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ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO THIAGO MENDES BARBOSA MANEJO INTRAOPERATÓRIO DA COAGULAÇÃO COM DISPOSITIVOS VISCOELÁSTICOS FORTALEZA 2017

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ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO THIAGO MENDES BARBOSA

MANEJO INTRAOPERATÓRIO DA

COAGULAÇÃO COM DISPOSITIVOS

VISCOELÁSTICOS

FORTALEZA

2017

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ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO THIAGO MENDES BARBOSA

MANEJO INTRAOPERATÓRIO DA

COAGULAÇÃO COM DISPOSITIVOS

VISCOELÁSTICOS

Trabalho de Conclusão de Curso, como requisito parcial para término da residência médica em Anestesiologia, no Hospital Geral de Fortaleza. Orientador: Prof. Dr. Rogean Rodrigues Nunes.

FORTALEZA

2017

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ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO THIAGO MENDES BARBOSA

MANEJO INTRAOPERATÓRIO DA

COAGULAÇÃO COM DISPOSITIVOS

VISCOELÁSTICOS

Trabalho de Conclusão de Curso, como requisito parcial para término da residência médica em Anestesiologia no Hospital Geral de Fortaleza. Orientador: Prof. Dr. Rogean Rodrigues Nunes.

Aprovado em: ___/___/____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________ Prof. Dr. Rogean Rodrigues Nunes (Orientador)

Corresponsável CET - Hospital Geral de Fortaleza

_____________________________________ Prof. Dr. José Carlos Rodrigues Nascimento

Responsável CET - Hospital Geral de Fortaleza

____________________________________ Prof. Dr. David Silveira Marinho

Corresponsável CET - Hospital Geral de Fortaleza

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AGRADECIMENTOS

Às nossas mães, Maria Arlete Alves Mendes e Jeovana Maria de Castro

Calíope, os alicerces das nossas vidas, as únicas pessoas a quem devemos o que

somos e por quem nos empenhamos em sempre seguir em frente.

Ao Prof. Dr. Rogean Rodrigues Nunes, orientador desta monografia, por todos

os ensinamentos e pelo exemplo de competência e dedicação incansável à produção

científica e à anestesiologia.

À Dra. Aglaís Gonçalves da Silva Leite, pela coordenação e dedicação ao

serviço de anestesiologia do Hospital Geral de Fortaleza, por sua luta constante no

aprimoramento do serviço e do nosso aprendizado.

Ao Prof. Dr. José Carlos Rodrigues Nascimento pela paciência, pelo cuidado e

zelo conosco desde nosso ano de ingresso à residência e pelos ensinamentos com

excelência e dedicação ao serviço de anestesiologia.

Ao Prof. Dr. David Silveira Marinho pelo empenho esmeroso e de excelente

qualidade frente à equipe de anestesiologia do transplante hepático do Hospital Geral

de Fortaleza e por ser sempre receptivo às nossas dúvidas sempre sanando-as de

maneira impecável.

Ao Dr. Germano Pinheiro Medeiros pela dedicação às sessões clínicas, cursos

e em especial ao segundo ano da residência, por empenhar-se pelo crescimento e

qualidade do serviço.

Aos nossos colegas de residência pela amizade, companheirismo e agradável

convívio nesses três anos.

A todos os pacientes que confiaram suas vidas aos nossos cuidados.

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RESUMO Os testes viscoelásticos estão sendo usados na monitorização intraoperatória da coagulação, podendo predizer risco de sangramento e guiar terapias hemostáticas. Eles diferem dos testes convencionais, pois avaliam a cinética de formação do coágulo, através da análise das suas fases de inicialização, formação e estabilidade. Esses testes oferecem informações acerca da interação do plasma, plaquetas e células sanguíneas, além de avaliar a fibrinólise e eventual hipercoagulabilidade. A tromboelastometria rotacional (ROTEM®) representa um dos dispositivos de diagnóstico in vitro dos distúrbios da hemostasia point of care, permitindo uma avaliação gráfica contínua da firmeza do coágulo e da fibrinólise em minutos. O ROTEM® contém quatro canais principais independentes para análise: EXTEM – avalia a via extrínseca da coagulação, INTEM – via intrínseca da coagulação, APTEM- avalia a coagulação na presença de um inibidor da fibrinólise (aprotinina), HEPTEM- avalia a coagulação intrínseca na presença de um inibidor da heparina (heparinase). As principais limitações do método são relacionadas à detecção da ação de drogas antiplaquetárias e alguns anticoagulantes, porém novos ensaios agregados ao ROTEM® platelet trazem uma nova perspectiva para o diagnóstico dessas alterações. Os principais cenários de aplicabilidade da ferramenta ROTEM® são situações onde há maior probabilidade de alterações da coagulação, como no transplante hepático, devido à redução de fatores de coagulação e plaquetopenia, no trauma onde há degradação dos fatores por consumo ou diluição, na cirurgia cardíaca, em que há mudanças na coagulação pela ação da circulação extracorpórea e também na hemorragia pós-parto em que há tendência hemorrágica pela fibrinólise no pós-parto e o consumo dos fatores de coagulação. Palavras-chave: Coagulação. Tromboelastometria Rotacional. Manejo da coagulação. Dispositivos viscoelásticos.

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ABSTRACT Viscoelastic tests are being used for intraoperative monitoring of coagulation, and may predict risk of bleeding and guide hemostatic therapies. They differ from conventional tests because they evaluate the kinetics of clot formation by analyzing their initiation, formation and stability phases, providing information on the interaction of plasma, platelets and blood cells, as well as evaluating fibrinolysis and eventual hypercoagulability. Rotational thromboelastometry (ROTEM®) represents one of the in vitro diagnostic devices, allowing continuous graphic evaluation of clot firmness and fibrinolysis. ROTEM ® contains four independent main channels for analysis: EXTEM - evaluates extrinsic pathway of coagulation, INTEM – intrinsic pathway of coagulation, APTEM - evaluates coagulation in the presence of a fibrinolysis inhibitor (aprotinin), HEPTEM - evaluates intrinsic pathway of coagulation in the presence of a heparin inhibitor (heparinase). The main limitations of the method are related to the detection of antiplatelet drugs and certain anticoagulants, but new assays, such as ROTEM® platelet, provide a new perspective for the diagnosis of these alterations. The main scenarios in which ROTEM® is a useful tool are situations in which coagulation changes are more likely to occur, such as hepatic transplantation, due to the reduction of coagulation factors and thrombocytopenia, in trauma, in which there is degradation of the factors by consumption or dilution, in cardiac surgery , in which there are changes in coagulation due to extracorporeal circulation and also in postpartum haemorrhage, in which there is a hemorrhagic tendency due to fibrinolysis in the postpartum period and due to consumption of coagulation factors. Keywords: Coagulation. Rotational Thromboelastometry. Coagulation management. Viscoelastic devices.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Dispositivos viscoelásticos da coagulação.............................................. 11

Figura 2. Princípios de funcionamento dos dispositivos viscoelásticos da coagulação...................................................................................................

12

Figura 3. Adesão e agregação plaquetária............................................................ 15

Figura 4. Modelo celular da coagulação............................................................. 16

Figura 5. O sistema fibrinolítico......................................................................... 17

Figura 6. ROTEM®............................................................................................. 18

Figura 7. Traçado do tromboelastograma..................................................... 19

Figura 8. Nomenclaturas utilizadas e relacionadas com o processo da coagulação..................................................................................................

19

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LISTA DE TABELAS E QUADRO

Tabela 1. Indicações e valores normais dos testes da tromboelastometria rotacional....................................................................................................

20

Tabela 2. Algoritmo de tratamento das alterações da coagulação e fibrinólise de acordo com o ROTEM® no transplante hepático............................................

