16
PARA. LÊ... DEVOLVE. Km 0 2 3 de Agosto 2011 | Quarta-feira EMENTA Almoço Vegetariano Pataniscas c/ Puré de Batata Almoço Omnívoro Jardineira de Frango Jantar Vegetariano Alho Francês à Brás Jantar Omnívoro Coxinhas de Frango c/ batata cozida METEOROLOGIA Céu Nublado 27 0 / 15 0 5ªa f: céu nublado - 26º/ 15º

Andanças 2011 jornal #2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal #2 do Andanças 2011

Citation preview

Page 1: Andanças 2011 jornal #2

PARA. LÊ... DEVOLVE.

Km 0 Nº 23 de Agosto 2011 | Quarta-feira

EMENTA

Almoço VegetarianoPataniscas c/ Puré de BatataAlmoço OmnívoroJardineira de Frango

Jantar VegetarianoAlho Francês à BrásJantar OmnívoroCoxinhas de Frango c/ batata cozida

METEOROLOGIA

Céu Nublado270/ 150

5ªa f: céu nublado - 26º/ 15º

Page 2: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS2

WCECO – POUPAR ÁGUA E COMPOSTAREste ano, as casas-de-banho de compostagem voltaram a aparecer no Andanças, disponíveis a receber visitas dos mais ritmados participantes. Para alguns, já familiarizados, o Wceco apresenta uma óptima alternativa ecológica, mas para a maioria dos participantes, estes wc são ainda uma estranha novidade.Mas que diferença há entre estas casas-de-banho e as outras que nos são familiares? Estas são secas - não gastam água, o que significa dois tipos de poupança: na utilização (em vez de um autoclismo com água, usa-se serradura); e no tratamento (em vez de tratar a água, os resíduos são compostados). A compostagem permite o aproveitamento desta matéria orgânica para ser usada como fertilizante para o solo.A satisfação de quem usa estas casas-de-banho secas é patente nas corridas animadas que as crianças fazem na sua direcção, entretendo-se a experimentar a novidade de deitar a serradura no balde e sonhar com as flores que poderão crescer neste futuro adubo. Sem nunca esquecer de baixar a tampa da sanita no final.

Sara Correia

A chuva chegou primeiro, mas a presença do Rei-Sol continua forte no Andanças com a cozinha movida pela (talvez) mais apetecível energia: natural, gratuita e agradável, pois traz sempre consigo o sabor a Verão.O Andanças mantém a tradição e aposta na promoção de uma forma de vida respeitadora da Natureza – o único meio para a «sobrevivência» do Ser Humano enquanto espécie! -, apoiando a apresentação diária da cozinha solar.Através de demonstrações e encontros espontâneos serão apresentadas ideias práticas para a construção de fornos solares com reaproveitamento de materiais e propostas para mudanças pessoais rumo à auto-sustentabilidade.Aos participantes nos workshops, que decorrem todos os dias das será dada a oportunidade de experimentar iguarias

cozinhadas em forno solar, com ideias para refeições, lanches ou bebidas simples, mas saborosos e nutritivos.Para hoje e sexta-feira estão previstas refeições solares, a servir às 13h30, num limite de 15 participantes, o que obriga a uma inscrição prévia no Pratário e a compra de uma senha normal de refeição.Os workshops decorrem diariamente das 12h30 às 14h00 e das 19h30 às 20h30. No entanto, é intenção da equipa solar chegar ao maior número de interessados nas questões da auto-sustentabilidade - tão úteis e necessárias nestes tempos de mudança -, pelo que tentará estar sempre presente no memo local do ano passado – no relvado junto ao acesso à cantina.E como o Andanças é um Festival de música, dança, alegria e cor será promovido também diariamente um workshop de Silent Drumming, uma introdução à exploração do mistério e magia dos ritmos, por Davor.As mamãs com crianças são também especialmente bem-vindas a partilhar experiências no espaço que intitulamos Solar Drumming, Silent Cooking, onde se encontra o mais jovem «voluntário» do Festival (na foto)!Bem-vindos à Cozinha Solar do Andanças!

Filipa Júlio

COMIDA SOLAR

Page 3: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS 3

Hoje é dia do Km-zero, uma novidade lançada o ano passado no Andanças e que teve muito sucesso. O objectivo é utilizar os produtos da terra e valorizar a localidade. Esta valorização local poderá ser extensível quer ao nível da prevenção, quer da segurança e do socorro.

O trabalho comunitário e de entreajuda entre a população de uma vila, aldeia ou cidade, contribui para a prevenção de riscos inerentes a uma povoação e possibilita que perante uma situação de emergência as pessoas se juntem e sejam as primeira a socorrer as vítimas.

