67
0 Universidade Federal de Pelotas Instituto de Ciências Humanas Departamento de Museologia e Conservação e Restauro Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis Monografia Análise e crítica de intervenções nos vitrais do Educandário Coração de Maria, Rio Grande/RS Enilda Maria Benemann de Almeida Pelotas-RS, março de 2013

Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

  • Upload
    trinhtu

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

0

Universidade Federal de Pelotas

Instituto de Ciências Humanas

Departamento de Museologia e Conservação e Restauro

Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis

Monografia

Análise e crítica de intervenções nos vitrais do Educandário

Coração de Maria, Rio Grande/RS

Enilda Maria Benemann de Almeida

Pelotas-RS, março de 2013

Page 2: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

1

Ministério da Educação

Universidade Federal de Pelotas

Instituto de Ciências Humanas

Departamento de Museologia e Conservação e Restauro

Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis

Análise e crítica de intervenções nos vitrais do Educandário

Coração de Maria, Rio Grande/RS

Enilda Maria Benemann de Almeida

Trabalho de conclusão de apresentado

ao Bacharelado em Conservação e

Restauro de Bens Culturais Móveis da

Universidade Federal de Pelotas, como

requisito parcial a obtenção do título de

Bacharel em Conservação e Restauro

de Bens Culturais Móveis, sob a

orientação da Professora Ms. Mariana

Gaelzer Wertheimer.

Pelotas-RS, março de 2013

Page 3: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

2

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________ Profª Mestre Andréa Lacerda Bachettini __________________________________________________ Profª Mestre Mariana Gaelzer Wertheimer (UFPel/Orientadora)

Page 4: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

3

DEDICATÓRIA

Para Licurgo, Bianca e Davi.

Page 5: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Universidade Federal de Pelotas, por possibilitar meu

retorno à vida acadêmica.

Ao Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, pela formação

consistente.

À. Profª Ms. Mariana Gaelzer Wertheimer, por ter me aceito para o desenvolvimento

do meu tema, por toda a ajuda e carinho, a mim dispensados nestes últimos meses.

Nunca esquecerei de toda a boa vontade com que se dedicou a minha orientação.

Obrigada Mariana!!!!

À Profª Ms Andrea Lacerda Bachettini, um ser humano como poucos, sempre pronta

a ajudar, além de todo o carinho e atenção com o qual sempre me tratou. Obrigada

Andréa!!!!!

Obrigada aos meus queridos mestres por dividirem comigo todo seu conhecimento,

Roberto, Silvana, Jaime, Luiza, Paula, Francisca, Daniele, Pedro.

Obrigada a Keli, Jeferson, Francine e Ana com que sempre podemos contar para

resolver os problemas que surgiam.

Agradecer aos meus colegas que sempre me ajudaram quando necessitei em

especial a minha amiga Deizi, desde o primeiro dia de aula sempre ali do meu lado.

Obrigado aos meus filhos Licurgo e Bianca, pelo carinho, estimulo e apoio.

E Obrigada a Minha MÃE, pela compreensão e o carinho dedicado.

Page 6: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

5

EPÍGRAFE

“As pessoas entram na nossa vida por acaso,

mas não é por acaso que nela permanecem”

(autor desconhecido)

Page 7: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

6

RESUMO

ALMEIDA, Enilda Maria Benemann. Análise e crítica de intervenções nos vitrais do

Educandário Coração de Maria, Rio Grande/RS. 2012, 66 fls. Monografia – Curso de

Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade

Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

O trabalho relata o estudo feito nos vitrais do educandário, os quais foram

restaurados a partir da metade do século XX. Foi problematizada a validade das

intervenções e as possíveis conseqüências da instabilidade do conjunto. Também foi

investigado o envelhecimento dos materiais utilizados e sua compatibilidade com o

material original.

Os vitrais são provenientes do maior ateliê do estado, a Casa Genta, ateliê fundado

em 1906, em Porto Alegre. A produção de vitrais foi estruturada praticamente com

materiais e técnicas importados da Bélgica e Inglaterra, assim como os artistas que

trabalhavam no ateliê, eram europeus. O conjunto possui autoria do mestre

Francisco Huguet, espanhol, que trabalhava no tradicional ateliê Francês

Maumegean, em Irun, Espanha.

Palavras Chave: Casa Genta. Educandário. Intervenções. Vitral.

Page 8: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

7

ABSTRAC

ALMEIDA, Enilda Maria Benemann, Analysis and critique of the interventions

performed on the stained glass windows of the Coração de Maria School, Rio

Grande/RS. 2012. 66 pages Dissertation – Bachelor’s degree in conservation and

restoration of mobile cultural works of the Federal University of Pelotas, Pelotas, RS.

This dissertation reports the study made on the stained class windows of the school

that were restored starting in the second half of the 20th century. The quality of the

interventions and their possible consequences on the instability of all the works will

be evaluated. Also, there will be an investigation of the aging of the utilized materials

and their compatibility with the original material.

The stained glass windows are from the biggest atelier in the state, the Casa Genta.

The atelier was founded in 1906 in Porto Alegre. The stained glass windows were

constructed mostly with imported materials and techniques from Belgium and

England, and the artists working in the atelier were also Europeans. The works were

authored by the Spanish master Francisco Huguetwho used to work in the traditional,

French atelier Maumegean in Irun.

Key Words: Casa Genta. School. Intervention. Stained glass window.

