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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de Petróleo Brasileira (1997 – 2003) Leandro dos Reis Araújo DRE: 099234167 [email protected] ORIENTADOR: Prof. Edmar L. F. de Almeida Setembro de 2004 1

Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

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Page 1: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

Análise sobre a Atratividade do Upstream daIndústria de Petróleo Brasileira (1997 – 2003)

Leandro dos Reis AraújoDRE: [email protected]

ORIENTADOR: Prof. Edmar L. F. de Almeida

Setembro de 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

Análise sobre a Atratividade do Upstream daIndústria de Petróleo Brasileira (1997 – 2003)

Leandro dos Reis Araújo

DRE: 099234167

ORIENTADOR: Prof. Edmar L. F. de Almeida

Setembro de 2004

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que colaboraram direta ou indiretamente para a

elaboração deste trabalho. Dentre essas pessoas é preciso destacar a minha família,

representadas pelos meus pais, irmãos e a minha namorada, que me apoiaram em todos os

momentos que precisei, assim como meus amigos. Agradeço ainda ao meu professor e

orientador Edmar de Almeida, e a todo o Grupo de Energia do Instituto de Economia, por

ter me fornecido as bases necessárias para o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço a

ANP pelo financiamento deste projeto através da bolsa de pesquisa concedida através do

Programa de Recursos Humanos. Agradeço ainda a toda equipe da STRAT do Brasil pelo

apoio na execução deste trabalho. Agradeço, principalmente, à Deus, por estar comigo em

todos os momentos.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo descobrir o nível de

atratividade do upstream da indústria petrolífera no Brasil a partir da

abertura do setor. Através da Lei 9.478 /97, o Brasil, seguindo uma

tendência mundial, permitiu, por meio de concessão de áreas leiloadas

anualmente, que companhias privadas, além da Petrobras, pudessem

explorar e produzir petróleo e gás em território nacional. A partir de então,

o Brasil começou uma busca por investimentos privados neste setor, com o

objetivo de se aproveitar racionalmente os recursos energéticos nacionais.

Dentro deste contexto, buscou - se identificar os países que concorrem com

o Brasil na atratividade de investimentos para o segmento do upstream , e,

através de uma análise comparativa, identificar os países com maiores

possibilidades de receberem tais investimentos. Para isso, foram

identificadas quatro variáveis consideradas determinantes para a

atratividade do upstream , e avaliou- se o seu desempenho em cada país

analisado. Para cada variável foi aplicada uma pontuação, de acordo com o

desenvolvimento da variável no país. Quanto mais desenvolvida a variável

se encontrava no país, maior foi a pontuação recebida. Através da soma do

total de pontos obtidos por cada país, foi possível elaborar um ranking de

atratividade. Através da elaboração e conseqüente análise do ranking , pode-

se identificar a atratividade relativa de cada país no segmento do upstream .

Visando testar os resultados obtidos, foram criados cenários, onde cada

variável recebeu um peso diferente. Foi elaborado um novo ranking para

cada cenário, através das médias ponderadas obtidas por cada país. O Brasil

mostrou - se atrativo em todos os testes realizados, ocupando a terceira

colocação no ranking geral, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e

Reino Unido.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO 1 – A INDÚSTRIA do PETRÓLEO, o UPSTREAM e a

ATRATIVIDADE 9

1.1 – A Importância da Indústria do Petróleo no Cenário Mundial 9

1.2 – O Segmento do Upstream na Indústria de Petróleo e sua Importância

10

1.3 – Riscos que Envolvem a Indústria Petrolífera 10

1.3.1 – Risco Geológico 11

1.3.2 – Risco Político 15

1.3.2.1 – Quantificando o Risco Político 16

1.3.3 – Risco Regulatório 19

1.4 – O Government Take e a Atratividade 20

1.4.1 – Parte do Contratado: Contractor Take 22

1.4.2 – O Objetivo do Governo 23

1.5 – Considerações Finais 24

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO do UPSTREAM da INDÚSTRIA PETROLÍFERA no

MUNDO 26

2.1 – Breve Histórico dessa Evolução 26

2.2 – Surgimento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)

27

2.3 – Países que se Destacam no Mundo 31

2.4 – Evolução da Produção Offshore 33

2.5 – Projeção de Investimentos na Industria de Petróleo para as Próximas

Três Décadas 34

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2.6 – Expectativas de Investimento em Upstream até 2030 35

2.7 – Considerações Finais 37

CAPÍTULO 3 – A INDÚSTRIA de PETRÓLEO BRASILEIRA 39

3.1 – A Evolução do Upstream da Indústria de Petróleo Brasileira 39

3.2 – Surge a Major Brasileira: Petróleo Brasileiro S.A 40

3.2.1 – Anos 70: A crise que Promove Sucesso 41

3.3 – A Abertura do Mercado Brasileiro: Uma Nova Fase para a Indústria

Petrolífera no Brasil 45

3.4 – O Brasil Após a Abertura 47

3.5 – Considerações Finais 50

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE da ATRATIVIDADE do UPSTREAM no BRASIL e

PAÍSES CONCORRENTES 51

4.1 – Seleção das Variáveis e Países Concorrentes 51

4.2 – Metodologia do Trabalho 52

4.3 – Risco Político 53

4.4 – Risco Regulatório 55

4.5 – Government Take 56

4.6 - Potencial Geológico 58

4.7 – Análise dos Resultados 59

4.8 – Análise de Sensibilidade 60

4.8.1 – Análise de Sensibilidade com Ênfase no Government Take 61

4.8.2 – Análise de Sensibilidade com Ênfase no Risco Geológico 62

4.8.3 – Análises de Sensibilidade com Ênfase no Government Take e

Risco Geológico 63

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Page 8: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

4.9 – Considerações Finais 64

5 – CONCLUSÕES 65

6 - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 68

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INTRODUÇÃO

Com o objetivo de se aproveitar racionalmente as fontes de energia

nacional, foi promulgada no dia 6 da agosto de 1997 a Lei 9.478. Dentre

seus princípios e objetivos estão: a preservação do interesse nacional,

assegurar o interesse do consumidor e a livre concorrência, atrair

investimentos à produção de energia e ampliar a competitividade do país no

mercado internacional.

Através dessa lei, a Petrobras perdeu a exclusividade na exploração e

produção de petróleo e gás em território nacional, possibilitando que outras

companhias, por meio de concessão de áreas leiloadas anualmente, também

pudessem explorar essas áreas. Neste mesmo período, um conjunto de

países, principalmente do Leste Europeu, África e da América Latina,

também passaram por um processo de progressiva eliminação de fronteiras

nacionais para as atividades do upstream da indústria petrolífera. Desse

modo, os países começaram uma corrida para atrair investimentos.

Com base no cenário acima descrito, o presente trabalho pretende - se

focar na análise da atratividade do Brasil frente aos países que concorrem

diretamente por investimentos na cadeia do upstream . O trabalho está

dividido em quatro capítulos, além de uma introdução e conclusão.

O primeiro capítulo inicia- se com a análise da importância do estudo

da indústria do petróleo como um todo e as particularidades da cadeia do

upstream , que representa a primeira parte deste setor, que compreende as

fases de exploração, desenvolvimento e produção. Em seguida é feita uma

análise detalhada de cada variável identificada como determinante para a

atratividade do upstream da indústria petrolífera. São quatro as variáveis:

risco político, risco regulatório, risco geológico e government take . A análise

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dessas variáveis é chave para a elaboração do ranking de atratividade

realizada no capítulo quatro.

O capítulo 2 tem como objetivo fazer uma análise da indústria do

petróleo no mundo. Inicialmente faz - se uma descrição da evolução da

cadeia do upstream desde o começo das pesquisas com o objetivo de se

descobrir óleo até os dias atuais. Em seguida, é feito um estudo do cenário

atual desta indústria. Para finalizar, são apresentadas as perspectivas de

investimento no setor até o ano de 2030, de acordo com os resultados na

World Energy Investiment Outlook 2003, publicada pela International Energy

Agency .

A indústria de petróleo brasileira é estudada isoladamente no

capítulo 3, onde é apresentada a evolução da exploração do petróleo,

passando pela criação da Petrobras e a conseqüente expansão da produção.

Esta foi devida ao sucesso nas pesquisas no upstream e na descoberta de

novas tecnologias, que permitiram à Petrobrás a supremacia na exploração e

produção em águas profundas e ultraprofundas, até chegar na abertura do

setor no ano de 1997. O capítulo finaliza com a análise das rodadas de

licitações de blocos de exploração de petróleo realizada pela Agência

Nacional de Petróleo (ANP).

No capítulo 4, através da análise das variáveis determinantes para a

atratividade do upstream acima explicitada, é criado um ranking onde se

compara o Brasil com os países que concorrem diretamente por esses

investimentos. O capítulo inicia- se com o detalhamento da metodologia

empregada na elaboração do ranking seguido da análise de cada variável

para os países selecionados. Para testar a robustez dos resultados obtidos, o

capítulo finaliza com um teste de sensibilidade, onde são produzidos

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diferentes cenários de acordo com os desafios apresentados para o mercado

brasileiro.

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CAPÍTULO 1

A INDÚSTRIA do PETRÓLEO, o UPSTREAM e a ATRATIVIDADE

Neste capítulo, pretende - se analisar a importância e particularidades

da indústria de petróleo e, especificamente, a cadeia do upstream . Ainda

neste capítulo é feita a seleção e a descrição das variáveis identificadas

como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor.

Desse modo, são apresentadas no início do capítulo as características que

torna a indústria petrolífera e, em particular, o segmento do upstream , tão

importantes para a sociedade moderna. O capítulo segue fazendo a

apresentação e análise individual das quatro variáveis selecionadas – risco

político, risco regulatório, risco geológico e government take .

1.1 A Importância da Indústria do Petróleo no Cenário Mundial

Para fazer uma análise sobre a atratividade do upstream da indústria

de petróleo e gás é preciso, primeiramente, descrever as principais

características desse setor. Isso porque, a indústria do petróleo possui

características que a distingue completamente dos outros setores.

O agente que decide investir neste setor deve levar em consideração a

grande importância do petróleo na sociedade contemporânea. O petróleo é a

principal fonte de energia mundial atendendo a 40% do consumo energético,

sendo também principal commodity comercializada internacionalmente.

Além disso, as variáveis macroeconômicas dependem diretamente das

variações do preço do petróleo, e alguns setores econômicos são

diretamente afetados pela indústria. Outras características, que tornam este

setor diferente, e de certo modo atraente para os investidores, será mais

bem detalhada à frente.

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A cadeia do petróleo pode ser dividida em diferentes segmentos. A

fase que corresponde a exploração, desenvolvimento e produção é chamada

de upstream . A parte que corresponde ao transporte, refino, distribuição e

comercialização é chamada de downstream . É no upstream que se

concentram as maiores particularidades dessa indústria, e é somente nele

que este trabalho será baseado.

1.2 O Segmento do Upstream na Indústria de Petróleo e sua Importância

Essa fase se destaca pela intensidade de capital requerido para

investimentos somados ao elevado risco. Fatores esses que limitam

fortemente a quantidade de companhias capazes de investir nesta indústria.

Um agente, ao decidir investir neste setor, deve ponderar todos os riscos e o

potencial de rentabilidade que uma determinada área apresenta, e como

elas interagem entre si. Portanto, para se avaliar uma região, e saber se ela

pode ser considerada atrativa ou não, é preciso discriminar todos os riscos

envolvidos, para que se possa representar o ambiente enfrentado pelo

investidor.

1.3 Riscos da Indústria Petrolífera

A indústria do petróleo se distingue dos outros setores industriais

por explorar um recurso mineral não renovável. E ele é extraído das

reservas distribuídas irregularmente ao redor do globo. As reservas

possuem uma distribuição log- normal, ficando alguns países com uma

grande concentração do bem, enquanto outros de forma escassa ou a

simplesmente a sua extração é economicamente inviável. O petróleo ainda

se diferencia qualitativamente de região para região, o que torna o preço do

óleo irregular. O valor do petróleo é maior quanto mais leve for o óleo

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(maior grau API), pois dele se retiram os derivados mais valiosos. Com isso,

a indústria petrolífera fica condicionada à característica geológica, política e

regulatória da região. Os principais riscos encontrados nesta indústria

podem ser divididos em três subgrupos: risco geológico, risco político e

risco regulatório.

1.3.1 Risco Geológico

Dado que o petróleo é um recurso mineral, o desenvolvimento de

estudos geológicos torna- se imprescindível para o sucesso de um

investimento nesse setor. É preciso, primeiramente, localizar as bacias

sedimentares, pois é onde se encontram as jazidas. Um agente que pretenda

atuar na fase de upstream deve investir uma quantidade muito elevada de

recursos e em um ambiente muito incerto. A fase de exploração, que

corresponde a primeira etapa da cadeia do petróleo, é também a que

concentra os maiores riscos.