Nem sempre é fácil trabalhar em equipa. Por vezes, os conflitos de opiniões ou a incapacidade de partilhar ideias podem diminuir o desempenho do grupo e comprometer o socorro a alguém que necessita de ajuda. Existem muitos pontos positivos no trabalho em equipa, nomeadamente contribuir para uma maior eficácia no socorro, distribuir a responsabilidade por todos os membros da equipa, fomentar o espírito de entreajuda porque acabam por se gerar relações de confiança, flexibilidade e desenvolvimento de objectivos e expectativas.

Perdi a conta das vezes que me perguntaram “mas porque fazes voluntariado?...gostas de trabalhar para aquecer?!”.Inevitavelmente esboço um sorriso e tento explicar o que me impulsiona a participar regularmente em projectos de voluntariado, mas por muitas palavras que use é sempre muito difícil explicar esta minha vontade/desejo, porque o voluntariado não se “fala”, vivência-se, é uma forma de estar na vida, de me conhecer a mim e ao mundo que me rodeia.Para mim o voluntariado é sinónimo de disponibilidade para dar, mas igualmente para receber, pois a partilha é constante, proporciona-nos um enorme crescimento pessoal, social, emocional e profissional que jamais prevemos de antemão, abre-nos os olhos para outras perspectivas de vida, outras realidades.E afinal não será tudo isto também um reflexo do andanças?Aqui tenho a possibilidade de dar o meu contributo e estar igualmente rodeada pelas coisas que mais prazer me dão na vida - dança, música, natureza, descoberta, boa-disposição, descontracção, convívio, amigos...São vários os projectos sociais e culturais em que já tive o prazer de colaborar/desenvolver e brevemente vou partir num novo projecto de missão de 2 anos em Timor, porque este bichinho do voluntariado continua a querer mais e mais e mais... :)Por isso deixo-vos um apelo/conselho... abracem o voluntariado e estejam disponíveis para o que ele também vos pode oferecer, porque é inimaginável a quantidade de vezes que recebemos muito mais do que aquilo que nos dispusemos a dar.Não há como não experimentar!....

Andreia Rodrigues(Controlo de entradas)

SER VOLUNTÁRIO

PES AJUDA DA POPULAÇÃO LOCAL

Page 4: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS4

ão as cidades que “comem” e consomem o grosso da produção industrial e agrícola. Na verdade, mais de metade da população mundial vive em áreas urbanas e tudo aponta para que esta tendência aumente progressivamente: em 2030 a população urbana rondará os

70%. Se considerarmos que, na generalidade, não há produção nas cidades, rapidamente percebemos toda a logística necessária para que criar ou gerar ou produzir oferta suficiente para alimentar toda esta massa populacional.

Ao longo das últimas décadas, as actividades económicas têm vindo a sofrer alterações e as sucessivas politicas de financiamento e investimento a curto prazo têm resultado em pesquisas esporádicas e medidas drásticas, por vezes absurdas, que visam a redução dos custos de produção, nomeadamente no que diz respeito ao custo da mão-de-obra e consequente standardização dos produtos.

Actualmente, perante a situação global, os países ditos desenvolvidos perdem progressivamente competitividade industrial. Também a indústria alimentar sente os efeitos da globalização e desloca a sua produção para países em que os custos de produção são substancialmente mais baixos. Tal tem duas consequências bastante negativas: um novo tipo de desertificação e abandono dos campos de cultivo, posteriormente ocupados pela expansão urbana; e o aumento das emissões de gases nocivos resultado do transporte necessário a que tenhamos acesso

aos alimentos.

No entanto, a indústria alimentar tem assistido nos últimos anos a uma reconfiguração significativa da sua força de trabalho e do perfil profissional dos seus agentes, tanto no sector industrial, como no da produção agrícola. Cada vez mais pessoas se apercebem de que a forma como produzimos e consumimos não é viável e que a longo prazo terá como único resultado a destruição daquilo que nos rodeia e onde nos inserimos.Nalguns países torna-se cada vez mais forte a noção que importante na alimentação não é “quantidade” mas sim “qualidade”. Por forma a que os alimentos atinjam o seu potencial nutritivo é necessário que lhes seja dado tempo para que a maturação se complete e tal não é possível quando a nossa alimentação é composta maioritariamente por produtos provenientes de outros países e continentes.

