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ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA
PARA A IMPLANTAÇÃO DO LEAN
MANUFACTURING EM UMA PLANTA
PILOTO DE TESTES EM REFRATÁRIOS
June Marques Fernandes (FEAMIG)
Alexandre Leonardo Pereira (FEAMIG)
Adriana Cristina Dionízio (FEAMIG)
Michael Rodrigues Nereu (FEAMIG)
Michelle Alabibe Rodrigues Marques (FEAMIG)
Este estudo trata da análise da viabilidade técnica para a implantação
das ferramentas do lean manufacturing na empresa R, uma das
principais fabricantes de refratários no mercado global. O local
pesquisado foi uma planta piloto de estudos e desenvolvimentos, onde
não são adotados técnicas e métodos da manufatura enxuta para
redução dos desperdícios. Em tese a ausência da utilização de tais
técnicas e métodos acaba contribuindo no aumento de atividades que
não agrega valor, elevando o custo das atividades e até mesmo
alterando a eficiência operacional no cumprimento dos prazos das
solicitações de estudos e projetos, gerando por sua vez informações
equivocadas para tomadas de decisões em estratégias da empresa. Ao
final desse estudo, observou-se que os resultados obtidos apontam para
a necessidade de adoção de metodologias capazes de robustecer nos
processos e ao mesmo tempo disseminar uma cultura pelo
melhoramento contínuo na organização. Métodos como o Mapa de
Fluxo de Valor, pode auxiliar a empresa na identificação de pontos a
serem melhorados de forma sistemática.
Palavras-chaves: Palavras chave: Planta piloto, lean manufacturing,
kaizen
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1. Introdução
A aplicação dos conceitos do Sistema Toyota de Produção trouxe para a indústria uma nova
forma de trabalho que transforma totalmente a forma de pensar e agir das pessoas no intuito
de garantir maior produtividade com menor esforço, menor custo e maior agilidade.
Colocando o cliente, como indutor das melhorias no processo de fabricação e,
consequentemente, no produto e/ou serviços entregues ao final.
O surgimento deste modelo produtivo foi logo após a segunda guerra mundial, onde a
necessidade de reconstrução, tanto econômica quanto produtiva do Japão, era necessária em
uma escala de tempo muito pequena, para que os traumas do pós-guerra não perdurassem por
muito tempo. De acordo com Shingo (1996) a restrição do mercado naquela época implicou
em uma reação das indústrias de tal maneira que fossem capazes de produzir vários lotes de
tamanhos variados para atender a demanda necessária que se apresentava. Naquela época, o
sistema de produção existente, o “Fordismo”, ou, os conceitos de Taylor já eram insuficientes
para atender toda a demanda do Japão, pois segundo Womach & Jones (1992), este modelo
atendia apenas produtividade e não a cadeia totalizada, que envolve todas as partes da
empresa, unindo desde as operações até ao marketing. O principal interesse era estabelecer o
produto final no estoque, ou seja, sem critérios de escolha do cliente por opções pré-definidas
e atender apenas a uma demanda definida.
O mercado de refratários tem sofrido grande pressão do mercado chinês, onde o custo do
produto vendido é menor do que os fabricados nacionalmente. Esta pressão de mercado faz
com que a empresa “R” a cada dia seja diferenciada no que ela oferece aos clientes, até
mesmo em vista aos seus concorrentes, pois ela necessita estar sempre à frente no seu modelo
de negócios, oferecendo uma produção flexível que atenda à diversas modalidades de
produtos, além de serviços e tecnologias que ajudam a garantir sua sustentabilidade.
As ferramentas do lean manufacturing vêm de encontro a esta crescente necessidade do
negócio, tendo como objetivo a possibilidade de viabilizar a melhoria da estrutura operacional
e a consequente redução de custos. Os resultados aqui demonstrados pode gerar um ciclo de
pensamentos ligados a esta metodologia, demonstrando a importância das ferramentas.
