15
45 Ciência em Movimento | Ano XIV | Nº 28 | 2011/2 Anatomia Humana, uma disciplina que causa evasão e exclusão: quando a hipótese principal não se confirma Human Anatomy course that causes an evasion and exclusion: when the main event is not confirm Bruno Luis Piazza¹ Attico Inácio Chassot² RESUMO Esta pesquisa é do tipo descritiva exploratória e tem por objetivo investigar possíveis causas de evasão e exclusão na disciplina de Anatomia Humana dos cursos de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado), no Centro Universitário Metodista do IPA. A pesquisa levanta questões e implicações com relação ao método de ensino do professor da disciplina e compara o método clássico de ensinar a Anatomia Humana com métodos mais atuais e inovadores. A disciplina de Anatomia Humana é de caráter básico e imprescindível para a for- mação de um futuro Educador Físico. Os dados foram coletados com dois questionários aplicados a uma turma de 32 alunos dos cursos de Educação Física matriculados na disciplina de Anatomia Humana em 2011. Pela não confirmação da hipótese principal foi necessário posteriormente coletar outros dados por meio de duas entre- vistas. Pode-se constatar que um método diferenciado de ensinar a Anatomia Humana evita que os alunos se sintam excluídos ou abandonem a disciplina.. PALAVRAS-CHAVE Anatomia Humana – Alunos – Educação Física – Evasão – Exclusão e métodos de ensino. Artigo original ¹Mestre em Reabilitação e Inclusão pelo Centro Universitário Metodista, do IPA. ²Professor Orientador, Pós-doutorado na Universidade Complutense de Madri, atualmente é professor e pesquisador do Cen- tro Universitário Metodista do IPA e da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI).

Anatomia Humana, Uma Disciplina Que

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Anatomia Humana, Historia

Citation preview

  • 45

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    Anatomia Humana, uma disciplina que causa evaso e excluso: quando a hiptese principal no se confirmaHuman Anatomy course that causes an evasion and exclusion: when the main event is not confirm

    Bruno Luis Piazza

    Attico Incio Chassot

    RESUMO

    Esta pesquisa do tipo descritiva exploratria e tem por objetivo investigar possveis causas de evaso e

    excluso na disciplina de Anatomia Humana dos cursos de Educao Fsica (Licenciatura e Bacharelado), no

    Centro Universitrio Metodista do IPA. A pesquisa levanta questes e implicaes com relao ao mtodo de

    ensino do professor da disciplina e compara o mtodo clssico de ensinar a Anatomia Humana com mtodos

    mais atuais e inovadores. A disciplina de Anatomia Humana de carter bsico e imprescindvel para a for-

    mao de um futuro Educador Fsico. Os dados foram coletados com dois questionrios aplicados a uma turma

    de 32 alunos dos cursos de Educao Fsica matriculados na disciplina de Anatomia Humana em 2011. Pela no

    confirmao da hiptese principal foi necessrio posteriormente coletar outros dados por meio de duas entre-

    vistas. Pode-se constatar que um mtodo diferenciado de ensinar a Anatomia Humana evita que os alunos se

    sintam excludos ou abandonem a disciplina..

    PALAVRAS-CHAVE

    Anatomia Humana Alunos Educao Fsica Evaso Excluso e mtodos de ensino.

    Artigo original

    Mestre em Reabilitao e Incluso pelo Centro Universitrio Metodista, do IPA.Professor Orientador, Ps-doutorado na Universidade Complutense de Madri, atualmente professor e pesquisador do Cen-tro Universitrio Metodista do IPA e da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses (URI).

  • Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    46

    ABSTRACT

    This type of research is exploratory and descriptive and study investigates possible causes of truancy and

    exclusion in the discipline of Human Anatomy in Physical Education courses at Methodist University IPA. The

    research raises questions and implications for the method of teaching the subject teacher and compares the

    classical method of teaching human anatomy with the most current and innovative methods. The discipline of

    Human Anatomy is the basic character and indispensable to the formation of future physical educators. Data

    were collected with questionnaires applied to a class of 32 students of Physical Education enrolled in the disci-

    pline of Anatomy in 2011. Later other data were collected through two interviews. You can see that a different

    method of teaching human anatomy prevents students feel excluded or abandon discipline.

    KEYWORDS

    Students Evasion Exclusion Human Anatomy Physical Education and teaching methods.

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • 47

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    Introduo

    A Anatomia Humana uma disciplina tradicional

    dos cursos da rea da sade, sendo considerada bsi-

    ca para a formao do profissional da sade, tendo

    sua histria confundida com a histria da Medicina.

    Um conceito de Anatomia foi proposto em 1981,

    pela American Association of Anatomist: anatomia

    a anlise da estrutura biolgica, sua correlao com

    a funo e com as modulaes de estrutura em re-

    sposta a fatores temporais, genticos e ambientais

    (Spense, 1991; Dngelo e Fattini, 2003). Num con-

    ceito mais amplo, a anatomia pode ser considerada

    a cincia que estuda macro e microscopicamente a

    constituio e o desenvolvimento dos seres organi-

    zados.

    O termo anatomia deriva do grego anatome (ana

    = atravs de; tome = corte) que significa atravs do

    corte. Dissecao deriva do latim dissecare (dis =

    separar; secare = cortar), a Anatomia Humana uma

    disciplina ou campo de estudo cientfico, enquanto

    dissecao uma tcnica usada para estudar as es-

    truturas do corpo (Moore, 2001).

    A histria da Anatomia Humana origina-se em

    tempos remotos, quando do aprimoramento de tc-

    nicas para caar animais e a escolha das partes para

    consumo e rejeito, podem ter contribudo para o incio

    do conhecimento anatmico e sua comparao com

    partes humanas. A mumificao egpcia pouco con-

    tribuiu para o avano do conhecimento anatmico,

    pois a tcnica estava associada a rituais religiosos,

    sem registros acerca dos aspectos corporais. Porm,

    por volta de 5.400 anos antes do presente foi escrito

    pelo mdico egpcio Menes, o primeiro manual de

    anatomia que se tem registro histrico. Hipcrates

    (460 a.C 377 a.C) considerado no Ocidente o pai da

    Medicina pelo seus princpios ticos e humansticos.

    Ele inspira o juramento hipocrtico, ainda hoje recita-

    do pelos formados em Medicina. Aristteles (384 a.C

    322 a.C) considerado, no Ocidente, o fundador da

    anatomia comparada, seus estudos basearam-se em

    dissecaes de diversos animais, comparando com

    as caractersticas humanas. Aristteles nomeou uma

    das primeiras artrias do corpo humano, a artria

    aorta, bem como o primeiro relato conhecido em

    embriologia (Van der Graff, 2003).

    Galeno (130 d.C -201 d.C) demostrou ,talvez, por

    primeiro que as artrias conduzem sangue e no

    ar, como alguns acreditavam. Fazendo vrias outras

    descobertas, mas elaborou equvocos, pois associ-

    ava a Anatomia Animal Anatomia Humana de forma

    errnea. Sua obra foi contestada por Andreas Vesal-

    ius em 1543 (Gray, 1997).

    O perodo do Renascimento contribuiu para o

    avano da Anatomia Humana. Leonardo da Vinci

    (1452 1519) traz conhecimentos anatmicos sig-

    nificativos, com desenhos precisos na viso de um

    gnio da Anatomia Humana. H obras que at hoje

    so vistas por milhes de pessoas, dentre elas:

    A ltima ceia, Mona Lisa e o Homem Vitruviano.

    Michelangelo (1495 1574) travou uma batalha sau-

    dvel com Leonardo da Vinci, pois ambos gostavam

    de se provocar nos conhecimentos sobre a Anatomia

    Humana. Michelangelo coloca de forma impar seus

    conhecimentos anatmicos em suas esculturas, fi-

    cou conhecido por colocar enigmas em suas obras,

    at hoje nunca desvendados como o teto da Capela

    Sistina no Vaticano. Escreveu e desenhou vrios en-

    saios belssimos sobre a Anatomia Humana e chegou

    a pensar em publicar um tratado anatmico voltado

    para jovens escultores e pintores, mas no o fez. An-

    dreas Versalius (1514 1564) foi um mdico belga,

    considerado o pai da Medicina Moderna refutou al-

    guns conhecimentos de Galeno e somando os con-

    hecimentos incontestveis de Leonardo da Vinci e

    Michelangelo, publicou em 1543 sua obra prima De

    humani corporis fabrica o primeiro atlas de Anato-

    mia Humana que integra texto e ilustraes (Barreto

    et al, 2004).