28

Quadro 1. Resumo do modelo celular da coagulação.......................................... 16

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

2 OBJETIVO ....................................................................................................................... 13

3 FISIOLOGIA DA COAGULAÇÃO .................................................................................... 14

3.1 HEMOSTASIA PRIMÁRIA ............................................................................................. 14

3.2 HEMOSTASIA SECUNDÁRIA (COAGULAÇÃO) ........................................................... 15

3.3 SISTEMA FIBRINOLÍTICO ............................................................................................ 17

4 MANEJO DA COAGULAÇÃO NO TRANSPLANTE HEPÁTICO ..................................... 23

4.1 HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO DURANTE O TRANSPLANTE HEPÁTICO ............... 25

4.2 SEGUIMENTO DA COAGULAÇÃO DURANTE O TRANSPLANTE HEPÁTICO............ 27

5 MANEJO DA COAGULAÇÃO NA CIRURGIA CARDÍACA ............................................. 29

6 MANEJO DA COAGULAÇÃO NO TRAUMA ................................................................... 34

7 MANEJO DA COAGULAÇÃO NA OBSTETRÍCIA ........................................................... 38

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 41

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 42

Page 10: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

9

1 INTRODUÇÃO

Os testes viscoelásticos estão sendo cada vez mais usados na monitorização

da coagulação e são de fundamental importância para diagnosticar causas potenciais

de hemorragia, predizer o risco de sangramento durante o curso de procedimentos

cirúrgicos e guiar terapias hemostáticas. Eles diferem dos testes convencionais por

avaliarem a cinética da formação do coágulo, refletindo a interação do plasma, células

sanguíneas e plaquetas. Oferece informações também acerca da fibrinólise e de

eventual hipercoagulabilidade.

Os exames laboratoriais convencionais utilizados classicamente para análise

da coagulação devem ser interpretados juntamente com os eventos clínicos

observados, ajudando a identificar a causa do sangramento anormal. Entretanto,

apresentam algumas limitações como: não fornecem nenhuma informação sobre a

fibrinólise, a contagem plaquetária não informa sobre a sua função, tempo de atividade

da protrombina (TAP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) são

relativamente insensíveis aos níveis de fibrinogênio encontrados no plasma, os

resultados dos testes de coagulação realizados em laboratório normalmente não

estão disponíveis em menos de 30-60 minutos e, devido à demora nos resultados,

pode haver transfusão inapropriada de produtos sanguíneos, que estão associados

com aumento da morbimortalidade e de custos hospitalares quando se compara com

o manejo da coagulação utilizando a tromboelastometria 1,2,3,4.

Além disso, em caso de infusão de coloides, pode haver medidas falsamente

elevadas de fibrinogênio, TAP e TTPa, que não diagnosticam a estabilidade mecânica

do coágulo, apenas determinam a velocidade da geração de trombina. TAP e TTPa

nunca foram destinados para avaliar o risco de sangramento intraoperatório ou para

refletir in vivo a hemostasia 5,6,7,8.

Alguns dos dispositivos point of care (POC) de monitoramento da coagulação

que avaliam as propriedades viscoelásticas de sangue total, são a tromboelastografia

(TEG®), a trombolelastometria rotacional (ROTEM®) e análise Sonoclot®. Esses testes

podem superar algumas limitações dos testes de coagulação convencionais. O

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sangue pode ser analisado à beira do leito e não necessariamente no laboratório,

permitindo resultados mais rápidos 9,10.

A tromboelastografia foi descrita pela primeira vez como instrumento de

pesquisa em 1948 por Hartert e anos mais tarde, introduzida na prática clínica por

Kang em 1985, na monitorização da coagulação em transplantes hepáticos, sendo um

método para avaliar a função hemostática global de uma única amostra de sangue

total. As mudanças viscoelásticas que ocorrem durante a coagulação são registradas,

proporcionando uma representação gráfica do processo de polimerização da fibrina.

A TEG® (figura 1A) mede as propriedades físicas do coágulo, utilizando um copo

cilíndrico estacionário que contém a amostra de sangue e oscila através de um ângulo

de 4°45'. Cada ciclo de rotação dura 10 segundos. Um pino é suspenso no sangue

por um fio de torção e seu movimento de rotação é monitorizado (figura 2A) e seu

movimento de rotação é convertido por um transdutor elétrico-mecânico num sinal

elétrico, sendo finalmente mostrado como a TEG® típica (Figura 3A). No entanto, em

1996 os nomes tromboelastografia e a TEG® tornaram-se marcas registradas da

Hemoscope Corporation (Niles, IL), e, a partir deste momento, esses termos têm sido

utilizados para descrever o ensaio realizado usando apenas instrumentos Hemoscope

9,10,11.

Alternativamente, TEM Internacional GmbH (Munique, Alemanha) comercializa

uma instrumentação modificada usando a tromboelastometria rotacional, o ROTEM®.

Este avalia as propriedades viscoelásticas das amostras de sangue em condições de

baixo arraste (Figura 1B) e utiliza uma tecnologia modificada, onde o sinal do pino

suspenso na amostra de sangue é transmitido através de um sistema de detecção

óptica e não um fio de torção, e o movimento é iniciado a partir do pino (Figura 2B).

Além disso, o instrumento está equipado com uma pipeta eletrônica 9,10,11.

O Sonoclot® (Figura 1C), foi introduzido em 1975. As medições do Sonoclot®

baseiam-se na detecção de mudanças viscoelásticas de uma amostra de sangue total

ou de plasma. Para iniciar uma medida, uma sonda de plástico côncava descartável

é montada na cabeça do transdutor. Em seguida, a amostra de teste é adicionada à

cubeta contendo diferentes ativadores/ inibidores da coagulação. Depois de um

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11

procedimento de mistura automatizado, a sonda é imersa na amostra e oscila

verticalmente na mesma. As mudanças na impedância ao movimento imposto pelo

coágulo em desenvolvimento são então mensurados (Figura 2C)9.

Figura 1. Dispositivos viscoelásticos da coagulação.

A, Tromboelastografia, TEG (Haemoscope Corp., Niles, IL). B, tromboelastometria rotacional, ROTEM

(TEM International GmbH, Munique, Alemanha). C, Sonoclot (Sienco Inc., Arvada, CO).

Fonte: Ganter, Hofer, 2008, p. 1375.

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12

Figura 2. Princípios de funcionamento dos dispositivos viscoelásticos da

coagulação.

A, Tromboelastografia (TEG®): copo rotativo com amostra de sangue (1), ativador de coagulação (2), o

pino e a torção do fio (3), o transdutor eletromecânico (4), o processamento de dados (5). B,

Tromboelastografia rotacional (ROTEM®): Cubeta de sangue (1), ativador adicionado por pipetagem

(2), pino de rotação do eixo (3), a detecção de sinal eletromecânico através de fonte de luz e o espelho

montado no eixo (4), o processamento de dados (5). C, Sonoclot: Amostra de sangue na cubeta (1)

contendo ativador (2), sonda descartável de plástico (3) na amostra de sangue oscilante montado na

cabeça do transdutor eletromecânico (4), o processamento de dados (5).

Fonte: Ganter, Hofer, 2008, p. 1375.

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2 OBJETIVO

Descrever o uso da tromboelastometria rotacional no manejo intraoperatório da

coagulação em pacientes predispostos ao desenvolvimento de distúrbios de

coagulação, tendo como alvos os cenários do transplante hepático, cirurgia cardíaca,

trauma e obstetrícia.

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3 FISIOLOGIA DA COAGULAÇÃO

O fígado desempenha um papel de fundamental importância no processo da

coagulação do sangue, porque é o local de síntese da maioria dos fatores da

coagulação e de seus inibidores. A hemostasia é o processo de formação do coágulo

para evitar a perda excessiva de sangue através de um vaso lesado.

3.1 HEMOSTASIA PRIMÁRIA

Na lesão vascular, ocorre ativação da cascata da coagulação, levando a

ativação e agregação de plaquetas através do subendotélio exposto e a subsequente

formação do tampão plaquetário hemostático primário12,13. As plaquetas aderem a

matriz subendotelial por meio de dois receptores de colágeno plaquetários

(glicoproteína [GP] Ia, IIa e GP VI) . As plaquetas ativadas expressam o receptor GP

Ib-IX-V, que reforça a adesão ao se vincular ao fator de Von Willebrand (FvW).

