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REAÇÕES DE PRECIPITAÇÃO E EQUÍLIBRIO DE SOLUBILIDADE
A dissolução é um fenômeno importante no qual uma ou mais
substâncias, os solutos, se misturam de forma homogênea com uma outra
substância, o solvente.
Embora também existam soluções sólidas, as soluções mais comuns
envolvem um solvente líquido. Todos os dias dissolvemos substâncias em
água, por exemplo, tal como o sal de cozinha ou o açúcar.
Para cada conjunto de condições existe uma quantidade limite de uma
dada substância que se consegue dissolver num determinado solvente, e
que se designa por solubilidade dessa substância nesse solvente. Por
exemplo, à temperatura de 25°C, conseguem-se dissolver cerca de 36
gramas de cloreto de sódio (o sal de cozinha) em 100 ml de água, sendo,
portanto de 36 g / 100 ml a solubilidade do cloreto de sódio em água. Se
adicionar mais sólido à solução este não se irá dissolver, permanecendo o
soluto dissolvido em equilíbrio com o respectivo sólido que está em contacto
com a solução.
Tendo em conta a quantidade de soluto dissolvido num determinado
solvente e a solubilidade deste, as soluções podem apresentar-se:
a) Solução Saturada – contém a quantidade máxima de soluto que pode ser
dissolvido em equilíbrio com o soluto não dissolvido (ou seja, se a
quantidade de soluto em solução for igual à solubilidade desse soluto).
b) Solução não saturada ou Insaturada – contém uma quantidade de
soluto dissolvido menor do que a solução saturada (ou seja, quando a
quantidade de soluto na solução é inferior à sua solubilidade).
c) Solução supersaturada – contém uma quantidade de soluto dissolvida
maior do que na solução saturada, sob condições experimentais análogas
(ou seja, soluções em que a concentração de soluto em solução é superior à
sua solubilidade).
1
Uma solução supersaturada é instável. Se um pequeno cristal do soluto
é adicionado, o soluto excedente cristaliza-se sobre esse cristal (chamado
gérmen da cristalização) até atingir a concentração da solução saturada.
Quando um soluto se dissolve num solvente, as moléculas do solvente
formam estruturas em torno das moléculas de soluto, num processo
designado por solvatação.
No caso de substâncias iônicas que se dissolvem em solventes como a
água, o processo de dissolução implica a separação dos respectivos íons
constituintes, os quais irão ser solvatados pela água. Nestes casos, o
equilíbrio que se estabelece entre o sólido e o composto dissolvido depende
das concentrações em solução de todos os íons que constituem o sal.
Substâncias solúveis, parcialmente solúveis e insolúveis
Solúveis → quando em 1 L de solução se consegue dissolver pelo
menos 0,1 mol de soluto.
Insolúveis → quando a concentração máxima que se pode obter na
sua solução é menor do que 0,01 mol/L.
Parcialmente solúveis → quando se obtém no máximo soluções
0,1 mol/L e no mínimo soluções 0,01 mol/L.
SOLUBILIDADE DOS PRECIPITADOS
Um grande número de reações utilizadas em análise qualitativa
inorgânica envolve a formação de precipitados. Um precipitado é uma
substância que se separa de uma solução, formando uma fase sólida. O
precipitado pode ser cristalino ou coloidal e pode ser removido da solução
por filtração ou centrifugação. Forma-se um precipitado, quando a solução se
torna supersaturada com uma substância em particular. A solubilidade (S) de
um precipitado é, por definição, igual à concentração molar da solução
saturada. A solubilidade depende de várias circunstâncias, tais como:
2
temperatura, pressão, concentração de outros materiais na solução e da
composição do solvente.
