153
ANÁLISE E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS PARA UMA STARTUP DE VENDING MACHINES E MICRO MARKETS SOB A ÓTICA DO PROCESSO DE EMPREENDEDORISMO Pedro Cunha Schittini Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Édison Renato Pereira da Silva Rio de Janeiro Janeiro de 2020

ANÁLISE E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS PARA …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10031028.pdfEmpreendedorismo que serão usados no trabalho, baseado principalmente em Maurya

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ANÁLISE E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS PARA

UMA STARTUP DE VENDING MACHINES E

MICRO MARKETS SOB A ÓTICA DO PROCESSO

DE EMPREENDEDORISMO

Pedro Cunha Schittini

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Édison Renato Pereira da Silva

Rio de Janeiro

Janeiro de 2020

ii

ANÁLISE E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS PARA

UMA STARTUP DE VENDING MACHINES E

MICRO MARKETS SOB A ÓTICA DO PROCESSO

DE EMPREENDEDORISMO

Pedro Cunha Schittini

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

_______________________________________________

Prof. Édison Renato Pereira da Silva, D. Sc.

_______________________________________________

Prof. Leonardo Luiz Lima Navarro, D. Sc.

_______________________________________________

Prof. Marcus Augustus Lessa, M. Sc.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Janeiro de 2020

iii

Schittini, Pedro Cunha

Análise e proposição de melhorias para

uma startup de vending machines e micro

markets sob a ótica do processo de

empreendedorismo/ Pedro Cunha Schittini –

Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica,

2020.

XIII, 103 p.: il., 29,7 cm.

Orientador: Édison Renato Pereira da Silva

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de

Engenharia de Produção, 2020.

Referências Bibliográficas: p. 100-103

1. Empreendedorismo; 2. Startup; 3. Customer

Discovery; 4. Tração; 5. Vending Machines e Micro

markets.

I. Silva, Édison Renato Pereira da. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro. III. Análise e

proposição de melhorias para uma startup de vending

machines e micro markets sob a ótica do processo de

empreendedorismo.

iv

“The Law of Serendipity: Lady Luck favors the one who tries”

(Barbara Oakley)

v

AGRADECIMENTOS

É engraçado olhar para trás e comparar o Pedro que entrou na faculdade com o Pedro

que saiu dela. O Pedro de hoje tem uma visão mais ampla do mundo ao seu redor e

entende melhor a si mesmo; e desenvolveu o vocabulário e a gramática para descrever,

explicar e predizer esses dois mundos (o exterior e o interior).

Agradeço aos meus pais, que sempre pensaram no meu bem e me deram apoio, amor,

carinho e educação. A minha irmã Dani, que permitiu que eu entendesse o limiar entre

o que é meu e o que não é meu, e os conceitos de trocas e favores na prática. Ao meu

avô Antônio, que sempre adorou me contar histórias sobre minha avó e que ficou

orgulhoso de mim por ser seu primeiro descendente a fazer faculdade na mesma escola

de engenharia na qual ele se formou em 1950. A imagem que tenho de você sempre

permanecerá viva em mim.

Aos professores que passaram pela minha vida: os do jardim de infância e ensino

fundamental que me aturaram, porque eu era um pestinha; os do ensino médio, que me

prepararam para o vestibular; e os universitários, que me formaram como engenheiro.

Um agradecimento especial à três professores. Ao Édison Renato, meu orientador, que

me mostrou a porta de entrada para o conhecimento enquanto trabalhávamos em

projetos e na Garagem GetUp. Muitas de nossas conversas me deixaram com uma

pulga atrás da orelha, por exemplo: como adquirir mais conhecimento por meio da leitura

e como falar em público. E essas pulgas deixadas ao longo dos anos de convívio me

levaram ao segundo professor, Domício Proença Jr. Se com Édison eu enxerguei a

porta e dei meus primeiros passos em direção a ela, com o Domício eu entrei na porta

do conhecimento e descobri que era um caminho sem volta. Fazer IOA em 2019 me

tornou uma pessoa qualitativamente diferente e eu tenho muito a agradecer pela grande

mudança que esse tempo com o Domício fez e continuará fazendo na minha vida. O

impacto dessa mudança não teria sido o mesmo se não fosse por Marcus Lessa, o

terceiro professor. As aulas e o convívio com o Marcus me ajudaram a dar sentido sobre

a aproximação ao estado da arte dentro de um campo e também à aplicação dos

métodos de leitura e fala. Além disso, tenho aprendido com o Marcus como é estar do

outro lado da sala de aula. Você é uma forte inspiração para mim sobre como conduzir

aulas.

Agradeço aos meus amigos, que tornaram a faculdade uma experiência ainda melhor.

Aos meus amigos de anos do Colégio Militar e do pH, muitos anos de amizade ainda

estão por vir. Aos meus amigos da Fluxo Consultoria, pela minha primeira experiência

profissional, especialmente Aramys que acreditou em mim lá no início e me ajudou na

vi

jornada. Aos meus amigos da Garagem GetUp, pelos aprendizados sobre

empreendedorismo, especialmente Eduardo, Flórido e Renan (que time!). Aos meus

amigos de estágios e trabalhos que realizei ao longo da faculdade, especialmente

Beneson, que algum dia irá ter sucesso em sua própria startup! Agradeço à Marina, que

participou dessa jornada de conhecimento em 2019 comigo e tornou tudo mais

agradável. Ao Thiago, mais novo professor do DEI, pelas conversas aleatórias e

engraçadas nesse ano.

Por fim, mas não menos importante, obrigado Carol por estar ao meu lado me apoiando

e me ajudando a me tornar uma pessoa e um namorado melhor. Esse ano de 2019 não

teria sido o mesmo sem sua companhia.

vii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro de Produção

Análise e proposição de melhorias para uma startup de vending machines e

micro markets sob a ótica do processo de empreendedorismo

Pedro Cunha Schittini

Janeiro/2020

Orientador: Édison Renato Pereira da Silva

Curso: Engenharia de Produção

Esse projeto de graduação apresenta um estudo de caso da aplicação do Processo de

Empreendedorismo a uma startup de vending machines e micro markets. Para isso, um

referencial teórico é apresentado contendo inicialmente os conceitos essenciais de

empreendedorismo para em seguida apresentar os modelos de Processo de

Empreendedorismo que serão usados no trabalho, baseado principalmente em Maurya

(2012 e 2016), cujo objetivo é ser um método sistemático de mitigação de riscos e

eliminação de vieses para a criação de startups de sucesso. O modelo de Customer

Discovery elaborado para o presente trabalho é o principal avanço frente a literatura por

se tratar do resultado de uma leitura sintópica de diferentes fontes. Além disso, também

é realizada uma análise do mercado de vending machines e micro markets no Brasil e

nos Estados Unidos. Mais adiante, é apresentada a trajetória da startup analisada,

dividida em três momentos: (1) a concepção do negócio como uma empresa de vending

machines de alimentação saudável, baseado em um plano de negócios; (2) a primeira

pivotagem, com mudança de público e produtos; (3) a segunda pivotagem, com

mudança de vending machines para micro markets. Em seguida, a trajetória da startup

é analisada sob a ótica do processo de empreendedorismo seguindo a estrutura dos

três momentos. Depois, é analisada a situação presente da startup com fins de propor

mudanças para o futuro sob a ótica do processo de empreendedorismo.

Palavras Chaves: Empreendedorismo, Startup, Customer Discovery, Tração, Vending

Machines e Micro Markets.

viii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

Analysis and propositions of improvements for a startup of vending machines

and micro markets from the perspective of the entrepreneurship process.

Pedro Cunha Schittini

January/2020

Advisor: Édison Renato Pereira da Silva

Course: Industrial Engineering

This undergraduate project presents a case study on the application of the

Entrepreneurship Process to a startup of vending machines and micro markets. For this,

a theoretical framework is presented containing initially the essential concepts of

entrepreneurship and then presenting the Entrepreneurship Process models that will be

used in the work, based mainly on Maurya (2012 and 2016), whose objective is to be a

systematic method of risk mitigation and bias elimination for creating successful startups.

The Customer Discovery model elaborated for the present work is a main advance on

the literature because it is the result of a syntopic reading from different sources. In

addition, an analysis of the vending machines and micro markets in Brazil and the United

States is also performed. Further, the trajectory of the startup analyzed is presented,

divided into three stages: (1) the conception of the business as a healthy eating vending

company, based on a business plan; (2) the first pivot, with change of customers and

products; (3) the second pivot, moving from vending machines to micro markets. Then,

the startup's trajectory is analyzed from the perspective of the entrepreneurship process

following the structure of the three moments. Then, the present situation of the startup is

analyzed in order to propose changes for the future from the perspective of the

entrepreneurship process.

Key words: Entrepreneurship, Startup, Customer Discovery, Traction, Vending

Machines e Micro Markets.

ix

Sumário

1. Introdução.................................................................................................................. 1

1.1. Contextualização ............................................................................................... 1

1.2. Objetivos e Relevância ...................................................................................... 2

1.3. Método de Pesquisa, Estrutura do Projeto e Limitações .................................. 3

2. Referencial Teórico ................................................................................................... 8

2.1. Empreendedorismo em startups ....................................................................... 8

2.1.1. Conceitos essenciais .................................................................................. 8

2.1.2. Processo de Emprendedorismo ............................................................... 21

2.1.2.1. Lean Canvas ..................................................................................... 23

2.1.2.2. Modelo de Tração ............................................................................. 28

2.1.2.3. Customer Factory Blueprint .............................................................. 33

2.1.2.4. Customer Discovery .......................................................................... 37

2.2. Análise do Mercado de Vending Machines e Micro Markets .......................... 49

2.2.1. Mercado dos Estados Unidos .................................................................. 49

2.2.2. Mercado Brasileiro .................................................................................... 56

3. Trajetória da Startup ............................................................................................... 61

3.1. Concepção do Negócio ................................................................................... 63

3.1.1. Fundação .................................................................................................. 63

3.1.2. Início da Operação seguindo o Plano de Negócios ................................ 63

3.2. Primeira Pivotagem: Mudança de Público e Produtos.................................... 65

3.2.1. Período de Transição: 2017-04 a 2017-07 .............................................. 65

3.2.2. Consolidação de pontos e de mix de produtos ........................................ 66

3.2.3. Crise societária ......................................................................................... 67

3.2.4. Testagem “automatizada” do mix de produtos e nova otimização dos

pontos 67

3.3. Segunda Pivotagem: Micro Market ................................................................. 70

3.3.1. Oportunidade e início da operação de micro markets ............................. 70

3.3.2. Expansão da Equipe e aceleração das mudanças ................................. 71

4. Análise da trajetória da startup sob a ótica do processo de empreendedorismo .. 73

4.1. Análise da Concepção do Negócio ................................................................. 73

4.1.1. Lean Canvas ............................................................................................. 75

4.2. Análise da Primeira Pivotagem ....................................................................... 77

4.2.1. Lean Canvas ............................................................................................. 81

4.3. Análise da Segunda Pivotagem ...................................................................... 82

4.3.1. Lean Canvas ............................................................................................. 83

5. Presente e Futuro da Startup .................................................................................. 86

x

5.1. Customer Factory Blueprint ............................................................................. 86

5.2. Lean Canvas .................................................................................................... 88

5.3. Customer Discovery......................................................................................... 90

5.4. Estratégia de Saída ......................................................................................... 95

6. Conclusão................................................................................................................ 97

Referências ................................................................................................................... 100

Anexos .......................................................................................................................... 104

Anexo 1: Manual da planilha de otimização de mix ................................................. 104

Anexo 2: Plano de Negócios elaborado pelas fundadoras ...................................... 106

xi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Método geral de pesquisa utilizado. ................................................................. 3

Figura 2: Exemplo extraído da base de dados bruta utilizada no trabalho. .................... 6

Figura 3: O ciclo de feedback Build-Measure-Lean ........................................................ 9

Figura 4: Curva Revisada do Ciclo de Vida de Adoção de Tecnologia. ....................... 12

Figura 5: Pirâmide da dor. .............................................................................................. 13

Figura 6: Idade dos fundadores de startups e de startups de alto crescimento. .......... 20

Figura 7: Ilustração do teste sistemático do modelo de negócios.. .............................. 22

Figura 8: Lean Canvas. .................................................................................................. 24

Figura 9: A história sobre como o modelo de negócios cria, entrega e captura valor. . 27

Figura 10: Os três estágios do modelo de tração. ......................................................... 28

Figura 11: Os três tipos de riscos localizados no Lean Canvas. .................................. 29

Figura 12: O conceito de oferta de Maurya. .................................................................. 30

Figura 13: O crescimento acontece como uma série de passos. ................................. 32

Figura 14: Os estágios do modelo de tração ao longo do tempo. ................................ 33

Figura 15: Customer Factory Blueprint. ......................................................................... 34

Figura 16: As áreas principais da Customer Factory Blueprint ..................................... 35

Figura 17: As engrenagens de crescimento. ................................................................. 37

Figura 18: As etapas do processo de Customer Discovery .......................................... 38

Figura 19: Receita da Indústria de Vending Machines e Micro Markets em Bilhões de

Dólares............................................................................................................................ 51

Figura 20: Número de locais com Micro Markets Ativos. .............................................. 51

Figura 21: Percentual de Micro Markets por número de funcionários do local.. ........... 52

Figura 22: Vendings Machines por tipo de local em 2017. ........................................... 53

Figura 23: Micro Markets por tipo de local em 2017. .................................................... 53

Figura 24: Formas de pagamento e coleta de dados em 2016. ................................... 54

Figura 25: Formas de pagamento e coleta de dados em 2017. ................................... 54

Figura 26: Participação dos tipos de produtos em Vending Machines em 2017. ......... 55

xii

Figura 27: Participação dos tipos de produtos vendidos em Micro Markets em 2017. 55

Figura 28: Habitantes por Vending Machine em Brasil, Europa, EUA e Japão. ........... 57

Figura 29: Linha do tempo dos períodos do negócio. ................................................... 61

Figura 30: Faturamento Mensal da startup. ................................................................... 62

Figura 31: Faturamento médio por ponto da startup. .................................................... 62

Figura 32: Quantidade de pontos por perfil. .................................................................. 64

Figura 33: Faturamento Médio por perfil de ponto. ....................................................... 65

Figura 34: Número de Produtos no Mix da startup. ....................................................... 66

Figura 35: Quantidade de vendas média por perfil de ponto. ....................................... 69

Figura 36: Ticket Médio da venda por perfil de ponto. .................................................. 69

Figura 37: Lean Canvas do periodo de concepção do negócio. ................................... 76

Figura 38: Quantidade de Pontos por Perfil. ................................................................. 79

Figura 39: Faturamento médio por perfil de ponto.. ...................................................... 79

Figura 40: Quantidade de Vendas Média por perfil de ponto........................................ 80

Figura 41: Ticket Médio da Venda por perfil de ponto................................................... 80

Figura 42: Lean Canvas após a primeira pivotagem do negócio (alterações em

vermelho). ....................................................................................................................... 81

Figura 43: Lean Canvas após a segunda pivotagem do negócio (alterações em

vermelho). ....................................................................................................................... 83

Figura 44: Customer Factory Blueprint da Startup ........................................................ 86

Figura 45: Lean Canvas da análise do presente e proposta de futuro (alterações em

vermelho).. ...................................................................................................................... 90

xiii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Os nove pecados capitais da introdução de novos produtos ao mercado. .. 10

Tabela 2: Participação de vendas separados por tamanho dos operadores do mercado

de vendings e micro markets. ........................................................................................ 50

Tabela 3: Percentual de vendas por categoria de serviço. ........................................... 56

1

1. Introdução

1.1. Contextualização

O Brasil é considerado um país empreendedor, com altas taxas de criação de novos

negócios ano após ano, mas, ao mesmo tempo, pouco mais de 60% das empresas

abertas em 2010 já haviam fechado portas em 2015 segundo o IBGE (Valor 2017). Essa

taxa de mortalidade de empresas antes dos 5 anos é grande, mas o perfil delas explica

parte dessa mortalidade.

Temos que 42% dos negócios abertos em 2016 se enquadram na categoria

“empreendedorismo por sobrevivência” – empresas criadas por falta de emprego e

renda – enquanto o resto são negócios abertos por seus fundadores enxergarem uma

oportunidade de mercado (Global Entrepreneurship Monitor Brasil, 2016). Negócios

iniciados para sobrevivência – como venda de refeições e de doces caseiros – tendem

a ter uma mortalidade alta em função de serem fechados quando seus fundadores

conseguem oportunidades melhores. Ainda assim, a categoria de empreendedorismo

por sobrevivência não explica sozinha toda a mortalidade de negócios.

Dentro do perfil de negócios abertos por seus fundadores enxergarem uma

oportunidade de mercado, temos o caso da criação de negócios inovadores que se

enquadram na categoria de startups1. A criação de startups se dá em ambientes de

extrema incerteza (Ries, 2011) no qual os métodos tradicionais de plano de negócios

não são suficientes para garantir o sucesso da empresa. Com isso, a chance de startups

não obterem sucesso e fecharem as portas é alta.

Nesse cenário surgem inúmeros autores que propõe métodos de validação de hipóteses

em startups que buscam mitigar os riscos inerentes ao negócio, que podem ser

chamados de Processo de Empreendedorismo (Blank & Dorf, 2012; Ries, 2011; Maurya,

2012 e 2016; Aulet 2013). O foco é gastar o mínimo possível para entender a viabilidade

do negócio e assim decidir se vale a pena investir mais tempo e dinheiro na startup e

para entender isso é preciso “sair do escritório e ir para a rua” (Blank & Dorf, 2012).

1 A definição de startup adotada no presente trabalho se encontra no referencial teórico de empreendedorismo em startups.

2

Com o objetivo enriquecer o entendimento do Processo de Empreendedorismo, o autor

optou por analisar a startup de vending machines e micro markets2 na qual trabalhou no

final de 2018 e início de 2019, que teve o início da trajetória baseado na execução de

um plano de negócios e que depois passou a utilizar indicadores financeiros sem uma

estrutura formal de organização.

Assim, pretende-se: descrever o processo de empreendedorismo e os conceitos

essenciais do universo de empreendedorismo em startups; mostrar a trajetória da

startup até o modelo atual e analisar seus estágios sob a ótica do processo de

empreendedorismo; e analisar a situação presente da startup e fazer propostas para o

futuro com base nas análises feitas com o processo de empreendedorismo.

1.2. Objetivos e Relevância

O objetivo do presente trabalho é avaliar a trajetória empreendedora de uma startup de

vending machines e micro markets à luz da literatura do Processo de

Empreendedorismo, identificando lacunas e propondo soluções que o Processo de

Empreendedorismo adotaria para mitigar essas lacunas. Os objetivos específicos são:

• Reunir os conceitos essenciais sobre o universo do empreendedorismo em

startups;

• Descrever o Processo de Empreendedorismo delineado por Ash Maurya

(2012 e 2016);

• Definir um processo de Customer Discovery a partir das contribuições vindas

principalmente de Maurya (2012), Fitzpatrick (2013) e Constable (2014);

• Fazer um levantamento do mercado de vendings e micro markets dos EUA

e as oportunidades no Brasil;

• Apresentar a trajetória da startup ao empreender inicialmente baseado em

um plano de negócios e depois sem nenhuma estrutura organizada e

analisar esse histórico sob a ótica do processo de empreendedorismo;

• Analisar a situação atual da startup e fazer propostas para o futuro da startup

sob a ótica do processo de empreendedorismo.

2 Vending machines são máquinas automáticas que fornecem diferentes tipos de produtos como cafés, doces, salgados e bebidas sem contato manual para a liberação dos consumíveis. Micro markets são uma solução de autoatendimento focado principalmente para escritórios de empresas na qual o consumidor consegue tocar nos produtos antes de comprar e ele mesmo escaneia os produtos no totem de autoatendimento antes de realizar o pagamento.

3

1.3. Método de Pesquisa, Estrutura do Projeto e Limitações

A figura abaixo ilustra a estrutura da obra e o método de pesquisa. Os círculos ao lado

dos retângulos indicam o capítulo e seção onde cada etapa está detalhada e os números

entre parênteses indicam a ordem temporal do método.

Figura 1: Método geral de pesquisa utilizado. Fonte: Elaboração própria.

A partir de disciplinas da graduação e de um grupo de estudos de empreendedorismo

sob orientação do professor Édison Renato Pereira da Silva, o autor teve contato com

um conjunto de livros que enxergam o empreendedorismo como um processo

sistemático de validação de hipóteses que buscam mitigar as incertezas intrínsecas a

criação de novos negócios. Com isso, a maior parte dos livros usados no presente

trabalho já haviam sido lidos pelo autor antes do início da pesquisa.

Ao mesmo tempo, o autor do presente trabalho começou a trabalhar em uma startup

que enfrentava dificuldades para crescer e que não havia aplicado métodos do processo

de empreendedorismo ao longo de sua trajetória.

Juntando o contato com os livros de processo de empreendedorismo e a motivação

particular em aplicar esse processo na startup, foi despertada a motivação para o início

do presente trabalho.

4

Os livros motivadores apresentam diferentes modelos para o processo de

empreendedorismo. Alguns modelos possuem a mesma finalidade, mas outros

possuem objetivos distintos. Com isso, foi preciso decidir quais modelos seriam

utilizados (momento 1 na figura) e o autor optou por utilizar três modelos propostos por

Maurya (2012 e 2016) como base para o trabalho, junto com o modelo de Customer

Discovery para interação com clientes (Blank 2013; Blank & Dorf 2012; Maurya 2012;

Fitzpatrick 2013; Constable 2014). O motivo da escolha foi a maior familiaridade do autor

com esses métodos, por já ter aplicado os mesmos diversas vezes no passado com

resultados positivos.

Para descrever e explicar os modelos do processo de empreendedorismo, o autor

percebeu que precisaria antes apresentar alguns dos conceitos essenciais de

empreendedorismo em startups (momento 2). Esse momento gerou contato com textos

complementares aos livros lidos anteriormente.

Em paralelo, o autor investigou em mais detalhes a trajetória da startup (momento 3),

por meio de conversas com os sócios e análise do banco de dados3 do negócio, para:

entender o contexto das principais decisões tomadas no passado; determinar quais

decisões levaram a pivotamentos no modelo de negócios da startup; e estabelecer com

precisão a temporalidade das mudanças no modo de operação da startup. Essa

trajetória está apresentada no capítulo 3 do trabalho. O negócio foi dividido em três

períodos:

• Concepção do negócio: uma empresa de vending machines de alimentação

saudável que coloca as máquinas em locais de grande circulação de

pessoas

• Primeira Pivotagem – mudança de público e produtos: uma empresa de

vending machines de snacks que coloca máquinas dentro de empresas com

o mínimo de 150 pessoas.

• Segunda pivotagem – micro market: uma empresa de alimentação em geral

que coloca micro markets dentro de empresas com o mínimo de 100

pessoas.

Antes de examinar a trajetória da startup sob a ótica do processo de empreendedorismo,

o autor precisava conhecer mais sobre o setor de vending machines e micro markets, e

por isso realizou uma análise sobre esse setor no mercado brasileiro (momento 4). Com

isso, veio a descoberta de que existe muito pouca informação disponível sobre esse

3 A estrutura da base de dados utilizada será explicada mais a frente neste item.

5

setor no Brasil (momento 5). Dessa forma, o autor optou por utilizar dados do mercado

de vending machines e micro markets dos Estados Unidos, pois o mercado americano

possui relatórios específicos sobre esse setor (momento 6). Todos os dados de

referencial teórico apresentados até o momento estão concentrados no capítulo 2.

Assim, o autor passou a possuir a base teórica – tanto do processo de

empreendedorismo, quanto do setor de vendings e micro markets – para analisar a

trajetória da startup (momento 7). Essa análise está apresentada no capítulo 4 e está

dividida nos mesmos três períodos da trajetória que o capítulo 3. A análise da

Concepção do Negócio foi feita com base principalmente no documento de Plano de

Negócios ao qual o autor do presente trabalho teve acesso e se encontra no Anexo 2,

mas a base de dados do negócio e entrevistas com sócios e funcionários auxiliaram no

entendimento e análise desse período. A análise da Primeira Pivotagem foi feita

principalmente em cima da base de dados do negócio, mas as entrevistas com sócios

e funcionários foram importantes para esclarecer dúvidas que a base de dados sozinha

não poderia responder. Por exemplo, foi possível notar algumas mudanças de pontos

físicos e de queda ou aumento de número de vendas, que posteriormente foram

investigados por meio de entrevistas com os sócios e funcionários que estavam

presentes nesta época da startup. Na análise da Segunda Pivotagem o autor do

presente trabalho já estava trabalhando na startup, então pode observar o modelo de

negócios da startup em execução, ainda assim, a base de dados e entrevistas com

sócios e funcionários auxiliaram na análise desse período.

