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MARIO M. CHAVES Análise do crescimento provável do número de médicos no Brasil: Opcoes necessarias INTRODUCAO Nos estudos de recursos humanos para as atividades de saúde, temos em geral nossa atençao voltada para o conjunto da equipe de saúde. E possível, no entanto, destacar dela uma dada profissao e estudá-la em separado, na sua dupla dimensao de quantidade e qualidade, desde que se tenha a cautela de nao perder de vista a divisao feita. Neste trabalho estudaremos a fóora-de-trabalho da profissáo médica no Brasil, únicamente em seu aspecto quantitativo, incluindo neste a questáo da distribuiçao, que nada mais é do que um aspecto particular de quantidade. No caso da medicina os estudos da fóora-de-trabalho, especialmente os de natureza prospectiva, adquirem especial relevancia em virtude da importancia do trabalho do médico e do custo de sua formaçao para o país. Recursos federais, estaduais ou municipais representam a fonte principal de manutenaáo de 62% das escolas de medicina do país (1). Subsídios do governo federal permitem importantes melhoramentos e contribuem em parte para a operaçao de algumas escolas privadas. Os custos do ensino médico de boa qualidade sobem dia a dia, chegando a Cr$25.000,00 por aluno, por ano, em uma escola federal (2). Com base em dados desta ordem, é fácil imaginar o investimento substancial que o país faz no aparelho formador de médicos, tanto ern * O doutor Chaves é Diretor de Programas da W. K. Kellogg Foundation, Rio de Janeiro, Brasil. * Trabalho apresentado na IX Reuniáo Anual da Associaçao Brasileira de Escolas Médicas (ABEM) realizada em Curitiva, 4 a 7 de Setembro de 1971-Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. 148

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MARIO M. CHAVES

Análise do crescimento provável donúmero de médicos no Brasil: Opcoesnecessarias

INTRODUCAO

Nos estudos de recursos humanos para as atividades de saúde, temosem geral nossa atençao voltada para o conjunto da equipe de saúde.E possível, no entanto, destacar dela uma dada profissao e estudá-la emseparado, na sua dupla dimensao de quantidade e qualidade, desde quese tenha a cautela de nao perder de vista a divisao feita.

Neste trabalho estudaremos a fóora-de-trabalho da profissáo médicano Brasil, únicamente em seu aspecto quantitativo, incluindo neste aquestáo da distribuiçao, que nada mais é do que um aspecto particularde quantidade.

No caso da medicina os estudos da fóora-de-trabalho, especialmenteos de natureza prospectiva, adquirem especial relevancia em virtude daimportancia do trabalho do médico e do custo de sua formaçao para opaís. Recursos federais, estaduais ou municipais representam a fonteprincipal de manutenaáo de 62% das escolas de medicina do país (1).Subsídios do governo federal permitem importantes melhoramentos econtribuem em parte para a operaçao de algumas escolas privadas. Oscustos do ensino médico de boa qualidade sobem dia a dia, chegando aCr$25.000,00 por aluno, por ano, em uma escola federal (2).

Com base em dados desta ordem, é fácil imaginar o investimentosubstancial que o país faz no aparelho formador de médicos, tanto ern

* O doutor Chaves é Diretor de Programas da W. K. Kellogg Foundation, Rio deJaneiro, Brasil.

* Trabalho apresentado na IX Reuniáo Anual da Associaçao Brasileira de EscolasMédicas (ABEM) realizada em Curitiva, 4 a 7 de Setembro de 1971-Faculdade deMedicina da Universidade Federal do Paraná.

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sua instalaçao como em sua operaçao, e compreender o interesse quetodos devemos ter na adequaçao da produaáo de médicos á sua utili-zaçao. Queremos evitar os inconvenientes sociais da escassez demédicos e o desperdicio da super-produçao representado pelo exodoprofissional, exportaçao de médicos para países industrializados esub-utilizacao.

Podemos visualizar a rede de escolas médicas como um "aparelhoformador" que se comporta como subsistema do sistema de saúde, oqual pode ser denominado de "aparelho utilizador". Em condiçoesideais de equilibrio a oferta de médicos pelo aparelho formadordeveria coincidir com a demanda de médicos pelo aparelho utilizador.Tal equilibrio difícilmente se estabelece na prática. Há uma defasagemde quase 10 anos entre percepaáo de uma situaçao de escassez ou depletora e a possibilidade de reajuste do aparelho formador, seja nosentido de sua expansáo ou de sua reduaáo. Nos encontramos diantede um mercado imperfeito em que os fatores principais que comandama expansáo do aparelho formador se encontram muitas vezes desligadostotalmente dos fatóres que comandam a expansao do aparelho utilizador.Em nosso país a expansáo do aparelho formador tem resultado prin-cipalmente de pressoes sociais, enquanto a possibilidade e capacidadede expansáo do aparelho utilizador depende principalmente de razoeseconómicas.

O problema que se apresenta com o assincronismo entre o aparelhoformador e o aparelho utilizador tem efeitos cumulativos. Com odecorrer do tempo as instituiçoes mentoras da profissáo e as repre-sentativas do poder público se apercebem do assincronismo e se de-frontam com o dilema, que é o de todo planejador de recursos humanos:o de optar entre planejar a expansáo do aparelho formador com basena demanda social ou nas necessidades do mercado. Creio ser apercepçao de uma situaaáo deste tipo que levou a Associaaáo Brasileirade Escolas Médicas (ABEM) a escolha do tema para esta ReuniaoAnual, e que levou, pelo menos em parte, o Departamento de AssuntosUniversitários do Ministerio da Educacáo a criaaáo recente de umaComissao de Ensino Médico dotada de amplas atribuiçoes.

A complexidade do assunto é de tal ordem que só podemos abordá-lo,em um trabalho inicial como este, e com a informaçao existente, emforma genérica e usando um modelo bem simples. Um ponto funda-mental que desejo demonstrar é o da necessidade de um modelo, porsimples que ele seja, como ponto de partida. Dai para diante far-se-áuma revisao constante do modelo na medida em que se modifiquem osdados da realidade. Ao mesmo tempo se enriquecerá o modelo com

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correçoes e com novas variáveis e para.metros, na medida em quepossam ser estes definidos com maior clareza.

Para facilitar a exposiçao, adotaremos uma perspectiva histórica,para separar bem o domínio dos fatos (passado próximo e presente) dodominio do futuro próximo (em que as condiçóes já estao quase todaspre-determinadas por decisoes já tomadas), e do futuro um pouco maisdistante, cuia conformaçao dependerá de opçoes ainda por serem feitas.

ANÁLISE RETROSPECTIVA

Transportemo-nos a tres décadas para trás (Tabela 1). Produzimos,ao iniciar-se a década de quarenta, 878 médicos, e ao terminá-la,1.070 médicos. Ao terminar a década seguinte, produzimos 1.528médicos. Após mais uma década, mais do que dobramos a produaáo,chegando a 3.293 médicos. Num período de 10 anos, de 1954 a 1964,a producao de médicos se manteve estacionária, em torno de 1.500médicos por ano. Ao período de crescimento lento que durou umquarto de século, de 1940 a 1964, seguiu-se outro crescimento acelerado.A produaáo em 1969 foi mais do dóbro cla de 1964, e a de 1974 seráprovávelmente mais do dóbro da de 1969, e do quádruplo da de 1964.

O crescimento da produaáo resultou tanto da ampliaçao de matrículasde escolas existentes como da criaçao de novas escolas. Possuíamos em

TABELA I-Produçao de médicos no Brasil de 1941 a 1970.

