora e se tornam hipoativos. Assim,

com cerca de 8 semanas, os camundongos já apresentam um fenótipo neurológico

similar ao observado na doença humana, com alterações da marcha, movimentos

involuntários e deterioração da coordenação motora (LI et al., 2005). Observa-se

também uma resposta anormal dos membros, que são mantidos em flexão junto ao

tórax e o abdômen quando o animal é suspenso pela cauda (Figura 3) (MANGIARINI

et al., 1996). A rápida progressão da doença nos R6/2 torna relativamente fácil a sua

utilização para estudos experimentais.

7

Alterações na ex-pressão genética

Inclusões no córtex e déficit de aprendizado espacial

Inclusões no corpo estriado

Figura 2: Progressão da DH em camundongos R6/2 (adaptada de SUGARS e RUBINSZTEIN, 2003).

Page 20: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

1.6 Morte celular na DH

Estudos sugerem que a apoptose é o principal mecanismo de

neurodegeneração na DH (TURMAINE et al., 2000; TOBIN e SIGNER, 2000). Nestes

estudos, a morte por apoptose no cérebro de pacientes foi caracterizada pela

observação de alterações no núcleo dos neurônios em degeneração, como a

condensação e a fragmentação nuclear. Diversos autores afirmam ainda que a

presença de agregados de htt intranucleares é capaz de ativar a apoptose, seja pelo

aumento da expressão de caspases (ZERON, 2001 apud ELIAS et al., 2001), seja

pela superativação de receptores N-metil-D-aspartato (NMDARs) (DEIGNER, 2000

apud ELIAS et al., 2001). Outros trabalhos, entretanto, sugerem a ocorrência de um

mecanismo de morte celular não apoptótico na DH. Já foram observadas

características típicas de autofagia na morte celular induzida pela htt mutada, como

a formação de vacúolos citoplasmáticos. A expressão aumentada da htt mutada leva

ao acúmulo desta proteína em vacúolos nos neurônios estriatais, entretanto não se

sabe quais fatores seriam responsáveis pela sinalização que desencadearia a

autofagia, bem como se esta resposta seria citotóxica ou protetora (SAWA et al.,

2003).

Nos camundongos R6/2, pouca morte celular foi documentada. Os neurônios

em degeneração apresentam condensação do citoplasma e do núcleo, porém não

exibem fragmentação do DNA (SAWA et al., 2003). No córtex e no corpo estriado,

este pequeno número de neurônios atróficos é marcado intensamente por ósmio. O

mecanismo de morte destas células foi definido como “dark cell degeneration”, uma

descrição morfológica de morte celular que não representa apoptose nem necrose

(LI et al., 2005). Esta forma não apoptótica de morte celular na DH foi também

8

Page 21: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

sugerida por TURMAINE e colaboradores (2000), ao notarem que células em

degeneração (marcadas por azul de toluidina ou ósmio) não são TUNEL+. Ele

aponta que as características ultra-estruturais da morte celular na DH, tanto em

pacientes quanto no modelo R6/2, são diferentes daquelas que definem o processo

de apoptose. Por outro lado, já foram descritas células TUNEL+ em degeneração

nestes camundongos, o que sugere a ocorrência de apoptose no modelo

experimental. Estas observações devem implicar em mecanismos moleculares pelos

quais a htt mutada pode induzir tanto a apoptose quanto a resposta não apoptótica

(REDDY et al., 1998 apud SAWA et al., 2003). Como nunca foram encontrados

corpos apoptóticos TUNEL+ nos pacientes, TURMAINE e colaboradores (2000)

chamam a atenção para a necessidade de uma análise ultra-estrutural para se

afirmar se a morte nesta patologia se dá ou não por apoptose.

Figura 3: Alteração da resposta motora de um camundongo com DH (adaptada de MANGIARINI et al., 1996).

DHWT

9

Page 22: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

2 Utilização de Fluoro-Jade-C como marcador de morte celular

O Fluoro-Jade é um derivado aniônico de fluoresceína que tem sido descrito

como marcador específico de neurônios em degeneração, detectando tanto o

processo de necrose quanto o de apoptose (SCHMUED e HOPKINS, 2000). Não

existem referências de que este composto seja capaz de marcar “dark cell

degeneration” e talvez isso nunca tenha sido investigado diretamente.

O Fluoro-Jade-B e posteriormente o Fluoro-Jade-C foram desenvolvidos a

partir do composto original, de maneira a atingir maior resolução e contraste. Entre

eles, o Fluoro-Jade-C é o marcador mais sensível, isto é, possui maior afinidade por

componentes do tecido em degeneração. Assim, o Fluoro-Jade-C requer as menores

concentrações e o menor tempo de marcação, com a vantagem de se obter um

“background” reduzido. Em comparação a métodos anteriormente utilizados para se

detectar neurodegeneração, este é um método rápido e simples, que não utiliza

reagentes tóxicos, podendo também ser utilizado em combinação com diversas

técnicas de imunofluorescência (SCHMUED et al., 2005).

A identidade exata do Fluoro-Jade ainda precisa ser confirmada, bem como as

moléculas as quais este composto se liga, entretanto diversos testes em modelos de

lesão têm demonstrado sua especificidade (SCHMUED et al., 1997; MITRUŠKOVÁ

et al., 2004). A figura 4 ilustra a marcação de neurônios em degeneração no

hipocampo após isquemia cerebral.

Alguns autores afirmam que é possível a ligação destas moléculas a grupos

de cargas positivas, como poli-aminas (SCHMUED e HOPKINS 2000; SCHMUED et

al., 2005). Tanto o Fluoro-Jade-C quanto seus antecessores Fluoro-Jade e Fluoro-

10

Page 23: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Jade-B tem afinidade pela célula inteira em degeneração, incluindo o corpo celular,

os dendritos, o axônio e os terminais axônicos.

Figura 4: Marcação por Fluoro-Jade-C. Neurônios em degeneração na região CA1 do hipocampo de um rato isquêmico. (MAYRHOFER, F., dados não publicados, 2006). Barra de calibração: 20 µm.

3 Terapias sugeridas para o tratamento da DH

Inúmeros tratamentos têm sido testados em linhagens de camundongos com

DH, como a utilização de inibidores de apoptose ou a inibição de transglutaminases

(que promovem a agregação da htt). Estes tratamentos demonstraram efeitos

positivos na sobrevida, na redução do número de agregados, na atrofia cerebral e na

coordenação motora de camundongos R6, mas não demonstraram efeitos

significativos em pacientes com DH (LI et al., 2005).

11

Page 24: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

No que diz respeito à terapia celular, uma opção que tem sido considerada é

a estimulação da neurogênese endógena por fatores de crescimento,

especificamente FGF-2, que é capaz de estimular a proliferação de células-tronco

(CTs) neurais. Este fator, ao ser injetado no cérebro de camundongos R6/2, resultou

na formação de novos neurônios capazes de migrar para áreas afetadas na DH

reduzindo os tremores e melhorando a função motora (SPADA, 2005; JIN et al.,

2005). Poucas investigações têm sido feitas em relação ao possível papel

terapêutico das CTs da medula óssea (MO) na perda neuronal que ocorre na DH.

Até o momento, sabe-se que o tratamento utilizando CTs da MO tem efeito benéfico

na função motora de ratos tratados com ácido quinolínico, um modelo de DH. Além

disto, estas células permanecem por mais de um mês após a implantação, e são

capazes de migrar para regiões afetadas (LESCAUDRON, 2003). Estudos clínicos

em pacientes com Huntington mostraram alguma melhora funcional com o

transplante de neuroblastos fetais. Diversos estudos têm sido realizados neste

sentido, mostrando que a implantação do corpo estriado fetal nos pacientes resulta

em redução da coréia, sem que ocorra rejeição e sem que a doença induza

neurodegeneração no tecido transplantado (FREEMAN et al., 2000). Desta maneira,

a terapia celular tem demonstrado ser promissora no tratamento da DH.

4 Células-tronco no SNC adulto

Do final do século XIX até a primeira metade do século XX acreditava-se que

não era possível a adição de novos neurônios no cérebro de mamíferos adultos

(GROSS, 2000). A descoberta de que existem células com capacidade de auto-

renovação e geração de tipos celulares maduros no SNC de mamíferos adultos

12

Page 25: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

(ALTMAN, 1962) veio não só a derrubar este dogma, mas também contribuiu para

que tais células se tornassem o tema de muitas discussões.

A parede do sistema ventricular e o giro dentado do hipocampo são regiões

reconhecidas como neurogênicas no SNC de mamíferos adultos. Na parede dos

ventrículos laterais (VLs) reside uma população de células em divisão conhecida

como zona subventricular (SVZ). Uma camada de células epiteliais, ou camada

ependimária, separa a SVZ dos VLs. Dois tipos celulares são candidatos ao termo

“célula-tronco” nestas regiões: as células ependimárias (JOHANSSON et al., 1999) e

os astrócitos residentes na zona subventricular (DOETSCH et al., 1999).

A suspeita de que as células ependimárias são capazes de gerar novos

neurônios em mamíferos adultos é antiga (ALTMAN, 1962 apud LAYWELL, 2000).

Esta possibilidade se baseia em parte na observação de que tais células expressam

altos níveis de nestina, uma proteína característica de células-tronco e progenitores

neurais. Em 1999, pela utilização de técnicas em que supostamente apenas as

células ependimárias são marcadas (como a injeção intraventricular de DiI), foi

observada a formação de neurosferas capazes de gerar neurônios, astrócitos e

oligodendrócitos. Sugeriu-se então que algumas células ependimárias são CTs que

alternam períodos de atividade e quiescência dando origem a populações de células

progenitoras na SVZ (JOHANSSON et al., 1999). A Figura 5 ilustra o modelo que

propõe as células ependimárias como células-tronco.

Figura 5: Células ependimárias como células-tronco. Neste modelo, a célula ependimária sofre uma divisão assimétrica gerando uma célula progenitora da SVZ (cinza), que por sua vez sofre uma série de divisões gerando células precursoras neuronais (azul) (adaptada de JOHANSSON et al, 1999).

13

Page 26: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

No mesmo ano, entretanto, foi publicado um artigo em que se afirmava serem

astrócitos da SVZ as células-tronco. Um grupo de pesquisadores observou, através

de inúmeras técnicas, que estes astrócitos são capazes de formar neurosferas e dar

origem a neuroblastos capazes de migrar para o bulbo olfatório, onde se diferenciam

em células granulares e periglomerulares. Além disso, eles descartaram a

possibilidade de que as células ependimárias fossem células-tronco, já que as

mesmas não geram neurosferas quando se utilizam marcadores diferentes de DiI e,

além disso, nenhuma delas incorpora marcadores mitóticos. O modelo proposto

pode ser visualizado na Figura 6, em que os astrócitos dão origem aos neuroblastos

através de um tipo celular intermediário que se divide rapidamente. (DOETSCH et

al., 1999). Em trabalhos posteriores, foi demonstrado que também os astrócitos na

camada subgranular do giro dentado do hipocampo (SGL) são precursores primários

dos novos neurônios granulares no adulto (SERI et al., 2001; ALVAREZ-BUYLLA et

al., 2002). Ao investigar a SVZ humana, o grupo defendeu a mesma visão, isto é,

também os astrócitos humanos são capazes de gerar neurosferas multipotentes in

vitro (SANAI et al., 2004). Ainda no mesmo ano, este grupo publicou um artigo sobre

a origem dos astrócitos da SVZ que manteriam a neurogênese no cérebro de

mamíferos adultos, afirmando que a glia radial neonatal seria a precursora destes

astrócitos (MERKLE et al., 2004).

Muitos dos trabalhos publicados por outros grupos concordam que os

astrócitos sejam as células primordiais da neurogênese no cérebro de mamíferos

adultos, o que dá maior consistência a tal hipótese, como sintetizado a seguir:

14

Page 27: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Figura 6: Astrócitos como células-tronco. Os astrócitos, (células B), dão origem aos neuroblastos (células A), através de um tipo celular intermediário que se divide rapidamente (células C). As células ependimárias são definidas como células E (adaptada de DOETSCH et al, 1999).

Astrócito da SVZ Precursor imaturo

Neuroblasto em Migração

• CHIASSON e colaboradores (1999) contestam a metodologia utilizada

por Johansson e afirmam que, diferente do observado na SVZ, as células

ependimárias não possuem capacidade de auto-renovação (pois não são capazes

de formar neurosferas secundárias) nem formam neurônios.

• LAYWELL e colaboradores (2000) mostram que os astrócitos de

diversas regiões do cérebro em desenvolvimento formam neurosferas multipotentes

e que no adulto, esta capacidade é retida apenas por astrócitos da SVZ. Segundo

estes pesquisadores, as células ependimárias geram somente glia.

• IMURA e colaboradores (2003) apóiam a hipótese de Alvarez-Buylla ao

afirmarem que a população de células-tronco na SVZ expressa GFAP. Eles

sugerem, com base em seus dados, que estas células adquirem a expressão de

GFAP gradualmente durante o desenvolvimento.

