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1 ANÁLISE ECONÓMICA E FINANCEIRA: UM CASO DE ESTUDO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO Rute Abreu Professora Coordenadora, ESTG-IPG, [email protected] Fátima David Professora Adjunta, UDI-IPG, [email protected] Susana Augusto Estudante de Mestrado em Gestão da ESTG-IPG, [email protected] Instituto Politécnico da Guarda Av. Dr. Francisco Sá Carneiro, 50 6300-559 Guarda, Portugal Tfno: + 351 271 220 120 Fax: + 351 271 220 150 Palavras-chave: Análise Económica, Análise Financeira, Setor da Construção, Portugal. Área Temática: Relato Financeiro Metodologia: Case / Field Study AGRADECIMENTO As autoras agradecem aos revisores desta investigação os comentários, bem como ao Prof. Doutor José Angel Lopez Perez (Universidad de Sevilla, España) o apoio demonstrado. A segunda autora agradece o financiamento desta investigação através dos Fundos Nacionais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projecto Refª: PEst-OE/EGE/UI4056/2011.

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    ANLISE ECONMICA E FINANCEIRA: UM CASO DE ESTUDO DO SETOR DA CONSTRUO

    Rute Abreu Professora Coordenadora, ESTG-IPG, [email protected]

    Ftima David Professora Adjunta, UDI-IPG, [email protected]

    Susana Augusto Estudante de Mestrado em Gesto da ESTG-IPG, [email protected]

    Instituto Politcnico da Guarda Av. Dr. Francisco S Carneiro, 50

    6300-559 Guarda, Portugal Tfno: + 351 271 220 120 Fax: + 351 271 220 150

    Palavras-chave: Anlise Econmica, Anlise Financeira, Setor da Construo, Portugal.

    rea Temtica: Relato Financeiro

    Metodologia: Case / Field Study

    AGRADECIMENTO As autoras agradecem aos revisores desta investigao os comentrios, bem como ao Prof. Doutor Jos Angel Lopez Perez (Universidad de Sevilla, Espaa) o apoio demonstrado.

    A segunda autora agradece o financiamento desta investigao atravs dos Fundos Nacionais da FCT Fundao para a Cincia e a Tecnologia no mbito do projecto Ref: PEst-OE/EGE/UI4056/2011.

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    ANLISE ECONMICA E FINANCEIRA: UM CASO DE ESTUDO DO SETOR DA CONSTRUO

    Resumo

    No atual contexto de crise financeira ganha importncia a realizao de anlises econmicas e

    financeiras de empresas com vista a determinar as suas competncias, capacidades e potencialidades para que sejam adotadas estratgias competitivas. Essas anlises, na vertente econmica e financeira, respeitam decomposio do desempenho econmico e da solidez financeira, sendo que para isso deve observar-se a situao macroeconmica do setor, a

    estrutura de ativos (no correntes e correntes), a estrutura financeira (capital prprio e passivo), a composio dos resultados e, ainda, um diagnstico atravs de rcios identificadores do posicionamento estratgico da empresa.

    Metodologicamente, aps a reviso de literatura seguiu-se, para alm da recolha, anlise e o tratamento dos dados, a subsequente apresentao dos resultados. Com recurso ao estudo de caso (Yin, 2008), especificamente de uma empresa do setor da construo, foi desenvolvida uma anlise exploratria longitudinal considerando, por um lado, a fundamentao conceptual

    do Sistema de Normalizao Contabilstica e o relato financeiro aplicvel ao setor e, por outro lado, a divulgao atravs dos Relatrios de Gesto e Prestao de Contas, dos exerccios

    econmicos de 2005 a 2010, do estudo de caso.

    Os resultados evidenciam que, ao nvel da solidez financeira, a empresa apresenta um significativo aumento dos gastos financeiros, bem como das dificuldades na cobrana, que acarretam, consequentemente, debilidades por via do elevado endividamento. Ao nvel do desempenho econmico, a empresa tem dificuldades em dinamizar o setor de vendas, dada a recesso no investimento da construo e obras pblicas, levando ao aumento dos gastos

    operacionais e ineficincia em termos de produtividade (dos fatores de produo e dos meios econmicos), bem como a uma ineficcia de resultados que afeta a rendibilidade e, naturalmente, a sua sustentabilidade futura.

    Palavras-chave: Anlise Econmica, Anlise Financeira, Setor da Construo, Portugal. rea Temtica: Relato Financeiro Metodologia: Case / Field Study

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    INTRODUO No atual contexto de crise financeira ganha importncia a realizao de anlises econmicas e financeiras de empresas com vista a determinar as suas competncias, capacidades e potencialidades para que sejam adotadas estratgias competitivas. No entanto, h que ter em conta que as sociedades no so estticas no tempo, pelo que a anlise econmico-financeira de um determinado perodo, pressupe um conjunto de consideraes sobre as expetativas e decises de gesto que podero influenciar a sua compreenso (Encarnao, 2009: 65).

    Assim, procede-se a uma anlise econmica e financeira de uma empresa no cotada do setor

    da construo sedeada em Portugal, sendo que atravs da anlise do seu desempenho avalia-se o impacto da crise financeira, pese embora as limitaes que qualquer generalizao pode

    comportar (Van Horne, 2005; Gozem et al., 2008). Para Gil (1989: 166), a anlise tem como objetivo organizar e sumariar os dados, de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas, ao problema proposto para investigao. J a interpretao tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que feito mediante ligao a outros conhecimentos, anteriormente obtidos.

    Decorrente do facto de que a crise financeira afetou a maioria das empresas, em geral, e de modo mais intenso o setor da construo civil e obras pblicas, em particular (BP, 2013a), tal implicou que a presente investigao tivesse tido como opo um caso de estudo deste setor, porque segundo o INCI (2013: 31) o sector da construo, habitualmente um sector sensvel e que funciona como barmetro da economia nacional, acabou por sentir os efeitos da crise. Sem dvida que as empresas e as famlias portuguesas, quer em termos de edifcios, quer em termos de infraestruturas, tm usufrudo de investimentos em construes de qualidade, com segurana e durabilidade, num quadro de novos sistemas e desafios na rea da engenharia civil (BP, 2011), contudo todo este processo evolutivo tem gastos, que devem ser balanceados com os respetivos rendimentos, para que possam ser gerados resultados.

    Nestes termos, esta investigao assenta num estudo de caso do referido setor econmico, tendo por base uma anlise exploratria longitudinal das demonstraes financeiras dos exerccios econmicos de 2005 a 2010, bem como toda a informao constante nos Relatrios de Gesto e Prestao de Contas no mesmo perodo. Assim, seguiu-se a metodologia de Yin

    (2008), ao justificar-se, pela sua especificidade, a utilizao cientfica de diferentes relatrios

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    anuais, representando a realidade que se pretende estudar, de forma a testar a aplicao dos conceitos tericos. Por conseguinte, o ano de 2010 justifica-se por ser o exerccio econmico mais recente com dados disponveis e definitivos. Enquanto o ano de 2005 satisfaz o requisito de recolha de informao para um perodo de, segundo Martins (2007), no mnimo, cinco anos o que permitir analisar a evoluo da empresa.