    Os anatomistas dos sculos 17 e 18 faziam dis-

    secaes abertas a um pblico da elite local. Essas

    eram marcadas sempre no tempo frio, pois no se

    conheciam tcnicas de conservao adequadas dos

    corpos. No sculo 19 descobre-se o formol (soluo

    aquosa de formaldedo ou aldedo frmico), mistura

    antissptica amplamente usada at os dias atuais,

    pelo baixo custo e a rpida penetrao tecidual,

    porm voltil produz forte odor e irrita as mucosas

    nasais. Caracterstico em quase todos os laboratrios

    de Anatomia Humana. Os sculos 20 e 21 no troux-

    eram descobertas significativas no campo da Anato-

    mia Humana, mas sim avanos quase inenarrveis no

    aprimoramento das tcnicas de conservao de cad-

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    48

    veres, dentre elas esto a glicerinizao (tcnica que

    utiliza glicerina lquida na conservao de cadveres) e

    a plastinao (tcnica que utiliza polmeros inodoros na

    conservao de cadveres) do mdico alemo Gunther

    Von Hagens, seus cadveres utilizando esta tcnica es-

    to em exposies em grade parte do planeta.

    Outros avanos importantes ocorreram nos scu-

    los 20 e 21 com advento de tecnologia que usa o com-

    putador, os slides, a internet, os sites e o cd-rom em

    terceira dimenso tem tornado mais fcil a visualizao

    e o entendimento de contedos complexos em sala de

    aula. Atualmente, o acadmico da rea da sade que

    estuda a Anatomia Humana tende a formar um perfil

    que envolva vivncias, experincias profissionais, m-

    todo de ensino e o domnio das tecnologias modernas,

    nas diferentes etapas da sua formao. Meu conheci-

    mento na rea da Anatomia Humana foi construdo ao

    iniciar minha graduao em Educao Fsica, cursando

    a disciplina de Anatomia Humana e outras disciplinas

    do curso como, por exemplo, Biomecnica, Fisiologia

    Humana, Fisiologia do Exerccio, Cinesiologia e Cine-

    antropometria. Nesta mesma poca trabalhava como

    monitor no laboratrio de Anatomia Humana. Em

    dois anos de experincia como pesquisador observei

    que no h um curso ou uma preparao prvia para

    professores que iro ministras as aulas de Anatomia

    Humana. Muitas vezes os professores optam por

    ensinar a disciplina de Anatomia Humana utilizando

    o mesmo mtodo de quando aprenderam a discipli-

    na na sua graduao. Outros professores, com uma

    viso melhor da situao, observam o curso da rea

    da sade a ser ensinado e escolhem uma metodologia

    adequada para aquele determinado curso. Ficou claro

    para mim, naquele momento, que estas implicaes

    ou questes causavam uma evaso ou excluso dos

    alunos dos cursos da rea da sade, dependendo da

    metodologia aplicada pelo professor no ensino da dis-

    ciplina de Anatomia Humana. Impulsionado em busca

    de repostas, comecei a pesquisar os mtodos de en-

    sino da Anatomia Humana na minha especializao

    em Cinesiologia, dando continuidade nesta pesquisa

    para o mestrado em Reabilitao e Incluso do Centro

    Universitrio Metodista do IPA. Tendo como hiptese

    principal descobrir as causa da evaso e excluso nes-

    ta disciplina. Justifica-se assim, a importncia desta

    pesquisa que procura identificar situaes que possam

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

    comprometer o ensino desta disciplina, e qual o real

    significado da mesma no aproveitamento dos alunos.

    Objetivo geral

    Investigar possveis causas de evaso e excluso

    de alunos na disciplina de Anatomia Humana dos cur-

    sos de Educao Fsica (Licenciatura e Bacharelado),

    no Centro Universitrio Metodista do IPA.

    Objetivo especfico

    Identificar problemas enfrentados pelos alunos

    dos cursos de Educao Fsica quando estudam a

    disciplina de Anatomia Humana. Levantar questes

    e implicaes com relao ao mtodo de ensino do

    professor da disciplina e comparar o mtodo clssico

    de ensinar a Anatomia Humana com mtodos mais

    atuais e inovadores. Para atingir estes objetivos, geral

    e especficos, h algumas perguntas que podem ser

    facilitadoras aos propsitos desta investigao. Por

    que a disciplina de Anatomia Humana causa certa an-

    siedade e medo nos alunos que a devem cursar? O

    mtodo de ensino da disciplina causa excluso de alu-

    nos? Esta excluso mais sensvel a alunos com di-

    ficuldades? O levantamento da realidade do ensino da

    Anatomia Humana pode ser um facilitador de propos-

    tas a professores que possam vir a modificar possveis

    problemas no ensino? O professor pode ser decisivo

    na atratividade da disciplina?

    Referencial terico

    Definies Sobre Anatomia Humana

    Na concepo de Weineck (1990), h muitos anos

    os conhecimentos de Anatomia Humana se constit-

    uem fundamentais formao do professor de Edu-

    cao Fsica. Eles so considerados necessrios, tam-

    bm, formao do treinador desportivo. Nas escolas

    de formao destes profissionais, o seu ensino faz

    parte da formao terica e prtica nas aulas de Edu-

    cao Fsica, contribuindo para a melhor compreenso

    das sequncias motoras executadas durante a prtica

    dos esportes.

    Backhouse e Hutchings (1989) consideram que o

    aprendizado da estrutura anatmica tem pouco signifi-

    cado sem a viso essencial do que ela , e de como

    funciona no individuo vivo normal. Para ser algo mais

  • 49

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

    do que um simples exerccio morfolgico, a anatomia

    precisa viver, mover, crescer em tamanho e idade, ex-

    ibir todas as variaes evidentes na comunidade e as

    modificaes devidas s atividades fsicas, doenas e

    etc. O Clnico, o Cirurgio, o Terapeuta, o Enfermeiro,

    o Educador Fsico dentre outros so profissionais

    que precisam ver atravs da pele do seu semelhante,

    visualizando o que ela acoberta e as atividades que

    esconde. Isto tem uma exigncia bsica: conhecer a

    Anatomia Humana.

    Segundo Didio (1974), a Anatomia Humana a

    cincia que estuda as estruturas do corpo humano

    sendo considerada como fundamental para as cincias

    mdicas e para tal utiliza-se como material de ensino

    e estudo o cadver humano que, contribui e tem con-

    tribudo atravs dos sculos, com os ensinamentos e

    aprendizagem das maravilhas do corpo humano.

    Castro (1985), diz que a Anatomia a parte da

    Biologia que estuda forma e a estrutura dos seres vi-

    vos. Como para a Medicina, Odontologia, Farmcia,

    Educao Fsica etc. Interessa apenas a Anatomia

    Humana, existindo a Anatomia Animal e Anatomia Veg-

    etal. A Anatomia Humana estuda a forma e a estrutura

    do corpo humano, enquanto a Fisiologia Humana trata

    do funcionamento de suas diferentes partes. Em cer-

    tos casos, como no curso de Educao Fsica, a movi-

    mentao do aparelho locomotor (ossos, articulaes

    e msculos) to importante, que existe a disciplina

    de Cinesiologia. Na disciplina de Anatomia Humana, os

    diferentes nomes dados s partes do corpo humano

    foram surgindo com a observao direta dos nossos

    semelhantes, sendo alguns relacionados com o obje-

    tivo, outros com a funo etc.

    Moore (2001) relata que a Anatomia uma cin-

    cia descritiva e necessariamente requer nomes para

    as estruturas e os processos do corpo. Estudantes

    que comeam seus estudos em Anatomia frequen-

    temente se sentem subjugados pelos novos termos

    anatmicos. Felizmente, existem livros para ajud-los

    a aprender esses termos. Muitos termos indicam a

    forma, o tamanho, a localizao, a funo ou a semel-

    hana de uma estrutura com outra.

