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ANÁLISE COMPARATIVA DAS ÚLTIMAS INTERVENÇÕES NA IGREJA MATRIZ DE PENDILHE Trabalho realizado por: Carla Gomes Outubro de 2003

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ANÁLISE COMPARATIVA

DAS ÚLTIMAS INTERVENÇÕES NA IGREJA MATRIZ DE PENDILHE

Trabalho realizado por: Carla Gomes

Outubro de 2003

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ÍNDICE

O QUE SIGNIFICA CONSERVAÇÃO E RESTAURO?.................................................... 2

QUAIS OS CRITÉRIOS DA CONSERVAÇÃO E RESTAURO?.......................................... 3

INTRODUÇÃO........................................................................................................ 10

IGREJA DE PENDILHE..................................................................................... 13

FICHA I – Aspecto Geral da Igreja.................................................................... 14

FICHA II – Nave................................................................................................... 19

FICHA III – Arco Triunfal.................................................................................... 24

FICHA IV – Capela-mor...................................................................................... 28

FICHA V – Nossa Sr.ª da Assunção.................................................................. 34

CONCLUSÃO......................................................................................................... 38

BIBLIOGRAFIA....................................................................................................... 39

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O QUE SIGNIFICA CONSERVAÇÃO E RESTAURO1?

A conservação é o conjunto de operações e técnicas que têm por objectivo

prolongar a vida dos bens culturais. Para tal efeito, a conservação estabiliza a

deterioração dos materiais, mantendo todas as propriedades, físicas e culturais, para que estes perdurem no tempo com todos os seus valores. O suporte ou

elementos materiais, assim como a mensagem ou os elementos sustentados no

objecto têm todos grande importância. A integridade física e funcional são

também alvos do método conservativo para que toda a informação que o objecto

comporte seja sempre transmitido.

O restauro complementa a conservação pois intervém directamente sobre

os objectos, quando os meios conservativos não são suficientes para os manter

em bom estado, procurando aplicar os tratamentos necessários que permitam a

longevidade dos bens culturais e “curar” os danos que apresentem. Este trabalho

requer conhecimentos científicos e técnicos e habilidade manual. O restauro

evoluiu de uma actividade meramente artesanal para uma actividade que exige

disciplina, conhecimentos histórico-artísticos, científicos e técnicos, assim como

os factores de degradação e de conservação, cujo planeamento deve contar com

uma visão interdisciplinar contando com outros especialistas.

1CALVO, ANA, Conservación y Restauración- Materiales, técnicas y procedimientos de la A a la Z, Ediciones del Serbal, Barcelona 1997, págs. 63, box- “conservación”, e 193-197, box-“restauración.

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QUAIS OS CRITÉRIOS2 DA CONSERVAÇÃO E RESTAURO?

Os critérios são as pautas de actuação da conservação, flexíveis e variáveis

quanto aos métodos e materiais, mas rigorosos no objectivo de salvaguardar a

integridade do valor cultural dos objectos. Apesar do avanço das técnicas e

produtos, os erros podem surgir, quando não existem planos teóricos e um

conhecimento do conteúdo da obra, como matéria e como imagem.

A teoria do restauro fundamenta-se no reconhecimento das obras no

aspecto estético e histórico, e no restabelecimento da unidade potencial, sem

falsificação artística ou histórica e sem apagar os rastos do tempo.

Os critérios actuais têm sido determinados em sucessivas reuniões e

congressos internacionais, na maioria patrocinados pela UNESCO, com o

objectivo de estabelecer critérios gerais.

Entre os critérios de preservação figura a necessidade de criar um meio

ambiente de acordo com as exigências de permanência e durabilidade do

objecto, evitando as causas de alteração. Implicando o conhecimento do

comportamento físico e químico da estrutura e elementos dos materiais a

conservar, assim como o conhecimento das causas de deterioração. Também se

contempla a restrição do usufruto, nos casos em que o uso indiscriminado ponha

em causa a sua integridade cultural. Até em algumas situações, é aceitável a

realização de uma réplica, que sem desmentir e defraudar os valores do original,

satisfaça a curiosidade ou o estudo.

Por outro lado, entre os critérios de restauro deve-se salientar a

responsabilidade implícita na intervenção directa sobre o objecto, uma vez que se

deve respeitar tanto os valores materiais como culturais deste. Por isso,

renuncia a toda a participação criadora, respeitando sempre a obra do autor,

a mensagem que este quis transmitir e as vicissitudes da história. Outro dos

princípios actuais do restauro é o da intervenção mínima, de forma a não

submeter o objecto a tensões provocadas pelo emprego de materiais e produtos,

pois nunca se tem a plena segurança dos seus resultados a largo prazo, assim

garante-se o máximo respeito a toda a informação contida no objecto, tanto

2 CALVO, ANA, Conservación y Restauración- Materiales, técnicas y procedimientos de la A a la Z, Ediciones del Serbal, Barcelona 1997, pág. 68, box-“criterios”

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interior como exterior. Aliás deve-se evitar todo o tratamento cujas exigências

superem as possibilidades técnicas garantidas. Também devem ser evitadas

todas as intervenções que impliquem modificação real ou aparente dos

valores autênticos e privados da obra, como os materiais, funcionais,

artísticos, históricos, sem esquecer o respeito a quantas adições

complementarias sejam consubstanciais à própria história do bem cultural.

Recomenda-se a eliminação de todas as “máscaras”, alheias à total

integridade da obra , impossibilitem ou desvirtuem a sua interpretação

como documento histórico, estabilizando e consolidando elementos

degradados, excluindo a possibilidade da sua substituição. Admite-se a

reposição de elementos que se encontrem fisicamente separados da obra e seja

evidente a sua pertença ao conjunto. No que se refere à reconstituição e

reintegração dos elementos perdidos, devem ser realizados com materiais de

reconhecida qualidade, reversibilidade e reconhecimento como não

pertencentes à traça original do conjunto, mas harmonizando com o original. Finalmente todo o tratamento de restauro deve fazer uso de meios e procedimentos inócuos e reversíveis, além de que toda a acção de restauro deve ficar registada e arquivada exaustivamente. Todos os itens aqui mencionados podem ser lidos no Código de Ética

realizado pelo ICOM, em 1984 em Copenhaga, que é aqui transcrito a seguir.

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ICOM, COPENHAGA 1984 – CÓDIGO DE ÉTICA3

O Conservador Restaurador – Definição da profissão

1- INTRODUÇÃO

1.1 O objectivo deste documento é estabelecer os propósitos básicos e os

princípios e requisitos do profissional de Conservação e Restauro.

1.2 Na maioria dos países, a profissão de conservador-restaurador, continua

por definir. Quem conserva ou restaura é chamado de Conservador ou

restaurador, apesar da extensão e profundidade da prática.