• GARCIA e colaboradores (2004) mostram que a ablação de astrócitos

na SVZ e na SGL de camundongos transgênicos adultos impede a formação de

neuroblastos no BO e no giro dentado.

15

Page 28: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Finalmente, os mesmos autores que defendem que as células ependimárias

sejam “tronco” deixam aberta a possibilidade de que existam outras populações

independentes de CTs além da células ependimárias no SNC adulto (JOHANSSON

et al., 1999).

É bastante inovadora a idéia de que as células gliais tenham outra função,

além da tradicional visão de que estas células dão suporte aos neurônios. É também

curioso pensar que os astrócitos, tradicionalmente vistos como células diferenciadas,

sejam o tipo celular primordial. Entretanto, a comparação da morfologia dos

astrócitos de outras regiões cerebrais, como o córtex, e astrócitos que se comportam

como CTs na SVZ indica que estes últimos possuem menor quantidade de

ramificações (LAYWELL et al., 2000). Muitas outras questões levantadas sobre a

identidade das CTs neurais não serão mencionadas neste trabalho. É provável que

os esforços no sentido de descobrir o “verdadeiro nome” das células-tronco neurais

venham a responder muitas perguntas que têm sido feitas a respeito das mesmas, o

que favoreceria o desenvolvimento de terapias celulares.

5 A SVZ e a via migratória rostral (RMS)

A SVZ, formada durante o desenvolvimento embrionário, contém neurônios

imaturos, neuroblastos, células precursoras indiferenciadas, astrócitos e microglia

(STENSAAS E GILSON, 1972 apud MENEZES et al., 2002). A SVZ de

camundongos jovens, ao contrário da adulta, apresenta ainda a glia radial (KISHI K

et al., 1990; ALVES et al., 2002).

O destino dos progenitores gerados nesta camada proliferativa foi muito

discutido, até que estudos traçando a sua migração por injeções localizadas de [3H]-

16

Page 29: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

timidina, retrovírus, marcadores ou transplantes na SVZ anterior (LOIS e BUYLLA,

1994) indicassem sua presença no bulbo olfatório. Antes disso, embora se

acreditasse que este fosse um importante alvo, era sugerido que células da SVZ

originavam neurônios no córtex e no corpo estriado (ALTMAN, 1969). Alguns

trabalhos também sugeriam que estas células dão origem a glia (GOLDMAN 1995;

LEVISON et al., 1993).

O bulbo olfatório é uma formação cortical primitiva de substância cinzenta,

localizada na extremidade rostral do prosencéfalo. Os bulbos olfatórios de roedores

jovens e adultos contêm populações de interneurônios periglomerulares e granulares

que são constantemente renovadas por células geradas a partir da SVZ. Assim, esta

estrutura continua a crescer após o nascimento pela constante adição de neurônios,

capazes de estabelecer novos circuitos funcionais (ROSSELLI-AUSTIN e ALTMAN

1995; CARLÉN et al., 2002).

O sistema olfatório é plástico, e os neurônios do epitélio olfatório cujos

axonios chegam até o bulbo e fazem sinapses nos glomérulos morrem

constantemente, sendo substituídos por novos neurônios durante toda a vida.

Acredita-se, então, que este seja um motivo pelo qual a reposição de interneurônios

se faz necessária.

5.1 Migração na RMS

A migração neuronal pode ser classificada de acordo com sua orientação em

relação à superfície pial ou com o substrato celular de migração. No primeiro caso,

pode-se classificar a migração como tangencial (perpendicular à superfície pial) ou

17

Page 30: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

radial (em direção à superfície pial) e, no segundo, como gliofílica (neurônio-glia) ou

neurofílica (neurônio-neurônio) (RAKIC, 1990).

A migração tangencial e neurofílica caracteriza o movimento celular dos

precursores neurais que partem da SVZ anterior e formam a via migratória rostral

(RMS), que se curva ventralmente e então rostralmente para invadir o centro do

bulbo olfatório (Figura 7). Neste caminho, os neuroblastos formam longas cadeias e

usam uns aos outros como substratos, estabelecendo contatos íntimos que incluem

pequenas junções especializadas. Os astrócitos, por sua vez, formam longos

cilindros denominados tubos gliais em torno das células em migração (LOIS et

al.,1996; PERETTO et al.,1997). Em camundongos adultos, os precursores

neuronais devem migrar longas distâncias (cerca de 5 mm) antes de atingirem seu

alvo (LOIS e ALVAREZ-BUYLLA, 1994).

As células em migração na RMS têm morfologia alongada, com um longo

filamento líder, que termina em um cone de crescimento orientado na direção da

migração (KISHI, 1987).

A função dos astrócitos envolvendo as cadeias de neuroblastos na RMS de

camundongos adultos ainda é uma incógnita. Segundo DOETSCH e colaboradores

(1997), eles poderiam fornecer fatores importantes para a proliferação, migração e

sobrevivência das células em migração. Alternativamente, os astrócitos funcionariam

como uma barreira, prevenindo a migração fora da RMS e/ou isolando células em

migração de substâncias no parênquima ao redor. Apenas em cultura a migração ao

longo da RMS é possível na ausência de células gliais (WICHTERLE et al.,

1997).Esta migração é bem rápida quando comparada às ondas migratórias guiadas

pela glia radial e pelos axônios no córtex e no cerebelo em desenvolvimento

(JACOBSON, 1991 apud LOIS E ALVAREZ-BUYLLA, 2007). Na Figura 8 podem ser

18

Page 31: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

observadas células em migração na RMS de camundongos R6/2 em associação

com os astrócitos.

FiO

gura 7: A Via migratória rostral. s neuroblastos (em vermelho)

migram tangencialmente em ca-ias que são delimitadas por as-

trócitos (em verde). Ao invadirem o , passam a se diferenciar em

urônios maduros (adaptada de LENNINGTON et. al, 2003

de

BOne

).

células mitrais

células

periglome- rulares

Receptores olfatórios

granulares

19

Page 32: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

VL

Figura 8: Imagem confocal de neuroblastos BrdU+ (em verde) em associação com astrócitos (marcados em vermelho para GFAP) e próximos à parede ventricular. Barra de calibração: 20 µm.

Segundo MENEZES e colaboradores (2002) a migração na SVZ/RMS pode ser

dividida em três fases, independente da idade do animal: 1) em regiões próximas à

SVZ, as células migram, mas ainda são capazes de sofrer mitose; 2) num dado

momento, as células param de se dividir, mas continuam migrando; 3) ao atingirem o

bulbo olfatório, elas deixam de migrar tangencialmente e passam a migrar

radialmente, invadindo o parênquima do bulbo olfatório diferenciando-se em células

granulares e periglomerulares (Figura 9).

20

Page 33: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Fica claro, então, que os precursores neuronais continuam se dividindo

durante a migração na RMS (MENEZES et al., 1995; LOIS e BUYLLA, 1994), mas

não se sabe o local exato onde a transição da primeira para a segunda fase ocorre.

Com a idade, a divisão celular torna-se cada vez mais restrita às regiões próximas

aos ventrículos laterais. É possível que as células gliais no bulbo olfatório forneçam

os sinais necessários para a transição de uma fase para a outra. (MENEZES et al.,

2002).

5.2 Moléculas envolvidas

Estudos têm mostrado que a RMS é rica em componentes de matriz extracelular,

moléculas de adesão, glicoproteínas e glicoesfingolipídios que têm sido sugeridos

Figura 9: Três diferentes fases da migração na RMS: 1) migração e divisão celu-lar; 2) apenas migração; 3) migração e diferenciação (adaptada de MENEZES et al., 2002).

1

3

2

Progenitores Neuroblasto ou neurônio imaturo Mitose Célula periglomerular Glia Radial Célula granular Neurônio migratório

21

Page 34: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

como elementos importantes para mediar a interação celular durante a migração

neuronal (EDELMAN e RUTISHAUSER, 1981; MENDEZ-OTERO e CAVALCANTE,

1996). Neste trabalho, vamos nos restringir ao estudo da molécula de adesão

celular polissialilada (PSA-NCAM) e do gangliosídeo 9-O-acetil GD3.

5.2.1 Gangliosídeo 9-O-acetil GD3

Os gangliosídeos são glicoesfingolipídeos sialilados, isto é, glicolipídios

formados por uma cadeia de ácido graxo e uma cadeia de esfingosina ligada ao

ácido siálico (ALBERTS et al., 1997). Eles são importantes componentes na

estrutura das membranas biológicas, devido ao seu caráter anfipático, amplamente

expressos em tecidos de mamíferos e particularmente abundantes no SNC

(MENDEZ-OTERO et al., 1992). No caso do 9-O-acetil GD3, a esfingosina é uma

lactosilceramida, que se insere na membrana plasmática. Presas a ela, encontram-

se duas moléculas de ácido siálico que estão situadas na face externa da membrana

plasmática.

Uma importante modificação dos gangliosídeos é a O-acetilação dos resíduos

de ácido siálico, que lhes confere carga negativa. O 9-O-acetil GD3 é uma

modificação do gangliosídeo GD3, em que um ester acetil é formado na posição 9

do resíduo de ácido siálico terminal (MENDEZ-OTERO et al., 1992). A estrutura

deste gangliosídeo pode ser observada na Figura 10.

22

Page 35: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Figura 10: Gangliosídeo 9-O-acetil GD3. O gangliosídeo envolvido na migração de neuroblastos na RMS é composto por uma porção lipídica e uma porção glicídica contendo uma acetilação no carbono 9 (adaptada de MENDEZ-OTERO et al., 1992).

A distribuição do 9-O-acetil GD3 é temporalmente e espacialmente

correlacionada à migração neuronal e ao crescimento de neuritos no sistema

nervoso central e periférico, motivo pelo qual foi sugerida a sua participação nestes

processos (MENDEZ-OTERO et al., 1988). Sua implicação na migração foi

reconhecida inicialmente na migração radial – gliofílica: o imunobloqueio deste

gangliosídeo pela utilização do anticorpo monoclonal Jones dificulta a migração

celular no cerebelo (SANTIAGO et al., 2001; 2004) e no córtex cerebral (HEDIN-

PEREIRA et al., 1998). Posteriormente, um possível papel na migração neurofílica

foi sugerido, quando o gangliosídeo foi observado na SVZ e na RMS durante o

desenvolvimento e também no adulto, indicando que o mesmo deveria ter algum

papel no mecanismo que promove a migração tangencial (MENDEZ-OTERO e

CAVALCANTE, 1996). Esta hipótese foi posteriormente comprovada pelo

imunobloqueio do 9-O-acetil GD3 in vitro, o que impediu a migração das células da

RMS (MIYAKOSHI et al., 2001). A Figura 11 mostra a presença de células na RMS

marcadas com o anticorpo Jones, que reconhece o gangliosídeo 9-O-acetil GD3.

23

Page 36: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Figura 11: A. Fotomicrografia de campo claro mostrando células marcadas com Jones na RMS e B. uma única célula mostrando a marcação para o gangliosídeo (adaptada de MENDEZ-OTERO e CAVALCANTE, 1996).

A B

Os mecanismos pelos quais a expressão de gangliosídeos leva a migração

neuronal e o crescimento de neuritos ainda são desconhecidos. É possível que os

gangliosídeos contribuam para o reconhecimento célula-célula ou célula-matriz

extracelular. Outras informações importantes sobre o mecanismo de migração dos

precursores do bulbo olfatório vieram de estudos da molécula de adesão celular

polissialilada (PSA-NCAM), que é altamente expressa por estas células (NYGUEN

et. Al, 2003; HU et al., 1996a) e que será tratada em maior detalhe no tópico a

seguir.

5.2.2 PSA-NCAM e migração celular

NCAMs (do inglês neural cell adesion molecules) são glicoproteínas de

superfície celular envolvidas em interações célula-célula/célula-substrato e fazem

parte de uma grande família de moléculas de adesão (ALBERTS et al., 1997). No

sistema nervoso, elas são encontradas durante o estágio inicial da formação do tubo

neural e subseqüentemente em outras estruturas neuronais em desenvolvimento,

ocupando neste período um importante papel no estabelecimento de padrões

24

Page 37: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

específicos de conexões sinápticas. Sua presença é limitada no cérebro adulto,

mantendo-se apenas em locais onde a plasticidade e a formação de novos

neurônios persistem (THEODOSIS et al., 1991; KISS e ROUGNON 1997; SEKI e

ARAI, 1999).

Figura 12: Expressão de PSA NCAM. CTs neurais dão origem a precursores neurais que expressam PSA-NCAM. O nível de expressão, representado em azul, decai com a progressão em direção a fenótipos mais diferenciados e, nas células diferenciadas por completo, ocorre apenas nos contatos sinápticos. As setas vermelhas indicam a capacidade de auto-renovação(adaptada de NYGUEN et. al, 2003).