    Mtodos de Ensino da Anatomia Humana

    Nas colocaes de Carit et al (2007), atualmente

    vrias instituies de ensino superior tm experi-

    mentado a criao de simulaes e portais como fer-

    ramentas de ensino-aprendizagem que valorizam as

    individualidades, buscando estimular ideias, opinies

    e atitudes onde o aluno exercita sua capacidade de

    aprender e de aprender a pensar com o uso destas

    capacidades, j retidas e amadurecidas, em outros

    contextos. O modelo educacional adotado em um

    passado no muito distante pelas universidades,

    hoje vem se mostrando ineficaz para atender um

    pblico que tem tempo limitado para o estudo pres-

    encial, porm com disponibilidade para buscar a in-

    formao atravs de tecnologias computacionais.

    Nesse novo cenrio educativo as transformaes

    tecnolgicas tm propiciado o conhecimento atual e

    futuro, de forma rpida e acessvel, a qualquer hora,

    tempo e velocidade, especialmente, quando se usa a

    Internet como ferramenta. Assim, a rede mundial de

    computadores hoje, talvez, o recurso tecnolgico

    mais utilizado para o ensino presencial e tambm

    distncia no mbito globalizado, apresentando-se

    como um recurso adicional para professores, alunos

    e profissionais de sade, tornando a educao mais

    interativa e vivel, com as informaes disponveis a

    todo o momento para os interessados, com vrios

    recursos multimdias (imagens, sons e vdeos).

    Apesar das inovaes antes citadas serem de

    certa forma vantajosas, autores como Yoshida et al

    (2003), referem desvantagens e explicam que tradi-

    cionalmente a Anatomia Humana, disciplina bsica

    da rea de cincias da sade, estudada por profis-

    sionais e estudantes da rea de trs maneiras dis-

    tintas e individuais: textos, atlas e cadveres. Nos

    textos, as estruturas anatmicas e suas relaes so

    descritas por meio de referncias, sendo difcil para

    o leitor, visualizar as complexas relaes anatmicas.

    Os atlas, por sua vez, apresentam o contedo por

    meio de desenhos esquemticos ou fotografias de

    peas anatmicas reais. Neste caso, o usurio fica

    limitado s ilustraes apresentadas pelo autor, que

    geralmente representam a sntese dos principais de-

    talhes anatmicos enfocados pelo desenhista, no

    permitindo o acesso representao de todos os n-

    gulos possveis e desejveis ao estudo da Anatomia

    Humana. J o cadver o objeto real do estudo da

    Anatomia Humana.

    O uso de cadveres, importante para as aulas

  • Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    50

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

    prticas apresenta problemas no que se refere ad-

    equada conservao e local de acondicionamento dos

    mesmos. Alm disso, estes so de difcil obteno.

    Normalmente, a quantidade de cadveres disponveis

    numericamente insuficiente se for considerada a

    real necessidade do corpo discente de cursos que tm

    Anatomia Humana em seus currculos. Alm dos prob-

    lemas j citados, ainda existe a dificuldade de acesso

    s peas cadavricas, pois para tal, necessrio o

    acompanhamento tcnico de responsveis pela sua

    guarda e conservao, ficando o estudante restrito

    aos horrios de disponibilidade dos tcnicos. Pode ac-

    ontecer de no existir a pea dissecada da maneira

    desejada, assim como a mesma pode estar degra-

    dada devido constante manipulao. Vale ressaltar

    que o acesso a estas peas se limita aos acadmicos

    quando das aulas prticas da disciplina de Anatomia

    Humana. Fora do ambiente de laboratrio, para aque-

    les que desejam revisar algum detalhe, por exemplo,

    o acesso a estes recursos praticamente impossvel,

    a no ser que o acadmico tenha algum projeto vincu-

    lado a uma instituio de ensino que possa disponibi-

    lizar cadveres.

    Atualmente a lei 8.501/92 permite que as escolas

    de Medicina utilizem em estudos e pesquisas cient-

    ficas os cadveres no reclamados no prazo de 30

    dias. Para ampliar o nmero de faculdades e alunos

    que podem ter acesso aos cadveres, a Comisso de

    Assuntos Sociais do Senado (CAS) aprovou um pro-

    jeto que estende esse direito a outros cursos como

    Educao Fsica, Enfermagem, Farmcia, Fisioterapia,

    Fonoaudiologia, Nutrio e Odontologia. J aprovado

    na Cmara, o PLS 6408 agora ser votado no Plenrio.

    O autor, ex-deputado Alexandre Silveira, argumentou

    em seu projeto que as faculdades que possuem cur-

    sos na rea de sade, incluindo o de Medicina, podem

    ter acesso a cadveres, enquanto aquelas que no

    incluem o curso de Medicina no tm esse acesso

    devido restrio legal. Para retirar a restrio, o pro-

    jeto altera a Lei 8.501/92 da forma como est hoje, o

    artigo determina que o cadver no reclamado junto

    s autoridades pblicas, no prazo de 30 dias, poder

    ser destinado s escolas de Medicina, para fins de en-

    sino e de pesquisa de carter cientfico.

    Perreira et al (2007) verificaram o ensino da Anato-

    mia Humana no curso de Biologia da Universidade

    Pompeu Fabra em Barcelona, onde os alunos demon-

    straram um aumento na satisfao do aprendizado

    quando o professor utiliza estratgias inovadoras de

    ensino, como a utilizao da internet, slides em alta

    definio e outros materiais de multimdia, mas sem

    deixar de lado o quadro negro, os livros e as aulas

    prticas em cadveres. Desta forma ocorreu um au-

    mento da aprovao dos alunos na disciplina.

    Acerca dos mtodos de ensino, Insull, Kejriwa e

    Blyth (2006), mostram em uma pesquisa feita na fac-

    uldade de Medicina de Auckland, na Nova Zelndia,

    que os alunos elegem estratgias diferentes para a

    memorizao do ensino da Anatomia Humana. Seten-

    ta por cento dos alunos utilizam a reviso nas cirurgias

    de disseco como auxilio na memorizao do ensino,

    outros 30% utilizam textos, livros e atlas de anatomia

    no aprendizado.

    Na viso de Terrell (2006), o ensino da Anatomia

    Humana est se tornando cada vez mais desafiador

    devido progressiva evoluo da misso do ensino

    universitrio, a populao de estudantes, mdicos e

    de currculos de graduao, conjugada numa escassez

    empiricamente testada com base em provas prticas e

    pedaggicas no ensino mdico anatmico e de literat-

    ura, trouxe quase uma duplicao na taxa de repetn-

    cia de alunos na disciplina ao longo de um perodo de

    trs anos. O estudo sugere que, intencionalmente,

    com base em diferentes teorias de aprendizagem,

    precisam-se escolher mtodos que podero vir a ser

    mais bem sucedidos.

    Apoiado nessa necessidade de mudanas futuras

    para a melhora do ensino anatmico, Mclachlan e

    Patten (2006) nos dizem que a Anatomia Humana

    amplamente apreciada, estando entre os mais impor-

    tantes componentes da educao mdica. O estudo

    atravs de cadveres dissecados visto como a mel-

    hor alternativa dos cursos de Medicina, no entanto,

    podemos estar entrando numa poca de mudanas

    paradigmticas, auxiliado por novos processos de

    aprendizagens e novas tecnologias. Provavelmente,

    num futuro prximo os mtodos de ensino utilizaro

    imagens e tcnicas de simulao para ajudar na mel-

    hora da compreenso anatmica.

    Outra colocao sobre mtodos de ensino vem dos

    autores Krych et al (2005), explicando que existem trs

  • 51

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

    estratgias comuns utilizadas para ensinar a Anatomia

    Humana: I) palestras, II) descobertas ou inquritos a

    base de aprendizagem, e III) aes cooperativas de

    ensino. Uma das formas de aprendizagem coopera-

    tiva o chamado ensino recproco entre pares, ilustra

    circunstncias em que os alunos assumem papis de

    aluno e professor. Ao assumir a responsabilidade de

    ensinar aos seus pares, os estudantes no s melho-

    ram a sua compreenso, mas tambm desenvolvem

    habilidades de comunicao, trabalho em equipe,

    liderana, confiana e respeito, que so vitais para o

    desenvolvimento do profissionalismo no incio de suas

    careiras. Mostrando uma melhora de 97% na reteno

    do ensino no mtodo recproco entre pares, e 92% na

    melhora da capacidade de comunicao, tanto na aula

    terica quanto na aula prtica e na argumentao de

    assuntos para com os outros alunos.