    Na execuo da metodologia e na prossecuo dos objetivos propostos, a presente investigao estrutura-se em trs pontos. No primeiro ponto efetua-se a contextualizao do relato financeiro em Portugal suportado na respetiva normalizao contabilstica, no descurando os antecedentes do Sistema de Normalizao Contabilstica (SNC), para fundamentar a aplicao das normas contabilsticas e modelos das demonstraes financeiras, de forma a possibilitar a comparabilidade do relatrio de gesto e prestao de contas em

    todos os anos do perodo em anlise. No segundo ponto apresenta-se o enquadramento macroeconmico, quer a nvel internacional, quer a nvel nacional, no perodo 2005-2010, tomando por referncia o setor da construo, dado o forte impacto que a crise financeira registou no mesmo. No terceiro ponto desenvolve-se o estudo de caso relativo a uma empresa

    do setor da construo civil e obras pblicas, que permitir avaliar o impacto da crise financeira no desempenho da mesma. Por ltimo, apresentam-se algumas consideraes

    finais, com referncia aos pontos fortes e fracos do desempenho da empresa em anlise; e das oportunidades e ameaas do desempenho externo da mesma, de modo a apresentar sugestes e recomendaes, cumprindo critrios de economia, eficincia e eficcia no quadro das polticas econmicas e financeiras sustentveis.

    1. RELATO FINANCEIRO EM PORTUGAL O objetivo deste ponto analisar as condies em que o relato financeiro em Portugal produzido pelas empresas (Rodrigues e Simes, 2008). Assim, a divulgao de informao financeira tem, em certa medida, um efeito bumerangue, dado que a maioria das vezes pode virar-se contra a prpria empresa, porque as estratgias competitivas adotadas condicionam a

    prpria poltica contabilstica. Nesta medida, a crise que as empresas enfrentam teve, e tem, a grande vantagem de progressivamente procurar encontrar uma estratgia que melhor se adequa empresa, mas que no est separada da divulgao da mesma atravs dos Relatrios de Gesto e Prestao de Contas (Vernimmen et al., 2009; Nabais e Nabais, 2011).

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    Assim, os referidos relatrios so elaborados, desde 1 de Janeiro de 2010, segundo o modelo de normalizao contabilstica adotado por Portugal, especificamente o Sistema de Normalizao Contabilstica, aprovado pelo Decreto-Lei n 158/2009, de 13 de julho (MFAP, 2009a), o qual revogou o Plano Oficial de Contabilidade (POC/89), aprovado pelo Decreto-Lei n 410/89, de 21 de novembro (MF, 1989), os posteriores diplomas de alteraes e as normas contabilsticas complementares.

    Na verdade, o POC/89 morreu ao completar o seu vigsimo aniversrio (1989 a 2009), sendo justo destacar o seu importante papel na histria da normalizao contabilstica em Portugal. Contudo, o POC/89 foi o segundo Plano, j que o primeiro POC (POC/77) foi aprovado pelo Decreto-Lei n. 47/77, de 7 de fevereiro (MPCEF, 1977) e vigorou durante 12 anos (1977 a 1988), no tendo existido, segundo Guimares (2010), at 1977 qualquer plano de normalizao contabilstica nacional, o que originou problemas de comparabilidade das contas (demonstraes financeiras) das empresas.

    Inerente a esta mudana est, para alm, do reforo da comparabilidade das demonstraes

    financeiras que promove uma informao mais relevante para os stakeholders, a manuteno da confiana e o melhor funcionamento nos mercados financeiros (Soares et al., 2007), na medida em que permite que as empresas possam dispor das mesmas condies para aproveitarem os recursos financeiros disponveis nos mercados de influncia do International Accounting Standards Board (IASB), bem como em mercados de influncia de outros sistemas contabilsticos (Penman, 2013).

    A primeira etapa da implementao das normas do IASB concretizou-se com a publicao do Decreto-Lei n. 35/2005, de 17 de fevereiro (MFAP, 2005), que obrigou as entidades com ttulos negociados em mercados regulamentados na UE a utilizarem essas normas. A partir de 1 de Janeiro de 2005 a ttulo obrigatrio para as demonstraes financeiras consolidadas e a ttulo facultativo para as demonstraes financeiras individuais das empresas participadas, desde que sujeitas a certificao legal das contas. Importa referir que esta primeira etapa, iniciada em 2005, ir condicionar o primeiro ano da anlise exploratria longitudinal que se pretende desenvolver nesta investigao, sendo que ser aumentada a comparabilidade para as empresas do setor da construo civil e obras pblicas, independentemente de estarem ou no cotadas.

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    A segunda etapa da implementao das normas do IASB materializou-se com a publicao do Decreto-Lei n 158/2009, de 13 de julho (MFAP, 2009a), segundo o qual a normalizao contabilstica nacional dever aproximar-se, tanto quanto possvel, dos padres comunitrios, por forma a proporcionar a Portugal o alinhamento com as diretivas e regulamentos em

    matria contabilstica da UE, sem ignorar, porm, as caratersticas e necessidades especficas do tecido empresarial portugus. Correia (2009: 29), refere que o novo sistema de normalizao contabilstica () visa a harmonizao entre o quadro contabilstico nacional e as normas internacionais de contabilidade adotadas pela Unio Europeia.

    Para o efeito, Portugal, atravs do Aviso n 15655/2009, de 7 de setembro (MFAP, 2009c), aprovou vinte e oito Normas Contabilsticas e de Relato Financeiro (NCRF), que integram do regime geral do SNC aplicvel s demonstraes financeiras no consolidadas, as quais

    constituem o () ncleo central do SNC, adaptadas a partir das normas internacionais de contabilidade adoptadas pela UE, cada uma delas constituindo um instrumento de normalizao onde, de modo desenvolvido, se prescrevem os vrios tratamentos tcnicos a adoptar em matria de reconhecimento, de mensurao, de apresentao e de divulgao das realidades econmicas e financeiras das entidades (MFAP, 2009a: 4376).

    As NCRF, apesar de serem uma adaptao das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC, do ingls International Accounting Standards - IAS) e das Normas Internacionais de Relato Financeiro (NIRF, do ingls International Financial Reporting Standards - IFRS), tm em conta o tecido empresarial portugus e o facto de algumas entidades aplicarem, por obrigao ou por opo, as citadas normas internacionais. Assim, o conjunto das NCRF pode no contemplar algumas normas internacionais e algumas NCRF podem dispensar a aplicao de determinados procedimentos e divulgaes exigidos nas correspondentes normas internacionais, embora garantindo, no essencial, os critrios de reconhecimento e de mensurao contidos nessas normas (MFAP, 2009a).

    Face ao exposto, possvel identificar quatro fases no processo de

    normalizao/harmonizao contabilstica em Portugal. A primeira fase ocorre entre 1976 e 1988, reportando-se criao da Comisso de Normalizao Contabilstica (CNC) e do primeiro POC (POC/77). A segunda fase, no mbito do POC/89, verifica-se entre 1989 e 1991 com referncia adeso UE e consequente ajustamento do sistema de prticas e princpios contabilsticos portugus s IV e VII diretivas comunitrias. A terceira fase

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    decorreu, entre 1992 e 2005, centrando-se nas Diretrizes Contabilsticas (DC) e Interpretaes Tcnicas (IT) por parte da CNC e aproximao do sistema de prticas e princpios contabilsticos portugus s NIC. A quarta, e ltima fase, ocorreu entre 2005 e a atualidade, contemplando-se o novo modelo de normalizao contabilstica nacional.

    Na medida em que o POC era omisso em relao Estrutura Conceptual (EC) e que esta era de extrema importncia para os utilizadores da informao financeira, pois a globalizao associada s necessidades de informao econmico-financeira das entidades que agem nos mercados constitui, nos dias de hoje, factor bastante para justificar a necessidade da regulamentao contabilstica (Grenha et al., 2009: 73), o Aviso n 15652/2009, de 7 de setembro (MFAP, 2009b) integrado no SNC, veio preencher essa omisso, ao apresentar um documento autnomo, que tem por objetivo apresentar a EC do SNC.