Page 9: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

8

LISTA DE FIGURAS Figura 01: Detalhe da Catedral de Chartres, na França 15

Figura 02: Vista externa da Catedral de Sainte Chapelle, Paris, 1248 16

Figura 03: Vista externa da Catedral de Sainte Chapelle, Paris, 1248 16

Figura 04: Vista externa da Catedral de Notre Damme, Paris 17

Figura 05: Vitral da janela do velho testamento, 1963 19

Figura 06: Ateliê Casa Genta, interior da oficina, 1920 21

Figura 07: Mestre Francisco Huguet e assinatura 22

Figura 08: Ateliê Casa Genta, interior da oficina, 1950 23

Figura 09: Jornal Alemão “Familienfreund”(anos1930) 24

Figura 10: Revista Globo, XX, número 239 – 29/10/1938 24

Figura 11: Imagem atual do antigo ateliê da Casa Genta 25

Figura 12: Imagem atual da casa particular da família Genta 25

Figura 13: Vista externa do Educandário 26

Figura 14: Localização da edificação do Educandário Coração de

Maria em Rio Grande/RS 27

Figura 15: Vista interna da capela do Educandário Coração de Maria 28

Figura 16: Planta de localização das janelas com vitrais do

Educandário Coração de Maria 28

Figura 17: Cercadura dos painéis de vitrais da nave da capela 31

Figura 18: Janela JO1 33

Figura 19: Detalhe dos vitrais da Escola Nossa Senhora do Rosário

(a), de Porto Alegre, e da Universidade Católica de

Pelotas (b) 34

Figura 20: Fuso de fiar 34

Figura 21: Janela JO2 35

Figura 22: Janela JO3 36

Figura 23: Janela JL1 37

Figura 24: Janela JL2 38

Figura 25: Janela JL3 39

Figura 26: Cercadura das janelas do coro alto 41

Figura 27: Janela JN1 41

Page 10: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

9

Figura 28: Janela JN2 41

Figura 29: Janela JO4 42

Figura 30: Janela JL4 43

Figura 31: Diagrama da janela JL3 45

Figura 32: Diagrama da janela JO1 45

Figura 33: Diagrama da janela JO3 45

Figura 34: Diagrama da janela JL2 45

Figura 35: Diagrama da janela JL1 46

Figura 36: Diagrama da janela JN1 46

Figura 37: Diagrama da janela JO1 46

Figura 38: Diagrama da janela JN1 46

Figura 39: Convenção de documentação gráfica para painel individual

de Vitral 47

Figura 40: Convenção de documentação gráfica para painel individual

de Vitral 48

Figura 41: Lacunas 49

Figura 42: Fraturas do tipo estável 50

Figura 43: Fraturas do tipo instável 51

Figura 44: Fissuras 52

Figura 45: Destacamento de pintura do tipo pontual 53

Figura 46: Fraturas concoidais 54

Figura 47 Destacamento da pintura 54

Figura 48: Alteração na fruição do conjunto 55

Figura 49: Aplicação do polímero pelo reverso 55

Figura 50: Painel de vitrais localizado na Câmara de Vereadores 56

Figura 51: Painel de vitrais localizado na Câmara de Vereadores 56

Figura 52: Reverso da Janela localizada na Câmara de vereadores 57

Figura 53: Macromoléculas 58

Figura 54: Janela com aplicação de polímero 58

Figura 55: Reverso da Janela com aplicação de polímeros 60

Figura 56: Estabilidade dimensional 60

Page 11: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

10

LISTA DE ABREVIATURAS

JO1 – Janela oeste 1

JO2 – Janela oeste 2

JO3 – Janela oeste 3

JO4 – Janela oeste 4

JL1 – Janela leste 1

JL2 – Janela leste 2

JL3 – Janela leste 3

JL4 – Janela leste 4

JN1 – Janela norte 1

JN2 – Janela norte 2

Page 12: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

11

SUMÁRIO

Introdução 11

1 – Contextualização do objeto de estudo 15

1.1 – Panorama geral dos vitrais históricos 15

1.2 – Casa Genta, breve história e seus artistas 21

1.3 – Histórico do Educandário Coração de Maria 26

2 – Análise dos painéis: Iconografia, patologias e intervenções 30

2.1 - Estudo iconográfico dos vitrais do Educandário Coração de

Maria 30

2.2 - Análise do estado de conservação 43

2.3 - Material da intervenção e sua reversibilidade: polímeros 57

3 – Considerações finais 62

Page 13: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

12

INTRODUÇÃO

O trabalho tem como objetivo analisar o conjunto de vitrais do Educandário

Coração de Maria, situado na Avenida Presidente Vargas, 681, Rio Grande/RS.

A falta de documentos e registros sobre a tradição e trajetória do vitral no

Brasil, deve-se a vinculação do nosso país a colonização portuguesa, que não

privilegiou a manufatura do mesmo. Muito do que possuímos de patrimônio nacional

nesta área, se deve a imigração da Itália e Alemanha.

Como reflexão sobre os vitrais, podemos transcrever a citação de Luís

Ferreira Calado, Presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico

(IPPAR, 2000).

Nenhum outro suporte artístico, como o vidro, incorpora esse elemento fundamental do trabalho plástico, a luz, nem com ele trabalha de forma tão íntima. Esta relação mágica foi, desde sempre, reconhecida por artífices e encomendantes, e não espanta, por isso, que os grandes vãos possibilitados pelo revolucionário perfil estrutural da arquitectura gótica, passassem a receber majestosos painéis de vidro colorido que divulgavam, com as suas representações sacras, os trechos mais correntes da Bíblia, numa época em que a palavra escrita era dominada por poucos. [...]

Para a compreensão deste trabalho, é importante entendermos que a arte do

vitral possui características que permitem transitar pelos campos artísticos e

artesanais. Para isso iremos considerar vitral diferente de uma vidraça. Trate-se de,

antes de tudo, de um tipo de técnica, ou recurso plástico que possui a calha

(tradicionalmente em chumbo)1 como material estruturante na junção de peças de

vidros coloridas ou não na massa. Os vitrais são formados por painéis, cujos

fragmentos de vidro são justapostos e encaixados podendo ou não representar

cenas ou personagens, porém são elementos construtivos que possuem a função de

vedar, dividir ou até mesmo de ampliar

1 Calha de chumbo é um perfil em forma H feito em chumbo que recebe os fragmento de vidro, os quais são encaixados.

Page 14: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

13

espaços, possui um fazer com caráter reprodutivo em suas etapas de montagens e

recortes. Porém, o caráter pictórico ou criativo, sem dúvida situa o vitral no campo

das artes, conferindo ao objeto um caráter único e autentico

(WERTHEIMER, 2011). Diante disso é fundamental o conhecimento de técnicas

empregadas para a sua análise, conservação e restauro.

Existe uma carência na área de pesquisas e informações sobre o restauro de

vitrais e a falta de registro que identifiquem a história e as características dos

mesmos, fazendo com que suas manutenções e restaurações sejam somente

baseadas em experiências ou associadas a recursos antigos, nos quais o talento

criativo fica preso a tradições familiares, comprometendo assim a criação de novas

linguagens e técnicas, a favor de uma reprodução sistemática de recursos muitas

vezes em desuso.

Sobre este aspecto, devemos ter em conta as considerações resultantes, da

convenção de Corpus Vitrearum medii Aevi. Nuremberg, em 2004, quando se

considera que o valor intrínseco de um vitral é equivalente ao valor de qualquer

outra obra de arte ou patrimônio cultural. Portanto, sua preservação merece o

mesmo nível de atenção e profissionalismo independente de sua idade e valor

econômico. As janelas de vidro não podem ser tomadas isoladamente. No plano e

execução de qualquer projeto de conservação, o contexto histórico e físico deve ser

levado em conta, isto inclui o meio de arquitetura, bem como o meio ambiente.

A escolha dos vitrais do Educandário justifica-se pela existência de um rico

conjunto de vitrais composto por dez janelas. Um dos painéis está localizado no

refeitório, outro na escadaria e os demais na capela, todos provenientes de um dos

maiores ateliês do estado, a Casa Genta e executados por um dos principais

vitralistas, Mestre Huguet. É um conjunto de grande qualidade pictórica e com a

utilização de vidros importados de coloração densa e vibrante.

Durante o levantamento dos vitrais, foi observado o estado de conservação e

as restaurações feitas em alguns deles, verificando-se as conseqüências de

intervenções inadequadas resultados de uma prática sem conhecimentos teóricos e

éticos dentro da profissão do conservador/restaurador.

Este trabalho foi executado a partir de uma revisão bibliográfica e pesquisa de

campo, possibilitando assim, ter um contato maior com a gênese do vitral, seus

aspectos históricos regionais e parte de sua tecnologia e processos de alteração.

Page 15: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

14

O trabalho foi estruturado em dois capítulos. No primeiro foi feita a

contextualização dos objetos de estudo, onde é descrita, brevemente, a história dos

vitrais, a trajetória da Casa Genta, também, foram relatados a origem do

Educandário até os dias de hoje. No segundo capítulo foram estudadas as

iconografias dos vitrais, análise das patologias dos painéis e suas intervenções,

observando as medidas interventivas e o envelhecimento dos polímeros.

Foram investigados os conjuntos de vitrais da edificação, diagnosticando seus

estados de conservação, suas origens e tecnologias, assim como as intervenções

que ocorreram em diferentes períodos. Também foi recolhida amostras dos materiais

utilizados nas restaurações, e encaminhadas para o laboratório da Engenharia de

Materiais da Universidade Federal de Pelotas. Esta análise foi submetida a uma

espectroscopia de infravermelho2, porém o espectro obtido apresentou alguns sinais,

mas muito ruído, sugerindo a necessidade de técnicas mais adequadas para este

tipo de amostra, mas a inexistência destes equipamentos na faculdade inviabilizou a

especificidade deste polímero. Foram selecionados outros conjuntos de vitrais que

serviram de comparativos para o estudo iconográfico dos painéis

Os exemplares que são objetos de estudo foram restaurados a partir da

segunda metade do século XX. A problemática, a validade das intervenções, o

caráter reversível e as possíveis conseqüências da instabilidade dos conjuntos, o

envelhecimento dos materiais utilizados e sua compatibilidade com o material

original também foi foco de investigação.

Este trabalho procurou recuperar parte da memória do Educandário Coração

de Maria, na cidade do Rio Grande/RS, complementando assim o levantamento e

estudo dos vitrais naquela cidade, realizado pelo grupo que participa do projeto

Estudo dos Vitrais – RG/RS, da Universidade Federal de Pelotas.

Também, foram identificadas restaurações feitas equivocadamente e suas

conseqüências, servindo assim, para nos aperceber da importância de um

profissional adequado e preparado para a proteção de bens culturais, com uma

formação adequada, baseada na ética e na responsabilidade. Toda a intervenção,

sendo esta uma prática que acarreta, inevitavelmente, diferentes conseqüências, é

baseada em escolhas, as quais necessitam preparo técnico e científico. Paralelo a

2 espectroscopia de infravermelho é um tipo de espectroscopia de absorção a qual usa a região do infravermelho para identificar um composto ou investigar a composição de uma amostra.

Page 16: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

15

isto, é necessário um profissional no mercado que seja respaldado por uma

regulamentação de suas atividades, com um conselho como uma autarquia

fiscalizadora, associações como entidades auxiliares e promotoras de saber e ainda

um sindicato como organização da profissão com relação ao mercado e leis do

trabalho.