Ela é dividida em duas fases: primeira constituída de estudos

geológicos e geofísicos, a segunda da perfuração de poços de prospecção.

Na primeira fase, geólogos e geofísicos mapeiam as áreas de possível

ocorrência de reservas de petróleo. Antes da perfuração, não existe um

modo de saber se a operação será um sucesso ou fracasso. Esse resultado só

é possível após a perfuração. Mas a perfuração tem um custo muito elevado.

Eles podem representar entre 40% à 80% dos custos de exploração e

desenvolvimento de um campo de petróleo. De acordo com Almeida (2002),

cada poço perfurado custa em média entre 1 e 5 milhões de dólares. Por

isso, as companhias de petróleo só decidem perfurar após fazerem análises

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geológicas criteriosas. E, ainda assim, a maioria dos poços perfurados são

secos. Isso caracteriza o que chamamos de risco geológico.

Sendo assim, as empresas logo encontram o seu primeiro desafio:

onde conseguir uma quantidade de capital suficiente para o seu

investimento. E descobrem que, devido ao elevado risco geológico, as portas

das agências financeiras estão fechadas para este tipo de investimento. Com

isso, as empresas que estão interessadas na exploração do petróleo devem

possuir capital próprio para investir de forma isolada ou de forma

associada a outras empresas através de joint ventures . Essa característica

acaba se tornando uma forte barreira à entrada, que limita sensivelmente o

grau de competição neste setor.

Dado que as reservas de petróleo estão distribuídas de forma desigual

pelo mundo, o custo de exploração e probabilidade de sucesso da

perfuração, além da produtividade do poço – quantidade de óleo encontrada

por poço perfurado – varia de região para região. Essa é uma das

condicionantes que tornam uma região mais atrativa que outra.

O sucesso da perfuração, i.e, descobrir uma reserva que pode ser

considerada comercial, depende de dois fatores: custo da exploração e o

preço do óleo. Um óleo será considerado comercial, se a sua produção

permitir que o ganho mais que supere os seus custos e o risco envolvidos.

Quanto maior for o preço do óleo, maiores serão as quantidades de reservas

consideradas comerciais. O preço do óleo pode tornar uma região mais

atrativa. Isso deixa algumas regiões diretamente dependentes do preço do

óleo. O preço do petróleo é determinado no mercado spot e varia de acordo

com a sua qualidade. Portanto, neste caso, torna - se mais atrativa aquela

região onde o óleo possui uma melhor qualidade, já que com preços mais

elevados, uma jazida se torna comercializável com maior facilidade.

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Os custos seguem essa mesma linha. Eles variam de acordo com a

complexidade da exploração do óleo. Por exemplo, explorar e produzir

petróleo em terra é muito mais barato do que em mar, dada a menor

complexidade tecnológica e facilidade de escoamento do óleo. Logo, em

terra, fica mais fácil tornar uma jazida comercializável. Neste caso,

pequenas reservas podem ser consideradas comercializáveis, enquanto que

em mar, exige- se que haja uma descoberta de jazidas de tamanhos maiores.

A atratividade de uma região, destacando apenas o risco geológico,

também está relacionada com a quantidade de dados disponíveis sobre uma

dada região. Bacias com uma boa base informacional são preferíveis a áreas

que não possuem um bom conhecimento prévio. Como já foi mencionado

anteriormente, uma maior quantidade de informação permite reduzir o

risco de perfuração de poços secos (risco geológico). Não obstante, outro

fator de grande importância é o tempo de exploração de uma dada região.

Uma área que já atingiu o ponto máximo de sua exploração, deixa de ser

atrativa, embora se tenha grande informação sobre a área, pois as reservas

já estão se exaurindo, provocando uma diminuição da produtividade das

jazidas. A quantidade de óleo encontrada nesta área torna - se decrescente.

Um campo localizado em uma área de fronteira geológica torna- se

mais atrativo à medida que a possibilidade de encontrar campos grandes e

gigantes, dependendo das características geológicas da região, aumenta, e

conseqüentemente, aumentam as chances de se obter maiores rendas do

petróleo.

Durante a década de 80 e início de 90, departamentos de exploração

das companhias de petróleo perderam a credibilidade frente aos diretores e

acionistas de empresas, pois muitos haviam falhado consistentemente na

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previsão de adição de novas jazidas. Por isso, tornou - se comum o uso de

técnicas de interpretação e análise cada vez mais sofisticadas, buscando

minimizar o risco inerente à atividade de exploração e maximizar os ganhos

de seu portfólio exploratório. Logo, para trazer mais objetividade e

consistência na avaliação dos projetos do portfólio, vários métodos de

análise de risco foram adotados. Essas estimativas de valores estão

baseadas em volumes de hidrocarbonetos, risco geológico e produtividade e

desempenho dos reservatórios.

O processo de avaliação da distribuição dos recursos naturais

possíveis, foca- se na chance de descobrir uma acumulação de

hidrocarbonetos, e nos requisitos necessários para sua produção, agregando

um valor significativo à empresa a uma taxa de retorno aceitável. O risco

geológico e a probabilidade de se descobrir volumes de hidrocarbonetos que

podem ser produzidos, podem ser obtidos através da estimação do volume,

dado uma distribuição de probabilidade dos valores recuperáveis. De acordo

com Bedgral e Dias (2000), ele deve levar em consideração o conceito de

play , o qual pode ser descrito por quatro elementos: rocha geradora,

reservatório, trapa e a dinâmica dos processos (geração, migração e timing

dos eventos).

As curvas de produção e os custos de infra - estrutura e transporte

podem ser estimados, incorporando - os a um modelo econômico /político do

país anfitrião, para a obtenção do valor econômico.

Cálculo da Probabilidade de Sucesso Geológico

Para Bedgral e Dias (2000), o risco geológico pode ser calculado

avaliando a probabilidade de sucesso geológico (Psg). Ela é quantificada

calculando - se a probabilidade dos seguintes fatores: presença de rochas

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geradoras (Prg); presença de rocha reservatório (Prr); presença de trapas e

selos (Pts); e dinâmica do processo (Pdp). A probabilidade de sucesso

geológico (Psg) será a multiplicação das probabilidades individuais:

Psg = Prg x Prr x Pts x Pdp

Os resultados poderão ser classificados de acordo com o seu risco,

tais como: não favorável, questionável, neutro, encorajador e favorável. De

acordo com Otis e Scheiderman (1997), podemos definir:

- Risco muito baixo (Psg entre 0,55 e 0,99). Todos os fatores de risco

são favoráveis. Poços que atentam plays privados adjacentes (< 5 km)

a campos de produção.

- Risco baixo (Psg entre 0,25 e 0,5). Todos os fatores de riscos são

encorajadores e favoráveis. Poços que atestam plays provados

próximos (5 à 10 km) a campos de produção

.

- Risco moderado (Psg entre 0,125 e 0,25). Dois ou três fatores são

encorajadores e favoráveis, sendo os outros neutros. Poços testando

novos plays ou plays provados distantes (> 10 km) de campos de

produção.

- Risco alto (Psg entre 0,063 e 0,125). Um dos fatores de risco é

encorajador – dois ou três neutros ou encorajadores. Poços testando

novos plays , em bacias produtoras, distantes (> 20 km) de campos de

produção ou plays provados de áreas emergentes.

- Risco muito alto (Psg entre 0,01 e 0,063). Dois ou três fatores de risco

são piores que neutro, sendo o restante questionável ou não-

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favorável. Poços testando novos plays , em áreas de

fronteira /emergente, distante (> 50 km) de um campo de produção.

1.3.2 Risco Político

O risco político se configura quando há incertezas quanto à

estabilidade de um governo. Segundo Spiller e Holburn (2000), uma

instituição governamental instável oferece pouca ou nenhuma garantia de

credibilidade contra expropriação direta ou indireta da propriedade privada,

o que desencoraja os investimentos privados.

Atualmente o risco político é certamente uma das questões mais

relevantes nas relações internacionais. Como não é fácil de ser medido, as

empresas que desejam entrar em um novo país, se deparam com um grande

problema. Estão inseridos neste risco problemas como a nacionalização e a

expropriação. Mas, ao se fazer um exame da expansão econômica,

principalmente no final da década de 80, com o processo de globalização,

percebe- se que ações como essa se tornaram incomuns. Isso porque, a

comunidade financeira e os investidores no setor petrolífero estão

preparados para aplicar fortes penalidades aos países que se utilizam da

expropriação de ativos de uma companhia.

A expropriação está amparada na lei internacional, pois se leva em

consideração que essa atitude visa o melhor interesse para o país. Mas é

preciso que as companhias envolvidas sejam compensadas. Esse é o aspecto

comum da expropriação legal. O problema está em definir uma

compensação adequada. Embora seja legal, os governos sabem que qualquer

tipo de nacionalização, expropriação ou confisco, acabam enviando sinais

ruins aos investidores estrangeiros. Os aumentos da carga tributária,

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mudanças na legislação trabalhista ou controle de preços podem ser

considerados como sendo os riscos mais realistas.

Mudanças nas regras são sem dúvida um dos aspectos mais difíceis

na condução dos negócios em outros países. As constantes trocas de

política constituem a mais relevante medida de risco que confronta a

indústria. Isso inclui mudanças no governo e flutuações nas leis tributárias.

Em alguns países, principalmente democrático, a taxa de mudança é

excessiva. As mudanças nesses países ocorrem quase com a mesma

freqüência que os governos são substituídos.

1.3.2.1 - Quantificando o Risco Político

Um caminho utilizado para se quantificar o risco político ou qualquer

outro tipo de risco é através do valor monetário esperado (EMV), isto porque

ele combina estimativas quantitativas de probabilidade (por exemplo,

incertezas de cada um dos elementos alternativos que constituem uma

oportunidade de investimento). Segundo Johnson (1994), o EMV é o

somatório das probabilidades (P) – taxa de sucesso ou insucesso comercial –

multiplicada pelos seus valores (V) – valor presente líquido e os custos (em

caso de insucesso). Logo, EMV= ∑ (P x V). Este parâmetro é computado como

a soma do produto matemático da probabilidade de cada resultado vezes o

VPL de todos os resultados possíveis. As companhias buscam combinar o

gerenciamento prudente dos recursos com o retorno do investimento.

Embora o cálculo do valor monetário esperado forneça valores

robustos, o seu cálculo se torna complexo a medida em que se torna

necessário desenvolver estimativas, como no exemplo da tabela 1.1, de

probabilidade de um conjunto de eventos ocorrerem, tais como o risco de

expropriação de um ativo, entre outros. Atualmente, existem empresas

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especializadas na elaboração desse risco. As principais são: EIU Viewswire

(The Economist), Moody`s, Standard and Poors, Fitch, Rating and

Investiments, Duff e Phelps, e Thonson Bankwatch. No capítulo 4, será

utilizada a classificação de risco político desenvolvida pela Economist

Intelligence Unit (EIU – The Economist), realizada em abril de 2004, dada a

credibilidade da agência e pela melhor adequação ao modelo.

O exemplo apresentado por Johnson (1994), demons trado na tabela

1.1, mostra vários cenários previstos em uma hipotética exploração. Neste

exemplo, assume- se que o esforço exploratório poderia estar sujeito a graus

de variações de comportamentos políticos. A tabela 1.1 apresenta ainda o

peso relativo associado às várias conseqüências possíveis. Embora exista um

risco reconhecido de expropriação, esboçado no modelo de EMV, o projeto

parece ter uma valiosa consideração.

De acordo com o exemplo apresentado, o valor monetário esperado é

de $ 51 milhões, apesar do risco político. O modelo assume que a

possibilidade de ocorrência de expropriação é de 8%, em adição ao risco

associado com as variações políticas. A tabela é outra representação da

teoria do EMV, mas permite mais duas possíveis conseqüências. Isto é um

formato tabular para o que se conhece como árvore de decisão. Os riscos e

as recompensas neste caso são pesados e balanceados, possibilitando o

gerenciamento explícito das probabilidades estimadas ou modelos de

resultado econômico de possíveis cenários. A teoria do EMV é somente parte

da equação, pois depende muito da avaliação de cada agente. Enquanto este

exemplo possui um valor esperado positivo, alguns agentes, com uma

aversão ao risco maior, poderiam preferir um ambiente mais saudável.

Tabela 1.1 – Quantificando o Risco Político

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ResultadosPossíveis

ValorPresente ($

Mi)

Probabilidade (%)

ValorMonetário

Esperado ($Mi)

Insucesso noEsforço deExploração: $50 Mi;Boa CredibilidadePolítica - 50 70% - 35

Grande Descoberta;ModeradoDescontentamentoPolítico 700 5% 35

Grande Descoberta;DescontentamentoPolítico Substancial 500 5% 25ModeradaDescoberta;DescontentamentoPolítico Moderado 350 6% 21ModeradaDescoberta;DescontentamentoPolítico Substancial 250 6% 15

Grande Descoberta;Ativos ExpropriadosDurante a Fase deDesenvolvimento - 150 4% - 6ModeradaDescoberta; AtivosExpropriadosDurante a Fase deDesenvolvimento - 100 4% - 4Total 100% $51

Fonte: Johnson (1994)

Se o valor esperado de uma oportunidade de investimento é positivo,

então isto é passível de consideração. Mas quão positivo deve ser um valor

esperado? Como as companhias possuem diferentes perfis de risco e níveis

22

Page 23: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

de aversão sobre um mesmo conjunto de suposições, com a mesma curva

de EMV, o que modifica então é a opção de cada agente. O EMV é uma das

quantificações de risco político, mas não dá importância de como ele é feito.