Ano Graduados Ano Graduados Ano Graduados

1941 878 1951 1.129 1961 1.7601942 662 1952 1.241 1962 1.3481943 595 1953 1.274 1963 1.5561944 788 1954 1.503 1964 1.5961945 769 1955 1.468 1965 1.7341946 872 1956 1.422 1966 1.7691947 1.001 1957 1.586 1967 2.0531948 978 1958 1.578 1968 2.7981949 1.142 1959 1.491 1969 3.2121950 1 070 1960 1.528 1970 3.293

Fontes: 1940 a 1964-Dados da Coordenaaáo de Aperfei;oamento de Pessoal de NivelSuperior.

1965 a 1967-Anuário Estatístico 1969 e 1970.1968 a 1970-Dados do Núcleo Integrado de Estudos de Recursos Humanos

para a Saúde.

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1940, 12 escolas. Na década de 40 foi criada 1 escola; na de 50, 15escolas; de 1961 a 1965, 9; e de 65 até agora, 39 escolas.* Ou seja,foram criadas mais escolas de 1966 em diante do que em todo o períodoanterior. É natural a preocupaçao que a todos aflige sobre o cresci-mento acelerado da produçao de médicos e do número de escolas. Será

que tendo talvez pecado por falta, no período de 40 a 64, iremos pecarpor excesso no período que se iniciou em 65? Será que as oscilaçoes do

pendulo tem que ser necessáriamente táo amplas? Seremos capazes de

comandar o processo em vez de ser ele quem nos comande? Será queo processo de ajuste entre a produaáo e utilizaçao de médicos nao éracionalizável, e tem mesmo de flutuar de um extremo a outro?

Vejamos, nesta análise, como se comportaram previsóes e recomen-

daoóes anteriores. Em relatório da "Comissao de Planejamento daFormaçao de Médicos" da antiga Diretoria de Ensino Superior do

Ministério da Educaaáo e Cultura, presidida pelo Prof. RaimundoMoniz de Aragáo e da qual foi relator o Dr. José Roberto Ferreira (3),recomendou-se a criaçao de 20 escolas no período de 1963 a 1983. Essameta de 20 anos foi de há muito ultrapassada. No entanto, a meta de56.732 medicos, em 1973 será ultrapassada precisamente nesse ano.

As projeçoes do Escritório de Pesquisa Económica Aplicada do

Ministerio do Planejamento (EPEA) feitas no "Plano Decenal deDesenvolvimento Económico e Social" (4) foram igualmente ultra-passadas. A meta de produaáo de 4.710 médicos em 1975 deverá serultrapassada em 1972, e a de termos 59.800 médicos em 1976 deveráser ultrapassada em 1974.

Diante de tais resultados é preciso, por um lado, uma boa dose de

otimismo diante do "fenómeno brasileiro", e por outro, uma doseainda maior de cautela, se aspiramos racionalizar e comandar oprocesso.

É inegável que a pressáo social sóbre as escolas de medicina con-tinua. Expandimos a rede de escolas e sua capacidade, mas nem porisso conseguimos melhorar a desproporaáo entre candidatos e vagas. Onúmero de vagas foi ampliado na base de 100 para 248, de 1964 a1970. Nesse mesmo período, o número de candidatos aumentou naproporçao de 100 para 321 (5). O problema continua portanto abusca de soluóoes. Náo creio que possamos satisfazer a demandasocial, do mesmo modo que nao creio que esta satisfacao deva constituira meta para nossos esforços, como procurarei explicar mais adiante.

* Os dados até 1965 foram tirados do Quadro II, de "Ensino Médico no Brasil: dadospreliminares", ABEM, 1966; o ultimado dado disponível da ABEM é o de 76 escolasmédicas no país.

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ESTADO ATUAL

Com as consideraóoes anteriores sobre a produçao de médicos nosúltimos anos, detenhamos-nos um pouco para analisar o número atualde médicos no país (estoque), e sua distribuiçao e utilizaçao.

1. Estoque

Quantos somos? Infelizmente essa pergunta, aparentemente taosimples, nao é fácil de responder. No enlanto, precisamos da respostacomo ponto de partida para quaisquer projecóes.

O dado melhor de que dispomos é talvez o do estudo feito pelo Centrode Estudos de Recursos Humanos (CETRHU) da Fundaaáo GetúlioVarga (6), e segundo o qual teríamos, erri 1969, 47.250 médicos. Noentanto, acreditamos que algumas correcóes sáo necessárias a essenúmero. Com efeito, os 47.250 médicos, segundo o estudo, estariamassim distribuidos: Guanabara, 13.053; cidlade de Sao Paulo, 10.151, eresto do país, 24.046.

Ora, aparentemente os dados da Guanabara, baseados em registro doConselho Regional de Medicina, devem sofrer uma correçao, devido auma defasagem no registro de mortes e aposentadorias e a outros fatóresdifíceis de apurar, como o nao exercício da profissao. Segundo o estudode uma amostra feito pelo Núcleo Integrado de Estudos de RecursosHumanos para a Saúde (NIERHS) (5), a margem do erro pelos doisprimeiros fatóres acima é da ordem de 5,6%7o. Ainda nessa amostra, foiverificado que 2,3% dos médicos náo exercem a profissao e 17,4% naoresidem no Rio ou em cidades vizinhas, o que leva a crer que estejamexercendo em outros estados, existindo até a possibilidade de duplacontagem.

Introduzindo a correçao de 5,6% para a Guanabara, e estimandoem 5% a correaáo para a cidade de Sao Paulo e de 1% para o restante,chegamos á cifra de 45.773 que é a que tomaremos como base paraeste trabalho, como sendo o estoque no início de 1970.

A necessidade de revisao dos dados de registro nos Conselhos já foiapontada (5); além disso, torna-se necessá[rio que algum órgáo se en-carregue de manter atualizados os dados de estoque, para que naotenhamos de depender de estudos ad hoc feitos a intervalos irregulares.

2. Distribuijao

Já hoje é redundancia dizer que os médicos estao mal distribuidos noterritório nacional. Nao só os médicos estao mal distribuidos; quasetudo está mal distribuido, acompanhando com monótona regularidadea irregularidade na distribuiçao da populaáao e da riqueza no país. Já

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nos dados sóbre estoque recem apresentados, pode-se ver que quasemetade dos médicos do país estao nas suas duas maiores cidades.

A Tabela 2, tirada do trabalho de Odair Pedroso e colaboradores (7),feito em 1965, tem tanta atualidade hoje como tinha naquele ano. Adistribuiçao irregular em escala nacional, reproduz-se na escala estadual,como foi muito bem mostrado por Paiva (8); a regiáo sul de MinasGerais possui 90,5% dos médicos e contribui com 87,36% para aproduaáo industrial e agrícola do estado.

Sem que haja um elemento intencional de planejamento da distri-buicao pelo estado, é difícil fugir aos ditames do fato económico e dofato demográfico e ecológico. Diz-nos Jairo Ramos (9) em relacao aofato económico:

", muito nítido que a distribuiçao de médicos está na dependenciadireta do grau de desenvolvimento económico, medido pelo P.N.B. eo valor do salário mínimo. Onde mais elevados sao os índicesreferidos, maior será a absoraáo do serviço médico e maior o quocienteda relaçao número de médicos e número de habitantes."

Em relaaáo ao fato demográfico, lembremos a dificuldade da prestaçaode assistencia médica as populaçoes rurais dispersas em forma económicaa nao ser talvez com participaçao do setor público e utilizaçao depessoal paramédico. Um dos' municipios sem médico do Pará(Itaituba), tem 19.000 habitantes em 165.000 quilometros quadrados,uma área maior que a do estado do Ceará.