Page 17: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

16

1– CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

1.1 – PANORAMA GERAL DOS VITRAIS HISTÓRICOS

Sua origem não é precisa, mas o grande desenvolvimento do vitral na Europa

começou juntamente com o aparecimento do Cristianismo e evoluiu principalmente

durante o período Românico (séc. XI e XII) e seu grande apogeu foi no período

Gótico (séc. XII a XV). Houve um longo período de decadência, e ressurgiu nos

séculos XIX e XX, sendo até hoje, uma importante manifestação artística.

Surgiram materiais novos, mas os grandes artistas continuam usando as

técnicas do passado, que as máquinas e novos sistemas não conseguiram superar.

No período Românico, as igrejas eram construídas com paredes espessas,

ostentavam pequenas aberturas para a passagem de luz. Quando se tratava de

igrejas importantes, essas aberturas eram decoradas com vitrais, com

predominância de medalhões em miniaturas, representando personagens e cenas

bíblicas. O maior desenvolvimento se deu na França, tendo como destaque:

Catedral Le Mans, Portiens e a Catedral de Chartres (fig.01), além de outras3.

A pintura estava de fato se convertendo numa forma de escrita por imagens,

mas este retorno, mais simplificado, de representação deu ao artista da Idade Média

uma liberdade nova para experimentar as mais complexas formas de composição.

Sem esses métodos, os ensinamentos da igreja nunca poderiam ser traduzidos em

formas visíveis. Isso também vale para as cores, os artistas estavam livres para

escolher a cor que mais gostassem para suas ilustrações, não se sentiam mais

obrigados a estudar e imitar as reais gradações de tonalidades cromáticas que

ocorrem na natureza.

O ouro brilhante e os azuis luminosos de suas obras de ourivesaria, as intensas

cores de suas iluminuras, o vermelho brilhante e o verde profundo de seus vitrais,

mostram que estes mestres tiraram bom proveito de sua independência da natureza.

Essa liberdade que os emancipou da necessidade de imitar o mundo natural, iria

habilitá-los a transmitir a idéia do sobrenatural. (GOMBRICH, 2008). 3 <(www.scribd.com/doc/.../Arte-Românica-e-Gótica, acesso em 19/01/2013) >.

Page 18: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

17

Fig. 01 - Detalhe da janela da catedral de Chartres na França

Fonte:< www.scribd.com/doc/.../Arte-Românica-e-Gótica, acesso em 19/01/2013>

O estilo gótico, igualmente como o românico, caracterizou-se,

predominantemente, por ser um estilo grandioso de construções religiosas, foi á arte

por excelência das magníficas catedrais européias.

A arte Gótica estendeu-se por 400 anos (de mais ou menos 1.100 até 1.500)

(JANSON, 1992). Sua denominação originou-se de uma expressão utilizada pelos

refinados artistas renascentistas para designar genericamente um estilo artístico que

achavam de mau gosto, exótico, carregado de apelos decorativos e pelo exagero da

altura das suas torres.

Neste momento, acentua-se o verticalismo com o aperfeiçoamento e o uso

constante da divisão da abóbada. Generaliza-se o uso do vitral (o cinema do crente

daquela época) e as fachadas assumem maior decorativismo e suntuosidade. É a

época da construção das grandes catedrais que surgem por toda a Europa, tais

como a Catedral de Notre Damme, em Paris, a Catedral de Sainte Chapelle, em

Paris, vista externa (fig.02), e vista interna (fig.03).

Com o uso do arcobotante e dos contrafortes, na parte externa das catedrais

(fig. 04), tornou possível o emprego de grandes aberturas preenchidas com

belíssimos vitrais.

Page 19: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

18

Figura 02: Vista externa da Catedral de Sainte-Chapelle, Paris, 1248

Fonte:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Sainte-Chapelle acesso em 20.01.2013>

Figura 03 – Vista interna da Catedral de Sainte-Chapelle , PARIS – 1248

Fonte:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Sainte-Chapelle acesso em 20.01.2013>

Page 20: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

19

Fig.04 – Vista externa da Catedral de Notre Damme em Paris

Fonte:< http://www.vigoenfotos.com/paris/paris_notredame acesso em 20.01.2013>

Os vitrais, surgem como elementos de auxílio à decoração das catedrais. Este

método, de unir pedaços de vidro colorido através de chumbo, foi o que melhor se

adaptou à necessidade narrativa do interior da catedral gótica. Desenvolvendo-se

bruscamente em função das inovações técnicas de distribuição de peso das

abóbadas, que permitiam a criação de grandes lances de entrada de luz, esta

evolução desafia os mestres-vidreiros obrigando-os a um projecto metodicamente

planejado, distanciando-se progressivamente da influência românica e assumindo

um estilo pictórico próprio a partir do ano 1200 e com apogeu até 1250. Também

reforçavam um clima de misticismo na igreja, a luz entrando colorida através dos

vitrais contribuía para potencializar a fé, propagavam a palavra de Deus, porque

neles era colocado o máximo de informações possíveis, estritamente ligados a

filosofia escolástica, no sentido em que as figuras são como estátuas projetadas

numa superfície plana. O vitral assume um forte carácter abstrato sem efeito

tridimensional, profundamente geométrico onde os únicos pormenores permitidos

são as delineações a negro dos olhos, cabelos e pregas das roupas (JANSON,H.W.

E ANTHONY F, 1996).

Page 21: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

20

Com a composição dos vitrais alterada, devido ao alto custo do vidro colorido,

passou-se, então, a utilizar placas de vidros brancos, que eram mais finos, maiores

e mais fáceis de cortar. Assim o vitralista procurou cada vez mais dissimular a

estrutura de chumbo, pois com uma maior superfície, poderia pintar

abundantemente e de forma virtuosística (WERTHEIMER, 2011).

Nos meados do século XIV e XV, começou o período da decadência dos

vitrais. Na Europa os principais centros de produtores de vitrais foram se

desfazendo, principalmente por questões políticas e econômicas causadas pela

Guerra dos Cem Anos, Peste Negra e a perda gradativa da importância relativa da

realeza (BARROSO, 1996).

A arte do vitral passou a aproximar-se cada vez mais de outras artes, em

especial da pintura de cavalete e da gravura (FARTI, 1968). A perspectiva passou a

fazer parte da composição, caracterizando o inicio das alterações dos valores

renascentistas, assim como, a alteração da espacialidade e o surgimento dos

esmaltes, os quais contribuíram para a decadência do vitral.

Após um período de pouca manifestação, o ressurgimento do vitral ocorreu

nos séculos XIX e XX, após a Revolução Francesa, que acendeu a chama da

restauração, os artistas românticos e os intelectuais passaram a estudar os antigos

processos de manufatura do vidro e do vitral. No final do século XIX o vitral

reaparece, vinculado ao espírito da Art Nouveau4, e rejuvenesce. Com um caráter

decorativo e uma nova iconografia, passa a invadir lares e espaços cívicos. As

novas composições são agora formadas a partir de motivos geométricos, florais e

animais. São as novas estruturas construtivas que dão outra vez espaço ao vitral.

No século XX, encontramos obras abstratas em vitral de intensa expressão, como

em Marc Chagall (fig. 05), Fernand Léger, John Piper entre outros.

4 O Art Nouveau foi um movimento artistico das últimas décadas do século XIX ligado em especial a arquitetura e ao desing. Caracteriza-se pelas formas orgânicas e pelos motivos ligados a natureza. Valoriza o trabalho artesanal e matérias como o ferro e o vidro, principais elementos dos edifícios que passaram a ser construídos segundo a nova estética, (GRAU, 1987)

Page 22: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

21

Figura 05: Vitral “janela do velho testamento”, 1963

Fonte: < www.conexaoparis.com.br acesso em 13 dez 2012>

No Brasil a história do vitral, está ainda por ser feita, já que a arquitetura

colonial não privilegiou o vidro, Possivelmente, isso se deve ao fato de Portugal

nunca ter sido um país de grande tradição em vitrais. Nesse sentido, muito do que

possuímos de patrimônio nacional nessa área se deve à posterior imigração

principalmente de alemães e italianos.

A história do vitral nacional é iniciada, basicamente, por Conrado Sorgenicht,

alemão, natural de Renânia, que imigra para São Paulo e em 1888, já com 52 anos

de idade, abre seu ateliê. Nesse período, a cidade se desenvolvia e havia muito

mercado a ser explorado, porém a dificuldade de matéria-prima acaba fazendo com

que a maioria dos painéis fossem importados. Os registros apontam que os painéis,

entre os finais do século XIX e início do século XX, foram importados da França e

Alemanha, inicialmente para o Rio de Janeiro, como os da igreja da Candelária, do

Teatro Municipal e da Confeitaria Colombo (WERTHEIMER,2009).