2. Considerações iniciais sobre os sistemas de produção
Os sistemas produtivos desenvolveram-se bastante, tornando o processo de manufatura
totalmente flexível. Hoje, em qualquer segmento existe um padrão de produção particular em
cada empresa, ou seja, cada uma define de acordo com a demanda do cliente qual será a
maneira mais adequada de produção. Para Womack & Jones (2004), um sistema de produção
eficiente, flexível, ágil e inovador podem ser definidos como manufatura enxuta. Superior à
produção em massa é um sistema habilitado a enfrentar de melhor forma um mercado em
constante mudança. Segundo Slack et al (2007) ele tenta atender à demanda
instantaneamente, com qualidade perfeita e nenhum desperdício – enfatiza a eliminação de
desperdícios e tempo de atravessamento rápido, ambos os quais contribuem para estoques
baixos – promove um impacto significativo na habilidade da operação em aprimorar sua
eficiência intrínseca
O sistema de manufatura enxuta ou Lean Manufacturing foi desenvolvido com o intuito de
absorver as diversas formas de alterações de mercado, ou que estejam em constante mudança
conforme mencionam (WOMACK & JONES 2004). Como este tipo de sistema é uma
evolução do “Fordismo”, essencialmente o que muda é a não geração de estoques em
qualquer fase ou etapa de produção, e principalmente, não gerar estoques de produtos que
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diretamente se relaciona com o desperdício de vários fatores acumulados com alto valor
agregado, mas que não trouxe ou traz nenhum retorno para a empresa. Para Shingo (1996) o
mais importante é investigar as causas ocultas que ocasionam em perdas. O desperdício pode
especificar qualquer atividade humana que absorve recursos, mas que não cria valor. Podem
ser vários os tipos de erros em um segmento que acometem em retrabalhos ou repetibilidade
de atividades desnessárias e estocagem de produtos finalizados sem pedido ou demanda
(WOMACK & JONES, 2004).
Portanto em uma análise do passado, o estoque era útil para minimizar algumas incertezas de
produção. Mas o pensamento em trabalhar em um ritmo de produção para atender apenas
demandas, ou seja, produzir mercadorias antes do tempo através de programações definidas é
a melhor opção para a sustentabilidade do ciclo empresarial. O STP (Sistema Toyota de
Produção) é revolucionário porque analisa a causa raiz das necessidades de estoque
(SHINGO, 1996).
2.1 Aplicação do Mapa de Fluxo de Valor e desdobramentos por meio das ferramentas
Lean
Segundo mencionam Rother & Shook (1998), o mapa de fluxo de valor tem a função de unir
todas as etapas de um determinado processo, a fim de colocar em um único eixo desde a
matéria-prima até o produto final no cliente. Para isso, é necessário entender intrinsicamente o
funcionamento dos setores e como todos eles se comunicam, buscando, através do desenho de
cada um deles, investigar os pontos de perdas ou aqueles que não agregam valor à cadeia
como um todo. Para os autores é importante saber exatamente o processo, pois assim também
é possível agir sempre em constantes melhorias ao longo de toda a cadeia. Conforme Like &
Meier (2007) a apresentação de um bom mapa do estado atual, possibilita com maior clareza a
definição no mapa do estado futuro, desencadeando, então, uma série de mudanças e
alternativas capazes de auxiliar na obtenção de ganhos que agregam valor ao produto e à
empresa.
Para Rother & Shook (2003) o desenho do mapa ajuda a tomar decisões no sentido de
identificar fontes de desperdícios, visualiza mais do que processos individualizados, e sim, o
processo em forma de cadeia, mostra toda a relação do fluxo de informação e do material,
fornece uma linguagem simplificada para tratar dos processos e é uma forma de chegar a
números que indicarão a natureza do problema a ser trabalhada e melhorada continuamente.
A grande importância do mapa é que ele possibilita a integração de todas as ferramentas lean,
evitando a implementação de técnicas isoladas (WOMACK & JONES, 2004). Mas é válido
entender que em cada tipo de processo haverá aplicação de determinadas ferramentas, pois
elas se adaptam à particularidade das atividades desenvolvidas e realizadas no dia-a-dia dos
fluxos de trabalhos de cada empresa.