Desse modo, os agentes devem buscar uma forma diferente de proteção: o

seguro. Esta é uma forma de transferência de risco, sendo uma das muitas

formas de gerenciar riscos.

Por isso, é preciso que as empresas tenham a certeza que não haverá

modificações nos contratos firmados, caracterizando o que pode ser

chamado de risco regulatório (que será melhor detalhado no tópico

seguinte, para que sejam evitadas situações onde possa haver cobranças de

impostos não acordadas, ou, em caso extremo, paralisação da produção. É

preciso levar em consideração a existência de problemas sociais como

guerra civil e religiosa, conflitos internacionais, ditaduras, conflitos

trabalhistas, entre outros. Tudo deve ser levado em consideração antes da

decisão de investimento da companhia em uma região.

Embora esse risco esteja inserido na decisão de investimento em

qualquer setor, o petróleo, por ser um produto estratégico e de grande

rentabilidade, acaba se tornando o mais vulnerável nessas situações, dado

que a maioria das empresas exploradoras são de diferentes nacionalidades.

1.3.3 Risco Regulatório

Um país que possui um sistema regulatório fraco ou até mesmo não o

possui, contribui para o que é chamado de Risco Regulatório. Dado que os

investimentos no setor petrolífero são de elevados riscos e têm um tempo

de maturação muito grande, um agente, ao decidir investir em um país, tem

que estar certo de que os contratos assinados durante um governo serão

mantidos quando houver uma substituição. Logo, os investidores precisam

23

Page 24: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

estar certos de que seus direitos estarão assegurados. Como pode ser visto,

o risco regulatório está diretamente relacionado com a quebra de contratos,

diferente do risco político que envolve principalmente crises de ordem

social.

Os países se diferenciam ainda pela forma que permitem a exploração

em seu território. Em quase todos os países do mundo, os recursos minerais

são monopólio do Estado. Logo, uma empresa que deseja explorar esses

recursos, deve ganhar a permissão através de algum órgão concedente.

De acordo com Bastos e Barbosa (2000), existem dois tipos de sistema:

o de concessão e o contratual. No sistema de concessão, as empresas

ganham do governo o direito de explorar e produzir, e o óleo encontrado

passa a pertencer as empresas, em contrapar tida, as empresas devem pagar

royalties e tributos. As empresas, nos sistemas contratuais de partilha de

produção (PSC), recebem uma parcela da produção ou da receita gerada pela

venda no controle de concessão. O sistema contratual é subdividido em

contratos de serviços, onde o pagamento é feito em moeda, e contrato de

partição da produção.

Pode- se perceber que países que adotam o sistema de concessão são

mais atrativos que os que adotam o sistema contratual. Isso se explica pela

maior liberdade e possibilidade de maiores rendimentos neste sistema.

Outro fator que contribui para a atratividade de um país é a existência, ou

não, de uma agência reguladora autônoma, cujo objetivo é garantir que os

contratos firmados serão cumpridos.

1.4 O Government Take e a Atratividade

24

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Os impostos podem ser usados pelo governo como forma de controle

dos seus recursos naturais. A indústria do petróleo envolve riqueza e poder.

Em muitos países, o petróleo exportado e importado domina a economia.

Um dos aspectos vitais dessa indústria é sua tributação. A parcela do

governo (government take ) na divisão dos lucros do empreendimento

compreende todas as exigibilidades imposta ao concessionário, tais como

tributos, as contribuições sociais e as participações governamentais. Cada

país tem um government take diferente. Desse modo, os agentes devem

analisar qual o tamanho do take apropriado pelo governo em cada região,

verificando qual região é mais atrativa.

O campo da tributação é caracterizado em todo o mundo pela

diversidade de sistemas fiscais. As mais de 250 jurisdições (países,

províncias, estados e territórios) existentes no mundo, possuem, cada uma,

um regime fiscal diferente aplicável à exploração e produção de petróleo e

gás. Dependendo das condições geográficas, técnicas e econômicas, pode- se

ter dentro de uma mesma jurisdição, adoção de diferentes exigências fiscais

(exemplo do Brasil: diferentes regimes aplicáveis à lavra em terra, águas

rasas e águas profundas).

Existem mais sistemas fiscais na indústria do petróleo do que países

produtores desse bem. Isto porque, um país pode ter mais de um regime

tributário. Isso acontece principalmente em períodos de transição de dois

regimes.

A teoria econômica clássica foca- se na produção derivada do trabalho

e do capital. Ela se preocupa em mostrar como esta produção é dividida

entre trabalhadores proprietários de capital e proprietários de terra

(salários, lucro e aluguel respectivamente). Renda econômica da indústria do

petróleo corresponde à diferença entre o valor da produção e os custos de

25

Page 26: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

extração. Esses custos consistem em uma exploração normal,

desenvolvimento do poço e custos de operação, somada a uma apropriada

parte do lucro exigida pela indústria do petróleo. Renda econômica é

sinônimo de excesso de lucro. Os governos tentam capturar tanta renda

econômica quanto possível através de vários impostos, taxas, royalties e

bônus.

A parcela do governo é igual à receita bruta menos os custos (incluído

a parte do lucro de empresa contratada). Os custos para exploração,

desenvolvimento de poço e produção só podem ser cobertos quando se

começa a produzir. O problema está em determinar qual a renda eficiente a

ser capturada, dado que existe um grande risco de insucesso geológico. Por

isso, o lucro deve ser grande suficiente para cobrir tais riscos.

O governo, através do sistema fiscal, deve permitir que haja

competitividade entre companhias para que se possa ter uma indústria mais

eficiente, havendo uma melhor alocação dos lucros.

A captura da renda econômica pelo governo acontece no momento da

transferência de direitos através do bônus de assinatura e durante a

produção através de royalties , participação da produção ou taxas. Mas a

produção depende do sucesso da exploração. No sistema contratual,

governos e companhias contratadas dividem este risco.

Um aspecto importante a ser considerado é que companhias atuantes

neste segmento são tomadoras de risco. Elas podem reduzir o risco através

da diversificação. Mas os governos não possuem tantas formas de

diversificação. Eles não podem assumir tantos riscos quanto a companhias

internacionais de petróleo. Este fato é de vital importância para se

compreender a dinâmica internacional dessa indústria. Do ponto de vista do

26

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governo, existe um trade- off entre aversão ao risco, onde bônus e royalties

são usados, e divisão do risco, onde taxação ou plano de participação da

produção.

1.4.1 - Parte de Contratado: Contractor Take

Contractor Take ou Company Take é a percentagem da renda que

pertence ao agente contratado. O complemento disso é o government take .

Contractor take fornece uma importante comparação entre um sistema

fiscal e outro. Ela foca exclusivamente a divisão de lucros e o correlaciona

diretamente com o valor da reserva, tamanho do campo, e outras medidas

de economia relativa.

Johnston (1994) apresenta a seguinte fórmula para calcular o Take :

- Receita de Operação ($) => receita bruta acumulada menos o custo

bruto acumulado da vida do projeto;

- Receita do governo ($) => todas as receitas do governo como

royalties, taxas, bônus, participação na produção ou nos lucros, etc;

- Government Take (%) => é a receita do governo dividido pela receita

da operação;

- Contractor Take (%) => 1 – Government Take ;

O melhor caminho para se calcular o take exige um modelo

econômico detalhado usando a análise do fluxo de caixa. Uma vez a

projeção do fluxo de caixa tem sido definida, os respectivos takes sobre a

vida do projeto podem ser avaliados. O exemplo apresentado por Johnston

(1994) mostra claramente como isso é possível.

27

Page 28: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

Johnson (1994) apresenta um exemplo onde é calculado o government

e contractor take . Sendo a receita bruta (1) da companhia de $1000 e com os

custos operacionais (2) de $400, encontra - se o valor da receita operacional

ou lucro total ((1) – (2)) de $600. Se royalties e as taxas, que representam a

parte do governo, forem de $350, a receita líquida descontada será de $250.

Logo, o contractor take , que é a parcela do lucro total que fica com a

companhia é de 42% ($250/$600). A parcela do governo corresponde,

portanto, a 58% ($350/$600).

A proposta da estrutura fiscal e da tributação é capturar toda a renda

econômica. Isto é consistente, se for dado à indústria uma razoável

participação do lucro. Mas o lucro da indústria considerado razoável é

passível de debate.

1.4.2 - Objetivo do governo

O objetivo de todo governo é maximizar riqueza obtida pelos recursos

naturais além do encorajamento de níveis apropriados de atividade de

exploração e desenvolvimento. Para fazer isso, o sistema fiscal deve:

- Manter clara relação entre Estado e indústria;

- Prover flexibilidade;

- Criar uma saudável competição e garantir um mercado eficiente;

Um sistema fiscal eficiente deve conseguir mensurar os riscos

(políticos e geológicos) presentes no investimento, assim como as

recompensas atribuídas ao potencial geológico da região, buscando - se

atingir um equilíbrio entre risco e recompensa. De acordo com Johnston

28

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(1994), a Malásia tem um dos mais elevados takes no sudeste asiático. Mas a

Malásia possui um bom potencial geológico. Por isso, muitas companhias se

interessam por explorar neste país, e o governo sabe disso.

Um país pode ter impostos sobre o lucro de 85% ou mais, como na

Indonésia, enquanto outros podem ter uma taxa de tributação efetiva de

somente 40%, como na Espanha. Dependendo do tipo de sistema usado,

podem ter suas fontes de renda eficiente.

O objetivo das oil companies é maximizar riquezas, encontrando e

produzindo reservas de petróleo e gás com o menor custo e o maior lucro

possível. Infelizmente, as regiões onde se espera encontrar grandes campos

são acompanhadas por alta tributação. A indústria petrolífera é confortável

com forte tributação se eles são justificados por potencial geológico

suficiente. Isso é a base da dinâmica das negociações.

1.5 – Considerações Finais

Este capítulo buscou, primeiramente, apresentar a importância de se

fazer um estudo sobre a indústria do petróleo, e, principalmente, do

segmento do upstream . Compreendendo a fase de exploração,

desenvolvimento e produção, o segmento do upstream , como pôde ser

observado ao longo do capítulo, representa a etapa que concentra grande

risco ao investimento, da mesma forma que pode garantir extraordinárias

receitas em caso de sucesso.

A onda de abertura deste segmento em diversos países, ao longo da

década de 90, fez com que tais países passassem a disputar (mesmo que

não diretamente) investimentos privados. Desse modo, o capítulo

apresentou as principais variáveis determinantes na decisão de escolha para

29

Page 30: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

se atuar no setor. Tais variáveis serão utilizadas como base para a

elaboração do ranking de atratividade do segmento do upstream para um

grupo de países, que será apresentado no capítulo 4. O próximo capítulo irá

mostrar como este segmento evolui ao longo dos anos, e como a indústria

do petróleo se configura atualmente.

30

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CAPÍTULO 2

EVOLUÇÃO DO UPSTREAM DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA NO MUNDO

Neste capítulo será apresentada a evolução do upstream das

indústrias de petróleo no mundo, desde o início das pesquisas com o

objetivo de descobrir petróleo, até os dias atuais. O capítulo começa

descrevendo a evolução do esforço exploratório mundial passando pelo

auge dos Estados Unidos, como país detentor das maiores reservas e

produção, até chegar na criação da OPEP, e o surgimento de um novo pólo

detentor de grande parte das reservas provadas mundiais, liderados pela

Arábia Saudita. O capítulo finaliza com a apresentação das perspectivas de

investimento na indústria de petróleo até 2030.

2.1 - Breve Histórico dessa Evolução

O petróleo já participa da vida do homem desde os tempos bíblicos.

Mas a sua afirmação na vida moderna se inicia no ano de 1859, quando

começou a exploração comercial nos Estados Unidos. De acordo com

Conaway (1999), o início do que podemos chamar de a “era do petróleo”

começou com a descoberta de óleo na Pensilvânia e, também, com a

descoberta de produtos obtidos com a destilação do óleo, capazes de

substituir com grande êxito o querosene, que antes era obtido através do

carvão, e também o óleo de baleia, ambos utilizados na iluminação.