    Em presena de uma EC pretende-se: ajudar os preparadores das demonstraes financeiras na aplicao das NCRF e no tratamento de tpicos que ainda tenham de constituir assunto de uma dessas Normas; ajudar a formar opinio sobre a aderncia das demonstraes financeiras s NCRF; ajudar os utentes na interpretao da informao contida nas demonstraes financeiras preparadas; proporcionar, aos que estejam interessados no trabalho da CNC, informao acerca da sua abordagem formulao das NCRF.

    Tua Pereda (1996) considera que a EC uma interpretao da teoria geral da contabilidade, mediante a qual se estabelecem, atravs de um itinerrio lgico dedutivo, os fundamentos tericos em que se apoia a informao financeira. De acordo com o mesmo autor, a atual perspetiva da EC deve dar resposta a determinadas questes como sejam: as necessidades dos utilizadores; os objetivos da informao financeira; os requisitos ou qualidades que deve cumprir a informao financeira para satisfazer tais necessidades e objetivos; e a maneira como dos pontos anteriores se deduzem questes, tais como os elementos das demonstraes

    financeiras, seu reconhecimento e valorizao.

    Embora aceitando a designao de itinerrio lgico-dedutivo, necessrio compreender que a deduo utilizada nas estruturas conceptuais, que um tipo de deduo a que Tua Pereda (1997) chama de semntica, ao no existirem regras que possam conduzir a uma nica soluo, no sendo por isso possvel chegar a concluses categricas. Na verdade, a

    deduo semntica permite apenas que se assegure um mnimo de congruncia, mas sendo

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    sempre possvel chegar a diversas solues, todas elas congruentes, o que d origem a um problema de seleo entre alternativas (Tua Pereda, 1997; Storey e Storey, 1998), pese embora no se espere que a estrutura conceptual fornea automaticamente respostas prontas, nicas e obviamente lgicas para complexos problemas de relato financeiro.

    Por conseguinte, a normalizao contabilstica nacional dever aproximar-se, tanto quanto possvel, dos novos padres comunitrios, por forma a proporcionar ao nosso pas o alinhamento com as directivas e regulamentos em matria contabilstica da UE, sem ignorar, porm, as caractersticas e necessidades especficas do tecido empresarial portugus (MFAP, 2009a: 4376). Dado que no foram descurados os antecedentes da contextualizao da normalizao contabilstica em Portugal, no ponto dois ser apresentado o enquadramento macroeconmico, quer a nvel internacional, quer a nvel nacional, no perodo 2005-2010, no setor da construo civil e obras pblicas para que possam ser diagnosticados os problemas e encontradas solues para a empresa objeto de estudo (Vieiro e Maquieira, 2010).

    2. ENQUADRAMENTO MACROECONMICO NO PERODO 2005-2010 Neste ponto contribui-se para a anlise econmica e financeira de uma empresa, sendo a

    mesma afetada pelas consequncias da sua envolvente externa, pelo que o conhecimento das especificidades desse setor econmico, permitir compreender melhor a estratgia competitiva que tem que ser adotada face ao relato financeiro que foi produzido (Pike e Neale, 1999).

    Para alm desta compreenso, o acesso rpido a informao contabilstica relevante permite avaliar a situao econmica da empresa em cada momento, sendo de grande utilidade para o ajustamento de estratgias e polticas operacionais, principalmente, em setores econmicos com fortes impactos nos mercados, como o caso da construo civil e obras pblicas.

    Assim, torna-se importante acompanhar a evoluo de indicadores macroeconmicos que interagem com os mercados financeiros, como elementos essenciais para a estabilidade desses

    mercados e garantia das decises de investimento, quer das famlias, quer das empresas (BP, 2011). Num contexto da globalizao, durante os anos de 2005 a 2010, os principais ndices da economia mundial registaram uma variao muito diversificada, porque ora crescem, ora decrescem, de um ano para o outro, traduzindo a turbulncia da envolvente externa da

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    empresa, conforme se pode verificar no Quadro 1, e a subsequente influncia do risco e incerteza na gesto das empresas (BP, 2013b).

    Quadro 1. Principais ndices da economia mundial, 2005-2010

    PIB Taxa de Inflao (IHPC) Taxa de Desemprego 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    UE 1,5 2,9 2,8 1,0 -4,0 2,0 2,3 2,2 2,3 3,7 1,0 2,1 8,7 7,9 7,2 7,0 9,1 9,7

    Zona Euro 1,4 2,6 2,6 0,6 -3,9 1,9 2,3 2,2 2,1 3,3 0,2 1,6 8,6 7,8 7,4 7,5 9,4 10,1

    Alemanha 0,8 2,4 2,5 1,2 -4,8 3,6 2,0 1,8 2,3 2,8 0,2 2,2 9,5 8,4 8,4 7,2 7,6 5,9

    Frana 1,5 2,2 1,9 0,3 -2,3 1,5 2,0 1,9 1,6 3,2 0,1 1,7 9,6 9,0 8,3 7,4 9,1 9,7

    Reino Unido 1,6 2,7 3,1 0,5 -4,8 1,8 2,4 2,3 2,3 3,6 2,1 3,3 4,6 5,3 5,0 5,7 8,0 8,0

    Espanha 3,4 3,8 3,8 0,9 -3,6 -0,1 3,6 3,6 2,8 4,1 -0,4 2,0 9,2 8,6 8,3 11,3 18,1 21,7

    Itlia 0,2 1,7 1,5 -0,1 -4,8 1,5 2,2 2,2 2,0 3,5 0,7 1,6 7,7 7,1 6,1 6,8 7,6 8,4

    Rssia 5,5 6,8 7,0 5,6 -9,0 4,0 12,8 9,0 8,0 14,1 11,7 6,9 nd nd nd nd nd 6,6

    China 9,0 10,6 11,2 9,6 8,7 10,4 3,0 2,2 5,7 5,9 -1,1 3,3 nd nd nd nd nd 4,1

    India 7,1 8,0 8,9 7,3 5,6 10,1 3,9 5,0 4,9 9,1 7,8 12,1 nd nd nd nd nd nd

    Japo 2,5 2,8 2,1 -1,2 -5,3 4,0 -0,2 0,3 0,0 1,4 -1,2 -0,7 4,5 4,2 3,9 4,0 5,2 4,6

    EUA 3,5 3,3 2,2 0,4 -2,5 3,0 3,3 3,3 2,8 3,8 -0,4 1,6 5,1 4,6 4,6 5,8 9,2 9,0

    Brasil 3,3 3,1 4,4 5,1 -0,4 7,6 6,8 3,0 4,0 5,9 4,2 5,0 nd nd nd nd nd 6,0 Fonte: Adaptado de EC (2009), OECD (2009) e IMF (2010).

    Em termos de resultados do Quadro 1 e face ao Produto Interno Bruto (PIB) verifica-se que em 2005 a economia mundial foi liderada pela Rssia, China e ndia com valores iguais e superiores a 3,5%. Paralelamente, a atividade econmica nos EUA atingiu 3,5% impulsionada pelo dinamismo do consumo e do investimento privado, embora com uma desacelerao no

    ritmo de crescimento das exportaes. De referir que, o ano de 2005 foi tambm marcado por aspetos menos positivos, como a persistncia de desequilbrios macroeconmicos associados aos elevados dfices externo e do setor pblico nos EUA, o progresso lento na consolidao oramental de algumas das economias da zona Euro e a fraca implementao das reformas

    estruturais na UE (CGD, 2006).