1.3 Existe uma ética profissional e normas para a salvaguarda do profissional e

dos objectos em tratamento. Foram feitas várias tentativas para definir a

profissão, para a distinguir de profissões relacionadas; e para estabelecer

os requisitos práticos adequados. Outros profissionais, como os físicos,

advogados, arquitectos, também passaram por uma fase de auto-análise e

definição, estabelecendo os padrões gerais da profissão. Tal definição da

profissão de conservação e restauro ainda não existe. Esta deveria permitir

estabelecer uma paridade de estatutos semelhante às dos arqueólogos.

2- A ACTIVIDADE DO CONSERVADOR RESTAURADOR

2.1 A actividade do conservador restaurador consiste no exame técnico,

preservação, conservação e restauro do bem cultural. O exame é o

procedimento preliminar e tem como objectivo o registo do aspecto e

estado geral de conservação do objecto, tentando apurar as características

da estrutura original e materiais, a extensão da deterioração, alterações e

perdas sofridas ao longo da sua vida. A preservação actua de forma a

retardar ou prevenir a deterioração dos bens culturais, através do controlo

do seu meio ambiente e/ou através do tratamento da sua estrutura de

3 Internet em: www. Encore-edu.org

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forma a mante-la o mais próximo possível do seu estado inalterado. O

restauro é a acção complementar à conservação, e o seu objectivo é

reconstituir os elementos deteriorados que quebrem a leitura geral da peça,

sacrificando o mínimo possível a mesma, preservando toda a sua história e

integridade.

2.2. O conservador restaurador trabalha em museus, em empresas privadas ou

como independente. O seu trabalho é compreender os aspectos materiais

dos objectos, com significado artístico e histórico de forma a prevenir a sua

decadência. Diferenciando o original do restaurado, permitindo ao público a

percepção da intervenção.

3- O IMPACTO E POSICIONAMENTO DAS ACTIVIDADES DO CONSERVADOR-RESTAURADOR

3.1. O conservador-restaurador é responsável pelos tratamentos utilizados em

originais insubstituíveis, por serem únicos ou pelo seu valor e qualidade

artística, religiosa, histórica, científica, cultural, social ou económica. O

valor de cada um destes objectos reside nas características de fabrico, na

sua evidência como documento histórico e consequentemente na sua

autenticidade. Os objectos são uma significativa expressão da vida

espiritual, religiosa e artística do passado, muitas vezes documentos de

uma situação histórica, independentemente se faziam parte de objectos de

primeira qualidade ou se faziam parte da vida quotidiana.

3.2. A qualidade documental dos objectos históricos são a base de estudo na

história de arte, etnografia, arqueologia, entre outras disciplinas científicas.

Daqui, a importância de preservar a sua integridade física.

3.3. Por causa do risco de manipulação nociva ou transformação do objecto, é

essencial em qualquer tipo de intervenção, que o conservador restaurador

trabalhe em cooperação com outro profissional, da mesma área. Juntos

poderão distinguir entre o essencial e o supérfluo, o possível e o

impossível, as intervenções que manterão as qualidades do objecto e quais

poderão prejudicar a sua integridade.

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3.4. O conservador restaurador deve ter consciência da natureza documental

de um objecto. Este contém, em si ou num conjunto, dados ou mensagens

históricas, estilísticas, icononográficas, técnicas, intelectuais, estéticas e ou

espirituais. Para realizar este trabalho de investigação, o conservador

restaurador deve ser sensível a eles, ser capaz de reconhecer a sua

natureza, e tê-los em conta durante o decurso do trabalho.

3.5. Todas as intervenções devem ser precedidas por um exame metódico e

científico, que deverá ser registado para a compreensão do objecto em

todos os aspectos, tendo em consideração as eventuais consequências

das intervenções. Apenas um profissional pode interpretar correctamente

os resultados destes exames, e consequentemente prever as

consequências das decisões tomadas.

3.6. Qualquer intervenção num objecto artístico ou histórico deve seguir uma

sequência comum a todas as metodologias científicas: Investigação das fontes, análise, interpretação e síntese. Só depois da realização deste

exame, que mostrará os pormenores mais significativos da peça, se pode

proceder ao tratamento preservando a sua integridade física. A importância

deste exame é facilitar a leitura do objecto de forma a ser possível decifrar

as mensagens nele contidas, contribuindo para novos conhecimentos.

3.7. O conservador restaurador trabalha directamente sobre o objecto. O seu

trabalho, tal como o de um cirurgião, baseia-se na habilidade manual, a

qual deve estar sempre apoiada no conhecimento teórico e,

simultaneamente, na capacidade de avaliar as situações, sendo capaz de

interpretar o impacto da sua acção.

3.8. A interdisciplinariedade e a cooperação são parâmetros muito importantes,

actualmente o conservador-restaurador deve trabalhar como parte de uma

equipa, pois ele não pode ser um perito em arte, história, química, etc..

Assim, o profissional pode e deve complementar o seu conhecimento

servindo-se de estudos e investigações realizadas por peritos das diversas

áreas. Esta cooperação funcionará melhor se o conservador-retaurador for

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capaz de formular as suas dúvidas de uma forma científica e precisa,

interpretando as respostas no contexto adequado.

4- DISTINÇÃO DE PROFISSÕES RELACIONADAS

4.1. O critério básico que distingue o profissional de conservação e restauro

dos artistas ou artesãos é a “incapacidade” criativa dos conservadores-

restauradores. Na conservação e restauro só se deve prolongar a

durabilidade dos objectos mediante tratamentos preventivos ou curativos,

servindo-se do restauro quando o(s) elemento(s) em falta prejudicar(em) a

boa/correcta leitura do objecto e apenas se existirem fontes seguras sobre

o aspecto original do mesmo.

4.2. Para o tratamento de qualquer objecto artístico ou histórico, recomenda-se

a intervenção de um profissional, este terá a formação e os meios

necessários para o correcto exame do objecto, determinar as condições,

avaliar os materiais e o significado documental.

5. PRÁTICA E EDUCAÇÃO DO CONSERVADOR-RESTAURADOR

5.1. Em conformidade com as características e especificidades da profissão, o

conservador restaurador deve ter formação artística, técnica e científica, ao

longo do seu percurso académico e profissional.

5.2. A formação prática deve incluir o desenvolvimento da sensibilidade

manual, como complemento do conhecimento teórico sobre materiais e

técnicas, assim como conhecimentos básicos e rigorosos nas metodologias

científicas, de forma a fomentar a capacidade de resolver problemas de

conservação seguindo uma abordagem sistemática, usando pesquisas

rigorosas e uma interpretação crítica dos resultados.

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5.3. O conservador restaurador deve incluir no seu currículo académico as

seguintes disciplinas:

• História de Arte

• História

• Métodos de Pesquisa e documentação

• Conhecimentos tecnológicos e de Materiais

• Teoria e Ética de Conservação

• História e Técnicas de Conservação e Restauro

• Química, Física e Biologia aplicadas aos processos de deterioração

e métodos de conservação.