Nos últimos tempos, têm surgido por toda a parte movimentos que procuram inverter esta tendência e apresentar posturas alternativas Uma delas é o conceito do KM Zero, fortemente ligado com questões de sustentabilidade e da redução da pegada ecológica.O KM Zero propõe uma maior relação com o local, sendo utilizada somente produção proveniente de um raio de 20km. Assim, promove-se a economia local, reduzem-se as emissões de CO2 e obtém-se produtos de maior qualidade. Hoje, o Andanças perfilha esta filosofia e apresenta o Dia Km Zero…

Mafalda Duarte

S

Page 5: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS 5

Ser o festival mais ecológico do país - é este um dos grandes objectivos do Andanças. Reciclar, reduzir e reutilizar encontram-se na base do festival que, todos os anos, inova na maneira de poupar recursos e de diminuir os danos ambientais.

O Andanças tem impacto ambiental. De outra maneira o festival não poderia existir. É impossível organizar um evento de grandes dimensões com um impacto zero. Contudo, boas práticas ambientais podem contribuir para que, quando os “andantes” regressam a casa e Carvalhais volta a ser uma pacata aldeia de S. Pedro do Sul, não haja consequências a nível ambiental provocadas por uma semana de festival. É neste sentido que a Pédexumbo preconiza os seguintes princípios do Andanças: “reduzir os impactos ambientais locais e globais do evento, fazendo com que o Festival toque na Terra de modo mais leve; criar e fixar mudanças locais para a sustentabilidade, através de melhores práticas ambientais que se enraízem e dêem frutos; difundir princípios e práticas que os participantes levem consigo, como sementes que podem germinar e frutificar noutros locais.” O Andanças é semente, fruto e sumo de um compromisso para com a Natureza e o desenvolvimento sustentável.

Os compromissos ambientais são bem recebidos pelos participantes: não há quem se negue andar com uma caneca pendurada à cintura e não a utilizam (só) porque dá estilo. Todos se preocupam em não deixar comida no prato, em reciclar, e em contribuir para que o Andanças seja amigo do ambiente.

Fora do festival, as preocupações ecológicas do Andanças não passam despercebidas. No ano passado, no Despacho n.º 3227/2010, de 22 de Fevereiro, da Ministra do Ambiente, sobre o Programa de Prevenção de Resíduos Urbanos, o Andanças é referido como um bom exemplo a nível nacional. No documento salienta-se a preocupação com a redução de lixo: “conseguiram reduzir os resíduos produzidos no festival a uns tantos sacos pretos de “lixo” quase vazios no final de cada dia.” Até a nível internacional o festival é utilizado como um modelo a seguir. Em 2007, no 1º Simpósio Internacional de Design Sustentável, em Curitiba (Brasil), foi publicado um artigo sobre a componente ambiental do Andanças: “Dancing for Sustainability”.

Bárbara Abraúl

ECO (NO) ANDANÇAS

Page 6: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS6

DIA

DE

ON

TEM

Page 7: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS 7

Page 8: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS8

A jovem (21) voluntária do Andanças - controlo de entradas - incorpora precisamente o espírito da iniciativa Dose Certa, que visa apelar à consciencialização dos andantes para requisitarem apenas a quantidade de comida que pensam consumir, de forma a evitar o desperdício alimentar. “Acho fantástica a iniciativa do Andanças. Estudo em Coimbra e na cantina da universidade é muito comum aquela mentalidade de encher o prato, independentemente da fome”, refere Diana, sublinhando a importância da “responsabilidade alimentar das pessoas”. Ou não estudasse ela Biologia. O prato foi-lhe servido pela Marta (20), residente em Carvalhais há muito colaboradora do Andanças. “Há muita gente a pedir uma dose certa, embora essa preocupação seja mais visível nas mulheres”. O brilho azul vítreo nos olhos antecede o sorriso: “Mas alguns homens também”. Ana Ribeiro (24), voluntária na zona de recolha dos tabuleiros, partilha da visão optimista. “Acho que não se tem deitado muita comida fora”. A única excepção predominante tem sido o pão: “Penso há muita gente que tira o pão por tirar, só porque ele está lá”. Mesmo assim, aponta um resultado positivo. “Pusemos os sacos do lixo de manhã, a hora das refeições está quase a acabar e ainda não estão cheios”.A tendência ressalvada pela Ana é partilhada por Rui Pedro,responsável pelo pratário. Afirma ser comum as

pessoas optarem por levar tudo o que têm direito, “sem inserir a fome a as suas necessidades na equação”. “Ainda persiste um pouco aquela cultura portuguesa do prato cheio, medido pelos olhos e não pelo estômago”, complementa.

Usa como exemplo o pequeno-almoço, onde a variedade de oferta das edições transactas levava invariavelmente ao desperdício. Tendência que originou a medida actual de incluir limitações opcionais nos menus da manhã.