Page 23: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

22

A trajetória dos vitrais no Rio Grande do Sul esteve ligada aos imigrantes

europeus do início do século XX. A tradição européia teve sua continuação nos

vitrais do sul, com o uso de seus esquemas compositivos pouco inovadores,

reproduzindo a presença de um vitral figurativo, com cercadura5 e marcas de

doadores que perdurou até as últimas décadas do século XX. Esta produção foi

marcada pela presença da Casa Veit e Casa Genta (WERTHEIMER, 2011).

A Casa Veit foi um importante ateliê de Porto Alegre, com sua estrutura

basicamente familiar, teve forte atividade na década de 1920 e início de 1930, cuja

produção foi distribuída para várias regiões do Rio Grande do Sul. O uso abundante

dos vidros opalinos e opalescentes6 foi uma característica forte do ateliê.

1.2 – CASA GENTA: BREVE HISTÓRIA E SEUS ARTISTAS

A história da Casa Genta inicia-se em 1906, em Porto Alegre/RS, com a sua

fundação por Antônio Genta, uruguaio, nascido em Montevidéu em 13 de outubro de

1879 e falecido em 1943 em Porto Alegre, filho do italiano Giuseppe Genta e da

uruguaia Balbina Salaberry.

Giuseppe Genta, logo após emigrar da Itália para o Uruguai, (1875/1877), já

passou a exercer a profissão, possivelmente, aprendida em Gênova e Altari., Foi em

Montevidéu, na Rua Calle Paissandu, n.º 148, que fixou-se com uma indústria de

artes em vidros e espelhos, local em que certamente seus filhos aprenderam o

trabalho que anos depois criou vulto na Capital Gaúcha

Em meados de 1906, Antônio casou-se com Albertina Sofia Fischer, foi quando

começou a trabalhar com vidros, em sua pequena oficina (fig.06), localizado na Rua

Floresta, n.º 19, atual Avenida Cristóvão Colombo, em Porto Alegre/RS, com o irmão

Miguel Aníbal Genta, nascido em Buenos Aires em 05 de julho de 1885.

No inicio, enquanto Antônio administrava os negócios, o irmão Miguel, viajava

pela Europa, em busca de novas técnicas no trabalho do vidro, maquinários e

profissionais qualificados para trabalhar no ateliê. O laboratório de Antonio Genta

5 Cercadura: tudo que guarnece ou orla o contorno de algum objeto (FERREIRA, 1999). 6 São tipos de vidros que possuem características de opacidade. Os opalinos não possuem transparência e os opalescentes são semi-transparente.

Page 24: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

23

tornou-se uma verdadeira oficina de arte, as esculturas e ornamentos executados

pelo Sr. Genta eram magistrais, assim como espelhos, vidros, lamparinas, molduras,

flores etc., que reproduzem a mais pura arte veneziana.

Figura 06: Ateliê Casa Genta, interior da oficina, 1920

Fonte: Acervo da distribuidora de vidros: central de espelhos, 2010, apud

WERTHEIMER.

Em 1923, com o retorno de Miguel da Europa, e visando a ampliação da

empresa, Miguel e Antonio Genta e Helmuth Schmidt Filho, associaram-se a Arthur

Felipe Fischer e criaram a razão social Genta Irmãos e Schmidt.

A fábrica estava montada com sistemas modernos e mantinha um local dedicado

ao comércio. Além da fabricação de espelhos, gravuras e ornamentos em vidro,

também fazia reparação de objetos congêneres7.

Os anos de 1930 e 1940 foram de grande produção de vitrais na cidade de Porto

Alegre, que crescia populacionalmente, enquanto que muitos templos religiosos

eram construídos (PESAVENTO, 1991).

A produção de vitrais da Casa Genta estruturou-se praticamente com material e

tecnologia importados. Os vidros coloridos vinham principalmente da Bélgica e

Inglaterra (empresa Bilkenston Brother), e só mais tarde foram trazidos de São

7 http://pufal.blogspot.com.br/2008/08/casa-genta-m-genta-schmidt-cia-i.html> Acesso em 04

de janeiro 2013

Page 25: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

24

Paulo (Empresa Vicente Cracasso). Os roletes, instrumentos de corte de vidro,

vinham da Inglaterra, das marcas Sharrat e Newth London. Assim como os materiais

e as técnicas, os profissionais que trabalhavam no ateliê procediam da Europa,

principalmente os responsáveis pela pintura, já que o trabalho era setorizado. Os

artistas principais da Casa Genta foram o alemão Maximilian Dobmeier e o espanhol

Francisco Huguet,(fig.07a,7b),natural de Madri, eram considerados os principais

pintores e desenhistas do ateliê, cada um com as suas características pictóricas,

sendo o mestre Huguet o responsável pela execução de todos os vitrais estudados

neste trabalho. No Brasil, Mestre Huguet trabalhou muitas vezes em casa com a

filha mais velha, Maria da Luz Huguet Alscher, que era responsável pelo desenho

dos contornos de elementos secundários, tais como a vegetação e o panejamento

(representação das vestes na pintura). Os contornos das mãos e dos rostos eram

sempre executados por ele, que possuía um traço vigoroso, representado por linhas

grossas de traçado firme (WERTHEIMER, 2011).

Figura 07 – Mestre Francisco Huguet(a) – assinatura(b)

(a) (b)

Fonte: Acervo documental de Mariana Wertheimer, 2013.

Page 26: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

25

Tendo em vista os belos trabalhos em vidros (vitrais), e vitrines, realizados com

força de artesões franceses, alemães, espanhóis, dentre outros, a Casa Genta foi

premiada com medalha de bronze na exposição de Chicago, medalha de ouro, em

1925, pelos Cinqüenta anos da Colonização Italiana no Estado, bem como na

exposição de 1935, em Porto Alegre, em comemoração ao centenário da Revolução

Farroupilha8.

Em 1936, Antonio Genta afastou-se da empresa e a razão social passou a ser

M. Genta, Schmidt & Cia. Em 1942, o filho de Miguel Anibal Genta, Marcelo Pascoal

Genta, passou a incorporar a sociedade, sem a alteração da razão social.

Em 1950, a sede da empresa é transferida para a Rua do Parque, números 437

e 447 (fig. 08). Após o falecimento de Helmutch Schimidt, em 1959, a empresa foi

transformada em sociedade anônima, isto ocorreu no dia 17 de setembro de 1959,

adotando o nome de Genta S.A..

Figura 08: Ateliê da Casa Genta, interior da oficina, 1950

Fonte: Acervo da distribuidora de vidros: central de espelhos, 2010 Apud

WERTHEIMER, 2011.

No final da década de 1960 e início dos anos de 1970, a produção de vitrais

diminuiu drasticamente e as filiais que foram fundadas em Caxias do Sul (1960) e

em Passo Fundo (1963), passaram a atender em especial vidros planos e espelhos. 8 http://pufal.blogspot.com.br/2008/08/casa-genta-m-genta-schmidt-cia-i.html> Acesso em 04

de janeiro 2013.

Page 27: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

26

A presença marcante do ateliê Casa Genta no Rio Grande do Sul, que durou

oito décadas, pode ser constatadas a partir de anúncios comerciais expostos no

Jornal Alemão “Familienfreud” (fig.09) de circulação em Porto Alegre, na década de

1930 e do anúncio da Revista o Globo (fig. 10) no ano de 1938.

A Casa Genta, encerrou suas atividades em 12 de março de 1998. Ainda hoje

temos a possibilidade conferir as edificações do ateliê e da residência, uma

localizada na Rua do Parque, números 437 e 447 (fig. 11), último endereço da Casa

Genta, enquanto ativa e outro na Av. Almirante Tamandaré número 76 (fundos do

terreno do ateliê), onde se localizava a casa particular da família (fig.12). Nos

detalhes situados próximos ao telhado da residência, podemos observar os

arabescos, do mesmo estilo que foram utilizados nas cercaduras de vários painéis

confeccionados pelo ateliê e na imagem do antigo ateliê, observamos o detalhe do

vidro jatiado.

Figura 09: Jornal Alemão “Familienfreund” (anos 1930)

Fonte: Arquivo de Diego Pufal, Porto Alegre, 2009 apud WERTHEIMER, 2011.