TABELA 2-Renda per cápita e distribuiçao percentual da populaçdo, dos médicos edos leitos hospitalares, de acordo com certas regioes do Brasil. *

Distribuiçao percentualParticipaa5o

Renda percentualRegioes per cápita na Dos Dos leitos

(USS) formaç5o Da médicos hospitalaresda renda populaç5o existentes existentes

em 1958 em 1957

Nordeste 45 8,5 24,4 9,7 11,2Norte e Oeste 120 6,6 7,2 4,7 5,8Estados da Guana-

bara, S5o Pauloe Rio de Janeiro 243 49,6 26,8 49,3 45,4

Restante das RegiosLeste e Sul 111 35,3 41,t 36,3 1 37,5

* Pedroso, Odair, et al.: A assisténcia hospitalar no Brasil. Revista Brasileira deMaláriolo.gia e Doenças Tropicais, Vol. 17, No. 4 (outubro-dezembro), 1965.

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Quanto ao fato ecológico, é difícil pretender que o médico aspire fixarresidencia em localidades que nao reunam certas condiçoes de vidamínimas para si e para seus familiares. Isto sem mencionar o fato danecessidade que ele sente de convívio com outros profissinoais, seja parasuplementá-lo em suas deficiencias, seja para manter-se atualizado ecrescer profissionalmente. Este aspecto da sociologia profissional con-traria uma idéia simplista sobre correaáo da má distribuiaáo através deimplantaçao de escolas de medicina nas zonas de carencia de médicos.Como diz Kassab (10):

"Por outro lado, surge a ilusao de que escolas médicas situadas nointerior também trarao a interiorizaaáo da assistencia. A prática temdemonstrado que isso nao é verdade. A formaaáo do profissionalacaba por completar-se em um grande centro, para o qual ele se dirige,a fim de obter conhecimentos que sua própria escola nao lhe pro-porcionou. Aí, ele passa a sofrer as mesmas influencias, para aescolha de rumos, que o profissional formado nas Capitais; sua maiorinsegurança, plenamente justificável, é fator decisivo. Essa migraçaoinversa a desejada é um fato concreto."

En discussóes sobre municipios sem médico, é preciso separar fato,falacia e fantasia. Que quase a metade dos municipios brasileiros naopossuem médico residente é um fato (Tablea 3) Que tal fato ocorra por

TABELA 3-Número total de municipios e número de municipios semmédicos no Brasil por regido. *

Municípios de mais Municípios corn menosde 20.000 habitantes de 20.000 habitantes Total

Regiao

Número Número NúmeroNúmero sem Número sem Número sem

total médicos total médicos total médicos

Norte 37 10 106 87 143 97Nordeste 360 68 1.014 807 1.374 875Sudeste 362 19 1.059 540 1.421 559Sul 220 6 497 192 717 198Centro-Oeste 42 - 264 188 306 188

Brasil 1.021 103 2.940 1.814 3.961 1.917

* Baseado em dados do Centro de Estudos de Recursos Humanos (da Fundaçáo

Getúlio Vargas) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, compilados eanalisados pelo Departamento de Recursos Humanos para a Saúde (do Instituto Presi-

dente Castello Branco).

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falta de médicos e que portanto a soluQao seja produzir mais médicos éfalácia. Que existam soluoóes simples e estereotipadas para o problema,como por exemplo a compulsoriedade do serviço em municipios semmédicos por um período determinado após a graduaçao, e em formadesligada de uma infraestrutura de serviços de saúde, parece-me chegaras raias da fantasia.

Creio que nao existe uma soluçao ideal e sim soluçoes mais adequadasao problema particular de cada estado ou regiao. Precisamos diag-nosticar as causas de nao existencia de médico nas comunidades e asconseqüencias disso para o bem estar da populacao. Com dados de umestudo de municipios sem médico que está sendo feito pelo Departa-mento de Recursos Humanos do Instituto Presidente Castello Branco,foi construida a Tabela 4, relativa a quatro estados, e reveladora dediferenças acentuadas até entre estados de uma mesma regiao. Aobservaçao da tabela nos permite assinalar os seguintes fatos:

a) A populaçao residente em municipios sem médico representa 38%da populaçao do Rio Grande do Sul. Nenhum dos municipiosgauchos e catarinenses sem médico é de mais de 20.000 habitantes,enquanto no Pará seis o sao.

b) Alguns municipios sem médico nao tem luz, vários nao tem escolasecundária, nao tem farmácia, nem tem qualquer outro pro-fissional liberal.

c) A quase totalidade dos municipios paraenses sem médico naopossui telefone, hotel ou banco.

d) Dos 15 municipios sem médico no Rio Grande do Sul, náo foipossível localizar cinco deles nos mapas do DepartamentoNacional de Estradas de Rodagem (DNER). Nove dos dezrestantes estao a menos de 40 km de distancia de lugares providosde serviços médicos. O mesmo ocorre con 65 dos 80 municipiossem médico em Santa Catarina. Ainda nao foi completadaanálise semelhante para o Pará, onde é de esperar-se distanciasmuitos maiores e um acesso muito mais difícil aos serviços médicos.

Com os dados da Tabela 4, queremos apenas alertar para a dispari-dade de situaçoes dos municipios brasileiros sem médicos, dos quaismenos de 5% sao de mais de 20.000 habitantes. As diferenças dassitua$0es clamam por soluçoes e prioridades diferentes. Podemos ante-cipar que o Rio Grande do Sul solucionará a curto prazo o seu próprioproblema. O pequeno número de municipios sem médico, 15 de 232,quase todos próximos de centros com médicos, nao tardarao a mudar de

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categoria. Já no Pará o problema é mais sério, e sua soluaáo deve estarligada a planos mais amplos de governo, dependendo de abertura deestradas e de desenvolvimento regional. É possível que a "Trans-amazónica" faca mais nesse sentido do que planos gerados exlusiva-mente dentro do setor saúde.

3. Utilizaco

Pouco sabemos sóbre o grau de utilizaaáo dos médicos no país comoum todo. Talvez a situaçao melhor conhecida seja a da Guanabara,graças ao estudo recentemente realizado pelo NIERHS (5). NaGuanabara, 72,5% dos médicos tem vínculos empregatícios com insti-tuiçoes oficiais, e 26,1% com empresas particulares; 56,7 exercem aclínica privada; mas só 3,1% o fazem de forma exclusiva. Dos queexercem a clínica privada, 26% acham que a procura de pacientes épouco menor que sua capacidade de atendimento, e 30% acham que émuito menor que a capacidade de atendimento; sinal evidente de sub-utilizaaáo do tempo do profissional. O número de habitantes pormédico no Rio de Janeiro é de 440, se considerarmos apenas os médicosem atividade, nao sendo pois de admirar a subutilizaçao verificada.

É desejável que estudos semelhantes ao que foi feito na Guanabarasejam feitos em outros estados a fim de completar o quadro. Com amodificaçao gradual no sistema de distribuiaáo de serviQos de saúde, autilizaaáo do médico está vinculada a dois mercados: um mercado deempregos no setor público e em instituiQces paraestatais ou privadas, eum mercado de clientela particular, cujo significado na renda total domédico vem sendo progressivamente reduzido. I possível que o mesmofenómeno de subutilizaaáo observado na Guanabara esteja ocorrendoem outras capitais do país.

PERSPECTIVAS PARA UM FUTURO PROXIMO

Acabamos de analisar a situaçao contrastante de um Brasil em quequase a metade de seus médicos estáo em duas cidades apenas, e quasea metade de seus municipios nao dispóe de médico residente. Vejamoscomo se configura a situaçao para os próximos oito anos, incluindo ocorrente.