Plaquetas adicionais são ativadas, recrutadas e agregadas para formar um tampão

que se liga às moléculas de fibrinogênio através do receptor GP IIb/IIIa. Plaquetas

ativadas com colágeno e trombina liberam o trifosfato de adenosina (ADP) e

tromboxano A2 (TXA2), que agem recrutando mais plaquetas para a ampliação do

tampão plaquetário14,15,16,17.

À proporção que o processo hemostático inicia, uma série de inibidores como:

antitrombina III, proteína C, proteína S sintetizados a partir do fígado, os inibidores de

plaquetas (prostaglandina I2, óxido nítrico) e os inibidores da via do fator tecidual 1 e

2 (TFPI-1 e TFPI-2), são ativados para limitar a formação do coágulo na região

danificada. Mecanismos fibrinolíticos atuam para assegurar a remodelação e

desobstrução do vaso.16

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15

Figura 3. Adesão e agregação plaquetária

FvW = fator de von Willebrand; GP 1b = receptor glicoproteico 1b; GPIIb/IIIa = receptor glicoproteico IIb/IIIa. Fonte: Morais et al., 2013, p. 154.

3.2 HEMOSTASIA SECUNDÁRIA (COAGULAÇÃO)

Os fatores de coagulação, na sua maioria, são proteínas com síntese hepática

circulando na forma inativa. Há dinâmica interrelação de reações coordenadas e

cálcio-dependentes, quando estes zimogênios são convertidos em proteínas ativadas

até via final na qual a trombina é formada17,18.

Conceitualmente, o modelo da cascata de coagulação foi substituída para o

modelo celular da coagulação, diferente da ideia antiga na qual a ativação era dividida

em via extrínseca, intrínseca e comum. Idealizado em 1964, o antigo modelo da

cascata não ilustra adequadamente a hemostasia in vivo. Então, o conhecimento atual

do processo hemostático engloba a interrelação dos processos físicos, bioquímicos e

celulares que acontecem em uma série de estágios ou fases de iniciação,

amplificação, propagação e finalização, sumarizadas no quadro 1. Este novo modelo

celular propiciou uma compreensão mais clara do processo da coagulação in vivo, e

apresenta melhor consistência com as observações clínicas de vários distúrbios da

coagulação do que o modelo clássico (figura 4)17,18,19.

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16

Fases da Coagulação

Iniciação Amplificação Propagação Finalização

Ocorrem alterações do endotélio vascular e células do sangue, acontecendo interação do FVIIa derivado do plasma com o fator tecidual

Uma pequena quantidade de trombina ativa plaquetas, cofatores V e VIII, e fator XI na superfície das plaquetas

Acontece surto de produção de trombina, formação de tampão estável no sítio da lesão e interrupção do sangramento.

O processo da coagulação é interrompido para evitar oclusão trombótica em torno das áreas íntegras dos vasos.

Quadro 1. Resumo do modelo celular da coagulação. Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 4. Modelo celular da coagulação

Modelo celular da coagulação demonstrando as fases de iniciação, amplificação e propagação. Fator tecidual (FT), ativado (a). Fonte: Ferreira et al., 2010, p. 418.

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17

3.3 SISTEMA FIBRINOLÍTICO

Em condições fisiológicas o trombo, após ser formado, deve ser eliminado de

forma que o lúmen vascular e o fluxo sanguíneo retornem ao normal. Nessa situação,

a fibrinólise tem a função de remover os coágulos de fibrina. Para manter a integridade

do endotélio, o sistema reticuloendotelial hepático atua na depuração de fatores da

hemostasia e de produtos de sua regulação por meio das metaloproteinases, das

proteínas ativadoras serino-proteases e de proteínas inibidoras que são

representantes da superfamília das serpinas20,21.

O controle e a regulação do sistema fibrinolítico são realizados por interações

moleculares específicas, entre seus principais componentes e pela liberação dos

ativadores / inibidores do plasminogênio pelas células endoteliais, conforme ilustrado

na figura 5 abaixo. A ativação do plasminogênio em plasmina é feita pelo t-PA e pelo

u-PA. Posteriormente, há degradação da rede de fibrina e produção dos produtos de

degradação de fibrina (PDF). Este processo pode ser modulado pelos inibidores dos

ativadores do plasminogênio 1 e 2 (PAI-1 e PAI-2), neutralizadores de plasmina (α2-

antiplasmina e α2-macroglobulina) e pelo sistema inibidor de fibrinólise ativável pela

trombina (TAFI)16,22.

Figura 5. O sistema fibrinolítico Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 19: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

18

3 TROMBOELASTOMETRIA ROTACIONAL

A tromboelastometria rotacional [ROTEM delta (TEM Internacional GmbH,

Munich, Germany)]. (figura 6) é um dispositivo de diagnóstico in vitro de distúrbios da

hemostasia, que avalia as propriedades viscoelásticas das amostras de sangue em

baixas condições de arraste. Ele permite a avaliação em um gráfico contínuo da

firmeza do coágulo durante seu processo de formação (fatores de coagulação e

inibidores, plaquetas e fibrina) e a fibrinólise subsequente em alguns minutos. Uma

amostra de 300 µL de sangue total citratado de e 40 µL de solução de ensaio são

adicionados a uma cubeta. Um pino é fixado a uma haste rotacional do aparelho e

mergulhado na cubeta. À proporção que o coágulo se forma, as traves de fibrina ligam

as paredes da cubeta ao pino. Desse modo, a impedância de rotação do pino é

detectada, e um gráfico é gerado ilustrando o sistema de coagulação de uma forma

reprodutível, diminuindo o tempo de obtenção de resultados como visto nas figuras 7

e 8. Isto permite diagnósticos rápidos, mapeamento de desordens em caminhos

específicos do sistema de hemostasia e análise do efeito de diferentes fármacos

influenciando a hemostasia3,8,9,10,11.

Figura 6. ROTEM®

ROTEM®: contendo 4 canais independentes na parte inferior do painel para a realização simultânea de diferentes testes (INTEM / EXTEM / FIBTEM / HEPTEM) e 2 canais no painel superior para estudar o efeito de vários medicamentos inibidores de plaquetas (ARATEM / ADPTEM / TRAPTEM). Fonte: Adaptado de Gorlinger et al., 2016, p. 5.

Page 20: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

19

Figura 7. Traçado do tromboelastograma Fonte: Soeiro et al., 2012, p. 32.

Figura 8. Nomenclaturas utilizadas e relacionadas com o processo da coagulação Fonte: Soeiro et al., 2012, p. 33.

O ROTEM contém ainda quatro canais independentes que podem ser

analisados simultaneamente com a possibilidade de uso de aditivos terapêuticos ou

diagnósticos nos testes in vitro, avaliando seus efeitos antes de se iniciar a terapia.

Os ensaios mais utilizados são22,23:

• EXTEM: Ativação da via extrínseca da coagulação. Avalia a via

extrínseca e permite o acesso rápido à fibrinólise e à formação do coágulo.

Page 21: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

20

• APTEM: Ativação da via extrínseca da coagulação na presença de

inibidor da fibrinólise (aprotinina). Avalia a deficiência de fator XIII e a fibrinólise.

• INTEM: Avalia a via intrínseca da coagulação.

• HEPTEM: Ativação da via intrínseca da coagulação em presença de

enzima que degrada heparina (heparinase I).

• FIBTEM: Ativação da via extrínseca da coagulação na presença da

citocalasina D que inibe as plaquetas. Representa a contribuição da fibrina à firmeza

do coágulo e provê uma avaliação qualitativa e qualitativa dos níveis de fibrinogênio.

• ECATEM: Diagnostica inibidor direto da trombina, através do uso da

ecarina, que é um ativador de protrombina.

• NATEM: Ativado unicamente por recalcificação, sendo sensível para

diagnosticar ativadores endógenos, como na expressão do fator tecidual em células

de monócitos na sepse e na cirrose.

As indicações e os valores normais seguem de acordo com a tabela 1.

Testes Indicação CT(S) CFT(S) α (ο) A10

(mm)

MCF

(mm)

ML (%)

EXTEM,

APTEM

↓Plaquetas,

↓fatores do

plasma,

↑fibrinólise

38-79 34-159 63-83 43-65 50-72 0-15

FIBTEM ↓Fibrinogênio - - 7-23 9-25 -

INTEM,

HEPTEM

↓Plaquetas,

↓fatores do

plasma,

↑heparina

100-240 30-110 70-83 44-68 50-72 0-15

Tabela 1. Indicações e valores normais dos testes da tromboelastometria rotacional.