    Em 2006, o PIB evoluiu ligeiramente acima do ritmo observado em 2005, devido intensificao e acelerao das trocas comerciais, praticadas na economia asitica, em especial na China e na ndia. A sia, excluindo o Japo, e os pases da Europa Central e de Leste que aderiram UE em Maio de 2004, foram as regies de maior crescimento em 2005, com taxas superiores a 7% (IMF, 2010), tendo a China e a ndia progredido, respetivamente 9% e 7,1%, continuando com grande dinamismo em 2006, com o PIB a crescer a uma taxa igual e superior a 8%. Este desempenho global foi particularmente positivo, tendo em ateno

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    algumas condicionantes observadas, tais como o aumento do preo do petrleo, que aumentou, em mdia, 17% em 2006, bem como a subida das taxas de juro diretoras por parte do Foundation for Enterprise Development (FED) e do Banco Central Europeu (BCE). Nos EUA, devido a um abrandamento da atividade econmica, verificou-se uma descida da

    atividade no mercado imobilirio, com uma quebra do investimento em habitao, atingindo um PIB de 3,3%, idntico ao de 2005.

    At 2007 refletiram-se as consequncias praticadas em 2006, nomeadamente um crescimento robusto da atividade econmica. A partir de meados de 2007 esta tendncia alterou-se de forma significativa, na sequncia da crise do crdito subprime nos EUA, que se traduziu numa forte deteriorao da confiana dos investidores, escassez de liquidez nos mercados monetrio e de crdito e consequente aumento dos spreads praticados, fatores que condicionaram a conduo da poltica monetria nas principais economias do Globo. Em termos globais, apesar da crise, o ritmo da atividade mundial manteve-se elevado em 2007, tendo o PIB expandido, sustentado pelo dinamismo das economias de mercado emergentes e em desenvolvimento, em particular da Rssia, China e ndia, com taxas de crescimento do PIB de, respetivamente, 7%, 11,2% e 8,9% (CGD, 2007).

    Tambm, em 2007, ocorreu a persistncia de nveis elevados dos preos das matrias-primas nos mercados internacionais, para o que contribuiu a manuteno de uma forte procura mundial originada pelo elevado ritmo de crescimento da atividade em algumas economias, designadamente de mercados emergentes e em desenvolvimento (CGD, 2008). No caso do petrleo foram atingidos mximos histricos, o preo mdio mensal do barril de brent (spot) atingiu $91,00 em Dezembro de 2007 face aos $62,32 de Dezembro de 2006 (CGD, 2008).

    Em 2008, a Reserva Federal dos EUA continuou a reduziu a taxa de referncia dos fed funds, registando uma descida de 5,25% para 4,25% (CGD, 2009) e procedeu, at 18 de maro em 2008, a trs novos cortes daquela taxa, fixando-a em 2,25% com o objetivo de acalmar os efeitos do crdito no mercado habitacional e no crescimento da economia em geral (CGD, 2009). Os bancos centrais de outras economias importantes adotaram, por sua vez, tambm medidas, muitas delas concertadas, no sentido de assegurar o normal funcionamento dos respetivos mercados monetrios, destacando-se as fortes injees de liquidez no mercado monetrio por parte do BCE para restringir os efeitos da instabilidade e evitar uma maior

    subida das taxas Euribor.

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    Em 2009, o cenrio prolongou-se e acentuaram-se os principais efeitos da crise financeira mundial vivida nesse ano, assistindo-se nomeadamente a uma deteriorao da conjuntura econmica, caraterizada por decrscimos bastante significativos no investimento e no

    comrcio internacional, que se refletiu numa subida considervel da taxa de desemprego (CGD, 2010). O aumento do nmero de desempregados resultou, na maioria dos casos, de fortes quebras de atividade que muitas empresas sentiram em 2008 e 2009 e resultantes de: falta de procura externa; baixas significativas do comrcio mundial; elevados dfices apresentados, em mdia pelas Administraes Pblicas, que tiveram de realizar mais despesa para atenuar os impactos econmico-financeiros.

    No entanto, em 2010 a atividade econmica mundial voltou a expandir-se, de forma mais

    relevante nos pases emergentes, sobretudo no bloco asitico. O regresso do crescimento anual para valores positivos assentou nos estmulos proporcionados pelos principais bancos centrais, que mantiveram as taxas de juro historicamente baixas, em funo da ausncia de presses inflacionistas, e na retoma do consumo privado em muitas economias (CGD, 2011). semelhana do ano anterior (2009), o bom desempenho dos ndices econmicos permitiu que as estimativas de crescimento para 2010, por parte do Fundo Monetrio Internacional

    (FMI), fossem, sucessivamente, revistas em alta.

    O ano de 2010 ficou tambm marcado pelo agravamento das tenses no mercado de dvida pblica, nomeadamente dos pases perifricos da zona Euro. O prmio pago por estes pases para se financiarem aumentou significativamente e obrigou ao reforo das medidas de austeridade. Estas variaram entre Estados-membros, mas foi comum o esforo no sentido de uma consolidao mais clere das respetivas finanas pblicas, quer atravs da conteno de despesas, quer de iniciativas visando o reforo de receitas.

    O Quadro 2 traduz os principais ndices da economia no perodo 2005-2010 na Unio Europeia (27 Estados-membros) e na zona Euro (16 Estados-membros), os quais assumem uma importncia essencial para avaliar o impacto que as mudanas econmicas tm nos mercados, do consumo (privado e pblico), da formao bruta do capital fixo, da procura interna, das exportaes e das importaes, porque combina com os ndices da econmica mundial, constante do Quadro 1.

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    Quadro 2. Principais ndices da economia na Unio Europeia, 2005-2010

    Taxa de variao (em %) Unio Europeia (27) Zona Euro (16) 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Consumo Privado 1,6 2,1 1,9 0,8 -1,7 1,0 1,4 1,7 1,4 0,4 -1,0 0,9 Consumo Pblico 1,2 2,0 2,1 2,2 2,0 0,7 1,2 2,0 2,2 2,0 2,0 0,5 Formao Bruta de Capital Fixo 2,3 6,0 5,5 -0,3 -11,4 -0,3 2,2 5 4,9 -0,4 -10,7 -0,5 Procura Interna 1,6 3,0 3,0 0,7 nd 1,5 1,5 2,6 2,5 0,6 nd 1,1 Exportaes 3,9 8,9 4,7 1,6 -13,8 10,8 3,8 7,9 5,9 1,0 -14,2 11,3 Importaes 4,2 8,9 4,4 1,4 -13,4 9,8 4,6 7,7 5,0 1,1 -12,5 9,6 Fonte: Adaptado de EC (2009) e OECD (2009).

    No primeiro ano da anlise, em 2005 e em termos do PIB, a economia da Unio Europeia registou um crescimento moderado de 1,5%, tendo o crescimento na zona Euro sido igualmente modesto (1,4%). Contudo, foi influenciado pelo esforo oramental que tem vindo a ser conduzido, nomeadamente pelas trs grandes economias: Alemanha; Frana; e Itlia. O

    crescimento econmico foi diferenciado entre os pases desta rea, com a Espanha e, em menor grau, a Frana, a progredirem acima da mdia dos restantes pases, suportadas pelo

    desempenho da procura interna, verificando-se situao inversa na Alemanha e em Portugal, com este ltimo a registar um dos ritmos de expanso mais baixos. A taxa de variao do ndice Harmonizado de Preos no Consumidor (IHPC) na zona Euro situou-se em 2,3% resultante, sobretudo, da subida do preo dos bens energticos. A taxa de desemprego

    manteve-se elevada nos 8,6%, registando, porm, uma ligeira melhoria no espao da UE.