CT neural

Astrócito Neurônio Oligodendrócito

Astroblasto

Progenitor bipotencial

Neuroblasto

Pré-progenitor de oligodendrócito

Progenitor de oligodendrócito

Astrócito tipo 2

Em estágios iniciais da determinação das linhagens celulares no SNC, CTs

neurais dão origem a progenitores que expressam uma molécula de adesão

chamada PSA-NCAM. A importância desta molécula no processo migratório foi

demonstrada pelos trabalhos em que a sua deficiência dificultava a migração de

precursores neurais ao longo da RMS, resultando na redução do bulbo olfatório

25

Page 38: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

(CREMER et al., 1994; TOMASIEWICZ et al., 1993) e no acúmulo de células

próximo ao VL anterior (ONO et al., 1994). A Figura 12 ilustra os tipos celulares que

expressam esta molécula.

Embora a produção de NCAMs dependa de um único gene, pelo menos 20

formas distintas podem ser geradas por splicing alternativo e modificações pós-

transcripcionais. A PSA-NCAM é uma variação que surge com a glicosilação de

NCAMs, que podem ligar longos polímeros de α- 2-8 ácido siálico (PSA) na sua

parte extracelular (ALBERTS et al., 1997). A Figura 13 ilustra a estrutura molecular

da PSA–NCAM.

Domínios de imunoglobulina

Polímeros de ácido siálico

Domínios de fibronectina III

Figura 13: Estrutura da PSA-NCAM. A molécula é constituída por regiões de fibronectina III e domínios de imunoglobulinas (Igs), comuns a todas as NCAMs, ligados a cadeias de ácido siálico (adaptada de NYGUEN et. Al, 2003).

O PSA é ligado exclusivamente ao quinto domínio de Ig da NCAM por

polissialiltransferases cujas expressões são reduzidas após o nascimento. Como

resultado, em muitos tecidos a PSA-NCAM altamente polissialilada é substituída

gradualmente por isoformas menos sialiladas. Entretanto, em locais como a camada

subependimária e a camada glomerular do bulbo olfatório, já foi observada a

persistência destas enzimas (NGUYEN et al., 2003).

26

Page 39: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Em virtude de suas cargas negativas, as longas cadeias de PSA bloqueiam a

adesão celular, atenuando a função adesiva da NCAM (ALBERTS et al., 1997). O

destacamento resultante permite que as células sofram alterações morfológicas

necessárias à motilidade e favorece a formação de novas sinapses (DIONYSIA et

al., 1999). A Figura 14 demonstra a interação celular na presença e na ausência de

sialilação.

B.

A.

Figura 14: Interação mediada por NCAMs. A. ligação mediada pela NCAM, em que todos os domínios de Igs estão envolvidos. B. As cadeias de PSA, quando presentes, funcionam como espaçadores, alterando esta interação de modo que apenas alguns domínios de Igs participem dela (adaptada de Kiss et al., 2001).

A PSA-NCAM tem ocupado outros papéis que não serão tratados em

detalhes neste trabalho, como a sensibilização de neurônios a fatores de

crescimento e a regulação negativa da mielinização (CHARLES et al., 2002). A

contribuição de PSA-NCAM e NCAMs em geral para a plasticidade sináptica e

neuronal sugere que estas moléculas possam favorecer a recuperação funcional

após lesões. Sabe-se que a expressão de PSA-NCAM aumenta em tecidos lesados,

o que parece ser funcionalmente importante, já que a regeneração e a recuperação

são atrasadas pelo bloqueio imunológico da NCAM ou por remoção enzimática de

PSA (KISS et al., 1997). Modelos de lesão cortical têm demonstrado o aumento da

27

Page 40: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

expressão de PSA-NCAM na SVZ e em outras regiões encefálicas. Como esta

molécula é permissiva à migração de neuroblastos na SVZ, tem sido sugerido que a

lesão resulte na migração de células da SVZ para as regiões lesadas.

6 Alteração da neurogênese endógena em resposta à lesão. A neurogênese na SVZ adulta pode ser afetada (aumentada ou reduzida) por

diversos fatores, dentre eles lesões cerebrais. O aumento da neurogênese no

cérebro adulto já foi relatado em lesões por transecção ou aspiração,

desmielinização e também em pacientes com a doença de Alzheimer (JIN et al.,

2004); e Huntington (CURTIS et al, 2003).

A migração de células da SVZ para regiões que não o bulbo olfatório foi

também descrita em diversos modelos, dentre eles isquemia cerebral (ARVIDSSON

et al., 2002) e lesões corticais (GOINGS et al., 2004). Estes estudos evidenciaram a

migração de neuroblastos para regiões vizinhas à lesão, ou em direção às próprias

regiões lesadas, dentre elas o corpo estriado. Como mencionamos anteriormente,

alguns sinais que regulam o movimento normal das células da SVZ para o bulbo

olfatório são conhecidos, mas não se sabe por que as células normalmente não se

direcionam para núcleos adjacentes no adulto. Dada a proximidade do corpo

estriado ao subepêndima, a DH constitui uma boa condição para se investigar a

habilidade de precursores endógenos em regenerar locais afetados no SNC adulto.

Recentemente, foi demonstrado no modelo R6/2 que as células progenitoras

apresentam déficit na migração para o bulbo olfatório. Além disso, células

expressando PSA-NCAM foram encontradas no corpo estriado destes animais,

sugerindo que as mesmas sejam neuroblastos migratórios desviando da sua rota

normal em direção à região de maior perda celular (BATISTA et al., 2006). É

28

Page 41: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

evidente que o aumento da proliferação é insuficiente para compensar a perda

neuronal observada nesta e em outras patologias em que o desvio da rota migratória

foi descrito, entretanto a possibilidade de restaurar a função cerebral ao induzir a

neurogênese surge como uma das opções terapêuticas.

29

Page 42: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

OBJETIVOS

___________________________________________________________________

O objetivo geral deste trabalho foi investigar a proliferação e a migração de

progenitores neurais na RMS de camundongos com DH. Assim, tivemos como

objetivos específicos:

• Analisar a proliferação de células na SVZ de camundongos R6/2.

• Investigar a migração de progenitores ao longo da RMS de camundongos

R6/2.

• Avaliar a expressão de moléculas associadas à migração na RMS de

camundongos R6/2, especificamente: PSA-NCAM e 9-O-acetil-GD3.

• Quantificar células em processo de apoptose na RMS de camundongos R6/2.

30

Page 43: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

MATERIAIS E MÉTODOS

___________________________________________________________________

A incorporação de bromodeoxiuridina (BrdU) é o método mais utilizado

recentemente para se estudar a proliferação celular e a neurogênese in vivo. O BrdU

injetado sistemicamente é incorporado ao DNA de todas as células em divisão,

como um análogo da timidina. Uma vez incorporado, ele pode ser detectado por

imuno-histoquímica em células pós-mitóticas. O primeiro passo para a realização

deste trabalho foi a análise comparativa de células BrdU+ ao longo da RMS de

animais com DH e animais sadios.

Após isso, nós investigamos a morte celular através de reações de Fluoro-

Jade-C (Histo-Chem) nesta via e, finalmente, verificamos a expressão de 9-O acetil

GD3 e PSA-NCAM na RMS destes animais.

1 Animais

Em todos os experimentos foram utilizados camundongos transgênicos R6/2

+/- (DHs) com 14 - 15 semanas de vida. O grupo controle era composto por animais

selvagens da linhagem B6CBAF1/J (WTs) com as mesmas idades. Estas linhagens

foram-nos gentilmente doadas pelo Dr Derek van der Kooy, da Universidade de

Toronto, Canadá.

A análise migratória de progenitores neurais foi realizada em 4 animais da

linhagem R6/2 e 4 animais selvagens. O mesmo grupo foi utilizado para a

investigação de moléculas envolvidas na migração celular e nas reações de Fluoro-

Jade. Como outros animais foram também utilizados nestas últimas reações, o

31

Page 44: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

tamanho total das amostras foi de 5 DHs e 6 WTs. Todos os protocolos

experimentais foram aprovados pelo Comitê de Uso de Animais da nossa Instituição.

2 Metodologia para o emprego de BrdU como traçador celular

Todos os animais receberam cinco injeções intraperinoneais de BrdU (60

mg/kg) em intervalos de três horas, como descrito abaixo. Como o ciclo de divisão

da maior fração celular em proliferação na SVZ (células C) é de 12,4 horas (REF),

injeções num intervalo total de 12 horas nos permitiriam observar um grande número

de células que, em algum momento, sofreriam divisão incorporando BrdU. Então, de

acordo com a definição de alguns autores (figura 6), as células que incorporavam

este marcador eram em sua maioria células C e células A, além de células B que

eventualmente estariam sofrendo divisão dentro deste intervalo.

Figura 1

5: Incorporação de BrdU. Esquemailustrando a incorporação de BrdU pelo material genético da célula e posterior identificação por imuno-histoquímica(http://edoc.huberlin.de/habilitationen/kempermann-gerd-2002-01-29/HTML/chapter1.html).

Os animais foram perfundidos três dias após a última injeção de BrdU, para

que pudéssemos acompanhar o trajeto das células.

32

Page 45: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

3 Processamento do material

3.1 Perfusão

Os camundongos foram colocados em um recipiente contendo algodão

embebido em éter e posteriormente perfundidos por via transcardíaca com solução

salina por cerca de dois minutos para retirada do sangue e em seguida com

paraformaldeído 4% em tampão fosfato 0,1 M por 5 - 10 minutos para a sua fixação

dos tecidos. Esta última solução era também utilizada para pós-fixação durante a

noite. Os cérebros foram mantidos posteriormente em sacarose 30% para

crioproteção, emblocados em resina OCT e estocados a -20 °C.

3.2 Criocortes e regiões de análise

Para a análise migratória das células BrdU+, os encéfalos foram cortados a

uma espessura de 14 µm. Em cada lâmina numerada foram colhidos três cortes,

sendo os cortes adjacentes a cada um deles descartados, evitando assim que

contássemos repetidamente as mesmas células. Foram quantificadas duas lâminas

(seis cortes) de cada região por animal.

Como pode ser observado no esquema a seguir, nossa análise foi realizada

em seções coronais de quatro regiões encefálicas: porções proximais (regiões I e II)

e distais (regiões III e IV) da RMS.

33

Page 46: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

34

RMS

B A I II III IV I

II

III

IV

posterior anterior

Região I ≈ 1,18 mm bregma.

Região II ≈ 1,42 mm bregma.

Região III ≈ 2,96 mm bregma.

Região IV ≈ 3,2 mm bregma.

Figura 16camu : Representação das regiões analisadas. A. seções coronais do encéfalo de

ndongos. Os quadros em vermelho indicam os campos contendo células em migração na RMS. B. representação sagital das mesmas regiões (coordenadas baseadas em PAXINOS e

N, 2001). FRANKLI

A primeira região, ou região I, consistiu nos primeiros cortes em que os

ventrículos laterais tornavam-se visíveis, isto é: a porção inicial da RMS.

Consideramos como RMS média, ou região II, aqueles cortes situados anteriormente

à região I (três lâminas antes). Localizada no bulbo olfatório, a região IV consistiu

nos primeiros cortes em que o córtex tornava-se visível e, da mesma maneira, a

região III ou RMS anterior distanciava-se três lâminas (140 µm) desta.

Para a análise de morte celular e da marcação por Jones, foram utilizadas

lâminas da região situada entre a região II e a região III, também identificadas por

numeração. Finalmente, para a contagem de células PSA-NCAM+ , nós utilizamos

lâminas imediatamente posteriores à primeira região.

Page 47: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

3.3 Imuno-histoquímica

Para o procedimento imuno-histoquímico, todos os cortes foram lavados com

PBS 10mM ou PBS 0,01M contendo Triton X-100 a 0,01% ou 0,3% (Sigma). O

bloqueio de sítios inespecíficos foi feito por uma solução contendo soro normal de

cabra (NGS - Sigma) a 5%, Triton a 0,4%, albumina bovina (BSA – Sigma) a 3% e

glicina (Amersham) a 1% em PBS 10mM, por uma hora. Nas reações de BrdU foi

utilizado apenas NGS a 5% por 30 minutos.

A incubação com anticorpos primários específicos, descritos no quadro a

seguir, era realizada por 24 h a 4o C. Após este procedimento, os cortes foram

lavados com PBS 10mM e incubados com os respectivos anticorpos secundários por

2 h a 37°C. Em seguida, o material foi novamente lavado com PBS 10mM, contendo

em alguns casos o marcador de núcleo DAPI ou SYTOX green e as lâminas

montadas com meio contendo PPD (C H N ) em glicerol. 6 8 2

35

Page 48: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

A metodologia descrita acima foi utilizada também nas duplas marcações com

o anticorpo para BrdU. Neste caso, o anticorpo primário era antecedido pelo

tratamento com paraformaldeído 4% por 20 min para fixação e HCl 2N por 30 min a

37ºC para desnaturar o DNA, seguido por tampão borato 0,1M pH 8,5 por 5 min.

Todos os protocolos para o preparo de soluções e das reações realizadas

encontram-se em anexo.

4 Quantificação de células BrdU+ na RMS:

Após a reação de imuno-histoquímica, cada hemisfério exibia um feixe de

células que incorporavam BrdU. Para a contagem de células foi considerado o lado

em que a marcação era mais evidente.