↓: diminuição

Fonte: Tanaka et al., 2012, p. 1090.

Page 22: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

21

Obtidos os resultados da análise do ROTEM®, os valores podem comparados

aos valores normais e, em caso de alterações, juntamente com diagnóstico clínico de

sangramento microvascular com base em protocolos específicos de suporte à

hemostasia.

A trombolelastometria pelo ROTEM® possui, entretanto, algumas limitações,

principalmente no que concerne à detecção de antiagregantes plaquetários e certos

anticoagulantes. Alterações de coagulação impostas por inibidores plaquetários como

o ácido acetilsalicílico e clopidogrel e por anticoagulantes como heparina de baixo

peso moluecular, danaparoide sódico e cumarínicos não são detectados

satisfatoriamente pela tromboelastometria pelo ROTEM®. Além disso há uma baixa

sensibilidade a alterações decorrentes do uso de abciximabe e não é detectada a

presença de doença de von Willebrand.

Diante dessas limitações, pode-se lançar mão do uso de ferramentas adicionais

como o ROTEM® platelet. Este é um módulo do ROTEM® que mensura a agregação

plaquetária através de impedância elétrica. Este módulo é um agregômetro de

impedância para a avaliação da função plaquetária em sangue total citratado. Ele

fornece informações quantitativas e qualitativas sobre a agregação plaquetária

através da avaliação das alterações de impedância elétrica após ativação plaquetária

induzida por diferentes reagentes. Destina-se a ser utilizado em pacientes em uso de

medicações antiplaquetárias ou outras drogas que possam ter impacto na função das

plaquetas, bem como em pacientes com suspeita de disfunção plaquetária por

circulação extracorpórea, trauma, sepse ou outras razões. O ROTEM® platelet pode

ser usado em conjunto com o sistema ROTEM® delta, mas não necessariamente têm

de ser complementado por testes viscoelásticos25.

O módulo ROTEM® platelet, contém 2 canais que podem realizar quaisquer de

3 ensaios3:

• ARATEM: Ativação plaquetária com o ácido araquidônico nos estudos

da ciclo-oxigenase (COX-1) e na inibição dos receptores da gricoproteína (GP) IIb /

IIIa.

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22

• ADPTEM: Ativação plaquetária com a adenosina difosfato (ADP) nos

estudos

• da ADP e na inibição dos receptores da GP IIb / IIIa.

• TRAPTEM: Ativação plaquetária com o peptídeo ativador-6 do receptor

de trombina nos estudos da trombina e na inibição dos receptores da GP IIb / IIIa.

Em doentes tratados com inibidores da ciclo-oxigenase (por exemplo, ácido

acetilsalicílico) a agregação plaquetária pode ser prejudicada. Isso será detectado no

ARATEM. Naqueles utilizando antagonistas do receptor de ADP (por exemplo,

clopidogrel), o distúrbio de agregação plaquetária será detectado no ADPTEM. Já nos

pacientes tratados com terapia antiplaquetária dupla (por exemplo, ácido

acetilsalicílico e clopidogrel), isto será detectado no ADPTEM e ARATEM. Naqueles

em uso de antagonistas do receptor PAR-1 (vorapaxar, por exemplo), a detecção será

feita no TRAPTEM. Por fim, nos pacientes em terapia com inibidores de GP IIb / IIIa

(e.g., abciximabe), isto pode ser detectado em todos os testes: ADPTEM, TRAPTEM

e ARATEM.

Page 24: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

23

4 MANEJO DA COAGULAÇÃO NO TRANSPLANTE HEPÁTICO

Hemostasia é decorrente da interação entre a formação de tampão plaquetário

na hemostasia primária e hemostasia secundária na produção de trombina e

fibrinólise. O fígado tem a função de síntese de quase todos os fatores da coagulação

e da anticoagulação, excetuando-se o fator VIII, o ativador tecidual de plasminogênio

(t-PA) e o inibidor da ativação do plasminogênio (PAI), desempenhando uma atividade

importante no sistema hemostático. A doença hepática tende a causar a disfunção de

vários componentes normais da hemostasia, como a síntese reduzida de fatores da

coagulação, hiperfibrinólise, presença de qualidade anormal dos fatores da

coagulação, influência de células vermelhas e hemólise, sequestro de plaquetas pelo

baço com sua disfunção e trombocitopenia13,16,26.

A plaquetopenia que ocorre na cirrose é decorrente do sequestro esplâncnico,

deficiência de trombopoietina, destruição imunológica, infecção, fibrinólise aumentada

e translocação bacteriana. Pode ser evidenciada em torno de 30 a 64% de pacientes

cirróticos, no entanto, raramente a contagem de plaquetas é abaixo de 30.000 a

40.000 / mm3 e não é comum sangramento espontâneo. Até 90% das plaquetas

podem estar no baço, mesmo com a massa plaquetária normal. A trombopoietina

(TPO) é uma citocina sintetizada pelo fígado responsável pela maturação de

megacariócitos e a formação de plaquetas. Assim, os níveis séricos de TPO estão

diminuídos em pacientes cirróticos com trombocitopenia27,28.

A redução da produção de fatores de coagulação desencadeia alargamento do

tempo de atividade da protrombina (TAP) e do tempo de tromboplastina parcial ativada

(TTPa). Um estado hipercoagulável pode, também, ser evidenciado pela

tromboelastometria, pois os fatores inibidores da coagulação também são sintetizados

pelo fígado, como: antitrombina III, cofator II da heparina, proteína C, proteína S e

TFPI29.

A disfibrinogenemia ocorre em até 60 a 70% dos pacientes com insuficiência

hepática. Devido a alterações estruturais no fibrinogênio, é observada uma

Page 25: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

24

polimerização deficiente da fibrina do paciente, aumentando o tempo de trombina

(TT), mesmo estando normais as dosagem de fibrinogênio, TAP, TTPa30.

A hiperfibrinólise é muito comum na cirrose hepática, podendo ser

diagnosticada por meio do aumento dos níveis séricos do D-dímero, dos produtos de

degradação da fibrina e pela tromboelastometria. Ocorre aumento do t-PA, decorrente

da redução do clearance hepático e os níveis do PAI-1 estão normais ou um pouco

aumentados, sendo insuficiente para inibir o t-PA. A hiperfibrinólise é comum em

hepatopatas com doença crônica avançada, mas não em doença aguda. Geralmente,

está presente em 31% dos pacientes com cirrose hepática compensada e em 93%

dos pacientes com ascite30,31,32.

Embora os defeitos dos fatores de coagulação levem a uma tendência ao

sangramento, tanto os eventos trombóticos como as complicações hemorrágicas

podem ocorrer em pacientes com doença hepática avançada. Isto pode ser explicado

pelo fato de que, mesmo existindo um estado de equilíbrio, tanto as proteínas pró-

coagulantes como anticoagulantes estão diminuídas. Assim, a hemostasia é mais

precária e susceptível de descompensação no sentido de hipo ou

hipercoagulabilidade em situações como cirurgia, infecção, hipotermia, perda de

sangue, transfusão, etc. Além disso, a tendência para hemorragias em pacientes com

doença hepática crônica é muito menos previsível do que em doentes com um defeito

congênito em seu sistema de coagulação30,33.

Hipotermia decorrente do uso de grandes volumes de fluidos intravenosos e

hipocalcemia secundária a toxicidade de citrato, pode agravar ainda mais a

coagulopatia preexistente e piorar o sangramento perioperatório. Perda excessiva de

sangue e transfusão durante o procedimento cirúrgico estão correlacionados com

reduzida sobrevivência do enxerto, permanência prolongada na unidade de terapia

intensiva e aumento do risco de sepse34,35.