Uma das ferramentas que pode ser aplicada seria o 5S. Para Silva (1997) é uma oportunidade
de mudança da cultura das pessoas e da empresa a qual pertencem, pois é um programa que
requer bastante disciplina e necessita envolvimento de todos na captação de bons resultados e
também da implementação de cada fase. Rebelo (2005) ressalta que é uma ferramenta
associada à qualidade que ajuda a criar um ambiente propício à melhoria continua. Cada fase,
que tradicionalmente se concentra em cinco, necessita da relação entre cada uma delas, sendo
em japonês nomeadas como: SEIRI, SEITON, SEISO, SEIKETSU e SHITSUKE.
Outra forma de trabalhar ações no mapa de fluxo de valor seria o kaizen. Esta palavra de
origem japonesa significa: kai = melhor e zen = para melhor. A metodologia pelo qual visa a
melhoria contínua de produtos e processos. Araújo & Rentes (2008) comentam que é como se
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fosse um time dedicado a aplicar de forma rápida uma ferramenta da manufatura enxuta, em
um local definido e no menor tempo, no qual Netto & Tavares (2006) relacionam a aplicação
desta metodologia a tudo aquilo que não agrega valor para a empresa, ou seja, é fazer
praticamente o trabalho de reengenharia para o desenvolvimento de novos processos e
produtos.
A outra ferramenta que se aplica a um modelo de produção é segundo Anderson (2010) o
kanban, que tem a capacidade de gerar movimentações em um determinado local de trabalho.
Para Shingo (1996) ele detém a função de instrução da tarefa, de forma que, em uma
produção não repetitiva, ele serve para fornecer instruções de tarefa e transferência e que deve
ser retirado da área de produção após a conclusão.
Mas para garantir a pertinência das ferramentas lean, e também criar dentro do mapa de fluxo
de valor condições de gerar informações, o ciclo PDCA (P = plan ou planejar, D = do ou
fazer, C = check ou verificar, A = action ou agir) que também é conhecido como ciclo de
Deming visa encontrar a causa de problemas e a gerar ações para promover a eficiência dos
resultados (SIMÕES, 2010). Júnior (2010) explica que esta ferramenta usada no
gerenciamento de problemas deve fluir quando a conclusão de um ciclo torna possível o início
do próximo, causando um processo contínuo de melhorias.
2.2 Metodologia
Para entender a metodologia de pesquisa é necessário saber o que é pesquisa, e Gil (1999)
define pesquisa como uma forma sistêmica de estruturação do conhecimento. É também um
processo de aprendizagem da pessoa que realiza a pesquisa.
Dentre as modalidades de pesquisa, o estudo de caso é uma das formas de contextualizar
experimentos, levantamentos, análises de informações e arquivos (YIN, 2005). Nesta pesquisa
a necessidade de entender os processos in loco foi necessário para entender os problemas do
setor, pois é um local de processos mistos e que representam em escala piloto diversas
situações de fabricação da empresa.
Foi verificado em visita ao setor, que era necessário compreender o conhecimento dos
colaboradores em relação às ferramentas do lean. Por isso, nesta pesquisa procurou-se adotar
fontes de evidências capazes de auxiliar na investigação dos problemas vividos no setor
analisado dentro da empresa “R”, o que contribuiu para uma visão assertiva do cenário e bem
como das condições de trabalhos dos colaboradores do setor, facilitando também na
compreensão de fatos abordados e na possibilidade de encontrar o objetivo da análise da
viabilidade na implementação das ferramentas lean.
Dentre as fontes de evidências utilizadas e estudadas por Yin (2005), os pesquisadores
criaram um modelo de questionário que serviu na entrevista com cada um dos colaboradores
que participaram diretamente das atividades analisadas. Foi verificado, também, devido às
diversas atividades características dos processos e à constituição do layout, que seria
necessário mapear todos os fluxos de atividades por meio da contabilização do tempo dos
percursos realizados, onde um dos pesquisadores foi orientado por um técnico da área sobre
todos os trajetos que eram realizados, propiciando um entendimento prático do cenário atual
de trabalho, e, por último, foi criado um formulário de acordo com as células a serem
mapeadas, para a coleta de dados que gerou uma forma de quantificar o tempo das atividades
em relação à ocupação do técnico diretamente na atividade.