1. Aspectos quantitativos

Nesta fase do trabalho, passamos do domínio do fato para o daprevisao. Começamos a trabalhar com uma margem de incerteza.Ela é relativamente pequena porque as decisoes fundamentais já foram

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tomadas. Nao há própriamente opçoes a serem feitas. As graduaçoesaté 1975 podem ser previstas com base em alunosjá cursando faculdadesde medicina. As graduaçoes de 1976 a 1978 dependem simplesmentedo cumprimento de metas fixadas em planos atuais do Governo e quetudo leva a crer que ser5o alcançadas. Os dados da Tabela 5 mostram,em sua parte A, as graduaçóes esperadas com base nas matrículas até1969 e, em sua parte B, as graduaçóes esperadas com base na expansaoprevista para 1970 a 1973. Assumi que a expansao do ensino médicoseria pelo menos na mesma proporçao que: a do ensino superior comoum todo, que é a de 81% para o quadrieno (11), por ter o campo dasaúde situaçao prioritária. Os dados de rnatrículas em 1970 revelamque em um ano já foi alcançada 48% da meta para o quadrienio. Aconfirmarem-se as previsóes, a matrícula ern 1973 deverá ser da ordemde 9.160 alunos e deveremos graduar 8.700 médicos em 1978, ou seja,mais do triplo de 1968.

TABELA 5-Produqao de médicos no Brasil de 1970 a 1978.

A-Diplomacoes esperadas de 1971 a 1974

Situasao Evasao Ano doem 1970 Matrículas (0<) graduaçao Graduados

Quinta série 3.608* 1 1971 3.572Quarta série 5.162* 2 1972 5.059Terca série 6.607 * 3 1973 6.409Segunda série 7.013* 4 1974 6.732

* Dados do Núcleo Integrado de Estudos de Recursos Humanos para a Saúde 1970.

B-Estimativa do número de graduados de 1975 a 19;78

Matrículas Evasao Ano deAno esperadas (%) graduaçao Graduados

1970 7.485* 5 1975 7.1111971 8.045** 5 1976 7.6431972 8.605** 5 1977 8.1751973 9.160** 5 1978 8.702

* Dados do Núcleo Integrado de Estudos de Recursos Humanos para a Saúde 1970.** Dados baseados num aumento de vagas de 81%, em quatro anos (1969-1973) para

o ensino superior como um todo, segundo "Metas e Bases para Aaáo de Govérno" (11),e assumindo que ésse mesmo percentual se aplique ao ensino médico. Havia 5.060vagas em 1969. S6bre ésse total aplicou-se a taxa de 81% para o final do quadrienio.Os dados para 1971 e 1972 foram obtidos por interpolaçao.

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Análise do Crescimento Provável do Número de Médicos / 159

TABELA 6-Evoluado de taxa de evasdo.

Série do curso médico

AnoPrimeira Segunda Terca Quarta Quinta Sexta

1962 100 ... ... ... 731963 100 ... ... 771964 100 96 92 89 90 831965 100 97 96 95 96 ...1966 100 101 99 98 ... ...

Fontes: 1962 e 1963, dados do Núcleo Integrado de Estudos de Recursos Humanospara a Saúde.

1964 a 1966, ver referencia bibliografica 1.

Na Tabela 6, mostramos a evoluaáo da taxa de evasáo nas faculdadesde medicina, que tem melhorado acentuadamente de 1962 para cá, aponto de justificar a taxa de 5% que usamos para os cálculos. Osóbices para ingresso sao de tal ordem que, uma vez vencida a barreirado vestibular, sao relativamente poucos os que desistem. Segundoobservavao de um professor cuja opiniao valorizo, o nivel das atuaisturmas que ingressam em urna escola muito procurada da Guanabaraé superior ao das de alguns anos atrás.

Partindo dos dados da Tabela 5, e do estoque já mencionado de45.773 médicos no inicio de 1970, elaboramos a Tabela 7, que mostra aevoluvao prevista para o estoque até o fim de 1978. A hipótese feitafoi a de uma perda de 2,5% do estoque em cada ano por morte, incapaci-

TABELA 7-Estimativa da evolucdo do estoque de médicos de 1970 a 1978.

Ano

197019711972197319741075197619771978

Estoque noinicio do ano

45.77347.92250.29654.09859. 15564.40869.90975.80482.084

Estoqueremanescente

(97,5%)

44.62946.72449.03952.74657.67662.79868.16173.90980.032

Produgáo noano em curso

3.2933.5725.0596.4096.7327.1117.6438. 1758.702

Total no fimdo ano

47.92250.29654.09859.11564.40869.90975.80482.08488.734

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160 / Educación Médica y Salud

dade, aposentadoria e outras causas. Esta foi a taxa usada pelo EPEAno "Plano Decenal" (4) e náo dispomos de outra melhor para usar nomomento. Creio que esta taxa deva ser estudada para revisáo dasprojecóes feitas. Por um lado ela poderá ser excessiva se atentarmospara o fato de que o crescimento acelerado do estoque produzirá umrejuvenescimento acentuado da profissáo. Por outro lado, nao sabemoscomo esse mesmo crescimento se refletirá na taxa de exodo profissionale migraçao externa, se as condiçóes do mercado de trabalho nao foremas esperadas.

2. Distribuicáo

Preocupa-nos sobremaneira o problema de melhoria da distribuiáaonum futuro próximo, tanto sob o ponto cle vista de aliviar a pletoraincipiente nos grandes centros como no de atender as necessidades dosmunicipios sem médicos. Um estudo recente do NIERHS (12), entrealunos do último ano no Rio de Janeiro e N iterói é altamente revelador.Só 1% dos alunos nao pretende especializar-se. Entre os 96% que temessa pretensáo incluem-se 6,5% que querem fazer medicina interna. Epossível que entre estes se incluam os futuros clínicos gerais ou médicosde familia. Mesmo na melhor das hipóteses, assumindo que todos osque mencionaram medicina interna viessern a converter-se em médicosde família, o total seria de apenas 7,5%, um;a verdadeira distorçao dianteda realidade brasileira. As aspiraçoes de nossos diplomandos do Rio eNiterói, quanto a especializaçao, se refletem em seus planos para ofuturo: 50% pensam em iniciar a clínica logo após a formatura, 76%pensam seguir cursos de pós-graduaaáo ou residencia, e 83% pretendemfixar-se na Guanabara.

Estes dados sáo consubstanciados por outro estudo (13), incluindo 736alunos do 10 ano e do último ano, e 137 recém formados das faculdadesde medicina de duas universidades federais: a do Rio de Janeiro e aFluminense. Foi verificado que a migraçao de retorno para a regiaode origem náo é frequente. Nenhum dos alunos do nordeste e centro-oeste graduados em uma das faculdades voltou a sua regiao de origem.Mais ou menos dois tercos dos formados escolheu capitais para fixar-se.Dos graduados de uma das faculdades que pretendem ir para o interior,uma quarta parte irá para o Paraná.

Verificou-se ainda que o médico jovem que se desloca para o interioré em geral solteiro e de sexo masculino. O estudo mencionadomostrou que havia apenas 11% de mulheres entre os graduados, mas aproporcao aumentou para 40% entre alunos do 1° ano. O númerocrescente de mulheres estudando medicina pode representar mais umfator adverso a interiorizaaáo.

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Análise do Crescimento Provável do ;Número de Médicos / 161

A situaçao e condiçoes de vida dos municipios sem médico por umlado, e as aspiraçoes de diplomandos e recém diplomados por outro, naosao de molde a facilitar o trabalho de quen aspire a melhorar a distri-buiaáo de médicos no Brasil num futuro próximo. Náo resta dúvida quea interiorizacao real requer a criacao de uma infraestrutura para otrabalho de médico, baseada num sistema de regionalizaaáo, e comparticipaçao ampla do setor público. Os médicos chegaráo aos muni-cipios sem médico na medida em que estes se desenvolvam globalmente,se criem incentivos apropriados, como sugere Cardoso de Melo (14), e"pequenos núcleos médico-hospitalares em pontos estratégicos dasregioes desassistidas," como menciona Rigatto (15), citando recomenda-çao da Comissao de Educaçao Médica da Associacaáo Médica Brasileiraem 1965.