Figura 10: Revista Globo, XX. número 239 – 29/10/1938

Fonte: Arquivo Moises Velhinho Porto Alegre, 2010 apud WERTHEIMER.

Page 28: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

27

Figura 11: Imagem atual do antigo ateliê da Casa Genta (a) Detalhe(b)

(a) (b) Fonte: Mariana Wertheimer, 2013.

Figura 12: Imagem atual da Casa particular da família Genta detalhe

(a) (b)

Fonte: Mariana Wertheimer , 2013.

1.3 – HISTÓRICO DO EDUCANDÁRIO CORAÇÃO DE MARIA

Os objetos de estudo deste trabalho, são os vitrais executados pelo Mestre

Huguet, da Casa Genta, que estão localizados no Educandário Coração de Maria

(fig.13), na Av. Presidente Vargas, 681, no município de Rio Grande.

De acordo com a história, a missão do Educandário Coração de Maria, instituição

de ensino e obra assistencial, fundada pelo major Miguel Tito de Sá (presidente) em

15 de agosto de 1861, era de agregar princípios cristãos à formação integral das

crianças e dos adolescentes, através de uma proposta pedagógica que

oportunizasse condições para o desenvolvimento das mais diversas potencialidades.

Page 29: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

28

Na época, as rotinas da casa, ofereciam as alunas internas, aulas básicas de

costura e bordado, práticas educativas, conhecimentos culinários, entre outras

atividades9.

Figura 13- vista externa do Educandário Coração de Maria

Fonte: Priscilla P. Lampazzi. Maio de 2012.

Conforme relato da irmã Marilze Carbonera10, que trabalha na instituição há 42

anos "A intenção do educandário foi sempre preparar as meninas para que saíssem

prontas para a vida, tornando-se mulheres feitas, assumindo a postura de ótimas

donas de casa, para que pudessem viver dignamente".

Inicialmente, a casa foi edificada no entorno da Praça Sete de Setembro, sob o

nome Asilo de Órfãs Coração de Maria, em 15 de agosto de 1861. A partir do ano de

1903, a direção interna do Educandário passou à Congregação das Irmãs do

Imaculado Coração de Maria, enquanto a externa foi composta por membros da

comunidade.

Sua tradicional sede, em um velho casarão na Praça Sete de Setembro, com

fundos para a atual rua Dr. Napoleão Laureano, foi atingida, na década de 1950, por

violento incêndio que deixou cerca de 50 menores quase ao desabrigo. Naquela

ocasião, a entidade já havia adquirido um terreno para construção de um espaço

9 http://www.jornalagora.com.br > acesso em 09/02/2013. 10 Irmã Marilze Carbonera (Coordenadora de serviços gerais), que trabalha na instituição há 42 anos.

Page 30: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

29

maior, para abrigar um maior número de jovens, da região. O novo prédio, na Av.

Presidente Vargas, (fig.14) teve a obra acelerada em função do incêndio que atingiu

as antigas instalações, e foi concluído em 195311.

Vinte anos depois, já na década de 70, o regime de internato começou a ser

substituído, gradativamente, pelo modelo atual – semi-internato.

O grupo de vitrais do Educandário, instalados em 1952 são compostos por dez

janelas, das quais seis janelas, JL1,JL2,JL3,JO1,JO2,JO3, estão localizadas na

nave (fig. 15), todas com dimensões aproximadas de 3,25m de altura x 1,40m de

largura com vergas em arco. Duas janelas estão locadas no coro alto da capela,

com dimensões aproximadas de 2,24m de altura x 0,42m de largura são as janelas

JN1 e JN2. O conjunto de vitrais também conta com uma janela na escadaria, JL4

em formato retangular e verga reta com dimensões de 2,30m de altura x 1,45m de

largura e outra localizada no refeitório, JO4 em formato retangular e verga reta com

dimensões de 1,50m de altura x 3,00m de largura.

O grupo de painéis situados na lateral direita da capela são denominados de

JO1, JO2, JO3, e os situados na lateral esquerda são nomeados de JL1, JL2, JL3.

Conforme planta (fig. 16), demonstra localização das janelas com vitrais do

Educandário Coração de Maria.

Figura 14: Localização da edificação do Educandário Coração de Maria - Rio Grande/RS

Fonte: http://maps.google.com/maps acesso 08/10/12>

11 http://www.jornalagora.com.br > acesso em 09/02/2013.

Page 31: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

30

Figura 15: vista interna da capela do Educandário coração de Maria

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Figura 16: Planta de localização das janelas com vitrais do Educandário Coração de Maria

Fonte: Marina Perfetto Sanes, 2012.

Page 32: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

31

2 - ANÁLISE DOS PAINÉIS: ICONOGRAFIA, PATOLOGIAS E INTERVENÇÕES

2.1 - ESTUDOS ICONOGRÁFICOS DOS VITRAIS SITUADOS NO

EDUCANDÁRIO CORAÇÃO DE MARIA

O estudo iconográfico foi baseado nas teorias de Panofsky, 1999, os quais

considera como iconografia o ramo da história da arte que trata do tema ou

mensagens das obras de arte em contraposição a sua forma, portanto a descrição e

classificação das imagens é um estudo limitado, que nos informa quando e onde

temas específicos foram visualizados. A iconografia é de auxilio significativo para o

estabelecimento de datas, origens e ás vezes autenticidade. Coleta e classifica as

evidências, mas não se considera obrigada ou capacitada a investigar a gênese e

significação dessas evidências. No entanto, embora o conhecimento dos temas e

conceitos específicos transmitidos através de fontes literárias seja indispensável e

suficiente para uma análise iconográfica, não garante sua exatidão.

O esquema compositivo do conjunto de vitrais do Educandário Coração de

Maria, podem ser divididos em quatro grupos, com diferenças na narrativa,

cercadura, vibração cromática, representando em cada grupo característica próprias,

marcadas por uma iconografia particular. Conforme a divisão feita, as janelas do

grupo um, situadas na nave possuem cercaduras idênticas (fig. 17), em formato de

colunas na lateral, encimadas por arcos, intensamente elaborados, executados em

vidros brancos pigmentados a partir do amarelo de prata12. Também foi usada

grisalha13 para marcar as linhas e volumes, a partir de uma distribuição, respeitando

uma simetria no eixo longitudinal. Constata-se que, provavelmente para os

acabamentos, o ateliê da Casa Genta usou nas extremidades, vidros impressos

roxos sem pintura, para possibilitar ajustes finos.

Fazem parte deste grupo (figs.18,20,22,23,24,25), as janelas posicionadas pelo

lado leste JL1, JL2, JL3, e as janelas posicionadas pelo lado oeste JO1, JO2, JO3,

12 Amarelo de prata é uma suspensão coloidal a base de nitrato de prata que pigmenta o vidro dos tons amarelo limão ao âmbar (wertheimer,2011). 13

Grisalha é um dos materiais mais usados na pintura de vitrais, sua coloração é geralmente castanha, castanha avermelhada e negra (wertheimer, 2011).

Page 33: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

32

todas localizadas na nave única da igreja - salão14. As janelas são divididas em

cinco registros15, formado por três módulos nos registros retos e cinco módulos no

arco. Em todos os registros das bases da janela encontra-se o mesmo esquema

medieval, com local para a marca do doador, No centro da cercadura são

representadas cenas, caracterizando a individualidade de cada janela.

Figura 17: cercadura dos painéis de vitrais da nave da capela

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

14 Igreja-salão é a designação dada a uma igreja em que o espaço interior se conforma num salão único e uniforme (.wikipedia.org/wiki/Igreja-salão) > acesso em 09.02.2013. 15 Registros são tipos de andares que se subdividem em módulos.

Page 34: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

33

A janela JO1, (fig.18), doado pela Companhia Luiz Loréa & Cia Ltda, trata-se

de um painel com desenhos figurativos, com tema religioso, de representação

denominada: “Menino Jesus entre os doutores”. Esta representação foi largamente

reproduzida na história da arte, em sua iconografia é constante a presença dos

livros, anciões e de Cristo menino, normalmente, ocupando o centro da composição,

vestindo uma túnica e gesticulando. Ainda foi possível perceber neste painel, e em

todos os outros, o típico processo de produção de vitral a partir do cartão o que

propiciou uma reprodução da imagem em várias encomendas, isto pode ser

comprovado pela comparação das imagens da mesma cena em vitrais como da

Escola Nossa Senhora do Rosário de Porto Alegre, e da Universidade Católica de

Pelotas (figs. 19a e b).