Sendo assim, estas três formas de coleta de informações e de dados, sendo eles, questionário/
entrevista, contabilização do tempo de movimentações e a aplicação de formulário para coleta
de tempos de processos, ajudou a evidenciar aos pesquisadores o estabelecimento da validade
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do constructo e a confiabilidade deste estudo de caso (YIN, 2005), de tal modo que, os
problemas e as necessidades do setor fossem entendidos de forma global, ou seja, foi possível
saber qual era o grau de entendimento dos técnicos à respeito do lean, gerando subsídio na
ajuda e construção de uma forma de poder treinar a todos igualmente. E através dos resultados
da entrevista em conjunto com o mapeamento das atividades e da coleta de dados de cada
atividade foi possível desenhar todo o mapa de fluxo de valor do setor.
3. Estudo de Caso: A Empresa “R”
A empresa “R” foi criada em 1939 quando da descoberta de sua principal matéria-prima, mas
somente em 1944 foram iniciadas as atividades industriais. Desde a década de 60 os negócios
haviam sido incorporados de tal maneira que atendessem o cliente de maneira bem próxima,
afim de não vender apenas o produto, mas todas as soluções em refratários. Houve um grande
crescimento do negócio, onde o foco era participar diretamente das atividades do cliente,
entendendo intrinsicamente as suas necessidades.
A última grande mudança foi em 2007, quando ela foi vendida e incorporada ao novo
mercado da bolsa de valores, mudando consideravelmente as estratégias da empresa, e em
2008, passou a ser uma empresa multinacional, com participações nos Estados Unidos, China,
Alemanha, Argentina e escritórios em diversas localidades. Porém, apesar de todas estas
mudanças que a colocaram em um sistema de governança corporativa não modificaram a
essência no negócio, que é de estabelecer junto ao cliente uma parceria e procurando entender
todas as suas necessidades, com o interesse direto no desenvolvimento e maximização de sua
produtividade gerando, redução de custos, sendo eles, principalmente operacionais.
Visando acompanhar todas as mudanças da empresa “R”, os setores nela inseridos precisam
oferecer à ela informações confiáveis para uma tomada de decisão assertiva e que seja
rentável ao negócio. Esta é uma das responsabilidades da planta piloto de pesquisas, onde o
estudo e desenvolvimento de projetos devem ser realizados em sinergia com o que a empresa
necessita para o seu planejamento. A aplicação do pensamento enxuto que tem como base a
eliminação dos sete desperdícios (superprodução, espera, transporte excessivo, processo
inadequado, inventários desnecessários, movimentação desnecessária e produtos defeituosos)
pode viabilizar projetos e investimentos que até então dependiam de algum recurso extra.
Um dos problemas da planta piloto é devido ao grande volume de trabalho e à sua extensão
física, sendo necessário em muitas vezes o técnico realizar movimentações que não agregam
valor, gerando uma cadeia de problemas a serem trabalhadas. Por isso, por meio dessa
pesquisa foi possível analisar cada etapa e mapear de acordo com os princípios do
pensamento enxuto, lean manufacturing, quais eram os desperdícios gerados nas atividades
rotineiras do processo analisado.
Com o objetivo de identificar os sete desperdícios nos processos defendidos pelo pensamento
lean, foi perguntado aos entrevistados quais eram os fatores que estavam mais relacionados
com os atrasos nas suas atividades, por meio da qual se obteve o resultado apresentado na
figura 1:
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Figura 1: Motivos dos atrasos no processo
Pode-se observar que o item mais apontado foi o layout inadequado. Sendo ele, o primeiro
desperdício do processo, causando excesso de movimentação para executar as atividades.
Desta forma foi possível mensurar a separação entre duas situações encontradas, o que não
agrega valor, e o que não agrega valor, mas é necessário.
De acordo com a regra de pareto o item com maior índice de problemas detectados, é que
deve ser trabalhado com ações. A partir da figura 1 foi aplicado o conceito do PDCA no
mapeamento de fatores que levam às ocorrências encontradas e que devem ser analisadas em
sua causa raiz.