Com a invenção dos motores à gasolina e a diesel os derivados do

petróleo tornaram - se mais valorizados. A partir desse momento houve um

aumento significativo da exploração de petróleo acompanhada pela

evolução das tecnologias de perfuração, o que possibilitou que as

31

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perfurações pudessem alcançar profundidades cada vez maiores, chegando

a mais de 10.000 metros de profundidade.

Neste período, além dos Estados Unidos, outros países como

Venezuela, Trinidad, Argentina, Bolívia e países do Oriente Médio também

estavam obtendo resultados satisfatórios. Segundo Thomas (2001), no ano

de 1945 os Estados Unidos era o maior produtor do mundo, seguido da

Venezuela, México, Rússia, Irã e Iraque. Terminada a Segunda Guerra

Mundial, um novo quadro geopolítico e econômico é traçado, e a indústria

petrolífera acompanha essa mudança.

Nos anos 50, embora os Estados Unidos tivessem metade da produção

mundial, um novo pólo produtor se afirmava. Este pólo estava localizado no

Oriente Médio. Ainda nesse período pode- se observar uma intensa atividade

exploratória e, de acordo com Thomas (2001), o surgimento de novas

técnicas que possibilitaram as incursões no mar.

2.2 - O Surgimento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo

(OPEP)

A OPEP foi formada no ano de 1961 objetivando dar uma voz

unificada aos países produtores de petróleo nas negociações de preços com

as companhias ocidentais. O maior impacto causado pela OPEP a partir de

seu surgimento, entretanto, só veio ocorrer a partir do ano de 1973, quando

começou a atuar como um cartel, visando controlar o preço do petróleo.

Atualmente os membros da OPEP são: Arábia Saudita, Iraque, Irã, Venezuela,

Nigéria, Kuwait, Líbia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Algéria, Gabão e

Catar.

32

Page 33: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

Em seu início o mercado petrolífero internacional era muito volátil.

Uma grande descoberta era um evento ao acaso que provocava variações de

preços, modificando totalmente o planejamento das empresas, que

estipulavam quão longa ou curta seria a oferta de óleo, o que provocava

uma verdadeira “dança” dos preços. Este ambiente era desencorajador para

os investimentos de grandes quantias, necessárias em uma indústria

emergente. Alguma estabilidade interessava a todas as partes.

Na década de 30, através da Texas Railroad Commission (TRC), já

havia um esforço para tentar trazer ordem para o mercado. Neste período,

os Estados Unidos, principalmente o estado do Texas, era o maior produtor

e exportador mundial. A TRC era, portanto, capaz cortar ou aumentar a

produção do Texas, visando equilibrar a oferta e a demanda por petróleo.

Trabalhando em conjunto com as grandes oil companies que controlavam

produção mundial de petróleo, a TRC foi capaz de manter relativa

estabilidade de preços.

No início da década de 70, os Estados Unidos haviam perdido sua

posição de líder na produção mundial, tornando - se um importador líquido

de óleo, eliminando a TRC da função de organizadora do mercado, deixando

as multinacionais sozinhas nas negociações. Isto deu aos membros da OPEP

um novo pensamento, ao perceberem que dominavam a oferta mundial de

petróleo. No ano de 1973 começou uma onda de nacionalização nos países

produtores. Rapidamente a OPEP tomou o controle do mercado de óleo e em

outubro de 1973 mais do que duplicou o preço do óleo.

Desde então, a OPEP tem tentado estabilizar seus preços pelos ajustes

das taxas de produção de seus membros. Seu esforço tem sido bem

sucedido por uns momentos, mas em outros a flutuação é inevitável. Isso

não seria nenhuma surpresa, dada a grande diversidade de interesses que

33

Page 34: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

existe entre os membros de estados individualmente. A invasão do Kuwait

pelo Iraque pode ser um bom exemplo.

Outro fator que vem enfraquecendo a OPEP é a substancial produção

da não- OPEP (países que não fazem parte da OPEP), que recentemente está

crescendo pelo mundo. Ao longo da década de 90, a produção da OPEP tem

reduzido para somente 40% da produção mundial (vide tabela 2.1). Isto é

significativo, embora que OPEP, particularmente Arábia Saudita, ainda

detém praticamente 80% das mundiais (vide tabela 2.2). Isso assegura a

continuação de sua influência sobre o preço do petróleo.

Gráfico 2.1 – Produção de Petróleo: Total no Mundo versus OPEP (1965 –

2001)

34

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O gráfico 2.1 mostra como vem evoluindo a produção mundial total

em relação à produção dos países da OPEP desde de 1965. Como se pode

perceber, a diferença entre o total produzido no mundo e a produção da

OPEP está aumentando. Após a segunda crise do petróleo, o mundo buscou

se proteger da dependência do petróleo oriundo da OPEP. Com isso,

intensificou - se o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitassem

a exploração de novas áreas e também a recuperação das jazidas. A tabela

2.1 fornece uma visão mais ampla da evolução da produção de petróleo e a

relação entre a produção da OPEP e do mundo.

Tabela 2.1 – Relação da Produção da OPEP com o Resto do Mundo

Mundo

(M) OPEP (O) O/M

1965 31803 14386 45%1970 48061 23509 49%1975 55824 27168 49%1980 62946 27249 43%

35

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

19651968

19711974

19771980

19831986

19891992

19951998

2001

Mil

Ba

rris

po

r D

ia

Mundo OPEP

Fonte: Elaboração própria com dados da BP Statistical (2003)

Page 36: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

1985 57454 16695 29%1990 65400 24569 38%1995 67968 27559 41%2000 74574 30974 42%2002 73935 28240 38%

Fonte: elaboração própria com dados da BP Statistical (2003)

Através da análise da tabela 2.1 pode- se observar que a partir do final

da década de 60 e início da década de 70 a produção da OPEP ultrapassa os

50% da produção total. A partir da segunda crise mundial do petróleo, essa

relação começa a cair, chegando a 29% no ano de 1985. Essa diferença está

relacionada com a brutal queda da produção da OPEP, cujo objetivo era a

manutenção do preço internacional do petróleo em níveis elevados, e com o

crescimento da produção mundial, resultado do aumento do esforço

exploratório nos países não- OPEP em busca de uma menor dependência

externa do energético.

No ano de 1979, a produção de petróleo da OPEP foi de 31 milhões de

barris por dia e a produção mundial foi de 66 milhões. Já no ano de 1985 a

produção da OPEP foi de 16 milhões de barris por dia, enquanto a produção

mundial gerou em torno de 54 milhões. Como já havia sido identificada

anteriormente, ao longo da década de 90, essa relação girou em torno de

40%, demonst rando que o mundo ainda é muito dependente da produção da

OPEP.

Tabela 2.2 – Evolução das Reservas Provadas Mundiais e OPEP (bilhões

de barris)

Mundo(M)

OPEP(O) O/M

1980 659,9 432,8 66%1983 678,5 446,3 66%1986 707,8 475,2 67%

36

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1989 1011,3 764,9 76%1992 1006,7 769,9 76%1995 1016,9 776,9 76%1998 1052,1 800,5 76%2002 1047,7 819 78%

Fonte: Elaboração própria com dados da BP Statistical (2003)

Uma interpretação diferente ocorre quando se faz uma análise sobre

as reservas mundiais provadas e a participação das reservas provadas dos

países da OPEP desse total. A tabela 2.2 mostra a evolução das reservas

provadas a partir de 1980 e a relação entre a OPEP e as reservas mundiais.

Pode- se observar que ela segue uma trajetória oposta ao da evolução da

produção da OPEP, apresentando uma trajetória de crescimento de suas

reservas, estabilizando a partir do ano de 1996 no patamar de 78%.

2.3 – Países que se Destacam no Mundo

Como já foi apresentado, o petróleo, embora seja de necessidade de

todas as nações, sua distribuição se dá de forma irregular pelo mundo, e,

por ser um recurso não renovável, a sua extração acaba exaurindo as

reservas. Como exemplo temos os Estados Unidos que, até meados do

século passado, além de ser o maior produtor, também era o detentor das

maiores reservas. Os países que detém as reservas e concentram a produção

desse bem tão disputado, certamente se colocam em uma posição muito

mais favorável, por isso se torna tão importante conhecer esses países.

Gráfico 2.2 – Maiores produtores de Petróleo do Mundo (2002)

37

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Fonte: BP Statistical (2003)

Atualmente o país que detém a maior produção de petróleo no mundo

é a Arábia Saudita, que, durante o ano de 2002, segundo a fonte da BP,

produziu 8,7 milhões de barris por dia. O segundo maior produtor foi os

Estados Unidos, com uma produção diária de 7,7 milhões de barris, ao lado

da Federação Russa. O gráfico 2.2 nos mostra os sete maiores países

produtores de petróleo do mundo.

Gráfico 2.3 – Evolução da Produção de Petróleo nos EUA e Arábia

(1965- 2002)

Estados Unidos20%Federação

Russa20%

México9%

China9%

Irã9%

Noruega9%

Arabia Saudita24%

38

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Ao se fazer uma análise da evolução da produção dos dois principais

produtores (vide gráfico 2.3), percebe- se o espetacular aumento da

produção da Arábia Saudita e a queda da produção dos Estados Unidos,

desde o início da década de 70. Essa análise está de acordo com as análises

feitas anteriormente, onde se confrontou a produção de petróleo dos

Estados Unidos com a produção da OPEP.

A análise dos países que detêm as maiores reservas provadas de

petróleo do mundo mostra a verdadeira força da OPEP e principalmente da

Arábia Saudita. Como pode ser observado no gráfico 2.4, o qual indicam os

sete países que possuem as maiores reservas provadas do mundo, observa-

se que as seis maiores são de países membros da OPEP. Individualmente as

reservas provadas da Arábia Saudita, que somadas chegam a um total de

262 bilhões de barris, correspondem a 26% do total do mundo, que no ano

de 2002, segundo a fonte da BP Statistical (2003), somaram 1 trilhão de

barris. A soma das reservas provadas dos seis membros da OPEP

corresponde a 73% das reservas provadas de petróleo do mundo.

39

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

Mil

bp

d

Estados Unidos Arabia Saudita

Fonte: Elaboração Própria com dados da BP Statistical (2003)

Page 40: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

Gráfico 2.4 – Países com as Maiores Reservas Provadas do Mundo (2002)

2.4 – Evolução da Produção Offshore

A exploração offshore começou no início da década de 50, com o

desenvolvimento de novas tecnologias. Os custos elevados de exploração e o

baixo preço do petróleo limitavam a exploração a apenas alguns países.

Com a primeira crise de petróleo, no ano de 1973, a elevação do preço do

petróleo, somada à busca pela auto - suficiência, tornou essa exploração

mais viável, permitindo a entrada de novos países e a ampliação da

produção nos países que já se dedicavam a exploração offshore . Com isso,

as pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias que permitissem a

exploração offshore a um custo mais baixo, foram intensificadas.

Como já havia sido comentado no primeiro capítulo, o esgotamento

de novas jazidas em áreas de fácil acesso está levando as empresas a

buscarem petróleo em regiões cada vez mais inóspitas. Durante a década de

40

0

50

100

150

200

250

300

Iraqu

eKwait Ira

n

Venez

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Bilh

ões

de B

arri

s

Fonte: Elaboração própria com dados da BP Statistical 2003

Page 41: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

80, passada a segunda crise do petróleo, os resultados das pesquisas

possibilitaram a exploração em águas cada vez mais profundas. O Brasil,

através das pesquisas desenvolvidas pela companhia estatal Petróleo

Brasileiro S/A - Petrobrás, tornou - se detentor da tecnologia de perfuração

em águas ultraprofunda. Atualmente, no Brasil, se perfura a uma

profundidade de 3000 metros e já se produz a 2000 metros.

2.5 - Projeções de Investimentos na Indústria de Petróleo para as

Próximas Três Décadas

Para se compreender como um país pode se tornar atrativo, é preciso

conhecer quais as reais necessidades de investimento nesse setor e,

principalmente, onde esses investimentos estarão centrados nos anos que

se seguem. Segundo a World Energy Investiment Outlook (WEIO- 2003 ), até o

ano de 2030, serão necessários para setor petrolífero, um gasto com

investimentos em torno de $ 3 trilhões.

Para as próximas três décadas, deverá ser investido, em média, $ 103

bilhões por ano. O capital investido aumentará de $ 920 bilhões na atual

década para $ 1,14 trilhões na última década, como pode ser observado no

gráfico 2.5. De acordo com o Cenário de Referência do The World Energy

Outlook 2002 (WEO- 2002) , a demanda de óleo está projetada para crescer de

77 mb/d em 2002 para 120 mb/d em 2030.

Para atender esse aumento de demanda, a produção dos países

membros da OPEP terá que crescer constantemente de 29 mb/d em 2002

para 65 mb/d até 2030. Espera - se haver um aumento maior da produção

nas duas ultimas décadas. Sustentados pela recente alta nos preços do óleo,

a oferta dos países não- OPEP se manterá no atual nível até 2010. Então ela

irá declinar lentamente assim como a produção nas regiões não- OPEP. Isto

41

Page 42: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

porque, os países em transição, África e América Latina, não conseguirão

compensar a queda de produção das áreas maduras, tais como América do

Norte e Mar do Norte.