Na sequência, o autor percebeu que precisava diferenciar dois tipos de análise sobre a

startup: (1) a análise das decisões tomadas pelos sócios no passado sob a ótica do

processo de empreendedorismo; e (2) a análise do presente e do futuro da startup pelo

autor sob a ótica do processo de empreendedorismo. Com isso, surgiu o capítulo 5, que

consiste na aplicação dos modelos para analisar a situação atual da startup a fim de

propor mudanças para o futuro da startup. O capítulo 6 traz a conclusão do trabalho.

A base de dados bruta utilizada para as análises do presente trabalho possui

informações sobre as vendas individuais de cada produto (Figura 2). A base possui a

data e hora de cada venda realizada, o cliente do ponto de venda, o local em que a

máquina (ou totem) fica instalada, o número da máquina (ou totem), o produto vendido,

a quantidade vendida e o preço de venda. Com essa base de dados, foi possível realizar

análises por mês, por produto, por valor, por quantidade, por ponto de venda etc. As

colunas de Cliente e Máquina não precisaram ser utilizadas durante o presente trabalho,

pois a coluna Local foi suficiente para identificar cada ponto de venda. Algumas colunas

6

foram adicionadas para auxiliar as análises, como uma coluna para o perfil de ponto

(academia, escritório de empresas, faculdade particular e grande circulação).

Figura 2: Exemplo extraído da base de dados bruta utilizada no trabalho. Fonte: Elaboração Própria.

Segundo a classificação dos projetos de pesquisa proposta por LACERDA et al (2007),

a presente pesquisa pode ser classificada, em termos de natureza, como uma pesquisa

aplicada, pois se trata de aplicação de um referencial teórico a um caso específico. A

abordagem adotada foi qualitativa, pois se procurou interpretar os fenômenos

observados e atribuí-los significado (SILVA & MENEZES, 2001 apud LACERDA et al,

2007). O objetivo desse estudo foi exploratório visto que procurou entender melhor o

problema ao explicitá-lo (GIL, 1999 apud LACERDA et al, 2007). O método utilizado

para a formação das conclusões foi de caráter indutivo, pois parte-se das observações

(individuais) realizadas sem a formação de hipóteses prévias ou construções lógicas a

partir da teoria. Em termos de procedimentos técnicos, utilizou o Estudo de Caso como

fonte de dados.

A área de pesquisa em startups e em Processo de Empreendedorismo ainda não está

consolidada como conhecimento científico em termos Lakatianos e no momento se

encontra em estágio de protociência – ainda não é ciência mas busca atender os

requisitos para se tornar ciência (Lakatos, 1980; Silva & Proença Jr, 2015). Além disso,

esse campo de pesquisa ainda possui poucos relatos qualitativos sobre startups. Dessa

forma, um estudo de caso com relato em primeira pessoa, como o presente trabalho, é

uma contribuição válida para essa área de pesquisa.

Como limitações, é válido destacar:

• A base de dados disponível para análise das vendas da startup tem início

em novembro de 2016 e fim em janeiro de 2019, enquanto a operação iniciou

em fevereiro de 2016. Apesar disso, considerou-se que foi possível analisar

o desempenho do negócio em seus momentos iniciais a partir dos dados

disponíveis e conversas com os sócios da empresa.

Data Cliente Local Máquina Produto Quantidade Valor (R$)

21/06/2018 06:40 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Açai Amazoo Banana 200ml 1 6,10R$

18/06/2018 10:07 RioGaleão Rio Galeão Eixo 7_01 1025 Amma 75% 1 7,10R$

16/06/2018 15:09 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Agua de Coco Kero Coco 200ml 1 4,90R$

16/06/2018 15:08 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Agua de Coco Kero Coco 200ml 1 4,90R$

15/06/2018 06:09 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Agua de Coco Kero Coco 200ml 1 4,90R$

13/06/2018 21:07 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Açai Amazoo Banana 200ml 1 6,10R$

13/06/2018 15:02 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Chocolate Kitkat Nestle 1 5,90R$

12/06/2018 20:36 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Chocolate Kitkat Nestle 1 5,90R$

11/06/2018 10:17 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Amma 75% 1 7,10R$

11/06/2018 10:15 RioGaleão RioGaleão Eixo 16_01 1026 Barra Protein VO2 Chocolate 1 6,80R$

7

• Ainda que a base de dados seja suficiente para entender o desempenho da

startup, o número baixo de pontos de vendas e as diferenças existentes entre

eles impede que se façam correlações com validade estatística.

• Não existe no brasil uma divulgação anual sobre o desempenho do mercado

de vending machines e micro markets, o que dificulta o entendimento sobre

o setor. Por esse motivo, analisou-se o mercado americano, que possui

resultados setoriais divulgados anualmente, para buscar identificar

oportunidades no Brasil.

8

2. Referencial Teórico

Nessa parte do texto, será feita uma revisão bibliográfica da literatura de

empreendedorismo em startups e em seguida será feita uma análise do mercado de

vending machines e micro markets.

2.1. Empreendedorismo em startups

O referencial teórico sobre empreendedorismo em startups foi dividido em duas apartes:

conceitos essenciais sobre empreendedorismo em startup que são a base para a

explicação do Processo de Empreendedorismo; e o Processo de Empreendedorismo

que será aplicado na análise do presente trabalho.

2.1.1. Conceitos essenciais

Segundo Blank & Dorf (2012, p. xvii), startups são organizações temporárias em busca

de um modelo de negócios escalável, repetível e lucrativo.

Elas são temporárias pois quando encontram um modelo de negócios que seja

simultaneamente escalável, repetível e lucrativo, o foco deixa de ser a busca e passa a

ser a execução. A partir de então, o negócio passa a ter um funcionamento similar ao

de grandes empresas. É importante entender que startups não são pequenas versões

de grandes empresas e que, portanto, os métodos tradicionais de administração não

devem ser aplicados a uma startup, pois grandes empresas executam um modelo de

negócios e startups estão à procura de um (Blank & Dorf, 2012, p. xiv).

O modelo deve ser escalável: ter um crescimento rápido da base de usuários com as

receitas aumentando proporcionalmente mais que os custos; repetível: uma vez que o

modelo de operação, aquisição de clientes e vendas esteja definido, seja possível de

ser replicado de forma previsível; e lucrativo: que seja financeiramente vantajoso,

sustentável e atrativo (Blank & Dorf, 2012; Nigri & Monteiro, 2014).

Blank & Dorf (2012, p. 16, 54) também afirmam que nenhum plano de negócios (PN)

sobrevive à primeira interação com o cliente. Essa constatação é relevante pois o PN é

um método tradicional de empreendedorismo de grandes empresas que ainda é

9

utilizado, equivocadamente, para a criação de startups. Por esse motivo, Blank & Dorf

(2012) recomendam que os empreendedores “saiam do escritório”, pois a interação com

os clientes é fundamental para o entendimento e ajustes no modelo de negócios.

Nesse cenário, outra contribuição importante para o empreendedorismo é Eric Ries

(2011), que cunhou e popularizou o termo “Lean Startup”. Para desenvolver seu

conceito de Startup Enxuta, Ries uniu duas abordagens: a de metodologias ágeis; e a

de interação com clientes desenvolvidos por Blank (2013) no livro chamado The Four

Steps to Epiphany – que teve sua primeira edição lançada em 2006.

Uma Startup Enxuta deve realizar interações seguindo o ciclo de feedback Build-

Measure-Learn (Figura 3) com o objetivo de encurtar cada vez mais o tempo de um

ciclo. O conceito por trás disso, é que tempo é mais valioso que dinheiro e quanto menor

for a duração do ciclo, mais hipóteses sobre o modelo de negócios poderão ser testadas

no mesmo espaço de tempo (Ries, 2011).

Figura 3: O ciclo de feedback Build-Measure-Lean. Fonte: Ries 2011, p. 75.

As ideias geradas devem ser testadas com a construção de um mínimo produto viável

(MVP), que permita validar as hipóteses no menor custo possível com as

funcionalidades necessárias. Depois, são gerados dados mensuráveis sobre o teste,

que devem ser analisados para gerar aprendizado sobre os consumidores e para gerar

novas ideias (Ries, 2011). Com os resultados, é possível tomar uma decisão mais

assertiva se vale a pena perseverar nesse caminho, se é melhor pivotar alguma parte

do modelo de negócios, ou se é o momento de desistir do negócio (Ries, 2011).

10

Os 9 pecados capitais da introdução de novos produtos ao mercado

Planos de negócios falham em guiar startups para o sucesso porque o produto e os

consumidores são desconhecidos. Blank & Dorf (2012, p. 8-18) reuniram nove

pressupostos falhos que levam startups a cometerem (Tabela 1)4.

Tabela 1: Os nove pecados capitais da introdução de novos produtos ao mercado.

Pecado Capital Explicação

1.Assumir que “Eu

sei o que os

consumidores

querem”

“Essa é a crença inabalável do fundador de que ele ou ela entende

quem serão os clientes, o que eles precisam e como vender a eles.

Qualquer observador atento reconheceria que, no início uma startup

não tem clientes e, a menos que o fundador seja um verdadeiro

especialista no campo, ele só pode adivinhar o cliente, o problema e o

modelo de negócios. No início, uma startup é uma iniciativa baseada

em saltos de fé construída a partir de suposições. No entanto, a

metodologia tradicional de introdução de produtos faz com que os

fundadores considerem esses fatos como modelo e criem um produto e

comecem a gastar dinheiro para construí-lo em uma corrida para o

“primeiro cliente” - antes de falar com um único cliente.”

2.A falha de “Eu sei quais funcionalidades construir”

“A segunda suposição falha é implicitamente impulsionada pela

primeira. Os fundadores, presumindo que conhecem seus clientes,

assumem que conhecem todas as funcionalidades que os clientes

precisam. Esses fundadores especificam, projetam e constroem um

produto com todos os recursos, usando métodos clássicos de

desenvolvimento de produtos, sem sair do prédio. Mas espere - não é

isso que as startups devem fazer? Não, isso é o que empresas com

clientes existentes fazem.”

3.Foco na data de lançamento

“As datas de lançamento do produto e da entrega para o primeiro cliente

são apenas as datas em que uma equipe de desenvolvimento de

produto acha que a primeira versão do produto está “acabada”. Isso não

significa que a empresa entende seus clientes ou como vender ou

vender para eles, mas em quase todas as startups, pronto ou não, os

departamentos se programam para aquela data. Ainda pior, os

investidores da startup estão gerenciando suas expectativas financeiras

por esta data também... Obviamente, toda startup ou empresa quer

colocar um produto no mercado e vendê-lo, mas isso não pode ser feito

até que a empresa entenda para quem está vendendo e por que vai

comprar.”

4.Ênfase em

execução em vez

de hipóteses,

testes, aprendizado

e iteração

“Embora as empresas estabelecidas executem modelos de negócios

em que clientes, problemas e funcionalidades de produtos necessárias

sejam conhecidos, as startups precisam operar em um modo de

“pesquisa” à medida que testam e comprovam cada uma de suas

hipóteses iniciais. Startups aprendem com os resultados de cada teste,

refinam as hipóteses e testam novamente, tudo em busca de um

modelo de negócios repetitivo, escalável e lucrativo. Na prática, as

startups começam com um conjunto de hipóteses iniciais (suposições),

a maioria das quais acabará sendo errada. Portanto, concentrar-se na

execução e entregar um produto ou serviço com base nessas hipóteses

iniciais, não testadas, é uma estratégia de sair do negócio.”

4 A explicação dos pecados capitais contida na Tabela 1 é uma tradução feita pelo autor.

11

Pecado Capital Explicação

5.Planos de

negócios

tradicionais

presumem não

haver testes e nem

erros

“A única grande vantagem do modelo tradicional de desenvolvimento

de produtos: fornece aos diretores e fundadores um caminho

inequívoco com marcos claramente definidos que os diretores

presumem que serão alcançados... O progresso financeiro é

monitorado usando métricas como demonstração de resultados,

balanço e fluxo de caixa mesmo quando há nenhuma receita a medir.

Na realidade, nada disso é útil para startups.”

6.Confundir títulos

de empregos

tradicionais com o

que uma startup

precisa realizar

“A maioria das startups simplesmente pegou emprestados cargos de

empresas estabelecidas. Mas lembre-se de que esses são cargos em

uma organização que está executando um modelo de negócios

conhecido. Como clientes-alvo, especificações de produtos e

apresentações de produtos podem mudar diariamente, os executivos

de startups em fase inicial precisam de habilidades drasticamente

diferentes dos executivos que trabalham em uma empresa estabelecida

que vende produtos estabelecidos ou extensões de linha. As demandas

da descoberta do cliente exigem pessoas que se sintam à vontade com

a mudança, o caos e o aprendizado com o fracasso, e que estejam à

vontade trabalhando em situações arriscadas e instáveis sem um

roadmap.”

7.Vendas e

Marketing

executam um plano

“Contratar vice-presidentes (VP) e executivos com os títulos certos, mas

com as habilidades erradas, leva a mais problemas na startup, pois

esses altos executivos de vendas e marketing chegam à folha de

pagamento para executar o "plano", mesmo antes de compreenderem

quem são os clientes e o que eles querem comprar.”

8.Presunção de

Sucesso leva a

escalar

prematuramente

“O plano de negócios, sua previsão de receita e o modelo de introdução

de produtos pressupõem que, a cada etapa, a startup prossegue de

forma perfeita e sem problemas para a próxima. O modelo deixa pouco

espaço para erro, aprendizado, iteração ou feedback do cliente. Nada

diz “pare ou diminua a contratação até entender os clientes” ou “pause

para processar o feedback dos clientes”. Mesmo os executivos mais

experientes são pressionados a contratar funcionários pelo plano,

independentemente do progresso. Isso leva ao próximo desastre de

startups: escalar prematuramente. As contratações e os gastos devem

ser acelerados apenas depois que as vendas e o marketing se tornarem

processos previsíveis, repetíveis e escaláveis, não quando o plano diz

que eles estão programados para começar.”

9.Gerenciamento

por crise leva a

uma espiral da

morte

“A história geralmente se desenrola assim: o VP de vendas executa um

plano baseado em hipóteses não testadas e as metas não são

atingidas. Após alguns meses sem atingir metas, ele é demitido e outro

VP é contratado para executar um novo plano de vendas baseado em

hipóteses não testadas. Novamente, as metas não são batidas e a

startup perde credibilidade frente aos investidores.

Às vezes, é necessário apenas uma ou duas iterações para encontrar

o roteiro de vendas correto e o posicionamento para atrair clientes

exuberantes. Em tempos de crise, quando conseguir capital está mais

difícil, a próxima rodada de investimentos pode nunca chegar.”

Fonte: Blank & Dorf 2012, p. 8-12.

12

Early Adopters5

Outro conceito relevante é o de early adopters, introduzido por Geoffrey Moore (2014)

no livro Crossing the Chasm6, cuja primeira edição foi em 1991. Ele revisou o conceito

da Curva do Ciclo de Vida de Adoção de Tecnologia, que divide a adoção da tecnologia

em cinco fases caracterizadas pelo tipo de comprador:

• Inovadores: procuram novas tecnologias de forma agressiva, normalmente por

puro interesse em tecnologia;

• Early Adopters: os primeiros a comprar uma tecnologia pelos seus benefícios

intrínsecos;

• Maioria Inicial: contam com os benefícios da nova tecnologia, mas esperam

que outros resolvam os defeitos iniciais;

• Maioria Tardia: não interessados na tecnologia em si. Esperam o líder de

mercado surgir e compram o que se tornou padrão;

• Retardatários: não querem nada com tecnologia. Usam tecnologia sem saber

de sua existência.

A ação de mudar de uma fase para outra é limitada pela diferença entre os requisitos e

hábitos de compra dos consumidores de cada etapa. Moore foca seu livro na lacuna

existente entre os early adopters e maioria inicial, afirmando que a lacuna é tão grande

que pode ser chamada de abismo. A curva pode ser observada na Figura 4.

Figura 4: Curva Revisada do Ciclo de Vida de Adoção de Tecnologia. Fonte: Moore 2014, p. 21.

5 O conceito de early adopters é utilizado do modelo Lean Canvas, que será utilizado na análise da trajetória da startup. 6 Em tradução livre seria “atravessando o abismo”.

13

Pirâmide da dor7

A pirâmide da dor (Figura 5) categoriza o grau da dor do cliente com um problema em

cinco níveis (Blank 2013, p. 46; Blank & Dorf 2012, p. 58-60; Fitzpatrick 2013, p. 83-84):

• O consumidor possui uma dor;

• O consumidor está consciente de que tem uma dor;

• O consumidor está ativamente procurando uma solução e possui um prazo para

encontrá-la;

• A dor é grande o suficiente para o consumidor juntar partes para construir uma

solução provisória;

• O consumidor providenciou orçamento ou facilmente consegue adquirir

orçamento para resolver a dor.

Essa categorização é útil para identificar se um problema é must-have para um potencial

consumidor ao conversar com ele. Ao definir o perfil de early adopters da startup deve-

se ter em mente que eles geralmente se encontram nos dois níveis superiores da

pirâmide.

Figura 5: Pirâmide da dor. Fonte: Adaptado de Blank 2013, p. 46.

7 O conceito de pirâmide da dor auxilia nas explicações sobre o processo de Customer Discovery.

14

Segmentação de Mercado8

Também é possível estruturar a oportunidade pela segmentação do mercado. Bill Aulet

(2013, p. 45) enumera três condições que definem um mercado:

• Todos os clientes do mercado compram produtos similares.

• Os consumidores do mercado possuem ciclos de compra similares e esperam

que os produtos forneçam valores de modo semelhante. Assim, seus

vendedores podem seguir o mesmo processo de vendas com bons resultados.

• Existe “boca a boca” entre os consumidores no mercado, então eles podem

servir como referencias confiáveis uns aos outros na hora da compra. Caso os

consumidores do mercado não conversem entre si, fica mais difícil para a startup

conseguir tração9.

Beachhead market10

Após segmentar algumas opções de mercado, é preciso ranquear as oportunidades

para selecionar o beachhead market, o mercado no qual o negócio irá entrar primeiro,

e também os mercados adjacentes. Bill Aulet (2013, p. 44) fornece perguntas que

ajudam nessa tarefa:

• O consumidor alvo possui fundos?

• O consumidor alvo é acessível à sua força de vendas?

• O consumidor alvo possuí um motivo convincente para comprar?

• Você consegue hoje, com ajuda de seus parceiros, entregar um produto

completo?

• Existe competição entrincheirada que pode bloquear você?

• Se você venceu nesse segmento, você consegue alavancar a entrada em outros

segmentos?

• O mercado é consistente com os valores, paixões e objetivos do time fundador?

Ter um alvo específico é necessário principalmente nos estágios iniciais de uma startup,

pois ter foco em apenas um tipo de cliente facilita o aprendizado nas interações do

8 O conceito de segmentação de mercado é necessário para explicar o conceito de beachhead market. 9 O conceito de tração está definido no item 2.1.2.2. do presente trabalho. 10 O conceito de beachhead market (mercado cabeça de praia) tem origem em estratégias de guerra. Em uma invasão pelo mar, é preciso conquistar uma cabeça de praia primeiro para utilizar como base de operações, para então expandir o território dominado por terra, pois sem o domínio de um território inicial, é difícil conquistar outros territórios.

15

processo de Customer Discovery (item 2.1.2.4. do presente trabalho), pois torna mais

fácil a identificação de padrões quando os dados forem compilados (Etapa 5 do

processo de Customer Discovery). Além disso, devido ao “boca a boca” existente em

um segmento de mercado, ao focar somente no beachhead market, a dominação desse

segmento se torna mais rápida.

Com o beachhead market definido, é importante entender o tamanho da oportunidade

do segmento e isso pode ser feito por meio do cálculo do Total Addressable Market

(TAM). Maurya (2016, p. 49-72) sugere um método de cálculo de TAM por meio de uma

estimação bottom-up que será abordado no próximo item.

Decision Making Unit (DMU)11

Para realizar a venda de um produto ou serviço é preciso entender o processo de

compra de seus consumidores em potencial e é nesse momento que se torna

necessário entender conceito de Decision Making Unit (Unidade Tomadora de Decisão)

(Aulet 2013, p. 141). A DMU engloba todas as pessoas que estão envolvidas no

processo de aquisição do produto. Aulet (2013, p.141-142) divide a DMU em papeis

primários e secundários e nos dá alguns exemplos de perfis:

• Papeis primários na DMU:

o Campeão: O campeão é a pessoa que quer comprar o produto.

Geralmente ele também é o usuário final.

o Usuário Final: Essa é a pessoa que de fato irá utilizar o produto e com

isso possui um papel significante no processo de compra.

o Comprador Econômico Primário: É o tomador de decisões principal,

pois é preciso sua autorização para a utilização da verba de compra. O

processo se torna mais fácil quando o comprador econômico primário é

também o campeão e/ou o usuário final.

• Papeis secundários na DMU:

o Influenciadores Primários e Secundários: Indivíduos que

frequentemente possuem experiência no assunto em questão e podem

influenciar o resto da DMU. Os influenciadores primários desempenham

um papel importante no processo de decisão, enquanto os

11 O conceito de DMU é necessário para explicar o processo de Customer Discovery (item 2.1.2.4.), pois é preciso entrevistar pessoas com todos os perfis envolvidos na tomada de decisão.

16

influenciadores secundários desempenham algum papel no processo de

decisão.

o Pessoa com Poder de Veto: Esses indivíduos possuem a capacidade

de rejeitar uma compra por alguma razão. Em um ambiente B2B

geralmente essa pessoa está em uma posição hierarquicamente

superior ao usuário final.

o Departamento de Compras: Esse departamento lida com o processo

da compra. Ele pode ser um obstáculo adicional por querer abaixar os

preços ou desqualificar a venda por alguma regra da empresa, ainda que

o comprador econômico primário já tenha decidido realizar a compra.

Investimento em startups e estratégia de saída12

De um modo geral, o principal motivo para os empreendedores criarem startups é o

retorno financeiro. Ao mesmo tempo, startups possuem um alto risco de não darem certo

e com isso dar um retorno negativo ou zero no final – depois de todo o tempo e dinheiro

investidos em desenvolver o empreendimento. Desse modo, é preciso pensar sobre a

estratégia de saída do negócio desde o início para construir uma empresa que tenha o

potencial de dar um retorno que justifique o risco que se está correndo.

Para desenvolver uma startup num primeiro momento é preciso ter dinheiro suficiente

para bancar seus custos de operação enquanto o negócio não gera receitas suficientes

para cobri-los, ou seja, enquanto a startup ainda não atingiu o ponto de break even – no

qual as receitas mensais são iguais aos custos mensais e o negócio deixa de dar

prejuízo mensal. Em um momento seguinte, é preciso ter o dinheiro necessário para

acelerar o crescimento da startup, ou seja, se capitalizar para fazê-la ter um crescimento

maior do que se fosse expandir o negócio apenas com reinvestimento dos lucros. Esse

segundo momento é especialmente importante em mercados do tipo “o vencedor leva

tudo”, no qual é preciso crescer rápido para dominar o mercado, mesmo tomando

prejuízos na casa de milhões ou bilhões, pois só o negócio dominante do mercado gera

lucros atrativos no futuro (Feigelson, Nybo & Fonseca 2018, p. 69 e 79).

O dinheiro para operação e crescimento pode ser financiado com capital próprio dos

empreendedores – o bootstrap é comum especialmente no início – ou de investidores

externos. Os empreendedores precisam ponderar o momento certo de captar

12 Termos relativos a investimento em startups são utilizados ao longo do trabalho e a última análise feita é relativa a estratégia de saída da startup analisada no presente trabalho.

17

investimento externo e o percentual da empresa que será vendido, pois o investimento

é uma ocasião de diluição da participação dos fundadores na startup e a participação é

um dos principais elementos considerados na estratégia de saída – que é o momento

do retorno financeiro do investimento de tempo e dinheiro dos fundadores. Os

investidores externos podem ser FFF (Friends, Family and Fools), Investidores Anjos,

fundos de Venture Capital (early e late stage), fundos de Private Equity e a bolsa de

valores por meio de Oferta Pública Inicial (IPO). Outro possível caminho é a venda ou

fusão da startup com outro negócio – que é um momento também de estratégia de saída

dos fundadores e investidores. O aporte geralmente se organiza na forma de

rodadas/séries de investimento no qual o risco ao investidor diminui e o valor do aporte

aumenta conforme a evolução das rodadas (Feigelson, Nybo & Fonseca 2018, p. 84-

93):

1. Bootstrap: É financiar a startup com capital próprio enquanto o negócio não

alcança maturidade e base de clientes que permitam que se sustente sozinho –

enquanto ainda não alcança o ponto de break even.