    Seguindo nesta mesma linha de raciocnio, Brueck-

    ner e Macpherson (2004), da Universidade de Lexing-

    ton, Estados Unidos, observaram em um estudo, uma

    melhora na aprendizagem da Anatomia Humana em

    grupos de alunos que optaram por uma estratgia de

    estudar em pares, fazendo rodzio em cadveres, em

    relao a outros alunos da mesma classe que no uti-

    lizaram o mtodo. Concluem que ao final do estudo

    88% dos alunos se mostraram satisfeitos com o m-

    todo de estudo com pares e rodzio em cadveres,

    sendo que 44% dos alunos tiveram uma melhora em

    suas notas.

    Por outro lado, Pandey e Zimitat (2007), ressaltam

    que aprender Anatomia Humana requer algumas es-

    tratgias conforme o grupo de alunos de um deter-

    minado curso e suas necessidades, destacando que

    para alunos da universidade de New South Wales,

    Sydney, Austrlia, do primeiro ano do curso de Me-

    dicina, a melhor estratgia foi o uso da memorizao,

    compreenso e visualizao.

    Para uma melhor compreenso sobre os mtodos

    de ensino da Anatomia Humana, vejamos os concei-

    tos de Souza (1982) sobre os trs mtodos em que

    so os mais utilizados nas universidades, sendo eles:

    I) A anatomia sistmica, sistemtica ou descri-

    tiva: estudam os sistemas do corpo humano, cada

    sistema um conjunto de rgos que contribuem

    para uma funo especfica. Os sistemas do cor-

    po so: sistema esqueltico, que compreende os

    ossos e cartilagens, as unies entre os ossos e

    as articulaes. Sistema muscular, conjunto dos

    msculos esquelticos que movimentam os os-

    sos e articulaes. Sistema nervoso, composto

    pelo encfalo, medula espinhal, nervos, gnglios

    e os rgos dos sentidos. Sistema circulatrio

    compreende o sistema cardiovascular, corao

    e vasos sanguneos. Sistema linftico, rgos

    produtores e transportadores da linfa e fluidos

    do corpo. Sistema respiratrio, constitudo pelas

    vias areas e pelos pulmes. Sistema digestivo,

    composto pelo tubo digestivo e glndulas anex-

    as. Sistema urinrio, constitudo pelos rins e vias

    urinrias. Sistema genital, representado pelos

    rgos genitais masculinos e femininos. Sistema

    endcrino que compreende as glndulas sem

    ducto, rgos produtores dos hormnios. Sis-

    tema tegumentar, representado pela pele e tela

    subcutnea ou hipoderme.

    II) Anatomia topogrfica ou regional: estuda as

    particularidades anatmicas e as relaes entre os

    diferentes rgos em cada regio do corpo.

    III) Anatomia radiolgica: o estudo anatmico

    dos vrios rgos do corpo atravs dos raios x.

    Esses trs mtodos de ensino da disciplina de

    Anatomia Humana variam conforme o estilo do pro-

    fessor e a necessidade das diferentes reas da sade

    que seus alunos estejam cursando. Segundo Mitchell,

    Mccrorie e Sedgwilk (2004), do hospital-escola em

    Medicina de Londres no Reino Unido, um estudo feito

    para avaliar se era possvel utilizar um nico mtodo de

    ensino da Anatomia Humana, para uma equipe multi-

    profissional de alunos, onde participavam alunos dos

    cursos de: Biomedicina, Medicina, Enfermagem e Fi-

    sioterapia. Este estudo concluiu que possvel utilizar

    este mtodo, porm ocorreu em alguns momentos da

    pesquisa uma variao na satisfao do aprendizado,

    pela necessidade especfica que cada curso pre-

    cisa contemplar.

    Retomando as consideraes sobre o mtodo

    sistmico (Item I acima), Heyling (2002) coloca que

    o ensino da Anatomia Humana no Reino Unido e na

    Irlanda, apresenta diferenas no mtodo de ensi-

  • Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    52

    no, sendo que a grande maioria das universidades

    utiliza o mtodo da anatomia sistmica ou por sis-

    temas, variando a ordem dos sistemas de acordo

    com cada pas, trazendo para os alunos, aulas prti-

    cas de disseco, demonstradas pelo professor e

    horas de prtica de literatura sobre o assunto.

    No que diz respeito ao ensino prtico, Mclach-

    lan et al (2004), da Universidade de Plymouth no

    Reino Unido, dizem que seria possvel ensinar a

    Anatomia Humana sem a utilizao de cadveres.

    Essa alternativa h benefcios como: um bom uso

    dos princpios educativos, baixos custos, reduo

    total de riscos biolgicos e sendo muito mais

    prtico. Assim, pode-se ensinar Anatomia Humana

    a estudantes de medicina, utilizando o mtodo da

    anatomia clnica. Utilizando materiais como soft-

    ware multimdia 3D, slides, figuras e modelos

    anatmicos. Mas os autores da pesquisa salientam

    que questes relacionadas com a autopsia sobre

    formaes patolgicas, o treinamento e ps-gradu-

    ao em anatomia cirrgica no so abordados no

    presente documento. Relatam que para um ensino

    mais bsico da Anatomia Humana seria possvel

    alcanar um bom aprendizado sem a utilizao de

    aulas prticas em cadveres humanos.

    Porm, sob este aspecto, Winkelmann (2007),

    da Universidade de Berlim na Alemanha, expem

    que est ocorrendo uma diminuio nas aulas

    prticas de dissecao anatmica, em virtude da

    criao de novas escolas de Medicina sem dis-

    seco. H artigos escritos em defesa deste m-

    todo: sem a utilizao de cadveres. A discusso

    sobre a dissecao e a falta de dados objetivos

    tem sido repetidamente observada. O autor se

    posiciona contra este mtodo de ensino. A disse-

    cao em cadveres de humanos feita por profis-

    sionais em anatomia, onde retirada somente a

    pele e a gordura, utilizando os cadveres para o

    ensino no mtodo sistmico. Tendo o objetivo de

    apoiar a aprendizagem na Anatomia Humana por

    experincia visual e ttil. Este mtodo tem en-

    foque na aprendizagem do domnio cognitivo. Para

    o autor este mtodo ainda ensina os alunos a lidar

    com a morte e aumenta suas habilidades sociais.

    Conclui que o aprendizado na Anatomia Humana

    um processo complexo e demorado, sendo impre-

    scindvel o estudo em cadveres.

    Assim como Biasutto et al (2006) que realizar-

    am uma pesquisa na Universidade de Crdoba, Ar-

    gentina, onde foi dividido uma turma de Medicina

    em trs grupos, e utilizaram trs mtodos difer-

    entes de ensinar a disciplina de Anatomia Humana.

    O primeiro grupo utilizou o mtodo do ensino

    clssico de anatomia, somente cadveres tendo

    material suficiente para estudar todas as regies

    e estruturas. O segundo grupo utilizou o mtodo

    tecnolgico, somente computadores, slides, CDs

    e informaes atravs da internet, sem aulas prti-

    cas em cadveres. O terceiro grupo utilizou ambos

    os mtodos dos dois grupos anteriores. Os resulta-

    dos dos exames com os trs grupos, concluiu que

    o primeiro grupo do mtodo clssico obteve notas

    melhores que o grupo do mtodo tecnolgico. Mas

    as melhores notas foram alcanadas pelo terceiro

    grupo que utilizou ambos o mtodo clssico junta-

    mente com o tecnolgico.

    Ainda no que se refere aos estudos que se est

    detalhando, Cabral e Barbosa (2005) defendem

    que os alunos do curso de Odontologia, da Univer-

    sidade Federal de Pernambuco, Brasil, utilizaram a

    sala de informtica para facilitar o ensino da Anato-

    mia Humana, trabalhando com o software Netters

    Anatomy Atlas. Concluem que esse mtodo fa-

    cilitou o aprendizado dos alunos e ajudou no en-

    tendimento da disciplina, porm este software no

    pode substituir as aulas prticas em cadveres, o

    software vem de maneira a complementar os estu-

    dos da Anatomia Humana.

    significativo destacar que as consideraes

    deste projeto de dissertao esto todas particu-

    larmente focadas para as exigncias dos alunos

    dos cursos de Educao Fsica e a disciplina ob-

    jeto de exame especfica do curso de Educao

    Fsica. Mesmo que se aceite que possa haver uma

    disciplina de Anatomia Humana bsica para todos

    os alunos da rea da sade evidente que outros

    futuros profissionais podero ter disciplinas poste-

    riores mais especificas e mais aprofundadas.