2.5 – Projeção de Investimento Acumulado no Setor Petrolífero por

Década

0

200

400

600

800

1000

1200

2001-2010 2011-2020 2021-2030

bilh

õe

s d

e d

óla

res

Fonte: World Energy Investiment Outlook 2003 - IEA

2.6 – Expectativas de Investimento em Upstream até 2030

O investimento global acumulado em exploração e desenvolvimento

de 2001 para 2030 será de $ 2.2 trilhões, ou cerca de $ 74 bilhões por ano.

Isso corresponde a 70% do total investido no setor petrolífero. De acordo

com a IEA (2003), espera - se que os países em desenvolvimento, onde o

Brasil se encontra, respondam por aproximadamente 55% dos investimento

global em upstream . Os países da OECD terão uma queda de 30% em 2002

para 11% em 2030. É preciso ressaltar que o baixo nível de investimento nos

42

Page 43: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

países membro da OPEP, que representa apenas 18%, está relacionado com o

baixo custo unitário nesta região.

Gráfico 2.6 – Investimento no Setor Petrolífero por Regiões 2001 - 2030

0

100

200

300

400

500

600

EUA and C

anadá

Rússia

Ori

ente

Méd

io

Áfric

a

Amér

ica L

atin

a

China

Ásia P

acifi

ca

Fonte: World Energy Investiment Outlook 2003 - IEA

bilh

õe

s d

e d

óla

res

Ao longo desse período deverá ser encontrado algo em torno de 470

bilhões de barris de óleo. Essa quantidade de óleo será necessária para

repor as reservas existentes (garantindo a demanda atual de petróleo) e para

alcançar o crescimento da demanda. O que implica em um declínio na razão

de produção das reservas provadas mundiais de 40 anos no presente para

20 anos em 2030.

Outros dados de grande relevância para o Brasil são os investimentos

necessários para o offshore . Atualmente, a produção offshore representa

30% da oferta mundial de petróleo. As principais regiões produtoras são:

Golfo do México, Brasil, África Ocidental e Mar do Norte. A expectativa é de

que a produção offshore cresça substancialmente, alcançando 34 milhões de

43

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barris por dia (mb/d) em 2030. Ele será a principal fonte de produção dos

países não- OPEP, onde a produção offshore irá representar 50% do total

ofertado em 2030.

Esse resultado está relacionado com o grande progresso tecnológico

por que vem passando a exploração offshore . Ao longo da década de 90,

evolução nas técnicas de exploração, desenvolvimento e produção de óleo

em águas profundas (Até 500 metros de profundidade) e ultraprofundas

(acima de 1.500 metros de profundidade) permitiram a adição de reservas

em regiões antes não acessíveis. O Brasil se destaca na exploração offshore

por ser o recordista em profundidade jamais acessadas tanto para

exploração quanto para produção. Esses avanços técnicos tornam a

exploração offshore economicamente viável. Por exemplo, o custo de capital

dos primeiros campos do Golfo do México em águas profundas, na década

de 70, era elevadíssimo, em torno de $ 25 por barril. Atualmente, consegue -

se produzir com um custo inferior a $ 10 por barril.

2.7 – Considerações Finais

O capítulo teve como objetivo apresentar a evolução do segmento do

upstream ao longo dos anos, com enfoque nos principais acontecimentos

desse período, como foi o caso da formação da OPEP. O capítulo apresentou

ainda a configuração da indústria atual. Através da análise das reservas

provadas e produção, foi possível identificar os principais países que atuam

neste setor. O capítulo se encerra com a apresentação de projeções de

investimento para o setor até 2030, de acordo com os resultados divulgados

pela IEA (2003) .

Deste modo, este capítulo foi importante para mostrar o cenário em

que se enquadra a análise deste trabalho. Como foi apresentado

44

Page 45: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

anteriormente, a necessidade das empresas de renovarem as suas reservas,

com o objetivo de dar sustentabilidade aos seus negócios e, ao mesmo

tempo, atender uma demanda crescente, leva a crer que o investimento no

upstream mundial continuará aquecido nas próximas três décadas. A falta

de descobertas expressivas em regiões onshore não- OPEP, sinaliza para um

aumento, neste período, do esforço exploratório offshore . Desse modo, o

Brasil se apresenta como uma fronteira importante para a expansão dos

investimentos internacionais no upstream do setor de petrolífero. O

próximo capítulo fará uma apresentação de como a indústria de petróleo

evoluiu no Brasil, e como ele se apresenta hoje.

45

Page 46: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

CAPÍTULO 3

A INDÚSTRIA DE PETRÓLEO BRASILEIRA

Este capítulo tem como objetivo mostrar como a atratividade do

upstream na indústria de petróleo vem evoluindo no Brasil ao longo dos

anos, desde de o início das pesquisas relacionadas diretamente à descoberta

de petróleo até os dias atuais. O capítulo abordará três grandes fases: as

pesquisas até o surgimento da Petrobras; a criação da Petrobras e as

grandes conquistas; finalizando com a abertura do mercado e os novos

desafios.

3.1 A Evolução do Upstream da Indústria de Petróleo Brasileira

Antes de começarem as pesquisas diretamente relacionadas ao

petróleo no Brasil, é concedido, no ano de 1858, o primeiro Decreto que

dava o direito de se extrair mineral betuminoso em solo brasileiro, para a

fabricação de querosene, na então província da Bahia, assinado pelo

Marquês de Olinda. Mas, é no ano de 1891, que se tem as primeiras notícias

de pesquisas diretamente relacionadas com o petróleo, devido ao

surgimento de sedimento argiloso no litoral de Alagoas. O primeiro poço a

ser perfurado com o objetivo de encontrar petróleo ocorreu no ano de 1897,

em Bofete, estado de São Paulo, atingindo a profundidade de 488 metros,

com uma produção de 0,5 m 3 de óleo. É preciso destacar que nesse período

as atividades eram amadoras e desorganizadas.

Segundo Thomas (2001), o ano de 1907 marca a entrada dos órgãos

públicos na realização de pesquisas, através da criação do Serviço Geológico

e Mineralógico do Brasil, que perfura um total de 63 poços, embora todos

sem sucesso. Em 1916, tem- se a primeira sondagem oficial realizada por

46

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um órgão público. Nesse período, participavam também das pesquisas a

iniciativa privada estrangeira e nacional.

Ao longo da década de 30 surge a tendência de nacionalização,

durante o governo Getúlio Vargas. No ano de 1933 foi criado o

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que se torna o

descobridor de petróleo em território nacional através do poço DNPM- 163,

em 1939, que embora considerado antieconômico gerou resultados

favoráveis para o desenvolvimento da atividade petrolífera no país. O poço,

localizado em Lobato, BA, atingiu uma profundidade de 210 metros. O

primeiro campo comercial foi descoberto no ano de 1941, em Candeias, BA.

No ano de 1938, através de um decreto de lei, toda a atividade petrolífera

passou a ser obrigatoriamente realizada por brasileiros. Neste mesmo ano

foi criado o Conselho Nacional do Petróleo, que ficou responsável pela

regulação da atividade, dentre outras funções.

3.2 – Surge a Major Brasileira: Petróleo Brasileiro S.A.

“Constituída com capital, técnica e trabalho exclusivamente

brasileiros, a Petrobras resulta de uma firme política

nacionalista no terreno econômico, já consagrada por outros

arranjados empreendimentos, em cuja validade sempre

confiei... É, portanto, com satisfação e orgulho patriótico que

hoje sancionei o texto de lei aprovado pelo poder legislativo,

que constitui um novo marco da nossa independência

econômica”.

(Vargas, Getúlio. Mensagem ao Povo Brasileiro, 1953)

A exploração de petróleo passou a gerar um debate no final da década

de 40, e tinha como questão principal a escolha da melhor política que o

47

Page 48: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

Brasil poderia adotar. Para um grupo, a melhor forma seria a adoção de um

regime de monopólio estatal, ao contrário do outro grupo que era a favor da

participação da iniciativa privada. O presidente Getúlio Vargas, após uma

intensa campanha popular, assinou a Lei 2.004, em 3 de outubro de 1953,

criando o monopólio estatal na pesquisa e lavra, refino e transporte do

petróleo e seus derivados, além de criar a Petróleo Brasileiro S/A, Petrobrás,

responsável única pela exploração deste monopólio.

A partir da criação da Petrobras, as pesquisas passaram a se

desenvolver, pois até então, as perfurações seguiam em pequena escala e

eram feitas pela iniciativa privada. A indústria nacional petrolífera

começava a se desenvolver, multiplicando - se, com isso, as pesquisas em

diversas bacias brasileiras. A produção começou em terra, mas depois

passou a ser produzido em mar (representando 80% da produção atual),

com o objetivo de atender o consumo nacional de combustíveis e derivados

do petróleo, aliviando com isso o balanço de pagamentos.

No ano de 1953, o consumo de petróleo diário no Brasil era de 170

mil barris, quase todos importados na forma de derivados, porque a

produção nacional totalizava apenas 2.700 barris por dia. Para diminuir

essa dependência, a companhia intensificou as atividades exploratórias e

para atender a nascente indústria brasileira de petróleo, a empresa

especializou seu corpo técnico. Já no final da década, o país produzia 65 mil

barris por dia, e, devido as obras na área industrial, esperava- se para a

década seguinte, auto suficiência do parque de refino na produção de

derivados.

Um grande marco ocorreu no final da década de 60 com a descoberta

de petróleo no mar, em Guaricema, SE. Em 1966 é criado o Centro de

Pesquisa de Desenvolvimento (CENPES), o maior centro de pesquisa da

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América Latina. É com esse cenário que chegamos na década de 70, a década

das crises. Embora o Brasil houvesse substituído as importações de

derivados, ainda era totalmente dependente do petróleo importado.

3.2.1 – Anos 70: A Crise que Promove Sucesso

Impulsionados pelo crescimento médio anual do Produto Interno

Bruto (PIB) a taxas superiores a 10% ao ano, o consumo de derivados

duplicou no início da década de 70. A Petrobras que era responsável pelo

abastecimento nacional de óleos e derivados viu- se diante da necessidade

de reformular sua estrutura de investimento para atender a demanda

interna.

A reorganização administrativa após o tumultuado governo de João

Goulart, a partir de 64, acabou tornando - se demorada. As constantes

decepções na exploração em terra difundiram a opinião em prol de um

avanço em direção ao mar. Mas como no mar incorre em assumir vários

riscos e incertezas e custos, isso acabou dificultando a entrada da Petrobras

na plataforma continental.

Como já foi mencionado no capítulo anterior, no ano de 1973, a

Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), percebendo o

domínio sobre a oferta mundial de petróleo, reduziram sua oferta, elevando

substancialmente os preços internacionais, provocando o primeiro choque

do petróleo (em 1979, a OPEP, através novamente do controle da oferta de

petróleo, provoca a segunda crise). O mercado tornou - se conturbado e

marcado por incertezas não apenas quanto aos preços, como também

quanto a garantia de suprimento. Devido ao bom relacionamento com as

companhias estatais da OPEP, pois era importante cliente dessas empresas,

a Petrobras conseguiu manter o abastecimento do mercado brasileiro.

49

Page 50: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

Mas esse aumento dos preços acabou dando um grande impulso para

a empresa esquecer os riscos e concentrar os esforços na exploração e

produção offshore , pois a elevação em cerca de cinco vezes do preço do

petróleo tornou economicamente viável essa busca. A primeira descoberta

de petróleo em mar, no ano de 1968, no campo de Guaricema, litoral de

Sergipe, também representou um importante passo para que a Petrobrás

caminhasse em direção a atividade offshore .

De 1973 à 1976 os investimentos em pesquisa cresceram

consideravelmente, depois estabilizando até o segundo choque do petróleo.

A partir de 74 as pesquisas passaram a dar resultados. A descoberta do

campo de Garoupa, no litoral do estado do Rio de Janeiro, anunciou uma

nova fase para a produção no país. Havia sido dada a largada para os

constantes êxitos conseguidos na bacia de Campos.

Passados cinco anos, as reservas provadas eram de 622 milhões de

barris, montante quase equivalente ao que antecede o ano de 73 (742

milhões de barris). As plataformas que em 1973 somavam um total dez

passaram para 34 até 1983. Com o maior conhecimento das regiões de

águas rasas (até 200 metros), mas com poucos resultados expressivos, a

Petrobras foi ganhando espaço para explorar em águas cada vez mais

profundas, o que demandava novos esforços.

Como resultado da prioridade dada aos investimentos em exploração

e produção, ampliada após o segundo choque do petróleo, houve um

aumento da produção do petróleo nacional, que passou a ocupar espaço

cada vez maior na carga das refinarias.