5.4. É compreensível que a interdisciplinaridade é uma parte essencial de

qualquer programa curricular. O curso será concluído com uma tese ou um

diploma, com o devido reconhecimento da instituição que a leccionou.

5.5. Em todos os patamares desta formação, a maior ênfase dá-se à prática,

sem esquecer o desenvolvimento do entendimento dos factores técnicos,

científicos, históricos e estéticos. Por fim, a importância da correcta

formação de um conservador-restaurador, prende-se ao completo

desenvolvimento das aptidões do profissional de forma a poder avaliar

intervenções de conservação e restauro de grande complexidade, tendo

em consideração as possíveis consequências; saber documentar

correctamente as intervenções realizadas contribuindo para a preservação

dos bens culturais e para um profundo conhecimento histórico e artístico do

objecto em tratamento. Nota: Este código de ética escrito em 1984, continua em vigor embora com

algumas actualizações, que são de especial interesse para as instituições de

ensino.

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INTRODUÇÃO A primeira Igreja Matriz de Pendilhe, possivelmente, seria de construção

românica e ficaria a poente desta freguesia. Em 1734 há registos que confirmam

um contrato feito pelo representante dos moradores da freguesia, Manuel Roiz de

Paiva, com o mestre-pedreiro Jacob Fernandes, para execução de obras na

referida igreja. No entanto, em 1735, foi feito um pedido para a mudança da Igreja

para o local onde ela agora se encontra, sendo abade, nesta época, Pantaleão

Pinheiro Veniaga. É plausível a hipótese de que o mesmo mestre-pedreiro Jacob

Fernandes tenha sido o construtor da actual igreja. Algumas das esculturas nela

existentes foram trazidas da igreja antiga como foi o caso da Cruz Florenciada, de

decoração bizantina, que deve pertencer à produção artística do século XIV ou

XV. Como nada resta da estrutura da antiga igreja é aceitável que as suas pedras

tenham sido aproveitadas para a construção da actual igreja matriz.

Mais tarde em 1935, foi remodelada, devido à necessidade de ampliação,

levando à destruição do campanário, substituindo-o pela actual torre sineira, na

década de 1940, sofre nova remodelação, para a aplicação da nova cobertura.

Infelizmente desde essa data até à actualidade a igreja não se manteve

intacta, sofrendo inúmeras mutações provocadas pela falta de consciência do

valor patrimonial, histórico e artístico nela contidos. Assim como pela falta de uma

política rigorosa de protecção de todos os bens culturais existentes no nosso país,

empobrecendo o nosso património com ataques sucessivos provocados pela

ignorância do valor dos seus conteúdos.

Algumas das obras nela realizadas, aconteceram em tempos em que em

Portugal praticamente não se falava em Conservação e Restauro, (embora na

Europa já se falasse em restauro e na sua ética desde 1861), pelo que estas

destruições, infelizmente sucedidas, são justificadas, na sua maioria, pelo

desconhecimento do seu significado.

Todavia, o motivo deste relatório deve-se às últimas intervenções

realizadas nesta igreja que se intitularam de obras de Conservação e Restauro,

mas cujo verdadeiro nome seria obras de Remoção, Destruição e Substituição.

Antes de mais, devemos destacar que as obras decorreram por etapas e

não foram todas realizadas pela mesma empresa.

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O motivo da revolta dos populares da freguesia de Pendilhe, prende-se

com a descaracterização parcial do interior da igreja matriz, nomeadamente os

tectos da nave e capela-mor, retábulo-mor, arco triunfal e padroeira da freguesia,

praticadas nas obras realizadas entre 1998 e Agosto de 2003. Obras essas que

desrespeitam toda a ética e critérios da conservação e restauro, pondo em causa

a qualidade e o rigor técnico e científico dos profissionais desta área.

Uma vez que os responsáveis da obra se responsabilizaram pela

contratação de profissionais especializados em conservação e restauro, não se

justifica a inexistência de um relatório técnico, que relate exaustivamente todos os

procedimentos durante o decorrer dos tratamentos, assim como um levantamento

fotográfico antes e durante as intervenções. Este relatório não só é importante por

ser um documento comprovativo da boa execução do trabalho, como também é

um instrumento de apoio aos profissionais ao longo da execução das obras.,

servindo de apoio a futuros profissionais da área, evitando perdas de tempo e

gastos acrescidos, pois teriam um documento válido a respeito das intervenções

realizadas. Além de que justifica e explica os procedimentos, técnicas e materiais

utilizados, assim como os motivos que levaram à execução de certas medidas,

que nem sempre são bem entendidas pelos populares.

Se este relatório tivesse sido feito, não se justificaria a troca dos painéis do

tecto da nave. Saberíamos o motivo do levantamento dos marmoreados e da

coloração do fundo dos mesmos painéis. Saberíamos ao certo o número de

painéis que não continham pintura. Saberíamos o porquê da substituição da

cobertura do sacrário e da remoção do seu crucifixo. Assim como poderíamos

acreditar nas justificações dadas para a nova configuração da peanha de Nossa

Senhora da Assunção, pois existiriam provas fotográficas. Entenderíamos o

porquê da nova configuração do resplendor, que, ao que se sabe, em tempo

algum foi semelhante à actual.

Se tivessem contratado profissionais de restauro para o tratamento do arco

triunfal, as pedras degradadas seriam devidamente tratadas e colocadas na sua

devida ordem, sem prejuízo da integridade da obra. Infelizmente tal não

aconteceu, perdendo-se várias pedras originais, das quais não se sabe o destino,

obrigando à colocação de pedras novas e à pintura do arco triunfal de forma a

corrigir os erros.

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Igualmente na Capela mor, a não contratação de profissionais da área

levou à parcial destruição do tecto da Capela e à colocação despropositada de

“máscaras” no retábulo mor. Os painéis do século XVIII, foram destruídos, pois

sabe-se que as tábuas ainda em bom estado foram aplainadas e aproveitadas

para suporte das actuais pinturas; e o retábulo foi repintado adulterando as cores

originais e utilizando materiais inadequados. Pelo mesmo motivo, se compreende

a substituição dos azulejos dos princípios do século XX, pelos actuais, uma vez

que não existiam sobras destes e se haviam perdido alguns exemplares.