Essa propensão portuguesa para o “prato cheio” não lhe belisca o optimismo. Sublinha o decréscimo de 35% de desperdício de comida com a implementação da iniciativa Dose Certa no Andanças 2010. E afirma que as pessoas estão “gradualmente a assimilar a mensagem”. A forma como a palavra gradualmente foi pronunciada revela, mais do que impaciência, uma ânsia evolutiva. “Por vezes, só à quarta ou quinta vez que as pessoas vislumbram o cartaz da iniciativa é que tomam consciência e alteram hábitos”, desabafa. Deixa o apelo. “Falem connosco antes de serem servidos. Esta iniciativa depende incontornavelmente da intervenção do consumidor.”

Victor Melo

“Está bem assim, obrigada!”. Diana sorri ao receber a dose de bacalhau à Brás, que lhe ocupa um quarto do prato. “Sou pequenina, não como muito e não gosto mesmo nada de desperdiçar comida”.

Page 9: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS 9

A iniciativa Dose Certa é apenas uma das várias acções de carácter sócio-ambiental do Andanças, no desígnio de um mundo mais sustentável.

Aqui ficam algumas outras:

A Caneca AndançasUm dos ícones do Andanças, que os visitantes podem pedir emprestada durante o festival, por 1€ de caução, para beberem todas as bebidasque lhes apetecer. No final, podem devolver a caneca e reaver a caução– ou ficar com ela para o resto do ano e futuras edições.

Zero DescartávelHá uma imagem do Andanças que perdura na memória de quem visita o festival: onde estão os copos de plástico pisados no chão do recinto no fim da noite, como acontece noutros festivais? Não existem. Não há copos, nem pratos, nem talheres de plástico.

Menu Quilómetro Zero: coma bem, cá dentroAs refeições do Andanças são confeccionadas, tanto quanto possível, com ingredientes produzidos localmente, em Carvalhais e arredores. O objectivo? Reduzir a pegada de carbono de cada um dos alimentos e o desperdício de dinheiro, energia e comida. Em vez de cozinhar com produtos que percorrem milhares de quilómetros, porque não utilizar ingredientes locais?

Reciclagem como um hábito! E compostagem sempre.No Andanças, pratica-se a recolha selectiva de resíduos para reciclagem. Há pontos de recolha de embalagens em todo

o recinto do festival, de resíduos orgânicos na cantina, cozinhas e bares, mas também de óleos alimentares, de pilhas usadas e de rolhas de cortiça.

Os resíduos orgânicos são encaminhados para

compostagem local, fertilizando a agricultura

biológica realizada em Carvalhais e que fornece, em parte, o Festival

no ano seguinte.

Zero Beatas no ChãoNo Andanças a disponibilização de cinzeiros tem crescido de ano paraano e as beatas vão cada vez menos parar ao chão. Também se incentiva que cada fumador tenha o seu cinzeiro portátil, procurando criar esse hábito para que, mesmo fora do Andanças, as beatas tenham sempre o destino correcto.

Recirculação da água dos duches nos autoclismosNas instalações sanitárias do campismo é feita a recirculação das águas usadas nos duches para os autoclismos que se localizam próximo.É algo simples, mas que permite poupar uma percentagem considerável da água consumida (cerca de 15%). Se quiser conhecer melhor este processo ou visitá-lo durante o Andanças, peça informações no Pratário.

Poupança e monitorização da água consumidaNo Andanças o consumo de água é muito elevada, pelo que se procura reduzir ao máximo o desperdício. Têm sido introduzidas torneiras automáticas, duches mais eficientes e procurado, com rapidez, consertar avarias.

Fonte: www.andancas.net

“UMA DOSE DE RESPONSABILIDADE,

POR FAVOR”

DOSECERTA

Page 10: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS10

O projecto Menu Km Zero pretende dar visibilidade à utilização preferencial de produtos alimentares de origem local, reduzindo as emissões de CO2 associadas à distância entre a “produção” e o “local de consumo”. Nem sempre possuímos dados que nos permitam avaliar o verdadeiro impacto ambiental do que consumimos. Por exemplo, o tipo de transporte é também importante: produtos alimentares transportados por estrada produzem mais emissões de CO2 que os mesmos alimentos transportados por caminho-de-ferro. Pela mesma ordem de ideias, bastará ir às compras à mercearia da esquina ou ao supermercado de bicicleta, para aumentar a nossa sustentabilidade…

Na quarta-feira, dia 2 de Agosto, todos os ingredientes utilizados para confeccionar os almoços e jantares na cantina do Andanças foram comprados num raio de 700m do Festival. A distância exacta não é importante: o importante é o conceito, a ideia de que se deve fomentar a produção local e evitar o transporte de alimentos. Por exemplo, o consumo responsável de produtos orgânicos pode ficar

comprometido se eles forem produzidos muito longe do local onde os consumimos: a

melhor opção será apoiar a produção local e exigir níveis mais sustentáveis

de produção.