2. FFF (Friends, Family and Fools): É levantar capital com família, amigos,

pessoas próximas e idiotas13 para viabilizar a startup e tirar a ideia do papel.

3. Investimento Anjo: Esse investimento acontece normalmente quando a startup

precisa de capital externo para tirar sua ideia do papel, mas já possui alguns

indícios verificáveis14 sobre a existência de mercado para o negócio suficientes

para atrair o interesse de um Investidor Anjo. Os Investidores Anjos no Brasil

geralmente utilizam contratos de mútuo conversível ao aportar dinheiro nas

startups para diminuir seu risco15.

4. Capital Semente: De modo semelhante aos anteriores, também ocorre quando

a startup precisa de investimento para tirar sua ideia do papel. É organizado por

fundos de Venture Capital de early stage, que têm um capital disponível para

investir geralmente maior que o de Investidores Anjos e também possuem uma

13 Idiotas por não conhecerem sobre startups ou sobre o mercado e por tomarem atitudes prejudiciais a si mesmo, como: pagar um valor muito mais alto que o real; acreditarem nas palavras do empreendedor sem entender se são verdades ou não; investir em um negócio no qual os empreendedores não possuem as capabilidades necessárias para tocar o negócio; etc. 14 Um evento ou indício verificável são aqueles que podem ser percebidos tanto pelos agentes que são partes da transação quanto por terceiros. 15 Os contratos de mútuo conversível caracterizam uma dívida que a startup gera com o investidor anjo que possui a opção de conversão da dívida em participação societária após a decorrência de um certo prazo ou ocorrência de determinados eventos previstos contratualmente. A vantagem do mútuo conversível é a diminuição do risco do investidor, pois uma vez que ele não integra o quadro social da empresa, o investidor tem sua figura física ou jurídica protegida em casos de situações que comprometam os bens pessoais de sócios de empresas limitadas. (Feigelson, Nybo & Fonseca 2018, p. 129-132)

18

estrutura de governança maior para auxiliar no crescimento, assessoria e

mentoria da startup. Pode acontecer como um passo depois do investimento

anjo.

5. Série A: Acontece após as rodadas preliminares de investimento. Na Série A

geralmente são captados recursos para melhorar o produto ou serviço da

startup, remunerar a equipe e criar uma base de clientes. Costumam ser

organizadas por fundos de Venture Capital de late stage.

6. Série B: Essa série costuma acontecer após o Product-Market Fit16 e é focada

na expansão de mercado. Nesse momento, se torna necessário expandir a

equipe e criar processos em áreas como vendas, financeiro, administrativo etc.

Costumam ser organizadas por fundos de Private Equity early stage.

7. Série C, D, E...: Séries com o objetivo de consolidar a startup. O foco passa a

ser dominar o mercado e expandir para outros países. Para isso, é investido na

escala do negócio e na aquisição de concorrentes visando aumento de market

share e aquisição de competências. As séries após a Série C geralmente

acontecem quando a série C não gera captação suficiente para consolidação no

mercado. Costumam ser organizadas por fundos de Private Equity late stage.

8. Oferta Pública Inicial (IPO): É quando o capital da empresa é aberto na bolsa

de valores. Deste momento em diante qualquer pessoa pode comprar ações da

sua empresa e o negócio precisa construir a governança interna necessária para

respeitar as regulações existentes para empresa de capital aberto.

9. Fusões e Aquisições (M&A): É o movimento de unir a operação de duas

empresas – que geralmente são do mesmo setor (Feigelson, Nybo & Fonseca

2018, p. 104). Pode se manifestar, por exemplo, na compra de um concorrente

menor para conquistar market share, ou na venda à uma empresa maior que

enxerga valor nas competências centrais da startup. Pode acontecer ao longo

da evolução das rodadas de a startup atrair uma empresa maior e ser vendida

ou nos estágios finais das rodadas decidir adquirir ou fundir com outra empresa

do mercado (Feigelson, Nybo & Fonseca 2018, p. 86).

Os fundadores ao buscarem investimento externo não devem se preocupar só com o

dinheiro, mas também com quem é que vai fazer o aporte e como essa pessoa ou grupo

de pessoas pode colaborar para o crescimento do negócio. Assim, os fundadores devem

se preocupar com o chamado smart money, que é o dinheiro que vem acompanhado

com competências e conhecimentos que apoiam o desenvolvimento da startup, como

16 O Product-Market Fit é um dos estágios do Modelo de Tração que será explicado no item 2.1.2.2. do presente trabalho.

19

conhecimento do setor, networking, gestão e outros (Feigelson, Nybo & Fonseca 2018,

p. 82).

A equipe da startup é um critério especialmente importante, pois os incentivos de

funcionários, sócios e investidores precisam estar alinhados. Nesse cenário surge o

Vesting e o Cliff. Segundo Feigelson, Nybo & Fonseca (2018 p. 202-209), Vesting

consiste em uma promessa de participação societária para funcionários chave da

startup estabelecida em contrato com um prazo e metas determinados, enquanto o Cliff

é o período probatório necessário para o Vesting começar a valer e o funcionário ter

direito a participação. Caso alguém saia da startup antes do período de Cliff, essa

pessoa não terá direito a nenhuma participação na empresa. Por exemplo, o Vesting

pode ter um período de 2 anos e o Cliff de 1 ano.

Podemos juntar os trabalhos de Lessa (2014), Fiani (2011) e Feigelson, Nybo & Fonseca

(2018) dentro da teoria dos custos de transação para entender o Vesting e o Cliff como

mecanismos de incentivos para criar um arranjo institucional que busca garantir o

alinhamento entre funcionários, sócios e investidores com objetivo do crescimento da

startup.

No que diz respeito às estratégias de saída do negócio, tanto os fundadores quanto os

investidores possuem a preocupação em saber quando e quanto receberão com o

negócio. É comum que em situações de liquidez – como novas rodadas de

investimentos – os investidores de rodadas anteriores vendam parte ou a totalidade de

suas ações a quem está fazendo o novo aporte. Os fundadores e sócios iniciais podem

optar por vender parte de sua participação ao longo das rodadas de investimento e com

isso aumentar a liquidez de seu capital, mas é preciso garantir que os líderes da startup

tenham incentivos suficientes para continuar a tocar a operação de forma dedicada.

Ainda assim, as estratégias de saída que muitos empreendedores e investidores

buscam são o IPO (oferta pública inicial de ações na bolsa de valores) ou a venda da

startup para outra empresa (Azoulay et al, 2018). A venda do negócio é o grande evento

de liquidez no qual todos os sócios conseguem retorno monetário sobre o tempo e

dinheiro investidos na startup e então podem utilizar o dinheiro recebido para fazer o

que julgarem melhor.

20

Idade de fundadores de startups como elemento de sucesso17

Existe um senso comum de que os empreendedores de maior sucesso são jovens.

Alguns grandes casos de sucesso, como Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckerberg –

que tinham uma idade próxima a 20 anos quando lançaram seus negócios – fazem com

que as pessoas generalizem que ser jovem está atrelado ao sucesso de startups.

Todavia, um estudo realizado em 2018 nos Estados Unidos por Azoulay et al, mostra

que na verdade a maior parte das startups são criadas por quem tem mais de 40 anos.

O estudo mostra ainda as chances de sucesso das startups aumentam conforme a idade

do fundador na época de sua criação pelo menos até pouco antes de 60 anos (Azoulay

et al, 2018). A Figura 6 mostra uma comparação entre todas as startups e as startups

de alto crescimento (1% com maior crescimento) em função da idade de seus

fundadores.

Existem alguns fatores que podem explicar a influência da idade no sucesso da startup,

mas o estudo encontrou que a experiência de trabalho é um fator crítico. Fundadores

com pelo menos três anos de experiência de trabalho no mesmo setor no qual abriram

a startup tem uma chance 85% maior de criar uma startup de sucesso do que

fundadores que não possuem experiência de trabalho relevante no setor da startup

(Azoulay et al, 2018).

Figura 6: Idade dos fundadores de startups e de startups de alto crescimento. Fonte: Azoulay et al, 2018

17 Os sócios atuais da startup analisada no presente trabalho têm menos de 30 anos e não possuem experiência prévia de trabalho no setor de varejo, o que torna esta análise importante.

21

2.1.2. Processo de Emprendedorismo

A partir das contribuições de Steve Blank, primeiro como professor e depois também

como autor na primeira edição do livro The Four Steps to the Epiphany em 2006,

empreendedorismo começou a ser enxergado como um processo sistemático de

validação de hipóteses que buscam mitigar as incertezas intrínsecas a criação de novos

negócios. A definição de processo sistemático utilizada neste trabalho é a dada por Silva

(2019): “um processo é dito sistemático se ajuda a mitigar vieses que podem impedir a

compreensão correta dos fenômenos”.

Desde então, surgiram diversos autores que buscaram criar seus próprios frameworks

sobre como empreender. Esses métodos buscam sistematicamente aumentar as

chances de criar um produto ou serviço de sucesso (Aulet 2013, p. 2). Esses métodos

não garantem que um negócio dará certo, mas ao percorrer os passos prescritos é

possível identificar falhas que certamente levariam o empreendimento a dar errado.

Nesse contexto, o framework utilizado como base nesse trabalho será o de Ash Maurya

(2012 e 2016), tendo em vista que esse foi julgado como o framework mais completo

que poderia ser aplicado dentre os conhecidos pelo autor.18

Maurya (2012, p.3) dividiu a essência de seu livro de 2012 em três passos, que seguem

um processo sistemático que enxerga o aprendizado validado como uma medida de

progresso (Figura 7):

1. Documente o Plano A.

2. Identificar as partes mais arriscadas do seu plano.

3. Sistematicamente teste seu plano.

18 O Processo de Empreendedorismo Sistemático (PES) de Édison Silva (2019) expande o processo de empreendedorismo para um passo além do Modelo de Tração de Ash Maurya, mas não foi possível englobar a contribuição de Silva ao presente trabalho por dois motivos: primeiro, na data de publicação do artigo de Silva, a revisão bibliográfica do processo de empreendedorismo de Ash Maurya já estava pronta; segundo, os dados coletados da startup não seriam suficientes para reconstruir uma análise fiel ao primeiro passo do PES, que é a construção do RED Canvas.

22

Figura 7: Ilustração do teste sistemático do modelo de negócios. Fonte: Maurya 2016, p. 47.

Todavia, em seu livro de 2016, Maurya (2016, p. 6-9) ressaltou alguns perigos em seguir

esses três passos:

• Se afogar em números: Ser capaz de metrificar uma infinidade de elementos e

não conseguir identificar causalidade nos resultados. É possível entender o que

está dando errado, mas não o porquê.

• Experimentos sub-ótimos: Realizar muitos testes simultaneamente, mas não

conseguir engrenar em uma curva de crescimento de resultados positivos.

• A maldição da especialização: Dividir o time em departamentos funcionais,

cada um com suas próprias métricas chave. Cada equipe passa então a focar

somente nos próprios indicadores e a buscar o ótimo local e não global.

• Desalinhamento entre empreendedores e investidores: A maior parte dos

investidores encara resultados de negócios como uma medida de progresso,

enquanto uma startup enxuta considera o aprendizado validado como progresso.

Nesse cenário, Maurya (2016, p. 9-11) afirma que é necessário definir uma única métrica

de progresso que gere confiança simultaneamente a empreendedores e stakeholders

sobre como medir o sucesso do modelo de negócios. Essa métrica é a tração: a taxa

em que um modelo de negócios captura valor monetário dos usuários.

23

Além disso, Maurya (2016, p. 11-12) diz que fazer experimentos não é suficiente e que

podemos novamente nos basear nos cientistas para isso: primeiro eles criam um modelo

e depois usam experimentos para validar ou invalidar o modelo. Assim, ele nos fornece

três modelos: o Lean Canvas, que ajuda a desconstruir um negócio complexo em um

modelo de negócios de uma página; o Modelo de Tração, que centraliza os esforços

da startup em uma única meta – a tração – que informa se o negócio está indo na direção

certa; e a Customer Factory Blueprint, que auxilia a tomar decisões no dia-a-dia da

startup e busca explicar os motivos para o negócio estar dando certo ou errado. Os dois

últimos modelos juntos mostram como medir efetivamente e comunicar os resultados

de um modelo de negócios em execução.

Ademais, também serão apresentados os princípios norteadores e o processo para a

interação com clientes, chamado de Customer Discovery.

2.1.2.1. Lean Canvas

O conceito de modelo de negócios foi popularizado por Alexander Osterwalder (2010)

em seu livro Business Model Generation. Sua criação, o Business Model Canvas, divide

um negócio em 9 áreas distintas. O seu objetivo é mostrar como uma empresa cria valor,

entrega valor e captura valor, gerando lucro de uma forma estruturada.

Ash Maurya (2012) fez modificações no modelo e introduziu o Lean Canvas, uma forma

de startups enxutas estruturarem seu modelo de negócios. O Lean Canvas também é

dividido em 9 partes, sendo elas: Problema, Segmento de Clientes, Proposta Única de

Valor, Solução, Canais, Fontes de Receitas, Estrutura de Custos, Métricas-Chave e

Vantagem Injusta. O Lean Canvas pode ser visualizado na Figura 8. Em seguida, será

feito um maior detalhamento de cada uma de suas partes.

24

Figura 8: Lean Canvas. Fonte: Maurya 2012, p. 5 e 32.

Problema e Segmento de Clientes:

Ash Maurya (2012, p. 27) recomenda que esses dois primeiros itens sejam pensados

de forma conjunta, pois eles definem o resto do canvas.

Primeiro, é preciso listar os três problemas principais que se busca resolver para o

segmento de clientes definido. Em seguida, deve-se listar as alternativas existentes

pelas quais os early adopters da startup resolvem esses problemas hoje.

Depois, é preciso identificar qualquer outro usuário que interage com o cliente. Por fim,

é necessário definir possíveis early adopters.

Proposta Única de Valor:

Esse item deve explicar de forma sucinta porque a startup é diferente e vale a pena

ganhar atenção.

Recomenda-se focar nos early adopters e na história dos benefícios para o cliente. Criar

um conceito de alto nível é mais efetivo para o entendimento e difusão da ideia.

25

Solução:

Antes da validação sobre os problemas do cliente é difícil acertar na solução, por isso é

melhor elaborar a solução para o problema o mais tarde possível. Em vez disso, esboce

a forma mais simples possível de resolver cada problema.

Canais:

Nesta seção devem ser explicitados quais são os canais pelos quais a empresa entrega

valor e vende para seus clientes.

O objetivo inicial de uma startup é aprender e não escalar, mas é igualmente importante

pensar sobre a escalabilidade dos canais desde o início para que seja possível criá-los

e testa-los cedo. Além disso, garantir retenção dos clientes vem antes de conseguir

referências, pois é necessário ter um produto que vale a pena divulgar.

Fontes de Receitas:

Nesse item são explicitadas as fontes de receitas, que determinam a maneira como o

cliente pagará pelos benefícios recebidos. Deve-se buscar identificar o lifetime value

(LTV) do cliente, para se entender o quanto ele gerará de receita ao longo do tempo.

É importante lembrar que o preço é parte do produto e ser pago pelo MVP é a primeira

forma de validação vinda do cliente. Além disso, o preço também define o segmento de

clientes (Maurya 2012, p. 36-38).

Estrutura de Custos:

Deve-se listar os custos operacionais envolvidos para colocar o produto no mercado.

Depois, deve-se usar os dados coletados sobre os custos e receitas para calcular o

ponto de break-even e então estimar quanto tempo, dinheiro e esforço será necessário

para chegar a esse ponto (Maurya 2012, p. 38).

Deve-se determinar o custo de aquisição do cliente (CAC) por meio do gasto total

utilizado para atrair clientes dividido pelo número de clientes obtidos e compará-lo ao

LTV para garantir a sustentabilidade do negócio (Aulet 2013, p. 205).

26

Métricas-Chave:

Todo negócio possuí números que podem ser usados para medir o quão bem ele está

performando. É importante identificar as lead metrics, que são os indicadores que

indicam em tempo real o que está acontecendo no negócio, em contraste com as lag

metrics, que só retratam o desempenho com um tempo de atraso (Croll & Yoskovitz

2013, p. 18-19). Por exemplo, a quantidade de dinheiro alocado por mês para

publicidade online (que pode ser controlada por dia) é uma lead metric, enquanto a

quantidade de clientes adquiridos por mês (que só é obtida no final do mês) é uma lag

metric.

Vantagem Injusta:

Essa é geralmente a seção mais difícil de completar. Ao mesmo tempo, ela é importante

para garantir que a startup possui uma vantagem que não possa ser facilmente copiada

ou comprada por concorrentes. De início, pode ser preciso deixar esse item em branco

(Maurya 2012, p. 42-43). Alguns exemplos de vantagem injusta são: o efeito de rede em

se trocar de uma plataforma como o facebook; patente que impeça concorrentes de

imitarem o produto; e capabilidades da startup que são difíceis de serem obtidas por

concorrentes.

Segundo Maurya (2016, p. 23-24), um modelo de negócios é uma história sobre como

uma organização cria, entrega e captura valor (Figura 9). O valor é criado por meio da

Proposta Única de Valor, que é a interseção entre os problemas dos clientes e a

solução. O custo de entregar esse valor é descrito na sua Estrutura de Custos. Parte

desse valor é então capturado de volta por meio das Fontes de Receitas.

27

Figura 9: A história sobre como o modelo de negócios cria, entrega e captura valor. Fonte: Maurya 2016,

p. 24.

Para esse modelo funcionar, o valor criado precisa ser maior que o valor capturado,

porque se os consumidores não ganharem mais valor do que eles pagam, eles não terão

incentivo suficiente para usar o produto da startup. Além disso, é preciso capturar um

valor que seja pelo menos igual ao custo de entregá-lo, pois caso contrário o modelo de

negócios não é sustentável. É preciso primeiro criar valor para depois monetizar

(Maurya 2016 p. 25-26).

Maurya (2016, p. 49-72) introduziu um teste de modelo de negócios que permite calcular

o TAM por meio de uma abordagem bottom-up e analisar se o tamanho da oportunidade

vale a pena o esforço em desenvolver a startup. Ele dividiu esse teste em 3 passos:

1. Determinar critérios mínimos de sucesso: Os critérios mínimos de sucesso

são os menores resultados que fariam o projeto ser um sucesso daqui X anos.

Algumas diretrizes para a criação são: 1 – manter o horizonte de tempo abaixo

de três anos; 2 – enquadrar o resultado em termos de uma meta de receita ou

de ganho; 3 – Lembrar que a meta é um ponto de referência com uma ordem de

magnitude.

2. Transformar critérios mínimos de sucesso em ganho de consumidores:

Para fazer essa conversão, é preciso ter um modelo de precificação, pois ao

saber quanto cada cliente te pagará por mês é possível identificar quantos

consumidores serão necessários para atingir a meta. Para tal, é preciso estimar

o LTV e o Churn (a taxa em que os consumidores deixam a base de clientes).

28

3. Testar e refinar o modelo de negócios contra os critérios mínimos de

sucesso: é muito mais tangível analisar um modelo de negócios pelo número

de clientes novos que é necessário criar do que pela receita. Aqui é preciso

responder duas perguntas de avaliação: O segmento de consumidores é grande

o suficiente? Algum canal que seja escalável para construir um caminho

confiável a consumidores já foi identificado? Caso a resposta seja não para a

primeira pergunta, é possível: 1 – Diminuir a meta de receita anual; 2 – Aumentar

o LTV dos consumidores, que pode ser feito de duas formas, primeiro

aumentando o tempo que o cliente fica na base e, segundo, aumentando os

preços.

2.1.2.2. Modelo de Tração

Ash Maurya se inspirou nos conceitos de teoria das restrições introduzidos no livro A

Meta de Goldratt & Cox (1984) para organizar seu modelo de tração. Para Maurya a

tração é simultaneamente a meta (Maurya 2016, p. 21) e o ganho (Maurya 2016, p. 29-

30) de uma startup. A tração é a taxa em que um modelo de negócios captura valor de

seus usuários (Maurya 2016, p. 26).

No caso de negócios de venda direta (como o exemplo deste trabalho) a tração é a

taxa em que você converte usuários não pagantes em usuários pagantes (Maurya

2016, p. 32). Por exemplo, uma cafeteria atrai visitantes para a frente da loja pela sua

aparência e pela promessa de bebidas gostosas. Quando um visitante (usuário não

pagante) compra uma bebida, ele se torna um consumidor (usuário pagante).

Nesse cenário Ash Maurya (2012 e 2016) fornece um modelo de dividir a meta (tração)

em marcos menores que consiste em um plano de três estágios no qual cada estágio é

guiado por uma meta específica e uma estratégia para alcança-la (Figura 10):

Figura 10: Os três estágios do modelo de tração. Fonte: Maurya 2016, p. 73.

29

Estágio 1: Problem/Solution Fit

A meta específica desse estágio é testar se a ideia representa um problema significante

o suficiente que vale a pena resolver (Maurya 2016, p. 74).

Não se deve começar a construir a solução de um negócio sem antes entender e testar

as suposições19 nas quais o negócio está baseado, pois enquanto ideias são baratas,

agir em cima delas é caro.

Essa fase está dividida em dois momentos: entender o problema e validar a solução.

Isso pode ser feito por meio de rodadas de interação com os clientes chamadas de

Customer Discovery20, nas quais os mesmos são entrevistados visando validar as

hipóteses mais críticas do modelo de negócios.

Desse modo, é preciso priorizar onde começar por meio dos riscos existentes. Os três

tipos de riscos são: Risco de Produto – acertar o produto; Risco de Consumidores –

criar um caminho para consumidores; e Risco de Mercado – criar um negócio viável

(Maurya 2012, p. 50). A Figura 11 ilustra onde cada um desses tipos de riscos se

localizam no Lean Canvas.

Figura 11: Os três tipos de riscos localizados no Lean Canvas. Fonte: Maurya 2012, p.50.

19 O item 2.1.2.4. possui uma aplicação mais detalhada sobre o uso do termo “suposições”. 20 O processo de Customer Discovery será explicado de forma mais detalhada no item 2.1.2.4.

30

No entendimento sobre o problema, é preciso tomar cuidado para não apresentar a

solução precocemente, pois isso cria um viés no entrevistado que irá afetar o resultado

da entrevista.

Para validar a solução, deve-se usar uma representação da solução, que Maurya (2016,

p. 74) chamou de “oferta” e apresenta-las aos consumidores em entrevistas de

Customer Discovery.

A oferta (Figura 12) é composta de três elementos: a proposta única de valor, uma

demonstração e um modelo de precificação (Maurya 2016, p. 74-75):

1. Proposta única de valor: representa uma história de benefício que chama a

atenção dos clientes.

2. Demonstração: é um script narrativo que ajuda os prospects a visualizar a

proposta única de valor. Ela deve levar os possíveis consumidores da realidade

atual deles até a visão de futuro com o problema deles resolvido. Não é somente

uma combinação de imagens e protótipos.

3. Modelo de precificação: deve-se incluir um apelo à ação. Dependendo do quão

pronta está a solução, isso pode ser uma troca de valor monetária ou uma forma

de compromisso.

Figura 12: O conceito de oferta de Maurya. Fonte: Maurya 2016, p. 74.

31

Estágio 2: Product/Market Fit

A meta específica desse estágio é demonstrar o modelo de negócios rodando em uma

escala pequena (Maurya 2016, p. 76).

Deve-se demonstrar a capacidade de, simultaneamente, criar valor para os clientes (por

meio da solução) e capturar parte deste valor (por meio das fontes de receitas). O insight

chave para isso é que não é preciso de muitos usuários, somente alguns bons

consumidores (Maurya 2016, p. 76).

Dessa forma, nesse estágio é preciso validar qualitativamente a operação do modelo de

negócios. A tração sempre será a métrica-chave que guia a análise da startup, mas ao

mesmo tempo a Customer Factory Blueprint começa a se tornar essencial para a

visualização do ciclo de vida dos consumidores e da operação do modelo de negócios

guiada pelas métricas pirata21: Aquisição, Ativação, Retenção, Receita e Referência

(Maurya 2016, p. 105-106).