    Aprendizagem e Educao

    Segundo relatos de Fonseca (2010) aulas com

    alunos dos cursos de Educao Fsica, discutem-se

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • 53

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    questes epistemolgicas, metodolgicas para o en-

    sino-aprendizagem, sempre surge o questionamento

    sobre ensinar numa abordagem tecnicista, tradicional

    e construtiva ou marcada por aes inovadoras. Ess-

    es questionamentos no trazem uma soluo pronta,

    pois, no se trata de buscar a soluo. Tentativas

    de resposta a estas indagaes, dvidas e incerte-

    zas e outras (que possam ocorrer na realizao desta

    investigao) encontra-se no caminho que percor-

    remos, nas decises que tomamos, nas aes que

    empreendemos ao longo e no trato de cada conflito e

    tenso, com uma nica certeza: no h uma soluo

    dada, no h uma receita para cada situao.

    Davis (1996) citou que a taxa de reteno ao ouvir

    a informao de cerca de 20%, aps ver uma in-

    formao de 30%, e ao ver e ouvir a informao

    de 50%. Entretanto se o indivduo ver, ouvir e to-

    car a taxa de reteno chega a 70%. No encfalo,

    70% de todos os receptores, alm de 40% do crtex

    so destinados viso, justificando a interao do

    aprendizado terico/prtico no processo de ensino

    obtidas pela estimulao multissensorial.

    A educao a colaborao entre pessoas (pro-

    fessores, pais e alunos) e tambm com o meio ambi-

    ente que transforma a vida em processo permanente

    de aprendizagem. O papel do professor ajudar os

    alunos na construo da sua identidade, do seu cam-

    inho pessoal e profissional, transformando-os em

    cidados realizados e produtivos. Existem diversas

    estratgias didticas, desde a forma tradicional nas

    escolas, passando pelo quadro-negro e giz, at as

    mais modernas, utilizando computadores de ltima

    gerao (Moran, 1998).

    Infelizmente, poucas universidades atentam para

    a real necessidade de enriquecer, de cultivar disci-

    plinas como Histria da Anatomia Humana e outras

    cujo acervo histrico pode ajudar os alunos e os pro-

    fessores, na sua parte formativa para uma melhor

    valorizao do ser humano, no contexto sociocultural

    (Chagas, 2001).

    Evaso e Excluso no Ensino Superior Bra-

    sileiro

    A Comisso Especial do Ministrio da Educao

    define evaso como a sada definitiva do aluno do

    seu curso de origem sem conclu-lo. A evaso pode

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

    ocorrer por motivos variados, principalmente dificul-

    dade financeira, falta de vocao, descontentamento

    acerca do mtodo didtico-pedaggico da instituio,

    motivos pessoais, como doena grave ou morte,

    transferncia de domiclio. A dificuldade em conciliar

    jornada de trabalho e horrio escolar fator de suma

    importncia na deciso de abandonar a faculdade.

    Quando as obrigaes profissionais entram em con-

    flito com os compromissos dos estudos, esses na

    maioria das vezes, que so adiados. A excluso

    para a mesma comisso em ltima anlise, desven-

    dar a existncia de desigualdades sociais e, portanto

    de oportunidades. As desigualdades de oportunidade

    de acesso ao ensino superior, por exemplo, devem-

    se principalmente s desigualdades sociais. Se as-

    sim for, no exagerado dizer que a Escola no age

    natural e fortemente em prol dos menos favorecidos

    socialmente. Com efeito, os especialistas em edu-

    cao j demonstraram de modo convincente que

    as desigualdades sociais reproduzem e ampliam as

    desigualdades escolares, que, por sua vez, geram

    desigualdades de oportunidade.

    Metodologia

    Local e sujeitos da pesquisa

    Foi escolhida uma turma com 32 alunos dos cur-

    sos de Educao Fsica (Licenciatura e Bacharelado)

    do Centro Universitrio Metodista do IPA, alunos

    estes matriculados na disciplina de Anatomia Humana

    em 2011. Os mesmos foram convidados a responder

    a dois questionrios, um no incio da disciplina e outro

    ao termino da mesma. Foi utilizando o critrio de satu-

    rao, conforme Fontanella (2008), a amostragem por

    saturao frequentemente empregada em investi-

    gaes qualitativas na rea da Sade. usada para

    estabelecer ou fechar o tamanho final de uma amos-

    tra. Pela no confirmao da hiptese principal, foi

    necessrio adicionar dados com duas entrevistas, uma

    primeira com o professor P.R.R., atualmente professor

    da disciplina de Anatomia Humana para os cursos de

    Educao Fsica de Centro Universitrio Metodista do

    IPA. A segunda entrevista foi com a Educadora Fsica

    M.H., ex-aluna do professor P.R.R. na disciplina de

    Anatomia Humana no curso de Educao Fsica do

    Centro Universitrio Metodista do IPA.

  • Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    54

    Procedimentos ticos

    Pesquisas quando envolvem seres humanos so

    normalizadas pela Resoluo 196/96 do Conselho

    Nacional de Sade Ministrio da Sade. Portanto,

    nesta pesquisa os participantes foram esclarecidos

    quanto aos objetivos, os procedimentos para cole-

    tar os dados e da finalidade dos resultados e ainda

    que estes podero ser elementos para a elaborao

    de artigos para publicao. Esta pesquisa foi apro-

    vada pelo Comit de tica do Centro Universitrio

    Metodista do IPA, no processo N 299/2011(anexo

    D). Antes de ser iniciada a coleta de dados com os

    participantes, foram oferecidos detalhes do Termo

    de Consentimento de Livre e Esclarecido (anexo A)

    ensejando todas as informaes para que os mes-

    mos pudessem assinar (ou no), podendo tambm

    abandon-la se assim desejassem.

    Procedimentos Tcnicos

    Os dados foram coletados por meio de dois ques-

    tionrios (apndices A e B), um questionrio aplicado

    no incio e outro no final da disciplina de Anatomia

    Humana dos cursos de Educao Fsica (Bacharelado

    e Licenciatura) do Centro Universitrio Metodista do

    IPA em 2011. Contendo perguntas pr-estabelecidas

    sobre assuntos relacionados disciplina de Anatomia

    Humana. Pela no confirmao da hiptese principal,

    foi necessrio adicionar dados posteriormente coleta-

    dos atravs de duas entrevistas com perguntas pr-

    estabelecidas (apndices C e D). A primeira entrevis-

    ta foi com o professor P.R.R., atualmente professor

    da disciplina de Anatomia Humana para os cursos de

    Educao Fsica de Centro Universitrio Metodista

    do IPA. A segunda entrevista foi com a Educadora

    Fsica M.H., ex-aluna do professor P.R.R. na disciplina

    de Anatomia Humana.

    Anlise dos Resultados

    A turma analisada nesta pesquisa era composta

    por 32 alunos, com idade entre 18 a 36 anos. Sendo

    21 alunos de sexo masculino e 11 do sexo feminino.

    Deste total, 30 alunos eram do curso de Bacharel em

    Educao Fsica e 2 alunos eram do curso de licen-

    ciatura em Educao Fsica.

    Conforme dados oriundos dos questionri-

    os inicial e final participantes da turma em questo,

    disseram que antes de cursar a disciplina de Anato-

    mia Humana ouviram relatos que esta tida como

    difcil pelos colegas, tendo muito contedo a ser

    decorado.

    A Educadora Fsica M.H., ex-aluna do profes-

    sor P.R.R. na disciplina de Anatomia Humana, abordou

    em sua entrevista que a disciplina foi uma das mais

    difceis do curso de Educao Fsica, foi necessrio

    estudar bastante, porque a disciplina exige muito do

    aluno tendo que memorizar muito contedo.