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FICHAS IGREJA

DE PENDILHE

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FICHA I – Aspecto Geral da Igreja

IDENTIFICAÇÃO TIPO DE OBRA: Arquitectura

INTEGRAÇÃO NOUTRA OBRA: —

TEMA REPRESENTADO: —

REF./ N.º DE INVENTÁRIO: –

PROVENIÊNCIA: Igreja de Pendilhe

1 – Igreja Matriz de Pendilhe

LOCALIZAÇÃO ACTUAL PAÍS: Portugal

DISTRITO: Viseu

CONCELHO: Vila Nova de Paiva

LOCAL/ EDIFÍCIO: Pendilhe/ Igreja Matriz

PROPRIETÁRIO: Freguesia de Pendilhe

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INTERVENÇÕES/ ESTADO DE CONSERVAÇÃO RESTAUROS: Foram realizadas obras de remodelação ao longo dos tempos

ESTADO (sublinhar): INTEIRO – FRAGMENTADO – MUTILADO

CONSERVAÇÃO (sublinhar): BOA – REGULAR – INSATISFATÓRIO – MÁ – OBRA

DESTRUÍDA MATERIAL DE APOIO FOTOGRAFIAS (sublinhar): COR – P&B – DIAPOSITIVOS – FILME OU VÍDEO

OUTRA REPRESENTAÇÃO: RAIO X – DESENHO – ESBOÇO – MAQUETA – PLANTA –

REPRODUÇÃO – OUTRA

POSSE DE DIREITOS DE AUTOR: — BIBLIOGRAFIA E FONTES: GAMA, C. Manuel Fonseca da, Terras do Alto Paiva,

Tipografia Voz de Lamego, Lda, Lamego, 1940.

COSTA, M. Gonçalves da, História de Lamego, Capítulo XI, Paróquias do

Alto Paiva.

DADOS ALTURA: LARGURA: MATERIAL: Pedra

COR: Amarelo

ÉPOCA: Século XVIII – 1735

DESCRIÇÃO: No exterior as paredes são de pedra de granito amarelo, a fachada

de estilo barroco que apenas tem como elementos decorativos o portal simples

com arco de volta perfeita, um par de janelas ovaladas e um lóculo sobrepujando

o portal. Os extremos da fachada estão destacados por pilares laterais que ao

cimo têm como elemento decorativo um pináculo, no topo, a fachada é decorada

por uma cruz. A torre sineira ligeiramente recuada encosta-se ao lado esquerdo

da igreja. É um corpo liso quadrangular, em perfeita harmonia com a traça da

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igreja. Está dividido em três partes, a inferior mais larga e mais alta apenas tem

como decoração um óculo redondo e imediatamente acima o relógio datado de

1943. Por cima deste, um segundo corpo mais pequeno com os sinos, que são 4,

onde cada um se mostra em cada face da torre; e por fim a cobertura encimada

pela imagem da padroeira, Nossa Senhora da Assunção.

As últimas grandes obras que alteraram a planta original da igreja datam de

1935, para aumento do comprimento da nave, obras estas que levaram à

substituição do campanário pela actual torre sineira, acima descrita. Uma vez que

estas obras decorreram em pleno século XX e a fachada é de estilo barroco, é

aceitável a hipótese de que esta foi desmontada e reconstruída seguindo a traça

original.( Ver planta, na folha seguinte)

A igreja inicialmente seria de planta rectangular de nave única e capela

mor, abrindo-se do lado direito desta última o corpo da sacristia. Ao longo dos

séculos sofreu várias remodelações a nível estrutural. Do lado da epístola, antes

da Capela-mor foi aberta uma capela lateral dedicada ao Senhor da Boa Morte,

onde existe um retábulo de estilo Neo-clássico aludindo ao mesmo tema. Do

mesmo lado, mas já na capela-mor, existe uma porta que dá acesso a um WC,

construído na década de 1980, aproveitando a dita porta que, provavelmente,

daria acesso ao exterior. O coro alto, sem qualquer estilo definido, surgiu aquando

das obras de 1935, encima a entrada principal e o seu acesso faz-se pelo

exterior, pelas escadas que conduzem à entrada da torre sineira.

Anteriormente a pia baptismal estaria junto da entrada principal do edifício,

do lado do evangelho, tendo sido mudada para a frente da capela mor do lado da

epístola, na década de 90 do século XX. Também há memória que existisse um

púlpito em pedra de granito talhado cujo acesso se fazia por uma escadaria

também ela nesta pedra. Púlpito este que foi destruído na década de 70 ou 80 do

século passado, e substituído este ano (2003), pelo actual, sem qualquer valor

histórico, cultural e até funcional, uma vez que não tem qualquer acesso.

O tecto que diz respeito à parte mais antiga (1735) está revestido por 63

caixotões com painéis do século XVIII, os quais são sustentados por florões em

talhada dourada. Ainda na nave, do lado do evangelho, existe um retábulo

Neoclássico, o qual foi encurtado e repintado, também na década de 70 ou 80 do

século XX, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Nas paredes frontais, de

cada lado, um retábulo, considerados pelo historiador Fonseca da Gama, da

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renascença decadente, semelhantes na forma e decoração ao retábulo-mor, o do

lado da epístola dedicado à Nsa Sra dos Anjos e o outro dedicado à Nsa Sra do

Rosário.

A nave é separada da capela mor por um arco triunfal, todo ele pintado

com elementos vegetalistas, certamente do século XVIII

As paredes da capela-mor estão actualmente revestidas parcialmente com

azulejo industrial, que vieram substituir os azulejos, das primeiras décadas do

século XX, que cobriam a totalidade das paredes, os quais apesar de pouco

eruditos ainda eram pintados à mão.

A abóbada divide-se em 25 caixotões, das quais a memória popular

recorda a existência de painéis que figuravam reis mencionados no Antigo

Testamento, os quais foram tapados nos restauros da década de 50 por telas de

fraca qualidade artística, com pinturas simbólicas e legendas em latim que

expressavam a Ladaínha. Em seguimento da traça do tecto da nave entre os

extremos de cada painel existe um florão em talha dourada, exercendo a função

de elemento decorativo e de sustentação. Entre o extremo das paredes e o

arranque do tecto existem elementos de sustentação e decoração com formas

zoomórficas, em talha dourada, também em conformidade com a nave.

O retábulo mor de estilo renascença decadente é um exemplar de beleza e

fausto. No seu centro abre-se um nicho, cujo tecto se divide em 10 pequenos

caixotões. Sobre um fundo de tábuas pintadas a azul, sobrepõe-se um resplendor

dividido em dois.