A imagem de Maria com um fuso de fiar (fig. 20),representado na janela JO2

(fig.21) símboliza a vida e a duração, como idéia geral o fusiforme significa o

sacrifício mútuo e a força de inversão, e Cristo com o livro, simbolizando o mundo,

pois o universo é um imenso livro, sendo uma das representações da rotina diária da

família. A doação deste painel foi feita por Cia União Fabril.

A janela J03 (fig.22) representa a natividade, mostrando Jesus Cristo na

manjedoura, junto a seus pais Maria e José e um cordeiro que significa a pureza, a

inocência e a mansidão. Este painel foi doado pelas Indústrias Leal Santos Ltda.

A composição iconográfica da Virgem com uma veste campesina, num

ambiente cercado por quatro meninas, conforme representação da janela JL1

(fig.23). A imagem das flores com as meninas podem significar a pureza. O vidro

onde constava a marca do doador foi substituído por uma camada grossa de

polímero.

A representação da janela JL2 (fig. 24), formada pela imagem de um anjo

com as mãos levantadas, dando um significado de aspecto sublime e protetor em

relação á menina que está na beira da ponte. A ponte simboliza a transição de um

estado a outro em diversos níveis (épocas da vida, estados dos seres). Este painel

de vitral foi doado pela Companhia Cunha Amaral & Cia Ltda.

Jesus Cristo sentado com a cabeça reclinada com uma criança no colo e as

outras em sua volta, juntas com um cordeiro que significa a pureza e a inocência é a

representação da janela JL3 (fig. 25). Este painel foi doado pela Companhia Fiação

e Tecelagem Rio Grande.

Page 35: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

34

Figura 18: janela JO1

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 36: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

35

Figura 19: Detalhe dos vitrais da Escola Nossa Senhora do Rosário (a), de Porto Alegre, e

da Universidade Católica de Pelotas (b), de Pelotas

(a) (b)

Fonte: Mariana Wertheimer, (a) em 2009 e (b) em 2010.

Figura 20: fuso de fiar

Fonte: <http://artestela-stelart.blogspot.com.br/ acesso em 05.02.2013>

Page 37: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

36

Figura 21: janela JO2

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 38: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

37

Figura 22: janela JO3

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 39: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

38

Figura 23: janela JL1

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 40: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

39

Figura 24: Janela JL2

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 41: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

40

Figura 25: janela JL3

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 42: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

41

De um modo diverso do grupo um, as imagens representadas no grupo dois

são simbólicas, apresentando uma cercadura simples sem vidro de ajuste, com

simetria longitudinal e transversal (fig. 26). As janelas JN1 e JN2 (figs.27e28) não

possuem a marca de doadores, muito provavelmente, este fato esteja ligado ao

pouco acesso do público, pois as mesmas estão localizadas no coro alto da capela.

As cenas expostas na janela JN1 (fig. 27) representam uma Harpa numa

ambientação celestial, encimada por uma estrela que irradia luz, simbolizando o

espírito, e na base, as nuvens que conferem um caráter divino a imagem. A harpa

esta vinculada ao lugar onde a janela está colocada, pois ali é o coro alto da igreja.

A janela JN2 (fig.28), também está em um ambiente suspenso envolto em

nuvens, representa uma vela acesa luz e sinos, seu som é símbolo do poder criador.

Por sua posição suspensa participa do sentido místico de todos os objetos

dependurados entre o céu e a terra, por sua forma tem relação com a abóboda e,

em conseqüência com o céu.

A cercadura da janela JO4 (fig. 29), que representa o grupo três, é bastante

elaborada, foi executada em vidros brancos, a partir do amarelo de prata. Também

foi usada a grisalha para marcar as linhas e volumes, o painel possui um medalhão

central com uma imagem representando o Sagrado Coração de Maria. Foi possível

perceber que nesta janela, o ateliê da Casa Genta usou nas extremidades, vidros

impressos roxos sem pintura, para possibilitar ajustes finos. Na mesma janela a

quantidade de vidros brancos diminui a vibração cromática Na parte inferior, o

mesmo esquema medieval, com local para a marca do doador. Este painel foi doado

pelos Sócios Contribuintes.

O grupo quatro é composto por um painel (JL4), onde a cercadura se assemelha

a uma moldura de pintura de cavalete, trabalhada com a cor amarelo de prata e

grisalhas, tem uma vinculação renascentista marcada pela pespectiva, com ponto de

fuga central e uma ambientação clássica. A janela JL4 (fig.30), com uma

composição fortemente equilibrada, marcada por um esquema de triangulação típica

do renascimento, ainda distribuindo a cena em equilíbrio simétrico a partir de um

eixo transversal onde Cristo ocupa a parte central. As disposições dos apóstolos

também orientam a composição no sentido da figura central a partir de grupos de

seis personagens de cada lado, representando a Santa Ceia. A tradição medieval

ainda esta presente quando se percebe a marca do doador no registro da base. Este

painel foi doado pelos Sócios Contribuintes.

Page 43: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

42

Figura 26: cercadura Figura 27: janela JN1 Figura 28: janela JN2

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 44: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

43

Figura 29: janela JO4

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Page 45: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

44

Figura 30: janela JL4

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

2.2 - ANÁLISE DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Os fenômenos de alteração do vidro são conhecidos como decomposição ou

corrosão. Os tipos de decomposição mais comumente encontrados são: corrosão

superficial, opacificação e fissuração (REDOL, 1998).

A corrosão superficial é a mais ocorrente e pode assumir características

diferentes, alterando o aspecto da superfície, tornando-a mais opaca e irregular.

As crostas e os picados são os fenômenos mais comuns de superfícies alteradas

e estão diretamente vinculados à quantidade molar de óxido de silício na

composição da massa (menos de 62% mol). As crostas, majoritariamente são

formadas por cristais de sais hidratados quando lexiviados podem assumir um

aspecto macio e pulverulento ou duro e fixo. Podem, também, possuir coloração

branca, castanha ou negra. Os picados são alterações pontuais, orifícios de

dimensões e concentrações variadas. Suas origens ainda são polêmicas, mas

acredita-se estarem vinculadas a irregularidades de fabrico. Normalmente

apresentam produtos secundários de corrosão, brancos ou castanhos, e sua

remoção, por vezes, é contestável. Muitas vezes a origem das crostas dá-se pela

Page 46: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

45

concentração dos picados. As quais são mais comuns em vidros antigos (REDOL,

1998).

O fenômeno de opacificação surge do interior do vidro, paralelamente à

superfície. Apesar de freqüente, pouco se conhece de sua origem, que altera a

translucidez e a leitura da obra. O acastanhamento é um fenômeno de opacificação

ligado, provavelmente, à alteração do estado de oxidação do óxido de manganésio.

A fissuração do vidro, outro tipo de patologia, é encontrada com freqüência em

vidros medievais alterados. Normalmente, inicia-se na superfície e suas dimensões

variam muito. Suas origens não estão comprovadas, encontrando-se, muitas vezes,

associadas a irregularidades na superfície, como picados. Provavelmente a

fissuração está ligada a diferenças de tensões causadas, por exemplo, pela

desidratação da camada gelificada (NEWTON, 1998).

Os microorganismos não são agentes diretos na decomposição do vidro, sendo,

um veículo, pois são depositários de umidade. Sua presença, porém, quando no lado

interior, é extremamente prejudicial à conservação de pinturas.

Casos de alteração devido à solarização são muito raros, podendo ocorrer mais

em vidros do século XIX. A coloração do vidro original é alterada devido à exposição

a radiações de elevada energia como, por exemplo, as radiações ultravioletas dos

raios solares, conferindo-lhes um tom púrpuro ou acastanhado (NEWTON, 1998).

As patologias analisadas, pertencentes às janelas do grupo um e do grupo dois,

situadas na capela, foram objetos de estudo mais pormenorizados, pois se

encontram com instabilidades importantes, muitas delas resultantes de intervenções

irreversíveis,

Nas janelas do grupo um e dois, as patologias encontradas estão representadas

nos diagramas abaixo, (fig.31 a 38), elaboradas segundo as normas do Centro de

Conservação e Restauro da Batalha (fig.39 e fig.40) (WERTHEIMER, 1997/1998).

Todos os painéis estão totalmente pontilhados, representando a Camada de

polímero que foi aplicado, recurso gráfico adaptado para situação especifica dos

painéis em questão.

Page 47: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

46

Figuras: 31(JL3), 32 (JO1) Figuras: 33 (JO3), 34 (JL2)

Fonte: ilustrações, desenho à mão livre, Enilda Almeida, 2013.