    Moore (2001) diz que estudantes que

    comeam seus estudos em anatomia frequente-

    mente se sentem subjugados pelos novos termos

    anatmicos. Pode-se acrescentar que por estes ser-

    em referidos por nomes cientficos, usualmente de

    etimologia grega ou latina, no pertencem ao lingua-

    jar cotidiano dos estudantes.

    A maioria dos alunos da turma analisada

    gostou da disciplina de Anatomia Humana, desta-

    cando esta entre as disciplinas mais agradveis do

    curso, ficando atrs apenas da disciplina de Ginstica

    Laboral. A turma tambm enfatizou que a disciplina

    de Anatomia Humana deveria ter um maior destaque

    no curso.

    Esta afirmao est em consonncia com

    estudo de Piazza (2011) que mostra que professores

    da regio metropolitana de Porto Alegre, que minis-

    tram a disciplina de Anatomia Humana, admitiram

    que duas horas de aula semanal e apenas um se-

    mestre para a disciplina pouco tempo, tendo os

    professores que abandonar ou desprivilegiar alguns

    contedos.

    Nas colocaes de Carit (2007) o modelo

    educacional adotado em um passado no muito dis-

    tante pelas universidades, hoje vem se mostrando

    ineficaz para atender um pblico que tem tempo limi-

    tado para o estudo presencial, porm com disponibi-

    lidade para buscar a informao atravs de tecnologia

    computacional.

    Quatro alunos da turma relataram que tiver-

    am desconforto com os cadveres nas aulas prticas

    e sentiram dificuldade em lidar com esta situao, a

    qual foi se tornando menos incmoda com o passar

    das aulas.

    M.H. disse em entrevista no ter passado

    por nenhuma dificuldade quando cursou a disciplina

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • 55

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    de Anatomia Humana, disse ainda que a disciplina foi

    uma das melhores.

    Winkelmann (2007) expem que a dis-

    secao em cadveres feita por profissionais em

    anatomia, utilizando os cadveres no ensino do m-

    todo sistmico. Tendo o objetivo de apoiar a aprendi-

    zagem na Anatomia Humana por experincia visual e

    ttil. Este mtodo tem enfoque na aprendizagem do

    domnio cognitivo, ainda ensina os alunos a lidar com

    a morte e aumenta suas habilidades sociais.

    P.R.R, professor da disciplina de Anatomia

    Humana para os cursos de Educao Fsica do Cen-

    tro Universitrio Metodista do IPA, relatou em sua

    entrevista. Ao se referir dificuldade quanto ao uso

    de cadveres (tanto pela situao da dificuldade de

    obt-los, quanto pelo desconforto de estudantes)

    que existem modelos anatmicos sintticos muito

    bons, mas muito caros, assim como os cadveres,

    que so de obteno cada vez mais difcil. P.R.R. en-

    fatizou que a vivncia que o aluno tem podendo ver

    e sentir os tecidos humanos imensurvel, pois a

    experincia em algo real muito melhor do que algo

    sinttico. Mesmo com o desconforto dos odores dos

    conservantes qumicos. Segundo P.R.R, novas tecno-

    logias ajudam muito o professor, mas o cadver o

    grande astro, pois, parece no haver ainda material

    sinttico que substitua todas as vantagens que pos-

    sui o cadver.

    Na mesma direo desta ideia, Mclachlan e Pat-

    ten (2006) dizem que o estudo com cadveres dis-

    secados visto como a melhor alternativa dos cursos

    de Medicina, no entanto, podemos estar entrando

    numa poca de mudanas paradigmticas, auxili-

    ado por novos processos de aprendizagens e novas

    tecnologias. Provavelmente, num futuro prximo os

    mtodos de ensino utilizaro imagens e tcnicas de

    simulao para ajudar na melhora da compreenso

    anatmica.

    Davis (1996) cita que a taxa de reteno ao ouvir

    a informao de cerca de 20%, aps ver uma in-

    formao de 30%, e ao ver e ouvir a informao

    de 50%. Entretanto se o indivduo ver, ouvir e to-

    car a taxa de reteno chega a 70%. No encfalo,

    70% de todos os receptores, alm de 40% do crtex

    so destinados viso, justificando a interao do

    aprendizado terico/prtico no processo de ensino

    obtidas pela estimulao multissensorial.

    Pandey e Zimitat (2007) ressaltam que aprender

    Anatomia Humana requer algumas estratgias con-

    forme o grupo de alunos de um determinado curso e

    suas necessidades. Destacando que para alunos da

    universidade de New South Wales, Sydney, Austrlia,

    do primeiro ano do curso de Medicina, a melhor es-

    tratgia foi o uso da memorizao, compreenso e

    visualizao.

    Nenhum aluno da turma analisada se sentiu ex-

    cludo ou evadiu a disciplina de Anatomia Humana,

    como tambm dos cursos de Educao Fsica do

    Centro Universitrio Metodista do IPA, at o mo-

    mento final da coleta de dados desta pesquisa. En-

    tretanto, trs alunos relataram que conhecem alunos

    de outras instituies de ensino superior que j aban-

    donaram cursos da rea da sade por causa da dis-

    ciplina de Anatomia Humana. As justificativas foram:

    medo dos cadveres e uma difcil compreenso do

    contedo da disciplina.

    Para a Comisso Especial do Ministrio da Edu-

    cao excluso a existncia de desigualdades sociais

    e, portanto de oportunidades. Para a mesma comisso

    a evaso definida como a sada definitiva do aluno de

    seu curso de origem sem conclu-lo.

    M.H. apontou na sua entrevista que primeira-

    mente cursou a disciplina de Anatomia Humana como

    aluna de Nutrio, mas no gostou da disciplina, pois

    um dos professores parecia no dominar o contedo,

    nem tinha uma metodologia de ensino adequada. Pos-

    teriormente mudando para o curso de Educao Fsica

    e passando a ser aluna do professor P.R.R. na mesma

    disciplina, confessou que mudou sua opinio, elegen-

    do a disciplina como uma das melhores.

    Todos os alunos da turma gostaram da maneira

    que a disciplina foi ensinada. Metade da turma dest-

    aca que o professor P.R.R. ensina a disciplina de ma-

    neira descontrada e fcil de entender sem ter que

    decorar o contedo.

    M.H, disse que gostava da metodologia do pro-

    fessor P.R.R, porque era exigente, mas tinha uma ma-

    neira descontrada de ensinar o contedo. Relatando

    tambm que seus colegas de disciplina mantinham-

    se atentos nas aulas por causa da metodologia do

    professor P.R.R. que era atrativa.

    O Professor P.R.R. abordou em sua entrevista, ao

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    56

    ser questionado acerca de seu mtodo que no

    existe um mtodo P.R.R de ensinar Anatomia Hu-

    mana, mas sim uma postura didtica diferente, que

    aparentemente vem tendo sucesso. Vale destacar

    que o professor P.R.R. lecionou por onze anos em

    um cursinho pr-vestibular, tendo uma boa exper-

    incia com alunos vestibulandos e universitrios.

    O professor relatou tambm que possui sete anos

    de experincia lecionando a disciplina de Anatomia

    Humana em cursos de nvel superior. Mas no seu

    incio dedicou muitas horas de estudo, muitas des-

    tas de madrugada na sua casa, para poder obter o

    mximo de conhecimento na rea. Ele acredita que

    as tcnicas de cursinho somado ao conhecimento

    em Anatomia Humana ajudam-no a se aproximar do

    aluno, mas o importante segundo ele a maneira de

    integrar o aluno a matria. O professor P.R.R. geral-

    mente chama alguns alunos da turma para fazer brin-

    cadeiras na sala de aula, associando as brincadeiras

    aos contedos anatmicos e desta maneira descon-

    trada e atrativa os alunos aprendem pela associao

    no esquecendo mais do contedo. Conforme P.R.R.

    o aluno que aprende no precisa mais decorar o con-

    tedo, o aluno vai percebendo que a disciplina de

    Anatomia Humana no to difcil assim como dis-

    seram. Porm, o professor P.R.R. ressalta que exige

    dos alunos presena nas aulas tericas e prticas,

    respeitando os cadveres e querendo comprometi-

    mento dos alunos com os estudos. P.R.R. diz que, s

    vezes, necessrio mexer com o brio de alguns

    alunos, motivando-os a estudar mais, pois estes alu-

    nos acreditam que dando uma meia-sola seria o

    suficiente para ser aprovado na disciplina, mas no

    isso que acontece quando estes alunos se deparam

    com as provas.