A variação da solubilidade com a pressão tem, na prática, uma
importância reduzida em análise qualitativa inorgânica, visto que todas as
operações são conduzidas em recipientes abertos a uma pressão
atmosférica; ligeiras variações da pressão não apresentam influência
apreciável na solubilidade. De maior importância é a variação da solubilidade
de acordo com a temperatura. De modo geral, pode-se dizer que a
solubilidade dos precipitados aumenta com a temperatura, a não ser em
casos especiais (como o sulfato de cálcio), onde ocorre o oposto. A taxa do
aumento da solubilidade com a temperatura é variável, desprezível em
alguns casos e considerável em outros. A variação da solubilidade com a
temperatura pode, em alguns casos, servir como base de separação. A
separação de íons chumbo dos íons prata e mercúrio (I) pode ser realizada,
por exemplo, pela precipitação dos três íons sob forma de cloretos,
seguindo-se o tratamento da mistura com água quente. O cloreto de chumbo
será dissolvido, enquanto os cloretos de prata e de mercúrio (I) permanecem
praticamente insolúveis. Após a filtração da solução quente, os íons chumbo
passarão para o filtrado onde poderão ser identificados por meio de reações
características.
A variação da solubilidade com a composição do solvente apresenta
alguma importância em análise química qualitativa inorgânica. Embora a
maioria dos ensaios seja conduzida em meios aquosos, em alguns casos é
preferível usar outros solventes (como álcool, éter etc.). A separação dos
metais alcalinos, por exemplo, pode ser realizada por extração seletiva de
seus sais com vários solventes. Em outros casos, o reagente usado no
ensaio é dissolvido em um solvente não aquoso e a adição do reagente à
solução de teste, na realidade, muda a composição do meio.
A solubilidade depende também da natureza e concentração de outras
substâncias, principalmente de íons, na mistura. Há uma diferença
3
acentuada entre o efeito dos denominados íons comuns e o de íons
estranhos.
Denomina-se íon comum aquele que também participa da constituição
do precipitado. No caso do cloreto de prata, por exemplo, tanto os íons prata
como os íons cloreto são íons comuns; porém, qualquer outro que se
apresente será estranho. Pode ser dito, de um modo geral, que a
solubilidade de um precipitado diminui consideravelmente se um dos íons
comuns estiver presente em excesso, se bem que este efeito possa ser
contrabalançado pela formação de um complexo solúvel com o excesso do
íon comum. A solubilidade do cianeto de prata, por exemplo, pode ser
suprimida pela adição de um excesso de íons prata à solução. Se, por outro
lado, adicionarmos um excesso de íon cianeto, primeiro haverá um ligeiro
decréscimo na solubilidade, porém, quando adicionarmos grandes
quantidades de cianeto, o precipitado dissolver-se-á completamente, dando
origem à formação do complexo dicianoargentato [Ag(CN)2]. Na presença de
um íon estranho, aumenta a solubilidade do precipitado, mas este aumento é
geralmente muito pequeno, a menos que ocorra uma reação química (como
a formação de um complexo ou uma reação ácido-base) entre o precipitado
e o íon estranho, quando então o aumento da solubilidade é mais
pronunciado.
PRODUTO DE SOLUBILIDADE
A solução saturada de um sal, que ainda contém um excesso de
substância não dissolvida, é um sistema em equilíbrio, ao qual pode ser
aplicada a lei da ação das massas. Se, por exemplo, um precipitado de
cloreto de prata está em equilíbrio com sua solução saturada, pode-se
estabelecer o seguinte equilíbrio:
AgCl Ag+ +Cl–
É um equilíbrio heterogêneo, visto que o AgCl está na fase sólida,
enquanto os íons Ag+ e Cl– estão na fase dissolvida. Pode-se escrever a
constante de equilíbrio:
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A concentração do cloreto de prata na fase sólida é invariável e,
portanto, pode ser incluída numa nova constante Kps, denominada produto
de solubilidade:
Kps = [Ag+].[Cl–]
Assim, numa solução saturada de cloreto de prata, a uma temperatura
e pressão constantes, o produto da concentração dos íons prata e cloreto é
constante.