Com o auxílio de um microscópio Axiovert 200M equipado com o sistema

Apotome e o software Axiovision 4.3 (Zeiss), a área da RMS era delimitada e toda a

extensão da RMS considerada para a quantificação. Na região ventricular, a

contagem se restringiu à parede lateral. A contagem foi

realizada com objetiva de 40x. A Figura ao lado ilustra

algumas das células que consideramos BrdU+.

Para todas as quantificações de células, a área foi

convertida em volume através da multiplicação da mesma pela espessura do corte.

Após isso, o número de células foi dividido pelo volume resultante, obtendo-se o

número de células por micrômetro cúbico. Este valor foi então multiplicado por 109 e

portanto convertido ao número de células por milímetro cúbico.

36

Page 49: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

5 Aquisição de imagens

As imagens apresentadas neste trabalho foram obtidas no microscópio

Axiovert 135 equipado com o software Axiovision 3.3 (Zeiss) ou em um microscópio

confocal LSM 510 Meta (Zeiss).

6 Análise Estatística

Para a análise estatística dos resultados foi utilizado o programa Microsoft

Excel. Como optamos pela representação gráfica dos dados quantitativos, em todas

as análises calculamos a média aritmética dos valores obtidos nos dois grupos

(camundongos com DH e camundongos selvagens), indicando o valor central de

uma série de medidas. O desvio-padrão foi estimado e utilizado como parâmetro

para o cálculo do grau de flutuação ou dispersão destas medidas. O tamanho

mínimo das amostras foi de 4 animais.

A comparação de médias obtidas nos dois grupos foi realizada através de

teste t. No nosso caso, este teste estatístico consistiu em testar a hipótese de que as

duas médias fossem iguais (chamada hipótese nula). Assim, o valor obtido através

do teste t é igual à probabilidade da hipótese nula entre as médias. Se, por exemplo,

essa probabilidade era inferior a 5% (p=0,05), então podíamos dizer que havia uma

diferença significativa entre os dois grupos.

O mesmo teste estatístico foi utilizado para a comparação de variações intra-

grupos, isto é, quando eram comparados os números de células entre diferentes

regiões da RMS de um mesmo grupo. Como um dos nossos objetivos foi avaliar a

migração, nós buscamos sempre comparar determinada região com a sua

37

Page 50: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

subseqüente, por exemplo: região I e região II, região II e região III e assim por

diante.

38

Page 51: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

RESULTADOS

___________________________________________________________________

1 Incorporação de BrdU na via migratória rostral

Nossos primeiros resultados demonstraram a incorporação de BrdU pela

população constitutiva de células progenitoras em proliferação nos diferentes níveis

rostrocaudais da RMS. Três dias após as injeções do marcador mitótico, notamos

um grande número de progenitores neurais em proliferação na RMS proximal

(regiões I e II) dos animais com DH. A quantidade de células que incorporaram BrdU

nas mesmas porções da RMS de camundongos selvagens era nitidamente menor,

como pode ser observado na Figura 17. Entretanto, na região III já não era tão clara

a diferença na quantidade de células BrdU+ entre os animais e, ao avançarmos em

direção ao bulbo olfatório e finalmente analisarmos a região IV, notamos que o

número de células parecia ser maior nos camundongos selvagens, demonstrando

um padrão oposto ao observado nas regiões proximais da RMS destes mesmos

animais (Figura 18).

+A quantificação do número de células BrdU em cada região demonstrou

diferenças significativas entre o número de células nas porções I, III e IV da RMS de

camundongos R6/2 e camundongos selvagens (p < 0,05). Na primeira região

analisada, havia menos células BrdU+ no grupo controle. Na segunda região, embora

aparentemente o número de células nestes animais seja menor, a diferença entre

selvagens e R6/2 não foi significativa. Já na terceira e na quarta região analisadas, o

número de progenitores era significativamente maior no grupo controle (Gráfico 1).

39

Page 52: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

+ Não houve diferença significativa na quantidade total de células BrdU na extensão

total da RMS destes animais (Gráfico 1).

Região I

WT DH

A B

DH WT

Região II

Figura 17:

Regiões proximais da RMS de camundongos com DH apresentam número maior de progenitores em comparação ao grupo selvagem. A. e B. Células BrdU+ marcadas em

primeira região analisada, onde a cavidade ventricular ainda pode ser observada. C.e D. Células BrdU+ na segunda região analisada, anterior à primeira região. Barra de calibração:20 µm.

C D

verde na

40

Page 53: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

WT

Região III DH

WT

A B

Região IV

Ao compararmos o número de progenitores entre diferentes regiões dentro de

cada grupo, notamos que o número de células observado nas regiões I e II da RMS

de camundongos R6/2 diminuía significativamente nas regiões III e IV (p< 0,05). Já

WT

DH DH

Figura 18: Regiões distais da RMS de camundongos com DH apresentam número menor de ação ao grupo selvagem. A. e B. Células BrdU+ marcadas em verde na

tercei a. C. e D. Células BrdU+ na quarta região analisada, anterior à terceira o, onde é evidente o maior número de células no grupo com DH. Barra de calibração: 20

µm.

C D

progenitores em comparra região analisad

regiã

41

Page 54: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

no grupo selvagem, uma diferença significativa era observada entre a região I (com

menor número de células) e as demais. Nestes animais, o número de células

praticamente se manteve constante a partir da segunda região.

Células BrdU+ na RMS

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

TOTAL I II III IV

regiões

célu

las/

mm3 x

105

WTR6/2

#

* * *

#

DH

Total I II III IVIVIVIV

Gráfico 1: A

O grande número de progenitores neurais observado nas porções posteriores

da RMS de camundongos com DH não correspondia ao número de células

observado nos seus bulbos olfatórios. Diante desta observação, nós consideramos

três possíveis mecanismos que poderiam explicar esta redução de células ao longo

da RMS de camundongos com a patologia. Como foi mencionado anteriormente,

uma série de moléculas estão envolvidas na migração de neuroblastos ao londo da

RMS. Após a lesão, a alteração da expressão destas moléculas poderia resultar em

um padrão migratório incomum das células ao longo desta via. Assim, uma

possibilidade a ser considerada é a de que estas células apresentem uma alteração

RMS proximal dos camundongos com DH apresenta grande quantidade de enitores neurais e a porção distal apresenta um número reduzido destas células em

comparação ao grupo selvagem (p < 0,05), n=4.

prog

42

Page 55: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

na expressão de moléculas associadas à migração na RMS, fazendo com que se

acumulem em regiões próximas aos VLs, como esquematizado na Figura 19.

Alterações migratórias e acúmulo de células próximo ao ventrículo

VL

BO Figura 19: Possível acúmulo de células na porção proximal da RMS que seria causado pela alteração da expressão de moléculas associadas à migração ao longo da RMS.

Também como resultado da alteração de fatores permissivos à migração na

RMS e de uma possível liberação que fatores quimioatrativos pela lesão, poderia

ocorrer a migração destas células em direção a áreas afetadas na doença, dada a

proximidade do corpo estriado e do córtex ao subepêndima adulto, reduzindo a

quantidade de células destinadas aos bulbos olfatórios (Figura 20).

A apoptose é admitida como um processo fisiológico que ocorre normalmente

nesta via (MITRUŠKOVÁ et al., 2004). O fenômeno foi relatado mesmo antes de ser

descrita a migração em direção ao bulbo olfatório e, por este motivo, antigos

trabalhos defenderam que o destino dos progenitores logo após a mitose era a

morte celular (MORSHEAD e VAN DER KOOY, 1992). Considerando ainda que o

aumento na proliferação de células subependimárias e de novos neurônios já foi

visto nos encéfalos de camundongos e pacientes com DH (CURTIS et al, 2003) uma

terceira hipótese é que esteja ocorrendo o aumento da proliferação celular na SVZ

43

Page 56: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

destes animais em resposta à lesão, porém este aumento não seria observado nos

bulbos olfatórios de camundongos com DH devido a um aumento da morte celular

na RMS, como ilustra a Figura 21.

Migração de células em direção a áreas afetadas

Cx

St

VL

BO Figura 20: Esquema ilustrando a possível migração de neuroblastos para regiões diferentes dos BOs, especificamente áreas afetadas pela DH, como o córtex (Cx) e o corpo estriado (St).

Proliferação e morte celular aumentadas

Figura 21: Uma das possíveis expli-cações para a redução do número de progenitores em direção aos BOs nos camundongos com DH seria o aumento da morte celular ao longo da RMS, contrabalançando o aumento da prolife-ração de células progenitoras nos VLs.

VL

BO

Aumento da proliferação celular

Apoptose

44

Page 57: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Todos os resultados que se seguem dizem respeito ao teste das três

possibilidades listadas acima. Em relação à primeira hipótese, embora inúmeros

fatores estejam envolvidos na migração ao longo da RMS, neste trabalho nos

restringimos a investigar uma possível alteração na expressão de PSA-NCAM e do

gangliosídeo 9-O-acetil-GD3, ambos importantes para a migração ao longo da RMS

como descrito anteriormente.

2 Expressão de moléculas associadas à migração na RMS

A análise da PSA-NCAM no encéfalo dos camundongos com DH nos

permitiria avaliar se ocorre alteração na sua expressão, sugerindo a ocorrência de

um déficit migratório destas células. Além disso, a investigação de células PSA-

NCAM+ nas áreas afetadas nos responderia a uma importante questão, uma vez que

esta molécula é também um marcador de neuroblastos migratórios: Seria o desvio

da rota destes neuroblastos nos R6/2 a explicação para os nossos resultados

anteriores?

Em nossa análise, verificamos uma intensa expressão de PSA-NCAM na

RMS de camundongos R6/2, tanto em porções próximas aos VLs (Figura 22) quanto

nos bulbos olfatórios (Figura 23). Aparentemente, não havia diferença no perfil de

expressão desta molécula entre R6/2 e selvagens. Além disso, não encontramos

células PSA-NCAM+ no córtex ou no corpo estriado dos animais doentes,

descartando a possibilidade de que estas células estivessem migrando para regiões

afetadas.

45

Page 58: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

PSA-NCAM BrdU PSA-NCAM/BrdU

A B C

Figura 22: Células BrdU+ (em verde) e PSA-NCAM+ (em vermelho) na RMS de camundongos WTs (A-C) e R6/2 (D-F). As linhas pontilhadas delimitam a cavidade ventricular e os quadrantes demonstram as áreas selecionadas em maior aumento. Barra de calibração: 20 µm.

WT

DH

D E F

A B C

Figura 23: Fotos ilustrando a expressão de A. PSA NCAM (vermelho) e B. BrdU (verde) na RMS distal de um camundongo R6/2. C. Co-localização de BrdU e PSA-NCAM. Barra de calibração: 20 µm.

DH

PSA-NCAM BrdU PSA-NCAM/BrdU

A B C

46

Page 59: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Para a quantificação de células expressando PSA-NCAM na RMS utilizamos

marcador de núcleo SYTOX green, o que facilitou a identificação das células, como

pode ser observado na Figura 24.

47

Figura 24: RMS de camundongos com DH contendo células PSA-NCAM+ (vermelho) em A: menor e B: maior aumento. Em verde, o marcador de núcleo SYTOX green. Barra de calibração: 20 e 50 µm, respectivamente.

A

B

Page 60: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Como pode ser observado no Gráfico 2, a quantificação de células PSA-

NCAM+ na RMS de camundongos selvagens e R6/2 não mostrou diferenças entre

os dois grupos.

Células PSA NCAM+ na RMS

0

5

10

15

20

WT DH

célu

las/

mm3 x

105

Gráfico 2: A quantificação de células PSA-NCAM na RMS (especificamente na região intermediária entre as regiões II e III) de camundongos com DH não evidenciou alterações significativas (respectivamente: n = 5 e n = 6).

Nossos resultados mostram que, se ocorre déficit migratório de neuroblastos

em camundongos com DH, tal fato não se deve à ausência ou redução de PSA-

NCAM na RMS. Assim passamos a investigar a expressão do gangliosídeo 9-O-

acetil GD3 nos animais selvagens e afetados.

Em relação à expressão do gangliosídeo nos dois grupos de animais,

pudemos notar pequenas quantidades na RMS de camundongos R6/2 e o mesmo

foi observado nos animais selvagens (Figuras 25, 26 e 27).

48

Page 61: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

WT

Figura 26: Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 na RMS de camundongos com DH. A., B. e D. representam o mesmo campo (barra de calibração 10 µm). A. marcação para DAPI, B. 9-O-acetil GD3 e D. co-localização. C. imagem de outro campo da RMS de camundongo com DH, em menor aumento, evidenciando a mesma marcação (Barra de calibração: 20 µm).

A B

C D

B

C D

DH

Figura 25: Célula expressando o gangliosídeo 9-O-acetil GD3 (vermelho) na RMS de um camundongo com DH. Em azul, o marcador de núcleo DAPI. Barra de calibração: 10 µm.

49

Page 62: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

DH DH A

B

D

E

Figura 27: Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 (em vermelho) na RMS de camundongos com DH (DAPI em azul). Os dois diferentes campos e são demonstrados à esquerda (A-C) e à direita (D-F). Barra de calibração: 10 µm.