As entrevistas de Customer Discovery continuam acontecendo nessa fase para ajudar

a identificar a causalidade das ações tomadas pelo time e os resultados obtidos na

tração.

Outra técnica interessante para ajudar a identificar a causalidade é a Análise Cohort,

que visa identificar os efeitos a longo prazo das ações tomadas em um determinado

momento no tempo. Pode-se, por exemplo, dividir a entrada de novos clientes

semanalmente e em cada semana dividir os clientes em dois ou mais grupos para

realização de testes A|B, nos quais cada grupo recebe um elemento diferente que

permita comparar os resultados obtidos e com isso iterar o caminho da startup para o

que dá mais resultados de tração (Maurya 2012, p. 124-126; Maurya 2016, p. 131-137).

Estágio 3: Escala

Nesse estágio a estratégia muda de ajuste do produto para crescimento do negócio. A

meta específica dessa fase é identificar as engrenagens de crescimento que permitam

realizar o potencial completo do negócio (Maurya 2016, p. 76).

Uma ressalva é que é preciso garantir que o negócio seja repetível antes de engrenar

em um rápido crescimento do mesmo, pois acelerar um plano que ainda não é repetível

só ajuda a ficar perdido mais rápido (Maurya 2016, p.81).

21 O nome é métricas piratas pois sua sigla (AARRR) é o som que um pirata faz em inglês.

32

Para um negócio ser repetível, é preciso possuir processos definidos para aquisição de

clientes e para a operação do negócio que funcionem no momento da escala – quando

é necessário gerar um número bem maior de clientes e entregar a solução para eles

com qualidade (Maurya 2016, p. 96-99). A Customer Factory Blueprint é uma ferramenta

que ajuda a pensar e ajustar esses processos ao mesmo tempo em que fornece

insumos para definir as engrenagens de crescimento do negócio.

O crescimento do número de clientes de uma startup é o resultado de uma série de

passos menores que causam inflexões na taxa de tração – conforme observado na

Figura 13 – e aceleram a velocidade dos resultados do negócio. Esses passos podem

ser resultados de estratégia, táticas e hacks de crescimento (Maurya 2016, p. 79-80).

Figura 13: O crescimento acontece como uma série de passos. Fonte: Maurya 2016, p. 80.

Modelando a Tração

O modelo de tração se propõe a ser um modo de ilustrar o crescimento do negócio no

tempo seguindo os três estágios expostos anteriormente.

A essência é que o crescimento de uma startup não é linear e que em cada fase existe

uma determinada velocidade (Maurya 2016, p. 85-86). Maurya (2016, p. 93-99) propõe

usar a estratégia de 10x no modelo, pois: dessa forma há uma única meta da ideação à

escala; a ideação nos estágios iniciais fica mensurável; o modelo 10x é extremamente

simples; o modelo é progressivo de acordo com o estágio; o 10x expõe as partes mais

arriscadas do modelo de negócios; ter um roadmap fornece uma direção; e o modelo

10x necessita de um pensamento não linear para crescimento.

33

O modelo prevê que o Problem/Solution Fit acontece em por volta de 3 meses, o

Product/Market Fit aproximadamente em 2 anos do negócio rodando e a escala inicia

em torno do 3 ano de início do negócio. O modelo está representado na Figura 14.

Figura 14: Os estágios do modelo de tração ao longo do tempo. Fonte: Maurya 2016, p. 88.

2.1.2.3. Customer Factory Blueprint

Um modelo de tração é útil quando se está analisando o progresso do modelo de

negócios por meio de gráficos, mas não é tão útil para tomar decisões no dia-a-dia. Em

outras palavras, a tração pode dizer se a startup está caminhando na direção certa, mas

não pode dizer porquê. Por isso, deve-se dividir a tração em métricas adicionais (Maurya

2016, p. 105).

Todavia deve-se tomar cuidado para não se “afundar em dados” (ter muitos dados que

não explicam o que está acontecendo ou porquê). Uma tendência comum de negócios

hoje em dia é coletar e analisar o máximo de dados possível, tendo em vista que, em

um mundo cada vez mais digital, praticamente tudo é mensurável (Maurya 2016, p. 105).

A Customer Factory Blueprint (Figura 15) usa como base o funil de métricas criado por

Dave McClure, fundador da aceleradora 500 Startups – também chamado de métricas

piratas – mas muda sua forma de apresentação (Maurya 2016, p. 106-110). São elas:

34

1. Aquisição: O primeiro passo é criar um caminho (ou canal) para os

consumidores. Essa etapa consiste em tornar visitantes que não conhecem o

negócio em prospects. Essa é a função da oferta, que é composta por três itens:

uma proposta única de valor (ou promessa), uma demonstração e um modelo

de precificação (ou apelo à ação).

2. Ativação: Uma vez que os visitantes estejam dentro da fábrica (Figura 14), o

próximo desafio é conectar a promessa com a primeira experiência de uso. Isso

é medido como a ativação. A meta é garantir que a promessa e o momento da

primeira criação de valor aconteçam o mais rápido possível.

3. Retenção: O tempo que as pessoas passam dentro da fábrica é medido como

a retenção. Quanto mais tempo elas passam dentro, mais valor em potencial é

criado para elas e com isso maior é o valor possível de ser capturado pelo

modelo de negócios.

4. Receita: É a mensuração de todo o valor monetário que a startup captura de

volta de seus usuários. Em um modelo de negócios direto, isso é medido em

termos de dinheiro (receita).

5. Referência: Na medida em as necessidades dos usuários são satisfeitas, alguns

deles irão compartilhar suas experiências positivas com outros. Isso é medido

como referência e traz mais visitantes para a fábrica. Para conseguir referências

positivas, é preciso criar valor para os consumidores antes.

Figura 15: Customer Factory Blueprint. Fonte: Maurya 2016, p. 107.

35

As métricas da Custormer Factory Blueprint são macrométricas que buscam capturar as

partes mais significantes do ciclo de vida dos consumidores. Cada uma das cinco podem

ser divididas em micrométricas. Usar poucos números é importante para focar nas

partes principais do modelo de negócios e a fábrica expõe as métricas essenciais para

essa análise (Maurya 2016, p. 113).

Ao mesmo tempo, a Customer Factory Blueprint simplifica conceitos complexos. Ela

pode ser dividida em duas áreas principais representadas na Figura 16 (Maurya 2016,

p. 115):

• A etapa de criação de valor: o que possui pessoas com as mãos para o alto.

Também é área com mais setas saindo dela.

• A fábrica de consumidores: a área que possui o maior número de linhas

apontado pra ela.

Figura 16: As áreas principais da Customer Factory Blueprint. Fonte: Maurya 2016, p. 115.

Loop de felicidade do consumidor

A etapa de criação de valor representa a etapa causal no modelo (Maurya 2016, p. 116).

Criar felicidade e entregar resultados para os consumidores faz com que eles:

• Passem mais tempo consumindo o produto (retenção);

• Criem mais valor monetário (receita)

• Compartilhem os efeitos positivos do produto (referência).

36

De modo similar, criar infelicidade (ou dores de cabeça) para os consumidores faz com

que eles:

• Deixem de consumir o produto (retenção);

• Peçam reembolso do que gastaram (receita);

• Deem depoimentos negativos sobre o produto (referência).

Engrenagens de Crescimento

A fábrica de consumidores é a parte que possui mais setas apontando em sua direção,

que representa o número de pessoas entrando na fábrica. Cada uma dessas setas

representa um tipo de engrenagem de crescimento para aumentar o ganho de

consumidores, conforme pode ser observado na Figura 17 (Maurya 2016, p. 117-122):

1. Engrenagem de crescimento paga: Essa engrenagem utiliza o gatilho de

aquisição para levar mais visitantes à fábrica. Pode ser necessário contratar

mais vendedores ou pagar por anúncios. Essa engrenagem é sustentável

quando valor capturado dos consumidores (LTV) é maior que o custo de criar os

consumidores (CAC). Recomenda-se um LTV que seja pelo menos 3x o valor

do CAC para essa engrenagem funcionar.

2. Engrenagem de crescimento pegajosa: Essa engrenagem utiliza o gatilho de

retenção para manter os consumidores por mais tempo dentro da fábrica.

Quanto mais tempo permanecerem dentro, maior é o valor potencial que se pode

entregar a eles – o que deve ser transformado em mais valor capturado. Pode

ser feita de modo orgânico, por meio dos efeitos de uma proposta de valor

convincente, ou de modo forçado, por meio de contratos que travam o

consumidor. Nesse caso, a taxa de crescimento de clientes deve ser maior que

o número de pessoas que deixam a base de clientes (churn) para a engrenagem

funcionar.

3. Engrenagem de crescimento viral: Essa engrenagem utiliza o gatilho de

referência. A meta é que os clientes satisfeitos compartilhem os efeitos positivos

do negócio e tragam novos visitantes para a fábrica que então se tornam

consumidores. Algumas formas são boca-a-boca e mecanismos de incentivo

direcionados por campanha. Para a engrenagem funcionar, é preciso que a taxa

de referência seja maior que zero, ou seja, que cada consumidor gere, em

média, mais do que um novo cliente.

37

Figura 17: As engrenagens de crescimento. Fonte: Maurya 2016, p. 118.

Por fim, após começar a utilização da Customer Factory Blueprint é preciso identificar

em qual parte do modelo focar a cada momento. A ideia é focar na etapa do processo

que dará o maior retorno sobre investimento de tempo e dinheiro investido. Isso consiste

em encontrar a restrição do sistema. Após trabalhar uma restrição, o que geralmente

acontece é que surge uma nova restrição em um local que não havia sido previsto antes.

Assim, o crescimento da startup consiste em sempre trabalhar em cima da restrição

daquele momento (Maurya 2016, p. 122).

2.1.2.4. Customer Discovery

A origem do termo “Customer Discovery” remete ao primeiro passo do framework de

empreendedorismo de Steve Blank, presente em seus livros “The Four Steps to the

Epiphany” e “Startup Owner’s Manual” (Blank 2013; Blank & Dorf 2012). Esse termo se

difundiu com a aplicação do curso Lean Launchpad de Steve Blank pelos Estados

Unidos e pelo mundo e também pelo seu uso dentre outros autores. Diversos autores

abordaram a questão de interação com clientes como fundamentais no processo de

criação de startups, mas com variações no conteúdo nos termos e nas definições

usados de autor para autor. Neste trabalho a definição usada de Customer Discovery é:

o processo contínuo de descoberta das características, dos anseios e do

comportamento de (potenciais) consumidores.

38

O Customer Discovery pode ser entendido como um processo sistemático de validação

de hipóteses que possui duas partes: uma qualitativa, que envolve conversar

diretamente com os consumidores (e outros membros da DMU) e parceiros, e observar

comportamento deles; e uma quantitativa, que envolve realizar experimentos nos quais

deve-se projetar uma situação de experimento com consumidores e mede o que

acontece (Constable 2014, p. 15-16). O Customer Discovery nesse trabalho irá focar na

parte qualitativa e será organizado como um processo de cinco etapas de modo a

facilitar seu entendimento e implementação. Os passos estão ilustrados na Figura 18.

Figura 18: As etapas do processo de Customer Discovery. Fonte: Elaboração própria.

Etapa 1: Elaborar Hipóteses

Toda startup é baseada em algumas suposições relacionadas ao modelo de negócios

e aos consumidores que podem ou não serem verdades. Eric Ries (2011) usou o termo

“salto de fé” para ilustrar a fragilidade que essas suposições podem causar nas startups.

Algumas dessas suposições podem ser corretamente chamadas de fatos, mas a maioria

delas serão palpites informados22 (Constable, 2018, p. 30). A primeira etapa do processo

de Customer Discovery consiste em listar essas suposições e escrevê-las na forma de

hipóteses refutáveis.

Para listar essas suposições e identificar quais são as mais críticas, é preciso analisar

o modelo de negócios, o segmento de mercado e a situação da startup como um todo,

por isso é útil se basear em frameworks como o Lean Canvas, o Modelo de Tração e a

Customer Factory Blueprint (Constable 2014, p. 12; Aulet 2013, p. 219-223). A Figura

11, que identifica as áreas do Lean Canvas de acordo com os três tipos de risco – risco

de produto, risco de consumidor e risco de mercado – é especialmente útil nesse

momento. Constable (2014, p. 37) sugere algumas perguntas para a listagem de

suposições e identificação das mais críticas:

22 Tradução do autor do presente trabalho para “educated guess”.

39

• Meu consumidor alvo será?

• O problema que meu consumidor quer resolver é?

• A necessidade do meu consumidor pode ser resolvida com?

• Porque meu consumidor não consegue resolver isso hoje?

• O resultado mensurável que meu consumidor quer alcançar é?

• Minha tática primária de aquisição de consumidores será?

• Meu early adopter será?23

• Eu conseguirei dinheiro (receita) fazendo?

• Meu competidor primário será?

• Eu derrotarei meus consumidores primariamente por causa de?

• Meu maior risco de viabilidade financeira é?

• Meu maior risco técnico ou de engenharia é?

• Quais suposições nós temos, que se forem provadas erradas, levariam esse

negócio a falhar? (incluindo o tamanho do mercado)

É importante notar que nem toda hipótese pode ser testada de modo efetivo durante as

entrevistas ou observações qualitativas do Customer Discovery (Constable 2014, p. 38)

e que as suposições críticas mudam de caráter ao longo do amadurecimento da startup.

Além disso, é recomendável conversar com alguns especialistas da indústria da startup

para se tornar mais informado sobre consumidores, sobre o processo de tomada de

decisão e sobre o que já deu certo e errado no passado (Constable, 2018, p. 72).

Etapa 2: Elaborar Roteiro de Entrevistas

Com a lista de hipóteses em ordem de criticidade em mãos, a etapa seguinte do

processo de Customer Discovery consiste em elaborar um roteiro de entrevistas com

perguntas que permitam refutar ou reforçar as hipóteses listadas. Fitzpatrick (2013, p.

17) reúne três princípios para a elaboração do roteiro e condução das entrevistas do

Customer Discovery:

1. Fale sobre a vida dos entrevistados em vez de sua ideia;

2. Pergunte sobre fatos específicos sobre o passado em vez de coisas genéricas

ou opiniões sobre o futuro;

3. Fale menos e escute mais.

23 A pirâmide de dores apresentada no item 2.1.1. do presente trabalho “Conceitos Essenciais” auxilia na identificação do early adopter.

40

O primeiro e o terceiro princípios abordam a questão de o Customer Discovery ser um

processo centrado no aprendizado e não em pitching cego. É preciso entender os

problemas do consumidor antes de propor uma solução (Maurya 2012, p. 73; Fitzpatrick

2013, p. 82-84; Constable 2014, p. 56). O segundo princípio é relacionado ao fato de

que as pessoas são espetacularmente ruins ao prever seu comportamento futuro e que

é bastante comum as pessoas mentirem em entrevistas – seja por não querer ferir os

sentimentos de quem tem a ideia, seja por não saberem ou não se importarem o

suficiente (Maurya 2012, p. 73-74; Fitzpatrick 2013, p. 11-26; Constable 2014, p. 38-39).

Como o objetivo é falar menos e escutar mais, é importante que se saiba usar os quatro

tipos de perguntas (Constable 2014, p. 39-40 e 56-57; Eades 2004, p. 106-107):

• Perguntas abertas: Essas convidam o consumidor a falar livremente e responder

baseado em sua experiência, conhecimento e pontos de preocupação (Eades

2004, p. 106). Assim, é recomendado fazer perguntas que comecem com

“quem”, “o que”, “qual”, “por que” e “como” (Constable 2014, p. 39).

• Perguntas fechadas: São perguntas que tendem a ser respondidas somente com

“sim” ou “não” e por isso, o entrevistador costuma falar mais (Constable 2014, p.

39-40; Eades 2004, p. 106-107).

• Perguntas de controle: São praticamente o mesmo que perguntas fechadas, mas

tendem a provocar respostas mais completas. Perguntas de controle guiam o

entrevistado na direção que o entrevistador quer por meio de perguntas

específicas em áreas específicas, como “Isso acontece porque... ? Se sim,

quanto custa e quão frequente é?” (Contable 2014, p. 40; Eades 2004, p. 106-

107).

• Perguntas de confirmação: Essas perguntas garantem que o entrevistado e o

entrevistador estão em sintonia, de modo que não haja um mal-entendido.

Perguntas de confirmação resumem o entendimento do entrevistador, como

“Pelo que ouvi, você disse... Eu entendi isso de forma correta?” (Constable 2014,

p. 56-57; Eades 2004, p. 107).

Fitzpatrick (2013, p. 18-25) apresenta uma lista de perguntas e as classifica entre boas

e ruins de acordo com esses três princípios:

• Perguntas ruins:

o Você acha que é uma boa ideia?

o Você compraria um produto que fizesse X?

o Quanto você pagaria por X?

o O que seu produto do sonho faria?

41

o Você pagaria X por um produto que fizesse Y?

• Perguntas boas:

o Por que você se importa (com essa questão)?

o Quais são as implicações disso?

o Conte-me a história sobre a última vez que isso aconteceu.

o Me fale sobre seu fluxo de trabalho.

o O que mais você tentou?

o Como você está lidando com isso agora?

o Qual departamento possui verba para lidar com essa questão?

(Corporate)

o Com quem mais eu deveria falar? (Corporate)

o Há mais alguma coisa que eu deveria ter perguntado?

Constable (2014, p. 40) sugere perguntas para testar o preço do produto ou serviço:

• Quanto você está gastando hoje para resolver esse problema?

• Qual verba você possui alocada para isso e quem controla ela?

Fitzpatrick (2013, p. 95-99) ainda sugere cinco elementos para incluir em um roteiro de

abordagem inicial de consumidores com objetivo de conseguir uma reunião que busca

alinhar expectativas acerca do que será abordado na reunião:

1. Visão: Mostrar que o empreendedor está tentando resolver “o horrível problema

X”, possui “a maravilhosa visão Y” e quer solucionar o problema “na indústria

estagnante Z” (sem mencionar a proposta única de valor da startup).

2. Alinhamento de expectativas: Alinhar as expectativas mencionando o estágio em

que a startup está e que não haverá um pitch de vendas.

3. Fraqueza: Demonstrar fraqueza e pedir ajuda mencionando o problema

específico que a startup procura respostas. Isso também deixará claro que o

entrevistado não irá somente perder tempo.

4. Pedestal: Colocar a pessoa em um pedestal ao mostrar o quanto ela, em

particular, pode ajudar a startup.

5. Peça: Pedir explicitamente por ajuda.

Na questão da abordagem de consumidores, Constable (2014, p. 48-49) sugere que o

empreendedor diga que é estudante ou pesquisador, pois ainda que as pessoas estejam

dispostas a dar parte de seu tempo para pessoas educadas, há uma vantagem adicional

em se apresentar como estudante ou pesquisador. Um incentivo extra pode ser oferecer

de compartilhar os resultados da pesquisa com os entrevistados. É importante, também,

42

ser sincero quanto ao tempo que a entrevista irá levar e planejar o roteiro para encaixar

dentro deste tempo (Maurya 2012, p. 75).

Etapa 3: Encontrar DMUs em potencial

Com o roteiro pronto, a próxima etapa consiste em observar os consumidores (e quem

mais se enquadre na Decision Making Unit) e realizar entrevistas com eles. Antes de

observa-los e entrevista-los, no entanto, é preciso encontra-los. A etapa anterior

forneceu uma sugestão de elementos de um roteiro para a abordagem de potenciais

consumidores que poderá ser colocado em prática nesta etapa. Serão apresentadas

cinco estratégias para encontrar consumidores:

1. Abordagem de contatos de primeiro grau para entrevistar ou pedir referências

2. Cold Calling

3. Criatividade

4. Conferências e meetups

5. Landing pages

Para dar início ao processo de encontrar pessoas para entrevistar, Constable (2014, p.

45) diz que é melhor não conversar com contados de primeiro grau – pai, mãe, tios,

melhores amigos etc – para evitar viés de quem pode mentir para não te magoar,

enquanto Maurya (2012, p. 76) recomenda começar pelos contatos de primeiro grau

que se encaixam no perfil de consumidor, mesmo que exista o risco de viés, porque

“conversar com alguém é melhor que conversar com ninguém”. Ao seguir os três

princípios de Fitzpatrick (2013, p. 17) é possível mitigar esse tipo de viés, então não há

problema em abordar contatos de primeiro grau para iniciar o processo de entrevistas.

Maurya (2012, p. 76-77) sugere como próximo passo pedir que os contatos de primeiro

grau que apresentem a pessoas que se enquadrem no perfil de consumidor da startup.

Constable (2014, p. 46-47) concorda com a ideia de pedir referências aos contatos de

primeiro grau e afirma que o empreendedor deve buscar referências sempre que puder.

Constable (2014, p. 46) sugere que o empreendedor deve sair de toda entrevista com

pelo menos 2 ou 3 novos contatos para entrevista.

O Cold Calling geralmente se torna necessário quando a abordagem de contatos de

primeiro grau e pedidos de referência não dão mais resultados. O Cold Calling pode ser

realizado pelo método tradicional de ligação, por meio de e-mails e por meio do Linkedin

(Maurya 2012, p.78). O Linkedin em especial, é uma ótima forma de conseguir reuniões

ao utilizar um roteiro com os cinco elementos (Fitzpatrick 2013, p. 95-99) apresentados

43

na etapa anterior. O Cold Calling tem retornos percentuais baixos, sendo comum ser

ignorado ou receber um “não” de 98 pessoas a cada 100, mas isso também significa

que se conseguiu 2 contatos enquanto antes não havia nenhum (Fitzpatrick 2013, p.

86).

A situação de cada startup é bem específica e por isso será inevitável usar a criatividade

para encontrar consumidores, mas um princípio que se deve ter em mente é que “para

pescar é preciso ir onde o peixe está” (Constable 2014, p. 45). Fitzpatrick (2013, p. 86-

87) sugere a abordagem de pessoas em ambientes descontraídos como festas ou

eventos dentro de uma conversa normal, fazendo as perguntas do roteiro de entrevistas

sem mencionar que as pessoas estão de fato sendo entrevistadas. Arranjar uma boa

desculpa para iniciar a conversa, de modo que a outra pessoa tenha interesse em

conversar com o entrevistador é outra abordagem apresentada por Fitzpatrick (2013, p.

87). Maurya (2012, p. 77) sugere usar a estratégia do habitante local para criar empatia,

pois as pessoas geralmente estão dispostas a conversar caso se identifiquem com o

entrevistador. Constable (2014, p. 45-46) sugere encontrar o momento da dor do

consumidor, pois nesse momento é mais fácil de encontrar os consumidores e é

possível conseguir observar o que acontece.

Conferências e meetups são locais que reúnem pessoas com interesses semelhantes

nos quais é possível encontrar potenciais consumidores em grande quantidade.

Constable (2014, p. 46-47) acredita que é preciso somente respeitar o tempo das

pessoas durante o evento e pegar cartões de negócio para contatá-las em outro

momento. Meetups24 geralmente são de graça ou custam pouco, mas ingressos de

conferências podem ser bem caros. Fitzpatrick (2013, p. 89-90) sugere que o

empreendedor organize as próprias meetups e beneficie-se de ser o centro das

atenções do evento, sobretudo se o empreendedor estiver em uma cidade nova na qual

não conhece muita gente.

Criar uma landing page hoje em dia é bem simples, pois existem diversos templates

prontos na internet não necessitam de conhecimento em programação. Uma landing

page consiste em um site com um teaser sobre a startup e o problema que ela resolve

e um formulário que capta o e-mail das pessoas interessadas por meio de um call to

action (Maurya 2012, p. 77; Fitzpatrick 2013, p. 88-89; Constable 2014, p. 50). Conseguir

tráfego no site não é um processo trivial, mas se houver verba, podem ser feitos

anúncios pagos no Google ou Facebook para trazer tráfego ao site (Constable 2014, p.

50-51). Em uma landing page é possível rastrear o funil de conversão dos usuários

24 O site www.meetup.com é uma plataforma para esses eventos.

44

(Constable 2014, p. 50), mas no início do negócio deve-se permanecer cético ao valor

quantitativo dessas métricas (Fitzpatrick 2013, p.89). Ainda assim, as landing pages

são uma boa forma de captar e-mails qualificados de consumidores em potencial para

conversar (Fitzpatrick 2013, p.89).

Enquanto se está buscando consumidores que se enquadrem no perfil desejado, é

preciso também procurar por quem mais participa do processo de tomada de decisão

para entrevista-los, pois todos os perfis da DMU impactam no processo de venda.