O que foi dito para o cloreto de prata pode ser generalizado. Para a
solução saturada de um eletrólito AaBb que se ioniza, formando os íons aAm+
e bBn-
AaBb aAm+ + bBn-
o produto de solubilidade (Kps ) pode ser expresso por:
Kps = [Am+]a.[ Bn-]b
Assim, pode-se afirmar que, numa solução saturada de um eletrólito
fracamente solúvel, o produto das concentrações de seus íons constituintes
é constante para qualquer temperatura dada, sendo a concentração de cada
íon elevada a uma potência igual aos respectivos númer os de íons de cada
espécie produzida pela dissociação de uma molécula do eletrólito. Esse
princípio foi, pela primeira vez, estabelecido por W. Nernst em 1889.
As concentrações dos íons na expressão do produto de solubilidade
são expressas em mol L-1. A unidade de Kps é, portanto, (mol L-1)a+b.
Por exemplo, para o caso do sulfato de alumínio sólido (Al2(SO4)3) em
contato com uma solução saturada de sulfato de alumínio (Al2(SO4)3
(dissociado em íons Al3+ e SO42-), o equilíbrio é traduzido por
Al2(SO4)3(s) → 2Al3+(aq) + 3SO4
2-(aq)
O Kps é expresso, no caso deste sal, pelo produto das concentrações
molares de equilíbrio dos íons cada qual elevada aos respectivos
coeficientes estequiométricos:
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Kps=[Al3+]eq2.[SO4
2-]eq3
A relação do produto de solubilidade esclarece o fato da considerável
diminuição de solubilidade de uma substância ao se adicionar um reagente
contendo um íon comum com a substância. De vez que a concentração do
íon comum é alta, a do outro íon deve tornar-se baixa na solução saturada
da substância; assim, o excesso da substância será precipitado. Se,
portanto, for preciso remover por precipitação um íon, será necessário
adicionar um excesso de reagente. Um excesso muito grande ocasionará
mais danos que benefícios, visto que poderá aumentar a solubilidade do
precipitado pela formação de complexos.
O efeito de íons estranhos na solubilidade de precipitados é
exatamente o oposto; a solubilidade aumenta ligeiramente na presença dos
mesmos.
Para esclarecer o efeito de íons estranhos na solubilidade de
precipitados, deve-se ter em mente que a relação do produto de solubilidade,
no sentido mais estrito, deve ser expressa em termos de atividades. Para a
solução saturada do eletrólito AaBb que se ioniza, formando os íons aAm+ e
bBn-
AaBb aAm+ + bBn-
o produto de solubilidade (Kps ) pode ser expresso como:
Os coeficientes de atividade dependem, no entanto, da
concentração de todos os íons (íons comuns e estranhos) na solução.
Quanto mais alta for a concentração total de íons na solução, mais alta será
a força iônica e, conseqüentemente, menores serão os coeficientes de
atividade. Como o produto de solubilidade deve permanecer constante, as
concentrações [Am+] e [Bn-] devem aumentar para contrabalançar o
decréscimo dos coeficientes de atividade; daí o aumento da solubilidade.
Exemplo 1. Uma solução saturada de cloreto de prata contém 0,0015 g
de substância dissolvida por litro. Calcular o produto de solubilidade.
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A massa molecular relativa de AgCl é 143,3. A solubilidade (S) é,
portanto:
Na solução saturada, a dissociação é completa:
AgCl Ag+ +Cl–
Assim, 1 mol de AgC1 produz 1 mol de Ag+ e 1 mol de Cl–. Portanto:
[Ag+] = 1,045 x 10-5 mol/L
[Cl–] = 1,045 x 10-5 mol/L
e
Kps = [Ag+].[Cl–] = 1,045 x 10-5 x1,045 x 10-5 = 1,1 x 10-10 (mol/L)2
Exemplo 2. Calcule o produto de solubilidade do cromato de prata,
sabendo que 1 litro da solução saturada contém 3,57 x 10-2 g de material
dissolvido.