    No ltimo ano da anlise, em 2010, apesar da elevada instabilidade financeira na zona Euro, o crescimento econmico registado surpreendeu pela positiva. De acordo com o FMI, o crescimento nesse ano ter ascendido a 1,9%, sendo o nvel mais forte desde 2008 inclusive. Esta expanso assentou, primordialmente, no desempenho da procura interna. A Alemanha destacou-se pela positiva, com um crescimento de 3,6%, o ritmo mais forte desde a reunificao. Pela negativa, sublinhem-se os desempenhos da Grcia e da Espanha, que registaram crescimentos anuais negativos, algo que tambm ter sucedido na Irlanda, face

    contrao observada nos primeiros nove meses de 2010.

    Por seu lado, a taxa de desemprego manteve-se elevada em 2010, tendo observado uma significativa melhoria face aos valores registados em 2005 e 2006, respetivamente, de 9,0% para 7,9% na Unio Europeia e de 8,6% para 8,3% na zona Euro, beneficiando da evoluo mais favorvel da atividade econmica e da situao nos mercados. Porm, a elevada taxa de

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    desemprego um motivo de preocupao para a recuperao econmica. Todos os Estados-membros viram agravadas as suas taxas, registando-se os valores mais elevados na Espanha (18%), Estnia (13,8%) e Litunia (13,6%) e os efeitos da recuperao econmica no se fizeram ainda sentir ao nvel do mercado de trabalho. A taxa de desemprego mdia aumentou

    de 6,4% em 2009 para 10% em 2010, sendo o nvel mais elevado desde 1998. Tambm neste aspeto, a Alemanha se destacou pela positiva, j que terminou o ano com a taxa no nvel mais baixo desde a reunificao.

    Quadro 3. Principais ndices da economia portuguesa, 2005-2010 Taxa de variao (em %) 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Produto Interno Bruto (PIB) 0,5 1,2 1,9 0,0 -2,5 1,4 Taxa de inflao (IHPC) 2,1 3,0 2,4 2,7 -0,9 1,4 Consumo Privado 2,1 1,2 1,2 = 1,8 -1,0 2,0 Consumo Pblico 2,0 -0,2 0,0 1,1 3,4 3,2 Formao Bruta de Capital Fixo -3,1 -3,1 = 2,6 -1,8 -11,6 -4,8 Procura Interna 0,8 0,1 1,2 1,2 = -2,9 0,8 Exportaes 1,6 9,3 7,0 -0,3 -11,6 8,7 Importaes 2,2 4,3 4,1 2,8 -10,6 5,3 Rcios 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Taxa de desemprego 7,6 7,7 8,0 7,6 9,5 10,8 Balana corrente e de capital (em % do PIB) -8,1 -7,6 -8,2 -11,1 -10,1 -8,9 Dfice do Sector Pblico Adm. (em % do PIB) -6,0 -3,9 -2,6 -2,7 -9,3 -7,3 Divida pblica (em % do PIB) 64,0 67,4 64,4 65,3 76,1 82,1

    Fonte: Adaptado de BP (2007) e EC (2010).

    Em Portugal, o enquadramento macroeconmico, no perodo 2005-2010, permitiu que os principais ndices da economia portuguesa estejam refletidos no Quadro 3, tendo registado oscilaes favorveis e desfavorveis, mas sem uma tendncia evidente. Em 2005, a economia portuguesa registou um PIB de 0,5%, tendo sido influenciado por diversos choques externos, como o forte aumento do preo do petrleo, o aumento da concorrncia com a entrada de produtos provenientes do mercado asitico, as dificuldades estruturais intrnsecas economia portuguesa, que afetam a produtividade e competitividade dos produtos transacionveis e, ainda, pelas dificuldades no controlo das contas do sector pblico. No conjunto do ano de 2005, a variao mdia do IHPC situou-se em 2,1%.

    Em 2010, o IHPC portugus registou uma taxa de variao mdia de 1,4%, consequncia, sobretudo, do aumento do preo dos bens energticos e do acrscimo de diversos impostos

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    indiretos, designadamente o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), o Imposto sobre os produtos Petrolferos (ISP) e o Imposto sobre o Consumo do Tabaco, ficando, contudo, 0,2% abaixo dos impostos da zona Euro. Quanto taxa de desemprego, em 2008, a mesma reduziu-se para 7,6%, menos 0,4% do que em 2007, tendo aumentado novamente em 2009 (+1,9%), atingindo os 9,5%, e continuado a aumentar em 2010, para 10,8%. Deste modo, a economia portuguesa continua refm do elevado endividamento, da baixa produtividade e forte

    interveno do Estado na economia.

    Por conseguinte, a situao da economia mundial, da Unio Europeia e de Portugal parece dar sinais claros das enormes dificuldades que as empresas sentem e que continuaro a sentir, na

    medida em que as perspetivas econmicas futuras so influenciadas pelos mercados (BP, 2013b). Mais que refletir sobre o futuro e a sustentabilidade da envolvente externa importante adequar a estratgia competitiva das empresas a um ambiente que se apresenta adverso.

    3. ESTUDO DE CASO: UMA EMPRESA DO SETOR DA CONSTRUO Neste ponto analisa-se econmica e financeiramente um caso de estudo. Este caso baseado

    numa empresa do setor da construo civil e obras pblicas e permitir avaliar o impacto da crise financeira atravs da anlise das estratgias competitivas adotadas pela mesma. Assim, a empresa em referncia tem como atividade principal a realizao de empreendimentos de obras pblicas, nomeadamente ao nvel das vias de comunicao e construo civil, tais como: jardins infantis, escolas, lares de idosos, centros hospitalares, obras de arte, estradas, obras para o instituto de estradas de Portugal, obras para diferentes autarquias locais e associaes, edifcios, instalaes de especialidades, estaes de servio, parques elicos, aterros sanitrios, Estaes de Tratamento de guas Residuais (ETAR), condutas adutoras, reservatrios de gua, e saneamento bsico, assim como produo de misturas betuminosas.

    Nestes termos, desenvolveu-se uma anlise exploratria longitudinal considerando, por um

    lado, a fundamentao conceptual do SNC e do relato financeiro e, por outro lado, os Relatrios de Gesto e Prestao de Contas, dos exerccios econmicos de 2005 a 2010, da empresa em estudo. Metodologicamente seguiu-se, para alm da recolha de informao comentada anteriormente, a anlise dos dados obtidos e a apresentao dos resultados (Jain e Aggarwal, 2011). De referir que, nos exerccios econmicos de 2005 a 2009, os Relatrios de

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    Gesto e Prestao de Contas foram elaborados de acordo com o POC, pelo que houve a necessidade de fazer a sua transposio para o normativo legal vigente presente data, ou seja, o SNC. Porm, o exerccio econmico de 2010 foi produzido no mbito do SNC e, deste modo, estavam reunidas as condies para que se verificasse a comparabilidade das

    demonstraes financeiras.

    Assim, tendo por base as demonstraes financeiras do perodo 2005-2010, bem como toda a informao constante nos Relatrios de Gesto e Prestao de Contas da empresa no mesmo perodo, procedeu-se a uma anlise econmica e financeira. Com esta anlise, avaliou-se retrospetivamente a empresa, quais as suas potencialidades, as suas foras competitivas e as

    suas capacidades, de forma a conceber um julgamento correto e seguro da sua real situao. Segundo Franco (1992: 93), as principais demonstraes contbeis so exposies sintticas dos componentes patrimoniais e de suas variaes, a elas recorremos quando desejamos conhecer os diferentes aspetos da situao patrimonial e suas variaes. Tambm Iudcibus (1995) confirma que o relacionamento entre os vrios itens do Balano e das restantes demonstraes financeiras de grande interesse para os stakeholders, em geral.

    Segundo Robinson et al. (2009), o balano evidencia a posio financeira da empresa, refletindo o que ela possui (conjunto de bens e direitos) e o que deve a terceiros (conjunto das obrigaes), em determinado momento. Assim, o Balano um documento que espelha a situao patrimonial de uma determinada entidade, em determinada data (Neves, 2002).