Etapa 4: Observar e Realizar Entrevistas

Após encontrar potenciais consumidores (e quem mais se enquadre na DMU), a etapa

seguinte consiste em observar e realizar entrevistas para entender melhor o

consumidor. Constable (2014, p. 15-16) recomenda três abordagens diferentes para

entender melhor os consumidores:

1. Percorrer a jornada do consumidor para ganhar empatia e entendimento

pessoal;

2. Observar o consumidor para entender como são as ações dele na prática;

3. Entrevistar consumidores para tentar entender o que está dentro da cabeça dele.

As três abordagens possuem suas imperfeições, mas juntas elas se complementam e

ajudam a identificação de padrões Constable (2014, p. 16). As duas primeiras

abordagens são autoexplicativas, então a quarta etapa irá focar na entrevista com

potenciais consumidores. Ao iniciar esta etapa do processo de Customer Discovery, já

todas as hipóteses já foram elaboradas, o roteiro está pronto e os consumidores em

potencial foram encontrados. Agora, serão abordardadas dez heurísticas para a

condução das entrevistas:

1. Saiba o que quer aprender com cada entrevista

2. Não leia o roteiro como um robô

3. Fale menos e escute mais

4. Prefira entrevistas pessoalmente

5. Fale com uma pessoa de cada vez

6. Leve um tomador de notas

7. Documente os resultados logo após a entrevista

8. Faça eles contarem uma história

9. Aprofunde o entendimento usando perguntas de controle

10. Use perguntas de confirmação para garantir que entendeu corretamente

45

Para conseguir aproveitar uma entrevista da melhor forma possível é preciso ter em

mente o objetivo de aprendizado antes de inicia-la. Fitzpatrick (2013 p. 62) recomenda

que a elaboração de um planejamento prévio com uma lista das três coisas mais

importantes que se quer aprender com cada tipo de pessoa (e.g. consumidores,

investidores, especialistas da indústria etc). A melhor forma desse planejamento prévio

é a elaboração de um roteiro com perguntas baseadas em hipóteses refutáveis que

centralizam a conversa em objetivos de aprendizados específicos (Maurya 2012, p. 74;

Fitzpatrick 2013, p. 62).

Com um roteiro em mãos a conversa possui um guia, mas o roteiro não deve ser seguido

ao pé da letra como se fosse um script (para não parecer um robô lendo textos). A

pessoa que está sendo entrevistada deve sentir que o entrevistador está realmente

ouvindo a ela (Constable 2014, p. 54). Fitzpatrick (2013, p. 66) recomenda deixar a

conversa ser algo casual – tirando a formalidade de ser uma “entrevista” do processo –

usando uma boa desculpa para iniciar conversas com pessoas em locais como

conferências e meetups.

Deve-se ter em mente que o objetivo do Customer Discovery é aprender sobre os

consumidores e não sobre apresentar a ideia da startup para o maior número de

pessoas e não é possível aprender se o entrevistador não ficar calado e escutar o

entrevistado (Maurya 2012, p. 73; Fitzpatrick 2013, p. 45; Constable 2014, p. 56).

Algumas vezes pode ser tentador corrigir o entendimento dos consumidores sobre o

produto e fazer um pitch sobre a ideia, mas o objetivo nesse momento não é realizar

uma venda e sim aprender (Maurya 2012, p. 73; Fitzpatrick 2013, p. 45).

A qualidade do aprendizado pode variar dependendo do método de comunicação. As

entrevistas presenciais são a melhor forma de interação com consumidores em função

da possibilidade de observar a linguagem corporal e de criar um senso de proximidade

de forma mais fácil (Maurya 2012, p. 74; Constable 2014, p. 53). A segunda melhor

abordagem é a de vídeo conferências por tornar possível observar expressões faciais.

Ligações devem ser a última opção caso as anteriores não sejam possíveis. Mensagens

de texto e e-mails podem ser formas de conseguir marcar uma conversa, mas devem

ser evitadas para a realização de entrevistas (Constable 2014, p. 53). No caso de

questionários online, eles pressupõem que se sabe todas as perguntas que devem ser

feitas e também que se sabe todas as respostas possíveis, o que os torna uma opção

ruim para estágios iniciais de uma startup (Maurya 2012, p. 71-72).

O número de pessoas sendo entrevistadas simultaneamente também afetam a

qualidade do aprendizado. Em conversas com grupos é difícil conseguir focar nas

46

histórias de uma só pessoa de modo a se aprofundar em assuntos de interesse do

entrevistador. Além disso, conversas em grupo podem se transformr em “pensamento

de grupo”, que é um procedimento errado para a maior parte de produtos. Desse modo,

é melhor evitar grupos focais e realizar entrevistas com uma pessoa de cada vez

(Maurya 2012, p.72; Constable 2014, p. 53).

Pelo lado de quem está realizando a entrevista é mais proveitoso levar alguém junto

para tomar notas da conversa. Tendo uma pessoa exclusivamente para tomar notas,

quem está realizando a entrevista com o consumidor pode focar nos assuntos, na

linguagem corporal e em guiar o rumo da conversa. Além disso, a segunda pessoa pode

perceber a outra fazendo perguntas ruins ou perdendo oportunidades interessantes de

aprofundamento de um assunto (Maurya 2012, p. 75; Fitzpatrick 2013, p. 117, Constable

2014, p. 53-54). Duas pessoas entrevistando é o número ideal, pois três entrevistando

uma pessoa pode ser intimidador (Fitzpatrick 2013, p. 117).

Sobre as notas, é melhor separar cinco minutos após a entrevista para documentar os

resultados enquanto a memória ainda estiver fresca (Maurya 2012, p. 75). Não deve-se

esquecer de pegar dados demográficos, pois eles podem ser úteis para a identificação

de padrões (Maurya 2012, p. 86 e 104; Constable 2014, p. 60). Além disso, deve-se

evitar gravar a conversa, pois além de inibir as pessoas, é bem improvável que os áudios

sejam consultados depois (Maurya 2012, p. 75; Constable 2014, p. 54).

Durante a realização das entrevistas é preciso tomar cuidados com dados ruins

(Fitzpatrick 2013, p.27): (1) pode-se acabar recebendo cumprimentos ou elogios sobre

a ideia; ou (2) o entrevistado pode falar sobre questões hipotéticas sobre o futuro. Em

ambas as situações o entrevistado pode estar mentindo. Por esse motivo, é melhor pedir

que os consumidores falem sobre a última vez em que o problema que a startup busca

resolver aconteceu. Dessa forma, será possível aprender sobre um acontecimento real

em vez de perguntar o que os consumidores querem ou apresentar a ideia da startup

(Maurya 2012, p. 73; Fitzpatrick 2013, p. 27-37; Constable 2014, p. 38-39 e 55).

Inevitavelmente o consumidor irá falar algo que chamará a atenção, o que deve ser

investigado se o assunto for interessante. Nesse momento, é a hora de usar as

perguntas de controle para aprofundar o entendimento sobre esse assunto específico

de forma que seja possível identificar as prioridades do consumidor e se o problema é

47

um must-have25 (Constable 2014, p. 56). Fitzpatrick (2013, p. 41-42) fornece uma lista

de perguntas para investigar os assuntos e aprofundar o entendimento:

• Investigar pedidos de funcionalidades

o Porque você quer isso?

o O que isso faria para você?

o Como você se vira hoje sem isso?

o Você acha que nós devemos adiar nossa data de lançamento para

adicionar essa funcionalidade ou isso é algo que podemos adicionar

depois?

o Como isso se encaixaria no seu dia?

• Investigar sinais emocionais

o Fale-me mais sobre isso.

o Isso parece realmente te incomodar, eu aposto que existe uma história

aqui.

o O que torna isso tão horrível?

o Porque você não conseguiu resolver esse problema ainda?

o Você parece bastante animado sobre isso, isso é importante?

o Porque está tão feliz?

o Continue sua história.

As entrevistas com consumidores são uma oportunidade enorme de aprendizado e por

isso é essencial que o entrevistador saia delas tendo certeza de que entendeu tudo

corretamente. Assim, use perguntas de confirmação sempre que tiver dúvidas sobre o

que o consumidor falou ou quanto quiser garantir que entendeu da forma correta

informações importantes que ele te passou. Se for a primeira vez aplicando o processo

de Customer Discovery, pode ser bom treinar com um amigo antes para garantir que

está preparado (Constable 2014, p. 57).

Etapa 5: Compilar Dados e Identificar Padrões

Durante e no final de uma rodada de entrevistas, se tiver conversado com um número

suficiente de consumidores, será possível começar a enxergar padrões se repetindo.

Quando for possível prever o que o consumidor irá dizer somente com algumas

perguntas iniciais, é um sinal de que se chegou na quinta etapa e que se deve começar

25 A pirâmide de dor apresentada anteriormente pode ajudar a entender se o problema é um must-have.

48

a compilar os dados das entrevistas (Maurya 2012, p. 76). Os dados devem ser

compartilhados com toda a equipe da startup logo após as conversas, pois o

entendimento sobre os consumidores é essencial para o alinhamento da equipe

(Fitzpatrick 2013, p. 116). Por exemplo, é possível reunir a equipe da startup para

compartilhar mais detalhes sobre o que observaram nas entrevistas e de forma conjunta

discutir e identificar padrões (Constable 2014, p. 62).

Uma das melhores formas de representar os padrões identificados após as sessões de

compilação é pelo uso de personas. A persona é a pessoa que melhor representa o

consumidor alvo (Aulet 2013, p. 71). Num primeiro momento, pode ser necessário

apenas uma persona que represente o early adopter, mas conforme a startup

amadurece e o segmento de mercado aumente, mais personas podem ser necessárias.

Uma ressalva é que as personas devem ser elaboradas como resultado da compilação

dos padrões identificados nas entrevistas e não baseadas em pressupostos ainda não

validados. Algumas características que podem ser incluídas na elaboração das

personas são (Aulet 2013, p. 52 e 73):

• Qual seu gênero?

• Qual sua idade?

• Qual sua faixa de renda?

• Mora em que cidade? Em que bairro?

• O que a motiva?

• Quais são seus maiores medos?

• O que fazem nas férias? No jantar? Antes do trabalho?

• Que jornais elas leem? Sites? Programas de TV?

• Qual o motivo para comprarem o produto? Economia? Status? Pressão social?

• O que torna essa persona especial e identificável?

• Qual é a sua história?

• Quais são suas necessidades?

• Quais são as suas dores?

Deve-se utilizar os padrões encontrados para: (1) atualizar o Lean Canvas e demais

ferramentas; e (2) para gerar novos pressupostos que deverão ser validados em uma

próxima rodada de entrevistas. Deve-se ter em mente que o Customer Discovery é um

processo de aprendizado contínuo sobre os consumidores. Durante o processo é

importante saber que falsos positivos podem acontecer, então deve-se ter atenção para

não caminhar na direção errada (Constable 2014, p. 63).

49

O Customer Discovery não possui relevância estatística por ser um processo focado em

aprendizado qualitativo sobre os consumidores. Ainda assim, deve-se estar preparado

para entrevistar entre 50 e 100 pessoas a fim de conseguir identificar padrões. Para

Constable (2014, p. 65) um número de entrevistas inferior à 50 é um sinal de que não

foram entrevistadas pessoas suficientes.

2.2. Análise do Mercado de Vending Machines e Micro Markets

A análise do mercado de vending machines e micro markets26 foi dividida em duas

partes: o mercado dos Estados Unidos; o mercado do Brasil. O mercado americano será

analisado por três motivos: a influência que ele causa no Brasil; a existência de relatórios

com dados sobre a indústria; e a possibilidade de utilizar os dados do mercado

americano como proxy para o mercado brasileiro, uma vez que os dois países tem

dimensões territoriais e tamanho populacional semelhantes. Em seguida, será analisado

o mercado brasileiro desse setor, que é onde a startup abordada no trabalho se localiza.

No brasil não há relatórios de análise setorial sobre vending machines ou micro markets

e existe pouca literatura que aborda esses setores brasileiros, então acabou sendo

necessário consultar sites de notícias para complementar informações.

2.2.1. Mercado dos Estados Unidos

Segundo o IBISWorld Industry Report (2018), o mercado de vending machines nos EUA

em 2018 teve 6.2 bilhões de dólares de faturamento, com lucro de 428.8 milhões. Caiu

uma média de 2.9% de 2013 a 2018 e está previsto para diminuir 4.9% por ano até 2023

(IBISWorld Industry Report, 2018). O principal fator para a retração do mercado de

vendings é o aumento da competição vinda de lojas de conveniências, supermercados

e micro markets (IBISWorld Industry Report, 2018).

Não há muita diferenciação entre as empresas de vending machines, então a disputa é

majoritariamente por preços. Com isso, a margem de lucro em 2018 foi 6,9%. Além

disso, nos EUA está acontecendo consolidação do mercado: Grandes comprando

pequenas para aumentar market share e dimunir custos; e empresas saindo do mercado

26 Para definição de vending machines e de micro markets, ver nota de rodapé 2 na introdução do presente trabalho.

50

por não estarem conseguindo sustentar o negócio com margens tão baixas (IBISWorld

Industry Report, 2018).

Já para o Vendings Market Watch (2018)27 o setor de vending machines teve 14.6

bilhões de faturamento em 2017. Comparando os dados de faturamento entre os dois

relatórios – considerando que segundo o IBISWorld Industry Report (2018) a estimativa

de faturamento em 2017 foi de 6.4 bilhões – nota-se que os valores estão bem

divergentes. Cada relatório possui seu próprio método para estimação do faturamento

e não cabe ao presente trabalho julgar esses métodos. Como o presente trabalho

aborda tanto vending machines, quanto micro markets, optou-se por utilizar daqui em

diante dados provenientes dos relatórios da Vendings Market Watch, pois o relatório da

IBISWorld Industry Report só apresenta dados referentes ao mercado de vending

machines.

Ainda que o número de operadores de vendings nos EUA esteja caindo, quando

consideramos o mercado de micro markets junto com o de vendings, o número de

negócios tem aumentado nos últimos anos (Vendings Market Watch, 2018). Todavia,

conforme pode-se observar na Tabela 2, apesar o percentual dos pequenos negócios

(menos de $1 milhão) ter aumentando, nota-se que o percentual das vendas dos players

extra-grandes (mais de $10 milhões) tem aumentado continuamente, o que é resultado

da consolidação do mercado.

Tabela 2: Participação de vendas separados por tamanho dos operadores do mercado de vendings e

micro markets.

Fonte: Vendings Market Watch 2018, 2017 e 2016.

Além disso, ao se considerar o mercado de vendings em conjunto com o de micro

markets (Vendings Market Watch, 2018, 2017 e 2016), pode-se notar que, na verdade,

27 O relatório Vendings Market Watch (2018) possui dados referentes ao ano de 2017, mas foi publicado no meio do ano de 2018. Do mesmo modo, os relatórios de 2017 e 2016 são referentes aos respectivos anos anteriores.

2015 2016 2017Projeção

de vendas

% de

vendas

Projeção

de vendas

% de

vendas

Projeção

de vendas

% de

vendas

Pequenos

(< $ 1M) 50,5% 53,3% 57,1% $1,77 B 8,0% $1,9 B 8,8% $1,5 B 7,0%

Médios

($1 - $4,9M) 26,6% 21,0% 23,8% $5,88 B 28,0% $4,7 B 21,8% $3,9 B 17,2%

Grandes

($5M - $9.9M) 9,1% 9,5% 4,8% $5,27 B 25,0% $5,6 B 25,7% $2,4 B 10,8%

Extra Grandes

(> $10M) 13,8% 16,2% 14,3% $8,06 B 39,0% $9,4 B 43,7% $14,3 B 65,0%

% de operadores 2015 2016 2017

Tamanho

51

as vendas têm aumentado nos últimos anos (Figura 19). Podemos ver, que o principal

fator para isso é a expansão do número de micro markets ativos no mercado americano

(Figura 20).

Figura 19: Receita da Indústria de Vending Machines e Micro Markets em Bilhões de Dólares. Fonte:

Vendings Market Watch 2018.

Figura 20: Número de locais com Micro Markets Ativos. Fonte: Vendings Market Watch 2018.

De início, o público considerado ideal para a implementação de micro markets eram

empresas com pelo menos 250 funcionários. Todavia, conforme o mercado foi ficando

saturado de micro markets, os players começaram a abrir em locais com menos

52

pessoas, abrindo pontos simplificados, com uma mesa e um frigobar em lugares com

menos de 50 funcionários (Vendings Market Watch, 2018). Isso pode ser observado na

Figura 21.

Figura 21: Percentual de Micro Markets por número de funcionários do local. Fonte: Vendings Market

Watch 2018.

Vendings e micro markets por tipo de localização

Outro fator que diferencia vendings de micro markets diz respeito ao local onde são

abertos. As vendings geram uma menor preocupação com furtos e estão há mais tempo

em operação, então elas têm uma distribuição mais diversa de localidades. Os micro

markets, por outro lado, ainda estão em momento de expansão e a preocupação com

furtos direciona esse modelo principalmente para escritórios e fábricas, locais que não

são públicos e que possuem acesso restrito (Vendings Market Watch, 2018). Isso pode

ser observado nas Figuras 22 e 23.

53

Figura 22: Vendings Machines por tipo de local em 2017. Fonte: Vendings Market Watch 2018.

Figura 23: Micro Markets por tipo de local em 2017. Fonte: Vendings Market Watch 2018.

54

Pagamentos sem dinheiro e coleta de dados

A indústria americana de vending machines e micro markets chegou em um momento

em que os pagamentos que são simultaneamente cashless (sem dinheiro) e em nuvem

(comunicação online) se tornaram maioria. A tendência é que os operadores de vending

machines e micro markets continuem a migrar para essa opção online (Vendings Market

Watch, 2018). A tecnologia em nuvem presente em telemetrias e em aplicativos de

smartphone ou tablet auxiliam na coleta de dados sobre as vendas e com isso facilitam

a reposição do estoque. No entanto, ainda existe um número significativo de micro

markets que operam de forma manual com caneta e papel ou com máquinas de cartão

manuais que não são integradas a uma gestão de estoque online. As Figuras 24 e 25

ilustram a situação.

Figura 24: Formas de pagamento e coleta de dados em 2016. Fonte: Vendings Market Watch 2018.

Figura 25: Formas de pagamento e coleta de dados em 2017. Fonte: Vendings Market Watch 2018.

55

Participação dos tipos de produtos vendidos

A vantagem dos micro markets para venda de refeições, como almoço e jantar, pode

ser notada pela diferença dos gráficos. O desafio das vendings é o modo como os

consumidores julgam comida com um contato mais próximo e tocando nas mesmas, o

que não é possível nas vendings. Alimentação saudável tem aumentado e pela primeira

vez, em 2017, essa categoria foi analisada separadamente (Vendings Market Watch,

2018). As Figuras 26 e 27 ilustram a participação dos produtos.

Figura 26: Participação dos tipos de produtos em Vending Machines em 2017. Fonte: Vendings Market

Watch 2018.

Figura 27: Participação dos tipos de produtos vendidos em Micro Markets em 2017. Fonte: Vendings

Market Watch 2018.

56

Participação por tipo de serviço oferecido

A participação de mercado dos micro markets tem crescido continuamente ao longo dos

anos. Enquanto isso, os demais serviços têm apresentado, no geral, uma tendência de

queda. Entre os anos de 2016 e 2017 podemos notar uma forte retração da participação

das vending machines (Tabela 3).

Tabela 3: Percentual de vendas por categoria de serviço.

Fonte: Vendings Market Watch 2018.

2.2.2. Mercado Brasileiro

No caso do Brasil, o número de habitantes por vending em 2015 é muito alto quando

comparado a outros países do mundo (Figura 28). Isso mostra uma oportunidade de

expansão desse mercado em território nacional. Ainda que o brasileiro não tenha

abraçado a ideia das vending machines, os micro markets são bem aceitos aqui e

existem poucos players com essa operação no país. Surek et al (2016) nos fornece uma

análise sobre o mercado de vendings no Brasil em 2015:

As máquinas vending machine chegaram ao Brasil na década de 1990;

segundo a ABVA (2015a), o número de máquinas chegou a 80.000 em 2015.

Estima-se que o faturamento médio [mensal] por máquina é de R$591,00,

gerando um faturamento anual de aproximadamente R$500 milhões. A relação

habitante/máquina no Brasil é de 2.500 habitantes para cada vending machine

– média bastante destoante dos outros países já apresentados.

Entretanto, o mercado brasileiro de vending machines ainda não está

estruturado, é imaturo se comparado ao mercado internacional (Surek et al,

2016) (colchetes do autor do presente trabalho).

2014 2015 2016 2017

Vending Machines 60,1% 54,6% 78,1% 66,2%

Micro Markets 8,9% 10,2% 12,9% 15,0%

Office Coffee Machines (OCS) 13,3% 6,8% 5,2% 7,3%

Serviço de Água 1,9% 2,0% 1,0% 4,0%

Outro 4,2% 9,5% 0,7% 2,9%

Bulk Vending Machines (vendings de brinquedos) 2,0% 2,3% 0,7% 1,6%

Refeições manuais 7,6% 9,1% 0,9% 0,2%

Musica 1,1% 1,9% 0,3% 0,0%

Jogos 0,8% 3,0% 0,3% 0,0%

Materiais de limpeza 0,1% 0,7% 0,1% 0,0%

Percentual de vendas por categoria de serviçoCategoria de serviço

57

Figura 28: Habitantes por Vending Machine em Brasil, Europa, EUA e Japão. Fonte: Surek et al 2016.

Surek et al (2016) também afirma que o mercado brasileiro de vending machines não

está consolidado por existirem diversos nichos a serem explorados. O segmento de

Office Coffee Service é o mais estruturado. Além disso no Brasil o perfil predominante

de vendings é no seu uso como máquinas de instrumento promocional, enquanto nos

EUA e outros países o principal foco das vendings e micro markets são escritórios de

empresas e fábricas.

Entraves para a expansão de vending machines no Brasil

Um fator histórico que contribuiu para a baixa difusão de vendings no Brasil foi a

hiperinflação das décadas de 70 e 80. Nessa época, as máquinas operavam somente

com moedas e cédulas, e, como a inflação causava grande variação diária no valor do

dinheiro, o ajuste de preços se tornou inviável. Depois, no final da década de 90, a

desvalorização da moeda encareceu o preço dos equipamentos, que eram todos

importados, e dificultou o crescimento do mercado (Surek et al 2016).

A segurança e integridade das máquinas é outro entrave para a expansão desse

mercado no Brasil. Isso acaba limitando a instalação para ambientes fechados e

controlados.

Outro ponto que inibe o crescimento do setor é a conexão de dados no país, que em

alguns locais ainda não é muito boa e por vezes acaba causando falhas que não

permitem o pagamento via cartão.

58

Por fim, os custos logísticos, em função da extensão territorial do Brasil e da difusão de

fornecedores por grandes capitais, também influenciam na velocidade de expansão do

mercado.

Com base nos elementos que dificultam o crescimento, Surek et al (2016) conclui que

o provável comportamento do mercado brasileiro de vendings nos próximos anos é

continuar crescendo a taxas modestas.

Compras por impulso28

Gilberto Strunck (2011), autor do livro Compras por impulso, afirma que “O Brasil é o

país com o mais alto índice de compra por impulso do mundo”. Um elemento que

influenciou isso no início da década foi o crescimento de renda das classes C, D e E,

que permitiu um grande aumento na quantidade de consumidores. Normalmente os

produtos comprados por impulso são de baixo preço, de fácil acesso ou possuem apelo

visual. Surek et al (2016) sintetiza a situação da compra por impulso:

As compras por impulso geralmente ocorrem quando o produto chama

a atenção do cliente e desperta o desejo de compra, o cliente pensa

de forma racional em uma justificativa para aquela compra, a partir

dessa justificativa concretizada, o desejo passa a se tornar uma

necessidade e a compra se efetua. As técnicas de marketing utilizadas

atualmente têm uma grande influência nesse tipo de comportamento,

pois as propagandas criam a necessidade de o cliente em comprar um

determinado produto – necessidade esta muitas vezes irreal.

Segundo uma pesquisa realizada em 2013 pelo Serviço de Proteção

ao Crédito (SPC Brasil), constatou-se que 85% dos brasileiros fazem

compras por impulso. Dentre as justificativas para as compras por

impulso estão: ansiedade, tristeza, angústia, baixa autoestima e

insatisfação com a própria aparência. Fazer compras por impulso é um

comportamento que serve como uma espécie de recompensa

emocional para o consumidor. Trata-se de uma busca pelo prazer

imediato. (Surek et al, 2016)

28 Vending machines e micro markets costumam ser associados a compras por impulso.

59

Falta de Tempo e a Má Alimentação29

De acordo com uma pesquisa realizada pela International Stress Management

Association Brasil (Isma-Br) 62% dos brasileiros sofrem com a falta de tempo

(sobrecarga e o excesso de tarefas) como principal estressor (Administradores, 2015).