A integraçao dos cuidados de saúde preventivos e curativos, a co-ordenaçao funcional de serviços prestados sob várias modalidadesassitenciais, o acesso das populaçoes rurais aos beneficios da previdenciasocial, a coordenaçao entre o sistema assistencial previdenciário e osistema de saúde de nosso maior estado, e o desenvolvimento dascomunidades de saúde, sao fatos auspiciosos que nos revela HugoAlqueres em seu comentário a propósito do convenio celebrado entre aSecretaria de Saúde do Estado de Sao Paulo e o Instituto Nacional dePrevidencia Social (16). A coordenaçao efetiva das aóoes de saúde emnível do municipio, com recursos conjugados de instituicóes federais,estaduais e municipais, permitirá que se evite "a multiplicaçao e odesperdicio de agoes comuns, paralelas e similares", e que em vez de"economias de escala" pratiquem-se "deseconomias em massa" (16).A Figura 1 ilustra bem, náo só a forma como se distribuem as despesascom saúde no Brasil, mas o potencial que teria um sistema de coordena-çao efectiva das açoes de saúde, capaz de reduzir os fatores que dificul-tam a boa distribuiçao dos médicos no território nacional e criar con-diçoes para a absoraáo dos contingentes crescentes de médicos a seremlançados no mercado de trabalho nos próximos anos.

PERSPECTIVAS PARA UM FUTURO MAIS DISTANTE:OPCOES NECESSARIAS

Já vimos que as decisoes que afetaráo o número de médicos a formar-seaté 1978 já estáo tomadas. Consideremos agora o período de 1979 a1990. A produçao de médicos nesse período dependerá de decisoes aserem tomadas em breve sobre o crescimento das matrículas nas escolasde medicina a partir de 1974.

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162 / Educación Médica y Salud

FIG. 1 Distribuicao percentual das despesas com saúde (estimativa, 1971)

2%

De pouco nos serviria vir aqui para falar do "futuro lógico". Devemosfalar é do "futuro desejado", usando as expressOes de Dubos (17). Oprimeiro seria uma mera extrapolaçao do presente no futuro. O quenos interessa é o segundo, em que entra um elemento de juízo de valores,de escolha de um entre os vários futuros possíveis. Vamos expandir arede de escolas médicas de acórdo com a demanda social ou com asnecessidades do mercado? Como poderemos estimar estas últimas?

A metodologia para estudos de recursos humanos para a saúde aindaestá em pleno desenvolvimento, como poderá julgar quem examine orelatório do simpósio que teve lugar em Budapeste em 1968 sob osauspicios da Organizaçao Mundial da Saúde (18). Náo vamos deter-nos na análise dos métodos disponíveis. Como os elementos de quedispomos agora no Brasil, e sem inversao cde recursos em um estudo deámbito nacional, o único método rápido e simples para uma análise

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Análise do Crescimento Provável do Número de Médicos / 163

prospectiva é o das "analogias internacionais", já usado pelo EPEA napreparaçao do "Plano Decenal" (4).

Em síntese, o método consiste em escolher para o ano-meta umarelaaáo habitantes-por-médico semelhante a que tem hoje países cujarenda-per-cápita é a que se espera que o país alcance no ano-meta, ecalcular a partir dai o número necessário de matrículas nas escolasmédicas. O uso do método pressupoe estimativas de crescimento demo-gráfico e económico, além das de crescimento do estoque de médicos nopaís. O modelo é simples e permite correçoes constantes a medida quese comprovem modificaçoes nos dados e hipóteses iniciais.

Nosso ponto de partida é o dado de estoque em fins de 1978 obtidona projeçao anterior. Nossa primeira pergunta é: "Como será o Brasilde 1990?" Sua populaçao, segundo projeçoes do Centro Latino-Americano de Demografia (CELADE), será de 164.347.000 habitantes;já em 1980 seremos 124.000.000 (19). O PIB per cápita, partindo daestimativa do EPEA de US$350 para 1969, será duplicado em 1980(11). Chegaremos a US$1.087 em 1990, se estimarmos em 7% ao anoo crescimento do PIB e em 2,5% ao ano o crescimento demográfico nadécada de 80.

Nossa segunda pergunta é: "Assumindo que o PIB per cápita seja deUS$1.087, quantos habitantes por médico deveremos ter?" Entramosaqui num terreno movediço, envolvendo um juízo de valores para aescolha de metas. Com dados das Naçoes Unidas (20), construimos aTabela 8, e a partir dela as curvas da Figura 2, correlacionando dadosinternacionais de habitantes por médico e PNB a preços de mercadoper cápita. Há uma forte correlaaáo inversa (r = -0,695), como seriade esperar. Marcamos com un triángulo a posiaáo em que o Brasilestá agora. Nossa meta para 1990 poderá situar-se em qualquer pontona linha pontilhada que une os quadros colocados nas duas curvas, oumesmo em uma extensáo dessa linha para fora. Tudo depende do quetenhamos em mente.

Queremos um mercado do produtor, com todos os matizes monopo-lóides de mercados profissionais desse tipo? Queremos um mercado doconsumidor, onerando o corpo social com a forma~ao de um "estoquede reserva" e o seu provável corolário de exodo profissional e exportaáaode cérebros? Creio que o interesse social está em buscar uma metarazoável situada entre as duas curvas.

Convém notar, nas curvas da Figura 2, que o Brasil se encontra numaposiaáo hoje, e deverá chegar a outra em 1990, que é um dos rarosperíodos históricos em que o método das analogias internacionais, quetem muitas limitaóoes, pode ser usado com alguma confiabilidade e como

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TABELA 8-Correlalao entre número de habitantes por m¿dico e PNB

per cápita a precos de mercado.

Habitantes por médicoRenda

País per cáoitaAno Número (USS)

Africa do Sul 1967 1.500 624Antilhas Holandesas 1966 1.670 1 .156Argentina 1967 620 672Austrália 1966 850 2.163Austria 1967 570 1.466Barbados 1967 2.350 478Bélgica 1967 660 2.034Brasil 1966 2.090 291Canadá 1967 890 2.806Chile 1967 2.320 592China 1967 2.540 274Chipre 1967 1.360 751Col8mbia 1967 2.220 319Coréia, Rep. 1968 2.360 194Costa Rica 1967 1 .860 426Dinamarca 1967 710 2.512Espanha 1967 770 827Fiji 1967 2.400 319Filipinas 1967 1.390 278Franca 1967 850 2.340Grécia 1967 680 807Irlanda 1966 960 1 .018Islándia 1966 740 2.853Israel 1967 420 1.472Itália 1968 580 1.418Jamaica 1967 1.490 531Japáo 1966 910 1.027Libano 1967 1.230 489Luxemburgo 1967 1.010 2.114Malta 1965 680 501México 1967 1.820 528Nicarágua 1965 2.570 355Noruega 1967 750 2.223Nova Zelándia 1967 850 2.007Panamá 1967 2.060 581Paraguai 1968 1.670 229Perú 1967 1.990 291Pbrto Rico 1967 1.040 1.388Portugal 1967 1.200 490República Arabe Unida 1966 2.320 188República Dominicana 1966 1 .940 278Rep. Federal Alema 1967 650 2.028Singapura 1967 1.780 648Turquia 1967 2.760 353Venezuela 1967 1.180 911

1969, United Nations, New York.

la

Fonte: Sialistical Yearbook,

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Análise do Crescimento Provável do VNúmero de Médicos / 165

FIG. 2 Relacao entre habitantes por médico e PNB per capita (V. Tabela 8).