Na verdade, esta intenção está sempre por detrás das iniciativas que adoptamos no Andanças. Terão por exemplo reparado que não conseguimos evitar a

repetição do frango nos menus omnívoros. A Região em que

nos encontramos produz carne de altíssima qualidade: a famosa vitela

de Lafões e o cabrito da Gralheira. Infelizmente, não conseguimos assegurar

localmente a compra destes nas quantidades (umas centenas de kg…) que precisamos.

Consola-nos pensar que a pressão e insistência da nossa procura um dia gerará a oferta… O Andanças é isto.

Manuel Fonsecaeco-Andanças

Menu Km 0

Subjacente ao acto ancestral de fazer comida, está a noção de respeito. Respeito pela matéria-prima. Respeito pelo lugar de onde vem. Respeito pelas mãos que a produziram. Respeito pela finalidade. No Andanças, partilhamos desse respeito. É desse respeito que decorrem algumas das políticas que distinguem este festival de todos os outros. Porque a imagem dominante dos eventos desta natureza é exactamente a de causarem um impacto significativo nos locais onde ocorrem. A ideia aqui é minimizar. Restringir o desperdício ao máximo. Reaproveitar o que puder ser convertido a usos diferentes. E muito especialmente, fazer com que a comida que aqui é consumida não venha de lugares longínquos. Que seja com produtos sazonais. Próximos de quem os consome. A este princípio deu-se o nome de Km 0. Porque se trata de resgatar uma ideia muito anterior a nós. A de se cozinhar consoante a época do ano. De acordo com os recursos que há perto. Parece simples. Uma coisa bem básica. Acontece que é frequentemente esquecida nos hábitos diários massificados. O Andanças procura lembrar esses e outros hábitos. Coisas que nos aproximam da terra. De uma certa ideia de Natureza. Uma ética do quotidiano que se pretende disseminar. No espaço e no tempo. Que não seja uma coisa circunscrita aos dias do festival. Sabendo que, felizmente, não estamos sozinhos. Que há muitas e variadas iniciativas que pretendem o mesmo. A começar pelo Movimento Slow, que surgiu como reacção à voracidade da fast food e que se orienta por três princípios fundadores: Bom – Limpo – Justo. E o Bom é uma dieta sazonal que satisfaça os sentidos e que faça parte da cultura local. O Limpo pressupõe que o consumo e produção da comida não prejudiquem o ambiente, o bem-estar dos animais ou a nossa saúde. O Justo pretende preços acessíveis para os consumidores e condições justas para os pequenos produtores. Ideias que querem ser concretizadas. Que querem reflectir-se em gestos. Gestos assim como estes. Comprar produtos num raio de 20 km. Escolher consumir as coisas que a terra nos oferece, de acordo com as estações do ano. E minimizar. Sempre. O desperdício. Partir do princípio elementar que não temos de ser excessivos para nos alimentarmos. Parece um bom princípio, este. Para mudar. Para fazer coisas concretas em nome de um princípio.

Marisa Queirós Araújo

GO SLOW

Page 11: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS 11

Hoje na cantina comemos alimentos cultivados a um par de quilómetros daqui. Mas a natureza mesmo à nossa volta, sem ninguém lhe pedir nada, também nos oferece comida e medicamentos. Fomos passear pelo quilómetro zero das plantas medicinais. Saudável. Selvagem.

Já foste até um dos poços aqui à volta? É então provável que tenhas espezinhado uma certa erva daninha. Chamam-lhe tanchagem. A pobre e vulgar erva que pisaste, é: 1. nutricionalmente riquíssima, 2. cicatrizante e anti-inflamatória, 3. trata feridas, problemas gastrointestinais e respiratórios 4. dá uma bela sopa. “É uma planta de sobrevivência. Quase que podíamos viver só disto”, anuncia Fernanda, sorrindo. “Uma ‘erva daninha’ só o é até descobrirmos para que serve!” lembra João.

Fernanda Botelho, especialista em plantas medicinais, e João Beles, professor no Instituto de Medicina Tradicional, voltaram ao Andanças e guiaram ontem um entusiástico grupo num passeio – à descoberta das plantas locais.Primeira paragem? Silvas. Há duas coisas que todos sabemos sobre amoras: estão por todo o lado e são bem boas. E há muitas outras que ignorávamos: actuam como anti-inflamatório e previnem o cancro – e até as folhinhas

das silvas são comestíveis e hiper-saudáveis.