A década de 80 no Brasil, por intermédio da Petrobras, pode ser

chamada de a década da tecnologia. Isso porque, neste período, a

50

Page 51: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

companhia se encontrava diante do desafio de produzir em águas com

profundidades superiores à 500 metros, feito nunca conseguido por

nenhuma outra companhia no mundo. A Petrobras, em um gesto de

ousadia, resolveu desenvolver no Brasil a tecnologia para produzir em águas

até 1000 metros de profundidade, onde obteve grande sucesso. Em menos

de uma década, a companhia já dispunha de tecnologia para produzir em

águas ultra - profundas. No ano de 1999, no campo de roncador, bacia de

Campos, a Petrobras começou a produzir a 1853 metros de profundidade.

Atualmente, a meta da empresa é chegar a 3 mil metros de profundidade.

Gráfico 3.1 – Evolução da Produção de Petróleo no Brasil: 1965 - 1997

(mil bpd)

51

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0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

Mil

bpd

Fonte: Elaboração própria com dados da BP Statistical (2003)

O gráfico 3.1 mostra a evolução da produção de petróleo no Brasil de

1965 até o ano de 1997, quando houve a abertura do mercado. Ao se

observar o gráfico, fica claro o salto na produção ao longo da década de 80,

reflexo do maior esforço exploratório na plataforma continental. O Brasil,

que no início dos anos 80 tinha uma produção de 188 mil barris por dia, já

no ano de 1986 produzia 591 mil barris diários. A produção no ano de 1997

era quase cinco vezes maior que no ano de 1980, totalizando uma produção

diária de 868 mil barris.

52

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Gráfico 3.2 – Número de Poços Perfurados no Brasil – Terra e Mar

0

50

100

150

200

250

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

terra mar

Fonte: Elaboração Própria com dados da Baker Hughes (2004)

3.3 – A Abertura do Mercado Brasileiro: Uma Nova Fase Para a Indústria

Petrolífera no Brasil

A abertura do setor de petróleo e gás brasileiro começou a ser

implementada no ano de 1995, através da Emenda Constitucional no 9, e

completada no ano de 1997, através da sanção da Lei no 9.478 de 6 de

agosto do mesmo ano, conhecida como a Lei do Petróleo. Essa lei tem como

objetivos principais: proteger os interesses do consumidor quanto ao preço,

qualidade e oferta do produto; promover a livre concorrência; atrair

investimentos na área de energia e ampliar a competitividade do país no

mercado internacional.

Desde 1953, como já foi mencionado anteriormente, a exploração,

lavra, transporte e comercialização e distribuição de petróleo e gás, até o

ano de 1995, era monopólio da empresa estatal Petrobras. Neste ano, foi

53

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promulgada a emenda Constitucional no 9. Essa Emenda alterou o artigo 177

da Constituição Federal de 1988 e, mantendo o monopólio sob a égide da

União, permitiu que, além da Petrobras, outras empresas, independente da

origem do seu capital, pudessem executar também as atividades de

exploração e produção através de contrato de concessão.

Mas é através da Lei do Petróleo, no ano de 1997, que os termos e

condições segundo os quais o Estado transfere aos particulares o exercício

das atividades relativas ao monopólio do petróleo e do gás natural tornam -

se objetos. De acordo com o Art. 61 parágrafo 1o da Lei do Petróleo, as

atividades referidas anteriormente (exploração, lavra, transporte e

comercialização e distribuição) passaram a ser desenvolvida pela Petrobras

em caráter de livre competição com outras empresas.

Esta lei trouxe a quebra da exclusividade de Petrobras no desempenho

das atividades relacionadas à indústria do petróleo e a criação de dois

novos institutos, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão

que tem por finalidade assessorar o Presidente da República na formulação

de Política Energética, e a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A ANP foi criada com a finalidade de promover a regulação, a

contratação e a fiscalização das atividades econômicas da indústria do

petróleo. Ela é vinculada ao Ministério das Minas e Energia. Cabe ainda a

ANP elaborar os editais e promover as licitações para a concessão de

exploração, desenvolvimento e produção, firmando os contratos e

fiscalizando a sua execução. É importante ressaltar o que está explicitado na

Seção IV, que trata do Processo Decisório, garantindo que ANP obedecerá

aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. Esta

última questão será importante ao tratarmos do Risco Regulatório.

54

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No Capítulo III da lei, que trata da Titularidade e do Monopólio do

Petróleo e Gás Natural, declara - se constituir monopólio da União os

depósitos de petróleo e gás natural localizados em terra e mar, além das

atividades econômicas relacionadas aos hidrocarbonetos. Segundo o Art. 5,

apenas as empresas com sede e administração no Brasil, através de

concessão e autorização, poderão exercer essas atividades econômicas,

cabendo a União a regulação e fiscalização dessas atividades.

3.4 – O Brasil Após a Abertura

Desde a abertura, o upstream tem sido palco das maiores mudanças

do setor petróleo no país, respondendo pela maior parte dos investimentos

por parte de novos agentes e servindo como indicador da atratividade do

mercado. A partir da abertura do upstream brasileiro, já foram realizadas

cinco rodadas de licitação. Essas cinco se somam à rodada zero realizada

em 1998, onde 115 blocos foram concedidos à petrobras sem concorrência

pública.

Gráfico 3.3 – Quantidade Percentual de Áreas Adquiridas por Empresas

nas Rodadas

55

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YPF3%

Agip8%

Petrobras30%

Outros16%

Esso4%

Texaco/Chevron10%

Shell5%

Petrobras

YPF

Agip

Texaco/Chevron

Esso

BP

Shell

Amerada Hess

Costal

Pan Canadian

El Paso

Enterprise Oil

Phillips

Maersk

Outros

Fonte: Elaboração Própria com dados da ANP

Como pode ser observado no gráfico 3.3, a exploração despertou

interesse nos principais players do setor. A Petrobras, com maior

conhecimento adquirido, é a maior detentora de áreas para exploração,

seguida pelas supermajors ChevronTexaco, Agip, Shell, Esso e Repsol- YPF.

Outras empresas que não aparecem no gráfico, mas que devem ser

destacadas são: Amerada Hess (4,48%), Pan Canadian (3,51%), BP (2,46%) e El

Paso (2,63%).

Analisando a evolução do número de blocos concedidos no Brasil nas

cinco primeiras rodadas, percebe- se que o número de blocos concedidos à

estatal na rodada zero foi muito expressivo quando comparado aos

números de blocos concedidos nas outras licitações. Isso representou para a

empresa a necessidade de se engajar em um grande esforço exploratório,

razão pela qual a empresa buscou se associar a petroleiras estrangeiras em

muitos blocos concedidos nesta rodada. Cabe salientar o caráter

exponencial desta rodada de concessões, onde a elevada quantidade de

56

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blocos concedidos à Petrobras se explica pela necessidade de uma transição

para o novo sistema de concessões através de licitação pública.

Gráfico 3.4 – Evolução das Áreas Licitadas e os Bônus Arrecadados nas 5

Primeiras Rodadas

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

Rodada

1

Rodada

2

Rodada

3

Rodada

4

Rodada

5

Áre

a (

km

2)

0

200.000.000

400.000.000

600.000.000

800.000.000

1.000.000.000

1.200.000.000

nu

s (

R$)

Área Bônus

Fonte : Elaboração Própria com dados da ANP

As três primeiras rodadas de licitação da ANP foram marcadas pelo

grande interesse das empresas estrangeiras – em particular as supermajors ,

atraídas pelo processo de liberalização do mercado. A necessidade das

empresas de se posicionarem no Brasil se refletiu nos montantes em bônus

de assinatura obtido nessas rodadas, como mostra o gráfico 3.4. Em

contrapar tida, o forte comprometimento com o esforço exploratório dos

blocos arrematados nas primeiras três rodadas resultaram na redução de

interesse destas empresas na quarta rodada. A queda brusca no bônus de

assinatura está relacionada com as mudanças ocorridas nesta fase, pois o

bônus teve uma redução forte no seu peso.

57

Page 58: Análise sobre a Atratividade do Upstream da Indústria de ... · como determinantes para o estudo da atratividade do upstream deste setor. Desse modo, são apresentadas no início

Tendo em vista esta redução do interesse das grandes empresas, a

ANP resolveu adotar para a quinta rodada um novo sistema de concessões

onde os grandes blocos foram substituídos por células de dimensões

menores. O objetivo da ANP era atrair as empresas ditas independentes, de

pequeno e médio porte.

Gráfico 3.5 - Estimativa de Perfuração de Poços até 2010

0

20

40

60

80

100

120

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Até round 4 Até Round 5

Fonte: Elaboração Própria com dados da ANP

Almeida e Araújo (2003) apresentam um interessante resultado, ao se

analisar o comprometimento das empresas com a exploração, através do

Programa Exploratório Mínimo (PEM) exigido nas quatro primeiras rodadas

de licitação (na quinta rodada as empresas passaram a desenvolver o seu

próprio programa). Para cada rodada foi definida a quantidade mínima de

poços a serem perfurados e de sísmica que deveriam ser realizadas pelas

vencedoras ao longo dos períodos de exploração.

Através desses dados, foi possível estimar a quantidade de poços que

deveriam ser perfurados até 2010. Como a quantidade de óleo encontrada

58

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está diretamente relacionada com a quantidade de poços perfurados, a

análise da estimação dos poços perfurados indica como se configurará

nesse período as descobertas. O gráfico 3.5 mostra a estimativa de poços

perfurados até 2010. O Brasil, ao longo desta década, se encontra diante de

dois ciclos de perfuração, que poderá ter resultado direto nas descobertas.

O primeiro ciclo reflete a rodada zero, e teve seu pico no ano de 2001. O

novo ciclo, que reflete todas as outras rodadas, tem seu auge no ano de

2007. Então, esperar um “boom” de descobertas antes desse período poderia

ser uma postura prematura.

3.5 – Considerações Finais

Como pôde ser observado neste capítulo, somente após a criação da

Petrobras, no início da década de 50, é que o Brasil finalmente desenvolve as

pesquisas visando a descoberta de petróleo. As seguidas crises da indústria

do petróleo (73 e 79) favoreceram para o desenvolvimento da exploração

offshore , onde o Brasil passou a se destacar internacionalmente. Deve ser

ressaltada também, a entrada dos principais players – as super majors - do

setor petrolífero na área de exploração e produção de petróleo, ao se

realizar a abertura do setor, no ano de 1997.

59

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CAPÍTULO 4

ANÁLISE DA ATRATIVIDADE ENTRE DO UPSTREAM BRASIL E PAÍSES

CONCORRENTES

O capítulo pretende, através da análise das variáveis que determinam

o nível de atratividade do upstream da indústria de petróleo de um país,

apresentar um ranking onde se compara o Brasil com os principais países

concorrentes na atração de investimentos para o segmento do upstream .

O capítulo inicia com a metodologia empregada na criação do modelo.

Em seguida, faz- se a análise individual de cada variável, onde, cada país,

recebe uma pontuação de acordo com o desenvolvimento desta variável

neste país. O resultado desta pontuação é apresentado em uma tabela, onde

é feito o ranking de países. Para finalizar, objetivando dar uma maior

consistência aos resultados obtidos, são realizados testes de sensibilidade,

onde são aplicados diferentes pesos para cada variável analisada, gerando

um novo ranking para cada combinação de resultados.

4.1 – Seleção das Variáveis e Países Concorrentes

Como já foi abordada no capítulo 1, a análise da atratividade do

upstream deve ser feita de forma comparativa, ou seja, levando- se em

consideração os diversos países que concorrem pelos investimentos. Além

disso, é importante considerar que a atratividade apresenta diversas

dimensões que devem ser ponderadas conjuntamente. O presente trabalho

tem por objetivo mensurar a atratividade desses países, possibilitando - se

criar um ranking, cujo objetivo principal é permitir que se faça uma

comparação mais precisa entre esses países. Para isso, é preciso analisar

60

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cada variável que influencia a atratividade do upstream para um conjunto

de países.

Com a abertura do mercado petrolífero nacional, através da Lei do

petróleo, o Brasil passou a disputar com outros países a atração de

investimentos na indústria de petróleo e gás, principalmente nas fases de

exploração e produção. Neste contexto, a questão da atratividade relativa do

upstream brasileiro passa a ser central para a manutenção de um nível

adequado de investimentos no setor. Foram selecionados para esse estudo

países que, assim como o Brasil, concentram sua exploração e produção no

offshore em águas profundas . Os países selecionados foram: Reino Unido,

Estados Unidos (Golfo do México), Congo, Guiné Equatorial, Nigéria, Egito,

Angola e Noruega.

As variáveis selecionadas são aquelas que atuam diretamente na

atratividade do upstream da indústria de petróleo (vide capítulo 1). As

variáveis são: risco político, risco regulatório, government take , potencial e

risco geológico.