DE PNB PER CAPITA

500 1.000 1.500 2.000

RAZAO HABITANTES/MÉDICO

primeira aproximaçao. Com efeito, no momento em que se ultrapassao nível de US$1.000 per cápita, chega-se a poraáo ascendente da curvaem que outros fatóres, provávelmente ligados á própria estrutura dosistema de saúde, passam a ter aparentemente maior importáncia queos economicos.

Voltando á idéia da meta razoável, examinemos outra vez a curva.Vemos vários países com mais de US$2.000 per cápita e com número demédicos situando-se entre 800 e 900 habitantes. Creio que é importantedesenvolver a equipe de saúde, usar eficientemente pessoal paramédicoantes de ultrapassar uma meta de 800 habitantes por médico, embora

2.5009-

2.000 -

1.500-

4

o

a.

V;

~E

W

a.

u

cm

coZG.

1.000 1

*:

e5001

i.

2.500n l

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166 / Educación Médica y Salud

TABELA 9-Crescimento do número de diplomiados em medicina por anosegundo quatro hipóteses de crescimento de oferta de vagas

no primeiro ano das escolas médicas a partir de 1973.

Número esperado de diplomados

AnoH1 (30c) H. (5%) H3 (6%) H4 (7%)

1979 8.963 9.138 9.224 9.3111980 9.232 9.594 9.778 9.9631981 9.509 10.073 10.364 10.6601982 9.794 10.576 10.986 11.4061983 10.087 11.106 11.645 12.2041984 10.389 11.660 12.343 13.0581985 10.700 12.224 13.083 13.9721986 11.022 12.885 13.868 14.9491987 11.352 13.498 14.700 15.9951988 11.695 14.173 15.582 17.1151989 12.045 14.882 16.517 18.3131990 12.407 15.626 17.507 19.595

saibamos que paises com renda inferior .A que teremos na ocasiao,possuem maior número relativo de médicos.

Façamos agora uma simulaçao, usando hipóteses alternativas deexpansáo da matrícula a partir de 1973. Nesse ano, como jái vimos,deveremos ter 9.160 vagas nas escolas de medicina, cumpridas as atuaismetas e se fór aplicada a medicina a mesma taxa geral de expansáo doensino superior no atual quadrienio. Na Tabela 9, vemos como secomportaria a produçao de médicos a partir de 1979, assumindoexpansóes anuais da matrícula inicial de 3%, 5%, 6%, e 7%, e amesma taxa de evasao já usada.

Na Tabela 10, podemos ver como evoluiria o estoque de médicos deacordo com as quatro hipóteses de produçao, e assumindo, como jáfizemos, a perda anual de 2,5% no estoque. Esse crescimento permitiriachegarmos, em 1990, a razóes "habitantes por médico" variando de 768a 926 (Tabela 11).

Ainda na Tabela 11, podemos ver que as opçoes a serem feitas poucoafetarao a situaçao a ser encontrada em 1980, de vez que a situaçao jáestá mais ou menos prefixada até 1978. Quer optemos pela hipótesede crescimento mais lento ou mais rápido, devemos chegar a cerca de1.200 habitantes por médico em 1980. No entanto, creio que daí paradiante devemos proceder com a máxima cautela para evitar os incon-

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Análise do Crescimento Provável do Número de Médicos / 167

TABELA 10-Estimativa da evolucdo do estoque de médicos de 1979 a 1990segundo quatro hipóteses de crescimento da matricula no

primeiro ano a partir de 1974.

Estoque de médicos no fim do ano

H, (3%) H2 (5%) H3 (6%) H, (7%)

1979 95.479 95.654 95.740 95.8271980 102.234 102.857 103.124 103.3941981 109.275 110.358 110.910 111.4691982 116.337 118.175 119.123 120.0881983 123.516 126.327 127.790 129.2901984 130.817 134.829 136.838 139.1161985 138.247 143.702 146.500 149.6101986 145.813 152.964 156.705 160.8191987 153.520 162.638 167.487 172.7931988 161.377 172.745 178.822 185.5881989 169.388 183.308 190.927 199.2611990 177.560 194.351 203.661 213.874

TABELA 1 I-Estimativa da razao habitantes/médico em 1980 e 1990 segundo

quatro hipóteses de incremento da matrícula nas escolas médicas a partir de 1973.

Raz5o habitantes/médico

AnoH, (3 %) H2 (5%) H3 (6%) H4 (7%)

1970 2.015 2.015 2.015 2.0151980 1.212 I .205 1.202 1.1991990 926 845 807 768

venientes e desperdicios da pletora e o ónus psicológico para osdiplomados que náo encontram mercado para seu trabalho.

Minha opçao é pela primeira hipótese, a de 3%, que nos levaria apouco mais de 900 habitantes por médico em 1990. Creio que qual-quer esfóoro adicional deva ser orientado no sentido de corrigir asdistorçoes na pirámide do pessoal de saúde, no desenvolvimento daformacao de pessoal paramédico e de técnicos de vários tipos, e nomelhoramento da qualidade das escolas existentes. De nada nos adian-taria mais médicos sem os demais membros da equipe de saúde, semos quais nenhum sistema de saúde pode funcionar adequadamente.

Ét preciso notar que com um sistema de informaçoes e vigilancia bem

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168 / Educación M¿dica y Salud

aparelhado, é possível rever periódicamente as decisoes tomadas, in-clusive sustando qualquer crescimento quanto a situacao o indique.Um crescimento de 3% por ano, quase igual ao crescimento vegetativoda populaaáo, pelo menos no período que irá de 1974 até o fim dadécada, permitirá acompanhar a evolucao do mercado de trabalhomédico nos anos de crescimento rápido em que entramos, e o desen-volvimento de uma infraestrutura de assistlncia médica em forma co-ordenada, a qual em boa hora já se vem anunciando.

Note-se que nao falamos tanto em núrnmero de escolas, e sim emnúmero de matrículas, encarando o "aparelho formador" de médicosno Brasil no sentido unitário que ele deve possuir. O importante naoé tanto o número mas o tamanho das escolas, que deve permitir oaproveitamento das economias de escala e o funcionamento eficiente dasinstituicoes. O número de alunos de todas as escolas brasileiras em1967 era bem menor que o de apenas quatro escolas argentinas (21).Nao estamos aqui discutindo a questao do tamanho conveniente de umaescola de medicina, mas apenas salientando o fato de que para nós oponto fundamental é o da capacidade total do aparelho formador.

CONCLUSAO

Ao terminar, quero deixar claro que estou consciente das limitaçoesdo método usado para as projeçóes, e que a opaáo que fiz é recomendadacom extrema cautela. Sinto-me, no entanto, muito a vontade pararecomendar o estabelecimento de um mecanismo de vigilancia quepermita o reajuste constante das projeçoes e que proporcione urnmarápida retro-alimentaaáo de informaçoes aos órgaos que tomam asdecisoes sobre a expansáo do ensino médico.

Apesar das limitaçOes, as projeçoes sao necessárias. As ventagens detrabalhar com modelos sao óbvias: permitem-nos simplificar a realidade,reduzindo-a as suas dimensóes mais relevantes para o problema que sequer estudar. No entanto, corre-se semp:re o perigo da super-simpli-ficacao. Quando se disponha de mais informaç0es sobre o sistema desaúde, sobre a utilizaçao de serviços médicos, sobre a produtividadeprofissional, sobre morbidade e sobre recursos disponiveis para gastoscom saúde, poderao ser elaborados modelos matemáticos mais sofisti-cados. É discutível o ponto de saber se isso dará maior confiabilidadea nossas proje5oes.