Representação naif de um céu de anjinhos, dos quais sai a luz divina,

ladeiam a padroeira da freguesia Nsª Sra da Assunção, que se impõe sobre o

sacrário talhado e policromado. Ladeando este enorme nicho onde se encontra a

padroeira, outros dois nichos de menor dimensão, nos quais figuram S Gonçalo e

S. Pantaleão.

OBSERVAÇÕES: — ESCOLA/ ATELIER: — AUTOR: — RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO: Carla Clara Costa Gomes

DATA: 20 de Setembro de 2003

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Planta actual da Igreja Matriz

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FICHA II -- Nave IDENTIFICAÇÃO TIPO DE OBRA: Tecto/ Altar

INTEGRAÇÃO NOUTRA OBRA: Nave

TEMA REPRESENTADO: Santos e cenas bíblicas

REF./ N.º DE INVENTÁRIO: –

PROVENIÊNCIA: Igreja de Pendilhe

Aspecto actual da Nave central

LOCALIZAÇÃO ACTUAL PAÍS: Portugal

DISTRITO: Viseu

CONCELHO: Vila Nova de Paiva

LOCAL/ EDIFÍCIO: Pendilhe/ Igreja Matriz

PROPRIETÁRIO: Freguesia de Pendilhe

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INTERVENÇÕES/ ESTADO DE CONSERVAÇÃO RESTAUROS: Foram acabados em Agosto de 2003

ESTADO (sublinhar): INTEIRO – FRAGMENTADO – MUTILADO

CONSERVAÇÃO (sublinhar): BOA – REGULAR – INSATISFATÓRIO – MÁ – OBRA

DESTRUÍDA MATERIAL DE APOIO FOTOGRAFIAS (sublinhar): COR – P&B – DIAPOSITIVOS – FILME OU VÍDEO

OUTRA REPRESENTAÇÃO: RAIO X – DESENHO – ESBOÇO – MAQUETA – PLANTA –

REPRODUÇÃO – OUTRA

POSSE DE DIREITOS DE AUTOR: — BIBLIOGRAFIA E FONTES: TAVARES, Jorge Campos, Dicionário de Santos, 3ª

edição revista, Lello Editores, 2001.

ATTWATER, Donald, Dicionário de Santos, Publicações Europa-América.

DADOS ALTURA: LARGURA: MATERIAL: Madeira

COR: Policromada

ÉPOCA: Século XVIII – 1735

DESCRIÇÃO: A parte mais antiga do tecto da nave, data de 1735, está revestido

com 63 painéis, dos quais 48 aludem aos seguintes santos:

S Jacob, S. Jacobe, S. Tiago Menor, S. Filipe, S. Pedro, Sta.Bárbara, S.

Domingos de Gusmão (D.os), Sta Catarina de Sena, Sto Inácio, N.sa Sra da

Piedade, S. Silvestre, S. Pio V, N.sa Sra da Lapa, S. João, S. Paulo Apóstolo, S.

Paulo Eremita, S. Barnabé, S. Mateus Apóstolo (com anjo), S. Mateus, S. Judas

Tadeu, Stª. Cecília, S. Gregório, St. Agostinho, Sta. Eufemia, S. Macário, Sta

Margarida, S. Vicente Fra., S. Miguel, S. Carlos, S. Bento, S. Simão, S. Panúcio, ,

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S. Lucas Apóstolo, Sto Ambrósio, S. Bonifácio, S. Teotónio, S. Matias, S.

Bartolomeu, Sta Maria Madalena, S. Tomé, S. Marcos, Sto André, Sta Quitéria,

mais quatro Santos cujos nomes não estão indicados nos painéis, mas tendo em

conta os seus atributos podem ser S. Jerónimo, Sta Inês de Roma, S. Fridiano e

Sto Adeodato (AD) e uma cena bíblica: - A Decapitação de S. João Baptista.

Destes 63 painéis 15 estão sem pintura*, há memória que existiam alguns

painéis nesse estado, mas a população não tem a certeza de que fossem tantos

(apenas se recordam de 9), facto que não se consegue confirmar devido à falta

de registos fotográficos que abrangessem a totalidade do tecto da nave. Cada um

destes painéis tinha um fundo colorido, no geral em tons azuis claros e à volta de

todos eles existia uma moldura que anteriormente ao restauro eram marmoreadas

a verde claro, e outras com textura tigrada em tons castanhos.

Os esquemas que se seguem representam a disposição dos painéis antes

da intervenção, infelizmente não temos registos fotográficos da totalidade do tecto

antes das obras, pelo que não nos é possível completar na totalidade o esquema,

mas se a empresa responsável pela obra, cumpriu os critérios de restauro, deverá

ter consigo registos exaustivos do aspecto de toda a igreja antes da intervenção.

Se compararmos o esquema 1, da página 17, com o esquema 2, da página

18, apesar de não termos o primeiro completo é perfeitamente notória a troca da

disposição dos painéis, facto que não cumpre com um dos critérios gerais do

restauro que afirma que o restaurador deve renunciar: “a toda a participação

criadora, respeitando sempre a obra do autor, a mensagem que este quis

transmitir e as vicissitudes da história” 4. OBSERVAÇÕES: *Relativamente a estes painéis, julga-se que alguns deles

perderam a pintura ao longo do tempo, tendo sido pintados outrora com uma

coloração azul clara.

ESCOLA/ ATELIER: — AUTOR: — RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO: Carla Clara Costa Gomes

DATA: 20 de Setembro de 2003

4 CALVO, ANA, Conservación y Restauración- Materiales, técnicas y procedimientos de la A a la Z, Ediciones del Serbal, Barcelona 1997, pág. 68, box-“criterios”

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Arco Triunfal

A1

S. Jacob A2

A3

S. Tiago o Menor

A4

S. Filipe

A5

S. Pedro A6

A7

S. André

A8

S. Judas

Tadeu

A9 A10 A11

Santa Quitéria

A12

vazio A13 A14

A15

Sta Inês A16

A17

Sta. Bárbara

A18

S.Domingos

(D.os)

A19

Sta. Catarina de Sena

A20 A21

A22

S. Carlos

A23

S. Mateus

(com anjo)

A24

Sto. Inácio

A25

Nsa Sra Da Piedade

A26

S. Silvestre A27 A28

A29

Sta.

Cecília

A30

Sto.

Agostinho

A31

S. Pio V

A32

Nsa Sra

da Lapa

A33

S. BonifácioA34 A35

A36

Vazio

A37

S. Gregório

A38

S. João

A39

S.Paulo A40

S. Barnabé A41 A42

A43

Sta

Eufemia

A44

Sta,

Margarida

A45 A46 A47 A48 A49

A50

A51

Decapitação

de S. João

A52 A53 A54 A55 A56

A57 A58 A59 +-A60 A61 A62 A63

1- Esquema representativo da disposição dos painéis antes da intervenção

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Arco Triunfal

A1

S. Panúcio

A2

S. Tiago Menor

A3

S. Pedro

A4 Nsa Sra

da Lapa

A5

S. Mateus

(com anjo)

A6

Sto André

A7

S. Paulo Eremita

A8

S. Judas Tadeu

A9

S. Jacob

A10

S. João

A11

Nsa. Sra. da Piedade

A12

S. Marcos

A13

S. Mateus

A14 Decapitação de S. João

Baptista

A15

Sta. Cecília

A16

S.