A cada par de passos, há nova paragem. Camomila, castanheiro, hipericão, alecrim, trevo… As propriedades são fabulosas. E estão todas à mão de semear – sem que ninguém as tenha semeado. Para João Beles, “Portugal tem um clima muito bom para plantas medicinais. Podíamos exportá-las, tal como exportamos azeite”. E se as podemos encontrar nas ervanárias, também podemos usá-las em casa para fazer “saladas, chás, comprimidos, óleos…”, exemplifica Fernanda.

Da próxima vez que pensarmos comprar uma droga na farmácia – para sofrer efeitos secundários, dar dinheiro às gigantes farmacêuticas e fazer esfregar as mãos o milionário a quem pagámos o seguro de saúde – sabemos que a alternativa existe: into the wild.Atelier plantas medicinais, hoje, 15h30!

Descobre mais:Blogue: malvasilvestre.blogspot.com Livro: “As plantas e a saúde”de Fernanda Botelho

Francisco Pedro

ANDANÇAS INTO THE WILD

Page 12: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS12

ASTÚCIA DE UM VELHO LOBO DA TERRA“Um grande agricultor. Recusou sempre máquinas e desde sempre permaneceu fiel ao método tradicional.” As palavras são de Joaquim Pinho, guia da Oficina Agrícola do Andanças.

Page 13: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS 13

O grande agricultor é António Pinto, seu tio e agricultor toda uma vida. Recebe-nos de enxada ao ombro, no lugar de Favarrel, em Carvalhais, junto a um milheiral de 1500 m2. Espera-nos uma viagem à rega tradicional do milho.

“Tirem os sapatos, senão molham-se todos”. Rapidamente nos apercebemos da pertinência do conselho. António abre a ”poça” – um enorme tanque de rega abastecido por uma nascente – e água escoa pelos sulcos da terra. E é aqui que entra o trabalho dos “regadores”. Devem caminhar pelos sulcos a acompanhar o curso de água. “Assim controla-se melhor, tapam-se os buracos de toupeira, que desviam a água, aplana-se a terra... há um melhor aproveitamento da rega”, afirma António. O processo demora cerca de três horas. “No mínimo, para regar este chão de milho todo”. Um dos visitantes sugere: “E porque não criar uma iniciativa chamada Andanças no Milho e trazer a malta toda cá a cima para fazer isso?” António leva as mãos à cabeça: “Partiam-me o milho todo!”.

António também parte, mas apenas de vista, quando se imiscui na densa plantação. Não se ouve um único estalar das folhas, um quebrar de um caule. Não. O calejado agricultor caminha pelo milheiral envolto naquela segurança brumosa, quase sólida, que apenas escuda quem marcha no seu meio. Um velho lobo da terra. Matreiro, emerge com a mesma subtileza com que mergulhara naquele esverdeado oceano vertical. Toca numa cana, sente-lhe as folhas. “Isto não tem muito que saber, mas tem muita técnica”. Lemos-lhe nos olhos a constatação de toda uma geração que não aprendeu a trabalhar a terra. Aprendemos uns truques. Que a abóbora quer sombra e é plantada no meio do milho. Que colocar linho nas plantações de batatas afasta os escaravelhos. E que os piolhos não são apenas uma praga capilar, mas também

agrícola e são combatidos com uma arma muito peculiar. “Uma joaninha come cerca de 600 piolhos por dia”.

António trabalhou na agricultura desde a distância que a sua memória alcança. “Andei às costas da minha mãe nestes campos”. Pelo meio foi pedreiro, carpinteiro, até imigrante em França. Mas nunca largou o trabalho na terra, cuja mestria lhe foi cultivada por pais e avós.

Um dos visitantes acompanha-o descalço no curso de água. Gonçalo Paulino (24), da Mafra, tenciona fazer uma horta biológica no seu quintal. “Este é o primeiro passo”, afirma.Refere já ter algum conhecimento na área, por ter familiares agricultores. Mas fez questão de vir para aprender algo de novo. “Há sempre algo a aprender”.

António derrama o seu líquido olhar azulado no trabalho do jovem. “Tens de vir aqui para o pé de mim”, solta em admiração. Olha para os restantes visitantes e assegura: “Tem jeito!”.

Por diversas vezes deixa escapar desabafos sobre a dureza do trabalho nos campos. “Sabe que antigamente o padeiro não vinha a casa”. Entusiasmado, descreve todo o processo do fabrico do pão, desde o malhar do milho, a moagem nos moinhos de água, à cozedura no forno. E relembra os tempos onde a broa durava 15 dias. “Epá, mas era boa!”.

Todos sorriem. Mais um sorriso de muitos, levados pela corrente de uma tarde irrigada. Hidratada. Hidratados. No fundo, todos sabem que não fora só o milho a ser regado.