Pintura em

em

destacamento

Fratura

estável

Page 48: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

47

Figuras: 35(JL1), 36 (JN2) Figuras: 37 (JO1), 38 (JN1)

Fonte: ilustrações, desenho à mão livre, Enilda Almeida, 2013.

fissura

a

Fratura

instável

fissura

Todas as

marcações dos

painéis

retangulares

são

destacamento

de pintura

Page 49: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

48

Figura 39: Convenção de documentação gráfica para painel individual de vitral

Fonte: (WERTHEIMER, 1997/98).

Page 50: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

49

Figura 40: Convenção de documentação gráfica para painel individual de vitral

Fonte: (WERTHEIMER, 1997/98).

As patologias mais severas apresentadas pelos diagramas acima, permitem uma

visão global do estado de conservação dos conjuntos. Foram feitos exames

Page 51: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

50

organolépticos e fotografias com luz transmitida (anverso) e com luz refletida

(reverso), mas para um diagnóstico mais específico seriam necessários exames

complementares.

O conjunto de janelas que representam o grupo um e dois, apresentam

patologias relativamente comuns neste tipo de obra artística, que são lacunas

(fig.41), perda total do material vítreo junto com a pintura; fraturas do tipo estável

(fig. 42), quando o fragmento não corre o risco de ser perdido; fraturas do tipo

instável, ou multifratura (fig.43), são fraturas que requerem mais cuidados, pois

apresentam sempre o risco de perda do material original; fissuras (fig.44), são

fendas do material vítreo, pouco perceptível, sem separação de material original e

consequentemente sem risco de perdas, outro tipo de patologia, ligadas a camada

pictórica está vinculado com o destacamento de pintura do tipo pontual (fig.45), é

mais fácil de ser tratada. Está relacionada com processo de fabrico e temperatura de

queima, podendo ser por baixa temperatura ou por excesso de temperatura. A

temperatura de queima da grisalha fica entre 600 e 650 graus centígrados.

Figura 41: lacunas (a) Detalhes (b)

(a) (b)

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Page 52: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

51

Figura 42: fraturas do tipo estável (a) Detalhe (b)

(a)

(b)

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Page 53: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

52

Figura 43: fraturas do tipo instável (a) Detalhe (b)

(a)

(b)

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Page 54: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

53

Figura 44: fissuras (a) Detalhe (b)

(a)

(b)

Fonte: Enilda Almeida,2012.

Page 55: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

54

Figura 45: destacamento de pintura do tipo pontual

Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Um dos principais fatores que alteraram o estado de conservação dos painéis de

vitrais de modo irreversível está diretamente relacionado com a aplicação do

polímero, na intervenção ocorrida em 1995, conforme relato da Irmã Marilze16. Este

polímero foi aplicado em toda superfície da janela, pelo anverso e reverso, cobrindo

inclusive as calhas, tendo sido provavelmente aplicado com pincel, ainda em estado

viscoso, com intuito de sanar as patologias pré-existentes.

Esta aplicação causou novas patologias como: fraturas concoidais (fig.46),

aquelas fraturas paralelas a face, sofrendo uma perda parcial do material,

destacamento de pinturas (fig.47), como conseqüência a alteração na fruição do

conjunto (fig.48) e podemos observar pelo reverso (fig.49) o aspecto leitoso

ocasionado pela aplicação de polímeros.

Algumas patologias encontradas nos vitrais do Educandário, também puderam

ser constatadas em outros exemplos de vitrais na cidade do Rio Grande, como na

Câmara de Vereadores (figs. 50,51,52), tratamento esse que podem representar

práticas de um determinado período.

16 Irmã Marilze Carbonera (Coordenadora de serviços gerais), que trabalha na instituição há 42 anos.

Page 56: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

55

Figura 46: fraturas concoidais

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Figura 47: destacamento da pintura

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Page 57: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

56

Figura 48: alteração na fruição do conjunto

Fonte: Fonte: Pricilla Pinheiro Lampazzi, 2012.

Figura 49: aplicação do polímero pelo reverso

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Page 58: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

57

Figura 50: Câmara de Vereadores

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Figura 51: Câmara de Vereadores

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Page 59: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

58

Figura 52: Câmara de Vereadores

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

2.3.– MATERIAL DA INTERVENÇÃO E SUA REVERSIBILIDADE:

POLÍMERO

Devido aos danos causados pela intervenção de 1995, tornou-se importante

compreender um pouco mais sobre o material aplicado na intervensão. A origem

da palavra polímero (figs. 53 e 54) vem do grego, sendo poli (muitos) e mero

(unidade de repetição). Os polímeros são materiais compostos por

macromoléculas, cujas cadeias são formadas pela repetição de uma unidade

básica chamada mero17.

17Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Polímero Acesso em: 24 jan .2013>

Page 60: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

59

Figuras 53: macromoléculas

Fonte: www. polimeros.no.sapo.pt/polim.htm Acesso em 24.01.2013>

Figura 54: janela com aplicação de polimero

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Polímeros são compostos químicos de pesos moleculares elevados,

constituídos pela associação de muitas moléculas pequenas (monômeros), iguais ou

de vários tipos diferentes, unidas umas às outras por ligações covalentes resultantes

de várias reações de adição ou de condensação (substituição) consecutivas.

Dependendo do tipo de manômetro (estrutura química), do número médio de meros

por cadeia e do tipo de ligação covalente, os polímeros são divididos em três

grandes classes: Plásticos, Borrachas e Fibras.

Os polímeros aplicados na intervenção encontram-se na classificação de

polímeros plásticos se enquadrando no grupo de maior número de materiais

poliméricos diferentes. Os plásticos são materiais que possuem alguma rigidez

Page 61: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

60

estrutural quando submetidos a uma carga e são usados em diversas aplicações

(CALLISTER, Jr, 2008).

Os polímeros plásticos se dividem em dois grandes grupos que são: os

termoplásticos e os termofixos (GÓMEZ, 2002) O tipo de polímero encontrado nas

janelas analisadas tem as características de um polímero plástico termofixo. Os

termofixos formam redes tridimensionais, para o processo de cura, necessitam da

adição de um catalizador.

Foi percebido que suas alterações estão vinculadas as principais

propriedades dos polímeros que se dividem em físicas, químicas e físico-químicas.

Nos vitrais onde foram encontradas as aplicações de produto plástico podemos

observar as alterações físicas e químicas mais evidentes dentro do processo de

degradação dos polímeros.

As propriedades físicas são aquelas que não envolvem modificações

estruturais dos polímeros, a nível molecular, suas propriedades são mecânicas,

térmicas, elétricas, óticas, densidade e estabilidade dimensional.

Conforme podemos observar nas janelas, as propriedades óticas (fig. 55) se

caracterizam pela opacidade, pelo aspecto leitoso, pelas fissuras e fraturas.

A estabilidade dimensional (fig.56) nos objetos de estudo é caracterizada por

variações de tamanho causadas pelas contrações e dilatações. O que causou o

abaloamento na base do painel da janela JL1 e tensões na interface entre o vidro e o

polímero como na janela JN1 (fig.44).

Dentre as propriedades químicas mais importantes dos materiais poliméricos,

diretamente relacionadas às suas aplicações, estão resistência à oxidação, à

degradação térmica, às radiações ultravioletas, à água, a ácidos e bases e a

solventes e reagentes, além da inflamabilidade (CANEVAROLO, 2006).

Degradação é qualquer reação química destrutiva dos polímeros, que pode

ser causada por agentes físicos e/ou por agentes químicos. A degradação causa

uma modificação irreversível nas propriedades dos materiais poliméricos, as quais

são evidentes pelas deteriorações progressivas destas propriedades. Isto pode ser

constatado pelo aspecto visual do objeto analisado, onde existem as intervenções

pela aplicação de polímeros.

Page 62: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

61

Figura 55 : Reverso da janela com aplicação de polímeros

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Figura 56: Estabilidade dimensional

Fonte: Enilda Almeida, 2012.

Page 63: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

62

Em relação aos agentes ou fatores que puderam ser analisados, como

causadores da degradação, são citados, agentes físicos: radiação solar e outras

radiações, temperatura e atrito mecânico intenso, e os agentes químicos: água,

oxigênio, e poluentes atmosféricos.