4.2 – Metodologia do Trabalho

A metodologia utilizada para a elaboração do ranking de atratividade

do upstream deverá seguir a seguinte forma: avaliou- se, para cada um dos

países selecionados, o nível de atratividade representada por cada uma das

variáveis. Para cada país foram aplicadas uma pontuação que variou de 1 a

5, de acordo com a sua atratividade (quanto mais atrativa entre os países

selecionados for a variável, maior será a nota recebida). Cabe ressaltar que

as notas foram dadas de forma comparativa entre os países. Para cada

variável utilizou - se um critério de avaliação específico, que será explicitado

no decorrer do capítulo. No final, construiu - se uma tabela onde foram

61

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somados todos os pontos obtidos por cada país individualmente. Foi

considerado mais atrativo o país que tiver uma pontuação superior, isto é,

uma maior soma de pontos.

No primeiro momento, todas as variáveis receberam o mesmo peso.

Sabendo - se que as variáveis exercem uma influência distinta sobre a

atratividade, foi realizado um teste de sensibilidade do modelo, onde cada

variável receberá um peso diferente. Através disso, pretende - se conhecer as

principais variáveis que influenciam a atratividade em cada país. Será

através do teste de sensibilidade que poderemos identificar as variáveis que

pesam a favor ou contra da atratividade brasileira.

4.3 - Risco Político

Conforme descrito no primeiro capítulo, o cálculo de risco político é

feito por diversas agências especializadas. Logo, bastaria escolher uma

dessas avaliações, de acordo com o critério de credibilidade da agência, para

poder pontuar os países segundo a avaliação recebida. O problema é que

cada agência possui um critério de avaliação específico, além de um

conjunto de países distintos a serem avaliados. Desse modo, para esse

trabalho, não foi possível detectar uma agência que avaliasse para todos os

países abordados nesse trabalho. Dentro deste contexto decidiu - se optar

pela análise feita pela Economist Intelligence Unit Viewswire (EIU – The

Economist, 2004), primeiro pela credibilidade da agência, e, segundo, por

apresentar em seu conjunto de países o maior número correspondente aos

países selecionados neste trabalho (cinco dos oito países analisados). Para

os três países restantes, optou - se por aplicar notas seguindo o mesmo

critério adotado pela EIU.

62

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Gráfico 4.1 – Taxa de Risco Político

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Angola Nigéria Congo Egito Brasil Noruega ReinoUnido

EstadosUnidos

Po

nto

s (E

IU v

iew

swir

e)

Fonte: Elaboração própria com dados da EIU

Quanto maior for a pontuação que o país receber da agência (o que

significa ter um risco país mais elevado), menor será a sua atratividade e,

por isso, menor será a pontuação recebida. O gráfico 4.1 mostra, em ordem

decrescente, do país com maior risco para o país com menor risco, a

avaliação feita pela EIU (2004). Os países com a coluna de cor clara (Congo,

Noruega e Reino Unido) foram os países não analisados pela agência, e que

receberam uma pontuação apenas para serem representados no gráfico.

Como podemos observar no gráfico 4.1, Angola e Nigéria, foram

classificados pela EIU como países com um risco político muito elevado,

recebendo, portanto, a pior avaliação, o que representa a nota 1 no exercício

proposto neste capítulo. A República do Congo, que atualmente vive em

uma democracia, e governado pelo presidente Denis Sassou - Nguesso, que

possui um mandato de sete anos, vencido nas eleições de abril de 2002, e

com maioria tanto no senado como na Assembléia Nacional, sofre com os

soldados rebeldes do Ninja, deixando o país muito inseguro, por isso

recebeu também a nota 1. O Egito, com uma pontuação que, embora mais

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favorável, ainda mais representa um país com grande risco político, recebeu

a nota 2.

O Brasil vem em seguida, mas já fazendo parte dos países com baixo

risco político. Isso porque, de acordo com a EIU (2004), as reformas

estruturais realizadas na economia nacional a partir de 1994 estão

contribuindo para uma tendência de redução da percepção de instabilidade

política. O processo de estabilização da inflação ocorrida no período

compreendido entre 1994 e 1999, seguido de uma política de ajustamento

externo da economia a partir desta data, vem abrindo a perspectiva para um

processo de crescimento econômico sustentável. A superação da recente

crise de confiança dos mercados internacionais, associada à transição

política no país, é uma prova da redução da vulnerabilidade externa, fruto

da política de ajustamento externo implementada a partir de 1999, e

reforçada pelo governo atual. Com isso, o Brasil passa a receber a nota 4.

O último grupo representa aqueles países com baixíssimo risco

político: Noruega, Reino Unido, e Estados Unidos. A Noruega faz parte da

Área Econômica Européia e a sua estabilidade política é um dos fatores que

a torna atrativa para exploração e produção, embora seja uma área

considerada madura. O Reino Unido representa um dos maiores poderes

políticos do mundo, além de ser a quarta maior economia. Dentro deste

contexto, não foi difícil avaliá- los como países de baixo risco político,

recebendo assim a maior nota, 5.

4.4 – Risco Regulatório

A análise do risco regulatório deverá seguir o critério da credibilidade

da regulação de cada país. Para isso, deve- se analisar a maturidade do

sistema regulatório e a existência, ou não, de uma agência reguladora

64

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independente. Países que possuem um marco regulatório mais antigo, além

de possuírem uma agência reguladora, receberão a pontuação máxima, que

varia de acordo com as combinações desses dois segmentos.

A tabela 4.1 descreve a situação regulatória dos países analisados,

gerando, de acordo como foi descrito anteriormente, a pontuação adequada

para cada país. É preciso ressaltar que a presença de uma agência

reguladora autônoma, que atue de forma transparente, é de suma

importância para diminuir o risco regulatório e garantir o cumprimento dos

contratos.

Tabela 4.1 – Risco Regulatório

Países Quem Regula MarcoRegulatório

Exploração eProdução Pontuação

Angola Estatal Sanagol 1978Contrato de

Participação naProdução (CPP)

3

Brasil ANP 1997 Concessão 3Congo Estatal SNPC 1999 CPP 1

EgitoEgyptian General

PetroleumCorporation

1988 CPP 3

EstadosUnidos

O MineralsManagement Service(MMS) é responsávelpela parte offshore

1859 CPP 5

NigériaMinistre of

Petroleum Resources(MPR)

1988 CPP 3

NoruegaNowergianPetroleum

Directorate (NPD)1972 Concessão 5

Reino Unido OFGA 1934Licenças

Renováveis5

Fonte: Elaboração Própria através de busca em sites relacionados

A presença da ANP no Brasil, realizando licitações com contratos

claros e transparentes, com livre acesso a todos, dá uma maior segurança

65

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para as empresas que desejam investir no país. Como a abertura do setor

petrolífero no Brasil foi recente, é justo que o Brasil receba a nota de

número 3, pois o país ainda não desfruta de uma credibilidade absoluta.

Assim como a Nigéria e Angola, que, embora tenham um marco

regulatório anterior ao brasileiro, a regulação fica por conta do Ministério

do Petróleo (MPR) na Nigéria e na Angola através da estatal Sanagol, ambas

sob o comando direto do governo em atividade, tornam - se mais vulnerável

as instabilidades políticas, e por isso também receberam a nota de número

3. O Congo é o país que recebeu a pior avaliação, ficando com a nota 1. Isso

porque, além de possuir um marco regulatório bem recente, quem regula no

país é a empresa estatal Societé Nationale dês Pétroles du Congo (SNPC).

Os países que receberam a nota máxima, pois possuíam uma agência

reguladora independente, somado com um tempo de elevado de experiência

foram: Noruega, Estados Unidos e Reino Unido. Todos esses países

receberam a nota 5, como pode ser observado na tabela 4.1.

4.5 - Government Take

Para se analisar o government take foi utilizado o estudo de Barbosa e

Bastos (2001), onde o Brasil, segundo diferentes critérios, é comparado com

países que concorrem por investimentos. Desta forma, os países que

apresentaram um take menor, foram considerados mais atrativos, e

receberam uma melhor pontuação. Essa avaliação é representada no gráfico

4.2.

Gráfico 4.2 - Participação do Government Take

66

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88

81

7366

63

57

5050

32

0 20 40 60 80 100

Noruega

Angola

EgitoNigéria

Brasil

Guiné Eq.

Congo

EUA

Reino Unido

Fonte: Barbosa e Bastos (2001)

O cenário escolhido para essa análise foi considerando uma taxa de

desconto de10%, com uma reserva estimada de 750 MML, o Brent a US$ 20/

barril e um custo de produção de US$ 5,40.

Com este cenário, o Brasil recebe uma pontuação 3, pois com um

government take de 63% ele se encontra exatamente na posição

intermediária entre os países. Desta forma, os dois últimos países, Noruega

com um take de 88% e Angola, com 81 %, receberam a pontuação 1. Egito,

com 73%, e Nigéria, com 66%, ficaram com a nota 2. A Guiné Equatorial,

com 57%, Congo, e Estados Unidos, 50%, aparecem logo acima do Brasil,

recebendo o nota de número 4. O país que recebeu a nota máxima, 5, foi o

Reino Unido, com um take de apenas 32%.

4.6– Potencial Geológico

67

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Análise do potencial geológico foi feita através do cálculo da

produtividade de cada país na década de 90. O resultado foi obtido

calculando - se a quantidade de óleo descoberta offshore durante a década

por poços perfurados. Com os dados de produção e reservas provadas

fornecidos pela BP Statistical Review (2003), foi possível obter a quantidade

de óleo descoberto, que é a soma da variação das reservas ao longo da

década somada à produção. Quanto maior for a produtividade (maior a

relação entre a descoberta por poço perfurado) de um país, maior será a sua

pontuação.

Gráfico 4.3 – Descoberta por Poço Perfurado Offshore – Década de 90

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

Angola

Brasil

Congo

Rein

o Unid

oEU

AEgito

Noru

ega

Milh

õe

s d

e b

arr

is p

or

an

o

Fonte: Elaboração Própria com dados da BP Statistical (2003) e Baker Huges

(2004)

O gráfico 4.3 nos mostra o resultado obtido. Como se pode observar,

a Nigéria destaca- se na produtividade, recebendo a pontuação máxima

(cinco pontos). Em seguida, vem a Angola, que recebeu a nota quatro. O

Brasil e o Congo, com um nível de descoberta por poço mediano receberam

a nota 3. Com um nível de descoberta ainda menor, logo recebendo a

68

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pontuação 2, segue o Reino Unido, Estados Unidos e Egito. A Noruega se

apresenta como o país com o menor índice de descoberta offshore ,

recebendo a pontuação 1. Vale esclarecer que, países que recebem a mesma

nota, está associado com a proximidade entre os seus valores e tendo em

vista a distância entre o primeiro e último colocado.

4.7 – Análise dos Resultados

As variáveis analisadas foram agrupadas em uma única tabela, o que

permitiu uma visão mais ampla das análises de cada variável, já que a

atratividade de um país deve ser medida através de um conjunto de

variáveis para um determinado grupo de países. O resultado obtido com a

soma total dos pontos de cada país está representado na tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Demonstração dos Resultados

Risco Político Risco Regulatório

Government

Take Risco Geológico TotalReino Unido 5 5 5 2 17EUA 5 5 4 2 16Brasil 4 3 3 3 13Noruega 5 5 1 1 12Nigéria 1 3 2 5 11Angola 1 3 1 4 9Egito 2 3 2 2 9Congo 1 1 4 3 9

Fonte: Elaboração Própria

O ranking foi elaborado utilizando - se a soma de todos os pontos

obtidos por cada país. Quanto maior a pontuação total recebida pelo país,

melhor é a sua posição no ranking , representada na tabela 4.2. Como

resultado, podemos observar que, segundo os critérios analisados, o país

com melhor pontuação, logo, com maior atratividade é o Reino Unido, que

69

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totalizou 17 pontos. Na última colocação estão empatados a Angola, o Egito

e o Congo, com apenas 9 pontos.

Gráfico 4.2– Ranking da Atratividade do Upstream do Setor Petrolífero -

Offshore

02468

1012141618

Reino U

nido

EUA

Brasil

Noru

ega

Angola

Egito

Congo

Po

nto

s

Fonte: Elaboração Própria

O Brasil, de acordo com os resultados obtidos neste modelo, é

considerado um país com grande nível de atratividade do upstream da

indústria petrolífera, já que ocupa a terceira colocação, com um total de 14

pontos, seguido pela Noruega que somou 13 pontos. Sendo assim, o Brasil

se encontra menos atrativos apenas que Estados Unidos e Reino Unido, e

acima de países com grande importância no cenário da indústria de

petróleo, tais como Noruega (13 pontos), Nigéria (11 pontos) e Angola e

Egito (9 pontos).