Geralmente a causa é o tamanho da jornada de trabalho junto com a falta de pausas

para aproveitar momentos de lazer (Administradores, 2015).

Com a falta de tempo e extresse a alimentação também fica comprometida. As pessoas

almoçam no trabalho, comem a chamada finger food, altamente calórica e com muito

sal, ou pedem algo e comem na frente do computador.

Comidas Funcionais30

Segundo um estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)

em 2018, oito em cada dez brasileiros afirmam que se esforçam para ter uma

alimentação saudável (buscando consumir produtos mais frescos e nutricionalmente

ricos) e 71% dos entrevistados apontam que preferem produtos mais saudáveis, mesmo

que tenham que pagar caro por eles (Agência Brasil, 2018).

Conforme tem crescido a preocupação dos consumidores acerca da alimentação e, até

mesmo, dos possíveis custos decorrentes de uma alimentação inadequada a longo

prazo, comidas funcionais tem se tornado proeminentes nas dietas da população. De

acordo com a Technavio, é estimado que haja um crescimento anual de

aproximadamente 8% desse mercado até 2021 (Food Ingredients Brasil, 2019).

A expansão da Gran Coffee

A Gran Coffee é a empresa lider de vending machines e também é o maior distribuidor

da Nespresso no Brasil. Fundada em 1998, atualmente possui 17 mil máquinas em

operação em cerca de 6 mil clientes espalhados pelo Brasil de acordo com seu site. Sua

principal operação é o de Office Coffee Machines (OCS), mas também atua com

29 A questão da má alimentação é relevante para o presente trabalho porque a startup analisada começou focada somente no segmento de conveniência saudável. 30 Alimentos funcionais são alimentos ou ingredientes que oferecem benefícios à saúde, além de suas funções nutricionais básicas. Sua relevância para o presente trabalho decorre do foco inicial da startup em conveniêncisa saudável.

60

vendings tradicionais de snacks e bebidas. Atua nos segmentos de escritórios

corporativos, indústrias, faculdades, escolas, hospitais e laboratórios.

De 2015 a 2018 a Gran Coffee realizou uma expansão no Brasil por meio de aquisições

de empresas nacionais de vending machines e OCS presentes nas cidades de São

Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Campinas (Fusões & Aquisições,

2018). O valor pago em cada aquisição foi um multiplicador do faturamento anual das

empresas. Em 2018 e 2019 após realizar estudos sobre as tendências do segmento de

autosserviço mundial, a Gran Coffee começou a se preparar para iniciar sua operação

no segmento de Micro Markets, mas até agosto de 2019 não houve um pronunciamento

oficial da empresa sobre o assunto. Apesar disso, outras empresas de vending

machines entraram no mercado de micro markets, como a Smart Café. Em outubro de

2018 o fundo Pátria Brazilian Private Equity Fund IV (FIP Pátria IV), por meio de sua

holding Café do Brasil, aumentou a sua participação na Gran Coffee e passou a

controlar 75% do capital social da Gran Coffee (G1 Globo, 2018).

61

3. Trajetória da Startup

O caminho percorrido pelo negócio será analisado em três períodos distintos separados

por um marco de mudança (pivotagem) no modelo de negócios: Concepção do Negócio,

Primeira Pivotagem e Segunda Pivotagem (Figura 29)31. Essa divisão em três períodos

foi feita pelo autor do presente trabalho em análise retrospectiva, na qual foram

identificados dois marcos significantes de pivotagem no modelo de negócios da startup:

na Concepção do Negócio, a startup se propunha a colocar vending machines

principalmente em locais onde há grande circulação de pessoas e só vendia alimentos

saudáveis; na Primeira Pivotagem, ocorreram mudanças de público alvo e dos produtos

vendidos nas vending machines na qual a startup focou o público alvo somente em

escritórios de empresas e universidades e deixou de vender apenas alimentos

saudáveis; na Segunda Pivotagem, a startup iniciou a operação com micro markets, que

possui algumas características diferentes de vending machines, como um espaço que

permita um maior mix de produtos e a possibilidade de venda de comidas congeladas

caso o local tenha freezer.

Figura 29: Linha do tempo dos períodos do negócio. Fonte: Elaboração Própria.

31 Na Figura 29 a Concepção do Negócio foi dividida em suas duas subfases para explicitar que a startup levou pouco mais de um ano, desde a sua fundação, para iniciar a operação do negócio.

62

Em função de troca de sistemas, só foi possível conseguir o histórico de dados da

startup a partir de novembro de 2016, o que nos deixa sem os dados de fevereiro a

outubro de 2016. Apesar disso, como o negócio manteve o mesmo modelo de operação

até março de 2017 e com isso foi possível entender o modo de funcionamento desse

período.

Os resultados nas Figuras 30 e 31 representam um resumo das mudanças ocorridas ao

longo da vida da startup, e será detalhado ao longo do capítulo:

Figura 30: Faturamento Mensal da startup. Fonte: Elaboração Própria.

Figura 31: Faturamento médio por ponto da startup. Fonte: Elaboração Própria.

Concepção 1º Pivot 2º Pivot

Concepção 1º Pivot 2º Pivot

63

3.1. Concepção do Negócio

3.1.1. Fundação

A startup foi fundada em janeiro de 2015 como uma empresa de vending machines

focada em comidas saudáveis. Suas duas fundadoras tinham a filosofia de que as

pessoas deveriam se alimentar de modo mais saudável e que a empresa deveria

fornecer essa oportunidade com diversos sabores diferentes para atingir um maior

público.

Nos meses iniciais, uma das fundadoras elaborou um plano de negócios para entender

o mercado e planejar o futuro da empresa (Anexo 2). Em maio de 2015 foi gerado o

CNPJ da empresa. Após a finalização do PN, o foco inicial foi o desenvolvimento do

marketing e do design da startup, por meio de uma empresa contratada. Em paralelo,

foram feitas negociações com os primeiros possíveis pontos e com fornecedores de

alimentação saudável. A operação só iniciou de fato em fevereiro de 2016, com duas

vendings situadas em uma faculdade particular do rio de janeiro.

3.1.2. Início da Operação seguindo o Plano de Negócios

Em fevereiro de 2016 a operação da startup começou com duas máquinas em uma

faculdade particular no Rio de Janeiro. Em paralelo, as fundadoras seguiram

negociando a entrada em outros pontos, prospectando locais com o perfil determinado

no plano de ação32 (Anexo 2).

Nos primeiros meses o negócio operou apenas com capital próprio das fundadoras.

Entretanto, conforme novos pontos foram sendo abertos, isso deixou de ser suficiente

para manter a expansão do negócio, pois o capital necessário para comprar uma

vending machine é entre 12 e 20 mil reais. Sendo assim, após um período buscando

capital, em setembro de 2016 as fundadoras conseguiram aporte com o primeiro

investidor anjo e em dezembro conseguiram um novo aporte com outro investidor anjo.

32 O perfil de clientes alvo no plano de negócios consiste em: Universidades e fundações, centros comerciais e empresarias, escolas, hospitais e clínicas, condomínios residenciais, hotéis e hostels, polos industriais, clubes, academias de ginástica, shopping centers, congressos, feiras e eventos. Segundo a literatura do Processo de Empreendedorismo, esse público alvo é amplo demais.

64

Os dois investidores anjos utilizaram a modalidade de mútuo conversível para investir

no negócio33.

Com os aportes, foi possível finalizar 2016 com 10 máquinas em operação. Dessas, 3

vendings se localizavam em faculdades particulares, 5 em locais com grande circulação

de pessoas, 1 em uma academia e 1 em um escritório de empresa (Figura 32).

Todavia, apesar de a expansão de pontos estar ocorrendo em ritmo acelerado,

chegando a 14 em abril de 2017, o negócio seguia dando prejuízos em todos os meses

de operação. Dos quatro perfis de pontos, somente as faculdades particulares e as

empresas geravam um número de vendas e faturamento razoável (Figura 33).

Outro fator que contribuía para o prejuízo era o número de produtos que passavam da

validade. No início de 2017 a empresa tinha uma geladeira inteira de barrinhas

saudáveis fora da validade e oito caixas de biscoito polvilho saudável fora da validade.

Nos quatro primeiros meses de 2017 a empresa teve prejuízos mensais de 30 mil reais,

ao mesmo tempo em que cada uma das fundadoras possuíam um pró-labore de 5 mil

reais.

Figura 32: Quantidade de pontos por perfil. Fonte: Elaboração Própria.

33 Olhar nota de rodapé número 8 no item 2.1.1. para explicação de mútuo conversível.

65

Figura 33: Faturamento Médio por perfil de ponto. Fonte: Elaboração Própria.

3.2. Primeira Pivotagem: Mudança de Público e Produtos

3.2.1. Período de Transição: 2017-04 a 2017-07

Em abril de 2017 a startup contratou uma pessoa com conhecimento de mix de produtos

e uma breve experiência no setor de conveniência para tocar a operação. Ao mesmo

tempo, em razão dos prejuízos na casa de 30 mil mensais nos primeiros meses de 2017,

um dos investidores anjo resolveu entrar na operação da startup para tentar reverter a

situação. Existiam dois principais motivos de a startup gerar tanto prejuízo de acordo

com o diagnóstico feito na época pelo investidor anjo. Primeiro, o público alvo era

limitado, pois só atingia pessoas que queriam ingerir alimentos saudáveis. Segundo,

existiam uma série de pontos de venda ruins que geravam uma baixa receita.

A mudança de pontos com a identificação de que as máquinas mais lucrativas se

encontravam em locais que as pessoas permaneciam por horas, como empresas e

faculdades de período integral, enquanto pontos com alta circulação de pessoas e

academias de musculação tinham uma quantidade de vendas baixa. Desse modo, as

empresas passaram ser o segmento principal.

Já no quesito de mudança de público alvo com inserção de novos alimentos não-fits

enfrentou uma forte resistência das duas fundadoras, pois as mesmas se mostravam

irredutíveis em continuar a querer oferecer somente comidas saudáveis. Sendo assim,

a transição de alimentos iniciou com produtos “pseudo-saudáveis” – como Coca-cola

66

Stevia, Amendoim, Biscoito Eqlibri e Toddynho – ao mesmo em que se reduzia o mix de

produtos excluindo os alimentos que tinham pior desempenho nas vendas.

3.2.2. Consolidação de pontos e de mix de produtos

Em agosto de 2017 foi finalizada a consolidação de pontos de vendas, com 14 máquinas

operando em locais mais lucrativos. Já a mudança de mix continuou gradualmente, e,

com a entrada do terceiro investidor anjo em agosto de 2017, a startup passou a fazer

análises do mix de produtos de cada ponto de venda. Foi utilizada a mentalidade 20-70-

10, em que os 20% que geravam mais venda poderiam ter o número de canaletas

aumentada, os 70% eram mantidos iguais e os 10% piores eram retirados para inserção

de novos produtos na máquina. Ainda em agosto a Coca-cola comum foi inserida. O mix

se consolidou somente em outubro e passou a ser mais ou menos constante desde

então, oscilando entre 43 e 50 produtos. Os produtos principais continuaram mais ou

menos os mesmos nesse período, mas foram realizados testes de inserção de novos

que poderiam substituir ou não os antigos. A Figura 34 mostra o número de produtos do

mix ao longo do tempo. Pode-se notar que em dezembro de 2018 o mix aumenta devido

à novos produtos no micro market.

Figura 34: Número de Produtos no Mix da startup. Fonte: Elaboração Própria.

67

3.2.3. Crise societária

Nesse período de transição de mix de produtos e de consolidação de pontos, as duas

fundadoras originais acabaram perdendo o controle da operação e a startup foi para

uma direção diferente da visão original das mesmas de levar comida saudável para as

pessoas. Por esse motivo, uma das fundadoras escolheu sair da operação da empresa

em novembro de 2017, enquanto a outra continuou. Em fevereiro de 2018, ocorreu uma

crise societária entre elas e o investidor anjo. As duas detinham a maior participação da

empresa e quiseram retomar o controle da mesma. Nesse momento, a empresa ainda

dava prejuízos mensais e o investor anjo resolveu parar de inserir capital na operação

da mesma.

O resultado foi que, em fevereiro, a startup sob direção das fundadoras ficou sem capital

para reabastecer os pontos, o que levou à queda de vendas nos pontos e fez o

faturamento desse mês cair. Além disso, a startup já havia confirmado a compra de 3

máquinas para instalação em pontos novos e não tinha como pagar pelas mesmas.

Em março de 2018, após negociação, o investidor anjo inseriu 40 mil reais para

regularizar a operação da empresa e no mês seguinte comprou a participação das

fundadoras, tirando elas do negócio.

3.2.4. Testagem “automatizada” do mix de produtos e nova otimização dos

pontos

A partir de abril de 2018, a startup passou a fazer testagem do mix de produtos de cada

máquina individualmente por meio de uma planilha em Excel com macros em VBA. Para

tal foram elaborados indicadores e um modo de análise de desempenho que pode ser

visualizado no Anexo 1. A planilha tinha como função automatizar a decisão sobre as

mudanças de mix de produtos, mas na prática ela só servia como um auxílio para a

tomada de decisão sobre o mix, pois não foi possível colocar todas as variáveis

necessárias. Desse modo, os dados de saída (output) da planilha não eram suficientes

para realizar a mudança de mix sem uma pudessem ser aplicados sem uma análise

prévia por parte de um dos sócios.

Com o resultado dessa análise de mix de abril a setembro de 2018 os produtos mais

bem-sucedidos tiveram seu número de canaletas aumentado, enquanto os de pior

desempenho eram retirados para inserção de novos para testes. Isso permitiria, em

68

tese, uma menor ocorrência de ruptura no estoque das máquinas – quando uma pessoa

quer comprar um produto que está esgotado – e, consequentemente, deveria repercutir

em um aumento do faturamento dos pontos.

Nos primeiros meses, essa alteração do mix de produtos de cada ponto parece ter

melhorado as vendas, mas depois não foi possível observar mudanças significativas.

Alguns produtos realmente vendiam mal em determinados pontos e a retirada deles

permitiu colocar outros produtos com potencial para vender mais, só que depois que os

piores foram removidos, os novos produtos com “pior” venda nas vending machines

ficaram com uma quantidade de vendas similar. Além disso, a cada mês analisado os

10% de produtos piores de cada ponto de venda mudava mesmo sem ter novas

alterações no mix e desse modo, se tornou difícil utilizar a mentalidade 20-70-10.

Em junho de 2018 se iniciou uma nova rodada de otimização dos pontos de vendas, o

que junto com o novo mix permitiu um aumento do faturamento médio por ponto (Figuras

31 e 33). As duas máquinas que ficavam no aeroporto Galeão foram remanejadas.

Embora esses pontos vendessem bem, o aluguel de espaço de 2 mil reais por mês

impedia o ponto de ser lucrativo. Esses pontos de venda no aeroporto foram os únicos

na história da startup que possuíam necessidade de pagamento de aluguel do espaço.

Ao observar o desempenho de quantidade de vendas médias por perfil de ponto (Figura

35) é possível notar um aumento no número de vendas por ponto de março de 2018 em

diante e que a partir de agosto de 2018 esse número de vendas por ponto começou a

oscilar. Além disso, o ticket médio de venda por perfil de ponto (Figura 36) diminuiu

quando comparado ao início da operação da startup e permaneceu próximo a 5 reais

de abril de 2018 em diante.

69

Figura 35: Quantidade de vendas média por perfil de ponto. Fonte: Elaboração Própria.

Figura 36: Ticket Médio da venda por perfil de ponto. Fonte: Elaboração própria.

70

3.3. Segunda Pivotagem: Micro Market

3.3.1. Oportunidade e início da operação de micro markets

Em outubro de 2018 a startup estava ponderando dentre duas oportunidades de

expansão da operação. A primeira, seria passar a fornecer máquinas de café dentro das

empresas, um negócio que é o core dos maiores players brasileiros de vending

machines, como no caso da Gran Coffee. A outra, seria passar a oferecer uma nova

opção de conveniência pouco existente no Brasil, o micro market.

Em ambas as opções seria necessário aumentar o mix de produtos da empresa. No

caso das máquinas de café, a empresa passaria a comprar sacos de café e de leite em

pó e tomar cuidados especiais com o armazenamento dos mesmos para seguir as

normas da vigilância sanitária. Para os micro markets, a operação continuaria bem

similar, mas com um número maior de produtos diferentes.

No final, optou-se pela opção de micro markets e em no final de outubro de 2018 foi

inaugurada a primeira operação desse modelo. A ideia seria substituir o maior número

de pontos existentes no qual se operava com vending machines por micro markets pois,

devido ao menor custo de instalação dos micro markets, eles teriam um retorno sobre

investimento (ROI) maior e um tempo de retorno (payback) menor. Devido ao caráter

aberto de micro markets e a possibilidade de furto, esse modelo seria instalado somente

em locais fechados nos quais um mesmo público sempre frequentasse e por isso

inicialmente optou-se por não colocar micro markets nos pontos de faculdade particular.

Esse modelo também abriu portas para um novo tipo de produto que não era explorado

antes, pois o micro market também pode ter um freezer: as refeições congeladas. O

primeiro freezer só foi adicionado em dezembro de 2018.

Além disso, a instalação dos dois primeiros micro markets se deram em um espaço de

coworking onde eventos são realizados com alguma frequência. Esses eventos realizam

coffee-breaks e solicitaram o serviço da startup para fornecer os alimentos do micro

market em um formato “open bar” de comida, no qual o organizador do evento paga

tudo que for consumido ao final do evento. Essa demanda gerou uma nova oportunidade

de receita para a startup.

No período analisado no presente trabalho, a segunda pivotagem totaliza quatro meses

– outubro de 2018 a janeiro de 2019 – e nesse espaço de tempo somente dois micro

markets foram instalados. Em fevereiro e março de 2019 a startup já havia negociado a

71

instalação de novos pontos de micro market, mas não foi possível realizar a instalação

de todos devido a um furo de estoque no fornecedor da telemetria que ficou sem totens

para pronta entrega. O totem é a caixa que possui a tela, o leitor de código de barras e

a máquina de cartão de crédito para os consumidores poderem realizar suas compras

no micro market.

3.3.2. Expansão da Equipe e aceleração das mudanças

Nos meses seguintes ao fim da crise societária a startup passou a ter uma equipe

limitada, composta pelo sócio majoritário, o responsável pela operação e dois

abastecedores. O tamanho do time estava limitando o crescimento do negócio, tanto

pela expansão de pontos quanto pela otimização da logística e melhora dos pontos

existentes. Por esse motivo optou-se por aumentar a equipe e em janeiro de 2019 a

startup passou a contar com um estagiário para a área comercial, um estagiário para

desenvolvimento e um trainee para operações. O trainee foi considerado como uma

pessoa chave como candidato a futuro CEO do negócio e por isso recebeu uma

proposta de vesting de 5% da empresa em dois anos com um cliff também de dois

anos34.

Com uma pessoa dedicada exclusivamente ao comercial, foi possível acelerar a

abertura de novos pontos e a realocação de máquinas de pontos ruins. Além disso,

iniciou-se um upgrade dos pontos, para substituir as vending machines por micro

markets.

No caso da operação logística e administrativa, com a entrada do trainee foi possível

identificar oportunidades de melhoria. O software de gestão limitava o modo como a

operação podia acontecer em função de a integração com o sistema de telemetria ser

ruim. Além disso, a telemetria utilizada para coordenar e monitorar o funcionamento das

máquinas era utilizada apenas pela interface própria que possui somente um modo de

funcionamento. Com a ajuda do estagiário de desenvolvimento, se tornou possível

começar a preparar uma otimização da operação logística de reposição por meio da

integração entre o sistema de telemetria e um possível novo sistema de gestão.

Por fim, com a expansão da equipe foi possível dedicar mais tempo ao estudo dos

preços dos produtos nos pontos, para entender como a alteração do preço de

34 As definições de vesting e cliff se encontram no item 2.1.1. (Conceitos Essenciais).

72

determinados produtos impacta na quantidade de vendas. Ao mesmo tempo, a análise

de mix de produtos começou a se tornar uma atividade de rotina, quando antes era

apenas pontual. Com os resultados dessas iniciativas de testagem de preço e de mix

os sócios esperam que seja possível aumentar a rentabilidade dos pontos existentes.

73

4. Análise da trajetória da startup sob a ótica do processo de empreendedorismo

Os conceitos, as ferramentas e os modelos expostos no referencial teórico serão

utilizados para a análise da trajetória da startup. A divisão está da seguinte forma: (1) a

Análise da Concepção do Negócio, na qual se usou o plano de negócios elaborado pelas

fundadoras (Anexo 2) em conjunto com a base de dados de vendas de produtos para

extrair os pressupostos nas quais o negócio estava baseado em sua concepção, para

então analisar esses pressupostos pela ótica do Processo de Empreendedorismo, com

o uso do Lean Canvas em conjunto com a primeira etapa do processo de Customer

Discovery; (2) a Análise da Primeira Pivotagem, na qual a base de dados de vendas de

produtos em conjunto com as entrevistas dos sócios atuais do negócio (os investidores

anjo) e dos funcionários antigos são os meios de onde foram extraídos os pressupostos

nos quais o modelo de negócios dessa fase se baseava, para então analisar esses

pressupostos pela ótica do Processo de Empreendedorismo, com o uso do Lean

Canvas; e (3) a Análise da Segunda Pivotagem, na qual o autor do presente trabalho

estava trabalhando na startup e pode expor os pressupostos pelo conjunto de sua

experiência com a base de dados de vendas de produtos e com as entrevistas

realizadas (com sócios e funcionários antigos), para então analisar esses pressupostos

pela ótica do Processo de Empreendedorismo, com o uso do Lean Canvas em conjunto

com a primeira etapa do processo de Customer Discovery.

4.1. Análise da Concepção do Negócio

O tempo decorrido entre o início da elaboração do plano de negócios (janeiro de 2015)

e o início da operação da empresa (fevereiro de 2016) com duas máquinas foram 13

meses. Além disso, foi necessário um período de 14 meses (de fevereiro de 2016 a abril

de 2017) para que o primeiro pivotamento do modelo de negócios começasse a

acontecer gradualmente. Isso é um tempo muito maior que os três meses propostos por

Ash Maurya (2016, p. 88) em seu modelo de tração para o estágio de Problem/Solution

Fit.

Esse tempo que foi necessário para conseguir chegar ao equivalente do estágio de

Problem/Solution Fit só reforça a afirmação de Blank & Dorf (2012, p. 16) de que nenhum

plano de negócios sobrevive à primeira interação com o cliente, porque o PN não previu

que ele poderia estar baseado em pressupostos que levariam a startup a ter prejuízo

74

em vez de lucro e o também não disse o que fazer nesse caso. No caso da startup

analisada, as fundadoras persistiram em seguir o PN por meses, o que conforme

mostrado no item da Trajetória da Startup, levou a grandes prejuízos na fase de

Concepção do Negócio.

Podemos usar os 9 pecados capitais da introdução de novos produtos ao mercado

delineado por Blank & Dorf (2012, p. 8-18) para ilustrar, em retrospectiva, alguns dos

erros cometidos pelas fundadoras ao optarem por seguir um Plano de Negócios como

abordagem de empreendedorismo. Essas informações foram extraídas do Plano de

Negócios (Anexo 2) e de entrevistas com os atuais sócios e funcionários, pois não foi

possível entrevistar as fundadoras. Segue:

1. Assumir que “Eu sei o que os consumidores querem”: As fundadoras

queriam construir uma empresa somente de comida saudável por que

acreditavam que essa era a tendência do mercado e também por encararem isso

como um estilo de vida próprio.

2. A falha de “Eu sei quais funcionalidades construir”: A ideia de ser uma

empresa de vending machines de comida saudável com uma grande variedade

de sabores de um mesmo produto (como barrinha de cereal) é assumir que sabe

quais funcionalidades inserir no negócio.

3. Foco na data de lançamento: A data de fevereiro de 2016 não foi escolhida

aleatoriamente, ela coincide com a volta às aulas da faculdade particular na qual

uma das fundadoras elaborou o plano de negócios. Sendo assim, toda a

operação anterior foi preparada para atingir essa data de lançamento.