Outra limitaaáo do trabalho é o abordagem unilateral, incluindoapenas uma profissao da saúde. E desejável que se façam estudos deconjunto de todo o pessoal de saúde e da divisao de trabalho entre os

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Análise do Crescimento Provável do VNúmero de Médicos /

membros da equipe. Até certo ponto a abordagem simples usada naoleva em consideraçao alteraçoes que venham a ocorrer na tecnologiamédica nem na estrutura do sistema de saúde. Tais inconvenientesdesaparecem na medida em que se efetuem os reajustes periódicosrecomendados.

Um dos estudos que se fazem mais necessários para o reajuste dasprojeóoes é o do estoque de médicos em atividade, e o do remanescenteno fim de cada ano. O papel dos Conselhos é de grande importancianessa tarefa.

Estudos como o do NIERHS na Guanabara, devem ser extendidos aoutros estados. O problema dos municipios sem médico, que vemsendo estudado pelo Departamento de Recursos Humanos para a Saúdedo Instituto Presidente Castello Branco, deve receber prioridade. Adiagnósticos estaduais devem suceder-se experiencias, também emámbito estadual, de soluçoes alternativas para o problema.

Enfim, há todo um mundo de possíveis estudos pela frente, mas ofundamental é que se use os resultados das análises feitas com a infor-maaáo disponível para o processo de tomada de decisoes, e que semantenha constante vigilancia para correçao pronta de qualquer errocometido.

O entrelaQamento entre o planejainento de saúde e o planejamentode educacao para as profissoes da saúde, representado pelo planeja-mento de recursos humanos, deve ser encorajado. Do trabalho co-ordenado de órgáos do Ministério da Saúde, como o Departamento deRecursos Humanos para a Saúde do Instituto Presidente CastelloBranco, a Unidade de Planejamento, Avaliaaáo, Pesquisa e ProjetosEspeciais; do Ministério de Educaaáo, como o Instituto Nacional deEstudos Pedagógicos, a Coordenaaáo de Aperfeiçoamento de Pessoal deNivel Superior; do Ministério de Planejamento, como o Centro Nacionalde Recursos Humanos; poderáo advir economias significativas para opaís numa fase em que se procura maximizar os beneficios obtidos dosrecursos aplicados na educacao dos profissionais da saúde.

RESUMO

O autor analisa a "força de trabalho" da profissáo médica no Brasilem seu aspecto quantitativo incluíndo no estudo o problema da distri-buiçao geográfica como uma característica particular de quantidade.Justifica o trabalho na necessidade de alcançar-se um equilibrio entre aoferta de médicos pelo "aparelho formador" e a demanda dos mesmospelo "aparelho utilizador".

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Partindo do estudo da expansao verificada na formacao de médicosnas tres ultimas décadas, demonstra o grau em que fóram ultrapassadastodas as previsóes anteriores. Se detem na analise da situacao atual emrelacao a estoque, demonstrando a existencia de 47.250 professionaisdos quais aproximadamente a metade se encontra em duas cidades-Guanabara e Sao Paulo-que reunem pouco mais de 10% da populacaodo país. Discute, a seguir, a redundancia da afirmacao clássica de que osmédicos estáo mal distribuidos no país, considerando que, na realidadenao sao estes professionais que estáo mal distribuidos, senáo que tudoacompanha com monótona regularidade a irregularidade da distri-buicao da populacao e da riqueza no pais. Nesse particular fundamentacom uma serie de dados os aspectos económicos, demográficos e ecológi-cos que influenciam esta má distribuicao. Em relacao as perspectivaspara um futuro proximo se considera pouco animadoras as possibilidadesde correccao da situacao descrita, uma vez que para os próximos oitoanos nao haveriam opcoes a serem deitas e já as decisóes fundamentaisforam tomadas. Os médicos que seráo graduados durante este períodojá estáo cursando presentemente e sujeitos ás mesmas influencias quecondicionaram a situacao actual. Contudo o trabalho reune uma seriesde dados que permitem avaliar a tendencia em quanto ao número degraduaçces, distribuicao e utilizacao dos recursos que se incorporarao a"forCa de trabalho".

Avancando depois em consideracóes a cerca das perspectivas para umfuturo mais distante, analisa a possibilidade de planificar, manipulandoum elemento adicional de juizo de valores que permita pensar em um"'futuro desejado" e náo mais no "futuro lógico" resultante de umasimples projecao de tendencias. Utilizando como metodo de análiseprospectiva, o de "analogias internacionais" o autor aponta para oano-meta uma relacao habitantes-por-médico semelhante á que temhoje países cuja renda-per-capita é a que se espera que o país alcanceno ano-meta. O metodo presupoe uma forte correlacao inversa (r =-0,695) entre a taxa de médicos por habitantes e a renda-per-capita.

Por fim o autor simula uma série de hipóteses de expansáo da matri-cula em medicina para alcancar ás distintas alternativas de numero dehabitantes por médicos fixadas para o ano-meta (variando de 768 a 926em 1990). O autor conclui que embora nao se possa alterar o número demédicos previstos para 1980 que, em qualquer hipotese nos dara umarelacao de 1.200 habitantes por médico, se dleve daí para diante procedercom a máxima cautela para evitar os inconvenientes e desperdicios deuma pletora e o onus psicologico para os diplomandos que nao en-contram mercado para seu trabalho.

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Análise do Crescimento Provável do NNúmero de M¿dicos / 171

AGRADECIMENTO

O Autor agradece á Dra. Celia Lucia Monteiro de Castro, Diretora Executiva daABEM e do NIERHS, e ao Dr. Mario A. Sayeg, Chefe do Departamento de RecursosHumanos para a Saúde do Instituto Presidente Castello Branco, Fundaaáo InstitutoOswaldo Cruz, Ministério da Saúde, a inestimável colaboraçao que Ihe prestaram napreparaçao do presente trabalho.

REFERENCIAS

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América Latina. Educación Médicay Salud, Vol. 3, No. 4 (oct.-dic.) 1969.

ANALISIS DEL AUMENTO PROBABLE DEL NUMERO DEMEDICOS EN EL BRASIL: OPCIONES NECESARIAS

(Resumen)

El autor analiza la "fuerza de trabajo" de la profesión médica en el Brasilen su aspecto cuantitativo, incluyendo en el estudio el problema de la distri-bución geográfica como una característica particular de cantidad. Justifica eltrabajo por la necesidad de alcanzar un equilibrio entre la oferta de médicos porel "sistema formador" y la demanda de éstos por el "sistema utilizador".

Basándose en el estudio de la ampliación de que ha sido objeto la formaciónde médicos en las tres últimas décadas, el autor demuestra el grado en que sesobrepasaron todas las previsiones anteriores. Analiza la situación actual enrelación con la disponibilidad y demuestra la existencia de 47,250 profesionales,de los cuales alrededor de la mitad se encuentran en dos ciudades -Guanabaray Sao Paulo- que agrupan a un poco más del 10% de la población del país.Luego examina la redundancia de la afirmación clásica de que los médicosestán mal distribuidos en el país; en realidad no son estos profesionales los queestán mal distribuidos sino que todo deriva con monótona regularidad eirregularidad de la distribución de la población y de la riqueza en el país. Aeste respecto fundamenta con una serie de datos los aspectos económicos,demográficos y ecológicos que influyen en esta mala distribución. En relacióncon las perspectivas para un futuro próximo, considera poco alentadoras lasposibilidades de remediar la situación descrita, pues para los próximos ochoaños no se vislumbran opciones y las decisiones fundamentales ya se hanadoptado. Los médicos que se graduarán durante este período ya están

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cursando sus estudios y sujetos a las mnisnmas influencias quc condicionaron lasituación actual. Con todo, en el trabajo se reúne una serie de datos quepermiten evaluar la tendencia. en cuanto al número de graduados, así como ladistribución y utilización de los recursos que se incorporarán a la "fuerza deltrabajo".

