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ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS DE
SUSTENTABILIDADE EM UMA EMPRESA DE
COMÉRCIO ATACADISTA DE RESÍDUOS
ELETROELETRÔNICOS
Helena Thamara Aquino dos Santos (UFPB )
Anna Sabrina Linhares Saldana (UFPB )
wesley almeida da silva (UFPB )
JERUSA CRISTINA GUIMARAES DE MEDEIROS (UFPB )
Jailson Ribeiro de Oliveira (UFPB )
O presente trabalho analisa de que modo a empresa de gerenciamento de
resíduos eletroeletrônicos pauta-se por princípios ambientais. Adotou-se uma
pesquisa descritivo-exploratória quanto aos fins e estudo de caso com
pesquisa de campo quanto aos meios. O ambiente estudado consiste em uma
empresa de pequeno porte com modelo de gestão funcional, contendo o
proprietário mais 8 colaboradores, estando no mercado a aproximadamente
3 anos, localizada no município de Cabedelo/PB. Atua no segmento de
comércio atacadista de resíduos e sucatas metálicas. O sujeito da pesquisa é
o proprietário que possui know-how na atividade. A coleta de dados foi feita
por meio de entrevista semi-estruturada junto a este e de observação direta
de uma das pesquisadoras. Os dados coletados foram tratados de modo
qualitativo. Os principais resultados obtidos sinalizam a ausência de uma
política ambiental alinhada à estratégia do negócio, bem como a falta de
sistematização do processo de destinação dos resíduos eletroeletrônicos e
um significativo desalinhamento do monitoramento, da gestão e da
mitigação dos aspectos e impactos ambientais em relação aos princípios de
Sustentabilidade, ACV, SGA e Logística Reversa. Conclui-se que a organização
atua em um mercado promissor, cercado de oportunidades e visibilidade -
Mas carece de estratégia orientada aos princípios estudados.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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Palavras-chaves: Sustentabilidade, Análise de Ciclo de Vida, Resíduos
Eletroeletrônicos, Logística Reversa.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
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1. Introdução
A acelerada Revolução Industrial associada a crescente demanda do mercado, tem
proporcionado o surgimento de novos produtos, esses por sua vez, passam a ter um ciclo de
vida menor à medida que novas tecnologias são inseridas no mercado, a consequência desse
fator é o aumento da quantidade de resíduos.
O crescimento da população gera um excedente de subprodutos de suas atividades que supera
a capacidade de adaptação do meio ambiente, o que pode representar uma real ameaça à
biosfera. O potencial de reaproveitamento que os resíduos representam, somado a um fator de
interesse mundial que é a preservação ambiental e promoção do desenvolvimento
ecologicamente sustentável, impulsiona a necessidade de reverter essa situação. (ANDRADE,
2002).
Rodrigues (2003) ressalta a quantidade de televisores, rádios, celulares, eletrodomésticos
portáteis, todos os aparelhos de microinformática, DVD’s, luminárias fluorescentes,
brinquedos eletrônicos e milhares de outros produtos que foram idealizados para facilitar a
vida moderna e que hoje são descartados na medida em que ficam tecnologicamente
ultrapassados em um ciclo de vida cada vez mais curtos ou então devido à inviabilidade
econômica de conserto, em comparação com aparelhos novos.
O desenvolvimento tecnológico proporcionou maior velocidade à obsolescência dos
equipamentos eletroeletrônicos. Logo, evidencia-se que o aumento da produtividade é
equivalente ao aumento de descartes de resíduos. A forma com que esses resíduos são
descartados tem proporcionado discursões para a melhoria dos processos e fazer com que os
produtos estejam no mercado mais tempo possível.
A ideia de sustentabilidade tem ganhado força a partir das discursões ambientais das últimas
décadas. Onde se tem discutido a necessidade das empresas verificar os aspectos e impactos
da sua produção e dos seus produtos no contexto socioambiental.
Segundo Bowersox e Closs (2001), as legislações que proíbem o descarte indiscriminado de
resíduos no meio ambiente e estimulam a reciclagem de recipientes de alimentos e bebidas, e
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de materiais de embalagem, incentivam o processo de logística reversa.
Ainda de acordo com Rodrigues, há uma carência de empresas especializadas no
gerenciamento do lixo eletrônico.
Mediante os aspectos mencionados, o presente trabalho propõe-se a analisar de que modo a
empresa de gerenciamento de resíduos eletroeletrônicos pauta-se por princípios ambientais.