Na figura 2, os problemas levantados e apresentados pela área foram analisados, e foram
gerados duas situações na cadeia de valor em relação aos sete desperdícios, os que não podem
agregar nenhum valor para o cliente, entendendo, que valor agregado é tudo que o cliente
reconhece como necessário para a diferenciação do produto ou serviço e aqueles que não
agregam valor, porém se faz necessário para a realização das análises das amostras no
atendimento do cliente, mesmo que não seja em tempo hábil. As rotinas desnecessárias,
layout inadequado, falta de equipamento e outros, não agregam nenhum valor ao processo, ou
seja, não oferece nenhum beneficio, por isso deve ser eliminado o quanto antes, sendo se
possível, a curto e médio prazo.
Figura 2: Definição das atividades
Em relação ao porque do layout não atender as necessidades dos colaboradores, foi
perguntado a eles sobre o que achavam da atual configuração para a rotina de trabalho, o que
pode ser percebido através da figura 3. A maioria achou que é necessário fazer melhorias na
localização dos equipamentos e postos de trabalho da planta piloto.
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Figura 3: Levantamento dos problemas relacionados ao layout
O motivo apontado pelos técnicos em relação ao layout, reportou a investigar à necessidade
de melhorias. Esta resposta foi obtida perguntado aos entrevistados se há excesso de
movimentação, ou seja, se eles fazem muitos trajetos indo e voltando de um ponto ao outro na
execução de testes/ensaios. Pela figura 4, foi possível obter a confirmação de excesso de
movimentação, devido a inadequação do layout do local de trabalho.
Figura 4: Excesso de movimentações
Portanto, se foi encontrado excesso de movimentação ao realizar as atividades e confirmado
que layout não atende as necessidades dos colaboradores, seria necessário tratar este passivo
do processo, a fim de garantir uma melhoria da eficiência em relação à mão-de-obra e
equipamentos. Através desta necessidade, foi questionado se eles, os técnicos da área, já
ouviram falar do sistema de trabalho Lean Manufacturing, ou sobre o pensamento enxuto. A
resposta obtida foi que a maioria dos entrevistados, que equivalem a 90%, não conhecia esta
filosofia de trabalho. Sendo assim, para entender se realmente o conhecimento deles estava
restrito a apenas algumas das ferramentas que são usadas no lean, foi confirmado através da
figura 5 que há conhecimento pontual de algumas delas, que é justificado através de algumas
iniciativas dentro da empresa “R” no passado na tentativa de implementação de trabalhos
isolados.
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Figura 5: Métodos e filosofias relacionadas ao Lean
Portanto, para aplicar as ferramentas mencionadas acima, foi usado o mapa de fluxo de valor
no estado atual. Ele mostra como é o fluxo do processo de solicitações de projetos e estudos
de P&D. No caso desta pesquisa o cliente refere-se ao grupo de pesquisadores do setor que
geram as demandas de estudos e projetos na planta piloto. Eles são os principais indicadores
de necessidades, pois como são eles os clientes, o produto ou resultado deve ser entregue no
momento certo de acordo com o que foi programado e precisa ter valor.
No mapa do estado atual o processo foi dividido em quatro etapas principais, sendo estas
nomeadas por Pesagem, Mistura, Medição e Tratamento térmico, conforme a figura 6.
Figura 6: Mapa de fluxo do estado atual
Foram realizados os cálculos para se encontrar o estoque entre cada etapa do processo, o
tempo de ciclo (T/C), disponibilidade, o tempo de processamento (T/P) e o lead time de
produção.
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Os estoques entre cada etapa do processo foram calculados como a média de solicitações por
dia que se refere a oito horas de jornada de trabalho, onde foram obtidos os dados conforme a
figura 7.
Figura 7 – Estoque entre cada etapa do processo
A partir do lead time encontrado é possível notar a necessidade da implantação de um sistema
que auxilie no andamento do projeto e que o prazo de entrega possa ser diminuído, a fim de
oferecer condições para uma tomada de decisão mais ágil. A demora na obtenção de
resultados pode influenciar negativamente quando a empresa participa de uma concorrência,
na condução e resultado dos projetos e estudos com objetivos diversos, como ganho de
mercado, redução de custo, melhoria de processo, entre outros.