C F

3 Morte celular na RMS

HD Nosso próximo passo foi investigar a morte de neuroblastos na RMS pela

marcação com Fluoro-Jade-C. Após testarmos a capacidade deste composto em

marcar neurônios em degeneração, utilizando como controles positivos os encéfalos

50

Page 63: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

de ratos após isquemia global (Figura 4), realizamos a mesma reação na RMS dos

camundongos. Notamos a presença de células intensamente marcadas pelo Fluoro-

Jade-C tanto nos camundongos selvagens quanto nos doentes (Figura 28).

DH WT

Figura 28: Morte celular na RMS. Neuroblastos são marcados com Fluoro-Jade-C (em verde) na RMS de camundongos selvagens (A-C) e camundongos R6/2 (D-F). DAPI em azul. Barra de calibração: 20 µm.

A

B

C

D

E

F

51

Page 64: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

Células Fluoro-Jade-C+ na RMS

1,2

1,3

1,3

1,4

1,4

1,5

1,5

WT HDanimais

cél

ulas

/mm

3 x 1

05

WTHD

DH

A morte celular foi observada em toda a extensão da via, inclusive em regiões

próximas aos VLs. Nem sempre era possível observar o DAPI nos neurônios que

incorporavam o composto, provavelmente devido à deterioração do núcleo devido à

morte das células. Não houve diferença significativa na taxa de morte celular entre

os grupos (Gráfico 3). Portanto, descartamos também a hipótese de que houvesse

um aumento da morte celular na RMS dos camundongos com DH.

Gca

ráfico 3: Análise quantitativa da morte celular na RMS (região intermediária entre II e III) de mundongos selvagens e R6/2. Não havia diferença significativa no número de células Fluoro-

Jade-C+ entre os grupos (respectivamente: n = 5 e n = 6)

Durante a nossa tentativa de estabelecer um controle positivo para a reação

de Fluoro-Jade-C, observamos que a reação no corpo estriado dos animais doentes

evidenciou neurônios em degeneração (Figura 29), o que não ocorria no grupo

controle (Figura 30). Isso mostra a capacidade deste composto em detectar a morte

celular também neste modelo animal, embora o mecanismo de morte celular na DH

ainda seja bastante discutido.

52

Page 65: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

53

DH

Figura 29por

: Células em degeneração no corpo estriado de camundongos com DH, marcadas Fluoro-Jade-C (verde). Os dois diferentes campos são demonstrados à esquerda (A-C) e

à direita (D-F). (DAPI em azul). Barra de calibração: 10 µm.

A D

E B

C F

Page 66: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

A

B

C

Figura 30: Ausência de células marcadas por Fluoro-Jade-C no corpo estriado de camundongos WT. A. marcação para Fluoro-Jade-C, B. marcação do núcleo com DAPI e C.sobreposição. Barra de calibração: 10 µm.

W

54

Page 67: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

DISCUSSÃO

___________________________________________________________________

Os camundongos transgênicos da linhagem R6/2 apresentam a proteína htt

humana mutada e são considerados um modelo experimental adequado ao estudo

da DH. Embora a neurogênese humana na vida adulta demonstre peculiaridades,

como a ausência de migração na RMS (SANAI et al., 2004), a investigação do perfil

proliferativo e migratório de células subependimárias no modelo R6/2 é um indicador

das características dos progenitores neurais nesta patologia. O presente estudo

demonstra que neste modelo transgênico os precursores neurais oriundos da SVZ

apresentam alteração do perfil migratório, mas não têm a proliferação afetada. Esta

conclusão baseia-se na quantificação de células BrdU+ ao longo da RMS, que

demonstrou que a porção proximal nos camundongos R6/2 apresenta um número

maior de progenitores neurais em comparação ao grupo selvagem e, ao contrário, a

RMS distal destes camundongos apresenta um número menor de progenitores

neurais. Além disso, não há alteração na proliferação celular total ao longo das

regiões analisadas, bem como no número de células em degeneração na RMS dos

R6/2. Juntos, estes dados sugerem a existência de diferenças na migração (e não

na proliferação) na SVZ entre ambos os grupos, com um acúmulo de progenitores

na SVZ caudal.

Este estudo baseia-se em grande parte na incorporação de BrdU não só

como marcador de proliferação, mas também como ferramenta para investigarmos a

migração de células. Injeções intraventriculares de retrovírus são comumente

utilizadas para traçar a migração, mas além de serem menos viáveis dentro da

realidade do nosso laboratório, poderiam induzir efeitos similares aos que ocorrem

55

Page 68: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

em lesões, que precisariam ser levados em conta na interpretação dos resultados.

Assim, o BrdU nos permitiu investigar a atividade de células progenitoras no cérebro

intacto.

No presente estudo, demonstramos que a alteração genética na DH não afeta

o número de células progenitoras em camundongos R6/2. Evidências indicam que

ocorre um aumento do número de células subependimárias e de novos neurônios no

cérebro de pacientes com DH, o que tende a aumentar com o avanço da doença

(CURTIS et al., 2003). Também ocorre este aumento em ratos tratados com ácido

quinolínico, um dos modelos animais para o estudo da DH (TATTERSFIELD et al.,

2004). Em 2005, CURTIS e colaboradores apontaram que as células B eram

responsáveis por este aumento. Recentemente, esta teoria foi reforçada através de

experimentos em que se determinava o número de neurosferas formadas a partir de

células isoladas do subepêndima e da análise morfológica das células na SVZ por

microscopia eletrônica (BATISTA et al., 2006). Assim, foi demonstrado que de fato

ocorre um progressivo aumento no número de CTs neurais no encéfalo de

camundongos R6/2 pós-sintomáticos e sugere-se que a progressão da doença deve

induzir divisões simétricas nesta população in vivo. Alguns estudos contrastam com

estes resultados, na medida em que não observaram mudanças na proliferação da

população de células subependimárias no modelo murino (GIL et al., 2005;

PHILLIPS et al., 2005; 2006).

Nossos resultados sugerem que, se ocorre alguma alteração na proliferação

celular na SVZ dos R6/2, o efeito é específico para as CTs, não atingindo as células

progenitoras. Todavia, é surpreendente que números aumentados de CTs neurais

não produzam um aumento indireto no número de progenitores e tem sido apontada

possibilidade de que os cérebros DH sintomáticos possam produzir um ambiente no

56

Page 69: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

qual as CTS sejam inibidos de fazer divisões assimétricas (possivelmente ao serem

reprogramadas a se dividirem de maneira simétrica) (BATISTA et al., 2006).

Em nossa análise, observamos que no grupo controle o número de células

BrdU+ se manteve constante ao longo da via migratória, com exceção da primeira

para a segunda região. O aumento de células nesta porção inicial da RMS deve

estar relacionado à capacidade proliferativa, que é mantida pelos neuroblastos em

fases iniciais da migração (MENEZES et al., 1995; 2002). Nos animais com DH este

aumento não foi observado, o que poderia resultar da migração alterada destas

células no modelo.

Nossos dados se enquadram bastante nas descrições de BATISTA e

colaboradores (2006), que observaram a redução do número de neuroblastos na

camada granular do bulbo olfatório de camundongos R6/2 e, além disso, não

encontraram evidências de que a proliferação da população de células progenitoras

seja afetada in vitro e in vivo. Entretanto, este grupo atribuiu tal déficit ao

redirecionamento de neuroblastos da RMS para o corpo estriado. Este seria

exatamente o comportamento que desejaríamos de uma fonte de novos neurônios a

ser utilizada para substituir a perda de neurônios na DH, principalmente sendo os

neurônios recém-formados na SVZ capazes de estabelecer novos circuitos

funcionais (CARLÉN et al., 2002). BATISTA e colaboradores (2006) quantificaram o

número de células em proliferação na SVZ pelo mesmo marcador mitótico que foi

utilizado em nossos experimentos (BrdU) e observaram a expressão de PSA-NCAM

por células que o incorporaram. A co-localização de BrdU e do marcador de

neuroblastos (no caso PSA-NCAM) é fundamental para que se possa supor que as

células BrdU+ encontradas no corpo estriado R6/2 sejam neuroblastos, caso

contrário poderia ser contra-argumentado que a marcação resulta na verdade da

57

Page 70: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

proliferação de astrócitos locais. Utilizando um protocolo similar, notamos algumas

células BrdU+ no córtex e no corpo estriado de camundongos R6/2 e também do seu

controle selvagem, contudo não notamos em nossa investigação a presença de

células PSA-NCAM+ nestas áreas. Esta divergência pode decorrer da menor

sobrevida dos animais após injetarmos BrdU (3 dias) em comparação à sobrevida

dos camundongos nos experimentos de BATISTA e colaboradores (2006), que foi de

30 dias. Por outro lado, verificamos a ocorrência do déficit migratório mesmo após

esta curta sobrevida, sendo então razoável que as células já estivessem começando

a migrar para o corpo estriado. Uma possibilidade é que as células recém-formadas

levem algum tempo para começarem a migrar para este local. Por este motivo, nós

teríamos observado um momento em que elas já eram influenciadas por fatores que

as atraíam para a lesão (o que comprometeria sua migração em direção ao bulbo

olfatório) porém não estivessem ainda migrando de fato para o corpo estriado. É

também curioso que as células migrem exclusivamente para tal região, em

detrimento de outras áreas afetadas. Como a migração para o corpo estriado tem

como principal justificativa a alteração de moléculas quimioatrativas ou repulsivas

nesta área, o que provavelmente ocorre em decorrência da lesão, uma possível

alternativa para se responder melhor tal questão seria investigar se o desvio da rota

ocorre também nos R6/2 assintomáticos, quando os encéfalos ainda não estão

afetados.

+Uma possível explicação para o menor número de celulas Brdu encontradas

na porção distal da RMS nos camundongos DH seria o aumento da morte neuronal

nesta região ou durante a migração. Através do marcador de morte neuronal Fluoro-

Jade-C, detectamos a presença de neurônios em degeneração na RMS de ambos

os grupos. O número de células marcadas por este composto na RMS do grupo

58

Page 71: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

controle pode parecer surpreendente, porém um padrão similar já havia sido descrito

por MITRUŠKOVÁ e colaboradores (2004). Estes autores afirmaram ainda que o

processo de degeneração não é restrito a determinadas regiões da RMS, o que está

de acordo com nossos resultados. BRUNJES e ARMSTRONG (1996) evidenciaram

a presença de corpos apoptóticos na RMS. A morte celular programada é um

processo cuja importância fisiológica já foi reconhecida e, ao que parece, um grande

número de células é eliminado por este mecanismo na RMS antes que seja atingida

uma região que permita a diferenciação. Sabe-se ainda que a maioria das células

TUNEL+ na RMS co-localizam com Fluoro-Jade (MITRUŠKOVÁ et al., 2004), o que

indica que este composto seja seguro para a quantificação de células em apoptose

nesta via.

Por ser o BrdU incorporado em todas as células durante a síntese de DNA,

tem sido levantada a possibilidade de que este composto possa passar a fazer parte

do material genético das células nos momentos em que ocorrem reparos, como os

estágios finais da degradação apoptótica do DNA. Este fato é relevante para o nosso

estudo, se considerarmos que este é um evento comum na RMS. No entanto,

COOPER-KUHN e KUHN (2002) afirmam que as células BrdU+ não são marcadas

por TUNEL, sugerindo que doses de BrdU em torno de 50 mg/kg não são

suficientes para detectar o reparo de DNA durante a apoptose. Acreditamos então

que este método seja eficaz para estudar a proliferação celular e a neurogênese.

Uma outra possível explicação para o menor número de células no bulbo

olfatório seria a alteração na expressão de moléculas envolvidas na migração. Para

investigar este aspecto, observamos, através da técnica de imuno-histoquímica, a

expressão de PSA-NCAM e 9-O-acetil GD3. Observamos que os camundongos DH

e os do grupo controle apresentam padrão similar tanto na expressão da PSA-

59

Page 72: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

NCAM quanto na expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3. Embora a expressão

de PSA-NCAM na SVZ de modelos DH não tenha sido investigada diretamente, no

hipocampo e no córtex de camundongos R6/1 e R6/2 foi descrita a redução do

número de células expressando esta molécula (BORGHT e BRUNDIN, 2006). A

alteração foi detectada mesmo no período pré-sintomático da doença e os autores

apontam que ela possa resultar da redução dos níveis totais de NCAMs ou de um

decréscimo da polisialilação nos R6. Também foi sugerido que o decréscimo de

PSA-NCAM no hipocampo possa ser responsável pela redução da plasticidade e

portanto pelo declínio cognitivo observado nos camundongos. Entretanto, nossos

dados não evidenciaram diferenças significativas na quantidade de células

expressando esta molécula na RMS dos camundongos R6/2. Como alguns estudos

demonstraram que no hipocampo destes camundongos a neurogênese é reduzida

(GIL et al., 2005), a menor quantidade de células PSA-NCAM+ observada por

BORGHT e BRUNDIN (2006) neste local poderia refletir na verdade a redução da

neurogênese. É importante salientar que, assim como estes autores, em nosso

estudo avaliamos apenas a quantidade de células que expressam a molécula, e não

a intensidade de expressão da mesma, o que seria útil para elucidar esta questão.