    Neste contexto, o Balano da empresa encontra-se refletido no Quadro 4, no qual se verifica que os maiores investimentos em ativos no correntes foram realizados, em 2008, no montante de 1.450.298,00 e, em 2010 no valor de 849.079,00, sendo que esses aumentos dizem respeito aquisio de equipamento bsico e de transporte. Assim, confirma-se que empresa tem vindo, ao longo dos anos, a investir, na sua maioria, em ativos fixos tangveis, de

    modo a dotar a sua atividade das condies necessrias laborao.

    Os investimentos realizados em ativos correntes registaram um peso excessivo da rubrica de Clientes, quer face ao prprio ativo corrente, quer face ao ativo total, evidenciando dificuldades da empresa em receber dos seus clientes. Neste mbito, importa destacar a questo dos enormes atrasos nos pagamentos das obras pblicas que inclusive deu origem a

    diversas estratgias de correo (INCI, 2013). Tambm o acrscimo de 2.442.321,00 dos

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    direitos sobre Outras contas a receber no ano de 2010, pode estar intimamente ligado ao incremento da atividade operacional da empresa, por via da diminuio dos inventrios.

    Quadro 4. Balano da empresa, 2005-2010

    2005 2006 2007 2008 2009 2010 Ativo

    Ativo no corrente: Ativos fixos tangveis 3.081.903,49 3.554.406,18 3.524.142,33 4.974.440,05 5.066.556,82 5.915.635,03 Ativos intangveis 85.507,48 42.757,92 91.381,49 Particip financeiras-Out. Mtodos 54.500,00 54.500,00 69.510,00 Ativos por impostos diferidos 13.596,29 14.782,13 36.856,10 23.670,02 114.863,53

    3.095.499,78 3.569.188,31 3.646.505,91 5.095.367,99 5.235.920,35 6.076.526,52 Ativo corrente: Inventrios 3.016.638,03 1.829.936,06 2.297.545,46 3.050.374,05 1.130.145,37 705.808,02 Clientes 5.526.308,71 4.964.986,29 6.950.728,18 5.481.393,08 6.188.859,05 7.106.586,44 Adiantamento a fornecedores 2.000,00 Estado e outros entes pblicos 303.463,77 39.189,76 532.952,80 437.498,95 710.001,13 203.619,58 Outras contas a receber 24.575,75 38.638,86 13.455,71 64.103,91 2.506.424,89 Diferimentos 1.260.005,86 2.151.727,80 2.649.619,72 2.202.953,94 1.887.630,90 148.121,92 Caixa e depsitos bancrios 2.292.153,91 2.515.665,56 1.858.034,81 1.023.230,47 1.058.922,35 810.909,57

    12.423.146,03 11.540.144,33 14.290.880,97 12.208.906,20 11.039.662,71 11.481.470,42 Total Ativo 15.518.645,81 15.109.332,64 17.937.386,88 17.304.274,19 16.275.583,06 17.557.996,94 Capital Prprio e Passivo

    Capital prprio: Capital realizado 2.283.113,00 2.283.113,00 2.283.113,00 2.283.113,00 2.283.113,00 2.283.113,00 Out. Instrum. capital prprio 7.481,97 7.481,97 7.481,97 7.481,97 7.481,97 7.481,97 Reservas legais 47.376,23 59.290,30 67.038,77 71.266,22 80.542,22 93.013,28 Outras reservas 239.778,58 239.778,58 386.999,52 386.999,52 386.999,52 386.999,52 Resultados transitados 881.343,24 1.107.710,58 1.107.710,58 1.188.032,19 617.415,39 -390.437,19 Excedentes de revalorizao 745.942,02 745.942,02 745.942,02 745.942,02 745.942,02 1.683.255,46

    4.205.035,04 4.443.316,45 4.598.285,86 4.682.834,92 4.121.494,12 4.063.426,04 Resultado lquido do perodo 238.281,41 154.969,41 84.549,06 185.528,68 249.421,19 53.407,52

    Total Capital Prprio 4.443.316,45 4.598.285,86 4.682.834,92 4.868.363,60 4.370.915,31 4.116.833,56 Passivo

    Passivo no corrente: Financiamentos obtidos 1.627.403,00 465.870,47 1.156.284,00 1.773.529,40 2.509.652,96 5.123.062,28 Outras contas a pagar 500.368,91 918.847,79 585.453,61 379.960,67 882.388,03 324.587,87 Passivos por impostos diferidos 803.319,29 1.320.959,24 1.223.697,84 226.263,63

    2.931.091,20 2.705.677,50 2.965.435,45 2.379.753,70 3.392.040,99 5.447.650,15 Passivo corrente: Fornecedores 6.697.657,39 5.545.949,78 7.431.839,05 5.388.888,24 6.556.054,16 5.550.523,01 Adiantamento de clientes 727.818,83 Estado e outros entes pblicos 96.254,47 265.811,40 142.950,92 177.721,08 164.103,62 140.857,70 Financiamentos obtidos 320.005,17 525.381,76 504.487,22 2.108.799,80 1.101.825,44 450.000,00 Outras contas a pagar 667.882,07 1.111.715,72 1.194.765,63 1.908.103,35 200.516,44 836.096,38 Diferimentos 362.439,06 356.510,62 1.015.073,69 472.644,42 490.127,10 288.217,31

    8.144.238,16 7.805.369,28 10.289.116,51 10.056.156,89 8.512.626,76 7.993.513,23 Total Passivo 11.075.329,36 10.511.046,78 13.254.551,96 12.435.910,59 11.904.667,75 13.441.163,38 Total Capital Prprio/Passivo 15.518.645,81 15.109.332,64 17.937.386,88 17.304.274,19 16.275.583,06 17.557.996,94

    Fonte: Elaborao prpria.

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    Quanto estrutura do Capital Prprio, pese embora a manuteno do capital social ao longo do perodo em anlise, constata-se que a mesma tem perdido relevncia ao longo do mesmo. Enquanto, em 2005, tinha um peso na estrutura do ativo de 28,6%; em 2010, j s representava 23,4%, devido influncia da diminuio dos resultados ao longo dos anos.

    Importa salientar que, exceo de 2009 e 2010, o Resultado Lquido de cada exerccio econmico sempre transitou para o exerccio seguinte, evidenciando a preocupao da

    empresa em se autofinanciar e no recorrendo poltica de distribuio de dividendos.

    Segundo Tracy (2002), a empresa deve tomar decises fundamentais a respeito do modo como financia o seu negcio, sendo essencial a anlise da composio das rubricas de dvida e

    capital. Assim, face s decises da empresa em termos do capital, refira-se que, ao nvel da estrutura do passivo, a empresa financiou-se, maioritariamente, atravs da dvida a

    fornecedores e dos financiamentos em instituies de crdito (Quadro 4). O recurso aos financiamentos obtidos verificou-se, em termos do curto prazo, principalmente em 2008 e, em termos de mdio/longo prazo, maioritariamente em 2010.

    Ao nvel da solidez financeira, a realidade da empresa encontra-se plasmada nos rcios de financiamento, principalmente no aumento do endividamento (Quadro 5), sabendo que este permite determinar a proporo com que a empresa utiliza os capitais alheios no financiamento da sua atividade (Jorge, 2010). Assim, esta empresa encontra-se excessivamente endividada, relativamente a terceiros, implicando um elevado risco (Brealey e Meyers, 2007). Por conseguinte, nesta empresa a autonomia financeira situou-se abaixo dos 35%, em todos os exerccios econmicos analisados.