Somando o tempo encontrado em cada processo é encontrado o lead time total, o que equivale
a 12,84 dias. Levando em consideração que o tempo encontrado equivale há praticamente
uma quinzena, e a possibilidade de melhoria que equivale a 99,89%, demonstra que é possível
realizar uma série de ações para reduzir o tempo de liberação dos projetos.
Devido ao tratamento térmico possuir o maior lead time, foi proposto um kaizen para
identificar as oportunidades de melhorias, onde foi detectado dentro desta célula que o ensaio
de resistência ao choque térmico (RCT) possuía o maior desperdício em relação à
movimentação dos técnicos na realização do ensaio. Foi entendido também, que depois da
implementação das ações sugeridas através da análise desta pesquisa, todo o setor pode ser
beneficiado devido à agilidade de execução no ensaio que propiciará maior rendimento do
técnico em outras atividades. Na figura 9 está representado o tempo de movimentações antes e
depois das sugestões propostas.
Figura 9: Medição da movimentação antes e depois do kaizen
Item Tempo/ s Acumulativo/ s Tempo/ s Acumulativo/ s
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Antes Depois
Bancada fixa – Computador 16 16 2 2
Computador – Bancada fixa 16 32 2 4
Bancada fixa – Prateleiras 6 38 6 10
Prateleiras – Bancada fixa 6 44 6 16
Bancada fixa – Forno FE13 26 70 14 30
Forno FE13 – Bancada fixa 26 96 14 44
Bancada fixa – Forno FE13 26 122 14 58
Forno FE13 – Bancada fixa 26 148 14 72
Bancada fixa – Forno FE13 26 174 14 86
Forno FE13 – Bancada fixa 26 200 14 100
Bancada fixa – Forno FE13 26 226 14 114
Forno FE13 – Bancada fixa 26 252 14 128
Bancada fixa – forno FE13 26 278 14 142
Forno FE13 – Bancada fixa 26 304 14 156
Bancada fixa – Computador 16 320 2 158
Computador – Bancada fixa 16 336 2 160
Tempo total de deslocamentos 336 segundos 160 segundos
Fonte: Autores
Tabela 1 – Medição da movimentação antes e depois do kaizen
Como pode ser observada a redução de tempo em movimentações é de 47,6%. A sugestão
refere-se apenas à alteração do layout dos fornos de execução, por ser a evidência impactante
dentro dos testes da área de tratamento térmico. Mas, como o mapa de fluxo de valor
possibilita entender o setor completamente, e conforme Rother & Shook (2003) ensina, é
necessário aprender a enxergar e aprender a descobrir os sete desperdícios em toda a cadeia, e
o mais importante agregar valor a todas atividades. Outro ganho a ser considerado é em cima
do custo do ensaio.
O ensaio é realizado em duas etapas, sendo elas: 30 minutos de resistência ao choque térmico
dentro do forno e 30 minutos de resistência ao choque térmico em chapa de resfriamento e o
número de ciclos pode ser considerado em média igual a 10;
Sendo assim:
Para cada ensaio de 10 ciclos, tem-se 600 minutos ou 10 horas de realização total do
ensaio;
O ensaio é realizado por meio de cronometragem e pode-se perder até 05 minutos em cada
ciclo, acarretando no aumento de 100 minutos ou 1,7 horas;
O consumo de energia elétrica é de 170 kW/h e o custo da energia elétrica no horário
comercial de R$0,20;
O custo operacional de 100 minutos excedentes está relacionado ao valor da mão-de-obra
por hora do técnico sem encargos, no qual o valor de R$ 9,00 representa o salário pago. Mas é
necessário considerar o custo com a adição de ± 70% de encargos sociais. Assim, para
encontrar o custo operacional extra é necessário calcular o valor pago de uma hora em relação
ao desperdício encontrado.
As tabelas 2 e 3 representam em quanto pode ser o ganho econômico a partir do momento em
que as sugestões forem implantadas neste ensaio.