2. Fundamentação teórica
2.1. Sustentabilidade - Aspectos e impactos ambientais
O princípio da sustentabilidade surgiu por volta da década de 1980, em decorrência,
principalmente, da mudança de pensamento em relação a um crescimento econômico que
garantisse não apenas um bem-estar presente, mas uma situação satisfatória às gerações
futuras, ou seja, uma economia capaz de não prejudicar o meio ambiente concomitante a uma
política social e economicamente justa. Instituiu-se, então, uma sociedade com olhar amplo
em torno das causas sociais e ambientais e que, em termos empresariais, passou a considerar a
ideia de que “empresa sustentável é aquela que gera lucro para os acionistas, ao mesmo tempo
em que protege o meio ambiente e melhora a qualidade de vida das pessoas com que mantém
interações.” (SAVITZ, 2007).
Para Elkington (2001), as empresas que se voltarem a esse tipo de análise, terão resultados
futuros melhores por acreditarem que o mercado consumidor terá um grau mais elevado de
consciência socioambiental assim como maior exigência por informações a respeito do
impacto econômico, social e ambiental de suas opções de compra. Ferreira (2003, p. 41), por
sua vez, reconhece que a gestão ambiental “tem por objetivo maior propiciar benefícios à
empresa que superem, anulem ou diminuam os custos das degradações, causados pelas
atividades da empresa e, principalmente, pela área produtiva”.
“A organização deve estabelecer e manter procedimento para identificar aspectos ambientais
de suas atividades, produtos ou serviços que possam por ela serem controlados e sobre os
quais presume-se que ela tenha influência, a fim de determinar aqueles que tenham ou possam
ter impacto significativo sobre o meio ambiente”(MOREIRA, 2006, p 126).
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Meio Ambiente – Circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar,
água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações.
Aspecto Ambiental – Elemento das atividades ou produtos ou serviços de uma
organização que pode interagir com o meio ambiente.
Impacto Ambiental – Qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica,
que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização.
Tabela 1 – Aplicação de conceitos de aspectos e impactos ambientais.
Fonte: Adaptado de Moreira (2006)
A problemática ambiental reconhece o gerenciamento dos elementos inerentes ao meio
Aspectos (causas) Impactos prováveis (efeitos)
Geração e disposição de resíduos Contaminação do solo
Alteração da paisagem
Lançamento de efluentes líquidos Alteração da qualidade da água
Emissão de poluentes atmosféricos Alteração da qualidade do ar
Danos à saúde da comunidade
Emissão de ruído Danos à saúde (do empregado) e da
comunidade
Emissão de odor Incômodo à comunidade
Emissão de vibrações Incômodo à comunidade
Comprometimento de estruturas naturais
(grutas, por exemplo) e/ou edificações,
monumentos, patrimônio histórico
Geração de calor Alteração da temperatura ambiente
Consumo de recursos naturais Comprometimento da conservação dos
recursos
Consumo de água/consumo de energia Comprometimento da disponibilidade do
recurso
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ambiente por meio de sistemas de gestão ambiental, da análise do ciclo de vida dos produtos,
da procura pelo desenvolvimento sustentável e da mitigação dos passivos ambientais. Assim,
para que uma empresa possa desenvolver-se sustentavelmente, faz-se necessário a inserção de
um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que garanta uma modificação de sua cultura
empresarial e uma revisão de seus paradigmas, de modo a envolver todos os setores
conjuntamente, bem como os stakeholders.
Um Sistema de Gestão Ambiental - SGA oferece ordem e consistência para os esforços
organizacionais no atendimento às preocupações ambientais através de alocação de recursos,
definição de responsabilidades, avaliações correntes das práticas, procedimentos e processos
(QUEIROZ et. al., 2007).
A adoção do Sistema de Gestão Ambiental – SGA permite uma conformidade que é, ao
mesmo tempo, estável e sustentável, tendo em vista que está fundamentada no empenho da
empresa e de seus colaboradores com planos e procedimentos específicos.
2.2 Análise do Ciclo de Vida
Há uma grande preocupação em relação ao ciclo de vida dos produtos, com o objetivo de
compreender a sustentabilidade. Para isso, foi criado um instrumento de gestão ambiental
chamado Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), que tem como escopo analisar, desde a
produção de matérias primas até a disposição final, os aspectos e impactos ambientais de
produtos e operações.
Figura 1 – Modelo ACV
Fonte: EPA e SETAC (2006)
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Segundo Shen e Patel (2008), as ACVs podem ainda ser feitas na forma conhecida como nível
de ponto médio, as quais apresentam os vários tipos de emissões e de materiais utilizados que
são convertidos em categorias de impactos ambientais, ou sob a forma de nível de ponto final,
que agrega diversas categorias de impacto com diferentes pesos conduzindo à elaboração de
um valor ambiental final para um determinado produto.