4. Ênfase em execução em vez de hipóteses, testes, aprendizado e iteração:

Durante a fase de concepção do negócio em nenhum momento se parou para

refletir sobre mudanças no modelo de negócios pautado em hipóteses, testes,

aprendizados ou iterações. Em vez disso, a fundadoras focaram na execução.

5. Planos de negócios tradicionais presumem não haver testes e nem erros:

De modo similar ao item anterior, as fundadoras não realizaram testes e só

executaram o plano de negócios, o que impossibilitou a melhora dos resultados

da empresa.

6. Confundir títulos de empregos tradicionais com o que uma startup precisa

realizar: Uma das fundadoras se nomerou CEO (chief executive officer)

enquanto a outra se nomeou CFO (chief financial officer) e após conseguir

investimento com anjos, passaram a querer receber salários que justificassem o

cargo que tinham, de 5 mil reais para cada uma ao mesmo tempo em que a

empresa tinha prejuízos de 30 mil reais por mês.

75

7. Vendas e Marketing executam um plano: A empresa nunca teve um marketing

estruturado, mas possuía uma funcionária responsável por negociar acesso a

novos pontos, só que nunca houve um processo estruturado. O que existia eram

metas de máquinas em operação e de faturamento.

8. Presunção de Sucesso leva a escalar prematuramente: Após o início da

operação em fevereiro de 2016, as fundadoras focaram sempre na rápida

expansão do número de pontos, mesmo com prejuízos mensais recorrentes,

pois acreditavam “cegamente” que seu negócio seria um sucesso caso

conseguissem crescer rápido o suficiente. A procura por investidores anjo

também teve o objetivo de acelerar a escala do negócio.

9. Gerenciamento por crise leva a uma espiral da morte: Nesse caso, o fato de

a startup dar prejuízos mensais recorrentes fez com que as fundadoras não

tivessem outra opção sem ser buscar por investidores anjo. O primeiro, que

entrou em setembro de 2016 não foi suficiente e por isso precisaram de um outro

em dezembro de 2016. Como o negócio continuou a dar prejuízo, um dos anjos

optou por entrar na operação e isso gerou conflitos entre os sócios até que em

fevereiro de 2018 a crise societária culminou em falta de dinheiro para operação

e para de comprar produtos para repor as máquinas.

Algumas das premissas das fundadoras na hora de elaboração do plano de negócios

estão baseadas em um questionário de pesquisa de mercado que foi elaborado e

enviado virtualmente para coleta de respostas. O problema de um questionário,

conforme exposto por Maurya (2012, p. 71-72) é que ele pressupõe quem o elabora

sabe quais perguntas fazer e também quais são as respostas possíveis para as

perguntas, o que não era o caso das fundadoras. As fundadoras nunca realizaram

entrevistas pessoalmente seguindo os princípios do processo de Customer Discovery e

isso levou elas não conhecerem as reais necessidades de seus consumidores em

potencial. Com isso, as fundadoras criaram um produto/negócio que não possuía

consumidores suficientes para se tornar lucrativo.

4.1.1. Lean Canvas

O autor do presente trabalho utilizou o plano de negócios elaborado pelas fundadoras

(Anexo 2) para explicitar os pressupostos nos quais as fundadoras criaram a startup em

sua concepção. Não foi possível entrevistar as fundadoras. Com esses pressupostos foi

elaborado um Lean Canvas referente a essa fase da trajetória (Figura 37) de forma a

76

explicitar o modelo de negócios da Concepção do Negócio nos parâmetros do Processo

de Empreendedorismo, para então poder analisá-lo. Em seguida, os pressupostos do

modelo de negócios são formulados como hipóteses que podem ser testadas pelo

processo de Customer Discovery.

Figura 37: Lean Canvas do periodo de concepção do negócio. Fonte: Elaboração Própria.

A primeira versão do modelo de negócios tinha um forte viés sobre comida saudável

vindo das fundadoras, que não aceitavam qualquer alimento fora desse perfil. Ao

mesmo tempo, o modelo está baseado em pressupostos que podem ser formulados

como as seguintes hipóteses:

1. Existem pessoas suficientes que queiram comer comida saudável para

tornar o negócio lucrativo;

2. Ainda que de início o negócio dê prejuízo, o mercado de comidas saudáveis

está crescendo e se manter nesse nicho será lucrativo no longo prazo;

3. O mercado é atrativo e tem muito potencial e por isso outros concorrentes

de comida saudável surgirão em breve. Logo, a startup deve expandir o

negócio o mais rápido possível para todos os segmentos de clientes que

foram definidos visando conquistar participação de mercado e se consolidar

como o maior player de vending machines saudáveis do Rio de Janeiro;

4. As pessoas irão comprar nas vendings posicionadas em locais de passagem

que possuem um grande fluxo de indivíduos;

5. As pessoas estão dispostas a pagar mais caro pela conveniência da

máquina;

77

6. As pessoas possuem sabores específicos de barrinhas saudáveis que

gostam e não compram outras opções;

7. Quanto mais opções de comida saudável e diferentes sabores de um mesmo

produto, maior será o número de vendas;

8. As pessoas estão dispostas a pagar um valor muito alto por um produto da

melhor qualidade possível que seja o mais saudável possível;

9. Será possível vender a maior parte dos produtos antes de eles passarem da

validade. (comidas naturais tem validade mais curta);

10. É possível colocar máquinas sem precisar pagar aluguel pelo ponto de

venda;

A análise da trajetória permite dizer que as hipóteses 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 e 9 foram

refutadas, enquanto somente as hipóteses 5 e 10 foram validadas. A validação ou

refutação das hipóteses existentes no modelo de negócios poderia ter sido feita com

algumas interações de Customer Discovery dentro da etapa de Problem/Solution Fit do

modelo de tração da Ash Maurya, só que no final das contas a startup levou 27 meses

(de janeiro de 2015 a abril de 2017) para começar a modificar o seu modelo de negócios

baseado nas hipóteses refutadas, em contraste com os 3 meses propostos.

4.2. Análise da Primeira Pivotagem

A primeira pivotagem foi gradual e teve iniciativas de mudança ocorrendo em momentos

distintos. As alterações tiveram dois focos sempre: o perfil dos pontos e o mix de

produtos. Os gráficos nas páginas seguintes auxiliam no entendimento do resultado

dessas mudanças. A análise desta fase da trajetória da startup ocorreu principalmente

por meio do autor investigando a base de dados de produtos vendidos – que deu base

para a criação dos gráficos analisados – mas as informações foram completadas e

confirmadas por meio de entrevistas com os atuais sócios da startup e com os

funcionários antigos.

Perfil dos pontos

Por meio da análise dos resultados por ponto e comparando com as épocas em que

ocorreram as iniciativas de realocação de máquinas, pode-se notar o aumento do o

faturamento médio por ponto e da quantidade de vendas média por ponto (Figuras 38,

78

39 e 40). A base de dados não é grande o suficiente para provar correlação, mas parece

existir causalidade entre os resultados e a realocação de máquinas.

Os períodos principais em que ocorreram realocação de máquinas foram abril de 2017

a agosto de 2017 e junho de 2018 a outubro de 2018.

Mix de produtos

Nos momentos em que houve alteração no mix, foi possível identificar dois

acontecimentos: (1) a mudança de mix ocorreu simultaneamente com a realocação de

máquinas e não é possível afirmar que foi a alteração do mix que gerou os resultados

positivos; (2) a mudança de mix ocorreu em momento distinto à realocação de máquinas

e não gerou resultados significativos (setembro de 2017 a outubro de 2017 e abril de

2018 a maio de 2018).

Os períodos principais em que ocorreram mudança de mix de produtos são 2017-04 a

2017-10 e 2018-04 a 2018-09.

Podemos considerar que uma mudança de mix demora algum tempo para dar retorno,

mas ainda assim os resultados dessa medida foram inconclusivos se considerarmos

que depois de adicionar alimentos junk food, a startup não sabe como dar os próximos

passos. A startup não identificou as categorias de produtos que mais vendem e não

sabe explicar como pode usar mudanças de preços e de ticket médio (Figura 41) para

aumentar seu lucro. Isso pode sugerir que a startup se afogou em um mar de dados e

realizou experimentos sub-ótimos, dois perigos expostos por Maurya (2016, p. 4-7).

Apesar disso, é importante ressaltar que, sob a ótica do modelo de negócios, expandir

o público alvo da startup para consumidores de junk food ao mesmo tempo em que se

mantém o segmento saudável, parece uma estratégia interessante, ainda que tenha

diminuído o ticket-médio da venda.

79

Figura 38: Quantidade de Pontos por Perfil. Fonte: Elaboração Própria.

Figura 39: Faturamento médio por perfil de ponto. Fonte: Elaboração Própria.

80

Figura 40: Quantidade de Vendas Média por perfil de ponto. Fonte: Elaboração Própria.

Figura 41: Ticket Médio da Venda por perfil de ponto. Fonte: Elaboração Própria.

81

4.2.1. Lean Canvas

Os pressupostos existentes no modelo de negócios desta fase puderam ser observados

pelo autor do presente trabalho enquanto o mesmo trabalhava na startup35. Com esses

pressupostos foi elaborado um Lean Canvas referente a essa fase da trajetória (Figura

42) de forma a explicitar o modelo de negócios da Primeira Pivotagem nos parâmetros

do Processo de Empreendedorismo, para então poder analisá-lo. Os pressupostos do

modelo de negócios não foram formulados como hipóteses por serem muito

semelhantes aos pressupostos do modelo de negócios da Segunda Pivotagem, então

o autor do presente trabalho optou por expô-los somente na análise da Segunda

Pivotagem.

Figura 42: Lean Canvas após a primeira pivotagem do negócio (alterações em vermelho). Fonte:

Elaboração Própria.

A proposta única de valor, o problema e a solução foram alterados para abranger

alimentações práticas (snacks) no geral, e não somente alimentos saudáveis. As

alternativas existentes começaram a ser pensadas na operação da empresa.

As métricas-chave foram completamente alteradas para focar nos resultados financeiros

do presente e na análise do potencial de cada ponto, que foi a diretriz que guiou a

realocação das máquinas para novos locais.

35 O autor do presente trabalho entrou na startup em meados de novembro, o que equivale ao início do período aqui chamado de Segunda Pivotagem, mas como em 2018 e 2019 a startup continuou sua operação de vending machines, o autor do presente trabalho pode presenciar o modelo de negócios da startup da Primeira Pivotagem em execução e analisá-lo.

82

O segmento de clientes foi alterado para focar em empresas com mais de 150

funcionários, pois esse é o número que a startup acredita que é o necessário para

garantir um faturamento razoável de uma vending machine e gerar um ROI e Payback

atraentes. O segmento de faculdades particulares continuou a operação dentro da

mesma faculdade do início, com expansão somente para novos andares ou edifícios da

mesma.

Os canais não foram muito desenvolvidos, mas foram por esses quatro que surgiram

novas oportunidades de pontos.

Com as mudanças da primeira pivotagem a startup passou a ter um modelo negócios e

uma operação similar ao da maioria dos players de vending machines do Brasil. Não

havia diferencial e nem vantagens claras36. Nesse contexto, a competição passa a ser

por participação de mercado e as grandes empresas do mercado de vendings, como a

Gran Coffee, costumam ter vantagens operacionais e financeiras devido à escala. Essa

percepção pode ter influenciado na decisão de realizar a segunda pivotagem em busca

de um diferencial competitivo.

4.3. Análise da Segunda Pivotagem

Durante todo o período analisado da Segunda Pivotagem, o autor do presente trabalho

foi funcionário da startup. Além de participar do dia a dia da startup, o autor do presente

trabalho também utilizou a base de dados de vendas de produtos e entrevistas com os

sócios e com os funcionários para realizar a análise desta fase da trajetória.

No período dos dados analisados no trabalho houve a instalação de dois micro-markets

em um co-working, o primeiro em outubro e o segundo em novembro. Além disso, a

ideia seria substituir o maior número de vending machines por micro markets nos pontos

já existentes. Em fevereiro e março de 2019 a troca por micro markets já havia sido

negociada em alguns pontos, mas o fornecedor da telemetria ficou sem totens para

pronta entrega devido a um furo de estoque. Essa falta gerou atraso para a instalação

de novos pontos e com isso afetou o crescimento da startup nesses meses.

36 Os únicos diferenciais da startup na visão dos sócios eram: aceitar vale refeição enquanto a maioria das vendings concorrentes não aceita; e ter um mix de produtos mais premium em contraste com produtos populares na maioria dos concorrentes. Só que esses diferenciais são facilmente imitáveis.

83

4.3.1. Lean Canvas

O autor do presente trabalho pode observar os pressupostos existentes no modelo de

negócios desta fase ao longo dos meses em que trabalhou na startup. A base de dados

e entrevistas com sócios e funcionários deram apoio e confirmaram os pressupostos

identificados. Com esses pressupostos foi elaborado um Lean Canvas referente a essa

fase da trajetória (Figura 43) de forma a explicitar o modelo de negócios da Segunda

Pivotagem nos parâmetros do Processo de Empreendedorismo, para então poder

analisá-lo. Em seguida, os pressupostos do modelo de negócios são formulados como

hipóteses que podem ser testadas pelo processo de Customer Discovery.

Figura 43: Lean Canvas após a segunda pivotagem do negócio (alterações em vermelho). Fonte:

Elaboração Própria.

A segunda pivotagem alterou o modo de fornecimento do serviço da startup, passando

a incluir a opção de micro markets, que possui um custo de instalação menor que o da

compra de uma vending machine e permite uma maior flexibilidade na escolha do mix

de produtos por não estar limitado ao número de canaletas. Isso alterou a solução

fornecida. A inclusão de refeições congeladas mudou a proposta única de valor, que

deixou de ter um foco somente snacks.

A redução de custos de instalação diminui o ROI e o Payback, enquanto o maior mix

aumenta o público alvo em potencial do ponto de venda. A união desses dois fatos

permite que um ponto seja lucrativo e gere retorno dentro do prazo esperado mesmo

com uma quantidade menor de funcionários dentro da empresa. Todavia, com a

84

mudança de vendings para micro markets, o custo de telemetria aumentou. O custo é

de 130 reais mensais por cada vending e 300 reais mensais por cada micro market.

Por fim, acabou surgindo a oportunidade de realizar o coffee break de eventos que

acontecem em um dos pontos de micro market no formato em que os participantes

consomem o que quiserem de produtos da startup e no final a empresa que organizou

o evento paga o que foi consumido. Todavia, esse modelo tem apresentado dificuldades

na contagem de quantos produtos foram vendidos de cada item.

A segunda pivotagem foi baseada em pressupostos dos sócios sobre as vantagens de

começar a operar com micro markets. A maior parte desses pressupostos tem um

embasamento lógico bem forte, mas ainda assim os pressupostos mais arriscados

precisam ser testados para entender o que acontecerá na prática. Os pressupostos

principais foram formulados como hipóteses:

1. O aumento do lucro dos pontos será maior que o aumento dos custos logísticos

associados a expansão do mix de produtos.

2. A ocorrência de furtos será pequena o suficiente para não comprometer os

lucros.

3. O micro market terá uma quantidade de vendas maior que uma vending no

mesmo local.

4. Os consumidores irão preferir micro markets e não vending machines por

poderem tocar nos produtos e pela variedade de opções.

5. As empresas irão preferir instalar micro markets e não vending machines.

6. Será possível substituir as vendings de todos os pontos por micro markets.

7. As refeições congeladas serão uma opção atrativa de almoço e gerarão vendas

que compensem o aumento da complexidade e custos de logística.

8. Locais com 100 funcionários resultarão em pontos de micro markets

suficientemente lucrativos em termos de ROI e Payback.

9. Locais com 150 funcionários resultarão em pontos de vendings suficientemente

lucrativos em termos de ROI e Payback.

10. O lucro vindo de coffee breaks de eventos realizados é maior que o lucro vindo

de horas de trabalho usadas em outras atividades e justifica o aumento da

complexidade logística e a mudança de foco da startup.

Das dez hipóteses listadas, só foi possível obter uma refutação definitiva para a 5 e a 6.

Nos dois casos, durante as negociações para instalação de micro markets houveram

empresas que foram irredutíveis ao preferirem vendings e não micro markets devido a

possibilidade de furto de produtos. No caso de confirmação, a hipótese 4 é a única que

85

foi confirmada. Todas as outras hipóteses (1, 2, 3, 7, 8, 9, e 10) no momento estão

inconclusivas e precisam de mais investigação. A hipótese 10 não foi refutada, mas os

eventos de coffee break se tornaram cada vez mais raros por falta de demanda.

86

5. Presente e Futuro da Startup

A trajetória da startup e as decisões de seus sócios foram analisadas anteriormente sob

a ótica do processo de empreendedorismo, ou seja, as escolhas feitas se encontram no

passado e foram expostas no trabalho usando o vocabulário do processo de

empreendedorismo. Já o Presente e Futuro da Startup será uma análise da situação

presente da startup feita pelo autor a fim de propor mudanças para o futuro da startup.

5.1. Customer Factory Blueprint

Maurya (2016, p. 29), definiu que a meta de uma startup é a tração. A tração é a taxa

em que um modelo de negócios captura valor de seus usuários. No caso de negócios

de venda direta (como a startup analisada neste trabalho) a tração é a taxa em que você

converte usuários não pagantes em usuários pagantes (Maurya 2016, p. 32).

A tração pode dizer se o empreendedor está caminhando na direção certa, mas não

pode dizer porquê e o que fazer para melhorar. Por isso, precisamos dividir a tração em

métricas adicionais presentes na Customer Factory Blueprint de modo a analisar melhor

a situação da startup (Maurya 2016, p. 105). A Customer Factory Blueprint da startup

está representada na Figura 44.

Figura 44: Customer Factory Blueprint da Startup. Fonte: Elaboração Própria

87

1. Aquisição: A aquisição ocorre tanto no processo de venda para abertura de

novos pontos quanto no momento em que o micro market já está instalado e um

consumidor em potencial passa na frente do micro market. Para a abertura de

novos pontos, a startup está no momento estruturando sua área comercial e

contratou um estagiário para se dedicar somente a isso. Para a atração de

consumidores, a startup realiza um evento de inauguração em todo ponto novo

e também busca criar uma identidade visual nos micro markets que chamem

atenção.

2. Ativação: Na ativação, a startup procura sempre deixar o micro market

organizado durante os abastecimentos que acontecem duas ou três vezes na

semana em cada ponto. Além disso, a startup busca expor os preços dos

produtos em locais de fácil visualização. Outra preocupação é com a usabilidade

do totem para escanear produtos e pagamentos, pois uma má experiência nesse

momento poderá será frustrante e poderá ser observada por outros

consumidores.

3. Retenção: Após visitar e olhar os produtos no micro market, os consumidores

em potencial podem decidir comprar produtos para se alimentar em outro

momento, como mais tarde durante um intervalo ou no café da manhã do dia

seguinte.

4. Receita: A receita acontece quando os consumidores compram produtos no

micro market. Nesse momento é preciso garantir uma boa experiência na

utilização do totem durante o evento da compra.

5. Referência: Os consumidores falam positivamente ou negativamente sobre sua

experiência de compra ao usar o micro market com colegas no trabalho e

também com amigos que trabalham em outras empresas, indicando a startup

para novos pontos em potencial.

A meta de uma startup é adquirir tração e a tração no caso analisado é a taxa em que

usuários não pagantes são transformados em usuários pagantes. Nesse sentido, as

duas estratégias para aumentar a tração são: (1) aumentar o número de pontos de

vendas; (2) aumentar o número de consumidores dentro dos pontos de vendas

existentes. A primeira estratégia segue o caminho de estruturar o processo de vendas

e a equipe comercial da startup acelerar a abertura de novos pontos. Essa abordagem

é bem explorada na literatura de vendas complexas e possui indicadores claros que são

fáceis de serem medidos. Já a segunda estratégia está mais ligada ao que foi

desenhado na customer factory blueprint. Os indicadores desse modelo consistem nas

88

cinco métricas piratas (AAARR), mas a startup hoje só consegue medir uma dessas

cinco métricas.

A startup atualmente não consegue medir a quantidade de pessoas que passam em

frente aos micro markets (aquisição) e nem os que param para olhar (ativação). Do

mesmo modo, ela não consegue medir a retenção dos consumidores por não conseguir

identificar quem passa no micro market e nem a indicação entre colegas no mesmo

trabalho (retenção). Os dados que startup consegue medir atualmente são os produtos

vendidos com informações sobre a hora e o valor da compra (receita), mas sem

conseguir identificar quem são os consumidores.

Não conseguir medir quatro das cinco métricas piratas é preocupante porque dificulta a

identificação de onde está a restrição atual do sistema, o que limita o crescimento da

tração. A ausência de dados também dificulta a observação dos resultados de testes de

mudanças em elementos da operação da startup. Grandes operadores do setor de

varejo, como supermercados e farmácias, também passam por situações semelhantes

e a solução que encontraram para identificação de consumidores é um cadastro pelo

número de CPF que gera pequenos descontos nas compras. A startup pode tentar

desenvolver uma solução parecida para conseguir gerar esses dados.

Além de não acompanhar as métricas piratas, a startup hoje não busca elaborar projetos

ou testes com a intenção de melhorar o desempenho das cinco métricas: (1) na

aquisição, se faz um evento de degustação na inauguração do ponto e depois nunca

mais é feita alguma iniciativa para atrair clientes para o micro market; (2) na ativação,

não há novas iniciativas que chamem a atenção do cliente no micro market uma vez

que ele já tenha parado para olhar; (3) na retenção acontece o mesmo; (4) na receita,

os preços dos produtos e o processo em si é sempre o mesmo; (5) e na referência, a

startup não realiza nenhuma atividade para potencializar a ocorrência de divulgação

boca a boca.

5.2. Lean Canvas

A startup atualmente não possui diferenciais competitivos fortes. Seus sócios

argumentam que aceitam vale refeição e possuem uma linha de produtos mais premium

que os concorrentes, mas essas “vantagens” são facilmente imitáveis. Do mesmo modo,

o modelo de micro market está se expandindo no Brasil e existem concorrentes que

também instalam micro markets. Com a existência de mais empresas atuando no

89

segmento de micro markets, o setor se voltou para a velocidade de crescimento e

instalação de novos pontos, pois uma vez que um ponto possua um micro market

instalado, é bem mais difícil de conseguir acesso a ele.

Os sócios da startup haviam definido que empresas com pelo menos 100 funcionários

seriam elegíveis para instalação de micro markets em função dos indicadores ROI e

payback. Todavia, como a concorrência com outras empresas está aumentando, uma

estratégia mais inteligente seria focar a equipe comercial na expansão para empresas

maiores, com mais de 200 funcionários, porque esses locais possuem um maior

potencial de vendas. Além disso, seria melhor começar por tipos de empresas nas quais

os funcionários passam mais horas dentro do escritório de trabalho, como no mercado

financeiro e em grandes escritórios de advogados, nos quais madrugar no trabalho é

um acontecimento mais comum.

Além disso, definir um perfil de early adopter também pode ajudar na estratégia

comercial. Os escritórios de empresas que se situam longe de outras opções de

alimentação são o perfil ideal de early adopter, pois eles possuem a dor de alimentação,

estão conscientes de que tem a dor, e provavelmente montaram uma solução por meio

de aplicativos de delivery ou levando comida de casa. Uma maneira nova de tentar

chegar a escritórios de empresas com esse perfil é contatando as empresas

administradoras de edifícios, que possuem contato direto com os escritórios em seus

prédios.

No caso do contato com as empresas para instalação de pontos, a startup até o

momento enxergava os problemas sob a ótica dos funcionários das empresas, mas não

sob a ótica das empresas em si. A alimentação próxima ajuda a solucionar o problema

da produtividade no trabalho, pois as pessoas precisam se alimentar para ser

produtivas. Esse discurso pode ser usado durante a realização de vendas e negociação

de instalação de novos pontos usando o conceito de alto nível “tão rápido quanto fazer

um miojo”.

As métricas-chave foram alteradas e agora serão a tração em conjunto com as métricas

piratas. Para conseguir medir as métricas piratas será preciso desenvolver um sistema

próprio que permita captar dados dos clientes ao longo dessas métricas. O sistema terá

como objetivo estimular a recorrência de vendas e assim aumentar o faturamento de

cada ponto individualmente. O modelo de captação de dados por CPF de grandes

empresas do varejo pode ser usado como estímulo para desenvolver um sistema por

meio de digitais nos micro markets que seja integrado com um banco de dados ou

aplicativo que realize o pagamento por meio de um cartão de crédito pré-cadastrado.

90

Esse sistema se tornaria uma vantagem injusta da startup frente aos demais

concorrentes e também ajudaria a reduzir o custo de telemetria por máquina.