Diante da complexidade e da diversidade de fatores que poderiam estar causando a

alteração, nossa investigação ainda é incipiente. São muitas as “pistas” moleculares

implicadas na migração na RMS e muitos estudos são ainda necessários para

compreendermos o(s) fator(es) por trás da dificuldade migratória. Além disso, a

análise da expressão do gangliosídeo é apenas qualitativa e se faz necessária uma

quantificação para a obtenção de dados mais conclusivos. As investigações de

outros autores, alguns deles citados a seguir, nos levam a especular quais

60

Page 73: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

elementos poderiam estar ou não relacionados aos nossos resultados, indicando

novas perspectivas para a nossa pesquisa.

PHILLIPS et al., 2006 investigaram a expressão de doublecortina, uma

proteína associada a microtúbulos necessária à migração de neuroblastos na SVZ, e

demonstraram a ocorrência de uma redução no número de células doublecortina+ no

córtex mas não na SVZ de camundongos R6/2. Portanto, a alteração que nós

encontramos na RMS provavelmente não está relacionada a este fator. Da mesma

maneira, é provável que não haja influência do bulbo olfatório neste sentido, uma

vez que a sua remoção não previne a migração dos precursores neuronais e, além

disso, as células da SVZ não migram em direção a um explante de bulbo olfatório

em cultura (JANKOVSKI et al., 1998).

BEINRAISS e colaboradores (2001) demonstraram que o BDNF tem a

capacidade de aumentar o número de neurônios recém-formados no corpo estriado

e no bulbo olfatório. Já em camundongos que expressam baixos níveis de BDNF, a

migração para o bulbo olfatório é reduzida (ZUCCATO et al., 2005). Como os

encéfalos de camundongos com DH apresentam baixos níveis de BDNF, esta tem

sido sugerida como a principal causa da reduzida migração em direção ao bulbo

olfatório (BATISTA et al., 2006; FAN, 2006).

Como foi relatado anteriormente, também tem sido atribuído um papel aos

astrócitos que formam o “tubo glial” na migração e na proliferação na RMS. A

proliferação de neuroblastos nesta via ocorre justamente na periferia, próximo aos

astrócitos (MENEZES et al., 2002), o que sugere uma importante influência destes

sobre a população de células migratórias. CONOVER e colaboradores (2000)

mostraram que os astrócitos na SVZ expressam receptores para efrinas e que a

infusão de efrinas truncadas nos VLs, perturbando sua sinalização, resulta no

61

Page 74: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

aumento da proliferação celular na SVZ e da formação de agregados de células

junto aos VLs, impedindo a migração. O referido trabalho sugeriu que as efrinas

devem ajudar a definir a via de migração dos neuroblastos. Sendo assim, seria

interessante verificar se ocorre alguma alteração destas moléculas ou dos seus

receptores nos astrócitos da RMS de camundongos com DH.

Utilizando Fluoro-Jade-C, nós detectamos células em degeneração no corpo

estriado de camundongos com DH, mas não nos selvagens. Alguns dados apontam

que o Fluoro-Jade é capaz de marcar astrócitos reativos após lesão cortical

(COLOMBO e PUISSANT, 2002) e que o Fluoro-Jade-B marca astrócitos reativos e

quiescentes na medula espinal (ANDERSON et al., 2003). Por ouro lado, SHMUED

e colaboradores (2005) observaram que a marcação de astrócitos utilizando o

Fluoro-Jade-C é rara e bem menos intensa, o que talvez indique a maior

especificidade deste último em marcar neurônios em degeneração. Se

concordarmos com este argumento, podemos assumir que a marcação por Fluoro-

Jade-C é um bom parâmetro para verificar a influência de terapias sobre a

degeneração neuronal observada na DH, embora existam controvérsias a respeito

do exato mecanismo de morte celular nesta patologia.

Nosso trabalho objetivou compreender melhor alguns aspectos da

neurogênese na DH. Não sabemos se a alteração da migração que observamos

contribui para a patogênese da doença (reduzindo o número de neurônios

disponíveis para a reposição das células mortas ou afetando sua migração também

em estágios iniciais do desenvolvimento), se resulta na proteção contra a toxicidade

da htt (ao reter as células próximas ao subepêndima), ou se a alteração não gera

conseqüência alguma, agindo simplesmente como efeito da mutação da htt.

Algumas restrições durante a nossa investigação se devem à dificuldade de manter

62

Page 75: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

a reprodução de camundongos R6/2. Já existem estudos mostrando a redução de

gonadotrofinas e infertilidade neste modelo (PAPALEXI et al., 2005) e

provavelmente por este motivo não obtivemos sucesso em manter exemplares desta

linhagem no Brasil. Esperamos adquirir novos animais em breve, pois temos como

perspectiva continuar nossa pesquisa nesta mesma linha, utilizando uma abordagem

terapêutica. Neste sentido, pretendemos verificar a influência da injeção de células-

tronco da medula óssea sobre a população de progenitores neurais e sobre a

degeneração do corpo estriado na DH.

63

Page 76: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

CONCLUSÕES

___________________________________________________________________

Nós demonstramos que ocorre um déficit migratório de neuroblastos ao longo

da RMS de camundongos R6/2. O gangliosídeo 9-O-acetil GD3 e a PSA-NCAM,

cujos papéis na migração foram reconhecidos, não apresentam alteração de

expressão neste modelo. Entretanto, são muitos os fatores que podem estar

contribuindo para o déficit e investigações são necessárias para que se

compreendam as causas, bem como as conseqüências desta alteração.

Verificamos também que células em degeneração no corpo estriado de

camundongos com DH e na RMS podem ser detectadas através da utilização do

Fluoro-Jade-C. Esperamos que as informações obtidas com este estudo possam

contribuir para a melhor compreensão do comportamento dos progenitores

neurais na DH, favorecendo desta forma a aplicação de terapias celulares na

recuperação funcional dos pacientes.

64

Page 77: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

___________________________________________________________________

ALBERTS, B., DENNIS, B., LEWIS, J., RAFF, M., ROBERTS, K. e WATSON, J.D.

ALTMAN, J. Are New Neurons Formed in the Brains of Adult Mammals?

Science, v. 135, n. 3509, pp. 1127-1128; 1962.

ALTMAN, J. Cell proliferation and migration in the anterior forebrain, with special reference to persisting neurogenesis in the olfactory bulb. J Comp

Neurol, v. 137, pp. 433-458; 1969.

ALVAREZ-BUYLLA, A., SERI, B. e DOETSCH, F. Identification of neural stem cells in the adult vertebrate brain. Brain Res Bulletin, v. 57, n. 6, pp. 751-758;

2002.

ALVES, J.A.J., BARONE, P., ENGELENDER, S., FROES, M. M. e MENEZES, J. R.

L. Initial stages of radial glia astrocytic transformation in the early postnatal anterior subventricular zone. J Neurobiology, v. 52, n. 3, pp. 251-265; 2002.

ARVIDSSON, A., COLLIN, T., KIRIK, D., KOKAIA, Z. e LINDVALL, O. Neuronal replacement from endogenous precursors in the adult brain after stroke. Nat Med, n. 8, pp.963-970; 2002.

AYLWARD, E.H., BRANDT, J., CODORI, A.M., MANGUS, R.S., BARTA, P.E. e

HARRIS, G.J. Reduced basal ganglia volume associated with the gene for Huntington’s disease in asymptomatic at-risk persons. Neurology, n. 44, pp.

823-828; 1994.

ANDERSON, K.J., FUGACCIA, I. e SCHEFF, S.W. Fluoro-Jade B stains quiescent and reactive astrocytes in the rodent spinal cord. J Neurotrauma, v. 20, n. 11, pp.

1223-1231; 2003.

BATES, P. Exploiting Expression. Nature, v. 413, pp. 691-694; 2001

65

Page 78: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

BATISTA, C. M., KIPPIN, T., WILLAIME-MORAWEK, S., SHIMABUKURO, M.K.,

AKAMATSU, W. e VAN DER KOOY, D. A Progressive and Cell Non-Autonomous Increase in Striatal Neural Stem Cells in the Huntington’s Disease R6/2 Mouse. J Neurosci, v. 26, pp. 10452-10460; 2006.

BEAR, M.F., CONNORS, B.W. e PARADISO, M.A. Neurociências - Desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Atmed; 2001.

BENRAISS, A., CHMIELNICKI, E., LERNER, K., ROH, D. e GOLDMAN, S.A.

Adenoviral brain-derived neurotrophic factor induces both neostriatal and olfactory neuronal recruitment from endogenous progenitor cells in the adult forebrain. J Neurosci, v. 21, pp. 6718–6731; 2001.

BORGHT, K. e BRUNDIN P. Reduced expression of PSA-NCAM in the hippocampus and piriform cortex of the R6/1 and R6/2 mouse models of Huntington's disease. Experimental Neurology, pp. 1-6; 2006.

BRUNJES P.C, ARMSTRONG A.M. Apoptosis in the rostral migratory stream of the developing rat. Developmental Brain Res, 92, pp. 219-222; 1996.

CARLÉN, M., CASSIDY, R.M., BRISMAR, H., SMITH, G. A., ENQUIST, L. W. e

FRISEN, J. Functional integration of adult-born neurons. Current Biology, 12, pp.

606-608; 2002.

CARTER, R.J., LIONE, L.A., HUMBY, T., MANGIARINI, L., MAHAL, A., BATES,

G.P., DUNNETT, S.B. e MORTON, A.J. Characterization of progressive motor deficits in mice transgenic for the human Huntington’s disease mutation. J

Neurosci, 19, pp. 3248 -3257; 1999.

CATTANEO, E., ZUCCATO, C. e TARTARI, M. Normal huntingtin function : an alternative approach to Huntington’s Disease. Nature Rewiews Neuroscience, v.

6, pp. 919-930; 2005.

66

Page 79: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

CHAN, E.Y.W., A., S.M., S.A., LUTHI-CARTER, R., STRAND, SOLANO, HANSON, K., DEJOHN, M.M., KOOPERBERG, C., CHASE, DIFIGLIA, M., YOUNG, A.B.,

LEAVITT, B.R., CHAN, J., ARONIN, N., HAYDEN, M.R. e OLSON, J.M. Increased huntingtin protein length reduces the number of polyglutamine-induced gene expression changes in mouse models of Huntington’s disease. Hum Mol Genet,

11, pp. 1939-1951; 2002.

CHARLES, P., REYNOLDS, R., SEILHEAN, D., ROUGON, G., AIGROT, M.S.,

NIEZGODA, A., ZALC, B. e LUBETZKI, C. Re-expression of PSA-NCAM by demyelinated axons: an inhibitor of remyelination in multiple sclerosis? Brain,

v. 125, n. 9, pp. 1972-1979; 2002.

CHIASSON, J.B., TROPEPE, V., MORSHEAD, C.M. e KOOY, D. Adult Mammalian Forebrain Ependymal and Subependymal Cells Demonstrate Proliferative Potential, but only Subependymal Cells Have Neural Stem Cell Characteristics. J Neurosci, v. 19, n.11, pp. 4462–4471; 1999.

COLOMBO, J.A. e PUISSANT, V. I. Fluoro-Jade stains early and reactive astroglia in the primate cerebral cortex. The Journal of Histochemistry &

Cytochemistry, v. 50, n. 8, pp. 1135–1137; 2002.

CONOVER, J. C., DOETSCH, F., GARCIA-VERDUGO, J. M., GALE, N.,

YANCOPOULOS, G. D. e ALVAREZ-BUYLLA, A., Disruption of Eph/ephrin signaling affects migration and proliferation in the adult subventricular zone. Nat Neurosci, v. 3, n. 11, pp. 1091-7; 2000.

COOPER-KUHN, C. e KUHN, G. Is it all DNA repair? Methodological considerations for detecting neurogenesis in the adult brain. Developmental

Brain Res, 134, pp. 13-21; 2002.

COTRAN, R.S, KUMAR, V.Y. e ROBBINS, S.L. Patologia estrutural e funcional. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.

CREMER, H., LANGE, R., CHRISTOPH, A., PLOMANN, M., VOPPER, G., ROES,

J., BROWN, R., BALDWIN, S., KRAEMER, P., SCHEFF, S., DAGMAR, B.,

67

Page 80: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

RAJEWSKY, K. e WILL W. Inactivation of the N-CAM gene in mice results in size reduction of the olfactory bulb and deficits in spatial learning. Nature, 367, pp.

455-459; 1994.

CURTIS, M. A., PENNEY, E. B., PEARSON, J., ROON-MOM, W.M.C., BUTTERWORTH, N.J., DRAGUNOW, M., CONNOR, B. e FAULL R. L. M.

Increased cell proliferation and neurogenesis in the adult human Huntington's disease brain. PNAS, v. 100, n. 15, pp. 9023-9027; 2003.