Jacquemin, Pontalier e Sablayrolles (2012) argumentam que ferramentas de engenharia de
processos, quando combinadas com uma ACV, podem resultar em análises mais detalhadas
das condições operacionais do processo e seus impactos ambientais. De acordo com Glew et
al. (2012), os resultados obtidos pelas análises de ciclo de vida para um mesmo produto são
diferentes, dependendo do método e das pressuposições utilizadas.
A ACV é feita de acordo com a análise dos aspectos e impactos ambientais do produto em
questão. Dessa forma, o Sistema de Gestão Ambiental institui determinações para identificar
os aspectos e impactos ambientais, apresentadas em quatro etapas, explicitadas na figura
abaixo:
Figura 2 – Determinação e identificação de aspectos e impactos ambientais
Fonte: Adaptado por RIEGEL, 2012
A NBR ISO 14001:2004 (ABNT..., 2004) ainda destaca que toda organização deve
estabelecer, implementar, manter e controlar seus procedimentos para identificação dos
aspectos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços, dentro do escopo de seu
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Sistema de Gestão Ambiental (SGA), determinando os aspectos que possam ter impacto
significativo sobre o meio ambiente.
Atualmente, o ciclo de vida dos produtos tende a ser menor devido a vários fatores, entre eles,
o avanço tecnológico, gerando assim, o aumento no descarte de mitigar os impactos
ambientais, alinhando o caráter preventivo da gestão com o estoque reativo de cumprimento
da legislação.
2.3. Gerenciamento dos resíduos eletrônicos
O consumo acelerado, a dinâmica de inovações tecnológicas e a obsolescência programada,
refletem no crescente descarte de equipamentos eletroeletrônicos, que em pouco tempo
transformam-se em sucata tecnológica ou resíduos eletroeletrônicos (REEs).
Lixo eletrônico é o nome dado aos resíduos da rápida obsolescência de equipamentos
eletrônicos, que incluem computadores e eletrodomésticos, entre outros dispositivos. Tais
resíduos, descartados em lixões, constituem-se num sério risco para o meio ambiente, pois
possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, como mercúrio, cádmio,
berílio e chumbo. Em contato com o solo estes metais contaminam o lençol freático e, se
queimados, poluem o ar além de prejudicar a saúde dos catadores que sobrevivem da venda
de materiais coletados em lixões. (GUERIN, 2008, apud NATUME; SANT’ ANNA 2011).
Além disso, os lixões, aterros controlados e aterros sanitários não são os locais adequados
para a destinação final das substâncias contidas nos resíduos sólidos. Muito desse material,
quando em contato com a água, é carregado junto com o chorume, e então escorrer e
contaminar o solo, águas superficiais ou até mesmo os lençóis subterrâneos, interferindo em
sua qualidade. (CELERE et al., 2007).
Segundo o StEP (Solving the E-waste Problem ), citado por Doyle (2007), indicam a
crescente produção de REEs no mundo, como os detritos elétricos e eletrônicos estão entre as
categorias de lixo de mais alto crescimento no mundo, e em breve devem atingir a marca dos
40 milhões de toneladas anuais, o suficiente para encher uma fileira de caminhões de lixo que
se estenderia por metade do planeta.
De acordo com Silva, Martins e Oliveira (2007) no âmbito internacional, a Convenção de
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Basiléia (1989) é um tratado que incentiva a minimização da geração de resíduos perigosos,
incluindo a redução do movimento entre fronteiras desses resíduos, e estabelece a necessidade
de consentimento prévio por escrito, por parte dos países importadores para os resíduos
especificados para importação, além da adoção de medidas adequadas de minimização da
geração de resíduos, e a administração ambientalmente correta de resíduos e seu depósito.
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos se propõe a reverter esse cenário,
utilizando “diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos,
incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos
instrumentos econômicos aplicáveis” (Artigo 1° da Política Nacional de Resíduos Sólidos).
De acordo ainda com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, tem-se a Logística Reversa
como instrumento para à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos (Artigo 8° da Política Nacional dos Resíduos Sólidos).
2.4. Logística reversa
Gonçalves e Marins (2006) reportam-se à definição apresentada pelo Reverse Logistics
Executive Council (RLEC), onde a logística reversa é o processo de planejamento,
implementação e controle do fluxo de matérias-primas, dos processos de produção e de
produto acabado, e das informações, do ponto de consumo até a origem, com o fim de
recapturar valor ou oferecer um destino ecologicamente adequado.