Jerónimo

A17

S. Tomé

A18

Sta. Maria Madalena

A19

S. Lucas

A20

S. Jacobe

A21

S. Inês

A22

S. Pio V

A23

S. Bartolomeu

A24

S. Simão

A25

S. Paulo A26

S. Bárnabé

A27

Sta. Eufémia

A28

Sta. Margarida

A29

S. Vicente Fra

A30

S. Macário A31

Sta Bárbara

A32

S. Filipe

A33

S. Matias

A34

S. Fridiano

A35

S. Teotónio

A36

Sto Ambrósio

A37

S. Carlos

A38

Sto Inácio

A39

S.Domigos (D.os)

A40

Sta Catarina de Sena

A41

S. Silvestre

A42

S. Bonifácio

A43

A44

A45

S. Bento A46

S. Miguel

A47

S. GregórioA48

S. Agostinho A49

A50 A51 A52 A53

Sta Quitéria

A54 A55 A56

A57 A58 A59 A60

S. Adeodato(AD)

A61 A62 A63

2- Esquema da disposição dos painéis após a intervenção.

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FICHA III – Arco Triunfal IDENTIFICAÇÃO TIPO DE OBRA: Arco Triunfal

INTEGRAÇÃO NOUTRA OBRA: Igreja de Pendilhe

TEMA REPRESENTADO: Decoração com motivos florais

REF./ N.º DE INVENTÁRIO: –

PROVENIÊNCIA: Igreja de Pendilhe

Aspecto de parte do arco triunfal

LOCALIZAÇÃO ACTUAL PAÍS: Portugal

DISTRITO: Viseu

CONCELHO: Vila Nova de Paiva

LOCAL/ EDIFÍCIO: Pendilhe/ Igreja Matriz

PROPRIETÁRIO: Freguesia de Pendilhe

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INTERVENÇÕES/ ESTADO DE CONSERVAÇÃO RESTAUROS: Foram acabados em Agosto de 2003

ESTADO (sublinhar): INTEIRO – FRAGMENTADO – MUTILADO

CONSERVAÇÃO (sublinhar): BOA – REGULAR – INSATISFATÓRIO – MÁ – OBRA

DESTRUÍDA MATERIAL DE APOIO FOTOGRAFIAS (sublinhar): COR – P&B – DIAPOSITIVOS – FILME OU VÍDEO

OUTRA REPRESENTAÇÃO: RAIO X – DESENHO – ESBOÇO – MAQUETA – PLANTA –

REPRODUÇÃO – OUTRA

POSSE DE DIREITOS DE AUTOR: — BIBLIOGRAFIA E FONTES: GAMA, C. Manuel Fonseca da, Terras do Alto Paiva,

Tipografia Voz de Lamego, Lda, Lamego, 1940.

COSTA, M. Gonçalves da, História de Lamego, Capítulo XI, Paróquias do

Alto Paiva.

DADOS ALTURA: LARGURA: MATERIAL: Pedra

COR: Policromada

ÉPOCA: Século XVIII – 1735

DESCRIÇÃO: Existem dois arcos, um que separa o corpo da nave da capela-mor —

Arco Triunfal, e um segundo, possivelmente posterior e mais pequeno, que

permite o acesso à capela do Senhor da Boa Morte. Ambos os arcos são de volta

perfeita assente sobre dois pilares, no topo destes existe uma pequena cornija

marmoreada a partir da qual arranca o arco, ambos decorados com motivos

florais.

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Relativamente a restauros só um sofreu intervenção, o arco Triunfal.

Devido à existência de um WC paredes meias com este arco, as suas fundações

sofreram infiltrações. Realizaram-se obras para o conserto da zona, sendo

obrigatória a sua desmontagem. Ao montarem novamente o arco algumas das

pedras originais foram colocadas desrespeitando a ordem inicial e outras

(provavelmente as mais danificadas) desapareceram, sendo substituídas por

novas. Mais uma vez os critérios da Conservação e Restauro não foram

cumpridos: “devem ser evitadas todas as intervenções que impliquem

modificação real ou aparente dos valores autênticos e privados da obra,

como os materiais, funcionais, artísticos, históricos, (...) estabilizando e

consolidando elementos degradados, excluindo a possibilidade da sua

substituição”5. Todavia, outro dos critérios gerais do restauro recomendam a “eliminação

de todas as “máscaras”, alheias à total integridade da obra, que

impossibilitem ou desvirtuem a sua interpretação como documento

histórico”6. Neste caso, não se efectuou a remoção de “máscaras”, colocaram-

se, pintando totalmente o arco triunfal, tapando os restos da pintura original, com

outra, realizada sem qualquer técnica e com os materiais mais inadequados

(atendendo ao seu aspecto, parece ser um material não reversível)

desrespeitando totalmente os valores autênticos da obra. Neste caso, em que

houve necessidade de reintegração de elementos perdidos e de acordo com os

critérios, esta reintegração deveria ser realizada com “materiais de reconhecida

qualidade, reversibilidade e reconhecimento como não pertencentes à traça original do conjunto, mas harmonizando com o original”7.

OBSERVAÇÕES: — ESCOLA/ ATELIER: — AUTOR: — RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO: Carla Clara Costa Gomes

DATA: 20 de Setembro de 2003

5 CALVO, ANA, Conservación y Restauración- Materiales, técnicas y procedimientos de la A a la Z, Ediciones del Serbal, Barcelona 1997, pág. 68, box-“criterios” 6 Idem, Ibidem 7 Idem, ibidem

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Aspecto do arco antes das obras

Aspecto depois das obras. É visível a substituição das pedras originais por novas, assim como a

troca de disposição das pedras originais.

Aspecto do arco triunfal depois das obras de “restauro”

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FICHA IV – Capela-mor IDENTIFICAÇÃO TIPO DE OBRA: Capela-mor

INTEGRAÇÃO NOUTRA OBRA: Igreja de Pendilhe

TEMA REPRESENTADO: Vários

REF./ N.º DE INVENTÁRIO: –

PROVENIÊNCIA: Igreja de Pendilhe

Aspecto da Capela mor antes das obras

LOCALIZAÇÃO ACTUAL PAÍS: Portugal

DISTRITO: Viseu

CONCELHO: Vila Nova de Paiva

LOCAL/ EDIFÍCIO: Pendilhe/ Igreja Matriz

PROPRIETÁRIO: Freguesia de Pendilhe

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INTERVENÇÕES/ ESTADO DE CONSERVAÇÃO RESTAUROS: Foram acabados em Agosto de 2003

ESTADO (sublinhar): INTEIRO – FRAGMENTADO – MUTILADO

CONSERVAÇÃO (sublinhar): BOA – REGULAR – INSATISFATÓRIO – MÁ – OBRA

DESTRUÍDA MATERIAL DE APOIO FOTOGRAFIAS (sublinhar): COR – P&B – DIAPOSITIVOS – FILME OU VÍDEO

OUTRA REPRESENTAÇÃO: RAIO X – DESENHO – ESBOÇO – MAQUETA – PLANTA –

REPRODUÇÃO – OUTRA

POSSE DE DIREITOS DE AUTOR: — BIBLIOGRAFIA E FONTES: GAMA, C. Manuel Fonseca da, Terras do Alto Paiva,

Tipografia Voz de Lamego, Lda, Lamego, 1940.