O risco de transfusão de sangue alogênico se expande para além da

transmissão viral e inclui reações alérgicas, infecção bacteriana, aloimunização, lesão

pulmonar aguda relacionada com transfusão (TRALI), doença do enxerto versus

Page 26: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

25

hospedeiro, sobrecarga de volume, efeitos imunossupressores e insuficiência

renal35,36,37,38.

4.1 HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO DURANTE O TRANSPLANTE HEPÁTICO

O transplante ortotópico de fígado (TOF) é dividido em três fases: fases pré-

anepática, anepática e neohepática, que apresentam peculiaridades no que diz

respeito à hemostasia.

Fase pré-anepática: é a fase que vai do início da cirurgia até a interrupção do

fluxo sanguíneo para o fígado nativo. Alterações graves na coagulação e na atividade

fibrinolítica são variáveis nesta fase, sendo que a perda sanguínea pode ser causada

por dissecção das colaterais, decorrentes de hipertensão portal ou de cirurgias

prévias. Quando ocorrem, os distúrbios de coagulação refletem o comprometimento

da função de síntese do fígado, que está relacionada diretamente à etiologia da cirrose

e à gravidade da lesão hepática. Em 7-25% dos pacientes ocorre fibrinólise

evidenciada pela tromboelastografia. Alguns pacientes com cirrose por neoplasia ou

por síndrome de Budd-Chiari podem apresentar tromboelastograma hipercoagulável,

o que pode ser explicado pela evidência de substâncias pró-coagulantes liberadas

pelas células neoplásicas. A redução do metabolismo de fatores ativados, a ausência

da produção de pró-coagulantes e anticoagulantes, as disfunções do fibrinogênio e

plaquetárias, são as principais alterações hemostáticas presentes37,38,39.

Fase anepática: compreende a fase entre a exclusão vascular do fluxo

sanguíneo para o fígado nativo até a perfusão do enxerto. Neste estágio, os grandes

vasos abdominais são clampeados e não há muitas dissecções cirúrgicas, assim a

perda de sangue origina-se principalmente de defeitos hemostáticos, que são

caracterizados pela falta de síntese hepática dos fatores pró-coagulantes e

anticoagulantes, associado com a não depuração hepática do t-PA e dos fatores

ativados circulantes. O t-PA que é o mais importante ativador do plasminogênio

endógeno não deixa de ser produzido pelo endotélio e seu principal antagonista PAI-

1, deixa de ser produzido, por ter síntese hepática exclusiva, sendo a hiperfibrinólise

Page 27: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

26

a mais importante alteração da coagulação em aumentar o sangramento nesta fase.

Os ativadores de plasminogênio estimulam a conversão de plasminogênio em

plasmina, que é a enzima que degrada a fibrina em PDF. Ocorre, também, diminuição

do fibrinogênio e da função plaquetária secundária à presença de produtos de

degradação de fibrina37,38,39.

Fase neohepática: compreende o peródo desde a reperfusão do enxerto até o

final da operação. Há a presença de um fígado sem a sua plena função, associado

com hipocalcemia, hipotermia, hemodiluição e acidose. A atividade do t-PA aumenta

na fase anepática e apresenta um surto logo após a reperfusão. Acredita-se que isto

ocorra por sua liberação a partir do endotélio do enxerto lesionado isquemicamente

contribuindo com intensa fibrinólise e significante hemorragia. Este surto de atividade

fibrinolítica diminui gradualmente a síntese do PAI-1 começa a se normalizar nas

primeiras horas após a reperfusão40.

Ocorre também aumento do complexo trombina-antitrombina, diminuição dos

fatores V e VIII e sequestro de plaquetas após a reperfusão, contribuindo para o

agravamento ou aparecimento de coagulação intravascular disseminada (CIVD), que

é decorrente da liberação de produtos tromboplásticos a partir do endotélio lesado do

enxerto hepático41.

Há ainda a potencial presença de heparina exógena no enxerto hepático após

heparinização do doador, soluções heparinizadas utilizados pelos cirurgiões durante

a anastomose vascular e ou grande quantidade de substâncias com ação semelhante

à da heparina, os heparinóides, decorrente da lesão isquêmica do endotélio do

enxerto, podendo aumentar a coagulopatia42,43.

Knot et al. (1988)44 demonstraram que um enxerto parcial heterotópico de

fígado pode fornecer a síntese de fatores de hemostasia e inibidores, sendo suficiente

para reverter a coagulopatia.

Page 28: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

27

4.2 SEGUIMENTO DA COAGULAÇÃO DURANTE O TRANSPLANTE HEPÁTICO

O manejo do sangramento no transplante hepático guiado pelo ROTEM® passa

por algumas etapas básicas, lógicas e sequenciais. A primeira delas seria garantir os

pré-requisitos fundamentais para a hemostasia efetiva durante todo o intraoperatório.

Estes resquisitos seriam a manutenção do pH maior ou igual a 7,3, normotermia com

temperatura central igual ou superior a 36°C, evitar hipocalcemia mantendo o cálco

iônico na faixa normal e evitar anemia e hemodiluição tendo como alvo um nível de

hemoglobina superior a 8 g.dL-1, além de certificar-se de que o paciente não faz uso

perioperatório de anticoagulantes e nem de antiagregantes plaquetários. Os pré-

requisitos devem ser avaliados pelo menos uma vez a cada fase do transplante.

O próximo passo seria a coleta de sangue para análise com o ROTEM®.

Coletam-se 3 amostras e amostras extras são coletadas em caso de coagulopatia e

10 minutos após as intervenções eventualmente na hemostasia. A primeira amostra é

coletada no início da hepatectomia e antes de se inciar a infusão de antifibrinolítico

(infusão esta de acordo com o protocolo da instituição), a segunda é coletada quando

o enxerto sair do gelo com solução de conservação para ser implantado e a teceira

no início da anastomose biliar.

Os ensaios a serem feitos inicialmente são EXTEM, FIBTEM, APTEM;

enquanto que INTEM e HEPTEM são feitos somente na 3ª amostra.

Em casos de haver necessidade de alguma intervenção, como dito

anterormente, repete-se o EXTEM e FIBTEM 10 minutos após o fim da intervenção.

Além disso, cabe lembrar que, na existência de defeitos em múltiplos componentes,

deve-se hierarquizar os tratamentos cabíveis, sendo a ordem de prioriade, do mais

prioritário ao menos prioritário a seguinte: protamina e antifibrinolíticos, concentrado

de fibrinogênio, concentrado de complexo protrombínico, plasma fresco congelado e

crioprecipitado e, por fim, concentrado de plaquetas. A administração de concentrado

de fibrinogênio, concentrado de complexo protrombínico, plasma fresco congelado e

crioprecipitado deve ser feita preferencialmente no período pré-reperfusão ou 30 a 60

minutos após a reperfusão ou ainda em ambos os momentos.Já a administração de

Page 29: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

28

concentrado de plaquetas deve ser feita, quando possível, 30 a 60 minutos após a

reperfusão.

ROTEM® Coagulopatia Opcões de tratamento

EXTEM CT > 80-100 s

↓ Fatores de coagulação CCP: 25-40 Ul.kg-1 ou

PFC: 15 a 20 ml.kg-1

EXTEM A10 < 30 mm ou MCF <

35 mm, FIBTEM normal

↓ Plaquetas Plaquetas: 1U para cada 7 a 10

kg ou 1 aférese

EXTEM A10 < 30 mm ou MCF <

35 mm, FIBTEM MCF ˂ 9 mm

↓ Fibrinogênio Fibrinogênio(g) = MCF no

ΔFIBTEM (mm) x peso (kg) /140

INTEM CT > 240S e CTHEPTEM /

CTINTEM < 0,8

Heparina Protamina: 50 a 100mg

INTEM CT > 240S e CTHEPTEM /

CTINTEM ≥ 0,8

↓ Fatores de coagulação PFC: 15 a 20 ml.kg-1

EXTEM ML > 15% e APTEM ML

˂ 15%

Hiperfibrinólise AEAC: 50 mg.kg-1

TABELA 2. Algoritmo de tratamento das alterações da coagulação e fibrinólise de

acordo com o ROTEM® no transplante hepático.

