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Analise Fílmica: Terra Vermelha
Analise da disciplina de Sociologia, entregue a profº Taise, pela aluna Carine Belau. Atividade desenvolvida como parte avaliativa da 1ª unidade do ano letivo de 2012. 3°ano eletrotécnico vespertino, turma 88132.
Julho/2012Camaçari - BA
Terra Vermelha (2008)
O filme Terra Vermelha é uma coprodução Brasil-Itália, escrita e dirigida por Marco
Bechis. Terra Vermelha conta a história de um grupo dos Guarani-Kaiowás, do Mato
Grosso do Sul, o longa-metragem inicia em torno de uma serie de suicídios dos jovens,
que vem assolando o grupo. Ao longo do filme conhecemos os costumes e o cotidiano
desse grupo.
O suicídio de duas jovens Guarani-Kaiowá faz com que um grupo indígena tenha
necessidade de resgatar as suas raízes, o grupo crer que os suicidios foram causado por
um espirito, e esse espirito poderá ser controlado apenas se eles recuperarem seus
espaços naturais e espirituais. O grupo então sai em busca de suas terras, saindo de um
reserva e se direcionando a uma fazendo onde anteriormente pertenciam aos Kaiowás.
A partir do momento em que os Koiwás chegam a aquela região uma serie de conflitos
com o atual “dono” daquela terra surge, além de lutarem por seus direitos os Koiwás
ainda devem recuperar as suas origens e se livrar do terrível desejo de morte que ronda
o grupo.
Nós vivemos em um país repleto por uma diversidade cultural, cada região do Brasil
tem um determinado povo com uma determinada forma de vida. Infelizmente assim
como em outros lugares mundo a fora, muitas dessas raízes culturais, que marcaram
gerações, têm sido perdidas com a hegemonia da padronização.
Os Guarani-Koiwás são exemplo de uma extinção cultural presente no Brasil. Um povo
que habitava esta terra antes mesmo dos colonizadores a encontrarem hoje são
obrigados a se manterem em reservas minúsculas, inclusive muitas vezes são expulsos
de algumas regiões, pois estas são apropriadas por grandes produtores e agricultores.
Algumas reservas ainda diminuem por que alguns agricultores não respeitam os limites
e invadem à terra que deveria ser de posse indígena, os recursos que propiciam com que
eles vivam dentro das reservas também se esgotam, pois rios são poluídos com
agrotóxicos e florestas desmatadas ilegalmente.
Julho/2012Camaçari - BA
Essa serie de fatores faz com que os grupos indígenas percam as suas identidades,
sendo forçados a ter de trabalhar em lavouras pra que todos possam se alimentar.
Algumas tribos deixam suas formas de vestir e falar para se adaptarem à sociedade.
O filme Terra Vermelha mostra exatamente tal situação, de um lado temo o grupo dos
Koiwás buscando resgatar seus costumes, territórios e estabilidade espiritual; do outro
lado vemos os fazendeiros e trabalhadores tomando posse daquela região e lutando para
expulsar aquele grupo.
As diferenças entre ambos são completamente visíveis, os interesses, a língua, o mode
de se relacionar com o meio ambiente e com o trabalho, a distribuição de poder, as
manifestações religiosas e os valores, a forma de se vestir, etc. Os Koiwás possuem
costumes e crenas únicas, vivem da caça e da pesca, suas relações sociais são baseadas
dos ensinamentos passados de geração em geração. Os fazendeiros trabalham e
compram para se alimentar, seus costumes e crenas podem ser generalizados e suas
relações sociais são marcadas por hierarquizações.
Uma cena logo no inicio do filme chama bastante atenção para as diferenças culturais,
nessa cena mostra um grupo de turistas em um barco passando próximo à margem do
rio, na margem há um grupo de Koiwás todos pintados e armados. A cena é
espetacular, ambos os grupos trocaram olhares repletos de surpresa e curiosidade,
enquanto os turistas tiram fotos os Koiwás atiram flechas em sua caça.
A cena seguinte mostra exatamente a quebra de identidade indígena daquele grupo,
nessa cena o grupo compra roupas para poderem vestir, deixando os acessórios e a
pintura de lado.
A diferença cultural entre os Koiwás e os fazendeiros é marcada por um forte
etnocentrismo da parte dos fazendeiros. O filme todo é marcado por uma superioridade
do fazendeiro em relação ao grupo Koiwá, o destrato de suas crenças e o preconceito
são pontos principais no etnocentrismo apresentado no filme.