COSTA, M. Gonçalves da, História de Lamego, Capítulo XI, Paróquias do

Alto Paiva.

DADOS ALTURA: LARGURA: MATERIAL: Variado

COR: ÉPOCA: Século XVIII – 1735

DESCRIÇÃO: Na Capela-mor existe uma lápide por cima de uma porta do lado do

evangelho, que diz:

Escrito que testemunha a idade da Igreja e obviamente a idade da Capela-mor.

Inicialmente as suas paredes estariam nuas, mas possivelmente durante as obras

“OBRA FEITA NO ANNO DE 1735 SENDO ABB. ORD.º

PANTALEA~O PINHR.º VENIAGA”

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de 1935 foram cobertas por azulejos desta época. Seriam azulejos de estampilha,

de três cores (azul, verde e castanho), pintados à mão, de padrão constituído por

quatro módulos. Devido à falta de alguns destes azulejos para substituição dos

que estavam em falta, decidiu-se pela remoção de todos os azulejos desta

qualidade pelos actuais, simples azulejos industriais também de quatro módulos,

que actualmente revestem todas as paredes da igreja até 1/3.

Infelizmente o tecto original desta capela, foi destruído. Este seria

semelhante ao tecto da nave central, contendo também painéis do século XVIII,

que foram tapados pelas telas que neste momento se encontram enroladas, sem

qualquer cuidado e tratamento, na sacristia, as quais foram arrancadas das

tábuas dos painéis e estas mesmas tábuas, as que estariam em melhor estado,

aproveitadas para a execução das novas pinturas, destruindo parte do património

artístico, histórico e cultural; desta igreja, desrespeitando toda a sua integridade

interior, chocando em todos os sentidos com a decoração secular da mesma.

Ainda no tecto, é impossível deixar de reparar nos elementos de sustentação, os

quais em conformidade com os da nave seriam em talha dourada e durante as

obras foram pintados com cores de tons metalizados.

O retábulo mor também foi incluído nestas obras. Este que seria um

gracioso exemplo de beleza e fausto, foi também pintado com materiais

inadequados (pelo seu aspecto parecem ter pouca reversibilidade) com cores

também pouco adequadas (demasiado fortes e brilhantes), as colunas em azulão,

e os motivos zoomórficos em cores metalizadas com nuances de rosa e verde, os

vegetalistas mantiveram-se dourados.

No fundo do nicho principal do retábulo mor, existia um resplendor um

pouco naif que ladeava a imagem de Ns.ª. Sr.ª da Assunção, padroeira da igreja e

da freguesia. Este resplendor foi retirado do lugar original e remendado, em cima

e em baixo, com um pedaço de madeira nos quais foram esculpidas uma cara de

anjinho. Depois desta obra acabada pregaram o conjunto numa base de madeira,

com 3 querubins esculpidos, e como os raios do resplendor não podiam estar na

disposição original porque impediam a sua colocação sobre qualquer superfície,

foram retirados todos os raios e movidos ligeiramente para cima; como lhes

trocaram a disposição, sobravam dois mais estreitos que estavam inicialmente na

parte inferior do resplendor, os quais foram pregados juntos no topo da peça. Este

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resplendor mudou de configuração para segurar o crucifixo que anteriormente

estava encimando o sacrário.

No nicho, tapado pelo resplendor, existia um painel talhado com formas

circulares, imitando nuvens, que foi pintado em tons pasteis, a azul, rosa e

amarelo. Outra diferença verifica-se no fundo deste nicho pela existência de uma

espécie de moldura pintada à cor do retábulo, à volta do seu fundo, que

anteriormente não existia. Em baixo, na sua base, faltam duas tábuas que

estavam em meia esquadria por trás do sacrário (assinalado por uma seta, foto da

página 28) e que se prolongavam horizontalmente pela parte inferior do nicho, do

centro até aos seus extremos, que tinham como função impedir a visualização do

seu chão. O tecto do nicho parece ter descido, pois entre o topo das portas

laterais, que lhe dão acesso, e os pequenos painéis que cobrem o tecto do nicho,

existia uma tábua lisa, com cerca de 50 cm, tábua que desapareceu, pelo que

agora os painéis referidos não arrancam sobre a tábua mas sobre uma pequena

cornija que já existia e encimavam as ditas portas. Como se pode ver no esboço a

seguir. Também se pode comprovar, pelas fotografias, alguma diferença em

relação ao ângulo de inclinação dos mesmos painéis, actualmente a primeira fila

de ambos os lados estão mais inclinados que anteriormente.

Painéis Friso

Tábua lisa Cornija Friso Porta

Painéis Cornija Tábua entalhada Friso Porta

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. Aspecto do resplendor antes e depois das obras

Aspecto actual da capela mor.

Também o sacrário deste retábulo foi alterado. Se repararmos nas fotografias do

antes e do depois, podemos encontrar algumas diferenças como sejam a

cobertura e a falta do crucifixo.

Os critérios de conservação e de restauro são bem claros e podemos

reparar que não foram de todo cumpridos em qualquer dos casos aqui descritos,

entre os quais deve-se destacar o critério da intervenção mínima durante o

restauro evitando “todas as intervenções que impliquem modificação real ou

aparente dos valores autênticos e privados da obra como: os materiais,

funcionais, artísticos, históricos, sem esquecer o respeito a quantas adições

complementares sejam consubstanciais à própria história do bem

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cultural.”8; e recorrendo à “eliminação de todas as “máscaras”, alheias à total

integridade da obra, que impossibilitem ou desvirtuem a sua interpretação

como documento histórico, estabilizando e consolidando elementos

degradados, excluindo a possibilidade da sua substituição”.9

Aspecto do sacrário antes e depois das obras

OBSERVAÇÕES: O sacrário, na fotografia do antes, tem a porta tapada por uma

cortina, as diferenças estão, como já foi dito, na cobertura e na remoção do

crucifixo. Este último foi retirado do local original para ser colocado no resplendor.

ESCOLA/ ATELIER: — AUTOR: — RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO: Carla Clara Costa Gomes

DATA: 20 de Setembro de 2003

8 CALVO, ANA, Conservación y Restauración- Materiales, técnicas y procedimientos de la A a la Z, Ediciones del Serbal, Barcelona 1997, pág. 68, box-“criterios” 9 Idem, ibidem.