CCP: Concentrado de complexo protrombínico; PFC; Plasma fresco congelado; AEAC: Ácido épsilon

aminocapróico; ↓: diminuição.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 30: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

29

5 MANEJO DA COAGULAÇÃO NA CIRURGIA CARDÍACA

A coagulopatia é uma preocupação na cirurgia cardíaca que envolve bypass

cardiopulmonar, uma vez que este leva a um maior risco de hemorragia perioperatória

e transfusão. Os avanços recentes no monitoramento da coagulação usando

dispositivos point of care (POC) e novos agentes hemostáticos têm aumentado o

interesse em usar uma abordagem guiada por metas para tratar a coagulopatia. A

disponibilidade de dispositivos POC no contexto perioperatório permite avaliar a

coagulopatia utilizando testes rápidos que podem ser feitos na beira do leito. Isso

permite aos médicos adotar uma abordagem direcionada à alteração hemostática

subjacente. A incorporação de dispositivos POC em algoritmos de tratamento torna

possível reduzir a necessidade de transfusão e os custos médicos.

No período perioperatório de cirurgia cardíaca, esta coagulopatia é de natureza

multifatorial. Em 1999, Despotis et al. classificaram os tipos de coagulopatia como

segue: hemodiluição, ativação e coagulopatia de consumo45. Cristaloide e / ou coloide

usados como prime na circulação extracorpórea (CEC) bem como o volume de

solução cardioplégica usado, levam a uma diluição substancial dos fatores de

coagulação e das plaquetas46. A ativação do fator tecidual devido à cirurgia

propriamente dita e ao contato do sangue com o circuito de CEC (ou seja, contato

com superfícies não endoteliais) também aumentam o consumo de fatores de

coagulação. O bypass ativa fibrinólise, prejudica plaquetas e afeta fatores de

coagulação. A hipotermia, utilizada na maioria dos centros durante a CEC, também

afeta a hemostasia.

Numerosas investigações apoiam a noção de que a CEC ativa a via fibrinolítica.

Apesar das doses e das concentrações sanguíneas clinicamente adequadas de

heparina, persiste certo grau de ativação da coagulação. A detecção de fragmentos

de protrombina, fibrinopeptídeo e complexos de trombina-AT comprovam a atividade

continuada da coagulação. O local da ativação da trombina provavelmente reside no

circuito extracorpóreo, que contém uma grande superfície de material trombogênico.

A ativação da trombina resulta na atividade fibrinolítica. A ativação da fibrinólise pode

ser localizada nestes locais de formação de fibrina. As concentrações de ativador de

Page 31: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

30

plasminogênio aumentam durante a CEC, enquanto que os níveis do seu inibidor, o

inibidor do ativador do plasminogénio-1, permanecem inalterados. Este cenário é

consistente com a ativação da fibrinólise durante a CEC. A formação de fibrina durante

a CEC, entretanto, não é um evento sistêmico já que a ativação do plasminogênio

ocorre apenas quando a fibrina é formada extracorporalmente. Mesmo quando a

fibrinólise permanece limitada aos locais de formação de fibrina extravascular, os

produtos de degradação da fibrina assim formados podem prejudicar a hemostasia.

Em muitos casos, o estado fibrinolítico leve engendrado durante a CEC se resolve

espontaneamente, com pouco impacto clínico.

A trombocitopenia ocorre durante a CEC como resultado da hemodiluição,

heparina, sequestro esplênico de plaquetas induzido por hipotermia e destruição de

plaquetas a partir das interfaces sangue-gás e tecido-sangue criadas por sucção de

cardiotomia, filtros e oxigenadores de bolhas. O número de plaquetas raramente

diminui para menos de 50.000.mm-3, no entanto, não só o número de plaquetas

diminui durante a CEC, mas as plaquetas restantes ficam prejudicadas por ativação

parcial. Fibrinogênio e fibrina, que aderem a superfícies artificiais do circuito

extracorpóreo, formam um local para adesão e agregação plaquetária. Um teor

reduzido de grânulos α plaquetários constitui a evidência da ativação parcial destas.

O bypass cardiopulmonar também esgota os receptores plaquetários GP Ib e IIb /

IIIa46. Estas plaquetas podem não responder totalmente quando estímulos

hemostáticos subsequentes exigem a liberação do conteúdo do grânulo. O uso

frequente de sucção de cardiomiotomia e oxigenadores de bolhas agrava a extensão

da ativação plaquetária. A ativação do sistema fibrinolítico pode contribuir também

para a disfunção plaquetária. A formação local de plasmina afeta os receptores da

membrana plaquetária. Os medicamentos antifibrinolíticos preservam a função

plaquetária e previnem algumas anormalidades plaquetárias que ocorrem durante a

CEC.

A desnaturação das proteínas plasmáticas, incluindo os fatores de coagulação,

ocorre nas interfaces sangue-ar. O uso liberal de sucção de cardiotomia e o uso

prolongado de oxigenadores de bolhas potencialmente prejudicam a coagulação pela

diminuição da disponibilidade de fatores de coagulação. A hemodiluição também

Page 32: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

31

diminui as concentrações de fator. Contudo, raramente os níveis dos fatores de

coagulação diminuem para valores menores do que os limiares para a formação

adequada de fibrina em cirurgia cardíaca em adultos.

A hipotermia afeta potencialmente a hemostasia de muitas maneiras. Em

primeiro lugar, a circulação esplâncnica responde à hipotermia com sequestro de

plaquetas. Após o aquecimento, a trombocitopenia é revertida em cerca de 1 hora.

Em segundo lugar, uma disfunção transitória das plaquetas ocorre, evidenciada por

uma alteração da forma das plaquetas, aumento da adesividade, inibição da

agregação induzida por ADP e diminuição da síntese de tromboxano e prostaciclina.

Terceiro, um inibidor específico do fator Xa semelhante à heparina torna-se mais ativo

na hipotermia, e a protamina não pode neutralizá-lo. Em quarto lugar, a hipotermia

retarda a clivagem enzimática da qual a ativação dos fatores de coagulação depende.

Muitos fenômenos biológicos exibem uma atenuação de 7% de atividade para cada

diminuição de 1° C em temperatura45. Embora a estrutura do fator de coagulação

permaneça inalterada, a formação de fibrina pode ficar lentificada quando o paciente

está hipotérmico. Em quinto lugar, a hipotermia acentua a fibrinólise; Os produtos de

degradação da fibrina assim formados prejudicam a polimerização subsequente da

fibrina. A lesão do endotélio vascular induzida pelo frio pode liberar tromboplastina,

que então incita a formação de trombina e ativa a fibrinólise46, 47,48,49.

À medida que o uso de dispositivos point of care aumenta, diferentes

abordagens baseadas em algoritmos para o gerenciamento de coagulopatias têm sido

propostas. Görlinger e colaboradores3 propuseram um algoritmo para manejo

intraoperatório da coagulação em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Esse

algoritmo é aqui apresentado de maneira esquemática pelo algoritmo 1.

Page 33: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

32

Notas

Hemorragia difusa após reversão

da heparina e necessidade de

transfusão de sangue 1,2,7

A5EX < 35 mm ou CTFIB > 600 s ou

ML ≥15% (em 60 min)

TCAapós protamina> TCAbasal

e CTIN >> CTHEP

A5EX < 30 mm

e

A5FIB < 9 mm (15 mm)

A5EX < 30 mm

e A10FIB ≥ 9 mm ou disfunção plaquetária!

CTEX > 80 s

CTIN e CTHEP > 280 s

Ácido Tranexâmico3

50 mg/kg como bolus único

(Em adição ao protocolo local)

Protamina 25-50 mg (2.5-5 mL)

(Refazer TCA e INTEM/HEPTEM)

Concentrado de fibrinogênio ou

Crioprecipitado (calcular a dose)4

Alvo: A5FIB ≥ 12 mm (18 mm)

Concentrado de plaquetas

1-2 pool ou aférese6

CCP5

20-25 IU / kg

PFC

10-15 ml / kg

Sangramento contínuo

Refazer testes após 10-15

minutos usando nova amostra de

sangue

SIM

SIM

SIM

SIM

SIM

SIM

SIM

SIM

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

FEITO

SIM

SIM

Page 34: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

33

Algoritmo 1. Manejo da coagulação na cirurgia cardíaca com auxílio do ROTEM®

1. Momentos de realização da análise com o ROTEM®

- Considere realizar ROTEM platelet (e ROTEM delta) para estabelecer um perfil basal em pacientes

com terapia antiplaquetária dupla (ou com outra disfunção hemostática conhecida).