    M.H. relatou que se lembra de alguns alunos

    que foram reprovados na sua turma, mas diz que

    no foram muitos. Ela tambm disse que apreciava

    a metodologia do professor P.R.R. Ele estava sem-

    pre disposto a ensinar na aula e fora dos perodos

    de aula. Gostava tanto das aulas que sempre ficava

    at depois do termino das aulas perguntado coisas

    relacionadas disciplina.

    Todos os alunos da turma analisada relataram

    que de fundamental importncia o ensino da Anato-

    mia Humana para os acadmicos de Educao Fsica,

    pois um futuro profissional nesta rea precisar deste

    conhecimento.

    M.H. que trabalha h mais de quatro anos em

    uma academia em Porto Alegre, falou que utiliza os

    conhecimentos anatmicos diariamente, conseg-

    uindo imaginar quais msculos seus alunos vo pre-

    cisar exercitar em seus treinos. Relatou ainda que os

    conhecimentos anatmicos lhe trazem uma credibi-

    lidade maior e o respeito dos alunos, especialmente

    quando estes so profissionais da rea da sade e

    tm domnio da linguagem anatmica.

    Segundo Piazza (2011) os professores que min-

    istram a disciplina de Anatomia Humana na regio

    metropolitana de Porto Alegre priorizam o ensino

    do sistema locomotor (ossos, articulaes e mscu-

    los) para os alunos dos cursos de Educao Fsica,

    sendo realizada uma leve apresentao dos outros

    sistemas conforme o tempo restante da disciplina, o

    que corroborado nas duas entrevistas que se aditou a

    pesquisa que fundamenta esta dissertao.

    O professor P.R.R, em sua entrevista falou sobre

    a importncia de direcionar o ensino da Anatomia

    Humana para os diferentes cursos da rea da sade.

    Segundo ele a Anatomia para o curso da Enferma-

    gem deve priorizar os ossos, msculos, sistema di-

    gestrio e aparelho respiratrio. Na Educao Fsica a

    prioridade o sistema locomotor (ossos, articulaes

    e msculos) tendo o professor que estar atento aos

    conhecimentos especficos necessrios aos difer-

    entes profissionais.

    M.H. citou em sua entrevista que o professor

    P.R.R. se preocupava em ensinar a Anatomia Hu-

    mana de forma diferenciada em cursos da sade,

    explicando para os alunos quais conhecimentos se-

    riam necessrios para um futuro profissional em Edu-

    cao Fsica.

    Segundo Mitchell, Mccrorie e Sedgwilk (2004),

    do hospital-escola em Medicina de Londres no Reino

    Unido, um estudo feito para avaliar se era possvel

    utilizar um nico mtodo de ensino da Anatomia Hu-

    mana, para uma equipe multiprofissional de alunos,

    onde participavam alunos dos cursos de Biomedicina,

    Medicina, Enfermagem e Fisioterapia. Este estudo

    concluiu que possvel utilizar este mtodo, porm

    ocorreu em alguns momentos da pesquisa uma vari-

    ao na satisfao do aprendizado, pela necessidade

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • 57

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    especfica que cada curso precisa contemplar.

    Alunos da turma analisada disseram que se a dis-

    ciplina de Anatomia Humana fosse disciplina optativa

    na grade curricular a grande maioria da turma cursaria

    a disciplina. Estes ainda relataram que no sugerem

    nenhuma modificao no atual ensino da mesma,

    reconhecendo as qualidades do professor.

    M.H. citou em sua entrevista que se a disciplina

    de Anatomia Humana fosse optativa tambm teria

    cursado. Relatou ainda que quando mudou do curso

    de Nutrio para o curso de Educao Fsica ela po-

    deria ter sido dispensada da disciplina por aproveita-

    mento da mesma, mas confessou que as aulas do

    professor P.R.R. eram to boas que foi secretaria

    pedir para continuar cursando a disciplina at o final.

    Segundo M.H. o conhecimento adquirido em Anato-

    mia Humana foi to til que ela no passou por nen-

    huma dificuldade nas disciplinas seguintes que ex-

    igem a Anatomia Humana como pr-requisito.

    Da anlise dos questionrios inicial e final da

    turma, a literatura especializada, as duas entrevis-

    tas com sujeitos diretamente envolvidos no objeto

    da pesquisa e a pesquisa anterior do autor desta

    dissertao, pode-se inferir uma convergncia de

    resultados. preciso reconhecer que estes como

    se pretende evidenciar no segmento seguinte no

    respondem aquela que era a hiptese principal de

    pesquisa, a qual busca as causas da evaso e ex-

    cluso na disciplina de Anatomia Humana.

    Consideraes FinaisQuando se redige um trabalho cientfico (espe-

    cialmente, em uma dissertao ou tese) o segmento

    que se destina a resumir o texto, apresentando aque-

    las que parecem ser as consideraes (quase) finais,

    usualmente se apresenta a ratificao das hipteses

    de pesquisa que nesta dissertao no ocorre. J

    se anunciou no ttulo que a hiptese principal no

    se confirma. Talvez, menos que frustrao pela situ-

    ao, se deva registrar uma satisfao marcada pelo

    fato que a disciplina de Anatomia Humana, usual-

    mente causadora de excluso, no seja neste estudo

    de caso responsvel pela eliminao de alunos e,

    alm disso, no apresenta altos ndices de reprov-

    ao como costuma acontecer. Observou-se nesta

    turma analisada que a mesma reconhecida pelos

    alunos como uma disciplina muito boa.

    A Anatomia Humana mostra sua importncia

    pela histria que possui, sendo ainda hoje contedo

    importante na rea da sade e provavelmente con-

    tinuar sendo ao longo do tempo. Entendendo que

    os mtodos de ensino da disciplina vm sendo aux-

    iliados pela evoluo da tecnologia. Isto determina

    inclusive a seleo de contedos com exigentes

    adaptaes pelo professor.

    Acerca das hipteses previstas, que o ensino da

    Anatomia humana causa excluso, pode-se dizer que

    no houve nenhum aluno da turma analisada que se

    evadiu da disciplina nem se sentiu excludo dos en-

    sinamentos. Pode-se creditar este acontecimento ao

    mtodo diferenciado e atrativo utilizado pelo profes-

    sor P.R.R. que foi elogiado pelos alunos, que mereceu

    tambm a ratificao pela ex-aluna M.H. Identificou-

    se receio e ansiedade nos alunos antes de cursarem

    a disciplina, pois ela caracterizada como difcil ten-

    do muito contedo para estudar em pouco tempo.

    Quatro alunos se sentiram desconfortveis com o

    uso de cadveres, porm isso considerado normal

    pelo professor P.R.R, respeitando o ritmo individual

    de cada aluno, at uma adaptao plena nas aulas

    prticas. Pode-se destacar que o professor P.R.R. uti-

    liza diferentes alternativas buscando a associao e

    memorizao dos contedos anatmicos, facilitando

    o entendimento dos alunos, este mtodo tem uma

    aceitao melhor em relao ao mtodo clssico de

    ensinar a Anatomia Humana, que utiliza somente

    cadveres e livros. O mtodo P.R.R de ensinar evi-

    ta que os alunos se sintam excludos, fazendo parte

    do grupo no evadindo a disciplina. Conforme M.H,

    o aluno se sente melhor preparado para enfrentar as

    prximas disciplinas dos cursos (Bacharelado e Li-

    cenciatura) que utilizam os conhecimentos anatmi-

    cos como pr-requisito.

    Acredito que o levantamento desta realidade

    pode trazer uma reflexo no mtodo de ensino da

    disciplina de Anatomia Humana, podendo trazer mod-

    ificaes que solucionem possveis problemas. Con-

    statando que o professor decisivo na atratividade

    da disciplina, tendo responsabilidade na escolha do

    contedo a ser ensinado.

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    58

    Referncias

    ANDIFES/ABRUEM, Braslia, 1995. Disponvel em:. Acesso em: 19 out. 2011.