4.8 – Análise de Sensibilidade

70

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Buscando - se verificar a robustez dos resultados obtidos na avaliação

comparativa das variáveis que, em conjuntos, determinam a atratividade do

upstream de um país, foram escolhidos três diferentes cenários onde as

variáveis passam a receber um peso diferente. Isso porque, cada variável

possui um nível de importância diferente, que varia de investidor para

investidor. Como o objetivo do trabalho é testar a atratividade do Brasil

frente aos países concorrentes, e, como o upstream brasileiro vem sofrendo

severas críticas, ora sobre o elevado government take ora sobre o potencial

geológico, decidiu - se criar diferentes cenários, primeiro aplicando uma

maior ponderação para o government take , e, em seguida, dando ao risco

geológico o mesmo destaque. Por último, aplica- se às duas variáveis a maior

ponderação. Para cada cenário será criado um novo ranking utilizando - se

as médias ponderadas de cada país.

4.8.1 – Análise de Sensibilidade com Ênfase no Government Take

A tabela 4.3 mostra como fica o ranking da atratividade quando o

government take recebe uma maior ponderação. Todas as outras variáveis

receberam um peso de 0,2, enquanto que o government take recebeu o

dobro de peso (0,4). Nesta hipótese, o take passa a ser a variável mais

importante na decisão de investimento da companhia.

Ao observar a colocação do Brasil frente aos outros países, percebe- se

que continua sendo um país muito atrativo, recebendo uma pontuação

acima da média (3,2), ficando atrás apenas de Reino Unido (4,4) e Estados

Unidos (4,0). Para facilitar a análise, a tabela mostra os países de acordo

com a sua pontuação, em ordem decrescente.

71

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Tabela 4.3 – Ranking de Atratividade com Destaque para o Governmenttake

Risco

PolíticoPeso0,2

RiscoRegulatóri

oPeso0,2

Governme

nt Take Peso0,4

RiscoGeológico

Peso0,2

MédiaPonderad

aReinoUnido 5

15

15

22

0,6 4,4

EUA 51

51

41,6

20,4 4

Brasil 40,8

30,6

31,2

30,6 3,2

Noruega 51

51

10,4

10,2 2,6

Nigéria 10,2

30,6

20,8

51 2,6

Congo 10,2

10,2

41,6

30,6 2,6

Egito 20,4

30,6

20,8

20,4 2,6

Angola 10,2

30,6

10,4

40,8 2

Fonte: Elaboração Própria

O Reino Unido se mantém na primeira posição. Isso porque, o take do

governo no Reino Unido é muito baixo. Um exercício muito interessante

pode ser feito ao se modificar os valores da variável analisada. Só com um

nível de government take próximo ao do Reino Unido é que o Brasil poderia

se tornar tão atrativo quanto os Estados Unidos (segundo colocado), o que

não significa que estaria em uma melhor posição, já que estaria abrindo

mão da arrecadação, por parte do governo, de parcela da renda excedente

gerada pela produção de óleo nacional. Logo, o modelo nos indica que o

government take brasileiro não é elevado o suficiente para torná - lo menos

atrativos que os países que concorrem por investimentos no upstream da

indústria petrolífera, e que somente com uma diminuição drástica na

arrecadação é que o país se tornaria ainda mais atrativo. Críticas,

unicamente sobre o government take brasileiro, certamente não estariam

bem fundamentadas.

4.8.2 – Análise de Sensibilidade com Ênfase no Risco Geológico

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Ao se fazer o mesmo exercício para o risco geológico, aplicando - lhe

um peso de 0,4 enquanto que as outras variáveis ficam com 0,2, o Brasil

continua como um país atrativo, ocupando novamente o terceiro lugar, com

uma média ponderada de 3,2, logo atrás dos Estados Unidos (3,6). Neste

exercício, a Nigéria que anteriormente ocupava o quinto lugar, passa a

dividir a terceira colocação com o Brasil.

Tabela 4.4 – Ranking de Atratividade com Destaque para o RiscoGeológico

RiscoPolític

oPeso0,2

RiscoRegulatóri

oPeso0,2

Governme

nt Take Peso0,2

RiscoGeológic

oPeso0,4

MédiaPonderad

aReinoUnido 5

15

15

12

0,8 3,8

EUA 51

51

40,8

20,8 3,6

Brasil 40,8

30,6

30,6

31,2 3,2

Nigéria 10,2

30,6

20,4

52 3,2

Noruega 51

51

10,2

10,4 2,6

Angola 10,2

30,6

10,2

41,6 2,6

Congo 10,2

10,2

40,8

30,4 2,4

Egito 20,4

30,6

20,4

21,2 2,2

Fonte: Elaboração Própria

O interessante desse tipo de exercício é poder verificar que o que está

sendo considerado é a combinação de variáveis, e não apenas uma. Se fosse

medido apenas o potencial geológico, a Nigéria se encontraria isolada na

primeira posição do ranking . O Reino Unido, embora não sendo o país com

maior potencial geológico, mantém - se isolado na primeira colocação,

confirmando a posição de país mais atrativo.

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Esse resultado revela que o potencial geológico brasileiro tem um

peso significativo na atratividade do segmento do upstream . Com uma

grande quantidade de áreas ainda não exploradas, parte delas no offshore , é

de se esperar que o Brasil aumente cada vez mais a sua posição como país

produtor de petróleo. Um dos objetivos da abertura do setor, mencionada

no capítulo 3, é o de possibilitar a ampliação do esforço exploratórios em

áreas com baixo nível de exploração. Neste caso, maiores estudos sobre o

território brasileiro, além do desenvolvimento de tecnologias mais

avançadas, que possibilitassem a exploração e produção em águas cada vez

mais profundas, e com um custo bem acessível, seriam principais

modificações para transformá - lo em um país ainda mais atrativo.

4.8.3– Análise de Sensibilidade com Ênfase no Government Take e

Risco Geológico

O cenário onde o government take e o risco geológico recebem um

maior peso parece ser o mais realista, pois representa as duas principais

variáveis do setor, já que as outras estão presentes também em outros

setores industriais. Neste caso, para as duas variáveis consideradas chave –

government take e potencial geológico – foram aplicadas um peso de 0,3. As

outras duas variáveis – risco político e risco regulatório – receberam um

peso de 0,2.

Como pode ser observado na tabela 4.5, o Brasil continua com um

grande nível de atratividade, ocupando isoladamente a terceira colocação,

com uma média ponderada de 3,2 pontos, ficando novamente atrás apenas

dos Estados Unidos, com uma média de 3,8 pontos e do Reino Unido, que

novamente ocupa a primeira colocação, mostrando - se absoluto em

atratividade do upstream . O país com pior colocação foi o Egito, com uma

média de 2,2 pontos.

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Tabela 4.5 – Atratividade do Upstream com Destaque para o

Government Take e o Risco Geológico

Risco

PolíticoPeso0,2

RiscoRegulatóri

oPeso0,2

Governme

nt Take Peso0,3

RiscoGeológic

oPeso0,3

MédiaPonderad

a

Reino Unido 51

51

51,5

20,6 4,1

EUA 51

51

41,2

20,6 3,8

Brasil 40,8

30,6

30,9

30,9 3,2

Nigéria 10,2

30,6

20,6

51,5 2,9

Noruega 51

51

10,3

10,3 2,6

Congo 10,2

10,2

41,2

30,9 2,5

Angola 10,2

30,6

10,3

41,2 2,3

Egito 20,4

30,6

20,6

20,6 2,2

Fonte: Elaboração Própria

4.9 – Considerações Finais

Este capítulo teve como objetivo identificar, através da elaboração de

um ranking , quais são os países mais atrativos no segmento do upstream

em águas profundas. Através de um sistema de pontuação aplicada a cada

variável considerada chave para a atratividade deste segmento –

apresentada no capítulo 1 – foi possível fazer uma comparação entre os

países que concorrem entre si.

O Brasil, que ocupou o terceiro lugar do ranking geral, mostrou - se

bem atrativo, ficando atrás apenas do Reino Unido e Estados Unidos. Com o

objetivo de se testar os resultados do ranking elaborado, foram realizados

testes de sensibilidade do modelo. Para isso, foram identificadas as

variáveis de maior importância dentre aquelas já selecionadas, e, aplicou- se

a cada uma, um peso superior, apresentando - se para cada combinação o

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novo ranking gerado. Como o modelo já previa, o Brasil permaneceu entre

os mais atrativos, o que demonst ra que o processo de abertura do Brasil

atende aos objetivos de torná- lo atrativo. Deve- se destacar também o Reino

Unido que ocupou a primeira colocação em todos os testes realizados.

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5. Conclusão

Após fazer uma análise de todos os resultados obtidos para os

diferentes cenários, pode- se afirmar que as mudanças ocorridas na

abertura do setor, através da Lei no 9.487, Lei do Petróleo, atingiram o

objetivo de tornar o Brasil um país atrativo no upstream da indústria

petrolífera. Como pôde ser observado, o Brasil se manteve, para os

diferentes cenários, entre os países mais atrativos.

De acordo com as análises realizadas no capítulo 2, percebe- se a

necessidade de aumento, por parte das oil companies , de investimentos em

exploração e produção em todo o mundo ao longo das próximas três

décadas. Esses investimentos serão necessários com vista a atender a

projeção de aumento da demanda de petróleo ate 2030, e também, com o

objetivo de repor as reservas que estão se exaurindo, atendendo, portanto, a

atual demanda.

Na medida em que as reservas localizadas em regiões de fácil acesso

vão se esgotando, a atividade exploratória offshore passa a fazer parte das

estratégias das empresas. Dentro desse contexto, o Brasil, sem que sofra

qualquer mudança estrutural, como redução no government take , torna - se

um país chave para as companhias que decidem atuar no upstream da

indústria do petróleo.

A tributação brasileira, embora questionada por alguns agentes do

mercado, apresenta competitividade em nível internacional, segundo vários

estudos. Como pôde ser visto no capitulo 4, o estudo de Barbosa e Bastos

(2001) mostra que, ao se fazer uma análise comparativa apenas da variável

government take para vários países, o Brasil apresenta - se dentro da média

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internacional. Através desse dado, pode- se afirmar que o Brasil não

apresenta um government take elevado, a ponto de se tornar uma barreira à

entrada de novas as companhias no país.

De acordo com o documento elaborado pela Wood Mackenzie (2002),

onde é feita uma avaliação dos riscos e recompensas no upstream da

indústria de petróleo para vários países, o Brasil, através do cálculo do valor

monetário esperado (EMV), acaba recebendo uma avaliação muito ruim,

ficado atrás de países como Angola e Nigéria (diferente do resultado obtido

no presente documento). Segundo a análise da Wood Mackenzie (2002), o

que faz do Brasil um país com baixa atratividade é quantidade de carga

tributária (government take ), principalmente relacionada aos impostos

indiretos.

Como também pôde ser observado no capítulo 4, através de uma

análise comparativa entre as principais variáveis determinantes para a

atratividade no setor estudado, o Brasil fica atrás apenas de Reino Unido e

Estados Unidos no ranking geral. Ao se testar a crítica desenvolvida pela

Wood Mackenzie (2002), que considera a tributação brasileira muito elevada,

buscou - se fazer uma análise de sensibilidade do modelo, apresentada no

capítulo 4, onde se aplica um peso superior ao government take em

comparação as outras variáveis. Como resultado obteve- se que o Brasil

coloca- se em uma posição superior (maior nível de atratividade) que os

países acima citados.

É preciso estar atento à validade das críticas com relação ao

government take brasileiro, pois existe uma pressão muito grande por parte

das companhias internacionais que atuam no segmento do upstream, ao se

tratar de temas relacionados às áreas exploratórias nacionais, com o

objetivo de se reduzir o take do governo, o que possibilitaria uma maior

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arrecadação por parte dessas companhias. Como já foi descrito, o atual

nível de government take , somado à outras variáveis, é suficiente para

tornar o Brasil um dos países mais atrativo.

Muito se questiona também sobre o potencial geológico brasileiro

tendo em vista a falta de descobertas expressivas após a abertura,

principalmente pelas novas entrantes. Entretanto, é importante salientar

que o volume de recursos descobertos, estimado a partir das declarações de

descobertas realizadas à ANP, é bastante expressivo (cerca de 2 bilhões de

barris). Ainda não é possível identificar qual parcela destes recursos poderá

se transformar em reservas.

De acordo com as análises do capítulo 3, percebe- se que ainda é

muito cedo para se fazer qualquer tipo de crítica sobre o tema, dado que o

ciclo de descobertas do esforço exploratório das rodadas de licitação

ocorrerá só em 2007- 2008. O Brasil é um país de dimensão continental com

grande parte de suas bacias sedimentares ainda inexploradas. Segundo

dados da Baker Hughes (2004), foram perfurados no Brasil, entre 1980 e

2002, 4000 poços, enquanto o número no Reino Unido foi de

aproximadamente 9000 poços perfurados, e na Nigéria, com um território

muito menor que o do Brasil, 2000 poços. Logo, é preciso que haja um

aumento do esforço exploratório por parte dessas empresas, visando

aumentar o conhecimento da região, para que se tenha um aumento da

produtividade no upstream .

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