- Considere realizar ROTEM delta e ROTEM platelet antes da saída de CEC (no desclampeamento da

aorta) em pacientes com alto risco de sangramento.

- Executar ROTEM delta e ROTEM platelet em caso de sangramento difuso após a saída de CEC e

reversão da heparina com protamina (se não tiver sido feito antes da saída de CEC).

2. Verificar as condições básicas antes da saída de CEC

- Temp. > 36°C; pH > 7.3; Cai2+ > 1 mmol.L-1; Hb ≥ 8 g.dL-1

3. Terapia antifibrinolítica

- Profilaxia de acordo com o protocolo local do hospital

- Ácido épsilon aminocapróico pode ser usado em vez de ácido tranexâmico (baseado na prática local)

4. Cálculo da dose de fibrinogénio

- Aumento desejado no A5FIB = 2 mm 25 mg de fibrinogénio por kg de peso corporal (1,25 mL por

kg de concentrado de fibrinogênio ou 2,5 mLpor kg de crioprecipitado)

- Aumento desejado no A5FIB = 4 mm 50 mg de fibrinogênio por kg de peso corporal (2,5 mL por kg

de concentrado de fibrinogênio ou 5 mL por kg de crioprecipitado)

- Aumento desejado no A5FIB = 6 mm 75 mg de fibrinogénio por kg de peso corporal (3,75 mL por kg

de concentrado de fibrinogênio ou 7,5 mL por kg de crioprecipitado)

- Aumento desejado no A5FIB = 8 mm 100 mg de fibrinogênio por kg de peso corporal (5 mL por kg

de concentrado de fibrinogênio ou 10 mL por kg de crioprecipitado)

5. Se Concentrado de Complexo protrombínico (PCC) não estiver disponível

- 10-15 mL de plasma fresco congelado por kg de peso corporal ou

- 45-90 μg de rFVIIa por kg de peso corporal (se A5EX e A5FIB estiverem normais mas o plasma fresco

congelado não for eficaz)

6.Transfusão de concentrado de plaquetas

- Verificar a função das plaquetas com ROTEM platelet

- Considere ácido tranexâmico (25 mg.kg-1) e / ou desmopressina (0,3 μg.kg-1) em doentes com

terapêutica antiplaquetária dupla

- A5EX 20-29 mm ou teste ADP ≤ 30 U: 1 em pool ou aférese de plaquetas

- A5EX <20 mm: 2 em pool ou uma aférese de plaquetas

- A5EX ≤10 mm: Concentrado de plaquetas + fibrinogênio

7. Intervenções simultâneas

- Máximo de três intervenções ao mesmo tempo após a primeira análise e hemorragia grave

- Máximo de duas intervenções ao mesmo tempo após a segunda análise e hemorragia moderada a

grave

- Apenas uma intervenção após segunda análise ou posterior e hemorragia leve a moderada.

Page 35: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

34

6 MANEJO DA COAGULAÇÃO NO TRAUMA

A maioria dos pacientes vítimas de trauma grave apresentam consideráveis

distúrbios metabólicos e cardiorrespiratórios, normalmente com necessidade de

reposição de agressiva de fluidos, hemocomponentes e hemoderivados50. A

reanimação volêmica é importante para prevenir a acidose grave e a hipoperfusão

sistêmica. A infusão rápida de cristaloides, albumina e hidroxietilamido podem levar a

situações de hipotermia e hemodiluição de componentes como eritrócitos, fibrinogênio

e outros fatores de coagulação51. É essencial manter atenção, a fim de prevenir a

tríade letal: coagulopatia, acidose e hipotermia.

O uso do ROTEM® no cenário especifico do trauma é importante, pois traz

informações uteis, tendo em vista as alterações dinâmicas da coagulação que

ocorrem, além da escassez de informações de história pessoal do paciente de algum

distúrbio na hemostasia. Os ensaios do ROTEM®, como EXTEM, FIBTEM e APTEM

permitem uma avaliação rápida de geração de trombina, hipofibrinogenemia e estado

profibrinolítico52.

A abordagem inicial baseada no ROTEM® envolve a restauração do

fibrinogênio plasmático para valores em torno de 150-200mg.dL-1 (FIBTEM MCF 8-10

mm) usando plasma, quando um grande volume é permitido, crioprecipitado ou

concentrado de fibrinogênio52. A transfusão plaquetária é utilizada em pacientes com

trombocitopenia (EXTEM-MCF 45 mm) e em pacientes com suspeita de disfunção

plaquetária50. Uma vez excluídos efeitos residuais de heparina e hipofibrinogenemia,

a avaliação do EXTEM-CT (valores por volta de 100 seg) podem ser tratados com a

reposição de fatores de coagulação ou com uso do plasma fresco congelado. A

avaliação do EXTEM-CT parece ser mais sensível às alterações de hemodiluição

comparado a outros ensaios como INTEM-CT porque o aumento do Fator VIII no

estresse encurta os testes ativados por contato53. Em lesões graves, baixos valores

de EXTEM-MCF (35 mm) associado a trombocitopenia e hipofibrinogenemia são

acompanhados com estado profibrinolítico. O ensaio APTEM é usado para confirmar

o estado hiperfibrinolítico, podendo ser usado ácido tranexâmico 1-2g como opção

Page 36: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

35

terapêutica. A coexistência de hipocoagulabilidade e hiperfibrinólise no grande trauma

parece indicar maior gravidade e associação com maior mortalidade54.

É aceitável iniciar a reanimação com controle de danos precoce usando

reposição de plasma fresco congelado e plaquetas às cegas em situações de

hemorragia grave com risco de morte. Porém, o uso de dispositivos point of care, como

o ROTEM®, são preferíveis por causa dos riscos associados à transfusão maciça,

como lesão pulmonar aguda, infecção, complicações tromboembólicas e reações

imunomoduladas55.

Page 37: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

36

.

Algoritmo 2. Manejo da coagulação no trauma com auxílio do ROTEM®

SANGRAMENTO DIFUSO E

NECESSIDADE DE TRANFUSÃO

CONSIDERADA1

A10EXT < 45 MM ou

CTFIB >600 seg ou

ML> 15% (em 60seg)

SIM

ÁCIDO TRANEXÂMICO2 50MG/KG

BOLUS INICIAL PODENDO REPETIR MAIS 1

DOSE

mais

NÃO

O

A10EX < 40 mm e

A10FIB < 10 mm

CONCENTRADO DE FIBRINOGÊNIO OU

CRIOPRECIPITADO3

ALVO: A10FIB >13 MM

A10EX < 40 mm e

A10FIB ≥ 10 mm

SIM

SIM

CONCENTRADO DE PLAQUETAS 1-2

UNIDADES OU AFÉRESE4

NÃO

O

NÃO

O

CT EXT > 80 seg

NÃO

O

COMPLEXO PROTROMBÍNICO5

20 UI/KG

SIM

SIM

CT INT > 240 seg CT HEP > 240 seg SIM

PFC 15UI/KG

PROTAMINA 25-50MG

SIM

NÃO

Page 38: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

37

Notas

1. Condições básicas: temperatura>35ºC, pH>7,2 Ca2+> 1mmol.L-1, Hb>7 g.dL-1

2. Terapia antifibrinolítica

- IPSILON® pode ser usado ao invés do Ácido tranexâmico

- Infusão contínua de Ácido tranexâmico pode ser feito (protocolo CRASH II)

3. Cálculo da dose do fibrinogênio:

– A10FIB 6-9 mm: 50 mg/kg fibrinogênio (2.5 mL/kg concentrado de fibrinogênio ou 5 mL/kg

crioprecipitado)

– A10FIB ≤ 5 mm: 75 mg/kg fibrinogênio (3.75 mL/kg concentrado de fibrinogênio ou 7.5

mL/kg crioprecipitado)