Uma das primeiras cenas onde Osvaldo (personagem principal) e Irineu estavam
caçando dentro da área de uma fazenda mostra claramente o preconceito “racial” que as
pessoas têm contra os grupos indígenas. Nessa cena os dois índios são perseguidos por
um boiadeiro que os chamam de “índios” e os ameaça de morte. Outra cena próxima
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mostra um comerciante dando o troco para um homem em chiclete e o mesmo responde
grosseiramente afirmando não ser índio.
Outra cena que chama atenção é a que o comerciante vem chamar os homens Koiwás
para trabalhar em uma fazenda, e Nadio recusa alegando que não iria se vender para
ninguém.
Uma das cenas mais espetaculares do filme, é quando o fazendeiro chega no
acampamento dos Koiwás junto com um advogado exigindo que Nadio se retire com o
seu grupo daquele local, alegando invasão de propriedade e o Nadio reponde “ Que nós
“tamo” aqui a terra é nossa, não “temu” mais mato, não “temu” outra coisa pra nos
sobreviver, mas nos “tamu” aqui e nos “vamo” ficar aqui”. A outra cena que marca
muito o etnocentrismo é uma das cenas finais, quando um grupo de homens vai até o
acampamento dos Koiwás e matam Nadio.
Essas cenas mostram que há a existência de um preconceito enraizado para com os
índios, esse preconceito parte justamente por que não sabemos lidar com a diferença, o
ser humano capitalista é altamente egocêntrico e egoísta, sempre quer que tudo seja a
favor dele e do modo dele, o individuo que foge ao padrão colocado na sociedade sofre
preconceito, é excluído e descriminado.
O choque cultural no filme traz dois panoramas principais: O primeiro parte da quebra
da identidade cultural do Koiwás, onde os indivíduos desse grupo buscam ser
reconhecidos na sociedade, utilizando roupas, buscando falar a mesma língua da região,
tendo que trabalhar para pode comer e sendo obrigado a aderir delimitações de terras; A
outra parte é a de que o índio é colocado como um excluído selvagem que não presta
para nada, que rouba gado , que não trabalha para ter dinheiro por ser preguiçoso, que o
índio deve trabalhar como empregado (a), que são burros e devem ser trapaciados e que
invadem terrar, que inicialmente pertenciam a eles.
Por terem crenças e hábitos diferenciados os indígenas são rotulados como selvagens,
incapazes de serem civilizados, burros, isolados, sem vergonha, preguiçosos, etc.
Contudo são assim intitulados pela ignorância dos demais indivíduos, que não
reconhecem a cultura que um índio carrega.
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Na verdade as diferenças vistas pelo individuo etnocêntrico causa um sentimento de
exclusão, e esse individuo se torna na própria visão um ser superior, sente a sua
identidade cultural ferida.
O individuo etnocêntrico tem a mania de achar que a sociedade indígena é desprovida
de um chefe que possua poder coercitivo, já que geralmente não vemos os índios
mandando uns nos outros. A relação de poder indígena é vista por olhos que estão
acostumados a prezar uma relação de comando-obediência. No filme pode-se observar
que os Koiwás tem um representante com boa influência sobre o grupo, mas que dos
direitos de escolha e não exerce sobre nenhum dos indivíduos uma relação de
superioridade. Os grupos indígenas possuem essa relação de poder não por serem um
grupo atrasado e sim por opção, a forma com que eles vivem é muito mais elaborada e
organizada que a da nossa sociedade, vemos o tempo inteiro o fazendeiro agindo como
chefe de múltiplos capatazes, e em uma das cenas observa-se a humilhação de uma
empregada, que coincidentemente é indígena.
Essa organização social é parte da cultura dos Guarani-Koiwás, de todo grupo indígena,
e é altamente etnocêntrico analisarmos esses povos com olhos de relações coercivas, de
nojo e repudio apenas por ele viverem de maneira diferenciada. Enquanto houver
choques culturais, preconceitos e medos das diferenças nunca será possível uma boa
relação entre múltiplos grupos, e infelizmente a padronização tem reforçado esses
fatores, aumentando a quebra da identidade de uns e o maior preconceito na parte de
outros.
O filme Terra Vermelha mostra toda uma questão cultural e de busca da identidade
pessoal do grupo dos Koiwás, é um filme marcado por mostrar as quebras e a perda de
parte da identidade indígena como, por exemplo, o uso das roupas, mas por mostrar
também o apego a crenças, conhecimentos, hábitos, linguagem e organização politica. É
um filme muito rico, o qual vale a pena assistir, não apenas para entender o processo
cultural desse grupo, mas para se entender culturalmente.
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