    Quadro 5. Rcios de financiamento da empresa, 2005-2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Endividamento 71,37% 69,57% 73,89% 71,87% 73,14% 76,55%Autonomia Financeira 28,63% 30,43% 26,11% 28,13% 26,86% 23,45%Solvabilidade 40,12% 43,75% 35,33% 39,15% 36,72% 30,63%Capacidade endividamento 60,25% 62,96% 61,23% 67,17% 56,30% 43,04%

    Fonte: Elaborao prpria.

    A atestar a situao crtica em que a empresa se encontra est o rcio Solvabilidade, o qual decrescente, refletindo um elevado risco para os credores da empresa, uma vez que se encontra abaixo dos 41,0% (Nabais e Nabais, 2011). Assim, os capitais prprios no so

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    suficientes para fazer face aos compromissos da empresa, ou seja, as dvidas de terceiros a mdio/longo prazo.

    Quadro 6. Principais equilbrios financeiros da empresa, 2005-2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Fundo de Maneio 4.278.907,87 3.734.775,05 4.001.764,46 2.152.749,31 2.527.035,95 3.487.957,19Necessidades de Fundo Maneio 2.306.759,13 1.744.491,25 2.648.216,87 3.238.318,64 2.569.939,04 3.127.047,62Tesouraria Liquida 1.972.148,74 1.990.283,80 1.353.547,59 -1.085.569,33 -42.903,09 360.909,57

    Fonte: Elaborao prpria.

    Relacionado com o anterior encontram-se os principais equilbrios financeiros (Quadro 6), os quais evidenciam as dificuldades de tesouraria a partir de 2007, por via do aumento dos financiamentos obtidos a curto prazo, pese embora, a mdio/longo prazo, o Fundo de Maneio

    se apresente positivo e com tendncia crescente, evidenciando que a parte dos capitais permanentes que no absorvida no financiamento do ativo no corrente e que,

    consequentemente, vai cobrir (parcial ou totalmente) as necessidades de financiamento do ciclo de explorao que so cada vez maiores (Menezes, 2005). J as Necessidades de Fundo de Maneio (NFM) mostram os impactos dos aspetos normativos relacionados com o negcio (prazos mdios de recebimentos e pagamentos, rotaes), bem como a forma como os gestores operacionais executam as suas atividades (Borges et al., 2008: 318-319), confirmando a vivncia da atividade operacional.

    Quadro 7. Rcios de liquidez da empresa, 2005-2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Geral 1,43 1,26 1,26 1,04 1,14 1,47Reduzida 1,05 1,01 1,01 0,73 1,00 1,38Imediata 0,29 0,34 0,20 0,11 0,13 0,11

    Fonte: Elaborao prpria.

    De facto, a falta de capacidade da empresa para, ao longo do perodo de 2005 a 2010, satisfazer os seus compromissos a curto prazo, tambm se observa pelo clculo dos rcios de liquidez (Quadro 7), nomeadamente com recurso aos meios financeiros lquidos disponveis (Neves, 1995). A situao particularmente preocupante, em 2008 e 2009, em consequncia da crise financeira registada em Portugal e na zona Euro, na medida em que, pese embora, o

    ativo corrente seja superior ao passivo corrente, atingindo os 1,04 em 2008 e 1,14 em 2009, segundo Nabais (1997), este indicador seria aceitvel apenas para valores entre 1,30 e 1,50.

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    Uma vez analisada a solidez financeira da empresa, no perodo 2005-2010, importa observar o desempenho econmico, no mesmo perodo, o qual, segundo Costa e Alves (2013), medido pela soma algbrica entre os rendimentos e os gastos, evidenciados na Demostrao de

    Resultados. Para Neves (1995: 44), a demonstrao de resultados lquidos evidencia a formao dos resultados (...) num determinado perodo (entre dois balanos)... avalia-se, atravs dele, a rendibilidade das vendas, a rendibilidade dos capitais investidos representados no balano, em suma, a eficincia econmica. Tambm para Bastardo e Gomes (1996: 101), o balano e a demonstrao de resultados so os documentos de sntese mais importantes e que melhor reflectem a situao de uma empresa; sobre estes que incide uma boa parte do esforo de avaliao, o que compreensvel uma vez que estes documentos reflectem a verdadeira situao patrimonial da empresa e a formao dos lucros.

    Quadro 8. Demonstrao de Resultados da empresa, 2005-2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Vendas e servios prestados 15.591.767,37 15.978.557,98 20.774.229,13 14.293.241,98 23.650.374,92 15.706.370,91Subsidios explorao 125.393,27 24.018,10 36.594,78 31.120,96 102.268,11 45.644,75Variao nos inventrios da produo 1.175.710,25 (1.226.254,96) 444.471,78 459.740,47 (1.823.861,90)Trabalhos para a prpria entidade 176.295,02 924.819,73 31.551,29 134.921,86Custos das mercad. vendidas e das matrias consumidas (5.258.544,12) (3.907.024,89) (4.933.063,39) (4.438.618,55) (4.693.893,49) (3.649.838,10)Fornecimentos e servios externos (8.155.370,66) (8.398.680,52) (11.883.142,32) (6.834.647,67) (12.266.960,20) (9.791.503,92)Gastos com o pessoal (2.402.132,39) (2.490.972,64) (3.292.231,05) (3.953.920,83) (3.988.424,99) (3.222.531,09)Outros rendimentos e ganhos 515.280,34 1.256.738,87 677.046,04 948.328,66 854.267,36 1.815.725,65Outros gastos e perdas (149.102,80) (149.479,98) (952.787,22) (144.298,81) (232.825,41) (237.406,40)

    Resultado antes de depreciaes, gastos de financiamentos e impostos 1.443.001,26 1.086.901,96 1.047.412,77 1.285.765,94 1.632.495,69 801.383,66

    Gastos/reverses de depreciao e de amortizao (1.228.378,59) (850.304,42) (802.917,14) (779.681,83) (841.717,45) (596.392,23)Imparidade de investimentos (perdas/reverses)

    Resultado operacional (antes de gastos de financiamento e impostos) 214.622,67 236.597,54 244.495,63 506.084,11 790.778,24 204.991,43

    Juros e rendimentos similares obtidos 450.771,42 549.047,55 346.073,90 276.459,08 188.426,05 547.927,24Juros e gastos similares suportados (427.112,68) (630.675,68) (506.020,47) (597.014,51) (729.783,10) (699.511,15)

    Resultado antes de impostos 238.281,41 154.969,41 84.549,06 185.528,68 249.421,19 53.407,52Imposto sobre o rendimento do periodo

    Resultado liquido do perodo 238.281,41 154.969,41 84.549,06 185.528,68 249.421,19 53.407,52Fonte: Elaborao prpria.

    Assim, a Demostrao de Resultados da empresa (Quadro 8) reflete um aumento significativo do volume de negcios, ou seja, das Vendas e servios prestados, em 2007 (+4.795.671,00, correspondendo a +30% face ao ano de 2006), bem como em 2009 (+9.357.133,00, ou seja, +65,5% face ao ano de 2008). Nos anos imediatamente a seguir aos referenciados, assiste-se a uma grande diminuio no volume de negcios, traduzindo oscilaes na poltica operacional da empresa. Diretamente relacionados com as vendas est o Custo das Mercadorias Vendidas e das Matrias Consumidas e os Fornecimentos e

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    servios externos, deste modo no de estranhar que os mesmos tenham acompanhado a variao das primeiras ao longo do perodo em anlise. No que diz respeito aos Gastos com o pessoal, os mesmos sofreram um acrscimo de 32%, em 2007, uma vez que houve o aumento do quadro de pessoal, com a entrada de novos colaboradores.