Na literatura, encontra-se as características e funções básicas da logística reversa, Souza,
Lavez e Souza (2009) enumeram cinco de suas funções básicas interligadas: (1) o
planejamento, a implementação e o controle do fluxo de materiais e do fluxo de informações
do ponto de consumo ao ponto de origem; (2) a movimentação de produtos na cadeia
produtiva, na direção do consumidor para o produtor; (3) a tentativa de uma melhor utilização
de recursos, seja reduzindo o consumo de energia, seja diminuindo a quantidade de materiais
empregada, seja reaproveitando, reutilizando ou reciclando resíduos; (4) a recuperação de
valor; (5) a segurança na destinação após sua utilização.
Souza, Lavez e Souza (2009), ainda acrescenta citando outros autores, os benefícios da
logística reversa são agrupados em três níveis, citado por outros autores tem-se: (a) as
demandas ambientalistas que têm levado as empresas a se preocuparem com a destinação
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final de produtos e embalagens por elas geradas (Souza, Lavez e Souza, 2009 apud HU et al.,
2002); (b) a eficiência econômica, já que a logística reversa permite a geração de ganhos
financeiros pela economia no uso de recursos (Souza, Lavez e Souza, 2009 apud MINAHAN,
1998); (c) ganho de margem que a empresa pode ter perante seus acionistas, além de elevar o
prestígio da marca e sua imagem no mercado de atuação (Souza, Lavez e Souza, 2009 apud
ROGER e TIBBENLEMBKE, 1999; DAUGHERTY et al, 2001).
3. Metodologia
A pesquisa realizada teve como objetivo analisar a Sustentabilidade a respeito dos Resíduos
Eletroeletrônicos em uma empresa do segmento de comércio atacadista de resíduos e sucatas
metálicas, localizada em Cabedelo, na Paraíba. Utilizou-se, para tanto, de uma revisão
bibliográfica acerca dos conceitos de Sustentabilidade Corporativa, Gestão Ambiental e
Aspectos e Impactos inerentes aos resíduos eletroeletrônicos para compreender e analisar a
organização estudada.
De acordo com Berto & Nakamo (1998) em seu trabalho sobre metodologia da pesquisa e a
engenharia de produção, a metodologia da pesquisa fornece suporte ao planejamento e
desenvolvimento sistematizado de uma investigação científica a respeito de um fenômeno
observado na “realidade do mundo físico/metal”. Utiliza um ou vários métodos de
observação, de maneira a apreender fatos e dados dessa realidade, com a intenção de entender,
explicar e, se possível ou necessário, aplicá-la ou replicá-la em favor de outros eventos os
episódios semelhantes. Dessa forma, o desenvolvimento do trabalho se ancorou no método da
observação não participante, onde os pesquisadores não intervieram na lógica de
entendimento acerca do tema proposto aos entrevistados, com a pesquisa de natureza
aplicada, de caráter descritivo, adotando como procedimento um estudo de caso realizado em
campo. A coleta de dados foi realizada através de um questionário aplicado junto à diretoria
da empresa.
A pesquisa, portanto, apresenta uma natureza predominantemente qualitativa, pois dependeu,
principalmente, da avaliação dos pesquisadores e dos entrevistados, com o objetivo de
levantar os aspectos e impactos ambientais característicos da atividade da empresa a partir da
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observação dos processos e diálogo com os responsáveis.
4. Análise e interpretação dos resultados
O estudo de caso foi realizado em uma microempresa paraibana atuante no segmento de
comércio atacadista de resíduos e sucatas metálicas no município de Cabedelo-PB, com um
total de oito colaboradores, o produto da empresa é a venda de componentes de resíduos
eletroeletrônicos (sucatas metálicas de ferro, cobre, alumínio e placas eletrônicas),
perpassando pelos processo de compra, coleta, desmontagem e separação dos resíduos
eletroeletrônicos, estocagem dos componentes e consequentemente vende.