    AULA DE ANATOMIA. Disponvel em: . Acesso em: 14 nov. 2011.

    BACKHOUSE, K .M; HUTCHINGS, R .T. Atlas colorido de anatomia de superfcie clinica e aplicada. So Paulo: Ma-nole, 1989.

    BARRETO, Gilson; de OLIVEIRA, Marcelo, G. A arte secreta de Michelangelo. Uma lio de Anatomia Hu-mana na Capela Sistina. So Paulo: Arx, 2004.

    BENAKOUCHE, R. Incluso Universitria: pequenas re-flexes a partir de uma grande experimentao social. 2002. Disponvel em: .Acesso em: 25 jun. 2010.

    BIASUTTO, S. N; CAUSSA, L. I; DEL RIO, L. E. C. Teaching anatomy: Cadavers vs computers? Annals of Anatomy. Jul. 2006, V. 188, pgs. 187-190. Disponvel em: . Acesso em: 25 nov. 2011.

    BRUECKNER, Jennifer; MacPHERSON, Brian R. Benefits from peer teaching in the dental gross anatomy labora-tory. Dental Education, maio 2004, V. 8. Disponvel em: . Acesso em: 25 jun. 2010.

    CABRAL, Etenildo Dantas e BARBOSA, Joanna Martins Novais. La Opinin de los Alumnos Sobre la Utilizacin de Salas de Informtica para la Enseanza de la Anatoma. Int. J. Morphol. [online]. 2005, vol.23. Disponvel em: . ISSN 0717-9502. Acesso em: 25 jun. 2010.

    CARIT, C.C; SILVA, S.S; VERRI, E. D; CASTRO, M. E. N. R. Anatomia Humana aplicada a Enfermagem: adequao de contedo para disciplina semipresencial. UNAERP 2007. Disponvel em: . Acesso em: 23 set. 2010.

    CASTRO, S. V. Anatomia Fundamental. 3 ed. So Paulo: Makron Books do Brasil, 1985.

    CHAGAS, J. Cadver desconhecido- Importncia histrica e acadmica para o estudo da anatomia humana. So Paulo: Unifesp, 2001. 137 p. Dissertao (Mestrado em Morfologia). Departamento Cincias Morfolgicas, Uni-versidade Federal de So Paulo- Escola Paulista de Me-dicina, 2001. Disponvel em: Acesso em: 1 de nov. 2011.

    CONSELHO NACIONAL DE SADE, Resoluo 196/96.

    Disponvel em: . Acesso em: 19 de out. 2011.

    DANGELO, J. G; FATTINI, C. A. Anatomia humana sis-tmica e segmentada. 2 ed. So Paulo: Atheneu, 2003. DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. Psicologia na Educao. 2 ed. So Paulo: Editora Autores Associados, 1996. DIDIO, L. J. A. Sinopse de Anatomia. Rio de Janeiro: ed. Guanabara Koogan, 1974.

    FONSECA, Denise Grosso da. (In)disciplina na escola: de-safios e perspectivas. In: RODRIGUES, C.C; AZEVEDO, J.C; POLIDORI, M.M. (Org.) Os desafios na escola: ol-hares diversos sobre questes cotidianas. Porto Alegre: Editora Universitria Metodista IPA & Editora Sulina, 2010, p.69-86.

    FONTANELLA, Bruno Jos Barcellos; RICAS, Janete; TU-RATO, Egberto Ribeiro. Saturation sampling in qualitative health research: theoretical contributions. Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, 2008 . Disponvel em: . Acesso em: 08 nov 2010. doi: 10.1590/S0102-311X2008000100003.

    GRAY, H. Anatomia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1977.

    GAUTHIER, Jacques Henri Maurice et al. Pesquisa em enfermagem: novas metodologias aplicadas. Rio de Ja-neiro: Guanabara Koogan, 1998.GIL, Antnio Carlos. Mtodos e tcnicas de pesquisa. So Paulo: Atlas, 1999.

    HEYLINGS, D. F. A. Anatomy 1999 2000: the curriculum, Who teaches it and how? Medical Education, 2002, V. 36. Disponvel em: . Acesso em: 25 set. 2010.

    INSULL, P. J; KEJRIWAL, R; BLYTH, P. Surgical inclination and anatomy teaching at the university of Auckland. Royal Australasian college of surgeons, 2006, V. 76. Disponvel em: . Acesso em: 25 set. 2010.

    KRYCH, Aaron J. et all. Reciprocal peer teaching: students teaching students in the gross anatomy laboratory. Medi-cal Education, 2005, V. 18. Disponvel em: . Acesso em: 20 set. 2010.

    LEOPARDI, Maria Tereza. Metodologia da pesquisa na Sade. In:______. Fundamentos gerais da produo cient-fica. Santa Maria: Pallotti, 2001, p. 135-136, 138-139.Manual de Elaborao de Trabalhos Acadmicos (manu-scrito): referenciado pelas normas gerais conforme a ABNT/ Centro Universitrio Metodista do IPA. Porto Ale-gre, 2011.

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso

  • 59

    Cincia em Movimento | Ano XIV | N 28 | 2011/2

    McLACHLAN, John C.; BLIGH, John; BLADLEY, Paul; SEARLE, Judy. Teaching anatomy without cadavers. Medical Education, abril 2004, V. 38. Disponvel em: . Acesso em: 20 set. 2010.

    McLACHLAN, John C.; PATTEN, Debra. Anatomy teach-ing: ghosts of the past, present and future. Medical Ed-ucation, mar. 2006, V. 40. Disponvel em: . Acesso em: 19 out. 2010.

    MINISTRIO DA EDUCAO (BRASIL). Secretaria de Ensino Superior. Comisso Especial de Estudos Sobre a Evaso nas Universidades Pblicas Brasileiras

    MITCHELL, B.S; McCRORIE, P.; SEDGWICK, P. Student attitudes towards anatomy teaching and learning in mul-tiprofessional contex. Medical Education, jul. 2004, V. 38. Disponivel em: . Acesso em: 19 out. 2010.

    MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clnica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

    MORAN, J. M. Mudanas na comunicao pessoal. So Paulo: Paulinas, 1998.

    PANDEY, Pritti; ZIMITAT, Craig. Medical students learn-ing of anatomy: memorisation, understanding and visu-alisation. Medical Education, 2007, V. 41. Disponvel em: . Acesso em: 04 nov. 2010.

    PERREIRA, Jos. A. et all. Effectiveness of using blend-ed learning strategies for teaching and learning human anatomy. Medical Education, 2007, V. 41. Disponvel em: . Acesso em: 04 nov. 2010.

    PIAZZA, B. L. O ensino da anatomia humana nos cursos

    de Educao Fsica da regio metropolitana de Porto Alegre. Rev. Cincia em movimento, N 26. Ed. Univer-sitria Metodista do IPA: Porto Alegre, 2011. Verso on- line. Disponvel em:.

    SOUZA, R. R. Anatomia para estudantes de Educao Fsica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.SPENCE, A. P. Anatomia humana bsica. 2 ed. So Pau-lo: Manole, 1991.

    TERREL, Mark. Anatomy of learning: instructional de-sign principles for the anatomical sciences. Anatomical Record, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 04 nov. 2010.

    VAN DE GRAFF, K. M. Perspectivas histricas. In: Anato-mia Humana. 6 ed. Barueri: Manole, 2003.

    VIANNA, Ilca Oliveira de A. Metodologia do trabalho cientfico: um enfoque didtico da produo cientfica. So Paulo: EPU, 2001.

    WEINECK, J. Anatomia aplicada ao esporte. So Paulo: Manole, 1990.

    WINKELMANN, Andreas. Anatomical dissection as a teaching method in medical school: a review the evidence. Medical Education, jan. 2007, V. 41. Disponvel em:. Acesso em: 25 jun. 2010.

    YOSHIDA, M.; OMOTO, M. H. H; SAITO, D. S; BORGUES, R; ARAJO, J. C ; FORNAZIERO, C. C ; ALVES, F. D. M . LocomoShow - Una Herramienta de apoyo a la en-seanza de anatomia humana. In: EDUTEC 2003, 2003, Caracas, 2003. Disponvel em: . Acesso em: 8 nov. 2010.

    Anatomia humana, uma disciplina que causa evaso e excluso