CURTIS, M. A., PENNEY, E. B., PEARSON, J., DRAGUNOW, M., CONNOR, B., e

FAULL, R. L. M. The distribution of progenitor cells in the subependymal layer of the lateral ventricle in the normal and Huntington's disease human brain. Neuroscience, v. 132, n. 3, pp. 777-788; 2005.

DOETSCH, F., GARCIA-VERDUGO, J.M. e ALVAREZ-BUYLLA, A. Cellular composition and three dimensional organization of the subventricular germinal zone in the adult mammalian brain. J Neurosci, 17, pp. 5046-5061; 1997.

DOETSCH, F., CAILLÉ, LIM, D.A., GARCÍA-VERDUGO, J.M. e ALVAREZ-BUYLLA,

A. Subventricular Zone Astrocytes Are Neural Stem Cells in the Adult Mammalian Brain. Cell, 97, pp. 703-716; 1999.

EDELMAN, G.M. e RUTISHAUSER, U. Molecules involved in cell-cell adhesion during development. JSSCB,16, pp. 259-268; 1981.

ELIAS, K.M., DIAMENT, M., LIMA, M.L., VALENTE, T. e GORESCU, S.A. Apoptose e sistema complemento: mecanismos participantes da neurodegeneração na Doença de Huntington. Rev Med, v. 80, pp. 63-70; 2001.

FAN, MM e FAN, J. Proliferating neural precursor cells as first step toward neuroregeneration in Huntington's disease? J Neurosci. v. 27, n. 52, pp.13411-2;

2006.

FREEMAN, T.B., CICCHETTI, F., HAUSERB, R.A., DEACONF, T.W., LIH, X.,

HERSCHI, L.M., NAUERTJ, G.M., SANBERGA, P.R., KORDOWERK, J.H.,

68

Page 81: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

SAPORTA, S. e ISACSONE, O. Integrating fetal neural transplants into a terapeutic strategy: the example of Huntington’s disease. Brain, v. 127, pp.

1219-1228; 2000.

GARCIA, A.D.R., DOAN, N.B., IMURA, T., BUSH, T.G. e SOFRONIEW M.V. GFAP-expressing progenitors are the principal source of constitutive neurogenesis in adult mouse forebrain. Nature Neuroscience, v. 7, pp.1233-1241; 2004.

GIL, J.M., MOHAPEL, P., ARAUJO, I.M., POPOVIC, N., Li, J.Y., BRUNDIN, P. e

PETERSEN, A. Reduced hippocampal neurogenesis in R6/2 transgenic Huntington's disease mice. Neurobiol. Dis. v. 20, n. 3, pp. 744-751; 2005.

GOINGS, G.E., SAHNI, V. e SZELE, F.G. Migration patterns of subventricular zone cells in adult mice change after cerebral cortex injury. Brain Res, 996,

pp.213–226; 2004.

GOLDBERG, Y. P., KREMER, B., SUSAN, E., THEILMANN, J., GRAHAM, R.K.,

SQUITIERI, F., TELENIUS, H., ADAM, S., SAJOO, A., STARR, E., HEIBERG, A.,

WOLFF, G. e HAYDEN M.R.

Molecular analysis of new mutations for Huntington's disease: intermediate alleles and sex of origin effects. Nature

Genetics, v. 5, pp. 174 – 179; 1993.

GOLDMAN, J.E. Lineage, migration, and fate determination of postnatal subventricular zone cells in the mammalian CNS. J Neurooncol, v. 24, pp. 61-64;

1995.

GROSS, C.G. Neurogenesis in the Adult Brain: Death of a Dogma. Nature, 1, pp.

67-73; 2000.

HEDIN-PEREIRA, C., DE MORAES, E.C.P., LENT, R. e MENDEZ-OTERO R. 9-O Acetylated gangliosides are required for radial cell migration in embryonic cerebral cortex. Axon Guidance and Neural Plasticity Meeting. pp 16-20, 1998.

HU, H., TOMASIEWICZ, H., MAGNUSON, T. e RUTISHAUSER, U. The role of polysialic acid in migration of olfactory bulb interneuron precursors in the subventricular zone. Neuron, v. 16, pp. 735-743; 1996.

69

Page 82: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

HU, H e RUTISHAUSER U. A septum-derived chemorepulsive factor for migrating olfactory interneuron precursors. Neuron, v. 16, pp. 933-940;1996.

HUNTINGTON, G. On chorea. Medical and Surgical Reporter; 26, pp. 317-211;

1872.

IMURA, T., HARLEY, I. e SOFRONIEW, M.V. The Predominant Neural Stem Cell Isolated from Postnatal and Adult Forebrain But Not Early Embryonic Forebrain Expresses GFAP. J Neurosci, v. 23, n. 7, pp. 2824-2832; 2003.

JACOBSON, M. Developmental Neurobiology. Plenum Press, New York; 1991.

JANKOVSKI, A., GARCIA, C., SORIANO, E. e SOTELO, C. Proliferation, migration and differentiation of neuronal progenitor cells in the adult mouse subventricular zone surgically separated from its olfactory bulb. Eur J Neurosci,

v. 10, n. 12 pp. 3853-68; 1998.

JIN, K., SUN, Y., XIE, L., PEEL, A., MAO, X.O., BATTEUR, S. e GREENBERG, D.A.

Directed migration of neuronal precursors into the ischemic cerebral cortex and striatum. Mol Cell Neurosci, 24, pp.171-189; 2003.

JIN, K., PEEL, A.L., MAO, X.O., XIE, L., COTTRELL, B.A., HENSHALL, D.C. e GREENBERG, D.A. Increased hippocampal neurogenesis in Alzheimer's

disease. PNAS, v. 101, n. 1, pp. 343-347; 2004.

JIN, K., LAFEVRE-BERNT, M., SUN, Y., CHEN, S., GAFNI, J., CRIPPEN, D.,

LOGVINOVA, A., ROSS, C.A., GREENBERG, D.A. e ELLERBY, L.M. FGF-2 promotes neurogenesis and neuroprotection and prolongs survival in a transgenic mouse model of Huntington's disease. PNAS, v. 102, n. 50, pp.

18189-18194; 2005.

JOHANSSON, C.B., MOMMA, S., CLARKE, D.L., RISLING, M., LENDAHL, U. e

FRISÉN, J. Identification of a Neural Stem Cell in the Adult Mammalian Central Nervous System. Cell, 96, pp. 25–34; 1999.

JORDE, L.B. Genética Médica. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2000.

70

Page 83: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

KISHI, K. Golgi studies on the development of granule cells of the rat olfactory bulb with reference to migration in the subependymal layer. J Comp Neurol, v.

258, pp. 112-124; 1987.

KISHI, K., PENG, JY., KAKUTA, S., MURAKAMI, K., KURODA, M., YOKOTA, S.,

HAYAKAWA, S., KUGE, T. e ASAYAMA, T. Migration of bipolar subependymal cells, precursor of the granule cells of the rat olfactory bulb, with reference to the arrangement of the radial glial fibers. Archives of Histology and Cytology, 53,

pp. 219-226;1990.

KISS, J.Z. e ROUGNON G. Cell biology of polysialic acid. Curr Opin Neurobiol , 7,

pp. 640-646; 1997.

KISS, J.Z., TRONCOSO, E., ., DJEBBARA, Z VUTSKITS, L. e MULLER, D. The role of neural cell adhesion molecules in plasticity and repair. Brain Res, v. 36, n. 2,

pp. 175-84; 2001.

KREMER, H.P., ROOS, R.A., DINGJAN, G.M., BOTS, G.T., BRUYN, G.W. e

HOFMAN, M.A. The hypothalamic lateral tuberal nucleus and the characteristic of neuronal loss in Huntington’s disease. Neurosci Lett, v. 132, pp. 101–104;

1991.

LANDWEHRMEYER, G.B., MCNEIL, S.M. e DURE, L.S. Huntington’s disease gene: regional and cellular expression in brain of normal and affected individuals. Ann Neurol, v. 37, pp. 218-230; 1995.

LAYWELL, E.D., RAKIC, P., KUKEKOV, V.G., HOLLAND, E.C. e STEINDLER, D.A.

Identification of a multipotent astrocytic stem cell in the immature and adult mouse brain. PNAS, 97, n. 25; 2000.

LENNINGTON, J.B., YANG, Z. e CONOVER, J.C. Neural stem cells and the regulation of adult neurogenesis. Reproductive Biology and Endocrinology, 1, n

99; 2003.

71

Page 84: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

LESCAUDRON, L. Autologous adult bone marrow stem cell transplantation in an animal model of Huntington’s disease : behavioral and morphological outcomes. Intern J Neuroscience, v. 113, pp. 945-956; 2003.

LEVISON, S.W. e GOLDMAN, J.E. Both oligodendrocytes and astrocytes develop from progenitors in the subventricular zone of postnatal rat forebrain. Neuron, v. 10, pp. 201-212; 1993.

LI, J.Y., POPOVIC, N. e BRUNDIN, P. The Use of the R6 Transgenic Mouse Models of Huntington's Disease in Attempts to Develop Novel Therapeutic Strategies. NeuroRx, v. 2, n. 3 pp. 447–464; 2005.

LOIS, C. e ALVAREZ-BUYLLA, A. Long-distance neuronal migration in the adult mammalian brain. Science, v. 264, pp. 1145-1148; 1994.

LOIS, C. e ALVAREZ-BUYLLA, A. Proliferating Subventricular Zone Cells in the Adult Mammalian Forebrain can Differentiate into Neurons and Glia. PNAS, v.

90, pp. 2074-2077; 1993.

LOIS, C., GARCIA-VERDUGO, J. M. e ALVAREZ- BUYLLA, A. Chain migration of neuronal precursors. Science, 271, pp. 978-981; 1996.

MANGIARINI, L., SATHASIVAM, K., SELLER, M., COZENS, B., HARPER, A.,

HETHERINGTON, C., LAWTON, M., TROTTIER, Y., LEHRACH, H., DAVIES, S.W. e

BATES, G.P. Exon 1 of the HD Gene with an Expanded CAG Repeat Is Sufficient to Cause a Progressive Neurological Phenotype in Transgenic Mice. Cell, v. 87,

pp. 493–506; 1996.

MELONE, M. A. B.; JORI, F. P. e PELUSO, G. Huntington’s disease; new frontiers for molecular and cell therapy. Current drug targets, 6, pp. 43-56; 2005.

MENDEZ-OTERO, R., SCHLOSSHAUER, B., BARNSTABLE, C. J. CONSTANTINE-

PATON, M. A. Developmentally Regulated Antigen Associated With Neuronal Cell And Process Migration. J Neurosci, v. 8, pp. 564-579; 1988.

72

Page 85: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

MENDEZ-OTERO, R. e CAVALCANTE, L.A. Expression of 9-O-acetylated gangliosides is correlated with tangential cell migration in the rat brain.

Neurosci Lett, 204, pp. 97-100; 1996.

MENDEZ-OTERO, R., SCHLOSSHAUER, B. e CONSTANTINE-PATON. Role Of Acetylated Gangliosides On Neuronal Migration And Axonal Outgrowth. The

Visual System From Genesis To Maturity. Boston, EUA: Birkhause, pp. 49-62; 1992.

MENEZES, J.R.L., SMITH, C.M., NELSON, K.C. e LUSKIN, M.B. The division of Neuronal Progenitor Cells During Migration in the Neonatal Mammalian Forebrain. Molecular and Cellular Neuroscience, 6, pp. 496-508; 1995.

MENEZES, J.R.L., MARINS, M., ALVES, J.A.J , FRÓES, M.M. e HEDIN-PEREIRA,

C. Cell migration in the postnatal subventricular zone. Brazilian J of Medical and

Biological Research, 35, pp. 1411-1421; 2002.

MERKLE, F.T., TRAMONTIN, A.D., GARCÍA-VERDUGO, J.M. e ALVAREZ-BUYLLA,

A. Radial glia give rise to adult neural stem cells in the subventricular zone. PNAS, v. 101, n. 50; 2004.

MITRUŠKOVÁ, B., ORENDAČOVÁ, J. e RAČEKOVÁ E. Fluoro-Jade-B detection of dying cells in the SVZ and RMS of adult rats after bilateral olfactory bulbectomy. Cellular and Molecular Neurobiology, v. 25, n. 8; 2005.

MORSHEAD, C.M. e VAN DER KOOY, D. Postmitotic death is the fate of constitutively proliferating cells in the subependymal layer of the adult mouse brain. J Neurosci,12, pp. 249-256; 1992.

MIYAKOSHI, L. M., MENDEZ-OTERO, R. e HEDIN-PEREIRA, C. The 9-O-acetyl GD3 gangliosides are expressed by migrating chains of subventricular zone neurons in vitro. Brazilian J of Medical and Biological Research, v. 34, pp. 669-673;

2001.

73

Page 86: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

NARAIN, Y., WYTTENBACH, A.N.J., FURLONG, R.A. e RUBINSZTEIN, D.C. A molecular investigation of true dominance in Huntington’s disease. J Med

Genet, pp. 739-746; 1999.