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FICHA V—Nossa Sr.ª da Assunção IDENTIFICAÇÃO TIPO DE OBRA: Escultura Policromada

INTEGRAÇÃO NOUTRA OBRA: Igreja de Pendilhe

TEMA REPRESENTADO: Nossa Senhora da Assunção

REF./ N.º DE INVENTÁRIO: –

PROVENIÊNCIA: Igreja de Pendilhe

Aspecto de Ns.ª Sr.ª da Assunção

LOCALIZAÇÃO ACTUAL PAÍS: Portugal

DISTRITO: Viseu

CONCELHO: Vila Nova de Paiva

LOCAL/ EDIFÍCIO: Pendilhe/ Igreja Matriz

PROPRIETÁRIO: Freguesia de Pendilhe

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INTERVENÇÕES/ ESTADO DE CONSERVAÇÃO RESTAUROS: Foram acabados em Agosto de 2003

ESTADO (sublinhar): INTEIRO – FRAGMENTADO – MUTILADO

CONSERVAÇÃO (sublinhar): BOA – REGULAR – INSATISFATÓRIO – MÁ – OBRA

DESTRUÍDA (PARCIALMENTE) MATERIAL DE APOIO FOTOGRAFIAS (sublinhar): COR – P&B – DIAPOSITIVOS – FILME OU VÍDEO

OUTRA REPRESENTAÇÃO: RAIO X – DESENHO – ESBOÇO – MAQUETA – PLANTA –

REPRODUÇÃO – OUTRA

POSSE DE DIREITOS DE AUTOR: — BIBLIOGRAFIA E FONTES: TAVARES, Jorge Campos, Dicionário de Santos, 3ª

edição revista, Lello Editores, 2001.

ATTWATER, Donald, Dicionário de Santos, Publicações Europa-América. * * Não foram encontrados dados relevantes na bibliografia consultada

DADOS ALTURA: LARGURA: MATERIAL: Madeira

COR: Policromada

ÉPOCA: Século XVIII

DESCRIÇÃO: Escultura em madeira policromada, do século XVIII, certamente

contemporânea da Igreja Matriz de Pendilhe. Representa Nossa Senhora da

Assunção, padroeira da Igreja e da freguesia. A escultura consistia na figura de

Nossa Senhora em pé com os braços abertos, assente sobre uma nuvem, na qual

se vislumbram 3 querubins, nuvem esta, que por sua vez assenta sobre uma

pequena base marmoreada. A Santa apresenta-se com uma túnica branca

cingida na cinta por uma fita dourada, e meio enrolado sobre o seu corpo um

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manto azul debruado em dourado. A coroa que apresenta na fotografia acima, é

em ouro e está guardada sendo utilizada apenas em ocasiões especiais. Na

mesma fotografia são visíveis as ciganas que a imagem tem penduradas nas

orelhas, as quais se julga estarem guardadas.

Apesar dos repintes* que possui, a imagem, a nível estrutural estava em

boas condições não apresentando qualquer elemento em falta.

Há relativamente dois anos esta imagem foi levada para restauro. Neste

momento, após as primeiras intervenções, a imagem original em nada se

assemelha com a actual, apresenta a falta do dedo indicador esquerdo, que em

tempos foi colado; e mostra-se bastante mais reduzida na altura, devido aos

cortes que a sua base sofreu, como é visível nas imagens seguintes.

Imagem antes e depois do “restauro”

A base foi cortada em três partes, a título desta conter acrescentos em gesso.

Argumento algo estranho, pois os artistas antigos eram muito rigorosos em

relação aos materiais e técnicas utilizados. Pelo que, quando faziam uma imagem

com uma determinada matéria não misturavam outras com propriedades tão

diferentes como a madeira (material em que a imagem foi feita) e o gesso

(material que os responsáveis pelo restauro dizem ter retirado). Aliás, o gesso

seria completamente inadequado para servir de base de sustentação, pois não

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teria capacidade para aguentar uma imagem relativamente grande em madeira.

Outro facto que não convence neste argumento relaciona-se com a iconografia.

Sendo esta uma imagem representativa da elevação de Nossa Senhora aos céus,

esta deveria estar forçosamente sobre uma nuvem, a qual foi destruída, sobrando

apenas os rostos dos querubins.

Se lembrarmos o critério de restauro da intervenção mínima vemos que

este foi simplesmente esquecido, uma vez que devem ser evitadas todas as

intervenções que impliquem modificação real ou aparente dos valores autênticos

e privados da obra, como os materiais, funcionais, artísticos, históricos, sem

esquecer o respeito a quantas adições complementares sejam consubstanciais à

própria história do bem cultural. Tendo em consideração a justificação dada pelos

responsáveis do restauro, de que a base teria acrescentos em gesso seria

indispensável a apresentação de provas fotográficas para a serena aceitação

desse facto. Provas que ainda não foram apresentadas, pondo em causa mais

uma obrigatoriedade das intervenções de conservação e restauro que consiste no

registo e arquivo exaustivo de toda a acção de restauro.

OBSERVAÇÕES: Digo repintes porque no verso da imagem existe um pequeno

levantamento do repinte, onde se vê uma camada de folha de ouro brunido com

incisões feitas a punção. ESCOLA/ ATELIER: — AUTOR: — RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO: Carla Clara Costa Gomes

DATA: 20 de Setembro de 2003

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CONCLUSÃO

O objectivo deste relatório prende-se à necessidade de mostrar que as

intervenções feitas nesta igreja nem sempre cumpriram os critérios e o código de

ética defendidos pela Conservação e Restauro. No entanto, não queremos

apontar ou encontrar um culpado para todos estes acontecimentos, pois o

verdadeiro culpado destes infortúnios é o desconhecimento do valor do nosso

património artístico, histórico e cultural.

É urgente tomar medidas preventivas a fim de evitar que todos estes

acontecimentos se voltem a repetir, não só nesta igreja, mas em todas as igrejas

do nosso país. É indispensável, a consciencialização do clero e das comissões

fabriqueiras do valor e da responsabilidade que têm em mãos. Enquanto estas

medidas não forem tomadas, o nosso património continuará a ser destruído,

substituído e muitas vezes vendido em retalhos, pela inexistência de qualquer

controlo.

Infelizmente, o património de cariz menos erudito, é o que mais sofre, pois

o desconhecimento da sua existência, por parte das entidades responsáveis pelo

património, leva a que este fique sobre alçada de populares, que fazem e

desfazem segundo as suas vontades. Pese embora que a arte popular é no seu

geral tosca, nunca é demais lembrar, que esta arte tem a capacidade de nos

fornecer pequenos grandes pormenores que na sua maioria são de grande

interesse cultural e histórico, nas quais se contam histórias de um povo que

também faz história.

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BIBLIOGRAFIA ATTWATER, Donald, Dicionário de Santos, Publicações Europa-América.

CALVO, ANA, Conservación y Restauración- Materiales, técnicas y procedimientos de la A a la Z, Ediciones del Serbal, Barcelona 1997

COSTA, M. Gonçalves da, História de Lamego, Capítulo XI, Paróquias do

Alto Paiva.

GAMA, C. Manuel Fonseca da, Terras do Alto Paiva, Tipografia Voz de

Lamego, Lda, Lamego, 1940.

TAVARES, Jorge Campos, Dicionário de Santos, 3ª edição revista, Lello

Editores, 2001.