Item Unidade Valores
Consumo de energia kW/h 170
Custo da energia R$ 0,20
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Ciclos Nºs. 10
Tempo padrão Min. 600
Tempo fora do padrão Min. 700
Custo extra por ensaio R$ 57,80
Custo extra por ensaio ao mês R$ 1.156,00
Fonte: Autores
Tabela 2 – Custo do Processo Relacionado ao ensaio de RCT
Item Unidade Valores
Mão-de-obra x hora R$ 9,00
Mão-de-obra x hora com encargos R$ 15,30
Custo da mão-de-obra extra por ensaio R$ 25,50
Fonte: Autores
Tabela 3 – Custo Operacional Relacionado ao ensaio de RCT
Por meio dos valores obtidos nos cálculos das tabelas 2 e 3 pode ser demonstrado o quanto é
importante aplicar as ferramentas e metodologias do lean manufacturing, pois pequenas ações
pode possibilitar a redução de custo e aumento da eficiência da mão-de-obra.
4. Conclusão
Esta pesquisa se mostra viável tecnicamente porque a padronização da execução do teste de
RCT trará benefícios diretos para todo o setor de tratamento térmico, pois durante a execução
do teste que compreende os ciclos, não haverá mais a necessidade de cronometrar o tempo,
dando ao técnico mais liberdade para trabalhar e continuar executando outras tarefas, com
maior agilidade devido à mudança do layout e a implantação da sinalização visual e sonora.
A aplicação desta pesquisa também é viável economicamente devido à redução de custo com
energia elétrica e operacional, com a projeção de redução de custo em torno de 24,4% em
cada ensaio realizado em cada forno, pois é um insumo que sofre constantemente reajustes
que penalizam e inviabilizam outros tipos de investimentos. Controlando o consumo de
energia elétrica dos dois fornos, o valor que era pago no excesso de tempo, poderá ser usado
dentro de um planejamento em reformas de equipamentos garantindo o pleno funcionamento
quando forem solicitados.
A execução do ensaio dentro do padrão pode viabilizar um ganho em horas trabalhadas que
poderá ser observado através da movimentação ou agilidade em outros ensaios que até o
momento, mesmo sendo realizados em paralelo, eram penalizados devido aos desperdícios
apontados. Efetivamente o modo de execução dos testes entrará no sistema puxado ou just in
time, diminuindo a quantidade de solicitações que ficam em espera.
Através dos resultados obtidos nesta pesquisa, é possível concluir de acordo com o objetivo
proposto a viabilidade técnica da implantação do lean manufacturing nas atividades da planta
piloto, onde foi possível chegar a esta finalização através da contribuição da metodologia
como instrumento essencial na coleta de dados e na compreensão dos fatos analisados.
Vale ressaltar que a aplicação deste conceito de trabalho não seja de imediato, fica destinada
para as lideranças do setor, a tomada de decisão em implantar e aprofundar ainda mais na
eliminação de desperdícios existentes no setor, ou seja, tudo aquilo que não agrega valor e que
o custo acaba sendo influenciado negativamente.
Outro fator importante na conclusão desta pesquisa é a oportunidade de continuidade dos
estudos através do desenho do mapa do estado futuro, pois pode gerar dados no que tange às
melhorias de layouts nas outras células que compõe a planta piloto, podendo ser implantados
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novos kaizens e outras ferramentas da produção enxuta de forma que colabore diretamente
para aumentar o valor agregado das atividades.
Há também a extensão desta pesquisa para a parte econômica, onde todos os ensaios podem
ser avaliados individualmente e a demanda de cada um, de forma que possa indicar
necessidades de investimentos e também o retorno econômico que cada ensaio pode trazer de
acordo com a sua solicitação.
Esta pesquisa servirá de embasamento para os profissionais e alunos a entender melhor outras
manufaturas, que mesmo possuindo peculiaridades, podem ser analisadas e verificadas de
forma que demonstrem onde ocorrem desperdícios e onde podem estar todas as oportunidades
de melhorias.
Referências
ANDERSON, D. J. Kanban: Successful Evolutionary Change for Your Technology Business. United Estates of
America. Edition: 2010.
ARAÚJO, C.A.C & RENTES, A.F. A Metodologia Kaizen na Condução de Processos de Mudança em
Sistemas de Produção Enxuta. Disponível em:
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