4. Transfusão Concentrado Plaquetas (CP):

– A10EX 30-39 mm: 1 pool ou aférese de plaquetas

– A10EX < 30 mm: 2 pool ou aférese de plaquetas

– A10EX ≤ 20 mm: CP + fibrinogênio

5. Se Complexo Protrombínico não está disponível:

– 10-15 mL/kg PFC ou – 45-90 µg/kg FVIIa recombinante (se A10EX e A10FIB estão normais

mas PFC não é efetivo)

Page 39: ANDERSON EMANUEL CALÍOPE CASTELO BRANCO MOURÃO …

38

7 MANEJO DA COAGULAÇÃO NA OBSTETRÍCIA

A hemorragia pós-parto (HPP), cuja incidência continua a aumentar, é uma das

principais causas de mortalidade e morbidade maternas em todo o mundo56. A HPP

é também motivo de histerectomia no período pós-parto, e é importante causa de

admissão de pacientes provenientes das unidades obstétricas no Serviço de Medicina

Intensiva (SMI)57. A atonia uterina é a causa mais comum de HPP, complicando 5-6

% dos partos58. Existem vários fatores de risco identificados para a ocorrência de HPP

por atonia uterina: trabalho de parto prolongado, multiparidade, gestação múltipla,

macrossomia fetal, polidrâmnios e coriamnionite59. No entanto, cerca de metade das

mulheres com atonia uterina não apresenta qualquer fator de risco associado60. A

rapidez do diagnóstico é essencial para o controle da hemorragia, com diminuição do

risco de evolução para coagulopatia e melhor desfecho. No entanto, existem múltiplos

fatores que contribuem para um atraso no diagnóstico da hemorragia maciça em

obstetrícia. As perdas sanguíneas são frequentemente subestimadas devido ao

sangue perdido em compressas e campos cirúrgicos e à presença de líquido

amniótico. Por outro lado, as alterações fisiológicas próprias da gravidez mascaram a

magnitude e a repercussão hemodinâmica das perdas hemorrágicas. A grávida

previamente saudável é capaz de suportar uma perda sanguínea significativa (> 1000

mL) antes dos sinais de choque hipovolêmico surgirem. Na verdade, a taquicardia

pode ser o único sinal de hemorragia até perda de 30 - 40 % do volume sanguíneo61.

Na HPP a coagulopatia ocorre como consequência do consumo de fatores de

coagulação e/ou pelo efeito de diluição após perda massiva de sangue e desses

fatores de coagulação, plaquetas e fibrinogénio e consequente administração de

cristaloides. Este quadro é muitas vezes agravado por hipotermia, hipocalcemia e

acidose. O aumento da atividade fibrinolítica foi descrito na hemorragia obstétrica

secundária a atonia uterina, descolamento prematuro de placenta e placenta acreta62.

Em contraste com a coagulação intravascular disseminada, que se desenvolve na

hemorragia massiva no contexto do trauma, no caso de HPP a coagulopatia é uma

disfunção que se instala precocemente, sobretudo por causa da fibrinólise. A

concentração plasmática média de fibrinogénio antes do parto situa-se entre 3,5 e 6,0

g/L, o que está acima dos valores considerados normais observados fora da gravidez

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(2,0 - 4,5 g/L). A diminuição dos níveis de fibrinogénio é, entre os marcadores da

coagulação, a alteração que mais rapidamente se verifica quando ocorre hemorragia

severa, o que se deve à perda deste componente sanguíneo, por aumento do seu

consumo e pela hemodiluição devido à administração de fluidos62. Um valor de

fibrinogénio entre 2 - 3 g/L, considerado normal, está associado, na grávida, ao dobro

do risco de hemorragia severa. Os exames convencionais como TAP, TTPA e

dosagem de fibrinogênio demoram cerca de 45-60 minutos normalmente para estarem

disponíveis, além de não representarem o status de coagulação e características

como a firmeza do coágulo.

A utilização da tromboelastografia (TEG®) e tromboelastometria (ROTEM®)

permite uma avaliação rápida e dinâmica do processo de coagulação desde a

inicialização e formação do coagulo além da fibrinólise, permitindo uma terapia

dirigida, administrando os tratamentos adequados e ultrapassando assim algumas das

limitações da análise laboratorial convencional. Estes testes permitem ainda a

avaliação indireta da função plaquetária, o rápido diagnóstico de hiperfibrinólise e de

hipofibrinogenemia e a monitorização da terapêutica instituída60. O uso de

TEG®/ROTEM® foi associado a uma redução no uso de hemoderivados na hemorragia

perioperatória e é um método confiável para o diagnóstico de alterações da

coagulação durante a hemorragia severa. Porém, os resultados do TEG®/ROTEM®

em mulheres em trabalho de parto e no período pós-parto devem respeitar as

alterações da coagulação especificas desse período. Vários estudos com testes

viscoelásticos confirmam na gravidez o perfil de hipercoagulabilidade,

caracteristicamente representado por leve redução do tempo de coagulação (CT) e

aumento da firmeza do coágulo. No entanto, a transição do parto para o período pós-

parto podem induzir mudanças importantes no perfil de coagulação da paciente,

principalmente com o aparecimento de hemorragia importante63. Logo, somente

valores do pós-parto podem não ser suficientes para avaliar o perfil hemostático do

paciente. N. M. de Lange et al64 propôs através de um ensaio clinico a verificação de

parâmetros do ROTEM® em dois momentos distintos, pré-parto e 1 hora pós parto, a

fim de comparar com a população não-gestante. Os resultados pré-parto e pós-parto

não apresentaram mudanças significativas. Os parâmetros CT e CFT do EXTEM e do

INTEM têm valores menores em mulheres gestantes, enquanto A10, A20 e MCF do

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EXTEM têm valores semelhantes a não gestantes. Já A10, A20 e MCF de FIBTEM e

INTEM apresentam valores superiores em gestantes comparados a não gestantes64.

Esses dados confirmam a ativação da coagulação e o estado de hipercoagulabilidade

do período gestacional, embora já haja uma tendência natural das mulheres não

grávidas ativarem mais rapidamente a coagulação e apresentarem maior firmeza do

coágulo comparadas aos homens65. Há dados que sugerem que no pós-parto pode

ocorrer um leve, mas não clinicamente significante estado de fibrinólise. Ainda há

questões que precisam ser avaliadas nas pacientes que evoluem com HPP, como os

valores de corte de anormalidade dos ensaios, bem como se a terapêutica deve ser

guiada por valores de referência de mulheres grávidas ou não grávidas65.

A pouca familiaridade dos profissionais e a não disponibilidade desta

monitorização em todas as instituições hospitalares são as principais limitações ao

seu uso. A utilização de TEG®/ROTEM® é uma prática segura e eficaz que pode

melhorar a abordagem da hemorragia maciça no contexto obstétrico, com cada vez

mais evidência científica a apoiar o conceito.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dispositivos viscoelásticos point of care para o manejo da coagulação estão

sendo usados em certas situações clínicas conhecidas por seu risco inerente de

distúrbios de coagulação, especialmente em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca

e hepática. Além disso, proporcionam informação útil numa grande variedade de

outros cenários clínicos, a saber, hemorragia maciça, avaliação de estados hipo e

hipercoaguláveis e monitorização do tratamento farmacológico com fármacos

anticoagulantes e pró-coagulantes.

A vantagem destas técnicas em relação aos testes convencionais é que elas

têm o potencial de medir todo o processo de coagulação em curto espaço de tempo,

começando com a produção de trombina e continuando até a retração do coágulo,

proporcionando a possibilidade de se tomar decisões clínicas mais acertadas e mais

dirigidas para o distúrbio de coagulação específico verificado no momento, tornando

mais racional o uso de hemoderivados, o que reduz os riscos inerentes a essa terapia.

Assim sendo, estes dispositivos aqui apresentados, com foco no ROTEM®,

constituem uma ferramenta bastante útil no manejo mais preciso da coagulação

durante o intraoperatório, sobremaneira em pacientes de maior risco, como os

supracitados. Portanto, conhecer seu funcionamento e o básico para sua

interpretação é de grande valia.

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