Victor Melo

Page 14: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS14

CONHECER A KNOW FOOD

A Know Food é a empresa encarregue da comida na cantina do Andanças. Nuno Fonseca, responsável da Know Food, fala de responsabilidade ambiental, do festival, e do que faz da Know Food uma empresa reconhecida pelas suas preocupações ecológicas.

Qual é o conceito da Know Food?É uma empresa que existe há cerca de três anos. Temos actuado muito na área de escritórios, cantinas, a chamada restauração colectiva. Desde o início que consideramos quer a parte ecológica, quer a sustentabilidade, quer a responsabilidade social, aspectos extremamente importantes. Em Julho fizemos a certificação em cinco áreas: qualidade, ambiente, segurança alimentar, segurança e saúde no trabalho. Somos a primeira empresa certificada pela APCER (Associação Portuguesa de Certificação) na norma Portuguesa de Sistema de Gestão da Responsabilidade Social. Para nós a responsabilidade social é uma preocupação a ter em conta em relação a todos os que nos envolvem. Só assim é que faz sentido.

Que medidas são tomadas no âmbito da ecologia?Tentamos reduzir ao máximo os consumíveis, os toalhetes, as saquetas de papel, para reduzir o gasto de papel. Nos óleos, tentamos evitar no que podemos as frituras. Existem várias medidas, algumas surgem no dia-a-dia. A reciclagem é também uma prática diária essencial.

Como é trabalhar no Andanças?A princípio, quando nos abordaram em relação ao Andanças, ficámos surpresos. Não sabíamos bem o que isto era. Quando percebemos o conceito, achámos que era um desafio que podíamos superar. Verificámos que exigia muito de nós, sobretudo na parte ecológica, para além de ser um festival de dimensão “gigante”. Acho que tem sido uma experiência engraçada em termos de prática. Aqui funcionamos um pouco pelo “navegar à vista”. Temos de tentar não fazer comida a mais para que não haja sobras, o que se enquadra na filosofia do festival. Vamos vendo quantas pessoas estão mais ou menos, e vamos cozinhando. No Andanças não sabemos que temos mil pessoas e fazemos a comida para essas mil. É diferente, é uma surpresa. Todo o festival é diferente e essa é a beleza que isto tem.

Trabalhar com os voluntários, tem sido positivo?É óptimo. Todos os voluntários são impecáveis, têm colaborado de uma forma muito intensa, são muito activos. Eu pensei que eles iriam ter menos experiência, mas não. São muito certinhos, muito atinados, toda a gente faz o trabalho de uma forma impecável e têm também uma coordenadora, a Susana, que tem sido fantástica. É uma experiência a repetir.

Entrevista por Bárbara Abraúl

PATRIMÓNIO IMATERIAL

Seguindo o tema do dia, o

Salão propõe um momento de debate e conversa (17h15) em torno

do Património Imaterial da região de Lafões. Fernando Luís é autor do programa Som da Gente

emitido todos os Domingos (9h-10h) na Rádio Lafões. Trata-se de um programa de reportagem sobre

histórias de vida, usos e costumes das gentes da região e com visitas a museus e monumentos locais. Juntamente com os Alafum - grupo constituído há mais de 25 anos que se dedica ao cancioneiro da região de Lafões e conta já com 10 trabalhos editados - apresentará aos participantes a riqueza do património cultural da região incentivando

a discussão sobre a importância da preservação e divulgação deste património.

Mafalda Duarte

Page 15: Andanças 2011 jornal #2

JORNALANDANÇAS 15

SEMENTES PARA RECUPERARCebolas roxas, tomates amarelos e alfaces acastanhadas? Pode parecer uma salada vista por alguém que padeça de daltonismo, mas tratam-se de variedades agrícolas tipicamente portuguesas, e supõe-se que muitas hajam ainda por descobrir. Nos dias de hoje, guardadas e reproduzidas por apenas um punhado de agricultores, muitas vezes em áreas remotas do nosso país, escondem-se sabores, cores e nutrientes que poucos conhecem. A agro-biodiversidade é um património que cada vez mais produtores e consumidores querem ver protegido. Para além das diferenças em termos de sabor e nutrição, uma maior variabilidade genética de espécies agrícolas assegura que existam maiores probabilidades de resistência a doenças e mudanças de clima. Tendo em conta que actualmente, a maior parte da alimentação mundial se baseia apenas em cerca de 20 espécies agrícolas, e que o planeta está cada vez mais exposto a mudanças climáticas e novas estirpes de doenças, urge preservar e acarinhar a enorme diversidade de variedades agrícolas que já existe entre nós.É isso que faz a campanha pelas Sementes Livres, que marca este ano presença no Andanças com uma banca à entrada no recinto. Aqui é possível trocar sementes de variedades tradicionais portugueseas e aprender mais

sobre a importância da agro-biodiversidade, incluindo as actuais ameaças à possibilidade da livre recolha e troca de

sementes de variedades tradicionais, como novos projectos-lei europeus que as querem restringir.Se queres fazer parte deste crescente grupo que apoia e promove a agro-biodiversidade, visita a banca da campanha, leva as tuas sementes e troca por uma variedade tradicional à tua escolha.