Figura 3 – Fluxo de
processos
Fonte: Pesquisa direta (2014)
A empresa utiliza como entradas no processo várias tipos de resíduos eletroeletrônicos
(aparelhos celulares, computadores, impressoras, televisores, entre outros), destacando-se
dentre eles, como potencial, os equipamentos eletrônicos de estação rádio base de celular,
abrangendo um percentual de 90%. Após o reconhecimento dos equipamentos, tem início o
processo de desmontagem seguido da separação dos elementos provenientes desta e
estocagem. Por fim, há a venda e destinação dos materiais, de acordo com a tabela abaixo:
Tabela 2 – Destinação dos elementos resultantes da desmontagem
Elementos resultantes do processo Destinação
Sucata metálica: ferro, cobre, alumínio Sucateiros
Placas eletrônicas Empresa de coleta e análise de placas
Elementos inservíveis Aterro sanitário
Fonte: Pesquisa direta (2014)
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Vale ressaltar que os processos de recebimento, manuseio e destinação ainda não estão
suficientemente estruturados de acordo com os modelos de ACV e SGA (ISO 14001:2004),
sinalizando a ausência de uma política de identificação, análise e mitigação dos aspectos e
impactos ambientais, em conformidade com os princípios de sustentabilidade, a legislação
concernente e os princípios de logística reversa.
É válido mencionar a incipiência do modelo de medição dos resíduos que chegam e dos
componentes que saem, visto que a periodicidade de medição, registro, análise e tomada de
decisão revela o desalinhamento da demanda com o planejamento e controle da produção,
resultando em estoque de resíduos e componentes.
Considera-se relevante a definição dos critérios e a sistemática de controle dos elementos
inservíveis e destinação aos sucateiros, uma vez que, independente do valor econômico dos
componentes, essas decisões devem se pautar nos impactos ambientais.
Quanto à gestão do relacionamento com fornecedores e clientes, verificam-se significativas
dificuldades de monitoramento, gestão e melhoria – A legislação preconiza a responsabilidade
técnica e legal da origem ao destino, o que é endossado por Leite (2003), ao observar que
devido à crescente necessidade de conciliar a produção e o cumprimento das questões
ambientais, tornou-se necessário planejar, operar e controlar o fluxo e as informações
logísticas do retorno dos bens de pós-venda e consumo, de forma a agregar-lhes valores
diversos como o econômico, ecológico, de imagem corporativa, entre outros.
Referente à participação em eventos externos para captação de informações e conhecimentos,
verifica-se a concentração de oportunidades para a direção, o que reduz a mobilização e o
engajamento dos colaboradores nas questões ligadas a sustentabilidade (Tachizawa,2006).
No que tange a estratégia não há evidências de alinhamento destas com os processos e
indicadores necessários a implantação de uma política ambiental, tornando-se um eixo
fragilizado para alavancagem da competitividade do negócio e do potencial de mercado da
empresa.
Há a oportunidade quanto à estratégia de posicionamento e comunicação da empresa com o
mercado e seus clientes como forma de apresentar seus diferenciais em serviços, engajar os
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colaboradores e melhorar os resultados da pesquisa de imagem da empresa frente a seus
clientes e fornecedores.
5. Considerações finais
A situação do lixo tecnológico no Brasil ainda é uma questão que requer muita atenção de
iniciativas públicas, privadas e da própria comunidade, principalmente no que concerne ao
manejo seguro e à disponibilização de informações sobre essa categoria de resíduos. Fatores
críticos na situação dos resíduos eletroeletrônicos é a rápida obsolescência tecnológica; a
redução planejada, por parte dos fabricantes, do tempo de vida útil dos produtos; os altos
custos para a manutenção e conserto de equipamentos usados, além dos estímulos ao consumo
insustentável, muito presentes em nossa sociedade que através de campanhas de marketing
associam a posse de bens à qualidade de vida e a sua substituição constante à modernidade
(RODRIGUES, 2007).
Partindo de uma entrevista semiestruturada e observação direta em uma microempresa
paraibana atuante no segmento de comércio atacadista de resíduos e sucatas metálicas, onde a
mesma desmembra resíduos eletroeletrônicos em componentes que são vendidos
posteriormente, buscou-se analisar como a mesma pautava-se por princípios de
sustentabilidade, visto que seu processo produtivo tende a retirar do ambiente resíduos sólidos
de grande impacto, contribuindo para ganhos positivos para a qualidade e a preservação da
vida.
Contudo, verificou-se que a organização atua em um mercado promissor, cercado de
oportunidades e visibilidade, mas carece de estratégia orientada aos princípios de
sustentabilidade, ACV, SGA e Logística reversa. O empreendimento apresenta-se incipiente
no que se refere a identificação dos aspectos e mitigação dos impactos socioambientais do seu
processo à sustentabilidade.
A gestão dos relacionamentos com fornecedores e clientes carece de ampliação da frequência
de monitoramento, contribuindo para a disseminação da marca e do serviços da empresa no
mercado, bem como para o desenvolvimento de tecnologias e serviços quanto ao processo de
destinação dos resíduos eletroeletrônicos, já que atualmente a significativo volume de
componente inservíveis e resíduos que são destinados para a sucata.
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