Al considerar perspectivas para un futuro más lejano, el autor analiza laposibilidad de planificar manipulando un elemento adicional del juicio devalores que permita pensar en un "futuro deseado" y no en un "futuro lógico"derivado de una simple proyección de tendencias. Utilizando comno métodode análisis prospectivo el de "analogías internacionales", señala para un añometa una proporción de habitantes por médico semejante a la que tienen hoylos países cuyos ingresos per capita son los que se espera que alcance el país enel año fijado como meta. El método presupone una fuerte correlación inversa(r = -0,695) entre la tasa de médicos por habitantes y los ingresos per capita.

Finalhnente, el autor simula una serie de hipótesis de aumento de lamatrícula en medicina para alcanzar las diversas alternativas referentes alnúmero de habitantes por médico fijadas para el año meta (que varían de 768a 926 en 1990). En conclusión, sostiene que ya no se puede alterar el númerode médicos previstos para 1980 que, en cualquier hipótesis, dará una proporciónde 1.200 habitantes por médico; de ahí que en adelante se deba proceder conla máxima cautela para evitar los inconvenientes y la pérdida de una grancantidad de ellos y el efecto psicológico que representaría para los futurosgraduados no encontrar mercado para su trabajo.

ANALYSIS OF THE PROBABLE INCREASE IN THENUMBER OF PHYSICIANS IN BRAZIL: THE NECESSARY

CHOICES

(Summary)

The author analyzes the medical "labor force" in Brazil in its quantitativeaspect, including in his study the problem of geographical distribution as aparticular aspect of quantity. The work is justified by the need to strike abalance between the supply of physicians through the educational system andthe demand for their services on the part of the health care system.

Beginning with an analysis of the expansion that has taken place in medicaleducation over the last three decades, he shows the extent to which all earlierpredictions have been surpassed. He analyzes the present situation with respectto supply, noting that there are 47,250 professionals, about half of whom arelocated in two cities-Guanabara and Sáo Paulo-with slightly more than10% of the population of the country. He then discusses the redundancy of thetraditional statement that physicians are poorly distributed within the country;

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Educación Médica y Salud

he contends that actually, it is not that professionals are poorly distributed, butrather that they closely follow the peaks and troughs of the distribution ofpopulation and wealth in Brazil. He bases this contention on a series of datareferring to the economic, demographic and ecological factors that influencethis poor distribution. As to the outlook for the near future, he finds little en-couragement in the possibilities of correcting the situation, since the choices havealready been made and the basic decisions taken for the next eight years. Thephysicians who will be graduated during this period are now pursuing theirstudies and are subject to the same influences as those that have led to thepresent situation. The paper presents a series of data permitting an assessmentof the trend with respect to the number of graduates and their distribution andutilization within the "labor force."

The author then offers some comments regarding the prospects for the moredistant future and discusses the possibility of planning, bringing in an additionalfactor that makes it possible to consider a "desired future" and a simple "logicalfuture" resulting from a mere projection of present trends. Using the method ofprospective analysis or "international analogies", the author arrives at a ratioof physicians per capita, for the target year, similar to that now found incountries whose per capita income is at the level expected to be reached byBrazil in the target year. The method assumes a strong negative correlation(r - ---0.695) between the ratio of physicians to total population and percapita income.

Finally, the author presents a number of hypotheses regarding expandedenrollment in medical schools to reach the various alternatives for the ratioof population to physicians by the target year (ranging from 768 to 926 in1990). The author concludes that although it is impossible to alter the numberof physicians forecast for 1980-which under any hypothesis will give Brazil aratio of 1,200 inhabitants per physician-from then on, the greatest precautionsshould be taken to prevent the problems and waste that would result from anoversupply and the psychological burden that would face graduates unable tofind a market for their services.

ANALYSE DE L'ACCROISSEMENT PROBABLE DUNOMBRE DES MÉDECINS AU BRÉSIL: OPTION NECESSAIRE

(Résumné)

L'auteur analyse la "force de travail" dans la profession médicale au Brésilsous son aspect quantitatif, embrassant dans soI étude le probleme de la distri-bution géographique assortie d'une caractéristique quantitative particuliére.Il justifice ce travail par la nécessité d'arriver a un équilibre entre l'offre desmédecins par 1' "appareil de formation" et la demande des médecins par1' "appareil d'utilisation".

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Análise do Crescimento Provável do ;Número de Médicos

Partant de l'étude de l'expansion, diment vérifiée, enregistrée dans le pro-cessus de formation des médecins au cours des trois derniéres décennies, ilétablit á quel degré les prévisions antérieures ont toutes été dépassées. IIs'étend longuement sur l'analyse de la situation actuelle en relation avec cetteexpansion; il souligne qu'il y a 47.250 specialistes dont approximativement lamoitié se rencontrent dans deux grandes villes -Guanabara et Sao Paulo- quicomptent un peu plus de 10% de la population du pays. Ensuite, il discute áloisir l'affirmation classique á savoir que la répartition des médecins dans lepays est défectueuse, soutenant que, en réalité, ce ne sont pas les specialistesqui sont mal répartis mais, plutót, l'irrégularité de la distribution de la popula-tion et de la richesse dans le pays se poursuit avec une régularité monotone.II appuie cette assertion particuliere d'une série de données portant sur lesfacteurs économiques, démographiques et écologiques qui influencent la distri-bution mise en cause. A propos des perspectives d'évolution dans un avenirprochain, l'auteur considere peu encourageantes les possibilités de correctionde la situation ci-dessus décrite, etant donné que, pendant les huit prochainesannées il n'y a pas d'options possibles et que déjá les décisions fondamentalesont été prises. Les médecins qui seront diplomés au cours de cette périodesuivent actuellement des programmes d'études et sont assujettis aux memesinfluences qui conditionnent la situation actuelle. Le travail contient unesérie de données qui permettent d'évaluer les tendances quant au nombre desdiplomés, á la distribution et á l'utilisation des ressources qui s'incorporeront ala "force de travail".

Abordant ensuite des considérations sur les perspectives d'évolution de lasituation dans un avenir plus éloigné, l'auteur analyse la possibilité d'uneplanification, en manipulant un élément additionnel de jugement de valeurqui permet de penser a un "futur désiré" et non a un "futur logique" résultantd'une simple projection de tendances. Utilisant comme méthode d'analyseprospective celle des "analogies internationales", I'auteur souligne, pour lannée-objectif, un rapport habitants/médecin semblable á celui existe aujourd'hui dansles pays dont le rendement per capita est équivalent á celui que, espere-t-on, leBrésil atteindra dans une année et demie. La méthode présuppose une fortecorrélation inverse (r = - 0,695) entre le pourcentage de médecins par habitantet le rendement per capita.

Enfin, l'auteur simule une série d'hypotheses d'expansion des inscriptions auxfacultés de médecine pour arriver á des options distinctes, concernant le nombredes médecins par habitant et déterminées pour l'année-objectif (le nombre)varie de 768 a 926 en 1990).. L'auteur conclut que, bien que l'on ne puisse pasmodifier le nombre des médecins prévus pour 1980, lequel, dans totues leshypotheses envisagées, nous donne une relation de 1.200 habitants par médecin,I'on doit cependant d'abord procéder avec une extreme précaution pour éviterdes déconvenues et la perte d'un grand nombre de postulants, aussi bien quel'effet psychologique que produirait sur les futurs diplomes le fait de ne pastrouver mun arché pour leurs services.

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