Segundo Amilton Viana e colaborador (s/d), além dos agentes químicos,

existem outros fatores que podem ser causadores da degradação como: ácidos,

bases, solventes e outros produtos químicos e o ozônio. Com relação aos agentes

biológicos são fatores de degradação microorganismos, tais como fungos e

bactérias

O nível da degradação pode ser classificado como superficial e estrutural,

sendo que o superficial altera o aspecto visual do material polimérico principalmente

a sua cor, quando são moldados em cores claras. E o estrutural altera as

propriedades mecânicas, térmicas, elétricas, etc., e compromete o desempenho

estrutural do material polimérico. Nos painéis estudados, foi possível constatar os

dois tipos de degradação, tanto o tipo superficial como o estrutural

No caso dos polímeros aplicados nos painéis o envelhecimento foi ambiental,

ou também chamado de natural, sendo aconselhável conhecer detalhadamente as

condições geográficas e climáticas para sua melhor compreensão. A luz solar em

determinada época do ano, a latitude, a altitude, a hora do dia, o ângulo de

exposição interferem na degradação do material.

Muito dos efeitos puderam ser analisados porque o tempo de exposição para

verificação dos resultados, segundo Amilton Viana e colaborador (s/d) dificilmente

fica abaixo de quatro anos, e esta aplicação ocorreu à dezoito anos.

Para esta a comprovação e análise pormenorizada da degradação deveria ser

feitas avaliações a cada mês, e caso as primeiras amostragens não apontassem

sinais de degradação drástica, o espaço seria aumentado. Nestes casos as medidas

utilizadas deveriam ser de avaliação visual, da coloração superficial, das

propriedades mecânicas e avaliação de alterações estruturais por métodos

espectrométricos, ou seja métodos de trabalho a partir de lentes de captação das

radiações.

Page 64: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

63

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

O estudo sugere a reflexão da importância do vitral como parte integrante da

edificação, suas patologias e as possíveis conseqüências das intervenções sofridas.

O trabalho propõe uma análise sobre o resgate do valor artístico e arquitetônico

destes elementos, tão pouco percebido e valorizado em muitas obras no Brasil.

Trata-se de um tipo de manifestação artística pouco reconhecida, com escassas

informações e registros.

O conjunto de vitrais do Educandário Coração de Maria, possuem diferentes

estruturas construtivas. Os painéis que compõem as janelas localizadas no coro alto

da igreja, são formados por cercaduras muito simples, os demais possuem

cercaduras bastante elaboradas, executadas em vidros brancos a partir do amarelo

de prata. Os vitrais que compõem as janelas da nave da igreja reproduzem cenas

religiosas, que remontam a tradição medieval da narrativa com a marca dos

doadores, este registro acaba por ser reflexo de uma das relações da arte com a

sociedade.

O painel JL4, localizado no refeitório tem a sua composição bastante vinculada a

um esquema compositivo mais tardio dentro da história do vitral, associando-se a

padrões ligados a pintura de cavalete.

Uma das intervenções sofridas a partir das aplicações dos polímeros, causaram

danos irreversíveis ou uma reversibilidade questionável, a qual poderia ser

investigada com estudos, testes e pesquisas de outra natureza sobre o assunto.

Longe de uma concepção ranskiniana18, “onde o restauro é a pior maneira de

destruir”19, muitas vezes parece mais adequado acompanhar as patologias ao invés

de intervir de forma inadequada. Provavelmente esta restauração foi efetuada com o

intuito de sanar as patologias pré-existentes, sem uma reflexão das causas ou

mesmo das conseqüências que poderiam ser acarretadas com o transcorrer do

tempo.

18

Termo relativo a teoria de John Raskin. 19 Apontamentos fornecidos na disciplina de teoria da conservação e restauro no curso de Bacharelado de Conservação e Restauro da Universidade Federal de Pelotas 2009/2012.

Page 65: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

64

Conforme o código de ética20, uma das necessidades da participação de um

conservador restaurador é a preservação dos bens culturais para benefício da atual

geração e das gerações futuras. Para tal, este profissional realiza diagnósticos,

tratamento de conservação e restauração dos bens culturais, devendo ter em conta

não só o momento presente, mas também as conseqüências que aquele ato pode

acarretar no futuro.

Segundo Brandi, (1963), uma das concepções de restauro considera não só

importante a salvaguarda da matéria mas também as medidas que assegurem a

melhor fruição da obra. A manutenção destes bens integrados é fundamental para a

existência do patrimônio, em especial por se tratar de uma manifestação artística

que parece frágil diante do vandalismo e atos de descasos.

Diante do que foi relatado, parece fundamental a regularização da profissão do

conservador-restaurador, para tornarem-se mais eficazes os códigos de ética,

normas e princípios que orientem uma boa prática de intervenção. Para isso

acontecer é necessário o reconhecimento da profissão com suas autarquias

organizadoras, a partir da existência de um órgão como um conselho responsável

para fiscalização e punição no contexto de salvaguarda de bens.

20

www.arquivoestado.sp.gov.br/.../CodigoEticaConservador restaurador.

Page 66: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

65

REFERÊNCIAS

BARROSO, P. Relatório do estágio do curso de técnicos de conservação e restauro de vitral do centro de conservação e restauro da Batalha (1995/1998). Batalha, trabalho policopiado, 1998. BRANDI. C. Teoria Del Restauro. Roma: Ed. Di Storia e Letteratura, 1963. BRISAC, C. A Thousand Years of Stained glass. Londres: Chartwel books inc., 1986. CALLISTER JR, W.D. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma Introdução. Rio de Janeiro: GEN, 2008. CANEVAROLO JR, S.V. Ciência dos polímeros. São Paulo: Artliber Editora Ltda, 2006. FARTI, F. El Vitral. Buenos Aires: CENTRO Editor da América Latina S.A, 1968. FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio - O dicionário da Língua Portuguesa, século XXI. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1999. GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GÓMEZ, M. L. La Restauración – Examen científico aplicado a La conservación de obras de arte. Madrid: Ediciones Cátedra, 2002. GRAU, A. P. Sintese dos Estilos Arquitectónicos. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 1987. JANSON, H. W. História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1992. JANSON, H. W. ; Anthony F. Iniciação a História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. PANOFSKY, E. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva S.A., 2007. PESAVENTOS, S. J. Memória Porto Alegre, espaços e vivências. Porto Alegre: Ed. Da Universidade/UFRGS: Prefeitura Municipal, 1991. REDOL, P. S. O Vitral história conservação e restauro, Lisboa: IPPAR, 2000. WERTHEIMER, M. G. A arte vitral do século XX em Pelotas. Dissertação. Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. Universidade Federal de Pelotas, 2011. ________ Estudo do patrimônio dos vitrais produzidos em Porto Alegre no período de 1920/1980, Porto Alegre: CD-ROM, 2009.

Page 67: Análise e crítica de intervenções nos vitrais do ... · Para Licurgo, Bianca e Davi. 4 AGRADECIMENTOS ... a Casa Genta, ateliê fundado em 1906, em Porto Alegre. A produção

66

Apontamentos fornecidos na disciplina de teoria da conservação e restauro no curso de Bacharelado de Conservação e Restauro da Universidade Federal de Pelotas 2009/2012.

REFERÊNCIA DIGITAL

Disponível em: <http://maps.google.com/maps > Acesso em: 08 out. 2012.

Disponível em: <http://pufal.blogspot.com.br/2008/08/casa-genta-m-genta-schmidt-

cia-i.html> Acesso em: 04 de jan. 2013.

Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/.../Arte-Românica-e-Gótica > Acesso

em: 19 jan. 2013.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sainte-Chapelle > Acesso em: 20 jan.

2013.

Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Polímero > Acesso em: 24 jan .2013.

Disponível em: <http://www.restaurabr.org/arc/.../04restauracaodosvitrais > Acesso

em: 01 jan. 2013.

Disponível em: <wikipedia.org/wiki/Igreja-salão > Acesso em 09 fev. 2013.

Disponível em: <http://www.vigoenfotos.com/paris/pari notredame > Acesso em 20

jan. 2013.

Disponível em: <http://www.jornalagora.com.br > Acesso em: 09 fev. 2013.

Disponível em: <http://www.artestela - stelart.blogspot.com.br > Acesso em 05 fev.

2013.

Disponível em: <http://www.polimeros.no.sapo.pt/polim.htm. > Acesso em 24 jan.

2013.

Disponível em:< http://www.arquivoestado.sp.gov.br/.../CodigoEticaConservador

restaurador. > Acesso em 26 fev.2013.

Disponível em < www.conexaoparis.com.br > Acesso em 13 dez 2012.