Por fim, a opção de realização de eventos de coffee break em pontos de vendas de

micro markets deve ser descontinuada. O motivo é que somente um ponto (o de

coworking) se mostrou interessado no início, mas com o tempo optou por não mais

contratar o serviço de coffee break devido ao alto custo e dificuldades na hora do

pagamento. A equipe da startup é pequena e a realização desses eventos tirava o foco

do estagiário responsável pelo comercial que pode trazer mais retorno para a startup se

focar somente na negociação e instalação de novos pontos.

O conjunto de mudanças propostas no modelo de negócios pode ser visualizado na

Figura 45.

Figura 45: Lean Canvas da análise do presente e proposta de futuro (alterações em vermelho). Fonte:

Elaboração Própria.

5.3. Customer Discovery

A startup analisada no trabalho nunca realizou uma interação com os consumidores que

se assemelhe ao customer discovery e, por esse motivo, quase tudo que a startup

conhece hoje sobre o comportamento dos consumidores são pressupostos não

validados.

91

As três primeiras etapas do processo de customer discovery serão elaboradas com base

no que já foi discutido até aqui de modo a guiar o aprendizado futuro da startup. Vale

ressaltar que o processo de customer discovery retratado no presente trabalho possui

um foco em análises qualitativas e não quantitativas e por isso nem todas as hipóteses

poderão ser testadas por meio de entrevistas.

Etapa 1: Elaborar Hipóteses

O lean canvas representado na Figura 45 está carregado de pressupostos sobre o futuro

da startup que precisam ser validados. De modo semelhante, o lean canvas da segunda

pivotagem (Figura 43) possui algumas hipóteses que ainda não foram validadas ou

refutadas. Primeiramente listar-se-ão novamente as hipóteses contidas na segunda

pivotagem que ainda estão inconclusivas:

1. O aumento do lucro dos pontos será maior que o aumento dos custos logísticos

associados a expansão do mix de produtos.

2. A ocorrência de furtos será pequena o suficiente para não comprometer os

lucros.

3. O micro market terá uma quantidade de vendas maior que uma vending no

mesmo local.

4. As refeições congeladas serão uma opção atrativa de almoço e gerarão vendas

que compensem o aumento da complexidade e custos de logística.

5. Locais com 100 funcionários resultarão em pontos de micro markets

suficientemente lucrativos em termos de ROI e Payback.

6. Locais com 150 funcionários resultarão em pontos de vendings suficientemente

lucrativos em termos de ROI e Payback.

7. O lucro vindo de coffee breaks de eventos realizados é maior que o lucro vindo

de horas de trabalho usadas em outras atividades e justifica o aumento da

complexidade logística e a mudança de foco da startup.

Além disso, é preciso expor os pressupostos contidos no lean canvas sobre o futuro da

Figura 45 na forma de hipóteses refutáveis:

8. Locais em que a jornada de trabalho é mais longa e que trabalham de

madrugada consomem mais produtos (mercado financeiro e escritórios de

advogados).

9. Empresas que se situam longe de outras opções de alimentação consomem

mais produtos

92

10. A startup possui capacidade para desenvolver um sistema própria para monitorar

o progresso dos consumidores ao longo das métricas piratas.

11. A startup irá conseguir captar dados do funil e influenciar compras com o sistema

próprio.

12. A startup irá conseguir entrar em contato com as administradoras de edifícios

para conseguir gerar oportunidades de aberturas de novos pontos.

13. A startup irá conseguir provar por meio de dados que a produtividade dos

funcionários das empresas aumenta com a instalação do micro market.

Ademais, a startup precisa conhecer melhor o comportamento de seus consumidores e

entender o perfil deles dentro dos pontos existentes. As hipóteses a serem testadas

sobre os consumidores são:

14. A startup alcança clientes de todos os poderes aquisitivos e cargos dentro do

escritório da empresa.

15. Acredita-se que o dia de pagamento do salário tem influência nas compras.

16. Acredita-se que a quantia que o consumidor ainda possui no vale refeição tem

influência nas compras.

17. Acredita-se que o consumidor vá até o micro market já tendo pensado

previamente no que irá comprar.

18. Acredita-se que o consumidor compre um produto similar se não encontrar o

produto que estava pensando previamente em comprar.

As hipóteses de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 13 dependem de dados que não podem ser

coletados inteiramente por meio de entrevistas pessoais. Será preciso olhar a base de

dados de vendas de produtos existentes na telemetria, que possui local, data, hora,

produto e valor da venda para uma investigação quantitativa em busca de padrões.

Ainda assim, algumas dessas hipóteses podem ser investigadas de modo qualitativo

por meio de entrevistas presenciais com consumidores, como as hipóteses 3, 4, 8, 9 e

13. Por outro lado, as hipóteses 10 e 11 dependem de competências que não podem

ser validadas por meio de entrevistas e a hipótese 12 depende de tentar contatar as

administradoras de edifícios. As hipóteses 14, 15, 16 e 17 dependem de conversas com

os consumidores. Desse modo as hipóteses a serem analisadas por meio do processo

de customer discovery qualitativo serão:

1. O micro market terá uma quantidade de vendas maior que uma vending no

mesmo local.

2. As refeições congeladas serão uma opção atrativa de almoço e gerarão vendas

que compensem o aumento da complexidade e custos de logística.

93

3. Locais em que a jornada de trabalho é mais longa e que trabalham de

madrugada consomem mais produtos (mercado financeiro e grandes escritórios

de advogados).

4. Empresas que se situam longe de outras opções de alimentação consomem

mais produtos

5. A startup alcança clientes de todos os poderes aquisitivos e cargos dentro do

escritório da empresa.

6. Acredita-se que o dia de pagamento do salário tem influência nas compras.

7. Acredita-se que a quantia que o cliente ainda possui no vale refeição tem

influência nas compras.

Etapa 2: Elaborar Roteiro de Entrevistas

O roteiro de entrevistas deve conter perguntas que busquem validar as hipóteses

levantadas anteriormente seguindo os princípios de elaboração de boas perguntas

exposto no referencial teórico do processo de customer discovery. A proposta de roteiro

de customer discovery é:

1. Boa tarde/dia/noite eu sou o fulano e trabalho na startup. Estamos querendo

melhorar a qualidade de nosso serviço e para isso queremos ouvir nossos

consumidores. Você teria 10 minutos para conversar comigo?

2. Primeiro, pode me dizer sua idade e cargo na empresa?

3. Como conheceu nosso micro market?

4. Quantas vezes você comprou aqui nesta semana?

5. Veio à procura de qual produto?

6. Já sabia o que queria comprar ou decidiu aqui na hora?

7. Alguma vez você não encontrou o produto que procurava? O que fez então,

desistiu ou comprou um similar?

8. Quais produtos você tem o hábito de comprar?

9. Qual o valor diário do seu vale refeição? Ele já acabou antes do mês terminar?

Pode me contar sobre a última vez que isso aconteceu?

10. Você já comprou refeições congeladas no micro market para comer durante seu

horário de almoço?

11. Onde você compra produtos quando não se alimenta no micro market?

94

12. Qual foi a última vez que você trouxe algum alimento ou bebida de casa? E a

última vez em que comprou em algum lugar próximo ao trabalho? Quais

alimentos e bebidas?

13. Já teve alguma dificuldade durante a realização de alguma compra?

14. Você pode me descrever como é um dia no seu trabalho?

15. Quais são as atividades mais importantes para você?

16. O que mais te incomoda no ambiente de trabalho?

17. Há mais alguma coisa que eu deveria ter perguntado?

Etapa 3: Encontrar potenciais consumidores

No caso da startup, como ela já possui vending machines e micro markets em operação,

é possível visitar os pontos existentes que se encaixam nos perfis que permitem testar

as hipóteses.

No caso da hipótese 1, deve-se visitar pontos que possuíam vending machines

anteriormente e que passaram a ter micro markets. No caso da hipótese 2, deve-se

visitar pontos que possuem freezer com a opção de refeições congeladas. No caso da

hipótese 3, deve-se visitar pontos existentes nos quais a jornada de trabalho seja mais

longa, como o caso dos pontos de mercado financeiro e grandes escritórios de

advogados. No caso das hipóteses 4, 5, 6 e 7 deve-se visitar o maior número de pontos

diferentes possíveis para tentar validar ou refutar essas hipóteses, pois as quatro

dependem de uma comparação entre pontos com perfis diferentes.

Além de abordar os consumidores para realizar entrevistas seguindo o roteiro, pode ser

interessante também observar os consumidores no momento que realizam sua compra.

Outra opção é assumir o papel de comprador dos pontos para entender como é o

processo de compra nas vendings e nos micro markets.

Tendo um roteiro em mãos e tendo definido os locais nos quais os consumidores serão

encontrados, deve-se lembrar de seguir os princípios das etapas 4 e 5 do processo de

customer discovery para a realização das entrevistas e compilação de dados em busca

de padrões.

95

5.4. Estratégia de Saída

Neste trabalho as duas estratégias de saída de sucesso apresentadas foram o IPO

(oferta pública inicial) na bolsa de valores e a venda do negócio para outra empresa

(fusões e aquisições). Antes de ponderar sobre qual das duas a startup deve seguir,

serão analisados alguns dados do setor de vendings e micro markets e também sobre

o modelo de negócios da startup.

A startup analisada no trabalho atua no setor de varejo e os dados sobre o mercado de

vending machines e micro markets tanto nos EUA quanto no Brasil mostram uma

tendência de concentração de vendas em empresas grandes enquanto a participação

de empresas pequenas – como a startup analisada – tem diminuído, com muitas

empresas pequenas saindo do mercado devido a diminuição das margens de lucro

devido à competição. No mercado brasileiro em especial, há a Gran Coffee que possui

um fundo de private equity por trás que está injetando capital para uma rápida expansão

de pontos por todo o Brasil. A startup do trabalho atualmente não possui diferenciais

competitivos duradouros e também não possui perspectivas de no curto prazo conseguir

levantar capital suficiente para conseguir competir com a Gran Coffee em velocidade de

abertura de pontos.

Além disso, toda a equipe de gestão da startup é composta por pessoas com menos de

30 anos que não possuem experiência de trabalho prévia no setor de varejo. Essa

informação, quando comparada aos dados sobre a relação entre idade e experiência de

trabalho e a chance de sucesso de startups, não gera perspectivas positivas sobre as

chances de sucesso da startup analisada no trabalho.

Ainda assim, a startup também possui pelo menos uma vantagem por ser pequena, que

é poder focar na melhoria do seu serviço sem ter que ao mesmo tempo se preocupar

em crescer na mesma velocidade que grandes empresas. As grandes empresas do

setor de vendings e micro markets ainda não conseguiram resolver a questão de como

conseguir medir e acompanhar as cinco métricas piratas. Assim, se a startup primeiro

conseguir desenvolver o sistema que a permita conseguir acompanhar essas métricas

e em seguida usar esse sistema para focar em como aumentar a receita dos pontos já

existentes, então ela terá uma competência que será seu diferencial.

Para a startup analisada chegar ao momento de realizar um IPO muitos anos ainda

serão necessários, pois será preciso se expandir por todo o Brasil antes. Como

comparação, nem a Gran Coffee, que é a maior empresa do setor de vendings e micro

markets do Brasil, possui ações na bolsa. Por outro lado, na perspectiva de vender a

96

startup para uma empresa maior do setor, existe a própria Gran Coffee que tem

adquirido outras empresas do setor nos últimos anos. Todavia, a Gran Coffee usou

multiplicadores de faturamento para determinar o valor das empresas de vending

machines que comprou, pois o que ela adquiriu nessas aquisições foi participação de

mercado. Esse cenário no qual a startup analisada seria adquirida pela Gran Coffee ou

outra empresa do setor mostra a importância de um diferencial competitivo duradouro,

que seria permitido pelo desenvolvimento do sistema que monitore o comportamento

dos consumidores ao longo das cinco métricas piratas. Desse modo, o foco da startup

deve ser primeiro desenvolver o sistema e comprovar sua eficácia para depois pensar

em uma venda integral do negócio para outra empresa maior.

97

6. Conclusão

O presente estudo de caso pôde mostrar ao autor o quanto a aplicação do processo de

empreendedorismo em uma startup pode ser capaz de contribuir tanto para a evolução

de uma ideia quanto para um negócio em funcionamento.

No início do presente trabalho é feito um referencial teórico no qual se faz um compilado

dos conceitos essenciais do universo do empreendedorismo. Foi apresentado: a

definição de startup de Blank & Dorf (2012); o conceito de Early Adopters de Moore

(2014); a pirâmide da dor de Blank (2013); os conceitos de segmentação de mercado e

beachhead market de Aulet (2013); o conceito de decision making unit de Aulet (2013);

os conceitos principais por trás de investimentos em startups (como as rodadas de

investimento) e estratégia de saída de startups baseado principalmente em Feigelson,

Nybo & Fonseca (2018); e a importância da idade de fundadores para o sucesso de

startups vindos da pesquisa de Azoulay et al (2018). Essa síntese pode ajudar qualquer

pessoa sem conhecimento prévio a se situar na comunidade empreendedorismo em

startups.

Em seguida, é apresentado o processo de empreendedorismo com base principalmente

nas contribuições de Ash Maurya (2012 e 2016), que nos fornece três modelos para

estruturar o pensamento e o desenvolvimento de startups: o Lean Canvas, que ajuda a

desconstruir um negócio complexo em um modelo de negócios de uma página; o

Modelo de Tração, que centraliza os esforços da startup em uma única meta – a tração

– que informa se o negócio está indo na direção certa; e a Customer Factory Blueprint,

que auxilia a tomar decisões no dia-a-dia da startup e busca explicar os motivos para o

negócio estar dando certo ou errado.

Depois, o autor do presente organiza o processo de Customer Discovery a partir das

contribuições principalmente de Maurya (2012), Fitzpatrick (2013) e Constable (2014).

O processo de Customer Discovery organizado é o que o autor do presente trabalho

considera como sua maior contribuição para a área de pesquisa de Processo de

Empreendedorismo, pois foi possível unir os conceitos essenciais abordados antes junto

com princípios de interação com clientes levantados por diferentes autores para

sintetizar um processo com explicações mais completas e úteis para aplicação.

Além disso, é feita uma análise do mercado de vending machines e micro markets dos

Estados Unidos, que possui uma série de relatórios e dados específicos sobre o

segmento disponíveis, e sobre o mercado brasileiro, no qual é mais difícil de conseguir

dados, mas que é essencial para o entendimento das oportunidades e tendências

98

existentes em nosso país. O mercado americano, por ter tamanho territorial e

populacional parecido com o brasileiro, pode ser utilizado como proxy tentar entender

esse setor brasileiro.

O estudo de caso foi desenvolvido em torno das três fases da trajetória da startup: a

Concepção do Negócio; a Primeira Pivotagem: mudança de público e produtos; e a

Segunda Pivotagem: Micro market. Em seguida, a situação atual da startup foi analisada

e foi feita uma proposta para o futuro.

Na Concepção do Negócio foi exposto como a startup foi construída com base na

elaboração e execução de um plano de negócios. Com base no plano de negócios que

o autor do presente trabalho teve acesso (anexo 2) foi possível descrever e em seguida

analisar essa etapa da trajetória sob a ótica do processo de empreendedorismo.

Pode-se notar que como os conceitos de criação de hipóteses, testes, aprendizado e

iteração permitem uma tração mais rápida e na direção certa de uma startup, em

contraste com a rigidez e lentidão de um plano de negócios.

Com a Primeira Pivotagem, algumas partes do modelo de negócios foram alteradas

baseadas na mudança de público e produtos. Com esse novo modo de operação, pode-

se notar que a startup alcançou melhores resultados financeiros por meio da análise da

base de dados de vendas de produtos. Ao mesmo tempo, foi possível identificar que as

iniciativas para mudança de mix de produtos nos pontos podem não ter tido o efeito de

aumento de faturamento esperado, pois a startup não provou a causalidade entre esses

dois acontecimentos. Esse cenário faz o autor do presente trabalho acreditar que a

startup está correndo os perigos de se afogar em dados e realizar testes sub-ótimos

expostos por Ash Maurya (2016, p. 6-9).

Na Segunda Pivotagem o espaço de tempo analisado foi pequeno, mas foi possível

identificar a intenção de buscar um diferencial competitivo por meio da operação de

micro markets. Ainda assim, os pressupostos sobre o novo modelo de negócios não

haviam sido validados antes da pivotagem e a maior parte deles continua sem validação

até hoje. Além disso, outras empresas no Brasil começaram a operar com micro markets

e por isso na prática não houve diferencial competitivo.

No Presente e Futuro da Startup o autor realizou uma análise sobre o momento atual

da startup e propôs mudanças no modelo de negócios visando obter um diferencial

competitivo (vantagem injusta) que não seja de fácil imitação, que consiste em um

software próprio que permita captar dados sobre o comportamento dos consumidores

ao longo do funil das cinco métricas piratas criadas por Dave McClure (Aquisição,

99

Ativação, Retenção, Receita e Referência). O autor também fez uma proposta de como

validar as hipóteses com a aplicação das três primeiras etapas do processo de

Customer Discovery. Além disso, o autor discorreu sobre as possibilidades de estratégia

de saída da startup (IPO ou venda para concorrente), optando por vender o negócio

para um concorrente maior após o desenvolvimento do software próprio que permita um

diferencial competitivo duradouro e que com isso faça a startup aumentar de valor de

mercado.

Também é válido destacar que, assim como o processo de empreendedorismo serviu

de grande valor para a análise da startup, acredita-se que o estudo de caso em questão

poderá contribuir para que pessoas que tenham ideias, estejam no início de um negócio

ou até já possuam uma empresa rodando, mas tenham dificuldades de encontrar um

modelo que tracione possam se basear nos erros e aprendizados aqui relatados para

executar melhor e ter sucesso mais rápido.

Por fim, a partir das contribuições e limitações desse trabalho é possível refletir sobre

possíveis desdobramentos para trabalhos futuros, tendo os principais como:

• Estudos sobre startups com modelos de múltiplos lados ou de marketplace.

Apesar de o presente trabalho ter se limitado à aplicação do método em startups

de venda direta, os modelos de múltiplos lados e marketplaces também são

abordados no processo de empreendedorismo de Ash Maurya presente nos

livros Running Lean e Scalling Lean e um estudo de caso prático poderia ser de

grande valia.

• Estudos sobre startups de outros setores diferentes do de vending machines e

micro markets. O ramo de varejo tem problemas bastante específicos que podem

não ilustrar bem situações a serem passadas em outras indústrias.

• Estudos de caso sobre a aplicação do processo de customer discovery com foco

na parte quantitativa, uma vez que o presente trabalho focou na parte qualitativa

do customer Discovery.

• Estudos de caso da aplicação do processo de empreendedorismo em empresas

que já tenham entrado na fase de escala, dado que o presente estudo de caso

é focado nas duas primeiras etapas do modelo de tração, o Problem/Solution Fit

e o Product/Market Fit.

100

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104

Anexos

Anexo 1: Manual da planilha de otimização de mix

Indicadores

Para explicar o funcionamento dos testes, primeiro é preciso expor as variáveis das

vending machines: Cada máquina possui seis andares de produtos e cada andar possui

oito canaletas. Em cada canaleta é possível colocar uma mola que determina a

quantidade de produtos que cabe em uma fileira. Produtos mais grossos, precisam de

um espaçamento maior e com isso o total que cabe na fileira é menor. As molas variam

podendo caber entre 5 e 15 itens em uma fileira. Além disso, existem determinados

produtos que são mais largos do que o espaçamento de uma canaleta e por isso

precisam ocupar duas canaletas simultaneamente.

Com esses conceitos definidos, foram elaborados cinco indicadores para analisar o

desempenho dos produtos:

• Índice de desempenho: Ele é calculado dividindo a participação no lucro de um

produto pelo número de canaletas que tal produto ocupa na máquina e, depois,

multiplicando o resultado por 100. Com isso, é possível relacionar a lucratividade

dos produtos com o espaço que eles ocupam na máquina.

• Lucro por canaleta total: Ele indica o lucro que cada canaleta do produto teve

no período de tempo analisado. Para calculá-lo, deve-se dividir o lucro do

produto pelo número de canaletas que ele ocupa. Como é possível perceber, é

uma análise similar ao índice de desempenho, mas em algumas situações o

lucro por canaleta é preferível por se tratar de valores reais, em dinheiro, e não

simplesmente um número abstrato.

• Tempo necessário para vender tudo: Para calculá-lo, primeiro é necessário

dividir o número de vendas de um produto no período analisado pelo número de

dias desse período. Assim, encontra-se o número de vendas por dia (velocidade

de vendas). Depois, multiplica-se esse valor pelo número total daquele produto

na máquina, de modo a encontrar o tempo necessário para vender tudo. Se um

produto, por exemplo, tiver um tempo para vender menor que 3 dias, que é um

intervalo comum entre os abastecimentos, indica que talvez haja a necessidade

de adicionar mais uma canaleta de tal produto.

105

• Risco de estar vazia: Se a canaleta ficou vazia entre dois reabastecimentos,

então a demanda pelo produto foi maior do que a quantidade existente na

máquina. Esse indicador é calculado ao dividir o período analisado em intervalos

menores, de 2 ou 3 dias, que representam o período entre reabastecimentos.

Nesses pequenos períodos, sempre que for vendido mais que 2/3 da quantidade

total do produto na máquina, considera-se que houve o risco de a canaleta ficar

totalmente vazia. Ao fim, somam-se todos os períodos em que houve esse risco

para chegar ao resultado total do risco de estar vazia. Esse indicador é

importante pois, caso aconteça de uma máquina ficar sem um produto até que

aconteça um novo reabastecimento, o custo de oportunidade relacionado às

vendas daquele produto reduz a possibilidade de lucro da máquina.

• Risco de estar cheia: Assim como o risco de estar vazia, é calculado ao dividir

o intervalo analisado em período de 2 ou 3 dias. Em cada um desses intervalos,

se determinado produto não tiver sido vendido nenhuma vez, considera-se o

risco de a canaleta ter ficado cheia. Ao final, devem ser somados os períodos

em que houve essa possibilidade para calcular o risco ao longo de todo o

intervalo de tempo analisado. Novamente, utiliza-se o “risco”, pois intervalos de

reabastecimento são irregulares. Esse indicador tem um papel relevante no

momento de considerar retirar uma canaleta de um produto da máquina.

Junto com cada indicador, foram estabelecidas notas que vão de 0 a 10 que são

utilizadas para comparação entre diferentes indicadores. Para defini-las, atribui-se ao

pior valor de um indicador a nota zero e ao melhor valor, a nota 10. Todas as outras

notas são definidas entre 0 e 10 em uma escala linear.

No caso de indicadores negativos, como Risco de estar cheia e Tempo para vender

tudo, a nota é calculada de modo invertido, para que a nota 10 sempre corresponda a

um desempenho excelente e a nota zero a um desempenho ruim.

Além disso, a nota do Tempo para vender tudo, possui uma diferença em seu cálculo,

pois qualquer valor a partir de 60 dias (tempo para vender um produto) recebe nota zero.

Isso foi feito para evitar que produtos muito destoantes atrapalhem a análise.

Análise de Desempenho

Tendo definido os indicadores e suas respectivas notas, em seguida foi estabelecida

uma forma de combinar os resultados de forma a sugerir adição ou remoção de uma

canaleta de um produto. Para tal, foram elaborados os seguintes parâmetros:

106

Lucro por

canaleta

Nota Vazias Nota Cheias Nota Tempo

para vender

Adicionar

uma canaleta

Maior que

1,25*média

Maior que a

média

Maior que 7,5 Maior que 7,5

Talvez

adicionar

Maior que a

média

Maior que zero - Maior que a

média

Talvez retirar Menor que

0,5*média

- Menor que 5 Menor que 2,5

Retirar uma

caneleta

Menor que

0,25*média

- Menor que 2,5 Igual a zero

Desta forma, para que seja sugerido que se adicione uma canaleta de um produto é

necessário que ele corresponda a todos os critérios para tal: seu lucro por canaleta deve

ser maior que a média de lucro por canaleta da máquina, sua nota de risco de estar

vazio deve ser maior que a média, sua nota de risco de estar cheia e sua nota de tempo

para vender devem ser maiores que 7,5. Caso um produto não atenda a todos os

critérios, ele ainda pode entrar nas sugestões de talvez adicionar e talvez retirar, as

quais possuem critérios um pouco menos rígidos para que um produto seja enquadrado

nelas.

Anexo 2: Plano de Negócios elaborado pelas fundadoras