    Quadro 9. Rcios da teoria GVR da empresa, 2005-2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Ponto Crtico 27.059.158,68 15.186.360,65 26.494.781,79 23.086.617,78 ########### ###########Margem de Segurana -42,38% 5,22% -21,59% -38,09% 32,13% -44,16%Grau Econmino de Alavanca 18,61 15,75 21,65 10,64 7,40 20,79Grau Financeiro de Alavanca 0,90 1,53 2,89 2,73 3,17 3,84Grau Combinado de Alavanca 16,76 24,05 62,60 29,02 23,47 79,79Ponto Morto Financeiro 18.334.250,19 17.728.170,64 23.201.132,36 16.938.576,95 ########### ###########Fonte: Elaborao prpria.

    Para alm de todas as dificuldades da solidez financeira, conclui-se que o risco econmico da empresa est a aumentar, como se confirma pelo aumento do Ponto Crtico (Quadro 9), o qual, em alguns anos, por ser superior ao volume de negcios gera Margens de Segurana negativas, bem como pelo aumento do Grau Econmico de Alavanca (GEA), particularmente no ano 2010. Similar concluso pode ser retirada em relao ao risco financeiro, uma vez que o Grau Financeiro de Alavanca (GFA) e o Ponto Morto Financeiro (PMF) so cada vez mais elevados, or via do peso dos gastos financeiros suportados com os financiamentos obtidos.

    Quadro 10. Rcios de produtividade da empresa, 2005-2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Inventrios 2,97 4,09 4,21 3,22 5,04 4,30Mo de obra 6,49 6,41 6,31 3,61 5,93 4,87Ativo total 1,00 1,06 1,16 0,83 1,45 0,89Ativo no corrente 5,04 4,48 5,70 2,81 4,52 2,58

    Fonte: Elaborao prpria.

    Inerente variao do volume de negcios, encontram-se os rcios de produtividade (Quadro 10), sendo que, ao longo do perodo em anlise, os mesmos acompanham a tendncia do primeiro. Donde, em 2008 e 2010, o valor recuperado pelo volume de negcios (Vendas e Servios prestados) relativamente ao investimento efetuado (seja em Ativo total, seja em Ativo no corrente), bem como aos gastos suportados com o Custo das mercadorias vendidas e matrias consumidas e aos suportados com Gastos com o pessoal cada vez menor. No

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    entanto, em consequncia do Resultado Lquido positivo essa recuperao, em maior ou menor grau, existe.

    Quadro 11. Rcios de rendibilidade da empresa, 2005-2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Comercial 1,53% 0,97% 0,41% 1,30% 1,05% 0,34%Econmica 1,54% 1,03% 0,47% 1,07% 1,53% 0,30%Financeira 5,36% 3,37% 1,81% 3,81% 5,71% 1,30%

    Fonte: Elaborao prpria.

    Tambm por via dos resultados positivos, a empresa apresenta rcios de rendibilidade sempre positivos (Quadro 11), embora com tendncia decrescente. Por exemplo, a rendibilidade financeira mede a eficincia com que os capitais prprios esto a ser utilizados e apresenta uma capacidade cada vez menor da empresa em gerar lucros a partir do capital prprio

    investido ascendendo apenas a 1,3% no ano 2010.

    Em suma, os ganhos a alcanar deveriam assentar na rendibilidade da capacidade instalada atravs da dinamizao do vertente comercial, numa forma competitiva e com aumento do

    volume de negcios, da diminuio dos gastos de funcionamento, nomeadamente no que respeita aos Fornecimentos e servios externos, possivelmente em resultado de

    subcontrataes excessivas e logo com subsequentes transferncias internas, reduzindo-se o nvel de risco, mas exigindo alteraes profundas s estratgias para diminuir a exposio do investidor e, deste modo, encontrar limites para a sua prpria proteo (Brealey e Myers, 2007).

    4. CONSIDERAES FINAIS Esta investigao subdividiu-se em duas partes. A primeira parte implicou uma reviso da

    literatura, nomeadamente sobre o Sistema de Normalizao Contabilstica, em geral, e sobre a temtica do relato financeiro de empresas, em particular. A segunda parte correspondeu a uma anlise exploratria longitudinal de uma empresa no cotada do setor da construo sedeada em Portugal, com vista a avaliar a evoluo futura, dado o atual contexto de crise financeira.

    Quanto aos resultados obtidos da anlise econmica e financeira, os mesmos confirmam um cenrio complexo face realidade existente, que nem sempre justificam as estratgias e

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    polticas de investimento, financiamento e operacionais levadas a cabo pela empresa. Assim, esta anlise desenvolveu-se atravs de rcios e indicadores, que permitiram uma anlise da evoluo do financiamento, solidez financeira e liquidez, em paralelo com a atividade, produtividade e rendibilidade, procurando encontrar explicaes plausveis e alternativas em

    vez de deixar espao a vulnerabilidades (Jain e Aggarwal, 2011; Chambers e Clark, 2012), mas dado tratar-se de uma anlise exploratria (Abreu et al., 2013) ser razovel apresentar uma avaliao mais fundamentada numa prxima investigao.

    De facto, no perodo 2005-2010, verificou-se que ao nvel da solidez financeira, a empresa apresentou um significativo aumento dos gastos financeiros, bem como dificuldades nas

    cobranas aos clientes, que acarretam, consequentemente, debilidades por via do elevado endividamento. Ao nvel do desempenho econmico, a empresa tem dificuldades em

    dinamizar o setor de vendas, dado a recesso no investimento na construo e obras pblicas, levando ao aumento dos gastos operacionais e ineficincia em termos de produtividade (dos fatores de produo ou dos meios econmicos), bem como a uma ineficcia de resultados que afeta a rendibilidade e, consequentemente, a sustentabilidade futura da empresa.

    Por conseguinte, no desenvolvimento de uma estratgia futura apresenta-se, entre outas

    sugestes e recomendaes, que a empresa tenha em ateno critrios de economia, eficincia e eficcia no quadro das polticas econmicas e financeiras sustentveis, as seguintes: vulnerabilidade do setor da construo civil e obras pblicas; forte reduo das decises de investimento (quer da habitao das famlias, quer de edifcios das empresas); aumento da competitividade entre concorrentes pela escassez de mercado; imagem da empresa afetada pela crise; e possibilidade de insolvncia num futuro prximo.

    No obstante o anterior, importa referir algumas limitaes que esta investigao apresenta, nomeadamente a adoo da metodologia de estudo de caso, que limita a validao externa dos

    resultados, no se podendo generalizar os resultados obtidos com o estudo. Uma segunda limitao est relacionada com a no sistematizao da informao relativa empresa,

    obrigando recolha manual da mesma, uma vez que no existia um sistema de informao que compilasse a mesma em formato digital. Uma terceira limitao respeita confiabilidade dos dados, j que as operaes de recolha e anlise de dados no podem ser repetidas para os mesmos resultados. Todavia, esta confiabilidade poderia ser testada se o mesmo estudo,

    quando realizado por outro investigador, produzisse os mesmos resultados (Zisblat, 2008).

  • 23

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS Abreu, R.; David, F. e Augusto, S. (2013). El impacto de la crisis financiera en el anlisis

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    e Individual. Lisboa: CGD. Caixa Geral de Depsitos (CGD, 2008). Relatrio e Contas de 2007 - Actividade Consolidada

    e Individual. Lisboa: CGD. Caixa Geral de Depsitos (CGD, 2009). Relatrio e Contas de 2008 - Actividade Consolidada

    e Individual. Lisboa: CGD. Caixa Geral de Depsitos (CGD, 2010). Relatrio e Contas de 2009 - Actividade Consolidada

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