A massa molecular relativa do Ag2CrO4 é 331,7; portanto, a
solubilidade é:
A dissociação Ag2CrO4 2Ag+ + CrO42– é completa; 1 mol de
Ag2CrO4 produz dois mol de Ag+ e 1 mol de CrO42– , Assim, a concentração
de cada íon é a seguinte:
[Ag+] = 2S = 2,152 x 10-4
[CrO42– ] = S = 1,076 x 10-4
O produto de solubilidade
Kps = [Ag+]2 x [CrO42– ] = (2,152 x 10-4)2 x 1,076 x 10-4 =
Kps = 5,0 x 10-12 (mol/L)3
Previsão das Reações de precipitação
Quando se misturam duas soluções podem, ou não, formarem-se
precipitados. De forma a prever a formação, ou não, destes, recorre-se ao
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cálculo de um quociente, denominado Quociente de Reação (Q) ou Produto
Iônico da Reação (PI), que envolve o produto das concentrações dos íons
envolvidos elevados aos respectivos coeficientes estequiométricos, de forma
semelhante à que se utiliza para calcular o Produto de Solubilidade (note-se
que o Produto de Solubilidade corresponde ao Produto Iônico da Reação
quando a solução está saturada, ou seja, quando as concentrações dos íons
correspondem às suas concentrações de equilíbrio); compara-se o valor de
PI com o do Kps. Assim, podem ocorrer três casos distintos:
Se PI < Kps a solução não está saturada, logo não haverá precipitação.
Se PI = Kps a solução está saturada, não ocorre precipitação.
Se PI > Kps a solução está supersaturada e ocorre precipitação.
Quando da determinação do valor de PI é preciso ter em conta que, ao
juntar duas soluções, o volume disponível para cada eletrólito se altera.
Sendo assim é necessário calcular as novas concentrações dos íons
intervenientes. Normalmente, para este cálculo, considera-se que os
volumes são aditivos.
Outro fator a ser levado em conta é a temperatura a que as soluções
se encontram; se esta não for conhecida considera-se que ambas as
soluções estavam, inicialmente, à mesma temperatura, e que esta se
mantém após a mistura.
Exemplo 3: Haverá formação de precipitado se 200 mL de solução
10-2 mol/L de Pb(NO3)2 são misturados com 300 mL de solução 8 x 10-2 mol/L
de HCl? Dado Kps PbCl2 = 1,7 x 10-5 (mol/L)3
Efeito do íon comum na precipitação
“A solubilidade de um sal pouco solúvel é maior em água pura ou em
uma solução de um sal que contenha um íon comum?”
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Exemplo: Solubilidade do MnCO3 em soluções de Na2CO3 nas
seguintes concentrações:
SMnCO3 em Na2CO3 10-4 mol/L = 8,8 x 10-7 mol/L
SMnCO3 em Na2CO3 10-3 mol/L = 8,8 x 10-8 mol/L
SMnCO3 em Na2CO3 10-2 mol/L = 8,8 x 10-9 mol/L
Conclusão:
A solubilidade de um sal pouco solúvel é maior em água pura do que
em uma solução que contém um íon comum.
Quanto maior a concentração do sal que contém o íon comum, menor
será a solubilidade do sal.
Concentração de íons necessária para precipitação
Uma situação muito comum nos equilíbrios de solubilidade, consiste
em: conhecendo-se a concentração de um dado íon constituinte de um sal
pouco solúvel, saber a concentração do outro íon necessária para que ocorra
precipitação do sal.
Aplicação:
Exemplo 4: Qual a concentração mínima de I- que pode provocar a
precipitação do PbCI2 numa solução 0,050 M em Pb(NO3)2? O Kps do PbI2 é
8,7x10-9. Que concentração de íons Pb2+ há em solução quando a
concnetração do I- é 0,0015 M?
(VER EXERCÍCIO RESOLVIDO NO CADERNO)
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