NGUYEN, L., RIGO, J.M., MALGRANGE, B., MOONEN, G. e BELACHEW, S.

Untangling the Functional Potential of PSA-NCAM-Expressing Cells in CNS Development and Brain Repair Strategies. Current Medicinal Chemistry, v. 10, pp.

2185-2196; 2003.

ONO, K., TOMASIEWICZ, H., MAGNUSON, T. e RUTISHAUSER, U. NCAM mutation inhibits tangential neuronal migration and is phenocopied by enzymatic removal of polysialic acid. Neuron,13, pp. 595-609; 1994.

ORTH, M., COOPER, J. M., BATES, G. P. e SCHAPIRA, A. H. V. Inclusion formation in Huntington’s disease R6/2 mouse muscle cultures. Journal of

Neurochemistry, 87, pp. 1-6; 2003.

PAPALEXI, E., PERSSON, A., BJORKQVIST, M., PETERSEN, A., WOODMAN, B.,

BATES, G.P., SUNDLER, F., MULDER, H., BRUNDIN, P. e POPOVIC, N.

Reduction of GnRH and infertility in the R6/2 mouse model of Huntington's disease. Eur J Neurosci, v. 22, n. 6, pp. 1541-6; 2005.

PAXINOS, G. e FRANKLIN, K. The Mouse Brain In Stereotaxic Coordinates. 2

ed., 2001.

PERETTO, P., MERIGHI, A., FASOLO, A. e BONFANTI, L. Glial tubes in the rostral migratory stream of the adult rat. Brain Res Bulletin, 42, pp. 9-21; 1997.

PHILLIPS, W., MORTON, A.J. e BARKER, R.A. Abnormalities of neurogenesis in the R6/2 mouse model of Huntington’s disease are attributable to the in vivo

microenvironment. J Neurosci, 25, pp. 11564 –11576; 2005.

74

Page 87: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

PHILLIPS, W., MORTON, A.J. e BARKER, R.A. Limbic neurogenesis/plasticity in the R6/2 mouse model of Huntington’s disease. NeuroReport,17, pp. 1623–1627;

2006.

RAKIC, P. Principles of neural cell migration. Experentia, 46, pp. 882-891; 1990.

REDDY, P.H., WILLIAMS, M., CHARLES, V., GARRETT, L., PIKE-BUCHANAN, L., WHETSELL, J.R., MILLER, G. e TAGLE, D.A. Behavioural abnormalities and selective neuronal loss in HD transgenic mice expressing mutated full-length HD cDNA. Nature Genet, 20, pp.198–202; 1998.

ROSSELLI-AUSTIN, L. e ALTMAN, J. The postnatal development of the main olfactory bulb of the rat. J Dev Physiol, 1, pp. 295-313; 1995.

SANAI, N., TRAMONTIN, A.D., QUIÑONES-HINOJOSA, A., BARBARO, N.M.,

GUPTA, N., KUNWAR, S., LAWTON, M.T., MCDERMOTT, M.W., PARSA, A.T.,

GARCÍA-VERDUGO, J.M., BERGER, M.S. E ALVAREZ-BUYLLA, A. Unique astrocyte ribbon in adult human brain contains neural stem cells but lacks chain migration. Nature, v. 427, n. 19; 2004.

SANTIAGO, M. F., BERREDO-PINHO, M., COSTA, M. R., GANDRA, M.,

CAVALCANTE, L. A. e MENDEZ-OTERO, R. Expression and function of ganglioside 9-O-acetyl GD3 in postmitotic granule cell development. Molecular

and Cellular Neuroscience, v. 17, pp. 488-499; 2001.

SANTIAGO, M. F., COSTA, M. R. e MENDEZ-OTERO R. Immunoblockage of 9-O-acetyl GD3 ganglioside arrests the in vivo migration of cerebellar granule neurons. J Neurosci, v. 24, pp. 474-478; 2004.

SAWA, A., TOMODA, T. e EBAE B.I. Mechanisms of neuronal cell death in Huntington’s disease. Cytogenet Genome Res, 100, pp. 287–295; 2003.

SCHMUED, L.C., ALBERTSON, C. e SLIKKER, W. Fluoro-Jade: a novel fluorochrome for the sensitive and reliable histochemical localization of neuronal degeneration. Brain Res, 751, pp. 37-46; 1997.

75

Page 88: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

SCHMUED, L.C. e HOPKINS, K.J. Fluoro-Jade B: a high affinity fluorescent marker for the localization of neuronal degeneration. Brain Res, 874, pp. 123-

130; 2000.

SCHMUED, L.C. Fluoro-Jade C results in ultra high resolution and contrast labeling of degenerating neurons. Brain Res, v 1035, n 1, pp. 24-31; 2005.

SERI, B., GARCÍA-VERDUGO, J.M., MCEWEN, B.S. e ALVAREZ-BUYLLA, A.

Astrocytes Give Rise to New Neurons in the Adult Mammalian Hippocampus. J

Neurosci, v. 21, n. 18, pp. 7153–7160; 2001.

SEKI, T. e ARAI, Y. Temporal and spacial relationships between PSA-NCAM-expressing, newly generated granule cells, and radial glia-like cells in the adult dentate gyrus. J Comp Neurol, 2, pp. 503-13, 1999.

SPADA, R.L.S. Huntington’S Disease anda neurogenesis: FGF-2 to the rescue?

PNAS, v. 102, n. 50, pp. 17889-17890; 2005.

STENSAAS, L.J. e GILSON, B.C. Ependymal and subependymal cells of the caudato-pallial junction in the lateral ventricle of the neonatal rabbit. Zeitschrift

für Zellforschung und Mikroskopische Anatomie, 132, pp. 297-322;1972.

SUGARS, K.L. e RUBINSZTEIN, D.C. Transcriptional abnormalities in Huntington disease. Trends in Genetics, v. 19, n .5, pp. 233-238; 2003.

TATTERSFIELD, A.S., CROON, R.J., LIU, Y.W., KELLS, A.P., FAULL R.L. e

CONNOR, B. Neurogenesis in the striatum of the quinolinic acid lesion model of Huntington’s disease. Neuroscience 127, pp. 319–332; 2004.

THEODOSIS, D.T., ROUGON, G. e POULAIN, D.A. Retention of embryonic features by an adult neuronal system capable of plasticity: polysialylated neural cell adhesion molecule in the hypothalamo-neurohypophysial system. PNAS, v. 88, n. 13, pp. 5494–5498; 1991.

76

Page 89: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

TOBIN, A. J. e E. R. SIGNER. Huntington's disease: the challenge for cell biologists. Trends Cell Biol, v. 10, n. 12, pp. 531-6; 2000.

TOMASIEWICZ, H., ONO, K., YEE, D., THOMPSON, C., GORIDIS, C.,

RUTISHAUSER, U. e MAGNUSON, T. Genetic deletion of a neural cell adhesion molecule variant (NCAM 180) produces distinct defects in the central nervous system. Neuron, 11, pp. 1163-1174; 1993.

TURMAINE, M., RAZA, A., MAHAL, A., MANGIARINI, L,; BATES, G.P. e DAVIES, S.

W. Nonapoptotic neurodegeneration in a transgenic mouse model of Huntington’s disease. PNAS, v. 97, n. 14, pp. 8093–8097; 2000.

VONSATTEL, J.P. e DIFIGLIA, M. Huntington disease. J Neuropathol Exp Neurol,

57, pp. 369 –384 ; 1998.

WICHTERLE, H., GARCIA-VERDUGO, J.M. e ALVAREZ-BUYLLA, A. Direct evidence for homotypic, glia-independent neuronal migration. Neuron, 18, pp.

779-791; 1997.

WILLARD, T.M. Padrões de herança monogênica. 5.ed. Rio de Janeiro,1991.

ZERON, M.M., CHEN, N., MOSHAVER, A., LEE, A.T.. WELLINGTON, C.L. e

HAYDEN, M.R. Mutant Huntingtin enhances excitotoxic cell death. Mol Cel

Neurosci, 17 (1), pp. 41-53; 2001.

ZUCCATO, C., LIBER, D., RAMOS, C., TARDITI, A., RIGAMONTI, D., TARTARI, M.,

VALENZA, M. e CATTANEO, E. Progressive loss of BDNF in a mouse model of Huntington's disease and rescue by BDNF delivery. Pharmacological Res,

v. 52, n. 2, pp. 133-139; 2005.

77

Page 90: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

ANEXOS ___________________________________________________________________

PROTOCOLOS I) Imuno-histoquímica: BrdU

• Deixar os cortes descongelarem.

• PBS 10mM + Triton a 0,3 %: 10min, 3x.

• Desnaturar DNA com HCl 2N: 30 min a 37° C.

• Tampão borato 0,1 M pH 8,5: 5 min.

• PBS 10mM: 10min, 3x.

• Primário 1:100 em NGS 10%: overnight a 4° C.

• PBS 10mM: 10min, 3x.

• Anticorpo secundário 1:200 em PBS 10mM + Triton a 0,3 %: 2h a 37° C

• PBS 10mM: 10min, 3x. II) Imuno-histoquímica: Jones

• Deixar os cortes descongelarem.

• PBS 10mM + Triton a 0,01%: 10min, 1x.

• PBS 10mM: 10min, 2x.

• Solução bloqueio (NGS 5% + BSA 3% + glicina 1% em PBS10mM): 1h em temperatura ambiente.

• Anticorpo primário 1:100 na solução bloqueio: overnight a 4° C.

• PBS 10mM: 10min, 3x.

• Anticorpo secundário1:1000 em PBS 10mM: 2h a 37° C.

• PBS 10mM: 10min, 3x (lavar também com DAPI, se quiser).

78

Page 91: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

III) Imuno-histoquímica: PSA-NCAM/BrdU

• Deixar os cortes descongelarem.

• PBS 10mM: 10 min, 3x.

• Solução bloqueio (NGS 5% + Triton 0,4% + BSA 3% + glicina 1% em PBS10mM): 1h em temperatura ambiente.

• Anticorpo primário 1:200 na solução bloqueio: overnight a 4ºC.

• PBS 10mM: 10 min, 3x.

• Anticorpo secundário1:1000 em PBS + 0,3% Triton: 2h a 37ºC.

• PBS10mM: 10 min, 3x.

• Pós-fixação com paraformaldeído 4%: 20 min.

• PBS10mM: 10 min, 3x.

• Desnaturar DNA com HCl 2N: 30 min a 37ºC.

• Tampão borato 0,1 M pH 8,5: 5 min.

• PBS10mM: 10 min, 3x.

• Solução bloqueio (NGS 5% + Triton 0,4% + BSA 3% + glicina 1% em

PBS10mM): 1h em temperatura ambiente.

• Primário 1:100 na solução bloqueio: overnight a 4° C.

• PBS10mM: 10 min, 3x.

• Anticorpo secundário 1:200 em PBS 10mM + Triton a 0,3 %: 2h a 37° C

• PBS10mM: 10 min, 3x.

79

Page 92: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

IV) Reação: Fluoro-Jade C

• Deixar os cortes descongelarem.

• Lavar os cortes com água destilada e deixar secar na estufa a 45°C (20-30 min).

• Lavar por 3 min em álcool etílico a 100%.

• Lavar por 1 min em álcool a 70%.

• Lavar por 1 min em água destilada.

• Colocar as lâminas em uma placa de petri mergulhadas em permanganato de

potássio (KMnO4) 0,06% e agitar brandamente na placa rotatória por 15 minutos.

*Enquanto isso, preparar a solução de Fluoro-Jade C a 0,001%. A solução inicial deverá estar estocada a 0,01% em água destilada, na geladeira. A solução final será obtida pela diluição desta solução estoque em ácido acético a 0,1%.

• Lavar por 1 min em água destilada.

• Incubar as lâminas com a solução de Fluoro-Jade C a 0,001% por 30 min em

temperatura ambiente.

• Fazer 3 lavagens de 1 min em água destilada ou lavar 1 vez em água destilada, colocar solução de bisbenzimida (diluída em água) e então lavar novamente por 2 vezes.

• Secar na estufa a 45°C (5-10 min).

• Clarear com xilol por 1 min.

• Montar em DPX.

• Visualizar no filtro FITC.

Importante:

não poderá ser reutilizada. A solução de KMnO4 A solução de Fluoro-Jade C, após diluída, poderá ser utilizada dentro de um intervalo de duas horas.

80

Page 93: ANÁLISE DA PROLIFERAÇÃO E MIGRAÇÃO DE PROGENITORES … · À professora Rosalia Mendez-Otero, que em face aos desafios encontrados na elaboração deste trabalho me conduziu

V) Soluções:

• PBS 10 mM

- NaCl - 0,8 % - KCl - 0,02% - KH PO - 0,02% 2 4 - Na HPO .7H O - 0,2% 2 4 2

• Tampão fosfato (Tp PO ) 0,2M 4

HPO - 2% - Na2 4 - NaH PO - 0,6% 2 4

• Tampão Borato 0,1 M - pH 8,5

- Ácido bórico - 0,3% - Bórax (borato de sódio) - 0,5%

81