Sara Correia

“Não se esqueçam de pôr a data, o local e o nome da planta!”, lembra a Sílvia. Há a planta do caril, o alecrim, e tantas, tantas outras. Apanhadas mesmo aqui ao lado, estão agora reunidas num improvisado livro colorido. Herbário: eis o nome de uma colecção de plantas prensadas e secas. “São dos mais antigos livros de botânica”, explica Sílvia Barbosa, que ontem dinamizou este atelier. Com nada mais que quadrados de cartão e lápis de cor, miúdos e graúdos fizeram-se botânicos por umas horas. E tu, quando o fizeste pela última vez? Partir para o quintal ou para uma floresta, identificar, aprender, brincar... “É uma óptima actividade de fim-de-semana, para fazer com as crianças”.

E com uma vantagem: saibas ou não escrever ou desenhar, este livro só pode mesmo ficar lindo.

Francisco Pedro

HERBA-QUÊ?!

Page 16: Andanças 2011 jornal #2

DICA ECOLÓGICAPOUPAR ÁGUA

Um dos princípios ecológicos básicos do Andanças é a poupança de água.

Contudo, já deves ter reparado que a água dos lavatórios que se encontram entre a cantina e o acampamento sai com muita pressão. Atenção!

Há uma maneira de fazer com que isso não aconteça: basta teres cuidado ao abrir a

torneira, fazendo-o devagar e com pouca força. Deste modo, a pressão da água é

inferior e não se desperdiça tanta água!

Colaboradores Mafalda Duarte, Ágata Melquíades, Sandra Santos, Victor Melo, Bárbara Abraúl, Francisco Pedro, Ana Mateus, Daniel Azevedo, Manuel Galrinho, Maria do Carmo Galrinho e Sara Correia | Colaboradores do Centro de Promoção Social de Carvalhais Marisa Araújo | Design Ana Mateus e Daniel Azevedo | Fotografia Manuel Galrinho e Maria do Carmo Galrinho | Fotografia da Capa Manuel Galrinho | Edição e Impressão Centro de Promoção Social de Carvalhais | Tiragem 18 exemplares A4 + 3 exemplares A5

JORNAL DISPONÍVEL EM PDF EM WWW.ANDANCAS.NET

MINISTRO DA ECONOMIA CONDENA “AMBIENTE DE OSTENTAÇÃO” DO ANTERIOR EXECUTIVO. Álvaro Santos Pereira reiterou a aposta do actual Executivo numa redução da despesa “histórica”.

GOVERNO ALTERA DATAS DE PAGAMENTOS DOS SALÁRIOS NA FUNÇÃO PÚBLICA. O Ministério das Finanças anunciou as novas datas de pagamento, alteração que resulta da reafectação de alguns serviços à nova composição de ministérios.

NOVO PARLAMENTO DA TAILÂNDIA ESCOLHE PRESIDENTE. O parlamento tailandês, reunido pela primeira vez, elegeu como presidente da assembleia Somsak Kiatsuranont, do partido Puea Thai, vencedor das eleições legislativas de 03 de julho.

Fonte:Publico.ptionline

GLO

BA

L

DEFINE ESTA LINHADESPERDÍCIO DE COMIDA NA CANTINA

O Andanças é resultado de esforços conjuntos e vontades comuns. Ao longo de todas as edições foram-se cimentando relações e parcerias que resultam numa divisão de tarefas eficiente e confiança total. Todos os anos a Associação PédeXumbo une esforços com a Câmara Municipal de São Pedro do Sul, Centro de Promoção Social de Carvalhais e a Junta de Freguesia de Carvalhais que conjuntamente trabalham com a população local no sentido de produzir um festival de qualidade. Segundo o Prof. Adriano Azevedo, peça-chave nesta relação, o que importa é “, concertar esforços no sentido de fazer a apologia do património local: material e imaterial. Respeitando-se as competências de parte a parte e partilhando-se a mesma pedagogia: a de combate ao excesso, ao desperdício.”

Mafalda Duarte

O ANDANÇAS E OS PARCEIROS

Nº Refeições Peso Médio/ Refeição (g)

PA Alm Jan PA Alm Jan

Segunda 178 645 1112 84 104 90

Terça 272 970 1394 73 74 73